plano de desenvolvimento
DESCRIPTION
O plano de desenvolvimento, especificamente, procura abordar com um enfoque prático e estratégico a realidade encontrada nos territórios, bem como discutir políticas e ações que visem o fortalecimento das questões SAN e DL nestas regiões. O documento segue os princípios básicos do planejamento moderno: i) é participativo; ii) fundamentado em dados concretos; iii) adequado aos recursos existentes ou potenciais; iv) exeqüível; v) com geração de resultados de curto, médio e longo prazos; vi) politicamente viável; vii) gera ações concretas (dentro das limitações da pesquisa).TRANSCRIPT
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Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate a Fome - MDS Ministrio da Cincia e Tecnologia - MCT
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico Edital MCT/MDS/CNPq 38/2008
Plano de Desenvolvimento dos Territrios dos Consrcios de Segurana Alimentar e Desenvolvimento Local (CONSAD) de
Mato Grosso do Sul IGUATEMI
VALE DO IVINHEMA SERRA DA BODOQUENA
Coordenador do Projeto DARIO DE OLIVEIRA LIMA-FILHO
Instituio Executora UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL (UFMS)
Instituio Colaboradora UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO (UCDB)
Relatrio verso 1.
Campo Grande/MS Abril 2011
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Equipe de pesquisadores
Dario de Oliveira Lima-Filho UFMS Coordenador Geral
Ccero Antnio Oliveira Tredezini UFMS Subcoordenador
Leonardo Francisco Figueiredo Neto UFMS Subcoordenador
Marney Pascoli Cereda UCDB Subcoordenadora
Milton Augusto Pasquotto Mariani UFMS Subcoordenador
Olivier Franois Vilpoux UCDB Subcoordenador
Osmar Ramo Galeano de Souza UFMS Subcoordenador
Patrcia Campeo UFMS Subcoordenadora
Mayra Batista Bitencourt Fagundes UFMS Pesquisadora
Renato Luiz Sproesser UFMS Pesquisador
Wilson Jos Gonalves UFMS Pesquisador
Leidy Diana de Souza de Oliveira UFMS Auxiliar de Pesquisa
Leonardo de Oliveira Dresch UFMS Auxiliar de Pesquisa
Nelson Alberto Mucanze UFMS Auxiliar de Pesquisa
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SUMRIO
1. DIRETRIZES ................................................................................................... 6 2. OBJETIVOS .................................................................................................... 7 3. BASE CONCEITUAL ...................................................................................... 8 3.1. DESENVOLVIMENTO SOCIOESPACIAL ................................................... 8 Autor: Milton Augusto Pasquotto Mariani.
3.2. TERRITRIO E TERRITORIALIDADES .................................................... 16 Autor: Milton Augusto Pasquotto Mariani.
3.3. SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL .......................................... 22 Autores: Leidy Diana de Souza de Oliveira; Dario de Oliveira Lima-Filho; Marney Pascoli Cereda.
4. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ..................................................... 26 4.1. OFICINAS INTERNAS ............................................................................... 27
4.2. OFICINAS CONJUNTAS ............................................................................ 28 Autores: Leonardo de Oliveira Dresch; Nelson Alberto Mucanze; Dario de Oliveira Lima-Filho. 5. POLTICAS ................................................................................................... 31 5.2. DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL ...................................... 34
5.2. SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL .......................................... 42 Autores: Leonardo de Oliveira Dresch; Leidy Diana de Souza de Oliveira; Ccero Antnio Oliveira Tredezini; Mayra Batista Bitencourt Fagundes.
6. ESTRATGIAS E AES ............................................................................ 48 6.1. CADEIAS AGROALIMENTARES PRIORITRIAS .................................... 48 Autores: Leonardo Francisco Figueiredo Neto; Olivier Franois Vilpoux.
6.2. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS ......................................................... 61 Autora: Patrcia Campeo.
6.3. ECONOMIA SOLIDRIA ............................................................................ 64 Autor: Milton Augusto Pasquotto Mariani.
6.4. ESTRATGIAS PARA O FORTALECIMENTO E EXPANSO DE PROGRAMAS E AES DE SAN .................................................................... 70 Autores: Leidy Diana de Souza de Oliveira; Dario de Oliveira Lima-Filho; Marney Pascoli Cereda; Leonardo de Oliveira Dresch. 6.5. ESTRATGIAS PARA DISCUSSO DO PROCESSO DE ELABORAO DE LEIS MUNICIPAIS DE SEGURANA ALIMENTAR E DO PROCESSO DE IMPLANTANO DO SISTEMA NACIONAL DE SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL .................................................................................................. 74
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Autores: Wilson Jos Gonalves; Marney Pascoli Cereda.
6.6. FORTALECIMENTO DA ORGANIZAO DO TERRITRIO E DA COOPERAO ENTRE AS INSTITUIES .................................................... 80 Autora: Patrcia Campeo.
6.7. PLANOS DE CAPACITAO E FORMAO NO CONTEXTO DO FORTALECIMENTO DO CAPITAL SOCIAL ..................................................... 81 Autores: Osmar Ramo Galeano de Souza; Milton Augusto Pasquotto Mariani; Leonardo de Oliveira Dresch.
6.8. APRIMORAMENTO DA GESTO DAS ORGANIZAES DO TERRITRIO .................................................................................................... 86 Autora: Patrcia Campeo.
6.9. REDES DE INSTITUIES E COOPERAO FEDERATIVA ................. 87 Autora: Patrcia Campeo.
6.10. PARTICIPAO POPULAR NA CONSTRUO DE POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL .............................................................. 90 Autores: Osmar Ramo Galeano de Souza; Leonardo de Oliveira Dresch.
7. PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TERRITRIO .............. 94 Autor: Dario de Oliveira Lima-Filho; Leonardo de Oliveira Dresch. 8. CONSIDERAES FINAIS .......................................................................... 97 Autor: Dario de Oliveira Lima-Filho.
9. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 99
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APRESENTAO
Este o segundo documento elaborado em atendimento ao Edital
MCT/MDS/CNPq N 038/2008 - Josu de Castro, cujo objetivo consiste em
aes de diagnstico e planejamento territorial visando promoo de
segurana alimentar e nutricional e desenvolvimento local em territrios
CONSAD de Mato Grosso do Sul.
Trata-se de um trabalho multidisciplinar desenvolvido pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul [UFMS] com a colaborao da Universidade
Catlica Dom Bosco [UCDB]. Nasceu atravs de uma demanda social e uma
provocao do governo federal prontamente atendido pela UFMS e seu
parceiro por meio de trabalhos de extenso universitria.
O plano de desenvolvimento privilegia a anlise de polticas, estratgias
e aes, com enfoque territorial. Inclui dados complementares mais crticos em
relao ao documento anteriormente publicado (Diagnstico dos Territrios
CONSAD). Foi desenvolvido com base nas informaes obtidas na etapa de
diagnstico e nos resultados das discusses realizadas nas oficinas de
trabalho conjuntas com os atores dos territrios.
Nas prximas pginas o leitor ir se aprofundar nestes territrios
(Iguatemi, Vale do Ivinhema e Serra da Bodoquena), observando dinmicas
comuns e especficas aos trs, tal qual os pesquisadores o fizeram. Tambm
ser possvel ver que o meio privilegiado para mudana nestes territrios
consistem nas pessoas e instituies, cabendo hoje, ao poder pblico, o dever
de induzir, estimular e qualificar a populao pobre para seu empoderamento1
e, assim, ganhar condies de assumir a responsabilidade pelos seus prprios
destinos.
1 Empoderamento deriva da expresso inglesa empowerment, significa trazer o poder para si.
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1. DIRETRIZES
O presente documento fruto de trabalho de extenso multidisciplinar,
envolvendo pesquisadores e estudantes de diversas reas, entre elas:
agronomia, economia, geografia, administrao, sociologia e nutrio.
O problema da segurana alimentar e nutricional e do desenvolvimento
local tratado de forma aplicada, estratgica e abarcando as diversas vises e
discusses das mltiplas reas de estudo que suportam o presente trabalho.
O documento segue os princpios bsicos do planejamento moderno: i)
participativo; ii) fundamentado em dados concretos; iii) adequado aos recursos
existentes ou potenciais; iv) exeqvel; v) com gerao de resultados de curto,
mdio e longo prazos; vi) politicamente vivel; vii) gera aes concretas (dentro
das limitaes da pesquisa).
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2. OBJETIVOS
O objetivo geral do projeto promover aes de mobilizao,
diagnstico e planejamento com vistas a fortalecer a Segurana Alimentar e
Nutricional (SAN) e promover o Desenvolvimento Local (DL) dos territrios no
mbito dos CONSADs em Mato Grosso do Sul.
O plano de desenvolvimento, especificamente, procura abordar com um
enfoque prtico e estratgico a realidade encontrada nos territrios, bem como
discutir polticas e aes que visem o fortalecimento das questes SAN e DL
nestas regies.
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3. BASE CONCEITUAL
A base conceitual discutida em trs tpicos: Desenvolvimento
Socioespacioal, Territrios e Territorialidades e Segurana Alimentar e
Nutricional. As discusses constantes neste captulo no almejam esgotar o
assunto, mas introduzir o leitor no debate acadmico sobre os temas
fornecendo maior subsdio para as propostas de desenvolvimento.
3.1. DESENVOLVIMENTO SOCIOESPACIAL
O desenvolvimento regional pode ser apresentado em duas correntes
principais, de acordo com suas origens e processos de instalao. A primeira
est relacionada ao planejamento centralizado de um Estado Nacional,
tambm entendido como desenvolvimento de cima para baixo. A histria
econmica associa essa corrente aos grandes projetos estruturantes (a
exemplo dos complexos industriais), que foram concebidos a partir de uma
poltica voltada produo nacional. Nessa linha de pensamento, Almeida
(2001, p.15) cita Perroux, que define desenvolvimento econmico da seguinte
forma:
[...] a mudana estrutural provocada no espao econmico pela expanso destes ncleos de indstrias dinmicas. Os plos de crescimento industrial iniciaram o processo que seria, em seguida, difundido ao resto da economia por efeitos multiplicadores e aglomerao sobre o investimento, a renda e o emprego, incluindo a multiplicao de pequenas empresas.
