revista eco arquitetura

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ECO ARQUITETURA 1 jan 2008 arquitetura Bambu, a madeira do futuro CONSTRUÇÃO VERDE: ADOTE ESSA IDÉIA ABERTURAS PARA O AR UMA NOVA FORMA DE VIVER NA CIDADE Ano 1, N o 1 Janeiro/2008 R$ 21,00

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revista sobre eco arquitetura

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ECO ARQUITETURA 1jan 2008

arquitetura

Bambu, a madeira do

futuro

Construção verde: adote essa

idéia

aBerturas para o ar

uma nova forma de viver na

Cidade

Ano 1, No 1Janeiro/2008

R$ 21,00

ECO ARQUITETURA2 jan 2008

Sumário

Cartas 8ConeCtado 10Cor e MoviMento 16Projeto 18entrevista 36deCoração 50Cultura 62Contos 66

Pare

de q

ue

resP

ira

BaM

Bu, a

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ECO ARQUITETURA 7jan 2008ECO ARQUITETURA6 jan 2008

Nos ultimos anos a consciência ecológica vem crescendo em todas as areas,a fim de melhorar o mundo em que vivemos e nossa qualidade de vida. Na arquitetura, isso rendeu ótimas inovações que unem estética, funcionalidade e preservação do meio ambiente, por isso o lançamento de uma revista para que os arquitetos, biólogos, leigos ou apenas os curiosos estejam sem-pre por dentro de todas essas novidades que chegam a cada dia.Nesta edição, na seção Projetos, encontraremos projetos de arquitetos que mudaram sua concepção e passaram a integrar o meio ambiente em seus trabalhos. Em Entrevista, leremos uma interessante entrevista com o designer Fumi Masuda, que conta sobre seus trabalhos e sua ligação com natureza. Em Decoração encontraremos móveis feitos com madeira de reflorestamento, uma loja de tapetes de forração ecológica, itens de decoração biodegradáveis, entre outros. Não deixaremos de lado os diver-sos passeios culturais que podemos fazer Brasil a fora, por isso, em Cultura veremos diversas dicas de lugares para visitarmos durante o mês. Em Cor e Movimento encontraremos o estuque veneziano, uma pintura com a mistura de cal com pigmentos tirados da terra. Em Conectados, poderemos ver em primeira mão trechos de matérias exclusivas do site da revista. Para finalizar esta edição, veremos um poema visual que ilustra a responsabili-dade e a ligação entre a arquitetura e a natureza, uma casa feita de diferentes tipos de sementes e pedaços de madeira, e da chaminé saem folhas. Com essas seções e com as matérias exclusivas de cada edição, esperamos aprimorar cada vez mais o seu conheci-mento e apresentar novidades sobre a arquitetura brasileira.

EditorialExpedienteEscola Superior de Propaganda e MarketingCurso de graduação em Design com Habilitação em Comunicação Visual e Ênfase em MarketingProjeto Integrado do 3o semestreProjeto III - Cultura e Informação - Profa Marise de ChiricoLingua Portuguesa III - Profa Regina Ferreira da SilvaProdução Gráfica - Prof. Antonio Celso CollaroMarketing II - Profa Vivian StrehlauMod. Hab. Cor - Paula CsillagSão Paulo, 2008/1

ECO ARQUITETURA8 jan 2008 ECO ARQUITETURA 9jan 2008

Esse é o espaço do leitor.Nessa seção aparecerão as críticas, sugestões e elogios enviados para nós. Pode ter certeza que sua opinião é muito

importante para o nosso trabalho. Estamos aguardando.

(11) 0800-3636 www.ecoarquitetura.com.br

queria parabenizar a revista por esta atitude em criar uma revista voltada para a arquitetura ambiental. é muito bacana saber que exitem pessoas que estão preocupadas com algo que valha a pena, já que a maioria das pessoas parece só se importar com o próprio umbigo. a equipe está de parabéns pela iniciativa e espero que a população se concientize de que precisamos cuidar no nosso mundo, para que as próximas gerações tenham um futuro melhor.

patrícia vieira

estou escrevendo para sugerir a revista para que na próxima edição trabalhe com o tema do reaproveitamento da água. Me informei um pouco e fiquei sabendo que existem várias maneiras de reaproveitar a água da chuva. Parece que a água é captada por uma calha, passa por um filtro e existe um reservatório subterâneo onde ela fica. Me pareceu um tema muito interessante e espero poder ler mais a respeito nas próximas edições.

Laura schienning

eu sou professor de arquitetura da universidade de são Paulo e gostaria de parabenizar a revista pela ideia de criar um meio de comunicar as pessoas interessadas das novidades sustentáveis no mundo da arquitetura. estou muito contente de saber que agora tenho uma fonte de

informações segura para utilização profissional e recomendar.

João paulo malveira

cartas

ECO ARQUITETURA10 jan 2008 ECO ARQUITETURA 11jan 2008

Selecionamos 100 produtos para construção e decoração que são ecológicos de verdade. Eles compõe essa lista porque atendem a vários dos requisitos abaixo: 1) Tem algum selo ou aprovação de entidades com credibilidade no mercado 2) É parte de uma cadeia de produção de baixo im-pacto socioambiental (desde a extração da matéria-prima até o transporte, embalagem e descarte na natureza). 3) É fabri-cado por empresa responsável e consciente 4) Colabora na redução do consumo de água e energia 5) É feito à mão por comunidades mais do que tradicionais. Na lista, você encon-tra ainda produtos vencedores do Prêmio Planeta Casa, da re-vista Casa Claudia, que passaram por avaliação criteriosa dos comitês técnicos do concurso.

produtos para Construir

Borracha reciclada. Sobras da indústria farmacêutica, como chupetas e conta-gotas, com-põem o piso de borracha da Haiah. Antiderrapante, o pro-duto é feito com grãos de bor-racha colorida e especialmen-te desenhado para minimizar o impacto de quedas de brin-quedos de até 1,80 m de altu-ra, aumentando a segurança em playgrounds e outras áreas de recreação infantil. Preço: R$ 225 o m² instalado do modelo. (11) 4051-2477, Moema, SP;

contos

decoração culturaconectado cor e

movimento

cartas projeto entrevista

produtos para deCorar

Plástico Biodegradável À base de amido de batata, a novidade da linha Organic da Coza é uma cesta organizadora composta por plástico 100% biode-gradável. Embora conserve as mesmas caracterís-ticas do plástico polipropileno, a peça, em contato com a terra, decompõe-se totalmente em 18 sema-nas. Em casa, são úteis na cozinha, na lavanderia e no quarto das crianças. À venda nas cores azul jeans, verde floresta e camurça, com ou sem tampa e em três tamanhos. Preço: a partir de R$ 15 Con-tato: Coza – (51) 2101-5600, Porto Alegre, RS.

Para visualizar os demais produtos para construir e decorar seu imovel, e obter mais informações, acesse:

No site voce encontrara, alem das reportagens desta edicao, exclusivo para assinantes, materias extras, mais fotos e detalhes tecnicos.

Por Giuliana Capello100 produtos sustentáveis

www.revistaecoarquitetura.com.br

ECO ARQUITETURA12 jan 2008

Parede que respira

Os arquitetos-engenheiros Claudia Paquero e Marco Poletto, fundadores do londrino ecoLogicStudio, projetaram uma “parede que respira”, o Stem, produz oxigênio e minimiza os efeitos da poluição

Por andreas Fernandes

ECO ARQUITETURA14 jan 2008 ECO ARQUITETURA 15jan 2008

Uma parede viva que produz oxigênio e ajuda a minimizar os efeitoss da poluição nas grandes cidades. Esse e um dos projetos dos arquitetos engenheiros Claudia Paquero e Marco Poletto, fundadores do londrino ecoLogicStudio.

O Stem, como e chamado, funciona como uma espécie de parede viva capaz de unir a utilização da luz solar com a geração de oxigênio via fotossíntese.O sistema e composto por garrafas recicláveis de plástico – não e um material 100% reciclável se não não haveria a transparência adequada ao projeto – que funcionam como unidades celulares, cada uma delas abrigando plantas chamadas blanket weeds, uma espécie de cobertor de algas. Esses vegetais realizam a fotossíntese e então liberam oxigênio no ambiente, troca permitida por meio de furos controlados em cada célula. A eficácia do processo depende fundamentalmente do posicionamento da Stem, escolhido de acordo com a incidência da radiação solar no local em que esta instalada. Com o constante desenvolvimento das algas, a Stem esta sujeita a transformações continuas. Fatores como a transparência liquida e seu potencial respiratório são variáveis ao longo do tempo, condições que tem tanto efeito ambiental quanto visual, funcionando como um original elemento de design.Cada unidade do Stem tem formato hexagonal, forma definida a partir do tipo de recipiente utilizado para criar os “tijolos” bási-cos do sistema. Há no catalogo nove componentes com conteúdos variados – cada um conta com sete unidades de garrafas -, que correspondem a diferentes condições de luz e radiação. O atual projeto da Stem se auto-sustenta, mas ainda não funciona como uma parede estrutu-ral. “Para ter essa função, a parede precisaria de uma espécie de armação a partir de deter-minada altura. No entanto, a Stem e bastante apropriada para uso em um sistema de facha-das”, explica Claudia Paquero.A escolha da planta a ser utilizada na Stem foi norteada não apenas por fatores como a eficiên-cia na fotossíntese, mas também por sua dispo-nibilidade no meio ambiente. Nesse cenário, os blanket weeds se mostraram ideais em Londres. “Esse tipo de alga é um problema nos lagos do Reino Unido, e precisa ser decomposto. Nossa idéia foi dar-lhe uma entrevida entre os lagos e a decomposição. Nesse período, ela pode ser utili-zada durante três meses na Stem, sendo depois substituída”, conta Claudia. Alem de realizar as trocas gasosas, os blanket weeds também pos-suem características tridimensionais, o que au-menta a quantidade de raios solares capturados.

