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Vox Concordiana SUPLEMENTO TEOLÓGICO

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Page 1: SUPLEMENTO TEOLÓGICO - Seminário Concórdia€¦ · que sejam distribuídos na igreja e nos lares de muitos. Soli Deo Gloria PWB Distintos convidados, colegas e amigos do Instituto

Vox Concordiana

SUPLEMENTO TEOLÓGICO

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VOX CONCORDIANA SUPLEMENTO TEOLÓGICO

Editado pela faculdade da Escola Superior de Teo-logia do Instituto Concórdia de São Paulo

Editor: Paulo W.Buss

Faculdade: Dr. Rudi Zimmer, diretor; Ari Lange, vice-diretor; Paulo F. Flor; Paulo W. Buss; Raul Blum; Paulo M. Nerbas; Erni W. Seibert.

Os artigos assinados são da responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a po-sição da faculdade como um todo. Devem ser enca-rados mais como ensaios para reflexão do que posi-cionamentos definitivos sobre os temas abordados.

Endereço para correspondência:

Instituto Concórdia de São Paulo Rua Raul dos Santos Machado, 25 Jardim Helga - Campo Limpo 05794 - São Paulo - SP

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PALAVRA AO LEITOR

Iniciando seu terceiro ano de atividades, a Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de S.P. lança o primeiro número do suplemento teológico que você está lendo. Os próximos números deverão sair à medida em que o material para publicação for sendo produzido. Nossa intenção é de publicar no mínimo um ou dois números por ano nesta fase inicial. Esperamos que à medida que a nossa congregação de professores for se ampliando também cresça o volume da produção teológica.

Uma das finalidades desta publicação é a de refletir a teologia que é estudada e ensinada em nossa escola. Em consonância com isso publi-caremos artigos que sejam frutos das pesquisas desenvolvidas por nossos professores e estudantes. Isso não significa que não haverá espaço para arti-gos de cunho teológico que nossos leitores nos queiram enviar. Pelo contrário, esperamos que tais colaborações sejam uma constante.

O objetivo principal que deverá nortear nossas atividades relacionadas com esta publicação é o de oferecer subsídios a pastores e líderes leigos en-volvidos no trabalho do reino do Senhor. Queremos oferecer subsídios teóricos sob forma de artigos que convidem à meditação, que incitem à reflexão, que promovam o crescimento, o aperfeiçoamento do conhecimento teológico. Também intencionamos oferecer material prático que possa ter aplicação imediata no trabalho da paróquia.

Ao reunirmos os artigos para este primeiro nú-mero, constatamos que havia uma boa quantidade

de material referente à litúrgica. Decidimos, então, deixar outros artigos já preparados para publicação para um próximo número e apresentar todo o material disponível sobre a liturgia nesta edição. Não obstante, julgamos que um outro artigo devesse encabeçar o material apresentado. Trata-se da aula inaugural proferida por ocasião da abertura desta escola de teologia pelo diretor, Dr. Rudi Zimmer. Embora já tenham se passado dois anos desde então, essa aula foi novamente estudada em várias reuniões de professores no decorrer do último ano servindo de instrumento no empenho para levar todo o corpo docente do Instituto Concórdia de São Paulo à mesma filosofia educacional: a de servir ao próximo movidos pelo amor de Deus. Essa filosofia é também a diretriz do suplemento teológico à Vox Concordia-na. Em resposta ao amor de Deus que deu o seu Filho para a nossa salvação, queremos servir àqueles que, pela mesma razão, estão igualmente empenhados em servir a muitos outros. Não é nossa intenção, por isso, apresentar uma teologia que apenas faça volume na sua estante de livros. Queremos servi-lo com uma teologia que ocupe lugar na sua mesa de estudos e que a partir daí se multiplique em frutos que sejam distribuídos na igreja e nos lares de muitos.

Soli Deo Gloria

PWB

Distintos convidados, colegas e amigos do Instituto Concórdia de São Paulo:

Este novo seminário teológico é de todos nós, irmãos luteranos, membros da Igreja Evangé-lica Luterana do Brasil. E, como tal, ele é mais um educandário de formação de servos de Cristo, ofe-recido a Deus, a fim de que por seu intermédio Cristo possa promover a vinda de seu reino aos corações de milhares de seres humanos, especial-mente no Brasil. Sem dúvida, é maravilhoso saber--se parte, como elemento escolhido por Deus, para desempenhar um papel preponderante num em-preendimento de tão grande importância e alcance. Por outro lado, porém, ao assumir tão grande res-ponsabilidade perante Deus e sua igreja, não pode-

Rudi Zimmer, Th.D. 6 de março de 1983 A. D.

mos também deixar de tremer intensamente neste dia, por sentir as mesmas deficiências e os mesmos temores de um Moisés, ou de um Jeremias diante do chamado de Deus. Por isso, promessas como aquela dirigida a Jeremias: "Não temas diante de-les; porque eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR" (Jr 1.8), são promessas que começam a adquirir renovada importância.

Colocado isso, é fácil de se imaginar que o que mais ocupou nossa mente e foi assunto cons-tante de meditação e súplica diante de Deus desde o dia da aceitação da eleição para esta posição, foi a pergunta: Como desincumbir-nos desta missão para o agrado de Deus e a edificação de sua igreja? Em outras palavras, qual deveria ser o ideal de educação teológica a ser implantado nesta escola que,

EDUCAÇÃO TEOLÓGICA MODELADA SOBRE O AMOR DE DEUS

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por um lado, englobasse as determinações bíblicas e, por outro, respondesse as exigências da realidade do nosso tempo? Evidentemente, não é de se esperar que já agora estejamos aptos a formular o corpo todo de um tal ideal, e certamente jamais venhamos a formulá-lo de forma plenamente satisfatória. Queremos, no entanto, neste momento, trazer algumas reflexões a respeito, sob o tema: Educação teológica modelada sobre o amor de Deus.

Partimos de uma passagem bíblica - certa-mente a mais conhecida e amada de todos - profe-ridas pelo próprio Senhor Jesus Cristo, no Evan-gelho de João, capítulo 3, versículo 16: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Esta passagem bíblica foi com muito acerto descrita por um teólogo como "das Herzblatt der ganzen Schrift" (= a folha, ou passagem, central de toda a Escritura), pois, conforme ele continua dizendo:

Ela compreende todo o conselho do amor do Pai, toda a redenção do Filho, toda a obra do Espírito da fé, toda a salvação dos perdidos, toda a miséria dos pecadores, toda a multidão dos agraciados sobre a terra, todo o céu com sua vida eterna. Deus seja eternamente louvado por isso.1

Portanto, se, por um lado, esta passagem é de uma simplicidade tão extraordinária, que a pessoa mais simples seja capaz de perceber nela o plano de Deus para sua salvação, mas se, por outro lado, ela é de uma profundidade e alcance tão grandes como as que acabamos de ouvir, é nossa convicção que ela compreende também orientações para a própria educação teológica.

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"Porque Deus amou ao mundo." Aqui temos a primeira orientação para a educação teológica. Nossos olhos e nossos ouvidos estão tão acostuma-dos a esta afirmação que, muitas vezes, nem perce-bemos quão surpreendente ela é: "Porque Deus amou ao mundo.'' Olhemos bem, é "ao mundo" que Deus amou e ainda ama. Este universalismo do amor de Deus distingue o verdadeiro Deus de qual-quer deus que a mente humana já tenha fabricado, ou venha a fabricar. Deus não é um deus que tenha favoritos. O povo de Israel, no Antigo Testamento, seguidamente precisava ser alertado de que, se Deus o havia escolhido, isso não aconteceu porque de alguma forma tenha sido seu favorito, pelo con-trário, para que através dele, o menor, o seu amor pudesse ser manifestado até as extremidades da terra (cf, Ex 19.3-6; Dt 7.6-11). Da mesma forma,

o apóstolo Pedro, no Novo Testamento, relutou muito até compreender a grandeza e amplitude do amor de Deus. Antes que Pedro fosse à casa de Cornélio, um gentio, o próprio Deus, através de uma tríplice visão, teve que mostrar ao apóstolo que "Ao que Deus purificou não consideres co-mum" (At 10, 15).

Assim, até hoje é difícil aos próprios cristãos, pelo fato de ainda conviver com eles a velha carne, aceitar tal verdade. Ainda mais se olharmos quem é o mundo que Deus amou e ainda ama. Não se trata aqui do mundo perfeito saído de suas mãos no fim dos dias da criação em que tudo era "muito bom" (Gn 1.31). Mas trata-se, isto sim, da raça humana caída, desobediente e cheia de pecado; esta huma-nidade que deliberadamente e por vontade própria rebelou-se contra Deus, e continua a viver nesta re-belião, que, por isso, merece nada mais e nada menos do que a justiça e a vingança do próprio Deus. Todavia, seu amor triunfou sobre a justiça, de modo que "Deus amou ao mundo."

Portanto, Jesus não nos diz, nestas suas palavras: Porque Deus amou à Igreja Evangélica Luterana do Brasil, mas: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito." Foi por causa de seu amor ao mundo, em seu estado mais miserável, que Deus deu o seu Filho; não um Filho, mas o seu Filho unigênito, igual ao Pai na essência e nos atributos. A este seu Filho Deus deu, isto é, entregou como sacrifício pelo pecado de todo o mundo, fazendo-o morrer de forma maldita na cruz do Calvário. Por outro lado, sim, Deus chamou e congregou, chama e ainda congrega uma igreja. Os apóstolos foram o núcleo desta igreja. No dia de pentecostes, ao receber o derramamento do Espírito Santo, esta igreja cresceu extraordinariamente. Até hoje Deus tem a sua igreja, chamada e congregada pelo poder do Espírito Santo que atua no evangelho. Todavia, desde o início Deus visava que esta igreja, chamada para fora da escravidão do pecado e da morte em que o mundo ainda se encontra, fosse o instrumento pelo qual seu amor, revelado em Cristo, fosse levado e distribuído ao mundo, que é o objeto de seu amor.

Jesus, na sua oração sumo-sacerdotal, rogan-do em favor daqueles que o Pai lhe havia dado no mundo, afirma: "Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu vos enviei ao mundo'''' (Jo 17.18). Mais tarde, diz aos apóstolos: "fazei discí-pulos de todas as nações" (Mt 28.19). E o apóstolo Pedro, escrevendo aos "eleitos" (1 Pe 1.1,2), por-tanto, à igreja, diz: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtu-des daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.9). Em outras palavras, como acertadamente diz outro teólogo:

Deus não chamou a igreja à existência como um fim em si mesma, para servir-se a si mes-

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ma, para permanecer uma massa piedosa sa-tisfeita com a sua própria existência, ou para tornar-se qual amante mimada sobre quem um deus-amante cego de paixão possa pilhar sua atenção, seus favores e presentes.2

Todavia, continua o mesmo autor: "Todos nós fomos chamados para fora deste mundo e então enviados diretamente de volta a ele com uma mensagem,"3 a saber, a mensagem do amor de Deus, manifestado na entrega total de seu Filho unigênito para morrer pelos pecados de toda a raça humana perdida, inclusive nós mesmos.

Também as Confissões Luteranas expressam esta verdade. Particularmente o Dr. Martinho Lute-ro afirma, no Catecismo Maior:

Este é, pois, o artigo que sempre deve estar e permanecer em vigor. Porque a criação já é coisa feita. Também a redenção já está reali-zada. Mas o Espírito Santo leva avante sua obra sem cessar, até o último dia. Para tanto, institui na terra uma congregação, pela qual fala e faz tudo. Pois ainda não congregou toda a sua cristandade, nem distribuiu total-mente o perdão.4

Por isso Lutero também diz que esta congre-gação do Espírito Santo é "uma congregação pecu-liar no mundo, congregação esta que é a mãe que gera e carrega a cada cristão mediante a palavra de Deus, que ele revela e prega."5

Agora, se um seminário teológico é uma ins-tituição da igreja para formar ministros, "com vis-tas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempe-nho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.12), então esta primeira verdade de nosso texto é de fundamental importância para a educação teológica. "Porque Deus amou ao mun-do" a igreja é enviada ao mundo como mãe a gerar, através da pregação do evangelho e da adminis-tração dos sacramentos, os filhos do seu amor. “Porque Deus amou ao mundo” os ministros a se-rem chamados pela igreja, para equipá-la para o exercício de sua missão, deverão ser pessoas que encarnem em si mesmos a universalidade do amor de Deus. E para a formação de tais ministros será necessário levar os futuros ministros a um co-nhecimento e a uma experiência cada vez mais pro-fundos da grandeza e amplitude do amor de Deus, através do aprofundamento gradativo do seu co-nhecimento de si mesmos como membros desta ra-ça humana rebelde, carente e objeto do amor de Deus. Isto envolverá, acima de tudo, o estudo da antropologia bíblica e do exame minucioso da lei eterna e imutável de Deus e o confronto com ela, bem como o estudo e a pesquisa em áreas correla-tas à teologia, especialmente no âmbito das ciên-cias sociais, da filosofia, da psicologia e da parapsi-

cologja. Com isso os futuros ministros serão leva-dos a um conhecimento do mundo de seu tempo a partir deles próprios, e serão capacitados a um es-tudo cada vez mais acurado da sociedade moderna, particularmente como ela vier a se apresentar no local de sua atividade. Tais componentes, o conhe-cimento, a experiência e a capacidade, possibilita-rão que saiam habilitados e dispostos, como pasto-res, a jamais permitir que as congregações sob sua orientação enamorem-se de si mesmas para o pre-juízo e a perdição do mundo, e, como missionários, a não ficar imobilizados, quando o grupo de convertidos vier a formar uma congregação capaz de auto-sustentação financeira, certos de que a imobilização da igreja em relação ao mundo é uma tática satânica para impedir a propagação do evan-gelho salvador.

Assim, não deveríamos ficar preocupados com o número elevado de pastores que a igreja tal-vez venha a formar com dois seminários, sob o ponto de vista de que suas necessidades já estão quase supridas. Pois não é com as necessidades da igreja, no sentido de sua simples manutenção, que uma igreja modelada sobre o amor de Deus está preocupada, mas, isto sim, com as necessidades do mundo, e de ser bem equipada e guiada para levar o amor de Deus ao mundo.

-II-

A segunda orientação para a educação teoló-gica nos é proposta naquilo que Deus, na manifes-tação de seu amor, oferece ao mundo como âncora de salvação, ou libertação, da escravidão do peca-do, da morte e do diabo. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigêni-to, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Vemos que Deus oferece ao mundo nada mais e nada menos do que "o seu Fi-lho unigênito," igual ao Pai na essência e majesta-de. E mais, Deus não dá seu Filho ao mundo como Juiz, mas como Salvador, no qual, na fraseologia tão concreta de Lutero, cada um pode agarrar-se, pela fé, como o meio e o remédio contra a morte e o pecado. Pois, embora tenha sido engolido pela morte e pelo diabo, ele não permaneceu em suas entranhas, mas saiu, arrebatando-lhes os ventres. De modo que, como Filho de Deus, ele é maior e mais poderoso que o pecado, o diabo e a morte. 6 É este vitorioso Salvador que Deus dá ao mundo, "para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."

Visto ser esta a dádiva de Deus ao mundo, a igreja, que é uma instituição do Espírito Santo para distribuí-la ao mundo, não pode ser confundida

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com organizações que são portadoras de outras mensagens. Ela não pode, por exemplo, ser con-fundida com organizações que tenham como men-sagem central a prescrição e observância de dias, ou a prescrição e observância de dietas, enfim, a prescrição e observância de leis de qualquer nature-za. O apóstolo Paulo, enfrentando a investida de tal falsidade entre os gaiatas, escreve-lhes: "Ó gaiatas insensatos! Quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?" (Gl 3.1). Como já indicam estas palavras de Paulo, a igreja do Deus que amou ao mundo é aquela con-gregação pela qual o Espírito Santo leva avante sua obra de propagar no mundo o Salvador Jesus Cris-to, através da pregação do evangelho e da adminis-tração dos sacramentos.

Por isso, os ministros a serem chamados pela igreja, para aperfeiçoá-la para o desempenho de seu serviço, precisam ter, além da visão da universalida-de do amor de Deus, o conhecimento pessoal do Salvador Jesus Cristo, contínua comunhão com ele através da palavra e dos sacramentos, e a capacidade de anunciá-lo de forma persuasiva na pregação e no ensino, na conversação e no aconselhamento. A exemplo do apóstolo Paulo, deverão os ministros dispostos e capacitados a confessar: "Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado" (1 Co 2.2).

Isso impõe, em primeiro lugar, que, na edu-cação teológica, se dê ênfase primordial à formação espiritual dos futuros ministros. É preciso que se programe a vida de culto de tal modo que dia-riamente possa toda a comunidade acadêmica ex-perimentar o conforto do perdão no amor de Deus em Cristo Jesus. Além disso, deverá promover-se o estímulo e a orientação mútua para a meditação pessoal na palavra de Deus e para a recepção dos sacramentos. Pois como poderá um pastor compar-tilhar de forma persuasiva e eficaz a salvação em Cristo e aperfeiçoar a congregação cristã no teste-munho desta salvação, se ele mesmo não a experi-menta diariamente e nela encontra o consolo e a paz?

Outrossim, a disposição do ministro de "nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este cru-cificado," exige dele também boa capacidade inte-lectual, o domínio de conteúdos, conceitos e prin-cípios, e habilidades práticas. Acima de tudo, o fu-turo ministro deverá ser levado a conhecer a Escri-tura Sagrada, seu conteúdo, sua doutrina, e ser treinado a aprofundar-se pessoalmente nela sempre mais. Jesus, ao preparar os apóstolos, fazia referên-cia constante às Escrituras e orientava-os na sua verdadeira compreensão. Especialmente em relação ao Antigo Testamento, mostrou-lhes Jesus que desde Moisés até Malaquias a Escritura falava a seu

respeito (cf. Lc 24.27). Muito mais claramente o Novo Testamento revela o amor de Deus em Cristo Jesus. As palavras do evangelista João podem, as-sim, ser aplicadas a todo o Novo Testamento, quando afirma que o que ele registrou foi registrado "para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.31). Portanto, se o amor de Deus em Cristo deverá continuar a fluir de forma pura em direção ao mundo, o conhecimento da Escritura e a capacidade de aprofundar-se pessoalmente nela deverão merecer atenção prioritária na educação teológica, a começar pelas línguas em que ori-ginalmente a Escritura foi escrita. Conhecemos bem as palavras de Lutero a este respeito. Visto que, conforme ele expressa, as línguas são a bainha na qual se encontra a espada do Espírito, e o vaso em que se encontra a água da vida, ele conclui: "Por isso é certo, onde as línguas não permanece-rem, ali o evangelho finalmente terá que desapare-cer."7 Com isso já fica marcada a centralidade da teologia exegética, com o seu estudo direto do texto com base nas línguas originais e de acordo com princípios condizentes com o caráter da Escritura como palavra revelada de Deus.

Ao lado da teologia exegética, devem mere-cer igualmente grande ênfase as outras áreas teoló-gicas, a sistemática, a história e a prática. Para não alongar-nos a este respeito, queremos destacar ape-nas o estudo das Confissões Luteranas. Visto que o que estava em jogo por ocasião da Reforma era precisamente a doutrina da justificação do pecador mediante a fé no Filho unigênito, que Deus em seu amor entregou ao mundo, as Confissões Luteranas continuam sendo documentos de capital importân-cia para se preservar o ensino da Escritura em sua pureza apostólica, mesmo nos dias de hoje.

