princípios e critérios e para a elaboração de alianças público-privadas para a gestão...

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    Princpios e Critrios e para a Elaborao de Alianas Pblico -Privadas para a Gesto Integrada de Resduos Slidos

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    Apresentao ........ .......... ......... .......... ......... .......... ......... ......... .......... ......... ......... ..... 3

    Introduo ................................................................................................................ 3

    Objetivo .................................................................................................................... 4

    Metodologia ............................................................................................................. 5

    Contextualizao ...................................................................................................... 6

    Estudos de Casos .................................................................................................. 26

    Consideraes Gerais Sobre os Casos ......... ......... ......... .......... ......... .......... ......... . 46

    Elaborao de Princpios e Critrios .............. .......... ......... ......... .......... ......... ......... 50

    Consideraes Finais ......... ......... .......... ......... .......... ......... ......... .......... ......... ......... 55

    Referncias Bibliogrficas .......... ......... .......... ......... ......... .......... ......... ......... .......... . 56

    Expediente ............................................................................................................. 62

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    Apresentao

    A ideia inicial do estudo partiu do interesse em realizar uma anlise crtica de casos de alianas pblico-privadas na gesto dos resduos slidos urbanos, indicando caminhos e formatos para o sucesso dessas alianas. Ocontedo do material reflexo de uma somatria de aprendizados adquiridos na participao em projetosanteriores envolvendo o universo da gesto de resduos e catao, nas ideias coletadas na oficina do Grupo deTrabalho do Ethos sobre a participao dos atores sociais e no extenso trabalho de pesquisa feito para esmiuar osquatro casos que ilustram a prtica por trs da teoria. As cidades escolhidas foram Ilhus-BA, Itana-MG, Assis-SP eLondrina-PR, municpios que mostram as diferentes possibilidades de cooperao para enfrentar uma questo todelicada quanto urgente como o caso da gesto de resduos slidos das cidades brasileiras.

    O trabalho est dividido em trs partes. A primeira, mais terica, conecta o leitor com o ponto central dadiscusso a responsabilidade do poder pblico municipal quanto ao fornecimento dos servios de limpeza pblicae gesto dos resduos slidos urbanos reciclveis. Nesse momento a ideia apresentar mecanismos legais,estruturais e financeiros para suprir essa demanda, indicando maneiras de trabalhar junto com os empreendimentosde catadores de materiais reciclveis. A segunda parte traz os estudos de caso, material que procura embasar oleitor atravs da descrio de cenrios reais e do desencadeamento de fatos que levou a gesto de resduos dacidade at a situao atual. Aps cada caso apresentado, uma anlise feita sobre a forma como aquela aliana foiconstruda, apontando aspectos positivos e as dificuldades encontradas, ou seja, o que pode ser aprendido daqueledeterminado exemplo.

    na terceira e ltima parte que teoria e prtica convergem de fato, com uma breve compilao de princpios

    e critrios que devem nortear as aes para o estabelecimento pleno de alianas pblico-privadas nos municpiosbrasileiros os tpicos apresentados nesse trecho no procuram encerrar o assunto, muito pelo contrrio: a ideia agregar a maior quantidade possvel de aprendizados e vivncias, razo pela qual o estudo ser aberto consultapblica, na certeza que a participao popular ir enriquecer o material, que desde j se dispe a dar suacontribuio para a formao de alianas pblico-privadas bem sucedidas na rea de gesto de resduos slidosurbanos.

    Introduo

    Aps muitos anos de tramitao e debate, em 2010 o Congresso Nacional aprovou a Poltica Nacional deResduos Slidos (PNRS). Sua implementao representa um desafio de governana a aprovao da PNRS umaoportunidade para que entidades, atores e grupos sociais conduzam um processo de conquista de objetivosespecficos a serem discutidos e definidos coletivamente.

    Existe hoje um quadro de desafios polticos, econmicos e institucionais que justificam a necessidade deproduzir conhecimento e experincias para o sucesso da consolidao da PNRS no pas. A competncia municipalpara a gesto de resduos, as diretrizes das legislaes federais e estaduais, o princpio do poluidor pagador e afragilidade tcnica que permeia o poder pblico de diversos municpios brasileiros: a complexidade do cenrio fazsurgir a necessidade da criao de alianas entre as diversas organizaes do setor pblico com o setor privado eseus vrios ramos de atuao. Os desafios da PNRS no dizem respeito apenas ao mbito ambiental nem tampouco vida daqueles que trabalham com resduos slidos trata-se tambm de uma questo social, j que a

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    demanda por empregos ligados ao tema ir aumentar cada vez mais, podendo incluir centenas de milhares debrasileiros em um mercado de trabalho que s cresce. No menos importantes so os desafios econmicos efinanceiros, fazendo da PNRS um processo de ordem institucional, poltico, econmico, social e ambiental, que

    requer momentos de reflexo e de intercmbios de experincias para que o resultado atingido seja compatvel como imenso potencial por trs desse novo momento vivido pela gesto de resduos slidos no Brasil.

    Para viabilizar os projetos necessrios ao cumprimento da PNRS, uma srie de mecanismos foi criada paraque as alianas pblico-privadas assumam um papel de relevncia durante o processo. Em relao gesto dosresduos slidos municipais, por exemplo, possvel que essas alianas estimulem o desenvolvimento dascooperativas ou associaes de catadores terceirizadas, possibilitando inclusive que elas sejam contratadas para aprestao dos servios de coleta, triagem e beneficiamento primrio dos materiais reciclveis nos moldes da Lei8.666/93, como veremos nos exemplos prticos apresentados adiante.

    Fruto de uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM) e o Fundo Multilateralde Investimentos (FUMIN) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a publicao Guia deProcedimentos para a Constituio de uma Aliana Pblico-Privada, que faz parte da coletnea Alianas Pblico -Privadas para o Desenvolvimento local , define alianas pblico-privadas (APPs) e micro APPs como as aescompartilhadas de impacto local (escala municipal), de mdio e longo prazo, com delegao significativa deatividades do setor pblico para o setor privado, cujo alcance econmico e social lhes confere significativo impactona prestao de servios comunidade, ainda que impliquem em valores contratuais mais reduzidos . O conceito dealiana , ento, envolve um acordo contratual que incorpora tambm objetivos comuns, numa estrutura baseadano simples conceito de trabalhar juntos .

    Dessa forma, a constituio de APPs e micro APPs uma maneira eficaz de promover a cooperao entre ossetores pblico e privado dentro do contexto da PNRS, facilitando e estimulando a criao de programas de coletaseletiva com a insero socioprodutiva dos catadores e catadoras de materiais reciclveis.

    Objetivo

    O estudo tem o objetivo de desenvolver princpios e critrios para as diversas modelagens jurdicas einstitucionais de alianas pblico-privadas na gesto de resduos slidos urbanos, a partir da reviso de experinciasrecentes na rea. A ideia reunir arranjos simples e econmicos com foco na relao entre o poder pblico

    municipal e as organizaes de catadores cooperativas e outras formas de associao formadas por pessoas fsicasde baixa renda assim como nas inter-relaes envolvendo os demais atores do processo, demonstrando como asaes baseadas no esprito colaborativo podem suprir as demandas da PNRS.

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    Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa exploratria e descritiva, explicitando o problema e fomentando a construo dehipteses a seu respeito. Por meio de levantamento bibliogrfico, conversas com pessoas que tiveram experinciasprticas e anlise de exemplos pontuais que levam compreenso do todo, o estudo procura expor ascaractersticas do universo observado sem se preocupar com a explicao sobre o que est sendo descrito, aindaque sirva para isso e possibilite o estabelecimento de correlaes.

    A coleta das informaes tericas gerais foi realizada atravs da internet. A maioria das consultas realizadasteve como fonte a Legislao Brasileira, a coletnea Alianas Pblico -Privadas para o Desenvolvimento local, materiais informativos divulgados pelo Ministrio do Meio Ambiente e diversos trabalhos acadmicos. Com relaoao tpico que apresenta o papel dos divers os atores ligados ao tema ( O Envolvimento dos Setores Sociais e Seus

    Atores), alm do levantamento terico houve a contribuio das informaes coletadas durante uma oficinatemtica, que contou com a participao de representantes das empressas associadas do Instituto Ethos, IBAM, eGiral viveiro de projetos.

    Sobre as informaes dos exemplos prticos, a pesquisa se deu da seguinte maneira:

    - Caso de Ilhus BA: leitura e anlise das informaes contidas no fascculo de nmero 5 da coletneaAlianas Pblico -Privadas para o Desenvolvimento local . Com o ttulo Estudo de caso de Ilhus (BA) mltiplasparcerias para a incluso p rodutiva, esse material est disponvel no site www.aliancaspublicoprivadas.org.br . Aapresentao da coordenadora do IBAM responsvel pela publicao da coletnea tambm foi consultada; alm depesquisas sobre a situao atual do projeto e a obteno de informaes atualizadas atravs de tcnicos do IBAMque ainda acompanham algumas atividades junto ao grupo estudado.

    - Caso de Itana MG: leitura e anlise das informaes contidas no Estudo de precificao dos serviosrealizados pela Cooperativa de Reciclagem e Trabalho Ltda COOPERT Itana/MG Relatrio Final (documentono disponvel ao pblico) e conversas com tcnicos do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentvel (Insea),envolvidos com os trabalhos de incubao da COOPERT.

    - Caso de Assis SP: consulta do relatrio final da participao do municpio no 2 Prmio Cidade Pr-

    Catador (iniciativa promovida em 2014 pelo Governo Federal para reconhecer experincias de sucesso em projetosmunicipais de coleta seletiva) tambm disponibilizado pelo Comit Interministerial para Incluso Social e Econmicados Catadores de Materiais Reciclveis (CIISC) e pela Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica; leitura demateriais acadmicos de pesquisas realizadas sobre a Cooperativa COOCASSIS; conversas com tcnicos da SecretariaMunicipal do Meio Ambiente da cidade e com um tcnico da Incubadora Tecnolgica de Cooperativas Populares, daUNESP de Assis.

