projeto "formação no ambiente escolar" 2012

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SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO CIMEI 21 'MARILENE CABRAL' PROJETO: “Formação no ambiente escolar: Uma busca pela integração prática e teoria.” PROF.ªS RESPONSÁVEIS: ANNA PAULA ROLIM DE LIMA CARINA BANNWART KELLY CRISTINA CORREIA 2012 1

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Page 1: Projeto "Formação no ambiente escolar" 2012

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

CIMEI 21 'MARILENE CABRAL'

PROJETO: “Formação no ambiente escolar: Uma busca pela integração prática e teoria.”

PROF.ªS RESPONSÁVEIS:

ANNA PAULA ROLIM DE LIMA

CARINA BANNWART

KELLY CRISTINA CORREIA

2012

"A sabedoria começa na reflexão." (Sócrates)

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Formação no ambiente escolar: Uma busca pela integração prática e teoria

De que vale prática sem teoria? De que vale teoria sem prática reflexiva? Há educação sem uma real integração entre ambas?

Introdução

Personagem indispensável no cenário filosófico, Sócrates despertou e desperta,

no decorrer da história humana, grande admiração e respeito, manifestos em árduos

trabalhos de pesquisas e em recorrentes buscas às suas teorias e pensamentos,

registrados por seus companheiros e seguidores (Platão, Aristóteles, Xenofontes e

outros).

Como característica marcante, Sócrates apresenta profundas reflexões sobre as

bases para a produção do conhecimento, e envolve-se na busca de formas de ação que

levariam o homem a produzi-lo. Acreditava que “pela via do conhecimento objetivo,

seria possível formar os cidadãos e, portanto, seria possível transformar a cidade para

que essa fosse melhor e mais justa. Acreditava que o conhecimento tinha uma função

social” (ANDERY, et al., p.59, 1996).

O ponto crucial do método socrático é o diálogo constante, ou seja, uma

contínua troca de idéias, realizada de maneira aberta e sem um fim predeterminado,

desta forma “o aprendiz descobria os erros do que pretendia conhecer, descobria sua

ignorância” (ANDERY, et al., p.64, 1996) e retomava a busca pelo conhecimento.

Concebendo a instituição escolar como local privilegiado para a troca de idéias e

a proliferação de diferentes teorias em benefício da comunidade, há que se valorizar o

diálogo socrático, que nos impele a rever as teorias nas quais muitas vezes estamos

arraigados, conduzindo-nos à abertura necessária para um contínuo processo de

aprendizagem.

É, por meio, desta constante indagação sobre o real, que se caracteriza o

conhecimento: como “um processo em vias de se fazer, comportando divergências e

tensões” (KRAMER in MEC, p.16, 1994), as quais são necessárias num ambiente

democrático e que tenha por ambição maior: propiciar um salutar e permanente

processo de aprimoramento pessoal, intelectual e cultural a seus integrantes.

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Por fim adota-se aqui o entendimento de que educação “é prática social

produtora de saber” e, portanto, “cabe enfatizar que a teoria é prenhe de prática, gerada

por ela e voltando-se a ela de forma crítica” (KRAMER in MEC, p.17, 1994), o que

resulta num fazer pedagógico dinâmico, contraditório e vivo.

Desta feita, cabe insinuar, a necessidade de espaço amplo e fortemente voltado

ao estudo, à discussão e a estruturação do conhecimento pedagógico, de forma a

integrar teoria e prática e propiciar uma prática embasada teoricamente, assim como,

uma postura reflexiva e constantemente renovada mediante as atividades com as

crianças, a relação com a comunidade e o trabalho coletivo.

Justificativa:

Partindo da premissa que o conhecimento sobre a educação infantil ainda é

relativamente novo e, portanto, em vias de construção, evidencia-se a necessidade de

uma real articulação entre os saberes produzidos na academia e na prática das unidades

de atendimento infantil expressa numa relação dialógica. Para tanto é importante a

aproximação entre universidades e escolas de educação infantil, mas, ainda mais

necessário é um constante aperfeiçoar-se por parte dos profissionais que atuam

diretamente com as crianças pequenas, a fim de possibilitar a elas o melhor atendimento

possível, que leve em consideração sua característica peculiar de desenvolvimento

(ECA) e as necessidades intrínsecas a ela.

