Redenção das Bruxas

São Paulo, 2013

Ana Silvia Fernandes Peixoto

Redenção das Bruxas

Editor responsávelZeca MartinsProjeto gráfico e diagramaçãoClaudio Braghini JuniorCapaZeca MartinsRevisãoÉlsiane DivanescaRevisão críticaFernanda Vitório

Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2013, Águas de São Pedro, SPImpresso no Brasil. Printed in Brazil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser

criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

P377rPeixoto, Ana Sílvia Redenção das bruxas / Ana Sílvia Peixoto. – Águas de São Pedro: Livronovo, 2013.

96 p.ISBN 978-85-8068-142-0

1. Literatura brasileira – Romance. I. Título.CDD – B869

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Sumário

Agradecimentos ........................................................................... 7

Foi assim... .................................................................................. 9

No crepitar das chamas... ........................................................... 14

Muito do medo que ainda não nos foi explicado ....................... 19

Ei! Esse corpo é meu! ................................................................. 22

De rendeira a enredeira.............................................................. 26

Bonequinha de vitrine... ............................................................ 30

Onde estão os rituais? ................................................................ 35

Mulher polvo... ......................................................................... 40

Corações fraternos ..................................................................... 44

Espelho, espelho meu... ............................................................. 47

Baile de Máscaras ...................................................................... 53

Um pouco do que não nos foi dito ............................................ 58

Carneirinho, carneirão, neirão, neirão... .................................... 65

E por falar em bruxarias... ......................................................... 73

Voltando à História... ................................................................ 76

A Mulher: Caráter de Transformação Adormecido ..................... 80

Celebrando as Estações da Alma ................................................ 84

“Perspectivas Passadas e Possibilidades Futuras” ......................... 88

Mensagem Final ........................................................................ 91

Cântico do Tempo – Resgate de Valores .................................... 93

Referências bibliográficas ........................................................... 95

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Agradecimentos

As árvores e as estrelas são fascinantes... Sempre imaginei duendes, fadas travestidas de borboletas e nuvens soltas ao vento. Sei que todos somos árvores, frutos e sementes, assim como estrelas com brilho próprio...

Assim, na natureza mãe, encontrei melodia nos pássaros, templos em cavernas e abrigo no horizonte do campo de trigo em frente de casa.

Agradecer é algo especial, nos faz refletir nas oportunidades que tivemos e aceitamos como presentes e dádivas em nossas vidas.

Por isso, sou grata:A toda manifestação feminina da natureza que sabiamente

nos colocam mais próximas de nossa essência, de nossas intuições, de nossas emoções.

À Lilith, Eva, Hera, Afrodite, Pandora, Psique, Sophia, Madalena, Maria, Viviane, Morgana e a tantas outras expoentes que moldaram a psique feminina ao longo das eras, semeando inspiração, magia,

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conhecimento, sensualidade e amor e que transitaram livremente entre as fronteiras da vida e da morte. A cada mulher que aqui esteve, está ou estará. A cada cinza de seus corpos, a cada fragmento de medo, a cada lágrima rolada em suas faces. A cada emoção vivida em seus corações, a cada sorriso e a cada dor.

A todos os homens verdadeiramente comprometidos com a liberdade e com o bem maior.

Por fim, o meu mais profundo agradecimento e respeito à dualidade divina representada pelas faces da Deusa Mãe e Deus Pai.

À Lua, ao Sol, aos amigos ocultos que se fazem presentes na inspiração.

Beijos de luz a toda a humanidade, que todos possam vibrar na constelação do amor, do aprendizado e da evolução, afinal, tudo é cíclico e nada sobrevive por muito tempo, afastado da natureza mãe.

Amor e Gratidão...

...Aos mestres,Aos melhores amigos de todos os tempos,À minha ancestralidade, Pais, irmãos, Marido, filhos e demais familiares.Saudades dos que daqui partiram deixando as lembranças mais

sublimes e felizes na minha vida.

Diz a lenda que todo bruxo vira árvore...

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Foi assim...

São Paulo, 21 de julho de 2011...Tudo começou há muito tempo, tempo este que já não me

lembro mais, mas pelas minhas lembranças mais antigas, desde que me lembro...

No início, naquele tempo, eu queria escrever um livro. Tudo foi mudando, eu fui crescendo e o querer se transformou em “ter que”. Como se algo ou alguém cobrasse todos os dias, como aquela mãe insistente que diz:

– E então, você vai ou não começar?!A pergunta, vinda não sei de quem e não sei de onde, começou

a me perseguir por anos e ultimamente me invadia as madrugadas, me deixando exausta pelas manhãs.

