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Publicação organizada pelos alunos de Jornalismo Impresso da Unisc, em 2015/2.

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Revista Outra. Publicação desenvolvida para disciplina de Impresso I, em 2015/2, 1ª edição.

Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)Curso de JornalismoCoordenador: Hélio Afonso EtgesSub-coordenadora: Yhevelin Serrano GuerinProfessora responsável: Ananda Etges

Expediente

Editor_Vinicios Rafael Rech Revisão_Adrien Carlos DuarteMonica Ferreira dos PassosPedro Augusto Dreyer de Andrade Silva

Reportagem_Adrien Carlos DuarteAmanda AdamGabriel Girardon SilveiraGiovana Garin BrasilGrasiel Felipe GraselJardel FeldensJuliana de BritoLucimara da Silva dos SantosMadhiele Salazar ScopelTaísa de FranceschiVagner Flores Cerentini

Fotografia_Francelli Castro da SilvaMatusalem Zago de OliveiraPatricia Andrea Kolberg

Conto, crônicas e opinião_Francelli Castro da SilvaLucimara da Silva dos SantosMadhiele Salazar ScopelStephanie Freitas dos Santos

Charge_Pedro Augusto Dreyer de Andrade Silva

Diagramação e projeto gráfico_Matusalem Zago de Oliveira

Agradecimentos_Daniel StorchElio Brixius Pablo MeloPedro Abbott

Dizem que os brasileiros adoram deixar tudo para fazer na última hora. E que boas ideias também surgem assim. Pois foi numa fatídica noite de quarta-feira que circulou na sala de aula um papel onde havia uma votação final para o nome da revista que você, caro leitor, está lendo agora.

Não adianta. Se você tem vontade de fazer alguma coisa e tem um prazo para isso, pode esquecer. Você não vai fazer com antecedência. Você é brasileiro e vai enrolar até o último minuto. Até mesmo quando um grupo precisa decidir o nome de um trabalho acadêmico. - Colega, você vai querer qual dos dois nomes? Este ou esse? Ou outra sugestão?- Pode ser outra!- Tá, e qual outra?- Essa!- Essa o quê?- Outra!- Sério?- Sim!- Caracas! Sabe que eu adorei também? Vou falar com o pessoal lá na frente! Pois é, foi assim que nasceu o nome da revista Outra. Do nada. No último minuto, aos 49 do segundo tempo. Pasmem, que tal tarefa três semanas antes foi motivo de discórdia, de luta e de uma enxurrada de sugestões.

É como se fosse uma amante. Largue agora o seu livro e troque pela outra. Boa leitura!

Pedro Augusto Dreyer de Andrade Silva

// Fotografias de capa e contra da revista: Patricia Andrea Kolberg // Identidade visual da Outra: Pedro Abbott, designer convidado

EDITORIAL_

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O SER HUMANO PRECISA MESMO DE CARNE?ALIMENTAÇÃO_JARDEL FELDENS

Saiba mais sobre vegetarianos e veganos, pessoas que decidiram não comer mais carne

Hora do jantar na casa de Gusta-vo Freitas dos Santos, estudante, 22 anos, e Thaisa Ayessa, empreende-dora, 28 anos. Momento de desfru-tar um bife, um filé, ou até mesmo um tradicional churrasco? Para eles não. Ambos são adeptos do ve-

getarianismo, um regime alimen-tar que exclui a carne do cardápio.

Acompanhei a refeição, prepa-rada pelo casal, feita somente com alimentos vegetais, comprados ou plantados por eles. No cardápio, arroz integral, aipim acompanha-

do de molho com vagem e pimenta, e diversas saladas. Para beber, suco feito na hora, com abacaxi, maçã e canela. A prática de cozinharem as suas próprias refeições em casa, segundo eles, é constante. “Os res-taurantes, infelizmente, ainda não

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estão preparados para receberem os clientes vegetarianos. As op-ções - que são poucas - ainda não se adaptaram perfeitamente, en-tão, o melhor é fazer nossa própria comida, e isso é bom, pois sempre aprendemos coisas novas na cozi-nha”, relata Gustavo.

Para Thaisa, a preocupação com a alimentação deve ser constan-te, inclusive nas compras. “Somos muito enganados quando simples-mente compramos os alimentos por instinto. Diversos produtos aparecem na mídia como uma coi-sa, mas na verdade sua composição é totalmente diferente. Temos que tomar cuidado”.

Ela também explica que sente di-versos benefícios com a dieta, prin-cipalmente na saúde, mas também espiritualmente. “Faz mudar de postura em relação a tudo. Acredi-to que nos tornamos mais do bem, no geral. Eu parei de ter insônia, não tenho mais nenhuma doen-ça, me sinto mais viva e com mais energia”, comemora.

Ao ser indagado sobre as dificul-dades no início da dieta, Gustavo é enfático. “Tive que buscar uma nova percepção de alimentação. Antes eu procurava nos outros alimentos algo parecido, com o mesmo gosto da carne, mas não é o caminho”, afirma. Ele, que foi

SAIBA MAIS

Confira entrevista com a nu-tricionista Gabriela Jacinto, pós-graduada em Nutrição Clí-nica e Desportiva. Ela explica sobre os cuidados necessários para manter a saúde ao optar por uma dieta vegetariana.

É possível manter a dieta vegetariana sem danos para saúde?

Qualquer dieta em que res-tringimos algum grupo ali-mentar pode nos causar danos. Aqui, no caso, devemos olhar com mais tranquilidade para os vegetarianos que consomem fontes animais como laticínios e ovos. Estes ainda podem ter um bom aporte de proteína animal, que possui a vitamina B12, um dos poucos nutrientes exclusi-vos do reino animal e respon-sável por várias ações dentro do nosso metabolismo. Já os vega-nos, que não consomem nem mesmo os itens citados acima, podem sofrer com a falta de vi-tamina B12 e zinco.

Como repôr a falta dos nu-trientes encontrados na carne?

Sempre é bom ter um prato variado, contendo alimentos in-tegrais, pois eles possuem maior gama de nutrientes, além de proteínas vegetais, que podem ser facilmente encontradas em grãos como soja, quinoa, grão de bico, feijão, lentilha, dentre outros. Folhosos e outras verdu-ras e legumes complementarão com vitaminas e minerais. Se consumir ovos, estes também podem fazer parte do cardápio, seja no preparo de hambúrger vegetariano, omelete ou mesmo ovos cozidos.

Quais as principais dicas para quem quer seguir a dieta vegetariana?

Preferir alimentos orgânicos, e dentre os industrializados, os minimamente processados. Para qualquer pessoa o ideal é tentar preparar o seu próprio alimento, isso trará prepara-ções com menos sal, gordura e açúcar. O ideal seria ter um aconselhamento nutricional, para adequar possíveis faltas de nutrientes com algum comple-mento alimentar ou suplemen-tação.

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vegetariano por seis meses, voltou a se alimentar de carne, porém, já segue o projeto novamente há três meses. A namorada, que segue a rotina por cinco meses, também já teve seu momento de recaída, quando seguia o plano alimentar por 2 meses. Segundo eles, dessa vez é pra sempre.

O casal compartilha a mesma ideia sobre o tema. Ambos se tor-naram vegetarianos por questão energética, para não ingerir maté-ria morta, uma questão bem espiri-tual, segundo conta Thaisa. “Com o passar do tempo tudo melhora e a gente vai percebendo as coisas boas de ser vegetariano. A vida fica muito mais leve, o retorno é super positivo”.

VEGANISMOAlém dos vegetarianos, existem

também os veganos. São pesso-as que não consomem carne nem nada de origem animal, como ovos, leite, queijo. Também não vestem ou usam produtos que de alguma forma possam ter explorado qual-quer bicho.

É o caso de Robson Duarte, vega-no desde 26 de junho de 2011. Seu contato inicial com o veganismo foi através de um casal de amigos. O primeiro pensamento foi: “Vocês estão loucos”, confessa. No entan-to, cerca de um ano depois, Robson assistiu Terráqueos, filme que mos-tra a exploração animal, e a partir de então viu que não poderia mais viver da mesma maneira que antes.

