pirabeiraba 150 anos

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HISTORIADORES E PESQUISADORES ANALISAM AS RAÍZES ECONÔMICAS E CULTURAIS DE PIRABEIRABA 150 ANOS DE TRABALHO E TRADIÇÃO

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Revista especial ao aniversário de Pirabeiraba, Distrito do município de Joinville, Santa Catarina, coordenada pelo ex-vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, Fabio Dalonso. "Queria dar um presente que agradasse a todos: jovens, idosos, homens, mulheres, católicos, luteranos, ricos ou pobres. Então decidi oferecer a esta boa gente uma revista que relatasse um pouco da história deste aprazível pedaço de chão, escreve Fabio Dalonso na página 3 da revista. Boa leitura!

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Page 1: Pirabeiraba 150 anos

Historiadores e pesquisadores analisam as raízes econômicas e

culturais de pirabeiraba

150 anos de trabalHo e

tradição

Usina de Açúcar de Pirabeiraba, início do século XX

Page 2: Pirabeiraba 150 anos

um presente à minHa terra 3Apresentação da revista Pirabeiraba 150 pelo ex-vereador e ex-presidente da Câmara Fabio Dalonso

primórdios de pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica 4Dilney Cunha - Historiador, graduado e pós-graduado em História pela Univille

pirabeiraba ontem e Hoje 8Milton BenkenDorf – Licenciado em História e mestrando em Patrimônio, Cultura e Sociedade da Univille.

o associativismo teuto-brasileiro em pirabeiraba 12Wilson De oliveira neto – Professor de História em São Bento do Sul e mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille.

estradas e famílias: colonização em pirabeiraba 14Brigitte BranDenBurg – Engenheira agrônoma da Epagri e fundadora do Instituto de Geneologia de Santa Catarina.

pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço 22fernanDo Cesar sossai – Mestre em Educação, Comunicação e Tecnologia pela Udesc e professor de História na Univille.

Engenho de mate de Abdon Baptista, na Estrada Dona Francisca

Reunião da família Pabst (Rio da Prata) com o pastor luterano C. Bartelmann (com chapéu na mão)

a revista pirabeiraba 150 é uma publicação comemorativa dos 150 anos de pirabeiraba editada pelo ex-vereador Fabio dalonso.

contato: [email protected]

jornalista responsável: domingos de abreu Miranda (drt-sp 18.888).

fotos: nilson bastian e arquivo histórico de Joinville e grupo Folclórico Windmühle.

diagramação: Marcelo duarte • [email protected]

impressão: gráfica: grafinorte.

Page 3: Pirabeiraba 150 anos

aniversário sem presente não é aniversário. há cerca de seis meses já pensava o que pode-ria oferecer a esta comunidade – que me viu nascer e que tantas alegrias têm me dado – quando ela completasse 150 anos de existência. Queria dar um presente que agradasse a todos: jovens, idosos, homens, mulheres, católicos, luteranos, ricos ou pobres. então deci-di oferecer a esta boa gente uma revista que relatasse um pouco da história deste aprazível pedaço de chão. portanto estamos entregando a vocês pirabeiraba 150.

este projeto foi idealizado com a ajuda do meu leal amigo e jornalista domingos Miranda e do conceituado historiador dilney cunha. a vocês dois o meu eterno agradeci-

mento por ter permitido concretizar este antigo sonho meu. para esta empreitada contei também com o apoio dos amigos Marisa Fock, clóvis seefeldt, Mário sérgio, proprietário da criacom e a participação especial do fotógrafo nilson bastian. aqui não poderia deixar de destacar a compreensão de Marcelo e Jonas, diretores do perini business park, que entenderam o significado desta publicação para a comunidade, investindo na publicidade.

Mas a revista pirabeiraba 150 não sairia sem o trabalho abnegado e gratuito de um grupo de conceituados pesquisadores, alguns deles com ra-ízes em pirabeiraba. Quem coordenou esta empreitadada foi o historiador dilney cunha, autor dos livros “suíços em Joinville: o duplo desterro”e “história do trabalho em Joinville – gênese”. ele também escreve o artigo de abertura, “primórdios de pirabeiraba: aspectos obscuros da sua gênese histórica”. Já a pesquisa “pirabeiraba ontem e hoje” foi feita por um filho da terra, Milton benkendorf, licenciado em história e mestrando em pa-trimônio, cultura e sociedade, da univille. Wilson de oliveira neto, professor de história e co-autor do livro “o exército e a cidade” escreveu sobre “o associativismo teuto-brasileiro em pirabeiraba”. a engenheira agrônoma e pesquisadora da realidade local, brigitte brandenburg, trouxe à tona um inte-ressante levantamento, “estradas e famílias: colonização em pirabeiraba”. Fechando o ciclo de estudos o professor de história da univille e mestre em educação, comunicação e tecnologia pela udesc, Fernan-do césar sossai, nos apresenta “pirabeiraba: fragmentos para pensar um pedaço”.

tenho certeza que estes trabalhos de alta qualidade servirão a todos aqueles que queiram entender melhor nosso passado, conhecer o presente e vislumbrar perspectivas sobre o futuro desta comunidade. obrigado a todos.

pirabeiraba, 15 de abril de 2009.

fabio dalonso

um presente à minha terra

3

Page 4: Pirabeiraba 150 anos

no final do século 18 e início do século 19, parte das terras de-volutas adjacentes a pirabeiraba, que então pertenciam à freguesia de são Francisco do sul, foram cedidas a famílias de origem luso-brasileira, muitas das quais possuíam escravos. nas sesmarias (como eram deno-minadas essas propriedades) cultivavam-se principalmente mandioca e cana-de-açúcar. um e outro pequeno engenho produzia cachaça, melado e açúcar mascavo. descendentes desses primeiros povoadores ainda hoje residem na região, como as famílias cercal, dias, cidral, cristino e araú-jo. narrando suas memórias, Manoel de oliveira cercal conta que seus antepassados chegaram de portugal há cerca de 250 anos. adquiriram terras nas regiões de araquari, do boa Vista e do cubatão, dedicando-se a agricultura, com a utilização do trabalho escravo.

ana dias, nascida em 1907, neta de escravos de sesmeiros da re-gião do cubatão, recorda que após a abolição (1888), muitos cativos e seus descendentes foram trabalhar para famílias germânicas de pirabeira-ba. ela mesmo foi empregada da família bächtold, da estrada da ilha.

entretanto, o povoamento sistemático e em maior escala da re-gião começou com a criação da colônia dona Francisca e a chegada dos imigrantes europeus a partir de 1851. desde o princípio era intenção da sociedade colonizadora de hamburgo e do representante do príncipe e da princesa de Joinville, Léonce aubé, ocupar as terras mais ao norte da colônia. para isso, foi projetada uma estrada que ligaria Joinville ao planalto de curitiba e serviria para estabelecer o comércio entre essas regiões. também foi construída em 1854 uma grande serraria às margens

aspectos obscuros da sua gênese histórica

priMórdios de

pirabeiraba

Dilney Cunha*

a ocupação humana da região hoje denominada de pirabeiraba data de pelo menos 5 mil anos atrás, quan-do grupos de coletores-caçadores-pescadores estabeleceram-se preferencialmente às margens de rios como o cubatão e da baía da babitonga. os únicos vestígios deixados por essas populações são os sambaquis, montes de conchas nos quais se encontraram artefatos de pedra como pequenas esculturas em forma de animais (zoólitos), pontas de flecha, utensílios domésticos e até mesmo ossos humanos.

grupos indígenas também passaram pela região, como os carijós (guaranis) no século 15 e os xok-lengs (botocudos ou “bugres”) já no século 19, os quais protagonizaram vários confrontos com os colonos europeus, alguns mais graves, como o que vitimou o casal Lenschow em 1876 na estrada da serra (atual

sc-301). embora não se tenha comprovação, é possível que os guaranis tenham aberto o caminho mais antigo da re-gião, chamado de peabiru, cujos trechos hoje são conhecidos como estrada três barras e caminho do Monte crista. a trilha foi utilizada ao que parece pelos exploradores espanhóis e portugueses no século 16 e serviu também de passagem para os padres jesuítas e os tropeiros que se deslocavam entre o planalto curitibano e o litoral norte catarinense, onde estavam a vila e o porto de são Francisco do sul.

* Dilney Cunha

– Historiador,

graduado e

pós-graduado

em História pela

UNIVILLE, autor

dos livros “Suíços

em Joinville – O

duplo desterro” (Ed.

Letra d´Água,

Joinville, 2003,

traduzido para o

alemão e lançado na

Suíça em 2004 pela

Editora Limmat, de

Zurique) e “História

do Trabalho em

Joinville – Gênese”

(Ed. Todaletra,

2008).

4

Estrada Dona Francisca, no alto da serra, caminho usado para o

transporte do mate

Page 5: Pirabeiraba 150 anos

do rio cubatão, na altura da confluência com o rio da prata. a “serraria do príncipe” como ficou conhecida, foi por vários anos o maior empre-endimento da colônia, exportando madeira para fora da província de santa catarina.

o que determinou porém a criação de pirabeiraba foi um enca-deamento de fatos: em 1855 a sociedade colonizadora de hamburgo estava à beira da falência; seus recursos financeiros estavam esgotados e o dinheiro prometido pelo governo imperial brasileiro não veio. a co-lônia dona Francisca por sua vez vivia um momento delicado: muitos colonos, frustrados em suas expectativas, em virtude das inúmeras di-ficuldades encontradas, preferiram transferir-se para outras localidades como curitiba. a rivalidade entre os negócios do príncipe de Joinville, ad-ministrados pelo seu representante, Léonce aubé, e os negócios da so-ciedade colonizadora, aumentava a tensão. o diretor da colônia, benno von Frankenberg und Ludwigsdorff, profundamente descontente com a situação, pede demissão. dois in-terventores assumem a direção, mas também acabam se desentendendo.