Pois bem, ok, e então, escrever o que, do que?Comecei também a me perguntar incessantemente, e confesso

que me surpreendi com o material disponibilizado, assim, quase que do céu.

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Eu não me encontrava em São Paulo e pra quem deseje registrar, estávamos em um inverno de verão rigoroso em 2011, sem chuva e com muita poluição. Eu estava em Ubatuba com a família.

Lá chegando, comprei uma caixa de incensos (sete ervas com sal grosso canforado), e meu marido adorou o aroma, inclusive me pedindo para acender outra vareta quando fomos dormir.

Resolvi que antes de voltar para São Paulo compraria mais uma ou duas caixas, mas essa decisão não estava tão idealizada.

Lembro que pela manhã aquela voz de mãe dentro de mim me ordenou...:

– Vá comprar incensos a pé. Mecanicamente, chamei meu filho para lavar a louça do café

da manhã, avisei a meu marido que estava saindo e pedi a ele que olhasse as crianças que brincavam com as cachorras no quintal, e simplesmente saí.

Quando comecei a caminhar, aquela minha velha conhecida, a quem dei certa vazão, me falou novamente, ou melhor, meio fala, meio empurra:

– Vire à direita.E instantaneamente, da mesma forma que sai de casa, obedeci,

e fui pelo caminho mais próximo ao mar, ou por onde eu estaria mais próxima a ele.

Caminhei até um banco, me sentei e disse, disse de verdade, sozinha e em voz alta:

–Ok, eu quero o nome!Julgando-me impulsiva, me corrigi...: - Por amor, eu preciso

do nome!No mesmo momento recebi a resposta: - Redenção!Confesso que fiquei um pouco confusa. Redenção, todo mundo

sabe o que é e eu também sei, mas vale a pena conferir no dicionário.

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Pareceu-me tão abrangente quanto vago. E essa palavra saía de onde? De mim? Eu nem sequer cogitei algo semelhante.

Voltei a caminhar confusa, apaixonada pelo mar, intrigada com a situação, até porque se o título era o meu limite, eu teria que começar a pensar, e pensar logo, não para arrumar outra desculpa para o início do livro, mas para executar o até então adiado projeto.

É incrível a quantidade de pensamentos que uma pessoa pode ter em poucos segundos, ou ao dar alguns poucos passos; mas minha cabeça girava, ia além e voltava... Redenção... Do quê? De quem? De nossos conflitos, de nossa conduta surreal com a natureza, com a própria vida, das injustiças sociais que todos come-temos, da convivência familiar, de valores pessoais, do consumismo desenfreado, da metamorfose que provocamos em nossos corpos, do excesso de trabalho? Enfim, redenção, redenção, redenção...

Antes de tudo...

Lembro-me desde então que tenho horror a fogo, do fogo que queima; mas me curvo diante de uma lareira, à chama da vela, da fogueira. O fogo é belo, intrigante e sedutor, e se fosse de meu agrado, estaria presente todos os dias em minha vida, e não apenas nas bocas do fogão. O fogo transforma, cozinha, aquece, traz conforto e abrigo emocional, é alquímico, mas ao mesmo tempo...

Lembro-me de quando eu era pequena e saía com meus pais. Tinha medo dos manequins das lojas, achava que eram pessoas que tinham morrido queimadas. A mesma impressão eu tinha quanto aos coqueiros balançando ao vento na beira da estrada. Imaginava que suas folhas eram a cabeleira do infeliz moqueado.

Entrei e saí desses momentos sozinha, mas ainda me lembro muito bem de quanto isso me causava angústia verdadeira, aquela angústia que dói no peito, como se aquela história fizesse parte de mim

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mesma. Remetia-me a uma lembrança, a uma confusão de imagens, a gritos e gemidos, que não sei nem como começar a explicar. É algo que ficou para trás, no mundo infantil, junto com as borboletas que viravam fadas, mas é meu, e às vezes me recordo e me questiono.

...Voltando à Ubatuba...

Eu caminhava pelo calçadão à beira do mar de Itaguá. Lá havia praia de pescadores, com muitos barquinhos atracados como também outros já no mar. E naquela dúvida, naquele inebrio marinho, pessoas passavam, passeavam de bicicletas, crianças corriam sob os olhares satisfeitos e orgulhosos de seus pais, pescadores jogavam suas redes, e o tempo passava em segundos.

O vento marinho trazia um cheiro meio esquisito, que se confundia com agradável brisa e com aroma de peixe.

Naquele momento eu saía por mim, e para mim, sem preocu-pação, de forma leve, sem medo, remorso ou angústia.

Sentimentos tão simples e tão novos. Eu estava tendo a certeza de que eu existia e estava ali apenas me levando para passear.

Parece incrível, mas tudo se passava em segundos, minutos, e bem no fundo, eu sabia que teria que logo voltar.

