prova de paixão - maureen child

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Page 1: Prova de Paixão - Maureen Child
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PROVA DE PAIXÃO – Maureen ChildMais de uma chance para amar…

O milionário Matt Hollis nunca deixou que uma mulher influenciasse sua carreira. Mas durante o casamento de seu melhoramigo com uma das herdeiras dos Lassiters, o coração de Matt foi roubado pela madrinha da noiva. Kayla Prince é muito mais doque ele havia planejado. Contudo, ela está dividida. Matt a deixara por um negócio em Los Angeles e agora a quer de volta?Ainda que ele a tivesse enganado no passado, parecia que a segunda vez seria para valer. Entretanto, uma noite fatal colocaria àprova o relacionamento.

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Maureen Child

PROVA DE PAIXÃO

TraduçãoLigia Chabu

2015

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Capítulo 1

– SABE QUE amo você, certo? – Kayla Prince olhou para a pessoa sentada a sua frente no CaféSomething Hot, no centro de Cheyenne, Wyoming.

– Eu sei.– E sabe que faria qualquer coisa por você.– Com certeza.– Então, imploro – continuou Kayla, de forma lastimosa –, por favor, por favor, por favor, não

me faça andar ao longo da nave na igreja no seu casamento, com aquele homem.A melhor amiga de Kayla, Angelica Lassiter, riu e balançou a cabeça para tirar seu cabelo loiro

do rosto.– Quanto drama.Kayla recostou-se contra o assento do banco.– Ora, Angie, seja diferente. Seja aquela que dita uma nova tendência. Faça o padrinho entrar

na igreja com a daminha de honra, que vai carregar as flores.– Certo, porque isso ficaria lindo.Desespero preencheu o tom de voz de Kayla em seu próximo argumento:– Então, deixe-me ser a dama de honra. Encontre outra madrinha. Não ficarei magoada. – Ela

cruzou os dedos sobre o coração. – Sinceramente.– Não há como escapar disso. Você é a madrinha, Kayla. É a minha melhor amiga.– Nós poderíamos ter uma briga – alegou ela, esperançosamente. – Uma briga feia. E fazer as

pazes depois do casamento.– Nós nunca brigamos – ponderou Angelica.

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Não, é claro que elas não brigavam, Kayla disse a si mesma com tristeza. Quem poderia brigarcom Angie? Ela era linda, amável, engraçada e inteligente. E estava prestes a se casar com umhomem cujo melhor amigo, por acaso, era o homem que irritava Kayla de maneira inacreditável.

– Tudo isso para evitar Matt?Olhando para seu café com uma careta, Kayla tentou ignorar o fato de que estava sendo uma

grande covarde... o que nunca era, de modo geral. Desde criança, tendo sido criada por uma mãesolteira para ser muito independente, Kayla sempre acreditara em lutar pelo que queria. Ela fizerafaculdade em Los Angeles, onde ela e Angelica tinham dividido um apartamento e, então, setornado melhores amigas. Kayla estudara artes e adorara, no entanto, ao longo do caminho, tinhaadmitido que nunca seria a grande artista que sonhara ser. Mas reconhecia a grandeza quando avia, e então, trabalhara em algumas pequenas galerias, aprendendo e adquirindo experiência. Senão seria uma artista, decidiu que poderia, pelo menos, estar cercada por arte.

Nas férias escolares e feriados, Kayla havia visitado a cidade natal de Angie, Cheyenne,diversas vezes, e se apaixonado pelos espaços abertos de Wyoming. Então, quando lhe ofereceram oemprego dos sonhos na Cheyenne Art Gallery, Kayla deixara Los Angeles para trás e agarrara achance. Na galeria, era cercada por arte... esculturas, pinturas, gravuras. Era parte do mundocriativo, e estava numa posição de ajudar a promover os artistas talentosos que confiavam seustrabalhos a ela.

Graças ao seu relacionamento com Angie, Kayla também era conselheira particular de artepara a coleção Lassiter. Cheyenne tinha se tornado seu lar nos últimos anos. Ela possuía umpequeno chalé na cidade, um carro que estava pago e uma vida social saudável que incluíra atémesmo alguns homens interessantes. Até que conhecera Matt Hollis. É claro, depois de conhecerMatt, todos aqueles homens não tinham mais nenhum significado.

– Matt ficou nos escritórios de Lassiter Media, na Califórnia, por nove meses – disse Angelica.– Não foi tempo o bastante para você superar seja lá o que tenha acontecido para você se zangarcom ele?

Nem de perto.Um misto de embaraço, luxúria e raiva inundou Kayla quando lembranças passaram por sua

mente num borrão de cores. No ano anterior, quando Angelica e Evan haviam ficado noivos,decidiram que seus amigos precisavam ser amigos, também. Portanto, para fazer aquilo acontecer,Angie combinara um encontro duplo para os quatro.

Pesadelo.

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Matt Hollis era um sujeito arrogante que irritara Kayla profundamente naquela noite ilustre.Era lindo e inteligente, e costumava ter mulheres aos seus pés, repletas de necessidades hormonais.Quando Kayla conseguira resistir ao impulso de se atirar naquele peito másculo, Matt tomaraaquilo como um desafio direto.

Pelos próximos dois meses, toda vez que se encontravam, Matt achava um jeito de tocá-la, deestar perto dela. Mesmo quando estavam discutindo, que era a maior parte do tempo, havia umatensão sexual entre os dois que parecia crescer cada vez mais. Inevitavelmente, aquela tensãoexplodira uma noite, depois que os quatro tinham saído para dançar. No momento em que Evan eAngie finalmente foram embora, Matt e Kayla estavam prontos para arrancar o cabelo um do outro.

É claro que, no final, lembrou ela, tinham acabado arrancando as roupas um do outro, masAngie não precisava saber do ocorrido.

Como também não precisava saber que aquela única noite explosiva com Matt Hollis aindaestava perseguindo os sonhos de Kayla.

Assim como o fato de que, poucos dias depois, ele partira para os escritórios da Lassiter Mediana Califórnia, onde permanecera pelos últimos nove meses. Agora, estava de volta para ocasamento e para resolver alguns assuntos da Lassiter Media na região, e Kayla não queria vê-lo denovo. Bem, ela queria, mas não queria.

Era tudo muito complexo.Mas não podia dizer nada daquilo a Angie.– Ele apenas não é meu tipo favorito de pessoa, certo?– Eu entendi isso. Mas o casamento será dentro de duas semanas, portanto, você pode, pelo

menos, fingir que não o odeia até a alma, por este tempo? – Angie ergueu sua xícara de café numasaudação. – Uma vez que Evan e eu partirmos para nossa lua de mel, Matt vai voltar para oescritório de Los Angeles, e vocês dois poderão continuar evitando um ao outro, certo?

– Eu não disse que o odeio até a alma – murmurou Kayla. Seria tão mais fácil se o odiasse.Em vez disso, como uma pessoa completamente louca, Kayla ainda o queria. Apesar de tudo...

incluindo o fato de que, depois da noite incrível dos dois, não houvera... nada. Ele não telefonara.Provavelmente, nem pensara mais um segundo nela. Oh, soubera que Matt se mudaria para aCalifórnia, mas ele não se incomodara sequer em dizer “obrigado pelos bons momentos”. E agora,estava de volta. Por mais brevemente que ficasse lá. Pelo bem de seu próprio orgulho, teria de fingirque nada tinha acontecido entre eles.

Oh, as duas semanas seguintes iam ser tão divertidas!

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– Vamos parar de falar sobre Matt – disse Kayla, abruptamente, não querendo dar a ele maisnem um minuto de seu tempo. – Como estão as coisas entre você e Evan?

Angie deu de ombros.– Focadas nos preparativos para o casamento. Você sabe. Contagem regressiva para o grande

dia, de modo que estamos ambos muito ocupados. – Ela consultou o relógio fino de ouro no seupulso, deu um último gole rápido no café e colocou a xícara sobre a mesa. – Evan está ótimo. Nósestamos ótimos. Ouça, sinto muito, querida, mas preciso ir. Tenho uma reunião em vinte minutose, se não sair agora, chegarei atrasada.

Franzindo a testa de leve, Kayla disse:– Tudo bem, claro. Você ainda vai à exposição esta noite?– Eu não perderia. Sei que você trabalhou semanas para organizar a exposição. – Angelica

levantou-se, pegou sua bolsa de couro marrom e sorriu. – Estaremos lá. Todos nós.Kayla congelou.– Todos?Angie piscou-lhe.– Eu, Evan e Matt.Kayla sentiu um estranho friozinho na barriga, sobre o qual realmente não queria pensar.– Por que você está me punindo?– Porque é tão divertido! – Angie sorriu e acrescentou: – Além disso, depois da exposição,

Evan quer ir ouvir uma nova banda sobre a qual ouviu falar, a fim de, talvez, contratá-la para arecepção do casamento.

– Eu pensei que vocês já tivessem escolhido a banda.– Eu escolhi. – Angie torceu o nariz. – Evan quer alguma coisa diferente.– Ficando gentil no último minuto, certo?– É o que parece. – Ela checou seu relógio mais uma vez, e começou a andar. – Eu tenho de ir.

Até mais tarde.Kayla observou sua amiga sair apressadamente do Café, e não pôde evitar pensar que, cada vez

mais, nos últimos tempos, seus almoços com Angie eram interrompidos por causa de compromissosprofissionais. Angie sempre tinha sido a herdeira aparente da Lassiter Media e se devotado a ajudara empresa a crescer e se expandir. Mas desde que a saúde do pai dela, J.D. Lassiter, tivera um sériodeclínio, alguns meses atrás, a devoção de Angie parecia ter dominado a vida dela por completo.Ela vinha dividindo seu tempo entre os escritórios de Cheyenne e Los Angeles, há anos, porém,ultimamente, passava mais tempo em Wyoming, a fim de estar mais perto do pai... enquanto

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também cuidava dos preparativos finais do casamento. Na verdade, pensou Kayla, Angie estavaocupada demais.

Não que Kayla tivesse um problema com uma mulher que amava sua carreira e era boa no quefazia. Ela mesma adorava cada minuto de seu trabalho como gerente na galeria. Mas parecia que,ultimamente, Angie estava deixando a vida passar despercebida. Ora, ela e Evan mal ficavam juntosnos últimos tempos, e isso preocupava Kayla. Preocupava-a mais ainda o fato de que Angie nãoestava preocupada com aquilo. Certa época, haviam sido inseparáveis, mas esses dias tinhamacabado.

Kayla não queria ver sua amiga perder o homem que amava porque estava seduzida por seupróprio sucesso. Certo, não uma atitude muito feminista, mas todos tinham direito a sua própriaopinião, não tinham?