A segunda corrente, tambm conhecida como desenvolvimento
endgeno, ou ainda desenvolvimento local, prope um movimento de baixo
para cima e, mesmo nos dias atuais, caracterizada como forma alternativa
de desenvolvimento. estabelecida a partir do sistema produtivo local,
aproveitando suas potencialidades socioeconmicas intrnsecas. A estas, se
vinculam vrios conceitos que sero apresentados no decorrer deste trabalho.
Bacelar (2000) argumenta que o desenvolvimento local resultante da
capacidade dos atores locais se estruturarem e se mobilizarem, tendo como
base no somente suas potencialidades, mas tambm sua matriz cultural. Nas
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palavras de Amaral Filho (1999), desenvolvimento endgeno pode ser
entendido como:
[...] um processo de crescimento econmico implicando uma contnua ampliao da capacidade de agregao de valor sobre a produo, bem como da capacidade de absoro da regio, cujo desdobramento a reteno do excedente econmico gerado na economia local, e/ou atrao de excedentes provenientes de outras regies. Este processo tem como resultado a ampliao do emprego, do produto e da renda local ou da regio mais ou menos definido dentro de um modelo especfico de desenvolvimento regional.
A partir do final da dcada de 1980, tem-se acrescentado ao
desenvolvimento regional a noo de sustentabilidade, considerando-se, alm
dos fatores scio-econmicos, a preocupao socioambiental. Buarque (1996)
conceitua desenvolvimento sustentvel, tomando como referncia o Relatrio
Bruntland, da Comisso Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento -
Our Common Future (1987):
[...] processo de mudana social e elevao das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espao, o crescimento e a eficincia econmicos, a conservao ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre geraes.
Loiola (2001) chama ateno para o novo contexto das relaes entre
economia, sociedade e meio ambiente, no qual a eficincia econmica, a
qualidade de vida e a equidade social comeam a experimentar iniciativas mais
equilibradas, embora ainda esteja muito claro que resultados mais efetivos
somente sero viabilizados no longo prazo. Alm disso, permanecem algumas
situaes de conflito de interesses entre diferentes atores sociais e entre
objetivos de curto e longo prazo.
Outro aspecto importante em relao ao desenvolvimento regional diz
respeito relao entre espao geogrfico e concentrao de empresas.
Para a criao de um ambiente favorvel ao desenvolvimento, deve-se
comear, segundo Franco (2002), pelo investimento no capital social [CS], aqui
interpretado pela capacidade que uma sociedade tem de cooperar, e no capital
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humano, analisado pela base empreendedora que uma comunidade/localidade
tem de se articular para a busca de objetivos comuns. Este ambiente favorvel
depende da existncia de uma cultura que incorpore a cooperatividade
sistmica e a confiana mtua entre os agentes locais e externos, propiciando
um estmulo a novos valores e padres que possam conduzir condies
territoriais e ambientais, econmicos, sociais, culturais, poltico-institucionais
favorveis ao processo de desenvolvimento de uma localidade, pois este
depende do ndice de capitais existentes em seu meio e caso estes sejam
utilizados de forma integrada e sustentvel para a manuteno do meio em que
esto inseridos. Mas, como definir as formas de capitais que podem compor o
desenvolvimento de uma localidade?
Ao referido questionamento, a concepo de Boisier (1998) acerca do
tema vem reconhecer o desenvolvimento como foras em sinergia ao busc-lo
como fim. Assim, o autor compe o capital sinrgico como a capacidade social
de promover aes em conjunto dirigidas a fins coletivos e democraticamente
aceitos. Portanto, buscam-se como fins, organizar fatores que ativem o
desenvolvimento territorial, integrando, principalmente, o capital scio-cultural
por ser um meio solidrio e cooperativo que rene foras e capacidades
coletivas na busca contnua por melhorias locais, bem como acionando os
demais capitais (econmico, humano, natural, psicossocial etc.) como
elementos fundamentais congruentes que podem impulsionar e direcionar o
desenvolvimento endgeno de uma comunidade.
Segundo Coleman (1988) apud Fukuyama (1996), pode-se considerar o
capital social como a capacidade de as pessoas trabalharem juntas visando a
objetivos comuns em grupos e organizaes. O autor sustenta, ainda, que o
capital humano est intrinsecamente relacionado ao social, uma vez que as
pessoas devem se associar umas s outras, compartilhando normas e valores
que possam levar a objetivos comuns de bem estar, deixando interesses
individuais e permitindo a insero de interesses coletivos, portanto:
[...] preciso devolver s pessoas a capacidade de sonhar e de correr atrs dos prprios sonhos e fortalecer a sua capacidade de comunidade, quer dizer, de compartilhar os seus sonhos e de cooperar na busca de objetivos comuns [...] (FRANCO, 2002).
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Putnan (1996) analisa o capital social como produto organizacional, que
embute sentimentos de confiabilidade, apresentando normas de reciprocidade
que podem contribuir para aumentar a eficincia da sociedade, facilitando
aes coordenadas e com intuito comum, facilitando a cooperao entre os
agentes locais. Nesta perspectiva ambos os autores citados tencionam uma
mesma abordagem ao considerarem a confiana como elemento fundamental
para qualquer desenvolvimento do capital social. Deste modo, confiana a
expectativa que nasce no seio de uma comunidade de comportamento estvel,
honesto e cooperativo, baseado em normas compartilhadas pelos membros
dessa comunidade (FUKUYAMA, 1996).
Nesses termos, a relao entre confiana e CS com o desenvolvimento
territorial parece evidente, pelo menos no que se refere s possibilidades de
uma dimenso territorial do desenvolvimento fazer-se presente. Isso porque,
considerando os diferentes ndices de CS encontrados em distintos territrios,
as possibilidades de desenvolvimento tambm seriam diversas. Em outras
palavras, um territrio com baixo ndice de CS um ator primevo e seminal
sofrvel, no sendo capaz de induzir o processo de desenvolvimento com a
mesma eficincia de um territrio no qual o ndice de CS seja elevado
(CUNHA, 2000).
Os modelos de desenvolvimento vm priorizar a estabilidade social,
desconsiderando a vida humana e seu bem estar como fator prioritrio para o
desenvolvimento. Dentro desta narrativa, deve-se valorizar os elementos
intangveis baseados nas energias scio-culturais, bem como na participao
efetiva e ativa do capital humano e social pr-existente, capazes de
potencializar nveis de solidariedade e responsabilidade coletiva. O
desenvolvimento precisa ser dinamizado e no somente qualificado como
progresso material, deve-se harmonizar subsdios para que seja promovida
justia, acesso informao e educao e empoderamento de toda
sociedade envolvida no processo, considerando-o uma metodologia de
amadurecimento cultural e social (JARA, 1999).
Repensar o desenvolvimento a partir da construo do capital cultural
existente em uma comunidade contribuir para o estimulo solidrio ao buscar
aes coletivas que fortaleam o uso comunitrio dos recursos presentes,
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tendo em vista que a valorizao de uma cultura local pode propiciar a sua
auto-afirmao, identidade e melhorar as foras produtivas.
Seguindo o raciocnio de Jara (1999) a cultura pode ser considerada
fator decisrio na coeso social, momento pelo qual as pessoas se conhecem
mutuamente, crescem em conjunto e desenvolvem uma auto-estima coletiva
que propicia maior nvel de capital social ao apresentar razes culturais
fortalecidas que favorecem a reproduo do associativismo, organizao scio-
comunitria e gesto participativa. Alm disso, a cultura capaz de tornar-se
um instrumento de progresso econmico e social, a medida que o
desenvolvimento cultural manterem a integridade identitria coletiva e constroe
novas possibilidades de emerso social, cultural e econmica.
Uma sociedade civil prspera depende dos hbitos, costumes e
princpios ticos de sua gente - atributos que s podem ser moldados
indiretamente mediante uma poltica deliberada e que precisam, outrossim, ser
alimentados por meio de uma conscientizao e respeito crescente pela cultura
(FUKUYAMA, 1996).
Neste contexto, Le Bourlegat (2000) afirma que a retroalimentao de
experincias passadas equivalem ao monitoramento para aes futuras,
provindas da maximizao do capital sociocultural em comunidades primitivas,
ou seja, aquelas que ainda sobrevivem de sua auto-sustentabilidade, como o
caso de Furnas do Dionsio, assim, as narrativas orais resgatam, valorizam e
transmitem, de uma gerao a outra, as experincias coletivas do passado (LE
BOURLEGAT, 2000). Sob esta concepo, o desenvolvimento est baseado
em princpios autnomos que oferecem condies a estas comunidades de
estabelecer estratgias para o prprio desenvolvimento, seguindo as
particularidades culturais existentes.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, alguns pases se preocuparam
em encontrar uma forma para se desenvolver. Os economistas da poca foram
surpreendidos, pois a nica experincia de crescimento que eles conheciam
era o Plano Marshal, que tinha como preocupao a situao financeira de
alguns pases, resumindo-se em desenvolvimento financeiro.
O desenvolvimento conheceu uma srie de modelos. Nas dcadas de
1950 e 1960 ele era visto como estgios a serem realizados; mais tarde o
desenvolvimento foi caracterizado pela dominao exercida por alguns pases.
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Desta forma o desenvolvimento tornou-se sinnimo de crescimento
econmico (TODARO, 1979).
Hoje o desenvolvimento adquiriu novos valores, o econmico foi deixado
de lado dando lugar ao social. Segundo vila,
[...] O ncleo conceitual do desenvolvimento local consiste no efetivo desabrochamento - a partir do rompimento de amarras que prendam as pessoas em seu status de vida das capacidades, competncias e habilidades de uma comunidade definida(portanto, com interesses comuns e situada em [...] espao territorialmente delimitado, com identidade social e histrica), no sentido de ela mesma mediante ativa colaborao de agentes externos e internos- incrementar a cultura da solidariedade em seu meio e se tornar paulatinamente apta a agenciar (discernindo e assumindo dentre rumos alternativos de reorientao do seu presente e de sua evoluo para o futuro [...] (VILA, 2000).
