sociologia do crime
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Introdução
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Breve perspectiva histórica: Contextualizando a relação recluso – reinserção social
Etimologicamente a palavra preso provém do vocabulo latim prehensus, tendo como
sinónimo a palavra recluso, que significa indivíduo que está preso, encarcerado prisioneiro.
Na modernidade segundo a visão de Michel Foucault, a expressão preso toma novas
directrizes e está intrinsicamente ligada as regras de funcionamento da prisão que são
impostas ao preso com rigor e coerção. Este, por sua vez, também dispõe de um conjunto
de regras, chamado "código dos presos" e que tem vigência entre eles e é aplicado por
alguns sobre os demais.
Segundo o moçambicano Sucar, J. ( 1998) reinserção social é entendida como o processo
que o indivíduo, família, comunidade e Estado desenvolvem para a recuperação, integração
ou reintegração do indivíduo na sociedade. Concretiza-se com a conscientização do
indivíduo no aprendizado ou resgate de valores morais e éticos, devendo a família,
sociedade e o Estado prestar-lhe apoio, criando mecanismos de educação, saúde, trabalho,
desporto, lazer, cultura, apoio psicológico e espiritual para o exercício de sua cidadania.
Tanto para o indivíduo como para família e a comunidade, destacam-se, entre as
recomendações propostas para favorecer a reinserção social, a promoção, conscientização e
a necessidade do respeito à voluntariedade, o favorecimento de actividades socioculturais e
de modificações de comportamentos e valores.
Para melhor entendermos o processo de Reinserção ou Reintegração Social é necessário
que nos reportemos ao conceito de exclusão, que é o acto pelo qual alguém é privado ou
excluído de determinadas funções.
A exclusão social implica, pois, numa dinâmica de privação por falta de acesso aos
sistemas sociais básicos, como família, moradia, trabalho formal ou informal, saúde, dentre
outros. Não é outro senão, o processo que se impõe à vida do indivíduo que estabelece uma
relação de risco com algum tipo de droga, cuja fronteira para a exclusão é delimitada pelo
início dos problemas sociais.
A reinserção assume o caráter de reconstrução das perdas e seu objetivo é a capacitação da
pessoa para exercer em plenitude o seu direito à cidadania. O exercício da cidadania para o
paciente em recuperação significa o estabelecimento ou resgate de uma rede social
inexistente ou comprometida pelo período de abuso da droga. Neste cenário, ajudar o
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paciente a entrar em abstinência deixa de ser o objetivo maior do tratamento. Assim como
as técnicas de prevenção à recaída representaram nos últimos anos grandes avanços no
tratamento do paciente, a sua reinserção social torna-se, neste milênio, o grande desafio
para o profissional que se dedica à área das dependências químicas.
O processo de reinserção começa com a avaliação social, momento em que o profissional
mapeia a vida do paciente em aspectos significativos que darão suporte ao seu novo projeto
de vida,desenhado a partir das suas características pessoais e da etapa do tratamento em
que se encontra. No processo de aprender a lidar com a sua relação com a droga, via
tratamento (independente da sua modalidade), o paciente é exposto às demandas do mundo
externo com todas as suas contradições. Sentimentos de rejeição, insegurança, culpa,
incapacidade, dentre outros, vão colocá-lo em freqüentes situações de risco.
Por isso, já no primeiro contato, o profissional deverá assumir uma postura de acolhimento
do paciente, no qual a atitude solidária e a crença na capacidade de o mesmo construir e/ou
restabelecer sua rede social irão determinar o estabelecimento de um vínculo positivo entre
ambos. É uma parceria onde a porta para a ajuda estará sempre aberta, desde que, o trânsito
seja de mão dupla. Assim, o profissional e o paciente devem entender a reinserção social
como um processo longo e gradativo que implica, inicialmente, na superação dos próprios
preconceitos, nem sempre explícitos.
Os assuntos individuais e sociais de maior relevância no contexto do paciente devem ser
discutidos abertamente com o objetivo de estimular uma consciência social e humana mais
participativa. É nestas discussões que se percebe a energia vital manifestada, quase
milagrosamente, naquele paciente que havia feito da condição de excluído, o instrumento
privilegiado de suas relações sociais, resgatando a sua auto-estima.
