polÍtica de reduÇÃo de danos e a questÃo ... - tcc...

42
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ MARCIA OLIVEIRA DO PRADO POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO DAS DROGAS CURITIBA 2015

Upload: buidat

Post on 14-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MARCIA OLIVEIRA DO PRADO

POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO DAS DROGAS

CURITIBA

2015

Page 2: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

MARCIA OLIVEIRA DO PRADO

POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO DAS DROGAS

Monografia de conclusão de curso, apresentada

como requisito parcial à obtenção do título de

Bacharel em Direito pela Universidade Tuiuti do

Paraná – UTP

Orientador: Prof. Dalio Zippin Filho

CURITIBA

2015

Page 3: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

TERMO DE APROVAÇÃO

MARCIA OLIVEIRA DO PRADO

POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO DAS DROGAS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da

Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba, ______ de ______________ de 2015.

_____________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenação do Núcleo de Monografia

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador:_____________________________________

Prof. Dalio Zippin Filho

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Supervisor:_____________________________________

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Supervisor:_____________________________________

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Page 4: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

RESUMO

O Tema desta monografia consiste na análise da Política de Redução de danos

aplicada à questão das drogas ilícitas. Esta política consiste em medidas para mitigar

os danos causados pelo uso de drogas, sem exigir do dependente a abstinência. A

Redução de Danos tem apresentado resultados positivos, em detrimento a proteção

penal do bem jurídico que piora a situação dos usuários e dependentes, os fazendo

passar pelo sistema penal. A Redução de Danos é instrumento de saúde pública, sendo

mais adequado a intervir nestes casos. Regulamentações no âmbito do direito

administrativo também têm mostrado resultados satisfatórios no Brasil e exterior. No

entanto, setores tradicionais/conservadores da sociedade resistem à Redução de Danos,

por entender que é incentivo ao uso de drogas. Porém, estas novas medidas buscam

uma maneira de se tratar, de forma pragmática e realista, os efeitos negativos do

uso/abuso das substâncias ilícitas.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas; Drogas Ilícitas; Redução de Danos; Direito

Penal; Intervenção Mínima.

Page 5: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

LISTA DE SIGLAS

SISNAD: Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

SENAD:Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas

PNAD: Política Nacional sobre Drogas

CONAD:Conselho Nacional Antidrogas

SUS: Sistema Único de Saúde

CAPS: Centro de Apoio Psicossocial

CAPS AD: Centro de Apoio Psicossocial de Álcool e Drogas

Page 6: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

SUMÁRIO

1 NTRODUÇÃO……………………………………………………………….…..06

2 HISTÓRICO: FORMAÇÃO DO CONCEITO DE REDUÇÃO DE DANO...08

2.1 CONCEITO DE DROGA…………...…………………………………………....08

2.2 CONCEITO DE REDUÇÃO DE DANOS…………………………………...…..08

2.3 HISTÓRICO………………………………………………………………………09

3 O SURGIMENTO DA REDUÇÃO DE DANOS……………………................15

3.1 REDUÇÃO DE DANOS NO MUNDO...………………………………………...15

3.2 REDUÇÃO DE DANOS NO BRASIL……………………………………….......19

3.3 REFORMA PSIQUIATRIA..……………………………………………………..21

3.4 PONTOS IMPORTANTES DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS.....22

4 O DIREITO E A PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO………………..............25

4.1 DIREITOCONSTITUCIONAL E A SAÚDE.........................................................25

4.2 TUTELA PENAL DO BEM JURÍDICO...…………………………………...…..26

4.3 DIREITO ADMINISTRATIVO COMO ALTERNATIVA...…………………....29

5 ALGUMAS ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE DANOS……………..........31

5.1 PROGRAMA BRAÇOS ABERTOS...………………………………...………....31

5.2 DISTRIBUIÇÃO DE KITS PARA CONSUMO SEGURO DE DROGAS ……..32

5.3 REDUÇÃO DE DANOS NO SISTEMA PRISIONAL.…………...…………......34

5.4 PROJETO ENTRE VIDAS – CURITIBA..............................................................35

6 CONCLUSÃO…………..………………………………….................................36

REFERÊNCIAS……………………………………………………………………..38

Page 7: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

6

1 INTRODUÇÃO

O objetivo desta monografia é analisar a Política de Redução de Danos

aplicada à questão das drogas. O tema ganha cada vez mais relevância a partir dos

novos rumos que a relação entre direito penal, drogas e saúde pública vêm tomando,

tendo por base seu aspecto interdisciplinar. Na verdade não há como precisar o

momento em que o homem passou a fazer uso destas substâncias, sendo que a história

das drogas se mistura com a história da humanidade. Por esta razão é que MAURIDES

RIBEIRO (2013) afirma que as antigas sociedades passaram a desenvolver

mecanismos de controle informal das drogas. Disso podemos tirar duas conclusões: as

antigas sociedades já sabiam dos efeitos positivos e negativos das drogas e que elas

desenvolveram formas de controlar o seu uso.

As drogas sempre tiveram lugar no comércio, ressaltamos aqui a Inglaterra

que no séc.XIX tinha no ópio um de seus principais produtos de exportação ao custo

da saúde do povo chinês. Não obstante, no final do séc. XIX e no decorrer no séc. XX

as proibições a nível global de comércio de determinadas substancias, mudaram este

cenário, impulsionadas em grande parte pelos Estados Unidos. Embora o motivo

elencado para tanto tenha sido a proteção da saúde pública, é possível perceber que a

ideologia americana tinha outras questões de fundo, como o preconceito racial,

moralismo e estratégias econômicas e de poder em outras palavras “uma política

global de drogas pode se apoiar, estender suas redes de controle e expandir as

tecnologias de poder” (SOUZA, Tadeu de Paula, 2013).

Em contra partida, a Inglaterra percebeu o problema de saúde pública que as

drogas poderiam trazer, afinal não só ela, como também o resto da Europa teve contato

com diversas substâncias novas à sua cultura, sem, entretanto, saber a melhor forma de

utiliza-las. Nesse contexto o Governo Inglês solicitou um estudo para especialistas, em

1926, para que se descobrisse uma forma de normalizar a vida dos dependentes. Este

estudo é considerado pela doutrina como o início da redução de danos. Não obstante,

foi na segunda metade do sec. XX, a partir da década de 70, as Estratégias de Redução

de Danos começaram a se propagar pela Europa e em seguida pelo Brasil, as medidas

Page 8: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

7

inicialmente tomadas tinham como foco os usuários de drogas injetáveis, com o

programa de troca de seringas, para evitar a transmissão de HIV/Aids.

Contemporaneamente, na década de 80, um movimento social também

começava a ganhar força, a Reforma Psiquiátrica, cujo objetivo era garantir os direitos

das pessoas com doenças mentais. A principal herança deste movimento foi a criação

dos CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) e posteriormente os CAPS AD voltados

para os dependentes de álcool e drogas. Estes Centros preconizam o atendimento

ambulatorial, sendo um contrapondo ao modelo hospitalocentrico. O que vem ao

encontro das Política de Redução de Danos, oferecendo serviços de baixa exigência

dos usuários/dependentes de drogas, considerando sua condição de vulnerabilidade.

Atualmente algumas medidas de RD estão sendo postas em prática pelo

sistema Único de saúde, porém sempre a margem de uma proibição mundial das

drogas, o que dificulta a atuação dos agentes de saúde. Ademais setores conservadores

da sociedade também são contrários as medidas de Redução de Danos, por entenderem

que incentivam o uso de drogas, pregando inclusive intervenções mais severas como a

internação compulsória. Com o decorrer desta monografia se buscará demonstrar a

eficiência das estratégias de redução de danos, como instrumento de tutela da saúde

pública.

Page 9: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

8

2 HISTÓRICO: FORMAÇÃO DO CONCEITO DE REDUÇÃO DE DANOS

2.1 CONCEITO DE DROGA

Antes de entrar no tema principal é necessário ter em mente o conceito de

drogas. A palavra drogas vem do holandês drogg, cuja definição remete a folha seca,

isso porque, inicialmente, os todos os medicamentos usavam vegetais em sua

composição. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) dá ao termo droga

significado mais amplo, sendo qualquer substância não produzida pelo organismo que

tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações

em seu funcionamento (DEL OLMO, 1988, apud SOLOVIEV, 2012)

As drogas podem ser classificadas, sob o ponto de vista médico, pela forma

com que atuam modificando o funcionamento do cérebro (idem)., podendo ser:

depressoras, dentre elas o álcool e opiáceos, sua função é fazer com que o sistema

nervoso central (SNC) funcione lentamente, reduzindo a ansiedade por exemplo;

estimulantes, como as anfetaminas, cocaína e tabaco, estes pelo contrário, colocam o

SNC em alerta exagerado; e perturbadoras, como a maconha, LSD e êxtase, causando

alucinações, distorções e delírios. As drogas citadas como exemplo são conhecidas por

causar dependência e degradação, contudo existem psicotrópicos que são usados como

tratamentos e, nem sempre, causam adição, sendo boa parte utilizada em formulas de

medicamentos.

2.2 CONCEITO DE REDUÇÃO DE DANOS

A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN, 2002, et al), é o

conjunto de estratégias, atinentes a saúde pública, com objetivo de reduzir danos de

práticas nocivas à saúde. Especificamente na questão das drogas, se aplicam aos

indivíduos que adotam comportamentos de risco ligados ao uso de drogas, tais quais:

compartilhamento de seringas e cachimbos para uso de crack, overdoses, dirigir sob

efeitos de droga/álcool, etc. A Redução de Danos tem viés pragmático, uma vez que

não acredita em um mundo livre de drogas, e tem a abstinência com uma das opções

possíveis, vale dizer, não a única e nem a principal.

Page 10: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

9

O modelo de Redução de Danos mais conhecido é o da troca de seringas entre

usuários de drogas injetáveis (UDIs), este programa surgiu apenas nos anos 70 para

prevenir o transmissão de doenças infectocontagiosas, notadamente o HIV/Aids.