Sim, "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito." Cabe à igreja de hoje, como instrumento do Espírito Santo, conti-nuar a levar o Filho unigênito ao mundo, através da mensagem do evangelho. Seus ministros, portanto, precisam estar plenamente habilitados para aperfeiçoá-la para este serviço.

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Finalmente, a terceira orientação para a edu-cação teológica nos é sugerida no modo como Deus, em seu amor, dá o seu Filho unigênito ao mundo. "Porque Deus amou ao mundo de tal ma-neira que deu o seu Filho unigênito." Dentro do contexto bíblico global, a expressão "que deu o seu Filho unigênito" aponta para a instituição do sacrifício, porque, de acordo com as leis cerimo-

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niais, o ofertante trazia e entregava ele mesmo a ví-tima dentro da cerimônia estabelecida. Isto fica confirmado pelo contexto, pois logo acima Jesus mesmo diz: "E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna" (Jo 3.14-15). Já nestas palavras, bem como melhor em outras, fica claro que este sacrifício é também totalmente voluntário na parte de Cristo. Lembremos apenas estas palavras de Jesus: "Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45). A razão deste sacrifício voluntário fica evidente quando procuramos ver como a humanidade chegou ao ponto de necessitar tal "resgate." Já dis-semos em outro lugar que é no relato da queda, em Gênesis 3, que nós a encontramos:

Ali percebemos que foi pelo caminho da exaltação, do querer ser "como Deus" (Gn 3.5), que o diabo levou o primeiro homem à desobediência, ao pecado e, como conse-qüência deste, à morte, escravizando assim a todos os homens. Portanto, as correntes do pecado e da morte, que aprisionam os homens debaixo das garras de Satanás, só podem ser rompidas pelo ca-minho da humilhação e total obediência à justiça de Deus (o que é impossível para qualquer ser humano). Eis porque, pela graça suprema de Deus (Rm 5.15, 20), o Senhor do universo torna-se homem para em nome e em lugar de todos os homens, enfrentar o diabo na batalha decisiva. Assim, ele enfrenta a Satanás em todos os tipos de tentações, porém permanecendo sem pecado (Hb 2.18), e, em total obediência à justiça de Deus assume os pecados e a culpa de todos os homens e segue o caminho da humilhação até uma morte maldita e infame na cruz. 8

Foi um caminho penoso para o Filho unigênito de Deus, contudo foi o único caminho para atingir o diabo no seu ponto de vulnerabilidade fatal, sem ao mesmo tempo destruir a humanidade, mas livrá-la de sua escravidão.

Os homens do mundo que desconhecem e não crêem nesta libertação realizada pelo Filho unigênito de Deus continuam, porém, na escravi-dão. Sabemos que precisam ouvir o evangelho e crer no Salvador, para que tenham a vida eterna, e sabemos também que a igreja é a instituição pela qual "o Espírito Santo leva avante sua obra sem cessar, até o último dia."9 Visto que há urgência constante para esta tarefa, pois o número dos que não conhecem a Jesus está em ascensão extraordi-nária e a vinda do juízo de Deus é iminente, surge

a pergunta: Como poderá a igreja desincumbir-se de sua obra da maneira mais eficaz possível? a resposta está justamente no mesmo caminho que Cristo andou, a saber, no caminho da humilhação, da servidão, da obediência voluntária. Ou como disse um pregador: "Um evangelho de compaixão infinita deve ser pregado no espírito de compaixão em que ele nasceu."10 Já no Antigo Testamento Deus designou este modo de o novo Israel desincumbir-se de sua missão, ao chamá-lo de "servo" (cf., por exemplo, Is 42.1-4). Jesus, ao começar a reunir a sua igreja, em nenhum momento deixou dúvidas a este respeito. Conhecemos bem as suas palavras: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se ne-gue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa, achá-la-á" (Mt 16.24-25). Por isso, a igreja só será "sal da terra" e "luz do mundo" (Mt 5.13-16) quando andar como serva. Também, como poderia a igreja querer ser a mensageira do amor de Deus no mundo, se ela mesma não vivenciasse seu amor de entrega total manifestado no sacrifício de Cristo? Sabemos que a comu-nicação mais eficaz é aquela que vem acompanhada do exemplo. Já por aí se vê que o que hoje cha-mamos de "ministério social" é da verdadeira es-sência do cristianismo. Portanto, a verdadeira igreja de Deus, ciente de que foi redimida da escravidão do pecado, da morte e de Satanás pela entrega voluntária do Filho unigênito de Deus até a morte infamante na cruz, deverá estar disposta a entregar-se totalmente, nem que seja até à própria extinção, se é isto que for necessário para levar o amor de Deus em Cristo ao mundo.

Por decorrência, evidentemente, esta igreja só pode ser verdadeiramente equipada para a sua obra por ministros que também sejam servos. Jesus, ao instruir os primeiros ministros de sua igreja, cla-ramente lhes mostrou que deveriam estar dispostos a serem ovelhas no meio de lobos, a serem levados diante de autoridades, a serem odiados e até mortos (cf. Mt 10.5-23), e acrescentou: "O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor" (Mt 10.24). Em tudo isto, porém, deveriam perseverantemente proclamar e confessar a sua mensagem, na certeza de que "Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou" (Mt 10.40). Sabemos que os apóstolos de fato atuaram dentro desta metodo-logia, e os frutos de seu trabalho confirmam a sua eficácia. Portanto, os ministros da verdadeira igreja precisam ainda hoje, a exemplo de Paulo, estar dis-postos a fazerem-se judeus, a fim de ganhar os ju-deus; estar dispostos a fazerem-se fracos para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos; enfim, dispostos a fazerem-se tudo para com todos, com o

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fim de por todos os modos salvar alguns (1 Co 9.19-23). Ou seja, especificamente nossos minis-tros, como cooperadores do evangelho, deverão es-tar dispostos a fazerem-se brasileiros com todas as suas colorações sociais, culturais, políticas e raciais, com o fim de ganhar os brasileiros. Ou como diz o mesmo apóstolo em outro lugar, o ministro da ver-dadeira igreja deverá querer dizer: "Eu de boa von-tade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol das vossas almas" (2 Co 12.15).

Parece-me que a formação de tais ministros é o maior desafio para a educação teológica. Acima de tudo, precisamos aí prestar atenção para o modo como Jesus preparou os discípulos. Sem entrar em grande aprofundamento, deve impressionar-nos logo como ele se conduzia em relação ao Pai e como procedia em relação aos discípulos. Em relação ao Pai, Jesus se colocava em total submissão à sua vontade, que chegou até a dizer: "Minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra" (Jo 4.34). Em relação aos discípulos, demonstrou uma atitude servil no decorrer de toda a sua "docência." Tratava a cada um de acordo com a sua individualidade, descendo ao seu nível para dar-lhe exatamente o que necessi-tava para avançar passo a passo no processo de sua formação. Não apenas ensinava formalmente, mas aproveitava cada oportunidade, mesmo as mais in-formais, especialmente aquelas em que os discípu-los encontravam-se mais à vontade e, por isso, reve-lavam mais evidentemente as suas deficiências, as suas necessidades, os seus erros. Algumas das lições mais profundas Jesus os levou a compreender pelo exemplo, como aquela que ele lhes ensinou lavando os seus sujos pés (Jo 13.12-16). É fácil de se ver a partir disso que educação teológica que visa formar servos, precisa também ser realizada por um corpo docente composto de servos.

Acima de tudo, deverão os docentes ser ser-

NOTAS

1. Hiller, in Johann Abrechet Bengels, Gnomon oder Zeiger des Neuen Testaments, herausg. C. F. Werner Basel: Druck und Verlag von Ferd. Riehm, n.d.). 1,444: "Das ist das unvergleichliche, unschätzbare Sprüchlein, das uns der eingeborne Sohn aus dem Schooss seines Vaters gebracht hat.Es ist das Herzblatt der ganzen Schrift.Es fasset den ganzen Rath der Liebe des Vaters, die ganze Erlösung des Sohnes, das ganze Werk des Geistes des Glaubens, das ganze Heil der Verlornen, das ganze Elend der Sünder, die ganze Menge der Begnadigten auf Erden, den ganzen Himmel mit dem ewigen Leben in sich, Gott sei ewig Lob dafür.

2. Arthur C. Repp, “The Ministry of the Word,” All-Asia Conference on Theological Training (St, Louis, Mo.: Regal Printing Co., 1965), p. 5.

vos em sua fidelidade à palavra de Deus. Não uma fidelidade abstrata, baseada em experiências passa-das, mas vinculada ao estudo e à meditação diárias nesta palavra, comparando-as às Confissões da igreja para uma iluminação sempre maior, e principal-mente, deixando o Espírito de Deus "pairar" (Gn 1.2) sobre os seus corações, a fim de serem alimen-tados e equipados para a sua tarefa. E mais, para serem verdadeiramente fiéis, deverão eles também ser estudiosos permanentes da sociedade atual, dos pensamentos e aspirações do homem moderno. Por isso e também pelo fato de que as funções de um ministro-servo só poderem caber no que chamamos de "trabalho de tempo integral," é evidente que o corpo docente de um seminário teológico, encarre-gado de formar tais ministros, não pode tolerar em seu meio mestres biscateiros, a não ser que até isso seja exigido "para ganhar alguns" (cf. 1 Co 9,12ss.). Pois o contato com o aluno também precisa esten-der-se muito além dos momentos de ensino formal, a saber, para dentro da vida individual nas situações mais informais que a lida diária possa oferecer.

Finalmente, não podemos esquecer o corpo administrativo da instituição, pois este precisa tam-bém estar sintonizado e engajado com o mesmo modelo educacional, para, assim, a escola como um todo andar na mesma direção.

"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Como vêem, prezados amigos, esta breve passagem bíblica, saída da boca do unigênito Filho de Deus, Salvador e Mestre, além de conter a essência do plano de Deus para a salvação da humanidade, con-tém ainda um programa de educação teológica. Queira Deus, pelo mesmo amor que tem pelo mun-do, assistir-nos na tentativa de implementá-lo no Instituto Concórdia de São Paulo. Amém.

3. Ibid.,p. 10. 4. Livro de Concórdia, trad. e notas de Arnaldo Schüler

(São Leopoldo: Editora Sinodal;Porto Alegre: Editora Concórdia, 1980), p. 456, §§ 61-62.

5. Ibid.,p.453, §42.

6. Dr. Martin Luthers Sämtliche Schriften, herausg, Dr. Joh. Georg Walch. (St. Louis, Mo.: Concordia Publi-shing House, 1891), VII, 1942-44,

7. Luthers Werke für das christliche Haus, herausg, Buchwald et. al. (Braunschweig: C. A. Schwetschke und Sohn, 1890), III, 17-18,

8. Rudi Zimmer, Jesus Cristo é o Senhor (Porto Alegre: Concórdia Ltda., 1982), pp. 69-70,

9. Livro de Concórdia, p. 456, §§ 61-62. 10. J. H. Jowett, citado em Oswald C, J. Hoffmann,

Reaching through Preaching (St. Louis, Mo.: Con-cordia Publishing House, 1955), p. 23.

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A LITURGIA PARTE POR PARTE

Introdução 0 culto cristão constantemente corre o risco

de se tornar um ritual que poucos compreendem, ou compreendem mal. Este é especialmente o caso numa igreja litúrgica, como a luterana, onde se con-serva elementos litúrgicos que têm uma história, em alguns casos, milenar. Qual o sentido da saudação? Por que se canta o Kyrie? São perguntas que mui-tos fazem. Muitos preferem uma solução aparen-temente fácil: eliminam a liturgia pura e simples-mente. Trata-se de um lamentável empobreci-mento. A solução mais condizente e corajosa ainda é estudar a liturgia e explicar a liturgia. Vale à pena.

Eis a conclusão a que chegaram os alunos do terceiro ano de teologia da Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo 1. Chegaram a esta conclusão após um estudo monográfico que cada qual desenvolveu, enfo-cando as diferentes partes da liturgia luterana, na disciplina de Litúrgica. No que segue serão apre-sentadas, em forma de síntese, algumas das desco-bertas que fizeram.

Definição de "culto" O culto cristão foi descrito de forma mara-

vilhosa pelo Dr. Martinho Lutero, na pregação feita quando da dedicação da igreja de Torgau, em 1544. Suas palavras são clássicas, por isso a transcrevemos: "Meus caros amigos", disse Lutero, "vamos agora dedicar e consagrar esta nova casa a nosso Senhor Jesus Cristo, e isso não depende exclusivamente de mim. Também vós deveis tomar do hissope e do turíbulo a fim de que esta casa seja reservada exclusivamente ao seguinte fim: que o nosso bom Mestre nos fale neste lugar, por meio de sua santa Palavra, e que nós, por nossa vez, lhe falemos por meio da oração e do louvor."2 Cristo nos fala, nós respondemos. Cristo nos serve, nós servimos a ele.3 Assim sendo, a liturgia ou ordem de culto é um entrelaçado de palavra de Deus e resposta da congregação, proclamação e adoração. Costuma-se referir as estas duas partes como "parte sacramental" (na qual o pastor se coloca de frente para a congregação) e "parte sacrificial" (na qual o pastor se volta para o altar).4

O início do culto Tomando-se a palavra culto num sentido bem

amplo, como abrangendo a vida cristã no seu todo, chega-se à conclusão de que o culto não começa com a invocação nem termina com a bênção. O culto, afinal de contas, envolve toda a vida. Agora,

3º Ano Teológico 1984 do ICSP tomando-se a palavra culto no sentido de culto pú-blico corporativo, o mesmo inicia com a invocação. Ao menos é esta a impressão que se tem. Liturgólogos, entretanto, ressaltam o fato de que, numa perspectiva histórica, o culto propriamente tem seu início com o intróito. A invocação bem como a confissão e absolvição são introdutórias, preparatórias ao culto. São, num certo sentido, o ponto culminante de toda uma preparação durante a semana anterior. A invocação

Invocar o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo relaciona-se com o que são Paulo escreve em Colossenses 3.17. Por este ato (que pode ser acompanhado do sinal da cruz), a igreja invoca a presença daquele que a si mesmo se revelou como um só Deus em três pessoas. Trata-se de uma in-vocação, não de um convite ao culto. Portanto, tendo em vista seu caráter sacrificial, o liturgista (que fala em nome da congregação) se une ao povo de Deus nesta prece invocatória, voltando-se para o altar.5

Confissão e Absolvição Como parte preparatória ao culto, a confissão

e absolvição -- para usar uma imagem bem realista -- corresponde ao "limpar os pés antes de entrar em casa". Conforme indicado acima, originalmente não fazia parte do culto público, ou seja: o ministro se preparava para o culto na sacristia, em particular; a congregação, por sua vez, fazia o mesmo no recinto da igreja.

O exame desta parte certamente exigiria um es-tudo minucioso do assim-chamado ofício das cha-ves. Isto, porém, transcende os objetivos deste estudo, devendo ficar para outra ocasião. Entre-tanto, duas observações ainda se fazem necessárias: nas partes responsivas ("O nosso socorro..." e "Dizia eu...") indicamos a fonte bem como a certeza do perdão; na absolvição as palavras devem ser ouvidas e cridas como a voz do próprio Senhor Jesus Cristo.

O Intróito A palavra "intróito" vem do latim e significa

"entrada", "começo". Pelo que se vê, o próprio nome já indica que esta é a parte inicial do culto.6 É também a primeira parte variável do culto, o primeiro dos assim-chamados "próprios" (própria em latim).7

Originalmente o intróito era um salmo de entrada, cantado em forma de antífona (responso) por um coro duplo, no momento em que o ofician-te vinha da sacristia. Gregório Magno, que viveu

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por volta de 600 depois de Cristo, abreviou o salmo e estabeleceu a forma que hoje se encontra em nossa liturgia. Os textos deste intróito, impressos na edição do pastor da Liturgia Luterana, são tirados dos Salmos, de Isaías e alguns do Novo Testamento. Os antigos nomes dos domingos do ano eclesiástico, como Invocavit, Rogate, Cantate, etc, não são nada mais do que a primeira palavra latina desses intróitos.

O intróito também anunciava o tema do domingo. Atualmente, na série trienal de perí-copes, o salmo do domingo exerce esta mesma função. Assim sendo, é costume ler o salmo como intróito. A leitura pode ser tanto responsiva com em uníssono. O Gloria Patri (Glória ao Pai ...) outra coisa não é senão a conclusão do Intróito. Com sua ênfase trinitária, este antigo texto litúrgico distingue o uso cristão dos Salmos do Antigo Testamento, razão por que é falado ou cantado ao final de toda e qualquer leitura dos salmos.

O Kyrie

No Kyrie muitos não conseguem ver outra coisa senão uma confissão de pecados. Neste caso, uma segunda confissão num mesmo culto!8 Embora este aspecto penitencial certamente esteja presente, o mesmo não esgota o sentido deste "Senhor, tem piedade de nós". Em primeiro lugar, salta à vista seu caráter trinitário. Seu uso no culto reflete o uso de expressões semelhantes na Bíblia (cf. Sl 25.16; 26.11; 41.4; 51.1; Mt 9.27; 15.22). Trata-se de um clamor, um pedido de auxílio (que nem sempre é um pedido de perdão). Neste sentido, corresponde ao sentido original da palavra "hosana" ("Oh, salva-nos, Senhor!"). No Kyrie confessamos nossa fraqueza e nossa dependência de Deus.

Ainda um outro aspecto convém ser frisado: o Kyrie eleison tem a forma de uma aclamação. Nele, a congregação aclama o Senhor que vem ao seu encontro no culto, mediante palavra e sacra-mentos.

A Gloria in Excelsis Este cântico, conhecido pelo nome latino

Gloria in Excelsis ("glória nas alturas"), constitui-se no grande hino de louvor da primeira parte do culto. É uma das partes mais antigas do culto, e parece que se originou na liturgia da igreja oriental. O grande glória, como também é chamado, exalta o Deus trino por sua obra. No entender de Lutero, este cântico não foi feito na terra; veio do céu. De fato, as palavras iniciais foram cantadas pelos anjos na noite em que o Salvador Jesus

nasceu. Como as próprias rubricas ("indicações de co-

mo fazer") deixam claro,9 o Gloria in excelsis pode ser também falado. Talvez seja uma solução melhor do que simplesmente omiti-lo. Outros ainda substituem-no por um hino de louvor ao Deus trino. Em cultos normais (cultos com santa ceia!) não deveria ser nem omitido nem substituído.

A saudação Talvez nada cause mais perplexidade (para mui-

tos ao menos) do que esta parte do culto. Na ver-dade, não é outra coisa senão o que o nome diz: uma saudação.10 Pastor e congregação saúdam-se mutuamente antes de, em conjunto, orarem a Deus.

As palavras "O Senhor seja convosco" têm forte coloração bíblica (conferir Rute 2.4; Jz 6.12; Lc 4.28), para não dizer hebraica. Quanto à res-posta da congregação, talvez não custe insistir nisto: onde se diz "e com o teu espírito", entenda--se "e contigo também".

Convém notar ainda que a Saudação por as-sim dizer introduz momentos diferentes no culto, razão por que abre a celebração da santa ceia.

A coleta O nome "coleta" tem algo a ver com o verbo

"coletar", pois esta oração pretende ser uma reu-nião dos anseios de toda a congregação. Há uma coleta para cada domingo e muitas coletas espe-ciais, fato óbvio para todo aquele que tem alguma familiaridade com a Agenda (Liturgia Luterana, edição do pastor).

