uma reflexÃo sobre a contribuiÇÃo da danÇa na formaÇÃo do

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO DENISE CRISTINA COSTENARO MARCHESONI UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA: A PERCEPÇÃO DISCENTE SÃO PAULO 2013

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Page 1: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

DENISE CRISTINA COSTENARO MARCHESONI

UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA

FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA: A

PERCEPÇÃO DISCENTE

SÃO PAULO

2013

Page 2: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

DENISE CRISTINA COSTENARO MARCHESONI

UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA:

A Percepção Discente

Dissertação de Mestrado apresentada

como exigência para obtenção do título de

Mestre em Educação, junto à

Universidade Cidade de São Paulo, sob a

orientação da Professora Drª Ecleide

Cunico Furlanetto.

SÃO PAULO

2013

Page 3: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

M316r

Marchesoni, Denise Cristina Costenaro.

Uma reflexão sobre a contribuição da dança na

formação do professor de educação física: a

percepção discente. / Denise Cristina Costenaro

Marchesoni. --- São Paulo, 2013.

166 p.; Anexos

Bibliografia

Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade

de São Paulo - Orientador: Prof. Dr.

1. Formação docente. 2. Educação física. 3.

Dança. 4. Educação. I. Título.

CDD 371.12

Page 4: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

DENISE CRISTINA COSTENARO MARCHESONI

UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA:

A Percepção Discente

BANCA EXAMINADORA Profª Dra Ecleide Cunico Furlanetto Universidade Cidade de São Paulo Assinatura:________________________________________________

Profª Dra. Luiza Helena da Silva Chirstov Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Assinatura:________________________________________________

Profª Dra. Maria Heloisa Aguiar da Silva Universidade Cidade de São Paulo Assinatura:________________________________________________

Page 5: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos, César e Fernanda, razão

da minha vida e de minhas conquistas, que souberam entender minha ausência e,

por vezes, minha impaciência.

Ao meu marido, que sempre esteve ao

meu lado e mesmo sem entender o grande esforço que esse trabalho me exigiu, foi

grande companheiro.

Aos meus alunos universitários, pela

confiança e disponibilidade em participar da minha pesquisa.

Page 6: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

AGRADECIMENTOS Em especial a Deus, meu amigo e confidente de todas as horas, minha sustentação,

fé que não me deixou sucumbir.

À minha mãe, meu alicerce, meu colo, grande incentivadora de meus estudos!

Ao meu pai, meu grande exemplo, de honestidade, de retidão, de foco.

Às minhas irmãs, Sandra e Paula, pela paciência da escuta, pelo ombro sempre

amigo.

À minha irmã Tânia, companheira de jornada, grande educadora, que em muito

contribuiu para que eu não esmorecesse!

Ao meu sobrinho Guilherme, pela serenidade e competência, quando me ensinou a

utilizar os recursos tecnológicos do qual necessitei nos registros de minha pesquisa.

À minha orientadora Professora Doutora Ecleide Cunico Furlanetto, que com muita

sensibilidade me conduziu na escolha do tema dessa pesquisa, me orientou nas

dificuldades, acreditou na minha capacidade e me apoiou em momentos de

fraqueza!

À banca examinadora, formada pelas Professoras Doutoras Luiza Helena e Maria

Heloisa, pelas contribuições e observações que me fizeram refletir os caminhos a

serem trilhados nessa pesquisa.

Aos professores da Unicid, pela competência e dedicação com que realizam seus

trabalhos.

Aos colegas de classe, em especial da turma 15.

À minha equipe de trabalho do colégio, que com respeito e profissionalismo,

souberam conduzir as ações enquanto cursava as disciplinas do Mestrado.

Aos meus colegas da Universidade, em especial a Profª Adriana, minha

coordenadora de curso, pelo apoio e incentivo à minha pesquisa.

Page 7: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

“Voar é para os pássaros, os sonhadores e as nuvens.

Mas, quando os sonhadores assumem a posição de

professores e conseguem transmitir suas ideias e

conceitos a ponto de transformá-los em movimentos

conscientes, seus alunos sentem-se pássaros. Seus

espíritos chegam às nuvens. Gente é como nuvem, sempre

se transforma”.

ANGEL VIANNA

Page 8: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

RESUMO

O forte interesse por esse trabalho surgiu da experiência da pesquisadora como docente na Educação Básica que permitiu constatar a deficiência no preparo dos docentes desse segmento para trabalhar conteúdos ligados a atividades rítmicas e expressivas, em especial a Dança. Nessa perspectiva, o presente estudo teve como objetivo geral identificar a percepção dos alunos do Curso de Licenciatura em Educação Física sobre as contribuições da Dança e de seus impactos na sua formação profissional. Para isso, foram estabelecidos diálogos com diferentes autores que possibilitaram ampliar os conhecimentos sobre o trabalho com a Dança na Educação Física. O estudo pautou-se na abordagem qualitativa (DENZIN, 2006). A coleta de dados baseou-se na técnica da entrevista episódica (BAUER & GASKELL, 2002). A análise dos dados foi realizada com base na análise do conteúdo (FRANCO, 2008). Ao se concluir a pesquisa, constatou-se que o trabalho com Dança, desenvolvido com os discentes de Licenciatura em Educação Física, possibilita que atribuam novos significados às práticas corporais e oferece subsídios para a inclusão do componente em suas aulas. Considerando que, a Educação Física traz na sua história uma concepção de formação profissional pautada na abordagem biológica, militar e de esportivização, bem como, os conteúdos e as atividades rítmicas e expressivas ainda serem pouco explorados no cotidiano escolar, sugere-se a necessidade de realização de novas pesquisas sobre essa temática, visando maior entendimento sobre o assunto. Palavras-chave: Formação Docente; Educação; Educação Física; Dança.

Page 9: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

ABSTRACT

The main motivation for this work came from the experience as a teacher in Elementary School which revealed a deficiency, in the formation of teachers in this segment, to work contents related to rhythmical and expressive activities, specially dancing. In this perspective, the present study had the purpose of identifying Physical Education students’ perception about the contribution of dancing and its impacts in their formation. To do this, dialogues with different authors were set up, which enlarged the knowledge about working with dance in Physical Education. The work was based on a qualitative approach (DENZIN, 2006). Data collection was based on the episodic interview method (BAUER & GASKELL, 2002). Data analysis was based on content analysis (FRANCO, 2008). At the end of this research, it was found that work with dance developed with Physical Education students enables them to assign new meanings to body practices and offers them subsidies to introduce this component in their classes. Considering that Physical Education has in its history a professional formation based on biological, military and sports approach, the contents linked to rhythmical and expressive activities are not common in school routine, it is suggested then, the need for further researches about this topic, aiming to a better understanding of the subject. Keywords: Teacher Training; Education; Physical Education; Dance.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Perfil dos alunos do Matutino do 3º Semestre da Licenciatura............... 62

Quadro 2 – Perfil dos alunos do Noturno do 3º Semestre da Licenciatura................ 63

Page 11: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

1.1 Falando sobre a trajetória profissional ................................................................ 11

2 CAPÍTULO 1 - ASPECTOS QUE ENVOLVEM A FORMAÇÃO DOCENTE ......... 18

2.1 Docência e Educação Física na trajetória profissional: uma retrospectiva

histórica ..................................................................................................................... 22

2.2 A Educação Física com enfoque na militarização do corpo ................................ 24

2.3 A ênfase nos conteúdos de cunho esportivo ....................................................... 26

2.4 Um novo olhar para Educação Física ................................................................. 29

2.5 Desafios na formação específica para a docência em Educação Física ............. 33

3 CAPÍTULO 2 - O CORPO NA DANÇA .................................................................. 37

3.1 A Dança como canal significativo de aprendizagem ........................................... 44

3.2 A Dança na educação ......................................................................................... 46

3.3 A Dança no espaço da Educação Física escolar ................................................ 50

4 TRAÇADO METODOLÓGICO ............................................................................... 57

4.1 Contexto da pesquisa .......................................................................................... 57

4.2 Sobre o curso de licenciatura em Educação Física ............................................. 58

4.3 Os sujeitos de pesquisa ...................................................................................... 59

4.4 Procedimentos e organização de coleta de dados .............................................. 60

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ......................................................... 64

5.1 Quanto à escolha profissional ............................................................................. 64

5.2 Quanto ao apoio familiar e social ........................................................................ 65

5.3 Quanto às expectativas dos alunos sobre o curso de licenciatura em

Educação Física ....................................................................................................... 66

5.4 Lembranças das aulas de Educação Física na educação básica: a tensão

entre aspectos criativos e defensivos ........................................................................ 67

5.5 Experiência com a Dança na Educação Básica e sentimentos despertados

na vivência com a Dança .......................................................................................... 70

5.6 Experiência social com a Dança ......................................................................... 72

Page 12: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

5.7 Experiência acadêmica com a Dança e disciplinas relacionadas ........................ 73

5.8 Expectativas do discente para o desenvolvimento da Dança na graduação ....... 74

5.9 Conceito de Dança .............................................................................................. 76

5.10 Considerações dos discentes sobre a Dança no espaço da Educação

Física Escolar ............................................................................................................ 79

5.11 Preparação dos discentes para desenvolver o conteúdo de Dança na

escola ........................................................................................................................ 84

5.12 Sentimentos vivenciados pelos discentes após o desenrolar do conteúdo

de Dança na Graduação ........................................................................................... 87

5.13 Descrição de um fato marcante ou situação de conflito durante o semestre

dos trabalhos ............................................................................................................ 89

5.14 Leitura e análise de uma citação sobre Dança na escola ................................. 92

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 95

7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 99

8 ANEXOS .............................................................................................................. 105

ANEXO A - “DIÁRIO DE BORDO DA PESQUISADORA” 2012 .............................. 105

ANEXO B - ROTEIRO DA ENTREVISTA INICIAL .................................................. 110

ANEXO C - ROTEIRO DA ENTREVISTA FINAL .................................................... 112

ANEXO D - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS INICIAIS .................................. 113

ANEXO E - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS FINAIS .................................... 153

Page 13: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

11

1 INTRODUÇÃO

1.1 Falando sobre a trajetória profissional

Iniciei minha carreira profissional como professora de Educação Física na

Educação Básica da Rede Particular de Ensino. Trabalhei com alunos desde a

Educação Infantil até o Ensino Médio. Sempre demonstrei preocupação em inovar

buscando estratégias e conteúdos que motivassem os alunos para prática de

atividade física. Percebia no decorrer do ano letivo que alguns alunos solicitavam

dispensa das aulas de Educação Física ministradas na escola, porém praticavam

atividade física em academias e clubes.

Procurei me aproximar desses alunos para entender o que os distanciava da

atividade física praticada na escola e o que, aparentemente, encontravam na

academia ou no clube, que não encontravam nas unidades escolares. Mesmo tendo

claro que muitas das academias realizam um trabalho cujos objetivos se diferenciam

dos assumidos pela escola, com foco prioritariamente na estética, na cultura das

aparências, percebi que alguns elementos das práticas realizadas nas academias

poderiam inspirar o cotidiano escolar, caso fossem adaptados e contextualizados

para a realidade da escola. Constatei que, além da prática da atividade física que

atendia aos objetivos dessa faixa etária, a academia se constituía em um ponto de

encontro e em um espaço no qual era possível escolher entre as diferentes

atividades oferecidas. Procurei trazer esse clima para minhas aulas.

Busquei inovar em sala de aula, inseri atividades que envolviam o movimento

corporal e a música. O interesse e a motivação dos alunos foram tão grandes que

senti necessidade de realizar um trabalho extraclasse com Dança. No entanto,

constatei que essa era uma atividade procurada somente pelas meninas. O trabalho

continuou ganhando notoriedade na escola e foi necessário criar um grupo para

mães de alunos interessadas.

Concomitantemente, observei que os profissionais de Educação Física tinham

um grande preparo para o trabalho com conteúdos de cunho esportivo, porém as

atividades rítmicas e expressivas eram cercadas de preconceitos e de

desconhecimento, o que parecia se refletir diretamente nos interesses e resistências

Page 14: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

12

dos alunos homens, pois, grande número desses alunos apesar de se envolverem

com música e praticarem a Dança em eventos sociais, na escola, somente

demonstravam interesse pelas práticas esportivas.

Em um país multicultural, cosmopolita, com uma riqueza de diversidade de

costumes, tradições e expressões como o Brasil, não se realizar trabalhos que

explorem as manifestações culturais parece ser uma incoerência.

[...] Num país em que pulsam o samba, o bumba-meu-boi, o maracatu, o frevo, o afoxé, a catira, o baião, o xote, o xaxado entre muitas outras manifestações, é surpreendente o fato de a Educação Física ter promovido apenas a prática de técnicas de ginástica e (eventualmente) danças européias e americanas. A diversidade cultural que caracteriza o país tem na dança uma de suas expressões mais significativas, constituindo um amplo leque de possibilidades de aprendizagem. (BRASIL, 1997b, p.51)

Nunca fui dançarina, mas como profissional da área de Educação Física

aprendi a reconhecer a importância das atividades rítmicas e expressivas, e entre

elas a Dança, para além de suas especificidades e como um importante canal de

aprendizagem. A partir de leituras, cursos e vivências descobri a amplitude e as

limitações da área da Dança. A Dança sempre esteve presente em minha vida

pessoal, acadêmica e profissional, pois além de apreciar dançar, sempre estive

ligada aos movimentos ginásticos, especificamente a Ginástica Artística que agrega

a vertente da dança às suas bases elementares.

A dança, com base nos PCNs1 da Educação Física é incluída nas Atividades

Rítmicas e Expressivas, sendo considerada conteúdo da cultura corporal. Os PCNs

sugerem, por meio deste bloco de conteúdos, que se resgate os diferentes tipos de

manifestações culturais, rítmicas e expressivas existentes no Brasil e no mundo.

São exemplos de atividades: brinquedo cantado, brincadeiras de roda, danças

urbanas brasileiras, cirandas, danças folclóricas e etc.

Vale ressaltar que, os PCNs abordam a dança tanto na Educação Física

(BRASIL, 1997b) quanto nas Artes (BRASIL, 1997b), ambas para o Ensino

1 PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais: são referências de qualidade para o Ensino

Fundamental e Médio do país, elaborado pelo Governo Federal. O objetivo é propiciar subsídios e referências para a elaboração e reelaboração do currículo, tendo em vista um projeto pedagógico em função da cidadania do aluno e uma escola em que se aprende mais e melhor.

Page 15: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

13

Fundamental, na tentativa de ampliar as possibilidades de intervenção do professor

de Educação Física que atua na escola.

De acordo com Marques (1990) algumas das razões para ausência da Dança

na escola se deve:

[...] à ignorância daquilo que pode ser considerado dança, a falta de visão de que a dança não é necessariamente algo academizado, a falta de experiência das pessoas no que diz respeito à dança, uma concepção restrita de educação e, também, a dificuldade de lidar com o corpo, durante tantos séculos condenado ao profano e ao pecado (MARQUES, 1990, p. 14).

Em 2004, ingressei na docência do Ensino Superior no Curso de Educação

Física. Ministro disciplinas relacionadas à Ginástica. É possível identificar, com base

em conversas e dinâmicas em sala de aula, com alunos ingressantes no 1º semestre

que a grande maioria já entrou em contato com esporte em suas diferentes

modalidades, tais como: futebol, voleibol, basquete, etc. Uma parte dos alunos

ingressantes já está em academias trabalhando, principalmente, com musculação.

No entanto, é raro encontrar algum aluno que tenha tido experiências com atividades

rítmicas e danças.

Atuo, também, com a disciplina: Cultura Corporal do Movimento Humano I,

ministrada no 3º semestre do Curso de Educação Física, na qual, entre outros

conteúdos, introduzo a Dança. Para desenvolver este conteúdo, reporto-me a

experiência que tive com os alunos da Educação Básica. Percebo que, ao trazer

para sala de aula minhas experiências, desmistifico e amplio a percepção dos

alunos a respeito da Dança. Apesar da indisposição inicial frente a este conteúdo, no

decorrer do semestre os alunos se envolvem com as aulas, que se tornam

prazerosas, independente do gênero trabalhado.

Por outro lado, também, minha experiência como docente na Educação

Básica possibilitou constatar o despreparo dos docentes desse segmento para

trabalhar conteúdos ligados a atividades rítmicas e expressivas, em especial a

Dança.

Segundo Pereira e Hunger,

Page 16: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

14

[...] já pensando no papel da universidade, pode-se sugerir um empenho maior por parte desta em promover mais reflexões e discussões dos alunos acerca do que é dança e de seu papel na Educação Física e na sociedade (PEREIRA; HUNGER, 2009, p.777).

Em uma sociedade globalizada observa-se, cada vez mais, o culto ao corpo

modelado e estereotipado derivado de movimentos padronizados e codificados e de

um modelo fortemente imposto pelos canais de comunicação.

Para Brasileiro e Marcassa (2008)

[...] Temos visto, na sociedade contemporânea, um discurso hegemônico sobre o corpo considerado como santuário do músculo, como emblema da cultura da aparência, como modelo de perfeição e identidade tido como universalmente aceito e desejado, reforçando a imagem do sujeito narcísico. E para o alcance desse ideal de corpo, diante de tantas tecnologias e pedagogias para o controle e a modificação dos corpos, a educação física, que desde suas origens partilha de uma concepção dualista, mecanicista, organicista e individualista de educação do corpo, integra-se aos mecanismos de ampliação da obsessão, da opressão e da padronização dos indivíduos (BRASILEIRO; MARCASSA, 2008, p.196).

Entendo que a Dança oferece aos futuros profissionais de Educação Física

um canal de aprendizagem diferenciado e motivador, permitindo o desenvolvimento

de uma consciência corporal significativa.

A revisão da literatura sobre essa temática e os levantamentos pesquisados

em teses e dissertações do Banco de Teses da Capes, defendidas nos anos de

2008, 2009 e 2010 demonstram que, a maioria dos autores que abordam essa

temática exploram a atuação do professor de Educação Física e o desenvolvimento

da Dança na escola, ou investigam a trajetória da dança e suas manifestações em

diferentes épocas históricas.

Com base no descritor “Dança e Formação Docente” foram encontradas em

2008, três dissertações de Mestrado, dentre as quais apenas uma se aproximava do

tema dessa pesquisa. Trata-se da dissertação de Luna (2008) que toma como fonte

as histórias de vida de dois professores e tem como meta identificar e analisar o

percurso ressignificativo do corpo e de si mesmo na trajetória do pesquisador. O fio

condutor da pesquisa é a ressignificação do corpo, com a utilização da Dança. Não

foram encontradas teses de doutorado. Com o mesmo descritor, em 2009, foram

encontradas três dissertações de Mestrado e uma tese de Doutorado. Dentre elas, a

Page 17: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

15

dissertação de mestrado de Cupertino (2009) aborda o tema com o objetivo de

compreender o processo de apropriação dos saberes docentes e a sua relação com

o processo de inserção da Dança Folclórica, pelos professores de Educação Física,

na rede de ensino do Estado de Minas Gerais, especificamente em Belo Horizonte.

Em 2010 foram localizadas duas dissertações de Mestrado e uma delas, a de

Miyabara (2010), se referia ao tema, porém com o objetivo de refletir sobre o papel

do conteúdo curricular Dança na formação do licenciado em Educação Física e

análise documental das matrizes curriculares de dez Universidades que oferecem o

curso de Licenciatura em Educação Física. Nesse mesmo ano foi encontrada uma

tese de Doutorado que não abordava o tema. Nesse período não foram encontradas

pesquisas que investigassem a percepção dos alunos do Curso de Educação Física

à respeito da contribuição da Dança em sua formação profissional

Por outro lado, autores que investigam a relação Dança na educação, como:

Garaudy (1980), Ossona (1988), Laban (1990), Fahlbusch (1990), Nanni (1998),

Verderi (1998), Ehrenberg (2003), Garcia e Hass (2003), Marques (1990, 2007,

2011), Vianna (2005), Miller (2012) têm contribuições importantes sobre o ensino

contextualizado e significativo da Dança.

Com base em minha experiência como docente no Ensino Superior e

pautando-me na revisão de literatura efetuada, algumas questões emergiram e

possibilitaram traçar o caminho de pesquisa: Qual a percepção e vivência dos

discentes em relação ao conteúdo da Dança? Quais as contribuições que o trabalho

com Dança oferece aos futuros profissionais de Educação Física? Quais os desafios

que enfrentam esses discentes na aprendizagem do conteúdo de Dança no decorrer

do Curso de Educação Física?

Nessa perspectiva a pesquisa tem como objetivo geral:

Identificar a percepção dos alunos do Curso de Licenciatura em Educação

Física sobre as contribuições da Dança e de seus impactos para sua

formação profissional.

Como objetivos específicos:

Page 18: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

16

Estabelecer diálogo com diferentes autores que analisam a Dança e levantar

sua contribuição para a formação dos futuros profissionais no Curso de

Licenciatura em Educação Física;

Entrevistar alunos do Curso de Licenciatura em Educação Física com vistas a

coletar os dados de pesquisa.

Analisar os dados coletados com base nos diálogos teóricos efetuados,

visando ampliar a compreensão do papel da Dança nos espaços educativos.

O trabalho será composto de:

Introdução: Apresentação do tema com base na experiência profissional da

autora da pesquisa.

Capítulo I: Formação Docente e Educação Física: trata de alguns aspectos

que envolvem a formação acadêmica e nesse sentido realizou-se uma

retrospectiva histórica da Educação Física até os dias atuais. A leitura de

autores como Gallardo (1998), Bracht (1999), Soares (2001), Vasconcellos

(2003), Furlanetto, E.C (2003), Kunz (2003), Zabalza (2004) Martins (2006),

Feldmann (2009), Silva (2009), Tardiff (2010) , Hunger (2004). Nista-Piccolo

(2011), Szymanski (2010), Gimenez (2011), permitiu a reflexão de aspectos

importantes ocorridos nos processos formativos e a compreensão da

complexidade que envolve a formação docente em Educação Física.

Capítulo II: O Corpo na Dança: fazem-se algumas considerações sobre o

corpo e a Dança em diferentes momentos da História como parte de nossa

cultura que expressa e simboliza a existência humana. Também visa refletir

sobre a Dança enquanto conteúdo a ser trabalhado na Educação Física

Escolar à luz dos PCNs e, assim, discutir a percepção dos alunos sobre o

conteúdo de Dança na formação do futuro profissional que atuará na escola.

Traçado Metodológico: há uma descrição do caminho metodológico da

pesquisa, apresentada como qualitativa (BAUER & GASKELL, 2002),

utilizando a entrevista episódica como procedimento de coleta de dados.

Trata-se de uma técnica que visa à coleta de informações sobre determinado

assunto e que são diretamente solicitadas aos sujeitos pesquisados.

Page 19: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

17

Análise de Dados: realizou-se a análise de dados com base na análise do

conteúdo (FRANCO, 2003).

Considerações Finais em que se discutem os resultados apresentados na

pesquisa e as prováveis contribuições e/ou entraves da formação profissional

em Educação Física.

Page 20: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

18

2 CAPÍTULO 1 - ASPECTOS QUE ENVOLVEM A FORMAÇÃO

DOCENTE

“O professor deve ter o direito de não saber tudo e de estar em

constante crescimento, quanto mais se permitir o uso de

experiências tanto melhor “aprenderá a aprender”; quanto mais

possa participar, mais poderá enfrentar sua realidade. Assim sendo,

tanto mais adaptável à mutabilidade da vida. Sabemos que não é

tarefa fácil, porém é permitido,

possível e necessário”.

“Assim, a peça fundamental em todo o processo chama-se ‘ser

humano’, e acredito que é possível encurtar o caminho entre o

escrito, o falado e o feito, do previsto e o realmente praticado”.

JOSE CARLOS DE FREITAS BATISTA

A sociedade atual passa por expressivas transformações econômicas,

sociais, tecnológicas, políticas e culturais que direta ou indiretamente levam a

reflexão sobre a necessidade de novas competências profissionais. De maneira

geral fala-se da importância da capacitação e formação constante do trabalhador.

Frente a essa realidade e considerando a necessidade de uma nova formação

profissional surgem algumas condições defendidas pelo mercado de trabalho tais

como: a inteligência, a criatividade, a capacidade de comunicação, a flexibilidade

para se adaptar às mudanças, a capacidade de liderança, de gestão, de aquisição

da visão de conjunto e do processamento de informações, aliadas a habilidade para

utilização de diferentes recursos tecnológicos. Nesse cenário, os sistemas

educativos são chamados a dar respostas a essas necessidades.

Para Szymanski,

[...] Essas mudanças não permitem mais a qualificação obtida por meio de imitação ou repetição, a formação permanente da mão-de-obra adquire, então, a dimensão de um investimento estratégico que implica a mobilização de vários atores: os sistemas educativos, formadores privados, empregadores e representantes dos trabalhadores estão convocados de modo especial (SZYMANSKI, 2010, p.86)

Page 21: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

19

Diante de uma nova cultura do trabalho o universo escolar e acadêmico é

diretamente afetado. O professor, como também outros profissionais, vê-se

impulsionado a rever sua atuação, suas responsabilidades e seus processos de

formação e de ação. Nessa perspectiva, pensar a formação do professor é pensar a

formação do humano e, portanto, vislumbrar a possibilidade de mudanças em

qualquer que seja o espaço de sua atuação.

Para Feldmann (2009) o trabalho docente se constitui em uma profissão rica

de interações humanas, que visa mudar ou melhorar a condição humana das

pessoas. Segundo Tardiff (2010) a profissão de professor não é de alguém que

aplica conhecimentos produzidos por outros, vai muito além disso. Trata-se de um

sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo constroi, por

meio de conhecimentos que ele possui e um saber-fazer provenientes de sua

própria atividade e a partir dos quais ele a estrutura e orienta.

A leitura de Tardiff (2010) permite considerar que o trabalho docente tem sido

frequentemente compreendido por sua dimensão técnica, ignorando que o professor

não pode ser entendido à margem de sua condição humana. Não se pode

desconsiderar a importância de sua identidade pessoal e profissional no processo

educacional. Refletir sobre a ação do professor na atualidade é refletir sobre suas

intenções, suas crenças, seus valores, as condições em que exerce seu trabalho e

que influenciam diretamente em sua prática cotidiana; reflexão esta indicando onde

estariam enraizadas as concepções e motivações para o exercício de sua profissão,

pois o ensino é uma prática social complexa, carregada de valores, de conflitos e

que necessita de posturas éticas e políticas.

Segundo Gimenez (2011) a profissão “professor”, entre outras condições,

exige a necessidade de se estudar sistematicamente, Para o autor é necessário

assumir que o processo de preparação profissional não se encerra com o curso de

Licenciatura. Em outras palavras, a formação continuada do professor assume uma

importância cada vez maior.

A formação contínua ou permanente tornou-se um processo necessário e

irreversível. Nesse aspecto, Vasconcellos (2003) defende que o espaço de trabalho

coletivo constante é decisivo para concretizar a oportunidade de formação

continuada. O autor ainda enfatiza que, estas perspectivas de formação não

Page 22: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

20

dispensam aquela de nível pessoal, que está diretamente ligada à disposição do

professor para se rever, buscar, fazer uma autocrítica e se comprometer com a

superação dos limites encontrados.

Nesse contexto, Vasconcellos (2003), afirma:

[...] Por esta formação, o professor busca a (re) construção da identidade

pessoal e profissional, mantendo uma constante interação entre o projeto

pessoal, o educativo e o social. [...] Uma forma de avançar na autonomia é

o professor deixar de ser elemento apenas de circulação e passar a ser

também de produção de conhecimento (elaboração a partir de pesquisa).

(VASCONCELLOS, 2003, p.182)

O processo de formação requer, portanto, ser compreendido como um

processo inacabado, em constante movimento de reconversão e mudanças, e a

escola identificada como um espaço privilegiado de formação profissional.

Corroborando com essa questão, Perrenoud (2002), Furlanetto (2003) e

Vasconcellos (2003) concordam com a impossibilidade de construir um único

modelo de formação. Os autores ressaltam a importância de considerar as

experiências e vivências decorrentes de escolhas pessoais, e a análise profunda

dessas trajetórias como fatores de contribuição na formação do profissional

reflexivo, capaz de dominar sua própria evolução e construir competências e

saberes novos, mantendo uma constante interação entre seu projeto pessoal, o

educativo e o social.

A esse respeito Furlanetto (2003) refere que,

[...] O lugar onde o professor constroi respostas para os desafios impostos pela prática, aos poucos vai sendo explorado, desdobrado e ampliado. O professor toma decisões, processa informações, atribui sentidos, fundamentado no que conhece e sabe; sua subjetividade é composta por uma mescla de teorias, vivências, crenças e valores. (FURLANETTO, 2003, p.12)

Para essa autora, a crença de que o professor constitui-se como docente

somente a partir da formação inicial e contínua, cede espaço a uma percepção mais

ampla dos processos formativos.

Page 23: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

21

Para Tardiff (2010) os saberes profissionais dos professores são temporais,

ou seja, são adquiridos através do tempo, em pelo menos três sentidos:

De sua própria história de vida e, sobretudo, de sua história de vida escolar:

os professores vivenciaram seu espaço de trabalho pelo menos 16 anos

antes de iniciarem seu efetivo trabalho. Vivência esta, norteada por um corpo

de conhecimentos anteriores, de crenças, de valores e de representações e

certezas sobre a prática docente. Quando iniciam o trabalho como

professores, na busca por soluções de conflitos, buscam modelos em suas

histórias familiares e escolares;

Dos primeiros anos de práticas profissionais, que são decisivos para

aquisição de competências e para o estabelecimento de rotinas de trabalho

que organizam a prática profissional docente. Para o autor, ainda hoje os

professores aprendem por tentativa e erro, ou seja, uma aprendizagem

caracterizada por sobrevivência profissional;

São utilizados e desenvolvidos ao longo de uma carreira, isto é, de um

processo de longa duração, envolvido em dimensões identitárias e dimensões

de socialização profissional, de fases e mudanças.

Para Furlanetto, (2003) existe um espaço ainda pouco explorado na formação

de professores. A autora ressalta que ainda nos deparamos com práticas formativas

baseadas no fornecimento de recursos teóricos e técnicos, acreditando de maneira

ingênua que a formação de professores acontece somente nos espaços destinados

a esse fim.

A nova concepção de formação está vinculada a todo ciclo vital das pessoas,

no caso do professor, considerando os diferentes aspectos de sua história,

individual, profissional, etc., reconhecendo os saberes construídos ao longo de sua

carreira.

Corroborando com essa questão Zabalza (2004) refere que,

[...] Reforça-se, assim, a ideia de que a formação transcende a etapa escolar e os conteúdos convencionais da formação acadêmica, constituindo um processo intimamente ligado a realização pessoal e profissional dos indivíduos. Tal perspectiva de continuidade altera de modo notável o sentido e a orientação da formação que os diversos agentes sociais devem

Page 24: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

22

proporcionar em cada um dos ciclos vitais das pessoas. Enfim, partindo da nova ideia de que os sujeitos se formam ao longo da vida, um novo marco de condições foi se configurando (estruturais, curriculares, organizativas, etc.) para o desenvolvimento da formação. (ZABALZA, 2004, p. 53)

Cumpre destacar que, o desenvolvimento profissional dos professores torna-

se um desafio permanente da educação, pois abarca todas as suas experiências

formativas. Estas influenciam a qualidade do processo ensino e aprendizagem,

refletindo diretamente em sua qualificação e competência profissionais. A questão

da formação docente, como se vê, é muito complexa, pois envolve não só sua

história de vida, como o período acadêmico e toda a vida profissional.

2.1 Docência e Educação Física na trajetória profissional: uma

retrospectiva histórica

As IES que desenvolvem cursos de Educação Física no Brasil

apresentam currículos bastante diversificados, demonstrando

indefinição no perfil profissiográfico do campo da cultura corporal e,

principalmente em relação às ofertas de praticas de ensino e de

supervisão de estágios. As maiores convergências entre os cursos

estão na aplicação dos conhecimentos específicos das modalidades

esportivas tradicionais, sendo que nem todos dão conta de

abordá-las pedagogicamente.

VILMA L. NISTA-PICCOLO

No Brasil, a Educação Física Escolar organizada e sistematizada teve início

no século XIX. Para Gallardo, (1998) o país vivia um momento de transição da

sociedade escravista para uma formação social capitalista. Referenciando as

tendências europeias que predominavam em diferentes campos do saber, existia a

preocupação de construir um homem novo, que atendesse a nova ordem política,

social, econômica emergente. O objetivo era formar um homem sadio, forte, para

produzir e render de acordo com o processo de desenvolvimento do país.

Page 25: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

23

Os médicos brasileiros assumiram a tarefa de reorganizar os hábitos

higiênicos da família, livrando-os dos erros do período colonial. O foco dos médicos

nessa época ia além dos costumes privados, eles queriam tirar o homem do estado

de letargia e preguiça, afastando-os de hábitos que pudessem deteriorar a saúde e

comprometer a vida em sociedade.

Para atingir esses objetivos os médicos higienistas buscaram a Educação

Física, utilizando-se de ferramentas e recursos apoiados pelas Ciências Biológicas.

Ocuparam-se de introduzir programas disciplinares e de exercícios corporais nas

escolas, para fortalecer os indivíduos, moral e fisicamente, em busca da construção

de uma nova sociedade.

As aulas de Educação Física começaram a ser desenvolvidas separando-se

meninos de meninas. Afinal, os objetivos eram diferentes: para os meninos

buscavam-se homens fortes, produtivos, talvez futuros militares para defender a

nação; para as meninas buscavam-se mulheres femininas, reprodutoras e futuras

domésticas do lar. É preciso salientar que os médicos higienistas acabaram

contribuindo para discriminação e marginalização de todos aqueles que, por

diferentes razões não se encaixavam no modelo idealizado por eles.

Soares (2001) destaca:

[...] A Educação Física no Brasil, em suas primeiras tentativas para compor o universo escolar, surge como promotora da saúde física, da higiene física e mental, da educação moral e da regeneração ou reconstituição das raças. Higiene, raça e moral pontuam as propostas pedagógicas e legais que contemplam a Educação Física, e as funções a serem por ela desempenhadas não poderiam ser outras senão as higiênicas, eugênicas e morais. (SOARES, 2001, p.91).

A elite enxergava o exercício físico como lazer, preenchimento do tempo

livre, e não deveria ser comparada à mesma condição das atividades intelectuais

valorizadas por eles, ou seja, não estavam de acordo com a implementação da

atividade física obrigatória nos colégios em que os filhos estudavam. Entretanto, são

inegáveis os avanços do progresso científico da higiene nesse período e sua

contribuição na contenção de doenças, das epidemias e do grande índice de

mortalidade.

Page 26: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

24

2.2 A Educação Física com enfoque na militarização do corpo

Com a Primeira Guerra Mundial a Educação Física escolar ganhou forte

influência dos militares. Além de atender a demanda da ordem econômico-industrial

do país, formando trabalhadores habilidosos, saudáveis, que resistissem a longas

rotinas motoras de trabalho, havia a preocupação de preparar corpos para os

combates, ágeis e fortes para suportarem grandes desgastes em defesa da nação.

Em 1907 foi criada a primeira escola de formação de instrutores de Educação

Física – Escola de Educação Física da Força Policial do Estado de São Paulo e, em

1922, do Centro Militar de Educação Física do Rio de Janeiro. Nesse período,

passou-se a contratar militares para serem professores ou instrutores de ginástica

nas escolas. Reforçando o ideário médico higienista/eugenista, esses militares,

partindo de uma concepção positivista de que o homem é um ser essencialmente

biológico, com diferenças naturais que justificavam as desigualdades sociais,

introduziram nas escolas a preocupação com a formação de futuros militares.

A Educação Física foi fortemente influenciada pelo regime militar,

caracterizando todo trabalho corporal ao adestramento físico, como maneira de

preparar corpos para o cumprimento do dever de defender a nação em combates

internos e externos. Nesse período surgem diversas abordagens ginásticas no Brasil

em substituição ao modelo alemão introduzido em 1860.

Segundo Gallardo, (1998), Soares (2001), Nunomura e Tsukamoto (2009)

surgiram nessa época alguns métodos e entre eles destacaram-se:

Método Alemão: que se caracterizava por um forte espírito nacionalista,

apresenta um conteúdo higiênico e tem como finalidade primeira tornar os

corpos ágeis, fortes e robustos. O corpo anatomofisiológico sempre foi seu

objeto de atenção. Eram propostos movimentos padronizados que tinham a

mesma amplitude, intensidade e velocidade para todos, sejam esportistas,

trabalhadores ou estudantes. A disciplina e a obediência às ordens superiores

e a exatidão dos movimentos são marcantes. Guts Muths e Friederich Ludwig

Jahn foram os idealizadores da ginástica alemã. Desse método tiveram

origem a ginástica artística e a ginástica rítmica esportiva. Para as escolas

Page 27: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

25

brasileiras o método alemão não foi considerado como o mais adequado e

Rui Barbosa preferiu que as escolas adotassem o método sueco. Com isso, o

método alemão foi se restringindo aos estabelecimentos militares.

Método Sueco: método de ginástica pautado pela ciência, com fins

“pedagógicos” e “sociais”. Foi desenvolvido no início do século XIX e sua

principal finalidade foi de promover a saúde física e moral e regenerar o povo

sueco vitimado por diversas doenças. Pehr Henrick Ling foi seu criador e

acreditava no indivíduo visto em sua integralidade. No Brasil, Rui Barbosa foi

um defensor da ginástica sueca de Ling.

Método Francês: a ideia central da Ginástica Francesa era que todos tinham

direito à educação e ao desenvolvimento social. Teve como fundador D.

Francisco de Amoros y Ondeano, que era imbuído de ideais patrióticos e

morais, criando um método de ginástica bastante semelhante ao de Ling, na

Suécia. De acordo com a finalidade divide-se em: ginástica civil e industrial,

militar, médica e cênica. A ginástica civil foi a que despertou o interesse dos

brasileiros.

Pode-se perceber que os “métodos de ginástica” aqui apresentados

aproximam-se de um conteúdo anatomofisiológico, além disso, valorizam a moral de

classe, a obediência, a disciplina, o esforço individual, a ordem, a formação de

hábitos. Eles estão orientados para o desenvolvimento físico e para saúde,

desconectados das relações sociais, fruto de uma prática considerada neutra e de

uma visão do homem essencialmente biológico.

Segundo Gallardo (1998, p. 18): “Essa visão mecânico-utilitarista do corpo

humano como máquina constitui a base ideológica do ensino de Educação Física,

influenciando, por extensão, a formação dos profissionais da área”.

É importante destacar que, nessa perspectiva, os conteúdos desenvolvidos

nos cursos de Educação Física eram predominantemente aqueles provenientes das

Ciências Biológicas, enfatizando a Biologia, Anatomia e Fisiologia. Assim, o enfoque

principal do processo ensino-aprendizagem se concentrava em como fortalecer o

Page 28: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

26

corpo por meio de exercícios e o que fazer para manter esse corpo saudável e

resistente às condições de trabalho, cultivando bons hábitos de higiene e valores

morais compatíveis com a nova ordem político-econômica da primeira metade do

século XX.

2.3 A ênfase nos conteúdos de cunho esportivo

Para Souza Neto et al. (2004), entre 1945 e 1968 a formação do professor

passou a exigir um currículo mínimo e um núcleo de matérias que procurasse

garantir formação cultural e profissional adequada; o que se pode observar na Lei de

Diretrizes e Bases - LDB n. 4.024/61 (BRASIL,1961). Outra exigência que chamou

atenção foi de que 1/8 da carga horária do curso deveria ser destinada à formação

pedagógica, a fim de solidificar a formação de professor e fazer dele um educador.

Até então, os cursos de Licenciatura em Educação Física não tinham o mesmo

formato que os das demais áreas de conhecimento (História, Geografia, Matemática,

etc.), ou seja, aos professores dessas outras matérias era exigido o curso de

Didática (em 1939) e para a formação do licenciado em Educação Física não se

exigia esse curso. Porém, em função da LDB, o Conselho Federal de Educação

(CFE), nos pareceres 292/62 (BRASIL, 1962) e 627/69 (BRASIL, 1969), visando

determinar os currículos mínimos do curso de Licenciatura, enfatizaram que “o que

ensinar” era tão fundamental quanto o “como ensinar”.

No período após a Segunda Guerra Mundial, a Educação Física no Brasil

recebeu forte influência norte-americana e passou a incluir em suas práticas as

modalidades esportivas no seu currículo. Com a crescente urbanização, a

aceleração industrial no pós-guerra e a expansão e diversificação dos meios de

comunicação de massa, a prática de esportes nas escolas alcançou grande

desenvolvimento e propagação. Após 1964, a formação em Educação Física

enfatizou a ação educativa escolar, bem como, a preparação de técnicos esportivos.

Os saberes relacionados ao conhecimento esportivo e a didática com ênfase na

formação de professores ganharam destaque.

