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    DISCIPLINA: Direito Administrativo 1

    Professor Doutor Gustavo Justino de Oliveira

    Aula 01 LICITAES

    Sumrio: 1. Noes introdutrias; 2. Princpios; 2.1. Formalidade; 2.2 Igualdade;2.3. Sigilo na apresentao das propostas; 2.4. Vinculao ao InstrumentoConvocatrio; 2.5. Julgamento Objetivo; 2.6, Adjudicao obrigatria; 2.7.Economicidade; 2.8 Promoo do desenvolvimento nacional sustentvel; 3.Dispensa e inexigibilidade de licitao; 4. Modalidades; 5. Fases da licitao; 5.1.Edital; 5.2. Habilitao; 5.3. Classificao; 5.4. Julgamento; 5.5. Homologao eadjudicao; 6. Anulao e Revogao; 7. Lei n 12.462/11 Regime Diferenciadode Contratao; 7.1. Possibilidade de indicao de marcas ou modelos; 7.2.Contratao integrada; 7.3. Remunerao varivel; 7.4. Fracionamento do objetolicitatrio e contratao simultnea; 7.5. Fase de Habilitao; 7.6. Fase recursalnica.

    1. Noes Introdutrias

    A Constituio da Repblica prev em seu Captulo VII que trata da

    Administrao Pblica que, ressalvados os casos especificados na legislao, as

    obras, servios, compras e alienaes da administrao pblica direta e

    indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios sero contratados mediante processo de licitao pblica que

    assegure igualdade de condies a todos os concorrentes, com clusulas que

    estabeleam obrigaes de pagamento, mantidas as condies efetivas da

    proposta, nos termos da lei, o qual somente permitir as exigncias de qualificao

    tcnica e econmica indispensveis garantia do cumprimento das obrigaes

    (art. 37, inciso XXI).

    Segundo o art. 22, inciso XXVII da Carta Poltica, competeprivativamente Unio legislar sobre normas gerais de licitao e

    contratao, em todas as modalidades, para as administraes pblicas diretas,

    autrquicas e fundacionais da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios,

    obedecido o disposto no dispositivo acima citado, e para as empresas pblicas e

    sociedades de economia mista, nos termos do seu art. 173, 1, inciso III 1.

    1De acordo com o dispositivo legal:

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    A fim de regulamentar o artigo 37, inciso XXI da Constituio da

    Repblica, foi publicada no dia 22 de junho de 1993 a Lei n. 8.666, estabelecendo

    normas gerais sobre licitaes e contratos administrativos pertinentes a obras,

    servios, compras, alienaes e locaes no mbito dos Poderes da Unio, dos

    Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, e aplicvel aos entes integrantes das

    administraes direta e indireta.

    Outras normas que trazem dispositivos concernentes matria so a

    Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006 (Estatuto da Microempresa

    e da Empresa de Pequeno Porte), cujos artigos 42 a 49 disciplinam a participao

    das microempresas e empresas de pequeno porte em licitaes. A Lei n. 11.488, de

    15 de junho de 2007, por sua vez, em seu artigo 34, determina a aplicao dareferida Lei Complementar tambm s Sociedades Cooperativas.

    Regulamentando a Lei Complementar n. 123/06, foi publicado em 05

    de setembro de 2007 o Decreto federal n. 6.204, responsvel por disciplinar o

    tratamento favorecido, diferenciado e simplificado de que so detentoras as

    microempresas e empresas de pequeno porte nas contrataes realizadas pela

    administrao pblica federal.

    Ainda, recentemente, em 29 de abril de 2010, foi publicada a Lei

    federal n. 12.232, que cuida especificamente de normas gerais concernentes ao

    procedimento licitatrio e contratao, pela administrao pblica, de servios de

    publicidade prestados por intermdio de agncias de propaganda, aplicando-se

    complementarmente as Leis federais n. 4.680/65 e n. 8.666/93.

    1.1 Definio

    Para Odete MEDAUAR, licitao o processo administrativo em que

    a sucesso de fases e atos leva indicao de quem vai celebrar contrato com a

    Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituio, a explorao direta de atividadeeconmica pelo Estado s ser permitida quando necessria aos imperativos da segurana nacionalou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.1. A lei estabelecer o estatuto jurdico da empresa pblica, da sociedade de economia mista e desuas subsidirias que explorem atividade econmica de produo ou comercializao de bens ou deprestao de servios, dispondo sobre:

    II licitao e contratao de obras, servios, compras e alienaes, observados os princpios daadministrao pblica;

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    Administrao. Visa, portanto, a selecionar quem vai contratar com a

    Administrao, por oferecer proposta mais vantajosa ao interesse pblico. A

    deciso final do processo licitatrio aponta o futuro contratado (MEDAUAR, 2010,

    p. 197).

    Maria Sylvia Zanella DI PIETRO define licitao como o

    procedimento administrativo pelo qual um ente pblico, no exerccio da funo

    administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem s condies fixadas

    no instrumento convocatrio, a possibilidade de formularem propostas dentre as

    quais selecionar e aceitar a mais conveniente para a celebrao de contrato (DI

    PIETRO, 2010, p. 350).

    2. Princpios

    So aplicveis s licitaes os princpios constitucionais norteadores

    da atividade da Administrao Pblica, insculpidos no artigo 37, caput2, da

    Constituio da Repblica, aqueles elencados expressamente pela Lei federal n.

    8.666/93, em seu artigo 3, alm de outros delineados pela doutrina

    administrativista3.

    O artigo 3 da Lei federal n. 8.666/93 corrobora:

    Art. 3 A licitao destina-se a garantir a observncia do princpio constitucionalda isonomia, a seleo da proposta mais vantajosa para a administrao e apromoo do desenvolvimento nacional sustentvel e ser processada e

    2Conforme dispe o artigo 37:

    Art. 37. A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados,do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios da legalidade, impessoalidade,moralidade, publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte:

    3Conforme assevera Maria Sylvia DI PIETRO, no h uniformidade entre os doutrinadores na

    indicao dos princpios informativos da licitao. Segundo a autora: Jos Roberto Dromi(1975:134) indica dois: o da livre concorrncia e o da igualdade entre os concorrentes;Sayaguz Laso (1940:52-53) tambm aponta dois: o da igualdade de todos frente

    Administrao e o estrito cumprimento do edital; Adilson Abreu Dallari fala em trem princpios:os da igualdade, publicidade e rigorosa observncia das condies do edital (1973:33); a essestrs Celso Antonio Bandeira de Mello (1980:2) acrescenta o da possibilidade do disputantefiscalizar o atendimento dos princpios anteriores. Hely Lopes Meirelles (2003:265) relacionamaior nmero de princpios: procedimento formal, publicidade, igualdade entre os licitantes,

    sigilo das propostas, vinculao aos termos do instrumento convocatrio, julgamentoobjetivo e adjudicao compulsria. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.So Paulo: Atlas, 2010, p. 353-354.)

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    julgada em estrita conformidade com os princpios bsicos da legalidade, daimpessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidadeadministrativa, da vinculao ao instrumento convocatrio, do julgamentoobjetivo e dos que lhes so correlatos. (Redao dada pela Lei n 12.349, de 2010)

    Alm desses princpios, a doutrina costuma elencar como essenciais

    aos procedimentos licitatrios o formalismo, o sigilo na apresentao das

    propostas, a adjudicao obrigatria e a economicidade.

    2.1. Formalismo

    O princpio do formalismo decorre do disposto no artigo 4 da Lei n.

    8.666/93, que determina que todos os integrantes da licitao tm o direito

    subjetivo observncia dos trmites legais definidores do procedimento. Segundoo dispositivo:

    Art. 4 Todos quantos participem de licitao promovida pelos rgos ouentidades a que se refere o art. 1 tm direito pblico subjetivo fiel observnciado pertinente procedimento estabelecido nesta lei, podendo qualquer cidadoacompanhar o seu desenvolvimento, desde que no interfira de modo a perturbarou impedir a realizao dos trabalhos.Pargrafo nico. O procedimento licitatrio previsto nesta lei caracteriza atoadministrativo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da AdministraoPblica.