    - Caso de Londrina PR: leitura e anlise das informaes contidas em uma publicao produzida pelo programaCATA AO Contratao Pblica Municipal de uma Cooperativa de Catadores - O Caso da COOPER REGIO -Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclveis da Regio Metropolitana de Londrina PR, disponvel no sitewww.cataacao.org.br ; consulta do relatrio final da participao do municpio no 2 Prmio Cidade Pr-Catador.

    http://www.aliancaspublicoprivadas.org.br/http://www.aliancaspublicoprivadas.org.br/http://www.aliancaspublicoprivadas.org.br/http://www.cataacao.org.br/http://www.cataacao.org.br/http://www.cataacao.org.br/http://www.aliancaspublicoprivadas.org.br/
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    Contextualizao

    O Servio Pblico de Limpeza Urbana: responsabilidades, execuo, adequao e controle

    A responsabilidade por gerenciar os servios de manejo de resduos urbanos das prefeituras municipais. Deacordo com o artigo 30 da Constituio Federal, (...) compete aos municpios (...) organizar e prestar, diretamenteou sob regime de concesso ou permisso, os servios pblicos de interesse local (...).

    A Lei 11.445/2007 determina as diretrizes nacionais para o saneamento bsico. Em seu artigo 7, ela diz que oservio pblico de limpeza urbana e de manejo de resduos slidos urbanos (RSU) composto pelas seguintesatividades:

    I - de coleta, transbordo e transporte do lixo domstico e do lixo originrio da varrio e limpeza delogradouros e vias pblicas;

    II - de triagem para fins de reso ou reciclagem, de tratamento, inclusive por compostagem, e de disposio final do lixo domstico e do lixo originrio da varrio e limpeza de logradouros e vias pblicas;

    III - de varrio, capina e poda de rvores em vias e logradouros pblicos e outros eventuais servios pertinentes limpeza pblica urbana.

    Os chamados grandes geradores de resduos empresas, reparties pblicas, indstrias, supermercadosetc. so responsveis pela destinao final dos resduos que produzem e no cabe ao poder pblico municipal arcarcom essa despesa. Muitas dessas empresas doam a frao reciclvel de seus resduos a fim de diminuir o volumetotal e reduzir o valor a ser pago pela disposio final, sendo que a comercializao desses reciclveis est impedidacaso essa atividade no conste no seu estatuto.

    Dados da Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (Abrelpe) de 2012indicam que a quantidade de resduos slidos urbanos (RSU) gerada no Brasil naquele ano foi de 201.058 toneladaspor dia, o que significa que, em mdia, cada brasileiro gerou 1,228 kg por dia. Segundo o Plano Nacional de ResduosSlidos, a composio gravimtrica mdia do RSU produzido no Brasil pode ser dividida conforme o grfico a seguir:

    Dentro do campo da gesto de resduos slidos, a coleta regular tem sido o principal tema de debate. Nesseprimeiro momento no h a preocupao com a composio do resduo e as possveis separaes para a

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    implantao de diferentes fluxos de coleta. Ainda segundo o Plano, a taxa de cobertura no Brasil vem crescendocontinuamente: em 2009 j alcanava quase 90% dos domiclios; sendo que na rea urbana esse nmero era decerca de 98% e nos domiclios situados na zona rural o ndice no chegava a 33%.

    Como visto anteriormente, apesar do poder pblico ser o responsvel pela coleta e pelo manejo dosresduos, possvel que ele se associe a outros entes pblicos ou at mesmo delegue para a iniciativa privada oupara entidades da administrao pblica indireta.

    Na Execuo Direta, o poder pblico quem realiza a prestao dos servios, dispondo de recursosmateriais, humanos e tcnicos e podendo criar um rgo ou um departamento especfico para a execuo dessesservios.

    J a Gesto Associada se d atravs da cooperao entre diferentes municpios, podendo envolver oplanejamento, a regulao, a fiscalizao e a prestao dos servios. H tambm a possibilidade de transfernciatotal ou parcial de encargos, servios, pessoal e bens essenciais continuidade dos servios transferidos. Essamodalidade no envolve particulares, pois um instrumento organizado entre municpios, podendo envolverentidades da mesma esfera ou de esferas diferentes, como por exemplo municpio e municpio, municpio e governoestadual ou governo estadual e governo estadual. A gesto associada tem que estar estabelecida atravs de uminstrumento jurdico que determine as bases de relacionamento, podendo ser consrcios pblicos ou convnios decooperao .

    - Consrcio Pblico (Lei 11.107/05): a forma de associao e coordenao para a gesto de serviospblicos de forma conjunta. Essa modalidade baseada em obrigaes mtuas e competncias comuns podendohaver uma clusula de penalizao por descumprimento do estabelecido ou por prejuzos causados pela retirada doconsrcio. Quando o consrcio formado ele se torna uma personalidade jurdica e deve estabelecer um contratocom cada membro, especificando quais atividades sero prestadas, como se dar o fluxo financeiro etc.

    - Convnio de Cooperao (CF 88 Artigos 71 e 241; EC 19 de 1998): um ajuste pelo qual os entes procuramatingir interesses em comum, sejam eles relacionados ao planejamento, programao, regulao, fiscalizao,avaliao ou controle dos servios pblicos. Nessa modalidade o municpio pode delegar a regulao de umdeterminado servio a uma instituio de outro municpio ou do governo estadual. Se o intuito delegar a prestaodo servio propriamente dito necessrio que a inteno esteja expressamente autorizada no convnio de

    cooperao, que deve ser firmado por meio de um contrato de programa. Cada municpio que vai entrar em umconvnio de cooperao deve criar e aprovar uma lei municipal para formalizar a ao, que estar sujeita ao controledo Tribunal de Contas da cidade.

    Importante no confundir o convnio de cooperao entre os municpios com o convnio comum, que serefere ao repasse voluntrio de recursos pblicos a entidades privadas sem fins lucrativos, tema que ser tratadomais adiante.

    Quando o poder pblico delega as atividades a um terceiro, acontece a Execuo Indireta, modalidade quepode ocorrer das seguintes formas:

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    - Lei (Delegao Legal): a execuo passa para uma entidade da administrao pblica indireta (empresapblica, sociedade de economia mista ou autarquia), criando uma nova personalidade jurdica para prestar oservio pblico.

    - Contrato para o particular (delegao contratual): com seu prprio nome, o particular assume a prestaodos servios e tambm os riscos envolvidos nessa prestao a titularidade do servio continua com o poderpblico, que delega ao particular a execuo dos servios essa modalidade prev a necessidade de umalicitao prvia. A delegao contratual pode ser realizada pelos seguintes instrumentos:

    - Permisso (Lei no 8.987/95): transmitida ao permissionrio a prestao de um servio pblico queno demande investimentos muito altos, fazendo com que ele o faa em nome prprio e obtenha aremunerao do usurio. O permissionrio no assume qualquer obrigao de investimentos perante aadministrao e h a possibilidade de alterao ou revogao unilateral do contrato por parte da

    administrao pblica, sem necessidade de indenizao nesse caso, o particular no tem qualquer direitode permanecer na prestao do servio, ainda que ela tenha sido outorgada com prazo determinado(havendo reparao quando a alterao unilateral do contrato causar impacto na equao econmico-financeira do permissionrio).

    - Concesso Comum (Lei no 8.987/95): por sua conta e risco, o particular passa a explorareconomicamente o servio em nome do Estado. Nesse tipo de concesso a remunerao vem do usurio e ocontrato deve detalhar cada aspecto da prestao do servio, sendo que o concessionrio pode precificardevidamente os nus deixados ao seu encargo, enquanto o poder pblico pode manter alguns riscos sob asua responsabilidade, no intuito de manter as tarifas em nveis aceitveis. Se houver necessidade de grandesinvestimentos prvios, h a possibilidade (se no a obrigatoriedade) do particular buscar financiamento emfontes externas, fazendo com que a amortizao ocorra ao longo do tempo, mediante o recebimento detarifa ou taxa. No h limite de prazo de concesso estabelecido por lei, dependendo de uma anlise tcnicade cada caso a durao vai depender da relao entre o montante investido e o tempo necessrio amortizao.

    - Parceria Pblico-Privada (Leis 8.987/95 e 11.079/04): conhecida como PPP, essa modalidadeguarda certa semelhana com o modelo de concesses, mas algumas diferenas importantes soobservadas. A PPP confere maior flexibilidade e maior confiana nas relaes, inclusive com a possibilidade

    de ajustes contratuais em que o particular tem liberdade para organizar a forma de prestar suas obrigaes,sendo cobrado por seu desempenho. O seu objeto deve sempre estar associado prestao de um servio,no sendo possvel sua celebrao para o fornecimento isolado de um bem ou de uma obra. Ao contrrio doque ocorre com a Lei 8.987/95, os contratos de parcerias pblico-privadas tm prazo de durao delimitadoentre cinco e 35 anos. A repartio dos riscos entre a administrao e o parceiro privado deve estar expressano contrato, podendo divergir do regime tradicional de repartio de responsabilidades conforme aatratividade e o modelo de negcio adotado para cada parceria. Cada projeto deve ter o valor mnimo de R$20 milhes. Com relao remunerao, esse tipo de concesso se divide em duas modalidades:patrocinada e administrativa . A concesso patrocinada envolve os servios passveis de exploraoeconmica, em especial aqueles que demandam investimentos muito expressivos, que poderiam serinviabilizados pelo impacto que sua amortizao teria sobre o valor da contraprestao por parte dosusurios, isso significa que nessa modalidade o poder pblico assume parte da contraprestao (com

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    necessidade de autorizao legislativa prvia quando a complementao tarifria atingir mais de 70% dototal necessrio para garantir o equilbrio econmico-financeiro do contrato). J a concesso administrativase refere prestao de servios cuja explorao econmica seja impossvel, como hospitais e escolas

    pblicas, por exemplo. Nesse caso, a figura da administrao pblica se torna usuria, pagandointegralmente pelo servio e com a remunerao do parceiro privado sendo originada atravs de aportesregulares de recursos oramentrios do poder pblico.

    - Terceirizao (Lei 8.666/93): contrato administrativo de prestao de servios ou obras pblicas,nessa modalidade o contratado, ainda que preste servio diretamente aos usurios, o faz em nome do poderpblico, que permanece como responsvel direto pelo servio prestado. Diferente do que acontece naconcesso, a terceirizao determina uma atividade especfica ligada ao servio pblico. A remunerao feita pela administrao pblica conforme o contrato vai sendo cumprido, no havendo financiamento defonte particular o prazo mximo para a contratao de 60 meses.

