revista pensar 2015

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 1 AMIGA DO IDOSO Belo Horizonte realiza o primeiro Diagnóstico do Idoso para estabelecer metas de alcance ao título de Cidade Amiga do Idoso, com base em indicadores da Organização Mundial de Saúde. VENCEMOS A RUA HISTÓRIAS DE VIDA E SUPERAÇÃO O nascimento da família de Nayara, Roberto e Vitória é um alento para quem conhece a realidade de morar na rua. ANO VIII | Nº 34 | 2º SEMESTRE - 2015 LER EM FAMÍLIA Estimular o hábito da leitura nas crianças desde a primeira infância, estendendo esse estímulo aos familiares é o objetivo do projeto Ler em Família. PÁG. 49 PÁG. 45 SECRETARIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS SOCIAIS – PREFEITURA DE BELO HORIZONTE

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Revista Pensar BH - Secretaria Municipal de Políticas Sociais da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

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Page 1: Revista Pensar 2015

2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 1

AMIGA DO IDOSOBelo Horizonte realiza o primeiro Diagnóstico do Idoso para estabelecer metas de alcance ao título de Cidade Amiga do Idoso, com base em indicadores da Organização Mundial de Saúde.

VENCEMOS A RUAHISTÓRIAS DE VIDA E SUPERAÇÃO

O nascimento da família de Nayara, Roberto e Vitória é um alento para quem conhece a realidade de morar na rua.

ANO VIII | Nº 34 | 2º SEMESTRE - 2015

LER EM FAMÍLIAEstimular o hábito da leitura nas crianças desde a primeira infância, estendendo esse estímulo aos familiares é o objetivo do projeto Ler em Família.

PÁG. 49PÁG. 45

SECRETARIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS SOCIAIS – PREFEITURA DE BELO HORIZONTE

Page 2: Revista Pensar 2015

Pensar BH

2 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015 Eduarda Pinheiro Leôncio,aluna da Umei Floramar.

PB-0020-15 AD MERENDA ESCOLAR_RV PENSAR BH 40x27cm_AFS.indd 1 11/23/15 7:43 PM

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Eduarda Pinheiro Leôncio,aluna da Umei Floramar.

PB-0020-15 AD MERENDA ESCOLAR_RV PENSAR BH 40x27cm_AFS.indd 1 11/23/15 7:43 PM

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Nossa Cidade 4344 BH CIDADE AMIGA DO IDOSO – A CIDADE SE PREPARA PARA CUMPRIR OS REQUISITOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE E SE TORNAR UMA CIDADE CADA VEZ MELHOR PARA A TERCEIRA IDADE.

3 CHARGE

5 EDITORIALO prefeito Márcio Lacerda fala sobre as políticas públicas para a população em situação de rua de Belo Horizonte.

Pensar Social7 GOVERNANÇA PARTICIPATIVA

DA POLÍTICA PÚBLICA PARA

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Visto sob uma perspectiva histórica ampla, o fenômeno

de expansão das populações em situação de rua

se agrava com as transformações produzidas pela

modernização capitalista, que expulsaram camponeses

das áreas rurais, direcionando fluxos populacionais às

grandes cidades, sem que a eles fosse garantido seu

direito à inclusão social e econômica.

12 ACESSO AO TRABALHO, ESTIGMA,

ENVELHECIMENTO E SOLIDÃO

O Terceiro Censo de População em Situação de Rua de

Belo Horizonte (1) foi realizado em 2013 e publicado

em 2014. A pesquisa dividiu-se em duas partes: uma

quantitativa, feita através de entrevistas individuais

com um questionário padronizado; outra qualitativa,

realizada a partir da análise do discurso de rodas de

conversa com grupos de pessoas em situação de rua.

22 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA

OS HABITANTES DE CALLE EM

BOGOTÁ: UM BREVE RELATO Abordar as questões que envolvem aqueles que têm

na rua – de modo mais ou menos temporário – seu

locus de moradia e vida envolve reconhecer alguns

fatores. Por isso, embora este artigo vá tratar do tema

das políticas públicas para los ciudadanos habitantes

de calle , em Bogotá/Colômbia – fruto de trabalho de

campo desenvolvido para uma pesquisa maior –, é

importante que se esclareçam alguns deles.

5x Pensar 4647 LER EM FAMÍLIA - UMA

EXPERIÊNCIA PRAZEROSA QUE COMEÇA A SER ESTIMULADA ENTRE CRIANÇAS E SUAS FAMÍLIAS

49 CANTAR É BOM - A BOA EXPERIÊNCIA COM OS IDOSOS EM AULAS DE VOZ E VIOLÃO

52 NOS 25 ANOS DO ECA

Ponto de Vista 5656 A PARTICIPAÇÃO

SOCIAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS

Matéria Especial29 HISTÓRIAS DE VIDA –

A VERDADE SOBRE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.

Estigmatizada, a população em situação de rua

precisa de apoio público e da sociedade para superar

obstáculos e conseguir dignidade e cidadania.

34 FAMÍLIA- UM BOM MOTIVO PARA MUDAR

Depois de compartilhar as dificuldades da vida nas

ruas, casal conquista a dignidade por meio do direito

à moradia, motivado pelo nascimento da filha Vitória.

A família de Nayara, Roberto e Vitória começa a dar um passo seguro para a saída definitiva das ruas. Hoje estão abrigados na unidade de acolhimento familiar do bairro Pompéia. pág. 34

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 5

Charge

Expediente

por Cesar Marchesini

UMA PUBLICAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE

POLÍTICAS SOCIAIS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO

HORIZONTE.Rua Espírito Santo, 505/4º andar – Centro – BH – MG Tel.: (31) 3277-4925E-mail: [email protected]ço eletrônico: www.pbh.gov.br/politicassociais

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS SOCIAIS:

Luzia Ferreira

JORNALISTA RESPONSÁVEL:

Sérgio Lacerda – RG MG [email protected]

EDITOR:

Sérgio Lacerda (Gerente de Comunicação – SMPS)

SUB-EDITORA:

Tatiana Ministério

SUPERVISÃO EDITORIAL:

Soraya Romina

ESTAGIÁRIOS: Gabriel Gonçalves / Rutiléia Martins

EDITORAÇÃO:

Rodrigo Furtini Cardoso

COLABORADORES:

Mariana Costa (SMAAS) Beatriz Maciel (SMAAS)Norma Chaves (SMASAN)Mary Silvestre Leal (SMADC)

FOTO CAPA: Vander Bras (ASCOM)

CONSELHO CONSULTIVO:

Bruno Lazzarotti Diniz Costa (Escola de Governo FJP), Carla Bronzo (Escola de Governo FJP), Carlos Aurélio P. de Faria (PUC-Minas), Cristiana Almeida Cunha Filgueiras (PUC-MINAS), Eleonora Schettini M. Cunha (DCP/UFMG), Telma Menicucci (DCP/UFMG), Joseph Straubharr (Texas University), Marlise Matos (DCP/UFMG), Ricardo Cardoso (Universidade do Porto/Portugal).

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Pensar BH

6 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

EDITORIAL

REFLEXÕES SOBRE O FORTALECI-MENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICASVOLTADAS PARA A POPULAÇÃO DE RUA

Nesta edição da Revista Pensar BH – Desenvolvimento

Social, o tema “População em Situação de Rua” novamente

ganha destaque. Expressando um fenômeno em expansão

em todo o mundo, a questão da vida nas ruas revela

as contradições da sociedade contemporânea e a

complexidade dos processos geradores da exclusão social.

Nesse sentido, o Poder Público não pode se furtar

em abrir espaços para a socialização do conhecimento

que vem sendo produzido sobre o assunto, nos mais

diferentes espaços de controle social, pesquisa e reflexão

teórica; visando divulgar as ações que vêm sendo

implementados pela administração pública municipal,

em suas diferentes áreas de atuação e ainda para a

apresentação das experiências bem sucedidas que vêm

sendo implementadas em outros cidades e países, como

forma de estabelecer intercâmbios e fortalecer as redes

de trocas.

É nesta perspectiva que a Revista Pensar BH apresenta

um conjunto de artigos bastante diversificados nas

formas de abordagem, mas que buscam, no seu conjunto,

contribuir para a melhor compreensão de um tema tão

complexo como esse. Nos artigos aqui publicados somos

provocados a refletir sobre questões como acesso ao

trabalho, estigma, envelhecimento e solidão; sobre a

questão da (in)visibilidade e as perspectivas de integração

social pela arte, sobre o atendimento desse grupo

populacional no âmbito da Rede Municipal de Saúde

e ainda sobre as formas específicas de apropriação do

espaço e de produção das territorialidades pela população

em situação de rua no espaço urbano. No campo das

ações do Poder Público, ganha destaque a instituição

do Comitê de Acompanhamento e Assessoramento da

Política Municipal para População em Situação de Rua,

que se caracteriza como uma instância exitosa de controle

social, voltada para o aprimoramento e fortalecimento

da política pública voltada para esse grupo.

Além disso, abre-se espaço para a divulgação das

experiências desenvolvidas na Cidade de Bogotá, voltadas

para a implantação de uma rede de abrigamento e

cuidados para a população que vive nas ruas daquela

cidade, um esforço que também vem sendo feito em

Belo Horizonte.

Esperamos que esse conjunto de abordagens possa

contribuir para que a reflexão e o debate em torno do

fenômeno da vida nas ruas e em especial sobre o sujeito

que está submetido a essa condição avance ainda mais,

indicando caminhos e reforçando os compromissos de

toda a população de nossa cidade com a garantia da

dignidade humana a todos que nela vivem.

Ressalte-se ainda que, no campo das reflexões mais

amplas sobre a cidadania, a Revista apresenta várias

matérias que traduzem a diversidade das temáticas de

atuação das Políticas Sociais do Município.

Luzia Ferreira - Secretária Muncipal de Políticas Sociais

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 7

EDITORIAL

Com grande satisfação apresento à população de Belo Horizonte, mais um número da Revista PENSAR-BH Política Social. Esta edição trata de forma mais específica da temática da “População em Situação de Rua”, em virtude da importância que essa questão vem adquirindo, no contexto do debate da sociedade contemporânea. O fenômeno, tratado aqui numa série de artigos que abordam a questão sob perspectivas bastante diversificadas, tem se acentuado nas grandes cidades de todo o mundo, revelando um emaranhado de condicionantes que tem exigido de todos os envolvidos um grande esforço de compreensão.

Desde o início da atual administração, temos nos empenhado para enfrentar este que se tornou um dos maiores problemas sociais de nossa cidade. Realizamos, já no primeiro ano de nossa gestão, um workshop, envolvendo gestores públicos, técnicos, representantes do movimento social organizado e estudiosos do assunto, com o intuito de aprofundar o debate e construir uma agenda prioritária de ações, no âmbito municipal. Uma das iniciativas mais importantes, derivadas do workshop foi a criação do Comitê Municipal de Acompanhamento e Assessoramento da Política Municipal para a População em Situação de Rua. Isto garantiu não só que as diretrizes municipais se adequassem às grandes linhas da política nacional, como estabeleceu uma dinâmica permanente de discussões em torno da agenda pública do Município para o atendimento às demandas desse grupo populacional, que apresenta, no geral, um conjunto de dificuldades que agudizam sua condição de exclusão social.

A trajetória do Comitê, criado no ano de 2010, tem demonstrado o quanto a gestão pública ganha, em termos de qualidade nos processos de diagnóstico e de estabelecimento de prioridades, quando amplia o foco de análise sobre os problemas da cidade, envolvendo um coletivo mais representativo de atores sociais.

Ao longo dos anos, o comitê tem conseguido, apesar de todas as dificuldades que são naturais de um processo coletivo de construção, apontar uma agenda para a atuação do Poder Público Municipal. Destacamos aqui o esforço de profissionalização, qualificação e ampliação das equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social, a realização do III Censo de População de Rua de Belo Horizonte, o esforço de inclusão dessa população ao Cadastro Único do Governo Federal e, em especial, a adoção da gratuidade nos Restaurantes Populares da cidade, o que tem garantido o direito básico de acesso à segurança alimentar e nutricional e a ampliação da rede de serviços voltada para a população em situação de rua, com destaque para a inauguração, nesse ano, da República Fábio Alves dos Santos, no bairro Carlos Prates.

Além disso, a elaboração e adoção da Instrução Normativa Conjunta 001/2013, procurou criar diretrizes para atuação do Poder Público Municipal naquilo que se refere à gestão dos espaços públicos da cidade, dentro dos marcos garantidores dos direitos. Esse aspecto é a expressão mais clara da complexidade do problema e do cuidado necessário para o estabelecimento das ações do Poder Público, uma vez que envolvem direitos do conjunto da população da cidade, incluídas aí as pessoas em situação de rua.

Nosso desafio maior, tanto nessa como em outras temáticas do cotidiano, é construir uma cidade que acolha a todos, garantindo o exercício pleno do direito de todos à cidade, dentro de marcos e diretrizes que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.

Espero que essa publicação possa contribuir para o aprimoramento da compreensão em torno da questão, na qualificação do debate público e na proposição de ações assertivas para a agenda pública de nossa cidade.

Márcio Lacerda - Prefeito de Belo Horizonte

OS DESAFIOS DO PODER PÚBLICO E O FENÔMENO POPULAÇÃO DE RUA

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Pensar BH

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Platão

João Cabral de Melo Neto

Albert Einsten

Barack Obama

Clarice Lispector

“A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Nós somos aqueles por quem estávamos

esperando. Nós somos a mudança que procuramos.”

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

“O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.”

“Não há melhor respostaque o espetáculo da vida.”

“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.”

Papa Francisco

“Muitos problemas sociais de hoje estão relacionados com a busca egoísta duma satisfação imediata, com as crises dos laços familiares e sociais, com as dificuldades em reconhecer o outro.”

Entre Aspas

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 9

GOVERNANÇA PARTICIPATIVA DA POLÍTICA PÚBLICA EM SITUAÇÃO DE RUA:COMITÊ DE ACOMPANHAMENTO E ASSESSORAMENTO DA POLÍTICA MUNICIPAL PARA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DE BELO HORIZONTE

Visto sob uma perspectiva histórica ampla, o fenômeno de expansão das populações em situação de rua se agrava com as transformações produzidas pela modernização capitalista, que expulsaram camponeses das áreas rurais, direcionando fluxos populacionais às grandes cidades, sem que a eles fosse garantido seu direito à inclusão social e econômica. Não obstante, as mes-mas sociedades que produziram a expropriação destas pessoas de suas posses, de sua identidade e de suas relações societárias, passaram a discriminá-las e considerá-las como um incômodo à vida nos centros urbanos, criando mecanismos de segregação e de exclusão dos espaços da cidade.

De acordo com estudiosos, a população em situação de rua encerra em si o trinômio expresso pelo termo exclusão: expulsão, desenraizamento e privação. Segundo a definição de cientistas sociais como Alcook (1997) e Castel (1998), a exclusão social relaciona-se com situação extrema de ruptura de relações fami-

liares e afetivas, além de ruptura total ou parcial com o mercado de trabalho e de não participação social efetiva.

Assim, como aponta Silva (2006), pessoas em situação de rua podem se caracterizar como vítimas de processos sociais, políticos e econômicos excludentes, sendo comumente enume-rados vários aspectos motivadores da existência desse grupo

populacional, tais como fatores estruturais (ausência de moradia, inexistência de trabalho e renda, mudanças econômi-cas e institucionais de forte impacto social), fatores biográficos (alcoolismo, drogadição, rompimentos dos vínculos familiares, doenças mentais, etc), além de outros problemas que vem sen-do agravados recentemente como a dificuldade de reinserção de egressos do sistema prisional ou a expulsão de indivíduos das comunidades pelo comando do tráfico de drogas. Soma-se a isso a ocorrência de desastres naturais, como enchentes ou secas prolongadas ou outros fenômenos que em todo o mundo

por Soraya Romina Santos

Pensar Social

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tem multiplicado o número de pessoas que perdem sua referência de moradia.

Como decorrência deste conjunto variado de motivações, observa-se que as pessoas em situação de rua, estão expos-tas a representações sociais e sentimen-tos pejorativos e, por vezes, antagônicos, conforme explicita Mattos:

“Alguns as vêem como perigosas,

apressam o passo. Outros logo as con-sideram vagabundas e que ali estão por não quererem trabalhar, olhando-as com hostilidade. Muitos atravessam a rua com receio de serem abordados por pedido de esmola, ou mesmo por pré conceberem que são pessoas sujas e mal cheirosas. Há também aqueles que delas sentem pena e olham-nas com comoção ou pie-dade. Enfim, é comum negligenciarmos involuntariamente o contato com elas. Habituados com suas presenças, parece que estamos dessensibilizados em relação à sua condição (sub) humana. Em atitude mais violenta, alguns chegam a xingá-las e até mesmo agredi-las ou queimá-las, como em alguns lamentáveis casos noticiados pela imprensa.” (MATTOS, 2004, p.ND)

Percebe-se, portanto, que se trata de um fenômeno complexo e multifacetado, que não pode ser explicado a partir de uma perspectiva unívoca e monocausal. São múltiplas as causas de se ir para a rua, assim como são múltiplas as rea-lidades enfrentadas pela população em situação de rua.

Dessa forma, o enfrentamento dessa situação, extremamente complexa, exi-ge a atuação compartilhada dos poderes governamentais e da sociedade civil e uma abordagem intersetorial, envolven-do ações nos mais diferentes campos da política pública.

No Brasil, a atenção do Poder Público para com a população em situação de rua é recente e consequência das mobiliza-ções dos movimentos organizados e dos avanços políticos no campo dos direitos, ocorridas nas últimas décadas, conforme comenta Sposati (1988):

...é nos anos 80 que as pessoas em situação de rua começam a transitar, de forma mais consistente, do reconheci-mento apenas por parte da igreja – pela caridade e fraternidade – para o reconhe-cimento público. Essa travessia significa a passagem da condição de excluídos para a de alcançáveis pelas políticas públicas, conquista que fica mais evidente na dé-cada seguinte. (SPOSATI, 1988, p.ND)

Assim, a proposta desse artigo é apre-sentar uma reflexão em torno da cria-ção do Comitê de Acompanhamento e Assessoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua de Belo Horizonte, como importante estra-tégia de enfretamento de um fenômeno tão complexo como é o caso da popula-ção em situação de rua.

NOVO PANORAMA

A partir da Constituição Federal de 1988, que considerou os direitos sociais como direitos fundamentais de todo ci-dadão e da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que regulamentou os ar-tigos 203 e 204 da Carta Magna, reconhe-cendo a Assistência Social como políti-ca pública, o tratamento e o panorama político do fenômeno população em si-tuação de rua pelo Estado começaram a se alterar.

No contexto desses arcabouços le-gais, o Poder Público passou a ter res-

ponsabilidade de manter programas e serviços voltados para esse grupo popu-lacional, assegurando-lhes padrões éticos de dignidade e não violência na consoli-dação dos “mínimos sociais” e de direitos de cidadania.

Nessa mesma perspectiva, o Governo Federal elaborou e instituiu a Política Nacional para População em Situação de Rua, por meio do Decreto Federal nº 7.053, de 23/12/2009, como instrumento norteador das ações do Poder Público, em suas diferentes esferas e da socieda-de civil, para o enfrentamento deste fe-nômeno.

De acordo com a Política Nacional, a população em situação de rua é cons-tituída por um:

“grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extre-ma, os vínculos familiares interrompi-dos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áre-as degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória”. (Presidência da República, Decreto Federal 7.053,1999)

Trata-se, portanto, de um público que vivencia situações de violação de direitos das mais variadas, tendo sua condição de cidadania comprometida ou mesmo inexistente. Nesse sentido, a atenção a esse público não pode mais ser negligenciada pela sociedade e pelos governos.

São princípios da Política Nacional para a População em Situação de Rua, além da igualdade e equidade: o respeito à dignidade da pessoa humana, o direito à convivência familiar e comunitária, a

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valorização e respeito à vida e à cidada-nia, o atendimento humanizado e univer-salizado e o respeito às condições sociais e diferenças de origem, raça, idade, na-cionalidade, gênero, orientação sexual e religiosa, com atenção especial às pessoas com deficiência.

MARCOS IMPORTANTES DA CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM BELO HORIZONTE

Desde o início das gestões de cunho democrático-popular em Belo Horizonte, no ano de 1993, foram sendo construí-das interlocuções com entidades da so-ciedade civil representativas de vários segmentos da população em situação de marginalização social, utilizando-se, para tanto, de um conjunto de mecanismos de participação popular, como conselhos, conferências, comissões, grupos de tra-balho, dentre outros.

No caso da população em situação de rua, foram sendo estabelecidas várias interlocuções com públicos que de algu-ma forma se relacionam ao tema, como: pessoas com sofrimento mental, cata-dores de materiais recicláveis, usuários de álcool e outras drogas, dentre outros.