    Maral Justen Filho ao tecer comentrios acerca do referido

    dispositivo afirma que a Lei e o Edital estabelecem a ordenao a ser observada. O

    descumprimento das fases e sequncias estabelecidas acarreta o vcio do

    procedimento como um todo, ressaltando a existncia de um devido

    procedimento licitatrio, decorrente da aplicabilidade do princpio do devido

    processo legal oriundo do direito processual disciplina das licitaes. (JUSTEN

    FILHO, 2009, pp. 96-99)

    Tem-se, portanto, que o processo licitatrio se trata de uma srie de

    atos encadeados e preordenados, os quais observam todas as formalidades legais,

    acarretando a obteno do resultado mais satisfatrio ao interesse pblico. Nesse

    diapaso, o princpio teria o objetivo de proteo dos administrados, como

    decorrncia lgica do princpio da indisponibilidade do interesse pblico.

    Por outro lado, Hely Lopes MEIRELLES, atenta para o fato de oprincpio do procedimento formal no dever ser aplicado de maneira absoluta ou

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    irrestrita, compreendendo que omisses ou irregularidades irrelevantes, incapazes

    de resultar em prejuzos aos licitantes concorrentes, Administrao Pblica ou

    aos administrados, no devero, necessariamente, resultar na anulao do

    procedimento ou inabilitao do concorrente. (MEIRELLES, 2010, p. 282)

    A jurisprudncia tambm entende pela mitigao do princpio

    quando o referido formalismo se mostrar excessivo. Nesse sentido tm-se os

    seguintes acrdos do Superior Tribunal de Justia:

    MANDADO DE SEGURANA. ADMINISTRATIVO. LICITAO. PROPOSTA TCNICA.INABILITAO. ARGIO DE FALTA DE ASSINATURA NO LOCALPREDETERMINADO. ATO ILEGAL. EXCESSO DE FORMALISMO. PRINCPIO DA

    RAZOABILIDADE.1. A interpretao dos termos do Edital no pode conduzir a atos que acabem pormalferir a prpria finalidade do procedimento licitatrio, restringindo o nmerode concorrentes e prejudicando a escolha da melhor proposta.2. O ato coator foi desproporcional e desarrazoado, mormente tendo em conta queno houve falta de assinatura, pura e simples, mas assinaturas e rubricas fora dolocal preestabelecido, o que no suficiente para invalidar a proposta,evidenciando claro excesso de formalismo. Precedentes.3. Segurana concedida.(MS 5869 / DF - MANDADO DE SEGURANA. rgo Julgador: Primeira Sesso.Desembargador Relator: Ministra Laurita Vaz. Data do julgamento: 11/09/2002.Publicao DJ: 07/10/2002, p. 163)

    DIREITO PUBLICO. MANDADO DE SEGURANA. PROCEDIMENTO LICITATORIO.VINCULAO AO EDITAL. INTERPRETAO DAS CLAUSULAS DO INSTRUMENTOCONVOCATORIO PELO JUDICIARIO, FIXANDO-SE O SENTIDO E O ALCANCE DECADA UMA DELAS E ESCOIMANDO EXIGENCIAS DESNECESSARIAS E DEEXCESSIVO RIGOR PREJUDICIAIS AO INTERESSE PUBLICO. POSSIBILIDADE.CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANA PARA ESSE FIM. DEFERIMENTO.(MS 5418 / DF MANDADO DE SEGURANA. rgo julgador: Primeira Sesso.Ministro relator: Demcrito Reinaldo. Data do julgamento: 25/03/1998 PublicaoDJ: 01/06/1998, p. 24)

    2.2. Igualdade

    O princpio da igualdade impe que seja concedido tratamento

    isonmico a todos os participantes do procedimento licitatrio, alm de impor

    Administrao Pblica o dever de oportunizar a participao no certame a todos os

    interessados capazes de oferecer as indispensveis condies de garantia4. O

    princpio encontra-se inserido no artigo 3, 1, inciso I, da Lei federal n. 8.666/93,

    in verbis:

    4Nesse sentido tem-se o entendimento de Celso Antonio Bandeira de Mello. In: MELLO, Celso

    Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. So Paulo: Malheiros, 2010, p. 514.

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    Art. 3 A licitao destina-se a garantir a observncia do princpio constitucionalda isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administrao e serprocessada e julgada em estrita conformidade com os princpios bsicos dalegalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da

    probidade administrativa, da vinculao ao instrumento convocatrio, dojulgamento objetivo e dos que lhes so correlatos. 1o vedado aos agentes pblicos:I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocao, clusulas oucondies que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu carter competitivo eestabeleam preferncias ou distines em razo da naturalidade, da sede oudomiclio dos licitantes ou de qualquer outra circunstncia impertinente ouirrelevante para o especfico objeto do contrato;

    Ao tratar do tema, Hely Lopes Meirelles explica que a igualdade

    entre os licitantes princpio impeditivo da discriminao entre os participantes

    do certame, quer atravs de clusulas que, no edital ou convite, favoream uns em

    detrimento de outros, quer mediante julgamento faccioso, que desiguale os iguais

    ou iguale os desiguais. (MEIRELLES, 2010, p. 283)

    No obstante, paralelamente garantia da isonomia tem-se, por meio

    da licitao, o meio adequado obteno do melhor bem ou servio pela

    Administrao Pblica e melhor realizao do interesse pblico. Essa dupla

    acepo bem notada no seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal:

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 16 E 19 DA LEI N. 260, DOESTADO DE RONDNIA. SERVIO PBLICO. TRANSPORTE COLETIVO DEPASSAGEIROS. POSSIBILIDADE DE CONVERSO AUTOMTICA DE LINHASMUNICIPAIS DE TRANSPORTE COLETIVO EM PERMISSO INTERMUNICIPAL.DISCRIMINAO ARBITRRIA ENTRE LICITANTES. LICITAO. ISONOMIA,PRINCPIO DA IGUALDADE. AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 5, CAPUT,175 E 37, INCISO XXI, DA CONSTITUIO DO BRASIL. 1. Artigo 16 da Lei n. 260 ---primeira situao --- linha de transporte contida no territrio do Municpio,desmembrado ou criado, matria a ser regulada por lei do novo Municpio, vez queconfigura tema de interesse local [artigo 30, inciso V, da CB/88]. 2. Artigo 19 da Lei

    n. 260 --- segunda situao --- linha de transporte que excede o territrio criado,para alcanar o do Municpio originrio. Inconstitucionalidade do ato que viabilizaque o servio pblico de transporte municipal transforme-se em servio pblico detransporte intermunicipal. 3. A licitao um procedimento que visa satisfao do interesse pblico, pautando-se pelo princpio da isonomia. Estvoltada a um duplo objetivo: o de proporcionar Administrao apossibilidade de realizar o negcio mais vantajoso --- o melhor negcio --- e ode assegurar aos administrados a oportunidade de concorrerem, emigualdade de condies, contratao pretendida pela Administrao.Imposio do interesse pblico, seu pressuposto a competio.Procedimento que visa satisfao do interesse pblico, pautando-se peloprincpio da isonomia, a funo da licitao a de viabilizar, atravs da maisampla disputa, envolvendo o maior nmero possvel de agentes econmicos

    capacitados, a satisfao do interesse pblico. A competio visada pelalicitao, a instrumentar a seleo da proposta mais vantajosa para a

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    Administrao, impe-se seja desenrolada de modo que reste assegurada aigualdade (isonomia) de todos quantos pretendam acesso s contrataes da

    Administrao. 4. A converso automtica de permisses municipais empermisses intermunicipais afronta a igualdade --- artigo 5 ---, bem assim opreceito veiculado pelo artigo 175 da Constituio do Brasil. 5.Inconstitucionalidade dos preceitos que conferem vantagem s empresas

    permissionrias dos servios de transporte coletivo intermunicipal no Estado deRondnia. Criao de benefcio indevido. Afronta ao princpio da isonomia,igualdade entre todos quantos pretendam acesso s contrataes daAdministrao. 6. A lei pode, sem violao do princpio da igualdade,distinguir situaes, a fim de conferir a uma tratamento diverso do queatribui a outra. Para que possa faz-lo, contudo, sem que tal violao semanifeste, necessrio que a discriminao guarde compatibilidade com ocontedo do princpio. 7. A Constituio do Brasil exclui quaisquer exigncias dequalificao tcnica e econmica que no sejam indispensveis garantia documprimento das obrigaes. A discriminao, no julgamento da concorrncia, queexceda essa limitao inadmissvel. 8. Ao direta julgada procedente paradeclarar inconstitucionais os artigos 16 e 19, e seu pargrafo, da Lei n. 260/90 doEstado de Rondnia.

