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Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 1
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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Organização: Marcelo Giordan e Marcia Borin da Cunha.
Diagramação: Arcelino Bezerra da Silva Neto.
Realização: Núcleo de Apoio à Pesquisa e Inovação em Ensino de Ciências - NAPIEC.
Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química e Tecnologias Educativas - LAPEQ.
Apoio: Pró-Reitoria de Pesquisa da USP - PRP.
Faculdade de Educação da USP - FEUSP.
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Resumo das palestras
Divulgação da Ciência, da Técnica e Cidadania na sala de aula. .................................................... 6
Guaracira Gouvêa
Audiovisual e ciência na sala de aula: por inversões (circunstanciadas) da tradição, ou seja, pelo "espírito artístico e emoção científica" ............................................................................... 7
Denise Tavares
Museus de Ciências, Escolas e Formação: potencialidades e desafios ........................................ 8
Martha Marandino
Do rigor cientifico às novas narrativas online – o uso do vídeo na popularização do conhecimento na sala de aula. .................................................................................................................... 9
Simone Bortoliero
Divulgação científica em espaços de Educação Não Formal: tensões e possibilidades na parceria com a escola .................................................................................................................................. 10
Alessandra Bizerra
A divulgação da científica na sala de aula: implicações do gênero ........................................... 11
Marcia Borin da Cunha
O Gênero Radiofônico e a Divulgação da Ciência e da Tecnologia ............................................ 12
Silvania Sousa do Nascimento
Divulgação Científica No Ensino Escolar: possibilidades e limites ........................................... 13
Maria José Pereira Monteiro de Almeida
Textos de divulgação científica em salas de aula de química ...................................................... 14
Luciana Nobre de Abreu Ferreira
Práticas de letramento mediadas pela revista Ciência Hoje das Crianças em sala de aula ............................................................................................................................................................................. 15
Sheila Alves de Almeida
Textos de Divulgação Científica na sala de aula. .............................................................................. 16
Eduardo A. Terrazzan
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Resumo dos Trabalhos
Física Quântica numa Leitura de Divulgação Científica no início do Ensino Médio: manifestações dos estudantes ................................................................................................................. 18
Cassiano Rezende Pagliarini, Maria José P. M. de Almeida
A revista Pré-Univesp na sala de aula ................................................................................................... 21
Márcia Azevedo, Ana Paula Morales, Patrícia Mariuzzo
O “Almanaque Sonoro de Química” como Ferramenta Semiótica para Divulgação Científica na Sala de Aula ........................................................................................................................... 24
Renata Barbosa Dionysio, Luis Gustavo Magro Dionysio, Waldmir Araujo Neto
Divulgação da óptica e fotônica na educação básica ....................................................................... 27
Ana Carolina de Magalhães, Arthur Maximo, Caetano Padial Sabino, Cecil Chow Robilotta, Danilo Furlan Kaid, Elisabeth Mateus Yoshimura, Fernanda Alexandrina Queiroz Gomes, Gustavo Henrique da Costa, Luis Augusto Alves, Marcelo Francisco Lários da Silva, Marcelo Victor Pires de Souza, Mikiya Muramatsu, Tânia Mateus Yoshimura, Willian Fernandes dos Santos, William de Paula Amado
Células-tronco: interações CTS em textos da revista Ciência Hoje ........................................... 30
Rosangela Araujo Xavier Fujii, Maria Júlia Corazza
Imagem e Presença como Ferramentas Mediais em Atividades do Ensino de Química ... 33
Luis Gustavo Magro Dionysio, Renata Barbosa Dionysio, Waldmir Araujo Neto
Banca da Ciência: Experiências na Interface da Comunicação Científica Itinerante com a Escolarização Regular ................................................................................................................................. 36
Luís Paulo Piassi, Emerson Izidoro Santos, Rui Manoel Bastos Vieira
A preparação dos professores para fazer divulgação científica ................................................. 39
Enio Borba Carli
A divulgação científica em sala de aula ................................................................................................ 42
Guilherme da Silva Lima, Marcelo Giordan
Divulgação Científica em sala de aula: o Jornal Biosferas como ferramenta de ensino .... 45
Marcia Reami Pechula, Arthur de Lima e Silva, Artur Rodrigues Janeiro, Gabriela Klein Barbosa, Jéssica Alves Chagas, Renato Augusto Corrêa dos Santos, Stella de Mello Silva, Thierry Alexandre Guerra Bacciotti Denardo
A leitura de divulgação científica na escola, existe? ........................................................................ 48
Raquel Roberta Bertoldo, Marcia Borin da Cunha, Dulce Maria Strieder, Alex Sander da Silva
Análise da percepção de estudantes do ensino fundamental a respeito do uso de documentários ambientais na escola ................................................................................................... 51
Roberta Rodrigues da Matta, Marcelo Borges Rocha, Igor Leandro Alves de Carvalho
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Análise Crítica de Texto de Divulgação Científica na Escola ........................................................ 54
Claudia Almeida Fioresi, Eliane Souza dos Reis Hipólito, Marcia Borin da Cunha
Oficinas Temáticas visando à Divulgação Científica em aulas de Química ............................ 57
Fabio de Souza, Luciane Akahoshi, Maria Eunice Marcondes, Ana Silva, Bruno Vieira, Guilherme Zanelato, Marcelo Souza, Thainá Souza, Wesley Nascimento
A divulgação da ciência e a escola em artigos da QNESc e Ciência & Educação ................... 60
Eliane Souza dos Reis Hipólito, Claudia Almeida Fioresi, Mônica Beatriz Layte, Marcia Borin da Cunha
Produção de Materiais de Divulgação Científica em um Curso de Licenciatura em Física ............................................................................................................................................................................. 63
Antonio Luiz Fernandes Marques
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Divulgação da Ciência, da Técnica e Cidadania na sala de aula.
Guaracira Gouvêa
PPGEDu – UNIRIO [email protected]
Palavras- chave: divulgação da ciência e da técnica; cidadania; sala de aula; formação continuada e inicial de professores.
Resumo
Em um primeiro momento, problematizo, tendo como referência uma abordagem fundamentada nos estudos da linguagem em uma perspectiva sócio-histórico, os significados atribuídos à prática social de divulgar ciência, em diferentes períodos no Brasil. Apontamos para a necessidade de se enfocar, também, a divulgação da técnica, pois é essa que permeia nossas práticas sociais cotidianas. Além disso, discuto por que divulgar a ciência e a técnica são práticas fundamentais para a constituição de uma cultura contemporânea e de uma cidadania crítica, explicitando o conceito de cultura/s e de cidadania abordados. Em um segundo momento, destaco a importância de se inserir na formação inicial e continuada de professores a problematização sobre as questões que envolvem o uso em sala de aula de textos elaborados no contexto da divulgação da ciência e da técnica, tendo como ponto de partida pesquisas desenvolvidas pleos grupo de pesquisa em que atuo, no âmbito da educação em ciência.
Guaracira Gouvêa
Licenciatura e bacharelado em Física pela USP e UFRJ, mestrado em Educação pela FGV – RJ; doutorado em Educação Gestão e Difusão em Biociências pela UFRJ; pós-Doutorado em Educação pela UAB, Espanha. Professora adjunta da UNIRIO e colaboradora da UFRJ. Pesquisa os seguintes temas em educação em ciências: linguagens, divulgação da ciência e da técnica; museus de ciência e formação de professores, nos quais estão vinculadas suas produções mais relevantes. Bolsista Produtividade PQII, CNPq.
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Audiovisual e ciência na sala de aula: por inversões (circunstanciadas) da tradição, ou seja, pelo "espírito artístico e
emoção científica"
Denise Tavares
Universidade Federal Fluminense/UFF [email protected]
Palavras-chave: documentário; cultura audiovisual; divulgação científica; sala de aula; meio-ambiente.
Resumo
A proposta é, inicialmente, localizar o atual estágio da cultura audiovisual e, nesta, o papel do documentário como capaz de, imediatamente, provocar a adesão à sua versão dos fatos. Em seguida, busco problematizar o que coloca Juan Nepote, para quem "... a ciência e a poesia enriquecem nossa linguagem e alargam nossa imaginação, pois em vez de nos confrontar com respostas, nos confrontam com perguntas". Finalmente, destacando o eixo meio-ambiente, apresento alguns fragmentos de documentários científicos, propondo estratégias de abordagem e discussão na sala de aula que problematizam tanto a linguagem documentária como a divulgação científica, além da necessidade de construção de um repertório que não ignore mais a produção audiovisual como elemento fundamental na produção de conhecimento científico.
Denise Tavares
Jornalista, mestre em Multimeios pela Unicamp e Doutora em Integração Latino Americana, pela USP. Professora adjunta da Universidade Federal Fluminense, pesquisa a relação do audiovisual com a ciência; o documentário na América Latina, em especial, o documentário biográfico, e, também, as produções multimídias.
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Museus de Ciências, Escolas e Formação: potencialidades e desafios
Martha Marandino
Faculdade de Educação da USP www.geenf.fe.usp.br [email protected]
Resumo A proposta desta intervenção é a de problematizar o papel dos museus de ciências na formação dos indivíduos. Considerados locais de divulgação da ciência e de educação ao longo da vida, os museus possuem particularidades na forma de produzir conhecimento e apresentá-lo para diferentes audiências, por meio de suas exposições e demais ações educativas. Desse modo, a partir da caracterização das especificidades pedagógicas dos museus e de sua contribuição no processo de alfabetização científica de seus visitantes, serão analisadas propostas de inclusão de temas relacionados aos museus de ciências na formação de professores e, consequentemente, nas práticas pedagógicas escolares. Serão ainda abordados alguns desafios para o desenvolvimento de parcerias entre museus, universidades e escolas no que diz respeito a centralidade do papel da escola na formação de professores, a reflexão e organização dos museus para receber o público escolar e, ao mesmo tempo, das escolas para promoção de práticas de visita à museus. Ainda serão propostos questionamentos sobre os públicos que visitam e não visitam os museus e os desafios para ampliação do acesso e inclusão de novos visitantes.
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Do rigor cientifico às novas narrativas online – o uso do vídeo na popularização do conhecimento na sala de aula.
Simone Bortoliero
Universidade Federal da Bahia/UFBA [email protected]
Palavras-chave: popularização do conhecimento, novas narrativas on-line, vídeo cientifico, educação básica
Resumo
A década de 80 e 90 foi marcada por uma tentativa de classificação que diferenciava o vídeo didático-científico do vídeo de divulgação científica para uso em sala de aula. No século XXI, o vídeo na Internet adota diferentes gêneros, formatos e estilos, criando uma variedade de difícil classificação e isto nos impõe novos padrões de análise. Se no início a rede promovia uma mera transposição de conteúdo de vídeos criados para a televisão ou cinema, atualmente percebemos um aumento nos vídeos gerado pelo usuário que não só tem sido a base do sucesso do Youtube, mas tem sido um dos principais desenvolvimentos do novo paradigma da Comunicação. Neste ecossistema, os usuários são convidados a tornarem-se produtores e divulgar seu trabalho, o que implica um canal direto entre produtores de conhecimento, amadores científicos, aproveitadores e a sociedade. Isto traz um impacto nas formas de percepção pública da ciência e da tecnologia nas salas de aulas da educação básica no Brasil. Pesquisas já apontam que o rigor científico não é um critério para veiculação, não há destaque somente para os resultados e os processos da ciência e o próprio lado humano dos pesquisadores vêm sendo enfatizados. Nosso desafio é preparar professores e estudantes nesta nova tarefa de produção do vídeo on-line para comunicar temas de C&T para a sociedade.
Simone Bortoliero
Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, ambos da Universidade Federal da Bahia. Coordenadora da Agência de Notícias em C&TI e da WebTV Ciência e Cultura da UFBA.
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Divulgação científica em espaços de Educação Não Formal: tensões e possibilidades na parceria com a escola
Alessandra Bizerra
Universidade de São Paulo/USP
Resumo
A maior parte do tempo de aprender de uma pessoa dá-se nos diversos espaços educativos que permeiam seu cotidiano, em que a interação com elementos da ciência e da tecnologia apresenta-se com características distintas do ambiente escolar. Os discursos divulgadores da C&T estão presentes nesses múltiplos espaços e lhes são atribuídos contornos próprios, em cada um deles. Considerando essas possíveis variações discursivas, quais pontes teórico-metodológicas entre a escola e seus parceiros educacionais têm sido fortalecidas? Como têm sido avaliados e quais os principais resultados dos programas que promovem diálogos entre espaços formais e não formais? Com foco nos museus de ciências, aprofundaremos uma análise sobre algumas das tensões e das possibilidades que emergem da parceria entre a escola e outros espaços de educação e comunicação da ciência.
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A divulgação da científica na sala de aula: implicações do gênero
Marcia Borin da Cunha
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste Núcleo de Ensino de Ciências de Toledo/NECTO Programa de Pós-Graduação em Educação/Unioeste Programa de Pós-Graduação e Ensino/Unioeste borin.unioeste@ gmail.com
Palavras- chave: TDC; gênero discursivo; sala de aula; leitura.
Resumo
A divulgação científica constitui-se um gênero discursivo, conforme os estudos de Bakhtin e, neste sentido, deve ser compreendida por professores e estudantes no momento em que esta é inserida na sala de aula. Levar a divulgação científica para sala de aula implica em uma mudança de esfera - da esfera midiática para esfera didática - e esta mudança tem reflexos no gênero discursivo. Estas considerações são relevantes para que se proponham atividades de discussão da divulgação científica nas aulas de Ciências. A intensão, nesta mesa, é discutir as implicações da mudança de gênero e a necessidade de propostas que consideram as características dos gêneros, especialmente no que se refere aos textos de divulgação científica publicados em jornais e revistas. Pois, é preciso que os professores estejam atentos para intervir positivamente nos processos de transferência de contextos tão diferentes como é o caso da mídia e da escola. Entender o gênero da divulgação científica e analisar criticamente as publicações da divulgação da Ciência antes de levá-las à sala de aula de forma a torná-las ferramentas didáticas é tarefa importante e não pode ser desprezada.
Marcia Borin da Cunha
Graduada em Química Licenciatura pela UFSM, mestre em Educação pela UFSM, doutora em Educação pela FE-USP. Docente do curso de Química Licenciatura da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste, Campus de Toledo, docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Unioeste, campus de Cascavel, docente do Programa de Pós-graduação em Ensino da Unioeste, Campus de Foz do Iguaçu. Coordenadora do subprojeto PIBID-Química-Unioeste. Pesquisas atuais nos temas de divulgação da ciência e escola e percepções da ciência e tecnologia dos estudantes brasileiros, tendo como suporte teórico a Teoria sociocultural de Vygotsky e os estudos de gênero de Bakhtin.
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O Gênero Radiofônico e a Divulgação da Ciência e da Tecnologia
Silvania Sousa do Nascimento
Diretoria de Divulgação Científica PROEX-UFMG e PPG EDUCAÇÃO – FAE-UFMG [email protected] www.ufmr.br/proex/ddc
Palavras- chave: divulgação da ciência e da técnica; gênero radiofônico; sala de aula; formação continuada e inicial de professores Resumo
Tomarei os conceitos de gêneros discursivos e práticas discursivas para discutir as especificidades do discurso do rádio no momento que trata de produzir e divulgar conteúdos de ciência e tecnologia. A discussão terá como foco o caso do Projeto Barômetro: ciência, café e debate que se apoiou no modelo de produção dos cafés scientifiques para gerar um dispositivo multimodal de comunicação pública das ciências e tecnologias. O projeto encontra-se em seu quarto ano havendo repertoriado 22 edições. Os temas tratados foram escolhidos segundo as atualidades da mídia e debatidos sempre com a presença de um representante da sociedade civil organizada e um da comunidade científica. As interações registrada na forma de perguntas da audiência são mediadas por uma plataforma que oferece um campo semântico temático diferente a cada edição. Nesta mesa apresentarei uma análise de 3 programas sobre a dengue que foram ao ar em períodos endêmicos. Darei destaque para a prática discursiva argumentativa que emerge nos debates identificando as imagens de ciências e tecnologia presentes no discurso.
Silvania Sousa do Nascimento
Graduada em Física pela UFMG, mestrado em Ensino de Ciências pela IF-FAE-USP; doutorado em Didáticas das disciplinas de ciências e tecnologia pela Universidade Pierre et Marie Curie (Paris 6) ; pós-Doutorado em Educação pela UNICAMP. Professora titular da UFMG e diretora de Divulgação Científica da PROEX-UFMG. Pesquisa temas em educação em ciências: linguagens, divulgação da ciência e da técnologia; museus de ciência e formação de professores relevantes. Bolsista PQII, CNPq.
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Divulgação Científica No Ensino Escolar: possibilidades e limites
Maria José Pereira Monteiro de Almeida
Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas/FE/UNICAMP [email protected]
Palavras Chave: Divulgação Científica; Ensino Escolar; Estratégias de Ensino. Resumo
Proponho inicialmente justificar o trabalho escolar com recursos de divulgação científica (DC) a partir da consideração dos papeis constitutivos da linguagem e da relevância, em nossa sociedade, do acesso a inúmeros aspectos da cultura, incluída aí a científica e tecnológica. Os destaques serão para o fato dos modos de produção da ciência/tecnologia ocor rerem numa linguagem formal específica e para a constatação de que a didatização associada a essa produção não tem viabilizado um ensino escolar que permita interpretações satisfatórias à maioria dos que a ele têm acesso. Em seguida, focalizo uma posição para as noções de: cultura, leitura, discurso, condições de produção, formação discursiva, repetição, imaginário social; discursos científico e escolar e DC. Buscarei então, apontando diferentes estratégias utilizadas, sintetizar alguns dos trabalhos realizados no grupo de estudo e pesquisa em Ciência e Ensino - gepCE da Unicamp com intuito de verificar o funcionamento da DC em diferentes níveis de ensino. Finalmente, procurarei refletir sobre limites e possibilidades para o uso escolar da DC na escola, destacando a formação inicial de professores e algumas características do discurso científico, cuja materialidade é a linguagem científica, e do discurso escolar sobre ciência/tecnologia, cuja materialidade é a linguagem considerada comum.
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Textos de divulgação científica em salas de aula de química
Luciana Nobre de Abreu Ferreira
Universidade Federal do Piauí/UFPI [email protected]
Palavras-chave: textos de divulgação científica; ensino; química. Resumo Inicialmente serão apresentadas algumas considerações decorrentes de pesquisas da área de educação em ciências sobre o emprego de textos de divulgação científica (TDC) como recurso didático, de modo a justificar sua utilização como um meio para o atendimento das atuais demandas do ensino, que envolvem, entre outros aspectos, a preparação dos alunos para o exercício da cidadania. Em seguida, serão abordados alguns resultados de pesquisas realizadas no âmbito do Grupo de Pesquisa em Ensino de Química do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (GPEQSC), desenvolvidas com o intuito de avaliar o funcionamento de TDC em ambientes de ensino de química, nos níveis médio e superior, e ancoradas em concepções teóricas advindas da Análise de Discurso francesa, com as quais procuramos observar efeitos de sentido produzidos nas situações de ensino estudadas. Assim, serão discutidas as contribuições das intervenções realizadas para a inscrição dos sujeitos no dizer, ou seja, se e de que forma os estudantes assumiram posições críticas diante dos discursos e objetos científicos e tecnológicos e, a partir disso, fazer algumas ponderações sobre o uso de TDC ser uma via favorável ao processo de significação em salas de aula de química.
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Práticas de letramento mediadas pela revista Ciência Hoje das Crianças em sala de aula
Sheila Alves de Almeida
UFOP/DEBIO [email protected]
Palavras- chave: textos de divulgação científica, letramento escolar
Resumo
Inicialmente pretendo fazer uma breve apresentação da revista Ciência Hoje das Crianças. Depois disso, o foco da apresentação será no uso desse periódico em sala de aula, ressaltando os sujeitos da pesquisa, o processo de coleta de dados e a abordagem teórica. Em um segundo momento serão apresentados dados e análises do trabalho da professora com o suporte, de retextualizações realizadas em sala de aula e textos produzidos pelas crianças a partir do trabalho com artigos da revista.
