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DIREITOS FUNDAMENTAIS 1 – Introdução: Do artigo 5º ao 17 da CF é um título composto por direitos fundamentais. Vamos priorizar os direitos fundamentais que mais caem na OAB, que são os direitos políticos (14 a 16 da CF) e o direito de nacionalidade (artigo 12, CF). ver, também, outros textos interessantes, como, e.g., as ações constitucionais. Quero lembrar, antes, de algo muito importante: Direitos fundamentais são tidos todos como cláusulas pétreas? Não, porque o artigo 60, § 4º, inciso IV, quando lista as cláusulas pétreas daquele inciso, diz: “direitos e garantias individuais”, o que significa que só os direitos e garantias individuais são considerados cláusulas pétreas, onde quer que eles estejam. A maioria desses direitos está no artigo 5º da CF, mas um dado importante para esse início de aula é que saibamos que existem outros direitos individuais e outras garantias individuais fora do artigo 5º. Há direitos fundamentais petrificados, por se tratarem de direitos individuais. Exemplo: princípio da anterioridade tributária (150, III, b); na ADI 939 do STF, foi considerada uma garantia individual do contribuinte, por consequência, é cláusula pétrea. Outra garantia considerada individual foi o artigo 16, que traz o princípio da anterioridade eleitoral, já foi considerado pelo STF, na ADI 3685, como garantia individual do eleitor, portanto cláusula pétrea. É a partir do artigo 16 que começaremos nossa conversa, para que você saiba que, segundo o STF, é uma garantia individual do eleitor, e, portanto, é cláusula pétrea do artigo 60, § 4º, IV, da CF. Tal artigo traz o Princípio da Anterioridade Eleitoral. Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. É bom saber que a lei que muda as regras do processo eleitoral entra em vigor logo que é publicada, mas temos que contar 1 ano de vigência, para que depois desse período, para as eleições que

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Page 1: t   Web viewDo artigo 5º ao 17 da CF é um título composto por direitos fundamentais. ... Porque eu preciso contar 1 ano de vigência,

DIREITOS FUNDAMENTAIS

1 – Introdução:

Do artigo 5º ao 17 da CF é um título composto por direitos fundamentais.

Vamos priorizar os direitos fundamentais que mais caem na OAB, que são os direitos políticos (14 a 16 da CF) e o direito de nacionalidade (artigo 12, CF). ver, também, outros textos interessantes, como, e.g., as ações constitucionais.

Quero lembrar, antes, de algo muito importante:

Direitos fundamentais são tidos todos como cláusulas pétreas? Não, porque o artigo 60, § 4º, inciso IV, quando lista as cláusulas pétreas daquele inciso, diz: “direitos e garantias individuais”, o que significa que só os direitos e garantias individuais são considerados cláusulas pétreas, onde quer que eles estejam. A maioria desses direitos está no artigo 5º da CF, mas um dado importante para esse início de aula é que saibamos que existem outros direitos individuais e outras garantias individuais fora do artigo 5º. Há direitos fundamentais petrificados, por se tratarem de direitos individuais. Exemplo: princípio da anterioridade tributária (150, III, b); na ADI 939 do STF, foi considerada uma garantia individual do contribuinte, por consequência, é cláusula pétrea. Outra garantia considerada individual foi o artigo 16, que traz o princípio da anterioridade eleitoral, já foi considerado pelo STF, na ADI 3685, como garantia individual do eleitor, portanto cláusula pétrea.

É a partir do artigo 16 que começaremos nossa conversa, para que você saiba que, segundo o STF, é uma garantia individual do eleitor, e, portanto, é cláusula pétrea do artigo 60, § 4º, IV, da CF.

Tal artigo traz o Princípio da Anterioridade Eleitoral.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

É bom saber que a lei que muda as regras do processo eleitoral entra em vigor logo que é publicada, mas temos que contar 1 ano de vigência, para que depois desse período, para as eleições que ocorram após esse ano de vigência, a lei adquira eficácia e passe, então a produzir seus efeitos.

Um bom exemplo é a Lei da “Ficha Limpa”, que é a Lei Complementar 135 de 2010. Essa lei foi promulgada e publicada em meados de 2010 (4 de junho de 2010), ou seja, adquiriu vigência, entrou em vigor em meados de 2010. Por que ela não valeu nas eleições de outubro de 2010? Porque eu preciso contar 1 ano de vigência, e só depois desse 1 ano de vigência é que a lei adquire eficácia e passa a produzir efeitos.

