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Proposta de Agenda 2011-2014 para o Setor de Água e Esgoto no Brasil Estudo elaborado e desenvolvido em conjunto pela LCA e entidades do setor ABCE, ABCON, ABDIB, ABRELPE, AESBE, ASFAMAS, SELURB, SINAENCO e SINDESAM. Abril de 2011

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Page 1: Prop agenda saneam

Proposta de Agenda 2011-2014 para o Setor de Água e Esgoto

no Brasil

Estudo elaborado e desenvolvido em conjunto pela LCA e entidades do setor ABCE,

ABCON, ABDIB, ABRELPE, AESBE, ASFAMAS, SELURB, SINAENCO e

SINDESAM.

Abril de 2011

Page 2: Prop agenda saneam

Sumário 1. Introdução ___________________________________________________ 3

2. Diagnóstico: elevada carência de Água e Esgoto no Brasil ______________ 5

3. Desafio: Universalização _______________________________________ 11

4. Agenda: pontos prioritários para o setor de Água e Esgoto (2011-2014) __ 16

a. Planejamento ______________________________________________ 16

b. Gestão ___________________________________________________ 17

c. Regulação ________________________________________________ 18

d. Recursos _________________________________________________ 20

5. Conclusões _________________________________________________ 22

Anexo I _______________________________________________________ 23

Page 3: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.3

1. Introdução

Este trabalho foi solicitado à LCA pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais

para Saneamento – ASFAMAS que forneceu os recursos financeiros respectivos. O

estudo foi desenvolvido pela LCA em conjunto com as entidades ABCE, ABCON, ABDIB,

ABRELPE, AESBE, ASFAMAS, SELURB, SINAENCO e SINDESAM1, com vistas a

produzir um documento de consenso, reunindo proposições para a Agenda do Setor de

abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário, no Brasil (2011-2014).

Os números disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

(SNIS)2 ilustram uma estagnação no setor, o que representa uma situação alarmante

pelos indicadores de cobertura: 95,3% da população urbana possuía abastecimento de

água por rede em 2003 e apenas 94,7% em 2008. A população urbana atendida com

coleta de esgoto por rede pública ficou estável em 50,6%, entre 2003 e 2008. O

tratamento dos esgotos gerados3 apresentou pequena melhora, de 28,2% para 34,6%.

A situação no setor destoa muito do salto vivido pela economia brasileira no período. Pela

Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), o padrão de consumo da população

brasileira evoluiu significativamente entre 2002/2003 e 2008/2009 e os bens de consumo

duráveis passaram a ter maior representatividade na cesta dos brasileiros. Por exemplo,

a parcela da população que possui ao menos um aparelho de DVD passou de 6,6% em

2002/03 para 60,5% em 2008/09. No mesmo período, o indicador de proprietários de

carros passou de 37,9% para 43,6%. Outro índice que ilustra tal descompasso é a

densidade de acessos à telefonia móvel (celular) por 100 habitantes que alcançou 100,4,

em outubro de 20104.

1 ABCE – Associação Brasileira de Consultoras de Engenharia, ABCON – Associação Brasileira das Concessionárias

Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto, ABDIB – Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base,

ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, AESBE – Associação das

Empresas de Saneamento Básico Estaduais, ASFAMAS – Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para

Saneamento, SELURB – Sindicato Nacional de Empresas de Limpeza Urbana, SINAENCO – Sindicato da Arquitetura e da

Engenharia e SINDESAM – Sindicato Nacional de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental.

2 O SNIS é publicado sempre com 2 ou 3 anos de atraso, o mais recente, portanto, é referente ao ano de 2008.

3 O volume de esgoto gerado considerado no indicador é igual ao volume de água consumido.

4 Número publicado pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL).

Page 4: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.4

A ausência de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto por rede pública

resultam em graves problemas socioeconômicos e de saúde pública, o que deve colocar

o setor na lista de prioridades do Estado.

Esse quadro reflete gargalos significativos do setor, em diversas frentes, fazendo com

que hoje, mesmo havendo mais recursos disponíveis, os investimentos tardem a ser

convertidos em obras, seja por ausência de projetos, morosidade no planejamento, falta

de pessoal capacitado, bem como por necessidade de modernizar o modelo de gestão

das empresas, fatores que explicam os baixos índices de utilização dos recursos que

foram destinados ao setor no período recente.

Segundo o relatório Gasto Público em Saneamento Básico5 do governo Federal e Fundos

Financiadores, em 2008 R$ 12,2 bilhões foram destinados ao setor de saneamento

básico (incluindo resíduos sólidos e outros projetos integrados), dos quais apenas R$ 5,6

bilhões foram desembolsados. Os dados disponibilizados no Sistema Nacional de

Informações sobre Saneamento (SNIS), por outro lado, indicam investimentos de R$ 5,6

bilhões em 2008, considerando apenas água e esgoto6.

Pelo panorama do saneamento básico no Brasil, realizado na 1ª fase de elaboração do

Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), R$ 17,1 bilhões de reais foram

investidos no setor de saneamento ambiental, entre 2003 e 2008. No mesmo período,

segundo o SNIS, R$ 29,6 bilhões foram investidos considerando apenas água e esgoto7.

Desse quadro, nota-se que a falta de uma base de dados unificada para o setor que

agregue as informações sobre investimento, assim como sobre indicadores de gestão e

eficiência das operadoras dificulta a definição de metas objetivas e o monitoramento

adequado de projetos, execução dos mesmos e cumprimento das metas previamente

estabelecidas.

Neste trabalho, a partir de um diagnóstico que nos remete aos principais desafios do

setor sugerimos, ao final, os pontos prioritários que deverão compor uma proposta de

agenda, passando por (a) planejamento; (b) gestão; (c) regulação; e (d) recursos.

A despeito do desafio que se aponta em termos de volume de recursos para que se

consiga universalizar os serviços de água e esgoto no Brasil, acredita-se que os cenários

construídos são críveis desde que se crie um novo contexto para a realização de

negócios no setor. A prioridade inicial, portanto, deverá ser a revitalização e

5 Gasto Público em Saneamento Básico – Relatório de Aplicações de 2008. Ministério das Cidades

6 Dados em R$ Correntes.

7 Os dois números são apresentados em R$ de 2010, atualizados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Page 5: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.5

modernização do modelo de gestão criando um novo ambiente de negócios, para

que se possa ampliar de forma significativa a velocidade com que os recursos destinados

ao setor se reflitam em efetiva ampliação de investimentos. Esse novo ambiente de

negócios também proporcionará que os recursos sejam aplicados em um novo contexto,

possibilitando a evolução rápida dos serviços de Água e Esgoto.

