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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social Regina Aparecida Gaspar de Souza Lima ARAXÁ E A MINERAÇÃO: Interconexões entre imaginário, memória e as construções discursivas na interação mediada simbolicamente para formação da imagem Belo Horizonte 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

Regina Aparecida Gaspar de Souza Lima

ARAXÁ E A MINERAÇÃO:

Interconexões entre imaginário, memória e as construções discursivas na interação

mediada simbolicamente para formação da imagem

Belo Horizonte

2013

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Regina Aparecida Gaspar de Souza Lima

ARAXÁ E A MINERAÇÃO:

Interconexões entre imaginário, memória e as construções discursivas na interação

mediada simbolicamente para formação da imagem

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em comunicação. Orientadora: Profª. Dra Ana Luisa de Castro Almeida

Belo Horizonte

2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Lima, Regina Aparecida Gaspar de Souza

L732a Araxá e a mineração: interconexões entre imaginário, memória e as

construções discursivas na interação mediada simbolicamente para formação da

imagem / Regina Aparecida Gaspar de Souza Lima. Belo Horizonte, 2013.

146f.: il.

Orientadora: Ana Luisa de Castro Almeida

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.

1. Imaginário. 2. Significação (Psicologia). 3. Memória. 4. Análise do

discurso. 5. Mineração – Araxá (MG). I. Almeida, Ana Luisa de Castro. II.

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação

em Comunicação Social. III. Título.

CDU: 301.175

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Regina Aparecida Gaspar de Souza Lima

ARAXÁ E A MINERAÇÃO:

Interconexões entre imaginário, memória e as construções discursivas na interação

mediada simbolicamente para formação da imagem

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de mestre em comunicação.

Prof. Drª Ana Luísa de Castro Almeida (orientadora) PUC Minas

Prof. Drª Marlene Regina Marchiori - UEL

Prof. Dr. Márcio Simeone Henriques - UFMG

Belo Horizonte, 21 de maio de 2013.

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Para Therezinha David de Castro (in memoriam) e

Maria do Carmo Magalhães Cruz de Souza Lima (in memoriam).

Mulheres determinadas e de fibra que sempre me proporcionaram um norte na navegação da vida.

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AGRADECIMENTOS

Ao iniciar o meu curso de Mestrado, durante uma aula a professora Vera França (UFMG)

nos alertou que este é um caminho solitário. Hoje, do ponto no qual me encontro, ao olhar para todo

o percurso que fiz, vejo o quanto ela estava certa. Foi um período de interiorização e de muitas

reflexões, mas não foi um caminho que construí sozinha. Muitas pessoas participaram deste processo.

A todas quero registrar o meu agradecimento e a minha profunda gratidão!

Inicio pelo professor Flávio Antônio dos Santos, ex-diretor do Cefet-MG, que ao implantar a

política de capacitação de técnicos –administrativos, durante a sua gestão, possibilitou-me a

oportunidade de me tornar Mestre.

À querida professora Ana Luísa Castro Almeida, inteligência iluminada, que com paciência,

respeito e diplomacia soube me indicar as trilhas a serem seguidas durante todo o processo de

orientação. Compartilhamos não só informações acadêmicas, mas também o interesse por Araxá.

Além disso, generosamente, Ana Luísa abriu portas restritas para que eu tivesse acesso a pessoas

especiais como Rachel Almeida, que pelo seu conhecimento e experiência me proporcionou a

necessária tranquilidade na fase final, e D. Lucília Almeida (in memoriam), que não pode esperar

para ver o resultado final, mas sempre me incentivou para contar as histórias de Araxá.

Ao meu companheiro da jornada da vida, Celso Alexandre, pelo amor, carinho e atenção com

que soube me compreender e estimular, além de “suportar” as fases mais difíceis da elaboração deste

trabalho.

.

Ao meu filho Tomás Lima pelo acompanhamento contínuo, presença e apoio constante no

desenrolar do curso. À minha filha Marília Gaspar, que mesmo mais distante, se fez presente sempre.

A ambos que tinham sempre palavras para me serenar nas correrias e me estimular nos momentos de

estagnação.

Aos meus pais, Pascoal e Derly Gaspar, e aos meus irmãos, Marcos e Fátima, pelo afeto

sincero e o constante incentivo para prosseguir. Ao Pascoal Júnior pelo companheirismo e pela

divisão das angústias e alegrias que acometem quem percorre caminhos semelhantes.

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A todos os professores do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da PUC

Minas , pelas considerações estratégicas que me fizeram despertar para questões fundamentais e

aprofundar outras no percurso do trabalho. Destaco aqueles com os quais pude encontrar nas salas

de aula Maria Ângela Mattos (Dedé), Teresinha Pires, Júlio Pinto, Mozahir Salomão e Márcio

Serelle. Menção especial para a professora Ivone de Lourdes Oliveira pelo incentivo para que eu

fizesse o curso, o apoio nas demandas que surgiram e as pertinentes observações na Banca de

Qualificação. Vocês faziam as longas viagens valerem a pena!

A todos os colegas de mestrado com os quais convivi intensamente nas aulas, dividimos os “

lanches” do Max e construímos uma saudável convivência. Não poderia faltar uma menção especial

às amigas PUC, Angelina Gonçalves Faria, Anita Magalhães e Kátia Cristiane, companheiras de

momentos de estudo, de diversão, mas também de inquietações e angústias. Amigas, que

acompanharam todo o trajeto, com a palavra certa no momento certo.

Aos companheiros do Campus Araxá, na pessoa do diretor, professor Vicente Donizetti da

Silva, pelo seu entendimento deste ser um caminho necessário, e ao professor Francisco de Castro

Valente Neto, coordenador dos cursos de Mineração e Engenharia de Minas, pelo apoio. De maneira

muito carinhosa às “amigas patas” que sempre proporcionaram muitos risos, alegria e ótimos

momentos de descontração – totalmente necessários nessa trajetória tão circunspecta. Não poderia

deixar de citar o incentivo da Rita Lemos para iniciar o desafio; os comentários oportunos da

Jacqueline Borges; as contribuições da Gleisa Alves nas referências; as “dicas” da Edenir Vitória, o

apoio da Maria José Oliveira nos processos e nos ressarcimentos e o companheirismo da Alayne

Carvalho.

Ao professor Márcio Simeone (UFMG) pelas úteis ponderações durante a Banca de

Qualificação e pela participação preciosa nesta banca final.

À professora Marlene Marchiori (UEL) pela disponibilidade em deixar os seus inúmeros

compromissos e se deslocar até Belo Horizonte para dar sua importante contribuição nesta banca

final.

À Isana Oliveira, secretária do mestrado da PUC Minas, que com simpatia, presteza e

competência sempre atendeu as demandas que ocorreram.

À professora Christiane Kleinubing Godoi (Univali), que com atenção e disponibilidade,

mesmo estando em seu pós-doutorado em Madrid, atendeu prontamente as

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minhas demandas sobre a Análise Sociológica do Discurso. Também à professora Ana Lúcia Coelho

(UFAC) , que no final de seu doutorado entre Santa Catarina e o Acre, me disponibilizou

informações fundamentais sobre os grupos de discussão.

Aos professores Alexandre Carrieri (UFMG) e Luiz Alex Silva Saraiva (UFMG) que me

acolheram no curso de Análise do Discurso e proporcionaram conhecimentos e reflexões que foram

essenciais para este trabalho, além da disponibilidade de tirar dúvidas que surgiram.

À Valda Alves Sánchez pela forte amizade e pela certeza de poder contar sempre com ela.

À equipe da Ouvidor Comunicação pelo contínuo suporte.

Aos participantes dos Grupos de Discussão por abrirem um espaço em sua agenda de

compromissos para, generosamente, contribuírem com este trabalho. Destaco a fundamental

mobilização de Elaine Di Mambro na formação e viabilização dos grupos.

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“Os povos das Minas muitas vezes temem mais quimeras fantásticas que realidades verdadeiras.” (Carta do Governador Martinho de Mendonça de Pina e da Proença para Gomes Freire de Andrade)1 “O senhor. Mire e veja: O mais importante e bonito do mundo é isto, que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando.” (ROSA, João Guimarães).

1 Arquivo Público Mineiro, v. 16, 1911, p. 362

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RESUMO

Este trabalho analisa a construção de sentidos produzidos pela população de Araxá sobre a

atividade de mineração e quais discursos prevalecem na formação de sua imagem.

Consideramos que as imagens, enquanto processo social, são definidas nas relações e

reconhecemos a interação comunicacional como base desse fenômeno. A imagem é um

processo construtivo contínuo, no qual os sentidos produzidos se interconectam com a

memória, o imaginário e a ideologia. Levamos em conta o posicionamento de Baczko (1985)

de que o imaginário possui papel de destaque para a interpretação simbólica do mundo.

Também analisamos alguns conceitos de Schutz (1975), que interferem no imaginário, como

o mundo da vida, o senso comum e a intersubjetividade. Entendemos o discurso como um

produtor de sentidos vinculado tanto à linguagem quanto a vida social com as quais interage e

influencia. Na perspectiva da memória e da ideologia, o processo de construção discursiva

tem a interferência do interdiscurso e dos efeitos dos pré-construídos.Também resgatamos os

pré-construídos ligados à mineração desde outras épocas, dentre eles a noção de prosperidade

e riqueza e também a transitoriedade da atividade e os "rastros", como destruição do meio

ambiente e estagnação econômica, que deixa por onde passa. O estudo foi realizado por meio

de grupos de discussão que possibilitaram aprofundar nos sentidos gerados e apropriados pela

população. Os participantes dos grupos de discussão eram moradores da cidade, com perfis e

experiências de vida distintas, com olhares múltiplos e vozes de “lugares” plurais. A análise

do discurso adotada permitiu dentificar o papel da memória discursiva e a presença do

interdiscurso no material analisado. As análises revelaram que os efeitos retóricos

empregados, dentre eles, a metáfora e a paráfrase, são uma matriz de sentidos produzidos com

base em um dizer já sedimentado. Além disso, atuam na estrutura narrativa para enfatizar a

dicotomia das percepções que possuem sobre a mineração. Constatamos que os paradoxos

constroem um sentido de "amor e ódio" que levam à elaboração de uma imagem que

chamamos de "herói falho".

Palavras-chave: Produção de sentidos. Imaginário. Memória discursiva. Interdiscurso. Pré-

construídos. Imagem.

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ABSTRACT

This work addresses the construction of the image of the mining activity utilizing the

production of meanings by the local population of Araxá/MG. Considering that the images are

established in the relations and that those have in their base the communicational interaction.

It’s about a continuous constructive process, in which the production of meanings

interconnect with the memory, the imaginary and the ideology. We take into account the

positioning of Baczko (1985) that the imaginary holds a prominent role to the symbolic

interpretation of the world. We will also analyze some concepts by Schultz (1985), which

interfere in the imaginary, such as the world of life, common sense and the intersubjectivity.

We understand the speech as a producer of meanings tied as much to the language as to the

social lives with which it interacts and influences. In the perspective of memory and ideology,

the process of discursive construction suffers the interference of inter-discourse and prebuilt

effects. We also retake prebuilt tied to mining since other periods, among them the notion of

prosperity and wealth and also the transience of the activity and the “trails”, as destruction of

the environment and economic stagnation, which it leaves wherever goes. The empiric work

used Discussion Groups – DG, which enables the understanding of the effects produced by

means of evaluation of the speeches delivered. In every one of them the participants had some

characteristics in common, but the professional profile and the role they exercise in the

community were diverse so there could be a plurality of stances. Our analytic basis was

formed by the Discourse Analysis - DA provided us with the analytical foundation necessary

to identify the role of the discursive memory and the presence of inter-discourse in the

material analysed. We also rescued pre-constructed links to mining from other times,

including the notion of prosperity and wealth as well as the transience of the activity and its

effects, such as the environmental destruction and the economic stagnation which happen

wherever mining activities occur. The analyses revealed that the rhetorical effects applied,

including the metaphor and paraphrase, are a matrix of meanings produced based on a saying

already fossilized. In addition, they act in the narrative structure to emphasize the dichotomy

of perceptions that they have on mining. We found out that the paradoxes build a sense of

"love and hate" that leads to the development of an image called "flawed hero."

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Keywords: Production of meanings. Imaginary. Discourse memory. Inter-discourse. Pre-

constructed. Image.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Mineração de diamantes em Minas Gerais, em 1770 .......................................... 85 FIGURA 2 - Lavagem de diamantes no Serro, em 1770.......................................................... 85 FIGURA 3 Complexo Mineroindustrial da CBMM ................................................................ 97 FIGURA 4 - Escultura de Tomie Ohtake na área interna da CBMM ...................................... 97 FIGURAs 5 - Complexo Mineroquímico da Vale Fertilizantes ............................................. 100 FIGURA 6 - Avenida Antônio Carlos na década de 1920 ..................................................... 108 FIGURA 7 - Avenida Antônio Carlos em 2013 com Igreja ................................................... 109 FIGURA 8 - Avenida Antônio Carlos em 2013 com Praça das Águas ao fundo................... 109

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Paradoxos da mineração .................................................................................. 114 QUADRO 2 - Percepção dos impactos da mineração em Araxá ........................................... 122

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LISTA DE SIGLAS

BPI- Bunge Participações e Investimentos

CAMIG- Companhia Agrícola de Minas Gerais

CBMM- Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração

CEFEM- Contribuição Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais

CODEMIG - Companhia de desenvolvimento Econômivo de Minas Gerais

COMIPA - Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá.

DEMA - Distribuidora e Exportadora de Minérios e Adubos Ltda.

DIDEM- Diretoria de Desenvolvimento e Economia Mineral

DIPAR- Diretoria de Planejamento e Arrecadação

DIPLAM - Departamento Nacional de Produção Mineral

DNPM- Departamento Nacional de Produção Mineral

FERTISA - Fertilizantes Minas Gerais S/A

FINBRA- Finanças do Brasil

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística

IBRAM- Instituto Brasileiro de Mineração

IPM- Índice de Produção Mineral

PIB- Produto Interno Bruto

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 29 2 SENTIDOS ENTRE DISCURSOS E MEMÓRIA .......................................................... 33 2.1 A sociedade constrói o seu discurso ................................................................................ 36 2.1.1 Indivíduos e sociedade em interação ............................................................................ 37 2.2 Na trajetória dos sentidos produzidos ............................................................................ 40 2.2.1 Os sentidos da memória ................................................................................................ 41 2.3 Discursos em construção .................................................................................................. 43 2.3.1 Palco de dispersões e regularidades: formações discursivas e interdiscurso ........... 45 2.4 Discurso e sentidos em circulação ................................................................................... 49 2.4.1 Múltiplas vozes em cena: interdiscurso e dialogismo ................................................. 53 3 POR TRÁS DO PODER DA IMAGEM, O IMAGINÁRIO E A IDEOLOGIA ........... 56 3.1 Espaço social e contexto ideológico ................................................................................. 57 3.2 “Imagens são mediações entre o homem o mundo” ...................................................... 62 3.3 Imaginário: formação da imagem da realidade ............................................................ 67 3.4 Produção social de sentidos ............................................................................................. 71 4 PERCURSO METODOLÓGICO ..................................................................................... 74 4.1 Análise do discurso ........................................................................................................... 77 4.2 Trajeto da análise realizada ............................................................................................ 81 5 TEMPO E CONTEXTO ..................................................................................................... 84 5.1 Memória e história............................................................................................................ 84 5.1.1 Da utopia para o real ..................................................................................................... 87 4.1.2 Panorama mineral atual ............................................................................................... 90 5.2 “Tropeiros, aquáticos e mineiros” .................................................................................. 92 5.2.1 Aflora o nióbio ............................................................................................................... 95 5.2.2 O fosfato entra em cena................................................................................................. 98 5.2.3 Os minerais em Araxá ................................................................................................. 101 6 “IMAGEM, IMAGEM O QUANTO TU NOS PRENDE...” ......................................... 103 6.1 Faces dicotômicas da mineração ................................................................................... 103 6.2 Impactos ambientais, socioeconômicos, sanitários e culturais ................................... 115 6.2.1 Impactos ambientais .................................................................................................... 115 6.2.2 Impactos sanitários ...................................................................................................... 116 6.2.3 Impactos culturais ....................................................................................................... 119 6.2.4 Impactos socioeconômicos .......................................................................................... 120 6.3 Caminhos para outra visão ............................................................................................ 123 7 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 127 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 132

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1 INTRODUÇÃO

“Todas as épocas têm as suas modalidades específicas de imaginar, reproduzir e renovar o imaginário, assim como possuem

modalidades específicas de acreditar, sentir e pensar”. (BACZKO, 1985)

Este trabalho tem como questão central de estudo investigar as formas pelas quais a

sociedade da cidade de Araxá/MG constrói a imagem da atividade de mineração por meio dos

sentidos produzidos. Buscamos compreender a construção do discurso social nesse processo,

com seus elementos constitutivos que foram elaborados pela sociedade de Araxá, e,

especialmente, dos sentidos que, para Pinto (2008), estão ligados ao contexto de produção de

significados.

O território Araxá é entendido como fragmento espacial que não se reduz aos aspectos

físicos, mas está imbuído das circunstâncias culturais e simbólicas, principalmente por meio

das relações de poder nele estabelecidas. Ainda é oportuno lembrar que os produtos do

subsolo estão intimamente ligados à formação histórica de Araxá. Há que se destacar a

importância social e econômica da mineração no município.

Em decorrência deste fato, no caminho teórico escolhido para a realização das nossas

reflexões sobre o tema demos destaque ao papel da memória discursiva e à presença do

interdiscurso, pelo entrelaçamento existente entre os discursos, muitas vezes de diferentes

épocas. Também resgatamos alguns aspectos ligados aos antigos processos de mineração

ocorridos nos séculos XVIII, XIX e XX.

Embora pareça à primeira vista um pouco distante de nossa realidade, essa memória

secular se faz presente e é fundamental para compreendermos a relação dos “ditos” do

passado com a atual produção de sentidos. Por meio de muitos dos discursos que

identificamos, estes “ditos” chegaram até os nossos dias. Baseados nestas falas, procedentes

de atores que viveram naquela época e da evolução da mineração ao longo do tempo foram se

consolidando as percepções e os valores que constroem o discurso sobre a atividade.

Observamos que essa construção não se situa somente no presente. O passado também

é fundamental neste processo. Nesta articulação entre passado e presente, é edificada a

imagem da mineração – com grande interferência da memória na qual os enunciados contém

tanto o hoje quanto o ontem.

. O nosso entendimento de imagem é o da representação mental de ideia, atividade ou

organização construída individual ou coletivamente. Guarda estreita relação com as

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experiências, vivências, informações que a pessoa ou o grupo associa com o objeto em foco.

Na busca do entendimento dos processos de interação, percepções e formação de imagens,

este projeto se concentra na construção de sentidos operada pela sociedade araxaense sobre a

mineração. Os sentidos, em sua produção, evidenciam dentre outros fatores as possibilidades

e as contradições presentes no sistema de significação (BALDISSERA, 2008).

Construções sociais dialógicas superam a separação do sujeito com o objeto e

possibilitam o entendimento do discurso como prática social. Por meio da análise do discurso,

acredita-se ser possível investigar, de maneira geral, a produção de sentidos da sociedade

araxaense na formação da imagem da atividade de mineração. Deve-se ressaltar que o

receptor é parte ativa do processo comunicacional e dialoga com o emissor, o que leva ao

surgimento de múltiplas vozes nem sempre de hoje, mas que vieram de outros discursos por

intermédio do interdiscurso. Ao entrar em contato com o discurso, a recepção cria associações

a partir do que existe em sua memória social e elabora pressupostos sobre o que foi dito

(FAUSTO NETO, 1992).

No capítulo 2, destacamos conceitos necessários para a construção das interfaces desta

pesquisa, como sentidos, discurso e memória. Adotamos o entendimento de Fairclough (2008)

de que existe uma intensa relação de troca entre o discurso e a estrutura social. O discurso

atua na constituição das dimensões da estrutura social, mas também é por ela moldado.

Perpassamos o posicionamento de Foucault (1971) que localiza os discursos na

interseção dos espaços da linguística, sociedade e história. Ao tratarmos os discursos

produzidos sobre atividade de mineração na cidade de Araxá, instigou-nos compreender o

papel da memória social, decorrente dos elementos pré-construídos (HENRY, 1975), na

constituição dos discursos. Quando o enunciador assimila os pré-construídos, passa a falar

por meio do já-dito. Por isso, interessou-nos entender a relação que um discurso estabelece

com outro discurso por meio do interdiscurso.

No terceiro capítulo nos detivemos no papel do imaginário, enquanto interpretação

simbólica do mundo, na produção dos sentidos que levarão à formação da imagem. Também

analisamos alguns conceitos que influenciam o imaginário, como o mundo da vida, o senso

comum e a intersubjetividade. Em razão de todos estes fatores, já que, como bem lembra

Wolton (2007), não existe imagem sem imaginário, passamos para a concepção de imagem.

Adotamos o entendimento de Almeida (2012) de que imagem é uma percepção que acontece

a partir de uma recepção específica, não se trata da criação de um único indivíduo, mas há que

se considerar a força da sociedade.

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O Capítulo 4 mostra o percurso metodológico que escolhemos para esta pesquisa

exploratória. Optamos pelo método qualitativo em virtude da importância que confere ao

contexto, o que é adequado no tipo de formulação que fazemos (FLICK, 2009). Não procura

enumerar ou medir o objeto em estudo, tampouco emprega instrumental estatístico, mas

proporciona acesso a experiências e interações nos seus espaços naturais. A junção da

pesquisa exploratória com a abordagem qualitativa oportuniza contato direto do pesquisador

com a situação estudada na busca da compreensão dos fenômenos, sob a perspectiva dos

participantes da situação em estudo (GODOY, 1995).

Para a obtenção dos dados, realizamos atividades empíricas em duas frentes. A

primeira delas junto a diversos centros de documentação como Arquivo Público Mineiro,

Biblioteca da Escola de Minas da UFOP e Fundação Cultural Calmon Barreto/Araxá.

Posteriormente, utilizamos grupos de discussão com características distintas, por sua

capacidade de gerar informações aprofundadas e ilustrativas para se identificar a produção de

sentidos nos vários contextos de Araxá. Durante este processo constatamos, a partir do

enfoque de Berger e Luckmann (2007), que os grupos de discussão conciliam o micro da

interação com elementos macro - contextos social, econômico, cultural, temporal, dentre

outros -, fato que foi levado em conta durante a análise.

O modelo de análise escolhido, a Análise do Discurso, também é enfocado no

Capítulo 4. Para sustentar a escolha deste procedimento analítico são apresentados alguns dos

entendimentos que nortearam o trabalho, como o de que os discursos são acontecimentos que

permitem o acaso, o descontínuo, mas também a regularidade. A discursividade, vista como

ação social, possibilita referenciar a produção de sentidos por intermédio dos discursos. Sob

esta perspectiva, os elementos das frases não são interpretados somente em seu interior, e o

discurso não é analisado como a soma das frases que o compõem. Para embasar toda essa

discussão, selecionamos bibliografias que abordassem a Análise do Discurso, de modo que

pudéssemos identificar e avaliar os elementos constitutivos dos discursos elaborados pela

sociedade de Araxá sobre a atividade de mineração.

Assim, no Capítulo 5, para investigar como a sociedade de Araxá constrói a imagem

da atividade de mineração, unimos os contextos sociais, econômicos, discursivo e simbólico

no qual se situa aos traços da empiria. Construímos um olhar investigativo e analítico, desde o

Século XVII, no contexto da mineração em Minas Gerais, com foco maior para Araxá. Esta

retrospectiva histórica foi importante para levantar e situar os pré-construídos. Também traça

um breve painel do peso que tem o setor mineral brasileiro na economia nacional,

notadamente em Minas Gerais.

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O Capítulo 6 aborda a análise dos dados obtidos. Sem configurar um sistema

unificador dos ditos, buscamos compreender as similaridades e possíveis diferenças dos

múltiplos discursos vindos de múltiplas vozes. Consideramos os ditos das múltiplas histórias

como acontecimentos singulares dentro do universo discursivo produzido nos vários

contextos em Araxá. Por meio dos discursos, identificamos os sentidos que constroem a

imagem da atividade de mineração no município, tendo em vista a importância da memória

para a elaboração de significados.

Contemplamos considerações sobre o processo de elaboração da imagem da atividade

de mineração a partir das trocas simbólicas, mediadas pelo imaginário, a memória discursiva e

o discurso social. Verificamos que, na produção discursiva e a partir da análise do material

pesquisado, ocorrem processos parafrásticos, pela utilização dos pré-construídos e dos dizeres

sedimentados do interdiscurso, que determinam a estrutura narrativa empregada por aqueles

que falam sobre a mineração.

Acreditamos assim que foi na confluência entre o processo construtivo da imagem, a

análise do discurso, a memória, imaginário, senso comum e intersubjetividade com a

atividade de mineração que o nosso estudo tenha conseguido dar o seu salto diferencial. Isso

ocorreu também porque tratamos material selecionado, tanto quanto o atual quanto o de outras

épocas, como um conjunto narrativo que incorpora os sentidos produzidos pelos discursos

juntamente com aspectos históricos da mineração.

Ressaltamos que o nosso estudo é guiado pela inquietação decorrente da preocupação

com a pluralidade das vozes e a diferença. O olhar desenvolvido por nós busca situar o

movimento dos textos além da perspectiva cronológica em um contexto amplo como entende

Van Dijk (2012) que inclui a vida social e o processo de produção de sentidos.

Esse conjunto narrativo possibilitou que viessem à tona as múltiplas vozes com

narrativas próprias de suas experiências e manifestassem de forma plural as suas opiniões.

Assim, puderam aflorar percepções dicotômicas espelhadas pelos discursos a respeito da

mineração.

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2 SENTIDOS ENTRE DISCURSOS E MEMÓRIA

“Compreender, eu diria, é saber que o sentido pode ser outro.” (ORLANDI, 1993, p. 12).

A produção de sentidos é inerente ao relacionar dos seres humanos desde sempre. As

tentativas para se estabelecer um processo de comunicação no qual os sentidos fossem

compreendidos durante a interação levaram o homem a criar um padrão simbólico chamado

linguagem, fato que transformou as relações do homem com as coisas e o mundo (FRANÇA,

2002). É a linguagem que possibilita a elaboração de discursos fundamentais no processo de

comunicação. Estas construções discursivas geram sentidos que vão ser a força motriz da

criação de imagens sobre o mundo.

O processo de significação para construção do sentido tem sua base na interação

comunicacional. Pinto (2008) ressalta que o sentido é um ser do futuro, um vir a ser. Sentido é

isso, portanto: futuro significado em contexto.

O sentido é uma direção que a significação pode tomar dependendo das escolhas que o receptor fizer, dependendo daquilo que o atinge ou que ele quer atingir. O sentido é aquilo que a escolha do receptor vai, de certa forma, fazer para que os sentidos ou as significâncias circulem. O sentido é um conceito não linear [...] (PINTO, 2008, p. 83).

Sob esta perspectiva, os sentidos são construídos por percepções geradas a partir dos

sistemas de significação do contexto. A partir da interpretação realizada pela linguagem e

pelo discurso, o sentido passa a ser protagonista nos sistemas de significação, além de vir a

assumir a forma de imagens da atividade de mineração que podem ser simples, complexas e,

até mesmo, contraditórias (OLIVEIRA, 2012).

É pela interação que ocorre a comunicação. Para que aconteça sua efetivação é

necessário que haja o compartilhamento de um sistema de significados semelhantes

(SCHUTZ, 1974a). O sentido é fruto da recepção em razão do fato de os sujeitos agirem sob

padrões culturais, com intenção de mantê-los ou transformá-los.

Devemos também descartar a suposição de que a recepção em si mesma seja um processo sem problemas, acrítico, e que os produtos são absorvidos pelos indivíduos como uma esponja absorve água. Suposições deste tipo têm muito pouco a ver com o verdadeiro caráter das atividades de recepção e com as maneiras complexas pelas quais os produtos da mídia são recebidos pelos indivíduos, interpretados por eles e incorporados em suas vidas (THOMPSON, 2011, p. 51).

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É a partir desta teia simbólica que são construídos os sentidos sobre as representações

do mundo (BALDISSERA, 2008). O fenômeno comunicacional se realiza em episódios de

interação entre pessoas e/ou grupos, de forma pessoal ou midiatizada (BRAGA, 2011). Desta

forma, a comunicação pode ser vista como a interação marcada pela reflexividade: uma parte

atua sobre outra, e o passado se mistura ao presente (FRANÇA, 2007).

O domínio da interação [...] caracteriza uma comunicação que se homologa como possibilidade ou tentativa incerta do comunicar ao processar-se entre um emissor e um receptor, entendidos no intercâmbio e porosidade dos seus papeis enunciativos e culturais, sempre prontos a serem superados, revistos ou reescritos (FERRARA, 2011, p. 4).

Os episódios comunicacionais são probabilísticos e aproximativos. Não se trata de

uma referência à estatística, mas a alguma coisa relativamente previsível que pode acontecer.

É impossível controle total, há sempre um fator de incerteza. Existe um processo social de

tentativas destinadas a obter a comunicação em algum grau (BRAGA, 2011).

A comunicação é decorrente de algo que não foi completamente oferecido durante

uma interação. Se houvesse previsibilidade total, não haveria o que circular. As interações

seriam transposições matemáticas, já que tudo seria código. No polo oposto, caso

prevalecesse a incerteza total, o ser humano seria inerte porque não haveria o que esperar

(BRAGA, 2011).

Tentar a comunicação - e constatar que esta se realiza em alguma medida - corresponde a buscar alguma previsibilidade e a tentar ampliar a probabilidade de sucesso. Isso significa que não somente a comunicação pode acontecer, mas que efetivamente se faz, em algum ponto entre o total sucesso e o total fracasso, como resultado de uma ação, de um trabalho humano e social para produzir alguma coisa que não está inteiramente dada nos pontos prévios a uma interação (BRAGA, 2011, p.80).

Consideramos que as tentativas referidas por Braga (2011) estão relacionadas com

duas concepções de Mead (1993). A primeira é a do indivíduo enquanto sujeito: um ator

social, criativo, inovador, responsável por ações e representações e com arbítrio para definir

cada situação de interação.

A segunda é da interação mediada simbolicamente, que utiliza a estrutura do modelo

triádico de Mead (1993), constituído pelo gesto inicial, o marco do início de uma tentativa

interacional. A resposta a este gesto e, posteriormente, a resultante percebida ou imaginada

por ambas as partes na interação mostram o grau de sucesso da tentativa. É por intermédio

deste modelo triádico concebido por Mead que marcamos a centralidade do conceito de

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interação.

No âmbito dos episódios comunicacionais, quando se destacam as tentativas, como

pensadas por Braga (2011), a ideia de reflexidade é fundamental, pois é ela o operador lógico

que permite falar dos indivíduos enquanto sujeitos-atores, e não reatores. Existe um todo com

um encadeamento de fases nas quais dois indivíduos se encontram implicados o tempo todo.

Assim, não se pode tratar de apenas um dos sujeitos envolvidos.

Cabe ressaltar que o conceito de reflexidade tem a marca da produção, do

compartilhamento e da disputa de sentidos. França entende que se trata da ação de uma parte

sobre a outra durante a interação por meio das práticas discursivas e com influência do

contexto social e histórico. É uma ação presente que possui a base da experiência do passado

e se direciona para o futuro (FRANÇA, 2007).

O discurso é o resultado desta relação de troca de experiências marcada pela

reflexidade entre o sujeito que fala - sua identidade, para quem se direciona e o modo pelo

qual se fala, com o objetivo de produzir sentido que nunca é dado antecipadamente - e a

recepção. A construção é feita pelo homem pela linguagem em situação de troca social.

Assim, podemos entender que o discurso é prática social que, pelo uso da linguagem pelos

indivíduos, está implicada diretamente na construção dos sentidos que podem ou não gerar

afetações (CHARAUDEAU, 2009 a).

[...] resulta da combinação das circunstâncias em que se fala ou escreve (a identidade daquele que fala e daquele a quem este se dirige, a relação de intencionalidade que os liga e as condições físicas da troca) com a maneira pela qual se fala. É, pois, a imbricação das condições extradiscursivas e das realizações intradiscursivas que produz sentido. Descrever o sentido do discurso consiste, portanto, em proceder a uma correlação entre dois polos (CHARAUDEAU, 2009a, p. 23).

E o que seria o sentido? A resposta está na recepção: é o que ela entende, interpreta,

supõe ser, o que virá a ser. É a reação do receptor àquilo que recebe, como negocia ou se

desvia dos propósitos do emissor. Dessa maneira, podemos inferir que a recepção é o espaço

da produção de sentido quando o sujeito, ao utilizar os códigos que possui, faz uma aposta

hipotética sobre o significado existente na mensagem. Significado este que não foi fornecido

por antecipação. No processo comunicativo, os sentidos e as mensagens se deslocam no

tempo e no espaço, circulam continuamente (OLIVEIRA, 2012).

A distinção entre sentido e significado fica mais explícita pelo entendimento

estabelecido por Pinto. Significado é algo já definido, não se importando o contexto.

Exemplifica com palavras pronunciadas fora de um lugar de acontecimento. “Todo e qualquer

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significado é anterior a novas manifestações daquela palavra, ou daquele signo” (PINTO,

2008, p. 82). O sentido é diferente, guarda uma relação de dependência com a empiria.