Apesar de seu surgimento conflituoso, atualmente encontra apoio dos órgãos estatais.

Não obstante, existem estratégias extremamente polêmicas como a prescrição de

cocaína e heroína a dependentes ou a existência de locais específicos para utilização de

drogas de forma segura, etc.

Estes métodos podem causar (e causam) muita estranheza ou perplexidade aos

mais conservadores que defendem que o fato de que “usar drogas e se cuidar são

atitudes incompatíveis, sendo a abstinência o correlato higienista do ideal de um

mundo sem drogas.”(SOUZA, Tadeu de Paula, 2013, p. 18). Entretanto, a busca deste

ideal não pode deixar de lado questões, verdadeiramente, de saúde pública como a

epidemia de HIV/Aids.

Mais adiante, no capítulo V, outras estratégias de redução de danos serão

abordadas.

2.3 HISTÓRICO

Muito embora o tema central desta monografia seja a Redução de Danos

aplicada à questão das drogas, é indispensável abordar outros pontos que têm grande

influência sobre o tema. Com efeito, temáticas relacionadas ao Direito Penal e

Criminologia, como o Proibicionismo e, também, relativas à Medicina, a exemplo da

Reforma Psiquiátrica serão também abordadas.

Durante a história da humanidade ocorreram diversas mudanças culturais,

oriundas de processos dialéticos e a relação do homem com a droga não foi diferente.

Não há como precisar o momento em que iniciou o consumo destas substância, porém

Maurides Ribeiro (2013, p. 47) afirma que sempre existiram mecanismos sociais para

regular e/ou controlar o uso de drogas. O exemplo disto seria a ritualização de certas

substâncias, utilizadas em cultos religiosos, ou seja, o uso irrestrito das drogas era

proibido pelo meio social, sendo permitido apenas em datas específicas. A história

recente da Redução de Danos (da forma como conhecemos hoje) tem como berço a

Page 11: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

10

Europa, mais especificamente na Inglaterra, alguns fatos anteriores influenciaram essa

iniciativa.

No início do séc. XIX existia uma grande dificuldade de comércio com a

China, o que, especialmente, para a Inglaterra, era um problema. Isso decorre do fato

de que a Coroa possuía uma indústria ávida para vender seus produtos, ainda mais para

um mercado populoso como o chinês. O meio encontrado para conseguir adentrar

neste mercado foi por meio do tráfico de drogas, mais especificamente o ópio, oriundo

de uma de suas colônias-a Índia (DUARTE, 2005).

Não demorou muito para o governo chinês retalhar a Coroa, destruindo um

carregamento da droga, sendo este ato o estopim para Primeira Guerra do Ópio, que

teve a Inglaterra como vencedora em 1842. Como perdedora, a China teve que cumprir

vários encargos (Tratado de Nanquim) como dar privilégios comerciais a Inglaterra.

Entretanto, as duas nações voltaram a se enfrentar e novamente, na chamada Segunda

Guerra do Ópio, a China perdeu novamente (1860), tendo que arcar com maiores

privilégios comerciais a Inglaterra (Tratado de Tianjin).

A China já havia percebido o problema, não apenas econômico e político da

invasão do ópio, mas também os efeitos nocivos na saúde da população que a eles se

somavam. De outro lado a Inglaterra lucrava com a dependência do povo Chinês,

sendo o ópio seu principal produto de exportação naquela época (SOUZA, Tadeu de

Paula, 2013, p. 92). Em 1906, cerca de um quarto da pulação chinesa masculina adulta

era dependente de ópio, este episódio ficou marcado como a maior epidemia de abuso

de drogas já registrada (UNODC).

Como se pode notar, os interesses primordiais dos dois países, ao querer

proibir ou liberar o uso de ópio, não era a saúde pública e sim a questão política e

econômica. A China restringia para manter o controle de seu mercado, enquanto a

Inglaterra pleiteava a liberação para poder vender seu produto. O resultado disso foi

que o poder econômico venceu, com a Inglaterra exercendo cada vez mais influência

sobre no oriente.

Fato é que o feitiço acabou virando conta o feiticeiro (RIBEIRO, Maurides;

RIBEIRO, Marcelo, 2008). Depois das Grandes Navegações, os ingleses, bem como o

resto da Europa, tiveram acesso a um grande número de substâncias estranhas as suas

Page 12: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

11

culturas como o tabaco e ópio, outras questões também se conjugaram para agravar o

problema, como a descoberta da destilação do álcool, veja-se:

a descoberta da destilação do álcool levou ao surgimento de bebidas mais

concentradas, que somada à industrialização e a crescente exclusão social

urbana, desencadeou uma série de complicações clínicas, psiquiátricas e

sociais sem precedentes na história (Edwards, 2003 apud ibid).

A falta de conhecimento e, por conseguinte, a falta dos mecanismos de

controle informal foi desastrosa, causando overdoses além de outros problemas de

saúde. Até o séc. XIX, na Inglaterra, bem como outros países, o consumo de drogas

era liberado, na verdade estava longe de ser um problema. Drogas como ópio, cocaína

dentre outras, poderiam ser compradas e usadas livremente, porém foi na Inglaterra

que o abuso de álcool passou a ser uma questão de saúde pública.

Desde de antiguidade, a bebedeira de alguns é um comportamento reprovado

por seus contemporâneos. Mas só no século 18 é que, pela primeira vez, um

país identifica o consumo exagerado de álcool como um problema

generalizado, com desdobramentos para a saúde pública. O fenômeno

aconteceu da Inglaterra, na mesma época em que a Companhia das Índias

começava a traficar ópio para a China, e ficou conhecido como a epidemia

do gim. (Araujo, 2012, p. 55 apud SOUZA, Tadeu de Paula, 2013, p. 88).

O começo dos debates se deu, segundo Marcelo Ribeiro e Maurides Ribeiro

(2008), por um lado graças à conscientização da população pertencente às nações

industrializadassobre a importância de questões como saneamento, vacinação,

atendimento médico para todos; e também por uma nova perspectiva médica que veio

a classificar o habito de consumir drogas de forma abusiva como uma doença, sendo

cada vez mais recomendada a intervenção estatal positiva com os mecanismos de

controle formal.

Neste mesmo espirito encontrou-se os Estados Unidos, também no séc. XIX.

A política antidrogas americana foi, e continua sendo, a mais influente a nível

mundial, isso graças a sua força política e econômicaque permite intervir na política

interna dos outros países. Como dito acima, a "bebedeira" de uns sempre incomodou

Page 13: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

12

outros, mas nos EUA, por sua cultura e colonização predominantemente puritana1 esta

ideia ganhou mais força, inclusive política. Contemporaneamente, o consumo de

álcool e o número de bares aumentava, o que ia de encontro com a "mercantilização do

tempo" pregada pela classe dominante da época, ou nas palavra de Max Weber (2011,

p.130).

O regozijo impulsivo da vida, que afastava tanto do trabalho na vocação

como da religião, era, como tal, inimigo do ascetismo racional, quer fosse na

forma de esporte senhorial, de salão de baile, quer como taberna do homem

comum.

Grupos religiosos antibebidas/antidrogas ganharam cada vez mais expressão

política2, houve também a fundação do Partido Proibicionista em 1869 (RIBEIRO,

Maurides; RIBEIRO, Marcelo, 2008). Não foi só oaspecto religioso que basearam a

política antidrogas americana, preconceitos raciais também estavam ligados a

intolerância. Conforme explica Michele Eichelberger (2012, p. 20) existia um medo de

contaminação da cultura puritana e capitalista pelos habitos temerários de irlandeses

com o álcool, os negros com a cocaína, mexicanos com a maconha, e os chineses e o

ópio.

Mas não foi só isso. Não demorou muito para que a “Ética Protestante”

adentrar-se as instâncias formais de poder, notadamente o poder legislativo. Logo, em

1885 já existiam proibições de venda de álcool formuladas em 13 estados americanos.

Alguns grupos baseavam seus atos em questões médicas, já outros tinham vistas à

internação compulsória.Para que se chegasse a este ponto houve grande debate na

sociedade americana, incluindo a mídia e o setor acadêmico, para discutir a

possibilidade de proibição do álcool (RIBEIRO, Maurides; RIBEIRO, Marcelo, 2008).

No início do séc. XX, em 1906, aprovou-se a Pure Food and Drug Act, uma

lei federal americana que, dentre outras coisas, regulamentava o uso e venda de

drogas. Em 1914, o ópio e a cocaína estavam restritos a prescrição médica por meio da

Harrison Narcotics Act (ibid). Atenta a ascensão inglesa na venda de ópio, e também o

1O puritanismo foi uma das vertentes do protestantismo, notadamente o Calvinismo, suas

características principais eram a rigidez com a qual levavam sua fé e a simplicidade.

2 Bem parecida com a atual situação política brasileira.

Page 14: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

13

aumento de seu poder no oriente, a América agora tinha interesses econômicos e

políticos e morais para frear esse crescimento, obviamente camuflados pela promoção

na saúde pública mundial.

Foram realizados encontros em Xangai (1906 e 1911) para discutir sobre a

redução do uso e comércio do ópio. Em 1912 em uma Conferência em Haia, foi

assinada uma convenção que previa a criação de um organismo internacional sobre o

tema, o que veio a ser retomado após a Primeira Guerra Mundial em 1925 (SOUZA,

Tadeu de Paula, 2013).

Na verdade diversos protocolos, convenções internacionais foram elaboradas

(1953, 1961), ampliando o rol de substâncias restritas, sempre com a participação ou

iniciativa americana. Os EUA já haviam percebido que sem ajuda internacional não

conseguiriam vencer as drogas. Em fimem “uma política global de drogas pode se

apoiar, estender suas redes de controle e expandir as tecnologias de poder. (Idem)”.