Quanto mais se retardar a reversão da situação atual, menos factíveis ficam os

compromissos já assumidos para expansão e universalização dos serviços, como os

refletidos nas Metas do Milênio, de reduzir pela metade, até 2015, a proporção da

população de 1990 sem acesso permanente à água potável e ao esgotamento sanitário.

São justamente as classes de menor renda, com mais dificuldade em acessar o sistema

de saúde, que mais sofrem com isso, com doenças, por vezes fatais, e o aumento da

mortalidade infantil.

Esses pontos serão mais bem detalhados na sequência, de forma a se oferecer um

estudo que reflita anseios e compromissos dos agentes do setor para que se possa

expandir a cobertura dos serviços e atingir o propósito da universalização.

2. Diagnóstico: elevada carência de Água e

Esgoto no Brasil

O déficit de acesso à água e esgoto coletado por

rede no Brasil ainda é alarmante. Segundo a

Organização Mundial de Saúde, em 2008

aproximadamente 13 milhões de brasileiros não

contavam com instalações sanitárias mínimas8,9, o

que representava 7% da população. O Brasil está

muito aquém de países desenvolvidos e alguns

latino-americanos. Para o Chile, por exemplo, no

mesmo ano de 2008, apenas 1% da população não

possuía acesso a instalações sanitárias mínimas.

O acesso ao esgotamento sanitário e ao abastecimento de água por rede é essencial

para a qualidade de vida da população. Em 2009, 4,69% das internações no SUS

8 OMS e UNICEF 2010. “Progress in Sanitation and Drinking-Water”.

9 A falta de instalações sanitárias mínimas indica situação na qual não há absolutamente nenhuma estrutura construída no

domicílio com fins sanitários, seja banheiro, fossa séptica etc, e tampouco a possibilidade de compartilhamento de

qualquer estrutura sanitária entre domicílios.

Cobertura

7% da população brasileira

não tinham acesso a

instalações sanitárias

mínimas em 2008

(OMS/UNICEF).

Apenas 1% da população do

Chile não tinha acesso a

instalações sanitárias

mínimas em 2008

(OMS/UNICEF).

Page 6: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.6

(Sistema Único de Saúde) foram por doenças relacionadas à falta de abastecimento de

água e esgotamento sanitário por rede10

, valor bem próximo ao observado em 2000

(4,64%), refletindo a estagnação do setor. A situação é ainda mais preocupante nas

regiões com menor acesso ao abastecimento de água e à coleta de esgoto por rede,

como no Norte e Nordeste, onde 9,35% e 8,28% das internações, respectivamente, foram

relacionadas à falta de abastecimento de água e esgotamento sanitário por rede, em

2009.

A mortalidade infantil por doenças relacionadas à falta de abastecimento de água e

esgotamento sanitário por rede11

caiu bastante nos anos 2000, passando de 3.602 óbitos

em 2000 a 1.656 em 2007. Apesar da queda, a

falta de abastecimento de água e esgotamento

sanitário ainda representa 3,11% do total de óbitos

infantis.

Segundo estudo do Instituto Trata Brasil, 1.277

pessoas morreram por infecções gastrintestinais

em 200912

, óbitos que poderiam ser evitados com

um maior acesso e maior qualidade do

saneamento ambiental.

Dados coletados pelo SNIS13

reforçam essa

situação preocupante. Em 2008 apenas 43% da

população brasileira tinha acesso à coleta de esgoto por rede e 81% ao abastecimento

de água por rede, conforme explicitado na Tabela 1. As informações também evidenciam

uma grande discrepância regional. Enquanto na região Sudeste a cobertura de coleta de

esgoto era próxima de 67%, no Norte apenas 6% da população tinham acesso a esse

tipo de serviço em 2008.

10

Dados do DATASUS. Doenças consideradas, segundo estudo do PMSS, “O pensamento do setor de saneamento no

Brasil: perspectivas futuras”: cólera, febres tifoide e paratifoide, shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite de origem

infecciosa presumida, outras doenças infecciosas intestinais, dengue [dengue clássico], febre hemorrágica devida ao vírus

da dengue, esquistossomose, leptospirose ictero-hemorrágica, outras formas de leptospirose, e leptospirose não

especificada.

11 Dados do DATASUS. Doenças consideradas, segundo estudo do PMSS, “O pensamento do setor de saneamento no

Brasil: perspectivas futuras”: cólera, diarréia e gastrenterite de origem infecciosa presumida, outras doenças infecciosas

intestinais, dengue, esquistossomose, leptospirose, doença de Chagas. Foram considerados óbitos de crianças abaixo dos

5 anos.

12 “Benefícios econômicos da expansão do saneamento brasileiro”. Julho de 2010. Trata Brasil: Saneamento é saúde e

IBRE: Instituto Brasileiro de Economia – FGV. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/novo_site/cms/files/trata_

fgv.pdf>. Acesso em: 06/12/2010.

13 A amostra é constituída de 661 empresas, sendo 26 de abrangência regional (CESBs), sete de microrregional e 628 de

local. Elas prestam serviços de água a um conjunto de 4.627 municípios, que representa 98% da população brasileira, e

serviços de esgoto a um conjunto de 1.468 municípios, que representa 77%.

Saúde

3,11% dos óbitos infantis em

2007 estavam relacionados à

falta de saneamento

(DATASUS).

9,35% das internações na

região Norte em 2009 foram

relacionadas à falta de

saneamento (DATASUS).

1.277 pessoas morreram por

infecções gastrintestinais em

2009 (Trata Brasil).

Page 7: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.7

Entre 2007 e 2008 a cobertura do acesso à água aumentou em 0,3 p.p., enquanto que a

de coleta e tratamento de esgoto cresceu 1,2 e 2,1 p.p., respectivamente, uma situação

realmente preocupante.

O retrato da cobertura dos serviços de Água e Esgoto indica que a evolução de

investimentos vem ocorrendo em ritmo inferior às carências do setor. O gap de

investimentos criado nos últimos anos aumenta a necessidade de esforço para alcançar o

patamar adequado de investimentos.