Preguiçosamente, pegou seu café e deu outro gole, enquanto olhava para o centro da cidadede Cheyenne. O vento estava assobiando, pedestres se aconchegavam mais aos seus casacos, e o céuparecia prestes para derramar neve numa cidade que estava mais do que pronta para a primavera.Mas assim era o clima de Wyoming. Eles podiam ter neve em maio e calor em dezembro.

– Mas, oh, por favor, não – murmurou ela. Ter de lidar com Matt Hollis era mais do que obastante. Ela não precisava de uma nevasca, além disso.

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Capítulo 2

– VOCÊ NÃO precisa da minha companhia para ouvir a banda – protestou Matt, mesmo enquantoEvan ria.

– Isso não se trata da banda – disse Evan após um minuto. – Você tem evitado Kayla desdeque chegou em Cheyenne.

– Não evitado, exatamente – argumentou Matt, parando do lado de fora da galeria de arte,onde deveriam encontrar Angie e Kayla. Ele soubera que voltar para Wyoming significava ver Kaylanovamente. Mas planejara fazer isso em seu próprio tempo. E não quisera ninguém por pertonaquele primeiro encontro.

Por outro lado, com Angelica e Evan lá, Kayla provavelmente não se recusaria a falar com ele.Provavelmente.

– Eu estava ocupado. Ora, você também trabalha para Lassiter Media – apontou Matt. – Sabecomo o ritmo de trabalho é frenético lá.

– Entretanto, consigo ter uma vida.– Nem tanto, ultimamente, pelo que eu vi – murmurou Matt, observando a expressão de

Evan. – Você e Angie não têm muito tempo, juntos.Evan franziu o cenho de leve.– Ela sempre foi viciada em trabalho, mas sim, desde que a saúde do pai dela piorou, as coisas

estão mais intensas. E com nós dois passando mais tempo em Cheyenne, ultimamente, está muitofocada.

– Entretanto, você não está perturbando Angie, como está me perturbando.Evan riu e balançou a cabeça.– Eu não acredito nisso.

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– No quê? – perguntou Matt. – Do que você está falando?– Você está protelando – replicou Evan, claramente divertido. – Eu nunca o vi fugir de coisa

alguma, mas você está realmente hesitando reencontrar Kayla. – Meneando a cabeça, eleacrescentou: – O que aconteceu entre vocês dois, afinal de contas?

Fazendo uma careta, Matt passou uma das mãos através do cabelo e virou o rosto para o ventogelado.

– Uma longa história, a qual não estou interessado em compartilhar, obrigado.– Melindroso.Ele olhou para Evan com irritação.– Você não tem ideia.– Você não precisa gostar dela, sabia? – Evan aconchegou-se mais em seu sobretudo preto,

num esforço de espantar as rajadas de vento. – Seja apenas educado.Educado.Matt engoliu a risada sardônica que estava à base de sua garganta. Ele não teria o menor

problema em ser educado com Kayla. A parte difícil seria manter as mãos longe dela.Pelos últimos nove meses, Matt estivera na Califórnia, gerenciando a divisão de marketing de

Lassiter Media. Ele aceitara a promoção e a mudança para Los Angeles, e considerara umavantagem extra o fato de que poderia colocar alguma distância entre Kayla e ele, e que poderiapensar claramente. Se ele tivesse ficado em Cheyenne, nunca teria sido capaz de entender o queestava pensando... sentindo.

Kayla o pegara de surpresa, pura e simplesmente. Houvera química entre eles desde o começo,e a primeira e única noite que tinham passado juntos o abalara até a alma. Nunca antes, nem desdeKayla, ele experimentara o que tivera naquela noite espetacular. Ela virara seu mundo de ponta-cabeça, e o perturbara tanto que ele precisara de espaço. De tempo.

E isso não ajudara.Não mudara absolutamente nada.Ele ainda queria Kayla.Matt seguiu Evan para dentro da galeria, e foi imediatamente envolvido por calor e barulho.

Música clássica... um som lento e adorável... tocava, mal ouvido pelo murmurinho de conversas quesó aumentava, e parecia ondas batendo contra a praia. Multidões de pessoas... vestidas emsmokings, ternos e vestidos brilhantes em cores de joias, andavam pelo espaço elegante, admirandoas pinturas e fotografias espalhadas nas paredes cor de creme. Esculturas de metal, madeira emármore estavam expostas em bonitos pedestais, sob iluminação localizada.

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Matt viu tudo, entretanto mal notava. Removeu seu sobretudo, colocou-o sobre o antebraço eestudou a multidão, procurando por uma mulher em particular, a que vinha perseguindo seussonhos por nove meses intermináveis. Quando finalmente a avistou, Matt teve a sensação maisbizarra... um estranho misto de calma e excitação, que percorreu seu organismo como um vírus,espalhando-se rapidamente, até que ele mal conseguisse respirar.

O cabelo de Kayla batia nos ombros, e os cachos sedosos castanho-claros tentavam um homema passar os dedos por eles e sentir sua maciez. Mesmo num mar de pessoas sofisticadas e na moda,e mesmo usando preto, Kayla destacava-se. Preto era uma cor que apenas acentuava a pele alvadela e o vestido estava colado às curvas que ele ansiava explorar novamente. Quando seus olharesse encontraram, Matt notou uma breve reação de choque e prazer nos olhos azuis de Kayla. Umrubor coloriu as faces dela, mas não era de embaraço ou desejo... era de raiva.

E como ele poderia não achar aquilo excitante?– Ei – disse Evan –, eu estou vendo Angelica perto daquela escultura estranha de pássaro.

Encontro você mais tarde, certo?– Claro. – Matt nem mesmo viu seu amigo saindo. Não conseguia tirar os olhos de Kayla.Pessoas entravam e saíam da linha de visão que unia Kayla a ele, mas nada poderia abalar a

conexão viva e vibrante entre os dois.Ela sentia tal conexão também. Ele podia ver isso nos olhos azuis, nos lábios firmes e carnudos.

Assim como podia ver que não estava feliz com os próprios sentimentos. Matt teve de reprimir umsorriso de satisfação. Era bom saber que ele não era o único sendo contorcido em nós. Kayla nãoera uma mulher fácil de entender.

O que era uma das coisas que ele mais gostara nela.Era simples demais entender a maioria das mulheres com quem ele havia se envolvido ao

longo dos anos. Elas apreciavam estar em sua companhia, porque ele tinha acesso aos ricos,poderosos e famosos. Mas Kayla era diferente. Enxergava a vida através de olhos que procuravam...e encontravam... beleza nos lugares mais improváveis. Ela não estava interessada na sociedade ounas conexões que poderia fazer através de Matt.

Ela o quisera. E isso mexera com Matt. Muito. Porque ele sentira o mesmo em relação a ela.Desde o primeiro momento em que a conhecera, soubera que com Kayla seria diferente. Que tinhaa habilidade de quebrar suas defesas e deixá-lo de joelhos. E essa não era uma posição que eleestava acostumado a se encontrar.

Memórias surgiram na sua mente, causando uma sobrecarga sensorial. Ele recordou-se dasdiscussões, das conversas, da incrível tensão que pairara entre os dois em cada momento que

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passaram juntos.Acima de tudo, todavia, Matt lembrou-se da única noite que haviam compartilhado. O desejo

frenético que conduzira o ato de amor desesperado. O desejo descontrolado que roubara cadapensamento racional.

Apenas a lembrança daquela noite fazia seu corpo ficar rijo como uma pedra e seu cérebroentorpecer, até que a única coisa na qual ele podia focar era ela. Quase nove meses longe de Kayla,numa ausência voluntária, e estava tão fresca em sua cabeça quanto estivera na manhã seguinte ao“encontro” deles.

Era por isso que ele partira. Por isso que tivera de ir e colocar meio país entre eles. Amor nãoera parte do plano. Ele era focado em sua carreira, e não tinha tempo... ou inclinação... para sedesviar do plano que vinha guiando seus passos desde o ensino médio.

Mas sentira a falta dela.Ela ergueu o queixo, jogou a cabeça para trás, a fim de afastar mechas de cabelo do rosto, e

começou a andar na sua direção. A multidão pareceu se abrir para ela, como uma série demovimentos orquestrados. Ela era fascinante. O cabelo, os olhos, a curva dos quadris e o jeito queaqueles quadris balançavam de maneira convidativa, quando andava.

Tudo sobre Kayla falava de uma mulher sexy e poderosa... e isso realmente mexia com ele.O barulho dos saltos dela contra o piso de mármore soava como pequenos tiros, mesmo sobre

o ruído das pessoas que os cercavam. Ela nunca parou. Nunca hesitou. Até que parou bem nafrente dele.

O perfume de Kayla o alcançou, fazendo-o sentir o gosto dela cada vez que respirava. Elefitou-lhe os olhos, viu-os brilhar, e soube que estava encrencado.

– Você está aqui para o casamento?A voz de Kayla era suave e fria, com um toque de aço que Matt lembrava muito bem.– Sim.– E depois, você volta para Los Angeles?– É onde moro agora, Kayla.Ela assentiu, cruzou os braços sobre o peito e olhou em volta do salão lotado, antes de encará-

lo, novamente.– Evan o arrastou para cá esta noite, não foi?– Não – mentiu Matt, e disse a si mesmo que, mesmo se Evan não tivesse insistido para que

ele fosse, ele não teria conseguido ficar longe dela por muito mais tempo. Kayla o atraía de maneirainexorável, e ele estava cansado de lutar contra essa atração.

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– Certo, porque não há nada que você goste mais do que uma boa exposição de arte numagaleria – disse Kayla, os lábios se curvando num sorriso malicioso.

Matt riu, e percebeu que sentira falta daquilo, também. Da disputa verbal, da tensão quefervilhava entre eles, logo abaixo da superfície.

– Você me descobriu. Minha fraqueza secreta. – Aquilo não era totalmente brincadeira. Claro,ir a galerias de arte não era um programa usual para Matt, mas observá-la com os clientes eraalguma coisa que ele pagaria para ver. Kayla tinha tanto conhecimento, e o amor dela pelo mundodas artes brilhava nos olhos azuis. Que homem não ficaria fascinado por ela?

– Então, como é a Califórnia?Ele afastou seus pensamentos dispersivos... um homem precisava se concentrar quando

conversava com Kayla.– Cheia e agitada.– Você não ama todo aquele sol e glamour?– O sol enjoa, e estou sempre muito ocupado, trabalhando, para me interessar pelo glamour.– Sei. – A ponta do sapato dela bateu contra o piso de mármore. – E no que você está

interessado, Matt?– Em você.

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Capítulo 3

AS DUAS palavras escaparam antes que Matt se desse conta, e ele viu o choque nos olhos dela, antesque a emoção fosse substituída por incredulidade. Mas ora, ele falara apenas a verdade. Ela ointeressava. O bastante para que ele tivesse ficado longe de Cheyenne, em vez de enfrentar o queela poderia significar. O bastante para que ficar parado ali, diante de Kayla, e não ser capaz de tocá-la, fosse torturante.