Segundo Pinto, “[...] em todo processo comunicativo há fraturas e elas se revelam” (PINTO,

2008, p. 84). O sentido é construído a partir do significado, constitui-se em um ser em

gestação (OLIVEIRA, 2012).

Ao se falar a respeito da produção de sentidos há que se levar em conta que os

indivíduos possuem estruturas psicológicas altamente complexas, o que representa um reagir

diferenciado a circunstâncias de vida e a estímulos recebidos. E são, também, influenciados

por variáveis socioeconômicas e culturais e pelos padrões estabelecidos por seu meio

(FRANÇA, 2006).

2.1 A sociedade constrói o seu discurso

A interiorização das estruturas de sentido proporciona os significados quando os

participantes de um processo de interação fazem uso da capacidade de construção simbólica.

A comunicação ocorre por meio dessa interação mediada pelo uso da capacidade simbólica.

Em sociedade, o símbolo e o significado compartilhado são fatores de aglutinação.

Observada sob esse ângulo, a comunicação é primordialmente processo de interação

simbólica. Na interação entre duas pessoas, a mediação é simbólica pela presença da

linguagem e por meio de símbolos (MEAD, 1993).

Como foi exposto, a comunicação acontece por meio de interações mediadas

simbolicamente entre pessoas ou grupos, nos âmbitos interpessoal ou mediatizado. “As

interações envolvem uma grande variedade de circunstâncias, processos, participantes,

objetivos e encaminhamentos” (BRAGA, 2011, p.4). Pesquisar as dinâmicas comunicacionais

no local onde ocorrem é também compreender a vida social na sua dimensão mais elementar,

relacional, a vida social em processo (BRAGA; GASTADO, 2009, p.13).

A comunicação entre os homens se diferencia pela utilização de símbolos. Mais do

que entender as intenções de seu interlocutor, a pessoa imagina quais são as intenções do

outro, o que este pretende fazer. Nem toda interação é da ordem da comunicação. O que a

torna comunicativa é a presença de significação e da linguagem. As pessoas utilizam

conscientemente um processo de manipulação mental - atribuem significado aos gestos umas

das outras e, a partir daí, elaboram as respostas, repletas de sentidos (FRANÇA, 2012 ).

Nesta perspectiva, ao adotar “a atitude do outro” acontece o processo evolutivo de

uma interação mediada inicialmente por gestos para uma interação mediada por símbolos

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(MEAD, 1993).

É em decorrência deste fato que a natureza simbólica do fenômeno social e o impacto

recíproco entre os participantes da interação foram destacados por Mead (1993). Desta forma,

ele ultrapassou a visão dicotômica que opõe e separa emissão e recepção. Posicionamentos de

outros autores reforçam a tese de que indivíduo e sociedade se afetam mutuamente, além de

manterem uma relação circular e simbólica.

Os seres humanos e a sociedade são inseparáveis e interdependentes. Mantêm este

vínculo de intensa reciprocidade. O homem e a sociedade não podem ser vistos de maneira

dissociada. Com base nesta ilação de Mead (1993), podemos entender que o homem não é

simplesmente um produto da sociedade, tampouco que apenas os processos sociais sejam

determinantes das interações. “Tomamos parte em uma conversação na qual aquilo que

dizemos é escutado pela sociedade e a resposta da sociedade é afetada por aquilo que temos

a dizer. [...] É desta maneira que a sociedade se transforma” (MEAD, 1993, p.234).

A relação entre indivíduo e sociedade é dinâmica. Implica que a sociedade não é

somente a modeladora dos indivíduos, mas é também por eles instituída e influenciada. O

social recebe e é modificado pelas ações dos indivíduos, assim o papel do sujeito é ativo,

ultrapassa o de um reator (MEAD, 1993).

Acreditamos que esta relação se processa por meio da interação cuja mediação ocorre

simbolicamente desenvolvida em um processo dialético de trocas entre indivíduo e sociedade

no qual atuam de forma decisiva o imaginário e as imagens. Consideramos que é dessa forma

que um sistema de significados se manifesta nos indivíduos integrantes da sociedade de

Araxá, a partir da realidade social, e se constitui na interação. Assim, ao longo do tempo, as

pessoas interiorizam ou transformam os significados, ideias e imagens que possuem sobre a

mineração.

2.1.1 Indivíduos e sociedade em interação

O somatório de vivências, significados subjetivos elaborados e sentidos produzidos

constitui a percepção da realidade que pauta a relação entre o indivíduo e o mundo social. É

estabelecida uma via de mão dupla entre o ser humano e seu mundo. Desta maneira, o

homem e os grupos constroem e influenciam a realidade social e por ela são influenciados. É

em razão deste entendimento que a realidade é composta por um conjunto de fatores e ações

sociais decorrentes do agir humano (BERGER; LUCKMANN, 2007).

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A posição do homem na sociedade é fruto de elementos culturais advindos do grupo

social do qual faz parte e de escolhas e decisões pessoais. Embora receba grande influência da

sociedade, o indivíduo tem papel proativo na relação e age sobre ela. O fato de o homem

assumir seu papel de protagonista não apenas mobiliza e constrói a sociedade, mas também

possibilita ao indivíduo elaborar sua identidade pessoal (BERGER; LUCKMANN, 2007).

Para Berger e Luckmann, a construção da realidade se processa em três níveis:

individual, grupal e social. Ao perceber os acontecimentos, o indivíduo utiliza seus valores. O

conhecimento que irá elaborar a partir daí formará seu conjunto de ideias e posicionamentos -

o que se denomina ideologia individual. A segunda e a terceira instâncias permitem observar

que o homem integra grupos e classe. Novamente, percebe-se um processo de troca. Em dado

contexto, as ideias do indivíduo se somarão às de seus grupos e classe. A ideologia da

sociedade será a resultante do encontro em decorrência deste mútuo influenciar, com

acréscimos e supressões de valores e ideologias de classes e grupos (BERGER;

LUCKMANN, 2007).

Sob esta perspectiva, os discursos não são vistos como produções individuais, mas

coletivas, por meio das práticas sociais - essas produções se originam das relações sociais

entre os sujeitos que falam. Quando se trata dos discursos sociais, não se pode pensar no

estabelecimento de padronização nos níveis de cristalização e circulação social deles, por

comporem um sistema estruturado e a circulação estar a cargo de uma complexa rede de

relações e conflitos sociais, ideológicos e simbólicos (CONDE, 2009).

A instância que estrutura o valor do dito é a enunciação, que funciona como espécie de

tomada de posição. O sujeito enunciador se faz presente pelas suas “marcas”. Ele se apropria

da língua para elaborar seu discurso e suas estratégias, mas isso não implica que tenha

controle do seu discurso. Já o campo da recepção é definido por “manobras” realizadas

previamente pela esfera da produção, “[...] criando assim verdadeira ‘escala de receptores’,

cujas elasticidade e permanência funcionam de acordo com o conceito de receptor desejado”

(FAUSTO NETO, 1991, p. 25-40).

O discurso, ao ultrapassar o texto, torna-se um conjunto de práticas sociais ou práticas

discursivas - regras formadas num processo histórico que definem em determinada época, em

grupos específicos e concretos, as condições que tornam possível uma enunciação

(FOUCAULT, 1996). Vários autores foram influenciados por Foucault e seguem sua linha de

pensamento, como Iñiguez e Antaki (1994), que caracterizam o discurso como um conjunto

de práticas linguísticas que mantêm e promovem certas relações sociais (GODOI, 2010).

Ainda sob essa perspectiva, Conde (2009), defende a ideia de que não há propósito em

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analisar discursos isolados, mas, sim, os que se encontram articulados (CONDE apud

GODOI, 2010). Para explicar esse sistema de discursos, Conde estabelece alguns

pressupostos sobre o discurso, a serem considerados:

[...] a) é uma perspectiva de aproximação à realidade social que mantém certa coerência interna e conduz ao desenvolvimento de uma visão específica; b) a coerência e a consistência do discurso são determinadas pela forma particular de narrativa adotada; c) expressam-se em uma série de argumentos articulados; d) seus materiais constitutivos emergem da interação social dos sujeitos; e) seus elementos constitutivos são pronunciados pelos sujeitos com alguma intencionalidade (CONDE, 2009, p.17).

A vinculação entre a análise de discurso linguístico e o pensamento social e político é

evidenciada de forma clara pela linguagem e pela vida social, que não são instâncias

independentes, mas interagem, realizam trocas e se influenciam mutuamente. Entretanto,

quando se fala em linguagem é necessário levar em conta seu caráter de atividade significante

e constitutiva: não se pode reduzi-la a uma ferramenta social, tampouco restringi-la a seu

caráter linguístico formal (FAIRCLOUGH, 2008).

Esta posição de Fairclough marca sua discordância da linguística estrutural de

Saussure, que entende a linguagem como um sistema no qual os elementos não têm sentido

fora da estrutura. Além disso, a distinção feita por Saussure entre parole, que é a fala real, e

langue, sistema formal de linguagem que governa os eventos da fala, representa uma

dicotomia entre linguagem e realidade social. Já segundo a sociolinguística, o uso da

linguagem se sujeita a moldagem social, não individual, por sofrer influência das variáveis

sociais, da natureza, da interação e propósitos das pessoas envolvidas no processo

(FAIRCLOUGH, 2008, p. 90).

Nessa mesma direção encontra-se o pensamento de Bakhtin (1998), que sustenta que a

verdadeira substância da língua não está nos sistemas linguísticos, mas no processo social de

interação. Ao apresentar a enunciação como realidade da linguagem e da estrutura

socioideológica, Bakhtin (1998) destaca a relação indissolúvel que ela mantém com seus

usuários: o meio social é organizador da atividade linguística, e o signo estaria inserido no

contexto e tem que ser analisado em sua historicidade - fragmento material da realidade, a

qual representa e constitui.

Ao pensar as interconexões produzidas pelos sentidos na formação da imagem da

atividade de mineração, não se pode ter uma visão segregacionista, pelo risco de provocar

distorções. As construções discursivas precisam ser estudadas em contexto. No entendimento

de Dijk, contexto não se restringe a propriedades objetivas de situações sociais, políticas e

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culturais. A sua abordagem é mais ampla. “[...] entendo que os contextos são construtos dos

participantes, ou definições subjetivas das situações interacionais ou comunicativas. Isso

não significa que as estruturas sociais e políticas não possam ter dimensões objetivas (por

exemplo, de tempo e espaço)” (DIJK, 2012, p.34). Ele dá destaque ao fato de que as situações

sociais influenciam o discurso por meio de interpretações "(inter)subjetivas" ou sentidos

produzidos.

2.2 Na trajetória dos sentidos produzidos

Orlandi entende discurso como “[...] efeito de sentido entre locutores” (ORLANDI,

1994, p.52). Esta conceituação implica considerar a linguagem em relação à constituição dos

sujeitos e à produção de sentidos, além de supor a existência de uma relação desse sistema

significante com sua exterioridade, pois sem história não há sentido.

Estamos sempre às voltas com versões. Por que uma e não outra? Eis a questão. Por que eu, por que você? E o sentido pode ser outro para mim mesma, dependendo de minha relação com as condições de existência. Quantas vezes nos surpreendemos ao ver que soa em uma palavra um sentido que a gente mesmo ainda não tinha percebido? Nem poderia. Esta é uma questão da historicidade do sentido e da identidade do sujeito (ORLANDI, 2007b, p. 3).

Os discursos elaborados são objetos simbólicos repletos de sentidos (FOUCAULT,

1971), que têm em sua base o já dito. Não se trata simplesmente de frases verbalizadas ou

escritas, mas de conteúdo que teria ressonância sócio-histórica que abrange os não ditos.

Durante o processo de dispersão ocorre a transformação dos pré-construídos, que também

podem ser apagados ou escondidos.

Ao tratar os discursos produzidos sobre a atividade de mineração na cidade de Araxá,

há que se resgatar a relação existente com a memória. Por meio desta relação é possível

constatar que diversos textos presentes nos discursos elaborados não se situam na

contemporaneidade, mas em situações do passado que retornam à memória na forma de pré-

construídos.

A memória faz o resgate dos elementos pré-construídos, expressão de Henry (1994)

que remete ao “que cada um sabe” e/ou que “cada um pode ver” em uma situação

(COURTINE, 2009, p. 74-5). O pré-construído designa uma construção independente,

anterior e exterior ao enunciado. Existia antes da elaboração do enunciado, não faz parte dele,

mas vem à tona da superfície discursiva como se já estivesse lá (BRANDÃO, 2002).

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Acreditamos que os pré-construídos da atividade de mineração são sentidos cristalizados pela

memória e que, por sua vez, irão se transformar em novos sentidos.

O pré-construído existente no discurso, mais do que fornecer, impõe seu sentido, sob

forma de universalidade, ao mundo das coisas. Assimilado pelo enunciador, que fala a partir

do já dito, os sentidos produzidos pelos pré-construídos se tornam presentes por meio do

enunciado. Cada sujeito tem à sua disposição apenas os pré-construídos que possuem sentido

para aquela Formação Discursiva2 específica. De acordo com Possenti (2003, p. 256), “o pré-

construído parece ser da ordem de cada formação discursiva ou daquelas com as quais cada

uma está em posição de franca aliança”.

No campo discursivo estão as condições da existência de um enunciado e sua relação

com outros enunciados. Foucault entende por enunciado “um acontecimento que não se

esgota na língua e nem na sintaxe” (FOUCAULT, 2009, p. 165). Assim, o enunciado

apresenta marcas de uma enunciação individual, em um tempo e em um espaço precisos. É o

resultado de uma produção individual em cuja elaboração atuaram a interdiscursividade e os

pré-construídos.

Foucault afirma: “Não há enunciado que não suponha outros; não há nenhum que

não tenha, em torno de si, um campo de coexistências, efeitos de série e de sucessão, uma

distribuição de função e papéis” (FOUCAULT, 2009, p. 112). Os pré-construídos possuem

relação com outro termo - o conceito de pressuposto - desenvolvido por Ducrot (1987), que

considera que grande parte do dito no enunciado o destinatário já conhece - trata-se de uma

espécie de voz coletiva. É pelo domínio da memória que se estabelece a correlação de um

enunciado com outros enunciados.

2.2.1 Os sentidos da memória

Como vimos, a memória transcende o aspecto pessoal por se ligar a práticas sociais

mediante construções coletivas, como os pré-construídos e o fundo de conhecimento à mão.3

Esse entendimento é fundamental para a compreensão do processo discursivo. As

palavras de agora guardam relação com o sentido de outras datas. A memória proporciona ao

discurso a perspectiva de mobilidade, do ir e vir, do passado e do presente.

2 No interior da Análise do Discurso, a noção de Formação Discursiva - FD é essencial para compreender o processo de produção dos sentidos e a relação com a ideologia. As palavras não têm um sentido nelas mesmas, seus sentidos são derivados das formações discursivas em que elas se inscrevem. Para Orlandi (1993), a FD é o lugar de constituição do sentido e da identificação do sujeito, pois é nela que o sujeito se reconhece. 3 Experiências, vivências e intersubjetividade formarão um esquema de referência que Schutz chama de fundo de conhecimento à mão - knowledge at hand (SCHUTZ, 2005).

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Pêcheux (2007) e Kristeva (1969) salientam o fato de que existe um “antes” do

discurso que influencia sua produção. No entendimento de Pêcheux (2007), implícitos são

pressupostos que compõem a memória discursiva. O pré-construído faz a ligação entre o

discurso e o linguístico com suas condições sócio-históricas e ideológicas. Pêcheux considera

que nessa relação dois aspectos devem ser considerados. O primeiro deles é o fato de a

linguagem ser a instância articuladora dos processos históricos com os fenômenos

linguísticos. Já o outro trata-se da capacidade de o homem significar e significar-se. Nessa

relação, a linguagem faz a mediação entre homem e realidade social.

Kristeva destaca que a compreensão da linguagem fornece “um saber sempre mais

preciso do funcionamento significante do homem” (KRISTEVA, 1969, p. 21), o que abre

perspectiva para pensar a produção e a circulação dos sentidos articuladas não apenas com o

discurso presente, mas com o que lhe é anterior.

Com base neste interessante diálogo entre Pêcheux e Kristeva, concebemos discurso

como Courtine (2009), que o vê imbricado no interior de um feixe de relações entre a língua e

a história. A partir da posição de Courtine, pressupomos que os discursos se originam de

outros que os precederam. Orlandi destaca que “as palavras não são só nossas. Elas

significam pela história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa nas

nossas palavras” (ORLANDI, 2007b, p. 32).

Todas essas considerações nos levam a supor que não somos “autores” do que

dizemos. Tal suposição não procede. A memória é mais do que depósito de informações do

passado, não é apenas um retorno simplório ao que foi dito anteriormente. O implícito é

reconstituído por meio de paráfrases e retomadas - repetições formais que vão do linguístico

ao histórico - que reelaboram os discursos antes de os colocar em circulação. Não se trata,

todavia, de mera substituição de palavras (ACHARD, 2007).

Não se podem simplificar os processos de paráfrase e ou serem eles reduzidos a uma

simples troca de palavras sinônimas, porque são bem mais complexos. Durante as construções

discursivas, alguns sentidos são cristalizados, outros não. Isso ocorre porque a produção e a

circulação de sentidos estão ligadas à memória. Tal fato é determinante sobre o que virá à

tona novamente, sob nova roupagem ou não. Dessa forma, a enunciação não seria vista como

originária do “locutor”, mas de outras operações relacionadas à retomada e à circulação do

discurso (MUZZI, 2011).

São estas considerações que levam a localizar a estrutura material da memória social

no discurso. A partir do momento em que há a clarificação do papel da memória, podemos

melhor compreender os implícitos presentes no enunciado. Mesmo assim, a comprovação da

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existência de implícitos não é simples, em razão da utilização das paráfrases (ACHARD,

2007). Ou, melhor dizendo, é muito difícil provar a existência de “um implícito (re)construído

como discurso autônomo em algum lugar” (ACHARD, 2007, p. 13).

A memória é como o que, diante de um texto, surge como acontecimento a ser lido.

Sob essa perspectiva, teria condições de “restabelecer os implícitos (quer dizer, os pré-

construídos, elementos citados e relatados, discursos transversos etc.) de que sua leitura

necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível” (PÊCHEUX, 2008, p. 50).

Cada novo acontecimento discursivo perturba a memória por provocar deslocamento e

desregulamentação nos implícitos associados ao sistema de “regularização” anterior

(PÊCHEUX. 2008).

Merece destaque a maneira como Achard entende “regularização”. O termo é utilizado

por ele para se referir ao fato de os implícitos não estarem sedimentados, mas disponíveis por

meio de repetição e formação do efeito em série de uma regularização. “A regularização se

apoia necessariamente sobre o reconhecimento do que é repetido. Esse reconhecimento é da

ordem do formal, e constitui um outro jogo de forças, este fundador” (ACHARD, 2007, p.

16).

Esse jogo de forças acontece na memória e é por seu intermédio que, depois do

desmanche de uma regularização, surge um novo sistema.

[...] a força da regularização busca manter certa estabilização parafrástica, competindo com a força da desregularização que vem desestabilizar a rede de implícitos veiculados pelas operações de paráfrase. [...] Trabalhar com memória discursiva é, portanto, trabalhar na tensão entre a regulação e desregulação (MUZZI, 2011, p. 140).

Como pode ser observado, a memória discursiva não é linear. No processo de sua

constituição são levados em conta lacunas e desdobramentos, estabilização e rupturas. Enfim,

trata-se de um jogo de tensões no qual atua o interdiscurso. Em decorrência deste jogo, a

qualquer momento podem surgir implícitos ou recomeçar tudo novamente de outro ponto

totalmente diferente. Um jogo no qual os sentidos são produzidos e re-produzidos

continuamente.

2.3 Discursos em construção

Por desempenhar papel central na mediação da vida social, a linguagem é um fator que

proporcionará a diferenciação - que acontece por meio de seleções e de escolhas - nas

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interações entre os homens (MEAD, 1993). Assim, no contexto da vida cotidiana os discursos

se localizam na interseção dos espaços da linguística, sociedade e história.

Ao usar o termo ‘discurso’ há que se levar em conta a linguagem como forma de

prática social e não atividade individual ou reflexo de variáveis situacionais. O

posicionamento a partir desses pressupostos tem implicações. Uma delas é que o discurso

passa a ser visto como um modo de representação e de ação. Torna-se uma forma por meio da

qual as pessoas agem sobre o mundo e sobre os demais (FAIRCLOUGH, 2008).

Outra implicação, citada por Fairclough, é a existência de relação entre discurso e

estrutura social. Esta última, em todos seus níveis societários e institucionais, normas e

convenções, molda e restringe o discurso. No sentido inverso, o discurso atua na constituição

das mesmas dimensões da estrutura social. “O discurso é uma prática, não apenas de

representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e contribuindo com o

mundo em significado” (FAIRCLOUGH, 2008, p. 91).

Fairclough adverte para a existência de duas limitações que devem ser levadas em

conta quando do estudo da relação da sociedade com a linguagem. A primeira delas é

enxergar este vínculo unilateralmente, ou seja, somente a linguagem recebe influência dos

fatores sociais. Entendemos que com essa observação, Fairclough repudia a visão determinista

do aspecto constitutivo do discurso, que vê somente a ação humana constrangida pela

estrutura social. Ele percebe que o homem também atua sobre a sociedade. Outra ilação que o

autor proporciona é a possibilidade de a linguagem contribuir para formação, reprodução e

mudança dos sujeitos e das relações sociais: concepção da linguagem como parte irredutível

da vida social (FAIRCLOUGH, 2008, p. 91).

A segunda limitação mencionada por Fairclough (2008) é o estabelecimento da

correlação entre as variáveis sociais e linguísticas em nível mais superficial, o que impede

maior aprofundamento em questões como as relações sociais entre as classes e grupos e a

articulação das instituições na formação social.

O discurso contribui para os ‘efeitos construtivos’ de identidades sociais e posições de

sujeito para os sujeitos sociais; relações sociais entre as pessoas e de sistemas de

conhecimento e de crenças. Essas contribuições correspondem às três funções da linguagem e

à dimensão de sentido “[...] que coexistem e interagem em todo o discurso” (FAIRCLOUGH,

2008, p. 92).

De acordo com Fairclough, são três as funções da linguagem: ‘identitária’ - modos

pelos quais as identidades são construídas no discurso; ‘relacional’ - representação e

negociação das relações sociais entre os participantes; e ‘ideacional’ - forma pela qual “[...]

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os textos significam o mundo, seus processos, entidades e relações” (FAIRCLOUGH, 2008,

p. 92). Mais uma vez nos deparamos com o processo de construção de sentido interconectado

com o discurso.

Um dos “efeitos construtivos” mencionados por Fairclough é a utilização de

metáforas. Elas estabelecem comparação entre dois elementos por meio de propriedades

imaginárias. Ao refletir acerca da presença das metáforas nos discursos, em primeiro lugar

deve-se situar o contexto de sua produção, que não pode ser generalizado, já que o espaço e o

tempo fazem toda a diferença no processo de significação. O discurso emprega a metáfora

com inúmeras finalidades: como um meio que facilita o entendimento de uma ideia, que

auxilia na produção de identidades, além de organizações, e no estabelecimento de suas

imagens. As metáforas, ao expressarem vivências, entrecruzam a construção de narrativas

sobre fatos e histórias, validadas ou não pelo senso comum presente no grupo ou comunidade.

As metáforas são também usadas para amenizar ou acentuar situações (FAIRCLOUGH,

2008).

2.3.1 Palco de dispersões e regularidades: formações discursivas e interdiscurso

O discurso é parte integrante do processo de produção de sentidos, por isso é

necessário que haja um entendimento de sua estrutura e constituição. Foucault (1971)

considera que os elementos que formam os discursos não estão ligados por princípio algum.

Não há entre eles unidade, mas dispersão. Os princípios que regem os discursos são chamados

por ele de “regras de formação”.

É por isso que uma formação discursiva - FD4 possui sempre um sistema de relações

entre objetos enunciativos, conceitos e estratégias. Proporcionam singularidade, além de

possibilitar a saída da dispersão em direção à regularidade.

Sempre que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão e se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições, funcionamentos, transformações) entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, teremos uma formação discursiva (GREGOLIN, 2004b, p. 90).

4 Formação discursiva - FD designa conjuntos de enunciados relacionados a um mesmo sistema de regras historicamente determinadas. Foucault (2009) considera que os discursos estão associados à noção de formação discursiva. Formação discursiva designa todo sistema de regras que funda a unidade de um conjunto de enunciados sócio-histórico circunscrito.

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O discurso pode ser entendido como conjunto de enunciados que remetem à mesma

FD. Dessa forma, a análise de uma formação discursiva é feita por meio dos seus enunciados -

entendidos por Foucault como unidade básica na composição de um discurso. O discurso

seria, portanto, uma família de enunciados pertencentes à mesma formação discursiva

(FOUCAULT, 1971). Nessa perspectiva, destacamos a visão de Brandão sobre a composição

do discurso.

[...] possibilitariam a identificação dos elementos que compõem o discurso, a saber: os objetos que aparecem, coexistem e se transformam num “espaço comum” discursivo; os diferentes tipos de enunciação que podem permear o discurso; os conceitos em suas formas de aparecimento e transformação em um campo discursivo, relacionados em sistema comum; os temas e as teorias, isto é, o sistema de relações entre diversas estratégias capazes de dar conta de uma formação discursiva, permitindo ou excluindo certos temas ou teorias (BRANDÃO, 2002, p. 28,)

As FD são identificadas como sequências discursivas vistas como conjuntos de

enunciados vinculados ao mesmo objeto e que obedecem a uma regularidade e sistema de

dispersão. No interior das formações discursivas acontece um processo ininterrupto e

constante; os enunciados são submetidos a duas ações que se opõem: a regularidade - certa

ordem geral, correlações, posições, funcionamentos e transformações - e uma dispersão -

rupturas, desvios, diferenças e heterogeneidades. Por meio desse processo dialético é possível

surgirem novas regularidades - uma síntese do encontro da regularidade com a dispersão

(FOUCAULT, 1971).

O discurso, no entendimento de Foucault (1971), não possui estrutura sólida,

permanente e acabada, já que os limites das formações discursivas são instáveis, além de,

continuamente, ser palco de dispersões. Constatamos, então, que o discurso está em contínua

construção dialética.

O estudo de determinado processo discursivo no interior de uma FD tem que levar em

consideração os impactos da ação do interdiscurso - espaço no qual são elaborados os pré-

construídos e articulados os enunciados. O interdiscurso produzirá e promoverá a circulação

dos sentidos nas inter-relações entre as formações discursivas (COURTINE, 2009).

O discurso é construído nos espaços da memória e do interdiscurso, que são o espaço

do repetível. Destaca que as formulações que caracterizam enunciações distintas e dispersas

se repetem, se parafraseiam, se opõem entre si e se transformam. O domínio da memória

“constitui a exterioridade do enunciável para o sujeito enunciador na formação dos

enunciados ‘pré-construídos’, de que sua enunciação apropria-se” (COURTINE, 2009, p.

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18).

Entendemos o interdiscurso como a relação de um discurso com outros discursos na

qual esses discursos são particularizados e constituídos. Não se pode afirmar categoricamente

que um discurso é novo, já que ele se encontra em permanente transformação: em diferentes

momentos, em contextos diversos e quando utilizado por indivíduos distintos. Mesmo assim

pode-se retornar ao que foi dito. Em se tratando do discurso, não há começo claro nem ponto

final. Muitas ideias manifestadas pela comunidade de Araxá sobre a atividade de mineração

espelham essa situação. Não tiveram seu início nos tempos contemporâneos. Alguns sentidos

perduram ao longo dos séculos, sua origem estaria nos primórdios da mineração, ainda no

século XVIII. Situam-se no domínio da memória.

O interdiscurso é o lugar no qual se constituem os enunciados. Podemos entender,

assim, que algo já foi falado antes em outro lugar. O enunciado é visto por Foucault como

“modo de ser singular (nem inteiramente linguístico, nem exclusivamente material)”. O

enunciado está inserido na história que o constitui; além disso, “tem sempre margens

povoadas de outros enunciados” (FOUCAULT, 2009, p. 98; 112). No interior do enunciado

forma-se um movimento da memória no resgate entre os acontecimentos do passado para

estabelecer abertura para um provável futuro. Não há estabilidade nem homogeneidade.

[...] ele só pode ser apanhado em uma trama complexa de produção de sentidos e, por isso, podemos concluir com uma característica geral e determinante sobre as relações entre o enunciado, o funcionamento enunciativo e a memória em uma sociedade: não há enunciado em geral, livre, neutro e independente; mas sempre um enunciado fazendo parte de uma série ou de um conjunto, desempenhando um papel no meio dos outros, neles se apoiando e deles se distinguindo: ele se integra sempre em um jogo enunciativo (GREGOLIN, 2004a, p.30).

Os níveis do enunciado - plano dos já ditos - e da enunciação - plano do que se está

dizendo, o ‘aqui’ e o ‘agora’ dos discursos - são articulados pelo domínio da memória.

Referem-se respectivamente ao interdiscurso e ao intradiscurso - lugar da enunciação por um

sujeito. O interdiscurso é a instância do enunciado, da ordem do repetível e do nível de

constituição do discurso - a “verticalidade”. Já o intradiscurso é a formulação da enunciação -

o diferente, com intervenção no ‘aqui’ e ‘agora’ do sujeito. É a ação do sujeito sobre o

enunciado. Por intermédio do intradiscurso, o sujeito atua no repetível. No entanto, a

responsabilidade pela alteração dos limites das formações discursivas, com a inclusão dos pré-

construídos e efeito do já dito, pertence ao interdiscurso (COURTINE, 2009).

O intradiscurso é considerado por Pêcheux (2008) “o fio do discurso” do sujeito

falante, ou seja, “um efeito do interdiscurso sobre si mesmo,” uma interioridade. Nesta

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perspectiva, podemos entender o intradiscurso como uma marca, a relação que a pessoa tem

consigo mesmo, levando em conta tanto suas formulações passadas quanto as futuras. Isto é,

os sujeitos, quando dominados por uma formação discursiva dada, se reconhecem, desta

forma os dizeres podem evocar cumplicidade ou apresentar coincidência.

Há uma relação necessária entre o interdiscurso - o já dito - e o intradiscurso - o que se

está dizendo, os dois conceitos caminham juntos. Orlandi propõe uma representação em dois

eixos que se cruzam. O interdiscurso seria o eixo vertical no qual estão os já ditos, os

esquecidos, os silenciados, mas que ainda se encontram latentes. O intradiscurso, como o eixo

horizontal, assinala o que dizemos naquele momento dado, em condições específicas. O

intradiscurso e o interdiscurso representam o dizível. O interdiscurso constitui o sentido,

mas ele é formulado pelo intradiscurso. Para a autora, no espaço existente entre ambos

atuam a ideologia e os efeitos imaginários (ORLANDI, 2007b).

Os dois níveis são interdependentes. Para o discurso existir é preciso que haja

articulação entre eles. O que é expresso pela pessoa, enquanto indivíduo, remete à noção de

intradiscurso (FIORIN, 2006a). É como o enunciador apreende determinados discursos e os

exterioriza. Trata-se de um processo de transmissão por meio de planos de expressão

(CARRIERI, 2009).

Já pelo interdiscurso é possível identificar o posicionamento dos enunciados em

relação a outros discursos existentes em determinado contexto sócio-histórico cultural. O

discurso retrata uma visão de mundo construída socialmente, que se relaciona a outras visões

de mundo. Este movimento remete à noção de interdiscurso.

Para ter sentido para um sujeito o que foi falado por outro sujeito em um momento

escolhido, é imprescindível que o segundo separe em sua memória pontos iguais ou

semelhantes. Esta ação é essencial para que os sentidos produzidos pelas palavras do primeiro

sejam compreendidos. O que alguém diz só faz sentido caso o sentido tenha sido construído

anteriormente. O interdiscurso se forma pelo conjunto de formulações feitas, esquecidas,

anônimas, que determinam o que dizemos. O seu efeito recai sobre o sentido que produz na

recepção.

[...] o ‘todo complexo’ põe à disposição um conjunto X de pré-construídos, mas para cada sujeito, ou para cada ‘comunidade’ de sujeitos (ou, ainda, para cada FD), só são selecionáveis os pré-construídos aceitáveis para essa FD. Dizendo de outro modo, só estão disponíveis, para cada FD, os pré-construídos cujo sentido é evidente para essa FD (POSSENTI, 2003, p. 256).

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O interdiscurso pode também ser visto como o conjunto das formações discursivas. O

enunciável, ou dizível, como classifica, é exterior ao enunciador e se expressa por diferentes

formulações que se encontram espalhadas. O conjunto forma o domínio da memória

(PÊCHEUX, 1988).

Courtine (2009) e Maradin (1979) consideram o interdiscurso o responsável pelo

deslocamento das fronteiras da FD. Trata-se de um processo que pode provocar lembranças,

esquecimentos ou apagamentos, além de organizar as paráfrases.

O interdiscurso é ainda o espaço de constituição dos objetos do discurso e das relações

entre esses objetos, o exterior específico no qual estariam localizadas as FDs. Nessa extensão

indefinida estariam os diversos conjuntos de pré-construídos presentes nos discursos com que

se relacionam. Dessa área são acionadas as redes particulares de memória (POSSENTI, 2003).

