segregaÇÃo socioespacial em vitÓria-es: uma anÁlise … · 2018-07-19 · 1 segregaÇÃo...
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SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM VITÓRIA-ES: UMA ANÁLISE DAS
TRANSFORMAÇÕES DO BAIRRO DE GOIABEIRAS
Gabriella Vasconcellos de Araújo Doutoranda – Ciências Sociais – PUC
Resumo
Este trabalho apresenta uma reflexão da segregação socioespacial da cidade de Vitória-
ES, com um olhar voltado para o bairro de Goiabeiras. Faz uma análise da segregação
socioespacial do município por meio da relação entre a segregação residencial e a desigualdade
em termos de renda, participação da população branca, negra e parda nas regiões administrativas
da cidade e do IQU – Índice de Qualidade Urbana do município. A reprodução da desigualdade na
cidade de Vitória segue a tendência histórica de diversas cidades brasileiras, sobretudo as
metropolitanas, tendo a classe de alta renda produzido o espaço urbano conforme seus
interesses, consumindo-o e controlando-o. O bairro de Goiabeiras faz parte das regiões de maior
segregação socioespacial do município, apresentando grande desigualdade social e baixo índice
de qualidade urbana.
Palavras chave: Segregação Socioespacial; Desigualdade; Goiabeiras; Paneleiras de Goiabeiras.
Introdução
A economia capixaba, como a brasileira, até meados do século XX, era dependente
basicamente da produção agrícola, mais especificamente da cafeicultura. O declínio do setor
cafeeiro, a partir da década de 1950, afetou profundamente a economia capixaba, que tinha sua
estrutura produtiva baseada na pequena produção familiar. Esse declínio levou à reorientação da
economia estadual, que ocasionou o fenômeno de aceleração expressiva no processo de
urbanização da Região Metropolitana da Grande Vitória – RMGV. Com isso, a partir de meados do
século XX, tem início a transformação da estrutura urbana de Vitória, capital do Espírito Santo,
que compõe a RMGV, em função das mudanças econômicas ocorridas no estado.
Essa transformação impactou o bairro de Goiabeiras, localizado ao Norte da Baia de
Vitória. Esse bairro, constituído de baixadas cobertas de manguezais, teve sua ocupação
originada pelo crescimento desordenado da cidade, com surgimento de ocupações irregulares,
sendo ocupado como área de periferia urbana, alternativa de moradia para os pobres da região da
Grande Vitória. Neste local trabalham, moram e vivem as Paneleiras de Goiabeiras, artesãs
capixabas cujo oficio é a confecção das panelas de barro.
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As paneleiras de Goiabeiras, símbolo da cultura do estado do Espírito Santo, mantém sua
tradição, de mais de 400 anos, na confecção das panelas de barro. As panelas são modeladas
manualmente com o auxílio de ferramentas rudimentares, legado cultural dos índios Tupi-Guarani
e Uma. O ofício “fazer panelas de barro” foi inscrito no Livro do Registro dos Saberes, do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN em dezembro de 2002, sendo reconhecido
nacionalmente como um bem cultural de natureza imaterial e designado como Patrimônio Cultural
Imaterial Brasileiro.
Este trabalho aborda a temática da segregação socioespacial por meio da análise do bairro
de Goiabeiras, e tem como objetivo analisar a segregação imposta no uso do espaço urbano
desta localidade.
Por meio da análise da segregação socioespacial será possível analisar se houve
transformações no bairro de Goiabeiras nos últimos anos, enquanto área fortemente submetida ao
processo de segregação imposto na cidade de Vitória, mas por outro lado, área que ganhou maior
destaque com o trabalho das Paneleiras de Goiabeiras, especialmente depois que essas foram
reconhecidas pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. A hipótese deste trabalho
é que a região de Goiabeiras, mesmo obtendo destaque regional e nacional após o
reconhecimento do Oficio das Paneleiras de Goiabeiras como um bem cultural de natureza
imaterial pelo IPHAN, permanece fortemente representado na zona de segregação socioespacial
da cidade de Vitória – ES.
Paneleiras de Goiabeiras
A panela de barro é um ícone da identidade cultural capixaba, a materialização de um
saber. Nesse recipiente é feito dois dos mais tradicionais pratos da culinária do Espírito Santo: a
moqueca capixaba e a torta capixaba, iguaria tradicional consumida na Semana Santa no Estado
do Espírito Santo.
Segundo o Dossiê Iphan 3 (2006) os colonos e descendentes de escravos africanos que
ocuparam a margem do manguezal em Goiabeiras, apropriaram dos índios o saber da fabricação
da panela de barro. As panelas de barro, reconhecidas como legado cultural Tupi-Guarani e Uma,
são fabricadas de forma artesanal, manual e rústica, a partir de argila sempre da mesma
procedência. A técnica preserva a modelagem manual da panela, com o auxilio de ferramentas
rudimentares, tendo como principal ferramenta as mãos das Paneleiras. A técnica empregada, o
processo de produção e a matéria-prima utilizada são seculares, permanecem inalteradas após
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quatro séculos de tradições indígenas (SANT’ANNA e CAMILETTI, 2008).
Fig. 1: Confecção manual das panelas de barro Fonte: http://www.guiacuca.com.br
A fabricação artesanal da panela de barro, Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, registrado
no Iphan como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, é uma atividade eminentemente feminina,
tradicionalmente repassada através de gerações, às filhas, netas, sobrinhas e vizinhas do bairro
de Goiabeiras, no convívio doméstico e comunitário. É um “ofício familiar, doméstico e
profundamente enraizado no cotidiano e no modo de ser da comunidade de Goiabeiras” (DOSSIÊ
IPHAN 3, 2006, p.13).
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Fig. 2: Fabricação artesanal, manual e rústica Fonte: http://sabordiario.com/oficio-das-paneleiras-de-goiabeiras-es/
As panelas de barro são produzidas a partir de matérias-primas provenientes do meio
natural. A argila empregada, ou barro como é chamado pelas Paneleiras, matéria-prima principal
na confecção das panelas de barro, é extraída de jazida, comumente conhecido como barreiro, no
Vale do Mulembá, em Vitória – ES. A argila de boa qualidade é elemento fundamental para a
confecção da autêntica panela de barro e influencia diretamente a qualidade do produto, por isso
a fonte da matéria-prima permanece a mesma utilizada por seus antecessores.
