políticas de combate à pobreza e de distribuição de renda · o microcrédito não é uma...
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Desenvolvimento socioeconômico: teoria e aplicações
Políticas de combate à pobreza e de
distribuição de renda
Benerjee e Duflo (2006 e 2011); Bardhan (2013); Atkinson (2015).
Aula 6 - Valéria Pero
Little, big
A nova economia do desenvolvimento mudou em duas direções muito
diferentes:
1) Little: Intervenções políticas em nível micro, com ferramentas de
experimentos aleatórios para avaliar as estratégias voltadas para a
redução da pobreza persistente.
2) Big: Macro-Institucional, em que estruturas da democracia, poder
descentralizado e as proteções legais da propriedade e dos
contratos organizam a política e os mercados.Aborda grandes e
velhas questões históricas, como por que alguns países
conseguiram a marcha para a prosperidade, enquanto outros
padecem.
Daron Acemoglu, James Robinson:
sucesso ou fracasso das Nações variam de acordo com a capacidade
"inclusiva" de suas instituições políticas e econômicas.
Entre as instituições políticas inclusivas estão a centralização política (um
estado que funcione bem, com coesão social) e uma distribuição pluralista do
poder político.
Instituições econômicas inclusivas para permitir ampla participação nas
atividades econômicas, garantida com direitos de propriedade bem definidos
e assegurados e de entrada de novos negócios, e proporcionar condições de
concorrência equitativas e sistema imparcial de direito.
Embora a teoria seja muito geral, a história não é determinista:
contingências, pequenas diferenças, e momentos críticos
influenciam quando e onde as instituições inclusivas surgiram.
Big: Economia política macro institucional
A simplicidade é uma grande virtude teórica, porém Acemoglu
e Robinson têm tomado esta virtude em excesso.
Enfatiza as sinergias entre as diferentes dimensões da
inclusão política e econômica. Se descompactar a inclusão,
no entanto, podemos decifrar algumas tensões interessantes
dentro do conjunto.
Por exemplo, a inclusão econômica requer assegurar direitos
de propriedade. Mas a inclusão política, com a sua
distribuição pluralista do poder político e ampla participação,
nem sempre pode garantir os direitos de propriedade de uns
poucos contra invasores.
O Estado de direito, parte da política de inclusão, muitas vezes é
um instrumento usado para proteger os proprietários do sem
propriedade, reforçando assim a exclusão econômica.
Big: Economia política macro institucional
A fim de reconhecer essas nuances importantes,
Acemoglu e Robinson "referem-se às instituições
políticas que são suficientemente centralizadas e
pluralistas como instituições políticas inclusivas"
Isto não é satisfatório. "Suficientemente" preserva a
aparência de simplicidade teórica, deixando a porta
aberta para a circularidade.
Chamamos instituições "politicamente inclusivas" quando
elas incluem o suficiente para produzir o
desenvolvimento.
Big: Economia política macro institucional
Acemoglu e Robinson: crescimento era simplesmente
um produto de centralização política mais algumas
instituições de apoio ao mercado e inclusão econômica.
Experiência asiática: o desenvolvimento econômico
desses países não foi baseado apenas em instituições
com direitos de propriedade assegurados para fazer
cumprir contratos – sem dúvida, muito importante para o
investimento a longo prazo, mas em um estado com um
papel mais afirmativo.
Big: Economia política macro institucional
Os estados ajudaram a promover a coordenação,
particularmente em mercados financeiros em estágios iniciais
de industrialização.
Por exemplo, o Estado iria subscrever riscos de investimento,
facilitar as decisões de investimento em redes
interdependentes orquestradas de produtores e fornecedores
(em aço, construção naval, automóveis), estabelecem os
bancos nacionais de desenvolvimento e outras instituições de
financiamento industrial de longo prazo, e empurram as
empresas para atualizar sua tecnologia e avançar em setores
que se encaixam com uma visão nacional das metas de
desenvolvimento.
Permitir e incentivar a coordenação é fundamentalmente
diferente de proteger os direitos de propriedade.
Big: Economia política macro institucional
Besley e Persson se concentram nas capacidades legais
e fiscais dos estados e de seus efeitos para conter a
violência interna.
Os autores descobriram que essas capacidades estão
relacionadas por determinantes comuns,
complementariedades inerentes
Exemplo: se Estado é bom em manter a paz interna,
pessoas estão mais dispostos a pagar os impostos, mais
impostos podem financiar um sistema jurídico melhor, e
um melhor sistema legal ajuda a manter a paz.
Big: Economia política macro institucional
Modelos teóricos de Besley e Persson:
explorar os incentivos dos líderes para a construção de capacidades do Estado e as formas em que os adversários reagem.