Sheila Alves de Almeida
Possui graduação em Pedagogia - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (2001), mestrado em Educação na linha de Educação e Ciências pela UFMG (2005) e doutorado na linha Ensino de Ciências e Matemática pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - FEUSP. Atuou como Professora do Ensino Fundamental por 15 anos em escolas da Rede Municipal de Belo Horizonte. Atualmente é Professora Adjunta do Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente da Universidade Federal de Ouro. Atua principalmente nos seguintes temas: ensino de ciências nas séries iniciais, divulgação científica, leitura e escrita nas aulas de ciências, formação de professores.
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Textos de Divulgação Científica na sala de aula
Eduardo A. Terrazzan
Universidade Federal de Santa Maria/UFSM [email protected]
Resumo
A utilização de textos em sala de aula não é propriamente uma proposta nova em termos metodológicos. No entanto, o olhar atento e cuidadoso para a utilização de textos em geral, ou de Textos de Divulgação Cultura e Científica em geral, torna-se uma exigência cada vez maior, pelo menos devido a duas constatações básicas: (1) tem disso registrado, como cada vez mais comum, a situação de descaso com textos de língua materna sobre assuntos os mais diversos, por parte de estudantes, e por parte da maioria dos professores de Educação Básica; (2) generalizou-se, nos últimos tempos, mesmo diante de alertas sinalizados por estudos acadêmicos, a compreensão de sendo comum de que a utilização desse textos como recursos didáticos, bem como a tarefa própria de analisar e de estimular a elaboração de textos diversos, por parte dos alunos é de responsabilidade quase exclusiva de professores de Língua Portuguesa. Por isso, é preciso ampliar as discussões, no âmbito escolar, sobre as potencialidades da língua materna, de sua estrutura e de suas normativas para efeitos de aprendizagem e de comunicação nos desenvolvimentos relativos a qualquer área curricular. Ao mesmo tempo, é preciso ampliar, no âmbito acadêmico, os estudos, sobretudo empíricos, sobre a utilização de textos em geral, e TDCC em especial, em aulas das diversas disciplinares escolares. No caso das disciplinas escolares da área curricular de Ciências Naturais, pode-se afirmar que já há uma tradição, maior talvez do que em outras áreas curriculares, de estudos nesse sentido. Portanto, a aproximação entre esses estudos e as práticas escolares torna-se uma das demandas atuais no processo de interação universidade-escola. Nesta apresentação, trataremos, de forma breve, alguns condicionantes para os avanços na direção indicada.
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Resumo dos Trabalhos
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Física Quântica numa Leitura de Divulgação Científica no início do Ensino Médio: manifestações dos estudantes
Quantum Physics in a Scientific Divulgation Reading at the beginning of High School: manifestations of the students
Cassiano Rezende Pagliarini1 (PG)*, Maria José P. M. de Almeida2 (PQ)
1Universidade Estadual de Campinas/Fac. de Educação/Doutorando do Programa de Pós-Graduação
Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática, [email protected] (apoio CAPES)
2Universidade Estadual de Campinas/Fac. de Educação/Dep. de Ensino e Práticas Culturais,
[email protected] (apoio CNPQ)
Palavras-Chave: Física Moderna e Contemporânea, Leitura, Análise de Discurso.
Resumo
Discutimos a leitura de dois textos, divulgação e original de cientistas, por estudantes do 1º
ano do ensino médio visando a inserção de algumas noções acerca dos desenvolvimentos
iniciais da física quântica. Apontamos algumas possibilidades implicadas na produção de
sentidos dos estudantes, destacando a importância da mediação nos seus posicionamentos.
Introdução:
Dentre os trabalhos que sustentam a inserção da Física Moderna e Contemporânea (FMC) no
Ensino Médio (EM), é corrente a discussão sobre como tratar seus conteúdos e como quais
seriam os temas relevantes para este nível de ensino (PEREIRA; OSTERMANN, 2009). Em
revisão bibliográfica recente sobre a Física Quântica no EM, Silva e Almeida (2011)
verificaram um aumento na produção de pesquisas sobre FMC com propostas de atividades
sobre sua inserção neste nível de ensino. Como destacam Lobato e Greca (2005), é de grande
importância a investigação acerca do ensino de FMC no EM, sendo particularmente a Física
Quântica de extrema relevância, especialmente por colocar seus paradigmas como uma nova
forma para o pensar e fazer ciência.
Por outro lado, quando consideramos o ensino de física em sala de aula, compreendemos que
a ênfase dada à linguagem formal durante as aulas, com ênfase na linguagem matemática,
parece ser considerada suficiente para que o aluno aprenda. Porém, ao resolver exercícios
envolvendo a temática do capítulo do livro ou apostila, poucas oportunidades são dadas ao
estudante para que ele se posicione enquanto membro participativo do meio em que está
inserido, relacionando o tema estudado com a cultura da sociedade em que vive. Ferreira e
Queiroz (2012) fazem uma revisão bibliográfica sobre a relação dos textos de divulgação
científica com o ensino de ciências, apresentando, dentre outras, as pesquisas que investigam
suas potencialidades didáticas. Neste sentido, acreditamos então que, a leitura favorece a
tomada de posições e, em se tratando de aulas de física, notamos que os posicionamentos
referentes aos conteúdos abordados em sala de aula são barrados pelo uso excessivo da
linguagem matemática presente em aulas expositivas e resoluções de listas de exercícios.
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Metodologia:
Neste estudo, analisamos a produção de sentidos por estudantes de uma escola pública do
interior paulista, ao lerem a introdução de um texto de divulgação científica escrito por
cientista brasileiro sobre física quântica e um trecho de um livro do cientista Max Planck, de
sua autobiografia científica, em uma atividade elaborada para destacar aspectos das diversas
leituras possíveis de serem realizadas por esses estudantes e mediada pelo
professor/pesquisador, primeiro autor deste estudo. Nas análises das questões abertas
propostas aos estudantes após a leitura, baseamo-nos na Análise de Discurso (AD), na
vertente iniciada por Michel Pêcheux, a qual considera a linguagem numa perspectiva em que
é tomada como sendo não transparente, e não somente suporte para o pensamento, mas sim
[...] como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social.
Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a
continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da
realidade em que ele vive (ORLANDI, 2012, p. 15).
Para uma compreensão de como os efeitos de sentidos produzem significados para os
estudantes, uma noção importante que este campo teórico traz é o de condições de produção.
Nas atividades desenvolvidas, o primeiro autor deste estudo teve a oportunidade de passar um
período de ambientação com a turma, assistindo semanalmente as aulas de física da
professora responsável pela classe, durante três meses. Após este período, a professora cedeu
quatro aulas para a realização das atividades (em duas semanas consecutivas), sendo que na
tarde das duas primeiras foi feita apresentação aos alunos de um pequeno trecho introdutório
do texto de divulgação científica "Física Quântica: o estranho comportamento do mundo
microscópico" (FERREIRA, 2003) para leitura inicial e primeiro contato com o tema
proposto. As duas aulas finais se basearam na leitura de trechos do texto "Novas vias de
acesso ao conhecimento na física" no qual o cientista utiliza algumas analogias para comparar
como se dá continuamente o fracionamento de energia em situações cotidianas onde átomos
são tomados a interagir com a luz, introduzindo a noção de quantum para um fracionamento
finito nas trocas de energia (PLANCK, 2012). Após a leitura de cada texto o professor
pesquisador mediou uma discussão dialógica com estudantes e em seguida pediu que
respondessem questões por escrito, tendo ainda acesso aos textos durante as respostas, que
eram: 1) se após esta aula você tivesse que contar a um amigo sobre os assuntos do texto que
acabou de ler, o que você contaria? (seguida da mediação do primeiro texto); 2) Você achou
alguma das ideias sobre física quântica que lemos ou debatemos interessante? O que você
gostaria de conhecer mais sobre este assunto? 3) O que você achou de realizar leituras e
discussões de textos em uma aula de física? (seguidas da mediação do segundo texto).
Resultados e Discussões:
A primeira mediação e as respostas à primeira questão foram analisadas num outro estudo e
os resultados evidenciam a multiplicidade de interpretações sobre o que contar e a relevância
da mediação realizada. Quanto à questão 2, dos alunos participantes da segunda parte da
atividade, nove responderam positivamente acerca de se estudar assuntos relacionados à física
quântica, enquanto dois retratam que tiveram muitas dificuldades com o tema. No que se
refere ao que gostariam de aprender, além de respostas como "tudo de física quântica" ou "me
aprofundar mais", ocorreram respostas mais específicas, como: "o modo como o sal de Rádio
sofre uma transformação [...]" ou "em quais situações do cotidiano podemos fazer uso da
física quântica". Com relação à questão 3 todos demonstraram uma receptividade a este tipo
de abordagem. Um mecanismo a ser considerado aqui é a antecipação dos alunos sobre a
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expectativa do professor/pesquisador, que havia proposto atividades não usuais. Daí
responderem positivamente. Entretanto, pudemos notar em algumas das respostas, as diversas
interpretações, e o foco em pontos distintos do texto, evidenciando as aberturas de sentidos
que o texto possibilita e apontando para o importante papel do professor ao considerá-las em
sua mediação. Exemplificamos com dois trechos de respostas.
[...] saber que a palavra átomo vem de indivisivel que é o que os cientistas
acreditavam mais depois disso descobriram que o átomo é sim dividido.
Achei isso bem questionador [...].
[...] gostaria de conhecer um pouco de tudo na verdade, principalmente
sobre a independência recíproca do tempo e espaço. [...]
Considerações Finais:
A análise, na perspectiva da AD, não toma os sentidos como sendo únicos, fechados ou
evidentes. Quando na qualidade de professores propomos leituras em aula, além das
informações a que a leitura permite ter acesso, queremos que ela "[...] seja o ensejo para que
os estudantes formulem suas próprias opiniões sobre o que leram e sobre os interdiscursos que
a leitura pode produzir" (ALMEIDA et al., 2006, p. 74).
Referências
ALMEIDA, M. J. P. M.; SOUZA, S. C.; SILVA, H. C. Perguntas, respostas e comentários
dos estudantes como estratégia na produção de sentidos em sala de aula. In: NARDI, R.;
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São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 21
A revista Pré-Univesp na sala de aula
Pre-Univesp magazine in the classroom
Márcia Azevedo1*, Ana Paula Morales2, Patrícia Mariuzzo3
1. Márcia Azevedo é professora de língua portuguesa e pesquisadora da Unicamp (PQ) (FM) - [email protected]
2. Ana Paula Morales é doutoranda na Unicamp e editora da revista PRÉ-UNIVESP (PG) 3. Patrícia Mariuzzo é doutoranda na Unicamp e editora adjunta da revista PRÉ-UNIVESP (PG)
Palavras-Chave: divulgação científica, revista digital, ensino médio.
Resumo
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases recomendam a utilização
de textos de divulgação científica como recurso didático de grande potencial para a
contextualização da ciência em sala de aula. Nesse sentido, este artigo descreve a experiência
de uso de um conjunto de conteúdos da revista Pré-Univesp em atividade escolar. A partir de
materiais e de plano de atividades multidisciplinar publicados pela Pré-Univesp, organizou-se
uma oficina com alunos do ensino médio. Entre os resultados obtidos percebeu-se que o texto
de divulgação científica cumpriu sua função de elemento disparador, promovendo o interesse
do aluno pelo assunto, instigando-o a opinar e trazer elementos que complementassem o tema
abordado.
Introdução
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o texto de divulgação científica
(DC) deve ser trabalhado na escola como um dos gêneros de referência básica, contemplando
o objetivo da formação escolar que visa priorizar textos “cujo domínio é fundamental à
efetiva participação social” (BRASIL, 1998, p. 25). Ainda, segundo as recomendações
curriculares, deve-se desenvolver esse gênero de forma oral e escrita, a fim de que, por meios
diferenciados, o texto de DC seja introduzido como um recurso didático de grande potencial,
na medida em que traz a discussão atual e contextualizada da ciência para a sala de aula
(MARTINS, 2001).
Também a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (9.394/96) reforça a necessidade da educação
voltada para a prática social, capaz de formar cidadãos aptos a participar dos processos
decisórios da sociedade, inclusive no que concerne a questões relativas à ciência e tecnologia.
De acordo com Vogt (2008), “não cabe à divulgação científica apenas levar a informação,
mas também atuar de modo a produzir as condições de formação crítica do cidadão em
relação à ciência”.
Espera-se, assim, que o trabalho escolar desenvolvido com esse tipo de conteúdo promova
reflexão e aprofundamento sobre os temas tratados, por meio da ação mediadora do professor,
sem prescindir de outros materiais fundamentalmente didáticos e das conexões entre as
diversas áreas do conhecimento.
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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Este artigo trata de uma experiência de uso em sala de aula de conteúdos publicados na revista
eletrônica de DC Pré-Univesp1. A publicação, que é mensal, temática e gratuita, traz conteúdo
focado nos grandes assuntos da atualidade, presentes também na matriz curricular do ensino
médio e nas questões das provas de ingresso à universidade. São publicados mensalmente
artigos, entrevistas, reportagens, infográficos e textos literários sobre um tema central. A
revista também traz, em cada edição, um plano de atividades interdisciplinar2 voltado para o
uso pedagógico no ensino médio, contemplando os conteúdos do número em questão.
Metodologia
A partir do plano de aula multidisciplinar do nº38 da revista Pré-Univesp, sobre “Tempo”3,
elaborou-se uma oficina temática com a finalidade de discutir esse tema sob a perspectiva de
algumas matérias das áreas das Ciências da Natureza e Matemática (Biologia, Física e
Matemática), Ciências Humanas (História e Filosofia) e Linguagens e Códigos (Artes e
Língua Portuguesa). Foram convidados sete professores do ensino médio, alunos das três
séries desse segmento e selecionados três conteúdos-base publicados na revista.
Inicialmente, o professor de língua portuguesa propôs a leitura de matéria sobre os efeitos do
tempo no corpo humano4, para, a partir dele, pedir que fossem levantados o tema, o
vocabulário desconhecido, as estratégias argumentativas e o ponto de vista defendido pela
autora. Esse foi o elemento disparador para o professor de biologia, que instigou a discussão
do tempo no processo da mitose, suas etapas, seu papel biológico, e a relação dos telômeros.
Retomando as discussões sobre o processo de divisão celular, o professor de matemática
propôs a análise do tempo e do envelhecimento abordado no texto, por meio do cálculo que
possibilitava relacionar mitose e progressão geométrica (PG).
A atividade de física foi proposta a partir de um infográfico5. O professor propôs discussão
sobre o tipo de trajetória realizada pelos ponteiros dos relógios, conceituando o movimento
circular uniforme (MCU). Também foram investigadas as velocidades angular e linear dos
ponteiros; e foram calculados o período, a frequência, a velocidade angular e a velocidade
linear dos relógios.
Em seguida, foi promovido o diálogo com as ciências humanas e linguagens. A professora de
história retomou os diversos tipos de relógios e os contextos histórico, político, social e
econômico que motivara as mudanças da forma de se medir o tempo. Tratou da diferença
entre o tempo do relógio e o tempo do calendário e as dimensões do tempo do trabalho.
O infográfico6 elaborado a partir da tela “Persistência da memória”, de Salvador Dalí, foi
trabalhado pela disciplina de Arte, que abordou prioritariamente a subjetividade do tempo
através das formas, cores, plasticidade e percepção das representações dos relógios,
culminando em uma discussão que tratou da obra da pintura sob a ótica da temporalidade.
Por fim, os professores de língua portuguesa apresentaram trecho dos textos da revista que
1 Lançada em junho de 2010, a revista encaixa-se nas propostas da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP) da educação para a cidadania e do “conhecimento como bem público”. Disponível em: http://pre.univesp.br 2 Esse material é produzido por professores assessores de diversas áreas disciplinares do ensino médio. 3 Disponível em: http://pre.univesp.br/edicoes/tempo 4 Reportagem “Não somos mais os mesmos”, de Christiane Bueno, disponível em: http://pre.univesp.br/nao-somos-mais-os-mesmos 5 O infográfico “A medida do tempo”, de Márcio Derbli e Charles Rubin, apresenta as diferentes formas de medida do tempo ao longo da história. Disponível em: http://pre.univesp.br/a-medida-do-tempo 6 Infográfico “A persistência da memória”, de Patrícia Mariuzzo e Matheus Vigliar, disponível em: http://pre.univesp.br/a-persistencia-da-memoria
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compunham a coletânea da proposta de redação. A produção deveria ser do gênero
dissertativo-argumentativo e esperava-se que fossem discutidas as diferentes concepções de
tempo, de modo a demonstrar um amplo repertório cultural.
Resultados e Discussões
A análise da prática do plano de atividades mostrou que o texto de DC cumpriu sua função de
elemento disparador, promovendo o interesse do aluno pelo assunto, instigando-o a opinar e
até a trazer elementos que complementaram o tema abordado. A percepção da potencial
vinculação de conteúdos curriculares ao cotidiano faz com que o conhecimento passe a ser
visto como passível de aplicabilidade, e o aluno, por sua vez, conceba esse aprendizado de
forma mais significativa.
Na prática do professor, percebeu-se que o trabalho com os textos de DC convida-o à
pesquisa, já que o docente sente a necessidade de complementar o tratamento dado ao tema,
de forma a verticalizá-lo ou a expandi-lo transversal e multidisciplinarmente, como se deu na
oficina aqui relatada.
Constatou-se também que o texto de grande circulação, por não ter como interlocutor prévio
somente o jovem escolar, promove nesses a necessidade de ampliação do universo lexical e,
por ter uma estrutura mais articulada, exige-lhes o desenvolvimento da competência
discursiva. Percebeu-se que as matérias conseguiram despertar o interesse pela leitura de
textos relacionados à ciência, ainda que movido pela necessidade de obter informações, e que
esses textos têm grande potencial para atuarem como elemento disparador dos conteúdos
desenvolvidos pelas disciplinas escolares.
Considerações Finais Foram levantadas duas hipóteses como justificativas para o interesse demonstrado pelos
estudantes em discutir os textos, a saber: i) no texto de DC não há, via de regra, o apagamento
do sujeito e ii) o texto de DC apresenta o assunto de forma atual e contextualizada,
possibilitando ao jovem associar o saber escolar a sua vida cotidiana. Notou-se também que a
atualidade promovida pelo texto jornalístico de DC evidencia a dinamicidade do fazer
científico, diferente dos livros didáticos, que não raro, passam a ideia da ciência como algo
pronto e acabado, como uma verdade absoluta, neutra e imutável, o que pelo próprio status
adquirido de verdade inquestionável, impele a passividade.
Referências
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC. 2000.
MARTINS, I. Projeto "Comunicando Ciências na Escola". Projeto de Pesquisa do Laboratório
de Linguagens e Mediações do Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde (NUTES):
UFRJ, 2001.
VOGT, C. Divulgação e cultura científica. Revista ComCiencia, 10/07/2008. Disponível em:
http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=37&id=436.
Consultado em 14/04/2014.
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O “Almanaque Sonoro de Química” como Ferramenta Semiótica para Divulgação Científica na Sala de Aula
The “Sound Almanac of Chemistry” as a Semiotic Tool for Science Popularization in Classroom
Renata Barbosa Dionysio1* (FM), Luis Gustavo Magro Dionysio2 (PG), Waldmir Araujo Neto3 (PQ)
[email protected] 1Instituto São João Baptista – Rio de Janeiro, 2Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências -PROPEC - IFRJ, 3Instituto de Química da UFRJ. Palavras-Chave: Áudio, Semiótica, Ensino Médio
Resumo
O trabalho apresenta um relato de experiência realizada com alunos da 1ª série do Ensino
Médio na produção de vídeos a partir da escuta de 6 dos 72 objetos de aprendizagem que
compõem o Almanaque Sonoro de Química. Esses objetos contêm potencialidades semióticas
que oportunizam releituras e a tessitura de saberes. A atividade pedagógica realizada permitiu
identificar os entes sonoros como elementos capazes de atuar na divulgação científica em sala
de aula.
