salvamento e desencarceramento

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Salvamento e Desencarceramento Elísio Lázaro de Oliveira Escola Nacional de Bombeiros SINTRA – 2009 VOLUME XX 2.ª edição, revista e actualizada

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Técnicas de salvamento

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  • Salvamento eDesencarceramento

    Elsio Lzaro de Oliveira

    Escola Nacional de Bombeiros

    S I N T R A 2 0 0 9

    VOLUME

    XX

    2. edio, revista e actualizada

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    Ficha Tcnica

    Salvamento e Desencarceramento

    TtuloSalvamento e Desencarceramento(vol. XX)

    ColecoManual de Formao Inicial do Bombeiro

    EdioEscola Nacional de BombeirosQuinta do Anjinho Ranholas2710-460 SintraTelef.: 219 239 040Fax: 219 106 250E.mail: [email protected]

    TextoElsio Lzaro de Oliveira

    Comisso de Reviso Tcnica e PedaggicaCarlos Ferreira de CastroJ. Barreira AbrantesLuis AbreuSnia Rufino

    FotografiaRogrio OliveiraVictor Hugo

    Grafismo e maquetizaoVictor Hugo Fernandes

    ImpressoOffsetmais - Artes grficas, S.A.

    ISBN: 972-8792-18-2Depsito Legal n. 174177/011. edio: Abril de 20052. edio: Janeiro de 2009Tiragem: 10.000 exemplaresPreo de capa: c10,00 (pvp) c 5,00 (bombeiros)

    Escola Nacional de Bombeiros

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    Prefcio Salvamento e Desencarceramento

    O objectivo central deste volume do Manual de Formao Inicial do Bombeiro contribuir para a qualificao das equipas de socorro que intervm em acidentes, nomeadamente em ambiente rodovirio, de modo a conseguir que uma vtima de encarceramento chegue ao hospital nas mesmas ou melhores condies do que aquelas em que se encontrava quando a equipa de socorro iniciou o seu trabalho.

    Num pas, como Portugal, marcado por elevadas taxas de mortalidade em acidentes rodovirios, o esforo de formao dos intervenientes na cadeia de socorro, constitui uma misso de grande relevncia cvica e civilizacional.

    Este volume identifica regras de actuao e descreve procedimentos que devem ser assumidos como referenciais para o xito dos bombeiros numa operao de salvamento e desencarceramento.

    A expectativa da Escola Nacional de Bombeiros que esta edio seja utilizada como instrumento orientador para o treino sistematizado em todas as unidades de bombeiros, no pressuposto de que as tcnicas de desencar-ceramento exercitam-se numa lgica de formao contnua, tendo em vista a plena capacitao operacional dos elementos integrados nas equipas de socorro.

    Duarte Caldeira Presidente da direco da E.N.B.

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    1 Introduo ..... 9

    2 Conceitos ..... 10

    3 Organizao das operaes de socorro ..... 23

    4 Equipamento de desencarceramento ..... 32

    5 Veculos e sua estabilizao ..... 49

    6 Vtimas encarceradas ..... 68

    7 Tcnicas normalizadas para criao de espao ..... 76

    8 Tcnicas de extraco ..... 101

    9 Salvamento em veculos pesados de mercadorias ..... 109

    10 Proteco e segurana nas operaes ..... 117

    Bibliografia - Glossrio - ndices ..... 121

    Sumrio Salvamento e DesencarceramentoVOLUME

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    Siglas Salvamento e Desencarceramento

    ABS Sistema de travagem anti-bloqueio Antilock braking system

    ASR Regulao anti-derrapagem Anti-slip regulation

    CB Corpo de bombeiros

    CDOS Comando distrital de operaes de socorro

    COS Comandante das operaes de socorro

    ESP Programa electrnico de estabilizao Electronic stability program

    GPL Gs de petrleo liquefeito

    HPS Sistema de proteco da cabea Head Protection System

    ITS Cortina de proteco lateral Inflated Tubeless Structure

    RCR Reanimao crdio-respiratria

    SIPS Sistema de proteco contra impacto lateral Side Impact

    Protection System

    SRS Sistema de reteno suplementar Supplemental Restraint System

    TO Teatro de operaes

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    1 Introduo

    Portugal possui uma taxa demasiado elevada de mortalidade em acidentes rodovirios. Vrios factores contribuem para as suas causas, mas o grande propsito dos bombeiros tentar minorar os efeitos. Quando se referem efeitos, est sem dvida a salientar-se o factor humano. O grande objectivo conseguir que uma vtima de encarceramento chegue ao hospital nas mesmas ou em melhores condies do que aquelas em que se encontrava quando a equipa de socorro iniciou o seu trabalho.

    A oportunidade de prestar um servio em que a possibilidade de garantir, no s a vida mas tambm a sua qualidade , sem dvida, o grande desafio para a equipa que efectua o salvamento.

    Os bombeiros dispem de equipamento de desencarceramento que lhes permite proceder a aces de salvamento, trabalhando em segurana e com a rapidez necessria. Mas, para que tal se verifique, necessrio que possuam a formao e o treino imprescindveis.

    No devendo existir linhas rgidas na interveno das equipas de salvamento, dada a diversidade de situaes, deve, no entanto, adoptar-se um conjunto de regras de actuao que permita que cada especialista trabalhe na sua rea com um mesmo objectivo, de forma coordenada e com esprito de cooperao, existindo uma responsabilizao conjunta.

    Este volume descreve os procedimentos que genericamente devem ser adoptados numa operao de desencarceramento.

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    2 Conceitos

    2.1. Salvamento

    Um salvamento consiste em retirar algum de uma situao de perigo.A actuao dos bombeiros numa operao de salvamento visa no s

    salvar vidas, mas tambm garantir a qualidade de vida das vtimas.

    2.2. Encarceramento

    Define-se encarcerado (fig. 1) como toda a pessoa que, tendo sofrido um acidente, se encontra confinada a um espao do qual no pode sair pelos seus prprios meios, quer devido a leses sofridas quer por estar presa pelos materiais envolventes.

    Fig. 1 Vtimas encarceradas.

    As vtimas encarceradas, mesmo que no apresentem leses, podem com alguma facilidade entrar em pnico. Como se encontram limitadas a um espao fsico confinado, de onde no conseguem sair pelos seus prprios meios, podem

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    ficar agitadas, agravando o seu estado de sade. Se a este facto se acrescentarem leses que as vtimas possam apresentar, mais difcil ser a sua estabilizao.

    fundamental prestar a maior ateno a todas as vtimas encarceradas, apresentem ou no leses.

    O encarceramento pode ser classificado em trs grupos distintos:

    Encarceramento mecnico situao em que as vtimas, embora possam no apresentar leses, devido deformao do veculo acidentado, esto impossibilitadas de sair do mesmo pelos seus prprios meios;

    Encarceramento fsico tipo I situao em que as vtimas apresentam leses que requerem a criao de um espao adicional para se poder, em condies de segurana, prestar os cuidados de emergncia necessrios sua estabilizao e para que a extraco seja o mais controlada possvel;

    Encarceramento fsico tipo II situao em que as vtimas apresentam leses devido s estruturas componentes do veculo estarem em contacto ou terem penetrado no seu prprio corpo.

    2.3. Desencarceramento

    O desencarceramento consiste na extraco de vtimas encarceradas, retirando-as nas mesmas condies ou em condies mais estveis do que aquelas em que se encontravam quando as aces de socorro tiveram incio.

    Um acidente pode ser definido como o resultado de um acontecimento repentino e imprevisto, provocado pela aco do homem ou da natureza, com danos significativos e efeitos muitos limitados no tempo e no espao, susceptveis de atingirem as pessoas, os bens ou o ambiente.

    Assumindo que no existem dois acidentes iguais, as equipas de desen-carceramento (fig. 2) devem seguir uma metodologia previamente estabelecida, sob a forma de procedimentos de salvamento sistematizado, que oriente a sua actuao. Esta metodologia dever ser suficientemente flexvel para ser aplicada nos diferentes cenrios que podero ser encontrados nas diversas intervenes.

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    Fig. 2 Do trabalho em equipa depende o sucesso da misso.

    Num acidente com vtimas, o tempo de actuao um factor de extrema importncia, sobretudo quando estas se encontram encarceradas.

    Ao chegar ao local do acidente, o chefe do primeiro veculo assume as funes de comandante das operaes de socorro (COS) e tem que tomar decises rpidas, dando incio s aces adequadas para uma boa gesto do teatro de operaes (TO). A metodologia a seguir desenvolve-se em fases distintas, cada uma das quais deve ser avaliada e concretizada antes de se passar fase seguinte.

    O cumprimento das diversas fases de actuao garante um procedi-mento normalizado em que cada elemento da equipa de salvamento sabe o que lhe compete executar.

    O mtodo a utilizar o SAVERTM, Systematic Approach to Victim Entrapment Rescue (fig. 3), que consiste na abordagem sistematizada no salvamento de vtimas encarceradas atravs das seguintes fases:

    Reconhecimento; Estabilizao; Abertura de acessos; Cuidados pr-hospitalares; Criao de espao; Extraco; Avaliao e treino.

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    Fig. 3 Abordagem sistematizada no salvamento de vtimas encarceradas.

    2.4. Salvamento sistematizado Fases de actuao

    A actuao segue a metodologia sistematizada j referida, de acordo com o Mtodo SAVER, passando a expor-se mais pormenorizadamente as respectivas fases.

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    2.4.1. Reconhecimento

    O trabalho da central de comunicaes fundamental, aquando da recepo da chamada de socorro(1), na recolha de dados sobre o acidente e na activao dos meios que deve ser feita com a maior brevidade possvel.

    Durante o trajecto para o local do acidente, o chefe da equipa deve imaginar o cenrio que vai encontrar, baseando-se nas informaes fornecidas pela central do corpo de bombeiros (CB).

    Ao aproximar-se do local, as primeiras observaes dar-lhe-o a indicao sobre:

    O melhor local para posicionar o veculo de socorro. Se este for o primeiro a chegar ao local, deve proceder-se a um estacionamento defensivo (fig. 4), colocando-o cerca de 15 m antes do acidente e de forma a proteger a equipa de socorro. Estando a rea do acidente j isolada pelas foras de segurana, os veculos de socorro devero estacionar, no mnimo, 10 m depois do acidente;

    Fig. 4 Posicionamento defensivo dos veculos de socorro.