Vamos, agora, a algumas considerações do artigo 14, que vai trazer num primeiro momento algumas figuras interessantes que precisamos conhecer. Duas regras são essenciais, você precisa saber o que é elegibilidade e o que é a alistabilidade, para que possamos iniciar.

- elegibilidade é a capacidade eleitoral passiva, a capacidade de receber votos, ser eleito para algum cargo eletivo (ius honorum).

Leia o artigo 14, § 3º, da CF, onde encontramos os requisitos da elegibilidade:

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§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:I - a nacionalidade brasileira;II - o pleno exercício dos direitos políticos;III - o alistamento eleitoral;IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; RegulamentoVI - a idade mínima de:a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;d) dezoito anos para Vereador.

- alistabilidade é a capacidade eleitoral ativa, a capacidade de se alistar como eleitor, de votar ( ius suffragii).

Quem são os inalistáveis? É quem não se alista como eleitor, ou seja, não pode votar (artigo 14, § 2º, CF).

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

Direitos políticos não são direitos universais, que servem para qualquer pessoa que esteja em nosso território. São direitos para os nacionais.

- Inelegíveis: são aqueles que não se elegem, e aqui veremos os inelegíveis DE FORMA ABSOLUTA, que são aqueles que não se elegem para cargo algum:

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

Quem não vota, quem não é eleitor, quem não pode se alistar como eleitor, não pode, por consequência ser votado, não pode usufruir da capacidade eleitoral passiva.

De repente, uma frase que vale a pena:

Todo elegível é alistável, significa que o sujeito para se eleger, para exercer a capacidade eleitoral passiva, precisa, antes, possuir a capacidade eleitoral ativa, ser eleitor.

Todo inalistável é inelegível.

Além dos inalistáveis, são inelegíveis de forma absoluta os analfabetos.

O analfabeto pode se alistar e votar facultativamente, ou seja, ele tem capacidade eleitoral ativa, mas não a capacidade eleitoral passiva, porque, para se eleger, deveria fazer jus a essa capacidade passiva e não faz. Na percepção da Constituição, um sujeito para exercer um cargo eletivo tem que ser alfabetizado antes. Por isso o tiririca teve que demonstrar antes de tomar posse como deputado, que era alfabetizado.

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O artigo 14 traz também, em outros parágrafos (do 5º ao 9º), outras espécies de inelegíveis: os inelegíveis de forma relativa, podem se eleger, mas para cargos específicos, em situações específicas, predeterminadas.

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Vejamos o artigo 15:

O artigo 15 determina que é vedada a cassação dos direitos políticos, sendo permitida a privação deles. Não confunda cassação com privação, a cassação é vedada e a privação é permitida.

A cassação é uma retirada arbitrária dos direitos políticos do indivíduo, por motivos ideológicos, e isso não combina com o Estado Democrático.

A privação pode acontecer por meio de duas modalidades: a perda e a suspensão dos direitos políticos. Dentro do artigo 15, de acordo com a doutrina, vamos ver quais são os casos de perda e suspensão.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado (PERDA);O cancelamento da naturalização só ocorre por sentença e não por ato administrativo, e essa sentença tem que ter transitado em julgado.

II - incapacidade civil absoluta (SUSPENSÃO);Tome cuidado com o termo “absoluta”, porque a única incapacidade civil que gera a suspensão dos direitos políticos é a incapacidade civil absoluta. Se colocarem RELATIVA, não marque.

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III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos. (SUSPENSÃO);Repare que a condenação tem que ser criminal e definitiva (transitada em julgado). Às vezes, o examinador põe condenação CÍVELIV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art.

5º, VIII (SUSPENSÃO);Aqui temos uma pequena divergência doutrinária, porque alguns autores entendem que é perda. Mas, para efeito do exame, usaremos a posição da doutrina majoritária.

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Os testemunhos de Jeová, em função da religião, não prestam o serviço militar obrigatória, então eles tem que prestar um serviço alternativo. Não cumprindo qualquer um dos dois, haverá sanção constitucional

V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º (SUSPENSÃO).Uma das que mais caem em prova.

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

2 – Nacionalidade:

2.1 – Nacionalidade:

Nacionalidade é um vínculo de direito público entre um determinado indivíduo e um determinado Estado.

E o conceito de nacionalidade nos permite conhecer o de povo. Povo é o conjunto de nacionais, brasileiros natos e naturalizados.

Não confundir povo e população. População, demograficamente falando é um conceito mais abrangente. Enquanto povo envolve os nacionais, natos e naturalizados; população envolve todas as pessoas que estão em nosso território, sejam elas nacionais, estrangeiras ou até mesmo apátridas.

