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SAUDADE DO FUTURO DA EPOPÉIA PORTUGUESA: UM CAMINHO PELA
PEREGRINAÇÃO DE BARNABÉ DAS ÍNDIAS, DE MÁRIO CLÁUDIO
Carlos Eduardo Soares da Cruz – UFRJ
Resumo: O presente artigo pretende mostrar, a partir da análise do romance de Mário Cláudio,
Peregrinação de Barnabé das Índias, como se dá a revisão historiográfica proposta por ele, qual sua
motivação e o meio escolhido para tal. A mitologia da saudade como elemento caracterizador da
identidade portuguesa é usada como arcabouço para a análise e para essa revisão do passado que
aponta um outro futuro possível em meio ao caos do capitalismo avançado.
Palavras-chave: Revisão Historiográfica; Saudade; Identidade Nacional Portuguesa
Abstract: The present article intends to show how the historiographical revision proposed by Mário
Cláudio in his Peregrinação de Barnabé das Índias takes place. What is the motivation for this
revision and what is the way chosen for it. The mitology of the saudade that characterizes the
Portuguese identity is used as framework for this analisys and for this revision of the past pointing out
for a different future in the chaos of the advanced Capitalism.
Keywords: Historiographic Revision; Saudade; Portuguese National Identity
Quando se pensa nas Grandes Navegações que marcaram os séculos XV e XVI com
portugueses cortando oceanos e “dando novos mundos ao mundo”, é difícil não se lembrar
d’Os Lusíadas, de Camões, que canta a epopéia lusitana. Entretanto, não é desse heroísmo
que trata o romance Peregrinação de Barnabé das Índias (1998), de Mário Cláudio (1941-),
mas, como o próprio título indica, de uma peregrinação, concedendo um sentido religioso ao
descobrimento do caminho marítimo para as Índias.
O que o título não diz é que não se trata apenas da ida ao Oriente, e sim de muitas
viagens. Além disso, tal como Os Lusíadas não é apenas a história de Vasco da Gama, mas de
todos os portugueses, a peregrinação apresentada no romance não é só a de Barnabé, mas a do
país como um todo.
Portugal vive um momento de crise com o fim do seu império colonial, começado
quinhentos anos antes. A própria negação desse passado expansionista, levada a cabo na
Literatura Portuguesa desde o Romantismo, denota a problemática que envolve esse assunto.
É em momentos assim que se deve olhar para o passado e revê-lo. Walter Benjamin diz que
em momentos de perigo deve-se olhar para trás em busca de uma centelha de esperança, pois
o presente é messiânico e redime o passado. Diz ele: “Sem dúvida, somente a humanidade
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redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado” (BENJAMIN, 1994, p. 223). Dessa
forma, para vencer o estado decadente em que se encontra, Portugal precisa rever seu passado
e apropriar-se dele em sua totalidade. Afinal, se a atualidade assombra, então é precisa uma
nova concepção de História, pois a existente é a que justifica tal situação.
O que Mário Cláudio parece fazer em Peregrinação de Barnabé das Índias é
justamente rever a época das navegações portuguesas, mostrando uma nova versão para a
viagem inaugural do caminho marítimo para as Índias. Agora há novos “varões assinalados”.
Não apenas os grandes vultos da História oficial como reis e capitães de esquadras, mas os
personagens do povo. A epopéia a ser contada não é mais apenas a marítima, mas a do
conhecimento de si mesmo.
Talvez esta seja a maior dificuldade do homem na crise do capitalismo avançado.
Vivendo em uma época em que nem a ciência nem a metafísica apresentam respostas para a
catástrofe única que é a história da civilização, o homem tem uma existência contingente, sem
saber ao certo quem se é e qual seu lugar no mundo. Então, a maior epopéia não é a da
viagem ao oriente, mas a própria vida moderna. Se em uma peregrinação busca-se algum tipo
de conhecimento interior a partir de uma elevação espiritual, a Peregrinação de Barnabé das
Índias mostra a busca pelas Índias internas e de seu lugar no mundo. O mesmo deve acontecer
com Portugal, que precisa encontrar sua nova missão no mundo globalizado.
Essa redenção do passado mostra que a peregrinação a ser feita realmente não é apenas
física, mas é também pela alma portuguesa. Esse é o espírito que Barnabé acaba por encarnar
muito bem ao unir a vida de navegante à saudade dos que ficam, como se vê no trecho abaixo:
acariciando o amuleto que lhe roçava a pele, tão áspera pela salsugem como
amaciada pelos dedos da que jamais o beijara, gritou em silêncio Barnabé
por quantos se plantam no cais donde os navios partem, ignorando que
destino se impõe conferir à sinuosa peregrinação das lágrimas a derramar
(CLÁUDIO, 1998, p.191).
A saudade parece ser o sentimento que melhor caracteriza a alma portuguesa. Logo, ao
rever o passado nacional, não poderia ficar de fora esse aspecto identitário dos portugueses.
Inclusive porque, segundo Hall (2005), as identidades estão em crise na contemporaneidade.
Aliás, segundo sua concepção, a idéia de uma identidade nacional unitária nunca foi muito
verdadeira, tanto que Portugal era formado por cristãos, árabes e judeus, mas apenas os
cristãos-velhos seriam representados por essa lusitanidade. Sendo assim, é preciso ater-se a
uma concepção mais ampla para caracterizar os portugueses e a ligação com a saudade parece
ser a escolha instintiva.
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De qualquer forma, segundo Mercer (1990), só se traz o enfoque identitário à
discussão ao perceber-se que a identidade está em crise. É justamente isso que parece dominar
Portugal nos últimos anos do século XX. Juntando-se ao fim do império colonial após a
redemocratização em 1974, há o ingresso em 1986 na então Comunidade Econômica
Européia, atual União Européia. Associar-se a um bloco continental que visa a extinção de
fronteiras político-econômicas e o intercâmbio cultural e de pessoas vai ajudar a diluir ainda
mais as características que identificam a nacionalidade portuguesa. Sobretudo sendo esta uma
união à Europa, onde Portugal sempre teve dúvidas se pertencia ou não por não se sentir tão
culturalmente ligado a ela, e por ter ingressado conjuntamente com a vizinha Espanha,
inimiga histórica e contra quem teve que lutar diversas vezes para manter-se independente.
De modo a resgatar a identidade cultural portuguesa, Mário Cláudio aproveita a
celebração dos quinhentos anos da descoberta do caminho marítimo para as Índias. Aliás,
Portugal inteiro parece de alguma forma querer assumir-se como oceânico mais uma vez em
1998, tanto que Lisboa sedia a Exposição Mundial daquele ano, cujo tema não poderia ser
outro senão os oceanos. É em meio a esse clima de volta ao passado marítimo português para
assumir-se como nação cultural e identitariamente independente que o autor publica seu
Peregrinação de Barnabé das Índias, escrito no ano anterior.