Muitas dessas coletas vêm do tempo de São Jerônimo, teólogo cristão e tradutor da Bíblia ao latim, que viveu por volta de 420 depois de Cristo. Foram traduzidas do latim e geralmente se constituem de cinco partes: a) invocação; b) base para a petição; c) a petição como tal; d) o propósito ou benefício desejado; e) conclusão doxológica.

Nunca se pode esquecer que essas coletas são antigas e foram escritas em latim. Quem já teve contado com o latim sabe que esta língua se caracteriza por ser lacônica, por expressar em três palavras o que em português às vezes se precisa dizer em nove! A tradução portuguesa das coletas procura preservar este aspecto concentrado do texto latino, o que torna algumas dessas breves coletas em textos complicadíssimos-11 Solução: reescrever e ampliar o texto.

Talvez alguém pergunte: por que não coletar de fato neste momento do culto, ou seja, por que

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não incluir intercessões, ações de graças, etc. na coleta, fazendo dela uma oração mais longa? A questão merece reflexão. Talvez fosse inconve-niente uma oração mais longa nesta altura, porque a oração não deixa de ser uma resposta à palavra de Deus e até esse momento do culto a palavra ainda não foi proclamada.

Leituras Bíblicas O espaço não permite entrar nos detalhas da

necessidade e conveniência da leitura do Antigo Testamento. Fato é que esta sem dúvida foi uma das lacunas da série histórica de perícopes, preen-chida agora na série trienal e na série histórica re-visada.12 Não se deveria omitir a leitura do Antigo Testamento a qual poderia ser feita por um leigo capacitado para tanto.

A leitura da epístola já era feita nos primei-ros tempos da igreja cristã.13 É tradição que a con-gregação permaneça sentada durante a leitura da epístola, por ser considerada parte de instrução. A epístola precede o evangelho assim como o menor precede o maior. Primeiramente a congregação ouve o apóstolo, depois o próprio Senhor.

A leitura do evangelho sempre foi conside-rada de suma importância na igreja cristã, pois são palavras do próprio Cristo ou episódios de seu ministério terreno. Através dos séculos a leitura do evangelho foi acompanhada de cerimônias especiais. Procissão com velas e crucifixo, queima de incenso, sinal da cruz, tudo isso fazia parte do ritual.14 Em nosso culto retivemos apenas duas coisas: o evangelho é ouvido de pé, em sinal de respeito, e se canta os versículos antes e depois da leitura.

Quanto a esses versículos, é interessante observar sua melodia: a do "glórias a ti, Senhor" é descendente, simbolizando a humanação de Cristo; a do "glórias a ti, ó Cristo" é ascendente, simbo-lizando sua ascensão.

Entre a epístola e o evangelho, a liturgia prevê o gradual, numa espécie de ponte de passa-gem ou transição entre as duas leituras. Original-mente era uma composição que se destinava ao canto do coro, a exemplo do intróito. Um hino ou música coral geralmente tomam o lugar do gradual.

O aleluia tríplice é a segunda parte do gra-dual. É uma exclamação de louvor e triunfo. É cantado em antecipação á alegre proclamação do evangelho, e não tanto como conclusão da leitura da epístola.

O Credo O credo é a resposta da igreja à palavra de

Deus. Resume a palavra de Deus. Expressa de ma-

neira clara a obra da salvação em Cristo.15 É uma confissão pública da essência da fé cristã. Testemu-nha da unidade, universalidade e perpetuidade da fé cristã. O credo é também uma expressão de louvor e agradecimento pela salvação que é recontada no mesmo.

Há três credos ecumênicos: o niceno, o apostólico e o atanasiano. O último tem seu uso restrito ao domingo da santíssima trindade. O niceno foi formulado no quarto século, em meio às controvérsias em torno da divindade de Cristo (concilio de Nicéia, 325 A.D.). É usado em cultos normais com santa ceia. O credo apostólico, que é mais recente do que o niceno, está ligado ao batismo. É o credo dos catecúmenos.

O hino Dentre todos os hinos do culto, este é sem

dúvida o mais importante (Hauptlied). Deveria ser escolhido cuidadosamente, para harmonizar com as leituras e o sermão do dia.

O sermão O sermão é a exposição de um texto bíblico,

geralmente o evangelho do dia, e sua aplicação à vida dos cristãos. É o clímax da primeira parte do culto.

Nas sinagogas judaicas o sermão era secun-dário, proferido apenas quando havia um pregador disponível. Na igreja cristã sempre foi importante, embora tivesse sido desvalorizado na idade média. Sua restauração foi sem dúvida elemento impor-tante na obra da reforma luterana.

No púlpito o pregador não expressa sua opinião nem tampouco o que o texto diz para ele pessoalmente. Com firmeza, zelo e lealdade ele proclama: Assim diz o Senhor!

O ofertório Num sentido amplo, o ofertório consta de três

partes; o cântico "Cria em mim", o recolhimento das ofertas e a oração geral.

O "Cria em mim", que não é uma conclusão ao sermão e sim o início de uma nova parte litúrgica, é feito de palavras do Salmo 51.10-12. É um ofertório porque, com estas palavras, estamos nos oferecendo a Deus, pedindo que ele nos transforme, nos dê nova vida, novo coração -- no poder do Espírito Santo. É, sem dúvida, uma bela oração. Nela, entregamos nosso coração e nossa vida a Jesus.

Uma vez feito isto, o recolhimento das ofer-tas vem como algo natural. As ofertas são mani-festação exterior de nossa dedicação interior a Deus. Seu recolhimento é ato de culto, não mero intervalo para "ajuntar" dinheiro.

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Na igreja antiga se trazia ofertas em espécie, destinadas aos pobres e ao clero. Destas ofertas (víveres, frutas, etc.) eram tomados pão e vinho, os elementos da santa ceia. Em nosso culto, a única reminiscência disso é a preparação dos elementos, que geralmente é feita pelo pastor nesse momento do culto.

A oração geral é um complemento litúrgico às ofertas. Nela se ora por tudo e por todos, razão por que tem o nome de "oração geral". Também esta foi restaurada no tempo da Reforma.

A Frustratio Esta, a rigor, não é parte da liturgia, embora

seja muito observada. Trata-se, na verdade, de uma palavra latina que significa "frustração". É o que acontece sempre que o culto termina neste ponto, como se a santa ceia fosse algo insignificante ou opcional. Felizmente está havendo uma restauração da celebração da santa ceia na igreja luterana, o que não é, em si, uma inovação, mas apenas uma volta ao que era prática comum da igreja evangélica do século XVI, para não falar da igreja apostólica.

A celebração da santa ceia Também aqui não é possível entrar nos deta-

lhes da teologia da santa ceia. Só será possível mencionar alguns dos aspectos da ceia, fazer re-ferência aos nomes, e passar então a tecer algumas considerações sobre a ordem litúrgica desta cele-bração.

A santa ceia é uma refeição festiva, de ação de graças; é o banquete messiânico que Cristo nos oferece enquanto aguardamos sua vinda em glória; é comunhão com Cristo e com os membros de seu corpo; é um meio todo especial que Cristo tem de aplicar a nós a justiça que ele conseguiu na morte e ressurreição.

Quantos aos nomes, tudo é uma questão de uso. Estranhamos termos como "missa", "comu-nhão", "eucaristia", embora a Confissão de Augsburgo tenha um artigo sobre a missa (que não trata de outra coisa senão da santa ceia), e embora nossos hinos de santa ceia mencionem com relativa freqüência a palavra "comunhão". Quanto a "eucaristia", palavra que quer dizer "ação de graças", este é um tema que perpassa a celebração da ceia, desde o prefácio ao benedicamus. Con-cluindo esta questão dos nomes, vale lembrar o que Lutero escreve na sua Forma de Missa e Comunhão (Formula Missae) de 1523: "nós a aceitamos como um sacramento, um testamento, a bênção (como em latim), a eucaristia (como em grego), a mesa do Senhor, a ceia do Senhor, o memorial do Senhor, comunhão, ou qualquer outro nome evangélico que

você preferir, desde que a mesma não seja poluída pelo nome sacrifício ou obra."16

A celebração da ceia é uma grande ação eucarística, em três partes: a) prefácio; b) con-sagração e administração; c) pós-comunhão.

O prefácio Este prefácio é talvez a parte litúrgica mais

antiga de nosso culto. Os três pares de responsos já aparecem na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma (meados do terceiro século depois de Cristo)! O prefácio expressa reverência, adoração, alegria e ação de graças.

As palavras "Levantai os vossos corações", que soam um pouco estranhas,17 são um convite a dirigirmos nossos pensamentos a Cristo, cujo corpo e sangue iremos receber. O "levantemo-los ao Senhor" é o "sim" da congregação. O "demos graças ao Senhor" faz lembrar a ação de Jesus na noite em que foi traído (cf. Mt 26.27).

A santa ceia é uma antecipação do banquete messiânico. Jesus compara a vida eterna a um banquete, e o Senhor da igreja e do universo, com sua presença real, já celebra este banquete aqui e agora, de forma antecipada, na santa ceia.18 Uma outra forma de dizer isto são as palavras "com os anjos e arcanjos e com toda a companhia celeste louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltando-te sempre..." Estas palavras deixam claro que, na ceia, nos unimos ao culto eterno dos anjos e da igreja triunfante no céu. Um momento deveras solene e festivo!

O Sanctus Este é o texto da canção na qual a igreja pe-

regrina une sua voz ao cântico da igreja vitoriosa. Com as palavras "Santo, santo, santo..." nos asso-ciamos ao canto dos anjos (cf. Is 6.2-3). No "ben-dito aquele que vem..." fazemos coro com os dis-cípulos galileus19 que receberam festivamente o Rei messiânico às vésperas de seu sacrifício expiatório (cf. Mt 21.9).

No tríplice santo há uma alusão à santíssima trindade. Na segunda parte, o "bendito que vem" não é outro senão o próprio Senhor Jesus Cristo. Ele vem na ceia (presença real!) e vem para o juízo.

Concluindo, pode-se dizer que o Sanctus é o mais antigo, mais celebrado e mais universal dos hinos cristãos.20

O Pai-nosso O Pai-nosso é a oração que o próprio Senhor

Jesus Cristo nos ensinou. Nela nos dirigimos ao Pai celeste como filhos seus por Cristo.

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O Pai-nosso é a oração do discipulado.Não é a consagração dos elementos da ceia, e sim dos par-tipantes. É a melhor oração antes de participar da ceia.21

Verba (Palavras da Instituição) As palavras da instituição são ligadas aos ele-

mentos externos do sacramento, ou seja, ao pão e ao vinho. Constituem uma permanente memória da noite em que Cristo foi traído. Recebemos o mandamento de celebrar este sacramento ("fazei isto") e ao mesmo tempo a promessa de que ele viria a nós e nos daria, sob o pão e o vinho, seu verdadeiro corpo e sangue.

Neste contexto importa lembrar que desde tempos remotos estas palavras da instituição esta-vam enquadradas dentro de um texto mais amplo, a assim-chamada oração eucarística. Há um esboço de oração eucarística no Didaquê (aproximadamente 100 A.D.) e um texto bem mais desenvolvido na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma (meados do terceiro século). Na idade média foram incorporadas nesta oração todas aquelas noções da ceia como sacrifício incruento, razão por que Lutero foi radical: extirpou o conhecido "cânone da missa" e deixou unicamente as palavras da instituição. Em tempos recentes tem havido um movimento no sentido de, atentando para a catoli-cidade da igreja, restaurar a oração eucarística.22 A nosso ver, um esforço louvável.

Para exemplificar, transcrevemos a oração eucarística que aparece na Tradição Apostólica de Hipólito de Roma.23 Logo após o prefácio, que concluía com as palavras da congregação "é digno e justo", o bispo dizia:

Graças te damos, Deus, pelo teu Filho queri-do, Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos enviaste, Salvador e Redentor, mensageiro da tua vontade, que é o teu Verbo inseparável, por meio do qual fizeste todas as coisas e que, porque foi do teu agrado, enviaste do Céu ao seio de uma Virgem; que, aí encerrado, tomou um corpo e revelou-se teu Filho, nascido do Espírito Santo e da Virgem. Que, cumprindo a tua vontade - e obtendo para ti um povo santo - ergueu as mãos enquanto sofria para salvar do sofrimento os que confiaram em ti. Que, enquanto era entregue à voluntária Paixão para destruir a morte, fazer em pedaços as cadeias do demônio, esmagar os poderes do mal, ilu-minar os justos, estabelecer a Lei e dar a conhecer a Ressurreição, tomou o pão e deu graças a ti, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu Corpo que por vós será destruído; to-mou, igualmente, o cálice, dizendo: Este é o

meu sangue, que por vós será derramado. Quando fizerdes isto, fá-lo-eis em minha me- mória. 24

Pax Domini Esta pequena bênção, infelizmente omitida

em muitas celebrações, remonta também à igreja antiga. Lutero a apreciava muito, chegando a es-crever na Formula Missae (1523): "A Pax é a voz do evangelho, anunciando o perdão dos pecados." Ainda segundo Lutero, esta era a única e mais va-liosa preparação para a mesa do Senhor.

Agnus Dei Baseado em João 1.29, este é um maravilhoso

cântico. Nele adoramos Cristo, nosso Senhor, e rogamos sua misericórdia e sua paz. Estes são, na verdade, os dons que Cristo nos dá na ceia.

A Distribuição Durante a distribuição pode-se (embora não

seja obrigatório!) cantar um ou mais hinos. Hinos de santa ceia ou de louvor, de preferência.

Em alguns lugares os comungantes recebem a ceia ajoelhados. Este é um costume introduzido no século doze, e denota reverência e humildade. Na igreja antiga dava-se o pão na mão do comungante. A prática observada entre nós, ou seja, colocar a hóstia diretamente na boca do comungante, surgiu na idade média. Motivo: uma vez que se passou a venerar a hóstia, temia-se que alguém pudesse levá-la para casa, destinando-a a outros fins (práticas mágicas, etc). Em igrejas onde a hóstia é colocada na mão, o comungante coloca a mão direita sobre a esquerda.

Quanto ao cálice, os cálices individuais são inovação bem recente. Como seria de esperar, o inovador foi um pastor americano que era também médico. Isto numa igreja rural em Ohio, por volta de 1893. Parece ser costume pouco difundido entre nós. Felizmente, no entender de muitos.

Outro detalhe que convém mencionar é a participação do pastor.25 Como tornar isto possível? Nada como treinar um diácono ou o presidente da congregação a distribuir a ceia ao pastor.26 Onde não houver ninguém que se anime a fazê-lo - talvez num campo missionário avançado - por que não considerar a auto-comunhão ou seja, o pastor pode dar a ceia a si mesmo. Se esta idéia parecer absurda ou, então, uma inovação injustificada, basta consultar a Pastorale de C.F.W. Walther (p. 197-200) e se verá qual a posição luterana quanto a isto. Diga-se de passagem que o texto dos Artigos de Esmalcalde (24 parte, segundo artigo, secção 8 - Livro de Concórdia, p. 314),

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citado por alguns contra esta prática, fala de coisa bem diferente e de forma alguma desautoriza esta praxe.

Nunc Dimittis É um título estranho, mas são as palavras

latinas que iniciam o cântico de Simeão (Lc 2.29-32). "Nunc dimittis" quer dizer "agora despedes". Não há palavras mais apropriadas para aqueles que, a exemplo de Simeão, viram a salvação do Senhor. Há quem procure justificar a presença de um cântico neste ponto da celebração a partir do relato do evangelho: "tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras".

Ação de graças, Saudação, Benedicamus Erguer a voz em mais um agradecimento: é a

única resposta possível, é tudo que se pode fazer depois de ter recebido tão grande dom da salvação.

Bênção Este é o elemento "sacramentai" (O Deus nos

serve) que encerra o culto litúrgico. Na igreja primitiva, a bênção era simplesmente "ide em paz". A bênção araônica (Nm 6.22-27) foi introduzida por Lutero na Missa Alemã (Deutsche Messe, 1526).

Fim do culto? Certamente que não. É apenas o início. Há

toda uma semana pela frente. Admoestados, for-talecidos e consolados pela palavra e pelo sacra-mento, voltamos a nossas tarefas diárias. Ali vi-vemos nossa fé, na forma de serviço a Deus e ao nosso próximo.

NOTAS

1 Participaram deste empreendimento: Agenor Berger, Aldo Júlio Zilki, César Scholz, Cleomar Wolffgram, Elvi-no Alberto Kireser, Juarez Borcarte, Júlio Ribak, Konrad Faustino do Nascimento, Nivaldo Garcia, Paulo Geraldo Pinto de Souza, Valtair Costa Pinheiro. A coordenação e síntese é do prof. Vilson Scholz.

2 Weimar Ausgabe, 49, 588. 3 A palavra alemã "Gottesdienst", que pode ser tanto "o

serviço que Deus nos presta" como "nosso serviço a Deus" resume isto bem.

4 É impossível fazer uma distinção precisa e definitiva entre ambas as partes, tanto do ponto de vista do conteú-do como do ponto de vista da seqüência temporal (uma coisa depois da outra). Por exemplo: nos salmos glorifi-camos o Deus que nos deu o texto pelo qual apresenta-mos nosso louvor. Quem chama a atenção para isto é Ernest B. Koenker em Worship in Word and Sacrament, Concordia Publishing House, 1959, p. 17.

5 Explicar a invocação equivaleria a escrever um trata-do teológico sobre a Trindade. Na verdade, ao falarmos a invocação dizemos muito mais do que compreendemos? De passagem convém notar o que muitos já sugeriram: não há melhor texto para instrução de adultos do que a própria liturgia. Já na invocação falamos de Deus!

6 A distinção entre parte preparatória e início propria-mente pode ser indicada da seguinte forma: o liturgista não sobe ao altar para a invocação e a parte confessional, fazendo-o apenas na hora do intróito (ou do Gloria Patri).

7 Aos "próprios" se contrapõem os "ordinários" (ordinária em latim), ou seja, as partes fixas, como o Kyrie, Gloria in Excelsis, etc.

8 Isto se deve seguramente ao fato de que na assim-chamada "Antiga Ordem do Culto Principal" (Hinário Luterano, p. 21ss) o texto do Kyrie faz parte da confissão dos pecados. Não fosse a familiaridade com essa ordem litúrgica, muitos talvez nem se dariam conta do aspecto confessional do Kyrie. Também neste caso o uso do texto determinou seu sentido - para muitos ao menos!

9 Conferir Liturgia Luterana (edição do pastor), p. 3e 11.

10 A perplexidade talvez se reflita no fato de que, em muitos lugares, quem canta (e sozinho!) a segunda parte -"E com o teu espírito" - é o pastor! Fato realmente inte-ressante em se tratando de uma saudação. Talvez haja quem queira argumentar que a congregação não consegue cantar essa frase. Embora isto seja pouco provável, admi-tamos que seja. Neste caso, que se fale ao invés de cantar. Aliás, neste contexto convém lembrar outro fato estra-nho: o liturgista fala e a congregação responde cantando O ideal ainda é: ou ambos falam ou ambos cantam.