Maingueneau (2008) enxerga o interdiscurso em dimensão triádica. Para ele, o

interdiscurso possui três instâncias. A primeira é o universo discursivo, que congrega todas as

FDs, e é o local no qual elas estão inseridas e interagem. Trata-se de um conjunto finito que,

mesmo assim, não pode ser apreendido em sua globalidade. No interior da segunda instância,

o campo discursivo, um discurso se constitui a partir de operações regulares sobre as FDs

existentes, onde ocorrem os confrontos ou fusões entre os conjuntos de FDs. Possenti (2003)

adverte que, em um mesmo campo, os discursos não se formam todos da mesma maneira;

além disso, não se determina a priori os tipos de relações existentes entre as FDs.

Há ainda a terceira instância, situada no interior da segunda, o espaço discursivo, na

qual existem os subconjuntos de FDs.

Consideramos que essa concepção proposta por Maingueneau (2008) nos permite

visualizar como o interdiscurso é móvel e como os discursos estão inseridos em uma rede de

permutas entre vários discursos convenientemente escolhidos. Esse posicionamento coloca

em xeque a ideia de que o discurso é a unidade de análise. Na percepção de Maingueneau

(2008), o foco deve ser o espaço de trocas entre os discursos, a circulação dos sentidos. É por

isso que Orlandi (2007b) qualifica de “complexas” as relações estabelecidas pelo sentido

durante o que denomina “jogo da discursividade”.

2.4 Discurso e sentidos em circulação

O discurso possui papel preponderante na circularidade do sistema de significação e

sentido. Charaudeau atribui ao discurso perspectiva mais ampla por não se restringir somente

a desempenhar o papel de manifestação da linguagem. É “palco” da “encenação” da

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significação. Deve-se ressaltar que o discurso ultrapassa os códigos de manifestação

linguageira na medida em que é o lugar da encenação da significação, sendo que pode utilizar,

conforme seus fins, um ou vários códigos semiológicos (CHARAUDEAU, 2009a, p. 25).

O efeito de sustentação no já dito resulta na fala. Quando dado sentido perde sua

autoria, entra para o “regime de anonimato”, ganha “universalidade”. Dessa forma gera a

ilusão de que é inédito, não possui história. Então há a falsa impressão de que acabou de ser

constituído.

Henry (1990) ressalta que o sentido é questão aberta. O sujeito não é origem de si, não

tem o domínio de como os sentidos nele se formam, como experimenta os sentidos. Daí, a

necessidade colocada por Orlandi (1994) de não fechar questões, mas dialogar com as

diferenças. Principalmente, é preciso considerar que o sentido não está determinado por

antecipação na representação primeira das palavras. E não pode ser estabelecido

aleatoriamente; o sentido possui determinação histórica por ser composto por certa

materialidade em determinadas condições de produção. Henry (1990) considera que, ao dar

sentidos para os fatos, os homens fazem história.

No processo de produção de sentidos, é por meio dos momentos de ruptura, sem se

esquecer das regularidades, que é possível acompanhar a trilha da produção discursiva com o

conhecimento que proporciona sobre uma realidade ou fenômeno específico. Por sua ligação

com o interdiscurso, a ruptura fica mais explicitada quando do reposicionamento dos sujeitos

no discurso - já que a linguagem é um processo em permanente construção.

Os sujeitos convivem em seu ambiente social com um sistema de dominação e

instabilidade atravessado por relações simbólicas. É no interior do campo discursivo que

acontecimentos e construções de sentidos estão sendo continuamente disputados, negociados

e deslocados (FAIRCLOUGH, 2008).

Este é o que Orlandi chama de “jogo complexo da discursividade”. Neste jogo, a

perspectiva história é fundamental para o entendimento da mobilização das relações de

sentido que, no seu entendimento, seriam provocadas pelo saber discursivo que, por sua vez,

geraria esquecimentos ou lembranças. O efeito de sustentação no já dito resulta na fala.

Quando dado sentido perde sua autoria, entra para o “regime de anonimato”, ganha

“universalidade”. Dessa forma gera a ilusão de que é inédito, não possui história. Dá a falsa

impressão de que acabou de ser constituído (ORLANDI, 1994).

Fausto Neto (2010a), na mesma direção de Orlandi (1994), chama atenção para o “alto

grau de complexidade” que o ato discursivo adquire em face da apropriação que o sujeito faz

da linguagem para se nomear e se referir ao mundo e a seu socius. Para ele, a relação da

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linguagem com o sujeito produz “surpresas e dissabores”. Não transcorre na linearidade, e os

sujeitos pessoais ou institucionais não são protagonistas, porque sua atuação recebe a

influência do interdiscurso com toda a carga simbólica que este traz consigo. (FAUSTO

NETO, 2010a , p.60)

Verón, ao assumir os processos da discursividade social como “sistemas complexos”,

propõe que a teoria dos discursos sociais considere a defasagem que existe desde os processos

mais simples, como a troca de palavras entre duas pessoas, até os processos eletrônicos de

comunicação.

[...] De fato, se a defasagem entre a produção e o reconhecimento é constitutiva da circulação do sentido, se a não linearidade é uma propriedade desta última enquanto sistema complexo, a indeterminação relativa é um princípio válido para todos os níveis da “comunicação”. [...] Quanto mais complexo foi o suporte do discurso (fazendo com que intervenham matérias significantes heterogêneas e simultâneas), mais a distância entre produção e reconhecimento corre o risco de aumentar. (VERÓN, 2004, p. 84)

Ao falar, as pessoas discorrem sobre algo, o que não é simplesmente ato de produzir

frases. O discurso não é prolongamento da linguística. É em decorrência deste fato que o

estudo sobre a produção discursiva não tem o sujeito falante como a ‘fonte’ de sentido, mas

como ponto de passagem na circulação do sentido (VERÓN, 2004).

A unidade de análise mínima não pode ser outra além daquela da interdiscursividade, ou seja, aquela da troca. A discursividade social aparece “presa” entre dois polos: o da produção e o do reconhecimento dos discursos. É nesta escala de observação que uma propriedade fundamental da circulação do sentido se torna visível: esta última marcada por indeterminação. O que quer dizer que entre a produção do sentido e seu reconhecimento, entre a produção de um discurso e seus “efeitos” não há causalidade linear. Um discurso jamais produz um único efeito; desenha, ao contrário, um campo de efeitos possíveis (VERÓN, 2004, p. 82).

Com base no exposto, consideramos que a circulação dos sentidos aciona o

interdiscurso que atua como coenunciador no contexto de circulação. Protocolos novos ou

vindos de outros discursos articulam a produção e a recepção.

[...] não se trata da supressão dos lugares de produção e da recepção de discursos, mas de sua subordinação à configuração de novos regimes de discursividades nos quais o discurso está preso. Trata-se da ordem interdiscursiva onde a circulação - como ”terceiro” - se oferece como um novo lugar de produção, funcionamento e regulação de sentidos (FAUSTO NETO, 2010b, p. 60).

Segundo Fausto Neto, a circulação não pode ser vista apenas como “intervalo” ou

“passagem”. Para o autor, deixou de existir um link direto entre produção e recepção. Essa

certeza significa que não há mais limites claros e bem definidos na interface entre as duas

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instâncias.

[...] os discursos se contatam, neste novo espaço, e suas intenções de origem perdem força, uma vez que estão entregues às dinâmicas que fazem com que produção e recepção não as controlem, bem como os efeitos que presumem estabelecer sobre discursos. (FAUSTO NETO, 2010 b, p. 61).

Circulação, na perspectiva de Verón, é a diferença existente entre os dois polos -

produção e reconhecimento - que são produtores do sentido e “[...] funcionam na cadeia da

interdiscursividade com “complexa articulação” entre as propriedades do discurso proposto e

as estratégias de apropriação do sujeito”. Para o autor, a circulação proporciona ainda a

possibilidade de se acompanhar a transformação temporal do trabalho social de “investimento

de sentido nas matérias significantes”. (VERÓN, 1980, p. 10).

Consideramos que os “jogos complexos” de reconhecimento, negociação e

apropriação de sentidos são entabulados na circulação. Isto ocorre quando há o encontro de

produtores e receptores, além de ser o momento em que entra em cena o interdiscurso, com o

universo de relações entre os discursos que traz consigo.

A troca discursiva possui a marca do antes pelo fato de o enunciador basear-se em

situações vividas, em conhecimentos adquiridos e no interdiscurso para elaborar seu texto.

Para isso, são considerados diversos aspectos, como quem é o receptor, o que pensa sobre o

assunto a ser falado, qual a opinião que imagina que o receptor tenha sobre ele, qual o

contexto e temporalidade implicados nessa relação.

[...] os processos discursivos supõem, por parte do emissor, uma antecipação das representações do receptor. O enunciador, ao estabelecer seu ato de fala, se baseia em imagens preconcebidas [...] Dessa forma, mesmo inconscientemente, o enunciador projeta tais imagens em seu discurso. A partir dessa antecipação imaginária, o emissor constrói as estratégias de seu discurso e configura as imagens discursivas. [...] As imagens discursivas possibilitam a análise das posições de sujeito. Elas revelam as condições de produção do discurso: por que determinado sujeito pode enunciar determinada mensagem a determinados receptores (ALMEIDA, 2012 p. 4).

A situação retratada ilustra perfeitamente o fato de que o sentido é social e os sujeitos

agem em sua construção e reconstrução. Braga ressalta que a sociedade constrói a realidade

social por meio de processos interacionais pelos quais se relacionam indivíduos, grupos e

setores da sociedade: “Construímos socialmente a realidade social, na medida em que

tentamos organizar possibilidades de interação” (BRAGA, 2007, p.143).

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No processo de circularidade e reflexividade, são considerados competências, saberes,

desejos, história, cultura e imaginário. Dessa forma, quando em situação de interação

comunicacional, os sujeitos deixam marcas na linguagem e, ao mesmo tempo, por ela são

marcados.

O interdiscurso remete à heterogeneidade do discurso que mantém relação com

“outras vozes”. “A heterogeneidade incide sobre as manifestações explícitas, recuperáveis a

partir de uma diversidade de fontes de enunciação” (PEREIRA; BRITO, 2009, p. 69).

Quando da ruptura, estabelece-se o diálogo com “outras vozes” em um movimento dialógico

e polifônico no qual é possível visualizar os sentidos (PEREIRA; BRITO, 2009).

2.4.1 Múltiplas vozes em cena: interdiscurso e dialogismo

A partir das observações de que um discurso não é homogêneo, não existe sozinho e

não é elaborado por um único autor - os sujeitos encontram-se espalhados e sem unicidade,

constata-se que os discursos se encontram em permanente interação, como foi percebido por

Bakhtin, para quem a relação com o Outro é o princípio da discursividade. No caminho até o

objeto, o discurso se encontra com o discurso do Outro, com o qual mantém relação de troca.

[...] qualquer discurso [...] não pode deixar de se orientar para o “já dito”, para o “conhecido”, para a “opinião pública” etc. A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso. Trata-se da orientação natural a todo discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa. (BAKHTIN, 1998, p. 88)

Bakhtin (1998) considera que os ecos e a recordação de outros enunciados estão

presentes no enunciado de agora, como pode ser constatado com a presença dos já ditos na

elaboração dos discursos. A única exceção que elenca é a do que chama “Adão mítico”, ou

seja, as primeiras palavras do primeiro homem. Em sua visão, nas trocas permanentes e no

contínuo diálogo estão os “discursos-respostas”. Eles ainda não foram pronunciados, mas

apesar disso participam não somente no ato da enunciação de hoje, mas nos do futuro, mesmo

inconscientemente. Pela ligação do passado com o presente, podemos considerar memória os

“discursos-respostas” de Bakhtin - mesmo que Bakhtin não tenha estudado especificamente a

memória. “Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo

fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui

justamente o produto da interação do locutor com o ouvinte” (BAKHTIN, 1992, p. 13, grifo

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do autor).

Esses pontos levaram Fiorin (2006b) ao entendimento de que, por meio das

elaborações realizadas por Bakhtin, pode-se afirmar que o interdiscurso é visto como

dialogismo. Bakhtin enxerga o dialogismo como o princípio constitutivo da linguagem e

forma particular de composição do discursivo, além de ser condição de sentido do discurso. O

dialogismo possui o princípio do interdiscurso, pois não se revela ao longo do discurso.

De forma alguma a noção de dialogismo é tratada como equivalente ao diálogo ou

interação face a face. Bakhtin é bem mais complexo. Fiorin (2006b) nos diz que o conceito de

dialogismo de Bakhtin traz em si a ideia da incorporação da(s) voz(es) de outro(s) no

enunciado. Esse fato ocorre por meio de dois tipos de discursos: o objetivado - abertamente

citado - e o bivocal - não há separação explícita entre enunciado citante e enunciado citado,

como a paródia. Estas seriam as “maneiras externas e visíveis de mostrar outras vozes no

discurso” (FIORIN, 2006a, p. 32). Toda palavra expressa um em relação ao outro: produto da

interação entre locutor e ouvinte.

O mundo interior do sujeito bakhtiniano se forma a partir de diferentes vozes. Ele não

seria assujeitado nem autônomo em relação à sociedade, forma-se ao apreender as vozes que

fazem parte de seu contexto. Vozes que sempre colocam o sujeito em relação a seu mundo

exterior em uma construção permanente, pois nada está pronto, finalizado (FIORIN, 2006a).

Dentro do dialogismo, concebe-se o texto como “tecido de muitas vozes”, que polemizariam

entre si, se entrecruzariam ou se complementariam (FIORIN, 2006b).

O interlocutor deixa de ser simples decodificador de mensagens, é também

constitutivo do ato de produção da linguagem, um coenunciador. Desempenha, portanto,

papel de destaque na elaboração e na produção do significado. A orientação para o outro deve

ser levada em conta quando da análise do enunciado. O sujeito, ao falar ou escrever, deixa em

seu texto marcas profundas de sua sociedade, seu núcleo familiar e experiências, além de

pressuposições sobre o que o interlocutor gostaria ou não de ouvir ou ler, tendo em vista seu

contexto social.

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato fisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 2004, p. 123)

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Outra noção introduzida por Bakhtin relacionada com as múltiplas vozes é a polifonia.

Ao analisar a obra de Dostoiévski, Bakhtin identificou que o autor utiliza máscaras em seus

personagens para representar vozes que falam, sem que uma delas seja preponderante. No

entendimento de Bakhtin, polifonia caracteriza um tipo de texto no qual o dialogismo se

deixa ver e se percebem distintas vozes. É uma oposição aos textos monofônicos, que

escondem os diálogos que os formam (BARROS, 1997, p. 35).

A noção de polifonia de Bakhtin faz a atenção recair na existência de uma pluralidade

de vozes que coexistem, geram diferentes registros e não se fundem. São elas que

proporcionam dinamicidade ao dialogismo. Polifonia não é apenas o heterogêneo, mas indica

o ângulo dialógico, que possibilita às vozes transcender a si próprias por justaposição ou

contraposição.

A polifonia pode ser vista como diversidade discursiva pelo fato de o discurso ser

perpassado por diversas “vozes” e privilegiar a interação com o outro (BAKHTIN, 2003).

Trata-se de um processo de interação dialógica no qual antes de ter início um enunciado já

existia o enunciado de outros - que forma o já dito. Também é necessário considerar que antes

da finalização do enunciado há uma resposta de outros - neste caso, trata-se do que ainda não

foi dito (PEREIRA, BRITO, 2009).

A polifonia das múltiplas vozes da cidade de Araxá, formam o seu processo de

significação para construção do sentido com base na interação comunicacional. Na produção

de sentidos, o discurso também tem papel fundamental. Na elaboração do discurso interferem

inúmeros fatores, um deles é a memória. Muitos textos presentes nos discursos estão situados

no passado e retornam ao presente.

A memória não se refere apenas ao âmbito pessoal, mas guarda relação com as

práticas sociais porque muitas construções são coletivas como pré-construídos. A memória

discursiva não é linear, é um jogo de tensões com lacunas, desdobramentos, estabilização e

rupturas. É o espaço de atuação do interdiscurso que assim como o discurso está inserido em

uma rede de trocas na qual estão presentes a ideologia e o imaginário.

É por meio da produção e circulação de sentidos chegamos a uma construção

simbólica chamada imagem. Se a construção discursiva leva ao sentido, este, por sua vez, cria

a imagem. Os sentidos constituem o pano de fundo que nos leva até a imagem.

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3 POR TRÁS DO PODER DA IMAGEM, O IMAGINÁRIO E A IDEOLOGIA

Neste estudo sobre a imagem que a sociedade de Araxá elabora a respeito da atividade

de mineração, temos que levar em conta que as interações mediadas simbolicamente são

fundamentais na formação da imagem. Isto ocorre porque as imagens são estabelecidas nas

relações e constituem um processo construtivo contínuo, no qual os sentidos produzidos

recebem influência da memória, do imaginário e da ideologia.

As informações trazidas por uma imagem são processadas e geram símbolos mentais.

O significado é a representação que irá gerar conhecimento e novas possibilidades de utilizá-

lo, que é o sentido (OLIVEIRA, 2012).

Como a elaboração da imagem acontece no âmbito da recepção, ela é resultante de

uma impressão subjetiva única gravada em nossas mentes por intermédio de experiências e

sensações, não necessariamente atuais, mas de outros momentos ou de outras épocas. Trata-

se de um somatório de percepções e inter-relações dos atores sociais. É por isso que, muitas

vezes, pessoas distintas possuem imagens diferentes de um mesmo objeto (ALMEIDA, 2005).

Existe uma vinculação intensa da imagem com o discurso, sentidos, imaginário e

memória. Os discursos não são um bloco homogêneo, mas heterogêneo construído na

contradição em decorrência de inúmeros fatores. Um deles é a ideologia que deixa suas

marcas no discurso, materializando-se nele. Há, assim, uma relação recíproca entre ideologia

e linguagem (ORLANDI 2007b). Assim como o discurso produz os sentidos, este por sua vez

realiza a construção simbólica da imagem.

Por se tratar de um fator inacabado, a imagem é aberta a mudanças e/ou para receber

novas informações. Com isso o significado simbólico é passível de ser modificado

continuamente. Novas dimensões são agregadas e outras imagens podem ser geradas, por sua

vez também trarão em si uma grande dose instabilidade (ALMEIDA, 2005).

Consideramos que crenças, ideias, sentimentos e impressões do indivíduo realizam trocas

simbólicas contínuas com o imaginário social, a ideologia e as experiências socialmente

compartilhadas como o senso comum, o mundo da vida e a intersubjetividade. Consideramos

que estas trocas impactam a imagem, já que influenciam também a memória afetivo- social

que em ação conjunta com o imaginário proporciona a base do agir do interdiscurso e,

consequentemente, do implícito e dos pré-construídos.

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3.1 Espaço social e contexto ideológico

O pensar social está em todas as institucionalizações simbólicas que organizam a

relação com o outro, presença que ultrapassa o ato de comunicação. Assim, a ação dos fluxos

simbólicos sobre o funcionamento social tem a finalidade de regulá-los (GODOI, 2010). No

desencadear deste raciocínio, Alonso (1998) percebe o fato de o discurso social ser sempre

produzido em relação a outro discurso social, o que é do caráter de interdiscursividade.

A prática social se compõe de vários momentos que, articulados, são internalizados

pelos sujeitos. Entre eles citam-se discurso, atividade material e ideologias - das quais fazem

parte crenças, desejos e valores -, além das relações sociais, englobados como relações de

poder e lutas hegemônicas. As práticas particulares se formam pela soma de muitos desses

momentos ou elementos que, com o tempo, são internalizados pelos sujeitos em suas

interações. E assim são formadas a cultura e a realidade social (OLIVEIRA; LIMA;

MONTEIRO, 2011).

Ao abordar os diversos sentidos construídos pelo discurso é necessário que se resgate

a compreensão sobre ordem do discurso, por ela abranger a totalidade de práticas discursivas,

definidas social ou temporalmente, com origem comum. Discursos produzidos em um mesmo

contexto não se relacionam somente entre si, mas com textos de outras ordens discursivas,

quando produzem a intertextualidade. “Nesse sentido, as ordens de discurso podem ser

consideradas como facetas discursivas das ordens sociais, cuja articulação e rearticulação

interna têm a mesma natureza” (FAIRCLOUGH, 2008, p. 99).

Essa posição de Fairclough (2008) sobre ordem de discurso é fundamental para o

entendimento de como a ideologia se insere no contexto discursivo. É desse modo que ele

observa a presença da ideologia nas estruturas, que são as ordens do discurso, e nos eventos

discursivos, que representam o modo como os sujeitos se posicionam ideologicamente

(OLIVEIRA; LIMA; MONTEIRO, 2011).

A compreensão dos discursos sociais não pode acontecer apenas com base na soma de

atos de linguagem e na análise dos enunciados. Há que considerar ainda o espaço social

estruturado, no qual ocorrem relações entre grupos com distintos posicionamentos sociais,

com disputas e jogo de poder. Os espaços são estruturados a partir de regras exclusivas de

funcionamento e possuem suas próprias relações de força. É o local no qual forças se

movimentam, entrelaçam, chocam, fraturam ou se somam. Enfim, é onde os sentidos são

produzidos.

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O poder se elabora durante o processo interativo enunciativo, quando são postos em

circulação discursos repletos de efeitos de sentidos que legitimam o campo institucional em

razão da promoção de atributos como credibilidade, inovação e participação social, entre

outros (FOUCAULT, 1996). Consideramos que as relações de poder se constroem em dado

campo por meio da linguagem e do discurso. Os sentidos produzidos constituem o processo

ideológico que se manifesta nas esferas políticas, sociais e organizacionais.

O discurso é o lugar específico do qual podemos observar a relação entre linguagem e

ideologia. O sujeito tem papel de mediador nessa ligação, “[...] não há discurso sem sujeito

nem sujeito sem ideologia. O efeito ideológico elementar é o que institui o sujeito”

(ORLANDI, 1994, p. 55).

As palavras funcionam como agente e memória social. São inúmeros os fios que

fazem a tessitura entre passado, presente e futuro possível. “[...] cada palavra evoca um

contexto, nos quais ela viveu sua vida socialmente tensa; todas as palavras e formas são

povoadas de intenções” (BAKHTIN, 1998, p. 100). Com a utilização do arcabouço teórico de

Bakhtin, Cereja (2007) enxerga que a representação da palavra transcende o discurso: é

história e ideologia. Para ele, na prática discursiva as palavras são perpassadas por uma

infinidade de fios repletos de ideologia. É dessa maneira que, farto de intencionalidade, se

elabora o campo das relações.

A linguagem, na visão de Foucault (2009), é o meio pelo qual a força se manifesta e se

exerce o poder. O foco permite vislumbrar a importância desempenhada pelas relações de

poder, a partir da linguagem e do discurso, na sociedade atual. A relação se manifesta pelos

discursos, capazes de situar os saberes cotidianos (PEREIRA; BRITO, 2009, p. 61). O

discurso, então, seria a combinação não apenas de elementos linguísticos, mas representação

ideológica por meio da qual os sujeitos manifestam ideias e agem sobre o mundo.

O poder social se manifesta em situações de interação. O controle mental é exercido

por meio da persuasão, que acontece no processo discursivo, ou por medo de sanções. Para

isso ocorrer, é essencial se conhecerem desejos e vontades que se efetivam por intermédio de

crenças, normas e valores culturais, que proporcionam o consenso compartilhado (DIJK,

2008).

O exercício do poder é ainda uma forma de interação social - para isso deve existir

uma base socialmente relevante. É em decorrência deste fato que a relação entre discurso e

poder pode ser vista como reflexo do poder da classe, grupo ou instituição - ou do status de

seus membros -, exercido pelo acesso diferenciado a vários gêneros, conteúdos e estilos de

discurso (DIJK, 2008).

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O controle social é exercido por meio do discurso, principalmente pelo domínio das

formas de produção. É dessa forma que quem detém o controle do discurso e sua produção

material, articulação, distribuição e influência obtém o controle social. Isso significa que são

mais poderosos aqueles que têm maior acesso e controlam variados tipos de papéis, gêneros,

oportunidades e estilos de discursos. Decidem o ‘tom’ da fala/escrita e até quem será o

receptor (DIJK, 2008).

Um exemplo desta situação são as empresas de comunicação, que controlam as

condições financeiras e tecnológicas da produção do discurso, além de exercer influência

editorial no controle parcial do conteúdo ou dimensão do consenso/dissenso da maior parte do

discurso público. Este aparato é chamado por Dijk (2008) de estruturas ideológicas -

concebidas como cognições socialmente compartilhadas e relacionadas aos interesses de um

grupo e seus membros, consideradas, portanto, fundamentais para exercício e manutenção do

poder social (DIJK, 2008).

No âmbito do controle do discurso e dos modos de reprodução discursiva, as elites

simbólicas5 desempenham papel essencial de sustentação do aparato ideológico por

permitirem exercício e manutenção do poder. Têm acesso privilegiado aos discursos públicos.

Detêm a influência na reprodução discursiva de dominação na sociedade e na ideologia

(DIJK, 2008).

Do ponto de vista cognitivo, a mente opera a partir de estruturas cognitivas (VAN DIJK, 1999). Assim, o discurso controla a mente e esta, por sua vez, controla a ação. Logo, no entender de Van Dijk (2010, p.18) os grupos sociais dominantes - aqueles atores que detém o poder - buscarão sempre controlar o discurso, para controlar não só estruturas cognitivas como principalmente determinadas estruturas sociais (PERES NETO, 2012, p. 8).

Na teoria marxista, a ideologia preponderante é a daqueles que controlam os meios de

reprodução ideológica. Os dominantes procuram camuflar sua ideologia e desenvolvem nos

dominados a falsa consciência de sua posição socioeconômica - o que os levaria a agir contra

os próprios interesses.

5 Van Dijk entende que as elites simbólicas detêm controle sobre os modos de influência. Por isso, considera importante analisar o papel estratégico do discurso e de seus agentes falantes, como editores, escritores, dentre outros. Para ele, as elites simbólicas controlam não só o estilo e o conteúdo dos discursos midiático e educacional, mas também influenciam a reprodução ideológica. Elas não são independentes de outros grupos de poder, como o político e econômico. (DIJK, 2008).

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A abordagem de ideologia6 apresentada por Dijk (2008) confere coerência às atitudes

sociais, que, por sua vez, codeterminam as práticas sociais, dentre as quais se encontra o

discurso, que é visto como a prática social essencial para mediação e administração de

crenças. Existem estratégias econômicas, culturais e simbólicas de gerenciamento do

conhecimento e difusão de valores e metas dominantes. O poder proporcionado por essas

ideologias fornece as condições que tornam desnecessária qualquer “conspiração” desses

grupos de poder. O discurso se transforma em meio de controle social. A aquisição de uma

ideologia não se guia somente pelos interesses objetivos de cada grupo ou classe, mas pode

ultrapassá-los. Estruturas ideológicas são combinações de princípios, normas socialmente

relevantes que favorecem a percepção dentro dos interesses do grupo. “[...] como tais

cognições grupais influenciam as construções sociais da realidade, as práticas sociais e, por

conseguinte, a (trans)formação das estruturas societais” (DIJK, 2008, p. 49).

Já Bakhtin (1998) afirma que a ideologia se expressa por meio dos signos; para isso

ela os organiza, regula, reproduz e/ou os subverte: “[...] tudo que é ideológico é um signo.

Sem signos não há ideologia” (BAKHTIN, 1992, p. 31). Os signos linguísticos fazem a

ligação entre a consciência individual e a interação social. Os discursos se contrapõem

incessantemente em embate ideológico contínuo. Fiorin (2006a) ressalta que as vozes não

circulam fora do âmbito do poder. “[...] não se diz o que se quer, quando se quer, como se

quer” (FIORIN, 2006a, 32).

Nessa perspectiva, Foucault (1996) considera que o contexto remete aos jogos de

poder. Já Carvalho faz a interconexão de contexto com as noções de formações discursivas,

narrativas comunicacionais e enquadramento.

[...] E jogos de poder, em sua perspectiva, têm nas formações discursivas, das quais fazem parte as narrativas comunicacionais - com suas peculiaridades de enquadramento - um campo fértil de exercício. Desse modo, lidamos com uma noção de contexto que não se limita ao reconhecimento superficial das bordas de uma cena, de um acontecimento, mas com as implicações mais profundas que dizem dos significados aparentes, e eventualmente ocultos nas operações de enquadramento, para que seja possível interpretar não somente os enquadramentos, mas também as interpretações neles contidas sobre as estratégias comunicacionais sob análise (CARVALHO, 2011, p.13).

Ainda nessa direção, a ideologia é também entendida por Orlandi (2007b) como

interpretação de sentidos, determinada pela relação entre linguagem e história, em seus 6 Van Dijk define ideologia como uma forma de cognição social. É uma estrutura cognitiva complexa que controla a formação, transformação e aplicação de outros tipos de cognição social - tais como o conhecimento, as opiniões e as posturas - e de representações sociais - como os preconceitos. (DIJK, 2008).

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mecanismos imaginários. A ideologia se sustenta sobre o já-dito, os sentidos

institucionalizados, além de naturalizar o que é produzido pela história.

Dessa forma, a ideologia deve ser pensada a partir da linguagem em face de sua

materialidade estar no discurso. A ideologia só é identificável no discurso. Como as ideias só

podem ser manifestadas pela linguagem, não existe visão de mundo desvinculada da palavra,

que pode expressar diferentes aspectos da realidade de acordo com os diversos pontos de vista

daqueles que dela fazem uso.

“Não atravesso a linguagem para encontrar a ideologia, na linguagem a ideologia é”

(ORLANDI, 2007b, p.23). Com esta argumentação, Orlandi (2007b) encara a ideologia como

prática e funcionamento discursivo, não como “conteúdo”.

A mobilização das relações de sentido provocadas pelo saber discursivo pode gerar

esquecimentos ou lembranças. Indispensável é considerar o que as pessoas dizem e o que não

dizem sobre diversos assuntos, quando elas silenciam ou são silenciadas.

Para Orlandi (2007a), o silêncio e as palavras são ambíguos, pois são produzidos em

condições específicas de significação. A autora estabelece uma classificação em dois tipos.

Um seria o silêncio fundador, modo de estar em silêncio que corresponde ao estar no sentido.

Torna a significação possível, “[...] as próprias palavras transpiram silêncio”. Vivemos em

um momento histórico caracterizado pelo “império do verbal”, no qual há a expectativa de

que o sujeito produza signos audíveis e visíveis todo o tempo.

Mesmo nesta conjuntura, o silêncio pode se transformar na instância de processamento

daquilo que não se consegue expressar por meio do discurso. No caso, o silêncio perde a

pecha de passividade, atribuída pela cultura ocidental, e deixa de ser negativo. Traduz um

papel retórico de destaque que não quer dizer que seja aceitação, por permitir “exprimir o

inexpressível” (ORLANDI, 2007a ).

O contexto histórico, ideológico e social configura-se importante na constituição desse

silêncio e do outro, que seria o licenciamento ou a política do silêncio, que se divide em

silêncio constitutivo e silêncio local, “[...] que já não é o silêncio, mas ‘pôr em silêncio”.

Silencia-se sobre a produção de sentidos, a separação entre o dizer e o não dizer (ORLANDI,

2007a, p. 12).

A imposição do silêncio não significa calar o interlocutor, mas um impedimento para

ele sustentar outro discurso. [...] “Em condições dadas, fala-se para não dizer (ou não permitir

que se digam) coisas que podem causar rupturas significativas na relação de sentidos. As

palavras vêm carregadas de silêncio(s)” (ORLANDI, 2007a, p.102).

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Na história recente do Brasil, pode-se ilustrar essa concepção de silêncio com um

acontecimento, quando da censura aos meios de comunicação pelo regime militar. Um

silêncio repleto de palavras: versos de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, apareceram 655

vezes nas páginas de O Estado de S. Paulo, de 2 de agosto de 1973 a 3 de janeiro de 1975,

para preencher o vazio aberto pelo trabalho dos censores. Os poemas saíam incompletos,

inesperadamente interrompidos, pois a proposta era que deveriam cobrir apenas a área da

matéria censurada. Silêncio, como poder e resistência. Silêncio, feito com palavras que não

significavam nada. Silêncio, como forma de produzir sentidos cuja significação estava muito

além das palavras impressas. O príncipe Hamlet, na peça de Shakespeare, ao se encontrar à

beira da morte diz: “E o resto é o silêncio...”

3.2 “Imagens são mediações entre o homem o mundo”7

Por meio de uma rede de interconexões, identificamos que as construções discursivas

conduzem à produção de sentidos; esta, por sua vez, irá levar à formação das imagens. É

dessa forma que vamos enxergar a imagem, não como um objeto real, concreto, mas uma

percepção operada a partir dele, na qual exerceram influência fatores externos, uma

decorrência do ato de pensar.

A imagem que temos de um objeto não corresponde ao que ele é em si ou para outra

pessoa, mas a uma parte do que sabemos sobre ele. Esse conhecimento é marcado também

pelos sentimentos e experiências que tivemos em relação a ele e sobre o qual atuam inúmeros

fatores, como a memória e o imaginário. Nesse processo de construção da imagem podem

ocorrer acréscimos e variações pertencentes ao sujeito que realiza a percepção, não estão no

objeto em si.

É por este fato que a dimensão subjetiva é inerente às imagens. Podemos entender a

imagem como resultado de uma percepção simbólica que ocorre no âmbito da recepção.

Assim, tal qual quando olhamos em um caleidoscópio, a imagem varia de acordo com a

posição do olhar com que é percebida.

[...] A imagem é a relação necessária que a coisa aqui presente tem de remeter necessariamente à coisa ausente (de vê-la, ou de pensá-la, de evocá-la). Uma imagem não é então uma coisa, é uma relação com uma outra coisa (WOLFF, 2005, p.20-21).