Com a prática esportiva o aluno aprendia a obedecer a regras e a conviver

com vitórias e derrotas por meio de esforço pessoal, A referida prática requeria

movimentos tecnicamente perfeitos, ou seja, as competições esportivas favoreciam

Page 29: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

27

o estabelecimento de padrões de comportamentos sociais muito interessantes à

estrutura social e política dominante nesse período.

Corroborando com essa reflexão Gallardo (1998) afirma que:

[...] No Brasil, o caráter utilitário e tecnicista da Educação Física acentua-se durante os governos militares implantados a partir do golpe de 1964. Na legislação educacional do período, a Educação Física ainda aparece como atividade e como componente curricular obrigatório, cujo objetivo é despertar, desenvolver e aprimorar as forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do aluno. A Aptidão física é considerada referencia fundamental para o planejamento, o controle e a avaliação das atividades: é indispensável à manutenção de “ordem e progresso. (GALLARDO, 1998, p.20)

Na década de 70, o Governo aumentou consideravelmente o número de

faculdades, especialmente privadas. Nesse momento, acreditava-se que o título do

Ensino Superior trazia status e ascensão social de maneira fácil e rápida. Houve

uma explosão na quantidade de cursos e a qualidade do Ensino Superior e,

consequentemente, dos cursos de Educação Física ficou prejudicada. A

Universidade, nesse período, sofreu alterações em seus currículos e programas,

objetivando a inserção dos profissionais graduados no mercado de trabalho. A

concepção de corpo nesse período é igualada à máquina que não pode falhar,

sendo importante produzir corpos saudáveis e fortes preparados para o rendimento

e produção efetiva.

A graduação em Educação Física nesse período visava prioritariamente

preparar um futuro profissional instrumentalizado com um arsenal de técnicas

desportivas, para isso priorizava o ensino prático com extensa carga horária de

conteúdos esportivos. Em síntese, o corpo docente voltava-se para o ensino e

transmissão de práticas de fundamentos, técnicas e táticas dos chamados esportes

tradicionais como: voleibol, handebol, futebol, atletismo, natação, etc.

Este fato colaborou, e colabora ainda, para que os cursos de Educação Física

sejam considerados anti-intelectuais, ou seja, priorizem o saber-fazer em detrimento

do saber. Nessa perspectiva, as disciplinas teóricas ficavam a cargo dos médicos e

biólogos que não possuíam conhecimento específico no campo da Educação Física

e, portanto, a formação e a construção da identidade profissional da área ficava

cindida.

Page 30: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

28

Silva et al. (2009), descrevem:

[...] A formação profissional em Educação Física na primeira metade do século passado já apresentava suas ambiguidades, pois nos currículos das escolas de formação, o fundamento teórico era fornecido pelos médicos e biólogos, enquanto a prática pedagógica, a didática e a disciplina ficavam

sob o comando dos militares. (SILVA et al., 2009, p.8)

Com a influência das modalidades esportivas e dos valores a elas atribuídos

notou-se a necessidade de reorganizar os currículos da Educação Física. Partindo

do pressuposto que muitas atividades esportivas requerem uma iniciação precoce,

sentiu-se a necessidade de conhecer a criança, estudando seu desenvolvimento e

seu comportamento motor, situação diferente da apresentada até o momento, onde

se falava apenas do adulto.

A introdução de novas áreas/disciplinas no currículo de Educação Física com

o intuito de promover um estudo de como se desenvolvem as habilidades esportivas,

ocasionou o surgimento de disciplinas como: Desenvolvimento e Crescimento Motor

e Aprendizagem Motora. Esse enfoque deu origem a uma abordagem

desenvolvimentista da Educação Física, ou seja, que visa à aquisição de habilidades

motoras e a especialização esportiva, preocupando-se com o desenvolvimento

humano nos diferentes momentos de sua vida, sendo sua base teórica

essencialmente a Psicologia do Desenvolvimento Humano. Tal abordagem foi alvo

de muita crítica, pois “encaixavam” as crianças em fases, estágios ou tipo de

movimentos esperados. Outro inconveniente dessa abordagem foi a especialização

em uma ou outra modalidade esportiva, ignorando outras possibilidades da cultura

corporal.

Próxima a essa abordagem é importante citar a Psicomotricidade ou

Educação Psicomotora, que influenciou em grande escala a Educação Física

brasileira nos anos 70 e 80. Segundo Gallardo (1998), essa influência que enfatizava

o desenvolvimento motor teve, a princípio, a finalidade de recuperar a imagem

corporal dos mutilados de guerra e, depois foi se expandindo para o campo

educacional relacionado à aprendizagem. Dessa forma, vinculava-se a relação entre

desenvolvimento cognitivo e motor, criticando-se o dualismo corpo e mente sempre

presente na educação escolar. Também foi alvo de severas críticas justamente por

Page 31: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

29

tratar a Educação Física como mero instrumento e por não conferir a ela sua

especificidade.

As pesquisas relacionadas ao movimento humano eram raramente realizadas

nessa época. A partir de meados da década de 70 constatou-se algum progresso no

que se refere à titulação dos docentes universitários da Educação Física,

consequência da realização de cursos de Pós-Graduação no exterior ou em áreas

afins no Brasil, no campo da Educação, Ciências Biológicas e Sociais. O primeiro

mestrado em Educação Física, no Brasil, foi criado somente em 1977 na

Universidade de São Paulo (USP).

Após esse período outros cursos de Pós-Graduação “strictu sensu” surgiram

na área: curso de mestrado em Didática da Educação Física e Bases Biomédicas da

Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 1980); Ciência

do Movimento da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, 1979); e curso de

mestrado em Pedagogia do Movimento e Administração da Educação Física na

Universidade Gama Filho (UGF, 1984).

2.4 Um novo olhar para Educação Física

Uma nova concepção de Educação Física começou a despontar ao final da

década de 1980. Para Gallardo (1998) tratava-se de uma concepção baseada no

estudo das interferências que o meio físico e social tem sobre o desenvolvimento do

ser humano. Tais estudos contavam com a contribuição da Psicologia, Filosofia,

Sociologia, História e Antropologia, que por subsidiarem uma visão crítica e global

da realidade, permitiram um melhor entendimento do papel exercido pelo homem na

complexa sociedade em que vive.

A Antropologia possibilitou o entendimento de que qualquer atitude humana

deve ser buscada em referenciais culturais que as explicam. A visão antropológica

de corpo para Educação Física trouxe a preocupação com a construção cultural do

corpo como sede de signos sociais. Essa concepção chamada sociocultural

considera o homem como um ser constantemente modificando e modificado pelo

meio físico e social.

Page 32: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

30

Para Gallardo, (1998):

[...] Nessa abordagem sociocultural da Educação Física, os estudos sinalizam a preocupação com o processo e a forma de produção cultural nas diferentes regiões e culturas, o que poderia explicar as diferenças inter e intragrupos. Enfatizam-se os aspectos que tenham relação com a cultura motora e com os componentes lúdicos historicamente situados, a saber:

Processo de organização social (criação de leis, regras e normas de convivência social);

Forma de exploração dos recursos alimentares (agricultura, pecuária, pesca etc.);

Manifestações religiosas (crenças, credos e mitologias que aparecem nos rituais e em outras expressões mágico-religiosas);

Forma de expressar tais manifestações (dança, música, jogo, brincadeira, etc.) (GALLARDO, 1998, p.24)

Com a oferta de cursos de pós-graduação em Educação Física e o retorno de

professores que realizaram Mestrado e Doutorado no exterior surgiu um corpo de

conhecimentos que seria específico da área. Inclusive, no Brasil, alguns professores

direcionaram sua formação para cursos de Pós-Graduação em Educação, o que

agregou à Educação Física influências das ciências humanas e sociais,

principalmente da Sociologia e Filosofia, de orientação marxista. É importante

destacar que as discussões pedagógicas relacionadas ao ensino também foram

incorporadas ao corpo de conhecimentos da área. Apesar da forte conotação em

torno da aptidão física e esportiva que ainda persiste, nas duas últimas décadas

várias propostas pedagógicas foram fundamentadas e se colocam hoje como

alternativas para trabalhar conteúdos específicos da área com base nas ciências

sociais e humanas.

Corroborando com essa questão Hunger (2004) refere que:

[...] Não pode deixar de ser observado que a exigência estatutária para a titulação docente, nas Universidades Públicas Estaduais, especialmente Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), do Estado de São Paulo, provocou nos professores de Educação Física ‘questionamentos’ com relação à sua formação técnica, propiciando mudanças em sua atuação e a função docente, pois deveriam ensinar e atender à comunidade, pesquisar e responder qual era o objeto de estudo da área. (HUNGER, 2004, p.6)

Para Bracht (1999), a contribuição das ciências sociais e humanas na área de

Educação Física permitiu ou fez surgir uma análise crítica ao paradigma da aptidão

Page 33: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

31

física. Num primeiro momento essa crítica tinha um viés cientificista. Nesse sentido,

entendia-se que faltava a Educação Física cunho científico.

Bracht (1999) enfatizava que:

[...] Era preciso orientar a prática pedagógica com base no conhecimento científico, este, por sua vez, entendido como aquele produzido pelas ciências naturais ou com base em seu modelo de cientificidade. O desconhecimento da história da E.F. fez com que não se percebesse que esse movimento apenas atualizava o percurso e a origem histórica da EF e, portanto, que ele não rompia com o próprio paradigma da aptidão física. (BRACHT, 1999, p.77)

As primeiras informações sobre pesquisa científica a respeito do movimento

humano enfatizavam os aspectos biológicos, priorizavam os conhecimentos sobre

fisiologia do exercício, do desenvolvimento motor, da aprendizagem, visando-se

estabelecer um corpo teórico que proporcionasse sustentação à área.

No final da década de 80 o Parecer do Conselho Federal da Educação nº

215/87 reestruturou a formação profissional e apresentou a opção do curso de

bacharelado na área. A formação do bacharel estava direcionada ao campo “não-

escolar”; essa medida veio para atender às novas exigências do mercado de

trabalho, superar as críticas feitas aos cursos de licenciatura referentes a não

preparar profissionais aptos para o mercado e despreparados para a pesquisa

acadêmica.

As diretrizes estruturadas no parecer CNE/CP 009/2001 (BRASIL, 2001) e

nas resoluções CNE/CP 001/2002 (BRASIL, 2002a) e 002/2002 (BRASIL, 2002b)

visavam preparar profissionais de Educação Física para atuar em instituições de

ensino público e privado da educação básica. Para essa formação, por meio dessa

resolução, são estipuladas 2.800 horas que devem compor o curso e dentre elas:

400 horas para as práticas pedagógicas como componente curricular, 400 horas

para o estágio curricular supervisionado e 200 horas para as atividades

complementares. Quanto ao estágio supervisionado o que se observava e se

observa ainda hoje é o estagiário ser utilizado, com frequência, como mão de obra

barata, sem o devido acompanhamento e supervisão.

O Bacharelado tem suas referências no parecer CNE/CES 0058/2004

(BRASIL, 2004a) e na resolução CNE/CES 007/2004 (BRASIL, 2004b), que visa à

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32

preparação do futuro profissional para atuar em diferentes campos como:

administrador, orientador de atividades físicas (personal), recreador, em instituições

públicas e privadas, tais como: clubes, academias, hotéis, orientador postural em

empresas, assessor de esportes, lazer e, também, na área de saúde, na prevenção

de doenças.

Atualmente, existe uma discussão importante sobre essa divisão (licenciatura

e bacharelado) no curso de Educação Física. Existem profissionais que argumentam

a favor dessa divisão e outros que se posicionam contra.

Para Martins e Batista (2006):

[...] Um currículo básico que privilegiasse uma formação didático-pedagógica e que, posteriormente, permitisse aprofundamentos e ampliações relativos às diversas áreas de atuação, seria adequado a uma formação acadêmica de qualidade. Analisando por esse ângulo, a formação própria ao profissional de educação física seria a licenciatura. Pensamos que tal divisão seja uma interpretação errônea e fragmentada da ação do profissional de educação física, decorrente da influência da racionalidade técnica na construção do processo educacional que reforça a ‘hiperespecialização’ (MARTINS; BATISTA, 2006, p.161)

Os autores discutem que a Educação Física deve ser encarada como uma

profissão que tem como objeto de estudo, não o movimento, mas sim, o homem que

se movimenta. Dessa forma, procura entender o ser humano e sua complexidade.

Entre as dificuldades apontadas na formação acadêmica do profissional de

Educação Física também vale destacar a fragmentação existente entre o

conhecimento teórico fundamentado e a ação cotidiana do professor. Atualmente,

ainda se presencia a dissociação das práticas pedagógicas discursadas e o que

efetivamente acontece no dia-a-dia do professor. Torna-se relevante e desafiador

possibilitar uma formação que possibilite ao profissional mediar a produção de

conhecimento e a intervenção, ou seja, uma formação do profissional

professor/pesquisador ciente e mobilizado com o contexto sócio-histórico-cultural de

seus alunos e com entendimento da complexidade que cerca o ser humano.

Page 35: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

33

2.5 Desafios na formação específica para a docência em Educação

Física

Partindo da reflexão sobre os desafios na formação específica para a

docência em Educação Física, buscaram-se subsídios em Kunz (2003) que destaca

três fatores essenciais e fundamentais no que se refere às diretrizes para formação

de professores de Educação Física, os quais contribuem para legitimação da área,

preocupando-se com o Homem e todo o universo que o cerca. São eles:

a) Capacidade Crítica: trata-se da capacidade de saber questionar

realidades e conhecimentos, de estabelecer relações e confrontar a

realidade, transcendendo o acúmulo de informações. O saber crítico é

indispensável na sociedade atual, caracterizada pelo avanço

tecnológico e pela quantificação de conhecimentos. O autor ressalta a

importância de oportunizar essa capacidade no âmbito universitário, a

fim de não transformar o profissional num mero repetidor, copiador e

imitador de conhecimentos;

b) Compreensão da vida: compreender a vida em toda sua

complexidade, não apenas no aspecto da Biologia ou das Ciências da

Natureza. A vida como fonte de tudo que existe e não apenas o que a

própria ciência diz dos humanos com seus saberes fragmentados e

especializados, sem compreensão da vida humana, de suas relações e

complexidade. É necessário reconhecer os homens como “seres no

mundo”, presentes corporalmente, e para isso, o Movimentar-se

Humano é de suma importância.

c) Ampla e profunda compreensão do objeto de atuação

profissional: O Movimento Humano. Essa questão diz respeito às

decisões da área em reconhecer seu objeto central de estudo que é o

movimento humano. O que se sabe do movimento ou do movimentar-

se humano não deve ficar limitado às realidades já desenvolvidas,

conhecidas e transformadas em cultura. O foco principal de interesse

da área deveria estar no ser humano que se movimenta, pois por meio

do movimento o homem pode representar sua totalidade, sua

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34

potencialidade, suas intenções e desejos, transcendendo os limites

entre o Mundo e Eu.

Kunz (2003) destaca que,

[...] As transcendências de limite são competências e capacidades que se desenvolvem no Ser Humano de forma direta pelas ações do dia-a-dia com menor participação consciente e racional; pela via de aprendizagem com a presença já de uma intencionalidade problematizadora e instigadora de desenvolver conhecimentos de forma racional e consciente; por último, a forma inventiva onde participa na aprendizagem um grau mais elevado de consciência, podendo inclusive transcender a própria racionalidade, ou seja, é a intuição, não como algo que cai do céu na cabeça dos gênios, mas como algo preparado para acontecer e que desperta a criação e invenção do novo. (KUNZ, 2003, p.196)

Para Kunz (2003), é fundamental que se desenvolvam conhecimentos

referentes a esses aspectos do entendimento do movimento humano e não apenas

referentes à compreensão intelectual das diferentes manifestações culturais do

movimento e da compreensão técnica instrumental para adaptar e ajustar pessoas

aos padrões de movimentos conhecidos culturalmente.

De acordo com Martins e Batista (2006) na construção curricular do curso as

disciplinas relativas à cultura do movimento precisam superar o modelo desportivo

imposto por décadas para a Educação Física, que caracterizava o modelo de alto

rendimento que objetivava o resultado e a consequente exclusão. Em seu lugar,

deve existir uma participação coletiva que respeite as diferenças e diversidades, e a

inclusão como uma possibilidade de manifestação do ser humano inserido em sua

sociedade e cultura. Para os autores isso não quer dizer que não se leve em

consideração a aprendizagem do desenvolvimento da técnica que pode servir de

suporte para o desenvolvimento de práticas pedagógicas adequadas e aliadas às

disciplinas teóricas, essa aprendizagem permite que o futuro profissional

compreenda como acontece o processo ensino-aprendizagem.

Segundo Nista-Piccolo (2011) ensinar a compreender é ensinar o aluno a

pensar, e nesse sentido os docentes possuem um papel preponderantemente ativo,

no qual fazem a diferença. A autora concebe o ensino como um projeto social

compartilhado entre professor e aluno, atuando simultaneamente no processo de

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35

aprendizagem, pois sendo assim, consegue atuar por meios próprios no

enfrentamento de situações-problema que se apresentem.

Para a autora um dos maiores desafios para preparar o professor de

Educação Física é criar cursos que capacitem professores que possam dominar:

Aspectos técnicos e pedagógicos dos movimentos presentes na cultura corporal;

Conceitos que percebam o Homem como um ser complexo, marcadamente cultural;

Conhecimentos sobre as possibilidades de rendimentos dos “corpos perfeitos”, sem negar a prática de exercícios aos “corpos possíveis”, ou seja, daqueles que não pertencem àqueles padrões; (Moreira, Simões, Muria, 2009)

Conteúdos que ultrapassem o conhecimento das partes do corpo humano, reconhecendo o próprio ser humano. (NISTA-PICCOLO, 2011, p.138)

Nista-Piccolo (2011) relata que um trabalho voltado ao ensino para

compreensão, na Educação Física, apresenta muitos benefícios, pois permite que se

desenvolvam propostas pedagógicas que interajam com os interesses, as

necessidades e as expectativas dos alunos. Para a autora, é preciso formar

professores de Educação Física que atuem em escolas de ensino básico, com esse

olhar e com essa postura.

Os desafios da prática docente atualmente pressupõem que o professor não

se isole, não se sinta só em sala de aula nas diferentes situações apresentadas

junto aos seus alunos. É necessário que esse professor tenha abertura para

compartilhar formas coletivas de enfrentamento de questões comuns.

O aperfeiçoamento profissional, a constante capacitação e atualização é

também um projeto pessoal, que implica na relação do professor consigo mesmo, no

que se refere a diferentes questões como: tempo, espaço, tarefas, estudo, pesquisa,

etc. O professor que não se sente diversificando e enriquecendo suas práticas, seu

repertório de conhecimentos pedagógicos no ambiente de trabalho, atribuindo

significado e contextualizando os conteúdos programáticos e também conteúdos

comuns a todos, como por exemplo: problemas na convivência do cotidiano

acadêmico/escolar, indisciplina, desinteresse, evasão, etc., acabará desestimulado e

insuficiente.

Page 38: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

36

Sobre todas essas reflexões cabe considerar sempre, como refletido em

outros momentos desse capítulo, que o professor de hoje, foi o aluno de ontem, que

não se esquece de seu professor, de sua escola, das práticas que passou, do lugar

que tudo isso representava em sua família, em seus projetos, enfim em sua vida.

Sua forma de atuação profissional hoje pode repetir velhos padrões, ou até mágoas

e ressentimentos que talvez nunca puderam ser ouvidos e ponderados de maneira

apropriada. Atualmente, para a Educação Física, falar do ser humano que se

movimenta é trazer a esse movimento também a dimensão afetiva e social, os

sentimentos, desejos, livre expressão do ser, movimento que carrega marcas de

uma cultura, de uma tradição, de um costume, de um povo, de uma região, enfim,

implica romper as barreiras de um movimento que durante um longo período da

história da Educação Física esteve apenas associado ao rendimento, ao resultado,

ao desempenho, à técnica perfeita, aos padrões estereotipados, à exclusão.

Page 39: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

37

3 CAPÍTULO 2 - O CORPO NA DANÇA

Qual é o corpo que dança? Arrisco responder que todo indivíduo

pode dançar quando se vê na sua dança por meio do seu querer e

do seu sentir. O corpo que dança é o que se permite um estado de

dança que é diferente para cada um, para cada soma. Logo, a dança

não é algo externo, mas um estado que pode ser construído com

procedimentos específicos quando se propõe ir para a cena. A dança

também pode estar dentro do ser, como aquela praticada pela

criança com tanta espontaneidade, a dança de todos os seres

humanos, os somas que querem dançar.

Há dança onde se vê dança.

JUSSARA MILLER

Observa-se na história da dança que antes de usar a palavra, o homem já se

comunicava por meio do movimento corporal, do gesto primitivo, embalado pelo

ritmo natural de suas emoções e de sua comunhão mística com a natureza. Homem

e natureza tinham um sentido de unidade. Desde o período paleolítico a dança era

considerada como forma de comunicação e expressão. Para Fahlbusch (1990), já

nos primórdios a dança se revela como o produto e o fator da cultura humana. Os

primeiros documentos sobre a origem pré-histórica dos passos de dança são de

descobertas das pinturas de cenas de dança e mímica gravadas nas pedras

lascadas e polidas das cavernas. A dança fazia parte de todos os acontecimentos

importantes da vida do homem primitivo, como nos nascimentos, casamentos e

funerais, nas colheitas e nas homenagens aos elementos da natureza: o Sol, a

Chuva, a Terra. Esses momentos eram festejados com intensa participação corporal,

onde se expressavam todos os sentimentos e desejos nos movimentos de dança.

Os movimentos eram carregados de expressividade, revelando, assim, a unidade e

a harmonia entre o homem primitivo e a natureza. Para a autora, a dança como toda

atividade humana sofreu o destino das formas e das instituições da existência social

dos homens.

Garaudy (1980) destaca que, numa significativa expressão da unidade

orgânica do homem com a natureza a Índia fez da dança de Shiva (deus da dança)

a mais elevada concepção de corpo em movimento. Tinha por tema a atividade

Page 40: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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cósmica, o ritmo da dança estava associado à criação do mundo, exprimia os

eventos divinos. Na dança indiana corpo e alma não estão separados, a dança é,

então, um modo total de viver o mundo: é a um só tempo, conhecimento, arte e

religião.

A dança na Grécia, como no Egito e na Índia, sempre esteve muito vinculada

a rituais religiosos, antes mesmo de fazer parte das manifestações teatrais. Os

gregos valorizavam demais a dança, para eles um corpo bem moldado era

conquistado graças ao esporte e a dança. As crianças eram educadas para a guerra

e acreditava-se que a dança auxiliava no equilíbrio da mente e evolução do espírito,

assim como também daria a agilidade para a vida militar. A dança era acessível a

todos os cidadãos e somente com o declínio da cultura grega, a dança passa

apenas para a esfera de entretenimento.

Para Nanni (1998) e Verderi (1998), em todas as etapas ou épocas da história

pela qual a dança passou, estava sempre envolvida com a forma de manifestação

das vivências do homem no mundo e das influências que o mundo lhe apresentava.

Nessa perspectiva, com base nas diferentes necessidades dos povos, na

diversidade de civilizações e de culturas, a dança foi se modificando em sua forma

de expressão e interpretação.

Para Garcia e Hass (2003):

[...] A dança, conjugada como produto e fato da cultura humana, estampa, portanto, desde seu surgimento nos tempos primitivos até a atualidade, uma linguagem corporal moldurada e inserida sob a influência dos contextos econômicos, sociais, políticos, religiosos e econômicos, presentes no desenrolar de regimes histórico-sociais, evocando suas necessidades, crenças, tradições, convenções, rebeldias, na sua natureza artístico-cultural. A dança é e sempre será um patrimônio histórico que permeia a cultura corporal do homem. (GARCIA; HASS, 2003, p.66)

A dança, na Idade Média, sofreu forte influência do Cristianismo; a Igreja

Cristã se posicionou de forma dúbia: condenação e tolerância. A tolerância estava

para a dança litúrgica apresentada em rituais religiosos e a condenação estava para

a visão de uma prática profana, ligada ao demônio, a feitiçaria. A esse respeito

destaca-se Garaudy (1980, p.28): “Os padres da Igreja, Santo Agostinho entre eles,

condenaram “esta loucura lasciva chamada dança, negócio do diabo”“. Para o autor

Page 41: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

39

essa posição dualista do Cristianismo trouxe a dissociação entre corpo e mente,

considerando o corpo como um obstáculo a vida da alma e a negação da carne que

deve ser punida, mortificada, ignorada.

Apesar de inúmeras tentativas de proibição da dança, a religião não

conseguiu extinguir vestígios pagãos nos costumes populares (festa da colheita, da

primavera, etc.) que eram praticados de forma oculta, às vezes às escondidas, na

calada da noite.

Por outro lado, a espontaneidade inicial das danças populares foi substituída

por floreios nos passos, postura rígida e estudada, movimentação codificada;

tratava-se de um corpo bem diferente do homem primitivo que se expressava

livremente e tinha inspiração no contato com a natureza. Para Cupertino (2009): “O

corpo, sem lugar fica entre a razão e a fé, permanecendo assim durante toda a

Idade Média”.

Do século XV ao século XVIII, iniciando com o movimento Renascentista

surgido na Itália (século XV) e, posteriormente, irradiando-se para toda Europa

percebe-se a valorização da arte, filosofia, literatura, ciência, que caracterizou um

patrimônio cultural que revolucionou o pensamento e a estética até então

conhecidos.

Para Nanni (1998):

[...] A Dança na Renascença também sofre influência das ideias humanistas: expressar um conceito de beleza em que corpo e espírito deveriam formar um todo harmonioso. Desde meados do século XIV o reflorescimento é influenciado pelo início de uma nova era. A consciência do homem como senhor de si mesmo e do mundo sepultou os padrões medievais e revolucionou o pensamento e a estética. (NANNI, 1998, p.14)

No Renascimento os artistas são valorizados e surge o Mestre da Dança. Os

mestres montam sequências de movimentos e aparecem os primeiros tratados de

coreografias. Surge, então, o termo balleto, que faz referência a uma composição

coreográfica. O Ballet Comique de La Reine, em 1581, foi um espetáculo palaciano

que reuniu pela primeira vez, a dança, a música e o drama teatral e marcou as

bases do dito balé-espetáculo, permeado de narrações, recitais e canto. A dança

nessa época era quase que exclusivamente masculina, mas nesse balé começou a

Page 42: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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haver a participação de algumas damas da corte, o que originou o primeiro corpo de

baile da história da dança. Observa-se a formação de diferentes desenhos

geométricos e direções no espaço, na movimentação da dança, lançando os

fundamentos de uma nova forma de arte.

Em 1661, na França, após a criação da Academia Real de Dança, a dança

clássica recebeu forte impulso, o que trouxe ao balé mais virtuosismo, estética e

princípios coreográficos, passos e movimentos definidos. A exigência de uma

técnica refinada para o profissional da dança fez com que Pierre Beauchamps

criasse as famosas cinco posições de pés e braços do balé que são conhecidas até

hoje.

A vestimenta dos bailarinos limitava o virtuosismo dos movimentos verticais e

a busca por maior liberdade de movimentos continua até a Revolução Francesa. A

dança e o balé passaram por uma significativa transformação. O bailarino Novérre,

considerado o construtor do balé na era moderna, trouxe energia e vida ao balé

clássico quando modificou as indumentárias, aparecendo as túnicas, os maiôs e os

sapatos sem saltos, desaparecendo as cabeleireiras postiças e as máscaras. Os

trajes ficaram mais soltos, leves e a expressão facial mais evidente. Porém, ainda

falamos de um corpo reprimido por movimentos codificados e padronizados sem

liberdade de expressão de sentimentos e desejos. Com o surgimento do

Romantismo no século XIX, o balé incorporou-se a esse movimento, indo ao

encontro da fantasia, do irreal, do imaginário e do etéreo. Marca esse momento a

figura da bailarina Maria Taglioni, em Paris, que surge capaz de dançar sobre as

pontas dos pés, flutuar com a leveza de um pássaro, impondo para sempre a

imagem de uma mulher etéria, casta, envolta em véus brancos, sustentando-se

sobre a ponta dos pés com sapatilhas especiais. O balé clássico atinge seu auge

com o aparecimento dos grandes balés românticos, chamados de balés brancos,

devido ao uso de gazes, tules e musselines brancos.

Com o declínio do balé romântico na Europa, já no final do século XIX e início

do século XX, o centro da dança considerado na França (Paris), transferiu-se para

Rússia.

Para Bregolato (2000):

Page 43: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

41

[...] Pelo contato íntimo dos grandes senhores russos com o povo, o ballet russo tinha a vitalidade nascida dos bailes campestres que os outros ballets não tinham. Outra grande contribuição dessa escola renascentista foi a valorização do homem no ballet, que tinha sido apagado pelo ballet romântico que o utilizava basicamente para carregar as mulheres. (BREGOLATO, 2000, p.130)

Para Garcia e Hass (2003), o balé na Rússia, com suas fases e estilos

impressionantes, exerceu influência na dança mundial por meio de obras como: A

Bela Adormecida, Quebra-Nozes, A Morte do Cisne e O Lago dos Cisnes.

Já iniciando o século XX, surgem novas ideias em todas as áreas de

conhecimento, inclusive nas artes cênicas. Grandes transformações nas tradições e

valores adotados até aqui marcam esse momento de início da era industrial.

Refletindo também as mudanças sociopolíticas e religiosas a dança não escapou de

transformações. A dança moderna surgiu em oposição e contestação ao rigor

acadêmico do balé clássico e como necessidade se ser uma arte que promovesse e

provocasse a liberdade e a exploração total do corpo, indo ao encontro de expressar

acontecimentos de sua época, seus próprios sentimentos e não apenas de

personagens fictícios como no balé romântico.

Nesse contexto é importante citar Garaudy (1980) quando refere que,

[...] Contra as forças centrífugas do mecanismo implacável da vida contemporânea, a dança moderna afirmou o poder do corpo e de se mover de dentro, como um centro autônomo de forças e decisão. Ao contrário do balé clássico, onde os passos e seus encadeamentos obedeciam a uma ordem pré-fabricada, a dança moderna procurou compor a forma do movimento como expressão de um significado interno.Contra o exclusivo virtuosismo mecânico das pernas, pôs o corpo todo para trabalhar, privilegiando, em lugar dos membros periféricos, o centro gerador de todo o movimento, o tronco, a partir do qual a energia interna se expande em ondas sucessivas de explosão. (GARAUDY, 1980, p.49)

Isadora Duncan, bailarina americana, inconformada com as regras rígidas, a

técnica, os modelos tradicionais e arcaicos do balé clássico criou sua própria forma

de dança. Foi a precursora da Dança Livre, e a partir de movimentos naturais,

instintivos e intuitivos dançava com cabelos totalmente soltos, túnicas drapeadas e

leves, com os pés descalços. Foi sob sua influência que vários bailarinos e

coreógrafos passaram a elaborar um novo vocabulário de dança e de linguagem

corporal. Sua dança era completamente pela expressão corporal e improvisações

Page 44: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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totais. Surge, também, a figura importante de Ruth St. Denis que introduzindo a

religiosidade na dança, trouxe a força espiritual para afrontar o mundo materialista

de sua época. Foi casada durante algum tempo com Ted Shawn, coreógrafo e

bailarino, considerado o pioneiro da Dança Livre e pai da Dança Moderna que

fundou a Denishawn, uma escola considerada como o berço de desenvolvimento da

Dança Moderna, pois todos os ilustres expoentes da modern-dance passaram por

essa escola. Ela foi fechada quando houve a separação do casal.

Martha Graham, que foi discípula da escola Denishawn, considerada por

alguns historiadores como a grande profetisa da dança moderna, criou e aperfeiçoou

a técnica de contração e descontração do abdome, enfatizando a importância do

momento de inspiração e expiração. Siqueira (2006) afirma que, no lugar das

posturas rígidas, da elasticidade de braços e pernas, das posições codificadas tão

exploradas no balé clássico, a dança moderna colocou todo o corpo para trabalhar,

não somente os membros, mas ressaltou a importância do tronco, visto por muitos

bailarinos como centro gerador do movimento. A barra acadêmica era deixada de

lado em prol de vigorosos exercícios realizados no chão.

Outros nomes importantes caracterizam a geração considerada pioneira da

Dança Moderna; são eles: Mary Wigman, Doris Humphrey e José Limón. Cabe ainda

destacar a influência marcante de Rudolf Bode, François Delsarte, Dalcroze e Rudolf

Laban que dedicaram suas vidas aos estudos do ritmo e movimento, o que muito

contribuiu na história da dança.

No Brasil, um dos grandes nomes da Dança Moderna é Helenita Sá Earp

Fahlbusch (1990). Para ela a dança é a atividade que emprega a maior diversidade

de formas, de ritmos, de dinamismos, de andamentos, com emanação da

sensibilidade, sendo expressão da Arte propriamente dita. Para Helenita a Dança

Moderna é uma arte que alia a técnica do movimento com a espiritualidade do

corpo. Faz-se importante destacar que foi no Rio de Janeiro, na UFRJ, que pela

primeira vez a dança se tornou uma disciplina universitária e a pioneira foi Helenita

Sá Earp, que nos anos de 1940 incluiu no currículo do curso de Educação Física a

disciplina de ginástica rítmica, e por influência de Rudolf Laban veio se tornar dança.

Porém, somente na década de 1990 foi instituído o curso de bacharelado em Dança

e a especialização em Dança e Educação.

Page 45: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

43

Na década de 1960 a Dança Contemporânea abriu caminho com as

propostas de múltiplos artistas da Judson Church, em Nova York, ganhando corpo

na década de 1970 e, aqui no Brasil, na década de 1980. É fruto de uma ampla

combinação de experiências que vai desde o balé clássico, da dança moderna, das

influências orientais, de modos recentes e urbanos de se movimentar até os

diferentes gêneros e estilos com a flexibilidade técnica. Essa diversidade é uma das

marcas da Dança Contemporânea. No que diz respeito à dimensão coreográfica

pode ser caracterizada como dança que não se limita a regras, passos

determinados, técnicas pré-estabelecidas ou fixas, entretanto, pode ser influenciada

por determinados princípios, é uma dança que parte da exploração de movimentos,

permeada por uma enorme capacidade criativa, considerando o que se deseja

exprimir ou expressar, visando à descoberta do elemento novo, por meio de

acrobacias, técnicas teatrais, elementos cênicos variados, espaços inusitados.

Siqueira (2006) destaca que, no plano corporal, o corpo vivenciado no balé

clássico é rígido, fechado, voltado para a verticalidade e obedece a regras fixadas

por terceiros, ou seja, reproduz passos. O corpo na Dança Contemporânea é mais

livre, tem maior autonomia, é liberto, cria e recria, monta e desmonta, contrai e

relaxa, enfim, explora diferentes possibilidades de movimentação.

Para Miller (2012) quando se fala de Dança Contemporânea, fala-se de

diversidade, pluralidade, instabilidade, transdisciplinaridade, ou seja, para a autora

trata-se de uma dança carregada de transitoriedade que se transforma com o tempo,

necessitando uma visão por vários ângulos e enfoques. Enfim, são infinitas as

escolhas de atuação e criação na Dança Contemporânea.

Percebe-se que, comparativamente, se a Dança Moderna utilizava-se de uma

série de movimentos expressivos compreensíveis e identificados para o espectador,

a Dança Contemporânea apresenta-se na atualidade com uma linguagem corporal

mais abstrata, caracterizando-se por uma grande multiplicidade quanto ao uso do

corpo na dança.

As referências dos estudos sobre a dança apontam que, em sua origem o

corpo em movimento era instrumento para alcançar contato com divindades, talvez

um meio de comunicação com esferas não materiais, transcendentais. Porém, para

Siqueira (2006) a dança e seu instrumento, o corpo, assumiram outras influências

Page 46: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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com o passar do tempo. As relações sociais, políticas, econômicas sempre foram

expressas por dança, desde os balés da corte do século XVI, na França, até as

manifestações contemporâneas, como hip-hop, street dance, que também desvelam

importantes chaves do comportamento e da cultura urbanos.

3.1 A Dança como canal significativo de aprendizagem

Desde a origem das sociedades é pela dança que o homem expressa seus

sentimentos e desejos mais íntimos, por meio de movimentos corporais ritmados,

permeados de religiosidade, de misticismo, de prazer e divertimento. Assim sendo, a

dança vem se apresentando em cada manifestação da vida humana, seja no

sagrado (rituais e cultos), seja no profano (prazer e divertimento).

Com o passar dos tempos, as formas de dança passaram por uma evolução,

desdobrando- se em diferentes tipos, estilos e finalidades dos quais se originaram

diferentes manifestações: dança de salão, dança folclórica, dança afro, sapateado e

outras, que poderão favorecer a aquisição de uma melhor consciência corporal.

Garaudy (1980) retrata o que foi a dança para todos os povos, em todos os

tempos: a expressão que por meio de movimentos corporais e experiências,

transcendem o poder das palavras e da mímica. Assim se expressa o autor:

[...] A dança mobiliza, de algum modo, certo sentido, pelo qual temos consciência da posição e da tensão de nossos músculos, como os canais semicirculares de nosso ouvido nos dão consciência de nosso equilíbrio e o comandam. (GARAUDY,1980, p.21)

Para Ossona (1988), o impulso para dançar decorre de uma necessidade

interior do ser humano de expressar seus sentimentos, desejos, alegrias, pesares,

gratidão, respeito.

Fahlbusch (1990) ressalta que, a expressão e criação por meio do corpo são

próprias do ser humano, independente da condição física ou de seu estágio cultural.

A necessidade de movimento é parte integrante do indivíduo, e quanto mais ele

consegue se expressar, mais benefícios obterá para sua vida.

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45

[...] O movimento e a possibilidade de estimulá-lo através da música, da palavra ou do silêncio, revela, no espaço, a psicologia profunda do indivíduo. Isto se consegue melhorando as possibilidades existentes, desenvolvendo outras, e, fundamentalmente, fazendo o indivíduo sentir a possibilidade criadora que há dentro de cada um. Deste modo é possível desenvolver, não só a parte física como a psíquica. A dança e o movimento, encarados pelo lado expressivo e criativo que todos possuem, ajudam a profilaxia terapêutica que deve realizar-se constantemente. (FAHLBUSCH, 1990, p.97)

Nanni (1998), considerando todo o processo de evolução do ser humano,

ressalta que o corpo, nesse processo, é um instrumento de manifestação do

contexto histórico em que vive e ao mesmo tempo um reflexo deste. A autora

complementa destacando que a dança, tendo como fator fundamental o movimento,

retrata e transmite valores sociais do contexto onde se acha engajada e, portanto,

poderá contribuir para a renovação e transformação do ser humano.

Gariba e Franzoni (2007) relatam que, o fundamental é ser capaz de

compreender a dança como linguagem que deve ser ensinada, aprendida e

vivenciada na medida em que favorece o desenvolvimento cognitivo, ético e estético,

e contribui qualitativamente para as questões de socialização e expressão.

Segundo as autoras:

[...] A dança é importante para a formação humana, na medida em que possibilita experiências dos (as) alunos (as), bem como proporciona novos olhares para o mundo, envolvendo a sensibilização e conscientização de valores, atitudes e ações cotidianas na sociedade. (GARIBA; FRANZONI, 2007, p.162)

A dança representa um patrimônio histórico e cultural da humanidade e da

sociedade da qual ela se originou (GARAUDY, 1980; OSSONA, 1988; NANNI, 1998;

VERDERI, 1998; GARCIA; HASS, 2003; EHRENBERG, 2003).

Para Cupertino (2009), a dança é mais do que uma expressão de movimentos

corporais, é uma linguagem corporal, por meio da qual o ser humano se expressa, é

um fenômeno social e uma manifestação cultural, que possui significados próprios

em cada situação.

Rohr (2012) ressalta que, a dança engloba diferentes órgãos do sentido,

como: a visão, a audição (geralmente vem acompanhada pela música) e, muitas

vezes, o tato (dança de pares). O autor compara a dança com outras artes e

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46

observa que a música e a literatura existem em relação ao tempo, a pintura e

arquitetura em relação ao espaço, já a dança existe no tempo e espaço.

Cabe aqui destacar a riqueza que a dança pode proporcionar quando trabalha

o processo de improvisação. Improvisar na dança implica em atividade criativa, em

trabalhar com nossas preferências pessoais e necessidades individuais internas de

movimentação e exploração do espaço, sem com isso desligar-se do grupo, do

coletivo. O trabalho com improvisação pode utilizar-se de recursos materiais e/ou

humanos, porém todas as experiências acumuladas são partículas de novas

expressões criadas de maneira consciente ou inconsciente. A experimentação e a

prática são as melhores formas de compreender o processo criativo da

improvisação. (HASELBACH, 1988; MARQUES, 2007; ROHR 2012).

É importante considerar que, a especificidade do trabalho de improvisação na

dança é único e mágico em relação a propiciar ao aluno possibilidades de resolver

problemas de movimentos relacionados à ocupação do espaço, variação de planos

e direções, fluência e esforço, associando a expressão de desejos e sentimentos,

possibilitando um trabalho corporal de múltiplos significados e interpretações.

