transophia - eavaam.com.br · deleite permanece insano. e minhas mãos param, se estendem em...
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TRANSOPHIA1
Pedro Olaia
(Sofia, Rua/BR)
Transophia é uma experimentação artística realizada por mim, Sophia, Nando
Lima e Dudu Lobato dentro do Estúdio Reator que é um espaço cultural multimidiático,
localizado na cidade de Belém, Estado do Pará, com projetos voltados para a
contemporaneidade em relacionamentos de parcerias e solidariedade para a construção
de uma sociedade justa e crítica que enxergue em seus semelhantes motivos para
conquistar seus objetivos. Híbridizações de teatro, som, projeções visuais texto e
fotografia são construídos neste espaço e compartilhados com o público de forma
intimista e envolvente. Em Transophia, eu estou me montando e desmontando em
possibilidades corpóreas a partir de sucatas eletrônicas que estão penduradas no cenário
criando um ambiente que leva o público ora para dentro de um quarto, camarim em que
a intimidade de uma drag é mostrada, ora para um palco de show onde os fragmentos de
HDs e outras peças de computador vão sendo gradativamente agregadas ao corpo de
Sophia, proporcionando ao público, uma visão cada vez mais onírica. Sophia surgiu em
minha vida antes mesmo de fazer teatro, enquanto eu me montava de drag queen para ir
nos guetos LGBT’s de Belém; Sophia é rua, é ao mesmo tempo sobrenatural e carnal e
somente foi reconstruída a partir de 2010 em uma ação na rua na celebração de meu
aniverário de 33 anos. Transophia é a performance que descreve a trajetória de Sophia
que muitas vezes se confunde à minha própria identidade e principalmente questiona o
uso das tecnologias na Amazônia, ideias desconstruidas de ciborgue, drag queens e
heroínas falidas. Este artigo propõe descrever experiências afetos e desafetos que nos
movem à construção deste jogo que às vezes chamamos de “performance cênica” para
adequar-se em uma classificação de linguagem artística, para isto irei bater papo com
amigos artistas sobre o processo e registrar e transcrever os relatos pessoais dos que
participaram desta vivência performática e que concordarem em compartilhar suas
impressões trocas afetos e desafetos.
1 Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA.
Palavras-chave: corpo-tecnologia, amazônia, ciborgue, monstrx
1. C/B/7B9
Divindade mítica possessão glitérica escudo rosa defesa purpurinada re-
afirmação colorida salvação: Sofia tem asas, é a liberdade de extravasar as mais íntimas
repressões/proibições que sofro no meu corpo todos os dias nas pequenas ações/atitudes.
Desde o final dos anos 1990 que Sofia está comigo e a cada performance percebo mais a
proximidade com a rua o sobrenatural e os movimentos de Nzila. Na abertura do Auto
do Círio 2014 em um trabalho com o Corpo Sincrético iniciei a ação como seu Zé e no
meio dela, troquei de roupa, coloquei o salto e recebi Sofia rua oferenda dádiva
celebração. 11110111001. A reutilização de diversos materiais no corpo de sofia vai para
além do figurino tradicional, e os recicláveis e lixos eletrônicos entrelaçam-se e
constroem uma história extraordinária o mítico alegórico colaborativo que performa o
dia a dia. Ela não está vestida comumente, ela não é Pedro no cotidiano ela é a
tecnologia do possível ela é o faça você mesmo ela é a rede: sempre aproveitando-se do
material que se tem nas mãos, tentando re-construir objetos para acoplar ao corpo em
composições estéticas provocadoras para um jogo aleatório descompromissado em um
diálogo sobre as opressões fobias machismos e achismos sobre o corpo e atitudes do
próximo. “Amai-vos atai-vos” - Exu falou
meu corpo muda as tonalidades de intenção
Na montagem/montaria/montação sempre peço ajuda às fina prelas arrazarem na
construção colaborativa do look dessa persona, deidade eleita como puta da rua que não
vale um centavo. O movimento em rede que sofia consegue articular provoca eventos
como delei-te e depilei-te que são duas performances em que a participação das pessoas
presentes estava extremamente ligada ao acontecimento. No meu aniversário de 33 anos
sofia articulou que amiguxs artistas participassem efetivamente de um grande evento em
que Sofia se monta na escadinha atravessa a estação das docas e o Ver-o-Peso e termina
com um banho de-leite na pedra do Ver-o-Peso. Este foi o primeiro trabalho depois de
tantos anos que Sofia estava desmaiada em coma. Depileite é o trabalho consecutivo ao
Deleite em que Sofia convida todxs a depilarem seu corpo que fica totalmente aberto e
vulneravel aos afiados barbeadores nas mãos de um publico ébrio esquina da Dr.