Tabela 1 – População atendida pelo sistema de Água e Esgoto (% sobre o total) -

Brasil e Regiões – 2008

Fonte: SNIS 2007 e 2008. Elaboração: LCA Consultores.

Esse gap é um dos responsáveis pela baixa

evolução na cobertura desses serviços. As

necessárias medidas no âmbito da

responsabilidade fiscal no pós-Real praticamente

cessaram os desembolsos para o setor de água e

esgoto, notadamente a Resolução

No 2.461/1997 do Conselho Monetário Nacional

(CMN), visto que, à época, quase a totalidade dos

operadores era de controle estatal.

Apenas no final de 2003 é que se observaram

novas contratações com valores mais

significativos. O Gráfico 1 mostra a evolução do investimento total como porcentagem do

PIB no setor, a queda de 0,35%, em 1998 para 0,20%, em 1999, demonstra o impacto

da referida resolução do CMN que reflete, efetivamente, em 1999. Mesmo com a

retomada das contratações e com o estímulo do PAC, a participação do investimento em

água e esgoto no PIB, que atingiu 0,19% em 2008, ainda não alcançou o patamar de

1998.

Total Urbano Total Urbano

Norte 57,6 72,0 5,6 7,0 11,2

Nordeste 68,0 89,4 18,9 25,6 34,5

Sudeste 90,3 97,6 66,6 72,1 36,1

Sul 86,7 98,2 32,4 38,3 31,1

Centro-Oeste 89,5 95,6 44,8 49,5 41,6

Brasil 81,2 94,7 43,2 50,6 34,6

Diferença 2007-

2008 p.p.0,3 0,5 1,2 1,5 2,1

Regiões Água Coleta de esgoto Tratamento

de esgoto

Investimento

Mesmo com a retomada das

contratações e com o

estímulo do PAC, a

participação do investimento

em saneamento no PIB ainda

não alcançou o patamar de

1998.

Investimento corresponde

apenas a 0,2% do PIB .

Page 8: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.8

Gráfico 1 – Investimentos em Água e Esgoto (% do PIB)

Fonte: Relatórios do SNIS e IBGE. E- estimativa de investimentos em água e esgoto para 2009 e 2010.

Desde a retomada das contratações pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES)

e pela Caixa Econômica Federal (CEF) em 2003, o volume contratado tem crescido. Em

2003 as contratações somaram apenas R$ 1,6 bilhão. Já em 2010, o valor das

contratações totalizou R$ 5,5 bilhões, segundo

informações obtidas junto à CEF e ao BNDES14.

A grande oneração tributária, sem a devida

contrapartida de investimentos, também prejudica

o desenvolvimento do setor. A alteração da

incidência do PIS/COFINS, que teve sua alíquota

14

As contratações incluem investimentos em resíduos sólidos e drenagem urbana, sendo que 80% do valor é referente a

projetos no setor de Água e Esgoto.

0,14%

0,21%

0,31%

0,35%

0,20%

0,19%

0,20%

0,19%

0,18%

0,16%

0,17%

0,19%

0,16%

0,19%

0,23%

0,20%

0,00% 0,05% 0,10% 0,15% 0,20% 0,25% 0,30% 0,35% 0,40%

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009-E

2010-E

Tributação

setor arrecada de PIS/COFINS

mais do que 2,5 vezes os

recursos de investimentos

vindos do OGU (AESBE).

Page 9: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.9

majorada e passou a ser cobrada por valor agregado, representou um relevante aumento

dos custos tributários. Em 2008 o setor gerou R$ 1,8 bilhão15

com esses tributos, volume

2,5 vezes maior do que os recursos de investimentos provenientes do Orçamento Geral

da União (OGU) – que foram de R$ 700 milhões16,17

.

Um agravante é a situação atual da gestão operacional dos prestadores de serviço.

Mesmo que tivessem ocorrido mais investimentos no setor no passado recente, sem

melhoria da gestão tais recursos não se converteriam na adequada expansão da

cobertura do serviço. A análise de algumas informações de performance das CESBs, por

exemplo, permite compreender a gravidade da situação. Segundo o SNIS de 2008, o

índice de água não faturada foi de 37,4% e o índice de evasão de receita de 6,0%,

conforme a Tabela 2. Outra estatística que merece atenção é o índice de hidrometração:

do total de localidades cadastradas, 11,1% ainda não possuem hidrômetros

(equipamento que faz a medição do consumo). As últimas duas colunas da Tabela 2

apresentam a faixa do indicador para as 3 melhores e 3 piores CESBs, respectivamente.

A discrepância entre as prestadoras de serviço com indicadores piores e melhores

evidencia o espaço para possível melhora da eficiência das CESBs, por exemplo, no

caso da população atendida, enquanto parte das CESBs encontra-se acima de 90%, as

três piores encontram-se abaixo de 50%. O índice de hidrometração também indica um

gap entre as operadoras, ele varia de 0% a 25,6% entre as operadoras com menor índice

e alcança entre 99,8% e 100% no que diz respeito às três operadoras com melhor índice.

15

A Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (AESBE) prevê que esse valor atinja R$ 2 bilhões em

2010. “PIS/Cofins emperram os setores de saneamento, energia elétrica e transportes”. Revista Fator, 07/12/2010.

16 Segundo ABCE, ABCON, ABDIB, AESBE, ASFAMAS, SINAENCO, SINDESAM e Instituto Trata Brasil, a partir de dados

do SNIS.

17 Segundo a mesma fonte, do total de R$5,6 bilhões investidos em 2008, os recursos do OGU representam cerca de 13%

enquanto os recursos próprios respondem por 41%, financiamentos por 39% e outros por 7%.

Page 10: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.10

Tabela 2 – Indicadores de eficiência dos prestadores participantes do SNIS 2008*,

segundo indicadores selecionados

Fonte: SNIS 2008. Elaboração: LCA Consultores.

* Do universo de 4.627 municípios contemplados pelo SNIS, as CESBs são responsáveis pelo abastecimento

de água de 3.980 municípios (86% dos municípios atendidos, segundo o SNIS) e pela coleta de esgoto de

1.082 municípios (correspondentes a 74% dos municípios atendidos, segundo o SNIS).

¹ Quando a evasão de receita apontada foi negativa considerou-se 0%.