O uso do passado como forma de melhor se preparar para o futuro é o que melhor
define a saudade. A saudade do passado não é apenas nostalgia do que já passou ou um desejo
romântico de retorno a uma época melhor, mas uma motivação para o futuro. É essa a
saudade presente nesse romance de Mário Cláudio, que, buscando um Portugal melhor e mais
seguro de si para o futuro, volta ao passado revendo-o e dando ao povo o controle de sua
História. Assim, tal como o romance, que acaba com “as luzes”, espera-se iluminar o futuro
de Portugal, que estaria ainda “encoberto”. Afinal, segundo Eduardo Lourenço, a saudade é
mais do que simples manifestação da memória. Ela é uma outra maneira de ser presente no
passado, ou de ser passado no presente, enquanto a memória é a autonegação do presente. “A
saudade não é da ordem da representação, mas da pura vivência” (LOURENÇO, 1999, p. 33).
Assim, Barnabé não nega o presente, mas procura uma vivência do passado em suas
visitas a Vasco da Gama. O jovem de Ucanha, atravessando a nevasca para visitar o velho
Vasco da Gama, lembra um peregrino caminhando por caminhos difíceis e tortuosos numa
longa jornada. Da mesma forma é a leitura desse romance, que foge à linearidade e por vezes
confunde o leitor mais inocente. É preciso estar atento e reparar nos sinais, pois o itinerário é
lento e sofrido, como a sinuosa peregrinação das lágrimas. Afinal, a viagem é interior e o
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caminho é o da vida toda. O que se busca é a salvação, mas o destino acaba por ser a morte,
como podemos perceber na epígrafe do romance:
De ti se servem, ó morte, inimiga nossa, para alcançar a alegria, tu, que és a
mãe do infortúnio; adversária da glória, ao serviço da glória é que te
colocam; de ti se servem, porta do Inferno, para entrar no Reino; de ti,
abismo da perda, para atingir a salvação (CLÁUDIO, 1998, p.11).
A morte é o sinal do heroísmo e é, portanto, utilizada como caminho para atingir a
alegria, a glória e a salvação. Contudo, deve-se alcançar esses objetivos sem que seja preciso
morrer, pois a alegria esperada é viver bem, a glória é vencer, e a salvação é a vida eterna.
Preso ao paradoxo apresentado no estilo de vida segundo a epígrafe, encontramos
Vasco da Gama no primeiro capítulo. Ele tem a glória de ter feito o caminho das Índias, mas
está esquecido. Vive longe da corte, e é alvo da inveja dos vizinhos. Sua única alegria é
verificar vezes e vezes o que ganhou com tal expedição. Entretanto, sabe que lhe falta algo.
Como não morreu heroicamente, não atingiu o que a epígrafe promete aos que da morte
fazem uso. Por outro lado, é como se já estivesse morto, apesar de ainda viver. Um velho no
inverno apenas espera “que se lhe cumpra o destino de velho” (CLÁUDIO, 1998, p. 13).
Muito diferente está dos heróis apresentados por Camões, “que por obras valerosas
se vão da lei da Morte libertando” (CAMÕES, 2002, I, 2). Quem vem tirá-lo dessa letargia é
Barnabé, através da rememoração de obras passadas. Porque somente com a aquisição do
passado glorioso é que se pode libertar do medo da morte e alcançar a alegria, a glória e a
salvação.
É essa ligação ao passado que impulsionará Vasco da Gama à sua própria
peregrinação. Tanto que é por ter esquecido o que não poderia esquecer que o interpela
Barnabé. Aliás, o próprio narrador heterodiegético também precisa voltar ao passado
remexendo em suas memórias, como se narrasse a partir de outro tempo. O uso do verbo na
primeira pessoa utilizado pelo narrador em alguns fragmentos pode confundir o leitor
intuindo-o a pensar que é de algum personagem esse discurso, tal como no primeiro capítulo
encontramos a passagem “um velho no Inverno é isto que conto...” (CLÁUDIO, 1998, p. 14).
Contudo, tanto num caso quanto no outro, não é possível associar o narrador a nenhum dos
personagens do romance. O que poderia remeter a Barnabé como narrador do segundo
capítulo é desfeito logo a seguir, quando a ele se refere como uma terceira pessoa: “Corre este
garoto chamado Barnabé com uma mancheia de canalha da sua criação” (CLÁUDIO, 1998, p.
46).
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De qualquer forma, o narrador heterodiegético não é o único presente no romance.
Barnabé contará parte de sua história em alguns trechos do romance, nomeadamente o
primeiro e o terceiro fragmentos do terceiro capítulo, e o primeiro, terceiro, quinto e sétimo
fragmentos do capítulo “As Cordas”. Além dele, o próprio Vasco da Gama também terá voz
ao buscar em sua memória as lembranças do passado, apesar de não serem mais parte de seu
pensamento.
Como se pode perceber, o narrador heterodiegético utilizado por Mário Cláudio
conhece bem o passado, tanto que se lembra dele, e também sabe das tradições do povo do
seu país, tanto cristãos quanto judeus. Além disso, por ser, antes de tudo, uma narrativa de
viagem, conta sobre acontecimentos e costumes de terras distantes. Sendo assim, aproxima-se
do narrador ideal, segundo Walter Benjamin (1994), que consegue aliar o local e o distante,
como cabe aos narradores comerciantes de antigamente. Nada mais acertado, visto que, apesar
de ser contemporâneo e como tal não ter experiências a narrar, ele propõe um retorno ao
passado e à grande tradição portuguesa do comércio marítimo.
Atravessar o texto descortinando as nuances dessa narrativa, que ora parece tranqüila
como o oceano em calmaria e ora apresenta sobressaltos como a travessia do Cabo das
Tormentas, é parte da peregrinação que o leitor deve fazer para melhor entendimento de si
mesmo. Somente assim é possível compreender o grande feito do passado para que se busque
um novo rumo na carta de marear que leva ao futuro.
Essa travessia liga os dois capítulos iniciais aos dois finais. Assim pode-se perceber a
grande mudança que vai acontecer no decorrer do romance. Observando-se os títulos desses
capítulos – “As Neves”, “Os Demónios”, “As Pombas”, “As Luzes” – pode-se perceber a
diferença antitética entre os pares: neves x luzes e demônios x pombas.
No princípio, o frio, as cinzas e a velhice dominam o campo semântico do romance,
em contraste com o final, luminoso, quente e novo. Não sem antes passar pelos capítulos que
lhes são contíguos. Enquanto demônios remetem-nos à idéia de inferno, desgraça, maldade,
problemas, as pombas passam a imagem celestial de pureza, leveza, paz, bondade. Ambas são
figuras muito presentes no imaginário católico com o maniqueísmo entre Céu e Inferno.
Sendo este representado pelo diabo e outras figuras demoníacas, e aquele por Deus e seus
anjos, figuras aladas. Além disso, é importante lembrar que na simbologia católica o Espírito
Santo é também representado por uma pomba.
Logo, a partir do índice, o leitor já pode esperar uma mudança na situação vigente.
Mas quem passará por essa transformação? Diferentemente do imaginado, não é mais Vasco
da Gama o personagem principal, mas o desconhecido Barnabé. Pelo título já se sabe que é
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ele quem fará a peregrinação. A diferença não está na travessia geográfica, já que os dois a
fazem. O problema é que não basta percorrê-la só no exterior. É preciso fazer a viagem
interior também, pois a maior e verdadeira é a do descobrimento de si mesmo. Além disso,
para alcançar essa paz interna, simbolizada pela pomba, é necessário não temer mais a morte.
