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P A R T E I

O p r o t a g o n i s m o d a F S S / U E R J

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Os 70 anos da Faculdade de Serviço Social da UERJ na história do Serviço Social brasileiro

Marilda Villela Iamamoto*

Introdução

Congratulações a todos aqueles que, com seu trabalho, experiência, dedi-cação, participaram da construção da trajetória da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FSS/UERJ), criada em 1944 como Escola Técnica de Assistência Social Cecy Dodsworth. Nas comemorações de seus 70 anos, saúdo os que ousaram sonhar e construíram um projeto acadêmico-pedagógico, nos níveis de graduação e pós-gradua-ção, dotado de respeitabilidade, tanto na comunidade universitária quanto no meio acadêmico-profi ssional do Serviço Social brasileiro. Saudações às autoridades universitárias, à direção da Faculdade de Serviço Social da UERJ, seus docentes, discentes e funcionários.

Aqui, com o trabalho de muitos, foram semeados, produzidos e difun-didos conhecimentos técnicos e científi cos, guiados por princípios éticos e

* Professora titular da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), professora titular aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista do Programa de Incentivo à Produção Científi ca, Técnica e Artística– PROCIÊNCIA-da UERJ/Faperj, Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPQ), autora de artigos e livros na área de Serviço Social.

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políticos comprometidos com o universo do trabalho e com o processo de democratização da economia, da política e da cultura. Conhecimento e ações que vêm alimentando a luta por direitos sociais, civis e políticos – por direitos humanos − na perspectiva de novos tempos iluminados para todos.

Em um contexto de expansão avassaladora da privatização do ensino superior que submete a formação acadêmica aos ditames da lucratividade do capital em detrimento das funções precípuas da instituição universitária, a celebração do primeiro curso ofi cial gratuito e público de Serviço Social no Brasil é motivo de festa. Festa para todos aqueles que vêm se dedicando à defesa da instituição universitária pública e de qualidade, socialmente comprometida e referenciada, ideário que motiva o nascimento desta faculdade. Esta é, portanto, uma comemoração digna da Universidade Brasileira: que preza por suas funções precípuas nos níveis do ensino, na pesquisa e na extensão; e cultiva razão crítica, o compromisso com valo-res universais, coerente com sua função pública: e incorpora os dilemas regionais e nacionais como matéria da vida acadêmica, participando da construção coletiva de respostas aos desafi os históricos de seu tempo, no âmbito de suas atribuições específi cas.

O espírito dessa comemoração é rememorar e projetar o futuro, como indica a sabedoria do poeta Murilo Mendes: “Virar a vida pelo avesso [...]. Passado presente futuro, tiro o alimento de tudo.”

Esta é, assim, uma privilegiada oportunidade de fazer uma breve retros-pectiva dos 70 anos do Serviço Social no Brasil, com ênfase nas conquistas e desafi os da categoria nesses “tempos de afl ição e não de aplausos”, como nos diria Lêdo Ivo. Tempos em que reina, com toda a pompa, o grande capital fi nanceiro com a generalização de seus fetichismos em todos os poros da vida social, impregnando a sociabilidade acompanhada de um profundo desmonte das conquistas civilizatórias dos trabalhadores em tempos de crise mundial. A fetichização das relações sociais alcança o seu ápice sob a hegemonia do capital que rende juros – denominado por Marx “capital fetiche” –, obscurecendo o universo dos trabalhadores que pro-duzem a riqueza e vivenciam a alienação como destituição, sofrimento e rebeldia (IAMAMOTO, 2007).

Este cenário avesso aos direitos nos interpela. Atesta, contraditoria-mente, a urgência de seu debate e de lutas em sua defesa, em uma época

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que descaracterizou a cidadania ao associá-la ao consumo, ao mundo do dinheiro e à posse das mercadorias. A luta pela afi rmação dos direitos é hoje também parte de um processo de acumulação de forças para uma forma de desenvolvimento social, que possa vir a contemplar o desenvol-vimento de cada um e de todos os indivíduos sociais. Esses são, também, dilemas do Serviço Social.

Somos hoje, no Brasil, cerca de 135 mil assistentes sociais ativos, segundo dados do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), o segundo maior contingente profi ssional no mundo, só superado pelos EUA, em um total de 750 mil assistentes sociais no mundo, conforme a International Federation of Social Workers (FITS)1.

Ao nível da formação acadêmico-profi ssional, existiam, em agosto de 2011, 358 cursos de graduação autorizados pelo MEC, dos quais 18 de ensino a distância (EAD), que ofertavam, no mesmo ano, 68.742 vagas. Na modalidade presencial, os 340 cursos ofertavam, em 2011, 39.290 vagas, segundo as Sinopses Estatísticas do MEC, totalizadas por Larissa Dahmer, em 20132. As matrículas em cursos de Serviço Social em 2011 assim se distribuíram: na modalidade EAD 80.650 matrículas e na modalidade pre-sencial 72.019 matrículas.

Segundo a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), existem atualmente 16 cursos de doutorado3 na área de Serviço Social e 34 cursos de mestrado (sendo 1 mestrado e 1 douto-rado em Economia Doméstica, na Universidade Federal de Viçosa, alocado na área de Serviço Social), todos de caráter acadêmico, com ênfase em Ser-viço Social, Políticas Públicas e Políticas Sociais. A maioria encontra-se em instituições públicas, seguidos das universidades católicas4.

A presente exposição compõe-se de três partes: a) um quadro atual da Faculdade de Serviço Social da UERJ; b) breve retrospectiva do desenvol-

1 Disponível em: <http://ifsw.org/what-we-do/ Acesso em 06 set. 2013>.2 Os dados foram gentilmente cedidos pela Dra. Larissa Dahmer Pereira, a quem registramos nossos agradecimentos. 3 Os cursos de doutorado encontram-se nas seguintes Universidades: PUC/SP, PUC/RS, UFMA, UFRJ, UERJ, UFPE, UnB, UNESP, UFF, PUC/RJ, UFSC, UEL, UFES, UCPE, FUFPI, UFV.4 Disponível em: <http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarArea&identifi cador=32#> Acesso em: 20 ago. 2014.

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vimento do Serviço Social no país; c) uma caracterização do Serviço Social contemporâneo. O destaque para a Faculdade de Serviço Social da UERJ é transversal ao texto.

O quadro atual da Faculdade de Serviço Social da UERJ

A Faculdade de Serviço Social da UERJ vem se destacando no cenário universitário e profi ssional ao longo dos últimos anos por seu projeto aca-dêmico, apoiado em amplo investimento concentrado entre 1989 e 1992, no âmbito da graduação, na elaboração de um novo currículo pleno, hoje revisto e aperfeiçoado. Ele foi acompanhado da contínua capacitação e titu-lação de seu corpo docente nos níveis de doutorado e de pós-doutorado, sendo reconhecido como um dos melhores cursos de Serviço Social do país. Esse processo vem se desdobrando na criação e consolidação de um Pro-grama de Pós-Graduação em Serviço Social, com mestrado e doutorado. Na década de 1990, tem-se a criação do curso de especialização em Serviço Social e Saúde, do qual constam 179 monografi as defendidas no período de 1994 a 2012.

A Faculdade de Serviço Social conta, em 2014, com 668 alunos, assim distribuídos: 506 na graduação, 55 na especialização, 107 na pós-graduação stricto sensu: 44 no mestrado, e 63 no doutorado, além da supervisão de pós-doutores5. No primeiro semestre letivo de 2014, havia 178 alunos sob orientação docente: 82 alunos de graduação em Trabalho de Conclusão de Curso (I e II); 25 alunos em orientação de monografi as de especialização e 93 discentes em orientação ao nível da pós-graduação stricto sensu: 29 alu-nos em orientação de dissertação de mestrado e 64 em teses de doutorado − incluindo o Doutorado Interinstitucional da UERJ com a Universidade Federal de Alagoas (Dinter). Considerando o conjunto de orientações no primeiro semestre de 2014, os professores da Faculdade orientaram 175 tra-balhos discentes nos diferentes níveis de ensino.