Moraes, na frente do antigo 8 Bar.
Depileite na frente do antigo 8 Bar
e disse mãe:
“eis que te via sob mandrágoras e dromedários jasmim carmim entrepastos
entrepassados, e te dispunhas em baldes… em baldes baldes de leite se liquefaziam e jaz
temiam. ou temiam o jaz? q mais me importa? e sobremesa alta mesa sobre
sobressalente sobre saliente que se enturmou a querer balançá-la desabá-la. e temi
prantos, lembro-me perfeitamente. e te dizia: ‘segura o leite’, porque desta forma é a
norma forma enorme onde se assa pães asmos enformados. e te digo, segura o leite, pois
desta forma, a farta farpa rata que te corrói veias será suplantada e não mais te
admoestarei para que segures o leite.”
e eram três baldes sobre a mesa tenra mesa de pernas grossas macho viris. em riste de
quatro sustentavam arcas marcas e procissões. e em tal momento, frente a precipícios
caminhos e distraídos se via a sustentar três jarras jorros de leite deleite enfeite dentro e
fora de mim.
e disse mãe:
“e ao pores uma como adorno cabeça, ‘com baldes não se brinca’, logo disse e
teimosamente enfiaste aos teus sensores pueris trama de se querer quedar em
brincadeiras gostosas sobre leite. que mistura afã. (suspiro)
reclamo aos céus as sobrepujações que um dia tive e continuo tendo… não pode ser
meu erro, e nem minha estima que o tenham devorado. talvez a condenação ao que se
desperdiça a tenha dominado de tal forma que nem ele se dê conta de tamanhos baldes
que em risco se põe a balançar!”
eram três baldes…
da árvore que o bloco deu, do suor másculo de braços fortes a cortar puxar talhar
afrouxar alinhar aplainar empenar depenar madeiriço fronteiriço, já tarde disse isso:
‘que vários verbos são meras merdas’. o vôo de costas entre mesa e céu. as marcas de
chuva na pele azul. caleidoscópios em manchas de ébano e marfim.
entre infindo e chão madeira estava o leite.
eram tres baldes…
e disse mãe:
“não vedes que a tormenta de tua vida é pôr-te a balançar ancas sobrepujadas em
diretrizes escandalizantes e que tua fé em ti é hóstia de angústia e dor???”
pó de até ser. pó de até existir. quero aspirar sensações. e dou-te vidas e amargos ais. se
te esbaldas em baldes ou achas desperdício, te dou suspiro de más alucinações ou
loucuras de avantajar olhos e lavar calçada.”
?
e disse mãe:
“pois quando se balançava se via leite servia deleite a olhos que desejavam ver cair, mas
eu não! disse há séculos, Laticínio, que se entornas o leite aos porcos, a quem irás
amamentar?”
salve leite salve lei de desejar beber mais.
sal vi mesmo desabar em campos. e tudo ressecar. sal e leite aquece estômago. só teu
deleite permanece insano. e minhas mãos param, se estendem em direção ás às que tem
fome e sede de leite.
e disse mãe:
“tsc tsc tsc
humpf. humhum…
(respiração profunda de desaparecimento d’alma)”2
Obrigada a todas as amigãããs
Ao Mauricio Franco e Nanan Falcão pelos figurinos escandalos que construiram, sem
eles metade do meu guarda-roupa não existiria.
