project of ecology

110

Upload: anca-jipa

Post on 14-Apr-2016

24 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Another way to live in the city

TRANSCRIPT

  • - BIO FACTORY -

    CENTRO CULTURAL BIOLGICO

    OS PERCURSOS ECOLGICOS E O CENTRO CULTURAL BIO FACTORY - UMA OUTRA FORMA DE HABITAR A CIDADE -

    Helena Isabel Carneiro Teixeira Martins

    Mestrado em Design de Interiores rea de Especializao de Espaos Urbanos e Interiores

    Escola Superior de Artes e Design

    2012

  • Este relatrio satisfaz os requisitos do Projecto proposto na Disciplina de Projecto,

    do 5 ano, do Mestrado em Design de Interiores

    Candidato: Helena Isabel Carneiro Teixeira, N 6304, [email protected]

    Orientao cientfica: Arqt. Maria Milano, [email protected]

    Co-orientao cientfica: Arqt. Pedro Leo, [email protected]

    ESAD Escola Superior de Artes e Design

    Mestrado em Design de Interiores rea de Especializao de Espaos Urbanos e Interiores

    Escola Superior de Artes e Design

    2012

  • Dedico este Mestrado aos meus Pais, ao Pedro e Sara e memria de meu av Alrio e meu Padrasto Rui Sousa.

  • I

    Agradecimentos

    ESAD, por tornar este mestrado possvel.

    Professora Arqt. Maria Milano por me ter acompanhado em mais uma etapa do meu percurso acadmico, pela fantstica orientao e pelo voto de confiana neste trabalho.

    Ao Professor Arqt Pedro Leo, pela sua co-orientao.

    Ao Professor Arqt Rui Canela, pela sua disponibilidade e pela preciosa disponibilizao de bibliografia.

    A todos os funcionrios da ESAD, em especial ao Sr. Alberto, Laura e D. Elisete por todo o apoio e carinho durante todo o meu percurso acadmico.

    Ao Sr. Magalhes da CMP pela sua simpatia e disponibilidade por tornar possvel as visitas efetuadas ao Matadouro do Porto.

    Aos meus amigos pelo incentivo, pela compreenso, pelo nimo e pela energia positiva que sempre me transmitiram.

    Ao Deck97 pela colaborao no levantamento fotogrfico do ex-Matadouro.

    Ao meu grande amigo Arquimedes Canadas pelo design grfico da capa, do CD e por todo o auxilio e companheirismo demonstrado na realizao desta tese.

    Aos meus Sogros pelo carinho e apoio que me deram.

    Ao meu Pai pelo incentivo e ajuda preciosa no levantamento mtrico do ex-Matadouro.

    minha me e irm pelo incentivo, pacincia e carinho durante todo o percurso acadmico.

    Ao meu marido Pedro, por tudo.

  • II

  • III

    Resumo

    Este Projeto de Mestrado em Design na ramo de Espaos Urbanos e Interiores surgiu aps a realizao de uma anlise da planimetria do tecido urbano da zona oriental da cidade do Porto, onde se verificou a existncia de uma lacuna urbanistica suscitada pela carncia de planeamento e interligao entre as diversas reas verdes existentes. No decorrer dessa mesma anlise, constatou-se ainda a existncia de um antigo matadouro, que pelo fato de se encontrar sem funo prtica devido ao seu estado de degradao/abandono, tem um elevado interesse como alvo de reabilitao, tanto a nvel de interiores como ao nvel de mutao da sua funcionalidade e capacidade dinamizadora da rea envolvente.

    De forma a suprimir as lacunas apuradas, a interveno centra-se na reabilitao e dinamizao de uma vasta rea composta por trs grandes espaos verdes e pelo ex-Matadouro, e visa a articulao entre estes quatro espaos atravs da implementao de percursos pedonais/ciclovias e da criao de um Centro Cultural Biolgico, que ir desempenhar um papel propulsor de uma nova forma de habitar a cidade, integrando a promoo das hortas urbanas e pedaggicas e a implementao de uma srie de atividades baseada no universo da cultura bio.

    Palavras-Chave

    Cidade; Verde; Paisagem; Hortas Urbanas; Percursos; Sustentabilidade; Ecologia; Matadouro; Reabilitao; Biolgico.

  • IV

  • V

    Abstract

    This Project of Master in Design in the field of Urban Spaces and Interior emerged after conducting an planimetry analysis of the urban structure of the eastern of Porto city, where he established the existence of a urban gap raised by the lack of planning and interconnection between the several existing green areas. In this same analysis, we also recognize the existence of a former slaughterhouse, that by the fact of existing without practical function due to its state of exhaustion / neglection, has a great interest as a rehabilitation target, at the interior stage and at changing of its functionality stage, as well as it ability to push forward the surrounding environment.

    In order to overcome the established gaps, the intervention focuses on rehabilitation and promotion of a vast area made by the presence of three large green spaces and the former slaughterhouse, and seeks the association between these four areas through the execution of pedestrian / bicycle paths and by the creation of a Biological Cultural Center in the area of the former slaughterhouse, which will play a propellant roll in a new way of inhabiting the city, integrating the urban and coaching gardens promotion as well as the implementation of a series of activities based on the universe of bio culture.

    Keywords

    City, Green, Landscape, Urban Gardens, Paths, Sustainability, Ecology, Slaughterhouse; Rehabilitation; Biology.

  • VI

  • VII

    ndice

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................................ I

    RESUMO .......................................................................................................................................................... III

    ABSTRACT .......................................................................................................................................................... V

    NDICE ........................................................................................................................................................... VII

    NDICE DE FIGURAS ......................................................................................................................................... IX

    NDICE DE TABELAS ...................................................................................................................................... XIII

    ACRNIMOS ................................................................................................................................................... XV

    1. INTRODUO ................................................................................................................................... 1

    1.1. METODOLOGIA ..................................................................................................................................... 3 1.2. CALENDARIZAO ................................................................................................................................. 4 1.3. ORGANIZAO DO RELATRIO ................................................................................................................. 5

    2. A PAISAGEM E A CIDADE .................................................................................................................. 7

    2.1. O DESENHO DA PAISAGEM ...................................................................................................................... 7 2.2. RELAO ENTRE VERDE E CIDADE ............................................................................................................ 15 2.3. RELAO ENTRE ARTE E TERRITRIO ....................................................................................................... 20

    3. HORTAS URBANAS ......................................................................................................................... 23

    3.1. CONTEXTO HISTRICO .......................................................................................................................... 23 3.2. ESTADO DA ARTE NO MUNDO ................................................................................................................ 24 3.3. ESTADO DA ARTE EM PORTUGAL ............................................................................................................ 25

    4. PROJETO BIO-FACTORY .................................................................................................................. 29

    4.1. METODOLOGIA ................................................................................................................................... 29 4.2. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO AO NVEL DA MACROESCALA ..................................................................... 33 4.2.1. ESTUDO E ANLISE DA MALHA URBANA .................................................................................................... 33 4.2.2. PROGRAMA FUNCIONAL ....................................................................................................................... 36 4.3. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO AO NVEL DA MICROESCALA ...................................................................... 38 4.3.1. ESTUDO E ANLISE DO EDIFICADO DO MATADOURO ................................................................................... 38 4.3.2. ESTRATGIA E PROGRAMA FUNCIONAL .................................................................................................... 41 4.3.3. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ........................................................................................................... 43

    5. CONCLUSES ................................................................................................................................. 51

    BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................ 53

    WEBGRAFIA ........................................................................................................................................... 55

  • VIII

    ANEXO A. HORTAS URBANAS NA CIDADE DO FUNCHAL .......................................................................... 59

    ANEXO B. HORTAS URBANAS NO DISTRITO DO PORTO ........................................................................... 61

    ANEXO C. PERCURSOS PEDONAIS ENTRE ESPAOS VERDES ..................................................................... 63

    ANEXO D. REGISTO FOTOGRFICO DO MATADOURO .............................................................................. 67

    ANEXO E. PLANTAS ORIGINAIS DO MATADOURO .................................................................................... 71

    ANEXO F. ESBOOS DA REABILITAO DO EX-MATADOURO ................................................................... 75

    ANEXO G. PROJETO DE EXECUO .......................................................................................................... 77

  • IX

    ndice de Figuras

    Figura 01 - Paisagem da cidade do Porto vista dos jardins do Palcio de Cristal......................... 6

    Figura 02 - A Virgem dos Rochedos de Leonardo da Vinci ........................................................ 8

    Figura 03 - A Primavera de Botticelli ........................................................................................ 8

    Figura 04 - Jardim com banco relvado de Dirk Bouts ................................................................ 9

    Figura 05 - Planta da Villa Lante de Giacomo Lauro ................................................................. 9

    Figura 06 - Planta de um jardim botnico de Olivier de Serres ................................................ 9

    Figura 07 - O Vero de Giuseppe Archimboldo ...................................................................... 10

    Figura 08 - Vista de Toledo de El Greco .................................................................................. 10

    Figura 09 - Dana dos Camponeses de Rubens ....................................................................... 11

    Figura 10 - Paisagem com Tempestade de Rembrandt .......................................................... 11

    Figura 11 - Cesto com frutas de Caravaggio ............................................................................ 11

    Figura 12 - Representao do castelo de Versalhes original ...................................................... 12

    Figura 13 - Planta de Versalhes de Le Pautre ......................................................................... 12

    Figura 14 - Representao do Palcio de Drottningholm em 1700 ........................................... 12

    Figura 15 - Manh de Friedrich ............................................................................................... 13

    Figura 16 - A Avalanche nos Grisons de William Turner ......................................................... 13

    Figura 17 - Detalhe dos jardins do castelo em esk Krumlov (1779) ....................................... 13

    Figura 18 - Projecto de Jardim Ingls de Francesco Bettini .................................................... 13

    Figura 19 - St. Victoire de Van Gogh ....................................................................................... 14

    Figura 20 - Lrio de gua de Monet......................................................................................... 14

    Figura 21 - La Fort de Czanne .............................................................................................. 14

    Figura 22 - Mapa de Birkenhead Park ........................................................................................ 14

    Figura 23 - Representao da Paisagem na Revoluo Industrial .............................................. 15

    Figura 24 - O Progresso do Sculo Cartaz referente industrializao .................................. 15

    Figura 25 - Projeto Ville Radieuse de Le Corbusier ................................................................. 15

