os malefícios do mercúrio
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS FORENSES
O mercúrio e suas consequências para a saúde
Luciana Cristina A. da Costa (1)
; Daniela Buosi Rohlfs (2)
(1) Autora. Graduada em Ciências Biológicas - Faculdade da Terra de Brasília. [email protected]
(2) Orientadora. Mestre em Ciências Florestais - Universidade de Brasília – UnB; Engenheira Florestal -
Universidade de Brasília – UnB. Atuando como Coordenadora Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do
Ministério da Saúde. [email protected]
Resumo
Uma das agressões à biologia humana que desafia a relação saúde-doença no âmbito coletivo do
mundo do trabalho é constituída pela contaminação do mercúrio metálico em nosso meio. Ela se dá
através da aspiração dos vapores, ingestão de pequenas quantidades ou mesmo pelo contato dérmico.
O mercúrio causa risco as populações através da via respiratória, como nos garimpos, ou alimentar,
como no pescado, que por ser a principal fonte de proteínas das comunidades ribeirinhas, transformou-
se no principal veículo para o aumento do risco da exposição ao metilmercúrio nestas populações
humanas.
Palavras chaves: mercúrio, contaminação, saúde humana, garimpos.
Abstract
One of the assaults on human biology that challenges the relationship between health and disease
within the collective world of work consists of metallic mercury contamination in our environment. It
is through aspiration of fumes, ingestion of small quantities or by skin contact.
Mercury causes risk populations through the respiratory route, such as in mines, or food, as in fish,
which may be the main source of protein of coastal communities, has become the main vehicle for the
increased risk of exposure to methylmercury in these human populations.
Key words: mercury, pollution, health, mining.
1 INTRODUÇÃO
O mercúrio (Hg) é um metal líquido pesado brancoprateado, inodoro e de fácil
volatilização. Na natureza é encontrado em três formas: mercúrio metálico, sais inorgânicos
de mercúrio e mercúrio orgânico, que se diferem pelos aspectos toxicológicos de absorção,
transporte e excreção (do metal) e pelo quadro clínico do paciente (LIMA et al., 2009).
A denominação mercúrio decorre de uma homenagem ao planeta Mercúrio que
conforme a mitologia romana é o mensageiro dos deuses, também o deus dos mercadores,
filho de Júpiter e Maia, correspondente ao deus grego Hermes. Os romanos o chamaram de
hidrargiro (AZEVEDO, 2003), derivado do termo Hydrargyrum em latin, que significa prata
liquida (hidro = elemento de composição que indica água e árgyros = prata) e originou a sigla
Hg0 na tabela periódica dos elementos químicos (FARIA, 2003).
A expressão “metal pesado” é comumente utilizada para designar metais
classificados como poluentes, englobando um grupo muito heterogêneo de metais, semi-
metais e mesmo não metais como o selênio. O mercúrio é um dos elementos com maior
frequência na lista de metais pesados (CETESB, 2001)
Considerado não essencial, ou seja, não é um componente normal dos tecidos de
organismos vivos, sua concentração é muito variável de um organismo para outro, sua
ausência não causa nenhuma anormalidade conhecida e não participa de nenhuma atividade
indispensável ao pleno funcionamento orgânico. Sua presença é, por outro lado, considerada
danosa aos fenômenos químicos que suportam a vida (JOSINO et al., 1997).
Para Farias (2006) o mercúrio é considerado um dos metais mais perigosos no que
diz respeito à contaminação ambiental e a saúde humana. Em 1953, a doença de Minamata foi
reconhecida como uma doença neurológica, e que chamou atenção do mundo todo para o
problema da intoxicação por metais tóxicos.
Na forma de minério o mercúrio se apresenta principalmente como sulfeto de
mercúrio conhecido também por cinabar. É encontrado naturalmente na atmosfera e na água,
no entanto seu teor sofre influência de fontes contaminantes (OLIVARES, 2003).
O mercúrio, apesar de conhecido como substância altamente tóxica, apresenta ampla
aplicação nas áreas de garimpagem para extração de ouro e no setor industrial. E o mercúrio
inorgânico depositado nos rios e mares como resultado de processos industriais ou mesmo
como parte de seu ciclo natural, após a biotransformação em metilmercurio, ingressa na
cadeia alimentar atingindo o ser humano através da alimentação de peixes. Trata-se, portanto,
de uma questão ambiental e de saúde publica (ZACHI, 2005).
As mais importantes formas de contaminação pelo metal podem ser consideradas: i)
contato dérmico acidental com líquido ou sais empregados na manipulação de componentes
eletrônicos; ii) inalação do vapor, por exemplo, em exposição ocupacional; e iii) pela ingestão
alimentar, destacadamente a dieta piscívora (VECCHIO, 2005).
O mercurialismo crônico ou ocupacional ou hidrargirismo (FARIA, 2003)
corresponde a intoxicação pelo metal (RODRIGUEZ & RODRIGUEZ, 1982) e caracteriza-se
por um conjunto de sintomas apresentados pelo individuo após período de inalação dos
vapores de Hg metálico ou sais (AZEVEDO, 2003).
Desde a antiguidade, se reconhece a ação tóxica na exposição ocupacional. Em
alguns ambientes laborais, os riscos são maiores, como é o caso de hospitais, que utilizam
mercúrio elementar em vários equipamentos (JUNG, 2004).