11 Mário Bonatti, que é padre e professor de lingüísti- ca, num interessante (e importante!) livro chamado Li-turgia: Comunicação e Cultura (São Paulo, Editora Sale-siana Dom Bosco, 1983), falando da linguagem do texto litúrgico, analisa a inadequação da linguagem de muitas orações. Cita como exemplo a oração coleta da festa da Santíssima Trindade, que é praticamente a mesma de uma forma lingüística difícil... Este não é um estilo corrente e atual. Com uma forma assim não são apenas as pessoas mais simples que sentirão dificuldade. Num teste de compreensão com alunos da pós-graduação da PUC de Porto Alegre, em 1975, verifiquei que apenas dois entre quinze professores de português presentes ao curso ha-viam captado o sentido da oração acima." p. 52

12 Não ignoramos que no passado, muito antes da re- visão da série histórica em nossa geração, houve vários esforços no sentido de indicar um texto do Antigo Tes- tamento para cada domingo. Basta conferir a tabela no Lutheran Hymnal, p. 1959-160. 13 O item “leituras bíblicas” foi por assim dizer herdado do culto nas sinagogas. Há muitos testemunhos que falam disso. Bastaria citar Atos 2.42, mas nos ocorrem as seguintes palavras de Justino Mártir (165 A.D.): "lêem-se os comentários dos apóstolos ou os escritos dos profetas, enquanto o tempo o permitir." Apologia I, 65.

14 Lutero alude a isso na sua Formula Missae, de 1523, dizendo que não proibimos nem prescrevemos velas e incenso, devendo estas coisas permanecer livres.

15 Não deixa de ser significativo que no credo não falamos de nossos propósitos cai realizações. Reconta-mos e anunciamos profeticamente os feitos de Deus. Tudo que nós fazemos é dizer "creio" e depois "amém". Agora, também isto nos é dado, pois por nós mesmos

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não podemos crer em Deus nem vir a ele. 16 Traduzido livremente da edição inglesa (Luther's

Works), volume 53, página 22. 17 No latim, sursum corda. A frase também é tradu-

zida "corações para o alto". 18 Neste sentido, na ceia, o celebrante (ou oficiante,

liturgista) é o próprio Cristo! Naquele momento o pastor continua sendo o que é sempre: ministro de Cristo. Quem consagra os elementos é o próprio Cristo!

19 É pouco provável que o grupo que cantou "hosana" seja idêntico ao que gritou "crucifica-o". No primeiro ca-so, muito provavelmente eram peregrinos galileus; no se-gundo, o povo de Jerusalém.

20 Reed, Luther D. The Lutheran Liturgy. Philadelphia Fortress Press, c. 1947. p. 340

21 Em alguns quadrantes, catolico-romanos inclusive,

tem havido críticas ao fato de que durante séculos esta oração dos discípulos tenha ficado restrita ao liturgista ou pastor. A congregação acompanha apenas a partir da do-xologia. Entendem alguns que esta oração, que tem um aspecto nitidamente comunitário (primeira pessoa do plural!) deveria ser orada em conjunto. O tópico merece reflexão.

22 Pessoalmente vimos a oração eucaristica sendo usa-da nas celebrações da ceia no Concordia Seminary de Saint Louis, USA.

23 Num polígrafo entitulado "Rubricas do Culto Lu-terano" transcrevemos a oração eucarística que apareceu numa edição de Culto Cristiano, e que vimos ser usada no Concordia Seminary de Saint Louis.

24 Tradição Apostólica de Hipólito de Roma: Liturgia e Catequese em Roma no século III. Tradução da versão latina e notas por Maria da Glória Novak. 24 edição. Petrópolis, Editora Vozes, 1981, p. 40-41.

25 Mereceria estudo a seguinte questão: até que pon- to a aparente impossibilidade do pastor participar da ceia contribuiu para uma tão escassa celebração da ceia em nosso meio? Outro detalhe: se o pastor não participa, dando um mau exemplo, em quem o leigo haverá de se espelhar? Com que "moral" o pastor pode admoestar a uma participação mais freqüente da parte dos leigos?

26 Em congregações maiores, um dos argumentos contra celebração mais freqüente da ceia é, sem dúvida, o fato de que demora mais. Se a participação de mais pessoas na distribuição-diáconos, na falta de melhor pa-lavra - contribui para acelerar a mesma, por que não ele-ger e treinar leigos a tomarem parte neste ministério? Será que o sacerdócio de todos os fiéis não se aplica neste caso?

RUBRICAS DO CULTO LUTERANO

Preparado por Vilson Scholz I. Introdução

"Enrubricado". Este adjetivo descreve, no entender de um teólogo católico, o ritual da missa no período que antecedeu ao Concilio Vaticano II. Cada movimento era prescrito. Para tudo havia uma rubrica.

Quem se der ao trabalho de ler "Rubricas do Culto Luterano", talvez colha a impressão de que se pretende "enrubricar" o culto luterano. Longe disso! Pretende-se oferecer algumas diretrizes e alguns pontos para reflexão ligados à condução do culto na igreja luterana. Parte-se do princípio se-guinte: "Já que tem que ser feito de uma ou de outra forma, então vamos fazê-lo da melhor forma possível!"

O texto que apresentamos foi preparado para reflexão e orientação dos estudantes de litúrgica da Escola Superior de Teologia. Trata-se de uma síntese, traduzida e adaptada de manuais ingleses. Muito daquilo que era mais um ideal do que uma descrição da realidade prática foi omitido. Alguma coisa foi retida. Talvez possamos devolver alguns gestos ao nosso culto tão verbalizado e pobre de movimentos. Talvez nem tudo se aplique à nossa realidade. Cabe a você, leitor, julgar.

De qualquer forma, entenda-se estas Rubri-cas, não como um "tem que ser assim", mas muito mais como sugestões e tópicos para reflexão. (V.S.)

Prof. Arnaldo Schmidt (Algumas indicações sobre como dirigir o culto público na igreja luterana)

2. Generalidades Quando se trata da liturgia ou do culto pú-

blico da congregação, há duas coisas que entram em jogo: o rito ou texto da liturgia e as rubricas ou diretrizes para a direção do culto. Sem discutir o rito como tal, queremos indicar alguns princípios e procedimentos que dizem respeito às rubricas.

O princípio fundamental é reverência. Seja reverente! Isto resume tudo que se possa dizer em termos de rubricas. Reverência pressupõe humilda-de e exige preparo, tanto material (deixar tudo preparado de antemão, intelectual (saber o que se está fazendo e por que se faz assim), e espiritual.

Quanto à postura do oficiante ou liturgista, o mesmo não deveria sentar de frente para a con-gregação. Também não deveria voltar para a sacris-tia durante o culto, exceto por motivo de força maior.1 Ao sentar, jamais deveria cruzar os pés ou as pernas. Como o altar simboliza a presença cons-tante de Deus e é o foco da atenção da igreja (ex-ceto durante a leitura do evangelho, quando a atenção se volta ao livro), o liturgista poderia muito bem inclinar-se de uma forma um tanto quanto acentuada quando se aproxima pela primeira vez do altar e quando se afasta do altar no final do culto. Durante o culto pode inclinar-se de leve ao passar em frente ou chegar perto do altar. Quanto às mãos, seria melhor juntá-las (no estilo das Mãos em

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Oração de Dürer) na altura do peito do que deixá-las soltas. A aproximação do altar é feita em ângulo reto, jamais em diagonal ou em forma de "atalho". Ao andar, convém dar passos curtos, em velocidade moderada. Diante do altar, não balançar de um lado para outro, nem para frente e para trás. Não encostar-se no altar, especialmente quando voltado para a congregação.

O sinal da cruz é um gesto confessional. Se o liturgista quiser persignar (na Invocação, p. ex.), a seqüência é: da fronte ao peito, ao lado direito, ao lado esquerdo. Ao fazer o sinal da cruz sobre a congregação, o traço horizontal parte da esquerda para a direita e os gestos não devem ser amplos demais (proceder como se estivesse fazendo o sinal da cruz sobre si mesmo).

O oficiante volta-se para o altar em todos os atos sacrificias e para a congregação em todos os atos sacramentais. São atos sacrificiais: a Invoca-ção, a Confissão, o Intróito, o Kyrie, Orações, o Ofertório, o Prefácio, o Sanctus, as Palavras da Ins-tituição (Verba). São atos sacramentais: o convite à confissão, a Absolvição, a Saudação, as Leituras, o Sermão, o Voto, o Benedicamus, a Bênção.

O oficiante volta-se ao altar para a congrega-ção fazendo o giro pela direita, e da congregação para o altar fazendo o movimento inverso.

Em cultos com santa ceia, usa-se a ordem do culto principal com santa ceia, não sendo recomen-dado combinar a ordem de Vésperas ou Matinas com a liturgia da ceia a partir do Prefácio.

Os Propria (que se distinguem da parte fixa ou ordinária), que incluem o Introito, a Coleta, a Epístola, o Gradual e o Evangelho do domingo são usados durante a semana que segue, exceto quando há propria especiais para determinado dia festivo.

A música não é parte da liturgia propriamente dita e pode ser alterada conforme permitem ou requerem as circunstâncias. Pode inclusive ser com-pletamente omitida, num culto falado. O canto li-túrgico (cantochão) não é uma interpretação musi-cal do texto, e sim unicamente um veículo ou su-porte do texto. Por isso deveria ser cantado de for-ma simples e fluente. O liturgista não deveria trans-formar o entoar da liturgia (caso decida cantá-la) num solo de ópera! Quando ao andamento, deveria ser o mesmo andamento da fala (nem muito de-pressa nem arrastado), e isto vale para a liturgista e congregação. O oficiante deveria cantar aquelas partes que têm resposta cantada por parte da con-gregação, a fim de evitar que ele fale e a congrega-ção responda cantando ou o inverso. Quanto ao coro, sua função principal é dirigir a congregação no canto da liturgia e dos hinos, bem como cantar o texto dos propria (pensa-se no Gradual) quando

estes estiverem fora do alcance da congregação como um todo.

Avisos à congregação, exceto em se tratando de pedidos de intercessão, não deveriam ser dados durante o culto. Devem ser dados ou depois do culto ou veiculados por meio de boletins informa-tivos ou quadros-murais.

3. As Diferentes partes da liturgia O culto como tal inicia com o intróito. A

parte confessional é introdutória. Como tal, pode ser deslocada para o dia anterior (embora isto seja difícil de colocar em prática). Outra prática, que condiz com a boa tradição luterana do século XVI, é colocar a confissão e absolvição imediatamente antes da celebração da ceia (embora isso tenda a dar à ceia um caráter por vezes exageradamente penitencial). Caso a parte confessional seja remane-jada, o culto inicia diretamente com o Intróito, sendo omitidos a Invocação e o hino inicial.

O batismo público pode ser administrado depois do hino inicial, que, neste caso, pode ser um hino batismal. Sendo o batismo o sacramento de iniciação ou entrada na igreja, nada melhor do que administrá-lo logo no início, para não dizer "na entrada".

Durante a parte introdutória (Invocação, Confissão e Absolvição) o oficiante pode ficar aos pés da escadaria que leva ao altar, avançando para o altar na hora do Intróito. Este detalhe ajuda a marcar a distinção entre parte introdutória e In-tróito, e condiz com o significado do intróito ("en-trada"). Caso o altar não esteja num nível mais ele-vado, o liturgista pode ficar um pouco mais afasta-do do altar durante essa parte introdutória.

É preferível dizer, a cantar a Invocação. (Este princípio vale para o todo: é preferível dizer, e dizer bem, a cantar de forma sofrível!) A congre-gação responderá com "amém" (falado, se o ofi-ciante fala; cantado, se o oficiante canta).

A liturgia prevê que a congregação se ajoelhe para a confissão. Infelizmente isso é impraticável na maioria dos casos!

Na absolvição, o liturgista faz o sinal da cruz ao dizer as palavras "e do Filho".

Nossos intróitos de hoje não passam de tre-chos de salmos que eram cantados pelo coro e pelo clero quando se dirigiam ao altar. O intróito con-siste em antífona, salmo, Gloria Patri, Antífona. Pode-se ler o salmo do dia como intróito. A leitura pode ser responsiva (fazendo a divisão conforme a rima hebraica paralelismus membrorum) ou em uníssono. Em tempos antigos o Gloria Patri era omitido durante a quaresma. Atualmente estas pa-lavras, que fazem do salmo do Antigo Testamento um hino do Novo Testamento, são omitidas apenas

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no Dia de Humilhação e Oração (que não tem data fixa!). Durante o intróito, o oficiante permanece voltado para o altar, independentemente do con-teúdo do texto lido (por vezes parece mais uma de-claração ao povo do que invocação a Deus).

O Kyrie e o Gloria in Excelsis também po-dem ser falados. O último pode ser substituído por um hino de louvor em cultos sem santa ceia. Pode ser omitido por inteiro durante o advento e a qua-resma.

Na Saudação, o liturgista conserva as mãos juntas. Pode também, seguindo antigo costume, se-pará-las levemente (mais ou menos na largura de seu corpo) ao proferir a saudação, juntando-as logo em seguida. Finda a resposta da congregação, pode inclinar a cabeça.

As Leituras deveriam ser feitas (e entre nós geralmente são) diante do altar. Historicamente, o púlpito de leitura era reservado para Matinas e Vés-peras. As leituras do Antigo Testamento e da Epís-tola podem também ser feitas por um leigo.

Se o coro tiver um hino, deveria cantar logo após ou em lugar do Gradual, entre epístola e evangelho (este é o melhor lugar!). O hino deveria harmonizar com o tema geral do culto.2

Para a leitura do evangelho a congregação se coloca de pé. Na verdade, este é o último resquício da reverência e veneração que se tinha em tempos passados pelo Santo Evangelho. Havia uma procis-são, queimava-se incenso, detalhes aos quais Lute-ro alude em sua Formula Missae de 1523. Talvez devêssemos readquirir um pouco dessa reverência, pois, afinal de contas, este é um dos momentos al-tos do culto, a hora em que o próprio Senhor nos fala!

(Ao anunciar as leituras, de preferência ater-se à fórmula que se encontra na liturgia. Evitar dizer "o evangelho se encontra.,.")

Em dias festivos e cultos com santa ceia é re-citado o credo niceno, havendo até aqueles que en-tendem que o niceno deveria ser recitado sempre. Quanto ao atanasiano, pode ser usado como salmo em Matinas ou no domingo da santíssima Trindade. Não deveria substituir qualquer dos outros dois.3

Tradicionalmente o texto do sermão é o evangelho do dia. (Nada autoriza, neste caso, que se omita a leitura do evangelho no momento pre-visto na liturgia.) É costume antigo na igreja iniciar o sermão com as palavras "Em nome do Pai..." e o sinal da cruz.

Quanto ao Ofertório ("Cria em mim..."), muito mais que uma resposta ao sermão é um ele-mento à parte e se constitui, historicamente, num dos pontos altos do culto. Na igreja antiga, os fiéis traziam ofertas de pão e vinho e outros alimentos, para ajudar os pobres, e como símbolo de que toda

sua vida era um culto a Deus. Dessas ofertas se to-mava o pão e vinho para a santa ceia.

Enquanto as ofertas são recolhidas, o cele-brante pode preparar os elementos da santa ceia. veriam ser anunciadas antes do início da oração propriamente. Durante a oração a congregação pode também permanecer sentada. O amém deveria ser dito pela congregação.

Quanto à liturgia da santa ceia, convém não Na oração geral, as intercessões especiais de-

esquecer os prefácios próprios de cada época do ano litúrgico. Depois do Sanctus, muitas igrejas lu-teranas estão adotando e reintroduzindo uma oração eucarística (na qual estão incluídas as palavras da instituição) seguida do Pai-nosso. (Notar que a ordem na liturgia é Pai-nosso — Palavras da Insti-tuição.) Segue a oração eucarística que foi publica-da no Culto Cristiano (1964): (Findo o Sanctus, o oficiante dirá:)

Santo és tu, Deus onipotente e misericor-dioso! Santo és tu, e grande é a majestade de tua glória!

Amaste ao mundo de tal maneira que deste o teu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Enviaste teu Filho ao mundo para cumprir a tua santa vontade em nosso lugar e realizar a nossa salvação. Ele, nosso Senhor Jesus Cristo, NA NOITE EM QUE FOI TRAÍDO, TOMOU (aqui o celebrante toma a pate-na em suas mãos) O PÃO, E, TENDO DADO GRAÇAS, O PARTIU E O DEU AOS SEUS DIS-CÍPULOS, DIZENDO: TOMAI, COMEI, (neste ponto pode elevar o elemento) ISTO É O MEU CORPO, QUE É DADO POR VÓS; FAZEI ISTO EM MEMÓRIA MINHA. E, SEMELHANTEMEN-TE TAMBÉM, DEPOIS DA CEIA, TOMOU (cele-brante toma o cálice) O CÁLICE, E, TENDO DA-DO GRAÇAS, LHO ENTREGOU DIZENDO: BE-BEI TODOS DESTE; ESTE CÁLICE (pode elevar o cálice) É O NOVO TESTAMENTO NO MEU SANGUE, QUE É DERRAMADO POR VÓS PA-RA REMISSÃO DOS PECADOS. FAZEI ISTO, QUANTAS VEZES O BEBERDES, EM MEMÓ-RIA MINHA. Portanto, em memória de sua vivifi-cadora paixão e morte, sua gloriosa ressurreição e ascensão, bem como a promessa de sua vinda, nós te rendemos graças, Senhor Deus onipotente, e te pedimos que misericordioso aceites nosso louvor e gratidão e nos abençoe a nós, teus filhos, de tal forma que todos os que recebem o santo corpo de Cristo e seu precioso sangue recebam também ple-nitude de alegria e paz celeste; e que, recebendo a remissão dos pecados, sejamos santificados em cor-po e alma e recebamos a herança com todos os teus santos na luz. A ti, ó Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, seja toda a honra e glória em tua santa

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igreja, agora e para todo o sempre. Amém. (Segue o Pai Nosso, o Pax Domini, e o Agnus Dei.)

Caso houver um auxiliar na distribuição da ceia, o mesmo deveria chegar ao altar durante o canto do Agnus Dei. Segundo o costume da igreja antiga, os oficiantes deveriam ser os primeiros a co-mungar.

Durante a distribuição, é costume cantar um ou mais hinos. Há quem desaconselhe, alegando que isto distrai os comungantes, especialmente quando se toca longos interlúdios entre uma estrofe e outra. Música ao órgão seria uma boa opção.

Sempre que houver um auxiliar na distribui-ção, o pastor local, que tem a potestas iurisdictio-nis na paróquia, distribui o pão. Quanto às palavras "Tomai, comei... tomai, bebei...", poderiam ser ditas a todos ao ser iniciada a distribuição, assim como as palavras "que esta ceia vos fortaleça e preserve..." poderiam ser ditas a todos ao final da distribuição. A cada comungante bastaria dizer: "O corpo de Cristo", ou, "O corpo de Cristo dado à morte por ti". (Também é possível fazer conexão com o sermão do dia. Por exemplo: no domingo do Bom Pastor, as palavras poderiam ser "o corpo de Cristo, o bom Pastor que deu sua vida por ti".)

O celebrante deve evitar pôr demais hóstias na patena e demais vinho no cálice.

No final do culto, ao proferir a bênção, o oficiante conserva a mão esquerda contra o peito, levanta a mão direita até à altura da cabeça e diz a bênção. (A elevação de ambas as mãos parece ser imitação de costume reformado, introduzida no século XVII.)

Observação quando a velas e flores — É cos-tume luterano colocar sobre o altar duas velas de cera, uma em cada extremidade do altar, mais para a parte de trás da mensa. Deveríamos encontrar uma forma mais reverente de acender e apagar velas do que usar um palito de fósforo e assoprar. Velas novas devem ser acesas antes de colocadas sobre o altar, para evitar situações embaraçosas.