Segundo a arquiteta, outros paí-ses também possuem algas com características semelhantes, e, portanto, adequadas ao projeto. Isso garante que a Stem possa ser adaptada a diferentes radiações, mesmo considerando o fato de que o sistema tenha sido desen-volvido a partir da latitude solar em Londres.A adaptação da Stem a lugares como o Brasil, por exemplo, in-clui a escolha do material orgâni-co apropriado, a quantidade em que esse material devera ser utili-zado e sua geometria. De acordo com Claudia, não há melhores lugares para a implantação do sistema, mas sim lugares que ele possa ser mais necessário – caso das grandes cidades onde a con-centração de gases como o CO2 vem aumentando.A Stem foi inicialmente instalada na Galeria 77 em Londres, sendo mais tarde exposta na também londrina Nous Gallery – e pre-sente na Bienal de Arquitetura

Configuração da parede

Mapa de radiação solarNíveis de iluminação

Acima e ao lado, estudos climáticos de um dos cortes da Stem, levando em conta a configuração da parede (com várias modulações de seus componentes).

de Veneza, todas em 2006. Entre os benefícios do sistema, Claudia e Marcos destacam a capacidade de reequilibrar a quantidade de oxigênio por meio de uma ação simples, alem da interatividade com o usuário. “Devido `a modulação das condições de luz, os usuários terão mais que uma interação vi-sual com a Stem. Eles tembem receberão benefícios pela produção de oxigênio, criando uma relação di-nâmica com o sistema”, garante Claudia.O ecoLogicStudio desenvolveu também a Stem cloud, uma versão mais estruturada do modelo. Os princípios de atuação são os mesmos da Stem, com

diferença que a nova versão possibilita a criação de ambientes em três dimensões, enquanto a primeira tem apensa duas. Dessa forma, a Stem cloud pode de fato viabilizar instalações fechadas e privativas, como espaços de trabalho, em vez de concebe-las apenas como um sistema de parede/filtro. Por se tratar de uma estrutura 3D, a altura de uma Stem cloud e definida de acordo com a escala dos moveis do espaço em questão. Essa estrutura que poderá ser conferida na Bienal Internacional de Arte Con-temporanea de Sevilha, no final de 2008, na qual a Stem cloud estruturara um pavilhão. Segundo a arquiteta, no momento o sistema ainda e um projeto de pesquisa, e por isso necessitaria ser melhor desenvolvido para a aplicação na industria da construção. Mas, ainda que a Stem não seja um produto comercial, seu preço já pode ser calculado – e e bem salgado. Um espaço de 5 x 5m, por exem-plo, sai por 25 mil euros. O preço por componente se mostra mais acessível: uma Stem (conjunto com sete garrafas) custa 15 euros, mais o custo da arma-ção, enquanto uma Stem cloud custa 50 euros (cada uma com 50 x 50 x 50cm aproximadamente).

Acima, exemplo de um componente da Stem, formado por sete garrafas. O conteúdo de cada garrafa varia: pode-se notar pelas cores que apresentam. Os componentes são unidos por cola ou fita elástica e todas as garrafas possuem um pequeno furo para as trocas gasosas.

Reciclagem

ECO ARQUITETURA16 jan 2008 ECO ARQUITETURA 17jan 2008

contos

decoração culturaconectado cor e

movimento

cartas projeto entrevista

Berço do Renascimento, Veneza se transformou em importante pólo comercial italiano no século XV. Época em que a população pobre se desgarrava dos senhores feudais para construir suas casas nas cidades com pouco dinheiro e muita imaginação. Assim, surgiu o estuque veneziano, que marcou de-finitivamente o estilo da região. A técnica de pintura resultava de uma mistura de cal com pigmentos tirados da terra: distribuía-se a cal numa peneira de pano e adicionava-se água até formar uma massa. Depois de pigmentada, era aplicada com uma espátula, obtendo-se uma cobertura texturizada e rústica.Hoje, os materiais e a técnica evoluíram, permitindo outras com-posições, como faz o arquiteto Antonio de Moura Castro. Para começar, a cal foi substituída por massa corrida à base de látex e de gesso dissolvido em água. Nessa massa, acrescenta-se a cola branca e os corantes desejados. Esse é o ponto de partida para todas as versões, que o arquiteto mostra a seguir.

Estuque Veneziano

Tradicional

3 partes de massa acrílica a base de

látex

1,5 parte de gesso para estuque

misturado com água

3 partes de cola branca do tipo

Cascorez

corante massa básica

materias:

passo a passo:

1. Prepare a parede. Ela precisa estar bem lisa e sem furos. Para isso, passe uma camada de massa fina. Depois, aplique o fundo com uma desempenadeira de aço lisa, utilizando a receita da massa básica, abaixo, sem a cola branca.2. Para a segunda e a terceira camada, há duas massas básicas, uma vermelha e outra castanha. A aplicação na parede seca é irregular para criar manchas.3. Adicione um pouco mais de massa acrílica para clarear a mas-sa vermelha e aplique uma nova demão cobrindo a superfície.4. Uma nova massa, agora com corante verde, complementa as camadas, com distribuição uniforme na superfície.

RESULTADO FINAL:

Passe cera em pasta incolor (Parquetina) com uma desem-penadeira e retire o excesso. Depois, aplique cera de madeira (Microcristal) com uma flanela em movimentos circulares. Dê brilho com uma escova de cerdas.

Com pó de mármorematerias:

1 parte de massa corrida a base de

látex

3 partes de pó de mármore

cola branca para dar a liga

corante massa empregada na

fase 3

1. Siga a receita tradicional.2. Proceda como na primeira receita.3. Utilizando a massa abaixo, feita com pó de mármore, aplique primeiro a mistura sem corante de forma irregular. Em seguida, dilua a massa em água e a pigmente, passando-a novamente, sem uniformidade.4. Voltando à massa básica, usa a mesma mistura verde da versão tradicional, de forma uniforme. Depois de seca, raspe o excesso com uma espátula.

RESULTADO FINAL:

O polimento com a cera de assoalho e a cera de madeira é feito novamente. Note bem: como o pó de mármore é mais grosso, o efeito final fica mais texturizado.

passo a passo:

Com cera de abelhamaterias:

Os mesmo do estuque veneziano tradicional

cera de abelha derretida

corante

1. Comece como a receita tradicional.2. Proceda como na primeira receita.3. Nesta etapa, não utilize nenhuma massa, apenas a cera de abelha derretida em banho Maria. Cuidado! Ao ferver, ela se torna inflamável. A aplicação, com desempenadeira, deve ser feita rapi-damente, pois a cera se solidifica em segundos. Em seguida, passe outra camada de cera, com o pigmento escolhido.4. A mesma massa básica verde cobre a superfície uniforme-mente. Depois de seca, raspe os pontos formados pela cera com a espátula para mostrar a sua transparência.

RESULTADO FINAL:

Após o polimento, a superfície realça a transparência da cera sobre um fundo com a massa básica. Missão cumprida, Antonio só faz mais uma recomendação: não esqueça que, após aplicada, a mistura clareia 50%.

passo a passo:

RepoRtagem: VeRa KoVacs

Fotos: alFRedo FRanco

3 partes de massa acrílica a base de

látex

1,5 parte de gesso para estuque

misturado com água

3 partes de cola branca do tipo

Cascorez

corante massa básica

1 parte de massa corrida a base de

látex

3 partes de pó de mármore

cola branca para dar a liga

corante massa empregada na fase 3

Os mesmo do estuque veneziano tradicional

cera de abelha derretida corante

ECO ARQUITETURA18 jan 2008 ECO ARQUITETURA 19jan 2008

A cozinha de abre para dois decks. De um lado, a churrasqueira com espaço para refeições. Do outro, uma área de apoio, onde um armário serve de depósito.

integrada ao verdeCercada pela mata, a praia do Bonete, no litoral norte

paulista, é de difícil acesso. Chega-se lá de barco ou a pé, após uma longa caminhada em trilha. Mas a paisagem, de tirar o fôlego, vale o esforço. Por isso, um jovem casal paulistano decidiu construir ali seu refúgio. Nem a situação do terreno, numa encosta íngreme e sombre-ada, os desanimou. Procuraram o arquiteto Hilmar Diniz Paiva Filho, de São Paulo, e pediram uma casa pequena e despretensiosa, onde pudessem descansar, ler e cozinhar. Ele conseguiu concretizar esses desejos em apenas 56m2. Internamente, há paredes isolando somente o banheiro e o quarto. “Para respeitar a inclinação do terreno, a casa se divide em três meio-níveis. As paredes serão feitas de pedras retiradas do local. Assim, mantém-se harmonia com o entorno e, de quebra, evitam-se mais gastos. Afinal, todo material chega na praia de barco”, conta Hilmar.

Custo/tempo*Projeto: o valor de R$1795 in-clui o estudo preliminar e o projeto legal (aprovação na prefeitura). Para fazer o pro-jeto completo, com todos os detalhamentos necessários, o arquiteto cobra de 5 a 10% so-bre o custo da obra. Material: preço estimado de R$22400.Mão-de-obra: O trabalho de quatro operários de São Paulo, que ficarão instalados na obra, sairá por R$13500.

Tempo: a empreitada deverá ser executada na estação seca (inver-no) e concluída em três meses, se mantida a equipe prevista.

*O valor total da obra, incluindo material e mão-de-obra, está es-timado em R$35900, o que repre-senta um gasto de R$641 por m2. Trata-se de uma obra econômica, se comparada ao Índice A&C de fe-vereiro/2007, que previa R$886,99 por m2 para construções de pa-drão simples na região Sudeste.