Foi nesse exato momento que, percebendo que o seu próprio empreendimento estava ameaça-do, o príncipe de Joinville enviou aubé a hamburgo para assinar um contrato com a sociedade colonizadora, mediante o qual se tornou seu sócio-acionista, com a aquisição de 800 ações. comprometia-se a pagar por elas 50.000 tálers (moeda alemã da época) e dar 30.000 morgos (75 milhões de m²) de terra à sociedade. também ficou acertado que aubé seria o novo diretor da colônia.

ocorre porém que o príncipe ainda encontrava-se exilado na inglaterra, em uma situação financeira desconfortável. embora não se tenha a documentação comprobatória, é quase certo que aquele dinhei-ro veio do seu irmão henri d´orleans, duque d´aumale, general do

exército francês, escritor de obras militares e à época, dono da maior fortuna da França, estimada em 66 milhões de francos, herdada do seu padrinho, o príncipe bourbon-condé. da herança fazia parte também o famoso castelo de chantilly, que abriga hoje uma das principais coleções de arte do mundo, doada pelo duque.

em troca dessa ajuda, o duque d´aumale recebeu uma extensa área de terras situadas na margem esquerda do rio cubatão, que ficou co-nhecida como domínio pirabeiraba. ali mandou construir na década de 1860 uma enorme fábrica de açúcar, que funcionou até o início do sécu-lo 20, sendo considerada a maior e mais moderna de toda a província de santa catarina e comparada aos melhores estabelecimentos do gênero

no brasil. suas instalações foram or-çadas em cerca de rs 120.000$000 (cento e vinte mil contos de réis), dos quais rs 40.000$000 em má-quinas (importadas da França), uma quantia fabulosa para a época. suas caldeiras a vapor operavam com motores de 96 cavalos de força, ca-pazes de produzir até 800 hectolitros (80.000 litros) de caldo por dia.

havia cerca de 4 quilômetros de trilhos, fixos e móveis, atraves-sando as plantações. assim, a cana depois de cortada e enfeixada, era

colocada em vagões e conduzida até a fábrica, onde então iniciava-se o processo de moagem, destilação e produção de aguardente (cachaça) e açúcar. também foi construída uma escola para os filhos dos emprega-dos da fazenda. o conjunto de construções (casa de máquinas, engenho de moagem, residência do administrador, galpões e rancho dos empre-gados etc) tinha o aspecto de uma “pequena cidade”, segundo expressão usada pelo escritor joinvilense ernst niemeyer.

inicialmente produzia-se apenas cachaça e açúcar mascavo, e a partir da década de 1870, foi a pioneira na produção do açúcar branco e refinado, premiado em exposições agroindustriais, como a de porto ale-

o que determinou porém a criação de pirabeiraba foi um encadeamento de fatos:

em 1855 a sociedade colonizadora de hamburgo estava à beira da falência; seus recursos financeiros estavam esgotados e o dinheiro prometido pelo governo imperial

brasileiro não veio.

Carroção “Sãobentowagen”, com sua cobertura de lona, era o meio de transporte mais comum na Estrada

Dona Francisca

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Page 6: Pirabeiraba 150 anos

gre em 1881. para que se tenha uma idéia do impacto na economia local, a produção total de açúcar da colônia saltou de 1.350 arrobas (cerca de 20.000 quilos) em 1867 para 8.760 arrobas (cerca de 128.000 quilos) em 1868, enquanto a de cachaça pulou de 28.000 medidas (aprox. 73.000 litros) para 64.800 medidas (aprox. 170.000 litros).

além de suprir o mercado local, a fábrica exportava seus produtos para desterro (atual Florianópolis), blumenau, Laguna, são bento do sul e também para as províncias do paraná, rio grande do sul e rio de Janeiro. embora a fazenda possuísse extensos canaviais, a fábrica era abastecida também por inúmeros agricultores da região.

pela sua grandiosidade, pelas suas instalações modernas, pela sua administração inovadora para época e lugar, a fazenda do duque d´aumale transformou-se em um empreendimento-modelo no país. atraiu a atenção de ilustres visitantes, como o conde d´eu, esposo da princesa isabel, o dinamarquês henningsen, representante do duque de chartres (irmão de d´aumale) e o príncipe austríaco Windischgratz. a população também parece ter feito da fazenda um ponto “turístico”: associações e grupos de pessoas costumavam realizar “excursões” de Join-ville até o local.

aubé era agora, além de representante do príncipe de Joinville e do duque d´aumale, o novo diretor da colônia dona Francisca. assim, uma das primeiras medidas que adotou foi garantir a mudança do traça-do da futura estrada que ligaria a colônia ao planalto. o projeto inicial da antiga direção fazia com que ela passasse pela região de anaburgo (atual Vila nova). aubé, vendo que isso seria extremamente prejudicial para os interesses do príncipe, iniciou com recursos próprios e do gover-no da província, a construção de uma outra estrada em 1852. partindo do centro de Joinville (atual rua dona Francisca), ela atravessava justa-mente as terras do nobre francês, o que viabilizaria a sua colonização e consequentemente provocaria sua valorização, além de garantir o escoa-mento da produção dos futuros empreendimentos (serraria e fábrica de açúcar). acumulando os cargos, não foi nada difícil para aubé fazer valer o seu projeto.

esse fato foi fundamental para o surgimento de pirabeiraba. no seu relatório de 1857, a sociedade colonizadora de hamburgo já men-cionava a criação de um novo povoamento na região do cubatão e no relatório seguinte fala da “cidade (Stadtplatz) projetada para situar-se ao longo da estrada que leva até o planalto e promete por causa de sua localização, rápido progresso”. em 1859, a chamada “estrada da serra” (atual sc-301) estava concluída até a “nova cidade a ser construída às margens do rio cubatão”. estava tudo preparado para iniciar a coloni-zação da região.

naquele mesmo ano, o governo imperial enviou à colônia o conse-lheiro Luiz pedreira do couto Ferraz, para que fiscalizasse o andamento

das obras públicas, em especial a estrada da serra. para homenageá-lo, a direção da colônia ofereceu-lhe o primeiro lote do novo núcleo popu-lacional, que também em sua homenagem recebeu o nome de pedreira. Localizava-se no ponto onde se encontravam as estradas da serra, cuba-tão e três barras.

o título de propriedade traz a data de 15 de abril, tida hoje como a data de fundação do distrito de pirabeiraba; mas os primeiros assen-tamentos ocorreram ao que parece ainda em 1858 na estrada cubatão (trechos da estrada anaburgo e br-101). os registros imobiliários da direção da colônia indicam por sua vez que o primeiro lote na estrada da ilha foi vendido ao imigrante alemão heinrich demuth em 15 de setembro de 1859. independente da data, é fato que esse ano marcou o início da colonização em maior escala da região de pirabeiraba, com a chegada de inúmeras famílias de origem germânica, em sua absoluta maioria oriunda de pequenas aldeias rurais da pomerânia, região locali-zada no leste do antigo reino da prússia (atuais alemanha e polônia). Vieram ainda muitos imigrantes de Mecklemburgo, saxônia e da suíça. em 1867, ou seja, menos de dez anos depois, residiam naquele distrito 974 pessoas (em toda a colônia moravam 4.667 habitantes), das quais 628 eram estrangeiras (ou seja, imigrantes).

Fontes

ciesLinsKi, carolina; coeLho, ilanil. os luso-brasileiros em terras de alemães: a história que não foi contada. in: caderno de iniciação à pesquisa. Vol. 6-novembro/2004. Joinville:uniViLLe, p.204.

FicKer, carlos. História de joinville: subsídios para a crônica da colônia dona Francisca. Joinville: ipiranga, 1965.

Quandt, olavo raul. mil pomeranos. Joinville: edição do autor, 2003.

schMaLZ, odete. um ducado francês em terras principescas de santa catarina. Monografia. Joinville: FurJ, 1989.

JornaL o trabaLhador. Joinville. ano i - no 1 - Fevereiro de 1999.

acervo: comunidade evangélica luterana de pirabeirabaLiVros de registros de batismos, casamentos e óbitos. 1859-1870.

acervo: arquivo Histórico de joinville (aHj)Listas de imigrantes. diversas.

reLatórios da sociedade colonizadora de 1849 em hamburgo. 1851-1892. traduzidos por helena r. richlin.

hoLterMann, c. a. die deutsche Kolonie dona Francisca in brasilien in historischen – sta-tistischer beziehung. Mittheilungen der geographischen gesellschaft in hamburg, 1876-1877

statistiK der Kolonie dona Francisca vom Jahre 1867 (levantamento realizado pela subdele-gacia e pela direção da colônia dona Francisca).

cercaL, Manoel de oliveira; MeYer, Maria de Lourdes cercal; araújo, Maria Luiza cercal de; e cercaL, Flávio Lúcio de oliveira. entrevista concedida a Janine gomes da silva e Jeisa rech. Joinville, 10 set. 2002. núcleo de pesquisa histórica do ahJ.

dias, ana; cristino, antônio davi. entrevista concedida a dietlinde clara rothert, Maria Judite pavesi e Milton benkendorf. Joinville, 16 de março de 2000. núcleo de história oral. ahJ.

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Estrada Dona Francisca (Km 20) no início do século XX

Page 7: Pirabeiraba 150 anos

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Escola hoje

a educação sempre recebeu atenção especial dos moradores de pirabeiraba. na foto a escola agríco-la inaugurada na década de 60. abaixo escola as margens da estrada dona Francisca, em 1910.