    (1) Consultar o Volume VI Comunicaes.

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    As condies gerais de segurana do local do acidente; A necessidade de accionamento de meios adicionais que devem, de

    imediato, ser solicitados central do CB ou ao Comando Distrital de Operaes de Socorro (CDOS), consoante a situao.

    O desembarque da guarnio do veculo de socorro dever ser efectuado do lado seguro, normalmente do lado direito (fig. 5).

    O chefe de equipa, face ao cenrio real do acidente, distribui as tarefas a realizar pelos restantes elementos, de modo a garantir um socorro sistemtico, rpido e seguro.

    Fig. 5 Desembarque do veculo de socorro.

    2.4.2. Estabilizao

    Estabilizar o local a garantia da segurana no teatro de operaes. O chefe de equipa deve verificar a existncia de perigo para:

    A equipa de socorro; As vtimas; Os curiosos.

    Para garantir a segurana no teatro de operaes, necessrio criar uma rea de trabalho segura em redor do veculo acidentado e no seu interior, verificando sempre a existncia de riscos, tais como:

    Trnsito;

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    Incndio; Fugas de gs, derrame de combustveis ou presena de outras matrias

    perigosas; Veculos ou materiais instveis; Airbags no activados; Queda de cabos elctricos; Condies meteorolgicas adversas; Buracos ou aluimento de terras; Grande nmero de curiosos.

    As medidas de segurana para minimizar os riscos identificados anterior-mente devero ser adoptadas antes do incio das aces de desencarceramento.

    Para garantir que a misso executada de forma segura:

    A equipa de socorro deve utilizar vesturio e equipamento de proteco individual adequados(1);

    O local deve estar protegido (estacionamento defensivo e isolamento da rea de trabalho com cones ou fita de balizamento) (fig. 6);

    A rea de trabalho deve estar livre de pessoas e objectos; Os curiosos devem estar suficientemente afastados; O veculo acidentado deve estar estabilizado.

    Fig. 6 O isolamento da rea de trabalho permite o controlo da situao.

    (1) Consultar o Volume VIII - Segurana e Proteco Individual.

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    Existem trs grandes tipos de estabilizao:

    Estabilizao do local veculos ou objectos instveis que ofeream perigo durante as operaes de socorro (por exemplo, uma rvore que, por ter sido atingida por um veculo, possa tombar);

    Estabilizao dos veculos veculos acidentados com pessoas encarceradas no interior, para no agravar a situao das vtimas devido movimentao desnecessria daqueles;

    Estabilizao progressiva cargas (incluindo o prprio veculo) durante e aps a operao de utilizao de equipamento de elevao (extensor, macacos, almofadas, etc.).

    A aplicao de equipamento de estabilizao no pode inviabilizar o acesso ao interior dos veculos ou a remoo das vtimas.

    2.4.3. Abertura de acessos

    Este o procedimento que permite equipa pr-hospitalar(1) aproximar--se da vtima para prestar os cuidados necessrios.

    Devem ser utilizados os acessos mais fceis, rpidos e seguros, tais como portas ou janelas abertas (fig. 7), permitindo uma rpida aproximao vtima.

    Fig. 7 O acesso vtima deve fazer-se da forma mais fcil, rpida e segura.

    (1) Designao abrangente que, dependendo das circunstncias, pode incluir mdicos, enfermeiros e tripulantes de ambulncia de socorro.

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    Quando se utilizar equipamento hidrulico ou ferramentas manuais, a abertura de acessos deve iniciar-se pelo ponto mais afastado da vtima.

    2.4.4. Cuidados pr-hospitalares

    A equipa pr-hospitalar presta os cuidados para os quais est habilitada.A aplicao destas tcnicas revela-se extremamente difcil no interior

    de um veculo com encarcerados, pelo que se torna necessrio criar espao. Deve ser considerada a possibilidade de remoo do tejadilho ou a abertura de uma porta, para permitir o acesso vtima, viabilizando a avaliao e prestao dos cuidados pr-hospitalares com vista sua estabilizao (fig. 8).

    O responsvel pela equipa pr-hospitalar determina, em conjunto com o chefe da equipa de desencarceramento, a melhor forma de efectuar a extraco.

    Fig. 8 Estabilizao da vtima.

    Durante as operaes, o chefe da equipa de desencarceramento manter--se- informado do estado da vtima, devendo ser-lhe comunicadas as alteraes das condies clnicas e do tempo disponvel para o desencarceramento.

    Na presena da vtima, a forma de comunicao entre os elementos da equipa deve ser, de preferncia, gestual. Este procedimento tem por objectivo proteger a vtima de qualquer comentrio que a possa afectar.

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    2.4.5. Criao de espao

    Esta fase desenvolve-se em simultneo com a fase anterior e tem por objectivo a criao de espao suficiente (fig. 9) para prestar os cuidados pr- -hospitalares vtima e, posteriormente, facilitar a sua remoo do interior do veculo com o menor nmero de movimentos.

    As aces da equipa de desencarceramento desenvolvem-se em funo das indicaes da equipa pr-hospitalar. Esta deve explicitar o que pretende e estabelecer com o chefe da equipa de desencarceramento as aces a desenvolver, tendo em ateno o tempo disponvel.

    Fig. 9 Criao de espao.

    A T E N O

    A arte de criar espao tem como objectivo garantir espao para: Serem prestados os cuidados pr-hospitalares s vtimas

    de forma contnua; Extrair as vtimas sem movimentos desnecessrios.

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    2.4.6. Extraco

    Aps o desmantelamento do veculo, devidamente estabilizado, que garantiu o espao necessrio para remover a vtima em perfeitas condies de segurana, segue-se a fase de extraco. Deve adoptar-se o seguinte procedi-mento:

    Remover a vtima com a coordenao de um mdico ou do tcnico de emergncia pr-hospitalar mais credenciado;

    Manter a comunicao com o chefe da equipa de desencarceramento; Determinar, previamente, as ordens para movimentar a vtima,

    definindo a direco e estabelecendo o espao a percorrer. Garantir que todos os elementos envolvidos na remoo da vtima

    compreenderam as indicaes e os passos a seguir (fig. 10).

    Fig. 10 A coordenao da equipa de socorro essencial.

    As opes de extraco, tendo em considerao o factor tempo, dependem de vrios indicadores que permitem ao chefe de equipa decidir entre a extraco controlada e a imediata.

    A extraco controlada (fig. 11) efectuada quando as condies clnicas da vtima permitem ter tempo para proceder libertao e prestao dos cuidados pr-hospitalares adequados.

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    Fig. 11 Extraco controlada.

    A criao de espao permite efectuar uma melhor estabilizao da vtima, libertando a rea necessria para a sua correcta extraco.

    A extraco imediata (fig. 12) deve ser efectuada apenas quando o estado da vtima no permite perder tempo. A vtima tem que ser imediatamente removida do veculo para lhe serem ministrados os cuidados pr-hospitalares adequados.

    Fig. 12 Extraco imediata.

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    Este tipo de extraco dever ser efectuado quando o estado da vtima indique compromisso das funes vitais, sempre que exista perigo para a equipa de socorro ou para a vtima, como por exemplo incndio, submerso, atmosfera txica, entre outros. No entanto, este procedimento deve ser executado de forma a prevenir novas leses na vtima, sendo impossvel de executar perante um encarceramento fsico tipo II.

    A T E N O

    Nunca remova uma vtima antes de lhe serem prestados os cuidados necessrios sua estabilizao;

    Remova os destroos da vtima e no a vtima dos destroos; A extraco imediata deve ser considerada como a ltima opo,

    devendo a sua execuo ser bem avaliada pelo chefe de equipa.

    2.4.7. Avaliao e treino

    Uma correcta avaliao do trabalho efectuado no local do acidente permite verificar o que foi feito correctamente, o que deve ser corrigido e o que pode ser melhorado em futuras actuaes, isto , que lies foram aprendidas.

    Com todos os elementos envolvidos na operao, logo que possvel, depois do acidente, deve ser feita a avaliao da actuao da equipa, salien-tando os aspectos que importa corrigir e melhorar.

    Esta avaliao pode no dispensar outra, posterior, no quartel, envolvendo mais intervenientes.

    Na sequncia da avaliao efectuada, pode concluir-se da necessidade de executar formao prtica que se aproxime o mais possvel da realidade. O treino deve contemplar os seguintes aspectos:

    Ser multidisciplinar; Recorrer a vtimas simuladas; Utilizar veculos acidentados; Envolver meios de comunicao.

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    A T E N O

    A equipa de socorro deve garantir que a vtima se mantm nas mesmas condies em que se encontrava quando as operaes de salvamento tiveram incio e, se possvel, melhor-las.

    3 Organizao das operaes de socorro

    A organizao das operaes de socorro contempla aspectos que podem ser determinantes na qualidade do socorro prestado. Salientam-se a organi-zao do teatro de operaes e da equipa de socorro.

    3.1. Organizao do teatro de operaes

    vital estabelecer, o mais precocemente possvel, o controlo do teatro de operaes. Se no se conseguir controlar o local do acidente, todo o trabalho estar comprometido, sendo praticamente impossvel proceder a um salvamento sistemtico.

    Esta uma responsabilidade do chefe de equipa, cujas ordens devem ser prontamente cumpridas pelos restantes elementos.

    O controlo do teatro de operaes implica o estabelecimento da rea de trabalho composta por:

    Zona de trabalho interior; Zona de trabalho exterior.

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    3.1.1. Zona de trabalho interior

    A zona de trabalho interior um espao limitado por uma linha imaginria afastada cerca de cinco metros em redor do acidente (fig. 13).Tm acesso a esta zona apenas as equipas de desencarceramento e pr-hospitalar.

    Todos os destroos devem ser removidos para fora desta zona, nomeadamente vidros, partes retiradas do veculo ou qualquer outro objecto. O objectivo desta remoo manter esta zona o mais limpa possvel, pois toda a aco de socorro ir desenvolver-se no seu interior.

    Apenas devero permanecer no interior da zona os elementos que se encontrem a executar uma tarefa, bem como ferramentas e equipamentos que estejam a ser utilizados ou que sejam solicitados. Todo o restante pessoal, material e equipamento dever manter-se no seu exterior, num local previa-mente designado.