Introdução:
A utilização de ferramentas mediais nas aulas de Química no Ensino Médio não são
novidades nas pesquisas em Educação em Química. Diversos autores da área relatam
experiências e também seus ensaios teóricos sobre a utilização das Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC) nos espaços formais de ensino aprendizagem. Giordan (2005) destaca
que tais ferramentas podem auxiliar o docente na prática, mas exigem dele uma postura
diferenciada uma vez que essas ferramentas modificam a relação medial na sala de aula.
Muitos incentivos governamentais fomentam a produção e a utilização de objetos virtuais de
aprendizagem na Educação Básica. O presente estudo trabalha com o Almanaque Sonoro de
Química, que é produto de uma Chamada Pública do Ministério da Educação para a produção
de objetos educacionais em diversos meios, denominado CONDIGITAL7. Esse objeto de
aprendizagem foi produzido por um grupo heterogêneo de profissionais de maneira
colaborativa, vinculados à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC - RJ),
dentre eles professores do ensino superior e professores da educação básica.
O Almanaque Sonoro de Química é um objeto de aprendizagem de matriz sonora exclusiva,
ou seja, é composto somente por objetos de áudio. Os 72 áudios de aproximadamente 5
minutos são distribuídos em 11 temas de acordo com as diretrizes do MEC.
Esses entes sonoros (DIONYSIO e ARAUJO-NETO, 2012) foram construídos com o objetivo
7 Disponível em :< http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/Edital_2007_MCT-MDIC-
MEC.pdf>
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de apresentar o tema em formato de almanaque, ou seja, através de diversos modos, tais
como: quiz, entrevista, festival musical, entre outros. Além disso, o tema é apresentado de
forma contextualizada e com uma grande preocupação de lidar com tópicos de maneira a
permitir debates sobre questões sociais na perspectiva da inclusão e da cidadania.
A função do ensino de química deve ser a de desenvolver a capacidade de
tomada de decisão, o que implica a necessidade de vinculação do conteúdo
trabalhado com o contexto social em que o aluno está inserido. (SANTOS , SCHNETZLER, 1996, p.28)
Os objetos de áudio contemplam a regionalidade brasileira através de nomes de cidades,
costumes locais e ritmos musicais. A naturalidade na qual esses elementos estão inseridos no
ente sonoro não causa estranheza a quem ouve devido ao seu design harmônico.
A carga semiótica mais complexa do áudio é devido a restrições visuais e fazem com que o
ouvinte crie uma paisagem sonora (RODRIGUEZ, 2006) e reúna elementos cheios de
significado. A atividade proposta aos alunos de primeira série do Ensino Médio foi de criar
um vídeo a partir dessa escuta desses entes sonoros.
Metodologia
Realizamos um estudo exploratório e qualitativo (SEVERINO, 2007) nos 72 áudios
isoladamente como também na percepção da organização e estrutura do objeto de
aprendizagem. Esses áudios estão disponíveis de forma isolada em alguns repositórios de
objetos educacionais, tais como Portal do Professor8 e Banco Internacional de Objetos
Educacionais9, mas encontram-se no site do Almanaque Sonoro de Química
10 integrados e
com alguns dispositivos, como ícones de download, que facilitam a utilização.
Os áudios apresentam formas variadas, cada programa pode ser utilizado isoladamente ou de
maneira integrada com os quadros de cada tema. Eles atendem aos três níveis de indexação do
ente acústico: escuta, identificação e compreensão, desenvolvido por Dionysio e Araujo Neto
(2012b). Essa classificação revela que esses objetos de aprendizagem possuem
potencialidades semióticas que atendem a diversos usos que o professor faça em sala de aula.
Por exemplo, o nível de escuta indica que existem elementos no áudio que despertam a
percepção do ouvinte, poderíamos utilizá-los para a introdução do tema a ser trabalhado.
A atividade foi realizada com 32 alunos da primeira série do Ensino Médio de uma escola
particular da Zona Norte do Rio de Janeiro. Como o conteúdo curricular trabalhado naquela
circunstância era óxidos, selecionamos os temas Poluição Atmosférica. Esse tema é composto
por 6 quadros a saber, Radio 88 Notícias e Fórmula do Sucesso, Duelo dos Elementos, Faça
sua Parte!, Quem sabe, sabe!, Ligação TV e Festival Musical de Química.
Realizamos uma escuta coletiva dos 6 objetos de áudio utilizando somente o computador e
uma caixa de som ativa (50W), na sala de aula. A seguir, foi proposta a atividade de
construção de um vídeo, em grupo, baseados na escuta realizada. Os alunos poderiam utilizar
recursos de imagem e som e deveriam apresentá-lo num prazo de uma semana.
8 Disponível em:< http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html>
9 Disponível em :< http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/>
10 Disponível em:< http://www.almanaquesonoro.com/quimica/>
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Resultados e Discussões
Durante as atividades de escuta coletiva dos áudios os alunos mostraram-se interessados e
fizeram várias colocações referentes tanto ao formato do ente sonoro quanto as informações
transmitidas.
Os trabalhos produzidos por eles superaram as expectativas visto que muitos produziram a
partir do áudio novas leituras. E mesmo aqueles que se basearam somente no áudio
trabalhado, criaram vídeos com recursos diversos, como massinhas, imagens prontas e
imagens inéditas.
Acreditamos que o objetivo da atividade foi atendido, uma vez que os alunos abordaram o
tema de forma criativa e realizando conexões entre os conceitos estudados nas aulas e suas
leituras de mundo. Os vídeos foram analisados de forma livre e contém elementos capazes de
atuar na divulgação da química, reunindo elementos icônicos e simbólicos do contexto social
e cidadania.
Considerações Finais
O Almanaque Sonoro de Química reúne áudios que podem ser utilizados como elementos de
divulgação científica em sala de aula, uma vez que seu conteúdo oferece complexidade
semiótica suficiente para posicionar o ouvinte em uma atmosfera de aprendizagem e
criatividade, em acordo inclusive com estratégias similares na literatura (CURWOOD, 2012).
Defendemos a proposta de utilizar ferramentas mediais de matriz sonora exclusiva na
educação em química, de modo a posicionar os alunos como produtores, cria redes de
conhecimento que são construídas a cada produção realizada e comentário feito.
Referências
CURWOOD, J. S. Cultural Shifts, Multimodal Representations, and Assessment Practices: A
Case Study. E-Learning and Digital Media, v. 9, n. 2, p. 232-244, 2012.
DIONYSIO, R. B. ARAUJO NETO, W. N. Tipificação de Ferramentas Mediais na
Educação em Química: aspectos teóricos e metodológicos, 35ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia, 2012a.
DIONYSIO, R. B. ARAUJO NETO, W. N. Entes Sonoros e seus usos na Educação em
Química: um olhar sobre os objetos de aprendizagem de matriz sonora Anais do
23º Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE 2012), Rio de Janeiro, 26-
30 de Novembro de 2012. 2012b.
GIORDAN, M. O Computador na educação em Ciências: breve revisão crítica acerca de
algumas formas de utilização. Ciência e Educação, v.11, n.2, p.279-304, 2005.
RODRÍGUEZ, A. A dimensão sonora da linguagem audiovisual. São Paulo: Editora Senac, 2006.
SANTOS, W. L. P. SCHNETZLER, R.P. Função Social; o que significa ensino de química para
formar o cidadão? Revista Química Nova na Escola, n.4, novembro 1996, p.28-34.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. São Paulo, Cortez, 2007.
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Divulgação da óptica e fotônica na educação básica
Outreach of optics and photonics in basic education
Ana Carolina de Magalhães (PG)1, Arthur Maximo (PG) 1, Caetano Padial Sabino (PG)1, Cecil Chow Robilotta (PQ) 1, Danilo Furlan Kaid (IC) 1, Elisabeth Mateus
Yoshimura (PQ) 1, Fernanda Alexandrina Queiroz Gomes (IC)1, Gustavo Henrique da Costa (IC) 1, Luis Augusto Alves (PQ)3, Marcelo Francisco Lários da Silva (IC)1, Marcelo Victor Pires de Souza (IC)1, Mikiya Muramatsu(*) (PQ)1,
Tânia Mateus Yoshimura (PG) 2, Willian Fernandes dos Santos (IC)1, William de Paula Amado (IC) 1.
(*) [email protected] 1- Instituto de Física da USP-Rua do Matão, trav. R, 187 – CEP 05508 090 – S.Paulo – SP 2- Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São Paulo – SP. 3- Instituto Federal de São Paulo, São Paulo – SP.
Palavras Chaves: Divulgação cientifica, Óptica e Fotônica, Ensino básico.
Resumo:
O conhecimento em óptica e fotônica são fundamentais para entender as tecnologias
contemporâneas. No entanto, há uma lacuna no ensino desses temas nas escolas, em especial,
no que se refere aos aspectos experimentais. Realizamos eventos com atividades interativas
em duas escolas de ensino fundamental, para verificar os efeitos da manipulação de objetos
ópticos como forma de ensino de óptica e fotônica. Os estudantes e professores das escolas
ficaram satisfeitos com o método e com a aquisição de novos conhecimentos. Comparando as
respostas de questionários sobre o percurso da luz no processo da visão dos objetos, antes e
depois da intervenção, verificamos que houve aumento significativo do conhecimento sobre
os temas abordados. Esperamos consolidar e expandir as intervenções experimentais em
outras escolas de ensino fundamental.
Introdução:
A luz tornou-se uma ferramenta já corriqueira e fundamental em nosso cotidiano. Ela é
utilizada nas mais diversas aplicações do nosso dia a dia, desde impressoras a laser e leitores
de CDs ou códigos de barras, até o estabelecimento de comunicação através de fibras ópticas.
Pode ser também encontrada em aplicações mais técnicas como na medicina, em áreas
ambientais e também na indústria. Além disso, podemos citar também a faixa de luz não
visível utilizada em comunicações via celular, internet sem fio (Wi-Fi), GPS, dentre outras,
causando um grande impacto no nosso cotidiano. O Brasil tem extensa produção nos mais
diversos ramos de óptica e fotônica (área da ciência responsável pelas aplicações da luz),
como biofotônica e sensoriamento remoto óptico.
Diante desse cenário, fica evidente que não se pode viver sem a fotônica e que o
conhecimento sobre essa área é necessário para entender as tecnologias contemporâneas.
Ainda assim, é possível constatar que a fotônica não recebe a devida atenção no ensino
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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brasileiro. Apesar de todo o avanço alcançado nas últimas décadas em ciência e tecnologia, a
escola, especialmente a fundamental, continua nos moldes praticados no século passado, de
forma tradicional, através de aulas expositivas e raras experiências em laboratórios, com
demonstrações práticas de ciências. O aluno apresenta dificuldades em reter a atenção e
absorver todo conteúdo que lhe é mostrado, talvez pela falta de desafios.
Tendo em vista este quadro que se apresenta no contexto atual brasileiro, e
considerando que as aplicações da luz na área tecnológica envolvem um conhecimento mais
aprofundado de óptica, propusemos disseminar um pouco da óptica e da fotônica em duas
escolas de ensino fundamental II, dentro do programa Olimpíada USP do Conhecimento .
Fizemos intervenções que aliaram exposição, demonstrações de princípios científicos usando
equipamentos ópticos de baixo custo, com o objetivo principal de despertar o interesse dos
estudantes por ciências, especialmente por óptica e fotônica.
Metodologia:
A estratégia para introduzir a óptica para os alunos do ensino fundamental foi através
da percepção visual, sentido que é considerado como o mais importante para o ser humano.
Assim, a pergunta a ser respondida pela proposta submetida à Olimpíada USP do
Conhecimento foi: “Você entende o que você vê?”. Isso foi feito através da aplicação de um
questionário sobre como os alunos das 8º e 9ª séries entendem o processo da visão, pelos seus
professores de ciências nas salas de aula. Em um outro dia, foram realizadas atividades que
incluíram demonstrações e experimentos mãos interativos relacionados à óptica,
especificamente à visão, após as quais, o mesmo questionário foi aplicado.
No primeiro contato com os alunos foi realizada uma palestra informal , quando
apresentamos conceitos sobre a formação da imagem e fenômenos ópticos que tornam
possível a visão, com duração de cerca de 40 minutos. Os estudantes foram constantemente
questionados e incentivados a fazer perguntas sobre o tema.
O segundo momento da intervenção foi uma exposição de objetos como espelhos,
lentes, fibras ópticas, fontes de luz, lunetas.Esses experimentos exploram propriedades
básicas da luz, a interação com a matéria, aplicações no cotidiano, processamento de imagens
e algumas aplicações tecnológicas. Os alunos estavam livres para manipular e explorar esses
objetos e experimentos, sendo mediados por estudantes de graduação e pós graduação da
universidade.
A avaliação da efetividade do projeto foi feita através da análise e comparação do
questionário respondido antes e depois da exposição. Havia perguntas específicas
direcionadas ao tema trabalhado com os estudantes, objetivando mensurar o que foi
aprendido com a palestra e os experimentos. Algumas das perguntas envolviam conceitos
como o caminho que a luz percorre para que seja possível a visão.
Resultados e discussão:
Os alunos ficaram muito envolvidos com os experimentos, essa vivência pode ser
encarada como um estímulo para estudar e aprender conceitos que não são usualmente
trabalhados em sala de aula. Tais conceitos não seriam fáceis de aprender em uma aula
expositiva convencional, no entanto, foram assimilados com a intervenção baseada na
manipulação de objetos.
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Segundo os professores das esolas, a atividade, considerada inovadora, foi boa para
que os alunos tivessem contato na prática com experimentos e incentivar ainda mais a
curiosidade natural que eles têm em relação a ciências. O contato com os experimentos
também foi uma oportunidade para exercitar o método científico, levantar hipóteses, testar
essas hipóteses e chegar a conclusões. Além disso, a intervenção gerou temas para várias
aulas, com a discussão dos fenômenos apresentados. Além disso também foi importante para
dar apoio aos professores de ciências e mostrar que um método de ensino alternativo à aula
expositiva é possível e que a parceria universidade-escola de ensino fundamental pode ser
muito produtiva.
Os resultados dos testes realizados com os alunos antes e depois da intervenção foram
satisfatórios. A pergunta era relacionada com o trajeto da luz para enxergar o objeto.Nessa
faixa etária há uma concepção espontânea de que a luz percorre no sentido do olho para o
objeto. O índice de acerto, em uma das escolas passou de 20% para 73% e na outra de 36%
para 66%, indicando que a abordagem de ensino adotada pode produzir resultados positivos.
Essa intervenção educativa foi um dos projetos finalistas da Olimpíada USP do
conhecimento, em 2013. Um vídeo desse projeto foi gravado mostrando essas atividades e
que pode ser visto no site do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (endereço:
http://midia.if.usp.br/node/431)
Considerações finais:
Foi possível constatar que o método de ensino com a utilização de experimentos
interativos é efetivo no ensino de ciências em escolas de ensino fundamental. Esperamos
expandir esse projeto realizando intervenções mais frequentes e em maior número de temas da
ciência e realizando um acompanhamento mais sistemático, oferecendo oficinas e palestras,
estimulando assim jovens e crianças para o estudo na área de ciências exatas e tecnologia.
Observação: esse projeto foi realizado com o apoio da Pro Reitoria de Pesquisa da
USP e aplicado nas escolas de ensino básico pelos membros do Projeto Arte e Ciência no
Parque ( IFUSP) e estudantes da SPIE (International Society for Optics and Photonics).
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Células-tronco: interações CTS em textos da revista Ciência Hoje
Stem cells: interactions STS in articles on “Ciência Hoje” Magazine
Rosangela Araujo Xavier Fujii1, Maria Júlia Corazza2
1* Doutoranda em Educação para a Ciência e a Matemática/UEM - [email protected] (PG)
2 Discente no Programa de Pós Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática/UEM (PQ)
Palavras-Chave: Ensino, Aprendizagem, Mediação Pedagógica
Resumo
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências (2000) recomendam que os professores
disponibilizem aos alunos o acesso a outras fontes informativas, como Textos de Divulgação
Científica (TDC) veiculados em jornais e revistas, além do livro didático. Entre os benefícios
dessa estratégia didática, estaria a ampliação de conhecimentos e experiências de
aprendizagem, contato com a divergência de informações e argumentações, bem como o
entendimento das práticas sociais de produção do conhecimento científico. O presente estudo
apresenta resultados da análise de conteúdo de dez TDC da revista Ciência Hoje, relacionados
à temática células-tronco, tendo em vista sua viabilidade para uso em aulas de Biologia no
Ensino Médio, numa perspectiva que possibilite aos educandos o estabelecimento de relações
entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade (CTS).
Introdução
A partir de 1990 os resultados de pesquisas referentes ao potencial regenerativo das células-
tronco embrionárias para fins terapêuticos passaram a ser intensamente veiculadas pelos
meios de comunicação, contribuindo para o surgimento de debates polêmicos, envolvendo
vários segmentos da sociedade, incluindo o âmbito jurídico, convocado a decidir sobre a
regulamentação legal dessas investigações biotecnológicas. No Brasil, essa divulgação
midiática ampliou-se mediante a votação da Lei de Biossegurança que tratava da utilização de
células-tronco embrionárias para pesquisas e terapias, e votação da Ação Direta de
Inconstitucionalidade que alegava a violação do artigo 5º da Constituição Federal pela Lei de
Biossegurança.
Assim, via meios de comunicação de massa os indivíduos eram convocados a manifestarem
opiniões e posicionamentos em relação aos benefícios e implicações econômicas, sociais,
éticas, morais e filosóficas das pesquisas com células-tronco e células-tronco embrionárias.
Todavia, conforme se sabe, a participação crítica da população exige uma compreensão da
imbricada teia de relações e inter-relações entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade.
Nessa linha de pensamento, Candotti (2002, p.17) argumenta que “a divulgação não é apenas
páginas de literatura, na qual as imagens encontram as palavras (quando as encontram), mas
exercício de reflexão sobre os impactos sociais e culturais de nossas descobertas”. Isto
consigna que cabe ao ensino escolar, por meio da leitura, reflexões e discussões críticas,
possibilitar aos estudantes, a compreensão das complexas relações entre CTS, e contribuir
para a formação de indivíduos aptos na tomada de decisões fundamentadas quanto aos limites
e possibilidades da aplicação dos novos conhecimentos.
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São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 31
Metodologia
Visto que estudos têm identificado a Ciência Hoje como a revista de divulgação científica
impressa mais utilizada por professores da Educação Básica para atualização de
conhecimentos, planejamento e desenvolvimento de atividades em sala de aula, foram
selecionados dez textos desta revista, relacionados à temática célula-tronco e publicadas entre
2004 e 2010, período em que ocorreu a votação e modificação na Lei de Biossegurança.
Quadro 1: TDC analisados
Título dos TDC analisados Publicação
01- Células-tronco: cura para muitos males 238 (40), jun/2005
02 -Autonomia em células-tronco 254 (43), nov/2008
03-Potencial revolucionário: células-tronco no tratamento de males do coração 235 (40), mar/2007
04-Salvos pelo gongo 244 (41), dez/2007
05-Saída para um dilema ético 216 (36), jun/2005
06-Barreira a ser superada 203 (34), jun/2004
07-Células embrionárias sem uso de embriões 220 (37), out/2005
08-Terapia celular dissecada 249 (4), jun/2008
09-Potencial terapêutico único 213 (36), mar/2005
10-Terapias celulares: promessas e realidade 206 (35), jul/2004
A análise de conteúdo desses textos se pautou nas inter-relações CTS, voltadas às dimensões
científica/tecnológica, social/econômica e ética/moral/filosófica. Cada unidade categorial foi
avaliada por três opções de medida: valor 1, quando o texto não apresenta a unidade
analisada; valor 2, quando o aspecto considerado está presente no texto; valor 3, quando o
texto trata o conteúdo com maior intensidade.