Essas interlocuções identificaram a necessidade de aprimoramento das ações, de forma a favorecer maior articulação das políticas, programas e ações governa-mentais e as demandas dos movimentos sociais que atuavam no campo da pro-moção, defesa e garantia dos direitos da população em situação de rua.

Como resultante desse processo de debate com entidades representativas da população em situação de rua, foi sancio-nada a Lei Municipal nº 8.029/2000, que ao criar o Fórum de População de Rua e dispor sobre a Política Municipal para a População em Situação de Rua, já reafir-

mava, à época, alguns dos princípios da Política Nacional, como também definia o conjunto de serviços e programas na área da Assistência Social a serem pres-tados para o atendimento às necessida-des e garantia dos direitos dessa parcela da população.

Nesse contexto, um marco tam-bém relevante para o avanço da Política Municipal foi a realização, pela Prefeitura, no ano de 2010, do Workshop “População em Situação de Rua”. O Workshop foi es-truturado em dois momentos, sendo uma etapa internas, envolvendo a participa-ção de gestores e técnicos da Prefeitura de Belo Horizonte ( PBH) e uma etapa externa, envolvendo a participação de agentes externos, entidades, organizações não governamentais, a Polícia Militar de Minas Gerais, Ministério Público Estadual, Câmara dos Dirigentes Lojistas, Instituições de Ensino Superior, Igrejas, Pastoral de Rua, Movimento Nacional da População em Situação de Rua, Fórum de População em Situação de Rua e, em especial os próprios protagonistas dessa política (representantes de moradores em situação de rua de Belo Horizonte). O objetivo foi o de debater sobre a te-mática, elencar problemas relacionados a essa população específica, apontar res-postas, construir soluções, estabelecer referências para maior interlocução e ar-ticulação entre as ações do Poder Público Municipal e as das entidades não gover-namentais. As discussões ocorridas du-rante o Workshop reiteraram o respei-to aos direitos civis e sociais dos mora-dores em situação de rua como princí-pios orientadores da ação do Governo Municipal.

Por ocasião da realização do Workshop em questão, a Procuradoria Geral do Município – PGM elaborou o Parecer Classificado nº 9594/2010, intitu-lado “Fundamentos e Limites da Atuação do Poder Público na Regulamentação dos Bens de Uso Comum do Povo, em

Especial Referência no Problema da População em Situação de Rua”. Esse Parecer foi fundamental para pacificar o entendimento no que se refere ao tra-tamento a ser dado à questão, tanto do ponto de vista conceitual, como também no campo dos limites e possibilidades da atuação dos agentes públicos junto ao fe-nômeno, contribuindo para a superação de contradições presentes no âmbito do próprio Executivo Municipal.

Além desse importante entendimen-to sobre as possibilidades e limites da atuação do Poder Público, o Workshop resultou na adesão política da PBH à Política Nacional da População em Situação de Rua, que se traduziu, na re-alidade, na instituição de um espaço de proposição, acompanhamento, monito-ramento e assessoramento das políticas voltadas para esse grupo populacional no âmbito do Município, a saber: o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua, instituído por meio do Decreto Municipal nº 14.146, de 07 de ou-tubro de 2010. Posteriormente, o Decreto Municipal nº 15.898, de 16 de março de 2015, alterou a nomenclatura, composição do Comitê e aprimorou suas competên-cias, incorporando as questões discutidas e validadas no processo de elaboração de seu regimento interno.

O COMITÊ DE ACOMPANHAMENTO E ASSESSORAMENTO

O Comitê de Acompanhamento e Assessoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua tem como finalidade acompanhar e assessorar o desenvolvimento da Política Municipal para população em situação de rua, pro-pondo medidas que assegurem a articu-lação das políticas públicas e a partici-pação das entidades da sociedade civil

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12 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

para o atendimento a esse segmento da população da cidade de Belo Horizonte.

O Comitê é constituído paritaria-mente por 11 (onze) representantes do Poder Público Municipal dos seguin-tes órgãos: Secretarias de Governo, Políticas Sociais, Saúde, Educação, Segurança Urbana e Patrimonial, Secretaria de Administração Regional Municipal Centro Sul (representando as nove Secretarias Regionais), Secretarias Adjuntas de Assistência Social, Segurança Alimentar e Nutricional, Direitos de Cidadania, Fiscalização e Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte - URBEL, além de 11 (onze) represen-tantes da sociedade civil, sendo eles o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR - Nacional, MG e BH), Associação Moradia para Todos, ASMARE, Comunidade Amigos de Rua, Fórum da População em Situação de Rua, Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis (CNDDH), Grupo Espírita “O Consolador” e Programas Pólos da Cidadania da UFMG. Além disso, envol-ve a participação do Ministério Público de Minas Gerais - MPMG, Defensoria Pública de Minas Gerais e Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG e Câmara de Diretores Lojistas – CDL/BH, na condi-ção de convidados permanentes.

O Comitê se reúne, ordinariamente, uma vez por mês, com pautas pré-defi-nidas. Isso significa dizer que, todas as questões afetas à população em situação de rua do Município de Belo Horizonte são debatidas no âmbito desse impor-tante espaço de proposição, acompa-nhamento, monitoramento e assessora-mento, conforme pactuação construída com os representantes da sociedade civil organizada.

Ressalte-se ainda que, visando garan-tir a necessária articulação e integração

das políticas públicas voltadas para esse grupo da população, a coordenação do Comitê se dá de forma compartilhada entre Secretaria Municipal de Governo (SMGO) e a Secretaria Municipal de Políticas Sociais (SMPS). Essa defini-ção, que traz para o âmbito do Governo Municipal o debate em torno de políticas públicas voltadas para a população em situação de rua, evidencia o compromis-so da administração pública municipal com o aprofundamento das discussões e o enfrentamento do fenômeno, além da compreensão em torno da necessidade de tratar o assunto dentro de uma lógica integrada e intersetorial, de forma a ga-rantir uma melhor articulação das ações propostas e implementadas.

Tendo decorrido 59 meses da data de criação do Comitê foram realizadas mais de 50 reuniões (Ref.:Agosto/15), sendo que, todas elas contaram com a partici-pação dos representantes indicados pe-las instâncias representativas, definidas pelo Decreto de criação, destacando-se a representação do MNPR e do CNDDH (a partir de abril/2011). Em todas essas reuniões foram pautadas questões afetas à implantação, fortalecimento e aprimo-ramento das políticas públicas voltadas para a população em situação de rua.

Os principais avanços/resultados qualitativos percebidos a partir da cons-tituição desse importante espaço de in-terlocução e proposição política foram: ampliação dos canais de participação popular, fortalecimento dos elos entre Poder Público e sociedade, empodera-mento/reconhecimento como “sujeitos de direitos” de grupos sociais histori-camente excluídos, maior articulação entre as esferas governamentais e maior articulação intersetorial no âmbito da gestão pública municipal.

Contudo, a maior conquista refere-se à importante construção de um espaço de debate, estudo, proposição e definição de políticas programas e ações gover-

namentais, além de um melhor entendi-mento do fenômeno população em situ-ação de rua em toda a sua complexidade.

No que se refere às dificuldades encontradas destacam-se: a construção de relações confiabilidade mútua entre os diferentes atores participantes do Comitê e a superação dos conflitos e contradi-ções presentes na sociedade, na opinião pública e no governo sobre o fenômeno da população em situação de rua. Essas dificuldades têm sido enfrentadas por meio de um processo compartilhado de definição de pautas, de metodologias e de encaminhamento das deliberações do Comitê. Além disso, o Comitê tem permitido uma coresponsabilização dos diferentes atores da sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maior conquista percebida a par-tir da estrutura institucional criada pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte refere-se à construção de importante es-paço de debate, estudo, proposição e de-finição de políticas, programas e ações governamentais, dentro de uma lógica participativa e intersetorial.

Se por um lado esse processo repre-senta um grande avanço no sentido do empoderamento e reconhecimento das pessoas em situação de rua como sujeitos de direitos, por outro lado coloca uma série de desafios que envolvem o apri-moramento dos processos de gestão pú-blica no Brasil.

A experiência de Belo Horizonte pode ser, nesse aspecto, orientadora de um caminho inovador a ser construído no campo das políticas sociais.

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Decreto nº14.098, de 25 de agosto de 2010. Cria o Grupo Executivo Intersetorial sobre População em Situação de Rua. Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, 26 de agosto de 2010.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Decreto nº14.146, de 7 de outubro de 2010. Cria o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua. Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, 8 de outu-bro de 2010.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Decreto nº14.153, de 21 de outubro de 201. Inclui a Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social do Ministério Público de Minas Gerais na condição de convidado permanen-te do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua. Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, 22 de outubro de 2010.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Decreto nº 14.379, de 15

de abril de 2011. Dispõe sobre a gratuida-de do direito à alimentação gratuita nos restaurantes populares, mediante com-provante de cadastramento no Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal. Diário Oficial do Município, Belo Horizonte, 16 de abril de 2011.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Lei nº10.264, de 20 de se-tembro de 2011. Altera a Lei nº9.011/05, que dispõe sobre a estrutura organizacio-nal da Administração Direita do Poder Executivo. Diário Oficial, Belo Horizonte, 21 de setembro de 2011.

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PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Decreto nº 15.898, de 16 de março de 2015. Altera Decreto nº 14.146/2010. Diário Oficial do Município, 17 de março de 2015.

PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Pensar BH-Política Social. Belo Horizonte. Edição nº29. Julho/2011.

*Soraya Romina SantosProfessora da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, Especialista em Educação, Assessora da Secretaria Municipal de Políticas Sociais da Prefeitura de Belo Horizonte, Coordenadora do Comitê de Acompanhamento e Assessoramento da Política Municipal para População em Situação de Rua e Presidente do Conselho de Políticas sobre Drogas de Belo Horizonte.

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DISCUTINDO OS DESAFIOS APONTADOS PELO TERCEIRO CENSO DE POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DE BELO HORIZONTE.

ACESSO AO TRABALHO, ESTIGMA, ENVELHECIMENTOE SOLIDÃO

Os resultados dessa pesquisa desafiadora, realizada pela equipe do Centro de Referência em Drogas da UFMG (CRR-UFMG) e pelo Núcleo de Pesquisa em Drogas, Vulnerabilidade e Comportamentos de Risco a Saúde – NUSA, podem ser resumi-dos em quatro temas: o acesso ao trabalho, o estigma, o envelhe-cimento e a solidão. Como este censo pode nos ajudar a pensar as políticas públicas direcionadas a esta população para que su-perem tais desafios?

Comecemos a responder esta questão com a história do se-nhor Jusair Santos da Silva, que comemorava “com muito orgulho” sua aprovação, em vigésimo lugar no concurso da Minas Gerais Administração e Serviços, cuja concorrência era de quase 70 can-didatos para cada uma das 300 vagas (2). Uma história aparente-

mente banal, salvo pelo fato de que o senhor Jusair é cinquentenário e que até há alguns dias morava nas ruas e em albergues de Belo Horizonte. Segundo o relato dele, suas dificuldades começaram em 2003, quando, desfez um casamento de mais de uma década e, apesar de ter um filho, hoje com 25 anos, não mantinha nenhum contato com ele “A última vez que soube dele foi em 2005, quando conversei com minha mãe. Este foi o último contato que tive com minha família”, lembra com certo pesar. O senhor Jusair, tem um passado peculiar, foi estudante de letras e teve que abandonar o curso por contingências da vida.

Este é um dos exemplos de superação, onde a saída das pes-soas em situação de rua se dá pela inclusão através do trabalho assalariado e regulamentado. Como a história do senhor Jusair

por Frederico Duarte Garcia*

O Terceiro Censo de População em Situação de Rua de Belo Horizonte (1) foi realizado em 2013 e publicado em 2014. A pesquisa dividiu-se em duas partes: uma quantitativa, feita através de entrevistas individuais com um questionário padronizado; outra qualitativa, realizada a partir da análise do discurso de rodas de conversa com grupos de pessoas em situação de rua.

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pode nos ajudar a compreender melhor a situação das pessoas em situação de rua de Belo Horizonte?

O DESEJO DE SAIR DAS RUAS

O Terceiro Censo de População em Situação de Rua de BH nos mostra que o desejo de sair das ruas é forte e está pre-sente no imaginário de 94% dos respon-dentes. Além disto, contrariando o senso comum, 60% dos entrevistados apontam o trabalho assalariado como a principal via para sair das ruas. Este dado nos permite vislumbrar que esta população também deseja ser provedora de sua própria vida. Ele sugere a necessidade de mudança no cerne das políticas públicas, deixando de lado os investimentos em assistencialismo em prol da subsistência e indo em direção à integração desta população na socieda-de através do trabalho. Também chama a atenção o fato de que 12,5% dos entrevis-tados já estavam trabalhando com carteira assinada e que 47% deles vieram para Belo Horizonte em busca de trabalho e de me-lhores condições de vida.

O TRABALHO COMO SAÍDA DA SITUAÇÃO DE RUA

“Não é qualquer trabalho que quere-mos”, afirma um dos entrevistados pelo estudo qualitativo. Um trabalho mais “so-

fisticado” e reconhecido é também um dos desejos desta população. Mas qual o motivo desta expectativa? Porque não é qualquer trabalho que os motiva a sair da rua? A diferença entre qualquer trabalho e a ex-pectativa de um “trabalho melhor” ocorre porque muitos deles tiveram acesso à esco-la. O censo aponta que quase um terço dos entrevistados conseguiu concluir ao menos o ensino fundamental e que, assim como o senhor Jusair, muitos deles tiveram acesso a um melhor nível de educação. Podemos, talvez, explicar assim, a vontade de acessar trabalhos mais qualificados e com isso criar uma identidade mais elaborada através da vida laboral.

A diferença entre qualquer trabalho

e a expectativa de um “trabalho melhor” ocorre porque muitos deles tiveram aces-so à escola.

As iniciativas governamentais atuais de acesso ao trabalho para a população em situação de rua são atualmente centradas na coleta e beneficiamento de recicláveis. Apesar de quase a metade dos entrevista-dos afirmar realizar coleta de recicláveis, apenas 6,5% deles está vinculado a uma das cooperativas de catadores. A facilitação ao acesso a um trabalho assalariado, regula-mentado e mais elaborado, passa assim, a ser um novo desafio para as políticas pú-blicas para a população em situação de rua. Como aproveitar melhor esta mão de obra e torna-los parte da população economi-camente ativa?

O ESTIGMA E A FALTA DE ACESSO AO TRABALHO

Mas porque eles não têm acesso ao trabalho? Está complexa questão não será respondida aqui, contudo o censo aponta algumas pistas para reflexão.

A primeira delas é o estigma. O estig-ma é uma espécie de mácula invisível, que acaba por marcar o nosso olhar sobre as pessoas e, algumas vezes, a percepção das pessoas sobre si mesmas. As consequências do estigma são o preconceito, a exclusão social e a baixa autoestima.

Muitos dos participantes do estudo qualitativo apontam o estigma e o precon-ceito como as principais barreiras para o acesso ao trabalho. Vários são os relatos de experiências individuais que mostram a vontade de conseguir um emprego, porém, ao chegar às empresas e se identificar como pessoas em situação de rua acabam sendo vítimas de descaso por parte dessas insti-tuições: “Muitas vezes, tem muitos de nós que realmente tem a vontade de trabalhar, mas, quando chega, aí vem a segregação ... Quando você chega com os documentos, ‘cê mora onde? Qual é a sua situação que você se encontra?’, ‘Ah, eu durmo no alber-gue. Ah eu durmo na rua.’ Então, assim, me empresta essa ficha aqui, e te dá procê pre-encher. ‘Cê tem algum telefone pra contato que eu possa comunicar?’, ‘pode, esse aqui’, o do centro de referência, ou albergue e tal, mas cê espera uma semana, duas semanas, três semanas e assim vai.”.

“... Como a história do senhor Jusair pode nos ajudar a compreender melhor a situação das

pessoas em situação de rua de Belo Horizonte?.”

“A diferença entre qualquer trabalho e a expectativa de um “trabalho melhor”

ocorre porque muitos deles tiveram acesso à escola..”

“O estigma é uma espécie de mácula invisível, que acaba

por marcar o nosso olhar sobre as pessoas e, algumas

vezes, a percepção das pessoas sobre si mesmas...”

ACESSO AO TRABALHO, ESTIGMA, ENVELHECIMENTOE SOLIDÃO

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O estigma acaba levando muitos de-les a se manter numa situação de preca-riedade laboral, ou seja um trabalho mal remunerado e pouco reconhecido. A falta de um trabalho contínuo e estável pode gerar situações que inviabilizam a orga-nização de um quotidiano de vida, tanto no que diz respeito a vida material (como manter casa, alimentação), como no que diz respeito ao estabelecimento de uma rotina que lhes garanta condições de vi-das mais salubres. Além da instabilidade, a precariedade laboral acaba restringindo o acesso aos direitos sociais, cria uma falta de perspectiva de crescimento profissional, provocando um sentimento de inutilidade social (3). A preparação para os concur-sos e o acesso ao serviço público podem ser uma via interessante para a superação desta dificuldade, como aponta o caso do senhor Jusair.

O ESTIGMA E O USO DE DRO-GAS: SE TORNAR INVISÍVEL

O estigma também é um dos motivos apontados para o uso de drogas. O peso do olhar “dos outros” faz com que muitos deles relatem, que a droga torna um meio de passar “desapercebido” e de se tornar so-cialmente invisível. Os relatos nos remetem ao uso de droga como uma frágil e perigosa forma de enfrentamento da realidade, dan-do uma sensação de invisibilidade social. “É, vamos falar assim, a gente que mora na rua, a gente não escolhe usar a droga, por exemplo, tanto faz a cachaça, a maconha, o crack, a cocaína. Usar pra quê? Pra ficar, pra poder passar despercebido, vamos falar assim, essa é a realidade.”

O Censo nos permite constatar que, ao contrário da imagem frequentemente associada às pessoas em situação de rua, apenas a metade dos entrevistados faz uso de drogas ilícitas. Além disto, a prevalência do consumo de álcool é semelhante ao da população geral, ou seja 70% dos entrevis-

tados. Das drogas ilícitas, as estimulantes (ex. Cocaína, crack) estão entre as mais fre-quentemente consumidas. E porque drogas estimulantes? O estudo qualitativo aponta que o uso de estimulantes, para muitos, tem função de ajudar a ficar acordado para se proteger durante a noite ou para conseguir trabalhar durante o dia, após uma noite mal dormida.

A superação do estigma desponta, as-sim, como um outro desafio importante para as políticas públicas para esta popu-lação. Somente a construção e a divulgação de uma imagem pública diferente da que foi atribuída a eles, pode permitir a redução da discriminação desta população e com isso facilitar a integração desta população.

ENVELHECER NA RUA

O envelhecimento é outro desafio a ser enfrentado pelas políticas públicas para esta população. Como o senhor Jusair, os cin-quentenários e sexagenários representarão a maior proporção da população de rua dentro de dez anos. Este envelhecimento está acontecendo, muitas vezes, sem que sejam antecipadas medidas de prevenção e promoção à saúde, as quais a maior par-te da população geral, com mesma idade, tem acesso.

O que faremos com o idoso na rua? Como integrar a situação de rua aos direi-

tos previstos no estatuto do idoso? Estas perguntas não podem ser respondidas em daqui anos, elas precisam de respostas mais imediatas. As condições de saúde desta po-pulação, hoje, quase desprovida de acesso à saúde, precisam ser melhoradas. Programas de saúde direcionados à população em si-tuação de rua reduziriam o custo humano e econômico no futuro. O tabagismo é um exemplo claro do parco acesso à saúde por essa população. Enquanto a prevalência de tabagismo caiu de 40% para quase 10% na população geral ela ainda é de 75% na popu-lação em situação de rua. A alta prevalência de tabagismo nesta população pode refle-tir tanto o baixo acesso à serviços básicos de saúde, uma vez que poderiam receber orientação sobre a influência do tabaco em diversos eventos relacionados à saúde; quanto sugere que esta população necessita de avaliação para as comorbidades associa-das ao consumo de tabaco.

Sabemos que algumas doenças degene-rativas, dentre elas as demências, têm como fatores de risco o tabagismo, a hipertensão, as dislipidemias o consumo de álcool e dro-gas. Se estes fatores não forem abordados e tratados adequadamente na população em situação de rua, teremos um processo de senescência precoce, sem qualidade e com graves complicações. A máxima é cla-ra, “prevenir é melhor que remediar”. Dar acesso a saúde e às medidas de prevenção e promoção de saúde é outro grande de-safio para as políticas públicas para esta

“O Censo nos permite constatar que, ao contrário da imagem frequentemente

associada às pessoas em situação de rua, apenas a metade dos entrevistados faz uso de drogas ilícitas.”