Prosperity Index (PPI) para cada país, a capacidade do Estado fiscal e legal, a paz social (falta de guerra civil ou repressão), e renda per capita em 150 países.
PPI correlaciona-se positivamente com variações de condições, tais como restrições sobre o poder do executivo e a homogeneidade étnica.
Isto sugere que a homogeneidade social e poder executivo limitados por freios e contrapesos democráticos são bons para prosperidade e paz.
Surpreendentemente a Índia surge como um outlier . China também...
Big: Economia política macro institucional
Little: experimentos sociais
Banerjee e Duflo: em vez de oferecer princípios
grandiosos, atenção direta para a vida das pessoas mais
pobres, em toda a sua complexidade.
Com base nos resultados de experimentos de campo:
isolar restrições concretas que os pobres enfrentam. Por exemplo:
não têm informações básicas sobre os benefícios da imunização infantil e nutrição,
os perigos do excesso de medicação,
os riscos de infecção pelo HIV,
bem como a qualidade dos políticos que disputam a eleição.
Além disso, os pobres sofrem com as fraquezas humanas habituais, intensificadas pelas
pressões especiais de suas vidas opressivas... Como colocar suas habilidades de
tomada de decisão?
Little: experimentos sociais Das várias conclusões, dois programas de maior benefício-
custo:
desparasitação em crianças nas áreas onde os vermes intestinais
são altos e
educação de apoio para as crianças pobres.
Karlan e Appel : histórias de interesse humano mais detalhadas e
um foco especial sobre microcrédito.
O microcrédito não é uma panacéia, mas que gera benefícios reais
em alguns casos.
Mesmo quando as taxas de retorno sobre o investimento são altas,
não há muitos mutuários, e assim o impacto dos empréstimos é
pequeno
Em muitos casos, os pobres podem ser ajudados mais por micro-
seguro/poupança e do que por microcrédito
Little: experimentos sociais Banerjee, Duflo, Karlan e Appel: grupos de tratamento e de
controle
Esta abordagem fornece uma maneira relativamente limpa de decifrar o impacto médio de uma intervenção política.
Exemplo: em estudos mais antigos de poupança, um novo plano de poupança pode ter sido visto como eficaz porque as pessoas com predisposição para poupar decidiram usar o plano. Mas, se o plano não estivesse disponível, poderiam ter poupado de alguma outra maneira.
Avaliação de impacto, portanto, parece evitar alguns dos problemas de viés de seleção que geram distúrbios nos estudos estatísticos mais antigos em economia do desenvolvimento.
A inovação metodológica não significa, contudo, justificar sua superioridade.
5 problemas:
1. difícil garantir a verdadeira aleatoriedade na criação de grupos de tratamento e controle. Impurezas podem permanecer com problemas de participação e de implementação do programa.
2. desafios à sua generalização ou "validade externa.” Estudos estatísticos antigos com base em amostras regionais geram conclusões mais generalizáveis. Nenhum método tem o monopólio da correção.
3. Limitados para muitas questões políticas importantes (não pode executar experimentos , a fim de decidir onde colocar usinas de energia). Ainda que a intervenção política funcione em um piloto em pequena escala, devem ser consideradas as repercussões econômicas e políticas quando é implementada regionalmente ou nacionalmente. Qual será o seu impacto em outros mercados e a economia macro?
E o que acontece quando uma política, uma vez manipulados experimentalmente por uma ONG local é ocupado para a implementação em larga escala por uma burocracia nacional?
Little: experimentos sociais
5 problemas:
4. mostra apenas o impacto médio: a intervenção política pode ser
muito útil para algumas pessoas e não para outras (assim como um
teste de remédio). Uma das perguntas padrão da economia política,
no entanto, diz respeito a quem ganha e quem perde com uma
determinada política. Não pode responder a essa pergunta de
distribuição.
5. Mesmo quando mostra de forma clara que A causa B, não sabe
bem o mecanismo pelo qual ele funciona. No entendimento de
mecanismos alternativos através dos quais A pode ter causado B , a
teoria tem de desempenhar um papel mais importante na economia
empírica do que os experimentalistas têm atribuído a ele...
Little: experimentos sociais
Big: Economia política macro-institucional. Desde North, atenção para a importância histórica das instituições de grande escala, regressões estatísticas entre os países que exploram a relação entre instituições e desenvolvimento tornou-se a moda.
Daron Acemoglu, James Robinson: sucesso ou fracasso das Nações variam de acordo com a capacidade "inclusiva" de suas instituições políticas e econômicas. Entre as instituições políticas inclusivas estão a centralização política (um estado que funcione bem estabelecendo a ordem coesa) e uma distribuição pluralista do poder político. Instituições econômicas inclusivas para permitir ampla participação nas atividades econômicas, garantida com direitos de propriedade bem definidos e assegurados e de entrada de novos negócios, e proporcionar condições de concorrência equitativas e sistema imparcial de direito.