Resultados e Discussões
Quadro 2: Resultados TDC 01 02 03 04 05
Categorias 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
Dimensão Científica/ Tecnológica X X X X X
Dimensão Social/Econômica X X X X X
Dimensão Ética/Moral/Filosófica X X X X X
TDC 06 07 08 09 10
Categorias 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
Dimensão Científica e Tecnológica X X X X X
Dimensão Social/Econômica X X X X X
Dimensão Ética/Moral/Filosófica X X X X X
Em virtude da ênfase empregada pelos divulgadores nos processos de produção e
funcionamento do conhecimento científico e tecnológico, o valor 3 foi atribuído à dimensão
cientifica/tecnológica nos TDC 01, 02, 03, 05, 08 e 10. Esses textos apresentam, de forma
explícita, aspectos relativos à natureza da ciência, atribuindo à atividade de pesquisa científica
um caráter essencialmente dinâmico, coletivo e em permanente construção, além de
abordarem o papel da nova tecnologia, células-tronco, enquanto atividade econômica e social.
A dimensão social/econômica foi contemplada com o atributo 3 em 60% dos TDC analisados
(textos 01, 02, 03, 06, 08 e 09). O TDC 2, por exemplo, ressalta a relevância da tecnologia das
células-tronco, em um futuro próximo, frente ao elevado número de indivíduos acometidos
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por cardiopatias. Já o TDC 10, com atributo 2, faz uma ligeira menção ao fator econômico ao
questionar qual parcela da população seria primeiramente contemplada com esta tecnologia.
Em sala de aula esses textos poderiam ser empregados pelos professores para introduzir
conceituações básicas relacionadas ao que são células células-tronco, as diferenças entre
células-tronco embrionárias e somáticas, clonagem, transplante de medula óssea,
desenvolvimento embrionários e diferenciação celular, bem como a relevância dos
conhecimentos científicos para sociedade contemporânea.
A dimensão ética/moral/filosófica, que possibilita discussões em sala de aula sobre a
delimitação do início da vida na espécie humana e a destruição das células-tronco
embrionárias, excedentes das clínicas de fertilização in vitro, para pesquisa científica, esteve
presente em 70% dos textos analisados, sendo abordada de forma mais intensa nos textos 01,
04, 05 e 10 (valor 3) e ausente nos textos 02, 06 e 08.
Apesar de os textos não apresentarem uma menção explicita sobre posicionamentos opostos,
considera-se que sua utilização em sala de aula pode possibilitar o estabelecimento de debates
relacionados a essa temática em sala de aula, pois como afirma Moran (2000, p. 23)
“aprendemos mais quando estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência
e a conceituação, entre a teoria e a prática; quando ambas se alimentam mutuamente”. Nesse
sentido, os questionamentos levantados durante as discussões podem ser transformados em
objetos de investigação para novas abordagens junto aos estudantes.
Considerações Finais
De forma geral, a análise direcionada às inter-relações CTS possibilitou observar que um
único TDC dificilmente contemplará todas as dimensões estabelecidas. Todavia,
concordamos com Silva e Cruz (2004) quando afirmam que um artigo que não contemple os
diversos atributos da categoria analisada não deve ser descartado, pelo contrário, pode servir
de elemento motivador para discussões. Assim, o professor, ao identificar os atributos de cada
dimensão pode conduzir discussões e atividades por meio das quais os estudantes possam
expor suas concepções, criticar e debater outros pontos de vista, inclusive aqueles omissos no
TDC.
Referências
MORAN, J. M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.
SILVA, M. J. D.; CRUZ, S. M. S. C. D. A inserção do enfoque CTS através de revista de
divulgação científica. IN: IX Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Física,
Jaboticabal: SBF, 2004.
CANDOTTI, E. Ciência na educação popular. IN: MASSARANI, L.; MOREIRA, I.
D. C.; BRITO, F. Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de
Janeiro: Fórum de Ciência e Cultura, 2002, p.15-23.
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Imagem e Presença como Ferramentas Mediais em Atividades do Ensino de Química
Image and Presence as Mediational Tools in Chemistry Education Activities
Luis Gustavo Magro Dionysio1* (PG), Renata Barbosa Dionysio1 (PQ), Waldmir Araujo Neto1,2 (PQ)
*[email protected] 1Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências do IFRJ – PROPEC;
2IQ-UFRJ
Palavras-Chave: Semiótica, Balanças, Ensino.
Resumo
O presente trabalho apresenta parte de uma pesquisa desenvolvida com alunos do 5ºano do
ensino fundamental abordando o tema balança, tendo como referência a “Cooperativa de
Ensino” idealizada por Marie Curie no início do século XX. As atividades se basearam nas
medições de massa e sua importância dessa prática para a atividade científica. A atividade faz
parte de um projeto de divulgação científica sobre balanças na história, e procura verificar
como as modalidades semióticas de presença e de imagem podem prover dar origem a
situações proveitosas para processos dessa natureza.
Introdução:
Ao longo de nossa existência mundana lidamos cotidianamente com imagens e com a
“presentificação” de diferentes estados das coisas do mundo. O mundo nos aparece como um
processo complexo, mas ao mesmo tempo permanente de mutações entre imagem e presença
(SANTAELLA; NOTH, 2005). Estamos mergulhados nesses processos desde a mais tenra
idade, e aprendemos, de certa forma, a lidar com esses estados ainda que não tenhamos
nenhum apontamento específico de como fazê-lo nas diversas matrizes curriculares que
enfrentamos por nossas vidas. O ensino da química, também não escapa às permanentes
mutações entre a presença e imagem. Processos representativos diversos e sofisticados são a
marca da química e de como ela coloca em seus repertórios curriculares essas questões. O
presente trabalho analisa uma atividade criada para o segmento do ensino básico, e que se
destina a por em ação processos que coordenem movimentos representativos entre imagem e
presença. O objetivo da atividade é trabalhar com alunos do quinto ano do ensino
fundamental os conceitos de massa e peso com o uso de balanças artesanais.
A atividade em questão toma como base o projeto conhecido como “Cooperativa de Ensino”
criado por Marie Curie no início do século XX. Em 1907, a cientista Marie Curie
desenvolveu, juntamente com alguns colegas da Universidade Sorbonne, um trabalho com
seus filhos para ensinar-lhes Ciências. Esse grupo ficou conhecido como “Cooperativa de
Ensino” e assistiram 10 aulas de Ciências ministradas por Marie. Tivemos acesso a esse
material através do livro “Aulas de Marie Curie” que foi editado a partir das anotações de
Isabelle Chavannes, aluna da Cooperativa de Ensino.
Acreditamos que a maneira de conduzir as aulas da Cooperativa revelou questões muito
próximas de questões da mediação semiótica, no sentido produzido por Lev Vygotsky
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(COSTAS; FERREIRA, 2011), pois segundo as anotações de Isabelle, Marie os levava a
raciocinar evitando antecipar resultados incentivando-os assim a tomarem decisões e tirar
conclusões a partir de atividades, provocadas tanto pela narrativa de uma situação ou da
apresentação de algo por meio de instrumentos. Baseados nesse viés desenvolvemos um
conjunto de atividades com estudantes do 5º ano do ensino fundamental de uma escola no
município do Rio de Janeiro, tomando como tema “A Balança”, sendo esse o tema da quarta
aula da Cooperativa intitulada: “Em que se aprende a pesar”. Os objetivos dessa atividade
foram: desenvolver um mecanismo de medição de massa criado por eles e discutir a
importância de se fazer medições cada vez mais precisas na atividade científica.
Metodologia:
O projeto foi realizado com 14 estudantes de faixa etária que coincide com dos aprendizes de
Marie Curie. Foram realizados 5 encontros com duração de 50 minutos, os estudantes não
receberam roteiros específicos para as atividades, foram orientados a iniciarem a atividade
desenhando uma balança, abrindo-se assim uma sessão sobre o que vem a ser uma balança e
para que ela serve. As atividades foram registradas com uma filmadora em posição fixa. Os
responsáveis assinaram termo livre e esclarecido sobre o registro das atividades e o projeto
está sendo registrado na Plataforma Brasil e no Comitê de Ética do IFRJ. As figuras 1, 2 e 3
mostram desenhos feitos pelos alunos.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
A próxima etapa foi a confecção de suas próprias balanças, eles discutiram o que uma balança
deveria ter e com o material disponibilizado deveriam, cada grupo, construir a sua. Uma nova
etapa de produção de imagens foi iniciada, com o “projeto de suas balanças”. As figuras 4 e 5,
mostram desenhos de 2 protótipos das balanças antes da confecção das mesmas.
Figura 4
Figura 5
Nessas aulas os estudantes foram desafiados a medir a massa de vários objetos utilizando
produtos com massas já definidas, como por exemplo pacote de queijo ralado de 100g,
tablete de balas de 30g, entre outros produtos de gêneros alimentícios que possuem a
massa na embalagem. Além desse material foi disponibilizado bolinhas de gude.
Resultados e Discussões:
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Durante as aulas de Marie Curie os alunos foram apresentados às balanças e as analisaram,
em nosso projeto eles tiveram que desenvolver um mecanismo para as medições.
Consideramos que esse processo envolve uma situação legítima de “presentificação”, a qual
materializa um objeto a partir dos requisitos originais impostos pela imagem. Mesmo que a
maioria não tenha tido contato com balanças de 2 pratos, sugiram desenhos de balanças desse
tipo, ou seja, por comparação direta de massa a partir de um peso padrão.
As embalagens de produtos alimentícios que foram utilizadas nem sempre foram satisfatórias
pois existiam objetos com massas intermediárias, então definiram a massa de um determinado
número de bolas de gude e fragmentaram tendo assim ideia da massa aproximada de cada
uma, podendo fazer medições mais exatas.
Criaram então um mecanismo de pesagem própria em que compararam massas conhecidas
com massas desconhecidas em uma balança rudimentar confeccionada por eles mesmos. Com
a noção de que as medições de massas eram feitas por comparação foi citado a eles a
existência de um protótipo internacional do kilograma.
Considerações Finais: A atividade apresentada aqui compõe o projeto “Balanças na Química e na História: Imagem
e Presença”, como produto do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências do PROPEC do
IFRJ, no qual se discuti as possibilidades de ação medial dessas duas modalidades semióticas
em um projeto de divulgação científica. Esta parte do projeto representa o investimento em
atividades voltadas para o ensino fundamental.
Durante a atividade podemos perceber que instigar a curiosidade acerca do tema foi um fator
que contribuiu para o desenvolvimento e o engajamento doa alunos. A função do mediador
também foi fundamental, procurando não dar respostas imediatamente, e sem a preocupação
de ensinar a todo custo, procurou-se, durante todo o processo orientar os alunos sobre os
objetivos da atividade.
Acreditamos que as modalidades de imagem e presença oferecem bons recursos de trabalho
para o segmento do ensino básico, e coincidem com estratégias da literatura sobre atividades
dessa natureza (FLEER, 2013). Todavia, ainda estamos envolvidos em um processo de
esclarecimento sobre como poderemos enriquecer nosso aporte metodológico, procurando
envolver a noção de mediação semiótica para avaliar essas duas modalidades.
Referências:
CHAVANES, I. Aulas de Marie Curie. São Paulo: Edusp, 2011.
COSTAS, F. A. T.; FERREIRA, L. S. Sentido, significado e mediação em Vygotsky:
implicações para a constituição do processo de leitura. Revista Iberoamericana de
Educación. N. 55, p. 205-222, 2011.
FLEER, M. Affective Imagination in Science Education: Determining the Emotional Nature
of Scientific and Technological Learning of Young Children. Research in Science
Education, v. 43, n. 5, p. 2085-2106, 2013.
SANTAELLA, L; NOTH, W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras,
2005.
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Banca da Ciência: Experiências na Interface da Comunicação Científica Itinerante com a Escolarização Regular
Sciencestand: Experiences in the Itinerant Scientific Communication
Interface with Regular Schooling
*Luís Paulo Piassi1(PQ), Emerson Izidoro Santos2(PQ), Rui Manoel Bastos Vieira3(PQ)
[email protected] 1EACH-USP,
2EFLCH-UNIFESP,
2FEG-UNESP
Palavras-Chave: comunicação científica; educação não-formal; ensino de ciências.
Resumo
Apresentamos nossa proposta de constituir a comunicação científica na modalidade centro de
ciências por meio de Centrais Itinerantes compostas fisicamente por estruturas similares a
bancas de jornal, empregando artefatos culturais simples e de baixo custo, incluindo
montagens, maquetes, experimentos, brinquedos, jogos, livros infantis, etc.. As estruturas são
projetadas para abrigarem minicentros de ciências em escolas e locais públicos dirigidos ao
público geral em espaços e eventos públicos, sobretudo os dirigidos ao público escolar, e
conta também com a minibanca, que consiste em uma estrutura menor cuja função é
ressignificar espaços educativos formais, convertendo-os em espaços não-formais de
interações sobre ciências, humanidades e artes, por meio de exposições, apresentações,
espetáculos e outras modalidades de ação dirigidas a estudantes, professores e comunidade
escolar, e ao público de eventos diversos compatíveis com a proposta.
Introdução
Diversas são as iniciativas de levar a experiência de museus e centros de ciências a um
público mais amplo do que aquele que visita instalações centralizadas (FERREIRA et al,
2007). A característica que une essas iniciativas é o de levar a espaços não específicos de
exposição aspectos da experiência vivida por visitantes de museus e centros de ciências. No
mesmo sentido, nossa proposta11
visa constituir a divulgação científica por meio de Centrais
Itinerantes de Recreação e Aprendizagem (CIRA), constituídas fisicamente por estruturas
similares a bancas de jornal, adaptadas para itinerância, prevendo fácil transporte por meio de
guinchos veiculares convencionais e resistência a intempéries. Tais estruturas são projetadas
para abrigarem mini-centros de ciências em locais públicos tais como praças, parques,
escolas, centros culturais, entre outros. O modelo de ação proposto envolve a participação
direta de Prefeituras Municipais em convênio com Instituições de Ensino Superior (IES)
locais, com experiência e reconhecimento na formação de professores para o ensino básico e
com equipe de pesquisadores qualificados para viabilizar as atividades de uma Central
Itinerante.
11
Financiamento: CNPq, Capes, Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP e Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal.
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Metodologia
Na figura 1 apresentamos um esquema que resume as ações e como as diversas estruturas
estão articuladas para viabilizar nossa proposta. A primeira consiste em um Laboratório de
Desenvolvimento de Recursos Didáticos que tem como suporte os resultados de pesquisas
com educação e divulgação científica do grupo de pesquisa Interfaces (Núcleo Temático de
Estudos e Recursos da Fantasia nas Artes, Ciências, Educação e Sociedade) da EACH-USP.
Tais pesquisas, por sua vez, dão suporte a ações das bancas (Centrais Itinerantes), dirigidas ao
público geral em espaços públicos, com permanência da ordem de semanas ou meses, mas
também à minibanca, que consiste em uma estrutura menor cuja função é ressignificar, por
períodos curtos de tempo (horas a dias), espaços educativos formais, convertendo-os em
espaços não-formais de interações sobre ciências, humanidades e artes, por meio de
exposições, apresentações, espetáculos, atividades recreativas, oficinas e outras modalidades
de ação dirigidas a estudantes, professores, famílias e comunidade escolar, bem como a
professores em formação e ao público de eventos compatíveis com a proposta (feiras de
ciências, encontros de pesquisa em comunicação científica ou educação, etc). O Laboratório
também viabiliza a Experimentoteca-Ludoteca, ou seja, um acervo de kits acondicionado em
malas para transporte, com a finalidade de empréstimo para professores e instituições
educacionais para uso em situações de educação formal ou não-formal.
Figura 1 – Esquema geral da proposta envolvendo a Central Itinerante e os Núcleos Descentralizados
Para constituir o acervo do CIRA temos privilegiado a produção de materiais e atividades
considerando cinco diretrizes pedagógicas fundamentais. Interdisciplinaridade, que não se
constitui em uma justaposição de conteúdos, mas resulta de uma análise profunda dos
materiais e atividades, apresentando as ciências naturais em um contexto sociocultural amplo,
articulado com as humanidades e as artes. Reprodutibilidade, com materiais de baixo custo e
fácil obtenção e montagens e técnicas de produção claras e didáticas. Ludicidade, enfatizando
a dimensão do prazer, do entretenimento, da curiosidade e da experiência estética.
Simplicidade, de modo a se apresentarem ao público como algo familiar e apreensível.
Dialogicidade, induzindo de imediato o desafio, o questionamento, a interação social e a
investigação.
A metodologia de intervenção, pautada na teoria sócio-histórica (VIGOTSKI, 2001), é
caracterizada como proposta de educação científica baseada em investigação, entendida aqui
como aquela que parte de situações-problema e interação social entre os participantes, com
uso de materiais experimentais, textos e outros recursos para a resolução e posterior
sistematização de conteúdos.
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Resultados, Discussões e Considerações Finais
A Banca da Ciência tem se proposto a levar a experiência dos centros de ciência a espaços
descentralizados nos quais os centros de ciências tradicionais não atuam. Além disso,
almejamos proporcionar uma sensação de proximidade e familiaridade na própria concepção
dos artefatos produzidos, adaptados e ressignificados a partir de materiais simples e bem
conhecidos do público. Nesse sentido, a mobilidade é um dos parâmetros mais importantes. A
exposição na figura 2 (esquerda), por exemplo, realizada em 2013, foi montada em um
estande em um evento dirigido a professores e alunos da rede pública de municípios do
Paraná. Nela empregamos dispositivos de exposição confecionados em placas de aglomerado
perfurada e folhas impressas e plastificadas, produzindo pôsteres-exposições dobráveis, que
foram acondicionados em pastas e despachados como bagagem comum por via aérea. O
mesmo sistema e materiais são usados e adaptados em exposições na estrutura física da
Banca. Na Figura 2 (direita), temos uma apresentação montada, porém em quantidade maior,
com mais disponibilidade de espaço e com apoio de bolsistas PIBID. Esse evento foi dirigido
a professoras de educação infantil e ensino fundamental, em 2014, no campus da Unifesp.
Figura 2 – esquerda: exposição no III SERPROF em Cascavel/PR. Direita: Parada Pedagógica em Guarulhos/SP.
A concepção dos artefatos – produzidos ou adaptados – obedece diretrizes de simplicidade e
ludicidade. Na Figura 3, temos três categorias e temas distintos. Na astronomia, prevalecem
maquetes e montagens com materiais de baixo custo, reproduzindo sistemas astronômicos. Na
área de equilíbrio, procuramos articular as atividades a brinquedos representando animais que
podem ser reproduzidos pelos participantes, inclusive crianças. Já na área de desafios lógicos,
empregamos brinquedos comercializados em feiras de artesanato, ressignificando-os em um
outro espaço, sem a perda do aspecto lúdico.
Figura 3 – Artefatos produzidos ou adaptados para a Banca da Ciência
Referências ERREIRA, J. R. et al. Ciência M vel: Um Museu de Ciências Itinerante. In: X Reunión de
la Red de Popularización de la Ciencia y la Tecnología en América Latina y el Caribe (RED
POP - UNESCO) y IV Taller “Ciencia, Comunicaci n y Sociedad”. Costa Rica, 2007.
VIGOTSKI, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo. Editora Martins
Fontes, 2001.
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A preparação dos professores para fazer divulgação científica
The preparation of teachers to make science communication
Enio Borba Carli (PQ)
Centro Universitário Fundação Santo André (www.fsa.br)
Palavras-Chave: divulgação científica, educação científica, internet.