Escola ontem

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este, que já ocupou quase metade do território do Município e hoje, mesmo com a transferência de todo o distrito industrial norte para a sede do Município, ainda possui mais de um terço da superfície do município de Joinville. Mas a polêmica no período era outra: pira-beiraba arrecadava sessenta por cento dos impostos pagos ao tesouro Municipal, e surgiu a possibilidade de emancipação. isto na primeira gestão do prefeito Wittich Freitag, que prontamente tratou de mudar a legislação, incorporando a Zona industrial à sede, pondo um ponto final nas aspirações dos emancipacionistas.

o distrito de pirabeiraba tal como a localidade de anaburgo, hoje situada no bairro Vila nova, nasceu sob o signo de ser a sede da então recém-fundada colônia dona Francisca. como ambas fugiram ao

controle de seus primeiros administradores, a sede acabou mesmo fican-do onde hoje se encontra o centro do município de Joinville.

o distrito de pirabeiraba se encontra ao norte do município, na direção da serra do Mar e é ponto de passagem para quem deseja ir a curitiba pela br-101, antiga estrada de três barras, que corta as comu-nidades da estrada do oeste, estrada canela, estrada bonita, a estrada palmeira e a localidade de rio bonito. Já a sc-301, antiga estrada dona Francisca, leva a campo alegre e são bento do sul, que dá acesso às comunidades de estrada Mildau, estrada do pico, estrada rio da prata, estrada Quiriri, estrada rio do Júlio, alto da serra, e a chamada Vila dona Francisca na altura do quilômetro 21 já no sopé da serra do Mar. complementam ainda o distrito as comunidades da estrada da ilha,

Milton BenkenDorF*

escrever um pouco da história de pirabeiraba é escrever minha própria história, pois, aqui nasci e dei meus primeiros passos nas letras. primeiramente na escola isolada estadual da estrada da ilha, co-munidade onde residia e conclui o ensino fundamental na escola de educação básica olavo bilac, em pleno período da ditadura militar. ampliei meus horizontes, passei a interagir com as outras co-munidades através dos grupos de Jovens, vinculada à igreja evangélica Luterana, o que me permitiu ter uma idéia da extensão do nosso distrito.

“A incompreensão do presente nascefatalmente da ignorância do passado.”

pirabeiraba

ontem e Hoje

* Milton Benkendorf

- É licenciado em

História e Mestrando

em Patrimônio,

Cultura e Sociedade

da Univille.

Serraria do príncipe de Joinville, às margens do Rio Cubatão, confluência

com o Rio da Prata (1865)

Marc Bloch

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Page 9: Pirabeiraba 150 anos

estrada ribeirão do cubatão, cujo acesso é anterior ao centro urbano do distrito.

com a ocupação do solo da colônia, a primeira atividade foi o desmatamento, para que na seqüên-cia pudessem utilizar as terras para a atividade agropastoril, que, depois da extração da madeira in natura, tornou-se a atividade econômica que trouxe o sustento dos agricultores e de suas famílias.

a vocação agrícola das comu-nidades criadas ao longo da estrada dona Francisca e da estrada de três barras, nem sempre encontrou solo fértil para assegurar o sucesso destas recém criadas comunidades. Mas, a grande maioria encontrou os recursos necessários para se desenvolverem, apesar das adversidades que este tipo de pioneirismo costuma enfrentar.

suprimida a vegetação, plantada a primeira safra, era preciso es-perar a primeira colheita para poder aos poucos matar a fome da família, e ainda cuidar dos animais domésticos, que tal como o grupo familiar também tinha que ser alimentado.

a produção da propriedade nem sempre era suficiente para aten-

der as necessidades básicas. cabia ao chefe da casa então prover esta carência, e para isso ele acabava tra-balhando como bóia fria para outros colonos, que dispunham de capital para iniciar suas atividades. estes pagavam para derrubar a mata e ini-ciar o cultivo nas suas propriedades ou como outra opção, os colonos insolventes trabalhavam como em-pregados da administração da colô-nia, na abertura de novas estradas, demarcação de lotes, derrubada de

árvores e na construção de pontes. a agricultura permaneceu como principal atividade do distrito,

até o início da década de 30. passou a dividir com as serrarias, que bene-ficiavam a madeira extraída da floresta, o espaço econômico da região. Levantamento feito por volta do ano de 2001 pelo núcleo de história oral do arquivo histórico de Joinville, aponta entre os anos de 1930 a 1970, a existência de mais de trinta serrarias em atividade só na região de pirabeiraba.

como as comunidades que se estabeleceram foram se desenvol-vendo, abriu-se espaço para que estabelecimentos comerciais fossem sur-

com a ocupação do solo da colônia, a primeira atividade foi o desmatamento, para que na seqüência pudessem utilizar as terras para a atividade agropastoril, que, depois da extração da madeira in natura, tornou-se a atividade econômica que trouxe o sustento

dos agricultores e de suas famílias.

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Vista aérea de Pirabeiraba

Page 10: Pirabeiraba 150 anos

gindo ao longo das principais vias. estes, além de fornecerem mantimen-tos para suprir os colonos, adquiridos na sede do município, acabavam também adquirindo produtos destes, que os revendiam. com isto, criou-se uma relação de comércio de troca, também conhecida como escambo. Muitos destes comerciantes transformaram-se em pequenos “banquei-ros”, pois para não perder o controle das finanças, criaram um controle de caixa para cada colono. uma espécie de conta corrente, onde eram anotados os valores das mercadorias adquiridas do agricultor, como cré-dito e noutra coluna as compras efetuadas pelo mesmo do comerciante, e numa terceira coluna era anotado o saldo do correntista, a cada vez que a conta era movimentada. Muitos dos colonos deixavam seu dinhei-ro na mão do comerciante, e isto explica de certa forma o sucesso dos comerciantes da região. alguns destes ainda existem e atuam com secos e molhados, açougues, hotelaria e restaurantes, que em algumas situações, estão há várias gerações nas mãos de uma mesma família.

outro fator que contribuiu para o sucesso dos comerciantes foi o fluxo de carroções vindos do planalto, com o ciclo da erva-mate, que durou aproximadamente de 1890 a 1930. transportavam até o porto do bucarein a erva beneficiada, e até as ervateiras, a matéria prima vinda do planalto serrano. os comerciantes se beneficiavam oferecendo pousada para os carroceiros e também pasto e cocheiras para os cavalos destes.

nas últimas quatro ou cinco décadas, foi possível sentir as mu-danças de forma mais rápida. situada numa região de exuberante Mata atlântica, pirabeiraba sofreu com o enrijecimento da Legislação am-biental, na década de 1970, que provocou a desativação de praticamente noventa por cento (90%) das madeireiras existentes, e também em mui-tos casos tornando-a uma atividade econômica quase inviável. com esta imposição, muitos agricultores acabaram por desistirem da roça para se empregarem em empresas como forma de buscar o seu sustento.

a pirabeiraba de hoje, pouco lembra a do passado, pois aos pou-cos, com a construção da br-101, na década de 1960, e mais tarde na

década de 1990 a construção da sc-301, o distrito passou a ser ocupado por um número cada vez maior de indústrias que buscavam terrenos com localização privilegiada e também mão de obra disponível para contra-tação.

a mão de obra além de ser farta, era formada por ex-agricultores e ou os filhos destes, que precisavam empregar-se nas empresas face a nova conjuntura. estes habituados às lides do campo, e não fugindo do trabalho pesado, ao qual estavam acostumados, foram muito disputados por diversas das grandes empresas como cônsul, tupy, embraco, dohler e tigre.

aos poucos a atividade econômica de pirabeiraba acabou ficando cada vez mais parecida com a do município sede (Joinville). até mesmo o perfil dos agricultores acabou se modificando: muitos dos que perma-neceram na atividade passaram a ser monocultores, como é o caso da banana, outros agregaram a atividade do turismo rural para incrementar sua renda. Mas, muitos desistiram e venderam suas propriedades que acabaram virando sítios de lazer de moradores urbanos em busca da tran-qüilidade oferecida pelo campo.

atualmente, pirabeiraba tem uma população de aproximadamen-te 25 mil habitantes, responde por um quinto da arrecadação do municí-pio e sua atividade agrícola mais significativa é a produção de banana.

encerro o texto utilizando uma frase do historiador inglês eric J. hobsbawm, “...as pessoas vivem um presente permanente, esquecendo-se de seu passado cuja memória há muito ficou esquecida”.

BiBliograFias ConsultaDas

FicKer, carlos. história de Joinville. Joinville: ipiranga, 1965.cunha, dilney. suíços em Joinville – o duplo desterro. Joinville: Letra d´ Água, 2003.____________. história do trabalho em Joinville – gênese. Joinville: todaletra, 2008.hobsbaWM, eric J. a era dos impérios. rio de Janeiro: paz e terra, 1998.sinodo Luterano. Lutherische Kirche in brasilien. são Leopoldo: rotermund &

co, 1955.

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Page 11: Pirabeiraba 150 anos

Canavial da Fazenda Pirabeiraba com a vila operária ao fundo, na primeira década do século XX

Instalações no interior da Usina de Açúcar de Pirabeiraba, uma das

mais modernas da época

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Page 12: Pirabeiraba 150 anos

teuto-brasiLeiro eM pirabeirabao associativismo

* Wilson de Oliveira

Neto – Mestrando

em Patrimônio

Cultural e Sociedade

na Universidade

da Região de

Joinville (UNIVILLE).

Professor de História

no Colégio Global

(São Bento do Sul,

SC). Co-autor do

livro O Exército e a

cidade (Editora da

UNIVILLE, 2008).