Problemática
Nesta fase da pesquisa temos como propósito construir o objecto
sociológico sobre o qual vamos esmuiçarmo-nos ao longo do nosso
trabalho empírico, assim sendo, nossa principal tarefa consistirá em
fazer a passagem da reinserção social da reclusa, enquanto problema
social para problema sociológico, o que culminará com a elaboração da 3
pergunta de partida que vai servir de fio condutor da nossa pesquisa e
dos objectivos a que nos propomos alcançar. Portanto vamos construir
teoricamente a nossa problemática.
A reintegração social do preso é possível ou não no ambiente carcerário, levando-se em
consideração as mazelas existentes na prisão e alguns outros tantos factores negativos
suscitados em relação à ressocialização.
A ideia de punição, os conceitos de reinserção, reabilitação social, ressocialização da
reclusa, assim como a punição passa não só a se destinar a sancionar a infração, mas a
controlar o indivíduo, a neutralizar a sua periculosidade, a modificar suas disposições
criminosas, cessando somente após obtenção de tais modificações (Foucault, 2000, p. 20).
Na mesma senda, a tese da reinserção social é ressaltada por Jason Albergaria, segundo o
autor a reinserção consiste no processo de introdução do indivíduo novamente na
sociedade, enquanto que a reeducação é o processo de desenvolvimento das personalidades
do preso, em consonância com os direitos fundamentais.
Por tudo que foi exposto acerca dos vocábulos utilizados no sentido de compreender um
mesmo ideal, entende-se que a melhor terminologia para designar a atividade do pessoal
penitenciário em colocar, à disposição do condenado, meios e condições propícias que
permitam a este, em adesão positiva e voluntária, retornar de forma harmónica à vida livre
em sociedade e não voltar a cometer novos delitos, de modo que neste mesmo processo
pautado sob um enfoque moderno e humanista esteja garantida a proteção de suas
liberdades e direitos não alcançados pela sentença condenatória, é o termo reintegração
social.
Com o escopo de compreender as atitudes da sociedade moçambicana com relação a
reinserção social, é capital captar as estrategias que as instituições dos meios de controlo
social, junto com a sociedade adoptam para o processo de reabilitação do recluso. No
mesmo fio de pensamento, nos é mister perceber como é que o próprio recluso assimila
uma série de procedimentos, técnicos, normativos, disciplinares que estas instituições
adoptam para reintegra-lo na vida social.
Particularmente aos serviços penitenciários moçambicanos, questiona-se as condições de
ressocialização sob o argumento de que ao Estado Democrático de Direito não cabe impor 4
ao condenado determinados estilos de comportamentos e concepções de vida, como forma
de oprimir e diminuir sua liberdade interna de aceitar ou não tais valores.
Não obstante, a ressocialização não é um entendimento de todo modo condizente com a
proposta ressocializadora, já que, "o sentido imanente de reinserção social deve ser
compreendido como ajuda ou apoio a fim de que o condenado possa, livremente, eleger
seus caminhos futuros". Enfatiza o autor que "o fim da reinserção social deve ser entendido
como possibilidade de participação nos sistemas sociais e não como reforma ou
metamorfose da personalidade". (René Ariel Dotti, 2008), então em que medida o
comportamento dos indivíduos face a reinserção social é influenciado
pela imagem que a sociedade moçambicana cria em relação ao preso?
Qual é a imagem que se tem das intituições de reabilitação social em
Moçambique? O que faz com que a sociedade crie rotulos face ao
recluso?
Justificativa
Este trabalho foi desenvolvido não com a pretensão de apresentar soluções, ou esgotar a
discussão, mas sim com o escopo de tentar compreender em que circunstâncias a
reinserção social torna os indivíduos vulneráveis a este processo. Por outra, este trabalho
visa estudar o processo de ressocialização dos indivíduos do sexo feminino concretamente
na cadeia feminina de Dlavela, tendo como grupo alvo mulheres com idades
compreendidas entre os 18 aos 42 anos de idade.
Achamos que a reinserção social tem grande relevância sociológica pois, é por via disso
que proposemo-nos a estudar este fenómeno. No âmbito deste trabalho empírico esperamos
encontrar uma oportunidade de aliar o nosso aprendizado teórico com a realidade social
moçambicana, no tocante a reinserção social do recluso. Com efeito, como nos referimos
acima, não temos a pretensão de esgotar a discussão, mas sim tentar captar as causas que
estão por detrás da realidade vivida em Moçambique com relação a reintegração social do
recluso. A outra questão, tem a ver com a capacitação do pessoal e de toda vasta gama de
parâmetros jurídicos, normativos, ressocializadores que estão directamente envolvidos
nesta causa.