Vasco ainda não logrou livrar-se do medo, por isso sua peregrinação não se completou,
enquanto a de Barnabé teve êxito.
De qualquer forma, a vida dos dois estará unida após o caminho para as Índias.
Vasco, que sempre dependeu do suporte do irmão Paulo da Gama, acaba descobrindo com a
visita de Barnabé que ainda possui um irmão. Paulo pode ter morrido antes de retornar a
Portugal, mas laços fortes foram dados ligando Vasco ao jovem de Ucanha. Somente assim
será possível que o almirante siga sua peregrinação.
Essa conexão entre os dois é primordial para compreender o que une esse romance
fragmentado. Estabelecer essa união é tarefa do leitor e a este também há anjos e amuletos
para ajudar. Os quatro capítulos que se ligam no princípio e no fim possuem uma
característica estrutural que os distingue dos demais. Cada um deles começa com um período
marcado por uma oração nominal.
Essas orações com predicado nominal parecem fugir à narrativa, já que nada é
efetivamente narrado. Não há uma ação propriamente dita, apenas união de idéias. A
peregrinação apresentada não é exatamente o percurso que se faz, mas o conhecimento de si
mesmo. Por isso, começar os capítulos que ligam os pontos desse caminho com predicados
nominais vai ressaltar que o mais significativo não é a ação praticada, mas no que ela torna
aquele que a pratica.
Assim, o uso de verbos de ligação vai reinstaurar o princípio da peregrinação. Tal
como no seu sentido religioso no qual o caminho é percorrido para que o peregrino aproxime-
se mais do divino, entrelaçando sua vida terrena à espiritual, essa nova também será para a
ligação. Nesse romance, Mário Cláudio mostra várias conexões. O que se liga não é apenas as
vidas de Vasco da Gama e de Barnabé, mas também o princípio e o fim, o círculo do tempo,
do passado ao futuro, além de unir todos os portugueses, de origens religiosas diversas e com
diferentes idéias e discursos. Inclusive, isso tudo é feito com um forte vínculo à tradição da
Literatura Portuguesa.
Essa ligação à Literatura vai aumentar o diálogo da obra de Mário Cláudio com as
artes. Em seus romances anteriores ele parecia buscar uma confluência das marcas de outras
expressões artísticas na palavra escrita (CALVÃO, 2000). Nesse, o diálogo é com a tradição
literária que a confluência se dá. Se antes ele buscava inspiração na música, na pintura e no
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artesanato para construir sua narrativa, agora ele vai aos relatos de viagem em busca de um
modelo para sua própria arte. Assim sendo, parece ter se inspirado no ritmo da narração de
Fernão Mendes Pinto. Quando se lê os fragmentos narrados por Barnabé (o mesmo pode ser
visto no capítulo narrado por Vasco da Gama, mas com menos intensidade) percebe-se um
novo ritmo, mais fluido. Isso institui assim uma sucessão aparentemente desconexa de frases
e orações separada apenas por vírgulas, muitas, em períodos extensos que ocupam a
totalidade, ou quase, de parágrafos longos. Essa parece ser uma característica de
Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, como se pode atestar pelo comentário de Menéres na
edição por ela atualizada:
Actualizei pois o sistema de pontuação. Respeitei, no entanto, a virgulação
intensa do autor, que me deu sempre a ideia de implicar numa sucessão
fluente, imparável, de coisas, factos, situações, e nos é não só visível sinal de
acumulação, mas também de inúmeras circunstâncias, sinal de propositada
insistência incisiva, colorida – acumulação e insistência que ao longo de
todo o texto nos deixam algum muito e algum como da comunicação de
Fernão Mentes Pinto (MENÉRES, 1980, p. XIV).
É justamente relembrando a acumulação que faz ligação entre Barnabé e o capitão
que o romance começa. Aproximando-se da morte, tanto que parece já ter sido esquecido
apesar de ainda viver, encontramos Vasco da Gama. Ele está afastado da luz vital que atira os
homens ao futuro, mas não consegue livrar-se de sua velhice interior. Isso porque ele não foi
capaz de fazer a peregrinação em sua jornada à Índia. Logo, não adianta seguir em frente, ou
continuará velhaco preso à cobiça em que passa seus dias, averiguando títulos e dividendos -
uma crítica ao pensamento capitalista de acumulação monetária e de mercantilização da vida.
A ele cabe recordar a viagem para refazê-la em seu interior. Quem o impulsionará nessa
aventura é Barnabé com sua visita. Sua chegada pára o envelhecimento, aparta-o da morte e
aquece-o, pois ao chegar as neves cessam de cair.
No entanto, para afastar a morte e as sombras de sua vida, Vasco precisa vencer seus
medos e relembrar velhas lições. Isso parte da tentativa de retorno à infância. Lá ele decorou
um lema que vai acompanhá-lo por toda a vida: “Discite justitiam moniti, et non temuere
divos, non temuere divos, non temuere divos” (CLÁUDIO, 1998, p. 18). Esse verso, retirado
da Eneida, de Virgílio, vai inspirar a peregrinação do almirante.
Aprender a ser justo e não tentar os deuses é um duro aprendizado. Por mais que
Vasco o tenha decorado, ainda não soube colocá-lo em prática, além de tentar seus próprios
medos, seus próprios demônios, pintando em sua casa a hidra que tanto teme. Ele guarda para
si a honra de ter descoberto sozinho o caminho para as Índias. Quando, no fundo, só o fez por
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ter tido sempre o apoio de seu irmão Paulo, o mesmo que lhe segredava esses versos durante a
infância. Também deve graças aos que o acompanharam nessa empreitada, principalmente a
Barnabé, que agirá como uma espécie de guia no retorno. Ainda mais, sem os conhecimentos
previamente adquiridos, como as cartas de marear do lado oriental da África conseguidas
pelos espiões judeus do rei, não teria obtido sucesso.
Como esperado, a volta à infância não é satisfatória. Essa tentativa de fuga não logra
os resultados esperados. O simples regresso ao passado não é suficiente, pois, por mais que
tudo sempre volte, como no Eterno Retorno de Nietzsche (2005), não retorna idêntico, mas
apenas semelhante. Dessa forma, a simples repetição do acontecimento passado não causará o
mesmo efeito, pois somente sob aquelas circunstâncias será o mesmo. Dessa forma, ao voltar
à sua realidade presente na narrativa, um velho no inverno, fica preso em seu tempo sem vida.
Sem os delírios da memória e a febre de futuro:
Um velho no Inverno aguarda a hora da ceia, e nisso se impacienta, e da
defesa contra as neves que não param de cair deriva ele a coragem de
arrostar com a velhice. Esgotou o delírio da memória e a febre do futuro,
remeteu-se a si mesmo e ao novelo das desilusões que vai acarretando
(CLÁUDIO, 1998, p. 31).
Afinal, ele ainda vive com seus fantasmas interiores e seus medos. Mesmo após
muitos anos desde a viagem, ainda teme a hidra: A intervalos pendia a crer que no subterrâneo
de si mesmo é que o monstro se alojava.
