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6. RIOPREVIDÊNCIA O Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro Rioprevidência é uma autarquia vinculada à Secretaria de Administração e Reestruturação – SARE. É dotada de personalidade jurídica de direito público, patrimônio e receitas próprias e gestão administrativa, técnica, patrimonial e financeira descentralizada. Foi instituído através da Lei Estadual nº. 3.189, de 22 de fevereiro de 1999 e regulamentado pelo Decreto 25.217, de 17 de março de 1999, com o propósito de desonerar o Tesouro Estadual das obrigações previdenciárias dos três Poderes do Estado, suas autarquias, fundações e órgãos autônomos (Ministério Público e Tribunal de Contas), com planos de benefícios baseados no caráter contributivo e no equilíbrio financeiro e atuarial. No período compreendido desde a data de sua criação até 31/12/2002, teve as seguintes composições em suas Presidências e nos seus Conselhos de Administração e Fiscal: DIRETOR PRESIDENTE FLAVIO MARTINS RODRIGUES (24/03/99 a 27/02/2002) HUGO LEAL MELO DA SILVA (01/03/02/ a 06/04/02 – Interino) THEREZINHA DE JESUS B. FREITAS (07/04/02 a 14/05/02 – Interina) RUY DE MESQUITA BELLO (15/05/02 a 01/01/03) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ANO 2000 HUGO LEAL MELO DA SILVA AUGUSTO JOSÉ ARISTON FERNANDO LOPES DE ALMEIDA FRANCESCO CONTE 1

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6. RIOPREVIDÊNCIA

O Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro Rioprevidência é uma autarquia vinculada à Secretaria de Administração e Reestruturação – SARE. É dotada de personalidade jurídica de direito público, patrimônio e receitas próprias e gestão administrativa, técnica, patrimonial e financeira descentralizada.

Foi instituído através da Lei Estadual nº. 3.189, de 22 de fevereiro de 1999 e regulamentado pelo Decreto 25.217, de 17 de março de 1999, com o propósito de desonerar o Tesouro Estadual das obrigações previdenciárias dos três Poderes do Estado, suas autarquias, fundações e órgãos autônomos (Ministério Público e Tribunal de Contas), com planos de benefícios baseados no caráter contributivo e no equilíbrio financeiro e atuarial.

No período compreendido desde a data de sua criação até 31/12/2002, teve as seguintes composições em suas Presidências e nos seus Conselhos de Administração e Fiscal:

DIRETOR PRESIDENTE

FLAVIO MARTINS RODRIGUES (24/03/99 a 27/02/2002)HUGO LEAL MELO DA SILVA (01/03/02/ a 06/04/02 – Interino)THEREZINHA DE JESUS B. FREITAS (07/04/02 a 14/05/02 – Interina)RUY DE MESQUITA BELLO (15/05/02 a 01/01/03)

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

ANO 2000 HUGO LEAL MELO DA SILVAAUGUSTO JOSÉ ARISTONFERNANDO LOPES DE ALMEIDAFRANCESCO CONTEMARCELO DE MENEZES BUSTAMANTIFLAVIO MARTINS RODRIGUESANTONIO SALDANHA PALHEIROSILVIO JOSÉ CASTELHÕES MASONNETEJOSÉ TAVORACESAR DRUCKERZULCLEIA MARTINS CORGO FERREIRAFRANCISCA RODRIGUES TALARICOROBERTO FERREIRA CAMPOSISMENIA FRAGA MATTOS

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ANO 2001

HUGO LEAL MELO DA SILVAAUGUSTO JOSÉ ARISTONFERNANDO LOPES DE ALMEIDAFRANCESCO CONTEMARCELO DE MENEZES BUSTAMANTIFLAVIO MARTINS RODRIGUESFERNANDO MARQUES DE CAMPOS CABRALSILVIO JOSÉ CASTELHÕES MASONNETEJOSÉ TAVORACESAR DRUCKERZULCLEIA MARTINS CORGO FERREIRAFRANCISCA RODRIGUES TALARICOROBERTO FERREIRA CAMPOSISMENIA FRAGA MATTOS

ANO 2002

HUGO LEAL MELO DA SILVA (até 06 de abril de 2002)ROMULO DANTE ORRICO FILHO (abril a dezembro de 2002)LUCIO DA SILVA SANTOSNELSON MONTEIRO DA ROCHAGERALDO ARRUDA FIGUEIREDOMARCELOS DE MENEZES BUSTAMANTIRUY DE MESQUITA BELLOANDRE GUSTAVO CORREA DE ANDRADEKLEBER COUTO PINTOJOSÉ TAVORACESAR DRUCKERZULCLEIA MARTINS CORGO FERREIRAFRANCISCA RODRIGUES TALARICOISMENIA FRAGA MATTOS

CONSELHO FISCAL

ANOS 2000 / 2001 / 2002

JOÃO BOSCO TOLEDO SIMÕESALEXANDRE MONTEIRO DE OLIVEIRAJAYME TOBIAS STEICHEL

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SUPLENTES

VALDINO DE AZEVEDONORLEIDE DOS SANTOS LIMASALVADOR FERNANDES

1- PRELIMINARES

O Tribunal de Contas do Estado em sua inspeção ordinária, efetuada através do processo nº. 102.980-7/03, constatou que o Rioprevidência, através do Diretor Presidente, Ruy de Mesquita Bello, e do Diretor de Investimentos, Mauro Eduardo Agostinho Michelsen, - em operações de compra e venda de títulos públicos da União -, gerou prejuízos superiores a R$ 25.528.786,24. As operações, realizadas no mercado secundário entre 26 de julho e 30 de dezembro de 2002, foram feitas por intermédio das corretoras Turfa, CQJR e Quantia.

Como resultado, as transações geraram graves perdas ao erário. Verificou-se, também, que não foi adotado procedimento licitatório para a contratação dos serviços realizados pelas corretoras DTVMs, Turfa, CQRJ e Quantia. Constatou-se, inclusive, que Eric Belo, filho do presidente da instituição, era sócio da Turfa.

O fato foi amplamente divulgado pela imprensa e denunciado em plenário pelo Deputado Estadual Alessandro Calazans.

2- MELHORES MOMENTOS DOS DEPOIMENTOS

O primeiro depoente a comparecer à sala das Comissões para participar, na condição de testemunha, da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura as irregularidades praticadas no Rio Previdência foi Geraldo Luiz Ferraz da Costa, no dia 11 de março de 2004. Funcionário do Banerj, Geraldo da Costa informou, preliminarmente, que exercia o cargo de Gerente de plataforma poder público, responsável pelas contas institucionais do Estado do Rio de Janeiro.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O senhor conhece o Sr. Ruy Bello Mesquita, Mauro Eduardo A. Michelsen e as corretoras e o representante da Corretora Turfa, CQJR e Quantia?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não, apenas o Sr. Ruy, que era, na ocasião, Presidente do Rioprevidência. O Sr. Mauro Michelsen que era consultor de investimento. Dos corretores não conheço ninguém.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual era o tipo de relacionamento? Como era...O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Comercial. Visitas, quando eles assumiram em

maio de 2002. Na minha função esse relacionamento comercial do Banco BANERJ com a empresa, eu visitava, mostrava os serviços que o banco tinha, ou seja, criar uma relação comercial para atender às demandas do Estado, no caso, o Rioprevidência.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Dentre as suas funções estaria estabelecido, também, a orientação sobre aplicações negativas... de transações?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não, não.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – A CPI tem um documento que data do dia 27 de

junho de 2002 que é um ofício de V.Sa. ao Rioprevidência e diz o seguinte: “Prezado senhor, conforme ofício solicitando a compra de títulos abaixo discriminada LFD, código COB 210100, vencimento 14.06.2006, preço unitário de 1.328,580111, quantidade 4000, origem Turfa VPVM/SA, financeiro total R$ 5.314.240,00. Informamos que nossos controles internos detectaram que a operação está acima da taxa

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média praticada pelo mercado na compra e venda deste título. A fim de salvaguardar os interesses de sua instituição, solicito confirmar a autorização para liquidar a operação retromencionada. Atenciosamente.” Assinado por V.Sa. Você lembra desse documento?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Lembro. O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Foi só esse que foi feito ou foram outros?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não, só foi esse. Foi a primeira operação. Foi

feita em 27 de junho, aí fizemos esse alerta do Dr. Mauro.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Esse alerta se baseou em quê? Poderia

aprofundar a discussão no sentido da necessidade de V.Sa. fazer um ofício do BANERJ, encaminhando a uma Instituição do Estado, alertando àquela instituição que estaria fazendo uma transação fora dos padrões de mercado? Poderia aprofundar a discussão? O que motivou V.Sa. a fazer esse ofício?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Na verdade, a minha função – como falei anteriormente – era só gerenciar. Foi-me encaminhado um ofício pedindo a compra desses papéis. Encaminhei para a mesa de operações do banco, em São Paulo, que é do ITAÚ, e a mesa de operações me retornou dizendo que o PU, preço do papel, estava acima do mercado. Fui orientado, então, se caso o Diretor de Investimentos do Rioprevidência quisesse fazer a operação que nós formalizássemos, então, dando realmente a situação, salvaguardando os interesses porque naquele momento o preço encontrava-se acima do mercado.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – V.Sa. lembra se estava muito acima do mercado, algo normal? Dentro das transações do mercado financeiro o que estava acima estava dentro de um padrão de erro, por exemplo?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não. Estava acima, tanto é que a mesa colocou isso. Então, naquele momento, não sei qual era a estratégia de investimentos do diretor, mas naquele momento, naquela compra, a mesa lá – porque é a mesa que acompanhava, eu não acompanho essas oscilações do valor diário desses papéis – naquele momento, disse que se encontrava acima da taxa média do mercado.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Tiveram várias outras transações de compra e venda de títulos semelhantes do Rioprevidência nesse período. Como V.Sa. classifica as outras transações que chegaram ao conhecimento de V.Sa.?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – A partir do momento que ele confirmou a primeira operação, as outras encaminhava os ofícios, devidamente assinados, encaminhados para mim, e eu era o canal. Repassava para São Paulo e São Paulo executava a ordem determinada pelo Rioprevidência.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Diz aqui, no despacho do Sr. Mauro Michelsen, o seguinte: “Prezado senhor, agradecemos uma vez mais a informação e confirmamos a orientação quanto à realização da operação.” Assina e carimba. “Agradecemos uma vez mais” isso significa que ele não foi alertado uma única vez. Foi alertado a ele outras vezes, em outras situações que estavam fazendo negociações fora do padrão de mercado?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Ah, sim, “uma vez mais” estou entendendo porque a partir de que tive a informação da mesa de operações do banco que estava acima, eu liguei para o Dr. Mauro avisando que a mesa tinha encontrado a taxa e aí depois retornei falando: olha, pela informação da mesa, nós só vamos realmente executar essa operação a partir de uma formalização. Então, acho que ele colocou “mais uma vez” por causa disso. Eu já tinha entrado em contato pelo telefone dizendo a mesa de operações tinha encontrado essa taxa acima de mercado.

O depoente informou que o Banerj se cercou de cuidados antes de autorizar a transação:O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Normalmente, isso aqui vira um processo dentro

do Rioprevidência. Era uma prática autorizar compra e venda desses títulos dessa forma: um despacho do próprio punho, no próprio ofício que veio do Banerj? Esse tipo de encaminhamento é uma prática com uma transação no valor de R$ 5.314.240,00, uma autorização de próprio punho aqui?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Tem anterior a esse... Na verdade eu que fiz o ofício, alertando. Anteriormente veio um ofício, assinado pelas duas pessoas – a gente quando assume um órgão do Estado, a gente pega os cartões de assinaturas, vê a publicidade do ato no Diário Oficial. Temos toda essa documentação no banco. O Dr. Ruy Bello, Dr. Mauro, tinha, também, o Dr. Ronaldo, que era o Diretor Financeiro, se não me engano. Eram as pessoas autorizadas a fazer a movimentação financeira do Estado. Então, foi feita a assinatura pelas duas pessoas.

O SR. LUIZ PAULO – Sr. Geraldo, para eu entender o fluxograma, os dois nomes credenciados a oficiar ao BANERJ-ITAÚ qualquer compra ou venda de LFT’s, NTN’s etc. era o Sr. Ruy, Presidente, e o Sr. Mauro Michelsen, os senhores tiram as firmas deles etc. o Diretor-Presidente e o Diretor de Investimentos. Eram os únicos dois credenciados?

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O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Para aquela operação foram só os dois que assinaram, mas também tinha o Dr. Ronaldo, que era um outro diretor, também, tem lá nos nossos arquivos, que era, também, autorizado.

O SR. LUIZ PAULO – Tinha um terceiro, mas só os dois que ordenaram as compras e vendas. Bom, aí eles davam o ofício determinando a operação. Eles fixavam o valor do título que eles gostariam de comprar ou vender?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Já vinha a operação pronta.O SR. LUIZ PAULO – A operação vinha pronta com as cotações?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Com as cotações.

Geraldo da Costa esclareceu que o banco só tinha a custódia dos títulos:

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Então, o banco só fazia o registro do título e a liquidação. Fazia o débito na conta, quando ele comprava, e creditava, quando ele vendia.

O SR. LUIZ PAULO – Está escrito aqui na documentação que o senhor só tinha a custódia, mas no ofício dele para o banco já dava o valor de venda, quando era para vender, e já definia o valor de compra, quando era para comprar.

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Isso.O SR. LUIZ PAULO – Aí o senhor pegava esse ofício e mandava para mesa de São Paulo?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Isso.O SR. LUIZ PAULO – A mesa de São Paulo fazia o quê?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – A mesa de São Paulo fazia o registro da

operação.O SR. LUIZ PAULO – Então, já mandavam para a mesa a operação feita?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – É.O SR. LUIZ PAULO – Isso tem que ficar claro. Então, a operação já vinha feita pelas

corretoras, esse que é o fluxo. Então, a primeira relação deles era com a corretora, uma das três. Então, ele dava ordem à corretora; a corretora ia ao mercado, comprava ou vendia depois ele fazia só a comunicação da operação.

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – O registro.O SR. LUIZ PAULO – Só comunicar a operação. O senhor como estava com a custódia, se foi

uma operação de compra, o senhor ampliava o volume de títulos que o senhor tinha e, se fosse liquidação, o senhor dava baixa naquela série. Então, na verdade, o seu ofício foi ofício de alerta numa operação já realizada?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não diria realizada, já acordada anteriormente. Acordada e que foi executada no sistema que a gente chama de SELIC.

Neste ponto do depoimento, o Gerente do Banerj explica como é realizada uma operação de compra e venda de títulos:

O SR. LUIZ PAULO – Pois bem, no sistema SELIC a ordem sai da mesa do ITAÚ, em São Paulo, ou sai da corretora?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – São duas contas. Então, o sistema lá registra. Por exemplo, o Rioprevidência não tinha esse acesso, então, como ele é cliente nosso, o banco, através da mesa, registrava a operação. Comprou o título, registrava a compra e fazia a liquidação na conta corrente e transferia o recurso para a corretora.

O SR. LUIZ PAULO – Mas quem buscava o título no mercado na compra, quem buscava o comprador na venda era a corretora, não eram os senhores?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Ah, sim, a corretora. Exatamente.

Geraldo da Costa admitiu que não se surpreendeu com a ordem dada pelo Rioprevidência para efetuar uma transação com aparente prejuízo:

O SR. LUIZ PAULO – Só para ficar claro. Essa foi uma das primeiras operações, o senhor se surpreendeu por um cliente seu ter proposto uma operação em que o senhor diz que ele vai perder dinheiro e ele diz assim: mesmo assim eu quero fazer a operação. Isso é usual? O senhor ficou surpreso? Como é que o senhor viu a resposta a seu ofício?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Na verdade, eu não conhecia a estratégia do cliente, então, não poderia afirma isso. Na verdade, simplesmente comuniquei o que me foi passado pela

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área técnica, da mesa de operações, dizendo do mercado e fiz a formalização. Surpresa? A gente não sabe a estratégia que foi utilizada pela área do Rioprevidência.

Neste ponto, o depoente fala das outras operações efetuadas pelo Rioprevidência:

O SR. LUIZ PAULO – Bom, abstraindo-se, agora, dessa operação, que outras operações o senhor tem lembrança que a sua custódia liquidou, feita pelo Rioprevidência, em qualquer época? Por exemplo, operações com debêntures, operações com CDBs. Estamos nos abstraindo dessas aqui, das LFT’s e das NTN’s. Estou perguntando que outras operações, como CDB’s ou debêntures, o senhor, lá na sua custódia, tenha operado, tenha tido notícia.

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Investimentos assim, o Rioprevidência, desde que foi criado, nós temos um fundo lá, é um fundo, conta-corrente, normalmente, que a chama de Fundo Governador PP, que é um fundo exclusivo para os órgãos do Estado. Então, a gente tem um fundo lá, que é uma taxa especial, que é só para os órgãos do Estado. Então, nesse fundo, todos os órgãos do Estado praticamente aplicam, que é uma taxa que dá 100%, que o referencial do sistema financeiro, o CDI, 100% de CDI, quer dizer, exclusivo pelo volume do que o Estado opera. E teve, na época, também, uma operação, que foram as ELET’s, que foram vendidas, também.

O SR. LUIZ PAULO – Essa operação das debêntures da Eletrobrás, foram as debêntures da Eletrobrás que o senhor está chamando de ELET’s, foi uma operação na ordem de 379 milhões de reais. Vocês deram à corretora ou tinha uma corretora intermediária para essas operações?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não, esses títulos aí estavam custodiados e foram colocado a leilão. Então, eles foram registrados, aí foi no SETIP, que é a Central de Títulos Privados. O SELIC é público. Então, ele foi colocado lá com oferta de venda e aparecia. Aí, na verdade, foi leilão. Não houve uma corretora. O banco só, também, entrou com os registros no sistema.

O SR. LUIZ PAULO – Então, foi leilão público desses títulos e esses títulos foram liquidados, foram à venda pelas melhores ofertas no leilão, sem uma corretora intermediária.

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Foi colocado, lá, no sistema, não é como naquele caso anterior... Que já havia um ofício. Aí, na verdade, foi pedido para o banco, através de um ofício, para colocar no sistema SETIP. Aí, foi colocado lá e lá aparecia: proposta, menor, é como se fosse um leilão, mesmo.

O gerente do Banerj afirmou que a operação podia ser desfeita para evitar que o contribuinte fosse lesado:

O SR. PAULO RAMOS – No momento em que houve o alerta, era possível ao Rioprevidência não realizar a operação?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Sim, a partir do momento...O SR. PAULO RAMOS – É isto. Eu não quis interromper o Deputado Luiz Paulo, porque

V.Exa. perguntou de uma maneira que não deixou esse aspecto devidamente esclarecido. Então, eu pergunto com essa objetividade: no momento em que São Paulo informou que a operação poderia ser lesiva ao cliente, porque claro, a responsabilidade de quem tem os títulos é alertar. Quer dizer, é esse o papel, mesmo. Não é? Então, no momento em que alertou, poderia não ter sido realizada a operação?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – É, foi feito depois da informação.O SR. PAULO RAMOS – Em alguma outra oportunidade houve o mesmo alerta em relação à

venda de títulos?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não, aí, depois dessa primeira, acabou se

tornando... Operações.

O depoente informou que o Banerj não tem conhecimento de quem comprou os títulos do Rioprevidência ou de quem o Rioprevidência adquiriu os títulos. Esse controle, disse, é feito pelo Banco Central. Geraldo da Costa lembrou que no caso de um ente público comprar acima do preço praticado pelo mercado, a mesa do banco também informa ao cliente da variação:

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Sim, quando os controles internos verificam alguma coisa que não está dentro do mercado, eu acho que a função, também, é salvaguardar. Acredito que sim, a mesa também deve informar.

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O SR. PAULO RAMOS – (...) O banco, quando tem essa responsabilidade com as contas públicas, ele também tem uma responsabilidade compartilhada com a sociedade. Até porque, orientar mal o cliente ou até não insistir e permitir que um cliente aplique mal, quer dizer, representa, também, um ponto negativo para a instituição. Então, o que me preocupa é que alertou e não houve uma certa insistência. Então, deixa tudo, já que... Alertamos uma vez, veio a ordem: cumpro! É assim que funciona rotineiramente?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Quem tem a estratégia é o cliente, não saberia... Porque, na ocasião até, quando a mesa colocou, passou: o cliente determina executarmos alguma coisa. Ele é o responsável pelos recursos. Então, o banco poderia até... ação de perdas e danos, porque o banco não queria... Então a gente não conhecia a estratégia deles. Nós fizemos o que detectamos naquele momento. Naquele momento a taxa estava sendo a preço de mercado. E foi feito isso. Agora, depois, realmente, o responsável... O banco não tinha como... É como um cheque, não posso dizer que não vou pagar um cheque. Não tem como.

Neste momento, o Deputado Paulo Ramos questiona uma outra operação comandada pelo Rioprevidência:

O SR. PAULO RAMOS – E no caso das debêntures da Eletrobrás, que também foi uma operação que representava um volume muito grande de recursos. Os títulos não estavam custodiados na sua instituição?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Estavam.O SR. PAULO RAMOS – Foi também, na época, mesmo que não tenha sido documentado,

mesmo que não tenha havido o mesmo alerta, porque não cabia, era operação diferente, como é que isso foi sentido no banco?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Foi colocado num leilão. Então foi colocado, lá, um determinado preço para a venda das Elet’s e apareciam ofertas. E a operação é liquidada, quando se chega a um acordo, tanto nas duas pontas.

O SR. PAULO RAMOS – E o preço, o senhor tomou conhecimento de que estava dentro de um padrão de normalidade?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não tomei conhecimento não, Deputado Paulo Ramos. Porque ficou registrado no sistema. Aí entra no sistema, coloca lá o valor da operação e vai-se chegando a um...

Neste momento, o Deputado Noel de Carvalho questiona a lisura das duas operações já tratadas no depoimento:

O SR NOEL DE CARVALHO - O cliente mandar para o banco custodiante um ofício dizendo: eu quero comprar o título tal, quero pagar o valor tal e quero comprar através da corretora tal. Ou o mais adequado seria fazer isso que o senhor disse que foi feito com relação aos títulos da Eletrobrás, de pedir ao seu banco, o cliente pede ao seu banco, que coloque no leilão e que seu banco conte para que seja obtido melhor preço, as melhores condições, etc. Que análise o senhor faria sobre esse fator? Eu não sou especialista e seria muito útil que nós todos compreendêssemos esse aspecto. É normal que o cliente faça isso ou o mais normal é que o cliente peça assessoria do especialista que são os senhores?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – As duas operações diferentes que nós fizemos foram essas das ELET’s, que também não é minha especialidade, não estou na mesa de operações. Das contas que temos lá, de todo o Executivo, o Judiciário e o Legislativo, também, foi a primeira vez que foi essa compra de títulos, essas a ELET’s.

Então, na verdade, foram só essas duas operações. Então, a questão de... acho que quando o banco colocou ali, foi exatamente isso, a mesa de operação detectou que estava maior, que o preço estava maior. Não sei se fui objetivo na minha resposta.

O SR. NOEL DE CARVALHO – Estava superfaturado.O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não sei qual foi a diferença que PU aí, mas

para o banco dá o alerta, o banco quis resguardar o cliente.O SR. NOEL DE CARVALHO – Agora, no caso dos títulos da Eletrobrás, o Rioprevidência

também determinou preço ou o Rioprevidência pediu ao banco que colocasse em leilão?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não. Determinou que colocasse em leilão. A

gente chama de PU. Então, cada papel tem um valor...O SR. NOEL DE CARVALHO – PU deve ser preço unitário.

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O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – É, preço unitário. Aí vai chegando. Então, ele colocou, acho, pelo PU, não me lembro, aquele PU lá, o máximo e tudo, tem que colocar, lá, a oferta de venda. No caso do Rioprevidência foi colocado o preço de venda. E ficou aguardando uma oferta de compra, de uma outra conta.

Mais uma vez questionado pelo Deputado Noel de Carvalho, o Gerente do Banerj revelou que a operação determinada pelo Rioprevidência foi única. Nunca, afirmou ele, tivera conhecimento de uma solicitação como aquela:

O SR. NOEL DE CARVALHO – O seguinte: é comum o senhor receber de seus clientes pedidos de contas, ofícios como compra e venda de títulos com essa amarração toda, ou seja indicando a corretora, isso é comum?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Foi a primeira...O SR. NOEL DE CARVALHO – Foi a primeira e a última. Não houve outro caso?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não houve nenhum outro caso. Essas

operações foram... Como tinha colocado anteriormente, o Estado geralmente aplica, tem um fundo no Banco BANERJ, feito em conjunto com a Secretaria, hoje, de Finanças...

O SR. NOEL DE CARVALHO – Esse fundo... É o Governador PP porque, na verdade, tira o dinheiro da conta corrente, aplica e dá o rendimento para o Estado.

O SR. NOEL DE CARVALHO – Essas operações ocorridas nesse período elas foram as primeiras, não ocorreram antes e não ocorreram depois? Só ocorreram nesse período, definindo a corretora, dizendo o valor que queria pagar e, inclusive, não aceitando em hipótese nenhuma o alerta, vamos dizer, a assessoria técnica do Banco custodiante.

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Foram muitas, tantas, operações dessa forma, um ofício encaminhando pelo Presidente, diretor de investimento. Foram só essas trinta. Nunca fiz nenhuma operação diferente disso.

O SR. NOEL CARVALHO - Com cliente nenhum?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Com cliente nenhum.O SR. NOEL CARVALHO - Ou seja, não sei se o senhor poderia usar essa palavra, mas eu

posso, é então um absurdo que um cliente se comporte dessa forma, porque o mais natural seria levar em conta a assessoria de um especialista, se o interesse fosse realmente defender aquela...

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – o Banco não conhecia a estratégia.O SR. NOEL CARVALHO - A estratégia.O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – É claro. A gente também não conhece a outra

ponta. Naquele momento a gente não sabe qual era a estratégia.O SR. NOEL CARVALHO - Aliás, nenhum de nós aqui imagina qual era a estratégia do

Presidente do Rioprevidência, nessa época. Havia uma estratégia, mas não sabemos ainda qual é. O SR. NOEL DE CARVALHO - O senhor Geraldo afirmou aqui, diante desta CPI, que as

únicas operações que vieram com um ofício determinando o valor, o código do título, o valor que queria pagar e a corretora através de cuja corretora o Rioprevidência queria comprar, que as únicas operações com essas características foram essas 30 operações que aconteceram entre o dia 27 de junho e o final do Governo da Governadora Benedita. O senhor fez essa afirmação aqui. É verdadeira? Nenhuma outra operação se pareceu com essa?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Exatamente igual a essa...O SR. NOEL DE CARVALHO - Nenhuma?O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Nenhuma.

O depoente reiterou que fez uma alerta sobre a operação pedida pelo Rioprevidência apenas uma vez. Nas subseqüentes, os pedidos foram tratados como rotineiros, dada a velocidade do mercado:

O SR. ANDRÉ CORRÊA – Foi dito aqui que foi feita apenas uma alerta formal nessas trinta, apenas um alerta, mas nas outras 29, qual a avaliação, apesar de não ter tido nenhuma formalização de alerta, qual é a avaliação do banco em relação a essas outras 29? Mereceriam alertas também? Ou não? Ou que informações o senhor poderia nos acrescentar a respeito dessas outras 29?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Senhor Deputado, a prática, na verdade, é... Essa foi a primeira operação que eu passei para a área específica do banco, lá, em São Paulo, e as outras... Aí como já foi autorizada a primeira, o que aconteceu? Até pela agilidade, a pessoa passava pela ação, né? Aí teria que questionar uma por uma, e a atividade nossa nem sempre, às vezes, nos permite essa condição. Entendeu? Então, aí, quer dizer, a estratégia a gente não conhecia. A estratégia, tá, então...

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Naquele momento, a estratégia que foi feita lá para aquela compra, comprava, vendia, aí verificávamos os ofícios, chegando para mim, em meu nome, eu repassava para São Paulo.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Essa avaliação foi também sintonizada como nesse sentido aqui? E, no caso, não formalizaram, tendo em vista que já tinham essa formalização, seria mais prático para o banco pagar logo e não ter esse problema. Mas, a avaliação que foi feita por São Paulo, foi uma avaliação também que esses títulos estavam dissintonizados com os preços de mercado?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Aí eu acho que a mesa não entrou nesse grau de... simplesmente executou a ordem, entendeu?, emanada.

Neste ponto do depoimento, Geraldo da Costa revelou que recebia as ordens de compra e venda de papeis de apenas uma pessoa do Rioprevidência:

O SR. NOEL DE CARVALHO - Eu queria completar, Presidente, se o senhor me permite, dizendo o seguinte: acho que a imprensa é o mais importante instrumento de defesa de uma democracia. Nada é mais importante: nem as forças armadas, nada. A imprensa noticiou que o último dia do Governo da Governadora Benedita, dia 30 de dezembro, último dia útil, o Rioprevidência comprou cerca 20 milhões de títulos pelo valor de 1.974, o chamando PU, preço unitário. E que, na verdade, tinha sido vendido naquele mesmo dia no mercado por 962 reais, ou seja, mais do que o dobro do preço. E, também, definiu – o Presidente do Rioprevidência - que queria pagar aquele valor, que seria mais do que o dobro do valor de mercado do dia, definiu qual era a corretora e que fazia parte da estratégia do presidente comprar, através de uma corretora, cujo maior acionista era seu próprio filho. Isso tudo como parte de uma estratégia que é exclusiva do cliente. A pergunta que eu queria fazer-lhe, Sr. Geraldo, é a seguinte: nesse dia, o senhor não sabe ou o senhor sabe que a mesa de operações do banco em São Paulo sentia pelo menos vontade de alertar o seu cliente de que estaria fazendo um mau negócio comprando por mais do que o dobro do valor do preço um título e através de uma corretora previamente determinada. Ou seja, se tivesse pelo menos mandado colocar em leilão ou a corretora tivesse definido o código ou o título, o preço que queria pagar e, por coincidência, essa corretora era do filho do presidente, e, por coincidência, o valor que ele queria pagar era mais do que o dobro do valor do preço praticado naquele dia no mercado. O senhor, como banco custodiante, não alertou-o porque já tinha desanimado, porque o alertou uma vez e não valeu de nada, mas sentiu vontade pelo menos. O senhor tem notícia de que a mesa teria sentido vontade de fazer esse alerta?

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – As operações já estavam sendo feitas. Na verdade, essa operação 30 de dezembro, chegou para mim até depois porque eu estava na hora do almoço, Dr. Mauro tinha inclusive o meu celular, me ligava dizendo: “Passei a operação para lá” e sempre tinha um colega que me ajudava a passar um fax para São Paulo. Então, é bem verdade que foi executado conforme solicitação do cliente.

O SR. ANDRÉ CORRÊA – O Rioprevidência está vinculado à Secretaria de Administração, essas ordens de compra e de venda de títulos, o senhor tratava, ou seja, a palavra final... O processo de iniciava, pelo que pude depreender, do Sr. Mauro, que ligava para o seu celular, enfim, e dava as ordens e tal. Duas perguntas: o presidente também fazia esse tipo de...

O SR. GERALDO LUIZ FERRAZ DA COSTA – Não, não. O meu contato sempre foi com o Dr. Mauro. Conheci Dr. Ruy só uma vez no Iperj, num evento que nós fizemos no Iperj, eu o conheci. Logo ele assumiu o Rioprevidência, então, depois não tive mais contato com o Dr. Ruy. É só o Dr. Mauro. Meu contato era o Dr. Mauro.

O depoimento seguinte foi o de João Luiz Ferreira Carneiro, Sócio-Diretor da Turfa, em 16 de março de 2004. Ele disse que o trabalho dele estava voltado para o mercado de renda variável. Ele afirmou que não atuou na área do mercado de renda fixa, que era administrada pelo sócio Jorge Chrispin. O Diretor da Turfa disse que atuava na área de renda variável e suporte operacional, “que é depois de toda a operação efetuada acompanhá-la até o fechamento on-line pelo sistema”. Segundo ele, a Turfa começou a operar em nos meses de abril e maio de 2002 e nas operações feitas com o Rioprevidência, lucrou 720 mil reais:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qualquer transação que ocorresse dentro da empresa V.Sa. é co-responsável?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Com certeza.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Então, V.Sa., também, teria que ter o

conhecimento de todas as transações que pudessem estar ocorrendo dentro da empresa onde V.Sa. é sócio?

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O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Positivo. Tecnicamente, é que fica um pouco fora da minha...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – V.Sa. poderia dizer quais eram os sócios, na época da constituição, e quais são os sócios no dia de hoje? Houve alguma alteração?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Houve alteração. A constituição, a abertura da empresa foi com o Eric David Bello, não era sócio-gerente. Não tinha nenhuma gerência sobre a empresa, era investidor, sócio-investidor. No caso era eu - João Luiz Vieira Carneiro, o Sérgio de Moura Soeiro e Jorge Luiz Gomes Chrispin. Então, a abertura foram quatro sócios. Sendo que um, Eric David Bello ele não tinha nenhuma gerência sobre a empresa era sócio investidor.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Essa composição continua até o dia de hoje?O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não. O Eric já não faz mais parte da sociedade.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Mas fazia há época das transações que estão

sendo averiguadas pelo Tribunal de Contas e por esta CPI?O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Com certeza, fazia parte.

Logo no início, o depoente deu sua opinião sobre o relatório do Tribunal de Contas do Estado, sobre as transações que foram efetuadas no período de maio de 2002 a dezembro de 2002, intermediado pela Turfa:

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – O meu parecer... Eles se basearam em alguns dados que tecnicamente não foram muito bem elaborados. Isso pode até explicar melhor – volto a falar – com relação a Jorge Luiz Gomes Chrispin porque é da área dele específica. No meu parecer, com a experiência que tenho de mercado, apesar da renda variável também trabalho um pouco com a renda fixa, não houve, em nenhum momento, nenhuma discrepância, distorção de preços, alguma coisa dessa natureza. Se basearam foi em precificação de valores e quem pode explicar melhor– volto a falar de novo – é o Jorge.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – V.Sa. como sócio da empresa deve ter tomado conhecimento, também, do ofício datado de 27 de junho de 2002, encaminhado ao Rioprevidência pelo Sr. Geraldo Luiz Ferraz da Costa, Gerente do Banerj e responsável pela liquidação das transações feitas pelo Rioprevidência, alertando o seguinte: “informamos ...” fala da transação, fala do título que estaria sendo vendido naquele momento, fala do vencimento, fala da quantidade, fala do valor e que a corretora que iria intermediar essa transação seria a Turfa. Logo abaixo vem dizendo o seguinte: “informamos que em nossos controles internos detectaram que essa operação está acima da taxa média praticada pelo mercado na compra e venda deste título. A fim de salvaguardar os interesses de sua instituição solicito confirmar autorização para liquidar a operação retromencionada.” V.Sa. tomou conhecimento desse alerta feito pelo Rioprevidência, ou melhor, pelo Banerj ao Rioprevidência?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Se tivesse tomado conhecimento desse alerta feito

pelo Banerj, detectando que, ao contrário do que V. S.ª está dizendo, que a transação teria sido feita dentro dos valores de mercado - está aqui um documento dentro do processo... Se V. S.ª, como um dos sócios da empresa, tivesse tomado conhecimento disso, o que V. S.ª faria?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Eu, com certeza, não deixaria a operação... Se o próprio Banerj estivesse bloqueando a operação, não ia executar, até porque ele na função de banco custodiante e ele vir, interferir nessa operação... Isso não cabe a gente avaliar, porque isso aí seria para o Rioprevidência. Quando se bate a operação já fechada, a partir do momento, aí para a frente, você não vê o outro lado, do comprador e do vendedor. Eu estou vendo a operação em si, comigo. Eu não fico vendo o outro lado. Eu fecho a operação.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Mesmo que essa operação possa trazer prejuízo aos cofres públicos?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Em nenhum momento, ele jamais entraria para falar comigo a respeito disso. Olha, eu não estou concordando com esse preço. Quando chega ao ponto do Banerj, é porque alguém, algum diretor financeiro ou algum diretor de fundação ou banco autorizou. Não cabe a mim avaliar esse tipo de coisa, porque eu trabalho para o mercado financeiro, com o mercado financeiro. Estou correndo, estou atendendo duzentas, intuições, cem, ao mesmo tempo. Não tenho como avaliar isso. Agora, a minha opinião própria é diferente... É uma opinião minha, se tivesse prejuízo para os cofres, é claro que eu não deixaria continuar. A operação foi dentro dos parâmetros de mercado, volto a falar. Dentro daquilo que se faz diariamente, ela manteve os padrões. Com relação à parte de lá, do outro lado, do comprador e do vendedor do mercado, esse poder de avaliação fica entre Rioprevidência e Banerj. Quando entro no sistema ou faço um contato por telefone ou eles fazem um contato com a gente, ocorre muito isso, que vem esse critério, ele não fala assim: essa operação está boa ou está ruim. Quando chega na mão do banco custodiante, no caso o Itaú-Banerj, a operação já está fechada. A operação agora

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é o de praxe: manter o sistema on-line, lançar a compra, lançar a venda e efetivar a operação. Não vejo o outro lado. Não fico questionando o outro lado. Se eu falar que o mercado é fracionário... existem vários fatores e o Jorge vai poder explicar melhor essa parte, volto a repetir, com relação a preço, à precificação, a valores padrão, fracionário, toda essa parte quem vai poder explicar melhor é o Jorge.

O depoente informou que a Turfa não passou por nenhum processo licitatório para prestar serviços ao Rioprevidência:

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não, em momento algum, dentro do mercado financeiro isso não existe.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual foi o critério levantado pelo Rioprevidência para escolher a Turfa como distribuidora que intermediaria essas transações?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Essa resposta não posso dar. Cabe isso ao Rioprevidência.

O depoente não classificou de aético o fato de a corretora ter um sócio filho do então presidente da Rioprevidência. Disse que a Turfa foi escolhida pela competência:

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não. Não concordo.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Baseado em que a Turfa, que tinha acabado de

ser criada, teria know how para estar assumindo aquelas transações, naquele momento? Baseado em que o senhor acredita que sua empresa tenha sido escolhida para intermediar essas transações?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Minha empresa foi escolhida como tem duzentas empresas no mercado. Tem avaliação. Eles fazem esse tipo de avaliação. Eu não posso dar essa resposta por eles. Posso dar por mim. Trabalhamos no mercado, trabalhamos sério, fazemos nosso trabalho. É um trabalho que tem uma receptividade boa, trabalhamos com bancos, com fundações. Não há nada de estranho com relação ao Eric ser filho do Sr. Ruy Bello. (...) Mais tarde, conforme a mídia, vim a saber que o Ruy de Mesquita Bello era o Presidente do Rioprevidência. Até então...

O depoente disse que trabalha no mercado desde 1976 e que já passou por diversas instituições corretoras e distribuidoras:

O SR. PAULO MELO – Alguma vez o senhor já tinha tido alguma sociedade ou participava de alguma sociedade?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Não.O SR. PAULO MELO – Foi a primeira vez?O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Primeira.O SR. PAULO MELO – O senhor conhecia o Sr. Eric Bello, antes da Turfa?O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Conhecia. Conhecia do mercado.O SR. PAULO MELO – Ele trabalhava no mercado, ele também é corretor, ele trabalhava na

Bolsa?O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Ele trabalhou em vários bancos. Nos conhecemos

de contato por telefone, enfim, contatos do mercado financeiro, bancos, BCN, BC Roma, ele trabalhou nesses bancos, os outros sócios também trabalharam nesses bancos todos.

O depoente negou que a Turfa tenha sido montada para atender ao Rioprevidência:

O SR. PAULO MELO - O senhor, quando montou a empresa Turfa, como disse o Deputado Luiz Paulo, bem claro, a empresa foi registrada exatamente na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro sob o nº 33.30027024-8, na data de 11/04/2002 - esse contrato foi inclusive passado aqui para a Presidência – tendo como sócios os Srs. Sérgio de Moura Soeiro, João Luiz Ferreira Carneiro, que é o senhor, Eric David Bello e Jorge Luiz Gomes Chrispin, que é quem o senhor diz.

Essa idéia de montar uma corretora nasceu pela grande ligação e competência dos senhores no mercado? Vocês nunca conversaram sobre a possibilidade de ter um cliente em potencial sendo o Rioprevidência?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Nunca. Isso não procede. O SR. PAULO MELO – Inicialmente a firma foi montada na Graça Aranha, certo?O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Positivo. O SR. PAULO MELO – O senhor lembra o endereço da Graça Aranha?

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O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não lembro agora, não. Mas tenho documentos disso aqui.

O SR. PAULO MELO – O senhor não lembra nem o endereço do escritório do senhor? O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Eu trabalhei em várias instituições. Trabalho...O SR. PAULO MELO – Eu não perguntei instituição em que o senhor trabalhou. Estou

perguntando da Turfa. Estou lhe fazendo uma pergunta especifica se o senhor se lembra do endereço em que o senhor trabalhou.

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não. O SR. PAULO MELO – O senhor lembra do andar? O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Sexto andar, se não me engano. O SR. PAULO MELO – O senhor trabalhou na Graça Aranha, sexto andar. O senhor não

lembra a sala, não é? O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Não.

O depoente informou que já tinha carteira de clientes antes de fazer as operações do Rioprevidência e que a rentabilidade da Turfa era a permitida pelo Banco Central:

O SR. LUIZ PAULO – Gostaria de saber qual era a carteira da sua empresa no ano de 2002 entre junho e dezembro.

