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FACULDADE CATÓLICA DO TOCANTINS CURSO DE DIREITO – MATUTINO ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF Aluno: GABRIEL VALADARES DE MORAIS Orientadora: Profª: ANGELA ISSA

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Análise crítica acerca da escolha dos ministros do STF

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Page 1: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

FACULDADE CATÓLICA DO TOCANTINS

CURSO DE DIREITO – MATUTINO

ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF

Aluno: GABRIEL VALADARES DE MORAIS

Orientadora: Profª: ANGELA ISSA

Palmas

2014

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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO....................................................................................................................3

2 – OBJETIVOS.........................................................................................................................4

2.1 – Objetivo Geral..............................................................................................................4

2.2 – Objetivos Específicos..................................................................................................4

3 – JUSTIFICATIVAS...............................................................................................................5

4 – HIPÓTESE...........................................................................................................................5

5 – REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................5

6 – METODOLOGIA.................................................................................................................5

7 – DESENVOLVIMENTO.......................................................................................................6

7.1 – Supremo Tribunal Federal......................................................................................6

7.1.1 - Evolução Histórica....................................................................................7

7.1.2 - A Doutrina da Separação dos Poderes..................................................10

7.1.3 – Função...................................................................................................12

7.2 – Da Escolha Dos Ministros do STF no Direito Comparado

7.3 – Da Escolha Dos Ministros do STF No Brasil

8 – CONCLUSÃO....................................................................................................................27

9 – CRONOGRAMA................................................................................................................28

10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................29

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1 – INTRODUÇÃO

O Supremo Tribunal Federal tem sua estrutura e composição definida

pelos arts. 101 a 103 da Constituição, próprio das Cortes Supremas, com

pequeno número de membros, nomeados pelo Presidente da República, desde

que atendidas algumas exigências elencadas no art. 101. Em nosso país é

pouca a participação popular no processo de escolha, ainda merecendo ser

assimilada a importância da intervenção do povo na escolha dos seus

magistrados supremos.

O Supremo Tribunal Federal representa o topo da hierarquia do Poder

Judiciário, detentor de competência para decidir, em última instância, sobre

questões de ordem constitucional, e também de competência de natureza

originária e recursal.

Nossa Suprema Corte tem como origem a vinda da família real

portuguesa para o Brasil, em razão da invasão de Portugal pelas tropas de

Napoleão. Pelo fato de não poder dar continuidade nos trabalhos da Casa da

Suplicação de Lisboa, o Príncipe Regente D. João VI transformou a Relação do

Rio de Janeiro em Casa da Suplicação do Brasil.

Ao Supremo Tribunal Federal compete processar e julgar

originariamente seus próprios ministros nas infrações penais comuns, o

presidente da República, o vice-presidente, os membros do Congresso

Nacional e o procurador-geral da República; nas infrações penais comuns e

nos crimes de responsabilidade, os ministros de Estado, dos Tribunais

Superiores e os do Tribunal de Contas da União além de várias outras

competências descritas no artigo 102 da Constituição Federal. Porém, a

competência principal do Supremo é a guarda da Constituição.

Além de todas as competências acima elencadas, compete a tal tribunal

processar e julgar mandados de injunção, ações diretas de

inconstitucionalidade, arguições de descumprimento de preceito fundamental,

dentro outros, todos de “inegável peso político e grande significado jurídico”.

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O cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal também é de vital

importância para o Poder Executivo (o governo), vez que cabe ao STF julgar a

constitucionalidade das normas e ações penais contra o chefe do Executivo

federal.

O Supremo Tribunal Federal situa-se no ápice do Poder Judiciário do

Brasil, exercendo a função de controle da jurisdição constitucional, tanto de

modo difuso, como concentrado. Como guardião da Constituição Federal, suas

decisões assumem um importante papel na consolidação do Estado de Direito.

Com isso, podemos perceber a utilização dessa falha constitucional

como meio de se construir um poder capaz de trazer benefícios apenas para o

governo que o nomeou, e não para a sociedade.

O assunto aqui a ser tratado surge com o surgimento de uma

preocupação com os rumos politicamente tomados que o Supremo Tribunal

Federal estaria tomando, uma vez que a nomeação dos Ministros se dá quase

que de forma exclusiva do Chefe do Poder Executivo, o que acaba por refletir

diretamente nas decisões tomadas pelos magistrados integrantes deste

tribunal.

2 – OBJETIVOS

2.1 – Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo mostrar a forma de como se

dá a escolha dos Ministros do Supremo Tribunal Federal no Brasil.

2.2 – Objetivos Específicos

Analisar, de maneira crítica, o modelo adotado pelo Brasil para

escolher aqueles que irão atuar em uma das principais e mais importantes

funções do Poder Judiciário.

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3 – JUSTIFICATIVAS

Este trabalho é resultado de um trabalho de conclusão de curso, o qual

problematiza o método utilizado no Brasil para a escolha dos ministros do

Supremo Tribunal Federal, analisando a interferência do Poder Executivo na

nomeação destes magistrados e de suas decisões, conforme o artigo 101 da

Constituição da República Federativa do Brasil.

4 – HIPÓTESE

O STF possui um papel bastante relevante e indispensável para

assegurar a segurança jurídica do nosso País. Com essa linha de pensamento,

se faz necessário o aprofundamento acerca do estudo da Estrutura e forma de

nomeação daqueles que farão uso do poder de dirimir os conflitos pertinentes

ao Supremo.

5 – REFERENCIAL TEÓRICO

- A Análise acerca da escolha dos Ministros do Supremo Tribunal se

faz necessário, haja vista sua tamanha importância para a garantia

constitucional do Regime Democrático. Mas é preciso analisar de maneira

crítica a forma como tem sido utilizado na escolha dos Ministros, para que haja

efetividade no princípio constitucional da Separação dos Poderes.

- Não é difícil de visualizar uma manobra, principalmente por parte

do Poder Executivo, para conseguir trabalhar o Judiciário de acordo com seus

interesses particulares. Daí a importância de uma análise crítica e da exposição

de uma possível solução a esse problema.