    Figura 26 - Vista area do edificado excessivo da cidade de Nova Iorque ................................ 16

    Figura 27 - Vista area da densidade da rede rodoviria de Dallas ........................................... 16

    Figura 28 - Exemplo da poluio atmosfrica automvel nas cidades ...................................... 16

    Figura 29 - The High Line de Diller & Scofidio ......................................................................... 17

    Figura 30 - The High Line de Diller & Scofidio (Pormenor) ..................................................... 17

    Figura 31 - The High Line de Diller & Scofidio ......................................................................... 17

    Figura 32 - Forwarding Dallas dos Moov ................................................................................ 18

    Figura 33 - Forwarding Dallas dos Moov (Pormenor) ............................................................. 18

    Figura 34 - Proposta Le Grand Pari de Christian de Portzamparc .......................................... 19

  • X

    Figura 35 - Proposta Le Grand Pari de Roland Castro ............................................................. 19

    Figura 36 - Proposta Le Grand Pari de Jean Nouvel ................................................................ 19

    Figura 37 - Ampliao do Jardim Botnico de Barcelona (Pormenor) de Carlos Ferreter ...... 19

    Figura 38 - Ampliao do Jardim Botnico de Barcelona (Pormenor) de Carlos Ferreter ...... 19

    Figura 39 - Spiral Jetty de Robert Smithson (Panorama) ........................................................ 20

    Figura 40 - Running Fence de Christo & Jeanne-Claude (Imagem de Gianfranco Gorgoni 1976 Christo) ............................................................................................................................ 20

    Figura 41 - Running Fence de Christo & Jeanne-Claude (Imagem de Gianfranco Gorgoni 1976 Christo) ............................................................................................................................ 20

    Figura 42 - Fulcrum de Richard Serra ...................................................................................... 21

    Figura 43 - Intersection II de Richard Serra ............................................................................. 21

    Figura 44 - Cinco Caminhos de Richard Long .......................................................................... 21

    Figura 45 - Exemplos das intervenes protagonizadas por Richard Long ................................ 21

    Figura 46 - Vista para a VCI a partir das hortas urbanas de Ramalde - Porto ............................ 22

    Figura 47 - Selo comemorativo com aluso s antigas hortas urbanas dinamarquesas............ 23

    Figura 48 - Prinzessinnengrten (Jardim Princesa) em Moritzplatz ........................................ 24

    Figura 49 - Exemplo de uma tpica horta urbana em Londres ................................................... 24

    Figura 50 - Horta urbana do Projeto Priority Zone em Durban ............................................... 24

    Figura 51 - Huertas comunitarias em Havana, Cuba ............................................................... 24

    Figura 52 - Exemplo de uma tpica horta urbana na ndia ......................................................... 24

    Figura 53 - Exemplos das hortas urbanas na IC19 em Lisboa .................................................... 25

    Figura 54 - Hortas urbanas da Quinta da Granja em Lisboa ....................................................... 25

    Figura 55 - Exemplos das hortas urbanas municipais no Funchal .............................................. 25

    Figura 56 - Hortas urbanas no Bairro do Ingote em Coimbra .................................................... 26

    Figura 57 - Horta de Subsistncia do Castlo da Maia na Maia .............................................. 26

    Figura 58 - Horta empresarial Horta da Nobrinde, MBA ........................................................ 26

    Figura 59 - Horta comunitria Horta da Vitria no Porto ....................................................... 26

    Figura 60 - Horta Pedaggica da Quinta do Covelo no Porto ................................................. 27

    Figura 61 - Horta Pedaggica de Guimares em Veiga de Creixomil ..................................... 27

    Figura 62 - Hortas Urbanas Limianas em Ponte de Lima ........................................................ 27

    Figura 63 - Planta original do Antigo Matadouro do Porto ........................................................ 28

    Figura 64 - Vista area das zonas verdes na zona oriental do Porto .......................................... 30

    Figura 65 - Vista area da zona do matadouro e da sua envolvente ......................................... 30

    Figura 66 - Exemplo do estudo efetuado da planimetria geral .................................................. 30

    Figura 67 - Exemplo de levantamento mtrico efetuado .......................................................... 31

    Figura 68 - Exemplo do estudo prvio efetuado escala 1/200 ................................................ 31

    Figura 69 - Maquete de estudo do ex-Matadouro ..................................................................... 31

    Figura 70 - Zonas verdes e rede pedonal - zona oriental do Porto ............................................ 32

    Figura 71 - Vista panormica do Parque de S. Roque ................................................................ 33

  • XI

    Figura 72 - Vista panormica do Jardim da Corujeira ................................................................ 33

    Figura 73 - Localizao do futuro Parque Urbano das Antas ..................................................... 33

    Figura 74 - Vista frontal do Antigo Matadouro Industrial do Porto ........................................... 33

    Figura 75 - Rede viria - zona oriental do Porto ......................................................................... 34

    Figura 76 - Vista da linha ferroviria em Contumil - Porto......................................................... 35

    Figura 77 - Vista do N do Mercado Abastecedor nas Antas - Porto ......................................... 35

    Figura 78 - Carreira 402 dos STCP que liga S. Roque Boavista - Porto .................................... 35

    Figura 79 - Estao do metro de Contumil (linha laranja) - Porto ............................................. 35

    Figura 80 - Corredor verde de ligao do projeto de ampliao e reabilitao do Parque de S. Roque (C.M.P.) ......................................................................................................................... 36

    Figura 81 - Vista de zona degradada nas traseiras do ex-Matadouro ....................................... 36

    Figura 82 - Estrutura de ciclovia e via pedestre a implementar ................................................ 36

    Figura 83 - Vista panormica da zona central da Alameda das Antas ....................................... 37

    Figura 84 - Projeto de Jardim para reabilitao de rea abandonada ....................................... 37

    Figura 85 - Zona abandonada onde se pratica o estacionamento abusivo ............................... 37

    Figura 86 - Exemplo do excesso de silvas e entulho nas entradas ............................................. 38

    Figura 87 - Exemplo dos diversos vos emparedados ............................................................... 38

    Figura 88 - Exemplo do avanado estado de degradao dos telhados .................................... 38

    Figura 89 - Exemplo do estado de degradao das escadas (em runas) ................................... 38

    Figura 90 - Instalaes do Canil no interior de um dos edifcios ................................................ 38

    Figura 91 - Pormenor das asnas existentes em madeira ........................................................... 39

    Figura 92 - Pormenor dos envidraados da entrada frontal ...................................................... 39

    Figura 93 - Panormica do edificado .......................................................................................... 39

    Figura 94 - Exemplo da falta de salubridade generalizada ........................................................ 39

    Figura 95 - Exemplo da escassez de fontes de luz natural ......................................................... 39

    Figura 96 - Exemplo da degradao generalizada das estruturas .............................................. 39

    Figura 97 - Perspectiva da reabilitao proposta para coberturas e vos ................................. 40

    Figura 98 - Pormenor da reabilitao ao nvel das coberturas .................................................. 41

    Figura 99 - Pormenor da implementao dos pomares ............................................................. 41

    Figura 100 - Pormenor da implementao das hortas ................................................................. 41

    Figura 101 - Pormenor referente abertura de vos exteriores ................................................. 41

    Figura 102 - Pormenor referente abertura de passagens interiores ........................................ 41

    Figura 103 - Maquete de estudo .................................................................................................. 42

    Figura 104 - Maquete virtual ........................................................................................................ 42

    Figura 105 - Imponncia da entrada frontal do edifcio .............................................................. 43

    Figura 106 - Pormenor dos elementos decorativos das janelas .................................................. 43

    Figura 107 - Pormenor das asnas a manter e a reabilitar ............................................................ 43

    Figura 108 - Perspectiva da extenso do corredor central .......................................................... 43

    Figura 109 - Detalhe da reabilitao prevista na Praa Comum .................................................. 44

  • XII

    Figura 110 - rea pr-existente escolhida para o Restaurante Bio .............................................. 44

    Figura 111 - Projeto de execuo para o Restaurante Bio ........................................................... 44

    Figura 112 - Maquete de estudo da Zona Infantil com o Espao Cnico ..................................... 45

    Figura 113 - Interligao do Espao Cnico com a zona de Pomar .............................................. 45

    Figura 114 - Esboo dos Pomares ................................................................................................. 46

    Figura 115 - Render 3D dos Pomares ........................................................................................... 46

    Figura 116 - Maquete de estudo da zona principal das Hortas.................................................... 46

    Figura 117 - Estudo solar do ex-Matadouro a 21 de Junho ......................................................... 46

    Figura 118 - Estudo solar do ex-Matadouro a 21 de Setembro ................................................... 46

    Figura 119 - Detalhe da localizao da Cafetaria ......................................................................... 47

    Figura 120 - Detalhe da entrada do corredor da Zona de Circulao .......................................... 47

    Figura 121 - Pormenor dos stands de venda na maquete de estudo .......................................... 48

    Figura 122 - Render 3D do stand de venda construdo por paletes ............................................. 48

    Figura 123 - Render 3D com o pormenor da iluminao LED ...................................................... 48

    Figura 124 - Pormenor do atual espao de estacionamento ....................................................... 49

    Figura 125 - Pormenor da Portaria do Antigo Matadouro ........................................................... 50

  • XIII

    ndice de Tabelas

    Tabela 01 Dados sobre o Projecto Hortas Urbanas Municipais ................................................ 59

    Tabela 02 Hortas ativas no Projeto Horta Porta - hortas biolgicas da regio do Porto ....... 61

  • XIV

  • XV

    Acrnimos

    ESAD Escola Superior de Artes e Design

    APAP Associao Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas

    D.L. Decreto-Lei

    CIAM Congresso Internacional da Arquitectura Moderna

    FAO Organizao para a Agricultura e Alimentao das Naes Unidas

    IC Itenerrio Complementar

    S.P.O.T. Sociedade Portuense, Outras Tendncias, Lda.

    C.M.P. Cmara Municipal do Porto

    C.M.G. Cmara Municipal de Guimares

    PDM Plano Diretor Municipal

    VCI Via de Cintura Interna

    CO Monxido de carbono

    STCP Sociedade de Transportes Colectivos do Porto

  • XVI

  • 1

    1. INTRODUO

    Uma das caractersticas do Mundo, desde os primrdios dos tempos e da sua existncia, a Natureza, que no seu sentido mais lato, se refere aos fenmenos do mundo fsico, e tambm vida em geral.