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - O senhor quer saber os nomes ou números?O SR.O SR. LUIZ PAULO - Números.O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Pelo menos, no mínimo, trinta.O SR. LUIZ PAULO - O Sr. sabe qual era a ordem de grandeza na taxa de administração das

suas operações, mesmo que tivesse variação caso a caso. Era um, dois por cento, meio por cento, cinco por cento sobre o volume total de vendas?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Não se trabalha com um valor acima de dez por cento, entre resultado. Entre compra e venda não se trabalha acima de dez por cento, até porque as normas do Banco Central não permitem isso, ele bloqueia até a operação. Normalmente se é chamado, não no dia, pode ser até no dia, mas no dia seguinte, com certeza, o Banco Central estará na porta. Trabalha-se dentro desse limite.

O SR. LUIZ PAULO – Então, o senhor está me dizendo que o limite máximo permitido pelo Banco Central é a taxa de administração de 10% sobre o valor operado, o valor máximo?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - O Banco Central não coloca muito como taxa de administração. Ele trabalha dentro dessa faixa, nada absurdo. Agora, tem tratamentos diferenciados para lotes, para padrão, vencimentos, ativos. Tanto pode ser na área de Selic ou Setip, papéis “silicados” ou “cetipados”.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor sabe me dizer qual foi o lucro da empresa com essas cinco operações efetuadas para o Rioprevidência, ordem de grandeza?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO - Em torno de setecentos e vinte e poucos mil, contabilizados dentro da empresa, até porque nesse mesmo dia teve várias operações. Com o Rioprevidência/Banerj, foi nessa ordem.

João Luiz Carneiro declarou que a Turfa não recebeu do Banerj ofício informando que uma das operações do Rioprevidência, feito por ela, era lesivo aos cofres públicos:

O SR. PAULO RAMOS – Não, a questão é a seguinte: a operação foi feita. Há algumas avaliações, e o senhor diverge das avaliações, de que as operações foram danosas ao Rioprevidência, quer dizer, o Rioprevidência teria sofrido prejuízo com essas aplicações, mas há também a afirmação de que o Banerj, que custodiava, advertiu com antecedência sobre a lesividade da operação...

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Perdão, o Banerj advertiu a quem?O SR. PAULO RAMOS – Á direção do Rioprevidência e não chegou ao conhecimento dos

senhores.O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Exatamente, nunca vai chegar ao nosso

conhecimento esse tipo do outro lado da instituição, nunca chega ao nosso lado, nunca chega. Só chega a operação em si, não é realizada ou é realizada, detalhes porque ela foi ou não foi realizada não compete a nós, isso é de competência do outro lado, porque eu não sei, não tem como avaliar isso.

O depoente, sem quebrar as normas de sigilo do banco Central, admitiu que das operações capitaneadas pela Turfa, houve coincidência entre compradores e vendedores:

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O SR. GILBERTO PALMARES – Houve cinco operações realizadas pela Turfa, em nome do Rioprevidência, compra, venda. Houve uma operação, se não me falha a memória, no dia 26 de agosto, está contido na própria defesa da Turfa, junto ao Tribunal de Contas, que eles venderam e ao mesmo tempo compraram. Houve cinco operações. Há, e aí não está quebrando o sigilo porque não estamos falando no nome de ninguém, coincidência, ao longo dessas cinco operações, entre pessoas que compraram ou que venderam títulos, nessas operações realizadas pela Turfa? Não sei se fui claro: foram cinco operações. Venderam e compraram. Houve algum caso em que tenha se repetido, por alguma vez... Isso está absolutamente dentro da lei, porque não está quebrando o sigilo de ninguém. Não está falando o nome de ninguém. Houve cinco operações. A Turfa vendeu em vários momentos diferentes ou comprou em vários momentos diferentes. Há coincidência de comprador ou de vendedor?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Já entendi a pergunta. Pode ter havido. Tenho que verificar. Nas operações aqui pode ter ocorrido uma coincidência. Isso é natural do mercado.

O SR. ANDRÉ CORRÊA - O senhor disse aqui também que houve coincidência entre os compradores e os vendedores dessas cinco operações?

O SR. JOÃO LUIZ FERREIRA CARNEIRO – Eu não afirmei porque eu teria que verificar elas. Mas acredito que sim, pelo menos duas.

O depoente, o corretor de valores Jorge Luiz Gomes Chrispin, se apresentou logo em seguida. Também diretor da Turfa, Chrispin disse que trabalha no mercado financeiro desde 1973. Sobre os relatórios do Tribunal de Contas do Estado e da Bendoraytes Consultores, que apontaram irregularidades nas contas do Rioprevidência, Jorge Luiz Chrispin discordou dos pareceres:

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Sobre as operações efetuadas pela Turfa com o Rioprevidência, eu tenho a declarar que, num valor histórico, se você pegar os valores imputados à Turfa e ao Rioprevidência, daria lucro. Inclusive, se o senhor me permitir, um outro relatório produzido por mim, sobre o quadro de operações em que a Turfa efetuou vendas e, eventualmente, o Rioprevidência compra, confrontando o que relata o dito parecer, me é imputado, à empresa, um prejuízo de 900 mil Reais ao Rioprevidência, o que não é verdade. Eu gostaria de, inclusive, passar às suas mãos, se for permitido. Eu gostaria que fizesse parte um quadro de operações em que os resultados, passo a passo, por operação, foi da ordem de 148 mil Reais ao Rioprevidência, valor esse que eu não tenho como dizer se foi bom ou ruim para ele, face a necessidade dele. Isso está nos autos e eu fiz o relatório e estou para passar a apreciação de vocês, futuramente.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – A defesa da empresa de Vossa Senhoria no Relatório do Tribunal de Contas alega, prioritariamente, que a taxa que foi avaliada para o parecer dado, foi baseada na taxa Andima e que se fosse observado a taxa Selic, se verificaria que a diferença onde se constatou prejuízos ao erário do Rioprevidência, teria sido dentro dos padrões do mercado. Procede esse encaminhamento de defesa?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Eu considero o padrão real de mercado, o efetivado entre cedente e cessionado, comprador e vendedor. Esse é o nível de mercado, o que se pratica no momento. Foi o que foi feito. O fato de ser o número, os valores da Andima é contraditória, inclusive, na precificação de valores. Gostaria, inclusive, na minha defesa que faço...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Essa defesa é ao...O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Ao TCE, me permite ler?O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Claro.O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Diz a Andima:(LENDO)“Precificação de ativos financeiros e manual de referênciaÉ crescente a demanda por dados consistentes que alcance a totalidade dos ativos e operações

disponíveis no mercado financeiro. Em termos metodológicos a melhor informação para precificação seria aquela que tivesse como origem as próprias negociações realizadas entre os participantes do mercado e registradas em sistemas eletrônicos.

A realização do mercado secundário brasileiro, entretanto, afasta, pelo menos, temporariamente, esta possibilidade. Por mais, em termos de liquidez, no mercado público e privado de títulos e valores mobiliários faz com que as estatísticas relativas a esse segmento sejam pouco representativas”.

(INTERROMPE A LEITURA)Por quê? Alguns ativos tem poucos negócios. Face também a minha defesa no relatório, aquele

lote padrão, está também no estatuto. Lote fracionado com preço diferenciado e alguns papéis que não têm a liquidez imediata e esperada. Então os preços são diferenciados. Fora isso, também coloco como fato bem representativo, para não considerar o tal relatório - não tem a numeração da página, mas está no corpo da precificação -, que diversos problemas podem gerar erros nos dados fornecidos, como por exemplo, digitação, isso nos preços publicados pela Andima; formato de taxa, financeiro ou taxa-ano, taxa-mês, enfim; horário incorreto na geração de dados e o que é mais importante, de fundamental

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importância para mim é a tentativa de manipulação de taxas. Isso pela Andima. Por quê? Porque a Andima, dentro da solicitação do Banco Central, em 1999, para que ela fizesse essa precificação para tentar fazer isso, ela criou alguns bancos, formatou alguns bancos para que fornecesse esses dados. É tendencioso, até porque bancos podem criar um mecanismo próprio de defender suas posições, tanto ele quanto os fundos.

Eu acho, no meu parecer digo isso, que o relatório é inconsistente.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – V. Sª. usou essa taxa como sua defesa dentro do

Tribunal de Contas?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Usei, usei, até porque eu tenho até as variações, se o

senhor me permitir também...O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Não, nós temos também.O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Então o senhor há de convir que eu tive variações

de 3% a 6%.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Transações de 3% e outras de 160%O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Não no meu caso, Exa.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – No seu caso a diferença variou em que

proporções?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Na minha defesa, entre 3%...Eu tenho os valores

bem colocados...O SR. LUIZ PAULO – 3 e 16,85.O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – 6%, Excelência.O depoente informou que não tomou conhecimento do alerta feito pelo Banerj, de que as

operações estavam fora dos parâmetros do mercado:O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – No relatório vi numa página, não me ative muito

porque não foi operação minha eu só me ative as minhas atividades, defendi minhas posições.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Esse alerta foi em relação à transação feita pela

distribuidora de V.Sa.O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Só tive conhecimento no relatório.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Se tivesse, por exemplo, tomado conhecimento

desse fato antes, o encaminhamento por parte da sua distribuidora seria diferente?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Eu mandaria o Banerj oferecer papel de igual

teor...

Neste ponto, Jorge Luiz Chrispin é instado a falar da composição acionária da Turfa:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Na composição acionária da empresa e me parece ter várias coincidências sob o ponto de vista de que a empresa começou a operar em abril de 2002, mês esse que assumiu logo em seguida o presidente do Rioprevidência da época, o Sr. Ruy Bello e a empresa onde V.Sa. é sócio foi constituída em abril de 2002 tendo como um dos sócios majoritários o Sr. Eric Bello, filho do Presidente do Rioprevidência naquele momento. Qual foi o critério usado pelo Rioprevidência para ter escolhido a Empresa Turfa para intermediar essas transações, naquele determinado momento, onde o presidente acabou de ter sido nomeado, uma empresa que acabou de ser criada e logo em seguida fez intermediação de transações. Qual foi o critério usado para a escolha da Turfa?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIM - Na verdade a Ata da assembléia de constituição da Turfa foi feita em 23/10/2001, foi homologada pelo Banco Central, em 07 de março de 2002, isso está no relatório também. Ela na foi criada em hipótese alguma para... não existiu, até porque não existia ligação – parece que a pergunta é essa Ruy Bello com Eric, é isso que o senhor quer saber?

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – É, porque o Ruy Bello era presidente do Rioprevidência e não sei se V. Sa. sabe, então vou lhe comunicar. A empresa de V.Sa. tem como sócio Eric Bello, sócio majoritário da sua empresa que, por coincidência, é filho do ex-presidente do Rioprevidência no momento das transações onde vários órgãos identificam que houve transações que deram prejuízo ao Erário público.

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – A partir de junho. Eu discordo do prejuízo, Excelência, como já disse antes. Com relação ao Eric Bello, ele é uma pessoa de mercado, trabalha, conheço o Eric desde 1980, ele trabalhou no mínimo, que eu conheço, em quatro empresas, BCN, Banco Empresarial, Banco Roma e Soma, me parece. A partir de 1998, eu trabalhava como agente autônomo na Brasil Central e o Eric atuava em Bolsa de Valores, mercado de renda variável. No mercado de renda variável ele... ele atuava na pessoa física, Eventualmente eu trabalhava e atuava em renda fixa, títulos públicos federais. Ele atuava em Bolsa. E ele era investidor pessoa física. Em conversa nossa, resolvemos, como eu vi que o mercado estava indo muito para São Paulo e ele também não estava tendo atividades, a idéia era criarmos uma distribuidora inicialmente e, posteriormente, criarmos uma corretora e atuarmos em dois mercados, renda fixa e renda variável. Ele é acionista, não é diretor-acionista, ele, a princípio,

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não tem administração direta na empresa, nem executiva nem financeira. A minha posição é a de diretor financeiro. Ok? Então, o que ficou acertado é que nós abriríamos a empresa; isso levou um período, levou algum tempo, não foi uma coisa rápida, lógico. Ninguém abre uma empresa do porte da...mesmo pequena, mas não se abre uma empresa assim, de um dia para outro. Até porque tem trâmites formais junto ao Banco Central, e começamos – no começo de 2001, meados de 2001 – a ter esse projeto. Evoluímos o projeto; ele entrou como sócio acionista, porém com a maior parte capitalista, ok? Eu entrei com uma participação, na época, pequena, posteriormente, comprei mais uma parte. Se quiserem que eu diga qual foi minha participação... (...) Então, o que houve foi isso: no começo do primeiro semestre começamos a conversar. Eu tinha uma boa atuação no mercado de renda fixa; ele, com renda variável. Meu outro sócio que saiu daqui também atuava em renda variável; é uma pessoa de longa data também, foi diretor... Diretor não... Foi gerente de pregão e trabalhava em bolsa. Tem um outro sócio que é administrativo. Então, era uma coisa que casava e resolvemos montar a empresa.

O depoente reafirmou que não viu incoerência ou irregularidade com o fato de ter um sócio filho de um cliente que era, também, presidente de uma instituição pública:

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Desconheço tal ligação. Quando operei, operei... Vim a saber a posteriori que era um diretor-financeiro. Quando você opera, quando as pessoas conversam... Quando você está em mercado, você fala com uma gama grande de empresas. Normalmente, você faz em torno de 50, 60 ligações diárias. Nessas ligações, ninguém se rotula, ninguém se qualifica – “...eu sou diretor, eu sou presidente...”. Eu sou operador. Quem tem condições de dar preço ou taxa, de assumir e lançar isso em sistema eletrônico é o responsável. É o que foi feito. Eu tinha uma posição há dois, três dias, como sempre – eu sou broker, eu não tenho posição própria – então, eu trabalho para terceiros. Quando eu ofereço uma posição de terceiro, eu fico dois, três dias no mercado. O Rioprevidência entrou no meu escritório, me cotou o papel; eu dei o preço – logicamente, volume – e eventualmente fechei a operação. Não sabia naquele ato, naquele momento, que o Sr. Mauro Michelsen era diretor-financeiro, era... Enfim. E desconhecia, no momento, a ligação...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – A ligação do sócio majoritário com o presidente.O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Até porque conheço o Ruy Bello, não

comercialmente. Conheço por ser... Como já tinha falado, tinha contrato com Eric em outros negócios; negócios esses de contatos do dia a dia, ele operando na área dele e eu operando na minha. E eu já tinha visto o Dr. Ruy Bello e, inclusive, a meu ver, na época, ele já era aposentado. Eu nem sabia que ele era presidente do Rioprevidência. Vim a descobrir depois; vim a descobrir porque o Eric me falou. Fizemos, ao que me parece, duas operações, mesmo sabedores de que ele ...mas como não tinha nada que impedisse... Não tinha preço aviltado, não tinha nada; as operações estavam totalmente dentro do mercado – a meu ver – a meu ver estava dentro dos padrões de mercado...

O depoente informou que o sócio Eric Bello deixou a Turfa em março de 2003. As ações foram absorvidas pelos sócios que ficaram. Chrispin explicou como operava no mercado:

O SR. LUIZ PAULO - O senhor é um homem experiente de mercado. A sua experiência individual está comprovada. A sua empresa, a Turfa, quando foi operar pelo Rioprevidência, já carregava algum currículo, também, potente de operadora? Ela foi operar pelo Rioprevidência no mês seis, 27 de junho.

O SR. JORGE LUIZ GOMES CRISPIN – Excelência, como falei anteriormente, estava mostrando o papel. Quando você opera broker você nunca tem uma negociação direta, você fica dois, três dias operando no meio do papel ou comprando ou vendendo. Isso porque quando você tem normalmente lotes fracionados não são negociados entre mesa. Posso exemplificar? (...) Um fundo de grande porte ou um banco de grande porte ele tem um lote fracionado, um fundo vendeu o banco foi obrigado ele recompra esse ativo do fundo e ele não tem interesse. Ele tem que vender esse papel. Como um banco de grande porte é desgastante para ele ofertar ele pega brokers e coloca para atuar. Então, eu já estava trabalhando com esses papéis há dois, três dias. Eventualmente, entrou alguém que eu não vou afirmar quem era, porque eu não conhecia, e me cotou o papel. Cotou, não, eu ofereci e foi negociado foi aceito o preço, quantidade. Foi encaminhado posteriormente, pelos autos que li à liquidação financeira pelo Banerj-Itaú. Foi negociado, lançado em sistemas eletrônicos, o Banco Central, é de praxe, não critica até por que estava dentro de valor de mercado era o mercado, na época, e ponto.

O SR. LUIZ PAULO – Então, eu posso entender que a sua corretora foi escolhida pelo Rioprevidência, porque simplesmente o senhor estava com títulos públicos federais disponíveis no mercado.

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Disponibilizados.

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O SR. LUIZ PAULO – E o Rioprevidência tinha interesse. Na medida em que teve interesse, estabeleceu a relação com a sua empresa.

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – É, normal. Eu estou ofertando papel, entra alguém tentando comprar, eu vendo.

O SR. LUIZ PAULO – Perfeitamente. O Eric Bello foi uma mera coincidência?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – A princípio, essa operação, num primeiro

momento, ele desconhecia. Ele veio a saber a posteriori.

Neste momento, o depoente revelou quanto ganhou com as cinco operações feitas com o Rioprevidência:

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Totalizou 728 mil reais.O SR. LUIZ PAULO – Eu pergunto ao senhor, dentro do seu critério, não do critério do

Tribunal de Contas, nem dentro do critério da firma de auditoria, nem do critério da Andima, nem da Selic, dentro do seu critério, qual foi o ganho total ou a perda total das cinco operações?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Para quem, Excelência?O SR. LUIZ PAULO – Para o Rioprevidência.O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – 148 mil reais, se computados os critérios que eu

usei. Que são os reais, de mercado.O SR. LUIZ PAULO – Nos seus critérios, o Rioprevidência perdeu 150 mil reais,

aproximadamente, correto?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Perfeito.

Neste ponto, o depoente explicou que não ganhou comissão do Rioprevidência, nas cinco operações realizadas em 2002:

O SR. LUIZ PAULO – Não importa se é comissão, taxa de administração, qualquer rótulo representa que dos cofres do Rioprevidência, só com a Turfa, em ordem de grandeza, foram subtraídos em torno de 900 mil reais. A guisa de que, pouco importa, mas 900 mil foram embora. Constato, ainda, que o Rioprevidência entrou em mercado com determinado volume de títulos e saiu de mercado com o mesmo volume de títulos, mas, tirando as corretagens, ou taxas de administração ou esses FIS, pelas operações, ele perdeu mais de 25 milhões de reais. Ele é o dado da realidade.

Então, dentro desse critério, pergunto o seguinte - o senhor terá a oportunidade de falar o que o senhor deseja: 1) para ficar claro, quanto, especificamente, o Rioprevidência lhe remunerou e a que título?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Ele não remunerou, não pagou comissão. Eu compro e vendo em mercado... (...) Não existe remuneração, Excelência, nem comissão. Eu compro a um preço e vendo a um preço. Daí vou auferir um lucro. Esse lucro é integralmente contabilizado na empresa. Tem meus custos, tem pagamento de impostos, enfim, está tudo contabilizado.

Agora, para dar a contrapartida a sua tese, vou passar para as mãos da Mesa, se me permitirem, as alterações que os senhores – não o senhor, mas o relatório, ou quem seja – está imputando à Turfa, como dando um prejuízo ao Rioprevidência, da ordem de 900 mil reais, fiz um exercício, pegando os papéis que efetivei as vendas, corrigidos pelos ativos, LFT’s, que é a taxa que melhor remunera qualquer ativo, é a taxa Selic, é a taxa que melhor remunera qualquer ativo. Trazendo isso ao valor presente, o Rioprevidência auferiria, ao preço de mercado, um valor de 812 mil reais.

O SR. LUIZ PAULO – Auferiria o quê?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Um lucro. Gostaria de passar à Mesa. O que

motivou o prejuízo eventual de 148 mil reais, à época, desconheço o Rioprevidência. O que motivou a necessidade de efetivar as vendas e realizar um prejuízo de 148 mil reais não me compete, até porque, quando eu executo uma operação de mercado, eu pressuponho que não existe amador em mercado. Quem operou comigo, operou consciente.

E esse mercado, Excelência, com certeza, esse mercado não tem zero a zero. Esse mercado ganha ou perde. Zero a zero, para mim, é prejuízo porque meu custo fixo está lá todo mês e não é pouco. Então, o senhor há de entender que eu não imputei, não tive intenção de, nunca, jamais, transmitir prejuízo ao Rioprevidência.

O depoente explicou que conhecia o pai de Eric, seu sócio, mas, a época, não tinha conhecimento que ele presidia o Rioprevidência:

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O SR. PAULO MELO – O senhor conhecia o Sr. Eric Bello – o senhor falou de vários anos de mercado -, o senhor não sabia que o pai do Eric Bello era presidente do Rioprevidência?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – A princípio eu tinha conhecimento que o Sr. Ruy Bello era aposentado.

O SR. PAULO MELO – Mas aposentado não é inválido. Ele podia estar...O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Eu sei, querido. Perdão. O SR. PAULO MELO – Não tem problema. O gesto carinhoso até me apraz profundamente. O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Excelência. Eu não sabia. Vim a saber depois das

operações. Participei ao Eric. Me parece... Parece não, com certeza, houve um contato e também soube que essas operações foram abortadas a partir de novembro. O Ruy Bello teria proibido tais operações com a Turfa.

O SR. PAULO MELO – Também não tinha mais nada a fazer. Ele estava indo embora. Mas, o Sr. Ruy Bello nunca esteve no seu escritório? Na Turfa?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Nunca.

Neste momento, o depoente voltou a dar detalhes das operações realizadas pela Turfa com o Rioprevidência:

O SR. GILBERTO PALMARES – Foram realizadas operações, através da Turfa, para o Rioprevidência em quatro ou cinco ocasiões distintas...

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Excelência, quatro operações: uma em mesma data, duas em mesma data.

O SR. GILBERTO PALMARES – Teve uma operação dia 14 de junho, outra dia 18 de outubro, ou melhor, 27 de junho, 8 de julho, 26 de agosto e 12 de setembro. Houve coincidência, por exemplo: 27 de junho – teve um determinado comprador; 8 de julho, se foi outro; 26 de agosto, se foi outro?

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Digo e afirmo que em todas as operações não houve coincidência, não houve relação direta com outros envolvidos nos autos, e por força de Lei Complementar 105, não vou colocar a público o nome das empresas, mas encaminho à Mesa Diretora, se for necessário, a posteriori, os nomes das empresas que adquiriram os papéis. Por força da Lei 105 que me proíbe...

O Deputado Gilberto Palmares insistiu na argumentação que a Turfa apresentou duas defesas:O SR. GILBERTO PALMARES – Não estou satisfeito, sem querer atrapalhar sua fala, porque

estou com dois documentos, ambos feitos por V.Sa.., um documento assinado, sobre uma mesma operação - estou sendo objetivo aqui, não tem nenhum grau de subjetividade -, em que o senhor próprio assina que houve um prejuízo de 183 mil reais e num outro, que o senhor está entregando hoje para a comissão, está presumindo um ganho de 250 mil reais. É uma distância muito grande.

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Vou tentar explicar a V.Exa. Numa defesa, usei o critério diferenciado do Tribunal de Contas, que usou a Andima, usei os preços reais de mercado. Quando eu fiz uma variação, eu peguei o preço negociado na data, corrigi a taxa LFT, que é a melhor taxa de mercado, e cheguei ao número de 148 mil reais de prejuízo ao Rioprevidência, não é isso? Não é essa a colocação que V.Exa. está querendo... Porque num, aparece um prejuízo maior, no caso?

O SR. GILBERTO PALMARES – Num, aparece um lucro grande, no outro, aparece um prejuízo grande .

O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Ok, Excelência, só que um eu peguei a data, da mesma forma que se o senhor pegar hoje o valor histórico, se o senhor pegar o valor histórico, o preço histórico dos ativos, o Rioprevidência teve nessa operação - não fiz esse relatório porque ele é tão... ele não considera o real - se o senhor pegar o valor histórico, o Rioprevidência teve lucro de quatrocentos mil reais, se eu pegar o valor histórico. Só que eu não peguei, eu peguei o custo de carregamento e estou dizendo que ela teve um prejuízo de cento e quarenta e oito mil.

Se eu pegar o valor histórico que é o preço de compra, não imputar nenhum ganho para ela, deixar a rentabilidade, que é a curva do papel, como sendo ganho, daria quatrocentos e poucos mil reais. Eu desprezei até esse argumento, que seria até uma covardia esta Comissão, porque seria menosprezar a idéia de vocês que não existe correção em ativo.

O SR. ANDRÉ CORRÊA – (...) o senhor apresenta um outro modelo, dizendo que o Rioprevidência não teve mais o prejuízo de 146 mil mas sim um lucro de 812 mil reais, ou seja, a mesma fonte de informação. São dois documentos que V.Sa. apresenta: num, o Rioprevidência teve prejuízo de 146 mil; em outro, teve lucro de 812 mil.

E o Tribunal de Contas por sua vez em seu relatório diz que o Rio Previdência teve um prejuízo de 900 mil. Então, está difícil de chegarmos a uma harmonia quanto a esses números. Eu queria saber como são tão diferentes.

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O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Eu vou me meter nos três cálculos que V. Exa. citou. Na primeira, quando se diz que eu tive um ganho de 728 mil, não quer dizer que isso tenha sido um prejuízo para o Rioprevidência. Pode ser oriundo de um ganho que eu tive na minha compra.

O SR. ANDRÉ CORRÊA – Foi na sua compra?O SR. JORGE LUIZ GOMES CHRISPIN – Sempre. Se eu comprei e vendi, eu tive lucro; o

vendedor também poderia ter perdido. Quando eu digo que o Rioprevidência teve um prejuízo efetivo de 148 mil, corrigido pela LFT, que é a melhor taxa de mercado. Eu não fui leonino, eu peguei a melhor taxa de mercado de remuneração de ativo, até porque no Rioprevidência não sei se os senhores leram, eu tentei ver mas não consegui, o índice atuarial, que é o índice que corrige uma autarquia, não diz lá qual o índice de correção do ativo. Eu gostaria até que esse índice fosse público, mas não existe porque aí, eu teria uma forma de defesa melhor, ele diz que é a melhor taxa. Mas, o índice atuarial é o índice que você pega para ver qual é a correção de qualquer autarquia. Eu peguei a LFT que é a melhorr taxa e digo que: do preço que eu vendi, corrigido por essa taxa, ao preço de venda dele, ele realmente, está provado aí que me auferiu um prejuízo de 148 mil reais.

O segundo documento, o terceiro, aliás, que eu coloco é: caso ele não tivesse vendido, o motivo que o levou a vender não me interessa. Da mesma forma que estão fazendo cálculos de preços para trás, preços para frente, eu também estou criando uma expectativa qualquer. Se ele não tivesse papel em carteira, corrigido pela mesma LFT, ao período atual, ele teria um ganho real de 800 mil reais. Atendeu à sua pergunta?

Ainda no mesmo dia 16 de março – logo em seguida -, a comissão ouviu mais um sócio da Turfa: o Diretor Administrativo, Sérgio de Moura Soeiro. O depoente informou que cuidava dos sistemas de telefonia, de todo o sistema de comunicação e os sistemas de lançamentos Sisbacen, Setip. Disse que era responsável, também, pela parte de pessoal: admissão, demissão; e toda a parte administrativa da empresa. Ele informou que não operava no mercado:

O SR. LUIZ PAULO – OK, mas, o senhor sendo administrador, o senhor há de se lembrar que a sua empresa começou a operar com o Rioprevidência no dia 27/06/2002. Antes desta data, o senhor tem um número de clientes que sua empresa possuía? Antes de 27/06/2002.

O SR. SÉRGIO MOURA SOEIRO – Não tenho essa idéia formada, com certeza, não, mas, acredito que dez, vinte, eu não tenho esse número de cabeça. Mas, um número aproximado. Não posso afirmar.

O SR. ANDRÉ CORRÊA – Mas os grandes números, enfim... Nesse ano que estamos falando, que é o ano de 2002, qual foi o lucro líquido da Turfa?

O SR. SÉRGIO DE MOURA SOEIRO – Nós fechamos com mais ou menos 300 e pouco mil reais, depois de deduzidos os impostos, que não são poucos. É bom lembrar que o sistema financeiro é um dos mais tributados neste País. Depois disso, ficamos com esse resultado, lá na casa. Depois de tirados todos os nossos custos, ainda sobrou essa quantia.

O SR. ANDRÉ CORRÊA - Só para ter uma idéia. O senhor tem idéia do número de operações que o senhor fez? Ordem de grandeza, quantas operações de compra e venda o senhor fez no ano de 2002? Não precisa ser exato não, só uma...

O SR. SÉRGIO DE MOURA SOEIRO – Mais ou menos umas...umas 210...muita coisa picada.

No dia 18, os membros da comissão ouviram o engenheiro Mauro Eduardo Agostinho Michelsen, que assumiu a Diretoria de Investimentos do Rioprevidência em 25 de maio de 2002, nomeado pela, então, Governadora Benedita da Silva. O depoente informou que antes de assumir o posto no Rioprevidência, ocupava o cargo de Gerente-Geral do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas. Sua ida para o Governo do Estado, garantiu, não se deu por indicação política:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN - A minha indicação, antes de trabalhar no Rioprevidência, eu trabalhava e era funcionário, por um tempo, da Fundação Getúlio Vargas, Instituto Brasileiro de Economia. Quando da mudança de Governo, alguns técnicos da Fundação foram consultados e analisados para integrar o novo Governo. Sabedor que uma equipe estava sendo montada no Rioprevidência, eu submeti meu currículo, minha experiência, diretamente ao Rioprevidência. Cerca de uma semana, dez dias depois, eu fui chamado pela Secretaria de Administração

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e Reestruturação do Estado – SARE, a quem o Rioprevidência se subordina, e fui comunicado que seria empossado no cargo de diretor de investimentos. Função essa que aceitei e cumpri até 31 de dezembro.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Quem fez a análise do seu currículo no Rioprevidência? Foi o presidente Ruy Bello, no momento?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN - No meu entendimento, a avaliação do meu currículo, não sei dizer, não acompanhei esse processo, foi feita diretamente pela Secretaria de Administração, órgão esse que me comunicou que meu currículo tinha sido avaliado e aceito e que eu seria nomeado.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Atualmente, V.Sa. ocupa que função, trabalha em que local?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN - Desde que saí do Rioprevidência, não estou trabalhando.

Responsável pelos investimentos do Rioprevidência, o depoente relatou quais foram os critérios adotados para fazer as aplicações da instituição:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN - Sr. Presidente, a estratégia de investimento, conforme previsto na Legislação pertinente ao Rioprevidência, é definida pelo Conselho de Administração, Conselho esse que é presidido pelo Secretário de Administração. A orientação que recebi, logo após tomar posse no Rioprevidência, foi a que deveria haver uma capitalização do fundo e que essa capitalização do fundo deveria ser feita através de investimento compatível e usual, comum a outros fundos previdenciários.

Nesse sentido, todo o esforço feito, no ano de 2002, foi o de capitalização, através de compra de títulos públicos federais, que são títulos recomendados para todos os fundos previdenciários, títulos de longo prazo, e assim foi feito.

O depoente informou que tomou conhecimento das críticas feitas a sua gestão e disse que apresentou sua defesa ao Tribunal de Contas do Estado:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN - Eu tomei conhecimento, recebi e apresentei uma defesa quanto ao relatório do Tribunal de Contas do Estado e que menciona o relatório da empresa Bentoraytes, Aisvenman e Cia. - se não me engano, posso estar pronunciando o nome errado – e este relatório que faz parte de um dos anexos do documento do Tribunal de Contas, foi um documento que me causou, de certa forma, algumas considerações.

A primeira delas é que deixei o Fundo, como lhe disse, no último dia do mês de dezembro de 2002. O relatório é datado de 04/02/2002, relatório conclusivo e o trabalho final. E diz, se o senhor me permite ler, é um documento que faz parte: “Tendo concluído nossos trabalhos de auditoria, consoante proposta datada de 30/01/2003 ...” Ou seja, a empresa foi contratada, apresentou proposta de em 30/01/2003 e em 04/02/2003, três dias depois, apresentou um relatório a respeito de um assunto que o Tribunal de Contas averiguou e tomou, praticamente, seis meses ou cinco meses para concluir. Esse relatório, no meu entendimento, é um relatório muito superficial. Esse é o meu entendimento a respeito disso.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – A defesa feita por V.Sa., no Tribunal de Contas do Estado, foi de que a taxa Andima não era a taxa ideal para se fazer a avaliação correta do valor dos títulos naquele momento, que a taxa correta era a taxa Selic. Procede essa linha de defesa?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Procede. A taxa Selic é aquela que reflete todos os negócios realizados no dia. Esta é a taxa real dos títulos e que sofre variação.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – V.Sa. chegou a fazer uma nova conta em relação à compra e venda desses títulos, usando a taxa Selic como base?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Eu verifiquei, no último relatório que recebi há cerca de uma semana do Tribunal de Contas, que o Tribunal de Contas montou uma tabela, admitindo dessa forma e utilizando – não sei se admitindo é a palavra certa, desculpe – utilizando as taxas Selic, e reparei que nessa tabela ela comete, em algumas datas, alguns enganos. E eu posso citar, sem ter o relatório na mão, por não estar disponível taxas Selic no dia, ela utiliza um artifício matemático para calcular quanto deveria ser, utilizando como média, dias passados da venda do mesmo título. O que não é, na minha avaliação, correto.

O depoente insiste na sua defesa e afirma que não houve prejuízo nas transações efetuadas na sua gestão no Rioprevidência:

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O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Na realidade, gostaria até de oferecer o documento, não sei se o senhor possui, da minha defesa completa ao Tribunal de Contas, mas ofereço esse documento. E uma das linhas é a avaliação da carteira, através da Selic e Andima. Mas na realidade, não existe, isso é uma afirmação que gostaria até de esclarecer, hoje, não existe nenhum prejuízo ao fundo de previdência. O relatório do Tribunal de Contas do Estado faz talvez, na minha avaliação, por desconhecimento de como opera o mercado, ele faz uma avaliação de: os títulos foram comprados por um valor e deveriam ter sido comprado por outro; como não foram comprados por esse valor houve um prejuízo. Da mesma forma, isso durante as 30 operações.

Na realidade, a operação, o relatório final, a conclusão final do Tribunal de Contas, é a seguinte, e não está clara: se os títulos que tem vencimento no ano de 2021 são títulos do Tesouro – que estão todos eles caucionados junto ao Banco Central, estão todos eles na propriedade do fundo de previdência - fossem vendidos antes da sua data eles poderiam causar um prejuízo ao fundo. Nesse mesmo raciocínio, doutor, eu gostaria de esclarecer que essa mesma conta feita em 31 de dezembro, é bem diferente da mesma conta se fosse feita hoje. Ou seja, se os títulos, hoje, em carteira, que estão caucionados no Banco Central, se fossem vendidos antes da sua data de vencimento, hoje, considerando os juros que eles renderam e que foram recebidos pelo Rioprevidência, eles hoje, em vez de 50 milhões, que são números redondos, teriam hoje um valor de 39 milhões no fundo. Ou seja, se eu vendesse todos eles antes da data de vencimento, hoje, contando os juros já recebidos, entraria em caixa do Rioprevidência alguma coisa da ordem de 39 milhões. Então, esse exercício que foi feito pelo Tribunal de Contas, é um exercício com uma base futura, o que é difícil para uma pessoa, de mercado, entender.

Michelsen, neste momento do depoimento, falou sobre o ofício do Banerj alertando para a possibilidade de a operação em curso ser lesiva para os cofres do cliente – Rioprevidência:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Presidente, recebi o alerta do Banerj, através de ofício, entre 17h e 17h30, desse mesmo dia, e a minha resposta, feita de próprio punho, devido ao horário, foi enviada por fax – existe o horário do fax, registrado nesse documento. Não levei em consideração o alerta do Banerj, e agradeci, por estar certo de que os valores dos títulos, que estavam sendo comprados, uma vez lote fracionário, estavam dentro do mercado. Esse foi o único alerta feito pelo Banerj.

Na minha avaliação, exclusiva, o Banerj já tinha um histórico de que todo o dinheiro do Rioprevidência ficava em conta rendendo juros num fundo específico para o Rioprevidência, que o Banerj tem, e, uma vez que ele, com antecedência, teve o entendimento de que estaríamos mudando essa linha de aplicação, ela não tinha interesse em que esse dinheiro que ficava no Banerj, em seu banco, acredito que, defendendo o próprio banco, saísse. De qualquer forma ignorei o alerta do Banerj por estar certo de que o preço dos títulos estava dentro do mercado.

No dia seguinte – e existe esse registro na minha pasta, no Rioprevidência, que é um dos documentos que, desde julho de 2003, tenho solicitado ao Rioprevidência, e que esse documento é um dos documentos que faz parte – existe um registro que, no dia seguinte, os mesmos títulos foram vendidos por cerca de dois ou três por cento a maior do que o valor que eu comprei.

Esses mesmos títulos, acho que é muito importante frisar, foram vendidos no dia 26 de agosto, pelo próprio Banerj, esses mesmos títulos, na sua totalidade, deixando um lucro para o Rioprevidência, lucro esse que está devidamente registrado na folha n°90 do relatório do Tribunal de Contas, lucro esse de 150 mil e 9 reais e 84 centavos. Esses mesmos títulos que foram, segundo o Banerj, alertados, foram, no dia seguinte, negociados no mercado, conforme registro que existe no mercado, no Banco Central, por valores superiores e a prova disso é que no dia 26 de agosto eles foram vendidos por valores superiores e o dinheiro, ou seja, 150 mil e 9 reais e 84 centavos foram recebidos pelo Rioprevidência.

O depoente lembrou que antes de fazer a primeira operação financeira, ele oficiou a presidência, informando os procedimentos que tomaria:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Realmente vim ler, depois, alguns trechos da lei, mas por ser cuidadoso, o primeiro ofício que fiz, antes de fazer qualquer aplicação foi uma comunicação do Dr. Ruy Bello, dizendo que conforme orientação estaremos procedendo à capitalização do fundo, posso estar errado, não tenho o documento, não me foi dado até agora, mas estaremos fazendo a capitalização através de investimentos em títulos públicos.

O SR. LUIZ PAULO - Já no mês 6, é de conhecimento público, a situação financeira do Estado era grave. A primeira parcela do 13º que, normalmente, se paga no meio do ano, tradicionalmente, não havia sido pago, o 13º sequer foi pago, nem dos ativos, nem dos inativos, nem dos pensionistas.

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O senhor operou de 27/06 até 30/12 e reparando aqui as cinco primeiras operações o senhor entrou comprador no mercado. Se o senhor entrou comprador no mercado com algo em torno de seis milhões de reais, o senhor tirou do caixa seis milhões de reais. O senhor pediu algum repasse de recursos à Secretaria de Fazenda para fazer esta operação? Quem lhe depositou esse recurso no caixa para o senhor pagar essas compras iniciais?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Deputado, a minha responsabilidade no fundo de previdência, como diretor de investimento, é definida, mas em linhas gerais, minha atribuição era fazer os investimentos seguros, apropriados ao fundo de previdência. Todo o controle de caixa, repasses, comunicação com a Secretaria de Finanças era feita pela Diretoria de Finanças e Administração, cargo este que não fui eu que ocupei. Então, não posso dizer, a única informação que eu recebia é que existia quantias do Rioprevidência que estariam disponíveis para aplicação e eu procedia à aplicação.

O SR. LUIZ PAULO - Então o senhor entrou no mercado e, de cara, gastou seis milhões de reais, comprador.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Existia o recurso, não poderia ter feito sem que houvesse. (...) A orientação de capitalização, como eu disse, foi seguida e a orientação que sempre segui e que acredito, não posso falar pelos outros diretores, diretor de administração, finanças, jurídico, foi de gerenciar o fundo de previdência, independente, em termos de capitalização, da situação do Estado, por entender que o patrimônio do fundo de previdência é, exclusivamente, para ser usado em previdência. Não pode ser usado, é o meu entendimento, numa falta do 13º, de dinheiro para pagar o 13º do Estado: vamos vender coisas, patrimônio do Rioprevidência para resolver esse problema. E assim eu operei.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor entrou no mercado e havia caucionado, lá, no Banerj, determinado volume de títulos. Pelo que vejo aqui, no relatório do TCE, o número de títulos que o senhor entrou é aproximadamente igual ao número de títulos que o senhor saiu. É verdadeiro?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não, senhor. Foram comprados, durante a gestão, de junho a dezembro, outros títulos, ou seja, da mesma forma que o senhor explanou antes, houve recursos disponíveis para fazer investimento. Recursos esses que me eram disponibilizados pela diretoria de finanças e administração. Então, o meu papel era simplesmente, havendo recursos, capitalizar o fundo e deixar o fundo capitalizado.

Neste ponto, o depoente informou que recebeu, do então presidente do Rioprevidência, a orientação de não operar com a Turfa, a partir de determinada data:

O SR. LUIZ PAULO – O senhor conhecia, ou conhece o Sr. Eric David Bello?O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Conheço o Sr. Eric David Belo. O SR. LUIZ PAULO – É filho do Sr. Ruy Bello?O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Ele é filho do Sr. Ruy Bello.O SR. LUIZ PAULO – E sócio majoritário, à época era, da Turfa.O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Tive a informação que o Sr. Eric

era sócio da Turfa, através do Dr. Ruy Bello, em agosto/setembro do ano de 2002, ocasião na qual recebi diretamente uma ordem do Dr. Ruy de que não mais considerasse a distribuidora Turfa nas minhas avaliações e negociações.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor é um homem do serviço público, trabalhou na Fundação Getúlio Vargas, o senhor há de convir que não é habitual, não é ético, pai, gerente de uma empresa, filho trabalhando na corretora, e a corretora operar para o pai.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Deputado, todas as operações que o fundo de previdência fez com a Turfa foram realizadas sem que eu tivesse o conhecimento de que o Sr. Eric tinha alguma participação na Corretora Turfa.