    Diante da demanda existente e por ser o responsvel pela prestao do servio o poder pblicomunicipal tem a incumbncia da execuo, da associao com outros pares ou da delegao desse servio pblico aterceiros mediante as modalidades apresentadas e de acordo com o que julgar mais promissor dentro da esferaambiental, social e econmica. Quando um terceiro delegado por meio de um contrato, cabe ao Tribunal de ContasEstadual (TCE) examinar e julgar a coerncia financeira e oramentria dessa ao.

    O Tribunal de Contas um rgo autnomo e independente, designado constitucionalmente para exercer ocontrole externo da administrao pblica sobre as atividades financeiras e oramentrias. Sua jurisdio se estendea todos os rgos da administrao direta, indireta, autrquica e fundacional, abrangendo tanto o governo federalcomo o estadual e o municipal. O Tribunal de Contas da Unio (TCU) fiscaliza os rgos e entidades federais e aosTribunais Estaduais compete fiscalizar todos os organismos estaduais e municipais (exceo feita apenas aosmunicpios que possuam Tribunal prprio criado anteriormente Constituio de 1988). Os critrios usados para a fiscalizao e julgamento das licitaes e dos contratos firmados pela administrao pblica no so os mesmos emtodos os estados.

    Em geral, os servios de limpeza urbana so considerados obrigatrios, assim como acontece com ailuminao pblica ou com a polcia, por exemplo. Logo, a prestao desse tipo de servio relacionada coletividade como um todo, no sendo necessria a especificao do usurio ( uti universi ) assim, sua cobrana

    passvel de ser feita dentro de um tributo de carter geral (imposto). Nesse caso, admitida a figura do usurionico, na qual o Estado representa toda a coletividade e remunera o contratado com o dinheiro recolhido doimposto de carter geral cobrado do usurio. Com a edio da Lei 11.445/07 e a posterior Smula Vinculante n.19do Supremo Tribunal Federal, os servios de coleta, remoo e tratamento ou destinao de resduos provenientesde imveis passam a ser considerados divisveis (uti singuli ), sendo passvel a individualizao da cobrana do usuriopor meio de taxas, tarifas ou outros preos pblicos, desde que essas taxas sejam dissociadas da cobrana de outrosservios pblicos de limpeza de carter geral, mesmo que atravs de mensurao indireta, j que praticamenteimpossvel aferir massa e volume de cada domiclio no ato da coleta. Mesmo no caso dos servios de natureza utisinguli , a cobrana pelos mesmos no se torna obrigatria por parte da prefeitura, que poder adotar a modalidadeque lhe parecer conveniente dentro de suas possibilidades financeiras.

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    A discusso em torno da contraprestao do usurio e se ela deve advir de cobranas especficas ou atravsde tributo de carter geral nas modalidades Permisso, Concesso Comum e Concesso Patrocinada importante, mas se torna menos relevante quando comparada s discusses relacionadas ao valor do servio a ser

    contra prestado pelos usurios. Os Tribunais de Contas Estaduais tm se posicionado favorveis celebrao dasPPPs nos casos de servios de limpeza urbana de maior complexidade, por estarem associados implementao deaterro sanitrio, usina de compostagem ou biodigesto, empreendimentos que necessitam de altssimosinvestimentos e amortizao ao longo do contrato. No entanto, o municpio no pode exceder 1% da ReceitaCorrente Lquida com contratos de PPPs (incluindo as despesas contratuais da administrao direta e indireta,autrquica e fundacional), sob pena de o governo federal no efetuar as transferncias voluntrias, nem oferecergarantias em favor daquele que ultrapassar o limite, tornando esse instrumento de delegao contratual maisrestrito a projetos envolvendo grandes municpios e/ou consrcios intermunicipais. A execuo dos servios maissimples, como a coleta de resduos, pode ser efetuada pelas regras da terceirizao (Lei 8.666/93), no sendonecessria a celebrao de modalidades mais complexas.

    Outro ponto que merece discusso a necessidade de contratar todas as atividades do servio de limpezaurbana dentro de um s contrato, limitando a prestao a uma nica empresa ou grupo empresarial. Mesmo tendoamparo legal, essa ao implica na demonstrao de que se trata da forma mais eficiente e adequada sob o pontode vista social, ambiental e econmico.

    A Questo do Custeio

    De acordo com dados do Sistema Nacional de Informaes de Saneamento (SNIS), entre 2002 e 2010 aquantidade de resduos produzidos no pas aumentou quatro vezes mais que o crescimento populacional. Essedescompasso vem chamando a ateno de gestores municipais e estudiosos do assunto, pois os desafios queenvolvem uma boa gesto de resduos slidos se multiplicam na mesma medida que a viabilidade econmica doprocesso fica cada vez mais complexa.

    Na tentativa de tentar equilibrar as finanas, de fundamental importncia que os gestores concentremseus esforos em detalhar o planejamento das aes antes de execut-las, alocando servios que atendam asdemandas com o melhor custo-benefcio. A PNRS refora a necessidade das prefeituras organizarem seuplanejamento de gesto de resduos a Poltica diz que cada municpio obrigado a elaborar seu prprio PlanoMunicipal de Gesto Integrada de Resduos Slidos (PMGIRS).

    Como j dito anteriormente, a Lei 11.445/2007 afirma que para assegurar a sustentabilidade econmica osmunicpios devem cobrar dos usurios pelo servio. No caso da limpeza urbana e do manejo de resduos slidos, aprefeitura deve fazer a cobrana por meio da criao de taxas ou tarifas e outros preos pblicos.

    Os tributos e as taxas nada mais so que o pagamento de prestaes obrigatrias institudas por lei. Ostributos no so atrelados a um servio especfico, j os recursos vindos das taxas devem ser aplicados a umpropsito predefinido e conhecido da populao essa a principal diferena entre o tributo de Imposto Predial eTerritorial Urbano (IPTU) e as taxas dos servios de manejo dos resduos slidos urbanos. As tarifas, por sua vez,servem para cobrir a prestao de um servio especfico, sem que o pagamento seja obrigatrio. A taxa ou a tarifa aser estabelecida pode ser fixa ou seja, ser independente da quantidade de resduo gerada por cada unidade

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    considerada ou ser varivel, relacionada gerao de resduo especfica por cada unidade. Nesse ltimo caso, ovalor atribudo calculado pela rea ou valor da residncia, dimenso da fachada, consumo de gua e de energiaeltrica, entre outras medidas, j que invivel medir a gerao de resduo de cada residncia. Tambm possvel

    que uma taxa de manejo de resduos slidos seja estabelecida de forma que parte de seu valor seja fixo e a outraparte seja varivel. A mesma lei diz que as taxas ou tarifas devem considerar o nvel de renda dos moradores da reaatendida, as caractersticas dos lotes urbanos e as reas que podem ser neles edificadas, alm do peso ou volumemdio coletado por habitante ou por domiclio.

    Dessa forma, os gestores pblicos tm de calcular um valor de cobrana ideal que considere algunselementos-chaves, como o princpio do poluidor-pagador , conceito que parte do princpio que quanto mais se geramais se paga; a universalizao do acesso , noo que relativiza o peso do poluidor-pagador quando se trata dagerao de resduos da populao de baixa renda e o sistema de medio para a cobrana , que deve ser o maissimples possvel uma cobrana mais rica em detalhes poderia direcionar o consumo e gerar menos resduos, mas

    isso tornaria a cobrana muito complexa e dificultaria a comunicao com o usurio. Todos os elementos citadosdevem estar de acordo com o marco regulatrio e passar pelo crivo do Tribunal de Contas.

    Alguns pases adotam uma forma alternativa de atribuio ao consumidor final: a quantidade e os tipos dosresduos gerados e as rotas mais provveis de destino dos mesmos so calculados antes dos produtos serem lanadosno mercado e os custos so embutidos no preo, fazendo com que o usurio final pague pela cadeia produtiva comoum todo.

    Apesar da quantidade de informaes ligadas ao tema, nada ou muito pouco do que foi abordado nospargrafos anteriores est presente no planejamento financeiro dos sistemas de gesto dos resduos nos municpiosbrasileiros. Segundo dados de 2010 do SNIS, metade das cidades no cobra da populao pelos servios de manejodos resduos, fato que dificulta a sustentabilidade econmica desses sistemas. De acordo com o TCU, as prefeiturasque no cobram dos usurios pelo servio tendem a executar a disposio final de forma inadequada, como lixes eaterros controlados.

    Nos municpios onde feita a cobrana, geralmente os valores no cobrem os gastos totais, resultando naoferta de um servio de baixa qualidade e que no atende a todos os cidados de maneira adequada. Segundo dadosde 2010 do SNIS, a maioria desses municpios, cerca de 90%, faz a cobrana por meio do IPTU, sendo que apenas 2%possui uma taxa especfica. Os sistemas de mtrica e precificao variam muito entre as cidades, passando por

    elementos como o propsito do imvel (residencial ou no); consumo de gua; distncia at o local de disposiofinal; frequncia de coleta, entre outros. O denominador comum costuma ser a ausncia de sistemas de incentivopara o usurio que separa na fonte ou que reduz seu consumo.

    A iniciativa privada passa a entrar em cena a partir de outro conceito introduzido pela PNRS, aresponsabilidade compartilhada . Esse princpio aponta que fabricantes, importadores, distribuidores ecomerciantes dos bens de consumo devem se comprometer a destinar corretamente seus produtos (e/ouembalagens resultantes deles) assim que eles chegam ao final de sua vida til em mdia, metade dos resduosslidos urbanos formada por matria no orgnica, de acordo com o Plano Nacional de Resduos Slidos.

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    A ideia da responsabilidade compartilhada que as empresas respondam pelo ciclo de vida de seusprodutos. Para que isso acontea de fato, a PNRS prev a criao de sistemas de logstica reversa , mecanismos quedefinem regras e aes para a devoluo dos resduos com valor econmico s cadeias produtivas, de modo a

    reaproveita-los em seu prprio ciclo ou em outros ciclos produtivos. A implementao da logstica reversa se d,principalmente, por meio de acordos setoriais , contratos firmados entre o poder pblico federal e todo o setorempresarial envolvido, sendo que os recursos financiados pelo setor privado devem estar de acordo com o seu nvelde interveno no ciclo produtivo e proporcional aos seus mercados. Para implantar a logstica reversa, o poderpblico tambm pode fazer uso do regulamento e do termo de compromisso, que podem ser utilizados casogoverno e as entidades envolvidas no cheguem a um consenso sobre a instalao da logstica reversa via acordosetorial.