Embora a teoria seja muito geral, a história não é determinista: contingências, pequenas diferenças, e momentos críticos influenciam quando e onde as instituições inclusivas surgiram.
Little, big
Desigualdade: o que deve ser feito?
2ª parte do livro:
15 propostas de ação
Estado como investidor da mudança
tecnológica
Proposta 1: O norte da mudança tecnológica deveria ser
a preocupação explícita dos formuladores de políticas,
no sentido de encorajar a inovação, de maneira a
aumentar a empregabilidade dos trabalhadores e
enfatizar a dimensão humana da oferta de serviços
• Diagnostico
• Tecnologia robótica, ou progresso tecnológico em geral, surge de
decisões conscientes sobre o investimento a ser feito
• Decisões que apoiem inovação – financiamento, licenciamento,
regulamentação, compras ou educação -, o governo deveria
considerar implicações distributivas
Estado como investidor da mudança
tecnológica
Emprego público e mudança tecnológica
Inovação vista como aumenta da produtividade do capital e
do trabalho. Em todos os setores?
Efeito Baumol – produtividade cresce mais lentamente em
alguns setores, por ex setor público, fazendo com que o
custo relativos dos serviços públicos (atendimento médico,
educação, administração pública) aumenta com o tempo,
criando problemas fiscais.
A produtividade do serviço público depende tanto da
atividade (dar aula ou tratar dor) quanto do valor atribuído
à atividade
Sentido da mudança tecnológica deveria buscar aumentar
a produtividade nesses setores intensivos em trabalho
Estado como investidor da mudança
tecnológica
Emprego público e mudança tecnológica
Investimentos não só em infraestrutura mas igualmente em
capital humano
Considerações sobre equidade intergeracional e menor
crescimento do padrão de vida refletiria na valorização do
trabalho daqueles facilitam o investimento em capital
humano, como a administração pública
“A conquista de uma sociedade equitativa depende de um
nível considerável de efetividade na administração pública
e da qualidade de suas interações com os cidadãos.”
“ Uma administração repressiva pode ser mais barata, mas uma
sociedade justa precisa garantir que suas operações – tributação,
gastos, regulamentação e legislação – sejam honestas,
transparentes e aceitas. Isso exige recursos”
Estado como investidor da mudança
tecnológica
Emprego público e mudança tecnológica
Importância da eficiência do governo foi reconhecida, falta
a incluir a dimensão da equidade.
Ao contrabalançar economias geradas por avanços
tecnológicos e a perda de capital humano, o governo
deveria proteger as pessoas desfavorecidas, não só
materialmente como em sua relação com as novas
tecnologias.
“quem enfrenta dificuldade são os que mais precisam que
administração pública mostre sua face humana”
Poder compensatório
Distribuição dos ganhos do crescimento econômico
Níveis de desigualdade são alto demais e esse resultado
reflete o fato de que o equilíbrio de poder sobrecarrega
consumidores e trabalhadores
Tirole: a ciência de domar empresas poderosas
Metas de responsabilidade social?
Problemas de empresas com acionistas em mundo
globalizado...
Arrow elenca formas de responsabilidade social: regulamentação
legal, tributação, obrigação legal nos tribunais civis e códigos
éticos (comportamento apropriado).
Tal código pode levar a comportamentos diferentes, com
resultados distributivos mais igualitários
Marco legal e os sindicatos Viés pro capital nas regras e instituições legais nos EUA
Declínio da filiação sindical e mudar essa direção
Proposta 2: As políticas públicas deveriam visar a um
equilíbrio adequado de poder entre os interessados e,
para essa finalidade deveriam:
a) Introduzir uma dimensão explicitamente distributiva na
política de concorrência;
b) Garantir um marco legal que permitisse aos sindicatos
representar os trabalhadores em termos estáveis;
c) Estabelecer, onde isso ainda não existe realmente, um
Conselho Econômico e Social que envolva parceiros
sociais e outros órgãos não governamentais.
Pleno emprego e trabalho garantido
Mudanças tecnológicas e no contexto econômico o social
tem consequências sobre emprego
Perseguir máximo de emprego: número de empregos ou
intensidade do trabalho medida por meses de emprego
e/ou horas trabalhadas no mês?
Meta: Minimizar desemprego involuntário
Proposta 3: O governo deveria adotar uma meta
explícita para evitar e reduzir o desemprego e
corroborar sua ambição de oferecer emprego público
com salário mínimo garantido para quem o procurasse.