3.2 A Dança na educação

Rudolf Von Laban (1990) foi um dos precursores da dança-educação. Em

1948 publicou a primeira edição de seu livro “Dança Educativa Moderna”, que seria

um manual para pais e mestres aplicarem essa nova forma de dança na educação

escolar contemporânea, que denominou de “Dança Livre”, resultado de seus

estudos sobre princípios de movimento. Laban (1990) foi um estudioso e

pesquisador do movimento humano, além de bailarino, coreógrafo e criador de uma

nova visão sobre a dança, o teatro e criador de um sistema de notação do

movimento e da coreografia: a Labanotação. Bastante utilizado até os dias atuais a

Labanotação consiste numa representação ou partitura das infinitas possibilidades

de movimentação humana. Ele pesquisou e enfocou o movimento humano em

diferentes aspectos: fisiológico, biomecânico e também psíquico. O movimento era

para ele a representação exterior de um sentimento interior. Seus trabalhos têm

contribuições que vão desde a educação da dança, da criação coreográfica ao

trabalho terapêutico. Diferentes áreas e profissões foram beneficiadas com seus

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47

estudos que analisa o movimento de acordo com os seguintes elementos: espaço,

tempo, peso, fluência e esforço.

Laban (1990) destaca que o valor educacional da dança se deve, em parte, a

universalidade com que se emprega o fluxo do movimento em nossa vida e,

também, ao ato de imersão total nesse meio. Ou seja, a riqueza no trabalho de

fluidez do movimento que a dança proporciona permitirá ao aluno valer-se de sua

mobilidade para todos os fins práticos em sua vida cotidiana. Garaudy (1980),

quando em sua obra relata a importância dos estudos de Laban, ressalta que esta

estreita ligação com a vida, esta integração de corpo e alma em um todo único, no

qual toda a pessoa está engajada, permite a dança ter um papel educativo.

A esse respeito e complementando as reflexões de Laban surge Limongelli

(2010) que estuda a teoria Walloniana e afirma que Henry Wallon oferece uma

contribuição significativa para a compreensão do movimento corporal quando

discute três formas de deslocamento: o movimento exógeno ou passivo que

representa os deslocamentos necessários para os seres humanos manterem uma

relação harmoniosa com a força da gravidade, ou seja, são os posicionamentos que

o corpo necessita assumir para atingir seu ponto de equilíbrio estável; o movimento

autógeno ou ativo que representa os deslocamentos voluntários ou intencionais do

corpo ou de parte do corpo no espaço e no tempo, possibilitando a locomoção e a

preensão dos objetos; e o movimento de reações posturais ou deslocamento dos

segmentos corporais uns em relação aos outros. Nesse último caracterizam-se as

mímicas ou expressões corporais e faciais que os seres humanos constroem nas

diferentes situações ou experiências vividas, destacando-se o reconhecimento de

que o movimento tanto ocorre no espaço físico externo do corpo como no espaço

orgânico interno do corpo. Para a autora isso representa um avanço sobre o papel

dos movimentos, reconhecendo a importância das emoções e do pensamento e

ainda salienta:

[...] Retomando, Henry Wallon considera que o movimento corporal humano não é apenas deslocamento voluntário do corpo ou de partes do corpo no tempo e espaço, mas é uma atividade de relação da pessoa consigo mesma, com os outros e com o meio, na qual são construídos e expressos conhecimentos e valores. (LIMONGELLI, 2010, p.59)

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48

Para Mahoney (2010) a teoria walloniana trata o movimento como recurso de

visibilidade que se transforma no primeiro recurso de sociabilidade, de aproximação

e fusão com o outro, garantindo a sobrevivência do indivíduo e da espécie, unindo

os indivíduos entre si e dando suporte à atração precoce e importante que a criança

sente por seu semelhante e que sinaliza sua profunda necessidade do Outro.

Destaca que, o ato motor é ainda um recurso excepcional para a construção do

conhecimento, pois a aquisição da linguagem, importante recurso para o

desenvolvimento cognitivo, depende de um intenso ajustamento de sequências de

movimentos imitativos dos sons da língua que é falada na cultura. Salienta que, a

Teoria de Henri Wallon considera que o processo de desenvolvimento humano é um

processo constante, contínuo, de transformações ao longo da vida e se baseia num

enfoque interacionista que destaca organismo e uma grande variedade de fatores

ambientais, integrando os componentes ou conjuntos funcionais – motor, afetivo,

cognitivo, pessoa, onde cada um deles depende do funcionamento do sistema como

um todo, contribuindo para a constituição da pessoa, do indivíduo.

Ossona (1988, p.25) colabora quando afirma: ”[...] Todo movimento, desde o

mecânico até o simbólico, contém sempre uma grande carga expressiva”.

Entretanto, enquanto ato mecânico ou do cotidiano, como é chamado, tem uma

intenção objetiva, utilitária, como pegar um objeto, caminhar até determinado ponto,

até mesmo satisfazer uma necessidade orgânica; já o movimento na dança tem a

intenção de ser expressivo, estético, artístico, daí carregado de diversos

significados, dando margem a várias interpretações.

Em relação ao movimento, Oliveira, M.A., Oliveira, L.P.A, e Vaz destacam:

[...] Esse movimento, que é corporal e humano, não pode continuar sendo tratado como um dado da natureza, conforme a tradição da área de Educação Física, que ainda perdura em muitos lugares. Ao contrário, o corpo humano que se movimenta também se expressa de outras maneiras que não necessariamente implicam motricidade. Contudo, isso não quer dizer que devamos nos desfazer do movimento. Devemos insistir que o movimento é expressão corporal, portanto humana. (OLIVEIRA, M.A.; OLIVEIRA, L.P.A.; VAZ, 2008, p.310)

Para os autores acima citados, se o movimento é tratado simplesmente como

algo inato, natural, dado, não se alcança a riqueza da produção cultural de

diferentes formas de manifestação corporal.

Page 51: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

49

Para Ehrenberg (2003) a inclusão da dança na escola possibilita que todos

possam vivenciá-la enquanto atividade física e artística, refletindo sobre ela

enquanto patrimônio cultural da sociedade. A autora destaca que a presença da

dança no contexto educativo permite a ampliação de seu alcance às pessoas, as

quais de outra forma ficariam impossibilitadas de vivenciá-la por questões

financeiras.

O estudo da dança no Brasil, até uma década atrás, realizava-se em

academias, clubes e escolas de dança, a grande maioria de caráter privado.

Também ocorria em espaços públicos, como centros culturais, associações de

bairros, ou em espaços especiais como escolas de samba. A formação do professor

se dava por meio de cursos nas escolas e academias de dança e, principalmente,

nos cursos de Graduação e Pós-Graduação de Dança, Educação Física e Artes.

Atualmente, pode-se perceber o crescimento de novos cursos de Dança ofertados

no ambiente universitário.

Marques (2007) destaca o fato de que no Brasil tem-se a ideia de que a

dança seria um conjunto de repertórios prontos, como os da mídia ou das danças

populares. Para a autora o ensino da dança está carregado de significados,

relações, valores pessoais, culturais, políticos e sociais que englobam conteúdos

bem mais complexos do que uma coreografia de carnaval ou a reprodução de uma

dança popular. A mesma autora ainda chama a atenção para os pensamentos e

ideias preconceituosas relacionadas ao ensino da dança e enumera três, conforme

abaixo:

A questão de gênero: refere-se ao pensamento de que dança é coisa de

mulher;

O receio e/ou medo do trabalho com o corpo: durante muitos séculos o

discurso do “corpo pecaminoso” prevaleceu um nossa sociedade e segundo a

autora ainda estão presentes nas atitudes e comportamentos em relação à

dança na escola;

A Arte e o artista na sociedade: a Arte ainda é, em muitos casos, sinônimo de

excentricidade, de loucura. Atrelado a isto ainda está o senso comum sobre a

relação “corpo-eu”, que traz a ideia de que por meio da expressão corporal,

segredos, traumas e marcas de nossas vidas seriam revelados.

Page 52: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

50

Corroborando com essa questão, Marques (2007) ainda salienta:

[...] Ou seja, embora não se aceite mais o preconceito em relação ao contato com o corpo e com a arte, as gerações que não tiveram dança na escola muitas vezes não conseguem entender seu significado e sentido em contexto educacional. Há, às vezes, um entendimento estritamente intelectual em relação a essa disciplina, sem que haja um entendimento corporal critico e,portanto, aceitação e valorização baseadas na experiência. (MARQUES, 2007, p.21)

Em 1997 a dança foi incluída nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

e foi reconhecida, nacionalmente, como forma de conhecimento a ser trabalhado na

escola. Na área de Educação Física ela está inserida no bloco das atividades

rítmicas e expressivas e está norteada pelas manifestações da cultura corporal, que

têm como características comuns a intenção de expressão e a comunicação por

meio de gestos e estímulos sonoros como referência para o movimento corporal.

3.3 A Dança no espaço da Educação Física escolar

Atualmente a Educação Física escolar brasileira está passando por grandes

transformações. Se antes a Educação Física era definida como uma disciplina

escolar que tinha a finalidade do ensino de técnicas esportivas, preocupada com o

desempenho atlético, o rendimento e aptidão física, hoje é considerada um

componente curricular de trato pedagógico de conteúdos culturais com foco nos

conhecimento corporais culturais. Ou seja, de uma área que buscava suporte

cientifico para sua atuação apenas nas ciências naturais, recebe hoje grandes

subsídios teóricos das ciências humanas. A partir da década de 1990, a crise dos

pressupostos teóricos que orientaram a prática pedagógica da Educação Física

provoca uma profunda reflexão sobre as diferentes abordagens desta disciplina

escolar, fundamentada nas contribuições filosóficas, antropológicas, sociológicas,

além de psicológicas. Para Daólio (2010) a aula de educação física é fruto de uma

construção cultural, e seus conteúdos e temas devem ser vistos não como fatos

neutros e objetivos, mas como fatos sociais carregados de diferentes sentidos e

significados para cada grupo social.

Consubstanciando estas considerações, Oliveira, M.A., Oliveira, L.P.A. e Vaz

referem:

Page 53: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

51

[...] Assim, ao contemplar pela via da escolarização as marcas das manifestações corporais no processo de formação humana, a Educação Física escolar tem-se inserido no plano de uma reflexão sobre diferentes problemáticas sociais, algumas de há muito objeto de preocupação dos educadores, outras que surgem conforme se transforma a própria organização social. Entre esses elementos ganham destaque: a violência; os preconceitos étnicos, de sexo, de classe, entre outros; as formas corporais de exclusão social; as potencialidades e os limites das práticas corporais como possibilidade de formação; a ênfase sobre uma estética corporal que se orienta por padrões estereotipados, resultados de uma exacerbação atual do corpo como “lugar” da felicidade; o exercício da dominação na prostituição de crianças e jovens, no tráfico e no consumo de drogas, no trabalho infantil e escravo, na negação do acesso aos bens culturais etc. Todos esses elementos, de forma direta ou indireta, inscrevem-se na corporalidade entendida como a expressão criativa e consciente do conjunto das manifestações corporais historicamente produzidas, as quais pretendem possibilitar a comunicação e a interação de diferentes indivíduos com eles mesmos, com os outros, com o seu meio social e natural. (OLIVEIRA, M.A.; OLIVEIRA, L.P.A.; VAZ, 2008, p.305-306)

Os referidos autores destacam que, as ações pedagógicas na Educação

Física escolar devem intensificar a compreensão do aluno sobre nossa diversidade

cultural em termos corporais, a fim de que possam tanto respeitar as diferenças

identificadas, como também se posicionar frente a elas de maneira autônoma,

realizando opções.

Entretanto, como em toda transição, não é consenso o reconhecimento de

que a Educação Física trata da cultura corporal do movimento. Refletindo sobre o

ser humano que se relaciona socialmente, que interage nessas relações, que

carrega consigo, em seu corpo, marcas das relações que estabelece com o meio

social, com o outro, com o meio ambiente, não fica difícil entender que se fala de um

ser corporal que é cultural e que produz cultura. Faz-se necessário uma reflexão no

entendimento da palavra cultura.

O termo ainda é confundido como conhecimento formal ou utilizado pelo

senso comum de forma preconceituosa, quantificando o grau de cultura, enfim

fazendo referência se a pessoa tem ou não cultura, como sinônimo de

conhecimento/informações. Aqui se pretende abordar a palavra cultura na Educação

Física como segue:

[...] O corpo era somente visto como conjunto de ossos e músculos e não expressão da cultura; o esporte era apenas passatempo ou atividade que visava ao rendimento atlético e não fenômeno político; a educação física era vista como área exclusivamente biológica e não como uma área que pode

Page 54: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

52

ser explicada pelas ciências humanas. Tenho afirmado em outros trabalhos que “cultura” é o principal conceito da educação física porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução até hoje, expressando-se diversificadamente e com significados próprios no contexto de grupos culturais específicos. O profissional de educação física não atua sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha com o esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento, humanos, historicamente definido como jogo, esporte, dança, luta e ginástica. O que irá definir se uma ação corporal é digna de trato pedagógico pela educação física é a própria consideração e análise desta expressão na dinâmica cultural especifica do contexto onde se realiza. (DAÓLIO, 2007, p.2,3)

Corroborando com essa reflexão, Neira (2005) relata que, as práticas

corporais, tendo em vista suas características expressivas, permitem a percepção de

que é a cultura que proporciona a incorporação, a ressignificação e a socialização

das diferentes formas de manifestações corporais. O referido autor estabelece uma

comparação da cultura como um texto a ser lido e interpretado; ressalta que esses

textos são compreendidos como meios de comunicação com o mundo, constituintes

e construtores de cultura, ou seja, cada texto é uma linguagem própria a ser

interpretada e dá-se em meio ao contexto no qual foram produzidos, transmitidos e

assimilados. Nesse sentido, compreende-se que o corpo, componente curricular da

Educação Física, está inserido na área dos códigos e linguagens.

Para Neira (2005),

[...] O corpo, nesse sentido, é entendido como suporte de uma linguagem que manifesta a cultura na qual está inserido. Por nascer, viver e relacionar-se em contextos históricos e culturais específicos, o corpo é depositário da cultura da qual participa. Dele emanam informações e códigos que se tornam visíveis ou invisíveis aos membros pertencentes a outras culturas. (NEIRA, 2005, p.15)

Selbach (2010) ressalta que, entre os códigos e valores de um grupo (que

constituem sua cultura), está a maneira de se usar o corpo e os movimentos para

resolver problemas e satisfazer as mais diferentes necessidades.

Nesse cenário, a dança na escola constitui-se como um caminho da

educação escolar contemporânea, contribuindo para conscientização e

sensibilização dos alunos no que se referem as suas atitudes, posturas, gestos, as

Page 55: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

53

suas necessidades de criar, expressar, comunicar e partilhar suas vivências

estéticas do movimento.

Segundo Lomakine (2007), como cultura corporal de movimento, a dança faz

parte dos conteúdos da Educação Física e nem por isso perde sua identidade. No

contexto educacional o que a diferencia são seus objetivos: como área de

conhecimento específico (arte), dá ênfase a performance técnica, e como prática

pedagógica busca contribuir para o desenvolvimento do ser humano em diferentes

aspectos, por meio de uma proposta educacional baseada no artístico, que visa o

desenvolvimento da criatividade, da percepção, da sensibilidade, o sentido estético e

a comunicação humana, sendo considerada a mais antiga das artes.

Dentre os objetivos da Educação Física Escolar não se inclui formar ou

preparar atletas específicos de cada modalidade, como atletas do futebol, ou

basquete, ou voleibol, quando pensamos no ensino do esporte. Quanto ao ensino da

dança na escola, também não temos como objetivo formar bailarinos ou dançarinos.

A Educação Física Escolar tem a função de oferecer um leque de possibilidades

diversificadas de vivências corporais, de conhecimento da cultura corporal de

movimento, procurando sempre enfocar o aluno como um ser humano integral sob a

ótica de um corpo em todas as suas dimensões: psicológicas, cognitivas, motoras,

afetivas, construído culturalmente e sede de signos sociais.

De acordo com os PCNs (1997):

[...] Atualmente se concebe a existência de algumas abordagens para a Educação Física Escolar no Brasil que resultam da articulação de diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. Todas essas correntes têm ampliado os campos de ação e reflexão para a área e aproximado das ciências humanas, e, embora contenham enfoques científicos diferenciados entre si, com pontos muitas vezes divergentes, têm em comum a busca de uma Educação Física que articule as múltiplas dimensões do ser humano. (BRASIL, 1997, p.24)

Por meio do trabalho com dança na escola, o aluno vivencia uma maneira de

se expressar diferente da linguagem verbal ou escrita. Ao comunicar-se através do

seu corpo o aluno experimenta a possibilidade de entrar em contato consigo mesmo

de uma maneira diferente, propiciando a melhora de sua autoestima, sua

autoimagem e sua autoconfiança, explorando sua capacidade criativa. Para que isso

Page 56: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

54

ocorra é fundamental que o corpo não seja considerado um simples objeto, e sim um

sujeito capaz de se comunicar e interagir.

Repetir, ensaiar e memorizar exaustivamente uma coreografia de forma

mecânica e sem significado torna o aluno alienado e em nada contribui para

formação educacional integral. Para Lomakine (2007), a dança no âmbito escolar

representa um importante canal para que os alunos possam adquirir e aprimorar a

consciência corporal e compreender as relações que são estabelecidas entre fazer,

conhecer, interpretar e apreciar dança.

Segundo Moreira e Simões (2006, p.81) “[...] a Educação Física escolar, por

se estruturar no fazer mecânico, repetitivo, pode até ter criado o hábito do fazer, mas

desprezou o habito do saber”. Para os autores, correr em filas em volta da quadra e

repetir movimentos padronizados em um ritmo predeterminado não garante um

aprendizado significativo, mas sim, um adestramento significativo. A aprendizagem

significativa está voltada à corporeidade, que é existencial. Essa existência se

consolida na razão, na sensibilidade, na motricidade, na relação consigo mesmo,

com os outros e com o mundo.

Uma das referências que destaca a relevância dos processos metodológicos

da dança a ser trabalhada pela Educação Física escolar é a obra de um conjunto de

autores (2009) intitulada: Metodologia do Ensino de Educação Física.

Castellani Filho et al. (2009) reconhecem que, para o ensino da dança, existe

um confronto entre o aspecto expressivo, espontâneo, intuitivo e a formalidade da

técnica para sua execução, que pode derrubar as possibilidades expressivas e

criativas de cada aluno. Na visão apresentada nesta obra escolhe-se o

desenvolvimento de uma disponibilidade corporal norteada pela apreensão de

variadas habilidades de execução/expressão relacionadas a diferentes tipos de

danças, inicialmente sem preocupação com as técnicas formais, visando permitir a

expressão desejada sem prejudicar o verdadeiro sentido nelas implícito.

Corroborando com essa reflexão Miller (2012) refere que,

[...] A técnica como camisa de força pode ser reconhecida em diversos trabalhos corporais em que o bailarino persegue a perfeição a ponto de desrespeitar os próprios limites anatômicos em prol do virtuosismo e, quando chega ao estágio avançado da carreira, precisa esquecer a técnica

Page 57: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

55

para dançar livremente. De modo irônico, o dançarino passa metade da vida treinando e adquirindo técnica para poder dançar. Na outra metade, ele

tenta se desprender dela para dançar com liberdade. (MILLER, 2012,

p.57).

Miller (2012) constata uma realidade histórica estabelecida em torno do

conceito e entendimento de técnica, com suas inúmeras interpretações e propósitos

que devem ser revistos a fim de que possamos pensar em diferentes processos de

aprendizagem em dança livres de preconceitos. A autora ressalta que isso não

significa que não se privilegia nenhuma técnica de dança, mas que a noção de

técnica precisa ser repensada.

Para Vianna (2005, p.74) “[...] a técnica, hoje em dia, todo mundo aprende.

Mas a técnica não é nada sem as ideias, a personalidade do bailarino”.

A autora ressalta que isso não significa que não se privilegie nenhuma técnica de

dança, mas que a noção de técnica precisa ser repensada.

Atualmente, ainda observa-se que a Educação Física, como um todo,

não efetiva a dança na educação básica, nessa perspectiva. Muitas vezes reforça os

movimentos mecânicos e repetitivos sem nenhum significado para o aluno,

totalmente descontextualizados, sem fundamentação, com enfoque nas festas

comemorativas do calendário escolar, exigindo dos alunos a repetição e sincronia de

movimento criado pelos professores.

De acordo com Marques (2007) existe um mar de possibilidades e uma

perspectiva de diversidade e multiplicidade de propostas e ações, típicos da época

em que vivemos e que deveriam nortear o ensino da dança nas escolas. Para a

autora, “[...] a escola é hoje, sem dúvida, um lugar privilegiado para que isto

aconteça e, enquanto ela existir, a dança não poderá continuar mais sendo sinônimo

de “festinhas de fim de ano”. (MARQUES, 2007, p.17)

É importante destacar que, como a dança representa/reflete o momento

histórico da humanidade e da sociedade, não pode ser considerada como algo

estático e acabado, pois a humanidade/sociedade está em constante evolução. A

escola deve cuidar dos valores atribuídos a ela e o professor deve considerar como

ponto de partida o conhecimento prévio que os alunos já possuem, conhecendo e

respeitando suas escolhas e opiniões, oferecendo oportunidades para o aluno criar e

Page 58: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

56

recriar, possibilitando, assim, a construção significativa e contextualizada do

conhecimento.

Atualmente, ao pensar em propostas pedagógicas para o ensino da dança na

escola, faz-se necessário perceber as relações que se estabelecem entre as danças

veiculadas pela mídia, as danças tradicionais, as danças das festas e dos bailes,

entre outras, e os conceitos que carregam que precisam ser discutidos e articulados,

verbal e corporalmente, quando se pretende a transformação crítica por meio dessas

práticas.

Gariba e Franzoni (2007) chamam a atenção para a necessidade de um

estudo visando verificar as condições em que são oferecidas as propostas

pedagógicas, pelos cursos de formação, no sentido de propiciar oportunidades para

os futuros professores de Educação Física incluírem, em sua prática docente, a

dança, e para que também o aluno vivencie oportunidades e atividades educativas

como a dança.

Para as referidas autoras,

[...] Essas discussões apontam para o compromisso que deve ter o educador da área da educação física, assumindo uma atitude consciente na busca de uma prática pedagógica mais coerente com a realidade, buscando na dança uma oportunidade de levar o indivíduo a desenvolver sua capacidade criativa, numa descoberta pessoal de suas habilidades, contribuindo de maneira decisiva para a formação de cidadãos críticos, autônomos e conscientes de seus atos, visando a uma transformação social. (GARIBA; FRAZONI, 2007, p.168)

As mesmas autoras enfatizam que a prática da dança nas aulas de Educação

Física ainda se realiza, atualmente, de forma muito restrita e isso se dá,

principalmente devido ao despreparo na formação dos profissionais. Aqui se

encontra o cerne desta pesquisa.

Page 59: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

57

4 TRAÇADO METODOLÓGICO

“A resposta é o que de pior pode acontecer a uma questão, pois ela

estanca o fluxo do pensamento. A ausência de respostas, por outro

lado, cria espaços reflexivos que nos mantêm

em movimento de busca”

ECLEIDE CUNICO FURLANETTO

Para o desenvolvimento desta pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa.

Para Chizzotti (2003) as pesquisas na atualidade apresentam uma tendência para o

reconhecimento da pluralidade cultural, abandonando, assim, a autoridade única do

pesquisador para considerar as múltiplas contribuições dos participantes envolvidos,

definindo novos padrões de validade e legitimidade. Nessa perspectiva, a

abordagem qualitativa privilegia uma partilha densa com pessoas.

Segundo Godoy, (1995) a abordagem qualitativa permite que a imaginação e a

criatividade levem o pesquisador a propor trabalhos que explorem novos enfoques

que poderão ser conduzidos por diferentes caminhos.

Para Denzin (2006), a pesquisa qualitativa

[...] Envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos, estudos de caso; experiência pessoal; introspecção; história de vida; entrevista; artefatos; textos e produções cultuais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos. Portanto, os pesquisadores dessa área utilizam uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, na esperança de sempre conseguirem compreender melhor o assunto que está ao seu alcance. Entende-se contudo, que cada prática garante uma visibilidade diferente ao mundo. (DENZIN, 2006 p. 17).

4.1 Contexto da pesquisa

A instituição na qual se insere a pesquisa possui três Campi que estão

localizados na Zona Sul da cidade de São Paulo. As unidades, II e III encontram-se

em Santo Amaro e a unidade I na cidade Dutra, além dos Polos de Apoio Presencial

para a oferta de cursos à distância espalhados por todo território nacional. A

Page 60: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

58

Universidade de Santo Amaro - UNISA, fundada em 1968, é uma associação civil de

Ensino Superior, de direito privado, sem fins lucrativos, mantida pelas Obras Sociais

Educacionais da Luz – OSEL, que oferece cursos na modalidade presencial e

Educação à Distancia, nas áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências

Agrárias e da Terra, Ciências Humanas e Sociais, Ciências Exatas, além dos cursos

de Graduação Tecnológica, além de dois Programas de Pós-Graduação, em nível

de Mestrado, e Cursos de Especialização e extensão presencial, à distância e

semipresencial. A pesquisa foi realizada no Campus I da Universidade onde estão

concentrados os cursos de Ciências Biológicas e da Saúde. No curso de Educação

Física há nove turmas em andamento.

4.2 Sobre o Curso de Licenciatura em Educação Física

O Curso de Licenciatura em Educação Física, em seu Projeto Pedagógico,

tem como objetivo: Formar um profissional apto em sua atividade docente para atuar

como agente de mudança, devendo:

Identificar a Educação Física Escolar como sendo o ramo pedagógico

da área de conhecimento da Educação Física, que trata

especificamente da socialização de determinadas atividades motoras,

ligadas à cultura, tais como, o jogo, o esporte, a dança, a ginástica, as

artes marciais, atividades estas que influenciam diretamente, por meio

da dimensão motora (motricidade humana), na formação do sujeito;

Planejar, desenvolver e avaliar conteúdos da Disciplina Educação

Física segundo as diversas formas de concepções pedagógicas;

desenvolver atividades de pesquisa tendo como objeto a instituição

escola, seus integrantes e as mais variadas formas de pedagogia do

movimento;

Programar, executar e avaliar programas de atividade física, jogos,

esporte, ginástica, dança e lazer, para serem desenvolvidos junto à

comunidade escolar;

Ser capaz de criar ou adequar processos pedagógicos que

proporcionem a participação de alunos tidos como especiais, que por

Page 61: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

59

meio de dispositivo legal devem ser matriculados em instituição escolar

para alunos tidos como normais.

O Curso tem a duração mínima de seis semestres letivos e máximos de dez

semestres letivos, compreendendo uma carga horária de 2814 (duas mil oitocentas

e quatorze) horas. A formação do graduando incluirá: 414 (quatrocentas e quatorze)

horas de Prática de Ensino como componente curricular; 400 (quatrocentas) horas

de Estágio Curricular Supervisionado correlato ao tipo de aprofundamento cursado;

200 (duzentas) horas de Atividades acadêmico-científico-culturais complementares,

por meio de estudos e práticas independentes, presenciais e/ou à distância. O

referido curso confere o título de conclusão de: Licenciado em Educação Física

reunindo formação básica nas diferentes manifestações e expressões da

Motricidade Humana, conteúdos da área de conhecimento (dimensão generalista),

complementada obrigatoriamente por uma formação de aprofundamento pedagógico

(dimensão especialista) para habilitar o profissional a atuar na Educação Escolar

Básica.

4.3 Os sujeitos de pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram dez (10) alunos que frequentam o Curso de

Licenciatura em Educação Física desta instituição de ensino. A pesquisa foi

realizada com os alunos do 3º semestre e essa escolha se deve ao fato de que

neste semestre os alunos são introduzidos no conteúdo de Dança e entende-se que

são capazes de discutir com mais profundidade o papel da dança em sua formação

profissional. É importante destacar que, a participação dos sujeitos na pesquisa foi

autorizada pela instituição.

Os critérios de seleção dos alunos foram:

Interesse em participar da Pesquisa;

Cursar o 3º semestre;

Concordar em assinar os termos de Livre Consentimento e participação

na pesquisa.

Page 62: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

60

Inicialmente foi lançado o convite nas salas de aula, turma da manhã e da

noite. Entre os que queriam participar foram selecionados cinco alunos da manhã e

cinco da noite que tinham disponibilidade de horário; estes foram informados sobre

os objetivos da pesquisa, bem como, seu traçado metodológico.

Todos os alunos assinaram o Termo de Consentimento e foram informados

que a identidade e dados pessoais dos participantes seriam preservados. Foi

esclarecido, também, que a entrevista seria gravada e posteriormente transcrita.

Dessa forma, foram entrevistados 10 alunos da Licenciatura em Educação

Física, sendo 05 alunos do terceiro semestre matutino (4 homens e 1 mulher) e 05

alunos do terceiro semestre noturno (02 homens e 3 mulheres).

4.4 Procedimentos e organização da coleta de dados

Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas com alunos que cursam o

3º semestre de Licenciatura em Educação Física, no decorrer da disciplina de

Cultura Corporal do Movimento Humano I, onde entre outros conteúdos trabalha-se

o conteúdo de Dança. Foram utilizados, também, os registros efetuados pela

pesquisadora no Diário de Bordo, ao ministrar a disciplina, bem como no seu Plano

de Ensino.

O trabalho de coleta de dados foi realizado no primeiro semestre de 2012 e o

procedimento utilizado foi a entrevista episódica (ANEXO A). A entrevista episódica

abre espaço às subjetividades e interpretações do entrevistado no contexto do

sentido em que ela é narrada. Uma de suas raízes é a discussão com o uso de

narrativas de pessoas para coletar informações dentro da ciência social.

[...] A entrevista episódica se baseia em um guia de entrevista com o fim de orientar o entrevistador para os campos específicos a respeito dos quais se buscam narrativas e respostas. O guia de entrevista pode ser criado a partir de diferentes fontes: da experiência do pesquisador na área em estudo, de dimensões teóricas desta área, de outros estudos e de seus resultados, e das análises preparatórias de uma área que possua aspectos relevantes. (BAUER; GASKELL, 2002, p.118)

Page 63: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

61

Para Bauer & Gaskell (2002) a entrevista episódica procura a

contextualização das experiências e acontecimentos a partir do ponto de vista do

entrevistado.

Os dados coletados foram analisados com base na Análise de Conteúdo.

Para Franco (2008) o ponto de partida da Análise de Conteúdo é a mensagem, seja

ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente

provocada. Para a autora toda mensagem carrega uma grande quantidade de

informações, de componentes cognitivos, afetivos e valorativos, de seus produtores

e está articulada às condições contextuais dos mesmos. Por isso, ao analisar o

conteúdo o pesquisador deve demonstrar competência para saber decodificá-los,

compreendendo-os dentro de um contexto. A contextualização é o principal requisito

para garantir a relevância dos resultados a serem divulgados e também

socializados.

Foram realizadas duas (2) entrevistas com cada sujeito, uma no início do

semestre e outra no final do semestre, após ter cursado a disciplina de Cultura

Corporal do Movimento Humano I, quando foi introduzido o conteúdo de Dança. A

entrevista contou com roteiro organizado em dois blocos. Os dados produzidos no

contexto das entrevistas foram gravados e transcritos. A leitura exaustiva dos dados

permitiu elencar os seguintes eixos de análise:

O primeiro bloco investigava aspectos referentes:

Escolha profissional;

Apoio Social e Familiar;

Expectativas sobre o Curso de Licenciatura em Educação Física;

Lembranças das aulas de Educação Física na Educação Básica: a tensão

entre aspectos criativos e defensivos;

Experiência com a Dança na Educação Básica e sentimentos despertados na

vivência com a Dança;

Experiência social com a Dança;

Experiência acadêmica com a Dança e disciplinas relacionadas;

Expectativas para o desenvolvimento da Dança na Graduação.

Page 64: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

62

O segundo bloco, realizado no inicio e no fim do semestre ( após a introdução

do conteúdo Dança) investiga:

Conceito de Dança;

Considerações do discente sobre a Dança no espaço da Educação Física

Escolar;

Preparação dos discentes para desenvolver o conteúdo de Dança na escola;

Sentimentos vivenciados após o desenrolar do conteúdo de Dança;

Descrição de um fato marcante ou situação de conflito durante o semestre no

desenrolar dos trabalhos;

Leitura e análise de uma citação apresentada sobre Dança na Escola.

A segunda entrevista explorou o segundo bloco da entrevista, procurando

investigar se o fato de ter cursado a disciplina provocou transformação na percepção

sobre a dança, sua importância no contexto escolar e também a disposição e

preparação do futuro profissional para trabalhar esse conteúdo na escola.

O quadro abaixo permite uma visualização mais objetiva do perfil dos sujeitos

pesquisados. Para garantir o sigilo com relação aos sujeitos da pesquisa, a letra S

(representando a palavra sujeito), e os números de 1 a 10 para identificar os

participantes do grupo, cursando o 3º semestre da Licenciatura em Educação Física

matutino e noturno separadamente.

Quadro 1. Perfil dos Alunos do matutino cursando o 3º semestre da Licenciatura.

Fonte: Autora da pesquisa

Sujeito Sexo Idade Ano de conclusão do Ensino Médio

Rede de ensino Possui outra

graduação

S1 Feminino 19 2010 Privada Não

S2 Masculino 20 2009 Privada Não

S3 Masculino 27 2003 Pública Não

S4 Masculino 27 2004 Pública Não

S5 Masculino 32 2000 Pública Não

Page 65: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

63

Quadro 2. Perfil dos Alunos do noturno cursando o 3º semestre da Licenciatura.

Sujeito Sexo Idade Ano conclusão do Ensino

Médio

Rede de ensino Possui outra

graduação

S6 Masculino 19 2009 Pública Não

S7 Feminino 21 2008 Pública Não

S8 Feminino 22 2007 Pública Não

S9 Feminino 24 2005 Pública Não

S10 Masculino 37 1992 Pública Não

Fonte: Autora da pesquisa

Page 66: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

64

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

5.1 Quanto à escolha profissional

Nos relatos dos sujeitos verificou-se que a vivência anterior no esporte e

artes marciais (jiu-jítsu, judô) foram fatores decisivos na escolha da Licenciatura em

Educação Física, como se pode ver nos relatos abaixo:

Bom, é uma área que sempre eu me identifiquei, no caso do esporte, e assim eu tive uma vivência com isso minha infância toda, eu joguei em time de futebol, então isso veio me despertando... (S5)

Bem, o que me levou ao curso foi, desde o começo, eu desde os meus 13 anos de idade, já jogava vôlei, participava de campeonatos, então desde os meus 13 anos eu já sabia que aquilo era minha área... (S9) Sim, eu sempre pratiquei esporte, desde pequena, o meu pai sempre me induziu muito a praticar esportes... (S7)

Para Figueiredo (2004), a estreita vinculação entre Educação Física e

esporte, tem sido, ao longo dos anos, a principal referência dos alunos que

ingressam no curso de Educação Física e, ao mesmo tempo em que essa referência

aproxima os alunos da área, segundo a autora, ela se torna um entrave para que se

possa compreender a Educação Física em uma dimensão educacional mais ampla e

ligada a diferentes campos dos saberes.

Percebeu-se que alguns alunos que ingressam no curso de Educação Física,

possuem uma concepção da área restrita ao aspecto biológico, sendo norteada pelo

sistema de treinamento de atletas, instrutora de exercícios físicos e outras funções.

Tava em academia de musculação. Aí eu vou dar continuidade na

licenciatura e depois fazer o bacharel... (S4)

O que me levou é que eu fazia ginástica artística, daí como eu gostava

muito... (S1)

Em contrapartida, um dos alunos que durante toda sua trajetória na Educação

Básica, teve em sua vivência o esporte, em suas diferentes modalidades, agora na

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65

escolha do curso quer fazer a diferença e proporcionar aos seus futuros alunos

conteúdos diversificados.

É para eu conseguir no futuro fazer a introdução de um conteúdo diferente

na educação física escolar, porque eu vivi muito isso, é primeiro semestre

handball, segundo basquete, terceiro é vôlei e o quarto fechava com futebol.

A única coisa diferente que tinha na escola era aquela semana cultural, uma

gincana. E assim era muito difícil fazer algo que todos da escola queriam,

era muito difícil, muito difícil... (S8)

A história de vida diferenciada de cada discente traz algumas implicações

para o curso de formação (licenciatura) em Educação Física. Nesse sentido, para os

alunos cujo esporte foi fator decisivo na escolha do curso, precisa-se entender e

conhecer quais as práticas vivenciadas e que concepções carregam sobre essas

práticas, a fim de promover a construção de um cidadão crítico e consciente de suas

escolhas.

Sobre essa questão Figueiredo (2004) alerta:

[...] Argumentamos, porém, que é preciso compreender e contemplar as experiências sociais do aluno do curso de Educação Física, não apenas como forma de interação entre a cultura de origem e a cultura de formação, mas também, como uma maneira de intervir e romper com algumas concepções incorporadas e transferidas para os cursos de formação. (FIGUEIREDO, 2004, p.109)

Assim, é preciso também estar atento e possibilitar aos discentes novas

vivências e descobertas, a fim de que eles tenham ferramentas para inovar e

transformar concepções e práticas anteriormente vivenciadas.

5.2 Quanto ao apoio familiar e social

Dentre os dez alunos entrevistados, cinco deles mencionaram certo

preconceito de familiares ou amigos em relação à escolha específica do Curso de

Educação Física, o que pode ser constatado nos seguintes relatos:

Alguns amigos achavam que não se fazia nada na educação física, era só jogar bola, só como se a faculdade fosse um clube... (S2)

Page 68: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

66

Acham que foi uma escolha tola. Tola, porque as pessoas dizem assim, ah faz educação física a pessoa que não quer fazer nada, entendeu?...As pessoas pensam que somente queremos jogar futebol,... (S6)

Uns questionam: - vai fazer Educação Física porque não sabe o que quer da vida... (S9) ...aí minha mãe, por ela trabalhar no hospital, falou: Não, faz fisioterapia ou farmácia que dá dinheiro. Eu falei não, eu não quero... (S8) ...Bom, a parte da família da minha esposa acha que é bobeira... Porque a minha sogra pensa que Educação Física é nada... Entendeu? Então, a maioria das pessoas dá importância para Engenharia, Direito, Medicina, não dá importância para a Educação Física, sendo que ninguém sabe que começa com o professor... porque o pessoal acha que não ensina nada, esse é que o problema, eles têm um problema grande, então vou tentar mudar isso aí. Tem o médico porque tem professor, tem o advogado porque tem professor, tem o engenheiro porque tem professor. Então, o professor é a base e ninguém se interessa nisso... (S10)

Gimenez (2011) complementa mostrando que os alunos do curso e os

profissionais de Educação Física, além de serem questionados no contexto social

mais amplo são também questionados no contexto escolar.

[...] Em especial isso acontece, pois a Educação Física constitui uma área alvo de muito questionamento no contexto escolar. Em linhas gerais, esse debate gira em torno da fundamentação deste profissional, da natureza da sua intervenção, bem como, das suas efetivas possibilidades de relacionamento com outras disciplinas ou componentes curriculares... (GIMENEZ, 2011, p.73)

Essa representação a respeito da área está apoiada na visão do senso

comum, uma visão mecânica, simplista e corriqueira do ser humano e do mundo.

Apoia-se, também, na concepção historicamente construída de que a Educação

Física reduz-se a antigos métodos de ginástica e a algumas práticas desportivas,

conforme discutido no primeiro capítulo.

5.3 Quanto às expectativas dos alunos sobre o Curso de

Licenciatura em Educação Física

Para os sujeitos pesquisados a maior expectativa é de se tornar um

profissional que faça a diferença no mercado de trabalho. Percebe-se em alguns

relatos que os sujeitos não conheciam as possibilidades e as abrangências de

Page 69: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

67

atuação existentes e que, no decorrer do curso, passam a ter uma visão do

dinamismo e das alternativas no campo de trabalho.

...terminar o curso pra estar bem preparado para trabalhar na escola, é essa expectativa... (S2)

...dentro dessa área eu espero crescer bastante, expandir o conhecimento dentro das escolas principalmente... (S6)

A expectativa é a melhor possível, é uma coisa que é um leque, é um horizonte que se abre novo pra mim. Bom, como eu pensava, eu achava que Educação Física era jogar bola, era o esporte e hoje com o que vejo no curso, assim eu tô bem feliz... (S5)

...depois que eu comecei a fazer licenciatura, tive outra visão, assim a respeito da grade curricular, das matérias... (S4)

Como se pode observar, no decorrer do processo de formação, os discentes

visualizaram novas perspectivas de desenvolvimento pessoal e profissional.