O Brasil não produz mercúrio, importando a totalidade de seu consumo. As
importações de mercúrio foram significativas desde 1972, entorno de 160 toneladas anuais.
Até 1984, o México era o principal fornecedor de mercúrio para o Brasil, suprindo 85% das
necessidades do país. O restante era comprado no Canadá, USA (Estados Unidos) e alguns
países europeus. A partir de 1985, a maior parte do mercúrio foi importando de países
europeus, em particular Reino Unido, Holanda e Alemanha (LACERDA, 1996). Entre os anos
de 2003 e 2008, os maiores exportadores de Hg para o Brasil foram a Espanha, seguido do
Quirquistão e do Reino Unido.
O mercúrio é um dos metais pesados mais estudados, devido seus efeitos na saúde,
assim este trabalho visa apresentar as diversas formas de contaminações pelo mercúrio, suas
consequências para a saúde, com o objetivo de contribuir para a discussão sobre a eliminação
ou redução da utilização desse composto.
2 METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado por meio de revisão bibliográfica, utilizando artigos
publicados desde a década de 60 até o ano de 2009, pesquisados na base de dados da Bireme,
por meio dos serviços da Medline, Scielo e Lilacs. Também foram acessadas as bibliotecas
virtuais das Universidades Federias de: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Rio Grande do Sul, além da Universidade de Campinas. As publicações foram selecionadas
mediante busca com os seguintes descritores: contaminação por mercúrio, garimpagem,
ergonomia hospitalar, mercúrio elementar, intoxicação por mercúrio, exposição ocupacional,
metais pesados, saúde ambiental e metilmercurio.
Foram selecionados como fontes artigos nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa,
além da utilização de livros. Os critérios para escolha dos artigos e livros envolveram todo
tipo de estudo que se baseasse no tema mercúrio.
3 DISCUSSÃO
3.1 Características e aplicações do mercúrio
O mercúrio ocorre naturalmente na crosta terrestre, sendo o cinábrio (HgS) sua forma
mais abundante. Nos diversos compartimentos ambientais pode ser encontrado em três
estados de oxidação (0, +1 e +2), na forma de vários complexos orgânicos e inorgânicos entre
outras espécies, onde o Hgº está amplamente distribuído na atmosfera (~ 95%), o Hg2+ é
predominante em sistemas aquáticos e as formas orgânicas altamente tóxicas para os
organismos vivos (HORVAT, 1996).
A concentração de mercúrio no meio ambiente, com sua disseminação no solo, água
e atmosfera tem sido motivo de preocupação no mundo. Como exemplo no Japão ocorreu
envenenamento com metil mercúrio na Baia de Minamata onde dezenas de pessoas morreram
e centenas adquiriram deficiências físicas permanentes. Outros registros aconteceram no
Iraque quando sementes para plantio, tratadas com produtos mercuriais (sais), foram usadas
como alimentos. Já no Brasil, foram relatados casos de contaminação humana na enseada dos
Tainheiros, devido ao lançamento de mercúrio por uma indústria de cloro-álcalis (SOARES,
1990).
Uma das mais clássicas divisões dos compostos mercuriais compreende a seguinte
especiação (GUEDES, 2009):
- voláteis: mercúrio elementar (Hg0) e dimetilmercúrio;
- espécies reativas particuladas ou solúveis em água: Hg2+, HgX2, HgX3-, HgX4
2- (com X = OH-, Cl- ou Br-), HgO em partículas aerossóis e complexos de Hg2+
com ácidos orgânicos;
- espécies não reativas: CH3Hg+, CH3HgCl, CH3HgOH e outros compostos
organomercuriais, Hg(CN)2, HgS e Hg2+ ligados ao enxofre em fragmentos de matéria
húmica.
Mesmo sendo ubíquo no ambiente, o mercúrio é tido como uma das principais
substâncias poluentes descritas por agências de proteção ambiental em todo o mundo. A
Agência dos Estados Unidos para Substâncias Tóxicas e Registros de Doenças lista o
mercúrio como a terceira substância mais tóxica (GUEDES, 2009).
Em condições normais de temperatura e pressão o mercúrio metálico se apresenta
como metal líquido, que em contato com o ar altera-se lentamente recobrindo-se de uma
película cinza de óxido mercuroso. A 350°C, oxida-se rapidamente, produzindo o óxido
mercurico (HgO - vermelho). Dissolve facilmente o ouro, a prata, o chumbo e os metais
alcalinos, formando ligas relativamente consistentes (amálgamas). As características físicas
do mercúrio podem melhor o descrever, conforme apresentado na tabela 01(RUBEN, 1967).