Nunca quiz fazer a linha lypsinc nunca quiz ser bonita sempre quiz ser bonita nunca
quiz ser sempre quiz existir quiz show somos celebração fortaleza de corpo presente
2 arredão: texto produzido em 2010 como mote para a performance de-leite. https://deleitep.wordpress.com/arreda/
máquina de guerra nas ruas, meu corpo se expõem enquanto suas idéias ficam no papel
não gosto da linha Ru Paul, adoro vê-las, mas não quero segui-las, a bicha na Amazônia
é outra coisa, são outras tonalidades exagerando por aqui, e gritando necessariamente,
que nem o chiado da internet de antigamente. Aqui somos low tech, somos sucata
eletrônica jogada no lixão das ryKa somos o próprio lixão, louvação ao ciborgue
incompleto ao projeto inacabado o que não deu certo o erro inacabado monstrx nunk
quis fazer a bailante cantante do palco dubladora miss sempre quis dar closet nuk nua
suada colo quente fluidos fervem numa batida nervosanos pés invoca ação signos que
constroem a performance resignificacoes informacoes do improviso
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
meu corpo não é controlado por você
Não é uma mulher nem seu arremedo é uma drag monstra, um feminino no
corpo de um homem cis os erros do olhar opressor as acusações dos outros o errado as
questões de sobrevivência em meio a este sistema o uso de tecnologias o meio
ambiente. Acho lindo saltos, amo todos eles, o salto é uma das tecnologias mais bela e
opressora no corpo de uma mulher: para quem sabe usá-lo, ao mesmo tempo que te
impõem uma postura e se sente que o corpo se remodela e fica pronto para uma
iminente ação, ele é opressor dolorido desgastante prejudicial à saúde como o uso de
várias drogas que a gente tem por aí, é como o uso e a foda com os boys que a gente tem
por aí, tudo muito viciante, queria deixar alguns víço de lado mas não consigo.
Aquendassimi ocanissima do ocossimi acaissima, se a monassimi alaissima é
dizadissima no bajubássimi desaquendissimi que yo voy alissimi dar o close certo que
de denorex e elza to longe, quaquaquá, mas aquenda o otim e oxanã pra prima que tá
tudo certo.
Abrir os HD's e usar os ímans como eletromaquiagem, é sexy colocar e tirar os
objetos da boca e também é dolorido, pois os ímas grudam nas bochechas e são difíceis
de tirar e muitas vezes machuco a mucosa bucal. Todas as exposições e riscos e gritos
choros e risos que exponho nesta performance resignifico e transporto o ímã, por
exemplo, para o fetiche, pro amordaçar, pro afogamento pra junção corpo carne metal
propriedades ferromagneticas controles e poderes energéticos presentes nas mãos.
Antecedendo ao interior do teatro, na antesala quando o público chega há uma
exposição de bonecos de super-heróis de animação e quadrinhos, e quando se entra no
teatro sofia está em uma passarela acima do público toda envolta em tecido branco e a
visão é onírica, remetendo a um corpo moldável, transcedente, poderoso e ao mesmo
tempo mutável efêmero impotente o almejo da perfeição, pensamentos upados para uma
máquina e a vida eterna, a queda, o declínio do homem e sua incapacidade, seu corpo
perecível suas aflições, a incapacidade de regeneração, a finitude da vida, a dependência
das palavras e o angustiante vazio. Como será este ciborgue na amazônia, no CTRL+C
CTRL+V, na biopirataria low tech, no corpo masculino em busca do feminino. Monto e
desmonto possibilidades corpóreas a partir do que você cospe.