A comunidade deve estar presente durante todo o processo de
encaminhamento para o desenvolvimento local, j que o mesmo est em suas
mos diretamente ou no. Toda a comunidade-localidade est inserida no
desenvolvimento local, desde o sapateiro at os rgos pblicos. Segundo
Coriolano,
Trata-se de um tipo de desenvolvimento que no medido apenas em termos de produo, de capital, do PIB, mas em decorrncia da reduo de dependncia econmica, do incremento da confiana local aos seus prprios meios de trabalho, da integrao de comportamentos individuais nos objetivos comuns da comunidade. (CORIOLANO, 1998).
O desenvolvimento deve ser endgeno, onde a populao tem que
participar na administrao do projeto, decidindo o que deve ser realizado e
no esperar que agentes externos determinem como e o que deve ser feito.
Conforme Nery: preciso que seja estimulado um processo, ou seja, preciso criar novos espaos e oportunidades de relacionamento para que as vivncias se convertam em aprendizagem, e es pessoas e a coletividade progressivamente se tornem mais capazes de realizar seus projetos, de dar respostas aos problemas, num nvel cada vez mais permanente. (NERY, 1998)
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Portanto, no processo de desenvolvimento o homem o alvo central,
membro fundamental para a construo de sua comunidade, capaz de gerar
melhoria na vida da populao.
Instintivamente, quando se fala em desenvolvimento numa perspectiva
geral de anlise, logo se remete idia de um processo dinmico que implica
em crescimento, avano e progresso. Assim, nas cincias sociais em
especfico, define-se o desenvolvimento como uma melhora qualitativa no nvel
de bem-estar de um determinado grupo social, usando como referncia os
indicadores sociais, polticos e econmicos disponveis. Ento, pode-se denotar
que aumentos nos nveis de renda, qualidade de vida e infra-estrutura, por
exemplo, so alguns indicativos de desenvolvimento.
No incio do sculo XX, sobretudo no perodo ps-Segunda Guerra
Mundial, as polticas de desenvolvimento centralizavam-se nos Estados-Nao,
que, em face da profuso das idias keynesianas, promoviam macios
investimentos em infraestrutura e ampliao da demanda por bens e servios.
No entanto, com o advento e consolidao do fenmeno de globalizao nos
ltimos decnios do sculo XX, que provocou a perda de importncia do
Estado como nico elemento promotor do desenvolvimento, observa-se uma
regionalizao das propostas de desenvolvimento numa perspectiva local
A crise do Estado-Nao, em suma, refere-se sua incapacidade
crescente de regular e interferir na economia privada, especialmente, a partir
da ampliao da capacidade da economia capitalista de ajustar, em escala
planetria, a interdependncia entre as condies de tempo e espao no
processo global de produo de mercadorias.
Assim, o Estado adquire o status de apenas um dos muitos agentes
fomentadores do desenvolvimento, sobretudo no que se refere ao ordenamento
poltico dos territrios, de modo que a efetivao das dinmicas do
desenvolvimento se deve s sinergias dos atores locais. Em sntese, esta a
essncia do que se convencionou chamar de desenvolvimento local.
No entanto, a crise econmica iniciada nos EUA no final de 2008 que
teve repercusses profundas nos pases desenvolvidos (capitalistas)
certamente questiona o modelo capitalista de desenvolvimento. Neste sentido
novas discusses emergiram na academia trazendo novas perspectivas do
conceito.
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Sob uma perspectiva histrica, verifica-se que, no Brasil, os estudos
enfocando o local comeam a ganhar destaque durante a formulao da
Constituio Federal de 1988, perodo em que se iniciam reflexes sobre
descentralizao de polticas pblicas, poder da localidade, necessidade de
integrao de projetos sociais e econmicos que beneficiem a maioria da
populao e tambm, a construo de um projeto poltico que promova o
desenvolvimento humano. nessa poca que o desenvolvimento local ganha
corpo terico pelos pesquisadores nacionais.
consenso a idia de que o desenvolvimento local realizado em
escala humana, e atribui-se a ele a capacidade de reafirmar as potencialidades
e identidades locais frente globalizao. Deve-se pens-lo como um processo
de superao de problemas sociais, onde a sociedade se torna, para seus
membros, mais justa e legtima, tendo o homem como sujeito e beneficirio das
aes. Os indivduos devem participar ativamente e no apenas serem
favorecidos pelo desenvolvimento.
Fato que merece uma apreciao um pouco mais detida refere-se aos
impactos do fenmeno de globalizao nas dinmicas do desenvolvimento
local. Muito embora a globalizao tenha sido um dos fatores que minaram o
poder poltico centralizado do Estado-Nao, incitando as polticas de
desenvolvimento regionalizadas, ela traz em seu bojo uma idia de
homogeneizao scio-cultural, econmica e espacial. Assim sendo,
paradoxalmente o desenvolvimento local vem de encontro a essa premissa
globalizada de constante homogeneizao dos territrios, reafirmando as
potencialidades locais.
A importncia do local redescoberta na dcada de 1980, no Brasil, no
bojo do debate sobre a descentralizao e a reforma do Estado, propostas
defendidas tanto por melhorias quanto por entidades da sociedade civil mais
comprometidas com a qualidade de vida e com a cidadania.
A necessidade das comunidades passarem a interferir em seu prprio
crescimento, em busca de maior dinamismo nas atividades econmicas locais,
e a lutar por uma melhor distribuio de riqueza e renda impuseram-se,
sobretudo, desde que os efeitos da globalizao se fizeram sentir. O aumento
do desemprego, a carncia de polticas sociais, a deteriorizao da qualidade
de vida, a degradao ambiental atingiram tambm o Centro-Oeste brasileiro.
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Durante muitas dcadas, nosso modelo de desenvolvimento baseou-se
em intervenes macroeconmicas. Regies inteiras, muitas delas longe dos
centros urbanos mais dinmicos, no se beneficiaram desse
desenvolvimento.
Falharam as polticas federais e estaduais. Contudo, surgiram
experincias inovadoras no mbito local. Algumas comunidades do litoral
cearense demonstram, assim com outras comunidades no restante do pas,
como o lugar pode assumir a luta por seu prprio desenvolvimento, mesmo em
condies precrias de modernizao.
O desenvolvimento local que toma feio na Europa surge em vrios
lugares do mundo passando a ser visto como uma das estratgias mais
adequadas para sair da crise, sobretudo com a valorizao de um novo modelo
de desenvolvimento: o desenvolvimento local a partir de uma pequena escala
territorial realizado em escala humana, atendendo as demandas sociais.
Trata-se de um tipo de desenvolvimento que no medido apenas em
termos do aumento de produo de capital, do PIB, mas em decorrncia da
reduo da dependncia econmica, do incremento da confiana local aos
seus prprios meios de trabalho, da integrao de comportamentos individuais
nos objetivos comuns da comunidade local.
3.2. TERRITRIO E TERRITORIALIDADES
A geografia busca entender a singularidade dos lugares em que se
vive, saber o que os diferencia e os aproxima dos outros e como as diferentes
sociedades interagem na construo de seu patrimnio cultural, que uma
produo cultural e resulta das necessidades e dos anseios dos homens, em
todos os estratos sociais. Na concepo da Geografia crtica, o espao fruto
de relaes econmicas e scio-polticas que se articulam e produzem o
territrio. (CORIOLANO, 2005)
Os territrios se formam em determinado espao onde se realizam
relaes de poder. Estas relaes so limitadas espacialmente, tanto no
sentido da dominao, quanto da resistncia do dominado. Desta forma, o
territrio implica a existncia de fronteira. O conceito de territrio est
intimamente ligado noo de limite ou fronteira. Para Raffestin (apud SILVA,
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2002), territrio implica a noo de limite, mesmo que este no seja traado.
Para Roncayolo (apud SILVA, 2002), a existncia do territrio depende de uma
superfcie (espao), de uma forma de atuao (poder) e de um limite
(fronteira). Para Sack (apud SILVA, 2002), o territrio pode ser usado para
conter ou restringir, da mesma maneira para excluir, sendo o limite territorial
tambm o limite de conteno, restrio e excluso.
Silva apresenta o territrio como um espao concreto, determinado pelo
solo apropriado por um grupo e base para a tomada e manuteno do poder e
para a formao do Estado. onde se forma sua identidade cultural (RATZEL
apud SILVA, 2002).
Alm disso, parafraseando outros autores (CORRA et al. apud SILVA,
2002), o territrio ainda trata da anlise das relaes de poder no espao, mas
no s o espao prprio do Estado-nao, mas dos diferentes atores sociais e
a manifestao do poder de cada um sobre uma rea precisa. No mais, ainda
caracterizado como uma estratgia geogrfica para controle de pessoas e
coisas pelo controle de rea, e estaria intimamente ligada s relaes de
poder para com quem e o que controlado, afetado e influenciado no espao
geogrfico.
Compreendendo o territrio como um espao definido e delimitado por e
a partir de relaes de poder, como um instrumento de exerccio de poder e
um espao que sofre determinada relao de poder, nada mais apropriado do
que aplicar estes conceitos ao entendimento das territorialidades exercidas
nos territrios CONSADs de MS e a percepo que os moradores tm dos
conflitos existentes. De acordo com Andrade (apud SILVA,2002), o conceito
de territrio est ligado idia de poder, de domnio ou de gesto de uma
determinada rea. Alm disso, aqueles que tm o controle territorial podem
estar fora do territrio, controlando os que esto dentro dos seus limites.
Se o ator territorializa o espao, o territrio decorrente das aes dos
homens, suas afinidades e relaes que se estendem a apropriao. O
territrio atua dinamicamente com as facilidades empreendidas pela
comunicao e mobilidade, aproximando indivduos que concebem uma
identidade coletiva entre si e com a produo do espao no qual exerce sua
fora de trabalho. Na abordagem geogrfica era relacionado ao Estado-nao
e enfatizado pela Geografia poltica como afirma Souza:
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O territrio surge, na tradicional Geografia Poltica, como espao concreto em si (com seus atributos naturais e socialmente construdos) que apropriado, ocupado por um grupo social. A ocupao do territrio vista como algo gerador de razes e identidade: um grupo no pode mais ser compreendido sem o seu territrio, no sentido de que a identidade scio-cultural das pessoas estaria inarredavelmente ligada aos atributos do espao concreto (natureza, patrimnio arquitetnico, paisagem) [...] (SOUZA, 1995)
A sucesso de geraes faz com que todas essas peculiaridades sejam
transferidas intergeraes garantindo a prosperidade e renovao scio-
cultural. O territrio tambm est relacionado com as razes, a formao, o
povoamento. O homem, em coletividade, se instala em determinada rea e
nela produz e reproduz suas condies de sobrevivncia, a diversidade
quantitativa e qualitativa dessa categoria imensurvel.
