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ANA LÚCIA VAZQUEZ VILLA Produção e aplicação de peptídeos de hidrolisado de penas de frango na cosmética capilar OUTUBRO 2008

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ANA LÚCIA VAZQUEZ VILLA

Produção e aplicação de peptídeos de

hidrolisado de penas de frango na cosmética

capilar

OUTUBRO 2008

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II

ANA LÚCIA VAZQUEZ VILLA

Produção e aplicação de peptídeos de hidrolisado de penas de

frango na cosmética capilar

Tese de Doutorado apresentada ao programa de

Pós-graduação em ciências (Microbiologia),

Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários a obtenção do

título de Doutor em Ciências Biológicas

(Microbiologia).

Orientadoras: Alane Beatriz Vermelho

Elisabete Pereira dos Santos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE MICROBIOLOGIA PROF PAULO DE GÓES

RIO DE JANEIRO OUTUBRO 2008

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III

Produção e aplicação de peptídeos de hidrolisado de penas de

frango na cosmética capilar

ANA LÚCIA VAZQUEZ VILLA

Orientadoras: Alane Beatriz Vermelho Elisabete Pereira dos Santos

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências

Biológicas (Microbiologia), Instituto de Microbiologia Prof Paulo de Góes,

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Microbiologia).

Aprovada por:

Presidente, Profa. Dra Alane Beatriz Vermelho / UFRJ

Profa. Dra Mônica Freiman de Souza Ramos / UFRJ

Prof. Dr. Robson Roney Bernardo / Universidade Estácio de Sá

Profa. Dr. Ulysses Casado Lins / UFRJ

Prof. Dra. Rosalie Reed Rodrigues Coelho / UFRJ

Rio de Janeiro

Outubro/2008

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IV

FICHA CATALOGRÁFICA

Villa, Ana Lúcia Vazquez Produção e aplicação de peptídeos de hidrolisado de penas de frango na cosmética capilar / Ana Lúcia Vazquez Villa– Rio de Janeiro, 2008 X, 119 Tese [Doutorado em Ciências (Microbiologia)] Universidade Federal do Rio de Janeiro / Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, 2008. Orientadoras: Alane Beatriz Vermelho e Elisabete Pereira dos Santos Referências bibliográficas:f 101-118 1. Queratina 2. Cabelo 3. Penas de frango 4. Queratinase 5. Peptídeos 6. Cosméticos I. Vermelho Alane. II. UFRJ, Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, Doutorado em Ciências (Microbiologia). III. Produção e aplicação de peptídeos de hidrolisado de penas de frango na cosmética capilar.

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V

“QUEM PASSA EM NOSSA VIDA NÃO PASSA POR ACASO, DEIXA UM POUCO DE SI

E LEVA UM POUCO DE NÓS...”

Dedico esta tese à minha família,

especialmente ao meu marido.

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VI

Agradecimentos

Primeiramente a Deus, pois sem Ele, nada disso seria possível.

Ao meu marido, José de Souza Villa, pelo carinho, apoio, compreensão e pela

força de me fazer seguir em frente.

Às Profas Alane e Elisabete minhas orientadoras, por propiciar o meu

desenvolvimento científico, profissional e pessoal. Obrigada pelo carinho, força e

paciência de vocês.

À Profa Marta Helena e seus alunos de iniciação e pós graduação, pelo incentivo,

pela força, pela energia positiva e pelo carinho. Obrigada!!

Ao Prof Ulysses e seus colaboradores do laboratório de microscopia eletrônica do

IMPPG, pela ajuda prestada em parte desta tese, com as imagens de microscopia

eletrônica das hastes capilares.

Às meninas do laboratório, em especial, Ana Maria, Sabrina, Ana Cristina e

Edilma, sem esquecer o 5° elemento, Alice (filha de Edilma), que me ajudaram, com sua

sabedoria e com seu apoio, desde o início deste trabalho. Muito obrigada meninas, vocês

são demais!!

Não posso esquecer das que vieram depois: Bárbara, Thalita, Ana Carolina, Ingrid,

Fabíola e a transloucada da Denise, pelo apoio técnico, emocional e pela alegria de

vocês. Sem isso não chegaria aqui. Adoro vocês todas, de coração!

À minha amiga Izabel, de Bariri, que conheci no curso de pós graduação em

Gestão da Cosmetologia, em São Paulo, por acreditar em nosso trabalho e no futuro

torná-lo realidade. Obrigada, amiga!

À minha aluna Márcia, que ajudou muito na realização de parte desta tese.

À CAPES pelo financiamento do Projeto e a Universidade Estácio de Sá, pelo

amadurecimento do saber.

Muito obrigado a todos que participaram direta ou indiretamente deste trabalho.

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VII

Produção e aplicação de peptídeos de hidrolisado de penas de frango na cosmética capilar

Tese de Doutorado de Ana Lúcia Vazquez Villa

Oritentadoras: Profas Dras. Alane Beatriz Vermelho e Elisabete Pereira dos Santos Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes – Centro de Ciências da Saúde

UFRJ – Rio de Janeiro - Brasil

Resumo

As fibras capilares são constituídas principalmente por queratina em α - hélice formando um polímero contendo cadeias polipeptídicas arranjadas em paralelo, ligadas por ligações do tipo hidrogênio, salina e pontes dissulfeto entre os aminoácidos cisteína (cistina). Esta estrutura confere resistência a agentes físicos e a degradação química e enzimática. O córtex é a massa principal da fibra capilar. Revestindo esta estrutura se encontra uma camada protetora de células queratinizadas denominada cutícula. A maioria dos produtos cosméticos com a finalidade de melhorar a hidratação, a emoliência ou a restauração das fibras capilares danificadas apresenta em sua formulação algum hidrolisado de proteína, animal ou vegetal.

Este trabalho tem como objetivo a obtenção e a aplicação de hidrolisados de penas de frango. Os peptídeos de queratina foram obtidos por hidrólise enzimática através de queratinases. Para obtenção dos hidrolisados de queratina utilizou-se o Bacillus subtilis cepa AMR. Os microrganismos cresceram em meio de penas - PBS pH 8,0 (1 % de penas) suplementado com 0,01% de extrato de levedura, durante 5 dias a 28°C com agitação. Os sobrenadantes dos meios de cultura foram coletados por centrifugação e ultrafiltrados em um sistema AMICON usando nano-membranas (Millipore – YC05), a fim de obter peptídeos de 0.5 e 1 kDa. Proteínas, peptidases e peptídeos foram analisados, respectivamente, por análises em SDS-PAGE, zimografias e HPTLC. Preparações comerciais dos hidrolisados de queratina foram usados como padrões comparativos.

Peptídeos com massa molecular ≤ a 500 Dalton foram incorporados em duas bases cosméticas: um xampu suave e um creme rinse com enxágüe, ambos contendo 10% dos peptídeos. Estes produtos foram aplicados em mechas de cabelos virgem e quimicamente tratados, previamente lavados e desengordurados com xampu de lauril éter sulfato de sódio 2%. As mechas foram submetidas ao tratamento com o xampu suave e creme rinse, durante 5 semanas, aplicados em intervalos de 24 hs e a secagem natural e com calor seguida de placa térmica de 180°C, com a finalidade de avaliar o grau de hidratação das fibras capilares. Os ensaios de medição de hidratação foram realizados em aparelho CORNEOMETHER, a cada 7 dias. A Análise de Variância ANOVA foi utilizada para avaliar estatisticamente o teor final de hidratação na estrutura capilar. Avaliação sensorial e microscopia eletrônica de varredura também foram utilizadas para avaliar a melhora na hidratação capilar.

Nossos resultados mostraram que o processo de ultrafiltração concentrou os peptídeos de queratina. Análise por HPTLC mostrou um perfil similar entre os hidrolisados enzimáticos e os comerciais. As enzimas e proteínas foram analisadas por zimografia e SDS-PAGE, respectivamente, e as peptidases apresentaram atividade com o substrato gelatina e queratina. Com relação à medição de hidratação, avaliação sensorial e microscopia eletrônica, nossos resultados mostraram um aumento significativo na hidratação, principalmente com o uso do calor, que possivelmente facilitou a entrada ou a aderência dos peptídeos ao fio e também a preferência das avaliadoras, e a microscopia mostrou presença de material orgânico na superfície capilar, sugerindo uma melhora na restauração capilar.

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VIII

Production and application of peptides of chicken feather keratin in the hair care cosmetic

Abstract

The hair fibers are constituted mainly by keratin in α - helix forming a polymer containing polypeptide chains arranged in parallel, linked by hydrogen, salt and disulfide bonds (cystine). This structure confers resistance to physical agents, chemical and enzymatic degradation. The cortex is the main material component of the hair fiber. Covering all the structure a protective layer of keratinized cells called cuticle is found. The majority of the cosmetic products with the purpose to improve the hydration, the smooth or the restoration of damaged hair fibers present in its formulation some animal or vegetal protein hydrolysate.

This work has as objective the production and the application of hydrolysates of chicken feathers. The keratin peptides were obtained by enzymatic hydrolysis through keratinases. For production of the hydrolysates a Bacillus subtilis strain AMR was used. The microorganism grown on feather - PBS medium, pH 8.0 (1% feathers) supplemented with 0,01% of yeast extract, during 5 days, 28°C with agitation. The supernatants of culture media were collected by centrifugation and ultrafiltered in an AMICON system using nano–membranes (Millipore – YC05) in order to obtain peptides of 0.5 and 1 kDa. The Proteins, peptidases and peptides were analyzed using SDS-PAGE, zymograns and HPTLC respectively. Commercial preparations of keratin hydrolysates were used as comparative standard.

Peptides with a molecular mass ≤ to 500 Dalton were incorporated into two cosmetic bases: one mild shampoo and a cream rinse with rinses, both containing 10% of the peptides. These products had been applied in chemically treat and virgin hair, previously washed and taken away the fat with shampoo of laureth sodium sulfate 2%. Hairs had been submitted to the treatment with mild shampoo and cream rinse, during 5 weeks, applied in the hair at 24 hs intervals and the naturally dryed and drying with followed heat of thermal plate of 180°C, with the purpose to evaluate the degree of conditioning of hair fibers. The assays of measurement of hydration had been carried through in device CORNEOMETHER, to each 7 days. The Analysis of Variance ANOVA was used to statistical evaluation of the final hydration of the hair structure. Sensorial evaluation and electronic microscopy of sweepings had been also used to evaluate the improvement in the hair conditioning.

Our results showed that the ultrafiltration process concentrated the keratin peptides bases on protein measurement. The HPTLC analysis showed a similar profile between the enzymatic hydrolysate and the commercial samples. The enzymes and proteins retained on AMICON membranes were analyzed by zymography and SDS-PAGE respectively and the peptidases present activity with substrate gelatin and keratin. With regard to the measurement of hydration, sensorial evaluation and with electronic microscopy, our results had shown a significant increase in the hydration, mainly with the use of the heat, that possibly facilitated to the entrance or the tack of the peptides to the wire and also the preference of the hairdressers, and the microscopy showed a presence of organic material in the hair surface, suggesting an improvement in the restoration of the hair.

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IX

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IF = filamentos intermediários

kDa ou Da= kiloDalton ou Dalton

KAP ou IFAP = filamentos associados às proteínas

nm = nanômetro

CMC = complexo de membrana celular

- NH = amino

- CO = carboxila

PMSF = fluoreto de fenilmetanosulfonil

DFP = diisopropilfluorofosfato

EGTA = ácido etilenoglico-bis-(β-amino-etil éter) N, N’ -tetracético

EDTA = ácido etileno-diamino tetracético

rpm = rotações por minuto

KCl = cloreto de potássio

PBS = tampão fosfato

SDS-PAGE = sodium dodecyl sulphate polyacrylamide gel eletrophoresis

V = volts

DMSO = dimetilsulfóxido

HPTLC = high performance thin layer chromatography

MALDI-TOF = matrix assisted laser desorption/ionization – time of flight

TFA = ácido trifluoroacético

ACN = acetonitrila

UV = ultravioleta

COLIPA = The European Cosmetic Toiletry and Perfumery Association

GRAS = Generally recognized as safe

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X

ÍNDICE Introdução..................................................................................................... 15

1. Queratinas................................................................................................ 15

1.1. Conformação.................................................................................... 16

1.1.1. α - Queratina............................................................................. 17

1.1.2. β - Queratina............................................................................. 18

2. Fibra capilar: estrutura.............................................................................. 18

2.1. Cutícula e CMC................................................................................ 20

2.2. Córtex............................................................................................... 23

2.3. Medula............................................................................................. 27

3. Filamentos Intermediários de Queratina ................................................. 27

4. Tipos de cabelos humanos...................................................................... 36

4.1. Composição de aminoácidos do cabelo.......................................... 39

5. Estrutura das penas de frango................................................................. 40

5.1. Composição de aminoácidos das penas......................................... 45

6. Enzimas proteolíticas: peptidases............................................................ 46

6.1. Queratinases................................................................................... 51

7. Aplicações de queratinases e hidrolisados de queratina em cosméticos 55

Objetivos...................................................................................................... 58

Materiais e métodos.................................................................................... 60

1. Preparo das penas de frango................................................................... 60

2. Microrganismo e condições de cultura.................................................... 60

3. Obtenção dos hidrolisados de queratina.................................................. 61

4. Análise dos hidrolisados de queratina..................................................... 61

4.1. Gel de Eletroforese (SDS-PAGE).................................................... 61

4.2. Zimografias com gelatina e queratina.............................................. 62

4.3. Cromatografia em camada fina – HPTLC........................................ 62

4.4. Espectrometria de Massa (MALDI-TOF).......................................... 63

5. Proposta de uma formulação cosmética contendo hidrolisado de

queratina......................................................................................................

64

5.1. Aplicação e avaliação cosmética..................................................... 66

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XI

6. Microscopia eletrônica de varredura........................................................ 69

Resultados................................................................................................... 71

1. Microrganismo e condições de cultivo..................................................... 71

2. Análise dos peptídeos de queratina........................................................ 72

2.1. Análise do hidrolisado bruto por MALDI-TOF................................. 72

2.2. Cromatografia em camada fina – HPTLC........................................ 73

2.3. Gel de eletroforese e Zimografia com gelatina e queratina............. 75

3. Formulação e aplicação cosmética.......................................................... 79

4. Microscopia eletrônica de varredura........................................................ 84

Discussão..................................................................................................... 88

Conclusão..................................................................................................... 99

Referências bibliográficas............................................................................ 101

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XII

LISTA DE TABELAS

N° Pág.

