transparência no relacionamento com o colaborador

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quipes E Bens & Serviços / Agosto 2012 / Edição 88 36 Manter as portas da direção da empresa sempre abertas para ouvir os colaboradores é fundamental para os negócios. Descubra como funciona a política de portas abertas e por que ela ajuda a reter talentos TRANSPARÊNCIA no relacionamento com o colaborador T rabalhar em um ambiente trans- parente e aberto ao diálogo é o desejo de muitos colaboradores. Pensando nis- so, várias companhias estão investindo na aplicação de uma política de portas abertas, que consiste no livre acesso dos colaboradores aos seus superiores para fazer perguntas, dar sugestões, crí- ticas ou simplesmente conversar. Além de atrair e reter talentos, a adoção desse modelo também tem beneficiado empresários ao otimizar a comunica- ção, estimular o feedback e evitar que os problemas cheguem aos clientes. De acordo com a proprietária da Potenciale Gestão de Pessoas, psicólo- ga Andréa Abs De Agosto, o objetivo da política é “a busca de transparência, que gera um clima favorável para se trabalhar, maior credibilidade no grupo gestor, uma melhor comunicação orga- nizacional e a diminuição dos ruídos como fofocas e rádio corredor”. Em algumas companhias, como a desenvolvedora de softwares E-Core, a política não foi implantada, nasceu junto com a empresa. “Ela está no DNA e, informalmente, na cultura da empresa”, conta a analista de Recursos Humanos Katiuscia Ferri. O pequeno número de salas e o ambiente aberto, sem paredes, da E-Core propiciam e facilitam a comunicação entre os cola- boradores. “É um time único que pode conversar e dar feedback a qualquer momento, além de ter a possibilidade de acessar diretamente o gestor, sem precisar falar antes com o líder”, afir- ma. Ainda há ações que promovem a política como: a realização de pes- quisa de satisfação pessoal, em que os funcionários opinam e sugerem novas ideias; de reuniões quinzenais de cada colaborador com seu líder para trocar informações e retornos; e de reuniões informais diárias com toda a equipe. Para Katiuscia, as portas abertas aproximam as pessoas, estimulam a liberdade de comunicação entre as equipes e os valores da E-Core, como espírito de família e transparência. “A política promove a clareza da informa- ção e evita a perda de dados, frequente em casos em que passa por muitas pes- Política de portas abertas está no DNA de empresas como a E-Core KATIUSCIA FERRI/DIVULGAÇÃO EGALI

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Revista Bens & Seriços. Ed 88, Agosto 2012

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Page 1: Transparência no relacionamento com o colaborador

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Bens & Serviços / Agosto 2012 / edição 8836

manter as portas da direção da empresa sempre abertas para ouvir os colaboradores

é fundamental para os negócios. Descubra como funciona a política de portas abertas

e por que ela ajuda a reter talentos

traNSparÊNciano relacionamento com o colaborador

Trabalhar em um ambiente trans-parente e aberto ao diálogo é o desejo de muitos colaboradores. Pensando nis-so, várias companhias estão investindo na aplicação de uma política de portas abertas, que consiste no livre acesso dos colaboradores aos seus superiores para fazer perguntas, dar sugestões, crí-ticas ou simplesmente conversar. Além de atrair e reter talentos, a adoção desse modelo também tem beneficiado empresários ao otimizar a comunica-ção, estimular o feedback e evitar que os problemas cheguem aos clientes.

De acordo com a proprietária da Potenciale Gestão de Pessoas, psicólo-ga Andréa Abs De Agosto, o objetivo da política é “a busca de transparência, que gera um clima favorável para se trabalhar, maior credibilidade no grupo gestor, uma melhor comunicação orga-nizacional e a diminuição dos ruídos como fofocas e rádio corredor”.