É importante ressaltar que, dois dos sujeitos da pesquisa, fazem referência à

experiência vivida anteriormente com professores de Educação Física durante a

Educação Básica; e essas experiências fazem com que eles queiram ou escolham

fazer diferente:

Então eu entrei com a ideia de focar nas artes marciais, mas a gente vai de acordo com o que todos os professores falam, a gente vai mudando de ideia, vai pensando coisas que a gente nunca imaginou. Então acabei indo para o lado da natação, já vejo mais o lado da dança agora que eu nem pensava, não tive muita vivência com dança, então até lá eu vou ver no que eu vou me afunilar, mas assim a minha vontade, acho que é a que todo mundo tem, tentar fazer diferença nas aulas, porque as aulas de educação física na escola foram péssimas... (S7)

Ah! eu espero que eu possa não ser mais um daqueles professores né, espero não ser o professor de educação física que eu tive na escola... (S8)

5.4 Lembranças das aulas de Educação Física na Educação Básica:

a tensão entre aspectos criativos e defensivos

Nos relatos abaixo, constatou-se que, ainda recentemente, a prática de

esportes nas aulas de Educação Física, de maneira alienante, como atividade

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inconsciente e excludente, sem compreensão, é situação preponderante. Para

Celante (2011) a partir da década de 70 as quadras poliesportivas se proliferaram

nas escolas, quando a Educação Física tinha a incumbência de formar atletas e o

papel social do professor na escola se confundia com o de treinador esportivo.

É, foi bem padrão assim, aquela aula que o professor dava a bola, jogava quem quer, não tem muito, não fugia muito, além disso... (S1) O único aspecto positivo que eu tive nas minhas aulas de educação física na escola que eu consigo me lembrar, positivo é como não ser professor, porque minhas aulas de Educação Física eram precárias, aquele sistema que todo mundo conhece, toma a bola, vai jogar bola as meninas ficam sentadas ou meninas jogam vôlei e, é 40, 50 minutos de uma aula que é só isso, os alunos fazem o que querem e se não querem fazer nada também, não fazem nada... (S3)

Na verdade as aulas que eu me lembro a gente jogava bola, que faz um tempo também pra mim lembrar disso aí... (S4)

Assim, positivos, olhando meu tempo de estudante, vendo como o meu professor de educação física deixou de me ensinar, eu não tenho lembranças positivas, infelizmente eu não tenho, são lembranças péssimas, jogar a bola, é o que acontece. Na minha época era assim, jogava bola, se vira, a gente tinha a bola, quando ele ia aplicar o voleibol ninguém gostava, era aquela repressão, pegava a bola das meninas. Então eu não tenho lembrança boa na minha época de educação física na escola... (S5)

Ah professora campeonatos de futebol, voleibol, só. Só esporte, nunca assim, ah vamos fazer uma coisa diferente, vamos sei lá, vamos pegar um tema, folclore, primavera, nunca... (S8)

Olha, os positivos, assim é que o professor, ele, ele não era, ele deixava a gente com a bola, mas ele também quando perguntávamos sobre outra modalidade, ele ia lá, ele explicava: oh! faz assim, assim, assado. Como nós éramos as queridinhas dele, então ele falava assim, é no vôlei ele fundamentava mais a gente no vôlei pras meninas e pros meninos o vôlei também, então ele quis levar para o SESC, num campeonato de vôlei, na qual a gente atuou durante 3 anos. Então ele sempre incentivou a gente procurar interagir com algumas pessoas, e conhecer as pessoas das outras salas também. E os pontos negativos é que só tinham campeonatos de esporte, não tinha campeonatos envolvendo outras modalidades como artes marciais, lutas, danças,... (S9)

Oh, em 13 anos, 13 anos eu estudei, foram 12 anos de futebol, teve o mesmo professor, um ano foi uma professora nova, até hoje eu lembro o nome dela, Maria Adele, ela deu aula diferente pra gente, eu pelo menos adora a aula dela, tinha exercício de corrida, tipo atletismo, agora eu sei, atletismo, salto, exercícios de estática, um monte de exercício diferente... (S10)

Chama atenção o depoimento dos sujeitos S2, S6 e S7, no que diz respeito à

diferença na atuação do professor do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Destaca-

Page 71: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

69

se essa diferença, de maneira negativa, sobre a atuação do professor do Ensino

Médio. Apesar de não ser objeto dessa pesquisa é preciso destacar que o aluno do

Ensino Médio precisa de atenção especial. Estudos de diferentes autores

demonstram a desmotivação dos alunos desse segmento para com as aulas de

Educação Física. Os adolescentes adquirem uma visão mais crítica, e, portanto, é

preciso propiciar o atendimento de novos interesses e não simplesmente reproduzir

conteúdos anteriores, às vezes apenas de modo mais aprofundado.

Aí lá, a Educação Física, como já estava no ensino médio, o professor acabou passando [...] era um bom professor, mas não tinha nada de especial assim, eram mais as atividades normais, handball, basquete... (S2)

Na escola, no Ensino Fundamental, foi um pouco diferente do que no Ensino Médio. No Fundamental tinham mais atividades, como ginástica, mas eram bem poucas, porque geralmente o professor nunca ia para a escola. No Ensino Médio era aquela moda, jogar futebol, jogar bola, as meninas ficavam conversando de um lado, pegava bola de vôlei ficava brincando, e isso assim é totalmente diferente, do Fundamental para o Médio, então quando você chega e fala, nossa totalmente diferente, todo mundo só tá jogando bola, todo mundo separado, que é uma coisa que não deve ser feita, separar menino de menina, deixar só jogando futebol, menina só jogar vôlei, uma coisa totalmente errada, devia ser ali tudo junto, mais atividades, e isso eu pensei assim quando eu cheguei do Fundamental no Médio, eu falei assim uma coisa não tem nada a ver com a outra... (S6)

No ensino fundamental era mais brincadeira, jogo, então eu sempre gostava! A gente vai crescendo, os professores trabalharam só os jogos básicos futebol, vôlei, e quando fui para o ensino médio, aí acabou de vez, porque era aquela professora que joga a bola e você faz se quiser. Então, e eu não, era difícil de eu participar, como ela jogava a bola, vai sempre aquele grupinho né mais, vai lá e joga e tal, eu ficava no meu canto, não participava, apesar de gostar de esportes, eu não participava, do futebol nem do vôlei... (S7)

Para Betti e Zuliani:

[...] No Ensino Médio, a Educação Física deve apresentar características próprias e inovadoras, que considerem a nova fase cognitiva e afetivo-social atingida pelos adolescentes. Tal dever não implica em perder de vista a finalidade de integrar o aluno na cultura corporal de movimento. No Ensino Médio pode-se proporcionar ao aluno o usufruto dessa cultura, por meio das práticas que ele identifique como significativas para si próprio. Por outro lado, o desenvolvimento do pensamento lógico e abstrato, a capacidade de análise e de crítica, já presentes nessa faixa etária, permite uma abordagem mais complexa de aspectos teóricos (aspectos socioculturais e biológicos), requisito indispensável para a formação do cidadão capaz de usufruir, de maneira plena e autônoma, a cultura corporal de movimento. (BETTI; ZULIANI, 2002, p.76)

Page 72: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

70

Os dez alunos pesquisados relatam que, a prática do esporte na escola é o

único conteúdo desenvolvido, embora sem aparente fundamentação teórico-didática

que o sustente. Vale ressaltar que, com exceção do S10, os sujeitos de pesquisa

são alunos que concluíram a Educação Básica entre os anos 2000 e 2010, como se

pode constatar no perfil dos alunos pesquisados. Entretanto, desde a década de 80

a Educação Física tenta dialogar com as diferentes dimensões que integram o corpo

humano: social, cultural, política, intelectual, psicológica e biológica e, atualmente,

ainda nos deparamos com essas práticas descontextualizadas e sem muito

significado para o aluno da educação básica.

Celante (2011) auxilia na compreensão desta questão quando afirma:

[...] Passados tantos anos, mesmo após inúmeros questionamentos e críticas a esse modelo, principalmente com o surgimento das várias propostas pedagógicas para a Educação Física escolar, o esporte-conhecimento fundamental desse componente do currículo escolar - continua hegemônico, senão exclusivo, pelo menos em alguns contextos. Outros conteúdos da disciplina, como a ginástica, o jogo, e atualmente até a dança parecem assumir os códigos esportivos. Tenho a convicção de que a simples presença das quadras poliesportivas nas escolas suscita a reprodução dos fazeres de outrora, mesmo quando atualizados nas suas intencionalidades ou meios. (CELANTE, 2011, p.42-43)

Faz-se necessário ressaltar que atualmente os alunos do 3º semestre,

cursando a licenciatura em educação física já possuem um nível de entendimento

sobre a área que os permitem uma reflexão sobre as aulas na educação básica,

diferentemente do tempo em que eram alunos desse segmento.

5.5 Experiência com a Dança na Educação Básica e sentimentos

despertados na vivência com a Dança

Na totalidade dos depoimentos dos alunos pesquisados percebe-se que as

experiências ou vivências com o conteúdo de Dança na escola se restringem a

situação de “eventos ou festas”, mais especificamente no que se refere Festa

Junina.

Festa Junina, e só. Eu participava porque eu adorava dançar, daí eu acabava gostando, gostava de dançar tal, participar, mas, além disso, nada... (S1)

Page 73: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

71

Na verdade não teve, a não ser quadrilha... (S4)

Sim, quadrilha. Foi a única coisa que eu me recordo que a gente trabalhava com dança, era quadrilha. Festa Junina, só. Mas assim, não falava, eu não tinha o conceitual da quadrilha, a gente não tinha, a gente sabia que tinha que dançar e ponto. Então, analisando de novo o curso de Educação Física, a gente vê o tanto que a gente deixa de aprender nessa fase... (S5)

É que assim, geralmente na escola, já no Ensino Médio, é sempre tinham uns colegas meus que a maior parte das vezes a gente que tinha que chegar ao diretor, no professor e falar assim, na época das férias tem como a gente fazer uma dança, levar para os pais, uma festa junina, festa das mães, a gente que tinha que chegar e falar. Porque ao contrário, ninguém se movia, era só dança de Festa Junina e acabou. Então, não tinha aceitação para pessoas com ideias novas, não tinha isso, a gente que tinha que chegar e conversar. Oh! Tem como a gente fazer isso, ou então fazer um teatro, vamos fazer um teatro, vamos conversar com o professor e ver se tem como pegar uns dias, determinada aula juntar um pessoal e fazer um teatro. Mas tinha que conversar e, às vezes, eles nem deixavam, falavam que a gente queria matar aula, mas não era isso, a gente queria é beneficiar a escola e a comunidade que era aberta, geralmente, mas a gente que tinha que tomar a iniciativa, senão não ia... (S6)

A gente lembra sempre da famigerada Festa Junina (risos), só assim que a gente dançava, nunca tive aula de Educação Física relaciona à dança. Nenhuma... (S7)

Festa Junina só. Só Festa Junina. Participei até a sétima série, aí depois já não participei mais, me desinteressei. O negócio é sempre igual, igual, igual, a gente perde o interesse... (S10)

Segundo Lomakine (2007), com certa frequência a dança na escola é vista

como simples divertimento nos horários de intervalo, ou seja, como elemento

decorativo em algumas festas de comemoração de datas específicas. Nesse

momento o aluno simplesmente memoriza uma série de passos e os executa. Para

a autora isso se deve ao fato de que o aluno do curso de Educação Física, futuro

professor, desconhece as inúmeras possibilidades que podem ser exploradas em

relação aos conteúdos específicos da Dança. Para Marques (2007, p.66): “[...]

Mesmo assim, quando presente nas escolas, a dança ainda é, na maioria das vezes,

vista como produções e reproduções de repertórios apresentados em festas de fim

de ano”.

Marques (2011) relata que, no cotidiano escolar, muitas escolas brasileiras

ainda enquadram a arte nas propostas didáticas lineares, rigorosamente

estabelecidas por: objetivos, conteúdos, procedimentos, avaliação, considerados

objetos de estudo da didática. Nesse sentido, estariam de forma clara simbolizando

a linearidade, a fragmentação e a racionalidade, até hoje pouco questionadas e de

Page 74: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

72

certa forma indissociáveis do sistema educacional, deixando, assim, pouco espaço

para o indeterminado, para o múltiplo, para o diverso. Na reflexão da autora talvez

ainda os professores não estejam preparados para trabalhar disciplinas que exijam

outro tipo de filosofia educacional. A mesma conclui que, a relação entre o processo

de escolarização da dança e o papel do professor na Escola Básica acarreta um

processo de ensino-aprendizagem desvinculado do sistema arte/dança do mundo

contemporâneo.

No depoimento do S2, pode-se ressaltar positivamente o fato de que o

professor tenha procurado ou sugerido e incentivado um tema de interesse e de

significado para os alunos naquele momento, porém percebe-se que não participou

da construção da atividade, ou não interferiu para enriquecer o processo e propiciar

aos seus alunos a possibilidade de recriar em cima de algo já existente.

É o mais comum festa junina, sempre tem. E acho que no ensino médio, quando já tava no terceiro colegial o professor passou uma música do Michael Jackson pra gente apresentar lá o Thriller, que ele não sabia a coreografia nem nada e tinha uma amiga nossa que sabia aí ele falou para ela apresentar a coreografia pra gente, sem preconceito nenhum, sem... ela passou e a gente apresentou, de resto acho que foi só festa junina e isso aí. Ah me envolvia, sempre me envolvi, sempre gostei... (S2)

5.6 Experiência social com a Dança

Nos relatos dos alunos constatou-se que, entre os dez alunos entrevistados

seis tiveram em suas histórias de vida experiências positivas com a dança. Eles

relatam que a dança sempre fez parte de suas vidas de forma muito prazerosa e

alegre. A esse respeito Manoel (2011) afirma:

[...] A formação abarca situações e vivências que mesmo não sendo específicas incidem sobre a formação profissional. [...] A formação se confunde com a própria história de vida do indivíduo. Por isso, a formação não tem começo ou fim definido, ela consiste no percurso de cada indivíduo, na sua experiência vivida. A experiência é uma trilha, pois ela é feita a cada passo, o caminho não está num mapa na mão do andarilho, nem está demarcado no solo em que pisa, o caminho se faz nas contingências de cada um e do espaço que este habita. A formação de um professor, de um pesquisador, de um profissional não se resume à preparação profissional que se dá numa escola, numa universidade, num instituto de pesquisa, ela se espraia pelas trilhas que cada um percorre, percorreu e percorrerá. (MANOEL, 2011, p.102-103)

Page 75: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

73

Observou-se, também, que durante o semestre esses alunos mostraram-se

muito receptivos ao trabalho desenvolvido com o conteúdo de Dança e tudo que lhes

foi solicitado.

Quando criança eu dançava bastante por causa da minha tia, que ela fez balé bastante tempo, então ela acabava me levando pra esse caminho também, e agora não tanto, mas eu ainda... (S1)

Eu adoro dançar. A gente se conheceu, a minha esposa, a minha filha de 4

anos, as pessoas que convivem comigo, acho que a dança, a música, sempre fez parte, da mesma forma que a arte marcial fez... (S3)

Então, eu fui nascido e criado no samba, então a dança pra mim ela significa tudo, alegria, explosão, você consegue sei lá, e a ultima cartada que teve na minha vida experiência social foi o aniversário da minha mãe de 60 anos que a gente, a gente ia fazer, ah como eu posso falar, não uma competição, mas cada família ia ser representada, cada um ia apresentar um ritmo de dança, escolher uma música e dançar no aniversário da minha mãe. Aí era eu, minha esposa e minha filha, o meu irmão, a esposa dele, o filho dele, só sei que no final nenhum quis e só ficou a gente. Aí escolhemos a música do Michael Jackson, thriller e dançamos na festa da minha mãe, então assim foi totalmente... Imprevisível!... (S5)

... A dança na minha vida mesmo esta presente desde criança, desde quando eu nasci; a família inteira gosta de dança, de música e eu cresci no meio assim que meus amigos a maioria dança, todo tipo de música, rap, axé, funk, forró, e assim eu cresci nesse meio, de tudo, gosto de tudo, todo tipo de música, todo tipo de dança. Então tá no sangue, vamos dizer assim né, a dança... (S6)

Então a minha família é mais apegada a depois do almoço no domingo reunir, vamos reunir todo mundo e tocar um violão, inclusive eu toco violão, vamos tocar violão, cantar, isso assim aquela moda de viola, saí um forró, é isso... (S8)

Tem um Ministério chamado salvarte né, salva só através da arte, e tem todo mês, tem ministro da juventude que incentiva o trabalho, ou é teatro ou é dança. Eu participo mais da dança. Nós pegamos uma música, focalizada mais na parte gospel né, parte de religiosidade, e fazemos passos, desde hip hop, a balé, a jazz, a movimentos contemporâneos né, a gente foca um pouco de tudo né. Então, eu tenho pouca vivência na parte de balada, que eu não vou muito, mas gosto bastante e sábado agora eu recebi um convite na academia para aprender a dançar danças urbanas, dança sertaneja, dança de rua né, me fez o convite e me interessou muito... (S9)

5.7 Experiência acadêmica com a Dança e disciplinas

relacionadas

Durante as entrevistas os discentes foram questionados se eles conseguiam

perceber conteúdos, vistos em outras disciplinas até então cursadas, que pudessem

ter ligação ou contribuir com o conteúdo da Dança.

Page 76: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

74

Dentre os depoimentos dos alunos entrevistados, percebe-se que todos

conseguem fazer associações e estabelecer relações com conteúdos pertinentes à

Dança, desenvolvidos no decorrer da graduação, até aquele momento, em outras

disciplinas cursadas anteriormente, como por exemplo: Atividades Rítmicas e a

Ginástica Geral (cursadas no primeiro semestre do curso), Ginástica Rítmica

(cursada no segundo semestre do curso). É importante lembrar que, os alunos

entrevistados cursam o 3º semestre da Licenciatura, ou seja, desde que ingressam

no curso lidam com conteúdos que também pertencem a Dança, tais como: corpo

(consciência corporal e possibilidades de movimento), espaço (forma, nível, direção,

tamanho, lugar, foco, trajetória), força (peso e fluência), tempo (métrica, ritmo,

acento, duração).

Para Gimenez (2011), o Ensino para Compreensão ocorre a partir dessa

perspectiva, o aluno (futuro professor), além de ser considerado o centro do

processo de ensino aprendizagem, é levado a todo o momento a refletir sobre seu

processo de formação. Para o autor essa proposta pautada no protagonismo

discente contribui significativamente para a existência de um aluno ativo no

processo.

5.8 Expectativas do discente para o desenvolvimento da dança na

Graduação

No início do semestre, na disciplina de Cultura Corporal do Movimento

Humano I, logo nas primeiras aulas apresento o programa da disciplina e, após

breve introdução teórica da Educação Física sob a ótica da cultura corporal, já inicio

o conteúdo de Dança. Porém, antes da introdução do conteúdo de Dança

propriamente dito, questionei com os discentes entrevistados quais as expectativas

que tinham em relação ao desenvolvimento desse conteúdo. Nos depoimentos

relatados abaixo havia uma mistura de otimismo e de disposição, misturada com

receios e curiosidades.

Oh! As minhas expectativas eram de eu obter um pouco mais de interesse na dança, conhecer mais e aprender um pouco também... (S2)

Page 77: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

75

Ah, a oportunidade de conhecer novas danças, acho que pelo fascínio que a dança traz, pela liberdade que ela produz. É legal você poder se expressar sem ter medo, sem ter amarras... (S3)

Então assim, eu fiquei pensando informação, pensando em como trabalhar com esse conteúdo na escola. Veio assim várias ideais, e eu acho assim que eu vou ser muito feliz nessa né, colocando isso para os meus alunos, porque assim, ao eu lembrar a minha época passada que eu não tive nada disso, eu vou querer, só não sei se eu vou conseguir, mas assim, o meu objetivo é introduzir a dança pros meus futuros alunos... (S5)

É uma expectativa muito grande, porque os conteúdos apresentados na matéria é uma coisa assim que teoricamente, antigamente, muitas pessoas não sabem, eu como já tive um pouco de vivência disso no curso que eu fiz, dança primitiva, dança moderna, então já me proporciona uma coisa, abrir mais a mente, uma coisa que já tinha um pouco de conhecimento, agora a coisa entra de cabeça. Que no curso que eu fazia não tinha estudo sobre a dança; era mais a dança mesmo, o pessoal só vai ter dança primitiva, um afro, o maculele que já vinha ha um tempo atrás, entendeu? Então, agora a gente sabendo de onde é que vem, fica tudo mais fácil, explicar para uma pessoa. Se você dança, a pessoa ah como é que você sabe, como é que você dança, ah porque foi assim, assim, aprendi, estudei, sei da onde vem, fica mais fácil, porque só você chegar e dançar é uma coisa, mas se você souber fazer e falar com a pessoa é totalmente diferente... (S6)

Ah! Sim, eu pensei que a dança ia auxiliar, como um conteúdo escolar diferente nas aulas de Educação Física... (S8)

Eu pretendo trabalhar na área; fazer a minha pós-graduação em dança e me focar sempre, porque isso é o que faço de corpo e alma... (S9)

Pode-se observar que, para os alunos S1, S4, S7, S10 a expectativa é

grande, porém, existe o receio de um corpo que não tem esse repertório motor em

suas vivências.

Quando você apresentou primeiro pensei, deve ser muito difícil colocar na escola, mas depois pensei, deve ser muito interessante colocar, deve ser importante também, alguma coisa diferente... (S1)

Ah no primeiro momento eu fiquei, fiquei meio com pé atrás de como eu ia desenvolver, como ia tá desenvolvendo isso, até mesmo com as outras pessoas, com o grupo, porque pelo fato da timidez ou de não saber dançar nada... (S4)

Eu gostei. Eu falei, vou gostar dessa matéria, porque assim eu nunca fui muito ligada à dança, mas eu sempre gostei da dança, eu acho lindo dança, dança de salão, os variados tipos de dança, então eu sempre gostei então eu pensei: Ah é um modo de eu conseguir soltar minha timidez, evoluir mais nesse sentido, já que eu gosto tanto da dança, é um modo de eu conhecer mais, evoluir mais. E eu vi que eu fui me soltando, fui evoluindo conhecendo mais, nunca estudei muito sobre dança, aí essa foi a chance de estudar. Talvez até trabalhar no futuro, me deu vontade de querer trabalhar com dança... (S7)

É, só que eu vi que dança não precisa requebrar tanto, não é tanto requebra, é movimentação, coordenação, não é só o que eu imaginava,

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76

tinha um pouquinho mais, tinha um pouquinho mais, achava mais coisa né, só que, melhorou meu pensamento né, porque eu tava pensando que tinha que ser só em dupla, não achava que a dança era de conjunto, tava meio focado num ponto só... (S10)

No segundo bloco das entrevistas, procurou-se estabelecer um comparativo

da percepção discente antes do desenvolvimento do conteúdo de Dança e após o

trabalho com o referido conteúdo.

5.9 Conceito de Dança

Início do semestre/2012:

Os alunos entrevistados foram estimulados a falar sobre o que lhes remetia a

palavra Dança, antes da introdução do conteúdo teórico e prático na graduação.

Dos dez alunos entrevistados, três alunos associam a Dança com a riqueza

do trabalho em grupo, das interações que ela propicia (S4, S9, S10).

Ah, interação... (S4)

Olha a dança propicia a parte de interação, acho que a parte de conhecer

um ao outro... (S9)

Dança é Grupo, afetivo também, coisa afetiva é dança, também tem a ver com conquista, têm muito a ver com conquista a dança, e diversão também... (S10)

Outros alunos misturam sentimentos de alegria e prazer, diversão (talvez

associado a lazer) e outros se referem a sentimentos de liberdade e possibilidade de

livre expressão. Percebeu-se um grupo de alunos com sentimentos e pré-conceitos

muito positivos para introdução do trabalho com Dança, ou seja, um terreno muito

fértil ao desenvolvimento desse conteúdo.

À liberdade, à felicidade... (S1)

Movimento, se mexer, é o que vem à cabeça, assim. É diversão, essas coisas assim... (S2)

Diversão... é bom demais dançar, você se sente leve, você se sente descontraído, todas as preocupações que você geralmente teria no dia-a-dia você deixa de lado quando você tá dançando. Porque você só ouve a música, se deixa levar pela música, você só sente o embalo, se você tá

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77

dançando com alguém você deixa a pessoa te levar ou você leva, isso te dá uma sensação de poder, ao mesmo tempo de liberdade... Acho legal isso, acho legal... (S3)

Não tem jeito, seja qual ritmo que for tudo, mas ela tá, dança é tudo, acho que traz alegria, dança você consegue sair de um sei lá, de um patamar ruim, com a dança você extravasa, você consegue deixar aquilo de lado. Então, a dança é fundamental para o ser humano. Não tem, não tem nem o que falar... (S5)

Eu sinto uma alegria, sempre que eu danço é uma alegria, é fico mais leve, é fico bem, sinto que o corpo está mais leve porque é uma coisa que eu gosto, quando você faz uma coisa que você gosta, você sente bem, se você faz uma coisa que você não gosta você fica, ah tô fazendo só por fazer, mas quando eu tô dançando, vejo dança, eu fico mais inspirado, querendo cada vez mais dançar, aprender mais, isso me leva a estado de êxtase assim, a ficar bem, prestar bastante atenção, será que eu consigo fazer isso, será? Um dia eu posso chegar nesse lugar que ela tá também, isso me deixa bastante feliz... (S6)

Assim como a gente fala na educação física, que o movimento é a forma de expressão acho que a dança é uma forma de expressão, de todos os sentimentos que você tá sentindo ali na hora, do que é que você quer passar para os outros, talvez nem passar, mas o que você tá sentindo, é uma forma de expressar o que você tá sentindo, eu acho muito isso. Se você tá alegre você dança, é até se você tá nervoso, é um modo de expressar aquilo, até se você tá triste, acho que é um modo de expressar seus sentimentos... (S7)

Ah, uma forma do corpo de expressar. Ah prazer, alegria, entusiasmo...

(S8)

Entretanto, para Verderi (1998, p.50): “Dança é muito mais que sua própria

palavra inspira para muitos. Ela deve ser descoberta, vivenciada, pensada e

sentida”.

Novos depoimentos após a vivência do conteúdo de dança:

Fim do semestre/2012:

Após a introdução do conteúdo durante o segundo bloco das entrevistas,

colheu-se os seguintes depoimentos sobre o que lhes remetia a palavra Dança em

três palavras:

Expressão corporal, movimento e liberdade... (S1)

Alegria, grupo né, acho que... É interação entre as pessoas, os amigos, os alunos... (S2)

Page 80: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

78

Liberdade... mais duas? Leveza talvez, é uma coisa muito boa que a dança te traz, mais uma pra... Acho que uma coisa sua mesmo, uma expressão sua, é expressão, uma forma de você... (S3)

Coordenação, atitude e confiança... (S4)

Sociabilização é movimento humano e uma arte... (S5)

Liberdade, expressão e vivência... (S6)

Acho que liberdade, sentimento e expressão... (S7)

Expressão corporal, sentimento... Movimento... (S8)

Espiritualidade, harmonia e sentimento... (S9)

Movimento corporal, ritmo e alegria... (S10)

Observou-se, no depoimento de 05 alunos (S1, S4, S5, S8, S10), que ao

conceituar Dança surgem palavras como movimento, arte, expressão corporal e

coordenação; houve uma ampliação dos sentidos atribuídos à dança em relação ao

momento inicial, o que pode remeter a uma maior conscientização sobre a

importância da intencionalidade e atenção ao trabalho corporal/educacional. Para

Marques (2011) o termo expressão corporal, nega, acima de tudo, as aulas de

técnica e de repertório de dança que, ensinadas de maneira tradicional, por meio de

cópias e de mecanização de movimentos, não permitem que o indivíduo busque ou

descubra seu vocabulário pessoal de movimento e sinta o organismo fluir de

maneira harmoniosa com a natureza primitiva do homem. Garaudy (1980) afirma

que a dança se alimenta dos movimentos da vida. Em relação ao movimento Vianna

(2005, p.80) afirma: “[...] Os movimentos surgem das emoções particulares de cada

um e transformam-se em arte quando encontram uma linguagem universal, já que o

ser humano tem uma essência comum”. Para o autor, no terreno da arte, a obra só

toma corpo na relação que o próprio artista tem com a realidade que o cerca. O

artista, como criador, necessita aguçar sua percepção do real, e o momento de

criação está diretamente ligado ao processo de autoconhecimento.·.

Para Marques (2007) a relação do movimento com outros aspectos da dança

faz com que ela se transforme em arte, pois assim criamos relações simbólicas e

significativas entre aquele que interpreta o movimento e o meio. O termo

coordenação, relacionado à capacidade motora, está associado ao movimento

coordenado, ou seja, movimento fluídico, harmônico, dinâmico e com relativa

economia de energia. Nesse sentido, faz-se interessante consultar o Diário de Bordo

Page 81: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

79

da pesquisadora para que se possa entender como foi conduzido o trabalho no

decorrer do semestre.

Os demais alunos continuam relacionando a Dança ao sentimento de

liberdade, de prazer, alegria e de possibilidade de expressar-se. Percebe-se que a

postura corporal dos alunos estava diferente, sem amarras, sem receios, mais livres,

mais autônomos, mais eles mesmos.

5.10 Considerações dos discentes sobre a Dança no espaço da

Educação Física Escolar

Início do semestre/2012:

No início do semestre, antes da introdução das atividades práticas e teóricas,

os sujeitos entrevistados, em sua quase totalidade, referem-se à importância do

trabalho com Dança na escola, relacionada ao trabalho em grupo, a sociabilização,

ao fato de oportunizar um trabalho corporal de construção coletiva.

Sim. É um modo dos alunos demonstrarem um pouco deles e um pouco da união também entre eles, acho muito importante para ao aspecto social

também... (S1)

Ah eu acho que é importante pelo fato das crianças terem uma união maior entre cada, tirar esse preconceito e por ser, acho que a criançada gosta também e... (S2)

Trabalho em grupo, interação, convívio, é, sabe você conseguir quebrar aqueles paradigmas sabe de ser preso, de ser uma pessoa bloqueada, você conseguir se deixar levar por uma coisa e automaticamente ela te levar a outra. Que quando você dança você acaba conhecendo umas pessoas, você acaba se envolvendo com as pessoas, você acaba se conhecendo, você descobre coisas que você talvez nunca fosse descobrir se você não tivesse a dança entendeu? Eu falo isso porque eu sempre fui muito duro entendeu, eu nem sabia que eu dançava tão bem (risos). Modéstia à parte, eu danço bem (risos)... (S3)

Trabalhar é a interação com, a interação com os colegas, trabalhar em grupo, e aos poucos ir se descobrindo, se é aquilo realmente ou não... (S4)

Bom, é a dança com ela você consegue fazer uma inter-relação com os alunos, você consegue é pegar aquele aluno menos habilidoso, com timidez; com a dança acho que você consegue é reunir o grupo, você consegue fazer uma série de coisas que, de uma forma diferente, de uma forma o ser humano, ele tem por si natural a ginga, de andar, acho que você consegue fazer isso, ainda mais trazendo um projeto novo, você consegue, como é que eu posso dizer. Você consegue a interação... (S5)

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É a oportunidade dos alunos vivenciarem um pouco dessa cultura, porque nem todos têm, muitos dos alunos vão à escola pra sei lá, vão pra mudar, sair daquele cotidiano, de casa, rua, casa e rua. Aí na escola nós temos a obrigação de passar para eles conteúdo... (S8)

Olha muito importante assim porque eu não vivi né, eu não vivi na minha época de escola, eu acho muito importante porque a gente no decorrer do curso que a gente aprende, é várias são suas habilidades... (S9) Eu considero que a dança é a base para todas as outras atividades, para futebol, se não tiver ritmo não tem futebol, se não tiver ritmo não tem basquete, sem ritmo você não tem o vôlei, sem ritmo não tem nada. Então para mim a dança seria uma base... (S10)

Nos depoimentos dos sujeitos S6, S7 constatou-se que, mesmo antes do

conteúdo da Dança ser vivenciado pelos discentes, os mesmos vislumbraram a

possibilidade de, por meio da Dança, de seus repertórios e coreografias, oferecer

oportunidade de reflexão e vivência para que tanto a sexualidade quanto a relação

entre gêneros deixem de ser estereotipadas e/ou preconceituosas. Marques (2007)

contribui com esse contexto quando relata que, as transformações corporais do

jovem adolescente vêm constantemente atreladas às expectativas sociais em

relação a “tornar-se homem/mulher”. Nesse sentido, as danças que a sociedade e

os alunos se permitem ou não experimentar também contribuem. A autora cita o

exemplo das possibilidades de movimento da articulação coxo-femoral (quadril), o

rebolado, que pode representar uma afronta e um motivo de vergonha para os

rapazes que associam esse movimento à feminilidade, temendo se identificar nessa

faixa etária.

Ah! Importância assim que é o conhecimento novo, é uma coisa que já vem de tempos, é introduzir uma coisa que já tem, só que com uma possibilidade melhor, as pessoas conhecerem mais, porque há conhecimento, mas não passado corretamente, e eu acho isso errado, porque se as pessoas conhecessem mais não teria tanto preconceito, que nem dizer, de quem dança axé, porque tem molejo, quem dança rap é porque só é negro, entendeu? Não é isso, se as pessoas conhecessem melhor, sabe que não é isso, mas isso não tem vivência dentro das escolas, isso eu acho que deve ser levado para as escolas e vai, se Deus quiser ser levado para dentro da escola... (S6)

Então, os alunos estão muito retraídos, eu acho que a dança é um belo empurrão para poder eles se expressarem mais. Acho que por isso é tão difícil aplicar na escola. Para os alunos praticarem algum esporte, mostrar os movimentos através de um esporte é uma coisa, eles até vão. Mas agora na dança, que tem toda aquela coisa da vergonha, da discriminação, então eu acho que a dança ajudaria muito nisso, nessa coisa de bullyng, de ter respeito com o colega, porque eles iam ter que respeitar a dança do outro

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porque iam ter que ver que a dança não é aquilo. Acho que é uma forma de socializar os alunos e os fazerem ter respeito entre si, os fazerem perderem esse medo de mostrar o seu potencial, os seus movimentos. (S7)

Considerando as concepções trazidas pelos discentes antes da introdução do

conteúdo Dança propriamente dito, citamos Garcia e Hass (2003) que reforça:

[...] Os objetivos da dança, de acordo com os PCNS, estão organizados em três pilares: a dança na expressão e na comunicação humana; a dança como manifestação coletiva; e a dança como produto cultural e apreciação estética. (GARCIA; HASS, 2003, p.150)

Mesmo ainda não introduzidos no conteúdo propriamente dito, os discentes

entrevistados já reconhecem no trabalho com a Dança possibilidades de expressão,

de comunicação e de interação social e cultural.

Fim do semestre/2012:

Após o desenvolvimento do conteúdo da Dança na Graduação, os discentes

entrevistados foram novamente convidados a expressar suas percepções e

considerações em relação ao trabalho com a Dança no espaço da Educação Física

Escolar.

Para o S3, S4, S6 e S7, em seus depoimentos, eles valorizaram o ensino da

Dança na escola para promover a comunicação, a autoexpressão e atuar em

questões sociais. Corroborando com essa reflexão, Lomakine (2007) relata que, por

meio da Dança o aluno vivencia um modo de expressão diferente da linguagem

verbal ou escrita. Ao comunicar-se por meio do corpo o aluno tem a possibilidade de

entrar em contato consigo mesmo de maneira diferenciada e melhorar muito sua

autoestima, autoconfiança e, consequentemente, sua autoimagem. A autora ressalta

que, o prazer que o movimento expressivo proporciona alivia o estresse diário e a

tensão da escola, levando os alunos a descobrirem e compreenderem aspectos

significativos das suas vidas. O ensino da Dança na escola deve levar em

consideração as diversas experiências corporais e socioculturais e políticas dos

alunos, pois dessa maneira eles terão a oportunidade de expressar seus desejos,

experiências, preocupações, satisfações e sonhos, o que resultará em interessantes

temas, tanto para criação quanto para a interpretação em dança. Dessa forma,

Page 84: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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trabalham-se, também, valores humanos, como cooperação, ética e respeito aos

colegas, às diferenças e às opiniões divergentes.

Bom, em primeiro lugar eu acho que a dança é importantíssima, é importantíssimo você ter na grade curricular da escola porque é onde você pode colocar diversas, você olha mais ou menos assim, coloca diversos tipos de pessoas, com pensamentos diferentes, com atitudes diferentes, com saber, são algumas tímidas, algumas já mais soltas e quando você pode, tipo, fazer uma junção e colocar todos, todos esses alunos, fazer essas crianças ou esses adolescentes num círculo só, no caso a dança, você coloca eles juntos e você tenta explorar o que cada um deles tem a oferecer em relação a isso, meu, você pode se surpreender, às vezes você tem um cara que muitas vezes é um encrenqueiro e com a dança ele se torna uma pessoa totalmente gentil, uma pessoa totalmente cheia de expressão sabe, pessoa deliberada daquela ação que ele é acostumado a ter e passa a ser outra pessoa, entendeu. Ou na verdade ser o que ele realmente é, porque dança é isso, uma coisa que te torna mais você não o que os outros veem de você e uma forma boa pra você, que você perguntou pra... (S3)

Pelo meu ponto de vista dança é importante, mais por trabalhar a parte cognitiva do aluno, a coordenação do aluno, a comunicação, o convívio com os colegas, até mesmo pra quebrar o gelo, eu mesmo no começo, falava de dança pra mim era meio que já ficar com o pé atrás, hoje em dia não, levo isso tranqüilo... (S4)

Eu acho maravilhoso, é um modo, é novo, é um modo das pessoas também poder se expressar dentro da escola porque muitas escolas não gostam né. Quando colocam a dança por causa que há um preconceito às vezes, já da escola entendeu, eles evitam isso pra não ficar mal a escola; antes de acontecer o preconceito eles já cortam e inserir a dança na escola acho que

vai melhorar bastante, acho que vai ser uma coisa muito boa. (S6)

Eu acho que infelizmente não é aplicado, mas acho seria uma das principais, um dos principais conteúdos a ser aplicado, porque os alunos tem muito essa coisa de vergonha, de preconceito com o próprio corpo e com o outro, então acho que a dança tira muito isso. Então essa coisa de desinibir o aluno, desenvolver esse lado nele, de menos preconceito com ele mesmo, com o outro, de poder se expressar melhor através do corpo, ou palavras mesmo, eu acho que a dança ajuda muito nisso. (S7)

Observou-se que, no depoimento apresentado pelo S2, após o

desenvolvimento do conteúdo de Dança na Graduação, ainda existe uma concepção

simplista e reducionista dentro do universo amplo e rico de possibilidades que o

trabalho com Dança oferece, ou seja, pensando no trabalho com Dança em festas

ou apresentações em momentos pontuais.

Ah! Eu desenvolveria, acho que eu começaria pela, por exemplo, por uma festa junina, que aí já tá todo mundo, já conhece, aí eu iria passando ideias de outras danças, por exemplo, como dança hip-hop, dança de rua, essas coisas, os alunos vendo isso, iriam gostar e ir desenvolvendo a partir do gosto deles ou ... (S2)

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É importante destacar que, o S8 incluiu em seu depoimento um argumento

muito forte para o desenvolvimento do trabalho com Dança. Entendeu-se durante a

entrevista, embora talvez não tivesse se expressado tão bem com as palavras, que

não é preciso nada tão mirabolante, recursos tão elaborados para despertar o

interesse da criança ou jovem para Dança, pois se trata de uma atividade que todos

podem experimentar.

Ah! É um fator positivo porque pra dança você usa é como é que se fala, capacidades ou habilidades motoras muito fáceis, aí dá pra desenvolver melhor, igual forró, dois passos pra lá e dois passos pra cá, fácil a criança aprende... (S8)

O S5 e S10 vislumbraram em seus depoimentos, a Dança como base para

introdução de outros conteúdos da Educação Física, ou seja, a fluidez de

movimento, o ritmo, a noção espaço-temporal, a expressividade, como fatores que

contribuem no processo ensino-aprendizagem de conteúdos diferenciados.

Bom, um conteúdo que é pouco trabalhado né, muito pouco trabalhado. Então, hoje nós temos na escola o tradicional, que vem há décadas, que é handball, voleibol, basquetebol, então assim a dança, ela assim, ela é uma base também, que você consegue atingir vários leques do ser human... (S5)

Bom, eu acho que ela é importante, porque acaba sendo a base, básica pra tudo. Então, tudo que a criança vai fazer, lançar uma bola, chutar, correr, driblar, é uma coisa rítmica. Então, a dança ajuda nesse ponto... (S10)

Sobre essa questão, Marques (2011) refere que:

[...] Deste modo, penso que seria interessante hoje, em nossas experiências educativas na área de dança, problematizar a possibilidade de viver o momento, de relativizar o tempo, de não prescrever disciplinas, de enfatizar a relação corporal consigo próprio e com o outro como vetor de um tempo contínuo, dinâmico, internalizado e sentido. Seria interessante problematizarmos as fronteiras estanques de um espaço restrito, enfatizando a possibilidade da multiplicidade espacial, da presença de corpos que se desdobram e vivem em vários lugares ao mesmo tempo. (MARQUES, 2011, p.72)

Os depoimentos do S5 e S10 trazem as múltiplas possibilidades do trabalho

com Dança, não como um fim em si mesma, mas para um corpo multifacetado que

transita em diferentes lugares e assume diferentes sentidos e significados.