Fig. 3: Queima das panelas de barro Fonte: http://www.praquemquisermevisitar.com
Antes do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras ser registrado pelo IPHAN, os interesses das
artesãs já eram representados por uma entidade de classe denominada Associação Paneleiras de
Goiabeiras. Essa Associação foi constituída em 1987, motivada pelo aumento da demanda de
panelas de barro. Nessa época, não havia estrutura física adequada para a produção das panelas
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de barro e essas eram produzidas de forma pouco profissional, porém conservadas as tradições
indígenas no processo de produção manual e artesanal.
A aceitação da Associação pela comunidade de paneleiras não foi de imediato, porém
quando perceberam os benefícios advindos da Associação, como a construção de um galpão para
a produção e comercialização das panelas de barro, a resistência foi diminuindo e as artesãs,
muitas autônomas, passaram a se dedicar exclusivamente ao Ofício de produzir panelas de barro,
exercendo a atividade mais profissionalmente (SANT’ANNA e CAMILETTI, 2008).
O galpão, espaço de trabalho coletivo das artesãs, atendeu as necessidades de muitas
Paneleiras, que já não tinham mais espaço suficiente e adequado em suas casas para produzirem
a panela de barro, o que levava muitas delas a buscarem outras atividades profissionais para
garantir o sustento de suas famílias.
Um dos maiores benefícios obtidos pela Associação Paneleiras de Goiabeiras foi a
manutenção da propriedade do “barreiro”, localizado no Vale do Mulembá, e a garantia de acesso
assegurada ao local de retirada da matéria-prima. O local do Barreiro tinha sido desapropriado
pelo Governo do Estado para a construção de uma estação de tratamento de esgotos, porém a
manutenção do Barreiro significava a continuidade da existência do produto fabricado pelas
artesãs.
Após o Ofício ter sido reconhecido e registrado como Patrimônio Cultural Imaterial do
Brasil as paneleiras receberam maior valorização e reconhecimento da população capixaba, não
só pelo trabalho que realizam, mas também pela contribuição à cultura capixaba.
Bairro de Goiabeiras
No ano de 2014, a Lei Municipal nº 8.611/2014 criou mais duas Regiões Administrativas no
município de Vitória – ES: Região 08 (Jardim Camburi) e 09 (Jardim da Penha). Atualmente o
município é organizado em 09 Regiões Administrativas e 80 bairros, conforme mostra a Fig. 4.
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Fig. 4: Regiões Administrativas de Vitória Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
A Região Administrativa 06 (Goiabeiras) onde está localizado o bairro Goiabeiras, objeto
deste estudo, é uma das três Regiões que ficam na parte continental do município, ao Norte da
Baia de Vitória.
O bairro Goiabeiras, que pode ser visualizado na Fig. 5, constituído de baixadas cobertas
de manguezais, teve sua ocupação como área de periferia urbana há mais de 80 anos. A partir da
década de 1960, a ocupação da área foi sendo intensificada devido ao crescimento desordenado
da cidade, na incorporação de terras rurais para construção de conjuntos habitacionais pela
COHAB (Cooperativa Habitacional Brasileira), atendendo a população de baixa renda.
O despejo do lixo em áreas de mangue pelo próprio poder público também determinou a
ocupação do local, uma vez que em decorrência dos lixões, surgiram aterros sanitários, criando
assim espaço para ocupação irregular da área. Muitos proprietários de casas dos conjuntos
habitacionais tiveram dificuldades para manter os compromissos assumidos com a compra de
suas casas e acabaram se fixando em barracos e palafitas sobre o mangue.
Com as continuas ocupações irregulares e após a construção do Aeroporto Eurico Sales,
nas proximidades desta área de manguezais, a região expandiu e necessitou de intervenções
urbanas. Entre os projetos executados pela Prefeitura Municipal de Vitória na tentativa de reverter
PARQUE INDUSTRIAL
AEROPORTO
GOIABEIRAS
JARDIM CAMBURI
CENTRO
TABUAZEIRO
MATA DA PRAIA
JARDIM DA PENHA
SANTA LÚCIA
JOANA D´ARC
ENSEADA DO SUÁ
PRAIA DO CANTO
NOVA PALESTINA
ITARARÉ
SÃO JOSÉ
BENTO FERREIRA
GRANDE VITÓRIA
GURIGICAFRADINHOS
INHANGUETÁ
BONFIM
ROMÃO
RESISTÊNCIA
MARIA ORTIZ
SANTA TEREZA
MARUÍPE
SÃO PEDRO
SANTA MARTHA
SANTO ANTÔNIO
BELA VISTA
ILHA DO BOI
MONTE BELO
SANTA CECÍLIA
REPÚBLICA
CONQUISTA
REDENÇÃO
SANTA LUÍZA
SÃO CRISTÓVÃO
DA PENHA
JABOUR
FORTE SÃO JOÃO
CARATOÍRA
ILHA DO FRADE
CONSOLAÇÃO
PRAIA DO SUÁ
ESTRELINHA
BARRO VERMELHOUNIVERSITÁRIO
MÁRIO CYPRESTE
DE LOURDES
ILHA DO PRÍNCIPE
DO MOSCOSO
SÃO BENEDITO
BOA VISTA
JUCUTUQUARA
VILA RUBIM
FONTE GRANDE
DO CABRAL
SANTA HELENAHORTO
COMDUSA
JESUS DE NAZARETH
SANTA CLARA
NAZARETH
ILHA DE SANTA MARIA
CRUZAMENTO
PONTAL DE CAMBURI
ANDORINHAS
SANTO ANDRÉ
PIEDADE
SANTOS DUMONT
SANTOS REIS
PARQUE MOSCOSO
ILHA DAS CAIEIRAS
MORADA DE CAMBURI
ANTÔNIO HONÓRIO
SOLON BORGES
DO QUADRO
SEGURANÇA DO LAR
ARIOVALDO FAVALESSA
359800
359800
362400
362400
365000
365000
367600
367600
370200
370200
372800
372800
7754
000
7754
000
7756
600
7756
600
7759
200
7759
200
7761
800
7761
800
SERRA
CARIACICA
VILA VELHA
PREFEITURA DE VITÓRIASecretaria de Gestão Estratégica
Gerência de Informações Municipais
UTM - SIRGAS-2000Fonte: PMV, IJSN
Janeiro - 2014
0 0.7 1.4 2.10.35 km
Limite Municipal - Lei Estadual nº 9.972/2012
Limite de Bairro - Lei Municipal nº 8.611/2014
´
1 - Centro
2 - Santo Antônio
3 - Jucutuquara
4 - Maruípe
5 - Praia do Canto
6 - Goiabeiras
7 - São Pedro
8 - Jardim Camburi
9 - Jardim da Penha
REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE VITÓRIA
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esse quadro de ocupações irregulares, destaca-se nas décadas de 1980 e 1990 o projeto,
parcialmente executado, que cria uma via de contorno do mangue de modo a conter a crescente
ocupação em área de preservação ambiental.