“Enquanto a prevalência de tabagismo caiu de 40% para

quase 10% na população geral ela ainda é de 75% na

população em situação de rua.”

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população. Assegurar o acolhimento e o acompanhamento dos idosos na rua será, a nosso ver, outro grande desafio para as políticas públicas enfrentarem nos próxi-mos dez anos.

ONDE ESTÁ A FAMÍLIA DOS IDOSOS NA RUA?

Um outro agravante da situação liga-da ao envelhecimento é a falta de vínculos familiares, como bem apontaram os dados do censo e bem ilustrou o senhor Jusair e o censo. Dos entrevistados 64% dizem viver sozinhos nas ruas, e 55% deles nunca têm contato com familiares, o que se torna um complicador para o envelhecimento na rua. De maneira distinta da população avalia-da pelos censos anteriores, a migração de famílias para Belo Horizonte deixou de ser um dos principais fatores para vir mo-rar nas ruas. Esse fator foi superado pela ruptura dos laços familiares, que passou a ser a principal motivação para se passar a viver em situação de rua, em 52% dos casos entrevistados. Diferente do passa-do, onde algum dos membros das famílias em situação de rua acabava conseguindo sair da rua e com isso passava a dar apoio aos outros membros da família, nos próxi-mos 10 anos, possivelmente teremos muitos idosos na rua sem nenhum vínculo fami-liar. Ou seja, sem apoio para acompanhar e dar-lhes suporte durante o processo de envelhecimento.

A MULHER NA RUA

As mulheres merecem especial atenção na construção das políticas públicas para a população em situação de rua. Apesar das mulheres corresponderem a apenas 13,2% das pessoas em situação de rua en-trevistadas pelo Censo , constata-se que as condições de vida delas são piores que as encontradas entre os homens. Enquanto 73% dos homens já tiveram acesso a al-gum trabalho assalariado regulamentado, apenas 49,5% das mulheres já teve acesso a este tipo de trabalho. Quando olhamos atentamente ao tipo de trabalho ao qual elas têm acesso, observamos que eles são normalmente mais desqualificados que conseguido pelos homens.

A vitimização pela violência de todos os tipos é mais frequente entre mulheres. Chama a atenção o fato de que 36% delas relatam ter sido vítimas de violência sexual, prevalência quase 4 vezes maior que a da população geral brasileira.

AS POLÍTICAS ATUAIS

O censo permite uma breve avaliação, bastante positiva, de algumas das políti-cas públicas atuais. O pequeno número de pessoas com menos de 25 anos na rua é provavelmente resultado da melhoria das condições de vida dos nossos cidadãos. Esta melhoria provavelmente resulta dos programas de transferência de renda como o Bolsa Família e da maior integração das crianças e adolescentes nas escolas.

Além disto a criação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, coordenado

pela Subsecretaria de Assistência Social da Prefeitura de Belo Horizonte, contribuiu para a melhoras da garantia de acesso aos direitos dessa população, como aponta o censo. Um terço dos recenseados disse ter acesso a algum benefício social, sendo o Bolsa Família o mais relatado. A maioria deles possui algum documento de iden-tidade que lhes facilita o exercício de sua cidadania ou a obtenção de emprego.

PRIMEIRAS CONSEQUÊNCIAS DO CENSO

Algumas iniciativas foram tomadas após a publicação do relatório do censo. Entre elas citaremos duas que mostram o impacto deste tipo de pesquisa na socieda-de. A primeira foi a do Clube de Diretores Lojistas de Belo Horizonte que criou uma comissão para avaliar e criar medidas de integração das pessoas em situação de rua nas atividades de comércio. De uma visão higienista os dirigentes do CDL passaram para uma visão integracionista pela via do trabalho destas pessoas. A segunda impor-tante iniciativa foi da Superintendência de Limpeza Urbana - SLU que promoveu a apresentação do censo para as instituições que realizam atividades de reciclagem e que começaram a rediscutir o modelo de negó-cio das atividades de reciclagem, visando se adaptar a realidade desta população.

PRÓXIMOS DESAFIOS

Tanto os números da pesquisa quanto os relatos atestam o evidente sofrimento dessa população para suportar e sobrevi-ver aos processos de exclusão a que está submetida. Diferente da história do senhor Jusair, durante a pesquisa testemunhamos várias pessoas exporem seus sentimentos de impotência, indignação, realizar denún-cias e proporem ações públicas que julgam adequadas a ampará-los.

A população em situação de rua, mui-tas vezes, acaba vivendo a margem da socie-dade, sem lugar na dinâmica produtiva do

“Assegurar o acolhimento e o acompanhamento dos

idosos na rua será, a nosso ver, outro grande desafio para as políticas públicas

enfrentarem nos próximos dez anos. ”

“A vitimização pela violência de todos os tipos

é mais frequente entre mulheres.

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município. Muitos indivíduos com poten-ciais ricos e variados não estão sendo apro-veitados pela nossa sociedade. Pessoas em situação de rua estão sendo tratadas como inválidas, sendo rejeitadas como se não ti-vessem qualquer utilidade social (4). Estão fora de quaisquer indicadores de renda ou emprego, são privados de prover a própria subsistência e não têm possibilidade de so-breviver sem ajuda (5).

De acordo com os dados encontrados, esta população apresenta o desejo de se mo-vimentar e se sentir sujeito de sua vida e de seu sustento, apontando o trabalho como gerador desta mudança. Acreditamos que este seja o momento propício para a im-plantação de políticas de inserção desta população na sociedade e na economia do município.

Enfrentar essa realidade exige debates e ações em torno da promoção, defesa e garantia dos direitos desses indivíduos. As políticas públicas devem ser desenvolvidas para ações, visando o respeito dos direitos e necessidades, sendo ajustadas às suas con-dições especiais dessa população. Apesar de terem todo o espaço urbano de circulação, as pessoas em situação de rua não têm li-berdade para escolher o local, mesmo que precário, onde possam estabelecer e cons-truir um espaço próprio com privacidade e segurança, onde posam usufruir de certo conforto e se realizar como sujeitos deten-tores de direitos, deveres e desejos.

“A população em situação de rua, muitas vezes,

acaba vivendo a margem da sociedade, sem lugar

na dinâmica produtiva do município. ”

“As políticas públicas devem ser desenvolvidas

para ações, visando o respeito dos direitos

e necessidades, sendo ajustadas às suas condições especiais dessa população. ”

Garcia FD, Souza RAd, Brito CMDd, Afonso LN, Neves MdC, Correa H. Terceiro Censo de População em Situação de Rua e Migrantes de Belo Horizonte. Viçosa: Suprema; 2014.

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*Frederico Duarte Garcia Professor/Coordenador do Centro de Referência em Drogas da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e do Núcleo de Pesquisa em Drogas, Vulnerabilidade e Comportamentos de Risco a Saúde – NUSA

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A (IN) VISIBILIDADE DA POPULAÇÃOEM SITUAÇÃO DE VIDA NAS RUAS

DA RUA AO PALCO

A população que vimos e às vezes ignoramos nas ruas das cidades, a quem costumamos identificar como “moradores de rua”, estão envolvidos em questões de ampla complexidade. Em termos sociais e políticos, trata-se de um público que vêm tomando atenção de pesquisadores, compositores, escritores literário e meios de comunicação que tem contribuído para a elaboração de ações mais consistentes e críticas.

Em contato com os teóricos e as propostas metodológicas da Psicologia do Trabalho, foi essencial para a compreensão do efeito das transformações do trabalho sobre esse público, pois muitos deles não conseguiram acompanhar as novas exi-gências do mercado, que se tornou mais seletivo e excludente (SILVA, 2006). Esse contexto real conecta-se às discussões mais profundas sobre a centralidade do trabalho, em sua im-portância para o homem, como categoria central no processo de autoconstrução. O caso em questão nos permite refletir so-bre a possibilidade dada pelo trabalho de favorecer com que

o sujeito possa imprimir à vida seu cunho singular e também manifestar sentido naquilo que produz.

A partir desta breve contextualização, a proposta é de-senvolver um estudo de caso de um usuário da assistência social do município de Belo Horizonte inserido no Serviço de Atendimento Sócio-Familiar/Bolsa Moradia – SASF/ Bolsa Moradia1, encaminhado por equipamentos da Gerência do Serviço Especializado em Abordagem Social. A complexida-de de fatores que atravessam a sua história de vida, a princípio, eram entraves que dificultavam o acom-panhamento na direção da promo-ção social no que tange, principal-mente, ao grau de organização e autonomia. Dentro disso, o foco nesse caso específico se justifica por algumas de suas particularida-

por Lucinéia Almeida Amorim*

A população em situação de vida nas ruas é um público que desperta interesse para diversas discussões devido à sua complexidade. Um dos problemas centrais que emerge nesse cenário é certamente a questão do trabalho. Para compreensão desse quadro, partimos da concepção da centralidade do trabalho na interatividade social do indivíduo. A partir dessa concepção, o presente estudo tem como objetivo compreender a relação do trabalho teatral na vida do ex-morador de rua da cidade de Belo Horizonte, enquanto integração social e desenvolvimento de autonomia. Para tal, utilizou-se a entrevista, em profundidade. Ao confrontar as teorias utilizadas com os dados co-letados, foi possível observar que o trabalho apresenta eixo central na vivência do Sr. Carlos bem como o trabalho teatral emerge como forma catalisadora no processo de mudança principalmente sua integração social e potencializa na (re) construção da cidadania.

1 O serviço SASF/Bolsa Moradia foi criado base-ado no Decreto 11.375 de 02 de Julho de 2003. O objetivo precípuo desse programa é pro-porcionar um grau de organização à população em situação de rua ade-quando ao novo contexto – o da moradia de forma autônoma.

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des, mas em especial, pelo fato de que foi após a inserção no trabalho teatral, que o usuário demonstrou comportamentos mais autônomos. Mediante o exposto, o objetivo geral deste estudo é compreen-der a relação do trabalho teatral na vida do ex-morador de rua da cidade de Belo Horizonte, enquanto (re) integração so-cial e desenvolvimento de autonomia.

Quanto os aspectos metodológicos, optamos por uma pesquisa qualitativa que segundo Godoy (1995), quando se lida com problemas pouco conhecidos, buscando uma compreensão do fenô-meno como um todo, na sua complexi-dade. Dentro da perspectiva qualitativa, desenvolvemos um estudo de caso, jus-tamente pela necessidade de nos atermos à complexidade da história do sujeito. Conforme Gil, caracterizamos “o estu-do de caso enquanto estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetivos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento” (GIL, 1998: 58).

1. EXCLUSÃO SOCIAL E A QUESTÃO SOCIAL: EFEITOS DAS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO

Na atualidade o termo exclusão so-cial passa a ser referência para classificar ou denominar sujeitos que apresentam algum tipo de “anomalia”, portanto trata-se de um conceito que pode vir carregado de conotações ideológicas e pode ser usa-do nas mais diversas situações e sob múl-tiplos interesses. Para Wanderley (2008) a noção de exclusão apresenta uso indis-criminado no que tange a representati-vidade do conceito de exclusão “sob esse rótulo estão contidos inúmeros processos e categoriais, uma série de manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do vínculo social” (WANDERLEY, 2008: 17). Complementando o raciocínio da autora, Barros, Sales & Nogueira (2000) pontuam que a utilização do termo ex-clusão no sentido habitual correlacio-

na-se às transformações do mundo do trabalho, enquanto gerador de pobreza, desemprego e enfraquecimento dos vín-culos sociais.

Além dessas noções, Véras (2008) a partir da concepção de Atkinson que configura o conceito de exclusão para além do crivo do trabalho “ele vai mesmo além da participação na vida do traba-lho, englobando os campos de habita-ção, educação, saúde e acesso a servi-ços”. (ATKINSON apud VÉRAS, 2008: 34). Devido à concepção abrangente do termo, alguns autores alertam para a tri-vialidade e deturpação de seu emprego: exclusão. Desse modo, Martins (2003) deixa claro que “não existe exclusão: existe contradição, existem vítimas de processos sociais, políticos e econômi-cos excludentes [...]” (MARTINS, 1997: 14). Para esse autor ao atribuir o termo exclusão para explicar os problemas so-ciais incorre-se ao erro em escamotear e distorcer a real problemática e Castel (2000) enfatiza o cuidado para não de-nominar de exclusão qualquer disfunção social, mas ter perspicácia para distinção dos processos de exclusão do conjunto dos elementos que constituem, hoje, a questão social na globalidade.

Nessa perspectiva, Martins (1997) dialoga com Castel (2000) e afirma ca-tegoricamente que sociologicamente ex-clusão não existe. Na verdade, o que se tem é uma inclusão precária e instável, marginal. E quando ocorre a reinclusão, esta se dá somente no plano econômico, pois o sujeito consegue ganhar algo para sobreviver. Portanto, cria-se uma socie-dade paralela que é includente na esfera econômica e excludente na esfera social, moral e política. Desse modo, Oliveira (1997) reforça que para se vislumbrar a re-versão e estancamento do processo exclu-são é necessário lutar contra suas causas, e não simplesmente contra seus efeitos.

Castel (1998) estabelece uma análise histórica e socioantropológica no tocante da questão social. Para ele, é preciso que essa sociedade se interrogue sobre sua coesão e suas fraturas. As metamorfo-ses da questão social dizem respeito não apenas à crise da sociedade salarial, pois se apresentam muito mais que uma cri-se, por ainda não terem sido superadas. Ainda na percepção de Castel (2000), ressaltar que a configuração da sociedade salarial, despontou novas exigências que se deve ao caráter da flexibilização, em decorrência da globalização. Dentro da flexibilização, instaura-se a precarização do trabalho em decorrência da instabi-lidade do emprego, que vai substituir a estabilidade do mesmo como regime pre-dominante da organização do trabalho. Isso nos conduz a sublinhar na histó-ria do Sr. Carlos, que ele foi uma vítima da nova conjuntura econômica e social, onde fica claro que por sua qualificação ser mínima não suportou as exigências do mercado e passou a se submeter a trabalhos ditos degradan-tes2, que não aufere status e reconhecimento perante a sociedade.

Dentro disso, torna-se pertinente amparar essa discussão pela reflexão do sofrimento ético-político

2 O 2° Censo da Popu-lação de Rua e Pesquisa Qualitativa de 2006 de Belo Horizonte mostra claramente que as ativi-dades desenvolvidas pela população em situação de vida nas ruas estão relacionadas à prestação de serviços pouco qua-lificados, havendo raras exceções.

“Para Wanderley (2008) a noção de exclusão apresenta

uso indiscriminado no que tange a representatividade

do conceito de exclusão “sob esse rótulo estão contidos

inúmeros processos e categoriais, uma série de

manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do

vínculo social”

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que Sawaia (2008) realizada na pesqui-sa desenvolvida com o público de popu-lação em situação de rua “o sofrimento deles revela o processo de exclusão afe-tando o corpo e alma, com muito sofri-mento, sendo o maior deles o descré-dito social, que os atormenta mais que a fome (...) e ele não é apenas o desejo de igualar-se, mas de distinguir-se e ser reconhecido”. (SAWAIA, 2008: 114) O sofrimento confere marcas indeléveis no sujeito, dificultando o alcance da le-gitimidade da cidadania.

2. O TRABALHO ENQUANTO ES-PECIFICIDADE HUMANA

No século passado, o trabalho esta-va no centro das profundas mudanças provocadas pelo capitalismo industrial e as frequentes ondas de inovação tec-nológica. E é justamente nesse cenário que vários cientistas sociais passam a conceber a centralidade do trabalho na organização social, sendo constitutiva de identidade e fator preponderante na edificação e reprodução na malha social.

Diante disso, vale compreender os aspectos mais sublimes da centralidade do trabalho. Lima (2002) concebe como uma categoria insuperável e trans-histó-rica, posto que o trabalho seja inerente ao homem. Assim, Lima (2002), afirma que “a finalidade do trabalho é a auto-construção humana, a produção do ho-mem pelo homem, pois o homem é o único ser que cria a si próprio, que se autoconstrói, sendo o trabalho uma ca-tegoria central nesse processo de auto-construção” (LIMA, 2002: 1).

Dentro dessa perspectiva, Antunes

(1999) enfatiza que é “a partir do tra-balho, em sua cotidianidade, que o ho-mem se torna ser social, distinguindo-se de todas as formas não humanas” (ANTUNES, 1999b: 121), pois o ser hu-mano tem idealizado, em sua consci-ência, o desenho que quer imprimir ao objeto do trabalho, antes de sua efetiva-ção. Nesse foco, o Sr. Carlos expressa de forma consciente o fazer do seu traba-lho, materializando especificamente no trabalho teatral, sua subjetividade: “O teatro é uma coisa que eu gosto, porque para ser um ator tem que ter jogo de cin-tura, não ter medo de público. É chegar e fazer alegre” (Sr. Carlos).

A interação do homem com a natu-reza, delineado pelo trabalho, engendra uma reprodução no homem. Lima 2002 faz um recorte da idealização de Chasin, quando este propõe dois aspectos: a re-produção biológica e a reprodução so-cial. Mas é pela produção social que o homem modifica e é modificado. O fato de o Sr. Carlos fazer as pessoas sorrirem dá a ele um lugar de destaque que o tor-na um sujeito de responsabilidade, de-sencadeando um estado emocional, ou seja, refletindo na subjetividade, despon-tando reconhecimento. Assim, o entre-vistado descreve “tira foto, porque meu nome bem dizer está espalhado no Brasil.

Entendeu? [...] a gente sente emocional”. (Sr. Carlos)

Pode-se pensar que a identificação com o trabalho teatral, aparece como uma fonte segura no qual o sujeito em questão consegue realizar trocas sociais, consequentemente produzindo mudan-ças consideráveis no comportamento, principalmente a questão da autonomia: “Hoje tô no Grupo Galpão, tô gostando e tô dedicando a essa personagem minha, tô lutando, entendeu? [...]” (Sr. Carlos). O olhar para o trabalho teatral apresen-ta uma essência intrínseca, pois é nesse trabalho que o sujeito em questão parece desenvolver autonomia e também vislum-bra possibilidade de (re) integração social. Então, o que conteria nesse específico tra-balho que poderia promover mudança no sujeito em questão?

O uso do teatro tem sido um recurso de cunho democrático, pois sua aplicabi-lidade tem abrangido em diversas áreas: na psiquiatria, em projetos comunitários e outros. Para tal, o teatro na vida do Sr. Carlos apresenta-se como possibilidade de ampliar o conhecimento acerca de técnicas teatrais, uma vez que seu conhe-cimento era bastante reduzido. Isso fica claro no discurso do entrevistado “Tô fazendo um curso (...). Também aprende a ter educação, cultura, inteligência que tem que ter demais, porque os diretores são muito rigoroso”. (Sr. Carlos)

Além dessas possibilidades, o tea-

Tema Transversal I

“E é justamente nesse cenário que vários cientistas

sociais passam a conceber a centralidade do trabalho

na organização social, sendo constitutiva de identidade e fator preponderante na

edificação e reprodução na malha social.”

“O olhar para o trabalho teatral apresenta uma

essência intrínseca, pois é nesse trabalho que o

sujeito em questão parece desenvolver autonomia

e também vislumbra possibilidade de (re)

integração social.”

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“A sociedade tem uma concepção de que aquele que não tem trabalho é

vagabundo, imputando um sofrimento a esse sujeito ao vê-lo como apêndice

inútil da sociedade, estigmatizando-o. ”

tro neste estudo, também apresenta um cunho de transformação social, toma-do como norte a concepção de Augusto Boal. Para este autor o teatro apresenta uma essência que se dirige para a criati-vidade, um espectro de magia em que se mistura à realidade e a fantasia. Portanto, Augusto Boal (2002) considera que “o

teatro – ou teatralidade – é aquela capa-cidade ou propriedade humana que per-mite que o sujeito se observe a si mesmo, em ação, em atividade” (BOAL, 2002: 27) descandeando um autoconhecimento. Desse modo, é pela via do teatro que Sr. Carlos demonstra que não está mais na invisibilidade, pois seu trabalho permi-

te que as pessoas lancem olhares sobre ele, olhares não mais estigmatizadores, e por isso faz do seu trabalho um show: “Quando tô no palco é um show, não é eu que vejo o público, é o público que me vê e que me faz feliz” (Sr. Carlos).

*Lucinéa Almeida Amorim Graduada em Psicologia pela PUC/Minas e Especialista em Psicologia do Trabalho pela UFMG. Analista de Políticas Públicas- Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social.

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

Como vimos, a “exclusão social” no mundo contemporâneo é explicada principalmente pela transformação do mundo do trabalho, como geradora da precariedade e do desemprego, apesar do discurso de fetichização e coisificação (MARTINS, 1997).