É preciso que Barnabé visite-o, tal como um anjo profeta visita o escolhido de Deus,
para que comece realmente a peregrinação de Vasco. De uma só vez recorda-se de toda a
viagem, tal como será contada a partir daí. Essa espécie de prolepse podemos perceber nas
imagens que lhe ocorrem ao vislumbrar Barnabé:
E corriam-lhe desconformes imagens, o grumete que tiritava de febre,
enroscado num sarilho de cordame, o náufrago que despontava do furor dos
vagalhões, alumiado pela sobrenatureza do clarão, o mancebo que lhe
beijava os vestidos, taxando-o de salvador de toda a equipagem (CLÁUDIO,
1998, p. 43).
Barnabé pode tê-lo chamado de salvador de toda a equipagem, mas é ele quem vai
salvar Vasco da Gama. Vai levá-lo à sua verdadeira peregrinação interior recomendando a
ele: “percorrei os caminhos e os atalhos que desembocam no passado” (CLÁUDIO, 1998, p.
42). A diferença está que não remeterá Vasco apenas ao passado, mas também falará de outras
navegações, outras peregrinações, não apenas a ida física às Índias. Por isso, indaga a Vasco
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se sabe quem ele é – “e de vós continuo a indagar a pessoa que sou” (CLÁUDIO, 1998, p.
42).
Além disso, é preciso domar seu temor pela hidra, pois sem vencer os medos não se
vence a morte. Para vencê-la, a vida de Vasco e de Barnabé precisam unir-se. Inclusive
porque, Vasco, fortemente ligado à vã-cobiça que o arremessou à aventura, ainda perturba-se
com imagem do monstro marinho:
e perturbava-se Vasco no mais recôndito de si, porque era o momento exacto
de se configurar a avantesma, e de atirar pelos ares os navios abarrotados da
cobiça de Portugal, e de vir demonstrar ao atrevimento das nações que
vaidade não há que resista à cegueira das arremetidas do ódio que se
desatrelou (CLÁUDIO, 1998, p. 39-40).
Então, para unir as vidas do jovem judeu ao almirante da esquadra portuguesa que
ruma à Índia são usadas muitas cordas. Representando não apenas todo o cordame utilizado
nas naus para amarrar e controlar aquela imensidão de velas, o título do quinto capítulo da
Peregrinação de Barnabé tem outras significações. Esse capítulo é o mais fragmentado do
livro, subdividindo-se em sete partes, narradas intercaladamente, ora por Barnabé ora por um
narrador heterodiegético. Dessa forma, cada pedaço apresenta a visão sobre um dos dois
personagens cujas vidas estão se unindo, como se a cada momento um nó fosse dado atando-
os.
Ao longo desse capítulo, tanto Vasco quanto Barnabé persistem no que é destacado
na sexta parte: “em tecer comentários sobre pessoas e coisas” (CLÁUDIO, 1998, p.143). No
início da viagem os dois pensam nas lendas e mitos relacionados à navegação e a o que a
impulsiona, seja fisicamente (os ventos), seja psicologicamente (os lugares paradisíacos a
descobrir). Barnabé, na primeira parte, reflete sobre os ventos, sua força e direção e pensa nas
explicações mitológicas e metafóricas para sua existência. Logo a seguir, Vasco faz algo
semelhante, também baseado em lendas, mas agora sobre ilhas mágicas a demandar.
Na quarta parte, também sobre Vasco, ele recorda-se de seu rival na tentativa de
descobrir o caminho para as Índias, Cristóvão Colombo. O navegador genovês relatara sobre
outros lugares lendários que seriam encontrados pelos europeus durante as navegações, mas o
português desprezava suas opiniões. Mais uma vez suas ações interligam-nos, pois na parte
anterior a essa, quando à Barnabé é dada voz, não são suas visões e seus comentários sobre
lendas que ocupam sua mente, mas o que fora dito por outros navegadores. Esses seus
companheiros de viagem afirmam terem visto figuras como uma sereia, um gigante e,
inclusive, um ser próximo a Netuno, como um concílio de deuses vigiando a travessia.
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Entretanto, Barnabé dá mais um nó na corda que o une ao capitão, pois de todas as figuras que
teriam sido avistadas, a que lhe causava mais aflição, aquela que não podia ser referenciada,
era justamente a que transtornava o capitão-mor a ponto de este mandar açoitar quem
pronunciasse seu nome, a hidra. Assim, seu medo passa a ser representado pela mesma figura
que simbolizava o do capitão. A diferença é que, enquanto Vasco tenta esconder o que o
aflige, Barnabé tenta exorcizá-lo.
A reflexão sobre as semelhanças e diferenças entre o cristianismo e o judaísmo vai
marcar os dois fragmentos seguintes. Na quinta parte do capítulo cinco, Barnabé ouve as
pregações do clérigo e o discurso de Paulo da Gama. Apesar de ambos falaram sobre
características do catolicismo, o jovem acaba por descobrir que não são muito diferentes
daquilo que era pregado por seus colegas judeus. Contudo, o garoto de Ucanha ainda declara
como superiores os costumes e crenças judaicas.
É interessante notar que a discussão sobre a superioridade ou não de uma religião
sobre a outra seja na quinta parte do quinto capítulo. Isso parece remeter ao mito fundador da
pátria portuguesa, no qual D. Afonso Henriques venceu os cinco reis muçulmanos justamente
por ser Portugal cristão, mais próximo de Deus. A repetição do número cinco está presente na
bandeira portuguesa e nos trecho d’Os Lusíadas que a essa batalha faz referência (CAMÕES,
2002, III, 53-54). “Assim fica o número cumprido”, não apenas pela memória “daquele de
quem foi favorecido”, mas também por Barnabé. Entretanto, Vasco ainda não é capaz dessa
ligação e, logo na parte seguinte, para criticar Colombo, acusa-o do que de pior pode
imaginar: chama-o de judeu. Para o navegador português, o descobridor das Américas seria
traiçoeiro e esperto, mas somente aos lusitanos caberia a verdadeira glória prometida.
Agora é através de Martim Afonso, escrivão da frota e língua nas paradas em África,
que mais um nó é dado. Tanto Vasco quanto Barnabé consideram ainda sua religião superior à
do outro. Mas o escrivão, que conhece outras línguas, outras culturas, e outras civilizações é
quem vaticina. Ele pensa que cada povo considera-se maior que os demais inspirados por sua
própria fé e pela relevância que vêem em sua missão nesse mundo. Tanto os portugueses,
cristãos, quanto os judeus, supõem serem o povo eleito e aquele com a mais importante
missão, mas os dois estão atrás da terra prometida juntos nas mesmas caravelas, atravessando
os mesmos oceanos.
Sendo assim, nada mais natural do que a reflexão de Barnabé na última parte do
capítulo. A figura que os portugueses tanto magicavam e demandavam é apropriada pelo
grumete. Prestes João, um monarca cristão governando um reino africano muito poderoso a
quem muitos outros prestam vassalagem, é imaginado por Barnabé como sendo judeu.