Fig.5 - Localização do bairro de Goiabeiras Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
Segregação Socioespacial
Nas metrópoles brasileiras, há segregações das mais variadas naturezas, como
segregação de classes, de etnias, de nacionalidades. A estruturação das metrópoles brasileiras,
segundo Villaça (2009) é dominada pela segregação das classes sociais.
AV FERNANDO FERRARI
RUA C
ARIJÓ
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ROD SERAFIM DERENZI
AV HUGO VIOLA
RUA SÃO SEBASTIÃO
AV CARLOS GOMES DE SÁ
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RUA DOUTOR ANTÔNIO BASÍLIO
RUA SILVANA ROSA
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RUA BENEDITO MUNIZ
RUA JACIN
TO BRESCIANI
RUA RAULINO ROCHA
AV ANÍSIO FERNANDES COELHO
AV DOUTOR PEDRO FEU ROSA
RUA HOMERO NASCIMENTO
AV D
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RUA SEBASTIANA VIEIRA BORGES
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RUA ALVIM SOARES BERMUDES
RUA ANGELINDO CARARETO
RUA DOUTOR DÓRIO SILVA
RUA LEOPOLDO SIQUEIRA
RUA JOANA ROSALÉM M
IOZI
RUA CÉSAR CALMON
RUA PRESIDENTE RODRIG
UES ALVES
RUA R
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RUA BERTINO BORGES
RUA PRESIDENTE PRUDENTE DE M
ORAES
RUA JOSÉ GOMES LORETO
RUA JOÃO NUNES COELHO
RUA JOÃO BAPTISTA CELESTINO
RUA DO ALMIRANTE
RUA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
RUA MARIA SALIBA BUAIZ
RUA O
SCAR
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RIGU
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A
RUA MARQUÊS DE OLINDA
RUA D
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CAMP
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362700
362700
363250
363250
363800
363800
364350
364350
7756
800
7756
800
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350
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900
7757
900
7758
450
7758
450
7759
000
7759
000
PREFEITURA DE VITÓRIA
UTM - SIRGAS 2000
±0 200 400100
m
SECRETARIA DE GESTÃO ESTRATÉGICAGERÊNCIA DE INFORMAÇÕES MUNICIPAIS
Fone: (27) 3382-6010Vitória em MapasFevereiro - 2012
SANTA MARTHA
LEGENDA
Limite Bairro - Lei 6.077/03
Arruamento
Estação Ecológica Ilha do LameirãoAPP Ilha do Campinho
CARIACICA
SERRA
VILA VELHA
BAIRRO
GOIABEIRAS
JARDIM DA PENHA
1 cm = 1,349 m
DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS
RESISTÊNCIA
GOIABEIRAS
ANTÔNIOHONÓRIO
MATA DA PRAIA
BOA VISTA
REPÚBLICA
AEROPORTO
MORADA DECAMBURI
JOANA D'ARC
JABOURMARIA ORTIZ
Informação Vitória Goiabeiras (%) Vitória
Área km² 93,38 2,37 2,54%
População 319.163 2.633 0,82%
Homens 149.833 1.255 0,84%
Mulheres 169.330 1.378 0,81%
Renda Média 1.661,99 988,91 -
Fonte: IBGE - Censo 2010
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Segundo Villaça (2011) nenhum aspecto da sociedade pode ser explicado e compreendido
sem considerar a enorme desigualdade econômica e de poder politico que ocorre na sociedade. O
autor salienta que o problema do Brasil não é pobreza, e sim a desigualdade e a injustiça
associada à pobreza. Dessa forma, torna-se importante o estudo da segregação socioespacial,
pois a segregação é a maior manifestação de desigualdade da sociedade e não é simplesmente e
somente um fator de divisão de classes no espaço urbano, mas também um instrumento de
controle desse espaço.
Compreender o processo de segregação é essencial para que seja possível compreender
a estrutura espacial intra-urbana das cidades. O espaço urbano tem sido objeto de estudo nos
mais diversos campos de saber, pois pensar o urbano por meio da organização espacial das
classes sociais nos remete a questões tanto de ordem econômica, quanto política, ideológica e
social, como a segregação, exclusão, pobreza, miséria, violência, desemprego, entre outras.
Segundo Villaça (1999), há uma tendência geral em pensar que há uma forte inter-relação
entre espaço e formação social, onde as transformações das estruturas sociais, particularmente
as transformações econômicas, provocam transformações no espaço. A análise do espaço
partindo das transformações sociais, econômicas e/ou políticas vem sendo estudada desde a
Escola de Chicago. Porém, há também estudos dos efeitos do espaço produzido sobre o social,
ainda que menos desenvolvidos, e segundo análise de Villaça (1999), com mais afirmações e
poucas demonstrações.
Com os estudos de Castells (1983) e Lefebvre (1974) o espaço urbano passa a ser
considerado produto social e há o consenso quanto ao reconhecimento de que o significado
essencial do fenômeno da segregação se dá sob a lógica da produção social do espaço urbano
(NEGRI, 2010). Lefebvre (1974) salienta que o espaço urbano não pode ser concebido como algo
passivo, vazio, como tendo apenas o sentido, como os outros “produtos”. Diz ainda que enquanto
produto, o espaço intervém na própria produção. Villaça (2009) corrobora, salientando que a
segregação é socialmente produzida, ou seja, não é dada pela natureza, mas é produto produzido
pelo trabalho humano.