5 Dados informados pelas Coordenações de Graduação, de Especialização e de Pós-Graduação da Faculdade de Serviço Social da UERJ. Tais coordenações estão a cargo respectivamente dos seguintes professores doutores: Ney Luíz Teixeira de Almeida, Renato Veloso e Elaine Rossetti Behring.

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O Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, atualmente avaliado com nota 6 na Capes (mestrado e doutorado), é criado em 1999 com o curso de mestrado e, em 2005, surge o curso doutorado, ambos com área de concentração em Política Social e Trabalho. Este Programa conta, atu-almente, com 33 teses e 181 dissertações defendidas, conforme registros institucionais. A pós-graduação tem impulsionado relações de intercâm-bios nacionais – como, por exemplo, com o Ministério da Justiça/Arquivo Nacional/Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)/Memórias Reveladas; a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (Capes); o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS); a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e várias Universidades: UFRN, UFSC, UNB e UFAL, entre outras. As relações internacionais também se expandiram mediante intercâmbios acadêmicos com a International Federation of Social Work (IFSW), a International Association of Education in Social Work (IAESW), o Programa Memória do Mundo da Unesco (MOW) − Comitê Nacional do Brasil, dentre outras instituições. Foram estabelecidos convênios com a Universidad da Costa Rica (Costa Rica) e a Universidad de La Plata (Argen-tina), além de intercâmbios com várias outras instituições acadêmicas como: Universidad Autónoma de Águas Calientes (México), Universidad Externado de Colômbia, Universidad de Chile, Universidad de Magallanes (Chile), a Universidade Paris 8, dentre outras.

Esta unidade acadêmica afi rma a centralidade da investigação na for-mação e no exercício profi ssional: na atualização docente, na formação de novas gerações de pesquisadores e na qualifi cação do exercício profi ssio-nal. Ela possibilita uma fecunda integração entre o ensino de graduação e pós-graduação e contribui para imprimir padrões de excelência acadêmica à instituição universitária no exercício de suas funções precípuas, que não podem ser reduzidas à transmissão de conhecimentos e à formação de mão de obra especializada para o mercado de trabalho. Trata-se também de uma atividade fundamental para subsidiar a construção de alternati-vas críticas ao enfrentamento da questão social para além da mistifi cação neoliberal; para subsidiar a formulação de políticas sociais alternativas aos lineamentos ofi ciais e a atuação dos movimentos das classes sociais subalternas, assim como a consolidação de propostas profi ssionais que for-

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taleçam a ruptura com o conservadorismo e afi rmem o compromisso com o trabalho, os direitos e a democracia.

A Faculdade de Serviço Social dispõe de vários pesquisadores par-ticipantes do Programa de Incentivo à Produção Científi ca, Técnica e Artística – PROCIÊNCIA − da UERJ/Faperj, assim como do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPQ). São três as linhas de pesquisa que articulam os núcleos e programas de estu-dos, pesquisas e extensão na pós-graduação: 1) Trabalho, Relações Sociais e Serviço Social; 2) Questão Social, Políticas Públicas e Serviço Social; 3) Identidades, Cultura, Políticas Públicas e Serviço Social. Elas congregam os programas, núcleos, e grupos de pesquisa existentes:

• Programa de Estudos do Trabalho e Reprodução Social (Petres):• Programa: Pensamento social e realidade brasileira na América

Latina: Centro de Estudos Octavio Ianni e Laboratório Integrado de Pesquisa (UERJ/Faperj), que agrega: a) Grupo de Estudos e Pesquisas do Orçamento Público e da Seguri-

dade Social CEOI/GOPSS b) Núcleo de Estudos de Política de Assistência Social (CEOI/Nepas);c) Núcleo de Estudos Estado, Classes Trabalhadoras e Serviço Social

no Brasil – (CEOI/NECLATSS);d) Núcleo de Política Pública na Saúde.

• Programa de Estudos Trabalho e Política (PETP) • Observatório do Trabalho no Brasil • Grupo de Estudos em Serviço Social, Saúde, Trabalho e Meio

Ambiente (Gesta)• Núcleo de Estudos, Extensão e Pesquisa em Serviço Social (NEEPSS) • Programa Gestão Democrática na Saúde e Serviço Social (GDSS)• Grupos de Estudos: Marxismo e Serviço Social (GEMASS)• Programa Infância, Adolescência e Educação no Rio de Janeiro (Piarj)• Laboratório de Gestão Pública (LGP)• Laboratório Integrado em Diversidade Sexual, Políticas e Direitos

(LIDIS) • Programa de Estudos de Gênero, Geração e Etnia (PEGGE).

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• Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-America-nos (CCS/UERJ);

• Programa de Estudos de América Latina e Caribe (CCS/UERJ)

Além dos núcleos e grupos de pesquisa existem os seguintes projetos isolados:

• Trabalho e modo de vida: elementos da sociabilidade de trabalha-dores urbanos no Brasil contemporâneo por meio da experiência no tempo de produção e reprodução social.

• Educação profi ssional e tecnológica no Brasil hoje e a inserção dos assistentes sociais.

• Trabalho, Saúde do Trabalhador e Serviço Social: as experiências do Rio de Janeiro.

• Cenários e Indicadores para a Vigilância em Saúde do Trabalhador no Estado do Rio de Janeiro.

A Revista Em Pauta. Teoria social e realidade contemporânea da Facul-dade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FSS/UERJ) (ISSN: 2238-3786) encontra-se na edição nº 33 – 1º semes-tre de 2014 –, vol. 12, tendo recebido a classifi cação de Qualis A2 na Capes. Criada em 1993, completou 20 anos em 2013, como veículo de difusão da produção científi ca e intercâmbios acadêmicos nacionais e internacionais nas áreas de Serviço Social e Ciências Sociais. A revista dispõe de um amplo e representativo Comitê Científi co e encontra-se indexada nas seguintes fontes: Latindex, Capes periódicos, CENGAGE Learning, NATHIONAL GEOGRAFIC Learning, DOAJ − Directory of Open Journals, Sumários.org6.

O desenvolvimento do Serviço Social no Brasil

Em suas origens no Brasil, na década de 1930, o Serviço Social está inti-mamente vinculado às iniciativas da Igreja Católica, como parte de suas

6 Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta> Acesso em 29/08/2014.

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estratégias de qualifi cação do laicato, especialmente sua parcela feminina − por meio dos movimentos da ação social e ação católica −, em sua missão de apostolado junto à família operária. Tendo seus antecedentes na criação do Centro de Estudos e Ação Social, em plena revolução paulista, em 1932, a iniciativa de surgimento da profi ssão no Brasil coube ao pioneirismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com a criação da Escola de Serviço Social de São Paulo em 1936, sob a infl uência aca-dêmica franco-belga. Esse processo é impulsionado pela industrialização e urbanização que tem em São Paulo seu centro dinâmico e em que cujo verso emerge a “questão social”. Ela condensa as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político, exigindo o seu reconhecimento como classe por parte do Estado e do empresariado. (IAMAMOTO; CARVALHO, 1982)

O Estado passa a intervir diretamente nas relações entre o empresariado e a classe trabalhadora. Estabelece uma regulamentação jurídica do mercado de trabalho por meio da legislação social e trabalhista e cria o Ministério do Trabalho, considerado o “Ministério da Revolução”, da modernização e da justiça social. Simultaneamente, o Estado desenvolve as primeiras iniciativas no campo da seguridade social, passando a gerir a organização e prestação de serviços sociais como um novo tipo de enfrentamento da “questão social” e, particularmente, da “ameaça comunista”.

Ainda nos anos 1940, são criadas as grandes instituições sócio-assistenciais: Legião Brasileira de Assistência (LBA), em 1942, organizada em decorrência do engajamento do país na Segunda Guerra Mundial; o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em 1942; o Serviço Social da Indústria (Sesi), em 1946. Todas estas instituições estão voltadas à força de trabalho industrial. O Estado institucionaliza iniciativas das frações dominantes da burguesia industrial num grande complexo assistencial, que extrapola sua ação nas unidades de produção para o cotidiano da vida do proletariado.

