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GESTÃO
Segurançado paciente:a criação de uma cultura
Iniciativas como o Patient Safety Movement reforçam a importância da segurança no ambiente hospitalar, assunto que vem ganhando espaço nas discussões na área da Saúde
Andre KloJdA
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A cultura da segurança, hoje, está presente em nosso cotidiano das formas mais diversas: nos carros, nas casas – ou seja, a nos-
sa volta. Na Saúde, que tem a delicada missão de lidar com vidas e com o bem-estar das pessoas, trata-se de uma questão ainda mais sensível e fundamental. Assim sendo, o interesse de instituições e dos profissionais da área, bem como de governos e demais órgãos, no assunto tem crescido nos últimos anos.
“A área da Saúde, durante muito tempo, não deu a aten-ção necessária aos procedimentos relacionados à segurança do paciente. Felizmente, esses conceitos começaram a mudar de alguns anos para cá, e as organizações têm apresentado uma preocupação muito grande em garantir a segurança de seus pa-cientes”, afirma Péricles Cruz, pediatra e gerente de relações institucionais da Organização Nacional de Acreditação (ONA).
Porém, apesar dos avanços recentes em termos de medidas e compreensão, ainda há questões a serem trabalhadas, sob dife-rentes aspectos. “A segurança do paciente, no Brasil, carece, em primeiro lugar, de muitos dados – a maioria dos que citamos são americanos, e nós fazemos uma estimativa”, informa José Ri-bamar Branco, infectologista, coordenador técnico do Conselho Consultivo da ONA e fundador e diretor-executivo do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP).
Branco ressalta a necessidade de conscientizar a sociedade, bem como as entidades médicas, de que esse é um problema de Saúde Pública. Além disso, para o especialista, é fundamental que as universidades e o cursos de graduação na área contem-plem o tema segurança do paciente. “Com isso, começamos a articular um processo de mudança”, ressalta.
Assunto em debateO Patient Safety Movement foi criado pelo engenheiro ameri-
cano Joe Kiani em 2012, com o objetivo de fazer chegar a zero o número de óbitos preveníveis nos hospitais dos Estados Unidos por meio de soluções a serem adotadas pelas instituições de saúde. A
Cultura de segurançaNo evento realizado em 31 de maio, no
Rio de Janeiro, Andréa Righi, gerente
de certificações da ONA, também
ministrou uma conferência: Cultura
de segurança do paciente. Para
uma cultura de segurança positiva,
a palestrante expôs três elementos
fundamentais:
1) Cultura justa: estimular uma
cultura que não tenha caráter puni-
tivo, isso é, promover ações corre-
tivas para que os profissionais não
tenham receio em notificar incidentes
de segurança.
2) Cultura de notificação de
incidentes: incentivar, propriamente,
as notificações, oferecendo meios de
comunicação adequados ao público
interno, bem como retorno às partes
envolvidas no processo.
3) Cultura de aprendizagem:
consiste em enaltecer o aprendizado
contínuo, por meio da notificação de
incidentes. Assim, é possível reco-
nhecer os principais erros, bem como
suas possíveis causas.
iniciativa, que, hoje, alcança diferentes países, foi abordada, em 31 de maio, na sede da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), no Centro do Rio de Janeiro, durante o Encontro Re-gional de Segurança do Paciente e Acreditação em Saúde, promovido pela ONA.
Para Branco, o projeto é “uma chance de os hospitais participarem de um movimento global
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GESTÃO
Um relato de experiência
“Participei do encontro sobre o Patient Safety Movement pela primeira vez em 2014. Conhecer pessoas que perderam alguém por erros médicos foi um grande divisor de águas na forma como eu encarava a segurança do paciente. Desde então, estabelecemos uma série de projetos no Hospital AC Camargo, dentre eles:
Melhor manejo das vias aéreas pela equipe da Anestesiologia, por meio de treinamentos em fibroscopia (técnica padrão-ouro nos casos de via aérea difícil), formação de um grupo de via aérea, criação de um carrinho de via aérea de anestesia;
Novo protocolo de monitoramento de pacientes graves submetidos a cirurgia de grande porte com queda substan-cial na taxa de delirium pós-operatório;
Fortalecimento da cultura de segurança no grupo de anes-tesia e no centro cirúrgico. Atualmente, a pausa cirúrgica é realizada sem grandes resistências e há entendimento geral da importância das notificações;
Projeto de monitorizar com oxímetro de pulso todos os pacientes com bomba de PCA.