Resumo Os desafios atuais são complexos e vencer estes desafios exige a articulação de
múltiplos conhecimentos e de profissionais bem formados. Manter e ampliar as conquistas da
atual geração exige então a formação de futuras gerações com boa formação em ciências. Para
isto é necessário ter uma boa educação científica na educação média. Entre os muitos
obstáculos a superar para alcançar uma boa educação científica esta à formação dos
professores, capacitando os licenciandos a utilizar diferentes recursos e estratégias que
motivem os alunos no estudo das ciências. Entre estes recursos está o uso da divulgação
científica no processo educativo. Este trabalho apresenta resultados da formação de
licenciandos em Química como produtores de material multimídia para a divulgação científica
de temas da química de interesse dos alunos.
Introdução
Vivemos um momento de desafios complexos e urgentes: precisamos migrar da
energia fóssil para a energia renovável; precisamos equacionar os problemas das metrópoles;
precisamos garantir educação de qualidade a todos; precisamos de um sistema de saúde que
amplie o acesso a médicos e aos serviços médicos; precisamos mobilizar conhecimentos para
entender e resolver os principais desafios.
A articulação de pessoas com interesse em causas comuns faz com que diferentes
segmentos da sociedade se mobilizem para tornar público seus problemas e suas
reivindicações. Torna-se cada vez mais evidente um descontentamento que aponta para os
muitos desafios que precisam de solução urgente.
Para atender todas estas demandas, seja por ações do poder público ou por iniciativas
do setor privado, será preciso contar com pessoas bem preparadas, com capacidade de utilizar
múltiplos conhecimentos para entender e resolver os desafios que se apresentam. Sem
conhecimentos avançados e de profissionais competentes não será possível, enquanto nação,
atingir os indicadores sociais dos países mais desenvolvidos.
Entre os múltiplos conhecimentos necessários na solução destes desafios está o
conhecimento científico de diferentes áreas do conhecimento. O desenvolvimento da ciência
no Brasil atingiu um patamar de relevância internacional em algumas áreas e contínua a se a
se desenvolver em muitas outras. Na inovação tecnológica só recentemente tivemos ações
para constituir um sistema de apoio mais efetivo e institucionalizado, assim temos muito por
fazer neste tema. Seja em ciência, seja em inovação tecnológica, dependemos da formação
das novas gerações para dar continuidade e ampliar as conquistas obtidas até o momento.
A formação das novas gerações com competência em ciência e tecnologia depende
muito de uma boa educação científica nas escolas e uma de boa divulgação científica para
toda a sociedade, mas temos muito a melhorar em ambas as áreas.
Uma forma de contribuir para melhorar o aprendizado dos alunos em ciências é formar
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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licenciandos com fundamentos que permitam a eles produzir material de divulgação científica
de relevância, seja para o aprendizado, seja para o esclarecimento geral da população.
É importante ressaltar que os temas que despertam o interesse dos alunos são os temas
da atualidade, facilmente acessados pela internet, mas raramente abordados nos livros
didáticos ou debatidos de forma esclarecedora na mídia. Os temas da atualidade atraem os
alunos porque se relacionam com aplicações de impacto imediato, e porque as implicações do
uso deste conhecimento científico e tecnológico pode ter consequência direta em sua vida
(consequências benéficas ou danosas). É para estes temas que mobilizam os alunos, que os
futuros professores devem produzir bons materiais de divulgação científica, favorecendo o
aprendizado de ciências e permitindo a reflexão sobre a influência da ciência na sociedade.
Metodologia A metodologia de capacitação segue os seguintes passos: (1) Apresentar aos alunos
da Licenciatura em Química os fundamentos que compõem: (i) uma boa divulgação
científica; (ii) uma boa produção de material multimídia. (2) Fornecer um ambiente
apropriado para a produção, em formato multimídia, de material de divulgação científica de
temas da química. (3) Fornecer conhecimentos necessários para a disponibilização na internet
do material produzido (a partir de 2014). (4) Interagir com os alunos que acessam na internet
o material produzido, permitindo: (i) analisar sua receptividade; (ii) esclarecer dúvidas; (iii)
receber: elogios, sugestões, críticas, e solicitação de informações complementares. (5)
Interagir com professores de Química do ensino médio para verificar a receptividade deles e a
possível utilização do material como suporte ao ensino de química. (6) Com base na interação
com alunos e professores, efetuar os ajustes e correções necessários no material que foi
disponibilizado. (7) Os alunos avaliam a experiência autoral em divulgação científica.
Resultados e Discussões Este processo de produção de material multimídia para divulgar temas da química para
alunos do ensino médio se iniciou em 2003, com a produção de artigos de divulgação
científica. Em 2009 a produção de artigos dá espaço a produção de material em formato
multimídia com vistas a sua divulgação na internet. De 2009 a 2013 os alunos elaboraram o
material e entregaram como produto final um CD contendo os arquivos: de texto, imagem,
som, vídeo, e a estrutura de menu e dos links de navegação do material elaborado.
Neste último período, 360 alunos produziram um conjunto de 70 materiais de
divulgação científica no formato multimídia com vista a sua divulgação na internet. Uma
avaliação deste processo como etapa de formação dos futuros professores de Química aponta
para: (i) existe uma dificuldade inicial dos alunos em abandonar o formato tradicional de
trabalho escolar com a produção de um texto com uma sequência linear de tópicos; (ii) o
entendimento dos elementos de um bom material multimídia não é imediato, e somente o
fazer e refazer é que permite a apropriação pelos alunos destes elementos; (iii) atingir o
equilíbrio entre os elementos verbais (relacionados ao conteúdo) com elementos não verbais
(relacionados aos aspectos visuais, sonoros, links de navegação) é um exercício difícil para
quem está se iniciando na produção de material multimídia; (iv) a adequação das informações
e conceitos do tema escolhido ao nível adequado de linguagem e de domínio cognitivo do
público alvo não é uma tarefa fácil, pois existe a tendência dos autores em se expressar
tomando como referência o seu próprio nível de conhecimento e compreensão do tema
escolhido; (v) o uso de uma linguagem mais formal predomina inicialmente, sendo necessário
uma “autorização” do professor para que o uso de uma linguagem mais informal e dialógica,
ou ainda o uso de metáforas seja utilizada no material que está sendo produzindo.
Este material deveria ser disponibilizado na internet por uma equipe de apoio, o que
não aconteceu. A dificuldade em utilizar aplicativos pouco amigáveis na construção de
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 41
páginas web ou dominar com propriedade a programação de páginas web impediu a
realização desta etapa. A não publicação do material produzido pelos alunos na internet
interferiu na execução dos itens 4 a 7 previstos na metodologia.
Em 2014 os alunos receberão treinamento para utilizar aplicativos amigáveis de
produção de páginas web e eles próprios disponibilizarão na internet o material produzido.
Deste modo, temos a perspectiva de passar a cumprir na integra a proposta metodológica
desta atividade formativa dos futuros professores de Química.
Considerações Finais A divulgação científica é uma área de conhecimento e um campo de ações de
relevância para o desenvolvimento do país. Entendemos que a divulgação científica se
caracteriza pelo ato de comunicar de forma acessível e correta a um público não
especializado: (1) o conteúdo das pesquisas e teorias científicas (em andamento ou
concluídas); (2) como se dá a organização e de produção do conhecimento científico; (3) os
possíveis impactos do avanço do conhecimento científico e tecnológico na vida social.
Devem atuar como divulgadores científicos todos aqueles que se sentem motivados e
preparados para bem cumprir estes três objetivos da divulgação científica que explicitamos
acima. Os candidatos naturais são: os próprios cientistas, os professores, e os jornalistas.
Entre estes, apenas os jornalistas têm encontrado meios para obter uma formação específica
para desempenhar bem este papel, mas poucos se inclinam para o jornalismo científico. Os
cientistas, de modo geral, entendem a divulgação da ciência como uma atividade que pouco
agrega a sua carreira de pesquisador. Apenas recentemente o Currículo Lattes passou a incluir
a atividade de divulgação científica como um item do currículo do pesquisador.
É chegado o momento de preparar os professores para que eles também sejam
protagonistas da divulgação científica. Os cursos de licenciatura é o caminho para os futuros
professores. Os cursos de formação continuada podem atender os professores da ativa.
Referências
BUENO, W. da C. Comunicação Científica e Divulgação Científica: aproximações e rupturas
conceituais. Inf. Inf., Londrina, v. 15, n. esp., p. 1 - 12, 2010.
CANDOTTI, E. Divulgação e Democratização da Ciência. Ciência & Ambiente, Santa
Maria, n.23, p. 5-13, jul/dez 2001.
FRANÇA, M. S. J. Divulgação ou Jornalismo? In: VILAS BOAS, S. (Org). Formação &
Informação Científica. São Paulo: Summus, 2005. p 31-47.
MARCOVITCH, J. O desafio do ensino de ciências. In: HAMBURGUER, E. W e MATOS,
C. (org). O desafio de ensinar ciências no século XXI. São Paulo: EDUSP, 2000.
MAYER, R. E. Multimedia Learning. Cambridge University Press, 2009.
PALACIOS, M.S; PORTO, C.M. O lugar e o peso da autopublicação na internet e a cultura
científica no Brasil. Revista Educação e Cultura Contemporânea, Rio de Janeiro, vol 9, n.
18, p. 53-74, 2012.
SILVA, M. Sala de aula interativa. 6. Ed. São Paulo: Loyola, 2012.
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A divulgação científica em sala de aula
The public understanding of science in classroom
Guilherme da Silva Lima1*, Marcelo Giordan2
Faculdade de Educação - FEUSP (PG). Faculdade de Educação - FEUSP (PQ).
Palavras-Chave: divulgação científica, ensino de ciências, propósitos de ensino.
Resumo
Este trabalho apresenta uma investigação acerca da apropriação de suportes de divulgação
científica por professores de ciências da rede estadual de ensino de São Paulo. Para isso,
foram analisadas as sequências didáticas produzidas pelos professores durante um curso de
especialização em ensino de ciências oferecida por uma parceria entre a FEUSP e a secretaria
da educação do estado. Após as análises foram encontradas nove propósitos de ensino para o
uso da divulgação científica em sala de aula, quais sejam: argumentação, contextualização
histórica, explicação, interação cultural, levantamento de concepções, metacognição,
pesquisa, produção de material e trabalho de campo.
Introdução
A Divulgação científica (DC) tem tido destaque no contexto educacional brasileiro, de modo
que é possível encontrar muitas atividades, sejam realizadas em espaços específicos ou
materiais de grande circulação como revistas, livros e jornais. Paralelamente, essa temática
também é destaque na pesquisa em ensino de ciências por meio de investigações que
contemplam espaços típicos de educação não formal como os museus (MASSARANI,
MOREIRA e BRITO, 2002; MARANDINO e IANNELI, 2012) e pesquisas que investigam
situações de ensino que estão numa interface entre a educação formal e a educação não formal
(ALMEIDA, 1998 e 2004; CUNHA, 2009; ALMEIDA, 2011), isto é, situações que apesar de
serem constituídas em espaços formais de ensino utilizam como base de suas atividades
materiais de educação não formal ou DC.
No âmbito das atividades formais de ensino a DC tem sido um recurso frequente em aulas de
ciências, ao passo que aborda a cultura científica e tecnológica por meio de recursos distintos
daqueles contidos em livros didáticos e paradidáticos. De um modo geral, os suportes de DC
tendem a aproximar os elementos da ciência e da tecnologia aos recursos, linguagens, bem
como as formas simbólicas comuns à sociedade.
Pelo fato dos suportes de DC não terem sido produzidos especificamente para as situações em
sala de aula, o seu uso nesse espaço requer adequações que são realizadas pelos professores
de Ciências. Na verdade, o uso desse recurso em situações de ensino ocorre após um processo
de apropriação dessa ferramenta cultural. Existem casos do uso direto da DC em sala de aula,
todavia, nem sempre produz os resultados esperados, tal como aponta Cunha (2009).
Tendo como ponto de partida a apropriação da DC pelo professor de ciências enquanto
ferramenta cultural, bem como a adequação da DC para as situações de ensino, este trabalho
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investigou os propósitos de ensino elencados pelos professores em atividades que façam uso
da DC.
Metodologia
Para investigar os propósitos de ensino da DC em situações de ensino de ciências a pesquisa
analisou o curso de formação de professores: Especialização em ensino de ciências; que foi
oferecido pela faculdade de educação da USP em parceria com a rede de formação docente
(REDEFOR) da secretaria da educação de São Paulo.
Foram selecionados apenas os dados do segundo oferecimento do curso, que ocorrem entre
2012 e 2013. No curso os professores de ciências deveriam produzir quatro sequências
didáticas, uma em cada módulo do curso. Por meio de amostras de corte e amostras
probabilísticas, foram selecionadas 100 sequencias didáticas do módulo III do curso – módulo
em que as disciplinas mais fazem uso de suporte de DC em atividades obrigatórias.
As sequências didáticas foram analisadas buscando triangular as informações das dinâmicas
das atividades com os objetivos específicos e com os materiais utilizados, para então
categorizar qual era o propósito de ensino da atividade que fazia uso da DC.
Resultados e Discussões
Após as análises foram encontrados nove propósitos de ensino para as atividades que faziam
uso da DC, que são descritos abaixo:
Argumentação – A finalidade desta proposta é o desenvolvimento da argumentação por meio de materiais de DC disponibilizados pelo professor. A atividade, portanto, pode envolver debates e exposições realizados pelos alunos;
Contextualização histórica – Com esta atividade o professor quer que os estudantes compreendam os contextos históricos que envolveram a comunidade científica, o cientista e consequentemente a conjuntura da sociedade em situações de proposição de leis e teorias;
Explicação – A finalidade da proposta é a explicação, explanação, dissertação ou exposição de um tema ou conteúdo específico. O professor, portanto, pretende que os estudantes compreendam conceitos que são abordados por meio do DDC;
Interação artística/cultural – Essa categoria foi utilizada para classificar recursos que não podem ser considerados exclusivamente enquanto DC, uma vez que não produções artísticas, musicais, cinematográficas (exceto documentários), dentre outros, mas ao mesmo tempo têm como principal referente a Ciências. Deste modo, é possível categorizar recursos que se constituem em uma interface entre a DC e a produção estética, como é o caso de livros e filmes de ficção científica, músicas ou pinturas sobre a Ciência ou o mundo natural;
Levantamento de concepções – O professor por meio dos materiais de DC visa compreender as concepções e percepções que os estudantes têm de determinados temas, contextos, fenômenos, etc;
Metacognição – Com atividades desta natureza, o professor tem o intuito de fazer como que os estudantes reflitam acerca da produção do conhecimento científico,
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dos caminhos e procedimentos típicos da Ciência, bem como o desenvolvimento do questionamento e da reflexão sobre conceitos científicos e sua proposição;
Pesquisa – A proposta da atividade visa que os estudantes desenvolvam uma pesquisa baseada em materiais de DC. Esta atividade, portanto, irá contribuir especialmente para o desenvolvimento da autonomia do estudante, onde ele seja capaz de encontrar e selecionar materiais que contribuam para sua compreensão e/ou melhorem sua argumentação sobre determinado tema;
Produção de material – Propostas que visam a produção de materiais de diversas naturezas por meio de materiais de DC, sejam por meio da escrita de textos ou poesias, representações visuais e audiovisuais, produção de diagramas, dentre outras possibilidades;
Trabalho de Campo – Atividades que implicam visita a um espaço físico destinado a DC, como os museus, planetários, feira de ciências ou outras atividades de mesma natureza, desenvolvidas em locais próprios.
Considerações Finais
A compreensão dos processos de apropriação de ferramentas culturais por professores pode
contribuir significativamente para o planejamento de situações de ensino, bem como para a
elaboração de materiais para o uso em sala de aula.
No caso específico da DC, ter dimensões das possibilidades de uso dessa ferramenta em sala
de aula corrobora para o desenvolvimento de atividades de ensino, para desenvolvimento de
determinadas habilidades e competências, bem como para a alfabetização científica.
Referências
ALMEIDA, M. J. P. M.. O texto escrito na educação em física: enfoque na divulgação
científica. In: ALMEIDA, M. J. P. M.; DIAS, H. C. Linguagens, leituras e ensino da
ciência. Campinas: Mercado das letras, 1998.
ALMEIDA, M. J. P. M. Discurso da Ciência e da Escola: Ideologia e Leituras possíveis.
Campinas: Mercado das Letras, 2004.
ALMEIDA, S. A. Interações e práticas de letramento mediadas pela revista ciência hoje
das crianças em sala de aula. Tese (Doutorado) – FE/USP, São Paulo. 2011.
CUNHA, M. B. A percepção de Ciência e Tecnologia dos estudantes do ensino médio e a
divulgação científica. Tese (Doutorado) – FE/USP, São Paulo. 2009.
MARANDINO, M. ; IANELLI, Isabela Tacito . Modelos de Educação em Ciências em
Museus: análise da visita orientada. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências (Online),
v. 14, 2012.
MOREIRA, I. C. E MASSARANI, L. Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil.
In: MASSARANI, L. e MOREIRA, I. C. e BRITO, F. (Org.) Ciência e Público - caminhos
da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência, 2002.
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Divulgação Científica em sala de aula: o Jornal Biosferas como ferramenta de ensino
Scientific dissemination in the classroom: Biospheres Journal as a teaching tool
Marcia Reami Pechula1* (PQ), Arthur de Lima e Silva2 (PG), Artur Rodrigues Janeiro3 (PG), Gabriela Klein Barbosa4 (IC), Jéssica Alves Chagas5 (IC), Renato Augusto Corrêa dos Santos6 (IC), Stella de Mello Silva7 (FM), Thierry Alexandre
Guerra Bacciotti Denardo8 (FM).
1 Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista – UNESP Rio Claro – Depto de Educação. [email protected]; 2 Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista – UNESP Rio Claro – programa de pós graduação em Biologia Vegetal; 3 Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista – UNESP Rio Claro – programa de pós graduação em Educação; 4 Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista – UNESP Rio Claro – curso de Ciências Biológicas; 5 Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista – UNESP Rio Claro – curso de Ciências Biológicas; 6 Instituto de Biociências – Universidade Estadual Paulista – UNESP Rio Claro – curso de Ciências Biológicas; 7 Centro Universitário Adventista de São Paulo; 8 Colégio Adventista de Piracicaba.
Palavras-Chave: Divulgação científica, Mídias sociais, Ensino médio.
Resumo
Desde 2009 o Jornal Biosferas (fruto de um projeto de extensão da UNESP – Rio Claro)
insere-se nas redes sociais, consolidando-se enquanto um veículo de divulgação científica. A
comissão editorial do jornal submete-se a capacitação contínua e compartilha sua produção
junto à comunidade acadêmica e à rede de ensino médio, a fim de auxiliar os alunos na busca
de informações científicas nas redes de comunicação. Em 2014, a proposta foi ampliada e
está direcionada à produção de artigos de divulgação científica feita pelos alunos do ensino
médio, sob a orientação dos professores das disciplinas de biologia e física.
Introdução
O projeto de extensão “A Biologia no Escopo da Divulgação Científica - Jornal Biosferas” da
UNESP- Rio Claro visa à divulgação cientifica para a comunidade interessada e alunos do
ensino médio hospedado no site do servidor da unidade, na página na rede social Facebook e
na edição impressa anual.
Desde 2009 o projeto é desenvolvido por meio da contínua capacitação da comissão editorial,
sob a coordenação da Profª Drª Marcia Reami Pechula. Atualmente, a comissão é composta
por alunos da graduação em Ciências Biológicas, da pós-graduação em Educação e em
Biologia Vegetal e professores da rede de ensino médio.
Os textos publicados no jornal são produzidos pela comissão editorial, bem como por
docentes e discentes de outras Instituições de Ensino Superior.