Mas, sem dúvida, o fenômeno mais significativo no tocante à proibição de

drogas, ocorreu 1920. O álcool e toda a cadeia produtiva (logística, distribuição e

venda) diga-se de passagem que eram, em maioria, controladas por imigrantes, foi

proibida em todo o território americano, por meio da Volstead Act, uma emenda

constitucional, também conhecida como Lei Seca. (RIBEIRO, Maurides; RIBEIRO,

Marcelo, 2008)

Os efeitos negativos desta proibição são conhecidos: a proliferação de bares

clandestinos; falsificação de bebidas produzidas com milho; a corrupção de policiais e

outros agentes do estado (inclusive políticos) por grupos criminosos; lavagem de

dinheiro, etc. De fato, a proibição do álcool não surtiu nenhum dos efeitos declaradas

por seus entusiastas, na verdade criou um mal maior, o crime organizado.

A atuação das Mafias Italianas (Cosa Nostra, Camorra e „Ndranghetta) mesmo

após as proibição em 1932, continuaram existindo, migrando para outras atividades

criminosas com o tráfico de outras drogas.O Crime Organizado em todo o mundo

acabou lucrando com as proibições impostas as drogas. A Triade, Yacusa, os Carteis

Colombianos dentre outros, incluíram o tráfico de drogas, a exemplo do ópio, do

oriente para o ocidente, notadamente Estados Unidos e Europa.

Page 15: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

14

Na tentativa de frear o crescimento das associações criminosas, na segunda

metade do séc. XX foram celebradas pala ONUtrês convençõesinternacionais:

Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, em Nova York, emedada em 1972, em

Genebra; Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, 1971, em Viena; e Convenção

Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, 1988, também

em Viena. Em todas o Brasil foi signatário (UNODC).

Page 16: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

15

3. O SURGIMENTO DA REDUÇÃO DE DANOS

3.1 REDUÇÃO DE DANOS NO MUNDO

O marco histórico da Redução de Danos é atribuída ao Relatório de Rolleston,

publicado em 1926 na Inglaterra, quando o Governo solicitou a elaboração do estudo

com intenção de “normalizar” ou tornar “mais estável e útil a sociedade” a vida dos

usuários de drogas (BERRIDGE, 2004, p. 52). Dito de outra forma, descobrir

maneiras de ilidir os danos do uso abusivo de drogas, voltados à qualidade de vida e

não, necessariamente, à abstinência. Dentre as medidas recomendadas estava a

prescrição médica de opiáceos para os dependentes de heroína, a fim de que os

sintomas da síndrome da abstinência fossem reduzidos (Centro de Convivência É de

Lei, 2014) e apenas nos casos em que os outros tratamentos não surtissem efeito.

Segundo Virginia Berridge (2004, p. 50) a ideia de redução de danos começou

a se propagar na opinião de alguns grupos, pois traria um objetivo mais realista e

possível de ser alcançado. Ainda segundo a autora, o modelo exclusivamente médico

foi sendo substituído por um modelo multidisciplinar e também "centrado en los

problemas de drogodependencias de los distritos regionales y en los comités

consultivos locales", ficando, dessa forma, mais próximo e acessível aos que

precisarem do auxilio, foi classificada como “política comunitária”.

Em 1984, a ideia de redução de danos foi reconhecida pelo ACMD (Advisory

Council on the Misuse of Drugs3). Este orgão, posteriormente, chamou profissionais de

diversas áreas para formular conclusões sobre esta “política comunitária”, por

conseguinte foram adotadas em um informe de tratamento e reabilitação. Não

obstante, a opinião pública local resistiu a este modelo, pois o sistema repressivo/penal

era adotado; todavia, com o passar do tempo até os mais conservadores reconheceram

as proposta de redução de danos em contraposição a proibição e a segregação dos

usuários/dependentes (idem).

3Conselho Consultivo sobre o Abuso de Drogas, orgão público Britânico.

Page 17: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

16

O Programa de Redução de danos iniciaram em 1985, na cidade de Liverpool,

ficando conhecido como "modelo de redução de danos de Mersey"4, onde também

ocorreu a I Conferência Internacional de Redução de Danos. Neste local ocorria

grande consumo de drogas, sendo que 50% dos usuários eram UDIs. As estratégias

desenvolvidas foram: trocas de seringas realizadas por agentes comunitários (outreach

workers ou redutores de danos) que se conduziam até os locais onde se encontravam

os UDIs (REGHELIN, 2002, p. 80); prescrição de drogas como a heroína e a cocaína;

serviços de aconselhamento; auxílio à reinserção profissional e moradia (RILEY, 1994

apud FONSECA, 2005, p. 36/37); informações de como se injetar de forma mais

segura; tratamento para abscessos e outros problemas de saúde associados ao uso

injetável; testes para o HIV e, posteriormente, contra hepatite B (OGBORNE., 2001

apud FONSECA, 2005, p. 36/37) distribuição de seringas nas farmácias, sendo que

não havia necessidade de identificação e os horários para atendimento eram flexíveis.

Destacam-se os efeitos destas medidas, tanto na área da saúde quando na área

de segurança pública, sentidos na década seguinte. Na primeira constatou-se queda

considerável de transmissão de HIV/Aids entre UDIs e, na segunda, o fato de que

Merseyside foi a única região inglesa a diminuir a criminalidade ligada as drogas

(REALE, 1997 apud FONSECA, 2005, p.37).

Com as inciativas inglesas, percebesse a importância da abordagem

multidisciplinar. No caso apresentado a intenção era suprir as necessidades do

usuário/dependente, focando em sua saúde, mas também olhando para os outros

aspectos sociais.

É cediço que a Holanda possui uma política mais liberal nos assuntos

relacionados as drogas. Já na década de 70, antes mesmo do aumento da transmissão

de HIV/Aids ser um grave problema, já existia uma política voltada para o

reducionismo com foco nas hepatites. Baseada nisto é que Reghellin (2002, p. 84)

afirma que, na Holanda, o principal interesse foi de fato, o bem-estar be a saúde dos

cidadãos.

4 Liverpool é situada no condado de Merseyside.

Page 18: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

17

Na busca de uma melhor maneira de se lidar como assunto, o governo

holandês sancionou uma lei (Opium Act) em 1976, para diferenciar e classificar as

drogas de acordo com o grau de nocividade que causam à saúde. Assim tornou-se mais

fácil formular políticas específicas para usuários de “drogas de risco inaceitável” e

“drogas de risco aceitável” (REGHELIN, 2002, p. 84; RIBEIRO, 2013, p. 49).

No tocante as “drogas de risco aceitáveis”, maconha e haxixe, foi permitida a

criação dos CofeeShops ou Cafeterias. Estes estabelecimentos podiam vender até 30

gramas destas substâncias consideradas leves, sendo vedada a venda para menores.

Com o tempo, para evitar o tráfico de drogas feitos por turistas, o governo reduziu a

quantidade máxima a ser vendida para 5 gramas, mudança que permanece até hoje.

Não houve aumento do consumo desse tipo de droga, pelo contrário, houve

diminuição por parte dos jovens com 15 até 18 anos, segundo levantamento realizado

pelo Ministério da Previdência Social, Saúde e Assuntos Culturais da Holanda (idem).

Por outro lado, com relação as "drogas de risco inaceitável", dentre elas cocaína,

heroína, LSD e anfetaminas, permaneceu vedado o comércio.

Na década de 80 os holandeses inovaram novamente no tratamento dos danos

produzidos pelas drogas, inaugurando o programa de trocas de seringas. Boa parte do

sucesso deste programa pode ser atribuído aos próprios usuários de drogas, mais

especificamente as injetáveis que, em 1980, fundaram a Junkiebond, uma associação

que buscava melhoria na qualidade de vida dos UDIs, vez que a transmissão de

hepatite B estava aumentando significativamente nesta população (idem).

Em 1984 a Junkiebond, em conjunto com o Município de Amsterdã, deram

início ao primeiro programa de trocas de seringa na Holanda. Funcionava da seguinte

forma, o governo distribuía as seringas aos junkiboden (também usuários) e estes as

estregavam para os UDIs recolhendo as seringas contaminadas (idem). Vale enfatizar

que neste caso a autonomia dos UDIs foi elemento fundamental, eles participaram

ativamente da redução de danos, de um lado se organizando para buscar seus direitos

auxiliando instituições públicas e de outro aderindo ao programa, adquirindo a

consciência de que o uso de uma seringa desinfectada é fundamental para sua saúde,

mesmo sem deixar de usar drogas.

Page 19: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

18

No ano seguinte, a Austrália aderiu ao programa de troca de seringas, sendo o

primeiro pais a lançar uma campanha de redução de danos a nível nacional. O Canada,

em 1987, também aderiu a este programa. Em ambos os países a educação foi um dos

veículos da mudança (O‟CONNOR; SAUNDERS, 1992, p. 178 apud FEFFERMANN;

FIGUEIREDO, p.38, 2006). Pode-se dizer que este modelo educacional é o mais

racional, pois sabe que em algum momento alguns alunos terão contato com as drogas

ilícitas e se assim fizerem estarão preparados para tanto.

No final da década a Suíça também deu um passo significativo em direção a

redução de danos. A medida emblemática foi a implantação do “parques das agulhas”

na praça Platzpitz (Zurich), as ações consistiam em selecionar um local e fornecer

seringas gratuitamente, neste perímetro era tolerado o uso e o tráfico de drogas.

Entretanto, esta medida surtiu mais efeitos negativos do que positivos. No

documentário Quebrando o Tabú, Ruth Dreifuss, responsável pela questão da saúde

dentro da política de drogas naquela época, afirmou que houve perda de controle.

A situação encarada pela Suíça, apesar de não ter sido exitosa, trouxe uma

valiosa experiência a todos os que pretendem desenvolver políticas de redução de

danos. Primeiramente, se demonstrou que a liberação total de uso e tráfico de drogas -

notadamente os injetáveis- não traz efeitos positivos, pelo contrário, a ausência de

controle estatal acaba por fomentar o tráfico, considerando que muitos usuários ficam

em situação de vulnerabilidade; e, em segundo lugar, que é possível e necessário

integrar as forças policiais para que um programa de redução de danos possa se

desenvolver.