Tabela 01: Características físicas do mercúrio
PROPRIEDADE VALOR PROPRIEDADE VALOR
1. Classificação
Periódica
Grupo II B 11. Condutibilidade
Térmica
0,0196
cal/cm2/cm/
°C/s (20°)
2. Número Atômico 80 12. Potencial de
Oxidação
Hg Hg+2 + 2e-
-0,788 V
3. Massa Atômica 200,59 13. No de Valência 1, 2
4. Isótopos Naturais 196, 198, 199, 200, 201, 202,
204
14. Equivalente
Eletroquímico
3,7420 g/A.H
5. Densidade 13,546g/cm3 (20°) 15. Raio Iônico (Hg+2) 1,10 Å
6. Ponto de Fusão -38,87°C 16. Potencial de
Elétron de Valência
26,18
7. Ponto de
Ebulição
356,58°C 17. Elétrons de
Valência
6s2
8. Calor Latente de Fusão 2,8cal/g 18. Forma
Cristalina
Romboédrica
9. Calor Específico 0,03325cal/g/°C
(20°)
19. Secção Nuclear
de Choque
360 barns
10. Potencial de
Ionização
10,43 eV 20. Pressão de
Vapor
261,7°C
Fonte: Olivares, 2003
Existem diversas aplicações para o mercúrio, como: (i) terapêuticas: Empregado por
suas características fungicidas e antibacterianas como medicamentos e conservantes em
soluções nasais, oftálmicas, vacinas, produtos injetáveis, germicidas, diuréticos, e
contraceptivos; (ii) restaurações odontológicas; (iii) pilhas; (iv) termômetros; e (v) germicida
e fungicida em tintas e desinfetantes (PAVASI, 2006).
O mercúrio e seus compostos podem também ser utilizados em diferentes processos
industriais como na fabricação de cloro e soda, fabricação de aparelhos elétricos, lâmpadas à
vapor, fungicidas, inseticidas, pigmentos, papel e instrumentos de medição. Em odontologia
ainda são utilizados no preparo de amálgamas. Devido à sua poderosa ação fungicida e
desinfetante foi também muito utilizado na agricultura, particularmente como desinfetante de
sementes. Apesar de sua vasta aplicação, o mercúrio no Brasil apresenta seu maior consumo
nos garimpos, que utilizam este na extração do ouro por meio do processo de amalgamação
(OLIVARES, 2003).
Muitos instrumentos utilizados no ambiente hospitalar apresentam mercúrio
elementar em sua estrutura, um elemento de extrema toxicidade, que oferece riscos tanto aos
profissionais que os manipulam, quanto aos pacientes (JUNG, 2004). A tabela 02 apresenta
alguns equipamentos e usos de mercúrio em ambiente hospitalar.
Tabela 02 - Equipamentos e usos de mercúrio em ambiente hospitalar
Equipamento Uso
Baterias-Oxido de Mg Detector fetal
Desfibrilador
Alarme de temperatura
Alarme de espirômetro
Analisadores
Termômetros Mensuração de temperatura
Esfignonamômetros Mensuração de tensão arterial
Instrumentos Controladores de temperatura
Relógios
Refrigeradores
Lâmpadas Lâmpadas fluorescentes
Lâmpadas ultravioletas
Fonte: Adaptado de Jung, 2004
No Brasil, as Portarias MS/SNVS/DIMED 10/1980, 10/1980 e ANVISA RE n
528/2001 proíbem a fabricação e a venda dos produtos que contenham em sua fórmula,
isoladas ou associadas substâncias compostas de mercúrio em medicamentos (uso
farmoquímico/farmacêutico), exceto em vacinas para imunização, onde o timerosal é utilizado
como conservante.
O Timerosal passou a ser adicionado às vacinas na década de 30 para proteger o
produto contra contaminação bacteriana. É composto por cerca de 50% de mercúrio, e é
metabolizado pelo organismo para etilmercúrio e tiosalicilato. Embora a toxicidade do
etilmercúrio ainda seja desconhecida, sua composição é muito parecida com o do
metilmercúrio (AZEVEDO et al., 2003).
Já os compostos organomercuriais foram bastante empregados como diuréticos até
metade deste século, quando passaram a ser substituídos por não-mercuriais de menor
toxicidade (KORLKOVAS et al., 1982).
Muitos compostos organomercuriais foram usados na agricultura como desinfetantes
no tratamento de sementes destinadas ao plantio. Desta forma eram combatidas as
enfermidades dos agentes causadores que se erradicavam no grão, do qual passam para a
planta em germinação (ALMEIDA, 1975). No Brasil, o ministério da Agricultura proibiu o
uso de fungicidas alquilmercuriais (metil e etil), pela Portaria MAPA n° 2 de 06 de janeiro de
1975, que foi revogada e substituída pela Portaria MAPA n° 6 de 29 de abril de 1980.
3.2 Toxicidade do mercúrio
O mercúrio, em temperatura ambiente, é encontrado na forma líquida, embora possa,
em contato com o meio, se vaporizar. Variáveis como temperatura, enriquecimento orgânico e
oxigênio dissolvido têm se mostrado aceleradores do processo de metilação do mercúrio
(VECCHIO, 2005).
O vapor de Hg atmosférico sofre oxidação para o íon divalente Hg+², através de
contato com elementos atmosféricos como oxigênio, ozônio e cloro. Quando ionizado, torna-
se mais solúvel e sujeito a deslocar-se da atmosfera, retornando aos meios terrestre e aquático
por precipitação, sendo esta a maior fonte de mercúrio depositado no meio ambiente
(VECCHIO, 2005).