    Fig. 13 Zona de trabalho interior.

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    3.1.2. Zona de trabalho exterior

    uma zona delimitada com cerca de 10 metros em redor do acidente, demarcada no seu limite exterior com fita de balizamento ou outro material disponvel (fig. 14). No seu interior, e fora da zona de trabalho interior, devem ser estabelecidos quatro locais:

    Depsito de destroos; Equipamento de desencarceramento; Equipamento de pr-hospitalar; Equipamento complementar.

    Fig. 14 Zona de trabalho exterior.

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    Todos os outros elementos, equipas de socorro suplementares, foras de segurana, autoridades, comunicao social e curiosos, devero manter-se fora da zona de trabalho exterior.

    Os operadores de reboque ou outros tcnicos no devero interferir na actuao, excepto quando a sua interveno for solicitada. A sua localizao deve ser sempre fora das zonas de trabalho.

    3.2. Equipa de desencarceramento

    Com a adopo do mtodo SAVER ser bem mais simples atribuir a funo de cada elemento e as respectivas tarefas, sendo possvel aumentar ou diminuir as equipas de desencarceramento nas diversas reas de actuao, consoante a situao no local do acidente, salvaguardando o reconhecimento que deve ser efectuado sempre do mesmo modo.

    A equipa de desencarceramento integra-se numa equipa de socorro mais ampla, a qual engloba todos os intervenientes nas aces de socorro no teatro de operaes, designadamente a equipa pr-hospitalar, foras de segurana e, se necessrio, meios complementares especializados (reboques, gruas, especialistas de matrias perigosas, etc.).

    O sucesso da interveno depende do bom entendimento entre todas as equipas envolvidas e do desempenho sistemtico das respectivas tarefas. Os demais bombeiros presentes podem auxiliar na interveno, assegurando a rendio ou executando outras tarefas que garantam a segurana no local.

    Salienta-se a obrigatoriedade de todos os elementos da equipa de desencarceramento utilizarem vesturio e equipamento de proteco indivi-dual adequados (casaco e calas de proteco, capacete com viseira, culos de proteco, luvas e botas).

    A equipa de desencarceramento constituda por seis elementos (fig.s 15 a 19), cujas designaes e atribuies so as seguintes:

    Chefe de Equipa (n. 1) o elemento mais graduado(1) da equipa, que dever ser facilmente identificado para ser reconhecido como tal. Esta funo deve ser desempenhada preferencialmente por um elemento com formao especfica de chefe de equipa de desencarceramento.

    (1) A segurana da responsabilidade do elemento mais graduado no teatro de operaes (COS).

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    O chefe de equipa, face ao cenrio real do acidente, distribui as tarefas a realizar pelos elementos da equipa, de modo a garantir uma actuao rpida e segura, transmitindo as ordens de forma concisa, clara, utilizando frases curtas e garantindo que estas foram conveni-entemente compreendidas.

    Fig. 15 Chefe de equipa.

    Numa primeira fase, logo que chegue ao local, deve: Fazer o reconhecimento, acompanhado pelo elemento de segurana; Aproximar-se e verificar qual o tipo de acidente e avaliar a sua extenso; Identificar os perigos existentes; Identificar o nmero, condies e posicionamento das vtimas,

    estabelecendo contacto visual com as mesmas; Formular o plano de aco; Informar o ponto da situao central do CB ou ao CDOS (parte

    de reconhecimento); Decidir sobre as manobras a executar, em coordenao com o

    responsvel pela equipa pr-hospitalar; Garantir, permanentemente, a segurana da equipa; Fazer a ligao com outras equipas intervenientes.

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    Enquanto o chefe de equipa efectua o reconhecimento, os restantes elementos da equipa preparam-se para actuar, executando as seguintes aces: Os operadores de ferramentas executam a sinalizao inicial,

    caso seja este o primeiro veculo de socorro a chegar ao acidente, estabilizam os veculos acidentados e garantem a segurana do local;

    O socorrista prepara o equipamento pr-hospitalar; O assistente geral prepara o equipamento de desencarceramento e

    coloca-o na rea de trabalho exterior, em local prprio.

    Operadores de Ferramentas (n. 2 e n. 3) trabalham em conjunto, utilizando as ferramentas e todo o material necessrio disponvel, devendo: Executar todas as aces tcnicas (estabilizao do veculo e cargas,

    criao de espao para acesso a vtimas, manuseamento de vidros, etc.);

    Operar com as ferramentas de desencarceramento para remover as partes do veculo de modo sistemtico, com vista criao do espao necessrio extraco das vtimas.

    Fig. 16 Operadores de ferramentas.

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    Elemento de segurana (n. 4) este elemento zela pela segurana das vtimas, equipa de socorro e curiosos, devendo, nomeadamente: Acompanhar o chefe de equipa no reconhecimento (avaliao de

    riscos); Controlar os perigos; Controlar a estabilizao; Desligar as baterias dos veculos acidentados; Remover os destroos; Controlar um possvel derrame de combustvel; Colocar as proteces nos pontos agressivos.

    Fig. 17 Elemento de segurana.

    Socorrista (n. 5) compete-lhe prestar os cuidados pr-hospitalares at chegada da respectiva equipa, funcionando como ponto de referncia para as vtimas e colaborando com a equipa pr-hospitalar. Aps uma avaliao genrica do estado das vtimas, deve: Informar o chefe de equipa das prioridades;

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    Estabelecer contacto com as vtimas, o mais precocemente possvel;

    Efectuar o exame s vtimas; Estabilizar as vtimas; Proceder extraco, de acordo com o responsvel pela equipa

    pr-hospitalar.

    Fig. 18 Socorrista.

    Assistente geral (n. 6) normalmente esta funo desempenhada pelo motorista, competindo-lhe: Preparar a rea destinada colocao do equipamento; Providenciar todo o equipamento necessrio aos operadores de

    ferramentas; Auxiliar na montagem do equipamento hidrulico; Garantir o funcionamento do grupo energtico e demais equipamento; Actuar em caso de incndio; Retirar o equipamento aps a sua utilizao pelos operadores.

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    Fig. 19 Assistente geral.

    Procedendo desta forma, ser possvel manter uma boa coordenao e controlo das operaes. No Quadro I apresenta-se a sntese da organizao da equipa de desencarceramento.

    Apesar de cada elemento possuir funes definidas, o esprito de equipa dever estar sempre presente.

    Outros elementos da equipa de socorro podero executar outras tarefas, tais como proceder ao isolamento da rea, prevenir um possvel foco de incndio, preparar ferramentas que possam vir a ser necessrias e estar dispo-nveis para outros trabalhos que lhes sejam solicitados.

    Responsvel pela rea SeguraReconhecimentoPerigos + prioridadesPlano de acoPreparao para execuo das tarefasContacto com as vtimasEstabilizao dos veculosPreparao do equipamento

    n. 1n. 1 + n. 4

    n. 4n. 1

    n. 2 + n. 3 + n. 5n. 5

    n. 2 + n. 3n. 6 (n. 2 + n. 3 + n. 5)

    QUADRO I

    ORGANIZAO DA EQUIPA DE DESENCARCERAMENTO

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    4 Equipamento de desencarceramento

    Utilizar o equipamento de desencarceramento (fig. 20) requer treino adequado. Os elementos das equipas de socorro devem conhecer as capacidades do equipamento, bem como o resultado da sua correcta utilizao. Para um bom entendimento do funcionamento de cada ferramenta, aconselha-se a leitura cuidada do respectivo manual de instrues.

    Em consequncia do permanente desenvolvimento tecnolgico, as ferramentas utilizadas nos nossos dias possuem uma maior capacidade de interveno, em resultado da necessidade criada pelo recurso a novos materiais utilizados na construo dos veculos.

    A fora de trabalho exercida pelo equipamento de desencarceramento pode tambm causar situaes perigosas se o utilizador no estiver preparado para o manusear.

    As ferramentas hidrulicas devero ser sempre transportadas ao lado do operador e em posio de segurana (por exemplo, a tesoura com as lminas fechadas), garantindo que qualquer movimento inesperado no cause leses a quem as transporta ou a outro elemento.

    Deve ter-se tambm o cuidado de no arrastar pelo solo as unies dos equipamentos hidrulicos.

    Fig. 20 Equipamento de desencarceramento.

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    O conhecimento geral do manuseamento e caractersticas do equipa-mento auxiliar a actuao, possibilitando no s a sua rentabilizao, mas tambm oper-lo em segurana.

    Devido variedade de cenrios de acidentes, torna-se impossvel descrever como actuar em cada situao. Podem, no entanto, seguir-se determinadas regras que serviro de guia na utilizao do equipamento, salvaguardando sempre a segurana dos operadores de ferramentas e das vtimas (fig. 21).

    Fig. 21 Trabalhar do lado correcto da ferramenta e proteger as vtimas uma garantia de segurana.

    A T E N O

    Nunca se coloque entre a ferramenta que est a operar e o veculo.

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    4.1. Equipamento hidrulico

    4.1.1. Tesouras

    A tesoura (fig. 22) foi desenvolvida para ser utilizada no corte de veculos ligeiros e pesados. Utiliz-la relativamente fcil se forem sempre cumpridas as regras bsicas a seguir descritas:

    Colocar a tesoura no objecto a cortar num ngulo de 90;

    Ter em ateno que durante o processo de corte, a tesoura poder movimentar-se em qualquer direco, seguindo a linha de menor resistncia;

    Permitir que a ferramenta se movimente, no tentando recolocar a tesoura na posio inicial porque provoca demasiada presso sobre as lminas;

    Ter em conta que nenhum operador suficientemente forte para resistir fora exercida pela ferramenta, sendo fundamental ter sempre presente a importncia do correcto procedimento;

    Observar a tesoura e todos os seus movimentos. Nas seguintes situaes, o corte dever ser feito noutro ngulo: Se a tesoura se movimentar em determinado sentido que coloque

    em perigo a segurana do operador ou qualquer outro elemento, o manpulo de comando da ferramenta deve voltar imediatamente posio livre (neutro);

    O trabalho com a tesoura dever tambm ser imediatamente interrompido se esta se encostar ao veculo. Esta situao poder entalar as mos do operador e, se forada, causar graves danos ao equipamento.

