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Análise crítica acerca da escolha dos ministros do STFTRANSCRIPT
FACULDADE CATÓLICA DO TOCANTINS
CURSO DE DIREITO – MATUTINO
ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF
Aluno: GABRIEL VALADARES DE MORAIS
Orientadora: Profª: ANGELA ISSA
Palmas
2014
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO....................................................................................................................3
2 – OBJETIVOS.........................................................................................................................4
2.1 – Objetivo Geral..............................................................................................................4
2.2 – Objetivos Específicos..................................................................................................4
3 – JUSTIFICATIVAS...............................................................................................................5
4 – HIPÓTESE...........................................................................................................................5
5 – REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................5
6 – METODOLOGIA.................................................................................................................5
7 – DESENVOLVIMENTO.......................................................................................................6
7.1 – Supremo Tribunal Federal......................................................................................6
7.1.1 - Evolução Histórica....................................................................................7
7.1.2 - A Doutrina da Separação dos Poderes..................................................10
7.1.3 – Função...................................................................................................12
7.2 – Da Escolha Dos Ministros do STF no Direito Comparado
7.3 – Da Escolha Dos Ministros do STF No Brasil
8 – CONCLUSÃO....................................................................................................................27
9 – CRONOGRAMA................................................................................................................28
10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................29
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1 – INTRODUÇÃO
O Supremo Tribunal Federal tem sua estrutura e composição definida
pelos arts. 101 a 103 da Constituição, próprio das Cortes Supremas, com
pequeno número de membros, nomeados pelo Presidente da República, desde
que atendidas algumas exigências elencadas no art. 101. Em nosso país é
pouca a participação popular no processo de escolha, ainda merecendo ser
assimilada a importância da intervenção do povo na escolha dos seus
magistrados supremos.
O Supremo Tribunal Federal representa o topo da hierarquia do Poder
Judiciário, detentor de competência para decidir, em última instância, sobre
questões de ordem constitucional, e também de competência de natureza
originária e recursal.
Nossa Suprema Corte tem como origem a vinda da família real
portuguesa para o Brasil, em razão da invasão de Portugal pelas tropas de
Napoleão. Pelo fato de não poder dar continuidade nos trabalhos da Casa da
Suplicação de Lisboa, o Príncipe Regente D. João VI transformou a Relação do
Rio de Janeiro em Casa da Suplicação do Brasil.
Ao Supremo Tribunal Federal compete processar e julgar
originariamente seus próprios ministros nas infrações penais comuns, o
presidente da República, o vice-presidente, os membros do Congresso
Nacional e o procurador-geral da República; nas infrações penais comuns e
nos crimes de responsabilidade, os ministros de Estado, dos Tribunais
Superiores e os do Tribunal de Contas da União além de várias outras
competências descritas no artigo 102 da Constituição Federal. Porém, a
competência principal do Supremo é a guarda da Constituição.
Além de todas as competências acima elencadas, compete a tal tribunal
processar e julgar mandados de injunção, ações diretas de
inconstitucionalidade, arguições de descumprimento de preceito fundamental,
dentro outros, todos de “inegável peso político e grande significado jurídico”.
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O cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal também é de vital
importância para o Poder Executivo (o governo), vez que cabe ao STF julgar a
constitucionalidade das normas e ações penais contra o chefe do Executivo
federal.
O Supremo Tribunal Federal situa-se no ápice do Poder Judiciário do
Brasil, exercendo a função de controle da jurisdição constitucional, tanto de
modo difuso, como concentrado. Como guardião da Constituição Federal, suas
decisões assumem um importante papel na consolidação do Estado de Direito.
Com isso, podemos perceber a utilização dessa falha constitucional
como meio de se construir um poder capaz de trazer benefícios apenas para o
governo que o nomeou, e não para a sociedade.
O assunto aqui a ser tratado surge com o surgimento de uma
preocupação com os rumos politicamente tomados que o Supremo Tribunal
Federal estaria tomando, uma vez que a nomeação dos Ministros se dá quase
que de forma exclusiva do Chefe do Poder Executivo, o que acaba por refletir
diretamente nas decisões tomadas pelos magistrados integrantes deste
tribunal.
2 – OBJETIVOS
2.1 – Objetivo Geral
O presente trabalho tem como objetivo mostrar a forma de como se
dá a escolha dos Ministros do Supremo Tribunal Federal no Brasil.
2.2 – Objetivos Específicos
Analisar, de maneira crítica, o modelo adotado pelo Brasil para
escolher aqueles que irão atuar em uma das principais e mais importantes
funções do Poder Judiciário.
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3 – JUSTIFICATIVAS
Este trabalho é resultado de um trabalho de conclusão de curso, o qual
problematiza o método utilizado no Brasil para a escolha dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, analisando a interferência do Poder Executivo na
nomeação destes magistrados e de suas decisões, conforme o artigo 101 da
Constituição da República Federativa do Brasil.
4 – HIPÓTESE
O STF possui um papel bastante relevante e indispensável para
assegurar a segurança jurídica do nosso País. Com essa linha de pensamento,
se faz necessário o aprofundamento acerca do estudo da Estrutura e forma de
nomeação daqueles que farão uso do poder de dirimir os conflitos pertinentes
ao Supremo.
5 – REFERENCIAL TEÓRICO
- A Análise acerca da escolha dos Ministros do Supremo Tribunal se
faz necessário, haja vista sua tamanha importância para a garantia
constitucional do Regime Democrático. Mas é preciso analisar de maneira
crítica a forma como tem sido utilizado na escolha dos Ministros, para que haja
efetividade no princípio constitucional da Separação dos Poderes.
- Não é difícil de visualizar uma manobra, principalmente por parte
do Poder Executivo, para conseguir trabalhar o Judiciário de acordo com seus
interesses particulares. Daí a importância de uma análise crítica e da exposição
de uma possível solução a esse problema.
6 – METODOLOGIA
O presente trabalho tem como objetivo mostrar de maneira crítica a
forma como tem sido utilizado o dispositivo constitucional para a nomeação dos
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Ministros do que chamamos Guardião da Constituição, expondo os pontos
fortes e os pontos fracos do sistema de escolha adotada pelo Ordenamento
Constitucional brasileiro.