– Não faça isso – murmurou ela. – Simplesmente... não faça isso.Ótimo começo, Matt disse a si mesmo, então falou rapidamente:– Ouça, Kayla, agora que estou na cidade...– Por alguns dias, certo?– Sim. – Sabia o que ela queria dizer com aquilo, mas não podia culpá-la.– Ainda muito ocupado para pegar um telefone?Matt não estava surpreso. Kayla Prince não era do tipo tímida e reservada. Ela não fazia jogos.

Com ela, você sempre sabia qual era a sua posição. Quisesse saber ou não.– Você realmente quer fazer isso aqui? Agora?Como se, de súbito, lembrando exatamente onde estavam, ela respirou fundo e assentiu com

um gesto de cabeça enfático.– Você tem razão. Eu não quero fazer isso agora. Na verdade, não quero fazer isso nunca.– Mentirosa.Ela enrubesceu, e a boca carnuda se comprimiu numa linha fina.– Você não tem o direito de esperar nada de mim.– Eu não disse que tinha – replicou ele, calmamente. – Mas nós dois sabemos que precisamos

conversar sobre o que aconteceu.

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– Não, não precisamos. – Ele meneou a cabeça, e o cabelo se levantou, antes de cascatear sobreos ombros novamente. – Acabou tudo. Acabou nove meses atrás, Matt.

– Kayla...Ela balançou a cabeça outra vez, e o encarou.– Você não acha isso um pouco irônico?– O quê?– Nove meses atrás, você partiu sem me dizer uma palavra. E agora quer conversar?Irritado, ele disse:– Ora, Kayla, vamos lá.– Não – negou ela, dando um passo atrás, como se precisasse de distância física para manter a

distância emocional que já brilhava nos olhos azuis. – Nós estamos no mesmo casamento. E isso étudo que compartilhamos agora, Matt. Vamos apenas passar as próximas semanas com o máximode dignidade que conseguirmos, certo?

Havia muita coisa que Matt queria falar, e mais coisas que precisava falar, mas como acabarade apontar para si mesmo, estes não eram a hora ou o lugar.

– Agora – continuou Kayla, pondo seu melhor sorriso profissional no rosto – , tome um poucode champanhe, dê uma volta e veja o que nossos artistas têm a oferecer, e divirta-se.

Claro, pensou Matt, observando-a atravessar a multidão, encantando tanto a homens quantomulheres. Ele se divertiria. Enquanto seu corpo estava tenso e excitado e usando toda sua força devontade para se impedir de virá-la sobre seu ombro e sair noite afora.

NO MOMENTO em que chegaram à boate, onde a banda que Evan queria ouvir estava tocando, Kaylasentia como se cada terminação nervosa de seu corpo estivesse em alerta. Sentira Matt observando-a durante a noite inteira, e isso tinha tirado seu equilíbrio. Ela deveria dar o melhor de si para osartistas locais e, embora a exposição tivesse ido bem, de maneira geral, Kayla ainda sentia umaponta de culpa, porque não estivera focada em seu trabalho. Em vez disso, passara horas lutandopara afastar os pensamentos de Matt da cabeça, assim como para afastar os olhos dele.

Deus, por que ele tinha de ser tão incrível? Matt estava até mesmo bronzeado, devido aotempo passado na Califórnia, e aquele tom dourado da pele causava um brilho quase sobrenaturalaos olhos verdes.

Ela conseguira ficar longe dele até que tivessem chegado ali, na boate. Agora, os quatroestavam apertados em volta de uma mesa pequena, e Matt aproveitou a oportunidade para roçar a

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perna contra a sua. Com cada pequeno toque, Kayla tremia, e não achava que Angie estavacomprando sua desculpa de ainda sentir o frio do lado de fora. Porque tais tremores não eramcausados para temperatura baixa, mas pelo calor que somente Matt podia gerar em seu interior.

Droga.Eles realmente não tinham conseguido conversar muito, graças a Deus, porque a banda estava

tocando sem parar desde que os quatro haviam chegado. Mas mesmo enquanto o pensamentopassava por sua cabeça, a pequena benção acabou, quando a música parou de repente, e o cantorprincipal anunciou que fariam um intervalo. O silêncio preencheu o salão e, então, foi quebrado,segundos depois, pelo começo de conversas e risadas vindo das mesas em volta. Agora, era a suachance de ir embora, pensou Kayla, mas antes que pudesse falar, Angie o fez.

– Evan e eu vamos para casa. Acho que ouvimos o bastante, não acha?Evan assentiu.– Concordo. Nós manteremos a banda que já havíamos contratado.Desconfiada, Kayla olhou para sua amiga a tempo de vê-la enviando um sorriso secreto para

Evan. Exatamente como pensara, Angie tinha armado tudo aquilo, como uma maneira de forçarKayla e Matt a se unirem, mais uma vez. Bem, isso não ia funcionar.

Kayla pegou sua bolsa rapidamente para partir também, mas sua melhor amiga a deteve.– Kayla, por que você e Matt não ficam mais um pouco? Talvez a banda melhore.Ela meneou a cabeça.– Oh, acho que não...– Nós ficaremos, com prazer – interrompeu Matt, pondo uma mão no braço de Kayla, a fim de

mantê-la no lugar.Ela tentou desesperadamente ignorar a onda de calor que subiu pelo seu braço, para queimar

no centro de seu peito. Um toque, pensou Kayla. Um toque de Matt, e ela estava em chamas. Issonão era justo. Seu corpo não aprendera a lição dura que seu cérebro tivera durante os últimos novemeses? Que ela não poderia se permitir importar-se? Que não poderia confiar no que sentia porMatt, porque ele, claramente, não estava interessado?

– Isso é ótimo – aprovou Evan, pegando a mão de Angie. – Vemos vocês depois.– Certo. – Matt já tinha desviado o olhar de seus amigos para Kayla, e ela não podia se

esconder da intensidade dos olhos dele.Quando estavam sozinhos, novamente, Kayla pegou sua taça de vinho, deu um longo gole e,

então, colocou-a sobre a mesa, antes de falar:– Muito bem. Por que você não fala logo o que tem a dizer, e acaba com isso de uma vez?

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Capítulo 4

– BOM VER você de novo também.Kayla respirou fundo e exalou.– Eu acho que nós já passamos do estágio de nos preocuparmos com a coisa da “educação”,

não acha?– Tudo bem. – Ele estendeu o braço, cobriu-lhe a mão com a sua, e segurou-a, quando ela

tentou recolhê-la. – Vamos falar sobre aquela noite.Ela agitou-se, o calor em seu peito se espalhando por todo seu organismo, como um fogo fora

de controle.– Eu preferia não falar sobre isso.– Que pena.Ela ergueu os olhos para ele. O aperto em sua mão se tornou mais forte.– Solte-me, Matt. – Kayla falou as palavras através de dentes cerrados.– Se soltá-la, você vai fugir.– Não sou eu a fugitiva, sou? Foi você quem fugiu para a Califórnia, lembra?Ele franziu o cenho.– Sim, lembro. E você lembra que eu tinha aceitado uma promoção?– Eu me lembro de você não se dando ao trabalho de me telefonar antes de partir.Não havia muito o que ele pudesse dizer em resposta àquilo.– Além disso – continuou Kayla –, por que fugiria? Não tenho medo de você.– Mentirosa – sussurrou Matt, um sorriso suave curvando sua boca.Bem, aquilo foi o bastante para enrijecer a coluna de Kayla e fortalecer sua força de vontade.

Ela não tinha medo de Matt, mas temia o que sentia por ele. Naturalmente, admitir isso em voz alta

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estava completamente fora de questão. Kayla não lhe daria mais munição para ser usada contra ela.Ainda estava muito vulnerável a Matt, gostasse de reconhecer isso ou não, e, de maneira alguma, iase abrir para mais dor.

Ele a magoara quando a deixara sem uma palavra. E os últimos nove meses tinham sidolongos, frios e solitários. Kayla estava cheia daquilo.

Em volta deles, casais estavam sentados a pequenas mesas, se inclinado um em direção aooutro, sorrindo, rindo, conversando. Garçonetes se moviam pelo salão, servindo pratos e bebidas. Otinir de louça de vidro e o murmurinho de conversas se tornaram um barulho de fundo.

Kayla fitou os brilhantes olhos verdes de Matt, e resistiu à vontade de estender a mão e tiraruma mecha de cabelo castanho da testa dele.

Dedos quentes e longos deslizavam por sua pele, e ela lutou, com desespero, para se agarrar aocontrole e à força de vontade que desenvolvera ao longo dos últimos meses. Não foi fácil.

– Eu não liguei. – As três palavras capturaram a sua atenção e a prenderam.– Sim, isso eu sei – replicou ela, brevemente. A memória era rica, e tão clara que ainda possuía

o poder de ferir seu coração, despertando as fantasias ridículas que tinham resultado daquela únicanoite incrível que passara com Matt. Uma deliciosa tensão se construíra durante os dois mesesanteriores a tal noite, finalmente explodindo num momento no tempo que ainda tinha a habilidadede acordá-la no meio da noite com um desejo que não podia ser saciado.

– Eu ia ligar – disse ele, e Kayla irritou-se.– Verdade? O que o impediu? Você foi abduzido por alienígenas?Um canto da boca dele curvou-se num sorriso.– Não exatamente.– O que houve, então? Quebrou o dedo que digita números? Não conseguiu encontrar um

telefone? – Sim, seu sarcasmo soava cruel. Mas, durante nove meses, mágoa e raiva haviamconsumido Kayla e parecia que agora era o momento de extravasar esses sentimentos.

– Nenhuma dessas coisas aconteceu – disse Matt, mantendo o tom de voz baixo, apesar dobarulho em volta. Passando uma mão pelo cabelo escuro grosso, ele prendeu-lhe o olhar e falousimplesmente: – É complicado.

– Tão complicado que você não foi capaz de usar os últimos nove meses para surgir com umaexplicação.

– Sim – admitiu ele. – Alguma coisa assim.Era incrível que Kayla ainda pudesse se sentir desapontada. Ferida. Ele não estava lhe

contando nada novo. Não estava nem mesmo tentando explicar o que tinha acontecido depois da

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noite dos dois, juntos. E não ia ficar sentada lá, fingindo que estava tudo bem.– Ótimo. – Ela levantou-se, novamente, e, desta vez, ele não tentou impedi-la. – Fico satisfeita

por termos esclarecido tudo.– Aonde você vai?– Para casa. – Kayla olhou ao redor e voltou a encará-lo. – Não faz sentido ficar agora, faz? –

Não era exatamente uma pergunta.– Suponho que não – concordou ele e levantou-se. Mexendo dentro do bolso, Matt pegou um

maço de notas dobradas, retirou duas delas dali e jogou-as sobre a mesa. Então, segurou o cotovelode Kayla e conduziu-a em direção à porta, antes que pudesse escapar de seu alcance.