2. <b>01000001 00100000 01001101 01000101 01010100 01000001 01001101
01001111 01010010 01000110 01001111 01010011 01000101 ou </b>
transcedencia
corpo imaterial
materia = energia
011101000111001001100001011011100111001101100011011001010110010001100101
011011100110001101101001011000010000110100001010011000110110111101110010
01110000011011110010000001101001011011010110000101110100011001010111001
00110100101100001011011000000110100001010011011010110000101110100011001
01011100100110100101100001001000000011110100100000011001010110111001100
101011100100110011101101001011000010000110100001010
E = M*C^2
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<title>TRANSOPHIA - Renascida do coma - YouTube</title><link rel="canonical"
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Lima, Assessoria de imprensa: Lucian...">
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3. E O LUGAR MAIS FRIO DO RIO É O MEU QUARTO
4.0 PALOMA NEGRA
Artivismo na Praça Maranhão em frente a Igreja de Sant'Ana
Hay momentos en que quisiera mejor rajarme
Y arrancarme ya los clavos de mi penarPero mis ojos se mueren si mirar tus ojos
Y mi cariño con la aurora te vuelve a esperar
5. DADOS coRELATOS sensAÇÕES
“Da Transophia eu acho que o que a gente propôs dessa interação natural tem a
ver com a questão da tecnologia e da interferencia na vida da gente, no sentido não da
alta tecnologia, pois na verdade nós nao vivemos no mundo da alta tecnologia, nós
vivemos no mundo da sucata tecnológica, e de como isso interfere no dia a dia da gente,
como vamos diariamente lidando com isso, como perdemos um tempo enorme nos
caixas eletrônicos do banco, porque os bancos aqui tem um sistema arcaico e os caixas
eletrônicos em si são objetos velhos, a internet é de baixa qualidade e aí o nosso dia a
dia já começa assim, se tu vai de manhã pagar uma conta já começa assim, quer dizer
quando tu colocas esse trabalho da Transophia de toda a tua experiência com esses
aparatos tecnologicos com essas traquitanas todas que tu estavas fazendo,
imediatamente fica relacionado com esse cotidiano atravanacado de que a gente mal
consegue se expressar como ser humano, como artista sei lá como, por conta de estar
atravessado por essas coisas todas, todas essas minúcias, essa coisa do celular que toca
toda hora, a sedução que a gente tem por essa pseudo-comunicação, porque as pessoas
acham que elas estão falando com um público enorme, quando na verdade no máximo
duas ou três pessoas leram a mensagem delas, e aí as pessoas vivem disputando a
atenção pela internet e como isso reverbera em tudo, desde o que a gente come até ao
sexo, a vida de todo mundo está ligada de uma forma ou de outra a essa rede. Quando a
Transophia está dentro desse universo, quando ela entra em casa, porque a Sophia é da
rua, mas quando ela entra em casa, ela vai pra esse universo atravancado dessa
comunicação , pois se na rua tem o feedback imediato, quando ela entra nesse espaço
físico restrito ela passa a tentar se igualar à máquina e aí ela é tão sucata quanto as
sucatas que a gente utiliza, aí ela percebe que o corpo tem todas as limitações e essas
questões que não são fechadas, que são absolutamente abertas porque nós vivemos
numa época em que tudo está por se construir o tempo inteiro, e aí enquanto artista
algumas pessoas levam isso muito a sério e eu acho que nós acabamos tendo que de
alguma forma debochar disso, que é uma maneira de conviver com esse inferno, com
esse surrealismo todo, na falta de palavras novas pra descrever esse trans)torno
tecnológico que vivemos, essa coisa do trans): da trans)fobia, da trans)tecnologia, da
trans)formação, da trans)filosofia, todas essas questões condensadas, espremidas,
amassadas na Transophia. E no teu caso acho que tu és uma pessoa do corpo, do físico e
de ir fazendo, atuando, armando essas coisas, vai vivendo e vai fazendo, vai vivendo e
vai fazendo, por exemplo, aquela cena do ímã é sublinhar muito essa situação toda,
como que aquela cena fosse a síntese de tudo que é um pedaço de metal que se coloca
dentro do corpo e que nunca vai funcionar bem com o corpo, até pela própria natureza
do metal e esta natureza de ser humano então aquela cena pra mim ela é a sintese de
tudo o que tem na Transophia, que no fim a gente morre e toda essa tecnologia fica, com
maior ou menor qualidade, ela fica, pelo menos por enquanto não existe nenhuma
garantia de alma assim como não existe nenhuma garantia que você vai conseguir o éter
através da sua obra colocada nas páginas da internet, basta uma falta de energia elétrica
para se perder tudo. E ao mesmo tempo o ímã tem essa propriedade de atração, mas ele
atrai metal, atrai o igual, atrai a matéria inanimada, não combina com o espírito, com o
corpo, com a alma. A Transophia pra mim é esse dilema entre o físico, alguma coisa que
está para além do físico que a gente não sabe o que é,que a gente sabe assim como o
som, que ouvimos, e sabemos que é físico mas não enxergamos, e a linguagem que tem
por trás de cada um desses objetos que a gente sabe que ela existe, mas a gente não
domina, interage com ela por outros caminhos. A Transophia está nessa esfera”3.