    A participao da sociedade nos acordos setoriais garantida por meio de consultas pblicas realizadasatravs da internet. A sociedade tem a oportunidade de enviar sugestes e observaes para aprimorar um ou mais

    elementos do texto dos acordos.

    Cadeias Produtivas da Logstica Reversa

    Inicialmente, cinco cadeias de produtos foram identificadas como prioritrias dentro dos sistemas delogstica reversa por meio de acordos setoriais. As quatro primeiras se referem a resduos que se destacam por suascaractersticas de risco sade pblica e ambiental categorizados como resduos de logstica reversa obrigatria sendo eles: embalagens de leos lubrificantes e seus resduos, lmpadas (fluorescentes, de vapor de sdio emercrio e de luz mista), medicamentos e eletroeletrnicos. A quinta cadeia est relacionada s embalagens emgeral e nessa cadeia que se encontra grande parte do material a ser tratado: aproximadamente 60% da frao secados resduos slidos urbanos composta por esse grupo, de acordo com o Plano.

    O primeiro acordo setorial assinado pelo governo se refere logstica reversa de embalagens de leoslubrificantes de um e quatro litros. O acordo impe o recolhimento dessas embalagens em postos de gasolina paraque a indstria se encarregue da destinao final adequada. Pelo acordo, a primeira fase de implantao cobrir 60%da distribuio no pas e envolve todos os estados do litoral brasileiro.

    No final de 2014 foi assinado o acordo setorial referente s lmpadas. As empresas participantes criarouma ou mais entidades gestoras que administraro e implantaro o sistema, que conta com metas estruturantes e

    quantitativas a serem estabelecidas progressivamente ao longo de cinco anos. Os consumidores devem fiscalizar eexigir dos revendedores que aceitem a devoluo de suas lmpadas usadas ao adquirirem novos produtos,estimulando a agilidade do sistema.

    Os setores de medicamentos e eletroeletrnicos j enviaram suas propostas para a definio de seusacordos e os respectivos documentos ainda esto em fase de anlise.

    O acordo setorial de embalagens em geral ainda no possui um texto final aprovado. A atuao dasempresas do setor deve se dar por meio da contribuio financeira a ser destinada ao desenvolvimento tecnolgicoe capacitao dos empreendimentos de catadores de materiais reciclveis, alm da instalao e expanso de Postosde Entrega Voluntria (PEVs) no setor varejista em um primeiro momento esse processo se dar apenas nas 12

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    capitais que sediaram os jogos da Copa do Mundo de 2014. Ao contrrio do que ocorre com os sistemas vistosanteriormente, as aes envolvem o consumidor, o setor empresarial e o poder pblico municipal, responsvel poreducar os moradores para separar os resduos slidos urbanos em pelo menos duas fraes (seca e mida) e por

    implantar a coleta seletiva, que deve envolver os empreendimentos de catadores de materiais reciclveis, seja ofornecimento desse servio custeado pelo usurio ou no.

    Para que o conceito da logstica reversa seja colocado em prtica preciso que todos os atores envolvidosno processo contribuam. A forma como se dar a contribuio financeira do consumidor para o custeio dessesistema ainda est sendo discutida pelo setor empresarial. O poder pblico tambm pode estimular esse fluxo aooferecer um tratamento tributrio diferenciado com reduo, iseno e solues para a bitributao, visando oestmulo reutilizao e reciclagem, a exemplo da Lei Federal n 12.375/20104 que, at 31 de dezembro de 2014,concedeu aos estabelecimentos industriais crdito presumido de imposto sobre produtos industrializados (IPI) paraaquisio de resduos slidos a serem utilizados como matria-prima ou produto intermedirio na fabricao de seus

    produtos.

    Material Orgnico e Rejeitos

    Com relao ao financiamento das atividades relacionadas frao orgnica dos RSU, dever do poderpblico municipal implantar um sistema de compostagem ou biodigesto e articular com os atores econmicos esociais formas de utilizao dos produtos obtidos, como o biocomposto e o biogs, alm de investir em programas ecampanhas que incentivem a reduo da gerao desse tipo de resduo pelos moradores da cidade.

    O rejeito, frao do RSU que no tem possibilidade de reaproveitamento ou de reciclagem, tambm deve sergerido pelo poder pblico municipal, que tem de dar a destinao final ambientalmente adequada ao material. importante lembrar que dentro daquilo que chamamos de rejeito esto muitos materiais que no contam com umatcnica de reciclagem especfica e tambm aqueles cuja logstica envolvida no processo no compensaria umaeventual reciclagem. Por causa disso, a questo de como medir e compartilhar o custo com os responsveis pelaexistncia desses materiais ainda est pendente.

    Quando sistemas adequados para os diferentes tipos de RSU so implantados, menos resduos soencaminhados diretamente para sua destinao final e maiores so os benefcios econmicos: os sistemas logsticose tecnolgicos podem ser otimizados, os atores da responsabilidade compartilhada podem ser cobrados e menor a

    demanda de construo e manuteno de aterros sanitrios de grandes dimenses, empreendimentos queinvariavelmente necessitam de grandes investimentos.

    A realidade brasileira ainda est distante do que a PNRS prope. Em vez de logstica reversa, acordossetoriais e responsabilidade compartilhada, o que se v a maioria dos municpios arcando com a destinao finalde praticamente todo o RSU gerado e gastando tempo e dinheiro para conseguir tratar esse montante de formaambientalmente adequada, seja construindo seus prprios aterros, seja utilizando os servios de aterros privados. Apesquisa Ciclosoft, publicada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) em 2014, revelou queapenas 17% dos municpios possuem algum programa de coleta seletiva e na maioria dos casos a cobertura noatinge mais que 10% da populao.

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    Cerca de 70% dos municpios brasileiros so considerados de pequeno porte, ou seja, com populaesinferiores a 20 mil habitantes. Com foco nessas cidades, o governo federal estimula a formao de consrcios pblicos, em uma tentativa de viabilizar a gesto integrada de resduos nesses municpios, que normalmente contam

    com uma estrutura tcnica e financeira inferior dos grandes centros e nem sempre podem pagar pela implantaode um aterro sanitrio. Segundo levantamento do Ministrio do Meio Ambiente, no final de 2013 aproximadamente2,2 mil municpios encaminhavam seus resduos para a disposio final ambientalmente adequada isso significaque em 61% das cidades brasileiras o tema ainda tratado de maneira precria.

    A Gesto dos Resduos Slidos Urbanos Reciclveis e a Integrao dos Empreendimentos de Catadores deMateriais Reciclveis

    Os dados oficiais indicam que os sistemas de coleta seletiva ainda tm muito a avanar no Brasil. Apesar dasituao estar longe do ideal, h muito tempo que a coleta e a triagem vm sendo realizadas de maneira informal

    por trabalhadores de todo o pas, fato que reduz o custo tanto para o setor privado quanto para o pblico, que noparticipam do processo enquanto ele se mantm na informalidade.

    No h dvidas que o principal ator da reciclagem no Brasil o catador de material reciclvel. Mesmoenfrentando diariamente problemas como o acesso limitado a locais e equipamentos de trabalho adequados, aausncia de servios urbanos bsicos, como gua e esgoto e vrias outras questes recorrentes na vida de brasileirosde baixa renda, o catador o protagonista dessa enorme rede, mas muitos deles talvez no estejam aptos a entrarno mercado de trabalho formal, que costuma exigir um nvel de educao que sempre foi negligenciado a essestrabalhadores. Trata-se, portanto, de um problema.

    Na maioria dos casos, os catadores realizam as atividades de coleta, triagem e comercializao de materiaisreciclveis de maneira informal e atuando sozinhos ou em pequenos grupos. Isso no significa que sejam raras asiniciativas de organizao coletiva desses trabalhadores, seja por meio de associaes ou de cooperativas, sendo quenem sempre essas organizaes se encontram totalmente regularizadas perante os rgos competentes. Hoje emdia possvel encontrar diferentes nveis de desenvolvimento nesses empreendimentos, desde grupos trabalhandoem situao precria at aqueles j bastante estruturados. Os ltimos 20 anos presenciaram um aumento gradual dointeresse da sociedade pelos catadores e muitos projetos de incubao foram realizados, muitas vezes atravs deONGs e Organizaes Sociais de Interesse (OSCIPs) patrocinadas por projetos de grandes empresas com atuao nalocalidade ou agncias de fomento nacionais e internacionais no exagero afirmar que a colaborao do poder

    pblico municipal tem ficado muito aqum do esperado, normalmente se limitando aes pontuais, como adoao de maquinrios, aluguel de galpes de triagem, emprstimo de caminhes, capacitaes e investimento emdivulgao e educao ambiental. Mesmo entre as organizaes de catadores mais desenvolvidas, a instabilidade grande, j que a entrada de recursos depende principalmente da venda dos materiais, fazendo com que a sadefinanceira do empreendimento se sujeite a todas as variaes de preo, estoque e demanda inerentes ao mercadodos reciclveis.

    A PNRS indica que as organizaes coletivas de catadores de materiais reciclveis devem ser vistas comoparceiros prioritrios nessa empreitada somente a integrao formal e efetiva desses empreendimentos na gestodos resduos slidos urbanos poder beneficiar os trabalhadores, que finalmente passam a ser reconhecidos como

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    prestadores de servios e podero aprofundar o desenvolvimento econmico de seus negcios.

    No tarefa simples demover os gestores municipais de contratar as mesmas empresas e consrcios para o

    manejo dos resduos slidos urbanos. O nmero de municpios brasileiros que apoia ou mantm cooperativas decatadores como agentes integrantes da coleta seletiva ainda muito baixo: aproximadamente 8,5%. A mudana deatitude com relao aos catadores no representa a eliminar a utilizao dos servios do setor privado convencional,mas sim redistribuir as diferentes demandas para os fornecedores mais adequados a atender cada uma delas. Cabeaos gestores pblicos reconhecer os benefcios econmicos, sociais e ambientais a serem obtidos a partir dessamudana de paradigma talvez o principal desafio consista justamente na mudana de percepo e atitudes comrelao s reais potencialidades desse setor.

