pesquisas na Área de seguranÇa com mÁquinas...
TRANSCRIPT
WILIAN ODORIZZI
PESQUISAS NA ÁREA DE SEGURANÇA COM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Rio do Sul
2016
2
WILIAN ODORIZZI
PESQUISAS NA ÁREA DE SEGURANÇA COM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Trabalho de Curso apresentado ao Curso de
graduação em Agronomia do Instituto Federal
Catarinense Campus Rio do Sul para obtenção de
título de Bacharel em Agronomia. Prof.: Ricardo
Kozoroski Veiga
Rio do Sul
2016
3
WILIAN ODORIZZI
PESQUISAS NA ÁREA DE SEGURANÇA COM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Este trabalho de Curso foi julgado adequado para
obtenção do título de Bacharel em Agronomia e
aprovado em sua forma pelo curso de Agronomia
do Instituto Federal Catarinense Campus Rio do
Sul.
Rio do Sul (SC), 11 de Julho de 2016
Prof. MSc. Orientador Ricardo K. Veiga
Instituto Federal Catarinense – Campus Rio do Sul
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Fabrício Campos Masiero
Instituto Federal Catarinense – Campus Rio do Sul
Prof. Dr. João Célio de Araújo
Instituto Federal Catarinense – Campus Rio do Sul
4
Dedico
Aos meus pais
pelo amor e fé em mim
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente а Deus quе permitiu quе tudo isso acontecesse, ао longo de minha
vida, е não somente nestes anos como universitário, mas sim em todos os momentos da minha
vida.
Ao Instituto Federal Catarinense Campus Rio do Sul pela oportunidade de realizar
um curso de grande importância, como o de Agronomia.
A meu orientador Ricardo K. Veiga, que além do Trabalho de Curso (TC), durante a
faculdade inteira me apoiou e auxiliou na melhor maneira possível.
Agradeço a minha mãe Mari, heroína que me apoiou, incentivou nas horas difíceis,
de desânimo e cansaço. Ao meu pai Antônio que apesar de todas as dificuldades me
fortaleceu e que para mim foi muito importante.
Aos meus amigos, companheiros de trabalhos e irmãos de amizade, Joacir e Daniela,
que fizeram parte da minha formação acadêmica e que vão continuar presentes na minha vida.
A todos que direta e indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito
obrigado.
6
´´ Pelo menos uma vez na vida precisamos de um advogado, um médico, um arquiteto, mas
três vezes por dia precisamos de um agricultor. ´´ (Autor desconhecido)
7
RESUMO
O presente Trabalho de Curso (TC) relata as atividades por mim desempenhadas nos anos de
2012 à 2016 na área de segurança no trabalho envolvendo atividade agrícola mecanizada. De
forma geral, as pesquisas se concentraram na avaliação do maquinário e condições de trabalho
dos produtores rurais da Região do Alto Vale do Itajaí, para através disto tentar conscientiza-
los dos efeitos destes sobre a qualidade de vida. Foram abordados os seguintes temas:
observância na Norma Regulamentadora 12 (NR12), avaliação de ruído, ergonomia de
tratores e acidentes com máquina agrícolas. Estas pesquisas resultaram em documentos tais
como relatórios, artigos (em periódicos e eventos) e resumos científicos. A pesquisa sobre a
NR12 teve como objetivo avaliar o nível de conformidade do motocultivador com a
normativa e propor alternativas para a sua adequação. Os resultados apontaram não
conformidades em vários itens e como consequência, os trabalhadores rurais devem fazer
adequações em seus maquinários. Já a pesquisa sobre ruído objetivou avaliar qual a condição
ergonômica em termos de ruído estão sujeitos os agricultores. Obteve-se como resultado, que
a frota de tratores e motocultivadores apresentam valores de pressão sonora que obrigam a
utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). No campo da ergonomia, a pesquisa
teve como objetivo avaliar a reação de operadores de máquinas à estímulo externo e como
utilizam os comandos. Constatou-se que o erro ao acionar os comandos de um motocultivador
foi maior que o de um trator agrícola. A pesquisa sobre acidentes com máquinas agrícolas
objetivou identificar as causas de acidentes com máquinas. Identificou-se que a maioria dos
acidentes ocorreu por ato inseguro e como principal causa está a falta de atenção.