“Não sei quando eu conheci Sofia, aliás, eu nem sei se a conheço, pois a cada
encontro ela se mostra renovada em um outro ser, em um outro corpo, uma outra
sintonia. Lembro de tê-la visto em Colares - a cidade dos ETs, famosa pela incidência
de aparição de OVNIs e por relatos de humanos abduzidos por seres extra terrestres,
estávamos na Terceira Égua, o Sarau do corpo poelytico (essa palavra é uma referência
ao conceito de poética política proposto por Fernando de Padua, e a Égua-Sarau é um
encontro anual realizado por coletivos independentes que coloca em debate e em
experimentação identidades corpo resistência e poética na Amazônia oriental). Sofia,
quer dizer, Pedro, ou sei lá quem lhe habitava o corpo naquele momento - me permito e
até vou cultivar essa dúvida sobre a identidade - chegou num ambiente desconhecido
em uma cidade que também era pouco conhecida... Corpo masculino em movimentos
femininos. A praça, palco das representações de personagens sociais - alguns bastante
fictícios.... E assim, num misto de realidade e ficção, entre seres terrenos e personagens
mitológicos, meio humano - meio deusa vinda de algum céu de outro planeta, aquele
corpo vai se transmutando em Sofia... Sofia é provocadora, e não deixa ninguém sem
resposta, ela é dúbia.... Amável e agressiva, deusa e humana, real e fictícia. Sofia
comanda soberana um ritual de passagem entre passantes, brincantes, amantes...”4
3 Conversa com o performer Nando Lima4 Conversa com o artista paraense Arthur Leandro
chapa testa
ferrofogo
foi assim que se descobriu a vidasentido sentindo das coisas que sobre)vivi ou que te disse já nem sei mais que conto que
conto estive dedilhando teclado? contas quantas contas e letras formam uma palavrameu corpo frágil jah se foi transmutou transcendeu transliteração do que há de vir agora
comunico-em pelos outros eus binários refratários suspiros de zeros e uns hums ais ásde copas cópulas conexões como pássaros como asas como penas de pavão voo longe
dependurado em suas inquietações não creio mais nos outros nem em mim transfigurasliquefazem nos jardins afetos luminescentes afeto fios cabos plug and play toca o além
toca na cabeça toca de felino voraz pontas afiadas unhas e dentes amolados imoladocorpo táctil oferenda mítica mitiga carne e sangue transforma transporta transcreve
pulsos pulsações incorrupto majestoso vai além transmatéria translate transcorpo5
“A Transophia foi meu primeiro trabalho no Reator, meu primeiro trabalho com
Nando Lima e com Pedro Olaia e este trabalho significa muito para mim não só porque
fiquei encarregado pela parte do som e da trilha sonora da performance, mas o mais
legal foi trabalhar numa performance com uma personagem da rua que pela primeira
vez ia pra dentro de um espaço fechado, “caixa preta”, em um trabalho em processo. As
músicas que sugeri foram logo aceitas pelo Pedro e Nando e ver o Pedro aliar essas
músicas com as ações performáticas, brincando junto com os efietos que eram
colocados com a mesa de som e das caixas amplificadas e que tudo isso se incorporou a
performance de uma forma homogênea contribuindo para os questionamentos e
provocações que eram vomitadas ao público junto com as projeções, os textos, aquele
video absurdo do final q o Nando coloca e a próprio cenário que podia ser o quarto da
personagem, por exemplo. O público entrava na antesala e tinha uma exposição com
figuras de animação de uma coleção pessoal que tenho há muitos anos, no espaço de
apresentação tinha fitas zebradas impedindo o acesso para o espaço onde as pessoas
podiam ficar mais a vontade, as pessoas tinham q romper essas fitas e se colocar pelo
espaço, se colocar livremente pelo chão se elas quisessem ficar sentadas
confortavelmente. E esperar a performance começar, e ela começava nos altos em uma
passarela que liga a casa do Nando, da cozinha para o quanto, dentro da sua própria