    Nos moldes da Lei 8.666/93, os empreendimentos de catadores podem ser contratados como terceiros paraa prestao dos seguintes servios:

    - Educao Ambiental, mobilizando a populao para a separao e disponibilizao adequada dosresduos.

    - Coleta de resduos.

    - Triagem e seleo (com ou sem beneficiamento primrio) e comercializao dos resduos.

    Apesar de serem entidades privadas sem fins lucrativos e fazerem parte do terceiro setor, as associaes e as

    cooperativas de catadores de materiais reciclveis apresentam algumas diferenas legais entre si, tornando-as maisou menos capazes de executarem determinadas tarefas. As atividades de produo, prestao de servios,comercializao e distribuio das sobras como forma de remunerao dos mesmos so ligadas natureza dascooperativas as associaes tm mais limites de atuao, uma vez que no tm finalidade econmica ou comercial.Os Tribunais de Conta Estaduais orientam que as associaes se transformem em cooperativas, permitindo que oempreendimento possa celebrar contratos de prestao de servios e se integrar cadeia produtiva da gesto deresduos da cidade.

    Ainda que a maioria dos empreendimentos de catadores carea de algum grau de desenvolvimento para quepossa assumir totalmente a operao de um servio, isso no impede que lhes sejam concedidas obrigaes

    menores de acordo com o que sejam capazes de atender. Um passo em direo efetiva integrao solicitar aessas organizaes servios possveis de serem entregues ao mesmo tempo em que medidas de desenvolvimentosejam implantadas pelo poder pblico, como a melhoria nas condies e tcnicas de trabalho. Para que essesnegcios sejam bem-sucedidos preciso promover um forte trabalho junto s fontes geradoras (residncias,empresas, rgos pblicos etc.) para que o material recolhido no seja apenas volumoso, mas tambm comqualidade suficiente para ser reaproveitado.

    Em muitos casos, os municpios apontam a falta de dinheiro como justificativa para a tmida atuao nodesenvolvimento desses empreendimentos. A consequncia bvia e acaba gerando um inevitvel ciclo vicioso:sem o apoio da gesto pblica, as organizaes de catadores no tem como serem inseridos na cadeia de gesto deresduos e as mesmas empresas e consrcios so contratados. No entanto, existem diversas fontes de investimentos

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    disponveis para beneficiar essas entidades, desde projetos de rgos da administrao pblica (estadual e federal)at editais de organizaes internacionais de fomento nesses casos, os catadores precisam de acompanhamentotcnico para completar os trmites necessrios obteno dos recursos.

    O Desenvolvimento dos Empreendimentos de Catadores a partir de Verbas Pblicas

    No intuito de descentralizar a execuo de atividades de interesse recproco, o poder pblico pode formarparcerias com entidades privadas sem fins lucrativos por meio da transferncia voluntria de recursos pblicos. Essaprtica comum no campo do desenvolvimento social e pode ser replicada pelos catadores para que eles possamprogredir em conjunto, tanto profissional quanto pessoalmente. Os procedimentos administrativos que regem essatransferncia so os convnios comuns, os contratos de repasse e os termos de parceria.

    O convnio comum , ou convnio de cooperao , um acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento queregule a transferncia de recursos financeiros da administrao pblica para as entidades privadas sem finslucrativos. O valor repassado no perde a natureza de dinheiro pblico, s podendo ser utilizado para os finsprevistos no convnio e com a entidade sendo obrigada a prestar contas, seguindo, no que couber, as disposies daLei 8.666/93. Caso implique em repasse de verbas no previstas na lei oramentria, necessria a autorizao sobforma de lei. Os convnios de cooperao tcnica e/ou financeira so instrumentos muito utilizados pelos governosmunicipais para promover o desenvolvimento das organizaes de catadores. Atravs de uma lei municipal, aprefeitura pode reconhecer os empreendimentos de catadores como de utilidade pblica, uma forma de reforarque a instituio em questo realiza atividades ligadas ao interesse da coletividade, merecendo o repasse financeiro.

    O contrato de repasse o formato em que a transferncia dos recursos financeiros acontece por intermdiode uma instituio ou de um agente financeiro pblico federal atuando como mandatrio da Unio esseinstrumento deve ser utilizado para obras, a no ser que o concedente conte com a estrutura necessria paraacompanhar a execuo do convnio.

    O termo de parceria um instrumento jurdico para transferncia de recursos para OSCIPs. Esse mecanismosurgiu com a necessidade de desonerar as transferncias de recursos para essas entidades, uma vez que osconvnios exigiam um sistema de prestao de contas incompatvel com a estrutura tcnica das OSCIPs.

    A formao de parcerias para a execuo descentralizada de atividades por meio dos mecanismos

    apresentados dever acontecer aps a realizao de chamamento pblico ou concurso de projetos. Esses processosdevem sempre priorizar os projetos e entidades que mais se adequam necessidade posta.

    O termo de referncia deve ser apresentado quando o convnio, contrato de repasse ou termo de cooperaoenvolver a aquisio de bens ou prestao de servios. Esse documento precisa conter elementos que permitam aavaliao da administrao pblica em relao ao oramento, preos praticados no mercado, definio dos mtodose prazo de execuo do objeto.

    Um ponto importante a ser discutido a utilizao do convnio por parte dos municpios para remunerar asorganizaes de catadores. Atravs desse processo podem ser feitos repasses de carter geral para fornecer ajudade custo, sendo que o repasse no deve ser equiparado ao que seria o real reconhecimento do servio

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    prestado por essas entidades, ou seja, o contrato de prestao de servio e sua devida remunerao.

    O artigo 10 da Lei 11.445/2007 trata do veto contratao de terceiros para a prestao de servios de

    saneamento bsico mediante a celebrao de convnios, procedimento ainda bastante utilizado por algumasprefeituras. O texto da lei diz o seguinte:

    A prestao de servios pblicos de saneamento bsico por entidades que no integram a administrao pblica depende da celebrao de contrato, sendo vedada a sua disciplina mediante convnios, termos de parceriaou outros instrumentos de natureza precria:

    1o Excetuam-se do disposto no caput deste artigo:

    I - os servios pblicos de saneamento bsico cuja prestao o poder pblico, nos termos de lei, autorizar para usurios organizados em cooperativas ou associaes, desde que se limitem a:

    a) determinado condomnio;

    b) localidade de pequeno porte, predominantemente ocupada por populao de baixa renda, onde outras formas de prestao apresentem custos de operao e manuteno incompatveis com a capacidade de pagamentodos usurios;

    II - os convnios e outros atos de delegao celebrados at o dia 6 de abril de 2005.

    As Alianas Pblico-Privadas e a Colaborao dos Atores

    O setor empresarial, o poder pblico (com destaque para a esfera municipal) e os usurios dos servios decoleta, tratamento e destinao final de resduos slidos so os atores envolvidos na responsabilidadecompartilhada e a partir da atuao desses trs grupos que a PNRS pretende atingir seus objetivos, como aerradicao dos lixes e o estmulo logstica reversa. A insero definitiva dos empreendimentos de catadores demateriais reciclveis na gesto dos resduos tambm ocupa um papel central nesse cenrio, j que esse trabalhadorpassar a ter o devido reconhecimento da sociedade e poder avanar social e economicamente em direo a umavida mais digna e prspera.

    Atingir as demandas da PNRS e organizar todo o sistema de coleta seletiva sem deixar de lado a inclusosocioprodutiva dos catadores no uma tarefa fcil. As precariedades estruturais enfrentadas pelos municpiosbrasileiros diante dos desafios j mencionados apontam para a necessidade de atuar local e regionalmente, a partirde estruturas de organizao menos complexas e mais viveis financeiramente. essencial que os protagonistas daresponsabilidade compartilhada dialoguem entre si e com outros setores da sociedade de modo que se organizeuma frente de carter plural, onde todos colaboram com suas diferentes vises e experincias, ajudando a idealizare a controlar o sistema da melhor maneira possvel.

    A palavra colaborao entendida aqui como a absoro das vantagens comparativas de cada um dos

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    diferentes atores exploradas na forma de apoio mtuo. As foras devem ser utilizadas ao mximo, minimizando o potencial de ineficincia causado pelas fraquezas.

    De acordo com o Programa Alianas Pblico-Privadas para o Desenvolvimento Local, as APPs e as micro APPSso iniciativas de cooperao em escala municipal cujo alcance econmico e social lhes confere um forte impacto naprestao de servios comunidade, implicando em prazos menores e valores contratuais mais reduzidos.

    Alianas pblico-privadas e parcerias pblico-privadas no so a mesma coisa. Enquanto o conceito da primeira passa pela colaborao entre o poder pblico e a iniciativa privada sem fins lucrativos alm doenvolvimento de vrios atores sociais locais as parcerias representam apenas a relao contratual entre o poder pblico e um terceiro, a chamada concesso administrativa.

    De certa forma, esses arranjos de carter plural j existem. Alm dos entes j discutidos at aqui poderpblico municipal, moradores da cidade, setor empresarial e organizaes de catadores de materiais reciclveis tambm possvel destacar outros atores, como empresas de pequeno porte e microempresas do ramo de materialreciclvel (conhecidas como comerciais de sucata ou sucateiros), catadores autnomos, poder pblico estadual efederal, universidades e centros de pesquisa, associaes, fundaes e empresas de consultoria que trabalham coma incubao e o desenvolvimento social de trabalhadores relacionados com a coleta seletiva, Ministrio Pblico,entidades de classe, instituies religiosas, empresas no signatrias dos acordos setoriais, setores empresarias noligados responsabilidade compartilhada etc.

    Considerando as propores continentais do territrio brasileiro e suas nuances geogrficas, demogrficas esociais, as relaes entre os atores e os diversos cenrios legais, tcnicos, ambientais, sociais, tributrios e atmesmo culturais se d, em linhas gerais, nas seguintes dimenses:

    - Operacional: fornecimento de tecnologia, estrutura fsica e equipamentos para a separao, coleta, triageme comercializao; capacitao dos trabalhadores; implementao de sistemas de controle de produo e medioda eficincia do processo.

    - Econmica: participao financeira atravs do pagamento por servios contratados; compra e venda demateriais; ajuda de custo para complementao de renda; microcrdito; comercializao conjunta; comercializaode crditos ambientais etc.

    - Poltica e institucional: definio de responsabilidades tanto dos atores diretamente envolvidos quantodaqueles que participam de maneira indireta; articulao entre todas as aes desses atores com o objetivo dediminuir os conflitos e aumentar as chances de atingir os objetivos estabelecidos.