O SR. LUIZ PAULO – Ainda há pouco, o senhor respondendo a pergunta do Presidente, o senhor deu a atender que acompanhou no mercado o que aconteceu com os títulos que o senhor colocou lá; o senhor acabou de dar esse depoimento. Por via de conseqüência, suponho, que o senhor também conhece as pontas compradoras e vendedoras desses títulos, porque o senhor acompanhou. O senhor conhece as pontas compradoras e vendedoras desse título?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Esse acompanhamento, primeiro, não faço através de nenhuma distribuidora, esse acompanhamento você pode fazer através do site Selic-Bacen, vendo o preço dos títulos, quantos estão sendo negociados em cada dia e se foram negociados.

Só tive contato com as corretoras e distribuidoras, assim como inúmeras entidades, depois que tomei posse no Rioprevidência, era, vou falar de uma forma mais popular, era uma fila de bancos e empresas me visitando, me contatando, pessoalmente, ou por telefone, porque viam o fundo de previdência como um investidor potencial, e sempre mencionavam 160 milhões de reais, que é o que a

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grande maioria me perguntava, proveniente de uma grande venda que tinha sido feita. Dinheiro esse, que vou até agora lhe falar, tive a curiosidade de procurar dentro do fundo, e não encontrei.

O SR. LUIZ PAULO – E esses 160 milhões teriam sido venda de que papel?O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Seriam, pela minha informação,

venda de papéis de propriedade do Rioprevidência, Elet’s, e que geraram, inclusive, um processo a respeito dessa operação de venda, e que esse dinheiro, e essa é uma certeza que eu tenho, não estava capitalizado no fundo de previdência.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor acabou de nos afirmar que tinha uma fila na sua porta, e acredito, de corretoras e bancos querendo trabalhar com os seus papéis, ou, até aplicar o dinheiro do fundo, inclusive com o chamariz desses 160 milhões de reais, que foi parar em outro lugar que não no fundo do Rioprevidência.

Qual foi o critério que o senhor usou para selecionar a Turfa, a Quantia e a CQJR?O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – O mercado de compra de títulos é

um mercado de oferta e de demanda. Então, todas as empresas que me procuravam ofereciam desde o CDB, ao Título Público, a aplicações em ações, em bolsa. Então, eu fazia o registro e todos sabiam, no mercado isso é muito comum. Quando eu falava com algum banco, ou alguma distribuidora, não obrigatoriamente o banco com quem eu fazia operação: “Eu pretendo comprar, por exemplo, letras do Tesouro Nacional, vencimento 2006.” Essa informação, se o banco não tem, imediatamente corre o mercado. E não demora muito para alguém te ligar ou te visitar, dizendo que tem. Então, seu trabalho é justamente a avaliação dentro dos parâmetros de preço máximo e mínimo, ajustado ao seu lote, que você quer comprar. No caso do Rioprevidência, só trabalhamos com lotes fracionários, que têm negociação mais difícil e valores mais elevados, como o mercado comprova.

Neste ponto do depoimento, Mauro Michelsen comentou sobre a negociação para a construção de um hospital privado num terreno do Rioprevidência, no Leblon:

O SR. LUIZ PAULO - Mudando de tema, Sr. Mauro, qual foi o fundamento legal que o levou a concordar com o Protocolo de Intenções, assinado em 04/11/02, publicado no D.O. do dia 28/11, para a construção do Hospital Internacional do Rio de Janeiro, no imóvel 915, da Av. Bartolomeu Mitre, tendo como parte a MED-RIO?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não tenho o documento na minha mão, mas vou lhe responder a respeito disso.

Participei de cerca de duas reuniões. Uma delas, uma apresentação ao Conselho de Administração do Fundo, com a presença de várias pessoas, na qual um projeto - que já vinha do governo anterior - que seria um investimento a ser feito por um grupo internacional num terreno de propriedade do Rioprevidência e que iria trazer grandes benefícios, seria levado adiante. Esse documento, que foi assinado o protocolo, na realidade era um documento que foi analisado pela Procuradoria do Estado, através do nosso Procurador, que trabalhava conosco, submetido ao Conselho. Era, simplesmente, o aval para que se estudasse a viabilidade e a legalidade desse empreendimento que, pelo que sei, não foi para frente.

Neste momento, o depoente reafirma que fez as operações financeiras lastreado pelo parecer do Jurídico do Rioprevidência:

O SR. PAULO MELO – O Deputado Luiz Paulo citou, se não me engano, a Lei 3189 que é a Lei do Rioprevidência no seu Artigo 24, Inciso VI que trata da obrigatoriedade do processo licitatório repetido no Decreto Estadual 25217 de 17/03/99 no seu parágrafo segundo, Artigo 16. O senhor tinha conhecimento. Logicamente o senhor tinha uma assessoria jurídica que lhe alertava para essa necessidade de se ter um processo licitatório. Alguma vez alguém lhe fez alguma reprimenda ou alguma orientação nesse sentido no Rioprevidência?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Deputado, antes de fazer a primeira aplicação, ou seja, a primeira compra de títulos públicos, por não ser eu um servidor do Estado, e também o Dr. Ruy Bello não é servidor do Estado, nós contávamos com uma diretoria jurídica, cargo esse ocupado por um Procurador Geral do Estado que, até por sua competência, é uma pessoa conhecida e foi escolhida pelo Governo atual para ser o Procurador Geral do Estado, Dr. Sérgio Neves, eu consultei a área jurídica, perguntando sobre esta compra. E a recomendação que me foi dada foi que, de acordo com a lei 8.666, e seus artigos, eu não precisaria para compra de títulos públicos, fazer licitação. Mas mesmo assim, me recomendou que fizesse, qualquer operação, se tivesse que fazer, através dos bancos oficiais: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil ou Banerj mesmo tendo sido privatizado, era considerado um banco oficial.

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O SR. PAULO MELO – O senhor tem uma idéia, assim um número aproximado de quantas distribuidoras existem, e já que o senhor já esteve procurando no site, o senhor obteve ou procurou informações quantas distribuidoras existem aqui há Rio de Janeiro ou estão credenciadas à Andima? (...) por que, dentre tantas distribuidoras, coincidentemente, se escolhe uma que tem como fundação o início de um Governo e que tem como seu maior acionista o Presidente do Rioprevidência. O senhor não acha isso estranho, Sr. Michelsen?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Deputado, cada entidade, cada banco ou corretora ou distribuidora, filiada à Andima têm característica diferente. Existem grandes bancos que operam grandes lotes, grandes clientes. Outros bancos que operam mercado de renda variável; outros que operam mercado de renda fixa. No caso, as distribuidoras que trabalham com lotes pequenos e fracionários, o senhor pode tirar dessa lista. Isso é de conhecimento do mercado. E reduzir essa lista enorme para uma lista bem menor.

O SR. PAULO MELO – Mas é de conhecimento, também, pelo menos eu, também não tenho nenhum conhecimento jurídico como senhor, que qualquer transação com o Poder Público tem que ser acompanhado de documento de quem faz, no caso de sociedades anônimas, das atas de constituição. Será que em uma negociação desse montante não foi pedido documento nenhum da distribuidora? Não foi pedido um contrato social, ata de constituição? É obrigado a pedir, porque há uma transação, há um processo administrativo. Será que lá ninguém descobriu que Sr. Eric Bello era sócio?

O SR MAURO EDUARDO AGOSTINHO MILCHELSEN – Sr. Deputado, eu tomei conhecimento que o Sr. Eric Bello era sócio, através do presidente. E não é prática no mercado, quando se faz uma negociação, uma empresa que está aberta e autorizada, e que suponho eu fiscalizada pelo Banco Central, de pedir referência, porque o mercado entende que essa fiscalização está sendo feita. E não tive, respondendo sua pergunta, nenhuma orientação ou indagação da área jurídica a respeito das transações.

O SR. PAULO MELO – Não.. Eu não falei que o senhor tinha que pedir referência. Quem sou eu aqui orientar para pedir referência. É prática da administração pública, e em especial do seu art. 37, da Carta Magna, promulgada em 1988, que “a administração pública é norteada pela transparência, publicidade, economicidade e impessoalidade dos seus atos.” Pressupõe-se, a Constituição, como as leis do Direito Administrativo, e aqui tem alguns administradores, que quando se faz um negócio com qualquer empresa - não é referência - documentos mínimos são exigidos. É isso que estou querendo. Não tinha documento. Nesse caso não se exige documento nenhum?

O SR MAURO EDUARDO AGOSTINHO MILCHELSEN – Não tive nenhuma orientação e também não pedi a documentação, respondendo diretamente ao que o senhor me perguntou.

Michelsen afirmou que a decisão de operar com a Turfa partiu dele, que cuidava pessoalmente de cada transação no mercado:

O SR MAURO EDUARDO AGOSTINHO MILCHELSEN – Todas as transações foram feitas por telefone ou depois de visitas pessoais. No caso, quem pegou as cotações com a Turfa, fui eu. O Rioprevidência não possui, como outros fundos, posso até mencionar o Fundo Prece do Estado, ligado à Cedae, uma mesa de operação. Então, na realidade, eu fazia o papel de procurar os preços de mercado. Achando, comunicar ao Banerj, e obter as cotações e registrar, na minha pasta, todos os históricos das operações.

O SR. PAULO MELO – O senhor comunicou ao Banerj. O Banerj disse que estava acima do preço de mercado e desaconselhou a fazer a operação.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MILCHELSEN – O Banerj desaconselhou sem mostrar, o senhor pode ver, sem dizer qual seria o preço adequado e sem me oferecer uma outra opção. Por quê? O senhor pode ter certeza que se o Banerj na mesma hora dissesse: Eu tenho também os títulos. O Itaú tem também os títulos. Teria sido feito o Banerj.

O depoente, neste momento da oitiva, falou da situação dos imóveis da sua carteira de ativos:

O SR MAURO EDUARDO AGOSTINHO MILCHELSEN – Eu fiz também, durante a minha gestão, um acompanhamento daquilo que seria, deveriam ser os rendimentos dos imóveis pertencentes ao Rioprevidência e diversas vezes cobrei aos setores competentes ações (por que não está sendo cobrado valores de aluguel; o que falta para isso?). Então, eu acompanhei algumas ações, nesse sentido. Inclusive, foi feito por minha orientação, quando no Rioprevidência, uma relação de imóveis e de situação de cada um deles, mostrando o imóvel, quem era ocupante e se pagava alguma coisa ou não.

O SR. PAULO MELO – E o senhor tem, mais ou menos, uma idéia, assim, do que o Rioprevidência perdia ou não perdia.

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O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – É uma coisa assim fabulosa. A área imobiliária é realmente, no meu entender, o maior patrimônio que o Rioprevidência possui.

O SR. PAULO MELO – Fomos nós que aprovamos, aqui, o Substitutivo é de minha autoria, mas eu acho que não está muito preocupado. O senhor diz que é um absurdo. Eu acho que não são 80 ingressos, por mês, que vão resolver o problema do Rioprevidência. Concorda? O senhor participou da negociação de cessão do imóvel, situado na Avenida Afrânio de Melo Franco, nº. 290, no Leblon, entre o Rioprevidência e os Srs. Naum Moisés e Max Hauss, ambos da Sociedade Teatral Casa Grande?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não participei e desconheço essa negociação.

O SR. PAULO MELO – Mas essa negociação foi feita exatamente aos 27 dias do mês de dezembro de 2002, tendo contrapartida o termo de cessão do imóvel avaliado pela prefeitura no seu IPTU em 11 milhões 872 mil e 47 centavos. O termo de cessão por dez anos foi 80 ingressos e a disponibilidade de dois dias, por mês, para atos do Governo. O senhor tem conhecimento disso?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não tenho conhecimento desse assunto. Acredito que a área responsável imobiliária, que é a área jurídica, possa lidar informação.

O SR. PAULO MELO – Nesse tempo, a gente vai entrar aqui em conflito. Não tinha área jurídica porque o senhor afirma aqui, depois, que, em função de não ter área jurídica, aqui, o senhor dá um parecer. Então, esse contrato aqui não tinha área jurídica. Mas, o senhor Ruy Bello nunca comunicou o senhor como diretor de um setor extremamente vital, importante para o Rioprevidência? O senhor nunca participou de nenhuma reunião nesse sentido?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Nunca participei de nenhuma reunião nesse sentido e desconheço...

O SR. PAULO MELO – O senhor dentro do Rioprevidência, todas as autorizações de negócios, negócios quando falo é negócios legais, de negociações, eram feitas diretamente pelo Ruy Bello ao senhor?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Todas as negociações de compras de títulos foram feitas por mim e pelo diretor-presidente, assinatura dos dois. Quanto a outras operações, eu desconheço.

Neste ponto, o Relator Paulo Melo questiona a contratação de uma empresa, no fim do Governo Benedita, apesar do parecer contrário do Jurídico do Rioprevidência:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – CBG foi uma empresa que teve um contrato. Contrato esse condicionado à existência de verba. Esse contrato seria no sentido de recuperar para o fundo de previdência cerca de 400 milhões de reais desse fundo.

O SR. PAULO MELO – R$373.431.722,35. Crédito oriundo de repasse para o Rioprevidência de títulos da CEHAB. Esse processo iniciou no dia 22 de outubro de 2002. Foi aberto, autuado o processo. Em 04 de novembro de 2002, às folhas 25, a Sra. Governadora autoriza, em caráter prioritário, o envio de processo ao Rioprevidência. Em 12 de dezembro de 2002, o diretor de investimento do Rioprevidência, o senhor, submete ao Presidente do Órgão autorização para contratação da empresa Companhia Brasileira de Gestão, pelo valor de R$3.409.567,90, para realização dos serviços, sem indicar nenhuma pesquisa de mercado, consulta ou outras providências quanto à legalidade e economicidade. O Presidente do Órgão, na mesma folha, encaminha à diretoria jurídica, que, devido a diversas suspeições e dúvidas, listadas no parecer da assessoria jurídica, determina, não obstante à urgência solicitada, pelo encaminhamento do processo à Procuradoria Geral do Estado. Começando dia 22 de outubro.

O processo é encaminhado em 22 de novembro à PGE em 2002. O processo não teve parecer e retorna ao Rioprevidência, apesar dos avisos da diretoria jurídica, do gerente de contabilidade sobre a ausência de previsão orçamentária das determinações da CI-SARE, Circular Interna da SARE, em 21 de novembro de 2002, que determina a suspensão de procedimentos processuais em 2002. Em 18 de dezembro de 2002, considerando que o órgão encontra sem diretor jurídico, o diretor de investimento, o senhor, elabora um parecer, que não vem assinado por nenhum advogado; o senhor, louvando-se em afirmações de autoridades superiores, Secretário de Fazenda e Controle, Chefe do Poder Executivo, determinando a assinatura do contrato, que é feito em 23 de dezembro de 2002.

Aqui o senhor cita, o senhor falou, a Lei 8.666 e suas diversas alterações, no seu Art.24, trata das não exigências de licitações, da dispensa de licitação. O senhor acha que isso aqui estava enquadrado na dispensa de licitação?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Em relação a esse contrato...O SR. PAULO MELO – Eu fiz questão de perguntar se o senhor entendia, se o senhor fez algum

curso jurídico, técnica jurídica, porque o seu parecer é brilhante pelo lado jurídico.O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – O meu parecer, na realidade, o meu

comentário, tem como base, Sr. Deputado, documentos, não meus, mas de outros órgãos porque eu não

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teria como fazer um parecer sem uma base de documentos. E nesse contrato específico, que foi assinado, condicionado à existência de dinheiro para pagar, não foi pago nenhum tostão até o dia 31 de dezembro.

O SR. PAULO MELO – O importante não é pago. A administração pública não é regida pelo pago ou não pago, doutor. As improbidades administrativas, a forma administrativa, a condução de um processo, os vícios de um processo são crimes.

O senhor fala na dispensa de licitação. Vou fazer novamente uma pergunta ao senhor e gostaria que fosse muito sucinto. O senhor aqui no seu parecer... Sr. Presidente me permite? Porque é um parecer extenso, ele falou que opinou, mas é um parecer muito bom sob o ponto de vista jurídico e muito fraco sob o ponto de vista moral. O contrato foi assinado, você abre rubrica orçamentária urgente, o senhor dispensa, baseado no Artigo 24. Está aqui, Eduardo Michelsen. O senhor diz aqui: “deverá ser feito em relação à minuta de folha 54, refere-se ao prazo fixado na cláusula 2ª e como se tratava de um cópia do contrato, submetida anteriormente a douta PGE repetiu-se a possibilidade do pacto vir a ser prorrogado por iguais e sucessivos períodos, o que não é viável.” O senhor disse que não é viável, certo? “Para a hipótese de contratação de uma empresa com dispensa de licitação com base no artigo 24, inciso IV da Lei 8693, neste caso há de ser aberta uma licitação para contratação de uma empresa se fosse para prorrogar.” Como não é caso de prorrogar, o senhor sugere a contratação, baseado na dispensa de licitação, desta empresa. O contrato foi assinado no dia 27. O senhor tem conhecimento desse processo. O senhor sabe que não se inclui no Artigo 24, Inciso IV da Lei 8.666, na dispensa de licitação, empresas de sociedade anônima?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não sei.

Mauro Michelsen informou que ao trocar a FGV pelo Rioprevidência, passou a perceber uma remuneração maior:

O SR. PAULO MELO – Eu queria, Deputado Paulo Ramos, só que V.Exa., nas suas perguntas, se o depoente quiser, se ele se lembra qual era o salário dele, quando trabalhava na Fundação Getúlio Vargas, e qual o salário do Rioprevidência.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não me lembro ao certo, mas na Fundação Getúlio Vargas meu salário era cerca de 7.500/8000 reais, mas era um salário com carteira assinada, Fundo de Garantia, Plano Médico etc. férias ...

O SR. PAULO RAMOS – E no Rioprevidência?O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – No Rioprevidência, era um salário

em torno de nove mil reais, sem nenhum tipo de direito a Plano Médico, carteira assinada, coisa desse tipo, ou seja, inferior ao que eu ganhava.

O SR. PAULO RAMOS –... Embora em termos absolutos, a quantia na Fundação Getúlio Vargas fosse menor, o senhor reconhece que ganhava menos no Rioprevidência. O senhor também quis enriquecer o currículo? Porque aquele David Birman disse aqui que queria enriquecer o currículo. O senhor também quis enriquecer o seu currículo?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não, a minha estratégia, Sr. Deputado, foi a seguinte: eu não esperava, a minha intenção não era a de trabalhar no Rioprevidência. Acho que qualquer profissional quer fazer um trabalho bom para ser reconhecido. Como nunca tive filiação partidária com nenhum partido, minha intenção não era fazer um trabalho de dez meses, ou nove meses no Rioprevidência. Era ficar trabalhando no Rioprevidência, em reconhecimento ao trabalho que fiz.

O depoente, ao ser questionado pelo Deputado Gilberto Palmares, contestou, mais uma vez, a versão que umas das operações feitas por ele tenha dado prejuízo aos cofres do Estado:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – (...) Com relação a segunda pergunta, eu assisti o depoimento, pela televisão, na minha casa, das pessoas da Turfa. E estranhei muito, uma corretora falar sobre lucro ou prejuízo e coisas contáveis de um fundo que ela não conhece. Fiquei espantado! Não sei qual o critério. Não sei como fez as contas, mas a realidade para mim, é que a operação, e reconhecido pelo Tribunal de Contas, a operação que foi feita, de venda, se é essa a que o senhor se refere, em 26 de agosto de 2002, deixou um lucro para o Rioprevidência. O qual foi contabilizado, dinheiro recebido pelo Banerj, em que está na folha 90, do Tribunal de Contas de 150.009,84. Desconheço o critério e fiquei sem entender como que uma corretora pode falar de lucro ou prejuízo no Rioprevidência.

O SR. GILBERTO PALMARES - Uma das peças centrais de defesa do Sr. Ruy Bello, Sr. Mauro Michelsen, junto ao Tribunal de Contas, foi argumentar que os indicadores da Andima não seriam os adequados para aquele tipo de apreciação, que os mais adequados seriam o Selic. O Tribunal de Contas

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disse, e a mim me convenceu, que mesmo que isso seja verdadeiro não há uma discrepância tão grande entre os índices da Andima e da Selic. Então eu gostaria que o depoente falasse um pouco. Há distância tão grande entre os indicadores que são apurados pela Andima e os que são apurados pela Selic?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – O Tribunal de Contas... Os índices do Selic/Bacen têm diferença dos índices, ou seja, os preços e cotações, da Andima. Andima, como falei, são baseadas em pesquisa em um número limitado de empresas e Selic/Bacen são, na realidade, do mercado.

O relatório do Tribunal de Contas atribui em datas em que não houveram (sic) registros no sistema Selic/Bacen, elas atribuem valores calculados com uma fórmula matemática que, eu, como profissional, e que ponho isso inclusive, e acho que alguém, talvez um auditor, um especialista do mercado financeiro, e é com essa a intenção que vou fazer, que se manifeste. Porque, você dizer, por exemplo, se o dólar hoje, por um absurdo, estivesse em dez reais e, amanhã, não houvesse nenhuma indicação do dólar, eu diria: “-Olha, amanhã, dia dezenove, como o dólar, no dia treze estava a três e noventa e no dia dezoito está em dez reais, dez mais três e noventa é tanto, dividido por dois... ah! O dólar seria esse”. Então, o quadro que analisei, e ainda não fui em profundidade, ele apresenta essas incorreções. E nessas incorreções, vou trabalhar, com uma assessoria, para mostrar no Tribunal de Contas que existe um engano.

Neste ponto do depoimento, Michelsen tenta justificar para o Deputado Noel de Carvalho as grandes operações realizadas em dezembro e a contratação de uma empresa de gestão nos últimos dias do Governo de Benedita da Silva:

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Aí eu vou chegar à resposta. O senhor deu três opções para eu ter feito a operação de dezembro, eu vou lhe dar a realidade que é a quarta. Por ser um profissional competente, fiz a operação, mas não comprei nada.

Essa operação de dezembro, a imprensa por muitas vezes e por falta de informação, dá uma notícia. Não existia dinheiro novo, 20 milhões que saquei de algum lugar, que surgiu e que foram comprados títulos. A operação, como está no documento do Tribunal de Contas, foi uma operação de troca de títulos, não houve nenhum desembolso. Por que a troca de títulos e porque fiz? Porque durante o ano de 2002, o senhor se lembra, um ano marcado por eleições, um ano que o dólar saiu de quatro reais para, no fim do ano, chegar numa faixa de três e alguma coisa, os meus ativos, acompanhei o mercado, estavam todos indexados ao dólar e o dólar estava caindo a partir dia dez de dezembro vertiginosamente. Eu como profissional acompanhei todos os fundos, inclusive, fundos de previdência, todos os fundos no jargão do mercado, estavam saindo de posições de dólar e entrando em posições de IGPM. Não fazer operação - independente do dia 30 e se eu não tivesse sido exonerado no dia 01º o teria feito - seria uma irresponsabilidade. Eu, simplesmente, troquei títulos que estavam indexados ao dólar por títulos indexados ao IGPM, sem nenhum desembolso. Se eu não tivesse feito Deputado, é um registro que até fiz, eu teria perdido hoje, hoje eu estaria aqui sentado explicando uma perda nesses títulos de 25... uma perda de desvalorização do dólar da ordem de talvez 15 ou 20% e deixaria de ganhar algo em torno do rendimento do IGPM, coisa de 25%.

Então, estaria hoje sentando aqui, eu prefiro sentar aqui na sua presença e explicar o que foi feito em 30 de dezembro ou qualquer outra aplicação que foi feita, foi uma aplicação não de dinheiro novo, mas de troca de indexadores, que todo mercado fez, sem desembolso nenhum. Porque hoje estaria sentado, dizendo o seguinte: por que o senhor, irresponsavelmente, no dia 30, deixou, agora no popular, “o pepino” para o seu sucessor?

Que, aliás, gostaria de ponderar, não houve transição do Rioprevidência. Eu, particularmente, como profissional, fiquei esperando o mês de dezembro inteiro, uma vez as eleições já decididas que alguém sentasse, porque sem dúvida, não tenho dúvida, se um profissional fosse colocado lá, ele teria feito a mesma coisa que eu fiz.

(...) Em relação à empresa CBG, do contrato assinado, eu fiz... Eu dei este parecer e essa recomendação baseada no Departamento Jurídico do Rioprevidência. Eu não sou advogado. Eu não tenho como citar lei tal, lei tal. Não tenho.

O SR. NOEL DE CARVALHO – Mas o contrato foi assinado.O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – O contrato não representou

nenhum desembolso, se foi assinado...O SR. NOEL DE CARVALHO – Foi contratada a empresa...O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN –... ele foi...O SR. LUIZ PAULO – Só para acabar essa discussão.O Estado tem normas. Ninguém pode assinar contrato sem a devida cobertura da nota de

empenho. Se não tem empenho, não pode assinar contrato. Porque o empenho corresponde à previsão

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orçamentária. Um contrato assinado, prevendo recursos do ano seguinte é um contrato ilegal que enquadra o servidor que o faz na Lei da Responsabilidade Fiscal.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Deputado, esse comentário está contido dentro do corpo do contrato. Ou seja, o contrato só será válido a partir do empenho.

O depoente, questionado pelo Deputado André Corrêa, deu a sua versão para números tão desencontrados nas 30 operações feitas no período em que foi diretor do Rioprevidência:

O SR. ANDRÉ CORRÊA - Queria perguntar ao Sr. Mauro, e me utilizando aqui do sempre brilhante, competente e organizado Deputado Luiz Paulo, que me emprestou o seu quadro comparativo onde ele analisa as 30 operações feitas pelo Rioprevidência, eu queria saber se o senhor considera adequado e normal em 30 operações que foram feitas, sob a gestão do senhor, se a gente leva como referência o preço unitário Andima nas 30, ou seja, nas 30 operações o senhor comprou acima do valor de mercado, médio. Nas 30. Sendo que até entendo a argumentação que V. Sa. colocou na troca de títulos, enfim, trocando dólar na perspectiva de desvalorização do dólar. Mas no dia 20, por exemplo, no dia 20/12, utilizando-se da distribuidora Quantia, o senhor negociou um preço unitário de 2.499, ou seja, dois milhões e meio. O preço unitário que o senhor aceito a pagar no dia 20. Enquanto o preço médio... Dia 20, eleição já decidida, o senhor está comprando. E o preço médio da Andima é era de apenas 950 mil. Ou seja, o senhor comprou por 2,5 milhões algo que, no preço médio de mercado, valeria 950 mil. Ou seja, um ágio de compra de mais ou menos 162%.

Um outro, um pouquinho mais adiante, no dia 26. O senhor comprou por dois milhões e cem, algo que o preço médio era também de 962. Portanto, com ágio de 118%.

E nas trinta operações que o senhor fez, em todas elas, o senhor comprou com preço acima de mercado. E é uma coisa interessante. Quanto mais perto do momento do senhor deixar o cargo, mais ágio o senhor paga.

Queria perguntar se isso é um procedimento – para nós, que não conhecemos o mercado financeiro – normal e adequado. Essa é a primeira pergunta. Terei mais duas.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Sr. Deputado, nunca nenhuma compra foi feita fora dos valores do mercado. O mercado é regido por oferta e por demanda. Não analisei em profundidade essa tabela, que me parece ser uma tabela nova, não do processo que recebi do Tribunal de Contas anterior, deve ser uma tabela nova, ainda não analisei. (...) Não conheço essa tabela em específico, mas posso lhe dizer que todos os valores pagos pelo Rioprevidência, todos!, Todas as operações estiveram enquadradas na oferta e na demanda do mercado.

O SR. ANDRÉ CORRÊA - Muito bem, então vamos conversar sobre Selic-Bacen. Já que o senhor está contestando os dados da Andima, vamos para os dados da Selic-Bacen.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não, eu não estou contestando.O SR. ANDRÉ CORRÊA - Tudo bem, Selic-Bacen, no mesmo dia.O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Qual o dia específico?O SR. ANDRÉ CORRÊA - Dia específico, 20 de dezembro. O senhor operou com a distribuidora

Quantia. O senhor negociou um PU de 2.499 milhões, como o senhor mesmo disse aqui, reforçando o meu argumento, o Selic-Bacen desse dia que tem o cômputo de todas as operações feitas no dia, dá um valor médio de 955. Portanto, um deságio de 161%. Isso significa que o senhor comprou no dia 20, comprou, o senhor é comprado no mercado, o senhor comprou no dia 20, faltando onze dias para o senhor deixar o Governo, num preço quase quatro vezes maior, portanto, um ágio de 161%, títulos, levando para o argumento nos cálculos que o senhor está colocando.

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Eu lhe respondo, Deputado. Eu não conheço a tabela, não tem... Nessa sua tabela Selic-Bacen qual é a mínima, média e máxima desse mesmo dia, do sistema Selic-Bacen?

O SR. ANDRÉ CORRÊA - Eu não tenho aqui.O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Então, vou dizer que a tabela...O SR. ANDRÉ CORRÊA - Enfim, quero dar seqüência e, confesso, aqui nenhum de nós é

especialista no mercado financeiro. Mas, aritmética, por si só, mostra uma série de situações.A segunda questão que quero abordar e reforçar aqui – e nos depoimentos da Corretora Turfa

observamos - é que uma corretora, não sei se o senhor tem essas informações – se o senhor acha isso normal ou pouco usual - a Corretora Turfa contabilizou um lucro das suas cinco operações. E ela fez, segundo os depoimentos de seus diretores, no ano de 2002 – que foi o ano em que ela começou a funcionar – de abril e maio, ou seja, ela começou a funcionar tão logo V. S. tomou posse, ela fez 210 operações no ano de 2002. Dessas 210, ela fez apenas cinco com o Rioprevidência. E nessas cinco, ela auferiu lucros contabilizados – conforme declaração aqui – de setecentos e vinte mil reais. Pois bem: segundo dados também contabilizados, ela, em todas as outras operações, e fechando seu lucro líquido em torno de trezentos e vinte mil reais. Isso significa o seguinte: que ela operou o ano inteiro e só do Rioprevidência

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ela teve um lucro de setecentos e vinte mil reais, e, em todas as suas outras operações, ela teve que perder dinheiro, porque ela só teve um lucro de trezentos e vinte, ou seja, foi a grande tacada da Turfa, as cinco operações. E, por coincidência, o sócio majoritário da Turfa é o senhor Eric, que é filho do Sr. Ruy Bello.

O senhor, como especialista do mercado financeiro, avaliando essa movimentação da Turfa, acha que... Qual é sua opinião sobre esses números?

O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Com relação à primeira pergunta – peço desculpas por ter interrompido antes -, precisaria analisar a tabela, porque se estamos falando do sistema Selic-Bacen, temos que analisar o número de títulos negociados no dia, mínima, média e máxima do dia. Sem isso, não posso fazer uma análise.

O SR. ANDRÉ CORRÊA - Mas um ágio de 162% é possível no mercado?O SR. MAURO EDUARDO AGOSTINHO MICHELSEN – Não, senhor. Um ágio de 162%

acho muito difícil.

No dia 18 de março, os membros da comissão ouviram o depoimento do economista Jessé Soares Figueira, Diretor Operacional e sócio da Distribuidora CQJR. Segundo ele, que opera no mercado desde 1980, a empresa iniciou suas operações no ano de 1990 e ele se associou a Alberto Barroso Filho, em 1994. Jessé Figueira também contestou os dados do Tribunal de Contas, que apontaram operações financeiras lesivas ao patrimônio do Rioprevidência:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O que Vossa Senhoria teria a dizer a respeito desse relatório? Desse relatório que constata, faz uma constatação de que as transações que foram intermediadas pela empresa de Vossa Senhoria causaram um prejuízo ao erário do Rioprevidência na ordem de 7 milhões 586 mil 103 Reais e 38 centavos?

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Eu desconheço esse valor. Eu desconheço que tenha causado prejuízo ao Rioprevidência. As operações montantes que realizamos totalizam uma receita de 6 milhões, 900 e alguma coisa, eu não sei precisar agora.

Agora, do relatório que veio do Tribunal de Contas, eu discordei, em parte, de algumas coisas ali pela forma como foi encaminhada a gente. E outra coisa, em momento nenhum eu fui fiscalizado, em momento nenhum eu fui questionado sobre esse tipo de receita. Eu sou fiscalizado pelo Banco Central, entre outros, mas, pelo Tribunal de Contas eu não fui fiscalizado, eu não fui argüido sobre esse tipo de receita.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O Tribunal de Contas vem e analisa as transações que foram feitas do Rioprevidência com a sua distribuidora e relata que essas transações, efetivamente, causaram o prejuízo de alguns milhões de Reais aos cofres do Rioprevidência. Qual é a linha da sua defesa para que essa Comissão possa levar em consideração que essas transações não trouxeram prejuízo ao Rioprevidência?

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Eu desconheço se a operação trouxe prejuízo ao Rioprevidência. Veja bem, eu na minha instituição de mercado, qual é minha função? Eu sou um broker. A minha função é tentar buscar o melhor negócio para minha empresa.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Nem que isso cause prejuízo para o Erário Público.

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Eu não estou entrando no mérito de Erário Público pelo seguinte...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Não, mas o mérito é total. Todas as pessoas têm responsabilidades. Vossa senhoria tem, como empresário, claro, que ter lucros. Agora, mesmo que para isso um órgão público seja prejudicado em 31 milhões de Reais, por exemplo?

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Mas, eu desconheço essa questão dos 31 milhões porque eu fiz uma operação dentro do mercado financeiro, dentro dos parâmetros que o mercado opera, dentro das regras que o mercado opera.

O depoente negou que tenha operado fora das regras do mercado ou de forma irregular:

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – A minha defesa de contestação, veja bem, o Tribunal estava colocando que as operações foram de forma irregular. Tentei me prender a situação de que não foi de forma irregular, a operação feita dentro dos parâmetros do mercado, dentro do que o mercado pratica, dentro daquilo que eu posso fazer. Veja bem, se eu estou numa instituição e alguém quer comprar um título, alguém quer vender um título, eu não tenho a função de alertar se ele está vendendo

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bem, se está vendendo mal ou não. A minha função é tentar fazer uma operação da melhor maneira possível.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Certo. Então, V. Sª., neste momento, perante esta CPI, alega que, mesmo sabendo que aquela transação poderia estar fora dos padrões de mercado, não teria nenhum tipo de responsabilidade com essa transação. É isso?

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Não, não estou agindo de má-fé. Veja bem, deixe eu tentar me expressar de outra forma. Eu não estou agindo de má-fé, estou falando o seguinte: naquele momento em que estou fazendo uma operação, não tenho noção se essa operação está causando prejuízo a A, B ou C, isso eu não tenho noção. Tem várias formas de você operar no mercado. Existem “n” formas de você operar no mercado. Então, por exemplo, por ser responsável pela minha instituição, tenho uma mesa de operação que é ativa e está o dia inteiro se relacionando com o mercado, tentando buscar o negócio. Essa é uma forma de você operar. E tem outras formas também: eu posso, simplesmente, liquidar uma operação para alguém; posso, simplesmente, fazer uma parceria com alguém, depende do modelo da operação. Por isso eu falei para V. Exa., em momento nenhum eu fui fiscalizado, questionado sobre essa receita de sete milhões. (...) Volto a frisar, hora nenhuma eu fui questionado e fiscalizado sobre essas operações. Pela primeira vez, está sendo feito agora.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Quanto a empresa de V. Sª. arrecadou por ter intermediado essas transações?

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – A minha empresa arrecadou, por ter intermediado essas operações, na ordem de 120 mil reais, aproximadamente; 110, 120 mil reais.

O depoente, que opera como broker no mercado, afirmou que, nas transações do dia-a-dia, não aconselha o cliente ou que está do outro lado da linha:

O SR. LUIZ PAULO – O senhor deixou a entender que a responsabilidade de comprar, comprar, na alta e vender na baixa é única e exclusiva do cliente, o senhor não tem nenhuma responsabilidade sobre isso.

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Veja bem, a responsabilidade de quem vai comprar, do outro lado se tem uma Rioprevidência, se tem outra instituição, se ela está comprando ou vendendo, na baixa ou na alta, no momento que for a responsabilidade é dele.

O SR. LUIZ PAULO – Mesmo que seja um ente público, o senhor não tem nenhuma responsabilidade, o senhor não aconselha o seu cliente.

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Não, eu não aconselho o meu cliente. A minha função como broker, como intermediário é intermediar a operação, eu não aconselho, eu não faço consultoria nesses casos.

Neste momento, Jessé Figueira procurou mostrar como funciona o mercado de operações financeiras:

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Deixa eu fazer um esclarecimento em termos de funcionamento de mercado. Quando você trabalha com uma instituição, que não é o meu caso, onde você trabalha pessoas físicas, clientes de um modo geral, pessoas físicas e jurídicas não financeiras, não institucionais, o comportamento é um. Quando você trabalha num mercado onde o seu relacionamento é entre instituições, estou trabalhando com concorrente direto. A minha função é buscar o melhor negócio para a minha empresa. Não tenho a função de dar assessoramento para falar se a instituição A, B ou C está fazendo ou não um bom negócio. Não é minha função.

O SR. LUIZ PAULO – Sr. Jesse, o que o senhor considera o melhor negócio para sua empresa na compra e venda de título público?

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – Comprar no melhor preço e vender no melhor preço.(...) Porque, veja bem, eu como intermediário, primeiro que o campo da atuação das distribuidoras, hoje, intermediária, está muito limitado, está pequeno, a gente está brigando para sobreviver. Então, a minha função é tentar deixar a minha empresa sobreviver. Quando eu falei aqui – desculpa o tom que estou falando, não tem nada a ver com esta Casa, é porque realmente está sentado, aqui, já é um mal-estar para minha pessoa, não é uma coisa agradável para ninguém, não gostaria de estar aqui. Sai noticiado sempre na imprensa que você ganhou sete milhões. Quando sai isso na imprensa, desde o ano passado, você já começa a sofrer restrição do mercado e eu não ganhei sete milhões de reais, a minha empresa não se beneficiou em sete milhões de reais. Então, sai na imprensa numa hora em que você não foi fiscalizado, ninguém o ouviu. Mas como é que se chega a um resultado de sete milhões se ninguém foi a minha casa, bater na minha porta: deixa eu ver seu balanço, deixa eu ver sua contabilidade, deixa eu dar uma olhada em você. Ninguém fez isso. Mas, primeiro, foi para a mídia, já saiu, você recebe ligações de deboche, você

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recebe na sua casa ligação, os clientes começam a se afastar de você, você já foi condenado para depois ser investigado. Então, infelizmente é um processo que estou passando – desculpa estar fazendo esse desabafo – estou falando não é em tom de revolta contra ninguém, aqui, não eu estou tentando dar...

O depoente informou que nunca manteve contato com o Rioprevidência, nem mesmo por telefone. Segundo ele, as operações realizadas para a instituição foram intermediadas por terceiros, como explicou:

O SR. JESSE SOARES FIGUEIRA – (...) Então, veja bem, o contrato que eu tenho comigo firmado é com uma empresa de consultoria, uma não, algumas empresas de consultoria, onde eles não estão atuando no mercado – isso é uma coisa normal, inclusive o Banco Central é ciente disso, tenho todos os meus contratos registrados no Banco Central – diretamente, porque elas não podem, porque elas não são instituições financeiras, mas elas têm os contatos, elas têm as fontes delas. Então, eu simplesmente liquido a operação. Eu como broker, como intermediário que tenho interesse de me manter. Eu, simplesmente, liquido a operação através de um contrato que eu tenho com as empresas, algumas empresas de consultoria operação – como te falei no começo. O senhor desculpa da forma como eu falei – veja bem, eu desconheço no momento da operação se está dando prejuízo, ou lucro, ou alguma coisa. Eu tenho um contrato, onde nesse contrato há uma parceria para se buscar os melhores negócios e essas pessoas têm os contatos.

Eu não tenho contrato com o Rioprevidência, volto a afirmar, não tenho contato. Fiz uma visita ou duas no Rioprevidência, que é visita de rotina que se faz. Toda vez que uma instituição, de um órgão governamental, um banco, muda a diretoria é de praxe do mercado você ir visitar para tentar trazer negócios. É normal não apenas no Rioprevidência, mas qualquer fundo de pensão, qualquer fundação quando começa uma nova legislatura eu vou lá fazer uma visita, os meus operadores, os meus funcionários vão fazer. Agora, não tenho contrato com o Rioprevidência. Queria deixar claro aqui. Não tenho contrato nenhum com o Rioprevidência.

No dia 23 de março a CPI ouviu João Luiz Meireles da Conceição. Inicialmente, o depoente disse que exerceu o cargo de Diretor de Operações do Rioprevidência entre 27 de março de 2002 e 8 de abril de 2002. Foi um mandato de 12 dias, período que foram efetivadas transações de debêntures da Eletrobrás, na ordem de R$ 300 milhões. Antes, no entanto, João Luiz Meireles, no Rioprevidência, ocupou o cargo de Diretor de Administração e Finanças do fundo, durante um ano, na época de criação da instituição. O depoente lembrou que foi convidado para integrar o Governo de Estado na condição de assessor especial de assuntos previdenciários, em função da experiência que tinha na matéria. Ele disse que participou do processo de transição onde foi concebido o Rioprevidência. Depois, “nós defendemos o Projeto de Lei, inclusive, nesta Casa Legislativa e o Rioprevidência foi criado”.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – V. Sa. poderia relatar a esta Comissão, efetivamente, como se deu essa venda dos títulos da Eletrobrás? Como ocorreram as transferências para o Rioprevidência e como ocorreu a venda desses títulos?