    Estruturas reforadas, tais como dobradias e barras (verificar se o equipamento possui caractersticas que permitam efectuar a manobra), devero ser cortadas com a parte mais resistente das lminas. Se, ao efectuar o corte, as lminas comearem a afastar-se ou a cruzar, a aco dever ser imediatamente interrompida para prevenir danos ou a quebra das mesmas.

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    Fig. 22 Tesouras.

    4.1.2. Multiusos

    O multiusos (fig. 23) uma ferramenta de aco dupla, permitindo a funo de corte e a execuo das tcnicas efectuadas com o expansor.

    Normalmente esta ferramenta, visto ser uma combinao, possui uma potncia inferior, quer no afastamento quer na capacidade de corte.

    uma ferramenta mais leve, habitualmente utilizada em operaes de desencarceramento em veculos ligeiros ou em operaes mais simples.

    Fig. 23 Multiusos.

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    4.1.3. Expansor

    O expansor (fig. 24) permite o esmagamento ou afastamento e pode ser utilizado em diversas operaes para ganhar espao, tais como abertura forada de portas, afastamento do tablier ou remoo dos bancos. Por vezes, o expansor utilizado para levantar alguns obstculos. No entanto, o operador deve verificar se a ferramenta tem capacidade para a carga a elevar e ter sempre presente que as pontas dos braos do expansor no so muito resistentes. A superfcie onde ser apoiado o expansor dever ser suficientemente slida para no ceder. Tambm deve ser utilizado continuamente material de estabilizao, durante e aps o levantamento, para garantir a segurana da manobra.

    Fig. 24 Expansor.

    4.1.4. Extensor

    O extensor hidrulico (fig. 25), tambm designado por ram, geralmente utilizado para criar espao adicional. , de igual modo, utilizado em manobras especficas, como, por exemplo, o afastamento do tablier.

    Este equipamento possui tamanhos e capacidades diferentes e, logica-mente, extenses variveis.

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    Na maioria dos casos, a utilizao de um extensor mais pequeno complementada por outros de maior amplitude, permitindo assim atingir o limite mximo de abertura. Alguns modelos possuem extenses, isto , acessrios que permitem aumentar o comprimento do equipamento. O ideal ser possuir um conjunto completo de extensores, o que possibilitar uma utilizao segura em todas as situaes.

    Ao utilizar este equipamento dever, sempre, centr-lo relativamente ao local de apoio e aplic-lo directamente sobre o metal.

    Fig. 25 Vrios exemplos de extensores.

    A T E N O

    O sucesso de uma operao de desencarceramento depender sempre da capacidade da equipa que a executar.

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    4.1.5. Grupo energtico

    O grupo energtico (fig. 26) um equipamento fundamental para a utilizao de ferramentas hidrulicas, podendo, no entanto, em situaes de excepo, ser substitudo por uma bomba manual (fig. 27).

    composto por um motor, que poder ser elctrico ou de combusto interna, que acciona uma bomba hidrulica. As presses geradas podem atingir valores da ordem de 700 bar, dependendo da marca e modelo do equipamento utilizado.

    Fig. 26 Grupos energticos.

    Fig. 27 Bombas manuais.

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    4.1.6. Manuteno do equipamento hidrulico

    Nas aces de conservao e manuteno do equipamento hidrulico devem ser cumpridas as instrues do fabricante, pelo que deve seguir-se o respectivo manual de instrues.

    Depois de utilizar o equipamento deve:

    Desligar todas as mangueiras e colocar as proteces nas extremi-dades;

    Limpar as ferramentas, mangueiras e unies e se necessrio enxug-las;

    Verificar se as ferramentas e mangueiras apresentam danos visveis;

    Comunicar ao responsvel pelo equipamento os danos verificados.

    Aps cada utilizao do grupo energtico deve:

    Verificar o nvel de combustvel no depsito e deix-lo completa-mente atestado;

    Ver se o nvel do leo hidrulico no respectivo depsito est no valor indicado pelo fabricante;

    Ter ateno ao nvel do leo do motor. Verificar se est no valor indicado pelo fabricante.

    igualmente necessrio proceder a uma manuteno peridica deste equipamento, da forma como se indica:

    Diariamente colocar o grupo energtico a trabalhar durante cinco minutos;

    Mensalmente montar todo o equipamento e verificar se este se encontra em perfeitas condies de funcionamento, caso no tenha sido utilizado neste perodo;

    Semestralmente substituir o leo do motor e as velas, se existirem;

    Anualmente substituir o leo hidrulico e efectuar a reviso geral ao equipamento.

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    4.2. Equipamento pneumtico

    4.2.1. Almofadas

    As almofadas inserem-se na categoria do equipamento pneumtico e dividem-se em dois grupos, de acordo com as suas caractersticas:

    Almofadas de alta presso (trabalham a uma presso mxima de 8 bar); Almofadas de baixa presso (trabalham a uma presso mxima de 0,5 bar).

    Os dois tipos de almofadas possuem caractersticas que so determi-nantes para a sua escolha face ao trabalho a realizar, a saber:

    Almofadas de alta presso (fig. 28): Possuem uma altura mnima de 25 mm, pelo que podero ser

    colocadas em espaos reduzidos e executar um levantamento at 500 mm, dependendo do modelo;

    Podem elevar pesos de dezenas de toneladas, dependendo da sua capacidade;

    Quanto maior for o levantamento, menor ser a fora de elevao, devido deformao, que ir provocar uma diminuio da superfcie de apoio;

    No se deve sobrepor mais de duas almofadas, por razes de segurana.

    Fig. 28 Almofadas de alta presso.

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    Almofadas de baixa presso (fig. 29): Podem levantar cargas at 16 ton a uma altura de 620 mm, uti-

    lizando toda a superfcie, sendo varivel a capacidade e altura consoante o modelo;

    Nunca se podem sobrepor.

    Fig. 29 Almofadas de baixa presso.

    A T E N O

    Nunca sobrepor as almofadas de baixa presso.

    Sendo este equipamento pneumtico, pressupe-se a utilizao de ar comprimido para a sua utilizao. Compreende-se, ento, a necessidade do equipamento complementar (fig. 30) constitudo por:

    Reservatrio de ar comprimido (garrafa ou compressor); Manoredutor de presso; Dispositivo de controlo de enchimento das almofadas; Mangueiras.

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    Fig. 30 Equipamento para operar com almofadas pneumticas.

    Ao operar com almofadas devem ser seguidas algumas regras, de forma a rentabilizar e garantir a segurana na sua utilizao:

    Nunca se deve correr o risco de efectuar um levantamento sem acompanhar a elevao da carga com a estabilizao progressiva. Para tal, devem colocar-se calos, barrotes ou blocos debaixo da carga que se vai elevar. Se houver um deslocamento da carga ou uma ruptura da almofada, os calos suportaro a carga;

    Nunca colocar calos ou blocos no topo da almofada, pois existe o perigo de projeco dos calos no momento do enchimento;

    Para um melhor e mais seguro levantamento, necessrio garantir que a almofada est totalmente colocada debaixo da carga. Uma almofada que esteja apenas parcialmente debaixo da carga poder provocar o levantamento de apenas um dos lados;

    Para um levantamento estvel devem utilizar-se sempre duas almofadas em paralelo;

    Para saber qual a almofada a utilizar deve aplicar-se a lei de Pascal:

    Presso superfcie de aplicao da fora = Fora de elevao

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    4.2.2. Manuteno do equipamento pneumtico

    Para uma correcta conservao e manuteno deste equipamento devem ser cumpridas as instrues do fabricante, indicadas no respectivo manual de instrues.

    Aps a utilizao do equipamento devem ser efectuados os seguintes procedimentos:

    Limpar todo o equipamento, dando especial ateno s vlvulas; Detectar se o equipamento apresenta algum dano, corroso por

    produtos qumicos ou pequenos cortes; Examinar as mangueiras e as unies e verificar se o engate se faz facilmente; Verificar se a caixa de controlo e as vlvulas de escape no apresentam

    nenhum dano, dando especial ateno aos manmetros.

    Este equipamento requer manuteno mensal, que deve ser efectuada da seguinte forma:

    Conectar o redutor garrafa de ar e verificar se este pode ser regulado; Ligar a caixa de controlo ao redutor e pressurizar a 12 bar para

    verificar se o conjunto est operacional; Ligar as mangueiras s almofadas e elev-las at presso mxima; Verificar qualquer dano ou deformao anormal nas almofadas; Se for detectada qualquer anomalia no teste das almofadas, contactar

    o fornecedor do equipamento.

    4.3. Equipamento mecnico

    4.3.1. Macacos

    Os macacos so ferramentas de fcil manuseamento e de colocao rpida. Por exemplo, quando um veculo ligeiro fica sob um pesado de mercadorias, os macacos podero ser colocados debaixo do chassis do pesado para o levantar de imediato.

    Os macacos mais utilizados em operaes de desencarceramento tm uma potncia entre 5 e 10 ton.

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    Existem dois tipos de macacos:

    O macaco mecnico (convencional ou de cremalheira) com um sistema de alavanca ou manivela (fig. 31);

    O macaco hidrulico, geralmente utilizado nas oficinas.

    Fig. 31 Macacos de cremalheira com manivela.

    Sempre que este equipamento seja manuseado, devem ser considerados os seguintes procedimentos:

    Escolher um ponto resistente para aplicar o macaco; Utilizar, se necessrio, blocos de estabilizao ou calos de madeira

    colocados sob o macaco, de modo a aumentar a superfcie de apoio; Colocar blocos de estabilizao entre o macaco e a carga a ser levantada

    se esta for de fraca resistncia ou possuir uma superfcie de borracha; Sempre que possvel, utilizar dois macacos colocados em paralelo

    para efectuar um levantamento seguro; Quando forem utilizados dois macacos, assegurar que a elevao

    feita em simultneo.

    Aps a utilizao deste equipamento, devem ser executados os seguintes procedimentos de manuteno:

    Baixar o macaco completamente; Limpar, se necessrio utilizando petrleo; Nos macacos hidrulicos, verificar o nvel de leo.

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    4.3.2. Guinchos

    Numa operao de desencarceramento podero ser utilizados diversos tipos de guincho, nomeadamente guincho elctrico de um veculo de socorro, guincho de um veculo de reboque ou guincho tirfor.