Os estudos da segregação residencial tiveram origem na sociologia americana, derivada
da Escola de Chicago, nos Estados Unidos na década de 1910, com Park e Mackenzie, onde
compreendiam a segregação como fenômeno natural da urbanização em que os lugares de
moradia eram escolhidos pela população de acordo com suas preferências pessoais. Partiam da
crença de que os habitantes de uma metrópole são diferentes e interdependentes, e, justamente
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por serem diferentes e interdependentes determinam que espaço consideram desejáveis e até
que ponto é possível obtê-lo. Assim, a segregação se dá a partir da concentração de pessoas com
características semelhantes em uma mesma área residencial. Cabe ressaltar que os autores da
Escola de Chicago não tratam de classes e sim de pessoas ou de indivíduos.
Villaça (2009, p.142) entende segregação como “um processo segundo o qual diferentes
classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais
ou conjuntos de bairros da metrópole”. Villaça (2009) afirma que
desde a segunda metade do século XIX, quando a maioria das atuais metrópoles do país começou a apresentar altas taxas de crescimento, as classes de renda mais alta começaram a exibir um processo de segregação que segue, até hoje, a mesma tendência. Em todas elas, sem exceção, a tendência é a de essas classes se segregaram numa única e mesma região geral da cidade (VILLAÇA, 1999:224).
Os estudos da segregação socioespacial das metrópoles, de forma geral, mostram a
tendência dos bairros das camadas de alta renda se segregarem em uma mesma região da
cidade, não se espalhando aleatoriamente por toda metrópole. Por essa razão, Villaça (2009) dá
preferencia ao estudo da segregação por região geográfica, ou conjunto de bairros em detrimento
do estudo da segregação por bairro. A segregação por regiões da cidade é chamada de
macrossegregação.
A presença das camadas de mais alta renda em uma determinada região da metrópole
não impede a presença, tão pouco o crescimento de outras classes sociais na mesma área. Não
há exclusividade dessa ou daquela classe. As camadas de mais alta renda, mesmo que
concentradas em determinadas áreas, não representam a única classe social de determinada
região, uma vez que nessas áreas verifica-se também a presença das camadas de baixa renda. O
contrario não é verdadeiro, pois algumas áreas das metrópoles brasileiras são dominadas
exclusivamente por camadas de baixa renda. Dessa forma, as diferentes classes sociais podem
coexistir em um mesmo espaço. Isso significa que não é a concentração exclusiva das camadas
de alta renda que determinam a segregação de uma classe, mas sim a concentração significativa
dessa classe em uma determinada região, mais do que em qualquer outra área da metrópole
(VILLAÇA, 1999).
A segregação é, portanto, uma forma de exclusão social que apresenta uma dimensão
espacial (VILLAÇA, 2003). Assim, os lugares nas cidades são transformados pelo funcionamento
da sociedade urbana, onde as pessoas com maior renda, escolhem onde irão alojar-se, surgindo
então a segregação espacial dos bairros, ou das regiões, de acordo com as distintas classes
sociais (VILLAÇA, 2009).
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No estudo da estratificação espacial, Castells (1983) afirma que as características sociais,
quanto mais próximas, tanto mais tendem a reagrupar as pessoas espacialmente. Diz também
que essencialmente o que influencia a distribuição das residências no espaço é o prestigio social,
cuja expressão positiva é a preferência social, por vizinhos semelhantes, e a expressão negativa é
a distância social, que rejeita os vizinhos diferentes. Afirma ainda que o que determina a
acessibilidade ao espaço residencial desejado é a distribuição diferencial da renda.
A distribuição das residências no espaço, segundo Castells (1983), produz sua
diferenciação social e especifica a paisagem urbana de acordo com as características das
moradias e de sua população. A distribuição dos locais residenciais opera os reagrupamentos em
função da capacidade social dos indivíduos, de suas rendas, de seus status profissionais, de seus
níveis de instrução, etc. Assim se dá uma estratificação urbana, correspondendo, segundo este
autor, ao sistema de estratificação social, e nos casos em que a distância social é acentuada, se
dá a segregação urbana.
Castells (1983) compreende o processo de segregação socioespacial como reflexo da
distribuição espacial das diversas classes sociais, de acordo com o nível social dos indivíduos,
tendo determinações tanto ideológicas, econômicas quanto políticas. Assim, ele a define como a
“tendência à organização do espaço em zonas de forte homogeneidade social interna e de forte
disparidade social entre elas, entendendo-se essa disparidade não só em termos de diferença
como também de hierarquia" (CASTELLS, 1983:210). Os bairros, por exemplo, tendem a grande
homogeneidade social. Cabe ressaltar, que com a proliferação de favelas em áreas ocupadas, a
homogeneidade interna de muitos bairros ficou comprometida. Villaça (1999) discorre ainda que o
que se entende por “forte homogeneidade interna” é relativo, pois
no caso das metrópoles brasileiras, onde as camadas de mais alta renda são minoria na cidade como um todo, elas frequentemente são minoria, também, nas partes da cidade onde elas se concentram. Porém, por maior diversidade social que apresentem, tais áreas contém a maior parte das camadas de alta renda da metrópole (VILLAÇA, 1999:224).
A segregação residencial corresponde aos contrastes encontrados entre os residentes das
distintas zonas de uma mesma localidade e reproduz as desigualdades socioeconômicas e
reforça as condições de exclusão de parte da população. Segundo Villaça (2009, p.141) “o
funcionamento da sociedade urbana transforma seletivamente os lugares, afeiçoando-os às suas
exigências funcionais.” Assim, verifica-se as camadas de mais alta renda alojando-se em áreas
que lhes são mais convenientes, fazendo com que algumas áreas das cidades ganhem ou percam
valor ao longo do tempo. De um lado, há as classes de baixa renda que se isolam com suas
possibilidades restritas e de outro lado os ricos que se enclausuram em busca de exclusividade
residencial, evitando compartilhar a vida cotidiana com a classe de baixa renda (BONI, 2011).
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Assim, criam-se os bairros para os ricos, diminuindo a mistura social entre ricos e pobres. A
segregação espacial dos bairros residenciais criam sítios sociais muito particulares, tornando
essa, uma das características mais marcantes da metrópole brasileira (Villaça, 2009).
O que tem ditado essa tendência, segundo Villaça (1999) são os fatores de ordem cultural,
os atrativos do sítio natural e a localização, principalmente em termos de acessibilidade ao centro.
