uma história geométrica€¦ · uma história geométrica humberto josé bortolossi1 carlos...

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Uma História Geométrica Humberto José Bortolossi 1 Carlos Tomei 2 1 Departamento de Matemática Aplicada, UFF 2 Departamento de Matemática, PUC-Rio 25 o Colóquio Brasileiro de Matemática IMPA, Rio de Janeiro, 24 a 29 de julho de 2005 H. J. Bortolossi e C. Tomei Geometria é cultura.

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Page 1: Uma História Geométrica€¦ · Uma História Geométrica Humberto José Bortolossi1 Carlos Tomei2 1Departamento de Matemática Aplicada, UFF 2Departamento de Matemática, PUC-Rio

Uma História Geométrica

Humberto José Bortolossi1 Carlos Tomei2

1Departamento de Matemática Aplicada, UFF

2Departamento de Matemática, PUC-Rio

25o Colóquio Brasileiro de Matemática

IMPA, Rio de Janeiro, 24 a 29 de julho de 2005

H. J. Bortolossi e C. Tomei Geometria é cultura.

Page 2: Uma História Geométrica€¦ · Uma História Geométrica Humberto José Bortolossi1 Carlos Tomei2 1Departamento de Matemática Aplicada, UFF 2Departamento de Matemática, PUC-Rio

No princípio

Axiomatização foi uma grande idéia:os pontos de partida ficam claros,as regras de encadeamento são explícitas,tem alta capacidade de persuasão.

Nos Elementos, Euclides (300 a.C., Alexandria, Egito)apresentou de forma axiomática a tradição geométrica daépoca.

A demonstração do primeiro resultado está errada.

H. J. Bortolossi e C. Tomei 1/10

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No princípio

Axiomatização foi uma grande idéia:os pontos de partida ficam claros,as regras de encadeamento são explícitas,tem alta capacidade de persuasão.

Nos Elementos, Euclides (300 a.C., Alexandria, Egito)apresentou de forma axiomática a tradição geométrica daépoca.

A demonstração do primeiro resultado está errada.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Maravilhoso presente de grego. 1/10

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No princípio

Axiomatização foi uma grande idéia:os pontos de partida ficam claros,as regras de encadeamento são explícitas,tem alta capacidade de persuasão.

Nos Elementos, Euclides (300 a.C., Alexandria, Egito)apresentou de forma axiomática a tradição geométrica daépoca.

A demonstração do primeiro resultado está errada.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Maravilhoso presente de grego. 1/10

Page 5: Uma História Geométrica€¦ · Uma História Geométrica Humberto José Bortolossi1 Carlos Tomei2 1Departamento de Matemática Aplicada, UFF 2Departamento de Matemática, PUC-Rio

A primeira demonstração errada

http://www.sunsite.ubc.ca/DigitalMathArchive/Euclid/byrne.html

H. J. Bortolossi e C. Tomei Mais claro que um livro didático moderno. 2/10

Page 6: Uma História Geométrica€¦ · Uma História Geométrica Humberto José Bortolossi1 Carlos Tomei2 1Departamento de Matemática Aplicada, UFF 2Departamento de Matemática, PUC-Rio

Dois mil anos depois

Descartes (1596-1650) criou a geometria analítica, quefaz da álgebra uma linguagem para a geometria.

Leibniz (1646-1716) pensou sobre a possibilidade deduas coisas quase matemáticas: uma linguagem simbó-lica universal, a Characteristica Universalis, e de um mé-todo automático de dedução, o Calculus Ratiocinator.

Enquanto isso, na escola, geometria sobrevivia paratreinar argumentação.

H. J. Bortolossi e C. Tomei 3/10

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Dois mil anos depois

Descartes (1596-1650) criou a geometria analítica, quefaz da álgebra uma linguagem para a geometria.

Leibniz (1646-1716) pensou sobre a possibilidade deduas coisas quase matemáticas: uma linguagem simbó-lica universal, a Characteristica Universalis, e de um mé-todo automático de dedução, o Calculus Ratiocinator.

Enquanto isso, na escola, geometria sobrevivia paratreinar argumentação.

H. J. Bortolossi e C. Tomei 3/10

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Dois mil anos depois

Descartes (1596-1650) criou a geometria analítica, quefaz da álgebra uma linguagem para a geometria.

Leibniz (1646-1716) pensou sobre a possibilidade deduas coisas quase matemáticas: uma linguagem simbó-lica universal, a Characteristica Universalis, e de um mé-todo automático de dedução, o Calculus Ratiocinator.