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Níveis de experiência dos usuários com tratores agrícolas ................................................... 15
Tabela 2: Ordem de execução dos dois comandos: aceleração e levante hidráulico ............................ 16
Tabela 3: Avaliação ergonômica e sensorial ......................................................................................... 23
Tabela 4: Relação de artigos publicados ou a publicar, resultantes das pesquisas: ............................. 26
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Painel de instrumentos do trator modelo A, com acelerador manual em destaque ............ 15
Figura 2: Painel de instrumentos do trator modelo B, com acelerador manual em destaque ................ 15
Figura 3: Partida no motor do motocultivador e acionamento com partida elétrica ........................... 18
Figura 4: Partida do motor e polias, coreias e volante sem proteção .................................................. 19
Figura 5: Proposta para proteção de eixos de tomada de potência ..................................................... 19
Figura 6: Acidentes com bateria desalojada e demonstração de utilização de fixação correta ........... 20
Figura 7: Demonstração equipamento, em condições precárias (esquerda) como em ideais (direita) 21
Figura 8: Correlação entre ruído e potência do trator .......................................................................... 22
Figura 9: Comparação entre ruído e ano de fabricação ........................................................................ 22
Figura 10: Relação entre potência e ano de fabricação ........................................................................ 23
Figura 11: Número de acidentes investigados por cidade .................................................................... 24
Figura 12: Porcentagem da idade dos acidentados .............................................................................. 25
Figura 13: Potência das máquinas e número de acidentes .................................................................. 25
Figura 14: Causas genéricas dos acidentes ........................................................................................... 26
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................... 11
2.1 Mecanização agrícola ............................................................................................................ 11
2.2 Norma Regulamentadora n° 12 ............................................................................................ 11
2.3 Ruídos em máquinas agrícolas .............................................................................................. 12
2.4 Ergonomia em máquinas agrícolas ....................................................................................... 12
2.5 Acidentes com máquinas agrícolas ....................................................................................... 13
3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................. 14
3.1 Pesquisa embasada na observAÇÃO da Norma Regulamentadora número 12 ................... 14
3.2 Pesquisa realizada na área de Ruídos em máquinas agrícolas ............................................. 14
3.3 Pesquisa realizada em Ergonomia DE máquinas agrícolas ................................................... 14
3.4 Pesquisa realizada em Acidentes com máquinas agrícolas .................................................. 16
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................................... 17
4.1 Pesquisa embasada na observância da Norma regulamentadora número 12 ..................... 17
4.2 Pesquisa realizada na área de Ruídos em máquinas agrícolas ............................................. 21
4.3 Pesquisa realizada em Ergonomia DE máquinas agrícolas ................................................... 23
4.4 Pesquisa realizada em Acidentes com máquinas agrícolas .................................................. 24
5 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 27
6 REFÊNCIAS ..................................................................................................................................... 28
10
1 INTRODUÇÃO
A mecanização agrícola contribuiu com o aumento de produtividade e condições de
trabalho menos árduo ao agricultor. Com o aumento da mecanização houve o acréscimo do
número de acidentes que causam danos econômicos às empresas agrícolas e físicos aos
operadores de máquinas agrícolas, que podem impossibilitar definitivamente o operador de
exercer sua atividade laboral, levando em alguns casos ao óbito deste.
A massificação da mecanização agrícola trouxe vários benefícios como a otimização
da produção e diminuição dos custos com mão de obra, porém criou novos problemas de
saúde aos operadores decorrentes de inadequações ergonômicas e aumento dos acidentes de
trabalho no campo. Dentre estes problemas está a exposição do operador à vibração e ao
ruído.
Os desenvolvimentos de máquinas agrícolas, especialmente tratores, têm evoluído
muito em termos de ergonomia física nos últimos anos. Os tratores atuais dispõem de postos
de trabalho com preocupações ergonômicas que, até poucos anos, eram exclusivas de carros
ou caminhões.
A utilização intensa de máquinas agrícolas ampliou consideravelmente os riscos a
que estão sujeitos os trabalhadores rurais, e mais de 60% das mortes ocorridas em acidentes
de trabalho no setor agrário são consequências da mecanização agrícola (SILVA e FURLANI
NETO, 1999).
Segundo Monteiro et al. (2010), o antigo conceito de tratorista, aquele operador que
somente ''dirigia'' o trator, está totalmente ultrapassado. Alguns anos atrás essa filosofia foi
substituída pelo operador de máquinas, atribuindo a esse profissional não somente a função de
movimentar o trator, mas também fazê-lo de forma correta e segura.
Conforme FAO/INCRA (1994), agricultura familiar vem a ser aquela cuja
característica básica é a íntima relação entre trabalho e gestão, onde a direção do processo
produtivo é conduzida pelos proprietários, com ênfase na diversificação produtiva, na
durabilidade dos recursos e na qualidade de vida. A utilização do trabalho assalariado, quando
existente, se dá em caráter complementar.
Este trabalho de curso teve como objetivo investigar diversas áreas relacionadas ao
trabalho agrícola mecanizado, buscando contribuir para a melhoria das condições de trabalho
e qualidade de vida dos trabalhadores
11
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA
Um trator pode ser definido como sendo uma unidade móvel de potência, em que se
acoplam implementos e máquinas com diversas funções, tendo suas características voltadas
para o uso nas operações agrícolas (SCHLOSSER, 2002). Quando acoplados implementos, os
quais serão os responsáveis diretos pela execução das tarefas, denomina-se conjunto trator-
implemento ou simplesmente conjunto tratorizado.
Barger et al. (1966) definem trator agrícola como um veículo complexo, empregado
para impelir ou fornecer força estacionária para uma larga variedade de implementos
agrícolas. Existem diversas marcas e modelos de tratores agrícolas no mercado, deste os
motocultivadores com potência em torno de 8 kW (kiloWatt) até tratores de grande porte com
potências acima de 368 kW (kiloWatt).
Estima-se que Santa Catarina possua mais de 24 mil motocultivadores em operação
(IBGE, 2007). A maior concentração está na região do Alto Vale do Itajaí. Estas máquinas
são categorizadas pela potência, que na maioria dos casos é inferior à 15 kW (kiloWatt).
2.2 NORMA REGULAMENTADORA N° 12
A Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho NR-12, BRASIL (1978) veio
para sustentar e regular projetos e produtos, com foco na segurança do trabalho com máquinas
e equipamentos. Foi publicada pela portaria GM nº.3.214, de 08 de junho de 1978 com a
última atualização em 8 de dezembro de 2011.