7 – DESENVOLVIMENTO
7.1 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
7.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Criado em 1828, como Supremo Tribunal de Justiça, o Supremo Tribunal
Federal é o órgão judicial brasileiro mais antigo. Cumpre também a função de
órgão de cúpula do Poder Judiciário, ao qual incumbe a iniciativa do Estatuto
da Magistratura e a Presidência do Conselho de Justiça.
O Supremo Tribunal de Justiça, instalado em 09 de Janeiro de 1829 e
formado por dezessete Ministros (Lei de 18/09/1828), tinha competência
limitada, que se restringia, fundamentalmente, ao conhecimento dos recursos
de revista e julgamento dos conflitos de jurisdição e das ações penais contra os
ocupantes de determinados cargos públicos (art. 164). O Tribunal jamais fez
uso da competência para proferir decisões com eficácia erga omnes
(assentos), que lhe outorgava a faculdade de interpretar, de forma autêntica, o
direito civil, comercial e penal.
A ordem constitucional de 1934 foi superada pela Carta outorgada por
Getúlio Vargas, em 1937. A nova Constituição, editada em 10 de novembro,
deveria ser aprovada mediante decisão plebiscitária (art. 87), que jamais se
realizou. A Carta de 1937, conhecida como “Constituição Polaca”, por ter sido
desenvolvida com base na Constituição polonesa do regime do General
Pilsudski, traduziu uma ruptura com a história constitucional do Brasil. Do seu
preâmbulo constava, v. g., que ela haveria de conter meios extraordinários para
combater, de forma efetiva, o Comunismo.
Embora as competências do Supremo Tribunal Federal não tivessem
sofrido modificações substanciais no novo modelo constitucional, é certo que o
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parâmetro de controle dentro do qual deveria atuar o Tribunal era a
Constituição de 1937, de índole autoritária senão totalitária. O Presidente da
República reivindicou a atribuição para nomear o Presidente e o Vice-
Presidente do Supremo Tribunal Federal, o que acabou por ocorrer
regularmente até 1945 (Dec. Lei n. 2.770, de 11/11/1940).
Referido Decreto-Lei foi revogado pelo Decreto-lei n. 8.561, de
04/01/1946, firmado pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, no exercício
da Presidência da República, José Linhares. A Carta de 1937 traduziu um
inequívoco retrocesso também no que concerne ao sistema de controle de
constitucionalidade. Embora não tenha introduzido qualquer modificação no
modelo difuso de controle (art. 101, III, b e c), preservando-se, inclusive, a
exigência de quórum especial para a declaração de inconstitucionalidade (art.
96), o constituinte rompeu com a tradição jurídica brasileira, consagrando, no
art. 96, parágrafo único, princípio segundo o qual, no caso de ser declarada a
inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, fosse
necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional
de alta monta, poderia o Chefe do Executivo submetê-la novamente ao
Parlamento.
Confirmada a validade da lei por 2/3 de votos em cada uma das
Câmaras, tornava-se insubsistente a decisão do Tribunal. Instituiu-se, assim,
uma peculiar modalidade de revisão constitucional, pois, como observado por
Celso Bastos, a lei confirmada passou a ter, na verdade, a força de uma
emenda à Constituição. Como não se instalou o Parlamento sob a Constituição
de 1937, tais poderes foram exercidos pelo Presidente da República (art. 180).
Em 1939, o Presidente Getúlio Vargas editou o Decreto-Lei n. 1.564,
confirmando textos de lei declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal
Federal.
No período referido (1937-1945), multiplicaram-se os pedidos de habeas
corpus e de outras medidas judiciais com o objetivo de contestar os atos do
Governo. Eram muitos os poderes discricionários, como o de decretar a
aposentadoria de funcionários civis e militares (CF, art. 177) e o de impedir a
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concessão de medida judicial contra atos adotados durante o estado de
emergência (CF, art. 170).
O regime autocrático fundado na Constituição de 1937 teve seu termo
com a eleição de uma Constituinte (Lei Constitucional n. 13, de 12/11/1945). A
nova Constituição democrática entrou em vigor em 18/09/1946.
O Supremo Tribunal Federal compõe-se, atualmente, de onze ministros,
escolhidos dentre pessoas de notável saber jurídico e reputação ilibada,
maiores de 35 anos e menores de 65 anos, nomeados pelo Presidente da
República, após a aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.
Embora não exista mandato para o exercício da função de Ministro do
Supremo Tribunal Federal, o prazo médio de permanência no cargo, no
período 1946-1987, não foi superior a oito anos. A diferença entre os períodos
de exercício efetivo é bastante acentuada, como demonstra pesquisa relativa
ao período 19462006. Alguns Ministros permaneceram no cargo por mais de
vinte anos; outros, não mais do que dez meses. O curto período de exercício
permitiu que um mesmo Presidente da República, durante seu mandato,
nomeasse até dois Ministros para a mesma vaga. O estabelecimento de idade-
limite (65 anos) para designação de magistrado acabou por restringir essa
possibilidade.
Além disso, a EC n. 16/1997, que previu a possibilidade de reeleição
para os ocupantes de cargos de chefia dos poderes executivos em todos os
níveis da federação, possibilitou que os presidentes da República, que tiverem
seus mandatos confirmados em reeleição, possam indicar ministros para o STF
durante um período de 8 (oito) anos. Isso gerou algumas distorções e, também,
a possibilidade de os chefes do Poder Executivo trabalharem suas indicações,
tendo em vista a idade dos membros que vierem a escolher para a Corte e a
duração de seus respectivos mandatos. Nesse sentido, enquanto o Presidente
Fernando Henrique Cardoso indicou apenas três ministros para o STF em seus
dois mandatos, o Presidente Luís Inácio Lula da Silva, também em dois
mandatos, nomeou 8 (oito) ministros, sendo que teve, em verdade, a
possibilidade de indicar 9 (nove) juízes para o STF.