A sociedade tem uma concepção de que aquele que não tem trabalho é vaga-bundo, imputando um sofrimento a esse sujeito ao vê-lo como apêndice inútil da sociedade, estigmatizando-o, conforme sublinhou Bader Sawaia (2008) a partir da análise do sofrimento ético-político. Dentro disso, Sr. Carlos, antes da inser-ção no teatro, experimentou certo sofri-mento, dificultando a legitimidade da cidadania.

Na vivência do Sr. Carlos o trabalho mostrou-se indispensável, justamente pela dimensão de sustentabilidade que carrega, mesmo nas atividades ditas de-gradantes. Porém, confere-se que o tra-

balho teatral, além de favorecer a sus-tentabilidade, tem contribuído para im-primir significado e sentido. Portanto, o universo teatral tem contribuído para que Sr. Carlos se torne (re) integrado, visan-do a (re) construção da cidadania, pois outrora, era praticamente invisível, des-tituído dos direitos humanos. Mas agora o seu nome está espalhado na sociedade de forma visível.

Retomando a discussão sobre o de-senvolvimento de autonomia, foco de nossa pesquisa, pode-se observar que a autonomia esteve presente na vida dele, porém foi ofuscada pelas transforma-ções do mundo do trabalho. Contudo, é preciso sublinhar que foi justamente pelo trabalho que a autonomia foi ativa-da; pela inserção na atividade teatral, a autonomia desabrochou. Pois, trata-se de uma oportunidade de trabalho que se mistura com oportunidade de des-mistificar os olhares estigmatizadores. Sair das ruas, lugar ignorado pela socie-dade, e ir para o palco, lugar admirado e reconhecido pela sociedade, é romper com barreiras impostas pela sociedade e também almejar sujeitos para além das políticas públicas.

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 23

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BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2002

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*Graduada em Psicologia pela PUC/Minas e Especialista em Psicologia do Trabalho pela UFMG. Analista de Políticas Públicas- Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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UM BREVE RELATO

POLÍTICAS PÚBLICASPARA OS HABITANTES DE CALLE EM BOGOTÁ:

Inicialmente, é preciso compreender que viver/morar na rua não é um acontecimento recente. Pessoas vivendo das possibili-dades existentes nos interstícios citadinos remontam há mais de 10.000 anos e coincide com a fundação dos primeiros agrupa-mentos humanos (LEVINSON, 2004). Nesse sentido, é possível inferir que o processo de formação e desenvolvimento das cidades implica distintas formas de apropriação de seus recursos econô-micos, sociais, espaciais e culturais e na consequente formatação de formas de vida distintas. Formas de vida tanto interconectadas entre si como a um contexto social no qual o acesso a esses recur-sos não ocorre de modo igualitário.

Em segundo lugar, deve-se ressaltar que as formas como o vi-ver/morar na rua ocorrem são cercadas de pluralidades que esta-belecem modos de vida heterogêneos. Não há um perfil único que possa representar as características daqueles que desenvolvem parte ou a totalidade de seu cotidiano nos espaços públicos das cidades.

Finalmente, a despeito das especificidades de cada núcleo urbano, o viver/morar na rua é uma situação concreta e recor-

rente em diversos países do mundo, independentemente do que se considera como um maior ou menor grau de desenvolvimento. Isso faz com que haja uma ampla gama de pessoas e entidades que buscam compreender ações que vem sendo desenvolvidas, nesse aspecto, nas escalas locais e global. A importância desses trabalhos

por Karine Gonçalves Carneiro*

Abordar as questões que envolvem aqueles que têm na rua – de modo mais ou menos temporá-rio – seu locus de moradia e vida envolve reconhecer alguns fatores. Por isso, embora este arti-go vá tratar do tema das políticas públicas para los ciudadanos habitantes de calle1, em Bogotá/Colômbia – fruto de trabalho de campo desenvolvido para uma pesquisa maior2–, é importante que se esclareçam alguns deles.

1 “Ciudadanos habitantes de calle” (cidadãos morado-res de rua) é aden ominação que os agentes e órgãos públicos utilizam para fazer referência aos indivíduos que “não residem de maneira permanente no que se considera uma moradia prototípica como casa, apar-tamento ou quarto, por um mínimo de 30 dias con-secutivos; e de maneira estável, por um mínimo de 60 dias na mesma unidade”. (CONSEJO DE BOGOTÁ D.C., 2009, p.1).

2 A pesquisa de campo na cidade de Bogotá – que ocorreu entre julho de 2014 e janeiro de 2015 – é parte das atividades relacionadas a uma tese de doutorado que vem sendo desenvolvida na PUC-Minas e que contou com o apoio da CAPES (bolsa/programa sanduíche) e da UFOP (licença para capacitação docente).

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 25

reside no intercâmbio de experiências tanto no âmbito das políticas públicas como nos da sociedade civil organizada e de movi-mentos sociais.

A partir da compreensão desses pon-tos, torna-se possível adentrar na realidade de Bogotá que, de acordo com a estimati-va populacional, para o ano de 2015, conta com 7.878.783 habitantes (BOGOTÁ, 2014). Desse total, de acordo com as estimativas da Secretaría Distrital de Integración Social – SDIS –, o número de habitantes de calle está, atualmente, em torno de 13.000 pes-soas. Dentre as principais causas relacio-nadas à habitabilidad en calle (morar na rua) são citados fatores sócio-culturais e econômicos tais como remoções forçadas, abuso de substâncias psicoativas, violência intrafamiliar e sexual, e a dificuldade de acesso a bens e serviços (CONSEJO DE BOGOTÁ D.C., 2009, p.1).

Frente a tais questões, sucessivas po-líticas públicas foram e vêm sendo imple-mentadas, mas a ausência de um marco legal nacional que estabeleça diretrizes di-ficulta um plano sequencial que possibilite implementações em médio e longo prazo. Esse marco está em processo de constru-ção, mas, atualmente, cada governo local3 é responsável pelas políticas sociais afetas ao tema. Um dos problemas advindos des-

sa situação é que, muitas vezes, sucessivas mudanças nos serviços ofertados são expe-rimentadas pela população que os utilizam. Isso faz com que, em alguns casos, além de incertezas, diretrizes que garantem certos direitos sejam abandonadas por questões político-partidárias ou por pressões de ou-tros setores da sociedade.

Mas a experiência que se pretende compartilhar diz respeito ao período da pesquisa realizada na cidade e coinciden-te com a atual administração do alcalde (prefeito) Gustavo Petro. Eleito em 2012, Petro tem realizado expressivas alterações nos serviços prestados aos habitantes de calle. Seu programa de governo, intitula-do ‘Bogotá Humana ’4, tem ampliado ati-vidades, criado outras mais e extirpado ações que não apenas criminalizavam os moradores de rua como faziam da força policial uma estratégia. A percepção da im-

plementação desses novos programas pode iluminar encaminhamento de estratégias possíveis e profícuas para nossa realidade.

Os trabalhos são desenvolvidos, prin-cipalmente, pela Secretaría Distrital de Integración Social e, mais especificamente, pela subdireção de adultez (adultos) que atende pessoas entre 22 e 59 anos de idade com trajetórias de vida na rua5. Do ponto de vista conceitual, a ‘Bogotá Humana’ avança

no combate a segregação e ao preconceito social por considerar que posturas norma-lizadoras implicam num retrocesso no que concerne o reconhecimento das diferenças. O esclarecimento dessa perspectiva, fei-to pelo próprio prefeito durante o Primer Foro de Habitabilidade en Calle6, evidencia

que a normalização separa os indivíduos – entre normais e anormais – e institucio-naliza o cerceamento a modos de vida que fogem ao padrão recorrente de tipificação do cidadão. Cidadãos que, na atualidade, pertencem a regimes de governo neolibe-rais (BOGOTÁ HUMANA, 2014). O homo economicus 7 não pode, segundo a fala de Petro, ser encarado como uma precondi-

ção para a inserção social. Para distintas e diferentes fases da trajetória na rua são ne-cessários programas e serviços específicos que não deixem de lado identidades distin-tas daquelas reconhecidas pelo status quo.

Em termos práticos, o objetivo é aten-der distintos momentos de vida enfren-tados pelos habitantes de calle. Para isso, serviços e equipamentos foram amplia-dos8, mantidos ou criados. Os ampliados não se distinguem demasiadamente dos

existentes em Belo Horizonte, o que tor-na possível a correlação: contacto activo/abordagem; centros de autocuidado/centro pop; centros de acogida/albergues e repú-blicas. Entretanto, cabe ressaltar que todos possuem funcionamento semanal ininter-rupto e não estabelecem diferenciação por sexo. Num mesmo centro de acogida, por exemplo, existem alojamentos femininos e masculinos – que também atendem a população de rua LGBT – e os espaços co-muns são compartilhados. A intenção é a

3 A divisão político-territorial da Colômbia é distinta do Brasil. A Colômbia é uma república unitária e não uma federação. Nesse sentido, ao falar de política local está se fazendo uma referência ao que se enten-de como o nível municipal no Brasil.

4 Os eixos norteadores da Bogotá Humana são: superar a segregação e a discrimina-ção social; enfrentar a mudança climática; defender e fortalecer o poder público.

7 O homo economicus se refere ao homem padrão pensado nos moldes dos regimes neoliberais que não apenas rege estados e economias, mas procura direcionar os indivíduos a um modo de vida específico (READ, 2009). Nesse caso, fortemente vinculado a modos de vida baseados no consumo e na produção capitalista.

8 De acordo com dados da SDIS tanto o atendimento a moradores de rua como o número de equipamentos a eles destina-dos, praticamente, dobrou nos últimos 3 anos (BOGOTÁ, 2014). A informação foi confirmada durante o trabalho de campo.

5 Isso não implica, entretanto, na ausência de ações intersetorias e conjuntas com a subdireção da juventude (jovens entre 14 e 21 anos) e com a Secretaría Distrital de Salud e a Secretaría Distrital de la Mujer.

6 Durante o segundo semestre de 2014, ocorreram cinco sessões do foro de ha-bitabilidad en calle, em cinco cidades distintas. O objetivo foi realizar atividades que serviriam de base para o lineamento de diretrizes para a política nacional sobre a habitabilidad en calle.

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de fomentar o contato das diferenças mes-mo que se tenha que lidar com conflitos de modo mais frequente.

Afora a manutenção do centro de de-sarrollo personal integral – voltado para aqueles que decidiram não mais ficar na rua e se dispuseram a vincular, durante nove meses, a um programa de definição de novo projeto de vida –, foram criados dois novos equipamentos: o centro huma-nidad – que serve de apoio temporário aos que acabaram de se inserir no mercado de trabalho e ainda não têm condições de arcar com as despesas de moradia/aluguel – e o centro de pesaje – que compra, com subsídio público, materiais reciclados da-queles que são catadores e vivem na rua.

Ainda, das ações ofertadas, uma ini-

ciativa merece destaque pela forma como altera o trato e contribui para a percepção de novas possibilidades de serviços: o auto-cuidado móvil que reconhece a rua e os es-paços públicos como realidade nas trajetó-rias de vida dos habitantes de calle. Através de estruturas móveis e flexíveis – levadas e montadas, de duas a três vezes por semana, em distintas regiões da cidade – serviços tais como tratamento médico e dentário, vacinação, atenção veterinária para os ca-chorros, banho, alimentação, auxílio psico-pedagógico, atividades de lazer, cabelereiro e manicure chegam até os que, por alguma razão, não querem ou não podem deslocar-se até os equipamentos públicos.

O destaque dado a essa ação é de in-teresse já que, como observado anterior-

mente, o viver/morar na rua é tão antigo quanto a própria fundação das cidades. Abre, assim, a possibilidade de lidar com a questão de outro modo. Se há um mo-mento na vida de algumas pessoas no qual a rua, por motivos e razões variadas, torna-se uma realidade cotidiana, é necessário re-conhecê-la e levar até ela serviços. Isso não implica, de modo algum, fechar os olhos aos direitos relacionados à moradia, à saúde e à educação integrais – que no Brasil são garantidos constitucionalmente ––, mas entender que, mesmo num momento de fragilidade, comer, dormir, higienizar-se e tantas outras atividade do dia a dia não podem se transformar numa ameaça à vida.

BOGOTÁ. Secretaría Distrital de Integración Social – SDIS. Bogotá Humana Social - le cumple a la ciu-dadanía en la realización de dere-chos 2014. Disponível em: <http://www.integracionsocial.gov.co/in-dex.php?option=com_content&view=article&id=502%3A2014-12-29-20-32-14&catid=8%3Aultimas-noticias&Itemid=90>. Acesso em: 16 jun. 2015.

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InformacionTomaDecisiones/Estadisticas/ProyeccionPoblacion>. Acesso em: 02 dez. 2014

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

*Karine Gonçalves CarneiroDoutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – PPGCS – da PUC-Minas e professora do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Ouro Preto – DEARQ/UFOP.

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Tema Transversal II

TERRITORIALIDADE NA SAVASSI, BELO HORIZONTE, MG.

A EXPERIÊNCIA DO URBANO DA POPULAÇÃOEM SITUAÇÃO DE RUA:

“Ah... Quem é a alegria da praça? [...] eu sou a alegria da praça! (risos)”. Viver a rua, experimentar suas mais contraditó-rias (im)possibilidades, usufruir de todas as dimensões da sua espacialidade, é, para o sujeito na rua, sua revelação, seu talen-to. Esse foi um dos sujeitos que, generosamente, revelou-me a rua: espacialidade de passagem que se torna lugar2 de sujeitos.

Pensar a rua na cidade e a prática de seus cidadãos é refletir sobre a dinâmica da sociedade urbana e a produção do espaço. O espaço é compartilhado por pessoas diferentes: são distintas as origens, as concepções, as condições e os objetivos de vida. O urbano as reúne, construindo encontros e desencontros, aproximando e afastando, segregando e atraindo, produzindo convivências espaço-temporais inevitáveis. Entre os sujeitos que produzem e se apropriam do espaço, está a população em situação de rua.

por Juliana Carvalho Ribeiro*

“Ah... Quem é a alegria da praça? [...] eu sou a alegria da praça! (risos). Sou dançador de rua também. Eu tenho uns talento. Você tem que viver intensamente! E dane-se de quem acha que eu sou doido. Sou o Doidera ou não sou? (risos).” (Sujeito em situação de rua1).

1 Para refletir sobre a apropriação do espaço pelos sujeitos em situação de rua, bem como sobre o seu imaginário e suas impressões, investiu-se na observação in loco e em entrevistas com esses interlocutores. A coleta dos dados ocorreu de modo sistemático ao longo do segundo semes-tre de 2014. Ela foi facilitada pela experiência no Terceiro Censo da População em Situação de Rua e Migrantes de Belo Horizonte, meses antes, durante o qual tive a opor-tunidade de coordenar uma das equipes, o que foi de suma importância para o desenvolvimento empírico da pesquisa, pois foi o primeiro contato estreito com o meu interlocutor. Tratou-se de uma rica experiência, que pro-porcionou a mim maior liberdade e segurança de atuação nos meses subsequentes nas ruas da Savassi. Os primeiros contatos foram mais duros, ásperos, rudes. Os sujeitos em situação de rua se preservam, evitando qualquer comuni-cação estabelecida. Chegar até eles, conseguir alcança-los, foi uma árdua tarefa. Superar a sua resistência e ganhar a sua confiança demandou tempo e cuidado. Existia, claro, um receio, também, da minha parte, mas este receio foi em muito minimizado pela vivência do censo. Quando conquistados, os interlocutores mostraram-se plenamente confortáveis durante as nossas conversas. Demonstravam até mesmo prazer ao relatar sua história, uma vez que são sujeitos constantemente invisibilizados.

2 A palavra lugar, apresentada em itálico, deve ser lida, neste artigo, enquanto categoria socioespacial, envolvendo o conceito de cultura e o de identidade. O lugar constitui o espaço no qual uma pessoa ou um grupo de pessoas se identifica culturalmente, ou seja, com o qual são criados laços afetivos. Os “[...] lugares, com a sua gama infinita de situações, são a fábrica de relações numerosas, freqüentes e densas.” (SANTOS, 2004, p. 319). É onde há a possibilidade da vida cultural.

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Henri Lefebvre (2006) revela a he-terogeneidade das apropriações do es-paço e, a partir das suas ideias, surge a pergunta: a população em situação de

rua tem direito à cidade3? Até quando ela permanecerá à margem, privada dos benefícios dos cidadãos abastados? O ca-pitalismo nega a cidade a essa população. Como o Estado é capitalista e, portanto, o reafirma enquanto modo de produção, adianta-se uma resposta: essa população dificilmente terá direito à cidade no ca-pitalismo.

Tendo por base todo o exposto, a pesquisa teve como norte a pergunta: a população em situação de rua que ex-perimenta a Savassi — recorte espacial sob estudo — cria territorialidades para viabilizar sua sobrevivência e perma-nência nessa espacialidade? Vinculada a esta indagação, outras inquietações se apresentam: a revitalização da Savassi influenciou o cotidiano desses sujeitos? E ainda: como se revelam, pensando o processo de produção da Savassi, as ter-ritorialidades da população em situação de rua na contemporaneidade?4

Nesse contexto, conflitos entre clas-ses sociais distintas, bem como entre os próprios sujeitos marginalizados, tor-nam-se inevitável. As contradições in-trínsecas às relações sociais se apresen-tam como campo fértil para territórios e territorialidades5 na Savassi. É neste

universo de complexidade e de disputas que as territorialidades da população em situação de rua se revelam dinâmicas. Nas relações desta população com a rua, na rua e através da rua são estabelecidas ter-ritorialidades. Rogério Haesbaert Costa, citando Sack, ilustra: “Em síntese, ‘a ter-ritorialidade como um componente do poder, não é apenas um meio para criar e manter a ordem, mas é uma estraté-gia para criar e manter grande parte do

contexto geográfico através do qual nós experimentamos o mundo e o dotamos de significado.’” (2011, p. 90). Produzidas no cotidiano frenético da metrópole, elas são a materialização das disputas pelo espaço e pelo poder.

Para tornar o cenário ainda mais complexo, a Savassi revitaliza os ideais de um espaço enobrecido e moderno, compromisso que a cidade assume em sua concepção. Todavia, a população marginalizada ainda se faz presente. A Savassi requalificada atrai esta popula-ção, sobretudo, pela segurança, algo con-traditório na espacialidade do urbano. Ao mesmo tempo em que a população marginalizada desperta o medo e a in-segurança naqueles que contemplam e consomem este espaço nobre, ela busca, também, uma segurança que não encon-tra em outras espacialidades da cidade.

Apesar de serem, há décadas, invisi-bilizados pela classe dominante — que só os percebem quando há transgressão da lei —, esses sujeitos desfavorecidos são iluminados no período pós-intervenção urbana. A segregação se torna mais explí-cita na Savassi redesenhada, onde a popu-lação marginalizada se apropria da rua e faz dela seu espaço principal ou absoluto de vivência. Os sujeitos em situação de rua estabelecem territorialidades na nova Savassi e se revelam enquanto resistência contra hegemônica.

Esses sujeitos sociais, em suas prá-ticas cotidianas, ganham ainda notorie-dade enquanto produtores de lugar. O

“O espaço é compartilhado por pessoas diferentes:

são distintas as origens, as concepções, as condições e

os objetivos de vida. ”

“É neste universo de complexidade e de disputas que as territorialidades da população em situação de

rua se revelam dinâmicas. ” 3 Entende-se nesse artigo que o cidadão é aquele que tem direito à cidade. Henri Le-febvre (2006) fala em direito à cidade e não na cidade. O direito à cidade é muito mais amplo, incorpora a ideia utópica de uma vida melhor, uma cidade imaginada em outros termos. O direito na cidade é mais redutor, apesar de que nem isso é alcança-do, pois seria a ideia de ter os direitos que já existem, garantidos por lei.

4 Tais perguntas nortearam a pesquisa e foram respondidas a partir da leitura do olhar dos interlocutores, via interpretação das entrevistas empreendidas.

5 Território é o conceito base para a com-preensão da territorialidade intrínseca às relações sociais. O estabelecimento de territorialidades, por sua vez, ocorre nas relações do sujeito com o lugar. Território e territorialidade, por envolverem a espa-cialidade humana, empreendidos cotidia-namente, são alvos de reflexão de diversas áreas e disciplinas científicas. Revelam-se de grande importância para a Geografia, uma vez que pautam as relações sociais e as relações do homem com o espaço. Assim, torna-se importante conhecer seus significados. Claude Raffestin (1993), assim como tantos outros autores, vincula a categoria território ao estabelecimento de poder. Marcelo José Lopes de Souza (2005, p. 78) o corrobora: “O território [...] é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder.” (grifos do autor). Ratificando-os, Rogério Haesbaert Costa (2011, p. 80), refletindo sobre território e apontando para uma perspectiva relacional do espaço, afirma que ele “[...] é visto completamente inserido dentro de relações social-históri-cas, ou, de modo mais estrito, para muitos autores, de relações de poder”. E pode-se ir além! Na rotina urbana, categorias como território e lugar se mostram inter-relacionadas e interdependentes. “[...] toda relação de poder espacialmente mediada é também produtora de identidade, pois controla, distingue, separa e, ao separar, de alguma forma nomeia e classifica os indi-víduos e grupos sociais. E vice-versa: todo processo de identificação social é também uma relação política, acionada como estratégia em momentos de conflito e/ou negociação.” (COSTA, 2011, p. 89).