A articulao entre os atores movidos por interesses comuns em torno
de uma mesma atividade organiza e fortalece o territrio, conseqentemente
outros elementos (infra-estruturas, equipamentos) so inseridos para dar maior
especializao, e sua presena ou ausncia respectivamente, agrega ou
segrega.
Uma das partes integrantes do territrio notada pelas formas, recursos
naturais e atributos artificiais, em maior ou menor grau com interferncia do
trabalho esto dispersas e representam o esforo do homem e a
heterogeneidade scio-espacial. A outra parte, no menos importante, se
refere diversificao cultural contextualizada nesta realidade scio-espacial
que se torna notria pela informao transmitida atravs de smbolos (roupas,
objetos, etc.).
Turra Neto (2000) coloca que o territrio se estabelece por noes de
limite e informaes: [...] O ator desenvolve um conjunto de signos que lhe
permitem comunicar a outros os limites do seu territrio. Limites que no
precisam necessariamente estar demarcados no terreno, podem estar em
signos colocados nas roupas, na msica, nas ideologias etc. [...].
Em alguns casos a delimitao no anunciada, mas acena nos
comportamentos e atitudes, como afirma Raffestin (1993), [...] o limite um
-
19
sinal ou, mais exatamente, um sistema smico utilizado pelas coletividades
para marcar o territrio: o da ao imediata ou o da ao diferenciada. [...]
importante salientar que a anlise da categoria territrio antes restrito
ao Estado-nao, passou a ser estudado na escala local, em bairros,
comunidades, no trabalho, como pode ser observado at o presente momento
da evoluo desse trabalho. As fronteiras poltico-administrativas, por si s, no
discernem os territrios, e sua sobreposio inerente mobilidade,
comunicao e relaes estabelecidas na sociedade moderna.
Multifacetado, o territrio para Haesbaert (2004) compreendido sobre
os seguintes aspectos:
Poltica (referida s relaes espao-poder em geral) ou jurdico-poltica (relativa tambm a todas as relaes espao-poder institucionalizadas):
a mais difundida, onde o territrio visto como um espao delimitado e
controlado atravs do qual se exerce um determinado poder, na maioria
das vezes, mas no exclusivamente, relacionado ao poder poltico do
Estado.
Cultural (muitas vezes culturalista) ou simblico-cultural: prioriza a dimenso simblica e mais subjetiva, em que o territrio visto,
sobretudo, como o produto da apropriao/valorizao simblica de um
grupo em relao ao seu espao vivido.
Econmica (muitas vezes economicista): menos difundida, enfatiza a dimenso espacial das relaes econmicas, o territrio como fonte de
recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relao
capital-trabalho, como produto da diviso territorial do trabalho, por
exemplo.
A partir das relaes humanas so expressas suas afinidades, seus
costumes, suas habilidades, ou seja, a cultura de um povo. O territrio uma
extenso das relaes humanas, onde se encontram suas razes, sua
histria, seus ancestrais. Primeiramente, como valor de uso, o territrio um
forte elo de identidade; e posteriormente, como valor de troca, demonstra a
apropriao.
Alm da identidade espao-cultural outras caractersticas so expostas
por outros autores. De acordo com Souza (1985) o territrio [...] espao
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20
definido e delimitado por e a partir de relaes de poder [...]. Sabe-se que o
poder no resultado da vontade do indivduo, no se pode se envolver de
poder, outros que investem poder sobre o indivduo. No depende apenas da
deliberao, da permisso, da vontade individual, depende da coletividade
conceder o mrito. Da mesma forma que a coletividade concede, ela retira o
mrito. Portanto o poder itinerante e se mantm enquanto o grupo se
sustentar. No mbito da poltica, Raffestin (1993) coloca: [...] O territrio um
trunfo particular, recurso e entrave, continente e contedo, tudo ao mesmo
tempo. O territrio o espao poltico por excelncia, o campo de ao dos
trunfos [...].
O entrelaamento de interesses comuns unidos a formas semelhantes
de utilizao de uma rea so elementos que esto na gnese da consolidao
de um territrio.
[...] O territrio o lugar em que desembocam todas as aes, todas as paixes, todos os poderes, todas as foras, todas as fraquezas, isto , onde a histria do homem plenamente se realiza a partir das manifestaes da sua existncia. [...] (SANTOS, 2002)
O homem vive em grupo e se entende enquanto sociedade, quando os
compromissos mtuos so estabelecidos. O territrio entendido pela
identidade coletiva (humana) estendida sobre a sua parte fsica delimitada por
fronteiras que indicam a atuao de poder. Para Raffestin (1993) a populao
est na origem de todo o poder, [...] Nela residem as capacidades virtuais de
transformao; ela constitui o elemento dinmico de onde procede a ao [...].
O territrio no constitudo apenas por delimitaes de fronteiras e
estratgias administrativas, que iro definir a extenso de atuao dos
indivduos que o regem. Est arraigado gnese do povoamento, das pessoas
que se estabeleceram sobre a superfcie. As adaptaes dos indivduos s
adversidades e condies naturais concebem ferramentas e tcnicas que iro
favorecer a sobrevivncia, a adaptao e o desenvolvimento destas
sociedades.
[...] O territrio tem que ser entendido como o territrio usado, no o territrio em si. O territrio usado o cho mais a identidade. A identidade o sentimento de pertencer quilo
-
21
que nos pertence. O territrio o fundamento do trabalho, o lugar da residncia, das trocas materiais e espirituais e do exerccio da vida. [...] (SANTOS, 2002)
Vrios so os atributos entrelaados que podem distinguir e determinar
o territrio, como caractersticas geoecolgicas, recursos naturais, o homem,
ligaes afetivas e de identidade, combinados entre si, demonstram uma
infinidade de condies. Das relaes sociais e das relaes entre o homem e
o meio natural surgem as peculiaridades dos territrios.
A intensificao do uso do espao por qualquer atividade, por qualquer
forma de expresso, numa rea relativamente definida, concebe o territrio. O
uso efetivo por indivduos e a maneira intrnseca da prtica de apropriao e
relacionamentos particulares estabelecidos, delineia a territorialidade.
A territorialidade um fenmeno de comportamento associado
organizao do espao em esferas de influncia ou em territrios nitidamente
diferenciados, considerados distintos e exclusivos, ao menos parcialmente, por
seus ocupantes ou pelos que os definem. Tambm pode ser entendida como
base de poder de determinado grupo sobre determinada rea, uma estratgia
para afetar, influenciar, ou controlar recursos e pessoas, por controle de rea.
Sendo assim, a territorialidade atua tambm como uma estratgia
geogrfica para influenciar pessoas e coisas pelo controle de rea, e estaria
intimamente ligada s relaes de poder para com quem e o que controlado,
afetado e influenciado no espao geogrfico (SACK,1986 apud SILVA, 2002).
Territrio uma categoria geopoltica, sendo produzido por aes
polticas e socioeconmicas que remetem s relaes de fora e poder.
Martins (2003 apud CORIOLANO, 2005) lembra que a posse, a identidade e
as relaes travadas, transformam lugares em territrios. E cada vez mais os
lugares e as regies querem ser conhecidos pelos recursos ativos,
dinamicamente construdos pela organizao scio-territorial, pelas polticas e
formas prprias da gesto do desenvolvimento local e regional, envolvendo e
integrando diferentes setores, atuando em contextos abrangentes e
competitivos.
Enquanto a territorialidade (definidas por relaes de poder, atravs do
controle e tambm pela apropriao simblica e afetiva de uma rea
geogrfica por indivduos e grupos) identificada pelas prticas sociais, o
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22
territrio a manifestao geogrfica dessa territorialidade.
O territrio o lugar onde a histria do homem se concretiza a partir
das manifestaes de sua existncia. As atividades agropecurias produzem
territrios, da mesma forma que todas as outras atividades advindas do modo
industrial, e estabelecem relaes sociais e de apropriao e consumo do
espao que ocorrem nas localidades.
3.3. SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL Entender as dimenses e variveis que afetam o fenmeno da
insegurana alimentar e nutricional essencial para o delineamento de
estratgias para seu combate. Para Timmer, Falcon e Pearson (1983), resolver
o problema da fome no mundo envolve expandir as opes disponveis, as
quais so funes dos rendimentos, dos preos dos alimentos, da rede de
suprimentos e do conhecimento do consumidor. Embora a fome de qualquer
indivduo em particular possa ser resolvida facilmente, mediante
disponibilizao de renda e de alimento, resolver o problema da fome para toda
a sociedade muito mais complicado porque a abordagem necessita ser
integrada com o resto da economia.
Para aqueles autores, um sistema alimentar que contm muitas pessoas
em estado de insegurana alimentar possui falhas em pelo menos uma dessas
dimenses: um fracasso na produo de alimentos em quantidade suficiente,
na determinao dos tipos de alimentos a serem produzidos, na gerao de
renda suficiente para compr-los ou na educao das famlias sobre os
alimentos que devem ser consumidos ou evitados. Cada um desses fatores
pode contribuir para o problema da alimentao, o que devem ser identificadas
so as causas diretas e indiretas da fome.
De acordo com Cohen et al. (2009), o ambiente socioeconmico,
poltico, institucional, cultural e natural condiciona a economia alimentar,
especificamente: i) a disponibilidade de alimentos (produo domstica;
capacidade de importao; estoque regulador; subsdios produo); ii) a
estabilidade (variaes no clima; flutuaes no preo; fatores polticos e
econmicos); e iii) o acesso ao alimento no nvel pas (pobreza, poder de
compra, renda, transporte e estrutura de distribuio). Alm disso, tambm
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afeta diretamente as condies de sade da populao (higiene, condies
sanitrias, qualidade da gua, qualidade e segurana do alimento). Por sua
vez, a disponibilidade de alimentos e a estabilidade afetam o acesso das
famlias a alimentos, as prticas de cuidado (prticas de alimentao,
conhecimento nutricional, preparao de alimentos, hbitos de alimentao e
distribuio de alimentos intrafamlia), os bens, as atividades e as estratgias
de subsistncia das famlias.