    Os guinchos elctricos (fig. 32) colocados nos veculos de socorro, so essencialmente utilizados em operaes de desencarceramento na estabilizao de veculos acidentados que se encontrem em risco de queda, por exemplo. H, no entanto, que ter em ateno o tipo e peso do veculo acidentado, bem como a capacidade do guincho e do veculo de socorro.

    Os veculos de reboque podem tambm ser utilizados nesta situao, embora o recurso aos mesmos se verifique sobretudo nos casos de desobstruo da via, puxando e rebocando os veculos acidentados.

    Fig. 32 Guincho elctrico.

    Aquele a que os bombeiros mais recorrem ao guincho tirfor (fig. 33).Estes guinchos so de sistema de corrente ou cabo de ao e tm uma capacidade que varia entre 5 e 10 toneladas, conforme indicaes gravadas no prprio equipamento.

    Trata-se de uma importante ferramenta, especialmente em movimentos de traco ou elevao. A rentabilizao destes equipamentos feita mediante a utili-zao de acessrios especficos, caso contrrio, a sua capacidade pode ser reduzida.

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    Os guinchos utilizados devem ser certificados e o equipamento regularmente testado, sendo necessrio proceder a uma inspeco regular por questes de segurana.

    Fig. 33 Guincho manual Tirfor.

    Genericamente, para operar com os guinchos devem ser considerados os seguintes aspectos:

    Parar o cabo do guincho no caso de demasiado esforo. Para tal, existem dois pinos junto ao manpulo, que travaro o cabo nesse caso;

    Determinar a capacidade de ancoragem. Esta dever ser tanto mais resistente quanto maior for a capacidade do guincho;

    Identificar a resistncia do ponto onde vai ser fixo o guincho (ponto de ancoragem);

    Verificar se no existem ns no cabo ou nas correntes; Ter em ateno a possibilidade de um movimento perigoso do

    objecto que est a ser traccionado; Garantir que ningum ser atingido caso o cabo se parta quando

    estiver em tenso.

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    Aps a utilizao do equipamento devem ser efectuados os seguintes procedimentos:

    Limpar o equipamento e, se necessrio, lav-lo com petrleo; Verificar os movimentos do guincho e dos cabos; Examinar os cabos e as correntes de modo a assegurar que no apresen-

    tam ns ou cortes e que no foram danificados na ltima utilizao; Vistoriar os acessrios e limp-los.

    4.4. Ferramentas manuais

    Nas operaes de desencarceramento tambm utilizada uma grande variedade de ferramentas manuais. A maioria faz parte do conjunto individual de ferramentas colocado numa bolsa, composto por (fig. 34):

    Alicate universal; Faca; Chave de fendas; Fita mtrica; Puno quebra-vidros; Turqus; Corta-cintos; Chave francesa; Mao; X-acto.

    Fig. 34 Bolsa de ferramentas e respectivo equipamento.

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    Esta bolsa individual deve ser usada pelos operadores de ferramentas e pelo segurana, facilitando o trabalho e evitando movimentaes desnecessrias para ir buscar pequenas peas de ferramenta.

    A ferramenta manual muito utilizada em vrias tarefas e poder danificar-se quando aplicada em metal bastante resistente, como o caso de veculos pesados.

    Nas operaes de desencarceramento so tambm utilizadas diversos tipos de precintas (fig. 35). Estas podero ter olhais na extremidade ou possuir um sistema de roquete com trinco.

    Este equipamento utilizado em diversas manobras, tais como remoo do tejadilho ou fixao de partes do veculo ou equipamentos. As precintas devero ser devidamente certificadas com indicao de sua extenso e capacidade de rotura.

    Fig. 35 Precintas.

    4.4.1. Machado force

    Quando for necessrio ganhar espao, efectuando uma abertura maior em superfcies planas, dever ser utilizado o machado force (fig. 36). Esta ferra-menta funciona como um grande abre-latas e, quando usada em combinao com a tesoura hidrulica, extremamente rpida e eficiente.

    Fig. 36 O machado force permite evoluir com facilidade em superfcies planas.

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    5 Veculos e sua estabilizao

    5.1. Veculos ligeiros

    5.1.1. Constituio geral

    Os veculos so concebidos de forma a garantir a mxima proteco possvel aos seus ocupantes em caso de acidente. Esto providos, por exemplo, de zonas de deformao, concebidas para absorver a energia libertada no momento da coliso, bem como de elementos estruturais que protegem o habitculo, oferecendo aos ocupantes uma maior probabilidade de sobrevivncia.

    Os sistemas de segurana existentes num veculo podem ser activos e passivos.

    Os sistemas de segurana activos so aqueles que tm uma actuao durante a conduo do veculo visando evitar o acidente. So exemplo o sistema de travagem anti-bloqueio (ABS), a regulao anti-derrapagem (ASR) ou o programa electrnico de estabilizao (ESP).

    Os sistemas de segurana passivos tm por finalidade proteger os ocupantes de um veculo em caso de acidente. Podem ser estticos, como, por exemplo, os sistemas deflectores de energia ou zonas de deformao, ou dinmicos, por exemplo o sistema de proteco contra impacto lateral (SIPS), a cortina de proteco lateral (ITS) ou os pr-tensores dos cintos de segurana.

    O conhecimento destes sistemas de segurana, bem como dos aspectos gerais da constituio dos veculos, fundamental para uma adequada interveno numa operao de desencarceramento.

    As operaes de desencarceramento implicam a actuao nas estruturas de reforo do veculo, atravs de manobras de afastamento, enfraquecimento e corte.

    Para estar apto a decidir onde actuar e o que cortar so referenciadas as diversas partes do veculo mais significativas para o desencarceramento (fig. 37).

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    Fig. 37 Importncia da identificao das estruturas do veculo na criao de espao. A Pilar A; B Pilar B; C Pilar C; D Base do pilar A e painel lateral.

    Genericamente, a interveno dos bombeiros em veculos ligeiros incide sobre alguns dos elementos, nomeadamente pilares, tejadilho, painel lateral, tablier, volante, guarda-lamas, portas e vidros (fig. 38 a 41).

    Fig. 38 Veculo ligeiro de trs portas.

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    Fig. 39 Veculo ligeiro de quatro portas.

    Fig. 40 Veculo ligeiro de nove lugares.

    Fig. 41 Veculo ligeiro de caixa aberta.

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    5.1.2. Veculos a gs

    a) Veculos a GPL

    Os veculos a gs de petrleo liquefeito (GPL) constituem uma preocu-pao para os bombeiros nas intervenes em acidentes. O GPL utilizado uma mistura dos gases butano e propano.

    O armazenamento de GPL no veculo (fig. 42) pode fazer-se em depsito cilndrico ocupando espao na bagageira ou em depsito trico, no espao reservado ao pneu suplente.

    Estes veculos obedecem a normas rgidas de controlo relativamente a todo o sistema de alimentao. A principal preocupao em caso de acidente diz respeito ao risco de incndio, devendo ser adoptadas as medidas necessrias criao de condies de segurana para a interveno, nomeadamente a utilizao de equipamento de proteco individual e de combate a incndios urbanos(1).

    Fig. 42 Veculos a gs de petrleo liquefeito. A Abastecimento; B Depsito Trico.

    b) Veculos a gs natural

    Os veculos movidos a gs natural, j difundidos por todo o Pas, nomeadamente em transportes pblicos (fig. 43), esto em franca expanso, pelo que se torna necessrio entender alguns conceitos relativamente ao seu funcionamento.

    (1) Consultar o Volume X - Combate a Incndios Urbanos e Industriais.

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    O gs natural comprimido at uma presso de 200 bar e armazenado em reservatrios, que no caso dos autocarros se encontram colocados no tejadilho e nos veculos ligeiros se encontram na bagageira, podendo existir mais do que um depsito.

    Estes reservatrios, em ao com revestimento em fibra, suportam uma pres-so de 500 bar e possuem uma resistncia ao rebentamento superior a 1000 bar.

    O gs natural dissipa-se no ar em caso de fuga. Pelo facto do gs natural ser menos denso do que o ar no feita nenhuma restrio ao parqueamento de veculos com este gs em parques subterrneos. Alm de ser menos denso do que o ar, o campo de inflamabilidade(1) estreito, sendo necessrio que a proporo combustvel/ar se encontre entre 5% e 15% para que haja ignio.

    Os veculos movidos a gs natural podero ser classificados em bi-fuel, dual-fuel e dedicado:

    Bi-fuel pode operar alternadamente a gs natural e a gasolina; Dual-fuel pode funcionar a gasleo exclusivamente ou com gasleo

    e gs natural simultaneamente. Neste caso, a combusto do gasleo serve para fazer a ignio do gs natural;

    Dedicado, funciona exclusivamente a gs natural.

    Fig. 43 Veculo a gs natural. A Reservatrios de gs no tejadilho; B Compartimento do Motor; D Vlvula de corte de alimentao de gs para o motor.

    (1) Consultar o Volume VII - Fenomenologia da Combusto e Extintores.

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    c) Veculos hbridos

    Os veculos hbridos (fig. 44) em circulao no nosso Pas possuem um motor de combusto convencional, acoplado a um motor elctrico de elevada capacidade.

    Fig. 44 Veculo hbrido. A Exemplo de um sistema hbrido; B Indicador do estado de carga do mdulo de baterias e do combustvel; C Blindagem de cabos elctricos.

    Este tipo de veculo inclui componentes de alta tenso, os quais geram

    um elevado campo magntico. A energia elctrica conduzida entre o mdulo de baterias, localizado entre os bancos traseiros e a bagageira, e o motor elctrico, atravs de cabos de fcil identificao pela sua cor.

    O sistema apresenta um circuito de alta tenso que em alguns veculos funciona at 500 volt. Em caso de acidente, podem ocorrer curto-circuitos.

    O mdulo de baterias utiliza electrlitos de hidrxido de potssio, que uma substncia alcalina e txica. Nas situaes em que houver derrame de lquido das baterias, as operaes tm de ser executadas com extremo cuidado. Para alm do mdulo de baterias referido, estes veculos possuem uma bateria convencional de 12 volt.

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    Os veculos hbridos contm instrumentos indicadores especficos nomeadamente indicador de carga do mdulo de baterias, localizado no painel de instrumentos, o que facilita a identificao deste tipo de veculo.