    (AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE . ADI 2716 / RO RONDNIA.rgo julgador: Tribunal Pleno. Ministro relator: Eros Grau. Data do julgamento:29/11/2007.)

    Note-se, contudo, que tal princpio no absoluto. O mesmo artigo 3

    excees isonomia.

    Por exemplo, tem-se o 2 do referido artigo 3, que assegura, em

    igualdade de condies, como critrio de desempate, preferncia, sucessivamente,

    aos bens e servios:

    I - produzidos ou prestados por empresas brasileiras de capital

    nacional;

    II - produzidos no Pas;

    III - produzidos ou prestados por empresas brasileiras;

    IV - produzidos ou prestados por empresas que invistam em

    pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no Pas.

    No obstante, a Lei Complementar n 123/06 criou excees ao

    princpio da isonomia, concebido strictu sensu, em favor das microempresas e

    empresas de pequeno porte, com o escopo de garantir a igualdade substancial

    dessas com as empresas de maior porte. Nesse sentido o entendimento de Celso

    Antonio Bandeira de MELLO, segundo o qual os benefcios concedidos s

    microempresas e empresas de pequeno porte correspondem, na verdade, (...) umexemplo paradigmtico da aplicao positiva (ou seja, no meramente negativa) do

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    princpio da igualdade, o qual, como sabido, conforta tratamentos distintos para

    situaes distintas, sempre que exista uma correlao lgica entre o fator

    discriminante e a diferena de tratamento. (MELLO, 2007, p. 505)

    Conforme dispe o artigo 47 da Lei complementar n. 123/06:

    Art. 47. Nas contrataes pblicas da Unio, dos Estados e dos Municpios, poderser concedido tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas eempresas de pequeno porte objetivando a promoo do desenvolvimentoeconmico e social no mbito municipal e regional, a ampliao da eficincia daspolticas pblicas e o incentivo inovao tecnolgica, desde que previsto eregulamentado na legislao do respectivo ente.

    O artigo 485, por sua vez, disciplina o dispositivo transcrito supra.

    Ainda dentre essas excees tem-se a postergao do dever de asmicroempresas e empresas de pequeno porte comprovarem sua regularidade

    fiscal, o qual ser exigvel somente para efeito de assinatura do contrato em

    oposio as demais licitantes devem realizar essa comprovao na fase inicial de

    habilitao. Os artigos 44 e 45, por sua vez, garantem preferncia contratao de

    microempresas e de empresas de pequeno porte na hiptese de empate, dispondo:

    Art. 44. Nas licitaes ser assegurada, como critrio de desempate, preferncia decontratao para as microempresas e empresas de pequeno porte. 1 Entende-se por empate aquelas situaes em que as propostas apresentadaspelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou at 10% (dezpor cento) superiores proposta mais bem classificada. 2 Na modalidade de prego, o intervalo percentual estabelecido no 1o desteartigo ser de at 5% (cinco por cento) superior ao melhor preo.

    Art. 45. Para efeito do disposto no art. 44 desta Lei Complementar, ocorrendo oempate, proceder-se- da seguinte forma:

    5Art. 48. Para o cumprimento do disposto no art. 47 desta Lei Complementar, a administrao

    pblica poder realizar processo licitatrio:I - destinado exclusivamente participao de microempresas e empresas de pequeno porte nascontrataes cujo valor seja de at R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);II - em que seja exigida dos licitantes a subcontratao de microempresa ou de empresa de pequenoporte, desde que o percentual mximo do objeto a ser subcontratado no exceda a 30% (trinta porcento) do total licitado;III - em que se estabelea cota de at 25% (vinte e cinco por cento) do objeto para a contratao demicroempresas e empresas de pequeno porte, em certames para a aquisio de bens e servios denatureza divisvel. 1o O valor licitado por meio do disposto neste artigo no poder exceder a 25% (vinte e cinco porcento) do total licitado em cada ano civil. 2o Na hiptese do inciso II do caput deste artigo, os empenhos e pagamentos do rgo ou

    entidade da administrao pblica podero ser destinados diretamente s microempresas eempresas de pequeno porte subcontratadas.

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    I - a microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem classificada poderapresentar proposta de preo inferior quela considerada vencedora do certame,situao em que ser adjudicado em seu favor o objeto licitado;II - no ocorrendo a contratao da microempresa ou empresa de pequeno porte,na forma do inciso I do caput deste artigo, sero convocadas as remanescentes queporventura se enquadrem na hiptese dos 1o e 2o do art. 44 desta Lei

    Complementar, na ordem classificatria, para o exerccio do mesmo direito;III - no caso de equivalncia dos valores apresentados pelas microempresas eempresas de pequeno porte que se encontrem nos intervalos estabelecidos nos 1o e 2o do art. 44 desta Lei Complementar, ser realizado sorteio entre elas paraque se identifique aquela que primeiro poder apresentar melhor oferta.

    Ressalte-se que o tratamento diferenciado previsto na Lei

    Complementar n. 123/06 no fere o texto constitucional, posto que esse prev

    expressamente a possibilidade de preferncias s micro e pequenas empresas em

    seu artigo 170, inciso IX e no artigo 179. Nesse sentido, tem-se jurisprudncia do

    Tribunal de Contas da Unio:

    Nada obstante a existncia do preceito constitucional da realizao de licitaopara as contrataes pblicas com o objetivo de melhor atendimento ao interessepblico, assegurado o tratamento isonmico entre os participantes, no h que seolvidar que tambm princpio constitucional o tratamento favorecido sempresas de pequeno porte (CF/88, arts. 170, IX e 179), com o justo intuito dealar condio de iguais sujeitos desiguais. Creio que esses princpios no seantagonizam, ao contrrio. Formam um todo harmnico em busca, justamente, daalmejada isonomia, da igualdade.Penso, ainda, no ter sido outro o esprito com que o legislador ordinrio

    promulgou a LC 123/2006, estabelecendo as normas gerais relativas aotratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado s microempresas eempresas de pequeno porte no mbito dos Poderes da Unio, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municpios, e o Executivo baixou o Decreto n. 6.204/2007,regulamentando o tratamento favorecido, diferenciado e simplificado a seraplicado aos entes em questo nas contrataes pblicas no mbito daAdministrao Federal.Alm do mais, como bem assentou o representante do parquet, o atendimento aointeresse pblico visado pelo instituto da licitao, lato sensu, compreende no sa melhor proposta financeira, mas tambm fomentar a ampliao da oferta de bense servios, inibindo a formao de estruturas anmalas de mercado.Dessa forma, no vejo como prosperar a tese de inconstitucionalidade aventada.

    (TCU. Acrdo n. 1.231/2008. rgo julgador: Plenrio. Ministro relator:Guilherme Palmeira)

    necessrio, todavia, que o instrumento de edital seja explcito

    quanto ao tratamento diferenciado a ser concedido s micro e pequenas empresas,

    como determina o artigo 48 da mesma Lei complementar.

    2.3. Sigilo na apresentao das propostas

    A Lei n. 8.666/93 no prev expressamente o princpio do sigilo naapresentao das propostas, mas prescreve, em seu artigo 3, 3, que o seu

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    contedo no pblico nem acessvel ao pblico at o momento previsto para sua

    abertura.

    Explica Hely Lopes MEIRELLES que tal princpio consectrio da

    igualdade entre os licitantes, pois ficaria em posio vantajosa o proponente queviesse a conhecer a proposta de seu concorrente antes da apresentao da sua.