Flores cortadas ou mesmo potes de flores não deveriam ser colocados sobre o altar, apesar do uso generalizado. O altar não é banca de flores. Se flores forem colocadas, ao menos não deveriam tomar demais lugar nem tampar o crucifixo"4 Ideal é colocar flores sobre pedestais ao lado do altar.

Observações quanto às cores litúrgicas — As cores litúrgicas são a branca, a vermelha, a verde, a roxa, a preta. Seu significado é este: branca - cor da divindade, eternidade, manto do Cristo glorificado e dos anjos, perfeição, úbilo, pureza, vermelho - cor de fogo, fervor, sangue, mar-

tírrio, amor, vitoriosa verdade do ensino cristão baseado no sangue e na justiça de Cristo; verde - cor da vida e crescimento; cor dominante na natureza; roxo - cor de pranto e arrependimento; preto - ausência de cor, símbolo de morte.

A branca é usada no natal, na epifania, na quinta-feira santa quando há celebração da santa ceia, na época da páscoa, na festa da trindade, e todas as outras festas de Cristo (apresentação, anunciação, visitação, transfiguração). Também no dia de todos os santos, na dedicação e aniversário de igreja, dias de ações de graças e santos não mártires.

A vermelha é usada no pentecoste, festa da reforma e santos mártires.

A verde é usada na epifania e domingos após pentecoste.

A roxa é usada no advento e na quaresma. A preta é usada apenas na sexta-feira santa,

sendo outra alternativa nesse dia não usar para-mento nenhum.

Observações quanto às vestes litúrgicas - Sen-do algo que faz parte da tradição da igreja, a esco-lha da veste litúrgica deveria levar em conta qual dentre tantas tem mais história ou é usada há mais tempo. Nesta categoria se inscrevem a alba e a batina com sobrepeliz. A batina preta é fruto da Reforma, revelando influxo calvinista. Se é verdade que Lutero abandonou suas vestes de monge em 1524, passando a usar sua batina de doutor no culto público, também é verdade que ao mesmo tempo se continuou a usar a alba, como relatos da época muito bem atestam. A batina branca feita no mesmo estilo da preta (diferente apenas na cor) não tem tradição nenhuma; é inovação recente e não deveria ser incentivada. O uso de estolas, nas diversas cores litúrgicas, só é permitido a ministros ordenados, sendo costume usá-las sempre quando há celebração da santa ceia, mas não necessariamente em cultos sem santa ceia. Além de se preocupar com as vestes em si, o pastor deve evitar usar calças e sapatos brancos ou qualquer outra cor chamativa que contraste em demasia com as vestes litúrgicas.

NOTAS 1 Via de regra o pastor se aproxima do altar saindo da

sacristia, retornando à mesma no fim do culto. Em certos dias especiais (geralmente em dia de confirmação) a en-trada é feita em forma de processional. Neste caso deve-ria haver também a procissão de saída. Embora isso tal-vez não devesse se transformar em norma, poderíamos ter mais dessas procissões, em que pastor e coro entram pelo corredor durante o cantar do hino inicial. A procissão lembra que somos um povo em marcha.

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2 Corais devem ocupar seu lugar no "coro" da igreja, embora, é claro, nem todas as igrejas disponham desse local reservado aos cantores. É incompreensível que em muitas igrejas, mesmo havendo esse "coro", o coral se coloque diante do altar!

3 É muito importante cuidar da pontuação no terceiro artido do Credo: na santa igreja cristã - a comunhão dos santos. A comunhão dos santos é aposto de santa igreja cristã. Uma locução explica a outra. A pausa entre uma e outra desvincula as duas frases. Neste caso, pode-se inclusive estar alterando a teologia expressa no credo, pois, se comunhão não se refere à igreja, a que se refere então? Embora os livros simbólicos entendam "a comu-

nhão dos santos" como aposto de "santa igreja cristã", há aqueles que defendem o ponto-de-vista de que "co-munhão" seja uma referência à eucaristia, de vez que esta não é mencionada no Credo (note que o batismo é mencionado!). De qualquer forma, vale o princípio de que nossa leitura do texto revela nossa compreensão do mesmo!

4 É tradição luterana colocar sobre o altar, não uma cruz, e sim um crucifixo, apesar de a prática demonstrar que muitos pensam que exatamente o contrário é ver-dadeiro. O crucifixo aponta para a realidade concreta da encarnação. A cruz é uma espiritualização (docetismo?) que revela mais uma índole reformada.

LEITURAS PRÓPRIAS DO ANO ECLESIÁSTICO

Prof. Rudi Zimmer

SISTEMAS DE PERÍCOPES

Esboço histórico - A leitura pública da pala-vra de Deus tem sido parte do culto cristão desde o seu início. Este elemento foi herdado do culto na sinagoga. É possível que em certos lugares se fazia quatro leituras: Lei, Profetas, Epístola, Evangelho. Também é possível que, no início, se conhecia ape-nas o lectio continua (leitura contínua) e que, com a estruturação do ano eclesiástico e suas festas, sur-giu a lectio selecta. Aí está a origem de um sistema pericópico.

As leituras que aparecem na "Liturgia lutera-na" são conhecidas como "série histórica". Acredi-ta-se que Gregório Magno (A.D. 540-604) deu aca-bamento a este sistema de perícopes, que, por influência romana, acabou preponderando na igreja cristã ocidental. Carlos Magno (séc. VIII) também teve papel importante na difusão desse sistema. Lutero, ao contrário dos reformadores suíços, reteve as perícopes da série histórica, com ressalvas, como veremos a seguir.

Examinando essa série histórica, constata-se que nem sempre é possível descobrir algum nexo vertical (semelhança de tema entre epístola e evan-gelho) tampouco nexo horizontal (progressão de um domingo para outro). Em parte isto se deve ao fato de conservarmos apenas um fragmento da estrutura original, pois os reformadores retiveram apenas os textos dos domingos e dias festivos.

Seja como for, apesar de sua venerável idade, a série histórica não deveria ser venerada como "um maravilhoso monumento criado pela sabedoria da igreja antiga", muito menos algo intocável por ser (supostamente) inspirada por Deus. O próprio Lutero se posicionava criticamente na sua Formula Missae (1523), especialmente no que diz respeito as epístolas. No seu entender, estas parece terem sido escolhidas por um "insigne iletrado

e um supersticioso defensor das obras" (insigniter indoctus et superstitiosus operum ponderator), pois se destacam os textos parenéticos e raramente são lidos trechos que ensinam a fé. Concluindo, Lutero diz: "Caso no futuro a língua nacional vier a ser usada na missa (que Cristo o conceda!), então se deveria fazer o possível para que fossem lidas na missa epístolas e evangelhos tirados das melhores partes desses livros (ut Epistolae et Euangelia suis optimis et potioribus heis legantur in missa).

Na esteira desta sugestão, surgiram, no correr dos séculos, novas séries pericópicas. Muitas tiveram apenas penetração paroquial ou regional. Uma lista completa aparece no livro Biblical Texts de Paul W. Nesper (The Wartburg Press, c. 1952). Como exemplo citamos Thomasius (1865), Eise-nach (1896), Conferência Sinodal (1912).

Em tempos bem recentes, no luteranismo, houve por assim dizer dois desenvolvimentos: os europeus se empenharam em revisar a série histó-rica e os norte-americanos trabalharam num sistema trienal. Este último concorda em metade dos casos com o Ordo Lectionum Missae da igreja católica romana, fruto do Vaticano II e publicado em 1969. Na verdade, o Ordo romano serviu de base para o sistema trienal de episcopais, presbiterianos e, também, dos luteranos. O sistema trienal americano ficou pronto em 1973. Foi adotado pela The Lutheran Church Missouri Synod e também pela IELB (esta em 1982).

Para apreciar devidamente tanto a revisão das perícopes históricas quanto o sistema trienal, é importante conhecer os princípios norteadores em sua elaboração, dos quais se destacam os seguintes: - procurou-se reter um ano litúrgico cristocêntrico; - concordou-se em escolher textos evangélicos, centrados na boa nova;

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- levou-se em conta o aspecto querigmático ("este texto pode ser pregado?"); procurou-se refletir "todo o desígnio de Deus" (At 20.27), oferecendo uma maior variedade, propondo leituras tiradas de um número maior de livros; - perguntou--se até que ponto o texto se adapta à leitura; deu--se especial atenção ao interrelacionamento dos textos, ou seja: embora nem sempre os três textos abordem um tema único (a epístola geralmente segue um "caminho" próprio), ao menos um deles foi escolhido para reforçar o outro; neste sentido, há uma relativa harmonia temática entre a leitura do AT e o evangelho.

Além de tudo isso, o sistema trienal apresenta como vantagens a grande variedade, o incentivo da leitura de Antigo Testamento (talvez uma das grandes lacunas da série histórica, embora não seja de hoje o esforço por suprir um texto do AT para acompanhar epístola e evangelho), e a oportunidade de congregações e pregadores estudarem porções ou livros bíblicos inteiros em seu contexto

e numa seqüência (bom para pregações em série). Visando demonstrar este último aspecto,

vamos aos detalhes da série trienal. Num período de três anos se lê grande parte dos quatro evangelhos. O ano A apresenta 47 leituras de Mateus, 6 de Lucas e 16 de João; o ano B tem 37 textos de Marcos, 8 de Lucas, 3 de Mateus e 23 de João; e o ano C tem 52 leituras de Lucas, 3 de Mateus e 14 de João. No que diz respeito às epístolas, cinco recebem destaque no ano A: 1 Coríntios, 1 Pedro, Romanos, Filipenses, 1 Tessalonicenses; seis no ano B: 1 Coríntios, 1 João, 2 Coríntios, Efésios, Tiago, Hebreus; nove no ano C: Galatas, Colos-senses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Filemon, 2 Tessalo-nicenses, Apocalipse, 1 Coríntios, Hebreus). Do Antigo Testamento são lidos trechos substanciais de Isaías, Jeremias, Deuteronômio, Gênesis, Êxodo, Reis, Ezequiel, Números, Daniel, Provérbios.

Quanto ao uso, em 1985 será usada a série B, em 1986 a C, em 1987 a A, e assim por diante.

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LEITURAS PRÓPRIAS DO ANO ECLESIÁSTICO

DOMINGOS E FESTAS MAIORES Primeiro Domingo de Advento Lecionado Histórico

A. Sl 50.1-15 Is 2.1-5 Rm 13.11-14 Mt 24.37-44 ou Mt 21.1-11

Segundo Domingo do Advento Sl 105.1-7 A. Sl 72.1-14 (15-19) Ml 4.1-6 Is 11.1-10 Hb 12.25-29 Rm 15.4-13 Mc 13.19-27 Mt 3.1-12

Terceiro Domingo do Advento Sl 50.1-6 A. Sl 146 Is 40.1-8 Is 35.1-10 Rm 15.4-13 Tg 5.7-10 Mt 3.1-12 Mt 11.2-11

Quarto Domingo do Advento Sl 19.1-6 A. Sl 24 Jr 23.5-6 Is 7.10-14 (15-17) Fp 4.4-7 Rm 1.1-7 Lc 1.26-38 ou Lc 1.46-55 Mt 1.18-25

Lecionário Trienal B. Sl 98 C. Sl 25.1-9

Is 63.16b-17; 64.1-8 Jr 33.14-16 1 Co 1.3-9 1 Ts 3.9-13 Mc 13.33-37 Lc 21.25-36 ou Mc 11.1-10 ou Lc 19.28-40

B. Sl 19 C. Sl 126 Is 40.1-11 Ml 3.1-4 2 Pe 3.8-14 Fp 1.3-11 Mc 11-8 Lc 3.1-6

B. Lc 1.46b-55 C . Is 12.2-6 Is 61.1-3, 10-11 Sf 3.14-18a 1 Ts 5.16-24 Fp 4.4-7 (8-9) Jo 1.6-8, 19-28 Lc 3.7-18

B. Sl 98 C. Sl 96 2 Sm 7.(1-7) 8-11, 16 Mq 5.2-4 Rm 16.25-27 Hb 10.5-10 Lc 1.26-38 Lc 1.39-45 (46-55)

A Natividade de Nosso Senhor Sl 96.1-10 Is 9.2 (3-5) 6-7 Tt 2.11-14 Lc 2.1-20

O Primeiro Culto (A Véspera de Natal) A, B, C. Sl 96

Is 9.2-7 Tt 2.11-14 Lc 2.1-20

A Natividade de Nosso Senhor Sl 98.1-7 Ez 37.24-28 Tt 3.4-8a Jo 1.1-14

O Segundo Culto (A Aurora de Natal) A, B, C. Sl 2

Is 52.7-10 Hb 1.9-9 Jo 1.1-14

Sl 25.1-7 Is 62.10-12 Rm 13.10-14a Lc 19.29-38

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A Natividade de Nosso Senhor Sl 98.1-7 Mq 5.2-4 Hb 1.1-6 Lc 2.1-20

O Terceiro Culto (O Dia de Natal) A, B, C. Sl 98

Is 62.10-12 Tt 3.4-7 Lc 2.1-20

Primeiro Domingo depois de Natal Sl 111 A. Sl 111 Is 63.7-9 Is 63.7-9 1 Co 1.(18-20) 21-25 Gl 4.4-7 Lc 2.25-38 Mt 2.13-15, 19-23

B. Sl 111 Is 45.22-25 Cl 3.12-17 Lc 2.25-40

Sl 111 Jr 31.10-13 Hb 2.10-18 Lc 2.41-52

Segundo Domingo depois de Natal Sl 148 I Sm 2.1-10 I Jo 5.11-13 Lc 2.39-52

A,B,C. Sl 147.12-20 Is 61.10-62.3 Ef 1.3-6,15-18 Jo 1.1-18

A Epifania de Nosso Senhor Sl 72.1-11 Is 60.1 (2-4) 5-6 Ef 3.1-12 Mt 2.1-12

A,B,C. Sl 72 Is 60.1-6 Ef 3.2-12 Mt 2.1-12

O Batismo de Nosso Senhor - Primeiro Domingo depois da Epifania Sl 45.2-7 A. Sl 92.1-5 B. Sl 67 Is 61.1-3 Is 49.1-6 1 Sm 3.1-10 Tg 1.17-18 1 Co 6.1-9 1 Co 6.12-20 Jo 2.1-11 Jo 1.29-41 Jo 1.43-51

C. Sl 36.5-10 Is 62.1-5 1 Co 12.1-11 Jo 2.1-11

Segundo Domingo depois da Epifania Sl 36.5-10 A. Sl 92.1-5 B. Is 61.1-3 Is 49.1-6 Tg 1.17-18 I Co 6.1-9 Jo 2.1-11 Jo 1.29-41

Sl 67 1 Sm 3.1-10 1 Co 6.12-20 Jo 1.43-51

Sl 36.5-10 Is 62.1-5 1 Co 12.1-11 Jo 2.1-11

Terceiro Domingo depois da Epifania Sl 18.1-6 A. Sl 27.1-9 B. Jr 9.23-24 1 Co 9.19-27 Mt 20.1-16

Sl 62.5-12 Jn 3.1-5,10 1 Co 7.29-31 Mc 1.14-20

C. Sl 146 Is 61.1-6 1 Co 12.12-21,26-27 Lc 4.14-21

Quarto Domingo depois da Epifania Sl 126 A. Sl l B. Am 8.11-12 Mq 6.1-8 Hb 4.12-13 1 Co 1.26-31

Quinto Domingo depois da Epifania Sl 121 A. Sl 119.17-24 B. Is 49.1-6 Is 58.5-9a Rm 1.16-17 1 Co 2.1-5 Mt 8.23-27 Mt 5.20-37

Sexto Domingo depois da Epifania Sl 92.1-7 A. Sl 119.1-16 B. Ex 15.1-13 (14-18) Dt 30.15-20 Ef 1.15-23 1 Co 2.6-13 Mt 8.23-27 Mt 5.20-37

Sl l Dt 18.15-20 Mc 1.21-28

Sl 147.1-12 Jó 7.1-7 1 Co 9.16-23 Mc 40-45

Sl 32 2 Rs 5.1-14 1 Co 9.24-27 Mc 1.40-45

C. Sl 36 Jr 1.4-10 Lc 4.21-32

C. Sl 136 Is 6.1-8 (9-13) 1 Co 14.12b-20 Lc 6.17-26

C. Sl 1 Jr 17.5-8 1 Co 15.12,16-20 Lc 6.17-26

Is 9.1-4 ou Am 3.1-8 1 Co 1.10-17 Mt 4.12-23

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Sétimo Domingo depois da Epifânia Sl l A. Sl 103.1-13 B. Sl 130 Dt 7.6-9 Lv 19.1-2, 17-18 Is 43.18-25 1 Co 1.4-9 1 Co 3.10-11, 16-23 2 Co 1.18-22 Mt 13.24-30 (36-43) Mt 5.38-48 Mc 2.1-12

C. Sl 103.1-13 Gn 45.3-8a, 15 1 Co 15.35-38a, 42-50 Lc 6.27-38

Oitavo Domingo depois da Epifânia Sl 34.17-22 A. Sl 62 Is 50.4-7 (8-9) Is 49.13-18 1 Co 13.1-13 1 Co 4.1-13 Mc 8.31-38 Mt 6.24-34

B. Sl 103.1-13 Os 2.14-16 (17-18)

19-20 2 Co 3.1b-6 Mc 2.18-22

C. Sl 92 Jr 7.1-7 (8-15) 1 Co 15.51-58 Lc 6.39-49

Sl 84.1-10 Ex 24.4b-18 2 Pe 1.16-21 ou 2 Co 4.6-10 Lc 9.28-36

A. Sl 2.6-12 Ex 24.12, 15-18 2 Pe 1.16-19 (20-21) Mt 17.1-9

B.Sl 50.1-6 2 Rs 2.1-12c 2 Co 3.12-4.2 Mc 9.2-9

C.Sl 77 Dt 34.1-12 2 Co 4.3-6 Lc 9.28-36

Quarta-Feira de Cinzas Sl 51.1-13 Is 59.12-20 2 Co 5.19-6.2 Mt 11.20-30

A,B, C. Sl 51.1-13 Jl 2.12-19 2 Co 5.20b-6.2 Mt 6.1-6, 16-21

Primeiro Domingo de Quaresma Sl 91.9-16 A. Sl 130 B. Sl 6 Gn 3.1-19 Gn 2.7-9, 15-17; 3.1-7 Gn 22.1-18 Hb 4.14-16 Rm 5.12(13-16) 17-19/ Mc 1.12-15 Mt 4.1-11

C. Sl 91 Dt 26.5-10 Lc 4.1-13

Segundo Domingo de Quaresma Sl 27.7-14 A. Sl 105.4-11 B. Sl 142 C. Sl 4 Is 5.1-7 Gn 12.1-8 Gn 28.10-17 (18-22) Jr 26.8-15 Rm 5.6-11 Rm 4.1-5, 13-17 Rm 5.1-11 Fp 3.17-4.1 Mc 121-12 Jo 4.5-26 (27-30, 39-42)