Esta normativa define referências técnicas, fundamentos e medidas de proteção para
garantir a integridade física dos trabalhadores, onde definem os requisitos mínimos da
prevenção de acidentes e doenças no trabalho, na sua utilização e nas fases de projeto de
máquinas e equipamentos, abrangendo todos os tipos, ainda na sua importação,
comercialização, fabricação, exposição e cessão a qualquer título em todas as atividades
econômicas. Máquinas e implementos utilizados na agricultura, também estão sujeitos a esta
norma (em seu anexo XI), pois a agricultura é considerado um dos setores econômicos onde
mais se registram acidentes de trabalho.
12
2.3 RUÍDOS EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Segundo Cunha et al. (2009) o ruído é uma onda sonora, ou um complexo de ondas,
que pode causar sensação de desconforto e gradual perda da sensibilidade auditiva. O risco de
problemas auditivos é determinado pelo nível de som, frequência e tempo de exposição.
Níveis elevados de ruídos podem produzir perda permanente da capacidade auditiva,
bem como efeitos psico-fisiológicos negativos, inclusive aumentando o risco de acidentes
como citam Wictor & Bazzanella (2012).
Carvalho (2009) cita que dentre as fontes causadoras de estresse nos trabalhadores está
o ruído, sendo que a intensidade e o tempo de exposição a este fator afetam seu desempenho
no trabalho.
Segundo Simone et al. (2006) a permanência em locais de trabalho que apresentam
níveis de ruído entre 85 a 90 dB oferece grande risco e assim possibilitando uma futura
surdez, o qual aumenta em função da frequência dos ruídos e do tempo de permanência nesta
situação.
Devido a relação entre a exposição ao risco e a segurança e saúde do trabalhador, a
legislação brasileira especifica um período máximo de exposição permitido. De acordo com a
Norma Regulamentadora Nº15, BRASIL (1990), os níveis de ruído contínuo ou intermitente
devem ser medidos em decibéis (dB), com a utilização de um instrumento de nível de pressão
sonora operando o circuito de compensação “A” e circuito de resposta lenta, onde as leituras
devem ser feitas próximo ao ouvido do operador. A norma regulamenta que para a intensidade
de 85 dB a exposição salubre é de 8 horas diárias e para 115 dB é de apenas 7 minutos, não
sendo permitido a exposição a níveis de ruídos acima deste limite para operadores que não
utilizam equipamentos de proteção, podendo proporcionar risco grave aos mesmos.
2.4 ERGONOMIA EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Segundo IIDA (2005), acidentes geralmente resultam de interações inadequadas entre
o homem, tarefa e ambiente. Em cada caso, pode haver predomínio de um desses fatores. O
acidente pode ser causado por um comportamento de risco do operador de um sistema. Pode
ser explicado também pelas inadequações do posto de trabalho, produtos mal projetados ou
falhas da máquina. Contudo essas causas não aparecem isoladamente e o acidente geralmente
só ocorre quando há uma conjunção de fatores negativos.
13
Quando um usuário aciona um controle ele tem uma determinada expectativa sobre o
seu efeito. Exemplo, quanto se gira o volante para a direita o efeito esperado é que o carro
também siga para a direita. Esses movimentos esperados pela maioria da população são
chamados de esteriótipos populares. Se esses movimentos forem contrariados durante o
projeto de um produto ou sistema podem causar erros e acidentes. Segundo DUL &
WEERDMEESTER (1995), durante a operação de um sistema há um ciclo contínuo de troca
de informações/operações fluindo entre o sistema e seu operador. É necessário que o
combinação entre essas informações e operações seja feito perfeitamente, para que funcione
bem nos dois sentidos.
O estudo dessas distribuições e formas de acionamento torna-se indispensável quando
do desenvolvimento de um produto. Uma análise ergonômica tradicional (estritamente física,
antropométrica) pode não se aperceber desse importante detalhe. Segundo ROZENFELD
(2006) existem duas escolas distintas em ergonomia, porém complementares, a primeira trata
da ergonomia física, ou seja de aspectos antropométricos da relação homem-máquina. A
segunda escola aborda o sistema por meio de análise da troca de informações entre o homem
e a máquina, chamada ergonomia cognitiva.
RIO & PIRES (2001) destacam que a carga cognitiva no trabalho tem aumentado
significativamente e por isso o estudo das funções cognitivas no trabalho torna-se cada vez
mais importante. Essas funções envolvem campos como memória e aprendizado, pensamento,
tomada de decisões, discriminação de contextos, signos, Figuras, etc.
2.5 ACIDENTES COM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Pesquisas na área de prevenção de acidentes buscam, através da investigação dos
acidentes com máquinas agrícolas, apontar as principais causas destes para que possam ser
investidos recursos na causa raiz do problema.
Segundo Debiasi et al. (2004), a maior parte dos acidentes com tratores é causada por
atitudes inseguras, sendo que a principal é a perda de controle em aclive ou declive, seguida
da operação do trator em condições extremas.
Já para Schlosser et al. (2002), a inclusão de dispositivos que tornem o trator mais
confortável e seguro é uma das estratégias necessárias à redução da incidência de acidentes.
Observa-se que autores divergem quanto a causa principal dos acidentes, enquanto que
para uns o causador dos acidentes é o operador, para outros há uma co-participação da
máquinas nesses incidentes.