    Observa ainda que a abertura da documentao ou das propostas ou a revelao

    de seu contedo antecipadamente, alm de ensejar a anulao do procedimento,

    constitui tambm ilcito penal, com pena de deteno e multa, conforme

    determina o artigo 94 da Lei federal n. 8.666. (MEIRELLES, 2010, p. 285)

    A jurisprudncia tambm assinala a importncia da preservao do

    sigilo das propostas apresentadas pelos licitantes, conforme denota-se dos

    seguintes julgados:

    Mandado de Segurana. Licitao de Telefonia Mvel Celular. Liminar Deferida eCassada. Agravo Regimental Cumulado com Providncia Acautelatria. Cabimento.Parcial Provimento. Lei 1.533/51 (art. 7, II). Lei 4.348/64 (art. 4). RISTJ, Artigos258 e 259.1. No cenculo de acirrada polmica doutrinria e jurisprudencial, ocorrendoreconsiderao por ato do relator, o caso concreto favorece a afirmao docabimento de Agravo Regimental para obstar os efeitos da deciso que, sem

    afeioar-se "suspenso" (art. 4, Lei 4.348/64), desconstituiu a liminarinicialmente deferida.2. Demonstrada a urgncia, presente objetiva situao de perigo e divisada afumaa do bom direito, com louvaes instrumentalidade e efetividade doprocesso, urge fincar providncia urgente para resguardar a parte contra airreparabilidade de danos. Salvaguarda liminar garantindo que os envelopescom a proposta da Impetrante permaneam fechados e lacrados, sob acustdia do Presidente da Comisso de Licitao, at o julgamento do Mandadode Segurana.3. Precedentes jurisprudenciais.4. Agravo Regimental parcialmente provido.(AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANA. AgRg no MS 5289 / DF.rgo julgador: Primeira Seo. Ministro Relator: Milton Luiz Pereira. Data do

    julgamento: 13/08/1998. Publicao DJ: 21/09/1998, p. 42)

    ADMINISTRATIVO. PRESTAO DE SERVIOS. LICITAO.NULIDADE. COMO TAL SE CONFIGURA A LICITAO EM CUJAINTERRUPO SE TORNARAM CONHECIDOS OS PREOS DOSCONCORRENTES.(MANDADO DE SEGURANA. MS 4690 / DF. rgo Julgador: rgoEspecial Ministro Relator: Demcrito Reinaldo. Data do Julgamento:20/08/1997 Publicao DJ: 29/09/1997, p. 48.100)

    2.4. Vinculao ao Instrumento Convocatrio

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    Previsto no artigo 41 da Lei n. 8.666/93, o referido princpio

    compreendido como garantia do administrador e dos administrados, ao

    corroborar que as regras traadas para o procedimento devem ser fielmente

    observadas por todos.

    Dispe o artigo 41, caput:

    Art. 41. A Administrao no pode descumprir as normas e condies do edital, aoqual se acha estritamente vinculada.

    O princpio da vinculao ao instrumento convocatrio permite que

    se mantenham inalterados de critrios de julgamento, garantindo a isonomia no

    certame licitatrio a todos os participantes. Alm disso, d certeza aos

    interessados das pretenses da Administrao.

    Conforme assevera Maral JUSTEN FILHO, o edital o fundamento

    de validade dos atos praticados no curso da licitao, na acepo de que a

    desconformidade entre o edital e os atos administrativos praticados no curso da

    licitao se resolve pela invalidade destes ltimos (...) o descumprimento s regras

    do edital acarreta a nulidade dos atos infringentes. (JUSTEN FILHO, 2009, p. 543)

    A jurisprudncia consoante doutrina, conforme se extrai daleitura do seguinte acrdo do Superior Tribunal de Justia:

    ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL EM MANDADO DE SEGURANA.LICITAO. ALEGADA VIOLAO DO ART. 41 DA LEI 8.666/93. NO-OCORRNCIA. SESSO PBLICA DE RECEBIMENTO DOS ENVELOPES. ATRASONO-VERIFICADO. DOUTRINA. PRECEDENTE. DESPROVIMENTO.1.A Administrao Pblica no pode descumprir as normas legais, tampoucoas condies editalcias, tendo em vista o princpio da vinculao aoinstrumento convocatrio (Lei 8.666/93, art. 41).2. A recorrida no violou o edital, tampouco a regra constante do art. 41 da Lei

    8.666/93, porquanto compareceu sesso pblica de recebimento de envelopes s8h31min, ou seja, dentro do prazo de tolerncia (cinco minutos) concedido pelaprpria comisso licitante. Com efeito, no houve atraso que justificasse o no-recebimento da documentao e da proposta.3. Rigorismos formais extremos e exigncias inteis no podem conduzir ainterpretao contrria finalidade da lei, notadamente em se tratando deconcorrncia pblica, do tipo menor preo, na qual a existncia de vriosinteressados benfica, na exata medida em que facilita a escolha da propostaefetivamente mais vantajosa (Lei 8.666/93, art. 3).4. Recurso especial desprovido.(RECURSO ESPECIAL. REsp 797179 / MT. rgo julgador: Primeira Turma.Ministro Relator: Denise Arruda. Data do julgamento: 19/10/2006 Publicao DJ:07/11/2006, p. 253)

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    RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. CONCORRNCIAPBLICA. PROPOSTA FINANCEIRA SEM ASSINATURA. DESCLASSIFICAO.PRINCPIOS DA VINCULAO AO INSTRUMENTO CONVOCATRIO E DOJULGAMENTO OBJETIVO. 1. Se o licitante apresenta sua proposta financeira semassinatura ou rubrica, resta caracterizada, pela apocrifia, a inexistncia dodocumento. 2. Impe-se, pelos princpios da vinculao ao instrumento

    convocatrio e do julgamento objetivo, a desclassificao do licitante queno observou exigncia prescrita no edital de concorrncia. 3. A observnciaao princpio constitucional da preponderncia da proposta mais vantajosapara o Poder Pblico se d mediante o cotejo das propostas vlidasapresentadas pelos concorrentes, no havendo como incluir na avaliao aoferta eivada de nulidade. 4. imprescindvel a assinatura ou rubrica do licitantena sua proposta financeira, sob pena de a Administrao no poder exigir-lhe ocumprimento da obrigao a que se sujeitou. 5. Negado provimento ao recurso.(RECURSO EM MANDADO DE SEGURANA. RMS 23640 / DF - DISTRITO FEDERAL.rgo julgador: Segunda Turma. Ministro relator: Maurcio Corra. Data doljulgamento: 16/10/2001. Publicao DJ: 05/12/2003, p. 38)

    2.5. Julgamento ObjetivoConforme estipula a Lei n. 8.666/93, com previso em seus artigos 3

    e 44, a avaliao das propostas deve acontecer de maneira estritamente vinculada

    aos critrios legais e do edital.

    Hely Lopes MEIRELLES explica que o referido princpio visa afastar

    o discricionarismo na escolha das propostas, obrigando os julgadores a aterem-se

    ao critrio prefixado pela Administrao, com o qu se reduz e se delimita a

    margem de valorao subjetiva, sempre presente em qualquer julgamento.

    (MEIRELLES, 2010, p. 286)

    Maral JUSTEN FILHO aduz que existe discricionariedade no

    momento em que a Administrao Pblica elabora o edital, escolhendo os critrios

    de julgamento que acarretam na definio do tipo de licitao. Porm, tal

    discricionariedade se exaure nesse momento, no podendo se estender avaliao

    das propostas, quando vedada toda e qualquer forma de subjetividade na atuao

    do ente administrativo. Note-se que tal princpio tem tambm como escopo a

    garantia da isonomia no tratamento dos licitantes. (JUSTEN FILHO, 2009, pp. 587-

    588)

    2.6. Adjudicao Obrigatria

    O princpio da adjudicao compulsria impe Administrao

    Pblica o dever de no atribuir o objeto a outrem, seno o vencedor doprocedimento licitatrio.

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    Hely Lopes Meirelles explica que a adjudicao ao vencedor

    obrigatria, salvo se este desistir expressamente do contrato ou no o firmar no

    prazo prefixado, a menos que comprove justo motivo. (MEIRELLES, 2010, p. 286)

    Mister se faz destacar as diferenas entre adjudicao e celebraodo contrato, pois possvel para a Administrao Pblica revogar, anular ou adiar

    a celebrao do contrato. O que o princpio em tela veda que, enquanto vlida a

    licitao, o Poder Pblico celebre o contrato com sujeito diverso daquele que

    ofereceu a proposta definida como mais vantajosa. No obstante, impede tambm

    que enquanto vlida aquela licitao, o ente administrativo realize novo

    procedimento licitatrio com o mesmo objeto.

    2.7. Economicidade

    A economicidade, assim como a vantajosidade que segundo Maral

    JUSTEN FILHO abrange a primeira so decorrncias do princpio da eficincia, o

    qual, por sua vez, encontra respaldo na concepo de indisponibilidade do

    interesse pblico. (JUSTEN FILHO, 2009, p. 64)

    Diante da escassez de recursos, a prpria Constituio da Repblica,

    em especial aps a edio da Emenda Constitucional n. 19/98, de Reforma

    Administrativa, impe o dever de otimizao na utilizao do patrimnio pblico,

    de modo a se produzir os melhores resultados econmicos, tanto do ponto de vista

    quantitativo e qualitativo. Nesse sentido, mediante a realizao de procedimento

    licitatrio, a Administrao Pblica busca a celebrao do melhor contrato

    realizao do interesse pblico, com o menor dispndio de recursos possvel.