O sol aparecia. Ah, o sol! Esse masculino sagrado, fecundante da mãe Terra. Esse poderoso amante e belicoso, que enfurecido fere e mata, deixando apenas o abandono desértico em tudo que há vida. Intrigante sedutor de nossas manhãs, cuja ausência sombria, nos remete a amargura angustiante de nós mesmos.

Sendo assim, e por ser assim, eu amo o sol. Sou capaz de ficar por horas e horas em sua contemplação, sentindo a vitamina D aden-trando em minha pele com o seu aconchegante calor.

Não só o contemplo como o divinizo, direcionando minhas preces ao astro rei, regente de nossas vidas.

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Segundos, minutos, passos, brisa, aromas, vozes, gritinhos infantis... Redenção? Olhei instintivamente à minha direita e vi um barco. Em seu

casco estava escrito: Bruxa... Às vezes sou chamada de “bruxinha”.Tudo se fechou dentro de mim. Parecia a peça perdida do

quebra-cabeças, o tesouro oculto se revelava, eu me sentia radiante, confiante e feliz.

E como disse Einstein: “O mecanismo do descobrimento não é lógico e intelectual: é uma iluminação subitânea, quase um êxtase”. Algo mudou. Eu cumpri o desejado, apressei os passos, me dirigi à loja onde deveria fazer a compra, peguei os incensos e voltei para casa com tudo estabelecido, é claro, inclusive com muita vontade de aproveitar as últimas horas de praia, mesmo que isso me custasse o desarrumar de malas novamente, uma vez que deveríamos retornar a São Paulo logo após o almoço.

Não só o título estava definido como também o desenro-lar de sentimentos explosivos me davam direção, um norte em minha história.

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No crepitar das chamas...

Nas ultimas décadas, e principalmente no início do século XXI, a evolução feminina tem sido intensa, diria até assustadora, tamanha velocidade e ferocidade com que o movimento avança principalmente no mundo ocidental.

As mulheres vêm buscando cada vez mais seus espaços indi-viduais, profissionais, esclarecendo muito bem para que vieram, ou seja, a capacidade de gerir a própria vida, sem a necessidade “deles”, para quase nada, ou para nada mesmo. Campos profissionais abrem--se à medida que mostram competência, e, diga-se francamente, as mulheres têm uma capacidade incrível de evolução e aprendizado por terem como aliadas a sagacidade, a organização, a determinação, a honestidade, a força de trabalho e o chamado sexto sentido, que faz parte de sua essência, estando adormecido ou não. O inconsciente pertence ao feminino, logo, suas ferramentas são múltiplas e facetadas.

As oportunidades pelo mundo afora são motivadoras e como tratores abarcam a família, o trabalho, os estudos, o carro, o chefe, as compras, a feira, a academia, as baladas, e assim por diante, até o

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ponto em que se esquecem de si mesmas, perdendo-se totalmente nas teias de seus princípios, afastando-se de seus valores e seus ideais.

Como toda ação conjuntamente evolutiva, prós e contras permanecem lado a lado numa disputa acirrada, e muitas exigên-cias de padrões estereotipados surgem manchando a bandeira do progresso.

Por mais incrível que possa parecer, algumas mulheres ateiam fogo deliberadamente, por espontânea vontade, em seus corpos, em suas almas, sempre a serviço do masculino terrível, porque se este não fosse do mal, se integraria em harmonia aos aspectos mais singelos e verdadeiros.

Será que são tão terríveis, ou o feminino estimula em propulsão deformada de si mesmo, fabricando exigências, banalidades e afrescos humanos?

Esse comportamento não é só típico do século corrente, onde um apelo vulgar aprisiona toda a energia feminina em suas partes baixas, onde os sorrisos são gélidos, paralisados, onde o corpo se deforma. A origem data de muito tempo, tempo este onde a mulher era tida como subserviente ou bibelô.

Vivemos a banalização total de valores em ambos os sexos; o fe-minino tem compulsão à obrigação de ser bela, como se fosse possível uma mulher não ser. Artifícios, máscaras e a ausência de si mesmas.

Tudo começou com Lilith. Alguém já ouviu falar dela? Pois bem, eu a descobri há pouco tempo.

Lilith foi a primeira mulher de Adão, e pasmem, ela era linda, poderosa e exigente. Como se achava tão filha do Pai quanto Adão, não se submetia às ordens de seu companheiro, mas também não o subjugava, buscando uma relação harmoniosa, onde direitos e deveres eram iguais e não os mesmos, porque já ela, inteligente como era, sabia bem a diferença entre os atributos masculinos e femininos, justamente as diferenças esquecidas pelas mulheres modernas.