Robson relata que nos primei-ros meses foi mais difícil. A espo-sa, Luana Poletti, também passou a restringir a alimentação, em um processo gradual. Atualmente, jun-tos os dois buscam novas receitas e procuram cozinhar coisas diferen-tes. Restaurantes são evitados, uma vez que as opções são poucas.

O ativismo veio naturalmente. “A maior dificuldade que tenho hoje é com o romantismo da coisa. Você se esforça e a maior parte das pessoas não dá a mínima”, conta Robson. Ainda completa: “É uma desconstrução do ego, ver realmen-te o que a sua opção está causando no mundo”.

Assim, quando decidiu empre-ender e abrir o próprio negócio, os princípios não poderia ficar de lado. Robson é proprietário de uma locadora em Venâncio Aires, que possui um espaço café. No local, todos os produtos oferecidos, desde as bebidas até tortas e bolos, são ve-ganos. O café com leite, por exem-plo, é preparado com leite de soja.

Como conselho para quem sim-patiza com a causa animal, Robson destaca a importância de correr atrás de informações, seja através de sites, artigos e vídeos. Ela con-clui dizendo: “A minha preocu-pação é multiplicar isso cada vez mais”.

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O SEU EQUILÍBRIO DE VOLTAFLORAIS_AMANDA ADAM

Conheça um método natural para recuperar o bem-estar

Em tempos de vida agitada, man-ter o corpo e a mente saudáveis se torna cada vez mais difícil. Fruto de uma longa pesquisa do médi-co inglês Dr. Bach, em meados de 1930, criaram-se os florais. Trata-se de uma terapia que serve para tra-zer o equilíbrio emocional que tan-to procuramos em meio à correria da rotina. Sintomas como cansaço físico e emocional, tristeza, medos, ansiedades e estressese são tratados para que alma e corpo entrem em sintonia e, assim, possam obter a plenitude da cura. É como se as es-sências dissolvessem qualquer de-sequilíbrio, antes que isso refletisse negativamente no corpo físico. Tal tratamento toma cada vez mais es-paço entre as pessoas que preferem algo que cure de dentro para fora.

Normalmente, os florais são pro-curados por indicação do terapeuta e, em alguns casos, por conta pró-pria. “Seja para uso contínuo ou situações de elevados níveis de car-ga emocional, como provas, TCC, exames para a Carteira Nacional de Habilitação”, conta a farmacêutica Danielle Luiz da Silva.

COMO FUNCIONA? “A ação das essências florais se dá por ressonância vibratória e mag-

nética, agindo no corpo físico através da ‘vibração’ do corpo energético. As essências florais têm como propriedade atuar em todas as camadas do corpo energético, equilibrando-o e alinhando-o”, explica a farmacêutica.

COMO É PREPARADO? Em geral, é constituído por 80% de água e 20% de conhaque, acrescen-

tando duas gotas de cada essência, em 30 mililitros. O conteúdo vai para um frasco e a pessoa consome a partir de um conta gotas. No caso de uso infantil, o conhaque é substituído por conservantes. O tratamento não possui contra-indicações e florais não devem substituir medicações con-vencionais receitadas por profissionais da área da saúde.

A vendedora Bárbara Cristina Vilanova, que recebeu a indicação de florais a partir da experiên-cia da sogra, adquiriu o produto.

“Nos dias de autoescola, os florais me deixaram mais calma. Só tomo quando fico muito nervosa”, co-menta.

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CAVALO DE LATA PODE SER A SOLUÇÃOFIM DAS CARROÇAS_GRASIEL FELIPE GRASEL

Projeto visa acabar com os abusos sofridos pelos animais que carregam cargas excessivas

Iniciativas sustentáveis são sem-pre muito bem vistas, elogiadas e incentivadas. No entanto, ficar “só no papo” pode não ser suficiente para alavancar grandes projetos que visam melhorar o nosso mun-do. Atitudes práticas precisam ser feitas, pensando em uma realida-de coletiva. Foi assim que surgiu a ideia do Cavalo de Lata, em Santa Cruz do Sul.

Jason Duani Vargas, de 36 anos, é engenheiro de produção forma-do na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e, junto com a sua companheira, Ana Paula Knak, é fundador do Cavalo de Lata. A iniciativa visa acabar com a tra-ção animal utilizada por catadores em suas carroças de coleta de lixo. Uma prática, muitas vezes, desu-mana, que obriga cavalos fracos e desnutridos a carregarem um peso que nem mesmo um animal saudá-vel e forte seria capaz.

Em poucas palavras, o Cavalo de Lata é um pequeno veículo movido a motor elétrico, abastecido por ba-terias comuns de veículos de pas-seio. A parte traseira é destinada à

carga, que hoje suporta, em média, duas toneladas com facilidade. Já a frontal oferece dois assentos com cinto de segurança, volante auto-motivo, freio estacionário e de pé, assim como o pedal do acelerador, faróis noturnos e sinalização de se-tas para garantir toda a segurança possível. Vale lembrar que o veícu-lo é repleto de adesivos refletores - o que garante visibilidade na rua mesmo ao anoitecer.

Existem e existiram outras ver-sões do Cavalo de Lata, algumas mais simples, mas que têm o obje-tivo comum de eliminar a neces-sidade da tração animal e ajudar o catador na difícil tarefa de con-duzir o seu veículo, que de leve não tem nada.

Os primeiros testes foram reali-zados em parceria com a Coopera-tiva de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat), que recebeu um protótipo do Cavalo de Lata e apresentou resultados extre-mamente satisfatórios, mostrando que o veículo poderia facilmente rodar trajetos enormes gastando pouquíssimo: são cerca de R$ 0,06

por quilômetro rodado, uma au-tonomia que jamais seria atingida por um veículo movido a diesel, por exemplo.

Ao contrário do que se costuma pensar, o Cavalo de Lata não é des-tinado para todos os catadores que vemos na rua. É importante que as pessoas estejam aptas a conduzir um veículo e que recebam instru-ções adequadas, através de grupos de coleta ou cooperativas como a própria Coomcat. “É preciso orga-nizar o pessoal (os catadores) para que eles possam ser vistos como pessoas que vão ajudar na coleta. Não adianta juntar eles e não dar uma ferramenta, deixar eles ca-minharem puxando uma carroci-nha”, afirma Jason.

Hoje, o principal meio para se obter o veículo é através de aluguel e Jason ainda pode oferecer assis-tência técnica do protótipo, garan-tindo que não existam problemas com uma manutenção mal feita por usuários sem prática ou que não têm conhecimentos de mecâ-nica, o que torna o projeto ainda mais interessante para o investidor.

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Se o Cavalo de Lata chegar a outras regiões do país como, por exemplo, no Nordeste, a manuten-ção não será um problema, pois as peças utilizadas são padronizadas e amplamente utilizadas em veícu-los industriais de carga, como car-regadeiras e empilhadei-ras. Isso facilita e torna qualquer conserto fácil para um especialista em mecânica, independen-te de região ou cidade do país.

A principal dificul-dade e também a maior luta da causa defendida por Jason e Ana Paula, no momento, é a regu-lamentação do Cavalo de Lata, que ainda não se encaixa em nenhuma característica automo-bilística do mercado.

De acordo com Jason, este pode ser um sonho bastante distante e du-vidável, pois liberando a circulação de um ve-ículo deste porte, ele-tricamente abastecido e com uma capacidade de carga alta, montado-ras de automóveis com uma estrutura maior do que a disponível para

o projeto certamente entrarão na briga pela venda de automóveis do mesmo tipo. Este conflito, além de diminuir as chances de venda de Jason, desvalorizaria também o comércio interno de combustível - um dos principais mercados do

país.O apoio da população é extre-

mamente importante para que o projeto se desenvolva, seja regu-lamentado e finalmente atinja um maior número de cidades, dando pequenos passos para, talvez, um

dia tomar as ruas de todo o país.

No entanto, apoio popular nenhum será suficiente se nossos go-vernantes não forem convencidos que o Ca-valo de Lata é uma ini-ciativa sustentável que pode melhorar o nos-so mundo. “A melhor maneira da população ajudar é pedindo, junto aos órgãos públicos, que sejam fundadas coope-rativas de catadores e que estes (governantes) as equipem, não só com Cavalos de Lata, mas também com prensas, esteiras e pavilhões. O meio ambiente é de todos nós, não só dos catadores. Não adianta apoiarmos o projeto e pensarmos que o im-portante é só o lixo sair da frente de nossas ca-sas”, finaliza Jason.

