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Questões de género e equidade na prática e política de reassentamento involuntário devido à
aquisição de terras para investimentos económicos de grande escala
Estudo de caso de dois projectos de reassentamento na Província de Maputo, Moçambique.
Relatório de Pesquisa
Wanjiku Kiambo
Janeiro de 2017
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Questões de género e equidade na prática e política de reassentamento involuntário devido à
aquisição de terras para investimentos económicos de grande escala
Estudo de caso de dois projectos de reassentamento na Província de Maputo, Moçambique.
Autor: Wanjiku Kiambo
Supervisão: Issufo Tankar & Alda Salomão
Revisão: Issufo Tankar & Tânia Pereira
Layout: Manuela Wing
Citação: Kiambo, W. (2016). Questões de género e equidade na prática e política de reassentamento
involuntário devido à aquisição de terras para investimentos económicos de grande escala. Estudo de
caso de dois projectos de reassentamento na Província de Maputo, Moçambique. 44 pp, Maputo,
Centro Terra Viva.
Os recursos para a pesquisa conduzida sob este projecto foram fornecidos pelo Centro de Governação do Instituto de Recursos Mundiais com o apoio da USAID.
Maputo, Janeiro de 2017
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Índice
Sumário executivo ........................................................................................................................1
1. Introdução .............................................................................................................................3
2. Objectivos e âmbito da pesquisa ...........................................................................................5
3. Metodologia e limitações ......................................................................................................5
4. Revisão da literatura sobre reassentamento involuntário ....................................................7
4.1 Revisão da literatura sobre reassentamento involuntário .................................................8
4.2 Reassentamento involuntário e quadro regulamentar em Moçambique .......................13
5. Enquadramento político: Contexto jurídico do reassentamento devido a investimentos em larga escala em Moçambique ...............................................................................................16
6. Estudo de Caso 1: Reassentamento de residentes da Malanga devido à ponte Maputo - Catembe. .....................................................................................................................................20
6.1 Antecedentes .............................................................................................................21
6.2 O processo de reassentamento dos residentes afectados da Malanga ....................23
6.3 Compensação e realocação ........................................................................................25
6.4 Experiência das comunidades de acolhimento ..........................................................38
6.5 Integração nas comunidades de acolhimento nos locais de reassentamento ..........42
6.6 Discussão dos resultados do estudo de caso da Malanga .........................................44
7. Estudo de Caso 2: Reassentamento involuntário na comunidade de Mbatchene, região de Sabié do Distrito de Moamba. ....................................................................................................47
7.1 Antecedentes .............................................................................................................47
7.2 Resultados ..................................................................................................................50
8. Conclusões e Recomendações ............................................................................................54
Referências bibliográficas ...........................................................................................................57
Anexo 1 .......................................................................................................................................59
Anexo 2 .......................................................................................................................................62
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Lista de abreviaturas Acrónimo Significado
ADB Banco Asiático de Desenvolvimento
AVSI Fundação AVSI Moçambique. ONG
CBD Centro financeiro
CMM Conselho Municipal de Maputo
CMVB Conselho Municipal da Vila de Boane
DUAT O direito de uso e aproveitamento de terra. Em Moçambique toda a terra pertence ao Estado. Indivíduos ou empresas podem obter o direito de uso e aproveitamento de terra. Qualquer detentor deste direito que for deslocado por qualquer motivo tem direito à compensação por qualquer infra-estrutura que tenha construído sobre a terra.
EDM Electricidade de Moçambique
Maputo Sul
Empresa Publica do Desenvolvimento de Maputo Sul, E.P.,
My love Uma carrinha da caixa aberta ou de transporte de mercadorias que transporta pessoas, na posição erecta, na parte traseira. "My love" vem do facto que a pessoa tem que prender-se firmemente àqueles em torno dela para evitar a queda.
NGO Organização Não Governamental
ORAM Organização Rural de Ajuda Mútua, NGO.
RAP Plano de Acção para o Reassentamento
SDPI Serviços Provinciais de Planeamento e Infra-estruturas Este escritório de infra-estrutura e planeamento está presente ao nível distrital
TPM Transportes Públicos de Maputo. Esta é uma empresa estatal cujas operações são subsidiadas pelo governo. É a forma de transporte preferida pelas comunidades reassentadas porque o preço é fixado em 10 meticais por cada viagem de ida, e você pode levar bagagem no autocarro sem incorrer em nenhum custo.
WB Banco Mundial
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Lista de Tabelas
Tabela 5.1: Artigos seleccionados da legislação relativa ao reassentamento causado por investimentos económicos, que abordam problemas perenes do reassentamento involuntário no sector mineiro. ...................... 17 Tabela 6.1: Cronograma da componente de reassentamento do projecto da ponte Maputo -Catembe .................. 20
Lista de Figuras
Figura 6.1: Mapa de localização do bairro da Malanga em Maputo. Fonte: CMM 2016. ........................................... 21 Figura 6.2: Fonte de água comunal no local de reassentamento de Tenga. ................................................................ 29 Figura 6.3: Tanque de armazenamento de água (1.000 litros) numa parcela em Mahubo. ....................................... 30 Figura 6.4: Instalação eléctrica no local de reassentamento em Tenga. ...................................................................... 31 Figura 6.5: Veículos particulares (my love) que fornecem transporte entre os locais de reassentamento e as cidades maiores. .............................................................................................................................................................. 33 Figura 6.6: O acesso restrito entre o local de reassentamento de Tenga e a estrada N4. .......................................... 35 Figura 6.7: Lenha usada para cozinhar no local de reassentamento de Tenga. ........................................................... 36 Figura 7.1: Mapa de localização da área em que vive a comunidade Mbatchene. Fonte: INE, 2013. ........................ 47 Figura 7.2: Casas de dois membros da comunidade de Mbatchene tornadas inacessíveis por cercas. ..................... 48 Figura 7.3: Área cercada na comunidade de Mbatchene, povoada com animais selvagens. ..................................... 49 Figura 7.4: Membros da comunidade presentes na entrevista com a equipe de pesquisa. ....................................... 50 Figura 7.5: Uma das casas construídas pelo investidor para reassentar os membros da comunidade. ..................... 51
Sumário executivo
O governo de Moçambique regulou o reassentamento involuntário, causado por investimentos
económicos, através de uma lei que foi aprovada em 2012. A lei inclui boas práticas globais
sobre a política de reassentamento involuntário como a compensação por perdas tangíveis e
intangíveis e redes sociais dilaceradas; a preparação de um Plano de Acção para
o reassentamento, que orienta o projecto de reassentamento; entre outros. Este relatório
apresenta os resultados de um estudo sobre a medida na qual a igualdade de género e as
questões de género são integradas na lei de 2012. Em especial, a lei relativa ao reassentamento
involuntário, devido a investimentos económicos foi analisada no contexto de dois estudos de
caso, com duas categorias diferentes de investidores: Estudo de Caso 1 (bairro da Malanga e
ponte Maputo-Catembe) no qual o governo é o investidor e Estudo de Caso 2 (Santuário de Vida
Selvagem de Mbatchene) no qual o sector privado é o investidor.
O estudo descobriu que, embora a legislação de 2012 seja progressiva e procure solucionar os
projectos insatisfatórios de reassentamento involuntário na indústria de mineração, que se
baseavam apenas na lei de terras, falta-lhe a integração do género e a igualdade de género. A
legislação não fala especificamente sobre questões de género. Ela fala da população reassentada
como um grupo uniforme e, ao fazê-lo, não fornece orientações sobre como identificar e
abordar as questões diferenciadas de género que garantem resultados positivos no
reassentamento.
No primeiro estudo de caso, o maior constrangimento em uma experiência e resultado de
reassentamento satisfatórios, foi identificado como sendo falta de tempo. A implementação do
reassentamento dos membros afectados da comunidade de Malanga (do cálculo da
compensação à integração na comunidade de acolhimento) decorreu durante um período de
quatro meses. O ritmo acelerado da actividade permitiu apenas a observação de aspectos
técnicos do reassentamento, como o cálculo da compensação e o parcelamento de terras nos
locais de reassentamento. Os aspectos de género do reassentamento, que envolvem a redução
do risco de empobrecimento da população reassentada, não foram considerados. Isto foi
possível porque supostamente, a pressão do tempo forçou a Maputo Sul a concentrar-se na letra
da lei e não no espírito da mesma. Isso resultou num risco significativo de empobrecimento da
população, tanto da população reassentada como da hospedeira.
O segundo estudo de caso revelou as formas nas quais os requisitos de consulta da comunidade,
previstos na legislação de reassentamento de 2012, podem ser abusados por àqueles
familiarizados com o sistema. O Estudo de Caso envolveu a aquisição forçada de terras
comunitárias por um investidor do sector privado, que trabalhou em parceria com alguns
membros da autoridade local. Muitos dos requisitos da legislação de reassentamento foram
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observados pelo investidor, inclusive alegando que a comunidade havia sido consultada. O
projecto de investimento procurou tomar partido do princípio de "boa-fé" no uso da terra da lei
de terras, frustrando deste modo os membros da comunidade que se opuseram às referidas
acções em silêncio.
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1. Introdução
A ONG Centro Terra Viva (CTV), com financiamento do Instituto de Recursos Mundiais (WRI),
implementou um projecto que visa promover a integração da perspectiva de género nas
políticas e práticas de aquisições de terras em larga escala (LSLAs) para investimentos
económicos. O estudo centrou-se no reconhecimento de oportunidades para fortalecer o papel
e o envolvimento das mulheres como actores na tomada de decisão no processo de
reassentamento, particularmente no contexto de um crescente apetite económico e comercial
pela aquisição de terras.
Este relatório baseia-se no trabalho realizado em 2015 pelo CTV e WRI sobre as mulheres e os
direitos de uso de terra em Moçambique. O estudo de 2015, Equidade de género e participação
comunitária no processo de tomada de decisão na atribuição do DUAT, analisou o grau de
envolvimento das mulheres nas consultas comunitárias relacionadas à aquisição (por alguém
externo à comunidade) de terras pertencentes a comunidade bem como aos direitos de uso da
terra. O estudo constatou que, embora a Constituição de Moçambique atribua direitos iguais aos
homens e às mulheres no que concerne ao uso da terra e aos direitos de ocupação, muitos nas
comunidades continuam ignorantes sobre este facto. Por esta razão, as mulheres em particular,
sofrem as consequências da desigualdade ou exclusão em relação aos direitos à terra (e às
prestações associadas). Verificou-se que os procedimentos em torno das consultas comunitárias
carecem de preparação da comunidade, particularmente das mulheres. As comunidades não
foram preparadas para as consultas, particularmente sobre o que é uma consulta: os objectivos,
procedimentos e expectativas do processo de consulta da comunidade. As práticas tradicionais
asseguraram que os homens fossem o principal grupo a oferecer livremente suas opiniões
durante reuniões públicas e consultas comunitárias. A preparação de ambos, homens e
mulheres, antes da consulta garantiria que a comunidade fosse informada dos seus direitos e
fosse capaz de negociar um futuro melhor.
A ênfase nas perspectivas de género e na integração da perspectiva de género, particularmente
em projectos que afectam as comunidades, é considerada um passo significativo para o
desenvolvimento sustentável. A definição de género utilizada neste estudo é a universal e define
o género como o "conjunto de qualidades e comportamentos esperados dos homens e das
mulheres pela sociedade" (PNUD 2007, citando Groverman e Gurung, 2001). A prática da
integração da perspectiva de género é portanto, "o processo de avaliação das implicações para
as mulheres e os homens de qualquer acção planeada, incluindo legislação, políticas ou
programas, em todas as áreas e a todos os níveis. É uma estratégia para tornar as preocupações
e experiências das mulheres e dos homens uma dimensão integral da concepção,
implementação, monitoria e avaliação de políticas e programas em todas as esferas políticas,
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económicas e sociais, de modo a que mulheres e homens beneficiem-se igualmente e a
desigualdade não seja perpetuada." (ECOSOC 1997/2).
Embora o objectivo da integração da perspectiva de género seja assegurar a igualdade de
género, isto é, a expectativa igual de homens e mulheres, a maior parte do trabalho feito
concentra-se nas mulheres. Este facto é devido à desigualdade enfrentada pelas mulheres que
as coloca em desvantagem em relação aos homens na sociedade. No contexto moçambicano, os
dados demográficos mostram uma maior tendência das mulheres a suportar desigualmente o
peso do sofrimento e do desequilíbrio social e familiar, causado pelas actividades de
desenvolvimento que perturbam o status quo sem procurar mitigar os efeitos negativos.
Tem-se argumentado que a igualdade de género é vital para a realização do mundo mais
saudável, feliz e rico que buscamos quando nos envolvemos em projectos de desenvolvimento.
Durante o seu mandato como Secretário-geral da ONU, Kofi Annan disse:
Sessenta anos se passaram desde que os fundadores das Nações Unidas inscreveram na
primeira página da nossa Carta a igualdade de direitos das mulheres e dos homens.
Desde então, estudo após estudo ensinou-nos que não há ferramenta para o
desenvolvimento mais eficaz do que o empoderamento das mulheres. Nenhuma outra
política é tão propensa a aumentar a produtividade económica ou a reduzir a mortalidade
infantil e materna. Nenhuma outra política é tão segura para melhorar a nutrição e
promover a saúde - incluindo a prevenção do HIV/SIDA. Nenhuma outra política é tão
poderosa para aumentar as chances de educação da próxima geração.
(WCRWC 2005: 1).
A pesquisa apresentada neste relatório consiste em dois estudos de caso a partir dos quais
podemos aprender até que ponto o género analisa as implicações do reassentamento
involuntário nos papéis de género das populações afectadas e concentra-se particularmente nas
preocupações das mulheres. Seguindo um esboço dos objectivos do estudo e a metodologia
utilizada, o relatório será apresentado em três secções, a primeira das quais inclui um capítulo
revendo a literatura sobre o reassentamento involuntário no contexto global, africano e
moçambicano. Um outro capítulo analisa o quadro legal moçambicano sobre o reassentamento
involuntário.
A segunda secção apresenta os resultados empíricos dos dois estudos de caso seleccionados de
reassentamento involuntário em Moçambique: Mbatchene e Malanga. Consiste num capítulo
que incide sobre o caso de Malanga, e um segundo capítulo que incide sobre o caso de
Mbatchene. A terceira secção apresenta as conclusões e recomendações deste estudo.
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2. Objectivos e âmbito da pesquisa
O objectivo do estudo foi reunir evidências para apoiar a promoção da integração de género
(integração das considerações de género, igualdade de género e maior participação de homens e
mulheres) na tomada de decisões sobre as comunidades afectadas pelo reassentamento
involuntário, que é desencadeado pelas aquisições de terra para investimento económico. Isto
foi feito através de (a) identificação de lacunas na prática e quadro político existentes e (b) nos
termos legais da parceria entre as comunidades locais e o investidor.
A pesquisa concentrou-se em dois estudos de caso. No primeiro estudo de caso, o governo foi o
investidor. O governo (sob a forma da empresa paraestatal, a Empresa de Desenvolvimento de
Maputo Sul, E.P ou Maputo Sul - como será referida neste relatório) foi o investidor que esteve a
adquirir terrenos urbanos para investimento económico em infra-estruturas de estradas e
pontes. O reassentamento involuntário resultante já havia deslocado 600 famílias (até Setembro
de 2016) da área urbana para as áreas rurais ou peri-urbanas.
No segundo estudo de caso, um indivíduo estrangeiro, em parceria com dois homens de
negócios locais foram os investidores privados. O projecto estava localizado na região de Sábie
do distrito da Moamba. O projecto envolveu a aquisição e a cerca de terras comunitárias a fim
criar um santuário de vida selvagem para servir como atracção turística. O reassentamento
involuntário resultante visou transferir os membros da comunidade das suas terras para uma
área próxima onde várias casas e um curral comum de gado já haviam sido preparados.
3. Metodologia e limitações
A metodologia de pesquisa utilizada foi de natureza qualitativa, empregando uma pesquisa
bibliográfica sobre o tema estudado, bem como a colecta de dados empíricos através do
trabalho de campo. O trabalho de campo consistiu em viajar e fazer observações directas nos
vários locais onde as partes interessadas estavam localizadas. Foram realizadas entrevistas
individuais cara a cara com as principais partes interessadas e, quando relevante, documentos
sobre o processo de reassentamento involuntário foram disponibilizados por estas partes
interessadas. As entrevistas foram semi-estruturadas seguindo os questionários, que podem ser
encontrados no Anexo 1, como uma directriz e permitindo que o entrevistado fornecesse
informações adicionais. As principais partes interessadas a quem o questionário seria
administrado, foram identificadas no início do estudo. Uma lista dos entrevistados auscultados
pode ser encontrada no Anexo 2. Durante o curso da pesquisa e das entrevistas, foram
identificadas outras partes interessadas (não inicialmente contempladas) como resultado da
informação dos entrevistados. As partes interessadas foram classificadas como:
1. Investidores - aqueles que implementam e pagam o projecto;
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2. Instituições governamentais ou autoridades locais - os responsáveis pelo
acompanhamento do reassentamento em conformidade com o que a lei exige;
3. Comunidades reassentadas ou reassentados - as comunidades que foram deslocadas de
suas casas porque a área era necessária para o investimento económico;
4. Comunidades de acolhimento ou anfitriões - as comunidades que receberam os que
foram deslocados devido ao investimento económico.