14
3 MATERIAL E MÉTODOS
As metodologias a seguir descritas referem-se as diversas pesquisas por mim
realizadas entre os anos de 2012 a 2016 na área de segurança.
3.1 PESQUISA EMBASADA NA OBSERVAÇÃO DA NORMA
REGULAMENTADORA NÚMERO 12
O estudo foi realizado de forma exploratória com base em pesquisa bibliográfica onde
a principal foi a NR-12. Buscou-se extrair informações sobre a atual situação de máquinas
utilizadas na agricultura familiar comparando com a norma, especificamente sobre
motocultivadores comercializados e em uso por agricultores da região do Alto Vale do Itajaí.
Foram investigadas 4 propriedades rurais em situações de trabalho e visitas sem
agendamento, visando extrair uma “foto” da utilização das máquinas. Foi empregada
observação direta, registros fotográficos e depoimentos de trabalhadores durante os meses de
novembro de 2014 a abril de 2015.
3.2 PESQUISA REALIZADA NA ÁREA DE RUÍDOS EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Foi realizado um estudo de caso, onde as análises foram conduzidas no Alto Vale do
Itajaí com visitas à 16 propriedades rurais, totalizando 20 máquinas, entre motocultivadores e
tratores.
Os dados coletados em cada máquina foram: marca, modelo, ano de fabricação,
potência e nível de ruído em rotação de trabalho.
O nível de ruído foi coletado no posto de trabalho da máquina e a medição realizada a
20 centímetros do ouvido do operador, na posição sentado. Para as medições, utilizou-se o
medidor de nível de pressão sonora da marca ICEL modelo DL- 4020, operando em circuito
de compensação “A” e circuito de resposta lenta (slow).
3.3 PESQUISA REALIZADA EM ERGONOMIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Para execução do experimento foi utilizado o método denominado análise cognitiva da
tarefa, baseada na observação, que permite checar, na prática, a sinceridade de certas
respostas e identificar comportamentos não intencionais ou inconscientes. A pesquisa foi
elaborada no Campus Rio do Sul do IFC através de questionário estruturado, respondido por
15
alunos do Ensino Técnico (aleatoriamente, do 1º ao 3º anos), Curso de Agronomia e
servidores da instituição. Foram divididas amostragens em níveis de experiência, conforme
Tabela 1:
Tabela 1: Níveis de experiência dos usuários com tratores agrícolas
Experiência Atores Quant.
Nível 1
Usuário iniciante (aluno que não teve contato ainda
com tratores)
29
Nível 2
Usuários com experiência intermediária, acima de
1 ano na operação de tratores agrícolas
14
Nível 3
Especialistas (tratoristas, motoristas e mecânicos
com experiência na condução de tratores
9
Total 52
Foram avaliados dois tratores agrícolas de médio porte, com diferentes concepções de
comandos de aceleração manual. As marcas foram omitidas e são apresentados como
Modelos A e B:
Modelo A: Ano de fabricação 1994, utiliza acelerador manual do tipo alavanca de
rotação, concêntrico ao volante, conforme Figura 1.
Figura 1: Painel de instrumentos do trator modelo A, com acelerador manual em destaque
Fonte: Do autor, 2015.
Modelo B: Ano de fabricação 2010, com acelerador manual do tipo alavanca linear, na
posição vertical, à direita do volante, conforme Figura 2.
Figura 2: Painel de instrumentos do trator modelo B, com acelerador manual em destaque
Fonte: Do autor, 2015.
16
Os usuários não conheciam o verdadeiro objetivo da avaliação, assim foram
convidados à testar a funcionalidade dos “comandos” dos dois tratores. Inicialmente
responderam as questões do questionário, referentes às expectativas quanto à tipos de
comandos encontrados em máquinas e equipamento do cotidiano.
Em um segundo momento, foram instruídos quanto ao funcionamento dos seguintes
comandos em cada trator: acelerador manual e levante hidráulico posteriormente convidados à
posicionar-se no assento do trator, já com o motor ligado e as alavancas de aceleração e
levante hidráulico em meio curso. Foi lhes solicitado, então, à rapidamente variar a rotação do
motor e mover os braços do sistema hidráulico. A sequência foi aleatória, sendo que cada
usuário executou uma das seguintes combinações:
Tabela 2: Ordem de execução dos dois comandos: aceleração e levante hidráulico
1º Comando 2º Comando
Possibilidade 1 Aumentar RPM Subir o Hidráulico
Possibilidade 2 Aumentar RPM Baixar o Hidráulico
Possibilidade 3 Baixar RPM Subir o Hidráulico
Possibilidade 4 Baixar RPM Baixar o Hidráulico
Possibilidade 5 Subir o Hidráulico Aumentar RPM
Possibilidade 6 Subir o Hidráulico Baixar RPM
Possibilidade 7 Baixar o Hidráulico Aumentar RPM
Possibilidade 8 Baixar o Hidráulico Baixar RPM
3.4 PESQUISA REALIZADA EM ACIDENTES COM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
A pesquisa foi conduzida com alunos do IFC oriundos da zona rural, desde as turmas
do ensino técnico (1°, 2° e 3° anos), até o ensino superior (Agronomia) de diversas cidades da
região do Alto Vale do Itajaí e arredores, através de um formulário estruturado.