[email protected]

Wilson De oliVeira neto*

a existência de uma intensa vida associativa é um dos aspectos que mais chama a atenção daqueles que estudam a história e a cultura teuto-brasileiras. são recorrentes na bibliografia especializada menções à grande quantidade de agremiações, associações, clubes ou sociedades das mais variadas matizes que, no exercício de suas funções, foram além do mero espaço de sociabilidade entre os membros das comunidades teuto-brasileiras formadas no sul do brasil a partir do século 19. como afirma a antropóloga giralda seyferth (1999), o associativismo foi um espaço de manutenção de etnicidade. Locais de expressão da Kultur alemã.

no brasil, as primeiras sociedades teuto-brasileiras surgiram no meio urbano. elas eram chamadas genericamente de Germania e estavam ligadas ao comércio e à indústria. apesar de sua natureza econômica, esses clubes possuíam bibliotecas e desenvolviam uma intensa vida cul-tural, com apresentações de canto, música e teatro. a respeito dessas organizações pioneiras, sabe-se ainda que:

“[...] celebravam datas históricas alemãs, possuíam bibliotecas com predominância de textos em língua alemã, organizavam apresentações teatrais e de mú-sica instrumental e coral privilegiando a tradição ale-mã. sob este aspecto, portanto, não se diferenciavam muito das sociedades de tiro e de ginástica, apesar destas exibirem mais ostensivamente as práticas es-portivas nas suas denominações. as sociedades Ger-mania, porém, eram mais do que simples espaços de recreação, sendo consideradas [...] precursoras das câmaras de comércio teuto-brasileiras” (seYFerth, 1999, p. 25).

com o passar do tempo, outras associações surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine (sociedades de socorro-Mútuo), Kulturvereine (sociedades de agricultores), Sängervereine (sociedades de cantores), Schützenvereine (sociedades de atiradores), Turnvereine (sociedades de gi-násticos), entre outras.

de acordo com a historiografia, as agremiações teuto-brasileiras surgiram, basicamente, a partir de duas razões: a) pela falta de amparo aos imigrantes por parte do estado brasileiro; b) por uma tradição asso-ciativa existente na alemanha há séculos (FouQuet, 1974 e seYFer-th, 1999). nas colônias, tudo estava por ser feito e durante os seus primórdios, diante de toda a precariedade material, as sociedades foram locais em que os problemas comunitários eram enfrentados e superados. na alemanha contemporânea, o associativismo ainda é visto como algo de importância nacional, que tem suas raízes na época medieval. existem no país em torno de 345 mil associações, das quais participam cerca de 70 milhões de sócios. É o que afirma o perfil da alemanha (2000), guia publicado em vários idiomas pelo departamento de imprensa e informa-ção do governo Federal.

o papel social do associativismo teuto-brasileiro pode ser visualizado

Participantes da Sociedade de Atiradores de Pirabeiraba, no

início do século passado

12

Page 13: Pirabeiraba 150 anos

através, por exemplo, das sociedades de tiro (Schützenvereine). suas origens estão situadas nas corporações de ati-radores que, na idade Média, eram responsáveis pela defesa dos burgos localizados em diversas regiões da eu-ropa centro-ocidental. contudo, as atividades dessas confrarias não eram apenas militares. periodicamente, eram realizadas competições de tiro e demais celebrações que, segundo a historiadora sueli M. V. petry (1982), são os embriões das festas de atiradores de hoje.

Fora isso, em muitos momentos as associações ou clubes teuto-brasileiros prestaram vários serviços de utilidade pública que ultrapassa-ram as fronteiras das colônias. em dona Francisca, atual Município de Joinville, por exemplo, a Schützenverein zu Joinville junto com o corpo de bombeiros Voluntários foram as primeiras formas de defesa da colônia. inclusive, foram mobilizados em virtude da passagem da revolução Fe-deralista pela região, durante o final do século 19 (guedes, oLiVei-ra neto e oLsKa, 2008). no rio grande do sul, informa o memo-rialista carlos Fouquet (1974) que, o primeiro tiro de guerra gaúcho foi criado a partir da sociedade de atiradores de porto alegre.

porém, o associativismo praticado por imigrantes alemães e seus descendentes era visto com desconfiança por muitas autoridades brasi-leiras. especialmente as Schützenvereine e as Turnvereine, as quais tinham um caráter militarizado, evidenciado na cultura material e nas práticas pertencentes a essas agremiações. pairava uma suspeita de que tais ins-tituições estimulavam a formação de “quistos étnicos” nas regiões colo-niais (seYFerth, 1999). esses fatos associados aos contextos de guerras mundiais e de nacionalismos resultaram em intervenções ocorridas du-rante a campanha de nacionalização (1938) e a segunda guerra Mun-dial (1939-1945), nesta última, a partir da entrada do brasil no conflito, em 1942. durante essa guerra, as agremiações teuto-brasileiras foram duramente atingidas, sendo suas sedes fechadas e depredadas, tal como mostram historiadores e memorialistas diversos. a dimensão étnica que as associações teuto-brasileiras possuíam foi o principal motivo que levou o governo a intervir nos seus interiores durante as décadas de 1930 e 40 (seYFerth, 1999). contudo, após o término do conflito, em 1945, pouco a pouco elas foram reabertas e apesar dos pesares, voltaram a ser espaços de sociabilidades e de tradições criadas pelos primeiros imigran-tes alemães que chegaram ao brasil há mais de 180 anos atrás.

associações em pirabeiraba

tanto em Joinville (sede da colônia dona Francisca) como mais especificamente no distrito rural de pirabeiraba, o associativismo consti-tuiu-se em um traço cultural marcante da sociedade local. as primeiras agremiações surgiram com a chegada dos imigrantes germânicos.

em pirabeiraba, as associa-ções religiosas e escolares foram as primeiras a serem criadas. os colo-nizadores, quase todos agricultores e com uma religiosidade evangélica fortemente arraigada, formaram em 1863 uma “comunidade eclesiástica e escolar” (Kirche-und schulgemein-de) na estrada da ilha e em 1864 o mesmo ocorreu na vila de pedreira (atual pirabeiraba). nos anos poste-riores, à medida que surgiam novos

núcleos populacionais nas recém-abertas estradas do distrito, associações do mesmo gênero eram criadas.

um outro tipo de agremiação bastante presente entre os colonos teuto-brasileiros eram as associações de tiro. em 1894 surgiu a “schützen-verein pirabeiraba”, que se reunia para treinos e torneios no salão schrö-der, na estrada dona Francisca km 9, esquina com a estrada da ilha. em 1906 foi fundada na mesma estrada, no km 21, a “schützenverein tell”.

de acordo com a pesquisadora brigitte gern, essas associações foram fechadas durante a segunda guerra Mundial por determinação governamental e mais tarde passaram a integrar as sociedades culturais e recreativas da região. surgiram assim os clubes de tiro das associações recreativas guarany, Mildau, rio da prata e dona Francisca (estes dois últimos substituíram a sociedade de tiro tell).

devem ser citadas ainda outras associações relevantes na histó-ria da comunidade: a sociedade de teatro amador e recreação “unter uns pedreira” (entre nós pedreira), que atuou de 1889 a 1938, a “tur-nerbund (Liga de ginastas) dona Francisca” mais tarde “sociedade de ginástica dona Francisca”, a “Musikverein (sociedade Musical) dona Francisca” e o “sängerchor (coral) pedreira”.

além de constituírem-se em espaços de sociabilidade, tecendo ou fortalecendo os laços de solidariedade como forma de vencer as adversi-dades iniciais, essas instituições promoveram a conservação de costumes e tradições, tidos pelo grupo como autenticamente germânicos (deuts-chtum), reelaborando- e ressignificando-os em uma nova identidade (teu-to-brasileira), em oposição aos demais grupos étnicos.

reFerênCias

departaMento de iMprensa e inForMaÇÃo do goVerno FederaL. perfil da alemanha. Frankfurt; Meno: societäts-Verlag, 2000.

FouQuet, carlos. o imigrante alemão e seus descendentes no brasil (1808 – 1824 – 1974). são paulo / são Leopoldo: instituto hans staden / Federação dos centros culturais “25 de julho”, 1974.

gern, brigitte brandenburg. breve história dos clubes de tiro alvo-seta e de bolão da sociedade cultural e recreativa guarani – pirabeiraba. Joinville, 2009. digitado. não publicado.

guedes, sandra paschoal Leite de camargo; oLiVeira neto, Wilson de; oLsKa, Marilia gervazi. o exército e a cidade: Joinville e seu batalhão. Joinville: uniViLLe, 2008.

herKenhoFF, elly. era uma vez um simples caminho. Joinville: Fundação cultural, 1987.petrY, sueli Maria Vanzuita. os clubes de caça e tiro na região de blumenau: 1859 – 1981.

blumenau: Fundação “casa dr. blumenau”, 1982.seYFerth, giralda. as associações recreativas nas regiões de colonização alemã no sul do

brasil: kultur e etnicidade. travessia, são paulo, p. 24 – 28, maio – ago. 1999.

com o passar do tempo, outras associações surgiram, como por exemplo, as Hilfsvereine

(sociedades de socorro-Mútuo), Kulturvereine (sociedades de agricultores), Sängervereine (sociedades de cantores), Schützenvereine (sociedades de atiradores), Turnvereine

(sociedades de ginásticos)...

13grupo Folclórico Windmühle

Page 14: Pirabeiraba 150 anos

coLoniZaÇÃo eM pirabeirabaestradas e famílias

Vista parcial da antiga Pirabeiraba (Pedreira)

Casal Fritz e Bertha Bennack com os filhos Paulo e Gustavo,

na Estrada Anaburgo

14

Page 15: Pirabeiraba 150 anos

* Brigitte

Brandenburg

é engenheira

agrônoma na

Epagri e fundadora

do Instituto de

Genealogia de

Santa Catarina

Brigitte BranDenBurg*

o distrito de pirabeiraba, além do núcleo urbano, é cortado por 16 estradas, abertas quase todas na fase de colonização, pelos imigrantes germânicos (sobretudo pomeranos) e por luso-brasilei-ros que começaram a chegar à região na década de 1860. a história da sua ocupação por essas famílias é muito parecida e como são várias localidades, optamos por descrever duas delas e em seguida mencionar as demais, informando os nomes das famílias que as colonizaram e/ou que nelas residem há mais tempo.