Essa situação é comum no setor como um todo. O SNIS apresenta dados de três tipos de

prestadores de serviço: (i) Regional; (ii) Microrregional; e (iii) Local. As regionais são as

CESBs e as microrregionais são empresas privadas e/ou autarquias que atendem a dois

ou mais municípios próximos. As operadoras locais são prestadoras municipais e se

dividem em três grupos: (i) Prestadores de Direito Público (autarquias, departamentos e

secretarias municipais); (ii) Prestadores Direito Privado (sociedades de economia mista,

empresas públicas e organizações sociais); e (iii) Empresas Privadas18.

18

Fonte: SNIS 2008.

Média 26 CESBs

Faixa do Indicador

das 3 Melhores

CESBs

Faixa do Indicador

das 3 Piores

CESBs

pop atendida água /

pop total77,9% 92% a 99,5% 32,7% a 45%

índice de evasão de

receita¹6,0% 0% a 0,8% 28,6% a 40,2%

índice de água não

faturada37,4% 21,2% a 23% 70,3% a 80,7%

índice de

hidrometração88,9% 99,8% a 100% 0% a 25,6%

margem operacional

com depreciação17,5% 23,7% a 35% -100,2% a -33,2%

Page 11: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.11

Tabela 3 – Eficiência dos prestadores participantes do SNIS 2008*, segundo

indicadores selecionados

Fonte: SNIS 2008. Elaboração: LCA Consultores.

* Do universo de 4.627 municípios contemplados pelo SNIS, as CESBs são responsáveis pelo abastecimento

de água de 3.980 municípios e pela coleta de esgoto de 1.082 municípios. As 7 microrregionais são

responsáveis pela água de 20 municípios e pela coleta de 14 municípios. As operadoras locais são, em sua

totalidade, 628, responsáveis pela água de 627 municípios e pela coleta de esgoto de 372 municípios.

A análise da Tabela 3 deixa claro que as operadoras de

níveis local e microrregional também têm indicadores

insuficientes para a eficiência operacional e a gestão:

as empresas municipais e microrregionais possuem

alto índice de água não faturada, chegando a 43,8%

(no caso de empresas privadas), e alta evasão de

receita, alcançando 8,2% (no caso de empresas privadas).

No que diz respeito à regulação, a situação do setor também aponta problemas. Pela Lei

de Saneamento (11.445/2007) os municípios devem definir o ente responsável pela

regulação e fiscalização dos serviços19. Por outro lado devem elaborar um plano

municipal de saneamento básico, como condição para validade dos contratos. No

entanto, até agora, apenas 4% dos municípios elaboraram tal plano20, o que levou ao

estabelecimento do prazo para até 2014 e restrição de financiamento, para os que não

cumprirem esse prazo.

3. Desafio: Universalização

19

As agências de regulação estaduais e municipais são responsáveis por 853 concessões reguladas, dos quais 31% dos

municípios estão com os contratos adequados à lei. Esse levantamento feito em junho de 2009 pela Associação Brasileira

de Agência de Regulação com 18 agências reguladoras, sendo 13 estaduais e 5 municipais.

20 “Apenas 4% dos municípios cumprem Lei de Saneamento”. Notícia publicada no Brasil Econômico do dia 10 de janeiro

de 2011.

Microrregional Local –

Direito Público

Local –

Direito Privado

Local –

Empresa Privada

Pop atendida água /

pop total 94,8% 87,5% 98,1% 91,6%

Índice de evasão de

receita 5,1% 1,9% 6,6% 8,2%

Índice de água não

faturada 34,2% 37,0% 32,6% 43,8%

Índice de

hidrometração 94,3% 89,3% 93,0% 88,4%

Regulação

Apenas 4% dos

municípios cumprem o

marco regulatório do

setor

Page 12: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.12

A universalização dos serviços de água e esgoto (coleta por rede pública e tratamento) é

uma questão prioritária para o Brasil, com vários impactos positivos, para além dos

imediatos ganhos na qualidade de vida e saúde: (i) valorização média de 18% nos

imóveis que passam a ter rede de esgoto; (ii) aumento da produtividade do trabalhador

de 13,3%; e (iii) aumento da massa de salários de aproximadamente 3,8%21

.

Considerando que a Lei 11.445/2007 (conhecida

como Lei do Saneamento) tenha como princípio

fundamental a universalização do acesso aos

serviços de saneamento, seria prudente

estabelecermos um prazo para isso acontecer.

Para avaliar as necessidades de investimentos

com vistas à universalização, em especial, dos serviços de Água e Esgoto, foram

formulados dois cenários no presente trabalho. No primeiro, a universalização ocorreria

em 202522

(Cenário Otimista). No segundo, ela se daria em 2030 (Cenário Realista).

A Tabela 4 apresenta estimativas do valor necessário para atingir o objetivo nos dois

cenários apontados, elaboradas pela LCA com base em informações das entidades

participantes deste trabalho23. O principal objetivo dos exercícios é obter uma ordem de

grandeza para os esforços necessários à universalização. Os números foram obtidos

pelas instituições e validados pela LCA a partir de uma extrapolação para 2025 e 2030 do

estudo “Dimensionamento das Necessidades para Universalização da Água e do Esgoto”

(PMSS 2003)24, o qual explicitava três cenários para a universalização: (i) 2010; (ii) 2015;

e (iii) 2020. O Anexo I do presente estudo possui mais detalhes quanto aos cálculos

realizados no PMSS (Programa de Modernização do Setor Saneamento) e sua

atualização pela LCA.

21

Trata Brasil: “Benefícios econômicos da expansão do saneamento brasileiro”. Julho de 2010.

22 Essa data coincide com o objetivo mundial lançado pelo Conselho Mundial da Água no Fórum Mundial da Água em 2000

em Haia.

23 ABCE, ABCON, ABDIB, AESBE, ASFAMAS, SINAENCO e SINDESAM.

24 Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental - Ministério das Cidades. “Dimensionamento das necessidades de

investimentos para a universalização dos serviços de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos

sanitários no Brasil”. Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS II. Brasília, 2003. Disponível em: <

http://www.pmss.gov.br/pmss/PaginaCarrega.php?EWRErterterTERTer=115>. Acesso em: 07/12/2010.

Universalização

R$ 350 bilhões são necessários

para a universalização até 2025.

R$ 393 bilhões para a

universalização em 2030.