    - Socioambiental: aes de educao ambiental, cidadania, alfabetizao, auxlio psicolgico, entre outros.

    A seguir, confira como os diferentes atores sociais podem participar dentro do contexto das APPs paragesto de resduos slidos urbanos reciclveis lembrando que o poder pblico municipal encarado comoelemento central nesse arranjo.

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    O Poder Pblico Municipal (Executivo - Administrao Direta e Indireta/ Legislativo)

    - Elaborar o Plano de Gesto Integrada de Resduos Slidos (PMGIRS) de forma participativa.

    - Instituir a coleta seletiva no municpio e se responsabilizar pelo seu gerenciamento, estabelecimento econtinuidade.

    - Unir foras internas, aproximando as Secretarias do Meio Ambiente, Educao, Infraestrutura e Sade paracolaborar com os projetos.

    - Envolver as escolas municipais nos programas de coleta seletiva do municpio, de forma a sensibilizar osalunos e seus familiares.

    - Oferecer espao na prefeitura para estgios de alunos de cursos universitrios relacionados com gestoambiental e afins.

    - Promover a discusso da responsabilidade compartilhada com membros do setor privado que noassinaram nenhum acordo setorial.

    - Pensar as aes levando em conta as polticas e metas estaduais, deixando de lado quaisquer questespartidrias.

    - Buscar a celebrao de convnios com as secretarias estaduais.

    - Responder aos compromissos de pesquisa, anlise, formatao e entrega de informaes.

    - Participar de diferentes programas lanados por essas esferas, pleiteando diferentes formas de aquisiode recursos para aprimorar a gesto dos resduos.

    - Criar ou apontar uma entidade de regulao dos sistemas de logstica reversa, assegurando a estabilidadenecessria na inter-relao de responsabilidades entre os atores e garantindo a segurana jurdica e institucionalpara o sistema e para o prprio ciclo produtivo.

    - Avaliar a eficincia social, produtiva e econmica das organizaes de catadores inseridas no sistema.

    - Integrar as organizaes de catadores dentro do sistema de gerenciamento dos resduos slidos urbanos.Dentro dessa ao, as principais atividades so:

    - Considerar, mapear e promover a incluso social das organizaes por meio de sua insero no programade coleta seletiva; formalizar o papel dos empreendimentos dos catadores dentro do PMGIRS, da Lei

    Municipal de Implementao e da Lei Municipal para instaurao do programa.

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    - Doar para as cooperativas o material reciclvel recolhido pelo programa de coleta seletiva da cidade. Asmaneiras de formalizar esse processo so: chamadas pblicas, editais, processos administrativos dehabilitao e Termos de Compromisso de Doao.

    - Instituir a coleta seletiva em todos os rgos pblicos municipais e promover a doao desse material.

    - Por meio de lei municipal, dar s organizaes de catadores o ttulo de utilidade pblica, pessoas jurdicasde direito privado sem fins lucrativos legitimadas por seu papel na incluso social, como forma de garantirque esses empreendimentos possam receber investimentos pblicos.

    - Disponibilizar espao fsico adequado para que os trabalhadores possam exercer seu trabalho. Paraformalizar essa ao preciso obter um Termo de Permisso de Uso.

    - Oferecer complementao de renda, cesta bsica, vale-refeio e outros benefcios para que ostrabalhadores possam garantir o sustento de suas famlias durante os estgios de desenvolvimento eestabelecimento de suas organizaes. Esse repasse deve ser feito por meio de Convnio Administrativo deCooperao Financeira.

    - Oferecer respaldo tcnico por meio da disponibilizao de profissionais ou empresas de consultoria.Oferecer equipamentos e materiais relacionados aos servios das organizaes e firmar ConvnioAdministrativo de Cooperao Tcnica e Material.

    - A contratao da prestao de servios deve acontecer atravs das seguintes aes:

    - delimitar o objeto a ser contratado observando as condicionantes tcnicas, operacionais,econmicas e/ou institucionais de acordo com as demandas e informaes contidas no PMGIRS.

    - calcular o preo do servio considerando os gastos operacionais de cada etapa a ser contratada(custos e despesas diretos e indiretos), garantindo todas as questes trabalhistas e encargos deresponsabilidade desses empreendimentos como a Nova Lei do Cooperativismo 12.690/2012.

    - Formalizar atravs de Termo de Referncia.

    - Validar e conformar a contratao das organizaes justificando a razo da escolha do terceiro e opreo do servio, j que esses empreendimentos esto dispensados de passar pelo processo de licitaodevido ao Processo Administrativo de Dispensa de Licitao para Contratao.

    - Formalizar a relao jurdica, contemplando as clusulas necessrias de acordo com o art. 55 da Lei8.666/1993 e firmar Contrato Administrativo de Prestao de Servios.

    - Criar programas especiais para a integrao dos catadores autnomos nos modelos a serem desenvolvidos.

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    - Atuar em conjunto com a sociedade civil promovendo as seguintes atividades junto populao:

    - Formao em educao ambiental.

    - Apresentao da implantao de novos sistemas de gesto de resduos e discusso sobre experincias semsucesso ocorridas no passado.

    - Incentivo participao adequada nos programas de coleta seletiva e promoo de medidas corretivas epunitivas para aqueles que agirem de forma inadequada.

    - Garantia de participao e representatividade da sociedade civil em grupos de trabalho e conselhos detemas relacionados ao assunto.

    - Abertura de canais de comunicao para que a sociedade possa manifestar sua opinio sobre a qualidadedos servios.

    - Manuteno de um site com informaes, leis municipais, minutas de contratos e aditivos.

    O Poder Pblico Estadual (Administrao Direta e Indireta)

    - Promover a capacitao da sociedade civil atravs do fornecimento de cursos de educao a distncia.

    - Criar formas mais simples ou isentar empreendimentos de catadores da necessidade de obter a licenaambiental.

    - Buscar junto ao Ministrio Pblico Estadual a equalizao das polticas pblicas bem como o alinhamentodas aes.

    - Incentivar a cadeia de materiais reciclveis atravs de incentivos fiscais, tratando inclusive das questes deordenamento territorial e bitributao.

    - Apoiar pequenos municpios atravs do repasse de verbas e promoo de consrcios.

    - Promover a capacitao das cooperativas de catadores de materiais reciclveis atravs do fornecimento decursos de educao a distncia.

    O Poder Pblico Federal (Administrao Direta e Indireta)

    - Introduzir incentivos fiscais e critrios competitivos para que os produtos compostos por materiaisreutilizados e reciclados possam ser includos nas compras pbicas.

    - Implantao de medidas de incentivo para o desenvolvimento de tcnicas de reutilizao e reciclagem dos

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    diversos materiais que compe os RSU e a utilizao desses materiais reciclados no lugar das matrias-primasvirgens na fabricao de produtos.

    - Promover a regulamentao da PNRS com clareza e estabelecer formas de monitoramento adequadas edesenvolver formas viveis de quantificao e valorizao dos diferentes tipos de materiais reciclveis para que sepossa encontrar um norte quantitativo nas discusses sobre a responsabilidade compartilhada da logstica reversa.

    - Alinhamento das aes junto aos governos estaduais em prol do cumprimento da PNRS.

    - Fomentar aes que promovam o estabelecimento das APPs nos municpios.

    - Incentivar a indstria recicladora a comprar materiais reciclveis oriundos de iniciativas de coleta seletivaque promovam a incluso social.

    O Setor Empresarial

    - Fabricar seus produtos de forma que todos os resduos gerados no ps-uso possam ser reciclados.

    - Usar conscientemente as embalagens em seus produtos e evitar a gerao de resduos no processo decompra, venda e transporte dos artigos.

    - Informar maneiras de evitar, reciclar e eliminar os resduos slidos associados a seus produtos.

    - Participar ativamente do sistema de logstica reversa, seja atravs de um acordo setorial ou de um termode compromisso. Se o ramo de atuao no estiver previsto em nenhuma das cadeias produtivas da logsticareversa, participar das aes previstas no PMGIRS.

    - Criar condies para que o consumidor possa entregar o material para a logstica reversa e estudar formasde recompensa-lo.

    - Promover e apoiar aes de educao ambiental para a sociedade civil.

    - Estimular a educao ambiental e a capacitao das organizaes de catadores de materiais reciclveis.

    - Doar seus resduos reciclveis no perigosos aos empreendimentos de catadores locais.

    - Contratar organizaes de catadores capacitadas para a recuperao dos materiais que podem serreciclados.

    A Sociedade Civil

    - Separar os resduos na fonte, respeitando os requisitos do programa de coleta seletiva que ir recolher o

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    material.

    - Procurar se informar sobre as prticas de integrao e desenvolvimento social executadas pelas entidades

    que coletam e realizam a gesto dos seus resduos reciclveis.

    - Acompanhar junto ao poder pblico municipal os nmeros relacionados cobrana das taxas de resduosslidos e como esses recursos so aplicados.

    - Participar de associaes e conselhos municipais, cobrando do poder pblico municipal a implantao deprogramas de coleta seletiva de qualidade.

    - Cobrar das empresas informaes sobre o descarte das embalagens e eventuais programas de incentivopara quem o fizer de maneira correta.

    - Mobilizar-se para a criao do Frum do Lixo e Cidadania e estabelecer as diretrizes para a instituio oureviso de um programa de coleta seletiva com incluso social dos trabalhadores envolvidos, alm da criao doPMGIRS.

    - Participar do monitoramento e avaliao dos sistemas de coleta seletiva, denunciando ocorrncias de msprticas e sugerindo melhorias.

    - Informar-se sobre as prticas ambientais e sociais das empresas e fazer do seu poder de compra uma

    manifestao de conscientizao socioambiental.

    As Organizaes de Catadores de Materiais Reciclveis

    - Estabelecer dilogo com o poder pblico municipal para pleitear a sua participao na gesto dos resduosslidos da cidade, participando ativamente das discusses e garantindo a devida representatividade dos scios nasdecises a serem tomadas sobre o sistema de gerenciamento dos RSU municipais.

    - Integrar o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclveis (MNCR).

    - Estabelecer relao de mtua confiana com a sociedade civil, realizando aes de educao ambiental junto aos moradores da cidade.