Enquanto isso, na escola, geometria sobrevivia paratreinar argumentação.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Motivação não era problema. 3/10

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O teorema de Pascal

A

F

P Q R

E

D

B

C

C(xA, yA) = 0, . . . , C(xF , yF ) = 0

xP = P(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)yP = Q(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)

xQ = P(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)yQ = Q(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)

xR = P(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)yR = Q(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)

det

xP yP 1xQ yQ 1xR yR 1

= 0

H. J. Bortolossi e C. Tomei Você pode trocar a elipse por outra cônica C. 4/10

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O teorema de Pascal

A

F

P Q R

E

D

B

C

C(xA, yA) = 0, . . . , C(xF , yF ) = 0

xP = P(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)yP = Q(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)

xQ = P(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)yQ = Q(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)

xR = P(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)yR = Q(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)

det

xP yP 1xQ yQ 1xR yR 1

= 0

H. J. Bortolossi e C. Tomei Você pode trocar a elipse por outra cônica C. 4/10

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O teorema de Pascal

A

F

P Q R

E

D

B

C

C(xA, yA) = 0, . . . , C(xF , yF ) = 0

xP = P(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)yP = Q(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)

xQ = P(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)yQ = Q(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)

xR = P(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)yR = Q(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)

det

xP yP 1xQ yQ 1xR yR 1

= 0

H. J. Bortolossi e C. Tomei Você pode trocar a elipse por outra cônica C. 4/10

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O que se faz com polinômios?

Como ver se p(x) e q(x) têm uma raiz comum?(Bézout, XVIII)

Como ver se p(x) tem k raízes em [a, b]?(Sturm, XIX)

Como ver que um sistema polinomial a várias variáveistem k soluções em um conjunto semi-algébrico?

(Seidenberg-Tarski, XX)

H. J. Bortolossi e C. Tomei Abandone as raízes. 5/10

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Resultantes

p(x) = a x2 + b x + c e q(x) = A x3 + B x2 + C x + Dtêm raízes comuns

m

Rx(p, q) = det

a b c

a b ca b c

A B C DA B C D

= 0.

p(x , y) = 0 e q(x , y) = 0 ⇔ Rx(p, q)(y) = 0.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Muito além da eliminação gaussiana. 5/10

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Resultantes

p(x) = a x2 + b x + c e q(x) = A x3 + B x2 + C x + Dtêm raízes comuns

m

Rx(p, q) = det

a b c

a b ca b c

A B C DA B C D

= 0.

p(x , y) = 0 e q(x , y) = 0 ⇔ Rx(p, q)(y) = 0.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Muito além da eliminação gaussiana. 5/10

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O que se faz com polinômios?

Como ver se p(x) e q(x) têm uma raiz comum?(Bézout, XVIII)

Como ver se p(x) tem k raízes em [a, b]?(Sturm, XIX)

Como ver que um sistema polinomial a várias variáveistem k soluções em um conjunto semi-algébrico?

(Seidenberg-Tarski, XX)

H. J. Bortolossi e C. Tomei Abandone as raízes. 5/10

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Contando raízes em um intervalo

Defina a partir de um polinômio p de grau 3:

p3 = p,

p2 = p′,p1 = −resto(p3, p2),

p0 = −resto(p2, p1).

O número de raízes de p em [a, b] é(variação de sinais da seqüência p3, p2, p1, p0 em a)

menos(variação de sinais da seqüência p3, p2, p1, p0 em b)

(quase sempre).

H. J. Bortolossi e C. Tomei Contar é quase calcular (divida o intervalo ao meio). 5/10

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Contando raízes em um intervalo

Defina a partir de um polinômio p de grau 3:

p3 = p,

p2 = p′,p1 = −resto(p3, p2),

p0 = −resto(p2, p1).

O número de raízes de p em [a, b] é(variação de sinais da seqüência p3, p2, p1, p0 em a)

menos(variação de sinais da seqüência p3, p2, p1, p0 em b)

(quase sempre).

H. J. Bortolossi e C. Tomei Contar é quase calcular (divida o intervalo ao meio). 5/10

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O que se faz com polinômios?

Como ver se p(x) e q(x) têm uma raiz comum?(Bézout, XVIII)

Como ver se p(x) tem k raízes em [a, b]?(Sturm, XIX)

Como ver que um sistema polinomial a várias variáveistem k soluções em um conjunto semi-algébrico?

(Seidenberg-Tarski, XX)

H. J. Bortolossi e C. Tomei Abandone as raízes. 5/10

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O que se pensava em 1900

Hilbert (1862-1943) achava que, para decidir algo emmatemática, bastava trabalhar.