    Deve-se destacar, entretanto, que o princpio no permite a definio

    do objeto exclusivamente sob o aspecto econmico, no podendo ser olvidados os

    aspectos qualitativos. No obstante, a economicidade permite tambm uma

    margem de discricionariedade ao agente pblico, para que em situaes concretas

    busque a resposta que possua melhores condies de satisfazer o interesse

    pblico.

    2.8 Promoo do desenvolvimento nacional sustentvel

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    A Lei n 12.349/10 promoveu alterao ao artigo 3 da Lei n

    8.666/93 para incluir o desenvolvimento nacional sustentvel como princpio a ser

    perseguido pelas licitaes.

    A ampliao das dimenses das licitaes pblicas segue uma novatendncia do Direito Administrativo brasileiro. A atividade contratual do Estado

    brasileiro tem adquirido uma dimenso macroeconmica6, superando as

    finalidades histricas da Lei Geral de Licitaes (Lei n 8.666/93). Criada num

    contexto poltico conturbado da Histria brasileira, a Lei n 8.666/93 foi planejada

    para transformar as licitaes pblicas em instrumento de contenso do exerccio

    abusivo de poder pelos agentes pblicos desprovidos de boa-f7.

    Contudo, medida que o Estado brasileiro foi reduzindo sua

    presena interventiva em diversos segmentos da vida econmico-social do pas,

    focando-se no fomento e orientao das atividades dos particulares voltadas

    concretizao das utilidades pblicas, as licitaes pblicas deixaram de se resumir

    busca por bens, servios e obras ao Poder Pblico.

    Atualmente, as escolhas administrativas do Estado dependem de

    uma anlise sistmica do interesse pblico, de forma a atender aos direitos

    fundamentais dos indivduos e s determinaes constitucionais a que se sujeita.

    Assim, a alterao trazida pela Lei n 12.349/10 adequa-se

    tendncia da Administrao Pblica em buscar atender a uma pluralidade de

    finalidades por meio dos instrumentos licitatrios.

    O desenvolvimento nacional sustentvel passa a ser um objetivo

    legtimo em toda e qualquer contratao administrativa, de forma a dirigir a

    competitividade dos licitantes.

    3. Dispensa e Inexigibilidade de Licitao

    A Constituio da Repblica, em seu artigo 37, inciso XXI, faz ressalva

    obrigatoriedade de licitao a determinados casos, devidamente especificados na

    6JUSTEN FILHO, Maral. Desenvolvimento Nacional Sustentado Contrataes administrativas e o

    Regime introduzido pela Lei n 12.349/10. Contrataes Sustentveis. n 745/210, ago. 2011.7SOUTO, Marcos Juruena Villela. O Novo Marco Jurdico das Licitaes. Ponto de Vista, n 103/120,

    fev. 2004.

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    legislao. Denota-se, portanto, a existncia de situaes em que no ser

    obrigatria a realizao de processo licitatrio para celebrao de contrato pela

    Administrao Pblica.

    Nessa gide que esto situadas as hipteses de dispensa e deinexigibilidade de licitao, cuja previso se encontra, respectivamente, nos artigos

    24 e 25 da Lei federal n. 8.666/93.

    Haver dispensa somente nos casos especificados no artigo 24 da Lei

    de Licitaes, que traz rol taxativo das situaes nas quais, mesmo existindo

    possibilidade de competio pressuposto para que se efetue procedimento

    licitatrio o ente administrativo poder optar, por razes devidamente

    fundamentadas de convenincia e oportunidade, por realizar a contratao de

    modo direto.

    Diversamente, a hiptese de inexigibilidade de licitao pressupe a

    impossibilidade de competio. Nesse caso, entende-se que as situaes elencadas

    no artigo 25 da Lei federal 8.666/93 constituem rol meramente exemplificativo,

    uma vez que pode haver outras situaes diversas daquelas ali expostas em que

    inexistir competitividade. De acordo com o referido artigo 25:

    Art. 25. inexigvel a licitao quando houver inviabilidade de competio, emespecial:I - para aquisio de materiais, equipamentos, ou gneros que s possam serfornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada apreferncia de marca, devendo a comprovao de exclusividade ser feita atravsde atestado fornecido pelo rgo de registro do comrcio do local em que serealizaria a licitao ou a obra ou o servio, pelo Sindicato, Federao ouConfederao Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;II - para a contratao de servios tcnicos enumerados no art. 13 desta Lei, denatureza singular, com profissionais ou empresas de notria especializao,

    vedada a inexigibilidade para servios de publicidade e divulgao;III - para contratao de profissional de qualquer setor artstico, diretamente ouatravs de empresrio exclusivo, desde que consagrado pela crtica especializadaou pela opinio pblica. 1 Considera-se de notria especializao o profissional ou empresa cujoconceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior,estudos, experincias, publicaes, organizao, aparelhamento, equipe tcnica, oude outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seutrabalho essencial e indiscutivelmente o mais adequado plena satisfao doobjeto do contrato.

    Tratando do tema, Maria Sylvia Zanella DI PIETRO afirma que a

    diferena bsica entre as duas hipteses est no fato de que, na dispensa, hpossibilidade de competio que justifique a licitao; de modo que a lei faculta a

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    dispensa, que fica inserida na competncia discricionria da Administrao. Nos

    casos de inexigibilidade, no h possibilidade de competio, porque s existe um

    objeto ou uma pessoa que atenda s necessidades da Administrao; a licitao ,

    portanto, invivel. (DI PIETRO, 2010, p. 365)

    A jurisprudncia traz entendimento consoante doutrina, conforme

    se extrai dos seguintes julgados:

    EMENTA: AO PENAL PBLICA. CONTRATAO EMERGENCIAL DE ADVOGADOSFACE AO CAOS ADMINISTRATIVO HERDADO DA ADMINISTRAO MUNICIPALSUCEDIDA. LICITAO. ART. 37, XXI DA CONSTITUIO DO BRASIL. DISPENSA DELICITAO NO CONFIGURADA. INEXIGIBILIDADE DE LICITAOCARACTERIZADA PELA NOTRIA ESPECIALIZAO DOS PROFISSIONAISCONTRATADOS, COMPROVADA NOS AUTOS, ALIADA CONFIANA DA

    ADMINISTRAO POR ELES DESFRUTADA. PREVISO LEGAL. A hiptese dosautos no de dispensa de licitao, eis que no caracterizado o requisito daemergncia. Caracterizao de situao na qual h inviabilidade decompetio e, logo, inexigibilidade de licitao. 2. "Servios tcnicosprofissionais especializados" so servios que a Administrao deve contratar semlicitao, escolhendo o contratado de acordo, em ltima instncia, com o grau deconfiana que ela prpria, Administrao, deposite na especializao dessecontratado. Nesses casos, o requisito da confiana da Administrao em quemdeseje contratar subjetivo. Da que a realizao de procedimento licitatrio paraa contratao de tais servios - procedimento regido, entre outros, pelo princpiodo julgamento objetivo - incompatvel com a atribuio de exerccio desubjetividade que o direito positivo confere Administrao para a escolha do

    "trabalho essencial e indiscutivelmente mais adequado plena satisfao do objetodo contrato" (cf. o 1 do art. 25 da Lei 8.666/93). O que a norma extrada dotexto legal exige a notria especializao, associada ao elemento subjetivoconfiana. H, no caso concreto, requisitos suficientes para o seu enquadramentoem situao na qual no incide o dever de licitar, ou seja, de inexigibilidade delicitao: os profissionais contratados possuem notria especializao,comprovada nos auto s, alm de desfrutarem da confiana da Administrao. AoPenal que se julga improcedente.(AO PENAL . AP 348 / SC. rgo Julgador: Tribunal Pleno. Ministro Relator: ErosGrau. Julgamento: 15/12/2006. Publicao DJ: 03/08/2007, p. 30)

    RECURSO ESPECIAL. AO CIVIL PBLICA. CONTRATO PARA REALIZAO DESERVIOS TCNICOS ESPECIALIZADOS, MAS NO SINGULARES. ESCRITRIO DE

    ADVOCACIA. LICITAO. DISPENSA.1. Os servios descritos no art. 13 da Lei n. 8.666/93, para que sejamcontratados sem licitao, devem ter natureza singular e ser prestados porprofissional notoriamente especializado, cuja escolha est adstrita discricionariedade administrativa.2. Estando comprovado que os servios jurdicos de que necessita o ente pblicoso importantes, mas no apresentam singularidade, porque afetos ramo dodireito bastante disseminado entre os profissionais da rea, e nodemonstrada a notoriedade dos advogados em relao aos diversos outros,tambm notrios, e com a mesma especialidade que compem o escritriode advocacia contratado, decorre ilegal contratao que tenha prescindidoda respectiva licitao.3. Recurso especial no-provido.