No decorrer dos anos a periodicidade desta publicação apresentou variações quanto a sua
metodologia. Seu primeiro formato era de grande quantidade de textos, com maior intervalo
entre as edições. A partir de 2013, o jornal divulga um texto por semana.
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Anualmente, o projeto realiza o evento “Jornada de divulgação científica – diálogo entre
ciência, mídia e cultura”, no qual é lançada uma edição impressa. Bioferas possui três
edições impressas: “150 anos – a evolução da Teoria” (2009), “A biologia como ciência e a
biologia como profissão” (2012) e “Aproximando a sociedade da universidade” (2013). Em
2014, o tema do evento será “a Biologia e o desenvolvimento social”.
Em outra frente, o projeto ofereceu a uma escola pública estadual de ensino médio o curso
“Jornalismo científico”, voltado à orientação sobre o uso e a construção de blog de divulgação
científica. Os demais trabalhos junto às escolas de ensino médio ficaram restritos à
distribuição de exemplares dos jornais impressos por meio dos professores de biologia.
Acreditamos no trabalho de produção de artigos de divulgação científica pois, como
afirmam Terrazzan e Gabana (2003, p.2): “esses textos usualmente apresentam os assuntos
numa linguagem flexível e próxima da utilizada no cotidiano das pessoas”, e “costumam
apresentar os conhecimentos científicos a partir do tratamento de suas aplicações”; esses
fatores nos auxiliam a defender seu uso didático em sala de aula.
Nesse ano de 2014, em parceria com o UNASP e o Colégio Adventista de Piracicaba, o
projeto visará a experiência de trabalhar a produção cientifica por parte dos alunos do ensino
médio junto às disciplinas de Biologia e Física, fortalecendo o propósito de promover a
divulgação do conhecimento cientifico e despertar o interesse pela ciência.
Metodologia
A dinâmica de trabalho é formada por meio dos “núcleos” de produção e criação de
conteúdos, revisão, editoração e webdesign, monitoramento estatístico e comunicação. Essas
atividades específicas têm sido feitas com o auxílio de ferramentas tais como Photoshop©,
Gimp©
, Corel Draw©
, In-Design©
e Dreamweaver©
. A partir de 2012, foram incorporadas as
ferramentas do Facebook Developers©
, voltadas à interação com o público a partir de mídias
sociais e o Google Analytics©
para monitorar a quantidade e características dos acessos à
página. As informações obtidas permitem que outras estratégias sejam elaboradas, de modo a
cativar novos públicos que ainda não são atingidos ou aumentar a interação com os já
existentes.
Em 2014, o jornal contará com a produção de artigos construídos por alunos do ensino médio
a partir dos conteúdos das disciplinas de Física e Biologia. Inicialmente o professor levará o
projeto para a sala de aula tendo autonomia sobre a dinâmica nesse espaço, respeitando
instruções da comissão editorial do Jornal Biosferas tais como: o caráter jornalístico e
cientifico do texto, a temática trabalhada, a forma como será analisado e o funcionamento da
publicação. Os alunos trabalharão os assuntos expostos no decorrer das disciplinas
relacionadas à temática da edição impressa do Jornal: “Biologia e Desenvolvimento Social”.
Os textos passarão por dois processos de avaliação, primeiro pelo professor da disciplina e,
posteriormente, pela comissão editorial. Ao final, os textos aprovados terão espaço para
publicação online e, possivelmente, na publicação impressa.
Resultados e Discussões
Os núcleos de trabalho permitem que os alunos se identifiquem com as atividades da
comissão editorial, estimulando o interesse e aprimorando a capacitação profissional. Assim,
a divisão de tarefas e especificidade do trabalho têm colaborado para uma formação mais
completa dos alunos envolvidos, aproximando a realidade do profissional cientista do
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divulgador de ciência. Isso tem aumentado a produtividade do trabalho, tanto em qualidade
técnica quanto em quantidade e diversidade de conteúdos.
A quantidade total de acessos do segundo semestre de 2012 foi de pouco mais de 20 mil,
enquanto o primeiro semestre de 2013 apresentou um valor superior a 50 mil. Comparando
estes períodos, houve acréscimo de 11,32% de visitantes recorrentes em relação ao total de
acessos. O total de acessos cresceu mais de 150% (190% em acessos advindos do exterior,
destacando-se Portugal, EUA, Moçambique e Angola).
Embora o crescimento geral da página (153%) seja notável e as ferramentas de busca (como o
Google©
, que aumentou 53%) ainda sejam a principal fonte de acessos, percebemos que o uso
das ferramentas sociais trouxe resultados efetivos, como o crescimento de 76% a partir da
rede social Facebook©
e 98% do público fidelizado (acesso direto).
Considerações finais
Percebemos um crescimento efetivo do projeto a partir de 2012. O aprofundamento da
capacitação da comissão editorial e o uso de tecnologias mais eficientes têm exercido papel
fundamental no processo de desenvolvimento do jornal, o que promove a melhoria da
produtividade, assim como na qualidade do material produzido no Biosferas.
Nota-se que o processo de desenvolvimento e atualização do projeto, assim como dos alunos
envolvidos, têm acompanhado o desenvolvimento tecnológico da sociedade como um todo.
Essa relação mantém estreita sintonia com o público ao qual se destina, através dos veículos
midiáticos que ele utiliza, ou que lhe possa despertar interesse (justificando a constante busca
por novas ferramentas). Pretende-se, nesse sentido, contínua inovação, por meio do
investimento em recursos que promovam a comunicação e o estabelecimento de novas
parcerias, a exemplo da experiência com a produção de alunos do ensino médio, iniciada em
2014.
Referências
ARAÚJO, E. S.; CALUZI, J.J.; CALDEIRA, A. M. A. (org.). Divulgação científica e ensino
de ciências – estudos e experiências. São Paulo: Escrituras, 2006.
OLIVEIRA, F. Jornalismo científico. São Paulo: Contexto, 2007.
SILVA, E.T. (org.). O jornal na vida do professor e no trabalho docente. Campinas:
ALB-Associação de Leitura do Brasil. 2007.
TERRAZZAN, E. A.; GABANA, M. Um estudo sobre o uso de atividade didática com texto
de divulgação científica em aulas de física. Anais do IV Encontro Nacional de Pesquisa
em Educação em Ciências – ENPEC, 2003, Bauru/SP.
ZAMBONI, L.M.S. Cientistas, jornalistas e a divulgação científica. Campinas: Autores
Associados, 2001.
VOGT, C.; POLINO, C. Percepção pública da ciência resultados da pesquisa na Argentina,
Brasil, Espanha e Uruguai. Campinas: editora da UNICAMP; São Paulo: FAPESP, 2003.
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A leitura de divulgação científica na escola, existe?
Reading Science popularization in school, is there?
Raquel Roberta Bertoldo (PG)*1, Marcia Borin da Cunha (PQ) 1, Dulce Maria Strieder (PQ) 1, Alex Sander da Silva (IC) 1.
email: [email protected]
1Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste
Palavras-Chave: hora da leitura, Ensino Médio.
Resumo
Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa sobre atividades de divulgação científica
nas escolas da cidade de Toledo-PR. A coleta de dados foi realizada em todas as escolas
públicas de ensino médio da cidade, totalizando 14 escolas, nas quais foram entrevistados
membros da comunidade escolar. A análise de conteúdo foi a metodologia elegida para
interpretação das falas dos entrevistados. Os resultados revelam que as escolas não realizam
atividades de leitura da divulgação da ciência com seus estudantes e os professores da área de
ensino de ciências não se preocupam com esse tipo de atividade.
Introdução
Acreditando que atividades de divulgação da ciência contribuem para a alfabetização
científica dos estudantes, procuramos no presente texto descrever uma pesquisa que tem como
foco verificar atividades de divulgação da ciência na escola, de modo a contribuir para a
enculturação científica dos estudantes.
No que tange aos aspectos relacionados à divulgação científica é possível afirmar que o
desenvolvimento de atividades de divulgação da ciência na escola atua como um importante
meio para que o estudante se aproxime do que é produzido pela ciência e tecnologia, e dessa
forma promove a enculturação científica. Vogt (2003) afirma que como estamos envolvidos
diretamente com a ciência e a tecnologia (CT) em nosso cotidiano, é melhor adquirirmos
postura diante disso do que permanecermos passivos frente aos avanços da CT. Podemos
perceber que o autor considera a ciência e a tecnologia como algo presente em nossas vidas e
deve ser compreendida, assim como outras formas de cultura, como a arte, a ficção, a poesia.
Assim, a ciência e a tecnologia constituem-se como elementos importantes para educação
formal. No entanto, a escola deve considerar o processo de enculturação científica nos seus
projetos políticos pedagógicos, assim como o faz para outros elementos de cultura, como:
arte, poesia, literatura, etc. Visto que a divulgação científica pode ser considerada como um
gênero próprio de discurso.
Cunha (2009) considera importante a escola trabalhe com textos de divulgação científica
(TDC) com o intuito de promover uma análise crítica da CT, visto que o discurso apresentado
pela divulgação científica é ideológico.
Com base no pressuposto, de que devem ser ampliados os textos e gêneros que circulam
na escola, que as atividades de letramento devem possibilitar aos estudantes a participação na
sociedade, que é necessário que os estudantes saibam tomar decisões e adquirir postura crítica
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a respeito dos rumos da ciência e da tecnologia e que os textos que divulgam a ciência
contribuem para essa prática, colaborando assim para a enculturação científica dos estudantes
nesse trabalho (que faz parte de uma pesquisa maior) verificamos como a leitura do gênero da
divulgação científica é percebida pelo ambiente escolar.
Metodologia
Com o intuito de realizar um mapeamento das atividades de divulgação científica que
a escola oferece aos seus estudantes, optamos por desenvolver a pesquisa em todos os
colégios públicos de ensino médio regular da cidade de Toledo – PR, totalizando 14 escolas
pesquisadas. Foram investigadas as escolas de ensino médio, devido à intenção inicial da
pesquisa que é indagar jovens com um tempo maior de leitura na escola.
Para estabelecer uma unidade amostral selecionamos alguns constituintes da amostra
que representasse os diferentes âmbitos na escola, sendo eles: um professor da área de
ciências, um bibliotecário, um membro da direção e um estudante. A pesquisa, de cunho
qualitativo, foi realizada por meio de entrevista com perguntas previamente preparadas que
constituíram um roteiro. As perguntas foram elaboradas de modo que pudéssemos ter
conhecimento das principais atividades de divulgação científica (DC) desenvolvidas pela
escola. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas de acordo com os
códigos de transcrição propostos por Marcuschi (2001). A análise de dados foi realizada a
partir da análise de conteúdo.
Resultados e Discussões
Nesse artigo trazemos os resultados e análises sobre a leitura da DC na escola. Nesse
contexto, selecionamos alguns trechos das entrevistas.
Com o argumento que “o estudante pode escolher o que ele quer ler”, muitas vezes ele
acaba por realizar as leituras indicadas pelos professores da área de Língua Portuguesa. Por
exemplo, livros que integram a lista de referências para o vestibular, ou aqueles que estão na
lista de literatura para algum trabalho avaliativo. Deste modo, a leitura de outros gêneros
(como a DC) fica em segundo plano ou inexistente. Mesmo em momentos de leitura na
escola, como “Hora da Leitura” pode-se observar que as atividades de leitura são voltadas
para a literatura. No trecho 1 apresentamos a fala de um estudante que revela o
direcionamento da atividade para a disciplina de Língua Portuguesa.
Trecho 01 – Estudante
E: nossa professora (+) pra falar bem a verdade (+) meio que proibiu nós (+) nos proibiu de
usar (+) de ler as revistas (+) mais obras literárias mesmo (+)
P: a professora de português no caso?
E: isto
P: ela acha que é melhor por causa do vestibular né
E: e pra nosso apoio no trabalho que ela passa todo bimestre também (+) nós usamos mais
obras literárias mesmo
Essa leitura quando direcionada à apenas uma área, pode implicar desfavoravelmente
no processo de aprendizagem, como destaca Santos (2005). O autor afirma que quando não é
dada a chance do estudante escolher a leitura, sendo imposta pela escola (ou professora, neste
caso), a atividade é vista como obrigação. Além disso poderiam ser realizados trabalhos com
atividades de leitura em que o aluno participasse do texto: “O professor, por outro lado, pode
fugir dessas propostas tradicionais, partindo para um trabalho que mobilize os alunos a
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participar da história lida como co-autores do texto. [...] o professor precisa ser também um
leitor-fruidor que desperte nos seus alunos o prazer de ler.” (SANTOS, 2005, p.14).
Por outro lado, em nossa pesquisa, encontramos professores que reconhecem o interesse
dos estudantes por leituras em revistas, no entanto não levam atividades com TDC para as
aulas, como pode ser observado no trecho 02:
Trecho 02 – Professora de Química
P: e a escola possui alguma assinatura de revistas?
E: /.../ tem assinaturas (+)
P: tem alguma na área de divulgação cientifica?
E: super interessante /.../
P: você percebe algum interesse nos estudantes em ler esse tipo de revista?
E: sim eles gostam
P: vocês professores de ciência chegam a levar pra sala de aula?
E: eu não levo (+)
Convém destacar aqui, que muitas escolas na cidade de Toledo destinam um horário para a
leitura, entretanto nessa atividade não há um comprometimento das disciplinas curriculares,
nem tão pouco o comprometimento dos professores para atividade. Silva (1995) destaca que a
leitura é responsabilidade “[...] de todo o corpo docente de uma escola e não apenas dos
professores de língua portuguesa. Não se supera uma dificuldade ou uma crise com ações
isoladas.” (SILVA, 1995, p. 24). Assim, consideramos importante que professores da área de
ciências também participem do processo de formação do aluno leitor, trazendo para sala de
aula ou para o momento/hora da leitura textos ou literatura de divulgação da ciência.
Considerações Finais
Considerando a leitura da divulgação científica como uma prática indispensável para
enculturação científica verificamos em nossa pesquisa que a escola dá pouca ênfase a esse
tipo de leitura. Os dados desta pesquisa podem ser úteis para (re)pensar o “momento da
leitura” que consta na maioria dos projetos políticos pedagógicos das escolas da cidade de
Toledo e, que para a maioria dos projetos pedagógicos, tem a função de formação do cidadão
crítico.
Referências
CUNHA, M. B. da. A percepção de Ciência e Tecnologia dos estudantes de ensino médio
e a divulgação científica. 2009. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação,
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SANTOS, L. W. dos, Leitura na escola e formação do leitor In: IV Encontro de Literatura
Infanto e Juvenil. Rio de Janeiro, UFRJ, 2005. Atas... Rio de Janeiro, 2005.
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VOGT, C. A espiral da Cultura Científica. Revista Com Ciência, 2003.
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 51
Análise da percepção de estudantes do ensino fundamental a respeito do uso de documentários ambientais na escola
Analysis of sense of students of elementary education regarding the use of videos on environment at school
Roberta Rodrigues da Matta (PG)1*, Marcelo Borges Rocha1 (PQ), Igor Leandro Alves de Carvalho2 (PG)
[email protected] 1 – CEFET/RJ 2 – SEEDUC/RJ
Palavras-Chave: Documentários, Meio ambiente, Ensino Fundamental
Resumo
O vídeo desperta a atenção dos espectadores para os fatos cotidianos, que muitas vezes
passam despercebidos, e estabelece uma relação entre os acontecimentos noticiados. A
pretensão é que novas visões de mundo sejam apresentadas e captadas. Como material
didático, o documentário desempenha importante papel em sala de aula associando a imagem
exposta, e principalmente a interpretação dela, às praticas sociais que permeiam o processo de
ensino-aprendizagem. O objetivo desse trabalho foi avaliar as concepções dos alunos a
respeito do uso de vídeos que abordem a temática ambiental no contexto escolar, através das
respostas obtidas nos questionários. Os motivos pelos quais os alunos consideraram
importante foram a disseminação de informações e esclarecimento de dúvidas, por tornar o
aprendizado mais dinâmico e divertido. Os gêneros de maior preferência foram comédia,
aventura e terror. As respostas revelaram as diversas finalidades e elementos que destacam-se
nesse tipo de material.
Introdução
A Educomunicação também causa mudanças nas estruturas sociais sobre as quais
atua, por se tratar de um campo de intervenção social que se fundamenta na reflexão crítica
sobre os modelos tradicionais de três pilares: comunicação, educação e envolvimento com as
questões sociais. Dessa forma, ela contribui para a motivação dos atores sociais envolvidos
nas temáticas socioambientais por meio da ampliação do potencial de expressão de seus
interesses (SOARES, 2004).
Na escola, o uso de diferentes recursos de apoio, como vídeos e jogos educativos,
pode diversificar a rotina da sala de aula (ARROIO & GIORDAN, 2006), despertar maior
interesse e motivação aos alunos (FERRÉS, 1996) e aproximar o assunto de suas relações
cotidianas (MORAN, 1994).
O vídeo carrega consigo a expectativa de trazer algo diferente ao cotidiano escolar,
mas frequentemente o que acontece é uma repetição da “monotonia” ou “didatismo”.
Utilizado de maneira oportuna, o vídeo desenvolve seu papel como elemento contextualizador
no ambiente escolar, que em dado momento, permite a aproximação e estabelece relações
entre conteúdo/assunto e cotidiano (ANTUNES et al., 2010).
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 52
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi avaliar as concepções dos alunos a
respeito do uso de documentários que abordem a temática ambiental.
Metodologia
O grupo amostral deste estudo foi composto por 43 alunos de 6º e 9º anos do Ensino
Fundamental de uma escola da rede municipal de Itaguaí (RJ).
As concepções dos alunos a respeito do uso de documentários em sala de aula foram
levantadas através da aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas que foram
analisados contabilizando os termos-chave presentes nas respostas, buscando um núcleo
comum de significado (BEZERRA et al, 2008).
Resultados e Discussões
As respostas obtidas na primeira questão apontaram características favoráveis ao uso
do documentário em sala, de forma geral, como a disseminação de informações e
esclarecimento de dúvidas, por tornar o aprendizado mais divertido.
Em respostas que foram mais objetivas, falando dos documentários sobre meio
ambiente, ganhou destaque a importância de se conhecer melhor o meio ambiente para então
preservá-lo.
Cabe ressaltar que 62% dos alunos responderam com o que consideramos uma visão
pessimista, apontando que o papel do documentário é possibilitar a remediação de atitudes
contra o meio ambiente, como desmatamento, queimadas, despejo de lixo, entre outros.
Nesse grupo, o termo “conscientizar” foi vastamente empregado, apontando o que os alunos
acreditam que seja o principal papel do documentário.
No grupo de alunos de EF analisado, em resposta a questão sobre o que mais chama
sua atenção em um documentário, destacou-se a categoria “pessoas falando sobre o assunto”,
com 18 ocorrências (42%), mostrando a relevância do papel desempenhado pelas entrevistas.
Em seguida, como não poderia deixar de ser por se tratar de um material sobre meio
ambiente, encontramos “os lugares e paisagens”, ocorrendo 15 vezes (35%). Seguiu-se “os
sons” (4/9%), e “as músicas” e “desenhos e animações”, ambos com a mesma ocorrência
(3/7%).
No que diz respeito a questão sobre que elementos colocariam em seu documentário,
claramente formaram-se dois grupos de características a serem colocadas nos vídeos que os
alunos gostariam de produzir, revelando uma dualidade. Um grupo apresenta uma visão de
meio ambiente que é considerada reducionista, querendo mostrá-lo intocado, sem a
interferência do homem. Segundo Tamaio (2002, p. 43):
“Traz a ideia de que o meio ambiente refere-se estritamente aos aspectos
físicos naturais, como a água, o ar, o solo, as rochas, a fauna e a flora,
excluindo o ser humano e todas as suas produções”.
O segundo grupo apontou que usaria de elementos alarmistas, com imagens de
queimadas, poluição, lixo sendo jogado nas ruas, desmatamento e esgoto. A proposição de
tais situações viria acompanhada de possíveis medidas para solucioná-las, segundo os alunos.