    - Criar mecanismos para que os catadores autnomos possam comercializar seus materiais e exigir dasautoridades pblicas melhores condies de trabalho para esses trabalhadores.

    - Organizar-se com outras cooperativas e estabelecer redes de comercializao.

    - Estabelecer uma relao de sinergia comercial com as empresas locais de pequeno porte e microempresas

    do ramo de resduos slidos.

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    - Fazer uso responsvel de todos os recursos financeiros, materiais e humanos que lhes forem fornecidos.

    - Cumprir as exigncias legais e contratuais durante o tempo em que o contrato for vlido.

    - Garantir a governana e a transparncia em suas atividades.

    - Buscar, na medida do possvel, seguir a Nova Lei do Cooperativismo.

    Ministrio Pblico

    - Cobrar do poder pblico municipal a elaborao do PMGIRS e o estabelecimento de programas de coletaseletiva que tenham como objetivo o desenvolvimento social dos trabalhadores envolvidos.

    - Atuar ativamente nos comits de acompanhamento dos processos de elaborao e continuidade das APPs.

    - Beneficiar as organizaes de catadores atravs dos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs).

    - Aproximar-se da sociedade civil, divulgando formas de fiscalizar os rgos responsveis pela gesto deresduos slidos no municpio.

    Associaes, Fundaes e Empresas de Consultoria

    - Apoiar as empresas no desenvolvimento de aes que combinem gesto de resduos slidos com inclusosocial.

    - Dar suporte aos projetos de financiamento criados pelo setor pblico.

    - Fazer uso responsvel do dinheiro pblico no desenvolvimento de projetos.

    - Fazer da incubao um processo que no se restrinja s questes estruturais, tcnicas e de gesto dosempreendimentos, servindo tambm como um meio de empoderamento dos catadores, alertando-os para os seusdireitos, deveres e ressaltando a importncia do trabalho exercido por eles.

    - Dialogar com todos os atores sociais.

    - Buscar a integrao junto a projetos de agncias de fomento nacionais e internacionais.

    - Utilizar indicadores de desempenho para avaliar a evoluo qualitativa e quantitativa dos processos.

    - Buscar a amarrao jurdica das conquistas junto ao poder pblico como forma de garantir a continuidadedas aes depois do perodo da incubao.

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    Universidades e Centros de Pesquisa

    - Implantar programas internos de coleta seletiva e encaminhar o material para as organizaes de

    catadores.

    - Promover o debate sobre a importncia da coleta seletiva na comunidade do cmpus.

    - Utilizar seu espao fsico e seu respaldo cientfico para orientar a sociedade sobre a necessidade dosprogramas de coleta seletiva e reciclagem.

    - Participar ativamente dos grupos de trabalho ou conselhos referentes aos programas municipais de coletaseletiva.

    - Atuar junto s organizaes de catadores promovendo seu desenvolvimento atravs de projetos depesquisa e programas de extenso universitria.

    Empresas de Pequeno Porte e Microempresas do Ramo de Material Reciclvel (Comerciais de Sucata ouSucateiros)

    - Estabelecer formas mais justas de comrcio com os empreendimentos de catadores, buscando relaes deparceria em vez de atuar apenas como intermedirios.

    - Eliminar prticas de explorao do trabalho que estimulem a vulnerabilidade dos catadores autnomos.

    - Negociar sua participao na gesto dos resduos slidos urbanos junto ao poder pblico municipal e abolirprticas de coleta clandestina.

    Catadores Autnomos

    - Buscar trabalhar em conjunto com os empreendimentos de catadores integrados na gesto de resduosslidos do municpio.

    - Fazer uso dos servios de assistncia social promovidos pelas associaes, igrejas, universidades e pelaprpria prefeitura do municpio.

    - Atuar em zonas comerciais, construes e outras reas de difcil acesso e estabelecimento da coletaseletiva.

    - Abolir prticas de garimpo dos resduos domiciliares de responsabilidade da coleta seletiva municipal.

    Entidades de Classe, Instituies Religiosas, Organizaes da Sociedade Civil em Geral

    - Cobrar aes do poder pblico municipal para que a gesto de resduos e a coleta seletiva da cidade sejamde qualidade.

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    - Fazer parte dos grupos de trabalho ou conselhos referentes aos programas municipais de coleta seletiva.

    - Utilizar de seu potencial articulador para agregar mais atores nas discusses.

    - Aproveitar o conhecimento especfico da entidade para promover a capacitao das organizaes decatadores, criando um ambiente de troca de ideias e experincias que amplie o horizonte cultural tanto dostrabalhadores quanto dos membros da entidade.

    - Viabilizar campanhas de arrecadao de fundos para financiar melhorias junto s organizaes decatadores.

    Estudos de CasosPara compreender a questo das alianas pblico-privadas e seus possveis desdobramentos diante da gesto dosresduos slidos e da incluso social, essencial se aprofundar no aspecto prtico do tema. Quatro experincias decidades brasileiras foram escolhidas para exemplificar como as APPs operam na realidade do dia a dia, apresentandoos desafios inerentes realidade brasileira e os benefcios trazidos pela colaborao entre os atores envolvidosnesse processo iniciado pela PNRS.

    Caso Ilhus BA

    A cidade de Ilhus, localizada no sul da Bahia, possui cerca de 182.000 habitantes distribudos pelos seus1.584,69 km 2 de rea 84% dos moradores vivem na rea urbana. A gerao de resduos per capita de 0,79 quilos por dia, sendo que aproximadamente 30% desse montante potencialmente reciclvel. Desde 2012 o municpio

    conta com um aterro sanitrio operado por uma empresa terceirizada. Atualmente a populao no precisa pagaruma taxa pelos servios de limpeza urbana, incluindo o manejo dos resduos slidos, mas a previso que em 2015os moradores passem a ser cobrados pelo servio a coleta de resduos urbanos tambm terceirizada. A coletaseletiva no municpio tmida, pois a cooperativa no conta com veculo prprio nem com um galpo de triagem moradores e empresas disponibilizam, por conta prpria, os resduos para a entidade. Ilhus no possui um PlanoMunicipal de Gesto Integrada de Resduos Slidos.

    Contexto

    A Companhia Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder) atua na regio desde 2001. O primeiro projeto foi

    a instalao do aterro sanitrio do Itariri, criado atravs de um convnio com o Ministrio do Meio Ambiente. Em2008, em parceria com a prefeitura de Ilhus, a Companhia fez um trabalho de avaliao e acompanhamento doespao, analisando possveis mudanas no aspecto fsico, social e de gesto do aterro e constatou que o localapresentava vrias caractersticas anlogas aos famigerados lixes desde 2005 a prefeitura era a responsvel pelaoperao do aterro, mas as autoridades no cumpriram com suas obrigaes. desse grupo de trabalhadores dolixo que nasce a Cooperativa de Catadores Conscincia Limpa (Coolimpa), oficializada em setembro de 2010 graasao apoio financeiro da Cmara de Dirigentes Lojistas de Ilhus (CDL) os catadores estavam com o projeto pronto hanos, mas no conseguiam apoio financeiro. No incio de 2011 articulada uma parceria com o CompromissoEmpresarial para Reciclagem (CEMPRE), com o objetivo de disponibilizar equipamentos para a cooperativa. Nessemesmo ano firmada uma parceria do Conder com o IBAM com o objetivo de constituir uma APP entre a prefeiturae os integrantes da Coolimpa, que trabalhavam e moravam no o local a ideia era desenvolver um programa de

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    coleta seletiva que se baseasse na insero socioprodutiva dos catadores e catadoras. Essa iniciativa fez parte doPrograma Microalianas Pblico-Privadas, que busca novas formas de cooperao entre o setor pblico e privado,focando no aprimoramento de prticas consagradas na gesto das cidades brasileiras. O trabalho de incubao

    contou com a participao de todos os atores envolvidos e trouxe Coolimpa uma nova perspectiva, muito maisampla e repleta de oportunidades. O projeto foi desenvolvido entre maro de 2011 e novembro de 2013 e suasprincipais aes foram:

    - Reunies do IBAM/Conder com o poder executivo municipal em especial com a Secretaria deDesenvolvimento Urbano, responsvel pela limpeza urbana para apresentao do projeto e discusso deestratgias de trabalho.

    - A formalizao de um Grupo de Trabalho para acompanhar o processo. O GT era formado pelas SecretariasMunicipais, Poder Legislativo, sociedade civil, governo da Bahia, IBAM e Coolimpa.

    - Criao de uma Comisso Institucional de Coleta Seletiva para atuar na rea tcnica e operacional doprocesso, deixando o GT como uma instncia de controle social.

    - Realizao de reunies com diversos segmentos da sociedade: Movimento Nacional de Catadores deMateriais Reciclveis, Instituto Nossa Ilhus, Associao de Turismo de Ilhus, Convention Bureau, Federao deAssociaes de Moradores de Ilhus, Guarda Municipal, rede pblica e privada de ensino, associaes de moradoresda zona sul, Rotary, Ministrio Pblico e Poder Legislativo, alm das redes de ensino pblico e privado.

    - Definio de uma matriz de responsabilidades sociais, jurdicas, operacionais e tcnicas para orientar odesenvolvimento das aes.

    - Mapeamento da cadeia produtiva de materiais reciclveis da regio.

    - Elaborao de parmetros tcnicos e sociais para o desenvolvimento do programa de coleta seletiva;desenvolvimento de mecanismos e instrumentos necessrios para fortalecer, monitorar e avaliar o programa;elaborao do plano de negcios da Coolimpa.

    - Confirmao do nmero de catadores que integram a Coolimpa e realizao da Assembleia Geral

    Extraordinria com doao de Equipamentos de Proteo Individual e uniformes e participao do MinistrioPblico.

    - Articulao poltica para a celebrao do Termo de Permisso de Uso. O documento permitiu que aPrefeitura de Ilhus cedesse Coolimpa uma rea de 5.809,68m 2 que abrigava um galpo a estrutura precisava dereformas que ficaram a cargo da Conder, mas o espao permaneceu com problemas tcnicos e o galpo nunca foiusado. O local de armazenamento provisrio dos materiais durante a reforma do galpo foi articulado com aprefeitura e usado at 2013, quando a Coolimpa foi impedida de continuar utilizando o espao provisrio de formapermanente. Aps o acontecido, a cooperativa estabeleceu uma parceria com um sucateiro que disponibilizou umarea para que os trabalhadores pudessem receber os reciclveis.