Sl 90.1-12 Jr 20.7-12 Rm 12.1-2 ou Ef 5.1-2, 6-9 Lc 9.51-62

A. Sl 142 Is 42.14-21 Ef 5.8-14 Jo 9.1-41 ou Jo 9.13-17, 34-39

B. Sl 19.7-14 Ex 20.1-17 1 Co 1.22-25 Jo 2.13-22

C. Sl 126 Ex 3.1-8a, 10-15 1 Co 10.1-13 Lc 13.1-9

Quarto Domingo de Quaresma Sl 146 A. Sl 138 Is 55.1-7 Os 5.15-6.2 At 2.41a, 42-47 Rm 8.1-10 Jo 6.1-14 (15) Mt 20.17-28

B. Sl 27.1-6 (7-14) Nm 21.4-9 Ef 2.4-10 Jo 3.14-21

C. Sl 32 Is 12.1-6 1 Co 1.18-31 ou 1 Co 1.18,22 Lc 15.1-3,11-32

A Transfiguração de Nosso Senhor - Último Domingo depois da Epifânia

Terceiro Domingo de Quaresma

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Quinto Domingo de Quaresma Sl 143.1-10 A. Sl 116.1-9 B. Sl 51.10-15 C. Sl 28.1-3,6-9 Gn 18.20-2 l,22b-33 Ez 37.1-3(4-10) Jr 31.31-34 Is 43.16-21 Hb 9. 15-22 11-1 Hb 5.7-9 Fp 3.8-14 ou Rm 5.1-5 Rm 8.11-19 Jo 5.7-9 Fp 3.8-14 Mc 10.32-45 Jo 11.1-53 ou Jo 11.47-53

Domingo de Ramos - Domingo da Paixão Sl 24 A. Sl 92 B. Sl 92 C. Sl 92 Is 52.13-53.4 Is 50.4-9b Zc 9.9-10 Dt 32.36-39 ou Zc 9.9-12 Fp 2.5-11 Fp 2.5-11 Fp 2.5-11 Fp 2.5-11 Mt 26.1-27.66 Mc 14.1-15.47 Lc 22.1-23.56 Jo 12.12-24 ou Mt 27.11-54 ou Mc 15.1-39 ou Lc 23.149 ou Mt 21.1-9

Segunda-Feira da Semana Santa Sl 36.5-10 A,B,C. Sl 36.5-10 Jr 17.13-17 Is 42.1-9 Is 50.5-10 Hb 9.11-15 Jo 12.1-23 Jo 12.1-11

Terça-Feira da Semana Santa Sl 28 A,B,C. Sl 18.1-7,17-20 Lm l.11,12-17,20-21a Is 49.1-6 Hb 9.16-28 1 Co 1.18-25 Jo 12.24-43 Jo 12.20-36

Quarta-Feira da Semana Santa Sl 25.14-20 A,B,C. Sl 18.21-30 Jr 15.15-21 Is50.4-9b Is 62.11; 63.1-7 Rm 5.6-11 Lc 22.1-23.42 Mt 26.14-25

Quinta-Feira Santa ou Endoenças Sl 116.12-19 A. Sl 116.12-19 B. Sl 116.12-19 C. Sl 116.12-19 Ex 12.1-14 Ex 12.1-14 Ex 24.3-ll Jr 31.31-34 1 Co 11.23-32 1 Co 11.17-32 1 Co 10.16-17 Hb 10.15-39 ou 1 Co 11.17-32 ou 1 Co 11.23-36 (18-21) Lc 22.7-20 Jo 13.1-15 Jo 13.1-17,34 Mc 14.12-26

Sexta-Feira da Paixão Sl 22.1-11 A,B,C. Sl 22.1-24 Is 53.4-12 Is 52.13-53.12 ou Os 6.1-6 ou Os 6.1-6 2 Co 5.14-21 Hb 4.14-16; 5.7-9 ou Hb 5. (1-6)7-9 Jo 18.1-19.42 Jo 18.1-19.42 ou Jo 19.17-30

A Ressurreição de Nosso Senhor — A Véspera da Páscoa Dn 3.1,3-9,12-29 l Pe 3.17-22 Mt 27.57-66

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A Ressurreição de Nosso Senhor — O Dia da Páscoa 1. Sl 118.19-29 A. Sl 118.1-2,15-24 B. Sl 118.1-2,15-24 C. Sl 118.1-2,15-24

Dn 3.8-25 At 10.34-43 Is 25.6-9 Ex 15.1-11 1 Co 15.55-58 Q 3.1-4 1 Co 15.19-28 ou Sl 118.14-24

Mt 28.1-10 Jo 20.1-9 (10-18) Mc 16.1-8 1 Co 15.1-11 2. Sl 118.19-29 ou Mt 28.1-10 ou Jo 20.1-9(10-18) Lc 24.1-11

Dn 12.1c-3 ou Jo 20.1 -9 (10-18) Cl 3.1-4 ou 1 Co 5.6-8

3. Sl 118.19-29 Jn 2.2-9 1 Co 15.12-20 ou At 10.34-43 Jo 20.1-9 (10-18) ou Lc 24.33-49

A Ressurreição de Nosso Senhor — A Noite da Páscoa Sl 8 A, B, C. Sl 146 1 Co 15.(1-9) 26, 51-58 Dn 12.1c-3 Jo 11.17-27 ou Jn 2.2-9

1 Co 5.6-8 Lc 24.13-49

Segundo Domingo da Páscoa Sl 16 A. Sl 105.1-7 B. Sl 148 C. Sl 100 Ez 37.1-14 At 2.14a, 22-32 At 3.13-15, 17-26 At 5.12, 17-32 1 Pe 1.3-9 1 Pe 1.3-9 1 Jo 5.1-6 Ap 1.4-18 Jo 20.19-31 Jo 20.19-31 Jo 20.19-31 Jo 20.19-31

Terceiro Domingo da Páscoa Sl 22.22-31 A. Sl 16 B. Sl 139.1-12 C. Sl 28.1-2.6-9 Is 40.25-31 At 2.14a, 36-47 At 4.8-12 At 9.1-20 1 Jo 5.1-13 l Pe 1.17-21 1 Jo 1.1-2.2 Ap 5.11-14 Jo 15.1-8 Lc 24.13-35 Lc 24.36-49 Jo 10.22-30

Quarto Domingo da Páscoa Sl 23 A. Sl 23 B. Sl 23 C. Sl 23 Ez 34.11-16 At 6.1-9; 7.2a, 51-60 At 4.23-33 At 13.15-16a, 26-33 1 Pe 2.21b-25 1 Pe 2.19-25 1 Jo 3.1-2 Ap 7.9-17 Jo 10.11-16 Jo 10.1-10 Jo 10.11-18 Jo 10.22-30

Quinto Domingo da Páscoa Sl 65.1-8 A. Sl 146 B. Sl 22.25-31 C. Sl 110 1 Cr 16.23-31 At 17.1-15 At 8.26-40 At 13.44-52 Cl 3.12-17 l Pe 2.4-10 1 Jo 3.18-24 Ap 21.1-5 Jo l6.4b-15 Jo 14.1-12 Jo 15.1-8 Jo 13.31-35

Sexto Domingo da Páscoa Sl 67 A. Sl 98 B. Sl 98 C. Sl 67 Is 55.6-11 At 17.22-31 At 11.19-30 At 14.8-18 1 Tm 2.1-8 1 Pe 3.15-22 1 Jo 4.1-11 Ap 21.10-14, 22-23 Jo l6.23b-33 Jo 14.15-21 Jo 15.9-17 Jo 14.23-29

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A Ascensão de Nosso Senhor Sl 110 Is 45.18-25 ou Dn 7.13-14 At 1.1-11 ou Ef 4.7-13 Mt 28.16-20

A, B, C. Sl 110 At 1.1-11 Ef 1.16-23 Lc 24.44-53

Sétimo Domingo da Páscoa Sl 8 A. Sl 133 B. Sl 133 Ez 36.24-27 At 1.(1-7) 8-14 At 1.15-26 Ef 3.14-21 l Pe 4.12-17; 5.6-11 1 Jo 4.13-21 Jo 15.26-16.4 Jo 17.1-11 Jo l7.11b-19

C. Sl 133 At 16.6-10 Ap 22.12-17, 20 Jo 17.20-26

Pentecoste — A Véspera de Pentecoste Jl 3.1-5 Rm 8.12-17 Jo 14.15-21

A, B, C. Sl 98 Êx 19.1-9 ou At 2.1-11 Jo 7.37-39a

Pentecoste — O Dia de Pentecoste 1. Sl 139.1-12 Jl 2.28-29 At 2.1-8(9-11) 12-18 Jo 14.23-27 2. Sl 139.1-12

At (19-20) 21-24 (25-31) 32-33(34-35)36-42 1 Co 12.4-11 Jo 3.16-21

B. Sl 143 Ez 37.1-14 At 2.22-36 Jo 7.37-39a

C. Sl 143 Gn 11.1-9 At 2.37-47 Jo 15.26-27; 16.4b-ll

Pentecoste — A Noite de Pentecoste Ez 36.22-28 Ap 21.1-5 Mt 28.16-20

Sl 148 Is 6.1-8 Ef 1.3-14 Jo 3.1-8 ou Mt 28.16-20

A. Sl 135 Gn 1.1-2.3 ou Dt 4.32-34, 39-40 2 Co 13.11-14 Mt 28.16-20

B. Sl 96 Dt 6.4-9 Rm 8.14-17 Jo 3.1-17

C. Sl 8 Pv 8.22-31 Rm 5.1-5 Jo 16.12-15

Segundo Domingo depois de Pentecoste Sl 62.5-12 A. Sl 4 Êx 20.1-17 1 Jo 3.11-18 Lc 16.19-31

Terceiro Domingo depois de Pentecoste Sl 117 A. Sl 119.65-72 Dt 8.11-20 Os 5.15-6.6 ou Zc 1.3-6 Rm 4.18-25 Ef 2.13-22 Mt 9.9-13 ou Ap 3.14-22 Lc 14.15-24

B. Sl 142 Dt 5.12-15 2 Co 4.5-12 Mc 2.23-28

B. Sl 28 Gn 3.9-15 2 Co 4.13-18 Mc 3.20-35

C. Sl 117 1 Rs 8.(22-23, 27-30)

41-43 Gl 1.1-10 Lc 7.1-10

C. Sl 116.1-9 1 Rs 17.17-24 Gl 1.11-24 Lc 7.11-17

A. Sl 143 Jl 2.28-29 At 2.1-21 Jo 16.5-11

A Santíssima Trindade — Primeiro Domingo depois de Pentecoste

Dt 11.18-21, 26-28 Rm 3.21-25a, 27-28 Mt 7. (15-20)21-29

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Quarto Domingo depois de Pentecoste Sl 100 A. Sl 100 Mq 7.18-20 Êx 19.2-8a 1 Tm 1.12-16 Rm 5.6-11 Lc 15.11-32 Mt 9.35-10.8

Quinto Domingo depois de Pentecoste Sl 138 A. Sl 91 Gn 50.15-21 Jr 20.7-13 Rm 12.14-21 Rm 5.12-15 Lc 6.36-42 Mt 10.24-33

B. Sl 92.1-5 (6-11) 12-15

Ez 17.22-24 2 Co 5.1-10 Mc 4.26-34

B. Sl 107.1-3, 23-32 Jó 38.1-11 2 Co 5.14-21 Mc 4.35-41

C. Sl 32 2 Sm 11.26-12.10,

13-15 Gl 2.11-21 Lc 7.36-50

C. Sl 119.41-48 Zc 12.7-10 Gl 3.23-29 Lc 9.18-24

Sexto Domingo depois de Pentecoste Sl 147-1-14 A. Sl 119.153-160 Lm 3.22-26 Jr 28.5-9 ou Êx 3.1-15 Rm 6.1b-ll 1 Pe 2.4-10 Mt 10.34-42 Lc 5.1-ll

B. Sl 121 Lm 3.22-33 2 Co 8.1-9, 13-14 Mc 5.21-24a, 35-43 ou Mc 5.24b-34

C. Sl 16 1 Rs 19.14-21 Gl 5.1, 13-25 Lc 9.51-62

Sétimo Domingo depois de Pentecoste Sl 107.1-9 Is 43.1-7 ou Jr 17.9-13 Rm 6.1-11 Jo 4.5-15 (16-26)

B. Sl 143.1-2, 5-8 Ez 2.1-5 2 Co 12.7-10 Mc 6.1-6

C. Sl 19 Is 66.10-14 Gl 6.1-10, 14-16 Lc 10.1-12,16 (17-20)

Oitavo Domingo depois de Pentecoste Sl 139.14-18 A. Sl 65 Êx 16.2-3, 11-18 Is 55.10-11 At 2.41-47 Rm 8.18-25 Jo 6.1-15 Mt 13.1-9 (18-23)

Nono Domingo depois de Pentecoste Sl 1 A. Sl 119.57-64 Gn 12.1 -4a (4b-7) Is 44.6-8 Gl 5.16-25 Rm 8.26-27 Mt 5.13-16 Mt 13.24-30 (36-43)

Décimo Domingo depois de Pentecoste Sl 119.105-112 Êx 32.1-7 (8-14) 15-20(30-34) Fp 3.7-11 Mt 25.14-30

B. Sl 126 Am 7.10-15 Ef 1.3-14 Mc 6.7-13

B. Sl 23 Jr 23.1-6 Ef 2.13-22 Mc 6.30-34

B. Sl 136.1-9, 23-26 Êx 24.3-11 Ef 4.1-7,11-16 Jo 6.1-15

C. Sl 25.1-10 Dt 30.9-14 Cl 1.1-14 Lc 10.25-37

C. Sl 27 Gn l8.1-10a (10-14) Cl 1.21-28 Lc 10.38-42

C. Sl 138 Gn 18.20-32 Cl 2.6-15 Lc 11.1-13

Décimo-primeiro Domingo depois de Pentecoste Sl 73.25-28 A. Sl 136.1-9, 23.26 Dn 9.15-18 Is 55.1-5 Rm 9.1-5; 10.1-4 Rm 8.35-39 Lc 19.41-48 Mt 14.13-21

B. Sl 119.89-104 Êx 16.2-15 Ef 4.17-24 Jo 6.24-35

C. Sl 100 Ec 1.2; 2.18-26 Cl 3.1-11 Lc 12.13-21

Décimo-segundo Domingo depois de Pentecoste Sl 138 A. Sl 28 B. Sl 34.1-8 2 Cr 1.7-12 1 Rs 19.9-10 1 Rs 19.4-8 1 Pe 5.5b-ll Rm 9.1-5 Ef 4.30-5.2 Lc 18.9-14 Mt 14.22-33 Jo 6.41-51

C. Sl 50 Gn 15.1-6 Hb 11.1-3,8-16 Lc 12.32-40

A. Sl 119.137-144 Zc 9.9-12 Rm 7.15-25a Mt 11.25-30

A. Sl 119.129-136 1 Rs 3.5-12 Rm 8.28-30 Mt 13.44-52

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Décimo-terceiro Domingo depois de Pentecoste Sl 146 A. Sl 67 B. Sl 34.9-14 Is 29.18-21 Is 56.1, 6-8 Pv 9.1-6 2 Co 12.6-10 Rm 11.13-15,29-32 Ef 5.15-20 Mc 7.31-37 Mt 15.21-28 Jo 6.51-58

C. Sl 119.81-88 Jr 23.23-29 Hb 12.1-13 Lc 12.49-53

Décimo-quarto Domingo depois de Pentecoste Sl 142 A. Sl 138 Gn 4. (1-7) 8-16a Êx 6.2-8 1 Jo 4.7-11 Rm 11.33-36 Lc 10.25-37 Mt 16.13-20

B. Sl 34.15-22 Js 24.1-2a, 14-18 Ef 5.21-31 Jo 6.60-69

C. Sl 117 Is 66-18-23 Hb 12.18-24 Lc 13.22-30

Décimo-quinto Domingo depois de Pentecoste Sl 107.17-22 A. Sl 119.105-112 B. Gn 28.10-19a Jr 15.15-21 Rm 8.12-17 Rm 12.1-8 Lc 17.11-19 Mt 16.21-26

Décimo-sexto Domingo depois de Pentecoste Sl 4 A. Sl 119.113-120 B. 1 Rs 17.8-16 Ez 33.7-9 2 Co 6.1-10 Rm13.1-10 Mt 6.25-33 Mt 18.15-20 ou Jo 11.17-27

Décimo-sétimo Domingo depois de Pentecoste Sl 116.1-9 A. Sl 103.1-13 B. 1 Rs 17.17-24 Gn 50.15-21 1 Co 15.1-11 Rm 14.5-9 Lc 7.11-16 Mt 18.21-35 ou Jo 11.17-27

Sl 146 Is 3 5.4-7a Tg 1.17-22 (23-25)

26-27 Mc 8.27-35

Sl 116.1-9 Is 50.4-10 Tg 2.1-5, 8-10, 14-18 Mc 8.27-35

C. Sl 119.169-176 Pv 9.8-12 Fm 1(2-9) 10-21 Lc 15.1-10

C. Sl 51.1-17 Êx 32.7-14 1 Tm 1.12-17 Lc 15.1-10

Décimo-oitavo Domingo depois de Pentecoste Sl 116.12.-19 A. Sl 27.1-9 B. Sl 119.25-32 C. Sl 119.33-40 Gn 8.18-22 Is 55.6-9 Jr 11.18-20 Am 8.4-7 Gl 3.26-28 Fp 1.1-5 (6-11) 19-27 Tg 3.16-4.6 1 Tm 2.1-8 Mt 26.26-29 Mt 20.1-16 Mc 9.30-37 1x16.1-13

Décimo-nono Domingo depois de Pentecoste Sl 103.1-14 A. Sl 25.1-10 Dt 6.4-15 Ez 18.1-4, 25-32 Rm 13.1-10 Fp 2.1-5 (6-11) Mc 12.28-34 Mt 21.28-32 ou Mt 22.34-40

B. Sl 135.1-7, 13-14 Nm 11.4-6, 10-16,

24-29 Tg 4.7-12 (13-5.6) Mc 9.38-50

C. Sl 146 Am 6.1-7 1 Tm 6.6-16 Lc 16.19-31

Vigésimo Domingo depois de Pentecoste Sl 32.1-7 A. Sl 118.19-24 Êx34.4a-10 Is 5.1-7 Ef 4.22-30 Fp 3.12-21 Mc 2.1-12 Mt 21.33-43

B. Sl 119.49-56 Gn 2.18-24 Hb 2.9-11 (12-18) Mc 10.2-16

C. Sl 62 Hc 1.1-3; 2.1-4 2 Tm 1.3-14 Lc 17.1-10

Vigésimo-primeiro Domingo depois de Pentecoste Sl 34.1-8 A. Sl 23 Êx 33.17-23 Is 25.6-9 Rm 10.9-17 Fp 4.4-13 Mt 15.21-28 Mt 22.1-10(11-14)

B. Sl 119.73-80 Am 5.6-7, 10-15 Hb 3.1-6 Mc 10.17-27(28-30)

C. Sl 111 Rt l.l-19a 2 Tm 2.8-13 Lc 17.11-19

Sl 119.129-136 C. Sl 119.161-168 Dt 4.1-2, 6-8 Pv 25.6-7 Ef 6.10-20 Hb 13.1-8 Mc 7.1-8, 14-15, 21-23 Lc 14.1,7-14

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Vigésimo-segundo Domingo depois de Pentecoste Sl 119.1-8 A. Sl 96 B. Sl 91.9-16 Js 24.1-2a, 14-18 Is 45.1-7 Is 53.10-12