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“O sentimento de pertencimento em relação à Savassi acirra a disputa

pelo espaço. Quanto maior a identidade, maior a

busca pela apropriação dessa espacialidade e maior a tentativa de

estabelecimento de poder. ”

sentimento de pertencimento em relação à Savassi acirra a disputa pelo espaço. Quanto maior a identidade, maior a bus-ca pela apropriação dessa espacialidade e maior a tentativa de estabelecimento de poder. Assim, o lugar se traveste de territorialidade.

Mesmo marginalizados, sujeitos em situação de rua demonstram momentos de orgulho, sentindo-se inseridos en-quanto cidadãos ao revelarem a posse de documentos. Um orgulho que não se sustenta, quando são questionados sobre outros aspectos da sua vida — aspectos estes que ressaltam a exclusão. As dificul-dades diárias para a conquista de alimen-tos; os constrangimentos para satisfação de necessidades fisiológicas e de higiene pessoal; a penúria pela insuficiência fi-nanceira; o preconceito como violência constante; os laços familiares enfraque-cidos e interrompidos; a aproximação e o conflito com outros sujeitos em situação de rua — a família da rua —; todos estes elementos compõem algumas das mar-cas da trajetória deste grupo social com condições limitadas de vida.

Presentes nos relatos dos sujeitos em situação de rua, estas dificuldades são por eles iluminadas quando reclamam pelo direito à cidade — pedem por dignidade, por alimentação, por moradia, por segu-rança, por emprego, por saúde, por lazer, por respeito. Escancaram seus sofrimen-tos, decorrentes do processo de exclusão ao qual são submetidos cotidianamente.

Nas suas críticas, falas indignadas. Indignação pela forma como são trata-dos pelas demais parcelas da sociedade e, principalmente, pelo Estado. Neste esco-po, a impotência e a indignação se reve-lam como os principais sentimentos que animam esses sujeitos. Solução? Ela não está, seguramente, na caridade individu-al. Abriga-se na esfera política, ainda tão distante da realidade.

Conscientes desta distância, sujeitos em situação de rua são incisivos ao apontar a rua como abrigo, como espaço de vivên-cia principal ou absoluto, e, por isso, rela-taram precisar buscar, a todo o momento, estratégias para driblar as limitações que a condição de vida lhes impõe. Seriam es-tratégias para buscar um caminho para a cidade?

As (im)possibilidades das práticas co-tidianas da população em situação de rua se revelaram como campo de luta perma-nente, como espacialidade de uma vida que parece iniciar, mas que, contraditoria-mente, se mostra num processo de muitos conflitos. Esses sujeitos têm consciência da sua condição, mas, ao mesmo tempo, idea-lizam uma vida, uma representação de um espaço que não conseguem reconhecer na metrópole. Por isso, se apropriam e vivem a, na e da rua.

Conscientes desta distância, sujeitos em situação de rua são incisivos ao apontar a rua como abrigo, como espaço de vivên-cia principal ou absoluto, e, por isso, rela-taram precisar buscar, a todo o momento, estratégias para driblar as limitações que a condição de vida lhes impõe.

*Juliana Carvalho RibeiroMestre em Geografia – Tratamento da Informação Espacial

COSTA, Rogério Haesbaert (Org.). O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2006.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004.

SOUZA, Marcelo José Lopes de. O ter-ritório: sobre espaço e poder, autono-mia e desenvolvimento. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia: Conceitos e Temas. 7ª edi-ção. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Matéria Especial

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HISTÓRIAS DE VIDA

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Vinicius Leoncio,

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CAPACAPA

HISTÓRIAS DE VIDAVIVENDO NAS RUAS, ESTAS PESSOAS INVISÍVEIS À SOCIEDADE CONSEGUIRAM DAR A VOLTA POR CIMALIÇÕES VIVIDAS

SOB UMA MARQUISE

Não é difícil encontrar nas ruas exemplos de superação humana entre os moradores de rua. Há casos impressionantes de pessoas anônimas que chegaram a esta condição por falta de infra-estrutura familiar e muitas tam-bém por estarem em situação de pobreza ex-trema. Quem percorre os dias nas ruas pode desvendar verdadeiros exemplos de determi-nação e coragem. E isto tem uma razão muito simples: ninguém quer viver em condições subumanas ou nasceu para se expor a tantas mazelas. Mas, ao mesmo tempo, estas pes-soas são abandonadas e vivem uma situação de verdadeira invisibilidade social.

Histórias não faltam. Contam a de um jo-vem estudante que chegou à cidade para tentar os estudos. Vindo de família muito pobre, rece-beu do pai a certeza de que não teria apoio para estudar na capital.Este jovem se encorajou e partiu com algumas peças de roupa numa mala surrada para Belo Horizonte e, sem alternativa, depois de morar num banco da Rodoviária e acordar com a botina de um guarda,acabou indo morar debaixo de uma marquise.

Ali, começou a sua vida de estudante em Belo Horizonte. Levou seus livros e cadernos para a sua “casa” e começou uma vida nova e sofrida debaixo de uma marquise, ao sabor de todo o tipo de preconceito e violência.

A Pensar BH soube da história e descobriu que o ex-morador de rua se transformou num dos maiores advogados tributaristas do país. Hoje o dr. Vinicius Leoncio é aclamado tam-bém como autor do maior livro do mundo, com a lei tributária brasileira, reconhecida pelo Guinness, o livro dos recordes.

Veja a entrevista concedida ao editor da Pensar, jornalista Sérgio Lacerda.

O senhor tem uma história de vida marcada pela superação. Como foi o início? Quando chegou em Belo Horizonte e quais os desa-fios teve de enfrentar logo na sua chegada?

Saí de Iguatama com 18 anos. No dia que comuniquei ao meu pai que iria para Belo Horizonte para ser Advogado, ele disse: vá e não conte comigo nem para um lápis, mas qualquer coisa estou aqui. Assustei um pou-co, porém, compreendi que um barranqueiro do Rio São Francisco não poderia realmente prometer mais do que estar à disposição do filho. Quem dá o que tem, não está mais

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Matéria Especial

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obrigado a nada. Por outro lado, talvez a mais importante ajuda que um pai pode e deve dar a um filho é forçá-lo a crescer; no entanto, eu não aprendi isso com meu pai. Cheguei aqui tra-zendo apenas o que ouvi de meu pai, nada mais. Eu vim de um lugar que o vizinho mais próximo ficava a cerca de 5 KM e o que mais tive dificuldades foi o contato com as pessoas. Na roça che-gamos numa casa e mesmo que o dono não se encontre lá, entramos, comem-os e vamos embora. Na cidade grande não temos nome, temos um número, o que é incompatível com um roceiro.

Pelo que sabemos, quando o senhor chegou em BH não tinha sequer um lugar para morar. Como o senhor enfrentou esta situação? É verdade que teve que morar nas ruas? O senhor foi um morador em situação de rua na cidade?

Não havia possibilidade de morar em uma pensão ou coisa parecida, então decidi dormir na rodoviária porque era seguro. Sentava nas ca-deiras e dormia, mas no outro dia o corpo não aguentava. Em seguida comecei a dormir debaixo da esca-da que dá acesso ao 2º. Pavimento; porém a segurança não permitia e acordava a gente com uma delica-da pisada de bota. Tive que sair da rodoviária e fui para debaixo das marquises. Lavava minha roupa na praça Raul Soares, permanecendo ali por quase dois anos.

Isto aconteceu em que ano? Naquela época, havia alguma política pública voltada para a população em situa-ção de rua de BH?

Foi em 1978 . Não havia naquela época nenhuma política ou mesmo estudo voltados para o morador de rua. Somente depois da chacina da Candelária, em 1993, e por pressão in-ternacional foi que o Brasil começou a adotar algumas tímidas políticas neste sentido. Hoje sequer o Brasil tem sua população de rua devidamente anota-da. Os números oficiais não refletem a realidade que chega a cerca de 2 milhões de pessoas vivendo nas ruas. O morador de rua não é visto como

um ser humano; ele é suportado como um lixo tóxico e letal.

Como foi sua trajetória morando na rua? Que problemas enfrentou? Onde o senhor viveu aqui nas ruas de BH?

Na rua fiz de tudo um pouco. Vendi raízes e plantas e tinha para qualquer doença.Vendi até seguro que não se-gurava nada. Minha área de atuação era no entorno da rodoviária e na Praça Sete. A maior dificuldade era a fome, dormir era fácil, mas quando as tripas grossas começam a roer as finas, aí é difícil. Porém, acostumamos com a fome. Chega um certo tempo que o incômodo vai diminuindo. Mas, na maioria das vezes, era como Charles Chaplin - que foi morador de rua - dizia: gosto de andar na chuva, para ninguém ver que estou chorando.

O senhor teve algum apoio de algu-ma instituição ou de algum grupo em especial para deixar a situação de rua?

Não tive nenhuma ajuda ou apoio. Minha força vinha somente das mentiras que contava à minha mãe, dizendo que tudo estava bem, e das verdades que dizia ao meu pai dizen-do que estava tudo muito difícil, so-mada, sobretudo, pela vontade de ser advogado.

Sabe-se que, mesmo morando nas ruas, o senhor nunca deixou de per-seguir seus objetivos. Como foi isto?

Tinha apenas um objetivo: ser Advogado. Tudo que fiz na minha vida a partir dos 12 anos foi me pre-parar para ser Advogado. Quando realmente lutamos por aquilo que queremos tudo é muito fácil, até mes-mo as aparentes dificuldades. Hoje advogo em cerca de 6.000 processos tributários, e não me sinto trabalhan-do por nem um dia sequer, não e-xiste esforço. Ainda é comum, às três horas da madrugada, eu vir para meu escritório para relaxar. Em 1991 de-cidi consolidar a Legislação Tributária do Brasil em somente um livro. Não tinha a intenção de ser autor do Maior Livro do Mundo, porém, as circun-

stâncias assim decidiram e culminou em um livro de 7,5 toneladas. Foram 23 anos e três enfartos.

O senhor estudava nas ruas? Como conciliava a vida nas ruas com o es-tudo?

No período que morei na Rua não frequentei escolas regulares, porém, cursei a mais profunda das escolas, a mundana. Tive o privilégio de co-nhecer na rua um músico, profundo conhecer de filosofia que me dizia que para se ter um bom domínio da ciência era necessário estudar de tudo e não necessariamente livros de filosofia. Então estudei de tudo, até O Capital de Marx. Todos os livros que encontrava nos lixos eu lia. Tinha livro novo todo dia. Livro usado não existe, pois, ele é usado para quem já o leu. O Maestro era paranaense e foi para as ruas por uma desilusão amo-rosa, o que culminou com sua falência profissional e financeira. Tinha cer-ca de 40 anos, chamava-se Ezequiel, mas nunca tive certeza de seu nome. Sempre me dizia que caso eu não fosse para o mundo do crime, da prosti-tuição e das drogas, conseguiria facil-mente sair da rua. Ensinava-me fi-losofia de uma maneira muito pe-culiar. Todos os dias ia com ele nas lanchonetes onde as pessoas pedem um copo de vitamina, bebem e dei-xam um pouco no fundo do copo. Eu juntava todos os restos e aí eu tinha uma vitamina muito mais completa do que qualquer outra, pois se jun-tavam as vitaminas, a, b, c, d, e ....... . Como afirmou Rousseau, é impen-sável que um animal se abra a alter-nativas, mas o homem com seu poder de “ser” além de sua própria natureza, tem o dever de não se permitir viver como “um pombo que morre de fome perto de uma vasilha cheia das me-lhores carnes”. O Ezequiel tentou me ensinar violão, às vezes somente com duas ou três cordas- segundo ele uma corda só era suficiente-; porém, ele mesmo desistiu ao argumento de que um músico não se forma, ele nasce; e eu não tinha nascido com essa quali-dade. Ele tinha razão. Depois disso frequentei escola de música por cerca de uns 30 anos e não consegui apren-

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CAPA

der praticamente nada. Ele conseguiu ensinar-me a dormir balançando a per-na para que aquele que se aproxima pense que estamos acordados e não nos ataque. Certa vez sugeri procu-rar a família dele no Paraná. Ele ficou tão furioso que nunca mais toquei no assunto. Logo após minha formatura em Direito, em 1989, tentei tirá-lo da rua, inclusive oferecendo uma mora-dia a ele, o que foi recusado ao argu-mento de que sua meta era a rua. A verdade é que eu não consegui tirar da rua quem me ajudou a sair dela. Numa de minhas insistências para que ele saísse da rua, narrei a ele a história – que ele conhecia bem- de Prometeu a Mitologia grega, o qual foi aprisionado por Zeus e todos os dias uma enorme águia vinha para devorar parte de seu fígado, mas à noite o órgão regenerava, até que Herácles matou a águia e li-bertou Promoteu. Ele me disse que em nada adianta a um homem ter fígado e

não meta. Perdi o contato com ele por volta de 1992. Nunca mais o vi, em-bora tenha o procurado bastante; mas o sinto presente.

Como aconteceu sua saída defini-tiva das ruas de BH? Em que ano isto aconteceu?

Eu tinha um projeto de dois anos na rua. Saí dois meses antes, em 1979. Fui morar numa pensão . Era um quar-to com dois beliches de três andares cada, um palácio. Lá encontrei gente mais desequilibrada do que na rua; até mesmo um hóspede, colega de quarto, que arrancou a cabeça da dona da pen-são no facão.

Quais as lições o senhor tirou de tudo isto?

Não podemos nos enfeitiçar com o sucesso do próximo. É possível chegar

lá, desde que exista uma meta, um foco. É verdade, o destino é o senhor de to-dos os acontecimentos, porém, con-forme ensinou José Ortega y Gasset “Eu sou eu e minha circustância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo”

O que o senhor considera importante para que casos como o do senhor sir-vam de exemplo?

A “experiência de vida” somente se presta para aquele que a viveu. Creio que o mais importante é a meta. Se não houver meta, por mais que o des-tino insista em alterar o curso da vida, não é possível a ninguém deixar a rua. Estou finalizando um projeto, o qual consiste na criação de uma escola des-tinada a moradores de rua. Nela pre-tendo ministrar apenas uma matéria: meta. Todas as outras matérias a rua já ensinou.

A história do morador de rua de Belo Horizonte Marcelo Batista Santiago ganhou as páginas de jor-nais e emissoras de rádio e televisão nos últimos dias como exemplo de superação. Depois de ser aprovado na Universidade do Estado de Minas Gerais para o curso de Tecnologia de Gestão Pública, Marcelo conquistou seu emprego ao ser classificado em primeiro lugar num concurso público para auxiliar de serviços, concorren-do com outros 12 mil candidatos que disputavam trezentas vagas em todo o Estado.

Marcelo tem 39 anos e mora na República Reviver, equipamento da Prefeitura de Belo Horizonte adminis-trado em parceria com a Arquidiocese de Belo Horizonte, e recebeu todo o apoio da equipe de acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos para superar a situação em que vivia e dar a volta por cima em sua trajetória de vida.

Viveu dois anos nas ruas da ci-dade, ora dormindo em albergues da Prefeitura, ora debaixo de marquises pela cidade. Saiu de casa pelo mesmo motivo da maioria das pessoas que se

encontram nesta situação, segundo o último Censo da População de Rua re-alizado em parceria entre a UFMG e a PBH: conflitos familiares. No seu caso, provocado pelo uso abusivo de drogas que levou Marcelo a uma situação de completa degradação humana.

Marcelo foi convidado a contar sua história no programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo de Televisão, e espalhou o seu exemplo para todo o país. Entrevistado ao vivo pela apresentadora, mostrou como conseguiu passar em primeiro lugar no concurso e revelou o quanto so-freu com o preconceito e com a falta de apoio por ser um morador em situa-ção de rua.

“Eu tive que fazer uma escolha para tentar me afirmar e ter segurança, por que eu já estava numa situação difícil e precisava de um passo seguro”, ar-gumentou para justificar a escolha do concurso público. Nunca imaginou que passaria em primeiro lugar, mas revela que estudou muito e estava sem-pre no posto do BH Resolve acessando a internet ou na pequena biblioteca da República Reviver mergulhado em liv-ros e apostilas.

“A gente sabe o quanto é difícil para quem está na rua conseguir um em-prego, até pela falta de endereço fixo. Sempre ouvi dizer nas empresas que como eu morava na rua eu não servia. Ninguém enxerga o morador de rua, ele é invisível aos olhos da sociedade”, lamentou.

A jornalista Fátima Bernardes elo-giou a determinação de Marcelo, lem-brando que o morador, sem casa e sem trabalho, não tinha outro camin-ho senão partir por esse caminho do concurso público. “Ele mostrou que tem uma capacidade de enxergar a vida e inclusive escolheu um concurso para algo muito aquém do que ele poderia fazer”.

O diretor de novelas Mauro Mendonça Filho, que participou do programa juntamente com o morador de rua, destacou o “exemplo maravil-hoso” de Marcelo, destacando que “isso mostra que sofremos de uma certa in-ércia, uma vocação, uma condenação ao subdesenvolvimento, e qual foi o primeiro passo dele: estudar. Não tem outro caminho”, sob aplausos da platéia que lotou o Estúdio G do Projac para ouvir a história.

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Matéria Especial

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UMA MULHER EM BUSCA DA DIGNIDADE

Histórias de superação de mulheres existem muitas país afora. Em Belo Horizonte não é diferente. Elas sãos 1,4 milhão de habitantes e represen-tam 52,8 por cento da população. São donas-de-casa, profissionais liberais, servidoras públicas, comerciantes, empresárias, catadoras de material reciclável, mães, enfim, mulheres que movimentam a vida da cidade e sem as quais não seria possível escrever a nossa história.

Alguns exemplos de superação são emblemáticos da situação de muitas mulheres que encontraram pela vida uma dura realidade e conseguiram so-breviver a tantas situações de injustiça social.

É o caso da ex-moradora de rua Anita Gomes dos Santos, de 54 anos. Aos 16, rompeu com o pai e foi coloca-da para fora de casa no bairro Campo Alegre, região Norte da cidade. ‘Comeu o pão que o diabo amassou’, como diz a sabedoria popular. Foi morar na rua, ainda jovem, exposta a todo o tipo de violência, sem saber nada da vida.

Reuniu forças e saiu à procura da sobrevivência. Vagou pelas ruas da ci-

dade e parou numa mata no bairro São Bernardo, na época conhecida como ‘Mata da Fayal’. Dormia em qualquer lugar e não tinha outra alternativa a não ser “manguear” (pedir) aquilo que precisava para sobreviver.

Dali, Anita mudou-se para outro endereço. Foi morar numa marquise da Cemig, na rua Itambé, no bairro Floresta, onde ficou por mais quatro anos e meio, sujeita a toda a sorte de ameaças, violência e desrespei-to. Mesmo assim, olhava tudo com resignação: “Fiz muitos amigos, pes-soas para quem eu tomava conta dos carros e elas passaram a me ajudar”.

Insegura com o aumento da popu-lação de pessoas na mesma situação que a sua debaixo da mesma marquise resolveu partir para outro canto. Nesta época, conheceu o seu companheiro, Maurício Rodrigues, com quem vive até hoje. Mudou-se de endereço na rua e passou a viver debaixo do viaduto Castelo Branco, onde “residiu” por mais dois anos perambulando pelas ruas da cidade, ajudando o parceiro a separar os materiais recicláveis cole-tados. O lugar era chamado de ‘malo-quinha’ e ficava perto de onde, há al-gum tempo, já funcionava a Asmare (Associação dos Catadores de Papelão e Materiais Reaproveitáveis).

OUTRO EXEMPLO

Outra história de vida também apre-sentada durante o programa colocou luz na trajetória de um outro mora-dor de rua assistido pela rede de ac-olhimento institucional da Prefeitura de Belo Horizonte, ligada às secretar-ias de Políticas Sociais e Adjunta de Assistência Social.

Assim como Marcelo Santiago, Jusair Santos da Silva também foi aprovado em concurso público, con-quistando o 12º lugar para uma vaga na Fundação Hospitalar de Minas Gerais. Hoje, ele trabalha como auxi- liar de limpeza do refeitório do Hospital João XXII e contou seu exemplo através de vários veículos de comunicação que o procuraram para entrevistas depois de conhecer sua história de superação.