6 – METODOLOGIA

O presente trabalho tem como objetivo mostrar de maneira crítica a

forma como tem sido utilizado o dispositivo constitucional para a nomeação dos

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Ministros do que chamamos Guardião da Constituição, expondo os pontos

fortes e os pontos fracos do sistema de escolha adotada pelo Ordenamento

Constitucional brasileiro.

7 – DESENVOLVIMENTO

7.1 – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

7.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Criado em 1828, como Supremo Tribunal de Justiça, o Supremo Tribunal

Federal é o órgão judicial brasileiro mais antigo. Cumpre também a função de

órgão de cúpula do Poder Judiciário, ao qual incumbe a iniciativa do Estatuto

da Magistratura e a Presidência do Conselho de Justiça.

O Supremo Tribunal de Justiça, instalado em 09 de Janeiro de 1829 e

formado por dezessete Ministros (Lei de 18/09/1828), tinha competência

limitada, que se restringia, fundamentalmente, ao conhecimento dos recursos

de revista e julgamento dos conflitos de jurisdição e das ações penais contra os

ocupantes de determinados cargos públicos (art. 164). O Tribunal jamais fez

uso da competência para proferir decisões com eficácia erga omnes

(assentos), que lhe outorgava a faculdade de interpretar, de forma autêntica, o

direito civil, comercial e penal.

A ordem constitucional de 1934 foi superada pela Carta outorgada por

Getúlio Vargas, em 1937. A nova Constituição, editada em 10 de novembro,

deveria ser aprovada mediante decisão plebiscitária (art. 87), que jamais se

realizou. A Carta de 1937, conhecida como “Constituição Polaca”, por ter sido

desenvolvida com base na Constituição polonesa do regime do General

Pilsudski, traduziu uma ruptura com a história constitucional do Brasil. Do seu

preâmbulo constava, v. g., que ela haveria de conter meios extraordinários para

combater, de forma efetiva, o Comunismo.

Embora as competências do Supremo Tribunal Federal não tivessem

sofrido modificações substanciais no novo modelo constitucional, é certo que o

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parâmetro de controle dentro do qual deveria atuar o Tribunal era a

Constituição de 1937, de índole autoritária senão totalitária. O Presidente da

República reivindicou a atribuição para nomear o Presidente e o Vice-

Presidente do Supremo Tribunal Federal, o que acabou por ocorrer

regularmente até 1945 (Dec. Lei n. 2.770, de 11/11/1940).

Referido Decreto-Lei foi revogado pelo Decreto-lei n. 8.561, de

04/01/1946, firmado pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, no exercício

da Presidência da República, José Linhares. A Carta de 1937 traduziu um

inequívoco retrocesso também no que concerne ao sistema de controle de

constitucionalidade. Embora não tenha introduzido qualquer modificação no

modelo difuso de controle (art. 101, III, b e c), preservando-se, inclusive, a

exigência de quórum especial para a declaração de inconstitucionalidade (art.

96), o constituinte rompeu com a tradição jurídica brasileira, consagrando, no

art. 96, parágrafo único, princípio segundo o qual, no caso de ser declarada a

inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, fosse

necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional

de alta monta, poderia o Chefe do Executivo submetê-la novamente ao

Parlamento.

Confirmada a validade da lei por 2/3 de votos em cada uma das

Câmaras, tornava-se insubsistente a decisão do Tribunal. Instituiu-se, assim,

uma peculiar modalidade de revisão constitucional, pois, como observado por

Celso Bastos, a lei confirmada passou a ter, na verdade, a força de uma

emenda à Constituição. Como não se instalou o Parlamento sob a Constituição

de 1937, tais poderes foram exercidos pelo Presidente da República (art. 180).

Em 1939, o Presidente Getúlio Vargas editou o Decreto-Lei n. 1.564,

confirmando textos de lei declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal

Federal.

No período referido (1937-1945), multiplicaram-se os pedidos de habeas

corpus e de outras medidas judiciais com o objetivo de contestar os atos do

Governo. Eram muitos os poderes discricionários, como o de decretar a

aposentadoria de funcionários civis e militares (CF, art. 177) e o de impedir a

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concessão de medida judicial contra atos adotados durante o estado de

emergência (CF, art. 170).

O regime autocrático fundado na Constituição de 1937 teve seu termo

com a eleição de uma Constituinte (Lei Constitucional n. 13, de 12/11/1945). A

nova Constituição democrática entrou em vigor em 18/09/1946.

O Supremo Tribunal Federal compõe-se, atualmente, de onze ministros,

escolhidos dentre pessoas de notável saber jurídico e reputação ilibada,

maiores de 35 anos e menores de 65 anos, nomeados pelo Presidente da

República, após a aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.

Embora não exista mandato para o exercício da função de Ministro do

Supremo Tribunal Federal, o prazo médio de permanência no cargo, no

período 1946-1987, não foi superior a oito anos. A diferença entre os períodos

de exercício efetivo é bastante acentuada, como demonstra pesquisa relativa

ao período 19462006. Alguns Ministros permaneceram no cargo por mais de

vinte anos; outros, não mais do que dez meses. O curto período de exercício

permitiu que um mesmo Presidente da República, durante seu mandato,

nomeasse até dois Ministros para a mesma vaga. O estabelecimento de idade-

limite (65 anos) para designação de magistrado acabou por restringir essa

possibilidade.

Além disso, a EC n. 16/1997, que previu a possibilidade de reeleição

para os ocupantes de cargos de chefia dos poderes executivos em todos os

níveis da federação, possibilitou que os presidentes da República, que tiverem

seus mandatos confirmados em reeleição, possam indicar ministros para o STF

durante um período de 8 (oito) anos. Isso gerou algumas distorções e, também,

a possibilidade de os chefes do Poder Executivo trabalharem suas indicações,

tendo em vista a idade dos membros que vierem a escolher para a Corte e a

duração de seus respectivos mandatos. Nesse sentido, enquanto o Presidente

Fernando Henrique Cardoso indicou apenas três ministros para o STF em seus

dois mandatos, o Presidente Luís Inácio Lula da Silva, também em dois

mandatos, nomeou 8 (oito) ministros, sendo que teve, em verdade, a

possibilidade de indicar 9 (nove) juízes para o STF.