Situações e condições adversas constituem o dia-a-dia dos profissionais da

educação infantil e, muitas vezes, os inserem em momentos angustiantes por não haver

uma solução clara e rápida. Tais momentos tornam-se mais amenos e menos penosos se

compartilhados com colegas que vivenciam as mesmas experiências. O compartilhar

possibilita a junção de diferentes olhares e possibilidades, e facilita a construção de

diferentes soluções para as adversidades vivenciadas, as quais, na maioria das vezes,

não figuram em livros e/ou teses, mas, são e serão construídas no trato diário com os

pequenos.

No município de Campinas a Educação Infantil objetiva viabilizar o

desenvolvimento integral e harmonioso da criança, considerando seus aspectos

cognitivo, social, afetivo e físico. Inserida nesta proposta, esta unidade educacional

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anseia promover às crianças um ambiente físico e social que, desde cedo, encoraje a

2conquista da autonomia, assim como situações de aprendizagem que propiciem a

construção da criticidade e da reflexão. No entanto para que de fato tais princípios

possam ser implementados no trabalho com os pequenos, é fundamental que os

professores sejam pessoas “criativas, inventivas e descobridoras, que sejam capazes de

criticar, comprovar e não aceitar tudo que lhes é proposto. Pessoas que sejam capazes de

pensar a realidade em que vivem e transformá-la”(MANTOVANI ET ASSIS, p.11,

2004).

Neste sentido estrutura-se o presente projeto, ou seja, este grupo de professoras

ambiciona constituir um espaço de estudos, discussões e troca de idéias sobre temas

inerentes à realidade desta instituição de educação infantil; um espaço que viabilize uma

possível solução para um problema fortemente apontado na avaliação institucional: a

necessidade de ampliar espaços e momentos de formação, reflexão e troca de

experiências entre os pares e os diferentes profissionais que integram a equipe escolar.

Um grupo de estudos que se estruture em sólido arcabouço teórico, que conte

com a vivência profissional de seus integrantes e que esteja disposto a ouvir e ser

ouvido, recuando e avançando mediante os diferentes posicionamentos e diversas

tendências pedagógicas, certamente proporcionará muito aos seus integrantes tanto

pessoal, como acadêmica e profissionalmente, além do que, os maiores beneficiados,

indubitavelmente serão os pequenos, como aponta Formosinho:

“O aperfeiçoamento dos professores tem finalidades individuais

óbvias, mas também tem utilidade social. A formação contínua tem

como finalidade última o aperfeiçoamento pessoal e social de cada

professor, numa perspectiva de educação permanente, mas tal

aperfeiçoamento tem um efeito positivo no sistema escolar, se se

traduzir na melhoria da qualidade da educação oferecida às crianças. É

este efeito positivo que explica as preocupações recentes do mundo

ocidental com a formação contínua de professores” (FORMOSINHO

apud SILVA, p. 97, 2000).

Objetivos:

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→ Contribuir com a ampliação de espaço e tempo especificamente voltados às

discussões e reflexões sobre as diferentes possibilidades de intervenção no trabalho

diário com as crianças e as famílias, considerando fatores essenciais como, a

interdisciplinaridade, as diferentes concepções de infância e a relação dialógica com a

realidade da comunidade na qual a escola esta inserida;

→ Propiciar a formação de um grupo de estudos e reflexão composto por professores e

diferentes profissionais da educação infantil, tomando por base as práticas implicadas

no cotidiano da escola, bem como, os diferentes campos teóricos da pedagogia;

→ Analisar e avaliar o atendimento no CIMEI, a fim de aprimorar as práticas avaliadas

positivamente e reestruturar aquelas classificadas como negativas;

→ Elaborar a cada tema resenhas sobre os textos estudados e discutidos, a fim de

concretizar e expor, por meio destas, ao restante da equipe escolar, os avanços

alcançados.

Metodologia:

Para a execução deste trabalho serão realizadas reuniões semanais às segundas-

feiras com duração de 4 horas-aula, nas quais abordar-se-ão os temas relacionados a

seguir, e adotar-se-á como dinâmica de trabalho a reflexão sobre os textos previamente

lidos para que posteriormente se estabeleçam as relações com as práticas diárias

adotadas no trabalho com as crianças.