Foram preenchidos 139 formulários, onde constavam relatos de acidentes por cidades,
faixa etária dos acidentados, tipo de trator envolvido, causas gerais (abrange o acidentes mais
superficialmente, diferenciando estes como atitudes inseguras, condições inseguras e não
conhecidas) e causas específicas (envolve os acidentes com mais detalhes, como por exemplo,
falta de atenção, falha mecânica, entre outros itens) dos acidentes. A coleta de dados iniciou-
se no mês de maio de 2012 e seu término se deu em julho do ano de 2015.
17
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir seguem, de forma resumida, as discussões realizadas em cada uma das
pesquisas na área de segurança.
4.1 PESQUISA EMBASADA NA OBSERVÂNCIA DA NORMA
REGULAMENTADORA NÚMERO 12
Foram observadas nas quatro propriedades a existências de seis motocultivadores.
Cinco da marca Kubota, modelo Tobatta e um da marca Kawashima. As idades das máquinas
variaram de 1986 a 2011. Constatou-se diferença entre o estado da máquina atual e a nova.
Para a marca Kubota a comparação foi realizada pela análise do manual do operador, uma vez
que não são mais comercializados produtos desta marca. A alteração mais comum (em todas
as máquinas avaliadas) foi a remoção da proteção da polia motora e volante.
Os artigos da norma que apresentaram discordância com o encontrado nas
propriedades foram: Artigo 3º, Artigo 6º, Artigo 7º e Artigo 15º.
Não conformidade em relação ao Artigo 3º (itens “a” e “c”)
Disserta que os dispositivos de partida, acionamento e parada das máquinas e dos
equipamentos estacionários devem ser projetados, selecionados e instalados de modo que:
a) não se localizem em suas zonas perigosas;
b) impeçam o acionamento ou desligamento involuntário;
c) não acarretem riscos adicionais;
d) não possam ser burlados e;
e) possam ser acionados em caso de emergência por outra pessoa que não seja o
operador.
Nessa condição há uma não conformidade em relação ao item “a” pois para iniciar a
partida da máquina o operador se coloca à frente da roda, condição que o expõe a acidente
caso a máquina esteja com a marcha engatada ou sem estar com o freio acionado. Quanto ao
item “c” existe um risco, reportado por dois trabalhadores, que é o da alavanca de partida não
soltar no momento correto (duas a três voltas) e ser arremessada contra o operador. A
condição citada é apresentada na Figura 3 (a) e a sua solução está na Figura 3 (b).
18
Figura 3: Partida no motor do motocultivador e acionamento com partida elétrica
(a)
Fonte: Do autor, 2015
(b)
Fonte: www.tramontini.com.br/agricultura
/produtos/motocultivadores/GN18Encanteirador
Não conformidade em relação ao artigo 6°
Segundo a NR 12, o artigo 6º dispõe sobre as zonas de perigo das máquinas e
implementos. Estas devem possuir sistemas de segurança, caracterizados por proteções fixas,
móveis e dispositivos de segurança interligados ou não, que garantam a proteção à saúde e à
integridade física dos trabalhadores. Neste artigo constataram-se dois elementos em não
conformidade:
a) o eixo de partida;
b) polia de acionamento.
Para o eixo de partida a não-conformidade está na disposição da ponteira do eixo do
motor. Sua extremidade de acoplamento para a manivela de partida fica exposta e oferece
risco ao operador ou auxiliar agrícola. Tal item é demonstrado na Figura 4 (a), que fica nítido
a o eixo aparente.
O segundo elemento não-conforme é a ausência de proteção da polia de acionamento.
Para facilitar a troca do escalonamento de velocidades e o rápido acoplamento das máquinas,
essa proteção é removida, expondo o operador e auxiliares ao risco de acidente. Pode
observar na Figura 4 (b), o motocultivador sem a proteção necessária.
19
Figura 4: Partida do motor com eixo aparente (a) e polias sem proteção (b)
(a)
(b)
Fonte: Do autor, 2015.
Para a questão do eixo da partida uma proposta para solução encontra-se na própria
norma. No que tange a eixos da tomada de potência, a NR-12 sugere uma alternativa que
poderia ser aplicada na redução do risco. Consiste em um rebaixo onde a ponta do eixo aloja-
se, sendo esta uma solução comum em tratores agrícolas, sendo possível visualizar na Figura
5 (a). Para a proteção da polia, sugere-se uma proteção que seja de rápido deslocamento,
como algumas marcas oferecem, demonstrado na Figura 5 (b).
Figura 5: Proposta para proteção de eixo (a) e de tomada de potência (b)
(a)
Fonte: NR 12
(b)
Fonte: ww.agritech.ind.br/site/pt/home/)
20
Não conformidade em relação ao artigo7° (itens ´´b´´ e ´´c´´)
Segundo a NR 12, o Artigo 7º preconiza que as baterias devem atender a requisitos
mínimos de segurança, entre eles citam-se:
a) localização de modo que sua manutenção e troca possam ser realizadas facilmente a
partir do solo ou de uma plataforma de apoio;
b) constituição e fixação de forma a não haver deslocamento acidental e;
c) proteção do terminal positivo, a fim de prevenir contato acidental e curto-circuito.
Apenas um motocultivador apresentava partida elétrica, possibilitando a análise deste
artigo. No item “b” evidenciou-se a má fixação pela ocorrência de um incidente, de
escorregamento lateral da máquina. A bateria foi lançada para fora de seu alojamento, ficando
suspensa apenas pelos cabos elétricos. Também o item “c” não foi atendido por apresentar
terminal positivo exposto.