O trabalho de campo foi realizado em cinco comunidades principais: Comunidade de Malanga na
Cidade (e Distrito) de Maputo, Província de Maputo; Localidade de Tenga, Distrito de Moamba,
Província de Maputo; Bairro de Chamissava, Distrito Municipal de Catembe, Província de
Maputo; Localidade de Mahubo, Município da Vila de Boane (CMVB), Distrito de Boane,
Província de Maputo; comunidade de Mbatchene, Distrito de Moamba, Província de Maputo. Os
entrevistados no primeiro estudo de caso foram localizados em parcelas individuais de terra ou
habitações. Isso tornou favorável a realização de entrevistas porta-a-porta. Este estudo foi a
segunda vez (dentro de um período de um mês), onde uma equipe do CTV deslocou-se a essas
comunidades para recolher as suas opiniões sobre o reassentamento. A selecção de indivíduos
ou agregados familiares para as entrevistas evitou, portanto, aqueles que haviam sido
previamente abordados. Homens, mulheres e jovens foram entrevistados individualmente
porque a maioria deles estavam ocupados e envolvidos em actividades de construção quando a
equipe chegou ao terreno. A povoação de Tenga foi onde as entrevistas aos grupos focais foram
possíveis. Isto foi possível porque, sendo o primeiro lugar onde os residentes foram
reassentados, tinha uma população maior que já lá estava a sensivelmente mais tempo (e tinha
portanto, uma coesão social mais avançada) do que as outras duas áreas de reassentamento.
No segundo estudo de caso, os membros da comunidade estavam todos presentes numa única
reunião e a tensão prevalecente na reunião tornou contraproducente tentar separá-los em
grupos focais. Houve troca de acusações entre os membros da comunidade presentes, de que
alguns membros da comunidade e a administração local haviam conspirado com os investidores
para usurpar a terra de outros membros da comunidade. Devido a essa suspeita existente
dentro do grupo, foi melhor conduzir a reunião com todos os presentes para que não houvesse
acusações de que "tínhamos levado algumas pessoas para o canto e prometido algo em
especial". As perguntas foram, portanto, feitas a todo o grupo e os membros, que teriam
formado os diferentes grupos focais de homens, mulheres e jovens; foram levados a responder
às perguntas relevantes a eles.
Muitas das entrevistas conduzidas ao nível da comunidade foram conduzidas em Changana, com
a assistência de interpretação fornecida por membros da equipe do CTV. Foram identificadas
outras partes interessadas no decurso das entrevistas realizadas.
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A principal limitação encontrada no decurso do estudo foi a falta de acesso às actas das
consultas públicas para as acções de reassentamento dos residentes de Malanga ou de
Mbatchene. O Plano de Acção de Reassentamento para os residentes de Malanga, o Plano de
Urbanização do Distrito de Moamba para a área de Tenga (reassentamento), as actas das
consultas comunitárias em Mahubo, Tenga e Mbatchene. No caso do plano de reassentamento
da Maputo Sul, a empresa que coordena e financia todos os aspectos do reassentamento disse
que o documento era um documento interno do governo que exigia permissão especial para a
divulgação a uma entidade não-governamental. A Maputo Sul informou também que o plano de
acção tinha sido partilhado com a Comissão de Direitos Humanos porque trata-se de uma
entidade do governo.
Com relação ao plano de urbanização de Tenga, os serviços distritais de planeamento e infra-
estrutura de Moamba indicaram que se tratava de um documento interno que não podia ser
divulgado àqueles fora da administração distrital. Relativamente às actas das reuniões de
consulta comunitária em Mahubo, Tenga e Mbatchene; durante as entrevistas cara-a-cara, as
autoridades locais prometeram dar acesso a estes documentos. Infelizmente, eles ficaram
extremamente ocupados após a entrevista, por isso não foi possível obter uma cópia das actas.
Ficou claro que dado o reassentamento ser uma actividade contínua com muitas falhas que
foram constantemente expostas nos média, houve reticências por parte do governo local para
fornecer informações detalhadas que poderiam potencialmente expô-los a mais críticas. Essas
limitações levaram à consulta dos arquivos das agências de média nacionais para preencher as
lacunas na informação relativa ao processo de reassentamento.
4. Revisão da literatura sobre reassentamento involuntário
Este estudo concentra-se nas populações directamente afectadas pelo deslocamento de suas
casas, a fim de abrir caminho para grandes investimentos económicos a serem implantados no
local das suas casas. Na literatura de desenvolvimento, este assunto é tratado sob vários temas:
deslocamento induzido pelo desenvolvimento, reassentamento involuntário, deslocamento e
reassentamento obrigatórios, realocação obrigatória, deslocamento e reassentamento forçado
pelo desenvolvimento, aquisição de terras em larga escala, aquisição de terras, reassentamento
involuntário e deslocamento económico, entre outros. Neste estudo, o deslocamento físico e/ou
económico de uma parte da população para abrir caminho ao desenvolvimento económico será
referido como reassentamento involuntário ou RI.
Independentemente do termo usado para descrevê-lo, o reassentamento involuntário é um tipo
de migração forçada. A maioria das migrações voluntárias é causada por factores de incentivo,
factores que atraem uma população primordialmente jovem a deslocar-se de um lugar para
outro que eles acreditam ser promissor para o seu progresso social e económico. Além disso, os
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migrantes têm a rede de segurança social das "pessoas que ficaram nas suas casas". Toda a
migração involuntária é causada por factores de impulso, situações de perigo extremo para si
próprio ou para a sua subsistência, ou obrigação definida pelas autoridades de se deslocar, que
deixam os deslocados sem a opção de permanecer onde vivem actualmente. Este capítulo
fornece uma visão geral da literatura sobre reassentamento involuntário, incluindo as fases, os
riscos que são reconhecidos e mitigados nas salvaguardas.
4.1 Revisão da literatura sobre reassentamento involuntário
O reassentamento involuntário em tempo de paz tem sido principalmente causado por
actividades de desenvolvimento e, como Oliver-Smith (2009:4) os denomina, "padrões
internacionais que concedem ao Estado o direito de levar os bens para metas nacionais". Estas
actividades de desenvolvimento são investimentos económicos em infra-estrutura (estradas,
ferrovias, barragens, resorts, painéis solares, plantações agrícolas) que requerem a conversão de
grandes áreas, geralmente já povoadas, para o uso industrial ou económico. O financiador
dominante e autor do RI ao longo dos anos 1980 e 1990 foi o sector público - governos nacionais
financiados por um banco de desenvolvimento multilateral ou regional. No entanto, cada vez
mais, o sector privado está também a financiar projectos de desenvolvimento e a adquirir
grandes extensões de terras ocupadas e causando o deslocamento dessas comunidades
(German et al., 2011).
Uma das razões pelas quais o impacto do reassentamento involuntário sobre os directamente
afectados que é muitas vezes descontado é a posição de que os seres humanos têm uma longa
história de migrar de um lugar para outro em busca de melhores perspectivas de vida. O trauma
causado pelo reassentamento involuntário é porque esta é uma situação obrigatória que
desmantela e desorganiza as vidas, as actividades, os laços sociais e económicos e espirituais e o
capital social que as pessoas ou famílias construíram arduamente ao longo do tempo. Ele força a
maioria das pessoas e famílias a começar de novo num espaço físico ou económico diferente,
com menos recursos disponíveis do que eles tinham no dia anterior ao que foram forçados a
mudar-se. Os projectos de desenvolvimento deslocam mais de 15 milhões de pessoas
anualmente (Oliver-Smith 2009 citando Cernea 2005). Os deslocados podem ser deixados
sozinhos a cuidar de si próprios, sem apoio, ou podem ser reassentados pelo autor do seu
deslocamento, ficando vítimas de projectos de reassentamento "inadequadamente financiados,
mal projectados e incompetentemente implementados" (Oliver-Smith 2009:4). Embora os
projectos de desenvolvimento usem uma linguagem económica e promessas de uma vida
melhor para a maioria, se não todos, para justificar o deslocamento das populações, "o
reassentamento é fundamentalmente um fenómeno político, envolvendo o uso do poder por
uma das partes para relocalizar a outra" (Oliver-Smith 2009:5).
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1. O reassentamento involuntário começou a ser estudado detalhadamente durante a década
de 1970, quando os países em desenvolvimento estavam envolvidos em grandes projectos
de infra-estrutura, como barragens e áreas naturais protegidas (Oliver-Smith, 2009). Estes
projectos deslocaram uma grande percentagem de populações nativas cujo destino pós-
deslocamento era frequentemente indocumentado e desconhecido. Os pesquisadores da
área reconheceram que os deslocados sofreram mais, em nome do "desenvolvimento para o
bem maior da nação", do que teriam sofrido se deixados sozinhos. Cernea (1997b) sintetizou
o empobrecimento ocasionado pelo reassentamento involuntário, que dividiu em oito
categorias, nomeadamente: (1) falta de terra, (2) desemprego, (3) desabrigo, (4)
marginalização, (5) aumento da morbidade e mortalidade, (6) insegurança alimentar, (7)
perda de acesso a recursos comuns de propriedade, (8) desarticulação social.
1. Falta de terra: A terra é um tipo de capital natural sobre o qual um sistema produtivo
pode ser montado (agricultura/indústria/comércio), permitindo que as famílias tenham
fontes de renda seguras. A falta de terra resulta em quedas significativas dos
rendimentos e das perspectivas da família.
2. Desemprego: Para aqueles cujos meios de subsistência dependem do emprego, o
deslocamento de um lugar cuja rede de emprego e respectivas exigências lhes é familiar
para uma área mais remota, resultará em desemprego ou subemprego.
3. Desabrigo: Mesmo quando a terra for alocada, o reassentado pode não ser capaz de
construir um alojamento adequado, resultando em perda de segurança, status e
desabrigo. De facto, em muitos casos, quando o processo de reassentamento está sob
pressão para ser finalizado rapidamente, os deslocados que "não podem cumprir com o
tempo, trabalho e custos financeiros envolvidos na reconstrução de uma casa ... são
levados a mudarem-se para alojamentos "temporários" … tornando o desabrigo crónico
em vez de temporário" (Cernea 1997b:13).
4. Marginalização: Trata-se de uma perda de poder económico resultante da falta de
oportunidade para exercer as habilidades e capacidades existentes no novo ambiente.
Essas famílias são, portanto, forçadas a funcionar num padrão de vida abaixo do que
gozavam anteriormente, resultando num status social reduzido ou perdido. A
marginalização económica também é reconhecida como um começo, antes do
deslocamento físico, porque as famílias são desencorajadas a investir mais nas suas casas
e empresas, retirando assim os planos de expansão da área pretendida para o
investimento económico.
5. Morbidade e mortalidade aumentadas: o declínio do estado de saúde dos deslocados é
esperado devido ao trauma do deslocamento, e infra-estrutura de saúde e básica
subdesenvolvida no local de reassentamento. Por exemplo, os sistemas de
abastecimento de água e de saneamento inadequados irão fazer com que os mais
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vulneráveis (bebés, crianças, idosos e doentes) fiquem doentes e o tratamento de saúde
não estará prontamente disponível, levando a um estado de saúde comprometido ou a
morte a longo prazo.
6. Insegurança alimentar: a população deslocada terá de encontrar uma outra fonte de
alimento diferente daquela a que estava acostumada. Isto pode resultar em dietas mais
pobres, particularmente quando este efeito é combinado com o desemprego e
marginalização, vistos em pontos anteriores.
7. Perda de acesso a bens e serviços comuns: antes do deslocamento, aqueles que já eram
vulneráveis e viviam à margem da sociedade, tinham acesso a bens comuns tais como
recursos hídricos, áreas de pastagem, áreas florestais, cemitérios, etc. Este acesso,
ajudou-os a satisfazer as necessidades diárias e alguns deles foram capazes de melhorar
as suas circunstâncias.
8. Desarticulação social: o processo de reassentamento rompe as redes sociais que existem
e resulta em uma perda de capital social acumulado ao longo de muitos anos. Isto resulta
em que muitos dos reassentados sentem-se impotentes e sem agência pessoal. Como
explica Cernea (1997b: 45), "projectos que realocam as famílias de forma dispersa,
rompendo os seus anteriores laços com vizinhos, em vez de mudá-los em grupos e
unidades sociais", causam uma maior ruptura nos laços sociais. Uma vez que as famílias
ou grupos de parentesco são realocados em locais diferentes, muitas cerimónias sociais
tornam-se muito caras devido à distância a ser percorrida para atendê-las,
particularmente diante de desafios de renda ou meios de subsistência reduzidos ou
mesmo nenhuns.
O risco de empobrecimento surge com bastante frequência, o que faz com que uma grande
percentagem das famílias deslocadas termine na pobreza e confrontadas com circunstâncias e
perspectivas muito piores das que teriam se tivessem sido deixadas em suas casas (Cernea
1997b). O trabalho realizado por Cernea (1997b) e outros, descreve a adopção pelo Banco
Mundial, no final da década de 1980, de um quadro de salvaguardas a serem observadas nos
projectos que financiou. Os três princípios orientadores fundamentais, conforme expostos na
síntese de lições aprendidas do Painel de Inspecção (dos processos de reassentamento do Banco
Mundial) (IBRD/Banco Mundial, 2016) são de que, em qualquer projecto de investimento
financiado pelo Banco Mundial, (1) o deslocamento involuntário deve ser evitado, caso
contrário, (2) os afectados devem ser compensados e devem beneficiar do projecto. (3) Deve ser
assegurado que os deslocados sejam apoiados para restabelecer um padrão de vida semelhante
ou superior ao que gozavam anteriormente. Além disso, um plano de reassentamento deve ser
elaborado (com uma parte desta actividade tendo em vista a colecta do perfil socioeconómico
dos deslocados para melhor permitir a restauração de seus meios de subsistência e padrões de
vida), sendo as pessoas vulneráveis identificadas e apoiadas ao longo do processo. Deve também
11
haver acesso a informação e a documentos sobre o processo de reassentamento, e um
compromisso de que as queixas serão recebidas (pela autoridade que realiza o reassentamento)
e abordadas adequadamente.
Estes princípios de salvaguarda foram adoptados por outros organismos de crédito ou de ajuda
que financiam projectos com potencial para levar ao reassentamento involuntário. Entre as
notáveis instituições que adoptaram salvaguardas semelhantes àquelas do Banco Mundial estão
o CFI (e outras instituições do BIRD), o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Asiático de
Desenvolvimento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros. De facto, os
"princípios do equador" do CFI foram adoptados por 80 instituições financeiras. As salvaguardas
do Banco Interamericano de Desenvolvimento incluem não apenas as populações reassentadas
mas também as populações de acolhimento no processo de compensação. Apesar dos princípios
admiráveis presentes nas salvaguardas ambientais e sociais, estas nem sempre são observadas
pelas partes que implementam os projectos. Há muitos casos de comunidades que apresentam
queixas por escrito às respectivas instituições de financiamento chamando a atenção para
violações nas medidas de salvaguarda (BIRD/Banco Mundial 2016).
As salvaguardas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aconselham que tanto as
populações reassentadas quanto as de acolhimento devem ter acesso a oportunidades de
desenvolvimento social e económico, devem sentir uma perturbação mínima nas suas redes
sociais e oportunidades e produção, devem recuperar das perdas causadas pelo processo de
reassentamento e do período que ele leva, e devem ter acesso à terra, recursos naturais e
serviços e ter pelo menos um padrão mínimo de vida. O BID também reconhece que as
identidades das comunidades indígenas estão ligadas à terra que ocuparam por várias gerações.
Reconhece-se que estas comunidades "são particularmente vulneráveis aos efeitos disruptivos e
empobrecedores do reassentamento [particularmente porque eles] muitas vezes não possuem
direitos formais de propriedade nas áreas de que dependem para a sua subsistência" (BID 2016:
2).
Notável entre as instituições financeiras de crédito é o Banco Asiático de Desenvolvimento, que
desenvolveu uma Lista de Verificação de Género para ser usada com os seus procedimentos de
salvaguarda. Esta lista de verificação fornece orientações passo a passo sobre a integração do
género no desenvolvimento de planos de reassentamento (BAD 2003). O documento reconhece
que, dada a desigualdade inerente à sociedade nos papéis de género, em circunstâncias normais,
só se pode esperar que as mulheres sofram uma maior pressão do que os homens numa
situação de reassentamento involuntário. Isto ocorre porque as mulheres em muitas sociedades
não têm direitos à terra ou à propriedade. Por conseguinte, elas não receberão cheques de
compensação ou terrenos no local de reassentamento. As responsabilidades de gestão
12
doméstica, como a busca de água, combustível, nutrição, assistência à infância e educação, o
cuidado dos membros da família, normalmente são trabalho das mulheres. Estas
responsabilidades são afectadas de forma negativa pelo reassentamento involuntário,
aumentando a carga sobre as mulheres para conduzir e apoiar os seus agregados familiares.