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Na realidade, Sr. Presidente, essa transação entre o Banco do Estado do Rio de Janeiro, em liquidação ordinária, e do Rioprevidência começou anteriormente a minha posse como diretor de investimentos. Ela é datada do mês de fevereiro de 2002. Então, no período em que eu estive, já tinham sido feitos os dois termos de transação entre o Banco do Estado do Rio de Janeiro, em liquidação ordinária, e o Rioprevidência. (...) De qualquer forma, o conhecimento da operação técnica no sentido, o Banco do Estado do Rio de Janeiro transferiu ELETs (títulos público da Eletrobrás) para o Rioprevidência por conta de um passivo atuarial. Na realidade, o Estado do Rio de Janeiro assumiu obrigações previdenciárias com relação aos ex-participantes do Previ-Banerj (fundo de pensão do banco). E com relação a alguns empregados, que eram detentores do que a gente chamava de plano de incentivos, eles tinham direito a planos de incentivos à aposentadoria.

Então, o Rio de Janeiro assumiu essas obrigações previdenciárias e, no processo de liquidação do BERJ, se entendeu que, na medida em que o Estado tinha absorvido essas obrigações, o Estado se transformava em credor previdenciário, portanto, pela lei de liquidação, ele tinha crédito preferencial.

Então, foi feita essa transferência para cobrir esse passivo por conta da assunção de obrigações.

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O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Isso representa uma transação na ordem de quanto?

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Foram feitas duas transações. Eu não posso precisar direito, mas alguma coisa próxima de 300 milhões, salvo engano.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Na hora que foi colocado em leilão esses títulos, V. Sa. considerava que era o melhor momento para se vender esses títulos da Eletrobrás?

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – É importante enfatizar que foi feito leilão público. Foi colocada oferta em leilão público com agente custodiante, o Banerj. E, na realidade, o preço foi o preço praticado pelo mercado.

Existe uma questão extremamente relevante no tocante à situação previdenciária do Estado. O Rioprevidência, na realidade, foi um instrumento utilizado para viabilizar a situação previdenciária do Estado. Então, todos esses recursos que ingressavam no fundo de previdência, eles eram utilizados para pagamento de aposentadorias e pensões.

Portanto, acredito que o momento era um momento adequado em função da realidade financeira do Estado.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Esses títulos venceriam quando?O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Eu não posso precisar. Realmente me

falha à memória. (...) Dois mil e dezesseis. Alguma coisa assim. (...) Mas eu gostaria de deixar claro que não posso precisar a data.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – E, na avaliação de V. Sa., sendo uma pessoa do mercado, qual era o deságio que o mercado consideraria saudável?

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – O mercado é muito dinâmico; em função da liquidez do título, em função de uma série de fatores se observa o deságio. À época, o deságio praticado foi um deságio do mercado, quer dizer, quando você coloca um título no leilão, os diversos operadores do sistema observam a liquidez desse título e oferecem um deságio em função do valor de liquidez desse título.

Neste ponto da oitiva, o Relator pediu informações sobre outras operações de porte:

O SR. LUIZ PAULO – Há coisa aqui que eu estranhei. O senhor foi diretor de investimento do Rioprevidência de 27 de março, de 2002, a 09/04 de 2002, 12 dias, uma passagem meteórica nesse cargo, justamente na transição do Governo Garotinho para o Governo Benedita. O Governador Garotinho, salvo falha de memória, saiu do Governo em 06/04, o senhor ficou lá até o dia 09, quer dizer, justo nessa transição. E nós recebemos, hoje, um documento do Rioprevidência, que no dia 05 de abril, no seu período de 12 dias, o Rioprevidência fez três aplicações em CDBs pré-fixados. Ele comprou 7 milhões em CDBs do Banco de Santos, com uma taxa de 18.4 ao ano, 5 milhões do Banco Industrial, o primeiro foi num prazo de 364 dias, no segundo de 180 dias, numa taxa de 18.3 ao ano e mais 5 milhões ao Banco Schain, também um papel de 180 dias, com a mesma taxa de 18.3. Veja, e essas operações foram no dia 05, no dia 06 mudava o Governo. Foi o senhor que avalizou essas operações?

O SR JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Na realidade, não sei se o senhor tem conhecimento do processo como um todo, eu, tecnicamente, fiz, digamos assim... (...) Foi uma orientação técnica no tocante à aplicação. Na realidade, é importante ressaltar que a aplicação se demonstrou extremamente rentável, porque, primeiro, os critérios de rentabilidade, solvência, garantia e liquidez foram observados. A orientação de aplicar em títulos pré-fixados se mostrou, ao longo do tempo, como melhor aplicação, porque, no mês de maio daquele mesmo ano, houve uma marcação a mercado do Banco Central e quem tinha título pós-fixado teve uma perda, um prejuízo em torno de 3%. Na realidade, esse dinheiro retornou aos cofres da Instituição com uma rentabilidade expressiva. Na época, foi pesquisado no mercado diversas instituições financeiras, que ofereceram uma série de taxas, e foi em função disso que foram feitas as operações. A orientação foi nesse sentido técnica.

O SR. LUIZ PAULO – Na verdade, os 7 milhões, em 364 dias, viraram 8.293 milhões; os 5 milhões, 5.438 milhões e os outros 5 milhões do Banco Schain também 5.438 milhões, tendo em vista que foi a mesma taxa.

Essa questão é pertinente porque o senhor decidiu uma aplicação no dia 05, no dia 06 saía do Governo o Sr. Garotinho, até por uma questão de justiça, o Sr. Mauro Michelsen aplicou no dia 30, não em CDB, mas em Letras do Tesouro; e no dia 01 assumiria a Governadora Rosinha. Então, estou querendo só mostrar práticas similares, independente se os resultados foram positivos ou negativos.

No apagar das luzes de um Governo o senhor aplicou 17 milhões de reais. Pelos números que, aqui possuo, foram aplicações positivas. Não sou expert em mercado, mas sou engenheiro; basta olhar os números, ver qual foi a inflação do ano para ver que não foi tão bom quanto os juros internacionais que pagamos, mas, em relação a mercado, foi positivo. Enquanto a do Sr. Mauro, pelo menos, estamos em dúvida se foi positiva ou negativa.

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Com toda a sua competência especifica, gostaria de perguntar por que o senhor aceitou um cargo para ter uma função meteórica? O senhor sabia que ia sair. Se o senhor tem compromisso com o Governo Garotinho, vai entrar o Governo Benedita, que é arrivista do Governo Garotinho, por que o senhor aceita ir para um cargo para ficar 12 dias? Eu achei estranho.

O SR JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Na realidade, a condução do fundo de previdência, até o mês de fevereiro, vinha sendo feita pelo Dr. Flávio Martins Rodrigues, desde o início - inclusive com quem eu compartilhei a diretoria - e ele saiu do Rioprevidência no final do mês de fevereiro. O Secretário de Administração, Dr. Hugo Leal, assumiu interinamente o Rioprevidência e aí me fez um pedido, um apelo, para que eu pudesse socorrê-lo, talvez em função do meu conhecimento do fundo, por ter participado do processo de criação do fundo e por ter sido diretor do fundo. Então, fui lá, no sentido de colaborar; até porque como era um processo final e haveria uma transição seria interessante que tivesse, dentro da instituição, pessoas que possuíssem memória da Instituição.

O depoente explicou por que fez a operação no fim da sua gestão:

O SR JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Bem, a gente fez uma análise de mercado, a gente verificou que a tendência era de queda da taxa Selic e que seria interessante fazer um título pré-fixado para garantia de uma taxa de juros mais atrativa.

De qualquer maneira, é importante enfatizar, registrar que eu apenas faço orientação técnica. Como diretor de investimento a gente faz orientação técnica nesse tipo.

Neste ponto, o depoente comenta a afirmação feita anteriormente por Mauro Michelsen, que afirmou que o dinheiro apurado na venda das ELET’s não entrou nos cofres do Rioprevidência:

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO - Na realidade o que acontece no Rioprevidência, hoje, serve como uma forma de atenuar as dificuldades de caixa do Tesouro do Estado. Ele assumiu as obrigações com o pagamento de aposentadorias e pensões e todos os recursos que ingressam na conta do Rioprevidência, hoje, são utilizados para pagamentos de aposentadorias e pensões. Então, esse dinheiro das ELET’S entrou na conta do Rioprevidência, automaticamente foi utilizado para o pagamento de aposentadorias e pensões. Dificilmente hoje no Estado, em função da situação previdenciária, que não é uma peculiaridade do Estado do Rio de Janeiro, na realidade todos os Estados brasileiros passam por dificuldades muito grandes no tocante a questão previdenciária do serviço público, não é à toa que em cinco anos já tivemos duas emendas à Constituição no tocante a previdência do servidor público, então os recursos que ingressam no Rioprevidência são utilizados para auxiliar o Tesouro nessa tarefa de pagar aposentadorias e pensões.

O SR. LUIZ PAULO – Mas eu volto a dizer que estranho esse dinheiro não ter entrado no caixa do Rioprevidência.

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Não, ele entrou, até porque a transação foi feita entre o Banco do Estado do Rio de Janeiro e o Rioprevidência. (...) O dinheiro ingressa na conta e da conta é utilizado para pagamento.

João Luiz disse que a operação das ELET’s não era a ideal sob o ponto de vista técnico, mas era uma necessidade premente do Rioprevidência:

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – (...) Na realidade, o que temos que analisar é a situação previdenciária do Estado do Rio de Janeiro. O passivo herdado é extremamente alto.

Dessa forma, fica muito difícil fazer qualquer processo de capitalização, que seria o ideal; como nós temos os fundos de pensão, a previdência complementar fechada. O ideal seria que nós pudéssemos angariar recursos, criar reservas técnicas, reservas matemáticas para que pudéssemos, no futuro, absorver esses encargos. Mas, em função do passivo herdado... Para que o senhor tenha uma idéia, os últimos estudos atuariais do Sistema Previdenciário do Estado apontam um déficit previdenciário, atuarial, na ordem de 40 bilhões de reais, entre reservas matemáticas de benefícios concedidos e a conceder. Então, fica muito complicado os recursos entrarem e a gente segurar, como forma de capitalização, vendo o Estado passar por dificuldades para pagamento de folha e outras coisas mais. Então, na realidade, o correto sob o ponto de vista técnico, seria essa afirmativa que o senhor fez, mas a realidade prática, o dia a dia, nos leva a ter que utilizar esses recursos para ajudar o Tesouro do Estado.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor certamente trabalhou na lei de criação do Rioprevidência, na lei de 1999. Então, o senhor é quase, com esta Casa Legislativa, co-autor dela, porque a proposta veio do

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Poder Executivo. E tem lá um artigo, se não me engano, o Art. 24, Inciso VI, que diz que as aplicações do Rioprevidência têm que ter uma política de investimentos aprovada pelo Conselho de Administração. O senhor sabe se houve reunião do Conselho que deu a decisão de vender as ELET’s ou de aplicar esses 17 milhões.

O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – O que tenho conhecimento é que houve reunião de Conselho para a questão das ELET’s, com certeza.

O SR. LUIZ PAULO – E para os 17 dos CDBs? O SR. JOÃO LUIZ MEIRELES DA CONCEIÇÃO – Eu desconheço.

Em 25 de março, a Comissão ouviu Lauro José Senra de Gouvêa, representante da empresa Quantia Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Segundo ele, a empresa foi fundada em dezembro de 1992, no Rio de Janeiro. Em 94, foi aberta uma filial em São Paulo e, em 96 ou 97, disse não saber precisar, a filial se tornou matriz. O depoente disse ainda que a Quantia é de sua propriedade e do pai, Joaquim Cândido de Gouvêa. Ao contrário dos outros sócios de corretoras ouvidos anteriormente, o depoente disse que conhecia Mauro Michelsen:

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Olha, a empresa não foi escolhida. Eu que procurei a Rioprevidência e mostrei as operações.

Eu conheci o Mauro Michelsen, se me recordo, acho que foi em agosto de 2002, ou julho de 2002, nessa fase, numa estadia que eu tive aqui no Rio. E eu procurei algumas fundações, algumas empresas jurídicas não financeiras, como eu sempre faço. Eu opero no Rio de Janeiro, opero em todos os Estados. Eu vou, procuro, a empresa vai, procura clientes, tentando fazer algumas engenharias financeiras que promovam operações rentáveis.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Quantas vezes V.Sa. esteve com o Mauro Michelsen?

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Algumas vezes. O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Aproximadamente? O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Aproximadamente umas quatro ou cinco vezes.

Fizemos contatos, alguns telefônicos, alguns pessoalmente. Inclusive, na época, a Rioprevidência teve um problema, não me recordo bem, não sei se isso é verdade também, mas sobre questões telefônicas; não sei se cortaram os telefones da Rioprevidência, mas existia um problema telefônico numa situação.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – E dentro dessas quatro conversas, com certeza altamente produtivas, sob o ponto de vista do fechamento do negócio, tanto é que a empresa de V. Sa. acabou fazendo diversas transações volumosas entre o Rioprevidência...

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Para a Quantia DTVM são operações normais, que não são volumosas. A Quantia tem doze a treze anos de existência, sempre operou com todas as instituições do mercado financeiro, com algumas fundações, alguns fundos, com clientes de primeiríssima linha, de segunda, de terceira, sem problema nenhum. Então, é uma operação que estamos vendo, pela Rioprevidência, altamente normal. Não são volumes altos. (...) É que falo que não são volumosas porque opero diretamente com bancos nacionais e estrangeiros. Em noventa e oito, a Quantia foi classificada como uma das dez maiores empresas em termos de ativos negociados. Em 2001, foi a quinta entre as distribuidoras nacionais.

O depoente também negou que a Quantia tenha causado algum prejuízo para o Rioprevidência. Segundo ele, todas as operações foram rentáveis:

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Não concordo que tenha tido dezessete milhões de prejuízo e que a Fundação tenha tido prejuízo, pelo contrário, todas as operações que foram feitas com a Quantia teve lucro, todas as operações. Aí tenho a defesa que o Dr. Fernando está encaminhando para o TCE, explicando todas as operações e não existe prejuízo. O prejuízo existe quando uma empresa compra um ativo, por cinco e vende por quatro. Então, esse é um prejuízo. A Fundação está comprando um ativo financeiro indexado ao câmbio, indexado ao IGPM futuramente também e que ela vai ter uma rentabilidade; vão ser pagos os juros e vai ser paga a rentabilidade no final do exercício, do vencimento.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Pelo relatório apresentado, fica claro que a Andima e Selic, títulos foram comprados e vendidos, em alguns casos, com 160% acima ou abaixo do valor. V.Sa. considera isso positivo para o Rioprevidência? Mesmo essas transações sendo feitas sem

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dissintonia com o que estava sendo feito no mercado naquele momento? Provas disso são as taxas Andima e Selic.

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Essa pesquisa, desse relatório, são taxas que não vou falar que sejam ilustrativas, são estatísticas...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – A Selic não. O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA - A Selic não, mas a liquidação das operações... Eu

acho o seguinte: eu concordo que quando você tem uma operação e ela se fechou, ela comprou e vendeu. Se fosse alguma coisa errada, fora do contexto, o Banco Central não realizaria essa operação. E, depois, essas operações, foi chamado atenção, depois que passou, no final do dia, quando o Banerj chamou atenção, li isso no relatório. Então, eu não concordo.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Mas não concorda baseado em quê? No mercado?

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA - No mercado. O mercado estava passando por um problema de pós-eleitoral e pré-eleitoral.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Na verdade, Sr. Lauro, todo mundo que veio aqui... Todo mundo diz o seguinte: esses cálculos estão errados, a taxa da Andima e a taxa Selic estão erradas porque o mercado... Mas a taxa Andima e a Selic representam o que está acontecendo no mercado naquele momento.

Então, volto a perguntar: V.Sa. tem algum cálculo, algum outro demonstrativo, outras transações que ocorreram naquele mesmo momento no mercado que possam estar mostrando a esta CPI que, realmente, o que foi falado não procede? Porque, realmente, a linha de defesa é sempre a mesma; o mercado. Mas o mercado é a taxa Selic, é a taxa Andima, que representam o que vinha acontecendo naquele momento. Insisto nessa pergunta.

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Volta a dizer que a taxa da Andima e a taxa do Banco Central e a taxa Selic no dia, não me recordo bem se houve outros negócios em cima disso. Tenho certeza que houve o negócio que nós fizemos e que foi de acordo com o mercado no momento.

Então, dentro do mercado do dia, você tem um preço mínimo e um preço máximo. Agora, ninguém observa, nesse dia, que estamos passando uma situação pré-eleitoral, o dólar subindo, onde a Fundação comprou dólar para se rediar de uma posição, no que ela estava fazendo muito bem – o dólar estava saindo de três reais para três reais e trinta, onde a três reais e noventa e cinco – e com perspectivas de bater quatro reais e cinqüenta, em função da eleição do Sr. Presidente Lula, se ele iria cumprir com os acordos, se ele quebrar os acordos. Então, existia aquela dinâmica e nessa dinâmica não existia mais cálculo.

No dia, você queria ter o poder do dólar; você queria ter o papel indexado ao dólar, o ativo indexado ao dólar: "ah, eu tenho, dólar... o papel vale aqui, para ter um dólar a três e vinte"; "mas eu só tenho venda a três e cinqüenta". Então, eu vou querer comprar o dólar a três e cinqüenta porque no dia seguinte vai subir. Então, a expectativa era essa: quero ter o ativo. Como aconteceu com muitas outras fundações, muitas outras distribuidoras, muitos outros bancos. E as empresas se rediando em posição do real. "Eu quero me rediar em dólar, não quero ter o real. Não sei o que vai acontecer". Tanto isso que, se a fundação, na época, realizasse os papéis, os ativos que ela comprou, teria um lucro maravilhoso.

Neste ponto, o depoente explicou que nenhuma consultoria indicou as operações com o Rioprevidência:

O SR. LUIZ PAULO – Afirmou aqui o representante da Corretora CQJR que no processo de seleção das empresas havia uma consultora que definia que empresas podiam operar com esses tipos de títulos. O Presidente está perguntando se o senhor tinha um contrato com essa consultora também.

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Deputado Luiz Paulo, eu tenho contrato com várias consultorias: consultoria fiscal, jurídica, financeira, contábil, devo ter em torno de dez a doze, não sei aqui exatamente quantos contratos eu tenho de consultoria. Mas eu tenho contratos de consultoria sim. Nessa operação eu posso dizer o seguinte: eu registro por mês 800 a mil lançamentos de operações. Então, são muitas operações. Como vocês quebraram o sigilo, vocês vão ver, perante o Banco Central, que existem muitas operações durante o dia totalizando de 800 a mil, numa ordem de grandeza, é que num mês pode ser menos noutro mês pode ser mais, mas durante o ano. Então, são dez a doze mil operações durante o ano. Nessa sua pergunta, se empresa de consultoria fez ou indicou a operação, não, é negativo. (...) Eu não participei de nenhuma consultoria. Ninguém me deu uma consultoria, chegando assim: "Olha, tem uma operação aqui para você; você faz essa operação?" Não. Isso é inverdade.

Lauro José Senra afirmou que fez as operações diretamente com o Rioprevidência:

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O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Recebi ordem da Fundação para comprar. (...) Esse fundo aí, o Rioprevidência. Fundo, fundação, para mim é a mesma coisa. (...) Recebi uma ordem do Fundo para comprar, porque eu estive com o Dr. Mauro no período e mostrei que seria interessante comprar uma operação, um papel cambial. Então, não houve uma empresa de consultoria, que me levasse... (...) Veja bem, eu não sugeri que ele comprasse, de jeito nenhum. Não fiz essa sugestão. Nós conversamos e tudo, não lembro o dia, não lembro a data, mas se mostrou interessado em comprar. Eu fui ao Rioprevidência, fiz uma visita ao Mauro, não sei qual o dia, só sei que foi em agosto, isso tem que buscar nos autos, e tinha uma operação para fazer. Ele se mostrou interessado em comprar, tanto que, passados uns dias, não sei se nós conversamos por telefone ou se foi pessoalmente, eu falei: "Tem aqui uma operação, você quer comprar dólar? Ativo indexado ao dólar? Tem aqui". E assim que começou a nascer as operações.

O SR. LUIZ PAULO – Já entendi. O seu processo é diferente da outra empresa. Mas, olha só: o senhor operou compra em 20 de dezembro. Aqui têm operações registradas em 20 de dezembro, em 30 de dezembro.

Essas operações, segundo os indicadores, tanto de Andima quanto Selic, foram operações, em tese, 100% maior que o valor de face, do valor real.

Bom, nesse período, o senhor fez uma análise macroeconômica, nesse período, 26 a 30 de dezembro, o Lula, ainda não era Presidente, mas já tinha ganho a eleição e já tinha definido alguns critérios de manutenção da política econômica. E tanto é verdade que o dólar chegou a R$4,00 e depois começou a baixar e, hoje, gira em torno de R$3,00. Então, quem tinha papel redeado em dólar, já comprado depois dele subir, comprou mal. E se vender, vai vender mal, pior ainda. Então, não consigo entender, com toda honestidade, essa estratégia de se redear em dólar, a menos que tanto o Sr. Mauro Michelsen quanto o senhor apostasse na debacle brasileira. Então, para mim, essa argumentação não é, no meu entendimento, uma boa argumentação para investimentos de um fundo previdenciário. Pode até ser para quem opera em bolsa, vendendo e comprando com muita agilidade, com muita rapidez. E o senhor sabe melhor que todos nós que quando alguém acha que um título é bom porque o dólar está subindo, porque o dólar está descendo, o resultado já aconteceu. Esse cidadão já está entrando depois da ascensão ou depois da queda.

Então, dentro dessa ótica, essa diferença de mais de 100%, aqui registrada, não justificam a operação, Sr. Lauro. E a sua linha de argumentação... Estou pegando a sua linha de argumentação.

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Pode pegar a linha de argumentação porque o senhor está falando depois, do pós-eleitoral.

O SR. LUIZ PAULO – Sim, estou pegando a operação 26 e 30 de dezembro. O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – De dezembro. No pós-eleitoral, é... Trouxe uma

segurança, o Presidente Lula trouxe uma segurança, falando que não ia mexer nos acordos, não ia quebrar isso, não ia quebrar aquilo. Da onde o dólar começou a cair.

O SR. LUIZ PAULO – Isso. O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Então, quem estava posicionado em dólar,

começaria a perder a rentabilidade. Se ele não tivesse feito essa operação nesse período, se aguardasse mais para janeiro, ou para fevereiro ou para março, aí, sim, amargaria um prejuízo hipotético maior. A rentabilidade seria menor.

O SR. LUIZ PAULO – Sim. Mas ele não entrou vendedor, ele entrou comprador, pô. O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Ele entrou vendedor até... Ele entrou vendedor

até outubro. Dezembro, onde o senhor está dizendo, ele foi vendedor de papel cambial e comprou IGPM. O SR. LUIZ PAULO – Na verdade, ele entrou dia 30. O senhor tem razão, ele entrou vendedor. O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Vendedor. O SR. LUIZ PAULO – Vendedor. Tem aqui na coluna de vendedor. Sob o ponto de vista da

operação com a empresa de V. Sa., mas ao mesmo tempo ele foi comprador, também com o senhor, em 30 de dezembro, e foi comprador em 26 de dezembro com a CQJR.

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – De dólar? Comprador de dólar na minha época? Nessa época...?

O SR. LUIZ PAULO – Das mesmas letras: NTN/C/C/D. As mesmas letras. Está aqui. Os mesmo tipos de letras.

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Mas não são. Eu discordo... desconheço isso aí. Pela minha empresa, 26 de dezembro e 30 de dezembro, o fundo vendeu dólar e eu vendi IGPM para ele, ativo, indexado... NTN/C, é empresa... Desculpa. É ativo, indexado, a correção de IGPM. NTN/D, dólar. 26 de dezembro. 30 de dezembro foi venda de dólar, o fundo vendeu dólar e eu vendi IGPM. (...) Voltando a falar sobre o assunto do dólar, na época, quando ele começou a comprar os papéis, o dólar estava por volta de 3,10/3,13. O dólar valorizou, chegando até 3,95. Nessa época de dezembro, o dólar, ladeira abaixo, 3, 50, e, hoje, 2,90/2,95.

O SR. LUIZ PAULO – Em torno de 3.

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O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – E eu vendi na época que o fundo ia recuperar. Botei um papel indexado a IGPM, onde ele ia, nesses anos, recuperar em termos de juros e a rentabilidade.

O Diretor da Quantia disse que sempre operou com fundos oficiais e nunca precisou concorrer num processo licitatório:

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – (...) Eu opero com vários fundos, várias fundações, e, qualquer instituição no mercado que compre e vende títulos não tem esse problema de licitação, não tem esse problema de regra.

O SR. LUIZ PAULO – Mas, o senhor tomou conhecimento de toda a legislação interna? O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Não. Não tomei conhecimento de legislação

nenhuma. Porque isso aí, inclusive, se estou recebendo uma ordem de um fundo, diz respeito somente à diretoria desse fundo, a responsabilidade é dele. Eu comprei e vendi. Sou intermediador dos negócios. Eu não tenho contato direto com a mesa do fundo Rioprevidência porque nem tem mesa, eu acho. (...) Então, tem o Banerj para executar as operações e custodiar as operações. Então, existe um banco que participa dessa licitação, que administra recursos dele. Eu não administro nem recurso, não dou opinião, só executo as ordens. Posso ter montado a operação. Compro isso aqui, vendo isso aqui. Mas não opino, não sugiro, como faço com todas as fundações.

O depoente informou que lucrou cerca de R% 1 milhão com as operações do Rioprevidência e disse como é feita a remuneração das transações:

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Nessas operações, pegando um semestre da Rioprevidência, semestre de julho a dezembro, teve resultado um milhão de reais.

O SR. LUIZ PAULO – E a última pergunta é a seguinte: o senhor tinha pelo menos uma taxa média de comissão, 2%, 5%, até 10% sobre cada operação? Como é que era cobrada essa comissão? Que percentual tinha ?

O SR. LAURO JOSÉ SENRA DE GOUVÊA – Deputado Luiz Paulo, não recebo comissão. Tenho o ganho da diferença da compra e da venda do título.

No dia 20 de abril, membros da CPI ouviram o depoimento do ex-presidente do Rioprevidência, Ruy Bello. Por problema de saúde, o depoente foi ouvido em casa. Participaram da reunião ordinária os deputados Alessandro Calazans – Presidente -, Luiz Paulo – Relator -, Paulo Ramos, Gilberto Palmares e Caetano Amado.Ruy Bello disse que assumiu o Rioprevidência em maio de 2002 e ficou até o fim do mandato de Benedita da Silva, em 31 de dezembro. O depoente disse que é aposentado do Banco do Brasil e foi indicado para ingressar no governo através de um amigo – Bento Freire, funcionário da Petrobrás. Bello disse que assumiu sem nenhuma orientação de metas da cúpula do governo e que a situação do órgão era caótica:

O SR. RUY BELLO – (...) Eu quando cheguei e assumi, meus telefones estavam desligados por falta de pagamento. Então, para a xerox não tinha. Pó de café para os funcionários servir cafezinho, não tinha. Eu nunca vi na minha vida isso, confesso, nunca vi na minha vida, nem na minha pobre Alagoas isso se passava. Muito bem, então, o senhor veja o seguinte, que era a cabeça desse pessoal do Rioprevidência, eu achei, eles tinham um quadro notável porque eles são solidários, são competentes, são sérios, eles se cotizavam para comprar pó de café e os funcionários mais humildes, a moça que fazia limpeza, obviamente, eles não tinham dinheiro para ir para casa, o transporte aqui é caro, você sair do Centro da cidade e morar lá no fim do subúrbio não tinha e, além disso, eram terceirizados, quer dizer, a empresa não pagava, então era um horror. Isso aí foi se acumulando na nossa cabeça sem saber o que fazia.

Eu vi o depoimento do meu diretor, o Dr. Mauro, e vivemos aquela época juntos e sabia o drama, a dificuldade dele. Até para você fazer uma reserva em aplicação era difícil porque você tinha reservas, lotes mínimos, para você não... Não eram lotes tradicionais, habituais no mercado, ele não tinha dinheiro. Então, ele ficava no computador vendo: - “ih! Entrou um tostãozinho hoje.”

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O depoente, neste ponto, falou das estratégias de investimento do Rioprevidência:

O SR. RUY BELLO – Exato. Nós procuramos fazer as aplicações no que fosse possível fazer, não era muita coisa, no que fosse possível fazer. E o que eu acho que seria mais importante para um órgão como o Rioprevidência – um órgão previdenciário – era você fazer aplicações de natureza mais empresarial, industrial, de longo prazo, que criassem empregos, que criassem trabalho, e nós procuramos fazer isso. Em sete meses não dá para fazer muita coisa (...).

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual era, independente dos estudos que tinham, a estratégia de investimento que o senhor e o Sr. Secretário decidiram naquele momento?

O SR. RUY BELLO – Esses detalhes nem chegavam a ser discutidos, nem acredito...O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Era o quê? Oportunidade: chegou o título lá...O SR. RUY BELLO – Era oportunidade. Repare bem: a gente não tinha dinheiro disponível

para se investir.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Mas, como é que, por exemplo: vocês entraram

no mercado comprando títulos. Que dinheiro era esse? Alguém transferiu? O SR. RUY BELLO – Não... O dinheiro que entrava era dinheiro que pertencia ao fundo.

Pagamentos até de previdência, mas eram em parcelas pequenas. Ia juntando... Três milhões e daí você foi começando a fazer as operações.

Ruy Bello, assim como os demais depoentes envolvidos com nas apurações do caso Rioprevidência, contestou a metodologia aplicada pelo TCE:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – (...) E nenhuma das pessoas que foi depor na nossa CPI, efetivamente, nenhuma delas, conseguiu ou nem levaram, nenhuma contraposição ao que foi feito.

V.Sa. não acha estranho isso, porque, na verdade, ninguém conseguiu trazer nenhuma informação, nenhuma base de cálculo, nenhum parecer que contradiga o parecer do Tribunal de Contas no sentido de que efetivamente houve o rombo.

O SR. RUY BELLO – Eles não trouxeram, vamos dizer, números expressivos, no sentido a que o senhor refere, vamos dizer: olha, aqui está a tabela “A” aqui está a tabela “B”. Nesse sentido, o senhor tem razão. Nós não queremos fazer isso, porque para fazer isso eu tinha que pegar as análises da época em função do mercado da época, porque nós temos responsabilidade. Ele é só empresa tanto que entrou, ganhou, faturou está bem, mas eu não sou empresa eu sou Rioprevidência. Então, eu tenho que ter um cuidado maior para dar uma resposta dessa. O que nós estamos diante disso, insisto mais uma vez, existe, evidentemente, um conflito de metodologia. Nós, a exemplo, inclusive, de todas as representantes das distribuidoras, que eu acompanhei o depoimento deles, nenhum deles aceitou a metodologia.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Mas nenhum desses apresentou uma metodologia contrária.

O SR. RUY BELLO – Não, metodologia, não. Eles apresentaram, sim, eles não apresentaram – desculpe, Presidente – foi esse quadro a que o senhor se refere. Acho tem razão. Ele diz o seguinte: “olha, no mercado financeiro não existe lucro ou prejuízo a não ser quando a operação se conclua.” Isso é princípio basilar. Não pensa assim. Não age assim o Tribunal de Contas. Então, o seguinte: ele não pode fazer e nós fomos elaborando isso; agora, para nós apresentarmos formalmente para o senhor, nós temos que... Estamos esperando para ser uma coisa consistente. Não que de margem... Olha, nós esperamos até agora quem quer terminar com isso somos nós. O meu nome está aí na... Então, eu tenho interesse. Há um ano que nós estamos batalhando. Quando nós recebermos... A ponto que isso nos obrigou a sair...

O depoente informou que estava encontrando dificuldades para sustentar a defesa em função da falta de documentos – em poder do Rioprevidência:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual a informação que o senhor, por exemplo, é fundamental para basear a sua defesa e que o senhor está pedindo ao Rioprevidência?

O SR. RUY BELLO – Nós temos que ver qual foi a análise que foi feita, à época, pelo Mauro. Você tem... Não é só o problema de Andima e Selic, mas de qualquer forma seja como for, acho que um órgão, uma corte, um Tribunal que julga ele não pode cometer o equívoco de sair na Andima... Está certo, a Andima é pequena a...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual a informação que o senhor necessita do Rioprevidência? O senhor poderia dizer uma principal para articular a sua defesa.

O SR. RUY BELLO – São exatamente os cadernos de análise de operação por operação que o Mauro fazia criteriosamente, detalhadamente.

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O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Olha bem, se ele fez essa avaliação, por que não disse, no dia que ele foi depor na CPI, as avaliações que ele fez para que pudesse estar efetivando aquelas negociações?

O SR. RUY BELLO – Eu ouvi o depoimento do Mauro e ele...O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Ele se baseia, dizendo que, na época, aquilo era o

melhor que apareceu. Mas, baseado em nada. O SR. RUY BELLO – Por isso que estou dizendo, ele vai basear, ele tem que ter essa ficha de

análise que foi feita, ele vai ter que ter para mostrar isso. Acho que é o mínimo.

O ex-presidente do Rioprevidência, neste, ponto, falou dos critérios para a escolha das distribuidoras que fizeram as transações em nome da autarquia:

O SR. RUY BELLO – A seleção de empresa de títulos, tudo isso ficava a cargo do nosso diretor de investimento. Obviamente, ele não faria se eu como Presidente não autorizasse, não desse chancela à decisão dele. Mas, como ele era um homem de mercado, tinha vindo da Fundação Getúlio Vargas, trabalhou em multinacional, trabalhou no exterior, ele diz o seguinte: olha, eu tenho que ver quais são... Porque uma pergunta que se fez, eu me lembro foi feita numa dessas gravações: “mas, não se pediu a ficha dessas empresas?” É simples, porque o risco... Quando nós investimos a nossa preocupação era com o risco, mas não é o risco da empresa. Não estou me preocupando com o risco da empresa. Todas as empresas que operam em mercado são autorizadas pelo Banco Central a operar. Tem a fiscalização interna, externa. O risco que nos interessa é o risco do papel que você compra. Vou dar um exemplo, sem querer, por favor, não encare isso como uma crítica. Não gosto de me defender acusando. Nós temos aí dois períodos, duas linhas, duas políticas. Embora o Tribunal de Contas disse que a análise foi feita no período de 2002, não foi. Foi feita de junho a dezembro de 2002. De janeiro a junho... Tá? Ninguém toca no assunto. Agora, por exemplo, no caso – repara bem – da compra, eu não estou nem discutindo ELET’s, pode até ter razão, eu acho, honestamente, eu vou chegar a um ponto, no momento, acho que seria relevante pelo problema, que eu acho realmente relevante, no nosso caso da previdência, é que quando o órgão... Se eu tivesse comprado, eu não compraria nunca CDBs de bancos privados. Primeiro, estou inibido por lei de fazer isso. Você teria que fazer, aí sim, uma licitação. Eu só comprava papel de bancos autorizados, bancos oficiais – ou Banco do Brasil, ou Caixa Econômica ou Itaú/Banerj, porque o Itaú/Banerj assumia essa característica de banco oficial porque foi das contas que foi feito na época. Agora, comprar um título de três bancos privados que, por sinal, não são bancos de primeira linha, isso aí caracterizaria... Eu não faria isso.

Eu não tô citando isso aqui, pelo amor de Deus, repito, para fazer uma antinomia. Minha gestão... Não é isso. Eu tô dizendo o que eu faria e o que eu não faria. Agora, título do Tesouro, que o americano chama de (?) money...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Sr. Ruy, estou entendendo, mas a pergunta foi objetiva: qual era o critério para se escolher as distribuidoras que iriam fazer as intermediações das transações...

O SR. RUY BELLO – O Mauro saía e contatava, via quem era que estava fazendo, ele já explicou isso, e quem se ajustasse dentro das características do que ele tinha no momento, o que tinha pra oferecer... Tem muito banco grande que só opera com dez mil, com menos de dez mil...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual o critério?O SR. RUY BELLO – É que ela escolheu... Ela pegou as empresas que tinham disponibilidade

de fazer. Dentro da pesquisa de mercado que ele fez – ele deve ter feito pesquisa de mercado, com certeza... Porque há um detalhe importante: quando aparecia o recurso que ele podia aplicar, ele tinha que fazer, procurar aplicação, senão teria o “rodão”, “passar o rodo”, e dizia: “- Olha, isso vai para a grande vala...”.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Então, a gente pode concluir que não tinha critério. Na verdade, tinha que escolher. Isso é um fato: não tinha critério.

O SR. RUY BELLO – Não, veja bem, eu dizer que não tinha critério também não é... Porque o critério é o seguinte: tem que escolher uma que possa se ajustar ao custo operacional. Então, isso é um critério, não é falta de critério.

Neste ponto da oitiva, o Presidente da CPI questiona o fato de o filho do depoente ser um dos sócios da uma das empresas escolhidas:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Nessa linha dessa busca desse critério, identificaram algumas empresas – três empresas: a Quantia, CQJR e Turfa. E quando a gente analisa a Turfa – que, até dentro das avaliações, foi a que menos fez transação – verifica que, por coincidência,

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tinha o seu filho como um dos maiores acionistas. (...) O senhor considera isso uma coincidência ou efetivamente sabia que seu filho tinha...

O SR. RUY BELLO – (...) O meu filho trabalha há mais de vinte anos no mercado financeiro e, não é por ser meu filho, é reputado – não sou eu que digo, pergunte para o pessoal do mercado – como um bom operador, mas a especialidade dele foi papel de renda variável, bolsa. Ele sempre operou muito na bolsa. Conheci ele em vários bancos. Às vezes passava por lá para tomar um café com ele, as meninas brincavam com ele: “Olha o pai aqui!” Eu nunca perguntei para ele o que ele era, o que não era. Acho que... o senhor pode dizer: é inverossímil. Eu até admito que seja, mas não tenho outra explicação. É até inverossímil! Quando eu passava por lá, nunca soube, só vim a saber que ele tinha participação acionária - e sem direito a voto, mas tinha! - foi numa festa do aniversário, aqui nessa casa. Um mora não sei onde, outro mora não sei onde, é muito difícil, eu não dirijo, não tenho carro, não sei dirigir. Eu espero que eles venham a mim. É muito complicado. E quando ele chegou aqui: “pai, tal e tal”, está ele falando, “sabe que estamos...” Aí falei: “por que você não falou isso antes?” “Não, não sei, era pra falar, mas a gente nunca fala, nunca tenho tempo.” “Mas fala; volta e meia eu encontro com você para almoçar!” Moral da história, eu só vim a saber numa festa de aniversário, aqui em casa, que ele tinha participação acionária na Turfa. Moral da história: no dia seguinte... falei com ele na hora: “Filho, olha, fala com teu pessoal parar. Nem que você faça a melhor operação do mundo com o Rioprevidência, que te dê a sua independência – porque nunca houve isso – faça, porque seu pai vai desautorizar e vou ficar muito aborrecido com isso.” Cheguei no dia seguinte e chamei: “Mauro, vem cá, preciso falar.” No café da manhã. A gente tinha o hábito de, de manhã cedinho, no Rioprevidência, a Diretoria, tomava um cafezinho e íamos debater nossos problemas. Aí quando o pessoal ia sair, eu disse: “Mauro, espera um instantinho. Olha, não faça mais nada, nem consulte, você tira a Turfa da sua lista de consulta.” “Está bem, Presidente.” Por aí. Então, esse foi meu comportamento... embora, sabendo que...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Era um beneficiamento, né?, com dinheiro público...

O SR. RUY BELLO – Lógico, evidente, mas não é crime. Pensando assim, como o senhor está pensando, corretamente, com a experiência de um homem público, foi o que eu fiz.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O senhor acredita que o Sr. Mauro sabia que o Sr. Eric Bello era sócio acionário da Turfa?

O SR. RUY BELLO – Eu não posso falar com ele, mas não acredito. Ele, conversando comigo, ele me teria dito. Acho que ele teria dito, teria sido franco, porque ele estava como diretor de investimento, numa diretoria que se subordinava a um presidente, e não acredito que ele fosse me deixar numa situação, vamos dizer, inibidora ou desconfortável...

Questionado pelo Relator Luiz Paulo, o depoente admitiu que não estava preparado para assumir o Rioprevidência:

O SR. RUY BELLO – Quer uma resposta sincera? Não. Repara bem. Eu estava... eu tinha cumprido minha missão na vida. Estava aposentado. Veio uma possibilidade de fazer... Eu acho que, dentro dos prós e contras, dentro das minhas limitações – e todos nós temos limitações – acredito, embora não me sentisse a pessoa, quer dizer ... O que eu imagino de um quadro para ser dirigente de uma empresa de previdência? Primeiro, que ele conhecesse bem previdência. Eu não conhecia, não conheço, confesso. Não seria uma pessoa indicável. No quadro do Brasil, no quadro do Estado do Rio de Janeiro, senti que havia um problema, uma carência de quadros. Então, acho que, com todas as minhas limitações, para uma etapa de sete meses, eu poderia exercer com dignidade, sem comprometer muito a administração.

O depoente informou que o Rioprevidência tinha funcionários terceirizados, pagos com recursos de um convênio com a Nuseg. Ele, no entanto, não soube precisar se seus diretores, como o caso de Mauro Michelsen, recebiam complementação salarial:

O SR. LUIZ PAULO – E o senhor tinha um conjunto de funcionários terceirizados? Isto é, seriam funcionários que estariam sendo pagos pela Nuseg?