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Com exceção do Presidente do Tribunal, cada Ministro integra,

formalmente, uma Turma. As Turmas têm competências idênticas e os

processos não são distribuídos, originariamente, a uma ou a outra Turma, mas

a determinado Ministro-Relator, que, por sua vez, pertence à Primeira ou à

Segunda Turma (RISTF, art. 66). O Presidente de cada Turma é escolhido pelo

critério de antiguidade (RISTF, art. 4º, § 4º).

Para as matérias mais relevantes, a exemplo de decisão sobre

constitucionalidade ou inconstitucionalidade, o Tribunal Pleno somente poderá

deliberar se presentes oito dos onze Ministros. Para decisão sobre a

constitucionalidade das leis (declaração de constitucionalidade ou de

inconstitucionalidade), exige-se sempre maioria de seis votos (RISTF, art. 173

c/c o art. 174).

O Presidente do Supremo Tribunal Federal é eleito diretamente pelos

seus pares para um mandato de dois anos (RISTF, art. 12). A reeleição é

expressamente vedada. São eleitos tradicionalmente para os cargos de

Presidente e Vice-Presidente do Tribunal os dois Ministros mais antigos que

ainda não os exerceram.

7.1.2 - A DOUTRINA DA SEPARAÇÃO DOS PODERES

A doutrina da separação dos poderes nasceu com o objetivo

fundamental de limitar o poder político ainda na Antiguidade Clássica. Este

princípio, embora concebido na época por Aristóteles, teve sua formulação

teórica com Locke e Montesquieu.

Aristóteles, em sua obra “A política”, delineou as primeiras definições dos poderes que posteriormente foram aprimoradas. Ele afirmava que:

“Em todo governo existem três poderes essenciais, cada um dos quais o legislador prudente deve acomodar de maneira mais conveniente. Quando estes três partes estão bem, acomodados, necessariamente o governo vai bem, e é das diferenças entre estas partes que provêm as suas. O primeiro desses poderes é o que delibera os negócios do Estado. O segundo compreende todas as magistraturas ou poderes constituídos, isto é, aqueles de que o Estado precisa para agir, suas atribuições e a maneira de satisfazê-las. O terceiro abrange os cargos de jurisdição.”

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Mas é no final da Idade Moderna que o edifício político aristotélico vem a ser reconstruído. Com Locke e Montesquieu o princípio da separação dos poderes foi estruturado mais consistentemente.

Silva Neto afirma que atualmente existe uma interação muito grande entre as funções do Estado, mas que antigamente, no tempo de Montesquieu, este idealizou sua teoria fulcrado no fato de que não era admissível que o exercício de uma função do Estado por outra. Assim, “o Legislativo só editava leis; o Executivo as executava e o Judiciário resolvia os conflitos decorrentes de sua aplicação. Não se autorizava inter-relacionamento entre as funções estatais”.

Ricardo Luiz Alves ensina que:

“[...] o objetivo último da ordem política, para Montesquieu, é assegurar a moderação do poder mediante a ‘cooperação harmônica’ entre os Poderes do Estado funcionalmente constituídos (legislativo, executivo e judiciário) com o escopo de assegurar uma eficácia mínima de governo, bem como conferir uma legitimidade e racionalidade administrativa à tais poderes estatais, eficácia e legitimidade essas que devem e podem resultar num equilíbrio dos poderes sociais.”

Aristóteles, Locke e Rousseau contribuíram, e muito, para a doutrina da separação dos poderes, mas é com o arcabouço elaborado por Montesquieu que a técnica de repartição das funções teve seu marco teórico.

A Constituição Federal de 1988 consagra o princípio da tripartição dos poderes em seu art. 2º: “São poderes da União independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Assim como Manoel Jorge, Iranilda Lyra afirma:

“[...] a tripartição não enseja divisão, apenas atribuições de competências específicas, o poder continua sendo unitário apenas suas funções são repartidas com o intuito de coibir o arbítrio, destarte, os doutrinadores atuais têm continuamente rechaçado o codinome ‘separação dos poderes’ ou a variante “divisão dos poderes”, tendendo a aceitar pacificamente o título “separação das funções estatais”. O poder estatal é uno e indivisível, repartisse apenas as atribuições.”

Portanto, é técnico e correto referir a tripartição das funções do Estado e

não à divisão de poderes. Dessa forma, a natureza social do direito, quer seja

como prática quer seja como discurso, expressa a legitimidade do poder no

Estado moderno. Sendo assim, o direito será um discurso que legitima o poder.

Destarte, mais uma vez, que essa independência dos poderes não é absoluta:

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“[...] pois a própria Constituição prevê expressamente a atribuição de funções atípicas aos três poderes do Estado. Citem-se, como exemplos, a competência do Executivo para expedir medidas provisórias, iniciar processo legislativo e vetar projetos de lei, com o atos de natureza legislativa”.

Campos Batalha demonstra a necessidade de “representar o Estado

como uma pessoa diferente do direito para que o direito possa justificar o

Estado, que o produz e se lhe submete,” conforme salienta Wolkmer em seu

texto “A função do direito na legitimação do poder”. Desta feita, o Estado tem

uma natureza original de poder, convertendo-se em um Estado de direito,

justificando essa denominação ao elaborar o direito.

Destarte, é de bom alvitre lembrar que a separação dos poderes é tida

como garantia de existência de um regime democrático. Fernando Machado da

Silva, ao citar o renomado jurista José Luiz Quadros, salienta que:

“[...] para que a Constituição pudesse ser efetiva, portanto, seria necessário corrigir, de acordo com as nossas peculiaridades, o nosso sistema de separação dos Poderes, de modo a evitar, na medida do possível, que as elites dominantes pudessem continuar a transformar em feudos privilegiados os órgãos de cúpula dos poderes constituídos e os órgãos inspectivos”.

Será que tal opinião expressa o verdadeiro sentimento de todo o povo

brasileiro? A Constituição Federal de 1988 não está sendo defendida da melhor

maneira possível? É necessário mudar o método de escolha dos ministros da

Supremo Tribunal Federal para que as decisões desses magistrados tornem-se

legítimas? Para chegar as respostas de tais indagações é imperioso o estudo

de certos conceitos que serão vistos a seguir.