7 Frase de Vilém Flusser (2011, p. 23) em “Filosofia da caixa preta”

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Em razão da subjetividade a que nos referimos, as reações são variadas; algumas

suscitam entusiasmo, outras provocam desconfiança. Isso se deve ao caráter heterogêneo da

imagem, como demonstrado ao longo dos anos em estudos de diversas áreas, como semiótica,

psicologia, psicolinguística, sociologia e antropologia cultural (WOLTON, 2007).

Existem várias possibilidades para definir o termo imagem. Iasbeck (2012), em um

esforço para ampliar o entendimento do termo, resgata o trabalho de organização

desenvolvido pelo historiador Mitchell, que dividiu imagens em cinco grupos, seguintes.

(MITCHELL apud IASBECK, 2012).

a) Gráficas - aquelas impressas em alguma superfície material.

b) Óticas - utilizam a luz; ocorrem a partir de reflexos, projeções e fotografias.

c) Perceptuais - impregnam nossos órgãos dos sentidos pela observação.

d) Mentais - elaboradas por meio da percepção por processos cognitivos conscientes ou

inconscientes, como lembranças.

e) Verbais - geradas pela linguagem.

Mitchell, nesse modelo, chama de pictures as imagens gráficas, óticas e perceptuais,

por serem resultado material de elaborações mentais ou sensíveis. Denomina image as

imagens mentais que não foram representadas no que chama de ‘suporte material’. Para

Mitchell, a imagem imaterial, a image, representa na mente dos sujeitos e na linguagem

conceitos, opiniões e sensações. “Independentemente de gerarem uma representação material,

as imagens mentais e verbais produzem disposições psicológicas de satisfação, incômodo,

alegria, desespero, tristeza e tranquilidade” (MITCHELL apud IASBECK, 2012).

Distintos autores igualmente refletiram sobre a polissemia do termo imagem. Santaella

(2004) e Nöth (1995) dividem a imagem em dois grupos. O primeiro é o das representações

visuais e engloba desenhos, pinturas, imagens cinematográficas e televisivas, objetos

materiais e signos que representam o meio ambiente visual. O segundo relaciona-se às

representações mentais e engloba mitos, sonhos, imaginários, enfim, imagens do domínio do

“imaterial”. Iasbeck ressalta que “[...] todo ato de percepção (e recepção) é também um ato

de fabricação de sentido [...]” (IASBECK, 1997, p. 88).

Sobre a questão da imagem, Baldissera (2004) caminha na linha de Mitchell (1986) e

de Santaela (2004) e Nöth (1995). Distingue imagem físico-visível da imagem-linguagem,

quando dotada de significação e empregada no processo de comunicação. Também inclui as

representações visuais, as imagens mentais construídas a partir da linguagem verbal e a

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imagem-conceito, que se manifesta na forma de juízo de valor.

Concordamos com a posição de Iasbeck que destaca a “dimensão subjetiva das

imagens, ou seja, o resultado da forma como são assimiladas pelas pessoas e pelas culturas”

(IASBECK, 2012, p. 2). As imagens se consolidam na esfera da recepção a partir de um

processo de composição simbólica que envolve referências internas e externas. É preciso levar

em conta não somente produtores e receptores, mas todos os atores envolvidos e tudo o que

existe entre os dois: mediações, interações, apropriações, interpretações, representações

sociais, enfim, a dinâmica integral do processo.

Como qualquer fenômeno cultural, a imagem não pode ser entendida a partir dela

mesma, isolada de sua temporalidade e espacialidade. Wolton observa que ela possui

contexto, além de ter tido um antes e, provavelmente, um depois. Ressalta o fato de que não

há imagem sem receptor - “[...] um sujeito individual ou coletivo que dispõe, por seus

valores, opiniões, lembranças, experiências, de filtros entre ele e a imagem para interpretá-la

e colocá-la à distância” (WOLTON, 2007, p. 43). Para o autor, os receptores são críticos e

olham com desconfiança para as imagens “[...] como se pressentissem que poderiam perder

as referências, esquecer a realidade, como se temessem ser pegos pelas armadilhas da

imagem [...]” (WOLTON, 2007, p. 44).

A relação entre imagem e receptor não é direta, pois entre eles há o contexto - na

concepção ampla de Dijk (2012) - e a trajetória de vida do sujeito, com suas experiências. A

liberdade de interpretação das imagens está associada à convicção de que nunca estamos

sozinhos diante delas: existem também elementos de interdiscursividade que são resgatados

pela memória (WOLTON, 2007).

Na realidade, não somente para a imagem, como em todas as situações de comunicação: o receptor nunca está só. Toda a sua história e valores intervêm nessa percepção e análise da imagem. Estes o protegem, muitas vezes, sem o seu conhecimento. É o conjunto de nossas lembranças, valores e ideias que nos permite manter certa distância interpretativa em relação à mensagem e assim sermos livres (WOLTON, 2007, p. 44).

Entendemos a afirmativa de Wolton como uma decorrência da presença constante de

implícitos, pré-construídos, da memória, do interdiscurso, do dialogismo e da polifonia que

interferem continuamente na construção da imagem. Wolton assinala ainda que não existem

imagens sem imaginário. Observou que o imaginário que opera sobre a produção pode não ser

o mesmo que atua na recepção. Deduziu que “entre a intenção dos autores e a dos receptores

não operam somente os diferentes sistemas de interpretação, de codificação e de seleção,

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mas igualmente todos os imaginários” (WOLTON, 2007, p. 44).

Existem diferenças entre imagem e realidade; a relação entre ambas é ambígua e flutua

de alguma forma entre e a imaginação e os sentidos, entre a expectativa e a realidade. A

imagem, por ser a representação de algo, difere em alguns pontos da ‘realidade objetiva’.

Existem, portanto, diferenças entre as imagens, algumas podem ser mais ou menos

verdadeiras. As imagens permitem abstrair impressões da realidade sociopsicológica na qual

vivemos (ALVESSON, 1990).

É por isso que a imagem é a representação e figuração de algo que obtemos de

informações, coincidentes ou não, frequentes ou não, mediadas pela mídia ou não, de

aparições públicas ou não, além de percepções e experiências diretas com o objeto. No

processamento de todos esses tipos de informações é que são construídos os sentidos

(ALVESSON, 1990).

No que tange à literatura contemporânea, Almeida (2009) considera consistente o

conceito de imagem elaborado por Johnson e Zinkhan com o aval de Berens. Esses autores

entendem a imagem sob três aspectos: primeiro, é percepção, não atributo físico; segundo, é

visão de um todo, não de partes - trata-se de uma “fotografia”; e, por fim, cada pessoa ou

grupo realiza sua percepção levando em consideração atributos diferentes. O fenômeno da

imagem é individual, mas pode ser compartilhado com um grupo de pessoas. (JOHNSON;

ZINKHAN, 1990; BERENS, 2004 apud ALMEIDA, 2009).

Para o estudo proposto na comunidade de Araxá, entendemos imagem como

explicitado por Baldissera: construção de sentidos resultante do somatório das percepções,

posicionamentos e sensações que os indivíduos têm em relação a uma ideia, instituição ou

personalidade. Ela “não é construída sobre a identidade em si, mas com base na percepção

que a alteridade tem sobre ela, isto é, sobre o que parece ser” (BALDISSERA, 2004, p.

198).

É a concepção que Mitchell denomina de image, ou seja, as imagens mentais.

(MITCHELL apud IASBECK, 2012). Ou o que Baldissera (2004) convencionou chamar de

imagem-conceito.

[...] construto simbólico, complexo e sintetizante, de caráter judicativo/caracterizante e provisório, realizada pela alteridade (recepção) mediante permanentes tensões dialógicas, dialéticas e recursivas, intra e entre uma diversidade de elementos-força, tais como as informações e as percepções sobre entidade/algo/alguém, o repertório individual/social, as competências, a cultura, o imaginário, o paradigma, a psique, a história e o contexto estruturado (BALDISSERA, 2004, p. 278).

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O processo de formação da imagem é subjetivo, diretamente relacionado à experiência

individual e ao conjunto de sensações, percepções e inter-relações de atores sociais. É uma

decorrência da interação com crenças, ideias, sentimentos e impressões do indivíduo sobre

algo (ALMEIDA, 2005). A experiência referida por Almeida (2005) pode ser entendida na

concepção de Dewey (1980), que engloba todas as dimensões da ação vivida, levando em

consideração os eventos do cotidiano.

Boorstin afirma que a imagem causa determinado tipo de impressão que é crível - o

que não quer dizer: verdadeiro. (BOORSTIN apud ALVESSON, 1990). Baldissera (2004) se

posiciona de igual forma; para ele, a imagem não é da alçada do verdadeiro, mas do que

parece ser. Ela não é o objeto, mas reconhecida como tal.

Wolff lembra que as imagens têm o poder de representar, mas “criam a ilusão

fundamental de não representar [...] de não ser o simples reflexo [...] O mais perigoso poder

da imagem é fazer crer que ela não é uma imagem, fazer-se esquecer como imagem”.

(WOLFF, 2005, grifo do autor). Entende que por meio do contexto social, temporal e

simbólico, proporcionado pela cultura e pelo imaginário os sujeitos interpretarão sua

alteridade e lhe atribuirão um valor. Para isso, não importa se a imagem é verdadeira, nem

mesmo se a significação que lhe é atribuída corresponde à verdade.

Fundamentada em todos esses aspectos, Almeida (2005) considera que a imagem

resulta de um processo de construção de sentido. Por isso é um fator inacabado que passa por

modificações, aberto para ser influenciado por novas informações com potencial para alterar

ou não o significado simbólico. A permanente mobilidade torna contínuo o processo, e a

instabilidade é uma das principais características da imagem, pois é gerada por sistema

extremamente dinâmico (IASBECK, 2012).

A imagem é um ato de percepção a partir de recepção específica (ALMEIDA, 2006).

Ao se propor investigar como a sociedade de Araxá constrói a imagem “atividade de

mineração”, torna-se imprescindível observar o contexto social, discursivo e simbólico no

qual ela se situa.

Ao reproduzir formas de significação da realidade social, a linguagem é uma

manifestação discursiva que reproduz vozes e pontos de vista, hegemônicos ou não

(ALMEIDA, 2012).

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O discurso remete a um conjunto de “textos”8 (MAINGUENEAU, 2000). Em face

dessa constatação, Iabesck (2012) observa que diversos “textos” são criados para gerar

imagens na recepção. Para ele, é o que Flusser (2011) denomina imagens técnicas - aquelas

geradas para originar outras imagens.

Discurso é diferente de imagem. O primeiro situa-se na esfera da enunciação, com

ambientação da linguagem, da fala, da expressão e intencionalidade definida. E considera que

“sempre a imagem se dará na mente dos públicos que recebem o discurso”, sem desprezar que

tal imagem é construção social e, portanto, da ordem do coletivo, antes de ser apropriada pelo

individual, pelo subjetivo (IASBECK, 2012, p. 4).

Todavia, as práticas discursivas abrem espaço para o indivíduo expressar novos

sentidos e repensar os discursos entranhados na cultura. Por ser criação coletiva, não se pode

afirmar que a imagem é fruto de um único indivíduo. Há que lembrar que o discurso sempre

parte de algo dito (ALMEIDA, 2012).

Os sujeitos elaboram o que se chama de “imagem de si” no discurso para legitimar o

que é dito (MAINGUENEAU, 1998). Trata-se de personagem ligada à enunciação, e não algo

fora do discurso. Também não se trata do caráter do sujeito empírico. Os sujeitos podem

produzir várias imagens no discurso, posicionando-se em diferentes “lugares de dizer”

(MAINGUENEAU, 2005).

Enfim, “imagens são mediações entre homem e mundo”. O mundo não é acessível de

forma direta. Por possuírem a capacidade de representação, as imagens se entrepõem entre o

homem e o mundo. Mesmo que tenham o propósito de ser “mapas”, as imagens podem se

tornar biombos (FLUSSER, 2011, p. 23).

3.3 Imaginário: formação da imagem da realidade

Ao escrever um verbete sobre a imaginação social para a Enciclopédia Einaudi, o

intelectual polonês Baczko (1985) informou que o interesse sobre o assunto foi despertado na

década de 1960, principalmente em decorrência dos acontecimentos relativos a Maio de 1968.

Naquela época, os fatos surpreendiam e não tinham explicação dentro de uma lógica 8 Iasbeck informa que, na perspectiva do movimento semiótico russo, “texto” é a unidade básica da cultura. “[...] e por “texto” entende-se todo e qualquer conjunto organizado de signos (verbais, visuais, acústicos, táteis, olfativos, palatais) que forma um todo coerente e harmônico em torno de um sentido”. Dentro do posicionamento desenvolvido pelas “Teses eslavas para uma semiótica da cultura”, Iasbeck frisa que o “texto” é formado de delimitação, expressão e estrutura: A delimitação dá ao texto o caráter de unidade, separando um texto de outro com contornos definidos; a expressão é o modo como esse texto se apresenta à percepção de um observador, e a estrutura é constituída dos elementos fundamentais nos quais o texto se apoia para representar algo (IASBECK, 2012, p. 5-6).

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cartesiana. As pessoas tentavam compreendê-los por meio de formas mais subjetivas ainda

não buscadas, como o imaginário.

Em sua visão, isto se dá pelo fato de o imaginário ser o meio por intermédio do qual

se atingiriam aspirações, medos e esperanças de um povo. O imaginário permite serem

traçados identidades e objetivos de determinada sociedade, além de organizar seu passado,

presente e futuro. Manifesta-se por meio das ideologias, símbolos, mitos e rituais (BACZKO,

1985).

O diferencial entre o processo representativo imaginário e o intelectual reside no fato

de que no imaginário é possível criar "uma imagem e uma relação que não são dadas

diretamente na percepção" (LAPLANTINE; TRINDADE, 1997, p.24). Ao elaborarmos o

presente estudo levamos em consideração o papel do imaginário, enquanto representação

simbólica utilizada pelos habitantes de Araxá para interpretar a realidade que os circunda, e a

criação da imagem da atividade de mineração.

É por isso que julgamos procedente a posição de Laplantine e Trindade (1997) de que

o imaginário realiza uma construção que não corresponde em todos os aspectos à realidade,

mas tem vinculação com ela. Por ser uma representação simbólica, o imaginário atribui

significados e forma uma imagem da realidade. O imaginário utiliza símbolos, não a própria

realidade em si. São as imagens e representações mentais que falam por ele (LAPLANTINE;

TRINDADE, 1997).

Os significantes de que são dotados os símbolos formam uma teia que une as

construções dos estereótipos e das identidades, conceitos fundamentais para este trabalho. Na

teia simbólica tecida pelo imaginário, os símbolos evocam também diferentes olhares e

entendimentos diferenciados, já que mobilizam a subjetividade das emoções. Desta forma,

uma realidade comum pode possuir representações variadas que permitem suscitar reações

diversas.

[...] os símbolos são polissêmicos e polivalentes, amparando-se também no referencial significante que lhes propicia os sentidos, os quais contêm significações afetivas e são mobilizadores de comportamentos sociais. A eficácia dos símbolos consiste nesse caráter mobilizador e promotor das experiências cotidianas: os símbolos permitem a cura de doenças psicossomáticas e fazem emergir emoções como: raiva, violência, nostalgia e euforia (LAPLANTINE; TRINDADE, 1997, p. 22).

O imaginário social é produção coletiva, formado por um conjunto que inclui a

ideologia de um grupo, classe ou comunidade e sua memória afetivo-social. Ele proporciona a

compreensão da história humana por intermédio da observação das criações dos sujeitos com

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o uso social das representações e das ideias. Permitirá ainda que os atores se vejam como

integrantes de uma coletividade (BACZKO, 1985).

Na perspectiva discursiva, o imaginário se encontra na base da atuação do implícito e

dos pré-construídos. “Trabalhar com a memória é debruçar-se sobre o implícito que se

estrutura sobre um imaginário que o representa como memorizado” (ACHARD, 2007, p.13).

Os discursos posteriores, ao pressupô-lo, fazem sua inserção por paráfrase. Achard destaca o

fato de que “a memória suposta pelo discurso é sempre reconstituída na enunciação”

(ACHARD, 2007, p. 17). Além disso, qualquer discurso produzido pode ser retomado.

Assim como acontece com o pré-construído, no imaginário há uma separação entre o

pensamento e o objeto do pensamento. O real existe, independentemente do pensamento, mas

o pensamento, por sua vez, pode não levar em conta o real em suas elaborações. Na

constituição do imaginário, a memória discursiva tem papel de destaque - entram os já ditos,

os implícitos, os pré-construídos e o sentido construído pelo mundo da vida de Schutz

(BACZKO, 1985).

As experiências dos agentes sociais, de seus desejos, aspirações e motivações

fornecem a base dos sistemas simbólicos por meio dos quais irá atuar o imaginário social. A

coletividade é a responsável pela elaboração e consolidação do imaginário, cuja produção é

como se fosse a resposta que o grupo em questão dá aos conflitos, divisões e violências, reais

ou potenciais ( BACZKO, 1985).

O imaginário tem grande força na regulação da vida coletiva em decorrência de sua

presença na designação de identidades, na elaboração de representações de si, no

estabelecimento e distribuição de papéis e posições sociais. Além dessa atuação, é por meio

do imaginário que crenças comuns são expressas e, mais ainda, impostas. O fato ocorre em

razão da confecção de modelos comportamentais - bons ou maus - pelo imaginário, que

interpreta a realidade e, a partir dessa leitura, adota determinados sistemas de valores e motiva

a ação (BACZKO, 1985).

Baczko (1985) estabelece que o imaginário não é somente espaço no qual ganham

expressão expectativas populares latentes. É lugar de conflitos de grupos sociais com

aspirações antagônicas e condições econômicas diferentes. Em uma sociedade não existe um

imaginário único. Coexistem diferentes tipos de imaginários que em dado momento se

envolvem ou não em disputas. As visões, como forças reguladoras do cotidiano, podem ser

superpostas, somadas, ou ainda uma delas pode-se excluir.

As significações imaginárias despertadas por imagens, no entender de Moraes (2012),

são algumas das formas pelas quais a consciência capta a vida e a reelabora para dar

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significado às relações entre as pessoas e as instituições. Segundo Baczko (1985), por essa via

o imaginário constrói sua influência sobre as esferas políticas e sociais.

Moraes afirma que o símbolo se refere sempre a um sentido, não a um objeto. O autor

exemplifica com dois objetos: a foice e o martelo, componentes da bandeira da extinta União

Soviética. Não se tratava apenas de ferramentas de trabalho, eles tinham como função a

representação da união dos trabalhadores do campo (foice) e da cidade (martelo). Os objetos

tornaram-se signos de uma mensagem ideológica, passaram a remeter à ideia de socialismo.

Com esta base, Moraes defende a tese de que a construção do imaginário social está associada

a um sistema de comunicação no qual o emissor manifesta sua concepção de mundo ligada a

objetivos estratégicos. O receptor, diante de inúmeras variáveis, decodifica ou não essa

concepção. O sentido necessita ser reconhecido e aceito. Nesta relação, os dois estabelecem

um circuito estruturador dos sentidos (MORAES, 2012).

O imaginário possui potência criadora por originar e/ou reproduzir um conjunto de

símbolos que caracterizariam determinada cultura. Opera por meio da paráfrase - repetição de

sentido -, com outra “embalagem”, e da polissemia - criação de sentidos -, com mudanças de

perspectivas (MORAES, 2012). Por ser essencial a ocorrência dessas leituras de códigos, é

natural que cada período temporal tenha seu padrão próprio para “imaginar, reproduzir e

renovar o imaginário, assim como possuem modalidades específicas de acreditar, sentir e

pensar” (BACZKO, 1985, p. 309).

O imaginário social faz parte de todas as sociedades humanas e está presente em suas

interações. Chama atenção o fato de que a qualquer grupo é essencial criar e imaginar para

legitimar o poder. A esfera política utiliza as representações coletivas para se legitimar no

poder, e o imaginário torna-se fundamental no exercício desse poder. Os discursos

construídos tornam compreensível o imaginário social e procuram legitimar as estratégias de

determinado segmento social ou empresarial (BACZKO, 1985).

A imaginação e a fantasia são distintas. A imaginação é responsável pela criação de

uma explicação alternativa para um contexto considerado não satisfatório e proporciona à

consciência humana os meios para enfrentar as conjunturas. A sua ação se dá pela promoção

da adaptação a essas situações ou incentivo à mobilização contra o que cause opressão. A

fantasia aciona imagens que causam alienação, como compensação diante da insatisfação

(MORAES, 2012).

Estruturado por essa linha de pensamento, Moraes (2002) considera que é a

imaginação que acionará o campo do imaginário ao utilizar um código operacional de

comunicação no qual se encontram múltiplas vozes que, em alguns casos, promoveriam a

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simulação de uma harmonia no conjunto. Alerta que “a sociedade constitui sempre uma

ordem simbólica, que, por sua vez, não flutua no ar - tem que incorporar os sinais do que já

existe, como fator de identificação entre os sujeitos” (MORAES, 2012, p. 2). Enfim, para que

a troca imaginária aconteça é preciso que o significado seja reconhecido no processo de

decodificação.

3.4 Produção social de sentidos

No processo de criação do imaginário, os sentidos responsáveis por esta ação irão

receber a influência de alguns fatores dos quais destacamos o mundo da vida, o senso comum

e a intersubjetividade. Isso ocorre porque o agir e o discurso do homem em sociedade são

influenciados pelo sentido que o sujeito vai imprimir. Trata-se, portanto, de uma orientação

subjetiva. Ruiz (2009) adverte que os sentidos pelos quais os sujeitos se orientam são em

grande parte produzidos e compartilhados socialmente, não são somente resultado de

constrições e crenças individuais.

A noção de interação é concreta dentro da intersubjetividade porque é ela o meio que

possibilita à palavra ser reconhecida por alguém. A intersubjetividade caracteriza a relação de

troca pela linguagem e a produção de sentido. Põe em operação a função simbólica da

interação, na qual o receptor devolve o discurso de forma transformada: “[...] comunicação

em que o emissor recebe do receptor sua própria mensagem sob forma invertida” (LACAN,

1998, p.298). A intersubjetividade inclui tanto a compreensão do que está acontecendo na

mente do outro quanto a imersão empática na experiência vivida (LACAN, 1986). Guarda

uma relação com os conceitos de dupla afetação e relação triádica de Mead.

Nessa linha, Schutz assinala a necessidade de levar em conta o ponto de vista do

sujeito. Ele sustenta que a intersubjetividade é essencial na estrutura do senso comum. Isso

quer dizer que o que alguém conhece e compreende no mundo do senso comum é, até certo

ponto, o que qualquer uma das pessoas de seu círculo de relação conhece e compreende. “[...]

Minha experiência de mundo se justifica e corrige mediante a experiência dos outros com

quem trocamos conhecimentos comuns, tarefas comuns e sofrimentos comuns. O mundo é

interpretado como o possível campo de ação de todos” (SCHUTZ, 1974a; 1974b). Com base

no exposto, identificamos que os sentidos do imaginário são repletos de construções

subjetivas que foram retiradas do senso comum.

O senso comum é conhecimento compartilhado entre sujeitos em interação. Nela, o

significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência. Já quando não há

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significado compartilhado, não ocorre interação. O significado é reciprocamente

experimentado pelos sujeitos, e a significação da ação é, de certo modo, negociada por eles

(GARFINKEL, 1967).

Para Schutz, o cotidiano é visto como o mundo da vida ou mundo da vida cotidiana.

É uma dimensão na qual o homem pode ser compreendido e interagir com ela. O mundo da

vida cotidiana significa o mundo intersubjetivo que existia antes da existência do sujeito e já

interpretado por outras pessoas antes dele. (SCHUTZ, 1978).

O sujeito estabelece relações sociais com seus semelhantes, é influenciado por seus

predecessores e poderá modificar as ações de seus sucessores. A interpretação desse mundo é

baseada num estoque de experiências próprias vivenciadas ou transmitidas por outros sujeitos.

Forma o que Schultz chama de fundo de conhecimento à mão - knowledge at hand, que

funciona como um código de referência (SCHUTZ apud CORREIA, 2005).

O mundo da vida cotidiana é modificado pelas ações dos sujeitos e também exerce

influência e modifica as ações dos homens. Como as ações são intersubjetivas e

compartilhadas, do ponto de vista social o cotidiano está permeado pelos referenciais tanto de

predecessores quanto dos contemporâneos dos sujeitos. O mundo da vida é o cenário que põe

limites às ações dos homens. O homem não só atua dentro do mundo, mas também sobre ele

(SCHUTZ apud CORREIA, 2005)

Schultz utiliza a expressão mundo da vida em um sentido que ultrapassa o de ser

somente uma representação da realidade social. Envolve o âmbito das experiências, é a

direção que os homens conferem a suas ações. (SCHUTZ, 1978).

O mundo da vida possui caráter intersubjetivo comum ligado a interesses práticos.

(SCHUTZ apud CORREIA, 2005) O mundo da vida não se trata de objeto teórico, mas

campo de dominação da ação baseado em motivação pragmática:

[...] o mundo do senso comum, mundo da vida cotidiana, mundo cotidiano são expressões variantes para o mundo intersubjetivo experimentado pelo homem dentro do que Husserl designa de atitude natural. Esse mundo existe, assim acreditamos, antes do nosso nascimento, tem a sua história, e nos é dado de um modo organizado. É primordialmente o palco de nossas ações e o lugar de resistência à ação: não apenas agimos no mundo, mas sobre o mundo. (SCHUTZ apud CORREIA, 2005, p.39).

O mundo da vida é mais amplo do que a realidade cotidiana. Ele a ultrapassa por meio

de símbolos. Por esse processo, o homem constrói as fantasias e um mundo fictício e atua de

forma a provocar mudanças conscientes em sua atitude natural (SCHUTZ; LUCKMANN,

apud CORREIA, 2005, p.46). Os autores abrem a possibilidade de transcender o cotidiano por

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meio dos símbolos, com isso o mundo da vida alcança o imaginário.

Schutz propõe a teoria das realidades múltiplas para analisar o mundo da vida.

Sustenta que o mundo da vida possui várias regiões de significado, sendo visto somente sob a

perspectiva de suas múltiplas realidades que são modificadas continuamente pelo homem. O

mundo cotidiano e intersubjetivo existia antes de nós, estruturado na memória daqueles que

nos antecederam (SCHUTZ apud CORREIA, 2005).

Em ensaio sobre Dom Quixote, Schultz (1974b) não emite juízos sobre o universo da

fantasia/demência de Dom Quixote nem sobre o universo de senso comum de Sancho. Neste

estudo, podemos perceber como os dois universos estão ancorados no imaginário de cada uma

das personagens. Nem um nem outro merecem sua aprovação ou reprovação, cada realidade

múltipla estabelece sua própria validação. A loucura de Dom Quixote resulta da forma com

que a consciência se relaciona com a realidade, estruturada em premissas coerentes entre si.

Demonstra com esse caso que as realidades múltiplas possuem validade própria. O

subuniverso de Dom Quixote se baseia no universo epistemológico, moral e histórico do

mundo da cavalaria. Em muitos momentos, o cavaleiro cita obras as quais leu

obsessivamente. As premissas desse universo possuem coerência interna. A diferença entre

esse mundo e o de Sancho é o esquema de interpretação.

Observarmos como o senso comum, formador do mundo da vida, possui o caráter da

interdiscursividade que é manifestado por meio da linguagem. Ele existe antes de nós e está

presente na memória social e na memória discursiva, e sua influência é decisiva na

constituição do imaginário. Mais do que uma coleção de significados compartilhados, o senso

comum decorre da partilha, entre atores, de um mesmo método de produção de significados

(GARFINKEL, 1967). Portanto, com a utilização da linguagem, os significados são

reinventados continuamente ao invés de serem continuamente copiados (MARTINS, 1998).

Neste trabalho, buscamos a compreensão do processo de “leitura da imagem” que

acontece no campo da recepção. As imagens se estruturam no âmbito da recepção em

decorrência de um processo simbólico - impactado por estes sentidos socialmente produzidos

- no qual atuam as referências da vida interior do indivíduo quanto o contexto sócio cultural.

Enfim, tudo que possa interferir neste processo como as interações mediadas simbolicamente,

o imaginário social, a ideologia e a memória e a produção social dos sentidos –

intersubjetividade, senso comum e mundo da vida. É com base nestes aspectos que

entendemos, que o processo simbólico de construção da imagem não pode ser compreendido

de forma isolada, mas em relação ao seu contexto.

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4 PERCURSO METODOLÓGICO

“[...] considero o discurso uma máquina de produzir sentidos” (POSSENTI, 2001,

p. 154).

A pesquisa exploratória oferece uma visão geral de situações específicas, com o

objetivo de procurar padrões, ideias ou hipóteses. Esse fato nos levou a escolhê-la para

investigar as diversas interconexões que os sentidos estabelecem no processo de edificação da

imagem da atividade de mineração pela sociedade de Araxá. Ela é útil no levantamento de

fatos quando se deseja averiguar situações pouco exploradas, como é o caso do objeto deste

trabalho. A pesquisa exploratória pressupõe experimentação e descrição, por isso depende de

ações de busca e indagações.

O método escolhido para o estudo sobre o objeto 'a construção de sentidos pela

sociedade araxaense na elaboração da imagem da atividade de mineração' foi a pesquisa

qualitativa, pois ela permite examinar interações e comunicações em desenvolvimento, além

de incorporar o estudo do contexto para entender melhor a questão em estudo.

A abordagem qualitativa tem se mostrado adequada para responder a questões sobre o

que ocorre em determinados ambientes por centrar-se em aspectos da realidade que não

podem ser quantificados, como a compreensão da dinâmica social. Este fato ocorre porque a

pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes que correspondem a um espaço mais aprofundado das relações, dos

processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos somente à operacionalização de

variáveis (MINAYO, 2003).

A pesquisa qualitativa é uma atividade situada que posiciona o observador no mundo. Ela consiste em um conjunto de práticas interpretativas e materiais que tornam o mundo visível. Essas práticas transformam o mundo, fazendo dele uma série de representações, incluindo notas de campo, entrevistas, conversas, fotografias, gravações e anotações pessoais. [...] os pesquisadores desse campo estudam as coisas em seus contextos naturais, tentando entender ou interpretar os fenômenos em termos de sentido que as pessoas lhes atribuem (DENZIN; LINCOLN apud FLICK, 2009, p.16).

Na pesquisa qualitativa, a observação de eventos, ações, normas e valores, dentre

outros, acontece do ponto de vista das pessoas estudadas. Grupos distintos possuem

perspectivas diferenciadas que podem não ser as mesmas de quem analisa. “Sendo assim, não

pode haver um relato simples, verdadeiro e preciso das visões dos entrevistados. Nossas

análises são, por natureza, interpretações, e, portanto, construções do mundo” (GIBBS,

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2009, p. 23).

Em um primeiro momento, realizamos levantamento bibliográfico em fontes

constituídas por livros e artigos científicos. Já as fontes de nossa pesquisa documental foram

mais diversificadas, como consultas a jornais, revistas, sites oficiais de empresas e entidades,

blogs, relatórios empresariais, tabelas estatísticas, dentre outros. Para isso recorremos ainda

aos acervos da Fundação Cultural Calmon Barreto, em Araxá, Bilioteca da Escola de Minas

da UFOP e do Arquivo Público Mineiro. Assim, realizamos uma retrospectiva história do

contexto da mineração em Minas Gerais desde o Século XVII. Desta forma pudemos levantar

e situar os diversos discursos sobre a mineração que nos permitiram situar alguns pré-

construídos.

Deve-se destacar que como a proposta é perceber o que leva a comunidade araxaense a

construir o sentido e a gerar a imagem da atividade de mineração, optou-se pela utilização de

Grupos de Discussão - GD9. Alonso (1996) observou que os GD são uma prática na qual os

participantes constroem e dão sentido aos acontecimentos e circunstâncias em que vivem,

aflorando-se as categorias e interpretações que se transformam em marcos intersubjetivos da

interação social por meio dos processos comunicativos e linguísticos (GODOI, 2005).

Morgan salienta que os GD são adequados quando se tem em foco uma perspectiva

social, não individual.

Ao se entender teoricamente o discurso como uma atividade, uma prática social, não individual, evita-se considerar as variações pessoais fora de sua concepção como situação social. No caso da análise individualizada não se considera o interesse da pessoa física, mas sim do tipo social que representa no momento da pesquisa. Quando se trata de investigar o que as pessoas pensam e porque pensam como pensam, os grupos de discussão são úteis (MORGAN, 1998, p. 25).

O grupo não é somente uma reunião de indivíduos que compartilham a mesma

situação social, nem a soma dos indivíduos. O grupo, no âmbito micro, pode representar o

âmbito macro do social. A interação que acontece dá vazão tanto a informações pontuais

quanto a manifestações carregadas de afetividade ou desejos inconscientes (IOÉ, 2010).

No GD prevalece a lógica do grupo, não a do roteiro pré-determinado, já que é por

meio da conversação que se constituem, dissolvem e se reconstituem os sentidos. Dessa

maneira, é captada a significação, não somente a informação. A dinâmica conversacional

aberta permite investigar as formas pelas quais os coletivos constroem significados (IOÉ,

2010).

9 Grupos de Discussão - GD foram propostos pela primeira vez pelo sociólogo espanhol Ibañez, em 1979, dentro de sua obra Más allá de la sociologia. El grupo de discusión: técnica e crítica.