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VEM DANÇARSAÚDE_GIOVANA BRASIL E MADHIELE SCOPEL

Da zumba ao tradicionalismo, a dança faz bem à saúde

Há quem diga que “quem dança, seus males espanta”. Não tem idade certa para dan-çar. Você só vai ganhar com a dança, as contra-indicações são mínimas e os benefícios os mais diversos. Quem dança tem uma vida mais saudável, alegre e descontraída. A ati-vidade melhora a respiração, postura e coordenação motora. Duas vezes na semana é o bas-tante para uma melhora consi-derável em seu modo de vida, sem falar na integração e des-contração entre o grupo.

A sensação das academias de todo o Brasil é a zumba. O ritmo foi conhecido no final de 2012, nos Estados Unidos, e criado pelo professor latino Beto Pires. Para ser caracteri-zada aula de zumba, deve con-ter 75% de ritmos latinos, como reggaeton, merengue, salsa e bachata. Segundo a professo-ra Denise Alves, as aulas não têm o propósito de cansar os participantes, e sim de tornar o

momento prazeroso. Ela se di-vide entre o benefício da perda calórica e os ganhos no sentido de bem-estar e coordenação motora.

Duas vezes na semana é su-ficiente se for aliada com ou-tra atividade física como, por exemplo, caminhada, muscu-lação ou corrida. A zumba não tem pré-requisitos, tem apenas algumas restrições para quem sofre de patologias como dores nas articulações, quadril e joe-lhos.

Quando se fala em dança de salão logo nos vêm à men-te um casal, uma rosa, vestido vermelho, terno, chapéu e uma linda pose de tango, ritmo con-siderado mais “caliente”. Já a referência da salsa é um pouco diferente, pois ela tem seu rit-mo agitado, cheio de energia e swing contagiante.

E foi isso que conquistou João Pedro Araújo, que desco-briu a vocação para a salsa aos 10 anos. Ele desejava dançar e

fazer com que quem estivesse de fora sentisse vontade de su-bir no palco e dançar com ele. Assim, buscou se aperfeiçoar na salsa. Participou de diversos concursos dentro do Rio Gran-de do Sul e fora dele, tal como o Congresso Mundial de Salsa de Porto Rico, juntamente com sua então parceira de dança, Isadora Santos.

Confira no box ao lado a nos-sa entrevista completa com o dançarino de salsa João Pedro Araújo.

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ENTREVISTA

Em entrevista exclusiva para a revista Outra, João Pedro Araújo conta mais sobre a prepara-ção para o Congresso Mundial de Salsa, em Porto Rico, e a rotina voltada à dança.

A salsa, por si só, exige uma preparação espe-cial. Como foi a sua preparação para participar do Congresso Mundial de Sala em Porto Rico?

A preparação para o mundial começou em ja-neiro. Então, janeiro e fevereiro passamos mais em São Paulo ensaiando com nossos mestres campe-ões do mundo, Carine Morais e Rafael Barros. Eles que montaram nossa coreografia e como tudo ia funcionar, nos deram todo o suporte para depois começarmos a ensaiar com a ajuda da nossa treina-dora física Márcia Teixeira. Foi montado todo um treinamento especial para as nossas necessidades ajudando muito a melhorar nosso nível, para che-garmos bem na competição.

Acha que melhorou sua resistência?Com certeza, a própria dança nos gera muitos

benefícios de qualidade de vida, pois é um exer-cício completo, o qual sempre foi muito indicado pelos médicos. E a salsa me exigiu um bom con-dicionamento físico, devido ao alto nível da core-ografia e dos ensaios. Nossos treinos físicos eram bem fortes e até para não gerar uma lesão tive que me preparar. Então ficamos com uma resistência muito boa.

Você fez alguma dieta?Na época, em função da minha idade, não dava

para fazer uma dieta muito rigorosa, então come-cei a comer mais do que o normal, para aguentar bem os treinos. Também cuidava pra não comer bobagem, apenas coisas saudáveis para me ajudar a repor os nutrientes perdidos durante os treinos. E, para complementar, tomei algumas vitaminas receitadas pelo meu médico com o objetivo de au-mentar a proteção às coisas que poderiam atrapa-lhar os ensaios.

Como era a rotina de ensaios?Era basicamente ensaiar, estudar e ensaiar. Tí-

nhamos ensaio pela manhã, finalizando com um treino físico. Pela tarde estudávamos e depois da aula mais umas três horas de ensaio. Essa rotina era de segunda a sexta, folgando no sábado, porque no domingo ensaiávamos com um profissional de Porto Alegre em torno de umas quatro horas. Essa foi a rotina até a competição chegar.

Conte como foi a experiência de estar entre campeões.

Foi uma sensação fora de sério. No decorrer da preparação assisti a muitos vídeos de salsa e da competição, então virei fã de vários casais, várias bandas de salsa. Chegando lá eu estava dividindo palco e camarim com eles. Isso era muito bom, pois nos motivava bastante, estar ali com profissio-nais nos quais eu me inspirava e a vontade de fazer bonito aumentava. Com certeza o aprendizado que tive lá eu levo para minha vida toda.

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dicionalista Gaúcho (MTG) e ressalta que as danças cultivam

o respeito à mulher e a importância da família, que sempre caracterizou o ho-mem gaúcho.

Por essa questão Ribas decidiu levar a dança tradiciona-lista aos mais novos, perpetuando a tradi-ção dentro do CTG.

Como bailarino, ele já participou de concursos como o Encontro de Arte e Tradição (Enart), que é o maior con-curso de dança ama-dor da América Lati-na; e como instrutor, pretende ter um gru-po apto a participar do grande evento.

A dança despertou o seu interesse? En-tão, feche a revista e vá em busca do rit-mo que melhor pode lhe satisfazer. Vale a pena experimentar os benefícios que a dança pode trazer para o seu corpo e alma.

TRADICIONALISMONo Sul temos uma cultura

muito forte e rica, destacando as dan-ças tradicionais. Muitos gaúchos e tradicionalistas fre-quentam os Centro de Tradições Gaú-chas (CTGs) desde muito cedo e já com 5 anos de idade estão dançando em uma invernada mirim.

Pode ser o pézi-nho, maçanico, xote carreirinha ou ba-laio, o que importa é aprender as danças típicas da tradição gaúcha. A idade não interfere, é possível ver um vô dançan-do com a neta, o pai com a filha, uma avó com o neto; basta ter força de vontade e amor pelo que faz.

Como em todas as outras danças, nas tradicionais também é importante fazer alongamento antes e após os ensaios, devido ao esforço e desgaste do corpo.

Leonardo Ribas é formado em dança pelo Movimento Tra-

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UMA CIDADE QUE RETRATA A CULTURA ALEMÃCULTURA_GABRIEL GIRARDON

Santa Cruz do Sul cultiva, até hoje, tradições trazidas da Alemanha pelos imigrantes

Estima-se que 25% da popula-ção gaúcha tenha descendência alemã. Entre alguns municípios colonizados por alemães estão São Leopoldo, Nova Petrópolis, Morro Reuter, São Lourenço do Sul, Teu-tônia e, é claro, Santa Cruz do Sul. Em 1849 chegaram os primeiros imigrantes alemães destinados à Colônia de Santa Cruz, em terras do distrito de Rio Pardo – hoje ci-

dade de Santa Cruz do Sul. Desde então, a cidade tem relação imen-samente próxima à Alemanha e isso se reflete até os dias de hoje.

CIDADEUm dos lugares que retrata a

gratidão do povo santa-cruzen-se aos alemães é o Monumento ao Imigrante Alemão. O muro cons-truído no entroncamento das ruas

Marechal Floriano e Galvão Costa, no centro da cidade, foi criado pelo desenhista Hildo Paulo Müller e inaugurado em 1969. O monumen-to é uma homenagem prestada pela comunidade de Santa Cruz do Sul aos imigrantes, que com seu árduo trabalho colonizaram o município. Nele consta a data de fundação da colônia – 1849 – e o nome dos pri-meiros colonizadores.