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    - Estabelecimento de novos apoiadores, entre eles: Banco do Nordeste, Rotary Clube, Bahia Minerao,Cicon, Positivo e Max Coisas. Essa nova articulao visava construo de um novo galpo em uma rea adjacente edificao j existente, mas mesmo com amplo interesse das partes envolvidas, nem o terreno nem a estrutura do

    galpo foram assegurados.

    - Convnio de cooperao firmado entre a Coolimpa e a Faculdade de Ilhus para capacitao dos catadorespara o programa de coleta seletiva.

    - Realizao de reunies de trabalho para capacitao dos gestores e tcnicos locais.

    - Repasse de recursos como cesta bsica e complementao de renda da prefeitura Coolimpa por meio deum convnio de cooperao financeira elaborado com apoio da Conder para isso foi necessrio que a Coolimpafosse previamente reconhecida pela sociedade civil e pela Cmara de Vereadores como uma entidade de utilidadepblica. Houve somente a transferncia da primeira parcela da complementao de renda e a entrega de apenasduas cestas bsicas.

    - Articulao de parceria com a Tetra Pak, empresa privada do setor de embalagens, que doou 500 telhasfeitas com caixas longa vida recicladas para a cobertura do galpo as caixas usadas na obra foram recolhidas pelosprprios catadores. A campanha de coleta das embalagens durou 12 meses e contou com a adeso de vriasinstituies, servindo como piloto para os prximos passos.

    - Elaborao de modelo de gesto para a APP.

    - Negociao com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Ilhus (Sedur) para a disponibilizao de umcaminho para a coleta seletiva duas vezes por semana ao longo de cinco meses.

    - Articulao com grandes geradores para a adeso ao programa de coleta seletiva.

    - Doao de prensa hidrulica, balana eltrica e carrinho por meio do Programa Alianas Pblico-Privadaspara o Desenvolvimento Local.

    - Repasse de R$ 100.000 para a aquisio de equipamentos atravs de um projeto elaborado pela Secretaria

    do Planejamento do Estado da Bahia (Seplan), o Instituto Nossa Ilhus e o IBAM. O projeto foi selecionado por umedital da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre).

    - Articulao com o Ministrio Pblico para doao de 20 carrinhos de trao manual Coolimpa.

    - Articulao com a Secretaria de Meio Ambiente para que fosse emitida a Dispensa de Licena Ambiental daCoolimpa.

    - Articulao com outros rgos e institutos estaduais para que os trabalhos continuassem mesmo aps a

    sada do IBAM, entidade que atuava como incubadora da cooperativa.

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    ltimas Informaes Apuradas

    No incio de 2014, a prefeitura requisitou que a empresa vencedora do processo de licitao para coleta de

    resduos slidos de Ilhus assumisse o compromisso com a continuidade das aes de desenvolvimento do programade coleta seletiva. Apesar da inteno declarada, no se tem conhecimento da criao de mecanismos legais quegarantissem a continuidade. Hoje a cooperativa continua no espao precrio articulado com o sucateiro local, houvea interrupo do caminho de coleta seletiva pela prefeitura e muitos catadores retornaram ao lixo. O GT segueacompanhando os rumos da coleta seletiva e do apoio cooperativa em outubro de 2014 foi assinado um decretomunicipal que autoriza a desapropriao de uma rea de utilidade pblica para a construo da sede da Coolimpa.Apesar da tmida atuao do poder pblico municipal nessa aliana, a cooperativa segue dando seus passos e foicontemplada pelo edital Cataforte III, ganhando o direito de receber um galpo e maquinrios, alm dosequipamentos doados pelo IBAM. Um galpo est sendo procurado os recursos para o aluguel do espao viro demultas auferidas pelo Ministrio Pblico.

    Fatores impulsionadores

    - Existncia prvia de uma situao ambiental inadequada em uma cidade turstica, aliada problemticasocial com os catadores de materiais reciclveis trabalhando sob condies precrias.

    - Atuao do poder pblico federal atravs do Ministrio do Meio Ambiente e do poder pblico estadual pormeio da Conder. Com suas respectivas capacidades financeiras e estratgicas, a atuao do setor pblico foiessencial para a instalao e requalificao do aterro sanitrio.

    - Apoio do FOMIN/BID atravs de aporte financeiro e fornecimento de uma entidade de incubaoaltamente capacitada para a conduo do complexo processo de constituio de uma aliana pblico-privada entreprefeitura e integrantes da Coolimpa.

    Pontos de destaque

    - Esforos para a participao ativa do Poder Executivo local.

    - Envolvimento dos trabalhadores da Coolimpa com as problemticas do processo.

    - Participao de inmeros setores sociais locais e seus diferentes atores desde o incio das conversas. Oenvolvimento no se limitou aos participantes do Grupo de Trabalho, se estendendo tambm a outras organizaesque contriburam de vrias maneiras, seja na articulao ou atravs de doaes. Destaque para a colaborao doMinistrio Pblico e do poder pblico estadual.

    - Todas as conquistas foram formalizadas atravs de instrumentos jurdicos.

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    Pontos desfavorveis

    - A ausncia de um local definitivo de trabalho e de veculos de coleta apesar de todos os esforos

    desprendidos nesse sentido e a consequente impossibilidade de manejar adequadamente os resduos. Esse pontominou o avano produtivo da cooperativa e comprometeu o aproveitamento da fase de incubao.

    - A no apropriao do processo por parte do poder pblico municipal, que r epassa para a empresavencedora da licitao a responsabilidade junto aos catadores.

    - A instaurao de um programa de coleta seletiva sem carter de poltica pblica, dado o seudescompromisso com a qualidade, a regularidade e a universalidade do servio.

    - O alto risco de que parte do trabalho e dos recursos empenhados na APP no tenha gerado avanospermanentes, j que grande parte dos catadores j esto de volta ao lixo.

    Caso Itana MG

    A cidade de Itana, distante 76 km de Belo Horizonte, possui uma rea de 495,77 km 2 e populao de 90.783habitantes, sendo que 94% dos moradores esto na rea urbana. A gerao de resduos per capita de 0,70 kg pordia, sendo que 37% do total tem potencial para ser reciclado. O municpio inaugurou um novo aterro sanitrio em janeiro de 2009 e desde janeiro de 2013 os servios relacionados limpeza urbana foram municipalizados apenas acoleta seletiva terceirizada, ficando a cargo da cooperativa de catadores Coopert. A prefeitura financia os serviosde manejo dos RSU atravs da aplicao de uma taxa municipal de coleta de lixo, que cobrada junto com o IPTU.Em junho de 2012, Itana e mais 45 municpios da regio metropolitana de Belo Horizonte assinaram convnio com oestado de Minas Gerais para dar incio gesto compartilhada dos servios de transporte, tratamento e disposio final de resduos slidos urbanos, almejando a criao de uma futura APP, na qual a empresa parceira seresponsabilizar pelos investimentos nesses servios, enquanto os municpios realizam a coleta domiciliar, devendocumprir metas de coleta seletiva e destinao dos reciclveis s organizaes de catadores. O municpio ainda no possui Plano Municipal de Gesto Integrada de Resduos Slidos.

    Contexto

    Com o objetivo de gerar empregos e melhorar as condies de trabalho e renda dos catadores que atuavamno lixo de Itana, em 1999 foi fundada a Cooperativa de Reciclagem e Trabalho (Coopert), com apoio de um grupode sindicalistas metalrgicos. A Associao dos Catadores de Papel, Papelo e Material Reaproveitvel (Asmare) deBelo Horizonte, que j atuava desde 1990, foi responsvel por assessorar a organizao da nova cooperativa, queiniciou suas atividades na usina de lixo da cidade, que estava desativada. Com o apoio da cooperativa recm-formada, a prefeitura implantou a coleta seletiva no municpio e pouco depois o Instituto Nenuca deDesenvolvimento Sustentvel (Insea) passou a dar suporte Coopert, atuando como incubadora dos catadores atos dias de hoje. Desde o incio das atividades, a cooperativa presenciou diversas alteraes no sistema de coletaseletiva no municpio e no deixou de exercer seu trabalho mesmo em momentos menos favorveis. Aps umperodo de apoio da Fundao AVINA e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Coopert foi contratadapela prefeitura para prestar o servio de coleta seletiva de Itana. As principais aes realizadas durante o

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    processo esto descritas a seguir:

    1999

    - Apoio prefeitura na execuo da coleta seletiva; implantao da metodologia de separao de resduossecos e molhados, com a populao se responsabilizando por disponibilizar os resduos reciclveis em sacos de lixode cor azul.

    - Divulgao da coleta seletiva por meio de uma semana de mobilizao popular, com eventos em praas, naCmera Municipal e nas principais avenidas da cidade. A ao foi realizada pelos catadores em conjunto comtcnicos da prefeitura.

    2002

    - Com apoio do Insea, da Pastoral de Rua e da Asmare, foi feita uma negociao com a prefeitura paraplanejar um novo modelo de coleta seletiva j que a qualidade dos resduos havia cado em 2002 no havianenhuma separao na fonte geradora.

    - Engajamento no Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclveis.

    - Incio do novo sistema de coleta seletiva da cidade, agora com todo o servio de coleta sobresponsabilidade da empresa contratada.

    2006

    - Articulao com o prefeito para realizao de novas campanhas de conscientizao da populao emrelao qualidade dos resduos. Uma nova campanha criada e veiculada ao longo de trs meses.

    - Coopert cria a Associao de Catadores de Materiais Reciclaveis de Itana (Ascaruna) para facilitar acompra de materiais de catadores autnomos.

    2007

    - Formao da Rede Cataunidos, organizao que rene diversas cooperativas da regio metropolitana deBelo Horizonte e conta com patrocnio da Petrobras desde o incio de suas atividades.

    2008

    - Articulao junto prefeitura para a construo de um novo galpo para a Coopert a obra ainda no foientregue, mas est em fase avanada.

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    2010 - 2012

    - Participao no Frum Estadual do Lixo e Cidadania, onde conseguem apoio para dar incio aos trabalhos

    de negociao com a prefeitura para realizar a coleta seletiva;

    - Realizao de estudo de viabilidade da coleta seletiva em apenas um setor do municpio, com o apoio daUFMG. O estudo mostrou que a ausncia dos veculos necessrios representaria um gasto muito alto se comparado qualidade do material a