7.1.3 – FUNÇÃO

A. Guardião da Constituição

Com previsão expressa na Constituição Federal de 1988 – CF/88,

precisamente no art. 102, o Supremo Tribunal Federal – STF desempenha a

nobre função de guardião da constituição, segundo caput do art. 102, sendo a

função típica dos Tribunais Constitucionais, que exerce controle de

constitucionalidade. Sendo assim, o tribunal ou corte constitucional é o órgão

judiciário ou não, cuja principal função é zelar pela correta interpretação e

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aplicação da Constituição, ou seja, julgar se determinado tema é constitucional

ou inconstitucional.

Em paralelo, vale ressaltar que a corte suprema ou suprema corte ou

supremo tribunal, é o órgão judiciário cujas decisões são proferidas em última

instância, ou seja, sem possibilidade de recurso. Há apenas uma corte

suprema com jurisdição sobre todo o território nacional, o Supremo Tribunal

Federal, tendo previsão expressa na constituição, pois é o órgão do Poder

Judiciário que julga os Recursos Ordinários e Extraordinários oriundos das

decisões de outros Tribunais, sem possibilitar outro recurso das decisões

proferidas pelo STF.

Assim, pode-se afirmar a dupla função do Supremo Tribunal Federal,

como sendo o tribunal constitucional, pois processa e julga ações destinadas a

salvaguardar a Constituição de violações por atos normativos inconstitucionais;

bem como, sendo a corte suprema, pois julga em ultima instancia recursos

provenientes de outros Tribunais e ou do próprio STF, sem possibilitar qualquer

reexame da decisão proferida.

B. Julgar: Ações de Competência Originária

A discussão na Constituinte sobre a instituição de uma Corte

Constitucional, que deveria ocupar-se, fundamentalmente, do controle de

constitucionalidade, acabou por permitir que o Supremo Tribunal Federal não

só mantivesse a sua competência tradicional, com algumas restrições, como

adquirisse novas e significativas atribuições.

A Constituição de 1988 ampliou significativamente a competência

originária do Supremo Tribunal Federal, especialmente no que concerne ao

controle de constitucionalidade das leis e atos normativos e ao controle da

omissão inconstitucional.

Assim, com previsão expressa na Constituição Federal de 1988 – CF/88,

precisamente no art. 102, o Supremo Tribunal Federal – STF desempenha a

nobre função de guardião da constituição, segundo caput do art. 102, sendo a

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função típica dos Tribunais Constitucionais, que exerce controle de

constitucionalidade.

De acordo com o modelo de KELSEN, o Tribunal Constitucional atuaria

como um "legislador negativo", pois não tem a faculdade de criar leis, mas caso

entenda que alguma norma promulgada vulnera o(s) disposto(s) previsto(s) na

Constituição, tem o poder para retirá-la do ordenamento jurídico, revogando-a

total ou parcialmente.

Sendo assim, o tribunal ou corte constitucional é o órgão judiciário ou

não, cuja principal função é zelar pela correta interpretação e aplicação da

Constituição, ou seja, julgar se determinado tema é constitucional ou

inconstitucional.

No caso específico do Brasil, o STF é órgão judiciário, conforme

disposição expressa do art. 92, I, CF/88 e tem competência para processar e

julgar originariamente a ação direta de inconstitucionalidade – ADI ou a ação

declaratória de constitucionalidade – ADC, bem como, o pedido de medida

cautelar em ações de controle de constitucionalidade, além da ação de

descumprimento de preceito fundamental – ADPF, todos, respectivamente,

previstos no art. 102, I, “a” e “p”, §1º, CF/88.

Recurso

Em paralelo, vale ressaltar que a corte suprema ou suprema corte ou

supremo tribunal, é o órgão judiciário cujas decisões são proferidas em última

instância, ou seja, sem possibilidade de recurso. No Brasil, há apenas uma

corte suprema com jurisdição sobre todo o território nacional, o Supremo

Tribunal Federal, tendo previsão expressa na constituição, pois é o órgão do

Poder Judiciário que julga os Recursos Ordinários e Extraordinários oriundos

das decisões de outros Tribunais, sem possibilitar outro recurso das decisões

proferidas pelo STF, conforme hipóteses específicas previstas no art. 102, II e

III, CF/88, respectivamente.

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Assim, pode-se afirmar a dupla função do Supremo Tribunal Federal –

STF, como sendo o tribunal constitucional, pois processa e julga ações

destinadas a salvaguardar a Constituição de violações por atos normativos

inconstitucionais; bem como, sendo a corte suprema, pois julga em ultima

instancia recursos provenientes de outros Tribunais e ou do próprio STF, sem

possibilitar qualquer reexame da decisão proferida.

7.2 – DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF NO DIREITO COMPARADO

A. EUA

A Constituição dos Estados Unidos prevê expressamente a existência da

Suprema Corte, com algumas competências originárias, bem como a

nomeação de seus magistrados pelo Chefe do Poder Executivo, e sua

ratificação pelo Legislativo. Tanto a composição numérica como a organização

e a competência são matérias legislativas ordinárias, cabendo ao Congresso

Nacional e à tradição norte-americana essa disciplina.

Para Schwartz:

“[...] a posição do Poder Judiciário nos Estados Unidos foi que

permitiu que a Constituição Americana fosse consagrada como a

verdadeira lei suprema do país. Tal separação entre o Poder

Judiciário e os outros ramos do governo constitui a base da

independência dos tribunais no mundo anglo-americano. E, como

qualquer advogado sabe muito bem, é a independência de seu

Judiciário, acima de tudo, que dá um sentido prático à soberania da

lei que ele afirma com orgulho ser a característica fundamental do seu

sistema constitucional.”

Alexandre de Moraes ensina que na Suprema Corte Americana “inexiste

constitucional ou legalmente a existência de requisitos capacitários para a

nomeação de juiz da Corte Suprema, sendo a mesma de escolha

eminentemente política do Presidente da República e a aprovação do Senado”.

Ademais, os juízes da Corte ficam em seu cargo enquanto “bem servirem” a

nação, sem limitação de idade para a aposentadoria compulsória. Ademais,

não existem requisitos expressos para a seleção destes ministros, podendo a

escolha recair sobre qualquer americano.