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5.11 Preparação dos discentes para desenvolver o conteúdo de

Dança na escola

Início do semestre/ 2012:

Antes da introdução do conteúdo de Dança na Graduação os discentes

entrevistados foram questionados se estavam confiantes para introduzir o conteúdo

de Dança na escola:

Eu me pergunto isso e enquanto eu não colocar em prática não tenho certeza, mas acho que sim e ... (S1) Ah! Eu me sinto preparado depende do que for a dança, é preparado assim, eu teria que buscar mais conhecimento, tudo, e do jeito que poderia ser passado, eu acho que... (S2)

Não, porque quando eu cheguei aqui e tive a, tive o conhecimento de como era a dança mesmo, de como era o conteúdo dança, principalmente voltado na educação, eu vi que é extenso, não é simplesmente dançar, tem muita coisa, muita coisa... (S3)

Ah! Em vista do começo, bem mais preparado. A visão já é outra... (S4)

Bom, preparado nos dias de hoje, acho que a gente tem que estar sempre se atualizando... (S5)

Assim, preparado, preparado assim, agora acho que não estaria, porque assim, tem conteúdos que eu vou ter ainda, e vai ser bem melhor para mim chegar dentro da escola com conteúdo que eu vou ter, vai ser mais fácil. Agora, agora, eu tenho certeza que não... (S6) Não, confesso que não, até porque eu nunca tive ligação com dança, tanto assim eu tenho vontade de trabalhar com dança, mas se eu quiser trabalhar vou ter que aprofundar nisso e é nisso que a disciplina vai me ajudar. (S7)

Não, antes da introdução da matéria não... (S8)

Sinto, sinto sim, me sinto preparada até porque a gente pode até pensar

naquele foco, hoje eu demonstro o que eu sei, amanhã a pessoa demonstra

o que ela sabe, então cada um vai demonstrar o que sabe pra gente juntar

tudo e fazer uma coisa super diferente, né. Então eu não tenho tanta

prática, tanta, curso, vivência com a dança, mas o pouco que eu sei eu

acredito que eu posso passar muita alegria para as pessoas... (S9)

Ainda preparado não, mas eu vou estar preparado para fazer isso, é meu

objetivo... (S10)

Dentre os dez sujeitos entrevistados, nove se sentem inseguros na condução

do trabalho com Dança, antes do conteúdo ser vivenciado e desenvolvido na

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graduação, apenas uma aluna diz que se encontra preparada e mais confiante.

Trata-se de uma aluna que já traz em sua história de vida religiosa experiência

social com a Dança.

Fim do semestre/2012:

Após terem vivenciado o conteúdo de Dança, os discentes se sentem mais a

vontade e seguros para conduzir o trabalho com Dança na escola. Todavia, na

análise dos depoimentos colheram-se informações relevantes, como relatados

abaixo:

Sim, acredito que estou mais preparado... (S4) Então, eu acho que eu me sinto agora mais capacitada, não totalmente, mas bem mais do que antes... (S7)

Sim. Estou preparada... (S9)

Bem mais seguro viu. Não é mais só cultural só, cultural não, sazonal né...

(S10)

É importante chamar atenção para o sujeito S5 que cita a questão da escola

que já tem instalado o hábito de desenvolver nas aulas de Educação Física somente

o esporte e, nesse sentido, deixa claro que precisará de apoio e planejamento.

Nessa situação o professor tem o desafio de propor novas práticas e vivências e

deverá lidar com resistências já estabelecidas. Para vencer esse desafio, é preciso

conhecer as práticas já instaladas e aprender a reconhecer o valor e o significado

que lhes foram atribuídos, não se pode simplesmente negar. A partir daí, construir

novos sentidos, práticas e significados.

Bom, aí depende muito, aí vai depender do que a escola tem pra gente trabalhar. Esse é um conteúdo que eu ultimamente eu tenho passado na escola, fazendo um estágio e semana passada eu fui pra escola e o que é que aconteceu? Lá só tinha basquete, vôlei, somente esporte. A dança em nenhum momento foi citada, inclusive conversando com a professora, nada de dança, só conteúdo prático, esporte. Então a gente tem um déficit de não existir a dança. Hoje teria que ter um planejamento, teria que ter uma estrutura, então hoje eu saio com base, estou saindo com base, com essa base pretendo trabalhar da melhor forma possível... (S5)

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Os sujeitos S2, S3 e S8 ressaltaram a importância do ponto de partida para

introdução do conteúdo de Dança, engajado aos contextos dos alunos, trazendo a

tona conhecimentos e concepções prévias dos mesmos.

Ah! Eu desenvolveria, partindo de uma motivação dos alunos... (S2)

Eu chamaria a atenção deles pra aquilo que eles gostam de ouvir, em cima disso eu procuraria fazer um trabalho onde todos aprendessem a gostar, não que fosse mudar a opinião, mas que todos aprendessem a conhecer todos os estilos e quem sabe não se identificariam mais uns com os outros?... (S3) Ah! primeiro faria aquela sondagem né, o que é que você conhece? O que é que você conhece de dança? Qual foi sua cultura? Na sua casa tem um forró, tem um pagode, tem... Aí eu trabalharia em cima do conhecimento da criança... (S8)

Corroborando com essa análise, Marques (2007) assinala:

[...] Ou seja, conectado ao universo sócio-politico-cultural dos alunos, cabe ao professor também escolher e intermediar as relações entre a dança dos alunos (seus repertórios pessoais e culturais como o rap,o funk, a dança de rua ou ainda suas escolhas pessoais de movimento), a dança dos artistas (o mestre de capoeira, a passista, um coreógrafo contemporâneo) e o conhecimento em sala de aula. Sem ele, as experiências de dança já conhecidas podem se tornar vazias, repetitivas e até mesmo enfadonhas. (MARQUES, 2007,p.12-13)

Para os sujeitos S1 e S6, quando dizem que iniciariam o trabalho

apresentando a Dança, referem-se à apresentação da História da Dança, ou seja,

consideraram positiva a forma como foi conduzido o trabalho na Graduação

conforme citado no “Diário de Bordo” da pesquisadora.

Depois dessa matéria acho que sim. Primeiro uma teórica falando sobre linha de raciocínio, como começou a dança e depois uma prática organizada, com os diferentes tipos de dança que existe... (S1)

Eu começaria com a apresentação da dança, apresentando como é que surgiu, como é que deve ser feito, respeitando os limites de cada pessoa ali, conversando com os alunos, ver o que eles mais gostam, deixam de gostar, e assim a gente vai encaixando certinho até a hora que acontece... (S6)

Sobre essa questão Miller (2012) afirma:

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[...] O aprendizado da história da dança fundamenta a prática docente e a prática discente. O aprendizado histórico permite, também, referenciar pesquisas que são propulsoras de outras que poderiam se apresentar como exclusivas ou autorais pela falta de resgate histórico ou de esclarecimentos dos acontecimentos e das múltiplas redes de relações no ensino da dança. (MILLER, 2012, p.40-41)

Destaca-se, aqui, a necessidade de refletir sobre as contribuições da história

da Dança como embasamento para recriar e ressignificar práticas propostas em

outro contexto.

5.12 Sentimentos vivenciados pelos discentes após o desenrolar

do conteúdo de Dança na Graduação

Os sentimentos vivenciados pelos discentes após o desenvolvimento do

conteúdo de Dança, por meio de aulas teóricas e práticas, são de surpresa, de

segurança, de motivação e da visão de diferentes possibilidades para o trabalho

com os alunos da Educação Básica, na totalidade dos depoimentos.

Destaca-se que, o S1 e S7 trazem à tona o significado que a História da

Dança trouxe em seus processos de aprendizagem. Para Marques (2007), o

conhecimento da história propõe referências, patamares, solos concretos para se

problematizar e construir, hoje, uma Dança que estabeleça relações com a

cidadania contemporânea. Ou seja, o professor, ao mergulhar na história pode

reelaborar suas propostas artístico-educacionais em sala de aula.

Então, foi uma grande novidade descobrir que tem vários outros tipos de dança, descobrir toda a história porque é uma coisa que realmente não se conhece, foi super interessante. Mais segurança porque através da história, conhecimento, você acaba tendo um pouco mais de segurança... (S1)

Eu me sinto mais à vontade, eu gostei muito da disciplina e ainda mais com o trabalho prático, eu me surpreendi em como eu consegui me desenvolver, como eu acabei gostando da dança, não imaginava que eu fosse gostar tanto, e gostei de toda história, de todos os tipos de dança. Então eu acho que eu me sinto agora me sinto mais capacitada, não totalmente, mas mais do que antes... (S7)

No relato do S5, percebeu-se uma associação da Dança ao movimento

humano. Para Gomes (2007) um movimento de estender o braço pode ter a

intenção de expressar várias ações e sentimentos como, por exemplo, dançar, jogar,

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brincar, chamar alguém. Percebe-se essas ações e intenções das pessoas durante

uma aula, deixando vir à tona os movimentos da cultura corporal dos sujeitos,

viabilizando a eles um acesso ao Dançar, partindo de ações que lhes são familiares

e transformando essas ações em Dança.

Hoje eu me sinto mais preparado, porque a dança ela é a continuidade do movimento humano, e você pode trabalhar várias outras coisas com a dança, habilidade motora, enfim, esse é, eu tô mais à vontade mesmo prá, e mais preparado prá trabalhar a dança na escola... (S5)

O sujeito S8 relaciona o fato de sentir-se mais seguro com a metodologia

utilizada no desenvolvimento do conteúdo de Dança durante a Graduação. Pode-se

verificar no Diário de Bordo da pesquisadora como foi conduzido o trabalho com os

discentes.

Ah! Eu me sinto mais à vontade, metodologia que foi empregada a matéria

deu prá acrescentar mais aos meus conhecimentos e segurança de

trabalhar o conteúdo na escola... (S8)

A esse respeito Lomakine (2007) comenta:

[...] É fundamental que a proposta metodológica e os conteúdos da dança na escola permitam aos alunos dançar, apreciar e contextualizar dança. Nas aulas de dança, cabe ao professor (a) significar o processo de ensino e aprendizagem, exercendo o papel de facilitador da construção do conhecimento, sendo seus alunos participantes ativos e interativos desse processo. Nesse contexto é possível que os alunos tornem-se cidadãos conscientes e construtores de seu próprio tempo. (LOMAKINE, 2007, p.56)

Para Ehrenberg (2003), seja qual for a dança, independente da faixa etária a

ser trabalhada, torna-se necessário para sua prática, uma discussão entre professor

e aluno sobre sua contextualização, suas classificações, seu momento histórico,

suas transformações, enfim, para a autora, é imprescindível imprimir à dança

estudada, um sentido, um significado. Acredita, assim, ser indispensável o incentivo

do professor para que seus alunos descubram movimentos espontâneos e recriem o

que já é conhecido por eles.

Ah! eu achei que ao passar o conteúdo eu achei que, eu percebi que é possível trabalhar na escola, é fácil e importante também, e que prá

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desenvolver com os alunos, pelo que eu percebi, não é tão complicado, é fácil e normalmente, pelo menos eu gostei das aulas... (S2) Bom, em relação a tudo que foi apresentado para mim durante o semestre sobre dança, eu me sinto mais, eu me sinto bem mais relaxado em relação à dança, em relação a esse material, que é amplo, diversificado, uma coisa que dá pra você variar muitas vezes, dá pra gente introduzir muitas coisas diferentes além da dança, estabelecer relações, gostei acho que foi uma coisa boa, interessante... (S3)

Sinto mais à vontade, a insegurança deu uma quebrada já no gelo já, porque no início tava meio complicado... (S4)

Ah! me sinto mais à vontade, me sinto mais à vontade tenho mais segurança com o que eu já tive de aprendizado então eu acho que eu me sinto mais à vontade para trabalhar com dança... (S6)

Sinto-me muito bem, é uma área que eu vejo que é o meu foco mesmo, de atuar lá na frente formada já. Pretendo fazer a minha Pós em dança também e era o que eu esperava, muito gratificante... (S9)

Ah! Eu me sinto um pouco mais solto, na desenvoltura assim, ritmo, porque eu tinha medo de dança, agora não tenho tanto mais medo. Simplificou um pouquinho mais a dança pra mim, era complicado e simplificou... (S10)

5.13 Descrição de um fato marcante ou situação de conflito durante

o semestre dos trabalhos

Após as vivências práticas e teóricas no desenvolvimento do conteúdo de

Dança para os discentes do curso, os mesmos, durante o segundo bloco de

entrevista, foram levados a relatar uma situação de tensão ou conflito e uma

situação positiva ou marcante vivida por eles no desenrolar dos trabalhos.

Muitos depoimentos (S2, S4, S5, S6, S8, S10) relataram que, ao mesmo

tempo em que o trabalho em grupo, a diferença das ideias, a diversidade cultural

apresentou-se como um conflito a ser superado, também foi reconhecido como fator

positivo, transformando-se em união do grupo, num trabalho de interação e

sociabilização.

Ah! De conflito eu acho que as ideias entre uma e outra pessoa do grupo, por exemplo, que nem sempre batem, mas ao mesmo tempo isso é positivo também eu penso, porque aí você vai trocando ideias, você vai aprendendo um pouco mais e acho que o negativo assim seria o conflito mais o positivo a interação, você acaba conhecendo seu colega melhor, e tudo isso... (S2)

No início a comunicação em grupo, isso seria um ponto negativo, e no decorrer do tempo o positivo que vamos se dizer quase no final vieram se achando, vieram mostrar mais interesse. Interesse assim do grupo e até mesmo meu... (S4)

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Bom, o ponto positivo foi justamente a interação, a sociabilização com as pessoas, é o conteúdo que foi passado e assim, é uma maneira que você consegue se superar, se soltar entre as pessoas. O ponto negativo eu acho que é justamente, como que eu posso dizer, é... Assim o modo de trabalhar, porque tem vários fatores que impedem, às vezes a pessoa tem vergonha, nunca dançou, nunca, sabe às vezes não tem essa cultura da dança, então assim esse é um ponto negativo, você conseguir trabalhar com as pessoas, é nesse aspecto... (S5)

De interessante que eu achei foi a vivência com o grupo também, entendeu, uma vivência boa, que nem todos sabiam dançar assim ou tinham experiência com dança. E também há um conflito, como o pessoal não sabe dançar também, sempre um quer dar uma opinião a mais, outros já não querem. Mas o pessoal tem que saber ouvir e foi legal porque no final todo mundo, tudo deu certo, e no final deu certo, fizemos a dança e ficou espetacular... (S6)

Ah! O que foi conflitante foi o trabalho em grupo, no começo foi difícil acertar

a cultura, os passos, a música com o meu grupo, a vestimenta, os meninos

não concordavam e tudo mais... (S8)

Ah! No caso o trabalho em grupo, a troca de ideia e às vezes... Isso foi o

positivo. Isso, a troca de ideia com os companheiros e a parte negativa é

que alguns não aceitam a opinião de outros né, aquela briga, cada um quer

impor sua opinião. Então, no caso, um pouco negativo isso aí... (S10)

Para Pereira (2007) sociabilização e cooperação são elementos que acabam

sendo desenvolvidos nas aulas de Dança, principalmente quando cabe aos alunos

trabalhos de execução e composição conjuntas, conforme relatado no Diário de

Bordo da pesquisadora (ANEXO A).

Dentre os depoimentos, destaca-se o S1 quando afirmou da dificuldade em

compor o trabalho sobre Dança Moderna. Para Garcia e Hass (2003) a Dança

Moderna, considerada como um produto do século XX, nasceu como uma reação

contra a forma acadêmica e convencional do balé clássico; com o despertar do

homem para sua própria natureza, diversificando novas técnicas corporais e linhas

coreográficas; explicando, assim, a dificuldade inicial relatada pelo discente.

Ah! Nosso trabalho que foi sobre dança moderna, foi um choque porque é uma coisa muito diferente... E que no final deu tudo certo, foi incrível. Tipo a gente achou que não ia conseguir, mas no final, uma coisa possível de fazer... (S1)

O sujeito S3 relatou sobre o tempo insuficiente (um semestre) para o

desenvolvimento do conteúdo de Dança na Graduação. É evidente que existe um

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leque de possibilidades e conteúdos que poderiam ser mais bem explorados e

vivenciados pelos discentes se houvesse uma carga horária maior para

desenvolvimento do trabalho.

Uma coisa muito boa que aconteceu nesse período todo foi a confraternização, a união da sala com o pessoal, sabe a gente se identificou bastante uns com os outros, eu por sorte consegui me identificar com todos, e o conflito? Ah acho que o maior conflito que eu tive em relação à dança foi o pouco tempo pra me aprofundar, pra conhecer mais, foi pequeno, o espaço de tempo foi pequeno, dava pra expandir mais, eu acho... (S3)

É muito gratificante como docente, perceber que o conteúdo trabalho, a

estratégia utilizada, a proposta, a prática vivenciada possibilitaram ao aluno a

autodescoberta, a vencer obstáculos, a resolver situações-problemas, superar

limites. Enfim, nesse momento, sinto-me realizada, no depoimento do S7.

Eu acho que sempre em relação à dança todo mundo tem aquela vergonha, falta de coordenação, então acho que eu tive um pouco de dificuldade nisso, às vezes até me limitava a fazer algumas coisas. Eu, na verdade eu podia, mas com medo eu me limitava a fazer algumas coisas, então eu encontrei um pouco desses impasses. Mas, ao mesmo tempo eu acabei descobrindo que eu posso muito mais do que poderia. Então, digamos eu libertei mais meu corpo nas apresentações, abri mais minha mente para esse universo da dança. Então, ao mesmo tempo em que eu senti um pouco de dificuldade com essa coisa de expressão do corpo, eu consegui me libertar muito em outras partes... (S7)

No depoimento abaixo, embora não seja o foco do trabalho, é importante

destacar uma realidade apresentada nas turmas do período noturno, alunos que

chegam depois de um dia de trabalho, talvez com o corpo exausto, com nível de

atenção e concentração insatisfatório para aprendizagem e que, mesmo assim, a

partir da proposta apresentada ainda reúnem forças e motivação para realização das

atividades. Deve ser uma preocupação do docente o atendimento a esse público, é

preciso reconhecer a necessidade de estratégias e propostas que motivem e que

movimentem.

Bem, o que mais marcou foi a nossa apresentação de dança de rua, que

era realmente o que eu queria abordar, o tema dança urbana; e o mais

conflitante foi tentar elaborar o trabalho teórico, porque todo mundo

trabalhava, ninguém tinha tempo, aí foi difícil da gente se reunir pra, não

você faz essa parte, você faz essa outra parte, acho que só nesse ponto foi

um pouco de conflito... (S9)

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Gimenez (2011) contribui quando afirma:

[...] A premissa é de que a aula expositiva da graduação deveria ser

gradualmente substituída por propostas baseadas na solução de problemas,

nas quais o aluno é estimulado a encontrar respostas e o professor assume

a posição de um facilitador no processo. (GIMENEZ, 2011, p.80).

Nesse sentido, faz-se necessário que o professor, constantemente, reflita e

elabore estratégias de motivação e que prendam atenção do aluno para a proposta

apresentada.

5.14 Leitura e análise de uma citação sobre Dança na escola

[...] o ensino da Dança na escola deve estar vinculado a aspectos motores, sociais, cognitivos, afetivos, culturais, artísticos, pois como atividade pedagógica tem a função de superar uma cultura corporal voltada para execução de movimentos já preestabelecidos, produzidos pela humanidade (GARIBA; FRANZONI, 2007 p.161)

Nesse momento os discentes foram convidados à leitura e análise da citação

acima apresentada. Percebe-se nos depoimentos que eles compartilham com as

autoras e ressaltam, em sua maioria, a possibilidade de desenvolver o potencial

criativo e expressivo no trabalho com a Dança. Ressaltam-se aqui alguns

depoimentos.

No depoimento do S2, em sua análise, percebe-se que o mesmo traz as

amplas e ricas possibilidades do trabalho com a Dança: a Dança como forma de

comunicação consigo mesmo (em nível pessoal/individual), com os outros (em nível

interpessoal, das interações possíveis), com o ambiente (em nível de seu habitat

natural) e com a sociedade (em nível local e global).

Bom, eu concordo com essa citação, e o que eu entendi é que com a dança você foge dos movimentos impostos pela sociedade, ou seja, você se descobre você, outros movimentos, outras ações, seu corpo, é a parte cultural também, você vivencia outras partes, e meio social, você acaba perdendo um pouco do preconceito com alguma dança ou outra, com, e também preconceito de si próprio acho, de você parar de se reprimir de dançar, você acaba perdendo essa vergonha de dançar ou... É isso... (S2)

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Percebe-se no depoimento do S4 a preocupação do futuro professor em

considerar o vocabulário ou repertório motor, social e cultural trazido pelo aluno,

tomando como ponto de partida para o início do trabalho com Dança.

Sim, concordo, que até mesmo assim, no ponto de vista daqui, teria que trabalhar com o aluno a partir daquilo que ele traz, pra ele se sentir mais à vontade, não se sentir acanhado e não como uma regra, tem que fazer, tem que ser assim até o final, trabalhar por etapas e trabalhando em cima disso, ele trazendo a cultura dele, trazendo as experiências dele, em cima disso deixaria ele mais à vontade e seria mais fácil pra trabalhar... (S4)

Nesse sentido, Marques (2007) comenta:

[...] O professor, engajado aos contextos dos alunos, se torna um propositor, e, principalmente, um articulador, um interlocutor entre estes contextos e o conhecimento em dança a ser desenvolvido na escola. Ou seja, conectado ao universo sócio-politico-cultural dos alunos, cabe ao professor, também, escolher e intermediar as relações entre a dança dos alunos (seus repertórios pessoais e culturais como o rap, o funk, a dança de rua ou ainda escolhas pessoais de movimento), a dança dos artistas (o mestre da capoeira, a passista, um coreógrafo contemporâneo) e o conhecimento em sala de aula. Sem ele, as experiências de dança já conhecidas podem se tornar vazias, repetitivas e até mesmo enfadonhas. (MARQUES, 2007, p.32-33).

Os sujeitos S5 e S10 relacionam os movimentos padronizados e

estereotipados aos movimentos do esporte:

Bom, eu concordo, concordo porque a dança tem tudo a ver com nós seres

humanos, então a gente fica a mercê só das atividades esportivas, fica uma

situação meio monótona. Então, a dança tem que ser trabalhada sim, e a

partir do movimento do ser humano. ... (S5)

Eu concordo com o autor porque realmente na escola as coisas são muito assim, é fixo, sempre bola, chuta sempre igual, lança bola sempre igual, as crianças correm sempre iguais. No caso das artes marciais é aquele trabalho duro, travado, sem ritmo. No caso aqui eu concordo que tem que ser um pouco mais solto, cada um tem que por um pouco de si, no que aprende, não é só o que tá pronto, tem que ensinar a criança, estimular a criança a coisas novas... (S10)

No depoimento do S9 destaca-se a Dança como manifestação de desejos e

sentimentos, trabalhando o humano em sua totalidade.

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Bem, o ensino nas escolas é super importante porque ele vai atingir todos os sentidos da pessoa, ela vai se soltar mais, ela vai interagir com o movimento e ver que aquilo não é tão um bicho de sete cabeças, vamos dizer assim. Então, isso move o corpo, ele é super importante porque ele tá vinculado com todos os nossos sentimentos... (S9)

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A dança é a linguagem escondida da alma”

MARTHA GRAHAM

No início deste trabalho objetivou-se identificar a percepção dos alunos do

Curso de Licenciatura em Educação Física sobre as contribuições da Dança e de

seus impactos para sua formação profissional. A análise dos dados da pesquisa

evidenciou aspectos que merecem ser destacados.

Os discentes relatam que, a experiência anterior com atividades esportivas foi

fator predominante para escolha do curso. Quando questionados sobre o apoio

familiar grande parte dos entrevistados evidencia certo preconceito por parte da

família e amigos em relação à área. Entrevistados sobre expectativas que possuem

em relação ao curso, afirmam almejar fazer diferença no mercado de trabalho e, ao

longo do curso, vão ampliando a visão a respeito da profissão e vislumbrando

diferentes possibilidades de atuação profissional. Motivados para falar sobre as

lembranças das aulas de Educação Física na escola relatam atividades pautadas no

esporte, conteúdo predominantemente desenvolvido, que assume na escola o

caráter de uma prática eminentemente tecnicista e excludente.

Quando durante as entrevistas são convidados a falar sobre a experiência

com a Dança na Educação Básica, relatam que a vivência com a Dança estava

restrita a Festa Junina ou Festa de Fim de Ano. Em relação à experiência social com

a Dança, alguns discentes afirmam que a Dança sempre fez parte de sua vida social

e os mesmos mostram-se muito motivados para viverem novas experiências

referendadas na Dança, no Curso de Graduação.

Ao se expressarem sobre os conteúdos da Dança vivenciados em outras

disciplinas da matriz curricular do curso, conseguem estabelecer relações com a

Ginástica Geral, Ginástica Artística e Atividades Rítmicas, o que sugere que os

conteúdos das outras disciplinas não estão sendo trabalhados de forma acabada e

estanque, como fim em si mesmo.

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Quando apresentado aos discentes o conteúdo de Dança na Graduação, a

expectativa gerada foi de entusiasmo, euforia e, ao mesmo tempo, para alguns, de

receio e insegurança por se tratar de uma vivência motora que pouco

experimentaram.

Com base na análise dos relatos, foi possível perceber que os discentes

relacionam a Dança com prazer, diversão, possibilidade de expressão do corpo e da

alma. Destacam a relevância do trabalho com a Dança na Educação Física escolar,

ressaltando a importância do trabalho corporal de construção coletiva, favorecendo a

interação e a sociabilização.

Após o desenvolvimento do conteúdo da Dança, na Graduação, os discentes

ampliam a compreensão a respeito dos seus benefícios na Educação Física escolar,

destacando em seus depoimentos aspectos da Dança que não tinham sido

mencionados anteriormente, tais como: possibilidade de refletir e atuar em questões

sociais e culturais, a dança como ferramenta para introdução de novos conteúdos da

Educação Física escolar, propiciando a noção espaço-temporal, desenvolvendo o

ritmo, a fluidez do movimento, etc.

Referente ao preparo dos discentes para desenvolver a Dança nas aulas de

Educação Física escolar foi possível perceber que, após terem vivenciado o

conteúdo na Graduação, os mesmo sentem-se mais preparados e, embora saibam

que terão que enfrentar preconceitos instalados, reconhecem a importância de os

conteúdos da Dança no cotidiano das aulas de Educação Física. Percebem que,

para introduzir a Dança na escola poderão apoiar-se não somente nas atividades de

dança, mas também nos seus aspectos históricos, procurando, desta forma, ampliar

os sentidos atribuídos para as práticas contemporâneas, como também no

acolhimento do repertório trazido pelos alunos.

Com relação aos sentimentos vivenciados pelos discentes após o

desenvolvimento do conteúdo de Dança na Graduação, os mesmos relatam

surpresa, alegria, motivação e enfatizam a importância de conhecer a história da

Dança, demonstrando o quanto foi importante e diferenciado na construção de suas

aprendizagens entenderem a Dança como patrimônio histórico da humanidade.

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Ao se referirem às dificuldades enfrentadas na disciplina, os discentes, ao

mesmo tempo em que destacam como barreiras a serem superadas: a diversidade

humana, a pluralidade de ideias que resultaram em alguns conflitos, a escassez de

tempo para elaborar e se dedicar aos trabalhos, também enfatizam: o enfrentamento

dos desafios propostos, a união do grupo, as interações e as descobertas

proporcionadas no trabalho com Dança que possibilitaram novas experiências. Ao

final do trabalho consideraram que um semestre foi pouco tempo para abordagem

desse conteúdo.

Concluindo a análise das entrevistas foi apresentada aos discentes uma

citação para ser analisada e comentada. Segundo os relatos dos entrevistados,

ressaltam as diferentes possibilidades no trabalho com Dança, enfatizando a

expressão corporal, os sentimentos e desejos, a livre criação, a Dança como forma

de comunicação consigo mesmo, com o outro, com o local e o global.

Esse trabalho de pesquisa permitiu uma compreensão mais aprofundada da

importância de uma educação problematizadora, que lança desafios, que levanta

possibilidades, que promove a auto-descoberta, que investiga e que propicia aos

discentes da Graduação construir significados em seus processos de aprendizagem.

É claro que, o professor precisa exercer seu papel mediador, oferecendo subsídios,

ferramentas, provocando o discente para que o mesmo mostre suas potencialidades

em relação à Dança, propiciando oportunidades para criação, re-criação,

improvisação e exercício de autonomia. Em relação à Educação Física de maneira

geral, a preocupação em contextualizar as práticas e refletir sobre elas é primordial

para se romper a centralidade no “fazer”, apenas na ação motora, por vezes

mecânica e repetitiva, sem significado. É fundamental preparar os futuros

professores de Educação Física para que reflitam sobre o ato de aprender e

entendam que este demanda motivação, esforço e construção de significados para a

vida. O desenrolar do conteúdo de Dança na universidade contribui de maneira

significativa para todas as questões aqui abordadas.

A pesquisa limitou-se à reflexão sobre a contribuição da Dança na formação

do professor de Educação Física na visão dos discentes desse curso, no Ensino

Superior. Percebeu-se que há carência de referências sobre Dança de maneira geral

e Dança na Educação Física. Dessa forma, sugere-se que novos estudos sobre o

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tema sejam realizados, a fim de que se possa contribuir para o trabalho do

profissional de Educação Física Escolar, bem como, para as pesquisas nesse

campo.

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105

8 ANEXOS

ANEXO A - “DIÁRIO DE BORDO DA PESQUISADORA” 2012

Disciplina: CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO HUMANO I

3º semestre – Curso de Licenciatura em Educação Física

EMENTA: Estudo do fenômeno corporal e sua interseção com os problemas

sociais e culturais. Pretende, especificamente, investigar as bases de

formulação científica do fenômeno corporal, com fundamento na relação

interdisciplinar estabelecida entre a Educação Física e as Ciências Humanas.

São trabalhadas as interpretações sociológicas e antropológicas sobre o

corpo, relacionando-as ao significado de cultura. Desta forma, é possível

refletir sobre o corpo como uma construção cultural e social no cenário da

modernidade, considerando aspectos como corpo e cultura corporal; corpo e

simbolismo; corpo e meio ambiente.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:

Dentre os conteúdos trabalhados citamos: DANÇA E CONSCIÊNCIA CORPORAL:

História e Evolução da Dança: Dança na Era Primitiva - Dança na Antiguidade

(Egito, Grécia e Roma) - Dança na Idade Média - Dança na Era

Renascentista - Dança Clássica - Balé Romântico - Balé na Rússia - Dança

Moderna - Dança Contemporânea.

Outras Formas de Dança na História.

Definições de Dança.

Fundamentos da Dança.

Coreografia - definições e processos coreográficos.

As aulas são conduzidas inicialmente em sala de aula: após a apresentação

do Plano de Ensino, é introduzida a História da Dança, de maneira contextualizada e

significativa para os alunos, trazendo a tona aspectos da História Geral, e partindo

de percepções e conhecimentos prévios que os alunos possuem. Percebo que os

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106

alunos do Curso de Educação Física, trazem algumas resistências quanto a

assistirem as aulas teóricas, muitas vezes ficam impacientes e querem ir logo as

aulas práticas. Explico a importância de fundamentarmos as práticas por meio do

conhecimento e das reflexões que surgem nas aulas teóricas. Entretanto, procuro

alternar as aulas teóricas com as práticas, a fim de manter os alunos sempre

motivados.

Segundo Marques (2007):

[...] A perspectiva histórica da dança traz possibilidades de abrir horizontes para uma discussão maior: como viver o presente? Como projetar o futuro? Ou seja, o conhecimento da história propõe referências, patamares, solos concretos para problematizarmos, criticarmos e construirmos hoje uma dança que trace relações com a cidadania contemporânea.

[...] O conhecimento não linear da história, que traça múltiplas redes de relações com os saberes, fazeres e pensares do e no mundo contemporâneo, possibilita ao alunado articular de forma embasada, crítica e transformadora sua criação artística e sua educação estética. (MARQUES, 2007, p.195).

Após a apresentação teórica da Dança na Era Primitiva, por meio de vídeos,

slides e exposições, onde explico que o homem primitivo dançava em cada

manifestação de sua vida e que o corpo se expressava livremente, conduzo a aula

prática da seguinte maneira: os alunos formam grupos de trabalho e distribuo temas

característicos da dança nessa época: Ex: Dança da Chuva, Dança da Colheita,

Dança da Caça, Dança da Cura, etc. Motivados pelo som de atabaques, sons da

natureza, chocalhos e flautas, os alunos procuram se transportar para aquela época

e organizam movimentos característicos a partir de cada tema recebido. Deixo-os

livre para compor, afinal, eles já possuem um embasamento teórico que sustente o

trabalho solicitado. Ao final da aula os grupos se apresentam uns aos outros. Os

trabalhos, no que diz respeito à “soltura e expressividade” do corpo, são riquíssimos.

Percebo alunos muito tímidos que se entregam ao trabalho livremente. O gênero

masculino, às vezes resistente a esse conteúdo, sente-se “dançando a vida”.

Finalizo explicando a eles que acabaram de entrar em contato com o primeiro tipo

de expressão coreográfica, a dança pantomima, ou seja, a dança que segue a

própria natureza. Nesse momento sinto os alunos mais abertos e motivados ao

conteúdo que será trabalhado no decorrer do semestre. Percebo que eles ampliam

as concepções inicialmente trazidas sobre o conceito de Dança.

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Para Marques (2007):

[...] Dançar, compreender, apreciar e contextualizar danças de diversas origens culturais pode ser uma maneira de trabalharmos e discutirmos preconceitos e de incentivarmos nossos alunos a criarem danças que não ignorem ou reforcem negativamente diferenças de gênero. (MARQUES, 2007, p.40).

Na aula seguinte vamos para sala. Complementamos as explicações sobre a

Dança na Antiguidade e tratamos de entender um corpo diferente. O corpo da Idade

Média. Falamos sobre a Dança da Idade Média e consequentemente a Dança da

Corte. Quando conversamos sobre o momento histórico, político e social da época

estabeleço a relação de como o corpo se comporta naquele momento e, então, os

alunos entendem que falamos de um corpo bem diferente do corpo vivenciado na

Dança Primitiva.

Na aula em sequência, que é prática, os alunos vivenciam o corpo da Idade

Média, por meio da Dança da Corte. Ao som característico dessa época, os alunos

formam grupos e procuram compor com base em conhecimentos anteriores

passados, os movimentos (porque ainda não chamo de coreografia ou processo

coreográfico) que caracterizam a Dança da Corte. Lanço desafios de tempo e de

formações a serem criadas por eles. Percebo que a união do grupo vai se

fortalecendo, assim como a motivação. Já enxergam o conteúdo de Dança com

outros olhos. Sigo em frente, ainda com outra aula prática, onde exploro de maneira

divertida e diferente a quadrilha dançada nas Festas Juninas que foram trazidas ao

Brasil pelos portugueses, e ainda conservam alguns elementos em que as

populações do campo festejavam a proximidade das colheitas. A tradicional

quadrilha inserida junto com outros ritmos adequados a faixa etária em que estou

trabalhando torna-a diferente e prazerosa. Os alunos se divertem e vislumbram

outras possibilidades, mesmo na tradicional quadrilha já tão conhecida das Festas

Juninas.

Em seguida, temos outra aula teórica em que tratamos do nascimento do

Balé, e assim da Dança no século XIX, do surgimento do Balé Romântico. Falamos

de outro corpo. Trago para a aula a figura da bailarina, que encarnava a perfeição,

trago as sapatilhas de ponta que “aprisionavam os pés” e, assim, os alunos passam

a entender de que corpo estamos falando e de como esse corpo se comporta na

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108

Dança Clássica. Conversamos, assistimos trechos de vídeos e preparo os alunos

para próxima aula prática.

Na aula prática sobre Dança Clássica, faço diferente. Convido uma bailarina

formada, também professora de balé, e por meio de movimentos propostos a todos,

entendem, na prática, a história da Dança Clássica e de seus diferentes momentos

e, com isso, também percebem como aquele corpo se comportava.

Em nossa próxima aula teórica já começo a tratar das contribuições de

diferentes teóricos para a Dança: Rudolf Bode, Francois Delsart, Dalcroze, Laban e

introduzo também as definições de coreografia e processo coreográfico. Aproveito

as contribuições de Laban na História da Dança, para falar sobre ocupação do

espaço, fluência do movimento, harmonia, desenho e formações coreográficas,

variação de planos e direções, tempo, etc. Na aula prática que se relaciona há esse

momento do conteúdo, exploro o trabalho lúdico, utilizo bexigas e diferentes ritmos

para concretizar com os alunos o que foi explorado na teoria. O resultado é muito

positivo, sinto que os alunos começam a sentir confiança em explorar os caminhos

da Dança. Os aspectos técnicos do conteúdo de Dança são introduzidos de

maneira progressiva e tranquila.

Para Miller (2012):

[...] A técnica como camisa de força pode ser reconhecida em diversos trabalhos corporais em que o bailarino persegue a perfeição a ponto de desrespeitar os próprios limites anatômicos em prol do virtuosismo e, quando chega ao estágio avançado da carreira, precisa esquecer a técnica para dançar livremente. De modo irônico, o dançarino passa metade da vida treinando e adquirindo técnica para poder dançar. Na outra metade, ele tenta se desprender dela para dançar com liberdade. (MILLER, 2012, p.57)

Dentro da linha histórica da Dança estamos no momento da Dança Moderna,

onde também destaco as contribuições de Martha Graham, Isadora Duncan entre

outros; a participação do tronco, as passagens pelo solo, a atenção à respiração e

ao movimento de contração e relaxamento. Após, introduzo a Dança

Contemporânea e saliento o potencial criativo que ela proporciona, ou seja, as

acrobacias, técnicas teatrais, elementos cênicos variados, expressividade, ousadia

dos espaços, etc. Ressalto a importância de entenderem o comportamento do corpo

nessa trajetória histórica, política e social da Dança.

Page 111: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

109

[...] A dança que deve estar presente nas aulas de educação física é por nós entendida como espaço de desenvolvimento da criatividade e principalmente, da sensibilidade, pautada nas possibilidades de ouvir, ver, e apreciar o que outros corpos têm a comunicar e expressar.

Assim, a dança na educação física, deve ser trabalhada a partir do histórico de movimento de cada aluno/a e, por isso, nessa proposta, o/a professor/a não precisa ser um/a bailarino/a, pois cabe a ele/a mediar os diálogos e orientar as tarefas de movimento. Nesse sentido, a principal “habilidade” a ser “desenvolvida” pelo professor de educação física é a sensibilidade (cabe dizer, não serve somente para a dança): é preciso ser/estar sensível às necessidades de comunicação dos/as alunos/as, ser/estar sensível às necessidades de serem ouvidos, questionados, elogiados e compreendidos. (KLEINUBING; SARAIVA, 2009, p.10)

O trabalho de encerramento do semestre consiste em que os alunos

pesquisem outras formas, estilos e funções da Dança, e por meio de um sorteio de

temas os grupos constroem o processo coreográfico, a coreografia e a apresentação

propriamente dita. Eles são avaliados no trabalho prático, seguindo os critérios:

Adequação do tema, estilo, música, figurino, movimentos;

Ocupação do espaço, variações de planos, direções e desenhos

coreográficos;

Criatividade;

Harmonia e sincronia do grupo;

Elemento estético e cênico;

São avaliados, também, no decorrer do semestre, através de todas as tarefas

solicitadas a cada aula, além da avaliação teórica e trabalho prático que encerram o

semestre. Enfatizo que, essa disciplina contempla outros conteúdos que também

são desenvolvidos. Apesar do tempo curto e rápido procuro organizar, para oferecer

ao aluno, diferentes possibilidades, a fim de melhor preparar o futuro professor que

atuará no mercado de trabalho.

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ANEXO B - ROTEIRO DA ENTREVISTA INICIAL

Roteiro de Entrevista com os graduandos do 3º semestre da Licenciatura em

Educação Física:

Dados Pessoais:

Nome:_____________________________________________

Idade:_____________

Sexo: Feminino ( ) Masculino ( )

Início do 3º semestre (antes de desenvolver o conteúdo da Dança):

a) O que o (a) levou escolher o Curso de Licenciatura em Educação Física? Fale livremente sobre isso.

b) As pessoas de seu círculo social/convívio o que pensam sobre sua escolha?

c) Que expectativas você têm a respeito do Curso de Licenciatura em Educação Física?

d) Que lembranças você guarda de suas aulas de Educação Física na escola? Encaminhar aspectos positivos e negativos que consegue destacar.

e) Você se lembra, durante a Educação Básica, de situações, momentos ou eventos marcados pela Dança? Quais? Como se sentiu?

f) Fale sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a Dança? Em família, com amigos, etc.

g) Na sua Graduação, até o presente momento, você estudou algum conteúdo que faz referência a Dança?

h) Em quais disciplinas?

i) Atualmente, na disciplina de Cultura Corporal do Movimento Humano I, depois que lhe foi apresentado o programa, quais as suas expectativas para o desenvolvimento no que se refere ao conteúdo da Dança?

j) O que vem a mente quando você pensa em Dança? Fale livremente sobre isso.

k) Qual sua experiência social com a Dança? Poderia exemplificar melhor essa situação?

l) Em sua opinião, qual a importância de desenvolver a Dança na Educação Física Escolar?