1 – assentamentos de colonos na estrada do oeste e sua relação com o domínio pirabeiraba

a maioria dos produtores rurais da estrada do oeste no século 19, produzia cana-de-açúcar para a usina do duque d’aumale, também chamada Fazenda pirabeiraba. até o início do século 20, era a maior indústria instalada no município de Joinville. a Fazenda pirabeiraba tinha produção própria de cana, mas comprava de todos os produto-res residentes na região, devido a alta demanda de matéria-prima. os funcionários da usina eram moradores ou proprietários em vários distri-tos da colônia dona Francisca, que, atraídos pela oferta de trabalho e pagamentos de acordo com a natureza das tarefas, trabalhavam mais ou menos frequentemente na usina. o projeto de produção centralizada de açúcar, aguardente e álcool e a necessidade de maior produção para abastecer a usina de matéria-prima, criou a oportunidade de oferta de lo-tes aos colonos já com alguma experiência no manejo da cultura. sendo assim, vários colonizadores, incluindo brasileiros já residentes na região de três barras, celebraram contratos de arrendamentos com o domínio dona Francisca, que variavam em períodos de 30 a 50 anos. Mais tarde, os lotes foram adquiridos, com a oferta para compra.

a ocupação dos lotes iniciou em torno de 1865, conforme mostra a lista de arrendatários:

número adquirentes ou arrendatários Área data contrato116 evaristo alves 17 há 1/1/1868117 Johann Michel gehnke 312.500mq 1/1/1868 Frederico Jordan carl greffin 29/12/1876

118 hermann Friedrich Wilhelm gehnke 310.000 mq 1/1/1868 august brandenburg 8/10/1876

119 Wilhelm Friedrich graper 245.000mq 1/1/1868 repartido em duas partes iguais:

119a Wilhelm Friedrich graper 12,65 há 8/2/1874119b Ferdinand boldt 11,85 há 8/2/1874120 august Friedrich Kersten 23,50 há 1/1/1863 terreno dividido em 1868:

120a august haak 12,50 há 1/1/1878121 Johann Friedrich benkendorf 24 há 1/1/1871122 Francisco bento 19,50 há 1/1/1868 augusto Ziebarth transferido em 25/8/1872 gustav henning transferido em 31/5/1873 Johann Loth transferido em 29/7/1876

123 basilio gonçalvez araujo 19 há 1/1/1871124 Manoel nunes da silveira 47,5 há 1/1/1871125 antonio soares Lopes 600.000mq/60 ha 1/1/187157 Franz behling - riscado 25 há 1/1/1874 gustav Johannsen

179a Wilhelm Martens 13,75 há 1/1/1870179b albert ristow 13,75 há 180 Wilhelm bergemann 26 há 1/1/1874181 Friedrich Wilhelm benkendorf 22 há 1/1/1871182 august Kersten 22 há 1/1/1870

182/1132 adolf Kersten 183 august Martens 22ha 1/1/1870184 christian Feissel 26 há 1/1/1871185 Wilhelm bertling 27,5 1/1/1871 Ferdinand piske

186 Joaquim padilha 32,5 1/1/1873 Laurindo correa bento padilha 1/1/1873

187 schulz - marceneiro 28,50 há 1/1/1874

188 Johann Friedrich tabbert 28,50 há 1/1/1873189 august Lenz 28,50 há 1/1/1874100 Wilhelm schramm 50.000bQ 1/7/1865 august Friedrich Wilhelm schramm 25 há

101 Friedrich brüggemann 50.000bQ 1/7/1865 carl gustav danielsen transferido a Friedrich otte

entre os imigrantes, havia pessoas de várias origens, com predomí-nio de pomeranos e saxões. da mesma forma como ocorreu em outras localidades, imigrantes e descendentes casaram com membros da comuni-dade. os imigrantes luteranos criaram uma associação eclesiástica, a partir da construção de uma escola em 1883, que servia também aos cultos reli-giosos e manutenção de cemitério, sendo que a partir de 1893 recebiam uma pequena subvenção da intendência Municipal (prefeitura).

a partir do trabalho remunerado na usina, os agricultores ini-ciaram o desmatamento de seus lotes para o cultivo da cana, e ao lon-go das décadas seguintes, instalaram engenhos e criaram suas próprias associações, como a “Landwirtschaftliche Verein für brüderschaft pedreira”(associação agrícola Fraternidade pedreira), ligada aos produ-tores rurais da estrada da ilha, também parcialmente envolvidos com o cultivo da cana. em 1911 criaram a usina sindicada, associação de produtores de cana-de-açúcar, com engenho próprio instalado no início da estrada do oeste, através de uma associação de produtores da estrada do oeste, estrada da ilha, e estrada pirabeiraba e estrada três barras.

a influência da usina de açúcar instalada pelo duque d’aumale foi fundamental para uma economia regional que perdurou até a década de 70, em pirabeiraba.

esta antiga usina precursora da atividade na região, contava em 1897 com a seguinte estrutura, conforme o inventário do duque, faleci-do neste ano, e que consta do acervo do arquivo histórico de Joinville:

1) 4.361 hectares de terras da dita Fazenda pirabeiraba (obs.: na avaliação final foram citados 3.000 hectares)

2) duas casas de moradia3) uma casa para residência do feitor4) uma casa para abrigar trabalhadores5) um edifício onde funcionam as máquinas para moenda de

cana e fabricação de açúcar.6) uma máquina a vapor para fabricação de açúcar, com moendas

para cana, centrífugas, caldeiras de defecação, de evaporação e de cristalização, caldeiras a vapor com tanques de caldo para os movimentos e evaporação.

7) Quatro filtros e máquina para a preparação do carvão.8) um aparelho de destilação com oito cubos de fermentação.9) um galpão para depósito de lenha10) um galpão construído de madeira e tijolos para depositar di-

versos.11) um galpão para fabricação de barricas12) 2.500 metros de trilhos para vagonetes.13) 20 vagonetes14) um galpão para abrigar a balança de pesar cana15) um galpão para depósito de bagaços16) um galpão para estrebaria.17) um guindaste de ferro e madeiras18) uma oficina de ferreiro com seus pertences19) uma balança decimal, grande, para pesar açúcar 15

Page 16: Pirabeiraba 150 anos

16

Bodas de prata de Otto Schulze e Lene Bächtold, na Estrada da Ilha

Casal Louis Duvoisin e Anna Tanner. Ele veio para Joinville em 1850, antes da fundação

da cidade, e ela com o barco Colon, se estabelecendo mais tarde em Pirabeiraba

Álbum de família

Page 17: Pirabeiraba 150 anos

20) duas carroças de quatro rodas21) três mil aduellas para fazer barricas22) onze barricas novas23) dois mil quilos de açúcar cristalizado24) nove tanques de lata para depósito de açúcar25) nove tonéis, sendo quatro de madeira e cinco metálicos26) Quatro e meio hecates (dezoito morgens coloniais) de cana

plantada, em quinta ressoca27) Quatro arados28) duas grades29) um rolo de ferro para abater a terra arada 30) dois capinadores de ferro31) oito cavalos de tiro32) nove bois 33) dezessete vacas34) doze novilhas35) Quatorze bezerros 36) seis bezerros de dois meses

total = 172:797$500 (cento e setenta e dois contos, setecen-tos e noventa e sete mil e quinhentos réis)

procurador dos bens – Friedrich brüstlein

esta estrutura foi instalada às margens do rio cubatão, no início da estrada do oeste. a única estrutura que resiste ao tempo é o galpão onde foi instalada a caldeira, e construída em pedra de granito. os maio-res investimentos em construções foram feitos em 1873, época de gran-de absorção de mão de obra. entre os trabalhadores, diaristas da usina constam os nomes dos seguintes imigrantes e brasileiros residentes em diversas regiões da colônia dona Francisca, como pode ser observado abaixo:

ano 1873nome do funcionário

stein Fritz emilstein Johanna

hindlmeierLedebuhr WilhelmLedebuhr august

beulke carlhardt Ludwig

benkendorf WilhelmKühne heinrich

Kühne Jr. heinrichseger august

bössow Jochengraper Wilhelmbaarz

Kersten i augustKersten ii august

struck Junior augustMartens august

Feissel seniorFeissel Junior

Feissel MineFeissel anna

genke seniorstruck senior august

Jensen Jensganske

Marre senioralves evaristo

José Manoelcorrea Joaquim

gonçalves da Maia Manoelborges José

padilha velhobahia Joséalves Mariaalves FranciscoKlug Johannboldt Ferdinand

Martens augustgenke hermann

stoll Ferdinandhoff Friedrich

graper ernstgraper Wilhelmholz doris

holz seniorholz Mineholz ricke

ganske augustnennemann Friedrich

elling Fritz & comp.nass august

trapp berthahaak august

hoffmann carlhoffmann Ludwig

beulke Johannabeulke i. beulke W.beulke Friedrichschier Johannahardt tineKrüger carlganskepolnow Fr.