No nível superior, a sala de estar com lareira funciona como mirante, já que o fechamento da cobertura é todo feito com vidros.

contos

decoração culturaconectado cor e

movimento

cartas projeto entrevista

ECO ARQUITETURA20 jan 2008

Bambua madeira

do futuro

Capa

Há milênios, esse material dá forma a casas tradicionais em países como o Japão e a China. Nos últimos anos, pesquisas na construção civil avalizaram sua resistência e durabilidade. Arquitetos do mundo todo redescobriram o bambu e passaram a usá-lo em modernas obras públicas. Belo, leve e renovável, ele tem tudo para se firmar como alternativa à madeira e contribuir para uma arquitetura sustentável.

por Araci Queiroz, Giuliana Capello e Mariane Wenzel

ECO ARQUITETURA 23jan 2008ECO ARQUITETURA22 jan 2008

A necessidade de repensar o consumo de materiais na construção para torná-la mais sustentável do ponto de vista ambiental atrai

olhares para a exploração de novas alternati-vas. É o caso do bambu, visto como promessa para este século. Pesquisador desse recurso há cerca de 30 anos, o professor Khosrow Ghavami, do departamento de Engenharia Civil da PUC-RJ, não tem dúvidas sobre seu potencial. “Estudei 14 espécies e três delas, em especial, têm mais de 10 cm de diâmetro e são excelentes para a construção”, diz ele, referindo-se ao guadua (Guadua angusti-fólia) , ao bambu-gigante (Dendrocalamus giganteus) e ao bambu-mossô (Phyllostachys pubescens). Todos são encontrados no Brasil, onde existem grandes florestas inexploradas de várias espécies. No Acre, por exemplo, os bambuzais cobrem 38% do estado.De crescimento rápido ( em três anos, está pronta para o

corte), essa gramínea gigante chama a atenção, a princípio, pela beleza. Mas sua resis-tência também surpreende: de frágil, ela não tem nada. “Sua compressão, sua flexão e sua tração já foram am-plamente testadas e aprovadas em laboratório”, afirma Marco Antonio Pereira, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Unesp, em Bauru, que mora há dez anos numa casa de bambu. O arquiteto Edoardo Aranha, pesquisador da Unicamp, faz coro: “Se tratado ade-quadamente, ele apresenta durabi-lidade superior a 25 anos, equiva-lente à do eucalipto, por exemplo”, afirma. Ele se refere aos tratamentos químicos para remover pragas como brocas e carunchos (cupins não se

interessam pelo bambu). Além do autoclave, ou-tro procedimento comum chama-se boucherie,

“Sua compressão, sua flexão e sua tração já foram

amplamente testadas e

aprovadas em laboratório”

proJetos peLo mundo

Fora do Brasil, alguns arquitetos têm aposta-do no bambu em projetos públicos de traços marcantes, que conciliam natureza e tecnologia num contraste agradável ao olhar. Em Leipzig, na Alemanha, a fachada do novo estacionamen-to do zoológico municipal foi construída com varas de bambu presas em cintas de aço. Perto de Madri, na Espanha, o Aeroporto Internacio-nal de Barajas surpreende os usuários com seu enorme forro, que torna leve o visual da estru-tura de concreto e aço. Em locais como esse, de uso intenso, a opção pelo material é resultado da confiança na durabilidade e resistência, já

em que a seiva é substituída por um composto formado de cloro, bromo e boro. Submergir as varas em água durante 20 dias também produz bons resultados, segundo o pesquisador.

que manutenções freqüentes não seriam bem-vindas. Graças a tratamentos químicos, o ami-do é retirado, inibindo pragas que poderiam comprometer as varas. Em áreas externas, os produtores recomendam aplicar verniz naval para proteger do calor, do frio e da chuva.Na sua luta pela sobrevivência o homem bus-cou sair da floresta e das estepes onde estava para instalar-se em cavernas e grutas, onde o ambiente era mais controlado, sem interven-ções da chuva, do vento e dos relâmpagos ame-drontadores. Poderiam mais facilmente conter invasores e ter uma vida mais harmoniosa em sociedade. Com o tempo faltou espaço e os ho-mens passaram a utilizar materiais da natureza para construir "cavernas" temporárias. Usa-vam o que encontravam; pedra, madeira, terra, areia, folhas, e certamente bambu. É tubular, longo e resistente. Flexível e fácil de manusear e transportar, é mais leve que a maioria dos ou-tros materiais fortes.

ECO ARQUITETURA24 jan 2008 ECO ARQUITETURA 25jan 2008

AlemAnhA. O fechamento deste estacionamento e Leipzig, inaugurado em 2004m foi todo feito com bambu. Segundo os arquitetos do escritório alemão HPP Hentrich-Petschingg & Partner KG, a opção não teve nada de experimental: ba-seou-se em pesquisas que pipocaram na Europa, onde o pa-vilhão colombiano, desenhado pelo arquiteto Simon Vélez,

empregou essa matéria-prima. As varas têm diâmetros entre 10 e 12 cm e estão 7,5 cm afastadas umas das outras – o que permite a ventilação do interior. Se chover, a água não molha os carros, já que as vagas estão distantes deste pare-dão. Duas aberturas zenitais redondas localizam-se sobre as rampas de acesso aos cinco níveis.

Casas de fiBraMoradias de bambu são mais comuns do que se imagina. A organização chinesa Interncional Ne-twork for Bamboo and Rattan (Inbar) estima que mais de 1 bilhão de pessoas habitam construções desse tipo em todo o mundo. “A maioria delas, n entanto, foi erguida em países em desenvol-vimento, com técnicas tradicionais que estão se perdendo”, comenta o professor Khosrow. Em contrapartida, a Colômbia e o Equador mantêm programas de habitações populares que privile-giam o bambu por causa do baixo custo e, com isso, estão formando mão-de-obra capacitada. Para os arquitetos especializados no assunto, o desafio é trafegar por duas frentes: resgatar co-nhecimentos e divulgar o bambu para combater o déficit habitacional, e apagar a idéia de que ele seria um material menos nobre aprimorando téc-nicas para a aplicação em projetos de alto padrão como os que você vê nestas páginas.

Capa

Espanha. Pronto em 2006, o Terminal 4 do Aeroporto Internacional de Barajas, em Madri, tem movimento estimado em 35 milhões de pessoas por ano. Um dos destaques do projeto é a cobertura curvilínea de estru-tura de aço e chapas de alumínio, forrada com bambu. O efeito das vigas em S dá movimento ao conjunto, que ainda reserva focos para a entrada da luz. A pre-

dominância do material natural quebra a robustez do aço e proporciona uma atmosfera tranqüila, a despeito do fluxo de passageiros e do tamanho da construção. Projetado pelo arquiteto londrino Richard Rogers (que acaba de receber o prêmio Pritzker), o terminal venceu no ano passado o Stirling Prize, premiação britânica de excelência em arquitetura.

ECO ARQUITETURA26 jan 2008 ECO ARQUITETURA 27jan 2008

COLôMBIA. O arquiteto colombiano Simón Vélez, mundial-mente conhecido pelo emprego do bambu em seus projetos, é pioneiro e grande divulgador da técnica (a montagem do pavilhão colombiano Expo 2000, em Hannover, Alemanha, teve esse fim). Costuma utilizá-lo em obras de grande porte, como estruturas de telhados, pontes e catedrais, para de-

monstrar sua resistência e seu alto potencial construtivo. Atento aos problemas sociais, vê no uso do bambu para a construção a possibiliadade de gerar emprego e moradia acessível a pessoas de baixa renda. Esta, localizada em Cali, foi erguida nos anos 1990 e mistura alvenaria, madeira e bambu (presente na estrutura do telhado).

O bambu é uma espécie renovável que con-tribui para o equilíbrio do planeta, ajudando a diminuir a devastação das florestas. E será a madeira do século XXI.

O bambu é considerado um excelente isolan-te, térmico e acústico.

Os bambus utilizados pela Bambu Jungle são colhidos em época adequada, levando um tratamento industrial para que sua du-rabilidade esteja garantida como qualquer madeira de lei.

Não é por acaso que o bambu é considerado o “aço vegetal”.No Oriente existem andaimes de bambu com 40 metros de altura.

Capa

CHINA. Finalizada em 2002, esta casa nos arredores de Pequim situa-se num condomínio de 100 unidades, pro-jetado por dez arquitetos asiáticos perto da Muralha da China. Desenhada pelo escritório japonês Kengo Kuma & Associates, mede 720m2 e emprega o bambu –abundante na região- em pilares, no piso e no forro. Apaixonado pelo material, o arquiteto Kengo Kuma enxerga nele um sím-

bolo do intercâmbio cultural entre os dois países asiáticos (a espécie foi levada ao Japão pelos chineses). Neste pro-jeto, o arquiteto desenvolveu um artifício para empregar o bambu com mais segurança em pilares: retira os nós (tipo de divisões internas) das varas para torná-las ocas e insere perfis metálicos e concreto nelas para deixá-las mais estáveis.

ECO ARQUITETURA28 jan 2008 ECO ARQUITETURA 29jan 2008

Nesta casa de 229m2 no Rio de Ja-neiro, cerca de mil varas de bambu-mossô (com 7,80m de altura) com-põem a es-trutura e a cobertura. O fechamento das paredes levou tela metálica do tipo gali-nheiro para o suporte da argamassa, feita com cimento, areia e cal. Internamen-te, o bambu valorizou a decoração e integrou a casa à mata. Projeto da arquiteta Ce-lina Llerena.

Jóia naCionaLDas cerca de 1300 espécies conhecidas, há pelo menos 400 no Brasil. Graças às pesquisas realizadas em universidades, alguns arquitetos têm experimentado o bambu em seus projetos. A carioca Celina Llerena, coordenadora da Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu (Ebiobambu), encabeça a lista dos entusiastas. “Visitei a Colômbia há cinco anos e voltei encantada com as possibilidades que o material oferece”, conta a arquiteta. Na hora de construir, ela alerta para alguns cuidados (veja quadro). Tanto na estrutura como em fachadas, divisórias ou muros, as varas devem ser tratadas e ter mais de 10cm de diâmetro. Proteger da umidade do solo e das intempéries também faz diferença (acima, repare no beiral e nas manilhas de concreto que apóiam a casa). Como diz a sabedoria popular, toda casa de bambu deve ter “uma boa bota e um bom chapéu”.

Capa

CheCkList do BamBu

Contrate um arquiteto. Ele irá calcular corretamente as medidas das varas para o uso estrutural e tomará cuidados como o dimensionamento do beiral e a proteção da funda-ção. Além dos profissionais citados nesta reportagem, você pode obter indicações na Ebiobambu e no Centro de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura (Tibá).

Pré-requisitos. As espécies indicadas para a constru-ção são: guadua, gigante e mossô (as varas sempre devem ter mais de 10cm de diâmetro). “Atenção tam-bém à idade”, aponta Marco Antonio Pereira, da Unesp. É fundamental que o mate-rial tenha sido cortado após os três anos de vida, do con-trário, poderá sofrer racha-duras. Em geral, os madu-ros apresentam manchas de fungos (que saem com pano úmido), enquanto os verdes exibem varas mais vistosas.