O mercúrio pode ser encontrado em sua forma elementar (Hgº), iônica (Hg+¹ ou
Hg+²) ou ainda como organometálico (metil ou dimetilmercúrio, por exemplo). Estas
diferentes apresentações do mercúrio diferem em suas propriedades físico-químicas e
principalmente as toxicológicas (OLIVARES, 2003).
A forma orgânica do mercúrio é extremamente tóxica, tanto para a biota quanto para
os seres humanos, devido a sua solubilidade lipídica, estabilidade e propriedade iônica que lhe
permite atravessar a membrana plasmática (ATSDR, 1999).
A lipossolubilidade dos compostos organomercuriais facilita a absorção pela pele em
até 100% quando comparados aos compostos inorgânicos (ATSDR, 1999; APOSTOLI et al.,
2006).
Esse elemento possui algumas propriedades físicas, químicas e físico-químicas muito
importantes sob o ponto de vista toxicológico, tais como sua elevada pressão de vapor
(0,00112 mmHg a 20oC), sua habilidade de ultrapassar as biomembranas, suas possibilidades
reacionais “in vitro” e “in vivo” (oxidação com a formação de íons mercurosos e/ou
mercúricos; formação de compostos organomercuriais, etc) e a afinidade de seus íons por
grupamentos sulfidrila, comuns em proteínas e enzimas (JOSINO et al., 1997).
O mercúrio metálico apresenta absorção digestiva praticamente nula, mas seus
vapores são rapidamente e bem absorvidos por via respiratória e inclusive através da pele
(SCHVARTSMAN, 1979).
O vapor é altamente tóxico e apresenta efeito cumulativo. O rim é tido como órgão
alvo para atuação e acumulação do Hg2+ devido à sua alta afinidade com os grupos tióis das
proteínas, peptídicos e aminoácidos, envolvendo uma série de mecanismos intra e extracelular
(GUEDES, 2009).
Devido a tais fatores devem-se considerar as principais fontes de emissão de
mercúrio para o ambiente com consequente influência no seu ciclo local, regional e global. O
ciclo global compreende a visão integrada dos níveis de mercúrio nas diferentes matrizes
ambientais e os fatores biogeoquímicos que contribuem para a conversão entre as espécies e o
seu fluxo nos reservatórios, observando uma média global (GUEDES, 2009).
Os ciclos locais e regionais são termos relativos à área na qual a emissão atmosférica
viaja dentro de um ciclo diurno, geralmente 100 e 200 km a partir da fonte, respectivamente
(GUEDES, 2009).
Algumas substâncias estão relacionadas com alterações na toxicocinética do metil
mercúrio, entre elas o selênio. De acordo com muitos estudos, o selênio tem um efeito
protetor contra a ação nociva ao organismo provocada pela exposição ao metilmercurio
(SCHULZ, 2009).
Após a ingestão de alguns alimentos contendo selênio na forma de selinito e
selenometionina ocorre absorção de parte deste elemento que, ao alcançar os eritrócitos, é
reduzido a seleneto (Se) na presença de GSH (glutationa) eritrocitário. Em seguida, o seleneto
é transportado no plasma ligado à albumina e ao atingir o fígado passa a integrar os processos
de síntese de selenoproteinas, que são proteínas que contem selênio na forma de
selenocesteína ou selenometionina, como a glutationa, glutationa peroxidase e selenoproteina
P. O excesso de selênio ingerido na dieta seguirá a rota para excreção urinaria. Diante da
presença de mercúrio no plasma, o Se (2-) formado no eritrócito forma uma forte ligação com
este metal e em seguida este complexo liga-se a Selenoproteina P, alterando a distribuição de
mercúrio nos órgãos alvos e especialmente reduzindo sua acumulação nos rins (SUZUKI &
OGRA, 2001).
O etanol, aparentemente pode aumentar a toxicidade do metilmercurio. Deficiências
nutricionais podem alterar de maneira significativa a interpretação de resultados da avaliação
toxicológica em indivíduos expostos ao metilmercurio, seja pela redução da sensibilidade ao
teste, ou pela exacerbação dos efeitos tóxicos, aumentando potencialmente a sensibilidade à
toxicidade do metal. Alguns fatores nutricionais como a deficiência de ferro ou de acido
fólico, que atuam no desenvolvimento neural, possivelmente podem aumentar o impacto da
exposição ao metilmercurio (BAETA et al., 2006).
3.3 Emissões do mercúrio para a atmosfera
O Brasil tem testemunhado uma mudança nas fontes antrópicas de mercúrio, levando
a um aumento de sua emissão. Isto ocorre devido a alguns fatores como controle pela
legislação, que se faz apenas para fontes pontuais como as empresas de produção de cloro,
que se localizam em regiões industrializadas onde a fiscalização é mais forte. No entanto, a
emissão pela mineração de ouro ocorre principalmente na região da Amazônia (de difícil
monitoramento), onde um controle inadequado poderá resultar em um impacto negativo e
inesperado para o meio ambiente (LACERDA et al., 1997).
As emissões naturais de mercúrio originam-se a partir de solos e vegetação,
queimadas naturais de florestas, superfície de águas naturais e fontes geológicas como
atividades vulcânicas e terremotos (OLIVARES, 2003).