Na década de 90 a Alemanha aderiu a redução de danos, com os programas de

troca e distribuição de seringas, programa de baixa exigência para distribuição de

metadona5

, abrigos para os usuários carentes de moradia (MARLATT, apud

REGUELLIN, 2002).

5 É medicamento “indicado para o alívio da dor aguda e crônica de intensidade moderada ou forte;

tratamento de desintoxicação de narcóticos (heroína ou outras drogas similares à morfina), em

conjunto com serviços médicos e sociais adequados e para terapia de manutenção temporária de

narcóticos.” (MYTEDOM, bula de remédio,)

Page 20: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

19

No Canadá o princípio básico passou a ser a aceitação do uso de drogas como

sendo normal, e que ele está associado a benefícios e a riscos, este uso não pode ser

eliminado, mas é possível sim reduzir os danos (RILEY, apud REGUELLIN 2002).

A Suíça na década de 90, já tinha alguma experiência com formas alternativas

de busca solução para os danos causados pelo uso de drogas, desenvolveu um outro

programa inovador: a distribuição de heroína, morfina e metadona injetável para

aqueles usuários altamente dependentes e que não respondiam a outra formas de

tratamento. Por certo que estes ações vinham em conjunto com outras medidas, tais

quais: acompanhamento médico e psicológico, abrigos, auxilio na busca de empregos,

aconselhamento (REGUELLIN, 2002).

3.2 REDUÇÃO DE DANOS NO BRASIL

No Brasil a RD surgiu, primeiramente, como uma resposta a epidemia de

HIV/Aids. Isso aconteceu depois que o pais passou a ser uma rota alternativa de

distribuição de drogas para os grandes mercados (EUAe Europa), na década de 80.

Nesta época, com a política de guerra as drogas iniciado por Nixon, os carteis andinos

produtores de coca estavam sob vigilância mundial. Assim muito mais drogas passava

por nosso território e as cidades que passaram a fazer parte da rota da cocaína (em pó

ou injetável), como Santos - SP, tiveram considerável aumento nos casos de HIV/Aids

(Maurides Ribeiro, 2013).

Isto justifica o fato de o primeiro programa de troca de seringas ter surgido em

Santos, em 1989, contudo, por uma divulgação precipitada da mídia nacional, o

projeto não foi bem recebido pela população em geral. Ao invés disso, foi instaurado

um Inquérito Policial contra o Coordenador do Programa e o Secretário Municipal de

Saúde, pois, segundo alguns, a distribuição de seringas configuraria o crime previsto

no art. 12, §2, I e III da lei 6.368 de 1976. (RIBEIRO, 2013; REGUELLIM, 2002).

Embora o Inquérito tenha sido arquivado, houve ainda a propositura de uma Ação

Civil Pública e distribuição de seringas foi interrompida, graças a um Termo de

Ajustamento de Conduta assinados pelo município e entidades envolvidas (idem).

Page 21: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

20

A distribuição de hipoclorito de sódio para lavar as seringas, iniciada em

1991, também em Santos, felizmente, não foi interrompida. Esta substância, em

concentração de 5,25%, é capaz de eliminar o vírus do HIV/Aids e, aliado ao costume

dos UDIs de lavar as seringas, também contribuiu para redução dos riscos da utilização

de drogas injetáveis (RIBEIRO, 2013).

Em 1994 o Ministério da Saúde patrocinou um estudo nacional sobre a

incidência de HIV/Aids, indicando chances de aumento neste público específico.

(Idem), mas somente em 1995 e que surgiu o primeiro programa federal de trocas de

seringas, na Cidade de Salvador, desta vez sem complicações judiciais, considerando

que foi desenvolvida por órgão ligado à Universidade Federal da Bahia.

Durante a segunda metade da década de 90 surgiram algumas organizações

não governamentais (ONGs) voltadas à conscientização sobre a RD, dentre elas a

Associação Brasileira de Redutores de Danos (ABORDA), integrada por ex-usuários e

usuários de drogas, na busca da defesa do interesse destes. A ABORDA fundou a Rede

Latino-Americana de Redução de danos de (RELARD) e também da Rede Brasileira

de Redução de Danos em 1988.

A IX Conferência Internacional de Redução de Danos ocorreu em São Paulo,

em 1998 e deu força ao movimento, sendo que na abertura do evento o governador

sancionou a Lei nº 9.758 de 1997, autorizando o programa de troca de seringas

ocorresse em todo o estado, tornando-se o marco legal da RD como política pública,

influenciando outras leis estaduais e municipais sobre o assusto (MAURIDES

RIBEIRO, 2013; REGUELLIN, 2002).

O modelo de RD passou a ganhar mais legitimidade. Em 2005, o Ministério da

Saúde, através da Portaria nº 1.059 do mesmo ano, regulamentou as estratégias de RD.

Elas foram incluídas no rol de atividades desenvolvidos pelos Centros de Apoio

Psicossocial para Álcool e Outras Drogas (CAPS AD), seguindo as diretrizes do

Sistema Único de Saúde, melhor tratadas adiante, neste trabalho (MAURIDES

RIBEIRO, 2013).Podemos dizer que a partir deste momento o foco da tutela estatal

referente aos usuários de drogas deixou de estar, teoricamente, voltado apenas para o

Direito Penal, sendo inclusive uma ferramenta para a promoção dos direitos humanos,

daqueles que usam drogas (Idem).

Page 22: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

21

Outras medidas de Redução de Danos passaram a ser tomadas, agora,

voltadas, também, para os usuários de cocaína inalável, dentre elas podemos elencar: a

distribuição de kits para utilização desta droga; possibilidade de desenvolver pesquisas

científicas sobre o uso de cannabis, e possível terapia de substituição entre drogas mais

degradantes, como crack; fornecimento de cachimbos para uso de crack com filtros;

orientações voltadas para o público frequentador de casas noturnas sobre o uso de

drogas sintéticas como o ecstasy; a RD de danos também com o uso de drogas lícitas,

como álcool cigarro e moderadores de apetite inclusive. (Idem).

3.3 REFORMA PSIQUIATRIA

Neste contexto, com a inclusão da questão das drogas como um problema de

saúde pública, é de se ressaltar o movimento de Reforma Psiquiatria. No Brasil o

movimento “antimanicomial” se iniciou na década de 70, mas ganhou força em 1978,

com apoio de vários setores da sociedade, na área da saúde com o Movimento dos

Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), sindicalistas, movimento sanitário,

familiares e pessoas com doenças psiquiátricas, etc. Em outras palavras

É sobretudo este Movimento, através de variados campos de

luta, que passa a protagonizar e a construir a partir deste período

a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da

loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a

construir coletivamente uma crítica ao chamado saber

psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às

pessoas com transtornos mentais. (Brasil, 2005)

Seguindo uma linha já adotada em outros países, percebeu-se que haviam

casos de violência no trato com os internos e o modelo voltado exclusivamente em

internação, além de um grande aumento no número de hospitais psiquiátricos, alguns

subvencionados pelo dinheiro público e outros privados, mas nem sempre garantindo

os direitos dos internos.

Em 1987, no II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em

Saúde Mental foi adotada a seguinte frase “Por uma sociedade sem manicômios”. No

mesmo ano surgiu o primeiro Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) na Cidade de São

Page 23: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

22

Paulo e, posteriormente, os Núcleos de Atenção Psicossociais (NAPS) em Santos SP.

Além de fiscalizações de casos de violência e até mesmo de mortes de pacientes, casos

como estes colocaram sob os holofotes a as condições de tratamento nestas clinicas

(idem).

Estes novos Centros de atendimento tinham como finalidade atender os

egressos dos hospitais psiquiátricos, pois muitos leitos foram, paulatinamente,

fechados. Ofereciam, também, atenção diária de modo que as internações foram se

tornando menos frequentes. Apesar de receber verbas do Ministério da Saúde, tem

administração a nível municipal, incluindo também como postos de saúde e farmácias,

que juntas formam uma rede estratégica próxima aos que dela necessitem. Houve

também a criação de locais/residências para dar assistência aos pacientes,

considerando que muitos passam longos anos internados e certamente apresentariam

dificuldades em se reintegrar à sociedade6.

Com a criação do SUS e dos Conselhos de Saúde, a população também passou

a ter mais acesso aos métodos usados nos hospitais psiquiátricos.

Na década de 90, os estados aderiram à política de substituição gradual dos

manicômios, mas apenas em 2001 foi sancionada a Lei nº 10.216, dispondo sobre os

direitos das pessoas com transtornos mentais e incentivando os modelos de tratamento

comunitário como o CAPS e NAPS. Também neste ano foi realizada a III Conferência

Nacional de Saúde Mental que incluiu o usuário de álcool e outras drogas.

3.4 PONTOS IMPORTANTES DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS

Instituída por meio do Decreto Presidencial nº 4.345, de 26 de agosto de 2002,

A Política Nacional Antidrogas (PNAD), foi elaborada pela, na época chamada,

Secretaria Nacional Antidrogas7

(SENAD), vinculada ao Gabinete de Segurança

Institucional da Presidência da República. O art. 1º do Decreto da PNAD estabeleceu-

6 Em 2003 foi criado o projeto “de volta pra casa” que, além de incentivar os centros de tratamento

comunitários, também fornece uma quantia em dinheiro para os ex-internos, atualmente de R$ 240,00.

7A SENAD é Secretaria Executiva do CONAD, conforme art. 6º, §2º da Lei nº9.649, de 27 de maio de

1998.

Page 24: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

23

se objetivos e diretrizes para o desenvolvimento de estratégias na prevenção,

tratamento, recuperação e reinserção social, redução de danos sociais e à saúde,

repressão ao tráfico e estudos, pesquisas e avaliações decorrentes do uso indevido de

drogas, diferenciando o drogadito do traficante.