1. Nomenclatura revisada das queratinas humanas incluindo as

queratinas do cabelo humano tipo I e II .............................................

33

2. Sequências características das KAPs humanas ................................ 36

3. Distribuição dos diferentes tipos de cabelos nos países .................... 37

4. Composição dos aminoácidos do cabelo ........................................... 40

5. Composição química das penas......................................................... 45

6. Composição de aminoácidos de pena................................................ 46

7. Teor de hidratação obtido por cada tipo de cabelo em unidades

arbitrárias ............................................................................................

79

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XIII

LISTA DE FIGURAS

N° Pág.

1. Duas unidades de cisteína, formando a cistina .................................... 16

2. Estrutura em hélice da α - queratina (40-70 KDa) ................................ 17

3. Estrutura pregueada da β - queratina (11 – 14,5 KDa) ......................... 18

4. Estrutura geral da fibra do cabelo mostrando os microcomponentes.... 19

5. Esquema dos componentes do cabelo em microscopia de varredura.. 20

6. Imagem de microscopia de varredura mostrando a fibra capilar .......... 22

7. Imagem de um polimorfismo observado na organização das

macrofibrilas...........................................................................................

23

8. A. Microscopia de transmissão de cortes transversais do cabelo ........ 25

B. Os diferentes níveis de ondulamento ............................................... 25

9. Estrutura da fibra de queratina em diferentes aumentos....................... 26

10. Micrografia eletrônica mostrando a medula........................................... 27

11. Esquema comparativo dos elementos do citoesqueleto........................ 29

12. Domínios da α - queratina..................................................................... 31

13. Classificação dos filamentos intermediários e sua estrutura ............... 32

14. A. Representação esquemática da expressão das queratinas de

cabelo e epiteliais presentes no folículo capilar ....................................

35

B. Representação da fibra capilar formada com a distribuição do tipo

de queratinas em sua estrutura ............................................................

35

15. Distribuição dos oito tipos de cabelo da nova divisão dentro de seis

diferentes populações............................................................................

38

16. Estrutura química da queratina.............................................................. 39

17. Diferentes tipos de penas de frango ..................................................... 41

18. Morfologia de uma pena de contorno.................................................... 42

19. Componentes da pena.......................................................................... 42

20. Pontes de hidrogênio formadas na estrutura β - pregueada ............... 43

21. Arranjo dos filamentos de β - queratina................................................. 44

22. Classificação das peptidases quanto ao local de clivagem na proteína 47

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XIV

23. Degradação da queratina pelo mecanismo enzimático......................... 54

24. Fluxograma da metodologia empregada .............................................. 68

25. Meio de cultivo de B. subtilis AMR ....................................................... 71

26. Espectro de massa do sobrenadante de cultura do B. subtilis AMR

em meio de penas após 120 h de cultivo .............................................

72

27. Espectro de massa dos hidrolisados de queratina da preparação

comercial 1............................................................................................

73

28. HPTLC dos hidrolisados de queratina de penas por degradação

microbiana ............................................................................................

74

29. SDS-PAGE dos hidrolisados de queratina comercial e filtrado em

AMICON.................................................................................................

76

30. SDS-PAGE do material retido e filtrado pela membrana de 1 KDa

pelo processo de ultrafiltração em AMICON ........................................

77

31. Zimografia com gelatina e queratina do sobrenadante de Bacillus

subtilis em penas ..................................................................................

77

32. Zimograma de gelatina do material retido e filtrado pela membrana de

1KDa (A) e de queratina (B) .................................................................

78

33. Avaliação da hidratação para as mechas secas sem calor

(temperatura ambiente) ........................................................................

80

34. Avaliação da hidratação para as mechas secas com calor e placa

térmica ..................................................................................................

81

35. Gráfico dos resultados da análise sensorial para o grupo de mechas

secas sem calor (temperatura ambiente) .............................................

83

36. Gráfico dos resultados da análise sensorial para o grupo de mechas

secas com calor e placa térmica ..........................................................

83

37. Microscopia eletrônica de uma fibra capilar da amostra 0 ................... 84

38. Imagem de uma fibra capilar de cabelo alisado e com tintura

(amostra A) ...........................................................................................

85

39. Imagem de uma fibra capilar de cabelo descolorido (amostra B) ......... 86

40. Imagem de uma fibra capilar de cabelo tingido (amostra C) ............... 87

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15

INTRODUÇÃO

1. QUERATINAS

As queratinas são proteínas estruturais fibrosas e insolúveis que fazem parte

do tecido epidérmico e seus apêndices, sendo a principal constituinte de penas, lã,

escamas, cabelos, pele, cascos e unhas (VIGNARDET et al., 2001, GUPTA &

RAMNANI, 2006). Apresentam estabilidade mecânica e não são degradadas por

peptidases como a papaína, pepsina e tripsina (IGNATOVA et al.,1999). A

estrutura estável e rígida e a baixa solubilidade deve-se à presença de alto teor de

unidades de cistina formando pontes dissulfeto intra- e inter-cadeia (Figura 1). A

formação destas pontes ocorre pela oxidação dos grupos SH de duas moléculas

do aminoácido cisteína, que podem tomar parte de cadeias polipeptídicas

adjacentes (SCHROOYEN et al., 2001).

As pontes dissulfeto são também responsáveis pela resistência geral das

queratinas as temperaturas elevadas. Além dessas pontes também há a presença

de ligações tipo hidrogênio, interações hidrofóbicas e iônicas, dentre outras

interações, que resultam na estabilização da molécula. Devido à grande

quantidade de pontes dissulfeto e de aminoácidos hidrofóbicos, as queratinas são

insolúveis em solventes polares, como a água, assim como em solventes apolares

(SCHROOYEN et al., 2001).

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16

Fig 1. Duas unidades de cisteína, formando a cistina (SCHROOYEN et al., 2001).

.

1.1. CONFORMAÇÃO

Quanto à conformação estrutural, as queratinas podem ser classificadas em

α-queratina e β-queratina e podem ser classificadas em macias e duras

dependendo do seu teor de cistina. O termo queratina ”dura” tem sido usado para

descrever as proteínas do cabelo e lã, por exemplo, e possui um teor de cistina

maior, enquanto o termo queratina “macia” é usada para denominar as proteínas

fibrosas da epiderme como a citoqueratina (VIGNARDET et al., 2001; GUPTA &

RAMNANI, 2006). Estas possuem um teor de cisteína de 3% e de glicina de 12%,

cisteína

cistina

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17

enquanto as do tipo duro, presentes nos cabelos e unhas, possuem um teor mais

alto de cisteína (7,6%) e mais baixo de glicina (FRASER, MACRAE & ROGER,

1972; YU et al., 2002).

1.1.1. α-Queratina

Na α-queratina predominam segmentos em α-hélice, formando uma

estrutura bastante rígida (VIGNARDET et al., 2001). Pertencem à superfamília dos

filamentos intermediários e são encontradas em cabelos, unhas, pêlos, lã e pele

(figura 2). Os filamentos de citoqueratina compõem o citoesqueleto de células

epiteliais. Cada tipo de epitélio sempre expressa uma combinação específica de

queratina do tipo I e II. Outras proteínas fibrosas como, por exemplo, colágeno,

fibroína da seda, actina e miosina, desempenham um papel estrutural em tecidos

e em células animais (YAMADA, WIRTZ & COULOMBE, 2002).

Fig. 2 Estrutura em hélice da α- queratina (40-70kDa) (YAMADA, WIRTZ &

COULOMBE, 2002).

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18

1.1.2. β-Queratina

A β-queratina possui a queratina na conformação β- pregueada (Gupta &

Ramnani, 2006) e são encontradas em repteis e aves (penas, garras, bicos e

escamas). As interações entre os filamentos determinam as propriedades

estruturais e mecânicas dos polímeros de queratina (YAMADA, WIRTZ &

COULOMBE, 2002, BRUSH, 1996). A figura 3 mostra a conformação da β-

queratina.

Fig.3: Estrutura pregueada da β- queratina (11-14,5 kDa) (YAMADA, WIRTZ &

COULOMBE, 2002).

2. FIBRA CAPILAR: ESTRUTURA

Basicamente a fibra capilar é composta por uma cutícula que é a camada

mais externa e o córtex. As células corticais são formadas por macrofibrilas e

material intermacrofibrilar. As macrofibrilas consistem em microfibrilas e pela

matriz intermicrofibrilar. As microfibrilas são os filamentos intermediários

denominados IF, IFP ou ainda KP (“keratin protein“). A matriz intermicrofibrilar é

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19

formada pelas proteínas associadas aos filamentos denominadas IFAP ou KAP. A

matriz, também contém algum conteúdo de núcleo e membrana. O pigmento

(melanina) é formada pelos melanócitos que estão no córtex. Em cabelos grossos

existem cavidades cheias de ar feitas por tipos especiais de células que forma a

medula central. A figura 4 mostra as distribuições dos microcomponentes na fibra

e a figura 5 representa as principais estruturas da fibra capilar (MOLL &

LANGBEIN, 2008).

Fig. 4: Estrutura geral da fibra do cabelo mostrando os microcomponentes (MOLL

& LANGBEIN, 2008).

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Fig. 5: Esquema dos componentes do cabelo em microscopia de varredura

mostrando a fibra capilar, cutícula, córtex e medula (A) e um esquema gráfico

mostrando a fibra capilar em um corte longitudinal e transversal com seus

componentes (B) (MOLL & LANGBEIN, 2008).

2.1. CUTÍCULA E CMC

A cutícula é formada por 6 a 10 camadas de células em forma de lâminas

(escamas). Devido ao modo como as células se sobrepõem, somente 1/6 das

A

B

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mesmas ficam expostas na superfície do cabelo. Sua principal função é formar

uma barreira protetora, contra as agressões naturais externas e agentes químicos.

A cutícula corresponde a 10% do peso da fibra capilar (FEUGHELMAN, 2002).

Cada célula cuticular possui 4 camadas com diferentes conteúdos de

pontes dissulfeto e ligações polipeptídicas (figura 6): 1- a epicutícula é a mais

externa com aproximadamente 5 nm com uma membrana resistente hidrofóbica.

Esta membrana contém proteínas (80%), lipídeos (5%) e é quimicamente

resistente aos álcalis, ácidos, enzimas, agentes redutores e oxidantes; 2- Logo

abaixo da epicutícula está uma camada rica em cistina (aproximadamente 30%) e

quimicamente resistente e hidrofóbica, denominada camada A; 3- Abaixo desta

camada se encontra a exocutícula, esta representa dois terços da estrutura da

cutícula, também é rica cistina (15%); 4- Por último vem a endocutícula que é

composta por proteínas que não são queratinas, com elevado teor de aminoácidos

ácidos e básicos, e baixa concentração de cistina (3%). Esta constituição lhe

confere um caráter hidrofílico. Devido à constituição química, a epicutícula, a

camada A e a exocutícula atuam com uma barreira à difusão de moléculas com

alto peso molecular. Enquanto a exocutícula é altamente reticulada por pontes

dissulfeto da cistina, a endocutícula não apresenta reticulações e é facilmente

degradada por enzimas Os remanescentes celulares como núcleo, mitocôndria,

membranas lipídios e outras organelas correspondem a 50% da endocutícula

(SCANAVEZ et.al, 2004).

Entre as células cuticulares e ligando as células cuticulares às corticais,

encontra-se o complexo da membrana celular (CMC), este é formado por três

camadas: duas camadas β formadas por lipoproteínas e uma camada δ, composta

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por proteínas diferentes da queratina. O complexo de membrana celular (CMC)

corresponde a 2% da fibra e une a células cuticulares com as corticais. Os lipídeos

estruturais do complexo de membrana celular associados as proteínas não só

participam da coesão como também constituem uma barreira contra certos

procedimentos químicos e físicos. (DAWBER ,1996; SCANAVEZ et al, 2004)

Fig. 6: Imagem de microscopia de varredura mostrando a fibra capilar longitudinal

(A), e um corte transversal da fibra (B), microscopia eletrônica de transmissão (C),

mostrando a estrutura da cutícula: EPI (epicutícula), a (camada a), Exo

(exocutícula) e Endo, (endocutícula). CM representa a membrana celular.

Baseado em POPESCU & HÖCKER, 2007.

C C

A

B

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2.2. CÓRTEX

O córtex (88% da fibra) pode ser formado por três tipos de células corticais

em forma de feixes: orto-, para- e mais raramente meso- córtex. A figura 7 mostra

uma micrografia eletrônica de queratinas da lã do carneiro da raça merino, onde

padrões bem definidos dos arranjos orto-cortical e para-cortical são observados

(FRASER & PARRY, 2003).

Fig. 7: Imagem de um polimorfismo observado na organização das macrofibrilas.

A- Micrografia eletrônica de um corte transversal do para- córtex da lã merino,

corado com tetróxido de ósmio. B- Corte transversal do orto-córtex. Retirado de

FRASER & PARRY, 2003. Foto: cortesia do Professor Rogers..

No orto-cótex se observa menos matriz e os filamentos estão empacotados

em volta de um núcleo. À medida que aumentam a curvatura fica mais difícil

distingui-los, indicando uma inclinação da fibra em curvas que aumentam a

A B

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curvatura. É interessante observar que os diferentes tipos de células corticais têm

uma distribuição característica de acordo com o tipo de cabelo. Cabelos

ondulados são caracterizados por possuírem as macrofibrilas orto-corticais e

meso-corticais entrelaçadas em volta das macrofibrilas para-corticais (Fig. 8 A, b) .

Aumentando o grau do ondulamento, nos cabelos crespos desaparece o meso-

córtex, predominando as células orto- corticais (A, c). No cabelo liso os três tipos

de macrofibrilas assumem a conformação reta, sendo as células meso-corticais

predominantes (THIBAUT et al., 2007).

Uma célula cortical contém aproximadamente 5-8 macrofibrilas com um

diâmento de 300 nm. Fragmentos citoplasmáticos e de núcleo dos queratinócitos

compõem a matriz intermacrofibrilar. Cada macrofibrila contém 500-600

microfibrilas. Proteínas associadas à queratina (KAP) fazem a matriz

intermicrofibrilar. A figura 9 mostra o esquema da fibra com os tipos de células

corticais (POPESCU & HÖCKER, 2007).

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Fig. 8: A- Microscopia de transmissão de cortes transversais do cabelo mostrando

as diferentes células do córtex: orto- (o); meso-(M) e para- córtex (P) em cabelos

lisos (a), ondulados (b) e crespo (c). Retirado de THIBAUT et al., 2007.