    Na interveno em acidentes que envolvam veculos hbridos fundamental retirar a chave da ignio, sendo esta a nica garantia de que no existe transmisso de energia do mdulo de baterias para o motor.

    O local onde se encontra o mdulo de baterias blindado, no sendo possvel a remoo dos bancos traseiros do veculo.

    Na interveno, os bombeiros no devem tentar manusear o mdulo de baterias, por questes de segurana.

    Na actuao o vesturio de proteco individual deve incluir luvas isolantes(1).

    5.1.3. Vidros

    Na estrutura de um veculo podem encontrar-se diferentes tipos de vidros, aplicados de diversas formas, a saber:

    Vidro laminado este tipo de vidro (fig. 45) tem a particularidade de se quebrar sem se estilhaar porque possui uma faixa de plstico no seu interior.

    Fig. 45 Vidro laminado.

    (1) Consultar o Volume IV - Electricidade.

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    Vidro temperado este tipo de vidro (fig. 46) encontra-se normal-mente nas janelas e culo traseiro dos veculos. Sempre que se quebra desfaz-se em pequenos pedaos.

    Fig. 46 Vidro temperado.

    Actualmente, o pra-brisas dos veculos do tipo laminado.Na maior parte dos casos, os vidros so fixos carroaria dos veculos,

    com uma tira de borracha. Esta montagem (fig. 47) aquela que vulgarmente encontramos nas janelas e no culo traseiro.

    Fig. 47 Vidros fixos com uma tira de borracha.

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    5.1.4. Manuseamento de vidros

    Dependendo do tipo de vidro e da forma como est fixo carroaria, o seu manuseamento assume diferentes formas, a saber:

    Vidros montados com borrachas ou frisos de plstico a remoo dos vidros dos culos traseiros e janelas dos veculos relativamente simples. Basta cortar com uma faca a borracha em volta do vidro e posteriormente remov-lo (fig. 48).

    Fig. 48 Remoo de vidros montados com borrachas.

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    Vidros colados na estrutura estes vidros podero apenas ser cortados com ferramentas especficas. O mtodo utilizado para retirar estes vidros passa pela remoo de uma seco do pilar A, aplicando o corta-vidros (fig. 49) e evoluindo at ao pilar do lado oposto. Estes vidros so utilizados, normalmente, como pra-brisas.

    Fig. 49 Remoo de vidro laminado.

    Vidros das portas o manuseamento dos vidros das portas feito com maior segurana se for possvel baix-los. Coloca-se uma proteco e parte-se o vidro de seguida (fig. 50). Os fragmentos iro cair para dentro da porta, no causando mais problemas.

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    Fig. 50 Remoo de vidro da porta.

    Os vidros que se encontrem colocados no veculo devem ser todos retirados ou partidos (fig. 51) antes de se efectuarem cortes ou o afastamento da estrutura, pelo facto de poderem estar em presso e estilhaarem provocando projeco dos pequenos pedaos. Os vidros das portas que deslizam dentro de calhas devem ser partidos.

    Fig. 51 Colocao de proteco para remoo do vidro.

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    5.1.5. Sistemas de airbag

    Estes sistemas podem possuir um ou mais airbags, dependendo do modelo, tipo ou ano de fabrico de veculo. Os airbags podem estar posicio-nados nos seguintes locais (fig. 52):

    Volante; Porta-luvas; Bancos; Portas; Encostos de cabea; Coluna do volante; Pilares; Pedais; Tejadilho.

    Fig. 52 Exemplos de locais onde esto instalados airbags.

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    O ano de fabrico do veculo importante na identificao dos veculos que podero possuir este equipamento. Actualmente todas as marcas possuem airbags de srie, mas a confirmao sempre importante. A identificao visual , por isso, um precioso auxlio, mas necessrio saber procurar. O indicador mais utilizado a palavra airbag.

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    Os airbags no activados constituem um perigo, j que podem abrir em qualquer momento da operao de desencarceramento e provocar ferimentos, quer na vtima quer nos elementos da equipa de socorro.

    5.1.6. Pr-tensores dos cintos de segurana

    Existem dois tipos de sistemas de pr-tensores dos cintos de segurana (fig. 53): mecnico e pirotcnico. Ambos so activados por sistemas idnticos aos dos airbags.

    Fig. 53 Os pr-tensores tm por finalidade fixar o ocupante do veculo ao banco no momento do embate.

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    A seguir descrevem-se as caractersticas dos referidos tipos de pr- -tensores dos cintos de segurana:

    a) Sistema mecnico

    Este sistema utiliza dois conjuntos de molas tensionadas juntamente e um dispositivo de disparo. Quando disparado pelo sistema de controlo, depois de uma coliso, o cinto de segurana puxado entre 6 a 12 centmetros. O percurso depende da colocao do cinto que poder estar mais ou menos apertado.

    O sistema normalmente montado no banco e no causa problemas equipa de socorro, excepto quando necessrio remover o banco da frente para libertar os membros inferiores do ocupante do banco traseiro.

    Nunca cortar a base do banco com o cinto de segurana colocado na vtima.

    b) Sistema pirotcnico

    Este sistema tem dois locais de aplicao: um deles na fixao do cinto de segurana ao pilar B do veculo; o outro colocado no bloqueio do cinto de segurana no banco. Nos dois casos, o sistema funciona com um cilindro, contendo a mesma substncia propulsora ou similar utilizada nos airbags, o qual acciona um cabo colocado no mecanismo que prende o cinto ao pilar B ou ao bloqueio do cinto no banco. Ambos so activados por um sinal elctrico aps a coliso. Se este sistema no tiver sido activado, dever ser manuseado da mesma forma que um airbag que no est insuflado.

    Nunca se deve efectuar nenhum corte nos pilares sem os desforrar para localizar o sistema que est a abaixo do local de entrada do cinto de segurana no pilar, de modo que o mesmo no seja cortado.

    Os pr-tensores dos cintos de segurana podem possuir limitador de fora G. Este dispositivo tem por finalidade evitar que a energia libertada para o habitculo no momento da coliso seja absorvida pelo ocupante do veculo que se encontra fixo ao banco.

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    5.2. Estabilizao

    Deve ser garantido que o veculo acidentado est seguro. A estabilizao de um veculo acidentado tem como objectivo prevenir movimentaes (fig. 54). Durante a estabilizao, preciso considerar a possibilidade de derrame do lquido da bateria ou de combustvel, bem como de virem a ser activados os airbags ou os pr-tensores dos cintos de segurana.

    Fig. 54 A estabilizao do veculo evita movimentaes desnecessrias.

    Recorda-se que a estabilizao pode ser agrupada em trs grandes grupos: estabilizao do local, estabilizao dos veculos e estabilizao progressiva.

    A principal razo para estabilizar o veculo assegurar que a equipa de socorro ou a vtima no sofrero leses durante a operao de desencar-ceramento. Esta regra dever ser garantida desde o incio da estabilizao e durante toda a operao de desencarceramento.

    Cada acidente diferente. Assim, o objectivo identificar os vrios materiais disponveis para a estabilizao e aplic-los da forma mais prtica e eficaz.

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    A finalidade da estabilizao do veculo acidentado prevenir movimentaes. Para veculos em posies diferentes torna-se necessrio equipamento diferente para a estabilizao.

    5.2.1. Material utilizado na estabilizao de veculos

    Podem ser utilizados diversos equipamentos (fig. 55) na estabilizao de veculos, devendo o procedimento ser ajustado numa relao entre as necessidades e o material disponvel:

    Cunhas; Calos; Blocos; Macacos mecnicos; Almofadas de alta e baixa presso; Guinchos; Macacos hidrulicos; Escoras em madeira; Escoras hidrulicas ou pneumticas; Outro material disponvel.

    Fig. 55 Conjunto de estabilizadores (calos, cunhas e blocos).

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    Consoante a posio em que se encontre o veculo, o material de estabilizao disponvel deve ser usado de acordo com a situao, respeitando os pontos mnimos de estabilizao:

    Veculo em posio normal ou tombado lateralmente quatro pontos de apoio (fig. 56 e 57);

    Fig. 56 Estabilizao do veculo em posio normal.

    Fig. 57 Estabilizao do veculo tombado lateralmente.

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    Veculo em posio de capotado seis pontos de apoio (fig. 58).

    Fig. 58 Estabilizao do veculo capotado.

    Antes de executar a estabilizao planeada, deve ser avaliado se o material disponvel suficiente. fundamental garantir que a aplicao do material de estabilizao no ir interferir nas operaes que se seguiro.

    5.2.2. Estabilizao de airbags e pr-tensores dos cintos de segurana

    Os dispositivos de segurana so aplicados nos veculos com a finalidade de proteger os seus ocupantes. Perante um veculo acidentado necessrio seguir algumas regras de segurana, fundamentais para o sucesso do socorro.

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    Se algum dos airbags no foi activado e se os pr-tensores dos cintos estiverem armados, deve proceder-se de forma a anular estes mecanismos para se trabalhar em segurana. Para tal deve:

    Desligar-se a ignio, retirando a chave; Desconectar-se os dois bornes da bateria. Existem sistemas que tm

    um acumulador de energia, pelo que o sistema poder manter-se activo at 30 minutos depois de se terem desligado os terminais da bateria. Ao tomar-se esta deciso deve valorizar-se o facto de que todos os dispositivos elctricos so desactivados e que o sistema de alarme pode ser activado;

    Nunca se colocar entre a vtima e o airbag no activado, mantendo uma distncia segura e fora da trajectria de actuao deste sistema, ou seja, afastado no mnimo: 50 cm para o do passageiro; 30 cm para o do condutor; 15 cm para os laterais;

    Aplicar o dispositivo de proteco do airbag (fig. 59); Considerar, cuidadosamente, qual a alternativa ao corte de estruturas

    que intervenha directamente com os sistemas; Avisar aquando da utilizao de ferramentas hidrulicas.

    Fig. 59 Dispositivos de proteco do airbag.

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    O tipo de pr-tensor dos cintos de segurana utilizado ou onde est montado nem sempre est bem definido. importante retirar o cinto de segurana das vtimas o mais rapidamente possvel. Se existir dificuldade em solt-lo dever ser cortado em dois pontos, isto , junto:

    Ao pilar B; base do banco.