Nas metrópoles oceânicas, a valorização das orlas é uma realidade das camadas de alta renda,
levando a classificação da estrutura espacial interna das metrópoles brasileiras em dois grupos:
metrópole interior e a costeira. Na metrópole costeira, as camadas de alta renda dominam a
ocupação das residências da costa, mesmo que essas sejam cada vez mais distantes. Cabe
salientar que a distância do centro é relativa ao tamanho da cidade, à facilidade de locomoção e
essa distância para ser considerada longe do centro deve ser proporcional às distâncias ocupadas
pelos bairros populares. Os mesmos fatores, atratividade do sítio natural e proximidade ao centro,
determinam a localização das camadas de alta renda no caso da metrópole interior. A
acessibilidade ao centro é mais importante inclusive do que o sítio natural atraente. As camadas
de alta renda, abrem mão do sítio natural atraente para não se afastarem da linha reta em direção
ao centro.
Através da segregação, a classe dominante controla a produção e o consumo do espaço
urbano, dominam o espaço urbano não só produzindo suas áreas residenciais nas áreas mais
agradáveis e bem localizadas, mas também atuando sob e toda a estrutura urbana segundo seus
interesses” (VILLAÇA, 1999:224). Ainda segundo Villaça (1999:229) “a segregação é uma
determinada geografia produzida pela classe dominante e através da qual essa classe cerceia as
demais˜. Dessa forma, tem-se o efeito do espaço produzido sobre o social e não o contrário como
muitos autores interpretam o espaço.
A sociologia americana da Escola de Chicago faz uma distinção importante para a
compreensão de como se dá a segregação socioespacial. Distingue a segregação voluntária da
segregação involuntária (GIST e FAVA, 1986). A voluntária ocorre quando o indivíduo opta por
viver com outros indivíduos da mesma classe social, por iniciativa própria, como por exemplo os
condomínios fechados, os complexos residenciais murados. A segregação involuntária ocorre
quando, por forças alheias à vontade do indivíduo, ele se vê obrigado a morar em uma
determinada área, setor ou bairro da cidade, como por exemplo os excluídos na periferia das
metrópoles brasileiras. Nessas condições de segregação, há luta de classes, onde os vitoriosos,
pertencentes às camadas de alta renda desenvolvem a segregação voluntária e os derrotados,
pertencentes às camadas de baixa renda, desenvolvem a segregação involuntária, num processo
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dialético onde a segregação de uma classe provoca a segregação da outra. Segundo Villaça
(2009) a segregação centro x periferia é considerada uma segregação por classes e um exemplo
clássico de macrossegregação, onde o centro detém a maior parte dos serviços urbanos, públicos
e privados, sendo ocupado pelas camadas de mais alta renda e a periferia, ocupada
majoritariamente pela camada de mais baixa renda é subequipada e longínqua.
A tese sustentada por Lojkine (1981) de que as classes de mais alta renda dominam as
terras mais caras e as classes de mais baixa renda as terras mais baratas, já foi derrubada, uma
vez que, nas metrópoles brasileiras, nem sempre isso acontece. Apesar da camada de alta renda
ocupar muitas vezes as terras mais caras em termos de preço unitário do metro quadrado, ela
também ocupa terra barata na periferia. Verifica-se nos locais de terra barata, a camada de alta
renda ocupa terrenos grandes, assim como a classe média também ocupa terra cara, porém
consumindo pouca terra per capita ou por família. Dessa forma, não pode-se afirmar que o preço
da terra determina a segregação sócioespacial das metrópoles. Para Villaça (2009, pg. 151) é
mais provável que a verdade esteja no lado oposto: os preços do solo é que são fruto da
segregação.
O local de residência do individuo determina parte de suas oportunidades, assim como o
acesso a serviços públicos, saúde, educação, infraestrutura e trabalho. Assim a exclusão social
vai se configurando, já que são nas áreas desvalorizadas e com pouco investimento do Estado
que a população pobre vai se instalar, ocupando as periferias das cidades em áreas menos
desejadas, explicitando a forma desigual com o que o espaço é apropriado pelas diferentes
classes sociais.
Análise da Segregação Sócioespacial na Região do Bairro de Goiabeiras
Para analisar a segregação socioespacial da cidade de Vitória foram utilizados mapas da
cidade, elaborados pela Prefeitura, buscando retratar a segregação socioespacial no município,
com base em indicadores intraurbanos. Esses indicadores evidenciaram as áreas de maior
riqueza e sua distribuição espacial no município. As figuras 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e
16 permitem entender a dinâmica da segregação socioespacial no município de Vitória,
especialmente na região do bairro de Goiabeiras.
No ranking de bairro por densidade habitacional de Vitória (Figuras 6 e 7), o bairro
Goiabeiras aparece no ano de 2000 na posição 43, caindo para a posição 60 no ano de 2010. O
total de domicílios do bairro em 2000 era de 671, aumentando para 876 domicílios no ano de
2010. Apesar do aumento no número de domicílios, verifica-se uma diminuição na densidade
13
habitacional na região, que caiu de 3,50 em 2000 para 3,01 em 2010.
Fig. 6 – Densidade Habitacional de Vitória Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
Densidade Habitacional de Vitória
PREFEITURA DE VITÓRIASecretaria de Gestão Estratégica
Gerência de Informações MunicipaisFonte: Censo e IQU
UTM - SIRGAS 2000
2010
20001991
Densidade Habitacional(hab/dom)
Até 3,00
De 3,01 a 4,00
De 4,01 a 5,00
Acima 5,01
´1 0 1 20.5
km
14
Fig. 7 – Ranking de Bairro por Densidade Habitacional de Vitória - 2000 e 2010. Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
15
As regiões administrativas de Vitória com maior população, em número de habitantes,
tanto no ano 2000 quanto em 2010, conforme mostra a Fig. 8, estão localizadas na Região 09
(Jardim da Penha), Região 08 (Jardim Camburi), Região 05 (Praia do Canto) e Região 04
(Maruípe). Verifica-se que na região do bairro de Goiabeiras não houve alteração significativa no
número de população entre os anos de 2000 e 2010.
Fig. 8 – Distribuição da População de Vitória por Bairro Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
As regiões administrativas de Vitória com maior crescimento de habitantes entre os anos
2000 e 2010 estão localizadas na Região 09 (Jardim da Penha), Região 08 (Jardim Camburi) e
Região 05 (Praia do Canto), regiões mais ricas do município, conforme pode ser visualizado na
Fig. 9. O crescimento absoluto da população no bairro de Goiabeiras foi na faixa de 100 a 500,
conforme mostra a figura abaixo, sendo uma das regiões com menor crescimento em número de
habitantes.