O SR. RUY BELLO – Isso. O SR. LUIZ PAULO – Lá também havia complementação salarial? O senhor complementou o

salário do Sr. Mauro, pela Nuseg?O SR. RUY BELLO – Olha, eu devo dizer ao senhor o seguinte: eu não estou qualificado e

preparado para lhe responder isso agora. Eu só sei o seguinte: o Mauro, quando saiu da Fundação Getúlio Vargas – o que estou dizendo é de orelhada, pode não corresponder à verdade – ele tinha um

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salário melhor, foi para lá, mas ele deve ter ido com o compromisso, que não fui eu que assumi, isso eu posso dizer para o senhor com absoluta certeza, de que ele teria uma complementação por parte do governo, possivelmente através da Secretaria ...

O SR. LUIZ PAULO – Nuseg?O SR. RUY BELLO - Não sei se da Nuseg. Honestamente, eu não sei dizer para o senhor. Ou

através da Secretaria de Administração. Mas como ele disse: “Olha, eu ganho tanto aqui, vou sair daqui para trabalhar, com o know-how que eu tenho...” Eu disse: “Eu acho legítimo.” No lugar dele eu faria isso também. No meu caso, não faço, porque já sou aposentado.

O SR. LUIZ PAULO – Mas os seus dois outros diretores tinham complementação salarial? O SR. RUY BELLO – Não sei dizer para o senhor. Não, eu acho que não, não sei dizer.

Neste ponto, o depoente voltou a falar da estratégia que adotou para fazer aplicações no mercado, com recursos do Rioprevidência:

O SR. LUIZ PAULO – O senhor assumiu o Rioprevidência – sua memória é boa – em 15/05/02. Quarenta dias após o senhor já determinava que o Fundo Previdenciário entrasse comprando títulos federais no mercado, e a primeira compra foi em 27/06. Duas perguntas objetivas: - Que fato gerador motivou sua decisão? Ou se houve uma determinação superior?

O SR. RUY BELLO – Não, ela estava na linha da determinação da estratégia nossa do Banco, do Rioprevidência.

O SR. LUIZ PAULO – Do senhor e do Sr. Rômulo Rico.O SR. RUY BELLO – A quem eu me reportava. Eu não ia fazer nada em choque, em conflito

com ele. Nunca. Então, o seguinte, para aplicar em título do Governo Federal, o senhor não precisa também muito exercício mental. Estou comprando um papel, que é seguro, que não oferece risco, nem nada. Não é mesmo? Agora, se eu fosse comprar um papel de um banco privado, primeiro, eu não faria, fui do Banco do Brasil, 30 anos...

O SR. LUIZ PAULO – O senhor pediu para fazer as primeiras operações, o senhor entrou como comprador nas cinco primeiras operações. Então o senhor desovou, desencaixou seis milhões de reais. O senhor pediu esses recursos à Secretaria de Fazenda, à Sra. Terezinha?

O SR. RUY BELLO – Não, absolutamente.O SR. LUIZ PAULO – O senhor tinha seis milhões em caixa?O SR. RUY BELLO – Esses seis milhões entravam... Estou acabando... Estou vendo se me

explico melhor. O Rioprevidência recebia... Aquele certificado.O SR. LUIZ PAULO – CFTs.O SR. RUY BELLO – É. Todo dinheiro que entrava, quando batia lá, o computador, lá na

Fazenda já...O SR. LUIZ PAULO – Eu já entendi.O SR. RUY BELLO – Eu não tinha como chegar...O SR. LUIZ PAULO – Quero saber o seguinte, o senhor pegou o dinheiro do Fundo. O SR. RUY BELLO – É.O SR. LUIZ PAULO - Está bem, o senhor pegou o dinheiro do Fundo, mas a Fazenda controla o

seu Fundo. Ela não reclamava de o senhor investir?O SR. RUY BELLO – Ela nunca me reclamou disso.

Ruy Bello, aqui, explicou seu envolvimento na negociação com a Companhia de Brasileira de Gestão. Ele disse que esteve no Palácio Guanabara para despachar com a Governadora, em companhia do Procurador–Geral do Estado:

O SR RUY BELLO – (...) Eu defini porque havia uma discussão jurídica. Eu não sou advogado. O negócio é o seguinte, para você fazer um contrato, você tem que fazer uma licitação, na licitação você vai levar 90 dias. Então, posso estar errado - eu erro pro bem - 90 dias, num momento de crise do Estado, não tem dinheiro para pagar salário, você conseguir fazer uma operação que fosse viabilizar a recuperação de 400 milhões, pelo amor de Deus! Eu disse isso para outro Procurador: “olha, com toda a sua sapiência jurídica, não sou jurista, mas como gosto de História e leio Cícero, tenho a obra completa dele, eu disse, olha, prefiro pensar como ele, que a suprema lei é o bem estar do povo.” Essa é a suprema lei, nem a Carta Magna supera isso.

Então, essa era minha posição, mas como havia conflito de natureza, vamos dizer, legal, então se discutia a possibilidade de fazer, como era a intenção, um contrato de emergência ou 180 dias cujo prazo haveria, então, neste prazo seria feita a concorrência.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Em que caso?

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O SR RUY BELLO – No caso específico...O SR. LUIZ PAULO – Foi naquele caso da Companhia Brasileira de Gestão...O SR RUY BELLO – É, aquela CBE.O SR. LUIZ PAULO –... Para fazer os resgates do fundo da Companhia da Habitação...O SR RUY BELLO – Da CEHAB, aqueles fundos da CEHAB, que iriam bater por volta de 400

milhões para o Rioprevidência. Aí o Sérgio, nosso diretor jurídico, depois falei com ele, ele pensou seriamente e ele levou para casa. Disse “Ruy, aqui é um entra e sai de gente; vou levar este fim de semana para casa, vou pensar”... (...) Ele levou, me trouxe o parecer, aquele parecer... Eu quero saber o seguinte, li, aliás, gostei muito, bem feito, muito bem estruturado...

O SR. LUIZ PAULO – Falou, mas não disse.O SR RUY BELLO – Não, não é isso não. Ele falou e disse. Ele disse exatamente uma coisa que,

em geral, nós brasileiros, porque é da nossa cultura, não é muito chegado em assumir responsabilidades. O brasileiro em geral, estou falando em geral, nós temos..., a gente foge como o diabo da cruz de se assumir responsabilidade. Ele me disse: “Olha, você assumindo isso...” Eu digo: “tá bom, eu prefiro errar e amanhã ser punido, mas errar por bem.” Como disse Cícero, errei para bem estar do povo. Então, ele fez o parecer... Ele até mudou a agência, porque a agência tinha que ter especialidade, uma série de coisas. Bom, moral da história, as cautelas, mas ele citava no parecer, isso está no processo,

(...) Quero dizer o seguinte, você tem que ver, a decisão autocrática, cabe legalmente, você pode fazer isso. Agora, eu tenho que assumir e dizer o seguinte, as medidas preliminares, por exemplo, as despesas para isso têm que estar incluídas no orçamento, número um...

O SR. LUIZ PAULO - Eu lhe agradeço, esse assunto para mim já está esgotado, porque o argumento número um é que falhou. Não estava no orçamento...

O SR RUY BELLO - Não tava, por isso ele não saiu. Mas, nós condicionamos...

O assunto seguinte foi a cessão do Teatro Casa Grande:

O SR RUY BELLO – Aquilo é o seguinte: eu me lembro do Casa Grande porque, quase todos nós que vivemos aqueles anos de exceção, ali era uma espécie de quartel-general intelectual, que gostava de denunciar. Houve uma contribuição. Isso não é justificativa. Na realidade, eu sabia, conhecia...

Um dia me liga o nosso Rômulo, a quem repito e repito à saciedade, gosto muito dele, respeito muito ele, quero bem a ele, você entende? E ele me liga, diz: “Ruy, estou mandando aí para você porque estou precisando disso para mandar para Governadora, tá me cobrando. Vou mandar isso aqui, é o seguinte, o processo, o projeto lá da cessão do Casa Grande...” Porque aquilo já foi cedido por outros governos, mas nunca foi implementado, então, ia rolando. Veio para aqui. Olha, já examinei aqui, foi examinado aqui na Secretaria Administração e administrado por aqui. Eu já dei a minha... Como é que se diz?

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Parecer positivo.O SR RUY BELLO – Eu dei um parecer, mas ele deu o despacho dele. “Tá indo aí para você -

mandei um funcionário junto com o diretor do... do... do coisa - queria se você pudesse, me faz favor, tá tudo ok, eu assumo a responsabilidade”, eu me reportava a ele, ele era meu chefe. Tá bem. Então eu vi e procurei, a primeira coisa que eu fiz, porque nunca fazia nada, é um hábito que trouxe dos Estados Unidos, você pegar qualquer... Até contrato de moradia, que é um negócio que já tem impresso na papelaria, quando vinha um contrato para mim nos Estados Unidos, eu manda para o meu advogado, “Please, advise”, “Please, advise”. Porque não sabia o que era, ela vai ter que ajudar, é responsabilidade dele. Eu levava ao nosso Sérgio, e ele não estava no momento, do Teatro. Aí, eu tinha que mandar para o coisa. Eu assinei, uma assinatura só porque a lei exige duas assinaturas e devolvi, lá, para o Rômulo, para Secretária de Administração, porque ele tem que tomar providência para implementar.

Muito bem, isso aí, a informação que tenho, e que não tenho certeza, e estou passando para os senhores, para a Comissão, para que os senhores averiguem... E... E... E gostaria aceitasse... Até porque não sei também o destino. Eu sei o seguinte, esse processo, esse contrato foi anulado. Esse contrato foi anulado...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Ele foi assinado no dia 28/12/02. No finalzinho.O SR. RUY BELLO – Mas não por mim. Foi assinado entre o Casa Grande e o Governo do

Estado. Não entre o Rioprevidência. É diferente.

De acordo com o estatuto do Rioprevidência, o Conselho de Administração da autarquia deve ser consultado sobre as políticas de investimento do órgão. Ruy Bello, no entanto, disse que isso não acontecia de fato:

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O SR. GILBERTO PALMARES – (...) O Conselho de Administração em algum momento foi ouvido, foi informado, soube alguma coisa sobre essas operações de compra e venda de títulos?

O SR. RUY BELLO – Não, porque havia... A minha diretriz, ali a diretriz, a ser aplicado no Rioprevidência e por força do Conselho de Administração... veja você, maximalizar (sic) os seus investimentos. Maximalizar com o que você tem. Não pode maximalizar... “o Brasil vai investir. Aonde? Não tem dinheiro para investir.” Isso é uma coisa.

E outra coisa: procurar diversificar. Foi o que se procurou fazer. Por exemplo, esse negócio do esforço para conseguir aqueles recursos da Cehab foi um esforço nobre, valeu, no meu ponto de vista. E ademais, o Secretário de Administração, ele era o presidente do conselho de Administração. Não havia nada que ele ignorasse. (...) A sistemática que nós tínhamos era a de você fazer a aplicação, olha bem, maximalizar seus investimentos. Dentro desse naipe de coisas, você tem o quê? No que vou aplicar? Na financeira ou no CDB ou vou aplicar nos Títulos do Tesouro, aquilo que era mais seguro. Ninguém pode contestar que eu vou comprar um Título do Tesouro. Se um banco desses do dia para à noite... e quantos bancos não faliram no Brasil e até hoje muita gente condena o esforço que se fez para você fazer a limpeza do mercado financeiro, “Não, nóa gastamos tanto para fazer isso.” Então, se não tivesse feito isso a economia iria padecer muito. Por isso que a legislação é sábia quando ela estabelece restituições a títulos de bancos privados. E não foi o banco privado de primeira linha: o Itaú, o Bradesco. Foi um de linha secundária, entende? De qualquer forma, a lei não estabelece primeira, segunda ou terceira linha; estabelece o banco privado. Aí sim, você teria que ter fazer a ...

O SR. GILBERTO PALMARES – Licitação.O SR. RUY BELLO – Licitação. Título público, não, não precisa.O SR. PAULO RAMOS – O senhor encontrou o Rioprevidência em determinada situação.

Como é que o senhor o encontrou? A situação do Rioprevidência era boa?Quais foram as operações realizadas na fase anterior que o fazem entender que tenham sido

lesivas?O SR RUY BELLO – (...) Eu quando cheguei lá, havia uma pilha deste tamanho de documentos

que foram deixados por minha antecessora, Terezinha. O que era aquilo? Aquilo era o processo das Elet’s e de outras coisas. Eu confesso ao senhor que o meu tempo era tão curto que eu, primeiro, ufa! Tinha que “botar a cabeça do lado de fora da água” e me assenhorear de quais eram minhas obrigações. Se eu fosse me dar ao trabalho de ler todo aquele processo... Em linhas gerais, sei como cidadão bem informado, que lê os jornais, a imprensa deu essa coisa todinha. Na realidade, eu só fiz uma restituição e não estou fazendo carga, eu insisto. Eu não faria as aplicações nos Títulos CDBs do banco privado, eu não faria.

O SR. PAULO RAMOS – E não tinha que ter licitação para fazer?O SR RUY BELLO – Tinha, de banco privado.O SR. PAULO RAMOS – E teve?O SR. RUY BELLO – Não, não teve, que eu saiba. Se amanhã chegarem e disserem: “O senhor

disse isso?” Não. Não sei.

Questionado pelo Relator, o depoente falou de outro ato seu levado adiante na gestão do Rioprevidência, no fim do segundo semestre de 2002.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor assinou um protocolo de intenções em 04/11/02, publicado no Diário Oficial de 28/11/02 para a construção de um hospital internacional no Rio de Janeiro, no imóvel 915 da Avenida Bartolomeu Mitre, tendo como parte a Riomedic. Por que o senhor fez isso?

O SR. RUY BELLO – Estou explicando ao senhor... Esse processo se trata de um termo de... (...) Um protocolo de intenções que foi celebrado pelos investidores nacionais e canadenses. Eles assinaram esse protocolo de intenções com o, então, Governador... (...) Anthony Garotinho. Muito bem. Então isso foi. Tem um prazo que vencia nessa época. Quando chegamos, lá, e vimos aquilo, o projeto. Tive a preocupação de ler, não havia nada, não havia nada, eu procurei...

O SR. LUIZ PAULO – Só a ausência de licitação de um terreno de dez mil metros quadrados na Av. Bartolomeu Mitre.

O SR. RUY BELLO – Isso é um outro aspecto...O SR. LUIZ PAULO – É o mais importante.O SR. RUY BELLO – É o mais importante, não estou duvidando disso. O protocolo de intenções

é uma coisa, ele não legitima seus envolvimentos legais e jurídicos, para isso temos um departamento, temos o PGE, agente esqueça, o PGE é o Ministério da Justiça, do Estado. Então, eu não iria fazer, posso ser louco, mas não tanto. Então o protocolo de intenções é um simples protocolo: “olha, me comprometo, isso aqui é bom, vamos examinar.” Quando o Governador Garotinho assinou, chegou a época, se eu não tivesse feito isso e publicado no Diário Oficial, ia morrer... Eu achava que o projeto em si..., repara bem, estou vendo... o brasileiro investidor que, duas coisas, o projeto que iria a quase cem milhões de dólares;

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um projeto que envolveria não só a importância dessa coisa toda, um detalhe que era muito importante para mim como fui homem de Banco Central, um mandamento em que se proclamava a quatro cantos. “Olha, o Lula... Isso aí é um risco Brasil.” Então, ninguém botava dinheiro, o investidor estrangeiro não ia botar dinheiro no Brasil. Então a partir daí, eu num momento em que vislumbro um projeto que está lá e diga que vai entrar um investidor estrangeiro, vai botar isso e aquilo. Acho que isso tem um significado muito especial, podemos discutir qualquer outra coisa. É lógico que o senhor se referiu a um ponto que também é importante. Esses aspectos negociais têm que ser vistos, mas isso não foi objeto do protocolo de então. Eram cinco protocolos inegociáveis.

Agora, a isso estava afeto... Eu vi a altura do projeto, o investimento, como ia ser feito, e tinha o envolvimento direto da PGE. Direto! Ora, se eu tenho o envolvimento direto da PGE, com homens Procuradores, que estão lá... Então ele ia ter que fazer... Inclusive, repare bem, um dos aspectos difíceis era o problema de você fazer um contrato que simbolizasse uma joint-venture... Um contrato que viabilizasse uma joint-venture... Entre o setor público brasileiro, do Rio, e o setor do capital privado e estrangeiro. Isso era delicado e não seria eu que ia resolver. Por isso haveria o envolvimento... A esse detalhe, estava afeto à PGE. Depois que resolvesse isso é que, no final, a...

Em 05 de maio a Comissão ouviu José Bendoraytes, do escritório de consultoria Bendoraytes e Aizenman. Ele disse que quem o contratou foi Ronaldo de Moraes Figueiredo, na época, diretor de investimento. O primeiro fato a chamar a atenção foi a forma de contratação dos serviços: sem licitação:

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Verificando o seu relatório de auditoria, constatamos que o Rioprevidência contratou V.Sas. sem licitação, quando, em tese, a lei não permite. Sendo o senhor um auditor, profundo conhecedor da legislação, por que o senhor se submeteu a ser contratado sem licitação?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Bom, isso é comum nós atendermos os pedidos de contrato e de realização de serviços. Isso é normal na profissão. Nós não vamos olhar se está dentro da lei ou não está dentro da lei. Nós participamos de licitações muitas vezes. Agora, se nos chamam e nos contratam, nós não vamos nos eximir de atender o pedido.

O depoente, contratado para auditar a carteira de Títulos, começou a oitiva sem dar respostas à Comissão:

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – O senhor lembra claramente qual é o objeto desse contrato?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Olha, eu confesso que não vim preparado para... Eu esperava colaborar com a CPI no sentido de elucidar os trabalhos que foram feitos. Não vim prevenido para defender a nossa posição de contratados ou não contratados.

Fizemos um trabalho. Esse trabalho foi objeto de um relatório conclusivo. E se esse relatório evidentemente refletiu, inclusive provocou talvez esta própria CPI, não quer dizer que eu devia vir preparado para responder se eu estava habilitado a fazer o exame ou não. Eu fui contratado para fazer um exame. Fiz.

O SR.PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Qual foi o valor do seu contrato com o Rioprevidência? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não estou... Eu continuo afirmando que eu não me preparei

para responder esse tipo de pergunta, embora eu reconheça que a pergunta é legítima. Apenas eu não vim preparado. Foi uma falta de... Eu confesso que foi uma falta de prevenção.

O SR.PRESIDENTE (Luiz Paulo) – E qual era o prazo desse trabalho? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Tudo o que o senhor está me perguntando efetivamente eu não

vim preparado. O SR.PRESIDENTE (Luiz Paulo) – São coisas óbvias. Objeto, valor e prazo são coisas óbvias em

todos os contratos. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não sei. O SR.PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Muito bem. Qual foi o prazo que o senhor levou para fazer

a auditoria? Quanto tempo o senhor gastou? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Também... (...) Eu me comprometo com a Mesa, aqui com a

Presidência, a enviar todas essas perguntas respondidas por escrito.

Bendoraytes disse que considerou fora dos padrões o fato de o Rioprevidência ter comprado lotes fracionados de títulos no mercado secundário:

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O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – É comum um fundo de pensão, como o Rioprevidência, investir em mercado secundário?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Eu não responderia que é comum, mas pelos estatutos, ou pela lei que cria, ela permite a aplicação em títulos, desde que sejam títulos emitidos pelo governo federal.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Não achei no relatório dos senhores, não quer dizer que não tenham feito, podem simplesmente não ter transcrito, uma análise de conjuntura do segundo semestre de 2002, que levasse em consideração o “Risco Brasil”, a variação do dólar, a variação do IGPM, as eleições presidenciais, porque a aplicação também tem uma análise associada à própria conjuntura, para ser mais claro. Muitas vezes, é melhor você nem entrar no mercado, de tanta turbulência que ele apresenta, ficando o mercado praticamente imprevisível. E alguns componentes do segundo semestre de 2002, davam sinais de imprevisibilidade. O senhor há de se lembrar que o dólar chegou a bater 4,5. Tivemos eleições presidenciais e a rede de boataria era imensa. Os senhores fizeram essa análise de conjuntura?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – E, na auditoria que V.Sas. fizeram, acharam no

Rioprevidência alguma análise de conjuntura? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não que eu saiba. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – O senhor acha comum também ir para o mercado

secundário em vez de comprar lotes de 10 mil títulos, subdividir para comprar lotes de 2 mil e 500 títulos? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – No caso específico, não seria. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Mas isso foi feito? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Foi. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Comprou muito mais do que vendeu. E nas posições de

venda, ele vendeu dentro da faixa de mercado, praticamente, pegando as oscilações de máximas e mínimas fornecidas pelo Banco Central.

Quando ele compra, quase todas as compras foram acima da média, e teve uma, especificamente, que suplantou mais de 80% do valor máximo. O senhor acha também isso usual?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não, absolutamente. Não é usual. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Isso define concretamente prejuízos para o

Rioprevidência? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Define prejuízos. Perfeito.

Neste momento, o Presidente em exercício questiona sobre as operações realizadas nos últimos dias da administração. O depoente aproveitou para confirmar que as aplicações causaram severos prejuízos para o erário:

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – O senhor também observou, é claro, que as últimas operações, nos últimos dez dias de dezembro, operações de compra, foram aquelas com valores bastante acima da média.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Muito acima da média. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Eu senti falta no seu relatório, de um item conclusivo. De

quanto foi, na verdade, o prejuízo ao erário do Rioprevidência. O senhor teria esse número para nos fornecer?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Tenho. Devo esclarecer o seguinte: dentro das normas contábeis, apuram-se sempre os rendimentos fixos dos papéis. E ao fechar o balanço, no momento que você tem que apurar o valor dos títulos, ele é apurado pela variação da curva de PU do mercado. E essa variação é feita através da criação de uma provisão para a desvalorização. Isso não foi feito. Essa provisão deveria atingir... O senhor me desculpe, mas não estou habituado... (...) Se considerarmos a provisão da desvalorização, que não foi feita, e que geraria um prejuízo enorme para o Rioprevidência, ele alcança o valor de R$21.512.999,00. (...) A grande parte refere-se exatamente àquela última operação a que o senhor se referiu.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Operação... O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Que deu um valor de desvalorização, só aquela operação, de

R$10.077.000,00. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Operação de 20 de dezembro. Estava com 84,59% acima do

valor máximo, nas minhas contas. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Exatamente. Mas foi 30 de dezembro. Não foi 20, foi 30 de

dezembro. Uma compra de R$19.726.400,00. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Essa estava 51,67 acima da média. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – É, terrivelmente acima da média.

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O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Então, pela sua auditoria, em números redondos, o senhor chega que o valor de provisão, e evidentemente esse seria o prejuízo dos cofres do Rioprevidência ...

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não, teria um lucro a ser considerado de 900 mil. Quer dizer... O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Não está abatido dos 21 ainda? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – É, dá um pouco menos dos 21 porque tem um rendimento. O

rendimento fixo usual é de 900 e poucos mil. Então, dos 21 milhões de prejuízo iremos retirar a parte do lucro fixo.

O depoente, inquirido pelo Presidente da Comissão, contestou uma informação prestada anteriormente pelo ex-presidente do Rioprevidência:

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Alega o Sr. Ruy Bello, presidente do Rioprevidência, que compras e vendas de lotes muito pequenos, de 2.500 títulos – se não me engano, só houve parece uma compra e venda de 10.000 -, alega ele que esses valores negociados não têm sensibilidade para serem cotejados com os valores de mercado. Eu queria que o senhor, com sua experiência, comentasse essa assertiva que fez o Sr. Ruy Bello.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Todos os títulos da carteira devem ser cotejados com o preço de mercado. Todos. Não importa o tamanho do lote. (...) Isso é independente. Todos. Quando nós fazemos um levantamento de todos os títulos da carteira, ainda que sejam – aqui nós temos um caso de 900.000 -, têm que ser cotejados com o preço de mercado. Todos. Sem exceção.

O depoente, neste ponto, falou de outras irregularidades encontradas pela auditoria:

O SR JOSÉ BENDORAYTES – Nós tivemos diversas. Nós tivemos aqui uma operação de setembro onde não aparecia resultado na operação. Apuramos um prejuízo de 273 mil – eu tenho os detalhes – 585 e 37 centavos, que não foram considerados. Em outra oportunidade, em 19 de dezembro foi feita uma operação também de venda onde o Rioprevidência apurou um lucro de sete mil e nós chegamos à conclusão de que não era lucro, mas um prejuízo de 1milhão 650mil. Tivemos depois em 30 de dezembro uma operação que registrou um lucro na contabilidade do Rioprevidência de 54 mil e que nós apuramos que esse lucro foi um pouquinho maior, foi o único caso, de 275. E em 31 de dezembro o rendimento nominal segundo os números da Andima, este é o valor de lucro que deve ser diminuído do prejuízo de 21 milhões. É 974.127,53 centavos. Esse foi o lucro do exercício das operações. Mas a omissão da desvalorização da provisão provocou aquele...

O SR. PAULO RAMOS – Tudo bem. O SR JOSÉ BENDORAYTES – Essa operação de compra ela já gerou prejuízo dos dez milhões.

Na compra, porque ela foi feita por um PU muito, muito superior, nós temos a tabela do Banco Central, do Selic, e temos o valor médio, digamos que era 900 e poucos mil; foi comprada a 1 mil e novecentos. (...) Um absurdo! Realmente foi uma operação...

Neste momento do depoimento, o Deputado Paulo Ramos aponta e denuncia uma contradição do depoente:

O SR. PAULO RAMOS - O senhor data o documento remetido ao Rioprevidência do dia 04 de fevereiro de 2003. Esse relatório, que o senhor apresenta, é datado de 04 de fevereiro de 2003.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Exatamente, é o único relatório que nós temos. O SR. PAULO RAMOS – Muito bem. Entretanto, logo no item 1 do documento: (LENDO) "Prezados Srs., tendo concluído os nossos trabalhos de auditoria, consoante proposta datada de

30 de janeiro de 2003." De 30 de janeiro de 2003 para 04 de fevereiro de 2003, quantos dias são, Sr. Bendoraytes?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Com licença. O SR. PAULO RAMOS – Está aqui. A proposta foi de 30 de janeiro e a conclusão do trabalho

data de 04 de fevereiro, como o senhor diz que seriam 45 dias no mínimo? Queria saber isso. Que o senhor nos explique isso. Até porque o novo Governo assumiu...

O SR. JOSÉ BENDOREYLES – Não tem explicação. O SR. PAULO RAMOS –... O novo Governo assumiu em janeiro, tem 31 dias, o senhor fala em

45. O senhor leu o juramento de dizer a verdade? O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Não, é... Realmente, o senhor tem toda razão. Não tem como

explicar isso aqui, por aqui são quatro dias. Concordo com V. Exa. Não tenho nem como explicar. O SR. PAULO RAMOS – Lamento profundamente... O SR. JOSÉ BENDORAYTES - Concordo consigo...

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Neste momento, o depoente admitiu que realizou a auditoria antes de formalizar o contrato com o Rioprevidência, num flagrante desrespeito a lei:

O SR. LUIZ PAULO – Eu não tenho, absolutamente, nenhuma dúvida de que a gestão do Rioprevidência, em 2003, alertada que foi sobre o rombo que a gestão de 2002 deu ao Rioprevidência, açodadamente convidou V. Sas., sem licitação, para fazer essa auditoria especificamente nesta carteira R$ 78 mil. Eu lhe perguntei, mas eu sei o valor. E o senhor, no meu entendimento, deve ter iniciado o trabalho e lá adiante assinou o contrato...

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Exatamente. O SR. LUIZ PAULO - Quando o prazo estava sendo extinguido. Então, formalmente tem aqui a

data de quatro dias. Mas, isso se deu, exatamente, por uma coisa que eu chamo de descalabro administrativo.

Vamos propor, na reunião em seguida, a convocação do seu sócio... O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Pois não.

O depoente apresentou os números do seu relatório a respeito de uma operação levada a cabo pelo Rioprevidência:

O SR. NOEL DE CARVALHO –... Definir quantidade etc. e comprar um título através de leilão público, pelo preço de mercado praticado naquele dia, ainda que alguns dias depois o próprio Tesouro tenha vendido, o Rioprevidência tenha vendido, para honrar compromissos previdenciários e com pequena diferença.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Respondendo ao que o senhor está falando, podemos apresentar os números reais do que ocorreu.

A compra foi feita por um milhão... por mil novecentos e setenta e dois e sessenta e quatro. O título, nessa mesma data, esse mesmo título, nessa mesma data, tinha os preços fornecidos pelo banco... Preço Selic, Banco Central, era de... Mínimo de... A média, vamos falar a média, de novecentos e sessenta e quatro e novecentos.

O SR. NOEL DE CARVALHO – Quer dizer, se tivesse mil reais, ainda estava cobrando mais caro.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES -... Ainda teria troco. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Estranhamente, essa operação... O SR. NOEL DE CARVALHO – O senhor podia dizer em que data? O SR. JOSÉ BENDORAYTES -... Não aparece... 30 de dezembro. Foi 30 de dezembro. O SR. NOEL DE CARVALHO – 30 de dezembro, ou seja, no último dia útil de um governo. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Exatamente. Foi comprado... O SR. NOEL DE CARVALHO – No último dia útil, não podia ter deixado para o dia seguinte. O SR. JOSÉ BENDORAYTES -... A R$ 19.726.400,00 (dezenove milhões, setecentos e vinte e seis

e quatrocentos), ao preço de R$1.972, um título cujo preço médio do mercado era R$964, no dia. Foram feitas cinco operações nesse dia, cinco operações.

O SR. NOEL DE CARVALHO – No último dia de governo. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Estranhamente, ela não aparece aqui na Selic. O SR. NOEL DE CARVALHO – Essa operação, estranhamente não aparece. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Não aparece. Esse R$1.972 não foi operado, pelo Banco Central

não foi operado, não existe essa operação. O SR. NOEL DE CARVALHO – Pelo Banco Central não consta o registro dessa operação. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Essa operação não apareceu no Banco Central. O SR. NOEL DE CARVALHO – Como se ela tivesse sido realizada? O SR. JOSÉ BENDORAYTES – Como se ela tivesse sido realizada. Foram realizadas cinco

operações ao preço médio de R$964.905 nesse dia. Essa operação da compra da Rioprevidência não aparece no Banco Central, na Selic.

O SR. NOEL DE CARVALHO – Eu queria que o senhor me dissesse o valor global multiplicado o PU vezes o número de títulos.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES – R$19.726.400. O SR. NOEL DE CARVALHO – R$19 milhões. Ou seja, não estamos falando aqui... O SR. JOSÉ BENDORAYTES – A defasagem foi... O SR. NOEL DE CARVALHO – R$19 milhões. O SR. JOSÉ BENDORAYTES – R$19 milhões. E nessa operação...

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No dia 18 de maio a CPI ouviu o depoimento do engenheiro e administrador de empresas Eric Bello. Ex-sócio da corretora Turfa, Eric Bello é filho do ex-presidente do Rioprevidência Ruy Bello.O depoente, no início da sua fala, deu as razões que o levaram a montar a corretora de valores, na mesma época que o pai assumiu a direção da autarquia:

O SR. ERIC BELLO – Não houve nada específico. Simplesmente eles estavam querendo montar uma empresa. Eu já trabalho na área de renda variável, que é Bolsa, e acho que podia conjugar isso e montar uma empresa. Eles precisavam de investidor também, botar dinheiro, porque eles não tinham todo o capital para poder criar a empresa. E eu já os conhecia há um bom tempo de mercado e fizemos a sociedade.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual era a participação do senhor na corretora Turfa?

O SR. ERIC BELLO – A minha participação era desenvolver a área de renda variável, que não foi desenvolvida porque foi um ano muito conturbado. Foi um ano em que o Lula disparou nas pesquisas, o que gerou uma fuga muito grande de investimentos de capital do país, principalmente na área de renda variável. Basta ver que os números da Bolsa despencaram, o índice de Bolsa... Não houve investidor parceiro para o negócio.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Quando foram iniciadas, efetivamente, as transações entre a Turfa e o Rioprevidência?

O SR. ERIC BELLO – Eu posso lhe dizer hoje que foi no finalzinho de maio, não junho, se não me engano.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Como se deu essa transação?O SR. ERIC BELLO – Hoje eu posso dizer, porque estou acompanhando os trabalhos da CPI e

tudo isso aí, que foi o Sr. Jorge Luiz Chrispim. E era ele que mexia com essa área de mercado, de open. Só poderia ser ele também.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Até nesse momento, V.Sa. não tinha sido informado e nem sabia qual era a composição da presidência do Rioprevidência, sabia?

O SR. ERIC BELLO - Sabia que o meu pai era o presidente do Rioprevidência.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Só não sabia que a sua empresa estava fazendo

negócios com o Rioprevidência.O SR. ERIC BELLO - Exatamente, vim saber disso em agosto.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Como é que V.Sa. soube?O SR. ERIC BELLO - Porque eles têm as reuniões... A gente não fazia todo mês reunião na

empresa. É uma empresa pequena e não tem necessidade disso. No final de julho, começo de agosto, não sei determinar o dia, era uma reunião, balancete, aquilo tudo,... Restituições, até porque eu trabalho com renda variável e me interessa saber e tinha a instituição, que por acaso era o Rioprevidência, como tinham outras fundações também que se trabalharam, bancos, e eu falei para eles que aquela empresa, quem trabalhava lá era o meu pai. E, depois, a posteriori eu vim falar para ele.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Então V.Sa. soube através da análise documental. É isso?

O SR. ERIC BELLO - Perguntando para eles, fazendo todas as perguntas normais como sócio. Quando abre um balanço fazia aquelas perguntas todas, né? Com quem opera, em que área opera, o que está fazendo...

Quando tomou ciência da participação da Turfa nos investimentos do Rioprevidência, o depoente informou que temeu que esses envolvimentos chegassem aos jornais e prejudicassem o pai:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – E quando V. Sa.soube que a sua empresa, empresa que V. Sa. tem a maior participação no capital, tinha feito transação com o Rioprevidência, autarquia essa presidida pelo seu pai, qual foi o primeiro pensamento de V.Sa. em relação a isso?

O SR. ERIC BELLO - O primeiro pensamento foi uma pergunta. Perguntei se foi de acordo com as condições de mercado, se está tudo certinho, etc. Porque não posso vincular nada na empresa com meu pai, porque poderia chegar até a situação que chegou, de acusarem - via imprensa, - que tinha alguma ligação, e não houve na verdade.

Então, por isso falei para o meu pai que era o maior interessado, eu falei para ele que ele era o maior interessado e ele tinha... E foi falado isso no final de agosto, lá em casa todos fazem aniversário em

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agosto, eu, minha mãe, minha irmã, então a gente combina e faz uma festa conjunta, quando foi falado para ele.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Qual foi o desdobramento disso?O SR. ERIC BELLO - Ele mandou parar de operar, foi o que ele fez.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Quantas operações a Turfa fez com o

Rioprevidência?O SR. ERIC BELLO - Cinco operações.

Apesar de os relatórios oficiais apontarem que as operações geraram prejuízos consideráveis para o erário, o depoente alegou que as contas não levaram em consideração alguns parâmetros e que, na verdade, as transações geraram lucro:

O SR. ERIC BELLO - O que posso afirmar é o seguinte: Estudando isso e pegando os preços de compras, hoje fiz isso, corrigi pela LFT e como foi vendido, não deu prejuízo, deu lucro de 11 mil e alguma coisa de reais. Posso responder sobre as operações da Turfa, porque isso saiu no relatório do Tribunal de Contas.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Poderia aprofundar a avaliação que V.Sa. fez em relação a essas transações com o Rioprevidência? Como V.Sa. chega a esse cálculo que, ao invés de ter dado um prejuízo de 900 mil reais, V.Sa. alega que deu um lucro de 11 mil reais. Que conta é essa que V.Sa. fez para chegar a esse número?

O SR. ERIC BELLO - É a conta do PU de aquisição, corrigido pela variação de LFT e diminuído da venda. Simplesmente. Correção do dinheiro investido e pelo ato da venda aferido o resultado, positivo ou negativo.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Comparando essa sua avaliação com a avaliação que foi feita no Tribunal de Contas, o que está errado? O que eles fizeram para dar contrário a essa base de cálculo que você está falando?

O SR. ERIC BELLO – Eles não trabalharam o contábil. Eu não sei. Eles usaram a teoria do “se”, “se tivesse comprado”, “se tivesse vendido”. Eu trabalho em mercado variável. Se todos os administradores tivessem vendido bolsa há 15 dias atrás eles estariam ganhando dinheiro. Eu não posso processá-los se eles não venderam. Porque o índice estava 23 mil, hoje está 18 mil pontos.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Na Turfa, dessas cinco operações, o Rioprevidência entrou comprador ou vendedor?

O SR. ERIC BELLO – Ela comprou, se não me engano, três ou quatro e vendeu uma. O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Então, comprou quatro.O SR. ERIC BELLO – Certo.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Dessas quatro compras que o Rioprevidência fez,

V. Sa. afirma que quando o Rioprevidência vendeu esses títulos ele teve lucro.O SR. ERIC BELLO – Teve. Está no relatório do Tribunal de Contas, o preço de aquisição e

quando foi vendido. Porque só se poderia saber disso por algum tipo de relatório. Então, é só corrigir o preço de aquisição, menos o preço de venda.

Neste ponto determinado do depoimento, Eric Bello mostra dificuldade para concatenar as datas das operações realizadas e o momento em que seu pai – ex-presidente do Rioprevidência – tomou conhecimento do envolvimento da Turfa com a autarquia:

O SR. PAULO MELO – Quantas vezes o seu pai visitou a Turfa?O SR. ERIC BELLO – Acredito que umas duas vezes, três vezes. O SR. PAULO MELO – Antes ou depois da operação do Rioprevidência?O SR. ERIC BELLO - Datas eu não sei direito. Eu sei que todas as vezes em que ele ia lá a gente

ia almoçar. Possivelmente uma ou duas vezes antes e uma vez posteriormente.O SR. PAULO MELO – Se eu não me engano, o senhor disse que a comunicação de que o

senhor tinha uma empresa o senhor fez no aniversário, não foi?O SR. ERIC BELLO - Comunicação que tinha uma empresa, no aniversário. Sócio investidor.O SR. PAULO MELO – Esse aniversário foi em agosto?O SR. ERIC BELLO - Em agosto. Perfeitamente. O SR. PAULO MELO – Mas o senhor já tinha feito a operação com a Turfa, ou não. O seu pai

já tinha visitado a Turfa, ou não?O SR. ERIC BELLO - A operação foi anteriormente. Há vinte e quatro anos trabalho no

mercado financeiro. Em todas as instituições pelas quais trabalhei e era funcionário, ele ia lá e a gente ia almoçar. Isso sempre foi uma prática nossa.

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O SR. PAULO MELO – Então, como o senhor precisou dizer para o seu pai que o senhor é dono de uma empresa e que estava fazendo uma transação comercial com uma autarquia que ele presidia, se ele sabia que o senhor estava na empresa?

O SR. ERIC BELLO - Ele sabia que eu trabalhava na empresa, e não que eu era sócio da empresa.

O SR. PAULO MELO – Mas só em o senhor trabalhar, já era motivo suficiente para ele não fazê-lo. O senhor não acha isso?

O SR. ERIC BELLO – Não posso responder isso, Deputado. O SR. PAULO MELO – O senhor não acha que o fato dele saber que o senhor trabalha numa

empresa, não era motivo suficiente para ele achar que pelo princípio ético não poderia ter nenhum tipo de transação? E o senhor, o senhor não acha que a questão do senhor trabalhar seria motivo suficiente para que sua empresa não fizesse uma transação com uma autarquia presidida pelo seu pai?

O SR. ERIC BELLO - Na época eu desconhecia esse fato. Só vim saber que tinha sido operado em agosto. Eu não sabia disso.

O SR. PAULO MELO – O senhor não sabia que a Turfa tinha feito uma operação com o Rioprevidência?

O SR. ERIC BELLO - A Turfa, antes de operar com o Rioprevidência, fez 30 operações. E, num ano, foram 234. Eu não sabia com todas as instituições. Não sabia. Isso não tem como saber.

Eric Bello declarou que pouco ia à corretora. Segundo o depoente, a área de atuação dele estava passando por uma crise de mercado:

O SR. PAULO MELO – Qual era a sua função dentro da Turfa?O SR. ERIC BELLO - Minha parte é a de renda variável, que não foi desenvolvida. Eu não ia

todo dia na empresa. Eu estava desenvolvendo isso. Mas o mercado teve uma retração muito forte. O SR. PAULO MELO – O senhor ia quantos dias na empresa? Lembra?O SR. ERIC BELLO - Duas vezes, às vezes três vezes por semana. Teve semana que fui várias

vezes, teve semana que eu não comparecia. Eu ficava muito em São Paulo. Eu sou profissional de ação. Então, opero muito por telefone, ou em casa, ou sento na empresa. Opero para mim, na pessoa física.

O SR. PAULO MELO – O senhor é profissional de renda variável, mas o senhor está, na hora de defender a operação, o senhor parece ter um cabedal de conhecimentos e, de uma maneira muito forte, o senhor encontra argumentos para defender operação de que a Turfa não causou nenhum prejuízo ao Rioprevidência.

O SR. ERIC BELLO - Mas isso posso fazer hoje pelo próprio relatório do Tribunal de Contas, o qual expõe...

O SR. PAULO MELO – E, pelo relatório do Tribunal de Contas, houve um grande prejuízo.O SR. ERIC BELLO - No ponto de vista leigo, no ponto de vista contábil mostro que não.

Os membros da Comissão mostraram ao depoente que, em alguns momentos, era difícil considerar apenas coincidência, alguns fatos relatados por Eric Bello:

O SR. ERIC BELLO – De forma alguma estaria fazendo pouco caso dos senhores. Estou falando a verdade; por mais estranho que possa parecer aos senhores, a verdade é esta.