A Lista de Verificação de Género destaca as formas pelas quais as mulheres são afectadas pelo
reassentamento involuntário incluindo:
Perturbação das redes sociais e sistemas dentro da comunidade:
o Afecta a rede de segurança social que as mulheres tem, particularmente no que
diz respeito ao cuidado de menores quando a mãe estiver longe de casa,
o Cria condições de dificuldades económicas e sociais e, por conseguinte, maior
probabilidade de violência dos homens contra as mulheres,
o Pode piorar a saúde das mulheres,
o Irá causar o aumento da vulnerabilidade das mulheres grávidas ou as que acabam
de dar à luz,
Perda de meios de subsistência, particularmente para muitas mulheres que dependem
do pequeno comércio e outras actividades informais,
Exagero da desigualdade de género existente, pressionando os membros do agregado
familiar das jovens mulheres a contribuir mais para apoiar as famílias e, por conseguinte,
abandonar actividades como as actividades escolares ou àquelas adequadas à idade,
Restrição de movimento quando o reassentamento ocorrer numa área onde não há
transporte gratuito. Viagens para áreas para além do bairro requerem dinheiro.
Desde o início do século XXI, mais países em desenvolvimento têm procurado capital privado
para financiar investimentos em infra-estrutura, que se espera que aumentem os níveis de
desenvolvimento social e económico. As fontes de financiamento provenientes da Ásia
tornaram-se disponíveis para outras regiões (não asiáticas), aumentando assim a concorrência
entre as instituições de crédito multilaterais e regionais para os novos mutuários. É importante
notar que o Banco Mundial reviu a sua política de salvaguardas, com cerca de 20 anos, em 2016
(Banco Mundial, 2016) tendo recebido muitas críticas de organizações activistas de Direitos
Humanos. Estas organizações argumentam que o Banco Mundial enfraqueceu as suas
salvaguardas por, entre outros aspectos, ter removido a linguagem forte em apoio a: direitos
humanos, divulgação do processo de reassentamento e consulta às partes afectadas (INDR
2014). O objectivo desta diluição, tal como alegado pelas organizações, é para que o BM compita
melhor com outros bancos cujas condições de crédito não são tão exigentes e que mostram
pouca preocupação com a protecção dos direitos humanos das populações afectadas pelo
reassentamento involuntário. Esta crítica é de interesse para os países africanos porque os
13
governos africanos estão actualmente a desenvolver vastas redes de infra-estruturas de
transportes com financiamento proveniente de bancos chineses.
4.2 Reassentamento involuntário e quadro regulamentar em Moçambique
Melhoria dos bairros em Maputo
O Conselho Municipal de Maputo (CMM) possui vários anos de experiência em matérias ligadas
ao reassentamento involuntário dentro da cidade de Maputo. Isto decorre da necessidade de
deslocar alguns residentes, em projectos de renovação de bairros destinados a aliviar o
congestionamento em algumas partes da cidade ou a fornecer estradas de acesso e áreas
públicas em bairros residenciais não planificados. Em outros casos, foi necessário deslocar os
moradores da cidade que vivem ao longo da reserva rodoviária (quando as estradas estão a ser
melhoradas) ou residentes que vivem em áreas propensas a cheias (ou outras calamidades
naturais).
O CMM trabalhou com uma equipe multissectorial na modernização do bairro de Chamanculo
entre 2012 e 2014. A AVSI, uma ONG que forneceu apoio social e monitoria do processo de
reassentamento, fazia parte desta equipe multissectorial. O objectivo do projecto,
implementado com financiamento do Banco Mundial, era de abrir uma via de acesso que
descongestionaria a Avenida de Moçambique e facilitaria o fluxo de tráfego pelo bairro de
Chamanculo. O projecto original previa a realocação de mais de 200 famílias. No entanto,
considerando os custos e o impacto sobre os meios de subsistência da população afectada,
apenas 17 famílias foram reassentadas. A equipe de reassentamento montou um escritório em
Chamanculo, de onde realizaram estudos sócio-económicos de base da população afectada. Os
assistentes sociais estavam presentes para aconselhar a população afectada. Eles acabaram
sendo os membros da equipe mais ocupados porque os moradores foram conversar com eles,
não sobre o reassentamento, mas porque precisavam conversar com alguém sobre os
problemas nas suas vidas pessoais. Muitos casos foram encaminhados ao departamento de
trabalho social do CMM e às instituições governamentais que apoiam órfãos e outros cidadãos
vulneráveis.
O mecanismo de compensação adoptado neste caso foi a compensação monetária e um lote
completo de terra parcelada com DUAT em Chihango, na fronteira entre Maputo e o distrito de
Marracuene, com água e electricidade. O local de reassentamento não era densamente povoado
e não tinha áreas de comércio ou alto tráfego pedonal. Isto representou um desafio para os
meios de subsistência das mulheres reassentadas que eram vendedoras de mercado. Além disso,
o transporte público para o bairro não era confiável porque estava fora da rota principal dos
14
chapas e dos autocarros dos TPM. A distância, a falta de fiabilidade e o custo dos transportes
tornaram difícil para as crianças que frequentam a escola, frequentarem as suas escolas
habituais. Nas reuniões de consulta pública, as autoridades competentes haviam dito que seria
fácil obter transferências, mas quando chegou o momento, o processo foi considerado difícil e
burocrático. A equipe do projecto teve que ser muito insistente para finalmente obter
transferências escolares para as crianças reassentadas.
As famílias deslocadas de Chamanculo foram todos reassentadas em terrenos próximos um do
outro, e foram apoiadas e controladas pela equipe na fase de reassentamento e reabilitação.
Durante as reuniões com as famílias a serem reassentadas, quando perguntadas sobre que tipo
de casa elas desejavam no seu novo bairro, elas foram capazes de explicar que queriam algo
melhor do que elas já tinham. Elas não queriam deslocar de Chamanculo (os seus precários e
temporários alojamentos) para Chihango. A compensação que receberam não foi uma grande
quantia (entre 200.000 e 500.000 meticais - não o bastante para fazer uma casa boa e
completa). Os residentes que sentiram que o valor de compensação era muito baixo, escreveram
cartas de reclamação ao CMM. O município respondeu que não tinha mais dinheiro reservado
para o reassentamento, portanto não houve alteração no valor da compensação.
No processo de reassentamento e integração nas novas residências, alguns indivíduos da
comunidade de acolhimento reclamaram que sua terra havia sido usurpada pelo CMM. Eles
ameaçaram os reassentados que tiveram que ser protegidos pela polícia até que a questão fosse
resolvida. Embora todas as famílias tenham recebido cheques de compensação, nem todas
foram deslocadas para o local de reassentamento previsto. Algumas famílias foram capazes de
investir mais dinheiro do que foi recebido na compensação para construir uma casa confortável
para a família. Algumas famílias deslocaram-se para fora de Chamanculo, mas permaneceram
perto do Centro Financeiro de Maputo e construíram um alojamento no terreno que lhes foi
atribuído para manter presença no local. A maioria dos reassentados não construiu casas, mas
mudou os seus alojamentos improvisados de Chamanculo para Chihango. Assim que receberam
o dinheiro da compensação, o dinheiro foi gasto para resolver questões urgentes das suas vidas.
Com relação à água e à electricidade, o CMM foi capaz de fornecer uma fonte de água comum
para todas as casas reassentadas, e foi capaz de construir uma infra-estrutura para a
electricidade. As conexões de electricidade às casas individuais, foram pagas por cada agregado
familiar que o desejava.
Experiência de reassentamento em áreas protegidas e de mineração de carvão
A experiência de reassentamento devido à expansão das áreas protegidas em Moçambique tem
sido repleta de desafios. O exemplo do Parque Nacional do Limpopo mostra que o
15
reassentamento daqueles que viviam na área do parque para locais fora do parque, resultou em
muitas adversidades e empobrecimento (Eng. Meneses, comunicação pessoal, 20 de Outubro de
2016). A estrutura social em Moçambique é tal que, independentemente do nível de renda, a
mulher deve sempre ser colocada em desvantagem uma vez que ela atende às necessidades de
outros membros da família. As famílias afectadas pelo reassentamento no Parque Nacional do
Limpopo são principalmente famílias polígamas. A família é atribuída uma casa de dois quartos
para acomodar as referidas famílias, levando a um desconforto social em todos os membros da
família. Além disso, os locais de reassentamento carecem de um abastecimento consistente e
adequado de água e saneamento. O espaço para a prática da agricultura ou de pastoreio para o
gado ainda não está disponível, apesar das promessas do governo de que seria fornecido
gradualmente (Eng. Meneses, comunicação pessoal, 20 de Outubro de 2016).
Os projectos mineiros em Moma, Moatize, Manica e Sussundenga começaram antes da
aprovação em 2012 da lei moçambicana sobre o reassentamento causado pelo investimento
económico, que foi aprovada pelo Decreto 31/2012 de 08 de Agosto. A população de todos os
distritos directamente afectados por esses projectos experimentou os seguintes,
consistentemente não resolvidos (Selemane, 2010), problemas. Em todos os casos, as pessoas a
serem reassentadas não tiveram escolha quanto aos lugares para os quais iriam mudar-se.
Adicionalmente, os processos de reassentamento e os locais mostraram falta de:
Uma fonte sustentável de água (em um caso, a água foi fornecida semanalmente por um
camião cisterna por um período de pelo menos três anos),
Infra-estruturas sociais (hospitais, mercados e escolas) perto dos locais de
reassentamento,
Terra para agricultura de subsistência e pastagem,
Casas de qualidade para o reassentamento – as casas construídas para o reassentamento
já mostravam sinais de rachas nas paredes e vazamento nos tetos e as empresas de
mineração não as repararam. Em Moatize, as casas construídas para as populações
reassentadas careciam de uma fundação ou de pilares de suporte ou vigas,
Cumprimento das promessas de proporcionar casas decentes, emprego, empréstimos
para empresas de pequeno porte, água canalizada,
Comunicação clara, informativa, honesta e atempada entre a população reassentada e os
investidores.
16
5. Enquadramento político: Contexto jurídico do reassentamento devido a investimentos em
larga escala em Moçambique
Em Moçambique, o reassentamento involuntário no pós-guerra começou após a assinatura do
Acordo de Paz de Roma de 1992, como resultado do relançamento das actividades económicas
ou do início de novos investimentos. As empresas privadas começaram a fazer novos
investimentos em “megaprojectos” que envolveram a agricultura e a mineração no final da
década de 1990, criando a necessidade de uma lei sobre como lidar com o reassentamento
involuntário em face da aquisição de terras para investimentos económicos. A legislação relativa
ao processo de reassentamento decorrente das actividades económicas, o Decreto 31/2012, foi
aprovada num esforço para resolver as lacunas ou queixas constantemente enfrentadas, devido
ao deslocamento de populações locais pelos projectos de mineração.
Contexto jurídico
Existem quatro diplomas legais que regem a expropriação de terras e são relevantes para os dois
estudos de casos apresentados nesta pesquisa:
a. A Lei de Terras 19/1997, de 1 de Outubro, e o regulamento sobre o decreto da lei de
terras 66/1998,
b. Decreto 31/2012, de 8 de Agosto, regulamento relativo ao processo de reassentamento
resultante de actividades económicas,
c. Decreto 23/2008, de 1 de Julho, regulamento que fornece orientações sobre o
ordenamento do território,
d. Diploma Ministerial 181/2010 que aprova uma directiva sobre o processo e o cálculo da
indemnização quando a terra for de expropriação proveniente do ordenamento do
território.
A legislação sobre o processo de reassentamento resultante das actividades económicas
identifica a "população directamente afectada" como "aqueles que sofreram a perda total dos
seus bens tais como casas, meios de subsistência e outros tipos de infra-estrutura". O outro
grupo de afectados é identificado como "pessoas indirectamente afectadas", que são as
"pessoas que sofreram uma interrupção permanente ou temporária nas suas actividades
produtivas".
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Tabela 5.1: Artigos seleccionados da legislação relativa ao reassentamento causado por investimentos económicos, que abordam problemas perenes do reassentamento involuntário no sector mineiro.
Artigo Descrição
Artigo 1 - Definições
Parcela com infra-estruturas prontas - um espaço físico delimitado dentro de
uma área residencial que possui estradas de acesso, água canalizada,
electricidade e infra-estrutura de saneamento.
População directamente afectada - aqueles que sofreram a perda total de seus
bens, tais como casas, meios de subsistência e outros tipos de infra-estrutura,
População indirectamente afectada - aqueles que sofreram uma interrupção
permanente ou temporária nas suas actividades produtivas.
Artigo 4 - Princípios Coesão social – garantir a integração social e restabelecer o nível de vida, das
pessoas afectadas, para um nível mais elevado
Equidade social – todas as pessoas afectadas têm direito à restauração de um
nível de vida igual ou superior ao que elas gozavam anteriormente,
Benefício directo – as pessoas afectadas devem beneficiar directamente do
investimento (que causou a sua deslocação) e dos seus impactos socio-
económicos (positivos).
Equidade social – os locais de reassentamento devem ser seleccionados tendo
em mente a necessidade de criar acesso a meios de subsistência, serviços
sociais e recursos disponíveis.
Nenhuma mudança no nível de rendimento – os reassentados devem ter a
possibilidade de restabelecer o seu nível anterior do rendimento básico,
Participação pública – garantindo uma audiência às comunidades locais e outras
partes interessadas afectadas pelo reassentamento
Responsabilidade ambiental - onde quer que ocorra a poluição ou degradação
ambiental, a entidade responsável por ela deverá reparar ou compensar pelos
danos causados.
Responsabilidade social - o investidor deve criar uma infra-estrutura social que
promova a aprendizagem, o lazer, o desporto, a saúde, a cultura e outras
actividades de interesse para a comunidade.
Artigo 6 - Composição da
comissão técnica
A comissão deve ser composta por sete sectores ou partes interessadas:
Sector de gestão do uso da terra,
Administração local,
Obras públicas e habitação,
Agricultura
Membro de uma área similar
Governo provincial
Governo distrital
Sempre que necessário, um especialista de uma área relevante pode ser incluído nas
sessões de trabalho da comissão como participante.
Artigo 8 Outras partes interessadas no processo de reassentamento:
Deve haver a intervenção das seguintes partes interessadas:
representantes da população afectada
representante da sociedade civil,
três líderes comunitários,
18
dois representantes do sector privado
Artigo 10 Direitos dos afectados:
restabelecimento de um nível de rendimento igual ou superior ao anterior,
restabelecimento do padrão de vida a níveis iguais ou superiores aos anteriores,
transporte de bens e pessoas para o novo local de residência,
viver num espaço com infra-estruturas prontas e com serviços sociais,
ter um espaço para praticar actividades de subsistência, e
dar parecer sobre todo o processo de reassentamento.
Artigo 14 Direito à informação:
Os quatro parágrafos deste artigo fornecem uma orientação sobre o direito, do público
em geral e das partes interessadas, a informações sobre o processo de reassentamento.
1. "As partes interessadas e as pessoas afectadas têm direito à informação sobre o
conteúdo dos estudos referentes ao processo de reassentamento".
2. "A fim de incentivar e permitir a participação do público no processo, as entidades
responsáveis pela elaboração dos estudos referentes ao processo de reassentamento
devem divulgar os principais aspectos do plano em questão através dos meios de
informação relevantes e fornecer toda a documentação relevante para a consulta das
partes interessadas".
3. "Os órgãos da administração pública têm a obrigação de responder aos pedidos de
esclarecimento referidos no número 2 acima, na forma como estes foram enviados, bem
como considerar e tomar posição sobre as observações, sugestões e recomendações
apresentadas durante o processo de consulta pública, dentro de um período de 15 dias
úteis, contados a partir do dia em que a solicitação for feita".
4. "É obrigatório divulgar, por todos os meios necessários para o efeito, os seguintes
aspectos:
a) a decisão de iniciar o processo, identificando os objectivos a serem seguidos,
b) a comunicação do início do processo de reassentamento para o sector de ordenamento
do território,
c) o início e a duração da fase de consulta pública, e as suas respectivas conclusões,
d) os meios de implementação a serem usados.
Artigo 16 Modelo de reassentamento:
Este artigo estabelece que o reassentamento deve ocorrer em uma parcela residencial
que possua infra-estruturas prontas, que seja capaz de acomodar uma casa de três
quartos com um mínimo de 70m2. Esta deve ser construída com material convencional e
de acordo com uma planta da casa aprovada.
5. As áreas de reassentamento devem
As leis descritas no quadro acima foram utilizadas como documentos orientadores pelas
autoridades moçambicanas nos dois estudos de caso sobre o reassentamento involuntário. Estas
leis, no entanto, carecem de uma perspectiva de género. As leis existentes – apesar de
percorrerem um longo caminho para fornecer directrizes sobre como o reassentamento deve
19
ocorrer – não abordam em pormenor, muitas das circunstâncias encontradas nos dois estudos
de caso.
Os dois estudos de caso são apresentados a seguir, com ênfase nos procedimentos seguidos e na
extensão da sensibilidade de género apresentada.