Kienbaum W.Kienbaum auguste

Wiener berthaseiler Kunigunde

Krelling Franzsantos Mariarosa ida

struck Junior auguststruck berthastruck emiliestruck ernestine

bertling carlelmer Joachin e comp. (família)böge Jedde

graper ernst estrada do oestegraper august estrada do oesteKlug Johann estrada da ilha

Johannson gustav estrada do oesteKersten ii august estrada do oesteKersten i august estrada do oesteMartens Wilhelm estrada da ilhabertling carl estrada do oeste

bergemann Wilhelm estrada do oestebergemann emilie estrada do oestebergemann bertha estrada do oeste

brandenburg august estrada do oestebrandenburg eduard estrada do oeste

Loth Johann estrada do oesteLoth carl estrada do oeste

abraham carl estrada da ilhagrosse augustKöhn Wilhelm estrada do oesteboldt Wilhelm estrada da ilhaLenz august estrada do oeste

genke Johann estrada do oestegenke senior estrada do oeste

Manoel JoaquimLetzner carl estrada annaburgelling august estrada da ilhaelling Friedrich estrada da ilha

schmöckel Wilhelm estrada catharina - depois garuvaschmöckel Julius idem acima

Lenz august estrada do oesteholz Ferdinand estrada da ilhanass august annaburgnass carl annaburg

Feissel Wilhelm estrada do oesteganske august estrada blumenaubössow Johann

Wandersee reinhard estrada do oesteWandersee albert estrada do oesteManoel Jr. José 17

Page 18: Pirabeiraba 150 anos

Álbum de família Reunião da família Pabst, em Rio da Prata

18

Família Erzinger. Vê-se a matriarca Maria Müller Erzinger, imigrada em

1855 de Schaffhansen, Suíça

Page 19: Pirabeiraba 150 anos

Manoel JoséManoel antoniopadilha bento estrada do oestepadilha aguidapadilha Marcoborges preisbibiano Josébibiano gregóriobibiano Franciscocorrea Jofefa tres barrascorrea annaalves carolinealves João

neitzel Friedrich estrada da ilhahartkopf albert estrada da serraramnow ernst estrada da ilharamnow emil estrada da ilhaZander cristian estrada da serraZander Wilhelm estrada da serraLütke estrada da serra

radünz Mildauschulz Wilhelm estrada da ilhaschulz Ferdinand estrada da ilha

demuth estrada da ilhahabeck carl estrada da trombahabeck Johann estrada da tromba

sal Francisco de estrada do oestesann Wilhelm annaburg

Lorenz Ferdinand annaburggarz heinrich estrada rio da prata

Langanke Julius estrada da serraKühne WilhelmKühl gustav estrada Mildauelmer Joachin estrada da ilhatrapp carl estrada da tromba

schwalmann Johanngraviel José

daberkow gottliebdaberkow Wilhelm

Korn Friedrich estrada da ilhaWendler august estrada da ilha

benkendorf Franz estrada pirabeirababaron thomasKrüger hermann estrada da ilhahaak august estrada do oeste

bössow Johannprust Ferdinandschier august estrada da ilha

Fehrmann hermanngesing Wilhelm serrastrasseboss Johann

hermann cristian Joinvilleboska Martin estrada da ilha

fábricaMüller heinrich estrada da ilha

Ledebuhr Wilhelm estrada da ilhaLedebuhr august estrada da ilha

schlichting gustav Joinvillebauer gustav estrada da ilha

abraham carl estrada da ilhaschmalz Jacob Joinville

desta forma, conclui-se que a atividade da cana-de-açúcar para fa-bricação de açúcar refinado iniciou-se com este empreendimento, esten-dendo-se por mais de 100 anos entre os agricultores da região.

2 - assentamento inicial da estrada mildaua estrada Mildau, cuja extensão em 1869 pertencia, em parte ao

domínio dona Francisca (propriedade dos príncipes de Joinville), e em parte à sociedade colonizadora de hamburgo, foi colonizada a partir de 1870 por imigrantes que arrendaram as terras, em contrato firmado por 50 anos. a área dos lotes variava de 9 a 22 hectares. os primeiros arrendatários assinaram contrato no final de 1869 e em janeiro de 1870, firmado pelo representante do domínio d. Francisca, sr. Friedrich brüs-tlein, sendo estes arrendatários abaixo relacionados, como também sua origem por distrito e província prussiana (atual alemanha e parte da

polônia): carl lanz – (1869) – schlawee, Köslin, pomerânia luiz duvoisin, que transferiu seu contrato para joão gomes de oliveira, em 7 de novembro de 1871, suíço, louis gustav Wiener – rivolsdorf, Köslin, pomerânia carl e Hermann neitzke (1869) – Köslin, pomerânia, Hermann neitzke (1869) – Köslin, pomerâniaaugust Hardt – putzernin, Köslin, casado com Karoline boness carl friedrich struck – regenwalde, stettin, pomerâniaWilhelm christof beulke – Köslin, pomerânia august ferdinand friedrich struck – regenwalde, stettin, pomerâniaKarl friedrich Wilhelm radünz – neustettin, Köslin , pomerâniajohann friedrich Wilhelm radünz – neustettin, Köslin, pomerânia

entre 1870 e 1875 aproximadamente, a sociedade colonizadora, proprietária da parte sul do Mildau, que confrontava com o limite norte das terras da colônia, vendeu lotes de aproximadamente 25 hectares, localizados na parte interior e mais próxima do morro da tromba, a imi-grantes pomeranos, em totalidade, oriundos em sua maioria de Köslin e regenwalde, dois dos três distritos localizados naquele período, no cen-tro e oeste da província da pomerânia, de influência eslava. os nomes destes imigrantes, que com as suas famílias, se instalaram neste período na estrada Mildau são:

friedrich fick - da pomerâniafranz polzin – saatzig, stettin, pomerâniacarl malon – belgard e Köslin, pomerâniajohann beulke - Köslin, pomerâniaaugust Hardt - putzernin, Köslin, pomerânia, (repassou o lote a hermann bahr a partir de 1875)Wilhelm Wegener, belgard, pomerânia cuja viúva repassou o lote a heinrich buttke em 1875.Heinrich buttke – Köslin, Köslin, pomerânia friedrich Wegener, schiefelbein, belgard, stettin, pomerânia, que mudou-se para a estrada do oeste em 1883 e repassou o lote a ernst trapp (belgard, stettin, pomerânia – vivia na estrada oeste) carl trapp (filho de ernst trapp)– belgard, stettin, pomerâniaWilhelm greffin – regenwalde, stettin, pomerâniagottlieb fingerWilhelm Hoffmann – regenwalde, pomerâniaWilhelm dumke – grandhof, Köslin, Köslin pomerâniafritz gumz – schiefelbein, belgard, stettin, pomerâniaHermann bahr – bublitz, Köslin, pomeraniaWilhelm friedrich tabbert – piritz, stettin, pomerâniaaugust Kühl – rogow, regenwalde, pomerânia carl dummer – schiefelbein, belgard, pomerâniagottlieb dabberkow - pomerâniaWilhelm Wodke – putzernin, Köslin, pomerâniajohann garz – stolp, Köslin, pomerânia gottlieb ledebuhr - pomerâniaHeinrich treptow – schlawee, Köslin, pomerâniafriedrich baarz – regenwalde, stettin, pomerânia friedrich Krumnow – regenwalde, stettin, pomerânia

algumas famílias, trabalhavam inicialmente para a usina de açú-car do duque d´aumale, como pode ser observado nos registros de pagamento de diaristas e mensalistas da usina, situada no local deno-minado pirabeiraba, ou Fazenda pirabeiraba, na margem esquerda do rio cubatão. em 1873, albert e bertha Wiener, carl trapp, august e gustav Kühl, carl e august struck, carl Friedrich struck, august hardt, hermann hardt, carl neitzke, Wilhelm beulke, carl e Johann radünz trabalhavam em atividades agrícolas nesta fazenda com suas esposas e alguns filhos. a serraria do príncipe estava instalada desde o final da década de (18)50 na estrada da serra, no Km 17, e é possível que eventu-almente absorvesse a madeira derivada do desmatamento das áreas dos lotes ocupados pelas famílias. assim também ocorria com a construção da estrada da serra, para cujas obras eram contratados os trabalhadores residentes no local e de outras regiões da cidade.

Luiz duvoisin inicialmente vendia madeira, quando instalado na 19

Page 20: Pirabeiraba 150 anos

estrada Mildau, sendo que transferiu seu contrato de arrendamento a João gomes de oliveira, natural de paraty (araquari), que produzia cana-de-açúcar, processada em seu engenho através de trabalho escravo.

outros agricultores como Wodke, Ledebuhr, trapp, baarz já pos-suíam propriedades na estrada da ilha, sendo que em alguns casos, suas propriedades passaram a ser exploradas pelos filhos.

instalados em suas propriedades, as famílias, todas luteranas, es-tavam associadas à comunidade evangélica de pedreira, na qual oficiali-zavam casamentos, batizados, confirmações, e óbitos. havia nesta época duas escolas em pedreira, uma pública e uma comunitária, construída com recursos da própria comunidade. o grupo de famílas instaladas na estrada Mildau criou entre si, laços e vínculos através de casamentos entre os seus membros.

a partir de 1900, aproximadamente, os descendentes começaram a relacionar-se fora da comunidade e iniciaram-se alguns casamentos com filhos de moradores da estrada da serra, próximo a pedreira. tam-bém neste período ou até mesmo antes disso, em torno de 1880 houve uma migração de imigrantes e de jovens casais, da estrada Mildau, para ocupação de novos lotes na estrada rio da prata, como a das famílias dumke, Malon, hardt. além disso, membros de outras famílias como greffin, Wegener e Maass passaram a residir na estrada do oeste, a par-tir da medição e venda de lotes do domínio dona Francisca a colonos dispostos a produzir cana-de-açúcar para a usina pirabeiraba. a família struck vendeu seu lote a família gomes de oliveira e passou a ocupar a outra parte de seu lote na estrada da tromba.

não cabe relatar aqui todos os casamentos ocorridos entre imi-grantes e os de seus descendentes, quando o objetivo é exemplificar as relações iniciais e inclusive antecedentes à colonização, de grupos de imi-grantes que deixavam sua pátria em grandes grupos de famílias, originá-rias de mesmas vilas ou próximas, como no caso dos naturais de Köslin e regenwalde, da estrada Mildau. aqui estabeleceram comunidades com identificação cultural, parentesco e compadrio. devido ao isolamento do período, relacionavam-se entre si, originando casamentos dentro das mesmas famílias. essa característica de agrupamento conforme a origem, reflete-se em vários outros núcleos populacionais dos diversos distritos rurais de Joinville no século 19. das famílias instaladas na estrada Mil-dau, vários deixaram a localidade e outros, devido a casamentos, pas-saram a se instalar nesta comunidade. as famílias ainda residentes no local envolvem descendentes principalmente das famílias Wiener, Kühl, e artmann.

os filhos dos colonos desta comunidade freqüentavam a escola comunitária de pedreira, assim como também a escola pública instalada até 1872. os primeiros imigrantes e seus descendentes eram sepultados invariavelmente, no cemitério de pedreira.