Partindo da experiência realizada durante o ano de 2010, quando foram analisados

seis diferentes temas, o grupo optou por ampliar o período de análise e discussão sobre

cada tema. Sendo assim, no ano letivo de 2011 serão trabalhados cinco temas sobre os

quais a equipe escolar demonstrou interesse:

1) Agrupamento

Considerando a organização adotada pela SME, ou seja, o agrupamento multietário,

tema sobre o qual há escassa bibliografia, além de representar juntamente com a

Prefeitura Municipal de Florianópolis, uma experiência inusitada no país, tal

singularidade desperta uma série de anseios e questionamentos dos educadores, o que

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não é diferente no CIMEI 21 e, portanto, a equipe optou por aprofundar os estudos

sobre este tema.

A construção dos conhecimentos através das trocas entre as crianças: Estatuto e papel dos “mais velhos” no interior do grupo. (Bondiolli, A.; Mantovani S.)

A cultura torna-se parte da natureza humana. Item 8: Interação entre aprendizado e desenvolvimento: a zona de desenvolvimento proximal (Rego, T. C)

2) Sexualidade

Este tema ocasiona uma série de reações distintas, o que relaciona-se diretamente

com certo “tabu social” característico do povo brasileiro. Situações inusitadas

envolvendo a sexualidade infantil permeiam o cotidiano escolar e, muitas vezes, os

educadores apresentam certa dificuldade em abordar o tema tanto com as crianças

quanto com os pais, o que evidencia a necessidade de estudos sobre o tema.

Desafios à Educação sexual. (Camargo, A. M. F.; Ribeiro, C.)

Mesa redonda “Corpo, mídia e educação”: Mãe, e a tia Lu, é menino?

Corpo, gênero e sexualidade (Meyer, D. E.; Soares, R. F. R.)

A educação sexual nas escolas (Winnicott, D.W.)

Filme: Minha vida em cor-de-rosa.

3) Linguagem

Sabendo que o processo de desenvolvimento humano dá-se de forma peculiar em

cada individuo, e que o mesmo ocorre com a linguagem, este é uma tema que merece

cautela e atenção, pois as crianças devem receber acompanhamento individualizado.

Com tudo esta é uma prática inviabilizada pela estrutura disponível atualmente na esfera

pública o que justifica a escolha deste tema por permitir o acúmulo de conhecimento

sobre o assunto e, consequentemente, a melhora do trabalho destinado às crianças.

O desenvolvimento da linguagem. (Bondiolli, A.; Mantovani S.)

E por falar em literatura. (Craidy, C.; Kaercher G. E.)

Práticas musicais na escola infantil. (Craidy, C.; Kaercher G. E.)

O brincar e a linguagem. (Faria, A. L. G.; Melo, A. S.)

4) Interação criança-criança / Interação adulto-criança

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A interação social é vital para a ampliação do universo da criança, contudo a

diversidade também é elemento característico de qualquer agrupamento humano, e

considerando este fator o grupo abordará o tema interação visando maximizar os

horizontes culturais das crianças e incentivar suas manifestações.

O adulto frente à criança, ao mesmo tempo igual. (Bondiolli, A.; Mantovani S)

Os comportamentos parentais em relação à criança e à instituição (Bondiolli, A.; Mantovani S)

Na escola infantil todo mundo brinca se você brinca. (Craidy, C.; Kaercher G. E.)

Modalidades e problemas do processo de socialização entre as crianças na creche (Bondiolli, A.; Mantovani S)

Textos: A mãe, a professora e as necessidades da criança (Cap. 28); Sobre influenciar e ser influenciado (Cap. 29). (Winnicott, D.W.)

“Aquele sou eu”: a criança frente ao espelho – relação com o outro e exploração cognitiva. (Bondiolli, A.; Mantovani S)

Textos: A dependência afetiva (cap. 35); A posse (Cap. 36); O poder (Cap. 37); O complexo de inferioridade (Cap. 38); O medo (Cap. 39); As mentiras (Cap. 40). (Montessori, M.)

5) Manifestações culturais

Considerando as dimensões continentais do país que consequentemente conta com

rica diversidade cultural, o grupo ambicionou investigar as diferentes culturas que

compõe o mosaico cultural brasileiro, e a partir delas propiciar às crianças o acesso a

essa gama que transcende seu repertório pessoal.

Mário de Andrade e os fundamentos dos parques infantis. (Faria, A. L. G.)

Como o índio aprende a ser índio. (Faria, A. L. G.; Melo, A. S.)