Segundo Olivares (2003), as concentrações de mercúrio em diferentes fontes naturais
apresentam uma grande variação, no entanto é possível destacar os quatro principais
processos que emitem mercúrio para atmosfera: a) evaporação de depósitos geológicos
minerais; b) emissões de atividades vulcânicas; c) fotorredução do mercúrio bivalente em
águas naturais e d) formação biológica do dimetilmercúrio.
A partir de fontes antrópicas, o mercúrio pode ser liberado para atmosfera como Hgº
(vapor), Hg+², partículas de Hg e Hgº. O mercúrio elementar (Hgº) é considerado a espécie
com maior contribuição para a emissão antrópica de mercúrio atmosférico (LACERDA,
1997).
Apesar do metilmercúrio, a mais relevante espécie tóxica do mercúrio, não estar
presente na emissão atmosférica, este pode ser produzido através da atividade bacteriológica
sobre o Hg+² (OLIVARES, 2003).
O amalgama de ouro formado é recuperado do rejeito gravimetricamente. O excesso
de mercúrio é recuperado, e o amalgama é então queimado para separação do complexo Au-
Hg. Todo o mercúrio presente no amalgama é então vaporizado e liberado na atmosfera.
Cerca de 20% da concentração inicial usado pelo garimpeiro é perdida (MALLAS,
BENEDITO, 1986; PFEIFFER, LACERDA, 1988).
A relação da quantidade de mercúrio utilização no processo de amalgamação com o
ouro contido no sedimento é para cada quilograma do ouro produzido é gasto (e não
recuperado) 1 Kg de mercúrio (LACERDA et al., 1989).
3.4 Contaminação mercurial
Um dos grandes perigos com a população e para o ecossistema reside no intensivo
uso de mercúrio na extração de ouro (SOARES, 1990).
A contaminação por mercúrio no Brasil mostra duas diferentes fontes deslocadas
temporalmente e geograficamente no país. A primeira era originada na indústria de cloro-
soda, responsável pela principal importação de mercúrio para o país e pelas principais
emissões para o meio ambiente até a década de 80. Essas emissões localizavam-se
particularmente na região sul-sudeste. A partir da década de 80, o garimpo de ouro, localizado
principalmente na Amazônia, tornou-se o principal comprador de mercúrio no Brasil, sendo
responsável pela maior emissão deste poluente para o meio ambiente (LACERDA, 1996).
A obtenção de ouro inicia-se com uma pré-concentração do mercúrio por processos
gravimétricos. O material pré-concentrado é misturado com mercúrio, ocorrendo
amalgamação com as partículas de ouro. O amalgama é aquecido com tochas de gás propano,
com a liberação de mercúrio vapor diretamente para a atmosfera; o excesso, na forma de
mercúrio metálico, é lançado nos cursos d’água indo se depositar nos sedimentos de fundo.
Conforme Soares (1990), o processo de produção do ouro com a utilização de
mercúrio relata três formas principais que podem afetar a saúde pública: 1) a contaminação
com mercúrio vapor, diretamente sobre os trabalhadores dos garimpos, e o ar dos arredores
durante a fase de amalgamação e queima; 2) a poluição das águas e sedimentos com
possibilidade de metilação do mercúrio e sua absorção pelos peixes, entrando na cadeia
alimentar da população local, e 3) a contaminação com mercúrio vapor nos numerosos pontos
de comercialização do ouro, onde, mais uma vez ele é queimado.
A America Latina, particularmente em algumas localidades da região Amazônica, é
considerada seriamente impactada por mercúrio devido à extração de ouro, com milhões de
pessoas diretamente envolvidos na atividade. Por anos, o mercúrio usado na mineração de
ouro foi considerado ser o único causador, porém há poucos anos, muitos pesquisadores
acreditam que ambos os processos, naturais e antrópicos, embora operem em diferentes
escalas de tempo, sejam responsáveis por ocasionar problemas á saúde humana e ao
ecossistema (FARIAS, 2006).
O Brasil não produz mercúrio, importando a totalidade de seu consumo. As
importações de mercúrio foram relativamente constantes de 1972 a 1984 em torno de 160
toneladas anuais, quando ocorreu um aumento de cerca de 150%, atingindo 340 toneladas em
1989. Até 1984, o México era o principal fornecedor de mercúrio para o Brasil, suprindo 85%
das necessidades do país. O restante era comprado no Canadá, USA e alguns países europeus.
A partir de 1985, entretanto, a maior parte do mercúrio tem sido comprado em países
europeus, em particular UK, Holanda e Alemanha, países que paradoxalmente também não
mineram mercúrio (LACERDA, 1991).
Inicialmente, até 1980 praticamente, a principal fonte de mercúrio para o país, era a
produção de cloro e soda, responsável por mais da metade do consumo total. Neste período, o
consumo industrial representava mais de 80% do total comprado pelo país (LACERDA,
1996).
A partir de 1980 o consumo industrial de mercúrio vem caindo substancialmente.
Este fenômeno é resultado direto de uma legislação de controle mais eficiente, que resultou no
banimento do uso de mercúrio em certos setores (e.g. como defensivo agrícola), na
substituição de tecnologias (e.g. células de mercúrio na indústria de cloro-soda), e no controle
mais eficiente de efluentes industriais. Por exemplo, os fatores de emissão de mercúrio da
indústria de cloro-soda era de 125 gHg.t-1Cl em 1972 decrescendo para menos que 10gHg.t-
1Cl em 1990. Por outro lado, enquanto em 1976, mais de 90% da produção brasileira de cloro
usava células de mercúrio, em 1992 somente 36% da produção utilizava esta tecnologia
(BEZERRA, 1990).