3 – pirabeirabaÉ o núcleo urbano e a sede do distrito. chamado inicialmente de

pedreira, sua fundação data de 1859. entre as famílias que colonizaram o local ou que ali residem há mais tempo estão:

boLdt, henning, duVoisin, seeFeLdt, braatZ, schrÖder, schraMM, schoLZ, duVoisin, dÖrLitZ, Kohn, eLLing, bircKhoLZ, , ohde, giLgen, eberhardt, Maier, erZinger, KLaas, noacK, schMidt, FeisseL, bertLing, behLing, bÜhneMann, schneider, FrÖhLich, pensKY, ahLandt, rahLF, rieper, KÜster, KÖnig, cardoso, nehLs no século 19. outras famílias passaram a residir em pedreira, mais tarde, e especialmente no século 20, devido a relações de casamento e migração de famílias ou profissões, defintiva ou temporariamente, como budal, nass, Kunde, ohde, hattenhauer, strehlow, hoffmann, haveroth, baggenstoss, hardt, castella, dumke, haak, teuber, brandenburg, piske, Züge, romig Kortmann, Monich, hardt, blume, schmalz, Letzner, brito, Meerholz, pa-rucker, engelke, rudnick e muitas outras.

4 – estrada dona francisca (atual sc – 301)primeiras famílias entre 1861 e 1872: José Manoel correa, ernst

boese, Johann p. siert, Franz cornehl, ernst hanemann, Friedrich henke, ernst bartsch, pierre boclet, Johann g. tanner, François davet, Fabiano gonçalves, José gonçalves da Maia, Friedrich schmidt, José sou-za da silveira, antonio soares Lopes, Manoel gomes de oliveira, João

gomes de oliveira, gaspar gonçalves de araújo, José Machado Lima, Victorine doudet, Fr. panzenhagen, carl Krelling, Louis berlie, Francis-co Xavier nunes da silveira, rudolf Voigt (da silésia), rudolf Voigt (da pomerania), Wilhelm Voigt, domingos coelho gomes, Johann rudni-ck, Friedrich e gustav Lütke, bento gonçalves de oliveira, Ludwig Voigt, Wilhelm bergmann, otto hartkopf, , ernst ullmann, dora schwitzky, cristian heiden, carl struck, andré gomes da silveira, Manoel gomes de oliveira, João José gomes de oliveira, Wilhelm Markwarth, Martin Maul, Johann becker, Wilhelm bölcke, Manoel José da cruz, José souza da silva, Fr. Morbach, Joh. Knüppel, Joh. Zimmermann, Julius raabe, J. auerwald, peter paké, Friedrich treichel, c.J.roggenbau, Joh. da-niel schmidt, Joh. Lenschow, rösler, nennemann, Kunde, r. ammon, a. balmat, Kunde, honorato Fernandez indalêncio, Joh. Lenschow, ritzmann, Meyer, parucker, polzin. thiele, pries, Kortmann, bächtold, Fock, Fentzlaff, sell. no final do século 19 e início do século 20, migra-ram para a estrada dona Francisca, ou estabeleceram-se outras famílias, através de casamentos, ou aquisições como: parucker, c. baumer, thie-le, pries, Kortmann, MaYa, duMKe, schMidt, Lopes pereira, VaLe, hoFFMann, siMM, rocha, Veiga coutinho, har-dt, pabst, schneider, petschoW, teuber, Lauer, rieper, schoLZ, budaL, seeFeLdt, sutter, Larsen, cLeMente, e muitas outras que continuam a se formar e a se estabelecer.

5 – estrada guilhermeFamílias: rudnicK, troMM, MuLLer, Forster,

schraMM. atualmente a maioria dos lotes é composto de chácaras e migrantes recentes.

6 – estrada do picoprimeiras Famílias: goudard, Monney, piske, gomes de Freitas,

Lopes, batista, Machado, , da rosa, Fleith, Vieira, Luz. Mais tarde, após a década de 30, constam os nomes de eleutério indalêncio, José Machado da Luz, e descendentes destes primeiros moradores, além das famílias que para lá migraram como: troMM, esser, bartsch, hinsching, schMidt, daVet, pabst, pries, artMann, pFundner, sch-Midt, schroeder, erZinger, Voigt, Janning, schuLZ, benKendorF, pries, seeFeLdt e outras.

7 – estrada da trombaFamílias: schranK, JoÃo goMes de oLiVeira, stru-

cK, schuLZ, schWaLbe, strucK, bÄhrWaLdt, pabst, bartsch, seLL, nasciMento.

8 – estrada francisco antônio fleith (do morro)Famílias: bartsch, JÖncK, seLL, hardt, bÖge,

FrÖhLich, sutter, hardt, KohLschen, ahLandt.

9 – estrada rio da prataprimeiras famílias: gonçalves da Maia, bauer (herança de ritz-

mann), sellmer, França, henning, J. Wittmack, bruhn, pabst, barth, Lanz, silva, gonçalves de oliveira, nunes de souza, com migração poste-rior de imigrantes da estrada do Mildau e outras localidades, como art-Mann, duMKe, schMidt, beuLKe, Maia, brÜsKe, schuLtZ, MaLon, hardt, baarZ, strucK, gaarZ, rutZen, schWaL-be, Vater, cruZ, toLLer, Lopes.

10 – estrada isaacFamílias: cardoso, deMate, Machado, FranÇa, siL-

Va, pereira, raMos.

11 – estrada quiririFamílias: KreLLing, bergMann, rocha, pabst,

schWitZKY, KLÄhr, Voigt, brÜsKe, pisKe, rudnicK, Lo-pes, bÜhneMann, MeYer, Laatsch, popp, negendanK, nicKeL, Quandt, Moraes, schneider, Maia, correia, souZa, araÚJo, Farias, borba, schuLZe, schroeder, Fagundes, siLVa, Kohn, pereira, Vieira, cunha, raMos, hardt, Veiga, pries, nass, indaLêncio, neitZeL, carVa-Lho, pisKe, beninca, Kersten, schuLtZ. 20

Page 21: Pirabeiraba 150 anos

12 – estrada da ilhaprimeiras famílias: prochnoW, Ledebuhr, MÜhL-

Mann, nieLsen (nieLson), nicKeL, buss, schier, nass, bauer, Finder, cordts, baarZ, LeMKe, daberKoW, eLL-Mer, MoLL, beiLFuss, retZLaFF, KLug, FranKe, heiden, neitZeL, ponicK, beetZ, seeger, Korn, treptoW, Kri-cheLdorF, FrenZeL, bosKa, henning, hoFF, Karnop, beYer, Fischer, tobLer, FrÖhLich, KrÜger, poLLnoW, MerKLe, WodKe, bandt, hein, poLZin, Kersten, Friede-Mann, bÖge, Meier, schroeder, bÖge, hardt, schuLZ, schuLtZe, LetZner, bÄchtoLd, hoLZ, benKendorF, bu-daL arins, Voss, santiago, nass, Karnopp, WoLFgraMM, bennacK, ristoW, schraMM, bergeMann. Mais recentemen-te estabeleceram-se as famílias gauLKe, teuber, poFFo, harger, daroZ, KreLLing, pFundner, pabst, schroeder, hardt, rodrigues, berKenbrocK, heinZ, hentscheL, hÄnsch, hirata, bLÖMer e outras.

13 – estrada caminho curtoFamílias: benKendorF, schroeder, nicoLetti, ha-

ensch, Fischer. 14 – vila canelaFamílias: correa, aLVes, schatZMann, Kersten, pa-

radeLa, hardt, bach, schraMM, pisKe, gonÇaLVes, nass, brandenburg, Wegener, Ferreira, Machado, VoLLes, correia, bÄchtoLd, caetano, coutinho, borges.

15 – rio bonitoFamílias: MeWs, Kersten, benKendorF, heusY, popp,

rahLF, schuLZ, pisKe, schoLZ, Wettig, LoeFFLer, seeFeL-dt, duVoisin, Witt, ZietZ, hencKe, hattenhauer, troMM, pohL, schatZMann, Kunde, Fischer, buttKe, hartMann, beLLoW, bÄchtoLd, schMÖcKeL, hornburg.

16 – estrada palmeiras (parte da antiga estrada três barras)Famílias: griesbach, troMM, FocK, neitZeL, hoLZ,

schWesZer, ittner, troMM, MarQuardt, braMMigK, reinhoLd, stoLLe, LoeFFLer, MÜLLer, ZietZ, rauch, schiessL, schMidLin, hertenstein, ZiLs, Venturi, aL-brecht, butZKe, prochnoW, posansKi.

Fontes De PesQuisa

acervo do arquivo Histórico de joinville- Fundo domínio dona Francisca: documentos da Fazenda pirabeiraba. documentos de arren-

damento de terras do domínio pirabeiraba. Folha de pagamento dos funcionários da -Fazen-da pirabeiraba. Livro de registros de terras e transferências. Fundo domínio dona Francisca. Lista de pagamento de Lotes – sociedade colonizadora de hamburgo 1849.

- Mapa da colonia dona Francisca, 1859, Fr. heeren.- Mapas da colônia dona Francisca –1868 e 1886- escala 1:50.000 – J. Köhler`s Lith. institut

hamburg. - Kolonie Zeitung – 1863-1898.- inventário dos bens do duque d’aumale. - Lista de lotes arrendados dos príncipes de Joinville-estrada dona Francisca, estrada da tromba,

estrada rio da prata, pedreira, período 1861-1875, Fundo domínio dona Francisca. - Lista dos proprietários de terras da colônia dona Francisca, sociedade colonizadora de ham-

burgo.- relatórios da sociedade em 1859-1861-1864; tradução helena richlin.

acervo da comunidade luterana de pirabeiraba- Livros de registros eclesiásticos, batizados, casamentos, confirmações e óbitos – 1862 a 1910.

transcrição do banco de dados de registros eclesiásticos da igreja Luterana, acervo particular de brigitte brandenburg.

acervo particular de brigitte brandenburg- registros de óbitos de 14 cemitérios de pirabeiraba e annaburg. elaboração e acervo de brigitte

brandenburg.- genealogia das famílias da estrada Mildau – brigitte brandenburg.- genealogia das famílias de pedreira – brigitte brandenburg. - genealogia das famílias de pirabeiraba.- Livro de estatutos da associação dos produtores de cana-de-açúcar da usina sindicada, de

august brandenburg- arquivo de notícias sobre pirabeiraba – século 19 – brigitte brandenburg.

outros- cadastro de produtores rurais de Joinville, acaresc, 1994.- corrêa, roseana Maria & rosa, terezinha Fernandes da.(coords.)“história dos bairros de

Joinville”. arquivo histórico de Joinville, 1990.