Outro ponto importante foi o estabelecimento da responsabilidade

compartilhada entre Estado, sociedade einiciativa privada, porém o objetivo visando

era no sentido de

ampliar a consciência social para a gravidade do problema representado pela

droga e comprometer as instituições e os cidadãos com o desenvolvimento

das atividades antidrogas no País (BRASIL, 2003, p. 8).

Entretanto esta visão de cunho majoritariamente repressivo foi alterada. Em

2004 a PNAD passou por um processo de atualização, sendo seu objetivo promover

maior discussão sobre a matéria em vários níveis da sociedade. Assim a nova PNAD

trouxe a ideias de intersetorialidade, interdisciplinaridade para as ações sobre drogas

no país. Este realinhamento foi aprovado pelo Conselho Nacional Antidrogas

(CONAD) por meio da Resolução nº 03/GSIPR/CH/CONAD, de 27 de outubro de

2005.

Dentre as alterações realizadas, se vislumbrou uma mudança que, embora de

natureza conceitual, foi capaz de dar novo rumo à PNAD. Trata-se da nomenclatura.

Esta foi alterada para Política Nacional Sobre Drogas “já de acordo com as tendências

internacionais, com o posicionamento do governo e com a nova demanda popular”

(BRASIL, 2011, p. 16).Seguindo este mesmo norte, foi sancionada a Lei nº 11.343 de

23 de agosto de 2006, instituindo o Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre

Drogas (SISNAD8), e também prescreveu medidas para prevenção do uso indevido,

atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, isto além e tratar da

parte criminal que será abordada adiante nesta monografia.

8A finalidade do SISNAD é articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com

prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas

Page 25: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

24

Em 2008, outra mudança legislativa alterou o nome do CONAD e da SENAD,

substituindo, em ambas, o termo “Antidrogas” pelo termo “Sobre Drogas” 9, também

com intento de perpetuar as mudanças feitas na PNAD em 2004.Não obstante, as

mudanças na área penal tiveram pouca repercussão prática, não houve diminuição no

consumo de drogas e, muito menos, na violência relacionada ao tráfico; pelo contrário,

o número de encarceramentos só fez aumentar.

Dados do Ministério da Justiça indicam que, em 2006, após a entrada em vigor

da lei de drogas, havia 31.520 pessoas presas por tráfico no Brasil. Já em 2013, esse

número saltou para 138.366, ou seja, aumentou 339%. No ano de 2014, 25% das

prisões de homens estavam relacionadas às drogas, e das mulheres 63%. Ou seja, o

esforço teórico não rendeu resultado prático, pelo contrário só fez aumentar as prisões

por crimes relacionadosàs drogas. (D'AGOSTINO, 2015)

Tendo em vista o fracasso acima o Governo Federal lançou, em 2010, por

meio de Decreto, o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas10

.

Com vistas aos mesmos fins das medidas anteriores, quais sejam: prevenção do uso, ao

tratamento e à reinserção social de usuários, contudo, voltadas para o crack.

Em 2011 ocorreu a transferência da SENAD do Gabinete de Segurança

Institucional, comandado por um general, para o Ministério da Justiça. A intenção do

Governo foi “articular as ações de prevenção e as de repressão ao tráfico, do ponto de

vista cidadão, na qual ações de segurança pública interagem com diferentes políticas

sociais, priorizando as de prevenção do uso de drogas” (BRASIL, 2011, p. 31). Estas

ações deixam clara a intenção de priorizar a prevenção e garantias de direitos em

detrimento à repressão. Contudo, as mudanças são lentas e, existem na maioria das

vezes, apenas na teoria.

9 art. 6º da lei nº 11.754, de 23 de julho de 2008, que altera a lei de organização da Presidência da

República e dos Ministérios.

10 O Plano foi instituído por meio do Decreto Presidencial nº 7.179, de 20 de maio de 2010.

Page 26: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

25

4. O DIREITO E A PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO

4.1. DIREITO CONSTITUCIONAL E A SAÚDE

O direito a saúde se encontra, segundo a doutrina, dentre os direitos humanos

de segunda dimensão, os chamados direitos sociais. Segundo Ramos (2014, p. 56) se

encontram também neste rol o direito a educação, previdência, habitação dentre outros,

tendo influência da doutrina socialista, assim como das lutas sociais na Europa e na

América. Os marcos legais destes direitos são a Constituição Mexicana (1917) e a

Constituição de Weimar (1919).

Ainda segundo o autor, a característica principal destes direitos é a exigência

legal da atuação do Estado, ou de prestação positivas deste para que se pudesse pôr em

prática os direitos de primeira dimensão, principalmente a liberdade e igualdade. A

mera positivação da igualdade (igualdade formal), por exemplo, não era suficiente

para que se pudesse existir uma sociedade igual (igualdade material), existem casos

em que, se o Estado não intervir, não será possível exercer os direitos individuais.

No Brasil, os direitos sociais foram constitucionalmente previstos pela

primeira vez em 1934 no capítulo da “ordem econômica e social”, contudo, apenas em

1988 é que foi criado um capítulo específico para os direitos sociais (arts. 6º a 11, CR)

dentro do Título dos Direitos e Garantias Fundamentais (Martins, 2008, p. 23).

Neste momento, houve também a ampliação do direito à saúde que, nas

constituições anteriores, estava “assegurado ao indivíduo, exclusivamente na condição

de trabalhador” (MARTINS, 2008).Outro ponto importante da proteção constitucional

do direito à saúde está na no art. 23, CR, que estipula que todas as unidades federativas

tem competência para gerir e prestar atendimento à saúde, de forma solidária.

Assim sendo qualquer uma das unidades podem figurar no polo passivo de

uma demanda cujo objeto é a reivindicação de medicamentos por exemplo. Ainda no

tocante à Constituição de 1988, temos, dentro do capítulo da Seguridade Social, quatro

artigos (arts. 196 a 200) abordando especificamente a saúde. Dentre eles, destaca-se o

art. 196, onde consta expressamente que a saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de

Page 27: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

26

doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para

sua promoção, proteção e recuperação.

Assim, como assevera Martins (2008) a saúde foi posta no rol dos direitos

públicos subjetivos oponíveis ao Estado, um “dever-poder”; o que não significa que

este seja o único provedor destes serviços. Isso ficou claro pela Lei Orgânica da

Saúde(Lei 8. 080/90) que atribuiu, outrossim, responsabilidade à família, as empresas

e a sociedade em geral, além de ser permitida a prestação pela iniciativa privada de

forma suplementar (art. 199, CR).

A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) também é mérito da Constituição

da República (art. 200). O SUS possui todo um arcabouço principiológico próprio,

dentre eles podemos destacar o Princípio da Saúde Como Direito; Principio da

Unidade; Princípio da Integralidade do Atendimento; Princípio da Preservação da

Autonomia da Pessoa, vedando tratamentos compulsórios; Princípio da Igualdade;

Principio da Participação da Comunidade, através dos conselhos de saúde; Princípio da

Solidariedade;Princípio da Prevenção ou da Precaução; Princípio da Beneficência;

Princípio do Não-Retrocesso e Princípio da Justiça (Idem).

4.2 TUTELA PENAL DO BEM JURÍDICO

Dentre os bens jurídicos tutelados pelo direito penal a saúde pública está

inclusa. Existe, no Código Penal, um capítulo específico, dentro do Título dos Crimes

Contra a Pessoa, dedicado a periclitação da vida e da saúde (capítulo III); contudo os

crimes de maior relevância estão previsto na Lei nº 11.343 de 2006.

Embora a saúde pública esteja sendo penalmente tutelada, o Direito Penal não

vem se mostrando eficiente para tanto. Esse fato vem sendo percebido pelo legislador

penal, tanto que é possível perceber algumas mudanças legais ocorreram em 1976,

2002 e 2006, no sentido de reconhecer o uso de drogas como uma questão,

primordialmente, de saúde pública em detrimento da criminal. Explica-se.A lei n.

6.368 de 1976, foi o primeiro diploma legal brasileiro a separar a figura do traficante

da do usuário, revogando assim o art. 281 do CP, que dava o mesmo tratamento a eles.

Page 28: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

27

Apesar de a Antiga Lei impor pena restritiva de liberdade para a posse para uso

pessoal, já trazia a ideia de tratamento e recuperação (capítulos I e II).

Em substituição editou-se a Lei n 10. 409 de 2002, chamada Lei de Tóxicos,

considerada um avanço legislativo, mencionando, inclusive, a redução de danos,

porém, justamente a parte que se tratava dos crimes foi vetada, e rediscutida no

Congresso Nacional (GUIMARÃES, 2008).

A Lei nº 11.343 de 2006, segundo Sabbá Guimarães (2008), pouco inovou na

questão do usuário e do dependente. Conquanto, dedicou vários artigos para tratar das

políticas oficiais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários

e dependentes de drogas. O que a difere é substituição da nomenclatura “substância ou

produto capaz de causar dependência física ou psíquica” por drogas, muito mais

abrangente.

O art. 28 da lei de drogas divide opiniões quanto a sua natureza. Luiz Flávio

Gomes (apud GUIMARÃES, 2008) defende que a posse de drogas para consumo

pessoal deixou de ser crime no sentido técnico, sem, contudo, ocorrer a legalização ou

despenalização, pois ainda haveria as penas alternativas e considerando também que a

posse para uso permaneceu no capítulo referente aos crimes, o art. 28 seria uma

“infração sui generis”.

O posicionamento jurisprudencial da Suprema Corte Brasileira, resolvendo

questão de ordem reconheceu, no Recurso Extraordinário nº430.105 - RJ,

derelatoriadoMinistroSepúlvedaPertence, que, mesmo não havendo cominação

penaprivativa deliberdade, a possede drogasparausopessoalnãoperdeu anaturezapenal.