Hilbert trabalhou muito: encontrou axiomas satisfatóriospara a geometria euclidiana, descreveu propriedadesgeométricas usando geometria algébrica e mecanizouuma parte da geometria.

H. J. Bortolossi e C. Tomei 6/10

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O que se pensava em 1900

Hilbert (1862-1943) achava que, para decidir algo emmatemática, bastava trabalhar.

Hilbert trabalhou muito: encontrou axiomas satisfatóriospara a geometria euclidiana, descreveu propriedadesgeométricas usando geometria algébrica e mecanizouuma parte da geometria.

H. J. Bortolossi e C. Tomei 6/10

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O que se pensava em 1900

Hilbert (1862-1943) achava que, para decidir algo emmatemática, bastava trabalhar.

Hilbert trabalhou muito: encontrou axiomas satisfatóriospara a geometria euclidiana, descreveu propriedadesgeométricas usando geometria algébrica e mecanizouuma parte da geometria.

H. J. Bortolossi e C. Tomei 6/10

Page 22: Uma História Geométrica€¦ · Uma História Geométrica Humberto José Bortolossi1 Carlos Tomei2 1Departamento de Matemática Aplicada, UFF 2Departamento de Matemática, PUC-Rio

O que se pensava em 1900

Hilbert (1862-1943) achava que, para decidir algo emmatemática, bastava trabalhar.

Hilbert trabalhou muito: encontrou axiomas satisfatóriospara a geometria euclidiana, descreveu propriedadesgeométricas usando geometria algébrica e mecanizouuma parte da geometria.

H. J. Bortolossi e C. Tomei A automação desempregaria os matemáticos? 6/10

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O teorema de Pascal

A

F

P Q R

E

D

B

C

C(xA, yA) = 0, . . . , C(xF , yF ) = 0

xP = P(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)yP = Q(xA, yA, xF , yF , xC , yC , xD, yD)

xQ = P(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)yQ = Q(xE , yE , xF , yF , xB, yB, xC , yC)

xR = P(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)yR = Q(xD, yD, xE , yE , xA, yA, xB, yB)

det

xP yP 1xQ yQ 1xR yR 1

= 0

H. J. Bortolossi e C. Tomei Você pode trocar a elipse por outra cônica C. 6/10

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O teorema de Pascal revisto por Hilbert

A

F

P Q R

E

D

B

C

Se hi(x) = 0 (os polinômios na hipótese),então t(x) = 0 (o polinômio na tese)

é o mesmo que (Nullstellensatz)

tk (x) =∑

ai(x)hi(x),

com ai polinômios.

H. J. Bortolossi e C. Tomei E como se decide isto? 6/10

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O que aprendemos em 1936

Gödel (1906-1978) desmentiu Hilbert: certas afirmaçõesverdadeiras (i.e., sem contra-exemplos) não seguem dosaxiomas.

Ser verdadeiro não é ser demonstrável.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Todo mundo tinha que saber isso. 7/10

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O que aprendemos em 1936

Gödel (1906-1978) desmentiu Hilbert: certas afirmaçõesverdadeiras (i.e., sem contra-exemplos) não seguem dosaxiomas.

Ser verdadeiro não é ser demonstrável.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Todo mundo tinha que saber isso. 7/10

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Por que Gödel nos pegou de surpresa?

Tarski (1902-1983) mostrou que a teoria de primeiraordem dos reais,

todas as frases com ∀,∃, x , 0, 1,+,−, ∗,=, >,∼,⇒,∨,∧,

admite eliminação de quantificadores (1948).

Geometria elementar é decidível.

Decidir pode ser caro e as respostas, desumanas.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Traídos por geometria. 8/10

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Por que Gödel nos pegou de surpresa?

Tarski (1902-1983) mostrou que a teoria de primeiraordem dos reais,

todas as frases com ∀,∃, x , 0, 1,+,−, ∗,=, >,∼,⇒,∨,∧,

admite eliminação de quantificadores (1948).

Geometria elementar é decidível.

Decidir pode ser caro e as respostas, desumanas.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Traídos por geometria. 8/10

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Por que Gödel nos pegou de surpresa?

Tarski (1902-1983) mostrou que a teoria de primeiraordem dos reais,

todas as frases com ∀,∃, x , 0, 1,+,−, ∗,=, >,∼,⇒,∨,∧,

admite eliminação de quantificadores (1948).

Geometria elementar é decidível.