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Na interação grupal, é importante, portanto, examinar as vozes individuais na

discussão. Cada participante do grupo pode ser descrito em referência a muitas características

relacionadas. Os grupos permitem ao pesquisador obter insights adicionais possibilitados

pelas comparações intragrupos (K|ITZINGER; BARBOUR, 1999). Nesta direção, as

verbalizações produzidas grupalmente permitem múltiplas análises.

Em seguida foram realizados três GDs com características próprias de habitat

(localização da moradia), gênero, idade, classe social e profissões - indivíduos com diversos

perfis e que exercem papéis os mais variados na comunidade, justamente para avaliar como os

sentidos são produzidos nos vários contextos dentro de Araxá.

Ao entender o discurso como uma atividade, uma prática social, não individual, evita-

se considerar as variações pessoais fora de sua situação social. Por isso, considera-se o tipo

social que a pessoa representa no momento da pesquisa. Os discursos são produzidos a partir

do conjunto de ligações estabelecidas, dos nós das relações sociais entre os sujeitos que falam

(GODOI, 2005).

Para o estabelecimento da divisão por classes sociais foram utilizados os parâmetros

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. De acordo com o IBGE, as classes

sociais são classificadas consoante as faixas salariais e são representadas pelas letras: A, B, C,

D e E.10 O instituto contabiliza as classes de acordo com o número de salários mínimos que

constituem a renda.

Grupo 1: Foram oito os participantes, pertencentes às classes A e B. A faixa etária

oscilou entre 40 e 60 anos. Nenhum tinha vínculo de emprego direto com as mineradoras, e

todos exerciam atividade produtiva: uma professora universitária, uma empresária do

comércio, um engenheiro civil, um proprietário de empresa de transporte coletivo, uma

vereadora, um secretário municipal de planejamento, uma jornalista e um dono de hotel

(atualmente, presidente do Conselho Municipal de Turismo), moradores de áreas centrais da

cidade ou de condomínios fechados.

Grupo 2: Formado por oito participantes das classes C e D, com mais de 35 anos, sem

vínculo de emprego com as mineradoras. O mais velho tinha 72 anos e o mais jovem, 42.

Nem todos exerciam atividade produtiva, já que havia um aposentado, duas donas de casa,

além de um pastor evangélico, uma irmã católica, um cacique da tribo dos índios Arachás; os

outros eram uma funcionária da prefeitura e um radialista. Quatro são participantes de

associações de moradores de bairros, todos são militantes em movimentos sociais de base.

10 Classe A acima de 20 salários mínimos; Classe B entre 10 e 20 s. m.; Classe C entre 4 e 10 s. m.; Classe D entre 2 e 4 s. m.; Classe E até 2 s. m. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013).

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São moradores de bairros.

Grupo 3: Composto por nove jovens, estudantes de escolas públicas estaduais e

federais, que não desenvolviam atividades produtivas - cujos provedores financeiros não

possuem vínculo de emprego com as mineradoras -, com perfil socioeconômico B, C e D. A

faixa etária oscilou entre 16 e 26 anos. Um dos participantes era presidente do Grêmio

Estudantil e outro, da diretoria do DA.

Por se tratar de uma cidade de porte médio, não foi possível que todos os membros dos

grupos não se conhecessem. Houve o cuidado de não montar grupo no qual os participantes

possuíssem uma relação hierárquica de qualquer espécie uns com os outros. Desta forma,

tentamos reduzir constrangimentos que poderiam existir, caso houvesse laços de

subordinação.

Optamos por realizar os grupos no Campus de Araxá do Cefet-MG /Centro Federal de

Educação Tecnológica de Minas Gerais, apesar de estar um pouco distante de alguns bairros.

Para facilitar o acesso dos moradores destes bairros providenciamos-lhes transporte.

O tempo médio de duração dos grupos foi de duas horas. Em cada grupo, o moderador

explicava que se tratava de um trabalho acadêmico sobre a percepção deles sobre a atividade

de mineração, além de avisar que as opiniões manifestadas não iriam ser utilizadas com seus

nomes, mas de forma anônima, apenas haveria referência à origem do grupo. Uma pessoa

ficou fora do grupo para apenas observar o desenrolar do processo.

O moderador utilizou um roteiro de referência, mas cada grupo construiu seu caminho

com maior ou menor ênfase em algum ponto específico. O uso da palavra era espontâneo, mas

em todos os grupos todos se manifestaram a respeito de todos os assuntos.

A primeira operação da análise textual é uma “tradução” dos discursos para a forma

textual. Para isso, são utilizados critérios específicos. No caso deste trabalho, seguimos as

convenções sugeridas por Brown e Yule (1993, p.17) para a transcrição e representações de

silêncios (pausas breves foram assinaladas com “-”, pausas mais largas com “+”, e pausas

prolongadas com “++”), pelas quais procuramos “registrar o mais fielmente possível o que se

dizia, evitando a inferência de polir a linguagem empregada (RUIZ, 2009).

4.1 Análise do discurso

O método qualitativo em Ciências Sociais proporciona, como uma das alternativas de

estudo, a Análise do Discurso - AD. Inicialmente, a AD foi ligada à Filosofia da Linguagem,

mas hoje constitui um complexo metodológico que engloba diversas escolas e tendências

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epistemológicas. Possui um caráter interdisciplinar que envolve várias disciplinas como a

Linguística, a Semiótica, os Estudos Literários, a Antropologia, a Sociologia, a Teoria da

Comunicação, a Psicologia Social e Cognitiva e a Inteligência Artificial (GODOI, 2005).

Para a AD, o termo “discurso” se refere a todas as formas de fala e texto existentes

tanto na escrita quanto em conversações - em entrevistas, por exemplo. O discurso

não é estático, está sempre em movimento com a regularidade de uma prática, como as

práticas sociais. Não deve ser visto como somente um transmissor de informação, mas precisa

ser entendido pelo seu efeito de sentido entre locutores, em determinado contexto social e

histórico. A AD é um caminho para analisar a construção e a desconstrução de sentidos

presentes na fala e no texto. Mostra o funcionamento dos textos a partir da sua articulação

com as formações ideológicas, já que há sempre um discurso ligado a outro e a outro, sem que

haja uma pausa (GODOI, 2005).

Orlandi informa que a Análise do Discurso introduziu noções de sujeito e de situação -

contexto e exterioridade, afirmação do descentramento do sujeito. Situa ainda que, no âmbito

da Análise do Discurso, a relação com o mundo é formada pela ideologia que perpassa todas

as relações do sujeito com o mundo. “A ideologia é, pois, constitutiva da relação do mundo

com a linguagem, ou melhor, ela é condição para essa relação” (ORLANDI, 1994, p.56).

A AD caracteriza-se por levar em conta o contexto, ser crítica, considerar as marcas

formais da superfície textual como ponte para construção de sentidos. Todo discurso

apresenta marcas em sua materialidade que possibilitam ao analista o reconhecimento da

situação, contexto e intenção de seus enunciadores.

A análise do discurso vai além da dimensão da palavra ou da frase e se preocupa com a organização global do texto; examina as relações entre a enunciação e o discurso enunciado e entre o discurso enunciado e os fatores sócio-históricos que o constroem (BARROS, 1997, p. 187).

No discurso, acontece a junção do social com o linguístico, pois ele pode ser entendido

como processo social cuja materialidade é a linguística. Neste sentido, a historicidade é

fundamental para se pensar a relação entre linguagem e sociedade. Orlandi (1994) adverte que

não é possível haver a simples correlação entre as duas.

A linguagem não é examinada em abstrato, como um fenômeno isolado, mas sempre

em relação a uma situação, seja ela social, organizacional, psicológica e interativa, ou seja, o

produto linguístico nunca é exclusivamente código, senão, é o “código em situação”

(RODRÍGUES, 2000, p. 50). Esse conteúdo experiencial, ideacional ou situacional do

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discurso é denominado contexto.

A linguagem é o lugar no qual acontecem relações complexas do saber e poder, já que

os sujeitos incluem valores históricos, situacional, político e ideológico nos quais estão

inseridos. É a força destes fatores sociais e históricos que constituem as diversas vozes

presentes nas manifestações que, por isso, não podem ser vistas como se fossem da alçada de

um único indivíduo (ORLANDI,1994).

O discurso social não é uma referência das palavras a uma realidade extralinguística,

trata-se de uma forma de regular o funcionamento social por meio de fluxos simbólicos. O

modo de pensar social, que remete aos pré-construídos, está presente na institucionalização

simbólica que organiza a relação com o outro. Este é o caráter da interdiscursividade, pelo

qual um discurso sempre remete a outro (ORLANDI,1994).

[...] não mais tratar os discursos como conjunto de signos (elementos significantes que remetem a conteúdos ou a representações), mas como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os tornam irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse mais que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever (FOUCAULT, 1996, p. 56).

O discurso abre perspectiva para o trabalho entre ordens diferentes, como do mundo, da

linguagem e das noções de social e histórico. A possibilidade de haver essas relações ocorre a partir da

ideologia. De acordo com Orlandi (1994), a Análise do Discurso analisa o social, por exemplo, não

pelos traços sociológicos empíricos, mas pelas formações imaginárias elaboradas por meio das

relações sociais que atuam no discurso. As condições de produção do discurso estão representadas por

formações imaginárias, como a imagem que o falante tem de si mesmo, do ouvinte, a situação de

comunicação, além do contexto histórico-social e ideológico.

As palavras não servem apenas para expressar ideias e pensamentos, mas também para

ocultá-los ou dissimulá-los. Qualquer enunciado considerado isolado é, claro, individual, mas

cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados,

sendo isso que denominamos de gênero do discurso (BAKHTIN, 1992, p.279). No discurso

encontram-se dispersão, diferenças e descontinuidade dos planos de onde o sujeito fala. Em

razão deste fato, Brandão (2002, p. 30) afirma que a Análise do Discurso não deve buscar a

unidade de todas as formações discursivas de uma conjuntura.

Os discursos são momentos no processo de produção e reprodução material da vida

social. O trabalho social desempenhado pelo discurso é foco importante da crítica social e

materialista (FAIRCLOUGH; GRAHAM, 2002). Dentro da Análise do Discurso é possível

fazer uma interpretação que conecte os discursos analisados com o contexto social que

surgiram e circulam.

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Ao caminharmos nesta direção, a Análise Crítica do Discurso - ACD proporcionou o

necessário movimento para ver o discurso enquanto prática social, ou seja, como formador do

social e também constituído socialmente. A perspectiva cognitiva de Dijk (2012) trabalha

com contexto cultural, que inclui hábitos, costumes, crenças, normas sociais, sistema político-

econômico, dentre outros aspectos. Inclui não somente o processamento da informação

externa, mas a realidade cognitiva entendida como representação mental que envolve a

memória e a organização de conhecimentos armazenados. O conceito de contexto

desenvolvido por Dijk (2012) engloba a totalidade dos elementos não textuais e vai além da

enunciação.

O enunciado é, dessa maneira, processado em um conjunto inicial mínimo de

suposições previamente ativadas na memória, como os pré-construídos. Podemos entender

que, na configuração cognitiva, o contexto consiste no conjunto de representações mentais

utilizadas na interpretação de um enunciado. Em síntese, é o enunciado que determina a

formação do contexto, não o inverso. O contexto possui um papel decisivo na interpretação

dos enunciados (GODOI, 2005).

Alonso estabelece uma relação dialética entre discurso e contexto. Com isso, inter-

relaciona o interior subjetivo com o exterior social para desenvolver em universos semânticos

os conteúdos do acervo de conhecimentos da cultura. (ALONSO, 1998). No interior dessa

relação dialética, a interpretação tem que compreender o texto no interior do mundo da vida11

- esfera na qual o indivíduo encontra convenções e motivações comunicativas.

Na perspectiva da análise sociológica, o discurso é compreendido como qualquer

prática pela qual os sujeitos dão sentido à realidade, portanto, apresenta uma diversidade de

formas muito ampla, o que possibilita uma análise discursiva das práticas sociais. Os

discursos, sejam escritos ou verbais, constituem formas de produção e transmissão de sentido

(RUIZ, 2009).

Henry (1994) enfatiza que os fatos reclamam sentidos, já que a compreensão da

história ultrapassa a de uma linha temporal repleta de fatos com sentidos dados. É por

intermédio da história que é possível vislumbrar os modos como os sentidos são produzidos e

circulam já que não são decorrência de apenas crenças individuais, mas são produzidos e

compartilhados socialmente (RUIZ, 2009).

11 Schutz considera o mundo da vida ou mundo da vida cotidiana como uma dimensão na qual o homem pode ser compreendido e com a qual pode interagir. O mundo da vida cotidiana significa o mundo intersubjetivo que existia antes da existência do sujeito, já interpretado por outras pessoas antes dele (SCHUTZ, 1979).

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Para a interpretação social dos discursos, interessam as relações de produção do

sentido, o estudo dos discursos e suas determinações e motivações. “O sentido é o ligamento

interno do texto” (LOZANO, 1999, p. 33), e é justamente a consideração deste aspecto

processual que permitirá a desistência da busca da significação em unidades textuais estáticas

(GODOI, 2009).

Os sentidos não são somente produto de crenças individuais, mas são produzidos e

compartilhados socialmente (RUIZ, 2009). Assim, as práticas discursivas são importantes

para a compreensão da realidade social. Por meio da intersubjetividade é possível conhecer a

ordem social. Esse fato ocorre em decorrência da estreita relação existente: a

intersubjetividade é produto da ordem social, mais ainda é por meio dela que a ordem social

se constitui e funciona (RUIZ, 2009).

4.2 Trajeto da análise realizada

Interpretar o discurso é estabelecer seu sentido por meio de um processo permanente

de decomposição e recomposição para o descobrimento do sentido. É a visão construtiva do

investigador que narra e reconstrói o discurso, como diz Sontag (1984): “Compreender é

interpretar. E interpretar é voltar a expor o fenômeno com a intenção de encontrar seu

equivalente” (SONTAG, 1984, p. 19).

De acordo com Conde (2009), o texto deve ser compreendido em sua totalidade, sem

segmentação. Este posicionamento foi de grande importância para o presente trabalho por

guardar conexão com a proposta de Bakhtin (1992) sobre dialogismo nos discursos sociais e

pelo entendimento de Maingueneau (2008) de que a análise não se deve centrar no discurso,

mas sim no espaço de intercâmbios entre vários discursos (GODOI, 2005).

Procuramos realizar a análise, de maneira simultânea e integrada, em três níveis de

interpretação - textual, contextual e interconexional. Com isso não dividimos as informações

em blocos estanques, mas promovemos um constante diálogo, com retroalimentação contínua,

entre elas. Por meio deste processo foi possível chegar à categorização necessária para a

análise.

A análise textual proporciona a caracterização do discurso e está focada no plano do

enunciado. A relação entre discurso e texto não é unívoca, por isso devem-se diferenciar os

dois conceitos: um único texto pode conter diferentes discursos, e um discurso pode assumir

várias formas de texto.

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Se o texto é uma materialização linguística, um objeto, o espaço do enunciado, o discurso é a prática reflexiva da enunciação. Os textos são os suportes de um conjunto de discurso diferentes. Um texto pode ser atravessado por vários discursos, porque os discursos são mais que as "linhas de coerência simbólica com as quais representamos, e nos representamos, nas diferentes posições sociais. (ALONSO, 1998, p. 201)

A análise textual determina a composição e a estrutura do discurso; não se trata de

uma versão resumida deste, pelo contrário, a análise textual é mais uma multiplicação do que

uma redução. Para realizá-la, uma das técnicas que utilizamos foi a decomposição e

fragmentação do texto em unidades constitutivas para sua posterior codificação em sistema de

categorias preestabelecido (RUIZ, 2009).

A análise contextual compreende o discurso a partir da enunciação. O contexto

proporciona o entendimento de que os discursos são acontecimentos produzidos por sujeitos

situados em espaço e tempo determinados. Além disso, possuem um universo simbólico

específico e estão imbuídos de intenções discursivas próprias (RUIZ, 2009).

O contexto é a dimensão mais ampla do texto, suporte das interpretações, que

envolvem as subjetividades, as ações, os objetos e os efeitos discursivos. O contexto é criado

pelo próprio texto para constituir o discurso. O contexto amplia a possibilidade de

interpretação do discurso (GODOI, 2005).

Ruiz aponta dois tipos de contextos: o situacional e o intertextual. Para a análise

situacional, é preciso especificar se são discursos espontâneos ou provocados - produzidos sob

circunstâncias específicas de investigação social, se são individuais ou coletivos, as relações

prévias entre os participantes, o tempo disponível, a comodidade do espaço do encontro

(RUIZ, 2009).

O contexto de uma investigação social com base em entrevistas ou grupos de

discussão está estabelecido por normas explícitas e marcadas pelo moderador e aceitas pelos

sujeitos aos quais se dirige. Isso, no entanto, não significa que possam ocorrer diversas

situações, como questionamentos sobre a dinâmica e as normas estabelecidas para o grupo e

também ao moderador (RUIZ, 2009). A análise situacional leva em conta as interações

comunicativas cotidianas como um processo de negociação dos sentidos.

Para a análise contextual interessa ainda a concepção de intertextualidade defendida

por Foucault (1996): há um diálogo, implícito ou explícito, entre o discurso e outros discursos

externos a ele; “[...] a cada fragmento de um discurso analisado se pergunta com que outros

discursos se encontra dialogando e, por tanto, com que outro discurso ou discursos se

encontra em uma relação associativa ou de conflito” (ALONSO; CALLEJO, 1999, p.49). O

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sentido do discurso se estabelece, portanto, em razão da semelhança e da diferença com

outros discursos (RUIZ, 2009).

O último nível de análise consiste no estabelecimento de interconexões entre os

discursos analisados, nos sentidos e espaço social no qual surgiram. As interconexões abrem

uma dimensão informativa por estarem os sujeitos envolvidos e em contato com a realidade

social e de disporem de conhecimento sobre tal dimensão - nos discursos que elaboram está

embutido este conhecimento. Neste tipo de interpretação, o discurso se explica em face da

competência social e informativa do sujeito que o produziu e de sua capacidade de exposição

(RUIZ, 2009).

Esta é uma informação parcial na medida em que se refere a apenas uma parcela da

realidade: aquela com que o sujeito tem contato em decorrência de sua posição dentro da

estrutura social. Para superá-la, é necessário recorrer a pessoas que ocupem posições distintas

dentro da estrutura social (RUIZ, 2009).

Outra dimensão proporcionada pelas interconexões é a ideológica. Van Dijk (2008)

entende o discurso como reflexo de um mecanismo de dominação ideológica. Na sua

interpretação, interessa o ponto de vista do sujeito, não como um enfoque particular, mas

como indício de construções ideológicas, entendidas como modos intersubjetivos de perceber

o mundo e de se posicionar nele, o que é próprio de sujeitos inseridos em contextos sócio-

históricos concretos (DIJK, 2008).

Uma terceira dimensão de interconexões reflete as condições sociais da produção do

discurso. Assim, a análise pode revelar de maneira indireta aspectos fundamentais da vida e

da estrutura social pelo fato de o discurso ser um produto com forte carga simbólica e que, por

isso, possibilita estabelecer uma conexão com o contexto macro do social (RUIZ, 2009).

É por todas estas possibilidades proporcionadas pela a AD que a escolhemos para o

percurso analítico da pesquisa proposta. Acreditamos que “[...] as maneiras como nós

normalmente compreendemos o mundo são histórica e culturalmente específicas e relativas”

(BURR, 1995, apud GILL, 2008, p. 245), o que é fundamental para entendermos a construção

de sentidos sobre a mineração a partir dos discursos.

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5 TEMPO E CONTEXTO

“[...] nas Minas tudo se justifica [...]” (Carta do Governador Martinho de Mendonça de Pina e da Proença para Gomes Freire de Andrade.12

Ao abordar a construção da imagem da mineração no contexto de Araxá, há que se

fazer um resgate temporal de alguns pontos da ação minerária, não só no município, mas

também no âmbito do estado de Minas Gerais. A história busca a objetividade, a memória;

por se ligar ao existencial, torna-se subjetiva. São os grupos e as comunidades que constroem

as narrativas da memória coletiva. Os quadros coletivos de memória são construídos por

ideias, juízos e imagens com significação social. Permitem que, com a reelaboração do

passado, o presente seja mais bem compreendido. É a partir da consciência histórica e da

memória que são montados os quadros de referência à compreensão das conjunturas então

atuais (BABO-LANÇA, 2012).

Foram os minerais os responsáveis por muitos dos fluxos econômicos pelos quais

passou o Brasil. Isso ocorreu desde os primórdios até os dias de hoje.

Desde a época da colônia, os minerais, pela força econômica que detêm, são ligados

com riquezas e poder. Assim, aqueles que os possuem são vistos como pessoas, locais ou

empresas ricas. Isso se dá pelo potencial que têm para operar transformações sociais e

econômicas onde são extraídos, ou para aqueles que são seus proprietários. Este é o pré-

construído com o qual se inicia a mineração: a riqueza vista como poder e prosperidade.

5.1 Memória e história

As primeiras notícias sobre o ouro em Minas Gerais aconteceram em torno de

1693/1695 na então Vila Rica, hoje Ouro Preto. Houve uma grande corrida pela busca deste

mineral. O ouro estava próximo à superfície, o que facilitava a extração. Este fato era de suma

importância, já que os portugueses não tinham conhecimento das técnicas de mineração.

Pode-se dizer que a primeira importação de tecnologia mineral ocorreu com a vinda de

escravos africanos que tinham convivido com os árabes e, assim, adquirido alguma

fundamentação para realizar o trabalho extrativo. Nesta mesma época, foram descobertos os

diamantes, primeiramente no Tejuco, atual Diamantina. Depois, nos rios Jequitinhonha e

Pardo. Até então os diamantes só tinham sido encontrados na Índia (FIGUEIRÔA, 1994).

12 Arquivo Público Mineiro, v. 16, 1911, p. 362.

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Figura 1 - Mineração de diamantes em Minas Gerais, em 1770

Fonte: JULIÃO, 1960

Figura 2 - Lavagem de diamantes no Serro, em 1770

Fonte: JULIÃO, 1960

Em seus livros sobre sua viagem ao Brasil, em especial a Minas Gerais, entre 1816 e

1822, o botânico francês Auguste Saint-Hilaire13 demonstrou ser um observador da vida

social, dos costumes e da estrutura urbana existente. Teve especial interesse pela estruturação

das relações na sociedade. Sobre a mineração, Saint-Hilaire relatou algumas das

consequências da busca do ouro no século XVIII. Também lhe interessou o desejo de

enriquecimento fácil que adviria com o descobrimento de um filão de ouro, o que permeava o

13 Auguste Saint-Hilaire era biólogo com conhecimento das Ciências Naturais em geral, como a Zoologia e a Mineralogia. Chegou ao Rio de Janeiro em julho de 1816, como membro da Embaixada da França. Percorreu cerca de 2.500 léguas em um vasto itinerário, compreendendo as regiões sudeste e sul do Brasil, além do território do atual estado de Goiás. Viajou alguns anos pelo Brasil e escreveu importantes livros sobre os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. (NEVES; MARTINS; RADTKE, 2007).

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sonho das pessoas, tanto no século XVIII quanto ainda no século XIX.

Os anseios venturosos da presença do ouro e das pedras preciosas exaltaram nos mineiros esse espírito de inquietação natural em todos os homens: como os jogadores, apoderam-se eles do menor vislumbre de esperança e sempre estão prontos a sacrificar o que há de mais real às quimeras de sua imaginação... [...] (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 199).

Ao verificar a decadência da mineração no início do século XIX, fez um dos primeiros

registros sobre a destruição da natureza causada pelas lavras.Também lhe chamaram atenção a

desagregação urbana e social e a forma como os núcleos populacionais eram abandonados em

busca de um rincão qualquer que contivesse ouro. É o que Aires da Mata Machado Filho

(1986)14 chama de rastro deixado pela exploração aurífera e que passa a ser associado à

mineração de maneira geral. Primeiro vem a riqueza. Em um segundo momento, quando as

jazidas se esgotam, as pessoas vão embora, chega o declínio econômico para o local, além de

a natureza restar degradada pelo processo exploratório.

Um velho jesuíta, João Antônio Andreoni, que viajou por Minas em cerca de 1700, já

indagava o que ficava de retorno para os locais de mineração: “[...] E o pior é que a maior

parte do ouro que se retira das minas passa em pó e em moeda para os reinos estranhos e a

menor parte é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil” (ANTONIL apud LIMA,

1946, p. 178).

Um ponto comum na busca do ouro e dos diamantes é que as ações eram aleatórias e

predatórias. A “febre” do ouro e dos diamantes atacava as pessoas, e todos buscavam a

riqueza no seio da terra e no leito dos rios. Ninguém queria se ocupar com atividades menos

rentáveis. Era comum a fome entre estes pioneiros por falta de produtos agrícolas (LIMA,

1946).

O ápice da exploração do ouro aconteceu durante o século XVIII. Para se ter uma ideia

da ordem de grandeza da produção do ouro no Brasil nos primeiros 70 anos do século XVIII,

a tonelagem deste período foi equivalente à do restante da América, de 1493 a 1850. Isso

representa 50% da produção mundial entre 1493 a 1850.

Saint-Hilaire já alertava: “[...] A destruição das florestas não é o único resultado

lamentável de tal sistema [...] (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 199). A intensa exploração somada

14 Eminente professor, de estirpe intelectual e moral admirável. Catedrático na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade Católica de Minas Gerais. Lecionou filologia românica, língua e literaturas portuguesa e brasileira, italiana, espanhola, francesa, inglesa e disciplinas afins. A pujante riqueza do folclore mineiro tornou-se conhecida graças a suas perseverantes pesquisas dos usos, costumes e tradições. Foi membro da Academia Brasileira de Filologia, da Sociedade Brasileira de Antropologia, da Sociedade Brasileira de Folclore, da Academia Mineira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS, 2012).

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à ocorrência aluvionar trouxe muitos problemas sociais e ambientais, já que pessoas com os

mais diversos perfis, de origens variadas, chegavam para procurar riquezas (FIGUEIRÔA,

1994).

5.1.1 Da utopia para o real

A economia colonial era escravista, mercantil e predatória - diretamente ligada à

dilapidação da natureza. Não havia investimentos, o trabalho se processava com escassez de

capital, mas com abundância da terra. A expansão econômica tinha como limite o

esgotamento dos recursos, em decorrência da forma de produção (FIGUEIRÔA, 1994).

Um naturalista italiano, Domingos Vandelli, provavelmente em 1788, escreveu suas

impressões sobre as minas de ouro do Brasil. Neste trecho, já levanta uma questão sobre a

dicotomia da mineração que persiste até hoje: se é, ou não, uma atividade econômica

vantajosa para a sociedade, de forma geral.

[...] Se as minas de ouro são vantajosas ou prejudiciais? Esta questão deixo a decidir os sábios políticos, que sabem calcular os verdadeiros interesses das nações. Que sejam necessárias pessoas inteligentes, que instruam os mineiros e os dirijam nas suas operações, se verá isso, considerando o estado presente das minas (VANDELLI apud FIGUEIRÔA, 1994, p. 45).

O padre José Joaquim da Cunha de Azevedo Coutinho15 constatou que se a mineração

não era prejudicial, pelo menos deveria ocupar um lugar secundário: “ [...] se descobriram

para nós, desgraçadamente, as minas de ouro, que nos fizeram desprezar as verdadeiras

riquezas da agricultura” (COUTINHO apud FIGUEIRÔA, 1994, p.45). Com a queda da

produção do ouro após 1750, os olhares se direcionaram para a agricultura (FIGUEIRÔA,

1994).

O caráter de transitoriedade da mineração é relatado por José Vieira Couto (1905), que

em 1801 constatou que muitas povoações de Minas já se encontravam totalmente estagnadas.

Neste período, conta que de alguns arraiais só restaram ruínas e que a maior parte dos

mineiros estava empenhada ou falida. Trata-se de outro pré-construído da mineração: uma

atividade instável que em seu início proporciona muitas benesses, mas depois de algum tempo

só deixa decadência em seu rastro. Os altos e baixos do processo de mineração podem ser

sentidos pelas observações do intelectual mineiro Aires da Mata Machado Filho (1986) de que

15 O Padre José Joaquim da Cunha de Azevedo Coutinho foi fundador do Seminário de Olinda. Em 1804, publicou o livro “Discurso sobre o estado atual das minas no Brasil” (FIGUEIRÔA, 1994).

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muitas vilas e cidades são marcadas por ciclos minerais. Conseguem grande crescimento

econômico e depois, quando exaure o minério, entram em declínio econômico. Fica na

sociedade uma nostalgia dos tempos de riqueza e um temor de alguns por esta atividade,

considerada ingrata.

Com a diminuição da extração aurífera, as pessoas buscaram novas formas de

sobrevivência. Lima considera que o fato interferiu nos traços psicológicos e sociológicos da

gente de Minas. Assim, a mentalidade agrícola ocupou o espaço da mentalidade extrativa em

muitas regiões do estado. Explica que “sedentário”, neste caso, é “gostar de ficar quieto em

seu canto”, relaciona-se com “[...] ceticismo irônico que ensina que a vida é a mesma, desta

ou daquela banda da serra, de modo que não vale a pena arriscar o pássaro que se tem na

mão, pela procura de dois voando” (LIMA, 1946, p. 202). É uma vinculação às condições

presentes da vida, uma recusa à mudança, porém não é apatia.

É com base nestes traços psicológicos identificados por Lima (1946) que situamos

algumas das resistências que ocorrem em comunidades quando da implantação de empresas

de mineração. O fazendeiro vê com desconfiança a chegada de gente de fora, que fala de

algumas coisas que não são palpáveis e de benefícios sociais, rendas que, como chegaram,

podem ir embora e só deixar rastros.

Contratado por Dom João, em 1810 chegou ao Brasil o Barão Wilhelm Ludwig Von

Eschwege para fazer um diagnóstico da situação da mineração no País e elaborar propostas,

dentro de métodos mais modernos, para a recuperação da atividade e até identificar a

existência ou não de outros minérios. A missão do Barão vonEschwege não foi fácil, já que

suas propostas encontraram muita resistência. A mineração brasileira estava defasada, o único

ponto de destaque residia no processo de captação e condução de água. Mesmo assim, ele

criou a primeira empresa de mineração, a Sociedade Mineralógica de Passagem, para lavrar a

camada aurífera da margem direita do Ribeirão do Carmo, em Passagem de Mariana

(FIGUEIRÔA, 1994).

Os ingleses marcaram presença na mineração de Minas Gerais. As minerações

geralmente pertenciam às companhias estrangeiras, e sua maioria, inglesas, e estas traziam do

exterior os especialistas necessários. Poucos eram os brasileiros que trabalhavam. A mão de

obra era formada também por italianos, espanhóis, dentre outros (ALFONSO-GOLDFARB;

NASCIMENTO; FERRAZ, 1993). Em 1834, a Saint John D’el Mining Company adquiriu a

Mina de Morro Velho - hoje, AngloGold Ashanti, que já completou 160 anos de atividades

(SILVA, 1994).

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Na segunda metade do Segundo Império, para realizar pesquisas mineralógicas e

geológicas, além de criar uma escola de estudos da terra e dos minerais, Dom Pedro II trouxe

para o Brasil o sábio francês Claude Henri Gorceix (1876 a 1891). Gorceix saiu à procura de

um sítio propício para a instalação da escola. Escolheu Ouro Preto. Têm destaque os trabalhos

acadêmicos e científicos de professores e alunos da Escola de Minas de Ouro Preto, que

realizavam como atividade curricular estudos detalhados acerca de minas e minerações de

Minas Gerais. A filosofia educacional e as práticas pedagógicas nela implantadas foram

responsáveis pela formação de um seleto grupo de geólogos, mineralogistas e engenheiros

metalúrgicos e civis que se espalharam pelo País. Eles foram decisivos na formulação de uma

política mineral do Brasil (CARVALHO, 2002).

A preocupação com a profissionalização do setor mínero-metalúrgico pode ser

constatada pelo Decreto 17.095 de 21/10/1925, baixado pelo então presidente Arthur

Bernardes, que estabelecia que as empresas da área deveriam contratar, no mínimo, três

engenheiros formados pela Politécnica do Rio de Janeiro ou pela Escola de Minas de Ouro

Preto. No corpo do decreto fica clara a tentativa de promover o desenvolvimento de uma

tecnologia nacional (ALFONSO-GOLDFARB; NASCIMENTO; FERRAZ, 1993).

Pode-se afirmar que a indústria da mineração teve seu tímido, mas efetivo, início

somente na década de 1940. Com a Nova República, em 1930 foi estabelecido um novo

conceito em termos de mineração. Foi definido que o bem mineral seria uma propriedade da

Nação, cujo aproveitamento seria concedido a pessoas de direito privado. Em 1934, criou-se o

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), pouco antes da assinatura do Código

de Minas de 1934. Nesta época, o Brasil exportava minério para poder importar trilhos para

suas ferrovias (SILVA, 1994).

Com a Segunda Grande Guerra, em razão da dificuldade do abastecimento com

matérias-primas importadas, veio a necessidade de dirigir à mineração especial atenção. Nesta

época, o transporte brasileiro baseava-se na rede de ferrovias e na navegação, ambas movidas

a vapor pela queima de carvão mineral e lenha (CPDOC/FGV). Vargas optou pela

constituição de uma empresa siderúrgica nacional na qual o capital estrangeiro entraria sob

forma de empréstimo. Para isso, buscou apoio dos Estados Unidos. As negociações incluíram

muitos impasses, mas o empréstimo junto ao Eximbank foi obtido (CPDOC/FGV). Assim

nasciam, em 1942, a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia do Vale do Rio Doce

(CVRD), hoje Vale. Com o Acordo de Washington, ingleses cederam as minas de Itabira,

americanos financiaram 14 milhões de dólares, e o Brasil fundou a Companhia Vale do Rio

Doce (FERREIRA, 2001).