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Uma vez que a sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos,
preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. É mister
perceber qual o papel da sociedade face a reabilitação social do preso e como é que esta
mesma sociedade o reintegra após a reclusão.
Pergunta de Partida
Do ponto de vista da reintegração social, qual é o impacto da sociedade com relação a reinserção social do preso?
Hipótese
Em função da construção social do preso, a sociedade tende a estigmatiza-lo criando
mecanismos para a sua exclusão social.
Relação entre as variáveis
As nossas escolhas indicam a relação assimétrica exposta nas nossas hipóteses, que se
caracterizam pela relação causal entre a reinserção social e as estratégias que a sociedade
adopta quotidianamente para a reintegração social do preso.
Objectivo Geral
Compreender o processo de reeducação do recluso para a sua reintegração social, na
família, comunidade e Estado.
Objectivos Específicos
Qual é a expectativa do recluso após o cumprimento da pena perante a sociedade.
Procurar perceber, quais as estratégias adoptadas pela sociedade para a reintegração
do recluso.
Captar o papel dos meios de controlo social para a reabilitação do recluso.
Tentar compreender se nas condições em que o recluso esta exposto esta apto para
assimilar os processos de reabilitação, impostos pelos meios de controlo social.
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Relevância Sociológica
Nesta fase vamos de acordo com Marconi e Lakatos (2007) esmiuçarmo-nos sobre a
relevância teórica e académica da pesquisa que pretendemos empreender, portanto vamos
nesta etapa responder a pergunta o porquê desta pesquisa?
Antes de mais importa referir que Baratta (1999, p.161), utiliza a concepção "reintegração
social", já que esta condiz com um processo de comunicação e interação entre o cárcere e a
sociedade, devendo, portanto, existir uma profunda transformação nesta, pois é o lugar
decisivo para se buscar a solução do problema carcerário.
Na mesma linha, Romeu Falconi defende a utilização do termo "reinserção", o qual, pela
sua atenciosa análise, não se afasta da terminologia sustentada por Baratta, já que não
altera o escopo pretendido. Para ele, a reinserção está voltada para a reintrodução do
condenado no contexto social e visa criar um modus vivendi entre ele e a sociedade
externa, precisando apenas que ambos aceitem limitações mínimas. Com isso, os efeitos
que se esperam é a diminuição da reincidência (ex-condenado) e do preconceito
(sociedade).
A reinserção social do recluso é um fenómeno sociológico por natureza e carece de um
estudo sociológico na medida em que a reinserção social consiste no processo de
introdução do indivíduo novamente na sociedade, enquanto que a reeducação é o processo
de desenvolvimento das personalidades do preso, em consonância com os direitos
fundamentais (Jason Albergaria).
Segundo Monteiro (2007), a sociedade (re) inclui aqueles que ela exclui, através de
estratégias nas quais esses “excluídos” tenham uma participação activa, isto é, não como
meros “objectos de assistência”, mas como sujeitos (Baratta, 1990, cit. Por Sá, 1998).
Enquadramento teórico e Conceptual
Interaccionismo de Erving Goffman
Erving Goffman, embora tenha reivindicado não ter sido um interationista simbólico, é
reconhecido como um dos principais contribuintes à perspectiva.
“Sempre que olhamos para o social, fazemo-lo a partir de uma certa perspectiva. Através
dela apreendemos a realidade de forma muito específica” (Macamo, 2004: 13), é desta
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feita que no capítulo que se segue vamos procurar expor o quadro teórico que nos vai
servir de suporte analítico, sendo que este tem como base o interaccionismo trazido por
Erving Goffman.
Goffman, advoga que de um modo geral as instituições sociais possuem mecanismos de
interacção entre seus participantes, em que se conquista, gradualmente, o tempo e o
interesse dos mesmos. Erving Goffman, em sua obra Manicômios, Prisões e Conventos, dá
as características gerais de instituições sociais, em especial as chamadas “instituições
totais”, as quais são tipicamente identificadas como instituições fechadas que,
simbolicamente, são categorizadas pela barreira à relação social com o mundo externo e
por proibições à saída.
