reflexões sobre cre e escola por marilda hausen

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Reflexões sobre CRE e Escola Por Marilda Hausen Educadora – Licenciada em Filosofia Mestrado em Antropologia Filosófica A CRE e a Escola são instituições de ensino subordinadas aos princípios de ensino estabelecidos no Art. 206 inciso VI da Constituição Federal, e confirmados no Art. 3º inciso VIII da LDBEN (Lei nº 9394/96): gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da Legislação dos sistemas de ensino. Também a Lei de Gestão Democrática do Ensino Público (Lei nº 10 756/95) estabelece no Art. 2º que os estabelecimentos de ensino serão instituídos como órgãos relativamente autônomos, dotados de autonomia na gestão administrativa, financeira e pedagógica, em consonância com a legislação específica do setor. E, no Art. 3º, todo estabelecimento de ensino está sujeito à supervisão do Governador e do Secretário de Estado da Educação, na forma prevista para as entidades da Administração indireta. Por outro lado, reconhecendo o amplo processo da educação que se desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nos movimentos sociais e nas manifestações culturais, a LDBEN coloca a especificidade da educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. ( Art. 1º, parágrafo 1º) Nesse perfil da educação pública – subordinação à Legislação de ensino, estabelecimentos sujeitos à supervisão do Governador e do Secretário da Educação, ensino em instituições próprias – a Coordenadoria cumpre a função de supervisionar a aplicação das Leis de ensino em relação direta com a Escola que, por sua vez, tem garantida sua autonomia

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Page 1: Reflexões sobre cre e escola   por marilda hausen

Reflexões sobre CRE e Escola

Por Marilda Hausen

Educadora – Licenciada em Filosofia

Mestrado em Antropologia Filosófica

A CRE e a Escola são instituições de ensino subordinadas aos princípios de

ensino estabelecidos no Art. 206 inciso VI da Constituição Federal, e confirmados

no Art. 3º inciso VIII da LDBEN (Lei nº 9394/96): gestão democrática do ensino

público, na forma desta Lei e da Legislação dos sistemas de ensino.

Também a Lei de Gestão Democrática do Ensino Público (Lei nº 10 756/95)

estabelece no Art. 2º que os estabelecimentos de ensino serão instituídos como

órgãos relativamente autônomos, dotados de autonomia na gestão administrativa,

financeira e pedagógica, em consonância com a legislação específica do setor. E, no

Art. 3º, todo estabelecimento de ensino está sujeito à supervisão do Governador e

do Secretário de Estado da Educação, na forma prevista para as entidades da

Administração indireta.

Por outro lado, reconhecendo o amplo processo da educação que se

desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nos movimentos

sociais e nas manifestações culturais, a LDBEN coloca a especificidade da

educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em

instituições próprias. ( Art. 1º, parágrafo 1º)

Nesse perfil da educação pública – subordinação à Legislação de ensino,

estabelecimentos sujeitos à supervisão do Governador e do Secretário da

Educação, ensino em instituições próprias – a Coordenadoria cumpre a função de

supervisionar a aplicação das Leis de ensino em relação direta com a Escola que,

por sua vez, tem garantida sua autonomia para estabelecer seu Projeto Político

Pedagógico de acordo com a LDBEN: Liberdade de aprender, de ensinar, pesquisar

e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber (inciso II), pluralismo de ideias e

de concepções pedagógicas (inciso III) e gestão democrática do ensino público

(inciso VIII).

Assim, a Coordenadoria não interfere na vida da Escola, por outro lado, a

Escola também não faz simplesmente o que quer, e, ambas, à luz da Legislação,

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estabelecem suas propostas também em referência às propostas estabelecidas no

Sistema Estadual de Ensino.

É importante esclarecer que, nas questões pedagógicas das escolas que

chegam até o Setor Pedagógico da Coordenadoria, trazidas por diretores,

professores, pais ou alunos, o procedimento segue a mesma orientação:

1- escutar o relato do problema;

2- orientar sobre a necessidade de procurar, em primeiro lugar, a própria

Escola, para o relato do problema à Direção e à Coordenação Pedagógica;

3- caso não seja encaminhada a solução, a pessoa deve solicitar o registro,

por escrito, retornando, então à Coordenadoria;

4- nesse meio tempo, a Coordenadoria entra em contato com a escola para

comunicar o ocorrido, escutar a versão da escola e, se for o caso, orientar uma

possível solução;

5- se a pessoa retorna à Coordenadoria sem uma solução da escola para o

seu caso, a CRE faz, então, o registro em Ata e chama a Escola para apresentar a

sua versão, que ficará também registrada em Ata;

6- por último, a CRE poderá ainda, com vista a um acordo, chamar ambas as

partes e fazer o registro do que ficar estabelecido. Tudo no amparo da Legislação de

ensino, observando o Regimento Escolar e assegurando o amplo direito de defesa.