Tratamento. Os bons forne-cedores vendem o bambu já protegido. “A melhor opção é o tratamento conhecido como boucherie, em que se substitui a seiva por um composto quí-mico formado de cloro, cromo e boro, igual ao usado no euca-lipto”, diz Marco. Há também a proteção feita em autoclave, por defumação e por imersão em água. Nas aplicações inter-

nas, a impermeabilização com verniz, seladora ou stain a cada dois anos preserva o bambu por longos períodos. Já o uso exter-no requer manutenção com verniz naval.

Onde Encontrar. Em geral, os fornecedores produzem a gramí-nea em matas cultivadas e manejadas para fins comerciais.

- Narcisa Bambu: vende bambu-mossô a partir de R$150 a dúzia (varas de 3 a 7m) e bambu0gigante por R$240 a dúzia (com 3 ou 4m). Tratamento em autoclave.

- Paycan Artes em Bambu: comercializa bambu-mossô a partir de R$120 a dúzia (varas de 3 a 6,5m) e gigante (até 7m) en-tre R$220 e R$390 a dúzia, tratados a vapor (melhora a estética das peças, mas o gigante pede ainda preservação química).

BrasiL

8888

uma novaforma de

viver nacidadePor Joana carvalho e giuliana caPello

Será que não somos capazes de conquistar uma alta qualidade de vida na cidade sem destruir o planeta? A essa pergunta o arquiteto paulista Marcelo Todescan tenta responder com o projeto da Ecovila São Paulo, desenvolvido por ele no escritório TES Arquitetura.

ECO ARQUITETURA32 jan 2008 ECO ARQUITETURA 33jan 2008

A ecovila seria implan-tada em uma área de 43 mil m2 junto à marginal do rio

Pinheiros, uma das principais vias de acesso de São Paulo. Para viabilizar a obra, o ar-quiteto vem conversando com entidades nacionais e estran-geiras que tenham interesse em investir recursos em inicia-tivas de caráter sustentável.De acordo com a proposta, as edificações existentes no terreno seriam inteiramente aproveitadas após um retrofit. O uso de materiais de demoli-ção, reaproveitados ou recicla-dos, permeia todas as adap-tações, além da instalação de soluções sustentáveis, como aquecedores solares para os chuveiros, reúso de água nos vasos sanitários e jardins, além da captação de água da chuva e do tratamento de esgoto por plantas filtradoras.Embora tenha um terreno em vista, Todescan afirma que o projeto é maleável e pode ser adaptado a qualquer lugar que comporte a área cons-truída prevista de 35 mil m2. “O importante é conseguir-mos um local estratégico e realmente urbano, capaz de interferir positivamente na paisagem da cidade - para ser visto, visitado e replicado em outros lugares”, defende.

Jeito novo de viver

A ocupação está dividida em três setores. O primeiro, resi-dencial, localizado no centro

1 pista para cavalos2 living machine, tratamento de água, estufa3 Praça do Saber - oito pilares de sustentabilidade4 Praça da Semente5 Praça da Independência - feiras/eventos6 Praça do Conselho7 Praça da Corporação8 Escola da Terra9 lagoa para tratamento e armazenamento de água10 hortas - mandalas e pomar11 núcleos familiares12 hotéis, pousada, hospedaria13 Casa da Economia14 Casa da Governança15 Fundação Tribo Semente, Fundação Ecovila SP, Ong Ecovila SP, Rede Gen Brasil16 centro de serviços - clínicas, consultórios, escritórios17 Casa da Vida-saúde18 cachoeiras19 praça20 boates, bares e pub’s21 escola, esporte

do terreno, conta com dois grandes galpões de lofts modulares, num total de até 300 unidades de entre 60 m2 e 120 m2. O preço está estimado entre 150 mil e 300 mil reais. Todescan expli-ca que cada unidade tem pé-direito de 9 m, o que possibilita um excelente aproveitamento do volume de área adquirido. Uma outra alternativa que será testada é o modelo de cohou-se, comum em vários países da Europa, em que duas ou mais residências têm facilidades compartilhadas, como lavanderia, cozinha, bicicletário e oficinas de manutenção de jardins. O Setor Habitacional inclui ainda uma pousada com capacidade para receber até 50 pessoas, entre visitantes e interessados em passar uma temporada na ecovila.

para se trabalhar

Para o Setor de Comércio e Serviços da vila, há um galpão de 9 mil m2 que será transformado em uma espécie de shopping center ecológico, com aluguel de lojas para empresas e peque-nos negócios que estejam em sintonia com o comércio justo e o consumo consciente.Num segundo galpão, moradores da ecovila e outros interessa-dos terão espaço para escritórios. Ao comprar um loft o mo-rador da Ecovila São Paulo adquire o direito de usar uma das salas de trabalho. Próximo ao shopping center e aos escritórios

fica um espaço em semicírcu-lo que abrigará feiras e even-tos temáticos. Haverá cinema, teatro e exposições.

educação no dia-a-dia

O Setor Educacional seria uma das pontes entre a ecovila e a cidade. Formado por uma es-cola infantil particular, um gal-pão para projetos em parceria com universidades e uma área destinada a horta e viveiro de mudas nativas da Mata Atlân-tica, o setor tem como destaque a grande estufa construída em forma de um globo, que abriga a estação de tratamento do esgoto de toda a ecovila.

ECO ARQUITETURA34 jan 2008 ECO ARQUITETURA 35jan 2008

O Setor Educacional seria uma das pontes entre a ecovila e a cidade. Formado por uma es-cola infantil particular, um gal-pão para projetos em parceria com universidades e uma área destinada a horta e viveiro de mudas nativas da Mata Atlân-tica, o setor tem como destaque a grande estufa construída em forma de um globo, que abriga a estação de tratamento do esgoto de toda a ecovila.Todescan conta que a estação seria similar à da ecovila Fin-dhorn, no norte da Escócia, em que um sistema composto por diferentes espécies de plantas filtra as impurezas da água. O arquiteto garante que o resul-tado é um ambiente agradável e educativo. “Depois de trata-da, a água será irrigada para os jardins e lançada numa piscina natural que poderá ser usada pelos moradores.”

Perto da estufa, Todescan pen-sou em aproveitar uma edifica-ção em semicírculo para instalar cocheiras para cavalos. Na opinião do arquiteto, os animais seriam a melhor forma de se

locomover dentro da vila. “Colocar atividades educativas e de lazer na ecovila faz parte do princípio de que as soluções para problemas ambientais precisam ser divulgadas e aprendidas na prática”, argu-menta Todescan, “assim, o Setor Educacional funcionaria como um laboratório de boas práticas sustentáveis”, completa.

urbanismo da nova cidade Como os automóveis não têm espaço dentro da ecovila, as ruas seriam mais estreitas e pavimentadas com pedregulhos para manter a permeabilidade do solo. Nas fronteiras do terreno, no entanto, estão previstos acessos mais largos para entrada de veí-culos para atender a serviços gerais e emergências.A Ecovila São Paulo seria cercada de muros, mas árvores de grande porte fariam uma primeira bordadura de vegetação, que não apenas proporcionariam um ar mais fresco e menos poluído à vila, mas também conformariam uma estratégia para restabelecer

a fauna urbana.O projeto completo inclui outras duas áreas, uma rural, localizada a até 80 km da ecovila urbana, para produção de alimentos orgâ-nicos e fixação de famílias no campo com dignidade, e outra mais distante, que tenha sofrido pouca interferência humana e que possa ser transformada numa reserva parti-cular de patrimônio natural.O objetivo desse santuário afastado da cidade, segundo o arquiteto, seria levar os moradores do núcleo urbano a refletirem sobre seus hábi-tos e necessidades de consumo. Formado pela Universidade Mackenzie, Marcelo Todescan é presença freqüente em congressos e seminários que debatem problemas urbanos.

ECO ARQUITETURA36 jan 2008 ECO ARQUITETURA 37jan 2008

“Ecodesign é uma questão econômica”

Fumi Masuda, professor da Tokyo Zokei University e diretor do Instituto Ecodesign, no Japão, de-fende que desenvolver um design mais ecológico transcende qualquer preocupação ambiental. Para ele, trata-se de uma urgência da economia mundial. Durante visita ao Brasil, onde participa de um projeto de intercâmbio de conhecimento entre estudantes da FAU-USP, o designer industrial conver-

sou com nossa reportagem e reforçou que é preciso repensar nossos hábitos de consumo.

o que é ecodesign?

Em poucas palavras, o conceito remete ao uso de tecnologia para reduzir os impactos ambientais gerados durante a produção de um determinado produto. Portanto, é uma questão de engenharia e também de design. Eu trabalho com ecodesign desde 1997 e posso afirmar que esse segmento do design se desenvolveu muito nos últimos 15 anos. Hoje, praticamente todo produto japonês passa por critérios de ecodesign.

como o senhor avalia o ecodesign no Brasil?

O Brasil tem um potencial enorme e, conseqüentemente, muita coisa para fazer. Eu estou aqui com meus alunos para aprender mais e trocar experiências. Visitamos algumas cooperativas de materiais recicláveis e a questão que levantamos a eles foi por que não utilizar esses materiais para fazer bons novos produtos, já que temos um mercado lucrativo, ao invés de apenas revendê-los?O ecodesign colabora

para um consumo mais consciente? Não necessariamente. No Japão, a moda dos carros “ecológicos” está impulsionando o mercado de veículos produzidos no país, porque as pessoas estão comprando mais por causa do combustível, mais econômico. Portanto, a entrada de mais tecnologia, ainda que dita ecológica, pode alavancar ainda mais o consumo. Quando eu penso nisso,

concluo que é preciso mudar a mentalidade do consumo pelo consumo. O problema, no fim das contas, não é da tecnologia, mas sim do fato de não fazermos a pergunta fundamental: por que nós temos que consumir tanto?

e qual seria a resPosta Para essa questão?

Na minha opinião, repensar o consumo requer uma tentativa de reaproximação da natureza. Precisamos abrir mais nossas janelas, passear mais ao ar livre, fazer piqueniques. Somente um relacionamento mais próximo da natureza pode nos fazer usar a energia e os recursos naturais de uma forma controlada.