Page 13: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.13

Tabela 4 – Estimativa de investimentos necessários para universalização*25

Fonte: LCA Consultores com base em informações das entidades participantes desse estudo. Elaboração:

LCA Consultores.

*Valores incluem fossa séptica de acordo com metodologia do PMSS 2003.

Entre 2001 e 2010, segundo dados do SNIS, foram investidos R$ 53,9 bilhões, uma

média de R$ 5,4 bilhões por ano, valor que deveria ser quase 3 vezes maior para

alcançar a universalização em 2020, como foi apontado pelo estudo do PMSS de 2003

(segundo o qual a média de investimentos teria de ser de R$ 15,2 bilhões ao ano,

durante 20 anos).

No Cenário Otimista (2025), estima-se que de 2001 até 2025, sejam necessários R$

350,4 bilhões, considerando o valor já investido, resta o expressivo montante de R$ 296,5

bilhões a ser investido até 2025. O valor médio anual necessário para os próximos 15

anos deve ser da ordem de R$ 19,8 bilhões, valor cerca de 3,7 vezes maior que a média

anual de investimentos realizados nos últimos 10 anos. Considerando o Cenário Realista

(2030), restariam R$ 339,2 bilhões em investimento, até 2030. Isto representa um valor

anual médio de R$ 17 bilhões26

.

O volume de recursos necessários, de fato, é bastante expressivo. No entanto, ao se

comparar estes números com a estimativa do crescimento do PIB no período

considerado (na média 4%) nota-se que o investimento anual necessário para a

25

Atualização para dezembro de 2010 dos investimentos totais em água e esgoto (SNIS) entre 2001 e 2008 pelo IPCA.

Estimativas LCA com base em estudo das instituições participantes para os investimentos totais de 2009 e 2010.

26 As estimativas se basearam no relatório do “Programa de Modernização do Setor Saneamento”, realizado pelo Ministério

as Cidades em 2003, que explicita os investimentos necessários para a universalização em 2010, 2015 e 2020. As

instituições realizaram uma projeção dos investimentos necessários, considerando a taxa de crescimento dos

investimentos em renovação da rede e de expansão da rede, cuja participação decresce no tempo.

Os investimentos necessários estimados incluem: recursos não-onerosos (OGU); financiamentos (tanto às operadoras

públicas quanto às privadas); recursos próprios (também operadoras públicas e privadas); e despesas capitalizáveis e

similares que já fazem parte da abertura dos investimentos por origem dos recursos.

Investimento total

(R$ bilhões 2010)

Investimento

médio anual

(R$ bilhões 2010)

Investimento total

(R$ bilhões 2010)

Investimento

médio anual

(R$ bilhões 2010)

350,4 14,0 393,1 13,1

53,9 5,4 53,9 5,4

296,5 19,8 por 15 anos 339,2 17,0 por 20 anos

Cenário 2025 Cenário 2030

Investimentos Necessários

para universalização

(2001 - meta)

Investimentos realizados

(2001 - 2010)

Investimentos que faltam para

a universalização (2011 - meta)

Page 14: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.14

universalização representa algo em torno de 0,5% do PIB, chegando a representar

apenas 0,2% do PIB em 2030 (Gráfico 2). Além disso, como se verá adiante, o principal

destino desses investimentos deve ser o aprimoramento de gestão das atuais

companhias. Assim, a aplicação de recursos concomitantemente à formação de um novo

modelo de gestão para o setor, deverá afetar positivamente o ambiente de negócios, a

ponto de criar condições para maior celeridade de expansão do setor.

Gráfico 2 – Investimento médio anual para a universalização até 2025/2030

(% do PIB)*

Fonte: LCA Consultores com base em informações das instituições participantes desse estudo. Elaboração:

LCA Consultores.

*Projeção do crescimento real do PIB realizada pela LCA Consultores. A média das taxas consideradas de

2011 a 2025 e de 2011 a 2030 foi de 4,1% a.a. A título de comparação, a média anual de crescimento do PIB

foi 3,6% de 2001 a 2010.

O Gráfico 3, abaixo, indica a estimativa de investimentos anuais, considerando um

crescimento linear até 2030. Observa-se que o crescimento médio anual estimado de

2001 a 2010 é de 6,3%, o mesmo crescimento médio anual estimado de 2011 a 2030.

Como se espera que o conjunto de medidas que acompanha este trabalho seja

implementado concomitantemente, espera-se que as taxas de crescimento possam ser

mais significativa nos anos em que se concentrarem as ações. Assim, a série poderá

observar um salto e não um crescimento linear, tornando ainda mais crível o crescimento

total dos investimentos estimados para o período.

0,0%

0,1%

0,2%

0,3%

0,4%

0,5%

0,6%

Cenário 2025 Cenário 2030

Atual 0,20%

Page 15: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.15

Gráfico 3 – Estimativa da evolução dos investimentos até 2030 (em R$ bilhões de

2010)*

Fonte: SNIS 2001 a 2008 e LCA Consultores com base em informações das instituições participantes desse

estudo. Elaboração: LCA Consultores.

* De 2001 até 2008: valores observados (SNIS 2001 a 2008), em bilhões de reais de 2010. – Crescimento

médio anual de 5,0%.

De 2009 até 2010: valores estimados com base nos valores divulgados, em bilhões de reais de 2010. –

Crescimento médio anual de 10,8%.

De 2010 a 2030: valores estimados com crescimento linear, em bilhões de reais de 2010. – Crescimento

médio anual de: 6,3%.

Adicionalmente, cumpre destacar que o desafio de universalização é expressivo,

considerando a base atual que é muito baixa, ou seja, reflete o elevado atraso do setor

que impõe esforço considerável, dadas as carências e crescentes necessidades da

população brasileira. Quanto mais se adiar o alcance da meta de universalização, mais

as pessoas que não dispõem desses serviços sofrerão as mazelas de sua ausência.