No frio do lado de fora, ele soltou-a, e ela vestiu o casaco. Fechando as laterais ao seu redorcomo se o casaco fosse uma armadura, disse:

– Adeus, Matt.– Eu a levarei para casa.O coração de Kayla bateu mais acelerado.– Não é preciso. Eu estou de carro.– Tudo bem. Eu a seguirei, então.– Isso não é necessário. – Ela deu um passo além dele.Matt moveu-se para frente dela, bloqueando o caminho.– Para mim, é.– Perdoe-me se não estou interessada no que é importante para você.– Você pode continuar me criticando, ou pode me ouvir em algum lugar mais reservado. – Ele

fitou-lhe os olhos. – Qual vai ser?Kayla estava dividida. Queria saber por que desaparecera tão abruptamente depois do que ela

considerara a noite mais romântica e mágica e transformadora de sua vida. Mas também não queriamostrar que se importava. Todavia, quanto mais tempo encarava aqueles olhos verdes, maisconvencida ficava de que nunca conseguiria superar a memória de Matt se não o ouvisse, a fim deobter algumas respostas e encontrar o fechamento necessário daquela história. Fechamento... Deus,ela detestava esta palavra.

– Tudo bem. Você pode me seguir até em casa.– Você ainda mora no mesmo lugar?Sua pequena casa estilo chalé, nas margens de Cheyenne.– Sim.– Muito bem, então. Nós conversaremos lá.

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Oba!

O QUE ele deveria dizer? Durante o curto trajeto para a casa de Kayla, a mente de Matt girava,saltando de uma ideia à outra, nunca se fixando em uma. Não havia uma maneira fácil de dizerque conhecê-la, ir para cama com ela, o tirara de seu estado de tranquilidade.

Kayla era o motivo pelo qual ele aceitara a promoção de bom-grado e se mudara para aCalifórnia... e, mais importante, ela era o motivo pelo qual Cheyenne ainda o perseguia. Ele nãoconseguira tirá-la da cabeça. Não tinha sido capaz de convencer a si mesmo que era apenas maisuma mulher. Apenas outro flash passageiro num radar que estava tão bem ajustado que eleconseguira evitar compromisso pela maior parte de sua vida.

E era por isso que Kayla o abalara tanto. Matt estava tão acostumado a navegar suavementeem seus encontros românticos que quando conhecera Kayla, ela lhe tirara o equilíbrio. Nosprimeiros dois meses depois que ele a conhecera, esforçara-se para convencer a si mesmo de quenão havia nada especial lá. Que estava sendo uma reação exagerada, porque o irritava em tantosníveis. Todavia, aquela irritação era, na realidade, apenas uma forma de tensão sexual tão intensaque lhe roubava o fôlego. E, uma vez que ele tivera Kayla sob seu corpo, sobre seu corpo... uma vezque se enterrara profundamente no calor úmido dela, não fora mais capaz de mentir para simesmo. Ela era diferente. Especial.

E Matt não estava pronto para uma mulher especial.A questão era: ele estava pronto agora?E se estivesse, poderia convencê-la a ir embora de Cheyenne com ele? Ou Matt voltaria para

casa, a fim de ficar, com carreira ou sem carreira?Ele parou o carro no meio-fio, do lado de fora do pequeno chalé de Kayla. Da última vez que

tinha ido lá, era verão, e os canteiros de flores estavam repletos de cores e aromas. Agora, o climaainda era de inverno em Cheyenne, e as plantas estavam murchas, a frente da casa, escura. Então,seu olhar fixou-se em Kayla, enquanto ela subia o caminho de acesso e parava sob a luz da varanda,destrancando a porta.

Matt levou apenas segundos para chegar lá, e então a seguiu para dentro da casa. Exatamentecomo lembrava, o lugar era pequeno, porém confortável. Ela colecionara peças de artistas locais,que estavam espalhadas pela sala de estar. Havia um sofá verde e duas poltronas, uma na frente daoutra, diante de uma lareira de pedra. Quando Kayla apertou um interruptor, poças de luz douradacaíram sobre o piso de madeira.

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Matt colocou seu casaco sobre o encosto do sofá e virou-se para encontrar os olhos azuis que ovinham perseguindo há meses.

– Você é tão incrivelmente linda – murmurou ele, sem pensar.Ela balançou diante de suas palavras, como se tivesse sido fisicamente golpeada.– Não fale isso – disse ela, meneando a cabeça com veemência. – Eu estou tão furiosa com

você que não quero ouvir esse tipo de coisa.Os olhos de Kayla brilhavam, e sim, havia fúria neles, mas ele viu desejo, também. O mesmo

desejo que o consumia.– Eu entendo. Você está com raiva. Mas raiva me diz que você ainda se importa. Do contrário,

o sentimento negativo teria desaparecido há muito tempo.Ela mordiscou o lábio inferior, mas não negou as palavras. Aquilo era suficiente para ele. Matt

não aguentava mais. Ficara longe de Kayla por muito tempo, desejara-a demais. Em poucos passoslongos, ele estava em pé na frente dela. Então, segurou os ombros delgados, puxou-a para maisperto e beijou-a.

Por uma fração de segundo, pensou que Kayla se afastaria, mas aquele momento passou e,então, estava se inclinando contra ele, correspondendo ao seu beijo, como se sua vida dependessedisso. A língua de Matt encontrou a dela, e ondas de puro prazer o percorreram, ofuscando seucérebro, inflamando seu corpo.

Mãos pequenas deslizavam por suas costas, procurando sua pele através do tecido fino de seupaletó. Levantando uma das mãos, Matt entrelaçou os dedos no cabelo sedoso dela, deleitando-secom a sensação escorregadia daqueles cachos contra sua pele.

Ele a teria beijado a noite inteira, teria lhe dado comida, água, e até mesmo ar para respirar, sepudesse manter sua boca fundida com a de Kayla. Todavia, cedo demais, o beijo acabou e elaestava recuando, saindo de seus braços e encarando-o através de olhos grandes e chocados.

– Eu não acredito que você fez isso – sussurrou ela.– Não fiz isso sozinho – lembrou.Meneando a cabeça, Kayla falou:– Isso foi apenas instinto.– Bem, vamos ouvir os instintos, então.Ela riu, mas não havia humor no som. Erguendo uma das mãos para a boca, Kayla sussurrou:– Nós não podemos fazer isso.– Nós nascemos para fazer isso – contradisse Matt, com a voz baixa, profunda e repleta do

mesmo desejo que ele podia ver que a estava quase enlouquecendo.

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– Se isso fosse verdade – argumentou ela –, você não teria desaparecido por nove meses.– Sim. – Matt passou uma mão pelo cabelo, suspirou e continuou: – Eu deveria ter ligado.

Deveria ter falado com você antes de partir.– Eu concordo.Ele levantou a cabeça, prendendo-lhe o olhar com o seu.– Foi você, sabia? Você foi a razão pela qual parti tão de repente.– Você está me culpando? – Ele ouviu o ultraje na voz de Kayla, e não pôde culpá-la por isso.– É claro que não. Eu só estou lhe dizendo. Eu fui embora por causa da promoção, do

emprego em Los Angeles. Mas também parti tão rapidamente pelo que você estava me fazendosentir.

Balançando a cabeça, Kayla cruzou os braços sobre o peito.– Pânico? – perguntou ela, em tom suave.A risada dele foi curta e áspera.– Talvez um pouco, embora não goste de admitir isso em voz alta.– Por quê? – demandou ela. – Esperei nove meses para ter uma resposta, Matt. Por que você

iria embora daquele jeito? Sem uma palavra. Sem nada. Você desapareceu.– Eu achei que seria mais fácil para você...Kayla riu, descartando suas palavras. Não se contentaria com menos do que a verdade... então,

ele lhe daria o que podia, por enquanto.– Tudo bem, eu queria que fosse mais fácil para mim. – Fechando a expressão numa carranca

agora, Matt esfregou as mãos no rosto. Não estava pronto para lhe contar tudo... o que ela o fizerasentir antes, e o que ele estava sentindo agora. Então, fitou-lhe os olhos mais uma vez e disse: –Mas agora estou de volta.

– Temporariamente.– E precisava ver você. Tentar explicar.Ela engoliu em seco.– Significando o que, exatamente?– Significando que, naquela noite, você mexeu comigo. Eu não estava esperando isso. Achei

que a distância ajudaria. Mas não consegui tirá-la da minha cabeça – confessou Matt,aproximando-se. – Eu sonhei com você todas as noites. Eu pensei em você todos os dias. Ora,Kayla, você está dentro de mim, e eu tinha de voltar para lhe dizer isso.

Ela ofegou de leve, mas não desviou o olhar dele.– Ainda não entendo por que partiu sem, pelo menos, dizer adeus. Você me magoou.

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Ele encolheu-se.– Eu sei.– Eu não quero ser ferida por você novamente.– Eu não quero feri-la.– Então, vá embora.– Eu não posso – disse Matt, aproximando-se mais um passo, e celebrando internamente

quando ela não se afastou. – E você não quer realmente que eu vá.– Sim, eu... – Kayla parou quando ele estendeu os braços e puxou-a para si. – Não, não quero,

realmente.

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Capítulo 5

– ERA ISSO que eu precisava ouvir. – Ele beijou-a novamente, pondo naquele beijo cada emoção,cada gota de desejo que o perseguira pelos últimos noves meses. E Kayla se abriu para ele,entregando-se, inclinando-se para mais perto ainda, envolvendo os braços ao redor de seu pescoçoe encontrando a paixão dele com a sua.

Exatamente como antes, ela o chocou. A conexão. A intensidade do fogo que queimava entreeles ameaçou engoli-lo, e, desta vez, Matt deu boas-vindas ao sentimento. Era disso que sentirafalta por tanto tempo. Deste lugar. Desta paixão.

Desta mulher.Ele tirou-lhe os pés do chão e ergueu-a em seus braços, nunca interrompendo o beijo que os

unia pela respiração e pela alma. Carregando-a, pela pequena casa, para o quarto de Kayla, eledeslizou-a para o chão, e, em segundos, estavam nus e tombando sobre a cama de latão, cobertacom uma colcha de seda macia e uma montanha de almofadas.

Segurando-a, Matt rolou-a para o outro lado da cama, e ela foi de bom-grado, ansiosamenteentrelaçando as pernas de ambos. Mãos delicadas deslizavam por sua pele, enquanto ele exploravacada centímetro daquele corpo deleitoso. Seus corações batiam alto, e cada respiração era umsuspiro de desejo penetrando a quietude. Havia um relógio antigo na parede, e o ruído constantede segundos passando eram como batidas de tambor em volta deles.

Matt parou de beijá-la tempo o bastante para dizer:– Por favor, diga-me que você ainda tem preservativos na gaveta do criado-mudo.Kayla afastou o cabelo dos olhos, fitou-o e assentiu.– Eu os guardei.