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Com exceção do Presidente do Tribunal, cada Ministro integra,
formalmente, uma Turma. As Turmas têm competências idênticas e os
processos não são distribuídos, originariamente, a uma ou a outra Turma, mas
a determinado Ministro-Relator, que, por sua vez, pertence à Primeira ou à
Segunda Turma (RISTF, art. 66). O Presidente de cada Turma é escolhido pelo
critério de antiguidade (RISTF, art. 4º, § 4º).
Para as matérias mais relevantes, a exemplo de decisão sobre
constitucionalidade ou inconstitucionalidade, o Tribunal Pleno somente poderá
deliberar se presentes oito dos onze Ministros. Para decisão sobre a
constitucionalidade das leis (declaração de constitucionalidade ou de
inconstitucionalidade), exige-se sempre maioria de seis votos (RISTF, art. 173
c/c o art. 174).
O Presidente do Supremo Tribunal Federal é eleito diretamente pelos
seus pares para um mandato de dois anos (RISTF, art. 12). A reeleição é
expressamente vedada. São eleitos tradicionalmente para os cargos de
Presidente e Vice-Presidente do Tribunal os dois Ministros mais antigos que
ainda não os exerceram.
7.1.2 - A DOUTRINA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES
A doutrina da separação dos poderes nasceu com o objetivo
fundamental de limitar o poder político ainda na Antiguidade Clássica. Este
princípio, embora concebido na época por Aristóteles, teve sua formulação
teórica com Locke e Montesquieu.
Aristóteles, em sua obra “A política”, delineou as primeiras definições dos poderes que posteriormente foram aprimoradas. Ele afirmava que:
“Em todo governo existem três poderes essenciais, cada um dos quais o legislador prudente deve acomodar de maneira mais conveniente. Quando estes três partes estão bem, acomodados, necessariamente o governo vai bem, e é das diferenças entre estas partes que provêm as suas. O primeiro desses poderes é o que delibera os negócios do Estado. O segundo compreende todas as magistraturas ou poderes constituídos, isto é, aqueles de que o Estado precisa para agir, suas atribuições e a maneira de satisfazê-las. O terceiro abrange os cargos de jurisdição.”
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Mas é no final da Idade Moderna que o edifício político aristotélico vem a ser reconstruído. Com Locke e Montesquieu o princípio da separação dos poderes foi estruturado mais consistentemente.
Silva Neto afirma que atualmente existe uma interação muito grande entre as funções do Estado, mas que antigamente, no tempo de Montesquieu, este idealizou sua teoria fulcrado no fato de que não era admissível que o exercício de uma função do Estado por outra. Assim, “o Legislativo só editava leis; o Executivo as executava e o Judiciário resolvia os conflitos decorrentes de sua aplicação. Não se autorizava inter-relacionamento entre as funções estatais”.
Ricardo Luiz Alves ensina que:
“[...] o objetivo último da ordem política, para Montesquieu, é assegurar a moderação do poder mediante a ‘cooperação harmônica’ entre os Poderes do Estado funcionalmente constituídos (legislativo, executivo e judiciário) com o escopo de assegurar uma eficácia mínima de governo, bem como conferir uma legitimidade e racionalidade administrativa à tais poderes estatais, eficácia e legitimidade essas que devem e podem resultar num equilíbrio dos poderes sociais.”
Aristóteles, Locke e Rousseau contribuíram, e muito, para a doutrina da separação dos poderes, mas é com o arcabouço elaborado por Montesquieu que a técnica de repartição das funções teve seu marco teórico.
A Constituição Federal de 1988 consagra o princípio da tripartição dos poderes em seu art. 2º: “São poderes da União independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Assim como Manoel Jorge, Iranilda Lyra afirma:
“[...] a tripartição não enseja divisão, apenas atribuições de competências específicas, o poder continua sendo unitário apenas suas funções são repartidas com o intuito de coibir o arbítrio, destarte, os doutrinadores atuais têm continuamente rechaçado o codinome ‘separação dos poderes’ ou a variante “divisão dos poderes”, tendendo a aceitar pacificamente o título “separação das funções estatais”. O poder estatal é uno e indivisível, repartisse apenas as atribuições.”
Portanto, é técnico e correto referir a tripartição das funções do Estado e
não à divisão de poderes. Dessa forma, a natureza social do direito, quer seja
como prática quer seja como discurso, expressa a legitimidade do poder no
Estado moderno. Sendo assim, o direito será um discurso que legitima o poder.
Destarte, mais uma vez, que essa independência dos poderes não é absoluta:
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“[...] pois a própria Constituição prevê expressamente a atribuição de funções atípicas aos três poderes do Estado. Citem-se, como exemplos, a competência do Executivo para expedir medidas provisórias, iniciar processo legislativo e vetar projetos de lei, com o atos de natureza legislativa”.
Campos Batalha demonstra a necessidade de “representar o Estado
como uma pessoa diferente do direito para que o direito possa justificar o
Estado, que o produz e se lhe submete,” conforme salienta Wolkmer em seu
texto “A função do direito na legitimação do poder”. Desta feita, o Estado tem
uma natureza original de poder, convertendo-se em um Estado de direito,
justificando essa denominação ao elaborar o direito.
Destarte, é de bom alvitre lembrar que a separação dos poderes é tida
como garantia de existência de um regime democrático. Fernando Machado da
Silva, ao citar o renomado jurista José Luiz Quadros, salienta que:
“[...] para que a Constituição pudesse ser efetiva, portanto, seria necessário corrigir, de acordo com as nossas peculiaridades, o nosso sistema de separação dos Poderes, de modo a evitar, na medida do possível, que as elites dominantes pudessem continuar a transformar em feudos privilegiados os órgãos de cúpula dos poderes constituídos e os órgãos inspectivos”.
Será que tal opinião expressa o verdadeiro sentimento de todo o povo
brasileiro? A Constituição Federal de 1988 não está sendo defendida da melhor
maneira possível? É necessário mudar o método de escolha dos ministros da
Supremo Tribunal Federal para que as decisões desses magistrados tornem-se
legítimas? Para chegar as respostas de tais indagações é imperioso o estudo
de certos conceitos que serão vistos a seguir.