Em algumas companhias, como a desenvolvedora de softwares E-Core, a política não foi implantada, nasceu junto com a empresa. “Ela está no DNA e, informalmente, na cultura da

empresa”, conta a analista de Recursos Humanos Katiuscia Ferri. O pequeno número de salas e o ambiente aberto, sem paredes, da E-Core propiciam e facilitam a comunicação entre os cola-boradores. “É um time único que pode conversar e dar feedback a qualquer momento, além de ter a possibilidade de acessar diretamente o gestor, sem precisar falar antes com o líder”, afir-ma. Ainda há ações que promovem a política como: a realização de pes-quisa de satisfação pessoal, em que os funcionários opinam e sugerem novas ideias; de reuniões quinzenais de cada colaborador com seu líder para trocar informações e retornos; e de reuniões informais diárias com toda a equipe.

Para Katiuscia, as portas abertas aproximam as pessoas, estimulam a liberdade de comunicação entre as equipes e os valores da E-Core, como espírito de família e transparência. “A política promove a clareza da informa-ção e evita a perda de dados, frequente em casos em que passa por muitas pes-política de portas abertas está no dNA de empresas como a E-Core

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soas até chegar ao seu destinatário”, continua. Ela destaca também que é uma forma de reter talentos: “Os cola-boradores sentem-se bem, importantes e ouvidos”. A psicóloga Andréa explica que, ao serem ouvidos, os colaborado-res sentem-se mais pertencentes à em-presa. “Este reconhecimento reflete na sua motivação, no seu envolvimento e no comprometimento com a organiza-ção.” A aplicação do conceito de por-tas abertas, ressalta, cria um clima de confiança, credibilidade, proximidade e, assim, o trabalho flui com menos bar-reiras, beneficiando a todos: empresa, colaboradores, direção e presidência.

Como a política faz parte dos valo-res da E-Core, em processos seletivos, a empresa busca candidatos que apre-sentam boa comunicação e vontade de se posicionar, de contribuir com ideias e de ser transparente. Atualmente, a empresa conta com 120 colaboradores distribuídos entre Porto Alegre, São Paulo e Estados Unidos.

aS vaNtaGENSA Egali Intercâmbio também tra-

balha com a política de portas abertas desde o seu início, em 2007. “Enten-demos que para ter uma equipe moti-vada, principalmente, a nossa, no qual 90% são jovens, entre 18 e 26 anos, é necessário um canal claro de diálogo e de participação. Sem esta liberdade te-nho certeza de que as empresas perdem seus jovens talentos”, afirma o diretor operacional Cristiano Martins.

A vantagem da política, para a supervisora de marketing da Egali, Márcia Brentano, é que ela reduz a burocratização, diminui e aumenta o

espaço para mudanças: “Se eu desejo que um processo seja modificado, basta planejá-lo, fazê-lo, checá-lo e colocá-lo em ação. Ouvir e trabalhar junto com a equipe que lida com os processos dia-riamente facilita a enxergar soluções com outra visão e traçar alternativas”.

Martins conta que, nos últimos três anos, a Egali passou a ter um processo formal de feedbacks das equipes: “Além da liberdade no dia a dia para trazer as situações, há um momento formal para avaliação e para os colaboradores

trazerem situações em que não ficaram satisfeitos com a postura da empresa ou de um colaborador”.

Para ele, a principal vantagem da política é sempre receber o feedback por parte do colaborador, ao invés de rece-bê-lo dos clientes. “Muitas vezes, uma pessoa de dentro da corporação iden-tifica uma falha antes que chegue ao cliente, o que garante uma melhora na satisfação geral de nossos estudantes. Além disso, com uma política destas, normalmente, a equipe conversa com a

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gerência antes de decidir pela saída da empresa, o que ajuda a manter os ta-lentos dentro da corporação”, observa. A empresa conta com 140 colaborado-res, distribuídos na matriz e na filial em Porto Alegre e nas 37 filiais espalhadas pelo Brasil, além dos escritórios em Vancouver, Londres, Dublin e Sydney.