3.5 Intoxicação
Os registros de contatos com o mercúrio passam de 3500 anos. Sua existência foi
identificada em tumbas egípcias desde 1500 aC. No século XVIII, agentes anti-sífilis
continham mercúrio e entre 1940 e 1950, já se tinha conhecimento dos malefícios do metal,
dentre os quais a acrodinia – manifestações de dor e eritema nas palmas das mãos e solas dos
pés – irritabilidade, insônia, anorexia, diaforese, fotofobia e erupção cutânea (VECCHIO,
2005).
A exposição ambiental, a alimentação marítima e a quantidade de amalgamas
dentarias constituem indicadores dos níveis de mercúrio na população geral e são de grande
importância na determinação de limites de exposição que marcam os riscos para saúde pública
(ZACHI, 2005).
Deve-se distinguir a intoxicação pelos compostos orgânicos, mercúrio metálico e
derivados inorgânicos, pois produzem sintomatologias distintas, embora dados da literatura
científica apontem para maior semelhança de sintomas entre as exposições aos dois últimos
(AZEVEDO, 2003).
As intoxicações ocupacionais pelo mercúrio já foram descritas na idade média,
entretanto ainda hoje, vários processos industriais constituem fontes de exposição ao
trabalhador, principalmente pelos vapores de mercúrio. Por ser um líquido extremamente
volátil, a absorção do vapor de mercúrio se dá principalmente pela via inalatória, sendo o
cérebro e o rim os locais de maior deposição (LIMA et al., 2009)
Segundo Pavasi (2006), a principal via de absorção do mercúrio metálico e
inorgânico é a inalação do vapor, com penetração de 75% da dose inalada através da
membrana alvéolo-capilar.
O mercúrio iônico é transportado pelo plasma enquanto o mercúrio elementar é
transportado pelas hemácias onde é oxidado a íon mercurico. O mesmo acontece em outros
tecidos, por via catalítica reversível, fixando-se depois às proteínas. O mercúrio não oxidado é
capaz de penetrar através das barreiras hematoencefalica e placentária. A acumulação ocorre
no cérebro quando originado de exposição a vapores de mercúrio metálico e
organomercuriais. A acumulação ocorre nos rins com cerca de 50% a 90% da carga corpórea
para a exposição a sais inorgânicos (PAVASI, 2006).
A velocidade de excreção está associada à espécie e é dose-dependente. A excreção
de mercúrio é ainda influenciada pela exposição simultânea a outros metais, uso de
antibióticos do tipo penicilina e ingestão de bebidas alcoólicas na exposição a mercúrio
metálico a excreção é principalmente urinaria, podendo ocorrer eliminação pulmonar de
vapores de mercúrio. A meia vida do mercúrio metálico no organismo é de 60 dias. A
excreção do mercúrio inorgânico se da totalmente pela via urinaria, com uma meia vida de 30
– 60 dias. Os compostos orgânicos de mercúrio são eliminados sobre tudo pelas fezes, com
meia vida de 70 dias (PAVASI, 2006).
A via alimentar é a segunda via por meio da qual o mercúrio, já agora em sua forma
orgânica, ingressa no organismo humano, através do consumo de peixe. É uma via de alcance
mais amplo, e envolve as populações ribeirinhas, inclusive as indígenas, cuja principal, e as
vezes única, fonte de proteínas é o pescado, cujo consumo constitui hábito cultural antigo. A
exposição por essa via é alarmante, pois na medida em que se propaga contaminando o meio
ambiente, não pode ser controlada apenas por recomendações de saúde individual ou coletiva,
e cuja solução envolve os interesses econômicos de uma atividade produtiva de fiscalização
difícil, como é o processo garimpeiro (SANTOS, 2003).
Os incidentes de envenenamento por mercúrio elementar claramente mostram que
existem caminhos pelos quais ele é "quimicamente" introduzido no corpo humano: após
conversão à Hg+², a afinidade do Hg por proteínas favorece seu transporte dentro do sistema
biológico. Uma vez que o íon mercúrio é oxidado, sua metilação é prontamente alcançada,
formando complexos orgânicos no sangue; neste contexto, apresenta ligação em importantes
tecidos do corpo, causando danos irreparáveis (GONÇALVES et al., 2002).
Para Vecchio (2005) o vapor de Hg é apolar e lipossolúvel. Quando intracelular é
altamente tóxico, a remoção do peróxido de hidrogênio do meio celular, mediado pela
catalase é interrompido durante a oxidação do vapor. Caracteriza-se aqui prejuízo duplo: a
instalação de metal tóxico e deficiência na remoção do peróxido de hidrogênio, aumentando a
concentração de espécies reativas de oxigênio e radicais livres.
O mercúrio pode ser absorvido de 7 a 8% por meio da ingestão de nutrientes sólidos
e 15% ou menos por meio líquido. Facilmente vaporizado, é altamente absorvível (80%) em
temperatura ambiente, por inalação, pois tem destacada propriedade lipossolúvel que permite
a passagem dos alvéolos para dentro da corrente sanguínea e hemácias, assim como ocorre
transposição da barreira hematoencefálica, com conseqüente depósito no Sistema Nervoso
Central (MAGALHÃES & TUBINO, 1995).