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– Fico feliz em ouvir isso. – Ele pegou um, rasgou o envelope e protegeu-se, antes de voltarpara ela. – Eu senti a sua falta, Kayla.

– Eu também senti a sua, Matt. Muito. – Ela estendeu os braços e segurou o rosto dele naspalmas. – Ainda não sei por que você foi embora, mas no momento, isso não importa.

Culpa apertou o peito de Matt, pela dor que ele lhe causara, mas ele ignorou a sensação.Agora, não era a hora. Este momento era para os dois. Para que se reconectassem. Para querestabelecessem o que haviam encontrado naquela noite, tantos meses atrás. O que ele, tãoestupidamente, jogara fora.

Então, seu cérebro se fechou, sobrecarregado por seus sentidos. Tudo que existia era o deslizarde pele com pele, os suspiros suaves de suas respirações ofegantes, as batidas frenéticas de seuscorações. Matt pretendia tomá-la bem devagar, absorvendo a experiência daquela uniãonovamente. Mas seu plano dissolveu-se num mar de desejo tão feroz, tão ardente que eraimpossível ignorar.

Ela moveu-se para ele, arqueando os quadris, enquanto abria as mãos em seu peito e oacariciava.

– Agora, Matt. Por favor, agora.– Sim, querida. Agora.Ele penetrou-a numa longa investida e, instantaneamente, experimentou a sensação de

perfeição da qual se recordava com tanta clareza. O corpo de Kayla aninhou o seu, os braçosdelgados circulando suas costas, segurando-o perto. Eles se movimentaram juntos numa dançaquase silenciosa de paixão, que cresceu em mais velocidade e intensidade que qualquer um delestinha esperado. Matt sentiu quando o corpo dela começou a enrijecer. Ouviu-a arfar, a respiraçãopresa no peito, sentiu o deslizar frenético das pequenas mãos, as unhas de Kayla roçando sua pele.E quando ela gritou o nome dele, perdida na pulsação do clímax, Max liberou seu próprio prazer.

Ele permitiu-se descobrir o que sentira falta por tanto tempo.

ELA ERA uma idiota. Não havia outra explicação, pensou Kayla, quando seu cérebro voltou afuncionar. Seu corpo ainda estava pulsando com sensações. Mas sua mente já estava listando asinúmeras razões pelas quais ela não deveria ter feito o que acabara de fazer. O primeiro item dalista era que não confiava em Matt, e tinha bons motivos para isso.

Ele não explicara nada, realmente. Todavia, isso não a impedira de cometer o mesmo erro pelasegunda vez.

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Raiva a inundou. A facilidade que seu corpo e seu coração esquecerem o passado e seconcentrarem no agora. Kayla não podia acreditar naquilo. Tristeza, raiva e a onda do desejo aindapresente se misturavam em seu interior.

Fechando os olhos, ela engoliu o gemido de arrependimento que se construiu em seu peito.Quando Matt levantou a cabeça e fitou-lhe os olhos, Kayla preparou-se para qualquer coisa queviesse a seguir. Se a história fosse se repetir, ele se levantaria da cama a qualquer minuto e sedirigiria para o aeroporto.

– Esperei muito tempo por isso – murmurou ele, a voz tensa e baixa.– Você esperou? – Meneando a cabeça em perplexidade, ela lhe deu um empurrão leve, e ele

respondeu, rolando para um lado, mas mantendo-a pressionada contra ele. Kayla pôs uma mão noseu peito e ergueu-se, de modo que pudesse olhá-lo abaixo de si. – Foi você quem ficou longe,Matt.

– Eu sei. E gerenciar o marketing para Lassiter Media de Los Angeles me manteve muitoocupado, mas deveria ter voltado antes disso.

– Concordo. – Escapando do abraço dele, foi para a beira da cama e levantou-se. – Assimcomo eu não deveria ter feito – gesticulou uma mão para ele e para a cama com lençóisemaranhados –, isso.

– Como falei antes, nós nascemos para fazer isso – argumentou ele.Era verdade, o tolo coração de Kayla gritou. Eles realmente tinham nascido para fazer aquilo.– Claro, até que você vá embora de novo. – Ela olhou para um relógio imaginário no seu pulso

desnudo. – Na verdade, a essas alturas, você deveria estar pegando suas roupas e fugindo, nãoacha?

Matt franziu o cenho, saiu da cama e parou ali, encarando-a.– Eu não vou fugir. Ficarei aqui até depois do casamento, no mínimo. Cheyenne ainda é meu

lar, também, Kayla. Pelo menos, por parte do tempo. E mesmo se voltar para a Califórnia, nãoficarei longe, desta vez. E quero você na minha vida.

Uma parte de Kayla alegrou-se ao ouvir aquilo, mas como poderia acreditar nele? Comopoderia se permitir confiar nele, novamente? Matt voltaria para a Califórnia, e a vida que elaescolhera era ali. Em Cheyenne.

– Você deveria ir embora – foi tudo o que ela falou. Era melhor assim. Melhor que ela fossecapaz de mandá-lo embora. Rapidamente, antes que começasse a acreditar nele outra vez.

– Você não quer que eu vá embora, Kayla.

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– Isso não se trata de querer – retrucou ela, em voz baixa. Se assim fosse, Kayla o agarraria evoltaria para cama com ele. – Trata-se de necessidade. E no momento, preciso que você vá.

Pareceu que ele queria discutir. Os olhos verdes faiscaram, e a boca bonita trabalhou, como seele estivesse lutando para conter uma torrente de palavras que tentavam escapar. Segundos sepassaram, e Kayla prendeu a respiração, desejando que ele partisse, antes que seu autocontrole sedissolvesse numa poça fresca.

– Tudo bem – concordou Matt, finalmente, e ela não sabia se se sentia satisfeita oudesapontada.

Antes que Kayla pudesse falar, ele continuou:– Eu irei. Por enquanto. Mas não vou longe.Kayla respirou profundamente e prendeu o ar, incerta do que ele estava realmente dizendo.Matt rodeou a beira da cama, até que estivesse do seu lado, então estendeu os braços e puxou-

a para mais perto. Olhando-a com intensidade, murmurou:– Eu estou em casa. Pelo menos, durante o próximo mês, estou na sua vida, portanto, é

melhor você se acostumar a me ter por perto.

KAYLA ESTAVA abalada, mas não queria estar. Não queria que o fato de ter Matt em sua casa denovo importasse. Mas importava. Durante as duas semanas seguintes, ela não conseguiu encontrarpaz em sua própria casa, porque as lembranças eram muito vívidas. Ainda podia sentir o cheiro deMatt em seus travesseiros. Sonhava que os braços dele estavam ao se redor durante a noite, e,quando acordava, todas as manhãs, Matt era a primeira coisa que entrava em sua mente.

E nem uma única vez ele tentara voltar para sua cama. O que estava deixando Kayla maisinsana. Como ele podia falar sobre querê-la, e então não fazer nada para isso? Ele estava fazendoaquilo de propósito? Enlouquecendo-a de desejo e, então, deixando-a pairar ali?

Kayla estava profundamente encrencada, e nem sequer sabia se sairia daquela situação, sepudesse. Oh, seu cérebro continuava lhe dizendo para não confiar neste Matt novo e melhor. Masseu coração e seu corpo imploravam que lhe desse uma chance. Que desse uma chance a eles.

E ele não estava facilitando nem um pouco a situação, para que Kayla entendesse. Matt nãoapenas a mantinha querendo, todos os dias, como também encontrava uma razão para conhecê-lamelhor. Todas as noites em que não estavam com Angie e Evan, cuidando de assuntos docasamento iminente, ele a levava para jantar, ao cinema ou a exposições de arte, em galerias

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concorrentes. Ele estava se tornando indispensável. Estava participando tanto de sua vida diária queKayla não conseguia imaginar não tê-lo por perto, o tempo inteiro.

No dia anterior, por exemplo, Matt tinha chegado à galeria de arte na hora do almoço,carregando uma cesta de piquenique. Estava muito frio para se sentar ao ar livre e comer, então eleestendera uma colcha no chão do depósito da galeria. Por uma hora, ele a fizera rir com históriassobre seus meses na Califórnia.

E depois que ele tinha ido embora, Kayla se encontrara num dilema maior do que nunca.Adorava estar com Matt. Adorava vê-lo sorrir, mesmo enquanto o ouvia descrever a vida que eleestava construindo em Los Angeles. No entanto, ele mantivera sua casa em Cheyenne, então, o queisso significava? Ele ia voltar? Ia viver nos dois lugares? E mesmo se isso fosse verdade, o que essadecisão significava? Como Kayla poderia acreditar que ele ficaria com ela? Ele partira sem olharpara trás uma vez. Por que não faria o mesmo?

Ela respirou fundo, afastou aqueles pensamentos da cabeça e tentou se concentrar na conversaem mãos. Angie estava sentada a sua frente, no restaurante, listando seus preparativos de últimahora para o casamento. Então, Kayla focou-se na vida de sua melhor amiga, em vez de em suaprópria vida. Isso parecia muito menos complicado, no momento.

– Então – disse Angelica, entre goles em seu café –, finalmente consegui convencer meu irmãoSage a prometer descer de sua casa na montanha, para participar do jantar de ensaio para ocasamento, amanhã à noite.

Kayla assentiu, distraidamente, enquanto Angie tomava notas no seu tablet. A mulher era tãoorganizada que poderia dar aulas gerais de planejamento estratégico durante um período de guerra.Kayla tentou manter a mente no casamento e dar apoio a sua amiga, mas Matt insistia em invadirseus pensamentos, por mais arduamente que tentasse mantê-lo fora de sua cabeça.

Ela sentia como se estivesse numa corda bamba, tentando desesperadamente manter seuequilíbrio num vento forte.

– Dylan ajudou, é claro – Angie estava dizendo. – Sage é tão teimoso que, geralmente, épreciso dois de nós para fazê-lo ceder.

Mas os dois irmãos de Angelica eram loucos por ela, portanto, não era surpreendente quemesmo Sage, o eremita, estivesse disposto a agradar a ela. Sage tinha muitos problemas com o paideles, J.D., tanto que ele se separara do Lassiter Group e construíra a própria fortuna, do seupróprio jeito. Kayla não podia evitar pensar que o jantar de ensaio para o casamento seriapreenchido com mais drama do que Angie estava esperando.

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– E papai está se sentindo bem o bastante para ir, também – continuou Angie, sorrindo. – Euestou tão feliz. É claro, a enfermeira dele, Colleen, estará lá, apenas para ficar de olho nas coisas, ecomo convidada. Ela realmente se tornou um membro da família nos últimos meses.

– Fico contente que seu pai esteja se sentindo bem o bastante para ir.– Eu também – murmurou Angie. – Mas ele ainda me parece tão... frágil ultimamente.A saúde do pai dela havia afetado todos os Lassiter, de um jeito ou de outro. J.D. era uma

lenda em Cheyenne, e ver alguém que parecia maior do que a vida subitamente se tornar muitofrágil era difícil. Para todos.