Como podemos observar na Figura 6 (a), a bateria foi desalojada de seu local pela falta
de um fixador. A solução já é largamente utilizada pela indústria automobilística. Trata-se da
adoção de cintas de fixação e isoladores de terminais. Recurso adicional seria a construção de
quadro estrutural para proteção externa, impedindo o deslocamento da bateria, conforme
Figura 6 (b).
Figura 6: Acidentes com bateria desalojada (a) e demonstração de utilização de fixação
correta (b)
(a)
(b)
21
Fonte: do autor, 2014.
Não conformidade em relação ao artigo 15° (subitem 24, item ´´b´´)
Trata das plataformas de operação ou piso de trabalho das máquinas autopropelidas.
Segundo o Art. 15.24, item “b” a plataforma deve possuir superfície antiderrapante.
Foi constatada em duas propriedades carretas cujo piso era confeccionado em madeira
sem aplicação de materiais antiderrapantes.
Esta situação retrata o estado de conservação das máquinas avaliadas. Devido ao
tempo de uso (entre 4 e 28 anos) o desgaste das peças exige reparação ou substituição. Em
muitas a manutenção é realizada sem a observância de itens presentes nas máquinas novas. Na
condição constatada a umidade torna o piso escorregadio podendo levar à queda do operador.
Podemos observar na Figura 7 (a), a máquina em estado precário sem a presença do
piso antiderrapante. Já na Figura 7 (b), a máquina se encontrado com o piso adequado.
Figura 7: Demonstração equipamento, em condições precárias (a) como em ideais (b)
(a)
(b)
FONTE: DO AUTOR, 2014.
4.2 PESQUISA REALIZADA NA ÁREA DE RUÍDOS EM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
As máquinas avaliadas tinham potência variando de 10 a 100 kW, com ano de
fabricação entre 1994 e 2013, com o seguinte quantitativo por cidade: Ituporanga (10), Rio do
Sul (4), Taió (3), Santa Terezinha (2) e Lontras (1). A potência média de 49 kW (65,5 cavalo-
vapor). O nível de ruído médio foi de 90,5 decibéis (dB).
A análise estatística de dados pareados buscou correlação entre o nível de ruído e as
variáveis potência e idade da máquina.
Comparando-se o nível de ruído com a potência da máquina obteve-se uma correlação
negativa fraca, ou seja, quanto maior a potência, menor foi o nível de ruído. Tal resultado
22
pode ser justificado pela utilização de dispositivos de abafamento (escapamento) mais
eficientes em tratores de maior potência do que nos motocultivadores. A função encontrada e
o valor de R-quadrado são apresentados na Figura 8.
Figura 8: Correlação entre ruído e potência do trator
y = -0,0331x + 93,714R² = 0,0445
0
20
40
60
80
100
120
0 50 100 150
Ru
ído
s (d
B)
Potência (cv)
Na comparação entre ruído e ano de fabricação, a Figura 9 demonstra uma correlação
negativa fraca, significando que, quanto mais nova a máquina, menor é a intensidade de ruído
emitida. Assim, podemos supor duas justificativas: a primeira é que as máquinas agrícolas
vem melhorando com o passar do tempo, com motores menos ruidosos e/ou dispositivos que
reduzem com mais eficiência os ruídos. Uma segunda justificativa estaria ligada a
obsolescência da máquina pelo desgaste e perda dos ajustes originais.
Figura 9: Comparação entre ruído e ano de fabricação
Na Figura 10 são apresentados função e coeficiente de correlação entre a potência e o
ano de fabricação do trator. A correlação foi positiva fraca. Quanto mais novo o trator maior
23
foi sua potência. Como justificativas podem estar a necessidade de maior produtividade ao
empreendimento agrícola e o maior acesso ao crédito, viabilizando a compra de trator de
maior potência, a exemplo do programa Mais Alimentos, lançado em 2008, pelo governo
federal.
Figura 10: Relação entre potência e ano de fabricação
Quando comparada a Norma Regulamentadora nº15, BRASIL (1990), que orienta que
para a intensidade de 85 dB a exposição salubre é de 8 horas, pelo valor médio encontrado nas
máquinas (90,5 dB) o tempo máximo de exposição diária seria de menos de 4 horas, o que
não ocorre na prática. O estudo de caso encontrou jornadas superiores à 8 horas sem a
utilização de qualquer equipamento de proteção individual atenuador de ruído.
4.3 PESQUISA REALIZADA EM ERGONOMIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS
A avaliação ergonômica apresentou superioridade da máquina B em relação à máquina
A, apresentada na Tabela 3.
Tabela 3: Avaliação ergonômica e sensorial
Questão Trator B Trator A
1 Conforto do Comando 5,83 4,81
2 Esforço físico 7,19 5,18
3 Resposta do Motor ao Comando 7,06 6,27
4 Praticidade de Uso 6,72 6,15
Os entrevistados expressaram a percepção de cada máquina, atribuindo uma nota, que
podia variar de 0 a 10. No caso do item 2 - Esforço físico - o menor valor significava menor
esforço. A máquina A foi superior por receber a menor nota. Nos outros itens (Conforto do
24
comando, Resposta do Motor ao Comando e Praticidade de uso), o trator B, foi notadamente
dominante na avaliação.