Fig. 8: B- Os diferentes níveis de ondulamento: liso (a), ondulado (b e c) e crespo

(d-f). Retirado de THIBAUT et al., 2007.

A

B

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Fig. 9: Estrutura da fibra de queratina em diferentes aumentos. Baseado em

POPESCU & HÖCKER, 2007.

Os cabelos apresentam coloração, onde a cor natural dos cabelos é devido

aos grânulos de pigmentos, denominados melanina, que podem variar do preto ao

marrom (eumelanina) e do amarelo ao vermelho (feomelanina). Os pigmentos de

melanina são biopolímeros sintetizados pelo organismo de mamíferos a partir da

tirosina que sofre uma sucessão de oxidações sob o controle da tirosinase,

transformando-se em diidroxifenilalanina (DOPA) e dopaquinona, e em seguida

após várias reações produz benzotiazina e 5,6 dihidroxiindol. Os monômeros

polimerizam e produzem feo- e eumelanina (PEYREFITTE, MARTINI & CHIVOT,

1998).

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2.3. MEDULA

A medula é encontrada apenas em alguns tipos de fibra e forma na fibra um

núcleo com células cheias de ar (Figura 10) (SCANAVEZ, 2001)

Fig. 10: Micrografia eletrônica mostrando a medula. As setas mostram a

membrana de pouca densidade que envolve a medula separando-a das células

corticais (SCANAVEZ, 2001).

3. FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS DE QUERATINA

As queratinas são filamentos intermediários (IF) que formam proteínas que

fornecem suporte mecânico e outras funções as células. Representam um grupo

de aproximadamente 54 proteínas diferentes expressas em diferentes tecidos

epiteliais e a massa molecular delas variando de 40-70 kDa. As queratinas são

encontradas na natureza, nos núcleos e citoplasma de diferentes células

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eucarióticas incluindo células epiteliais, neuronais e gliais. Entretanto elas são

também as principais proteínas estruturais do cabelo, pele e penas além de outras

estruturas epidérmicas. Devido às dificuldades nos processos de extração das

queratinas em amostras biológicas, sua seqüência, homologia e modificações pós-

traducionais são menos estudadas do que outras proteínas (PLOWMAN, 2007). O

termo queratina inclui a classe de filamentos intermediários (IF) e também as

proteínas que são associadas a estes filamentos denominadas KAP. Pelo menos

5 tipos de IFs são conhecidos. O tipo I acídico e o tipo II básico são encontrados

nas fibras de lã, cabelo e unhas (α-queratina) e nos filamentos de compostos das

citoqueratinas das células epiteliais. Dentre esses, 10 queratinas são especificas

para tecidos epiteliais duros (cabelo, unhas e lã) e 20 queratinas são denominadas

citoqueratinas e são geralmente encontradas nas células epiteliais. Cada tipo de

epitélio expressa uma combinação característica do tipo I e tipo II (CHANG &

GOLDMAN, 2004).

Os filamentos intemediários são uma classe de filamentos intracelulares

que tem de 8-10 nm de diâmetro e são constituintes do citoesqueleto, de

tamanhos intermediários entre os microtúbulos e os microfilamentos como os de

actina (Figura 11). Organizam-se como uma estrutura tridimensional nas células.

Cada tipo de filamento é feito de diferentes subunidades que pertencem a seis

classes (I, II, III, IV, V e VI) (CHANG & GOLDMAN, 2004).

.

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Fig. 11: Esquema comparativo dos elementos do citoesqueleto. A.

Microtúbulo; B. Filamento de actina e C. Filamento intermediário. O esquema do

filamento intermediário (dir.) e o aspecto na microscopia eletrônica (esq.) (CHANG

& GOLDMAN, 2004).

Estes filamentos intermediários (IF) associam-se na taxa de 1:1 formando

heterodímeros que montam os microfilamentos. O processo de dimerização é feito

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pelo entrelaçamento de duas cadeias polipeptídicas. Os dímeros de queratina

associam-se antiparalelamente para formar tetrâmeros estáveis chamados

protofilamentos, dois destes se entrelaçam para formar protofibrilas, e quatro

protofibrilas formam um filamento. A queratina das microfibrilas tem uma

organização lateral. O número de cadeias de queratina em corte transversal é de

aproximadamente 32, que é o valor encontrado para filamentos intermediários de

outros tipos de células. As microfibrilas consistem de 7-8 protofilamentos únicos

ou pareados. A subunidade do protofilamento tem a estrutura das 4 cadeias ou 8

protofilamentos contém, conseqüentemente, 48 ou 32 cadeias de queratina

(AHMADI & SPEAKMAN, 1978) (Figura 12).

O tipo III ocorre em células de origem mesenquimal, em células cardíacas e

esqueléticas, gliais e astrócitos e células neuronais. O tipo IV ocorre somente em

células neuronais e o tipo V é encontrado no envelope nuclear de células de

mamíferos (lamininas) (CHANG & GOLDMAN, 2004). A Figura 13 mostra os

diferentes tipos encontrados.

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Fig.12: Domínios da α-queratina. a- Os tipos I e II de α-queratina possuem um

domínio longo central os dois domínios curtos terminais. Os números dos

aminoácidos estão indicados na figura. Asterisco representa domínios com

tamanho variável. b- O domínio central é formado pelo entrelaçamento de duas

cadeias em α hélice da queratina que voa se associando até formar as protofibrilas

e depois os filamentos (A,B,C,D,E,F). Baseado em STEINERT & PARRY; 1985;

COHLBERG, 1993.

b)

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Fig. 13: Classificação dos filamentos intermediários e sua estrutura:

Filamentos intermediários de queratina (IF), classificados em 5 tipos baseado na

sua seqüência e distribuição nos tecidos. O filamento é interrompido por

seqüências curtas repetidas: L1, L12 e L2, resultando em dois segmentos dentro

do domínio; 1A e 1B constituem a espiral 1 e, 2A e 2B a espiral 2. A estrutura e a

seqüência do domínio central longo são altamente conservadas nos filamentos de

vertebrados, exceto pelas lamininas nucleares. Baseado em CHANG &

GOLDMAN, 2004.

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A tabela 1 mostra os tipos de filamentos de queratina humana, com a nova

nomenclatura adotada (a nomenclatura antiga também é mostrada) incluindo os

tipo I e II do cabelo e a Figura 14 mostra a distribuição destes filamentos na

estrutura do cabelo (PLOWMAN, 2007; POPESCU & HÖCKER, 2007).

Tabela 1: Nomenclatura revisada das queratinas humanas incluindo as queratinas do cabelo humano tipo I e tipo II ..

Abreviações: K (“keratin”); H (“Hair”); a (“acidic”) and b (“basic”) (SCHWEIZER ET

AL., 2006, GU & COULOMBE, 2007).

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As proteínas associadas às queratinas (KAP) e os filamentos formam a fibra

de queratina. Estas proteínas de matriz pertencem às três famílias que são

basicamente designadas como: 1 - as que têm alto conteúdo de enxofre (high –

sulfur- HS), 2 - as que têm “ultra- alto” conteúdo de enxofre (ultrahigh - UHS) e 3 -

as que são ricas em glicina-tirosina (high-glycine-tyrosine - HGT) (PARRY et al.,

2006).

As com alto conteúdo de enxofre são encontradas predominantemente no

córtex (KAP 1, 2, 3, 13, 15 e 23) e algumas são encontradas na cutícula (KAP 13 e

23) e na matriz (KAP 11 e 13). As que apresentam conteúdo ultra alto (KAP 4, 5,

9, 10, 12 e 17) e as que apresentam conteúdo alto de glicina e tirosina (KAP 6–8 e

19–21) igualmente ocorrem no córtex (KAP6, 7, 19, 20 e 21), na cutícula (KAP 19)

e na matriz (KAP 8) (PARRY et al., 2006). A tabela 2 apresenta as seqüências

características destas proteínas em humanos.

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Fig. 14: a- Representação esquemática da expressão das queratinas de

cabelo e epiteliais presentes no folículo capilar. As queratinas são indicadas

de acordo com a nova nomenclatura (com exceção da bainha da raiz externa

(ORS)) (SCHWEIZER et al., 2006). Cada um dos futuros compartimentos

foliculares (cl, camada associada); IRS (bainha da raiz interna) com camada

Henle; camada Huxley; cutícula (cu) ; e o compartimento formador do cabelo

com a medula; córtex e cutícula, que surge da matriz germinativa (Gm) na base

do bulbo. b - Representação da fibra capilar formada com a distribuição do

tipo de queratinas em sua estrutura. (MOLL et al., 2008)

a

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Tabela 2: Seqüências características das KAPs humanas.

Abreviações: HS (proteínas com alto conteúdo de enxofre); UHS (proteínas com

“ultra-alto” conteúdo de enxofre); HGT (proteínas ricas em glicina-tirosina),

Seqüências A, cys-cys-X-pro-X; A1, cys-cys-gln-pro-X; A2, cys-cys-arg-pro-X; B,

cys-cys-X-ser/thr-ser/thr. Retirado de PARRY et al.,2006.

4. TIPOS DE CABELOS HUMANOS

Até há pouco tempo o cabelo humano era classificado como cabelos

étnicos em apenas três tipos: Africano, Asiático e Europeu. Estes tipos, entretanto,

não cobriam a grande e complexa variedade de tipos de cabelos (McMICHAEL

2003; BERNARD, 2003; LOUSSOUARN et al, 2007). Recentemente foi criada

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uma nova classificação de acordo com critérios específicos levando em conta a

forma do cabelo humano empregando apenas 4 índices: diâmetro da curva (CD),

índice de ondulação (i), número de torções (t) e número de ondas (w). Este

método fornece uma classificação mundial em categorias bem definidas e com

grande utilidade para a ciência cosmética (LOUSSOUARN et al, 2007; DE LA

METTRIE et al., 2007). Com base nestas análises e cálculos estatísticos, foi

possível classificar os cabelos humanos em 8 tipos principais sem nenhuma

referência com a origem étnica dos cabelos. A tabela 3 mostra a porcentagem de

distribuição dos tipos de cabelos em diferentes países e a figura 15, as relações

dos principais tipos da nova classificação dentro da classificação étnica antiga,

demonstrando a variedade dos novos tipos dentro de cada cabelo étnico

(LOUSSOUARN et al., 2007).

Tabela 3. Distribuição dos diferentes tipos de cabelo nos países. Retirado de DE

LA METTRIE et al., 2007.

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Fig. 15: Distribuição dos oito tipos de cabelo da nova divisão dentro de seis

diferentes populações. Retirado de LOUSSOUARN et al.,2007.

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4.1. COMPOSIÇÃO DE AMINOÁCIDOS DO CABELO

O cabelo é formado por queratina, que é uma proteína fibrosa insolúvel e de

alto peso molecular. É composto por uma sequência de 18 aminoácidos

interligados por ligações tipo hidrogênio, eletrostática e dissulfeto (figura 16). Os

aminoácidos mais encontrados são a cistina (enxofre), serina, ácido glutâmico,

arginina e glicina. A estrutura helicoidal (α) da cadeia é estabilizada por

numerosos aceptores de hidrogênio, que se formam entre os agrupamentos -NH e

-CO de aminoácidos vizinhos (PEYREFITTE, MARTINI & CHIVOT, 1998;

WOODRUF, 2002). A tabela 4 mostra a composição básica de aminoácidos do

cabelo.

Fig. 16: Estrutura química da queratina mostrando ligações peptídicas, cistinas e

eletrostática (SYED, AYOUB & KUHAJDA, 1998).

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Tabela 4: Composição dos aminoácidos do cabelo (*Aminoácidos sulfurados).

Baseado em BUTLER, 2000.

5. ESTRUTURA DAS PENAS DE FRANGO

As penas são estruturas altamente ordenadas e hierarquicamente

ramificadas, apresentando três níveis de ramificação (de raque a barba, de barba

a bárbula, de bárbula a cílios). As penas podem se desenvolver dentro de uma

variedade de formas, incluindo penugem, penas de contorno, ou penas de vôo,

como mostrado na figura17 (YU et al.,2002).

Aminoácido mol% Aminoácido mol%

Alanina 5,6 Lisina 2,9

Arginina 7,0 Ornitina 0,2

Acido aspártico 7,0 Fenilalanina 2,0

Cistina*, cisteína * 12,3 Prolina 7,2

Metionina* - Serina 10,2

Acido glutâmico 12,9 Treonina 6,7

Histamina 0,8 Tirosina 2,0

Isoleucina 3,2 Valina 6,2

Leucina 8,0 Glicina 6,0

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Fig.17: Diferentes tipos de penas de frango (YU et al., 2002).

As penas de contorno dão formato à ave e variam muito em relação ao

tamanho. Uma característica comum a todas as penas de contorno é um vexilo

plano, em cada lado do eixo (figura 18). O eixo de todos os tipos de penas é

composto por cálamo e raque. O cálamo é a parte do eixo dentro do folículo da

pena; o restante do eixo é a raque. O cálamo tem uma abertura em cada

extremidade, o umbigo inferior que contém as papilas dérmicas, e o umbigo

superior. Duas partes da pena surgem da margem do umbigo superior, a pena

principal e a pena posterior ou secundária, que é menor, como mostrado na figura

19 (GETTY, 1981).

As barbas são estruturas que se projetam para fora e distalmente de cada

lado da raque e delas partem as bárbulas. Das bárbulas projetam-se as

barbicelas, em cuja ponta se encontram os cílios, estruturas semelhantes a

ganchos que se prendem a sulcos presentes nas bárbulas proximais (KNOX,

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1980). A pena principal possui uma parte plumácea e uma penácea (GETTY,

1981), cuja diferença consiste na presença de cílios na parte penácea (figura 18).

Bárbulas, barbas, cálamo e raque são completamente queratinizados e formados

de β-queratina (ALIBARDI & SAWYER, 2006).

Fig. 18: Morfologia de uma pena de contorno (GETTY, 1981).

Fig. 19: Componentes da pena. Retirado de GETTY, 1981.

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A principal proteína encontrada nas penas é a β-queratina (11-14,5 kDa).

Na estrutura da β-queratina há a presença de segmentos com conformação em α-

hélice e β- pregueada estabelecidas por pontes de dissulfeto e ligações de

hidrogênio (figura 20), sendo a folha β-pregueada mais importante (BRUSH,1996).