O SR. PAULO MELO – É difícil. Veja só: o senhor é dono de uma empresa. E aí concordo com o Deputado Paulo Ramos, eu me sinto até ridicularizado aqui na posição de Deputado no sentido de interrogá-lo. Porque o quê o senhor nos fala, no mínimo é um chiste muito grande.

Ora, o seu pai como presidente de uma autarquia conhecida aqui do Rio de Janeiro, responsável pelo sistema previdenciário de todos os funcionários. O senhor deveria conhecer esses seus sócios há muito tempo.

O SR ERIC BELLO – Há um bom tempo.O SR. PAULO MELO – Os seus sócios também deveriam - como disseram aqui - conhecer seu

pai.O SR ERIC BELLO – Conheciam.O SR. PAULO MELO – E não sabiam que seu pai era o presidente do Rioprevidência?O SR ERIC BELLO – Não sabiam. É verdade.O SR. PAULO MELO - Então por que essa necessidade de segredo tão grande? Por que seu pai

quando foi nomeado para o Rioprevidência saiu no jornal. Saiu em vários jornais e ninguém tinha conhecimento?

O SR ERIC BELLO – Não.

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O SR. PAULO MELO – A operação foi feita com a Turfa aleatoriamente? Descobriram a Turfa como poderiam descobrir qualquer outra empresa?

O SR ERIC BELLO – Como outras instituições. Porque houve 30 operações, as quais foram feitas da mesma forma.

O depoente garantiu que não houve convite para negociar os papéis da autarquia. Segundo ele, tratou-se de uma coincidência de mercado:

O SR. LUIZ PAULO – Quem convidou a sua empresa, quem deu a dica para a sua empresa, quem insuflou a sua empresa, quem orientou a sua empresa a ir operar com o Rioprevidência?

O SR. ERIC BELLO – Não houve essa pessoa. As operações de mercado são “broqueragens”. Você tem um papel e vai mostrando, ou vice e versa. Se você tem para venda ou para compra. Acontece. Se as operações forem interessantes, são concretizadas. É o que aconteceu.

O SR. LUIZ PAULO – Quantas operadoras de mercado secundário existem no mercado de capitais?

O SR. ERIC BELLO – Vou dar um número... Não sei o número exato. Podem ser 200.O SR. LUIZ PAULO – E na relação um para 200 o acaso lhe sorteou?O SR. ERIC BELLO – O acaso, como outras 234 operações durante o ano de 2002.

Neste ponto do depoimento, Eric Bello justificou suas operações, fazendo uma análise de mercado:

O SR. LUIZ PAULO – Numa conjuntura perversa, como o senhor afirmou, em que o Lula disparava nas pesquisas e os capitais fugiam do nosso país, e o dólar disparava, é um investimento positivo ir-se ao mercado secundário e comprar títulos da dívida com valores superiores ao valor de mercado?

O SR.ERIC BELLO - Bom, eu vou falar sobre o mercado, que é mais ou menos parecido com o do Open. Se o mercado é vendedor, como estava, eu acho que vai cair, eu sou vendedor. É a minha concepção. Ou mesmo num dia, se caiu demais, eu sou comprador, mesmo que venha a cair um pouco mais, porque no dia seguinte vai subir.

O SR. LUIZ PAULO – Só que o dia seguinte não era tão seguinte, porque as eleições, o senhor operou no mês de agosto, as eleições seriam em outubro. Teria segundo-turno. Então, o seu dia seguinte em relação a agosto poderia ser ou não em dezembro. O senhor já falou aqui que inside information é ouro em pó e que o senhor não tinha essas informações, por via de conseqüência o senhor não tinha ouro em pó.

Então, na verdade, o que o senhor nos afirma não corresponde à realidade. Tanto não corresponde à realidade que os seus colegas de profissão, que detém os investidores, verificaram que estava na hora de fugir do mercado para preservar capital. E o Rioprevidência entra na contramão, entra comprador. E entra comprador com papel em dólar. E o dólar subindo. Então, o senhor quer me convencer que o governo Benedita apostava na derrocada do governo Lula. Porque se eu entro no mercado, dólar ascendente, eu entro comprador, eu tenho que apostar que o dólar vai subir mais ainda. Estou jogando no mercado na contramão da política.

O SR.ERIC BELLO - As operações que foram feitas com a minha empresa, a Turfa, não houve operação com papel cambial. Era operação de variação de LFT, Letra Financeira do Tesouro. E o que posso responder pelo que eu até vi, na primeira operação, no dia seguinte, teve valores superiores ao que foi negociado. Então, a variação no dia seguinte foi superior a do dia anterior, quando foi feita a nossa operação. Não houve operação. Era LFT e LTN.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor opera hoje ou nesses últimos tempos em que o senhor esteve na Turfa com algum outro fundo de pensão?

O SR. ERIC BELLO – Não senhor. Não tenho operado por motivos,... Porque está acontecendo tudo isso, somente na pessoa física. Eu, eu mesmo.

O SR. LUIZ PAULO – Quando o senhor saiu da Turfa?O SR. ERIC BELLO – Eu saí efetivamente no ano passado. Porque demora quase seis meses

para você poder sair...O SR. LUIZ PAULO – Então o senhor saiu em 2003?O SR. ERIC BELLO – Perfeito.O SR. LUIZ PAULO – Então, até 2003, o senhor, além do Rioprevidência, operou com outro

fundo de pensão?O SR. ERIC BELLO – Eu...

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O SR. LUIZ PAULO – Quando eu digo o senhor, nunca estou... É sempre a sua empresa, pessoa jurídica.

O SR. ERIC BELLO – Em 2003 ela operou bastante, bem mais que 2002.O SR. LUIZ PAULO – Com outros fundos?O SR. ERIC BELLO – Com outros fundos.O SR. LUIZ PAULO – Inclusive fundos de pensão de empresas estatais federais?O SR. ERIC BELLO – Acredito que sim, não posso lhe dizer por que eu já não estava nem mais

lá, mas com certeza sim, é provável que sim. Eu tive 234 operações no meio de 2002. Em 2003 eu nem levantei porque provavelmente foi muito superior a isso.

Neste ponto, o depoente informou que sabia que o pai havia assumido o Rioprevidência, mas, segundo ele, não atinou para o fato de que a Turfa poderia estar fazendo negócios com a autarquia:

O SR. ERIC BELLO – Eu tive conhecimento do meu pai, que ele estava trabalhando no Rioprevidência acho que meados de maio, não sei quando foi, mas a ciência das operações eu viria a saber em agosto. Então, logo em seguida, eu conversei com ele. O meu pai teve uma vida de trabalhador vinte anos fora do Brasil. Vinha aqui... O nosso contato sempre foi muito afetivo, mas distante. Não falamos sobre negócio.

O SR. GILBERTO PALMARES – O senhor não achava que o senhor podia saber ou não saber que a Turfa tivesse operando com o Rioprevidência, mas a probabilidade existia já que é uma distribuidora de títulos...

O SR. ERIC BELLO – Perfeito.O SR. GILBERTO PALMARES –... É um fundo de pensão.O senhor não considerou, em nenhum momento, por uma questão, até, de lealdade ou qualquer

outro nome que se dê, o senhor deveria, desde a primeira hora, ter informado ao seu pai que era sócio, cotista – sei lá que nome se dava – de uma operadora, de uma distribuidora de título?

O SR. ERIC BELLO – Quando eu soube da operação, tão logo, em seguida, eu conversei com ele. Foi o que aconteceu. Até, então, eu não ficava falando da minha vida o que eu estava fazendo. Cansei de mudar de trabalhar aqui ou lá e o meu pai não me perguntava. Quando ele aparecia a gente almoçava. Desde 87, mais ou menos, ele fixou mais raiz no Brasil, mas até então foram vinte e poucos anos sem vê-lo. Via nas férias, via ali. Minha família... É difícil de explicar, porque a gente não se fala certas coisas, mas, por parte de mãe tenho origem inglesa, são todos muito distantes. A gente se vê uma vez por ano. No meu caso, da minha família, a gente se vê até mais, muito mais vezes do que isso, mas da parte dela é uma vez por ano.

Eric Bello explicou que uma das operações feitas após o pai ter desautorizado a Turfa de operar com a autarquia se tratou de uma operação corriqueira do mercado:

O SR. GERALDO MOREIRA – Sr. Presidente, o depoente afirma que fez uma operação em setembro.

O SR. ERIC BELLO – Eu, não, a empresa fez uma operação em setembro.O SR. GERALDO MOREIRA – Mas, na verdade, pelo que V.Sa. coloca, a operação de agosto, o

então Presidente do Rioprevidência, teria, não proibido, mas aconselhado que não se fizesse mais operação com a empresa. E aí em setembro, logo em seguida, se faz uma nova operação?

O SR. ERIC BELLO – Eu expliquei isso. Foi feita uma operação a termo. É uma questão de honrar o que foi fechado a termo.

Uma operação fechada a termo é aquela operação que você fecha: “oh, está liquidado dia 10, dia 11, dia 12.” Seja o que for, o dia determinado e a gente honra. Como tem operação a termo na Bolsa de trinta dias, sessenta... Hoje em dia isso já não é mais quase usual, mas você é obrigado a honrar. É uma questão moral, não é?

O sócio da Turfa disse que conheceu Mauro Michelsen casualmente, ao fazer uma visita ao pai, no Rioprevidência:

O SR. LUIZ PAULO - Sr. depoente, o senhor certamente conhece o Sr. Mauro Michelsen, diretor de investimentos do Rioprevidência.

O SR. ERIC BELLO – Conheço.

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O SR. LUIZ PAULO – O senhor o conheceu como operador do Rioprevidência ou seu conhecimento precede o Rioprevidência?

O SR. ERIC BELLO – Eu conheci ele como diretor financeiro do Rioprevidência.O SR. LUIZ PAULO – O senhor teve contatos pessoais com ele no Rioprevidência? Como é que

se deu esse relacionamento?O SR. ERIC BELLO – O conhecimento e o contato que tive no Rioprevidência foi uma vez;

quando fui lá e meu pai apresentou ele, o diretor jurídico, Sr. Sérgio, as secretárias... Aquelas pessoas que ficavam mais ali perto.

Na parte final do depoimento, o depoente explicou ao Relator, de forma genérica, como funciona o mercado, motivo de tantas dúvidas:

O SR. LUIZ PAULO – Eu queria que o senhor nos desse aqui um esclarecimento, para ficar bastante clara a questão das operações, porque tenho uma dúvida em relação a depoentes diferentes. Vou dar as duas hipóteses.

O Rioprevidência, quando lhe ordena: “-Compre a LFT x” – “x” é genérico, não estou citando uma, especificamente. Ele diz para comprara por um determinado valor, para comprar até tal valor ou é o contrário: o Rioprevidência diz “-Quero comprar esse título”. E o senhor diz: “-Por quanto o senhor pode comprar?”. Como é que se dá essa operação? Deu pra entender?

O SR. ERIC BELLO – Entendi. Sobre essa operação específica vou explicar como uma coisa genérica...

O SR. LUIZ PAULO – Mas estou perguntando de forma genérica.O SR. ERIC BELLO – Cada operação depende... Por exemplo, tem gente que fixa taxa, quer

comprar taxa fixada em determinado preço. Assim como o papel: o papel tem uma variação... Se você pegar no mercado acionário e lançar uma opção, ele dá uma taxa efetiva embutida naquilo ali. Outros, pelo preço de mercado. Outras pessoas pela a oferta de liquidez.

O SR. LUIZ PAULO – Especificamente no caso do Rioprevidência, como é que designava essas operações? Eram os senhores que forneciam o preço para o Sr. Mauro Michelsen ou era o Sr. Mauro Michelsen quem definia o preço de compra para os senhores? Estou interessado só na compra.

O SR. ERIC BELLO – Sinceramente, Deputado, nessa parte das operações do Rioprevidência, eu não sei. Sinceramente, não participei dessas operações...

O SR. LUIZ PAULO – Mas, esse não é um dado sigiloso.O SR. ERIC BELLO – Sei, que não é sigiloso, mas posso lhe dizer que eu não sei. Posso até

perguntar e, se quiser, mando isso escrito. Eu não sei.

No dia 26 de maio, os membros da CPI argüiram os contadores Sérgio Bendoraytes e José Bendoraytes Filho, da empresa de auditoria Bendoraytes & Aizenman & Cia. No início do depoimento, Sérgio e José Bendoraytes falaram a respeito de um dos contratos com o Rioprevidência:

O SR. LUIZ PAULO – Sr. José, o senhor, por dispensa de licitação, foi contratado pelo Rioprevidência para auditar a compra e venda de títulos. É essa a verdade?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – É. Nós fomos convocados para uma reunião para discutir uma prestação de serviço que envolvia uma revisão especial de operações realizadas com títulos públicos federais. (...) nós mandamos uma proposta. Nossa proposta, inicialmente, foi mandada via e-mail; o preço era superior ao valor, vamos dizer que era dispensável à licitação, nós fizemos um acordo. Achamos que era interessante fazer o trabalho e assinamos uma proposta... Recebemos uma proposta assinada por eles.

O SR. LUIZ PAULO – Em que data houve esse aceite?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Dia 30 de janeiro de 2003.

O SR. LUIZ PAULO - No seu relatório, que data de 04 de fevereiro de 2003, quatro dias após a assinatura do contrato. (...) Eu gostaria que o senhor me explicasse como o senhor conseguiu fazer tão rapidamente esse relatório.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Existem menos de sessenta operações realizadas. O que não traz nenhum espanto porque é um escopo muito pequeno, o volume não era tão relevante. O número

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de operações justifica o prazo. (...) O nosso trabalho foi restrito a aspectos contábeis; levantamento de lucros ou prejuízos nas operações. E nós não consultamos o Banco Central. A única fonte de informação foi a revista Andima que, pela Internet, qualquer um pode acessar e saber o preço de mercado de títulos; quer dizer, não há complexidade, não vejo razão de demorar quinze dias.

O SR. SÉRGIO BENDORAYTES - Vou exemplificar. Vamos trocar a figura do título por veículos. Então, houve 63 transações de veículos; comprou-se e se vendeu. Para eu saber se ele comprou ou vendeu certo, eu preciso de um parâmetro.

No caso de título, eu uso a revista Andima, para veículo, posso usar a revista Quatro Rodas. Isso não demora, com boa vontade não demora mais de dois dias para saber se ele comprou certo ou vendeu certo, se eu tenho o veículo, o tipo de veículo e o parâmetro. Em título, é a mesma coisa; troca-se a palavra veículo por título, pega-se a revista Andima e se parametriza por essa fonte. É muito simples. (...) Em contabilidade, não existe conjuntura. A contabilidade anda atrás dos fatos. Vocês operam, eu registro. E eu apuro se isso deu lucro ou se deu prejuízo. Foram feitas diversas operações e a contabilidade por obrigação tem que fazer a valorização dos papéis, se os papéis deram lucro ou prejuízo A auditoria simplesmente verifica o procedimento que a Contabilidade fez, se está certo ou se está errado.

O SR. LUIZ PAULO - Essas compras e vendas foram escrituradas corretamente dentro do Rioprevidência?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – As compras e vendas, sim. Os lucros ou prejuízos, não. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Todas estão registradas?O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Todas as que nos foram apresentadas e estão listadas

aqui, estão documentadas. (...) não existia nada além dessas operações em títulos públicos federais, da espécie, onde nós fomos contratados.

O SR. LUIZ PAULO – Então, já que os registros foram todos lançados, e os senhores fizeram a apuração desses registros, queria que ficasse claro, no relatório, qual foi o prejuízo contábil dessas operações.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – O prejuízo que deveria estar registrado, a operação total, chega a 21 milhões, 512 mil, 999, que nós levantamos.

O SR. PAULO RAMOS – Mas, se o contrato era a partir de 1º de janeiro, que era pegar o exercício de 2002, todo, qual a ração da Bendoraytes não ter auditado o período anterior, de 1º de janeiro a abril/maio de 2002?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – As operações... Acontece que o Rioprevidência não tinha fundos para aplicar... Não tinha fundos. O senhor leia o relatório. (...) Quando o dinheiro entrou e foi aplicado, foram feitas as operações que estão registradas. Aqui: janeiro, não tinha dinheiro: saldo zero; fevereiro: zero; março: zero; abril; maio... Quer dizer, em maio e junho, a partir de maio e junho, que começou a ter recurso para ser aplicado.

Então, nosso trabalho foi verificado, o acerto contábil desde as datas de 1º de janeiro de 2002 a 31 de dezembro de 2002. Então, o senhor, desculpe. Eu acho que o senhor está registrando...

O SR. PAULO RAMOS – Mas, veja bem, nós temos aqui, por exemplo, Banco Santos – sete milhões. Foi naquele período.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Foi aplicado e aqui está a rentabilidade sobre as aplicações.

O SR. PAULO RAMOS – Mas, foi no período onde diz aqui: não houve. E essa aplicação, sendo um banco de segunda linha, também é ilegal. Eu queria saber, por que a Bendoraytes não registrou em relação ao Banco Santos, o Schain e o Industrial, além da tal das chamadas Elet’s? Por que não registrou aqui?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Acho que está havendo uma certa confusão. Todas as operações realizadas no período, naquela conta, foram verificadas. E nós não estamos aqui discutindo se a operação é legal ou ilegal. Ela ocorreu. Isso é uma responsabilidade da administração do Rioprevidência que, se fez bem ou mal aplicação, a nós só competiu fazer o levantamento de lucros ou prejuízos contábeis. Acho que o senhor deve se ater a isso: lucro ou prejuízo contábil. Eu não posso responder...

Em seguida, os depoentes justificaram a velocidade com que foi feito o trabalho de análise das contas do Rioprevidência por parte da empresa de auditoria:

O SR. PAULO RAMOS – Primeiro, foi contratado sem licitação, depois, faz um relatório em três dias, dois dias, com coincidência de datas. Foi tudo muito rápido. Entretanto, é uma auditoria parcial, embora tenha sido a empresa contratada para fazer a auditoria em todo o exercício de 2002.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – 2003.O SR. PAULO RAMOS – O contrato foi em 2003...

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O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Não, a auditoria do exercício de 2003, nós fomos contratados e não 2002. Existe esse contrato e existe o contrato de auditoria de 2003; 2002 nós não auditamos. Essa é uma operação...

O SR. PAULO RAMOS – De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2002.O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – O senhor falou de auditoria completa, o senhor está

dizendo que fomos contratados para fazer auditoria de 2002 e não fomos. Este é o contrato que fomos chamados a fazer e esse realizamos. Agora, por que a pressa? Na realidade...

O SR. PAULO RAMOS – “Tendo concluído os nossos trabalhos de auditoria, consoante proposta datada de 30 de janeiro”... De 2003... Cujo escopo objetivou a análise da carteira de títulos de renda fixa do Fundo do Rioprevidência, período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2002. É isso aqui.

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Ok, movimento dos títulos.O SR. PAULO RAMOS – Os certificados de depósito: CDB, isso é título?O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Claro.O SR. PAULO RAMOS – Então. CDB é título?O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Veja bem, aqui está o relatório...

A justificar o fato de que os depoentes não encontraram falhas em algumas das transações sob investigação por parte desta CPI, o depoente disse que a Bendoraytes & Aizenman fora contratada para analisar apenas uma conta da autarquia:

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO – Sr. Deputado, nós, no 3º§, leia, o senhor pode perceber que nós examinamos a conta 111.130.200, exatamente essa conta; essa conta registrava essas operações. Se outras contas registram outros valores, nós desconhecemos, porque fomos contratados exclusivamente para auditar essa conta. Acabou. Eu acho que...

Por fim, José Bendoraytes esclareceu que a auditoria foi feita apenas analisando os números e não os procedimentos:

O SR. NOEL DE CARVALHO – Portanto, quero tentar, de forma bastante insistente, que esta CPI estabeleça a diferença bem nítida entre alguém que manda comprar através de uma corretora, manda pagar um preço que é o dobro do preço de mercado etc., e alguém, que em um leilão público, compra tantos milhões de títulos e, três dias depois, é obrigado a vender para poder cobrir um empréstimo que tinha feito no Rioprevidência, despesas previdenciárias, vendendo com um pequeno prejuízo – mas tudo feito através de leilão público. E ele afirmou que sim. Os senhores, ao examinarem isso, constataram essa afirmação que estou fazendo aqui ou não?

O SR. JOSÉ BENDORAYTES FILHO - Nós não verificamos a formalização das operações, mas os registros contábeis. Então, não tenho... Tenho apenas notas de compra e notas de venda. Qual foi o procedimento, se foi leilão, o resultado foi a emissão da nota que comprova os registros. Não posso responder mais do que isso.

No dia 2 de junho de 2004, a CPI ouviu o depoimento de Rômulo Dante Orrico Filho. Ele disse que assumiu a Secretaria de Administração, a convite da Governadora Benedita da Silva, no sábado, 06 de abril. Disse que sua estrutura era composta de três subsecretários, nove superintendências e diversas coordenações, além de um departamento de administração e finanças. Orrico disse ainda que a Sare, como é conhecida, tem também cinco entidades vinculadas: o Iperj, encarregado das pensões; a Fesp, encarregada pela formação, treinamento e seleção de pessoal; o Iaserj, encarregado da saúde dos funcionários e da assistência; o Proderj, encarregado do processamento de dados e apoio a folha de pagamento; e, evidentemente, o Rioprevidência, alvo desta CPI. O ex-secretário falou do seu papel com o Rioprevidência:

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – A minha função era, fundamentalmente, da presidência do conselho de administração. A entidade é uma entidade vinculada à Secretaria de

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Administração. Fundamentalmente isso, no conselho de administração, e, evidentemente, como toda relação entre um Secretário e suas entidades vinculadas.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O senhor saberia dizer quem indicou o Sr. Ruy Bello para presidir o Rioprevidência?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Ao que me consta, ele teria sido indicado pelo secretário... Acho que é de articulação política, o termo oficial. Ao que me consta. Ele me comentou dessa forma.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O senhor conhecia o Sr. Ruy Bello antes dele presidir a instituição.

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Não. O Ruy Bello, pouco antes dele assumir, recebi um telefonema, possivelmente, da ex-presidente Dra. Terezinha, perguntando quando teria agenda para receber o próxima presidente, que seria o Ruy Bello. Nunca conheci e não tinha ouvido falar dele antes.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – E como era a relação de vocês dois no dia-a-dia ali, na condução dos trabalhos do Rioprevidência?

O SR. RÔMULO ORRICO – Ele era uma pessoa amistosa. A primeira impressão que me deu é de uma pessoa culta, uma pessoa com bastante idade já; me disse que era funcionário do Banco do Brasil, aposentado. E nós nos encontrávamos funcionalmente algumas vezes. De que forma? Duas ou três vezes ele me convidou para almoçar para... Poder conversar, talvez até uma relação pessoal, um pouco mais de tranqüilidade, mas nada, além disso. Em reuniões que promovi, três reuniões entre todos os presidentes de autarquia, tentando promover também um maior entrosamento que se tornou bastante importante pros presidentes, os subsecretários e, evidentemente, nas duas reuniões do conselho de administração do Rioprevidência. Eventualmente, umas duas ou três, não me lembro quantas, audiências que ele solicitou comigo.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O senhor conhecia Mauro Michelsen?O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Não.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Sabe como se deu também a indicação do Mauro

Michelsen para o Rioprevidência?O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Olha, eu não sei. Eu não o conhecia antes, mas a

mim me parecia que ele teria sido indicado pelo Dr. Ruy Bello. Se não foi por ele, por alguém próximo a ele. Mas eu não saberia dizer. (...) diria o seguinte, de fato, nem sempre é possível escolher todas as pessoas com quem se vai trabalhar. Mas, nesse caso especificamente, do Rioprevidência, nenhum dos diretores, nenhum gerente, nenhum superintendente passou por um crivo meu, se podemos usar essa palavra. Eu fui informado que o Dr. Ruy Bello seria o presidente e se eu poderia recebê-lo na agenda. O Dr. Mauro... (...) Michelsen. Possivelmente devo ter recebido o curriculum vitae dele para dar uma examinada. Mas, apenas para dar uma examinada e devolver. Mas, a decisão efetivamente não foi feita por mim.

O ex-Secretário disse que teve pouco contato com Ruy Bello. Além de algumas reuniões de trabalho, o depoente disse que almoçou em duas ou mais oportunidades com o ex-presidente do Rioprevidência. O que chamou a atenção do depoente foi o rol de projetos que Bello disse que gostaria de desenvolver:

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – O Dr. Ruy esteve na minha sala a primeira vez, me pareceu uma pessoa gentil, me pareceu uma pessoa experiente, como eu já disse aqui, ele era funcionário do Banco do Brasil aposentado, uma instituição que todos nós temos respeito. (...)

Ele tinha uma lista de grandes investimentos que ele achava que seria importante fazer. Para mim, parecia um pouco grande. A gente chamaria isso de grandes diretrizes. Era um... – até anotei aqui -... Um volume de investimento muito alto; setores diversos de produção; investir, por exemplo, na produção de jeeps com empresas russas no Brasil; motores e mini caminhões com empresas chinesas; bondes, com empresas tchecas; usinas de lixo com alemães, suíços e eslovacos; hospital com canadense. E, ainda, energia relativa a produtos da Bacia de Campos e estacionamento na PUC. Me apresentou uma lista de grandes idéias. E quando ele disse aquilo, talvez não fosse as coisas assim mais imediatas de preocupação. Eu via, como imediata de preocupação, isso: o fato de que tinha mais de dois mil processos de auxílio-funeral parados; familiares de servidores não recebiam e o fato de que a máquina precisava funcionar, que era a grande queixa dele, que tinha muita gente que era terceirizada.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Sobre investimento ele não falou nada?O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Isso ele não falou. Eu me lembro que, em

determinado momento, ele fez um comentário de que era conservador; que aplicaria, se fosse o caso, quando fosse o caso, em documentos e títulos públicos federais, coisas desse tipo, que ele tinha uma

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posição conservadora. Mas, em nenhum momento, ele me falou nada sobre o tipo de investimento feito, com quem estava investindo.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – A minha última pergunta aqui, Sr. Rômulo, vai em cima do que o Sr. Ruy Bello disse a esta Comissão. Ele comunicou à essa Comissão que tinha almoços freqüentes com V.Sa.

Na verdade, ele tinha a intenção de dizer para esta Comissão que dividia com o senhor, pelo menos, as linhas do que ele vinha fazendo, em todos os sentidos... (...) E ele diz para esta Comissão que, de alguma forma, permanentemente, pelo menos uma vez por mês, se encontrava com o senhor para conversar sobre todos esses assuntos. Procede isso?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Não. Não procede. O fato de ele ter reuniões com alguma freqüência com o Secretário de Administração são atividades funcionais. O fato de ele dividir informações que ele alega ter dividido, isso não é verdade.

O Dr. Ruy conversava comigo algumas coisas em caráter extremamente elevado, extremamente generalizante ou globalizante ou abrangente. Jamais ele entrou comigo em algum assunto específico do tipo que empresa contratar para compra de títulos ou não compra de títulos; que títulos exatamente comprar; quando vender, se antecipa a venda, se estende venda, nada disso. Em nenhum momento o senhor Ruy Bello conversou comigo esses assuntos.

Ele conversou de forma genérica, o que eu falei. Aquela grande lista de investimentos que ele achava procedente. Em um momento, num documento entregue ao Conselho de Administração, ele falava em recuperar os fundos de compensação, variação salarial, ele falava em levantar e analisar a situação do patrimônio e contratar uma auditoria interna e instaurar a auditoria interna. Acho que esse foi o limite máximo de discussão sobre esse assunto.

Apesar de ter sido presidente do Conselho de Administração da autarquia, Orrico disse que nunca foi informado sobre as aplicações feitas por Ruy Bello e Mauro Michelsen:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Em momento nenhum, o senhor, como Presidente do Conselho de Administração, conseguiu perceber essas transações que possivelmente trouxeram prejuízos ao Erário?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Não. No Conselho nunca isso apareceu. Tivemos, que eu me lembre, duas reuniões; ainda encontrei a Ata de uma delas; guardei alguns poucos documentos, se for o caso, posso disponibilizar, ou mesmo fazer procurar na Secretaria. E, nessa primeira reunião, que foi em cinco de setembro, foi quando foi montado o Conselho, foi quando foi escolhido o Presidente; o Diretor, o substituto, o vice-presidente e o Secretário, tudo isso. E nessa reunião se falou principalmente desses grandes problemas, não é? Da necessidade de reestruturar, de formação de pessoal, de que tinha muita gente terceirizada, de auxílio-funeral que é a principal preocupação nisso aí. E também o fato de que imóveis que pertenciam ao Rioprevidência e que não deveriam ter ido para o conjunto de imóveis do Rioprevidência. E também, vice-versa, imóveis que ainda estariam necessitando serem repassados.

Naquela reunião, eu criei uma Comissão que fosse tratar justamente desse assunto, saber que imóveis, parte a parte; sugeri que fossem feitas, junto com a Superintendência de Patrimônio que, naquele momento, já não estava mais com a Secretaria de Administração. Em agosto, a Superintendência de Patrimônio foi transferida para a Secretaria de Fazenda. Mais em nenhum momento, o Dr. Ruy comentou...

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Falou em investimento.O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO –... Ou falou em investimento dessa natureza. (...)

Na primeira reunião o Dr. Ruy ficou então encarregado de enviar para os conselheiros, não sei o termo técnico que ele utilizou, mas era proposta operacional, as coisas a serem feitas doravante. E ele apresentou, na reunião seguinte, foi entregue para todo mundo. Eu não tenho a Ata dessa reunião, segunda que presidi. E, nessa reunião, fui apresentado, eu tinha ainda cópia, se for o caso posso buscar e encaminhar, dentro dos meus guardados, um documento que dizia: “evolução dos saldos de conta de dezembro de 2001 a agosto de 2002”, justamente o período que cobria até a reunião, a primeira, que foi 5 de setembro, mas esse documento já veio na reunião de 21 de outubro. 5 de setembro para 31 de agosto, pouco tempo hábil para organizar. E também os comentários acerca da evolução histórica dos saldos dessas rubricas. Eu me dei ao cuidado de ler esses comentários todos e não tem nenhuma menção que dissesse, que chamasse a atenção sobre alguma coisa diferente, alguma coisa pequena, alguma coisa grande, alguma coisa normal ou alguma coisa que sinalizasse nesse sentido.

O Conselho Fiscal que também tem, entre suas obrigações, encaminhar para o Conselho de Administração alguma irregularidade que, por acaso, perceba, inclusive, com as indicações de correção, também não encaminhou. E o Conselho Fiscal, só relembraria, que ele foi escolhido, que foi eleito, montado ainda na gestão do Governador anterior. Nós chegamos nesse Conselho e ele já existia. Então, de

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fato, ao Consad, à presidência do Consad, não chegaram a informações que preocupassem, que obrigassem o Presidente do Conselho ou o próprio Conselho, com qualquer um dos seus 11 membros, tomar alguma iniciativa mais específica.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Na avaliação de V. Sa., o senhor se consideraria co-responsável pela gestão do Rioprevidência, pela gestão do Proderj, pela gestão da Fesp, pela gestão no sentido geral?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Eu digo o seguinte: dentro dos limites das atribuições legais que cada secretário, cada coordenador - aliás, Deputado Luiz Paulo foi vice-governador - tem um nível de responsabilidade distinto. Não é? É bastante distinto.

A criação dessas autarquias, em especial essa do Rioprevidência, diz lá que ela é autônoma, ela tem toda essa parte descentralizada. Então, cabe, realmente, ao secretário, cabe ao presidente do conselho, fazer uma supervisão, evidentemente, dentro das condições possíveis. E nós fizemos. E eu tenho certeza que fizemos um trabalho dentro das possibilidades, naquele momento, todas as atuações possíveis de fiscalização.

Orrico disse que soube através do próprio Ruy Bello que a presidência do Rioprevidência tinha sido uma indicação do Secretário de Articulação Política de Benedita da Silva:

O SR. LUIZ PAULO – O senhor acabou de dizer para o nosso Presidente que, possivelmente, o Sr. Ruy Bello foi indicado pelo Secretário de Articulação Política. É possivelmente ou foi ele que indicou?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Isso foi o que o Dr. Ruy Bello me disse.O SR. LUIZ PAULO – Como era o nome do Secretário de Articulação Política?O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Manoel Severino. Se esse é o termo adequado da

Secretaria. O SR. LUIZ PAULO – Gostaria que o senhor me dissesse se o senhor analisou o currículo do

senhor Mauro Michelsen e se mandou alguém telefonar para ele para ele assumir essa diretoria de investimentos?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Não. Eu não mandei telefonar para o Mauro Michelsen, eu não o conhecia, eu não sabia nem da existência dele. Ele me foi apresentado um dia pelo Dr. Ruy Bello. Ele me apresentou o Mauro Michelsen e uma outra pessoa que veio, mais tarde, também a se tornar diretor... Esqueci... Foi o diretor de administração e finanças. (...) Ele que me apresentou os dois. O curriculum vitae do Mauro veio às minhas mãos, enviado pelo Dr. Ruy Bello ou vindo da Casa Civil, do gabinete, por uma das duas partes, pode ter vindo.

Neste ponto de depoimento, Orrico fala das tratativas para a cessão de um terreno na Zona Sul para a construção de um hospital privado:

O SR. LUIZ PAULO - quanto à rede hospitalar, é verdade, ele encaminhou nesse sentido. Sabe por quê? Porque vocês fizeram um convênio com a Rio-Med para construir um hospital na Avenida Bartolomeu Mitre, no Leblon. Fizeram um protocolo de intenções que, no meu entendimento, carecia de qualquer fundamentação e hipótese legal. Uma parceria desse tipo teria que ser precedida de licitação pública porque aquele terreno de dez mil metros quadrados representa um capital altíssimo, ali, no Leblon. O que o senhor tem a comentar a respeito do Rio-med?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Vamos falar, primeiro, desse elenco de ações que o Sr. Ruy Bello me apresentou. Ele apresentou, o que me lembro um pouco, ele apresentou segundo a ótica, talvez semelhante aquela dos grandes fundos de pensão como o Previ e de outras entidades, a possibilidade de promover investimento no Rio de Janeiro. Foi essa a leitura que eu vi. O Dr. Ruy Bello havia trabalhado nos países do Leste o que talvez explique esse conhecimento dele de fábricas, de pessoas, investidores, eu não saberia dizer, ligados aos países do Leste.

O convênio do Rio-Med foi apresentado, até em determinado momento, ao Conselho de Administração que não chegou a se pronunciar especificamente, também não tenho muita certeza quanto a isso, mas ele havia sido assinado pelo ex-Governador Anthony Garotinho. E, num dos comentários tido sobre esse convênio, que tem uma cláusula dele que era um convênio para se traçarem estudos à respeito. (...) Isso, um protocolo de intenções. Um dos itens, um dos parágrafos desse protocolo de intenções, ou cláusulas – também não saberia dizer de cor qual o termo – ele, em princípio, não atribuiria, não traria para o Rio de Janeiro ônus. Se a memória não me falha, é o nº5 que diz alguma coisa parecida, que o Estado não tem a obrigação quanto a isso.

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Agora, eu concordo plenamente com o Sr. Deputado Luiz Paulo sobre licitações. Essa é minha postura, aliás uma postura pública minha sobre licitações. Nenhuma coisa que pudesse parecer, ou deixar parecer ou atuar no sentido lesivo ao interesse público, eu concordaria. Nada disso.

O depoente voltou a afirmar que não tinha nenhuma ingerência e conhecimento a respeito das operações financeiras levadas a cabo pela cúpula do Rioprevidência:

O SR. LUIZ PAULO - Sr. Presidente, quero continuar com a tese de que todo Rioprevidência foi estruturado pelo Sr. Manoel Severino e pela Sra. Teresinha de Jesus, daí a necessidade de ambos deporem perante esta CPI. Porque nem o Sr. Presidente, nem o diretor de investimentos e nem o diretor de administração e finanças do Rioprevidência foram indicações do Sr. Secretário de Administração. Todas elas vieram, tudo indica – e os depoimentos do Dr. Ruy Bello consignam – do Sr. Manoel Severino. Isso é um ponto importante porque eu vou entrar em seguida na questão das aplicações.

Veja o senhor, Sr. Rômulo, a empresa Turfa foi constituída em 23/10/01. Nesta data, eu já tinha conhecimento de que a Sra. Benedita da Silva seria a Sra. Governadora, em substituição ao Sr. Anthony Garotinho. Essa empresa foi constituída nessa data. Ela foi registrada na Jucerja, na Junta Comercial, em 11/04/02. O senhor assumiu em 06/04/02. A Constituição da Turfa na Jucerja já foi depois da Sra. Governadora Benedita da Silva ter assumido, que também foi no dia seis. E também o Sr. Ruy Bello, que foi um pouquinho depois, foram trinta dias depois; foi em torno do dia 06/05. O sócio majoritário dessa empresa, Turfa, era o Sr. Eric Davi Bello, era o acionista majoritário. Filho do Sr. Ruy Bello. E essas operações de compra e venda deram início com a Turfa. A primeira operação de compra e venda foi em 27/06/02, que é antes da primeira reunião do Conselho de Administração, que o senhor acabou de dizer que foi em 05/09/02. Então, a compra, o início dessas operações, aconteceram à sua revelia. Ou o senhor teve alguma ciência que eles iam fazer esses investimentos?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Nenhuma ciência. O SR. LUIZ PAULO – Até o senhor sair do Governo o senhor teve alguma informação do Sr.

Ruy Bello, do Sr. Mauro Michelsen sobre essas operações? Eles contaram alguma história? O senhor teve conhecimento disso?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Nenhum.O SR. LUIZ PAULO – O senhor “passou batido” nessa questão?O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – “Passei batido”. No Conselho de Administração

essa assunto não foi levado. (...) Nem o Conselho Fiscal levou.

O depoente relembrou a questão da cessão do Teatro Casa Grande:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Antes, porém, perguntamos ao depoente se ele sabe porquê, no mês de dezembro, houve uma mudança da responsabilidade sobre o imóvel em que tinha sido instalado o Teatro Casa Grande, ao lado do Scala, retirando do Rioprevidência e retornando para a administração da Secretaria de Administração.

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Não sei exatamente no detalhe. Pelo que pude inferir é que talvez não tivesse ainda sido feita a real transferência para o Rioprevidência. Então, talvez, nesse momento, se verificou isso. Então, por isso, talvez tenha sido a clareza da titularidade dele, mas eu não saberia dizer. Ao que me lembre, ele não foi transferido, foi só clareado de quem estava, naquele momento, como titular.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – O senhor conhece bem esse tema?O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Esse tema, o que aconteceu? Fomos acionados,

recebemos uma solicitação que veio... Se não me engano, se a memória também não me falha, já pela própria PGE. Era... Com tudo em ordem, foi examinado, passamos pela Secretaria de Administração para sabermos do aspecto jurídico, na Superintendência, estava tudo nos conformes.

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Também, na reta final do Governo, lá para o dia 25 ou 27 de dezembro, se não me falha a memória, foi feito um contrato prorrogando a posse dos administradores do Teatro Casa Grande por mais dez anos, e o preço desse contrato sempre foi de setenta ingressos. A contrapartida, que o Teatro Casa Grande teria que dar para o Estado, era de setenta ingressos num imóvel em um dos locais mais valorizados do Estado do Rio de Janeiro. E esse contrato feito, no dia 27 de dezembro, poucos dias antes de terminar o Governo, deu a possibilidade dos administradores do Teatro Casa Grande negociarem com o grupo que está construindo um shopping que teria que demolir aquele teatro Casa Grande, com o compromisso de construir um novo. E, na verdade, esse compromisso já existia. E com a renovação desse contrato, na reta final, deu a possibilidade dos administradores do Teatro Casa Grande virarem para os construtores do shopping e dizerem que eles têm ali um documento que resguarda a posse deles. E como não é de se estranhar, logo depois, eles chegaram num acordo e foi feito um contrato entre os administradores do teatro Casa Grande com os

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construtores do shopping, no valor de aproximadamente 3 milhões de reais, por conta de indenização pelo fato do teatro estar demolido, teatro esse que há muito tempo sabemos não tem uma peça. Sabemos da história do teatro, sabemos da história dos administradores, mas há muito tempo não vinha tendo uma peça que pudesse, efetivamente, dar condições de o teatro exigir de uma construtora 3 milhões de reais. V.Sa. não tem conhecimento disso?

O SR. RÔMULO DANTE ORRICO FILHO – Em parte. O Teatro Casa Grande tinha esse contrato de 70 ou 80 ingressos. Quando esse contrato, essa proposta de regularização da situação que já perdurava, talvez, 36, 37 anos, passou pela nossa Secretaria, nós propusemos a ampliação dessa contrapartida porque, se a memória não me falha, seria através da criação de uma escola de artes cênicas ou alguma coisa que pudesse ser passada também para as camadas sociais carentes. Essa foi a nossa posição em relação a esse caso.

Agora, se V.Exa. me permitir um parêntese, eu moro muito perto do Teatro Casa Grande e nesse período tinha uma peça de teatro, se não me falha a memória, “A Máquina”, do João Falconi, por sinal muito bonita. De fato, o teatro não tinha mais aquelas condições que nós assistimos, mas ele tinha um teatro de arena. Também isso não significa um julgamento de valor sobre o que é o teatro ou que não é o teatro.

No dia 8 de junho, a CPI ouviu Eduardo Barcelos Guimarães, do Banco Industrial do Brasil. Os membros da comissão queriam detalhes da operação realizada em 5 de abril de 2002, quando o Governo do Estado, nos últimos momentos da Administração de Anthony Garotinho, aplicou R$ 5 milhões no Industrial do Brasil, em CDB’s, com a taxa pré-fixada de 18,30 % ao ano, para um prazo de 180 dias:

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – O Banco Industrial fez uma captação, simplesmente uma captação.