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Outro exemplo que relaciona a cidade com a Alemanha envolve a religião. O Movimento de Schoens-tatt é um movimento católico fun-dado na Alemanha no ano de 1914. Atualmente, existem cerca de 200 santuários espalhados pelo mun-do, sendo mais de 20 só no Brasil. Um deles está em Santa Cruz do Sul. Inaugurado em 1977, é uma cópia fiel do santuário original, lo-calizado na cidade de Vallendar, na Alemanha. Símbolo da fé da popu-lação católica e do trabalho das ir-mãs de tal congregação, o santuário fica no km 53 da rodovia BR-471.

EDUCAÇÃOPara cultivar as tradições alemãs,

nada melhor que ensinar o idioma falado no país colonizador. Sendo assim, escolas da rede municipal de

educação de Santa Cruz do Sul ado-taram o alemão como matéria obri-gatória em sua grade curricular. São 12 no total. Uma delas é a Guido Herberts, que tem o ensino da lín-gua desde 2006, idealizado pela Se-cretaria Municipal de Educação da cidade. Atualmente, a escola, que possui apenas o ensino fundamen-tal, concede as aulas a alunos do 6º ao 9º ano, beneficiando cerca de 80 estudantes.

Professora de alemão desde 2000, Luciani Vogt está na Guido Her-berts desde 2008 e destaca a impor-tância do ensino do idioma: “O ale-mão é um ‘plus’ na vida dos nossos jovens. Através dele, eles têm acesso a diferentes tipos de formações e oportunidades, tanto no mercado de trabalho nacional, como inter-nacional”. Além disso, a língua ale-

mã faz com que a cultura do país europeu continue a ser cultivada na cidade de Santa Cruz. “A pre-servação da cultura acontece pela manutenção do idioma e resgate dos costumes locais em atividades. Tem um fator muito relevante que acontece que é os jovens se aproxi-mando das gerações mais antigas e há curiosidade de conhecer a nossa história”, ressalta Luciani.

Outro caso de ensinamento da língua alemã acontece em um lugar específico. Na Auf Gut Deutsch, es-cola particular de alemão localiza-da no centro de Santa Cruz do Sul, o idioma e a cultura da Alemanha são ensinados desde 2005. No local, as aulas vão além da didática. São passados cultura e costumes ale-mães. Viagens e intercâmbios tam-bém são proporcionados aos alunos

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da escola. Além disso, eventos são realizados, como o Stammtisch, um encontro reservado em lugar espe-cífico – bar ou restaurante –, onde as pessoas se reúnem para comer, beber e conversar. Em média, 90 a 100 alunos se matriculam na Auf Gut Deutsch por semestre.

A professora Jaqueline Bender, que também é a proprietária da escola, salienta a importância de cultivar as tradições: “Através da língua conseguimos cultivar a cul-tura, porque se não falarmos mais o idioma, esqueceremos as tradições, o que seria uma pena”. Outro pon-to analisado por Jaqueline foi com relação às oportunidades profissio-nais propiciadas a quem aprende alemão. “A Alemanha é, hoje, uma potência mundial, e está abrindo muitas portas ao Brasil. Na última vez que esteve aqui, Angela Merkel deixou claro que tem interesses com o Brasil, e, em seu discurso, convidou alunos brasileiros para estudar gratuitamente em seu país. A única coisa que precisa é falar ale-mão, ter proficiência na língua. Isso é o suficiente para querer aprender alemão. Pode abrir muitas portas no futuro”.

FESTAAlém de toda a relação com o

povo alemão, não se pode esque-

cer que Santa Cruz do Sul abriga a maior festa germânica do Rio Grande do Sul: a Oktoberfest. A festa celebra as tradições trazidas pelos imigrantes que vieram para a região. É originária de Munique, na Alemanha. Nasceu da festa da cerveja e foi criada em 1810 para comemorar o casamento de Luís I, Rei da Baviera. Em Santa Cruz, a festa é realizada desde 1984 e todo ano milhares de pessoas a acompa-nham no Parque da Oktoberfest.

CULINÁRIAEm Santa Cruz do Sul, a cultu-

ra alemã não poderia deixar de ser lembrada também na cozinha. A culinária típica pode ser facilmen-te encontrada na cidade. As já tra-dicionais cucas e linguiças, sempre

presentes na Oktoberfest, são vistas em vários lugares.

Localizado ao lado da escola Auf Gut Deutsch, o Stehcafé é uma op-ção única em Santa Cruz. O local remete a cultura alemã e os pratos vão além dos tradicionais. Alguns exemplos são a Sachertorte, ou sim-plesmente torta de damasco, e o Apfelstrudel, ou torta de maçã. Pão típico do sul da Alemanha, o Brezel, também é encontrado na cafeteria.

Além de comidas, há também va-riadas cervejas e café, a bebida mais tomada pelos alemães – sim, o cho-pe não é o que os alemães mais be-bem. Nesse lugar agradável é possí-vel incentivar o paladar germânico das pessoas, e fazê-las conhecer um pouco mais sobre a culinária alemã do melhor jeito: provando.

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“O SOCO FOI TÃO FORTE QUE EU CAÍ NO CHÃO E NÃO LEVANTEI MAIS. DEPOIS DISSO, A MINHA VIDA VIROU UM INFERNO”

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER_ADRIEN CARLOS DUARTE

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Um golpe. É o que basta para destruir uma família. Mas não apenas isso tem fim quando um homem desfere um soco na sua esposa ou companheira. Um golpe destrói uma infância. Um golpe destrói um exemplo, mas, principalmente, um golpe representa uma vida sendo des-pedaçada.

A violência contra mulher é uma realidade da qual não po-demos fugir. É uma realidade da qual não devemos fugir. En-frentar tal verdade pode salvar vidas, tanto de suas vítimas fí-sicas quanto das vítimas psico-lógicas. Somente no Brasil, no ano de 2014, 52.957 denúncias de violência contra mulher fo-ram feitas. Destas, 27.369 – mais da metade – corresponde-ram à violência física.

A violência psicológica – não menos grave – também acon-tece em números absurdos. Foram 16.846 denúncias, o que representa 31,81% do total. Detalhe que grande parte dos casos acontece onde a mulher deveria se sentir mais protegi-da: dentro do próprio lar. Além disso, muitas mulheres nem chegam a denunciar as agres-sões sofridas e são estatísticas invisíveis.

Algumas vezes, os casos de violência começam ainda nos primeiros anos de relaciona-mento e podem se estender por toda a vida da mulher. É o caso de Marina Backes* (nome fictí-cio para proteger a entrevista-da), 31 anos, solteira. De acordo com ela, o primeiro soco veio no primeiro ano de namoro:

“Eu nunca entendi o motivo. Até hoje eu não sei porque ele me bateu. Foi uma briguinha boba, discussão por ciúme. O soco foi tão forte que eu caí no chão e não levantei mais. Depois disso, a minha vida virou um inferno”, relata.

Muitas mulheres continuam com os seus parceiros após o primeiro golpe – que na maio-ria das vezes não é o último. A dependência psicológica e fi-nanceira, em grande parte dos casos, são apontadas como mo-tivos. Poucas mulheres sabem que existe socorro fora de casa. Tais fatores, somados à vergo-nha levam as vítimas a um es-tado estático. Não sabem como podem se mover e como reagir.

Os filhos meninos, que vêem os pais baterem em suas com-panheiras, crescem pensando que o comportamento é normal e aceitável, masculino, viril. As

“Eu fiquei mais de

cinco anos com ele e nunca pensei em largar. Às vezes a raiva vinha depois que ele me batia,

mas eu nunca ia me separar dele. Ficar com a fama de se-parada? Ficar para

titia? Não!

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filhas meninas começam a acre-ditar que a agressão é um fato banal em uma relação e que a esposa deve aguentar calada.

Susana Gaab, presidente do Conselho Municipal dos Direi-tos da Mulher em Santa Cruz do Sul explica o ciclo que se forma: “O ciclo muitas vezes começa na infância. Alguns dos agres-sores adultos foram crianças que conviveram com a violên-cia dentro de casa. Em grande parte dos casos a violência é considerada normal por eles, já que viram desde pequenos o pai batendo na mãe. É por isso que a violência contra a mulher deve ser tratada também como um problema educacional e não somente penal, como costuma acontecer”.