EMENTA: I. Posse de droga para consumo pessoal: (art. 28 da L. 11.343/06

- nova lei de drogas): natureza jurídica de crime. 1. O art. 1º da LICP - que

se limita a estabelecer um critério que permite distinguir quando se está

diante de um crime ou de uma contravenção - não obsta a que lei ordinária

superveniente adote outros critérios gerais de distinção, ou estabeleça para

determinado crime - como o fez o art. 28 da L. 11.343/06 - pena diversa da

privação ou restrição da liberdade, a qual constitui somente uma das opções

constitucionais passíveis de adoção pela lei incriminadora (CF/88, art. 5º,

XLVI e XLVII). [...] (RE-QO 430105, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA

PERTENCE, julgado em 13/02/2007, publicado em 27/04/2007, Primeira

Turma).

Page 29: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

28

Por outro, lado Sabbá Guimarães (2008), fazendo uma crítica ao diploma

legal, afirma que o que se tentou fazer foi dar uma “função simbólica” a este artigo

para que a sociedade tenha a sensação de segurança jurídica. Isso por que, ainda de

acordo com o autor, houve a desjudicialização, eis que afastados do procedimento e

das solenidades; despenalização, pois a pena teria pouca ou nenhuma função

preventiva-especial; porém o legislador não teve convicção ou disposição para

articular uma política de descriminalização. Finaliza o autor que o legislador, deixou,

intencionalmente, a solução para o futuro, para a atividade jurídico-penal.

Aproximadamente nove anos depois, pode-se dizer que Sabbá Guimarães

estava certo, ao menos quanto a esta última proposição. Em 20 de agosto de 2015

chegou ao plenário do STF o Recurso Extraordinário nº 635.659, proposto pelo

Defensor Público Geral de São Paulo, cujo objeto era a arguição da

inconstitucionalidade do art. 28 da Lei de Drogas.

A alegação é a de que a criminalização da posse de drogas para consumo

pessoal viola o art.5º, inc. X,daCR, no qual se prevê que “sãoinvioláveisa intimidade, a

vidaprivada, [...]”. Outro argumento levantado foi a ofensa ao princípio da lesividade,

eis que a conduta típica não afetaria bem jurídico alheio.

Até o presente momento não houve julgamento pelo plenário, mas o Relator,

Ministro Gilmar Mendes, já proferiu voto em favor da inconstitucionalidade do art. 28

da Lei nº 11.343 de 2006. Em seu voto, o ministro abordou a crescente tendênciada

aplicação de políticas de redução de danos, com apoio da ONU inclusive, tendo como

principal função mitigar os efeitos negativos do consumo de drogas (legais ou ilegais).

Salientou também que, a declaração da inconstitucionalidade do art, 28, não

seria uma legalização pura e simples de algumas drogas, mas sim o deslocamento do

problema das drogas da seara penal para a saúde pública o que já estaria acontecendo

no Uruguai e alguns estados dos Estados Unidos. Lembrou que este era o espirito

presente na atual Lei de Drogas, que retirou a pena privativa de liberdade do porte de

drogas para uso. Na pratica, todavia, o ideal não se materializou.

Isso porque, na opinião do Ministro, a simples previsão da conduta como

infração de natureza penal e, ainda, sem critérios objetivos para diferenciá-lo do

tráfico, teve resultado péssimos resultados, pois continua tratando usuários como

Page 30: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

29

traficante, o estigmatizando, tornando inócua as medidas de Redução de Danos, dentre

outros, do SISNAD.

O Ministro baseou seu voto em conclusões de pesquisas que vão ao encontro,

também, do nosso trabalho. Ficou demonstrado que a maioria das sentenças de tráfico,

cerca de 80%, decorreram de prisões em flagrante em abordagem na rua, os

apreendidos geralmente sozinhos (60%) e com pequena quantidade de droga

(inferiores a 100g). Ou seja, as condenações não atingem os grandes traficantes,

aqueles que realmente lucram com a distribuição de drogas, não existindo

investigações prévias para que isso aconteça, sendo que apenas em 1,8% das sentenças

mencionam que o acusado guardava relações com o crime organizado.

Não obstante, a maioria destes jovens entre 18 e 29 anos, pardos e negros, com

baixa escolaridade e sem antecedentes criminais que respondem ao processo com

privação da liberdade.O Ministro finaliza seu voto aduzindo que a criminalização do

porte para consumo próprio, bem como a falta de critérios objetivos para diferenciar

usuário de traficante viola o princípio da proporcionalidade, no aspecto da adequação.

4.3 DIREITO ADMINISTRATIVO COMO ALTERNATIVA

Embora reconheçamos que o direito penal não é a melhor ferramenta para se

lidar com o problema das drogas, é certo que a prescrição/uso de drogas necessita-se

sim de regulamentação. Defender a legalização do uso e venda de todas as drogas seria

uma forma simples demais e até ingênua de enfrentar esta questão. Já foi mencionado

neste trabalho que políticas baseadas na liberação total, como ocorreu na Suíça,

também não protegem o bem jurídico de forma satisfatória.

Neste panorama, regulamentações administrativas poderiam substituir a

criminalização de algumas drogas. Embora esta afirmação possa parecer um tanto

quanto abstrata, ressaltamos aqui algumas medidas que já estão em vigor e apresentam

bons resultados a exemplo do cigarro. Proibição de propaganda11

, aumento de

11Lei nº 9.294 de 1996, dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros,

bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas.

Page 31: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

30

impostos e proibição de fumar em determinados locais fizeram com que o consumo de

cigarro diminuísse consideravelmente (UOL NOTÍCIAS, 2013). Até mesmo nos

filmes mais populares é difícil encontrar um protagonista fumante, o que era comum

antigamente, pode-se se dizer que estas medidas promoveram uma mudança cultural.

Alguns países já estão desenvolvendo políticas neste sentido, importante

ressaltar que nem sempre são completamente exitosas, considerando que o tema é

polêmico e controvertido eque não há parâmetros anteriores. Esse é o caso de Portugal,

onde a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal em 2001 e, desde então,

medidas administrativas como restrição do exercício de determinadas atividades,

multas e o encaminhamento para tratamento e troca de seringas vem sendo aplicadas.

Estas sanções são aplicadas para aqueles que são flagrados com quantidade de

droga superior a 10 dias de consumo, o que está objetivamente previsto em lei, são

encaminhados para uma comissão composta por um assistente social, um psiquiatra e

um advogado, esta comissão decidira se a condutaconfigurará tráfico ou apenas uso

(SENADO FEDERAL).

As medidas não resolveram o problema instantaneamente. Pesquisa de

2010 apontou um pequeno aumento no uso de drogas em Portugal, contudo, na mesma

proporção de países que não descriminalizaram. Também houve redução de 71% nos

diagnósticos de HIV/Aids em UDIs (Idem). Veja-se, o fato de que o uso de drogas

manteve-se estabilizado (por vezes as pesquisas apontam redução de consumo), por si

só já indica que a tutela penal era ineficiente, sendo que hoje, pare do dinheiro que era

investido no poder judiciário pode ser investida em ações de promoção a saúde.

Page 32: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

31

5. ALGUMAS ESTRATÉGIAS DE REDUÇÃO DE DANOS

5.1 PROGRAMA BRAÇOS ABERTOS

O programa de braços abertos foi desenvolvido pela prefeitura de São Paulo -

SP, em janeiro de 2014 especialmente voltado para dependentes de crack e cocaína

que se reuniam em uma região específica da cidade chamada região da Luz. O habito

de usuários se reunirem para consumir drogas, mais especificamente o crack, se

iniciou em 1995, o que motivou a denominação da região de “Cracolândia” pelos

jornais (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2015).

Agentes da prefeitura vão até onde estão os dependentes e os oferece moradia

em hotéis, três refeições diárias, oportunidade de emprego com renda de R$ 15,00

(quinze reais) por dia, além da participação e acompanhamento em tratamento contra

dependência química, atendimento odontológico emissão de documentos etc.Em

outubro de 2014 dos 513 participantes cadastrados, 122 iníciaram de forma voluntária

ao programa contra vício; 260 trabalhavam na varrição de ruas; 49 trabalham junto a

órgão municipais; 25 participavam de curso de capacitação; e 23 trabalhavam fora do

Programa12

.

Na questão do consumo de drogas pode-se perceber diminuição no consumo

de crack, antes os participantes usavam de 10 a 15 pedras por dia, após o Programa

passaram a consumir 5 pedras diárias, ou seja, houve redução de 50% a 70% segundo

os relatos.

Atualmente ainda existe fluxo de usuários na região, porém o espaço foi

reduzido a uma esquina. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde aproximadamente

300 pessoas circulam por dia neste local, o que significaria uma redução de 80%

quando comparados às 1.500 de antes doPrograma. A Secretária também pontuou que

a esta intervenção pública na área, também impactou na segurança pública, pois a

Polícia Militar registrou diminuição de 80% nos roubos de veículo e de 33% no furto a

pessoas, além de efetuar número maior de prisões por tráfico de drogas. (Idem)

12No início de 2015 o número de participantes diminuiu uma pouco, foi para 453 participantes, porém com

proporções parecidas no tocante aos usuários que trabalham.

Page 33: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

32

É certo que o foco do programa “de braços abertos” não era a redução da

criminalidade ou eliminar a presença indesejada usuários de crack daquele perímetro;

contudo, a partir do momento em que as pessoas passaram a ser tratadas com

dignidade as ações se refletiram as outras áreas, como a segurança pública.Não

obstante alguns setores da mídia, que representam parte da população brasileira, são

contrários ao programa que por vezes é chamado de “bolsa crack”, por vezes pedindo

intervenção do Ministério Público como outrora. Com ameaças a tom de “ele ainda

meterá uma Cracolândia na porta de sua casa.” (AZEVEDO, 2005) a discussão acaba

por se tornar política, deixando os resultados de lado.

Para eles o tratamento contra drogadição deve ser imposto como condição

para receber benefícios com a alimentação diária e a hospedagem, ou seja, defendem

uma prática semelhante a internação compulsória voltada exclusivamente à

abstinência. Também não concordam com o fato de se dar dinheiro aos participantes

do programa (contraprestação pelo trabalho de R$ 15,00 por dia), pois este dinheiro

seria um financiamento ao tráfico de drogas devendo os responsáveis pelo Programa

serem presos pela prática deste crime.