A análise quanto ao gênero de filmes de preferência do grupo indicou a seguinte
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ordem:
Comédia – Aventura – Terror – Romance – Musical – Ação – Ficção – Drama –
Animação – “Estudos científicos” – Suspense
Cabe destacar a inclusão de quatro categorias as opções da pergunta: ação (com 13
ocorrências), animação, “estudos científicos” (possivelmente o aluno estava se referindo a
ficção científica ou mesmo algum tipo de documentário) e suspense.
Considerações Finais
Ficaram evidentes os motivos pelos quais os alunos consideram importantes para o
uso de vídeos sobre meio ambiente na escola, revelando suas diversas finalidades, elementos
que recebem mais atenção quando assistem a esse tipo de material e de que forma seriam
inseridos.
Esperamos que essa análise tenha um papel norteador na produção de novos
documentários sobre meio ambiente, voltado ao público escolar.
Referências
ANTUNES, AM; OLIVEIRA, ML; DUTRA, MF. Educação ambiental e novas tecnologias:
o uso de vídeos em sala de aula para sensibilização da comunidade escolar. Enciclopédia
biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.6, N.10, 2010.
ARROIO, A.; GIORDAN, M. O vídeo educativo: aspectos da organização do ensino.
Química Nova na Escola, n. 24, p. 8-11, nov. 2006.
BEZERRA, T.M.O. ; FELICIANO, A.L.P.; ALVES, A.G.C. Percepção ambiental de alunos e
professores do entorno da Estação Ecológica de Caetés – Região Metropolitana do Recife-PE
Revista Biotemas, 21 (1), 2008.
FERRÉS, J. Vídeo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
MORAN, JM. Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento. Revista
Brasileira de Comunicação. São Paulo. v. 07. Pg. 36 - 49. 1994.
SOARES, IO.; et. al. O Projeto EDUCOM.TV: Formação On-Line de Professores numa
Perspectiva Educomunicativa. Revista digital de tecnologia e educação a distancia. Vol. 1. N.
1 nov. 2004.
TAMAIO, I. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação
ambiental. São Paulo: Annablumme: WWF, 2002.
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São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 54
Análise Crítica de Texto de Divulgação Científica na Escola
Critical Text Analysis of Science Communication at School
Claudia Almeida Fioresi* (PG), Eliane Souza dos Reis Hipólito (PG), Marcia Borin da Cunha (PQ).
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste. [email protected]
Palavras-Chave: Revista Superinteressante, Ciência, Interpretação.
Resumo
A inclusão de textos de divulgação científica na escola faz parte das discussões que envolvem
a relação entre a educação formal e a educação informal. Uma das propostas é levar para sala
de aula a leitura crítica de textos de divulgação científica (TDCS), como forma de
instrumentalizar os estudantes para uma interpretação que ultrapassa o simples significado da
palavra, mas inclui as representações geradas pelo contexto no qual os textos se situam.
Assim este trabalho apresenta a discussão de um texto que foi levado à sala de aula para
verificar a compreensão dos estudantes e promover a leitura crítica. Os resultados apontam
que os estudantes só percebem as contradições e simplificações apresentadas no texto após a
leitura interpretativa conduzida pelo pesquisador.
Introdução:
A utilização de textos de divulgação científica (TDCs) pode proporcionar aos
estudantes o contato com as pesquisas desenvolvidas na ciência. Nesse sentido, Queiroz e
Ferreira afirmam que: [...] textos de divulgação científica das mais diversas ordens (artigos de
revista, livros etc.) têm sido apontados como um bom artifício no auxílio ao ensino formal
(QUEIROZ; FERREIRA, 2013, p. 948).
Gómez (1997) apud Cunha (2009) apresenta algumas formas de aproveitar melhor os
meios de comunicação de massa (MCM) para a intervenção pedagógica. Um dos exemplos é
a leitura crítica, que tem como pressuposto a análise crítica do conteúdo das mensagens. “Esse
autor sugere que se utilizem estratégias que permitam analisar criticamente o conteúdo das
mensagens e evidenciar, ante os receptores, o tipo de valores e as conotações com que foram
elaborados.” (CUNHA, 2009, p. 105).
Neste trabalho apresentamos uma atividade realizada em sala de aula com um TDC,
publicado em dezembro de 2008, na revista Superinteressante, da Editora Abril. Essa revista
conta com uma tiragem mensal entre 470 e 480 mil exemplares e destina-se à informação de
novidades e curiosidades históricas, culturais e científicas, com ênfase nas descobertas e
domínios do conhecimento científico. A revista destina-se a um público abrangente e
diversificado, especialmente o público jovem (PECHULA, 2007). Nossa intenção foi
promover um debate, conduzindo as discussões de forma a permitir uma análise crítica pelos
estudantes a respeito do que é divulgado na mídia.
Metodologia:
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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Neste trabalho utilizamos o texto “O Rato Ressuscitou” pertencente à seção SUPERNOVAS.
O trabalho foi desenvolvido com sete estudantes do segundo ano do Ensino Médio de uma
escola da rede pública de ensino da cidade de Toledo/PR. A atividade foi conduzida por: 1.
Leitura individual do texto. 2. Interpretação do texto por meio de 11 questões abertas,
elaboradas pelas pesquisadoras, tendo como base o trabalho de Cunha, 2009. O objetivo das
questões foi verificar o entendimento do texto por parte dos estudantes, no que se refere aos
aspectos composicionais e estilo do texto e as interpretações suscitadas a partir de uma leitura
inicial. 3. Leitura interpretativa do texto, realizada pela pesquisadora, na qual para cada
oração lida foi feita uma pausa e questionamentos a respeito do lido e do compreendido na
leitura. Nesse momento procedeu-se a leitura crítica do texto e discussão dos temas e assuntos
apresentados pelo autor/divulgador. Para auxiliar na interpretação dos dados procedeu-se a
gravação em áudio da discussão do texto.
Resultados e Discussões:
A seguir reunimos as respostas fornecidas pelos estudantes, quando estes responderam o
questionário. Organizamos as respostas por temas centrais das questões.
1) Assunto: Os estudantes identificaram como o assunto principal do texto a criogenia e a
possível ressurreição de um rato. Poucos fizeram menção à clonagem do rato que era o tema
principal do texto.
2) Linguagem utilizada: A maioria dos estudantes (5) afirmou o texto apresenta uma
linguagem fácil.
3) Nível de Compreensão: Cinco estudantes consideraram o texto totalmente compreendido (a
maioria). Dois afirmaram ser de média compressão, porque os assuntos se “misturaram” ou
ainda porque “começou falando de uma coisa e terminou em outra.”
4) Termos, conceitos ou assuntos que não compreenderam no texto: Seis estudantes
afirmaram que não houveram termos, conceitos ou assuntos não compreendidos por eles,
apenas um estudante afirmou não ter compreendido quando se tratou do Mickey Mouse.
5) Como a Ciência é apresentada no texto? Quatro estudantes afirmaram que a Ciência é
avançada e evolui a cada dia que passa. Dois estudantes apresentaram que a Ciência trazida
no texto é a criogenia e a clonagem; e um sobre como a Ciência pode ressuscitar um rato.
6) Semelhança entre rato e camundongo: Cinco estudantes afirmaram que rato e camundongo
são iguais e dois estudantes responderam não ser o mesmo.
7) É possível ressuscitar um rato/camundongo após 16 anos congelado? Três estudantes
julgam ser possível ressuscitar o rato e quatro estudantes afirmaram não ser possível
ressuscitar o rato, mas clonar o mesmo, usando seu DNA.
8) A temperatura de um freezer, de um congelador da geladeira e dos tanques de nitrogênio
líquido são as mesmas? Todos os estudantes responderam que as temperaturas são diferentes.
9) Você já ouviu falar em criogenia? O que é criogenia no texto lido? Cinco estudantes
disseram não possuir conhecimento sobre esse termo e dois estudantes afirmaram já ouviram
falar, porém apresentaram justificativas equivocadas.
10) Em um processo de clonagem é possível a reprodução de seres idênticos? Seis estudantes
afirmaram ser possível e um estudante apresentou dúvida dizendo que “talvez seja possível”.
11) Como você imagina o cientista/pesquisador apresentado no texto? Quais suas principais
características? Quatro estudantes afirmaram que o cientista é uma pessoa muito inteligente.
Um não respondeu. Outro afirmou ser como qualquer outro cientista e não apresentou
características. Já outro estudante afirmou que o cientista é quem resolve os assuntos
científicos.
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 56
Discussão: O texto “O Rato Ressuscitou” é um texto curto da Revista Super Interessante da
seção SUPERNOVAS. Preenche metade da página e na outra metade contém a imagem de
um rato. No canto direito da página, o autor apresenta um infográfico com sequência de
pequenas imagens enumeradas de 1 a 4, contendo informações complementares ao texto. O
autor inicia o texto trazendo a discussão da “ressurreição de um rato” que passou 16 anos
congelado. Ora o autor diz que o rato estava no freezer, ora na geladeira e, finalmente, fala na
criogenia, citando a criogenia realizada em seres humanos. Quando trata da clonagem e banco
genético as discussões são bem superficiais e, nesses momentos, a voz do cientista é
enfatizada. O jornalista se contradiz em vários momentos do texto não diferenciando alguns
termos como: rato e camundongo, freezer, congelador, geladeira, refrigerador comum e
criogenia. Além disso, não faz distinção entre ressuscitar, reviver, clonagem e cópia idêntica.
Com base nas respostas dos estudantes evidenciamos que, por mais que eles afirmem que o
texto seja de fácil compreensão, eles não conseguiram definir vários termos presentes no texto
como, por exemplo, criogenia, assim como muitas distinções nem foram percebidas.
Durante a etapa de leitura interpretativa estabelecemos a leitura crítica, na qual os estudantes
puderam perceber as contradições e limitações do texto. Na ocasião que questionamos os
estudantes sobre os momentos do texto em que o autor fazia referencia ao freezer, congelador,
geladeira e nitrogênio líquido, estes afirmaram não ter percebido os equívocos cometidos pelo
autor/divulgador, quando este utiliza o termo congelamento independente do processo no qual
se realiza. O mesmo aconteceu com o “rato e camundongo”, utilizado pelo autor como
sinônimo, opinião também legitimada pelos estudantes. Quando abrimos a discussão sobre
“clonagem” houveram opiniões divergentes entre os estudantes, as quais não se chegou a um
consenso final.
Considerações Finais:
A discussão de textos de divulgação científica em sala de aula pode possibilitar aos estudantes
uma leitura crítica e criteriosa do que é veiculado pela mídia. Neste sentido, apontamos a
importância de subsidiar discussões na sala de aula a respeito da divulgação da ciência. É
importante ressaltar que o professor deve conduzir as discussões de modo a enfatizar o
sensacionalismo e contradições encontradas nos mais diversos meios de divulgação científica.
Referências
CUNHA, M. B. da. A percepção de Ciência e Tecnologia dos estudantes de ensino médio
e a divulgação científica. 2009. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-02032010-091909/>. Acesso em:
set, 2013.
PECHULA, M. R.. A ciência nos meios de comunicação de massa: divulgação de
conhecimento ou reforço do imaginário social? In: Ciência & Educação, v. 13, n. 2, p. 211-
222, 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v13n2/v13n2a05.pdf > Acesso
em: 12 abr. 2014.
QUEIROZ, S. L.; FERREIRA, L. N. A. Traços de cientificidade, didaticidade e laicidade em
artigos da revista ‘Ciência Hoje’ relacionados à química. In: Ciência & Educação, v. 19, n.
4, p. 947-969, 2013. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v19n4/v19n4a11.pdf >
Acesso em: 12 abr. 2014.
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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Oficinas Temáticas visando à Divulgação Científica em aulas de Química
Thematic Workshops for science divulgation in Chemistry classes
Fabio de Souza (PG)1, Luciane Akahoshi (PG)1*, Maria Eunice Marcondes (PQ)1, Ana Silva (IC)1, Bruno Vieira (IC)1, Guilherme Zanelato (IC)1, Marcelo Souza
(IC)1, Thainá Souza (IC)1, Wesley Nascimento (IC)1.
Instituto de Química USP – Av. Prof. Lineu Prestes, 748, sala 0761 B.7-S – São Paulo SP.
Palavras-Chave: divulgação científica, experimentos, oficinas temáticas
Resumo
As oficinas temáticas vêm sendo desenvolvidas pelo nosso grupo como estratégia de
divulgação científica para alunos, buscando contribuir para sua alfabetização científica. Essas
oficinas tratam de temas de relevância social relacionados à ciência e são abordadas por meio
de atividades experimentais e de debates. Os resultados obtidos parecem indicar que os alunos
se mostraram capazes de estabelecer relações corretas entre as diversas idéias tratadas ao
longo da oficina “Química na Cozinha”, evidenciando a ocorrência de aprendizagem dos
conhecimentos tratados. Essa oficina parece contribuir de maneira significativa para o
desenvolvimento nos estudantes da capacidade de estabelecer relações entre os
conhecimentos científicos e aspectos do cotidiano.
Introdução
Vivemos em uma sociedade impregnada de ciência e tecnologia. O domínio de certos
conhecimentos científicos e tecnológicos pode ser de grande valia para se entender e poder
avaliar questões importantes para a sociedade. O ensino de Química pode contribuir nesse
processo ao correlacionar os conteúdos com aplicações tecnológicas, suas implicações sociais,
ambientais, políticas e econômicas, de maneira a difundir uma cultura científica que permita
às pessoas julgar, com fundamentos, os conhecimentos disseminados por diversas fontes de
informação e assumir suas decisões, enquanto indivíduo e membro de um grupo social.
Assim, uma abordagem dos conteúdos por meio de temas que possibilitem a contextualização
social de conhecimentos científicos e tecnológicos pode ampliar o interesse dos alunos pela
ciência, favorecendo uma alfabetização científica em níveis mais elevados do que apenas o
conhecimento de fatos e processos (SHWARTZ et al., 2005, SILVA; MARCONDES, 2010).
Nesse contexto é que se apresenta uma proposição metodológica que nosso grupo vem
desenvolvendo - a oficina temática - como estratégia de divulgação científica para alunos dos
anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. As oficinas tratam de temas de
relevância social relacionados à ciência, que sejam próximos aos estudantes. O tema é
abordado por meio de atividades experimentais e de debates, com ativa participação dos
integrantes. Considerou-se o potencial que essas atividades têm para motivar e manter o
interesse do participante no tema proposto; uma abordagem contextualizada que permita
relacionar os conhecimentos tratados com outros que os alunos têm e com informações sobre
ciência e tecnologia veiculadas nas mídias. O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir a
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 58
contribuição dessas oficinas para a alfabetização científica dos alunos. Apresentamos alguns
resultados da aplicação junto a alunos do ensino médio da oficina “Química na Cozinha”.
Metodologia
As oficinas seguem um esquema de aplicação que envolve o levantamento das idéias
que os alunos têm sobre o tema, a realização das atividades e discussão dos resultados,
relacionando-os com aplicações e implicações sociais (MARCONDES, 2008). Essas oficinas
têm sido oferecidas em nosso laboratório (IQUSP) ou em escolas da rede pública, nas aulas de
Química. A oficina “Química na Cozinha” é composta pelos experimentos: comparação entre
fermento químico e biológico, condutibilidade elétrica de alimentos crus e cozidos, acidez do
molho de tomate e composição dos refrigerantes. A oficina é aplicada a grupos de cerca de 40
alunos. Ao final, aplica-se à metade dos alunos, individualmente, um instrumento elaborado
para se conhecer a percepção que têm sobre sua aprendizagem. À outra metade da turma, é
aplicado um instrumento para conhecer sua compreensão sobre um dos experimentos, por
meio da elaboração de um texto usando um conjunto pré-estabelecido de 6 ou 7 termos
relacionados a um experimento (fermentos ou refrigerante). Participaram da investigação 61
alunos (2ª e 3ª séries) de 2 escolas de ensino médio.
Resultados
As respostas dos alunos ao questionário sobre o que aprenderam na oficina foram
compiladas e analisadas com o auxílio da ferramenta Wordle (http://www.wordle.net/), a fim
de saber os termos mais citados (Figura 1). Nesta ferramenta, o tamanho das palavras é
proporcional à freqüência em que aparecem no texto. Assim, os termos fermentação, pH,
carvão, refrigerante e acidez são os mais citados. Essas palavras se referem aos experimentos
“fermentos químico e biológico” e “composição dos refrigerantes”. Termos associados aos
experimentos “condutibilidade elétrica de alimentos crus e cozidos” e “acidez do molho de
tomate”, como eletricidade, batata, condutibilidade e tomate poucas vezes foram citados
pelos 29 alunos que responderam ao questionário, indicando que os experimentos citados
anteriormente resultaram em maior aprendizagem ou despertaram maior interesse dos alunos.
Figura 1: Palavras mais citadas pelos estudantes.
Para analisar as respostas aos outros questionários, em que se solicitava a elaboração
de textos utilizando termos fornecidos pelos pesquisadores, foram consideradas a freqüência
em que cada termo foi utilizado pelos 32 estudantes respondentes e o número de afirmações
corretas e incorretas contidas nos textos elaborados. Essas afirmações foram abstraídas pelos
pesquisadores a partir de leituras sucessivas dos textos produzidos pelos estudantes, conforme
exemplo apresentado no Quadro 1. A análise desse questionário (Figuras 2a e 2b) possibilitou
perceber que os alunos têm mais facilidade em estabelecer relações entre os termos
fermentação, microorganismos, temperatura e transformação química, no experimento
“fermentos químico e biológico”, e refrigerante, corante e pH, no experimento “composição
dos refrigerantes”. Uma análise usando o Wordle mostrou também que pouquíssimos alunos
citaram fermento químico em seus textos. O termo rapidez também foi pouco usado e, quando
utilizado, geralmente associou-se a afirmações incorretas (21%). No experimento do
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 59
refrigerante, os termos menos usados em geral também estão associados às afirmações
incorretas (16%). Os estudantes utilizaram em média 4,2 palavras (dentre 6 oferecidas) para
compor textos sobre os fermentos e 5,4 palavras (dentre 7) para os textos sobre o refrigerante.
Quadro 1: Afirmações obtidas a partir das leituras dos textos elaborados pelos alunos.
Texto do aluno Afirmações abstraídas pelos pesquisadores
Vimos que o refrigerante possui corantes, açúcar e água
gaseificada e que após ser filtrado por carvão ativo há
uma pequena mudança no pH e provavelmente diminui
o número de substâncias controladoras da acidez.
refrigerante possui corantes, açúcar e água gaseificada;
refrigerante após ser filtrado pelo carvão ativo muda
pH; a filtração com carvão provavelmente diminui a
quantidade de substâncias controladoras da acidez
Figuras 2a e 2b: Freqüência dos termos usados pelos alunos nos experimentos dos fermentos e do refrigerante.
Conclusão
Os estudantes consideram que aprenderam mais ao realizarem os experimentos sobre
“fermentos químico e biológico” e “composição dos refrigerantes” do que com os demais
experimentos da oficina. Eles conseguiram compor textos de maneira coerente relacionando a
maioria dos termos fornecidos pelos pesquisadores, ou seja, em geral eles se mostraram
capazes de estabelecer relações corretas entre as diversas idéias tratadas ao longo da oficina
“Química na Cozinha”, evidenciando a ocorrência de aprendizagem dos conhecimentos
tratados. A oficina temática parece contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento
nos estudantes da capacidade de estabelecer relações entre os conhecimentos científicos e
aspectos do cotidiano. Acredita-se que, assim, o interesse dos estudantes pela ciência, objetivo
das atividades de divulgação científica, pôde ser ampliado.