Apátrida vem do prefixo “a”, apátrida, é aquele sem pátria, não possui nenhuma nacionalidade, não possui aquele vínculo de direito público com qualquer Estado, nem é nacional nem é estrangeiro, é apátrida.

Já polipátrida, vem do prefixo “poli” , que quer dizer multiplicidade, ou seja, polipátrida é aquele que possui muitas nacionalidades. O Brasil admite o polipátrida, tanto que você pode ser brasileiro, nato ou naturalizado, e possuir outra nacionalidade, é perfeitamente viável. Conhecemos pessoas com dupla nacionalidade, inclusive a italiana no Brasil é muito comum.

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Só faltou um último conceito para definir, que é o conceito de cidadania: cidadania é a capacidade de exercer direitos políticos.

Todo nacional é cidadão ou todo cidadão é nacional?

Cuidado! Todo cidadão é nacional, porque para exercer direitos políticos, antes o cidadão tem que ter a nacionalidade. Mas nem todo nacional é cidadão. Imagine um bebê que acaba de nascer no Brasil, filho de pai e mãe brasileiros, ele já é nacional, mas ainda não é cidadão por conta da idade.

Em regra, todo cidadão é nacional, mas temos uma exceção constitucional que é a situação do português equiparado prevista no artigo 12, § 1º, da CF.

§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Que situação é essa? O português é português, ou seja, estrangeiro, mas mesmo sendo um estrangeiro, a CF o equipara ao brasileiro naturalizado. Isso significa que ele vai exercer direitos como se fosse um brasileiro naturalizado, então ele poderá exercer direitos políticos, votando, até mesmo sendo votado; pode ser eleito para alguns cargos. Mas, quando isso acontece?

Quando um português pode ser considerado um português equiparado, e aí a Constituição exige os seguintes requisitos:

- se ele tiver residência permanente no Brasil;

- que tenham o mesmo tratamento os brasileiros com residência permanente em Portugal, sendo considerado, então, um português naturalizado, com os mesmos direitos e deveres.

Essa reciprocidade existe em função de um tratado de cooperação e amizade entre a República Portuguesa e o Brasil.

Nesse tema, que envolve brasileiros natos e naturalizados, aconselho que você leia o artigo 12 da CF, pois, lá, temos o inciso I e o inciso II. No inciso I, temos os brasileiros natos e, no II, os brasileiros naturalizados. Há dois grupos, a nacionalidade primária (natos) e a nacionalidade secundária (naturalizados).

Os caminhos para que alguém se torne brasileiro nato ou os caminhos para que alguém se naturalize brasileiro.

2.2 – Diferenças entre brasileiros natos e naturalizados:

A primeira regra é a do artigo 12, § 2º, que diz que a lei não pode estabelecer diferenças entre brasileiros natos e naturalizados. Só que olhando para a CF, notamos que essas diferenças existem. Tais diferenças não podem ser acusadas em lei, mas apenas na Constituição.

a) Refere-se à propriedade (222, CF): é uma diferença fraca, mas cuja menção é necessária.

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Somente brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos podem ser proprietários de empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens. Isso é para proteger a circulação da informação.

b) a segunda se refere a uma determinada função prevista no artigo 89, VII, CF.

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam:

VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

É um conselho consultivo do Presidente, que vai consultá-lo em algumas situações e aquele vai opinar.

c) Extradição (muito importante para o exame!): artigo 5º, LI, CF.

Lembrando que brasileiros natos não podem ser extraditados, jamais, em razão de qualquer crime, se comete aqui, é jugado aqui e cumpre a pena aqui.

Já o naturalizado pode ser extraditado em duas situações diferentes:

1ª se ele se envolver com o tráfico de entorpecentes, antes, durante ou depois da naturalização, ele pode ser extraditado;

2ª se ele cometer um crime comum, antes da naturalização. Não pode ser crime político ou de opinião;

d) a última diferença refere-se aos cargos (12, § 3º, da CF).

A dica é que alguns cargos são privativos em razão da segurança nacional, outros em função da linha de substituição do Presidente da República. Ver, também, artigo 80 da CF.

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

II - de Presidente da Câmara dos Deputados;

III - de Presidente do Senado Federal;

IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; por isso os 11 ministros do STF são natos.

V - da carreira diplomática;

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VI - de oficial das Forças Armadas.

VII - de Ministro de Estado da Defesa (um único ministro de estado, o da defesa, não os outros).