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Abaixo, segue as características da Suprema Corte Americana:

Composição: nove juízes (Justices), escolhidos pelo Presidente da

República. O número de juízes não é determinado pela Constituição, podendo

ser objeto de alteração por norma infraconstitucional.

Vitaliciedade: os juízes conservam o cargo “enquanto bem servirem à

nação”, sem limite de idade ou aposentadoria compulsória.

Investidura: pelo Presidente da República, após aprovação do Senado

Federal (por maioria simples).

Presidente da Suprema Corte (Chief Justice): escolhido pelo Presidente

da República, dentre os Justices já integrantes ou um novo indicado, para

investidura vitalícia.

Requisitos capacitários: não existem. Qualquer americano pode integrar a

Suprema Corte. Historicamente, apenas advogados foram escolhidos,

atendendo a critérios de competência, ética, preferências políticas, recompensa

política ou pessoal e busca de futuro apoio político.

Garantias constitucionais: vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos.

Incompatibilidades: vedada a acumulação de cargo executivo ou

legislativo.

Regulamentação infraconstitucional: a Constituição apenas prevê a

existência da Suprema Corte e algumas de suas competências. Tudo o mais é

regulado em legislação infraconstitucional, possibilitando um considerável

controle do Legislativo sobre o Judiciário.

B. ALEMANHA

Nos países europeus que possuem Tribunais Constitucionais, como, por

exemplo, a Alemanha, esse tribunal é órgão constitucional cuja atuação

repercute em todos os Poderes, situando-se no organograma do Estado ao

lado do Executivo, Legislativo e Judiciário, não sendo, portanto, órgão do Poder

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Judiciário e nem se situando acima dos Poderes Executivo e Legislativo. É

formado por pessoas indicadas pelos três poderes, com mandato certo e

transitório, vedada a contínua ou posterior recondução. O tribunal

constitucional é, portanto, suprapartidário.

Cabe aos 69 integrantes da Câmara Alta ou Senado, o Bundesrat

(representantes dos 16 Estados alemães), escolher metade dos 16 ministros

do Tribunal Constitucional. O tribunal opera com duas câmaras de oito

ministros.

A outra metade compete aos 603 deputados da Câmara Baixa, o

Bundestag. Seis desses 16 ministros devem necessariamente ser pinçados

entre os membros dos tribunais superiores federais. Os ministros têm mandato

de doze anos e não podem ser reconduzidos ao posto.

O Tribunal Supremo da França possui as seguintes características:

Composição: dezesseis membros, divididos em dois Senados de mesma

hierarquia, com oito integrantes cada.

Vitaliciedade: inexiste.

Investidura: em cada Senado, três juízes serão escolhidos dentre os

integrantes dos tribunais federais superiores, que exerçam o cargo há mais de

três anos, e os demais, livremente. A eleição dos juízes é feita metade pelo

Parlamento Federal (Bundestag) e metade pelo Conselho Federal (Bundesrat),

por maioria de dois terços. Não obstante o componente político da escolha, os

juízes têm mostrado grande independência ante as autoridades nomeantes.

Presidência do Tribunal Constitucional: presidente e vice-presidente são

eleitos alternativamente pelo Parlamento Federal e pelo Conselho Federal.

Requisitos capacitários: direitos políticos exigíveis para acesso ao Legislativo

federal e os requisitos para o exercício da magistratura.

Idade mínima e máxima: quarenta anos e sessenta e oito anos,

respectivamente.

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Garantias: as mesmas da magistratura (não-destituição e inamovibilidade).

Incompatibilidades: os juízes não poderão pertencer ao Parlamento Federal,

Conselho Federal ou Governo Federal, ou órgão equivalente nos Estados. Não

poderão exercer qualquer atividade profissional, exceto a de professor.

Regulamentação infraconstitucional: dada em lei federal.

Duração do cargo (mandato): doze anos, vedada a reeleição.

Impeachment: não há previsão. O Tribunal pode autorizar o Presidente da

República a demitir um de seus membros, em casos específicos.

Competências: controle de constitucionalidade abstrato e concreto de normas,

com exclusividade; recurso constitucional (interposto por qualquer do povo sob

alegação de violação aos direitos fundamentais); conflitos entre órgãos;

conflitos federativos; julgamento do Presidente da República; transferência de

magistrados; perda de direitos fundamentais e proibição de partidos em

caso de abuso contra a ordem democrática. A lei poderá conferir outras

competências ao Bundesverfassungsgericht.

Efeitos das decisões: no recurso constitucional, anula-se a decisão ou ato

administrativo; no controle de constitucionalidade abstrato ou difuso, a decisão

tem efeitos (via de regra) ex tunc e vinculantes.

C. FRANÇA

O Tribunal Supremo da França possui as seguintes características:

Composição: nove membros, escolhidos pelo Parlamento e pelo Executivo,

além dos ex-Presidentes da República como membros natos.

Vitaliciedade: apenas para os membros natos. Investidura: dos membros não

vitalícios, três são escolhidos pelo Presidente da República, três pelo

presidente da Assembleia Nacional e três pelo presidente do Senado.

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Duração do cargo (mandato): nove anos (salvo os membros natos), vedada a

recondução. O Conselho é renovado por terços, a cada três anos.

Presidente do Conselho: nomeado pelo Presidente da República, dentre os

membros natos ou nomeados. Esse sistema tem levado a que todos os

presidentes do Conselho tenham tido estreita conexão com o chefe do

Executivo. Não há previsão de mandato do presidente, sendo a tradição que

este tem a duração de nove anos.

Requisitos capacitários: os critérios são exclusivamente políticos, o que tem

levado a uma vinculação político-ideológica entre os membros do Conselho e

as autoridades nomeantes.

Idade mínima ou máxima: não há.

Incompatibilidades: a função de conselheiro é incompatível com as de

membro do Governo ou do Conselho Econômico e Social, bem como com todo

e qualquer mandato eleitoral. Os membros são também sujeitos às mesmas

incompatibilidades profissionais que os parlamentares, não podendo ser

nomeados para um emprego público nem receber promoções discricionárias,

caso sejam servidores públicos.

Regulamentação infraconstitucional: estabelecida em lei orgânica.

Término do mandato: extinção pelo decurso dos 9 anos, morte, renúncia,

suspensão dos direitos civis e políticos, incapacidade física permanente ou

demissão de ofício (démission d’office) pelo próprio Conselho.