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    (RECURSO ESPECIAL. REsp 436869 / SP. rgo julgador: Segunda Turma. Ministrorelator: Joo Otvio Noronha. Data do julgamento. 06/12/2005 Publicao DJ:01/02/2006, p. 477)

    desprovido de amparo legal o contrato emergencial firmado em decorrncia dedispensa de licitao, quando o objeto almejado dependa de estudos preliminares,

    cujo tempo necessrio para concluso descaracterize a urgncia da contratao.(TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO. Acrdo n. 1.889/2006. rgo julgador:Plenrio. Ministro Relator: Ubiratan Aguiar).

    4. Modalidades

    A Lei n. 8.666/93, em seu artigo 22, prev 5 (cinco) modalidade de

    licitao, quais sejam a concorrncia, a tomada de preos, o convite, o concurso e o

    leilo. Posteriormente, por intermdio da Lei federal n. 10.520/2002, foi instituda

    nova modalidade, qual seja, o prego.

    Concorrncia a modalidade de licitao entre quaisquer

    interessados que, na fase inicial de habilitao preliminar, comprovem possuir os

    requisitos mnimos de qualificao exigidos no edital para execuo de seu objeto

    (art. 22, 1). Geralmente utilizada para contratos de grande valor, a concorrncia

    a modalidade de licitao que exige maior rigor formal e ampla divulgao, com a

    publicao do aviso de edital tanto no dirio oficial como em jornais de grande

    circulao.Tomada de preos a modalidade de licitao entre interessados

    devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condies exigidas para

    cadastramento at o terceiro dia anterior data do recebimento das propostas,

    observada a necessria qualificao (art. 22, 2). Importante ressaltar que a

    Administrao somente poder exigir do licitante no cadastrado os documentos

    previstos nos artigos 27 e 31 da Lei federal n. 8.666/93, que comprovem

    habilitao compatvel com o objeto da licitao, nos termos do edital, conformecorrobora o artigo 22, 9 da lei em questo.

    Convite a modalidade de licitao entre interessados do ramo

    pertinente ao seu objeto, cadastrados ou no, escolhidos e convidados em nmero

    mnimo de trs pela unidade administrativa. O ente administrativo licitante dever

    fixar, em local apropriado, cpia do instrumento convocatrio, estendendo a

    participao aos demais cadastrados na correspondente especialidade que

    manifestarem seu interesse com antecedncia de at 24 (vinte e quatro) horas ao

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    momento definitivo para apresentao das propostas (art. 22, 3). Existindo na

    praa mais de trs possveis interessados, a cada novo convite realizado para

    objeto idntico ou assemelhado obrigatrio o convite a, no mnimo, mais de um

    interessado, enquanto existirem cadastrados no convidados nas ltimas licitaes

    (art. 22, 6). Sendo impossvel a obteno de trs licitantes, as circunstncias que

    ensejaram tal impossibilidade devero ser devidamente justificadas no processo,

    sob pena de repetio do convite (art. 22, 7).

    Concurso a modalidade de licitao entre quaisquer interessados

    para escolha de trabalho tcnico, cientfico ou artstico, mediante a instituio de

    prmios ou remunerao aos vencedores, conforme critrios constantes de edital

    publicado na imprensa oficial com antecedncia mnima de 45 (quarenta e cinco)dias (art. 22, 4).

    Leilo a modalidade de licitao entre quaisquer interessados para

    a venda de bens mveis inservveis para a Administrao ou de produtos

    legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienao de bens imveis

    adquiridos em procedimentos judiciais ou mediante dao em pagamento, a quem

    oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliao (art. 22, 5).

    Prego a modalidade simplificada de licitao instituda pela Lei

    federal n. 10.520/2002 passvel de utilizao por todos os entes federados, para

    aquisio de bens e servios comuns, no se importando o valor do contrato.

    Consideram-se bens e servios comuns aqueles cujos padres de desempenho e

    qualidade possam ser objetivamente definidos no edital, por meio de

    especificaes usuais praticados no mercado (art. 1, pargrafo nico, da Lei

    federal n. 10.520/2002). O prego tem como caracterstica ser um procedimento

    mais clere, se comparado concorrncia. Os prazos internos do certame so mais

    curtos e vedada a exigncia de garantia da proposta, diferentemente do que

    ocorre na concorrncia. O regramento da Lei federal n. 8.666/93 incide

    subsidiariamente sobre essa modalidade, no que no colidir com a regulamentao

    da lei especfica.

    5. Fases da licitao

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    As fases do processo licitatrio podem variar de acordo com cada

    modalidade de licitao. Na tomada de preos e no convite, por exemplo, a fase de

    habilitao simplificada; no prego h inverso da ordem de fases, sendo a fase

    de habilitao postergada, ocorrendo somente aps o julgamento das propostas.

    Todavia, abertura do procedimento licitatrio ao pblico, mediante

    publicao de aviso de licitao e do respectivo edital, prescinde uma srie de

    procedimentos internos, que integram desde logo um processo administrativo, ao

    qual sero, posteriormente, juntados todos os documentos relativos ao

    procedimento tal como o edital publicado, as propostas dos interessados, atas da

    comisso julgadora, dentre outros. Conforme dispe o artigo 38, da Lei federal n.

    8.666/93:

    Art. 38. O procedimento da licitao ser iniciado com a abertura de processoadministrativo, devidamente autuado, protocolado e numerado, contendo aautorizao respectiva, a indicao sucinta de seu objeto e do recursoprprio para a despesa, e ao qual sero juntados oportunamente:I - edital ou convite e respectivos anexos, quando for o caso;II - comprovante das publicaes do edital resumido, na forma do art. 21 desta Lei,ou da entrega do convite;III - ato de designao da comisso de licitao, do leiloeiro administrativo ouoficial, ou do responsvel pelo convite;

    IV - original das propostas e dos documentos que as instrurem;V - atas, relatrios e deliberaes da Comisso Julgadora;VI - pareceres tcnicos ou jurdicos emitidos sobre a licitao, dispensa ouinexigibilidade;VII - atos de adjudicao do objeto da licitao e da sua homologao;VIII - recursos eventualmente apresentados pelos licitantes e respectivasmanifestaes e decises;IX - despacho de anulao ou de revogao da licitao, quando for o caso,fundamentado circunstanciadamente;X - termo de contrato ou instrumento equivalente, conforme o caso;XI - outros comprovantes de publicaes;XII - demais documentos relativos licitao.Pargrafo nico. As minutas de editais de licitao, bem como as dos contratos,

    acordos, convnios ou ajustes devem ser previamente examinadas e aprovadas porassessoria jurdica da Administrao.

    Tem-se, portanto, que o ente administrativo interessado em realizar

    a contratao dever formalizar este interesse, expondo e justificando os fatos que

    fundamentam a necessidade da contratao pretendida e descrevendo de modo

    preciso o objeto da contratao intentada.

    Ante tais argumentos, a autoridade competente para autorizar a

    deflagrao da licitao ou da sua dispensa ou inexigibilidade, conforme o caso

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    concreto, manifestar-se-, dando incio ao procedimento ou entendendo pelo seu

    no cabimento.

    O processo dever incluir a cotao de valores de mercado referentes

    ao objeto em questo, de modo a possibilitar Administrao Pblica a definiode um valor referencial e a indicao da dotao oramentria que suportar as

    despesas decorrentes do futuro contrato. Tambm dever ser juntado parecer

    jurdico, analisando a legalidade do procedimento e fundamentando a modalidade

    licitatria escolhida, ou a hiptese de contratao direta. S ento ser elaborado o

    instrumento editalcio, designada a comisso de licitao responsvel e publicado

    o edital. A partir desse momento tem incio a fase externa da licitao.

    O procedimento externo desenvolvido segundo as seguintes fases:

    abertura da licitao, habilitao dos licitantes, julgamento e classificao das

    propostas, homologao e adjudicao.