O problema mais geral da insegurana alimentar est enredado no
conjunto de processos de produo, transformao, distribuio e consumo de
alimentos para satisfazer tanto necessidades nutricionais, quanto estticas e
sociais. Estes processos compem o sistema alimentar. O funcionamento real
desse sistema freqentemente deixa muitas pessoas pobres inadequadamente
alimentados por causa de redes de conexes que determinam o status de
emprego e renda, os preos que devem ser pagos pelos alimentos e outros
bens e servios, e a capacidade de movimentao em busca de melhores
oportunidades. Desta forma, a compreenso das conexes existentes no
sistema de alimentao permite que os analistas de poltica alimentar evitem o
isolamento entre os elos que compe o sistema alimentar (TIMMER; FALCON;
PEARSON, 1983).
A SAN afetada por aspectos como pobreza, sade, produo de
alimentos, estabilidade poltica, fenmenos naturais, infra-estrutura e acesso
aos mercados (POST, 2006). Segundo Maluf e Menezes (2000), dentre os
fatores que afetam a SAN, a falta de acesso aos alimentos a principal causa
da insegurana alimentar, ou seja, o alimento existe, mas as pessoas no tm
acesso a ele. Portanto, o problema da insegurana alimentar , principalmente,
uma questo de polticas pblicas de distribuio de renda. De fato, segundo
Hoffmann (2008), a renda o principal determinante da insegurana alimentar
no Brasil.
De acordo com FAO (2002), a fome e a desnutrio generalizadas em
um mundo que possui abundncia de alimentos implica que a pobreza extrema
a principal causa da desnutrio. Nem sempre compreendido, no entanto,
que a fome e a desnutrio, por sua vez so as principais causas da pobreza.
Elas afetam a capacidade dos indivduos para escapar da pobreza de vrias
formas:
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i) reduzindo a capacidade de prtica de atividade fsica e, portanto, o
potencial produtivo do trabalho de todos aqueles que sofrem de fome;
ii) prejudicando a capacidade das pessoas desenvolverem-se fsica e
mentalmente, retardando o crescimento das crianas, reduzindo seriamente a
capacidade cognitiva e freqncia escolar e inibindo o desempenho, de forma a
comprometer a eficcia do investimento em educao;
iii) causando danos graves para a sade, em longo prazo, ligados a
taxas mais elevadas de doena e morte prematura;
iv) perpetuando a desnutrio e a pobreza de gerao em gerao:
mes que passam fome do luz a crianas com baixo peso, as quais, por sua
vez, comeam a vida com desvantagem;
v) contribuindo para a instabilidade social e poltica, que enfraquece
ainda mais a capacidade do governo reduzir a pobreza.
Pessoas cronicamente subnutridas esto, portanto, em uma posio
social que lhes oferece condies propcias para o perpetuao da baixa
produtividade, da pobreza crnica e da fome. Segundo Cohen et al. (2009) e
FAO (2006; 2002), os custos da inanio so considerveis.A desnutrio, a
perda de peso excessiva, o baixo peso ao nascer devido ao baixo crescimento
intra-uterino, a subamamentao (no-exclusiva por seis meses e/ou
interrompida antes de um a dois anos) e deficincias de vitamina A, zinco e
ferro causam a morte de 3,6 milhes de crianas menores de cinco anos de
idade a cada ano no mundo (BLACK et al., 2008). Por isso, os esforos para
acelerar o progresso contra a desnutrio em todas as suas formas deve ter
um lugar de destaque na agenda poltica global. A figura 3.3.1 mostra as
principais causas e conseqncias da insegurana alimentar e nutricional.
Uma dieta inadequada uma das principais causas imediatas de
desnutrio, junto com as doenas. Os dois interagem em um crculo vicioso
para baixo: o consumo inadequado de alimentos aumenta a vulnerabilidade a
doenas infecciosas e, por sua vez, as infeces, podem impedir o organismo
de absorver uma alimentao adequada (OMS, 1997). Isso resultado de um
conjunto complexo de causas subjacentes ao nvel das famlias: o acesso
insuficiente aos alimentos - um aspecto da insegurana alimentar - prticas
inadequadas de cuidados com a sade e acesso inadequado gua potvel,
saneamento bsico e servios de sade. Estas variveis esto ligadas renda
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25
do pas e da famlia e capacidade de utilizao adequada desta renda. Em
ltima instncia, esses fatores so incorporados no ambiente poltico,
econmico, social e cultural em que as famlias se encontram (FAO, 2006).
Deste modo, todas as variveis mencionadas so correlacionadas com a forma
como as famlias esto inseridas no processo social de produo [figura 3.3.1],
as quais dependem das polticas adotadas pelos governantes mundiais,
nacionais, regionais e locais.
Figura 3.3.1: Causas e conseqncias da m-nutrio. Fonte: Jonsson (1995).
Conseqncias a curto-prazo:
Mortalidade, morbidade e incapacidade
Conseqncias a longo-prazo: estatura dos adultos, habilidade intelectual, produtividade
econmica, desempenho reprodutivo, metabolismo e doenas cardiovasculares
M-nutrio
Cuidado de sade inadequado
Alimentao inadequada
Doenas
Insegurana alimentar das
famlias
Ambiente familiar inseguro e falta de servios de sade
Causas imediatas
Baixa renda: emprego, habitao, ativos, remessas, penses e
transferncias
Causas subjacentes
Falta de capital: financeiro, humano, fsico, social e natural
Contexto social, econmico e poltico
Causas bsicas
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4. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A primeira etapa da pesquisa, referente ao diagnstico territorial,
caracterizou-se como uma pesquisa mista, com anlises qualitativas e
quantitativas de dados primrios e secundrios. Para coleta dos dados
primrios foram utilizados cinco instrumentos diferentes: Questionrio SAN,
Questionrio Potencialidades, Ambiente das Organizaes, Ambiente das
Instituies e Questionrio Logstico. Os resultados foram analisados por
diversos pesquisadores de vrias reas acadmicas visando descrever e
entender as dinmicas dos territrios.
O segundo documento elaborado pela pesquisa, o Plano de
Desenvolvimento, trata de inferncias sobre os dados obtidos na etapa do
diagnstico, focando a realidade territorial e formas de alter-la. Inclui, tambm,
como elemento adicional o debate dos resultados em oficinas de trabalho
internas e externas.
Para Demo (1995), a pesquisa tradicional estabelece o primado do
mtodo sobre a realidade. Estas, com feies empiristas e positivistas,
selecionam da realidade social apenas aquilo que cabe no mtodo. Por outro
lado, emergem metodologias alternativas, tais como pesquisa-ao e pesquisa
participante, que se prope a ir ao sentido contrrio, construindo um mtodo
que melhor se adqe a captar a realidade e transform-la. neste sentido
que se direciona esta pesquisa, visando primazia da realidade ao invs do
mtodo.
Este planejamento territorial prope-se a investigar a realidade social
atravs da base emprica j construda, associando a resoluo de um
problema coletivo a aes discutidas e validades juntamente com os atores
sociais locais envolvidos de modo cooperativo e participativo.
Segundo Buarque (1999), existem diversas tcnicas voltadas consulta
a atores, instituies e organizaes que permitem levantar a percepo e a
compreenso dos mesmos sobre a realidade atual e suas propostas de aes.
Procurou-se levantar ambos os aspectos simultaneamente, ou seja, tanto a
percepo dos atores sobre a sua realidade, como tambm suas propostas
para aes sobre os problemas encontrados.
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O mtodo selecionado para essa finalidade foi realizao de Oficinas
de Trabalho. Tais como a pesquisa-ao, invocam o que os atores do territrio
possuem de conhecimento sobre suas prprias realidades e problemas, que
mediados pelos pesquisadores responsveis em suas diversas reas
temticas, propiciam um ambiente para uma construo coletiva da percepo
da realidade e prioridade nas aes.
Buarque (1999, p. 69) afirma que: As oficinas de trabalho com atores sociais constituem um valioso mtodo de consulta estruturada sociedade, organizando a construo coletiva na percepo da realidade e definio das prioridades. [...] deve captar e organizar a percepo dos atores e promover a negociao das vises diferenciadas, mediante a reflexo em torno dos problemas e potencialidades da realidade.
4.1. OFICINAS INTERNAS
As oficinas de trabalho internas foram realizadas em trs momentos
distintos: i) planejamento; ii) desenvolvimento do diagnstico e iii) consolidao
do plano de desenvolvimento.
Na primeira fase, planejamento, foi estruturado um documento-guia com
alocao de responsabilidades aos pesquisadores envolvidos e foram
discutidos aspectos gerais referentes ao projeto, seus objetivos e
peculiaridades relevantes a sua execuo. A elaborao dos instrumentos de
coleta de dados aconteceu ainda nesta etapa, atravs de brainstorming2, com a
participao de todos os pesquisadores. O trabalho conjunto teve como
objetivo proporcionar uma viso holstica dos dados a coletados em campo.
Houveram tambm adequaes solicitadas pelo demandador do trabalho,
MDS, ocorrendo encontros internos para modificao da arquitetura de
exposio dos resultados da pesquisa.
Aps o planejamento foi-se a campo para coleta de dados nos trs
territrios CONSADs. Uma vez os dados obtidos, foram tabulados e analisados
juntamente com dados secundrios por cada equipe responsvel da pesquisa.
As oficinas internas foram realizadas neste segundo momento com o objetivo
2 Expresso inglesa que significa tempestade de idias. Usualmente um mtodo para resoluo de problemas em que todos os envolvidos participam e sugerem sob mediao de um responsvel.
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de discutir o desenvolvimento do diagnstico territorial. Os subcoordenadores
apresentavam os resultados e discutiam as informaes com todos os
pesquisadores.
No terceiro momento das oficinas de trabalho internas era realizado
trabalho expositivo e deliberativo sobre as aes constantes em cada rea
temtica do Plano de Desenvolvimento Territorial. Esse trabalho foi
fundamental, pois, um trabalho multidisciplinar, tal qual este, apresenta muitas
vises distintas sobre os mesmos aspectos, portanto, freqentemente surgem
diferentes proposies.