    Como tal, e de uma forma mais particular, a Natureza constituda pela Paisagem, no sentido de que esta representa o resultado da plenitude dos componentes existentes em determinado local e que podem ser compreendidos pelos diversos sentidos do observador, nomeadamente a audio, a viso, o olfacto, o tacto e o gosto (Fadigas, 2007, pp. 123-124).

    Nos incios, antes da presena do Homem na Natureza, apenas se podia distinguir a existncia da Paisagem Natural. Com a sua apario, e desde a sua existncia at ao presente, o Homem tornou-se parte integrante da Paisagem e da sua essncia, passando esta a fazer parte do seu quotidiano. A partir deste ponto, a Paisagem passa a ser constituda pela Paisagem Natural, e pela Paisagem Humanizada, sendo a sua nica diferena o facto de esta ltima ter sofrido transformaes em resultado da interveno humana, que se deve principalmente s aes efectuadas para garantir a sua permanncia nos locais escolhidos (Fadigas, 2007, pp. 124-125).

    A Histria recente revela que a interferncia humana na Paisagem raramente foi harmoniosa, pautando-se diversas vezes pela destruio parcial ou total da natureza circundante do alvo de interveno. No entanto, nem sempre foi assim, pois os primeiros locais de permanncia das comunidades humanas eram escolhidos tendo como base determinadas condies pr-existentes, tais como a proximidade de gua e outros recursos naturais, tais como terras frteis, pastos e proximidades de locais de caa. Este facto envolvia uma reduzida interveno humana, pelo que a transformao do meio envolvente era diminuta, recorrendo em suma aos recursos existentes.

  • 2

    Com o decorrer dos tempos e a evoluo das tcnicas de cultivo, de transporte de pessoas e bens, da construo e da produo, foi possvel alterar substancialmente o habitat e tornar desnecessria a proximidade dos recursos naturais, alterando em simultneo a evoluo demogrfica dos locais habitados pelo Homem (Porto Editora, 2006).

    Foi a evoluo da tecnologia humana que permitiu a colonizao de todos os continentes e a adaptao a praticamente todos os climas. Por outro lado, provocou a prolificao das reas urbanas e o respectivo aumento das populaes, implicando o agravamento da interveno humana, da poluio, das condies climatricas e consequentemente, da destruio da natureza e da extino de inmeras espcies animais e vegetais. Este crescimento da populao originou ainda novos problemas, tais como a construo desordenada e falta de planeamento urbano, o abandono e degradao do conjunto edificada mais antigo, a construo desmesurada de instalaes sem preocupaes futuras quanto sua sustentabilidade ou impacto ambiental, entre outras questes com impacto direto/indireto na Paisagem (Porto Editora, 2006).

    Inesperadamente, essa mesma evoluo permitiu o progresso cientifico e a consciencializao de que todas as interaes humanas implicam alteraes no meio ambiente circundante (Magalhes, 2001, pp. 286-287).

    reas de estudo como o ambiente, a ecologia, as energias renovveis, a sustentabilidade e as questes envolvendo o impacto ambiental criado por cada processo produtivo ou construtivo, tm vindo a desenvolver-se, permitindo que a interveno humana seja repensada e perca o seu carcter prejudicial (Cabral, 2003, p. 44).

    Todavia, este efeito nocivo no se resume apenas s novas intervenes, o que significa que foram as intervenes antecedentes as principais responsveis pelos actuais efeitos nefastos, e como tal, implica que sejam igualmente estas o alvo prioritrio de reabilitao e aplicao de novos processos e formas de projectar a Paisagem, permitindo assim alcanar um habitat integrado fundamentado no ideal de uma paisagem global.

    assim que, dentro deste panorama actual da reabilitao e de integrao do habitat, surge a necessidade de actualizao e desenvolvimento do edificado existente, com recurso s atuais teorias disponveis para exercer a sustentabilidade, utilizando todos os meios e recursos que a tecnologia coloca ao dispor dos intervenientes do processo de projeto.

  • 3

    1.1. METODOLOGIA

    A metodologia empregue na concretizao deste trabalho assenta em duas vertentes distintas, sendo que a primeira vertente ser a base de sustentao da segunda.

    A primeira vertente, essencialmente terica, visa a constatao do denominado estado da arte, ou seja, o estado em que se encontra o tema proposto, suas origens e impulsionadores, e perspectivas futuras de desenvolvimento. Esta questo foi desenvolvida e comprovada atravs de uma intensa pesquisa de referncias sobre as vrias temticas a abordar, visando a fundamentao deste trabalho.

    Assim, a concretizao desta vertente passou pela referenciao de diferentes assuntos, como por exemplo, o desenvolvimento sustentvel e a prpria sustentabilidade, a agricultura biolgica e a agricultura urbana, o planeamento urbano e por ltimo, mas no menos importante, o tema da reabilitao. Todas as referncias foram baseadas na pesquisa de diversos livros e pginas na Internet cujos temas abrangiam a arte, o paisagismo, a ecologia, a sustentabilidade, a aplicao das energias renovveis, as hortas urbanas e os projetos realizados relacionados com estas temticas, tendo em considerao que todos estas questes so determinantes para fundamentar e atestar a actualidade e a importncia deste trabalho. Esta pesquisa no se podia resumir atualidade, nem sua implementao local, pois a justificao/fundamentao deste projeto implica a necessria contextualizao da origem e evoluo do tema ao longo dos tempos, bem como da sua influncia ao nvel do panorama global e nacional.

    A segunda vertente essencialmente projectual, onde foi desenvolvido um processo de recolha de dados e informao, no s da totalidade do espao a ser intervencionado, mas tambm sobre a populao circundante que l habita e que constitui a comunidade existente (faixa etria, grau de escolaridade e nvel social). Consequentemente, foi necessrio proceder ao levantamento fotogrfico das reas a intervir, anlise da totalidade dos dados recolhidos, e elaborao de esboos e esquemas, para que possam constituir uma ferramenta para estudos futuros.

    Este conjunto de dados e informaes serviro de base concretizao de possveis propostas futuras de interveno, e protagonizar o ponto de partida para o caminho provvel para solucionar a questo de como articular os espaos verdes envolventes e a sua ligao entre as futuras hortas urbanas e os espaos de lazer.

  • 4

    1.2. CALENDARIZAO

    Inicialmente, o projecto de mestrado era substancialmente diferente do atual. Aps alguma anlise, discusso e ponderao sobre o tema inicial, o mesmo revelou-se pouco ambicioso, apresentando um grau de dificuldade e obteno de novos conhecimentos inferior ao desejvel para um projeto deste mbito. O processo de escolha do tema, desde a proposta inicial at obteno do consenso entre as partes que culminou no tema atualmente proposto, cumprindo assim os requesitos necessrios e adequados a um projecto de mestrado, ocupou os dois meses finais de 2010, adiando a concretizao do incio do projeto para meados de Janeiro de 2011.

    Tendo em conta os objetivos anteriormente mencionados, e a abrangencia de temas que necessariamente seriam abordados, a pesquisa e anlise dos dados seria uma actividade com um planeamento prvio de 6 a 8 semanas. Contudo, este estudo veio a revelar-se um trabalho deveras extenuante, revestido de um grau de complexidade algo elevado devido aquisio de novos conhecimentos em reas de estudo cujos conhecimentos prprios eram reduzidos ou por vezes inexistentes. Este facto aliado a questes como a necessidade de uma autorizao para acesso s instalaes, que demorou aproximadamente dois meses a ser emitida, e a dificuldade de obteno das plantas originais do matadouro, que apenas se encontraram disponveis no arquivo da Casa do Infante em formato de digitalizao de baixa resoluo, acabaram por extender o periodo inicialmente previsto, condicionando as primeiras visitas e o incio do estudo efectivo das instalaes para o ms de Maio.

    Aps diversas visitas ao local com o objectivo de realizar um registo fotogrfico das instalaes e das suas envolventes, estudar o estado de degradao do edifcio e obter vrias medies em falta nas plantas originais, actividades estas que ocuparam praticamente a totalidade do ms de Maio, deu-se incio ao planeamento e execuo do projeto e das respectivas plantas. No entanto, o projeto sofreu diversos atrasos em relao data de entrega prevista para 14 de Novembro devido em parte s alteraes implementadas no decurso do desenvolvimento do esquema espacial, mas sobretudo devido s incongruncias das plantas originais, tais como no corresponderem realidade da construo, tanto em termos de estrutura em termos de materiais, a falta de pormenores, escala e medies, e a falta de plantas de alguns blocos que integram o conjunto dos edifcios.

  • 5

    1.3. ORGANIZAO DO RELATRIO

    No Captulo 1 apresentada uma introduo ao tema proposto por este projeto, complementada com a descrio dos objectivos principais, a sua contextualizao e metodologia adotada, a sua calendarizao, finalizando com a sua respectiva estruturao.

    No captulo seguinte procede-se anlise do estado da arte da Paisagem e da sua relao com a Cidade, o verde e a arte, incluindo a sua definio, origem, caratersticas, desenvolvimento e atualidade, incluindo ao longo do captulo a apresentao de vrios casos de estudo e referncias.

    O terceiro Captulo constituido pela contextualizao histrica das Hortas Urbanas, incluindo a localizao e as causas da sua origem, pela descrio do estado da arte no mundo e em Portugal, destacando-se alguns casos de estudo e projetos implementados no panorama nacional.

    No Captulo 4 so apresentadas as diferentes fases do projeto prtico proposto de reabilitao da rea envolvente do antigo matadouro e dos percursos pedonais e ciclveis criados, a reconverso do edifcio num Centro Cultural Biolgico e do seu novo programa funcional, as diversas tecnologias que se pretende implementar, e a promoo das hortas urbanas e pedaggicas, incluindo o impacto gerdo na populao e a sua capacidade de dinamizao do tecido urbano.

    No quinto e ltimo Captulo so apresentadas as concluses alcanadas atravs dos estudos e pesquisas realizadas, e dos possveis benefcios da implementao deste projeto.

  • 6

    Figura 01 - Paisagem da cidade do Porto vista dos jardins do Palcio de Cristal

  • 7

    2. A PAISAGEM E A CIDADE

    Neste captulo apresentado o estado da arte no que diz respeito

    Paisagem e a sua interao com a Cidade, apresentando a sua definio,

    para depois contextualizar a sua existncia atual em virtude das suas

    origens e evoluo, complementando com uma descrio das suas relaes

    e caractersticas, vantagens e desvantagens, concluindo o captulo com a

    apresentao de vrios casos de estudo e referncias.