Fig. 20: Ligações tipo hidrogênio formadas na estrutura β- pregueada

(BRUSH,1996)

Os monômeros de β-queratina têm sempre a mesma forma, mas seu

tamanho é variável. Esta diferença de tamanho dos monômeros é tecido-

específica (este peptídeo está presente em outras estruturas epiteliais das aves,

não apenas nas penas, mas em escamas, garras ou bico) e produzida por um

tripeptídeo inserido na cadeia que é encontrado repetidamente (os três

aminoácidos são glicina, glicina e o terceiro pode ser prolina, leucina ou tirosina).

(BRUSH, 1996; FRASER & PARRY, 1996). Os microfilamentos são formados pela

associação linear dos monômeros, que se dá espontaneamente quando os

monômeros são convertidos do estado inativo para o estado associativo. Os

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microfilamentos formam o filamento, dobrando-se quatro vezes em seu eixo. Os

filamentos são as unidades estruturais. A figura 21 mostra o arranjo da fibra e sua

reação com anticorpos antiqueratina. As fibras são formadas pela associação

linear dos filamentos, altamente orientados no espaço. A matriz interfibra é

formada pela parte globular do monômero. Todos os monômeros de queratina de

penas têm a mesma configuração: a parte central β-pregueada. As pontes

dissulfeto participam da formação do filamento e na sua estabilização. Além disso,

o alto teor de pontes dissulfeto favorece a insolubilidade (BRUSH, 1996). A figura

21 (b,c), mostra uma seção longitudinal e transversal, respectivamente, de

bárbulas de pena embrionária tratada com anticorpo anti-β-queratina marcado

com fluorescência, revelando os filamentos de queratina (ALIBARDI & SAWYER,

2006).

Fig. 21: A - Arranjo dos filamentos de β-queratina. B Seção longitudinal e C –

seção transversal de bárbula de pena embrionária após reação com anticorpo

anti-β-queratina, mostrando os filamentos de queratina. Barra de escala de 10 µm

(FRASER & PARRY, 1996; ALIBARDI & SAWYER, 2006).

A B C

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Quando reduzidas sob condições alcalinas, as penas produzem peptídeos

S-carboximetilados com 10,6 kDa (BRUSH, 1996; ALIBARDI & SAWYER, 2006).

Todas as penas e suas partes possuem misturas heterogêneas desse peptídeo.

As partes morfológicas das penas possuem composição de enxofre e aminoácidos

diferentes (HARRAP & WOODS, 1967), mas a composição da mesma parte de

diferentes penas (de contorno, plumagem ou de vôo) é a mesma em uma mesma

espécie (KNOX, 1980). Estas diferenças estão confinadas aos mesmos

aminoácidos: alanina, cistina, glicina, isoleucina, prolina e tirosina (HARRAP &

WOODS, 1964).

5.1. COMPOSIÇÃO DE AMINOÁCIDOS DA PENAS

A composição química e de aminoácidos da pena são mostradas nas

tabelas 5 e 6, respectivamente.

Tabela 5: Composição química das penas em g.kg-1 (DALEV, 1994, 1997, 2000).

Componente Concentração em g.kg-1

Proteína (queratina) 894,0

Lipídeos 14,1

Água 49,5

Ca 3,5

P 1,3

Na 4,0

Cl 8,0

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Tabela 6: Composição de aminoácidos de pena em g.kg-1 (DALEV, 1994, 1997,

2000).

6. ENZIMAS PROTEOLÍTICAS: PEPTIDASES

As peptidases (proteases ou proteinases) são enzimas proteolíticas que

catalisam a hidrólise de ligações peptídicas. O nome peptidase é o termo

recomendado pelo sistema MEROPS, um banco de dados criado para dar suporte

à classificação destas enzimas (www.merops.acd.uk). Segundo o Comitê de

Nomenclatura Enzimática (EC) da União Internacional de Bioquímica e Biologia

Molecular, as peptidases pertencem à classe 3 (hidrolases) e sub-classe 3.4

(peptídeo-hidrolases ou peptidases). As peptidases podem ser classificadas como

exopetidases (EC 3.4.11-19), quando clivam aminoácidos terminais, e

endopeptidases (EC 3.4.21-99), quando hidrolisam ligações peptídicas no interior

Aminoácido g.kg-1 Aminoácido g.kg-1

Alanina 56,6 Lisina 22,5

Arginina 66,4 Ornitina 0,2

cisteína * 46,1 Prolina 90,8

Acido glutâmico 102,5 Treonina 48,4

Histidina 14,4 Tirosina 24,1

Isoleucina 49,3 Valina 76,1

Leucina 84,3 Serina 114,4

Glicina 76,7 Fenilalanina 52,2

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AAmmiinnooppeeppttiiddaassee DDiippeeppttiiddiill ppeeppttiiddaassee TTrriippeeppttiiddiill ppeeppttiiddaassee CCaarrbbooxxiippeeppttiiddaassee PPeeppttiiddiill ppeeppttiiddaassee

DDiippeeppttiiddaasseess OOmmeeggaa ppeeppttiiddaasseess

da cadeia polipeptídica. As exopeptidases podem ainda ser classificadas de

acordo com a sua atuação na região N- ou C- terminal da proteína. Aquelas que

atuam na região N-terminal podem liberar um único aminoácido (aminopeptidase),

um dipeptídeo (dipeptidil-peptidases) ou um tripeptídeo (tripeptidil-peptidases). Já

as carboxipeptidases clivam um aminoácido ou um dipeptídeo (peptidil-

dipeptidase). Algumas exopeptidases hidrolisam dipeptídeos, e outras removem

unidades de aminoácidos substituídos, ciclizados ou ligados por ligação

isopeptídica, neste último caso, denominadas ômega peptidases (RAWLINGS et

al, 2008). As reações catalisadas pelas peptidases estão esquematizadas na

figura 22 (VERMELHO et al., 2008a).

Fig. 22: Classificação das peptidases quanto ao local de clivagem na proteína

(VERMELHO et al., 2008a).

Tipo de reação catalisada

Exopeptidases

Endopeptidases

N-terminal

C-terminal

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As peptidases são também classificadas segundo o sítio catalítico, de

acordo com os grupos químicos presentes no centro ativo. Atualmente são

descritos seis tipos catalíticos: cisteína, treonina, glutâmico, aspártico, e serina

peptidases, em função da presença destes aminoácidos no centro ativo da

molécula protéica, e metalopeptidase quando um ou dois íons metálicos estão

envolvidos no mecanismo catalítico (BON & VERMELHO, 2004; VERMELHO et al,

2008a). A maioria das metalopeptidases possui zinco no sítio ativo, podendo

também ocorrer cobalto ou níquel. Algumas peptidases não têm seus mecanismos

de ação suficientemente elucidados e são classificadas no subgrupo EC. 3.4.99

segundo o Comitê de Nomenclatura Enzimática (VERMELHO et al., 2008a).

O avanço dos estudos de química de proteínas, como a cristalografia,

estudos comparativos da seqüência primária, dos aminoácidos do centro ativo

assim como da estrutura tridimensional das peptidases, permitiram a elaboração

de novos critérios para a sua classificação e para os estudos das relações

filogenéticas. Estes estudos foram iniciados por RAWLINGS & BARRET (1993),

que estabeleceram linhas evolutivas baseadas na comparação das seqüências

dos domínios importantes para a atividade.

Desta forma, cada peptidase é designada como uma espécie, e, cada

espécie recebe um nome, como tripsina por exemplo. Cada espécie de peptidase

pode ser detectada em muitos organismos, com pequenas variações esperadas,

neste caso estas são espécies variantes da primeira encontrada. Espécies

protéicas com seqüências com semelhança estatisticamente relevante foram,

então, alocadas em famílias. A família é um grupo de peptidases baseada na

homologia da seqüência e uma família pode conter uma única peptidase se

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nenhuma peptidase homóloga for conhecida. Cada família é representada pela

letra que representa seu tipo catalítico e por um número. Por sua vez, as famílias

que aparentam ter um ancestral comum, ou por causa da estrutura quaternária ou

devido a resíduos no sítio ativo, foram agrupadas em clãs (RAWLINGS et al.,

2008). Foi sugerido que a classificação em famílias e clãs fosse usada como uma

extensão da classificação de acordo com o sítio catalítico das peptidases.

Baseado nesta classificação hierárquica apoiada na estrutura da proteína, foi

criado em 1996 o banco de dados MEROPS (RAWLINGS et al., 2008). O

MEROPS também disponibiliza informações sobre inibidores não protéicos e

classifica hierarquicamente os inibidores protéicos em espécies, famílias e clãs

baseado em sua estrutura química, além de fornecer outras informações sobre as

peptidases, como a especificidade de substrato, quais inibidores atuam sobre elas,

função biológica, relevância farmacêutica e biotecnológica. Um clã contém todas

as peptidases que derivam de uma única origem evolutiva. Cada clã apresenta

uma ou mais famílias e é identificado por duas letras, sendo a primeira

representando o sítio catalítico das famílias incluídas no clã: A para aspártico

peptidase, C para cisteína peptidase, M para metalopeptidase, S para serina

peptidase, T para treonina peptidase e U para glutâmico peptidase. A letra P é

atribuída aos clãs que possuem famílias de mais de um tipo catalítico. Alguns clãs

são divididos em subclãs quando existe a evidência de divergência evolutiva

dentro do clã. O mesmo pode acontecer com as famílias. Por exemplo, a espécie

subtilisina Carlsberg, uma peptidase produzida por Bacillus licheniformis

Carlsberg, é classificada como S08.001; ela pertence à subfamília S8A

(denominada subfamília da subtilisina), que pertence à família S8 (família da

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subtilisina), uma família de serina peptidases inibidas por PMSF e DFP e algumas

vezes por EGTA e EDTA, uma vez que alguns membros desta família são

estabilizados por cálcio. Esta família está incluída no clã SB. Neste clã também se

encontra a família S5, a família da sedolisina, uma serina-peptidase produzida por

Pseudomonas spp. (www.merops.acd.uk).

As peptidases têm grande importância biológica, médica e biotecnológica, e

constituem um produto com alto valor agregado, podendo participar de diversos

processos industriais, como na indústria de detergentes, alimentícia, farmacêutica,

têxtil, entre outras. As peptidases correspondem a aproximadamente 60% do total

de enzimas no mercado mundial e cerca de 40% das peptidases comercializadas

são de origem microbiana. Destas, destacam-se as peptidases alcalinas

produzidas por bactérias do gênero Bacillus, cujas aplicações têm aumentado

acentuadamente devido à capacidade de produção destes microrganismos e a

alta atividade catalítica das peptidases por eles produzidas (JOO & CHANG,

2006). O interesse nas peptidases de origem microbiana de forma geral deve-se

ao fato de que as peptidases de plantas e animais não atendem à demanda

mundial, além da facilidade de manipulação genética, grande diversidade

bioquímica encontrada, o curto tempo de geração, controle da produção em todas

as fases, processo de produção mais barato, processo de extração mais simples,

otimização das condições de crescimento e produção regional independente, uma

vez que determinadas plantas só crescem em condições climáticas específicas

(GUPTA et al., 2002; RAWLINGS et al., 2008; VERMELHO et al., 2008a).

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6.1. QUERATINASES

As queratinases (EC 3.4.21/24/99.11) são peptidases que têm como

substrato um grupo de proteínas fibrosas e insolúveis denominadas de queratinas,

e estas peptidases são produzidas por bactérias e fungos. Estas enzimas são em

sua maioria endopeptidases, embora tenham sido descritas exopeptidases em

Keratinomyces ajelloi e Trichophyton gallinae (RUFFLIN et al., 1979;

WAWRZKIEWICZ, LOBARZEWSKI & WOLSKY, 1987; RAO et al., 1998). Vários

tipos catalíticos de queratinases têm sido descritos em microrganismos,

principalmente queratinases do tipo serina e metalopeptidases (BRESSOLIER et

al., 1999; BROUTA et al., 2002; GUPTA & RAMNANI, 2006; KOJIMA et al., 2007;

VERMELHO et al, 2008b). Em Candida albicans foi detectada uma aspártico

endopeptidase com atividade queratinolítica (HATTORI et al., 1984).

Para a hidrólise das ligações peptídicas da queratina é necessária a

clivagem prévia das pontes dissulfeto da molécula. Há dois mecanismos propostos

para a clivagem destas pontes, um observado por KUNERT (1992) no qual a

clivagem de pontes dissulfeto é realizada por sulfitólise, e o outro por YAMAMURA

et al., (2002) onde essa clivagem é feita por uma dissulfeto redutase.

Os fungos dermatófitos crescem sobre meio com cistina (duas unidades de

cisteína ligadas por uma ponte dissulfeto) livre ou combinada. Eles metabolizam

intensamente esta substância, excretando para o meio o excesso de enxofre na

forma de sulfatos e/ou sulfito. O sulfito reage com a cistina em solução neutra ou

alcalina, clivando em cisteína e S-sulfocisteína, segundo a reação:

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Cys-SS-Cys + HSO3– → Cys –SSO3

– + Cys-SH

A hipótese foi apoiada por experimentos que revelaram a presença de

produtos de sulfitólise no meio de cultura. KUNERT (1992) avaliou o efeito das

peptidases do dermatófito Microsporum gypseum sobre a queratina e outros

substratos protéicos, como a soro albumina bovina (que possui 17 pontes

dissulfeto), insolubilizada por ligações cruzadas e caseína (que não tem cistina),

na presença de sulfito e outros agentes redutores. Ele observou que houve a

estimulação da proteólise na presença dos agentes redutores, em especial o

sulfito. Esta estimulação foi detectável quando a peptidase e o agente redutor

atuaram juntos. Com o substrato caseína não houve estimulação da hidrólise

pelas peptidases do dermatófito. A sulfitólise das pontes dissulfeto também

aumentou a atividade de tripsina e pronase sobre substratos queratinosos. Os

resultados obtidos por KUNERT (1992) apóiam sua hipótese sobre a degradação

da queratina pela excreção de sulfito antes do ataque das peptidases do fungo.

YAMAMURA et al., (2002) isolaram uma bactéria, Stenetrophomonas sp.

cepa D-1, capaz de degradar queratina. Eles observaram a produção de duas

proteínas extracelulares: uma com atividade proteolítica e outra capaz de reduzir

pontes dissulfeto. A purificação e caracterização destas proteínas mostraram que

a primeira se tratava de uma peptidase pertencente à classe das serina

peptidases e a segunda é uma dissulfeto redutase. Estas enzimas, quando

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testadas individualmente, não mostraram quase nenhuma atividade queratinolítica.