Não se está aqui querendo defender o direito de usar drogas, mais sim

demonstrar a população em geral que se uma pessoa dependente de drogas usa 15

pedras de crack/dia e depois da intervenção estatal passa a consumir cinco pedras,

houve sim um avanço na situação em que se encontra. Mesmo que, ao entrar no “de

braços abertos”, esta pessoa não se torne, automaticamente, o modelo ideal de cidadão

“pagador de impostos” que habita a mente dos críticos, os seus direitos fundamentais

foram, satisfeitos e um passo em direção a autonomia individual foi dado.

5.2 DISTRIBUIÇÃO DE KITS PARA CONSUMO SEGURO DE DROGAS

Os kits acima mencionados são compostos por um cartão de plástico, dois

canudos de silicone, material informativo sobre hepatites virais, HIV/Aids e outras

DSTs, direitos humanos e materiais para assepsia. Em uma visão preliminar são quase

certas as perguntas: como pode o Estado fornecer este material para um usuário de

crack? Não estaria fomentando o uso, piorando a situação? Não seria melhor dar,

Page 34: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

33

apenas uma orientação sobre os danos que a droga pode causar, encaminhando para

um hospital?

Como resposta temos que, em uma análise meramente formal, ao fornecer

insumos para o uso de drogas, há sim intermediação do Estado no uso de drogas.

Contudo e, este ponto é o mais importante, esta medida não é utilizada para todos os

usuários e sim para os altamente dependentes.

Como é cediço, a população de rua, ainda mais os que dependem do uso de

drogas, é tida como invisíveis pelo cidadão comuns, isso não só por sentimento de

desprezo de alguns, mas também pela impossibilidade de se fazer algo que de fato

possa mudar a vida destas pessoa, às vezes o máximo que a sociedade pode fazer é

oferecer alimentos ou esmola, mesmo sabendo que poderão trocados por álcool ou

drogas.

Ou seja, além de invisíveis, se tornam de difícil aproximação, mas isso não

ilide o fato de que eles são sujeitos de direitos como qualquer outra pessoa. O Estado

tem o dever de intervir de alguma forma na vida destas pessoas. Por vezes a orientação

de um agente de saúde, sozinha, pode não surtir grande efeito, mas, partir do momento

de que a pessoa percebe que os seus direitos são mais importantes de que a sua

condição de dependente de drogas, há sim uma prestação positiva do Estado. Por

obvio que esta é uma medida preliminar e deve ser seguida por outras, a longo prazo,

como o acompanhamento pelo CAPS AD e assistência social.

Há ainda quem defenda a internação compulsória para os casos mais graves,

pois assim o usuário passaria pela abstinência obrigatoriamente. Não nos parece a

melhor alternativa. Veja-se, a internação, tanto voluntária quanto a compulsória, não

deixa de ser uma medida possível para casos de dependência de drogas. Contudo a

internação compulsória não deve ser banalizada, pois atinge direitos

constitucionalmente protegidos, notadamente a liberdade.

Este entendimento encontra respaldo na Lei nº10.216 de 2001, que dispõe

sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Esta Lei

ainda prevê três formas de internação: a voluntária; a involuntária, a pedido de

terceiro; e a compulsória determinada pela justiça (art. 6º). Nas duas primeiras o

Ministério Público deverá ser comunicado em 72 horas. Em todas as modalidades é

Page 35: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

34

imprescindível laudo médico circunstanciado dos motivos da internação e que os

recursos hospitalares tenham sido esgotados.

A jurisprudência também entende desta forma, destacamos os seguintes

julgados do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sobre a importância dos

requisitos da internação compulsória.

[...]. - A ausência de prévia demonstração da insuficiência dos recursos

extra-hospitalares e da apresentação de laudo médico circunstanciado

impede a internação compulsória (Lei 10.216/01, arts. 4º e 6º)[...] (TJ-

MG - AI: 10481130152871001 MG , Relator: Alyrio Ramos, Data de

Julgamento: 18/09/2014, Câmaras Cíveis / 8ª CÂMARA CÍVEL, Data

de Publicação: 29/09/2014)

[...]1. Considerando-se a medida gravosa de internação compulsória é

imprescindível considerar se foram esgotadas todas as medidas

ambulatoriais disponibilizadas pelo SUS, nos termos das políticas

públicas de saúde estabelecidas nas leis nº 10.216/2001 e nº 11802/

1995. 2. Não se observa nos autos qualquer relatório médico que

corrobore que o paciente já tenha recebido atendimento nos centros

Centros de Referência em Saúde Mental - Cersam Álcool e Drogas do

município. [...] (TJ-MG - AI: 10005130031031001 MG , Relator:

Rogério Coutinho, Data de Julgamento: 09/10/2014, Câmaras Cíveis /

8ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 20/10/2014)

Não obstante, há setores que defendam esta intervenção como prima ratio,

ignorando o fato de que a internação é temporária e certamente a pessoa, se não tiver

forças e autonomia para manter a abstinência, voltará para os vícios sem que de nada

valha a imposição de medida tão gravosa.Ademais, esta medida pode estar escondendo

um desejo de retirar da cidade aqueles que a enfeiam os pontos turísticos, aqueles que

nos lembram que existe sim um abismo social em nosso país.

5.3 REDUÇÃO DE DANOS NO SISTEMA PRISIONAL

O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário foi lançado em 200313

,

nele foi previsto a inclusão de presos a qualquer título, no Sistema Único de Saúde

inclusive os que cumprem Medida de Segurança. Na verdade o direito a saúde desta

13Por meio de Portaria Interministerial nº1. 777 de 9 de setembro de 2003.

Page 36: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

35

população já era garantido pela Constituição da República, e também pela Lei de

Execução Penal n.º 7.210, de 1984 (dentre outros), mas o Plano serviu como uma

forma de reafirmar o direito a saúde.

Dentre as medidas o Plano contempla a distribuição de insumos para a

redução de danos associados ao uso de drogas, também prevê a distribuição de um Kit

de Redução de Danos (item V, anexo A).Discute-se ainda a possibilidade de

destinação de um local para uso seguro de drogas lícitas e ilícitas, que, segundo

Ribeiro (2013), já vem sendo implantadas em outros países como Alemanha, Espanha,

Portugal, Canadá e Austrália.

5.4 PROJETO ENTRE VIDAS - CURITIBA

A prefeitura de Curitiba também desenvolve ações de Redução de Danos por

meio da Secretaria Municipal se Saúde. Trata-se de um ônibuscuja lateral se

transforma em um palco, o veículo estaciona na Praça Osório, a partir das 18h30min e

lá são desenvolvidas atividades com psicólogos, terapeuta ocupacional e educadores.

Em seis meses cerca de 320 moradores de rua foram atendidos pelo projeto que não

visa atendimento médico, mas sim desenvolver atividades recreativas como jogos,

conversas contação de histórias, por certo que estas medidas buscam a aproximação

dos CAPS AD (FERNANDES, 2015).

Page 37: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

36

5. CONCLUSÃO

Tendo como norte o já mencionado neste trabalho, conclui-se que a Redução

de Danos não é estimulo ao consumo de drogas, pelo contrário, esta política se

configura como um real instrumento de proteção à saúde, ao tirar o foco da atuação

estatal das drogas e do crime, pois estes são secundários em relação ao seu objetivo

principal, qual seja a saúde pública.

A redução de danos é mais barata do que as outras formas de intervenção,

como a internação compulsória, ou que medidas penais aplicadas pelos Juizados

Especiais. Estas estruturas, além do alto investimento em pessoal e espaço físico não

têm apresentados resultados significativas. Isto além da limitação de direitos impostas,

a primeira retira a liberdade e a segunda o direito a diferença.

Neste contexto, a criação dos CAPS AD, por meio da Reforma Psiquiátrica

surgiu como uma alternativa a internação. Ademais, as lutas do movimento

antimanicomial guardam estreita relação com a redução de danos, pois também

defendem que as pessoas portadoras de doenças mentais, assim como é considerada a

dependência de álcool e drogas, têm direito a conviver em sociedade, vale dizer, seu

comportamento singular não pode ensejar sua exclusão ou isolamento em clinicas,

resguardando-se os casos excepcionais.

O arcabouço principiológico do Sistema Único de Saúde, que encontra

respaldo na Constituição da República, também podem ser usado como base dessa

Política, notadamente o Princípio da Saúde Como Direito; Princípio da Preservação da

Autonomia da Pessoa, Princípio do Não-Retrocesso e Princípio da Justiça.

A Política Nacional Sobre Drogas dá sinais de mudanças na direção da

redução de danos, muito embora estes sinaissejam majoritariamente conceituais como

a alteração do termo Antidrogas para os termos Sobredrogas. O mesmo ocorre na seara

penal, percebemos que houve sim nos últimos diplomas legais em 1976, 2002 e 2006,

uma tentativa de diminuir a penalização do usuário de drogas, mais não atingiu seu

objetivo. Na verdade depois dela o número de encarceramento entre 2006 e 2013

aumentou 339% (D'AGOSTINO, 2015).

Page 38: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

37

Concordamos com Sabbá Guimaraes (2008) quando afirma que o art. 28 da lei

de drogas tem efeito meramente simbólico. Da mesma forma como somos

favoráveisàdelação de inconstitucionalidade do referido artigo. Este ato do poder

judiciáriodará maios legitimidade às estratégias de Redução de Danos, pois não exigir

abstinência de um usuário ainda traz para alguns ares de ilicitude. Ademais, medidas

como prescrição de determinadas drogas a alguns casos poderão, ao menos serem

discutidas abertamente.

Adotar uma postura reducionista não significa em nenhum momento

conivência ao tráfico de drogas, pois como vimos a não intervenção é tão prejudicial

quanto à liberação total de todas estas substâncias. Ocorre que outras medidas do

direito administrativo podem ser tão eficazes quanto o Direito penal, e principalmente,

não submeter o usuário ao sistema penal, já conhecido pelo poder de estigmar às

pessoas.