    2.1. O DESENHO DA PAISAGEM

    O Paisagismo ou o desenho da paisagem, nos primrdios da sua existncia, era exercido nica e exclusivamente atravs do desenho de jardins e praas, tendo apenas em considerao o cariz esttico e o cenrio do espao em causa. Com o passar dos tempos, o paisagismo foi envolvendo outras preocupaes e reas afins, progredindo em termos de escala e abrangncia dos projetos, incorporando diversas variveis sociais, culturais, ambientais e econmicas que evoluram, tendo sido assim concebida o que actualmente conhecida como a Arquitetura Paisagista (APA, s.d.).

    Definir a Arquitetura Paisagista sem falar em arte uma tarefa quase impossvel, visto que ela prpria faz parte da arte. Segundo o Arqt. Paisagista Caldeira Cabral, Arquitetura Paisagista uma arte, por conseguinte aquele que a pratica um artista (2003, p. 38). De acordo com a Associao Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP):

    A Arquitectura Paisagista designa a profisso de quem concebe a Paisagem. A abordagem ao espao - Paisagem - de natureza arquitectnica, sintetizando, no espao concebido, o conhecimento cientfico disponvel relativo Natureza e Cultura, atravs de metodologias integrativas e de prticas comuns Arquitectura e ao Design. (APAP, s.d.)

  • 8

    A arquitetura paisagista, como o prprio nome indica, tem a sua origem na paisagem, sendo esta a base para a metamorfose com o desenho do territrio efectuado pela arquitetura. A Conveno Europeia da Paisagem, transcrita para o direito portugus pelo Decreto-Lei (D.L.) n. 4/2005, de 14 de Fevereiro, define no seu Art. 1 que a Paisagem designa uma parte do territrio, tal como apreendida pelas populaes, cujo carcter resulta da aco e da interaco de factores naturais e ou humanos.

    No fundo, esta forma de arte uma tcnica de promoo do projeto arquitetnico, nomeadamente do seu planeamento, da gesto dos recursos envolvidos e da preservao de espaos livres envolvidos no projecto, sejam eles rurais ou urbanos, permitindo desta forma o processamento de micro e macro paisagens.

    Pode-se afirmar que a preocupao com a paisagem surgiu na pintura, e que foi principalmente a partir do Renascimento que esta preocupao se evidencia, tendo sido impulsionada sobretudo pelos artistas da Escola Veneziana. Foi do seio deste conjunto de artistas que cresceu e se desenvolveu o interesse artstico pela paisagem, cuja utilizao inicial se centrava na sua incluso como plano de fundo das suas pinturas. a partir do Renascimento que o termo (paisagem) passa a estar ligado pintura e que a designao de paisagista atribuda aos pintores de paisagens (Magalhes, 2001, p. 51).

    Os renascentistas, para alm de proceder como um artista atravs da sua veia criativa, procediam em simultneo como um cientista, pois baseavam-se na realidade presenciada atravs da observao, da anlise e da documentao da natureza para, atravs da sua obra, realar a beleza do espao envolvente e da sua prpria arte. O conceito renascentista de paisagem expressa uma realidade territorial e sensorial que corresponde ao reconhecimento da existncia de um mundo de diferentes expresses, para alm daquele que se habita (Fadigas, 2007, p. 123).

    Pode-se comprovar este conceito em diversas obras do Renascentismo, sendo alguns dos exemplos mais evidentes das paisagens de fundo includas na pintura, as obras A Virgem dos Rochedos (Figura 02), de Leonardo da Vinci e a A Primavera (Figura 03), de Botticelli, e, entre outras de Miguel ngelo e de outros artistas, tendo sido nas obras deste perodo introduzidas as noes de perspectiva, profundidade e proporo, que invocam a realidade sensorial observada nos locais retratados.

    Em Itlia, o facto do Renascimento e da Pintura se encontrarem envolvidos pelo espirito das novas descobertas, gerou a concepo de um periodo em

    Figura 02 - A Virgem dos Rochedos de Leonardo da Vinci

    Figura 03 - A Primavera de Botticelli

  • 9

    que os jardins assumiram um papel inovador e preponderante na habitao. Ao longo da Idade Mdia e at ao nicio deste periodo, o papel dos jardins evoluia em funo da evoluo do papel da habitao, sendo os jardins constituidos por uma srie de compartimentos sem unidade aparente de planta (Cabral, 2003, p. 76) . No Renascimento, o jardim forma pela primeira vez um todo com o edifcio (Cabral, 2003, p. 76), tornando-se assim objecto de desenvolvimento, racionalizao e disciplina, emergindo assim uma reflexo e preocupao efectiva pela flora cultivada e pelos cenrios por ela criados. no desenrolar deste contexto que os jardins comeam a contemplar outras caracteristicas estticas, tais como cavernas, lagos, bancos de relva (Figura 04), esttuas, fontes e figuras geomtricas (Figura 05), cujo uso deixa de ser restritamente interior e passa a ser simultaneamente exterior, assistindo-se neste periodo apario dos primeiros jardins botnicos (Figura 06).

    O Maneirismo, entendido por muitos como um movimento esttico, marca em paralelo com o Renascimento, um afastamento dos cnones clssicos. Este perodo surge ao longo da segunda metade do sculo XVI e a primeira metade do sculo XVII, surgindo primeiro em Florena e Roma e s depois no resto da Europa. O termo Maneirismo advm do italiano maniera, isto , maneira ou estilo do artista, e este termo que traduzia a marca esttica de cada artista e do seu estilo prprio de ver o mundo.

    As causas do surgimento deste movimento so bastante variadas, tendo em conta o contexto poltico, social e religioso da poca, mas centralizam-se principalmente nas inquietaes psicolgicas provocadas pelos desenvolvimentos da sociedade Italiana e Europeia, e pelas alteraes na forma de ser e de pensar que esse desenvolvimento provocava.

    Essas inquietaes levaram os pintores a tentar novos efeitos visuais nas suas obras, de uma forma cada vez mais ousada, seguindo a sua prpria maniera (maneira) de ver o mundo. Com o objectivo de suplantarem os mestres do Renascimento, deram asas imaginao e materializaram uma dramatizao das suas obras e das paisagens nestas representadas, criando assim uma ruptura com a serenidade e a harmonia existentes na maioria das obras do auge do Renascimento.

    Imitando aparentemente os modelos da Beleza clssica, os maneiristas dissolveram as suas regras. A Beleza clssica sentida como vazia, sem alma; os maneiristas contrapem-lhe uma espiritualizao que, para fugir ao vazio, se lana no fantstico: as suas figuras movem-se num espao irracional e deixam emergir uma dimenso onrica ou, em termos contemporneos, surreal. (Eco, 2004, p. 220).

    Figura 04 - Jardim com banco relvado de Dirk Bouts

    Figura 05 - Planta da Villa Lante de Giacomo Lauro

    Figura 06 - Planta de um jardim botnico de Olivier de Serres

  • 10

    O Maneirismo realou diversos artistas de renome, tais como Leonardo da Vinci, Miguel ngelo ou Rafael. No entanto, para alm destes, outros artistas que se destacaram pelas suas obras no Maneirismo foram Giuseppe Archimboldo e El Greco.

    Nas obras de Archimboldo, a sua viso e forma de ver a beleza destacam-se e separam-se das linhas do Classicismo. Em oposio viso Clssica, Archimboldo exprime-se atravs das suas obras recorrendo aos fatores surpresa e inesperado. Tal como Umberto Eco refere, As suas composies surpreendentes, os seus retratos, em que os rostos so compostos por objectos, vegetais, frutos e por a alm, surpreendem e divertem os espectadores (2004, p. 220), comprovando-se este facto por uma das suas obras mais evidente, intitulado O Vero (Figura 07).

    Em contrapartida, outro artista notvel deste perodo foi El Greco, que se destacou pela sua obra tipicamente Maneirista, mas com o seu estilo extremamente pessoal. Ao analisar a pintura Vista de Toledo (Figura 08), em que o tema principal a paisagem, denota-se que o artista descreve a cidade e os seus arredores, apesar de esta estar representada de uma forma dramtica devido s sombras pesadas e s luzes sobrenaturais. Toledo representada pelo mestre como uma cidade fantasma e sombria, em contradio com a vida e a cor representada pelos verdes da paisagem em redor.

    No final do sculo XVII, surge em Roma um movimento com uma nova expresso artstica, denominado Barroco, que se contrapunha aos movimentos que o antecederam este perodo, e se prolongou at meados do sculo XVIII.

    A passagem do maneirismo ao barroco no tanto uma mudana de escola, quanto uma expresso desta dramatizao da vida, intimamente conexa com a busca de novas expresses da Beleza: o assombroso, o surpreendente, o aparentemente desproporcionado. (Eco, 2004, p. 228).

    Nascido em Itlia, diversificou-se rapidamente em vrios estilos paralelos pelo resto da Europa, apresentando elementos mais densos em Itlia, e componentes mais amenos nos pases Protestantes. Esta ramificao deve-se ao facto de que, medida que era abraado por cada um dos pases europeus, estes adaptavam e moldavam o movimento de acordo com as suas prprias caractersticas.

    Ao contrrio do realismo do Renascimento e da dramatizao do Maneirismo, o Barroco caracteriza-se pela magnificncia das dimenses,

    Figura 08 - Vista de Toledo de El Greco

    Figura 07 - O Vero de Giuseppe Archimboldo

  • 11

    pela ornamentao excessiva e pela opulncia das formas. Tal como no Maneirismo, todo o contexto histrico, nomeadamente o religioso, marcado pela reao da Igreja Catlica ao movimento protestante e em simultneo pelo desenvolvimento do regime absolutista, que justificam o surgimento do Barroco e das suas caractersticas de grandiosidade e sumptuosidade, atribuindo a este movimento, um tipo de expresso de cunho propagandista.

    As paisagens barrocas apresentam um carter puro e de extremo naturalismo, tal como visvel na obra de Rubens Dana dos Camponeses (Figura 09). Este facto consumado em diversas paisagens de tendncia classicista, frequentes em Frana e at em Veneza, durante o perodo Barroco. O tema paisagem foi to frtil na Europa que chegou a existir uma vasta temtica de subtemas, tais como as vistas panormicas, as florestas, as estradas rurais, os rios e canais, o pr-do-sol, as cenas de luar, as estaes do ano, e outros cenrios, como prova a dramtica pintura de Rembrandt Paisagem com Tempestade (Figura 10) de 1638.