Entretanto, depois que as duas enzimas foram misturadas, a atividade

queratinolítica aumentou mais de 50 vezes. Estes resultados demonstraram que

as duas enzimas atuaram cooperativamente para degradar a queratina, resultando

no aumento da atividade hidrolítica e revelando um novo mecanismo de

degradação desta proteína, onde uma dissulfeto redutase ataca as pontes

dissulfeto da queratina primeiro, produzindo uma proteína passível de degradação

por uma peptidase, como mostra o esquema e a figura 23:

Dissulfeto Redutase Peptidase K-S-S-K K-SH Peptídeos/ aminoácidos (queratina nativa) (queratina reduzida) (produtos)

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K-S-S-K Peptídeos/ aminoácidos

Fig. 23: Degradação da queratina pelo mecanismo enzimático. 1- Queratina

nativa; 2- Redução das pontes dissulfeto pela enzima dissulfeto redutase; 2-

Peptidases degradam monômeros de queratina em peptídeos e aminoácidos

K - SH

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7. APLICAÇÕES DE QUERATINASES E HIDROLISADOS DE QUERATINA

EM COSMÉTICOS

O mercado mundial de enzimas é da ordem de quatro bilhões de dólares,

sendo 2.2 bilhões de dólares o mercado de enzimas industriais (técnicas, para a

indústria de alimentos e ração animal). Dados levantados pelo Ministério de

Ciência e Tecnologia confirmam a defasagem do Brasil nesta área, prevalecendo

no país o uso da catálise em detrimento da biocatálise. Assim, avaliou-se o

mercado externo brasileiro, no ano de 2005, em 147,2 milhões de dólares sendo

que 86% correspondem às importações, indicando desvantagem tecnológica e

estratégica em termos de produção e uso destes catalisadores no país. As

peptidases representam 60% das vendas mundiais de enzimas, sendo 40% de

origem microbiana. Os processos biocatalisados por peptidases são menos

poluentes. As características destes processos industriais e a biodegradabilidade

apresentada pelos seus efluentes atendem às exigências das normas ISO 9000 e

ISO 14001, que estabelecem padrões para a qualidade de produtos e norteiam as

características dos processos de produção, dando ênfase ao menor consumo

energético, ao baixo impacto ambiental e à maior qualidade dos produtos. Neste

contexto é importante ressaltar que o processamento enzimático de matérias

primas resulta em produtos de maior valor agregado, pela sua qualidade e por ser

produzido por tecnologias limpas. Ainda neste contexto o uso de queratinases

para hidrólise de queratina humana, de penas ou de outra origem é de ter a

vantagem de eliminar um dos riscos dos materiais biológicos que são a

contaminação pelos prions das encefalopatias. As queratinases têm a propriedade

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de degradar esta proteína infectante e isto tem sido reportado em artigos

científicos nos últimos anos (BRANDELLI, 2008; YOSHIOKA et al, 2007;

MÜLLER-HELLWIG et al, 2006; VERMELHO et al, 2008b).

Segundo BRENDA (2006), as enzimas são utilizadas há muitos anos na área

médica, especialmente pela Dermatologia, com inúmeras finalidades, como o preparo

da superfície cutânea lesada para receber enxertos cirúrgicos, na limpeza de lesões

infectadas com a remoção de tecidos danificados ou necrosados e como auxiliar na

remoção de manchas (CAYLE, 1963).

São inúmeras as aplicações das enzimas, em especial as proteases, em

Cosmetologia (D’AUDIFRET E ROBERTET, 1978; SANTOS, 2001), incluindo a estética

dermatológica e a preparação dos denominados “cosmecêuticos” ou

“dermocosméticos”, produtos destinados a corrigir pequenas desordens cutâneas, como

auxiliar no tratamento da acne e da caspa, e ainda no combate ao envelhecimento

cutâneo, para amaciamento da pele (peeling), depilatórios, alisantes ou onduladores,

tinturas capilares, dentifrícios, de clareadores cutâneos e de ação antimicrobiana

(desodorantes e conservantes) (TANAKA, 1983; TSUTSUMI, 1988; SMITH, 1997;

LODS et al., 2000)

Há também outros usos diferentes para as queratinases, como na eliminação de

queratina em acne ou psoriase (VIGNARDET et al., 2001), na eliminação de calo

humano, como vem sendo estudado através do uso de duas serina-peptidases

produzidas por Kryptococcus sedentarius (LONGSHAW et al., 2002). As queratinases

também podem ser aplicadas em pomadas médicas e veterinárias e na produção de

aminoácidos essenciais ou peptídeos a partir de moléculas de alto peso molecular.

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A queratina do cabelo e da unha é denominada de queratina dura pelo seu alto

teor de cistina, um aminoácido rico em enxofre. A queratina da pele é denominada de

queratina mole ou suave (contém 1% de enxofre). A degradação da queratina dura do

pêlo, por enzimas é possível com a utilização de cistina, glutation e bissulfito redutase,

queratinase e papaína (PROTOPAPA et al. 1999; TRAVERSA, 2003)

A biodegradação de penas de frango por microrganismos que possuem atividade

queratinolítica representa um método alternativo para melhorar o valor nutricional das

rações para frangos. Além de não promover perda de determinados aminoácidos,

aumenta o valor nutricional através da própria biomassa microbiana visto que os

métodos utilizados, como decocção, promovem a perda de aminoácidos essenciais. Os

avanços na tecnologia das enzimas microbianas, no caso queratinases, oferecem

consideráveis oportunidades de baixo custo para a bioconversão de penas descartadas

como poluente à uma proteína melhorada em termos nutricionais para ração animal

(ONIFADE et al, 1998).

Estudos recentes apontam que hidrolisados de penas são um produto

potencialmente útil como fertilizante e de liberação lenta de nitrogênio, uma vez que

penas têm cerca de 15% de nitrogênio (ICHIDA et al, 2001).

As queratinases podem também ser usadas não apenas na indústria de couro e

avícola mas também para o tratamento de resíduos queratinolíticos animais, como

cascos, chifres, pêlos, uma vez que durante a decomposição não controlada da

queratina, principalmente por bactérias anaeróbias, é liberada uma grande quantidade

de sulfeto de hidrogênio e amônia (SINGH, 2002).

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OBJETIVOS

Na indústria de insumos para uso em cosméticos há um potencial muito

grande de utilização do mecanismo químico para obtenção de hidrolisados de

queratina, sendo incomum o uso de microorganismos catalisadores de queratina

para a obtenção destes hidrolisados. Esta tese visa à obtenção e a aplicação de

peptídeos de hidrolisados de queratina de penas de frango em formulações

cosméticas, através de enzimas microbianas, com o objetivo de reconstrução

capilar. Para atingir esta meta os seguintes objetivos foram estabelecidos:

• Obter os hidrolisados de queratina de pena de frango usando Bacillus

subtilis AMR.

• Analisar os hidrolisados de queratina:

Espectrometria de massa (MALDI TOF): detectar a presença de

peptídeos no sobrenadante de cultura após hidrólise enzimática,

Gel de eletroforese (SDS PAGE): verificar a presença ou ausência

de proteínas no sobrenadante de cultura antes e após ultrafiltração e

de amostras comerciais,

Cromatografia em camada fina de alta resolução (HPTLC): avaliar as

frações de aminoácidos ou peptídeos obtidos após hidrólise

enzimática e ultrafiltração e de uma amostra comercial,

Zimografia em gelatina e queratina: verificar se os hidrolisados, antes

e após a ultrafiltração, apresentam ou não atividade enzimática.

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• Testar diferentes bases cosméticas para incorporação dos hidrolisados

microbianos de queratina, avaliando a homogeneidade e a solubilidade

destes hidrolisados em bases cosméticas em xampu, emulsão e gel.

• Verificar o efeito da aplicação de xampus e emulsões com hidrolisados de

queratina de penas de frango na restauração capilar através de medição de

hidratação, análise sensorial e microscopia eletrônica.

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MATERIAIS E MÉTODOS

1. PREPARO DAS PENAS DE FRANGO

As penas utilizadas no meio de cultura foram penas de frango brancas

lavadas com detergente em água corrente, secas a 60°C e delipidadas em Becker

de 4 litros com 1/3 do volume do mesmo em penas com 1L da solução de

clorofórmio: metanol 1;1 (v/v) (WARZKIEWICZ et al, 1987). Em seguida as penas

foram removidas e secas overnight a 60°C. As penas foram adicionadas inteiras

no meio de cultura como principal fonte de carbono e nitrogênio.

2. MICRORGANISMO E CONDIÇÕES DE CULTURA

Para obtenção dos hidrolisados de queratina utilizou-se o Bacillus subtilis

cepa AMR, isolado de resíduos agro-industriais da indústria avícola RICA,

atualmente depositado na coleção de cultura da Fundação Oswaldo Cruz com o

número de registro 1266. Este microrganismo foi escolhido devido a sua intensa

atividade queratinolítica para penas de frango.

O microrganismo foi cultivado em 250 ml de meio extrato de levedura

(extrato de levedura 0,5%, peptona 0,5%, KCl 2,0% e sacarose 2,0%) por 2 dias a

28°C sob agitação constante (300 rpm) para obter massa celular, lavados com

salina (2x 3000 rpm/20min) para remoção dos componentes do meio, antes de

serem inoculados no meio contendo penas a 1%. Em seguida as células foram

transferidas para 1 litro de meio PBS pH 8,0 (NaH2PO4 0,06M e K2HPO4 0,04M)

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com 1% de penas de frango e suplementado com 0,01% de extrato de levedura. A

amostra foi cultivada neste meio durante 5 dias a 28°C sob agitação de 300 rpm

(MAZOTTO, 2008)

3. OBTENÇÃO DOS HIDROLISADOS DE QUERATINA

Ao término da fermentação do microrganismo no meio contendo penas

como principal fonte de carbono e nitrogênio, o hidrolisado foi obtido por

centrifugação a 4.000 rpm por 20 minutos e, em seguida clarificado por filtração

esterilizante (MAZOTTO, 2008). Para se obter uma preparação contendo apenas

os peptídeos na faixa de 500 e 1000 Dalton, o sobrenadante foi submetido a

ultrafiltração, usando o sistema AMICON, com o objetivo de separar os peptídeos

de até 500 e 1000 Dalton através de membranas de celulose regenerada Millipore

(YC 05) de 500 e 1000 NMWL (Nominal Molecular Weight Limit), respectivamente.

4. ANÁLISE DOS HIDROLISADOS DE QUERATINA

4.1. GEL DE ELETROFORESE (SDS-PAGE)

Esta análise foi realizada nas frações de hidrolisados obtidas antes e após

a ultrafiltraçào e nas amostras comerciais de hidrolisados proteicos denominadas

como 1 e 2, sendo a primeira obtida de cascos e pêlos de porco e a segunda de

queratina de penas de frango. As soluções obtidas foram diluídas em tampão de

amostra, aquecidas a 100°C por 5 minutos para desnaturação das proteínas e, em

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seguida aplicados em gel de poliacrilamida. As análises em SDS-PAGE foram

realizadas segundo o método de LAEMMLI (1970), com gel de poliacrilamida a

12,5 e 15%. A corrida foi realizada em 2 horas/ 180 V/ 4o C. Os seguintes padrões

de massa molecular foram utilizados: fosforilase b (94 kDa), soro albumina bovina

(67 kDa), ovoalbumina (43 kDa), anidrase carbônica (30 kDa), inibidor de tripsina

de soja (20,1 kDa) e α-lactoalbumina (14,4 kDa) (Sigma) e a coloração do gel foi

por coomassie blue ou prata.

4.2. ZIMOGRAFIAS COM GELATINA E QUERATINA

Esta análise foi feita nas preparações dos hidrolisados obtidos antes e após

a ultrafiltração. As zimografias foram preparadas segundo metodologia descrita

por HEUSSEN & DOWDLE (1980), porém utilizando gelatina (Merck) e queratina

extraída de penas de frango com DMSO (LOPES et al, 2008) como substratos

incorporados a malha de poliacrilaminda a 12,5%. A coloração utilizada foi por

Coomasie Blue e/ou coloração por prata. Utilizou-se um padrão de massa

molecular como controle.

4.3. CROMATOGRAFIA EM CAMADA FINA – HPTLC

A cromatografia em camada fina de alta resolução (HPTLC) foi utilizada

para avaliar o perfil cromatográfico do hidrolisado de penas de frango após a

ultrafiltração em membranas de AMICON de 500 e 1000 Da. Foram utilizados

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placas de vidro de HPTLC (Merck). Os solventes utilizados para a fase móvel

foram: butanol / acetona / ácido acético glacial / água (5:5:1:3,7v/v/v/v/) (BRENNE

& NIEDEWIESER, 1967; adaptado de KANAKI & RAJANI, 2005) Como revelador

foi empregado a ninhidrina / butanol e acetona (3,75 g de ninhidrina, 25 mL de

butanol e 25 mL de acetona). Na placa de HPTLC foram aplicadas 10 µL das

amostras separadas do sobrenadante com membrana de 500 e 1000 Da e da

amostra comercial 2. Como controle foi utilizado uma solução de aminoácido

glicina (1 mg/ml), um aminoácido presente em alta concentração nas penas, 76,6

g/kg (DALEV, 2000).

4.4. ESPECTROMETRIA DE MASSA (MALDI-TOF)

Foram feitas análises em espectrometria de massa (MALDI-TOF - Matrix

assisted laser desorption/ionisation – Time of flight) das amostras após a hidrólise

de penas pelas peptidases do B.subtilis AMR e também para uma preparação

comercial, denominada preparação comercial 1 (diluída 100x). O sobrenadante

contendo 4,99 mg/ml de proteínas dosadas pelo método de LOWRY (1951), foi

parcialmente purificada em ponteira do tipo ZipTip C18. O ZipTip C18 foi equilibrado

com uma solução de acetonitrila (ACN) 100% seguida pela lavagem com ácido

trifluoroacético (TFA) 0,1%. Após este processo, os peptídeos foram fixados na

resina do ZipTip C18, lavados com TFA 0,1% para remoção de sais, fosfatos e/ou

DMSO que causam ruído na leitura. A eluição foi feita com 0,1% de TFA em ACN

50%. As amostras purificadas foram incorporadas as matrizes de ácido α-ciano-4-

hidroxicinâmico (5µg/mL em TFA 0,1% em ACN 50%) 1:1. A mistura foi então

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aplicada na placa para análise por espectrometria de massa (MALDI-TOF)

(MAZOTTO, 2008).

5. PROPOSTA DE UMA FORMULAÇÃO COSMÉTICA CONTENDO

HIDROLISADO DE QUERATINA .