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Em 1967 foi publicado o Código de Mineração, que retirou do proprietário do solo a

preferência que lhe era anteriormente reservada na concessão de Direitos Minerários. Criou

para pessoas físicas e jurídicas não proprietárias a oportunidade de exercer atividades de

exploração mineral em terras de terceiros. Nesse ano, a U.S. Steel descobriu minério de ferro

na Serra dos Carajás. Trata-se esta de uma imensa província mineralógica que contém a maior

reserva mundial de minério de ferro de alto teor (Exame, 2012). Em 1969, foi criada a

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) (SILVA, 1994).

A década de 1970 correspondeu a um período de grande desenvolvimento da

mineração brasileira, com muito investimento em trabalhos exploratórios e pesquisas

tecnológicas. Já na década de 1980, o agravamento da crise econômica mundial provoca

sérias consequências para o Brasil, além de enfraquecer os investimentos internacionais, e o

setor entrou em decadência. Houve um enorme florescimento do “garimpo”, em todo o País, e

de forma mais intensa em Serra Pelada - o maior garimpo a céu aberto do mundo (SILVA,

1994).

De acordo com Silva Pereira (1994), a cultura do pessimismo em relação à mineração

prevaleceu na Carta Constitucional de 1988 que, promulgada em 5 de outubro, estabeleceu

restrições à participação estrangeira na exploração e aproveitamento de recursos minerais.

Com a tendência em curso aliada à nova legislação, houve uma retração de recursos no setor.

4.1.2 Panorama mineral atual

O setor de mineralnegócios brasileiro vem se movendo em uma trajetória de

crescimento nos últimos anos. A Contribuição Financeira pela Exploração dos Recursos

Minerais (CFEM) tem apresentado uma curva ascendente de royalties: no período de 2003 a

2008, registrou-se um aumento de 511,6%. Em 2008, a arrecadação foi de R$ 857,8 milhões,

dos quais 53,3% ficaram no estado de Minas Gerais - primeiro lugar no Brasil, seguido do

estado do Pará, com 25,8% Diretoria de Planejamento e Arrecadação (DIPAR); Diretoria de

Desenvolvimento e Economia Mineral (DIDEM, 2009). Em 2011, a Produção Mineral

Brasileira - PMB alcançou o recorde de US$ 50 bilhões. Minas Gerais foi responsável por

50% deste total, ou seja, US$ 25 bilhões - Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM).

A desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) da China no ano de 2012 trouxe

mudanças no mercado internacional de matérias-primas. Houve uma queda de preço

generalizada (NUNES, 2012). Em decorrência desta situação, a produção mineral brasileira,

no primeiro semestre de 2012, apresentou um fraco crescimento. O Índice de Produção

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Mineral (IPM) mostrou que, em relação ao primeiro semestre de 2011, houve um crescimento

tímido na produção, de 0,97% (Diretoria de Planejamento e Orçamento DIPLAM -

Departamento Nacional de Produção Mineral /Departamento Nacional de Produção Mineral -

DNPM).

É nítido o peso que o setor mineral tem na economia brasileira, notadamente em

Minas Gerais. Com isso, cresce o movimento pela revisão dos chamados royalties do minério.

Lembramos, novamente, o velho jesuíta João Antônio Andreoni, que, em cerca de 1700, já

escrevia que muito pouco ficava para os locais dos quais era extraído o ouro. Com a

campanha “Minério com justiça” vem à tona o pré-construído do retorno e da compensação.

Em seu pronunciamento em Ouro Preto, em 21 de abril de 2011, a presidente Dilma Rousseff

afirmou: “Não é justo nem tampouco contribui para o desenvolvimento do Brasil que os

recursos minerais do País sejam daqui retirados e não haja a devida compensação“. Na

ocasião, assumiu então o compromisso público de encaminhar ao Congresso Nacional a

revisão da nova regulação do setor e da Compensação Financeira pela Exploração de

Recursos Minerais - CFEM, os chamados royalties do minério (COELHO, 2012).

Os bens do subsolo pertencem à União, conforme determina a Constituição Federal

(inciso 9 do artigo 20). Dessa forma, para explorar esses bens que são de propriedade pública

as empresas devem pagar royalties - como é o caso do petróleo - ou compensações

financeiras, como ocorre com os diferentes tipos de minério (COELHO, 2012).

A arrecadação é distribuída entre a União, os estados e os municípios mineradores.

Para o vice-governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, “O direito a essas

contrapartidas, por ser constitucional, é tão claro como água, pois é o mínimo que se pode

receber pela exploração de uma riqueza que, como o minério de ferro, não dá duas safras”,

constatação que já ecoava há mais de 90 anos nos vales e montanhas mineiras pela voz de

Artur Bernardes.16

Como mencionamos, o paradigma da campanha dos royalties também é um pré-

construído que remete ao século XVIII, quando o ouro era remetido para Portugal. Se não

integralmente, no mínimo obrigatoriamente era enviado o imposto chamado de quinto. Para

burlá-lo, eram utilizados inúmeros subterfúgios, como os santos do pau oco, em cujo interior

era colocado o ouro durante o processo de contrabando. Enfim, de uma forma ou de outra o

16 Arthur da Silva Bernardes é mineiro de Viçosa. Nasceu em 1875. Teve uma intensa vida política na qual se destaca sua atuação pela democracia - movimento constitucionalista de 1932 e constituinte de 1945, educação - criação do núcleo agrícola que se tornou a Universidade Federal de Viçosa - e de valorização das riquezas minerais - engajou no movimento pelo monopólio estatal do petróleo. Foi deputado estadual, deputado federal, governador e presidente da república (PERSONAGENS..., 1983).

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ouro não ficava nas localidades mineradoras. Quando exauria o filão, para os habitantes do

povoado só restavam áreas degradadas e a total falta de opções de atividades econômicas

necessárias à sobrevivência. Novamente temos a visão dos rastros mencionados por Machado

Filho (1986).

Em face dessas ocorrências, o minério começa a ser associado à riqueza imediata,

mas decadência econômica a médio e longo prazo. A frase de Arthur Bernardes, citada pelo

vice-governador de Minas Gerais, é uma das mais representativas deste pré-construído. Se o

minério dá em uma só safra, é preciso que este período de produção gere benefícios mais

duradouros, não só para as empresas, mas para a população que vive próxima da área

minerada. É desta maneira que poderá deixar rastros positivos, não somente decadência social

e econômica e degradação ambiental.

5.2 “Tropeiros, aquáticos e mineiros”17

A cidade de Araxá está localizada na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais.

Sua população é de 108 mil habitantes. Em decorrência de sua formação geológica, as terras

araxaenses abrigam águas sulfurosas e radioativas e alguns minerais, como o nióbio18,

fosfato19 e terras raras20. A mineração é a maior fonte geradora da economia de Araxá, que

também possui uma bacia leiteira de destaque no estado, além da atividade turística.

17 Título de artigo publicado no informativo O Trem da História, nº 19, da Fundação Cultural Calmon Barreto, em 1995, de autoria da historiadora Glaura Teixeira Nogueira Lima. Reproduzimos o título por sintetizar os três ciclos aconômicos pelos quais passou Araxá ao longo de sua história. Primeiro, foi a pecuária que ainda hoje é representativa no município, o qual possui uma bacia leiteira de destaque no estado. Depois veio o turismo, por meio da exploração das águas minerais com finalidades medicinais. Por último, a descoberta dos minerais e a implantação de empresas deste ramo de negócios. Todas as três atividades trouxeram pessoas de outros locais para Araxá, ou seja, os tropeiros, os aquáticos e os mineiros. 18 O Brasil é o líder mundial em reservas conhecidas de pirocloro, no qual ocorre o nióbio, com uma participação de 88,0%; consequentemente, ocupa a primeira colocação mundial em oferta de nióbio, com uma presença de 94,5%. Estão localizadas em Araxá 96,3% das reservas brasileiras. Uma das utilizações do nióbio é como parte do processo de fusão nuclear, o que dá ao metal uma importância de destaque no cenário econômico mundial. (COMPANHIA BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO, 2012). Esse fato colocou o município na lista de pontos sensíveis para segurança dos EUA, segundo documentos vazados pelo site Wikileaks em 2010. 19 Apatita é o nome genérico de um importante grupo de minerais, cuja composição geral é fosfato de cálcio, podendo ser hidratado e/ou conter flúor e/ou cloro. Mineral de número 5 na escala de Mohs. Importante fonte de fósforo na produção de superfosfatos, ácido fosfórico e fertilizantes de uso na agricultura. É relativamente comum, apesar de ser raro em concentrações economicamente lavráveis (APATITA, 2012). 20 As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos que, diferentemente do que o nome pelo qual ficaram conhecidas sugere, não são tão raras. Sua ocorrência é, por exemplo, maior do que a do ouro. São considerados raros pela dificuldade da sua separação (já que ocorrem em vários minérios de composições distintas). As terras raras possuem aplicação em produtos com tecnologias de ponta. São utilizados em televisores de tela plana e em discos rígidos de computadores, dentre outros (HOJE em Dia, 2012).

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No desenvolvimento deste estudo, levamos em consideração a afirmação de Isaac

Joseph de que não basta ver as comunidades pela sua distribuição geográfica, “[...] é preciso

ainda observar de que maneira elas geram a sua própria alteridade e, além disso, medir as

dissociações intracomunitárias” (JOSEPH, 2005, p. 72). Para Stuart Hall (2000), as

identidades nacionais, regionais ou locais não são características inerentes ao local de

nascimento, mas elaboradas no contexto da representação social. Nessa perspectiva, o autor

entende que o conceito de nação deve ser compreendido como “construção produtora de

sentido, um discurso, um sistema de representação cultural” (HALL, 2000, p. 49). É por

meio das histórias e tradições que os municípios, os estados e os países formam sua

identidade cultural. Assim, buscamos ver Araxá não apenas como um espaço físico pré-

definido, mas ampliamos a visão para a memória que ocorre no interdiscurso da mineração.

Em Araxá, existe um discurso de valorização do local, como o fato de ter sido

escolhida para ser visitada por alguns estrangeiros no século XIX. Pesquisadores europeus,

que ficaram conhecidos como “viajantes”, estiveram na região. Dentre eles, estão o alemão

Barão W. L. Eschewege, que divulgou a existência das águas minerais, em 1816, e o biólogo

francês Auguste de Saint-Hilaire, que descreve a sua chegada ao Barreiro21 em 1819:

[...] depois de ter caminhado uma légua e meia mais ou menos por uma trilha bem batida, cheguei finalmente ao local onde se encontram as águas minerais e que, ali, é chamado do Barreiro. Num ponto sombrio da mata, [...] cercado por um muro de arrimo e inteiramente tomado por uma lama negra e compacta. É do meio dessa lama, em cinco ou seis pontos diferentes, que brotam as fontes de água mineral [...] (SAINT-HILAIRE apud LIMA, 1999, p. 42- 43).

A estância hidromineral do Barreiro de Araxá referencia o orgulho comunitário e é

conhecida desde o século XIX pelas propriedades terapêuticas de suas águas (LIMA, 1999).

Em 1917, a “Gazeta de Araxá” descreve o Barreiro como: “Salubérrimo ambiente sem pó,

sem mosquitos importunos, sem excesso de sol nem de calor [...] onde o murmúrio de cem

riachozinhos crystalinos e desenquietos embalam e descansam a alma do visitante.” Nesta

época, alguns registros documentam que já existia litígios entre o governo do estado e

particulares pela propriedade do Barreiro (CASTRO,1994).

21 O Barreiro é o local no qual estão localizadas as águas minerais e onde foram encontrados fósseis pré-históricos. Recebeu este nome em decorrência da lama negra que se formava nos locais próximos às fontes hidrominerais. É também chamado de Estância Hidromineral do Barreiro. Em face deste fato, na área foram construídas as primeiras casas de tratamento crenológico. E também os hotéis Rádio, Colombo e, mais tarde, o Grande Hotel, as Termas e todo o complexo turístico. As minas de apatita (fosfato) e pirocloro (nióbio) são vizinhas do Barreiro (NOGUEIRA LIMA, 1999).

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Da sua origem indígena, a cidade herdou, sobretudo, o próprio nome - Araxá, que na

língua tupi-guarani significa “lugar alto onde primeiro se avista o sol”. No século XVIII

chegaram os colonizadores, atraídos pelo sal natural das águas do Barreiro, utilizado para

alimentar o gado. A pecuária, portanto, facultou o motivo para a ocupação inicial. Eram os

tropeiros.

[...] Vestígios encontrados indicaram que o ambiente do Barreiro foi propício à vida de animais pré-históricos. Das suas águas brotou o alimento para o gado e, dele, a sobrevivência do tropeiro. Da disputa por estas terras nasceu Araxá (LIMA, 1999, p. 21).

Na região, formou-se um dos maiores quilombos do Brasil, o Quilombo do Ambrósio.

Foram desenvolvidas atividades paralelas além da agricultura, como o comércio dos tropeiros

e mercadores (LIMA, 1999, p.68).

No final do século XIX e início do século XX, Araxá era procurada por pessoas em

busca da cura de seus males por meio de terapias que utilizavam águas e lama em banhos.

Eram os chamados aquáticos. Dentre os muitos aquáticos que vieram para Araxá estava

Domingos Zema, que, em 1917, veio tratar a malária com as águas milagrosas. Gostou da

cidade, ficou e criou o grupo Zema, que é hoje uma das maiores redes de varejo do País.

Algumas pessoas vinham de longe em busca de tratamento com as águas e resolviam ficar. Não pelo clima bom ou pela fama do queijo e da casemira de tear de cores firmes que a cidade produzia. Nem pela proximidade do garimpo do ouro ou pela pitoresca linha de automóveis Sacramento-Araxá. Tampouco pela presença de imigrantes italianos, sírio-libaneses, portugueses ou alemães. Mas por tudo isso junto e pelas promessas da pecuária e do turismo (CASTRO,1994, p.33).

Chegaram imigrantes de várias nacionalidades. O árabe Abrahão Abílio Tannús

descreve suas primeiras impressões sobre a cidade:

Conheci Araxá em meados de 1928. Dizia-se que os habitantes eram entre 4 mil e 500 e 5 mil. Araxá sempre foi uma cidade arejada; seu povo traquejado e semicosmopolita, devido à convivência com turistas e visitantes. Sua potencialidade econômica sempre foi mediana. Seu comércio era moderado, mas estável. Sua vida agrícola era fraca, mas sua pecuária sempre foi vigorosa (TANNÚS apud LIMA, 1999, p. 89).

O ápice da tendência crenológica aconteceu com a inauguração do Grande Hotel - que

associava hotel, termas e cassino - em 1944, pelo presidente Getúlio Vargas e o governador

Benedito Valadares. De acordo com Lima, o Grande Hotel foi uma obra concebida dentro da

ideologia do Estado Novo: valorização do nacionalismo e dos valores locais. O slogan era

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construir “a maior e mais bela estância hidromineral do continente.”A execução coube ao

governo de Minas Gerais, que deu ao empreendimento “prioridade e empenhos absolutos”

(LIMA, 1999).

Com o fim dos jogos no Grande Hotel, gradadativamente aconteceu a diminuição da

importância econômica do turismo no município. “Durante 50 anos, todo o Complexo

Turístico do Barreiro alternou momentos de esplendor com outros de sintomática

decadência” (LIMA, 1999, p. 69). Nessas circunstâncias, houve a retomada da exploração

mineral, antes restrita às águas sulfurosas e à lama. O foco passa a ser o pirocloro e a apatita

(LIMA, 1999).

5.2.1 Aflora o nióbio

Os primeiros estudos petrográficos feitos por Djalma Guimarães, em 1925, revelavam

a presença de apatita e barita no Complexo Carbonatítico do Barreiro. Anos mais tarde, o

mesmo cientista descobriu o pirocloro, também no Barreiro (Museu Djalma Guimarães).

Em 1950, foi criada a Companhia Agrícola de Minas Gerais (CAMIG), que absorveu

uma empresa de economia mista existente denominada Fertisa - Fertilizantes Minas Gerais

S/A. A Camig passa a deter os direitos de lavra da apatita (fosfato) e do pirocloro (nióbio).

Foi desta forma que a Camig substituiu a Fertisa em um contrato de arrendamento existente

com a Dema - Distribuidora e Exportadora de Minérios e Adubos S/A. Anos mais tarde, a

Dema teve sua razão social alterada para CBMM - Companhia Brasileira de Metalurgia e

Mineração (CODEMIG).

Em 1972 é constituída a Comipa - Companhia Mineradora do Pirocloro de Araxá. O

controle acionário ficou 51% com a Camig e 49% com a CBMM. Na ocasião, foram

arrendados à CBMM os direitos de lavra para a produção do nióbio. Ainda em 1972, a Camig

arrenda à Arafértil, atual Vale Fertilizantes, a exploração das reservas de apatita. A Arafértil

havia sido criada em 1971, com o propósito de implantar a lavra, o beneficiamento da rocha

fosfática e a fabricação de fertilizantes (CODEMIG).

Assim, podemos sintetizar que a indústria da mineração em Araxá teve início efetivo

na década de 1950 com a exploração do nióbio - CBMM - e mais tarde, na década de 1970,

com o fosfato - Arafértil. A partir de então a ação dessas empresas ampliou a sustentação

econômica do município com o surgimento de novas indústrias, o que gerou fluxo migratório

para a cidade. Como em outros momentos de sua história, chegaram novas pessoas. Agora

eram os mineiros. Lima destaca: “[...] o povo tenta fazer uma releitura do passado na

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esperança de que o sonho da prosperidade ou um lugar ao sol seja, nesta terra,

compartilhado por muitos” (LIMA, 1999, p. 93).

Nesta época, o “sonho da prosperidade” associado à atividade de mineração, que é

outro pré-construído, poderia se tornar realidade de duas formas: por emprego direto - ainda

escassos e ocupados por pessoas de outras cidades - e por fornecimento de produtos ou

serviços.

[...] a oportunidade chegava pelas mãos do então superintendente da companhia, o engenheiro James Wayne Cole, conhecido na cidade como “Mr. Cole”. [...] Estar com Mr. Cole era então um privilégio. Pouca gente sabia o que era o nióbio, mas ninguém desconhecia que a missão daquele americano era coisa muito importante. [..] Mr. Cole decidiu prestigiar “a luta de um rapaz trabalhador para não deixar morrer uma empresa” e fez de Ricardo Zema22 um fornecedor da DEMA. [...] Ricardo passava, assim, a fazer parte de um grupo de pequenos empresários que atentavam para a potencialidade da futura CBMM, com sua capacidade de gerar novos empreendimentos na cidade. Empresas como o Rodoviário Araxá e Serralheria São Mateus, por exemplo, nasceram de conversas privilegiadas com Mr. Cole. No caso do Posto Zema, as vendas para a companhia do nióbio iriam logo atingir 22 mil litros de querosene/dia (CASTRO, 1994, p.113).

Nos primeiros anos de operações da CBMM aconteceram algumas polêmicas que

foram veiculadas não só pela imprensa local, mas também pela do Estado:

[...] Ignorância, imprevidência, sendo falcatrua, o fato é que a direção da Fertiza cedeu à Wang Chang a exploração do pirocloro do Araxá por 4 anos, em troca de uma ninharia, em troca de subscrição de 10 mil ações de sua empresa falida; cedeu não é bem a palavra, deu de mão beijada (D`ÁVILA, 1960).

A Câmara Municipal também debateu o assunto: “[...] estampado no Binômio, um

artigo intitulado Escândalo do nióbio” comentou o artigo, falou sobre o contrato existente

entre a Fertiza e a Dema, alegando ser o mesmo lesivo aos interesses do Brasil” (SARKIS,

1963, p.171).

No tempo do chamado “milagre econômico”, prevaleceram as ações em prol do

progresso e do crescimento econômico; o meio ambiente não era uma questão prioritária

(SILVA, 1994). De acordo com dados do IBGE, Araxá seguiu esta tendência. A década de

1970 foi um período de grandes transformações econômicas, mas, em contrapartida, surgiram

problemas ambientais, conforme informação do Correio de Araxá:

22 Ricardo Zema é o presidente do Grupo Zema, que fatura cerca de dois bilhões de reais por ano e tem sua base em Araxá. Aproximadamente, a Zema possui 400 lojas de eletrodomésticos e 200 postos de combustíveis, dentre outros negócios, em seis estados. A Eletrozema é 12ª rede do País em vendas e 4ª em número de lojas. Ao narrar a história do grupo, Ricardo considera fundamental para a alavancagem dos negócios o contrato firmado com a então DEMA (LOUREIRO, 2012).

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Na última terça-feira, no início da noite, a população da parte norte da cidade foi surpreendida por uma forte nuvem cinzenta, que exalava um tremendo mau cheiro, ofuscando o ar daquelas áreas. Segundo a ecóloga Rosângela Rios, a nuvem de fumaça é provocada pelo processo metalúrgico de redução aluminotérmica da CBMM. [...] ela afirma que o ÁCIDO CLORÍDRICO é utilizado para trabalhar a rocha, e diante da combustão desse produto, possivelmente nós estamos tendo chuvas ácidas. O RADÔNIO é outro material lançado na atmosfera, uma vez que uma parte dos minerais radioativos não voláteis, quando queimados, é liberada (CORREIO de Araxá, 1991).

Araxá tem reserva de nióbio para ser explorada por mais de 400 anos. Existem

somente três minas em todo o mundo (LIAN; THOMAS, 2011). Hoje, a CBMM é o maior

complexo mínero-industrial de nióbio do mundo. A jazida de nióbio da Companhia de

Desenvolvimento de Minas Gerais - Codemig está arrendada à empresa por intermédio da

Companhia Mineradora de Pirocloro de Araxá - Comipa, criada para gerenciar jazidas de

nióbio pertencentes às duas companhias. O contrato concede 25% de participação nos lucros

operacionais da CBMM ao governo do Estado de Minas Gerais. O controle acionário é de

70% para o Grupo Moreira Salles (LIAN; THOMAS, 2011).

Figura 3 Complexo Mineroindustrial da CBMM

Fonte: PINTO, 2012

Figura 4 - Escultura de Tomie Ohtake na área interna da CBMM

Fonte: PINTO, 2012

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Em 2010, o lucro líquido da CBMM, controlada pela Brasil Warrants, empresa de

participações da família Moreira Salles, chegou a R$ 1,9 bilhão, recorde na história da

companhia e aumento de mais de 100% em comparação com 2009. A receita chegou a R$ 2,9

bilhões. Mesmo assim, em março de 2011 a empresa vendeu 15% do seu controle acionário

para um consórcio de empresas japonesas e coreanas - quatro do Japão e duas da Coreia do

Sul, cada uma com 2,5% do capital. Esse grupo de investidores pagou US$ 1,8 bilhão em

dinheiro e à vista. Em setembro de 2011, outro consórcio, desta vez da China, composto por

cinco estatais daquele país, pagou US$ 1,95 bilhão de dólares por participação de 15% na

CBMM. De acordo com a agência Reuters, a CBMM está avaliada em 13 bilhões de dólares.

(LIAN; THOMAS, 2011).

A precificação do nióbio no mercado internacional gera controvérsias. Existem

manifestações em blogs, uma campanha nacional intitulada “O nióbio é nosso”, além de

manifestações pontuais nas redes sociais.

[...] apenas uma empresa atua na exploração do mineral, negociando o mesmo ao exterior por cifras sugeridas pelos compradores. Em contrapartida ao que ocorre com o nióbio no Brasil, [...] a política petrolífera na maioria dos países árabes gera inúmeros benefícios aos seus patriotas. Ao contrário da atual “política” do nióbio no Brasil, tais países impõem ao mercado externo o preço de seu produto e somente o negociam dentro das conformidades de seus interesses. [...] No Brasil, a indústria do nióbio parece trabalhar na surdina, fazendo-se passar despercebida pela opinião pública, ocultando àqueles que, verdadeiramente, faturam com a falta de uma volátil política para a extração e industrialização desse nobre mineral no País (CHAVES, 2011).

De acordo com informações fornecidas pela superintendência da CBMM de Araxá, a

empresa mantém 1490 empregos diretos e 421 terceirizados. Em 2011, utilizou os serviços de

734 fornecedores da cidade de Araxá. Estas empresas venderam, em produtos e serviços, um

total de 20% do desembolso total da CBMM. A CBMM contribui com aproximadamente 70%

da arrecadação do Município (PINTO, 2012).

5.2.2 O fosfato entra em cena

Somente após intensa campanha de sondagem, iniciada em 1965, a viabilidade do

aproveitamento econômico da jazida de apatita se confirmou. Nessa época, a Camig,

detentora dos direitos minerários na região, extraía a rocha como fosfato natural, sem

processo de concentração algum (CODEMIG).

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O processo de industrialização do fosfato teve início em 1972, com o contrato de

arrendamento para a Arafértil. Em 1974, após fase experimental, iniciou-se a construção da

usina industrial. Em 1977, concluídas as obras da britagem, a Arafértil passou a fornecer brita

fosfática à Camig. Em 1978, o Complexo Industrial de Araxá iniciou suas operações

(CODEMIG).

Os acionistas iniciais eram o BNDES, o Grupo Santista e a Companhia de Cimento

Itaú. Ao longo de sua existência há participações da Petrofértil e do Grupo de Petróleo

Ipiranga. Em razão de mudanças de controle acionário, a Arafértil passou a ser denominada,

sucessivamente, Fertisul, Serrana, Bunge Fertilizantes e, atualmente, Vale Fertilizantes.

Na primeira metade da década de 1980 aconteceram inúmeros embates ambientais da

então Arafértil com a opinião pública.

[...] Araxá se transforma, dia a dia, em estância de lodo e de pó, arrastada pelas enxurradas e pela atmosfera poluída que recebe por causa da ação das companhias mineradoras, cuja lavra já atinge as margens do lago do Hotel e já destruiu completamente as encostas e colinas que formam a cratera que deu origem às termas (COSTA, 1976).

Poluição de Araxá: Estado quer punir mineradoras O Governador do Estado Tancredo Neves pode entrar com uma ação na justiça contra as empresas mineradoras Arafértil e Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), caso elas não parem de poluir com suas atividades a estância hidromineral de Araxá, no Triângulo Mineiro. [...] Pelos contratos de cessão, segundo o secretário, “as mineradoras podem escavar o próprio chão do Grande Hotel. (CORREIO de Araxá, 1983).

Em 1985, a situação ambiental parecia estar controlada, com as empresas cumprindo

programas ambientais. Em 1987, uma notícia gera movimentação na sociedade de Araxá: a da

provável instalação de uma indústria de ácido sulfúrico a dois quilômetros da Estância, pela

Arafértil. Aconteceram manifestações e passeatas contra o projeto, que foi engavetado. No

final dos anos 1980 e início da década de 1990, a Araférfil passou a se posicionar mais

intensivamente sobre suas responsabilidades ambientais. A empresa iniciou um programa de

relacionamento com a comunidade (PINTO, 2012).

Nós éramos uma empresa autocrática, egocêntrica, prepotente e ‘dona da verdade’, que decidia tudo sem saber qual o sentimento da comunidade local. Não participávamos da comunidade. Não tínhamos credibilidade na sociedade. (ORDÓÑEZ apud LIMA, 1990).

Em 1999, a Arafértil, na época Serrana - controlada pela Bunge - retorna ao projeto de

instalação de uma fábrica de ácido sulfúrico. Inicialmente, o Poder Executivo municipal

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manifesta-se contra. Sobre uma pesquisa de opinião pública realizada, na qual a maioria dos

araxaenses se manifestou favorável ao empreendimento, o então Prefeito Municipal, Ministro

Olavo Drummond, afirmou: “Eles estão sendo enganados com promessas de empregos. Meu

povo confunde ácido sulfúrico com suco de laranja“ (PINTO, 2012, p. 39). Em relação à

concessão de alvará também houve polêmica, mas, depois de intensas negociações de

contrapartidas, em 2000 a empresa recebe o Alvará de Localização da Prefeitura Municipal de

Araxá assinado pelo Prefeito Olavo Drummond, a sete quilômetros do Barreiro (PINTO,

2012).

Em 2002, houve um episódio de embate ambiental entre a Serrana e os proprietários

de terras vizinhas ao complexo de mineração. Devido a uma falha nos filtros da Serrana

houve um vazamento de flúor com contaminação da água e do ar. O flúor está presente na

constituição química da rocha fosfática (PINTO, 2012).

Em 2010, a Vale fez aquisição no segmento de fertilizantes por meio da sua

subsidiária Mineração Naque S.A. Comprou as ações de propriedade da Mosaic (The Mosaic

Company), da Fertifos (Fertifos Administração e Participações S.A.) e da Fosfertil

(Fertilizantes Fosfatados S.A.), além de 100% do capital da Bunge Participações e

Investimentos S.A. (BPI).

O complexo mineroquímico da Vale Fertilizantes em Araxá conta com 620

empregados diretos e 1.300 terceirizados. Produz concentrado apatítico, ácido sulfúrico e

superfosfato simples (PINTO, 2012). A mina que está localizada no Barreiro, próxima ao

Tauá Grande Hotel, é classificada como a terceira maior mina de rocha fosfática do Brasil.

Ocupa a 40ª posição no ranking das 200 maiores do mundo (BRASIL, 2013).

Figuras 5 - Complexo Mineroquímico da Vale Fertilizantes

Fonte: PINTO, 2012

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5.2.3 Os minerais em Araxá

Araxá está entre as 20 cidades brasileiras que tiveram maior saldo na balança

comercial do País em 2011. Atualmente, existem duas empresas mineradoras em atuação no

município. A Vale Fertilizantes trabalha com o fosfato e a CBMM explora o nióbio. As 75

mil toneladas exportadas do nióbio, em 2011, foram responsáveis por deixar a cidade nesta

colocação. As Finanças do Brasil - FINBRA 2010 - divulgou a informação de que Araxá

recebeu, em 2011, o montante de R$ 4.281.930,18 referente à CFEM. Este valor é equivalente

a 12,9% do total das transferências da União, R$ 33.073.362,00. (TRIÂNGULO Mineiro,

2012).

Tiveram início, em 2011, projetos para o estudo do processamento das terras raras. Em

2012 houve intensa movimentação em torno da exploração das terras raras. Manifestaram-se a

este respeito duas empresas, a canadense MBAC Fertilizantes e a CBMM. A busca por novas

reservas de terras raras ocorre porque não se conhece outra substância capaz de exercer as

mesmas funções.. O Brasil pode chegar a deter 25% do mercado global, caso a jazida de

Araxá seja explorada completamente em 40 anos. (TRIÂNGULO Mineiro, 2012).

A MBAC Fertilizantes confirmou que, assim que finalizar as pesquisas, vai requerer

junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) o direito de exploração. Na

área em que realiza pesquisas já foi apurada a existência de jazidas de terras raras, nióbio e

fosfato (DIÁRIO de Araxá, 2012).

As negociações com MBAC Fertilizantes devem envolver investimentos da ordem de

R$ 3 bilhões e gerar cerca de 600 empregos, segundo o jornal Estado de Minas. O prefeito de

Araxá, Jeová Moreira da Costa, afirmou: “Nós entendemos que a exploração das terras raras

trará mais desenvolvimento para a nossa cidade. Este projeto vai criar muitos empregos para

nosso povo e gerar muitas oportunidades de crescimento para Araxá” (DIÁRIO de Araxá,

2012).

A dicotomia dos discursos sobre a atividade de mineração, neste caso específico, sobre

as terras raras, pode ser observada por meio da contra-argumentação do site Voz de Araxá,

que se estrutura no pré-construído das perdas ambientais. Já a fala do prefeito tem em sua

base o pré-construído da prosperidade.

[...] essa nova mineradora - MBAC - vai colocar em suspensão atmosférica milhões de toneladas de poluentes altamente letais que vão agravar ainda mais a baixa qualidade do ar da cidade e vão criar muitos novos casos de doenças de todos os tipos. [...] Durante o processamento industrial dos minérios provenientes das Terras Raras, é gerada grande quantidade de Urânio e Tório, ambos produtos radioativos,

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altamente tóxicos e que estão entre as substâncias mais letais do planeta [...] (ARRUDA, 2013).

Em 22 de maio de 2012, a CBMM anunciou que desenvolveu tecnologia para explorar

as terras raras. A empresa irá retirar o minério a partir dos rejeitos de nióbio que estão em

barragens. Trata-se de um sub-produto da operação do nióbio. Antes do rejeito ir para a

barragem, com a utilização de uma nova tecnologia são obtidas as terras raras (CLARIM,

2012).

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6 “IMAGEM, IMAGEM O QUANTO TU NOS PRENDE...”23

Há diferentes abordagens para fazer as análises dos dados de uma pesquisa

qualitativa. O que todas têm em comum é o fato de serem baseadas em análises textuais. É por

isso que é necessária uma preparação do material a ser analisado (FLICK, 2009 a).