Referências
SHWARTZ, Y.; BEN-ZVI, R.; HOFSTEIN, A. The importance of involving high-school
chemistry teachers in the process of defining the operational meaning of ‘chemical literacy’,
International Journal of Science Teaching, 27, 323-344, 2005.
Silva, E. L, Marcondes, M E R. Visões de contextualização de professores de Química na
elaboração de seus próprios materiais didáticos. Ensaio, 12(1), p.101-118, 2010.
MARCONDES, M E R. Proposições metodológicas para o ensino de química: oficinas
temáticas para a aprendizagem da ciência e o desenvolvimento da cidadania. Em Extensão,
V. 7, p 67 -77, 2008.
0 5 10 15
fermentação
microorganismos
temperatura
rapidez
transformação química
açúcar
freqüência dos termos usados
Termos usados (fermentos)
0 5 10 15 20
refrigerante
carvão ativo
corante
água
acidez
açúcar
pH
freqüência dos termos usados
Termos usados (refrigerante)
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 60
A divulgação da ciência e a escola em artigos da QNESc e Ciência & Educação
The popularization of science and school in papers QNESc and Science & Education
Eliane Souza dos Reis Hipólito (PG)*, Claudia Almeida Fioresi (PG), Mônica Beatriz Layter (PG), Marcia Borin da Cunha (PQ)
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste. E-mail: [email protected]
Palavras-Chave: artigos DC, química, escola.
Resumo Situar as pessoas com novos avanços científicos e tecnológicos de modo que elas possam
participar dos debates travados na sociedade é um dos papéis da divulgação científica. Neste
sentido a escola pode trazer para sala de aula discussões que envolvem a divulgação da
ciência como forma de integrar o ensino formal com o ensino informal. Mas as pesquisas em
ensino de ciências têm contribuído para essa discussão? Esta foi a preocupação da
investigação que trazemos aqui, a qual realizou um levantamento de artigos publicados sobre
divulgação da ciência em duas revistas da área no período de 2002 a 2012. O foco de análise
foi artigos voltados ao ensino de química. Os dados demonstram uma fragilidade na área no
que tange a publicações que envolvem a divulgação da ciência e a escola, especialmente pelo
reduzido número de publicações, a escassez de propostas para educação básica e a
inexistência de discussões da DC realizada por jornais, revistas e televisão.
Introdução: Atualmente, com as novas propostas educacionais, tem se privilegiado a inserção da
Mídia no interior da sala de aula com vistas a permitir um contato maior dos estudantes com
aquilo que vem sendo produzido pelos pesquisadores e que permeiam as notícias de jornal,
TV e as mídias digitais no que tange à divulgação da ciência.
De acordo com Krasilchik e Marandino (2007):
A escola possui papel fundamental para instrumentalizar os indivíduos sobre
os conhecimentos científicos básicos. No entanto, nem ela nem nenhuma
instituição tem condições de proporcionar e acompanhar a evolução de todas
as informações científicas necessárias para a compreensão do mundo. A ação
conjunta de diferentes atores sociais e instituições promove a alfabetização
científica na sociedade, reforçando-a e colaborando com a escola
(KRASILCHIK & MARANDINO, 2007, p. 31).
Considerando a importância da divulgação da ciência na escola, este estudo teve como
objetivo analisar os artigos sobre divulgação científica, vinculados ao ensino de química, publicados
em duas revistas da área de ensino de ciências, entre 2002 e 2012, considerando os seguintes critérios:
1. Qual é a função da divulgação científica na escola proposta pelos autores dos trabalhos
analisados; e 2. Quais foram os instrumentos/materiais utilizados para a realização do trabalho.
Metodologia: Para esta análise, foram selecionados dois periódicos de circulação nacional: a revista
Química Nova na Escola e a revista Ciência & Educação, no período de 2002 a 2012. É
importante ressaltar que a revista Ciência & Educação envolve outras áreas da Ciência e não
apenas o ensino de Química, como é o caso da revista Química Nova na Escola. Dessa forma,
procuramos artigos que abordassem a Divulgação da Ciência vinculada ao Ensino de
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 61
Química. Para que o levantamento fosse realizado, utilizamos a mídia digital. A busca foi
realizada por meio das palavras chave: popularização da ciência, vulgarização da ciência,
divulgação da ciência ou divulgação científica e dos títulos dos artigos.
Resultados e Discussões: A seguir, apresentamos um quadro com os dois periódicos analisados e os respectivos
artigos encontrados por ano publicado.
Periódico Título Ano Ordem
Análise Química Nova na
Escola Popularização da Ciência e Mídia Digital no Ensino
de Química 2002 Artigo 1
Química Nova na
Escola Michael Faraday e A História Química de Uma
Vela: Um Estudo de Caso Sobre a Didática da
Ciência
2008 Artigo 2
Ciência &
Educação Percepções de professores de ensino superior sobre a
literatura de divulgação científica. 2009 Artigo 3
Ciência &
Educação Autoria no ensino de química: análise de textos
escritos por alunos de graduação. 2011 Artigo 4
Quadro 1: Artigos encontrados por ano nos periódicos Química Nova na Escola e Ciência & Educação. Fonte: Os autores
Resumo dos artigos: 1. Eichler e Del Pino (2002) no artigo intitulado “Popularização da Ciência e Mídia Digital
no Ensino de Química” trazem no artigo um estado da arte no qual apresentam sítios da rede
que possuem reportagens com temas de interesse científico e tecnológico. Os autores
apresentam uma discussão sobre a popularização da ciência e os diferentes modos de
abordagem em um veículo de cunho comercial, como o Portal Terra e em uma revista
eletrônica universitária “ComCiência”. Para análise, os autores delimitam o tema “energia
nuclear”, de modo a facilitar a comparação dos sítios, e possibilitar um eventual trabalho de
ensino-aprendizagem escolar. A principal característica desse trabalho é o levantamento de
dois endereços eletrônicos que podem servir para propostas em sala de aula.
2. Os autores Baldinato e Porto (2008), no texto “Michael Faraday e a História Química de
uma Vela: Um estudo de caso sobre a didática da ciência” procuram reconhecer e classificar
algumas das estratégias utilizadas por Michael Faraday para tornar efetiva a divulgação da
ciência, como se propunha a fazer em suas palestras para a juventude. Nesse artigo foi
realizado um estudo de caso a partir da primeira conferência (de seis) que constitui a série
transcrita e publicada sob o titulo “A hist ria química de uma vela”. Com o estudo realizado,
os autores destacaram a diferença entre os papéis de aluno e professor na época,
principalmente em relação ao ensino. Assim, este trabalho pretendeu mostrar que o estudo e a
interpretação de textos de grandes cientistas podem contribuir para a manutenção do diálogo
necessário à melhoria e formulação das estratégias de ensino e divulgação da ciência em
âmbito geral.
3. O artigo “Percepções de professores de ensino superior sobre a literatura de divulgação
científica”, os autores Strack Loguércio e Del Pino (2009) abordam o uso da divulgação
científica como instrumento didático. Os autores buscam compreender como a produção
textual da divulgação da ciência é entendida, analisada e comentada pelos professores
universitários de cursos de formação de professores.
4. Os autores Ferreira e Queiroz (2011) no artigo “Autoria no Ensino de Química; Análise de
textos escritos por alunos de graduação” discutem o potencial da leitura de textos de
divulgação científica (TDCs) como mediadora para a construção do papel de autor por
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
São Paulo, 15 e 16 de Maio de 2014 62
estudantes universitários. Os instrumentos e materiais utilizados na proposta foram dois
capítulos do Livro Tio Tungstênio: memórias de uma infância química, de Oliver Sacks
(2002), a saber: Luz Brilhante e O Jardim de Mendeleiev. Na proposta foi solicitado que os
estudantes produzissem textos a partir dos capítulos dos livros. Os textos foram lidos de
forma criteriosa e classificados quanto à repetição histórica, formal e empírica. Foi adotado o
referencial teórico da análise do discurso de linha francesa, em especial, a noção de autoria.
Discussão: Como estes artigos se relacionam com a escola?
Sobre a categoria 1: Função da divulgação científica na escola proposta pelo autor.
Evidenciamos que a preocupação dos autores de três dos artigos analisados está voltada para a
percepção de professores de química no ensino superior sobre a possibilidade de inserção de
TDCs em sua prática docente, a fim de apresentar aos futuros professores o conhecimento
deste recurso didático que pode ser uma alternativa ao livro-texto em sua futura prática
docente nas escolas. Um artigo faz referência à educação básica e procura alertar os
professores e alunos quanto à necessidade do debate para compreender o que se diz e o que se
apresenta na internet, apontando para o reducionismo e à propaganda das notícias.
Sobre a categoria 2: Instrumentos/materiais utilizados na proposta.
Os autores utilizaram como materiais para difusão do discurso da divulgação da ciência textos
provenientes da literatura como: A história química de uma vela, O mágico dos Quarks, O
átomo, O sonho de Mendeleiev, Tio Tungstênio: memórias de uma infância química; e sítios
da internet que tem a função de divulgar a ciência, como o Portal Terra e ComCiência.
Considerações Finais: Em nossa análise foi possível observar uma reduzida quantidade de artigos no
período especificado e especialmente não há propostas para o desenvolvimento de atividades
com textos voltados ao trabalho com a educação básica. As propostas e pesquisas estão
centradas no ensino superior. A partir destas análises, abre-se um campo promissor para
pesquisas futuras nesta área. Além disso, não encontramos nenhum artigo que fizesse
referência à leitura de textos de divulgação da ciência publicados em jornais em revistas ou da
divulgação da ciência realizada na televisão brasileira. Veículos estes de fácil acesso e
disponíveis à grande parte da população.
Referências BALDINATO, J. O.; PORTO, P. A. Michael Faraday e a História Química de Uma Vela: um estudo
de caso obre a didática da ciência. Química Nova na Escola, n. 30, p. 16-23, 2008. Disponível em: <
http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc30/04-HQ-5308.pdf > Acesso em: 06 abr. 2014.
EICHLER, M.; PINO, J. C. Del. Popularização da Ciência e Mídia Digital no Ensino de Química.
Química Nova na Escola, n. 15, p. 24-27, 2002. . Disponível em: <
http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc15/v15a05.pdf > Acesso em: 08 abr. 2014.
FERREIRA, L. N. A. D.; QUEIROZ, S. L. Autoria no Ensino de Química: análise de textos escritos
por alunos de graduação. Ciência & Educação, v. 17, n. 3, p. 541-558, 2011. Disponível em: <
http://educa.fcc.org.br/pdf/ciedu/v17n03/v17n03a03.pdf > Acesso em: 08 abr. 2014.
KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de ciências e cidadania. 2 ed. São Paulo: Moderna,
2007.
STRACK, R.; LOGUERCIO, R.; PINO, J. C. Del. Percepções de professores de ensino superior sobre
a literatura de divulgação científica. Ciência & Educação, v. 15, n. 2, p. 425-442, 2009. Disponível
em: < http://educa.fcc.org.br/pdf/ciedu/v15n02/v15n02a12.pdf > Acesso em: 06 abr. 2014.
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Produção de Materiais de Divulgação Científica em um Curso de Licenciatura em Física
Production of Materials about Scientific Spreading in a Teacher Education Undergraduate Course in Physics
Antonio Luiz Fernandes Marques (PQ)
Instituto de Física e Química da Universidade Federal de Itajubá. Av. B. P. S., 1303, Itajubá (MG), Cep 37.500-903.
Palavras-Chave: Materiais didáticos, Divulgação Científica, Disciplina, Licenciatura em Física.
Resumo
Divulgação Científica (DC) comporta diversas áreas e atividades, como a museologia, a
elaboração de livros, a criação de histórias em quadrinhos, a produção de programas de rádio
e de vídeo, a criação de sites na internet e de outros informativos por parte de cientistas e
profissionais da área. A disciplina COM966 foi criada em 2005 com uma proposta de
implantação de uma estrutura de DC na Universidade Federal de Itajubá. Na disciplina são
estudadas as características principais da divulgação científica e também as técnicas
específicas envolvidas em cada uma de suas formas (mídias utilizadas) de divulgação. Neste
trabalho listamos os materiais produzidos pelos alunos de COM966 e que foram apresentados
nos Simpósios Nacionais de Ensino de Física de 2007, 2009 e 2011. Acreditamos que a
disciplina promova uma melhoria significativa na formação acadêmica dos alunos
participantes através da elaboração das atividades sugeridas e das discussões e reflexões
realizadas.
Introdução
A expressão Divulgação Científica (DC) comporta diversas áreas e atividades, como a de
relações públicas em instituições de pesquisa, a museologia, a elaboração de livros, criação de
sites e de outros informativos por parte de cientistas e interessados.
Divulgar ciência constitui também uma maneira de complementar a educação que, na maioria
dos casos, ocorre de forma deficiente. A DC pode ser uma forma de atrair os jovens para o
aprendizado de ciências e também manter atualizados os professores do ensino fundamental e
médio (VIEIRA, 1998).
Tendo como meta a implantação de uma estrutura de DC na Universidade Federal de Itajubá
(UNIFEI), a partir de 2005 foi criada uma disciplina não obrigatória de Divulgação Científica
COM966 nos moldes do curso de especialização oferecido pelo Núcleo José Reis de
Divulgação Científica (NJR) e realizado na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da
Universidade de São Paulo (USP). A disciplina apresenta carga horária de 30 h (2 h/semana) e
tem como objetivo a discussão e implementação das diversas formas de DC na Universidade,
bem como melhorar a formação dos graduandos, incentivando a produção de trabalhos em
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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pelo menos uma mídia utilizada, podendo ser de forma escrita (jornais e revistas), histórias
em quadrinhos, rádio, vídeo ou internet. Essas diversas formas de mídia são importantes para
a ampliação do público-alvo que pode vir a ser de pessoas com ensino superior ou com
ensinos médio ou fundamental.
Metodologia
Na disciplina trabalhamos os conceitos básicos da DC tais como definir exatamente qual o
público alvo a ser atingido; a importância da clareza e da leveza da exposição dos conceitos
abordados; o cuidado com a linguagem a ser usada, tendo em mente que esta deve ser
diferente daquela empregada em trabalhos científicos, além de ser simples, informal e não
rebuscada; e principalmente a preocupação com a distinção entre especulações e os resultados
científicos já comprovados. Enfim, o trabalho de DC deve ser elaborado de forma que o
público alvo compreenda a totalidade do divulgado (VIEIRA, 1998).
Na disciplina são discutidas as diversas mídias empregadas como meio de DC
(jornais/revistas, história em quadrinhos, rádio, vídeo, e internet), definiram-se as
características principais dessas mídias e, através de exercícios, buscando-se a compreensão e
a consequente fixação dessas características. Na discussão de cada mídia uma atividade de
fixação é sugerida e avaliada.
Atividades de DC envolvendo redação tiveram o objetivo da criação de textos para um jornal
diário fundamentados em notícias recentes geradas pelos grandes laboratórios de pesquisa.
Tendo como base as notícias recentes dos grandes laboratórios foram produzidos textos
curtos, inicialmente um lead12 ou guia, isto é, parágrafo de três a cinco linhas não-hifenadas,
e de até setenta toques, onde deveriam ser respondidas as seguintes questões: quem, quando,
onde, como, por que, para que e para quem. A seguir, acrescentou-se o título (exatamente
duas linhas de até trinta caracteres) ao lead. Finalmente, foi elaborado um texto de exatamente
vinte linhas não-hifenadas com pelo menos dois parágrafos (o lead e pelo menos mais um),
salientando sempre a importância da linguagem utilizada (VIEIRA, 1998).
Em outras atividades foram discutidos conceitos de Radiodifusão, uso da imagem e
fotografia, Histórias em Quadrinhos e Vídeo para DC. Finalmente, na aula sobre o uso da
internet na DC discutiram-se os formatos de páginas onde podem ser usadas as técnicas,
discutidas e, utilizadas em escrita, radiodifusão, imagens, fotografias e vídeo.
Portanto, o treinamento, dos alunos participantes da disciplina COM966 consistiu na
produção de materiais utilizando conceitos discutidos, como: roteiros de programas de rádio,
fotografias, roteiros de vídeo, etc.. Como atividade final da disciplina cada aluno deve
apresentar materiais produzidos em uma das mídias discutidas.
Resultados
Desde 2007 participamos do Simpósio Nacional de Ensino de Física - SNEF, evento
promovido pela Sociedade Brasileira de Física – SBF que acontece a cada dois anos. Os
SNEFs congregam alunos e professores dos diversos níveis de ensino, interessados em
debater questões relacionadas ao ensino e aprendizagem de Física, à pesquisa realizada no
campo de investigação do Ensino de Física e à formação de profissionais para atuarem nesse
campo, quer como docentes ou como pesquisadores. Nas edições de 2007, 2009, 2011 E 2013
12 termo jornalístico originário da frase “to lead the way”
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades Universidade de São Paulo
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do SNEF apresentamos artigos com os materiais produzidos pelos alunos de COM966 nos
seus trabalhos de finais da disciplina.
Em 007, em São Luis (MA) apresentamos a comunicação oral “Produção de Materiais de
Divulgação Científica no Curso de Licenciatura Em Física da Universidade Federal de Itajubá
(Unifei)” com a discussão de propostas de uma de revista de DC, de um programa de rádio, de
uma série de histórias em quadrinhos (HQ) e de uma página na internet. (MARQUES, 2007)
Em 2009, em Vit ria (ES) apresentamos a comunicação oral “Produção de Materiais de
Divulgação Científica nas suas Diversas Mídias” com propostas de HQs, de roteiros de
programas de rádio e de vídeo. Apresentamos também o pôster “A Divulgação Científica
Aplicada ao Ensino Médio” com a discussão da proposta de uma página na internet sobre DC.
(MARQUES & SCHEIDEGGER, 2009)
Em 2011, em Manaus (AM), apresentamos a comunicação oral “Disciplina de Divulgação
Científica em um Curso de Licenciatura em ísica” com propostas de uma revista de DC,
roteiros de rádio e um blog de DC (MARQUES, 2011). Apresentamos também um pôster
para cada um desses materiais produzidos.
Em 2013, em São Paulo (SP), apresentamos a comunicação oral “Criação de Trabalhos de
Divulgação Científica em um Curso de Licenciatura em ísica” com propostas de criação de
quatro blogs de DC. (MARQUES & COLABORADORES, 2013)
Considerações Finais
A disciplina COM966 (Divulgação Científica) da UNIFEI tem discutido as diversas formas
de DC, melhorando assim a formação dos alunos da Universidade através da produção de
trabalhos de DC nas suas diversas formas.
A cada ano os alunos conseguem produzir mais materiais durante a disciplina e assim
acreditamos que o objetivo de implementar uma estrutura DC na Universidade esteja no
caminho de ser alcançado.
Referências
MARQUES, A. L. F., Produção de Materiais de Divulgação Cientifica no Curso de
Licenciatura em Física da Universidade Federal de Itajubá, XVII Simpósio Nacional de
Ensino de Física (SNEF 2007), 29 de janeiro a 02 de fevereiro, São Luis, MA, 2007.
MARQUES, A. L. F., Produção de Materiais de Divulgação Científica no Curso de
Licenciatura em Física da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). In: XIX Simpósio
Nacional de Ensino de Física, São Luiz, MA, 2011.
MARQUES, A. L. F., SCHEIDEGGER, A. P. G., Produção de Materiais de Divulgação
Científica na Disciplina COM966 da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). In: XVIII
Simpósio Nacional de Ensino de Física, Vitória, ES, 2009.
PAULA, A. C. S., REBELO, B. R., BENEDITO, G. S. C., BUENO, L. C. e MARQUES, A.
L. F., Criação de Trabalhos de Divulgação Científica em um Curso de Licenciatura em Física.
In: XX Simpósio Nacional de Ensino de Física, São Paulo, SP, 2013.
VIEIRA, C. L., Pequeno Manual de Divulgação Científica: Dicas para cientistas e
divulgadores de ciência. São Paulo: CCS/USP, 1998.