Já na avaliação de usabilidade, observou-se que o comando de alavanca de rotação na
aceleração do trator A apresentou índice de 81% de acertos e o comando de alavanca linear,
no trator B, apresentou índice de 67% de acertos.
O nível de experiência não teve influência considerável nas avaliações, relatos de
operadores indicam que a prática com um modelo durante longo período fortalece um modo
de operação e que a mudança para outra concepção requer adaptação desse profissional
experiente, que é tão difícil quanto à iniciação de um novato.
4.4 PESQUISA REALIZADA EM ACIDENTES COM MÁQUINAS AGRÍCOLAS
Na Figura 11, são apresentadas as cidades avaliadas, sendo que a cidade de São
Joaquim tem um destaque por ter um maior número de alunos na Instituição. Já em relação ao
Alto Vale do Itajaí, vale destacar as cidades de Ituporanga, Mirim Doce e Rio do Campo. A
Figura 11 demonstra apenas a distribuição obtida pela amostragem, facilitando no momento
de quantificar a pesquisa, não servindo de parâmetro para comparação de qual cidade
apresenta maior índice de acidentes.
Figura 11: Número de acidentes investigados por cidade
A Figura 12 apresenta a idade dos acidentados, onde 14% é de trabalhadores entre
10 e 20 anos. Essa faixa etária inclui a infância e adolescência o que preocupa, pois nesta
idade os operadores são ousados e desconhecem os riscos os quais estão expostos. Outra
porcentagem elevada é entre as idades de 30 a 40 anos, 22%. Supõe-se que as pessoas desta
25
faixa etária já dominam a máquina com destreza e por isso, na tentativa de realizar o trabalho
rapidamente, acabam sofrendo o acidente.
Figura 12: Porcentagem da idade dos acidentados
Na Figura 13 apresentam-se as relações entre faixas de potência dos tratores e o
envolvimento em acidentes. As potências maiores foram as que apresentaram maior índice de
acidentes.
Figura 13: Potência das máquinas e número de acidentes
Na Figura 14, os entrevistados apontaram as prováveis causas do acidente. Metade
(50%) dos entrevistados relataram que os acidentes foram ocasionados por atitudes inseguras.
Neste caso, mesmo conhecendo o risco da operação, o trabalhador se expõe e ocorre o
26
acidente. Para 37% dos entrevistados a falha ocorreu por condição insegura, ou seja,
deficiências no ambiente ou na máquina levaram à ocorrência do acidente. Já 13% não
souberam distinguir qual foi a causa geral do acidente.
Figura 14: Causas genéricas dos acidentes
Dentre as causas específicas destaca-se a falta de atenção como a maior porcentagem,
29%, seguida da perda de controle de aclive/declive com 20%. Por ter muitas máquinas de
pequeno porte, como os motocultivadores (como o modelo Tobatta), pode-se supor que é
subestimado o risco de acidentes, o que gera desatenção em sua operação. Já para a questão
do aclive/declive, observa-se que a máquina possui a característica denominada “inversão dos
comandos” onde, em declive, os comandos de embreagem se comportam de modo invertido
em relação ao aclive. Caso o operador não possua experiência ou destreza para operá-lo, pode
ser vitimada pela máquina.
A Tabela a seguir apresenta a relação de material produzido durante o período relatado
neste trabalho.
Tabela 4: Relação de artigos publicados ou a publicar, resultantes das pesquisas:
Tema Ano Documento Publicação
Ergonomia cognitiva 2012 Resumo expandido V MICTI
Acidentes 2013 Resumo XIV FETEC
Acidentes 2013 Resumo expandido VI MICTI
Acidentes 2014 Resumo expandido XV FETEC
Motocultivadores 2014 Artigo Revista Cultivar Máquinas, Ano
XII N.142 – julho 2014
Ergonomia na 2014 Artigo
Revista Exacta – EP, São Paulo,
27
operação de
máquinas
v. 12, n. 1, p. 123-136, 2014
Ergonomia 2014 Resumo expandido VII MICTI
Ruídos 2014 Resumo expandido VII MICTI
Acidentes 2014 Artigo Revista Extensão Tecnológica
V.I p.115-119. 2014
Acidentes 2015 Resumo expandido XVI FETEC
Usabilidade de
comandos
2015 Artigo 15º Congresso Internacional de
Ergonomia e Design –
Ergodesign
NR12 2016 Artigo Aguardando Publicação
5 CONCLUSÃO
Com a pesquisa embasada na Norma Regulamentadora número 12 pode-se concluir
que os trabalhadores rurais estão expostos a risco de acidentes principalmente pela fragilidade
do projeto da máquina, mas também por modificações realizadas pelos operadores e a
deficiência das manutenções.
A pesquisa com Ruídos demonstrou que a frota de tratores e microtratores apresentam
valores de pressão sonora que obrigam a utilização de equipamentos de proteção individual
(EPI), tipo protetor auricular, se consideradas jornadas superiores à 4 horas diárias. O estudo
também apresentou leve tendência no Alto Vale do Itajaí pela aquisição de máquinas mais
potentes e estas apresentam níveis de ruído levemente inferiores aos encontrados nas
máquinas menores. Sugere-se, para novos estudos, a ampliação da amostragem e a avaliação
do grau de manutenção das máquinas agrícolas.