Os peptídeos de massa molecular menor que 500 Da obtidos através da

ultrafiltração em AMICON (membrana 500 NMWL), foram incorporados em duas

bases cosméticas comumente utilizadas no mercado: um xampu suave e um

creme rinse com enxágüe, ambas contendo 10% do material filtrado através de

membrana de AMICON de 500 NMWL.

Após uma busca aos fornecedores de hidrolisados de proteínas verificou-se

que a massa molecular destes hidrolisados seriam, de aproximadamente, 1000

Da. Logo, a escolha pelo peptídeo de massa molecular de 500 Da foi em função

deste não existir no mercado e também, devido sua pequena massa, possibilitar

uma melhora na restauração capilar.

As formulações utilizadas neste trabalho são básicas, ou seja, comumente

comercializados, a fim de se evitar a influência dos componentes presentes na

formulação nos resultados do nosso aditivo.

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Fórmula 1: Xampu suave

Componentes % (p/p) Função

Lauril éter sulfato sódio.......................... 30 Detergente

Decil poliglicosídeo................................. 5 Detergente, sobreengordurante

Lauril poliglicosídeo................................ 5 Detergente, sobreengordurante

Surfax ácido........................................... 3 Anfótero, espumante

Dietanolamida de ácido graxo de côco.. 4 Sobreengordurante

Phenova.................................................. 0,5 Conservante

Germal 115............................................. 0,2 Conservante

Peptídeos de queratina.......................... 10 Aditivo

Unistab 569............................................. 0,2 Neutralizante de odor

Essência de erva-doce........................... 0,5 Perfume

Água destilada q.s.p............................... 100 Veículo

Procedimento: Aquecer o Germal (80ºC) para a sua dissolução em água destilada.

Após a dissolução do Germal, os demais componentes foram adicionados a

solução. Os poliglicosídeos foram aquecidos para incorporação a solução anterior.

A homogeneização foi feita lentamente para evitar formação de espuma. Finalizar

adicionando o hidrolisado microbiano de penas, o Unistab 569 e a essência.

completar o volume final, homogeneizando.

Fórmula 2: Creme rinse com enxágüe

Componentes % (p/p) Função Fase oleosa Álcool cetoestearílico....................... 5 Espessante fase oleosa

Phenova .......................................... 0,5 Conservante

Cloreto de cetiltrimetilamonio........... 0,5 Agente antiestático

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Fase aquosa Germal 115....................................... 0,2 Conservante

Essência erva-doce.......................... 0,5 Perfume

Peptídeos de queratina.................... 10 Aditivo

Água destilada q.s.p......................... 100 Veículo

Procedimento: Todos os componentes da fase oleosa foram aquecidos (75°C)

juntos e homogeneizados até completa dissolução. Em outro recipiente o germal

foi dissolvido sob aquecimento a 80ºC. Após atingir as temperaturas, a fase oleosa

foi acrescida a fase aquosa, sob agitação, até emulsionar. A solução obtida foi

colocada em banho frio, homogeneizada e acrescida das demais substâncias da

fase aquosa.

5.1. APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO COSMÉTICA

Os produtos cosméticos formulados foram aplicados em mechas de cabelos

virgem e quimicamente tratados (obtidos do Salão Eva’s Hair Cabeleireiros Ltda.),

previamente lavados e desengordurados. Antes da realização dos ensaios todas

as mechas foram devidamente lavadas com xampu de lauril éter sulfato de sódio

2%, e enxaguadas com água destilada. Esse procedimento visou eliminar

quaisquer materiais adsorvidos ao fio, evitando-se interferência no ensaio (KON,

1998).

As mechas foram separadas em 5 grupos diferentes. Estes são compostos

por mechas de cabelos virgens, tingidos, tingidos com alisamento, tingido com

luzes (descoloração) e totalmente descolorados. Cada grupo continha quatro

mechas, sendo duas com os peptídeos de queratina a 10% e duas mechas

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controles. O período do ensaio, para avaliação do grau de hidratação das fibras

capilares, foi de 5 semanas. As mechas foram submetidas ao tratamento com o

xampu suave e creme rinse, com e sem o peptídeo de queratina, e a secagem

com calor seguida de placa térmica de 180°C e a temperatura ambiente

(naturalmente), em dias alternados e as medições de hidratação foram semanais.

Os ensaios de medição de hidratação foram realizados em aparelho

CORNEOMETHER marca CM 825, que tem como função avaliar a quantidade de

água evaporada através da pele por variação de campo. O método está baseado

na grande variabilidade do vapor da constante dielétrica da água a qual é

registrada automaticamente no aparelho. O valor medido é dado em Unidade

Arbitrária de Hidratação (UA). Foram realizados em paralelo, no mesmo grupo de

mechas, ensaios controle com as bases cosméticas sem os peptídeos de

hidrolisado de pena de frango. As formulações foram manipuladas no Laboratório

de Farmacotécnica da Universidade Estácio de Sá – Campus Rebouças. Abaixo

está ilustrado o fluxograma da metodologia utilizada para o processo de

tratamento e medição da hidratação (figura 24).

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Fig. 24: Fluxograma da metodologia empregada.

Foi realizado um teste para avaliação sensorial das mechas para verificar o

grau de brilho e emoliência. O mesmo foi realizado pelas funcionárias do salão de

Eva’s Hair Cabeleireiros Ltda, as quais participaram do processo de separação e

tratamento químico das mechas.

As avaliadoras (total de 20 pessoas) analisaram as mechas (ponto zero)

com as de controle e as mechas testes, onde a avaliação foi realizada através de

um questionário simples abordando os parâmetros brilho, emoliência e maciez. A

avaliação foi cega, pois as avaliadoras não sabiam qual formulação estava sendo

usada. Antes de ser feito o teste as avaliadoras passaram por um processo de

higienização das mãos, para retirada de qualquer produto engordurante que

Cabelo limpo Lauril éter sulfato sódio

Xampu e creme controle Xampu e creme com 10% peptídeos

Secagem natural

Secagem natural

Secagem com calor e placa térmica

Secagem com calor e placa térmica

Medição da hidratação Aparelho corneomether CM 825

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pudesse interferir na análise, sendo respondido, através de um questionário

simples, qual grupo apresentava maior ou menor grau de brilho, emoliência e

maciez (VILLA et al, 2008).

6. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

Os fios de cabelo antes e após aplicação dos produtos contendo peptídeos

de 500 Da, foram microfotografados em microscópio eletrônico de varredura

(MEV), para avaliar sua fisiologia. A microscopia da haste do pêlo é essencial para

o diagnóstico de muitas anormalidades, particularmente doença fúngica e

distúrbios congênitos e hereditários da haste do pêlo, para avaliar o desgaste do

pêlo, e para esclarecer a causa da queda de cabelos (DAWBER, 1996, BERKER,

2002). A microscopia eletrônica de varredura é muito diversa nos seus modos de

operação e fornece riqueza de informação a respeito da arquitetura de superfície

(DAWBER, 1996). A técnica também possibilita determinar a forma de um

material, o tamanho das partículas que o compõem e seu arranjo (ANDREAZZI,

2001).

Foram retirados de cada amostra analisada três pedaços de fios, escolhidos

aleatoriamente, e montados numa placa, sobre fita de carbono. As amostras foram

classificadas como: amostra A (cabelo alisado + tintura), amostra B (cabelo

descolorido), amostra C (cabelo tingido), amostra O (cabelo virgem – sem tratamento

químico), onde 0 (zero) equivale ao ponto zero, C equivale a amostra submetida ao

calor (placa térmica 180°C) e S equivale a amostra sem calor (secagem a temperatura

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ambiente). As amostras de hastes capilares foram colocados em chips com fita adesiva

apropriada, recobertas com ouro e observadas em microscópio de varredura JEOL JSM

5310 em 10 kV. Foi fotografada, com aumento de 1000x e 3500x, uma imagem de cada

pedaço de fio de cabelo de cada uma das condições.

As amostras submetidas à avaliação de hidratação pelo aparelho

“corneomether” foram analisadas por microscopia eletrônica, para avaliar a

estrutura da fibra capilar antes e após a aplicação dos produtos contendo os

hidrolisados de peptídeos, como delimitação das escamas cuticulares e presença

de material orgânico, na restauração capilar.

O ensaio para análise física dos fios de cabelo por microscopia eletrônica de

varredura foi realizado em cooperação com o prof. Ulysses Lins da Microscopia

eletrônica, do Instituto de Microbiologia prof Paulo de Góes - IMPPG.

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RESULTADOS

1. MICRORGANISMO E CONDIÇÕES DE CULTIVO

A figura 25 apresenta o meio de cultivo do microrganismo mostrando a

degradação das penas de frango (90-95% de degradação) nas condições

descritas na metodologia.

Fig. 25: Meio de cultivo de B. subtilis AMR, mostrando antes (A) e após cinco dias

de cultivo (B). Observar a quase completa degradação das penas (90-95%).

A B

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2. ANÁLISE DOS PEPTÍDEOS DE QUERATINA

2.1. ANÁLISE DO HIDROLISADO BRUTO POR MALDI TOF

O sobrenadante analisado em MALDI-TOF, revelou fragmentos com massa

molecular de 800-1100 Dalton no sobrenadante bruto das culturas (Figura 26). O

perfil de pequenos fragmentos peptídicos observado no sobrenadante de cultura

do microrganismo foi também observado na preparação comercial 1 (Figura 27).

Fig. 26: Espectro de massa do sobrenadante de cultura do B. subtilis AMR em

meio de penas após 120h de cultivo, mostrando os peptídeos derivados da

queratina da pena.

799.0 1439.4 2079.8 2720.2 3360.6Mass (m/z)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

% In

tens

ity

Voyager Spec #1=>AdvBC(32,0.5,0.1)=>NR(2.00)=>BC=>NR(2.00)[BP = 1080.9, 190]

1079.9217

819.8509

814.4206

826.8543 1065.8939832.8707

1049.6936 1505.95521171.5758946.9434

1758.96591040.7560 1495.1083 2151.25631788.03401025.1377 1423.2869 2595.29212147.3449 2372.7889 2847.6118 3069.7440 3313.8333 3557.763869.4881

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Fig. 27: Espectro de massa dos hidrolisados de queratina da preparação

comercial 1.

Como observado, os espectros de massa da amostra comercial 1 e do

sobrenadante de cultura do microrganismo apresentam uma composição

diferente, provavelmente apresentando na amostra comercial 1 uma estrutura

diferente de nosso insumo em sua composição.

2.2. CROMATOGRAFIA EM CAMADA FINA - HPTLC

A figura 28 mostra os peptídeos e aminoácidos e os compara com uma

preparação comercial de queratina de penas hidrolisada denominado preparação

comercial 2, através de HPTLC (high performance thin layer chromatography) e

revelado com ninhidrina.

799.0 1639.4 2479.8 3320.2 4160.6 5001.0Mass (m/z)

0

1185.5

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

% In

tens

ity

Voyager Spec #1=>AdvBC(32,0.5,0.1)=>NR(2.00)=>BC=>NR(2.00)=>BC=>NR(2.00)=>BC[BP = 903.7, 1186]

903.73

881.05897.69

913.61918.34

924.66

932.47

939.58 1147.65947.90

1060.84867.261087.50

1131.11

1471.961399.30 3465.33

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Fig. 28: HPTLC dos hidrolisados de queratina de penas por degradação

microbiana. 1- controle de glicina; 2-peptídeos recolhidos pela membrana de 1000

Da; 3- peptídeos recolhidos pela membrana de 500 Da; 4- preparação comercial 2.

O ensaio realizado por HPTLC mostrou que a queratina de penas

hidrolisadas pelo B. subtilis AMR tem um padrão de polaridade dos aminoácidos e

peptídeos semelhante ao da preparação comercial usada. Observa-se também

que a preparação comercial 2 possui, em adição, macromoléculas de massa

molecular maior. Comparativamente, nosso procedimento parece ser melhor, por

ter apenas peptídeos de baixa massa molecular, o que confere a possibilidade de

uma melhor adesão e penetração na fibra capilar.

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75

2.3. GEL DE ELETROFORESE E ZIMOGRAFIA COM GELATINA E

QUERATINA

Durante a ultrafiltração ficaram retidas nas membranas basicamente

proteínas com massa molecular acima do seu limite de exclusão, incluídos as

enzimas e moléculas de queratina solubilizadas, porém não hidrolisadas (com

peso molecular de aproximadamente 10 kDa). A figura 29 mostra uma

comparação entre os perfis eletroforéticos dos hidrolisados de queratina das

amostras comerciais 1 e 2, e dos filtrados em AMICON de 1 e 0,5 KDa. Pode-se

observar que nas amostras comerciais há a presença de material protéico de alta

massa molecular (amostra comercial 1) e ainda frações de proteínas de penas de

frango não hidrolizada na amostra comercial 2, e, em contrapartida, em nosso

hidrolisado não se observa presença de material proteico, confirmando que a

ultrafiltração foi capaz de reter proteínas de alta massa molecular.

A análise por gel de eletroforese (SDS-PAGE) tanto do retido pela

membrana como dos peptídeos menores que seu limite de exclusão (filtrado)

(Figura 30) mostrou a presença de proteínas apenas no retido pela membrana, um

resultado esperado, uma vez que peptídeos e aminoácidos estão fora do limite de

detecção da técnica, o mesmo é válido para a zimografia.

O sobrenadante de cultura além de conter os peptídeos oriundos da

hidrólise das penas, apresentava também as queratinases e peptidases

secretadas pelo Bacillus subtilis AMR. A figura 31 mostra dois zimogramas com

gelatina e queratina do sobrenadante de cultura bruto concentrado 20X em

membrana de diálise, overnight, contra polietilenoglicol. A figura 32 A representa

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uma zimografia em gelatina, no qual apresentou atividade enzimática no material

retido e ausência desta no filtrado, confirmando, novamente, a eficácia na

separação de macromoléculas por ultrafiltração, e a figura 32 B representa um

zimograma em queratina de material retido em membrana de AMICON de 10, 1 e

0,5 KDa, mostrando que após a ultrafiltração ainda se observa atividade

queratinolítica, porém com uma atividade um pouco menor do que no

sobrenadante de penas após hidrólise microbiana.

A B C DFig. 29: SDS-PAGE dos hidrolisados de queratina: comercial 2 (A), comercial 1 (B),

filtrado AMICON 1 KDa (C) e 0,5 KDa (D). Coloração: nitrato de prata.

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Fig. 30: SDS-PAGE do material retido e filtrado pela membrana de 1 KDa pelo

processo de ultrafiltração em AMICON. Coloração: nitrato de prata. Os n° indicam

a massa molecular do padrão.