    Assim como referido por Umberto Eco, Um dos traos caractersticos da mentalidade barroca a combinao de imaginao exacta e efeito surpreendente () (2004, p. 229), comprovando-se este trao por diversos outros excelentes exemplos da pintura barroca, tais como os retratos sublimes de Velzquez e de Murillo, que se destacam pelo seu realismo, o naturalismo das obras de Caravaggio (Figura 11) e os frescos da apoteose de Tiepolo. Em suma, o Barroco no s se destaca pela produo de grandes mestres, cuja nica semelhana entre si era a negao da simetria e das produes geomtricas em prol da expressividade e do movimento, pois todos se evidenciaram pelo uso de mtodos diferentes em busca de efeitos distintos, mas tambm pela sua influncia na constituio, aparncia e dimenso dos jardins implantados neste periodo.

    Na segunda metade do sculo XVII, e segundo o Arqt. Paisagista Francisco Caldeira Cabral, Frana assume o papel principal no que diz respeito ao desenvolvimento e inovao dos jardins, tendo como convico que esta evoluo no tinha sido totalmente utilizada e aprofundada em Itlia (2003, p. 76). Prova desta posio de liderana foi a construo de Versalhes, e das suas diversas remodulaes sob o domnio de Lus XIV.

    Um conjunto de artistas que incluia o arquiteto Louis Le Vau, o pintor Charles Le Brun e o paisagista Andr Le Ntre, idealizaram um dos maiores jardins formais alguma vez criados, fundamentalmente constitudo pelos

    Figura 09 - Dana dos Camponeses de Rubens

    Figura 10 - Paisagem com Tempestade de Rembrandt

    Figura 11 - Cesto com frutas de Caravaggio

  • 12

    elementos ordenadores do espao: superfcie, altura e perspectiva (Cabral, 2003, p. 77).

    Os jardins que rodeiam o conjunto dos edifcios (Figura 12) foram ampliados, sendo-lhes dado um sentido de abertura e escala, e foram constituidos por quadros geomtricos (Figura 13) formados por flores e plantas, o que segundo Leonardo Benevolo, faz com que o edificado seja estendido por vrios quilmetros, obtendo-se assim um espao acessvel vista e controlado em todas as direes (1991, p. 42).

    Os dois limiares da viso em relevo e da viso plana jogam entre si de forma a criar um universo de mltiplas solicitaes, previsveis ou inesperadas, que contribuem para a planificao da paisagem, arquitetura, escultura, das artes decorativas (Benevolo, 1991, pp. 43 - 44 traduo livre).

    Os limites do jardim so estabelecidos pelos densos bosques dos campos de caa do Rei, estradas e canais, que aliados aos restos do fosso mediaval com os seus diversos jogos de gua marcam o eixo principal ou constituiem eixos secundrios (Cabral, 2003, p. 77).

    Durante o perodo Barroco, os grandes palcios e as suas dependncias alojavam governos em funcionamento, pelo que no surpreende que Versalhes tenha motivado uma competitiva construo de palcios em jardins cheios de fontes entre diversos paises europeus, onde se destacam Sucia (Figura 14), Alemanha, Itlia, ustria, Hungria, Irlanda, Espanha e Portugal.

    Durante o Romantismo, entre finais do sc. XVIII e at meados do sc. XIX, o ideal da paisagem foi cada vez mais valorizado e potencializado como meio de simbolizar o divino e o transcendente.

    O artista romntico, face a conjuntura da poca, criticava o modo de vida e os valores burgueses cultivados no mundo moderno, pois estes representavam o afastamento do homem dos valores divinos. Os valores modernos eram expostos atravs das consequncias desastrosas do processo de industrializao na Europa, originados pela Revoluo Industrial em Inglaterra.

    Outros factores de critica eram o crescimento acelerado das cidades e o excessivo racionalismo do Iluminismo, que contrapunham a coexistncia da civilizao moderna e da natureza, da realidade e do transcendente. Esta revolta de valores leva a que os artistas romnticos se sirvam da paisagem

    Figura 13 - Planta de Versalhes de Le Pautre

    Figura 14 - Representao do Palcio de Drottningholm em 1700

    Figura 12 - Representao do castelo de Versalhes original

  • 13

    como forma de alcanar os valores transcendentais, esquecidos por entre os crescentes valores materialistas da poca.

    A forma de registar a paisagem durante o romantismo remetia a esse simbolismo, um olhar que enfatizava a grandiosidade da natureza, que revelava a insignificncia do homem, a sua fragilidade, e principalmente, a sua solido existencial, cuja cura somente poderia ser obtida atravs do retorno s razes, ou seja, me natureza. Tendo em conta todos estes factos e o prprio contexto histrico, recorrente confirmar-se no Romantismo, a utilizao da paisagem de forma a evidenciar o contraste entre a fragilidade do ser humano perante a grandiosidade da natureza e do mundo natural (Eco, 2004, pp. 294-297).

    Ao analisar as obras do Romantismo, torna-se imperativo mencionar as obras de Friedrich (Figura 15), onde a natureza representada apela intimidade espiritual e a silenciosas experincias msticas, bem como as obras do ingls William Turner (Figura 16), em que o artista opta por uma representao da fora incontrolvel da natureza atravs das suas catstrofes naturais.

    As preocupaes dos pintores da poca, em conjunto com a saturao do formalismo rgido imposto pelos jardins do tipo Versalhes, tiveram a sua reflexo nos jardins deste periodo, que adiquiriram uma nova forma de expresso. A atrao pela natureza selvagem superou a beleza das praas e jardins sumptuosos, assistindo-se substituio das figuras geomtricas por conjuntos de arabescos graciosos e complexos (Figura 17). Movido pela rgidez do formalismo, Rousseau veio pr em moda o sentimentalismo e a admirao de tudo o que era natureza e assim favoreceu o desenvolvimento do novo estilo chamado paisagismo. (Cabral, 2003, p. 77). Assim surge em Frana o paisagismo nos jardins, que acaba por se estagnar aps a sua apario em jardins de caminhos contorcidos s por teimarem em no ser direitos (Cabral, 2003, p. 77), verificando-se o seu verdadeiro desenvolvimento em Inglaterra. O ideal em que se baseou este desenvolvimento foi o de atribuir um certo toque natural ao jardim, de forma a que as fronteiras entre os jardins e a paisagem circundante se encontre dissimulado (Figura 18). Este novo conceito de jardim esttico tem sido referido como jardim Ingls, quando se refere considerao da paisagem como um palco e ao fluxo aparentemente interminvel de cenas de paisagem que influenciaram os layouts do jardim.

    O tema da paisagem perdurou ento com os impressionistas no sc. XIX, quando devido s descobertas da fsica moderna, se constatou que a cor

    Figura 17 - Detalhe dos jardins do castelo em esk Krumlov (1779)

    Figura 18 - Projecto de Jardim Ingls de Francesco Bettini

    Figura 16 - A Avalanche nos Grisons de William Turner

    Figura 15 - Manh de Friedrich

  • 14

    no era uma propriedade residente nos prprios objetos, mas sim o resultado da reflexo da luz incidente sobre a superfcie dos objectos.

    Estas descobertas influenciaram os artistas no sentido de observar a Natureza de uma forma mais analtica e no to exotrica como os romantistas, aproximando desta forma o artista impressionista ao artista renascentista. Apesar desta aproximao, e inversamente aos renascentistas, os impressionistas pintavam a paisagem ao ar livre, e representava-a atravs de tcnicas como a observao da luz natural e das suas alteraes sobre a perceo das cores dos objetos incididos por esta mesma luz.

    Os impressionistas abdicaram do naturalismo em prol de uma demanda de um novo formato de representao artstica baseada nas sensaes de luzes e cores percepcionadas quando observamos um determinado lugar.

    No sculo XIX, a paisagem decididamente o termo que encerra uma dicotomia entre a cidade e o campo, entre a vida inspita e artificial das cidades e a natureza. A expresso que lhe dada, tanto na pintura como nos modelos de cidade ideal, a representao da natureza, tal e qual ela , na sua verso natural, ou com uma reduzida interveno do homem. (Magalhes, 2001, p. 51).

    Esse objectivo teve continuidade nas dcadas seguintes, como se pode comprovar pelos artistas que abraaram o Impressionismo, e cujos nomes perduram at aos dias de hoje, tais como Van Gogh (Figura 19), Monet (Figura 20) e Czanne (Figura 21), entre outros.

    Paralelamente com os desenvolvimentos da pintura, tambm os jardins evoluiram, tendo surgido durante o Impressionismo em Frana, os denominados Jardim Fleuriste, cujas caracteristicas passam pela rutura total com a forma, e com a focalizao nas flores e na exuberncia das suas cores. Os intervenientes que disseminaram esta tipologia em Inglaterra e na Alemanha criaram ento a arte moderna da arquitectura paisagista. (Cabral, 2003, p. 78). Foi ainda no mbito dessa evoluo que nos princpios do sc. XIX, se iniciou a construo das estufas e a generalizao dos jardins de rochas surgidos no final do sculo anterior. Um estilo mais natural de jardim onde se defendia uma mistura de rvores, arbustos e plantas surgiu no final do sculo, em que as cidades cresceram em tamanho e se deu incio criao dos parques pblicos financiados publicamente pelo estado, tais como Birkenhead Park (Figura 22).

    Atravs da anlise histrica, constata-se que a paisagem se revelou a partir do Renascimento, evoluiu e desenvolveu-se entre o sc. XVII e o sc. XVIII, atinguindo a sua maturidade a partir de meados do sc. XIX.

    Figura 22 - Mapa de Birkenhead Park

    Figura 19 - St. Victoire de Van Gogh

    Figura 21 - La Fort de Czanne

    Figura 20 - Lrio de gua de Monet

  • 15

    2.2. RELAO ENTRE VERDE E CIDADE

    A relao entre os espaos verdes e a cidade uma relao vital e simbitica, isto porque so esses espaos que do vida e energia cidade. Verifica-se ao longo da histria que nem sempre foi este o idealizado sobre a relao entre os territrios urbanos e rurais. As mudanas culturais, sociais e econmicas ocorridas no sculo XVIII e no princpio do sculo XIX impuseram alteraes significativas nos modos de usar e entender o espao, de dispor do territrio e de viver a cidade (Fadigas, 2010, p. 35). O Romantismo um dos responsveis por fomentar que os territrios rurais e naturais, so por si s, uma alternativa e simultaneamente, um complemento dos territrios urbanos (Fadigas, 2010, p. 35).