– Mudando de assunto completamente – prosseguiu Angie –, notei que você e Matt não têmbrigado nos últimos dias. Sem discussões, sem comentários depreciativos...

– Nós chegamos a um... entendimento – replicou ela, sem dar muita informação.– E qual seria?– Eu não tenho certeza. – Franzindo o cenho, Kayla pensou sobre as duas últimas semanas.

Eles tinham passado tanto tempo juntos, entretanto, Matt, nem uma única vez, tentara seduzi-la.Nem mesmo a beijara. O que ele estava pretendendo? Depois daquela noite frenética que haviamcompartilhado, ele recuara inteiramente. Mas não fora embora também. Verdadeiro à sua palavra,Matt estava se inserindo na vida dela, fazendo com que ignorá-lo fosse impossível.

– O que isso significa?Kayla deu um gole em seu café, então aninhou a caneca entre as palmas, deixando o calor

penetrar sua pele.– Significa que tê-lo aqui de volta é bom. Mas também é confuso.Angie sorriu.– Por tudo que você me contou... e, a propósito, deixe-me dizer novamente que você deveria

ter me contado tudo isso, nove meses atrás...– Eu sei – concordou Kayla. Duas semanas atrás, finalmente confessara toda a verdade sobre

seu relacionamento com Matt para sua amiga. Depois de ficar furiosa porque Kayla lhe esconderaaquilo durante tanto tempo, Angie lhe dera apoio. – Você está certa. Novamente.

– Obrigada – disse Angie. – Eu acho que Matt está tentando fazer você se acostumar com aideia de tê-lo por perto, sem nada da tensão sexual.

– Isso é o que você pensa – murmurou ela.Angie riu.– Ah, interessante. Então, ainda há tensão sexual. Mas a pergunta é: você está gostando de ter

Matt por perto?

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– Adorando. – A palavra saiu antes que ela pudesse até mesmo pensar em contê-la.Angie sorriu, outra vez.– Esta é a boa notícia. Agora, a má notícia?– Isso é fácil. Como posso confiar nele? – Kayla colocou sua xícara de café sobre a mesa. –

Matt mora em Los Angeles, Angie. E eu moro aqui. O que vou fazer quando ele for embora, denovo?

– Como você pode confiar nele? Pessoas ocasionalmente aprendem e crescem, Kayla –apontou sua amiga, calmamente. – E me parece que Matt descobriu que realmente não gosta davida sem você, e, portanto, ele voltou.

– Por quanto tempo?– Você quer garantias? – questionou Angie, meneando a cabeça. – Elas não existem. Mesmo

Evan sendo maravilhoso como ele é, e por mais feliz que estejamos juntos... não existem garantiaspara nós também.

– E isso não preocupa você?– Se me focasse nessa questão, provavelmente me preocuparia – admitiu Angie. – Mas escolho

me focar no fato de que o amo. E de que sei que ele me ama.O que era algo que Kayla não sabia sobre Matt. Ele nunca falara aquelas três palavras

específicas. As palavras que talvez facilitassem um pouco para ela correr um risco.

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Capítulo 6

ERA UMA grande festa.Matt olhou em volta do salão, para os amigos e família reunidos para o jantar de ensaio do

casamento de Evan e Angelica. Sage Lassiter estava encostado contra uma parede, tomando umacerveja e parecendo como se quisesse estar em qualquer outro lugar, exceto lá. Marlene Lassiter, tiade Angie, levava uma garrafa de água para J.D., e Matt tinha certeza de que o que o homem maisvelho realmente queria era uma cerveja. E a enfermeira de J.D., Colleen, estava fabulosa numvestido vermelho que causaria inveja na maioria das socialites que estavam ali, esta noite.

Angie estava aconchegada a Evan, e, enquanto o casal feliz conversava aos sussurros e trocavaum sorriso secreto, Matt franziu o cenho. Onde estava Kayla? Como madrinha do casamento, Kaylatinha de participar do ensaio, mas quando ele tentara lhe dar uma carona para o jantar, ela insistiraque iria com o próprio carro. Kayla havia ido para casa? Estava tentando evitá-lo?

Com uma carranca, Matt deu um gole em seu uísque. Se ela não aparecesse em algunsminutos, iria procurá-la. As últimas duas semanas quase o tinham matado. Estar tão perto de Kayla,e não tocá-la fora muito mais difícil do que ele pensara que seria. Mas esse era o plano. Estar comela. Fazer parte de sua vida. Mostrar-lhe que ele a queria do seu lado. Que ela podia confiar nele.

Mas aquilo estava demorando tanto que Matt estava prestes a jogar o plano inteiro pela janelamais próxima, colocá-la sobre seu ombro e carregá-la para cama. Uma vez que ele a tivesse lánovamente, passaria horas convencendo-a do quanto a amava. De como era importante para ele.

Matt sabia que estava nesta situação por sua própria culpa, mas que homem não entraria empânico quando era golpeado, inesperadamente, pelo amor? Nove meses atrás, ele fugira o máximoque tinha sido capaz. Agora, precisava encontrar uma maneira de provar, para a única mulher quelhe importava, que nunca mais fugiria dela, do que poderiam ter, juntos. Ele ainda não pensara em

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todos os detalhes. Não poderia prometer ficar em Cheyenne para sempre, mas sabia que não queriaviver sem Kayla. Tudo que precisava fazer era encontrar uma saída para aquela situação.

Consultando seu relógio, percebeu que o jantar estava prestes a começar. Dylan Lassiterentrou apressadamente no salão, endireitou a gravata com uma das mãos, e penteou o cabelo com aoutra. Ele parecia um homem que estivera... ocupado. Bem, pelo menos, alguém estava fazendoaquilo.

Matt soube o momento em que Kayla entrou na sala. Sentiu a carga quase magnética no ar.Ele encontrou-lhe o olhar, e quando ela sorriu, tudo em seu interior pulsou. Ela usava azul. Umvestido com decote cavado, uma saia justa e curta, e alcinhas finas que realçavam os ombrosdelgados. As sandálias pretas tinham aproximadamente três centímetros de salto, e faziam as pernaslongas parecerem ainda mais incríveis do que normalmente.

Ela lhe tirava o fôlego, e, julgando pelo sorriso travesso iluminando os olhos azuis, Kayla sabiaexatamente o que estava fazendo com ele. Matt andou até ela, e, indo contra seu próprio plano,puxou-a para um beijo rápido.

– Você está deslumbrante.– Obrigada – murmurou ela, levando uma das mãos aos lábios, como se sentindo o beijo que

ele acabara de deixar ali.Oh, sim. Ele não podia imaginar agora, como conseguira não tocá-la por tanto tempo. Não

podia entender por que tivera a ideia tola de ir devagar, quando tudo que queria era agarrá-la enão soltá-la nunca mais.

Mas ele teria de libertá-la logo, não teria? A menos, disse a si mesmo, que encontrasse umamaneira de mantê-los juntos. Seu coração se encheu de esperança e sua mente girou compensamentos, então, subitamente, Matt sabia o que tinha de fazer. O que ele precisava, o quequeria mais do que qualquer outra coisa na vida. Tudo que tinha de fazer era convencer Kayla.

– Matt! – Evan aproximou-se deles. – Desculpe, Kayla, preciso só de um segundo com Matt.Um pouco irritado por ter sido interrompido, especialmente agora que ele sabia o que queria

fazer, Matt perguntou:– O que houve?– Eu só queria informá-lo de que vou precisar que você volte para Los Angeles logo depois do

casamento.Ao seu lado, Matt sentiu Kayla enrijecer. Ótimo. O momento não podia ser mais perfeito,

pensou com sarcasmo.

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– Sabe aquela nova conta que você assinou? Ele quer dobrar o orçamento em publicidade, epreciso que você lide com isso pessoalmente.

– Claro – respondeu Matt. – Eu cuidarei disso.– Eu sei que cuidará – concordou Evan com um sorriso amplo. – Certo, e nós não falaremos

mais de trabalho esta noite, eu juro. – Ele olhou ao redor, avistou Angelica e acrescentou: – Atémais tarde.

Quando ele saiu, Matt olhou para Kayla.– Você vai partir em breve. – Não foi uma pergunta.– Sim – disse Matt, passando uma mão pelo cabelo. Se ele pudesse, teria socado Evan por

arruinar a noite. Por ter criado aquela tensão entre ele e Kayla, antes mesmo que Matt tivesse achance de levá-la para cama, onde a seduziria para o futuro que, de súbito, podia ver tãoclaramente.

– Logo depois do casamento?– Aparentemente – replicou ele. – Ouça, não queria fazer isso agora, porém, uma vez que

estamos sendo sinceros... Cheyenne sempre será um lar para mim, mas tenho uma vida naCalifórnia também.

– Sim, eu sei. – Os olhos dela estavam sombreados.– Kayla... – Droga, aquilo não estava saindo como ele queria.Ela balançou a cabeça.– Você não me deve uma explicação, desta vez, Matt. – Levantando o queixo, deu-lhe um

sorriso pequeno, mas determinado. – Você vai embora. Eu ficarei. Não é como se eu estivessesurpresa. Nós sempre soubemos que você voltaria para Los Angeles, mais cedo ou mais tarde.

Sim, sabiam daquilo o tempo inteiro. Mas até agora, Matt não se permitira convencer-se deque partir sem Kayla era completamente inaceitável. Como ele poderia voltar para uma vida semela? Impossível. Agora, tudo que precisava fazer era convencê-la a ver as coisas do seu jeito.

– Deixe-me ir buscar um pouco de vinho para você. – Ele pegou-lhe o braço e conduziu-a,pela multidão, em direção ao bar.

– Matt, vinho não vai resolver coisa nenhuma.Teimosa até o fim.– Às vezes, uma taça de vinho é apenas uma taça de vinho.Enquanto atravessavam a sala, J.D. Lassiter olhou sua garrafa de água, franziu o cenho para a

mesma, e, em vez disso, estendeu o braço para a taça de champanhe mais próxima. Batendo uma

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colher contra o delicado cristal, até que tivesse a atenção de todos, o homem mais velho deixou seuolhar percorrer a multidão, antes de dizer:

– O jantar está prestes a ser servido, então, queria falar algumas palavras, antes decomeçarmos.

A enfermeira dele estava perto de J.D., e parecia preocupada, pensou Matt, entregando umataça de vinho branco a Kayla. Estreitando os olhos, ele estudou J.D. e percebeu que a pele dohomem parecia acinzentada.

– Ele está bem? – sussurrou Kayla, as diferenças deles sendo colocadas de lado nestemomento.

– Eu não sei – respondeu Matt, mas sabia que não havia um meio de deter J.D. Lassiterquando o homem decidia um curso de ação.