7.1.3 – FUNÇÃO
A. Guardião da Constituição
Com previsão expressa na Constituição Federal de 1988 – CF/88,
precisamente no art. 102, o Supremo Tribunal Federal – STF desempenha a
nobre função de guardião da constituição, segundo caput do art. 102, sendo a
função típica dos Tribunais Constitucionais, que exerce controle de
constitucionalidade. Sendo assim, o tribunal ou corte constitucional é o órgão
judiciário ou não, cuja principal função é zelar pela correta interpretação e
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aplicação da Constituição, ou seja, julgar se determinado tema é constitucional
ou inconstitucional.
Em paralelo, vale ressaltar que a corte suprema ou suprema corte ou
supremo tribunal, é o órgão judiciário cujas decisões são proferidas em última
instância, ou seja, sem possibilidade de recurso. Há apenas uma corte
suprema com jurisdição sobre todo o território nacional, o Supremo Tribunal
Federal, tendo previsão expressa na constituição, pois é o órgão do Poder
Judiciário que julga os Recursos Ordinários e Extraordinários oriundos das
decisões de outros Tribunais, sem possibilitar outro recurso das decisões
proferidas pelo STF.
Assim, pode-se afirmar a dupla função do Supremo Tribunal Federal,
como sendo o tribunal constitucional, pois processa e julga ações destinadas a
salvaguardar a Constituição de violações por atos normativos inconstitucionais;
bem como, sendo a corte suprema, pois julga em ultima instancia recursos
provenientes de outros Tribunais e ou do próprio STF, sem possibilitar qualquer
reexame da decisão proferida.
B. Julgar: Ações de Competência Originária
A discussão na Constituinte sobre a instituição de uma Corte
Constitucional, que deveria ocupar-se, fundamentalmente, do controle de
constitucionalidade, acabou por permitir que o Supremo Tribunal Federal não
só mantivesse a sua competência tradicional, com algumas restrições, como
adquirisse novas e significativas atribuições.
A Constituição de 1988 ampliou significativamente a competência
originária do Supremo Tribunal Federal, especialmente no que concerne ao
controle de constitucionalidade das leis e atos normativos e ao controle da
omissão inconstitucional.
Assim, com previsão expressa na Constituição Federal de 1988 – CF/88,
precisamente no art. 102, o Supremo Tribunal Federal – STF desempenha a
nobre função de guardião da constituição, segundo caput do art. 102, sendo a
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função típica dos Tribunais Constitucionais, que exerce controle de
constitucionalidade.
De acordo com o modelo de KELSEN, o Tribunal Constitucional atuaria
como um "legislador negativo", pois não tem a faculdade de criar leis, mas caso
entenda que alguma norma promulgada vulnera o(s) disposto(s) previsto(s) na
Constituição, tem o poder para retirá-la do ordenamento jurídico, revogando-a
total ou parcialmente.
Sendo assim, o tribunal ou corte constitucional é o órgão judiciário ou
não, cuja principal função é zelar pela correta interpretação e aplicação da
Constituição, ou seja, julgar se determinado tema é constitucional ou
inconstitucional.
No caso específico do Brasil, o STF é órgão judiciário, conforme
disposição expressa do art. 92, I, CF/88 e tem competência para processar e
julgar originariamente a ação direta de inconstitucionalidade – ADI ou a ação
declaratória de constitucionalidade – ADC, bem como, o pedido de medida
cautelar em ações de controle de constitucionalidade, além da ação de
descumprimento de preceito fundamental – ADPF, todos, respectivamente,
previstos no art. 102, I, “a” e “p”, §1º, CF/88.
Recurso
Em paralelo, vale ressaltar que a corte suprema ou suprema corte ou
supremo tribunal, é o órgão judiciário cujas decisões são proferidas em última
instância, ou seja, sem possibilidade de recurso. No Brasil, há apenas uma
corte suprema com jurisdição sobre todo o território nacional, o Supremo
Tribunal Federal, tendo previsão expressa na constituição, pois é o órgão do
Poder Judiciário que julga os Recursos Ordinários e Extraordinários oriundos
das decisões de outros Tribunais, sem possibilitar outro recurso das decisões
proferidas pelo STF, conforme hipóteses específicas previstas no art. 102, II e
III, CF/88, respectivamente.
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Assim, pode-se afirmar a dupla função do Supremo Tribunal Federal –
STF, como sendo o tribunal constitucional, pois processa e julga ações
destinadas a salvaguardar a Constituição de violações por atos normativos
inconstitucionais; bem como, sendo a corte suprema, pois julga em ultima
instancia recursos provenientes de outros Tribunais e ou do próprio STF, sem
possibilitar qualquer reexame da decisão proferida.
7.2 – DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF NO DIREITO COMPARADO
A. EUA
A Constituição dos Estados Unidos prevê expressamente a existência da
Suprema Corte, com algumas competências originárias, bem como a
nomeação de seus magistrados pelo Chefe do Poder Executivo, e sua
ratificação pelo Legislativo. Tanto a composição numérica como a organização
e a competência são matérias legislativas ordinárias, cabendo ao Congresso
Nacional e à tradição norte-americana essa disciplina.
Para Schwartz:
“[...] a posição do Poder Judiciário nos Estados Unidos foi que
permitiu que a Constituição Americana fosse consagrada como a
verdadeira lei suprema do país. Tal separação entre o Poder
Judiciário e os outros ramos do governo constitui a base da
independência dos tribunais no mundo anglo-americano. E, como
qualquer advogado sabe muito bem, é a independência de seu
Judiciário, acima de tudo, que dá um sentido prático à soberania da
lei que ele afirma com orgulho ser a característica fundamental do seu
sistema constitucional.”
Alexandre de Moraes ensina que na Suprema Corte Americana “inexiste
constitucional ou legalmente a existência de requisitos capacitários para a
nomeação de juiz da Corte Suprema, sendo a mesma de escolha
eminentemente política do Presidente da República e a aprovação do Senado”.
Ademais, os juízes da Corte ficam em seu cargo enquanto “bem servirem” a
nação, sem limitação de idade para a aposentadoria compulsória. Ademais,
não existem requisitos expressos para a seleção destes ministros, podendo a
escolha recair sobre qualquer americano.
