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Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica - PROVAB Farmacologia no Envelhecimento

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Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica - PROVAB

Farmacologia no Envelhecimento

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Farmacologia no Envelhecimento

Introdução

Panorama do uso de medicamentos no idoso

O Brasil tem vivenciado um rápido processo de envelhecimento decorrente da redução das taxas de mortalidade e de fecundidade. Neste contexto, os medicamentos passam a constituir um importante aliado na atenção à saúde do idoso. No entanto, seu consumo elevado e sem a supervisão médica, pode acarretar riscos à saúde. Estudos revelam que a maioria dos idosos faz uso em média de dois a cinco medicamentos diariamente e são particularmente mais sensíveis aos efeitos adversos, interações medicamentosas e toxicidade.

A influência dos hábitos culturais da sociedade, bem como a qualidade dos serviços de saúde e praticas dos prescritores favorecem o consumo de medicamentos. Por outro lado, a automedicação pode ser influenciada pelas propagandas publicitárias, que muitas vezes estimula a utilização desnecessária e o uso irracional do medicamento.

O Ministério da Saúde lançou em 2013 uma pesquisa inédita no País sobre o acesso, utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos (PNAUM) da população brasileira. Os dados do inquérito serão transmitidos em tempo real. Acesse em: https://www.brasil.gov.br/saude/2013/09/pesquisa-mostrara-como-os-brasileiros-adquirem-e-utilizam-os-medicamentos para saber as últimas notícias deste estudo.

Uso de medicações em idosos

Os idosos representam um grupo bastante vulnerável quanto ao uso de medicamentos. Como toda droga deve possuir sua indicação precisa, via de administração, posologia e tempo de administração, no idoso tais recomendações tornam-se ainda mais relevantes já que a Farmacocinética e Farmacodinâmica das drogas sofrem alterações à medida que envelhecemos.

Os idosos merecem especial atenção já que:

• Atualmente estima-se que 5% das internações hospitalares sejam decorrentes de reações adversas a medicamentos;

• Que as internações secundárias a efeitos colaterais e /ou interações medicamentosas triplica em idosos;

• Das prescrições elaboradas 40% são para idosos;• 57% das mulheres acima de 65 anos tomam pelo menos 5 medicações e, 12%,

mais de 10 medicações;• Mais de 50% de todos os fármacos são prescritos, dispensados ou vendidos de

forma inapropriada;

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O termo Polifarmácia pode ser definido como o uso de várias medicações simultaneamente. À medida que envelhecemos é mais comum o surgimento de inúmeras patologias sem fator evidente de cura, com isso o uso de medicações faz-se necessário. No Brasil é considerado Polifarmácia o uso desnecessário de pelo menos um medicamento e/ou a presença de cinco ou mais medicamentos em associação (Souza et al, 2008).

• Metade dos usuários não utiliza os medicamentos corretamente, causando da-nos ao indivíduo e desperdício de recursos;

• Mais de 50% de todos os países não implementam política básica para promo-ver o uso racional de medicamentos.

Caro aluno (a) veja abaixo o significado de polifarmácia e sua relação com o envelhecimento.

Os efeitos colaterais das inúmeras medicações devem ser conhecidos e seu potencial de risco partilhado com os pacientes, pois sabemos que:

• 35% dos idosos ambulatoriais, 44% dos hospitalizados e 10% das visitas em emergência são decorrentes de Reação Adversa a Medicamentos;

• 2 drogas: risco de 13% de efeitos colaterais;• 5 drogas: risco de 58% de efeitos colaterais;• 7 drogas: 82% de risco de efeitos colaterais;• 35 a 60% dos idosos vão apresentar alguma interação entre drogas;• É possível, com adequação da prescrição, prevenir a Iatrogenia em até 40% dos

casos;• 74% dos idosos em polifarmácia apresentam algum comprometimento funcio-

nal;• 32% dos quadros de Delirium são precipitados por drogas;• Pior desempenho cognitivo naqueles com Polifarmácia;• Risco de quedas, Incontinência Urinária e Comprometimento Nutricional.

IatrogeniaDeriva do grego: o radical iatro (“iatrós”), significa médico, remédio, medicina; geno (“gennáo”), aquele que gera, produz; e “la”, uma qualidade.

Além disso, segundo Silva (2011), o Brasil apresenta cerca de 80 milhões de pessoas que praticam a automedicação. A automedicação é definida como uma forma do usuário cuidar da sua própria saúde, sendo representada pela seleção e uso de medicamento para manutenção da saúde, prevenção de doenças, tratamento de enfermidades ou sintomas percebidos pela pessoa, sem a prescrição, orientação ou acompanhamento do médico ou dentista. (Oliveira, 2012)

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Farmacocinética e Farmacodinâmica

Para que possamos compreender a ação medicamentosa no organismo do idoso é fundamental entender a fisiologia do envelhecimento, a cinética e a dinâmica das drogas no organismo senescente.

Farmacocinética Biodisponibilidade

Farmacodinâmica Ação da Droga no

Organismo

Ramo da farmacologia que estuda os processos de absor-ção, distribuição, biotransformação e excreção dos fárma-cos.

Ramo da farmacologia que estuda a ação da droga no orga-nismo. Seu local e mecanismos de ação, faixa terapêutica, afinidade e eficácia.

Modificações Farmacocinéticas no Idoso

Processo Efeito na disposição das Drogas.

AbsorçãoDiminuição da absorção intestinal Redução do mecanismo de primeira passagem.