Para Gibbs, a ideia de análise envolve interpretação, e uma das abordagens que a

permitem é a Análise do Discurso: “[...] a análise não apenas revela a variedade de tema de

que as pessoas estão falando, mas também reconhece e analisa as formas como elas

enquadram e modelam suas comunicações” (GIBBS, 2009, p. 16). É por isso que o autor

considera que os dados qualitativos revelam grande diversidade e são essencialmente

significativos e simbólicos. As estratégias analíticas básicas para analisar os dados

qualitativos deste trabalho foram definidas a partir da Análise do Discurso.

Durante a análise textual, a codificação é a forma com que o pesquisador define de que

se tratam os dados em análise. Capta o sentido inserido na ligação entre as partes do texto que

envolve aspectos temáticos, os quais revelam a experiência que a pessoa tem do mundo, com

identificação de passagens de textos como parte de um quadro geral que, de algum modo,

exemplifica a mesma ideia teórica e descritiva (GIBBS, 2009).

A codificação é um reconhecimento de que no texto não existem somente coisas

diferentes, mas “[...] há diferentes tipos de coisas às quais se faz referência” (GIBBS, 2009.

p. 61). Nesta fase do trabalho, na assimilação do material empírico frente ao referencial

teórico foram identificadas as categorias seguintes, com as quais procederemos à análise.

a) Faces dicotômicas da mineração

b) Impactos ambientais, socioeconômicos, sanitários e culturais

c) Caminhos para uma nova visão

6.1 Faces dicotômicas da mineração

Durante a realização dos grupos, algumas das narrativas situaram a mineração em uma

conjuntura que transcende os limites de Araxá. Nesta orientação de caráter macro,

constatamos que os discursos sobre a atividade demandam outros discursos.

23 O desenvolvimento que seguinte é baseado no artigo “Image, image, quant tu nous tiens”, Hermès, “espaces publics em images”, n 13-14, CNRS Éditions, 1994

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Uma participante fez associação entre mineração e civilização. O efeito foi reforçado

pela pausa que fez antes de emitir a palavra. Aqui, o entendimento do que seria civilização

equivale ao da sociedade atual, com todas as possibilidades de consumo individual que ela

abre, como “computador” e “carro”, além de outras que proporcionam conforto para a

coletividade, como “asfalto” ou “tijolo” - que está tanto na esfera do pessoal quanto do

coletivo.

Essa noção de civilização faz surtir um efeito retórico considerável ao ser combinada

com mineração. O sentido produzido é de uma ação intensa de complementariedade: com a

junção de ambas, são gerados benefícios para a sociedade no planeta. A ideia é reforçada

quando é acrescentado mais um elemento à relação mineração/civilização, a inteligência.

Desta forma, é estabelecido o tripé mineração/civilização/inteligência, que seria fundamental

para gerar conforto e bem-estar. O desencadear deste raciocínio, por meio do interdiscurso da

mineração, resgata o fato de a atividade mineração ser indispensável ao mundo atual.

Eu relaciono mineração com “-”, com civilização. Eu acho que tudo que a gente tem hoje, tem por conta da mineração, tem um pé na mineração. A gente não teria tijolo, casa, computador, carro, asfalto, nada, se não fosse a mineração. Grupo 1 A mineração é o ser humano usando a sua inteligência, para os recursos que estão disponíveis, para ter mais conforto e bem-estar. Grupo 1 A mineração proporciona recursos essenciais porque não tem como ter vida na sociedade moderna sem mineração. Grupo 3

Algumas pessoas consideram positiva a movimentação gerada pela mineração na

economia, tanto na esfera local quanto na nacional. O resultado é observável pelo aumento do

volume de dinheiro que circula na cidade, ou seja, a mineração é um fator que traz

prosperidade. Esse conceito é evidenciado com a utilização da metáfora “encher os bolsos”,

que pode ser interpretada como “encher os bolsos das pessoas ou as contas bancárias com

dinheiro” pela oferta de emprego; a partir da administração municipal - pelos tributos de que a

empresa se encarrega; por outras empresas - pela relação comercial que mantêm; por

comércio e setor de serviços - pelas demandas geradas de forma direta e indireta; e por obra

da empresa que realiza a mineração - pelo lucro obtido com a venda, já que o minério,

literalmente, não “enche os bolsos” de ninguém.

O pré-construído da prosperidade, intermediado pelo interdiscurso da mineração, é

apresentado como fruto da ação da atividade na economia. A prosperidade - chamada pelos

participantes de “muito influenciada” e decorrente de “muito trabalho” - é a geração de

emprego e renda.

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A economia nossa da região é muito influenciada pela mineração. E do País, de um modo geral também. Grupo 3 Mineração é muito trabalho pra gente aqui na nossa região A economia nossa é muito influenciada pela mineração. Grupo 3 O que eu acho “+” é que o forte da mineração é que ela enche os bolsos. Grupo 3 Eu vejo que ‘++” que muitas outras empresas existem para atender a essas mineradoras e elas têm seus funcionários que também recebem e vão gastar no comércio da cidade. Grupo 3

Por esses pontos de vista, constatamos que a mineração suscita sentidos positivos

quando se fala dos bens que ela possibilita serem produzidos e da prosperidade que traz. No

entanto, ao reconhecer que a mineração é a principal atividade econômica de Araxá as pessoas

manifestavam sua inquietação com outros aspectos. Em um dos recortes discursivos, aparece

a presença do não-dito, o que não apareceu no discurso, o ocultamento de informação - o que

vem demonstrar o caráter ideológico que a atividade adquire. Uma pessoa, ao dizer “vem esta

preocupação”, faz uma pausa. Repete a expressão, em seguida se silencia. Não diz que

preocupação é esta.

A questão é que a base econômica de Araxá é a mineração acima de tudo, né? Mas vem esta preocupação “++”, mas vem esta preocupação “++”. Grupo3

A mineração ainda é associada aos impactos ambientais que provoca. Uma

entrevistada afirma que se trata de um “fator de destruição que prejudica MUITO”. Enfatiza a

quantificação do prejuízo gerado, que para ela não é pequeno, e sim, grande e intenso.

A retrospectiva temporal nos leva à localização dos pré-construídos; no caso do

interdiscurso da mineração, o da destruição do meio ambiente nos leva ao século XIX. Nesta

época, Saint Hilaire observava que “A destruição das florestas não é o único resultado

lamentável de tal sistema.” (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 33;199). Já no início do século XIX,

o Padre José Joaquim da Cunha Azevedo Coutinho considerava que a mineração deveria

ocupar um lugar secundário na economia, em razão dos prejuízos que trazia.

Por meio da historicidade é possível fazer uma retrospectiva das relações de sentido no

“jogo complexo da discursividade”, mencionado por Orlandi. Na década de 1970, o Correio

de Araxá destacava que Araxá se transformava em “estância de lodo e pó” pela ação das

empresas de mineração. O mesmo jornal publicou na década de 1990 uma matéria sobre uma

“forte nuvem cinzenta”, com ‘tremendo mau cheiro”, que desceu sobre a cidade durante o

anoitecer. Segundo a reportagem, tratava-se de consequência do processo metalúrgico da

CBMM. (ORLANDI, 2007a).

Outra entrevistada, ao falar sobre a atividade, mostra a ambiguidade existente ao

qualificar negativamente um item positivo: “fator de renda que traz problemas”. Trata-se de

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um recurso de alteração de sentido. Ser fator de renda traz benefícios, como geração de

tributos, de emprego e renda. Com a complementação, a entrevistada estabelece que o fator

não tem apenas uma essência positiva, mas também produz problemas.

Problemas estes que são o que um entrevistado chama de “destruição organizada”.

Cabe ressaltar os movimentos retóricos que esta afirmação realiza. Primeiro, é a qualificação

da palavra ‘destruição’ que indica como ela deve ver interpretada. Não se trata de algo

decorrente de um fato acidental e aleatório, como um incêndio ou uma tempestade. É algo

intencional, previsível, que todos sabem que vai ocorrer, uma consequência da retirada do

minério. Por isso é “organizada”. Mais do que organizada, é uma destruição que fomenta a

economia. Esse fato parece ser preponderante para o entrevistado, que a considera uma

“destruição importante”. Tão importante que, afirma, uma cidade deveria recebê-la.

Ela também é um fator de destruição que prejudica MUITO o próprio desenvolvimento, porque ela deixa um passivo grave demais. Grupo 1 É uma fonte de trabalho, é uma fonte de renda, mas a gente vê que quanto mais mexe com os minérios mais problemas podemos adquirir. Grupo 2 Na minha opinião “-“é uma maneira de destruição organizada que fomenta a economia. É uma destruição muito importante, que uma cidade tem que receber. Grupo 1

As citações dos participantes nos grupos mostram como muitas das formulações

discursivas fazem parte da memória interna, apoiada na tradição, para interpretar os fatos

ligados à mineração. O processo de criação da tradição ocorre por meio dos diferentes

discursos que vão sendo elaborados sobre a atividade - papel desempenhado pela memória

discursiva e pela presença do interdiscurso.

Os discursos espelham a dicotomia de percepções a respeito da mineração. A

construção discursiva é feita inicialmente sobre um ponto positivo para, em seguida, vir um

contraponto negativo. É uma forma de expressar que a mineração comporta duas vertentes,

uma gera benefícios sociais e econômicos, a outra impacta o meio ambiente e afeta a

qualidade de vida das pessoas.

“+”Olhando para o lado econômico é progresso, é economia, é bom. Olhando para o básico do dinheiro, vamos colocar assim. “++” Mas olhando para o lado da vida, do lado do bem-estar, do bem viver, do meio ambiente, eu não acho válido não. Acho que é uma destruição, sinceramente. Grupo 2.

O recurso retórico de ponto e contraponto fica evidente quando uma entrevistada

afirma que a relação entre a mineração e a população das cidades nas quais está instalada é

baseada em sentimentos contraditórios. Para proporcionar mais força a sua ideia, ela busca

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uma antítese bem popular - “amor e ódio” - que é usada comumente quando se quer realçar a

oposição clara e notória entre dois pontos. Na sua narrativa, argumenta que a origem do

“amor e ódio” estaria na dependência social e econômica que a mineração desencadeia, o que

leva a população a ter que aceitar situações que lhe trazem problemas, como o caso das

doenças.

A relação de “amor e ódio” gerada pela dependência é uma provável resposta para

uma pergunta feita por outro entrevistado. Ele indaga porque as pessoas não assumem a causa

das empresas se a mineração traz tantos benefícios sociais e financeiros? Dentro da premissa

que levantamos isso não ocorre, já que, mesmo reconhecendo a importância da mineração, as

pessoas não desenvolvem por elas sentimentos de identificação. A mineração está na cidade,

mas não faz parte dela. Mesmo assim, o todo é dependente deste corpo estranho. Mais uma

vez vem à tona a duplicidade de sentimentos, o que o entrevistado chama de “contraditório” -

e que para ele pode ser fruto da falta de informações.

No geral, eu percebo, uma relação de amor e ódio, no Brasil afora, entre a comunidade e a mineração. Igual, acho que foi a Suelene que falou que todo mundo reclama que dá câncer, mas se fala assim: “então fecha”, ninguém fala, porque você precisa disso. “+” Então é amor e ódio. Fez aquele buraco! Então deixa ir embora? Não, se for embora como é que vamos viver? É por isso que essa dependência gera essa relação de amor e ódio. Grupo 1 Um outro fator que sempre me gerou um contraditório, é porque com essa importância toda para a sociedade, não existe uma defesa aberta, pública, por parte das pessoas ou da maioria em relação a essas empresas aqui instaladas? ”++” Sempre ouço críticas, muitas vezes com desconhecimento de causa já que o grau de informação é muito pequeno. Entrevista preliminar

Um participante volta à década de 1920, quando do início das obras da Igreja de

São Domingos. Como reforço a sua argumentação, mostra uma foto desta época, Figura 6. A

sua argumentação retórica se estrutura em torno do fato de que nesta época já existiam os

impactos ambientais - de uma forma diferente, assim a manutenção de um padrão ao longo do

tempo implicaria na perda de outras coisas.

Eu gosto muito quando a gente fala em mineração, de pegar, um exemplo, com uma foto antiga de Araxá que tem, que eu gosto demais, que é um carro de boi subindo a Antônio Carlos, perto da Matriz em construção, ainda subindo lá em baixo na base. E esse carro de boi, subindo aí próximo a Matriz. E eu pergunto qual o impacto ambiental nessa época? Qual era o impacto ambiental? Era o barulho do carro, do carro de bois, que os carreiros gostam que o “cocão” do carro de boi faça um barulho, dê um chiado, eram as fezes dos animais que deixavam nas ruas, eram os candeeiros que gostavam de sair de madrugada, quatro e meia, cinco horas da manhã, já incomodando a vizinhança. Transportando isso para o nosso tempo, é como eu vejo a mineração. Ela mal operada, como temos aí no passado, Itabira é um caos para a comunidade. Mas no caso de Araxá “+” o que Araxá seria, não fosse a

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mineração? Não daria para ficar eternamente perto daquele carro de boi. Grupo 1

Figura 6 - Avenida Antônio Carlos na década de 1920

Fonte: Acervo de um dos participante dos grupos

Os participantes dos grupos souberam enumerar as empresas da área de mineração,

hoje existentes na cidade, e algumas características de cada uma, como os minerais com quais

cada uma trabalha. Palavras como nióbio, fosfato, pirocloro e apatita são conhecidas. Sabem

para que serve cada produto e conhecem o perfil das empresas.

Primeiro que o tipo de produto que a Vale trabalha polui menos do que o que a CBMM trabalha. Além de agregar menos valor para empresa, ele polui menos. Então ambientalmente ele é melhor para nós e financeiramente ele tem menos valor do que o da CBMM. Eu vejo essa diferença que a CBMM por trabalhar com o Nióbio ela mexe muito mais no solo, e é um produto radiativo. Ele traz um prejuízo muito grande para nós, e por outro lado, é o que tem mais valor financeiro. Grupo 1

Outro participante entende que a CBMM trouxe avanços para a economia de Araxá, para

enfatizar a sua posição retoma a imagem do carro de bois. Exemplifica com a Avenida Antônio

Carlos que, naquela época, não tinha calçamento. Hoje a avenida tem outro aspecto. O projeto de

revitalização do centro, com mudanças urbanísticas, finalizado em 2012, teve a participação da

CBMM. Para estabelecer um paralelo, abaixo, duas fotos atuais da avenida, que tem formato de um

eixo. Em uma das extremidades, a Igreja Matriz de São Domingos, na outra, a Praça das Águas e o

Teatro Municipal no subsolo.

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Figura 7 - Avenida Antônio Carlos em 2013 com Igreja Matriz de São Domingos ao fundo

Fonte: Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Araxá

Figura 8 - Avenida Antônio Carlos em 2013 com Praça das Águas ao fundo

Fonte: Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Araxá

Olha “-” se não fosse a CBMM em Araxá, eu não sei o que Araxá, hoje, seria. Talvez estaria no carro de bois que o Toninho viu, até hoje subindo lá na Avenida. “+” A Avenida não seria o que ela é hoje. Grupo 1

Uma das participantes considera que o comportamento das empresas não é estável ao

longo do tempo. Ela atribui isso a dois fatores. O primeiro é que as mudanças acontecem de

acordo com as pessoas que estão à frente da gestão. Para ela, a personalidade empresarial ou o

modo de agir das empresas está diretamente ligado ao perfil de quem ocupa os cargos de

direção. Exemplifica a afirmação com a CBMM. Disse que a empresa agiu de forma diferente

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ao longo do tempo. É necessário registrar o tom irônico utilizado durante a elaboração

discursiva, ressaltado pela utilização de alguns recursos de linguagem que conferem alteração

de sentido.

Ela diz que, hoje, a CBMM é “parceiríssima” da cidade”. Cria um neologismo para a

palavra ‘parceria’ ao torná-la um superlativo. Com isso, mostra que não se trata de apenas

uma parceira, mas uma parceira em alto grau, diferenciada. Este fato, segundo ela, “me deixa

feliz”. Em seguida, faz o contraponto ao relatar o caso da contaminação da água mineral com

o bário, para o qual usa outro superlativo, “situação gravíssima”. Os dois superlativos

utilizados ilustram a mudança de comportamento da empresa, que passou de provocadora de

uma “situação gravíssima” para “parceiríssima”.

Considera a mudança de comportamento da CBMM “brilhante”. O emprego de uma

adjetivação incomum para atitudes empresariais leva a deduzir que se trata de um agir dentro

de uma estratégia empresarial. Em seguida, faz uma advertência sobre a CBMM, para isso

emprega o diminutivo “amorzinho”, ironicamente, para reforçar a ideia de que, ao longo do

tempo, a empresa mudou e, anteriormente, não era benéfica.

O comportamento da empresa depende de quem está à frente dela e das exigências do mercado também. Eu acho que a CBMM hoje é uma empresa parceiríssima da cidade eu fico feliz com isso. Mas eu me lembro da década de 1980 quando estourou aquela coisa do Bário. Um mestrando da UFMG tinha as análises químicas e levou pro Cefet, levou pro governo do Estado, e num sei mais para quem, levou por conta própria dele. Ele como cidadão resolveu que tinha um monte de gente adoecendo, correndo risco e que era uma situação que não deveria permanecer. E a empresa investiu maciçamente em matéria paga no jornal e com análises falsas, claramente falsas, e mascarou toda essa situação durante quase uma década ou mais de uma década. Até hoje, ela nunca veio a público. Hoje, ela assume que tem um passivo do Bário, ela assumiu depois da pressão grande demais que foi isso, mas ela negou durante mais de uma década e custou anos para tomar alguma medida de contenção daquela situação gravíssima, colocando em risco a comunidade toda e, sem ter o menor respeito pela comunidade. Então eu acho brilhante, que hoje ela esteja fazendo o que ela está. Mas não é que ela é um amorzinho (risos), já foi diferente. E aí eu não acho que é a empresa, são as pessoas que estão no comando da empresa e que têm uma visão A ou uma visão B. Grupo 1

O segundo fator de mudanças no comportamento das empresas, mencionado por esta

participante, é decorrente de fatores ligados ao mercado, como quando há mudanças no

controle acionário. Esta situação foi exemplificada por ela com a Vale Fertilizantes, que já

passou por vários “donos”; cada um deles tinha um modus operandi distinto, até ser

comprada pela Vale. Os participantes se lembraram disso, inclusive dos outros nomes que a

empresa tinha adotado. Situam a Vale Fertilizante como uma empresa extremamente

dependente do mercado que, em decorrência das conjunturas econômicas, faz mudanças sem

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levar em conta a população dos locais onde está instalada, como é o caso de Patrocínio, que

parou um grande projeto de mineração. Alguns dos empresários presentes nos grupos

afirmaram que isso torna instável a relação comercial com ela. A Vale Fertilizantes é uma

cliente de peso para qualquer um deles, principalmente os de pequeno e médio porte, mas

sempre deixa dúvidas quanto à continuidade das ações. Esta situação é retratada pela

expressão metafórica “pegar de calças curtas”. As mudanças imprevistas e não informadas

deixam os empresários locais em situação difícil.

Vale era Bunge, que era Serrana, que era Arafértil. Agora a gente não sabe para onde vai. Grupo 2 Já foram vários acionistas diferentes no fosfato. Então isso ”+” também não houve uma continuidade da política, várias políticas diferentes, principalmente ambientais, no comando da empresa. Não vejo a Vale como eu via, de certa forma, quando da Arafértil, da Fosfertil e da Serrana. A Bunge não. Grupo 1 A Vale não se preocupa com os fornecedores. Ela muda, assim, da noite para o dia, sem dar satisfação e pega todo mundo de ”+” calças curtas. Grupo 1 Acho que o risco maior que nós temos hoje é em cima da outra mineradora, que veio há pouco tempo, que é a Vale do Rio Doce. Ela quando quer muda tudo. Ela fez isso em outras cidades, por exemplo, já parou um projeto grande agora em Patrocínio. Todo mundo investindo em Patrocínio, ela chegou: “olha nós tivemos uma queda, para tudo e sai todo mundo...” Eu não sei o que vai ser de Patrocínio agora. E em Araxá ela está começando a fazer a mesma coisa. Grupo 1

Outro entrevistado diz que a CBMM não é “paz e amor”. O recurso da metáfora

reforça os aspectos negativos da empresa, como o passivo do Bário, a poluição ambiental e a

questão dos índices de câncer de Araxá. Há aspectos positivos, como o patrocínio de projetos

culturais sob auspícios da Lei Rouanet, que é minimizado frente aos outros.

Eu acho que a CBMM tem responsabilidade social, tem responsabilidade econômica, mas ela não é paz e amor não! Ela está destruindo também. Nós tivemos a fase do Bário e agora nós temos um índice de câncer aí. Agora esses projetos culturais, a Lei Rouanet, tem que vir isso mesmo, mas isso é muito pouco pelo que ela tira. Grupo 1

Ao estabelecer comparação entre a atividade de mineração existente em Araxá e a de

outras cidades, os participantes realizam um ato de “transferência” do que ocorre fora do

município - tanto no aspecto positivo quanto no negativo - para a cidade. Há referência à

vizinha Tapira/MG, que em decorrência da atividade de mineração aufere uma alta

arrecadação per capta.

Eu sempre tô lembrando de Tapira aqui. Tapira é, eu acho, a cidade mais rica de Minas, em termos”+” por causa da mineração. Eu sempre penso assim, se a mineração fosse tão boa e gerasse tanta movimentação na economia, Tapira seria um exemplo, né? “+” E não é! Grupo 3

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As percepções de como outras cidades convivem com a atividade de mineração

variam. Em alguns municípios, a forma de contrapartidas foi considerada bem atrás de Araxá.

Foi citado o caso de Crisciúma/SC. Lá, a partir de uma situação crítica, a sociedade instituiu

um colegiado com representação de diversos setores para acompanhar, controlar e intervir no

processo de mineração. Para mostrar o grau de distanciamento entre este sistema de

monitoramento e o que não existe de maneira efetiva em Araxá, a participante utilizou a

metáfora “anos luz”.

Em Corumbá é “+” aquele comentário que não tem o apoio que a gente vê aqui em Araxá. Aqui a gente vê mais cultural o apoio maior. Nem isso tem lá. Grupo 3 Criciúma chegou no fundo do poço, arrebentou tudo. Hoje, eles têm associações dentro das minas junto com os técnicos do DNPM, do Copam de lá, do pessoal da empresa e representantes da comunidade que são eleitos para participar. A cada três meses, eles fazem monitoramento nas minas, nos índices de poluição. Eles acompanham efetivamente. Reclamam e fecham. Estamos a anos luz disso! Grupo 1

Ao narrar o que ocorre em Vazante/MG, a construção discursiva utilizou diversos

recursos retóricos para que o sentido ganhasse força em sua significação. A participante deu

informações técnicas que conferiram credibilidade ao que iria falar. No entanto, dotou a

narrativa de um tom cômico, repleto de ironia, para relatar o inusitado da situação. Utilizou

palavras bem coloquiais, como “o trem”, “situação trágica”. Ainda construiu as metáforas

do “paliteiro”, ao se referir ao solo da região, e a do “bandido” para a mineração. Com isso,

conseguiu até provocar boas risadas entre os presentes. Ela estabeleceu um paralelo entre a

situação de Vazante e a de Araxá. Só que não explicitou o que é semelhante e o que não o é.

Em Vazante acontece uma situação complicada em decorrência da mineração. É um fenômeno conhecido como dolinas. Enormes crateras aparecem de repente. É como se fosse uma implosão. Tem até um livro que se chama “Crateras da Cobiça” sobre isso. Tem uma foto do cara que acordou de manhã e a frente da casa da fazenda dele sumiu, sumiu assim, estava um buraco imenso, do tamanho dessa sala aqui. E aí as pessoas querem matar a mineração, mas precisam dela para viver. E aí o que é que a mineradora faz, começa a comprar a terra, vai comprando essas fazendas de solo furado, o “trem” virou um paliteiro e a mineradora vai comprando. Olha que situação trágica (risos)... “+” você não tem mais fazenda, você não tem mais a terra que foi do seu bisavô, sei lá de quem, e não pode mandar aquele bandido embora, porque você precisa do bandido para comer. Então eu acho que Araxá é mais ou menos assim guardadas as devidas proporções. Grupo 1

Alguns participantes resgataram o que consideram resultados produzidos pela

mineração, em cidades diferentes, um no século XVIII e outro no século XX. .

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A respeito do circuito da Estrada Real que era a mineração de ouro de Mariana, de Sabará, de Ouro Preto, aonde a mineração destruiu com a cidade, com a saúde da população, deixou um buraco lá, que é um lugar completamente, que não tem recuperação... Eles não conseguiram recuperar. E a população que hoje não trabalha mais nesse setor está completamente desamparada, é um caos total de todos os pontos de vista, é um caos. Grupo 2 Em Congonhas do Campo, o movimento social é muito grande. A comunidade pressiona. Agora tem passivos que foram construídos no passado como Itabira, que para você recuperar esse passivo agora a mineradora fecha. Então não vai recuperar nunca porque o prejuízo ficou por conta da comunidade. Hoje, mudou com a nova legislação para novos empreendimentos. Hoje é muito melhor do que no passado. Grupo 1

Em ambos os exemplos foi destacada a impossibilidade de recuperar o que ficou no

passado, mas na segunda fala é enfocado que, hoje, a cobrança da sociedade cresceu e, como

resultado das exigências legais implantadas, a situação tende a ser melhor.

A divisão entre as percepções sobre a mineração é mais bem visualizada no quadro 1.

Por meio de quatro quadrantes é possível visualizar como alguns aspectos se opõem e outros

se complementam. Os quadrantes em linha vertical possuem a mesma chave, os da esquerda,

positiva, mostram os benefícios; os da direita, negativa, os riscos. Dessa forma, os quadrantes

da esquerda fazem oposição aos da direita. Para visualizar os quadrantes em maior oposição,

basta seguir a seta que se situa na diagonal.

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Quadro 1 - Paradoxos da mineração

Fonte: Adaptado pela autora com dados extraídos de IOÉ; ORTÉ; ALFONSO, 2007, p. 93.

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Ao tomarmos como referência o caleidoscópio da atividade mineração, vale resgatar a

proposta do naturalista Vandeli, que, ainda em 1788, já indagava se as minas seriam

vantajosas ou desvantajosas. Para ele, a avaliação a ser feita deveria levar em conta aquilo que

fosse considerado os “verdadeiros interesses das nações”.

6.2 Impactos ambientais, socioeconômicos, sanitários e culturais

Na construção do interdiscurso da mineração, retomamos a observação de Lima,

segundo a qual tanto na exploração do ouro quanto na dos diamantes, durante os séculos

XVIII e XIX, as ações eram “aleatórias e predatórias”; com isso provocaram graves

desequilíbrios não só no meio ambiente quanto na economia e na sociedade local. (LIMA,

1946, p. 33).

O impacto ele vem na forma de poluição do ar. É o que ninguém percebe, mas talvez seja o que mais impacta a saúde nossa é através do ar. E a água? Nós temos conhecimento que o bário acabou com a água do Barreiro. Então isso de forma mais sucinta, é isso mesmo. Está poluindo o ar e a água e descaracterizando a região. Grupo 2

Pelas afirmações acima podemos constatar que estes efeitos da memória discursiva

estão presentes, sob forma de pré-construídos, sobre os impactos em conseqüência da

atividade. As pessoas percebem as interferências da mineração, as mais evidentes, sobre o ar,

a água e a natureza.

6.1.1 Impactos ambientais

Um dos impactos mencionados é a ação sobre a natureza, com a descaracterização

de lugares e os efeitos sobre a vida animal e vegetal.

“A mata do Cerrado, que preservava a fauna e a flora, vem sendo destruída. Hoje em Araxá nós temos animais que a gente não encontra mais. Eles estão acabando devido a esta empreitada das mineradoras”. Grupo 2

O pré-construído da falta de controle sobre os impactos está na fala de um dos

participantes quando ele diz que, na região leste da cidade, em bairros um pouco mais

próximos de uma das mineradoras, o impacto é grande. Este sentido fica evidenciado na sua

construção discursiva quando dá grande ênfase à palavra MUITO e a repete, além de dizer

que é um impacto “além do que já foi dito”. Ou seja, o que ele afirma é maior do que outros

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falaram.

Os moradores lá do Mangabeiras, lá no final do Santo Antônio, depois da Vila Estância, pediram a colocação de uma barreira verde, porque tem um processo de mineração a noite, que impacta o pessoal lá MUITO, e MUITO além do que já foi dito. Grupo 1

O pré-construído da falta de controle sobre impactos se situa quando o assunto é a

radiação. O sentido produzido pela radiação é de algo que está sempre presente,

independentemente de querer, e sobre o qual não há gestão. Um ato falho chama atenção. Ao

se referir à barragem de rejeitos da CBMM, o participante a chama de “barragem de rejeição”.

Então, você já teve oportunidade de ver o tamanho da barragem de rejeição da CBMM? De acordo com dados deles, para cada quilo de rejeito tem 40 gramas de terras raras. Uma concentração altíssima isso. E dentro dos metais, né? Dos 17 metais que compõem as terras raras, a gente tem o tório e o urânio. Ou seja, radiação. Grupo 3 ...Aí entra a questão do DNPM, já tiraram diretores do DNPM, por quê? Porque estavam fiscalizando o ar de Araxá. A gente sabe destas variáveis. Você vê relatório de impacto ambiental dentro da cidade, você sabe os pontos que são impactados. Ali próximo ao SESI/SENAI é um dos maiores índices de poluição na cidade. Agora vai se fazer isso, vai se competir contra esse capital? Essa é a pergunta!...Grupo 1

O sentido que fica para algumas pessoas é de que estes pré-construídos e outros mais

recentes - decorrentes destes, como a falta de controle sobre impactos e a falta de

comprometimento para implantar um sistema de controle eficaz - também integram o

interdiscurso da mineração.

6.2.2 Impactos sanitários

Os pré-construídos da insegurança e vulnerabilidade estão presentes quando as

construções discursivas se referem às doenças consideradas decorrentes da atividade de

mineração. Em alguns trechos, esses dois pré-construídos estão associados ainda à falta de

controle sobre as emissões.

Já é comprovado por alguns estudos que a população de Araxá adoece MUITO com doenças respiratórias e com problemas sérios vasculares devido à poluição do ar e da água. Então, com a tecnologia avançada que nós temos hoje no mundo, eu creio que existem outras maneiras de se prevenir essa contaminação ambiental e ajudar a prevenir a contaminação das pessoas. Grupo 2 Eu acho que este problema do câncer a gente vê que aumentou muito. Também tem aumentado a quantidade de problemas psicológicos e psiquiátricos que está acontecendo. Grupo 2 A atividade de mineração traz muitas doenças para as pessoas, para os trabalhadores das mineradoras e para a população da cidade de Araxá. Em termos da saúde dos

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trabalhadores ela é altamente degradante e leva o trabalhador a condições de incapacidade permanente. A população da região oeste tem um adoecimento elevado da vias respiratórias. Tornou-se crônico. Grupo 2 A gente ganha de um lado e perde de outro. Então eu acredito que a saúde nossa tem sido muito prejudicada com a atividade de mineração. Grupo 2

A palavra mito vem do grego mythos, que significa história que se conta. São

narrativas de caráter simbólico que procuram explicar alguma coisa. Os mitos não têm

testemunhas nem comprovação. São também utilizados para produzir uma versão de

acontecimentos do cotidiano. Neste caso é visto como uma narrativa didática que exprime

determinada concepção. Têm importante função social por fornecer justificação a uma dada

conjuntura.

Sobre a atividade de mineração em Araxá são elaboradas algumas construções

discursivas, para as quais os próprios autores do discurso sabem que não há uma comprovação

de caráter científico. Para os enunciadores, mesmo sem o aval de pesquisas científicas na área

da saúde pública, trata-se de fatos verdadeiros porque são comprovados por eles no dia a dia,

pela vivência que possuem.

Alguns se referem a estas questões como mitos porque estão no discurso da população,

sem comprovação daquele tipo de pesquisa. Um dos participantes afirma que se o povo, na

informalidade, já se manifestou sobre uma questão é porque existe um problema. Um destes

fatos é a relação entre a mineração com a incidência de doenças em Araxá, dentre elas, o

câncer.

E creio no seguinte: não se pode dizer que a sabedoria popular não é uma verdade. Ela é muito séria porque onde existe uma manifestação do povo acerca da questão certamente vai existir um problema. Talvez não estivéssemos tido ainda a condição de um estudo cientifico, uma pesquisa científica para ter coragem de dizer que, realmente, tem uma participação OU NÃO. Mas, de que qualquer forma isso reflete uma verdade para a nossa cidade, para a nossa comunidade. Grupo 1 As pessoas estão surtando. Hoje mesmo, lá perto da minha casa, uma pessoa de 22 anos simplesmente surtou. O índice de suicídio em Araxá é muito grande. O senhor sabia? Não é publicado, porque isto é proibido. É muito grande o índice de suicidas, de repente as pessoas surtam. Entendeu?! A mineração está interferindo no metabolismo das pessoas, no sistema neurológico das pessoas, respiratório e, principalmente, no sistema celular que está ocasionando isso que você chama de câncer. Eu viajo pelo Brasil todo, a gente ouve: “você mora lá em Araxá, lá é a cidade do câncer”. Estão falando assim agora lá fora. Grupo 2 Há muitos mitos”+” mitos assim, coisas que não são provadas quanto a poluição, radiação e junta esta coisa todas assim com informação desencontrada. Grupo 3 Os mitos, por exemplo, são em relação ao câncer, né? Que causa muito câncer devido a radiação. Na verdade, isso não é mito porque qualquer um sabe que a extração da CBMM tem tório e urânio no rejeito dela e que eles são elementos

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radioativos. A extração das terras raras será feita com base no rejeito. Grupo 3

Para alguns, a associação mencionada entre a mineração e o câncer é decorrente da

busca de uma explicação para fatos que não foram bem compreendidos, como os efeitos da

radiação. Para uma participante, trata-se de imputar o efeito a um fator gerador de renda, do

qual a população tem dependência econômica, um caráter de ”agressão”, de causadora de um

malefício. Esse fato foi destacado por um dos participantes, que ilustrou com o que acontece

em Araxá e Patrocínio. Em ambos os casos, o fator de geração de renda assume o papel de

vilão, fato que ocorre em Araxá ou em Patrocínio, que é o município que ostenta a maior

produção de café do Brasil (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

ESTATÍSTICA, 2012).