Decidir pode ser caro e as respostas, desumanas.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Traídos por geometria. 8/10

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O problema da elipse de Kahan

c x1

1

0

d

y

ab

a>0 ∧ b>0 ∧�∀ x ,y∈R,

(x−c)2

a2 + (y−d)2

b2 =1 ⇒ x2+y2≤1�

m[(a>0) ∧ (T≥0) ∧ (c2+(b+|d |)2−1≤0) ∧ (a2≤b ∨ a2d2≤(1−a2)(a2−b2))]

∨[(0<a=b) ∧ (c2+d2≤(1−a)2) ∧ (a≤1)]

∨[(0<a<b) ∧ (T≥0) ∧ (d2+(a+|c|)2−1≤0) ∧ (b2≤a ∨ b2c2≤(1−b2)(b2−a2))], onde T é

H. J. Bortolossi e C. Tomei Problema mixuruca. 9/10

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O problema da elipse de Kahan

T = a4d8+((2 a2b2+2 a4) c2+(−4 a4+2 a2) b2+2 a6−4 a4) d6

+ ((b4+4 a2b2+a4) c4+((−6 a2−2) b4+(2 a4+2 a2) b2−2 a6−6 a4) c2

+ (6 a4−6 a2+1) b4+(−6 a6+10 a4−6 a2) b2+a8−6 a6+6 a4) d4

+ ((2 b4+2 a2b2) c6+(−2 b6+(2 a2−6) b4+(−6 a4+2 a2) b2−2 a4) c4

+ ((6 a2+4) b6+(−10 a4−6 a2+6) b4+(6 a6−6 a4−10 a2) b2+4 a6

+ 6 a4) c2+(−4 a4+6 a2−2) b6+(6 a6−8 a4+4 a2−2) b4

+(−2 a8+4 a6−8 a4+6 a2) b2−2 a8+6 a6−4 a4) d2+b4c8

+(2 b6+(−4 a2−4) b4+2 a2b2) c6+(b8+(−6 a2−6) b6

+(6 a4+10 a2+6) b4+(−6 a4−6 a2) b2+a4) c4+((−2 a2−2) b8

+(6 a4+4 a2+6) b6+(−4 a6−8 a4−8 a2−4) b4+(6 a6+4 a4+6 a2) b2

− 2 a6−2 a4) c2+(a4−2 a2+1) b8+(−2 a6+2 a4+2 a2−2) b6

+(a8+2 a6−6 a4+2 a2+1) b4+(−2 a8+2 a6+2 a4−2 a2) b2+a8−2 a6+a4.

H. J. Bortolossi e C. Tomei Você não detesta problemas literais? 9/10

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Se o seu problema é demonstrar . . .

Moral: Geometria elementar é mais simples que matemática.

Mas o que é muito difícil em matemática?

(Davis, Matiyasevich, Putnam e Robinson) Se você soubessemostrar que um polinômio de grau 4 com coeficientes inteirosnão tem soluções inteiras positivas, você saberia demonstrar

Fermat, 4 cores, Goldbach, Riemann . . .

H. J. Bortolossi e C. Tomei 10/10

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Se o seu problema é demonstrar . . .

Moral: Geometria elementar é mais simples que matemática.

Mas o que é muito difícil em matemática?

(Davis, Matiyasevich, Putnam e Robinson) Se você soubessemostrar que um polinômio de grau 4 com coeficientes inteirosnão tem soluções inteiras positivas, você saberia demonstrar

Fermat, 4 cores, Goldbach, Riemann . . .

H. J. Bortolossi e C. Tomei 10/10

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Se o seu problema é demonstrar . . .

Moral: Geometria elementar é mais simples que matemática.

Mas o que é muito difícil em matemática?

(Davis, Matiyasevich, Putnam e Robinson) Se você soubessemostrar que um polinômio de grau 4 com coeficientes inteirosnão tem soluções inteiras positivas, você saberia demonstrar

Fermat, 4 cores, Goldbach, Riemann . . .

H. J. Bortolossi e C. Tomei E física, é difícil? 10/10

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Os personagens desta história

H. J. Bortolossi e C. Tomei Nossos heróis!

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Bibliografia

H. J. Bortolossi. “Demonstrações Automáticas emGeometria Euclidiana Plana”. II Bienal da SBM,Salvador, 2004.

M. Davis. “The Universal Computer: The Roadfrom Leibniz to Turing”. W. W. Norton & Company,2000.

S. M. Rodrigues Lopes. “Complexidade em Ge-ometria Euclidiana Plana”. Dissertação de Mes-trado, Departamento de Matemática, PUC-Rio,2002.

C. Tomei. “Euclides: A Conquista do Espaço”. Co-leção Imortais da Ciência, Editora Odysseus, 2003.

H. J. Bortolossi e C. Tomei