Competências: controle de constitucionalidade abstrato e preventivo de leis,

regulamentos das Assembleias Parlamentares e tratados internacionais; juiz da

repartição de competências legislativas; juiz da repartição de competências

entre o governo central e as comunidades ultramarinas (Polinésia Francesa,

Saint-Barthélemy e Saint-Martin); controle da regularidade das eleições;

competência consultiva quanto à instauração de medidas de exceção pelo

Presidente da República e em matéria eleitoral.

Efeitos das decisões: erga omnes e vinculantes para a Administração e o

Judiciário. Entretanto, se o Conselho permite a promulgação de uma lei apenas

quando se dê a esta uma determinada interpretação (interpretação segundo a

Constituição), a ausência de controle a posteriori pode permitir que os juízes

interpretem a norma como quiserem, neutralizando a decisão superior.

Page 20: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

19

7.3 – DA ESCOLHA DOS MINISTROS DO STF NO BRASIL

A. Evolução

O Supremo Tribunal Federal compõe-se, atualmente, de onze ministros,

escolhidos dentre pessoas de notável saber jurídico e reputação ilibada,

maiores de 35 anos e menores de 65 anos, nomeados pelo Presidente da

República, após a aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.

Embora não exista mandato para o exercício da função de Ministro do

Supremo Tribunal Federal, o prazo médio de permanência no cargo, no

período 1946-1987, não foi superior a oito anos. A diferença entre os períodos

de exercício efetivo é bastante acentuada, como demonstra pesquisa relativa

ao período 19462006. Alguns Ministros permaneceram no cargo por mais de

vinte anos; outros, não mais do que dez meses. O curto período de exercício

permitiu que um mesmo Presidente da República, durante seu mandato,

nomeasse até dois Ministros para a mesma vaga. O estabelecimento de idade-

limite (65 anos) para designação de magistrado acabou por restringir essa

possibilidade.

Além disso, a EC n. 16/1997, que previu a possibilidade de reeleição para

os ocupantes de cargos de chefia dos poderes executivos em todos os níveis

da federação, possibilitou que os presidentes da República, que tiverem seus

mandatos confirmados em reeleição, possam indicar ministros para o STF

durante um período de 8 (oito) anos. Isso gerou algumas distorções e, também,

a possibilidade de os chefes do Poder Executivo trabalharem suas indicações,

tendo em vista a idade dos membros que vierem a escolher para a Corte e a

duração de seus respectivos mandatos. Nesse sentido, enquanto o Presidente

Fernando Henrique Cardoso indicou apenas três ministros para o STF em seus

dois mandatos, o Presidente Luís Inácio Lula da Silva, também em dois

mandatos, nomeou 8 (oito) ministros, sendo que teve, em verdade, a

possibilidade de indicar 9 (nove) juízes para o STF.

B. Critérios

Page 21: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

20

O Supremo é “composto de onze ministros, escolhidos entre brasileiros

natos com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos de

idade, com notável saber jurídico e reputação ilibada”. Estes são os três

requisitos necessários para ser um ministro do STF. Tais condições estão

descritas no art. 101 da Constituição Federal de 1988.

C. Sabatina pelo Senado

Com esses requisitos, o indicado será nomeado pelo Presidente da República, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta do Senado Federal. Contudo, o Senado não tem cumprido seus deveres constitucionais, uma vez que o mesmo não questiona com a necessária profundidade os nomes propostos, agindo como um clube de compadres, e, sobretudo, não recusa ninguém.

Em toda a história de 121 anos de República, só disse “não” a um único

nome – e isso em 1893.

O único indicado recusado pelo Senado, e assim mesmo por razões

estritamente políticas, foi Cândido Barata Ribeiro, abolicionista e republicano

inflamado, ex-prefeito do Rio de Janeiro, nomeado em 1893 pelo presidente

Floriano Peixoto (1891-1894) – hoje nome da conhecida rua do Rio de Janeiro.

Com toda sua importância, como um ministro do Supremo pode ser

indicado na forma atual, livremente pelo presidente da República, analisadas

apenas algumas poucas condições previstas na Constituição como ter mais de

35 e menos de 65 anos de idade, “notável saber jurídico e reputação ilibada”?

Passando apenas pelo questionamento formal, amigável, superficial do

Senado?

D. Pontos Fortes do Modelo Atual

Muitos questionam o fato do Poder Executivo intervir diretamente na

escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o que poderia tirar a

neutralidade das decisões tomadas por esses magistrados. Porém, conforme

estudado, o que existe é uma tripartição dos poderes ficta, pois no estado

moderno de direito, todos os poderes, de uma forma ou de outra, possuem

funções de ambos os poderes e isso é explícito em nossa Carta Magna.

Page 22: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

21

Além do mais, não se pode olvidar que esta suposta intervenção do Poder

Executivo foi convalidada pelo poder constituinte originário, sendo corroborada

no texto constitucional de 1988.

Pode-se afirmar, então, que a interferência do Chefe do Poder Executivo

na escolha dos ministros do Supremo reforça um poder autoritário, como se

tanto o Poder Executivo como o Legislativo estivessem nas “mãos” de um só

indivíduo, o Presidente da República. Mas, por outro lado, não se pode olvidar

que esta foi a vontade do legislador constituinte originário, e como tal escolha

está legalizada, amparada pela Constituição Federal, pode ser aplicado ao

caso concreto a teoria procedimental de Luhmann, para tornar legítimas as

decisões de tais magistrados, não é mesmo? Esta pergunta será respondida

com maior riqueza de detalhe no próximo tópico.

E. Pontos Fracos do Modelo Atual

Luiz Quadros afirma que o modelo constitucional brasileiro possui um

grande problema estrutural que foi introduzido em um momento muito diferente

do atual. Assim, ele alerta que nem sempre um modelo, ou mecanismo, servirá

da mesma forma para diferentes nações, e assevera:

“No Brasil, por sua história e cultura de matriz centralizadora e

autoritária, o Poder Executivo é sempre preponderante. Não há

equilíbrio. O legislativo representa majoritariamente (embora com

mudanças sensíveis através do crescimento contínuo desde a década

de oitenta dos partidos de esquerda), historicamente, a elite

econômica, (no passado nacional, hoje global) e tem historicamente

se sujeitado à vontade do Executivo, como ocorre atualmente com a

aceitação das medidas provisórias, que podemos dizer, são todas,

pelo menos, formalmente, inconstitucionais, e em boa parte dos

casos materialmente inconstitucionais.”