4.2. OFICINAS CONJUNTAS
As oficinas conjuntas aconteceram entre os dias 07 e 15 de outubro de
2010, nas cidades de Caracol, Nova Andradina e Iguatemi, representando os
territrios CONSADs Serra da Bodoquena, Vale do Ivinhema e Iguatemi,
respectivamente. Foram convidadas aproximadamente 230 pessoas, entre os
contatos entrevistados no mbito das organizaes e instituies, bem como
indicados pelos prprios Consrcios.
Os eventos possuam trs objetivos principais: i) apresentar e validar o
diagnstico territorial; ii) incorporar a percepo dos atores do territrio ao
diagnstico; e iii) discutir indicativos para formulao de um plano de
desenvolvimento que abarcasse a segurana alimentar e nutricional e o
desenvolvimento local dos territrios.
-
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Foto 4.2.1: Professor Dr. Ccero Tredezini durante exposio dos resultados obtidos no diagnstico (Nova Andradina/MS)
Com objetivo de subsidiar a discusso foram apresentados os itens
abordados no diagnstico territorial e seus resultados prvios, estes incluem:
apresentao geral do projeto e conceito de segurana alimentar, metodologia
da pesquisa e instrumentos de coleta de dados empricos, caracterizao
histrico-cultural, estrutura fundiria, caracterizao social (educao e sade),
SAN, aspectos ambientais, econmicos e resultados das pesquisas dos
ambientes das instituies e organizaes.
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Foto 4.2.2: Pesquisadores e participantes da Oficina Conjunta realizado na cidade de Iguatemi/MS
Durante as apresentaes os temas eram expostos e os participantes
provocados a exporem suas opinies. Diversas contribuies foram feitas. No
trmino das discusses foi questionado se os resultados eram coerentes com a
percepo dos atores do territrio e foram elaborados indicativos de aes
territoriais visando garantia de a segurana alimentar e o desenvolvimento
local. Estes resultados sero abordados neste documento.
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5. POLTICAS
Esta seo discute brevemente conceitos e propostas para polticas na
rea de desenvolvimento econmico e social (seo 5.1) e segurana alimentar
e nutricional (seo 5.2). Estratgias e aes para as temticas so discutidas
de forma especfica para diversas reas temticas: cadeias agroalimentares,
arranjos produtivos locais, economia solidria, programas de SAN, CONSEAs,
leis municipais de SAN, fortalecimento do capital social, gesto das
organizaes do territrio, redes de instituies e cooperao federativa e
participao popular no desenvolvimento de polticas.
Di Giovanni (2009) descreve conceitualmente poltica pblica no como
simplesmente a interveno do Estado em uma situao considerada
problemtica, mas como uma forma contempornea de exerccio de poder nas
sociedades democrticas. Este resultante de uma complexa interao entre o
Estado e a Sociedade, entendido em um sentido amplo, que inclui as relaes
sociais travadas tambm no campo da economia. Desta interao que se
definem as situaes sociais problemticas, bem como as formas, os
contedos, os meios, os sentidos e as modalidades de interveno estatal.
Indiscutvel e unnime a responsabilidade do Estado em interagir com
a sociedade de forma a atender suas demandas da melhor forma possvel,
dados os recursos limitados. Para tanto, surgem s discusses e divergncias
de como dever ser esse processo. Os liberais acreditam que a melhor
maneira deixar o mercado trazer o desenvolvimento aos excludos, portanto,
o crescimento econmico seria suficiente para sanar questes tais como a
fome e a extrema pobreza. Por outro lado, vertente acadmica e de governos
mais protecionistas discordam dessa viso, acreditando que o crescimento
econmico uma forma muito lenta para trazer solues, defendendo tambm
aes sociais para esse fim.
Segundo Ignacy Sachs (2008), o desenvolvimento nacional deve ser
uma combinao de crescimento econmico, aumento igualitrio do bem-estar
social e preservao ambiental. Para tanto, afirma que um projeto de
desenvolvimento deve contemplar alguns elementos: i) integrar aes de curto,
mdio e longo prazo, no isolando aes, uma vez que a construo da
sociedade humana deve ser um projeto; ii) mudana de paradigma, passando
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32
do crescimento financiado pelo influxo de recursos externos e pela acumulao
de dvida externa para o do crescimento baseado na mobilizao de recursos
internos (crescimento induzido pelo emprego), incluindo: planejamento local,
reabilitao do sistema financeiro nacional dando bases ao funcionamento das
empresas e reforma fiscal incluindo Imposto sobre Valor Adicionado altamente
progressivo sobre consumo; iii) Esforo para o desenvolvimento incluindo todos
os nveis, do local ao nacional, abarcando uma agenda poltica de criao de
empregos para todos que envolva negociao entre os interesses do poder
pblico, trabalhadores, empregadores e sociedade civil organizada.
Sachs (2008) afirma que polticas complementares deveriam ser
previstas neste sentido, entre elas: estimular emprego em atividades no
voltadas ou dependentes de importaes (obras pblicas, habitaes com
mo-de-obra de voluntrios beneficiados, servios sociais, empregos
relacionados conservao de energia e reciclagem de material, consolidar e
modernizar a agricultura familiar com base na pluriatividade, estimular a
formalizao de micro-empresas e trabalhadores autnomos e a organizao
dos mesmos de forma a barganhar no mercado, estabelecer conexes
mutuamente benficas entre grandes e pequenas empresas, utilizar-se de
compras governamentais para estimular os pequenos e micro
empreendimentos e fortalecer as empresas nacionais tornando-as competitivas
em escala global.
O World Bank (2001), por outro lado, acredita que as polticas de
promoo do desenvolvimento e combate a pobreza devem levar em
considerao trs aspectos: i) promover oportunidades para os mais pobres,
que pode ser alcanada atravs do crescimento econmico em conjunto com
instituies que atuem no sentido de promover uma compensao aos que
sarem prejudicados no processo, visando eqidade; ii) facilitar a autonomia,
no que diz respeito a aes pblicas sensveis s necessidades dos pobres no
sentido da interao de processos polticos, sociais e institucionais. A
transparncia das aes do governo juntamente com a participao dos at
ento excludos, eliminando barreiras sociais e institucionais, so fundamentais
neste sentido; e iii) aumentar a segurana, atravs da reduo da
vulnerabilidade (a choques econmicos, catstrofes naturais, doena,
incapacidade e violncia pessoal), alm de parte intrnseca da melhoria do
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33
bem-estar. Incentivo ao investimento em capital humano e em atividades de
maior risco e maior rendimento. A ao nacional no sentido do controle dos
riscos e ampliao acesso aos pobres fundamental para o desenvolvimento
proposto nestes moldes.
Percebe-se que as orientaes do World Bank so mais brandas,
pontuais e compensatrias, e menos estruturais em relao s propostas por
Sachs. Seguindo a vertente conservadora estruturam-se alguns exemplos de
programas de combate a pobreza, tais como o brasileiro Fome Zero e o
Oportunidades do Mxico.
O programa Fome Zero [PFZ], implementado em 2003 na gesto do
presidente Lula, tem como objetivo a promoo da segurana alimentar e
nutricional atravs da incluso social e da conquista da cidadania pela
populao mais vulnervel fome. O PFZ se fundamenta em quatro eixos
articuladores, so eles: acesso a alimentao, fortalecimento da agricultura
familiar, gerao de renda e articulao, mobilizao e controle social. A
estratgia do governo foi ampla, tendo por
[...] base a transversalidade e intersetorialidade das aes estatais nas trs esferas de governo, no desenvolvimento de aes conjuntas entre o Estado e a sociedade, na superao das desigualdades econmicas, sociais, de gnero e raa, na articulao entre oramento e gesto e de medidas emergenciais com aes estruturantes e emancipatrias (FOME ZERO, 2006).
Os Consrcios de Segurana Alimentar e Desenvolvimento Local
(CONSADs) so parte integrante do terceiro eixo articulador do programa
Fome Zero referente gerao de renda, constituindo-se em organizaes
territoriais, institucionalmente formalizadas, que se agrupam para desenvolver
aes, diagnsticos e projetos, com a finalidade de gerar trabalho e renda. So
organizaes civis sem fins lucrativos, formadas de 1/3 de representantes do
poder pblico e 2/3 de representantes da sociedade civil (CONSAD, 2010).
Atualmente se discute a transformao dos CONSADs de associaes
privadas para consrcios pblicos. Esses consrcios fazem parte de uma
espcie de rearranjo do federalismo brasileiro, criando um ente entre os
municpios, estados e o governo federal. um instrumento capaz de formalizar
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uma gesto intergovernamental para assumir diversas finalidades e objetivos
comuns, em diversas escalas de atuao do poder pblico e com formas
diferenciadas de contribuio dos entes consorciados. No contexto sub-
regional potencializa a atribuio do governo estadual de planejamento e
coordenao da gesto e prestao de servios e polticas pblicas no mbito
territorial (RAVANELLI, 2010).
5.1. DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL
Os estados brasileiros apresentam grande diversidade em sua
capacidade econmica, tributria e administrativa pelo fato de encontrarem-se
em estgios diferenciados de institucionalizao do poder pblico. Os territrios
convertidos em estados entre o final da dcada de 1970 e final da dcada de
1980 encontram-se ainda no processo de state building e construo do seu
aparato pblico. Esse o caso do Mato Grosso do Sul (1977), Roraima (1980),
Rondnia (1981), Amap (1986) e Tocantins (1988) (RAVANELLI, 2010).
As municipalidades que compem os territrios CONSADs de Mato
Grosso do Sul apresentam o perfil: i) municpios pequenos, com menos de
25.000 habitantes; ii) baixo nvel de industrializao, predominando setores
primrios e tercirios; iii) nveis de desenvolvimento humano (IDH-M) inferiores
a mdia estadual; iv) concentrao de renda e fundiria; v) pfia participao na
composio do produto interno bruto estadual. Existem municpios que
destoam do perfil geral como o caso de Nova Andradina, Navira e Ponta
Por.
Esses territrios (CONSAD - Iguatemi, Vale do Ivinhema e Serra da
Bodoquena) foram reconhecidos pelo Governo Federal, fundamentado em
estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Administrao Municipal [IBAM], como
regies carentes, menos desenvolvidas, e que apresentavam um elemento de
coeso que os caracterizam como territrios. Foram alvos privilegiados da
poltica pblica dos Consrcios de Segurana Alimentar e Desenvolvimento
Local (CONSADs), parte do Programa Fome Zero, que visam promover o
desenvolvimento e a gerao de renda para populao em risco de
insegurana alimentar atravs de uma linha institucional especial.