– Nós estamos todos aqui para celebrar o casamento iminente de minha filha, Angelica.Uma salva de palmas se seguiu, antes que J.D. silenciasse todos com um aceno da mão.– Eu acredito muito em família – continuou ele, a voz se tornando mais suave. – Um homem

comete erros na vida, não pode evitá-los. Mas uma coisa que você sempre deve ser capaz de contaré com a família.

Kayla olhou em volta da sala, imaginando se mais alguém, além dela, estava notando que J.D.não parecia nada bem. Mas os outros estavam claramente apenas ouvindo às palavras.

– Todos nós reunidos aqui esta noite somos família. Por sangue ou por escolha. Não importa.A única coisa que realmente importa é que estamos aqui uns para os outros, independentementedo que o futuro nos reserva. Portanto, pedirei que vocês levantem seus copos...

Ele parou. Com olhos se arregalando por um instante, a expressão vagamente surpresa, J.D.derrubou a taça de champanhe, e o cristal fino estilhaçou-se no chão. Ele não pareceu notar. Deuum único passo, então caiu deitado no chão e ficou imóvel.

Os minutos que se seguiram pareciam ter sido destacados do tempo. Kayla sabia que apenasminutos se passaram, mas tudo aconteceu em câmera lenta, dando a impressão que horas estavamse arrastando. Ela assistiu, como se fosse algo distante, mesmo estando no meio daquilo tudo.

O caos instalou-se. Angie gritou. Colleen ajoelhou-se ao lado de J.D., afrouxando a gravata e ocolarinho dele. Ela verificou a pulsação do homem, e, enquanto Dylan e Sage se agachavam dooutro lado do pai, Colleen começou a reanimação cardiopulmonar.

Sussurros horrorizados corriam sob gritos, e soluços abafados e estrangulados eram emitidospelas pessoas reunidas num círculo em volta do gigante caído.

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Kayla aproximou-se de Angie, passou um braço a sua volta, e permaneceu ali, enquanto Evanligava para chamar uma ambulância. Abraçando sua amiga, sentindo os tremores da outra mulhersacudirem seu próprio corpo, Kayla observou, impotente, enquanto Colleen continuava tentando areanimação cardiopulmonar.

Matt impulsionou a multidão para trás, dando o espaço necessário para aqueles que tentavamajudar J.D. Matt encontrou o olhar de Kayla, e ela soube exatamente o que ele estava pensando.Aquilo não parecia bom. Não houvera mudança na condição de J.D. Continuava deitado ali,imóvel e silencioso, a única ilha de calma numa tempestade feroz de emoções.

Sage e Dylan pairavam acima do pai, ajudando Colleen como podiam, focando-se no velhohomem, como se pudessem usar sua força de vontade para curá-lo.

E Kayla pensou que havia uma parte sua quase esperando que J.D. se sentasse, desse aquelarisada estrondosa dele, e dissesse a todo mundo que era tudo uma brincadeira. Uma travessura.

Mas ele não se mexeu, e conforme os segundos se passavam e os sons de sirenes se tornavammais altos, Kayla abraçou sua amiga mais apertado, sabendo que nada ia ser igual para nenhumdeles novamente.

NO HOSPITAL, Kayla se sentiu completamente inútil. Não podia ajudar J.D. Não podia ajudar suaamiga. Não podia ajudar a si mesma.

Angie estava arrasada, aninhada contra o peito de Evan, seus soluços baixinhos ecoando nosilêncio sombrio de uma sala de espera fria e cheirando a antisséptico. Colleen estava ao lado deMarlene, oferecendo o conforto que podia, enquanto Sage e Dylan andavam, de maneiraimpaciente, ao longo do piso verde de linóleo. Independentemente do que acontecesse com J.D.esta noite, Angie já tomara a decisão de que o casamento seria adiado, indefinitivamente.

Ninguém tinha cabeça para pensar num casamento, no momento, e Kayla prometera dartodos os telefonemas necessários assim que soubessem o que estava acontecendo.

Até lá, Kayla estava grata pelo calor e força do braço de Matt ao redor de seus ombros. Erabom tê-lo ali, ao seu lado. Mesmo que saber que ele logo ia embora de novo a devastasse; nomomento, ele estava lá. Com ela. E Kayla sabia, de alguma maneira, que, por quanto tempoprecisasse dele, Matt ficaria. A noite inteira, se necessário. Até mais do que isso. E diante dessepensamento, percebeu que acreditava nele.

Não tinha certeza de quando isso acontecera, mas estava convencida agora de que elerealmente a queria em sua vida. Como resolveriam a situação, ela não fazia ideia, mas talvez,

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juntos, pudessem encontrar um caminho.Quando uma voz anônima soou no alto-falante, Marlene chorou em seu lenço de papel, e

Dylan ofereceu ir buscar café para todos. Antes que pudessem responder, um médico entrou nasala de espera, e todo mundo se levantou. Eles estavam esperando há tanto tempo... agora,finalmente, teriam respostas. Mas julgando pela expressão no rosto do médico, Kayla soube queninguém ia gostar do que ele tinha a dizer.

– Srta. Lassiter – disse ele, parando diretamente na frente de Angie.Ela ergueu mais o corpo, com Evan, Sage e Dylan ladeando-a em meio círculo protetor.– Sim?– Sinto muito – o médico ofereceu, desviando o olhar para os outros membros da família,

antes de voltá-los para Angie. – Nós fizemos tudo que podíamos, mas seu pai faleceu.Angie balançou nos braços de Evan, Marlene gritou, e até mesmo Colleen tinha lágrimas

escorrendo pelo rosto. Os homens Lassiter, incluindo Evan, estavam estoicos, a dor brilhava nosolhos deles.

Kayla estava atônita. Chocada. J.D. estivera doente, mas morrer dessa forma? Na véspera docasamento da filha? Partir tão de repente, tão rapidamente? Num momento, tudo tinha mudado.

Era atordoante perceber que a vida, tão maravilhosa, tão preciosa, podia acabar num piscar deolhos. O coração de Kayla doía por sua amiga e pelo resto dos Lassiter. O mundo deles haviamudado para sempre. Mas talvez, aquela também fosse uma lição. Para não desperdiçar tempo.Para se certificar de demonstrar seus sentimentos pelas pessoas que amava enquanto ainda tinha achance.

Agora, fitou os olhos verdes de Matt e viu que ele também ficara altamente abalado com anotícia. Todavia, ele apenas a abraçou com mais força, puxando-a para mais perto, como se, dealguma maneira, pudesse protegê-la de qualquer outra coisa que o destino atirasse neles.

ALGUNS DIAS depois, Kayla ainda estava atendendo telefonemas de pessoas querendo saber comoAngie estava lidando com a morte do pai. Ela queria gritar, Como você acha que ela está sesentindo? Mas não fez isso, porque sabia que aquelas pessoas igualmente se sentiam impotentesdiante de uma tragédia.

Para piorar as coisas, não vira Matt desde a noite em que J.D. falecera. Eles haviam passado anoite juntos, se abraçando no escuro, cada um dando e recebendo conforto.

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Mas, exatamente como nove meses antes, pela manhã, ele se fora. Sem uma palavra. Sem umbeijo de despedida. Nada. Kayla não tivera notícias de Matt desde então. Por tudo que sabia, elepoderia já ter voltado para Los Angeles. Diante do pensamento, alguma coisa em seu interior secontorceu em dor.

Por que ele faria aquilo, outra vez? Kayla até mesmo tentara lhe telefonar, desta vez, mas nãoconseguira encontrá-lo. Matt estava, finalmente, terminando o relacionamento deles? Mas e quantoa tudo que ele dissera durante as duas últimas semanas? E quanto ao que tinham sentido? Nãosignificava nada? Ela deveria apenas ignorar a dor e recolher os cacos de sua vida novamente?Fingir que nada tinha acontecido? Que nada mudara?

Ela estava tão confusa e despedaçada que nem mesmo fora trabalhar nos últimos dias. Ficarafechada em sua casa, revivendo a noite da morte de J.D. Tentando entender seus própriossentimentos, pensando. Entretanto, cada pensamento circulava de volta para Matt. Kayla não sabiao que fazer sobre isso. Sobre ele. Sobre seus sentimentos por ele.

Mas sabia que não passaria pelo que tinha passado antes. Não entraria num estado dedepressão e agonia. Se houvesse alguma coisa que a morte de J.D. lhe ensinara, era que a vida eramuito curta. Passava depressa demais. E podia terminar de maneira totalmente inesperada.

A vida podia mudar num piscar de olhos. Acabar num momento. E aqueles que ficavamtinham suas vidas rearranjadas, alteradas para sempre no espaço de uma única batida do coração.

Quando a campainha tocou, Kayla colocou sua xícara de café sobre a mesa da cozinha e foiatender. Encontrar Matt em sua varanda da frente fez sua cabeça girar.

– Pensei que você tivesse ido embora – murmurou ela.Ele suspirou. Passando por ela, entrou na casa, dizendo:– Achou que eu partiria novamente? Sem falar com você?– Não o vejo há dias – argumentou ela, fechando a porta e seguindo-o até a sala. Deus, ele

estava lindo.– Eu precisava pensar.– E precisava fazer isso longe de mim?– Sim, desta vez, eu precisava. – Ele a encarou, e ela sentiu o olhar intenso sobre si tão

poderosamente quanto teria sentido um toque. Sofrera tanto pela falta que sentia de Matt queapenas vê-lo de novo já estava aliviando sua dor.

– Certo – disse ela. – O que era tão importante? Sobre o que você estava pensando?– Sério? – Ele balançou a cabeça. – Precisa me perguntar isso? Eu estava pensando em você,

Kayla. Em nós.

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– Nós? – O coração de Kayla disparou no peito, e um nó de nervosismo se formou na boca deseu estômago.

– Em nós, é claro. – Matt passou uma mão pelo cabelo. – Desde a noite em que J.D. morreu,não consigo parar de pensar em nós. Ora, adiei a viagem para a Califórnia porque não poderia irembora sem resolver algumas coisas entre nós.

Ela respirou fundo e prendeu o ar. Os olhares deles se encontraram, e Kayla não poderia terdesviado os olhos por nada.

– Mas você não falou comigo por dias, Matt. Nem mesmo retornou a minha ligação, quandotelefonei.

– Eu sei. – Ele meneou a cabeça novamente. – Você tem o direito de estar com raiva, masouça-me primeiro, pelo menos.

Da última vez, não haviam conversado. Desta vez, Kayla disse a si mesma que queria ouvirtudo que ele tinha a dizer.

– Quando eu estava voltando para Cheyenne, sabia que queria me reconectar com você –começou Matt. – Eu até mesmo tinha um plano.

– Que tipo de plano? – Kayla observou-o, e viu emoções surgirem nos olhos verdes, edesapareceram tão depressa que não foi possível identificar nenhuma delas.