De acordo com dados da Cen-tral de Atendimento à Mulher, em 2014, 80% das mulheres víti-mas de violência física possuíam filhos e 64% das crianças presen-ciavam a violência. É alarmante ainda o fato de que 18% destas crianças eram vítimas diretas da violência, junto com as mães.

A agressão psicológica tam-bém faz suas vítimas. É uma forma de manter as parceiras humilhadas e caladas. Acuadas, elas acreditam que não têm sa-

ída. O medo do julgamento so-cial também costuma assustar. Marina relata: “Eu fiquei mais de cinco anos com ele e nunca pensei em largar. Às vezes a rai-va vinha depois que ele me ba-tia, mas eu nunca ia me separar dele. Ficar com a fama de sepa-rada? Ficar para titia? Não!”.

DENUNCIEA sociedade tem sua respon-

sabilidade no silêncio. Mas mui-tos movimentos existem justa-mente para informar as vítimas sobre saídas em situações assim. É o caso da Central de Atendi-mento à Mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM--PR), que pode ser contatada por telefone em todo o país a partir do número 180.

Em Santa Cruz do Sul, a aju-da pode ser encontrada na De-legacia da Mulher, no Conse-lho Municipal dos Direitos da Mulher ou mesmo na Delegacia Regional. O Conselho Munici-pal, como força deliberativa e fiscalizadora vai além e oferece apoio e encaminhamento. Susa-na explica: “O papel do Conse-lho é lutar por políticas públicas que favoreçam as mulheres, seja

buscando apoio político para a causa, seja organizando deba-tes ou eventos que informem as mulheres sobre os seus direitos perante a sociedade”.

Segundo a vereadora de Santa Cruz do Sul Rejane Henn, mi-litante dos direitos femininos e componente da Frente Parla-mentar Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, o município tem trabalhado em políticas so-ciais que visam o combate à vio-lência deste tipo. Há uma movi-mentação em prol da criação de uma lei que torne obrigatório, nas escolas do município, o es-tudo da Lei Maria da Penha.

O tema já é trabalhado por algumas instituições de ensino, mas não de maneira fiscalizada e obrigatória, já que ainda não faz parte do currículo escolar. A ideia é que se trabalhe de manei-ra unificada em toda a rede de escolas municipais e a força da lei permitiria que fundos pudes-sem ser destinados para isso.

De acordo com Rejane, o tema está presente em todas as idades e classes sociais, no entanto é importante que a conscientiza-ção comece a ser feita ainda na idade escolar, já que é através da educação que as mudanças acontecem.

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UMA CHANCE PARA RECOMEÇARMULHERES NO CÁRCERE_LUCIMARA SILVA

Em celas adaptadas do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, 30 detentas aguardam pela liberdade

“Os dias mais tristes para mim são os de visita. Sou a única presa que não recebe ninguém. Não ter o abraço dos meus filhos e sentir o peso dos meus atos é o momento em que projeto a minha mudança. No desespero da solidão, eu en-contro forças para sonhar e lutar pela ressocialização e por uma vida nova, fora daqui”. Naquele momento era possível perceber facilmente a voz embargada, o olhar tenso e as mãos inquietas que se movimentavam trêmulas. Rosimeri dos Santos, de 43 anos, foi indiciada por duplo homicídio qualificado, tentativa de homi-cídio qualificado e ocultação de cadáveres.

Presa há 10 meses, Rosimeri não faz ideia de quanto tempo irá destinar da sua vida na cadeia, pois ainda não foi julgada. No ca-derno e na ponta do lápis, o refú-gio para passar pelos dias cinzas que batem à porta constantemen-te. Escrever é o remédio.

Em um dos projetos sociais e de ressocialização realizados dentro do presídio, ela se apaixonou pelo

universo das letras. A prisioneira que estudou até a sexta série do Ensino Fundamental encontrou nos poemas, versos e preces ma-nuscritas um motivo para sorrir e para sonhar com a liberdade.

Conforme a Pastoral Carcerária, há quase 35 mil detentas em presí-dios brasileiros. O Departamento de Segurança e Execução Penal (Susepe) afirma que existem 1.706 mulheres presas no Rio Grande do Sul e esse número só cresce. Entre

2010 e 2015, o estado registrou um aumento de 70% da população carcerária feminina, média acima do crescimento contabilizado no país no mesmo período - de 36%, conforme o Departamento Peni-tenciário Nacional (DPN).

Para receber esse contingente de novos recolhimentos, 60 prisões masculinas precisaram ser adap-tadas com celas ou galerias desti-nadas às presas, como ocorre no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul. No local, vivem 30 mulhe-res: mães, esposas, filhas, que por determinação da justiça vivem a realidade do cárcere.

DROGASO crime mais comum que as le-

vam para a prisão é o tráfico de drogas. No Rio Grande do Sul, 7 a cada 10 presas pagam por esse delito.

Conforme o chefe de seguran-ça do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul Carlos Fioravante, a afirmação se confirma pela conti-nuidade que as mulheres dão ao “trabalho” dos maridos/compa-

Não há nada que eu possa fazer aqui além de escrever.

Esperar e escrever.

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nheiros ao serem presos. “A maio-ria da população feminina nos presídios é constituída por mu-lheres de prisioneiros. O esquema rentável e de crescimento fácil e veloz é o que as mantêm estáveis sem eles”, explica. “Essas mulhe-res são alvos de investigações da polícia e elas são rapidamente cap-turadas”.

Este é o caso de Seloni da Rosa, presa por tráfico e associação de drogas. A sua sentença é de 16 anos e meio. Porém, uma esperan-ça: a remissão da pena, por bom

comportamento. Seloni conquis-tou a confiança de poder trabalhar externamente, em uma empresa parceira, em tempo integral, o que dá a ela a chance de reencontrar os filhos em menos tempo, uma me-nina de 15 e um menino de 7 anos. “Sei que eles estão me esperando lá fora. Isso é o que me conforta”, desabafa.

O diretor Aledison Correia Pi-colini ressalta que o presídio de Santa Cruz do Sul é um dos pre-sídios que mais oferece atividades laborais para os detentos, seja no

trabalho externo ou por meio de serviços gerais internos, como faxina, copa, manutenção, orga-nização da biblioteca, entre ou-tros. “Hoje, nós temos um efetivo de 25% de presos que trabalham. Embora muitos não acreditem, a cadeia ainda ressocializa e, para quem aproveita, prepara para uma vida restituída”, enfatiza Picolini. Ele menciona ainda sobre o Plano de Ação Conjunta (PAC) que fun-ciona em parceria com a Xalingo Brinquedos, a fim de reduzir o tempo de reclusão especificamen-

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te das mulheres.Perdida no craque, Glaci Hi-

ckmann foi presa por roubo. Sentença de dois anos e meio. Ela lamenta pelo filho recém-nascido, o qual foi lhe tirado por ordem da justiça, pelo Conselho Tutelar, que constatou que ela não teria condições de criar uma criança. Portadora do vírus HIV, ela conta que ficou duas semanas internada no hospital para se desintoxicar dos entorpecentes e dar à luz.

“Quando ele nasceu, as enfer-

meiras me disseram que o trata-mento tinha dado certo. Em meio a minha insanidade e totalmente movida pelas drogas, pensei no ser que eu gerava. Ele não con-traiu o vírus. Dei a ele o nome de Gabriel, pois um dia li em algum lugar que significava: enviado por Deus”. O menino completaria dois meses em alguns dias.

Caminhos tortuosos, escolhas erradas, consequências reais. Ro-simeri, Glaci e Seloni têm algo em comum: a chance de recomeçar.

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“Dei a ele o nome de Gabriel, pois um dia

li em algum lugar que significava: en-

viado por Deus.

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NÃO É CAMBOIM, É BOM JESUS OPINIÃO_LUCIMARA SILVA

Perdi a conta de quantas vezes me vi resistente e constrangida ao respon-der a seguinte pergunta: “Onde você mora?”. Ao mesmo tempo em que res-pondia “moro no bairro Bom Jesus”, a conjunção de ligação “mas” dava sequência a justificativas ensaiadas, com o objetivo de amenizar o impacto causado no receptor da informação ao tomar conhecimento do fato.