Assim, o indivíduo ao ingressar no sistema imposto pela instituição total é submetido a
uma nova cultura onde é despido de sua cultura aparente que traz consigo e lhe é imposto
um novo mundo ao qual o indivíduo deve adaptar-se e internalizar a cultura carcerária,
relegando relevantes conceitos sociais do mundo externo, o que torna a ideia de uma
ressocialização totalmente inviável, restando para o detento a marca do estigma que se
origina desta fase.
Instituição total é aquela que controla ou busca controlar a vida dos indivíduos a ela
submetidos substituindo todas as possibilidades de interação social por "alternativas"
internas. (Erving Goffman).
O sentimento de reabilitação está fadado ao fracasso caso se constate efectivamente que a
pena de prisão estigmatiza o recluso, além de todos os problemas crónicos que a mesma
apresenta. Nessa linha, é perceptível que nas cadeias moçambicanas não há possibilidades
reais de regenerar ou ressocializar alguém, uma vez que a prisão se encontra em evidente
falência (assim como anúncia o título da brilhante obra de Cezar Roberto Bitencourt).
Ou seja, já seria uma contradição segregar um indivíduo e ao mesmo tempo pretender sua
reintegração social, ainda mais num ambiente reconhecidamente hostil e desfavorável a
este propósito, qualificado para muitos como uma instituição total da qual Erving Goffman
escreve.
Dessa forma, na visão de Mirabete, não mais se sustenta o pensamento de que é possível
castigar e, ao mesmo tempo, reeducar o delinqüente através do cárcere.
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Seguindo o mesmo entendimento, Bitencourt analisa que a reintegração social do preso
não pode ser conseguida num ambiente tal como é a prisão. Esta instituição, segundo ele,
tende a se converter num microcosmos, onde as mazelas do cárcere e a estrutura social de
dominação acabam reproduzindo e agravando as contradições existentes no sistema social
exterior.
A ressocialização, para Giddens (1994, p. 113), refere-se a uma reestruturação da
personalidade e das atitudes. Giddens (1994, p. 113 - 114) parte do pressuposto de que esta
reestruturação pode ser benéfica ou maléfica aos indivíduos, dando como exemplos a
internação em um manicômio, ou a passagem por um campo de concentração, onde
haveria uma quebra na personalidade dos prisioneiros, devido ao medo, a privação e a
incerteza sofridos.
Outro elemento que gostaríamos de incluir neste quadro teórico é a problemática do
estigma, a partir da discussão trazida por Goffman (1988).
Goffman (1988) parte da tese que é a sociedade quem estabelece os meios de categorizar
as pessoas, atribuindo a algumas a classificação de normais, e a outras, a de estranhos. Essa
segunda categoria, a quem a sociedade considera “estragada” e diminuida, é o que
Goffman conceitua como estigmatizada.
Procedimentos Metodológicos
Este estudo foi metodologicamente orientado para a linha qualitativa, onde o principal
instrumento de recolha de dados foram os próprios estudantes. Pois, a abordagem por nós
escolhida tem como o fim apreender e compreender as formas em que ocorre a reinserção
social da reclusa. Reflectir sobre as formas que as famílias das reclusas adoptam para as
reintegrar no convívio familiar e na comunidade, apesar de terem sido presas mais de uma
vez. Nessa ordem de ideias, não pretendemos esgotar a discussão muito menos explicar os
factores inerentes à reinserção social das reclusas, mas sim uma tentativa de compreensão.
É com abordagem qualitativa, que procuaramos relacionar a realidade concreta vivenciada
pelas reclusas com a teoria em voga. Os relatos ou depoimentos, apresentados pelas
inquiridas ajudaram-nos a compreender o dilema vivido quotidianamente pelas vitimadas
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no cometimento dos desregramentos das normas sociais. Embora, nem todas inquiridas
assumiram a reincedência, alegando que da segunda vez foram presas sem a justa causa.
Mas com todos efeitos, clamam o dilema que enfrentam na reinserção social, nas suas
comunidades e mais agravante nas suas famílias.
De referir que o estudo tem como base a amostragem não probabilística do tipo
intencional, em que os elementos que formam a amostra estão relacionados com a forma
como planeiamos a pesquisa.