Depois de enfrentar muitas dificul-dades, conseguiu comprar uma apostila com o dinheiro que recebeu do bene-fício mensal do Bolsa Família. Gastou R$45,00 dos R$90,00 que recebeu acreditando que, mesmo sendo muito para a sua situação, acreditava que era um investimento no seu futuro.

“Ele mostrou que estas pessoas que estão na rua, por alguma razão, em al-gum momento, perderam o controle da própria vida e foram parar lá”, comen-tou a jornalista Fátima Bernardes du-rante o programa, após exibir imagens de Jusair em seu local de trabalho. Ela ressaltou também o esforço de Jusair, que estudava diariamente na bibliote-ca pública Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade, onde contou com o apoio de toda a equipe local para conquistar seu intento.

Jusair mora na República Fábio Alves dos Santos, equipamento da pre-feitura inaugurado em 2015 pelo pre-feito Márcio Lacerda. O equipamen-to é um modelo de espaço para mo-radores em situação de rua que estão em fase de superação desta condição. Ali, Jusair pode contar com todo apoio de uma equipe de técnicos que têm se comprometido em possibilitar que ele alcance os seus objetivos de vida e possa ter dignidade, trabalho e condição estável na vida.

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A partir de 1993, passou a convi-ver com agentes públicos da Prefeitura de Belo Horizonte que realizavam o trabalho de abordagem social, dentro de uma ação conhecida como ‘Projeto Lagoinha’, voltado para conhecer a re-alidade de pessoas em situação de rua na cidade. Os agentes faziam visitas e conversavam com os moradores. Uma das mais receptivas ao trabalho era justamente Anita. Afinal, ela sempre sonhou em deixar as ruas, onde pas-sou por todo tipo de violência física e psicológica, enfrentou o alcoolismo, a indiferença e o preconceito.

A RUA ENLOUQUECE

“A rua é enlouquecedora, ela en-surdece a gente”, costuma dizer quan-do fala do seu passado. Neste ínterim, também virou mãe, mesmo morando nas ruas. Passou a criar os filhos de-baixo do viaduto. Regina, a mais vel-ha, para ser preservada passou a fazer parte do projeto Jocum (Jovens com uma Missão), que acolhe adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Aos poucos, Anita foi se aproxi-mando ainda mais do trabalho dos profissionais da área de abordagem social da Prefeitura de Belo Horizonte e passou a alimentar a esperança de um dia ser reconhecida em sua cidada-nia. Não mais como um ser invisível perdido no meio do concreto frio da grande cidade.

Deste acompanhamento, surgiu a oportunidade de ser transferida, com o marido e os filhos, para um equipa-mento da rede de acolhimento social da PBH, o Abrigo Pompéia. A famí-lia havia crescido. Além de Regina, Anita também era mãe de Fernando, Felipe e Regiane. Durante o dia, saia para trabalhar e levava as crianças para a Asmare, retornando ao abrigo onde era acolhida. Ficou por mais três anos sob a proteção do serviço de assistência social da Prefeitura.

Nesta época, conseguiu, por meio da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), uma oportunidade única e foi contemplada com uma casa própria no bairro São Lucas. Vivendo na comu-nidade, enfrentou o fantasma das dro-gas quando seu filho se envolveu com a marginalidade e resolveu novamente abandonar tudo. Voltou para a rua e foi viver novamente, com a família, sob o viaduto Castelo Branco, acreditando que só assim poderia retirar o filho da vida do crime. “Para não perder meus filhos, deixei a casa, que foi invadida”, revelou.

Pouco tempo depois, ficou em bar-racas ao lado da Asmare, no lugar chamado de Ocupação Contorno, seguindo depois para outra ocupação, desta vez na avenida Antonio Carlos, em frente à UFMG, isto no ano 2000. Ali, residiu por mais onze anos com os filhos, sempre trabalhando na coleta de material reciclável.

Anita passou a fazer parte dos movi-mentos sociais da população de rua e

sempre era acompanhada pela abor-dagem social da Prefeitura. Com o projeto para ampliar a avenida Abrão Caram, já com vistas à Copa do Mundo de 2014, teve outra oportunidade de ouro e participou de um programa de moradia, sendo contemplada com uma casa no bairro Citrolândia, na cidade de Betim.

Hoje, depois de tanta superação, Anita é um exemplo de vida e uma referência de mulher que viveu nas ruas e conseguiu passar por cima de tudo para conseguir resgatar sua dig-nidade. Passou a ser uma ativista do movimento da população em situa-ção de rua e faz parte do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da População em Situação de Rua e da Pastoral do Povo da Rua de Belo Horizonte.

Casada há 23 anos com Maurício, que acabou aprendendo o ofício de pedreiro, Anita vive com uma ideia fixa de poder ajudar outras mulheres a deixar esta situação de vida indigna nas ruas. Para a ativista, que já foi conse-lheira estadual de Assistência Social, é possível resgatar muitas vidas. Ela filosofa: “Existe esperança. É preciso acreditar, levantar, lutar porque tudo é possível”.

Para a mulher, acredita Anita, tudo é mais difícil. “Sempre fomos vítimas deste sistema machista, do preconcei-to, da desigualdade e da falta de opor-tunidade”.

Moradores em situação de rua exibem o cadastro para acessar benefícios: o início da volta à cidadania.

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Matéria Especial

36 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

Depois de com-partilhar as dificul-dades da vida nas ruas, casal conquis-ta a dignidade por meio do direito à moradia, motivado pelo nascimento da filha Vitória

O casal Nayara Cristina Patrocínio Maia, de 21 anos, e Roberto Wagner Lare Faria, de 41 anos, se conheceu nas ruas. Ambos eram usuários de crack e a droga motivou o primeiro encontro. Ela tinha acabado de tomar um banho em baixo do viaduto, onde costumava ficar, e, apesar de estar muito magra, “por culpa da pe-dra”, Nayara chamou a atenção de Roberto, que se interessou muito por seu jeito de “moleca”. Em pouco tempo eles estavam morando juntos em uma casa abandona-da que o rapaz dividia com mais quatro amigos, todos moradores de rua e depen-

FAMÍLIA UM BOM MOTIVO PARA MUDAR

Foto: Mariana Costa

dentes do crack. A rotina do grupo era em função da droga. Eles organizavam-se de forma coletiva e pediam dinheiro e produ-tos de consumo que trocavam por crack. “Hoje a gente sabe o valor de uma fralda, mas já trocamos muita fralda por pedra”, lamenta Nayara.

Natural de Ipatinga, Nayara fugiu de casa ainda adolescente. Ela não se dava bem com o padrasto e, por isso, tinha mui-tos conflitos com a mãe. Sem se dar conta dos perigos que corria, aos 14 anos viajou para Belo Horizonte, pegando caronas na estrada. “Eu era muito ingênua e rebelde, né?!”. Aos poucos a rua foi apresentando seus “atrativos” e, mais tarde, a dura face

da violência. Estupro, fome, preconceito, exploração sexual, dependência química. Bastante cedo, Nayara já havia experimen-tado muitas formas de violação de direitos. Naquela época, chegou a ser acolhida no Centro de Passagem Vila Eunice, voltado ao atendimento de meninas com trajetó-ria de vida nas ruas, mas fugiu com uma amiga.

Depois de adulta, chegou a utilizar os serviços do Abrigo São Paulo e do Centro de Referência para a População em Situação de Rua – CREAS POP, mas não aderiu aos atendimentos, até conhe-cer Roberto e dar à luz a Vitória: o grande incentivo para a mudança de vida dos dois.

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No caso de Roberto, a vida nas ruas, que durou pouco mais de dois anos, veio em outro momento, já na vida adulta, mas por uma motivação parecida. Uma decepção familiar associada à dependência do crack.

Os conflitos familiares, por sinal, fo-ram apontados pelo terceiro Censo da População em Situação de Rua e Migrantes de Belo Horizonte, realizado pela Prefeitura, em parceria com a UFMG e publicado em 2014, como o principal ensejo que leva as pessoas a viverem nas ruas. 52,2% dos cida-dãos que estão nessa situação tiveram uma história semelhante às de Roberto e Nayara.

Assim que soube que estava grávida, a futura mãe teve medo de perder a guarda da filha, diante das vulnerabilidades que enfrentava, mas não conseguiu se livrar do vício. O casal queria parar com o cra-ck para criar Vitória e conseguiu tomar a

decisão de deixar a droga no dia em que a filha nasceu. Para o enxoval do bebê, con-taram com os amigos que passaram a pe-dir as fraldas e roupinhas, desta vez com o verdadeiro intuito de uso. Entretanto, um novo morador da casa em que o casal ficava esfaqueou Roberto para levar as doações que havia recebido. Roberto foi ferido por sete facadas.

Após sair do hospital, ele teve a cer-teza de que precisaria de um local se-guro para cuidar da esposa e da filha. Lembrou-se então das ofertas do poder público e resolveu procurar o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) da Regional Leste, próxi-mo de onde eles ficavam. “Eu fui com mui-to medo, e falei para a Nayara: -Tá vendo aquela porta? Ela pode se fechar ou abrir para gente. Porque eles podem tanto con-

seguir um lugar para ficarmos com a nossa filha, quanto podem entender que nós não temos condições de cuidar dela e nos tirar a Vitória”. Para o alívio do pai, a opção foi a primeira. Com vistas a manter os víncu-los familiares e proteger a criança, a família foi encaminhada para o Abrigo Pompeia, unidade pública municipal da política de assistência social voltada ao atendimento de famílias com trajetória de vida nas ruas.

O abrigo conta com 24 cômodos que comportam famílias de até cinco pesso-as. Dentre as ofertas estão: a moradia, o acompanhamento socioassistencial, en-caminhamentos para demais serviços e políticas públicas, o uso, sem custos, da água e da luz, uma quadra poliesportiva para a prática de esportes e um espaço apropriado para a realização de oficinas de artesanato.

VIDA NOVA COM VITÓRIA

Quando a pequena Vitória comple-tou 13 dias eles se mudaram para o Abrigo Pompeia, chegaram à unidade com o bebê e com as roupas do corpo. Aos poucos con-seguiram muitas doações e, com trinta dias, Roberto conseguiu retomar a profissão de pedreiro. “Aqui a família se refez! O marido está trabalhando; eles são muito responsá-veis com a saúde da filha, o cartão de vacina impecável, a casa sempre limpa. Vendo o crescimento deles, você percebe que o seu trabalho vale a pena!”, garante a assistente social Jaqueline das Chagas Mendes, téc-nica responsável pelo acompanhamento do casal.

Jaqueline explica que o trabalho técni-co no abrigo passa pela garantia do aces-so aos direitos, começando pela moradia. “Procuramos criar um vínculo para conhe-cer a família e, conversando, buscamos in-centivar e fortalecer o lado positivo e apoiar para que superem a vulnerabilidade. Estar aqui é um exercício para a autonomia e para a dignidade”, descreve a profissional.

Um ano e quatro meses depois da che-gada ao abrigo, a família comemora as mui-tas conquistas. A principal delas é a saúde de Vitória. Nayara e Roberto nunca mais usaram drogas depois que tiveram Vitória. Com orgulho, o pai mostra a caixa de ferra-mentas novinha, instrumento de trabalho que custou muito empenho do pedreiro. “Se fosse antes, eu não teria nada disso aqui não, veja só: furadeira, makita, tem tudo

para trabalhar. Eu tenho feito trabalhos para muitas pessoas, fico alegre em saber que, assim, posso sustentar a minha famí-lia!”, conta ele.

Nas oficinas do abrigo, a mãe aprendeu a pintar pano de prato e agora está nas aulas de costura. Nayara pretende ajudar o ma-rido nas finanças da família, por meio de uma profissão que permita ficar ao lado da filha. “Já ganhei uma máquina de costura que está para chegar. Vou trabalhar em casa, porque assim não preciso ficar longe da Vitória. A gente tem que estar de olho, ela dá trabalho, mas é bom demais!” Dona de uma letra redondinha e bem desenhada, Nayara também sonha em voltar a estudar, mas o projeto é só para depois que a me-nina crescer um pouco, afinal, a filha é a prioridade da “mãe coruja”.

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Equipamento pioneiro no Brasil aplica ideia de co-gestão com Prefeitura de Belo Horizonte e pessoas que estão em processo de saída das ruas

Desde abril de 2015 Belo Horizonte conta com um equipamento pionei-ro no Brasil, a Unidade de Acolhimento Institucional Fábio Alves dos Santos, uma casa com estrutura para abrigar 44 homens adultos com idades entre 18 e 60 anos que oferece moradia, alimentação e atendimen-to socioassistencial aos usuários.

O tempo de permanência na unidade é de 18 meses, podendo ser reavaliado e pror-rogado em função do plano individual de atendimento (PIA) de cada um. Dentro da rede de serviços oferecidos pela Prefeitura, a criação da Unidade de Acolhimento é uma alternativa para aqueles que querem sair das ruas e ingressar no mercado de trabalho e reconstruir as suas vidas.

REPÚBLICA POP RUA

Os moradores tem prazo para ficar e poderão voltar para casa de onde um dia saíram ou alugar seu imóvel, havendo pos-sibilidade de inclusão no programa Minha Casa, Minha vida. É uma cadeia completa desde a abordagem na rua, rede de apoio e abrigos, onde eles podem passar a noite.

ASSISTÊNCIA

A coordenadora da casa, Andréa Oliveira Chagas, explica que a inserção dos moradores na unidade se dá exclu-sivamente a partir de encaminhamento do Serviço Especializado em Abordagem Social/Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), do Centro de Referência Especializado da Assistência Social para População em Situação de Rua (Centro POP para adultos), unidades de acolhimento institucional para adultos e famílias, órgãos do Sistema de Defesa de Direitos e demais parceiros da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS) para atendimento da população em situação de rua. “A casa oferece psicólo-gos, assistentes sociais e instrutores que os acompanham 24 horas. Eles são encami-nhados para empregos, cursos e médicos. Há oficinas de arte e de saúde com eles. A ideia é um modelo de cogestão onde, nes-se modelo de casa, eles possam reaprender a viver numa casa, conviver com outras pessoas e dividir as tarefas”, disse Andréa.

A Secretaria Municipal de Assistência Nutricional oferece alimentação e uma nu-tricionista. Há uma cozinheira, mas os mo-

radores lavam louças, arrumam os quartos, lavam os banheiros e as roupas. Mesmo assim, são 20 funcionários para atendê-los. “Como todo lugar na sociedade e na nossa casa, há regras de convivência, com horário de chegar, de sair, não entrar alcoolizado ou sob efeito de drogas”, disse a coordenadora.

OUTRA VIDA

Um dos moradores, Daniel Irineu de 46 anos, viveu por 11 anos nas ruas da capital e agora é montador de estrutura metálica. Irineu conta que durante a sua permanên-cia nas ruas costumava algumas vezes pas-sar a noite nos albergues da prefeitura, mas que agora tem endereço fixo. Ele poderá ficar por 18 meses no local, com possibi-lidade de prorrogação do prazo. “Estou vivendo uma outra vida agora, com mais tranquilidade na mente, no pensar, com mais responsabilidade no dia a dia”, co-mentou Daniel.

Para ele, quem vive nas ruas é tratado como vagabundo ou ladrão, mas que agora ele se enche de orgulho ao dizer que tem profissão e moradia fixa. “Graças a Deus, eu sempre trabalhei, mas o mundo lá fora é cruel. Como eu estava na rua sem prote-ção nenhuma, sem um banho para tomar e uma roupa limpa para vestir, a sociedade via isso com muito preconceito, principal-mente na hora de você se candidatar para um emprego”, comentou o montador de estrutura metálica.

“O que me levou para as ruas foi o fato de acreditar muito nas pessoas. A minha

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Homenagem à Fábio Alves dos Santos com a presença do Prefeito Marcio Lacerda, durante inauguração da República Pop Rua

família não olhava para mim. A questão dos pais era dinheiro, dinheiro, dinheiro. Uma brigalhada danada. Fiquei transtornado e resolvi me jogar ao mundo”, desabafou Daniel, que nasceu no Rio de Janeiro e foi criado em Belo Horizonte.

ESTRUTURA

Além de moradia, os moradores da casa têm alimentação e atendimento so-cioassistencial. O investimento foi de R$ 2,14 milhões, com recursos do Orçamento Participativo e cobriu a desapropriação do terreno, a elaboração do projeto e a cons-trução da casa. O projeto respeita as nor-mas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e tem elevador para por-tadores de necessidades especiais. No pri-meiro piso ficam a administração, a sala de atendimento técnico, lavanderia, cozinha, refeitório, sala multiuso, instalações sani-tárias e um dormitório. No segundo andar,

outros seis dormitórios, vestiários, instala-ções sanitárias e mais uma sala multiuso.

Para o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Samuel Rodrigues, a infraestrutura da unidade é a melhor do país. “A casa possui uma qua-lidade que nunca vi antes, além da alegria no acolhimento e o comprometimento de várias pessoas que conseguiram construir esse local”, enfatizou.

O serviço da Unidade é executado pela entidade Providência Nossa Senhora da Conceição, por meio de convênio com Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS), e desenvol-vido em sistema de cogestão, no qual os usuários participam da execução de ati-vidades rotineiras na unidade, comparti-lhando responsabilidades com a equipe de trabalho. Esse sistema favorece a obtenção gradual de autonomia e independência pe-los moradores e a construção progressiva da inclusão social e comunitária.

QUEM FOI FÁBIO ALVES?

O nome da unidade de acolhimen-to foi escolhido por meio de um con-curso organizado por representantes do Fórum da População em Situação de Rua e da SMAAS. O resultado defi-niu por uma homenagem ao advogado, educador popular e militante na defesa dos direitos humanos, Fábio Alves dos Santos, que atuou também como pro-fessor universitário em Belo Horizonte, tendo coordenado, por vários anos, o Serviço de Assistência Jurídica, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, por meio do qual patroci-nou centenas de causas jurídicas em de-fesa de indivíduos e famílias moradoras de prédios, casarões e áreas ociosas ou abandonadas, subsidiado e fundamen-tado pelo Estatuto das Cidades e pela Função Social da Propriedade.

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A SAÚDE GARANTEACESSO À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

A utilização da rua como espaço de moradia por um segmento da população é um fenômeno mundial complexo, fruto de processos de exclusão. A abordagem e a assistência aos moradores em situação de rua requerem articulações setoriais e intersetoriais, para o seu adequado e devido enfrentamento. Para o avanço e a consoli-dação da atenção à população em situação de rua e, consequentemente, a efetivação de uma política municipal voltada para esse segmento populacional, é imprescindível que os vários atores/agentes envolvidos nas ações desenvolvidas para esse segmento estabeleçam contínua e permanente in-terlocução, articulação e interação entre suas ações.

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA-BH) vem tra-balhando, com a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS-BH) na criação de meios de articulação entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Vem articulando-se, também, com outras Secretarias e Órgãos Municipais, Estaduais e Federais e Entidades da Sociedade Civil, para qualificar a oferta de serviços e assegurar o acesso aos mes-mos e aos programas que integram as po-líticas públicas.

De acordo com a Técnica Superior de Saúde e Psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fátima Morelli, a saúde da população em situa-ção de rua não difere substancialmente da saúde do restante da população de risco muito elevado de BH, apresentando, entre-tanto, peculiaridades que devem ser consi-deradas. “Essa população está em constante deslocamento e tem pouca aderência ao espaço social. Por isso, faz-se necessário pensar em uma forma de acesso à saúde que leve essas características em conside-ração”, afirma.

Desde 1987, Belo Horizonte iniciou a sistematização das primeiras estratégias de abordagem às populações de rua, perí-odo esse em que teve começo a atuação da Pastoral de Rua da Igreja Católica no nosso município. Fátima destaca também que o protagonismo da Pastoral na construção de uma política pública para essa população é marcante. “A Pastoral era, em 1993, a única instituição que ousava chegar perto dos moradores em situação de rua sem dar as coisas prontas para eles e, sim, para cons-truir alguma coisa com eles, reconhecendo, então, cada um como sujeito, considerando o seu desejo e o seu querer.

“Em 1993, a então Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social da Prefeitura

Municipal de Belo Horizonte responsa-bilizou-se pela agenda política das ações voltadas para essa população, através do Programa da População em Situação de Rua. A partir deste fato, surgiu o Fórum da População em Situação de Rua, criado e re-gulamentado pela Lei Municipal N° 8.029, de 06 de junho de 2000”, explica Morelli.