    No entanto, e em especial durante a Revoluo Industrial no decorrer do sc. XIX (Figura 23), constata-se uma alterao desta forma de relao entre o urbano e o rural, com a intensificao do uso das mquinas e a evoluo das vias de comunicao (Figura 24), e emerge-se uma clara sobreposio dos interesses econmicos sobre as necessidades dos territrios rurais, resultando em um processo de edificao que no olha a meios para atingir os seus objetivos, e consequentemente, origina alteraes sociais e culturais a todos os nveis que perduraram durante grande parte do sculo XX (Fadigas, 2010, p. 37). A ideia de que o solo s tem valor econmico quando edificado tem aqui a sua origem. (Fadigas, 2010, p. 37). Ainda segundo este autor, o que se considera actualmente uma paisagem global, toda aquela que envolve simultaneamente a cidade e o campo, onde a urbe construda e a Natureza se complementam e completam, evoluindo em conjunto e de forma integrada (2010, p. 37).

    segundo esta paisagem global que o arquiteto Le Corbusier, aps o abandono da realizao dos seus projectos utpicos, Ville Contemporaine e Plan Voisin, restrutura o seu modelo de cidade ideal, e enceta em 1924 o projecto Ville Radieuse (Figura 25). Os princpios fundamentais incorporados neste projecto constituiram mais tarde, em 1933, os princpios basilares do IV Congresso Internacional da Arquitectura Moderna (CIAM), dedicado ao tema A cidade funcional, cujos resultados culminaram na composio da denominada Carta de Atenas, que apenas viria a ser publicada em 1941, e cujos princpios se inseriam na ideologia do progresso (Magalhes, 2001, p. 94). Os princpios da Carta de Atenas elegiam como materiais do urbanismo o sol, a verdura e o espao. As chaves do urbanismo foram consideradas as funes: habitar, trabalhar, recrear-se e circular (Magalhes, 2001, p. 94).

    Figura 23 - Representao da Paisagem na Revoluo Industrial

    Figura 24 - O Progresso do Sculo Cartaz referente industrializao

    Figura 25 - Projeto Ville Radieuse de Le Corbusier

  • 16

    Os ideiais de Le Corbusier formaram a base de uma srie de planos urbanisticos nas dcadas de 1930 e 1940, tendo culminado no projecto e construo em 1952, da primeira Unidade de Habitao em Marselha.

    Tendo em conta a evoluo tecnolgica e cientifica decorrida no sc. XX, com maior incidncia a partir da segunda metade do sculo, e medida que o conceito de que o Homem vive num ecossistema global, onde todas as suas aces implicam consequncias directas e indiretas nesse mesmo ecossistema, que surge uma alterao de atitude quanto s relaes territoriais. Isto significa que, actualmente assistimos a uma evoluo em termos de percepo da envolvente em que o Homem se insere, e que se torna imperiosa a manuteno do equilbrio entre as partes. Da mesma forma que evolui a tecnologia hoje em dia, e que surgem novas descobertas inovadoras em diversos campos de estudo, tambm a forma de pensar, de ser e de estar, se vai alterando. Isso implica novas formas de projectar a paisagem urbana e rural, que permitam implementar novas tcnicas e adoptar novos horizontes para obteno de um habitat integrado e de uma paisagem global.

    A componente natural urbana permite aumentar a relao entre os espaos edificados e os espaos abertos, alargar a disponibilidade de espaos livres para recreio e lazer, aproveitar melhor a luz natural e organizar sistemas e estruturas de preveno de riscos ou condies climticas extremas. (Fadigas, 2010, p. 44).

    Existe actualmente um vasto grupo em expanso de pessoas com uma preocupao crescente em relao aos espaos verdes e a sua envolvncia, pois estes assumem claramente um papel imprescindvel no lazer, na socializao das populaes e no bem-estar fsico e mental das mesmas, convertendo assim a vida activa quotidiana pouco saudvel em uma forma de vida mais social, aprazvel e saudvel. A necessidade de proteger o meio natural perante a rapidez com que as cidades cresceram e se divorciam, enquanto paisagens e habitats, da sua envolvente originria, culturalmente recente. (Fadigas, 2007, p. 171).

    No entanto, devido a um inmero conjunto de factores, existem cidades em que os espaos verdes so limitados ou quase nulos. Exemplos desta situao so as cidades de Nova Iorque e Dallas, que se caracterizam por ser zonas excessivamente edificadas (Figura 26), maioritariamente constitudas por arranha-cus e redes rodovirias densas e complexas (Figura 27), que conferem a estas zonas um carcter cinzento e fechado. Para alm da sua contribuio negativa como plos extremamente poluentes, devido aos elevados nveis de monxido de carbono originados pelo movimento rodovirio ininterrupto nas estradas (Figura 28), alia-se o

    Figura 26 - Vista area do edificado excessivo da cidade de Nova Iorque

    Figura 27 - Vista area da densidade da rede rodoviria de Dallas

    Figura 28 - Exemplo da poluio atmosfrica automvel nas cidades

  • 17

    fato de as pessoas que habitam este tipo de cidades densamente povoadas, desenvolverem as suas actividades pessoais e profissionais a um ritmo alucinante, provocam um aumento de patologias que degradam a sade pessoal e social de toda a populao envolvente. Essas patologias poderiam ser atenuadas atravs de uma interveno a vrios nveis, com a introduo de espaos verdes e uma cultura ambiental mais abrangente, com a substituio de materiais por outros mais ecolgicos e com a introduo de factores de sustentabilidade, tais como energias renovveis, a cultura biolgica e o reaproveitamento dos recursos disponveis.

    Com base neste pensamento, estas zonas populacionais tiveram a iniciativa de incentivar a sustentabilidade e os interesses ambientais atravs da criao de concursos de arquitetura, cujo intuito seria a gerao de solues para a reabilitao de espaos e edifcios que no contemplavam estes critrios aquando a sua concepo, e concursos para a implementao de novos edifcios que, de raiz, j teriam todos estes critrios, tais como a sustentabilidade, as energias renovveis e a ecologia.

    Uma das solues de reabilitao foi implementada em 2009 em Nova Iorque, mais concretamente em Manhattan. O projecto The High Line (Figuras 29, 30 e 31) consistiu na reabilitao de uma linha frrea elevada da dcada de 1930, que foi perdendo o seu uso at ser desactivada e se tornar uma runa ps industrial. Aps a reabilitao, a linha frrea sofreu uma transformao do seu propsito e do objectivo da sua pr-existencia, e atualmente um parque nova-iorquino, que em vez de comboios e vages de carga, contempla canteiros, jardins e zonas de lazer. Esta extensa zona verde encontra-se elevada do solo oito metros e enquadra-se harmoniosamente em conjunto com o beto e o ao de Nova Iorque. Este fato fez com que aps a sua implementao, tenha sido alvo de uma recente ampliao que propiciou a extenso do parque por mais dez quarteires ( 1 km), no bairro de Chelsea a sudoeste de Manhattan.

    Para alm de simbolizar o conceito que os autores apelidaram de Agritura (metade agricultura, metade arquitetura), a linha frrea tornou-se uma atrao turstica e um exemplo de urbanismo sustentvel, observando simultaneamente ao longo de todo o seu percurso, um gradiente entre zonas totalmente pavimentadas e zonas totalmente ajardinadas com relva, rvores e plantaes. assim possvel desfrutar de uma caminhada ao ar livre ao longo de 2,5 km de pistas com espaos verdes em redor, sem automveis, velocpedes, ou qualquer outro veculo, tendo como nica e exclusiva companhia, as pessoas e a natureza (City of New York, 2010).

    Figura 30 - The High Line de Diller & Scofidio (Pormenor)

    Figura 29 - The High Line de Diller & Scofidio

    Figura 31 - The High Line de Diller & Scofidio

  • 18

    Por outro lado, em termos de concursos para novas edificaes, um dos mais recentes exemplos foi o concurso organizado por um conjunto de trs instituies, apoiados pela cidade de Dallas, que consistia na construo de um quarteiro de edifcios com apartamentos e estudios de topologia T3, com utilizao da vegetao nativa e materiais locais em sistema de construo pr-fabricados, incluindo estufas pblicas, uma estufa sensorial, uma piscina estufa e uma estufa ponto de encontro, tudo complementado com espaos verdes abertos, com pomares, caminhos arborizados e ptios interiores. As outras condicionantes atendiam ao uso de fontes de energia renovvel (fotovoltaica e elica) para fornecimento de energia, isolamento trmico com recurso a materiais ecolgicos (fardos de palha), sistema de captao, reciclagem e armazenamento de gua e reas permeveis pavimentadas para evitar inundaes (MOOV, 2009).

    Este projecto foi ganho por um consrcio portugues constituido pelas empresas Moov e Atelier Data, cuja proposta com o nome Forwarding Dallas (Figuras 32 e 33) consistiu em quatro edifcios distintos com espaos privados/apartamentos e espaos pblicos/praas, restaurantes, entre outros, e cuja particulariedade a existencia de uma zona de hortas para cada habitao. Pelo facto de ter preencchido todas as consideraes de seleo, tais como a sustentabilidade, as acessibilidades, a inovao e originalidade, a incorporao de prticas e materiais sustentveis, este projecto encontra-se a cumprir o seu ltimo critrio de seleco: a construtibilidade (em fase de construo nos prximos anos).

    Tambm na Europa existem exemplos de cidades densamente povoadas com carncias de adequao das suas estruturas s necessidades atuais e s preocupaes ambientais. Essas necessidades passam pela conexo dos seus centros histricos, por norma constitudos por uma maior quantidade de servios, com as respetivas periferias mais industrializadas, menos densas e tipicamente organizadas por subrbios destinados a dormitrios. Outra questo passa pela otimizao e aproveitamento do solo urbano, diversas vezes composto por amplas reas degradadas, negligenciadas ou mesmo vazias que consomem o tecido urbano. Estas reas dilatam entre as comunidades as distncias a serem percorridas e o consumo de recursos para tal, incentivando o isolamento e as rupturas sociais.