Page 39: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

38

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Reinaldo. A Cidade de Haddad – Ou: O Triunfo Da Morte. Ou Ainda:

Haddad, O Barqueiro Do Inferno. Veja. São Paulo. Publicado em 29 abr. 2015.

<http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/cracolandia/>. Acesso em 25 jul. 2015.

BATISTA, Nilo. Introdução Critica ao Direito Penal. 20. ed. Rio de Janeiro: Revan,

1990.

BERRIDGE, Virginia. Minimización Del Daño Y Salud Pública: Una Perspectiva

Histórica. In:HEATHER, Nick; WODAK, Alex; NADELMANN, Ethan; O‟HARE,

Pat. La Cultura de Las Drogas en La Sociedad Del Riesgo. Barcelona: Grup Igia,

2004. Disponível em

<http://www.pnsd.msssi.gob.es/Categoria2/publica/pdf/CulturaDrogas.pdf>Acesso em

10 jul. 2015.

BRASIL. Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso

em 27 set. 2015.

BRASIL. Lei nº 10. 409 de 11 de janeiro de 2002. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10409.htm>. Acesso em 27 jan. de

2015.

BRASIL. Lei nº 6.368 de 21 de outubro de 1976. Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6368.htm>. Acesso em 27 jan. de 2015.

BRASIL. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Integração de competências no desempenho

da atividade judiciária com usuários e dependentes de drogas. Secretaria Nacional de

Políticas sobre Drogas. Brasília, DF, 2011. Disponível

<http://www.tjmt.jus.br/INTRANET.ARQ/CMS/GrupoPaginas/105/988/Curso_de_Int

egra%C3%A7%C3%A3o_de_Compet%C3%AAncias_no_Desempenho_da_Atividade

_Judici%C3%A1ria_com_Usu%C3%A1rios_e_Dependentes_de_Drogas.pdf>. Aceso

em 27 set. 2015.

______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional de Saúde no Sistema

Penitenciário. 2 ed. Brasilia, DF: Secretaria de Atenção a Saude, 2005. Disponível em

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_nacional_saude_sistema_penitencia

rio_2ed.pdf>. Acesso em 25 jul 2015.

______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Reforma Psiquiátrica e política de saúde mental

no Brasil. Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos

depois de Caracas. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2005. Disponível em

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf>. Aceso

em 27 set. 2015.

Page 40: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

39

______. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Legislação e Políticas Públicas sobre

Drogas. Brasília, DF: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010.

______. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Política Nacional Antidrogas. Brasília,

DF: Secretaria Nacional Antidrogas, 2003. Disponível em

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PNAD_VersaoFinal.pdf>. Aceso em 27

set. 2015.

CENTRO DE CONVIVÊNCIA É DE LEI. O Que é Redução de Danos? Disponível

em <http://edelei.org/pag/reducao-danos>. Acesso em 03 jul. 2015.

CHAPPELL,Duncan; REITSMA,Tjibbe; O‟CONNELL, Derek; STRANG, Heather.

El Cumplimiento De La Ley Como Estrategia De Reducción Del Daño En Rotterdarm

Y Merseyside. In:HEATHER, Nick; WODAK, Alex; NADELMANN, Ethan;

O‟HARE, Pat. La Cultura de Las Drogas en La Sociedad Del Riesgo. Barcelona: Grup

Igia, 2004. Disponível em

<http://www.pnsd.msssi.gob.es/Categoria2/publica/pdf/CulturaDrogas.pdf>Acesso em

105 jul. 2015.

D'AGOSTINO, Rosanne. Com Lei De Drogas, Presos Por Tráfico Passam De 31 Mil

Para 138 Mil No País. Artigo publicado no Site G1, em 24 de junho de 2015

<http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/06/com-lei-de-drogas-presos-por-trafico-

passam-de-31-mil-para-138-mil-no-pais.html>. Acesso em m 10 set. 2015.

SOLOVIEV, Vinicius Ricardo. A Questão das Drogas Sob a Ótica do Direito da

Infância e da Juventude. Monografia. UFPR. Disponível em

<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31366/VINICIUS%20

RICARDO%20SOLOVIEV.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em 28 ago.

2015.

DUARTE, Danilo Freire. Uma Breve História do Ópio e dos Opióides. Artigo

publicado na Revista Brasileira de Anestesiologia Vol. 55, 2005. Disponível em

<http://www.scielo.br/pdf/rba/v55n1/v55n1a15.pdf>Acesso em 25 jul. 2015.

EICHELBERGER, Michele. O Que Pode a Redução De Danos? Videz-Vous De Tous

Vos Clichés: O Graffiti Como Produção De Saúde. Dissertação. Campinas:

UNICAMP, 2012. Disponível em

<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000863387>. Acesso em

11 jul.2015.

FEFFERMANN, Marisa; FIGUEIREDO, Regina. Redução de Danos como Estratégia

de Prevenção de Drogas entre Jovens. In: SÃO PAULO (ESTADO). BIS – Boletim do

Instituto de Saúde Nº 40. São Paulo: Instituto de Saúde, 2006.

FONSECA, Elize Massard da. Políticas de Redução de Danos ao Uso de Drogas: O

contexto internacional e uma análise preliminar dos programas brasileiros.

Page 41: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

40

Disertação. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2005. Disponível em

<http://thesis.icict.fiocruz.br/lildbi/docsonline/pdf/fonsecaemm.pdf>. Acesso em 10

jul.2015.

MARTINS, Wal. Direito à Saúde: Compendio. Belo Horizonte: Fórum, 2008.

MENDES, Gilmar. Voto no Recurso Extraordinário nº 635.659 de São Paulo.

Disponívelem<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE635659.p

df> Acesso em 30 ago. 2015.

MESQUITA, Fabio. A Perspectiva da Redução de Danos. Disponível em

<http://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/4746-A-perspectiva-da-

redu%C3%A7%C3%A3o-de-danos-> Acesso em 21 nov. 2014.

MYTEDOM. Farmaceutico responsável Dr. José Carlos Módolo. São Paulo: Cristália

Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, 2014. Bula de Remédio.

QUEBRANDO O TABU. Direção: Fernando Grostein Andrade. Produção: Fernando

Menocci, Silvana Tinelli e Luciano Huck. Spray Filme, 2011. Duração 1h20min.

Português/legendado. Disponível em

<https://www.youtube.com/watch?v=tKxk61ycAvs>. Acesso em 07 jul. 2015.

PREFEITURA DE SÃO PAULO. Programa "De Braços Abertos" completa um ano

com diminuição do fluxo de usuários e da criminalidade na região. Disponível em

<http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/5240#ad-image-0>. Acesso em 25 jul.

2015.

REGHELIN, Elisangela Melo. Redução de Danos: Prevenção ou Estimulo ao Uso

Indevido de Drogas Injetáveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014.

RIBEIRO, Maurides de Melo. Drogas e Redução de Danos: os Direitos das Pessoas

Que Usam Drogas. São Paulo: Saraiva, 2013.

RIBEIRO, Maurides de Melo; RIBEIRO, Marcelo. Política mundial de drogas

ilícitas: uma reflexão histórica. Artigo. Rio de Janeiro: ABEAD (Associação

Brasileira De Estudos Se Álcool e Outras Drogas), 2008.

Disponívelem<http://www.abead.com.br/boletim/arquivos/boletim41/ribeiro_e_ribeiro

_poltica_mundial_de_drogas.pdf>. Acesso em 11 jul.2015.

SABBÁ GUIMARÃES, Issac. Nova lei Antidrogas Comentada. 2ª ed. Curitiba: Juruá,

2008.

Page 42: POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E A QUESTÃO ... - TCC …tcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/POLITICA-DE-REDUCAO-DE-DANOS-E... · A Redução de Danos, de acordo com a doutrina (REGHELIN,

41

SANTA CATARINA. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE. DIRETORIA DE

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. ABC Redução de Danos. Florianopolis: SES,

2010.

SENADO FEDERAL. As Drogas em Portugal. Disponível em

<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-quimica/mundo-

e-as-drogas/as-drogas-em-portugal.aspx>. Acesso em 30 ago.2015.

SOLOVIEV, Vinicius Ricardo. A Questão das Drogas Sob a Ótica do Direito da

Infância e da Juventude. Monografia. Disponível em

<http://dspace.c3sl.ufpr.br:8080/dspace/bitstream/handle/1884/31366/VINICIUS%20

RICARDO%20SOLOVIEV.pdf?sequence=1>. Acesso em 30 set 2014.

SOUZA, Tadeu de Paula. A Norma Da Abstinência E O Dispositivo “Drogas”:

Direitos Universais Em Territórios Marginais De Produção De Saúde (Perspectivas

Da Redução De Danos). Tese de Doutorado. Campinas: UNICAMP, 2013. Disponível

em<http://www.observasmjc.uff.br/psm/uploads/A_NORMA_DA_ABSTIN%C3%8A

NCIA_E_O_DISPOSITIVO_%E2%80%9CDROGAS%E2%80%9D.pdf>. Acesso em

10 jul.2015.

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos do Direito Penal. 5. ed, 10ª tiragem.

São Paulo: Saraiva. 2002

UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. O UNODC e a Resposta às

Drogas. Disponível em <https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/drogas/marco-

legal.htmls/>. Acesso em 29 ago. 2015.

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ. Normas Técnicas: Elaboração e

Apresentação de Trabalhos Acadêmico-Científicos. 3. ed, Curitiba: Universidade

Tuiuti do Paraná, 2012.

OUL NOTÍCIAS. Consumo de tabaco caiu 20% no país em 6 anos, mas aumentou

110% na classe A. Disponível em http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-

noticias/redacao/2013/12/11/uso-de-tabaco-caiu-20-no-pais-em-6-anos-mas-

aumentou-110-na-classe-a.htm. Acesso em 29 set. 2015.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Editora

Martim Claret, 2011.