É importante, contudo, destacar que o principal objetivo do projeto em questão é

a efetivação dos momentos de estudo, reflexão e troca de ideias, não apenas para os

integrantes deste grupo, mas para toda a equipe escolar. Mesmo contando com a

incompatibilidade de horários entre os diferentes personagens da mesma. Visando

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minimizar tal problema e, de certa forma, tornar acessível a todos não só os textos

trabalhados e as experiências trocadas, mas essencialmente as conclusões alcançadas, o

grupo realizará ao final de cada bloco de estudos uma resenha crítica que aborde os

problemas e as soluções alcançadas.

Pensando ainda no processo de formação da equipe como um todo o grupo

recorrerá a montagem de uma pasta acessível a todos, que contenha todos os textos

analisados e que permaneça em local de ampla circulação, o que viabilizará o

empréstimo dos mesmos, além disso, propulsionará a participação efetiva em outra

ferramenta estruturada para o mesmo fim, ou seja, uma ferramenta interativa (blog) que

mais uma vez objetiva integrar os diferentes agentes educativos.

A médio prazo o grupo vislumbra a estruturação de uma sala voltada à formação,

ou seja, que abrigue diferentes materiais referentes ao mesmo fim, tendo em vista que a

escola possui relevante acervo no que tange à formação, e que em sua maioria são

subutilizados. Uma sala especificamente voltada para o objeto da formação minimizaria

este problema e mais uma vez estimularia a troca de experiências e de ideias, o que

como manifesto anteriormente, constitui o objetivo principal deste projeto.

Conclusão:

Concebendo como função social do magistério a formação crítica, cabe aos

educadores um contínuo processo de indagação e reflexão, mediante as diferentes

concepções e metodologias vivenciadas no âmbito educacional, o que é importante

destacar, tendo em vista a heterogeneidade marcante em nosso CIMEI, o qual é

constituído por seres humanos diversos e com histórias de vida distintas e peculiares.

Neste sentido, a conversa, o debate, a discussão construtiva, são elementos

indispensáveis para a concretização de uma prática abrangente e coerente. Deste modo,

mais uma vez, emerge o ideário característico da filosofia grega, presente

especificamente na dialética de Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.), o qual “Concebia a

realidade como algo extremamente dinâmico, em permanente transformação. Encarava

a vida como um fluxo constante” (COTRIM, p. 66, 1987).

Sendo a característica principal do método utilizado por Heráclito a

demonstração de uma tese a partir da análise crítica das contradições contidas no

raciocínio do interlocutor.

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Indagações e a incessante necessidade de possibilitar (valores, criticidade,

cidadania, criatividade,...) geram nos educadores uma consciente responsabilidade , para

as quais não há respostas prontas nem fórmulas definitivas. O que justifica a

importância do projeto em questão, por meio, da comparação de ideias, da troca de

experiências e de um aprimorar-se em conjunto e, consequentemente, de maneira

constante.

Referências Bibliográficas:

Bondiolli, A.; Mantovani S. Manual de Educação Infantil de 0 a 3 anos. 9ª Edição, 2005. Porto Alegre: Ed. Artmed.

Camargo, A. M. F.; Ribeiro, C. Sexualidade(s) e Infância(s): A sexualidade como um tema transversal. 1999. Campinas: Editora Moderna. Editora Unicamp.

Craidy, C.; Kaercher G. E. Educação Infantil pra que te quero? 1ª Edição, 2001. Porto Alegre: Ed. Artmed.

Faria, A. L. G. Educação pré-escolar e cultura. 2ª Edição, 2005. Campinas: Ed. Cortez; Ed. da Unicamp.

Faria, A. L. G.; Melo, A. S. O mundo da escrita e o universo da pequena infância. 1ª Edição, 2005.Campinas

Mesa redonda “Corpo, mídia e educação”. Mãe, e a tia Lu, é menino? Seminário “Corpo e Mídia”. Mestrado de Comunicação – Unip Bacelar. 2002 São Paulo.

Meyer, D. E.; Soares, R. F. R. Corpo, gênero e sexualidade. 2004. Porto Alegre: Editora Mediação.

Montessori, M. A criança. São Paulo: Editora Círculo do Livro.

Rego, Teresa Cristina. Vigotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. 17ª edição, 1995. Rio de Janeiro: Editora Vozes.

Vigotsky, L. S. A formação social da mente. 7ª Edição, 2007. São Paulo: Editora Martins Fontes.

Winnicott, D.W. A criança e seu mundo. 6ª Edição, 1985. Rio de Janeiro: Zahar Editora.

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