    Neste contexto, e adoptando a mesma estratgia de implementao de concursos recorrendo comunidade profissional, o presidente francs Nicolas Sarkozy incumbiu a dez escritrios de arquitetura da Europa um projeto para a Paris do Futuro, com foco na integrao entre o centro e a

    Figura 33 - Forwarding Dallas dos Moov (Pormenor)

    Figura 32 - Forwarding Dallas dos Moov

  • 19

    periferia e nas questes ambientais. O projeto Le Grand Pari inclui o reaproveitamento dos recursos hdricos disponveis, inovaes ao nvel dos transportes e da mobilidade (Figura 34), a implementao de novos espaos verdes com renovadas funcionalidades (Figura 35), a ampliao da capacidade habitacional, dos espaos pblicos e instalaes comunitrias, recorrendo s construes ecolgicas e s novas tcnicas sustentveis, incluindo a utilizao de paineis solares e fotovoltaicos (Figura 36), entre outros desenvolvimentos diretos e indiretos implcitos na reestruturao do traado urbano e rural da cidade (Le Grand Pari, s.d.).

    O novo Jardim Botnico de Barcelona um dos inmeros exemplos na Europa de reaproveitamento de reas esquecidas e marginalizadas. Sendo uma rea de montanha constituida por favelas entre 1940 e 1970, e mais tarde por um aterro sanitrio urbano, foi alvo de uma reestruturao da sua envolvente fomentada pela necessidade de construo de acessos para as instalaes olmpicas em 1986. Esta realidade originou a proposta de construo do novo Jardim Botnico de Barcelona, cujos objectivos consistiam na dinamizao do espao circundante, a prestao de um servio de utilidade pblica incluindo a conservao, documentao e criao de uma fonte de informao sobre a cultura natural e botnica, a construo do edifcio do Instituto Botnico e das suas infra-estruturas, a aplicao de novas tecnologias de manuteno do jardim e das suas espcies, e por ltimo mas no menos importante, a promoo global do interesse e respeito pela Natureza, convertendo assim o jardim em modelo de referncia para toda a rede de parques metropolitanos (Naturels, s.d.).

    Finalizada em 1999, a construo do Jardim Botnico foi projetada por uma equipa constituda por arquitetos, paisagistas, horticultores e bilogos, que teve em conta como preocupaes elementares, a estruturao geogrfica da vegetao de forma a representar as paisagens naturais e a obteno de um traado topogrfico facultado pelo prprio relevo natural montanhoso, permitindo assim traar o enredo de percursos, evitando simultaneamente exageradas e desnecessrias movimentaes de terra. Estas consideraes originaram sobre o terreno um traado final estruturado em forma de uma grade triangular deformada, adaptada rea de superfcie, aos limites e inclinao do solo (Figura 37), reduzindo quase exclusivamente o recurso de materiais utilizao do beto e do ao. A aquisio progressiva de um curioso e surpreendente aspecto natural custa do envelhecimento e deteriorao destes materiais (Figura 38), aliado geometria do traado, constituem um ntido contraste com os elementos naturais, imputando um carcter homognio e harmonioso ao conjunto visual (Naturels, s.d.).

    Figura 36 - Proposta Le Grand Pari de Jean Nouvel

    Figura 37 - Ampliao do Jardim Botnico de Barcelona (Pormenor)

    de Carlos Ferreter

    Figura 38 - Ampliao do Jardim Botnico de Barcelona (Pormenor)

    de Carlos Ferreter

    Figura 34 - Proposta Le Grand Pari de Christian de Portzamparc

    Figura 35 - Proposta Le Grand Pari de Roland Castro

  • 20

    2.3. RELAO ENTRE ARTE E TERRITRIO

    A relao entre arte e territrio uma relao simbitica e indissocivel. O desenvolvimento dessa relao ao longo dos tempos assistiu no final da dcada de 1960 nos Estados Unidos, em simultneo com significativas contribuies de artistas ingleses e holandeses, ao nascimento de uma nova vertente paisagista denominada Land Art. A expresso, tambm conhecida como Earth Art ou Earthwork refere-se, segundo a Porto Editora, s criaes artsticas que utilizam como suporte, tema ou meio de expresso o espao exterior (2003-2012). Apesar de ter surgindo como uma forma de protesto artstico com vrias causas, tais como a contestao do minimalismo, da esttica plstica, da artificialidade e da persistencia do aspecto comercial associado s obras de arte tradicionais, este movimento tambm conhecido como uma forma de arte criada na Natureza, envolvendo as crescentes preocupaes ecolgicas da poca.

    Estabelecendo um paralelismo com a pintura, onde o quadro trabalhado e se integra na obra de forma a proporcionar a base de suporte para perpetuar a criao do artista, podemos afirmar que na Land Art, o terreno natural o quadro que trabalhado de forma a sustentar a obra e de se integrar na criao artistica. Tal como o pintor recorre s tintas, aguarelas, pastis ou mesmo ao carvo, o criador de Land Art recorre aos elementos Terra, Ar e gua, aplicando a conciliao de materiais de origem diversa, tais como os materiais naturais, com destaque para o solo, pedras e rochas, os materiais orgnicos, onde se distinguem os troncos, ramos e folhas, e por ltimo, mas no menos importante, os materiais minerais ou manipulados pelo Homem, onde se evidnciam os pigmentos minerais ou o sal, o beto, o ao patinvel e o asfalto.

    Um dos primeiros e mais conhecidos exemplos deste tipo de obra, com o nome de Spiral Jetty (Figura 39), foi protagonizado em 1970 por Robert Smithson no Great Salt Lake em Utah, que ao chegar ao local, se deparou com um ambiente natural que reflectiu em direo ao horizonte apenas para sugerir um ciclone imvel enquanto a luz cintilante fazia a paisagem estremecer. Um terramoto adormecido espalhou-se pela quietude esvoaante, numa sensao de rodopio sem movimento (Galofaro, 2003, pp. 73 - traduo livre), sendo esta a inspirao para uma obra composta por um acumulado de blocos de basalto e barro, de quatro metros de altura, que se extende em espiral pela gua avermelhada do lago, por uma extenso de 450 metros (Galofaro, 2003, pp. 73 - traduo livre).

    Outro exemplo de converso da paisagem em arte proporcionado em 1976 pelo projeto Running Fence, da autoria do casal Christo &Jeanne-Claude (Figuras 40 e 41), que se manteve ativo por apenas 14 dias, aps 42 longos meses de construo.

    Figura 39 - Spiral Jetty de Robert Smithson (Panorama)

    Figura 41 - Running Fence de Christo & Jeanne-Claude (Imagem de Gianfranco Gorgoni 1976 Christo)

    Figura 40 - Running Fence de Christo & Jeanne-Claude (Imagem de Gianfranco Gorgoni 1976 Christo)

  • 21

    O objectivo deste projeto, tal como Robert Smithson, seria a tentativa de estimular uma interpretao da realidade, que neste caso particular, visava a captura das sensaes proporcionadas pelo vento e pelo seu movimento ao atravessar uma vasta instalao de tecido de nylon branco com 5,5 m de altura e uma amplitude de 39,4 km de comprimento, desde San Francisco at ao Oceano Pacfico (Christo and Jeanne-Claude, 2011). Estas obras instituem um movimento cultural mais vasto que preconiza o reencontro com as paisagens naturais, tais como as rurais e o deserto, incluindo por vezes o mar e as paisagens urbanas, permitindo dessa forma ultrapassar as limitaes dos espaos enclausurados interpretados pelos museus e galerias, espaos estes que, somente atravs da fotografia ou do video que se equiparam s paisagens na capacidade de suster e representar esta forma de arte. Este facto associado s caractersticas intrnsecas das manifestaes de Land Art, impedem a intemporalidade dos projetos e fazem com que praticamente todas as obras sejam efmeras e extintas rapidamente, ou em curto espao de tempo, tanto por ao do tempo e da eroso, como pela sua envergadura e condicionantes. No entanto, e apesar destes fatores, existem obras que pelos materiais empregues e dimenso mais reduzida, conquistam o seu espao expositivo ao longo do tempo, como comprovam as obras de Richard Serra, escultor norte americano que trabalha com blocos sobredimensionados e pranchas de ao. As suas obras so emblemticas porque intervem na paisagem urbana (Figura 42), delimitam um espao, e interagem com o trauseunte, porque criam perturbao e geram anti-ambientes que estimulam as reaes discordantes (Galofaro, 2003, pp. 119 - traduo livre). O centro de gravidade e o equilbrio (Figura 43), a massa e o vazio, a percepo do espao e a conscincia corporal por parte do espectador constituem os temas bsicos da sua obra. Embora estas obras representem uma tendncia da corrente de Land Art originada nos Estados Unidos, que se caracteriza por uma forma de expresso mais radical e espetacular, existe uma segunda tendncia que se diferencia por uma abordagem mais suave e harmoniosa, interpretando a Natureza e a paisagem como um espao experimental para novas prticas. Esta tendncia mais sustentada na Europa durante a dcada de 1970, foi protagonizada por holandeses e ingleses, onde se destaca o nome de Richard Long, que realizaram trabalhos com folhas e pedras colocados no seio da paisagem, de forma a criar diferentes feies naturais (Figura 44). Movido por um extremo respeito pela Natureza e pela organizao normalizada das formas primrias, o artista reduz as alteraes introduzidas na paisagem limitando a sua obra marcao do terreno ou ao ajuste das caractersticas naturais de um lugar, amontoando pedras ou criando traados simples (Figura 45), enfatizando a visibilidade das suas aes ao invs da reproduo de um cenrio particular (Richard Long, s.d.).

    Figura 42 - Fulcrum de Richard Serra

    Figura 45 - Exemplos das intervenes protagonizadas por Richard Long

    Figura 44 - Cinco Caminhos de Richard Long

    Figura 43 - Intersection II de Richard Serra

  • 22

    Figura 46 - Vista para a VCI a partir das hortas urbanas de Ramalde - Porto

  • 23

    3. HORTAS URBANAS

    Neste captulo apresentado a contextualizao histrica das Hortas

    Urbanas, onde surgiram e o porqu, de seguida o Estado da arte quer no

    mundo em geral como em Portugal em particular no que diz respeito s

    Hortas Urbanas, focalizando alguns casos de estudo.