Como o senhor aplica esses critérios no seu trabalho? Procuro ser sempre muito cauteloso quanto ao uso dos materiais e tento fazer o melhor do melhor. Um bom desenho consegue reduzir a quantidade de materiais e energia necessários para sua produção, desde o projeto do produto. Muitas gente desenvolve projetos que não são bonitos ou encantadores, ou que ninguém vai usar porque são coisas bobas. Procuro pensar se aquele objeto realmente tem que estar aqui. Essa é a questão básica do ecodesign.

Abaixo, foto da cadeira de bambu. Na foto da pág. ao lado, rádio feito por

Fumi, também de bambu.

ECO ARQUITETURA38 jan 2008 ECO ARQUITETURA 39jan 2008

Cons t rução Verde: adote essa idéia

Augusto Salgueiro

Aos poucos, a possibilidade de ter uma casa de baixo impacto ambiental começa a conquistar adeptos. Construções que se sustentam sozinhas já são realidade para muitas famílias. Conheça dois exemplos de quem aproveita a natureza para servir à casa, inclusive como fonte de energia.

ECO ARQUITETURA40 jan 2008 ECO ARQUITETURA 41jan 2008

A palavra sustentabilidade nunca esteve tão presente na sociedade. “Ela significa qualidade de vida, e a conscientização já começou”, declara Marcelo Taka-

oka, dono da Y. Takaoka Empreendimentos e presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, em São Paulo. De acordo com o enge-nheiro Vanderley John, membro dessa instituição e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), alguns consumidores já estão relacionando as suas atividades diárias com os grandes impactos ambientais e sociais. Para atender esses cidadãos mais conscientes, os fabri-cantes de materiais e as construtoras se preparam para uma demanda maior de ecoprodutos e de edificações verdes. Atualmente, 47 empreendimen-tos residenciais e comerciais buscam o LEED, certi-ficado do Green Building Council Brasil oferecido às obras que adotam recursos como reúso de ma-teriais e aproveitamento da água da chuva. Nem só as construções de luxo procuram se adaptar aos novos tempos. No estado de São Paulo, uma parceria entre as Secretarias da Habitação e do De-senvolvimento vai incorporar o aquecimento solar e outras alternativas ecológicas às moradias popu-lares da Companhia de Desenvolvimento Habita-cional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU). Quem se interessa em construir seguindo essa premissa deve ficar atento ao uso inapropriado do termo sustentabilidade, que se tornou um alavan-cador de vendas inclusive de materiais e empreen-dimentos não tão verdes assim. “O ideal é se cercar de profissionais que dominem o tema e pesquisar muito até encontrar fornecedores sérios”, alerta o arquiteto paulista Dante Della Manna. Vale ressal-tar que uma arquitetura preocupada com o meio ambiente também precisa considerar os aspectos sociais da obra. “Exigir nota fiscal ajuda a romper com a e conomia informal”, exemplifica a arquiteta Marcia Mikai, de São Paulo. Saiba que os projetos não são resolvidos por um profissional só, e sim por equipes multidisciplinares, a fim de contem-plar todas as fases da sustentabilidade. “Por ser diferenciado, ele custa cerca de 20% mais. No fim, porém, acaba sendo compensado pela qualidade da obra”, diz Marcia. Segundo Vanderley John, a questão é pensar em como viabilizar uma casa sustentável. “Há infinitas soluções. O importante

é usá-las com inteligência e comprometimento”, completa Vanderley.

Construir no Campo Foi o melhor jeito que o engenheiro Tércio Pacitti en-controu de curtir a natureza com a família. Ele desco-briu o lugar por acaso, numa trilha de jipe pelas terras de Ouro Fino, no sul de Minas Gerais e a 220 km de onde mora, em São Paulo. O lote de 22 mil m2 tem água mineral abundante, que vai da nascente à caixa-d’água, e está a 1 400 m de altitude, altura propícia para desfrutar a vista dos cafezais da região. Tércio sabia que o lugar não dispunha de eletricidade, mas nem por isso pensou buscá-la a 4 km de distância. “Desde o início a idéia era respeitar o meio ambiente e aproveitar o vento e o sol para gerar energia mes-mo gastando 30% a mais”, diz o engenheiro. Antes de erguer a casa principal, de 430 m2, ele começou pela moradia do caseiro, com o intuito de testar a eficiência dos sistemas. A arquiteta Ana Cristina Rosa o ajudou a bolar a planta e desenhar o telhado da casa principal. Feito o projeto, Tércio dimensionou o número de tomadas, lâmpadas e até de eletrodomés-ticos, a fim de quantificar a energia necessária. Duas turbinas eólicas

dois exemplos bem-sucedidos:

No campo O refúgio idealizado pelo engenheiro Tércio Pacitti é perfeito para ele cur-tir os fins de semana com a esposa e as duas filhas: fica numa área rural, sem vizinhos por perto. Amante da nature-za, ele aproveitou a falta de rede elétrica no lugar para erguer uma casa sustentá-vel. Resolveu a questão energética com geradores eólicos e placas fotovoltaicas, que transformam o vento e o sol em ele-tricidade.

"você se disciplina a respeitar a natureza, ter consciência no

consumo e viver ape-nas com o essencial.

nosso cuidado é evitar o desperdício de água e nunca esquecer as

luzes acesas"

Na cidade

Os contadores Andréia Ri-beiro Dias e Oscar Bastos de Oliveira, pais de Natá-lia, não queriam comprar uma casa pronta, mas sim construí-la sob medida. O projeto privilegia a vista do entorno, a entrada de luz e de ventilação naturais. Gra-ças à sugestão do arquiteto, a família conta hoje com água aquecida por painéis solares e aproveita a água da chuva. Essas soluções resultaram em economia nas contas. Antes de optar

pelos dois sistemas, Tércio consultou

atlas da região para descobrir o

potencial eólico e solar.

A idéia era criar um refúgio rural, como

pedia o lugar. De Mairiporã, SP,

ECO ARQUITETURA42 jan 2008 ECO ARQUITETURA 43jan 2008

e dez placas fotovoltaicas têm potencial para produzir mensalmente cerca de 600 kWh (qui-lowatt-hora), considerando que uma família de quatro pessoas consome de 200 a 300 kWh morando no imóvel. “Quando chove, já vi aca-bar a luz em outras casas, enquanto aqui nunca falta”, anima-se Tércio. Como as únicas fontes de energia vêm da natureza, é preciso econo-mizar. Por isso, ele adotou lâmpadas de baixo consumo (24 W). O ciclo de sustentabilidade completou-se com o uso de mão-de-obra local sob a supervisão semanal de Tércio.

enerGia Gerada peLo soL Além de oferecer eletricidade, os painéis fotovol-taicos podem se integrar à arquitetura da casa, substituindo até vidros e telhas. Por enquanto, o Brasil tem 100 kW, contra os 1 200 MW (mega-watts) instalados da Alemanha só em 2006. Numa casa, o problema é o alto investimento inicial, que só se paga após 20 ou 30 anos. “É um valor equivalente a todas as contas mensais de luz de 30 anos”, compara o engenheiro Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Cata-

rina (UFSC). “Só vale a pena quando não há rede elétrica no local e for preciso puxá-la de um poste a cerca de 3 km de distância”, avalia. Segundo Ricardo, uma casa com o consumo mensal de 200 kW deve dispor de cerca de R$ 24 mil na compra e instalação do sistema fotovoltaico.

eLetriCidade vinda do ar Para gerar luz, é preciso ter vento numa veloci-dade mínima de 4 m por segundo. “Isso acontece com mais facilidade na costa do Ceará, no inte-rior baiano, em alguns lugares de Minas Gerais e no litoral catarinense”, explica o doutor em en-genharia térmica Júlio Passos, da UFSC. Quem pretende instalar uma pequena estação em casa vai gastar R$ 5 959 na Altercoop, fabricante de aerogeradores em São Paulo. Esse kit eólico com turbina, torre, bateria e inversor atende uma fa-mília de quatro pessoas. O alto investimento ini-cial ainda atrapalha o avanço desse sistema, ao contrário do que acontece lá fora, onde os gover-nos patrocinam a construção de parques eólicos para abastecer as moradias. “Só com essa ajuda a energia eólica se paga”, diz Júlio. Para ter um

Tércio trouxe as janelas de demolição feitas de pinhode-riga (O Velhão). O piso de cerâmica rústica foi comprado na Cerâmica Celva. Na borda da lareira, decoração feita de ladrilhos hidráulicos (Fábrica de Ladrilhos Santa Terezinha) vindos de Pouso Alegre, MG

a

b

1a - Turbinas

Juntas, as duas turbinas - Whisper H-40 e H-80 - geram 1900Wp (watt pico)2b - Placas Fotovoltaicas

As dez placas de células de silício (Matrix Solar e Unisolar) totalizam 762Wp. Somada a energia produzida pelas turbinas, elas oferecem 20 kWp por dia.

1 - Controlador de Carga

Individualmente, as turbinas e as placas mandam a energia para o controlador de carga instalado na casa de força. Ele envia a carga elétrica a 18 baterias, que oferecem até quatro dias de autonomia em caso de ausência de chuva e sol.

2 - Baterias

As baterias são repostas conforme a energia é usada e, caso estejam cheias, o controlador manda um

aviso para queas turbinas e as placas cess em o funcionamento naquele momento.

3 -Inversor

A carga das baterias segue para o inversor(Xantrex SW 4024), capaz de transformar a energia de 24 V de corrente contínua para 220 V de corrente alternada.

Quadro de Força

Este inversor está ligado ao quadro de força, que distribui energia elétrica para a casa principal, a piscina de 60 mil litros e a moradia do caseiro. Isso acontece pelos eletrodutos subterrâneos de plástico. Todos os quipamentos geradores são da Unicoba.