Caracterização das Entrevistadas
Neste capítulo temos como objectivos traçar o perfil sócio-demográfico das nossas inquiridas,
para tal consideraremos componentes como idade, religião e nível de escolaridade.
Começando por analisar a variável idade, verificou-se que das 15 inqueridas tem idade
compreendida entre os 18 aos 42 anos, tal como atesta o quadro abaixo:
Tabela 01: Distribuição das inquiridas por idades
Idade N˚ de Inquiridas
18-25 anos 7 26-33 anos 5 34-42 anos 3 Total 15
Fazendo uma análise da variável idade em relação ao número total das inquiridas,
constatamos que as mulheres com idades compreendidas entre os 18 aos 25 anos são mais
propensas a prática do crime. Em relação as mulheres com idades que variam entre 26 aos
33 anos, verificamos um decréscimo na tendência à pratica do crime e as mulheres com
idades entre 34 aos 42 anos a realidade observada no terreno monstrou-nos que são ainda
menos propensas ao crime. De realçar que esta variável idade, não obdeceu nenhum
critério de escolha de idades, mas sim ilustra simplesmente a realidade encontrada no
terreno.
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“Quando eu vim na cadeia a primeira vez eu tinha 18 anos (...) o meu pensamento era
pegar nas minhas coisas e ir embora, fugir deste lugar. Mas daí, conforme foi passando o
tempo, não adiantava, onde eu estava não adiantava querer fugir, pois era segurança
máxima.” (Efigênia, 22 anos).
“Muitas mulheres entram para a reclusão por ter cometido um crime em reacção à uma
situação. No caso de fatalidade, acabam condenadas a penas pesadas e passam muito
tempo das suas vidas encarceradas. Outras, porque efectivamente são reincidentes na
prática de certos actos ilícitos, têm passado de forma repetida parte da sua vida dentro
das instalações prisionais. Homicídio voluntário, furto qualificado, tráfico de drogas e
rapto de menores são alguns dos crimes mais frequentes. Entrevistámos a directora
daquela penitenciária, que entre outros aspectos defende uma crítica construtiva as que lá
estão porque antes de criticar tem que se ter em conta que “todos nós temos um potencial
criminoso escondido.” (Judite Florêncio, 2013).
Situação Carcerária da Cadeia Feminina de Dlavela
Neste momento temos 141 reclusas, mas este número oscila pois de tempos em tempos há
gente que sai e há também gente que entra. Por isso, torna-se difícil falar do número exacto
da população prisional. Das 141, temos 37 em prisão preventiva (que estão à espera de
julgamento) e as outras 104 são condenadas. As molduras variam e não diferem das que
são aplicadas para os homens. Temos neste universo de 141 reclusas, 46 por homicídio
voluntário e com penas máximas. (Judite Florêncio, 2013).
Gráfico 1
Tabela 02: Distribuição das inqueridas em relação a religião.
Idade Tipo de Religião
Católica Muçulmana Outras Religiões
Nenhuma Religião
18-25 anos 4 1 2 0
11
26-33 anos 2 0 1 2
34-42 anos 1 0 1 1
TOTAL 7 1 4 3
Como se pode verificar na tabela acima, constatamos que das 15 mulheres inqueridas
7 professam a religião católica, 1 professa a religião muçulmana, 4 professam
outras religiões 3 não professam nenhuma religião.
“Eu rezava muito, conheci meu primeiro namorado na igreja, sonhava casar, ter
um lar e filhos. mas por má influência das amigas, minha vida mudou da noite
para o dia, passei a perder noites, frequentava bares e discotecas, comecei a
drogar-me e a consumir alcool e num belo dia estavamos na discoteca um moço
traiu minha amiga e por raiva esfaquiei o moço e ele morreu, por isso estou aqui,
arrenpendi-me bastante mas já era tarde demais.” (Antonieta,26anos).
“O facto de uma mulher ter que ser reeducada na prisão não implica necessariamente que
esta seja conotada ou rotulada com o crime que praticara para o resto da sua vida pois, a
sua entrada lá é exactamente na perspectiva de corrigir o erro e regenerá-la de forma a
ser reintegrada socialmente.” (Judite Florêncio, 2013).