DistribuiçãoAlteração da fração livre de algumas drogas Alteração do volume de distribuição.

Metabolismo Atraso no metabolismo de drogas com clearence elevado.

ExcreçãoAumento da meia vida de drogas hidrossolúveis Redução do clearence renal das drogas.

Determinantes da Relação Dose-Resposta

Variabilidade Individual

Comorbidades

Sexo Masculino

Co-Medicações

Sexo Feminino

Influência Genética

No idoso há a redução da taxa de esvaziamento gástrico, da secreção de ácido clorí-drico, da motilidade gastrintestinal e do fluxo sanguíneo intestinal, sendo assim ocor-re a diminuição da absorção de fármacos.

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A função renal dos idosos deve ser sempre avaliada, especialmente para o ajuste de posologia. Por exemplo, a meia-vida da digoxina pode ser aumentada de 36 horas para 72 horas nos idosos. Inúmeros fármacos sofrem extenso clearence renal e, por tal motivo, podem acumular-se no organismo do idoso como sulffas, aminoglicosídeos, atenolol, digoxina, lítio entre outros. Da mesma forma, alguns antibióticos devem ser corrigidos e ajustados de acordo com o clearence.

Equação de COCKCROFT - GAULT

Clearence Creatinina (ml/min) = (140 - idade) x peso x (0,85, se mulher)/72 x Creatinina Sérica (mg/dl)

Beers e colaboradores (2012) elaboraram um elenco de medicações inapropriadas no envelhecimento. No link (Acesse em: http://www.americangeriatrics.org/files/documents/beers/2012BeersCriteria_JAGS.pdf) temos a listagem completa das medicações com con-tra indicação relativa e absoluta para os idosos.

Conhecer todas as drogas é muito difícil. O uso de material de referência e orientação é fundamental no dia a dia. Em especial, no idoso, pelas alterações fisiológicas apresentadas, conhecer o perfil de absorção à eliminação da droga no organismo é de fundamental importância já que implicações inúmeras podem ocorrer. Através da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Acesse em: https://ufc.unasus.gov.br/curso/provab/idoso_v3/unid_02/tema_03/material_complementar/RENAME_2013.pdf) podemos observar as drogas disponíveis em nossa realidade e, da mesma forma, em trabalhos nacionais, analisar outras que podem apresentar riscos relativos e absolutos no idoso (Acesse em: https://ufc.unasus.gov.br/curso/provab/idoso_v3/unid_02/tema_03/material_complementar/21.pdf).

Terminamos aqui o “Uso de medicações em Idosos”, mas a aula ainda não terminou. A seguir você aprenderá sobre estratégias e aconselhamentos para o uso de medicamentos.

Estratégia de aconselhamento para o uso de medicações

• Solicite ao idoso que traga sempre seus medicamentos e prescrições anteriores durante as consultas médicas;

• Avalie caso a caso a real necessidade da indicação e prescrição do medicamento para o idoso;

• Observe se o idoso apresenta alguma reação adversa ao medicamento; • Ao dispensar o medicamento para o idoso é fundamental averiguar se o mesmo

está usando corretamente.

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Fazer a conciliação medicamentosa é uma estratégia que permite obter uma lista completa e precisa dos medicamentos de uso habitual do idoso. Possibilitando a identificação das reações adversas, polifarmácia, uso incorreto do medicamento e não adesão à terapia e automedicação.

O que é conciliação medicamentosa? Acesse em: http://webconf2.rnp.br/p9hcs9s721b/?launcher=false&fcsContent=true&pbMode=norma para conhecer.

Neste link (Acesse em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/segurancadopaciente/documentos/ju-lho/Protocolo%20Identifica%C3%A7%C3%A3o%20do%20Paciente.pdf) temos um importante do-cumento a ser cuidadosamente analisado quanto à segurança, uso e administração de medicamentos. Leia o texto e discuta sobre o tema.

Acesse os medicamentos disponibilizados nas unidades da Rede Própria do Pro-grama Farmácia Popular. (Acesse em: https://ufc.unasus.gov.br/curso/provab/idoso_v3/unid_02/tema_03/material_complementar/elenco-fp1-20-08-12.pdf).

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Referências

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COELHO, H.L.; ARRAIS, P.S.D.; GOMES, A. P. Sistema de Farmacovigilância do Ceará: um ano de experiência. Cad. Saúde Pública. 1999, v.15, n.3, p. 631-640. FLORES, L.M.; MENGUE, S. S. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Rev. Saúde Pública. 2005, v.39, n.6, p. 924-929. GORZONI, M. L.; FABBRI, R. M. A.; PIRES, S. L. Critérios de Beers-Fick e medicamentos genéricos no Brasil. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 54, n. 4, p. 353-356, 2008. GORZONI, M. L.; PASSARELLI, M. C. G. Farmacologia e terapêutica na velhice. In: FREITAS, E. V., et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. NEVES, S. J. F. et al. Epidemiology of medication use among the elderly in an urban area of Northeastern Brazil. Rev. Saúde Pública. v.47, n.4, p. 759-768, 2013. SILVA, A. L. da et al. Utilização de medicamentos por idosos brasileiros, de acordo com a faixa etária: um inquérito postal. Cad. Saúde Pública. v.28, n.6, p. 1033-1045, 2012. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Medicines use in primary care in developing and transitional countries, 2009. Disponível em:< http://apps.who.int/medicinedocs/documents/s16073e/s16073e.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2014