É importante que a escola tenha sempre clara a sua função de instituição de

ensino, de aprendizagem formal, estabelecida como veículo oficial das etapas da

educação básica, e de sua oferta como órgão público. Ao corpo docente é exigida

qualificação profissional, Regime de Trabalho, planejamento dos Planos de Estudos

e resultados no ensino-aprendizagem, com base nos registros escolares nas esferas

de atendimento cabíveis. Esses procedimentos são exigências mínimas que

resguardam o trabalho do professor e o atendimento escolar. O mais, é o amplo

campo do exercício da docência e da gestão escolar onde, de fato, acontece a

criação e a realização das propostas que formam o diferencial de cada professor, de

cada sala de aula e de cada escola.

A função pedagógica da Coordenadoria em relação às escolas seria a de

respaldar as boas iniciativas, dando apoio às suas propostas e orientando o

encaminhamento das dificuldades de acordo com a Legislação.

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A função da escola seria a de articular direção, professores, alunos, pais,

funcionários e comunidade em um Projeto Pedagógico que proponha uma educação

de qualidade.

Uma educação com perfil de calma e ajuda, termos altamente técnicos nos

anos iniciais do Ensino Fundamental, capaz de transformar a aprendizagem na

aventura maior da criança, emancipando-a da perspectiva ansiosa de crescer no

mundo dos adultos, através de tarefas atraentes e significativas que a capacitem a

formular e expressar ideias e entendimentos, onde a promoção da aprendizagem

não dispensa o acompanhamento avaliativo competente.

Uma educação com perfil de estudo, que amplie o campo dos conhecimentos

nos anos finais do Ensino Fundamental como atrativo ao adolescente que

começa a descobrir a si mesmo, os horizontes da História e os conteúdos do mundo,

aprendendo a pesquisar, a entender e a interpretar o universo das informações.

Uma educação com perfil de elaboração e crítica do conhecimento no Ensino

Médio como atrativo ao jovem que começa a entender a ciência e a

contemporaneidade, as questões do conhecimento, da vida social, do mundo de

trabalho, a importância do estudo e os confrontos da vida profissional. A entender o

que a arte, a filosofia e a religião têm a ver com a vida de cada um e o que forma o

mundo natural e o mundo instituído.

Nesse desenho do pedagógico na escola, é importante uma metodologia de

trabalho integrada na Proposta Pedagógica, com conteúdos bem dimensionados,

postos com clareza do que é básico e dos pré-requisitos, alunos envolvidos numa

ambientação possível a todos, num clima acolhedor e atraente, estendido aos pais

que devem sentir-se esclarecidos e participantes. A avaliação bem entendida como

instrumento de diagnóstico e acompanhamento, recurso do cotidiano escolar que

deve libertar do formalismo, no entendimento de que o professor trabalha com

alunos e não com uma turma como um todo.

Boas articulações e ideias criativas viabilizam o trabalho e as avaliações,

longe do acúmulo e das sobrecargas. Trabalho de pesquisa e temas integrados ao

mundo do conhecimento, à vida do aluno e ao horário escolar, na dinâmica de

leituras, de textos e de interpretações, com estudos e discussões, envolvendo o

espaço escolar como espaço cultural de apresentações, na vivência dos resultados,

tendo o aluno como participante de seu próprio processo de avaliação, a cada etapa

dos conteúdos, evitando acúmulos desinteressantes, tanto para o professor como

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para o aluno. Cópias de quadros cheios de escritas e textos difíceis demais ou fáceis

demais desestimulam o aluno, enquanto tarefas desafiadoras e inteligentes vão

formando a confiança na própria capacidade e ensinando a gostar de aprender.

Nunca transferir para os temas de casa conteúdos não vencidos em aula, evitando

cobranças constrangedoras no dia seguinte e, assim, desonerando o ambiente

familiar de tensões desnecessárias.

Usar bem o tempo e o espaço escolar para que o aluno saiba que é ali a sua

oficina de trabalho, sua usina de transformação e seu laboratório de expressão e

comunicação, e que professores e alunos possam fazer da escola uma criativa

agência de idéias, de exercícios e de formulações.

Assim, a verdadeira vida escolar se dá no cotidiano de uma sala de aula bem

atendida e respaldada na imprescindível capacidade do professor, no bom

planejamento, na ampla visão do que é educar, na função intransferível da escola

como a grande articuladora e crítica de todo sistema social, que faz o aluno sentir-se

com autonomia para encaminhar suas próprias decisões com base em conteúdos

consistentes. Todos acolhidos no diálogo e na competência, chaves que a Direção e

a Coordenação Pedagógica devem ter asseguradas para a abertura das portas de

uma boa escola.

marilda hausen