A política social do Estado no pós-1930 intensifi ca-se e generaliza--se mantendo fortes marcas corporativistas. A legislação social é revista e ampliada – jornada de 8 horas, direitos de menores, mulheres, férias, juntas de conciliação e julgamento, contrato coletivo de trabalho etc. −, proje-tando-se sua aplicação generalizada nos meios urbanos. O reconhecimento da cidadania do proletariado ocorre no marco da redefi nição das relações

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entre o Estado e as diferentes classes sociais e é acompanhado de mecanis-mos destinados a integrar e controlar os interesses do proletariado como recurso para o enfrentamento do processo de organização e lutas autôno-mas do movimento operário. Em síntese, os eixos da intervenção do Estado são repressão à organização autônoma, reconhecimento dos direitos do tra-balho e sindicalismo controlado.

O projeto político da nova ordem volta-se à proteção ao trabalhador para defesa da harmonia social; à justiça social e ao incentivo ao trabalho; à ordem social e ao aumento da produção. A subordinação política do movimento operário e a expansão da acumulação por meio da intensifi cação da explo-ração da força de trabalho convivem com a noção ideológica de um Estado acima das classes, acompanhada da “ideologia do trabalho”. Ele é tido com uma virtude que propicia a riqueza e o desenvolvimento da sociedade, ali-mentando a harmonia social e o bem comum. O trabalho deve ser apoiado na legislação que imponha limites à exploração e preserve “os bens da alma”, livrando a classe operária das infl uências extremistas e perturbadoras.

O Estado amplia-se, nos termos de Gramsci (1979), e passa a administrar e gerir o confl ito de classe não apenas via coerção, mas buscando construir um consenso favorável ao funcionamento da sociedade no enfrentamento da luta de classes. O Estado, ao centralizar a política socioassistencial efeti-vada pela da prestação de serviços sociais, cria as bases sociais que sustentam um mercado de trabalho para o assistente social, que se constitui como um trabalhador assalariado. O Estado e os estratos burgueses tornam-se uma das molas propulsoras dessa qualifi cação profi ssional legitimada pelo poder. O Serviço Social deixa de ser um mecanismo da distribuição da caridade pri-vada das classes dominantes − rompendo com a tradicional fi lantropia − para transformar-se em uma das engrenagens da execução das políticas públicas e de setores empresariais, que se tornam seus maiores empregadores.

Nas palavras de Pinheiro (1985 p. 42-43):

O Serviço Social cresceu no chamado Estado Novo. A criação do Ministério da Aeronáutica, o da Educação, o do Trabalho e as autarquias modifi caram as estruturas sociais vigentes. Assim como a Legislação Trabalhista, a Siderurgia Nacional (Volta Redonda), a Petrobras, a Fábrica Nacional de Motores. Deu a tudo um caráter populista e, também, alimentou o propósito de se começar

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de baixo para cima no tocante às transformações sociais. Os desacertos políti-cos de Getúlio Vargas jamais poderão empanar os altos serviços prestados por ele às classes menos favorecidas, aos trabalhadores e ao Brasil.

O Serviço Social no Rio de Janeiro e a fundação da Escola Técnica de Assistência Social Cecy Dodsworth

O Rio de Janeiro, então capital da República, além de concentrar a dire-ção política e econômica do país, é o mais antigo polo industrial da região Sudeste e um centro de serviços, contando com numeroso proletariado. Aí tem lugar uma presença mais intensa da atividade técnica para a assistência social, mediante o direto envolvimento de órgãos públicos de assistência médica, sanitária e social, com apoio explícito da alta administração federal, da cúpula hierárquica da Igreja e do movimento católico laico.

Tem-se uma explícita aliança entre Igreja e Estado nas origens do Serviço Social, cujo marco foi a Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, em 1936. Sob a liderança do Cardeal Dom Sebastião Leme, a semana é apoiada pela ofi cialidade: de sua comissão de honra consta a Sra. Darcy Vargas e representantes ilustres dos Poderes da República (Executivo, Legis-lativo e Judiciário). Durante a referida semana são debatidos temas como: a ação social até então desenvolvida, o recrutamento e formação de quadros, a habitação popular e a legislação social.

Nessa ocasião, foi sugerida por Stella de Faro a criação de um Instituto de Educação Familiar e Social, proposta apoiada pelo educador Alceu de Amoroso Lima, em moldes franceses, de inspiração católica. O referido Instituto volta-se à educação da mulher das classes abastadas, o que faz com que Pinheiro (1985, p.45) considere suas “condições de admissão muito elitistas”. “A orientação fi losófi ca se apoiava na Ação Católica que defen-dia medidas de proteção, dos meios trabalhistas, contra as novas ideologias econômico-sociais a se implantarem no País” (idem, p. 45).

A Escola Técnica de Assistência Social Cecy Dodsworth, da Prefeitura do Distrito Federal, subordinada à Secretaria Geral de Saúde e Assistência, foi criada em 24 de maio de 1944, pelo Decreto-Lei nº 6.527 da Presidên-cia da República. A fundadora, Maria Esolina Pinheiro, foi sua diretora no período 1944 a 1953.

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A criação desta Escola foi antecedida por outras importantes inicia-tivas. Maria Esolina já havia organizado a Escola de Serviço Social do Serviço de Obras Sociais (SOS) do Laboratório de Biologia Infantil, do Juízo de Menores, vinculado ao Ministério da Justiça. Tratava-se de um curso de Serviço Social para a infância, com 45 alunos, sob a orienta-ção técnica das paulistas Maria Kiehl e Albertina Ramos. Esta iniciativa foi estimulada pelo juiz de Menores, Dr. Burle de Figueiredo, pela deputada Dra. Carlota Pereira de Queiroz e pelo Dr. Leonídio Ribeiro, renomados intelectuais.

Em 1939, a prof. Esolina solicitou sua exoneração do Laboratório de Bio-logia Infantil para servir à Prefeitura do Rio de Janeiro. Era então secretário de Saúde e Assistência Social o prof. Clementino Fraga – um dos adep-tos combativos da Higiene e Medicina Social. Ele funda o Serviço Social na Prefeitura na perspectiva higienista. A Sociedade Brasileira de Higiene, criada em 1923, abria o caminho ao Serviço Social voltado a uma ação essencialmente educativa individual e uma ação coletiva no âmbito da saúde pública, “visto que as fontes de trabalho assalariado não ofereciam condições de higiene e moradia” (PINHEIRO, 1985, p. 47). Visava-se à prevenção de doenças de massa, nas trilhas de Oswaldo Cruz, Carlos Cha-gas e outros, em um contexto de acelerada urbanização, de migrações rurais urbanas, de crescimentos das favelas.

Em 1930, é criado o Ministério da Educação e Saúde e, mais tarde, o Serviço Especial de Saúde Pública. Em 1934, surge o Ministério de Negó-cios do Trabalho, da Indústria e do Comércio, no mesmo ano em que é aprovada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que altera a assistên-cia prestada aos trabalhadores.

Na Prefeitura do Rio de Janeiro, Maria Esolina Pinheiro impulsionou vários serviços e um Curso Técnico de Serviço Social, com duração de dois anos, formando trinta assistentes sociais para Departamentos Públicos e Instituições Privadas de Assistência Social. Defende

o ponto de vista de que o curso técnico deve ser mantido pelo Estado e de que o Trabalhador Social deve surgir do próprio meio e retornar a ele já profi s-sional, para auscultar-lhe as reais necessidades e cooperar para solucioná-las (PINHEIRO, 1985, p. 75).