Também pode ser absorvido por meio da pele íntegra (sendo o único metal absorvido
na forma metálica), em função de uma série de características físico-químicas peculiares,
principalmente em relação à volatilidade mesmo a baixas temperaturas e à grande resistência
à oxidação pelo ar atmosférico, permanecendo como átomo livre isolado apolar (Hgº) no
ambiente (BUSCHINELLI, 2000).
3.6 Sintomas
As alterações que ocorrem no corpo humano pela intoxicação do mercúrio metálico,
também denominada hidrargirismo, são decorrentes de lesões que podem acometer o sistema
nervoso central, fígado, medula óssea, vias aéreas superiores, pulmão, gengiva, pele, parede
intestinal, glândulas salivares, coração, músculos, placenta e rim (ZAVARIZ, 1993;
BUSCHINELLI, 2000).
3.6.1 Sintomatologia Aguda
Os sais de mercúrio são os potenciais agentes pela intoxicação aguda, principalmente
por meio da ingestão do cloreto de mercúrio. Este sal tem uma ação corrosiva sobre as
mucosas, produzindo lesões muito dolorosas, na boca, faringe, esôfago e estômago, e ainda
apresenta uma dose letal muito baixa, estimada em 0,3 a 0,4 g para um adulto. Pode-se
destacar também o edema pulmonar, taquicardia, hemorragias gastrintestinais e agitação
(SCHVARTSMAN, 1979)
Como efeitos agudos para intoxicação do mercúrio relatam-se síndrome
gastroentérica, renal, problemas respiratórios, em especial nos pulmões, visuais, mentais e
sintomas como fadiga, fraqueza, febre, tremores e salivação (VECCHIO, 2005).
3.6.2 Sintomatologia Crônica.
Dentre as diferentes espécies de mercúrio, o metilmercúrio é considerado a forma
mais tóxica. Este apresenta uma grande afinidade para com o grupo tiol das proteínas, o que
promove sua biomagnificação na cadeia alimentar (OLIVARES, 2003; FADINI, 1999).
De forma geral a exposição crônica a este metal pode causar perdas na função dos
rins e danos neurológicos (ATSDR, 1999).
Para Olivares (2003), quanto aos efeitos crônicos para intoxicação do mercúrio,
destacam-se principalmente os danos cerebrais, propiciando lesão no sistema nervoso central;
a perda da coordenação motora; alteração da fala e andar, com indicativos de tremores de
extremidades, equilíbrio; diminuição do campo visual e cegueira. Síndromes neuropáticas,
mudanças de personalidade referidas ao eretismo, distúrbios de fala, delírios e rigidez Ainda
apresenta característica teratogênica provocando microcefalia, danos mentais e motores.
O efeito neurotóxico do mercúrio se dá pela capacidade do Hgº absorvido circular
facilmente por todo o organismo e, graças à sua lipossolubilidade, atravessar barreiras
hematoencefálica, Por meio de ataque enzimático o Hgº vai sendo oxidado a Hg+, que por sua
carga elétrica, não encontra mais a facilidade de transpor barreiras. Desta forma, grandes
quantidades de Hgº, uma vez transformada em Hg+, acumulam-se no tecido nervoso (LIMA,
2009).
3.7 Formas de Avaliação
De acordo com Zavariz (1993), existem varias formas de avaliação mercurial:
3.7.1 Avaliação Laboratorial
a) aparelho renal: urina I, uréia e creatinina;
b) aparelho gastrointestinal: exame de fezes, transaminase glutâmica oxalacética
(TGO) e transaminase glutâmica pirúvica (TGP). Fosfatase alcalina e endoscopia;
c) aparelho cardicirculatório: colesterol;
d) sistema hematopoiético: hemograma;
e) aparelho auditivo: audiometria.
3.7.2 Avaliação Neurológica
A avaliação neurológica consiste na detecção de alterações de coordenação motora,
de sensibilidade térmica, dolorosa e táctil, de reflexos, de movimentos involuntários, de força
muscular, de equilíbrio, de voz, de articulação das palavras, de pares cranianos.
3.7.3 Avaliação Psiquiátrica
Esta avaliação utiliza formulário que visa detectar sintomas relacionados ao quadro
de eretismo psíquico, permitindo o estabelecimento de um diagnóstico diferencial em relação
a outras patologias psiquiátricas.
3.7.4 Avaliação Psicológica
Na avaliação psicológica, para complementar a entrevista inicial, são aplicados
alguns testes neuropsicológicos:
- Wechsler Memory Scale (D. Wechsler e C. T. Stone)- O teste fornece o Quociente
de Memória (QM), cuja classificação adotada é:
. QM abaixo de 50 - indica distúrbio severo de memória
. QM de 50 a 79 - indica dificuldade moderada (abaixo da média inferior)
. QM de 80 a 89 - indica dificuldade leve (média inferior)
. QM de 90 a 109 - indica normalidade (média)
. QM 110 e mais - indica memória acima da média.