Para ele, a interferência do Chefe do Executivo na escolha dos Ministros

do Supremo reforça um poder autoritário, dando um verdadeiro golpe no poder

judiciário e critica que, “com a escolha pelo Presidente da República, dos

membros do Supremo, temos que o órgão de cúpula do Judiciário torna-se

inevitavelmente comprometido com as teses do Executivo”.

Page 23: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

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Quadros salienta: o “controle concentrado que lentamente vai se

introduzindo no Brasil, através principalmente de medidas provisórias

inconstitucionais, é um gravíssimo retrocesso autoritário” e alerta que “estamos

abandonando o avançado e democrático controle difuso de constitucionalidade,

que o mundo inteiro aos poucos vai descobrindo, para adotarmos o controle

concentrado, que lentamente a Europa vai abandonando”.

Ademais, Quadros traz à tona um grande dilema a profanar que o Poder

Judiciário está se curvando diante do Poder Executivo e que com essa

subordinação, não temos uma legítima tripartição de poderes,

consequentemente, não há uma democracia, mas sim, um poder neo-

autoritário. Em sua opinião, com decisões meramente políticas, o Supremo

Tribunal Federal perde a legitimidade de suas decisões.

Uma coisa, porém, é certa, a Constituição é a lei suprema do Brasil, e é

necessária sua eficácia acima de tudo, e para que isso ocorra é crucial a

independência dos poderes constituídos, pois afinal a separação dos poderes é

tida como garantia de existência de um regime democrático.

Fato curioso acerca dos requisitos acima mencionados é a discussão

sobre a necessidade de ser ou não bacharel em direito para ser Ministro do

STF, já que e lei exige notável saber jurídico, mas não requer necessariamente

um diploma de curso superior. Esta questão foi solucionada em 1894, no caso

do Dr. Cândido Barata Ribeiro. Formado em Medicina, o Dr. Barata Ribeiro foi

nomeado para o STF em 23 de outubro de 1893, tomando posse em 25 de

novembro do mesmo ano. Todavia, submetida sua nomeação ao Senado da

República em 24 de setembro de 1894, a Comissão de Justiça e Legislação

deu parecer contrário entendendo estar desatendido o requisito “notável saber

jurídico”.

No que tange à investidura e permanência no cargo, nossa Corte maior

é assemelhada à norte-americana, com a diferença de que, nesta, o escolhido

pode ser qualquer cidadão americano (mas a prática mostra que a formação

jurídica é exigida), não há o limite de 70 anos para a aposentadoria

compulsória e o Presidente da Corte, chamado de Chief Justice, é nomeado

Page 24: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

23

pelo Presidente da República especificamente para o cargo e fica no posto até

que se aposente.

Este modelo, entretanto, sempre suscitou divergências já que muitos

defendem que o STF deveria fazer como algumas Cortes Constitucionais

européias e modificar o critério de escolha e permanência no cargo.

Exemplificando, ao discorrer sobre o Tribunal Alemão Nelson Nery Júnior (em

Princípios do Processo Civil na Constituição Federal, 7ª Ed., p. 24) esclarece

que “é órgão constitucional de todos os Poderes, situando-se no organograma

do Estado ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário, não sendo, portanto,

órgão do Poder Judiciário e nem se situando acima dos Poderes Executivo e

Legislativo. É formado por pessoas indicadas pelos Três Poderes, com

mandato certo e transitório, vedada a contínua ou posterior recondução. O

tribunal constitucional é, portanto, suprapartidário”.

Neste sentido, aparecem corriqueiramente propostas para mudar o atual

sistema. Na última Reforma do Judiciário tentou-se aprovar, sem sucesso, uma

emenda que instituía que no mínimo 2/3 das 11 vagas para Ministro do STF

fossem preenchidas por juízes de carreira com mais de 10 anos de exercício.

Agora, quem traz o assunto à baila é o Deputado Federal maranhense

Flávio Dino, do PC do B. Ex-Juiz Federal, o agora parlamentar afirmou

recentemente que pretende, após as eleições para as mesas da Câmara e do

Senado Federal, apresentar uma proposta que modifica os critérios de escolha

e permanência no cargo dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Sua ideia

é sugerir que os Ministros passem a ter mandato de 11 anos, vedada a

reeleição, e que as nomeações sejam feitas pelo Congresso Nacional (três),

Câmara dos Deputados (três) e Presidente da República (cinco), dentre uma

lista elaborada por órgãos ligados ao Direito. Os Presidentes da Associação

dos Magistrados Brasileiros e do Conselho Federal da Ordem dos Advogados

do Brasil já se manifestaram favoravelmente à mudança.

Não se pode afirmar que a proposta do Deputado maranhense é a

melhor, mas o simples fato de provocar o debate com a intenção de mudar é

benéfico já que, realmente, o modelo atual não parece ser o mais adequado. A

Page 25: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

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discussão deve ser ampliada para que sejam ouvidas outras entidades

relacionadas ao Direito e juristas especialistas no assunto.

Em sua teoria sobre a tripartição dos poderes, Charles de Secondat,

conhecido como Barão de Montesquieu, prega a independência entre o

Executivo, o Legislativo e o Judiciário para um melhor funcionamento do

Estado. Em seu clássico “Espírito das Leis” já anunciava o jurista e filósofo

francês: “Se o poder de julgar estiver unido ao Poder Executivo, o juiz terá a

força de um opressor”.

É claro que, no Brasil, não há esta união direta, mas, obviamente, o fato

de alguém chegar ao mais alto posto da magistratura por decisão pura e

simples do Chefe do Executivo os torna ligados de alguma forma.