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É ainda criado um curso de nível superior na Universidade do Brasil, com prerrogativas de extensão universitária, na reitoria do Dr. Raul Leitão da Cunha, sob a coordenação da mesma Isolina Pinheiro. Buscava-se des-pertar o interesse dos servidores públicos para os serviços sociais Deste curso participa um público diversifi cado: 115 médicos, 20 advogados, 70 professo-res, 35 enfermeiros e 60 de outras formações, num total de 300 participantes dos quais 100 são diplomados.

Em 1944, funda-se, na Prefeitura do Distrito Federal, o Departamento de Assistência Social, ao qual competia a prestação de Serviços Sociais (Decreto-Lei nº 6.709 de 4/8/1944). Um ano após, em 1945, é promulgada, no âmbito federal, a Lei Orgânica dos Serviços Sociais (Decreto-Lei nº 7.526 de 7 de maio). Em 9 de agosto de 1945 cria-se a carreira de assistente social na Prefeitura do Distrito Federal, com 39 vagas, e Esolina Pinheiro é nomeada a primeira assistente social em Serviço Público.

As primeiras medidas voltadas à criação da Escola Técnica de Assistência Social datam de 1943: uma iniciativa da Cruz Vermelha Brasileira, ainda em caráter transitório, como “esforço de guerra do Brasil” para cooperar no trabalho de alistamento e preparação psicológica de mais de mil socorristas de guerra. Segundo Pinheiro (1985a, p. 3), tratava-se de um Serviço Social prestado à Nação, parte do “pioneirismo do Serviço Social” vinculado às iniciativas empíricas da assistência social, nas décadas de 1930 a 1950.

Em 24 de maio de 1944, a Escola Técnica Cecy Dodsworth foi ofi cia-lizada como primeira escola de assistência social ofi cial do país, por meio do Decreto-Lei nº 6.527, do presidente da República e sob a responsabi-lidade da Secretaria Geral de Saúde e Assistência da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, então capital da República. O Decreto determinava o funcionamento dos seguintes cursos, formadores de “trabalhadores sociais”: assistentes sociais, educadora familiar, visitador social, nutricionista e pueri-cultura, podendo ainda realizar cursos de formação em quaisquer das áreas da assistência social. A terminologia incorporada do social work norte-ameri-cano considerava a diversifi cação dos campos de atuação desses profi ssionais.

Pinheiro defendia os princípios proclamados no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, lançado em 1932. Redigido por Fernando de Azevedo, o texto foi assinado por 26 intelectuais, entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes

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Lima e Cecília Meireles. Ele é o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país e propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e defendia a bandeira de uma escola única, pública, laica, obri-gatória e gratuita. A educação nova, alargando sua fi nalidade para além dos limites das classes, assume, com uma feição mais humana, a sua verdadeira função social, preparando-se para formar a “hierarquia democrática” pela “hierarquia das capacidades”, recrutadas em todos os grupos sociais, a que se abrem as mesmas oportunidades de educação.

O movimento reformador foi alvo da crítica forte e continuada da Igreja Católica. Ela era uma forte concorrente do Estado na expectativa de educar a população e tinha sob seu controle a propriedade e a orientação de par-cela expressiva das escolas da rede privada.

Esolina Pinheiro defende a necessidade de uma Escola gratuita de Ser-viço Social, considerando que

do seio do povo devem sair seus próprios agentes de Serviço Social, esclare-cidos pela formação profi ssional recebida pela Escola possam melhor atura na prática, em face dos interesses dos próprios grupos”[...] “A Escola da Pre-feitura não poderia ser elitista, como não o são os diversos cursos da rede educacional ofi cial. Era uma escola gratuita, nitidamente popular (classe média) e absorveu, mesmo nos cursos noturnos, alunos que trabalhavam em setores afi ns (PINHEIRO, 1985, p. 27).

Os assistentes sociais à época trabalham em instituições ofi ciais como: a Prefeitura do Distrito Federal, o Ministério do Trabalho, o Juizado de Meno-res, Serviço de Assistência a Menores, a Imprensa Nacional, o Departamento do Café, os Institutos dos Comerciários, e dos Industriários, a LBA, a Cruz Vermelha Brasileira e o Serviço de Obras Sociais (SOS).

A Escola Técnica de Assistência Social permaneceu vinculada à Secre-taria Geral de Saúde e Assistência da Prefeitura no período de 1944 a 1948. Em 1949, passa a subordinar-se à Secretaria de Educação e Cultura, com base na Lei nº 103 de 4/9/1948, na Lei nº 138 e na Lei nº 442, de 1949. Nesse mesmo ano, o Decreto nº 422 de 8/12/1949 cria o Instituto de Serviço Social, substituindo a denominação Escola Técnica. O curso foi reconhe-cido em 1955 por meio do Decreto-Lei nº 38.330 e, em 20 de setembro de

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1958, o Decreto nº 14.046 altera a denominação para Faculdade de Serviço Social, quando o curso foi considerado de nível superior, passando a inte-grar a Universidade do Estado da Guanabara (UEG).

Em 1963 são ofi cialmente transferidos à UEG vários estabelecimen-tos de ensino, dentre os quais constava a “Faculdade de Serviço Social do Estado da Guanabara”, antigo curso de Serviço Social, reconhecido pelo Decreto Federal nº 38.330, de 1955”. (PINHEIRO, 1985)

O período de 1936 a 1945 marca o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social no país, com prevalência da infl uência católica7:

• 1936. Escola de Serviço Social de São Paulo, isolada, que se incorpora à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1972.

• 1937. Escola de Serviço Social do Instituto de Educação Familiar e Social, no Rio de Janeiro, que se agrega à PUC-RJ, em 1946 e, em 1972, é incorporada a essa Universidade.

• 1940. Escola de Serviço Social de Pernambuco, a primeira do Nordeste. Extinta em 1970 como escola isolada, é incorporada à Uni-versidade Federal de Pernambuco, em 1971, como Departamento de Serviço Social.

• 1940. Instituto de Serviço Social de São Paulo, que se agrega à Faculdade Paulista de Serviço Social8 (FAPSS) em 1946 e, em 1957, torna-se Instituto de Ensino Superior ligado à PUC-SP.

• 1944. Escola de Serviço Social da Bahia, integrando-se à Universi-dade Católica de Salvador (UCSAL) em 1961.

7 Os dados referentes ao surgimento das escolas de Serviço Social no país se apoiam na pesquisa de doutorado de Larissa Dahmer Pereira (2007).8 O ISS, “estabelecimento para a formação de assistentes sociais masculinos” e vinculado inicialmente à Escola de Serviço Social de São Paulo, instalou-se ofi cialmente a 2 de março de 1940. Na composição de sua primeira diretoria constam: presidente, José Pedro Galvão de Souza; secretário, Dr. Ernani de Paula Ferreira; tesoureiro, Dr. Luiz Carlos Mancini; bibliotecário, prof. Francisco de Paula Ferreira; assistente eclesiástico, padre Antonio Leme Machado. Como informa Betteto (2010), desde sua fundação até 1941, o Instituto de Serviço Social funcionou nas instalações da Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de São Bento, da Ordem Beneditina. Em 1946, o Instituto de Serviço Social tornou-se um dos elementos na constituição da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 1962, o Instituto de Serviço Social mudou de denominação, passando a chamar-se Faculdade Paulista de Serviço Social, conforme Decreto n.º 472, de 5/1/1962, do Conselho de Ministros de Estado.

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• 1945. Escola de Serviço Social do Paraná, que se integra à PUC − Paraná em 1969.

• 1945. Escola de Serviço Social de Porto Alegre, integrada à Universi-dade Católica em 1948.

De iniciativa do Estado, são registradas as seguintes escolas no período:

• 1937. Centro de Serviço Social da Escola de Enfermagem Ana Nery (Univ. do Brasil), primeira Escola de Enfermagem do Brasil no marco do movimento sanitarista brasileiro no início do século XX. Perten-cente à Universidade do Brasil (atual UFRJ), é elevado à condição de Escola Autônoma em 1967;

• 1940. Escola de Serviço Social de Manaus, agregada à Universidade em 1962.