- Teste de Aptidão à Mecânica de L.Walther - subteste de habilidade manual. A
finalidade do teste é mensurar a rapidez dos movimentos, a destreza manual, a coordenação
motora fina, a metodização e sistematização ao realizar um trabalho. A classificação é a
seguinte:
. abaixo de P19 - indica dificuldade grave
. de P20 a P30 - indica dificuldade moderada
. de P31 a P49 - indica dificuldade leve
. P50 - indica normalidade (média)
. acima de P50 – superior
- Bateria Fatorial CEPA - teste de atenção concentrada de Toulouse Pieron. Mede a
rapidez gráfica e motora na execução de tarefa simples, de natureza perceptiva e a exatidão
com que a tarefa é realizada.
Fornece, portanto, duas medidas, R e Q, ambas em percentil, sendo a classificação a
seguinte:
. abaixo de P19 - indica dificuldade grave
. de P20 a P30 - indica dificuldade moderada
. de P31 a P49 - indica dificuldade leve
. P50 - indica normalidade (média)
. acima de P50 - superior.
3.8 Tratamento
Antidepressivos, tranqüilizantes e analgésicos são utilizados no tratamento para
intoxicação mercurial crônica, embora a literatura não tenha revelado os resultados
produzidos. Também são usados agentes quelantes, que capturam íons metais produzindo
duas ou mais ligações, como o acido 2, 3 dimercaptosuccionato (DMSA) e o 2,3
dimercatopropane 1 sulfanato (DMPS) (FARIA, 2003).
3.9 Ações preventivas
O controle das fontes industriais clássicas de mercúrio resultou em um decréscimo
significativo da contaminação por esse metal em áreas industrializadas no sul-sudeste do país
(CETESB, 1980).
Lacerda (1996) informava que com implantação de legislação mais restritiva, na
década de 1990, e o desenvolvimento de tecnologias mais “limpas”, resultaria em uma maior
diminuição dos níveis de mercúrio originado nessas fontes, mas muito ainda deve ser feito
pelas autoridades competentes, pois como relatado por Farias (2006) toneladas de mercúrio
por ano são lançadas no meio ambiente pelas atividades informais de mineração de ouro, além
de queimadas da vegetação que constitui uma fonte primaria de mercúrio. Enfim, melhorar a
fiscalização na região Amazônica, pois ocorre grande emissão de mercúrio pela mineração de
ouro, e que por meio de um controle adequado poderá evitar os impactos negativos causados
tanto para o meio ambiente quanto para a saúde.
4 CONCLUSÃO
Por meio desse estudo e conhecimento dos diversos problemas ocasionados
pela contaminação mercurial e exposição e intoxicação humana ao mercúrio, que políticas
públicas necessitam ser elaboradas para transformação e incorporação nas atividades que
envolvem esse metal.
Pelos estudos levantados, na garimpagem brasileira o mercúrio continua
sendo um dos componentes de degradação ambiental, causando problemas ambientais:
físico e químico; sendo o físico por meio de assoreamento, produzindo efeitos muitas vezes
irrecuperáveis na flora, fauna e na população; e o químico dividido em ambiental e
ocupacional, sendo o principal dano o liberado para atmosfera, causando intoxicação da
população por via alimentar ou respiratória. São necessários estudos para avaliar os riscos
reais e potenciais ao ambiente e à saúde humana, esclarecer dúvidas dos diferentes
segmentos envolvidos, bem como orientar possível populações expostas.
É fundamental a capacitação dos profissionais de saúde para a realização de
diagnóstico diferencial visando identificar casos de exposição e intoxicação crônica, em
geral despercebida.
Além disso, é necessária a conscientização social do setor empresarial, pois muitos
trabalhadores desconhecem o exposto ocupacional ao mercúrio e os malefícios que tal
metal pode causar, e tampouco conhecem as formas de se prevenir. Não esquecendo que,
no Brasil, os malefícios à saúde dos trabalhadores expostos ao mercúrio e seus compostos
tóxicos são reconhecidos por meio de uma Portaria (n° 1399/GM de 18 de novembro de
1999).
Em processos industriais o mercúrio deve ser substituído por substâncias químicas
menos nocivas. Na impossibilidade de substituição imediata, deve-se reduzir sua utilização
que somente deve ser feita em locais planejados visando o acesso restrito de trabalhadores
naquela área, sempre com a utilização de equipamentos de proteção individual.
A comunidade científica mundial reconhece que o mercúrio na cadeia aquática
alimentar é um problema ambiental e um risco à saúde humana. Assim, vários países estão
implementando uma série de medidas de gerenciamento e, até mesmo, o banimento do
mercúrio.
Outro assunto preocupante que merece especial atenção se refere ao descarte de
lâmpadas fluorescentes. A luz da sanção, em agosto de 2010, da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, após mais de 20 anos de tramitação no Congresso Nacional, esse tipo de
descarte deverá ser regulado por normativas específicas considerando o real potencial de
causar danos ao meio ambiente e a saúde humana.
A conscientização da população, por meio principalmente de campanhas
educativas, é o ponto crucial para a efetivação de políticas sociais, ambientais e de saúde.
Sendo a segurança química uma responsabilidade do Estado, apenas com o controle social
e políticas públicas transversais teremos um país ambientalmente mais equilibrado.
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