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35
As temticas desenvolvimento e poltica foram abordadas nas sees
3.1 e 5, respectivamente. Neste espao ser discutido, de forma mais emprica
e especfica, a seguinte questo: polticas para desenvolvimento econmico e
social.
Sabidas as diretrizes que fundamentam esse documento referente sua
exeqibilidade e viabilidade poltica, as recomendaes polticas sero
direcionadas a realidade local.
Dados empricos e recomendaes A pesquisa do ambiente das instituies, descrita no primeiro documento
desta pesquisa, interrogou representantes do poder pblico municipal sobre as
aes e polticas visando o desenvolvimento local e a segurana alimentar e
nutricional (este segundo aspecto ser discutido no item 5.2). Como resposta,
em vistas do desenvolvimento econmico e social, citou-se aes e polticas
agrupadas nas categorias:
Transferncia direta de renda condicionada: So alguns dos exemplos encontrados: Bolsa Famlia, Vale Renda,
Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI) e programas municipais
correlatos.
So aes que atuam simultaneamente em diversos aspectos: do
renda para garantir o acesso a alimentos pelas famlias em risco, estimulam as
crianas a se manterem nas escolas e injetam dinheiro nas economias locais.
Segundo Paes de Barros (2005), um dos instrumentos mais eficientes
para combater a pobreza, pois toda verba destinada atinge o pblico-alvo. Por
outro lado, um aumento do salrio mnimo, por exemplo, beneficiaria apenas as
pessoas que j possuem emprego e renda.
As discusses sobre os programas de renda mnima j ultrapassaram o
debate sobre caracteriz-la ou no como assistencialismo. Atualmente discute-
se a sua abrangncia, se deve ser focalizada nos mais pobres entre os pobres
ou torn-la em um direito universal.
A transferncia de renda condicionada fundamental como integrante
de um conjunto de aes estruturantes, entretanto, ineficaz sozinha. O
aumento das verbas destinadas a estes programas devero ser acompanhados
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com aes de: microcrdito para populao carente; melhoria no sistema de
acompanhamento e fiscalizao das famlias beneficiadas; capacitao e
qualificao tcnica para incluso dos excludos ao mercado de trabalho e
ampliao dos recursos em programas estruturais.
O Bolsa Famlia, assim como qualquer outro programa de transferncia
de renda, deve ser um coadjuvante no processo de desenvolvimento, no
protagonista, como atualmente apresentado pelos representantes dos
poderes pblicos municipais.
Capacitao e qualificao da mo-de-obra: A maior parte dos municpios entrevistados declarou a existncia de
diversos cursos para capacitao e qualificao da mo-de-obra local. Entre os
cursos citados estavam: secretariado, corte e costura, artesanatos diversos,
cabeleireiro, manicure e pedicure, pes e bolos e cursos diversos voltados aos
produtores rurais.
A grande incidncia de cursos um aspecto positivo, tanto na questo
acesso, quanto na capacidade de unir a populao para participar destes.
Aspecto negativo ressaltado a natureza dos cursos avessa as reais
necessidades dos mercados locais e muitas vezes incapazes de gerar renda
aos beneficirios. Os cursos parecem arbitrados atravs de um cardpio
pronto de opes e sem qualquer anlise prvia do mercado de trabalho. Um
exemplo simplificado de anlise pode ser visto no quadro 5.1.1.
QUADRO 5.1.1: Exemplo de anlise simplificada do mercado de trabalho potencial Dados do IBGE (2009) indicam que a maior despesa para o brasileiro est na habitao, que compromete 35,9% da renda. So exemplos de servios nesta rea: servente, pedreiro, carpinteiro, pintor, vidraceiro, eletricista, entre outros. A mesma pesquisa indica que 19,8% da despesa mdia do brasileiro destinam-se a alimentao, e, prximo desta, 19,6% para o transporte. Profissionais qualificados nestas reas possuem alta probabilidade de ingressar no mercado de trabalho auferindo renda. Alguns exemplos de profisses nestas reas so: cozinheiro, aougueiro, padeiro, verdureiro, motorista, mecnico automotivo, eletricista automotivo, entre outras. Fonte: Elaborado pela pesquisa.
O exemplo do quadro 5.1.1 pode ser adaptado a realidade municipal ou
territorial e os cursos dirigidos e programados conforme as demandas locais.
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Trariam um duplo beneficio, para os profissionais capacitados, que possuiro
chances reais de ingressar no mercado de trabalho e auferir renda suficiente
para sustentar sua famlia, e para populao local que contar com maior
oferta de servios. A formao de turmas deve ser programada para no gerar
profissionais em excesso em determinadas regies.
Deve-se tambm ser verificada a necessidade de empresas locais, como
o caso das malharias, em que a mo-de-obra qualificada escassa representa
um gargalo ao desenvolvimento da atividade e criar / apoiar cursos especficos
estabelecendo parcerias.
Cursos de capacitao que demandem equipamentos e ativos
especficos podem ser montados em salas itinerantes atendendo a todos os
municpios do territrio.
Crdito e Assistncia Tcnica: O crdito vem crescendo de forma muito expressiva no Brasil nos
ltimos anos. Para se ter uma idia, em agosto de 2010 representou
aproximadamente 46% do PIB. A estimativa do Banco Central que em 2010
haja um aumento de 22% em relao ao ano anterior.
A existncia de crdito e assistncia tcnica acessvel e adequados as
realidades locais so fatores que influenciam a produo e o bem-estar nos
territrios. O diagnstico dos territrios CONSAD de MS encontrou como
organizaes de crdito: bancos comerciais, bancos pblicos, uma OSCIP
(Banco da Gente), organizaes de crdito consignado e uma iniciativa do
poder pblico municipal. Como organizaes de assistncia tcnica atuantes
no territrio foram encontradas: Agncia de Desenvolvimento Agrrio e
Extenso Rural [AGRAER] e, em escala restrita aos assentados do movimento
social Fetagri, a Criana, Esporte, Cultura, Educao e Recreao
[CRESCER].
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Foto 5.1.1: Escritrio da AGRAER do municpio de Nova Andradina / MS
Dentre as diversas modalidades de crdito encontra-se o microcrdito,
que tem como intuito principal subsidiar e fomentar a produo, e
conseqentemente, a renda das camadas mais pobres da populao que em
outras circunstancias jamais conseguiriam acesso a financiamento. Segundo
Hermann (2005), o microcrdito uma poltica ou iniciativa de financiamento
direcionada a pequenos produtores ou comerciantes que se encontram
temporariamente em dificuldades ou pretendam ampliar seu negcio.
Observou-se que as polticas de crdito privilegiam os pequenos
agricultores principalmente atravs do PRONAF (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar), enquanto que os residentes urbanos
no possuem outras formas de acesso ao crdito que no as tradicionais.
Esto desprotegidos por completo com relao ao acesso ao crdito em
condies do seu perfil, sendo possvel afirmar que so excludos do sistema
financeiro, impossibilitados de serem empreendedores e geradores de renda e
emprego.
Portanto, tornar-se imprescindvel criar mecanismos instrumentalizados
atravs do microcrdito com o firme propsito de atender aos excludos do
sistema financeiro, principalmente aqueles ligados ao mercado informal. A idia
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central que a poltica do microcrdito com seu carter de poltica de incluso
social bastante significativo, portanto, pode ser um elemento a mais a ser
usado com intuito de romper com a pobreza e a insegurana alimentar.
Semelhante ao que ocorre com a disponibilidade de crdito privilegiado,
quase que restrita a um programa e um pblico-alvo, a assistncia tcnica se
concentra em uma organizao, a AGRAER. Os recursos humanos e
econmicos limitados e o grande nmero de produtores fazem com que a
organizao privilegie servios burocrticos e o atendimento aos
assentamentos rurais.
A existncia e abrangncia dos escritrios de atendimento so aspectos
positivos, enquanto a falta de credibilidade nos servios e recursos
insuficientes constituem-se em aspectos negativos.
necessrio o fortalecimento da assistncia tcnica nos territrios
atravs do aumento da credibilidade da AGRAER, realizando um servio pr-
ativo no sentido de procurar o produtor e levar at eles solues e recursos,
privilegiando no s os assentados em programas da reforma agrria como os
pequenos e mdios produtores. As aes de assistncia tcnica devem
tambm ser direcionadas para atender as reais demandas dos produtores.
Durante visita em campo realizada pela pesquisa foi relatado que os cursos
oferecidos por intermdio da AGRAER e SENAR no os atendiam, sendo
utilizado o exemplo dos defensivos agrcolas, que eram utilizados pelos
produtores e no eram discutidos em cursos.
Infra-estrutura e indstrias: Entre as aes citadas pelos Municpios como promotoras do
desenvolvimento da localidade esto a infra-estrutura e a atrao de empresas
e indstrias. Entre as obras de infra-estrutura citadas esto: pavimentao e
manuteno de vias pblicas, disponibilizao de recursos de apoio a produo
e comercializao (transporte de mercadoria, resfriadores de leite, patrulhas
agrcolas mecanizadas, criao de feiras e mercados dos produtores),
ambientes de apoio ao turismo, pontos de venda de artesanato, entre outros.
Segundo Leite (2006), a experincia de desenvolvimento da parte
meridional da Itlia, exemplo mundialmente reconhecido de desenvolvimento
local, se deu em duas frentes: removendo obstculos de natureza local e
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institucional ao desenvolvimento da agricultura e estmulo ao desenvolvimento
industrial, este segundo incluindo tambm massivos investimentos em infra-
estrutura em um plano de longo prazo.
Para tornar os territrios atrativos aos investimentos externos e
competitivos na escala interestadual so necessrios: poltica tributria
compensatria em resposta as vantagens fiscais oferecidas pelos outros
Estados brasileiros (adequao a guerra fiscal enquanto ainda no existe
uma relao cooperativa intergovernamental); infra-estrutura logstica incluindo
estradas, ferrovias e hidrovias acessveis, baratas e em boas condies;
organizao das atividades produtivas visando sua sustentabilidade atravs do
Zoneamento Ecolgico-Econmico (Estadual) e Planos Diretores (Municipais);
qualificao da mo-de-obra local (aumento do nvel de escolaridade e ensino
tcnico); facilitao de acesso a crdito para iniciativas privadas que gerem
emprego e renda; entre outras.