Já em 2002, com a implantação da Estratégia de Saúde da Família em Belo Horizonte, a SMSA criou a Equipe de Saúde da Família para a População em Situação de Rua (ESF POP RUA), primei-ra equipe de Belo Horizonte e do Brasil específica para o atendimento dos mora-dores em situação de rua, sendo essa ação pioneira no cenário nacional. O Centro de Saúde eleito para a lotação dessa equipe foi o Carlos Chagas, por sua localização na área central de BH, onde estava alocado o grande quantitativo populacional des-ses moradores. A ESF POP RUA Carlos Chagas foi composta por um médico gene-ralista, uma enfermeira, duas auxiliares de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde (ACS). O Centro de Saúde, então, passou a contar com uma equipe específi-ca para o atendimento de moradores em situação de rua e com vários profissionais de apoio, responsáveis pelo atendimento da população recenseada pelo IBGE, residente

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na área central da cidade e da população trabalhadora dessa mesma área. A equipe de saúde mental e a de saúde bucal e de-mais profissionais desse passaram a dar apoio à ESF POP RUA, avançando, assim, na garantia efetiva de acesso aos serviços na Rede de Saúde do SUS-BH.

É importante destacar que, hoje, Belo Horizonte conta com 148 centros de saúde, oito Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAM), três Centros de Referência em Saúde Mental – Álcool e Droga (CERSAM-AD), um Centro de Referência em Saúde

Mental Infantil (CERSAMI), nove cen-tros de convivência, oito Unidades de Pronto Atendimento (UPA), oito Centros de Especialidades Médicas (CEM), cin-co Unidades de Referência Secundária (URS),05 Laboratórios Distritais, um Laboratório Central, 03 Centros de Referência em Reabilitação, três centros de Especialidades Odontológicas (CEO), dois Serviços de Saúde do Trabalhador e 33 Hospitais, sendo 32 conveniados/con-tratados e um próprio/público municipal – o HOB.

Além desses equipamentos/serviços, é fundamental destacar a atuação das quatro Equipes de Consultório na Rua, que são dispositivos móveis, que têm a estratégia de ampliação do acolhimento e do acesso, através do estabelecimento do vínculo e do atendimento, da orientação e dos encami-nhamentos responsáveis dos usuários para os Serviços da Rede de Saúde e das outras Políticas Públicas, articulando no dia a dia, respostas intersetoriais com todos os servi-ços possíveis, com a finalidade de atender as diversas demandas surgidas no campo.

Desde 1987, Belo Horizonte iniciou as ações de saúde focadas na população em situação de rua,

a exemplo do Consultório de Rua

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A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM BHFATOS E ESTATÍSTICAS

POLÍTICAS PÚBLICAS E AVANÇOS:

RESTAURANTE POPULAR

Em Belo Horizonte, a oferta de alimentação para a população em situação de rua é lei. o benefício é regido pelo decreto 14.379/11 e pela Lei Muni-cipal 10.264/2011.

De 2011 a 2015 mais de 700 mil refeições foram servidas à população em situação de rua de Belo Horizonte

Somente em 2015 - 167.977 refeições servidas para população em situ-ação de rua. maior parte no restaurante popular 1 – com mais de 137 mil refeições servidas. (Fonte: SMASAN)

Entre 2012 e 2015, cerca de 250 pessoas por ano em média deixaram a situação de vida nas ruas em belo horizonte. (Fonte: SMAAS)

Este ano a PBH inaugurou uma nova repúblia (Fábio Alves dos Santos) com capacida-de para 44 vagas destinadas a pessoas que já estão em superação de vida nas ruas. BH é referência em segurança alimentar para a população de rua, com oferta de ali-mentação gratuita nos restaurantes popular e em todos os equipamentos públicos (albergue e repúblicas) voltados para este público. Respeito aos direitos humanos, atendimento digno com assistência social e de saúde permanente são características da política para população de rua de BH. BH possui um comitê para monitorar e assessorar as políticas para a população de rua, pioneiro e inédito no brasil. é um fórum democrático, com participação ampla da sociedade civil. A cidade é signatária da política nacional para a população em situação de rua. A PBH desenvolve cotidianamente ações de gestão do espaço público e todas as nove regionais da cidade.

Estas ações visam regular o interesse em torno da coisa pública, combatendo o uso irregular e a obstrução do logradouro público, evitando a moradia com instalação de objetos e materiais e outras ocupações indevidas.

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ASSISTÊNCIA SOCIAL

SAÚDE

O Centro de Saúde Carlos Chagas, na região hospitalar de BH, possui equipe específica para atendimento à população de rua.

1031 moradores em situação de rua estão cadastrados no Carlos Chagas.

411 são beneficiários do Programa Bolsa Família.

Somente em 2015, já foram realizadas quase duas mil consultas à população em situação de rua por médico generalista/psf, 325 consultas de enfermagem, 2058 acolhimentos pelo enfermeiro e 1.848 “visitas domiciliares”, 1.384 consultas odontológicas, 1.309 consultas de psiquiatria e 419 de psicologia.

No Centro de Saúde Carlos Chagas são realizadas também, com a população em situação de rua, ações educativas, de promoção e prevenção da saúde, higiene corporal, saúde bucal, prevenção de

Em 2015, a prefeitura de Belo Horizonte ofertou 296 bolsas moradia para pessoas em situação de rua.

Os centros de referência pop rua prestaram mais de mil atendimentos/mês em 2015, abragendo serviços como emissão de documentos, en-caminhamentos para benefícios sociais, assistência social, etc.

Os serviços de abordagem social à população de rua foram realizados em todas as regionais da cidade. somente na centro-sul, foram 390 atendimentos no mês de janeiro e 227 em outubro de 2015.

86,8% sexo masculino e 13,2% sexo feminino.

67% com idade entre 31 a 50 anos.

44,8% concentrada na regional centro-sul.

motivação: 52,2% alegam problemas familiares e 43,9% abuso de álcool e outras drogas.

62,7% concluíram o primeiro grau (1ª a 4ª série).

64,2% vieram do interior de MG (39,7%), de outros estados (24,5%).

23% declaram problemas de saúde mental.

48% declararam não usar drogas ilícitas e 51,55% declararam usar.

46,1% utilizam as unidades de acolhi-mento institucional da PBH.

32,5% são assistidos pelo serviço especializado em abordagem social.

31,7% pelo centro de referência da população em situação de rua.

38,3% utilizam os centros de saúde.

54,5% utilizam o restaurante popular.

43,1% disseram já ter sofrido violên-cia praticada entre eles.

69,5% declararam usar álcool.

20,7% disseram já ter sofrido violên-cia praticada por civis.

DADOS DO ÚLTIMO CENSO POP RUA

1.827 PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA (ADULTAS) EM BH (Fonte: CENSO POP RUA PBH-UFMG).

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REDE DE ACOLHIMENTO

ALBERGUE TIA BRANCA: Masculino/400 vagas/hospedagem e alimentaçãoRua Conselheiro Rocha, 351 – Bairro Floresta

ABRIGO SÃO PAULO. Adultos e famílias/200 pessoas/higienização, alimentação /dormitório e guarda-volumes.Rua Elétron, 100 – Bairro Primeiro de Maio

ABRIGO POMPÉIA: Famílias/32 famílias/higienização e alimentação/dormitório e guarda-volume. Rua Coronel Otávio Diniz, 29 – Bairro Pompéia

PÓS-ALTA HOSPITAR:Moradores em situação de rua com autonomia ou semi-dependência/ 20 vagas/higienização e alimentação/dormitório e guarda-volume.Rua Além Paraíba, 181 – Bairro Lagoinha

ACOLHIMENTO PARA O MIGRANTE:Migrantes adultos, masculino/ 80 vagas/higienização e alimentação/dormitório e guarda-volumes.Rua Espírito Santo, 604 – Bairro Centro

ABRIGO GRANJA DE FREITAS:Famílias de áreas de risco/102 famílias/cômodos cômodo individualizados por famílias/benefícios/ assistência e acesso a órgãos do sistema de garantia de direitos.Rua Diniz Dias, 145 – Bairro Alto Vera Cruz

REPÚBLICA FÁBIO ALVES DOS SANTOS - Recém-naugurado em 2015/masculino adulto/44 vagas/ voltado para morado-res em situação de superação/hospedagem e alimentação.Av. Nossa Senhora de Fátima, 3076 – Bairro Carlos Prates

EQUIPES DE REFERÊNCIA EM NÍVEL CENTRAL:01 gerente – 04 assistentes sociais – 01 filósofo – 01 educador social.

Equipes Regionais: equipe multidisciplinar consti-tuída por assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, filósofos, sociólogos, geógrafo e comunicador social

GESTÃO DO ESPAÇO PÚBLICO:Por outro lado, esclarecemos que a pbh desenvolve cotidiana-mente, por meio das nove secretarias de administração regio-nal municipal, ações de gestão do espaço público, conforme as diretrizes estabelecidas pela instrução normativa conjunta nº 001/2013 (anexa), publicada no diário oficial do município em 07/12/13.

As ações de gestão do espaço público visam regular o inte-resse em torno da coisa pública, favorecendo a disponibilida-de dos bens públicos, da maneira mais ampla possível, a toda a coletividade – cidadãos e cidadãs da cidade de belo horizonte.

Capacidade atual: 1.000 vagas distribuídas em nove (9) equipamentos voltados para a população em situação de rua. público alvo: homens, mulheres, famílias.

ABORDAGEM SOCIAL

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NOSSACIDADE

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Nossa Cidade

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Nossa Cidade

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CIDADE AMIGA DO IDOSO

O desafio que BH tem pela frente para alcançar os índices propostos pela Organização Mundial de Saúde

O fenômeno do envelhecimento po-pulacional é uma realidade nos gran-des centros urbanos e Belo Horizonte se prepara para enfrentá-lo gerando cada vez maiores indicadores sociais de qualidade de vida para a população acima dos sessenta anos. Nos últimos meses, técnicos da Secretaria Municipal de Políticas Sociais se debruçam num emaranhado de estatísticas e tendências para elaborar o primeiro Diagnóstico do Idoso da cidade. Com base nestes fundamentos, a cidade trabalha com o cenário futuro, mas quer adquirir o mais breve possível a classificação de Cidade Amiga do Idoso, com base no Guia Global da Organização Mundial de Saúde.

Os números são expressivos. Nos próximos vinte anos a cidade terá uma população de idosos entre 60 e 79 anos superior à de jovens. Somente nos últi-mos trinta anos, este crescimento de-

mográfico foi de 12 por cento, enquanto na outra ponta o número de crianças e adolescentes vem diminuindo pau-latinamente.

Hoje Belo Horizonte tem uma po-pulação de aproximadamente 302 mil idosos, sendo que 85% se concentram na faixa dos 60 a 79 anos, 8,5% na fai-xa de 80 a 84 anos e 6,1% entre 85 e 94 anos e 0,6% na longeva faixa acima dos 95 anos.

POPULAÇÃO DE IDOSOS VAI DOBRAR ATÉ 2050

O Diagnóstico do Idoso fez um mape-amento completo da presença dos idosos na cidade, classificando-os inclusive por região da cidade e também pela faixa de renda, para identificar estas pessoas com base nas condições de vida.

A maior parte dos idosos de Belo Horizonte se concentra nas regiões Centro-sul, Pampulha e no entorno da avenida do Contorno e a ideia do documento é mapear principalmente a presença de idosos em áreas de grande vulnerabilidade social, para garantir políticas públicas e equipamentos que

impactem na qualidade de vida destes cidadãos.

Estima-se que nos próximos quinze anos, até 2050, a população acima dos 60 anos cresça 80% no Brasil e Belo Horizonte segue, historicamente, a mesma proporção. A expectativa de vida ao nascer, no município, que já foi de menos de 65 anos na década de 1960, hoje já fica na faixa entre 75 e 80 anos, o que é um bom sinal.

Para conseguir se tornar uma Cidade Amiga do Idoso, de acordo com os preceitos da Organização Mundial de Saúde, é preciso que a cidade crie condições favoráveis à qualidade de vida destas pessoas em vários campos, mas especialmente nas que mais impac-tam suas vidas, tais como saúde, mo-bilidade urbana, segurança, moradia, comunicação e inclusão social.

Belo Horizonte caminha a passos largos nesta direção. A cidade já está capacitada a se credenciar a conquistar o título, com base nas políticas públi-cas que já implementou, mas outros desafios se apresentam para que nos próximos anos ela esteja ainda mais preparada para oferecer .

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Segundo a síntese do documento apresentado pela SMPS o plano estraté-gico da Prefeitura de Belo Horizonte, fun-damentado em quarenta projetos susten-tadores, dedica em um deles uma atenção especial aos idosos. Hoje há, inclusive, um orçamento temático específico para este programa.

PROTEÇÃO SOCIAL E CULTURA

No campo da Assistência Social há ativi-dades voltadas para dar proteção social ao idoso, seja ela básica ou especial, através de uma rede de acolhimento e atendimento di-recionada a esta população. Equipamentos do Programa BH Cidadania oferecem pro-gramas dedicados exclusivamente aos ido-

População idosa atual e população idosa estimada por regional

Regional População atual (2010)

População estimada (2030)

Barreiro 27402 49324

Centro-sul 51581 92846

Leste 34420 61956

Nordeste 34058 61304

Noroeste 39869 71764

Norte 21020 37836

Oeste 37467 67441

Pampulha 26358 47444

Venda Nova 26363 47453

Belo Horizonte 298538 537368Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE

sos nos campos do lazer, entretenimen-to, saúde, qualidade de vida, esporte, sociabilidade. Há também um trabalho importante para o fortalecimento dos laços familiares, fomentando o conví-vio comunitário e o respeito às pessoas mais velhas.

A Prefeitura proporciona ainda acesso direto a mais de 20 mil idosos ao chamado Benefício de Prestação Continuada, o que representa hoje 5,8% da população idosa. No Programa fede-ral Bolsa Família, que é gerenciado pelo município, há 3.968 idosos beneficiários, sendo que a Regional Norte apresen-ta o maior número, 16,5%. Em venda nova são 15,5% dos idosos atendidos e na Regional Centro-Sul 5,5%.

O serviço de acolhimento institucio-nal atendeu em 2014 889 idosos em uni-dades com característica domiciliar que oferecem alimentação, atendimento mé-dico, psicológico e assistencial. Destes, 77% ou 690 pessoas são mulheres e 202 homens (23%). Há também projetos como o Cuidador de Idosos, que ga-rante atendimento domiciliar para ido-sos semidenpendentes e dependentes, disseminando práticas de autocuidado.

No campo da cultura e educação os idosos de Belo Horizonte são beneficia-dos por programas da Prefeitura de Belo Horizonte que incentivam a inserção co-munitária e familiar através de eventos, comemorações, cursos para transmissão do conhecimento e preservação da me-mória e da identidade cultural.

Com base nestes e em outros quesi-tos importantes, como a acessibilidade e o direito de ir e vir com segurança, a cidade está se preparando para ser uma, entre grandes cidades do mundo, a conquistar o título de Cidade Amiga do Idoso e se preparar para um futuro em que seremos cada vez mais maduros em nossa cidade.

Mais de 100 anos

95 a 99 anos

90 a 94 anos

85 a 89 anos

80 a 84 anos

75 a 79 anos

70 a 74 anos

65 a 69 anos

60 a 64 anos

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000

População idosa por grupo etário - Belo Horizonte / 2010

Fonte: IBGE Censo 2010

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LER EM FAMÍLIAUma experiência prazerosa que começa a ser estimulada em BH entre crianças e suas famílias

Estimular o hábito da leitura nas crianças desde a primeira infância, estendendo esse estímulo aos famil-iares é o objetivo do projeto Ler em Família que foi lançado durante o 1º Festival Literário Internacional de Belo Horizonte (FLI-BH), pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FMC) e do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA).

Para viabilizar a realização do pro-jeto, um termo de cooperação técnica para a execução foi assinado pelo pre-feito Marcio Lacerda, pelo presidente da FMC, Leônidas de Oliveira, e pela secretárias municipais de Políticas Sociais, Luzia Ferreira, de Educação, Sueli Baliza, pela presidente do CMDCA, Márcia Alves, e o secretário do Conselho Municipal de Cultura, José Valter.

Com investimento inicial de R$ 200 mil, oriundos do Fundo Municipal para Criança e Adolescente, o projeto Ler em Família vai garantir a aquisição de livros adequados a crianças de até seis anos para orientação aos famili-ares, bem como a contratação de moni-tores para auxiliar as famílias.

A proposta é utilizar a leitura como mecanismo de promoção da cidada-

nia e resgate da relação dos pais com as crianças em famílias que se encon-tram em situação de vulnerabilidade social, além de ser um canal de pro-moção e acesso à cultura. Os monitores irão até as casas das crianças para ler juntamente com elas e seus pais ou re-sponsáveis.

Para o prefeito Marcio Lacerda, a iniciativa reafirma a pluralidade e o impacto positivo das ações desen-volvidas no campo cultural da cidade, que aproxima também elementos das áreas de Educação e Assistência Social. “A política cultural de Belo Horizonte tem contribuído significativamente para fortalecer valores como a criatividade, a transferência de conhecimento e a in-clusão social, inclusive, com reconhe-cimento internacional. O projeto Ler em Família é mais um exemplo disso e temos a esperança de que ele propor-cione muitos benefícios para as crianças e as famílias que irão participar.”, disse.

A execução do projeto envolve, inicialmente, o público das bibliotecas de seis centros culturais do município: Liberalino Alves de Oliveira, Alto Vera Cruz, Vila Santa Rita, Urucuia, Venda Nova e Zilah Spósito, além de enti-dades registradas no CMDCA que se localizam no entorno dos centros cul-turais. E será ampliado para as vinte bibliotecas públicas municipais da capital.

Para o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Leônidas de Oliveira, o projeto tem grande poten-cial para disseminar o hábito da leitu-ra na cidade. Na opinião da secretária municipal de Políticas Sociais, Luzia Ferreira, a iniciativa tem cunho trans-formador. “É um projeto em que as pessoas receberão leitores de histórias em suas casas e isso contribuirá para resgatar laços afetivos por meio da literatura”.

Projeto que leva leitura à comunidade garante

livros e incentivo a leitura

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Foto: Tatiana Ministério (SMPS)

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CANTARÉ BOM

A boa experiência com os idosos em aulas de voz e violão

Belo Horizonte tem, hoje, diver-sas ações sendo executadas em benefí-cio da pessoa idosa e um dos projetos com adesão expressiva dos idosos é o “Voz e Violão: Despertando Talentos da Maturidade”, que acaba de completar um ano e acontece no Centro de Referência da Pessoa Idosa (CRPI). Com quatro turmas formadas, atendendo a 237 participantes, o projeto foi criado com o objetivo de en-sinar técnicas de violão e de canto para pessoas acima de 60 anos e despertá-las para o mundo musical.

Eles se apresentam em festas e co-memorações, como a que reunião seus seus familiares e autoridades municipais. Vieram participantes ilustres, como a instrumentista Isabela Lucia Santos, da Escola de Música da UFMG, e da Orquestra Escola Criarte, do Maestro Alarico. A madrinha do projeto é a ex-

secretária de Direitos de Cidadania e atual assessora da Urbel, Silvia Helena, e a co-ordenadora dos Direitos da Pessoa Idosa, Maria Fontana.

A Secretária Municipal de Políticas Sociais Luzia Ferreira elogia os investi-mentos do município no projeto, classi-ficando como certas as ações que estão sendo realizadas priorizando a popula-ção idosa. “A população idosa é a que mais cresce hoje em Belo Horizonte, então isso aqui não é o passado e sim o futuro”, entusiasma-se.

As aulas acontecem de segunda a quinta-feira, das 14 às 15h. Durante os encontros, que têm duração de uma hora e meia, os alunos realizam exercícios mo-tores (braço e mãos) e vocais, além de estudar as notas musicais e partituras. Na sequência, são realizados exercícios de acordes e logo após são executadas as músicas estudadas.

O Centro de Referência da Pessoa Idosa é um equipamento público ge-renciado pela Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa, por meio da Secretária Municipal Adjunta de Direito e Cidadania. Oferece serviços e progra-mas voltados para a promoção e defesa de direitos da pessoa idosa tendo incor-porado em sua política, estudos, pesqui-sas e documentações sobre o processo de envelhecimento na capital mineira.

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52 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

DELEGAÇÃO DA COLÔMBIA VISITA O BH CIDADANIA

BH Cidadania - CRAS Vila Fátima recebeu equi-pe da Fundação Ideias para a Paz

Ações inovadoras da Prefeitura de Belo Horizonte estão ganhando des-taque fora do país. Um dos progra-mas que atravessou fronteiras foi o BH Cidadania, que é considerado por mui-tos um exemplo de programa público social modelo apresentando uma nova forma de gerir as políticas sociais. É uma iniciativa da Secretaria Municipal de Políticas Sociais, que viabiliza para famílias residentes em áreas de vulne-rabilidade, a inclusão social por meio do esforço intersetorial.