Tabela 03: Distribuição das inqueridas em relação a residência
Residência da Inquirida
Bairro Frequência Percentagem
Chamanculo 2 13,3
George Dimitrov 2 13,3
Mafalala 3 20
12
Malhampsene 1 6,7
Maxaquene B 2 13,3
Zona Verde 1 6,7
Polana Caniço 3 20
Sommerschield 1 6,7
TOTAL 15 100
A tabela acima, ilustra as origens sociais das inqueridas pois, depreende-se que a
maior parte delas é oriunda dos bairros sub-urbanos da cidade de Maputo e Matola, onde
os bairros Mafalala, Polana Caniço tem a frequência absoluta de 3 o que corresponde a
20% do total, seguidos de Chamanculo, George Dimitrov e Maxaquene B 13,3% e o
resto das inquiridas distribuem-se pelos restantes bairros como mostra a tabela acima.
Tabela 04: Distribuição por nível de escolaridade.
Nível de Escolaridade
Idade
Total18-25 26-33 34-42
Analfabeta - - - 0
Nível Primário 1 0 2 3
Nível Secundário (1º ciclo) 5 2 1 8
Nível Secundário (2º ciclo) 1 1 0 2
Nível Superior (Licenciatura)0 2 0 2
A tabela acima mostra q u e d a s 1 5 inqueridas, zero (0) são analfabetas, três (3) tem o nível
primário, oito (8) tem o nível secundário do 1º ciclo, duas (2) tem o nível secundário do 2º ciclo e
duas (2) tem o nível superior. De realçar que esta amostra, não foi intencionalmente pretendida
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mas fruto da escolha aleatória. Pelo facto de a amostra conter inqueridas dos principais níveis
de escolaridade, achamos possível testar a influência do nível de escolaridade na percepção e
expressão da realidade social. Contudo notamos que existe uma maior representatividade de
reclusas com nível secundário do 1º ciclo em número de oito (8).
Tabela 05 - Caracterização das reincendentes inqueridas quanto ao crime cometido
e o número de vezes do comentimento
Tipo de crimeIdade
Total18-25 26-33 34-42
Homicídio voluntário 0 1 0 1
Furto qualificado 3 1 0 4
Tráfico de menores 1 1 2 4
Tráfico de órgão humanos 0 0 1 1
Raptos de menores 0 1 0 1
Tráfico de drogas 3 1 0 4
A tabela acima ilustra que das 15 inquiridas uma (1) praticou homicídio voluntário, 4 furto
qualificado, 4 tráfico de menores, 1 tráfico de de órgãos humanos, 1 rapto de menores e 4
tráfico de drogas.
“Conheci um senhor brasileiro, ele conquistou-me e eu aceitei, namoramos dois meses e
depois viajamos para o Brasil onde ficamos duas semanas e ele disse-me que era para
engolir umas capsulas e que a vida dele só dependia daquelas capsulas e que ele não
podia vir com as capsulas porque o seu passaporte havia expirado e que ele viria ao meu
encontro cá em Moçambique quando regularizasse a situação do seu passaporte, eu na
qualidade de namorada aceite (...) sem saber que estava a me envolver num problema tão
grande este e por isso estou aqui.” (Sheila, 36 anos).
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Tabela 06: Estado civil das inquiridas
Estado CivilIdade
18-25 26-33 34-42Solteira 4 1 0Casada 0 2 1Divorciada 0 1 1Viúva 0 1 1União de Facto 3 0 0Total 7 5 3
15
Grupos de idade 8-8
16
17
18
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-
preso#ixzz2SzZ5bCM3
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-
preso#ixzz2SzVbELiG
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-
preso#ixzz2SzQqPyOJ
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Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-preso#ixzz2SzN2iVhs
[19] DOTTI, René Ariel. A Crise do Sistema Penitenciário. Artigo disponível em www.mj.gov.br, acesso em 19.08.2008.
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/12153/execucao-da-pena-privativa-de-liberdade-e-ressocializacao#ixzz2T5T9YZT1
Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT):
MACHADO, Vitor Gonçalves. A reintegração social do preso. Uma análise sobre os
principais discursos contrários e favoráveis à finalidade ressocializadora da pena. Jus
Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2733, 25 dez.2010 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/18118>. Acesso em: 11 maio 2013.
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/18118/a-reintegracao-social-do-preso#ixzz2SzO83XqS
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