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Todavia, todo esse poder atribuído ao lendário rei causava receio ao jovem. Seu maior medo
era de ir parar às terras desse monarca africano e que ele não fosse nem judeu nem cristão,
afirmando assim, inconscientemente, a pouca diferença nessa classificação. O pior para ele
seria deparar-se com o próprio Lúcifer governando o reino, com todas as feras que o
protegeriam.
Toda essa preocupação religiosa é uma forma de retomar o lado místico e messiânico
de Portugal. No entanto, essa busca pretérita pelas raízes místicas não é inocente. O país não é
simplesmente visto mais uma vez como escolhido de Deus para governar o mundo num
quinto império. Essa retomada é para unir o passado do povo português, fortemente marcado
por perseguições religiosas – que são apontadas várias vezes ao longo do texto.
Esse é o passado que precisa ser revisto em meio à crise. Os portugueses, vendo-se
como o povo eleito abençoado por seu Deus, buscavam realizar sua missão. Tal como outras
nações ao longo da História, Portugal, valendo-se do preceito de que existe unicamente graças
à intervenção divina, vê-se com o dever de servir aos céus. Assim, pretendiam, em sua
expansão, ir “dilatando a fé e o império” (CAMÕES, 2002, I, 2).
Por causa dessa visão de mundo, “as terras viciosas de África e Ásia andaram
devastando” (CAMÕES, 2002, I, 2), o que reflete o acontecido ao longo da expansão
portuguesa. Apesar de terem lutado muitas vezes com seus vizinhos católicos, Leão e Castela,
são os mouros ao sul os constantemente apresentados como inimigos. A diferença religiosa
foi fator primordial para a exaltação do ódio contra aqueles que não fossem cristãos. Primeiro
os muçulmanos, expulsos do litoral atlântico da Península Ibérica para depois perderem a
cidade de Ceuta, na costa do Marrocos. Depois os judeus, sempre vistos como cidadãos de
segunda classe, até que foram expulsos ou convertidos à força.
Todo esse fervor religioso acabou unindo o poder real ao da igreja, que se
suportavam mutuamente. Inclusive porque a religiosidade já era forte na cultura portuguesa e,
assim, a Igreja tinha muita influência sobre a população. Entretanto, essa submissão religiosa
acabou por ser duramente criticada. Tanto que na Literatura Portuguesa Contemporânea
ocorre uma mudança de paradigma. Os mouros deixam de ser os eternos inimigos, como se de
uma cruzada se tratasse. José Saramago, na História do Cerco de Lisboa, mostra os árabes
como as verdadeiras vítimas da reconquista portuguesa. Além disso, os muçulmanos que
ocupavam Lisboa são apresentados como lisboetas, sem distinção entre eles e os portugueses
que vivem hoje nessa cidade.
É algo semelhante o que Mário Cláudio intenta fazer em Peregrinação de Barnabé
das Índias. Enquanto no romance saramaguiano os mouros entrelaçam-se aos portugueses, no
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Peregrinação, portugueses judeus e cristãos confundem-se. Afinal, o personagem principal da
epopéia portuguesa escrita por Mário Cláudio é um judeu que conseguiu escapar à conversão
forçada. Entretanto, consegue embarcar em uma nau a caminho das Índias como se cristão-
novo fosse.
De qualquer forma, a história passa-se numa época de grande perseguição religiosa,
principalmente contra os judeus. Porque para que os Reis Católicos de Espanha consentissem
no casamento entre as duas famílias reais, Portugal deveria expulsar os hebreus de seus
territórios, assim como fizeram os espanhóis anos antes. Por causa disso, o personagem Vasco
da Gama chega a supor que Cristóvão Colombo seja judeu, já que, segundo aquele, este teria
marcado a data da partida de sua esquadra para a data limite dada aos adeptos do judaísmo
para saírem das terras espanholas.
O romance de Mário Cláudio revê o passado colocando parte da glória da conquista
do caminho para as Índias no conhecimento e esforço dos judeus portugueses, e não só nos
cristãos-velhos, como conta a historiografia oficial.
Todavia, a união entre os crentes das duas religiões só ocorre mesmo, apesar dos
fatos em comum e semelhanças apresentadas, quando Barnabé vê-se na mesma situação que
seus companheiros. Interessantemente, nesse relato, não são os cristãos que precisam se ver
como judeus para aceitá-los, mas o hebreu que precisa sentir-se tão sofredor quanto os
católicos para que aceite que todos são iguais. É isso que ocorre no capítulo seis, quando
Barnabé percebe que estão todos juntos perdidos em meio ao oceano, como peixes fora
d’água a secar ao sol estirados no convés das caravelas. Depois, ainda sofre com eles nas
tormentas do “Adamastor”. Por fim, recorda-se das histórias que ouviu sobre Santo Antônio,
que teria feito um sermão aos peixes. O jovem judeu que já se sente um peixe, e que foi
resgatado do mar como se pescado fosse, ouviu as palavras do anjo como um sermão de
santo. Assim, assume que também se regalaria com o de um santo católico. Aliás, não o de
um santo qualquer, mas o de um português, popularmente cultuado em Portugal.
Sendo assim, os milagres podem voltar a acontecer, pois já não há distinção clara
entre os dois povos que se consideram escolhidos por Deus. Seu destino messiânico é a união.
Seja com a ajuda de anjos, santos, deuses ou espíritos, a sobrevivência e a libertação de cada
um depende do conhecimento e da aceitação de que são todos iguais, independentemente da
religião.
Por conseguinte, a peregrinação é a mesma para todos que quiserem vencer seus
medos e avançarem por novos caminhos em busca de novos horizontes e novas terras a
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demandar. Não obstante, para alcançar esse objetivo é preciso passar por uma fase de
purificação, de expurgação dos erros passados e aceitação de uma nova vida.
Por conseqüência, é justamente no capítulo imediatamente posterior a essa união
religiosa que ocorre a purificação na peregrinação de Barnabé. Em “Os Anjos”, começa uma
visão que vai ampliar a união religiosa, ratificando a idéia de Saramago e retificando a forma
como os muçulmanos são descritos na literatura portuguesa até então. Os mouros
apresentados nesse capítulo não são inatamente malvados. Muito pelo contrário, são descritos
inicialmente como anjos, como pode ser visto em:
E tendo arribado a Moçambique, foi o império dos anjos que se lhe
descerrou, já que se passeavam eles de branco, e usavam barretes debruados
em seda, e bordados a oiro, e não era qualquer língua de trapos que falavam,
mas a das Arábias (CLÁUDIO, 1998, p. 179).