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m) Você se sente preparado para introduzir e trabalhar com o conteúdo de Dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola?

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ANEXO C - ROTEIRO DA ENTREVISTA FINAL

Término do 3º semestre (após desenvolver o conteúdo de Dança):

a) No final desse semestre, após desenvolver o conteúdo de Dança, como se

sente? Fale livremente sobre isso... Sente-se mais à vontade para trabalhar

esse conteúdo? Ou, sente-se mais limitado e inseguro?

b) É possível dizer em três palavras o que a Dança significa pra você?

c) Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de Dança, o que mais

se destacou pra você? Fato marcante, situação de conflito, etc.

d) Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de Dança qual sua

opinião sobre o desenvolvimento da Dança na Educação Física Escolar?

e) Você se sente preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de Dança na

escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na

escola?

f) Sobre a citação abaixo o que você tem a dizer?

[...] o ensino da Dança na escola deve estar vinculado a aspectos motores, sociais, cognitivos, afetivos, culturais, artísticos, pois como atividade pedagógica tem a função de superar uma cultura corporal voltada para execução de movimentos já preestabelecidos, produzidos pela humanidade (GARIBA; FRANZONI, 2007 p.161)

De acordo com o Decreto nº 93.933 de 14/01/87; resolução CNS nº 196/96,

os dados dos participantes e das Instituições citadas estarão em absoluto sigilo.

Todas as informações obtidas na pesquisa serão utilizadas apenas para a análise

científica dos dados e, em momento algum, os nomes dos participantes constarão

de eventuais publicações.

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ANEXO D – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS INICIAIS

Entrevista com o S1 do terceiro semestre matutino.

Entrevistadora: - S me responde o que lhe levou à escolha do curso de licenciatura em educação

física? Fala um pouquinho sobre isso.

Entrevistada (S1): - O que me levou é que eu fazia ginástica artística, daí como eu gostava muito e eu

fazia aqui na faculdade aqui já, eu convivia com os estagiários eu acabei...

Entrevistadora: - Você fazia aqui, não fazia na escola?

Entrevistada (S1): - Na escola também, mas eu fazia mais aqui, o forte era aqui.

Entrevistadora: - Nas atividades do PAEC pra comunidade, não é?

Entrevistada (S1): - Isso.

Entrevistadora: - As pessoas do seu círculo social, do seu convívio, o que pensam sobre sua escolha,

família, amigos.

Entrevistada (S1): - Minha família é bem, eles não são aquele tipo de família que fala você tem que

fazer isso pra ganhar dinheiro, eles vão, tipo eles nunca questionaram assim, sobre eu fazer...

Entrevistadora: - Respeitam.

Entrevistada (S1): - Respeitam.

Entrevistadora: - E os amigos?

Entrevistada (S1): - Também.

Entrevistadora: - Tranquilo?

Entrevistada (S1): - Tranquilo.

Entrevistadora: - Que expectativas você tem do curso de licenciatura de educação física? (a

entrevistadora repetiu a pergunta) O que você espera do curso de educação física?

Entrevistada (S1): - Eu espero, ah primeiramente tipo achar uma área que eu realmente goste, ou pra

ir pra área de ginástica artística que é o meu sonho, e sei lá, me formar um bom profissional mesmo.

Entrevistadora: - Tá mais assim, você tem preferência de área de atuação?

Entrevistada (S1): - No começo eu tinha agora tô vendo tipo, um monte de área assim que tá

começando a me interessar.

Entrevistadora: - Tá abrindo um leque de opções, é isso?

Entrevistada (S1): - Tá.

Entrevistadora: - Que lembranças você guarda das suas aulas de educação física na escola? Se você

consegue encaminhar alguns aspectos positivos outros negativos.

Page 116: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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Entrevistada (S1): - É, foi bem padrão assim, aquela aula que o professor dava a bola, jogava quem

quer, não tem muito, fugia muito além disso.

Entrevistadora: - Tá e você se formou no ensino médio em que ano que foi?

Entrevistada (S1): - 2010.

Entrevistadora: - 2010?

Entrevistada (S1): - Isso.

Entrevistadora: - E as atividades, você não consegue falar assim muita coisa das atividades, era, se

resumia...

Entrevistada (S1): - A vôlei, quem quisesse jogar e futebol para quem quisesse.

Entrevistadora: - Entendi. Você se lembra durante a educação básica situações, momentos ou

eventos marcados pela dança? Então durante a sua escolaridade, desde a educação infantil, do

ensino fundamental, até o ensino médio, eventos na escola que foram marcados pela dança?

Entrevistada (S1): - Festa junina, e só.

Entrevistadora: - E como você se sentiu nesses eventos, você participava, como você se sentia?

Entrevistada (S1): - Eu participava porque eu adorava dançar, daí eu acabava gostando, gostava de

dançar tal, participar, mas além disso nada...

Entrevistadora: - Nada a declarar (risos). Fala um pouquinho sobre a sua experiência social com

atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a dança, em família, com amigos, então

assim, no seu círculo de convívio né, como é que você vivencia a dança, como é que é.

Entrevistada (S1) - Quando criança eu dançava bastante por causa da minha tia, que ela fez balé

bastante tempo, então ela acabava me levando pra esse caminho também, e agora não tanto, mas

eu ainda...

Entrevistadora: - Mas assim em família vocês tem festa marcada com dança...

Entrevistada (S1): - Não, mas amigos.

Entrevistadora: - Amigos sim.

Entrevistada (S1): - É.

Entrevistadora: - Você vai pra balada, dança...

Entrevistada (S1): - Então é que a gente tem um grupo de amigos assim que tipo é família unida

assim sabe.

Entrevistadora: - Sei.

Entrevistada (S1): - E toda festa a gente acaba...

Entrevistadora: - Dançando?

Entrevistada (S1): - Dançando, virando festa mesmo.

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Entrevistadora: - Assim, existe a dança no seu convívio social, existe. É, na sua graduação até o

presente momento você estudo algum conteúdo que faz referência à dança? Em quais disciplinas?

Pensando lá desde o primeiro semestre.

Entrevistada(S1): - Hum, ginástica rítmica, não, ginástica e rítmica, hã e ...

Entrevistadora: - Atividades...

Entrevistada (S1) - ... Atividade rítmica também. Só.

Entrevistadora: - Tá. Atualmente na disciplina de cultura, pensando no inicio do semestre, depois que

lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as suas expectativas para o desenvolvimento do

conteúdo da dança? Depois que eu apresentei o programa para você, lá no inicio, que é que gerou de

expectativas no semestre, para o semestre?

Entrevistada (S1): - Quando você apresentou primeiro pensei, deve ser muito difícil colocar na escola,

mas depois pensei tipo, tipo deve ser muito interessante colocar, deve ser tipo importante também,

alguma coisa...

Entrevistadora: - Tá e aí você, a sua expectativa era de ver como é que isso ia ser conduzido.

Entrevistada (S1): - Hum, hum.

Entrevistadora: - É.

Entrevistada (S1): - Na prática.

Entrevistadora: - O que é que te vem à mente quando você fala de dança?

Entrevistada (S1): - Todos os tipos de dança, das variadas possíveis.

Entrevistadora: - Tá mais assim, o que é que você, em sua opinião, quando a gente fala alguma coisa

sobre dança, você relaciona a que?

Entrevistada (S1): - À liberdade, à felicidade.

Entrevistadora: - Entendi. Você acha importante trabalhar para desenvolver a dança na educação

física na escola?

Entrevistada (S1) - Sim.

Entrevistadora: - Por quê?

Entrevistada (S1): - É um modo dos alunos demonstrarem um pouco deles e um pouco da união

também entre eles, acho muito importante para o social também.

Entrevistadora: - Tá. Pensando lá no início, na introdução da disciplina, você se sente preparada para

introduzir, trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve

ser conduzido?

Entrevistada (S1): - Eu me pergunto isso e tipo, enquanto eu não colocar na prática não tenho

certeza, mas acho que sim ...

Entrevistadora: - Pensando na importância que você tá dizendo que tem, como você acha que isso

tem que ser conduzido na escola? Pela experiência que você já trouxe também das suas aulas de

educação física, como você me falou né, e agora da importância que você tá dizendo que tem, que

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você gostaria de conduzir, você pensa que o professor deve começar por onde? Entendeu, na

condução desse conteúdo na escola?

Entrevistada (S1): - Primeiro dá uma parte falando como seria o que é que ia acontecer, depois levar

para a prática, primeiro uma teórica depois...

Entrevistadora: - Primeiro uma fundamentação, uma contextualização...

Entrevistada (S1): - Isso.

Entrevistadora: - É isso? E depois...

Entrevistada (S1): - Depois vai pra prática.

Entrevistadora: - Entendi, entendi. Eu quero agradecer sua entrevista, e dizer que a gente se

encontra no próximo semestre, entrevista no final do semestre. Tá bom? Obrigada viu.

Entrevistada (S1): - Obrigada.

Entrevista com o S2, terceiro semestre matutino.

Entrevistadora:- N o que lhe levou a escolher o curso de licenciatura em educação física? Fala um

pouquinho para mim sobre isso.

Entrevistado (S2):- Ah o que me levou foi que primeiro escolhi outro curso, fiz administração 6 meses,

aí eu vi que não era o que eu queria mesmo, escolhi mais por querer fazer alguma coisa igual ao que

pai fazia, mas por escolha minha mesmo né, mais aí eu acabei desistindo do curso e vi o que eu

sempre quis fazer mesmo, educação física. Pelo fato de no colégio sempre gostar das aulas e não

por um motivo específico, ah natação, ah não sei o que, mais por gostar de educação física mesmo.

Entrevistadora:- Entendi, e o que é que as pessoas do teu circulo social, do teu convívio pensam

sobre a sua escolha, o que é que eles falam família, amigos.

Entrevistado (S2):- A minha família me apoia, sempre não tem nenhum tipo de preconceito, alguns

amigos no começo tinham também algum, ah você faz educação física? Mas a maioria das pessoas

apoiam, não tem nada contra assim, os mais próximos assim.

Entrevistadora:- E esses amigos, você falou alguns que tinham preconceito, seriam em relação a

que? Eles chegavam a falar para você o que é que era ou não?

Entrevistado (S2):- Ah eles achavam que não fazia nada educação física, era só jogar bola, só como

se fosse um clube mesmo a faculdade.

Entrevistadora:- Entendi. Que expectativas você tem do curso de licenciatura em educação física?

Entrevistado (S2):- Ah a expectativa que eu tenho é terminar o curso pra tá bem preparado para

trabalhar na escola, é essa expectativa assim, talvez terminar o curso bem preparado para poder

trabalhar.

Entrevistadora:- Atuar?

Entrevistado (S2):- Isso.

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Entrevistadora:- Que lembranças você guarda de suas aulas de educação física na escola? Se você

consegue falar um pouquinho de pontos positivos, pontos negativos. Você terminou em que ano o

ensino médio?

Entrevistado (S2):- Aham, bom eu era... terceiro, ah não em 2009.

Entrevistadora:- 2009?

Entrevistado (S2):- 2009.

Entrevistadora:- Tá. Então você lembra? Tem algumas lembranças? Fala um pouquinho.

Entrevistado (S2):- Lembro, lembro. Quando eu era criança eu estudava em São Paulo numa escola

que chamava Luta, Benjamin Constant, depois mudou né. Aí lá tinha ótimos professores, eram dois

professores, era outra, era uma história totalmente diferente depois quando eu mudei para estudar na

minha cidade. Nossa lá era muito boa a educação física. Aí depois eu mudei...

Entrevistadora:- O que é que você considera boa? Como que era? Lembra?

Entrevistado (S2):- Lembro. Eu tinha 6 anos, 7 anos só que já tinha muita coisa assim, ginástica,

competições na escola mesmo, igual festa junina eram os professores que davam, era outra

realidade (os dois falam juntos). E o equipamento que tinha toda a escola. Aí eu mudei para Embu-

Guaçu e lá já caiu um pouco, aí lá por ser interior, os professores eram mais fraquinhos assim, não

tinha tanto essa coisa de é competições, e outras atividades como ginástica e tal. Aí eu estudei nessa

escola em Embu-Guaçu até a oitava série e aí depois eu mudei para Itapecerica da Serra, que é uma

cidade do lado. Aí lá, a educação física, como já tava no ensino médio, o professor acabou

passando... era um bom professor mas não tinha de especial assim, era mais as atividades normais,

handball, basquete...

Entrevistadora:- Bola, esporte.

Entrevistado (S2):- Isso. Só isso.

Entrevistadora:- Entendi.

Entrevistado (S2):- Mas tive bons professores assim,

Entrevistadora:- Você se lembra durante a educação básica situações, momentos ou eventos

marcados pela dança? Quais? É assim na escola, durante a sua escolaridade né, lá desde o

fundamental 1 até o ensino médio, eventos dentro da escola marcados pela dança.

Entrevistado (S2):- É o mais comum festa junina né, sempre tem.

Entrevistadora:- E você se envolvia?

Entrevistado (S2):- Envolvia sim né.

Entrevistadora:- Tá.

Entrevistado (S2):- E acho que no ensino médio, quando já tava no terceiro colegial o professor

passou uma música do Michael Jackson pra gente apresentar lá o Thriller, que ele não sabia a

coreografia nem nada e tinha uma amiga nossa que sabia aí ele falou para ela apresentar a

coreografia pra gente, sem preconceito nenhum, sem... ela passou e a gente apresentou, de resto

acho que foi só festa junina e isso aí.

Entrevistadora:- Tá. E assim nessas ocasiões né, festa junina, como você se sentia, você se envolvia

nas atividades?

Page 120: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

118

Entrevistado (S2):- Ah me envolvia, sempre me envolvi, sempre gostei.

Entrevistadora:- Tá. Fala um pouquinho sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou

expressivas como, por exemplo, a dança, em família, com amigos.

Entrevistado (S2):- Ah isso eu não tenho quase nenhuma experiência porque eu sinceramente eu

gosto, acho legal, mas eu não tenho, eu acho que eu não tenho habilidade nenhuma né. Aí minha

família também não são muito de dançar (os dois falam juntos), só minha mãe, mas meu pai num, só

quando tá em festa, alguma coisa né e meus amigos também não, são tudo...

Entrevistadora:- Então não tem muita...

Entrevistado (S2):- Não.

Entrevistadora:- ... Experiência com dança no círculo social. Na sua graduação até o presente

momento você estudou algum conteúdo que faz referência à dança? E quais disciplinas? Pensando

lá desde o primeiro semestre até agora.

Entrevistado (S2):- Estudei geral, ginástica geral que passava um pouco né, ginástica rítmica...

Entrevistadora:- Atividades rítmicas né?

Entrevistado ( S2):- Atividades rítmicas e agora né.

Entrevistadora:- Na cultura corporal.

Entrevistado (S2):- Isso, cultura corporal.

Entrevistadora:- Atualmente na disciplina de cultura corporal do movimento humano, pensando no

início do semestre na disciplina, depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as

suas expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança?

Entrevistado (S2):- Oh, as minhas expectativas eram de eu obter um pouco mais de interesse na

dança, conhecer mais e aprender um pouco também.

Entrevistadora:- O que vem à mente quando você pensa em dança?

Entrevistado (S2):- Movimento, se mexer, é o que vem à cabeça assim.

Entrevistadora:- Só, assim. Seria mais a questão do movimento?

Entrevistado (S2):- É diversão, essas coisas assim.

Entrevistadora:- Tá, qual sua experiência, isso você já falou da sua experiência social. Em sua

opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar?

Entrevistado (S2):- Ah eu acho que é importante por, pelo fato de, das crianças ou ter uma união

maior entre cada, tirar esse preconceito e ah por ser, acho que a criançada gosta também e...

Entrevistadora:- Tá. Você se sente, pensando no inicio do semestre né, você se sente preparado para

introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve

ser conduzido?

Entrevistado (S2):- Ah eu me sinto preparado depende do que for a dança, é preparado assim né, eu

teria que buscar mais conhecimento tudo e do jeito que poderia ser passado, eu acho que...

Entrevistadora:- É, como você hoje né, pensando lá no inicio depois que eu apresentei o conteúdo da

disciplina pra vocês, você diz que sente é um aspecto positivo, tem que ser trabalhado na escola...

Page 121: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

119

Entrevistado (S2):- Sim.

Entrevistadora:- ... agora você pensa, o que é que o professor precisa pra introduzir esse conteúdo de

dança na escola? O que ele precisa ter ou o que você acha que precisa?

Entrevistado (S2):- Acho que ele precisa ter passado por isso né, de ter que tentar dar uma aula, ter

tido aulas, acho que ele não vai acertar de primeira, não vai ser o melhor de primeira, mas se ele for

tendo experiência, experiência, acho que ele acaba...

Entrevistadora:- Você consegue elencar algumas coisas, alguns fatos ou algumas situações que você

considera importante para o professor ter pra conduzir o conteúdo de dança?

Entrevistado (S2):- Assim dele, dele mesmo, dele próprio assim ou...?

Entrevistadora:- É, que conhecimentos ele precisa, que embasamento ele precisa pra conduzir esse

trabalho na escola?

Entrevistado (S2):- Ele precisa saber o que ele vai passar, a dança que ele vai passar, o modo, ele

precisa conhecer o que vai fazer né, se ele não conhecer.

Entrevistadora:- Tá.Quero te agradecer, a entrevista terminou, e dizer que a gente se encontra no

final do semestre pra próxima entrevista. Tá bom? Obrigada viu.

Entrevistado (S2):- De nada.

Entrevista com o aluno S3, do terceiro semestre matutino.

Entrevistadora:- R gostaria de saber o que é que te levou à escolha do curso de licenciatura em

educação física. Fala um pouquinho pra mim sobre isso.

Entrevistado (S3):- Tá, é de primeiro plano a minha intenção é entrar na educação física em

licenciatura para poder trabalhar com crianças, tive uma experiência em dar aulas de jiu-jitsu com

crianças e foi uma experiência boa para mim. Então eu queria desenvolver mais...

Entrevistadora:- Antes de você entrar na faculdade?

Entrevistado (S3):- Isso, antes de eu entrar na faculdade, eu trabalhava, eu dava aula de jiu-jitsu com

crianças e adultos e foi uma experiência boa, tanto com adultos quanto com crianças e as crianças, o

interesse delas em aprender foi uma coisa que me fascinou, então eu quis desenvolver mais isso.

Entrevistadora:- Foi daí que veio o interesse pelo curso?

Entrevistado (S3):- Pelo curso.

Entrevistadora:- O que é que as pessoas do teu círculo social, do teu convívio, família, amigos,

pensam dessa escolha?

Entrevistado (S3):- Na verdade, além de eu ter esse interesse em trabalhar com criança na área de

educação física, todas as pessoas do meu círculo social sempre me apoiaram, sempre disseram que

a minha cara era educação física, porque eu sempre fui muito ligado em esporte, não a futebol, eu

não suporto futebol, a esporte, qualquer outro tipo de esporte, que não envolva bola.

Entrevistadora:- E as artes marciais?

Page 122: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

120

Entrevistado (S3):- E artes marciais, isso já é uma paixão.

Entrevistadora:- Entendi, entendi. É, que expectativas você tem do curso de licenciatura em educação

física? O que é que você espera, pensando no final do curso né, ou no decorrer do curso, qual, o que

você espera?

Entrevistado (S3):- Bom o que eu esperto mesmo é, quando eu terminar esse curso, é poder

desenvolver um trabalho social com crianças carente né, relacionado às artes marciais, porque foi

como eu tinha contado para a senhora, como fazer um projeto, porque eu sei a, eu sei o valor que

tem a arte marcial na vida da pessoa, pela disciplina, pelo auto-controle, auto-confiança, auto-

conhecimento que é o mais importante hoje em dia você ter, conhecimento de si mesmo, eu espero

quando eu terminar esse curso de licenciatura em educação física, eu espero poder trabalhar muito

nessa área com crianças carentes, crianças necessitadas, crianças que estejam desviadas do

caminho certo e poder direcioná-las para isso.

Entrevistadora:- Tá. Você se lembra que lembranças você guarda de suas aulas de educação física

na escola? Você consegue trazer alguns aspectos positivos, negativos?.

Entrevistado (S3):- O único aspecto positivo que eu tive nas minhas aulas de educação física na

escola que eu consigo me lembrar assim, positivo é como não ser professor, porque minhas aulas de

educação física eram precárias, aquele sistema que todo mundo conhece, toma abola, vai jogar bola

as meninas ficam sentadas ou meninas jogam vôlei e é 40, 50 minutos de uma aula que é só isso, os

alunos fazem o que quer e se não querem fazer nada também, não fazem nada.

Entrevistadora:- Você estudou em rede pública ou rede particular?

Entrevistado (S3):- Rede pública, rede pública.

Entrevistadora:- E você terminou o ensino médio Robson, você lembra que ano?

Entrevistado (S3):- Em 2003.

Entrevistadora:- 2003?

Entrevistado (S3):- 2003.

Entrevistadora:- E assim, a lembrança que você guarda era de aulas conduzidas dessa maneira.

Entrevistado (S3):- Dessa forma, se eu, pra não ser totalmente radical, eu acho que apenas em 1 ano

a gente, em um ano professora eu tive uma prova de educação física, e ainda assim prova, não sei

se era pelo grau de instrução que a gente tinha, se era pelo o curso acadêmico mesmo, mas era uma

prova sabe, tamanho da quadra...

Entrevistadora:- Entendi, pensando na sua escolaridade toda né, fundamental I, fundamental II,

médio...

Entrevistado (S3):- Isso.

Entrevistadora:- ... essa é a lembrança que você guarda?

Entrevistado (S3):- Precária.

Entrevistadora:- E mesmo as aulas sendo conduzidas dessa maneira, você participava?

Entrevistado (S3):- Sempre fui muito ativo na área de ensino, sempre fui muito ativo, nunca fui um

aluno que desse problema sabe, fosse bagunceiro.

Page 123: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

121

Entrevistadora:- De não participar?

Entrevistado (S3):- De não participar, de não ser, sabe ter harmonia na sala, nunca tive esse

problema, sempre fui participativo, sempre.

Entrevistadora:- Fale sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por

exemplo, a dança, em família, com amigos, no seu convívio social. Existe a presença da dança, de

atividades rítmicas?

Entrevistado (S3):- Eu adoro dançar.

Entrevistadora:- Que bom (risos).

Entrevistado (S3):- Adoro danças, adoro.

Entrevistadora:- Agora isso em família, com amigos, como que é.

Entrevistado (S3):- Em família e amigos também, até tem uma experiência legal pra falar professora,

que é não sei se...

Entrevistadora:- Cabe, pode falar.

Entrevistado (S3):- Mas, foi através da, como eu disse, eu nunca fui um aluno, um cara problema,

mas eu fui um cara fechado, sempre tive, sempre dei pouco acesso para as pessoas chegarem em

mim e quando eu cheguei na adolescência, eu conheci o forró universitário, eu e um grupo de

amigos, aí conheci o forró universitário, meu e isso foi uma mudança radical, porque eu passei a

gostar de todo tipo de dança, assim, em termos né, tudo que possa se considerar uma dança. Eu

passei em gostar meu tanto em casa com a minha família, com minha filha, minha esposa, minha

esposa eu conheci na dança.

Entrevistadora:- Entendi.

Entrevistado (S3):- A gente se conheceu, a minha esposa, a minha filha de 4 anos, as pessoas que

convivem comigo, acho que a dança, a música, sempre fez parte, da mesma forma que a arte marcial

fez.

Entrevistadora:- Então e você assim muito engajado e ligado às artes marciais, também se interessou

pela dança?

Entrevistado (S3):- Pela dança, da mesma forma, tanto que eu adoro forró universitário.

Entrevistadora:- Entendi.

Entrevistado (S3):- Adoro.

Entrevistadora:- É, na sua graduação até o presente momento, você estudou algum conteúdo e faz

referência à dança? Em quais disciplinas, pensando desde o primeiro semestre.

Entrevistado (S3):- Teve a atividades rítmicas que a gente fez com a Geni né, teve também a matéria

que a gente teve com a senhora e com o professor Artur que envolveu também a cultura corporal que

foi show aquela apresentação que a gente fez no encontro, foi legal. E teve...

Entrevistadora:- A ginástica, o Artur foi a ginástica geral.

Entrevistado (S3):- Foi a ginástica geral com vocês e a ginástica rítmica...

Entrevistadora:- Ginástica formativa.

Page 124: UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA NA FORMAÇÃO DO

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Entrevistado (S3):- ... Ginástica formativa e rítmica com a Geni.

Entrevistadora:- Com a Geni, tá.

Entrevistado (S3):- Foi, foi.

Entrevistadora:- É, que cultura é agora.

Entrevistado (S3):- É cultura corporal é agora.

Entrevistadora:- Atualmente, pensando lá no início do semestre né, na disciplina de cultura corporal

do movimento humano I, depois que foi apresentado o programa da disciplina, quais as suas

expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança? Então, depois que apresentei o

programa, expliquei a disciplina e disse que a gente ia trabalhar com esse conteúdo, o que que te

gerou de expectativa?

Entrevistado (S3):- O que me gerou de expectativa? Ah, a oportunidade de conhecer novas danças,

acho que pelo fascínio que a dança traz, pela liberdade que ela produz.

Entrevistadora:- Entendi.

Entrevistado (S3):- É legal você poder se expressar sem ter medo, sem ter amarras.

Entrevistadora:- Entendi.

Entrevistado (S3):- É uma coisa que tanto na dança, quanto no jiu-jitsu você desenvolve, fascinante,

fascinante

Entrevistadora:- É você já falou da sua experiência, o que é que te vem à mente quando você pensa

em dança? Você falou um pouquinho sobre isso, aprofunda mais , quando se fala em dança, pode

ser até palavras soltas , o que é que tem vem à mente?

Entrevistado (S3):- Me divertir, é bom...

Entrevistadora:- Diversão?

Entrevistado (S3):- Diversão é bom demais dançar, você se sente leve, você se sente descontraído,

tipo na, sabe todas as preocupações que você geralmente teria no dia-a-dia você deixa de lado

quando você tá dançando. Porque você só ouve a música, se deixa levar pela música, você só sente

o embalo, se você tá dançando com alguém você deixa a pessoa te levar ou você leva, isso te dá

uma sensação de poder, ao mesmo tempo de liberdade, e quando, ou quando você tá dançando

sozinho é, não sei se eu posso falar, pode parecer um pouco ah porque ele fez um curso mais,

expressão, você se expressa através da dança, quando, que nem a dança moderna você se

expressa de diversas formas, você não precisa seguir um padrão, você precisa entender que aquilo

que você tá ouvindo, aquilo que você tá demonstrando, é você entendeu? Acho legal isso, acho legal.

Entrevistadora:- Em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física

escolar?

Entrevistado (S3):- A importância?

Entrevistadora:- É.

Entrevistado (S3):- Coletividade.

Entrevistadora:- Tá.

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123

Entrevistado (S3):- Meu, acho que não tem uma outra visão que eu possa dar agora, mas

coletividade.

Entrevistadora:- Trabalho em grupo, interação.

Entrevistado (S3):- Trabalho em grupo, interação, convívio, é sabe você conseguir quebrar aqueles

paradigmas sabe de ser preso, de ser uma pessoa bloqueada, você conseguir se deixar levar por

uma coisa e automaticamente ela te levar a outra. Que quando você dança, você acaba conhecendo

umas pessoas, você acaba se envolvendo com as pessoas, você acaba se conhecendo, você

descobre coisas que você talvez nunca fosse descobrir se você não tivesse a dança entendeu? Eu

falo isso porque eu sempre fui muito duro entendeu, eu nem sabia que eu dançava tão bem (risos).

Modéstia à parte, eu danço bem (risos).

Entrevistadora:- Você se sente, pensando lá no início do semestre tá Robson, você se sente

preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola?

Entrevistado (S3):- Pensando no primeiro semestre, bem no começo quando iniciamos a disciplina?

Entrevistadora:- É, no início desse semestre, depois que eu apresentei o programa pra vocês, a gente

não tinha ainda trabalhado tudo né, você se sentia preparado?

Entrevistado (S3):- Não.

Entrevistadora:- Tá.

Entrevistado (S3):- Não, porque quando eu cheguei aqui e tive a, tive o conhecimento de como era a

dança mesmo, de como era o conteúdo dança, principalmente voltado na educação, eu vi que é

extenso, não é simplesmente dançar, tem muita coisa, muita coisa.

Entrevistadora:- Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola? Tudo bem, a

gente pensando lá no início do semestre, você não tinha tido essa bagagem toda, você diz que não

se sente muito preparado, mas pensando lá no início, até pensando no que você diz que não se

sente muito preparado, como é que você acha que o conteúdo dança tem que ser desenvolvido na

escola? Até pensando que você não tem muito preparo, igual você tá dizendo, ah eu não me sentia

preparado, mas você tem uma opinião, tem um conceito pré-estabelecido, você acha que deveria ser

conduzido como?

Entrevistado (S3):- O mais importante para desenvolver o processo da dança no ensino seria

motivação, uma forma com que as crianças, com que os adolescentes se sentissem motivados a

dançar. Não basta você só impor algo à criança, ao adolescente, ele precisa sentir que aquilo é o que

eles querem aprender, então eu acho que o processo, o processo se teria início aí, fazer se tornar

uma coisa interessante, algo que eles queiram buscar, algo que eles acham que vale a pena buscar,

porque hoje em dia tudo é movido pelo interesse né, se você não tiver interesse nada sai, nada faz,

acho que basicamente assim professora, pra falar para a senhora seria isso, motivação, buscar o

interesse do aluno, buscar uma forma de trazer ele par esse mundo, mostrar que é interessante

conhecer esse mundo, desenvolver esse conteúdo.

Entrevistadora:- R quero agradecer sua entrevista e dizer que a gente se encontra no final do

semestre para nossa próxima entrevista, conto com você.

Entrevistado (S3):- Tá, ok, pode deixar.

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Entrevista com S4, do terceiro semestre matutino.

Entrevistadora: - J.C, o que lhe levou à escolha do curso de licenciatura em Educação Física, fala um pouquinho sobre isso.

Entrevistado (S4): - Na verdade é, eu me interessei pela área quando eu tinha mais ou menos uns, por volta de 13 anos...

Entrevistadora: - Já desde adolescente.

Entrevistado (S4): - Isso.

Entrevistadora: - Hã.

Entrevistado (S4): - Eu gosto de lidar com o público, e na verdade licenciatura ele veio para mim assim porque nesse momento eu não tinha outra opção, na verdade eu tava no bacharel, devido o emprego, eu tive que mudar para licenciatura.

Entrevistadora: - Você já tava trabalhando na área?

Entrevistado (S4): - Já tava trabalhando na área.

Entrevistadora: - De musculação?

Entrevistado (S4): - De musculação. Aí eu vou dar continuidade na licenciatura e depois fazer a bacharel.

Entrevistadora: - Mas assim, a escolha pela área de Educação Física veio desde adolescente, porém você ingressou no curso de licenciatura porque foi um meio mais rápido, eu não entendi, foi... Você tava no bacharelado?

Entrevistado (S4): - Tava no bacharelado.

Entrevistadora: - Aí você transferiu para licenciatura?

Entrevistado (S4): - Transferi para licenciatura.

Entrevistadora: - Hã.

Entrevistado (S4): - Por esse fato, assim, mas de imediato mesmo assim, de início era o bacharel.

Entrevistadora: - Sei, o teu interesse?

Entrevistado (S4): - O meu interesse, eu tive que mudar pra licenciatura.

Entrevistadora: - Tá, mais essa necessidade da mudança foi...

Entrevistado (S4): - Pelo emprego.

Entrevistadora: - Por conta do emprego?

Entrevistado (S4): - Por conta do emprego.

Entrevistadora: - Mas você tava em academia?

Entrevistado (S4): - Tava em academia.

Entrevistadora: - E aí eles te exigiram lá licenciatura?

Entrevistado (S4): - Não, porque não tinha outra opção.

Entrevistadora: - Ah quando você entrou...

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Entrevistado (S4): - Não tinha outra opção.

Entrevistadora: - Ah entendi, entendi tá. As pessoas do teu círculo social, do teu convívio, o que elas pensam da sua escolha? Quando eu falo do seu círculo social é família, amigos, eles verbalizam alguma coisa, o que eles pensam sobre a sua escolha com relação à área de Educação Física?

Entrevistado (S4): - Na verdade eles falam que assim, eu me identifico né, pelo jeito de tratar as pessoas, é lidar com as pessoas, fazer amizade fácil, é interação na sociedade né.

Entrevistadora: - Tá assim, mas sobre a área eles não comentam nada?

Entrevistado (S4): - Não, não comentam nada, a única coisa que comentaram até hoje foi que assim, eu tenho o perfil, isso eles veem isso em mim, agora eu não sei se realmente é.

Entrevistadora: - Entendi. Mas com relação à área eles não dizem nada?

Entrevistado (S4): - Não, não.

Entrevistadora: - Se conhecem, se não conhecem?

Entrevistado (S4): - Não.

Entrevistadora: - Nada, tá. Que expectativa você tem do curso de licenciatura em Educação Física? Você mais ou menos já falou que assim, você tem interesse no bacharelado, tal, mas assim, quais as suas expectativas com relação à licenciatura? Você tá no terceiro semestre, disse que seu interesse era o bacharelado, isso tá mudando, assim que expectativas você tem, do curso?

Entrevistado (S4): - Agora no momento assim né, é eu pretendo trabalhar na área escolar, mais agora não, agora não...

Entrevistadora: - Sim. Não, agora você ainda está no terceiro, mas assim, agora você já se interessa pela área escolar?

Entrevistado (S4): - Então depois que eu comecei a fazer licenciatura deu outra visão né, assim a respeito da grade curricular, das matérias, do envolvimento também, a respeito da dança também que pra mim eu via na dança, tipo eu não me via na dança, hoje já tenho outra visão.

Entrevistadora: - É, vamos entrar nesse assunto.. Então assim, a pergunta é, que lembranças você guarda das suas aulas de educação física na escola, não sei se você consegue encaminhar alguns aspectos positivos e negativos, pode falar, livremente sobre isso.

Entrevistado (S4): - É na verdade nas aulas de educação física eu fiz poucas porque devido ao trabalho, eu tive que dar um atestado para me afastar das aulas, então assim, eu da minha parte não mostrava interesse algum nas aulas de educação física.

Entrevistadora: - Você não fez em nenhuma época da escolaridade JC, assim nem no fundamental, nem no médio, nada?

Entrevistado (S4): - No fundamental eu fiz algum período, não lembro quanto tempo, mas algum.

Entrevistadora: - Você já trabalhava no fundamental também?

Entrevistado (S4): - Não.

Entrevistadora: - Tá mais aí estudava no período vespertino, manhã, tarde?

Entrevistado (S4): - De manhã.

Entrevistadora: - Aí fazia as aulas?

Entrevistado (S4): - Fazia as aulas.

Entrevistadora: - Quando não fugia?

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Entrevistado (S4): - Também.

Entrevistadora: - Ou fugia?

Entrevistado (S4): - Fugia um pouco.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistado (S4): - Fazia meio que obrigado, porque não gostava não.

Entrevistadora: - E assim, quando você lembra-se dessas aulas, essas aulas consistiam em que?

Entrevistado (S4): - Na verdade as aulas que eu me lembro da gente jogava bola, que faz um tempo também pra eu lembrar isso aí.

Entrevistadora: - Então você se formou, só pra gente ter ideia, você se formou no ensino médio já faz tempo?

Entrevistado (S4): - 2004.

Entrevistadora: - 2004?

Entrevistado (S4): - Hum, hum, 2004.

Entrevistadora: - Tá, então você deve ter feito fundamental lá pra 2001,1999, 2000.

Entrevistado (S4): - Isso faz um pouquinho de tempo.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistado (S4): - Então as aulas que eu lembro era professor dava a bola pra gente, a gente monta o time, montava o time e jogava bola e só.

Entrevistadora: - Eram isso as aulas?

Entrevistado (S4): - Só isso.

Entrevistadora: - Consistia nisso?

Entrevistado (S4): - Só nisso.

Entrevistadora: - Esporte.

Entrevistado (S4): - É tinha uma outra coisa...

Entrevistadora: - Esporte ou somente futebol?

Entrevistado ( S4): - Futebol.

Entrevistadora: - Tá. Hã, você se lembra durante a Educação Básica, quando eu falo de Educação Básica é fundamental e médio, de situações, momentos ou eventos marcados pela dança? Quais? Como você se sentiu?

Entrevistado (S4): - Na verdade é, foi que nem eu falei, eu não mostrava interesse pelas aulas de educação física e dança eu não me recordo não. Na verdade não teve, a não ser quadrilha. Além disso...

Entrevistadora: - Festa junina?

Entrevistado (S4): - É, além disso, nenhuma.

Entrevistadora: - Tá, e assim nesses eventos você participava, por exemplo na festa junina ou também não?

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Entrevistado (S4): - Participava, eu era um pouco da bagunça, da turma do fundão, participava.

Entrevistadora: - Entendi. Então nessa hora você se soltava, se sentia livre?

Entrevistado (S4): - É, isso.

Entrevistadora: - Hã, fale sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas, como por exemplo a dança, em família, com amigos. Então assim, é se você vivencia a dança na sua, no seu círculo social né assim, em que momentos?

Entrevistado (S4): - Vivenciar pra falar bem verdade para mim participar?

Entrevistadora: - É.

Entrevistado (S4): - É, eu sou meio excluído, eu sou meio excluído, sou meio vamos se dizer acanhado, a isso aí, mas...

Entrevistadora: - Pra dança você se mostra introvertido, é mais tímido, é isso?

Entrevistado (S4): - Isso.

Entrevistadora: - Mas você é de ir a eventos sociais, de baladas que vai e dança, de festas que dança, como é que você se comporta nessa hora?

Entrevistado (S4): - Eu já fui muito de balada, mas aí quando eu parei um pouco para pensar, quando o ser humano quebra a cabeça né, cai no buraco, cai no buraco pela segunda vez, ou terceira ou até mais, a gente vai criando um pouco de juízo e eu parei, mas eu ia, mas sempre quando eu ia, era na realidade, pra, na época eu bebia, bebia um pouco...

Entrevistadora: - Não era pra dançar.

Entrevistado (S4): - E ficar com umas meninas e pronto.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistado (S4): - E ficar de canto, dançar...

Entrevistadora: - Nunca foi.

Entrevistado (S4): - Nunca foi o forte.

Entrevistadora: - Entendi. Bom, na sua graduação até o presente momento você estudou algum conteúdo que faz referência à dança, que traz algum, que caminhe em direção à dança, pensando lá desde o primeiro semestre. Quais seriam as disciplinas?

Entrevistado (S4): - Com a professora G, danças ritmos se não me engano.

Entrevistadora: - Atividades rítmicas.

Entrevistado (S4): - Atividades rítmicas, que eu achei bastante interessante até mesmo essa integração das pessoas do grupo, convivência, trabalhar em grupo, e agora no terceiro semestre...

Entrevistadora: - Na cultura.

Entrevistado (S4): - Na cultura.

Entrevistadora: - Quer dizer, pelo que eu estou entendendo assim, nas matérias que você, que fez alguma referência com a dança, ou relacionada à dança, o que mais teve significado para você foi a interação, que promoveu a interação, do grupo?

Entrevistado (S4): - A interação.

Entrevistadora: - Entendi. Tá, isso é bom. O que te vem à mente, não antes dessa, atualmente na disciplina de cultura corporal do movimento humano, depois que lhe foi apresentado o programa da

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disciplina lá no inicio, quais as suas expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança. Então, quando foi apresentado o conteúdo do semestre, gerou alguma expectativa com relação a desenvolver a dança? O que você pensou num primeiro momento?

Entrevistado (S4): - Ah no primeiro momento eu fiquei, fiquei meio com pé atrás de como eu ia tá desenvolvendo, como ia tá desenvolvendo isso com até mesmo com as outras pessoas, como o grupo, porque pelo fato da timidez ou de não saber dançar nada.

Entrevistadora: - Entendi, aí isso gerou uma ansiedade, você ficou preocupado?

Entrevistado (S4): - Um pouco.

Entrevistadora: - Entendi tá. É, já perguntei da sua experiência social com a dança, você já me falou, em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar?

Entrevistado (S4): - Trabalhar é a interação com, a interação com os colegas, trabalhar em grupo, e aos poucos ir se descobrindo, se é aquilo realmente ou não.

Entrevistadora: - Tá, então assim, um dos benefícios direto que você vê no trabalho com a dança na escola é a questão da interação, da sociabilização?