O Patient Safety Movement será um grande aliado no resgate do aspecto colaborativo entre todos os stakeholders da Saúde, favorecendo a busca por novas soluções e o consequente forta-lecimento da cultura de segurança no Brasil. A participação da sociedade é importantíssima, e tanto a Fundação para Segurança do Paciente quanto o Patient Safety Movement têm esse preceito como alicerce primordial. A participação do IBSP e da ONA forta-lecerá ainda mais esse movimento em prol da segurança do paciente, por meio da disseminação de boas práticas e do apoio de todas as instituições correlatas”.
Aline Chibana,presidente da Fundação para Segu-
rança do Paciente, regional network chair da Patient Safety Movement
Foundation e responsável pelo Departamento de Qualidade do
Departamento de Anestesio-logia do Hospital AC Camargo,
em São Paulo
para reduzir a mortalidade por eventos preveníveis”. O infectologista, que pro-feriu a palestra O desafio das 13 metas do Patient Safety Movement, assegura que a ONA e o IBSP dão suporte às instituições que desejarem integrar a
campanha. “É preciso envolver a alta liderança, comprometer a gestão como
Soluções acionáveis
O Patient Safety Movement tem desenvol-vido, anualmente, as chamadas soluções acionáveis de segurança do paciente. Até o momento, 13 já foram criadas, a fim de buscar a erradicação das mortes preveníveis em hospitais. Os pontos a serem trabalhados são:
1) Criação de uma cultura de segurança;
2) Infecções relacionadas à assistência à saúde;
3) Erros relacionados à medicação;
4) Monitoramento da depressão respiratória;
5) Anemia e transfusão de hemácias;
6) Processo de comunicação;
7) Oxigenação neonatal;
8) Segurança de vias aéreas;
9) Detecção precoce e tratamento da sepse;
10) Ressuscitação adequada;
11) Otimização da segurança obstétrica;
12) Prevenção de tromboembolismo venoso;
13) Acesso a leito psiquiátrico.
Conheça a explicação de cada um dos tópicos na página do projeto, acessando o QR Code:
Divulgação
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“Uma das coisas que sempre gosto de ressaltar é a necessidade cada vez maior de o pessoal da Saúde – e aí não falo só do médico, mas da Enfermagem, do pessoal de apoio, de todos os compo-nentes que trabalham dentro de uma organização de saúde – ter um olhar humanizado em relação ao paciente”, declara Péricles Cruz, responsável por
ministrar a conferência Qualidade, se-gurança do paciente e acreditação dos serviços de Saúde. Ao mesmo tempo, segundo Cruz, a própria instituição também deve se preocupar com as con-dições oferecidas a seus profissionais, favorecendo, assim, a criação de um ambiente colaborativo, que impulsione bons resultados. g
Olhar de fora
“Segurança do paciente é um tópico que afeta cada um de nós,
mundo afora. Erros médicos são a principal causa de morte em
muitos países, e, apesar de errar ser humano, não implementar
processos comprovados de segurança do paciente para evitar
esses erros é inumano. Nós estamos muito impressionados
pelo movimento brasileiro de segurança do paciente e pelos
profissionais médicos: eles estão colocando segurança acima
de todo o resto e trabalhando para fazer os hospitais no Brasil
mais seguros”.
Joe Kiani, fundador da Patient Safety Movement Foundation
um todo”, sustenta. Conforme o espe-cialista, as organizações que desejarem participar do programa podem entrar em contato com o IBSP, para que sejam direcionadas sobre como proceder.
Apesar da mudança de cenário exigir iniciativas estruturais, atitudes do coti-diano também impactam diretamente na qualidade da assistência oferecida.
José Ribamar Branco Péricles Cruz
DivulgaçãoFotos: Divulgação
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