Além disso, é em Moçambique que Barnabé vai encontrar mais um dos anjos de sua
peregrinação. Uma mulher o encanta com seu caminhar e faz com suas argolas um som
descrito como celestial. É esta mulher quem lhe dá o amuleto com o qual ele conta para
salvar-se. E a forma de salvação é a saudade. Pois, em momentos de perigos e aflição, ele
segura o amuleto e, apertando-o, aviva a saudade que sente da moçambicana. Assim, Barnabé,
além de associar-se definitivamente à alma portuguesa, livra-se do medo e toma coragem para
continuar sua peregrinação. Ignorando o destino do sofrimento, ignora o caminho sinuoso das
lágrimas a derramar. Mas assim mesmo ele parte, pois sofre mais quem fica parado no porto
do que os que se lançam à descoberta do novo. Desse modo, ele transforma-se no verdadeiro
herói lusitano, aquele que vence a morte a partir da fabulação que é a arte de navegar, como
lembra Bachelard:
parece que a utilidade de navegar não é bastante clara para determinar o
homem pré-histórico a escavar uma canoa. Nenhuma utilidade pode
legitimar o risco imenso de partir sobre as ondas. Para enfrentar a
navegação, é preciso que haja interesses poderosos. Ora, os verdadeiros
interesses poderosos são os interesses quiméricos. São os interesses que
sonhamos, e não os que calculamos. São os interesses fabulosos. O herói do
mar é um herói da morte. O primeiro marujo é o primeiro homem vivo que
foi tão corajoso como um morto (BACHELARD, 1997, p.76).
A partir do encontro com seu anjo mouro, a saudade vai distraí-lo do temor,
deixando-o mais confiante. Sua relação com seus anjos estende-se. Cumprem esse papel, ao
longo do romance, não apenas a negra de Moçambique, mas também sua amada Revocata,
seu amigo que morreu afogado durante a infância, e o próprio anjo São Rafael que protege sua
nau, como pode ser visto no seguinte trecho:
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Impávido se erguia na proa o anjo pretector, e da consciência da sua
presença auferia o rapaz a certeza de que alcançariam o desejado livramento,
já que para algo o salvara quem lhe botara a mão, não autorizando a que sem
glória tudo acolá se consumasse. E auxiliou-os a maré alta, e o empenho dos
companheiros das naves irmãs, e acariciou Barnabé o amuleto da mágoa que
do temor o distraía (CLÁUDIO, 1998, p.194).
Nesse momento, Barnabé se dá conta de sua peregrinação pessoal. Ele não apenas
vivenciou o perigo, mas livrou-se mais de uma vez da morte. Para ele a viagem foi como a
travessia do Mar Vermelho fugindo do Egito, pois estava em direção a algo novo e guiado
pelo divino. Essa percepção da influência metafísica em sua vida, tal como Portugal sente-se
messiânico, inspira-o a continuar. Assim compreende que atravessar o Mar Vermelho é parte
do percurso do ser humano e que é preciso vivenciar o perigo para sobrepujá-lo. Sente-se,
então, puro:
Seguro se considerava o de Ucanha de ter atravessado o mar Vermelho,
conforme Joseph, seu primo, lhe vaticinara, o mar Vermelho que se patenteia
a determinado passo do percurso do ser humano. [...] E não vence a morte
quem a morte não temeu, deduzia ele, já que não chega ao final da sua rota
quem se não afoitou aos monstros que pelas voltas da peregrinação se lhe
avantajam. E em seu corpo tinham sarado as chagas que o afligiam,
deixando-o limpo da miséria do pus e do ferrete da culpa [...] E para trás
haviam engolido dois oceanos os pesadelos que lhes habitam o abismo e o
abismo de quem os cruza (CLÁUDIO, 1998, p. 202).
Todavia, essa percepção da peregrinação não ocorreu com Vasco da Gama em sua
travessia dos oceanos. Em Moçambique, enquanto alguns ficavam extasiados com as belezas
mouras, Vasco ainda espera unir todos os povos pela dilatação da fé e do império. A
intolerância religiosa demonstrada por ele, comum em sua época, acaba levando-o à loucura
momentânea durante a viagem. E em meio ao caos interior em que se encontra, relembra a
antiga lição da Eneida, de ser justo e não tentar os deuses. Contudo, ainda não a coloca em
prática.
Ainda assim, nem tudo está perdido para Vasco. Afinal, sua peregrinação só começa
realmente após a visita de Barnabé pedindo-lhe que remexa em sua memória. Dessa forma,
Vasco também vivencia a saudade. Tanto que ele mesmo narra o capítulo em que isso
acontece, “As Cidades”.
Em seu capítulo, ele sente saudade de sua infância. Não de como ela era, mas de seus
planos de futuro. Porque ele relembra da chegada a Calecute e compara as cidades imaginadas
quando criança vendo os mapas de lugares distantes e as atuais avistadas na Índia.
Freud (1969) diz que as fantasias de artistas e escritores provêem do mesmo
manancial criativo das brincadeiras da infância. A criança, quando brinca, está ainda presa à
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realidade em sua imaginação de brincadeira. Já os escritores não. A fantasia do poeta é
desconectada da realidade. Para Freud, quando o homem sonha com o futuro, está na verdade
fazendo um retorno ao passado na tentativa de suprir uma frustração. Ele volta a uma época
em que teve um desejo atendido (normalmente na infância) e projeta essas sensações de
satisfação na situação atual para imaginar um futuro. Sendo assim, sentir saudade é um pouco
como fantasiar. É isso que Vasco faz. Quando imaginava suas cidades na infância, estava
preso à realidade, aos mapas que via e às cidades que conhecia. Quando ele volta a fantasiar
com as cidades da época de criança e como ficava satisfeito com elas, está planejando o futuro
e buscando sonhos a realizar. Dessa forma, se sua satisfação estava nas brincadeiras de
criança, a melhor forma de retomar essa criatividade para seus planos é agindo como poeta,
por isso, somente ele pode ser o narrador de seu encontro com a saudade e de suas
impressões.
Ele começa seu relato falando que por mais que a viagem tenha lhe proporcionado
títulos e riqueza, não esquece os “tesouros da memória da infância” (CLÁUDIO, 1998, p.
205). Situação diferente daquela do começo do romance, em que ele extasiava-se conferindo
suas posses e condecorações. Agora ele sente realmente saudade – “como lembro com
saudade os mapas originariamente avistados” (CLÁUDIO, 1998, p. 206). E é esse sentimento
que o torna capaz de mudar sua vida, pois o que lhe faltava era o tempo em que se projetava
no futuro. Por isso a simples recordação da infância não é a solução. É preciso aprender sua
lição ao recordá-la, pois revisitá-la somente não trará a mesma sensação, já que ele não é o
mesmo.
A diferença está no descobrimento de si mesmo. Vasco da Gama, velho, sente mágoa
por se dar conta que o real não é como a fantasia e que sua imaginação da infância é como os
castelos de areia que construía em Sines e acabavam sendo destruídos. Assim, ele descobre
nessas recordações que “ao que imaginamos se junta o que vivemos” (CLÁUDIO, 1998, p.
214). E o que vivemos é o que nos faz diferentes a cada momento, apenas ligados por um fio-
memória.
Destarte, ele sabe que mudou, que não é mais o mesmo. Não é mais o “Vasco de
outrora que mal hoje se reconhece, mas que teima em que assim o considerem” (CLÁUDIO,
1998, p. 231). Também percebe que não fez a peregrinação durante a viagem, como tantos
fizeram:
havendo realizado a viagem que ninguém ousou, comigo arrastando para a
morte um ror deles, e raros trazendo de regresso, iluminados por luzes que
jamais me visitaram... (CLÁUDIO, 1998, p.231).