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Abaixo, segue as características da Suprema Corte Americana:
Composição: nove juízes (Justices), escolhidos pelo Presidente da
República. O número de juízes não é determinado pela Constituição, podendo
ser objeto de alteração por norma infraconstitucional.
Vitaliciedade: os juízes conservam o cargo “enquanto bem servirem à
nação”, sem limite de idade ou aposentadoria compulsória.
Investidura: pelo Presidente da República, após aprovação do Senado
Federal (por maioria simples).
Presidente da Suprema Corte (Chief Justice): escolhido pelo Presidente
da República, dentre os Justices já integrantes ou um novo indicado, para
investidura vitalícia.
Requisitos capacitários: não existem. Qualquer americano pode integrar a
Suprema Corte. Historicamente, apenas advogados foram escolhidos,
atendendo a critérios de competência, ética, preferências políticas, recompensa
política ou pessoal e busca de futuro apoio político.
Garantias constitucionais: vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos.
Incompatibilidades: vedada a acumulação de cargo executivo ou
legislativo.
Regulamentação infraconstitucional: a Constituição apenas prevê a
existência da Suprema Corte e algumas de suas competências. Tudo o mais é
regulado em legislação infraconstitucional, possibilitando um considerável
controle do Legislativo sobre o Judiciário.
B. ALEMANHA
Nos países europeus que possuem Tribunais Constitucionais, como, por
exemplo, a Alemanha, esse tribunal é órgão constitucional cuja atuação
repercute em todos os Poderes, situando-se no organograma do Estado ao
lado do Executivo, Legislativo e Judiciário, não sendo, portanto, órgão do Poder
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Judiciário e nem se situando acima dos Poderes Executivo e Legislativo. É
formado por pessoas indicadas pelos três poderes, com mandato certo e
transitório, vedada a contínua ou posterior recondução. O tribunal
constitucional é, portanto, suprapartidário.
Cabe aos 69 integrantes da Câmara Alta ou Senado, o Bundesrat
(representantes dos 16 Estados alemães), escolher metade dos 16 ministros
do Tribunal Constitucional. O tribunal opera com duas câmaras de oito
ministros.
A outra metade compete aos 603 deputados da Câmara Baixa, o
Bundestag. Seis desses 16 ministros devem necessariamente ser pinçados
entre os membros dos tribunais superiores federais. Os ministros têm mandato
de doze anos e não podem ser reconduzidos ao posto.
O Tribunal Supremo da França possui as seguintes características:
Composição: dezesseis membros, divididos em dois Senados de mesma
hierarquia, com oito integrantes cada.
Vitaliciedade: inexiste.
Investidura: em cada Senado, três juízes serão escolhidos dentre os
integrantes dos tribunais federais superiores, que exerçam o cargo há mais de
três anos, e os demais, livremente. A eleição dos juízes é feita metade pelo
Parlamento Federal (Bundestag) e metade pelo Conselho Federal (Bundesrat),
por maioria de dois terços. Não obstante o componente político da escolha, os
juízes têm mostrado grande independência ante as autoridades nomeantes.
Presidência do Tribunal Constitucional: presidente e vice-presidente são
eleitos alternativamente pelo Parlamento Federal e pelo Conselho Federal.
Requisitos capacitários: direitos políticos exigíveis para acesso ao Legislativo
federal e os requisitos para o exercício da magistratura.
Idade mínima e máxima: quarenta anos e sessenta e oito anos,
respectivamente.
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Garantias: as mesmas da magistratura (não-destituição e inamovibilidade).
Incompatibilidades: os juízes não poderão pertencer ao Parlamento Federal,
Conselho Federal ou Governo Federal, ou órgão equivalente nos Estados. Não
poderão exercer qualquer atividade profissional, exceto a de professor.
Regulamentação infraconstitucional: dada em lei federal.
Duração do cargo (mandato): doze anos, vedada a reeleição.
Impeachment: não há previsão. O Tribunal pode autorizar o Presidente da
República a demitir um de seus membros, em casos específicos.
Competências: controle de constitucionalidade abstrato e concreto de normas,
com exclusividade; recurso constitucional (interposto por qualquer do povo sob
alegação de violação aos direitos fundamentais); conflitos entre órgãos;
conflitos federativos; julgamento do Presidente da República; transferência de
magistrados; perda de direitos fundamentais e proibição de partidos em
caso de abuso contra a ordem democrática. A lei poderá conferir outras
competências ao Bundesverfassungsgericht.
Efeitos das decisões: no recurso constitucional, anula-se a decisão ou ato
administrativo; no controle de constitucionalidade abstrato ou difuso, a decisão
tem efeitos (via de regra) ex tunc e vinculantes.
C. FRANÇA
O Tribunal Supremo da França possui as seguintes características:
Composição: nove membros, escolhidos pelo Parlamento e pelo Executivo,
além dos ex-Presidentes da República como membros natos.
Vitaliciedade: apenas para os membros natos. Investidura: dos membros não
vitalícios, três são escolhidos pelo Presidente da República, três pelo
presidente da Assembleia Nacional e três pelo presidente do Senado.
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Duração do cargo (mandato): nove anos (salvo os membros natos), vedada a
recondução. O Conselho é renovado por terços, a cada três anos.
Presidente do Conselho: nomeado pelo Presidente da República, dentre os
membros natos ou nomeados. Esse sistema tem levado a que todos os
presidentes do Conselho tenham tido estreita conexão com o chefe do
Executivo. Não há previsão de mandato do presidente, sendo a tradição que
este tem a duração de nove anos.
Requisitos capacitários: os critérios são exclusivamente políticos, o que tem
levado a uma vinculação político-ideológica entre os membros do Conselho e
as autoridades nomeantes.
Idade mínima ou máxima: não há.
Incompatibilidades: a função de conselheiro é incompatível com as de
membro do Governo ou do Conselho Econômico e Social, bem como com todo
e qualquer mandato eleitoral. Os membros são também sujeitos às mesmas
incompatibilidades profissionais que os parlamentares, não podendo ser
nomeados para um emprego público nem receber promoções discricionárias,
caso sejam servidores públicos.
Regulamentação infraconstitucional: estabelecida em lei orgânica.