ECO ARQUITETURA44 jan 2008 ECO ARQUITETURA 45jan 2008

comparativo, o Brasil tem hoje 15 parques eóli-cos, com cerca de 250 MW, contra os 22 mil MW da Alemanha, o país com maior poder eólico do mundo. No entanto, crescemos bastante se olhar-mos os 27 MW de 2004.

viver na Cidade,mas com os olhos voltados para a serra da Can-tareira, na zona norte de São Paulo. A vista pri-vilegiada foi decisiva na hora em que os con-tadores Oscar e Andréia escolheram o terreno de 318 m2, orientados pelos arquitetos Aquiles Miyamoto e Gilson de Carvalho, da Vautec Arquitetura, Urbanismo e Construção. Desde o princípio, os profissionais propuseram uma construção de menor impacto ambiental, a co-meçar pelo mínimo corte de terra que venceu o declive de 7 m. “Aos poucos, nossos clientes percebiam que uma boa arquitetura, com ven-tilação e luz naturais, também poupa o meio ambiente”, explica Aquiles. A partir desse prin-cípio consciente, surgia o sobrado de 500 m2 distribuído em três pavimentos e erguido em pouco mais de um ano. Na fachada, o brise leva claridade para a sala de estar sem aquecê-la de-mais. Além disso, quase não há a necessidade de acender lâmpadas durante o dia. Preocupa-dos em baixar o consumo de luz, os moradores adoraram a idéia de utilizar o sol para aquecer a água. Também veio dos arquitetos a sugestão de aproveitar a água da chuva em vasos sani-tários, jardim e garagem. Concluída a obra, os proprietários comemoram o duplo resultado. “Além de beneficiar o meio ambiente, já conse-guimos reduzir cerca de 30% a conta de luz no verão”, revela o contador, que também consi-derou a economia na hora de selecionar alguns acabamentos. Todos os banheiros têm torneiras automáticas com arejadores e bacias sanitárias de 6 litros, que reduzem o consumo de água.

"Com recursos simples você já está preservando o meio ambiente. É uma satisfação contribuir e dá ainda mais

prazer em curtir a casa, o la-zer que ela oferece e a vista,

é claro"

desCuBra o potenCiaL eóLiCo e soLar da sua reGião - Atlas Eólico Brasileiro e Potencial Solar - www.cresesb.cepel.br - Laboratório Solar da Universidade Federal de Santa Catarina - www.labsolar.ufsc.br

Quem ofereCeEólica e solar São Paulo / Conergy - Unitron Paraty, RJ / Energia Pura

Eólica

São Paulo / Altercoop São Gonçalo, RJ / Enersud

Solar

São Paulo / Solar Brasil Rio de Janeiro / Kyocera Solar do Bra-sil

Na fachada, dois recursos propiciam a passagem de luz para a sala: seis pequenas janelas e o brise de alumínio. Portões de ferro (Serralheria Irmãos Salles) e muro pintado de tinta acrílica (ref. M016, Suvinil). Na calçada, pedra miracema com detalhes feitos de sobras de cerâmica.

aproveite a Chuva

O número é atraente. Em residências, utilizar a água da chuva pode trazer uma economia de 65% na conta. “Mas é preciso garantir o bom funcionamento do sistema e estar de olho na sua manutenção e operação”, orienta o engenheiro Orestes Gonçalves, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). “Em caso de vazamento, o encanador terá de saber que não pode confundir as canalizações potável e pluvial e pôr em risco a saúde dos moradores”, alerta o professor. Para ele, antes de investir nesse recurso, é preciso refletir sobre a nossa cultura e começar por soluções mais simples, que reduzam o consumo dentro de casa e evitem desperdício. “Há tecnologias economizadoras, como válvulas de descarga de menor consumo, chuveiros e torneiras com arejadores”, sugere Orestes. “Se o consumo varia entre 180 e 200 litros por pessoa, porque não deixá-lo entre 100 e 130 litros”, provoca.

ECO ARQUITETURA46 jan 2008 ECO ARQUITETURA 47jan 2008

Com recursos simples você já está preservando o meio ambiente. É uma satisfação contribuir e dá ainda mais prazer em curtir a casa, o lazer que ela oferece e a vista, é claro. diz, Oscar Bastos de Oliveira, engenheiro.

1 - Calha

A água da chuva entra por uma calha de concreto de 40 cm de largura e desce pela tubulação de 4 polegadas de diâmetro (Tigre).

2 - Filtro

Vinda da tubulação, a água passa por um filtro (3P Technik/Bella Calha), que remove folhas e detritos – enviados para a caixa de inspeção. A água limpa

fica armazenada no reservatório de concreto de 7 mil litros.

3 - Ladrão

Caso o reservatório encha demais, uma tubulação de saída (ladrão) manda a água para a rua e evita o transborda-mento.

4 - Bomba

Com a ajuda de bombas (KSB), a água sobe até o reservatório de 1 000 litros, na cobertura. Quando o nível do reser-vatório superior baixa, uma bóia auto-mática aciona a bomba.

Quem ofereCe

Água da chuva

São Paulo / Acquabra-silis - Cirra - Perenne Brasília, DF / Casa Au-tônoma

Energia solar

São Paulo / Cumulus - Soletrol Barueri, SP / HeliotekBirigui, SP / TranssenBelo Horizonte / Tuma IndustrialJaraguá do Sul, SC / Tecnosol

ÁGua aQueCida peLo soL Popular entre os brasileiros, esse recurso ganhou ainda mais for-ça este ano. Em julho, a prefeitura de São Paulo tornou obrigató-rio o uso de energia solar em sistemas de aquecimento de pelo menos 40% da água em novas edificações com quatro banheiros ou mais por unidade. Foram colocados mais de 430 mil m2 de coletores solares no país em 2006 e o mercado deve crescer 15% em 2007. Segundo Roberto Lamberts, o crescimento poderia ser maior se não fosse a frustração das pessoas que por desco-nhecimento ou falta de capacitação técnica instalaram errado o sistema. “É comum encontrar coletores embaixo de árvores ou voltados para a face sul, a menos ensolarada”, diz Roberto. O caminho é procurar empresas e mão-de-obra associadas à Asso-ciação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava). Quanto ao preço, a implantação do sis-tema acrescenta de 0,5 a 1% do valor da obra, que se paga em até cinco anos, segundo Carlos Faria, diretor da Abrava.

ECO ARQUITETURA48 jan 2008 ECO ARQUITETURA 49jan 2008

5 - Conexão

Quando falta chuva, o reservatório de águas pluviais é alimentado automaticamente pelo reservatório de água potável.

6 - Água Pluvial

Para abastecer as válvulas de descarga dos sanitários, da torneira do jardim e da torneira da garagem, a água desce por uma tubulação de PVC de 4 de polegadas, só para as águas pluviais.

A - Coletor Solar

A água potável passa pelo boiler e depois segue para os quatro coletores solares (Soletrol). Internamente, eles têm serpentinas, que absorvem o calor do sol e aquecem a água.Ela retorna para o boiler, onde fica armazenada.

B - Água QuenteEla circula pela tubulação de cobre e segue para chuveiros, torneiras dos banheiros e da cozinha.

ECO ARQUITETURA50 jan 2008 jan 2008jan 2008

Apostando na receptividade do consumidor ao design correto e acessível, Vladimir Rigolleto persegue uma produção que reúna beleza, certificação e bons preços. Foram muitos os caminhos percorridos por Vladimir antes de chegar ao ecodesign: a infância no circo com sua família de artistas, uma breve incursão pelo atletismo, curso de arquitetura na FAAP, a tentativa de ser um executivo. Ate descobrir que sua verdadeira vocação estava na recriação da madeira em moveis ousados, feitos com linhas limpas e técnicas consagradas.

ECOdEsIgN pARA TOdOs

A opção pelas matérias-primas corretas veio não so de um convívio respeitoso com a madeira, mas da exigência de um mercado cada vez mais rigoroso no controle dos produtos.Vladimir já desenvolveu mais de trinta criações exclusivas, muitas em madeira de reflorestamento por cause da dificuldade em adquirir lotes certificados. Suas criações primam pelo acabamento e pela mescla de cores, texturas e técnicas de marchetaria. Enquanto acompanha o processo de certificação do seu ateliê Ufficio Marcenaria & Cia, Rigoletto sentena que a consolidação do ecodesign vai alem do capricho artesanal, dependendo muito da viabilidade das pecas. “E preciso estabelecer preços acessíveis para garantir a produção em larga escala. Só assim os moveis certificados serão uma alternativa realmente viável”.

Vladimir Rigoletto. São Paulo, SP T. (11) 6618 3043www.ufficioloft.com.br

Edição limitadaO projeto Destampar e uma união de coisas boas: o know-how da ecogrife Orro & Christensen, o talento dos jovens da ONG Aprendiz e a coordenação atenta do Renato Izabela. Em sua segunda edição, a iniciativa propõe mesas com tampos de mosaico sobre madeira certificada, em motivos inspirados na obra da pintora Tarsila do Amaral.Orro & Christensen. São Paulo, SP, (11) 3819 2933 www.orroecrhisten.com.br

la E cáCamilla Mattar Muacad abre espaço aos itens ecológicos na Azzadeh

Tapetes. Alem do modelo Paris, com tecido de la em sisal, a marca recebeu da India um lote em forração de bambu e taboa. São rolos de

três a quatro metros de largura feitos a Mao durante meses na cidade de Mumbai, antiga Bombay.

Azzadeh Tapetes, São Paulo, SP (11) 6604 2787 www.azzadeh.com.br

NovidadE biodEgradávEl Hidra é a linha de tapetes, jogos de mesa e painéis artísticos desenvolvida pelo designer Alberto Pretel para a OIO. Seus itens são de elastômero vegetal, material biodegradável que funciona como os plásticos convencionais, mas sem danos ao meio ambiente. Assim como o poliuretano vegetal, outra exclusividade de Pretel, o produto promete contribuir para a evolução do ecodesign.OIO Design, São Paulo, SP (11) 4226 5107

ECO ARQUITETURA52 jan 2008 ECO ARQUITETURA 53jan 2008

aBerturas para o ar

Proporcionar conforto térmico em uma residência por meio das trocas de calor realizadas pelo corpo humano e pela ventilação natural do local. A Noosfera Projetos Especiais resolveu investir nesse sistema, junto a uma série de outros elementos sustentáveis, em uma casa ainda em construção na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis, que promete ter o primeiro selo Leed para residências no Brasil.

por Joana Fonseca

ECO ARQUITETURA54 jan 2008 ECO ARQUITETURA 55jan 2008

Com consultoria da Livre Arq para questões acústicas, térmicas e de iluminação e também de especialistas do Labaut/FAUUSP (Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética), o projeto arquitetônico levou em consideração a ventilação natural no local e índices de temperatura em diferentes épocas do ano para criar um ambiente com um balanço

térmico natural. As verificações de desempenho térmico foram realizadas com o auxílio de simulações computacionais, que traçaram a condição térmica do edifício a partir de análises horárias instantâneas. Dessa forma, foi possível definir o desempenho térmico não só ao longo de um ano típico, mas também em condições extremas.