Fig. 31: Zimografia com gelatina e queratina do sobrenadante de Bacillus subtilis

em penas demonstrando a presença de enzimas proteolíticas e queratinolíticas.

Os n° indicam a massa molecular do padrão.

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Fig. 32: Zimograma de gelatina do material retido e filtrado pela membrana de 1K

Da (A) e de queratina do material retido em membrana de 10, 1 e 0,5 KDa (B) em

AMICON. Coloração: coomassie blue. Os n° indicam a massa molecular do

padrão.

A zimografia, tanto em gelatina quanto em queratina, mostrou que houve

perda de atividade do sobrenadante de cultura durante o processo de

ultrafiltração, quando comparado com a zimografia do sobrenadante antes da

ultrafiltração. O SDS-PAGE e a zimografia mostraram a completa ausência de

proteínas na fração peptídica confirmando que não houve contaminação do

hidrolisado com proteínas e enzimas proteolíticas respectivamente. Pode-se

verificar que no filtrado obtido após filtração em AMICON, usando-se a membrana

de 500 Dalton, não se observou proteínas, ficando as mesmas todas retidas na

membrana.

A B

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3. APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO COSMÉTICA

Após as aplicações dos produtos nos diferentes tipos de mechas,

observaram-se os graus de hidratação a seguir (tabela 7):

Tabela 7: Teor de hidratação obtido por cada tipo de cabelo em unidades

arbitrárias (UA).

A – mecha ponto zero (lavada somente com lauril sulfato de sódio) e seca sem

calor (naturalmente); B – mecha lavada com xampu e condicionador de peptídeos

hidrolisados de proteínas 10% e seca com calor e placa térmica (180°C); C -

mecha lavada com xampu e condicionador de peptídeos hidrolisados de proteínas

10%, e seca sem calor (naturalmente); D – mecha controle (lavada com xampu e

condicionador controle) seca com calor e placa térmica (180°C); E - mecha

controle (lavada com xampu e condicionador controle) seca sem calor

(naturalmente).

Tipos de tratamento (médias obtidas ao final de 5 semanas em UA)

Grupo de Mechas A B C D E

1 – Virgem 7,363 8,236 8,108 7,454 7,836

2- Tingido 7,181 8,145 8,126 7,017 7,654

3 – Tingido com

luzes 7,09 7,781 7,526 7,017 7,29

4 – Tingido com

alisamento 6,454 7,761 6,563 7,09 6,399

5 – Totalmente

descolorado 7,181 7,672 7,563 7,036 7,326

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80

As figuras 33 e 34 representam as médias dos resultados da avaliação de

hidratação do grupo de mechas secas sem calor (figura 33) e com calor e placa

térmica (figura 34) descrita na tabela 7. Para ambas as situações foram feitas

comparações entre a hidratação das mechas controle, ponto zero e com peptídeo

hidrolisado de proteína 10%.

0123456789

Hidr

ataç

ão (U

A)

Virgem Tingido Tingido comluzes

Tingido comalisamento

Totalmentedescolorado

Tipo de cabelo

ACE

Fig. 33: Avaliação da hidratação para as mechas secas sem calor (temperatura

ambiente). Tipo de tratamento: A – Ponto zero; C – Mecha tratada com peptídeo;

E – Mecha controle

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81

0123456789

Hid

rata

ção

(UA)

Virgem Tingido Tingido comluzes

Tingido comalisamento

Totalmentedescolorado

Tipo de cabelo

ABD

Fig. 34: Avaliação da hidratação para as mechas secas com calor e placa térmica.

Tipo de tratamento: A – Ponto zero; B – Mecha tratada com peptídeo; D – Mecha

controle

A partir da análise de variância ANOVA foi possível observar que as

comparações entre mechas do ponto zero (mecha A) com as mechas controle

com calor e placa térmica (mecha D) e sem calor (secas naturalmente -

temperatura ambiente – mecha E) não apresentaram resultados significativos ao

nível de 5%, na hidratação capilar. Também não apresentaram resultados

significativos na hidratação as mechas tratadas com o peptídeo hidrolisado de

proteína e secagem sem calor (naturalmente – mecha C). Porém as mechas que

utilizaram o peptídeo hidrolisado de proteína 10% e secagem com calor e placa

térmica (mecha B), tiveram uma hidratação significativa ao nível de 5%. Isto

confirma de forma mais clara e consistente os resultados obtidos anteriormente

através do método das médias.

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82

Portanto, pode-se observar que o aquecimento foi um fator que influenciou

na melhora da hidratação, possivelmente facilitando a aderência destes peptídeos

de hidrolisado protéico nas fibras capilares, e ao mesmo tempo, pode-se observar

que a base utilizada (amostra controle) não interferiu na hidratação.

A avaliação sensorial realizada para verificar qual das mechas (com

peptídeos de hidrolisado de penas de frango a 10% e controle) apresentava maior

brilho e emoliência, deram resultados distintos de acordo com o tipo de secagem

realizada. Para o grupo de mechas secas sem calor (naturalmente - temperatura

ambiente) foi observado que o maior percentual de preferência das avaliadoras

(65%) foi pelas mechas que haviam sido tratadas com os peptídeos de

hidrolisados de penas de frango a 10%. Um menor grupo das avaliadoras (35%)

não foi capaz de optar por qual dos grupos apresentava maior brilho e emoliência

(Figura 35). Em contrapartida, para o grupo de mechas secas com calor e placa

térmica foi observado que o maior percentual de preferência das avaliadoras

(90%) foi pelas mechas que haviam sido tratadas com o peptídeo de hidrolisado

de penas de frango a 10% e um menor (10%) não foi capaz de optar por qual dos

grupos apresentava maior brilho e emoliência (Figura 36). Estes resultados foram

fundamentais para avaliar o quanto o uso do peptídeo de hidrolisado de penas de

frango interferiu na estrutura capilar tornando-a mais sedosa e brilhosa,

corroborando com os resultados obtidos na avaliação de hidratação.

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Avaliação SensorialAspectos: brilho e maciez

65%0%

35%

Hidrolisado de Peptídeo a10% Controle Não Diferenciaram as Mechas

Fig. 35: Gráfico dos resultados da análise sensorial para o grupo de mechas secas sem

calor

Fig. 36: Gráfico dos resultados da análise sensorial para o grupo de mechas secas com

calor

Avaliação SensorialAspectos: brilho e maciez

90%

0% 10%

Hidrolisado de Peptídeo a10% Controle Não Diferenciaram as Mechas

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4. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

A Figura 37 mostra-nos uma imagem da fibra capilar da amostra O, onde é

possível verificar a sobreposição e a delimitação das células cuticulares de

superfície (DAWBER E NESTE, 1996).

As figuras 38 a 40 mostram as imagens das hastes capilares antes e após a

aplicação dos produtos, submetidas a secagem natural e ao calor. É possível

verificar presença de escamas cuticulares danificadas, com as bordas levantadas

e rompidas, como também a presença de ranhuras, característico de dano capilar.

Nas amostras submetidas ao calor foi possível verificar a presença de

material orgânico aderido às escamas cuticulares e a restauração de algumas

partes desta estrutura.

As setas indicam as características descritas.

Fig. 37: Microscopia eletrônica de uma fibra capilar da amostra O. A seta indica as escamas

cuticulares

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Fig. 38: Imagem de uma fibra capilar de cabelo alisado e com tintura (amostra A). 1. Sem

tratamento (ponto zero), 2. Após tratamento e secagem com calor, 3. Após tratamento e

secagem sem calor (naturalmente).

1

2

3

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Fig. 39: Imagem de uma fibra capilar de cabelo descolorido (amostra B). 1. Sem tratamento

(ponto zero), 2. Após tratamento e secagem com calor, 3. Após tratamento e secagem sem

calor (naturalmente).

1

2

3

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Fig. 40: Imagem de uma fibra capilar de cabelo tingido (amostra C), 1. Sem tratamento

(ponto zero), 2. Após tratamento e secagem com calor, 3. Após tratamento e secagem sem

calor (naturalmente).

3

2

1

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DISCUSSÃO

Os peptídeos são amplamente usados em xampus e condicionadores,

contribuindo para o brilho da estrutura e proteção capilar. Um dos fatores

fundamentais que estão envolvidos na interação do cabelo e aminoácidos em uma

solução aquosa: a difusão e carga elétrica das moléculas. Devido ao seu pequeno

tamanho e sua hidrofobicidade, a difusão é considerada o principal método de

penetração dos aminoácidos. Mas devido à hidrofobicidade natural do cabelo

humano (camada lipídica que envolve a cutícula) é formada uma barreira natural.

Por isso os cabelos danificados têm uma afinidade muito mais alta para os

aminoácidos do que os cabelos normais. Além disso, o número de grupos iônicos

nos cabelos danificados também contribui para esta maior afinidade (OSHIMURA,

2008).

Os aminoácidos ácidos são aqueles que possuem um grupo carboxila

adicional e os básicos são aqueles que possuem um grupo amino adicional. Esta

classificação é útil para o entendimento da natureza da interação destas

moléculas com o cabelo. O aminoácido arginina por exemplo é um aminoácido

básico porque possui um grupo guanidina. A constante de dissociação ácida do

grupo guanidina é 9,04. Deste modo o grupo apresenta uma carga catiônica em

pH abaixo de 9. Portanto a arginina tem uma forte afinidade pelo cabelo em pH na

faixa 4-9. Os aminoácidos neutros e acídicos apresentam uma carga negativa ou

neutra na faixa do pH 3-7 e devido a isso eles quase não são captados pelo

cabelo em soluções aquosas. Entretanto em cosméticos, novos fatores são

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introduzidos nesta interação e mesmo aminoácidos neutros e acídicos são

introduzidos no cabelo (OSHIMURA, 2008).

Existem basicamente alguns tipos de danos prejudiciais ao cabelo, tais

como: queda, ruptura das cadeias cistínicas provocadas por certos produtos

químicos (alisamento e ondulação, tinturas permanentes e descoloração), fatores

ambientais (radiação UV) e tratamento mecânico de escovação e secador, tendo

como consequência uma desestabilidade molecular, podendo destruir as

propriedades físicas do cabelo, tornando-os mais porosos e menos resistentes

(LERSCH E MACZKIEWITZ, 2003).

A radiação ultravioleta (UV) provoca uma foto-oxidação protéica que pode

levar a clivagem das ligações dissulfeto, que são ligações cruzadas de proteínas,

e quebrando a ligação tioéster, resultando no desprendimento dos lipídeos de

superfície. Estas reações levam a deteriorização das propriedades dos cabelos,

notadamente percebida pelos consumidores na forma de baixa maleabilidade,

fragilidade e secura, perda de brilho, e em casos extremos perda de resistência

(quebra da haste capilar) (RODDICK-LANZILOTTA et al, 2006).

Descolorir ou tratar os cabelos com produtos para permanente faz diminuir

a quantidade de cistina da fibra capilar. Descolorações drásticas levam também a

perda de tirosina e metionina (SCANAVEZ, 2001). O uso de produtos com

hidrolisados de queratina pode minimizar essa perda e melhorar as características

do cabelo. Cabelos desgastados por agentes mecânicos, radiação UV e agentes

químicos perdem aminoácidos e estudos demonstraram que preferencialmente

lisina histidina, cistina, metionina e triptofano são os mais perdidos (O’TOOLE et

al, 2007).

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Verificou-se melhora na fibra capilar com a utilização de nosso peptídeo de

massa molecular menor que 500 Da, apresentando melhora no brilho e maciez,

através dos testes de hidratação, sensorial e microscopia eletrônica, e, ao mesmo

tempo, comprovou, através dos ensaios de SDS-PAGE e HPTLC, que são de

baixa massa molecular.

Obteve-se aumento significativo na hidratação, principalmente com o uso

do calor, que possivelmente facilitou a entrada ou a aderência dos peptídeos ao fio

e isto ficou comprovado com a preferência das avaliadoras, e com a microscopia

eletrônica, onde visualizou-se a presença de material orgânico na superfície

capilar, sugerindo uma melhora na sua restauração.

Os peptídeos e aminoácidos podem ser também incorporados em

colorações. Os agentes de coloração são divididos em três categorias principais:

permanentes, semi- permanente ou direta e temporária. Corantes permanentes

são geralmente oxidativos e podem conter peróxido de hidrogênio como agente

oxidante. Estes agentes danificam o cabelo. Na coloração semi-permanente ou

direta as moléculas do corante são aplicadas nos cabelos e duram de 6-12

lavagens. E nas temporárias há a sobreposição do pigmento na fibra capilar. Estes

tipos de colorações não contêm peróxidos. Novas estratégias têm sido

desenvolvidas nos últimos anos inclusive para diminuir os danos e aumentar a

durabilidade das colorações, incluindo-se metodologias que empregam anticorpos

anti-queratina e peptídeos específicos. Com a proteína de queratina um novo

método tem sido usado em colorações como a KENJI et al, (JP09-003100 1997) e

de IGARASHI et al.(2007), (U.S. Patent No. 5.597.386) que descrevem uma

coloração que em sua composição há um anticorpo anti-queratina que se liga

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covalentemente ao pigmento ou corante. O anticorpo se liga ao cabelo

aumentando a coloração da fibra. Em outra estratégia o agente cosmético é ligado

diretamente a proteína ou aos hidrolisados de proteínas. A patente No 5.192.332

(LANG et al, 1993) descreve uma coloração temporária que contém proteína

animal ou vegetal ou hidrolisada que contém resíduos da molécula corante

enxertada na cadeia da proteína. A proteína serve como um agente condicionador.

Hidrolisado de proteína do leite, trigo, da soja são alguns tipos de proteínas

que são utilizados em cosméticos para os cabelos, atuando na estrutura capilar

dando-lhes resistência. Muitos processos químicos como tintura, alisamento,

relaxamento e descoloração, entre outros, danificam a estrutura capilar tornando-a

porosa, seca, sem brilho e sem maciez, modificando a textura e a penteabilidade

dos cabelos. Embora muito usados na cosmética, poucos trabalhos científicos

relatam a importância dos hidrolisados de queratina e mesmo de outras proteínas

na cosmética capilar (TOMITA et al, 1994 U.S. Patent No. 5.314.873). Há

inúmeras patentes depositadas abordando peptídeos, obtidos após hidrolise

química de proteínas com a soja, trigo, etc. Não há, portanto, nenhuma patente

sobre a hidrólise enzimática de proteínas como a queratina de pena de frango ou

mesmo de cabelo humano, exceto a que foi desenvolvida pelo nosso grupo com

hidrolisados enzimáticos de penas de frango (em anexo o protocolo PCT/ BR

2008/000180) e no qual apresentou um bom rendimento. Também não há

trabalhos científicos publicados com hidrolisados de queratina obtidos

enzimaticamente, demonstrando a originalidade do processo desenvolvido em

nosso laboratório.