20
6. Estudo de Caso 1: Reassentamento de residentes da Malanga devido à ponte Maputo -
Catembe.
Quando concluída, a ponte Maputo-Catembe terá uma extensão de 2.700 m e levará a um
aumento gradual da população da Catembe, dos actuais 20.000 para 400.000 num período de 10
anos (Wilson, 2011). Esta ponte, o maior projecto de infra-estrutura pública em Moçambique no
pós-independência, teve um custo de USD 315 milhões em 2010. Um empréstimo do Banco
EXIM da China cobre os USD 300 milhões, enquanto que os restantes USD 15 milhões serão a
contribuição do Orçamento de Estado do Governo de Moçambique (Jornal Noticias, 2012). O
número de famílias afectadas por este projecto nos bairros da Malanga e Luís Cabral é estimado
em pelo menos 800 famílias (4.000 pessoas) (Jornal Noticias, 26.09.2012). O cronograma do
projecto é apresentado na Tabela 6.1 abaixo.
Tabela 6.1: Cronograma da componente de reassentamento do projecto da ponte Maputo -Catembe
Data Evento
2010 A Maputo Sul, empresa paraestatal, é criada pelo governo de Moçambique para supervisionar a implementação do
projecto da ponte Maputo-Catembe e infra-estrutura associada.
Empréstimo do Banco EXIM da China disponibilizado para a construção da ponte* (este empréstimo não inclui
dinheiro para o reassentamento dos residentes afectados, este valor provém do Orçamento do Estado),
2011 Comunidades afectadas (Malanga, Luís Cabral) consultadas sobre o reassentamento.
2012 Julho: Acordo de financiamento assinado.
Setembro: inicia-se o trabalho de construção da ponte Maputo-Catembe.
Duas opções identificadas para o reassentamento dos moradores da Malanga:
Opção A: apartamentos de alta densidade na Catembe.
Opção B: parcelas de 20m x 40m para residências unifamiliares.
2013 Julho: Nomeado o novo PCA da Maputo Sul (Elias Paulo),
2014 Abril: Nomeado o novo PCA da Maputo Sul (Paulo Fumane),
Concurso lançado para a construção de apartamentos/condomínios mas é cancelado devido a irregularidades.
2016 Janeiro: Nomeado o novo PCA da Maputo Sul (Silva Magaia), o quarto em igual número de anos. Enfoque na
conclusão do projecto sem mais demora e no reassentando dos afectados, o que resulta na desistência da Opção A
e adopção da Opção B.
O reassentamento dos residentes da Malanga inicia em Março de 2016.
As zonas de reassentamento são: a localidade de Tenga, distrito da Moamba, província de Maputo; a aldeia de
Mahubo, município de Boane, província de Maputo; Chamissava, município da Catembe, província de Maputo.
Até Setembro, pelo menos 400 famílias (de cerca de 600) foram reassentadas e 400 milhões de meticais pagos em
forma de compensação.
21
Na sequência da assinatura do acordo de projecto entre os governos de Moçambique e da
China, foi decidido que o município de Maputo (CMM) não tinha capacidade de implementar um
projecto de tal magnitude (CMM, Agosto 2016). A empresa paraestatal, Empresa de
Desenvolvimento de Maputo Sul, E.P., ou Maputo Sul foi criada para implementar o projecto da
ponte. A Maputo Sul abrange os municípios de Maputo, Matola, Boane e Namaacha, e os
distritos de Marracuene, Boane, Matutuíne, Namaacha e Moamba (website da Maputo Sul). A
empresa é supervisionada pelo Ministério das Obras Públicas e Habitação e pelo Ministério das
Finanças (website da Maputo Sul). A Maputo Sul existe desde 2012, a sensivelmente quatro
anos, e teve o mesmo número de Presidentes do Conselho de Administração durante este
período.
6.1 Antecedentes
O bairro da Malanga situa-se próximo do Porto de Maputo, na zona baixa da cidade, e é
flanqueado por grandes avenidas e pelo mercado próximo da Malanga (Figura 6.1). O bairro foi
criado como resposta às necessidades de habitação dos trabalhadores temporários do Porto de
Maputo que necessitavam de alojamento que estivesse perto do seu local de trabalho. Com o
tempo, tornou-se num bairro com muitos blocos de habitação não planificada que serve como
lar para àqueles que migram para Maputo de várias partes de Moçambique.
Figura 6.1: Mapa de localização do bairro da Malanga em Maputo. Fonte: CMM 2016.
22
Os entrevistados mudaram-se para a Malanga de outros distritos ou províncias, tendo os
residentes mais antigos mudado para a Malanga imediatamente após a independência de
Moçambique. Os seus filhos e netos, no entanto, nasceram e cresceram na Malanga. Embora
muitos moradores da Malanga estejam formalmente empregados, um grande número dos
reassentados estavam ligados ao emprego informal e ao comércio.
Alguns dos homens eram trabalhadores ocasionais no Porto de Maputo ou no matadouro
vizinho ou eram agentes de segurança nos muitos complexos comerciais existentes nas zonas
residenciais, comerciais e industriais de Maputo. Outros homens viajaram para as províncias do
centro ou norte de Moçambique, ou para a África do Sul, em busca de oportunidades de
trabalho.
Das mulheres residentes na Malanga, algumas eram empregadas domésticas em residências de
Maputo. Muitas trabalharam como vendedoras no mercado da Malanga ou nas estradas de
outras áreas de comércio dentro da cidade. As mulheres possuíam ou alugavam bancas no
mercado da Malanga, onde elas armazenavam e vendiam diversos produtos (carvão vegetal,
vegetais, condimentos, refrigerantes, agrafos entre outras coisas). Alternativamente, elas
vendiam produtos nas suas casas ou na estrada. Algumas mulheres viajavam periodicamente
para a África do Sul para fazer compras de bens para a revenda. Elas eram dinâmicas, alternando
entre as diferentes actividades geradoras de rendimento, dependendo das condições
prevalecentes.
As mulheres entrevistadas disseram que estavam empregadas na economia informal como
vendedoras de pequena escala. Os seus maridos estavam empregados em empresas de
segurança privada em Maputo, como agentes de segurança de residências, lojas e outros locais
comerciais. Algumas mulheres viajavam periodicamente para a África do Sul com o propósito de
importar bens para revenda em Maputo. Uma residente da Malanga – que estava prevista para o
reassentamento, mas ainda não tinha recebido o seu cheque de compensação e, portanto,
continuava na sua residência – explicou um dos seus fluxos de rendimento:
Mesmo nos dias em que não consigo encontrar trabalho casual, eu ainda sou capaz de
ganhar algum dinheiro. Eu ando a volta do bairro e colecto garrafas [de plástico] vazias
descartadas que eu então limpo e encho com água. Eu as coloco na geleira, em casa, até
que a água congele. Então, eu as levo para a estrada e vendo a água gelada para os
clientes que por ali passam. Quando me mudar para Tenga, eu não sei o que vou fazer
para conseguir algum rendimento.
Mãe solteira, vendedora no mercado da Malanga.
23
Algumas das mulheres vendiam produtos específicos e não diversos produtos. Um exemplo é
uma mulher que concentrou-se apenas na castanha de caju.
Eu compraria até 25 quilos de caju. Iria processar as castanhas de caju em casa. Então, eu
as entregaria a um cliente sul-africano que viria ao mercado para colectá-las. Isto é como
eu costumava ganhar dinheiro.
Mulher entrevistada em Tenga.
6.2 O processo de reassentamento dos residentes afectados da Malanga
Os moradores da Malanga foram notificados pela primeira vez em 2011 do seu reassentamento
pendente, como resultado da construção da ponte Maputo-Catembe (Notícias, 2011). A
estrutura de apoio da ponte e as respectivas vias de acesso e rampas ocuparão a área afectada
de cerca de cinco blocos na Malanga: Blocos 40; 42; 44; 45 e 46 (MS, 2016). É importante notar
que este não foi o primeiro projecto de reassentamento para os moradores da Malanga. Houve
(no final dos anos 1990) um projecto dos Transportes Oliveira que queria adquirir a área próxima
à rotunda da Malanga/Toyota. Naquela época, os moradores afectados tinham sido avisados de
que, tarde ou cedo, teriam de mudar-se, de modo a que seria melhor não construir casas ou
infra-estruturas permanentes. Os moradores esperaram que o projecto avançasse, mas este não
foi adiante. Alguns moradores foram adiante e construíram casas de cimento, enquanto que
outros não. Isto, em última análise, teve impacto sobre o valor recebido como compensação da
Maputo Sul, porque aqueles com estruturas permanentes receberam um maior valor de
compensação do que aqueles com estruturas temporárias.
Os residentes da Malanga a serem afectados pela ponte Maputo-Catembe foram convidados em
2011, pela sua liderança local, a não investir em qualquer construção adicional de estruturas
permanentes ou convencionais, porque em breve seriam deslocados da área. Logo após a
transmissão desta informação, a Maputo Sul aproximou-se dos moradores afectados da Malanga
com a proposta de reassentá-los a todos em apartamentos (a serem construídos) na Catembe.
Cada agregado familiar registado receberia um apartamento. Esta proposta, apesar de atraente
para a juventude, foi rejeitada por muitos residentes. Estes moradores argumentaram que havia
muitos entre eles que eram velhos ou deficientes e, portanto, incapazes de lidar com o uso de
escadas numa base diária. Além disso, muitos residentes usavam lenha como combustível de
cozinha e sentiram que este estilo de vida era incompatível com a vida num apartamento.
A segunda proposta da Maputo Sul foi aquela em que a empresa ofereceu a escolha de três
possibilidades de compensação de reassentamento: chaves para um apartamento, chaves para
24
um espaço de vida comum - vivenda, e uma terceira possibilidade que era um cheque de
compensação que permitiria àqueles que assim o preferissem, a construir a sua própria casa. Em
2014, a Maputo Sul apresentou aos residentes afectados um valor de compensação de um
máximo de 300.000 meticais para cada agregado familiar. Os moradores afectados revoltaram-
se contra essa estimativa, insistindo que as suas casas valiam mais. As mulheres, em particular,
perguntavam entre si se esse valor era suficiente para construir uma casa convencional de
blocos de cimento, com dois quartos. Na conclusão desta reunião em particular, foi decidido que
a Maputo Sul deveria rever a sua metodologia de cálculo da compensação. Os residentes foram
convidados a eleger representantes para falar em seu nome, porque havia muitas vozes falando
ao mesmo tempo (Mulheres entrevistadas na Catembe, 2016).
A proposta final de compensação foi feita em 2015 e é a que foi implementada. Em Agosto de
2015, a Maputo Sul reuniu-se com os moradores da Malanga para apresentar a empresa de
consultoria Consultec, contratada para rever e actualizar o plano de acção de reassentamento da
Maputo Sul, para reavaliar o valor das residências e fornecer uma estimativa de quanto custaria
aos deslocados, a construção das suas novas casas. Nesta reunião, a Maputo Sul deixou claro
que os afectados seriam compensados "com um cheque de compensação e um terreno (a
escolha entre Tenga, Catembe ou Mahubo) com os respectivos direitos de uso de terra ou
DUAT" (MS, 2016: 3). Esta era a única opção agora disponível devido à pressão para acelerar o
reassentamento, a fim de concluir a construção da infra-estrutura. Os locais de destino do
reassentamento haviam mudado ligeiramente porque outros projectos de infra-estrutura, que
também exigiam o reassentamento involuntário, haviam ocupado as parcelas disponíveis em
áreas como Marracuene;
Queríamos que eles [Maputo Sul] construíssem casas para nós e não darem-nos dinheiro ... a
única coisa que queríamos que dissessem era: "Aqui está a chave. A sua casa está aqui". Esta
é a opção que preferimos. Veja esta mãe aqui, é idosa e os seus filhos não estão próximos
para ajudá-la. Quem a ajudará no processo de limpeza do terreno e construção de uma nova
casa?
Mulheres entrevistadas no grupo focal de Tenga.
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMM) facilitou o contacto inicial entre a Maputo
Sul e os residentes afectados. Para além disso, as estruturas municipais locais, nomeadamente
os chefes dos blocos e os secretários dos blocos, permaneceram empenhados no processo. O
CMM não foi posteriormente directamente contactado pela Maputo Sul para qualquer
assistência, nem integrou qualquer painel de tomada de decisão ou de revisão da Maputo Sul
(CMM, Agosto 2016). Esta foi uma oportunidade perdida porque o CMM tinha experiência prévia
25
em projectos de reassentamento involuntário que seguiam as directrizes de salvaguarda do
Banco Mundial. Esta experiência teria sido útil para a Maputo Sul e para os residentes
reassentados.
6.3 Compensação e realocação
A Maputo Sul calculou as compensações dos residentes afectados utilizando tabelas e fórmulas
fixadas num documento legal, o Diploma Ministerial 181/2010, de 3 de Novembro. Apesar de ser
baseado num documento legal, muitos moradores discordaram do valor final da compensação,
argumentando que as suas casas valiam muito mais. Durante a reunião da Maputo Sul com os
secretários da região, os mesmos (secretários) disseram que mesmo que o cálculo dos valores de
compensação tenham sido feitos com base no Diploma Ministerial 181/2010 e tenham sido
aumentados para até 30%, de modo a contabilizar os custos de inflação e realocação, estes
permaneceram "um autêntico roubo" aos residentes afectados (MS 2016).
O cheque de compensação foi passado em nome do chefe do agregado familiar, normalmente a
pessoa cujo nome estava no título da terra/casa. A divisão por género das pessoas que
receberam os cheques de compensação nas fases 1 a 4 do reassentamento foi de, 60% homens
e 40% mulheres chefes de família. As mulheres sem maridos, receberam o cheque directamente
enquanto que aquelas cujos maridos estavam presentes não receberam os cheques. Houve
casos de homens que estavam separados e já não viviam com as suas famílias mas receberam
cheques, porque eles eram considerados os chefes do agregado familiar. Em um dado caso, a
esposa foi capaz de reverter a decisão de dar o cheque ao seu marido de quem estava separada.
Num outro caso, um filho retornou do trabalho na África do Sul especificamente para recolher o
cheque de compensação e usou o dinheiro para concluir a casa que estava a construir num outro
bairro de Maputo. Ele foi capaz de obter o cheque em seu nome porque o seu pai havia falecido
e ele foi considerado o novo chefe do agregado familiar (e não a sua mãe). De acordo com a sua
irmã, a única consideração que ele mostrou a sua mãe foi fornecer 5 varões de ferro corrugado
para esta construir um alojamento para ela em Tenga, onde ela foi morar com uma filha mais
velha. O filho disse que uma vez terminada a sua casa, ele iria virar a sua atenção para a
construção de uma casa melhor para a sua mãe.
Mulheres provenientes de famílias poligâmicas foram entrevistadas durante a pesquisa. Em um
dado caso, a mulher foi a primeira esposa. O cheque de compensação foi dado ao seu marido.
Como ele era o único chefe dos dois agregados familiares, foi-lhe atribuído dois terrenos, mas
apenas um cheque. A primeira esposa tem cinco filhos e escolheu uma parcela em Tenga. A
segunda esposa também tem cinco filhos e escolheu uma parcela em Mahubo. A primeira
26
esposa explicou que tanto a sua casa em Tenga como a casa da sua co-esposa em Mahubo
estavam incompletas, faltando janelas e portas, porque elas tiveram que dividir o dinheiro ao
meio. Ela ficaria na Malanga o máximo que pudesse, porque a localidade de Tenga era fria e
ventosa e ela não queria correr o risco de levar os seus cinco filhos lá sem antes conseguir
completar a sua casa. Ela considerou o sistema de compensação injusto. A segunda esposa
encontrou-a construindo uma vida com o seu marido, contudo obteve um valor igual ao da
primeira esposa. Ela como primeira esposa, tinha investido tanto quanto o seu marido na
construção da casa em Malanga, mas a sua contribuição não foi reconhecida.
O processo de realocação, primeiro requereu que a família assinasse um livro para aceitar o
valor da compensação que a Maputo Sul iria pagar-lhes. Algumas pessoas não concordaram com
a avaliação final das suas casas (elas acreditavam que era muito baixa) e disseram que o método
usado para chegar ao valor do cheque de compensação, emitido pela Maputo Sul, não tinha sido
transparente. Aqueles que discordaram da avaliação final das suas casas e recusaram-se a
assinar um formulário de contrato, foram intimidados a aceitar os termos e condições da
compensação.
Foi-nos dito (pelos trabalhadores da Maputo Sul) que se não aceita-se-mos o valor que
eles queriam dar-nos, acabaríamos por perder as nossas casas por mahala (de graça).
Devíamos apenas aceitar o que nos oferecido, mesmo que fosse pouco, caso contrário, no
dia em que as máquinas chegassem, a nossa casa seria demolida e não teríamos dinheiro
para construir uma nova. Acabei aceitando a compensação (apesar de discordar dela)
porque todos os meus vizinhos tinham aceitado e mudei-me para Tenga e eu não queria
ser deixada aqui sozinha.