    5.1. Publicao do Edital

    De acordo com Odete Medauar, depois de providncias internas da

    Administrao e do prvio exame e aprovao da respectiva assessoria jurdica, oedital publicado e partir da desencadeiam-se as demais fases, se houver

    propostas apresentadas. (MEDAUAR, 2010, pp. 199-200)

    Uma vez publicado o edital, tanto a Administrao Pblica quanto os

    licitantes interessados participantes do procedimento esto a ele vinculados, bem

    como o contrato a ser posteriormente firmado entre as partes. Conforme assevera

    Maria Sylvia Di Pietro, o edital a lei da licitao e do contrato, pois o que nele se

    contiver deve ser rigorosamente cumprido, sob pena de nulidade. (DI PIETRO,2010, p. 390)

    A Lei n. 8.666/93, em seu artigo 40, prev minuciosamente os dados

    que obrigatoriamente devem estar contidos no edital.

    5.2. Habilitao

    A habilitao a fase do certame licitatrio em que se objetiva aanlise das condies de qualificao daqueles que pretendem contratar com a

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    administrao pblica, para que se verifique se os licitantes detm condies para

    celebrar e executar o futuro contrato.

    A Constituio Federal de 1988 determina, em seu artigo 37 XXI, que

    somente sero permitidas as exigncias de qualificao tcnica e econmicaindispensveis garantia do cumprimento das obrigaes.

    Por sua vez o artigo 27 da lei 8666/93, ao elencar os pressupostos

    exigveis pela administrao pblica para efeito de habilitao dos interessados em

    participar da licitao, determina que, para a habilitao nas licitaes exigir-se-

    dos interessados, exclusivamente, documentao relativa habilitao jurdica,

    qualificao tcnica, qualificao econmico-financeira, regularidade fiscal e

    trabalhista8, bem como o cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7 da

    Constituio Federal, referente proibio de trabalho noturno, perigoso ou

    insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis

    anos, salvo na condio de aprendiz, a partir de quatorze anos.

    A sistemtica adotada pela legislao aplicvel caminha no sentido

    de possibilitar, a verificao de tais condies em fases e momentos diferentes, de

    acordo com a modalidade de licitao adotada.

    Enquanto na concorrncia todos os requisitos habilitatrios so

    examinados previamente qualificao das propostas, no prego ocorre inverso

    de fases, sendo primeiramente classificadas e julgadas as propostas, e ento

    examinada a habilitao do licitante que formulou a melhor oferta Administrao

    Pblica.

    5.3. Classificao

    A fase de classificao consiste na abertura dos envelopes contendo

    as propostas dos concorrentes habilitados e na verificao de conformidade de

    cada proposta com os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preos

    correntes no mercado ou fixados por rgo oficial competente, ou ainda com os

    constantes do sistema de registro de preos.

    8 Exigncia introduzida pela Lei n 12.440 de 2011.

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    No sero admitidas propostas cujo valor seja irrisrio, simblico ou

    incompatvel com os preos de mercado.

    Caso o edital exija a apresentao de proposta tcnica e de proposta

    financeira, haver primeiro a classificao da proposta tcnica, e posteriormente afinanceira. Caso o licitante seja desclassificado na etapa referente ao exame da

    proposta tcnica, sua proposta financeira no ser apreciada pelo ente

    administrativo licitante, que devolver o envelope ainda fechado ao proponente.

    Sero desclassificadas, nos termos do que dispe o artigo 48, caput,

    da Lei federal n. 8.666/93 as propostas que no atendam s exigncias editalcias;

    cujo valor global seja superior ao limite legal definido para a modalidade em

    questo ou cujo valor seja inexeqvel.

    5.4. Julgamento

    Uma vez classificadas as propostas, e inexistindo recursos ou sendo a

    estes atribudo carter suspensivo, passa-se fase de julgamento etapa em que

    so confrontadas as propostas classificadas.

    Os critrios de julgamento caracterizaro o tipo de licitao em

    questo9. Constituem tipos de licitao, exceto na modalidade de concurso:

    I de menor preo: quando o critrio de seleo da proposta mais

    vantajosa para a Administrao determinar que ser o vencedor o licitante que

    apresentar a proposta de acordo com as especificaes do edital ou convite e

    ofertar o menor preo;

    II de melhor tcnica: quando o parmetro de julgamento ooferecimento de melhor tcnica para executar o objeto do futuro contrato. Nos

    termos do disposto no artigo 46 da Lei federal n. 8.666/93, a licitao de melhor

    tcnica deve ser utilizada para a contratao de servios de natureza

    preponderantemente intelectual.

    9 Nesse sentido, Odete MEDAUAR, In: MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. SoPaulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 195.

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    III de tcnica e preo: tal qual a modalidade melhor tcnica,

    aplica-se especialmente aos servios de natureza predominantemente intelectual,

    em especial na elaborao de projetos, estudos tcnicos, de consultoria, elaborao

    de clculos, engenharia consultiva, dentre outros. A classificao dos proponentes

    far-se- de acordo com a mdia ponderada das valorizaes das propostas tcnicas

    e de preo, de acordo com os pesos preestabelecidos no instrumento convocatrio,

    conforme determina o artigo 46, 2, incisos I e II, da Lei federal n. 8.666/93.

    IV de maior lance ou oferta: espcie destinada aos casos de

    alienao de bens ou concesso de direito real de uso.

    5.5 Homologao e adjudicao

    A homologao a fase da licitao na qual a autoridade superior

    confere validade aos atos processuais realizados durante o processo licitatrio.

    Ela precedida do exame dos atos que o integraram pela autoridade competente

    (indicada nas leis de cada unidade da federao), a qual, se verificar algum vcio de

    ilegalidade, anular o procedimento ou determinar seu saneamento, se cabvel. Se

    o procedimento estiver em ordem, ela o homologar. (DI PIETRO, 2010, p. 400)

    A adjudicao, por sua vez, ato declaratrio que no se confunde

    com a celebrao do contrato, pois, por meio dele, a Administrao proclama que o

    objeto da licitao entregue ao vencedor. Depois de praticado esse ato que a

    Administrao vai convoc-lo para assinar o contrato. (DI PIETRO, 2010, p. 400)

    Ressalte-se que a homologao e a adjudicao no impem

    Administrao Pblica o dever de celebrar o contrato em questo que poder no

    faz-lo em virtude de razes de oportunidade e convenincia devidamente

    justificadas. Porm, atribuem ao licitante vencedor o direito de, em o ente

    administrativo celebrando o contrato, ser o licitante a quem foi adjudicado o objeto

    o contratado, no podendo ele ser preterido.

    6. Anulao e Revogao

    O artigo 49 da Lei n. 8.666/93 prev o desfazimento do processo

    licitatrio a partir da revogao quando presentes razes de interesse pblicodecorrente de fato superveniente devidamente comprovado, bem como da

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    anulao quando presente alguma ilegalidade, podendo neste caso agir de ofcio ou

    por provocao de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente

    fundamentado.

    Note-se que na revogao, o desfazimento do ato no consequnciada ocorrncia de vcio ou defeito no procedimento licitatrio. Conforme bem

    assinala Maral JUSTEN FILHO,

    muito pelo contrrio. Somente se alude revogao se o ato for vlido e perfeito:se defeituoso, a Administrao dever efetivar sua anulao. A revogao se fundaem juzo que apura a convenincia do ato relativamente ao interesse sob tutela doEstado. No exerccio de competncia discricionria, a Administrao desfaz seu atoanterior por reput-lo incompatvel com as funes atribudas ao Estado. (...) Apspraticar o ato, a Administrao verifica que o interesse coletivo ou supra-

    individual poderia ser melhor satisfeito por outra via. Promover, ento, odesfazimento do ato anterior. (JUSTEN FILHO, 2009, p.641)

    A jurisprudncia clara quanto distino, conforme denota-se do

    seguinte fragmento de julgado do Supremo Tribunal Federal:

    Como se viu, o caso no de anulao (que suporia vcio de validez), mas demera revogao do processo licitatrio at ento vlido, antes dahomologao, sem repercusso alguma na esfera dos concorrentes originais.(AGRAVO DE INSTRUMENTO. AI n. 228.554/MG. Ministro relator: Cezar Peluso.