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Distribuição da População de Vitória por Bairro
PREFEITURA DE VITÓRIASecretaria de Gestão Estratégica
Gerência de Informações MunicipaisFonte: IBGE - Censo
±1 0 10.5 km
UTM - SIRGAS 2000
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2000 2010
LegendaHabitantes
Até 1.000De 1.001 a 2.000De 2.001 a 3.000De 3.001 a 4.000De 4.001 a 5.000De 5.001 a 6.000De 6.001 a 10.000De 10.001 a 16.000Acima de 30.000
Bairros
01 - Aeroporto02 - Andorinhas03 - Antônio Honório04 - Ariovaldo Favalessa05 - Barro Vermelho06 - Bela Vista07 - Bento Ferreira08 - Boa Vista09 - Bonfim10 - Caratoíra11 - Centro12 - Comdusa13 - Conquista14 - Consolação15 - Cruzamento16 - Da Penha17 - De Lourdes18 - Do Cabral19 - Do Moscoso20 - Do Quadro21 - Enseada do Suá22 - Estrelinha23 - Fonte Grande24 - Forte São João25 - Fradinhos26 - Goiabeiras27 - Grande Vitória28 - Gurigica29 - Horto30 - Ilha das Caieiras31 - Ilha de Santa Maria32 - Ilha do Boi33 - Ilha do Frade34 - Ilha do Príncipe35 - Inhanguetá36 - Itararé37 - Jabour38 - Jardim Camburi39 - Jardim da Penha40 - Jesus de Nazareth41 - Joana D'Arc42 - Jucutuquara43 - Maria Ortiz44 - Mário Cypreste45 - Maruípe46 - Mata da Praia47 - Monte Belo48 - Morada de Camburi49 - Nazareth50 - Nova Palestina51 - Parque Moscoso52 - Piedade53 - Pontal de Camburi54 - Praia do Canto55 - Praia do Suá56 - Redenção57 - República58 - Resistência59 - Romão60 - Santa Cecília61 - Santa Clara62 - Santa Helena63 - Santa Lúcia64 - Santa Luíza65 - Santa Marta66 - Santa Tereza67 - Santo André68 - Santo Antônio69 - Santos Dumont70 - Santos Reis71 - São Benedito72 - São Cristovão73 - São José74 - São Pedro75 - Segurança do Lar76 - Solon Borges77 - Tabuazeiro78 - Universitário79 - Vila Rubim
16
Fig. 9 – Crescimento Absoluto da População em Vitória por Bairro Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
O IQU é um índice composto por quatro dimensões: ambiental, habitacional, educacional e
renda. A classificação do Índice de Qualidade Urbana (IQU) é feita em uma escala de zero a um,
sendo valores crescentes de qualidade de vida, com melhores condições os mais próximos de
um. O IQU médio da cidade em 2000 correspondeu a 0,59. Cerca de vinte e seis bairros
encontraram-se acima dessa média (IQU acima do valor de 0,64), quarenta e três bairros
apresentaram um IQU abaixo dessa média (abaixo de 0,54) e dez bairros ficaram próximo dessa
média (com IQU na faixa entre 0,54 e 0,64). O bairro de Goiabeiras apresentou IQU de 0,52 tanto
no ano de 1991 quanto em 2000, ficando abaixo da média da cidade em 2000.
Verifica-se mudanças no comportamento do IQU no interstício 1991 – 2000, onde é
possível visualizar por meio da Fig. 10 e da Fig. 11 a evolução do IQU médio das regiões de
Vitória. Em 1991 as áreas com IQU mais elevados concentravam-se nas regiões administrativas
05 (Praia do Canto) e 09 (Jardim da Penha), sendo essas, as áreas de poder aquisitivo mais
elevado do município. Esse padrão se repede no ano 2000, com essas mesmas regiões
apresentando índices mais elevados de IQU. Já nas regiões 02 (Santo Antônio), 07 (São Pedro),
01 (Centro), 04 (Maruípe), 08 (Jardim Camburi) e 03 (Jucutuquara) verifica-se crescimento na
média do IQU entre os anos de 1991 e 2000. A região do bairro de Goiabeiras (Região 06)
permanece na mesma média nos dois mapas, não apresentando evolução do IQU.
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CrescimentoHabitantes
Até 100
De 101 a 500
De 501 a 1.000
De 1.001 a 2.000
De 2.001 a 6.000
Acima de 15.000
Crescimento Absoluto da População em Vitória por Bairro
De 2000 para 2010
PREFEITURA DE VITÓRIAFonte: IBGE Censo Demográfico - 2010
Gerência de Informações Municipais - SEGES/PMV
±0 0.5 10.25 km
UTM - SIRGAS 2000
Bairros
01 - Aeroporto02 - Andorinhas03 - Antônio Honório04 - Ariovaldo Favalessa05 - Barro Vermelho06 - Bela Vista07 - Bento Ferreira08 - Boa Vista09 - Bonfim10 - Caratoíra11 - Centro12 - Comdusa13 - Conquista14 - Consolação15 - Cruzamento16 - Da Penha17 - De Lourdes18 - Do Cabral19 - Do Moscoso20 - Do Quadro21 - Enseada do Suá22 - Estrelinha23 - Fonte Grande24 - Forte São João25 - Fradinhos26 - Goiabeiras27 - Grande Vitória28 - Gurigica29 - Horto30 - Ilha das Caieiras31 - Ilha de Santa Maria32 - Ilha do Boi33 - Ilha do Frade34 - Ilha do Príncipe35 - Inhanguetá36 - Itararé37 - Jabour38 - Jardim Camburi39 - Jardim da Penha40 - Jesus de Nazareth41 - Joana D'Arc42 - Jucutuquara43 - Maria Ortiz44 - Mário Cypreste45 - Maruípe46 - Mata da Praia47 - Monte Belo48 - Morada de Camburi49 - Nazareth50 - Nova Palestina51 - Parque Moscoso52 - Piedade53 - Pontal de Camburi54 - Praia do Canto55 - Praia do Suá56 - Redenção57 - República58 - Resistência59 - Romão60 - Santa Cecília61 - Santa Clara62 - Santa Helena63 - Santa Lúcia64 - Santa Luíza65 - Santa Marta66 - Santa Tereza67 - Santo André68 - Santo Antônio69 - Santos Dumont70 - Santos Reis71 - São Benedito72 - São Cristovão73 - São José74 - São Pedro75 - Segurança do Lar76 - Solon Borges77 - Tabuazeiro78 - Universitário79 - Vila Rubim
17
Fig. 10 – IQU Médio 1991 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
Fig. 11 – IQU Médio 2000 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
18
Analisando a dimensão renda do IQU é possível verificar as condições de vida, em relação
ao poder aquisitivo, das famílias nas diferentes regiões administrativas de Vitória. A dimensão
renda inclui o rendimento médio dos responsáveis pelo domicílio e a distribuição da renda, que
pode ser compreendida como uma medida de desigualdade de renda. Assim é possível identificar
os focos de pobreza e de desigualdade de renda das regiões administrativas da cidade.