casa. O Pedro descia dos altos para o tablado, e depois não tinha mais como você tirar
os olhos do tablado, era uma hora intensa e muito elétrica, e pretendo sim experimentar
5 Poema construído em 2014 para a performance Transophia
mais este trabalho com novos recursos e possibilidades de interação
corpo+equipamentos sonoros, e também levar esse trabalho pra rua.” 6
Minha mãe dizia e vivia repetindo que os baldes de leite derramados, que ela viu
em sonhos era porque eu estava abandonando as oportunidades de estudos que na época
eu estava tendo. Eu ainda era novo, mas sempre fui muito ligado a espiritualidade,
sonhos e premonições, e por isso fiquei bem apreensivo com este sonho. Quando
completei 30 anos, lembrei novamente do sonho e rapidamente associei o ato de
derramar o leite a derramar ações artísticas na rua, como eu costumeiramente já estava
fazendo como performer da cidade de Belém. Era isso: distribuir, compartilhar,
derramar na rua toda minha oferenda, todo meu leiteao que tem fome, aos que precisam
se alimentar. A rua, espaço democrático onde todos podem tudo, na encruzilhada Sofia
se retroalimenta abre o peito e compartilha seu coração, sofia me ensina que o erro é
irmão do pecado e são estas concepções que tolhem nosso corpo, nos impedem de nos
alcançar mais além. Não vim para determinar momentos e instituir missões, mas sim
aprender bebendo das nossas indagações.
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6 Conversa com o fotógrafo e performer Dudu Lobato
prefiro sentir a falar, a palavra é necessidade humana para atribuir nome às coisas,
preencher o espaço vazio tentativa de explicar o que se vê ouve sente, só que a palavra
que se atribuiu para definir algo pode não ser o que se esperava em seu significado e
assim vão se formando percepções individuais da palavra e quanto mais nos prendemos
à palavra, mais nos tornamos dependentes e quanto mais palavras se juntam em nossas
mentes mais mal entendidos temos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
??????????????? início
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?????????????????????????????? Sofia é o caos ????????
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???????????????????? não sei onde vamos
chegar ??????????????????????????????????????
…………………….
??por que as pessoas sadias adoecem??????????????????????????????????????
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????????
meu corpo não é meu ? e de quem que é? Sofia é o corpo liberto em contato com o
sobrenatural e o real na virtualidade digitofágica e na ritualística dos caminhos e da
rua ????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
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as pessoas não são ?
más????????????????????????????????????????????????????????????????????????????
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Entrego e confio meu corpo à rua, minha mãe e companheira, o local mais justo
afetivo realmente público e ao mesmo tempo violento perigoso mortal ??
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s? ??????????????????????????????????????? ?????????????????????????????????????
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Nós consumismo o lixo tecnológico europeu/americano e não tem como escapar disso.
Ainda há tempo7 ?
7 “Ainda há Tempo”, música de Criolo. Link: https://youtu.be/3rUqUmJrgl8
REFERÊNCIAS e links
Corpo Sincrético no Auto do Círio
https://youtu.be/AjKQyJZURR0
Deleite
https://deleitep.wordpress.com
Égua: Sarau!
http://eguasarau.blogspot.com.br/
Terceira Égua: Sarau do Corpo Poelytik
Sophia Christi: Louvores em Tons de Rosa
https://youtu.be/DZm5Em7Iuvc
Transophia
https://youtu.be/lsJrEDOpHFY
https://youtu.be/nM2wI3vi8sE
https://youtu.be/A2TjBPx_hTc
https://youtu.be/Whn6DClC8to
https://youtu.be/hbFdNqu7hPA