Término do mandato: extinção pelo decurso dos 9 anos, morte, renúncia,
suspensão dos direitos civis e políticos, incapacidade física permanente ou
demissão de ofício (démission d’office) pelo próprio Conselho.
Competências: controle de constitucionalidade abstrato e preventivo de leis,
regulamentos das Assembleias Parlamentares e tratados internacionais; juiz da
repartição de competências legislativas; juiz da repartição de competências
entre o governo central e as comunidades ultramarinas (Polinésia Francesa,
Saint-Barthélemy e Saint-Martin); controle da regularidade das eleições;
competência consultiva quanto à instauração de medidas de exceção pelo
Presidente da República e em matéria eleitoral.
Efeitos das decisões: erga omnes e vinculantes para a Administração e o
Judiciário. Entretanto, se o Conselho permite a promulgação de uma lei apenas
quando se dê a esta uma determinada interpretação (interpretação segundo a
Constituição), a ausência de controle a posteriori pode permitir que os juízes
interpretem a norma como quiserem, neutralizando a decisão superior.
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7.3 – DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF NO BRASIL
A. Evolução
O Supremo Tribunal Federal compõe-se, atualmente, de onze ministros,
escolhidos dentre pessoas de notável saber jurídico e reputação ilibada,
maiores de 35 anos e menores de 65 anos, nomeados pelo Presidente da
República, após a aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.
Embora não exista mandato para o exercício da função de Ministro do
Supremo Tribunal Federal, o prazo médio de permanência no cargo, no
período 1946-1987, não foi superior a oito anos. A diferença entre os períodos
de exercício efetivo é bastante acentuada, como demonstra pesquisa relativa
ao período 19462006. Alguns Ministros permaneceram no cargo por mais de
vinte anos; outros, não mais do que dez meses. O curto período de exercício
permitiu que um mesmo Presidente da República, durante seu mandato,
nomeasse até dois Ministros para a mesma vaga. O estabelecimento de idade-
limite (65 anos) para designação de magistrado acabou por restringir essa
possibilidade.
Além disso, a EC n. 16/1997, que previu a possibilidade de reeleição para
os ocupantes de cargos de chefia dos poderes executivos em todos os níveis
da federação, possibilitou que os presidentes da República, que tiverem seus
mandatos confirmados em reeleição, possam indicar ministros para o STF
durante um período de 8 (oito) anos. Isso gerou algumas distorções e, também,
a possibilidade de os chefes do Poder Executivo trabalharem suas indicações,
tendo em vista a idade dos membros que vierem a escolher para a Corte e a
duração de seus respectivos mandatos. Nesse sentido, enquanto o Presidente
Fernando Henrique Cardoso indicou apenas três ministros para o STF em seus
dois mandatos, o Presidente Luís Inácio Lula da Silva, também em dois
mandatos, nomeou 8 (oito) ministros, sendo que teve, em verdade, a
possibilidade de indicar 9 (nove) juízes para o STF.
B. Critérios
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O Supremo é “composto de onze ministros, escolhidos entre brasileiros
natos com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos de
idade, com notável saber jurídico e reputação ilibada”. Estes são os três
requisitos necessários para ser um ministro do STF. Tais condições estão
descritas no art. 101 da Constituição Federal de 1988.
C. Sabatina pelo Senado
Com esses requisitos, o indicado será nomeado pelo Presidente da República, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta do Senado Federal. Contudo, o Senado não tem cumprido seus deveres constitucionais, uma vez que o mesmo não questiona com a necessária profundidade os nomes propostos, agindo como um clube de compadres, e, sobretudo, não recusa ninguém.
Em toda a história de 121 anos de República, só disse “não” a um único
nome – e isso em 1893.
O único indicado recusado pelo Senado, e assim mesmo por razões
estritamente políticas, foi Cândido Barata Ribeiro, abolicionista e republicano
inflamado, ex-prefeito do Rio de Janeiro, nomeado em 1893 pelo presidente
Floriano Peixoto (1891-1894) – hoje nome da conhecida rua do Rio de Janeiro.
Com toda sua importância, como um ministro do Supremo pode ser
indicado na forma atual, livremente pelo presidente da República, analisadas
apenas algumas poucas condições previstas na Constituição como ter mais de
35 e menos de 65 anos de idade, “notável saber jurídico e reputação ilibada”?
Passando apenas pelo questionamento formal, amigável, superficial do
Senado?
D. Pontos Fortes do Modelo Atual
Muitos questionam o fato do Poder Executivo intervir diretamente na
escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o que poderia tirar a
neutralidade das decisões tomadas por esses magistrados. Porém, conforme
estudado, o que existe é uma tripartição dos poderes ficta, pois no estado
moderno de direito, todos os poderes, de uma forma ou de outra, possuem
funções de ambos os poderes e isso é explícito em nossa Carta Magna.
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Além do mais, não se pode olvidar que esta suposta intervenção do Poder
Executivo foi convalidada pelo poder constituinte originário, sendo corroborada
no texto constitucional de 1988.
Pode-se afirmar, então, que a interferência do Chefe do Poder Executivo
na escolha dos ministros do Supremo reforça um poder autoritário, como se
tanto o Poder Executivo como o Legislativo estivessem nas “mãos” de um só
indivíduo, o Presidente da República. Mas, por outro lado, não se pode olvidar
que esta foi a vontade do legislador constituinte originário, e como tal escolha
está legalizada, amparada pela Constituição Federal, pode ser aplicado ao
caso concreto a teoria procedimental de Luhmann, para tornar legítimas as
decisões de tais magistrados, não é mesmo? Esta pergunta será respondida
com maior riqueza de detalhe no próximo tópico.