• 1945. Escola de Serviço Social de Niterói, que se incorpora à Univer-sidade Federal Fluminense em 1980.

• 1945. Escola de Serviço Social de Natal, agregada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 1969.

A prof. Esolina Pinheiro permaneceu na direção da Faculdade de Ser-viço Social durante nove anos, de 1944 a 1953. Afastou-se do cargo diretivo no período 1953-1956, ano em que retorna ao cargo, nomeada pelo prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Negrão de Lima. Em 1962, retorna novamente à direção da Faculdade por indicação do secretário de Educação e Cultura, Carlos Flexa Ribeiro.

Nos seus períodos de afastamento foram nomeados diretores, Mary Quintino Fabrico Barros; Hilda Fernandes de Mattos; Maria de Lourdes Costa Almeida − que permaneceu no cargo até fusão do Estado da Guana-bara com o Estado do Rio de Janeiro, quando a UEG passa à Universidade do Estado do Rio de Janeiro; prof. Ney Cidade Palmeiro, que foi posterior-mente reitor dessa Universidade. (PINHEIRO, 1985)

Esolina Pinheiro publica, em 1938, o primeiro livro de Serviço Social no país: Serviço Social. Infância e juventude desvalidas, o qual foi reeditado pela Ed. Cortez em 1985, como documento histórico. (PINHEIRO, 1985a) Para a autora, o Serviço Social − mesmo o da iniciativa privada − tem por

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fi m principal reforçar a ação dos serviços públicos. A ação do Serviço Social entrelaça-se com a legislação social, sobretudo a da assistência social e da “proteção a menores abandonados, adaptação dos anormais e reeducação dos delinquentes”.

O Serviço Social Público cada vez se desenvolve mais: o que antigamente constituía obra de caridade transformou-se em direito do indivíduo e obrigação do Estado. Os serviços de assistência, os centros de saúde, os departamentos de higiene, as instituições de previdência e seguros sociais multiplicam-se a demonstrar o interesse dos poderes públicos para a melhoria das condições de existência do povo. Realizam principalmente a assistência preventiva e construtiva” (PINHEIRO, 1985a, p.19).

Para a autora, os serviços sociais de natureza privada – os das obras sociais – se entrosam frequentemente com os serviços sociais públicos, mas neles prevalecem os casos de aplicação individual voltado ao desenvolvimento da personalidade. Ainda que distinto, é complementar ao Serviço Social cole-tivo: ação generalizada que se estende a grupos sociais, por intermédio de centros sociais, colônias de férias centros de instrução, etc.

O livro pioneiro de Pinheiro (1985a) expressa preocupações com princípios e condutas éticas referentes ao sigilo profi ssional e com as legis-lações específi cas que prescrevem direitos a segmentos distintos no acesso a condições de vida dos trabalhadores: família, habitação, alimentação, proteção à infância e maternidade, assistência educacional, educação operária nas indústrias e vida rural além de sua retrospectiva histórica do Serviço Social mundial.

Poder-se-ia destacar algumas dimensões que particularizam as origens da Faculdade de Serviço Social da UERJ no quadro da formação do Serviço Social no Brasil:

− Ausência de vínculo direto com a Igreja, nascendo sob o signo da secularização, por meio da iniciativa do poder público municipal e federal;

− Primeira escola ofi cial de Serviço Social do país;

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− Infl uência do social work norte-americano na formação de traba-lhadores sociais de diferentes especialidades para atuar na área de assistência social;

− Privilégio da política pública e do Serviço Social coletivo, de caráter preventivo, articulado ao atendimento de casos por parte das organi-zações privadas de assistência social.

− Participação no movimento higienista e na medicina social, voltados à saúde pública como responsabilidade do Estado, em face da expan-são capitalista industrial e urbana, ao movimento migratório e suas incidências nas condições de vida e trabalho da classe trabalhadora;

− Defesa do movimento da Escola Nova que preconiza a educação laica, única, pública, laica, obrigatória e gratuita. Daí o caráter público e gratuito do curso, tendente a uma “proletarização” de suas agentes, como contraponto ao elitismo das escolas católicas e à extração de classe de seus alunos;

− Pioneira integração entre trabalho e assistência social.

O Serviço Social brasileiro desenvolve-se no período pós-Segunda Guerra Mundial, período de expansão da economia capitalista sob a hegemonia dos grupos transnacionais. O crescimento industrial, em bases tayloristas e for-distas, dinamiza a acumulação de capital, gerando excedentes, parcela dos quais é canalizada para o Estado no fi nanciamento de políticas públicas, contribuindo para a socialização dos custos de reprodução da força de traba-lho. A política keynesiana, direcionada ao “pleno emprego” e à manutenção de um padrão salarial capaz de assegurar um relativo poder de compra dos trabalhadores, implicou o reconhecimento do movimento sindical em suas reivindicações econômicas e políticas. A prestação de serviços sociais públicos foi expandida, permitindo às famílias de trabalhadores dotados de emprego formal protegido usufruírem a “cidadania regulada” (SANTOS, 1979), com acesso aos direitos, podendo aplicar sua renda monetária para consumir e dinamizar a economia. A estes se somavam amplos segmentos destituídos de trabalho e de cidadania.

No caso brasileiro, a expansão monopolista faz-se mantendo de um lado a dominação imperialista e de outro a desigualdade interna do desenvolvimento da sociedade nacional, em uma clara dissociação entre desenvolvimento

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capitalista e regime político democrático. Ela aprofunda as disparidades econômicas, sociais e regionais, na medida em que favorece a concentra-ção social, também regional e racial, de renda, prestígio e poder. Engendra uma forma típica de dominação política, de cunho contrarrevolucionário, em que o Estado assume um papel decisivo não só na unifi cação dos interes-ses das frações e classes burguesas, como na imposição e irradiação de seus interesses, valores e ideologias para o conjunto da sociedade. Perfi la-se, em consequência, um divórcio crescente entre o Estado e as classes subalternas, “em que o povo se sente estrangeiro em seu próprio país e emigra para dentro de si mesmo”, apesar das fórmulas político-jurídicas liberais estabelecidas nas constituições republicanas. (IANNI, 1984a)

Os traços elitistas e antipopulares da transformação política e da modernização econômica se expressam na conciliação entre as frações das classes dominantes com a exclusão das forças populares, no recurso frequente aos aparelhos repressi-vos e à intervenção econômica do Estado. (COUTINHO, 1989, p. 122)

Na trajetória da construção dos direitos no Brasil, pesa a determinação de elementos fundamentais da formação histórica brasileira: a grande proprie-dade territorial, as relações de poder, apoiadas em relações de dependência pessoal, no compadrio e na ideologia do favor (COUTO, 2004). Essa cul-tura política não foi inteiramente superada, apesar das lutas por direitos, afetando profundamente a imagem da profi ssão e as condições de trabalho do assistente social.

Os anos que seguem à Segunda Guerra Mundial marcam o desenvol-vimento do ensino de Serviço Social no país – e a expansão regional −, a regulamentação da profi ssão e a legalização do exercício profi ssional, que se desdobram no ingresso do Serviço Social na estrutura universitária, o que foi intensifi cado no período da ditadura militar (1964-1985).

O ensino de Serviço Social no âmbito federal foi regulamentado pela Lei nº 1.889 de 13 de junho de 1953, de João Café Filho, que dispõe sobre os objetivos, o ensino e sua estruturação, assim como sobre as prerrogativas dos portadores de diploma de assistente social e agente social. Já a primeira Lei de Regulamentação do Exercício profi ssional (Lei nº 3.352) é de 27 de agosto de 1957.

A atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro foi fundada em 1950 a partir da aglutinação das escolas superiores particulares (Faculdade

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de Ciências Jurídicas, Faculdade de Ciências Econômicas, Faculdade de Ciências e Letras do Instituto La Fayette e Faculdade de Ciências Médicas), mantida pela Prefeitura do Distrito Federal e, conforme a Lei nº 547, foi denominada Universidade do Distrito Federal (UDF). Ela sofreu mudanças em suas denominações: em 1958 passou a Universi-dade do Rio de Janeiro; em 1961, Universidade do Estado da Guanabara e, em 1975, devido à fusão do Estados da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, passa a Fundação Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), gozando de autonomia administrativa e de gestão finan-ceira e patrimonial para o exercício de suas funções de ensino, pesquisa e extensão.

O projeto do Serviço Social no Brasil contemporâneo

O Serviço Social brasileiro contemporâneo apresenta uma feição aca-dêmico-profi ssional e social renovada, voltada à defesa do trabalho e dos trabalhadores, do amplo acesso à terra para a produção de meios de vida, ao compromisso com a afi rmação da democracia, da liberdade, da igualdade e da justiça social no terreno da história. Nesta direção social, a luta pela afi rmação dos direitos de cidadania, que reconheça as efetivas necessidades e interesses dos sujeitos sociais, é hoje fundamental como parte do processo de acumulação de forças em direção a uma forma de desenvolvimento social inclusiva para todos os indivíduos sociais.

Esse processo de renovação crítica do Serviço Social é fruto e expressão de um amplo movimento de lutas pela democratização da sociedade e do Estado no país, com forte presença das lutas operárias, que impulsionaram a crise da ditadura militar: a ditadura do grande capital (IANNI, 1981).

Foi com a ascensão dos movimentos políticos dos trabalhadores urbanos e rurais e de segmentos médios, com o processo de elaboração da Carta Constitucional de 1988 na defesa do Estado de Direito, que a categoria de assistentes sociais foi sendo socialmente questionada. Impulsiona-se um processo de ruptura com o tradicionalismo profi ssional e seu ideário conservador, o que emoldura o horizonte de preocupações emergentes no âmbito do Serviço Social. Passa-se a exigir novas respostas profi ssionais, o que derivou em signifi cativas alterações nos campos do ensino, da pesquisa,

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da regulamentação da profi ssão e da organização político-corporativa dos assistentes sociais.

Durante o período ditatorial muitos assistentes sociais foram capturados pelo ardil de transformar ciência em técnica social, subordinando-se à razão ins-trumental, nos termos de Horkheimer. Buscava-se o aperfeiçoamento técnico para a implementação de um conjunto de programas sociais compensatórios da repressão, do arrocho salarial e da desmobilização política das classes e gru-pos profi ssionais. Ali também foram sufocadas as primeiras iniciativas críticas que tiveram lugar nos trabalhos comunitários e de educação popular segundo a orientação de Paulo Freire durante o período desenvolvimentista.

Mas é também nos anos 1960 que ocorre um intenso movimento de integração de unidades de ensino isoladas à Universidade Pública, o que impõe as exigências de interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão assim como o impulso à pós-graduação stricto sensu. Datam dessa década os primeiros cursos de pós-graduação: é de 1972 o primeiro mestrado em Serviço Social da PUC-RJ, logo seguido pela PUC-SP no mesmo ano. Em 1980 é criado o primeiro curso de doutorado na área também na PUC-SP.

Nesse lapso temporal, na resistência ao arbítrio e na defesa democrá-tica, os assistentes sociais brasileiros, na contramaré dominante, construíram um projeto profi ssional radicalmente inovador e crítico, com fundamentos históricos e teórico-metodológicos, hauridos na tradição marxista, apoiados em valores e princípios éticos radicalmente humanistas e nas particularida-des da formação histórica do país. Ele adquire materialidade no conjunto das regulamentações profi ssionais: o Código de Ética do Assistente Social (1993), a Lei da Regulamentação da Profi ssão (1993) e as Diretrizes Cur-riculares norteadoras da formação acadêmica (ABESS/CEDEPSS, 1996, 1997a, 1997b; MEC-SESU/CONESS/Comissão de Especialistas de Ensino em Serviço Social, 1999).

A Faculdade Serviço Social da UERJ, a partir de 1984, realiza concursos públicos, ocorrendo uma ampla renovação de seus quadros docentes. Essa conquista inédita na história desta Faculdade foi impulsionada por uma greve de estudantes contra a demissão de um grupo de jovens docentes con-tratados, chegando a paralisar a Universidade.

Esta faculdade teve um forte protagonismo na renovação crítica do Serviço Social no Rio de Janeiro, quando seus docentes assumiram, na

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década de 1980, as direções do Sindicato dos Assistentes Sociais e do então Conselho Regional de Assistentes Sociais. Também cumpriu um papel de liderança na formulação das Diretrizes Curriculares nacionais para o curso de Serviço Social, a partir de sua revisão curricular do início dos anos 1990. Tendo por núcleo básico as Políticas Sociais e o Serviço Social, esta unidade acadêmica imprime uma nítida direção social ao curso, apoiada na tradição marxista, e realiza pesquisas pioneiras sobre o trabalho do assis-tente social9.

A assembleia ordinária da então Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS), em 1996, que formula a “Proposta básica para os cursos de Serviço Social no país”, foi sediada na UERJ, quando era diretora da FSS/UERJ a prof. dra. Rosangela Nair C. Barbosa. A faculdade foi ainda uma das grandes incentivadoras do curso noturno10, tendo em vista demo-cratização do acesso à universidade por parte da juventude trabalhadora e sua formação cultural.

As diretrizes curriculares propostas pela ABESS reconhecem o Serviço Social como uma especialização do trabalho da sociedade, inscrita na divisão social e técnica do trabalho social, o que supõe afi rmar o primado do trabalho na constituição dos indivíduos sociais. Ao indagar-se sobre signifi cado social do Serviço Social no processo de produção e reprodu-ção das relações sociais, tem-se um ponto de partida e um norte. Este não é a prioridade do mercado, tão cara aos liberais. Para eles, a esfera privilegiada na compreensão da vida social é a esfera da distribuição da riqueza, visto que as leis históricas que regem a sua produção são tidas como assemelhadas àquelas da natureza, de difícil alteração por parte da ação humana.

Esse modo de vida implica contradições básicas: por um lado, a igualdade jurídica dos cidadãos livres é inseparável da desigualdade econômica derivada do caráter cada vez mais social da produção, contraposta à apropriação privada do trabalho alheio. Por outro lado, ao crescimento do capital corresponde a

9 O primeiro texto sobre o tema do processo de trabalho no Serviço Social, elaborado, ainda, no calor do processo de formulação das diretrizes curriculares, por Almeida (1996). Também contribuem ao processo de formulação e implantação das diretrizes curriculares os textos de Cardoso (1997, p. 27-46); Barbosa; Almeida; Cardoso (1998, p. 109-130); Barbosa; Almeida; Cardoso; Serra. (1993 p. 1-17).10 Cf. Barbosa; Almeida; Cardoso; Serra. (1993, p. 18-40).

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crescente pauperização relativa do trabalhador. Esta é a lei geral da produção capitalista, que se encontra na gênese da “questão social” nessa sociedade.

Assim, o processo de reprodução das relações sociais não é mera repeti-ção ou reposição do instituído. É, também, criação de novas necessidades, de novas forças produtivas sociais do trabalho em cujo processo aprofun-dam-se desigualdades e são criadas novas relações sociais entre os homens na luta pelo poder e pela hegemonia entre as diferentes classes e grupos na sociedade. Essa é uma noção aberta ao vir a ser histórico, à criação do novo, que captura o movimento e a tensão das relações sociais entre as classes e sujeitos que as constituem, as formas mistifi cadas que as revestem, assim como as possibilidades de ruptura com a alienação por meio da ação cria-dora dos homens na construção da história. Esse rumo da análise recusa visões unilaterais que apreendem dimensões isoladas da realidade, sejam elas de cunho economicista, politicista ou culturalista.