4,6 4,5

8,4

12,0

17,4

21,0

25,5

-

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

20

19

20

20

20

21

20

22

20

23

20

24

20

25

20

26

20

27

20

28

20

29

20

30

Page 16: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.16

4. Agenda: pontos prioritários para o setor de

Água e Esgoto (2011-2014)

A universalização até 2025 impõe um esforço ainda maior do que se postergada para

2030, sobretudo nos primeiros anos. É fundamental que o governo e o setor planejem e

se comprometam, em conjunto, com a meta de universalizar os serviços de água e

esgoto para que os resultados de fato ocorram no prazo estabelecido. Quanto mais longo

for o prazo, maiores os danos para a população ao privá-la por mais tempo desse serviço

essencial. A seguir, elencamos as ações prioritárias para compor uma agenda para o

setor, organizadas por seus temas principais.

a. Planejamento

Uma questão prioritária é a construção de uma base de dados unificada para os serviços

de água e esgoto, para pautar o planejamento e mensurar a dimensão real das

necessidades de investimentos de cada município.

Uma forma de incentivo para que as empresas

colaborarem, disponibilizando informações,

poderia ser o condicionamento do recebimento de

recursos oficiais, pelas empresas, ao

preenchimento dos questionários utilizados para

montar a referida base de dados.

Com as informações adequadas é possível

estabelecer metas e critérios de elegibilidade para

otimizar a aplicação de recursos públicos,

destinando recursos do OGU para municípios mais carentes, eleitos por critérios

técnicos. Estabelecer critérios de otimização de recursos é vital diante das necessidades

de investimento. Neste sentido, a participação do FI-FGTS e de financiamentos é

essencial para viabilizar a ampliação de investimentos privados onde há espaço para tal.

O planejamento precisa ser pautado em metas críveis, com compromissos firmados entre

os agentes, para que haja rápida expansão na cobertura do serviço. É preciso incentivar

e acelerar a realização dos planos e projetos técnicos e executivos para água e

esgoto. Para tanto, deve-se viabilizar o acesso a recursos (da CEF e BNDES, por

exemplo).

Base de dados unificada.

Estabelecimento de metas

críveis, com compromissos

entre os envolvidos.

Otimização de investimentos

públicos e privados.

Monitoramento de obras e

projetos, acompanhando

cumprimento de metas.

Page 17: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.17

Dentro do plano de universalização, além de se estipular metas factíveis para a expansão

da cobertura dos serviços, destaca-se o papel do PAC, cujos recursos fazem parte de um

programa de expansão e propulsão do crescimento do governo federal, de investimento

em infraestrutura, incluindo o setor de água e esgoto.

Além do planejamento, é preciso reunir informações e indicadores que possibilitem o

monitoramento da execução dos projetos, de forma a melhorar a gestão, reduzindo

o tempo e o custo dos empreendimentos, através de rigoroso acompanhamento das

metas e persistente busca dos objetivos estabelecidos.

Tal como estabelece a Lei 11.445/07, dentre outras diretrizes, devem ser elaborados os

planos municipais de saneamento básico. No entanto, como pouco se avançou nesse

sentido, poder-se-ia condicionar os recursos não onerosos para a concepção desses

planos em um período pré-estabelecido, com fiscalização do andamento do planejamento

para a liberação de recursos.

b. Gestão

Falhas na gestão geram desperdícios de

recursos, reduzindo ainda mais a capacidade de

expansão. Para solucionar este problema, sugere-

se a criação e difusão de programas de

benchmarks com o objetivo de criar um novo

modelo de gestão, com resultados e práticas

exemplares para o setor.

Devem-se incentivar parcerias estratégicas de

todos os tipos: de companhias estaduais com operadores privados, de municípios com

operadores privados, entre prestadores públicos etc. buscando também a elaboração de

projetos específicos para os municípios mais carentes.

Podem-se atrelar metas e compromissos com informações administrativas, financeiras e

operacionais, obtidas no SNIS, a serem cumpridos pelas empresas, como condição para a

destinação de recursos FI-FGTS, em programas de melhoria de gestão e/ou adoção de

referenciais de excelência - benchmarks. O FI-FGTS prevê a possibilidade do

financiamento direto do fundo para as companhias de saneamento, por meio de um

programa em que o FI-FGTS pode adquirir até 49% dessas companhias, implementar

Criação de benchmarks para a

rápida difusão entre os

Municípios.

Uso de recursos do FI-FGTS

para melhoria na gestão.

Qualificação continuada dos

Recursos Humanos.

Page 18: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.18

políticas para melhorar a gestão e posteriormente revender sua participação. As

companhias do Maranhão, Pará e Mato Grosso do Sul já assinaram contrato com o FI-

FGTS e estão em processo de reestruturação.

A redução do índice de água não faturada e a evasão de receita são importantes pontos

de melhoria capazes, por si só, de gerar recursos diretos para as companhias, via

aumento de receita. Uma medida para incentivar a melhoria da eficiência operacional

pode ser atrelar o cumprimento de metas de eficiência à liberação de recursos.

O estabelecimento dessas metas pode ocorrer com base no próprio SNIS, tomando-se

cuidados simples para que se evitem distorções geradas por fatos isolados, como, por

exemplo, mudanças contábeis e aquisições que ocorrem em um ano e acabam por

alterar momentaneamente os indicadores. Para aprimorar ainda mais a base do SNIS,

com vistas a construir indicadores cada vez mais abrangentes do setor, deve-se buscar

esforços para que o SNIS deixe de ser amostral e passe a ser um censo do setor.

Novas tecnologias são fundamentais para reduzir perdas e aumentar a eficiência.

Eventuais problemas operacionais na prestação de serviços podem gerar, por exemplo,

consumo ineficiente de energia. Podem-se aprimorar essas deficiências por meio de

programas como, por exemplo, o PROCEL-SANEAR. Para maior efetividade, devem-se

fixar metas intermediárias e finais, em conjunto com as operadoras. Adicionalmente, com

o objetivo de reduzir perdas e aumentar a eficiência do sistema é importante também que

se incentivem novas tecnologias, como por exemplo, o reuso da água e até mesmo a

geração de energia a partir do lodo gerado e do gás eliminado nas estações de

tratamento de esgoto.

Merecem atenção também os recursos humanos do setor: é preciso criar um plano

de qualificação continuada da mão de obra para que haja melhoria constante da gestão e

mais eficiência nos serviços. O plano deve ser estruturado pela Secretaria Nacional de

Saneamento Ambiental com auxílio das operadoras, seguindo as diretrizes, por exemplo,

do que já foi realizado no setor de Petróleo e Gás, com o Plano Nacional de Qualificação

Profissional (PNQP), que tem como objetivo a capacitação profissional através de

parcerias com instituições de ensino.

c. Regulação

Page 19: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.19

Além de aprimorar, é preciso fazer cumprir o marco regulatório. A Lei nº 11.44527, de

2007, ainda permanece com pouco efeito prático nessa importante função. É preciso

acelerar a regularização dos contratos de concessão vencidos ou aqueles considerados

precários, conforme previsão do marco legal. Devem-se priorizar avanços regulatórios

que permitam maior agilidade na contratação e segurança jurídica para os investimentos.