Mulheres entrevistadas em Tenga, Mahubo, Catembe
A Maputo Sul forneceu fundos - quinze mil (15.000) meticais - para que os deslocados
transportassem os seus bens para as suas novas casas. Os moradores deslocados em seguida
passaram a identificar os transportadores que iriam cobrar uma taxa baixa para o transporte dos
seus bens. Eles descobriram que muitos transportadores já estavam cientes de que os residentes
da Malanga tinham recebido um valor de compensação, tendo eles consequentemente
aumentado as suas tarifas, alegando que os deslocados da Malanga tinham sacos cheios de
dinheiro.
Depois de aceitarem a compensação calculada pela Maputo Sul, as pessoas a serem
reassentadas foram levadas a visitar os locais de reassentamento que escolheram, de modo a
identificar onde estavam localizados os seus novos terrenos. Eles foram transportados em
27
autocarros dos TPM e acompanhados pelo secretário do bloco e do secretário do bairro da
Malanga, bem como de trabalhadores da Maputo Sul encarregados do reassentamento. Quando
chegaram ao local de reassentamento, eles foram apresentados aos membros da liderança local.
6.3.1 Parcela de terreno limpo
As actas documentadas das reuniões de consulta entre os residentes afectados da Malanga e a
Maputo Sul (MS 2016) terminam com o compromisso da empresa de fornecer uma parcela de
terra completa com título de uso de terra e um cheque para permitir a construção de uma nova
residência para os deslocados. No decurso das reuniões de consulta, os residentes falaram em
pormenor do tipo de condições que eles esperavam que fossem implementadas nos locais de
reassentamento. De acordo com os moradores deslocados da Malanga, a Maputo Sul prometeu
fornecer lotes de terra para que eles pudessem iniciar a construção de imediato. Isto foi
importante porque, logo após a colecta dos cheques de compensação, eles tinham 40 dias para
sair da sua residência na Malanga:
O primeiro grupo veio, eu não sei que situação eles encontraram quando vieram de lá,
não sabemos. Nós éramos o segundo grupo, Bloco 45; quando chegamos aqui, o que
encontramos foi um mato! Era um mato, um mato em forma de ... eu nem sei como
descrevê-lo! Este lado está limpo agora porque nós estamos a cortar o mato para obter
lenha. Você tinha que mover os ramos para um lado para poder andar na sua parcela.
Antes de nos mudarmos para aqui, esta mãe aqui [gesticulando para a mulher ao seu
lado] estava indisposta. A sua filha recusara-se a mover-se. Ela disse que não nos
poderíamos mover porque eles nos disseram que o lugar para onde estávamos a ir estava
em bom estado, as parcelas de terra tinham sido limpas de toda a vegetação. Agora, que
tipo de limpeza é esta que estamos a ver aqui? Nós não vamos!
Mulheres entrevistadas no grupo focal de Tenga.
De acordo com os residentes deslocados, a Maputo Sul também comprometeu-se a fornecer as
mesmas condições que os deslocados tinham desfrutado na Malanga:
Nós pedimos o seguinte, agora o que eles não tinham recursos para construir para nós
primeiro de tudo é um hospital, em segundo nós precisamos de uma escola porque nós
temos crianças que vão à escola. Em terceiro lugar, devemos ter as mesmas condições
que temos aqui ... água e electricidade ... eles disseram que sim, que eles iriam fazê-lo.
Depois disso, não tínhamos mais nada a dizer.
Mulheres entrevistadas no grupo focal de Tenga.
28
Em todos os três locais de reassentamento, as pessoas reassentadas tiveram que limpar as suas
parcelas de terra, a um custo médio de 8.000 (oito mil) meticais, durante a preparação para a
construção. O custo desta actividade não foi incluído no cheque de compensação, pelo que
reduziu o montante disponível para a construção. As estradas de acesso no local de
reassentamento de Tenga foram abertas através dos esforços pessoais da comunidade
reassentada. Um indivíduo organizou-se para limpar o espaço, de modo a construir estradas de
acesso e escolheu algumas pessoas locais para fornecer trabalho. A comunidade reassentada
pagou pelo trabalho, uma média de 400 (quatrocentos) meticais por agregado familiar. Não
houve nenhuma escavadeira que foi trazida para Tenga pela Maputo Sul, tudo foi feito à mão. Na
Catembe e Mahubo, as estradas de acesso foram limpas mecanicamente antes das pessoas
reassentadas mudarem-se para lá.
Ao distribuir as parcelas de terra nos três locais de reassentamento, a Maputo Sul permitiu que
todas as partes que desejassem viver próximas uma da outra (por exemplo, familiares ou
amigos), o pudessem fazer através da atribuição de parcelas em terrenos adjacentes. Esta acção
permitiu que muitas das famílias reassentadas mantivessem a sua rede de apoio e sentissem-se
mais seguras nas suas novas casas. Em casos especiais de famílias extremamente vulneráveis,
que foram trazidas à sua atenção (como o caso de uma doente mental e dos seus filhos, ou
crianças órfãs), a Maputo Sul localizou as parcelas destas famílias entre os mesmos vizinhos que
eles tinham na Malanga e construiu casas para eles (Magaia, comunicação pessoal, 8 de
Setembro de 2016).
6.3.2 Água
Em Tenga, a questão da acessibilidade à água potável foi temporariamente resolvida pelo
fornecimento de uma fonte de água comunal na forma de um tanque de água (Figura 6.2).
29
Figura 6.2: Fonte de água comunal no local de reassentamento de Tenga.
Os desafios relacionados com a fonte de água comunal incluem o abastecimento intermitente de
água, a longa distância que alguns dos residentes têm de andar para colectar água, e as longas
filas. O tanque em Tenga enche-se muito devagar, por isso, às vezes os residentes deixam os
seus baldes na fila (com as crianças a cuidar deles) até que o tanque começa a encher.
Em Mahubo, o local de reassentamento tem uma fonte de água comum a aproximadamente 700
m do assentamento. A pressão de água no local é baixa, prolongando assim o tempo necessário
para encher os recipientes de armazenamento de água e levá-los de volta para o assentamento,
usando um carrinho de mão.
Em todas as áreas de assentamento, os residentes idosos e doentes são ajudados pelos seus
vizinhos porque eles não podem fisicamente ficar na fila ou transportar os baldes de volta para
as suas casas. As comunidades reassentadas reconhecem que o fornecimento de água gratuita
(por mais inconsistente que seja) pela Maputo Sul forneceu uma alternativa para uso doméstico
nas famílias mais vulneráveis.
Para além das fontes comunais gratuitas de água, outra opção é a compra de água. A maioria
dos agregados familiares, em todos os locais de reassentamento, compraram um tanque de
armazenamento de água de 1.000 litros (Figura 6.3) e pagam a um negociante de água privado
para encher este tanque ao custo de 500 meticais por cada 1.000 litros. Este volume de água
30
dura dois dias ou uma semana, e o tanque é enchido duas ou três vezes por semana
dependendo das exigências da construção em curso e do uso doméstico de água. A Maputo Sul
está a envidar esforços para identificar uma empresa de água privada que possa assinar
contratos com os agregados familiares individuais para o fornecimento de água potável.
Figura 6.3: Tanque de armazenamento de água (1.000 litros) numa parcela em Mahubo.
6.3.3 Electricidade
Em todos os três locais de reassentamento, foram instalados postes eléctricos (Figura 6.4). Na
Catembe, onde a instalação eléctrica estava no seu estágio mais avançado, os residentes
reassentados estavam descontentes com a taxa inicial - cerca de 3.500 meticais - exigida pela
EDM para conectar as famílias à electricidade. Eles consideraram o referido valor um custo alto,
especialmente porque eles ainda não estavam a executar actividades geradoras de rendimento.
Eles queriam ser autorizados a transferir os seus antigos contratos (Malanga) com a EDM para a
Catembe. Desta forma, aqueles que anteriormente não tinham contratos com a EDM, queriam
ser conectados imediatamente e pagar a taxa inicial em parcelas mensais de até 1.000 meticais.
31
Figura 6.4: Instalação eléctrica no local de reassentamento em Tenga.
A resposta da Maputo Sul em relação aos contratos de electricidade foi de que iriam falar com a
EDM em nome de todos os reassentados que pudessem provar que anteriormente tinham
contratos. Quanto aos pagamentos em prestações para a primeira ligação, a Maputo Sul sugeriu
que as autoridades locais dos locais de reassentamento (municípios ou gabinetes distritais)
deveriam pressionar a EDM em nome dos seus novos residentes (reassentados).
6.3.4 Hospital/Posto de saúde:
As comunidades reassentadas pediram a Maputo Sul que instalasse unidades sanitárias perto
dos locais de reassentamento e a empresa concordou em fazê-lo. No caso de Mahubo e
Catembe, existiam postos de saúde perto dos locais de reassentamento. No entanto, esses
postos de saúde não estão bem abastecidos com vacinas, medicamentos, pessoal ou
equipamento. Isto tornou o ajustamento difícil para os residentes reassentados que
anteriormente podiam escolher entre os diferentes hospitais em Maputo (Hospital José
Macamo, ou Hospital Central entre outros postos de saúde urbanos).
Quando perguntadas sobre onde estavam a planificar dar à luz, as mulheres grávidas
entrevistadas para este estudo disseram que iriam a Maputo para dar à luz. Aquelas com
crianças de três meses e menores, disseram que preferiram voltar a Maputo para dar à luz. Uma
mulher da Catembe disse ter levado seu bebé para vacinação no posto de saúde local na
Catembe, onde algumas das vacinas necessárias para a respectiva idade da criança estavam em
falta. Ela atravessou a baía para Maputo durante o ciclo de vacinação seguinte e teve que passar
32
a noite em casa de amigos na Malanga porque era difícil fazer a viagem de regresso no mesmo
dia com a criança.
Alguns residentes reassentados tinham estado a receber cuidados de saúde contínuos nos
hospitais de Maputo para doenças crónicas, fisioterapia e check-ups periódicos. Eles
descobriram que os seus movimentos e escolhas de assistência médica estavam restringidos no
contexto do reassentamento. Eles precisavam agora de dinheiro para terem as suas
necessidades de saúde atendidas, porque têm de pagar pela viagem ao hospital em Maputo,
considerando que os postos de saúde locais não tinham os serviços de que necessitavam. A
viagem a Maputo para atendimento médico às vezes exigia uma estadia de um dia na cidade, o
que alguns deles não estão em condições de pagar.
O PCA da Maputo Sul explicou a política nacional do ministério de saúde referente aos postos de
saúde nas áreas rurais ou periurbanas. Eles instalam um posto de saúde para servir a população
dentro de um raio de 10 km. No caso de Tenga, por exemplo, existia um posto de saúde a 4,5 km
do local de reassentamento (na estação ferroviária de Tenga), pelo que não havia necessidade
de outro no local de reassentamento. A Maputo Sul, no entanto, comprometeu-se a expandir a
maternidade existente no posto de saúde, e também a colocar um pequeno laboratório de
análise de saúde.
6.3.5 Escola, educação e formação:
As crianças que frequentavam a escola de Malanga, tiveram de se transferidas das escolas nas
proximidades da Malanga para escolas nos três locais de reassentamento. Em Tenga, a
comunidade reassentada descobriu que a escola primária estava distante (4 km) de onde eles
foram reassentados. Eles foram capazes de fazer um lobby com a Maputo Sul para a construção
de salas de aulas em tendas para 300 estudantes, e para instalar carteiras, casas de banho e
contratar professores para dar aulas (Magaia 2016). A força de trabalho usada para limpar a
terra para a escola de tendas foi recrutada da comunidade de acolhimento.
Catembe e Mahubo tinham escolas primárias perto da área de reassentamento, então os alunos
transferidos só precisavam de um processo oficial de transferência para começar as aulas. O
desafio para as suas mães era o ambiente novo e desconhecido. Alguns pais optaram por deixar
os seus filhos nas escolas da cidade enquanto organizavam os novos lares. Nestes casos, as
crianças ficavam com parentes na cidade. Os pais fizeram isto porque não podiam pagar os
custos diários de transporte entre os locais de reassentamento (Mahubo, Tenga, Catembe) e a
Cidade de Maputo. Infelizmente, esta decisão tornou as crianças vulneráveis a situações
negativas ou de exploração.
33
As escolas secundárias estão distantes dos três locais de reassentamento e requerem transporte
para facilitar a frequência às aulas. Os alunos do ensino secundário foram confrontados com o
desafio da falta de meios de transporte público. As únicas formas de transporte disponíveis eram
os veículos particulares, tais como os "my love" (Figura 6.7) ou veículos de 14 lugares. Estes
veículos cobravam mais do que os transportes públicos, para as viagens até ao centro da cidade.
Este transporte não era confiável porque os veículos só saíam quando todos os assentos tinham
sido ocupados, o que é inconveniente para alguém que tem um horário de trabalho ou escola.
Na Catembe, para além de transportadores privados, o transporte público estava disponível sob
a forma de autocarros dos TPM. No entanto, estes autocarros estavam constantemente a
avariar, devido ao mau estado das estradas de acesso. Este mau estado era causado pelas cargas
pesadas que eram transportadas por camiões envolvidos na construção da ponte Maputo-
Catembe. Isto deixou os residentes apenas com os transportadores privados como alternativa.
Figura 6.5: Veículos particulares (my love) que fornecem transporte entre os locais de reassentamento e as cidades maiores.
6.3.6 Esquadra:
As comunidades que foram reassentadas acharam necessário ter um posto policial nas
proximidades. Eles sentem, no entanto, que existem necessidades prementes que têm
prioridade, como hospitais e escolas. Uma vez que estas estiverem instaladas, o posto policial
pode ser construído. A literatura sobre reassentamento involuntário, no entanto, indica que um
dos maiores riscos para as mulheres reassentadas é a violência física. A pressão e as perdas
34
sofridas a partir do reassentamento podem levar a alguns homens a serem violentos contra as
mulheres nos seus lares, necessitando assim de um posto policial para ajudar a resolver
conflitos.
6.3.7 Transporte:
Quando ainda viviam na Malanga, todas as pessoas reassentadas haviam sido asseguradas que
teriam acesso ao transporte público - dois autocarros TPM - em seus novos locais de residência.
Eles foram, portanto, surpreendidos ao chegar aos locais de Tenga, Mahubo e Catembe e não
encontraram transporte público. No caso de Catembe, que já era uma extensão do grande
Município de Maputo, a restrição, como explicado acima, foi o mau estado da estrada.
Nos outros dois locais, o transporte público também não foi implementado e as pessoas
reassentadas estão a usar o meio de transporte fornecido por veículos particulares. No caso de
Tenga, a Maputo Sul já havia mantido contactos com a TPM para adicionar este destino à sua
rota. No entanto, a TRAC, empresa que gere e faz a manutenção da N4 entre Maputo e
Joanesburgo, bloqueou a estrada de acesso à Tenga para qualquer veículo maior do que uma
camioneta 4x4. A razão dada para esta restrição de acesso (Figura 6.6) era que se a via de acesso
à Tenga através da N4 fosse deixada aberta, encorajaria o uso por parte de camiões grandes, que
transportam bens, para evitar pagar taxas de uso rodoviário na ponte de báscula próxima ao
acesso à Tenga. Isso resultaria em perda significativa de renda que a TRAC não poderia suportar.
No caso de Mahubo, a estrada, que é um resultado directo deste projecto, passará pela área de
reassentamento. A estrada que liga Maputo através de Boane à Ponta de Ouro e à África do Sul
proporcionará benefícios directos para a comunidade reassentada em Mahubo.
35
Figura 6.6: O acesso restrito entre o local de reassentamento de Tenga e a estrada N4.
Os jovens entrevistados em Tenga e Catembe (Mahubo ainda não estava bem povoado no
momento em que este trabalho de campo foi feito) revelaram estar preocupados com a falta de
transporte público. A sua mobilidade é limitada porque não têm uma fonte de rendimento
consistente, e dependem de suas mães para ter o dinheiro de transporte. Eles precisam de
dinheiro para poder ir à cidade e ganhar dinheiro. Sentiam-se desprovidos de poder porque na
Malanga, tinham ideias e projectos de como ganhar algum dinheiro e contribuir para as despesas
domésticas, bem como para suas próprias vidas. Nos locais de reassentamento, eles ainda tem
que encontrar actividades geradoras de renda que são compatíveis com seus conjuntos de
habilidades.
6.3.8 Combustível:
Quando viviam na Malanga, as mulheres usavam uma variedade de combustíveis para cozinhar:
lenha e carvão vegetal eram os combustíveis mais populares. Em todos os locais de
reassentamento, as mulheres foram forçadas a ir para o mato mais próximo - as áreas que ainda
não haviam sido limpas - para obter madeira para cozinhar. Em Tenga, o mato não era distante.
Os lotes daqueles que ainda não haviam chegado para começar a construção eram alguns locais
onde a comunidade reassentada ia buscar lenha (Figura 6.7). Em Mahubo, ocorreu o mesmo
cenário, onde a comunidade reassentada ia buscar lenha nas áreas circundantes não limpas. No
entanto, na Catembe, a situação era diferente porque os reassentados enfrentavam a oposição
da comunidade de acolhimento que defendia que os recursos naturais pertenciam aos anfitriões
e não deviam ser compartilhados com os reassentados.