Reafi rma-se, pois, a dimensão contraditória das demandas e requisições sociais que se apresentam à profi ssão, expressão das forças sociais que nelas incidem: tanto o movimento do capital quanto os direitos, valores e princí-pios que fazem parte das conquistas e do ideário dos trabalhadores. São essas forças contraditórias, inscritas na própria dinâmica dos processos sociais, que criam as bases reais para a renovação do estatuto da profi ssão conjugadas à intencionalidade dos seus agentes.

“O signifi cado sócio-histórico e ídeopolítico do Serviço Social inscreve--se no conjunto das práticas sociais acionado pelas classes e mediadas pelo Estado em face das ‘sequelas’ da questão social.” A particularidade do Serviço Social no âmbito da divisão social e técnica do trabalho coletivo encontra-se “organicamente vinculada às confi gurações estruturais e con-junturais da ‘questão social’ e às formas históricas de seu enfrentamento, que são permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado” (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 154).

Reafi rma-se, pois, a “questão social” como base de fundação sócio-his-tórica da profi ssão, salientando as respostas do Estado, do empresariado e as ações das classes trabalhadoras no processo de constituição, afi rmação e ampliação dos direitos sociais. (ABESS/CEDEPSS, 1997)

A questão social é indissociável da sociabilidade capitalista e envolve uma arena de lutas políticas e culturais contra as desigualdades socialmente pro-

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duzidas. Suas expressões condensam múltiplas desigualdades mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais, relações com o meio ambiente e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, enraizada na produção social contraposta à apropriação privada do trabalho, a “questão social” atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e surda pela cidadania (IANNI, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, políticos e sociais. Esse processo é denso de conformismos e rebeldias, expressando a consciência e luta que acumula forças para o reconhecimento das necessidades de cada um e de todos os indivíduos sociais.

É na tensão entre produção da desigualdade, da rebeldia e do confor-mismo que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, os quais não é possível abstrair − ou deles fugir −, pois tecem a trama da vida em sociedade. Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extra-polando a questão social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado no reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos, consubstanciados nas políticas e serviços sociais, media-ções fundamentais para o trabalho do assistente social.

A hipótese é que na raiz do atual perfi l assumido pela questão social na atualidade encontrem-se as políticas governamentais favorecedoras da esfera fi nanceira e do grande capital produtivo – das instituições e merca-dos fi nanceiros e empresas multinacionais −, como forças que capturam o Estado, as empresas nacionais, o conjunto das classes e grupos sociais que passam a assumir o ônus das “exigências dos mercados”.

As múltiplas manifestações da questão social, sob a órbita do capital, tornam-se objeto de ações fi lantrópicas e de benemerência e de “programas focalizados de combate à pobreza”, que acompanham a mais ampla priva-tização da política social pública, cuja implementação passa a ser delegada a organismos privados da sociedade civil, o chamado “terceiro setor”. Ao mesmo tempo expande-se a compra e venda de bens e serviços, alvo de investimentos empresariais que avançam no campo das políticas públicas. A atual desregulamentação das políticas públicas e dos direitos sociais desloca a atenção à pobreza para a iniciativa privada ou individual, impulsionadas

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por motivações solidárias e benemerentes, submetidas ao arbítrio do indiví-duo isolado e ao mercado e não à responsabilidade pública do Estado, com claros chamamentos à sociedade civil.

As conquistas sociais acumuladas têm sido transformadas em causa de “gastos sociais excedentes” que se encontrariam na raiz da crise fiscal dos Estados. A contrapartida tem sido a difusão da ideia liberal de que o “bem-estar social” pertence ao foro privado dos indivíduos, famílias e comunidades. A intervenção do Estado no atendimento às necessidades sociais é pouco recomendada, transferida ao mercado e à filantropia, como alternativas aos direitos sociais que só existem na comunidade polí-tica. Como lembra Yazbek (2001), o pensamento neoliberal estimula um vasto empreendimento de “refilantropização do social”, e opera uma profunda despolitização da “questão social” ao desqualificá-la como questão pública, questão política e questão nacional.

O Serviço Social contemporâneo: tensão entre projeto profi ssional e trabalho assalariado

Ao longo dos três últimos decênios, o Serviço Social brasileiro construiu um projeto profi ssional radicalmente inovador e crítico, fundado em valores e princípios éticos que adquirem materialidade no conjunto das regulamentações profi ssionais: o código de ética do assistente social, a lei da regulamentação da profi ssão e as diretrizes curriculares norteadoras da formação acadêmica.

Os princípios éticos norteadores do projeto profi ssional estão fundados no ideário da modernidade que apresenta a questão central da liberdade do ser social no coração da refl exão ética; ser social que se constitui pelo trabalho e dispõe de capacidade teleológica consciente, afi rmando-se como produto e sujeito da história.

Mas é preciso considerar que a ordem burguesa é, em seu cerne, contraditó-ria: ao mesmo tempo em que fornece as bases históricas para o desenvolvimento de demandas vinculadas à liberdade (direitos, garantias sociais e individuais, autonomia, autogestão), simultaneamente bloqueia e impede sua realização. Assim esse valor da liberdade passa a existir mais como projeto, do que como uma realidade conquistada. (PAIVA et al: 1996, p.162).

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O mesmo ocorre com o valor da igualdade: ainda que afi rmada social-mente como requisito para a troca entre livres e iguais proprietários de mercadoria − o que se refrata no ideário dos direitos de cidadania –,na dinâmica das relações entre as classes sociais o alargamento do patamar dos direitos defronta-se inevitavelmente com os limites impostos pela lógica da acumulação, dilema esse já reconhecido por Marshal (1967) em seu estudo clássico sobre a cidadania.

Sabemos que a cidadania não é dada aos indivíduos de uma vez para sempre e não vem de cima para baixo, mas é resultado de uma luta perma-nente, travada quase sempre a partir de baixo pelas classes subalternas. As demandas de grupos e classes sociais prefi guram direitos que só são satis-feitos quando assumidos nas e pelas instituições do Estado, que asseguram uma legalidade positiva, atribuindo-lhe uma dimensão de universalidade.

Como afi rma P. Anderson (apud COUTINHO, 2002), a lógica capita-lista se expressa essencialmente pela afi rmação do mercado como forma suprema de regulação das relações sociais. Logo, tudo o que limita ou subs-titui o mercado em nome de um direito social − ou da justiça social−, é uma vitória da economia política do trabalho, isto é, outra lógica de regulação da vida social. Como sustenta Coutinho (2002), isso explica a atual reação dos neoliberais aos direitos sociais, que não interessam à burguesia. Ela pode tolerá-los e, inclusive usá-los a seu favor, mas procura limitá-los ou suprimi--los nos momentos de recessão, quando tais direitos se chocam com a lógica de ampliação máxima dos lucros. Por tudo isso, a ampliação da cidadania – esse processo progressivo e permanente de ampliação de direitos – termina por se chocar com a lógica do capital e expõe a contradição entre cidadania e classe social: a condição de classe cria défi cits e privilégios, que são obstá-culos para que todos possam participar, igualitariamente, da apropriação das riquezas espirituais e materiais, socialmente criadas.

Ao debruçar-se sobre o dever ser, a refl exão ética não é neutra: é sempre compromissada com valores que dizem respeito a determinadas projeções sociais, que têm protagonistas histórico-sociais efetivos.

O que merece destaque é que o projeto profi ssional não foi construído numa perspectiva meramente corporativa. Ainda que abarque a defesa das prerrogativas profi ssionais e desses trabalhadores especializados, o projeto os ultrapassa porque é dotado de “caráter ético-político”. Ele permite ele-

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var esse projeto a uma dimensão de universalidade e estabelece um norte quanto à forma de operar o trabalho cotidiano, impregnando-o de interes-ses da coletividade ou da “grande política”, como momento de afi rmação da teleologia e da liberdade, na práxis social. Nessa perspectiva, o trabalho profi ssional cotidiano passa a ser conduzido segundo os dilemas universais relativos, à refundação do Estado e sua progressiva absorção pela sociedade civil – o que se encontra na raiz da construção da esfera pública –; à produ-ção e distribuição mais equitativa da riqueza; à luta pela ultrapassagem das desigualdades pela afi rmação e concretização dos direitos e da democracia.