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E além disso, os ensaios de SDS PAGE, zimografia e HPTLC, confirmaram

que a ultrafiltração por AMICON reteve as moléculas de alto peso molecular,

inclusive as enzimas, e que somente os peptídeos de baixo peso molecular foram

utilizados nos testes em mechas de cabelo. Trabalhos científicos, entretanto,

descrevem as ações de queratinases na queratina tanto de penas como de

cabelos humanos e outras estruturas epidérmicas, mas com os objetivos voltados

para a área de compostagem e reaproveitamento de resíduos agroindustriais

(BRANDELLI, 2008).

O comitê “Scientific committee on consumer products” (SCCP), publicou,

durante a 4th plenária, ocorrida em 21 de junho de 2005 um artigo intitulado

“Opinion on amino acids obtained by hydrolysis of human hair”. Nesta opinião, o

comitê concluiu que o risco no presente momento, do uso de produtos para

aplicação tópica de aminoácidos obtidos pela hidrólise química do cabelo

humanos ou de penas de frango nas condições descritas (hidrolise ácida com HCl

20%/ 6 horas) seria negligenciável. O anexo II do diretivo cosmético 76/768/EEC

que é a lista de substâncias que não podem fazer parte de produtos cosméticos

proíbe o uso de células, tecidos ou produtos de origem humana em produtos

comercializados nos Estados Unidos. Estes materiais estão listados na entrada

416 do anexo. São proibidos devido ao seu risco potencial de transmitir doenças

degenerativas do sistema nervoso como a doença de Creutzfeldt-Jakob, a

encefalopatia espongiforme humana, causada por um príon e também pelo risco

de contaminação com doenças virais. Esta proibição exclui materiais derivados de

cabelo humano nos produtos cosméticos. O COLIPA (“The European Cosmetic

Toiletry and Perfumery Association”) requereu esta modificação com o objetivo de

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permitir o uso de alguns materiais derivados do cabelo humano produzidos com

segurança. A modificação proposta (entrada 416) foi como descrevemos no item

abaixo:

“Cells, tissues or products of human origin. However, amino acids obtained by

hydrolysis of human hair may be used provided that the following method has been

used and certified by the producer: - Hydrolysis with HCl (> 20% throughout the

whole process) for at least 6 hours at 100°C.”

Neste contexto, nosso peptídeo de hidrolisado de pena de frango apresenta

algumas vantagens, como por exemplo, a não utilização de solventes, visto que

todo nosso processo é microbiano e o meio de obtenção destes hidrolisados é um

tampão. Vale ressaltar, também, que o microrganismo utilizado é seguro (GRAS –

Generally Recognized As Safe) e que o processo não produz efluentes tóxicos e

tem alto valor agregado, apresentando, assim, uma série de vantagens em relação

aos similares comerciais, tais como: coloração clara, veículo não químico (tampão)

e pureza (massa molecular baixa).

Para o mercado de cosméticos os aminoácidos e peptídeos são geralmente

fornecidos na forma de pó e usados em produtos para pele como umectantes

(arginina, lisina e acido glutâmico) e em produtos para cabelo com o objetivo de

melhorar a aparência e as propriedades físicas (como por exemplo prolina e

cisteina). Em nosso trabalho obtivemos estes hidrolisados na forma líquida, porém

com uma coloração mais clara em relação as amostras comerciais 1 e 2, que se

apresentavam na forma líquida e escura. Isto pode ocasionar modificações no

aspecto do produto final ou até mesmo na sua estabilidade ou pode provocar

alguma incompatibilidade com outros componentes da fórmula, visto que este tipo

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de hidrolisado protéico é obtido quimicamente. A incorporação de peptídeos,

obtidos pela hidrólise da queratina da lã, em soluções aquosas ou em lipossomas

podem aumentar a elasticidade e a umidade da pele, bem como pode aumentar a

estabilidade em uma formulação cosmética (BARBA et al., 2008).

O brilho está relacionado com a forma em que as cutículas se encontram,

pois quanto mais coesa elas estiverem, ou seja, uma sobreposta a outra, maior

será o brilho. Uma vez que a cutícula já não está mais aderida em seu lugar, as

escamas começam a se desprender e a se levantar da superfície da estrutura

capilar, tornando o cabelo danificado. Quanto mais danificado o cabelo estiver

menor é o brilho. O brilho está diretamente relacionado com um cabelo saudável,

pois quanto maior for o brilho mais saudável será o cabelo e isso é muito buscado

pelo consumidor (SCHUELLER E ROMANOWSKY, 2002).

O método de medição utilizado tem como função verificar o grau de

hidratação da superfície cutânea e como a avaliação foi feita para verificar o grau

de hidratação da haste capilar, pode ter ocorrido alguma interferência nos

resultados, uma vez que, a estrutura capilar apresenta algumas diferenças em

relação à pele como, por exemplo, um menor grau hídrico (PEYREFITTE,

MARTINI & CHIVOT 1998).

Observou-se que o grupo de mechas tratadas com preparação controle não

apresentou hidratação significativa como às tratadas com peptídeo hidrolisado de

proteínas de pena de frango a 10%. A média de hidratação obtida pelo grupo de

mechas tratadas com a formulação controle durante as duas avaliações (secagem

com calor e naturalmente) foi inferior à do grupo tratado com o peptídeo

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hidrolisado a 10%. Inclusive as mechas que foram submetidas ao calor obtiveram

menor grau de hidratação do que as que secaram naturalmente em temperatura

ambiente. Esse dado confirma que a base utilizada na formulação não interferiu na

hidratação (VILLA et al, 2008). Desta forma, torna-se claro a importância dos

componentes peptídicos (queratina hidrolisada) na estrutura capilar,

proporcionando um grau maior de hidratação. Isso se dá devido à função que

esses componentes têm em proteger, enriquecer ou reparar as fibras do cabelo

tornado-as mais hidratadas, pois os fragmentos de aminoácidos e de polipeptídios

das proteínas hidrolisadas que são compostos de um agrupamento de aminoácido

e apresenta peso molecular baixo, parecem se ligar a queratina do cabelo,

restaurando a estrutura protéica danificada (PAOLA et al, 1999).

Em relação as patentes temos como exemplo o depósito WO2008/029064

(THOREL, 2008) sobre os extratos de soja e/ ou trigo para combater alterações

celulares, incluindo no cabelo, devido as radiações UVA e UVB. A mesma

proteção pode ser obtida com peptídeos sintéticos (BECK et al, 2008, WO

2008/073368). A patente publicada (CHUNG et al., 2007), WO2007049905, relata

o efeito de peptídeos em aumentar o crescimento de cabelo e melhorar o

ondulado de cabelos, onde em nosso trabalho foi possível verificar uma melhora

no aspecto da mecha ondulada tratada quimicamente. O peptídeo estável e com

grande poder de penetração possui aminoácidos específicos com a seqüência da

tirosina humana β4 (Tβ4). HUANG et al (2005, 2006) descreve a produção de

peptídeos sintéticos em condicionadores para cabelo, pele, unhas e colorações;

(WO2005.025505, WO2006/028503). Outras patentes usam os peptídeos em

condicionadores (FAHNESTOCK et al, 2008, em WO2008/057463).

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O’TOOLE et al., (2007) em WO200051556, descreve uma composição de

cosmético capilar contendo quatro ou mais aminoácidos ente eles histidina,

metionina, tirosina, triptofano e cisteína. Substâncias que formam filmes protetores

e incluem em sua composição proteínas animais vegetais hidrolisadas

(PUCHALSKI et al., 1983, U.S. Patent No 4,416,873; EL MENSHAWY et al.,1984,

U.S. Patent No. 4.482.537) proteínas da seda (PHILIPPE et al., 2001, US patent

No.6.280,747) e peptídeos de queratina de cabelo humano como cicatrizantes

(VAN DYKE et al., 2001, U.S. Patent n° 6.270.791).

Através dos resultados obtidos foi observado que o cabelo virgem por estar

com sua cutícula intacta obteve um grau maior de hidratação, uma vez que

permite que o produto permaneça em sua estrutura. Já em relação aos cabelos

tratados quimicamente foi observado que o teor de absorção é maior quanto

menor for o grau de agressão em sua estrutura capilar (EXPÓSITO, 1995).

A microscopia da haste do pêlo é essencial para o diagnóstico de muitas

anormalidades, particularmente doença fúngica e distúrbios congênitos e

hereditários da haste do pêlo, para avaliar o desgaste do pêlo, e para esclarecer a

causa da queda de cabelos (DAWBER, 1996, BERKER, 2002).

A microscopia óptica é limitada em resolução e tem uma profundidade

estreita de foco. A microscopia eletrônica de varredura é capaz de uma resolução

muito alta (até 2 nm em materiais biológicos) e possui um foco em profundidade

de imagem que é maior do que a espessura normal do espécime

(aproximadamente 100 nm) (DAWBER, 1996), sendo uma técnica muito utilizada

atualmente para análise de fibras capilares (ANDREAZZI, 2001).

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A microscopia eletrônica de varredura possibilita determinar a forma de um

material, o tamanho das partículas que o compõem e seu arranjo (ANDREAZZI,

2001), onde com esta técnica foi possível verificar, nas hastes capilares

analisadas, a presença de material orgânico, bem como a delimitação das bordas

contrastadas, confirmando com isso o que foi observado nas determinações de

hidratação e nos testes de sensorial aplicado às mechas.

Também, tem aumentando o uso de aminoácidos em produtos

antienvelhecimento. Em 2004, 20 toneladas de aminoácidos foram usados na

indústria de cosmético e até 2010 há uma previsão de 46 toneladas. No

tratamento da pele, aminoácidos especificamente escolhidos, purificados como a

serina, treonina, alanina e ácido piroglutâmico já são ingredientes populares por

serem ingredientes-chave do fator natural de hidratação (NMF); embora serem

poucos lipofílicos, tendem a permanecer na superfície do estrato córneo e a agir

apenas como moléculas ligadas à água. Normalmente estes aminoácidos e

peptídeos são obtidos por hidrólise de proteínas como colágeno animal, proteínas

do leite, da seda e queratina humana do cabelo. Entretanto o uso de enzimas para

hidrólise de proteínas, com peptidases é uma opção ainda não explorada no

mercado dos cosméticos (LINTNER, 2008).

As queratinases e outras peptidases têm adquirido grande importância

biotecnológica devido a suas aplicações industriais crescentes. Atualmente são

utilizadas pela indústria farmacêutica, em medicamentos e cosméticos, pela

indústria de detergentes, de alimentos e indústria coureira como depilantes

Também são utilizadas para tratamento de tecidos na indústria têxtil e em

processo de biorremediação e compostagem (BRANDELLI, 2008; VERMELHO et

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al, 2008b). A patente US n° 4,232,123 (BRAEUMER ET AL, 1980) descreve a

obtenção de peptídeos obtidos com enzimas proteolíticas comerciais, mas usando

também, em conjunto, o método químico. Caracterizamos, com isso, uma

vantagem em nosso processo de obtenção destes hidrolisados ou peptídeos, que

foram obtidos exclusivamente pelo método enzimático.

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CONCLUSÃO

I. Neste trabalho elaborou-se um processo biotecnológico que foi patenteado

para a obtenção de hidrolisados de queratina com metodologia enzimática. A

matéria prima utilizada, as penas de frango, que são abundantes no Brasil e o

descarte deste resíduo (800 mil toneladas previstas para 2008) constituem um

problema para a indústria avícola. Foi possível verificar neste trabalho que

houve uma degradação de aproximadamente 95% das penas, sendo este

uma ferramenta útil para o descarte de penas das avícolas e com um possível

potencial de obtenção de insumos para uso cosmético, além de ser um

processo vantajoso, por evitar a contaminação do meio ambiente por produtos

químicos.

II. A utilização da ultrafiltração permitiu separar os peptídeos (baixa massa

molecular) da enzima (alta massa molecular) e outras macromoléculas

presentes no meio, tornando-se um insumo cosmético possível de ser

incorporado em bases cosméticas. Esta separação foi comprovada pelos géis

de eletroforese e zimogramas.

III. Pode-se observar também que nosso insumo apresentou um perfil

cromatográfico, em HPTLC, muito semelhante ao insumo comercial, provando

que é possível obter estes produtos de maneira menos tóxica. Além disso,

nosso insumo apresenta uma enorme vantagem em relação a estes insumos

comercializados no mercado, que é a característica de possuir uma coloração

clara. Estas preparações comerciais apresentaram, além dos peptídeos,

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contaminantes protéicos, de alta massa molecular, enquanto nosso insumo

somente moléculas de baixa massa molecular.

IV. A incorporação dos peptídeos menores que 500 Da em uma base xampu e

creme rinse, e sua posterior aplicação em mechas de cabelo, utilizando

métodos de secagem sem calor (temperatura ambiente) e com calor (placa

térmica), possibilitou verificar que o aquecimento foi um fator que pode ter

influenciado no grau de hidratação, pois como observado nos resultados, o

cabelo tratado com hidrolisado de peptídeos de proteína de pena de frango

10% e seco com calor e placa térmica (180° C), proporcionou um aumento

significativo na hidratação em relação às mechas submetidas a secagem em

temperatura ambiente (sem calor).

V. Em relação ao teste de avaliação sensorial, percebeu-se que o parâmetro de

brilho e emoliência foi melhor nas mechas tratadas com os peptídeos, nos

cabelos secos com calor e placa térmica (180° C), quando comparado aos

demais. A base utilizada não influenciou nos resultados.

VI. A microscopia eletrônica nos permitiu avaliar a estrutura de uma haste capilar

sem tratamento químico, bem como antes e após a aplicação do xampu e do

creme rinse contendo peptídeos de 500 Da, utilizando temperatura ambiente e

secagem por placa térmica (180°C).

VII. Portanto, concluiu-se que nosso hidrolisado de peptídeo de até 500 Da, por

ter como diferencial sua baixa massa molecular, provavelmente é o fator que

permite sua fácil e rápida penetração nos fios quando utilizado calor,

fornecendo um grau maior de hidratação, brilho e maciez aos mesmos, além

de não ter interferido na coloração das bases utilizadas neste trabalho.

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