Entrevistado (S4): - Isso, eu acho isso importante.

Entrevistadora: - E você acha, no seu entender, a dança promove isso?

Entrevistado (S4): - Muito.

Entrevistadora: - Você se sente hoje né assim no inicio do semestre, depois que a disciplina foi apresentada, você se sente preparado para introduzir e trabalhar conteúdo de dança na escola? Como que você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola?

Entrevistado (S4): - Ah em vista do começo, bem mais né. A visão já é outra...

Entrevistadora: - Então, pensando, porque você tá lá no começo, aí não se sentiria, antes da gente atravessar. É isso?

Entrevistado (S4): - Isso.

Entrevistadora: - Tá. E como é que você pensa que esse conteúdo deveria ser introduzido na escola?

Entrevistado (S4): - Aí, me colocar no lugar do professor?

Entrevistadora: - Isso, você, você está lá para trabalhar um conteúdo de dança, então como é que você pensa que esse conteúdo tem que ser introduzido?

Entrevistado (S4): - Primeiro ver, tentar entender o indivíduo que eu vou trabalhar, de qual forma eu vou aplicar isso aí, porque cada um tem o seu modo de agir, o seu modo de pensar, até mesmo uns é, vamos se dizer, mais livre, mais liberto até, fica mais à vontade pra expressar, e tem outros que é mais reservado, até mais tímido. Então estudando cada um pra tá desenvolvendo até mesmo um vamos se dizer um exemplo de uma coreografia, um tema, para eles mesmo em grupo tá desenvolvendo, pra ver até onde chega o trabalho no grupo.

Entrevistadora: - A primeira coisa que você acha importante levantar é o contexto, que realidade essa, essa, esses alunos estão inseridos. É isso?

Entrevistado (S4): - Isso, e escutar também a opinião de cada um do que acha né, qual é a visão e assim em cima disso tá trabalhando, de acordo com aqueles dados que eu colhi e trabalhando em cima disso.

Entrevistadora: - Entendi. Bom, por hora nossa primeira entrevista termina por aqui, queria te agradecer muito a sua participação, e aí no final do semestre, após a gente ter trabalhado todo o conteúdo, ter finalizado o semestre, aí eu farei a entrevista com você novamente.

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Entrevistado (S4): - Tudo bem.

Entrevistadora: - Tá bom? Obrigada.

Entrevistado (S4): - De nada.

Entrevista com S 5, terceiro semestre matutino.

Entrevistadora:- P o que lhe levou a escolha do curso de licenciatura em educação física? Queria que você falasse um pouquinho sobre isso.

Entrevistado (S5):- Bom, é uma área que sempre eu me identifiquei né, no caso do esporte, e assim eu tive uma vivência com isso minha infância toda, eu joguei é em time de futebol então isso veio me despertando, apesar de eu ter uma experiência assim que não, na verdade eu comecei a estudar educação física por causa que eu fui empresário, na verdade.

Entrevistadora:- Tá.

Entrevistado (S5):- E a primeira oportunidade que eu tive foi quando a minha empresa faliu e eu falei, vou voltar a estudar, e o que eu sempre quis fazer foi educação física, isso foi um dos motivos...

Entrevistadora:- Entendi.

Entrevistado (S5)- ... Que me levou a voltar a estudar, eu escolhi esse curso porque eu me identifico com a área.

Entrevistadora:- Entendi, é o que é que as pessoas do seu círculo social, seu convívio, pensam sobre sua escolha?

Entrevistado (S5):- Na minha família tem 7 irmãos, nenhum deles estudou, todos tem ensino médio, então pra eles, pra mim foi uma surpresa, porque eu era danado, um cara bem louco mesmo né, da minha família acho que eu era um dos piores e assim quando eu escolhi educação física, pra minha mãe, pra minha família foi uma alegria e minha esposa me incentiva a todo tempo, então assim, o meu convívio social, dentro da área que eu escolhi, é ótimo assim, é um apoio de todos os lados.

Entrevistadora:- É isso que eu queria saber, não existe nenhum preconceito?

Entrevistado (S5):- Nada, nada, a escolha eu achei, XX meu perfil do que eles me vê né, então acharam que a educação física eu tenho...

Entrevistadora:- Perfil?

Entrevistado (S5):- Perfil de lidar com isso.

Entrevistadora:- Que expectativas você tem do curso de licenciatura em educação física, assim, o que é que você espera do curso?

Entrevistado (S5):- Bom, como eu pensava, eu achava que educação física era jogar bola, era o esporte e hoje com o curso, assim eu tô bem feliz né, porque assim é um conhecimento que eu tô tendo que não tem explicação e eu não sei pra que tanta coisa né e a gente vê que a gente vai usar isso. Então a expectativa é a melhor possível, é uma coisa que é um leque, é um horizonte que se abre novo pra mim.

Entrevistadora:- Tá, que lembrança você guarda das suas aulas de educação física na escola? Você consegue encaminhar alguns aspectos positivos, outros negativos.

Entrevistado (S5):- Assim, positivos, olhando pelo, eu estudando, vendo como o meu professor de educação física deixou de me ensinar, eu não tenho lembranças positivas, infelizmente eu não tenho, são lembranças péssimas, jogar a bola, é o que acontece. Na minha época era assim, jogava bola, se vira, a gente tinha a bola, quando ele ia aplicar o voleibol ninguém gostava, era aquela repressão,

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pegava a bola das meninas. Então assim, eu não tenho lembrança boa na minha época de educação física positiva.

Entrevistadora:- Você fez, escola pública?

Entrevistado (S5):- Pública.

Entrevistadora:- E, você se formou, você se formou no ensino médio você lembra o ano?

Entrevistado: (S5)- Lembro porque eu parei de estudar no primeiro colegial aí eu fiz o...

Entrevistadora:- Supletivo?

Entrevistado: (S5)- Supletivo.

Entrevistadora:- Tá.

Entrevistado: (S5)- É Maria Luiza o nome da escola, foi ha pouco tempo, foi recente, foi em 2004, 2005.

Entrevistadora:- Que você fez, terminou. E no supletivo você tinha aula de educação física também?

Entrevistado (S5):- Não.

Entrevistadora:- Não, já não.

Entrevistado (S5):- Não, porque o supletivo era mais, para eliminação de matéria né.

Entrevistadora:- Sim.

Entrevistado (S5):- Aquele sistema de eliminação.

Entrevistadora:- E até onde você estudou que foi o primeiro ano do ensino médio, você lembra qual foi o último ano ou não?

Entrevistado: (S5)- Ah não lembro.

Entrevistadora:- Faz muito tempo?

Entrevistado: (S5)- Tem uns...não me lembro... uns 15 anos....

Entrevistadora:- É dessa época que você traz lembranças da educação física?

Entrevistado: (S5)- Da minha época assim, desde a entrada na escola eu não lembro assim uma educação física positiva dentro do que eu vejo hoje, que um professor de educação física teria, ou pelo menos a base, o principio, alguma coisa positiva eu não tenho pra falar.

Entrevistadora:- Entendi. Você se lembra durante a educação básica né, a sua escolaridade, de situações, momentos eu eventos marcados pela dança? Quais?

Entrevistado: (S5)- Sim, quadrilha. Foi à única coisa que eu me recordo que a gente trabalhava com dança era quadrilha.

Entrevistadora:- Festa junina?

Entrevistado:- (S5) Festa junina, só.

Entrevistadora:- E como você se sentia nesse momento, você se envolvia você trabalhava?

Entrevistado: (S5)- Na verdade assim, eu não sei por que era da família da, quando tinha que colocar remendos, coração na calça...

Entrevistadora:- Uns remendos.

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Entrevistado:- Uns remendos, aquela barbichinha, eu ficava meio envergonhado, não sei se porque eu era muito criança.

Entrevistadora:- Constrangido.

Entrevistado: (S5)- Mas assim, não falava, eu não tinha o conceitual da quadrilha, a gente não tinha, a gente sabia que tinha que dançar e pronto. Então, analisando de novo o curso de educação física, a gente vê o tanto que a gente deixa de aprender nessa fase.

Entrevistadora:- Importante isso que você falou. Fale sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a dança, em família, com amigos.

Entrevistado: (S5)- Então, eu fui nascido e criado no samba, então a dança pra mim ela significa tudo, alegria, explosão, você consegue sei lá, e a ultima cartada que teve na minha vida experiência social foi o aniversário da minha mãe de 60 anos que a gente, a gente ia fazer, ah como eu posso falar, não uma competição, mas cada família ia ser representada, cada um ia apresentar um ritmo de dança, escolher uma música e dançar no aniversário da minha mãe. Aí era eu, minha esposa e minha filha, o meu irmão, a esposa dele, o filho dele, só sei que no final nenhum quis e só ficou a gente. Aí escolhemos a música do Michael Jackson, thriller e dançamos na festa da minha mãe, então assim foi totalmente...imprevisível!!

Entrevistadora:- Muito presente a dança na sua família...

Entrevistado: (S5)- Bastante, bastante e assim foi é como posso dizer, a festa assim gerou, virou mesmo assim, ficou legal em torno daquela apresentação da música, que ninguém esperava, puxa vida que coisa bacana, entendeu. Então assim, a dança tá presente assim 90%.

Entrevistadora:- Que bom. Na sua graduação até o presente momento, você estudou algum conteúdo que faz referência à dança? Em quais disciplinas?

Entrevistado: (S5)- Ginástica rítmica.

Entrevistadora:- Ginástica rítmica foi no segundo né?

Entrevistado: (S5)- Foi. Agora cultura corporal também, ginástica artística não.

Entrevistadora:- Ainda não. Ginástica geral no primeiro.

Entrevistado: (S5)- Ginástica geral. É, englobou algumas coisas que tinha formação tal, foi isso que eu me lembro, me recordo foi.

Entrevistadora:- Atualmente, pensando no início da disciplina de cultura corporal do movimento humano I, depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as suas expectativas para o desenvolvimento do conteúdo dança? Durante o semestre. Então foi apresentado o programa para vocês da disciplina, o que é que gerou de expectativa?

Entrevistado: (S5)- Ah muita coisa né, assim na área de atuação assim, eu pretendo na verdade ingressar na rede pública ou na rede escolar. Então eu vejo que a dança é uma, meu horizonte aumentou muito em relação à dança. Inclusive até esse dias eu tava pensando, poxa como é que eu vou introduzir a dança pros meus futuros alunos, eu vou ingressar de qualquer jeito, esse é meu objetivo primeiro né. Então assim, eu fiquei pensando informação, pensando em como trabalhar com esse conteúdo na escola. Veio assim várias ideais, e eu acho assim que eu vou ser muito feliz nessa né, colocando isso para os meus alunos, porque assim, ao eu lembrar da minha época passada que eu não tive nada disso, eu vou querer, só não sei se eu vou conseguir, mas assim, o meu objetivo é introduzir a dança pros meus futuros alunos.

Entrevistadora:- Você já falou um pouquinho né, não sei se você tem mais alguma coisa pra falar, mas assim, o que te vem à mente quando você pensa em dança né, o que você acha que a dança proporciona?

Entrevistado: (S5)- Bom, a dança acho que nós brasileiros ela tá assim acho que no cotidiano.

Entrevistadora:- Impregnada.

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Entrevistado: (S5)- Não tem jeito, seja qual ritmo que for tudo, mas ela tá, dança é tudo, acho que traz alegria, dança você consegue sair de um sei lá, de um patamar ruim, com a dança você extravasar, você consegue deixar aquilo de lado. Então a dança é fundamental para o ser humano. Não tem, não tem nem o que falar.

Entrevistadora:- Em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar, de desenvolver a dança na escola, visto até que você tem outra experiência né, até uma experiência meio frustrante com relação à educação física...

Entrevistado: (S5)- Sim.

Entrevistadora:- Então o que você acha, porque você acha importante desenvolver a dança na escola?

Entrevistado: (S5)- Bom, é a dança ela você consegue fazer uma inter-relação com os alunos, você consegue é pegar aquele aluno menos habilidoso com timidez, com a dança acho que você consegue é reunir o grupo, você consegue fazer uma séria de coisas que, de uma forma diferente, de uma forma o ser humano, ele tem por si natural à ginga, de andar, acho que você consegue fazer isso, ainda mais trazendo um projeto novo, você consegue, como é que eu posso dizer...

Entrevistadora:- Sociabilizar?

Entrevistado: (S5)- Você consegue a interação, você consegue muitas coisas através da dança.

Entrevistadora:- Motivar?

Entrevistado: (S5)- Motivar através da dança acho que esse é meu pensamento.

Entrevistadora:- É, pensando no início do semestre, depois que eu apresentei o programa para vocês da disciplina, você se sente preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola?

Entrevistado: (S5)- Bom preparado nos dias de hoje acho que a gente tem que estar sempre se atualizando, mas assim com o conteúdo aprendido eu acho que, acho não, tenho certeza que eu sou capaz de trabalhar com a dança na escola.

Entrevistadora:- Você já falou um pouquinho disso, mas como você pensa, até explorando um pouco mais aquilo que você já iniciou como você pensa que esse conteúdo tem que ser introduzido, como ele deve ser introduzido na escola? Você disse que esses dias tava assim pensando em como você vai abordar, como é que você vai, como você pensa, pensando lá no início do semestre, como você abordaria esse conteúdo?

Entrevistado (S5):- Bom, não sei se vai ser a resposta correta que eu tô pensando, vou falar.

Entrevistadora:- Fica a vontade, você tem que falar o que sentir.

Entrevistado (S5):- Eu acho que assim, a dança é trabalhada na escola de acordo com a faixa etária, você tem que analisar o grupo que você tem, é você tem, ah professora tem assim, eu não tenho ideia na verdade assim concreta assim.

Entrevistadora:- Na verdade, você já colocou algumas situações aí, você diz assim é, hoje eu me sinto com embasamento teórico para conversar.......

Entrevistado (S5):- Sim.

Entrevistadora:- Então, esse é um caminho para você introduzir a dança né. Quando eu digo, como é que você pensa em introduzir a dança, não é uma coisa que você, isso é o que eu quero saber de você, não é uma coisa que você vai jogar para os alunos de qualquer maneira, entendeu?

Entrevistado (S5):- Não, entendi.

Entrevistadora:- Então assim, é uma...

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Entrevistado (S5):- Bom, acho que assim, a responsabilidade eu acho que é toda do professor, ele com embasamento teórico ele consegue desenvolver a dança na escola. Então assim, depende muito né, a gente tem que se preparar ter o embasamento teórico mesmo, saber a turma que você trabalha, como que você vai abordar o tema, entendeu. O que é que você tem de espaço, o que você pode trabalhar. Eu acho que eu introduziria a dança dessa maneira, analisando o conteúdo num todo. Assim, acho que a princípio um embasamento teórico; acho que é o fundamental para você ter a base.

Entrevistadora:- Ok, quero agradecer você pela colaboração, pela entrevista, tá e a gente se encontra depois no final do semestre pra próxima entrevista, tá bom?

Entrevistado:- Eu agradeço.

Entrevista com o aluno S 6, dia, aluno do terceiro semestre noturno

Entrevistadora: - R, a primeira pergunta é o seguinte, o que lhe levou à escolha do curso de licenciatura em Educação Física? Fala um pouquinho sobre isso.

Entrevistado (S6): - Olha, o que me levou seria realmente no começo mesmo, foi mais minha mãe, né, logo que eu sai da escola já eu queria pelo menos dar um descanso para depois começar a fazer o curso de educação física...

Entrevistadora: - Mas já era vontade sua?

Entrevistado (S6): - Já, já, já era vontade já. Então ela falou assim, já que você terminou, já, vai direto, já que tá com a cabeça quente, ideias fixas já, vai direto. Ah, então tá bom, e é uma área que eu me identifico muito, que eu gosto muito do público...

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistado (S6): - De lidar com as pessoas, e isso é meu forte, ser e conversar, é falar com as pessoas, e isso é o que me motivou, porque é uma área que você vai lidar bastante com as pessoas, é uma área boa de trabalhar. Foi isso que me levou...

Entrevistadora: - Mais assim, nada que tenha marcado, por exemplo, a sua vida na educação básica, pra essa escolha. Não?

Entrevistado (S6): - Não.

Entrevistadora: - Tá, então vamos lá. As pessoas do seu círculo social, do seu convívio, o que pensam sobre sua escolha?

Entrevistado (S6): - Acham que foi uma escolha tola.

Entrevistadora: - Tola?

Entrevistado (S6): - Tola, porque as pessoas dizem assim, ah educação física é a pessoa que não quer fazer nada, entendeu? Então isso já é uma crítica que pra gente que tá na área, às vezes a pessoa quer falar, será que é isso mesmo, será que é isso que as pessoas dizem? E as pessoas que não conhecem então falam isso. Depois que vivenciam isso, que começam a vivenciar isso, vê que é totalmente diferente né do que as pessoas dizem. Então é uma coisa extremamente, que as pessoas pensam que é a coisa; nossa é só que jogar futebol, só ai, você vai entrar chega na escola joga bola e é tudo isso, mas não é isso, é uma coisa que é realmente assim aberta para o mundo, pro público.

Entrevistadora: - Que expectativas você tem do curso de licenciatura em educação física? O que é que você espera do curso, quais as suas expectativas?

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Entrevistado (S6): - Ah dentro dessa área eu espero crescer né, bastante, expandir o conhecimento dentro das escolas principalmente, às vezes as escolas não tem, alguma tem o conteúdo certo, outras já não tem, principalmente nas comunidades mais carentes entendeu? Então eu pretendo assim com o meu conceito, com o meu saber poder ajudar as pessoas dentro da escola, as crianças, os adultos, às vezes poder chegar até quem sabe mudar a vida de uma pessoa dentro da escola? Que isso para mim vai ser uma, tipo um ato de, como eu posso dizer, de que tá ajudando a pessoa ali, já é uma coisa que vai me deixar feliz, entendeu? É isso que eu pretendo assim pra mim.

Entrevistadora: - Que lembranças você guarda de suas aulas de educação física na escola? Se você puder me dizer assim, hoje né, já no terceiro semestre, destacar assim aspectos positivos ou negativos dessas aulas, como é que você lembra essas aulas?

Entrevistado (S6): - Na escola, no ensino fundamental, é foi um pouco diferente do que no ensino médio. No fundamental tinha mais atividades, como ginástica, mas eram bem poucas, porque geralmente o professor nunca ia para a escola. No ensino médio era aquela moda, jogar futebol, jogar bola, as meninas ficavam conversando de um lado, pegava bola de vôlei ficava brincando, e isso assim é totalmente diferente, do fundamental para o médio, então quando você chega e fala, nossa totalmente diferente, todo mundo só tá jogando bola, todo mundo separado, que é uma coisa que não deve ser feita, separar menino de menina, deixar só jogando futebol, menina só jogar vôlei, uma coisa totalmente errada, devia ser ali tudo junto, mais atividades, e isso eu pensei assim quando eu cheguei do fundamental no médio, eu falei assim uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Entrevistadora: - Você tem 19 anos, você terminou o ensino médio ha que, 3 anos, 2 anos atrás?

Entrevistado (S6): - 2 anos trás.

Entrevistadora: - Então já era assim a educação física?

Entrevistado (S6): - Já era assim já. Porque assim, eu acho errado, que nem quando você estuda à noite no ensino médio, não existe aula de educação física, pelo menos na escola. Eu acho errado porque se tem uma quadra e tem iluminação, teria que ter uma aula de educação física, então eles excluíram a aula de educação física à noite e deixaram para de manhã, mas muita gente trabalhava, então o que é que eles faziam, a pessoa que trabalhava trazia tipo um atestado, vamos dizer assim, comprovando que trabalhava e não fazia aula de educação física, e é uma matéria muito importante, entendeu?

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistado (S6): - Então as pessoas, ah vou arrumar um serviço e não vou fazer aula de educação física.

Entrevistadora: - Entendi. Você se lembra, durante a educação básica, situações, momentos ou eventos marcados pela dança? Quais? Como se sentiu então, na escola, eventos que fossem marcados com conteúdo de dança, com dança.

Entrevistado (S6): - É que assim, geralmente na escola, já no ensino médio, é sempre tinham uns colegas meus que assim, a maior parte das vezes a gente que tinha que chegar no diretor, no professor e falar assim, na época das férias tem como a gente fazer uma dança, levar para os pais, uma festa junina, festa das mães, a gente que tinha que chegar e falar. Porque ao contrário, ninguém se movia, era só dança de festa junina e acabou. Então não tinha esse, ah a pessoas tem ideias novas, não tinha isso, a gente que tinha que chegar e conversar, ó tem como a gente fazer isso, ou então fazer um teatro, vamos fazer um teatro, vamos conversar com o professor e ver se tem como pegar uns dias, determinada aula juntar um pessoal e faz um teatro. Mas tinha que conversar e às vezes eles nem deixavam, falavam que a gente queria matar aula, mas não era isso, a gente queria é beneficiar a escola e a comunidade que era aberta geralmente, mas a gente que tinha que tomar a iniciativa, senão não ia.

Entrevistadora: - Não tinha abertura, não vinha deles essa proposta. Entendi. Fale sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a dança, em família, com amigos. Então na sua vida social, se você dança, se você vai a eventos que tenha dança, como é que você vivencia isso?

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Entrevistado (S6): - Assim, a dança na minha vida mesmo já tá desde criança, desde quando eu nasci, família inteira gosta de dança, de música e eu cresci no meio assim que meus amigos a maioria dança, todo tipo de música, rap, axé, funk, forró, e assim eu cresci nesse meio, de tudo, gosto de tudo, todo tipo de música, todo tipo de dança. Então tá no sangue, vamos dizer assim, a dança. E quando eu cheguei à universidade, na disciplina de Atividades Rítmicas vendo assim, a gente vê que o conteúdo que a gente já tem e o conteúdo que proporcional à gente, é uma coisa legal, ajuda a gente numa coisa que a gente já sabe, e acrescenta mais conteúdo, isso eu gostei, levo pros meus amigos, quando a gente senta assim porque geralmente no final de semana a gente sempre tem um ensaio, ah vamos fazer um ensaio de axé, quando a gente tem algum lugar pra gente ir, a gente fala, oh tem ensaio tal dia, pra gente ir pra festa e dançar lá pro pessoal ver a gente dançar. A gente sempre faz isso então é uma cosia que já tá na nossa vida.

Entrevistadora: - Na sua rotina.

Entrevistado (S6): - Na minha rotina de vida.

Entrevistadora: - Na sua graduação até o presente momento você estudou algum conteúdo que faz referência à dança? Em quais disciplinas?

Entrevistado (S6): - Ah já, atividades rítmicas, é, como dizer, lembro acho que Ginástica Formativa que veio o A, teve vamos ver, ah muitas disciplinas que proporciona a dança.

Entrevistadora: - No segundo com a Ginástica Rítmica..

Entrevistado (S6): - Com a G, com o A que também teve, teve no primeiro a Ginástica Geral, teve também que foi bem legal.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistado (S6): - Tem bastante, que tudo que envolve dança é muito legal, pessoalmente para mim né que gosto dessa área.

Entrevistadora: - Então você consegue elencar a ginástica geral no primeiro, é isso?

Entrevistado (S6): - Isso.

Entrevistadora: - Atividades rítmicas e expressivas que você teve no primeiro também. Aí no segundo você disse sobre a ginástica formativa com o Artur, e agora no terceiro, atualmente a disciplina de cultura corporal do movimento humano I. Depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança?

Entrevistado (S6): - Foi uma expectativa muito grande, porque assim os conteúdos que tem na matéria é uma coisa assim que teoricamente, antigamente, muitas pessoas não sabem, eu como já tive um pouco de vivência disso no curso que eu fiz, dança primitiva, dança moderna, então já me proporciona uma coisa, abrir mais a mente, uma coisa que já tinha um pouco né de conhecimento, agora né a coisa entra de cabeça. Que no curso que eu fazia não tinha, ah vamos estudar, nasceu, era mais a dança mesmo, o pessoal só vai ter dança primitiva, um afro, o maculele que já vinha há um tempo entendeu? Então, agora a gente sabendo de onde é que vem, fica tudo mais fácil, explicar para uma pessoa. Se você dança, a pessoa ah como é que você sabe, como é que você dança, ah porque foi assim, assim, aprendi, estudei, sei da onde vem, fica mais fácil, porque é só você chegar e dançar é uma coisa, mas se você souber fazer e falar com a pessoa, é totalmente diferente.

Entrevistadora: - Entendi. Aqui tem uma coisa assim, o que vem a mente quando você pensa em dança? Fale livremente sobre isso. Apesar de você já ter falado um pouquinho sobre, mas assim, o que é que te vem à mente né assim, o que você sente?

Entrevistado (S6): - Eu sinto uma alegria, sempre que eu danço é uma alegria, é fico mais leve, é fico bem, sinto que o corpo está mais leve porque é uma coisa que eu gosto, quando você faz uma coisa que você gosta, você sente bem, se você faz uma coisa que você não gosta você fica, ah estou fazendo só por fazer, mas quando estou dançando, vejo dança, eu fixo mais inspirado, quero cada vez mais dançar, aprender mais, isso me leva a estado de êxtase assim, a ficar bem, prestar bastante

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atenção, será que eu consigo fazer isso, será? Um dia eu posso chegar nesse lugar que ela tá também, isso me deixa bastante feliz.

Entrevistadora: - Qual sua experiência social com a dança? Então, poderia exemplificar melhor essa situação? Aonde você vive a dança, vivencia a dança, experimenta a dança?

Entrevistado (S6): - Olha assim, eu vivo a dança mais assim...

Entrevistadora: - Se você vai em balada, como é que é, assim aonde você, na sua casa, festa de família, então aonde você vivencia a dança?

Entrevistado (S6): - Mais em casa mesmo, porque é o lugar que eu gosto mais de dançar, em casa, como os amigos, geralmente é sempre em casa, a gente faz ensaio em casa, chama, reúne todo mundo pra gente sair, mas geralmente em casa mesmo, até com a minha mãe eu danço, eu pego ela para danças de vez em quando, mas geralmente é em casa mesmo.

Entrevistadora: - Em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar?

Entrevistado (S6): - Ah importância assim que é o conhecimento novo né, é uma coisa que já vem de tempos, é introduzir uma coisa que já tem, só que com uma possibilidade melhor, as pessoas conhecerem mais, porque há conhecimento, mas não passado corretamente, e eu acho isso é errado, porque se as pessoas conhecessem mais não teria tanto preconceito, que nem dizer, de quem dança axé, porque tem molejo, quem dança rap é porque só é negro, entendeu? Não é isso, se as pessoas conhecessem melhor, sabe que não é isso, mas isso não tem vivência dentro das escolas, isso acho que deve ser levado para as escolas e vai se Deus quiser levado para dentro da escola.

Entrevistadora: - Você se sente preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola?

Entrevistado (S6): - Assim, preparado, preparado, agora, acho que não estaria, porque assim, tem conteúdos que eu vou ter ainda e vai ser bem melhor para mim chegar dentro da escola com conteúdo que eu vou ter, vai ser mais fácil. Agora, agora, eu tenho certeza que não. Se eu fosse agora dar uma aula, é só o que eu mais conheço, porque tive o primeiro, segundo e terceiro semestre, entendeu? Mais seria já uma experiência nova porque são coisa que já são benéficas para a gente né? A gente passar para as pessoas e as pessoas, olha que legal, nunca tive isso. Mas futuramente com mais conteúdo será bem melhor.

Entrevistadora: - Como você acha que esse trabalho tem que ser conduzido na escola?

Entrevistado (S6): - Ah, deve ser conduzido por um professor que tenha vontade de fazer a dança dentro da escola, não só ficar na mesmice aí, aquela mesma coisa, futebol, futebol, vôlei, vôlei, handebol, handebol o professor tem que ter a vontade de chegar, falar assim, hoje vai ter a disciplina de dança, vamos dançar pessoal. Se extravasar, pras crianças, pros adultos, às vezes tem que chamar mesmo e fazer um recreio, que nem costuma dizer, reunir os professores também pra dentro da aula de educação física, e os professores de outra matéria tem aquela visão de que o professor de educação física é como um intervalo, uma aula vaga, entendeu? Os professores também tem aquela visão, oh aula de educação física não é só isso, ele proporciona algo melhor pra gente, tudo bem é de outra matéria, mas se eles olharem certo pra nossa matéria vai ver que não é só isso entendeu. Eles vão ter uma vivência, e falar olha que legal, os alunos chegarem e comentarem das aulas deles, eles vão querer ver sempre oh os alunos estão falando bem da aula de educação física, até vou lá dar uma olhada, espiar, um dia eles podem estar praticando também, futuramente né? Isso eu acho legal pro professor ter atitude de falar, vamos lá pessoal, vamos fazer isso, hoje aula de dança, hoje aula de ginástica, isso motiva o aluno, porque só futebol, futebol, vôlei, vôlei, vôlei, tem aluno que não gosta de futebol, não gosta de vôlei, gosta de fazer outros esportes e a escola não proporciona, então desmotiva o aluno total, não só na aula de educação física, como em outras matérias, isso que eu acho que o professor devia passar dentro da escola.

Entrevistadora: - Entendi. Hoje é só, muito obrigada.

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Entrevista com a aluna S 7, no terceiro semestre no período noturno.

Entrevistadora: - Vamos lá M. Queria saber o que lhe levou à escolha do curso de licenciatura em Educação Física. Queria que você falasse um pouquinho sobre isso, sobre sua escolha.

Entrevistada (S7): - Sim, eu sempre pratiquei esporte, desde pequena, o meu pai sempre me induziu muito a praticar esportes, então eu fiz natação quando tinha 10 anos, aí depois eu parei devido a alguns problemas, mas ele sempre me influenciou, sempre fez artes marciais, então ele sempre me induziu a fazer artes marciais, outros tipos de esporte. E aí eu sempre quis ser professora, então pensava mais para a área de pedagogia, mas até pensei também em filosofia, sociologia, letras, todas as matérias ligadas à professor, só que aí como eu sempre fiz esporte, tal, aí isso foi aumentando, comecei a fazer jiu-jitsu, né e aí foi aumentando a vontade e decidi fazer educação física.

Entrevistadora: - Legal. E assim, as pessoas do teu círculo social, do teu convívio, família, amigos, o que é que pensam sobre a sua escolha, você sabe assim o que elas falam sobre sua escolha?

Entrevistada (S7): - Bom; meu pai e minha mãe me apoiam muito né, eles me induziram por esse curso, e do resto da minha família eu não sei, talvez sempre tenha aquele olharzinho, ai Educação Física, na minha família o pessoal é tudo mais ligado a escritório, coisas a ver com matemática, advocacia, então eu da família a única que escolheu Educação Física foi eu.

Entrevistadora: - Foi você.

Entrevistada (S7) : - Aí o pessoal fica achando diferente assim, digamos assim.

Entrevistadora: - Entendi, entendi. Mas você acha que assim, acontece um certo preconceito... eles já verbalizaram isso para você?

Entrevistada (S7): - Não, não.

Entrevistadora: - Nunca? Tá.

Entrevistada (S7): - Sempre tem aquela brincadeira, olha você vai ser personal trainer tal, aí você acha que às vezes tem um pouquinho de ironia naquilo sabe.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S7): - Mas diretamente mesmo, me criticar nunca.

Entrevistadora: - Não?

Entrevistada (S7): - Não.

Entrevistadora: - Tá. Eu queria saber assim, com relação ao curso de licenciatura que expectativas você tem?

Entrevistada (S7): - Que expectativas que eu tenho?

Entrevistadora: - É. Assim, pensando na finalização da licenciatura, né, ou no decorrer da licenciatura, quais são as suas expectativas? Você tá no terceiro semestre, o que é que você espera ainda né até o término do curso? Vamos colocar assim.

Entrevistada (S7): - Então eu entrei com a ideia de focar nas artes marciais, mas agente vai, o que todos os professores falam, a gente vai mudando de ideia, vai pensando coisas que a gente nunca imaginou. Então acabei indo para o lado da natação, já vejo mais o lado da dança agora que eu nem pensava né, não tive muita vivência com dança, então até lá eu vou ver no que eu vou me afunilar, mas assim a minha vontade, acho que é a que todo mundo tem né, tentar fazer diferença nas aulas, porque as aulas de educação física na escola foram péssimas.

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Entrevistadora: - Então vou entrar nesse assunto na verdade a próxima pergunta é essa, que lembranças você guarda das aulas, das suas aulas de educação física na escola? Né se você consegue destacar assim o que foi positivo, se teve alguma coisa positiva, ou que foi negativa, oi que é que você tem para me falar de lembrança das suas aulas de educação física?

Entrevistada (S7): - No ensino fundamental era mais brincadeira, jogo, então eu sempre gostava né. Aí a gente vai crescendo, os professores vão dando só os jogos básicos: futebol, vôlei, e quando fui para o ensino médio, aí acabou de vez, porque era aquela professora que joga a bola e você faz se quiser. Então, e eu num, era difícil de eu participar, como ela jogava a bola, vai sempre aquele grupinho né mais, vai lá e joga e tal, eu ficava no meu canto, não participava, apesar de gostar de esportes, eu não participava, do futebol nem do vôlei. De vez em quando do vôlei. Então, quando era criança tive uma, gostava de educação física, mas não tinha essa coisa ampla de ter dança, de ter ginástica, era só os mesmos esportes e no ensino médio praticamente não tive educação física, era só trabalho escrito...

Entrevistadora: - Você terminou faz pouco tempo ?

Entrevistada (S7): - 2008.

Entrevistadora: - 2008?

Entrevistada (S7): - Isso.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistada (S7): - Então, então no ensino médio praticamente não tive.

Entrevistadora: - Você se lembra durante a educação básica né, na escola, de situações, de momentos ou eventos marcados pela dança? Quais e como você se sentiu?

Entrevistada (S7): - A gente lembra sempre da famigerada festa junina (risos), só assim que a gente dançava, nunca tive aula de educação física relaciona à dança. Nenhuma.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistada (S7): - Nenhuma, só festa junina mesmo e no ensino médio não posso nem dizer que fez parte da educação física, mas a gente fez apresentação de dança, dança in black lá, mas assim não foi nenhum professor de educação física que treinou a gente assim, foi uma menina lá que sabia dançar, dançava numa academia, a gente treinou com ela a coreografia e pronto. Mas nunca tive dança dentro da grade não.

Entrevistadora: - Hã, queria que você falasse um pouquinho da sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a dança, com família, com amigos, em eventos, como é que você é como é que é a M relacionada à dança no círculo social, em eventos?

Entrevistada: (S7) - Eu sempre fui muito tímida, então isso retrais um pouco né, você fica com medo de demonstrar, de dançar né nos lugares assim, eu sempre fui tímida, mas quando preciso eu me solto, eu vou lá mostro o que tem que pra mostrar. Então assim, se eu vou numa festa, no começo eu fico meio assim, mas o pessoal vai chamando eu vou lá e começo a dançar, mas assim em casa é uma coisa lá fora é outra. Em casa eu danço do jeito que né, tô sozinha, me solto, agora lá, agora na faculdade estou me soltando mais, tô dançando mais, tô me soltando mais,

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistada (S7): - É então eu tenho evoluído mesmo na faculdade, sempre danço em festa, assim com a família, festa quando eu vou à balada, eu danço, mas depois de um tempinho assim, por causa da minha timidez.

Entrevistadora: - Tem que habituar...

Entrevistada (S7): - Tenho que me habituar.

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Entrevistadora: - ...com o ambiente, etc. Na sua graduação até o presente momento, você estudou algum conteúdo que faz referência à dança e quais disciplinas, tirando a nossa né? Então assim, anterior, até o final do segundo semestre.

Entrevistada (S7): - Teve a da G, expressão...

Entrevistadora: - Que são atividades rítmicas e expressivas, é isso?

Entrevistada: - Isso, isso. Foi a primeira experiência que a gente teve e foi só a da G, no primeiro, no segundo não teve.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistada (S7): - É não teve e agora no terceiro a sua.

Entrevistadora: - Tá. Atualmente na disciplina de Cultura Corporal do Movimento Humano I, depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as suas expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança? Então, depois que eu passei o programa pra vocês, do que é, do que a gente ia falar o que é que abordava né a disciplina de cultura corporal, como é que você ficou assim, qual foi sua expectativa durante o semestre? O que é que você espera para o semestre?

Entrevistada ( S7): - Eu gostei. Eu falei, vou gostar dessa matéria, porque assim eu nunca fui muito ligada à dança, mas eu sempre gostei da dança, eu sempre acho lindo dança, dança de salão, os variados tipos de dança, né então eu sempre gostei então eu falei ah é um modo de eu conseguir soltar minha timidez, evoluir mais nesse sentido, já que eu gosto tanto da dança, é um modo de eu conhecer mais, evoluir mais. E eu vi que eu fui me soltando, fui evoluindo conhecendo mais, nunca estudei muito sobre dança, aí essa foi a chance de estudar. Talvez até trabalhar no futuro, me deu vontade de querer trabalhar com dança.

Entrevistadora: - Entendi. O que vem a mente quando você pensa em dança? Né assim, fale livremente sobre isso, o que é que você acha que a dança proporciona, assim tudo o que vier na sua cabeça sobre dança. O que é que você acha que a dança proporciona ao indivíduo, à você graduando?

Entrevistada (S7): - Assim como a gente fala né na educação física, que o movimento é a forma de expressão, acho, que a dança é uma forma de expressão, de todos os sentimentos que você tá sentindo ali na hora, do que é que você quer passar para os outros, talvez nem passar, mas o que você tá sentindo, é uma forma de expressar o que você tá sentindo, eu acho muito isso. Se você tá alegre você dança, é até se você tá nervoso, é um modo de expressar aquilo, até se você tá triste, acho que é um modo de expressar seus sentimentos.

Entrevistadora: - Legal. Qual sua experiência social com a dança? Poderia exemplificar melhor essa situação? Então assim, em que momentos você vivencia e pratica dança?

Entrevistada (S7): - Em que momentos?

Entrevistadora: - É, no seu círculo social, então assim, só quando você vai em eventos mesmo, como é que é na sua casa, você dança livremente de vez em quando, então assim, fala um pouquinho, dentro da sua vida como é que tá a dança?

Entrevistada (S7): - Então em casa, quando eu tô num grupo de amigos, em festas, é mais assim, quando eu vou a festas assim, aí tem a dança, nada relacionado a um curso, ou fazer alguma coisa diária não, é eventual mesmo. Uma festa ali, eu vou lá e danço, ou em casa escuto uma música, danço.

Entrevistadora: - Tá, a pergunta era essa mesmo. Em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar?

Entrevistada (S7): - Então, os alunos estão muito retraídos né, eu acho que a dança é um belo cutucão né para poder eles se expressarem mais. Acho que por isso é tão difícil aplicar na escola né? Porque para os alunos é, praticarem algum esporte, mostrar os movimentos através de um esporte é uma coisa né, eles até vão. Mas agora na dança, que tem toda aquela coisa da vergonha, da

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discriminação, então eu acho que a dança ajudaria muito nisso, nessa coisa de bullyng, de ter respeito com o colega, porque eles iam ter que respeitar a dança do outro porque ia ter que ver a dança não é aquilo né. Acho que é uma forma de socializar os alunos e os fazerem ter respeito entre si, os fazerem perderem esse medo de mostrar o seu potencial, os seus movimentos.

Entrevistadora: - Pensando no início do semestre, quando eu passei o programa da disciplina, quando a gente foi lá no início introduzindo o conteúdo de dança, você se sentia preparada para trabalhar o conteúdo de dança na escola?

Entrevistada (S7): - No comecinho?

Entrevistadora: - É.

Entrevistada (S7): - Não, confesso que não, até porque eu nunca tive ligação com dança, tanto assim eu tenho vontade de trabalhar com dança, mas se eu quiser trabalhar vou ter que aprofundar nisso e é nisso que a disciplina vai me ajudar.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S7): - Eu vou tentar me aprofundar, mas no comecinho não.

Entrevistadora: - Não?

Entrevistada (S7): - Totalmente despreparada, até porque tem que ter todo esse preparo, ainda mais em escola, então com certeza eu não estaria preparada.

Entrevistadora: - Tá , a primeira etapa da nossa entrevista a gente encerrou, quero te agradecer muito pela sua participação e a outra etapa vem ao final do semestre quando vocês concluírem o trabalho de finalização, aí a gente faz a próxima entrevista.

Entrevistada (S7): - Hum, hum.

Entrevistadora: - Tá bom?

Entrevistada (S7) : - Tá.Obrigada!

Entrevista com a aluna S 8 do terceiro semestre noturno.

Entrevistadora: - C fala pra mim o que lhe levou a escolher o curso de licenciatura em educação física? Fala um pouquinho sobre isso.

Entrevistada (S8):- É pra eu conseguir né no futuro fazer a introdução de um conteúdo diferente da educação física escolar, porque eu vivi muito isso assim, é primeiro semestre handball, segundo basquete, terceiro é vôlei e o quarto fechava com futebol.

Entrevistadora: - Nas suas aulas?