Analisando os mapas de distribuição territorial de classes sociais no município de Vitória, é
possível observar a segregação das camadas de alta renda. No ano de 1991 os maiores
rendimentos médios dos responsáveis pelos domicílios estavam concentrados nas regiões 05
(Praia do Canto) e 09 (Jardim da Penha). Esse padrão se repetiu no ano 2000, onde os maiores
rendimentos médios encontravam-se nas mesmas regiões, conforme pode ser visualizado na Fig.
12 e na Fig. 13, confirmando a segregação dos bairros residenciais das camadas de alta renda
nessas áreas.
Observando os resultados do interstício 1991 e 2000, verifica-se que a tendência
permanece similar, com os bairros situados nas regiões mais ricas apresentando as maiores taxas
de crescimento de renda.
Fig. 12 – IQU rendimento médio dos responsáveis pelo domicilio em salários mínimos 1991 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
19
Fig. 13 – IQU rendimento médio dos responsáveis pelo domicilio em salários mínimos 2000 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
Ao analisar as regiões administrativas da Grande Vitória com maior rendimento nominal
médio mensal no ano de 2010, verifica-se que as regiões 05 (Praia do Canto) e 09 (Jardim da
Penha) possuem os maiores rendimentos do município. A região 06 (Goiabeiras) é uma das
regiões com menor rendimento nominal médio mensal de Vitória, conforme pode ser constatado
na Fig. 14.
20
Fig. 14 – Rendimento Nominal Médio Mensal por Bairro de Vitória 2010 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
As regiões mais ricas da cidade de Vitória - ES são as regiões com maior participação da
população branca no total de habitantes. Conforme pode ser observado na Fig. 15, as regiões 05
(Praia do Canto), 09 (Jardim da Penha) e 08 (Jardim Camburi) possuem percentual acima de 60%
de população branca. A população negra e parda está localizada em grande número nas regiões
mais pobres de Vitória, quais sejam: 02 (Santo Antônio), 03 (Jucutuquara), 04 (Maruípe) e 07 (Soa
Pedro), conforme pode ser visualizado na Fig. 16. Na região de Goiabeiras, o percentual de
população branca é de 20 a 40% e o percentual da população negra e parda é de 40 a 60%,
predominando a população negra e parda nesta área.
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PREFEITURA DE VITÓRIAFonte: IBGE Censo Demográfico - 2010
Gerência de Informações Municipais - SEGES/PMV
±1 0 10.5 km
UTM - SIRGAS 2000
RendimentoSalário Minimo (SM)
De 1 a 3 SMDe 3 a 5 SMDe 5 a 10 SMAcima de 10 SM
Rendimento Nominal Médio Mensal por Bairro de Vitória - 2010
Valor do rendimento nominal médio mensal daspessoas de 10 anos ou mais de idade (Reais).Salário Minimo R$ 510,00.
Bairros
01 - Aeroporto02 - Andorinhas03 - Antônio Honório04 - Ariovaldo Favalessa05 - Barro Vermelho06 - Bela Vista07 - Bento Ferreira08 - Boa Vista09 - Bonfim10 - Caratoíra11 - Centro12 - Comdusa13 - Conquista14 - Consolação15 - Cruzamento16 - Da Penha17 - De Lourdes18 - Do Cabral19 - Do Moscoso20 - Do Quadro21 - Enseada do Suá22 - Estrelinha23 - Fonte Grande24 - Forte São João25 - Fradinhos26 - Goiabeiras27 - Grande Vitória28 - Gurigica29 - Horto30 - Ilha das Caieiras31 - Ilha de Santa Maria32 - Ilha do Boi33 - Ilha do Frade34 - Ilha do Príncipe35 - Inhanguetá36 - Itararé37 - Jabour38 - Jardim Camburi39 - Jardim da Penha40 - Jesus de Nazareth41 - Joana D'Arc42 - Jucutuquara43 - Maria Ortiz44 - Mário Cypreste45 - Maruípe46 - Mata da Praia47 - Monte Belo48 - Morada de Camburi49 - Nazareth50 - Nova Palestina51 - Parque Moscoso52 - Piedade53 - Pontal de Camburi54 - Praia do Canto55 - Praia do Suá56 - Redenção57 - República58 - Resistência59 - Romão60 - Santa Cecília61 - Santa Clara62 - Santa Helena63 - Santa Lúcia64 - Santa Luíza65 - Santa Marta66 - Santa Tereza67 - Santo André68 - Santo Antônio69 - Santos Dumont70 - Santos Reis71 - São Benedito72 - São Cristovão73 - São José74 - São Pedro75 - Segurança do Lar76 - Solon Borges77 - Tabuazeiro78 - Universitário79 - Vila Rubim
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Fig. 15 – Participação da População Branca no Total de Habitantes por Bairro de Vitória em 2010 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
Fig. 16 – Participação da População Negra e Parda no Total de Habitantes por Bairro de Vitória em 2010 Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória
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PREFEITURA DE VITÓRIASecretaria de Gestão Estratégica
Gerência de Informações MunicipaisFonte: IBGE - Censo 2010
±1 0 10.5 km
UTM - SIRGAS 2000
População BrancaPercentual
Até 20.00%De 20.01% a 40.00%De 40.01% a 60.00%Acima de 60.01%
Participação da Populacão Branca no Total de Habitantespor Bairro de Vitória - 2010