O SR. LUIZ PAULO – Como os senhores conseguiram aplicar esses recursos no Rioprevidência? Quem convidou os senhores? Como os senhores se aproximaram do Rioprevidência? Quem os apresentou? Como foi o contato de vocês com o Rioprevidência?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - O banco tem como meta sempre se prontificar a operar com todas as fundações e todos os fundos de pensão que possam estar abertos a operar no mercado financeiro. Na agência do Rio de Janeiro do banco, temos uma pessoa responsável por captação e essa pessoa visita a todas as pessoas possíveis que possam aplicar recursos no banco. Então, ela se aproximou procurando a diretoria financeira do Rioprevidência; entregou a essa pessoa a documentação normal que se entrega para isso, que são os balanços; as empresas de rate – o rate que o banco tem – e a instituição que vai aplicar o dinheiro é que define se deve ou não aplicar o dinheiro no banco.

O SR. LUIZ PAULO – Sim. Eu gostaria que o senhor nominasse quem é essa pessoa do banco que procurou a pessoa do Rioprevidência e também nominasse essa pessoa do Rioprevidência.

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Pois não. No Rio de Janeiro, quem trabalha conosco é o Sr. Paulo Zampietro... (...) E pelo Rioprevidência, o Sr. João Meireles, se não me engano.

O dirigente do Industrial do Brasil disse que não foi feito nenhum contrato ou licitação para que o banco operasse com recursos da autarquia fluminense:

O SR. LUIZ PAULO – Os senhores fizeram algum contrato formal de aplicação?O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Não, não existe contrato. Isso é uma aplicação

normal de CDB; essa operação é regida pelo CETIP. A aplicação é liquidada pelo CETIP. O SR. LUIZ PAULO – O senhor tem conhecimento que sua instituição financeira, para aplicar

recursos do Rioprevidência em CDBs, precisaria participar de um processo licitatório? O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Não senhor. Pelo o que sei é o seguinte: eu não

estou aplicando na Rio Financeira. A Rio Financeira está fazendo uma aplicação de CDB no Banco Santos, na realidade, no Banco Industrial...

O SR. LUIZ PAULO – Não sabia. E como foi essa escolha então? O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Isso, o Rioprevidência é quem tem que

explicar. Não é o banco. O SR. LUIZ PAULO – Quantos outros bancos temos aqui no Brasil com a potencialidade de

fazer essas mesmas aplicações?O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Já tivemos muitos. Hoje são muito poucos; não

diria que passam de 40 a 50.

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O SR. LUIZ PAULO – Pois é, mas veja o senhor: mesmo não passando de 40 a 50 bancos, o senhor foi ungido por essa escolha, não?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Sim. O SR. LUIZ PAULO – E o senhor não tem conhecimento de por quê o senhor foi ungido?O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Possivelmente porque minha taxa estava

competitiva. O SR. LUIZ PAULO – Bom, se sua taxa estava competitiva, que era de 18,30% ao ano, para

uma aplicação semestral, o senhor por acaso pode nos dizer se, comparado a essa sua rentabilidade com outros tipos de aplicações conservadoras se isso seria, ou foi um bom negócio?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – Sim, inclusive, tomei o cuidado de trazer o seguinte: esse dinheiro foi aplicado a 18,30 e o mercado financeiro se baseia na taxa CDI, que é o Certificado de Depósito Interbancário, que o senhor, com certeza, conhece. Essa taxa deu uma rentabilidade no período 18,30 de 8,76% enquanto o CDI desse período foi 8,65. Então, o Rioprevidência foi agraciado com alguns reais a mais, R$ 1 mil a mais do que teria sido se tivesse colocado no CDI puro e simples. Aproximadamente R$ 6 mil.

O depoente disse que esse tipo de operação é rotineira no mercado e que a instituição para qual trabalha tem outros clientes com as mesmas características:

O SR. LUIZ PAULO – O senhor tem operado com outros fundos de pensão no Brasil?O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – Quase todos.O SR. LUIZ PAULO – Todos eles o senhor participa, é escolhido sem licitação?O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – Que eu saiba, sim.O SR. LUIZ PAULO – O senhor pode citar um desses fundos?O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – Nós temos a Fundação Postage, que é uma

fundação grande. Temos Fundação São Francisco. Temos a FIPEC. Temos Copel, enfim, uma carteira extensa, que no momento às vezes vem na cabeça, mas não vem na lembrança. Peço desculpa de não ter a relação completa na cabeça.

O representante do Industrial do Brasil disse que a aplicação feita no seu banco era mais atraente do que se fosse feita num banco de primeira linha:

O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Naquele mesmo período em que foi feita essa negociação, dia 05 de abril de 2002, efetivamente o Banco do Brasil, ou a Caixa Econômica Federal, ou o BANERJ saberia dizer qual era a taxa que estava sendo oferecida naquele momento por esses bancos?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – Olha, eu não posso precisar isso, mas eu posso quase afiançar que nenhuma delas chegaria nem a 18%. Eu não sou representante desses bancos. Eu não sei que taxa eles estavam praticando, mas com certeza seriam mais baixas, porque bancos de médio porte normalmente operam com taxas mais altas.

O SR. PAULO RAMOS – Pergunto se o banco que o depoente representa analisa a legalidade da operação que vai fazer com qualquer instituição? Se é dever do banco analisar a legalidade?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES – É natural que o banco procure sempre saber qual é a origem dos recursos que estão sendo encaminhados ao banco. A operação em CDB é uma operação completamente legal. E por nós termos rating a já àquela época, que são as condições obrigatórias que a SBC (?) impõe às instituições previdenciárias de fundos de pensão para que aplique recursos somente em instituições que tenham um rating acima de b, como nós somos um rating a nós estamos, realmente, sabendo que essa operação é legal, porque nós estamos aptos e somos qualificados para isso. Além de sermos, já, um banco com dez anos em operações com o mesmo acionista. Então, a operação é legal; é uma operação de CDB, é a prática comum de mercado, é uma operação que foi feita dentro da maior normalidade perante o mercado.

O SR. PAULO RAMOS – Não é ilegalidade da operação de aplicação, não; é a contratação do banco. Isso quer dizer que o Rioprevidência não poderia...

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Bem, não posso informar sobre o Rioprevidência, porque não participo dele e nem conheço seus estatutos. Mas, se por um acaso houvesse qualquer coisa ilegal, o órgão regulador que faz a emissão de CDBs, que é o CETIP, não deixaria passar. (...) Deputado, realmente a operação de CDB dentro de um banco é uma operação... Talvez seja a mais normal que um banco faz. Às vezes são dezenas ao dia, isso em um banco do porte do nosso; em bancos maiores são até milhares. Então, é uma operação tão comum, tão normal, e feita dentro de um órgão regulador do Banco Central, que é o CETIP, que não dá para nem cogitar com a assessoria jurídica se era possível ou se não era possível fazer.

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Eduardo Guimarães disse que o banco não estranhou o fato de o Governo fazer a aplicação naquele momento. Transferiu a responsabilidade para o cliente, no caso o Rioprevidência:

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - O administrador pode ter vários motivos que o levem a fazer aplicação de recursos. Uma pessoa toma a atitude de aplicar qualquer recurso pelas percepções que lhe são atribuídas, que são: se ele acha que a taxa de juros vai cair, ou se vai subir... Enfim, as nuances do mercado é que devem ter levado essa pessoa a fazer a aplicação nesse nível de condição. O administrador achou por bem aplicar recursos por esse prazo. Normalmente, um administrador, ao fazer uma aplicação, deve levar em conta o seu cash-flow. Se o cash-flow dessa instituição era suficiente para esse período, muito bem, mas isso não cabe a nós, do banco, analisarmos. Eu estou dando a explicação que o senhor me pediu, não sei se estou sendo inconveniente, peço desculpas de antemão. Como administrador, o administrador tem que pensar o que vai fazer com seus recursos.

O SR. GILBERTO PALMARES - O senhor disse que tem, entre os seus clientes, o POSTAGE e o COPEL, que são fundos de pensão também ligados a entes públicos, ligados a empresas públicas, como os Correios.

O banco jamais participou de qualquer processo de licitação para esse tipo de negócio, esse tipo de investimento?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Não. O banco sempre se propõe e entrega toda a sua documentação à fundação. Se ela internamente faz esse tipo de comparação, qualquer que seja, licitação, não sei. Não tenho conhecimento.

O SR. GILBERTO PALMARES - Mas o senhor afirmaria taxativamente que não participou ou não tem informação?

O SR. EDUARDO BARCELOS GUIMARÃES - Do Banco Industrial participar de licitação, não. Nenhuma. Nunca.

Logo em seguida, os membros da CPI ouviram o representante do Banco Schain, Cláudio Messias Ferro.

O SR. LUIZ PAULO – Sr. Cláudio, quais foram as operações que o seu banco realizou para o Rioprevidência?

O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – Fizemos apenas uma operação. Na realidade foi feita uma aplicação de CDB. Somente essa operação que foi feita.

O SR. LUIZ PAULO – Qual foi o valor dessa operação, pré-fixada, o prazo, a rentabilidade?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – 05 de abril de 2002. É uma operação de 180 dias; uma

aplicação em CDB, com uma taxa anual de 18.30 ao ano. Taxa ao ano.O SR. LUIZ PAULO – Como o senhor foi convidado a operar para o Rioprevidência a compra

desses CDBs?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – Foi feito um convite para que a gente participasse.O SR. LUIZ PAULO - O senhor aplica recursos de outras fundações previdenciárias?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – Eu recebo aplicação de diversas instituições de

previdência, fundos de pensão, não é?O SR. LUIZ PAULO – O senhor sabe informar se alguma delas, ao lhe escolher, faz algum tipo

de licitação; se tem algum critério para que esses 40 ou 50 bancos que fazem essas operações possam ser escolhidos?

O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – Não. O relacionamento sempre é na base do contato comercial, não é? Onde fazemos a entrega do portfólio da nossa empresa, do nosso banco. E aí a empresa, internamente, o fundo de pensão ou de previdência avalia o limite que pode estar disponibilizando para o nosso banco. Isso ocorre e o mercado em geral trabalha dessa forma.

O SR. LUIZ PAULO – Coincidentemente, a sua taxa é igualzinha a do Banco Industrial nessa operação: 18.3. (...) E qual era a taxa do interbancário no período dessa operação?

O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – No período, ela chegou a ter pico na data de até 18.32, o pico máximo.

O SR. LUIZ PAULO – E a média?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – O médio chegou a 18.25.O SR. LUIZ PAULO – E o mínimo?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – O mínimo 18.18.O SR. LUIZ PAULO – Então variou de 18.18 a 18.32?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO – Isso. Então, nós operamos a 18.30.

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O SR. LUIZ PAULO – Essas operações que o Rioprevidência fez, no último dia do governo Garotinho, o senhor tinha consciência de que era uma operação que estavam lhe fazendo no fecho de um governo?

O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO - Não. Era mais uma operação comum. Uma operação como fazemos tantas outras iguais.

Cláudio Ferro disse que, assim como o Industrial do Brasil, o Banco Schain também opera com outros fundos diariamente. E mais: sem a necessidade de se fazer licitação.

O SR. GILBERTO PALMARES - O senhor poderia nominar algumas instituições?O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO - Temos vários. Temos o fundo de pensão do próprio

Banco Central, que é a Centrus, que opera conosco; o fundo de pensão da Fipec, que é a Fundação de Pesquisas lá de Brasília, que opera conosco; temos...

O SR. GILBERTO PALMARES – Todos eles com a mesma metodologia? O responsável pelo fundo de pensão simplesmente entra em contato...

O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO - Entra em contato conosco, pergunta a taxa, nós informamos e fazemos a transferência de recursos através de TED. Hoje em dia é TED, não é DOC, TED – transferência eletrônica de recursos.

O SR. DICA – O seu departamento jurídico analisou, passou pelo seu departamento jurídico a análise dessa aplicação do estado, se não haveria necessidade de ter uma avaliação mais aprofundada se devesse passar por uma licitação? Houve alguma apreciação desse tipo ou o senhor só pegou e entrou no mercado?

O SR. CLÁUDIO MESSIAS FERRO - Essa operação representa, nominalmente, um valor muito pequeno em relação ao volume de negócios que nós temos. Então, era uma operação normal. Era uma operação rotineira. Aplicação em CDB, qualquer pessoa física ou jurídica pode fazer essa aplicação.

Após o depoimento de Cláudio Ferro, os Deputados ouviram o Diretor Institucional do Banco Santos, Luiz Alberto Attarian. Assim como os depoentes anteriores, Attarian afirmou que fez com o Rioprevidência uma operação de rotina:

O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN – O Banco Santos realizou uma operação de CDB, uma operação de mercado. Foi pedido a nós uma cotação para determinado prazo, onde foi fechada a operação com toda transparência devida. Inclusive essas operações foram registradas no CETIP, que é a Central de Custódia e Liquidação de Títulos Privados.

O SR. LUIZ PAULO – Por favor, nos informe o valor da operação, o prazo e a taxa.O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN – O valor da operação aplicado, sete milhões; o valor da

taxa nominal foi 18,40 e o prazo de 253 dias. (...) Corridos. (...) O valor aplicado, o valor que tenho na boleta aqui foi de sete milhões, foi o valor aplicado, o valor da volta da operação que foi no vencimento, foi de oito milhões, 293.556,65.

O SR. LUIZ PAULO – O senhor aplicou – vou ficar com o ano comercial – sete milhões com prazo de 360 dias corridos, com uma rentabilidade de 18.4. Se o senhor tivesse feito essa aplicação com prazo de 180 dias, a taxa seria a mesma?

O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN – Olha, a questão da taxa é a seguinte: o banco como ele chega até a taxa, né? Hoje existe o mercado futuro de juros, o item BMF e lá se constrói, é feita a curva de juros. O mercado dá essa curva e o banco usa essa curva como referência para dar a taxa. Então se a BMF estiver indicando uma taxa para 180 dias, não é isso? (...) Diferente da de 360, por exemplo, vão ser taxas diferentes, não é necessariamente a mesma taxa. Depende muito do prazo.

O SR. LUIZ PAULO – Porque esses dois bancos co-irmãos, o Industrial e o Schain, aplicaram cinco milhões em 180 dias e a taxa foi de 18.3. O senhor deu uma taxa 0,01 acima.

O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN – Isso é mercado.

Attarian, assim como os dois depoentes anteriores, disse que a instituição que representa também opera com outras instituições públicas:

O SR. LUIZ PAULO – Eu perguntaria ao senhor: o senhor opera com outros fundos previdenciários de nosso País?

O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN - Sim, com vários.

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O SR. LUIZ PAULO – Existe lá algum tipo de licitação? O senhor sabe se eles dispõem de algum tipo de licitação?

O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN - Sim. (...) Isso é de praxe do mercado, fazer licitação – ou não. Isso cabe muito à instituição decidir de que maneira ela vai estar convidando a instituição a participar de algum evento como esse.

O SR. LUIZ PAULO – Mas tem instituição que faz a licitação. Evidentemente que o Rioprevidência...

O SR. LUIZ ALBERTO ATTARIAN - Só uma coisa: não necessariamente há licitação. Pode ser licitação ou um questionário ou alguma coisa assim...

A depoente seguinte foi ouvida no dia 17 de junho. Therezinha de Jesus Bastos Freitas foi presidente interina do Rioprevidência no início da gestão de Benedita da Silva:

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Eu fui para o Rioprevidência no dia 6 de abril, no primeiro dia do governo da governadora Benedita da Silva, para responder pelo Rioprevidência enquanto não tivesse uma pessoa em definitivo. Não me recordo exatamente o tempo que fiquei lá, mas acho que fiquei um mês ou um pouco mais do que um mês, até que o Sr. Ruy Bello assumisse.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Quando a senhora ocupou a presidência interina do Rioprevidência, a senhora tinha outro cargo no estado?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Sim, eu era subsecretária-geral de Fazenda.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Quem lhe convidou para fazer essa acumulação de funções?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – A governadora.

Therezinha Freitas disse que não conhecia Ruy Bello antes dele assumir a sua função interina na autarquia:

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Eu nunca o tinha visto e o encontrei uma vez, a pedido da governadora, antes que ele assumisse, para lhe explicar o que era o Rioprevidência, os problemas que tinham lá e o que ele enfrentaria. E, depois, mais uma vez ele esteve na minha sala, acho, que tratando da nomeação desse diretor de seguridade, que era um representante do Previ-Banerj, e, depois nas reuniões do Conselho de Administração, onde ele presidia, juntamente com o Dr. Rômulo.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Nessas reuniões de Conselho, qual era a impressão que o Sr. Ruy Bello lhe causava? De competente, de incompetente, eficiente, eficaz, ineficiente? Que impressão lhe causava sob o ponto de vista gerencial?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Não tenho muitas indicações com relação à competência. O Ruy Bello é um senhor gordinho, simpático. (...) E ele sempre me tratou muito bem, muito lisonjeiro, muito cavalheiro, mas eu não tenho condições de fazer uma avaliação técnica sobre ele.

Neste ponto do depoimento, Therezinha admite que sequer sabia que havia indicado seu sucessor:

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – A senhora sabe como o Sr. Ruy Bello foi indicado para a presidência do Rioprevidência?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Não. Não sei. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Ele tem um amigo, que é da Petrobras, que um dia

telefonou para ele e o convidou para ser presidente do Rioprevidência. No final do governo. Esse amigo levou o Sr. Manoel Severino. Aí, ele conversou com o Sr. Manoel Severino e virou presidente do Rioprevidência. É possível ser assim?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Também acho pouco provável. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – A senhora sabe que eu perguntei, sem muita esperança de

ter alguma resposta, ao Sr. Ruy Bello, se ele se julgava competente para o exercício daquela função. Para minha surpresa, ele disse que não.

Então, o primeiro mistério é por que escolheram o Sr. Ruy Bello. A senhora conhece o Sr. Manoel Severino?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Conheço.

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O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – As indicações do governo, realmente, passavam por ele? A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Que eu saiba, não. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Mas o senhor Ruy Bello falou que todos os diretores do

Rioprevidência ele acertou com o Sr. Manoel Severino. E que o Sr. Mauro Michelsen também não foi ele quem indicou, não. Ele, Ruy Bello.

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Não tenho como dizer sobre isso. Realmente, não tenho a menor noção de como o Sr. Mauro chegou lá.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Em geral, nos governos, você tem a governadora ou o governador e o gabinete civil. E o gabinete civil, tudo que é indicação passa ali pelo gabinete civil. Mas o Manoel Severino não era secretário chefe do gabinete civil. Ou não tinha gabinete civil no período da governadora...

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Tinha o gabinete civil, ocupado pelo Dr. Lúcio Santos, competente servidor público de carreira.

A depoente disse que acabou assumindo o Rioprevidência no início da gestão de Benedita por causa das aplicações – venda das Elet’s - feitas na autarquia nos últimos momentos da gestão de Garotinho:

A SRA.THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Talvez o fato da governadora ter me pedido para ir para o Rioprevidência tivesse um pouco a ver com isso, porque como já trabalhava com ela na vice-governadoria, eu e algumas pessoas, nós desde outubro do ano anterior, mais ou menos quando o PT decidiu que ela deveria assumir o governo, nós começamos a acompanhar as ações do governo Garotinho pelos meios que tínhamos e, principalmente, pelo Diário Oficial. E, no meio dessas coisas, surgiu a questão das Elets, acho que em fevereiro. E, inclusive na época, fomos procurados pela associação dos ex-servidores do BANERJ preocupados porque isso passou pelo Conselho de Administração. Acho que foi aprovado, mas não com o voto dos servidores que fazem parte do Conselho, que aliás é um conselho que o governo sempre pode ganhar, porque os servidores não têm maioria. E sei que foi o pivô da saída do senhor Flávio... (...) Que era o presidente, porque o que foi dito é que essas Elets iriam para o Rioprevidência mas para compor o fundo do Rioprevidência, e não foi isso que aconteceu. Elas foram vendidas, pelo que sei sem licitação, pelo que me lembro, e depois foi feito um outro cálculo e isso era uma das coisas que o pessoal do Previ Banerj reclamava, porque na verdade, toda aquela inteligência que foi usada na privatização do Banerj de conservar recursos para o pagamento deles, ad eterno enquanto todos eles vivessem, na verdade foram dilapidados, porque esse recurso não serviu para investimento nenhum. Ele foi todo usado para cobrir a diferença entre as receitas do Rioprevidência e a folha de pagamento dos aposentados e pensionistas durante os meses de fevereiro, março e abril. Então, esse processo foi polêmico. E quando eu cheguei ele não tinha tido licitação e foi um dos processos que eu encaminhei à Procuradoria Geral do Estado, para que verificasse da legalidade e me dissesse o que eu tinha que fazer, porque eu não tinha o jurídico ainda e precisava de orientação. E, nesse caso, quem deveria me dar era a procuradoria.

Essa operação, inclusive, disse a depoente, gerou um processo administrativo para avaliar a lisura da operação:

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Bom, aí depois que foi para a Procuradoria a senhora não teve mais notícia, a senhora foi para a Fazenda e não acompanhou mais?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Pois é, isso que eu falei. Eu tentei depois acompanhá-lo, mas a Procuradoria também tinha um volume de trabalho muito grande, e não é muito fácil a gente pedir às vezes... Também não foi o único processo que eu mandei pra lá e tinha que pedir urgência de um monte de coisas, aí começa todo mundo "A senhora quer urgência de tudo". Então vamos...

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Os dois fatos que a senhora observou irregulares, foram a ausência da licitação e os valores das vendas?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – É, com relação a valores eu não poderia dizer. Queria que a procuradoria me dissesse o que fazer. Mas até onde conheço de legislação, acho que teria que ter sido feita uma licitação para a escolha disso. E também tinha um aspecto,... acho que nem tudo é porque é ilegal, mas porque às vezes eu, como servidora pública, me preocupo com o que os políticos fazem com o patrimônio, que é do servidor tirando as nossas garantias futuras de ter os nossos direitos garantidos. Então, como aquilo era uma operação que deixava vulnerável aqueles servidores do Banerj, que acreditaram quando o governo Marcello Alencar privatizou o Banerj de que eles tinham garantias, todas essas garantias foram embora.

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O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Encerrado o episódio das Elets, vamos para o episódio das CDBs. O governo Garotinho também aplicou, em três lotes de CDBs, dois de 5, e outro de 7 milhões. Num total de 17 milhões. Os de 5 foram CDBs de seis meses, e o de 7 foi CDBs de 12 meses. Evidentemente, que a intenção dessa operação foi uma intenção política, de engessar o governo que estava entrando, porque uma CDB de 12 meses, num governo que vai ficar nove, ele não vai ver a cor do dinheiro. E os de seis meses, vai sair no mês de novembro quando o governo já está também se preparando para ir embora e já tinha passado o processo eletivo. Esse aspecto a CPI já levantou.

Queria saber da senhora se a senhora também apurou esses investimentos, se houve alguma providência formal em relação a eles?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Sim, o governo apurou, mas também não acho que 17 milhões engessariam o governo Benedita da Silva. Então, acho que embora a abertura do processo leve isso como o fato principal dessa aplicação, não acredito que seja... e estive no Rioprevidência, estive na Secretaria de Fazenda, e quero dizer que 17 milhões eram apenas uma gota d'água no oceano. Então, isso não engessava o governo Benedita.

Uma outra versão que foi dada, aos servidores do Banerj é que estavam ali preservando para que a governadora não gastasse os seus direitos futuros, como se 17 milhões fossem o que eles teriam direito, que era um recurso deles. Então, entendo que essa não era a motivação. Agora, obviamente, que eu também tomei providência, não por esse fato, mas pelo fato de que também não tinha havido licitação, não tinha passado pelo jurídico e não tinha passado pelo conselho de administração. E esse processo eu encaminhei também à Procuradoria com um pedido de urgência, porque não sabia o que fazer. Isso foi feito no dia 5 de abril. Cheguei lá no dia 6; o Dr. João Luiz não foi exonerado porque esse processo sequer estava montado quando eu cheguei lá, porque as transferências de recursos foram feitas depois que o governador Garotinho já tinha feito uma grande festa transferindo o governo. Então, ele ficou para montar o processo. (...) Depois, esse processo, enquanto eu estava no Rioprevidência, ele voltou. A Procuradoria me pediu que fizesse cotação de preços junto aos bancos oficiais, levando em conta a mesma data e as mesmas condições e que devolvesse a eles. Eu fiz isso. Mandei de volta para eles o processo. (...) E depois eu tenho notícia de que esse processo ainda voltou ao Rioprevidência pedindo algumas informações a mais. Mas, aí, depois não sei mais o que aconteceu com ele.

Sobre as aplicações feitas pelo Rioprevidência com as corretoras Turfa, CQRJ e Quantia, Therezinha Freitas afirmou que só tomou conhecimento através dos meios de comunicação:

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Eu, na verdade, só soube disso depois que o governo já tinha acabado, pela imprensa. Eu não sabia que isso existia até porque o Rioprevidência, todos os meses, precisava ainda de recursos da Fazenda para complementar a sua própria folha de pagamento. E isso eu, inclusive, quando estava lá nesse período de um mês, tive que fazer. Há muito tempo, eu acho que desde sempre, o Rioprevidência precisou de uma cobertura do Tesouro para complementar a folha que nunca foi suficiente. Então, isso eu sei que era pedido mensalmente, recursos para complementar essa folha, agora, qual o volume disso e como era decidido e quais contas eram feitas para se chegar a isso, eu realmente não tenho conhecimento.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) – Pois eu tenho a convicção de que o Sr. Mauro Michelsen, que entrava comprando, evidentemente, com autorização do Sr. Ruy Bello, tinha uma ponta dentro da Secretaria de Fazenda, que autorizava ou fazia vista grossa para aquele dinheiro sair do Tesouro e virar título. Essa ponta era a senhora?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Primeiro, eu queria deixar bem claro para o senhor que eu jamais pedi para fazer qualquer coisa para o Rioprevidência por uma questão de ética. Como eu tinha passado por, lá, antes, as pessoas às vezes podem ter entendimentos diferentes como se eu tivesse lá talvez não tomaria algumas atitudes ou faria algumas coisas diferentes, então, por uma questão de ética, quando eu saio de um lugar, isso em todos os lugares em que eu estive na minha vida, eu procuro não mais interagir com aqueles problemas, cada um que resolva os seus e da sua forma.

A segunda coisa que eu queria dizer é que, como eu estive um mês no Rioprevidência, eu digo que não precisava de mais ninguém para isso porque a única coisa que o Rioprevidência faz, ele faz uma conta, existe um formulário onde ele mostrava todos os recursos que ele ia receber da recuperação daquelas CFTs, com mais a receita de imóveis, com mais as receitas que vinham das privatizações etc. e tal, mais a compensação financeira com o INSS, e chegava lá e dizia:  "O valor da folha é esse, o que nós temos de receita é isso, portanto, nós estamos precisando disso". A Fazenda não operava entrando nas contas do Rioprevidência todos os meses para saber se aquilo era verdade ou não, até porque depois tinha a Contadoria e Auditoria do estado, que também era vinculadas à Fazenda, e que acompanhavam isso.

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O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Pois é, Sra. Terezinha. Eu tenho certeza que é impossível qualquer órgão do Estado entrar em mercado comprando título, ao longo de seis meses, e a Fazenda não ter conhecimento, quer seja sobre o problema do Secretário do Tesouro, da Auditoria, da Controladoria. É impossível, a não ser que os controles da Fazenda estivessem muito frouxos! Isso é impossível, porque a Fazenda controla todos os movimentos de caixa de todas as instituições. Se você entra comprador, você está sangrando dinheiro. E os valores não foram insignificantes sob o ponto de vista de movimento. Tem que haver um acordo do Sr. Mauro Michelsen e do Sr Ruy Bello com alguém. Em princípio, da Secretaria de Fazenda. Mas, podia ser da Secretaria de Controle. É possível? Qual era a função da Secretaria de Controle?

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Não, acho que a Secretaria de Controle não estava... não tinha nenhuma ingerência sobre esse tipo de coisa.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Não? A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Acho que não. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Se com a de controle não é, tem que ser a de Fazenda

mesmo. A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Eu acho que era uma operação entre o

Rioprevidência e ... O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Não tem outra alternativa. São as duas Secretarias que

controlam o caixa. A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Acho que era uma operação entre o

Rioprevidência, o Tesouro e o Secretário. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Por isso eu perguntei se a senhora pedia. Se a senhora não

pedia, era outra pessoa. Vamos tentar descobrir quem era essa outra pessoa. A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS – Ele, certamente, pedia o Tesouro.

Agora, não vejo que ele precisasse de nenhum intermediário para isso. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Não, quando digo intermediário não é intermediário não. É

ter uma ponta. Não estou falando intermediário. Ponta que eu digo, tem que ter alguém na Fazenda que tivesse autorizando.

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - O Tesouro levava todos os dias ao Secretário o seguinte: "temos tanto de recurso; tem pedido disso, daquilo e daquilo, tem que pagar isso e aquilo. O que é que nós pagamos?"

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Eu só estou perguntando se a senhora é essa pessoa dentro da Fazenda.

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Não. Nem para isso nem para nenhuma operação de recurso para órgão nenhum.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Então, em tese seria o Sr. Paulo Roberto ou, então, o próprio Secretário Nelson Rocha.

A depoente disse que ao tomar conhecimento das operações do Rioprevidência pediu a abertura de uma auditoria para checar as contas:

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Sim, eu pedi e, como naqueles dias estava meio complicado, isso não foi de imediato, mas depois a auditoria foi para lá.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - A da Fazenda? A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Foi. E teve um trabalho lá. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Veja só, essa é auditoria da Fazenda. O Rioprevidência

também passa por auditoria externa. A senhora pediu auditoria externa? A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Não. O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Porque agora mesmo nós recebemos, aqui, de uma

determinada empresa uma auditoria independente sobre as contas do Rioprevidência. Faz parte da legislação.

A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Faz parte, uma vez por ano, contratar auditoria independente pelo estatuto. Já tinha sido feita a do ano anterior e não era ainda o momento de pedir a daquele ano. Mas foi pedido.

O SR. PRESIDENTE (Luiz Paulo) - Mas foi feito? A SRA. THEREZINHA DE JESUS BASTOS FREITAS - Foi.

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O último depoente ouvido pela CPI foi Ronaldo Dias, no dia 30 de junho. Ele exerceu o cargo de Diretor de Administração e Finanças do Rioprevidência entre 15 de agosto a 27 de dezembro de 2002. Ele disse que conheceu Ruy Bello antes de assumir a função:

O SR. RONALDO DIAS - Conhecia. Conheci o Dr. Ruy Bello no Banco Central. O SR. LUIZ PAULO – O senhor é oriundo do Banco Central? O SR. RONALDO DIAS - Sou oriundo do Banco Central. O SR. LUIZ PAULO – Então, os senhores foram colegas de trabalho? O SR. RONALDO DIAS - Isso. O SR. LUIZ PAULO – Foi ele que lhe convidou para trabalhar no Rioprevidência? O SR. RONALDO DIAS - Foi, foi ele. O SR. LUIZ PAULO – Então a única indicação do Sr. Ruy Bello, que o senhor tem

conhecimento no Rioprevidência, era o senhor? O SR. RONALDO DIAS - Sim, que eu tenha conhecimento sim. O SR. LUIZ PAULO – O senhor tinha conhecimento das operações com títulos da dívida que o

Sr. Mauro Michelsen realizava com autorização do Sr. Ruy Bello? O SR. RONALDO DIAS - Sim. Sabia que ele estava aplicando em títulos públicos federais.

Ronaldo Dias disse que liberava recursos para as aplicações da autarquia, que eram feitas por Mauro Michelsen:

O SR. RONALDO DIAS - Quando eu assumi, já existia uma política de aplicação que já vinha, anterior, que seriam os recursos dos aluguéis que o Rioprevidência recebe; recursos da compensação previdenciária entre o Rioprevidência e o INSS e recursos, sobras dos CFTs, dos certificados do Tesouro, que...

O SR. LUIZ PAULO – Rendimento? O SR. RONALDO DIAS - Que ficavam lá e que eram aplicados. Isso já tinha sido determinado

antes da minha posse. Na gestão do Sr. Ruy Bello. O SR. LUIZ PAULO - Veja o senhor, a Secretaria de Estado de Fazenda exercitava o caixa

único. Qual era o seu relacionamento? Como o senhor explicava à Fazenda a saída de recursos do seu caixa para fazer aplicação?

O SR. RONALDO DIAS - Ela nunca me consultou. Ela recebia nosso relatório... Ela tinha conhecimento que estava sendo feita a aplicação, inclusive.

O SR. LUIZ PAULO – Quem era sua interface, na Secretaria de Estado de Fazenda? O SR. RONALDO DIAS - Era o Dr. Paulo Roberto. O SR. LUIZ PAULO – Ele era o quê na Secretaria de Estado de Fazenda? O SR. RONALDO DIAS - Ele era, se não me engano, Subsecretário do Tesouro. O SR. LUIZ PAULO – O senhor alguma vez teve a assertiva do Sr. Ruy Bello de que ele tinha a

autorização para fazer essas aplicações, da Secretaria de Fazenda e da Senhora Governadora? O SR. RONALDO DIAS - Quando eu cheguei já existia o procedimento; eu só dei continuidade

ao que já vinha sendo feito. Eu não mexi em nada – "Olha, tem que ser aplicado todo mês "x"" –, os valores dos aluguéis, da compensação e a sobra e eu só dei continuidade.

O depoente disse que não procurou detalhes sobre as operações feitas com os Bancos Industrial do Brasil, Schain e Santos, por considerar necessário. Segundo ele, as operações eram pré-fixadas e não valia a pena resgata-las antes da hora:

O SR. LUIZ PAULO – A gestão que lhe precedeu aplicou R$ 17 milhões em mercado com o Banco Santos, com o Banco Industrial e com o Banco Schain em operações de CDBs. Uma operação de doze meses e duas operações de seis meses, com valores já pré-fixados. O senhor auditou essa compra de CDBs?

O SR. RONALDO DIAS - Não. O SR. LUIZ PAULO – O senhor procurou verificar se precisava fazer a licitação? O SR. RONALDO DIAS - Não, não. A operação já estava fechada, estava feita. O SR. LUIZ PAULO – Mas era de um governo anterior, se entra e passa por cima? O SR. RONALDO DIAS - No meu entender eu não tinha por que verificar o que foi feito pela

administração anterior. Eu estava dando continuidade dali para frente, onde eu assumi. (...) A operação estava feita. Foi pré-fixada com data de resgate fixa. Se fosse desfazer a operação seria prejudicial ao Rioprevidência.

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O SR. LUIZ PAULO – Mas, o senhor era do Banco Central e o Banco Central sabe que para escolher, no serviço público, bancos para fazer compra de CDB, precisaria, de alguma forma, de licitação. Isso aí não é ao "Deus dará" é o banco X, Y, Z. Isso não foi realizado. O senhor não apurou isso.

E as vendas de debêntures da Eletrobrás? O SR. RONALDO DIAS - Foram feitas antes, também, da minha posse. O SR. LUIZ PAULO – O senhor fez alguma apuração, procurou saber alguma coisa? O SR. RONALDO DIAS - Quando eu assumi foi-me dito que faltava... Não tinha sido repassado

tudo ao Rioprevidência. Faltava repassar algo em torno de R$ 16 milhões. Nós fizemos um trabalho em cima do que tinha repassado. E levamos ao departamento jurídico, que encaminhou uma carta ao liquidante do Banerj, que reconheceu, e nós contabilizamos isso como sendo um direito do Rioprevidência receber. Até dezembro, não tinha sido recebido.

Mais uma vez o depoente disse não ter responsabilidade sobre as aplicações feitas no mercado. Ronaldo Dias disse que fazia, tão somente, o registro contábil dos títulos:

O SR. LUIZ PAULO – O que o senhor teria a comentar sobre essas operações que deram prejuízo de R$ 25 milhões aos Cofres do Rioprevidência?

O SR. RONALDO DIAS - Não teria nada a comentar, porque eu não acompanhava as operações. As operações eram feitas pelo diretor de investimento, que estava negociando títulos. Eu não participava das negociações. Eu só, simplesmente, fazia os registros contábeis. Era debitado ou creditado ao Banerj e nós fazíamos o registro contábil dos títulos. (...) O que eu procurei desenvolver no Rioprevidência foi o regimento, o regulamento interno do Rioprevidência, a parte administrativa, o plano de cargos e salários, que deixei preparado, um estudo sobre todos os funcionários. Essa parte administrativa toda foi feita, está lá.

VOTO DOS RELATORES

3 - A gestão do Presidente do Rioprevidência, Ruy de Mesquita Bello, (15/05/02 a 01/01/03) e do Diretor de Investimentos, Mauro Eduardo Agostinho Michelsen, (22/05/02 a 01/01/03).

A nomeação de Ruy de Mesquita Bello

Ruy Bello foi indicado para assumir o cargo por Bento Freire, um funcionário de carreira da Petrobrás. O nome chegou ao Secretário Estadual de Articulação Municipal, Manoel Severino numa conversa informal e Bello foi chamado para uma entrevista. Ato seguinte foi encaminhado ao Secretario, quando se definiu que ele assumiria a Presidência da instituição.

Quando perguntado a Ruy Belo, funcionário aposentado do Banco do Brasil, por um dos relatores da CPI - Deputado Luiz Paulo -, se ele, à época, se sentia capacitado para dirigir o Rioprevidência, assim ele respondeu: “Quer uma resposta sincera? NÃO”. Vale deixar registrado que os Diretores de Investimentos, Jurídico e de Administração e Finanças, não foram escolhidos por Ruy Belo.

A nomeação de Mauro Eduardo Agostinho Michelsen.

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É no mínimo inusitada a forma como foi escolhido Mauro Michelsen para ser Diretor de Investimentos. Segundo relato do próprio a esta CPI, ele foi escolhido após os dirigentes da autarquia avaliarem seu currículo. O mais inverossímil é que Michelsen garantiu ter deixado o currículo na portaria do Rioprevidência e que conseguiu sua nomeação sem nenhum apoio extra. Na verdade, é impossível que tal fato tenha ocorrido. Michelsen, por motivos inconfessáveis, procurou esconder o autor de sua indicação. Ele foi nomeado pela Governadora Benedita da Silva em 22 de maio de 2002.

3.1 - Irregularidades administrativas encontradas

Os fatos delituosos encontrados, mostram que pelo Rioprevidência, em especial os responsáveis Ruy Bello e Mauro Michelsen, não velaram pela estrita observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade na compra e venda de títulos públicos federais, ferindo o que preceitua o art. 4º da Lei da Improbidade Administrativa (Lei nº. 8429/92)

3.1.a - A decisão de se fazer aplicações em LFTs sem autorização do Conselho de Administração

Apesar de o Rioprevidência ter parcos recursos, Ruy Bello, um visionário, imaginava que se ficasse mais tempo na Presidência poderia: “fazer aplicações de natureza mais empresarial, industrial, de longo prazo, que criassem empregos, que criassem trabalhos”. Entretanto, ele revelou que não tinha estratégia de curto prazo. Assim, decidiu junto com Mauro Michelsen, fazer aplicações em LFTs, com qualquer recurso disponível no caixa. Tal decisão feriu o disposto no inciso I do artigo 24 da Lei 3.189/99, já que não houve autorização expressa do Conselho de Administração.

3.1.b - A contratação das DTVMs Turfa, CQRJ e Quantia sem procedimento licitatório

Segundo Ruy Bello, a seleção das empresas distribuidoras e dos títulos adquiridos ficava a cargo de Mauro Michelsen. Ele ressalvou, no entanto, que as operações só eram liberadas com a sua chancela.

Diante do exposto, foram escolhidas por Michelsen, com o aval de Ruy Bello, as corretoras DTVMs: Turfa, Quantia e CQRJ. O processo teve início com as operações realizadas pela Turfa (de Eric Bello), que entrou compradora no mercado secundário das LFTs e fez 3 operações. O resultado? Um prejuízo de R$ 912.183,43 - em valores da época da transação.

Na oportunidade, Mauro Michelsen foi alertado por Geraldo Luiz Ferraz da Costa, Gerente da Plataforma do Poder Público do Banerj, para que não fechasse o negócio da compra de LFTs (realizadas em 26/06/02), em razão da anormalidade do Preço Unitário (PU). Posteriormente, a Turfa foi afastada do processo, pelos mesmos Ruy Bello e Mauro

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Michelsen, por não considerarem conveniente que a corretora do filho do Presidente, continuasse operando com a instituição.

A decisão, de Ruy Bello e Mauro Michelsen, de também contratar as DTVMs, sem procedimento licitatório, feriu o disposto no inciso VI do artigo 24 da Lei 3.189/99, o inciso I do artigo 4º da Resolução CMN nº. 2.652, de 23/09/09, e a Lei Federal nº. 8.666/93.

3.1-c – A contratação da Turfa sem licitação; sua criação e a participação de Eric Bello.

A Turfa tinha como sócio cotista majoritário Eric Bello, filho do Diretor-Presidente, Ruy Bello. A contratação da mesma demonstrou ser protecionista, injusta e antiética - ferindo gravemente os princípios da impessoalidade e da moralidade. O dolo fica ainda mais caracterizado se verificadas as datas de criação da corretora, onde são fortes os indícios que ela tenha sido gestada para entrar no mercado e se servir do Rioprevidência.

