síntese crítica amistad

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JURAY NASCIMENTO DE CASTRO AMISTAD ANÁLISE CRÍTICA Análise Crítica do filme “Amistad”, Apresentado à professora Rosalice M Marinho Carvalho do Instituto de Educação Superior UNYAHANA de Salvador. Salvador – Bahia Março de 2002

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Page 1: Síntese crítica   amistad

JURAY NASCIMENTO DE CASTRO

AMISTAD

ANÁLISE CRÍTICA

Análise Crítica do filme “Amistad”, Apresentado à professora Rosalice M Marinho Carvalho do Instituto de Educação Superior UNYAHANA de Salvador.

Salvador – Bahia Março de 2002

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SINÓPSE ANALÍTICO-CRÍTICA DO FILME AMISTAD TÍTULO DO FILME: AMISTAD (Produzido em 1997 nos Estados Unidos) DIRETOR: Stiven Spilberg ELENCO: Morgan Freeman, Anthony Hopkins, Matthew McConaughey, Nigel Hawthorne, Djmon Housou, David Paymer, Anna Paquin TEMÁTICA O filme remonta ao ano de 1839, e retrata a saga de 53 negros africanos, que

embora feridos na sua dignidade posto que lhes tiram o bem maior de um homem,

“o direito ‘a liberdade” lutam desesperadamente por reconquista-la.

A tentativa de fuga culmina na morte da maior parte da tripulação do navio negreiro

“la Amistad” obrigando os sobreviventes a levá-los de volta à África.

Enganados, desembarcam na costa leste dos Estados Unidos, onde são acusados de

assassinato, e presos, enfrentando um longo e polêmico processo, infligido pela

sociedade burguesa Americana num período onde as divergências internas do país

entre o norte abolicionista e o sul escravagista, caracterizavam um processo

convulsivo de rompimento com paradigmas sociais.

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ENRREDO

O enredo aborda o processo de julgamento dos negros sobreviventes, pelos

Tribunais Norte Americanos 22 anos antes do início da Guerra Civil, num contexto

marcado pelos conflitos internos e pelo acirramento das divergências do norte

abolicionista, com o sul escravagista.

O relato ocorre na passagem do século XVIII para o XIX, quando os Estados Unidos

recém-independentes e ansioso por tornar-se uma nação forte e reconhecida perante

o mundo capitalista, enfrenta os conflitos internos entre o norte e o sul. O norte,

abastado pelas riquezas acumuladas durante o período colonial, criou condições

favoráveis para o desenvolvimento calcado na mão-de-obra livre disponibilizada pelo

trabalho assalariado. Já o sul, permaneceu estagnado com uma economia agro-

exportadora de algodão e tabaco baseada no latifúndio escravista.

É neste contexto que se desenrola a historia, de Cinque que junto com seus

companheiros, são capturados em sua tribo por traficantes de escravos e vendidos à

espanhóis. Durante a viagem a sede pela liberdade levam-nos a um inevitável

motim, onde acabam por dominar a tripulação. No entanto, desconhecedores da arte

da navegação e sem o domínio do idioma dos seus algozes, é inevitável que sejam

enganados, e o “Amistad” acaba sendo interceptado em águas americanas, pela

guarda costeira inglesa, nação que se opunha ao tráfico de escravos, e são assim

conduzidos ao Estados Unidos, onde sãos acusados de assassinato pelos 2 espanhóis

sobreviventes.

Inicia-se então uma batalha judicial entre os negros representados por Cinque,

defendidos pelo jovem e então desconhecido advogado branco Sr. Roger Baldwin,

contando com o auxílio de dois abolicionistas. No entanto, esta trama se torna

complexa na medida em que diante dos tribunais se revelam os ambiciosos conflitos

de interesses.

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O então Presidente Americano, mais preocupado com o seu “brandy” do que com um

punhado de vidas de negros que lhes são indiferentes, procura agradar os

escravagistas, que lhes renderão votos oportunos e entra nessa batalha com o

propósito de estabelecer uma relação promiscua entre Executivo e Judiciário que lhe

permita manter-se no poder.

“No tribunal quem conta a melhor história vence”, afirma o ex-presidente americano

e abolicionista John Q. Adams, que mais tarde irá intervir junto à Suprema Corte, em

favor de Cinque e seus companheiros com talentoso discurso argumentativo, que lhe

confere uma brilhante atuação. O Sr. Roger Baldwin intuitivamente sabe disso, e luta

obstinadamente por desvendar o código da comunicação que possa esclarecer os

fatos, elucidar as verdades que forneçam subsídios às suas argumentações de

defesa.

É espantoso como descobrimos neste filme, o modo como o processo de

decodificação da comunicação derruba barreiras e desvenda o mundo. E isto se

revela na atuação de Cinque, que despe-se da aparente imagem de homem tribal,

primitivo, e sob este pretexto é imaginado rude e inferior pelos soberbos lordes da

sociedade escravagista americana.

Nem mesmo o Sr. Noliburne, na sua zelosa interpretação da promotoria, consegue

calar a dignidade e o obstinado grito de liberdade, quando mesmo sem dominar o

idioma inglês, Cinque reclama pelo seu povo o direito de se fazer compreender,

bradando perante o tribunal; Deixa nós, nós livre!; Deixa nós, nós livre!; Deixa nós,

nós livre!”

Este nobre negro africano se revela culto, quando se permite interpretar as gravuras

da Bíblia, e não só demonstrar a compreensão do seu significado, mas também

estabelecer paralelos com a sua própria cultura. Revela-se nobre quando

compreendendo a torpeza da humilhação que lhes atinge ao trilhar pelas ruas

acorrentados como animais a caminho do tribunal, insiste junto a um dos seus

companheiros que mantenha a cabeça erguida.

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À sombra destes argumentos, é inevitável que se reconheça no personagem a

pessoa de um homem livre. Mas há valores sociais que nem mesmo o mais profundo

conhecimento de comunicação permitirá decodifica-lo. No mundo de Cinque caciques

são caciques e homens tem palavra, e é inconcebível em sua cultura, que aquele a

quem se confira autoridade para fazer justiça não tenha autoridade para manter a

sua palavra.

Mas a inquietude é mensageira da razão, e Cinque só se tranquilizará diante do

discernimento que lhe devolva a paz. É então em Q. Adams que Cinque aposta suas

esperanças e compreende a necessidade de confiar.

O que agora está em jogo não é mais o mérito da sua liberdade, e John sabe disto.

O seu argumento de defesa rico e contundente, invoca à mais alta corte Americana

aperceber-se que fosse este negro africano um homem branco, ganharia medalhas e

honrrarias, escreveriam-se sobre os seus feitos e contaria-se a sua história nas

escolas. Diante de tão densos argumentos mostra-lhes que ao negar a liberdade só

lhes restará por dignidade, rasgar as suas próprias leis.

Vence assim a razão às ignorantes ideologias, vence Cinque e seu povo por não

vender sua liberdade e dignidade ao preço do medo desesperança e humilhação.

Juray Nascimento de Castro