A pr-atividade do Estado e dos Municpios deve ser o meio privilegiado
para garantir o desenvolvimento dos mesmos. O desenvolvimento dos
territrios deve passar a fazer parte de um planejamento de curto, mdio e
longo prazo, isento de interesses polticos imediatistas.
Empreendimentos scio-produtivos:
O conceito de empreendimentos scio-produtivos mais amplo e no
necessariamente sinnimos de empreendimentos econmico-solidrios, esses
discutidos na seo 6.3. So exemplos de empreendimentos scio-produtivos
citados nas entrevistas: hortas ou lavouras comunitrias, cozinhas
comunitrias, padarias comunitrias, malharias comunitrias, cooperativas e
associaes.
Os empreendimentos scio-produtivos no devem ser vistos apenas
como uma alternativa ao emprego formal, mas como uma oportunidade de
desenvolvimento. A pulverizao de esforos e a baixa auto-estima dos
trabalhadores so graves problemas nas regies abrangidas pelos CONSADs
e devem ter substituda a mentalidade de subalternidade, baseada na
alienao do trabalho, por uma mentalidade em que o trabalhador identifique-
se como proprietrio e gestor do seu prprio trabalho (IBAM, 2003).
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Como aspecto positivo o diagnstico detectou a existncia de diversos
empreendimentos scio-produtivos criados com o apoio do poder pblico nos
territrios CONSADs de MS. Negativamente, constataram-se diferentes
dinmicas e nveis de comprometimento entre os beneficiados, sociedade civil
e poder pblico para com o sucesso destes.
Foto 5.1.2: Restaurante oriundo de um empreendimento scio-produtivo proposto pelo CONSAD Vale do Ivinhema em Bataypor / MS
Os entrevistados declararam em alguns casos a falta de auxilio do poder
pblico municipal para o sucesso do empreendimento, do outro lado, os
representantes das prefeituras alegaram falta de comprometimento,
organizao e esprito imediatista dos beneficiados. A realidade a
constatao de um alto nvel de desistncia nos empreendimentos. O
restaurante comunitrio de Bataypor e a horta comunitria implantada em
Taquarussu so exemplos. Atualmente o primeiro permanece com apenas
duas beneficiadas e o segundo com apenas um.
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Foto 5.1.3: Horta comunitria existente na cidade de Taquarussu / MS
Em vista do fortalecimento de tais iniciativas devero ser levados em
considerao alguns aspectos: i) estudo de mercado para propor
empreendimento vivel e auto-sustentvel; ii) treinamento no s na atividade
fim do projeto como tambm no trabalho comunitrio; iii) perodo de incubao
obrigatrio do empreendimento com acompanhamento tcnico; iv)
remunerao dos beneficiados atravs de bolsa por perodo determinado at o
empreendimento comear a gerar dividendos; v) criao de linha de crdito
privilegiado para beneficiados pelo empreendimento, estimulando-os a criao
de um negcio prprio; vi) em caso de desistncia de beneficiados,
recuperao de ativos investidos pelo poder pblico. Sanes devero ser
estudadas para desestimular pessoas desinteressadas no sucesso do
empreendimento, tais como restituio de parte da bolsa concedida e proibio
por tempo determinado de participao em empreendimentos desta natureza.
5.2. SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
As polticas pblicas delineiam o ambiente em que produtores, agentes
comerciais do sistema agroalimentar e consumidores tomam decises no nvel
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micro; ou seja, o ambiente microeconmico delineado de acordo com as
condies macroeconmicas. Nesse sentido, a poltica macroeconmica
influencia o sistema agroalimentar como um todo. Os preos dos alimentos so
fortemente condicionados pela poltica fiscal e monetria. O nvel de emprego e
distribuio de renda (e consumo de alimentos) tambm determinado mais
pela poltica macroeconmica do que pelos investimentos setoriais (ACKRILL
et al., 2002).
Portanto, a poltica nacional de alimentao e nutrio est inserida na
poltica geral do desenvolvimento socioeconmico de um pas [figura 5.2.1],
com a finalidade de garantir a toda a populao condies scio-econmico-
culturais que melhorem o estado nutricional e de sade. Assim, cuidadoso
clculo das necessidades das famlias recomendado para o planejamento
mais adequado das intervenes de sade em cada contexto (TIMMER, 2000).
Figura 5.2.1: Relao entre poltica macroeconmica e poltica de alimentao e nutrio. Fonte: Timmer, Falcon e Pearson (1983).
Poltica Macroeconmica
Inflao
Macropoltica de preos
Poltica Oramental
Poltica Fiscal e Monetria
Consumidores
Poltica Alimentar
Programas Alimentares
Produtores
Poltica Comercial
Poltica de Preos dos Alimentos
Comrcio rural/urbano
Salrios Taxa de Juros Taxa de Cmbio
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Polticas alimentares tm cumprido o papel de fornecer acesso
alimentao para a populao, mas falham no que diz respeito saudabilidade
desses alimentos. As polticas alimentares se dividem em trs grandes
categorias: i) fornecimento de quantidades suficientes de alimentos; ii)
fornecimento de alimentos livres de contaminao, e; iii) fornecimento de dieta
saudvel e de qualidade para todos. Estes trs aspectos so tratados pelas
instituies, mas raramente interagem uns com os outros ou tm estratgias
coordenadas conjuntamente (TIMMER; FALCON; PEARSON, 1983).
Polticas de nutrio e dieta podem encontrar-se em estreita aliana com
as polticas para a agricultura sustentvel (HUANG; ROZELLE, 2009).
Contudo, necessria mudana de pensamento, de forma a reconsiderar o
papel da alimentao comercial na produo. Polticas de nutrio bem
sucedidas podem ainda provar ser o prximo grande passo na melhoria da
sade pblica (BLACK et al., 2008).
Segundo Cohn (1995), as polticas sociais, por si s, no so suficientes
para reverter os altos ndices de pobreza e desigualdade social, seria
necessria uma nova articulao entre poltica econmica e poltica social.
Compreender o contexto scio-poltico e a dinmica econmica de uma
sociedade fundamental para a compreenso do fenmeno de SAN (PINGALI;
ALINOVI; SUTTON, 2005).
Dados empricos e recomendaes Conforme anlise feita no item 5.1, as declaraes dos representantes
dos poderes pblicos municipais referentes s aes que so realizadas
visando segurana alimentar e nutricional foram agrupadas em categorias e
nestas brevemente discutidas:
Transferncia de renda condicionada:
A transferncia de renda j foi discutida no item 5.1. A poltica de
transferncia de renda condicionada economicamente a mais eficiente e com
resultados imediatos, entretanto no deve ser tida como ao isolada, mas
parte integrante de um conjunto de aes.
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Merenda escolar: A merenda escolar, programa que possui recursos tanto do governo
federal, atravs do Programa Nacional de Alimentao Escolar [PNAE], quanto
estaduais e municipais, atende no s a necessidade imediata de alimentao
dos estudantes beneficiados como tambm tem o potencial de criar um hbito
alimentar nutricionalmente adequado.
No diagnstico dos territrios CONSADs de MS foi constatada a
incidncia de diversos problemas oriundos de uma alimentao inadequada,
tais como: hipertenso arterial, obesidade, desnutrio e diabetes mellitus.
Entrevistados declararam que a alimentao que predomina na regio pouco
diversificada e sem a presena de frutas, legumes e verduras.
O potencial do programa de merenda escolar enorme e deve ser explorado. A agregao de a educao alimentar ao programa deve estudada,
incluindo todos os membros da famlia, sendo a escola um meio privilegiado.
Doao de alimentos e cestas bsicas: A doao de alimentos e cestas bsicas so aes assistenciais com resultados imediatos sobre o problema da fome, mas que de forma alguma
reduzem a insegurana alimentar.
Devem existir, porm, no como ao isolada, mas dentro de um
conjunto de aes emergenciais e estruturantes. Entrevistados sugeriram
durante as oficinas conjuntas a vinculao da doao de alimentos com os
produtos da agricultura familiar, fortalecendo o aspecto da produo de
alimentos regional de uma forma socialmente justa. Multimistura: O farelo multimistura, composto por farelos de arroz, trigo, casca de ovo e folha de mandioca foi desenvolvido e popularizado pela Pastoral da Criana
visando recuperao do estado de desnutrio e anemia em crianas. Na cidade de Jardim / MS, que integra o territrio CONSAD Serra da Bodoquena, a produo e utilizao da multimistura foi integrada ao sistema
municipal de sade, sendo prescrita por mdicos e distribuda atravs dos
postos de sade e agentes comunitrios. Dois tipos de farelo so produzidos,
um para recuperao nutricional, energtico e recomendado para anemia e
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outro visando manuteno nutricional, rico em fibras e recomendado
principalmente para casos constipao.
Foto 5.2.1: Cozinha mantida pela Prefeitura Municipal de Jardim para produzir a multimistura
Apesar de inovadora a ao municipal, existe uma orientao recente da
Pastoral da Criana, fundamentada em estudos cientficos, que indica a baixa
eficincia da multimistura na melhoria do quadro nutricional das crianas.
Aes bsicas de educao e sade, associadas ao estmulo das famlias para
uma alimentao diversificada, com alimentos frescos e integrais, so mais
eficientes e perenes que a utilizao isolada da multimistura. Legislao e fiscalizao sanitria:
A legislao e fiscalizao sanitria so fundamentais para
institucionalmente promover a segurana dos alimentos. Entretanto, predomina
a informalizao dos alimentos produzidos e comercializados nos territrios
CONSADs externos as redes varejistas, tais como doces, queijos e derivados,
pes, conservas e pimentas, entre outros.
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Os produtores, de uma forma geral, afirmam desconhecimento dos
requisitos necessrios a regularizao ou dificuldades para cumpri-los.
Foto 5.2.2: Agroindstria familiar de doces em barra derivados da cana-de-acar na cidade de Anaurilndia / MS.
O estmulo a produo de alimentos pela agricultura familiar e o seu
beneficiamento dever ser acompanhado de uma consultoria gratuita,
disponvel e pr-ativa, bem como linhas de crdito