A psicóloga Andréa explica que as empresas que já nascem com a política de portas abertas impregnada em sua cultura são baseadas nos relacionamen-tos com as pessoas, preocupadas com a transparência, buscam a proatividade de seus colaboradores e se propõem a um modelo de gestão democrática e não autocrática. “As empresas refle-tem, muitas vezes, a cultura de seus fundadores. Se estes forem atualizados - não necessariamente jovens de idade, e sim atualizados - poderão reconhecer o valor da cooperação da equipe no desenvolvimento da empresa e assim fundarem um negócio já prevendo que o crescimento dependerá da gestão de portas abertas, onde todos opinam, a hierarquia é mais horizontalizada e a proatividade é incentivada”, afirma.

Por outro lado, empresas que ainda não adotaram a política devem come-çar a pensar nisso. “A concorrência e a globalização fizeram com que alguns modelos de gestão ficassem obsoletos

muito rapidamente e uma das soluções para o aperfeiçoamento contínuo foi o incentivo a participação de todos os colaboradores no processo de abertura de dados e informações. Portas abertas é uma exigência de mercado, onde as empresas necessitam de uma transpa-rência na sua gestão - inclusive dos números - para entrarem em proces-sos de abertura de capital no mercado de ações ou de sucessão de empresas, quando rumam a uma governança cor-porativa e tem que prestar contas aos acionistas e conselheiros”, ressalta.

como adotar Conforme a psicóloga Andréa, o

primeiro passo é avaliar se a empresa tem maturidade para adotar esta po-lítica. “De nada serve a derrubada de paredes físicas se as barreiras psicoló-gicas e políticas estiverem erguidas. A transparência não deve estar somen-te nos vidros que separam as salas ou nos locais de trabalho. Deverá estar na comunicação entre os colaboradores, em uma política de gestão de pessoas que tenha, em primeiro lugar, o respeito ao ser humano sem falsidade, coação, assédio moral, preconceitos ou tantas outras práticas organizacionais velada-mente praticadas em nossas organiza-ções”, destaca.

Ela recomenda que a prática deve começar de cima para baixo, permi-tindo que diretores tenham acesso ao presidente, gerentes acessem seus diretores e assim por diante. “Somen-te com exemplos de relacionamentos saudáveis entre os superiores é que os colaboradores acreditarão e terão con-fiança neste processo. Sem isso, não haverá adesão na política de portas abertas”, adverte.

Andréa alerta, ainda, para o cuida-do de que as tomadas de decisão sejam realizadas de forma adequada, seguin-do um processo de acordo com a em-presa. E exemplifica: “caso o acesso ao presidente seja muito fácil e ele tome as decisões por seus diretores e geren-tes, esses poderão sentir-se subjugados e desvalorizados. O presidente poderá se sentir sobrecarregado e tornar-se centralizador. Assim, o papel dos pro-fissionais hierarquicamente abaixo dele serão sub-utilizados”.

Outro cuidado, aponta, é com as respostas a serem fornecidas aos cola-boradores. “Pode haver questionamen-tos sobre temas estratégicos, que não poderão ser ditos aos colaboradores, como a compra de uma concorrente ou outra negociação de grande porte. Nesse caso, ao serem inquiridos, os su-periores terão de fornecer informações não conclusivas, o que deixa a sensa-ção de não terem respondido e pode questionar a transparência. Outra si-tuação é quando uma resposta dada é mal interpretada, podendo gerar mal entendidos que repercutirão negati-vamente sobre toda a empresa, colo-cando em xeque a política de portas abertas”, finaliza.

dicas de como fazer uma gestão transparente

manter livre acesso dos colaboradores aos seus superiores, abrindo margens

para questionamentos e conversas abertas

estimular que a equipe dê sugestões e considerações sobre a empresa

Dar feedbackscriar canais de diálogo e participação

realizar reuniões frequentes com a equipe