Seguridade social para todos
Papel importante do estado de bem estar na redução
das desigualdades, garantindo nível mínimo de
recursos para todos os indivíduos
UK: Aumento da desigualdade associada a cortes dos
benefícios de seguridade social. Reverter essa
situação é importante para diminuir desigualdade
Esquema:SI vs AS vs BI
Imposto de renda negativo
Seguridade social para todos
Aumento do peso dos benefícios com comprovação
de renda. Duas falhas: efeito das altas alíquotas marginais criadas pela retirada dos
benefícios condicionados a comprovação de renda, juntamente
com as alíquotas existentes de imposto de renda e as
contribuições para a seguridade social. Armadilha da pobreza
quando não consegue aumentar rendimento líquido...
Nem todos que tem direito ao benefício acabam por solicitá-lo,
falhando em alcançar a cobertura total
Mal entendidos
Burocracia complicada, exigindo muito tempo, e as pessoas são
“pobres de tempo”
Benefício é estigmatizante
Renda básica para as crianças
Benefício infantil substancial é central para programa de
redução das desigualdades
Seria algo complementar aos investimentos em
infraestrutura e serviços de apoio às crianças
Muitos países enfrentam o desafio da pobreza infantil. O
que fazer?
Direcionar para família de baixa renda? Problemas
decorrente das falhas e preocupações relativas à equidade
de gênero e geração
Deve ser pago para todas as crianças
Familias de renda alta devem receber o beneficio, porém
estará sujeito ao imposto de renda, garantindo que as
famílias de menor renda tenham benefício maior
Renda básica para as crianças
Devemos diferenciar famílias com e sem filhos?
Não, porque é uma escolha de vida. Nesse caso, não é
atribuído peso ao bem estar das crianças
Sim, renda familiar deve ser considerada de acordo com a
composição. Contada hoje e importante parte do futuro.
Demanda por equidade intergeracional
Uma das finalidades também é equilibrar a desvantagem
das mulheres
Proposta 3: O benefício infantil deve ser pago a
todas as crianças a um índice substancial e deve
ser tributado como renda.
The 15 Proposals from Tony Atkinson’s ‘Inequality – What can be done?’
Proposal 1: The direction of technological change should be an explicit
concern of policy-makers, encouraging innovation in a form that increases the
employability of workers and emphasises the human dimension of service
provision.
Proposal 2: Public policy should aim at a proper balance of power among
stakeholders, and to this end should
(a) introduce an explicitly distributional dimension into competition policy;
(b) ensure a legal framework that allows trade unions to represent workers on
level terms; and
(c) establish, where it does not already exist, a Social and Economic Council
involving the social partners and other nongovernmental bodies.
Proposal 3: The government should adopt an explicit target for preventing
and reducing unemployment and underpin this ambition by offering
guaranteed public employment at the minimum wage to those who seek it.
Proposal 4: There should be a national pay policy, consisting of two
elements: a statutory minimum wage set at a living wage, and a code of
practice for pay above the minimum, agreed as part of a “national
conversation” involving the Social and Economic Council.
Proposal 5: The government should offer via national savings bonds a
guaranteed positive real rate of interest on savings, with a maximum holding
per person.
Proposal 6: There should be a capital endowment (minimum inheritance)
paid to all at adulthood.
Proposal 7: A public Investment Authority should be created, operating a
sovereign wealth fund with the aim of building up the net worth of the state by
holding investments in companies and in property.
Proposal 8: We should return to a more progressive rate structure for the
personal income tax, with marginal rates of tax increasing by ranges of
taxable income, up to a top rate of 65 per cent, accompanied by a broadening
of the tax base.
Proposal 9: The government should introduce into the personal income tax
an Earned Income Discount, limited to the first band of earnings.
Proposal 10: Receipts of inheritance and gifts inter vivos should be taxed
under a progressive lifetime capital receipts tax.
Proposal 11: There should be a proportional, or progressive, property tax
based on up-to-date property assessments.
Proposal 12: Child Benefit should be paid for all children at a substantial
rate and should be taxed as income.
Proposal 13: A participation income should be introduced at a national
level, complementing existing social protection, with the prospect of an EU-
wide child basic income.
Proposal 14 (alternative to 13): There should be a renewal of social
insurance, raising the level of benefits and extending their coverage.
Proposal 15: Rich countries should raise their target for Official
Development Assistance to 1 per cent of Gross National Income.
Alongside these proposals are several possibilities to explore further:
Idea to pursue: a thoroughgoing review of the access of households to the credit market for
borrowing not secured on housing.
Idea to pursue: examination of the case for an “income-tax-based” treatment of contributions
to private pensions, along the lines of present “privileged” savings schemes, which would bring
forward the payment of tax.
Idea to pursue: a re-examination of the case for an annual wealth tax and the prerequisites for
its successful introduction.
Idea to pursue: a global tax regime for personal taxpayers, based on total wealth.
Idea to pursue: a minimum tax for corporations.