(22-28) 1 Ts l.l-5a Hb 4.9-16 At 4.23-31 Mt 22.15-21 Mc 10.35-45 Mt 5.38-48

C. Sl 121 Gn 32.22-30 2 Tm 3.14-4.5 Lc 18.1-8a

Vigésimo-terceiro Domingo depois de Pentecoste Sl 51-10-17 A. S11 B. Sl 126 Mq 6.6-8 Lv 19.1-2, 15-18 Jr 31.7-9 At 6.1-7 l Ts l.5b-10 Hb 5.1-10 Mc 12.41-44 Mt 22.34-40(41-46) Mc 10.46-52

C. Sl 34 Dt 10.12-22 2 Tm 4.6-8, 16-18 Lc 18.9-14

Sl 46 Êx 14.10, 26-31 Cl 1.9-14 (15-23) Mc 4.35-41

A. Sl 84.1-7 Am 5.18-24 1 Ts 4.13-14

(15-18) Mt 23.37-39 ou Mt 25.1-13

B. Sl 119.121-128 Dt 6.1-9 Hb 7.23-28 Mc 12.28-34(35-37)

C. Sl 119.145-152 Êx 34.5-9 2 Ts 1.1-5, 11-12 Lc 19.1-10

Vigésimo-quinto Domingo depois de Pentecoste A. Sl 90.13-17 Os 11.1-4, 8-9 l Ts 5.1-11 Mt 24.3-14 ou Mt 25.14-30

B. Sl 107.1-3, 33-43 1 Rs 17.8-16 Hb 9.24-28 Mc 12.41-44

C. Sl 148 1 Cr 29.10-13 2 Ts 2.13-3.5 Lc 20.27-38

Sl 114 Êx 32.1-6 (7-14) 15-20 Rm 14.7-11 Mt 14.7-11 ou Lc 17.20-24 (25-30)

A. Sl 90.1-12 Jó 14.1-6 ou Ml 2.1-2, 4-10 l Ts 3.11-13 ou l Ts 2.8-13 Mt 24.15-28 ou Mt 23.1-12

B. Sl 16 Dn 12.1-3 Hb 12.26-29 ou Hb 10.11-18 Mc 13.1-13

C. Sl 98 Êx 32.15-20 ou M1 4.1-2a 2 Ts 3.1-5 ou 2 Ts 3.6-13 Lc 17.20-30 ou Lc 21.5-19

Sl 143.1-10 Jr 8.4-7 Rm 8.18-23 (24-25) Mt 25.31-46

A. Sl 105.1-7 Jr 25.30-32 ou Jr 26.1-6 l Ts 1.3-10 ou l Ts 3.7-13 Mt 25.31-46 ou Mt 24.1-14

B. Sl 111 Dn 7.9-10 Hb 12.1-2 ou Hb 13.20-21 Mc 13.24-31

C. Sl 92.1-8 Jr 8.4-7 ou Is 52.1-6 2 Co 5.1-10 ou l Co 15.54-58 Lc 19.11-27

Sl 130 Is 65.17-25 2 Pe 3.3-4, 8-10a, 13 ou Ap 21.2-7 Mt 25.1-13

A. Sl 130 ou Sl 100 Is 65.17-25 ou Ez 34.11-16, 23-24 2 Pe 3.3-4, 8-10a, 13 ou 1 Co 15.20-28 Mt 25.1-13 ou Mt 25.31-46

B. Sl 130 Is 51.4-6 ou Dn 7.13-14 Jd 20-25 ou Ap 1.4b-8 Mc 13.32-37 ou Jo 18.33-37

C. Sl 130 Ml 3.14-18 ou Jr 23.2-6 Ap 22.6-13 ou Cl 1.13-20 Lc 12.42-48 ou Lc 23.35-43

Vigésimo-quarto Domingo depois de Pentecoste

Sl 2 Ez 33.10-16 Gl 1.6-9 Mt 13.44-52

Antepenúltimo Domingo depois de Pentecoste

Penúltimo Domingo depois de Pentecoste

Último Domingo do Ano Eclesiástico — Domingo do Cumprimento

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FESTAS MENORES

Comemoração dos Apóstolos de Nosso Senhor Santo André Sl 139.1-10 Dt 30.11-14 Rm 10.8-18 Mt 4.18-22

30 de novembro A, B, C. Sl 19.1-6

Ez 3.16-21 Rm 10.10-18 Jo 1.35-42

São Tomé — 21 de dezembro Sl 139.1-4, 17-18, 23-24 Hc 2.1-4 Ef 1.3-6 Jo 20.24-31

A,B, C. Sl 136.1-4, 23-26 Jz 6.36-40 Ef 4.11-16 Jo 14.1-7

A Confissão de São Pedro Sl 23 At 2.22-24, 32-33 1 Pe 1.3-9 Mt

18 de janeiro A,B, C. Sl 18.1-7, 16-19

At 4.8-13 1 Co 10.1-5 Mt 16.13-19

A Conversão de São Paulo — 25 de janeiro Sl 67 Jr 1.4-10 At 9.1-22 Mt 19.27-30

A, B, C. Sl 67 At 9.1-22 Gl 1.11-24 Lc 21.10-19

São Matias — 24 de fevereiro Sl 16 At 1.15-26 1 Jo 2.15-17 Mt 11.25-30

São Filipe e São Tiago — 1,° de maio Sl 25.1-10 Ml 3.16-18 Ef 2.19-22 Jo 14.1-14

São Barnabé -11 de junho Sl 67 Is 60.1-5 At 11.19-30; 13.1-3 Mc 6.7-13

São Pedro e São Paulo - 29 de junho Sl 46 Ez 34.11-16 At 12.1-11 Mt 16.13-20

A, B, C. Sl 133 Is 66.1-2 At 1.15-26 Lc 6.12-16

A, B, C. Sl 36.5-10 Is 30.18-21 2 Co 4.1-6 Jo 14.8-14

A,B,C. Sl 135.1-7 Is 42.5-12 At 11.19-30; 13.1-3 Mt 10.5-16

A,B,C. Sl 18.25-32 Êx 34.11-16 1 Co 3.16-23 Mc 8.27-35

São Tiago, o Maior - 25 de julho Sl 16 1 Rs 19.9-18 Rm 8.28-39 Mt 20.20-28

A,B,C. Sl 103.19-22 1 Rs 19.9-18 At 11.27-12.3a Mc 10.3545

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São Bartolomeu - 24 de agosto Sl 121 A,B,C. Sl 119.73-80 Dt 32.1-4 Jr 26.(1-6)7-16 1 Pe 1.3-9 1 Jo 4.1-6 Jo 15.17-21 Jo 14.21-27

Comemoração dos Evangelistas São João - 27 de dezembro Sl 92.1-4,12-15 A,B,C. Sl 116.12-19 Os 11.1-4 Gn 1.1-5,26-31 1 Jo 1.1-10 2 Jo 1.1-2.2 Jo 21.20-24 Jo 21.20-25

São Marcos - 25 de abril Sl 146 A,B,C. Sl 146 Is 55.1-5 Is 52.7-10 Ef 4.7-16 2 Tm 4.6-11, 18 Lc 10.1-9 Mc 1.1-15

São Mateus - 21 de setembro Sl 119.33-40 A,B,C. Sl 119.33-40 Pv 3.1-6 Ez 2.8-3.11 Ef 4.7-16 Ef 2.4-10 Mt 9.9-13 Mt 9.9-13

São Lucas - 18 de outubro Sl 147.1-7 A,B,C. Sl 138 Is 35.5-8 Is 43.8-3 ou Is 35.5-8 2 Tm 4.5-15 2 Tm 4.5-11 Lc 10.1-9 Lc 1.1-4; 24.44-53

Véspera do Ano Novo, Véspera do Nome de Jesus - 31 de dezembro Sl 8 Is 51.1-6 Rm 8.31-39 Mt 1.18-21

Dia do Ano Novo, A Círcuncisão de Nosso Senhor -1.° de janeiro Sl 116 A, B, C. Sl 8 Gn 17.1-4 Nm 6.22-27 Gl 3.23-29 Rm 1.1-7 ou Fp 2.9-13 Lc 2.21 Lc 2.21

Comemoração de Pastores e Confessores São Timóteo - 24 de janeiro São Tito - 26 de janeiro

A,B,C. Sl 84 Ex 34.11-16 ou At 20.17-35 l Pe 5.1-4 ou Ef 3.14-21 Jo 21.15-17 ou Mt 24.42-47

Comemoração dos Fiéis Adormecidos - 2 de novembro Sl 34.1-9 Is 35.3-10 2 Pe 3.8-14 Jo 5.24-29

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A Apresentação de Nosso Senhor - 2 de fevereiro Sl 84 A,B,C. Sl 84 Ml 3.1-4 1 Sm 1.21-28 Hb 2.14-18 Hb 2.14-18 Lc 2.22-32 Lc 2.22-40

A Anunciação de Nosso Senhor - 25 de março Sl 45 A,B,C. Sl 45 Is 7.10-14 Is 7.10-14; 8.10c Hb 10.5-10 1 Tm 3.16 Lc 1.25-38 Lc 1.25-38

A Visitação - 31 de maio

Sl 138 A,B,C. Sl 138Sf 3.14-17 Is 11.1-5 Is 11.1-5 Rm 12.9-16 Lc 1.39-56 Lc 1.39-47

A Natividade de São João Batista - 24 de junho

Sl 141 A,B,C. Sl 141 Ml 3.1-4 Ml 3.1-4 Is 40.1-5 At 13.13-26 Lc 1.57-80 Lc 1.57-67 (68-80)

Apresentação da Confissão de Augsburgo - 25 de junho

Comemoração dos Doutores da Igreja Martinho Lutero -18 de fevereiro C. F. W. Walther - 7 de maio Sl 46 Is 55.6-11 Rm 10.5-17 Jo 15.1-11

Comemoração de Mulheres Santas Santa Maria Madalena - 22 de julho Sl 73.23-28 Rt 1.6-18 2 Co 5.14-18 Jo 20.1-2,11-18

A,B,C. Sl 73.23-28 Rt 1.6-18 ou Ex 2.1-10 At 13.26-33a Jo 20.1-2, 11-18

Santa Maria, Mãe de Nosso Senhor -15 de agosto Sl 34.1-9 A,B,C. Sl 45.10-15 Is 61.10-11 Is 61.7-11 Gl 4.4-7 Gl 4.4-7 Lc 1.46-55 Lc 1.46-55

Dia da Santa Cruz -13 de setembro A,B,C. Sl 98.1-5

Is 45.21-25 1 Co 1.18-24 Jo 12.20-33

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São Miguel e Todos os Anjos - 29 de setembro Sl 103.19-22 Js 5.13-15 Ap 12.7-12 Mt 18.1-11

A,B,C. Sl 103.1-5, 20-22 Dn 10.10-14; 12.1-3 Ap 12.7-12 Lc 10.17-20

Dia da Reforma - 31 de outubro Sl 46 A,B,C. Is 55.1-11 Ap 14.6-7 Mt 11.12-15

Dia de Todos os Santos e Comemoração de Mártires Dia de Todos os Santos -19 de novembro Santo Estêvão, Primeiro Mártir - 26 de dezembro Os Santos Inocentes - 28 de dezembro São Laurêncio -10 de Agosto Sl 65.1-8 A,B,C. Dt 33.1-3 Ap 7.2-17 Mt 5.1-12

OCASlÕES Dedicação de uma Igreja Aniversário de uma Congregação

A,B,C. Sl 84.1-7 1 Rs 8.22-30 Ap 21.1-5 Lc 19.1-10

Sl 46 Jr 31.31-34 Rm 3.19-28 Jo 8.31-36

Sl 34.1-10 Is 26.1-4,8-9,12-13,19-21 Ap 21.9-11,22-27 (22.1-5) Mt 5.1-12

Sl 84 1 Rs 8.22-30 1 Pe 2.1-9 Jo 10.22-30

Festa Missionária (Festival da Missão) Sl 96 Is 2.1-5 Rm l0.8b-17 Lc 14.16-24

A,B,C. Sl 96 Is 62.1-7 Rm 10.11-17 Lc 24.44-53

Festa da Colheita Sl 67 Ml 3.10-12 2 Co 9.6-15 Lc 12.13-21

Dia de Súplica e Oração Sl 130 Is 1.2-18 Jl 2.12-19 Mt 6.16-21

A,B,C. Sl 65 Dt 26.1-11 2 Co 9.6-15 Mt 13.24-30 (36-43)

A,B,C Sl 6 Ne 1.4-11a 1 Jo 1.5-2.2 Lc 15.11-32

Dia Especial ou Nacional de Ação de Graças Sl 65 Is 61.10-11 1 Tm 2.1-8 Lc 17.11-19 ou Mt 6.24-34

A,B,C. Sl 65 Dt 8.1-10 Fp 4.6-20 ou l Tm 2.1-4 Lc 17.11-19

Rudi Zimmer Fonte: Lutheran Worship. Saint Louis, Concórdia, 1982, pp. 10-123.

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O ANO ECLESIÁSTICO

Prof. Rudi Zimmer

Origem e desenvolvimento - O ano litúrgico teve seu ponto de partida na ressurreição de nosso Senhor e a decorrente celebração deste fato no do-mingo da páscoa. Portanto, assim como a ressurrei-ção de Cristo é o centro da fé, da vida e do culto da igreja cristã, a páscoa é o centro e ápice do ano litúrgico.

O ano litúrgico não foi elaborado por nenhu-ma comissão em um gabinete qualquer; é produto histórico que teve crescimento gradual. Partindo da páscoa, como centro, houve um desenvolvimento em ambas as direções: antes (tempo de preparação ou quaresma) e depois (tempo de extensão ou pós-pentecoste).

quaresma -------- PÁSCOA---------Pentecoste Durante os três primeiros séculos da era cristã

este parece ter sido o ano litúrgico, completado, sem dúvida, pela observância do aniversário (sem-pre o nascimento no reino da glória!) de mártires.

Não se conhecia a festa do natal antes da se-gunda metade do quarto século. Aos poucos o natal foi se desenvolvendo como uma época própria dentro do ano litúrgico. (Tudo indica que a prin-cípio o natal vinha no fim do ano litúrgico e não no começo como é hoje.) A exemplo da páscoa, o natal criou um tempo de preparação (advento) e um tempo de extensão (epifania).

advento----------NATAL ----------- epifania Com a junção das duas partes, estava pronta

a estrutura fundamental do ano litúrgico. Acrésci-mos posteriores (dias de apóstolos, etc.) foram questão de detalhes.

Significado • O ano litúrgico impede a doce-tização do evangelho (von Allmen, O Culto Cristão, p. 279). Lembra sempre de novo que o evangelho está ancorado na história. O ano litúrgico prende a igreja à cruz. Impede que a igreja se desvie para te-mas meramente intelectuais, éticos ou sociais. O ano litúrgico é essencial a uma igreja litúrgica, pois subjaz a toda a ordem litúrgica, dando unidade à li-turgia e fornecendo temas para cada domingo ou festa. (Luther D. Reed, Worship, p. 35-36). O ano litúrgico protege a igreja da intromissão de temas seculares, sociais, pouco importantes, como ano novo, dia das mães, etc. O ano litúrgico, a exemplo do domingo, é celebração de Cristo. (Em muitos lugares, infelizmente, parece que o mundo escreve a agenda da igreja...) Além disso, fornecendo um repititorium anual da história da salvação, o ano li-túrgico se torna em importante recurso pedagógico.

O ano litúrgico é um ciclo anual completo, centrado na páscoa. (Tudo é determinado a partir deste centro. Assim, a data da páscoa determina o número de domingos de epifania e pentecoste.) Cada ciclo anual se liga ao interior e ao seguinte como círculo de uma espiral. Cada ano litúrgico é um ciclo anual de vida em e com Cristo, levando-nos, ano após ano, rumo ao alto, aos céus. Jesus disse: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10.10). O ano litúrgico pode ajudar-nos a receber esta vida em maior abundância.

DOMINGOS E FESTAS MAIORES

Tempo de Natal Época do Advento

Primeiro domingo de Advento (P/A) Segundo domingo de Advento (P/A) Terceiro domingo de Advento (P/A) Quarto domingo de Advento (P/A)

Época de Natal A NATIVIDADE DE NOSSO SENHOR (B)

- Véspera de Natal - Aurora de Natal - Dia de Natal

Primeiro domingo depois de Natal (B) Segundo domingo depois de Natal (B)

Época da Epifania A Epifania de Nosso Senhor (B) O Batismo de Nosso Senhor (B) - Primeiro domingo depois da Epifania Segundo domingo depois da Epifania (V) Terceiro domingo depois da Epifania (V) Quarto domingo depois da Epifania (V) Quinto domingo depois da Epifania (V) Sexto domingo depois da Epifania (V) Sétimo domingo depois da Epifania (V) Oitavo domingo depois da epifania (V) A Transfiguração de Nosso Senhor (B) - Último domingo depois da Epifania

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Tempo de Páscoa Época de Quaresma

Quarta-feira de Cinzas (PR/P) Primeiro Domingo de Quaresma (P) Segundo Domingo de Quaresma (P) Terceiro Domingo de Quaresma (P) Quarto Domingo de Quaresma (P) Quinto Domingo de Quaresma (P)

Semana Santa DOMINGO DE RAMOS (E/P) - Domingo da Paixão Segunda-Feira da Semana Santa (E/P) Terça-Feira da Semana Santa (E/P) Quarta-Feira da Semana Santa (E/P) Quinta-Feira Santa ou Endoenças (E/B) SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO (PR)

Época da Páscoa A RESSURREIÇÃO DE NOSSO SENHOR - Véspera da Páscoa (B) - Dia da Páscoa (B/O) - Noite da Páscoa (B/O) Segundo Domingo da Páscoa (B) Terceiro Domingo da Páscoa (B) Quarto Domingo da Páscoa (B) Quinto Domingo da Páscoa (B) Sexto Domingo da Páscoa (B) A Ascensão de Nosso Senhor (B) Sétimo Domingo da Páscoa (B) PENTECOSTE (VM) - Véspera de Pentecoste - Dia de Pentecoste - Noite de Pentecoste

Tempo da Igreja Época depois de Pentecoste

A Santíssima Trindade (B) - Primeiro Domingo depois de Pentecoste Segundo até Vigésimo Sétimo Domingo

depois de Pentecoste (V) Domingo do Cumprimento (V) - Último Domingo depois de Pentecoste

FESTAS MENORES Novembro 30 Santo André, Apóstolo (VM) Dezembro 21 São Tome, Apóstolo (VM) 26 Santo Estêvão, O Primeiro Mártir (VM) 27 Os Santos Inocentes, Mártires (VM) 31 Véspera do Ano Novo (B)

- Véspera do Nome de Jesus

Janeiro 1 Dia do Ano Novo (B)

- A Circuncisão de Nosso Senhor 18 A Confissão de São Pedro (B) 24 São Timóteo, Pastor e Confessor (B) 25 A Conversão de São Paulo (B) 26 São Tito, Pastor e Confessor (B)

Fevereiro 2 A Apresentação de Nosso Senhor (B)

18 Martinho Lutero, Doutor e Confessor (B) 24 São Matias, Apóstolo (VM)

Março 25 A Anunciação de Nosso Senhor (B)

Abril 25 São Marcos, Evangelista (VM)

Maio 1 São Filipe e São Tiago, Apóstolos (VM) 7 C. F. W. Walther, Doutor (B) 31 A Visitação B

Junho 11 São Barnabé, Apóstolo (VM) 24 A Natividade de São João Batista (B) 25 Apresentação da Confissão de Augsburgo (B) 29 São Pedro e São Paulo, Apóstolos (VM)

Julho 22 Santa Maria Madalena (B) 25 São Tiago, o Maior, Apóstolo (VM)

Agosto 10 São Laurêncio, Mártir (VM) 15 Santa Maria, Mãe de Nosso Senhor (B) 24 São Bartolomeu, Apóstolo (VM)

Setembro 14 Dia da Santa Cruz (VM) 21 São Mateus, Apóstolo e Evangelista (VM) 29 São Miguel e Todos os Anjos (B)

Outubro 18 São Lucas, Evangelista (VM) 28 São Simão e São Judas, Apóstolos (VM) 31 Dia da Reforma (VM)

Novembro 1 Dia de Todos os Santos (B) 2 Comemoração dos Fiéis Adormecidos (B)

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OCASIÕES Dedicação de uma Igreja (VM) Aniversário de uma Congregação (VM) Festa Missionária (B) Festa da Colheita (Cor da Época) Dia de Súplica e Oração (P) Dia Especial ou Nacional de Ação de Graças (B)

OBSERVAÇÕES: 1) As letras no final das designações indicam

as cores sugeridas: P = Púrpura; A = Azul;B = Bran-

co; V = Verde; PR = Preto; E = Escarlate; O = Ou-ro; VM = Vermelho.