    3.1. CONTEXTO HISTRICO

    Apesar de ser um tema em voga e extremamente atual, as hortas urbanas remontam ao sculo XVIII, sendo a Dinamarca o pas com mais tradio na sua implementao (Figura 47), contabilizando atualmente 409 associaes de agricultores e jardineiros urbanos. Os principais impulsionadores deste fenmeno foram os pases do norte da Europa, com destaque para a Dinamarca e a Alemanha, que foi um dos pioneiros na implementao destas estruturas, e criou a primeira associao em 1864 (Soares, 2009). No sculo XIX, quando a tradio forava as pessoas a providenciarem o seu prprio alimento, os transportes eram lentos e as comunicaes pouco desenvolvidas, as hortas urbanas solviam as necessidades e convenincias das populaes, sendo uma delas, o caso da cidade ser cercada e necessitar de se auto-sustentar. Tudo quanto era comestvel, e fresco, que no era armazenvel, cabia l dentro, por isso dentro dos quarteires existiam hortas e pomares (Entrevista a Gonalo Ribeiro Telles, 1999). Com a industrializao do sculo XX, o rural deu lugar ao meio urbano, implicando uma reduo dos fluxos energticos e, consequentemente, a degradao do potencial biolgico e da diversidade essenciais ao funcionamento ambiental equilibrado dos espaos urbanos (Fadigas, 2010, p. 47). Com o passar dos anos e com o desenvolvimento urbano, o fenmeno da desertificao dos meios rurais torna-se cada vez mais evidente, originando um dfice de pessoas que trabalhem a terra (Soares, 2009), e consequentemente, um decrscimo da atividade de cultivo.

    Figura 47 - Selo comemorativo com aluso s antigas hortas urbanas

    dinamarquesas

  • 24

    3.2. ESTADO DA ARTE NO MUNDO

    As vantagens das hortas urbanas so evidentes, pois permitem o aproveitamento de diversos espaos intrnsecos das cidades, mantm a possibilidade do auto abastecimento de produtos frescos e saudveis, no implicam a deslocao das pessoas da cidade para o campo, promovem a reduo dos consumos energticos e o aumento na economia das populaes (Pinto, 2007). Outra vantagem evidente a sua utilizao com fins ldicos ou de terapia psicolgica, para fuga ao stress dirio, tal como idealizado por Le Corbusier (Corbusier, 1995). Por todas as suas manifestas vantagens, as hortas urbanas so hoje na Europa uma velha tradio urbana cuja extenso tem vindo a aumentar cada vez mais (Telles, 2003). Em 1998, a FAO (Organizao para a Agricultura e Alimentao das Naes Unidas) estimou que 800 milhes de pessoas se dedicassem agricultura urbana, o que seria equivalente a 15% de toda a produo mundial de alimentos (Soares, 2009). Tendo em vista o aumento deste nmero, alguns pases europeus, tais como a Alemanha, implementaram programas de incentivo a este tipo de atividade (Soares, 2009). Surgiram assim em Berlim (Figura 48) hortas que contemplam simultaneamente reas de lazer e reas de cultivo. Em Inglaterra (Figura 49) por exemplo, Londres tem cerca de 3000 hortas sociais. Por toda a Europa as hortas sociais e os jardins familiares preenchem os espaos livres das cidades. A cidade retoma assim pouco a pouco, o seu contacto com a ruralidade (Telles, 1996). Outra abordagem a sua construo nos telhados dos edifcios, permitindo assim vantagens tais como a melhoria da eficincia energtica do prprio edifcio, a melhoria da qualidade do ar e da absoro da precipitao, com a consequente reduo das guas pluviais e da presso nos esgotos. Este exemplo encontra-se em Durban, frica do Sul (Figura 50), e faz parte do projeto da cidade para a reabilitao urbana (eThekwini Municipality, s.d.). Em Cuba, as hortas urbanas em Havana (Figura 51) no so uma tendncia, mas sim uma necessidade. A conjuntura sociopoltica do pas acarretou uma crise alimentar que incitou o aproveitamento de lotes vazios, telhados e varandas de apartamentos para produzir hortas que suprimissem essas necessidades. Este contexto fez com que actualmente, mais de 50% dos produtos sejam cultivados localmente em Havana (Morgan, 2006). Na ndia (Figura 52) as hortas foram adotadas para que pudessem ajudar os habitantes das cidades a cultivar os seus prprios alimentos em pequenas reas urbanas, incluindo terraos e varandas (Soares, 2009). Aqui foi fomentada a tcnica de compostagem no local, atravs da utilizao de sacos de polietileno de alta densidade preenchidos com terra, pores de biomassa e um composto feito de estrume de animais, materiais orgnicos, entre outros, que depois de regados e semeados permitem o cultivo de hortalias e cereais (Soares, 2009).

    Figura 48 - Prinzessinnengrten (Jardim Princesa) em Moritzplatz,

    Figura 50 - Horta urbana do Projeto Priority Zone em Durban

    Figura 49 - Exemplo de uma tpica horta urbana em Londres

    Figura 51 - Huertas comunitarias em Havana, Cuba

    Figura 52 - Exemplo de uma tpica horta urbana na ndia

  • 25

    3.3. ESTADO DA ARTE EM PORTUGAL

    Em Portugal, as hortas urbanas j no so novidade como parte integrante da paisagem nas proximidades das grandes cidades, pois verifica-se que atualmente, o nmero de adeptos desta prtica tem vindo a sofrer um enorme crescimento, sendo constitudo por dois grupos distintos. Um desses grupos, que ainda se mantm maioritrio, constitudo pela populao que continua a adotar as hortas como fonte de rendimento e forma de produo dos prprios alimentos, enquanto o outro grupo, emergente nos ltimos anos, caracteriza-se pela adoo das hortas como forma de lazer, de combate ao stress, de auto-estimulo ou mesmo forma de contribuio para reduzir a sua pegada ecolgica (Verdes, 2010). Um exemplo das necessidades que levam a populao a adotar o cultivo da terra e dos espaos urbanos desocupados ou abandonados, o caso das hortas urbanas existentes na periferia da estrada IC19 (Figura 53), em que os imigrantes de Cabo Verde, devido s necessidades alimentares e econmicas, viram-se obrigados a investir no seu auto-sustento atravs do seu trabalho, tendo como iniciativa o aproveitamento desses terrenos para os transformar em hortas e assim criar a sua prpria forma independente de subsistncia (Murteira, s.d.). Em Lisboa, podem ser encontrados outros exemplos de terrenos livres nas proximidades dos eixos de ligao das auto-estradas que foram ocupados com a mesma finalidade (Luz, 2009). No obstante este exemplo, nem todos os terrenos livres foram ocupados pelas populaes sem regras ou orientao das entidades governamentais. Prova disso o poder local ter delineado para a rea metropolitana de Lisboa, um plano que visa a criao de novas hortas urbanas em Campolide e Telheiras, e que contempla paralelamente, a requalificao e melhoria das j conhecidas hortas da Quinta da Granja (Figura 54), Vale Fundo e Bairro Padre Cruz (Verdes, 2010). Planos semelhantes para os espaos verdes camarrios foram adotados por outras cidades, tais como o Funchal e Coimbra, onde os governantes locais disponibilizaram esses espaos para a criao de modestas hortas, com o objetivo de converter o cultivo numa ligao entre geraes que sobrevm transversalmente a partir da convivncia social (Luz, 2009). Em 2005, a autarquia do Funchal deu incio ao projecto das hortas municipais ao distribuir pelos interessados, lotes de um espao dedicado para as hortas, criado no Jardim Pblico da Ajuda. Desde este projeto, outros locais tm sido utilizados com esta finalidade (ver Anexo A), com o propsito de fomentar novos espaos agrcolas e implementar a agricultura como parte integrante da paisagem do Funchal (Figura 55), tendo sido ainda previsto no final de 2011, a integrao da pecuria com animais de pequeno porte de forma a estimular a prtica do cultivo das hortas, a economia familiar e o respeito pelo equilbrio ambiental (Municpio do Funchal, 2012).

    Figura 53 - Exemplos das hortas urbanas na IC19 em Lisboa

    Figura 55 - Exemplos das hortas urbanas municipais no Funchal

    Figura 54 - Hortas urbanas da Quinta da Granja em Lisboa

  • 26

    Em Coimbra, o projeto particularmente interessante pelo envolvimento da comunidade estudantil atravs da colaborao com a Escola Superior Agrria de Coimbra. Tendo sido implementado na prtica em 2006, o projeto "Hortas do Ingote" (Figura 56) atribuiu a 25 moradores dos Bairros da Rosa e do Ingote 25 talhes com um tamanho de aproximadamente 150m2 cada um, para que estes se assumissem como agricultores urbanos, sendo atualmente um projeto de sucesso indubitvel. Para alm das hortas, foram instalados em cada talho, entre outras infra-estruturas, um reservatrio para aproveitamento das guas pluviais e um contentor para produo de estrume biolgico (Jornal de Notcias, 2009). No Norte do pas encontram-se mais e melhores referncias relativamente s iniciativas desenvolvidas em torno desta atividade. Uma das iniciativas de grande relevncia nesta regio o projeto denominado Horta Porta, cuja origem adveio necessidade de articular a disponibilidade de vrias entidades numa rede que viabilizasse uma estratgia para a Regio do Grande Porto no domnio da compostagem caseira, na criao de hortas e na promoo da agricultura biolgica (Verdes, 2010). Este projeto surgiu em Julho de 2003 e totaliza atualmente 21 espaos (ver Anexo B) com aproximadamente 4 hectares comunitrios dedicados em exclusivo ao cultivo biolgico, onde se destaca as mais de 700 pessoas contabilizadas em lista de espera para adeso aos espaos (Verdes, 2010). Com o objetivo de complementar o oramento de famlias carenciadas e simultaneamente promover a qualidade de vida das populaes, foram criadas em 2009 duas hortas, que aliam os objetivos deste projeto com a subsistncia e a responsabilidade social. Uma das hortas (Figura 57) foi criada na cidade da Maia, tendo sido a primeira horta de subsistncia da regio do Porto, qual se podem candidatar os mais desfavorecidos, tais como os desempregados ou pessoas que dispem de baixos rendimentos. A outra horta, baptizada com o nome de Horta Social de Rates, foi criada no Bairro Social da Freguesia de Rates, e neste caso, os utilizadores so os prprios moradores deste bairro. Em 2010, foram inauguradas a Horta Social do Meilo e a Horta da Nobrinde, MBA - Marketing e Brindes Lda.