    Ao libertar o cinto de segurana h que ter ateno para no deixar a vtima escorregar.

    6 Vtimas encarceradas

    6.1. Mecanismos de leso

    A leitura do acidente, bem como a sua interpretao, permite dispor de informao que, ao ser correctamente utilizada, possibilita prever em cerca de noventa por cento as possveis leses de uma vtima de acidente rodovirio.

    O trabalho de investigao efectuado durante a fase de reconhecimento (fig. 60) permite uma rpida localizao de possveis leses que podero comprometer no apenas a vida da vtima mas tambm a sua qualidade. Para tal, necessrio saber onde procurar, sendo este factor to importante quanto saber o que fazer para estabilizar a vtima.

    Para se entender o mecanismo de leso necessrio reter alguns conceitos.Ao efectuar a leitura de um acidente h que considerar trs aspectos:

    Pr-coliso (inclui os factores que antecedem o acidente); Coliso (inclui a cinemtica do trauma, impacto e transferncia de energia); Ps-coliso (inclui os efeitos da transferncia de energia para a

    vtima, com resultados traumticos).

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    Fig. 60 O reconhecimento permite uma avaliao do mecanismo de leso.

    Uma correcta avaliao do mecanismo de leso pode ajudar a prever e a suspeitar de leses disfaradas, conduzindo prestao de um socorro adequado.

    O processo de ler um acidente e determinar quais as possveis leses que uma vtima poder apresentar como resultado das foras e movimento envolvidos referido como cinemtica ou mecnica do movimento.

    A fsica a base a partir da qual este conceito desenvolvido, sendo ento necessrio entender algumas leis.

    A primeira lei de Newton sobre o movimento explica que um corpo em repouso permanecer em repouso e um corpo em movimento permanecer em movimento at ser actuado por uma fora exterior.

    Veculos que embatam numa rvore ou que efectuem uma travagem brusca so exemplos de objectos que foram actuados para interromperem o seu movimento.

    O segundo princpio da fsica que nos interessa diz-nos que a energia no pode ser criada ou destruda, mas sim alterada na sua forma.

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    O movimento dos veculos uma forma de energia. Quando o movimento tem incio ou interrompido a energia transformada, podendo assumir a forma de energia mecnica, trmica, elctrica ou qumica.

    Quando o condutor trava, o veculo desacelerado suavemente. A energia em movimento convertida no calor da frico (energia trmica). Todavia, a maioria da energia produzida pela interrupo brusca do movi-mento ou desacelerao ocorre no motor do veculo (energia mecnica).

    A energia cintica uma funo da massa sobre algo e a sua velocidade.No ser humano, o peso e a sua massa so essencialmente a mesma coisa.A conjugao entre a massa e a velocidade ir definir a energia cintica,

    que ser igual a metade da massa vezes o quadrado da velocidade.

    EC = 1/

    2 m v2

    (energia cintica igual a metade da massa vezes o quadrado da velocidade)

    Esta frmula utilizada apenas para se entender a transformao de energia e perceber que a velocidade factor primordial em detrimento da massa na quantidade de energia cintica produzida.

    Exemplo: 1. Considere-se um indivduo com 75 kg de peso a deslocar-se a uma

    velocidade de 50 km/h. Se esse indivduo circular a 100 km/h no momento da coliso, a sua energia quatro vezes superior. A 150 km/h aumenta nove vezes face da coliso a 50 km/h;

    2. O mesmo indivduo, com 75 kg, sofreu um acidente quando circulava a 72 km/h. Ento, o seu peso passa a representar 15 toneladas.

    No trauma existem dois tipos de fora envolvida em todas as colises: mudana de velocidade e compresso.

    A mudana de velocidade (acelerao ou desacelerao) pode, por exem-plo, causar leses a nvel abdominal quando o movimento do corpo para a frente bruscamente interrompido e os rgos continuam o seu movimento.

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    As leses por compresso, provocadas por colises violentas e foras de esmagamento, podem ocorrer na estrutura externa ou interna do corpo humano. Por exemplo, a compresso de rgos torcicos entre o esterno e a coluna vertebral, provocando uma contuso cardaca, poder causar disritmia ou outras leses, tais como contuso pulmonar ou pneumotrax.

    Numa coliso, a energia libertada inicialmente absorvida pela estrutura deformvel do veculo. As estruturas deformveis so desenhadas de forma a dirigir a energia absorvida para fora do habitculo. Se a energia libertada for superior capacidade de absoro do veculo, o resultado ser a deformao do habitculo. Quanto maior for a energia libertada, maior ser a invaso do habitculo, com o consequente aumento das leses da vtima encarcerada.

    O trabalho de investigao efectuado na leitura do acidente permite estabelecer prioridades, no apenas na triagem de vtimas, mas tambm no estabelecimento de critrios de actuao no socorro a vtimas de trauma (fig. 61). Para completar a leitura do acidente necessrio identificar os indicadores de alta energia de trauma. Estes esto internacionalmente normalizados e permitem estabelecer critrios de gravidade.

    Fig. 61 A leitura do acidente permite estabelecer prioridades na prestao do socorro.

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    Considere a existncia de leses graves se, ao efectuar a leitura do acidente, detectar algumas das seguintes situaes ou uma combinao das mesmas:

    Coliso a uma velocidade superior a 35 km/h sem cinto de segurana; Coliso a uma velocidade superior a 45 km/h com cinto de segurana; Veculo afastado mais de sete metros para alm do ponto de coliso; Invaso do habitculo pelas rodas ou motor; Deformao do volante; Deformao do habitculo: superior a 35 cm do lado da vtima e

    superior a 50 cm do lado oposto; Recuo do eixo dianteiro do veculo; Marca (estrela) no pra-brisas causada pela vtima; Cabelos e/ou sangue no espelho retrovisor; Veculo capotado; Vtima projectada do veculo; Encarceramento fsico tipo II; Deformao do habitculo (longarina, tejadilho ou pilar B).

    6.2. Prestao de socorro vtima encarcerada

    Os procedimentos relativos prestao dos cuidados de emergncia so referidos nos cursos de Tripulante de Ambulncia de Transporte e de Tripulante de Ambulncia de Socorro. No obstante, neste volume sero referidos, recorrendo aos mesmos conceitos e terminologia, alguns procedi-mentos importantes.

    A abordagem da vtima a base da prestao de um socorro de qualidade.A vida de uma vtima depende do trabalho em equipa de todos os

    intervenientes na prestao do socorro. necessrio que trabalhem em conjunto, cada um cumprindo a sua tarefa, tendo todos como prioridade a correcta prestao do socorro.

    A avaliao da vtima deve ser efectuada de forma ordenada e dada prioridade s situaes das quais possa resultar a perda da vida.

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    Assim, o primeiro objectivo determinar o estado das vtimas. Todas as ameaas vida da vtima devero ser encontradas e corrigidas, como por exemplo o controlo de hemorragias externas graves ou o incio das manobras de reanimao.

    As leses que a vtima possa apresentar devero ser identificadas e corrigidas antes de a movimentar. Tudo isto dever ser efectuado de forma rpida e eficiente.

    A simples observao do local da ocorrncia dar informaes que iro influenciar a abordagem vtima. Qualquer vtima numa situao de perigo iminente deve ser removida para uma zona de segurana.

    A actuao dever ser executada de forma estruturada e estabelecendo prioridades. O factor tempo essencial nessa actuao. O conceito de perodo de ouro refere que o tempo til para a aplicao do tratamento definitivo numa unidade hospitalar varia de vtima para vtima com base nas leses apresentadas. A actuao pr-hospital crucial em todo o processo pelo que a prestao do socorro no local do acidente, para avaliar e estabilizar a vtima, no dever exceder os dez minutos, denominados platinium ten (dez minutos de platina).

    A prestao dos cuidados de emergncia dever observar a seguinte orientao:

    Verificar as condies de segurana; Avaliar o estado da conscincia; Garantir a permeabilizao da via area e, ao mesmo tempo, iniciar

    a estabilizao da coluna cervical; Pesquisar se a ventilao est presente e adequada e, se necessrio,

    administrar oxignio s vtimas; Pesquisar sinais de circulao, controlar qualquer hemorragia externa

    grave e pesquisar sinais evidentes de choque; Avaliar o nvel de conscincia, efectuando o exame neurolgico

    sumrio; Expor as vtimas e considerar a possibilidade de hipotermia.

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    Em todos os acidentes, especialmente se estes envolverem coliso violenta, o corpo da vtima sujeito absoro de uma quantidade massiva de energia durante a desacelerao. Esta cria uma situao instvel para a coluna cervical. O facto da cabea embater na estrutura do veculo, ir determinar a gravidade das leses na cabea e pescoo. Perante esta situao, deve ser assumido que todas as vtimas apresentam leses da coluna cervical e que apenas em ambiente hospitalar possvel confirmar que no existem leses vrtebro-medulares.

    Quando efectuada a permeabilizao da via area fundamental, em vtimas de trauma, proceder da seguinte forma:

    Estabilizar o pescoo (fig. 62) e, logo que possvel, aplicar um colar cervical; Manter a cabea numa posio anatomicamente correcta; Nunca forar qualquer movimento da cabea ou pescoo.

    Mesmo que uma vtima esteja agitada ou no colaborante deve sempre assumir-se que esta apresenta leses. Se as vtimas recusam auxlio existe uma razo para tal, j que a maioria requer ajuda quando corre perigo.

    Fig. 62 Estabilizao da cabea e coluna cervical.

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    Durante o exame, deve determinar-se quando que a vtima perdeu a conscincia, durante quanto tempo, quantas vezes, que substncias perigosas podem estar envolvidas e se existem condies anteriores ao acidente que possam ter produzido alterao do estado de conscincia ou um comporta-mento anormal da vtima. As pupilas so um indicador fundamental na avaliao da funo cerebral nesta fase.

    Na abordagem da vtima de trauma, torna-se necessrio cortar ou remover total ou parcialmente a roupa da vtima de forma a encontrar possveis leses escondidas. Mas, o processo de exposio da vtima deve ser feito tendo em conta alguns aspectos, nomeadamente: apenas as partes necessrias devem ser expostas a fim de evitar a descida da temperatura corporal; deve ser um processo breve de forma a garantir a privacidade da vtima.