2) O Dia de Santo André determina o Pri-meiro Domingo de Advento e por isso inicia a enu-meração das festas menores.

Fonte: Lutheram Worship. Saint Louis, Concordia,

1982, pp. 8-9.

A RENOVAÇÃO DO CULTO

INTRODUÇÃO Os princípios que transcrevemos abaixo são o

resumo de um trabalho apresentado pelo Prof. A. J. Schmidt em um simpósio da ASTE. Este trabalho foi publicado original na revista Simpósio n.° 11 de dezembro de 1973.

"1. Uma revisão litúrgica deve basear-se em um estudo comparativo de todas as liturgias, anti-gas e modernas, tanto do oriente como do ocidente. A história do culto não se compõe de um aglo-merado de falhas que seria melhor ignorar, antes tem muito a ensinar ao homem do século XX, quer ele aceite ou não. No empenho de corresponder a situações atuais não devemos negligenciar as rique-zas de séculos passados.

2. Uma revisão litúrgica deve ser ecumênica. Na presente atmosfera do debate ecumênico reve-laria espírito sectário em demasia querer destacar certa forma de culto, de determinada igreja, em al-guma era, como normativa. Há necessidade de se conhecer a riqueza da fé e prática cristã preservada, embora talvez fragmentada, nas diversas rami-ficações da Igreja Cristã.

3. As formas de culto devem ser inteligíveis e não assumir as formas de ritos esotéricos, empre-gando uma linguagem arcaica e usando conceitos ultrapassados.

4. As formas litúrgicas devem ter a participa-ção do povo. Não pode haver monólogo do minis-tro, assistido, passivamente, pela congregação.

5. As formas elaboradas devem ser flexíveis, isto é, devem ter elementos fixos e livres. Aqui há vantagens e perigos. Formas fixas podem transfor-mar-se em vãs repetições que se desgastam pelo uso. Formas livres podem depender demais do gos-to individual e da capacidade do líder. Formas fixas podem oferecer equilíbrio, largueza e riqueza ao culto. Oração livre pode ser espontânea, rele-

Prof. Vilson Scholz

vante e congregacional. Pode haver tirania em am-bas as modalidades, por isso um uso ponderado pode ajudar a reavivar o culto. É preciso ter em mente que hinários e agendas não devem ser feitos para muitas gerações. O culto de hoje deve ser pla-nejado para ser ao mesmo tempo o culto de ama-nhã. A música da Igreja não deve ignorar o passado nem o presente.

6. Deve ser dada atenção à necessidade de uma multiplicidade de modelos. Uma sociedade pluralista requer muitas formas. Não pode haver uma Roma a impor determinada forma. Lutero deve servir de exemplo enquanto estava desinteressado em uma forma precisa de culto. Peter Brunner menciona a Palavra de Deus, a comunhão e a reu-nião em nome de Jesus, como os elementos míni-mos formais do culto, falando da liberdade escato-lógica na forma do culto bem como do cunho de lealdade bíblica, fixando assim limites para uma renovação cúltica.

7. A revisão litúrgica deve processar-se num contexto missiológico, isto é, o caráter do culto precisa redescobrir a igreja como enviada ao mun-do. No passado o culto era entendido apenas para os domésticos.

8. Uma revisão deve ter uma compreensão da natureza secular do culto cristão. O culto deve ser entendido não como uma fuga do mundo e um re-colhimento no santo para o encontro do transce-dente. O culto abandona suas tradicionais formas sacrais. Quer mostrar como é possível ter uma consciência de Deus e manifestar a Deus ao huma-no secular. Se os aspectos multiformes de nosso modo de viver forem trazidos a Deus e se Deus ti-ver um papel em nosso relacionamento, surgirão formas novas e em nosso falar e cantar entrará o novum. Nossos cultos serão mais mundanos e nosso dia-a-dia terá caráter cúltico, se apresentarmos o mundo diante de Deus e Deus ao mundo.

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9. Formas tradicionais podem ser preenchi-das com conteúdo novo e revestidas de novos valo-res e novas roupagens: salmos em nova versão, ora-ções em linguagem do dia-a-dia, música nova, ser-mão dialogado, uso de música gravada e de projeções.

10. Deve ser objeto de séria reflexão se a crise do culto não é antes quanto ao valor, sentido e sig-nificado do culto do que quanto à forma.

11. Formas novas de culto devem ser trabalho de equipe na Igreja, sendo de importância haver continuidade e qualidade. Deve haver elementos básicos e espontâneos, o que exige um processo responsável de aprendizagem. Num culto diferente pode haver elementos como: informação, opinião pró e contra, discussão em grupo ou de mesa, diá-logo livre, discussão aberta, debate, momentos de conversação livre, etc."

No cristianismo, nada é mais central do que a mensagem e o ministério de Jesus Cristo (sua morte e ressurreição), sua presença continuada (através de palavra e sacramentos), e a ação do Espírito Santo (que dá vida). Tudo isto faz parte da inauguração do reino de Deus (o eschaton, o anion mellon) no presente século. A salvação de Deus em Cristo se tornou o foco de atenção da igreja cristã em seu louvor, sua ação de graças e suas orações.

Se isto é assim, então esta novidade deve refletir-se também no próprio emprego de palavras. De fato, nada indica melhor a novidade do culto cristão do que o emprego de terminologia cúltica no Novo Testamento, especialmente as palavras gregas latreuo e leitourgeo.

Tanto o verbo latreuo ("sirvo") como o substantivo latreia ("serviço") são pouco fre-qüentes na literatura grega secular.) Inicialmen-cialmente latreia designava trabalho por salácio, serviço. Posteriormente adquiriu sentido cúltico.

Na versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, latreuo aparece noventa vezes e latreia nove vezes. Trata-se de um grupo de pa-lavras usado quase que exclusivamente num sen-tido cúltico, denotando serviço e culto a Deus, especialmente por meio de sacrifício. Refere-se ao culto do povo como um todo e também ao culto do indivíduo.

No Novo Testamento, latreuo ocorre vinte e uma vezes, sendo oito vezes em Lucas, seis em Hebreus, quatro em Paulo, duas em Apocalipse e uma em Mateus. Sempre tem sentido religioso, designando inclusive culto a deuses estranhos (Rm 1.25; At 7.42).

Particularmente importantes são as seis ocorrências em Hebreus. Em quatro ocasiões latreuo refere-se ao culto no tabernáculo/templo (8.5; 9.9; 10.2; 13.10). Hebreus 9.14 e 12.28 (merecem cuidadoso estudo.) De forma resumida

pode-se dizer que reconhecem um latreuein Theo (culto a Deus), embora de um tipo novo. Sacri-ficial, certamente. Agora, antes de mais nada kainos (novos), na medida em que se lhe entepõe expressões como to haimatou Christou (o sangue de Cristo, 9.14) e basileian paralambanontes (re-cebendo um reino, 12.28)!

Das ocorrências de latreuo nas epístolas de Paulo, merecem destaque Rm 1.9 e Fp 3.3. Nesta última passagem Paulo expressa basicamente o mesmo que Jesus diz em João 4.23,24.

Das cinco ocorrências de latreia no Novo Testamento (Jo 16.2; Rm 9.4; 12.1; Hb 9.1,6), merece destaque Rm 12.1. Nesta conhecida pas-sagem toda a vida cristã é inserida no conceito de culto ou serviço (latreia).

Quando ao verbo leitourgeo, originalmente não tem nada a ver com o sentido moderno da palavra liturgia. Era um termo profano, denotando "prestar serviço ao povo". No grego do período helenístico (grego coinê), veio a designar todas as formas de serviço à coletividade.

Na Septuaginta, o verbo aparece com o sentido um pouco alterado, aplicando-se o mesmo ao substantivo leitourgia. Referem-se quase que ex-clusivamente ao serviço dos sacerdotes e levitas no templo. Na verdade, eram palavras bastante apropriadas para designar o serviço cúltico, pois o culto do templo era público, regulado por leis, e visava ao bem-estar do povo de Deus.

No Novo Testamento, leitourgeo aparece so-mente três vezes: At 13.2; Rm 15.27; Hb 10.11. Leitourgia ocorre seis vezes: Lc 1.23; 2 Co 9.12; Fp 2.17,30; Hb 8.6; 9.21.

Em Hebreus, o autor elucida o significado da pessoa e obra de Cristo sob a perspectiva e mediante o emprego do vocabulário cúltico do Antigo Testamento. Em outras palavras, o sacrifício de Cristo é único, final, por todos, etc.

Em Paulo, merecem destaque Rm 15.27 e

A NOVIDADE DO CULTO CRISTÃO EXPRESSO NO USO DA TERMINOLOGIA CÚLTICA DO NOVO

TESTAMENTO

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2 Co 9.12. Aqui Paulo fala da coleta que está sendo organizada a favor da igreja de Jerusalém e empre-ga os termos leitourgesai e leitourgia. Talvez haja aqui alguma referência cúltica (a coleta como sacrifício), mas tudo indica que o apóstolo usa os termos em seu sentido popular de "prestar serviço".

O texto de Atos 13.2 (leitourgounton de auton to kyrio kai nesteuonton, "servindo eles ao Senhor, e jujuando") é a única vez em que um ato litúrgico da igreja é descrito em termos de leitourgein. Entretanto, se comparado com o em-prego do verbo na Septuaginta, ficará evidente que leitourgeo designa algo bem diferente, a saber, a oração. Neste fato alguns vêem a espiritualização de um importante termo cúltico do Antigo Testamento (oração como sacrifício espiritual). Outros entendem - e isto talvez seja mais provável - que o termo é empregado em seu sentido profano de "serviço público" ou "função pública".

Mais importante talvez do que a ocorrência dos vocábulos é o fato de os mesmos não serem usados para designar o ofício ou a atividade de apóstolos, bispos ou de qualquer outro ministro da igreja apostólica. Acontece que havia algo novo. O culto tinha chegado a seu alvo (telos) com o sacrifício de Cristo, como o autor aos Hebreus mostra de forma tão eloqüente. Os ministros de Cristo, muito mais que realizar uma leitourgia a favor do povo ou da igreja, anunciam a leitourgia, o serviço de Cristo realizado uma vez por todas, a favor de todos, no sacrifício da cruz. Além do mais, a igreja cristã não tem sacerdotes como uma classe distinta, pois a igreja como tal, no seu todo, é feita ou composta de sacerdotes (Hb 10 19). Portanto, no emprego (ou pouco uso) dos termos revela-se a novidade da mensagem cristã.

Conclusões: 1. "Não encontramos no Novo Testamento

vocábulo que expresse exatamente o que atual-mente chamamos de "culto" cristão." (PERROT, C. "O Culto da Igreja Primitiva." Concilium 182:p.7).

2. Para designar o culto cristão, evita-se conscientemente a terminologia cultuai do Antigo Testamento. Esta aparece, não há dúvida. Agora, designa o culto do Antigo Testamento, a obra de Cristo e a vida dos cristãos no mundo. Por exemplo: em Rm 9.4 latreia designa o culto do Antigo Testamento; em Rm 12.1 refere-se à vida cristã.

3. É possível que esta reserva se deva ao risco de confundir a celebração cristã com o culto do Antigo Testamento ou com o culto pagão. Neste ponto, na escolha da terminologia, os cristãos fi zeram o mesmo que fizeram com o vocabulário ministerial, que nunca tem caráter sacerdotal. Por exemplo: episkopos ("supervisor", bispo) era ter- mo profano, não cúltico.

4. Quando se trata de designar o culto dos cristãos, os únicos termos que aparecem em certa regularidade são synerchesthai ("reunir-se") e synagesthai ("ajuntar-se"). Na verdade, isto é tudo que a igreja faz e pode fazer: reunir-se em tor no daquilo que é absolutamente central no culto, a saber, a palavra de Deus e os sacramentos. O lou- vor, as orações, as ofertas, tudo isto decorre e de- flui da presença de Cristo em e sob palavra e sacra mentos, dando perdão, vida e salvação.

(Obs.: Recomendamos o estudo detalhado deste assunto no Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (Edições Vida Nova, 4 volumes), artigo "Servir, Diácono, Adoração" (vol. 4, p. 448-457).

ADORAR EM 'ESPÍRITO E VERDADE': QUE É ISSO?

Prof. Vilson Scholz

O diálogo de Jesus com a mulher samaritana se apresenta como texto aparentemente inesgotável. Citado como exemplo de entrevista evangélica, destacado como modelo de conversão pastoral, esse texto de João 4 é também importante no estudo da teologia do culto. Especialmente para determinar a atitude de Jesus frente ao culto.

Verdade seja dita, João 4 nem sempre é le-vado em conta quando se considera a postura de Jesus ante o culto. Os críticos entendem - erro-neamente, é claro - que se trata de teologia joanina e não de palavras de Jesus. Nós, porém, en-

tendemos o texto como fundamental para a com-preensão da atitude do Salvador e do ensino neo-testamentário sobre o culto.

Interessam-nos de forma especial os versí-culos 20 a 26, que são o ponto alto do diálogo. O assunto é adoração. Para ser mais exato, o assunto é lugar de adoração e verdadeiros adoradores.

A mulher afirma que os samaritanos adoram "neste monte" (entō orei toutō), ou seja, no monte Gerizim. Efetivamente, no Pentateuco samari-tano, em Dt 27.4, está escrito que Josué deveria construir um santuário naquele exato local. Diante

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disso, os samaritanos tinham transformado o culto no monte Gerizim em parte do decálogo. Os judeus, por sua vez, tinham Jerusalém.

Jesus contrapõe: nem no Gerizim nem no Moriá em Jerusalém. Diz o Senhor: "Mulher, po-des crer-me, que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadei-ros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores." (w. 21 -23).

As palavras de Jesus, en pneumati kai alētheia ("em espírito e em verdade") são o foco da presente discussão. Geralmente toma-se pneuma ("espírito") em referência ao espírito do homem, com a inferência de que o culto verdadeiro deve ser interiorizado. Alētheia ("em verdade"), por sua vez, é entendido como denotando a necessidade de assumir uma atitude pessoal correta. Assim, esse texto se torna locus classicus ou sedes doctrinae daqueles que defendem uma espiritualização ou interiorização do culto, muitas vezes em detrimento de formas exteriores ou como pretexto para abolir a liturgia (o ritual). Como se fosse possível, a nós que somos corpo (soma), prestar culto sem formas, sem liturgia!

Na verdade, porém, as palavras de Jesus po-dem ser tomadas em outro sentido. Pneuma, a exemplo de espírito em português, pode designar tanto o espírito (alma) do homem como o Espírito de Deus, o Espírito Santo. Tudo depende de como se grafa a letra inicial, maiúscula ou minúscula. Isto, por sua vez, depende da interpretação do (s) editor(es) do texto grego ou dos tradutores. (O mesmo debate, diga-se de passagem, surge em outras passagens, especialmente Gaiatas 4 e 5.) A grafia já revela uma compreensão do texto, pois também neste particular uma tradução é sempre interpretação.

Pois bem, em João 4.23 o en pneumati pode ser entendido como referindo-se ao Espírito Santo. Neste caso, grafa-se "em Espírito". Mais ainda: alētheia (verdade) pode referir-se a Cristo. Quem, entre outros, defende esta interpretação são os renomados exegetas católico-romanos Raymond E. Brown e Rudolf Schnackenburg. (Sendo católicos, isto talvez não cause surpresa, assim como não surpreende que exegetas da linha reformada tomam pneuma como referência ao espírito do homem e nada mais!) Brown aponta inclusive para a possibilidade de considerar en pneumati kai alētheia uma hendíadis, equivalente a "Espírito da verdade".

Consideremos a possibilidade de tomar

pneuma como Espírito Santo. Qual seria o sentido do texto?

Devemos então lembrar que este pneuma é acima de tudo o dom escatológico, prometido pelos profetas e concedido de forma toda especial no pentecoste. Este pneuma é o agente do reino de Deus, do novo éon, do século vindouro, ao qual se faz referência no uso das palavras hora ("hora") e nyn ("agora") no versículo 23. Este pneuma, o Espírito Santo, ressuscita Cristo (Rm 8.11), num evento essencialmente escatológico (a irrupção do mundo vindouro no presente século) e ponto culminante na inauguração do reino de Deus. O pneuma congrega a igreja, a comunidade escatoló-gica na qual os poderes do reino de Deus operam. O pneuma impulsiona a igreja para a missão universal (veja o livro de Atos!), neste período que intermedeia a inauguração do reino e sua consu-mação no último dia. O pneuma faz renascer, dá nova vida, vida esta que é eterna, vida do mundo vindouro que o povo de Deus já desfruta prolepti-camente no presente século. O penuma é a garantia (arrabon, 2 Co 1.22;Ef 1.14) do mundo vindouro.

Assim sendo, proskynein en pneumati kai alētheia refere-se antes de mais nada ao culto escatológico, a este culto novo no novo éon, a esta adoração que é tornada possível pelo pneuma.

Este culto en pneumati, por ser escatológico, é antecipação do culto no mundo vindouro. O culto cristão, de fato, é antecipação do culto no céu. A confissão escatológica Kyrios Shristos ("Cristo é Senhor!"), a ser proferida por toda língua no último dia, já é feita por antecipação na igreja que clama "Kyrie, eleison" (Senhor, tem misericórdia)!

O novo culto, o culto escatológico, o culto daquela hora ("hora") que é nyn ("agora"), tem seu ponto focai, não num local geográfico definido (Gerizim, Jerusalém ou qualquer outro), nem num ritual, muito menos na interioridade do homem. Seu ponto focai é aquele que é autobasileia (ele próprio o reino), a saber, Cristo, a verdade. Cristo, seu corpo ressuscitado e glorioso, é o novo templo. Este Cristo está presente em palavra e sacramento.

Para o culto, portanto, não é essencial o lugar nem o ritual. Essencial é este en pneumati kai alētheia, que corresponde ao tantas vezes repetido en Christo ("em Cristo") de Paulo. (Confira neste particular Fp 3.3, onde Paulo parece parafrasear as palavras de Jesus.) Essencial é a presença de Cristo em palavra e sacramento. Assim, o culto, longe de ser um esforço humano ou um exercício espiritual, é ação de Deus a nosso favor, em sua graça, mediante ação do Espírito Santo (1 Co 12.3 ss.)

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