A agilidade também depende do licenciamento ambiental – que pela lei seria

simplificado28. Porém, na realidade, o licenciamento é complexo e frequentemente

decidido na esfera federal, o que pode conferir morosidade ao processo.

A Lei 8.666/1993 carece de revisão, como vem

sendo solicitado por todos os setores de

infraestrutura. Atualmente o processo de compra

para os sistemas de abastecimento de água e

esgotamento sanitário utiliza apenas critérios de

preço nas licitações de serviços e obras. Isso tem

reflexo na baixa qualidade e índice de vida útil dos

equipamentos e prestação de serviços técnicos

especializados, gerando ineficiências na operação.

Diante disso, é necessário que a referida Lei considere não só o preço, mas também a

qualidade/tecnologia envolvida em cada caso, de forma a não comprometer a qualidade

do empreendimento e permitir maior eficiência operacional dos serviços.

O estado de São Paulo, por exemplo, em dezembro de 2010, deu importantes avanços

nessa direção ao decretar que obras e serviços de engenharia e arquitetura deveriam ser

analisados por uma série de aspectos técnicos e não apenas pelo preço mínimo

oferecido (Decreto 56.565/2010). O aprimoramento célere do marco regulatório é

essencial para criar um novo ambiente de negócios no setor.

O atual processo licitatório, por ser burocrático, pode fazer com que um sistema de água

e esgoto leve de 6 a 8 anos para ser implantado. A partir desse fato, é necessário agilizar

o atual procedimento de compras públicas, permitindo a compra por soluções, através de

um planejamento e de um projeto conceitual consistente. A solução a ser apresentada

deverá considerar tanto critérios de preço de implantação e qualidade, bem como o custo

operacional desta solução. Este novo procedimento poderá reduzir o prazo de

implantação do empreendimento, contribuindo inclusive para que se alcance a

universalização dentro do prazo sugerido. O setor de Água e Esgoto é um assunto de

27

Regulamentada pelo decreto nº 7.217/2007.

28 Artigo 44 da Lei nº 11.445/2007.

Enforcement do marco

regulatório.

Inclusão do critério qualidade

nas licitações.

Criação de agências

municipais guiadas pelo nível

federal.

Difusão da educação sanitária

e ambiental.

Page 20: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.20

interesse municipal e, como tal, é regulado no município. Contudo, poucos municípios de

médio a grande porte (mais de 100 mil habitantes) possuem uma agência reguladora.

Entende-se que haverá um ganho para o setor se houver incentivos para criação de

Agências Regionais, como forma de incentivar a integração dos municípios por bacia

hidrográfica29.

O governo deve também incentivar programas de educação sanitária e ambiental na

Educação Básica e Fundamental. Adicionalmente, incentivar os programas de pós-

graduação em educação ambiental, pois, se o consumidor se conscientizar e cobrar

acesso e melhorias no setor, a universalização se tornará prioridade e acontecerá com

mais agilidade.

Outro papel que também caberia ao governo é que este poderia estipular um limite

mínimo das compras públicas (aquisição e/ou contratação de projetos, obras e

equipamentos), por exemplo de 60%, provenientes da industrial local. O objetivo principal

dessa ação seria o desenvolvimento da indústria nacional, inibindo as importações. As

consequências disso seriam o maior incentivo ao emprego, valorização da tecnologia das

empresas instaladas no Brasil e desenvolvimento da cadeia de fornecedores do setor do

saneamento.

d. Recursos

A universalização carece de expressivos recursos,

exigindo complementaridade entre recursos

públicos e privados com: incentivos a parcerias

estratégicas (Parcerias Público-Privadas - PPPs e

parcerias entre prestadores públicos) nos serviços

de água e esgoto, bem como definição de critérios

de elegibilidade para destinação de recursos

públicos, sobretudo a fundo perdido, garantindo-se

que sua aplicação ocorra em áreas mais carentes.

29

Isso porque a Lei do Saneamento prevê que os planos de saneamento básico deverão ser compatíveis

com os planos das bacias hidrográficas. Adicionalmente, essas agências, em nível municipal, poderiam

seguir diretrizes dadas pela esfera federal, de forma a terem padronização nas suas ações

Aumento do número de PPPs.

Recursos não-onerosos

atrelados a projetos e prazos.

Recursos previstos no Plano

Nacional para estudos e

projetos.

Desoneração fiscal

condicionada a investimentos

no setor.

Melhoria na Gestão.

Page 21: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.21

A aplicação de recursos nessas condições deve ocorrer mediante o acompanhamento de

um coordenador, com a responsabilidade de acompanhar os projetos, com ênfase no

prazo e no orçamento, condicionando o repasse de recursos ao andamento dos projetos.

Adicionalmente, sugere-se a criação de programas com recursos a fundo perdido e

linhas de financiamento federal para estudos e planos que possam ser

operacionalizados pelos estados e municípios, como forma de criar demandas

efetivas por projetos em todo país, agilizando inclusive a geração de novos projetos de

investimento. Dessa forma, os estados poderiam funcionar como tomadores de recursos

ao operacionalizar licitações em apoio aos municípios.

Com relação aos recursos não-onerosos, esses devem estar previstos no plano nacional

do setor (PLANSAB), com rubricas específicas para estudos e projetos no âmbito da

administração pública. Além disso, os recursos para instalações, máquinas,

equipamentos e construção das obras devem estar previstos no plano considerando os

futuros exercícios, já que os investimentos são de longo prazo.

Os recursos previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para obras no setor

devem, necessariamente, estar atrelados a projetos elaborados ou em elaboração. Para

que o controle seja possível, sugere-se a criação de um cadastro com todos os projetos

do setor nos diversos níveis de governo. O controle desses projetos no âmbito federal

ficaria a cargo do Ministério do Planejamento e no âmbito estadual e municipal ficaria a

cargo das respectivas Secretarias Estaduais.