36
Figura 6.7: Lenha usada para cozinhar no local de reassentamento de Tenga.
6.3.9 Nutrição:
Perguntou-se às mulheres em todos os três locais de reassentamento acerca da facilidade em
obter comida para cozinhar e comer. Elas conseguiam comprar legumes da comunidade de
acolhimento, mas outros produtos alimentares eram comprados no centro da cidade mais
próxima. No caso de Tenga era Mahlahleni, para Mahubo era Boane, e para Catembe era
preferível atravessar a baía para Maputo com o objectivo de fazer suas compras, embora
pudessem fazer compras na praia. As mulheres mostraram receio em relação ao seu apoio
nutricional, tendo em conta que os preços dos alimentos aumentavam diariamente devido à
inflação. Elas sentiam falta de poder fazer as compras na Malanga porque lá, "mesmo com um
pouco de dinheiro, você iria conseguir algo para cozinhar". Alguns dos alimentos que eles
estavam acostumados a comer (por exemplo, mboa, tseke - legumes tradicionais) não estavam
disponíveis nos seus locais de reassentamento.
Em todos os três locais de reassentamento, quando questionados se tinham tentado manter
jardins na parte de trás das casas, eles responderam que sim, mas que não tinham sido
completamente bem-sucedidos devido às condições climáticas prevalecentes (muito seco, sem
chuva a cair pelo menos nos 8 meses anteriores) e devido aos pequenos animais mantidos por
vizinhos ou membros da comunidade de acolhimento. Galinhas, cabras e às vezes vacas
vagueiam nos jardins e danificam os vegetais em crescimento porque os jardins não têm cercas.
Outros membros da comunidade reassentada indicaram que o quintal era muito pequeno para
produzir qualquer alimento alternativo significativo para suas famílias e que uma área para a
agricultura deveria ser fornecida aos reassentados. Finalmente, alguns dos reassentados não
37
tinham experiência de cultivo de legumes e alimentos e disseram que estariam receptivos a
aprender como produzir comida suficiente para sua família em suas pequenas porções de terra.
6.3.10 Outras questões levantadas pela população reassentada
Os residentes reassentados da Malanga foram entrevistados na Catembe, Mahubo e Tenga. Eles
levantaram as seguintes questões relativas à sua experiência do processo de reassentamento.
Uma mulher grávida em Mahubo, que estava a supervisionar a construção da nova casa da sua
família, disse que a ineficiência da Maputo Sul em pagar a compensação custou ao marido o seu
trabalho.
O meu marido estava a trabalhar em Quelimane, então quando eu disse a ele que
o seu nome estava na lista daqueles que deveriam levantar os cheques na Maputo
Sul, ele me disse para ir buscá-lo em seu nome. A Maputo Sul insistiu que ele
deveria ser o único a pegar e assinar o cheque de compensação. Eles prometeram
que o processo levaria no máximo dois dias, para que ele pudesse retornar ao seu
trabalho em Quelimane. O processo acabou levando duas semanas porque eles
não o atenderam logo no início e eles ainda tinham que localizar o cheque. Depois
da primeira semana ele ligou para o seu chefe em Quelimane para o dizer que ele
teria que ficar por mais uma semana. Seu chefe o disse para não se preocupar em
retornar ao trabalho. Ele está actualmente a procura de outro emprego, então
nunca está em casa.
Mulher entrevistada em Mahubo.
Uma mulher que foi reassentada em Tenga estava indisposta quando a equipe da Maputo Sul foi
ao seu bloco ler os nomes das casas cujos cheques estavam prontos para ser levantados.
Eu estava ausente quando a equipe da Maputo Sul veio ler a lista de nomes de
pessoas que deveriam ir levantar seus cheques. O meu vizinho disse-me que o meu
nome tinha sido chamado, por isso fui para a Maputo Sul. Eles disseram que meu
nome não estava na lista. Meu vizinho insistiu que estava. Foi na minha quarta
visita à Maputo Sul que finalmente encontraram o meu nome e o cheque. Quando
eu assinei pelo cheque, descobri que tinha perdido 15 dias [Maputo Sul dá aos
residentes um período de carência de 40 dias a partir do momento em que o seu
cheque de compensação é emitido para você colectar e o dia em que eles vêm
para demolir sua casa. Então eu tive que correr para encontrar alguém que
poderia me ajudar com a construção porque sendo uma mulher, esta não é uma
área que me é familiar. Ainda estou a construir aqui. Meu marido não pode ajudar
38
muito, porque ele tem que ir à Maputo trabalhar. Ele é um guarda de segurança e
às vezes trabalha por 5 dias consecutivos antes que ele possa viajar de volta aqui.
Sou eu quem supervisiona a construção.
Mulher entrevistada em Tenga.
6.4 Experiência das comunidades de acolhimento
Os moradores deslocados da Malanga foram reassentados em três locais diferentes: Catembe,
Mahubo e Tenga. Todos os três locais já tinham habitantes: nativos cujos pais e avós eram de lá,
e não-nativos que tinham vivido nessas comunidades por cerca de trinta anos. Esta secção
apresenta o modo como as comunidades de acolhimento vivenciaram o processo de
reassentamento, suas expectativas e as suas inquietações.
Em todos os três locais de reassentamento, as comunidades de acolhimento estavam felizes pelo
facto da população da sua área ter aumentado e o mato diminuído. Estavam entusiasmados com
as perspectivas de desenvolvimento de sua comunidade e com certeza que as oportunidades de
negócios e de trabalho seriam maiores e mais dinâmicas. Eles estavam felizes porque
brevemente haveria acesso à água, electricidade e clientes para seus produtos. Em Catembe e
Tenga, a comunidade de acolhimento disse que não tinha problemas com as pessoas
reassentadas.
6.4.1 Tenga
A comunidade de acolhimento de Tenga consiste em nativos de Tenga que nasceram e foram
criados lá e famílias que se mudaram para Tenga de outras partes do país ou da província. Os
residentes de Tenga ganham a vida vendendo vegetais e outros produtos que compram em
Maputo. Em certa medida, eles também são auto-suficientes, uma vez que criam gado para seu
próprio consumo e para vender. Eles praticam a agricultura de subsistência e têm várias áreas
agrícolas onde cultivam legumes e grãos de cereais.
A comunidade de acolhimento de Tenga foi consultada sobre o reassentamento de moradores
da Malanga no início de 2016. Os membros da comunidade foram convidados para uma reunião
no círculo onde o pessoal da Maputo Sul, bem como os funcionários do SDPI da Moamba e
líderes locais estavam presentes. Questionou-se à comunidade se eles concordavam em dar
alguma terra para ajudar irmãos e irmãs de Malanga que estavam a ser deslocados. A
comunidade concordou em libertar algumas terras para o povo da Malanga ser reassentado. A
comunidade já havia dado alguma terra a uma senhora chamada Dona Olga, e indicaram que os
residentes da Malanga poderiam ser reassentados naquela terra. Os residentes de Tenga, por
39
vários anos, pediram às autoridades locais e distritais para ajudá-los a ter acesso fácil à água,
porque dependiam apenas de alguns poços comunitários. Durante esta reunião de consulta, as
autoridades informaram que, em troca pelo fornecimento de terra para reassentamento, seria
fornecido água, electricidade e estradas de acesso seriam criadas.
O SDPI de Moamba começou a parcelar a terra de Dona Olga em parcelas de 30m x 40m, como
preparação para reassentar os deslocados da Malanga. No entanto, depois de concluir o
parcelamento da terra de Dona Olga, o pessoal do SDPI começou a parcelar a terra da
comunidade de acolhimento. As parcelas da comunidade de acolhimento ou nativa foram de
20m x 40m, indicadas por marcadores pelos quais os membros da comunidade terão que pagar.
Os moradores das comunidades de acolhimento se perguntaram o que estava a acontecer uma
vez que não haviam dado permissão para que sua própria terra fosse parcelada. Algumas das
lideranças locais, por exemplo o líder do bloco local, ou aqueles que trabalham como
conselheiros no mecanismo de consulta local, o círculo, não tinham conhecimento da actividade
de parcelamento.
Eles disseram que usariam a terra de Dona Olga para reassentar a população da
Malanga. Concordamos e dissemos [acerca daqueles a serem reassentados], "eles são
pessoas, nós somos pessoas". Mas agora estamos afectados e não sabemos o que isso
significa. Eles levaram mais (terra) do que foi dado e não nos consultaram. Eles nos estão
a invadir porque o governo não voltou para se encontrar connosco, como no início do
projecto de reassentamento. Eles deviam ter vindo para dizer que estavam a parcelar a
nossa terra (da comunidade de acolhimento). Não recusamos parcelar. Recusamos a
maneira como foi feito. Nós não trabalhamos (em empregos formais) então, onde vamos
cultivar, a fim de criar renda através da agricultura de subsistência, como sempre
fizemos? Eles levaram 5 parcelas de terra que o nosso pai tinha. Os lugares que ele tinha
limpado e estava a usar para cultivar foram levados e não foram compensados. Na sua
idade ele depende da agricultura. Quando o pessoal técnico (do SDPI) estava aqui para
medir as parcelas, eles mentiram para nós e disseram: "estamos a medir a estrada a ser
aberta; Não tocaremos na sua terra ".
Mulher da comunidade de acolhimento, Tenga.
Entre as comunidades nativas em todos os três locais de reassentamento, a prática tradicional é
que as famílias tenham vários terrenos como terra de reserva. A família vive em um pedaço de
terra, mas tem vários pedaços de terra de reserva para dar aos filhos mais velhos.
Principalmente os filhos do sexo masculino recebem essas terras de reserva, mas os filhos do
40
sexo feminino que estejam separados de seus maridos ou que sejam mães solteiras também
podem obter um pedaço de terra para construir suas casas.
Todas as mulheres do comité nativo de Tenga entrevistadas estavam preocupadas em conseguir
terras para seus filhos do sexo masculino. Estavam preocupadas com o facto de que o
parcelamento da terra da comunidade de acolhimento deixaria seus filhos sem terras para
construir as casas das suas próprias famílias. Até mesmo as mães de mulheres jovens casadas
com residentes nativos estavam preocupadas com o parcelamento da terra da comunidade
nativa porque significava que suas filhas, que estavam casadas com homens nativos de Tenga,
não teriam terras para construir suas próprias casas matrimoniais.
A comunidade de acolhimento estava chateada pelo facto de as suas terras lhes terem sido
retiradas pelas autoridades locais e distritais sem qualquer consulta e sem qualquer notificação
formal. Os moradores sentiram que as suas terras estavam a ser roubadas e que eles deveriam
pelo menos ter sido autorizados a lucrar com a terra que estava a ser levada. As únicas pessoas
que tinham sido compensadas (receberam dinheiro) por terras eram aquelas que tinham
‘’vendido’’ parcelas de terra à Dona Olga. Como disseram os membros da comunidade de
acolhimento,
Sabemos que estão a parcelar a terra para que possam vendê-la a outros. Temos de
pagar pelos marcadores. Vemos que nos estão a roubar terra e dinheiro. Eles estão a
levar terras que já estão limpas e dando-a imediatamente para os outros virem no dia
seguinte com camiões de areia, pedras e cimento pronto para construir na terra. Somos
compensados com terras não limpas que estão longe de nossas casas.
Mulher da comunidade de acolhimento, Tenga.
Como uma mulher que foi entrevistada explicou,
Eu me mudei de Maputo porque eu não poderia lidar com a vida na cidade, era muito
caro. Aqui pelo menos eu posso manter o frango para comer e vender, e eu posso cultivar
algo para comer. Eu também posso fazer biscates na Malanga para obter uma renda.
Meu marido e eu viemos para aqui e obtivemos um terreno de 40m x 40m dos nossos
vizinhos. Os oficiais do distrito vieram e parcelaram, deixando-nos com 20m x 40m.
Quando insistimos com a nossa terra, eles deram-nos outro lote de 20m x 40m em um
lugar que ainda não está limpo.
Mulher da comunidade local, Tenga.
41
6.4.2 Catembe
A população de acolhimento na Catembe disse que não havia sido informada sobre o
reassentamento. Eles ficaram alarmados quando viram um número considerável de estranhos a
moverem-se para a terra vizinha de suas casas e eles foram informá-la às autoridades locais. Foi
aí que souberam que os moradores da Malanga estavam sendo reassentados no bairro de
Chamissava, Catembe. Eles tinham conhecimento do exercício de parcelamento porque suas
terras haviam sido parceladas. O tamanho das parcelas com que ficaram eram de 20m x 40m e
menor nos casos em que as casas eram próximas umas das outras.
A população de acolhimento estava desgastada com o facto de a terra que uma vez considerada
como sendo deles foi levada pelo município distrital sem qualquer consulta e sem qualquer
compensação monetária. Eles tinham parcelas de terra que iam passando de geração em
geração na sua extensa família, mas agora não eram mais deles, porque eles não haviam feito o
uso de "boa-fé" da terra como exigido pela lei de terras. Argumentaram que tinham mantido a
terra porque confiavam que seria para seus filhos novos que a partir de agora não teriam um
lugar que lhes pertencesse quando crescessem. A comunidade de acolhimento estava ressentida
com as autoridades locais porque sentiam que tinham conspirado para usar o projecto da
Maputo Sul como uma cobertura para apropriarem-se da terra dos nativos.
6.4.3 Mahubo
Em Mahubo os moradores não foram directamente consultados sobre a terra a ser usada para o
reassentamento dos residentes da Malanga afectados. Mahubo já passara por um processo de
parcelamento de terras e a comunidade havia identificado uma área específica como terra de
reserva para a comunidade. Esta terra foi reservada para qualquer actividade que eles
decidissem conduzir no futuro, e é actualmente usada para a agricultura de subsistência por
vários membros da comunidade. Esta terra de reserva foi identificada pelas autoridades locais de
CMVB como a área de reassentamento e as pessoas influentes dentro da sociedade de Mahubo
foram informados disto para que eles, por sua vez, informassem todas as pessoas de Mahubo.
A equipe da CMVB observou os controversos problemas de reassentamento de Tenga e estavam
seguros que os mesmos erros não seriam repetidos em Mahubo. Por esta razão, eles garantiram
que eles tinham as comodidades básicas garantidas (água, escola, posto de saúde, estradas de
acesso, infra-estrutura eléctrica) antes de permitir que os residentes reinstalados começassem a
construir.
42
6.5 Integração nas comunidades de acolhimento nos locais de reassentamento
De acordo com o Banco Mundial, os instrumentos de reassentamento involuntário (Banco
Mundial, 2001) devem incluir medidas para facilitar a integração dos reassentados na população
de acolhimento de modo a mitigar o impacto do reassentamento. Uma das medidas inclui
determinar, através de um acordo local, como resolver queixas e conflitos entre a comunidade
reassentada e a comunidade de acolhimento. Até Setembro de 2016, as autoridades locais
(municípios ou gabinetes de distrito) ainda não haviam organizado qualquer reunião oficial para
introduzir as pessoas reassentadas na população de acolhimento.
O contacto entre a população de acolhimento e os reassentados restringia-se às relações de
trabalho em todos os três locais de reassentamento. Os reassentados necessitavam de
assistência em forma de mão-de-obra para limpar suas parcelas e construir suas novas casas,
pelo que ofereciam oportunidades de trabalho de curto prazo para os indivíduos da comunidade
de acolhimento. Em Tenga, a comunidade reassentada abriu lojas ao longo da estrada para
vender bens básicos que os membros da comunidade de acolhimento poderiam comprar. No
entanto, na Catembe, os reassentados empreendedores foram impedidos de abrir barracas ao
longo das estradas. A comunidade de acolhimento disse que já existiam lojas ao longo das
estradas e que os reassentados não estavam autorizados a competir com eles (os locais).
Estamos felizes por terem mudado para cá porque já não nos sentimos isolados ou como
se estivéssemos no mato. Além disso, quando você recebe um visitante, você pode enviar
uma criança para comprar uma bebida fresca na "Malanga", que não é longe.
Anteriormente, tínhamos que ir até a estação de Tenga para comprar qualquer coisa.
Mulher da comunidade de acolhimento, Tenga.
Há vários conflitos entre a comunidade reassentada e a comunidade de acolhimento. Em todos
os três locais de reassentamento, o aumento súbito da população, juntamente com o
parcelamento de terras da comunidade de acolhimento resultou em competição por lenha, terra
para agricultura de subsistência e outros recursos. Na Catembe, membros da população de
acolhimento ameaçaram mulheres da população reassentada que buscam lenha em parcelas de
terra próximas, não limpas. Os membros da população de acolhimento insistem que o "mato" é
deles e ameaçam enviar forças sobrenaturais a quem invade suas terras sem permissão. Os
reassentados são constantemente insultados e chamados de ladrões pela comunidade de
acolhimento, aos quais respondem:
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Não era nosso desejo sair da Malanga. Se tiver um problema, deve informá-lo a Maputo
Sul, não a nós.
Mulher reassentada em Chamissava, Catembe.