Ao responder, de imediato a réplica era unânime: espanto. “Tu moras no Camboim?”. Em contrapartida, a mi-nha resistência e constrangimento me colocavam no lugar de quem eu jul-gava “pré-conceituoso” e eu acabava consentindo com uma falsa ideologia injusta, sem embasamento verídico. Percebi então que, bairrista, eu deve-ria lutar pela reputação do meu bairro e defendê-lo sem hesitar. Moradora da localidade há 25 anos, desde que nasci, o tempo não foi suficiente para aceitar a ideia de que eu faça parte da estatística que considera o bairro um dos piores de Santa Cruz do Sul.

As notícias estão aí, diariamente expostas por todo tipo de veículos de comunicação e a internet abriu um eixo de interação comunitária que oferece uma arma de tiro livre, sem filtro. Fico admirada com o volume

de informações negativas e sensacio-nalistas sobre determinados bairros de Santa Cruz. De fato, ao folhear as páginas policiais, os apontamentos para essas regiões são incontestáveis e a ênfase é gigantesca, entretanto pergunto: onde está a valorização e reconhecimento da maior parte? Sim, a maior parte da população dos bair-ros não vive à mercê da sociedade, não vive na criminalidade, não vai roubar sua loja ou a sua bolsa, não vai te ofe-recer drogas ou andar armado.

Se eu pudesse mensurar, aposta-ria que a fama maléfica dos bairros é constituída por 5% de barulhentos que sobressaem qualquer aspecto po-sitivo que possa existir. A população em sua maioria é pobre sim, mas po-breza não define caráter. A generali-zação em massa é o pior sentimento que um cidadão de bem pode sentir ao ser inserido num montante de pes-soas de caráter duvidoso.

Numa era de liberdade de expres-são, direitos iguais, luta contra o pre-conceito racial, homofobia, machis-mo e feminismo, a discriminação pelo povo da zona sul da cidade grita cada vez mais alto. Cadê o reconhecimen-to dos projetos sociais, das ações de solidariedade das igrejas e cozinhas

comunitárias que alimentam e ampa-ram qualquer elemento que precise, sem distinção? Onde está o reconhe-cimento dos projetos escolares edu-cacionais que introduzem alunos ao mercado de trabalho, ao curso supe-rior e a uma carreira de sucesso?

Pelo contrário, a evidência é dada apenas para a professora agredida. Centenas de pessoas lutam para viver e sobreviver, todos os dias, de formas surpreendentes e criativas, mas os holofotes brilham mais naqueles que morrem ou naqueles que matam.

Diante de tanta negatividade e crise decadente deste mundo, que algum dia alguém possa reconhecer que por trás dessa cruel realidade, existe o Bom Jesus da mãe que sai cedo da manhã, cheia de sacolas, com um fi-lho nos braços e uma sombrinha em dias de chuva, para leva-lo à creche. Do pai que sai para o trabalho às 5 horas da manhã e provê o sustento da família. Das crianças que jogam bola na rua, que dizem licença, por favor e obrigado. Do vizinho que dá bom dia. Do bar da esquina que confia e vende no caderno. De gente que vive à mer-cê do próprio trabalho, conquistado com suor que cheira à honestidade e dignidade.

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HOJE É DIA DE ROCK, BEBÊYOUTUBE_VAGNER CERENTINI

Conheça o canal de vídeos online que tem foco em entrevistas com bandas de rock

Não é de hoje que a internet revela anônimos para o mundo. Muitas pessoas alcançaram a fama através de blogs, páginas, e sites como o YouTube. Mui-tos já devem ter ouvido falar do canal de vídeos Porta dos Fun-dos e também de nomes como Felipe Neto e Pc Siqueira, que são donos de canais e chamados de “vloggers”, pelo fato de pos-tarem vídeos periodicamente

falando sobre um determinado assunto.

Pela facilidade que a ferra-menta oferece, muitos jovens percebem a internet como um meio de mostrar para o mun-do o seu trabalho. O estudante Douglas Almada Martins é um exemplo bem próximo. Dono do canal TV Banho Maria, ele apresenta o programa Treta Rock Show, que vai ao ar uma

vez por semana, ou até duas ve-zes, dependendo da quantidade de material que consegue gra-var.

Douglas faz entrevistas com integrantes de bandas de rock. O seu canal possui um pouco mais de dois anos e mais de 90 vídeos, que já foram visualiza-dos  32.168  vezes. O estudante do sexto semestre de Produção em Mídia Audiovisual da Uni-versidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) trabalha como editor e também é vocalista e guitarris-ta da banda Avalanche. Na en-trevista exclusiva para a revista Outra, ele conta a sua história.

Primeiramente, Douglas fala sobre como surgiu a ideia de gra-var vídeos para o YouTube. “Re-cebi o convite do Coletivo Ba-nho Maria, que é uma casa onde algumas bandas se apresentam aqui em Santa Cruz. Eles já pro-duziam alguns programas para web. Então, levei a ideia do Treta Rock Show, que é um programa inspirado no Mundo de Wayne, Fúria MTV e outros programas

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que eu me criei assistindo”.O primeiro vídeo foi ao ar no

dia 7 de novembro de 2013 e Douglas lembra como foi aque-le dia. “Aconteceu uma corrida de kart, organizada pelos inte-grantes de bandas de rock da região. O evento é chamado de Rock’n’roll Racing”.

Em relação ao programa, per-guntei se ele tinha alguma ins-piração na área. “Sim, me inspi-ro em Gastão Moreira, que foi apresentador da MTV Brasil, e no Rikki Ratchman, apresen-tador do Head Bangers Ball, da MTV americana nos anos 80”, salienta.

“Meu objetivo com o canal é divulgar as bandas de rock que estão produzindo de forma in-dependente, divertir a galera e, é claro, me divertir criando e pro-duzindo um material bacana”, afirma Douglas.

E falando em diversão, ele diz quais foram as bandas em que ele mais se divertiu gravando para o canal. “O Treta de núme-ro 20 foi muito especial, pois en-trevistei a galera do rock em um parque de diversões de quinta categoria... A entrevista com o Paulão, da banda Velhas Vir-gens, foi muito legal. Teve outras também que marcaram, como,

por exemplo, a vez que entre-vistei Mr. Pi, Tico Santa Cruz, Banda Malta... Todas elas foram especiais de alguma forma”.

O apresentador fala também da vez em que gravaram um programa e arrecadaram brin-quedos que foram entregues a diversas crianças. “Este vídeo com certeza é especial, pelo fato de contribuirmos com outras pessoas”, destaca.

Gibran Sirene é o criador do Coletivo Banho Maria e ajuda nas edições dos vídeos ou em qualquer problema que possa acontecer. “Ele é o meu mentor nas edições e sempre que pode me dá uma mão na finalização do material”, diz o estudante.

“Às vezes recebo algum reco-nhecimento de alguns professo-res que me convidam para falar sobre produção para internet, o que eu estou achando bem legal e estimulante”, relata. “Também recebo reconhecimento da ga-lera que assiste, das bandas que entrevisto, do pessoal que já está envolvido”, acrescenta.

Para finalizar, perguntei se ti-nha alguma história que ele gos-taria de contar, algo hilário que aconteceu durante alguma gra-vação. “Tenho sim, mas eu não posso falar, porque isso poderia me comprometer... Histórias en-volvendo rock costumam ser as piores possíveis”.

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MAÇONARIA, UMA SOCIEDADE MUNDIALMISTÉRIO_TAÍSA DE FRANCESCHI

Uma disputa indireta entre o bem e o mal, onde quem conta defende o bem, e quem escuta imagina o mal

O que movimenta o planeta e faz com que milhares de coisas sejam descobertas é a nossa curiosida-de. Ela nos faz viajar por mundos imaginários, atrás de uma verdade nem sempre exata. Nesse misté-rio encontramos um dos grandes enigmas da sociedade mundial: a maçonaria.

Há centenas de anos, os maçons conservam seus segredos bem guardados. Inúmeras gerações fizeram parte dos rituais maçô-nicos, não deixando que os mis-térios envolvidos se perdessem no tempo ou fossem amplamente revelados. A partir disso, surgem as especulações: o que os rituais envolvem? Carne, sangue, sím-bolos? Seria uma forma de magia negra presente com todo potencial na sociedade? Se a maçonaria não remetesse a algo maligno, por que seria tão velada?