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Por isso ele ainda tem medo, ainda teme a hidra. Para ele foi só uma viagem em
busca da glória. Mas essa só alcança quem se liberta da lei da morte. Ele apenas libertou-se
das terras do oriente. E mesmo essas cidades que visitou ficaram no passado, destruídas como
os castelos de areia de sua infância. É como se tudo não tivesse passado de um sonho com
cidades imaginadas atacadas pelo “troar das canhoadas, quero dizer, este pranto da fúria de
Portugal” (CLÁUDIO, 1998, p. 234).
Diante disto, é ao recordar-se dessa jornada sabendo que é possível uma iluminação
que se abre a possibilidade de uma vida nova, de um futuro diferente do previsto.
Compreendido isso, os capítulos iniciais unem-se aos finais na vida de Vasco da Gama. Dos
demônios que afligem chega-se às pombas que salvam e glorificam. Das neves que esfriam
sua vida, atinge-se as luzes que iluminam um novo futuro.
Tal como visto, a peregrinação de Barnabé não começa com as neves, pois ele não
morre para o mundo estando vivo. Mas ele também é atacado por demônios e chagas, dos
quais só liberta-se com a purificação. Esses males representam a vanglória de mandar e a
cobiça de Portugal na época das navegações, além da infecção social causada pela forte
influência clerical no país, criticada desde Garrett. Tanto que, no capítulo “Os Demónios”,
criticam-se as ordens religiosas, os roubos nas romarias e os misticismos e crendices católicas
populares.
Nesse capítulo, que começa no pomar de um mosteiro, os frades são associados aos
demônios e à morte. Aliás, são vários os símbolos da morte que cercam Barnabé quando
criança: os monges que se vestem de forma sombria, com o hábito e capuz pretos; o coveiro
com sua enxada; a bruxa da aldeia; a maçã com o verme dentro; o corvo assustador; além do
amigo que morre afogado.
A partir daí, a vida do jovem rapaz é a busca do exorcismo desses demônios.
Contudo, é a presença constante da morte que o torna especial. Barnabé escapa dela não
apenas na viagem, mas do contato com ela desde sua infância, passando pelas chagas em
Lisboa, pela loucura e doenças na viagem, até ser resgatado do mar e salvo pelo que imagina
ser o anjo São Rafael. De qualquer forma, afastar-se do mal é o que consome seus
pensamentos. A bruxa o exorcizou, mas não foi suficiente. A seguir, espera que seu primo
ajude-o a livrar-se do mal, como se vê:
Aproveitando a generosidade com que o hospeda o conceituado judeu,
reveste-se o rapaz de Ucanha da determinação de triunfar em ofício que o
parente lhe faculte, conquanto o liberte ele dos demónios que na terra o
atenazavam (CLÁUDIO, 1998, p. 64).
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Entretanto, ele só se sente afastado do inferno junto a Revocata. Ela que é o primeiro
anjo de outros que se seguiram, como dito acima. Todavia, não é fácil e não será agora que
ocorrerá a purificação. Afinal, em “As Chagas”, pode-se notar que não era só Barnabé que
precisava de um exorcismo, mas todo o reino precisa livrar-se de sua decadência:
Considerando que o Reino de si próprio se evadia, roído pelas feridas que
expunha no escadório dos templos, buscando uma alternativa à sua arrastada
podridão, consumindo-se na tessitura de um imenso sonho salvífico
(CLÁUDIO, 1998, p. 84).
Barnabé, lembrando com saudade do seu primeiro anjo, Revocata, vê-se melhorado
para o futuro, transformando-se num galanteador sensual. Entretanto, ainda está preso à
ganância e cobiça material que adquiriu nas ruas de Lisboa, capital comercial da Europa na
época das navegações e assim mais fortemente vinculada à mercantilização capitalista que a
Modernidade ensejou. Isso impede que ele se conheça a si mesmo. De forma que, mesmo
sabendo que terá um papel importante na História e imaginando terras a demandar, não sabe
ainda o que será, porque está preso ao egoísmo, diferente do que deveria alcançar, sua aliança
com o tempo. Afinal, só essa união pode realmente livrá-lo da morte, já que os tempos estão
todos juntos, como lhe diz o primeiro anjo que lhe mostra a “máquina do mundo”:
atenta como imensíssimo se nos oferece o Mundo, e em como todavia cabe
ele em minhas mãos, e firma-te bem nas maravilhas que o compõem, as
quais claramente divisarás na pureza do teu coração, pois que superiores aos
da vista da carne se hão-de denunciar os prodígios que alcançar a vista do
espírito [...] e não existe antes, nem depois, nem hoje, nem amanhã
(CLÁUDIO, 1998, p.97-98).
Todavia, essa união com o tempo só será possível após sua correção. Depois dela,
sua vida não está mais ligada aos demônios que o afligem, mas com as pombas que o guiam.
Elas, que representam a pureza celestial da alma, aparecem uma a uma no navio de regresso a
Portugal. A glória da morte fez com que todos os marujos que morreram nessa empreitada
virassem pombas.
A chegada columbina faz desvanecer por completo as imagens demoníacas das
chagas que atormentavam Barnabé no início de sua peregrinação. Destarte, íntegro, ele passa
a olhar o passado em busca de motivação para novas passagens para o futuro:
No júbilo da conquista de si, desapoderado de quanto não equivalesse ao que
no âmago da natureza lhe residia, ia andando o moço. Um perpétuo tinido de
campainhas o rodeava para onde quer que se dirigisse, evocando-lhe factos
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da infância que há muito julgara esquecidos, abrindo-lhe paisagens de um
futuro que jamais conjecturara (CLÁUDIO, 1998, p. 250-251).
Com isso, aliado ao conhecimento divino trazido pelas aves, Barnabé serve de guia
no retorno. Os nautas são agora seres iluminados que compreenderam o sentido da
peregrinação. Diante disto, tal como uma pomba branca pousando sobre a caravela, Barnabé
vai visitar Vasco em meio às neves.
A conseqüência dessa visitação é causar duas mudanças. A primeira, particular, é
levar Vasco à sua própria romaria interior. A segunda, plural, é o próprio sentido do romance:
unir os portugueses ao seu passado que estava sendo recusado, além de revisá-lo e, com isso,
instaurar novas perspectivas de futuro.
Por isso, Barnabé começa pedindo a Vasco que se recorde melhor do que aconteceu e
de quem é esse que o visita. Desse modo, as glórias das conquistas ultramarinas não serão
dadas somente aos grandes vultos da História, uma elite que controla a vida dos portugueses,
e sim aos pequenos, que tanto sofreram e morreram, a quem cabe a verdadeira recompensa.
De outra forma, a salvação não será possível e isso tudo não terá valor algum, como se pode
obter da fala de Barnabé:
porque se vos não consente a grandeza a lembrança de um desgraçado que
convosco imensamente penou, e se dos pequenos mortais não cura o orgulho
de almirante de Portugal, bem mesquinha será a recompensa que havereis de
obter no outro Mundo, ainda que admita eu que do passado vos ficou a
bondade com que tratáveis os que sob vosso mando serviam, e tantos gelos
não terão derretido que se vos haja alterado a disposição, e como é facto que
ameniza a idade a crueza do ânimo, diferente dos mais não sereis, já que a
vosso favor registáveis a preciosa qualidade da valentia, e bravos a sério não
existem, estou em crer, que a modéstia não transformem em esteio da sua
compleição [...] (CLÁUDIO, 1998, p. 237).