Em Tenga e na Catembe, as comunidades de acolhimento estão insatisfeitas com o que
consideram ser o desrespeito dos reassentados pelas tradições da comunidade de acolhimento.
Por exemplo, tradicionalmente, em Tenga, não é permitido cortar a árvore de canhu (Sclerocarya
birrea). Para cortar a árvore deve-se consultar um grupo de anciãos para analisar o caso e se eles
permitirem cortar, deve-se pagar uma taxa. Ao limpar suas terras em preparação para a
construção de suas casas, os reassentados tratam toda a vegetação da mesma maneira. Os
reassentados disseram que não estavam vinculados pelas tradições locais porque vinham da
cidade onde observavam e seguiam as regras municipais.
Outra fonte de conflito em Tenga é que os reassentados querem ter sua própria estrutura de
liderança para sua vizinhança. Eles não querem ser integrados na estrutura de liderança local de
Tenga porque eles vieram da cidade e querem continuar a estar sujeitos às regras municipais,
não às regras locais. A população de acolhimento sente que, ao recusarem aceitar a estrutura de
liderança que encontraram em Tenga, os reassentados estão a ser ingratos e desprezadores da
cultura da população de acolhimento.
As autoridades distritais e Maputo Sul prometeram à comunidade de acolhimento que
receberiam água e electricidade por aceitarem acolher os residentes deslocados da Malanga. No
entanto, a comunidade de acolhimento notou que os postes eléctricos foram instalados apenas
dentro da área de reassentamento. Não se estenderam à área da população de acolhimento. A
mesma coisa aconteceu com as tubulações de água que estavam a ser instaladas, que estavam a
passar pelas áreas da comunidade de acolhimento para ir directamente para a área de
reassentamento. A comunidade de acolhimento realizou uma demonstração em Agosto de 2016
e sabotou as tubulações de água que estavam a ser instaladas para a área de reassentamento. A
média (câmaras de televisão) estava presente para filmar as consequências da sabotagem e a
comunidade de acolhimento explicou por que eles fizeram isso. Eles disseram que pediram ao
governo do distrito para ajudá-los a ter acesso à água por muitos anos. Eles estavam cansados de
promessas não cumpridas e não permitiam que os canos de água contornassem suas casas da
mesma forma que os postes de electricidade. Eles queriam transmitir a mensagem de que não
iriam continuar a viver mal em silêncio, enquanto apenas a área de reassentamento obtivesse a
infra-estrutura que tinha sido prometida à população de acolhimento.
44
6.6 Discussão dos resultados do estudo de caso da Malanga
As principais preocupações das mulheres na comunidade de reassentamento em todos os três
locais de reassentamento foram:
o Falta de terra para cultivo;
o Espaço/terra para seus filhos adultos e crianças (especificamente filhos do sexo
masculino), onde os filhos podem construir e se estabelecer;
o Bons cuidados de saúde;
o Disponibilidade de água e saneamento;
o Educação para os filhos;
o Desconforto espiritual devido à presença de túmulos na terra onde foram
reassentados.
Preocupações das populações de acolhimento incluíram:
o Impacto negativo do reassentamento na subsistência e segurança alimentar a
nível doméstico, falta de espaço para a criação de gado ou prática da agricultura
de subsistência;
o Usurpação de espaço / terra que pretendiam deixar para os seus filhos;
o Tamanho da parcela da população de acolhimento (20m x 40m) menor do que a
dos reassentados (30m x 40m);
o Falta de empregos na área em que as pessoas são mais experientes (isto é, tinham
experiência em ganhar a vida dentro de um ambiente urbano e de repente são
empurradas para um ambiente rural).
Quando visto no contexto dos oito riscos de empobrecimento, fica claro que o projecto de
reassentamento de Malanga criou vulnerabilidade para centenas de famílias que foram
reassentadas, bem como famílias locais.
Falta de terra: o acoplamento, em Tenga e Catembe, do projecto de reassentamento de Maputo
Sul com a implementação de planos de ordenamento de terras municipais ou distritais serviu
para criar risco de empobrecimento nas comunidades de acolhimento. Muitas crianças nas
comunidades de acolhimento foram empurradas para a falta de terra uma vez que a terra
deixada pelos seus antepassados, que poderia ser usada para praticar a agricultura de
subsistência, foi tomada através do exercício de parcelamento. Pode-se argumentar que os filhos
nas zonas de reassentamento também foram empurrados para a falta de terra, porque há
pressão sobre a aquisição de parcelas nas áreas de reassentamento.
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Desemprego: A distância dos locais de reassentamento de qualquer centro significativo de
negócios e oportunidades reduziu as perspectivas de encontrar trabalho remunerado. Embora
os reassentados possam continuar com os empregos que tinham na cidade, a distância, a tarifa e
a falta de meios de transporte confiáveis significa que suas vidas ficam perturbadas. O fardo para
as mulheres nas comunidades de reassentamento e de acolhimento em termos de procura de
alimentos, água e combustível aumentou como resultado do projecto de reassentamento. Para
os homens, o fardo aumentou em termos de busca de fontes de renda, e meios de transporte
para chegar ao seu emprego na cidade.
Sem-abrigo: para os reassentados em particular, a falta de moradia é um risco real devido ao
aumento do custo de material de construção e a redução das oportunidades de ganhar dinheiro
para financiar a conclusão da construção de casas.
Marginalização: muitas famílias reassentadas têm sofrido com a marginalização devido à sua
queda de padrões de vida. Eles ainda estão a adaptar-se ao seu novo ambiente e a tentar
determinar como o seu conjunto de habilidades pode se enquadrar. Por esta razão, eles têm
sido marginalizados.
A morbidade e a mortalidade aumentaram devido ao stress causado pelo processo de
reassentamento. Além disso, há uma falta de instalações de saúde de qualidade, como os
reassentados tinham em Maputo. Para certas doenças, o único lugar para procurar tratamento é
Maputo, e se não houver dinheiro para pagar a tarifa de transporte, há poucas chances da
situação de saúde melhorar.
Insegurança alimentar: a concentração populacional e o pequeno tamanho das parcelas significa
que haverá incidentes de insegurança alimentar. A falta de uma fonte regular de renda devido ao
desemprego e marginalização significa que haverá menos dinheiro disponível para comprar o
que as famílias são incapazes de produzir por si mesmas.
Perda de acesso a bens e serviços comuns: o parcelamento de terra levou à perda do acesso à
propriedade comum, tal como lenha, raízes e bagas e terras de pastagem para a população
nativa. Esta perda de terras de pastagem resultará na venda de gado e, portanto, perda de
subsistência ou alternativa de renda.
Desarticulação social: Embora a Maputo Sul tenha proporcionado a oportunidade aos
reassentados de escolher seus vizinhos nos locais de reassentamento, o processo de
reassentamento criou desarticulação social. Há aqueles residentes da Malanga que escolheram
46
mudar-se para outro lugar. Além disso, muitas famílias extensas foram divididas pela
necessidade de ter dinheiro para o transporte, agora que os parentes estão longe da cidade de
Maputo.
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7. Estudo de Caso 2: Reassentamento involuntário na comunidade de Mbatchene, região de
Sabié do Distrito de Moamba.
7.1 Antecedentes
A comunidade de Mbatchene está localizada no distrito de Moamba, no espaço entre as torres
de electricidade da Barragem de Corumana, o rio Incomati e Ressano Garcia, a fronteira entre
Moçambique e África do Sul (Figura 7.1). O estudo de caso do Mbatchene diz respeito a um
investidor do sector privado que adquiriu terrenos comunitários e criou um santuário de vida
selvagem para o turismo contra os desejos dos membros da comunidade Mbatchene.
Figura 7.1: Mapa de localização da área em que vive a comunidade Mbatchene. Fonte: INE, 2013.
A comunidade de Mbatchene tem vivido no actual local de ocupação desde os dias coloniais.
Durante a guerra pela independência, os membros da comunidade foram deslocados e forçados
a procurar refúgio na África do Sul ou em outras partes de Moçambique que eram mais seguros.
Após a assinatura do Acordo de Paz de Roma em 1992, muitos membros da comunidade
retornaram à sua terra ancestral.
Os membros da comunidade têm várias estratégias de subsistência. Dada a natureza semi-árida
da terra onde vivem, eles são capazes de praticar a agricultura de subsistência durante a estação
chuvosa. A criação de gado é uma actividade e fonte de renda significativa. Por esta razão, as
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fontes naturais de água para o gado e o consumo humano são bem conhecidas e valorizadas.
Devido à sua proximidade com o Parque Nacional do Kruger, os seus animais correm o risco de
infecção por animais selvagens que se afastam dos limites do parque nacional. Outras
actividades de subsistência incluem o corte de árvores para lenha e preparação de carvão
vegetal. Este combustível é vendido nas cidades próximas de Ressano Garcia ou Corumana.
Finalmente, alguns membros da comunidade trabalham na África do Sul ou em outras partes de
Moçambique para arrecadar dinheiro que eles depois investem em suas terras em Mbatchene
Em 2012, um cidadão sul-africano, o Sr. Pieter, construiu uma cerca de arame dentro das terras
da comunidade. De facto, o Sr. Pieter vedou as casas, terras e túmulos familiares de dois
membros da comunidade que trabalham na África do Sul (Figura 7.2).
Figura 7.2: Casas de dois membros da comunidade de Mbatchene tornadas inacessíveis por cercas.
Os membros afectados da comunidade, vendo – a medida que a construção da cerca progredia –
que suas casas se tornariam inacessíveis, escreveram uma carta às autoridades locais pedindo
sua intervenção para evitar que suas casas e terras fossem usurpadas pelo investidor. Eles
também escreveram uma carta ao investidor, o Sr. Pieter, pedindo-lhe para deixar de cercar a
área, porque suas casas estavam na área. Eles não receberam qualquer resposta do investidor
ou das autoridades locais, tendo-lhes sido negado qualquer acesso posterior às suas casas. Uma
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vez a vedação concluída, o investidor empregou guardas armados para patrulhar a área cercada
e, posteriormente, povoou com animais selvagens trazidos da África do Sul (Figura 7.3). A área
cercada incluía uma fonte natural de água que os membros da comunidade usavam para seu
gado.
Figura 7.3: Área cercada na comunidade de Mbatchene, povoada com animais selvagens.
O investidor começou posteriormente a construir várias casas de cimento em uma área
diferente com o objectivo de reassentar os membros da comunidade porque ele pretendia
expandir a área do santuário de vida selvagem. A comunidade de Mbatchene procurou uma
audiência com as autoridades locais para procurar uma resolução a invasão de suas terras. As
autoridades locais disseram que o investidor tinha formado uma parceria com dois outros
indivíduos a quem a comunidade tinha dado terra. A comunidade reconheceu ter dado terras
aos dois indivíduos para fins de agricultura de subsistência e criação de gado. O investidor, no
entanto, tinha tomado mais terras do que a comunidade tinha dado aos dois indivíduos. As
autoridades locais disseram que o investidor tinha um DUAT provisório e, portanto, foi
autorizado a prosseguir suas actividades de investimento. Alguns membros da comunidade
(aqueles que trabalham na África do Sul) protestaram que não tinham sido consultados sobre as
actividades do investidor e foram informados pelas autoridades locais que outros membros da
comunidade foram consultados e tinham concordado com os planos do investidor.
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7.2 Resultados
A equipe de pesquisa entrevistou os membros da comunidade de Mbatchene num grupo misto
de homens, mulheres e jovens. O ambiente durante o encontro era tenso e de desconfiança, de
modo que não foi possível dividir o grupo em diferentes grupos focais de género (Figura 7.4). O
líder da comunidade e um dos dois membros da comunidade afectados pela cerca falaram para
explicar o seu conflito com o investidor.
Figura 7.4: Membros da comunidade presentes na entrevista com a equipe de pesquisa.
Os membros da comunidade não tinham sido consultados e o investidor tinha simplesmente
feito o que pretendia fazer.
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Algumas autoridades locais estavam a trabalhar com o investidor para despojar os membros da
comunidade de suas terras. Os membros da comunidade sentiram que era evidente devido a:
o O investidor tinha cercado a terra, na tentativa de mostrar a "boa-fé" no referente ao
uso da terra, conforme exigido pela lei de terras.
o A construção de várias casas de reassentamento para as quais os membros da
comunidade deveriam mudar-se após serem deslocadas, indicava que alguém estava
a aconselha-o no referente a lei sobre reassentamento como resultado de
investimentos económicos.
o Continuar a povoar a área cercada com animais selvagens adicionais era uma
indicação de que as autoridades governamentais estavam de acordo com o que o
investidor estava fazendo. Se eles discordassem com as suas actividades, teriam
suspendido o povoamento adicional de animais.
o Finalmente, a construção de várias casas para as quais membros da comunidade
deslocados poderiam mudar-se mostrou que alguém tinha aconselhado o investidor
sobre a lei de reassentamento devido a investimentos económicos. Os membros da
comunidade disseram que as casas de reassentamento eram de má qualidade (Figura
7.4) e seriam levadas por ventos fortes, os que ocorrem periodicamente na área.
Figura 7.5: Uma das casas construídas pelo investidor para reassentar os membros da comunidade.
As casas também eram culturalmente inadequadas para a comunidade por duas razões. As casas
tinham dois quartos. No entanto, para chegar ao segundo quarto, tinha que se passar pela sala
de estar para entrar no primeiro quarto, e depois entrar para o segundo quarto. Em outras
palavras, não havia entrada independente no segundo quarto, mas apenas através do primeiro.
Os membros da comunidade achavam que não era apropriado para famílias polígamas nem para
52
famílias onde os pais dormiam em um quarto e os filhos / convidados dormiam no segundo
quarto. A casa de banho estava localizada fora da casa e duas casas partilhavam uma casa de
banho. O que aconteceria se os vizinhos se vissem uns aos outros em circunstâncias impróprias?
Os membros da comunidade tinham sido avisados pelo investidor, através de seus guardas, para
não investir em estruturas permanentes porque em breve seriam reassentados. Aqueles que
estavam lentamente a armazenar material de construção para melhorar suas casas, viram-se
forçados a manter o material armazenado até que se chegasse a uma resolução. Isso resultou
em perda de capital porque o material estava lentamente ficando corroído e porque o material
de construção estava cada vez mais caro devido ao aumento da inflação em Moçambique.
A presença de guardas armados patrulhando os limites do santuário de vida selvagem perturbou
os meios de subsistência de todos os membros da comunidade. As mulheres da comunidade não
podiam exercer as suas actividades caseiras ou para meios de subsistência sem serem
importunadas, porque os guardas armados que patrulhavam o santuário de animais selvagens
insistiam em ver o que havia nos sacos. As mulheres e os homens cujo sustento era a venda de
lenha ou carvão vegetal na cidade fronteiriça de Ressano Garcia, agora tinham que acordar mais
cedo e andar uma rota mais longa a fim de evitar o assédio dos guardas do santuário.
Anteriormente, as mulheres podiam colher lenha dentro da área cercada. Isso já não era possível
porque quem andasse perto da cerca do santuário estava sujeito a assédio. Os guardas armados
insistiam em verificar o que estava nos sacos que levavam. Se fosse lenha, elas eram forçadas a
deixá-la lá porque os guardas diziam que a tinham tirado do santuário.
Houve relatos de que, quando as mulheres estavam a cozinhar, o investidor - através de seus
guardas - abria a tampa de suas panelas para ver o que estavam a cozinhar. Se estivessem a
cozinhar carne, ele exigia saber de onde a carne tinha vindo, porque suspeitava que tivessem
caçado os animais do santuário. Uma mulher membro da comunidade disse que ela tinha sido
assaltada e baleada por um guarda. Ela levou o caso para a polícia em Moamba e foi enviada
para a unidade de violência doméstica. Os homens também foram afectados pela presença dos
guardas armados. Devido à proximidade do Parque Nacional do Kruger da África do Sul e da
Reserva de Caça de Sabié, os predadores (leões) ocasionalmente entram nas terras de pastagem
da comunidade e matam o gado pertencente a membros da comunidade. Nestes casos, os
homens formam grupos de caça, preparam armadilhas para ir e remover a ameaça aos seus
animais. Quando os guardas revistaram os homens e os encontraram com ferramentas e
armadilhas, as confiscaram. Os membros da comunidade, portanto, queriam saber quem iria
compensá-los por suas perdas, se não eram autorizados a defender seus rebanhos de gado.
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Os membros da comunidade também estavam preocupados pela presença de animais selvagens
muito próximos do seu gado. O risco de infecção para o seu gado era alto e eles queriam saber
quem iria compensá-los no caso de perda de animais devido à infecção. Os membros da
comunidade estavam extremamente amargurados por serem assediados pelo investidor e pelas
autoridades locais não estarem disponíveis para resolver o assunto. Eles declararam
categoricamente que não estavam a favor do investimento (do santuário de vida selvagem)
actualmente em andamento e queriam suas terras de volta. Como disse o líder da comunidade,
Quando nós (membros desta comunidade) fomos pedir ao ex-Presidente Samora
os nossos salários de soldados (tendo lutado como soldados na guerra pela
independência), ele nos disse que tínhamos lutado pela nossa terra. Possuir a
nossa terra era o nosso pagamento pela luta. Agora alguém quer vir e tirar isso de
nós!