Uma das medidas que poderiam ser implementadas para contribuir com a

universalização é o uso de PIS/COFINS. Isso poderia, por exemplo, ocorrer com a

isenção do PIS/COFINS atrelada a investimentos no setor e ao cumprimento de

metas de eficiência, o que poderia disponibilizar cerca de R$ 2 bilhões por ano, segundo

a AESBE (Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais). Outra medida

que poderia colaborar para a universalização é que o setor do saneamento seja de

alguma forma, contemplado com a partilha dos recursos provenientes do fundo social do

pré-sal.

Melhorias na gestão são fundamentais para que os recursos possam de fato

universalizar os serviços. Além disso, a melhoria da gestão também é capaz de gerar

recursos para o setor, por exemplo, através da redução da evasão de receita e da água

não faturada. É importante que se criem metas objetivas para as operadoras a partir de

indicadores de gestão e que essas metas sejam elaboradas com base nas prestadoras

com melhor performance, em cada um dos níveis de atuação.

Page 22: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.22

5. Conclusões

Para atingir a tão desejada universalização dos serviços, o presente estudo aponta para

duas proposições fundamentais:

a) Disponibilidade de recursos (públicos e privados) segundo a demanda.

Considerando investimentos da ordem de R$ 19,8 bilhões/ano em média (durante 15

anos – Cenário Otimista) ou R$ 17 bilhões/ano em média (por um período de 20 anos

– Cenário Realista).

b) Adoção de um novo modelo de desenvolvimento, resolvendo um a um os desafios

apontados e descritos nessa Agenda, nas áreas de Planejamento, Gestão,

Regulação e Recursos.

As duas propostas acima são necessárias e complementares, não sendo suficiente

atingir isoladamente apenas uma delas. Ambas devem ser implementadas,

simultaneamente, para permitir a universalização nos prazos sugeridos nesse estudo.

Page 23: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.23

Anexo I

O estudo “Dimensionamento das Necessidades para Universalização da Água e do

Esgoto” (PMSS 2003) estimou a necessidade de investimento para universalização dos

serviços até 2020. Com base nesse estudo, as instituições participantes deste relatório

realizaram uma extrapolação do período de análise considerando dois cenários para a

universalização: 2025 e 2030.

Dessa forma, o objetivo do presente estudo não é reproduzir a análise realizada no

PMSS 2003, mas simplesmente indicar, a partir do PMSS 2003, um direcionamento do

volume de investimentos necessários para universalização dos serviços de Água e

Esgoto no país, ampliando o horizonte temporal da análise.

O investimento necessário para a universalização estimada no PMSS 2003 está

amparado essencialmente por dois pilares: (i) demanda de infraestrutura física; e (ii)

preços de expansão e reposição do sistema.

A estimativa de demanda de infraestrutura teve como base a projeção de crescimento

populacional. Já as informações relativas aos preços representam um conjunto complexo

de premissas utilizadas, como também de difícil obtenção, o que inviabilizaria a expansão

do estudo do PMSS 2003 para 2025 e 2030.

Mesmo que a necessidade de investimento estimada para os cenários de 2025 e 2030

não tenha levado em conta diretamente os preços e a projeção de crescimento da

população, ela teve como fonte o PMSS 2003, que já incorpora tais elementos.

Tendo em vista a complexidade da obtenção das informações relativas aos preços, o

presente anexo se presta a comparar somente a outra premissa utilizada no PMSS 2003,

que é o crescimento populacional.

O que se constatou, conforme será mostrado abaixo, é que mesmo que a projeção da

população utilizada no PMSS 2003 não seja exatamente igual à projeção mais recente

divulgada pelo IBGE, isso parece não afetar substancialmente as estimativas de

investimento. Isso porque considerando o período todo na análise, de 2000 a 2020, a

população estimada por qualquer um dos dois métodos é muito próxima.

A partir disso, tem-se que os valores de investimento necessários para a universalização,

tanto os divulgados pelo PMSS como o valor expandido para 2025 e 2030 apresentado

nesse estudo, indicam a mesma ordem de grandeza para os investimentos necessários.

Page 24: Prop agenda saneam

Agenda para o Saneamento Ambiental no Brasil – p.24

A Tabela A1 mostra a premissa da população total utilizada no estudo do PMSS 2003 e a

projeção de população divulgada pelo IBGE.

Tabela A1 – População considerada pelo estudo do PMSS 2003 e projeção do IBGE

Fonte: PMSS 2003 e IBGE. Elaboração: LCA Consultores.

Ao analisar a taxa de crescimento anual para cada período de 5 anos, verifica-se que a

projeção do IBGE apresenta maior taxa anual de crescimento que a população

considerada no PMSS para o período 2000 a 2005. Entretanto, no período seguinte,

2006-2010, o PMSS considerou uma taxa anual de crescimento acima da considerada

pelo IBGE. O período seguinte, 2011 a 2015, o IBGE volta a apresentar maior taxa anual

de crescimento populacional, sendo superado no período posterior pela população

considerada no PMSS (tabela A2).

Tabela A2 – Taxa anual de crescimento populacional por período selecionado –

2000 a 2020

Fonte: PMSS 2003 e IBGE. Elaboração: LCA Consultores.

As projeções de população consideradas em cada caso, embora não sejam iguais, ao

longo do período todo ficam muito próximas. Isso indica que o valor estimado pelo PMSS

em 2003, oferecendo projeções até 2020, continua sendo uma base adequada para

indicar a ordem de grandeza da necessidade de investimentos para universalização dos

serviços de água e esgoto no que diz respeito à evolução populacional.

As instituições que fazem parte deste estudo calcularam a taxa de crescimento dos

investimentos em reposição e expansão da rede e aplicaram estas taxas de forma linear

para obter os investimentos necessários para a universalização em 2025 e 2030. A LCA

Consultores, com base no estudo realizado pelas instituições, validou as estimações

presentes neste relatório e atualizou os valores para reais de 2010, utilizando o IPCA

médio.

2000 2005 2010 2015 2020

PMSS 169.799.170 181.341.499 192.040.997 202.021.246 211.152.122

IBGE 169.799.170 183.383.216 190.732.694 200.881.685 207.143.243

2000 - 2005 2006 - 2010 2011 - 2015 2016 - 2020

PMSS 1,32% 1,15% 1,02% 0,89%

IBGE 1,55% 0,79% 1,04% 0,62%