Essa busca pela relação entre tempo e memória e entre realidade e ficção é uma
característica na obra desse autor, tal como nos fala Calvão sobre os romances biográficos de
Mário Cláudio, as preocupações constantes são a dúvida sobre as possibilidades ou
impossibilidades da apreensão da existência através da escrita, as reflexões sobre o tempo e
sua permanência na memória (CALVÃO, 2000, p. 27).
É, justamente, esta busca pelo passado na memória, revendo-o e dando a todos o
devido valor pelo que aconteceu, que vai levar a um novo desejo de futuro no último capítulo.
Este, iluminado pelo próprio título, “As Luzes”, mostra que o nauta não pode ficar longe do
oceano, já que o mar é representação do horizonte, que aponta para o futuro. Com isso, Vasco
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lembra com saudade de um momento em sua infância com seu irmão, quando pela primeira
vez avistou uma caravela, numa tarde em Sines:
reportava-se-lhe a lembrança de uma tarde em Sines, e à hora a que,
achando-se todos na sesta despenhados, haviam subido os dois manos à torre
do castelo, e de mãos dadas, e perante o Atlântico, uma nau ardente tinham
descortinado, prosseguindo em sua rota para o Sul, e dela se extravasava um
prodigioso clarão, desenvolvido em luzes e luzes que os cegavam...
(CLÁUDIO, 1998, p. 262).
A visão de uma nau é motivo de felicidade. Vasco, lembrando-se da caravela
avistada, vai iluminar mais uma vez suas perspectivas e aceita, assim, o pedido do rei de ir
mais uma vez às Índias.
O futuro pode ser contingente, dependente do acaso, levando a vida a lugares
escuros. Isso pode acabar levando ao ponto em que se é fraco, como se vê em:
Mas complexa sorte se lançando nas jogadas da existência, facto é que, se o
itinerário tanta vez se nos mostra, tanta vez se traduz num atalho que na
carência do que somos desemboca, ao arremeter por lugares que as luzes não
testemunham (CLÁUDIO, 1998, p. 264-265).
Contudo, é possível sempre sair das cinzas da velhice, rever o passado e, assim,
iluminar mais uma vez o horizonte. Dessa forma, Vasco, que sempre foi dependente do irmão,
acaba por estabelecer com Barnabé um laço de irmandade:
Nele atentou Vasco da Gama por tempo maior do que o que costumava
conceder ao reparo de quem com ele se cruzava, e percebeu o rapaz que só
então, mas para sempre, o elo dos irmãos que do mesmo ventre não
promanam, nem de semente idêntica derivam sua origem, nesse instante se
fechava (CLÁUDIO, 1998, p. 271).
Esse laço começou a ser atado na primeira visita de Barnabé. Depois, foi fortemente
amarrado com as cordas da viagem. Contudo, só agora se fecha. Não é apenas a ligação entre
os dois personagens, mas a união de todos os que fizeram as glórias de Portugal, que, agora,
podem olhar mais uma vez para o horizonte e avistar as caravelas iluminadas. Tanto que
Vasco, ao final, diz que não foi ele quem descobriu o caminho para as Índias, mas Barnabé.
Também, lamenta pelo que se perde para se ganhar. Com isso, toma coragem para seguir em
frente e de enfrentar mais uma vez seus medos. Ao voltar a fantasiar seu futuro, não é mais
um velho no inverno aguardando a morte.
Assim, os tempos passado, presente e futuro estão definitivamente ligados. O
controle temporal é, na verdade, uma característica importante desse romance. Vários
acontecimentos narrados, a infância de Barnabé em diversos momentos, além da de Vasco e
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Paulo, a viagem às Índias, as visitas que Barnabé faz a Vasco, o que aconteceu ao jovem
judeus após a viagem, e a velhice do capitão português, são intercalados, intercortados e
religados diversas vezes nesse livro, cabendo ao leitor discernir qual é o fluxo correto do
tempo. Isso se houver correção. Afinal, nessa narrativa o tempo é capaz de parar e voltar
atrás, para somente depois seguir adiante. Então, esse jogo temporal ajuda a redimir o
passado, tal como proposto.
Se o objetivo da peregrinação era livrar-se do medo da morte, controlando o tempo
isso se torna possível. Ela, que esteve presente com Barnabé desde sua infância, já não o
assusta mais, pois ele conhece o movimento do mundo e os preceitos divinos. Mesmo Vasco,
que não fez a peregrinação, está aberto a enfrentar mais uma vez sua hidra. Por fim, é preciso
enfrentar seus medos para livrar-se do inverno. Ficar parado em decadência, encoberto, não
trará resultados. Deve-se ir em direção à luz, avistar mais uma vez a caravela.
Respondendo ao velho do Restelo d’Os Lusíadas, talvez o maior desastre seja perder o
rumo e ficar parado. Portugal parece ter se esquecido de si mesmo, de sua autenticidade, de
sua independência tão habilmente mantida ao longo dos séculos, e de seu passado. Assim,
depois que nada restou de nada, ainda ficou “o tudo desse nada”, a marca da identidade
portuguesa, a saudade, como comenta Eduardo Lourenço:
Talvez só um povo permanentemente distraído da sua existência como
tragédia, ou imbuído e inebriado dela a ponto de a esquecer, pudesse tomar
por brasão da sua alma a figura da saudade. Talvez, simplesmente, porque,
como povo, feliz na sua inconsciência que é a vida, não se resigne a que
nada fica de nada, como disse Unamuno. Quando nada resta de nada, fica
ainda o tudo desse nada. É isso que vivemos como saudade, unindo numa só
intuição as visões, no fundo semelhantes, dos nossos maiores poetas, de
Camões a Garrett, de Pascoaes a Pessoa (LOURENÇO, 1999, p. 34).
Mário Cláudio soube perceber esse problema, talvez ainda maior do que as longas
guerras coloniais discutidas por outros romancistas portugueses contemporâneos. Por isso,
resolve fazer uma revisão desse passado renegado. A ele cabe cantar as obras valorosas dos
portugueses que foram da lei da morte libertando Portugal. Contudo, não é uma visão ufanista
do passado lusitano. Ao contrário, ele presta homenagem saudosa ao passado de navegação
português em dez capítulos, numa referência aos dez cantos d’Os Lusíadas. Contudo, não
heroiciza os grandes capitães, mas o povo que sofreu todo esse tempo devido à tragédia da
busca desse destino imperial.
Destarte, com sua identidade redimida e sua História efetivamente glorificada por ter
sido dada a seu povo, Portugal pode mais uma vez aspirar a um futuro promissor. O velho
Portugal expansionista de D. Afonso Henriques, do Infante D. Henrique, de Vasco da Gama e
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de tantos outros, liberta-se das neves que o aprisionava. Seu povo pode voar como pombas e
ir em busca de novas Índias. As luzes agora iluminam o horizonte. O caminho a seguir
continua incerto, mas possível, basta percorrê-lo. Afinal, não é feliz quem nunca viu uma
caravela!
Referência bibliográfica:
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Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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