Paulo Karnopp e família em frente à residência,

na Estrada da Ilha

21

Page 22: Pirabeiraba 150 anos

FragMentos para pensar uM pedaÇo1

pirabeiraba:

em tempos em que global e local misturam-se de tal maneira que um parece produzir o outro, não há muitas certezas onde podemos nos agarrar. para além do fato de nossa única certeza ser a de que vivemos em meio a incertezas, é preciso lembrar que pretensões de solidez, segundo o historiador diego Finder Machado, alimentam desejos de passados no mundo contemporâneo3. É como se a evocação do passado funcionasse como uma espécie de âncora capaz de assegu-rar certa estabilidade diante dos terrenos movediços que constituem as sociedades modernas. assim, na gramática cultural que vivemos, o presente tem se transmu-tado em passados e o passado tem se convertido em presentes num movimento dialético e ininterrupto que escapa ao controle de instrumentos como relógios e calendários.

dialogando com os meandros desta economia temporal, eventos comemorativos têm sido meticulosamente preparados com a intenção de reanimar, por intermédio de festejos pomposos, histórias sobre supostos pioneiros que ocuparam e desenvolveram uma determinada região. segundo a historiadora helenice rodrigues silva, toda comemoração é alimentada por aspirações que pretendem demonstrar ao presente como o passado pode ser-nos uma substância pedagógica. É como se

ao celebrarmos os “grandes feitos” praticados por outros, pudéssemos, ao mesmo tempo, aprender um conjunto de lições que nos instrumentalizam a compreensão do tempo em que vivemos.

ao carregar consigo um devir de memória que denuncia projetos de futuro arquitetados por vontades presentes que enxergam o passado como uma possibi-lidade de redenção, tem-se configurado uma infinidade de usos e abusos daquilo que experimentamos como sendo o tempo. trata-se, então, de deslocamentos do passado sobre o porvir, convertendo-o em memória e a memória no próprio tem-po. Logo, o que temos em jogo durante eventos comemorativos não são apenas processos de identificação e de diferenciação, de pertencimento e de exclusão, de adequações do ontem ao agora, mas também o da transmissão de memórias sociais e a própria passagem da memória à história.

há aproximadamente quinze quilômetros do centro da cidade, um dos pedaços de Joinville parece ser índice do consumismo de passados que alimentam o presente. a Freundenfest, com suas atividades desenhadas para celebrar “o ani-versário de pirabeiraba”4, o Stammtisch, um encontro que reúne os “chegados” do pedaço para conversar, comer e beber, restaurantes que oferecem “a gastronomia típica alemã”5 e atrativos turísticos como a estrada bonita e a casa Krueger são apenas alguns dentre os muitos exemplos dos excertos que remontam ao pretérito na tentativa de produzir um presente mais palatável.

conforme relata-nos a cronista elly herkenhoff o atual distrito de pira-beiraba possui uma relação salutar com a antiga estrada da serra (posteriormente denominada estrada dona Francisca). segundo ela, um ano após o início das obras de construção dessa estrada (1859), chegou a então colônia dona Francisca o conselheiro Luiz pedreira de couto Ferraz “a fim de inspecionar o andamento das obras, percorrendo com essa finalidade, em companhia do diretor da colônia dona Francisca, Leoncé aubé, as diversas estradas em construção [...]”6. nesse momento, tratava-se de programar estratégias de controle da paisagem imediata

de forma a desenvolver com sucesso um projeto de colonização. assim como em outras regiões do país, o meio ambiente era entendido como um obstáculo a ser vencido: se por um lado fornecia as condições básicas para a sobrevivência imedia-ta, de outro, também era o que precisava ser “domado”.

prosseguindo, elly herkenhoff chama-nos a atenção para as primeiras ati-vidades econômicas da então localidade de pedreira. após o loteamento dos cerca de dois quilômetros que compunham, em 1859, o perímetro da região, um nú-mero significativo de pessoas, muitas delas imigrantes, já haviam ali se instalado. além disso, ainda se situava a margem da estrada da serra “a serraria pertencente ao príncipe de Joinville [...], assim como também se localizava nas proximidades a grande propriedade do duque de aumale, irmão do príncipe de Joinville, pro-priedade esta chamada de Fazenda do curtume, onde já na década de sessenta grandes plantações de cana-deaçúcar foram formadas”7.

diferentemente do passado em que três ícones representavam os aspectos econômicos da região de pirabeiraba (a estrada dona Francisca, uma serraria e uma grande propriedade produtora de aguardente), atualmente o cenário modifi-cou-se de sobremaneira. como nos lembra o geógrafo dionicio Kunze, o distrito de pirabeira, hoje, resulta da mistura entre pequenas propriedades agrícolas e traços da urbe8. grandes empresas, que diariamente interagem num cenário eco-nômico globalizado, também integram a paisagem da região. Mais recentemente, frente a uma modalidade de turismo, que por vezes emprega de maneira fácil e aleatória o adjetivo “sustentável”, muitos passeantes têm sido atraídos na intenção de visitar aquela que é considerada uma das últimas regiões bucólicas da cidade de Joinville.

todo este conjunto complexo de situações sócio-econômicas revela-nos um dado extremamente interessante: o trânsito de fluxos globais no distrito de pirabeira. turismo rural, embebido em ideais de sustentabilidade, coexistindo com empresas que comercializam em mercados que se organizam de acordo com uma escala global: como negar que isso não é um indicativo crasso da produção local da globalização? ainda nesta mesma acepção, a configuração de diferentes usos históricos do meio ambiente, substituindo, ainda que retoricamente, ideais socioambientais pautados no colonizar/desenvolver a qualquer custo pelos de pre-servar/conservar os recurso naturais, também não seriam pistas das tentativas de inserção do distrito de pirabeiraba no mundo globalizado?

sentidos e dilemas de um pedaço da cidade. Questionamentos que se envolvem com práticas de comemoração que consomem passados no âmago do tempo presente. nesse cenário, narrativas históricas sobre economia, meio am-biente ou qualquer outro tema são fragmentos de um mundo contemporâneo que se achega no pedaço e, ao mesmo tempo, é ele também imaginado, inventado, significado e produzido no e pelo próprio pedaço.

reFerênCias

folder de divulgação da freundenfest. disponível em: <http://www.pirabeiraba.com.br> acesso em março de 2009.

herKenhoFF, elly. era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundaçãocultural, 1987. p. 203.KunZe, dionicio. as pequenas propriedades agrícolas de Joinville. informativo o economista, Joinville,

08 de março de 2007. Machado, diego Finder. redimidos pelo passado? desejos de passado em uma

cidade contemporânea (joinville 1998-2009). dissertação. 187 p. universidade do estado de santa catari-na. Mestrado em história. Florianópolis, 2009.

VicenZi, herculano. atrações gastronômicas em pirabeiraba. a notícia, Joinville, 14de julho de 2003.

FernanDo Cesar sossai2

uma cidade se faz nos pedaços. neles as cidades são imaginadas, inventadas, significadas e produzidas. dizer que as urbes constituem-se a partir de fragmentos díspares não é exatamente uma novidade. em um período em que todas as coisas parecem despedaçar-se, o verbo fragmentar pode ser empregado para designar praticamente tudo o que se passa ao longo de nosso cotidiano. hoje, provavelmente, a máxima de Marx – tudo que sólido desmancha no ar – é muito mais sentida do que quando foi escrita.

...o stammtisch, um encontro que reúne os “chegados” do

pedaço para conversar, comer e beber, restaurantes que oferecem

“a gastronomia típica alemã...

Fernando Cesar

Sossai – Mestre

em Educação,

Comunicação e

Tecnologia pela

Udesc e professor

do curso de História

da Univille

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Page 23: Pirabeiraba 150 anos

1a escrita deste artigo contou com as sugestões de dois historiadores que comigo fazem parte de um grupo de pesquisas interessado em discutir as nuanças culturais que atravessam a Joinville contemporânea. de antemão, deixo aqui registrado a diego Finder Machado e ilanil coelho meus mais sinceros agradecimentos.

2Mestre em educação, comunicação e tecnologia pela universidade do estado de santa catarina – udesc. atualmente é professor do curso de história da universidade da região de Joinville – uniViLLe. contato: [email protected]

3Cf.: Machado, diego Finder. redimidos pelo passado? desejos de passado em uma cidade contemporânea (joinville 1998-2009). dissertação. 187 p. uni-versidade do estado de santa catarina. Mestrado em história. Florianópolis, 2009.

4Cf.: folder de divulgação da freundenfest. disponível em: <http://www.pirabeiraba.com.br> acesso em março de 2009.5Cf.: VicenZi, herculano. atrações gastronômicas em pirabeiraba. a notícia, Joinville, 14 de julho de 2003.6Cf.: herKenhoFF, elly. era uma vez um simples caminho... Joinville: Fundação cultural, 1987. p. 203.7Ibidem.8Cf.: KunZe, dionicio. as pequenas propriedades agrícolas de Joinville. informativo o economista, Joinville, 08 de março de 2007.

Usina de Açúcar de Pirabeiraba. Em primeiro plano à direita, trilhos na fazenda para o transporte de cana

Transporte de cana cortada para a Usina de Açúcar de Pirabeiraba

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Page 24: Pirabeiraba 150 anos

w w w . p e r i n i b u s i n e s s p a r k . c o m . b r

Uma vizinhançade serviços e

oportunidades