Outra questão que deixa quem está de fora intrigado é o poder. A maioria dos maçons são homens financeiramente bem-sucedidos, que atuam ou já atuaram em car-gos importantes na sociedade.

Muitos se perguntam se isso é coincidência. Saga, religião, seita, no que você acredita? Segundo pesquisas, nenhuma alternativa é correta. A maçonaria é caracteri-zada por uma filosofia de vida que cultiva a justiça social, a humani-dade, a liberdade, a igualdade e a democracia.

Todo segredo das reuniões ma-çônicas é explicado pelo simples fato de ser um costume, uma tra-dição seguida por essas pessoas. Assim como uma reunião de pro-fessores é restrita somente a eles, sem a presença de alunos ou pais, os encontros maçons também são assim. Seus membros usam tra-jes específicos para os encontros, como ocorre em algumas religi-ões.

Não é qualquer pessoa que entra na maçonaria. É através de indi-cação. Sendo assim, um membro indica uma pessoa nova e, a partir disso, ela é observada pelo grande grupo. Todos os seus atos, como atua na sociedade, a quem ajuda, todas as coisas boas que aquela pessoa faz e, principalmente, o

quanto ela colabora para que se tenha uma sociedade, e logo, um mundo melhor. Avaliado isso e a pessoa tendo um bom resultado, ela é convidada a participar de um encontro, até vir a se tornar inte-grante da maçonaria.

Entre os princípios seguidos pe-los maçons está a igualdade, o que explica porque a maioria é com-posta por homens bem-sucedidos. Não que eles foram sempre assim, mas a partir do momento em que você é convidado a participar desta filosofia de vida, todos pas-sam a te ajudar. Os que têm mais dividem com os que tem menos ou quase não tem. Não é simples-mente um dinheiro entregue, mas sim um investimento, eles ajudam o novo membro a expandir seu negócio ou até mesmo a abrir um novo. Logo, quem foi beneficiado está pronto para ajudar um pró-ximo e assim eles vão cativando novas pessoas.

Os maçons acreditam em um ser superior criador de todo o universo, porém diferente de re-ligiões, eles não adotam imagens.

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Em um de seus símbolos mais conhecidos vemos um esquadro e um compasso, que para eles repre-senta o universo e ao centro deles uma letra G, que significa o Ser poderoso, criador de tudo.

Foi no dia 24 de julho de 1717, na Inglaterra, que se formou ofi-cialmente a primeira loja maçô-nica do mundo, mas estima-se que existiam maçons muito antes disso. Em 1738, a religião católica se voltou contra essa nova filosofia de vida, quando o então papa Cle-mente XII, em documento oficial, acusa os maçons de heresia e ain-da ameaça os fiéis que se aproxi-massem com a excomunhão.

No Brasil, a primeira loja ma-çônica foi fundada em Salvador, na Bahia, em 1724. A partir daí, a maçonaria se fez muito presente na sociedade brasileira, influen-ciando principalmente na políti-ca, com seus ideais de liberdade e igualdade. Na abolição da es-cravatura, os projetos de leis que antecedem a Lei Áurea foram de políticos maçons. A Inconfidência Mineira foi liderada por Tiraden-tes, que era um maçom. Em 1822, quando o Brasil se tornou inde-pendente de Portugal, os princi-pais articuladores da liberação, José Bonifácio e Joaquin Gonçal-ves Ledo, além do próprio Dom

Pedro I, eram maçons. Não é oficialmente registrado,

mas há relatos que apontam que a história da independência é um pouco diferente daquela narrada nos livros de escola. Dom Pedro I foi iniciado em uma loja maçô-nica do Rio de Janeiro, em agosto de 1822. No dia 20 do mesmo mês, os maçons se reuniram para redi-gir um documento de declaração da independência do país, porém Dom Pedro não participou porque estava em São Paulo. Depois disso, um mensageiro enviado por eles entregou a carta ao imperador, mas este demorou a encontrá-lo,

de modo que a independência só ocorreu em 7 de setembro.

Para se ter noção do tamanho da maçonaria, estima-se que existem cerca de 6 milhões de maçons no mundo. No Brasil, são aproxima-damente 150 mil em 4.700 lojas.

Os segredos da maçonaria so-brevivem há gerações. O número de dúvidas cresce tanto quanto o de membros. Por mais que pesqui-sas sejam feitas, que muita gente comente sobre o assunto, a úni-ca forma de saber a real verdade é sendo um maçon. Assim, nada mais será história e sim realidade.

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DIFICULDADES E SONHOS: A REALIDADE DE UM TIME DE FUTSAL DO INTERIOR

ESPORTE_JULIANA DE BRITO

Uma equipe guerreira que dribla os obstáculos com dignidade, determinação e, o principal, a união

O CDM de Passo do Sobrado, como era conhecido em 2003, tro-cou de nome e se modificou em 20 de dezembro de 2010. A partir da data foi chamado de Associa-ção Passo Sobradense de Futsal (APF), time da cidade de Passo do Sobrado, interior do Rio Grande do Sul. Fundada por Willian Cas-siano Ferreira, atual presidente do clube, e seus dirigentes, a APF disputa o Campeonato Estadual Adulto Masculino Série Bronze, uma das maiores competições do sul do país.

Segundo Ferreira, o problema sempre foi e sempre vai ser a di-ficuldade financeira. A APF en-contra dificuldades em conseguir patrocinadores, pois Ferreira bus-ca patrocínio sozinho. Ele não tem uma equipe que trabalha para aju-dar na questão. O presidente co-menta sobre outros times que têm vários dirigentes trabalhando em busca de verba, correndo atrás de patrocinadores: “Aqui sou sozinho e isso dificulta”.

A equipe tem um auxílio que recebe da prefeitura. “Neste ano nossa meta era buscar R$ 120 mil. Não conseguimos, chegamos a R$ 80 mil. Do total, 20 vem da prefei-tura e o restante é de patrocínios que conseguimos e também da renda dos jogos em casa, da venda de rifas, de eventos”, salienta Fer-reira.

O preparador físico de goleiros Antônio Neto evidencia: “Nin-guém quer patrocinar, investir di-nheiro em times pequenos, ainda mais times com pouca estrutura”. Neto diz que cada equipe quer colocar para jogar os melhores jogadores, com qualidade e com competitividade. Nisso os times vão tendo que se atualizar e correr atrás de atletas a altura. Então os campeonatos estão crescendo e, com isso, exigindo profissionais competitivos.

No Estadual o sonho é chegar na final e conquistar o título. Ferreira ressalta: “É difícil, sabemos da di-ficuldade, mais a meta a ser alcan-

çada é esta”. Na Copa dos Campe-ões de Futsal, realizada em Esteio, onde o campeão leva pra casa um carro novo, o objetivo é de chegar entre os quatro melhores.

Ao serem perguntados como definiriam a APF em uma pala-vra, os dois integrantes da equipe destacam união, “pois o ambiente é muito bom, as pessoas são muito unidas e quem está lá é para jo-gar”, finaliza Neto.

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HISTÓRIAS QUE PASSAMHORA DO CONTO_FRANCELLI CASTRO

Nada mais é igual, a vida passa diante dos olhos e muitas vezes não percebemos. Será que notamos os pe-quenos detalhes? E se pararmos um dia para observar o que se passa em nossa volta?

E foi o que fiz. Um dia sentei na sa-cada do meu apartamento e, por ser central, em frente a uma linda pra-ça, muita coisa ali acontece. Percebi muita gente, de diferentes gêneros e estilos. Mas uma pessoa me chamou realmente a atenção. Um senhor, já franzino, cabelos brancos e uma ben-gala. Todos os dias, na mesma hora e no mesmo banco. Ficava ali durante horas.