– Isso não importa, agora. Oh, achei que meu plano fosse brilhante. Sou bom em traçar planos– murmurou ele com voz rouca, mais uma vez andando pelos confins de sua pequena sala de estar.– Pergunte para qualquer pessoa. Eu sei como conseguir uma grande conta para Lassiter Media. Seicomo construir uma carreira e ganhar milhões. Sei como comprar uma bendita galeria de arte emsegredo.

– Você comprou uma galeria de arte?Ele deu de ombros e enviou-lhe um rápido olhar.– Sim. Isso era para ser uma surpresa para você. Uma vez que meu plano estivesse terminado.A insegurança que Kayla vinha experimentando antes apenas piorou, quando o mundo inteiro

pareceu escorregar sob seus pés.– Era uma surpresa, mas agora não é? – Confusa, continuou observando-o, e não pôde evitar

pensar que esta era a primeira vez, desde que conhecia Matt, que ele parecia... inseguro de si.– Bem, agora que acabei de lhe contar sobre isso, não é mais surpresa – murmurou ele. –

Todavia, mais do que isso, o plano não será finalizado, porque me cansei dele.– Por que você não me conta qual era o “plano”?

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– Simples. Eu ia conquistá-la devagar. Sem pressa. Ganhar sua confiança. Fazê-la acreditar emmim... em nós... novamente. – Ele bufou. – Mas, ora...

– Então – disse Kayla, com um nó que agora se formara em sua garganta. Parecia que aquilo sóia piorar, e ela não teria pensado que isso fosse possível. As batidas de seu coração diminuíram deritmo e o medo comprimiu seu peito. – Você não me quer mais.

Matt olhou-a.– Está louca? Você é tudo que eu quero, Kayla. O resto do mundo poderia cair no oceano, e eu

não me importaria, contanto que tivesse você.O medo dissolveu-se e a esperança cresceu, causando um friozinho delicioso na barriga de

Kayla. Ela respirou profundamente e prendeu o ar, receosa em ouvir. Receosa em não ouvir.– Não, é o plano que não quero mais – continuou ele. – Como falei, ia conquistá-la aos

poucos. Provar que você podia confiar em mim. Lentamente. Sem pressa. Achei que esse fosse omelhor caminho. Entende, sei que amo você...

Kayla estendeu um braço e agarrou o espaldar de uma cadeira, apenas para se manter firme.Lá estavam. As três palavras que mais queria ouvir. Mas Matt nem notara o efeito que tais palavrastiveram nela, porque ainda estava falando. Ela não esperara aquilo. Um sorriso curvou os cantos desua boca, mas ela forçou-se a ouvir.

– Eu sabia que você precisava de tempo para acreditar em mim. – Matt suspirou. – Afinal decontas, praticamente garanti isso, indo embora sem ao menos falar com você, nove meses atrás.Você nunca acreditaria na minha palavra se lhe contasse o que sinto por você. Por que deveriaacreditar?

– Matt... – Ela tentou interromper, dizer que também o amava. Que não queria desperdiçaroutro momento com dúvida, com desconfianças. Queria agarrar a vida... e ele... e nunca maissoltar. Queria dizer tantas coisas, mas Matt estava numa espécie de embalo, e continuou falando:

– Eu queria que você se sentisse segura. Que me amasse de volta. Que soubesse que nuncamais a deixaria. – Balançando a cabeça com desgosto, ele parou na frente da cafeteira, serviu duasxícaras, então não se incomodou em beber da sua.

– Então, o que mudou? – perguntou ela. – Por que você não quer mais o grande plano?Ele deu-lhe outro olhar intenso.– J.D. morreu. Ele não estava esperando aquilo. Não fizera um plano para morrer. Estava

apenas parado ali, fazendo um brinde à filha, e de repente... ele se foi.– Eu sei, Matt, mas...

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– Não. – Matt meneou a cabeça e colocou as mãos nos ombros dela. – Sem “mas”. Naquelanoite, vi como as coisas podem mudar rapidamente. Acabar. Eu percebi que, indo devagar comvocê, poderia estar arriscando tudo. Então desisti. Não vou mais conquistá-la aos poucos. Vou lhedizer como vai ser entre nós.

– Tem certeza? – Kayla estava tão feliz que sentia vontade de dançar, cantar, gritar. E umaparte sua sabia que, no meio da tristeza que haviam sentido dias antes, a vontade de ser feliz erauma vitória em si.

– Tenho certeza. Eu a amo. Sempre a amei. Eu era muito covarde para admitir isso nove mesesatrás, mas não sou agora.

– Matt...– Deixe-me terminar.– Tudo bem. – O coração de Kayla estava batendo tão freneticamente que era um milagre que

ele não pudesse ouvir.– Eu comprei uma casa em Malibu no mês passado. Fica sobre um penhasco, com vista para o

oceano.– Parece maravilhosa.– Há uma sala lá que é perfeita para um estúdio de artista. Repleta de luz natural, e com uma

vista estupenda.– Estúdio de artista? – O coração dela bombeou ainda mais forte no peito.– Para você, Kayla. – Ainda segurando os ombros dela, Matt fitou-lhe os olhos. – Você pode

pintar o dia inteiro, se quiser. Ou pode tomar o comando daquela galeria na qual costumavatrabalhar, depois da faculdade, lembra?

– É claro que lembro. Eu adorava aquela pequena galeria. – Era onde Kayla tinha aprendidotudo que sabia sobre artes e artistas. – Como assim, posso tomar o comando da galeria?

– Eu a comprei – declarou ele. – Fechei o negócio esta manhã por telefone.Ela balançou um pouco, mas as mãos dele mantiveram Kayla firme.– Esta foi a galeria que você comprou? Para mim?– É claro que foi para você! – Matt puxou-a para mais perto, tão perto que podia sentir o

coração dele batendo tão rapidamente e ferozmente quanto o seu. – Eu a amo. Quero você comigo.Em Los Angeles.

– Los Angeles?– Cheyenne é nosso lar, também. Eu entendo isso, agora mais do que sempre. Ficar longe foi

difícil para mim. – Ele abaixou a cabeça para a dela. – Manteremos nossas duas casas, se você

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quiser, e passaremos tempo cada ano nos dois lugares. Mas sim, meu emprego para os Lassiter é emLos Angeles, e preciso de você lá comigo, Kayla. Mais do que precisar, quero você lá comigo.

– Quer que me mude para Los Angeles com você?Meu Deus, mudar sua vida inteira? Kayla poderia fazer isso? Queria fazer isso? Fitando os

olhos de Matt, soube que a resposta para a última pergunta era um ressonante sim. O querealmente tinha em Cheyenne? Alguns bons amigos e um bom emprego na galeria de outra pessoa.Mudar-se para Los Angeles lhe daria o homem de seus sonhos, sua própria galeria e, talvez, atémesmo a chance de começar a pintar, novamente. L.A. não era uma cidade tão atraente comoCheyenne, mas tinha Matt.

– Não. Bem, sim. Nós podemos nos casar na costa.– Nós vamos nos casar? – Kayla riu e balançou a cabeça. Aquilo era demais, sua mente estava

girando.Ele beijou-a longa e apaixonadamente, então respirou e disse:– Eu fiz uma completa confusão na ordem das coisas que falei. Sim, quero que nós nos

casemos. Estou pedindo você em casamento, mesmo que não esteja fazendo um bom trabalhonisso. Estou lhe pedindo uma chance. Pedindo que você acredite que a amo, e que pode confiar emmim. Para sempre.

– Sim. – Uma palavra simples, mas a única que ela precisava. A única palavra importante nomundo, no momento. Engraçado, agora parecia tudo tão fácil. Kayla se questionara e se preocuparadurante meses sobre o que sentia por Matt. O que faria, se ele voltasse. E agora, ele estava lá e eratudo tão... simples. Ela o amava. E agora, sabia que Matt também a amava.

Estar com ele era tudo o que importava. Los Angeles. Cheyenne. Em qualquer lugar queestivessem, se estivessem juntos, tudo seria perfeito.

– Sim? – Ele a olhou, e tanto amor brilhou nos olhos verdes que Kayla teve a resposta paracada questão que poderia ter levantado.

– Sim, eu me casarei com você – sussurrou ela, erguendo uma das mãos para lhe segurar orosto na palma. – Eu amo você, Matt. Sempre o amei. Eu estava apenas tão zangada e ferida.

Matt virou o rosto na mão dela e beijou-a.– Eu sei. E vou sempre lamentar ter feito você sofrer, mas posso prometer que isso nunca mais

acontecerá, Kayla.– Eu acredito em você – disse ela, e colocou-se na ponta dos pés, para beijá-lo. – E não quero

passar outro minuto da vida sem você.

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– Graças a Deus – murmurou ele, e envolveu-a no círculo de seus braços, antes de beijá-la atéque ambos estivessem ofegantes. Finalmente, levantou a cabeça, fitou-lhe os olhos e sussurrou: –Você é tudo para mim, Kayla. Eu a amo agora e para sempre.

– Isso é tudo que preciso saber, Matt. Eu também o amo, e não vejo a hora de ver o estúdio deartista que você tem esperando por mim.

Ele sorriu.– Você poderá vê-lo em algumas horas. Nós viajaremos esta noite, no avião particular dos

Lassiter.– Esta noite?Ele segurou-lhe o rosto na palma.– Não vamos desperdiçar mais nem um minuto, Kayla. Vamos começar a viver nossa vida,

juntos, agora.– Mas a galeria... Eu tenho de pedir demissão. E há Angie. Eu não deveria deixá-la num

momento como este.Matt abraçou-a apertado, então a olhou.– Nós daremos todo nosso apoio a Angie e Evan. Uma vez que as coisas se acalmarem por

aqui, voltarão para Los Angeles, também. Até lá, podemos voar de volta para cá, no próximo fim desemana. E então, ficaremos por quanto tempo precisarem de nós. Certo?

Eles realmente podiam ter o melhor dos dois mundos. A casa de Matt no penhasco, em LosAngeles, e seu chalé, ali em Cheyenne. Ela não estaria realmente abrindo mão de nada para semudar; em vez disso, estaria ganhando tudo.

Kayla ia dar aquele salto de fé. Sabia que estar com Matt faria sua vida mais feliz do que ela jáimaginara possível.

Ela sorriu-lhe, deleitando-se na promessa de amor e vida, e de um futuro que parecia maisbrilhante do que qualquer um que poderia ter sonhado.

– Eu vou pegar a minha bolsa.

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PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A.

Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

Título original: BEAUTY AND THE BEST MANCopyright © 2014 by Harlequin Books S.A.Originalmente publicado 2014 por Harlequin Desire

Arte-final de capa: Ô de Casa

Produção do arquivo ePub: Ranna Studio

ISBN: 9788539818723

Editora HR Ltda.Rua Argentina, 171, 4º andarSão Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380

Contato:[email protected]

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Capa

Texto de capa

Rosto

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Créditos

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