E. Pontos Fracos do Modelo Atual
Luiz Quadros afirma que o modelo constitucional brasileiro possui um
grande problema estrutural que foi introduzido em um momento muito diferente
do atual. Assim, ele alerta que nem sempre um modelo, ou mecanismo, servirá
da mesma forma para diferentes nações, e assevera:
“No Brasil, por sua história e cultura de matriz centralizadora e
autoritária, o Poder Executivo é sempre preponderante. Não há
equilíbrio. O legislativo representa majoritariamente (embora com
mudanças sensíveis através do crescimento contínuo desde a década
de oitenta dos partidos de esquerda), historicamente, a elite
econômica, (no passado nacional, hoje global) e tem historicamente
se sujeitado à vontade do Executivo, como ocorre atualmente com a
aceitação das medidas provisórias, que podemos dizer, são todas,
pelo menos, formalmente, inconstitucionais, e em boa parte dos
casos materialmente inconstitucionais.”
Para ele, a interferência do Chefe do Executivo na escolha dos Ministros
do Supremo reforça um poder autoritário, dando um verdadeiro golpe no poder
judiciário e critica que, “com a escolha pelo Presidente da República, dos
membros do Supremo, temos que o órgão de cúpula do Judiciário torna-se
inevitavelmente comprometido com as teses do Executivo”.
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Quadros salienta: o “controle concentrado que lentamente vai se
introduzindo no Brasil, através principalmente de medidas provisórias
inconstitucionais, é um gravíssimo retrocesso autoritário” e alerta que “estamos
abandonando o avançado e democrático controle difuso de constitucionalidade,
que o mundo inteiro aos poucos vai descobrindo, para adotarmos o controle
concentrado, que lentamente a Europa vai abandonando”.
Ademais, Quadros traz à tona um grande dilema a profanar que o Poder
Judiciário está se curvando diante do Poder Executivo e que com essa
subordinação, não temos uma legítima tripartição de poderes,
consequentemente, não há uma democracia, mas sim, um poder neo-
autoritário. Em sua opinião, com decisões meramente políticas, o Supremo
Tribunal Federal perde a legitimidade de suas decisões.
Uma coisa, porém, é certa, a Constituição é a lei suprema do Brasil, e é
necessária sua eficácia acima de tudo, e para que isso ocorra é crucial a
independência dos poderes constituídos, pois afinal a separação dos poderes é
tida como garantia de existência de um regime democrático.
Fato curioso acerca dos requisitos acima mencionados é a discussão
sobre a necessidade de ser ou não bacharel em direito para ser Ministro do
STF, já que e lei exige notável saber jurídico, mas não requer necessariamente
um diploma de curso superior. Esta questão foi solucionada em 1894, no caso
do Dr. Cândido Barata Ribeiro. Formado em Medicina, o Dr. Barata Ribeiro foi
nomeado para o STF em 23 de outubro de 1893, tomando posse em 25 de
novembro do mesmo ano. Todavia, submetida sua nomeação ao Senado da
República em 24 de setembro de 1894, a Comissão de Justiça e Legislação
deu parecer contrário entendendo estar desatendido o requisito “notável saber
jurídico”.
No que tange à investidura e permanência no cargo, nossa Corte maior
é assemelhada à norte-americana, com a diferença de que, nesta, o escolhido
pode ser qualquer cidadão americano (mas a prática mostra que a formação
jurídica é exigida), não há o limite de 70 anos para a aposentadoria
compulsória e o Presidente da Corte, chamado de Chief Justice, é nomeado
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pelo Presidente da República especificamente para o cargo e fica no posto até
que se aposente.
Este modelo, entretanto, sempre suscitou divergências já que muitos
defendem que o STF deveria fazer como algumas Cortes Constitucionais
européias e modificar o critério de escolha e permanência no cargo.
Exemplificando, ao discorrer sobre o Tribunal Alemão Nelson Nery Júnior (em
Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, 7ª Ed., p. 24) esclarece
que “é órgão constitucional de todos os Poderes, situando-se no organograma
do Estado ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário, não sendo, portanto,
órgão do Poder Judiciário e nem se situando acima dos Poderes Executivo e
Legislativo. É formado por pessoas indicadas pelos Três Poderes, com
mandato certo e transitório, vedada a contínua ou posterior recondução. O
tribunal constitucional é, portanto, suprapartidário”.
Neste sentido, aparecem corriqueiramente propostas para mudar o atual
sistema. Na última Reforma do Judiciário tentou-se aprovar, sem sucesso, uma
emenda que instituía que no mínimo 2/3 das 11 vagas para Ministro do STF
fossem preenchidas por juízes de carreira com mais de 10 anos de exercício.
Agora, quem traz o assunto à baila é o Deputado Federal maranhense
Flávio Dino, do PC do B. Ex-Juiz Federal, o agora parlamentar afirmou
recentemente que pretende, após as eleições para as mesas da Câmara e do
Senado Federal, apresentar uma proposta que modifica os critérios de escolha
e permanência no cargo dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Sua ideia
é sugerir que os Ministros passem a ter mandato de 11 anos, vedada a
reeleição, e que as nomeações sejam feitas pelo Congresso Nacional (três),
Câmara dos Deputados (três) e Presidente da República (cinco), dentre uma
lista elaborada por órgãos ligados ao Direito. Os Presidentes da Associação
dos Magistrados Brasileiros e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil já se manifestaram favoravelmente à mudança.
Não se pode afirmar que a proposta do Deputado maranhense é a
melhor, mas o simples fato de provocar o debate com a intenção de mudar é
benéfico já que, realmente, o modelo atual não parece ser o mais adequado. A
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discussão deve ser ampliada para que sejam ouvidas outras entidades
relacionadas ao Direito e juristas especialistas no assunto.
Em sua teoria sobre a tripartição dos poderes, Charles de Secondat,
conhecido como Barão de Montesquieu, prega a independência entre o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário para um melhor funcionamento do
Estado. Em seu clássico “Espírito das Leis” já anunciava o jurista e filósofo
francês: “Se o poder de julgar estiver unido ao Poder Executivo, o juiz terá a
força de um opressor”.
É claro que, no Brasil, não há esta união direta, mas, obviamente, o fato
de alguém chegar ao mais alto posto da magistratura por decisão pura e
simples do Chefe do Executivo os torna ligados de alguma forma.