Na minha sala tem um menino de Patrocínio. Ele me falou que o que gera câncer na cidade dele é o café, a produção de café. A gente meio que chegou a uma conclusão que toda cidade tem um vilão para o câncer, o café, o mineral, o leite, o não sei o quê. Grupo 3

Um fato significativo mencionado pelos participantes dos grupos é o grande número

de pessoas que fazem tratamento em Barretos e Uberaba. Muitos dos pacientes são

transportados para estas cidades em ônibus fretados pela Prefeitura Municipal. Isso seria um

indicativo do elevado percentual de doentes com câncer em Araxá.

É claro que a gente faz o transporte dos doentes para Barretos e para Uberaba, e você vê, claro que o índice de câncer na cidade é alto. A gente viu muito falar agora na fase da política pela qual passamos, o grande sofrimento desse pessoal aí. Realmente é sofrido porque “++” até me veio uma coisa interessante aqui agora. Tamanho é o sofrimento desse povo que nós tivemos que colocar um adesivo no ônibus, escrito “Transporte de doentes para o Hospital de Barretos”, por quê? Por causa dos assaltos. E você sabe quem deu a sugestão? O bandido, ele falou assim: vocês identificam o ônibus que tem doente que aí a gente não rouba. Grupo 1

Na narrativa discursiva sobre o câncer em Araxá o fio condutor puxa a história em

direção ao passado. Anteriormente, não havia um número tão grande de acometidos. Por ser

uma doença potencialmente mortal, o câncer carrega um caráter “dramático” que sensibiliza

as pessoas. Daí elas recusarem a ideia de que esta questão seja vista como um mito, encarada

em sua forma pejorativa, ou seja, fantasiosa. Pode ser um mito no sentido de que as pessoas

buscam explicações para o que a ciência ainda não deu sua versão.

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6.2.3 Impactos culturais

O Complexo Turístico do Barreiro - Grande Hotel, Termas, Fontes Dona Beja e

Andrade Júnior, praça de esportes, lagoas e jardins - foi inaugurado em 1944. Ainda hoje

chama atenção pela sua grandiosidade. O projeto arquitetônico do hotel e das termas foi de

Luiz Signorelli, e o dos jardins, de Burle Marx. De acordo com Lima, é ainda da época da

construção o slogan de fazer de Araxá “a maior e mais bela estância hidromineral do

continente”, contexto da política da época:

[...] o próprio slogan explicitava a política do momento de estimular o nacionalismo e despertar valores próprios. [...] no período pós-trinta houve preocupação em recuperar o passado, no nosso caso as tradições mineiras. Os painéis artísticos das Termas e do Grande Hotel, por exemplo, são trabalhados com forte temática histórica (LIMA, 1999, p. 65).

Ao longo das décadas, o Complexo Turístico do Barreiro tornou-se motivo de orgulho

para a cidade, e ele está diretamente ligado à identidade do araxaense. Portanto, tudo que

possa causar algum tipo de prejuízo para este patrimônio gera apreensão. Novamente surgem

os pré-construídos da insegurança e vulnerabilidade e se tornam presentes no interdiscurso

da mineração.

O Grande Hotel hoje é uma casca. Hoje atrás daquele morro ali não tem mais nada. Grupo 1 E a Cascatinha... Quem foi na Cascatinha? Eu por, exemplo, não tomo água no Barreiro, não. A água da Cascatinha está vindo num tubo de pvc de oitenta milímetro, se quiser eu trago foto. Acabou aquela cascata bonita que tinha lá, ela passa por baixo, não é natural, é bombeada. Grupo 1 Esses dias eu fui na fonte de água, na fonte Dona Beja que eu acho que é o ícone que a gente tem, a gente trabalha em cima daquilo, tinha uma mangueira para alimentar uma torneira lá dentro. Eu segui a mangueira e vi que lá hoje é água de poço artesiano. Então quer dizer, aquela água, riqueza que nós temos, está acabando com o impacto ambiental. Grupo 1 Para lá do Boa Vista um pouquinho, e a Bunge já comprou tudo, vai alagar tudo ali, aquilo lá vai sumir tudo e é para agora. Grupo 1

A proximidade das áreas de mineração com o Complexo Turístico do Barreiro e suas

fontes de água mineral, acentua ainda mais estes pré-construídos e constitui uma “ameaça” a

este patrimônio cultural. A Cascatinha, mesmo não sendo parte do complexo, também é

referência sociocultural e ambiental. Conta a tradição que era nesta cascata que D. Beja

tomava seus banhos de beleza. As construções discursivas evidenciam a forma como os

participantes sentem o fato de a mineração provocar mudanças na paisagem do Barreiro.

Cabe registrar que, novamente, durante uma das falas, ao se referir à Vale Fertilizantes a

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pessoa a chamou de “Bunge”, nome anterior da empresa.

Um dos participantes mencionou os impactos sobre lugares que são importantes não

para a chamada “cultura branca”, mas para outras formações culturais, como a indígena e a

dos afrodescendentes.

A mineração descaracteriza nossa cidade. Eu sou do povo antigo daqui. Sou do povo que deu origem ao nome desta cidade. Nós somos os índios “Arachás”. Nós temos os nossos lugares sagrados, e um desses lugares é onde a Bunge minera, e o outro é onde a CBMM minera. Eles não respeitam os nossos lugares sagrados. Aquela região ali onde a CBMM ta ampliando ali, o pessoal chama de mamão. Aquilo também é um lugar onde o pessoal negro descendente dos escravos ficavam. São os quilombolas. Grupo 2

Como ocorreu com diversos participantes, ele se equivocou na referência à Vale.

Mesmo sabedor de que a empresa de fosfato é a Vale, durante a fala ele se referiu a ela como

Bunge.

6.2.4 Impactos socioeconômicos

A memória discursiva surge como leitura de acontecimentos com restabelecimento de

pré-construídos. No caso dos passivos sociais e ambientais deixados pela exploração aurífera

no século XVIII, Machado Filho se refere a eles com uso da metáfora “rastros”. Uma

atividade instável que no seu início proporciona riquezas. Com o esgotamento das jazidas,

ficam os “rastros”: decadência econômica e social, além da degradação da natureza. Estes

“rastros” foram resgatados por um participante. (MACHADO FILHO, 1986, p. 33).

Só lembrando que a atividade de mineração é um pouco de cigano. É só lembrar do tempo da colônia, as pessoas que iam minerar, vinham de Portugal, andavam para lá e para cá, não deu ouro aqui ele vai para lá”. Grupo 1

Os “rastros” mencionados por Machado Filho (1986) são temidos, já que são

consequência do pré-construído da transitoriedade. A metáfora de a atividade ser “cigana”

guarda relação com a essência de ser transitória. O significado da palavra inesgotável,

aplicada à mineração, é questionado: se o minério é retirado de uma mina finita, o inevitável é

que se acabe. Há uma clara divergência no sentido que trazem transitório e inesgotável. Outra

questão relacionada com essa é a estimativa da vida útil da mina: se para 500 anos se situaria

dentro de um nível x de produção, quando essa produção cresce para 2x o tempo cai para a

metade, e assim vai.

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Então, penso que a atividade de mineração tem este risco, não tem mais, não deu lucro, ela vai embora mesmo. Grupo 1 Até porque é “+” segundo a “+” a CBMM a jazida dela é inesgotável, né? Não sei o que eles querem dizer com inesgotável “+”é “+” muito tempo, não é? Não sei o que eles querem dizer com isso, eu acho assim, se tira só tende a diminuir. Grupo 3 Eu vejo assim a mineração em si, é uma área de muito risco para a cidade, porque não é renovável. Então eu penso que nós devemos estar preparados para isso, porque enquanto ela estiver rendendo muito, para nós é uma maravilha. É uma preocupação que sempre tenho, eu já manifestei várias vezes, porque a gente ouve falar assim: a jazida da CBMM era para 500 anos, aí você dobra a produção já vai para 250, aí você dobra outra vez vai para 125 anos. E a mineração é CAPITALISMO MESMO. Grupo 1

A dicotomia das percepções é clara. Da mineração, mesmo com seus impactos

conhecidos, as pessoas não abrem mão.

Encerrar, jamais. Porque a mineração já está bem clara para nós, que nós não temos condições de deixar essa atividade de lado. Eu acho só que deveria só rediscutir a forma de retorno para a comunidade, para a região onde está sendo extraídos os minérios. Mas, quanto mais mineração, acho que é melhor para região, desde que tenha esses cuidados. Vamos rediscutir a forma de retorno. Grupo 2 Então eu acho assim, que é uma fonte de trabalho, mas não deixa de mexer com a natureza. A gente vê que enquanto mais mexe com o minério, mais problemas a gente pode adquirir. Eu vejo assim como um bem para a fonte de trabalho. Mas eu acho que nem todo mundo tira grande lucro disso aí. Então é para alguns só. Grupo 21

No século XVIII, as pessoas vinham de Portugal para procurar o ouro. No século XIX,

as empresas inglesas traziam especialistas estrangeiros para desempenhar funções de

destaque. Poucos eram os brasileiros escolhidos. A situação era tão preocupante que o

presidente Arthur Bernardes criou um decreto de valorização dos brasileiros.

(PERSONAGENS..., 1983). Vem desta época o pré-construído de as empresas serem

“estranhas”, às vezes estrangeiras às sociedades locais, ou seja, trazerem pessoas de fora para

trabalhar.

Eu gostaria, nós como cidadãos gostaríamos que essas empresas investissem mais na formação educacional da nossa cidade. Inclusive na formação da mão-de-obra, porque eles vêm de fora, trazem pessoas de fora para cá e os nossos jovens, não só jovens, as pessoas que estão caminhando para idade de 25 até 45 anos têm poucas oportunidades nessas empresas para trabalhar, principalmente na área técnica. Eles servem como mão-de-obra braçal, mas quando parte para área técnica são poucos os araxaenses ou os moradores de Araxá que são aproveitados. Grupo 1 E acho que as mineradoras não contribuem tanto quanto deveriam. Até acho que deveria haver mais incentivo no sentido de que as pessoas estudem, porque se vocês estudarem, vocês terão empregos. Por exemplo, ela citou o caso de técnicos, de que se busca mão-de-obra de fora para trazer para a cidade. Por que se busca mão-de-obra de fora para trazer para as companhias? Porque se houvesse incentivo isso não haveria necessidade, não é mesmo! Grupo 2

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Quadro 2: Percepção dos impactos da mineração em Araxá

Fonte: Adaptado pela autora com dados extraídos de CONDE, F; GABRIEL. C. 2002, p. 505.

Por meio da narrativa discursiva sobre os impactos sociais, ambientais, econômicos e

sanitários da atividade é elaborado seu caráter híbrido: uma ”estranha à terra”, cujos reflexos

dicotômicos se sentem na vida de Araxá.

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6.3 Caminhos para outra visão

No interdiscurso da mineração, o pré-construído da riqueza tem papel preponderante

quando se trata de elencar os benefícios trazidos pela atividade. Pela movimentação

econômica que proporciona, com a geração de emprego e renda, a mineração é vista como

fator de riqueza. Este é o principal benefício obtido, por ser abrangente e englobar outros.

É beneficio para a sociedade, é uma fonte de renda. Então eu acho “_” que é um bem, sim, e é uma grande riqueza que nós temos aqui em Minas. Eu acho que é para ser aproveitadas, porque também, se fica lá debaixo da terra, não vamos tirar lucro nenhum. Grupo 2 A economia de Araxá, ela oscila, basicamente em função das transferências das receitas estaduais decorrentes, principalmente, do ICMS e esta receita de ICMS, essa transferência de ICMS, ela é praticamente 70% motivada pelas duas empresas. Se você colocar num patamar de comparação seria: 50 CBMM e 20 a ValeFértil. Então existe sim uma atuação efetiva, a falta delas na comunidade, de qualquer uma delas, seria realmente um baque. Grupo 1

De forma unânime, os participantes dos grupos reconhecem que a mineração é um

“bem, uma grande riqueza”, mas sobre esta ideia agem outros pré-construídos como ser uma

“riqueza para poucos” e beneficiar apenas alguns. Este pré-construído também remonta ao

século XVIII quando, pelo sistema implantado, apenas o dono da lavra e a Coroa Portuguesa

eram beneficiados.

Eu falei: pô a mineração não é importante? Não foi levada em conta como um fator econômico importante para cidade? E para mim ela é o básico. É o que gera mais empregos, é o que movimenta o comércio. Enfim, emprego direto e indireto, eu ainda acho que é a mineração. É por isso que essa dependência gera essa relação de amor e ódio. Grupo 1 Eu sei que é necessária, eu sei que traz riquezas. Eu sei que é benéfica para alguns porque se você for olhar dentro de Araxá, para os habitantes de Araxá, são minoria aqueles que recebem esse lucro, esse proveito dessa mineração. Então não é uma coisa para todo mundo. Grupo 2 Eu fico pensando não é apenas a questão de gerar emprego, mas se a cidade tem o retorno que merece. Porque eu acho que a exploração é enorme, mas o que está voltando pra a cidade? Grupo 3 Imaginam essas terras raras, agora que eles descobriram, é por mais não sei quantos anos, o quanto eles vão ganhar. E o que a gente ganha, a gente ganha assim um festival de cultura, um festival de música, nós ganhamos uma pecinha de teatro. Tá! Mas nós poderíamos ganhar muito mais. Grupo3

Outro reconhecimento é manifestado em razão de algumas ações ambientais, como o

plantio de árvores. Nesse caso, mesmo destacando o resultado positivo, não é visto como

iniciativa das empresas. Em uma mesma fala, um participante utiliza por duas vezes a

expressão “não estão fazendo graça”. O sentido produzido é que não se trata de fazer algo

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benéfico para a cidade, mas uma obrigação legal. Por isso ele fala com ironia, com a

utilização de um diminutivo: “eles não são bonzinhos”.

Antes de você abrir uma mina você tem que ter um projeto já de reflorestamento do que você vai arrumar. Então assim, não é que eles estão fazendo uma graça de reflorestar e tal. Eles são obrigados, a questão que já está “+” O licenciamento é “+” vinculado à recomposição. É, é “+”, eles não são bonzinhos. Não estão fazendo graça. Grupo 3

A força dos pré-construídos no interdiscurso da mineração é reconhecida por um dos

participantes, que diz que as pessoas elaboram seus conceitos baseadas em ideias que

existiam no passado.

A grande maioria das pessoas julgam a atividade baseando só em pontos negativo. Elas pensam na mineração de alguns anos atrás e acham que é sempre assim. A gente sabe que a mineração já causou muitos danos e ainda causa muitos danos. Isso tem mudado, mas o pessoal não vê. Grupo 3

De uma maneira geral, em face da riqueza que proporciona, os participantes não

conseguem dissociar o futuro de Araxá da mineração. Só que sua atuação no futuro é

desenhada com nuances diferentes da atual. Um dos diferenciais seria a fiscalização dos

impactos de forma mais estruturada.

O futuro é o seguinte: até que a cidade se defina se é turística ou mineradora. Eu prefiro que venha mais vinte mineradoras para Araxá. Este é o meu ponto de vista, porque hoje é o suporte no nosso negócio e a nossa economia hoje. Grupo 1 A Vera Cruz precisa das mineradoras para crescer. (Risos) “++” Eu acho que não só a Vera Cruz, mas muitas empresas de Araxá atingiram o seu limite, não têm como crescer. Então nada melhor do que mais empresas, não só a mineradora. Como o Eduardo mesmo falou, quando vem à mineradora vem um monte de outras empresas agregadas, vêm as prestadoras de serviços, isso aí é importante para a gente. Grupo 1 Então o que eu penso para o futuro de Araxá: primeiro eu acho que têm que vir as mineradoras mesmo, tem que ter órgãos bem estruturados para controlá-las, mas diversificar. Grupo 1 É “+” bom, aqui em Araxá só tende a aumentar né? Como eu estava falando da descoberta - das “+” descobertas, né? - das jazidas de “+” de terras raras, a gente teve recentemente a MbAC, que é uma mineradora canadense já anunciou que vai explorar terras raras aqui. Eu acho que a atividade aqui só tem a crescer. Grupo 3

Outro ponto considerado importante para o futuro é a diversificação da economia, com

estabelecimento de projetos que propiciem novas fontes de renda. Ações que possam diminuir

a dependência da cidade em relação às mineradoras - o projeto da Cidade Tecnológica e a

criação de polos específicos para algumas áreas de negócios. Vale registrar que o projeto da

Cidade Tecnológica requereu maior tempo pelo grupo 3, formado por jovens. Muitos

afirmaram ver na proposta uma perspectiva com mais sustentabilidade e participação da

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população. Uma oportunidade para a mineração gerar um retorno duradouro para a cidade.

Araxá precisa diversificar, não pode ficar com 70% da sua receita nas mineradoras. Aí você tem, por que não criar um pólo para os nossos doces? Por que não criar, fomentar mesmo, vamos começar novos projetos. Projetos disso, daquilo, vestuário, alguma outra coisa, o sol, porque não uma energia solar? Aí eu vou defender um pouco o parque tecnológico, são inteligências que vão vir para a gente, não ficar com 50 % ou 70 % somente na mineração. Acho que deveria diminuir e revertendo aos poucos porque senão nós vamos virar aquelas cidades fantasmas do oeste americano. Então, daqui a cem anos os netinhos nossos vão dizer: “nossos avós não pensaram no futuro, olha aí o que é que virou”, é isso que eu penso. Grupo 1 A Cidade Tecnológica eu acho que ela abre uma perspectiva enorme para Araxá, para as empresas poderem aumentar a sua participação e até mesmo terem resultados positivos em termos de pesquisa, desenvolvimento, não só na área de mineração, mas em outras áreas também de tecnológicas todas, está certo? Grupo 3

Na construção discursiva a respeito do futuro de Araxá, assume papel preponderante a

existência de contrapartidas ou retornos mais efetivos para propiciar benefícios para a

população. Vem à tona o sentimento de “posse” dos minerais, por estarem eles localizados em

Araxá. O raciocínio é: se estão aqui no nosso subsolo, são nossos. Se são nossos, é preciso

gerar mais benefícios para a gente da cidade. É como sintetiza uma participante: “Araxá

deveria ser rica porque é rica.”

Porque as companhias são de fora e a riqueza é nossa. Então os habitantes têm o direito também de usufruir deste grande valor que a terra oferece. Grupo 2 Quando da instalação das empresas deveria ter tido um acordo. Vai tirar o minério? Vai! Quanto? Qual o percentual que você vai deixar para a cidade? Se a CBMM hoje deixasse 10% do que ela tira para a cidade, nós seríamos a capital de Minas Gerais. Nós não viveríamos esses problemas que nós vivemos hoje “+” problemas de saúde, desemprego, nada disso nós teríamos porque nós seríamos, economicamente autossuficientes. Grupo 2 Então, hoje nós temos as mineradoras que vêm e tiram tudo e dão muito pouco. É POUQUÍSSIMO, nós recebemos MIGALHAS, MIGALHAS, mesmo. E o que a gente ganha?A gente ganha assim um festival de cultura, um festival de música, uma pecinha de teatro. Tá bom! Eu acho que as mineradoras de Araxá têm sido muito beneficiadas para elas, mas para nós não. Grupo 2 Tiram o produto da terra, a gente sabe que a mineração é importantíssima. Não tem jeito de viver sem mineral hoje, mas empresas de mineração tinham que olhar mais para a sociedade araxaense, principalmente nos quesitos educação, saúde e inclusão social. Grupo 2

No discurso sobre o futuro, foi dado destaque à necessidade de estabelecer uma nova

relação entre as empresas de mineração e o estabelecimento do que chamaram de “diálogo”,

um fluxo constante e contínuo de trocas e de circulação de informações. Mais ainda, foi

cobrado um posicionamento mais firme das pessoas de Araxá frente à conjuntura da

mineração. Sair de uma zona de conforto - que foi chamada de “choramingação”, o que

significaria reclamar sem agir - para que ocorram mudanças concretas na construção do

futuro.

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Pois é, eu “+”, de toda forma eu acho que é interesse deles sim, o diálogo porque você imagina a população toda é “+”, vamos dizer assim, se rebela contra a CBM e tudo. Tá que pode ser que não tenha lá um peso, mas não vai ficar bom pra eles. Tá entendendo? Então eles têm que pensar no que pode “+” incentivar na cidade, o que pode agregar, o que pode somar, entendeu? Grupo 3 Eu acho que a comunidade aqui em Araxá, ela participa pouco, não sei assim, não tem muitos canais, mas eu vejo a comunidade assim: “a gente tem muito câncer, essa mineradora vive explorando a gente”, mas fica na “choramingação”, não vejo ações, não vejo estudos, num vejo coisas sérias. Grupo 1 A gente tem que assumir o papel de cada um de nós e participar, estar lá, cobrar. E não falar assim: “o poder público que não fez, a mineradora não fez, não sei quem não fez”. Nós somos a comunidade, nós temos que participar disso. Eu acho que a mineradora vai aumentar, a mineração vai aumentar, não acho ruim isso não. Acho ruim assim, ela pode ser melhor, dependendo das cabeças das pessoas que dominam isso, como dizia o Einstein, a bomba de Hidrogênio não é ruim, ruim é quem pega nela, o que a gente faz com ela. Grupo 1 A gente fica sabendo só assim, nós da população deveríamos ser mais esclarecidos. Essas mineradoras deviam esclarecer mais o povo, fazer fóruns comunitários, trocar mais ideias, interagir mais com a comunidade. Grupo 2

O futuro está ligado ao pré-construído da riqueza. As pessoas desejam que a

construção do que virá seja diferente: que os benefícios sejam mais compartilhados de

diversas formas. Uma delas, por meio de um compromisso de fato com as questões sociais,

econômicas e ambientais da sociedade. Um futuro no qual a base de novas atitudes seria a

maior proximidade entre negócios e comunidade, com uma sociedade mais ativa e empresas

dispostas a interagir.

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7 CONCLUSÃO

E se o outro é como ele

outro Narciso, é espelho contra espelho:

o olhar que mira reflete o que o admira

num jogo multiplicado em que a mentira de Narciso a Narciso inventa o paraíso.

(GULLAR, 2001, p. 367-368)

“Se houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema.” (PICASSO, Pablo - pintor espanhol)

Este trabalho buscou fazer uma reflexão sobre a relação da população de Araxá com

a mineração, a partir das construções discursivas existentes na memória - por meio do

interdiscurso e dos pré-construídos - e no imaginário, para se chegar até a formação da

imagem da atividade. Quando se pretende denotar a percepção que as pessoas têm sobre a

atividade mineradora, observa-se que, em decorrência do interdiscurso, elas estabelecem uma

relação entre o passado e o presente.

A análise discursiva empreendida nesta pesquisa indica que a população reconhece a

mineração como atividade relevante para os sistemas produtivos e financeiros do Brasil, de

Minas Gerais e de Araxá. A importância da mineração ultrapassa os limites da economia, as

pessoas a entendem como atividade fundamental no mundo atual por gerar os insumos

necessários à produção de bens considerados essenciais à vida do homem e da sociedade.

Pelos discursos analisados, constatamos que a mineração costuma ser vista,

concomitantemente, por duas vertentes: uma, positiva, e outra, negativa. Pelo caráter híbrido

das narrativas discursivas, pudemos constatar que a mineração é percebida como um “herói

falho”. Incrementa a economia, mas não consegue controlar as consequências de sua ação

sobre o meio ambiente. Esta dicotomia fica mais clara quando fazemos a contraposição das

categorias socioeconômica e ambiental. Na primeira, entram fatores como riqueza, progresso,

fomento econômico, fonte de trabalho e de renda. Já na segunda encontramos outros, como

“destruição organizada”, poluição do ar, alteração do meio ambiente, geração de doenças e

redução da qualidade de vida.

Consideramos que os “rastros da mineração”, mencionados por Aires da Mata

Machado Filho, foram constituídos na prática discursiva e trazem em si a noção de um “mal”

social e econômico, temido quando se projeta o futuro. (PERSONAGENS..., 1983). Se no

passado a observação desse significado era mais visível, referida em narrativas de diversos

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autores sobre as vilas abandonadas e a decadência urbana que tornava cada vez mais taciturna

a população, no presente percebemos sentidos parecidos quando os Grupos de Discussão

relataram a transitoriedade da atividade. Os “rastros” do passado fizeram história e

continuam presentes na memória discursiva.

Ao trazermos à tona o sentido de “mal” que emana dos “rastros da mineração”,

comprovamos uma de nossas proposições de pesquisa: que os sentidos formados sobre a

atividade foram elaborados ao longo do tempo pela relação interdiscursiva entre os

enunciados das diferentes narrativas realizadas em épocas distintas e que foram repassadas de

geração para geração. Nos diversos “rastros” deixados ao longo do tempo, sentidos de

“transitoriedade” e “dilapidação da natureza” passaram a ser incorporados e a fazer parte de

novos enunciados, a partir de elementos pré-construídos. O sentido da transitoriedade dessas

atividades se evidencia, segundo o pré-construído de Arthur Bernardes de que minério só dá

em uma safra. (PERSONAGENS..., 1983).

É possível estabelecer uma relação entre os valores positivos, comumente associados

à mineração na atualidade, com os que eram vistos no passado. Hoje, seria a geração de

emprego e renda; em tempos mais distantes, a riqueza. Situamos na intercessão entre ambos

a prosperidade. Ela traz em si a significação de riqueza como nos primeiros tempos: ouro na

algibeira. Em nossos dias, prósperos são os lugares que detêm boa arrecadação tributária e

nos quais há empresas que promovem a circulação financeira a partir da demanda de bens e

serviços. No caso de Araxá, remete à esperança de um “lugar ao Sol”, que se manifestou em

vários momentos da história do município.

Ao longo do trabalho, o caráter híbrido das narrativas nos chamou a atenção. O

processo de elaboração discursiva das pessoas contempla a relação de suas experiências com

as informações sobre a atividade. Assim, a mineração vai adquirindo significados a partir da

junção dos diferentes saberes articulados e da própria narrativa instaurada. Consideramos que

esta riqueza discursiva nos proporcionou um universo de representações e valores que

envolvem não somente a mineração, mas nos diz muito da sociedade de Araxá.

Constituída na prática discursiva, a imagem da mineração carrega em si a dicotomia

de sentidos, o paradoxo das percepções. É a “destruição organizada”, que traz à tona noções

não produzidas na atualidade, mas que foram elaboradas ao longo do tempo pela relação

interdiscursiva entre os enunciados de diferentes origens. Recebe, também, a interferência de

formulações pertencentes a discursos anteriores.

As palavras ocupam papel privilegiado na mente das pessoas; é por meio delas que é

elaborado um modo individual de ver o mundo, mas que realiza trocas com a realidade

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exterior. Elas fornecem as “pistas” para identificação de situações. Algumas palavras podem

dar maior ou menor destaque a situações específicas. No caso da mineração, são utilizadas

metáforas para produzir este efeito. Só que as metáforas vão além: caracterizam o paradoxo

das percepções e a relação de “amor e ódio” existente. Elas proporcionam a significação

necessária às palavras para que ultrapassem a esfera puramente semântica e representem a

criação de novos patamares para a percepção. Ou seja, entendemos que ao empregar

metáforas as pessoas procuram caracterizar com tons mais fortes o elemento a que se referem,

além de ser esta uma forma de demonstrar conhecimento e certa “intimidade” com o que está

em foco.

Os movimentos retóricos presentes nos vários discursos, como a expressão “fator de

renda que traz problemas”, reforçam os paradoxos dos significados antagônicos existentes na

imagem da mineração em Araxá. É uma imagem de tensionamento, que tem em seu processo

de construção um discurso repleto de sentidos opostos.

Nesta linha, há que levar em conta também a presença do efeito de paráfrase nas

reformulações dos discursos. Entendemos que se trata de um indicativo de que as condições

históricas produzem deslocamentos e influenciam a relação entre esquecimento e lembrança

na constituição da memória e, consequentemente, a produção de sentidos.

Recuperamos a noção de imaginário por ele constituir uma forma de interpretação da

realidade e de representação simbólica do entorno no qual vive o ser humano. O imaginário

social existe em todas as sociedades e é presença nas interações. Por meio destes papéis, o

imaginário atribui significados e forma a imagem da realidade. Entendemos que a imagem, no

caso em tela, é formada a partir das percepções que as pessoas têm sobre a mineração.

Neste processo de elaboração da imagem, são influenciados os sentidos produzidos

pelo imaginário, as experiências e aspirações que cada um possui - em grande parte nascidas e

compartilhadas socialmente -, além dos pré-construídos existentes no interdiscurso da

mineração. Nessa direção se mostra a constatação de um entrevistado, que afirma não

entender por que, apesar da reconhecida importância da mineração na economia de Araxá,

não há uma “defesa” explícita da atividade por parte dos araxaenses. Para explicar esta

situação, ele utiliza em sua construção retórica a palavra contraditório. Este fato guarda

estreito vínculo com a ação da intersubjetividade nas relações de troca pela linguagem e na

produção de sentidos com a memória, além de nos ajudar a visualizar a imagem da atividade

de mineração em um universo de percepções dicotômicas. A propósito, Schutz nos diz que

“Só aquilo que já decorreu pode ser simbolizado” (SCHUTZ, 1982, p. 67).

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É por isso que o mundo da vida cotidiana é um mundo de evidências e de

significados comuns, partilhados, a partir da intersubjetividade, com referenciais tanto do

passado quanto atuais, e que tanto podem ser modificados pelos sujeitos quanto podem

modificá-los. Retrata o mundo intersubjetivo que existia antes do sujeito, anteriormente já

interpretado por outras pessoas. Os sentidos do imaginário são repletos de construções

subjetivas que foram retiradas do senso comum.

Feitas estas considerações, retomamos a teoria das múltiplas realidades de Schutz

(1974a) para observar as várias regiões de significado do mundo da vida – intersubjetivo e

estruturado na memória – sobre a atividade de mineração. Assim, propomos reaver a imagem

de “herói falho” da atividade de mineração, com base no conceito de Schutz de realidade

múltiplas. Em Dom Quixote, Schultz(1974b) não questiona as diferenças existentes entre os

universos de Dom Quixote e Sancho, apenas mostra que o pano de fundo das múltiplas

realidades de cada um são os diferentes imaginários existente nas personagens.

O “herói falho” detém o contraditório em seu caráter: tem características positivas e

diferenciadas, mas não é perfeito.

Acho que Araxá é uma cidade mineira, a gente que não entendeu muito isso. É uma cidade mineira, vive disso. Grupo 1

Então, eu acho que quanto mais revolve a natureza, mais vêm os benefícios, mas também mais vem o resto, traz doenças e polui o ar. Grupo 2.

O processo de construção da imagem do “herói falho” está ancorado nas múltiplas

realidades existentes em Araxá. A atividade de mineração, mesmo com suas limitações,

possui o seu lado “herói”, que é considerado essencial e de que as pessoas não abrem mão.

Ao darmos “voz” a pessoas da sociedade de Araxá, com diferentes perfis, para que

falassem a respeito da atividade mineração, foi possível descobrir uma imagem que não fosse

convergente e que, dessa forma, pudesse abrigar em si as diferenças proporcionadas por

perspectivas distintas. Múltiplas vozes, presentes na polifonia, no dialogismo e no

interdiscurso, vindas de diversos lugares e de vivências variadas, possibilitaram a construção

de uma história caleidoscópica. Não há aqui qualquer semelhança com o que a escritora

nigeriana Chimamanda Adichie (2011) chama de “uma história única”. Ou seja, uma história

vista sob um único ponto de vista que, ao ser repetida inúmeras vezes, acaba por se tornar

uma verdade indiscutível sobre determinado fenômeno.

Não se pode falar em história única sem retornarmos ao conceito de poder, de Dijk.

Ele considera que em nosso mundo social, econômico e político o poder está relacionado a

quem conta as histórias, como e quando se conta, quais histórias são selecionadas e quantas

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vezes são narradas. Adichi nos fala que histórias têm sido usadas para expropriar cultura e

para destituir a dignidade de pessoas e comunidades, mas lembra que elas podem também ser

usadas para capacitar e reparar a dignidade perdida. “[...] Quando nós rejeitamos uma única

história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós

reconquistamos um tipo de paraíso” (ADICHI , 2009).

Neste trabalho, buscamos as múltiplas vozes no contexto de suas múltiplas

realidades para narrarem suas experiências e percepções, de modo que a história a respeito da

mineração em Araxá não fosse única. Pelo contrário, procuramos olhar, metaforicamente, no

caleidoscópio da mineração, para que não fosse proporcionada uma imagem única. Os

inúmeros mosaicos mudam continuamente em função do movimento, tanto temporal quanto

espacial. Isso coloca ao nosso alcance uma imagem que traz em si o paradoxo do amor e do

ódio, por possuir pluralidade de opiniões com amplitude social.

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