Recentemente, o BH Cidadania - CRAS Vila Fátima, situado na região Centro-sul da capital mineira, recebeu

a visita de representantes da Fundação Ideias para a Paz, do Governo da Colômbia, que vieram a Belo Horizonte para conhecer de perto as experiências que envolvem o uso de novas tecnolo-gias e a participação cidadã nos espaços geridos pelo poder público. A socióloga e economista, Laura Macrina, e o asses-sor do Alto Comissionado para a Paz do governo colombiano Julian Arevalo foram recebidos pela equipe multidis-ciplinar do BH Cidadania - CRAS Vila Fátima, que apresentou para a delegação todas as atividades e serviços oferecidos no equipamento.

Os representantes colombianos es-tão assessorando o Gabinete do Alto Comissário para a Paz do Governo da Colômbia para a implementação dos acordos de paz, resultantes das negocia-ções que estão sendo conduzidas pelo Governo da Colômbia com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

De acordo com a Gerente de Coordenação do Programa BH Cidadania, Miriam Oliveira, receber

a visita da delegação da Colômbia foi muito importante para o programa. “Pudemos divulgar uma das ações ino-vadoras da Prefeitura de Belo Horizonte. A proposta é inovadora e possível de implantação em outras cidades, inclu-sive internacionais, independente do modelo de gestão que eles utilizam. Podemos dizer, de forma efetiva, que a política intersetorial é muito impor-tante. O Programa BH Cidadania, e dentro dele o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Vila Fátima, traz esse modelo de gestão, que valoriza as demandas locais por meio da parti-cipação da população nas comissões de coordenação local. É bom perceber que outros países também estão à procura de uma gestão participativa e interse-torial”, afirma.

BH, EXEMPLO DE PROCESSO PARTICIPATIVO

Economista, com especialização em gestão pública e membro da Fundação

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Ideias para a Paz, no tema ‘participa-ção cidadã’, a socióloga Laura Macrina veio conhecer a experiência de Belo Horizonte nos processos envolvendo este contexto. Já o assessor do Alto Comissionado para a Paz do Governo da Colômbia, Julian Arevalo, é res-ponsável pelos temas ‘democracia e participação cidadã para a paz terri-torial’. Durante a visita, destacou Belo Horizonte como um grande exemplo a ser seguido, principalmente no que diz respeito ao processo participati-vo e às experiências com a cidadania. Na construção da paz e término do

conflito envolvendo as Farc, espera implantar medidas e estratégias com maior envolvimento das comunidades.

A Fundação Ideias para a Paz (FIP) é um centro de pensamento in-dependente, criado em 1999, com a missão de gerar conhecimento, pro-por iniciativas, desenvolver práti-cas e acompanhar processos para a construção de uma paz estável e du-rável na Colômbia. Atualmente, a Fundação apoia o Escritório do Alto Comissionado para a Paz da Colômbia (OACP) na preparação do terreno para a efetivação dos nove acordos de paz

que derivam das negociações entre o Governo da Colômbia e a guerrilha das Farc.

Por isso, o interesse em conhecer mais a experiência de Belo Horizonte, a partir de conversas com dirigentes, funcionários, pesquisadores e comu-nidade sobre os alcances, êxitos e de-safios das experiências participativas do OP, OPD, entre outras.

Colombianos vieram a BH conhecer a experiência do

Programa BH Cidadania

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54 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

No dia em que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 25 anos, representantes da Prefeitura de Belo Horizonte, da Secretaria Municipal de Políticas Sociais, do Tribunal de Justiça e do Governo do Estado de Minas Gerais assinaram o convênio de coop-eração técnica para viabilizar a ambien-tação e a reforma do imóvel que abri-gará o Centro Integrado de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Belo Horizonte em solenidade na sede do TJMG.

O convênio, conforme salien-tou o vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros, faz parte do plano da Prefeitura em investir na Criança e no Adolescente. “Nós temos nos dedicado à criança e ao adolescente. Já somos um município livre do analfabetismo, com

96% das nossas crianças na escola. Para este convênio, a Prefeitura disponibil-izou R$934mil do Fundo da Criança e do Adolescente.”, ressaltou.

CENTRO DE DEFESA

O Centro vai integrar serviços espe-cializados, para escuta de crianças e ado-lescentes, vítimas ou testemunhas de vio-lência, nos processos judiciais, com o in-tuito de assegurar seus direitos, respeitan-do seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão das implicações de pro-cessos e medidas judiciais. O imóvel que vai abrigar o Centro está localizado na Avenida Olegário Maciel, 515, na região central da capital mineira, em prédio ce-dido pelo Banco do Brasil. Funcionará nos moldes de um centro de defesa, re-

unindo no local, a Vara Especializada de Crimes Contra a Criança e o Adolescente, sala de depoimento especial, delegacias das polícias, civil e militar, Defensoria e Ministério Público Especializados, além de serviços afins da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e do Instituto Médico Legal. Os recursos para a reforma, num total de R$ 1,86 milhão, serão repas-sados ao Judiciário pelo Estado e pelo Município.

Diversas autoridades participaram da solenidade, que contou ainda com apre-sentação da Orquestra Jovem do TJMG. Entre os componentes da mesa, estavam a Secretária Municipal de Políticas Sociais, Luzia Ferreira, a Presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Márcia Alves, o presidente da Amagis, desembargador Herbert Carneiro, o

NOS 25 ANOS DO ECAPrefeitura, Tribunal de Justiça e governo do Estado assinam convênio de cooperação

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 55

Belo Horizonte se destaca por ações e iniciativas na proteção dos direitos de crianças e adolescentes.

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vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros e o secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda.

Durante o evento, o desembargador Wagner Wilson Ferreira representou o presidente do Tribunal, desembargador Pedro Carlos Bitencourt Marcondes e salientou que os principais objetivos do Centro são amparar, por meio de inter-venções rápidas e cuidadosas, as crianças e adolescentes vítimas de qualquer tipo de violência e alcançar maiores índices de condenação de agressores. “A criança precisa ver que o agressor foi punido. Ela precisa ter essa resposta. O Centro vai amparar essa vítima de forma mais am-orosa, com todo o suporte necessário.”, disse. O desembargador afirmou ainda

que o Centro é um incentivo histórico de toda a sociedade civil organizada para viabilizar um novo e integrado sistema de justiça.

O secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, ressaltou que, passados 25 anos da aprovação do ECA, a grande dívida do Brasil ainda é com as crianças e adolescentes. Segundo ele, a criação do centro integrado é um importante passo para garantir os di-reitos básicos da população nessa faixa etária.

DIREITOS FUNDAMENTAIS

A iniciativa levou em conta o princípio da prioridade absoluta na ga-

rantia dos direitos da criança e do ado-lescente, estabelecido na Constituição Federal, e a determinação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) quanto à especialização, também pelo sistema de justiça, do atendimento da criança e do adolescente, em razão da sua peculiar condição de desenvolvimento.

Entre as competências dessa vara, es-tão conhecer e julgar as causas decorren-tes da prática de violência doméstica e familiar contra a criança e a adolescente, do gênero feminino, e os crimes pratica-dos por adultos contra a criança e o ado-lescente, independentemente de gênero, ressalvada a competência dos Juizados Especiais e do Tribunal do Júri.

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56 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

SEGURANÇA ALIMENTAR

Praticando o direito humano à alimentação adequada

O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional é algo que vai além dos con-ceitos de disponibilidade e distribuição de alimentos. Sendo assim, a Segurança Alimentar e Nutricional inclui em suas práticas noções de nutrição e alimenta-ção balanceada, dando ênfase também

à valorização dos hábitos alimentares adequados e saudáveis e a sua relação com a qualidade de vida da população, sem exceção.

Baseando-se nesse conceito a PBH através dos projetos e programas reali-zados pela Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional (Smasan) associa a Segurança Alimentar com a realização do Direto Humano à Alimentação Adequada, realçando os problemas relacionados aos hábitos ali-mentares inadequados e também ado-tando políticas que têm como propósito a garantia do acesso regular e perma-nente a alimentos de qualidade e preços

estáveis e o direito à assistência alimen-tar à população vulnerável. População esta que inclui as pessoas que vivem nas ruas da capital, ou seja, a população em situação de rua.

De acordo com o Terceiro Censo de População em Situação de Rua e Migrantes, realizado pela Prefeitura em abril de 2014, foram identificadas em Belo Horizonte 1.827 pessoas vivendo em calçadas, praças, baixios de viadu-tos, terrenos baldios ou pernoitando em instituições como os albergues, abrigos, repúblicas e instituições de apoio. Ainda segundo a pesquisa, à disposição divulga-da na página da Secretaria Municipal de

O alimento adequado garante o mínimo de dignidade ao morador em situação de rua

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 57

Alimento balanceado

também é servido em albergues e repúblicas.

Políticas Sociais do portal PBH (http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comuni-dade.do?app=politicassociais), conclui-se que a população abordada é forma-da, predominantemente, por homens (86,8%) e a idade média da amostra foi de 39,6 anos. O programa de Restaurantes Populares da Prefeitura beneficia a toda esta população viabilizando o acesso à alimentação gratuita, nutritiva, saudável e balanceada desde o ano de 2011. Basta que estes possuam cadastro junto ao Cadastro Único da PBH, o CadÚnico. Desde sua implementação, a média de refeições ser-vidas de forma gratuita aos cadastrados é de 13.000 refeições por mês, entre café da manhã, almoço e jantar. Lembrando que os beneficiários do programa do Governo Federal, Bolsa Família, pagam apenas a metade do preço em todas as refeições.

Suporte à rede de acolhimentoEm parceria com a Secretaria

Municipal de Políticas Sócias, a Smasan oferece também suporte à população ne-cessitada através de equipamentos como os albergues e abrigos, disponibilizando alimentação nutritiva e gratuita de duas formas: alimento “in natura” e alimen-tação pronta. Na maioria das vezes, as

refeições servidas nestes equipamentos vêm dos Restaurantes Populares, onde são preparadas e logo após enviadas às instituições. No entanto, algumas dessas instituições preparam seus próprios ali-mentos, sendo a Smasan a encarregada de envio dos gêneros.

Todo o trabalho de manipulação de alimentos, desde seu recebimento até o preparo das refeições, entre o cardápio e controle de estoque é monitorado pe-las supervisoras da Smasan, que além do trabalho de supervisão ensinam aos manipuladores de alimentos, através de oficinas e capacitações, técnicas de boas práticas alimentares, para que o servi-ço seja sempre de total qualidade. Esse acompanhamento é feito pelas supervi-soras de forma mensal e em todas as nove regionais de BH.

Alem dos albergues e abrigos há tam-bém repúblicas que oferecem suporte a pessoas em situação de rua e que pos-suem transtornos mentais, como a Maria Maria, que atende cerca de 40 pessoas. A Casa de Apoio Pós Alta Hospitalar oferece apoio a pessoas em situação de rua que passam por alguma internação e não podem ser colocadas novamente

na rua após a alta. Cerca de 60 pessoas são atendidas pelo local. Alem dessas, a República Viver e a Pousadinha Mineira atendem em torno de cento e vinte pesso-as. Para aqueles que já conseguiram sair da situação de rua, estão trabalhando e tem mais autonomia, mas ainda neces-sitam de apoio.

Também a recém inaugurada República Fabio Alves do Santos, pre-parada para receber quarenta e quatro pessoas, recebe suporte alimentar e nu-tricional. Em todos estes equipamentos, as refeições servidas aos usuários tam-bém são elaboradas pelas técnicas e nu-tricionistas da Smasan, que são as res-ponsáveis pelo cardápio e pelo trabalho de supervisão.

Esse trabalho intersetorial desen-volvido pela Smasan e em parceria com outras secretarias da PBH, como a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAAS), possui um objetivo principal de, no âmbito da alimentação e das políticas sociais, atingir todas as camadas da sociedade, focando espe-cialmente naquelas que mais necessitam de suporte.

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58 - PENSAR BH - Desenvolvimento Social - 2º semestre 2015

A Constituição Brasileira de 1988 garante a participação da sociedade civil no controle público da sociedade sobre as ações dos governos, possibili-tando a efetivação de espaços públicos de debate.

A conquista desses espaços torna-se importante para promover a partici-pação de atores sociais em processos de discussão, desenvolvimento e avaliação de políticas públicas. Buscando enten-der melhor esses efeitos democratizan-tes vigentes na sociedade atual, pode-se analisar a participação em três etapas, de acordo com as considerações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) (SILVA; DEBONI, 2012). A primeira eta-pa destaca a participação como um valor em si, ou seja, a atenção central da aná-lise estava nos processos participativos de institucionalização ainda incipientes e muitas vezes espontâneos da sociedade

civil, vistos como positivos em função do caráter intrinsecamente burocráti-co do Estado e de seu afastamento da sociedade.

Já a segunda etapa fundamenta-se em análises empíricas sobre o funcio-namento das Instituições Participativas (IP), consolidadas, identificando aspectos negativos no que se refere aos pressupos-tos da primeira fase, tais como predo-mínio de poder de agenda do governo em relação à sociedade civil, bem como presença de linguagem demasiadamente técnica nas reuniões e alijamento de seg-mentos. A terceira fase, ou seja, a mais recente, não ignora esses processos de consolidação das instituições participa-tivas. Busca, entretanto, objetivos mais realistas e sutis.

Neste sentido, trata-se de:

Buscar entender se e em que con-dições as IPs produzem resultados positivos, bem como quais seriam os resultados positivos legitima-

mente esperáveis das IPs em re-lação às políticas publicas, ao co-tidiano das comunidades, à cul-tura política, entre outros (SILVA; DEBONI, 2012, p. 9).

A partir do que foi exposto, é possível perceber que todas essas etapas podem ocorrer tanto em espaços de conselhos,

Ponto de Vista

PARTICIPAÇÃOSOCIAL: Reflexões contemporâneas

“Em meio a essas discussões, destaca-se o

papel político que orienta a ação de fóruns, conselhos,

colegiados, redes, na intenção de exercer o

controle social de políticas públicas, em determinado território, acompanhando

e monitorando ou até mesmo avaliando a

concretude da legislação vigente.”

por Maria Cristina Abreu Domingos Reis*

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2º semestre 2015 - Desenvolvimento Social - PENSAR BH - 59

Texto extraído e adaptado de:

REIS, Maria Cristina Abreu

Domingos: Gestão Social e a

Inclusão Produtiva: Limites e

Possibilidades da Ação do Fó-

rum Pró-Trabalho das Pessoas

com Deficiência e Reabilitadas.

Belo Horizonte, 2012, 119p. Dis-

sertação (Mestrado Profissional

em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local). Cen-

tro Universitário UNA, 2012.

“...participação é um fenômeno de ampla utilização no campo

coletivo, que possibilita conjugação de esforços

orientados para fins de serem alcançados e caracterizados para

o atendimento às necessidades sociais de

diversos grupos”

colegiados, como em diversos fóruns am-pliados de composição trissetorial de par-ticipação da sociedade civil na gestão de políticas e bens públicos.

Em se tratando dos papéis políticos e das ações de fóruns, Avritzer (2010, p. 101) afirma que a “ação política nas socieda-des contemporâneas passa a ser, cada vez mais, identificada com o uso das mídias e a capacidade dos atores sociais e polí-ticos de influenciarem a agenda política e participarem dos debates públicos que circunscrevem essas agendas”. O mesmo autor complementa esse pensamento, ex-pressando a relevância de instituições pro-pulsoras de relações mais democráticas e justas, como espaços reais de influência, inclusão e reforma (AVRITZER, 2010).

Em meio a essas discussões, destaca-se o papel político que orienta a ação de fóruns, conselhos, colegiados, redes, na intenção de exercer o controle social de políticas públicas, em determinado ter-ritório, acompanhando e monitorando

ou até mesmo avaliando a concretude da legislação vigente.

É importante ressaltar que o termo participação representa um conceito cen-tral na concepção da gestão social. Nesse âmbito, Souza (2000, p. 82) entende par-ticipação no “sentido da criação do ho-mem para o enfrentamento dos desafios sociais” e que tal perspectiva se reflete em determinada realidade com a utili-zação de mecanismos de conquistas so-ciais. Destaca, também, que participação é um fenômeno de ampla utilização no campo coletivo, que possibilita conju-gação de esforços orientados para fins a serem alcançados e caracterizados para o atendimento às necessidades sociais de diversos grupos.

Portanto, a participação torna-se um elemento preponderante em organizações tais como fóruns, conselhos, conferências, ouvidorias, orçamento participativo, que por seu caráter democrático tornam as pessoas realmente sujeitos e parte inte-grante das políticas públicas. Nesse sen-

tido, é oportuno afirmar que a prática paradigmática fundamentada na parti-cipação, parceria e interação dos sujeitos possibilita a aquisição de conhecimento , aprendizagem, estímulos e oportunida-des, substituindo ambientes segregatórios e discriminatórios marcados por práticas preconceituosas e assistencialistas.

AVRITZER, Leonardo. A dinâmica da participação local do Brasil (org.) São Paulo: Cortez, 2010. Coleção Pensando a Democracia Participativa; v. 3, 2010.

SILVA, Fábio de Sá; DEBONI, Fábio. Participação social de governança na segurança publica: possibilidades para

atuação do conselho nacional de segu-rança publica. IPEA-INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Brasília, 2012.

SOUZA, Maria Luiza de. Desenvol-vimento de comunidade e participação. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Nossa CidadeOLHAR URBANO

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BH é a capital com maior cobertura do PSF: 83% dos moradores são atendidos.

Maior Programa de Saúdeda Família do Brasil.

O projeto Arena da Cultura foi premiado pela CGLU, organização com sede em Barcelona

e presente em 127 países.

Cultura é referência emprática sustentável e inclusiva.

Reconhecimento pelo cuidado com criançase adolescentes. Entre 1.500 cidades avaliadas,

somente 9 receberam o Título de Destaque Nacional.

Cidade Amiga da CriançaFundação Abrinq.

O projeto de construção de escolas por meiode Parceria Público-Privada foi premiado

pelo Financial Times/Citi Ingenuity Awardse pela publicação Infrastructure 100.

PPP da Educação premiadapelo Financial Times.

Belo Horizonte foi apontada em 2014como a cidade com ambiente mais adequado

para crianças e adolescentes.

Atenção com criançase adolescentes - Unicef.

BH conquistou, pela 1ª vez, título concedido pelo Ministério da Educação.

Cidade Livre do Analfabetismo.

Não para de trabalhar por você.www.pbh.gov.br

O programa de Segurança Alimentar de BH foi reconhecido pela ONU como referência mundial.

Prêmio Sasakawa 2013, reconhecimentoda ONU ao conjunto de ações da Prefeitura

para reduzir riscos de desastres naturais.

BH tem o melhor Índice de Desenvolvimentoda Educação Básica do Brasil entre

capitais acima de 2 milhões de habitantes.

Melhor IDEB do Brasil entre asgrandes capitais, segundo o MEC.

Segurança Alimentar é exemplopara o mundo - ONU.

Exemplo em Defesa Civil - ONU.

Pampulha. Candidata a Patrimônio Cultural da Humanidade.

Cuidar bem da cidade e das pessoas.É assim que a gente faz a melhor capital do Brasil.

Nos últimos anos, o trabalho da Prefeitura de Belo Horizonte tem se tornado referência em políticas públicas. Várias ações foram reconhecidas mundialmente por entidades como ONU e Unicef. E as conquistas não param: recentemente, a pesquisa nacional Best Cities Index apontou BH como a melhor capital do Brasil. Esse é o resultado de um trabalho feito a várias mãos: Prefeitura, parceiros e toda a população.

Page 65: Revista Pensar 2015

Educação em BH

130 UMEIsaté dezembro

Já são maisde 100 UMEIsfuncionando.

ATÉ 5 REFEIÇÕES POR DIA.

Merenda de qualidade comcardápio balanceado e nutritivo.

INFRAESTRUTURA DE ALTO NÍVEL.

Pensada especialmente para receber crianças de 0 a 6 anos.

A PREFEITURA ESTÁ FAZENDO A MAIOR TRANSFORMAÇÃO DA NOSSA HISTÓRIA.

EDUCADORES QUALIFICADOS.

Projeto pedagógico modernoe humano.

CUIDADO, CARINHO E ATENÇÃO.

Desenvolvendo as criançasde forma integral.

AJUDE A CUIDAR DAQUILOQUE CONQUISTAMOS.

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NÃO PARA DE TRABALHAR POR VOCÊ.

O trabalho da Prefeitura não para. Em todo canto,tem uma obra sendo entregue. Grandes intervenções viárias, novas UPAs, um novo hospital, novas UMEIs e centenas de outras obras. Um investimento de mais de 7 bilhões de reais que está transformando a cidade e a vida das pessoas.

Page 66: Revista Pensar 2015

www.pbh.gov.br