Depois de quase dois meses obser-vando o que acontece no dia a dia das pessoas e, principalmente, daquele se-nhor, resolvi sair do meu conforto e ir até ele. Fui até a praça e me sentei ao seu lado, que me olhou um tanto con-trariado. Fiquei ali até criar coragem e lhe perguntar porque todo o dia ele vinha a este banco e ficava ali sozinho. Simpático, me olhou e começou:

“Foi em 1945, eu tinha 15 anos, vim com meus pais a esta cidade. Teve uma festa aqui na praça, naquela épo-ca era muito diferente, os meninos no-vos ficavam de um lado e as meninas

do outro. Mas fui audacioso, cruzei o caminho até este banco, sem medo. No mesmo lugar onde estás sentada, uma linda moça de cabelos soltos on-dulados sorria em minha direção. A olhei, sorri e a convidei para dançar. Seu nome era Beatriz. Durante toda a festa dançamos, não nos desgrudáva-mos, conversamos, rimos, foi muito lindo. A festa chegava ao fim e fui ao seu pai perguntar se poderia visitá-la, pois eu a achei muito formosa e tinha boas intenções com Bea, como cari-nhosamente a chamava. E assim foi, fui diversas vezes em sua casa. Fir-mamos namoro naquele mesmo ano e três anos depois mais uma grande fes-ta reuniu a minha família e a dela. O dia mais lindo, uma grande festa para celebrar a nossa união. O casamen-to dos sonhos para qualquer pessoa apaixonada. Tivemos sete filhos, três meninas e quatro meninos. Naquela época já com os filhos, estava forma-do, fiz uma faculdade em uma cidade vizinha assim como Bea. Já tínhamos a empresa onde trabalhamos durante muitos anos juntos. Eu e Bea aprovei-tamos muito a vida, viajamos, conhe-cemos outros lugares. Contiudo, há cinco anos ela adoeceu e não resistiu”.

Intrigada com a bengala, o ques-

tionei. “Durante os últimos dois anos de vida, a bengala foi a companheira de minha esposa. Hoje a levo comi-go”. Ele enche os olhos de lágrimas e termina: “Venho todo dia na praça, no mesmo banco, pois aqui conheci o amor da minha vida. E faço o mes-mo que fizemos tantos anos atrás. Até dançaria, mas me sinto velho e triste por não tê-la mais”. Levantei-me e es-tendi a mão. Apavorado com minha atitude, o senhor se recusou, mas eu lhe disse que dançaria ao menos uma vez por semana com ele, para que a lembrança de sua amada permane-cesse viva em suas memórias.

Vejo as pessoas na rua, mas não co-nheço suas histórias e a do senhor da praça é emocionante. Um dia recebi a ligação de um homem com a voz tris-te e a notícia que me dava era de que o senhor que conheci estava hospita-lizado. Fui até lá, ele sorriu e falou: “Mocinha, durante o tempo que con-versamos e quando dançamos você me fez voltar a ser jovem de novo. Mas hoje, alguma coisa me diz que a mi-nha missão aqui acabou e que Bea me espera”. Ele fechou os olhos e dormiu. Foi embora. Certamente para o en-contro de sua linda e amada Bea.

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VIVER VIVENDOCRÔNICA_STEPHANIE FREITAS

Certo dia, estava tomando café numa deliciosa padaria de origem ale-mã cujos sabores de cucas permitiriam que eu os provasse um a um até ficar mais do que satisfeita e, ainda assim, não degustaria de todos que ali dispu-nham. Com uma preguiça matinal, ia findando aquela xícara de café com lei-te cremoso, quando sentaram ao meu lado uma menina que aparentava ter uns vinte e poucos anos acompanha-da de uma senhora que, ao decorrer da conversa, percebi que era sua avó.

Não que eu faça o feitio de quem bisbilhota a conversa alheia, mas veja você que eu estava completamente só naquele ambiente que era acolhedor o suficiente para uma boa trova e, além disso, as cidadãs em questão estavam, realmente, muito próximas de mim. Antes de terminar o tal café (sim, eu realmente estava com preguiça de sair dali) as duas então começaram a conversar. A avó estava muito preo-cupada, pois achava que já era hora de a neta lhe dar um bisneto, visto que, de acordo com o andar da conversa, a neta estava casada havia sete anos. Sem ao menos esperar o final da frase a neta rebateu:

- Não estou nessa etapa da vida ain-da, vó. Eu determinei que só vou ter fi-

lhos com os meus 34 anos e sete meses.34 anos e sete meses. Assim mesmo.

Quebradinho. Eu não fiquei tão pasma pelo fato de ela não ter arredondado logo para os 35, mas sim pelo fato de que, ao terminar o tal café (finalmen-te) e sair da padaria, eu só pensava nas normas temporais que impomos à nossa própria vida. Ignorando que, lá no fundo da nossa consciência, sabe-mos que a vida é inconstante. Que vi-ver, de fato, deve ser feito com prazer e não com uma agenda pré-programada para todas as idades e todos os eventos do quotidiano. Porque deveríamos sa-ber ainda, que a vida vai passar diante dos nossos olhos e, no fim, não vamos ter feito praticamente nem a metade daquilo que gostaríamos de ter reali-zado.

Vivemos estipulando o que fazer e quando fazer. Comprar um carro quando terminar a faculdade. Focar na carreira até os 30. Se der tempo nesse meio tempo, procurar um rela-cionamento, porque, afinal de contas, a vida está passando e aos 34 e uns quebrados fora planejado ter o pri-meiro filho. Depois disso, quem sabe, procurar a ascensão na carreira até os 50 anos, que é para dar um futuro bom para o filho e depois, talvez, sossegar e

curtir a vida. A questão é que, na vida, vivemos

esperando em vez de viver viven-do. Vivemos esperando dias em que vamos nos sentir melhores conosco mesmos para podermos fazer aquilo que temos vontade. Só que quando percebemos isso, a vida já passou. Pa-rece que está passando rápido agora? Vamos nos impressionar com a veloci-dade do tempo quando estivermos na casa dos 60. Será que viemos pré-pro-gramados a fazer tudo cronometrado? E porque, cargas d’água, não temos o botão que algumas pessoas têm, que quando ligam simplesmente largam tudo e fazem o que lhes dá na telha? Será que esse botão não é para todos? Nada disso. Nós temos esse botão. O que nos falta é coragem. Coragem su-ficiente para chutar o balde e sair por aí esquecendo o cronômetro que adap-tamos as nossas vidas. Coragem para vivermos o que queremos. Indepen-dente de idade. De tempo. De espaço. Nos tornamos dependentes do relógio e dos anos que vão passando e esque-cemos que, quando envelhecemos e partimos dessa para outra (talvez me-lhor) não levamos nada além das nos-sas experiências. Nada além do que realmente vivemos.

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NÃO É TÃO FÁCILCRÔNICA_MADHIELE SCOPEL

Sair do Ensino Médio é a maior alegria dos adolescentes em geral, a sensação de liberdade toma con-ta. É o momento em que se pode fazer escolhas, encarar os vestibu-lares da vida, decidir o futuro pro-fissional. É o momento de errar, pegar um ônibus para Santa Cruz do Sul, dormir e parar em Santa Maria, é hora de encarar a vida.

Muitos não têm o privilégio de residir em uma cidade que tenha universidade e é preciso muito jogo de cintura. Uns optam por pegar ônibus todo santo dia, “per-der” uma ou duas horas dentro dele para ir e uma ou duas horas para voltar. Alguns conseguem tirar um cochilo, ler, estudar e eu os admiro, só consigo olhar pela janela e ver meu filme passando. Outros, encaram de vez os desa-fios da vida e vão morar sozinhos.

Para muitos, parece loucura, para outros um ato corajoso, para os pais é uma dor e, para nós, uma aventura. Mas, sair do conforto e aconchego de casa para dar con-tinuidade ao desejo de mudar de vida não é tão fácil assim. Para aqueles que detestam as tarefas de casa, mais difícil é. Você é o

responsável pela limpeza e orga-nização do seu espaço. Sinto lhe dizer que as roupas não aparecem cheirosas e dobradas no guarda--roupas, os móveis não tiram a po-eira sozinhos e a comida não está quentinha na mesa te esperando.

Todavia, ao invés de reclama-rem, agradeçam. Agradeçam

principalmente aos pais, por per-mitirem que vocês façam suas es-colhas e apoiem suas aventuras.

Quando vocês olharem para trás, se darão conta de como foi ótima essa experiência e provavel-mente terão orgulho do adulto que se tornaram.

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