A cronologia da operação é a seguinte:

23 de agosto de 2001 – sabe-se que o Governador Garotinho deixaria o Governo em 5 de abril;23 de outubro de 2001 – assembléia-geral de constituição da Turfa;8 de março de 2002 - concessão de autorização de funcionamento da Turfa;6 de abril de 2002 - Benedita da Silva assume o Governo do Estado;11 de abril de 2002 – abertura da corretora Euro;15 de maio de 2002 – ata de reunião de diretoria da Turfa, com a manifestação da mudança de endereço.15 de maio de 2002 - Ruy Bello assumiu a Presidência do Rioprevidência;22 de maio de 2002 - Mauro Michelsen assumiu a Diretoria de Investimentos;26 de junho de 2002 - a 1ª operação de compra de LFTS do Rioprevidência, feita com a Turfa.

Em suma: em agosto de 2001 sabe-se que o Governador Garotinho se desencompatibilizaria em abril de 2002, a Turfa é constituída em pouco mais de dois meses depois. Recebe a autorização de funcionamento cinco meses depois, ou seja, trinta dias antes de Benedita assumir. No mês da posse da Governadora a Turfa muda de endereço e funciona com o CNPJ da corretora Euro.

Ruy Bello, pai de Eric - sócio da Turfa – assume o Rioprevidência em 15 de maio de 2002, e o Diretor de Investimento, Mauro Michelsen, em 22 de maio. Pouco mais de um mês depois é sacramentada a primeira operação de compra de LFTs. A cronologia, com a formação da Turfa, a saída de Garotinho, a posse de Benedita, as nomeações de Ruy e Michelsen e, finalmente, a compra das LFTS – coincidentemente pela Turfa – é reveladora. Os passos indicam a possibilidade de ter havido uma bem urdida trama para que poucos se apropriassem das economias de muitos – aposentados e pensionistas.

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Observe-se que a Turfa Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A., sob a inscrição nº. 05.006.016/0001-25, com data de 28 de junho de 2002, (Anexo XVII) operou provisoriamente com o CNPJ da Euro Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários S.A., inscrita com nº. 05.006.016/0001-25, (Anexo XVIII) com data de abertura de 11 de abril de 2002, anterior a da Turfa.

3.1-d - A gestão fraudulenta (contratação das distribuidoras sem licitação - a 1ª operação com a Turfa – distribuidora em que o filho do Presidente era sócio majoritário - prejuízo ao Erário de mais de 25 milhões de reais).

Quanto se analisa o resultado contábil do Rioprevidência e as 30 operações efetuadas com as três distribuidoras, verifica-se que os cofres da autarquia sofreram um baque superior a R$ 25.528.786,24 - equivalente a 21.045.990,7996 UFIR-RJ, conforme minucioso e profundo parecer do Tribunal de Contas do Estado (Anexo XIX).

Verifica-se que nessas operações, sempre que o Rioprevidência entrou no mercado para comprar ativos, o fez por valores (PU) muito acima do mercado. Isso pode ser observado nas operações de compra dos dias 27/06/02, 08/07/02, 26/08/02, 12/09/02. Nessas datas, entre outras, as compras foram feitas com valores que superaram a cotação do dia, quer seja Selic ou Andima – pode-se, até, comparar as operações com as demais praticadas no mercado, no mesmo dia - como é o caso da cadeia de operações realizadas no dia 30/12/02.

As variações, sempre com severos prejuízos ao erário, atingiram percentuais superiores a 100 % (operação de 30/12/02). Quando as operações foram de vendas, elas eram realizadas pelo valor de mercado (Anexo XX, com as operações de compra e venda). As informações suplementares advindas do Banco Central, por determinação da Juíza da 23ª Vara Criminal da Comarca da Capital, ratificam todas as afirmações do TCE, quanto às perdas e os possíveis indicadores de corrupção, demonstrando as aquisições em cadeia, com as compras superfaturadas no mercado secundários, e, evidentemente, a associação para fraudar o erário.

Os indícios, associados a perdas superiores a R$ 25 milhões, inicialmente apontam para um sistema de corrupção. No mínimo, estariam envolvidos Ruy Bello, Mauro Michelsen, Eric Bello, e os Diretores da Turfa, CQRJ e Quantia, e ainda outros a serem descobertos, constituindo-se em crime contra o erário público. Os envolvidos são passíveis de ser tipificados em incisos e artigos da Lei da Improbidade Administrativa, na Lei 7.492 de 16 de junho de 1986 que define os crimes contra o sistema financeiro nacional, e também, no Código Penal.

3.1.e - O possível fato delituoso do pai, Ruy Bello, Presidente do Rioprevidência, contratar a distribuidora Turfa, que o filho Eric Bello era sócio, para a compra e vendas de LFTs.

A Constituição do Estado do Rio de Janeiro, em seu artigo 77, inciso XXIV, alínea a, veda terminantemente tal possibilidade. O Estatuto do Funcionário Público em seu artigo 40, inciso III, também, tipifica tal procedimento, e o agrava através do artigo 41 do mesmo estatuto.

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3.1.f - O fato delituoso encontrado - contrato com a Companhia Brasileira de Gestão.

Enfocando, agora, o contrato feito sem licitação pelo Rioprevidência, gestão Ruy Bello e Mauro Michelsen, com a Companhia Brasileira de Gestão – CBG, em 19/02/02, com o parecer favorável dos Secretários de Fazenda e de Controle e o aval da própria Governadora Benedita, em 04/11/02 (Processo E-29/0437/02). O contrato foi anulado pela gestão da Governadora Rosinha, por conta de insanáveis vícios e por vontade das partes. Parece-nos que ficou caracterizado o crime de improbidade administrativa, com lesão, também, a Lei das Licitações e Contratos e da Lei de Responsabilidade Fiscal (Art. 15, 16 e 42) e deve ser objeto de análise pelo TCE e pelo Ministério Público Estadual para devida e possível responsabilização criminal.

3.1.g - O possível fato delituoso encontrado - cessão do imóvel da Avenida Afrânio de Mello Franco.

O contrato de cessão do imóvel, na Rua Afrânio de Mello Franco – Teatro Casa Grande – é outro espetáculo triste, na verdade uma tragédia, pois garantiu a um usuário de imóvel do Estado ser partícipe de um empreendimento imobiliário, usando um pretenso direito adquirido e inexistente e recebendo o Estado, como paga, uns poucos ingressos teatrais. É passível de, novamente, estar caracterizado outro crime de improbidade administrativa com a responsabilidade de Ruy Bello e outros.

4-TIPIFICAÇÕES

4.1 - RUY BELLO

Sugerem-se as seguintes tipificações de Ruy Bello nos seguintes crimes:

a- Por crime de improbidade administrativa, inciso I do artigo 11º da Lei 8.429/92, visto que desrespeitou o inciso I do artigo 24 da Lei 3.189/99 que instituiu o fundo único de previdência social do Estado do Rio de Janeiro – Rioprevidência e dá outras providências, quando não submeteu as operações com LFTS ao Conselho de Administração.

b- Por crime de improbidade administrativa, inciso VIII do artigo 10º da Lei 8.429/99, visto que desrespeitou o inciso VI do artigo 24 da Lei 3.189/99, quando fez a aplicação de recursos financeiros por entidades não escolhidas mediante processo de licitação pública, a fim de buscar elevado padrão de segurança e rentabilidade.

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c- Por crime contra a Lei das Licitações e Contratos, artigo 89 da Lei 8.666/93 , quando dispensou a licitação e contratou a Companhia Brasileira de Gestão, ao apagar as luzes do Governo, para resgatar fundos da Cehab para o Rioprevidência.

d- Por agressão ao Constituição do Estado ao desrespeitar mandamento expresso na sua alínea a do inciso XXIV do Artigo 77 e ao Estatuto do Funcionário Público ao agredir os incisos VI, VII do artigo 39, e ao inciso III do artigo 40 c/c com o artigo 41 do mesmo Estatuto, visto que contratou a distribuidora TURFA, onde seu filho, Eric Bello, era sócio.

4.2 – RUY BELLO E MAURO MICHELSEN

Sugerem-se as tipificações de Ruy Bello e Mauro Michelsen nos seguintes crimes:

a - Por crime de improbidade administrativa, inciso XII do artigo 10º da Lei 8.429/92, e por Peculato em co-autoria com pessoas que não são funcionárias públicas (os Diretores / sócio das DTVMs), artigo 312 combinado com o artigo 29 (Do Concurso de Pessoas) do Código Penal. Ruy Bello e Mauro Michelsen permitiram, facilitaram, concorreram para que terceiros se enriquecessem ilicitamente, quando produziram, através das aplicações do Fundo em LFTs, no mercado secundário, prejuízos aos cofres públicos superiores a R$ 25 milhões.

b - Por gestão fraudulenta, artigo 4º da Lei 7.492/86, quando Ruy Bello se associou ao seu Diretor de Investimentos, Mauro Michelsen e em desrespeito a Lei de criação do Rioprevidência – 3.189/99, definiram as operações de LFTs em mercado secundário, escolheram as corretoras, sem licitação, tendo uma delas, a Turfa, como sócio, o filho de Ruy Bello, Eric Belo, e produziram prejuízos superiores a R$ 25 milhões.

4.3 - DTVMS TURFA, CQJR E QUANTIA

4.3.1-Por crime contra a Lei das Licitações e Contratos, parágrafo único do artigo 89, onde as DTVMs Turfa, CQRJ e Quantia, beneficiaram-se, ou seja, tiraram proveito, obtiveram vantagem de conteúdo patrimonial, valendo-se da dispensa ilegal da licitação.

Art. 89 da Lei 8.666/93

“Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:”

Pena - detenção de 3 a 5 anos e multa.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

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Das operações feitas pelas corretoras, de forma planejada e orgânica, resultou prejuízo ao Erário superior a R$ 25 milhões. Diante do exposto, independentemente das tipificações propostas, recomenda-se ao Rioprevidência o imediato ajuizamento de ação cível buscando o ressarcimento pelos atos ilícitos praticados, visto que as DTVMs concorreram para a prática da ilegalidade com os gestores Ruy Bello - Presidente e Mauro Michelsen - Diretor de Investimentos.

4.3.1.a - A Turfa, tendo como responsáveis solidários os Diretores, João Luiz Ferreira Carneiro, Jorge Luiz Gomes Chrispim, Sérgio de Moura Soeiro e o sócio Eric Bello.

Débito: R$ 912.183,43 ou 752.006,1253 UFIR-RJ.

4.3.1.b - A CQJR, tendo com responsáveis solidários Alberto Barroso Filho e Jesse Soares Figueira. Débito: R$ 7.586.103,38 ou 6.254.001,6323 UFIR-RJ.

4.3.1.c - A Quantia, tendo como responsáveis solidários Joaquim Cândido de Gouvêa e Lauro José Senra de Gouvêa.

Débito: R$ 17.030.499,43 ou 14.039.983,0420 UFIR-RJ.

Obs: Os débitos foram calculados pelos técnicos do TCE e constam do relatório que integra o processo nº. 102.980-7/03.

4.3.2 – Por crime contra o Erário, artigo 312 c/c o artigo 29 do Código Penal (Peculato em co-autoria), lesando-o em mais de 25 milhões de reais em ação fraudulenta.

Como se verifica na análise da documentação encaminhada pelo Banco Central à Juíza da 23ª Vara Criminal (Anexo XXI - envelope lacrado com a análise da documentação encaminhada pelo Banco Central), fica caracterizado o crime de peculato em co-autoria (artigo 312 c/c o art. 29 do CP). Tal fato mostra a necessidade de o Rioprevidência buscar, também, o ressarcimento de seus prejuízos junto as distribuidoras envolvidas (Turfa, Quantia e CQRJ) e aos gestores do fundo, Ruy Bello e Mauro Michelsen (vide valores e responsáveis nos itens acima) e Eric Bello, sócio da Turfa.

5 – SUGESTÃO PARA PROSSEGUIMENTO DE INVESTIGAÇÕES

5.1 - PASTOR WASHINGTON

O POSSÍVEL FATO DELITUOSO .

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É Importante que o Ministério Público ou a autoridade policial investigue o papel do Pastor Washington, que transitava pelas dependências do Rioprevidência e, como afirma Ruy Bello, buscava áreas da instituição para possíveis locações de imóveis e negócios.

A CPI desconfia de influência do referido Pastor no Rioprevidência.

Trecho do depoimento de Ruy Bello.

O SR. LUIZ PAULO – Na política temos sempre o que chamamos de “uma rádio dos bastidores”, a “rádio

corredor”. Quando assumi essa condição de relator na CPI, a “rádio corredor”, lá, da Assembléia Legislativa,

me disse que o senhor tinha indicado para o Rioprevidência por um segmento evangélico, e teria um cidadão

chamado Pastor Washington.

O senhor o conhece?O SR. RUY BELLO – Conheço. Ele ia, lá, no Rioprevidência.(...) Não, eu não

tenho...Conheço ele. Ele é conhecido, muita gente conhece. Esteve lá.O SR. LUIZ PAULO – Mas ele é seu amigo?O SR. RUY BELLO – Não. Amigo eu tenho, não sei, cinco amigos.O SR. LUIZ PAULO – O senhor o conheceu no Rioprevidência ou já era conhecido?O SR. RUY BELLO – Não, conheci ele daquela época.O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Ia lá fazer o quê? O SR. RUY BELLO – Não, ele ia procurar porque...O SR. PRESIDENTE (Alessandro Calazans) – Era para orar?O SR. RUY BELLO – Não, obviamente que não. Não sei se ele ora também. Eu desconfio que os

pastores... Não sei se eles oram. Mas, ele tinha interesses na área imobiliária, e aparecia lá por isso. Não pelos meus belos olhos. Eu não cuidava disso, mas como... Aí... Quem é que cuidava da área imobiliária? Era uma área feito aquele (?). (FALA PARALELA)

O SR. LUIZ PAULO – é muito especializada, essa área.O SR. RUY BELLO – Isso é uma coisa interessante, é uma área muito interessante...Mas,

realmente, nunca tive nada...O SR. LUIZ PAULO – No caso específico, no Teatro Casa Grande ele era um dos interessados?O SR. RUY BELLO – Não sei dizer para o senhor. Não acredito que seja não, não acredito. Mas

não posso fazer afirmação porque desconheço o outro lado da medalha. Estou dando ao senhor a versão absolutamente verdadeira da minha experiência no fato. Foi exatamente isso o que aconteceu.

Honestamente, embora eu tivesse, vamos dizer, respeito por aquela resistência do Casa Grande, não me passava pela cabeça fazer aquele negócio, enfim, eu era...

6- PROPOSTA DE AUDITORIA E VERIFICAÇÃO DE LEGALIDADE.

A contratação da BENDORAYTES & AIZENMAN pelo RIOPREVIDÊNCIA, em 2004.

A CPI ouviu inicialmente José Bendoraytes, em 05/05/04, que não soube explicar o fato de sua contratação ter ocorrido em 30/01/03 pelo Rioprevidência e em apenas quatro dias após, 04/02/03, o relatório da auditoria em relação a compra e venda de LFTs ter sido concluído. Nem tampouco soube explicar porque não foram auditadas as negociações com outros tipos de papéis realizados no exercício de 2002 (01/01/02 a 31/12/02).

Para esclarecer tais pontos foram ouvidos pela CPI Sergio Bendoraytes e José Bendoraytes Filho, em 26/05/04, que também não justificaram, a contento, prazo tão diminuto e alegaram que foram contratados apenas para auditar as contas referentes as compras e vendas das LFTs ( CC-0290349770555909).

(Vide depoimento dos dois Bendoraytes.)

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PROPOSTA

Apesar de, no mérito, a auditoria concluir corretamente pela indicação de perdas significativas nas compras e vendas das LFTs , como inclusive já havia decidido o TCE, o açodamento da contratação, o prazo exíguo para confecção do relatório e por estar o mesmo incompleto, levou a CPI a não o considerar, não se utilizando dos elementos dele constantes. Verificou-se que a contratação da Bendoraytes & Aizenman, não obedeceu aos requisitos formais e temporais necessários e teria sido feita pelo Rioprevidência para dar satisfação política a sociedade em relação a fato de tal gravidade.

Assim posto, verifica-se a necessidade de se auditar anualmente todas as operações realizadas pelo Fundo. Aliás, tal atribuição é definida no inciso III do artigo 24 da Lei n. 3189/99 que criou a autarquia e deveria fazer parte da rotina da administração da autarquia.

Conclui-se que:1- O Rioprevidência deverá auditar de forma completa todas as operações financeiras realizadas no exercício de 2001;2- O TCE deverá auditar todas as operações financeiras realizadas em 2001 pelo Rioprevidência, além das compras e vendas das LFTs;3- O TCE deverá verificar a legalidade e tempestividade das duas contratações da Bendoraytes & Aizenman realizadas pelo Rioprevidência em 2003.

7 - Orientação ao Governo do Estado

Das operações feitas pelas corretoras, de forma planejada e orgânica com Ruy Bello e Mauro Michelsen, resultou prejuízo ao Erário superior a R$ 25 milhões, razão pela qual independentemente das tipificações propostas, recomenda-se ao Rioprevidência o imediato ajuizamento de ação cível buscando o ressarcimento pelos atos ilícitos praticados. Isto porque as DTVMs concorreram para a prática da ilegalidade (peculato) com os gestores Ruy Bello, Mauro Michelsen e Eric Bello, sócio da Turfa.

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RECOMENDAÇÕES

8 - RECOMENDAÇÕES

8.1 - Ao Tribunal de Contas do Estado.

1.a - Apurar se houve transgressão da Lei 8.492/92, de improbidade administrativa, em seu inciso X, artigo 10º, por parte de Ruy Belo e a conseqüente cadeia de responsabilidades ascendente e descendente em termos hierárquicos. Isto porque o Presidente da instituição, em 21 de agosto de 2002, assinou o Termo de Cessão de Uso do imóvel situado na Avenida Afrânio de Melo Franco nº. 290 (Anexo XXII), contido em parte no lote 001, do PAL 44.233, Leblon/RJ, entre o Rioprevidência que representava e a Sociedade Teatral Casa Grande. O prazo de cessão foi de 10 anos, para o funcionamento de um Teatro e um Centro Cultural, com encargos risíveis a serem assumido pelo cessionário. Posteriormente, o referido ato foi substituído. Este outro foi produzido pela Superintendência de Patrimônio Imobiliário (SUPATI), da Secretaria de Administração, através de Sonia Helena Viana de Souza Caputi, que assinou o Termo de Cessão em 27/12/02, representando o Estado. A contrapartida da Sociedade Teatral Casa Grande, seria fornecer ao Estado 80 ingressos por mês - dos eventos realizados pela cessionária - e ceder as instalações do Teatro para o Estado, limitados, entretanto, há dois dias por mês, não podendo haver colisão com o calendário da Sociedade.

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Registre-se que, em 24/12/02 a Governadora Benedita da Silva autorizou a lavratura do Termo após parecer favoráveis das Secretarias de Estado e Cultura (fls.20) e da PGE (fls. 77/81 e 90), constante dos processos E-01/60.551/02 e E-18/000.303/99 e seus apensos.Importa verificar que a referida cessão está arrolada a cláusula décima-quarta que a interliga a um empreendimento imobiliário (shopping) que será construído no imóvel e que terá um espaço físico para abrigar o novo teatro, cuja instalação se dará por conta do cessionário. Parece-nos que a contrapartida ofertada ao Estado estaria abaixo de algo compatível com o valor real da cessão. Daí os aspectos de legalidade e do valor justo da contrapartida e, também, a forma de utilização da mesma devam ser apreciadas pelo TCE.

1.b - Apurar as possíveis irregularidades no contrato do Rioprevidência com a FGV para resgate de créditos previdenciários.

1.c - Auditar os contratos de terceirização de serviços do Rioprevidência com a Nuseg.

1.d - Analisar os procedimentos, quanto a sua legalidade, e viabilidade dos protocolos de intenção assinados pelos Governos Garotinho e Benedita com a Rio-Med para construção de um hospital em terreno do Rioprevidência, na Rua Bartolomeu Mitre, sem haver a indispensável licitação. Estenda-se a citada análise para a atual gestão da Governadora Rosinha, pois o tema voltou a ganhar forma em recente reunião do Conselho de Administração do Rioprevidência, conforme ata da autarquia, publicada no D.O. do Estado, de 06 de julho de 2004. A reunião do Conselho aprovou, com o voto contrário do Conselheiro e Deputado Alessandro Calazans, a autorização à alienação da área de 10.003 m2 localizada na Av. Bartolomeu Mitre nº. 915, no Leblon. O terreno pertencente ao Rioprevidência, mediante permuta por cotas de um Fundo de Investimento Imobiliário a ser constituído e administrado pela Caixa Econômica Federal com a finalidade de construir, equipar e explorar, mediante locação, o denominado “Projeto Hospitalar”. A nova operação está eivada de dúvidas e até mesmo de possíveis irregularidades, dessa vez com a roupagem de delegação da CEF para executá-la. Questões edilícias, legais e de viabilidade econômico-financeira para o Fundo são pertinentes e deveriam ser levadas em conta pelo Conselho antes de se homologar a decisão, tais como: 1 - Quais seriam os parâmetros edilícios para o local? O uso do solo permite a construção de hospital na Bartolomeu Mitre? A Prefeitura do Rio opinou formalmente sobre a possibilidade de execução do referido projeto? A CET-Rio opinou sobre o impacto do hospital no sistema viário? Que estudos econômicos foram feitos e comparados com outras opções, que indiquem a solução proposta como a de melhor viabilidade? Qual o objetivo do item “n” da ata? O processo de gestão do imóvel está coerente com o previsto no parágrafo 3º do Art. 30 da Lei 3.189/99?

1- e - Recalcular os prejuízos do Rioprevidência, nas operações com LFT’s, fruto dos elementos obtidos, através das informações oriundas do Banco Central, com a quebra do sigilo bancário das corretoras contratadas, conforme determinação da Juíza da 23ª Vara Criminal e que trouxeram à luz, a cadeia de negociações, que nos apontam para valores ainda maiores que os inicialmente estimados. Os valores explicitados no presente relatório, ainda refletem os números inicialmente calculados pelo TCE, fruto

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das operações que Ruy Bello e Mauro Michelsen, Presidente e Diretor de Investimentos da autarquia, o sócio da Turfa, Eric Bello e os Diretores das DTVMs, Turfa, CQRJ e Quantia, realizaram.

1-f – Apurar as possíveis irregularidades da Secretaria de Administração e Reestruturação e o Rioprevidência, que autorizaram os Bancos Schain e Santos a promoverem empréstimos a aposentados e pensionistas, com descontos em folha.

1.g – Auditar as compras de CDB’s que o Rioprevidência efetivou em 05/04/02, ao Banco Industrial do Brasil, no valor de R$ 5 milhões, para um prazo de 180 dias, ao Banco Schaim, no valor de R$ 5 milhões, para um prazo de 180 dias e ao Banco Santos, no valor de R$ 7 milhões, para um prazo de 360 dias, no montante de R$ 17 milhões. É relevante que, também, seja considerado todas as informações e pareceres, inclusive, os da Procuradoria Geral do Estado, constantes do processo E-01/300.413/02, que trata da possível irregularidade da compra das CDB’s sem licitação. Caso o Tribunal de Contas do Estado verifique que houve afronta as Leis de Improbidade Administrativa (Lei nº 8429/92), das licitações e contratos (Lei nº 8.666/93), de criação do Rioprevidência (Lei nº 3189/99) ou de qualquer outro quesito legal, e que a irregularidade seja relevante, encaminhará o resultado da aludida auditoria ao Ministério Publico Estadual.

8.2 - Ao Governo do Estado.

2.a - Promover concurso público para que o Rioprevidência passe a ter quadro próprio capaz de gerir corretamente o fundo de aposentadoria e pensão dos funcionários públicos estaduais dos 3 poderes, inclusive de estatístico atuarial.

2.b - Rescindir o nefasto contrato entre o Rioprevidência e a FGV para resgate de créditos previdenciários.

2.c - Não promover a dispensa de licitação, via Universidades / Nuseg / Fundações / ONG’s / Cooperativas, para a terceirização de mão-de-obra. Utilizar o estatuto da licitação pública quando for imperiosa a contratação de serviços de terceiros.

2.d - O Governo do Estado vem se valendo do Rioprevidência exclusivamente para captar recursos de forma indireta e, assim, expandir suas disponibilidades de caixa, possibilitando, ainda, a dedução de parte das despesas com inativos e pensionistas do computo dos gastos com pessoal, o que tem facilitado o cumprimento dos limites previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.

A grave situação financeira do Rioprevidência resulta da incapacidade de sua gestão produzir ativos consistentes as suas necessidades. O volume de recursos necessários para viabilizar a autarquia é tão elevado que a simples determinação para a sua capitalização não

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é mais factível, tendo em vista o quadro de deterioração em que se encontram as finanças estaduais.

Mais importante do que a sua capitalização, que não foi procedida no tempo próprio, seria a adoção pelo Governo de estudos buscando a reestruturação do Fundo com vistas a adapta-lo às reais condições do Estado, e, em caráter de urgência. Acresce que com a Emenda Constitucional nº. 41/03 da Reforma da Previdência e com a promulgação da Lei nº. 4.275/04, o Governo do Estado deverá tomar medidas efetivas, direcionadas a solução da questão previdenciária.

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9 - PROJETOS DE LEI

9.1 - Regulamenta o inciso XXIV e suas alíneas, do artigo 77 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.

Projeto de Lei Nº.

Dispõe sobre a extensão das vedações do inciso XXIV, do artigo 77, da Constituição

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Estadual e sobre a punição das suas transgressões.

Art. 1° - A extensão das vedações, impostas aos servidores públicos do Estado pelo inciso XXIV do artigo 77 da Constituição Estadual, de ser proprietário, controlar direta ou indiretamente, ou fazer parte da administração de empresas privadas fornecedoras de suas instituições ou que delas dependam para controle ou credenciamento, será feita entendendo-se

I) servidores públicos em seu sentido amplo, ou seja, como sendo todas as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos, compreendendo os servidores estatutários, ocupantes de cargo público, os empregados públicos, ocupantes de emprego público e os servidores temporários, contratados por tempo determinado ou para funções de natureza técnica especializada.

II) parentes diretos como os ascendentes e descendentes

III) consangüíneos ou afins como os oriundos de um tronco comum (colaterais) ou parentes do outro cônjuge ou companheiro (afins), limitados estes aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro, não se extinguindo, na linha reta (ascendentes e descendentes do cônjuge ou companheiro) a afinidade com a dissolução do casamento ou da união estável.

IV) prepostos como os seus representantes ou delegados.

Parágrafo único – Para os efeitos deste artigo não há diferença entre parentesco natural e civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem.

Art. 2° - A transgressão a esta norma, quando conseqüência de ato do próprio servidor, implicará em falta grave, punida com exoneração e demissão, sem prejuízo de outras sanções que lhes sejam aplicáveis, em especial as da Lei 8.666/93.

Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 21 de junho de 2004.

Deputados que integram a CPI

JUSTIFICATIVA

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As investigações efetuadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito constituída para investigar fatos ocorridos na administração da Loterias do Estado do Rio de Janeiro – LOTERJ e no Fundo Único de Previdência do Estado do Rio de Janeiro – RIO PREVIDÊNCIA, mostraram flagrantes desrespeitos à norma do art. 77 da Constituição do Estado.

A contratação pelo Presidente do RIO PREVIDÊNCIA de corretora de cuja administração participava seu filho, sem a exigida licitação, causou sérios prejuízos às finanças do Fundo, e aos seus beneficiários, funcionários do Estado.

A punição aos autores deste fato, pelo menos no que tange à transgressão da norma do artigo 77 da CERJ, esbarra na inexistência de pena cominada e em uma controvérsia: seria a extensão determinada pela alínea “a” deste artigo auto-aplicável ou a expressão “na forma da lei”, constante do caput, estaria a exigir a aprovação prévia de lei para regulamentá-la?

Debate semelhante, sobre auto-aplicabilidade de dispositivo constitucional, já foi travado em relação ao § 3° do art. 192 da Constituição Federal, que disponha que “as taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento”, aduzindo que “a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar”.

Submetida a questão ao Supremo Tribunal Federal, este se pronunciou reconhecendo no referido dispositivo uma norma de eficácia contida e não de eficácia limitada, ou seja, que necessitava, para sua aplicação, da aprovação de norma infraconstitucional.

Este entendimento do Supremo, que inviabilizou a limitação das taxas de juros cobradas por bancos e financeiras, recebeu muitas críticas da doutrina, de setores empresariais e de políticos progressistas, mas permitiu manter a exagerada e ilegítima lucratividade dos bancos, em evidente exploração de empresas industriais e comerciais e do povo em geral.

Em 2003, esta situação, que não chegou a ser corrigida com a aprovação da lei exigida, foi agravada pela supressão do referido dispositivo, em conseqüência da promulgação da Emenda Constitucional n° 40, a primeira do Governo LULA. A partir de então diminuíram muito as esperanças de conter a exploração do povo pelos banqueiros.

Com este exemplo na mente, e com o intuito de estabelecer a pena e afastar logo qualquer controvérsia quanto à possibilidade de aplicação do mencionado dispositivo da Constituição Estadual, elaboramos o projeto que agora oferecemos à análise do plenário.

9.2 - Modifica a Lei 3189/99

PROJETO DE LEI Nº.

EMENTA:

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MODIFICA A LEI 3.189/99, ALTERANDO A COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO FUNDO ÚNICO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA.

Autor (es): Deputado COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO INSTITUÍDA PELA RESOLUÇÃO Nº. 425/2004

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESOLVE:Art. 1° - O art. 6° da Lei 3.189/99 passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 6° - O Conselho de Administração será composto por 14 (quatorze) membros nomeados pelo Governador do Estado, a saber:

I – o Secretário de Estado de Administração e Reestruturação do Estado;

II – o Secretário Chefe do Gabinete Civil;

III – o Secretário de Estado de Fazenda;

IV – o Procurador Geral do Estado;

V – o Diretor Presidente do RIOPREVIDÊNCIA;

VI – um Defensor Público, indicado pelo Procurador Geral da Defensoria Pública;

VII – um Promotor de Justiça, indicado pelo Procurador Geral de Justiça;

VIII – dois representantes dos funcionários do Poder Judiciário, indicados pelo órgão representativo da categoria;

IX – dois representantes dos funcionários do Poder Legislativo, indicados pelo órgão representativo da categoria;

X – dois representantes dos funcionários do Poder Executivo, indicados pelo órgão representativo da categoria;

XI – um representante dos ex-participantes ou ex-beneficiários do PREVI-BANERJ, indicado pelo órgão de representação que os congregue em maior número.

§1° - O Presidente do Conselho de Administração será eleito pelos seus pares.

§2° - As reuniões do Conselho instalar-se-ão com a presença da maioria absoluta de seus membros.

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§3° - O Conselho deliberará por maioria simples de votos, cabendo ao Presidente do Conselho, em caso de empate nas deliberações, além do seu, o voto de qualidade.

§4° - Cada membro do Conselho terá um suplente, escolhido pelo Governador do Estado no caso dos incisos de I a V, e, nos demais casos, indicado da mesma forma que os titulares.

Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 02 de agosto de 2004.

Deputados que integram a CPI

JUSTIFICATIVA

A composição atual do Conselho de Administração do RIOPREVIDÊNCIA garante um exagerado controle do Governo do Estado sobre as decisões que envolvem as aplicações dos recursos oriundos dos descontos previdenciários e, portanto, pertencentes aos servidores, prejudicando a sua fiscalização.

Apesar de toda a legislação existente no sentido de proteger os referidos recursos, verifica-se que quando se afasta a atuação da vontade dos próprios servidores, dificulta-se também a fiscalização, como hoje acontece, e corre-se um enorme risco das aplicações não se dirigirem aos melhores negócios.

Esta situação certamente contribuiu para as aplicações danosas ao patrimônio do RIOPREVIDÊNCIA, que foram detectadas pela CPI encarregada de investigar a corrupção na LOTERJ e no RIOPREVIDÊNCIA.

Atualmente há intenção, expressa em ata do Conselho Administrativo, de dar andamento a projeto de investimento que, embora revestido de uma nova roupagem, como é o caso do PROJETO HOSPITALAR aprovado em 28 de junho de 2004, ressuscita, na realidade, antigo projeto de parceria com a iniciativa privada contestado por ferir a Lei 8.666 e significar aplicação de risco vedada pela legislação.

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Aumentando-se o peso da participação dos servidores e garantindo-se que a indicação de seus representantes seja feita por suas associações, como prescreve o projeto, possibilitar-se-á uma melhor atuação do Conselho de Administração na tomada de decisões sobre o destino dos recursos.

Estas as razões que nos levaram a apresentar o projeto em tela.

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10 - SUGESTÕES DE PROJETOS

DE LEIDE

INICIATIVA DO PODER

EXECUTIVO

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10.1 - PROJETO DE LEI Nº.

EMENTA:

DISPÕE SOBRE A REALIZAÇÂO DEAUDITORIA NO PAGAMENTO DEBENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOSDO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Art. 1º – Será realizada no âmbito do Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (RIOPREVIDÊNCIA), uma auditoria em todos os benefícios previdenciários concedidos pelo Estado, bem como suas autarquias e fundações, a partir de fevereiro de 1999;

Art. 2º – A auditoria será realizada mediante a criação de uma força-tarefa composta de 12 membros, escolhidos entre os representantes dos seguintes órgãos públicos:

I – Três (3) da Secretaria de Estado de Administração e ReestruturaçãoII – Dois (2) da Secretaria de Estado de FazendaIII – Dois (2) do Conselho de Administração do RioprevidênciaIVI – Um (1) da Procuradoria Geral do EstadoV – Dois (2) do Ministério Público EstadualVI – Dois (2) da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

Art. 3º – A auditoria deverá proceder à fiscalização dos registros contábeis de cada servidor inativo e pensionista que receba benefício previdenciário do estado, seja na forma de aposentadoria, pensão, pecúlio ou auxílio.

Art. 4º – A força-tarefa terá poderes para sugerir a suspensão e/ou cancelamento de benefícios em situação irregular, mediante a comprovação de pagamento indevido, bem como proceder à instauração de inquérito para apuração de responsabilidades. Art. 5º – A força-tarefa poderá requisitar informações de quaisquer órgãos públicos do Estado, pertinentes à habilitação e à concessão de benefícios previdenciários.

Art. 6º – O prazo para conclusão da auditoria será de 180 dias, ao fim do qual será apresentado relatório detalhando eventuais desvios de recursos públicos, inclusive o valor total e a quantidade de benefícios irregulares, bem como os órgãos responsáveis pela habilitação e concessão dos mesmos.

Art. 7º – A força-tarefa poderá sugerir o recadastramento de servidores públicos ativos, inativos e pensionistas do Estado como forma de impedir o pagamento de benefícios em desacordo com o Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

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Art. 8º – Esta Lei será regulamentada no prazo de 60 dias após sua publicação.

JUSTIFICATIVA

A auditoria nos benefícios pagos pelo Rioprevidência é fundamental para combater eventuais desvios no sistema previdenciário, permitindo uma substancial redução dos gastos públicos do Estado. Esse trabalho precisa ser levado a cabo por uma força-tarefa especializada em combate a fraudes, que possa identificar a origem de pensões, aposentadorias e auxílios em desacordo com a legislação previdenciária. Trata-se de medida fundamental para impedir a repetição de irregularidades verificadas ao longo de tantos anos na liberação de benefícios a servidores inativos e pensionistas. A força-tarefa deve ter condições de identificar a origem das fraudes, bem como os responsáveis pela habilitação e concessão dos benefícios. O trabalho será acompanhado de medidas legais para punir os responsáveis e sanear o sistema previdenciário, de forma a reduzir o rombo do Estado neste setor.

10.2 - PROJETO DE LEI Nº.

EMENTA:

DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DE UMCOMITÊ DE INVESTIMENTOS PARA ANALISAR DECISÕES DO FUNDOÚNICO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADODO RIO DE JANEIRO – RIOPREVIDÊNCIA

Art. 1º – Fica instituído o Comitê de Investimentos para análise e aprovação das decisões tomadas no âmbito da Diretoria Executiva do Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro – RIOPREVIDÊNCIA.

Art. 2º – O comitê se reunirá mensalmente e será composto de oito (8) membros:

I - Presidente do RioprevidênciaII - Diretor de Investimentos do Rioprevidência (sem direito a voto)III - Um representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de JaneiroIV - Um representante do Tribunal de Contas do EstadoV - Um representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de JaneiroVI - Um representante da Secretaria de Estado de FinançasVII - Um representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico

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VIII - Um representante da Secretaria de Estado de Administração e Reestruturação

Art. 3º – É de responsabilidade do comitê a análise e a aprovação da política de investimentos do Rioprevidência, com base nas diretrizes traçadas pelo Conselho de Administração e pela Diretoria de Investimentos do órgão.

Art. 4º – A aplicação de recursos financeiros do Rioprevidência deverá ser feita por meio de instituições financeiras escolhidas mediante processo de licitação pública, a fim de buscar elevado padrão de segurança e rentabilidade.

Art. 5º – O demonstrativo de aplicações financeiras do Rioprevidência será publicado semestralmente no Diário Oficial do Poder Executivo.

Art. 6º – O comitê será responsável pela criação de uma Comissão de Administração e Gestão de Investimentos Imobiliários, à qual competirá realizar estudos de viabilidade de aplicações imobiliárias.

Art. 7º – Esta lei será regulamentada no prazo de 120 dias a contar de sua data de publicação.

JUSTIFICATIVA

A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou denúncias de má gestão no Rioprevidência constatou uma série de operações irregulares ocorridas entre maio e dezembro de 2002. A maior parte foi realizada no setor de investimentos do órgão, envolvendo títulos financeiros. Segundo o Tribunal de Contas do Estado, somente as operações de compra e venda de títulos federais sem licitação causaram prejuízos superiores a R$ 25,5 milhões. No referido período, foram realizadas 30 operações com títulos públicos federais, algumas delas ao apagar das luzes do governo. Para evitar a repetição desse descalabro financeiro, a CPI vem propor a criação de um Comitê de Investimentos, como forma de dar lastro às decisões tomadas no âmbito da Diretoria Executiva do Rioprevidência. Esse comitê, formado por representantes de diversos órgãos públicos, vai conferir mais transparência e eficácia aos investimentos da autarquia. Da mesma forma, a CPI constatou a necessidade de se criar uma Comissão de Administração e Gestão de Investimentos Imobiliários, para avaliar as aplicações do Rioprevidência nesse setor, através de estudos de viabilidade financeira. São medidas importantes para qualificar o trabalho do fundo único de previdência social do estado, zelando pelo bom aproveitamento dos recursos públicos.

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10.3 - PROJETO DE LEI Nº.

EMENTA:

DISPÕE SOBRE A OBRIGATORIEDADEDE CONCURSO PARA PREENCHIMENTODE CARGOS NO RIOPREVIDÊNCIANOS TERMOS EM QUE MENCIONA

Art. 1º –O Poder Executivo realizará concurso público para preenchimento dos cargos de nível técnico, administrativo, financeiro e jurídico do Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (RIOPREVIDÊNCIA), unidade gestora do sistema previdenciário estadual.

Art. 2º – A admissão por concurso público, de provas e títulos, será exigida para todos os cargos subordinados às seguintes unidades do Rioprevidência:

§ 1º – Diretoria de SeguridadeI) Gerência de Atendimento aos SeguradosII) Gerência de Seguridade e Acompanhamento Atuarial

§ 2º – Diretoria de InvestimentosI) Gerência de Investimentos MobiliáriosII) Gerência de Investimentos Imobiliários

§ 3º – Diretoria JurídicaI) Gerência de Administração Imobiliária

§ 4º – Diretoria de Administração e FinançasI) Gerência de Contabilidade e ControleI) Gerência de Administração e Benefícios

§ 5º – Gerência de Informática

Art. 3º – Caberá à Fundação Escola de Serviço Público (FESP-RJ) as tarefas de organizar e coordenar os referidos concursos, tanto no que se refere à inscrição e à preparação dos exames quanto às demais etapas do processo de seleção.

Art. 4º – É obrigatória a realização, semestralmente, de cursos de capacitação e treinamento de dirigentes, servidores e demais funcionários do Rioprevidência, sendo os cursos ministrados por técnicos da Escola do Legislativo e do Centro de Processamento de Dados do Estado do Rio de Janeiro (Proderj).

Art. 5º – O treinamento de mão-de-obra será decidido e supervisionado por técnicos do

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Conselho de Administração do Rioprevidência, de modo a fixar um cronograma de prazos e metas para implementação de cada etapa de trabalho.

Art. 6º – Caberá ao Conselho Administrativo do Rioprevidência designar o pessoal responsável pelos sistemas de informática do órgão, com a incumbência de supervisionar e difundir cada projeto junto aos funcionários;

Art. 7º – A contratação de sistemas de tecnologia pelo Rioprevidência deverá ser acompanhada de manuais de operação e funcionamento, sob a supervisão do Conselho de Administração;

Art. 8º – Esta lei será regulamentada no prazo de 120 dias a contar de sua data de publicação.

JUSTIFICATIVA

Uma das principais anomalias encontradas pela CPI que investigou denúncias de irregularidades no Rioprevidência foi a carência de mão-de-obra especializada para as áreas técnicas e gerenciais do órgão. A maioria dos cargos é preenchida mediante critérios políticos, sem a necessária qualificação para funções de tamanha responsabilidade, especialmente quando se trata do órgão gestor da previdência estadual. A ausência de um processo rigoroso de seleção abre caminho para fraudes e desvios, com a má aplicação dos recursos públicos destinados ao Rioprevidência. É fundamental, portanto, a exigência de concurso público para composição dos cargos técnicos, que requerem conhecimento específico. Da mesma forma, os funcionários deverão ser treinados e qualificados para tarefas de gerenciamento atuarial e administrativo. Esse processo de seleção e treinamento será um passo decisivo para dar mais eficácia e transparência ao trabalho do Rioprevidência.

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