    O socorrista no dever ter problemas em cortar a roupa da vtima se esta for a nica forma de proceder a uma avaliao completa. No interior da ambulncia o exame poder ser completado.

    importante assegurar que a vtima est protegida da exposio ao vento e frio (fig. 63). Aps a avaliao, a vtima dever ser protegida para manter a temperatura corporal.

    Fig. 63 Proteco da vtima dos factores ambientais.

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    Se o acidente foi suficientemente grave para causar o encarcera-mento de um dos ocupantes do veculo, deve sempre assumir-se que os outros ocupantes no esto isentos de leses, at prova em contrrio em ambiente hospitalar. Leses esquecidas ou complicaes retardadas podero ser fatais para as vtimas.

    7 Tcnicas normalizadas para criao de espao

    As tcnicas descritas a seguir tm por finalidade normalizar os procedi-mentos na criao de espao.

    7.1. Remoo do tejadilho

    A remoo do tejadilho a tcnica utilizada para criar o acesso a todo o espao do habitculo do veculo, de forma a ser possvel prestar os cuidados de emergncia s vtimas.

    Existem quatro tipos de manobras para a remoo do tejadilho, cada uma com as suas vantagens, dependendo a escolha do tipo de acidente, posio dos veculos e localizao das vtimas:

    Remoo parcial: Remoo retaguarda; Remoo frontal; Remoo lateral; Remoo total.

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    7.1.1. Remoo retaguarda

    Este o procedimento mais utilizado quando a vtima se encontra nos lugares da frente.

    Depois de todos os vidros terem sido removidos, cortam-se os pilares A e B de ambos os lados do veculo (fig. 64) e efectuam-se cortes parciais no tejadilho junto aos pilares C (fig. 65).

    Ao efectuar os cortes do pilar B importante assegurar que os cintos de segurana esto cortados de forma a garantir que a vtima no fique presa.

    Fig. 64 Corte dos pilares A e B de ambos dos lados do veculo.

    Fig. 65 Cortes parciais no tejadilho junto aos pilares C.

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    A manobra de levantamento do tejadilho deve ser executada com auxlio de uma precinta (fig. 66), nunca descurando a segurana da vtima e dos operadores (fig. 67).

    Fig. 66 Aplicao das precintas no tejadilho.

    Fig. 67 Levantamento do tejadilho para a retaguarda.

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    7.1.2. Remoo frontal

    Esta uma opo que se utiliza, por exemplo, num acidente em que um veculo pesado de mercadorias colide com um ligeiro, ficando este sob o pesado, ou quando o pra-brisas de vidro laminado, estando colado estrutura, o que dificulta o seu manuseamento.

    Nestes casos, a tcnica de extraco a utilizar a frontal. Cortam-se os pilares B e C de ambos os lados do veculo (fig. 68), efectua-se um corte estratgico no tejadilho junto ao pilar A de ambos os lados do veculo (fig. 69).

    Fig. 68 Corte dos pilares B e C de ambos dos lados do veculo.

    Fig. 69 Cortes parciais no tejadilho junto dos pilares A.

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    De seguida, levanta-se o tejadilho para a frente (fig. 70) ficando este sobre o capot do veculo, fixando-o com uma precinta (fig. 71).

    Fig. 70 Levantamento do tejadilho para a frente.

    Fig. 71 Fixao do tejadinho, na frente do veculo, com uma precinta.

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    7.1.3. Remoo lateral

    Quando o veculo foi envolvido num acidente com coliso lateral ou quando se encontra numa posio que no permita o acesso da equipa de socorro a um dos lados do veculo, nomeadamente se estiver tombado lateralmente, pode optar-se pela remoo lateral.

    Para se executar esta tcnica, so cortados os pilares A, B e C de um dos lados do veculo (fig. 72) e efectuados cortes estratgicos no tejadilho junto aos pilares A e C do lado oposto (fig. 73).

    Fig. 72 Corte dos pilares.

    Fig. 73 Cortes estratgicos no tejadilho.

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    Efectuados os cortes estratgicos, no esquecendo o corte de todos os cintos de segurana, procede-se ao levantamento lateral do tejadilho (fig. 74), fixando-o de seguida.

    Fig. 74 Levantamento lateral do tejadilho.

    7.1.4. Remoo total

    Esta tcnica sempre aplicada como uma evoluo da remoo parcial, tendo como vantagem o facto de possibilitar a remoo total do tejadilho.

    Aps o tejadilho ter sido removido para a frente, para trs ou lateral-mente ento possvel cort-lo completamente, efectuando cortes nos pontos que fixam o tejadilho restante estrutura (fig. 75).

    Fig. 75 Cortes nos pontos que fixam o tejadilho.

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    Efectuados os cortes a equipa procede remoo do tejadilho para o depsito dos destroos (fig. 76), libertando o espao da envolvente da vtima de obstculos.

    Fig. 76 Remoo do tejadilho para o depsito de destroos.

    Deste modo, fica a equipa de salvamento com acesso s vtimas por qualquer dos lados do veculo (fig. 77).

    Fig. 77 O espao criado aps a remoo do tejadilho permite uma melhor avaliao da vtima.

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    7.2. Abertura forada das portas

    Esta manobra destina-se a criar um acesso rpido vtima, possibili-tando a execuo do seu exame ou a prestao de cuidados de emergncia.

    A tcnica de abertura forada da porta pode ser efectuada de duas formas: pela fechadura ou pelas dobradias.

    7.2.1. Abertura forada das portas pela fechadura

    Quando a porta no abrir, por estar presa devido deformao da estrutura, deve utilizar-se o expansor para forar a sua abertura.

    Se no houver qualquer espao para colocar as pontas do expansor junto da fechadura, de modo a poder rebent-la, abre-se o expansor e coloca-se um brao por dentro e outro por fora do veculo. De seguida, aperta-se na estrutura do painel, acima da fechadura, criando uma abertura para introduzir as pontas do expansor o mais junto possvel da fechadura (fig. 78).

    Fig. 78 Abertura forada da porta pela fechadura.

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    Depois de abrir a porta e se no se pretender remov-la, fundamental fix-la com uma precinta de forma a garantir que esta no volta sua posio inicial, podendo provocar leses vtima ou equipa de socorro.

    7.2.2. Abertura forada das portas pelas dobradias

    Para efectuar a abertura forada da porta pelas dobradias necessrio que o operador da ferramenta coloque o expansor entre o pilar e a porta. Para o conseguir a manobra inicia-se com a remoo do guarda-lamas (fig. 79).Em seguida o expansor dever ser colocado, se possvel, ao centro das dobradias. Se isso no for possvel, deve coloc-lo junto de cada uma alternadamente, partindo-as, sem obrigar a porta a subir demasiado ou a apoiar-se no solo, de forma a no interferir com a estabilizao do veculo.

    fundamental ter ateno projeco da porta, no permitindo que nenhum elemento se coloque em local que possa ser atingido pela mesma.

    Fig. 79 Abertura forada da porta pelas dobradias.

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    7.3. Afastamento do tablier

    A manobra de afastamento do tablier e volante permite, de uma forma rpida, criar espao junto ao trax, regio plvica e membros inferiores da vtima.

    Para executar esta tcnica fundamental efectuar um corte total na base do pilar A (fig. 80), de forma a enfraquecer a estrutura, permitindo o movimento do tablier para cima ou para a frente.

    Fig. 80 Corte total do pilar A.

    Antes de iniciar esta manobra, deve proceder-se estabilizao da base de apoio da ferramenta de forma a garantir a eficcia da mesma (fig. 81).

    Fig. 81 Estabilizao da base de apoio.

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    O afastamento do tablier pode ser efectuado com recurso ao expansor (fig. 82) ou ao extensor (fig. 83).

    Fig. 82 Afastamento do tablier com o expansor.

    Fig. 83 Afastamento do tablier com o extensor. A Utilizando como base de apoio o suporte do extensor; B Utilizando como base de apoio o expansor.

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    7.4. Abertura do painel lateral

    Quando no possvel ter acesso aos membros inferiores da vtima devido deformao da estrutura, a execuo da abertura do painel lateral constitui uma forma para visualizar se estes esto presos.

    Aps o afastamento do guarda-lamas (fig. 84) efectuam-se dois cortes no pilar A, um na base e outro o mais junto possvel ao tablier, garantindo que o pilar cortado na sua totalidade (fig. 85).

    Fig. 84 Afastamento do guarda-lamas.

    Por ltimo, coloca-se o expansor aberto entre os dois cortes e aperta-se o painel, roda-se a ferramenta para a frente do veculo, criando uma abertura no painel lateral (fig. 86).

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    Fig. 85 Cortes no pilar A e aplicao do expansor.

    Fig. 86 Abertura do painel lateral, visualizao dos membros inferiores da vtima e afastamento dos pedais.

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    7.5. Abertura da terceira porta

    A abertura da terceira porta uma manobra muito importante e de grande eficcia quando se pretende efectuar uma remoo da vtima 3/

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    retaguarda num veculo de 3 portas ou na criao de espao adicional para manobras especficas como, por exemplo, o corte das costas de um banco.

    Inicialmente deve expor-se a estrutura, desforrando-a com uma ferramenta manual e verificando qual a zona acessvel a cortar.

    Efectua-se um corte com a tesoura junto ao pilar C e, de seguida, prolonga-se esse corte com o machado force at base do pilar B (fig. 87).

    Fig. 87 Abertura da terceira porta utilizando a tesoura e o machado force.

    Finalmente, corta-se com a tesoura o pilar B e as barras de reforo, removendo-se toda a estrutura seccionada.

    Outra tcnica possvel para esta manobra consiste em efectuar um corte com a tesoura na base do pilar B, outro junto ao pilar C e de seguida, utilizando um expansor, procede-se ao afastamento (fig. 88). Esta tcnica mais rpida, mas exige uma proteco completa da estrutura removida.

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    Fig. 88 Abertura rpida da terceira porta.

    7.6. Remoo do tejadilho e da lateral de um veculo de quatro portas

    O objectivo desta manobra criar espao a todo o comprimento do veculo. Para a executar deve proceder-se da seguinte forma:

    Efectuar a remoo parcial do tejadilho, podendo evoluir para a total; Levar a cabo a abertura forada da porta da fre