Para atingir o chamado conforto térmico - ponto em que o organismo humano não sofre nenhum tipo de estresse por frio ou calor -, os estudos analisaram o posicionamento e dimensionamento de vãos e aberturas, incluindo a especificação de materiais, principalmente as superfícies envidraçadas. Apenas alguns ambientes, como as suítes e o lounge, por exemplo, terão sistemas de condicionamento

artificial e ventilação/exaustão mecânica, respectivamente.

O modelo teórico para avaliação das condições de conforto é o balanço térmico entre o corpo humano e o seu entorno, troca que acontece por meio da pele e respiração. “Em qualquer sistema, se houver diferença de temperatura, tem-se a tendência de trocar calor. Assim, o balanço térmico sempre se realiza considerando que os corpos ou partes de um corpo, em um sistema fechado, irão trocar calor até entrar em equilíbrio energético”, explica Alessandra Prata, arquiteta do Labaut.

O sistema de ventilação natural foi pensado para funcionar segundo o chamado “efeito chaminé”, no qual o vento remove a carga térmica do ambiente, levando a temperatura interna do ar a valores mais próximos da ex-

terna.

Em função dos ventos, a entrada de ar principal se dá por uma grande abertura no piso tér-reo junto à piscina (2,1 m altura x 8 m largura). Essa abertura, segundo Leonardo Marques, tam-bém do Labaut, já era uma premissa do projeto arquitetônico, que queria integrar o interior e exte-rior do ambiente, de forma a utilizar esse espaço como um deck coberto na sala e à beira da piscina.

O ar entra pelos níveis mais baixos da residência e, inevitavelmente quente, sobe e sai pelos mais altos, por aberturas menores no forro - com 30 cm de altura ao longo de toda a largura dos ambientes - que funcionam como saídas de ar nos diversos andares da casa, em cômodos como a dependência de em-pregados, depósito, corredor e cozinha no pavimento térreo e suítes no pavimento superior. Com essa disposição, aproveita-se ainda o vento fresco que vem da água da piscina, que demora para esquentar.

A adequada operação dos sistemas de abertura ao longo das diversas estações do ano é essencial. “Há sempre a possibilidade de mudança de operação do sistema, buscando uma configuração de abertura ou fechamento de entradas e saídas de ar que favoreçam o resfriamento ou aquecimento da edificação”, diz Leonardo Marques.

Balanço térmico natural: o ar entra por um grande vão entre a sala e a piscina, e sai, quente, por aberturas que ficam no forro; o acabamento em cor clara foi recomendado, pois absorve menos calor

ECO ARQUITETURA56 jan 2008 ECO ARQUITETURA 57jan 2008

No inverno, por exemplo, a abertura principal de ar na piscina pode ser fechada com uma porta cor-rediça de vidro. As aberturas no forro também po-dem ser bloqueadas, mantendo o ar quente dentro da casa. Os forros podem ser fechados manual-mente ou de forma mecanizada.A área envidraçada da casa também funciona como coletor de calor, embora essa caracterís-tica não prejudique o desempenho térmico da residência em uma situação climática extrema oposta, como o verão. “A área envidraçada é bem protegida do sol, há um sistema de brises que protege contra a radiação direta e só permite a entrada de calor pela manhã, de forma a evitar o ganho de calor em excesso”, afirma o arquiteto.O maior desafio foi propor um esquema eficiente sem grandes alterações na concepção arquitetônica, que prevê um volume para a casa baseado em um prisma.Assim, além das adequações às condições climáticas, as aberturas ficaram restritas a certos fatores estruturais, como aconteceu com a disposição do vão da piscina.

O diálogo entre sustentabilidade e arquitetura foi fundamental para que o projeto desse certo dentro dos conceitos propostos. “Foi uma ação muito conjunta.Determinamos a estratégia antes de começar o projeto, então o volume e as aberturas surgiram juntos, a partir das demandas apontadas pelos estudos, pelo sistema térmico e pelo cliente, cla-ro”, afirma Gabriella Lessa, arquiteta da Noosfera.

Uma das dificuldades do projeto é seu elevado custo, que em parte é conseqüência da inexpe-riência do mercado em construções desse tipo, o que demanda mão-de-obra especializada. De acordo com Gabriella, devido à economia na iluminação, ventilação e sistema térmico, a longo prazo o valor pode ser recuperado, em-bora esse não seja o foco principal do projeto. Para isso, é preciso haver manutenção cons-tante, principalmente em procedimentos de limpeza mantenham as características externas originais do sistema, como a cor branca ou cinza recomendada para o acabamento; colora-ções que evitam o ganho extra de calor.

ficha técnicaarquitetura: noosfera Projetos especiais/josé Wagner garcia. equipe: fernando Casado, gabriella lessa, telma Portero Construção: ls engenharia estrutura: aCs engenharia Consultoria acústica: livrearq Consultoria em sustentabilidade e ventilação: alessandra r. Prata shimomura Consultoria em sustentabilidade: anna Christina Miana e Cte Consultoria térmica e ventilação: leonardo Marques Consultoria em iluminação: norberto Moura fundações: Zaclis, falconi e engenheiros associados instalações: nv engenharia luminotécnica: Mingrone iluminação ar-condicionado: fundamentar, studioar automação residencial: Home Control Paisagismo: Hortoart Paisagismo Consultoria em conforto ambiental: labau

ECO ARQUITETURA58 jan 2008 ECO ARQUITETURA 59jan 2008

Aumentar o conforto dos alunos e dos professores ao mesmo tempo em que se diminui o consumo de energia e de água potável. Essas foram as premissas de Michael Laar e Jaime Kuck, sócios da In-telarc/Arquilogic Projetos & Consultorias, na concepção da escola Mínima Energia, no Rio de Janeiro. Para atender cerca de 1.200 alunos, o programa inclui um prédio administrativo, salas de aula na ala norte e na ala sul, um centro de laboratórios, uma biblioteca e um auditório, em aproximadamente 11 mil m² de área construída.

TECNOLOGIA para AUTO-SUF IC IÊNCIAPor Joana Carvalho

ECO ARQUITETURA60 jan 2008 ECO ARQUITETURA 61jan 2008

Laar e Kuck partiram de uma aborda-gem integrada que envolveu a melhoria do microclima, a otimização da ventilação, do sombreamento e da iluminação natural. A redu-

ção da massa térmica do envelo-pe do prédio, a utilização de iso-lamento térmico, de iluminação artificial otimizada, de água da chuva também foram considera-das, assim como a instalação de telhados verdes, de energia so-lar e sistema de monitoramento.A melhoria do microclima é um dos principais pontos do proje-to, e foi alcançada pela redução da temperatura do ar por meio da evapotranspiração (processo pelo qual a vegetação e o solo enviam umidade para a atmos-fera, aumentando a umidade do ar) e de espaços externos som-breados naturalmente, reduzin-do consideravelmente o nível de radiação solar. Para isso, optou-se pela verticalização do projeto, buscando aproveitar o espaço e otimizar o terreno com a criação de grandes espaços verdes, tanto no entorno quanto no centro da obra. "Com uma vegetação adequada, o terreno, anterior-mente usado para o plantio de aipim e hoje praticamente estéril, voltará próximo ao seu estado original de mata atlântica", ex-plica Michael Laar. O resultado é a diminuição do calor liberado e sistemas de sombreamento naturais. "Cálculos mostram um potencial anual de resfriamen-

to natural de até 12.350 MWh por meio da evapotranspiração da água da chuva no próprio terreno", garante. Implantaram-se, ainda, telhados verdes com poder de isolamento térmico no inverno e resfriamento por evapotranspiração das plantas no verão, diminuindo os gastos com energia para aquecimento e resfriamento dos ambientes, além de ser uma forma natural de isolamento acústico.As áreas semi-abertas também contam com um sistema de nebulização e de chafarizes, além de cascatas artificiais para reduzir a temperatura nas horas mais quentes do dia. Os fluxos da ventilação natural foram calculados levando em conta a ventilação cruzada e o distancia-mento dos prédios. Para a diminuição do consumo de energia – um dos conceitos principais do projeto – foram estipuladas duas metas: a redu-ção ou eliminação do sistema de ar-condicionado e a redução do uso de iluminação artificial. Para atender a primeira meta, investiu-se no melhoramento do microclima (que reduz a diferen-ça de temperatura entre o espaço externo e interno), na ventilação natural, nos sistemas de sombre-amento externo (que bloqueiam a incidência solar direita e re-duzem a difusa), na redução da massa térmica do prédio (pois nos trópicos quente-úmidos, a massa térmica armazena o calor do dia e não consegue resfriar de forma significativa durante a noite) e no uso de isolantes tér-micos no contorno dos prédios (para diminuir a transmissão de calor de fora para dentro).