Este sentimento é expresso por Bernard Schwartz em sua obra “Direito
Constitucional Americano” (Forense, 1966), país no qual o critério para
nomeação do Ministro da Suprema Corte é análogo ao Brasileiro, e demonstra
a incoerência ora exposta:
“talvez a maior fraqueza, na prática, do sistema de selecionar os juízes federais nos Estados Unidos se encontre no fato de que, muito frequentemente, o poder presidencial de nomear tenha sido usado para fins políticos... não se pode esperar que o Presidente nomeie indivíduos, por mais importante que sejam, cujos pontos de vista em questão de política pública sejam radicalmente diferentes do seu próprio. Ele tem obrigações políticas e pessoais que, por serem humanas, procurará cumprir por meio da nomeação para Suprema Corte. Além de ser Presidente ele é o líder de um partido político e terá sempre em mente as suas considerações de ordem partidária”.
O próprio Nelson Nery Júnior, sugere que “o Tribunal deveria ser
formado por juízes indicados pelos Três Poderes, na proporção de um terço, e
com mandato por tempo determinado”. Diante de tanta diversidade, parece
razoável, portanto, aproveitar o momento de reformas para aprofundar a
discussão e atender a este antigo anseio. Certamente o rodízio é mais benéfico
para a democracia do que a permanência no cargo das mesmas pessoas por
mais de 20 anos.
Na visão de Carlos Roberto Faleiros o Poder Executivo detém o
monopólio exclusivo sobre o STF e, lembrando os dizeres de Nery Júnior,
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afirma “com nosso sistema, o Poder Executivo indica aquele magistrado que
tiver afinidade com suas ideologias políticas, e o Senado Federal simplesmente
ratifica a escolha do Presidente da República”.
A crítica persiste, ainda, quanto à nomeação dos ministros, que é
vitalícia, sendo que, mesmo que o mandato do presidente chegue ao fim, a
composição do Supremo permanece. Assim, na visão de Diniz, o Poder
Executivo monopoliza o STF, sendo “este último uma extensão da Presidência
da República, o que faz com que tal Tribunal perca sua legitimidade e
neutralidade”. Afirma, ademais, que o princípio da tripartição dos poderes fica
fragilizado “pois permite o controle e a superposição de um poder estatal sobre
outro”.
Questiona-se, assim, se é possível o STF com uma suposta separação
de poderes, julgar sem tendências processos tão importantes e decisivos.
Faleiros afirma que não podemos admitir que o Poder Judiciário “sofra
ingerências de nenhum ente político, menos ainda do poder executivo, cujas
atitudes muitas vezes refletem o interesse de uma minoria dominante em
detrimento do bem comum e da justiça social”.
Como método de escolha, Luiz Quadros propõe:
“Adotar uma Corte Constitucional, mantendo o controle difuso de
constitucionalidade por todos os órgãos do Judiciário, onde os seus
membros sejam escolhidos pelo Judiciário; pelo Legislativo; 1/3 por
cada um dos Poderes; pelo Ministério Público, OAB e pelo Judiciário;
enfim, qualquer método democrático que não passe pelo Executivo,
poder tendencialmente autoritário, principalmente no sistema
presidencial.”
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8 – CONCLUSÃO
Tendo em vista a imensurável importância do Supremo Tribunal Federal
para a segurança jurídica brasileira, se faz necessária a aplicação de uma
medida capaz de trazer imparcialidade no que diz respeito às escolhas dos
Ministros que atuarão nesse respeitável Tribunal.
Há um crescente consenso de que a fórmula em vigor, já arcaica e
carcomida, não mais atende aos interesses da sociedade e pode ser
aperfeiçoada, contribuindo para melhorar a atuação, a independência e a
imagem do Judiciário.
Ao falar sobre a composição do STF, Diniz defende que:
“[...] deverá levar um terço de magistrados indicados pelo Poder
Executivo, um terço pelo Poder Legislativo e um terço pelo Poder
Judiciário, todos com mandato certo e determinado. Assim, teríamos
uma verdadeira corte independente, suprapartidária e autônoma e
com o objetivo muito claro: defender a Constituição e pugnar pela
efetividade da ordem jurídica que a Carta Magna veio inaugurar.”
Para ele, a Corte Constitucional, permitiria a participação tanto de
membros oriundos da advocacia, como do Ministério Público, sendo que a
indicação não seria meramente política e os três poderes passariam a ter a
mesma autonomia. E, assim, estaríamos assegurando a independência dos
três poderes, com a existência de um órgão superior e autônomo, que tivesse
uma atuação concreta na defesa da Constituição, e a participação democrática
dos órgãos de classe no procedimento de escolha dos magistrados do quinto
constitucional.
Alexandre de Morais “defende a transformação do Supremo em Corte
Constitucional e a participação mais efetiva dos Poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário na escolha de seus membros, que deveriam ter mandatos
limitados, proibida a recondução”.
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Portanto, não é difícil compreender a real necessidade de mudança na
forma adotada para a escolha dos ministros do STF. É preciso que haja uma
transformação nesse modelo, a fim de levar até a sociedade um Tribunal
Supremo não no monopólio do poder, mas no que diz respeito ao bem estar
social e da segurança jurídica do nosso país.
9 – CRONOGRAMA
ETAPAS/MÊS AGOSTO SETEMBRO OUTUBROLEITURAS X X XPESQUISA X X X
ORIENTAÇÕES X X XAPRESENTAÇÃO
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10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1998.
ALVES JÚNIOR, Luiz Carlos M. O Supremo Tribunal Federal nas constituições brasileiras.AGALHÃES, José Luiz Quadros de. Democracia e crise: alternativas estruturais para o Brasil.
MEZZAROBA, Orides. Manual de metodologia da pesquisa no direito. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
http://ambito-juridico.com.br/ - visitado no dia 20/10/2014 às 14:00 horas.
http://jus.com.br – visitado no dia 20/10/2014 às 15:00 horas.
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/ - visitado no dia 19/10/2014 às 19:00 horas.
http://www.migalhas.com.br - visitado no dia 19/10/2014 às 20:00 horas.
CHWARTZ, Bernard. Direito constitucional americano. Rio de Janeiro: Forense, 1966, p. 40.
LYRA, Ivanilda Figueiredo. A separação das funções estatais e o controle do Supremo Tribunal Federal em face das normas editadas pelo legislativo.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal [Home page].