Bairros01 - Aeroporto02 - Andorinhas03 - Antônio Honório04 - Ariovaldo Favalessa05 - Barro Vermelho06 - Bela Vista07 - Bento Ferreira08 - Boa Vista09 - Bonfim10 - Caratoíra11 - Centro12 - Comdusa13 - Conquista14 - Consolação15 - Cruzamento16 - Da Penha17 - De Lourdes18 - Do Cabral19 - Do Moscoso20 - Do Quadro21 - Enseada do Suá22 - Estrelinha23 - Fonte Grande24 - Forte São João25 - Fradinhos26 - Goiabeiras27 - Grande Vitória28 - Gurigica29 - Horto30 - Ilha das Caieiras31 - Ilha de Santa Maria32 - Ilha do Boi33 - Ilha do Frade34 - Ilha do Príncipe35 - Inhanguetá36 - Itararé37 - Jabour38 - Jardim Camburi39 - Jardim da Penha40 - Jesus de Nazareth41 - Joana D'Arc42 - Jucutuquara43 - Maria Ortiz44 - Mário Cypreste45 - Maruípe46 - Mata da Praia47 - Monte Belo48 - Morada de Camburi49 - Nazareth50 - Nova Palestina51 - Parque Moscoso52 - Piedade53 - Pontal de Camburi54 - Praia do Canto55 - Praia do Suá56 - Redenção57 - República58 - Resistência59 - Romão60 - Santa Cecília61 - Santa Clara62 - Santa Helena63 - Santa Lúcia64 - Santa Luíza65 - Santa Marta66 - Santa Tereza67 - Santo André68 - Santo Antônio69 - Santos Dumont70 - Santos Reis71 - São Benedito72 - São Cristovão73 - São José74 - São Pedro75 - Segurança do Lar76 - Solon Borges77 - Tabuazeiro78 - Universitário79 - Vila Rubim
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PREFEITURA DE VITÓRIASecretaria de Gestão Estratégica
Gerência de Informações MunicipaisFonte: IBGE - Censo 2010
±1 0 10.5 km
UTM - SIRGAS 2000
População Negra e PardaPercentual
Até 20.00%De 20.01% a 40.00%De 40.01% a 60.00%Acima de 60.01%
Participação da Populacão Negra e Parda no Total de Habitantespor Bairro de Vitória - 2010
Bairros01 - Aeroporto02 - Andorinhas03 - Antônio Honório04 - Ariovaldo Favalessa05 - Barro Vermelho06 - Bela Vista07 - Bento Ferreira08 - Boa Vista09 - Bonfim10 - Caratoíra11 - Centro12 - Comdusa13 - Conquista14 - Consolação15 - Cruzamento16 - Da Penha17 - De Lourdes18 - Do Cabral19 - Do Moscoso20 - Do Quadro21 - Enseada do Suá22 - Estrelinha23 - Fonte Grande24 - Forte São João25 - Fradinhos26 - Goiabeiras27 - Grande Vitória28 - Gurigica29 - Horto30 - Ilha das Caieiras31 - Ilha de Santa Maria32 - Ilha do Boi33 - Ilha do Frade34 - Ilha do Príncipe35 - Inhanguetá36 - Itararé37 - Jabour38 - Jardim Camburi39 - Jardim da Penha40 - Jesus de Nazareth41 - Joana D'Arc42 - Jucutuquara43 - Maria Ortiz44 - Mário Cypreste45 - Maruípe46 - Mata da Praia47 - Monte Belo48 - Morada de Camburi49 - Nazareth50 - Nova Palestina51 - Parque Moscoso52 - Piedade53 - Pontal de Camburi54 - Praia do Canto55 - Praia do Suá56 - Redenção57 - República58 - Resistência59 - Romão60 - Santa Cecília61 - Santa Clara62 - Santa Helena63 - Santa Lúcia64 - Santa Luíza65 - Santa Marta66 - Santa Tereza67 - Santo André68 - Santo Antônio69 - Santos Dumont70 - Santos Reis71 - São Benedito72 - São Cristovão73 - São José74 - São Pedro75 - Segurança do Lar76 - Solon Borges77 - Tabuazeiro78 - Universitário79 - Vila Rubim
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Considerações Finais
O crescimento desordenado da cidade de Vitória é marcado por movimentos
populacionais, em que o fluxo e a mobilidade da população de baixa renda, assalariada ou
desempregada ocorreram em direção às periferias, morros e manguezais. Assim, o espaço
urbano de Vitória se desenvolveu de forma desordenada, sendo esse um dos principais motivos
de grande desorganização espacial e social, refletindo no isolamento espacial dos pobres em
relação aos ricos. O resultado desse crescimento desordenado, que não foi acompanhado de
politicas publicas eficientes, é a segregação urbana e social demonstrada neste trabalho. Isso
levou a um crescente processo de vulnerabilidade tanto econômica quanto social na cidade.
Ao analisar a distribuição das classes sociais no espaço, verifica-se na cidade de Vitória
uma região, formada por vários bairros, onde ocorre uma grande concentração das classes de alta
renda. Segundo Villaça (2009) desde meados do século XIX, as classes de alta renda vem
tendendo a se deslocar territorialmente segundo uma única direção. Essa constatação se confirma
na cidade de Vitória – ES, onde há concentração da população de alta renda nas regiões 05
(Praia do Canto) e 09 (Jardim da Penha). Apesar de ser uma pequena ilha, o município de Vitória
demostra uma grande proximidade física entre as áreas geográficas, porém uma distância social
entre ricos e pobres de grandes proporções.
O resultado desta pesquisa mostrou as regiões da cidade com baixo status
sócioeconômico e baixo índice de qualidade urbana. Observa-se que o aumento no índice de
qualidade urbana ocorreu ao longo dos anos, apontando para uma melhoria na qualidade de vida
da população do município, porém as áreas de vulnerabilidade social e pobreza permaneceram as
mesmas.
O bairro de Goiabeiras, apresentou-se como uma das regiões com menor crescimento em
número de habitantes no município. Constatou-se que com o passar dos anos, se manteve como
área fortemente submetida ao processo de segregação imposto na cidade de Vitoria, mesmo após
as Paneleiras de Goiabeiras terem obtido maior destaque ao serem registradas no IPHAN e
reconhecidas nacionalmente como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. As transformações
ocorridas no bairro de Goiabeiras ao longo dos anos não foram capazes de retirá-lo da zona de
segregação sócioespacial do município de Vitoria. O bairro permanece apresentando grande
desigualdade social, poucos investimentos em infraestrutura e baixo índice de qualidade urbana.
A região de Goiabeiras caracteriza-se por produzir situações de exclusão social, colocando-se
como desafio a redução da desigualdade nesta região.
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Referências
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