Para reduzir o uso de iluminação artificial, a idéia foi trabalhar o equilíbrio entre o sombre-amento e a iluminação natural. Para isso, sof-twares aliados a uma metodologia desenvolvida por Laar em seu doutorado na Universidade de Bauhaus, na Alemanha (e que está sendo paten-teada no Brasil), detectaram que é possível che-gar a uma autonomia anual de iluminação natu-ral de 86% entre 8 h e 18 h. A mesma tecnologia definiu a geometria da iluminação no interior do edifício e identificou as melhores luminárias e lâmpadas para cada espaço físico.Com a redução do consumo da energia, abriu-se a possibilidade de cobrir o restante necessário com energia fotovoltaica. "Cálculos mostram a possi-bilidade de produzir a energia necessária para a iluminação artificial de uma sala de aula de 60 m²

com uma placa fotovoltaica (PV) de 1 m²", explica Laar. A mesma abordagem pode ser aplicada para garantir a energia necessária de equipamentos diversos, como computadores e datashow e outros. "Com esse investimento, a escola torna-se auto-sustentável em relação à energia", conclui.Para a redução do consumo de água potável foi implementado o mesmo conceito utilizado para o consumo de energia: primeiro a redução por meio de equipamentos eficientes, como torneiras automáticas e bacias sanitárias com descargas reduzidas. Em uma segunda etapa, a água potá-vel é substituída por água da chuva para fins de limpeza, de descarga e de jardinagem. Como a água de chuva não terá fins potáveis, a simples filtragem, que separa folhas e outros elementos orgânicos, é suficiente.

vista interna - nível de iluminação natural21 de dezembro, 10h - céu nublado

vista interna - nível de iluminação natural21 de dezembro, 12h - céu claro e sol

corredor- 21 de junho, meio-dia-céu claro e sol corredor- 21 de junho, meio-dia - nível de iluminação natural

ECO ARQUITETURA62 jan 2008 ECO ARQUITETURA 63jan 2008

o ipema esta iniciando a programação de cursos em 2008 . Vol-tamos a realizar o nosso Curso de PDC (Permaculture Design Course), de 72 horas, mas também estamos com o sistema divid-ido em 4 módulos de 30 horas, para poder ter um maior apro-fundamento em cada tema e possibilitar a vinda das pessoas em feriados prolongados. .www.ipemabrasil.org.br Periodo: 22 a 25 de Maio

a soLvin 2008, em parceria com o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento São Paulo) reafirma o compromisso em incentivar alunos e professores de arquitetura e urbanismo a desenvolverem projetos sob a ótica do conceito de Arquitetura Sustentável utilizando soluções em PVC.http://www.iniciativasolvin.com.brPeríodo: Até 22 de setembro (inscrições de projetos)

nutau 2008- São Paulo/SP - Um seminário que discute a sustent-abilidade na arquitetura nacional e mundial. A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável tornaram-se palavras de ordem de um imenso processo global que visa corrigir as atuais distorções entre crescimento econômico e impactos sobre recursos finitos dos ecossistemas terrestres. www.usp.br/nutauPeríodo: 8 a 12 de Setembro

o enCaC é um encontro bi-anual realizado por professores, pesqui-sadores e discentes de graduação e pós-graduação que atuam na área de Conforto Ambiental no ambiente construído, para incen-tivar que se assuma a responsabilidade ecológica e ambiental no planejamento e arquitetura.www.groups.msn.com/oikosecoarquitetura www.oikos.arq.br/

aBimad 2008 - São Paulo/SP - A ABIMAD 2008, maior feira de móveis e acessórios de alta decoração da América Latina já está em sua 6ª edição e acontecerá no Parque de Exposições Imi-grantes, que está estrategicamente localizado no maior centro de negócios do país, a cidade de São Paulo. Como nas últimas edições, a Feira espera receber um grande número de lojistas, arquitetos, decoradores e designers do Brasil e exterior. Existe também uma grande expectativa para a visita de importadores e jornalistas internacionais.www.abimad.com.br/Período: 31/07 a 03/08

6º ConGreso kaZa - Campinas/SP - O Congresso Kaza é um evento anual, com duração de dois dias, onde seis temas são apresentados e discutidos pelos mais importantes especialistas do assunto com audiência de grande parte dos arquitetos e designers de interiores dos estados brasileiros.www.acaoeditora.com.br/eventos.aspPeríodo: 29 e 30 de maio

ii seminÁrio de Construção e CertifiCação de edifÍCios sus-temtÁveis - São Paulo/SP - No cenário atual, é indiscutível a importância da construção sustentável. O mercado global assiste uma contínua procura por profissionais habilitados a projetar e ex-ecutar novos empreendimentos e edificações e também trabalhar no retrofit de construções existentes, a fim de adequá-las aos mais modernos critérios de sustentabilidade, abrangendo economia de energia, utilização de materiais e tecnologias de baixo impacto am-biental, conforto etc.www.aeacursos.com.brPeríodo: 31 de Julho

1º prÊmio Craft desiGn -São Paulo/SP - 12ª Craft Design no Ter-raço Daslu lança o 1º PRÊMIO CRAFT DESIGN.www.craftdesign.com.brPeríodo: até 9 de junho

ECO ARQUITETURA64 jan 2008 ECO ARQUITETURA 65jan 2008

ECO ARQUITETURA66 jan 2008 ECO ARQUITETURA 67jan 2008

Como o próprio nome o indica, algo sustentável é o que se mantém, é real, concreto e possível. Portanto, nas sociedades modernas, o conceito de sustentabilidade veio para ficar e participar de maneira cada vez mais intensa dos ambientes e espaços totalmente habitados, e principalmente das grandes áreas de ocupação humana rarefeita. Mas o que é, na verdade, a sustentabilidade? Eu não sei, nós não sabe-mos, vocês não sabem, porque, como a “democracia”, depende da opinião de cada um. Existe a visão poética antiga (à la Rousseau) em que os índios preservavam as plantas, os bichos e as outras. Ora, os índios não matavam búfalos porque não tinham armas de fogo. Quando passaram a usá-las, mataram zilhões de búfalos, os cowboys matavam os índios, os bandidos matavam os cowboys, o xerife ma-tava os bandidos e o John Wayne matava todo mundo. Portanto, se o PCC fosse daquela época, o problema não existiria ou seria fácil e corretamente solucionado. Ainda que politicamente incorreto. Nas sociedades modernas, quase dois séculos após a revolução industrial, é que a consciência ecológica surgiu com intensida-de, pelo próprio crescimento demográfico e pelas necessidades cada vez mais

crescentes, ou às vezes até supérfluas das populações. Se não me falha a memória, a primeira vez que vi a questão da sustentabili-dade (a palavra nem existia na época), foi com os trabalhos de um

grego, Konstantinos Doxiadis, que “inventou” a palavra ecologia na década de 60. Doxiadis passou a divulgar os seus princípios (e a ven-

der os seus serviços) para todo o mundo e chegou inclusive até a terra de Santa Cruz, Vera Cruz, ou melhor, Pau-Brasil, que já acabou. Doxiadis veio trazido por um homem inteligente, que era Carlos Lacerda, e preparou

o projeto Turis, que contemplava o planejamento da rodovia Rio-Santos e o seu desenvolvimento turístico integrado - ou sustentável, como se

diz hoje. O projeto foi naturalmente torpedeado e a costa Rio-São Paulo, a mais linda do País, virou o lixo urbanístico-rodoviário

que conhecemos, e com o grande centro de “turismo” ecológico-militar que é a usina nuclear de Angra. Há ainda o caso do traçado do Rodoanel de São Paulo, onde considerações econô-micas imediatistas prevalecem sobre a natureza que resta. Em contrapartida, na Régis Bittencourt, entre São Paulo e Curiti-

ba, considerações exageradas sobre a natureza prevalecem sobre a vida humana. Falta substância. Ao longo dos anos a questão ecológica foi tomando vulto e adquirindo uma importância cada vez maior e mais justificada. Para cada tese e questão importante o mundo moderno inventou uma ONG, que se torna uma finali-

dade e um modo de vida em si mesmo e que acaba desembocando

em um emprego público para os seus diretores, que é sonho de todo “pro-gressista-populista”. O máximo atingi-do foi por Gro Brundtland que, saindo de um movimento ecológico, tornou-se primeira ministra da Noruega, país preocupadíssimo com a descoberta de petróleo do mar do Norte porque essa riqueza adicional, acrescida à prosperi-dade de uma nação já muito rica e pou-co populosa, poderia estragar a quali-dade ordenada e bucólica de vida dos seus cidadãos!A questão ficou ainda mais controver-tida nos anos 70, quando foi colocada a contradição da poluição da riqueza (grande desenvolvimento industrial, problemas urbanísticos, trânsito, etc.) versus poluição da pobreza (falta de indústrias, carro de boi, inexistência de saneamento, etc.). E é bom (ou triste) saber que a poluição da pobreza não é exclusividade do terceiro mundo. Os di-rigentes da Alemanha rica tiveram um choque ao verificar as sucatas que eram as indústrias dos ossis (alemães orien-tais) e os verdadeiros fluxos de esgoto que eram os seus “rios” (aqui temos der schön Tietê und Tamanduateí). Exis-tem fachos de esperança? É claro que sim, desde que, repito, haja pondera-ção. Qual foi o benefício que a cidade de São Paulo tirou ao ter por sete anos as obras do aeroporto de Congonhas paradas por causa de algumas árvores raquíticas, samambaias e jaguatiricas? Quando vejo essa atitude, penso sem-pre na fundação de uma ONG que se

sustentaBiLidadeOU SERIA SUSTÂNCIA?Por Sérgio Tepperman

chamaria “Delenda São Paulo”. Para os que conhecem latim, ela se origina dos discursos de Cícero na Roma antiga quando insistia em “Delenda Cartago” (Carta-go deve ser destruída). É indispensável, de qualquer forma, entender-se um fato: a ocupação humana atin-ge o meio ambiente. Apenas é necessário que atinja só o meio ambiente e não o ambiente inteiro. Entre as atividades humanas, a engenharia e a arquitetura, ao lado da agricultura/pecuária/pesca estão entre as que mais o atingem. Reparem que digo “atingem”, porque é diferente de “agridem”. Até agora falamos pouco de arquitetura e mais de território, onde as questões são mais visíveis e onde atitudes “sustentáveis” são mais fáceis de enfrentar. Voltamo-nos agora para os arquitetos ingleses e surpreendentemente, alemães, que vêm desenvolvendo uma tecnologia impressio-nante nos temas do aproveitamento e conservação de energia e, principalmente, da água, recurso que vai se tornando escasso. Basta lembrar os italianos que pro-puseram deslocar um enorme iceberg do pólo para a Arábia Saudita, porque a água sairia mais barata do que as usinas de dessalinização da água do mar. E com um pouco de esforço, poderia até sair mais barato do que o petróleo! A verdade é que com talento, pode-se conseguir resultados brilhantes sem o uso de tecno-logias sofisticadas. Felizmente temos para esse caso um exemplo imbatível: é o projeto de um conjunto na Nova Caledônia (ela existe, fica no Pacífico), onde Renzo Piano conseguiu, utilizando os planos urbanís-ticos das aldeias nativas e os seus processos construti-vos, projetar em uma obra simples, uma pequena jóia de sete mil m2. Ali foi edificada, com mão-de-obra lo-cal uma das mais expressivas obras de arquitetura dos últimos tempos: o centro cultural da Nova Caledônia, naturalmente só visto em revistas, que muito poucos teremos condições de visitar, e que por isso mesmo, resistirá a séculos sem turistas, como um monumento de arquitetura sustentável.

contos

ECO ARQUITETURA88 jan 2008