Em relação a ergonomia, comparando-se os resultados da avaliação de esteriótipo, há
uma concordância entre dados do experimento e as citações de autores como DUL &
WEERDMEESTER (1995) e demonstra um maior consenso entre os usuários do comando de
alavanca de rotação (97,7%) do que o comando de alavanca linear (52%). Comparando-se a
execução do comando de alavanca de rotação na aceleração do trator A, com 81% de acertos,
e o comando de alavanca linear, no trator B, com 66,7% de acertos, evidencia-se a influência
que o esteriótipo exerce sobre o erro. Para estudos futuros, sugere-se a ampliação de modelos
de tratores e seus comandos e a investigação de acidentes ocorridos poderão comprovar a
influência do fator usabilidade ou aprendizado nos erros humanos.
28
Em relação à pesquisa em acidentes agrícolas, analisando-se a faixa etária do
acidentado, 14% está entre 0 e 10 anos, um número considerável como o apresentado pela
faixa dos 30 aos 40 anos, que foi de 22%. Essa elevada porcentagem leva a supor que crianças
estão na cena dos acidentes de duas formas: ou sobre o trator (seja operando ou de carona); ou
em solo (possivelmente em local não visível ao operador), sofrendo assim o acidente.
Operadores com idades mais elevadas, poderiam ser vitimadas por não estarem habilitadas ou,
mesmo conhecendo os riscos, ultrapassaram os limites da máquina.
Já quanto ao tipo de trator envolvido no acidente, a predominância foi dos que haviam
potência superior a 55 CV. Isso demonstra uma tendência que é o aumento da potência das
máquinas agrícolas, em especial o trator. Potências abaixo de 15 CV e entre 15 e 55 CV,
houve uma quantidade muito próxima. Assim, essas constatações levam a supor que no
contato com novas máquinas, mais potentes, o agricultor não está tomando os devidos
cuidados que, outrora, com tratores menores não se aplicavam.
Para o estudo sobre a determinação das causas dos acidentes, 50% dos entrevistados
consideraram que a causa provável foi atitude insegura. Quando questionados quanto às
causas específicas, das 11 opções contidas nos questionários, as que se destacaram foram a
falta de atenção (29%) e a perda de controle de aclive/declive (20%).
Com base nos resultados pode-se concluir que ações de prevenção na região estudada
deverão enfatizar a questão do trabalho infantil, da conscientização quanto ao uso de
equipamentos de proteção individual e coletiva e a postura do operador quando da condução
de conjuntos tratorizados.
6 REFÊNCIAS
BARGER, E.L.; LILJEDAHL, J.B.; CARLETON, W.M e MCKIBBEN, E.G. Tratores e
seus motores. (Traduzido por V. L.Shilling) New York, Edgard Blucher,1966. 398p.
BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. PORTARIA 3.214 de jun. 1978.
Normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho (NR-15): atividade e operações
insalubres. Brasília, 1990. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/legislacao/norma-
regulamentadora-n-15-1.htm. Acesso em mar. 2014.
CARVALHO, C.C.S. Avaliação ergonômica em operações do sistema produtivo de carne
de frango. 2009. 163 p. Tese de Doutorado em Engenharia Agrícola – Universidade Federal
de Viçosa, Viçosa-MG, 2009.
CUNHA, J.P.A.R.;DUARTE, M.A.V.;RODRIGUES, J.C.. Avaliação dos níveis de vibração e
29
ruído emitidos por um trator agrícola em preparo do solo. Revista de Pesquisa Agropecuária
Tropical,Goiânia, v. 39, n. 4,p. 348-355, out./dez. 2009.
DEBIASI, H.; SCHLOSSER, J.F; WILLES, J.A. Acidentes de trabalho envolvendo
conjuntos tratorizados em propriedades rurais do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência
Rural, v.34, n.3, Santa Maria, mai./jun. 2004.
DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática . São Paulo: E. Blucher, 1995.
FAO/ICRA. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável para a pequena
produção familiar. 1994.
IBGE. Censo Agropecuário 2006: Resultado Preliminar. Rio de Janeiro: IBGE, 2007, 141 p.
IIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 2005.
MONTEIRO, L. A., Prevenção de acidentes com tratores agrícolas e florestais, Botucatu:
Diagrama, 2010, 105 p.
RIO, R.P; PIRES, L. Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica. São Paulo: LTR,
2001.
ROZENFELD, H.; FORCELLINI, F. A.; AMARAL, D.C.; TOLEDO, J. C.; SILVA, S. L.;
ALLIPRANDINI, D. H.; SCALLICE, R. K. Gestão de Desenvolvimento de Produtos -
Uma referência para a melhoria do processo. São Paulo, Saraiva, 2006.
SCHLOSSER, J.F.; DEBIASI, H.; PARCIANELLO G.; RAMBO L. Caracterização dos
acidentes com tratores agrícolas. Ciência Rural, v.32, n.6, Santa Maria, nov./dez. 2002.
SILVA, J. R.; FURLANI NETO, V. L. Acidentes graves no trabalho rural: II Caracterização.
In: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 28, 1999, Pelotas, RS. Anais.... Pelotas:
Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, 1999. CD-ROM.
SIMONE, M.; DRAGHI, L.; HILBERT,J.; COLLAZO,D.J. El tractor agrícola:
fundamentos para su selección y uso. Mendoza: INTA, 2006. 256 p.
WICTOR, I.C., BAZZANELLA, S.L. Avaliação ergonômica do nível de ruído e as causas de
acidentes de trabalho em empresas madeireiras. Anais da IX SEGET 2012.