Este sentimento é expresso por Bernard Schwartz em sua obra “Direito

Constitucional Americano” (Forense, 1966), país no qual o critério para

nomeação do Ministro da Suprema Corte é análogo ao Brasileiro, e demonstra

a incoerência ora exposta:

“talvez a maior fraqueza, na prática, do sistema de selecionar os juízes federais nos Estados Unidos se encontre no fato de que, muito frequentemente, o poder presidencial de nomear tenha sido usado para fins políticos... não se pode esperar que o Presidente nomeie indivíduos, por mais importante que sejam, cujos pontos de vista em questão de política pública sejam radicalmente diferentes do seu próprio. Ele tem obrigações políticas e pessoais que, por serem humanas, procurará cumprir por meio da nomeação para Suprema Corte. Além de ser Presidente ele é o líder de um partido político e terá sempre em mente as suas considerações de ordem partidária”.

O próprio Nelson Nery Júnior, sugere que “o Tribunal deveria ser

formado por juízes indicados pelos Três Poderes, na proporção de um terço, e

com mandato por tempo determinado”. Diante de tanta diversidade, parece

razoável, portanto, aproveitar o momento de reformas para aprofundar a

discussão e atender a este antigo anseio. Certamente o rodízio é mais benéfico

para a democracia do que a permanência no cargo das mesmas pessoas por

mais de 20 anos.

Na visão de Carlos Roberto Faleiros o Poder Executivo detém o

monopólio exclusivo sobre o STF e, lembrando os dizeres de Nery Júnior,

Page 26: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

25

afirma “com nosso sistema, o Poder Executivo indica aquele magistrado que

tiver afinidade com suas ideologias políticas, e o Senado Federal simplesmente

ratifica a escolha do Presidente da República”.

A crítica persiste, ainda, quanto à nomeação dos ministros, que é

vitalícia, sendo que, mesmo que o mandato do presidente chegue ao fim, a

composição do Supremo permanece. Assim, na visão de Diniz, o Poder

Executivo monopoliza o STF, sendo “este último uma extensão da Presidência

da República, o que faz com que tal Tribunal perca sua legitimidade e

neutralidade”. Afirma, ademais, que o princípio da tripartição dos poderes fica

fragilizado “pois permite o controle e a superposição de um poder estatal sobre

outro”.

Questiona-se, assim, se é possível o STF com uma suposta separação

de poderes, julgar sem tendências processos tão importantes e decisivos.

Faleiros afirma que não podemos admitir que o Poder Judiciário “sofra

ingerências de nenhum ente político, menos ainda do poder executivo, cujas

atitudes muitas vezes refletem o interesse de uma minoria dominante em

detrimento do bem comum e da justiça social”.

Como método de escolha, Luiz Quadros propõe:

“Adotar uma Corte Constitucional, mantendo o controle difuso de

constitucionalidade por todos os órgãos do Judiciário, onde os seus

membros sejam escolhidos pelo Judiciário; pelo Legislativo; 1/3 por

cada um dos Poderes; pelo Ministério Público, OAB e pelo Judiciário;

enfim, qualquer método democrático que não passe pelo Executivo,

poder tendencialmente autoritário, principalmente no sistema

presidencial.”

Page 27: Pré-projeto Tcc 1 - Direito

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8 – CONCLUSÃO

Tendo em vista a imensurável importância do Supremo Tribunal Federal

para a segurança jurídica brasileira, se faz necessária a aplicação de uma

medida capaz de trazer imparcialidade no que diz respeito às escolhas dos

Ministros que atuarão nesse respeitável Tribunal.

Há um crescente consenso de que a fórmula em vigor, já arcaica e

carcomida, não mais atende aos interesses da sociedade e pode ser

aperfeiçoada, contribuindo para melhorar a atuação, a independência e a

imagem do Judiciário.

Ao falar sobre a composição do STF, Diniz defende que:

“[...] deverá levar um terço de magistrados indicados pelo Poder

Executivo, um terço pelo Poder Legislativo e um terço pelo Poder

Judiciário, todos com mandato certo e determinado. Assim, teríamos

uma verdadeira corte independente, suprapartidária e autônoma e

com o objetivo muito claro: defender a Constituição e pugnar pela

efetividade da ordem jurídica que a Carta Magna veio inaugurar.”

Para ele, a Corte Constitucional, permitiria a participação tanto de

membros oriundos da advocacia, como do Ministério Público, sendo que a

indicação não seria meramente política e os três poderes passariam a ter a

mesma autonomia. E, assim, estaríamos assegurando a independência dos

três poderes, com a existência de um órgão superior e autônomo, que tivesse

uma atuação concreta na defesa da Constituição, e a participação democrática

dos órgãos de classe no procedimento de escolha dos magistrados do quinto

constitucional.

Alexandre de Morais “defende a transformação do Supremo em Corte

Constitucional e a participação mais efetiva dos Poderes Executivo, Legislativo

e Judiciário na escolha de seus membros, que deveriam ter mandatos

limitados, proibida a recondução”.

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Portanto, não é difícil compreender a real necessidade de mudança na

forma adotada para a escolha dos ministros do STF. É preciso que haja uma

transformação nesse modelo, a fim de levar até a sociedade um Tribunal

Supremo não no monopólio do poder, mas no que diz respeito ao bem estar

social e da segurança jurídica do nosso país.

9 – CRONOGRAMA

ETAPAS/MÊS AGOSTO SETEMBRO OUTUBROLEITURAS X X XPESQUISA X X X

ORIENTAÇÕES X X XAPRESENTAÇÃO

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10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1998.

ALVES JÚNIOR, Luiz Carlos M. O Supremo Tribunal Federal nas constituições brasileiras.AGALHÃES, José Luiz Quadros de. Democracia e crise: alternativas estruturais para o Brasil.

MEZZAROBA, Orides. Manual de metodologia da pesquisa no direito. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

http://ambito-juridico.com.br/ - visitado no dia 20/10/2014 às 14:00 horas.

http://jus.com.br – visitado no dia 20/10/2014 às 15:00 horas.

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/ - visitado no dia 19/10/2014 às 19:00 horas.

http://www.migalhas.com.br - visitado no dia 19/10/2014 às 20:00 horas.

CHWARTZ, Bernard. Direito constitucional americano. Rio de Janeiro: Forense, 1966, p. 40.

LYRA, Ivanilda Figueiredo. A separação das funções estatais e o controle do Supremo Tribunal Federal em face das normas editadas pelo legislativo.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal [Home page].