Quando é um moçambicano a reclamar, ninguém presta atenção. Mas se nós
formos e destruirmos a cerca, a polícia e outros chegarão sem demora para nos
dizer que fizemos algo errado. Porque é o Boer, ninguém resolve nossa
preocupação. Há anos que estamos a falar sobre este mesmo problema e
ninguém nos pode dar uma resposta ou uma solução para este problema.
Dois meses após a entrevista da equipe de pesquisa com os membros da comunidade, eles
foram capazes de conseguir uma reunião com o investidor. Pediram-lhe para explicar o que tinha
feito e ele admitiu a eles que tinha sido aconselhado pelas autoridades locais para proceder da
maneira que ele fez. As autoridades locais implicadas foram: a ex-administradora do Distrito de
Moamba; Enock Ngomane (membro da assembleia provincial) e seu irmão Marion Ngomane,
que o ajudou a apresentar a fachada de um projecto de criação de animais. Quanto à vedação
nas casas dos dois membros da comunidade, ele disse que havia perguntado aos seus
conselheiros o que fazer. Tinham-lhe dito que iriam informar os donos das casas. No entanto,
para os membros da comunidade, esses conselheiros disseram que não sabiam nada sobre os
planos do investidor. O investidor também disse que não tinha um DUAT para toda a terra que
tinha ocupado. Seu DUAT provisório era de 12.000 acres e ele tinha sido aconselhado que,
enquanto cercasse e introduzisse animais, seria reconhecido como um investimento económico
e ocupação legítimo de acordo com a lei de terras. Aos presentes na reunião foram mostrados os
documentos do investidor relativos a parceria para o santuário de vida selvagem. Este acordo de
parceria dizia respeito apenas aos parceiros do negócio e não mencionava membros da
comunidade como parceiros. Os parceiros mencionados foram a ex-administradora do distrito
de Moamba, os Srs. Enock e Mário Ngomene.
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O investidor, o Sr. Pieter Andreas Gouws (um investidor sul-africano que possui
Bananalandia - uma empresa produtora de banana no vizinho Distrito de Boane),
Os Srs. Mário e Enock Ngomane
A ex-Administradora do Distrito de Moamba.
Isso significava que as receitas do investimento não seriam partilhadas com os membros da
comunidade. Essencialmente, os membros da comunidade perderiam suas terras e não
receberam parte alguma da renda gerada pelo projecto.
Após a primeira reunião com o investidor, 200 membros da comunidade foram ao seu local de
trabalho exigindo reunir-se com ele, a fim de obter uma resolução permanente para o assunto.
O investidor solicitou aos seus guardas armados que atirassem ao ar para afastar os membros da
comunidade e pediu reforços armados (que chegaram de helicóptero) da Reserva de Caça de
Sabié. Os membros da comunidade lamentaram que mesmo essas acções não levaram as
autoridades locais a tomar medidas severas contra o investidor. O caso está em andamento. Não
é um caso de tribunal de justiça, mas um a ser seguido pela comunidade através de seus líderes.
O objectivo é ter presente na mesma reunião, o investidor, seus assessores e autoridades locais
para que entendam como o esquema injusto foi perpetrado, e como resolver a questão da terra
usurpada. A comunidade deve finalmente ser consultada sobre se desejam deixar o projecto
continuar ou se querem que o investidor se retire de suas terras. Os membros da comunidade e
líderes pediram repetidamente a ajuda das autoridades locais para responsabilizar o Sr. Pieter
por suas acções, mas eles não tiveram satisfação. Isso porque as autoridades parecem relutantes
a resolver o assunto. Esta situação leva à suspeita de que as autoridades locais estão em conluio
para despojar as comunidades locais de suas terras. As autoridades locais conspiraram para
empobrecer as vidas dos membros da comunidade enquanto lucraram com a terra que
usurparam.
8. Conclusões e Recomendações
A conclusão desta pesquisa é que a inclusão explícita de questões de género e equidade na
política e prática de reassentamento involuntário ou expropriação de terras para fins de
investimento económico resultaria em resultados mais positivos e menos risco de
empobrecimento do que existe actualmente.
O estudo de caso da Malanga apresentou várias histórias positivas da experiência de
reassentamento. O facto de que Maputo Sul apresentou uma gama de opções de locais de
reassentamento para a população afectada, o que lhes permitiu ter mais acção na determinação
de seus futuros. Quando Maputo Sul foi mais longe e alocou parcelas adjacentes de terra para
55
aqueles que desejavam ser vizinhos, vivendo em estreita proximidade uns dos outros, a acção
ajudou a mitigar o risco de isolamento social inerente ao reassentamento. A tentativa feita pela
Maputo Sul para ajustar os montantes de compensação para reflectir a inflação e absorver o
custo da deslocalização foram úteis, mas foi demasiado pouco e tarde demais. Os quatro anos de
atraso na implementação do reassentamento resultaram em um reassentamento que decorreu
durante o pior momento económico, com o aumento da inflação tornando a construção cada
vez mais cara. Durante esse mesmo período, o governo estava enfrentando problemas de
liquidez, resultando no atraso de pagamento de cheques de compensação e, portanto, maior
exacerbação do risco de desabrigo dos reassentados. O estudo de caso de reassentamento da
Malanga - Maputo Sul deve servir como exemplo para futuros projectos no que se refere a
importância de respeitar os prazos do projecto e aos potenciais obstáculos que possam surgir ao
avanço harmonioso e oportuno de um projecto de infra-estrutura.
Um resultado positivo do primeiro estudo de caso foi o papel da imprensa / média na melhoria
das condições de reassentamento. Quando os primeiros relatos de imprensa sobre os problemas
que a população reassentada encontrou em Tenga foram divulgados nos jornais e na televisão, a
CMVB tomou notas. Eles decidiram que os reassentados em Mahubo não iriam enfrentar os
mesmos desafios. A recomendação é que os projectos de reassentamento devem,
conscientemente, ser fornecidos cobertura consistente da média. Seria tanto educativo (para
aqueles que assistem e para aqueles que podem no futuro ser afectados pelo reassentamento) e
iria pressionar os responsáveis pelo processo de reassentamento para melhorar as condições.
As autoridades responsáveis pelo processo de reassentamento a nível nacional, provincial,
distrital e municipal concentram-se principalmente nos aspectos técnicos do ordenamento do
território. Sua planificação para o uso da terra foi orientada para a organização do ambiente
urbano e assegurar que havia espaço adequado para infra-estrutura como estradas, linhas
eléctricas e de água e espaços de infra-estrutura pública como mercados, lojas e escolas. Com o
que eles não estão preocupados, é como a localização física das escolas ou lojas locais, por
exemplo, afectará homens, mulheres e jovens na comunidade. Eles ignoram os elementos
sociais e de género do ordenamento do território. Por esta razão, recomenda-se que os
funcionários e agentes envolvidos no ordenamento do território aos diferentes níveis
hierárquicos indicados no Decreto 23/2008 de 1º de Julho (nacional, provincial, distrital e
municipal) recebam formação sobre como integrar aspectos de género e os impactos
socioeconómicos relacionados, em seu trabalho.
A Maputo Sul reconheceu que deveria ter sido mais sensível aos aspectos de género
relacionados com o reassentamento e com melhor capacidade para mitigar os riscos e
vulnerabilidades causados pelo reassentamento. No entanto, devido à pressão do tempo e à
56
constante mudança de chefes da organização, foi impossível resolver esta necessidade.
Recomenda-se que, em projectos futuros, o documento orientador (a legislação) exija que todos
os processos de reassentamento incluam a integração transversal questões de género e
equidade. Além disso, o reassentamento deve ser implementado durante um período de tempo
mais longo, compreendendo as necessidades de género da população afectada e,
posteriormente, implementar investimentos do sector privado (ou da sociedade civil) que
respondam a essas necessidades.
O objectivo final da pesquisa era apresentar os termos legais de parceria entre as comunidades
locais e o investidor. Ao longo da pesquisa, os entrevistados foram questionados sobre até que
ponto havia uma parceria entre eles (reassentados ou comunidade de acolhimento) e o
investidor. Em todas as entrevistas verificou-se que não havia parceria legal entre as
comunidades e o investidor. No caso da Maputo Sul, alguns jovens tinham encontrado empregos
trabalhando em obras de construção da ponte e das vias de acesso. Estes postos de trabalho
foram, no entanto, obtidos através de seus próprios esforços e não tinham qualquer ligação com
esforços envidados pela Maputo Sul. No caso da comunidade de Mbatchene, o acordo de
parceria entre o investidor e os seus parceiros moçambicanos não contemplava qualquer papel
para os membros da comunidade. Por esse motivo, o segundo estudo de caso também não
produziu qualquer acordo de parceria legal entre o investidor e as comunidades locais.
Embora tivessem quatro anos para se prepararem para a implementação do processo de
reassentamento, os moradores afectados do bairro de Malanga não se haviam preparado para
negociar com a Maputo Sul. Parte dessa falta de preparação deveu-se a intimidação vivenciada
quando os cidadãos estão a lidar com o governo, em um contexto em que toda a terra pertence
ao Estado.
A eleição de um representante para cada bloco foi escolhida pelas autoridades como a forma
segundo a qual todas as opiniões podiam ser canalizadas às autoridades competentes. Esta
forma de representação não é a ideal porque as preocupações dos residentes do bloco são
muitas e variadas. Recomenda-se que, em vez de um indivíduo representar o bloco, sejam
criados grupos focais para dar voz às mulheres, aos jovens e aos homens.
57
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59
Anexo 1
1. Questionário comunitário
HISTORIAL E ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE
1. Qual é o nome da sua comunidade?
2. Há quanto tempo sua família vive aqui? (Você ou seus pais ou avós vieram de outro
lugar)?
3. Que trabalho você faz aqui? (Como você ganha dinheiro)? Como são satisfeitas as suas
necessidades de saúde, alimentação, educação, apoio social, entretenimento e
emprego?
4. Qual é o mecanismo de tomada de decisão desta comunidade (Comité? Representante?
Outros mecanismos?)
5. Como têm mudado com o deslocamento ou reassentamento / recepção de pessoas
deslocadas?
PROCESSO DE CONSULTA
1. De quem foi a decisão de se reassentar (entidade governamental, líderes comunitários,
empresa ou outro)? Como foi tomada a decisão?
2. Como sua comunidade se sentiu a sua comunidade com esta decisão?
3. Como e quando você primeiro soube que seria deslocado / seria uma comunidade
RECEPTORA?
4. Qual foi a primeira informação OFICIAL que você recebeu sobre a sua deslocação?
5. O que (e por quem) lhe foi informado sobre o processo e a compensação?
6. Que opções lhe foram dadas, uma vez que lhe foi dito que teria que se mudar / ser uma
comunidade receptora?
7. Como vocês escolheram o caminho a seguir para sua comunidade? (Vocês nomearam
representantes?
8. Houve reuniões marcadas onde as decisões foram tomadas e quando (hora e dia da
semana) foram? Quem era capaz de assistir a essas reuniões e cuja visão estava em falta?
Houve cuidado em colectar as opiniões daqueles que estavam visivelmente ausentes?
9. Quem, de fora da comunidade, assistiu às reuniões consultivas / informativas? (Governo
local ou central? Investidores? Outros?)
60
10. Que preocupações você (como homem, mulher e jovem) tinha (ou ainda tem) sobre o
deslocamento / recebimento de pessoas deslocadas?
11. Você conseguiu expressar essas preocupações aos funcionários em um fórum público?
12. Quais eram essas preocupações?
13. Suas preocupações foram reconhecidas e atendidas? Como?
14. Você sente que teve oportunidade de ser ouvido (como?)?
TEMPO
1. Que etapas do processo foram seguidas até agora?
2. Que etapas faltam?
3. Quando são as reuniões sobre o assunto (hora do dia e dia da semana)?
4. Quem, da comunidade, representou você, quem do governo / investidor participou na
reunião?
5. Quanto tempo demorou (este processo) até agora? Em que fase vocês estão?
EEXPECTATIVAS / O PROCESSO, EXPERIÊNCIA
1. Que mudanças você acha que haverão na sua vida depois do reassentamento?
2. Qual tem sido o efeito do seu reassentamento / de receber comunidades deslocadas?
3. O que pode ser feito (e por quem) para mitigar os efeitos negativos e acentuar os
positivos?
4. Como é o processo de reinserção / adaptação da comunidade no novo espaço?
5. Como é a relação entre a comunidade reassentada e a comunidade de acolhimento
(original)?
6. Como você descreve a situação de acesso à terra e a outros recursos naturais? Tem sido
pacífica ou conflituosa? Como? Por quê?
7. Como são levadas em conta as preocupações das populações reassentadas pelas
entidades governamentais e / ou empresas?
8. Para onde são canalizadas as preocupações da comunidade?
9. Quem assume a responsabilidade de canalizar as preocupações da comunidade?
61
10. Quais foram as principais preocupações colocadas pelos membros da comunidade
(acesso à água, fornecimento de energia, terras para agricultura e pecuária, qualidade da
habitação, segurança, educação, saúde, transporte ou outros?
2. Questionário para o sector privado e governo
1. Qual é a área coberta pelo projecto (ou seja, quantos hectares de terra serão ocupados
pela estrada e ponte e infra-estrutura relacionada - e qual é a infra-estrutura
relacionada)?
2. Quantos postos de trabalho foram criados como resultado deste projecto de
desenvolvimento de infra-estrutura?
3. Você reservou uma certa percentagem para as comunidades afectadas? Se não, alguma
das comunidades afectadas está empregada em suas empresas / projectos?
4. Como foi tomada a decisão de reassentar as comunidades afectadas e seleccionar as
comunidades receptoras? Que lei ou mecanismo ou lógica foi utilizada?
5. Quem foi envolvido, consultado e como foi processado o seu contributo?
6. Quem decidiu a quem consultar?
7. Qual foi o processo de reassentamento? (passo a passo)
8. Como você integrou aspectos de género em todo o processo?
9. Quais foram as questões que você tomou em consideração ao determinar como realizar
o reassentamento? A quem ouviu? Como foram tomadas as decisões? Através de quais
canais os membros da comunidade afectados fizeram-lhe chegar as suas preocupações
ou problemas, e o que você fez em relação a eles/abordá-los?
10. Quais eram as preocupações das mulheres?
11. Quais eram as preocupações dos homens?
12. Que parcerias têm sido criadas entre o sector privado e as comunidades afectadas? Quais
são os termos dessas parcerias?
13. Que projectos e parcerias você criou para beneficiar as comunidades afectadas?
14. O que você descobriu na prática que não estava coberto pela lei? Como você lidou com
isso?
62
Anexo 2
Lista dos entrevistados
Organização
Nome Género do entrevistado Local Categoria
Feminino Masculino
1 MUGED Sakina Mucavele 1 - Maputo ONG
2 Bairro da Malanga Vários 4 - Maputo Moradores da Malanga que discordaram do valor da
compensação; ainda não foram reassentados / foram
compensados, mas ainda não foram transferidos
3 Catembe – Chamissava Various 5 4 Catembe Moradores da Malanga reassentados na Catembe
4 Conselho Municipal da Cidade
de Maputo – Departamento de
Planeamento Urbano e
Ambiente
Raule Chilaule, Sheila 1 1 Maputo Município – Planeamento
5 Conselho Municipal da Cidade
de Maputo – Departamento de
Planeamento Urbano e
Ambiente
Arquitecto Kangoma - 1 Maputo Município - Arquitecto que trabalha no planeamento
urbano da Catembe
6 Residentes reassentados Vários 4 1 Mahubo Moradores da Malanga reassentados em Mahubo
7 Residentes reassentados Vários 8 7 Tenga Moradores da Malanga reassentados em Tenga
8 Distrito de Moamba, Localidade
de Sabié
Chefe Bila,
Sr. Cumbane
- 2 Moamba Administrador do Posto e Chefe do Posto
9 Residente nativo Vários 6 2 Catembe Residente nativo da Catembe
10 Residente nativo Vários 7 4 Tenga Residente nativo de Tenga
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Organização
Nome Género do entrevistado Local Categoria
11 Distrito de Moamba, SDPI
(Serviço Distrital de
Planeamento e Infra-estruturas)
Sr. Euler - 2 Moamba Topógrafo do Distrito
12 Nativos de Mahubo Vários 1 3 Mahubo Residente nativo de Mahubo
13 Régulo de Mahubo Elias Matola - 1 Mahubo Régulo da área onde ocorreu o reassentamento
14 Município da Vila de Boane
(CMVB)
Rodrigues Macuacua - 1 Vila de Boane Vereador para a área de planeamento urbano
15 Maputo Sul Silva Magaia - 1 Maputo PCA da Maputo Sul
16 AVSI Felizbela Materrula 1 - Maputo Gestor de um projecto de reassentamento urbano
17 ORAM Engenheiro Menses - 1 Gaza Gestor de projectos de reassentamento rural / vida
selvagem
18 Comunidade de Mbatchene Vários 9 19 Sábie Membros afectados pelo projecto de um santuário de
vida selvagem
TOTAL 47 50