Como sustentam o conjunto CFESS/ CRESS na Carta de Manaus (2005):

O enfrentamento a essa direção econômica e social só é possível com a orga-nização coletiva dos trabalhadores e o fortalecimento dos movimentos sociais comprometidos com a defesa dos direitos, como processo estratégico da luta democrática e popular visando à emancipação e construção de uma socie-dade não submetida aos ditames do capital.

Sendo o Serviço Social regulamentado como uma “profi ssão liberal” – dela decorrente os estatutos legais e éticos que prescrevem uma autono-mia teórico-metodológica, técnica e ético-política à condução do exercício profi ssional –, ela é tensionada pela compra e venda da força de trabalho especializada do assistente social, enquanto trabalhador assalariado, o que representa um determinante fundamental na efetivação da autonomia do profi ssional.

A condição assalariada implica, necessariamente, a incorporação de parâmetros institucionais e trabalhistas consubstanciados no contrato de trabalho, que estabelecem as condições em que esse trabalho se realiza: intensidade, jornada, salário, controle do trabalho, índices de produtividade e metas a serem cumpridas.

Por outro lado, os organismos empregadores defi nem a particulariza-ção de funções e atribuições consoante sua normatização institucional, que regula o trabalho coletivo. Oferecem, ainda, o background de recursos materiais, fi nanceiros, humanos e técnicos indispensáveis à objetivação do trabalho e recortam as expressões da “questão social” que podem se tor-nar matéria da atividade profi ssional. Assim, as exigências impostas pelos

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distintos empregadores, no quadro da organização social e técnica do traba-lho, também materializam requisições, estabelecem funções e atribuições, impõem regulamentações específi cas ao trabalho a ser empreendido no âmbito do trabalho coletivo, além de normas contratuais (salário, jornada, entre outras), que condicionam o conteúdo do trabalho realizado e estabele-cem limites e possibilidades à realização dos propósitos profi ssionais.

Estabelece-se assim “a tensão entre projeto ético-político e alienação do trabalho, indissociável do estatuto assalariado”. Ou, em outros termos, repõe-se nas particulares condições do trabalho do assistente social profi s-sional, o clássico dilema entre causalidade e teleologia, entre momentos de estrutura e momentos de ação, exigindo articular, na análise histórica, estrutura e ação do sujeito.

A possibilidade de imprimir uma direção social ao exercício – moldando o seu conteúdo e o modo de operá-lo – decorre da relativa autonomia de que dispõe o assistente social, resguardada pela legislação profi ssional e pas-sível de reclamação judicial. Essa autonomia é dependente da correlação de forças econômica, política e cultural em nível societário e se expressa, de forma particular, nos distintos espaços ocupacionais construídos na relação com sujeitos sociais determinados: no Estado (no Poder Executivo e Minis-tério Público, no Judiciário e no Legislativo); nas empresas capitalistas; nas organizações político-sindicais; nas organizações privadas não lucrativas e nas instâncias públicas de controle democrático (Conselhos de Políticas e de Direitos, conferências, fóruns, ouvidorias).

Todavia, as atividades desenvolvidas sofrem outro vetor de demandas: as necessidades dos usuários, que, condicionadas pelas lutas sociais e pelas relações de poder, se transformam em demandas profi ssionais, reelaboradas na óptica dos empregadores no embate com os interesses dos usuários dos serviços profi ssionais.

É nesse terreno denso de tensões e contradições sociais que se situa o protagonismo profi ssional.

Nesses espaços ocupacionais os (as) assistentes exercem suas competên-cias e atribuições profi ssionais, resguardados (as) por lei, que ainda merecem maior atenção por parte da produção acadêmica: estudos socioeconômicos; orientação social a indivíduos, grupos e famílias; assessorias, consultorias e supervisão técnica; formulação, gestão e avaliação de políticas, programas e

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projetos; mobilização social e práticas educativas; instruções sociais de pro-cessos, sentenças e decisões; formulação do projeto de trabalho profi ssional e pesquisa; magistério, direção e supervisão acadêmica, que não têm tido a necessária visibilidade na literatura profi ssional recente.

O assistente social, no seu trabalho cotidiano, lida com situações singulares vividas por indivíduos e suas famílias, grupos e segmentos populacionais, que são atravessadas por determinações de classes. São desafi ados a desentranhar da vida dos sujeitos singulares que atendem às dimensões universais e particulares, que aí se concretizam, como condi-ção de transitar suas necessidades sociais da esfera privada para a luta por direitos na cena pública, potenciando-a em fóruns e espaços coletivos. Isso requer tanto competência teórico-metodológica, para ler a realidade e atribuir visibilidade aos fi os que integram o singular no coletivo, quanto a incorporação da pesquisa e do conhecimento do modo de vida, de tra-balho e expressões culturais desses sujeitos sociais, além da sensibilidade e vontade políticas que movem a ação, requisitos essenciais do desempe-nho profi ssional.

Conclusões

Para concluir, poderia resumir os desafi os do Serviço Social no enfrentamento desse momento conjuntural da sociedade brasileira nos seguintes aspectos:

1) Exigir a qualifi cação teórica que nos permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das fi nanças;

2) Reconhecer as formas particulares em que o desenvolvimento das fi nanças vem se realizando no Brasil nas últimas décadas, suas impli-cações no campo das políticas públicas e os, limites e possibilidades do trabalho profi ssional;

3) Fomentar a articulação com entidades, forças políticas e movimentos das classes trabalhadoras no campo e na cidade na defesa do trabalho e dos direitos humanos;

5) Defender a direção social do projeto profi ssional no marco do tra-balho cotidiano, adensando luta pela preservação e ampliação dos direitos numa perspectiva de universalidade, com uma participação

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qualifi cada nos espaços de representação e impulsionando formas de democracia direta;

6) Estimular o cultivo de uma atitude crítica e ofensiva na defesa das condições de trabalho e da qualidade dos atendimentos, potenciando a nossa autonomia profi ssional.

Um caminho fértil nessa direção é recuperar, no nosso tempo, o profícuo estilo de trabalho de Marx: uma forte interlocução crítica com o pensa-mento de diferentes extrações teóricas, elaborado em sua época, e uma efetiva integração com as forças vivas que animam o movimento de classes e segmentos de trabalhadores.

O legado já acumulado pelo pensamento social crítico brasileiro sobre a interpretação do Brasil no quadro latino-americano necessita ser apropriado, de modo que nos permita avançar a partir dele para pensar as particularidades dos processos sociais que conformam o Brasil con-temporâneo para dar sustentação histórica ao nosso projeto profi ssional. E aprender com os nossos clássicos. Refi ro-me às obras de Caio Prado Júnior, Astrojildo Pereira, Nelson Werneck Sodré, Florestan Fernandes, Antônio Cândido, Josué de Castro, Celso Furtado, Hélio Jaguaribe, Octá-vio Ianni, Ruy Mauro Marini entre outros. As transformações históricas que tiveram lugar aqui como nos demais países latino-americanos foram assumidas por esses pesquisadores como desafi os ao pensamento. Mas eles tinham clareza de que as explicações obtidas também infl uenciam os movimentos da sociedade, ao transformarem a teoria em força real que opera de dentro e por meio de grupos e classes sociais, especialmente os que protagonizam a história dos trabalhadores nesse país. Os “homens simples”, também tecem as linhas da história com suas lutas e reivindica-ções, rebeldias e conformismos.

Como diz Ianni, “para conhecer a história do Brasil é indispensável conhecer também a história social do povo brasileiro”, o que requer uma permanente vigília crítica do Brasil, condição para atribuir sustentação e viabilidade histórica ao nosso projeto profi ssional. Mas como alerta Gui-marães Rosa: “viver é muito perigoso”. E Cecília Meireles complementa: “a vida só é possível reinventada”.

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