    Data do julgamento: 08/06/2004. Publicao DJ: 27/08/2004)

    Faz-se necessrio ressaltar que a revogao dever sempre ser

    motivada. Nesse sentido j se consolidou a jurisprudncia. A ttulo exemplificativo,

    tem-se:

    4. Os motivos que ensejaram a revogao do Prego, no qual a requerentehavia sagrado-se vencedora, foi o de que aps a realizao do certameconstatou-se que o preo oferecido pela requerente era superior aopraticado no mercado, motivo pelo qual, revela-se legtimo o ato revogatrioporquanto fulcrado no art. 49, da Lei n. 8.666/93 (...), o que evidencia a ausncia de

    fumus boni iuris. 5. Sob esse ngulo destaque-se, no sentido do parecer doMinistrio Pblico Federal, que: Com efeito, no errou o acrdo ao dizer que arevogao da licitao fora legal. Realmente, houve estrita observncia doart. 49 da Lei n. 8.666/93, pois o ato discricionrio, foi devidamentefundamentado e precedido de parecer da procuradoria estatal , que ordenou arealizao de ampla pesquisa e consulta (fls. 212-215, 216-232, 233, 235-242),constatando a Administrao que o preo oferecido pela Embratel nocorrespondia ao preo de mercado, fato de que somente teve conhecimentoposteriormente, apesar da pesquisa realizada durante a anlise das propostas.(MEDIDA CAUTELAR. MC n. 11.055/RS. rgo julgador: Primeira Turma. MinistroRelator: Luiz Fux. Data do julgamento: 16/05/2006. Publicao DJ: 08/06/2006)

    A anulao, por sua vez, decorre de vcio de legalidade, resultando nodesfazimento total ou parcial do procedimento. Pode ser declarada de ofcio ou

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    provocada. A ilegalidade na licitao enseja o dever de a Administrao Pblica

    declarar a nulidade do referido processo, uma vez que a Constituio da Repblica

    lhe impe, conforme dispe o artigo 37, a obrigao de agir consoantemente ao

    princpio da legalidade. Nesse sentido j afirmou o Superior Tribunal de Justia:

    1. A Administrao Pblica constatando vcios de qualquer natureza emprocedimento licitatrio tem o dever de anul-lo, em homenagem aosprincpios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade.(RECURSO ESPECIAL. REsp n. 686.220/RS. rgo julgador: Primeira Turma.Ministro relator: Jos Delgado. Data de julgamento: 17/02/2005. Publicao DJ:04/04/2005)

    Conforme dispe o pargrafo segundo do artigo 49 da Lei federal n.

    8.666/93, a nulidade do procedimento licitatrio induz do contrato. Contudo,

    nessa hiptese, a Administrao dever indenizar o contratado por aquilo que este

    j haja executado at a data da declarao da nulidade, bem como por outros

    prejuzos devidamente comprovados, conforme inteligncia do artigo 59,

    pargrafo nico da mesma lei.

    7. Lei n 12.462/11: Regime Diferenciado de Contrataes Pblicas - RDC

    A Lei n 12.462 de 05 de agosto de 2011 instituiu o RegimeDiferenciado de Contrataes Pblicas (RDC), que ser aplicado s licitaes e

    contratos necessrios realizao da Copa das Confederaes em 2013, Copa do

    Mundo de 2014 e dos Jogos Olmpicos e Paraolmpicos de 2016, bem como s de

    obras de infraestrutura e de contratao de servios para os aeroportos das

    capitais dos Estados da Federao distantes at 350 km (trezentos e cinquenta

    quilmetros) das cidades sedes dos referidos eventos.

    O RDC trouxe mudanas sensveis ao regime licitatrio emcomparao quele previsto pela Lei n 8.666/93. Corroborando este fato, h

    norma legal no sentido de que a expressa adoo deste novo regime afasta a

    aplicao das normas da Lei n 8.666/93 (art. 1, 2, Lei n 12.462/11), salvo se

    assim estiver estipulado.

    7.1. Possibilidade de indicao de marcas ou modelos.

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    O art. 7, inciso I da Lei n 12.462/11 autoriza a Administrao

    Pblica, de forma justificada, a indicar marcas ou modelos no instrumento

    convocatrio, caso haja necessidade de padronizar o objeto licitatrio ou na

    hiptese de determinado modelo ou marca ser o nico capaz de atender s

    necessidades do ente contratante.

    A Lei n 8.666/93 probe este tipo de referncia, no sentido de

    apontar marcas ou modelos exclusivos, salvo nos casos em que for tecnicamente

    justificvel, ou ainda quando o fornecimento de tais materiais e servios for feito

    sob o regime de administrao contratada, previsto e discriminado no ato

    convocatrio. (art. 7, 5).

    7.2. Contratao integrada

    Nas licitaes e contrataes de obras e servios de engenharia

    dever ser preferencialmente adotada a contratao integrada (art. 8, 1 e art.

    9). A contratao integrada permite que uma nica empresa seja responsvel pela

    elaborao e o desenvolvimento dos projetos bsico e executivo, a execuo de

    obras e servios de engenharia, a montagem, a realizao de testes, a pr-operao

    e todas as demais operaes necessrias e suficientes para a entrega final do

    objeto.

    Por outro lado, a Lei n 8.666/93 probe expressamente em

    participar do certame a empresa, isoladamente ou em consrcio, responsvel pela

    elaborao do projeto bsico ou executivo ou da qual o autor do projeto seja

    dirigente, gerente, acionista ou detentor de mais de 5% (cinco por cento) do capital

    com direito a voto ou controlador, responsvel tcnico ou subcontratado (art. 9,

    inc. I).

    7.3. Remunerao varivel

    O RDC permite que a Administrao Pblica estabelea, de forma

    motivada, remunerao varivel vinculada ao desempenho da empresa contratada

    para a realizao de obras e servios, inclusive de engenharia, com base em metas,

    padres de qualidade, critrios de sustentabilidade ambiental e prazo de entrega

    definidos no instrumento convocatrio e no contrato (art. 10, Lei n 12.462/11).

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    Por seu turno, a Lei n 8.666/93 no prev qualquer tipo de

    vantagem econmica adicional ao contratado, independentemente de desempenho

    ou cumprimento de metas.

    7.4. Fracionamento do objeto licitatrio e contratao simultnea

    No RDC, permitido Administrao Pblica motivadamente

    fracionar o objeto da licitao, contratando mais de uma empresa ou instituio

    para executar o mesmo servio, salvo servios de engenharia (art. 11, Lei n

    12.462/11).

    A Lei n 8.666/93 no prev a possibilidade de parcelar o objeto da

    licitao, ou a possibilidade de mais de uma empresa executar o mesmo servio.

    7.5. Fase de Habilitao

    O procedimento licitatrio institudo pelo RDC prev como regra que

    a fase de habilitao ocorrer aps o julgamento das propostas (art. 12, Lei n

    12.462/11), embora haja a possibilidade de antecipar a habilitao ao julgamento

    ou apresentao de propostas ou lances, caso assim convencione o instrumento

    licitatrio (pargrafo nico, art. 12). No primeiro caso, a habilitao ser exigida

    apenas do licitante vencedor (art. 14, inc. II).

    7.6. Fase recursal nica

    Dispe o art. 27 da Lei n 12.462/11 que salvo no caso de inverso

    de fases, o procedimento licitatrio ter uma fase recursal nica, que se seguir

    habilitao do vencedor.

    De outra senda, o artigo 109, inciso I da Lei n 8.666/93 prev que a

    interposio de recursos em face dos atos administrativos10 praticados durante o

    certame deve ocorrer em at 05 (cinco) dias teis contados a partir da intimao

    10Segundo o mencionado artigo, nos casos de: a) habilitao ou inabilitao do licitante; b)

    julgamento das propostas; c) anulao ou revogao da licitao; d) indeferimento do pedido de

    inscrio em registro cadastral, sua alterao ou cancelamento; e) resciso do contrato, a que serefere o inciso I do art. 79 desta Lei; f) aplicao das penas de advertncia, suspenso temporriaou de multa.

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    do ato ou lavratura da ata. Ainda, h a previso de atribuio de efeito suspensivo11

    aos recursos, de forma que a fase seguinte da licitao somente pode ocorrer aps

    seu julgamento.

    11

    Art. 109, 2o O recurso previsto nas alneas "a" e "b" do inciso I deste artigo ter efeitosuspensivo, podendo a autoridade competente, motivadamente e presentes razes de interessepblico, atribuir ao recurso interposto eficcia suspensiva aos demais recursos.

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