Entrevistada (S8):- Sempre, sempre, sempre. A única assim, a única coisa diferente que tinha na escola era aquela semana cultural, uma gincana, era a única coisa. E assim era muito difícil fazer algo que o pessoal todos da escola né queriam, era muito difícil, muito difícil.

Entrevistadora: - Mas assim, você foi pra área porque você gostava, você sempre gostou?

Entrevistada (S8):- Sim, sempre gostei, sempre gostei, sempre falei, não quando eu for professor eu vou mudar, eu vou fazer e acontecer.

Entrevistadora: - Entendi.

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Entrevistada (S8):- Mas aí a gente chega aqui e vê que não é bem assim né, é mais, tem como mudar sim.

Entrevistadora: - E as pessoas do teu convívio, do teu círculo social, família, amigos, o que eles pensam da sua escolha? O que é que eles falam? Você sabe?

Entrevistada (S8):- Eles falam assim, ah mais um professor (risos). Aí eu falo não vocês vão ver que eu vou mudar, eu vou, porque eu sempre fui nesse negócio, eu vou prestar concurso não sei isso, não sei aquilo. Eu penso sim em ser professor concursado da, do estado, não no estado, na prefeitura é lógico, eu quero ganhar mais (risos).

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S8):- Mas eu penso dessa forma.

Entrevistadora: - Tá. E o pessoal do teu convívio assim, é dá pouca importância à área, você sente que existe um preconceito?

Entrevistada (S8):- Existe sim, porque muitos pensam e minha mãe principalmente, ela fala ah porque você não vai fazer... Eu iniciei aqui fisioterapia no primeiro semestre, aí eu falei, não é isso não é pra mim, eu vi o pessoal lá no campo de atletismo nossa eu ficava doida, o pessoal rindo, conversando e eu naquelas... naquelas fórmulas. Eu falei, o que? Tranquei e mudei para educação física.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S8):- Em 2010 eu tava aqui no primeiro semestre em fisioterapia, mudei.

Entrevistadora: - Tá, quer dizer, você sempre quis educação física?

Entrevistada (S8):- Sempre quis educação física, aí minha mãe por ela trabalhar no hospital falou, não faz fisioterapia ou farmácia que dá dinheiro não sei o que. Eu falei não eu não quero.

Entrevistadora: - E você falou para mim que trabalha na polícia, isso foi o que, foi uma escolha?

Entrevistada (S8):- Foi, foi uma escolha minha, foi uma escolha minha. Assim, foi mais por conta da estabilidade do cargo né, concursado assim, mas é porque eu desde os 16 anos eu comecei a trabalhar no mercado, trabalhar na rede Sondas, supermercado não sei se a senhora conhece.

Entrevistadora: - Conheço.

Entrevistada (S8):- E assim, tava de saco cheio, final de semana, é cansativo mercado. Aí...

Entrevistadora: - Você prestou concurso?

Entrevistada (S8):- Aí abriu um concurso na Policia Militar, de segunda a sexta, feriado emenda, eu falei, vou prestar, mas assim, nunca assim imagina aquela coisa, policia, e tudo mais, depois que eu fui pegando mais gosto pela coisa né.

Entrevistadora: - Tá, tá. Que expectativas você tem do curso de licenciatura de educação física? Você entrou no curso de licenciatura, o que é que você espera? Assim, ao longo ou ao final do curso.

Entrevistada (S8):- Ah eu espero que assim, em questão do conteúdo?

Entrevistadora: - Tudo assim, qual a sua expectativa?

Entrevistada (S8):- Ah eu espero que eu possa não ser mais um daqueles professores né, espero não ser o professor de educação física que eu tive na escola, eu espero poder igual mesmo a senhora falou, poder colocar o conteúdo da dança, fazer a quadrilha maravilhosa que a senhora fez lá aquele dia. Teve participação da senhora não teve aquele sábado?

Entrevistadora: - É minha sim.

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Entrevistada (S8):- Eu falei, nossa quando eu ouvi aqueles remix eu falei, ah tem dedo da professora aí. Nossa então eu quero promover algo diferente né, sair daquele quarteto fantástico que é dos esportes.

Entrevistadora: - Que lembranças você guarda das suas aulas de educação física na escola? Você começou sua fala falando um pouquinho sobre isso, queria que você falasse mais né, se você consegue encaminhar alguns aspectos positivos né, ou se é só negativos que você consegue destacar, fala um pouquinho para gente de como é que eram as suas aulas de educação física no seu tempo da educação básica. Você estudou na rede pública?

Entrevistada (S8):- Isso.

Entrevistadora: - Você terminou o terceiro ano do ensino médio quando, você lembra Cintia?

Entrevistada (S8):- Lembro 2007.

Entrevistadora: - 2007?

Entrevistada (S8):- Isso, 2007.

Entrevistadora: - E que lembranças você guarda?

Entrevistada (S8):- Ah professora campeonatos de futebol, voleibol, só. Só esporte, nunca assim, ah vamos fazer uma coisa diferente, vamos sei lá, vamos pegar um tema, folclore, primavera, nunca.

Entrevistadora: - Os alunos, até você sente que tinham certa abertura?

Entrevistada (S8):- Tinham, eu tive isso porque, não sei se a senhora lembra do Rodrigo da nossa sala também? Nós dois moramos no mesmo bairro e lá tem uma ONG e essa ONG ela promovia essa diversidade né, a gente tinha aulas, ah como é que fala, é maculelê...

Entrevistadora: - Sei danças folclóricas, típicas?

Entrevistada (S8):- Isso, lá fora nesse projeto que a gente teve essa oportunidade, mas na escola mesmo não saía dos esportes.

Entrevistadora: - Tá. Então agora eu ia perguntar exatamente isso, qual a sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a dança, com família, com amigos, no grupo. Então assim, você já começou a falar alguma coisa, você esteve ligada á essa ONG, não está mais? Ou você frequenta? Como é que é?

Entrevistada (S8):- Então, não estou mais ligada à essa ONG, no semestre passado eu tive com a professora G a matéria de, não, foi no primeiro semestre do ano passado...

Entrevistadora: - Atividades rítmicas?

Entrevistada (S8):- Isso, atividades rítmicas, aí a gente pegou o tema afro descendência...

Entrevistadora: - Minha pergunta seguinte (risos). Não, só fala pra mim, dentro do seu círculo de amigos, do seu círculo social, você tem alguma experiência com dança? Você tem alguma experiência com atividades rítmicas? Tirando aqui a Universidade, a graduação, na sua vida social, entendeu?

Entrevistada (S8):- Tenho, tenho, nessa ONG, nesse núcleo sócio educativo.

Entrevistadora: - Que você vivenciou?

Entrevistada (S8):- Isso que eu vivenciei, o tema era bem focado na África, aí a gente tinha o maculelê, capoeira, as danças...

Entrevistadora: - Folclóricas?

Entrevistada (S8):- Folclóricas.

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Entrevistadora: - Tá e você teve a vivência nessa ONG, é isso?

Entrevistada (S8):- Nessa ONG.

Entrevistadora: - Fora isso Cinta, no seu círculo social, você é de sair pra dançar, ou a tua família é uma família que gosta de dança, não?

Entrevistada (S8):- Então a minha família é mais apegada a depois do almoço no domingo reunir, vamos reunir todo mundo e tocar um violão, inclusive eu toco violão, vamos tocar violão, cantar, isso assim aquela moda de viola, saí um forró, é isso.

Entrevistadora: - Quer dizer que tem essa...

Entrevistada (S8):- Tem, a gente tem.

Entrevistadora: - Vivência musical. Com a música rolando sai uns passinhos...

Entrevistada (S8):- Sai.

Entrevistadora: - Entendi. Então tem essa vivência na família?

Entrevistada (S8):- Tem, eu tenho, bastante.

Entrevistadora: - E você é de balada?

Entrevistada (S8):- Não.

Entrevistadora: - Não? Não é de ir para balada dançar? Não?

Entrevistada (S8):- Não.

Entrevistadora: - Tá, então vive isso em família mesmo.

Entrevistada (S8):- Vivo isso em família, a única balada que eu vou, inclusive eu nunca mais fui, é na The History.

Entrevistadora: - Tá.

Entrevistada (S8):- A única, o único tipo assim, que é aquela coisa bem velha, antiga, que infelizmente a minha época de escutar música não dá né, pra escutar música da minha época, tem que escutar música, só tem porcaria.

Entrevistadora: - Por causa da qualidade você diz né?

Entrevistada (S8):- Isso. Só tem funk, essas coisas eu não gosto.

Entrevistadora: - Entendi. Então agora vem, na sua graduação até o presente momento, você estudou algum conteúdo que faz referência à dança? Você tava dizendo né.

Entrevistada (S8):- Sim, atividades rítmicas expressivas, é ...

Entrevistadora: - A ginástica geral.

Entrevistada (S8) :- A ginástica geral, rítmica, e cultura corporal.

Entrevistadora: - Tá, você já falou as disciplinas. Atualmente, pensando lá no inicio do semestre tá, na disciplina de cultura corporal do movimento humano I, depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as suas expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança? Então, o conteúdo ainda não tinha sido desenvolvido ainda tá? Eu cheguei, apresentei a disciplina e falei, a gente vai trabalhar com dança, o que é que você pensou nessa hora, o que você, o que gerou de expectativa para você?

Entrevistada (S8):- Ah assim, eu pensei que a dança é ia auxiliar né, como um conteúdo escolar diferente nas aulas de educação física, né.

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Entrevistadora: - Quer dizer gerou essa expectativa, você esperava mesmo isso para você poder...

Entrevistada (S8) :- Sim, esperava e aconteceu.

Entrevistadora: - Tá, legal. O que é que te vem à mente quando você pensa em dança Cintia. Você pode falar a palavras soltas, você não precisa assim, elaborar... Assim, falou em dança, o que é que tem vem à cabeça?

Entrevistada (S8):- Dança é movimento motor, movimentos.

Entrevistadora: - O que mais? O que mais que pra você define dança assim? O que é que tem vem à cabeça? Palavras... podem ser palavras soltas.

Entrevistada (S8):- Ah, uma forma do corpo de expressar.

Entrevistadora: - Expressão.

Entrevistada (S8) :- Expressão corporal.

Entrevistadora: - Tá, só.

Entrevistada (S8):- Só, que eu lembre só.

Entrevistadora: - Tá mais assim, quando você dança ou vê um espetáculo de dança, o que é que te traz isso? O que vem a cabeça? Você já falou expressão, o que mais? Só isso? O que te proporciona a dança?

Entrevistada (S8):- Ah prazer, alegria, entusiasmo.

Entrevistadora: - Legal.

Entrevistada (S8):- Essa coisa de, da, como é que fala, da superação do movimento né, motricidade.

Entrevistadora: - Superar limites né?

Entrevistada:- Isso.

Entrevistadora: - Tá. Em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar? Pensando lá no inicio né, a gente tá lá no inicio do semestre, se bem que você já deu assim uma, você diz que vem de uma história de desenvolvimento muito de esporte nas suas aulas, que você reconhece a importância da dança, então assim, qual a importância de desenvolver a dança na escola?

Entrevistada (S8):- É a oportunidade dos alunos vivenciarem um pouco essa, essa cultura né, porque nem todos têm essa, muitos dos alunos vão à escola pra sei lá, vão pra mudar, sair daquele cotidiano, de casa, rua, casa e rua. Aí na escola nós temos a obrigação de passar para eles conteúdo né.

Entrevistadora: - Você acha que para o aluno a dança proporciona o que? O que é, você disse, eu não tive essa oportunidade, era só futebol, só handebol, então você sente falta? Hoje você...

Entrevistada (S8):- Sinto falta, hoje...

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S8):- ..Eu vi com as matérias aqui na faculdade, eu vi que fez falta.

Entrevistadora: - É, pensando lá no início do semestre, você se sente preparada para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola? Pensando lá no início, você não viu todo conteúdo da matéria tá, você só pegou o programa, você se sentia lá preparada para isso?

Entrevistada (S8):- Não, antes da introdução da matéria não.

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Entrevistadora: - E mesmo não se sentindo preparada, lá, antes, como é que você pensava que esse conteúdo deveria ser introduzido na escola? De que maneira?

Entrevistada (S8):- Ah nas partes folclóricas assim, né, Se fosse usar um tema, primavera, festa junina, só assim nesse período que eu pensava que você poderia introduzir a dança né.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S8):- Eu não tinha noção daquela história da dança, desde daquela época da dança primitiva até agora, dança moderna, dança contemporânea...

Entrevistadora: - Entendi. Bom, nossa entrevista terminou, quero te agradecer, a sua colaboração para a minha pesquisa e dizer que eu conto com você no semestre seguinte, tá bom? Obrigada viu.

Entrevistada (S8):- Se Deus quiser, também. Obrigada.

Entrevista com a aluna S 9, do terceiro semestre noturno

Entrevistadora: - G, fala para mim o que te levou à escolha o curso de licenciatura em Educação Física.

Entrevistada (S9): - Bem, o que me levou ao curso foi que desde o começo, eu desde os meus 13 anos de idade, já treinei vôlei, participava de campeonatos, então desde os meus 13 anos eu já sabia que aquilo era minha área, que eu fui fiz outras coisas, mas vi que educação física eu escolhi de coração.

Entrevistadora: - Mas sempre muito ligada ao esporte? É isso?

Entrevistada (S9): - É, ligada ao esporte. Eu fui desenvolver mais a dança a partir dos meus 14 que foi onde surgiu o meu primeiro ministério de dança da igreja, ministério árabe.

Entrevistadora: - Bom vamos lá. As pessoas do seu círculo social, do seu convívio, família, amigos, enfim, é o que é que eles pensam sobre a sua escolha?

Entrevistada (S9): - Me apoiam muito.

Entrevistadora: - Referente ao profissional né.

Entrevistada (S9): - Me apoiam muito né, fazem com que eu aproveite muito os meus conhecimentos né, sempre tão me perguntando, ai o que é que você tá aprendendo, eu sempre comento, ai tô aprendendo isso, meu irmão também quer fazer Educação Física, eu Juninho olha é assim, assim, assim, se tem um conteúdo X, eu posso te ajudar nos conteúdos né, dão assim apoio total.

Entrevistadora: - Então as pessoas sabem assim o que envolve pra que prepara o curso, é bem tranquilo.

Entrevistada (S9): - Sim, é bem tranquilo. Uns questionam, ai vai fazer Educação Física porque não sabe o que quer da vida, não eu falo que eu sempre soube o que quis, desde os meus 13 anos eu me envolvi na área de esportes, que eu tenho muita afinidade com o meu professor de vôlei até hoje né, então eu sempre falei eu vou fazer minha faculdade e você vai estar na minha formação, faço questão.

Entrevistadora: - Que lembranças você guarda das suas aulas de educação física na escola? Se você puder encaminhar assim alguns aspectos positivos, outros que você considera negativos, creio que seria interessante.

Entrevistada (S9): - Olha os positivos assim é que o professor, ele, ele não era, ele deixava a gente com a bola, mas ele também falava assim, professor a gente tem curiosidade em tal modalidade, ele ia lá, ele explicava oh faz assim, assim, assado. Como a gente era as queridinhas dele né, então ele

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fala assim, é no vôlei ele fundamentava mais a gente no vôlei pras meninas e pros meninos o vôlei também, então ele quis levar para o SESC, num campeonato de vôlei, na qual a gente atuou durante 3 anos né. Então ele sempre leva a iniciativa da gente procurar interagir com algumas pessoas, e conhecer as pessoas das outras salas também. E os pontos negativos é que tinham só campeonato de esporte, não tinha campeonatos envolvidos como artes marciais, é lutas, dança, né...

Entrevistadora: - Atividades rítmicas.

Entrevistada (S9): - É, só tinha coisas dinâmicas né, tipo gincana, a gincana tinha, mas o que a gente gostava de fazer, que é nosso grupo né, então era meio que um pouco criança ainda, então a gente focava muito no esporte. Eu falei para ele que uma vez teve gincana e ele falou que, eu falei que eu tinha ministério de dança, aí ele falou, no final da gincana você faz uma apresentação.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistada (S9): - Só que aí atrasou muito o término da gincana, aí não ocorreu à apresentação.

Entrevistadora: - Você se lembra durante a educação básica de situações, momentos ou eventos marcados pela dança na escola né? Quais?

Entrevistada (S9): - Não, não teve.

Entrevistadora: - Tá, se você pensar no ensino fundamental, no ensino médio que você cursou você não se lembra de eventos...

Entrevistada (S9): - Não.

Entrevistadora: -...onde a dança tinha, onde havia contribuição da dança?

Entrevistada (S9): - Não, não tinha.

Entrevistadora: - Nem festas na escola...

Entrevistada (S9): - Só tinha festa junina, mas a festa junina envolvia outro professor, e não o professor de educação física.

Entrevistadora: - Dentro da escola?

Entrevistada (S9): - Dentro da escola.

Entrevistadora: - Que outro professor que ficava envolvido?

Entrevistada (S9): - Olha não me recordo, mas não era o professor de educação física. Ele focava mais no esporte mesmo, que era mais a área dele.

Entrevistadora: - Entendi. É, fale sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas como, por exemplo, a dança? Em família, como amigos, então aonde você hoje, ou algum tempo, ou durante todo o seu período escolar e agora da faculdade, da graduação, aonde você vivencia a dança?

Entrevistada (S9): - Na igreja, então...

Entrevistadora: - Fale um pouquinho sobre essa experiência.

Entrevistada (S9): - Tem um Ministério chamado Salvarte né, salvação através da arte, e tem todo mês tem missa da juventude ou é teatro ou é dança. Eu participo mais da dança. Nós pegamos uma música, focalizada mais na parte gospel né, parte de religiosidade, e fazemos passos, desde hip hop, a balé, a jazz, a movimentos contemporâneos né, a gente foca um pouco de tudo né. Então eu tenho pouca vivência na parte de balada, que eu não vou muito, mas gosto bastante e sábado agora eu recebi um convite na academia para aprender a dançar danças urbanas, dança sertaneja, dança de rua né, me fez o convite e me interessou muito.

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Entrevistadora: - Entendi que assim, onde você vivencia ou você começou a vivenciar a dança nessa área religiosa a partir de quando, fala para mim?

Entrevistada (S9): - Desde os meus 14 anos.

Entrevistadora: - Tá, lá você tem oportunidade de fazer apresentações, de vivenciar a dança mesmo?

Entrevistada (S9): - Sim.

Entrevistadora: - Tá. Na sua graduação até o presente momento você estudou algum conteúdo que faz referência à dança? Em quais disciplinas?

Entrevistada: - Na escola?

Entrevistadora: - Aqui, na graduação.

Entrevistada (S9): - É...

Entrevistadora: - Pensando no primeiro semestre, você tá no terceiro, pensando no primeiro, no segundo.

Entrevistada (S9): - Tenho, foi ginástica rítmica né, GR no segundo, foi atividades rítmicas expressivas no primeiro e cultura corporal agora no terceiro.

Entrevistadora: - Tá. Atualmente na disciplina de cultura corporal do movimento humano I, depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, quais as suas expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança? Então, depois que eu apresentei o conteúdo para vocês, o que é que gerou de expectativa com relação ao desenvolvimento do conteúdo de dança?

Entrevistada (S9): - Eu pretendo trabalhar na área né, fazer a minha pós-graduação em dança né e me focar sempre né porque isso é o que faço de corpo e alma, por mais que geram lesões, geram dores musculares, mas é aquilo que você faz de coração, de alma, de tudo mais lindo do mundo.

Entrevistadora: - Na verdade, entrando nisso que você tá falando, a próxima pergunta é, o que vem na mente o que você pensa em dança? Fala livremente sobre isso, o que é a dança te proporciona, o que te vem na cabeça?

Entrevistada (S9): - Nossa vem uma alegria, sabe, louvar a Deus né, é vivenciar o momento que a gente tá lá apresentando uma evangelização né, tanto na dança sertaneja né, que a gente quer experimentar, quer focar pras pessoas que aquilo é legal, que aquilo se você não sabe você tem tendência a aprender. Então eu danço de corpo, danço de alma, danço de espírito, eu danço com o sorriso, sabe faço, dou o melhor de mim, porque na minha apresentação de Cristo, na minha apresentação na igreja, eu sei que não sou eu que estou em mim, e sim o espírito santo, é ele que está em mim vivenciando aquilo que eu faço, foi um dom que ele me deu. É isso que eu penso, foi um dom que ele me deu.

Entrevistadora: - É, na verdade assim, você é a primeira pessoa que eu estou entrevistando que vivencia a dança por meio da religião né, queria que você falasse um pouquinho mais, você já falou alguma coisa, mas assim, que você falasse pra mim, nesse momento, o que é que a dança representa para você né? O que é que você transmite dançando?

Entrevistada (S9): - A gente transmite tudo vem pela face né, mesmo os momentos de alegria quando o grupo não tá legal, as pessoas sentem, quando o grupo tá harmoniosos as pessoas sentem que o grupo tá harmonioso, então sempre um sorriso no rosto, sempre tendo uma boa coreografia, é tendo um bom aperfeiçoamento da coreografia, sempre sincronizado.

Entrevistadora: - Mesmo sendo assim no caráter religioso, manifestação religiosa, vocês se preocupam com todos os itens que envolvem a dança? Coreografia, ritmo...

Entrevistada (S9): - Sim, figurino é uma parte assim, como é algo religioso não se mostra muito o corpo né, não se mostra a barriga, não se mostra mais partes sensuais né, então a gente sempre pega uma coisa assim que abrange mais o lado da religiosidade né, mas pegando os passos, a

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coreografia que as pessoas se arrepiam, que as pessoas, nossa ah que dança, que lindo, como que eles transmitem essa alegria.

Entrevistadora: - Você sente essa receptividade do público?

Entrevistada (S9): - Sinto, sinto, a gente fez uma apresentação para o ministro, que é meio que hip hop, e quando a gente começou a fazer o primeiro passo todo mundo uhul, adrenalina da hora, aquela alegria imensa, meu muito boa, aquela receptividade das pessoas, é muito bom.

Entrevistadora: - Em sua opinião qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar, já que você é do curso de licenciatura né. Por que é que você acha importante desenvolver a dança na escola?

Entrevistada (S9): - Olha muito importante assim porque eu não vivi né, eu não vivi na minha época de escola, eu acho muito importante porque a gente no decorrer do curso que a gente aprende, é várias são suas habilidades, então é tem aquelas pessoas que andam mais no black, que eles podem trazer pra gente, você conhece o black? Nossa que legal, traz sua vivência pra gente, ensina pra gente, olha hoje a gente vai ter uma vivência na dança, o nosso amigo tal vai ensinar a gente, então pra abranger conhecimentos, pra procurar as pessoas trazendo os conhecimentos delas, até que a gente, nossa essa dança não é o que a gente pensava, essa dança é superinteressante. O balé, o balé ele é difícil, mas se você fizer com determinação, se você fizer com vontade, ele vai ser fácil, ele não vai ser tão complexo como a gente pensa.

Entrevistadora: - O que é que você acha dentro daquilo que você me falou até agora, que a dança propicia ao aluno e que o esporte não propicia?

Entrevistada (S9): - Olha a dança propicia a parte de interação né, acho que a parte de conhecer um ao outro né. O esporte é um pouco individual, ele gera um pouco de conflitos quando você erra um passe, erra um gol, as pessoas ficam bravas, ficam nervosas. A dança, errou continua, sempre sorriso, sempre disposição, sempre alegria, errou continua, ensaio teve, acho que a dança é na verdade a gente conhecer nosso lado e o lado oposto. O esporte ele vivencia mais a prática, é aquela regra pronto acabou, a dança não, a dança você abrange em várias ramificações, em vários ritmos, tem, é, faz com que a gente crie, né, crie e profissionalize aquilo que a gente sempre omitiu.

Entrevistadora: - Você se sente preparada para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola? Então primeira pergunta, se você no inicio do terceiro semestre se sente preparada para executar o trabalho com dança na escola, realizar, desenvolver com os seus alunos.

Entrevistada (S9): - Sinto, sinto sim, me sinto preparada até porque a gente pode até pensar naquele foco, hoje eu demonstro o que eu sei, amanhã a pessoa demonstra o que ela sabe, então cada um vai demonstrar o que sabe pra gente juntar tudo e fazer uma coisa super diferente, né. Então eu não tenho tanta prática, tanta, curso, vivência com a dança, mas o pouco que eu sei eu acredito que eu posso passar muita alegria para as pessoas.

Entrevistadora: - Agora, como você pensa, você já falou um pouquinho disso em outras perguntas que eu te fiz, como é que você pensa que esse trabalho deve ser conduzido na escola, você falou um pouquinho do respeito às diferenças né, explica mais pra mim como é que esse trabalho tem que ser conduzido na escola, trabalho com dança.

Entrevistada (S9): - Conduzido na dança, tem que ter aquela parte do bom entrosamento né, conhecer um ao outro, hoje tal pessoa vai apresentar sobre black, então algumas pessoas tem que se respeitar né, tem que saber as diferenças, que nem eu tenho uma certa habilidade que ele não possa ter, mas que eu posso ensinar, faz assim, assim, assim, assim, né, que você vai conseguir. Então é ter paciência né, você quer? Você vai fazer com vontade? Vou. Então vamos que eu vou te ajudar, né, na vivência que a gente tá tendo na nossa apresentação. As pessoas estão falando que, meu, tá muito difícil, você quer fazer, você quer fazer isso de corpo e alma para que você tenha um bom entrosamento na matéria? Quero. Então vamos. Então é respeitar, interagir com as pessoas, e fazer com que você conheça outras culturas, conheça outras pessoas, não se vive apenas como se iniciou no mundo, muitas vezes a gente tem medo de conhecer o que é amplo, diferentes possibilidades, a gente gosta de viver no nosso mundo, meu mundo é esse e pronto. A gente não

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conhece como que é uma favela, a gente não conhece como que é uma periferia, como que é uma, como que é o nome?, uma...

Entrevistadora: - Outro ambiente, é isso que você tá querendo dizer?

Entrevistada (S9): - Outro ambiente que a gente acha que é de uma maneira e na verdade não é, é totalmente diferente. Então acho que a gente, o conteúdo total, na minha complexidade é ter Deus, onde você tem Deus você vivencia em qualquer lugar.

Entrevistadora: - Entendi. Acabou, tá vendo? Quero te agradecer a entrevista e dizer que assim, suas considerações vão contribuir e muito para o meu trabalho. Obrigada viu.

Entrevistada (S9): - De nada.

Entrevista com S 10, aluno do terceiro noturno, do curso de licenciatura

Entrevistadora: - M queria te perguntar o que lhe levou a escolha do curso de licenciatura em Educação Física? Fala um pouquinho para mim sobre isso.

Entrevistado (S10) : - Bom, na verdade eu gosto da parte de exatas né, só que assim, eu queria fazer Engenharia, só que pela minha atual idade, Engenharia não é uma coisa interessante para mim né, porque eu ia me formar Engenheiro com 41 anos de idade, aí ninguém vai contratar um Engenheiro recém-formado. A minha outra aptidão é artes marciais, eu pratico artes marciais já né. E eu gosto de dar aula também. Eu trabalho...

Entrevistadora: - Faz tempo que você pratica artes marciais?

Entrevistado (S10) : - Artes marciais têm uns 17 anos já.

Entrevistadora: - Nossa.

Entrevistado (S10): - Eu tô uns 3 anos parados agora porque trabalho essas coisas né. Eu sou professor em auto escola, eu trabalho em auto escola. Então por conta disso aí, da minha formação e eu gosto de ensinar tudo da arte marcial, eu vou ingressar em Educação Física, porque eu sei que professor não tem tanta idade, professor é professor para sempre né. Então por isso que eu escolhi essa área.

Entrevistadora: - E as pessoas do teu convívio social, do teu círculo social, o que pensam sobre essa sua escolha, família, amigos.

Entrevistado (S10): – Bom, a parte da família da minha esposa acha que é bobeira, entendeu?

Entrevistadora: - Como assim, explica. Bobeira...

Entrevistado (S10): - Porque assim, a minha sogra pensa que Educação Física é nada, entendeu. Até o dia que eu cheguei nela, ela tava com problema no coração, “Sueli você tá com problema aonde, no coração”? No que? Ah na não sei o que, na válvula. Na mitral? É na mitral. Aí eu comecei a explicar pra ela e ela começou a ver que o negócio meu não é só brincadeira né. Então a maioria das pessoas dá importância para Engenharia, Direito, Medicina, né, não dá importância para a Educação Física, sendo que ninguém sabe que começa é professor. Tem o médico porque tem professor, tem o advogado porque tem professor, tem o engenheiro porque tem professor. Então o professor é a base né e ninguém se interessa nisso.

Entrevistadora: - E assim, fala pra mim um pouquinho mais sobre isso, você acha que esse preconceito, você acha que existe um preconceito com relação à área?

Entrevistado (S10): – Infelizmente é cultural.

Entrevistadora: - Tá.

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Entrevistado (S10): – É muitos alunos chegam assim em vez de falar assim... Porque quem obrigada o aluno a estar na escola vai é o governo e os pais, eles acham que é culpa do professor. Eles culpam o professor, maldito professor!

Entrevistadora: - E a questão da Educação Física tem alguma coisa a ver especificamente com a área? Você acha?

Entrevistado (S10): – A Educação Física, acho que se tornou a parte né, uma coisa a parte porque pessoal acha que não ensina nada, esse é que o problema, eles tem um problema grande, então vou tentar mudar isso aí né.

Entrevistadora: - É a primeira graduação que você está fazendo?

Entrevistado (S10): – Primeira graduação.

Entrevistadora: - E você sabe, você se lembra de quando terminou o ensino médio? Que ano?

Entrevistado (S10): – 1992.

Entrevistadora: - Tá. E dentro da Educação Física na escola né, quando você cursou a educação básica, que lembranças você guarda das suas aulas de educação física?

Entrevistado (S10): - Oh, em 13 anos, 13 anos eu estudei, foram 12 anos de futebol, teve o mesmo professor, um ano foi uma professora nova, até hoje eu lembro o nome dela, Maria Deluída, Adele, ela deu aula diferente pra gente, eu pelo menos adora a aula dela, tinha exercício de corrida, tipo atletismo, agora eu sei, atletismo, salto, exercícios de estática, um monte de exercício diferente, fora o futebol, de vez em quando ela dava um pouquinho de futebol porque a criança pede né. Só tinha vôlei, basquete, a aula dela era mais variada. Acho que isso foi em 89 ou 88, num desses dois anos.

Entrevistadora: - Tá. Você se lembra durante a sua educação básica né, desde pequenininho até o terceiro ano do médio, é de algum evento na escola marcado pela dança ou com atividades rítmicas?

Entrevistado (S10): - Festa Junina só. Só festa junina.

Entrevistadora: - E você participava?

Entrevistado (S10): - Participei até a sétima série, aí depois já não participei mais, desinteressa né, o negócio é sempre igual, igual, igual, a gente perde o interesse.

Entrevistadora: - É eu ia te perguntar isso, como que era conduzido esse trabalho da dança na educação física e por que, no caso por que é que você foi perdendo o interesse.

Entrevistado (S10): - É que era meio que obrigado né, eles não perguntavam se você queria fazer, você vai fazer. Até o último ano que eu fiquei XX eu ensaiei tudinho e faltei no dia, só de pirraça.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistado (S10): - Isso eu não esqueço até hoje também, né. Tem coisa que marca a gente, é obrigado a fazer e acaba marcando.

Entrevistadora: - Entendi. E fala um pouquinho sobre sua experiência social com atividades rítmicas ou expressivas, como por exemplo, a dança, em família, como amigos.

Entrevistado (S10): - Ah eu não dançava muito não.

Entrevistadora: - Ah, nem agora, nem atualmente.

Entrevistado (S10): - Não atualmente eu estou começando a dançar um pouquinho né, mas realmente eu não tinha esse contato com dança.

Entrevistadora: - Tá, não tem experiência nenhuma com dança, no seu círculo social, eventos, festa de família.

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Entrevistado (S10): - Nada com dança.

Entrevistadora: - Na sua graduação, né aqui no período da graduação até o atual momento, é, quais as matérias que fazem referência à dança? Quais as disciplinas?

Entrevistado (S10): - Atividades rítmicas né.

Entrevistadora: - Que foi no segundo, né.

Entrevistado (S10): - Isso, também no primeiro semestre foi... da G também., não lembro qual que era.

Entrevistadora: - Atividades rítmicas.

Entrevistado (S10): - É, isso. Teve a G atividades rítmicas, depois ginástica rítmica no segundo...

Entrevistadora: - Isso.

Entrevistado (S10): - E até natação também tem um pouquinho, porque tem, você fala de ritmo né. Atletismo entra como ritmo também, muitas entram com ritmo.

Entrevistadora: - Você consegue fazer associação do trabalho com dança?

Entrevistado (S10): - Consigo.

Entrevistadora: - Tá. Atualmente, pensando lá no início do semestre, na disciplina de Cultura Corporal do Movimento Humano, depois que lhe foi apresentado o programa da disciplina, então depois que eu passei o conteúdo que a gente ia trabalhar, como é que a gente ia desenvolver a disciplina, quais as expectativas para o desenvolvimento do conteúdo da dança, então o que gerou em você expectativa, pensando lá no início?

Entrevistado (S10): - Eu achei que eu ia ser um dançarino, (risos) ia ser um dançarino, mas não é assim né, pedra para ensinar pedra a dançar demora um pouquinho.

Entrevistadora: - (risos) Então, mas assim, fala um pouquinho mais da expectativa.

Entrevistado (S10): - Bom, eu queria que tipo assim, foi primeiro semestre atividade rítmica, depois ginástica artística né, eu achei que ia ter que requebrar mais. É, só que eu vi que dança não precisa requebrar tanto, não é tanto requebra, é movimentação, coordenação, não é só o que eu imaginava, tinha um pouquinho mais, tinha um pouquinho mais, achava mais coisa né, só que, melhorou meu pensamento né, porque eu tava pensando que tinha que XX só em dupla, não achava que a dança era de conjunto, tava meio focado num ponto só.

Entrevistadora: - Então, quando a gente fala em dança, o que é que te vem à cabeça? Pode ser palavras soltas, de que você pensa sobre dança, o que é definir dança para você?

Entrevistado (S10): - Ah, dança dos famosos.

Entrevistadora: - (risos)

Entrevistado (S10): - Do Faustão né, é o que define dança hoje em dia para mim né, seria né. Agora atualmente não, dança é muito mais do que eu imaginava.

Entrevistadora: - Então, queria que você falasse um pouquinho mais sobre isso, quando se fala em dança para você, você resumiria em que palavra? Quais são as palavras que você associa dança?

Entrevistado (S10): - Hum, grupo.

Entrevistadora: - Grupo?

Entrevistado (S10): - Dança é Grupo, afetivo também, coisa afetiva é dança, também tem a ver com conquista, tem muito a ver com conquista a dança e diversão também.

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Entrevistadora: - Ok, ok. É, em sua opinião, qual a importância de desenvolver a dança na educação física escolar?

Entrevistado (S10): - Eu vi que a dança é a base para todas as outras atividades, para futebol, se não tiver ritmo não tem futebol, se não tiver ritmo não tem basquete, sem ritmo você não tem o vôlei, sem ritmo não tem nada. Então para mim a dança seria uma base.

Entrevistadora: - O trabalho favorece isso, o trabalho com ritmo?

Entrevistado (S10): - É, eu vou até tentar ver se consigo por dança no início das minhas aulas né.

Entrevistadora: - Então a próxima pergunta é isso, pensando no início do semestre, tá, você se sente preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Pensando lá no início?

Entrevistado (S10): - Ainda preparado não né, mas eu vou estar preparado para fazer isso, é meu objetivo.

Entrevistadora: - Então, como você considera, pensando lá no início ainda do semestre, que você conduziria o trabalho na escola com dança? O que é que é importante para o professor conduzir esse trabalho? O que é que você considera...

Entrevistado (S10): - A batida da música primeira, introduzir a batida da música para a criança, tempo musical. Aí depois fazer a criança ver o que é que eles gostam. Aí depois a gente vê o que é que acontece né., de acordo com o que a criança gosta, a gente desenvolve o resto.

Entrevistadora: - Entendi, hoje é só, agradeço muito a sua entrevista.

Entrevistado (S10): - Obrigado professora.

Entrevistadora: - E a gente retorna lá no final do semestre quando a gente voltar para a próxima entrevista. Tá bom?

Entrevistado (S10): - Legal tudo bem.

Entrevistadora: - Obrigada viu.

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ANEXO E – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS FINAIS

Entrevista com a aluna S1 do terceiro semestre matutino.

Entrevistadora: - No final desse semestre, após desenvolver o conteúdo de Dança, como se sente? Queria que você falasse um pouquinho sobre isso. A gente passou pelas vivências né, vimos a linha histórica da dança, é depois vocês fizeram um trabalho e seminário em grupo, quero saber como é que você se sente após esse trabalho.

Entrevistada (S1):- Então foi uma grande novidade descobrir que tem vários outros tipos de dança, descobrir toda a história porque é uma coisa que normalmente não se conhece, foi super interessante.

Entrevistadora: - Você se sente limitado e inseguro ou te transmitiu um pouco mais de segurança em relação à dança?

Entrevistada (S1):- Mais segurança porque através da história, conhecimento, você acaba tendo um pouco mais de segurança.

Entrevistadora: - Se você tivesse que falar pra mim assim 3 palavras para definir dança, assim quando a gente fala em dança a pergunta é, quando a gente fala em dança o que é que te vem à mente, então eu queria que você resumisse em 3 palavras.

Entrevistada (S1):- Expressão corporal, movimento e liberdade.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou para você? Um fato marcante ou uma situação de conflito. Então assim, pensando no decorrer do semestre, o que é que foi mais conflitante e o que o mais te chamou a atenção? O que mais destacou?

Entrevistada (S1):- Hã nosso trabalho que foi sobre dança moderna, foi um choque porque uma coisa muito diferente...

Entrevistadora: - Esse trabalho foi super bom, não acha?.

Entrevistada (S1):- ... e que no final deu tudo certo, foi incrível. Tipo a gente achou que não ia conseguir, mas no final, uma coisa possível de fazer.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento de dança na escola? Na educação física escolar?

Entrevistada (S1):- É super importante e tem que tentar, tem que arriscar.

Entrevistadora: - Você se sente preparado pra introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola?

Entrevistada (S1):- Depois dessa matéria acho que sim.

Entrevistadora: - Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola?

Entrevistada (S1):- Primeiro uma teórica falando sobre linha de raciocínio, como começou a dança e depois uma prática organizada, com os diferentes tipos de dança que existe.

Entrevistadora: - Sobre a citação abaixo, o que você a dizer? Então você pode ler e me falar alguma coisa a respeito.

Entrevistada (S1):- Tá (lendo).

Entrevistadora: - Vou ler para você em voz alta, tá? (e começa e ler). Então assim o que é que você entende dessa citação?

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Entrevistada (S1):- Eu entendi que é uma coisa que vem de dentro pra fora, você já tem isso, você só tem que aprender a expor. E é super importante você conseguir expor essa, esse desenvolvimento...

Entrevistadora: - Colocar pra fora? Trabalhar essa coisa de desinibição? Não é isso?

Entrevistada (S1):- Hã, hã, é isso.

Entrevistadora: - Entendi. Na verdade essa entrevista nossa é mais curtinha, quero agradecer pela participação no meu trabalho, tá bom? Obrigada viu?

Entrevistada (S1):- Obrigada você.

Entrevista com o aluno S2 do terceiro semestre matutino.

Entrevistadora: - N, fala pra mim é, no final do semestre, após desenvolver todo o conteúdo de dança, como você se sente? Sente um pouquinho mais a vontade para trabalhar com esse conteúdo, ou você se sente inseguro? Fala um pouquinho sobre isso.

Entrevistado (S2):- Ah eu achei que ao passar o conteúdo eu achei que, eu percebi que é possível trabalhar na escola, é fácil e importante também, e que pra desenvolver com os alunos, pelo que eu percebi, não é tão complicado, né, é fácil e normalmente pelo menos eu gostei das aulas né, e qual que era a outra pergunta?

Entrevistadora: - Aguarde, vou perguntar, eu vou perguntar. Não, se você se sente inseguro pra trabalhar com dança?

Entrevistado (S2):- Não, acho que não. Pelo que eu percebi.

Entrevistadora: - Tá. É, se você tivesse que me falar 3 palavras ou 3 frases que você conseguisse resumir o que é dança pra você, o que é que te vem à mente quando você pensa em dança?

Entrevistado (S2):- 3 palavras ou 3...

Entrevistadora: - Isso. Associadas à dança né, quando você pensa em dança, o que é que te vem à mente?

Entrevistado (S2):- Alegria, grupo né, acho que... é interação, entre as pessoas, os amigos, os alunos.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Fato marcante ou situação de conflito. Então durante o semestre todo, o que é que mais te chamou atenção como fator positivo e como fator de conflito pra você?

Entrevistado (S2):- Ah de conflito eu acho que as ideias entre uma e outra pessoa do grupo, por exemplo, que nem sempre batem, mas ao mesmo tempo isso é positivo também eu penso, porque aí você vai trocando ideias, você vai aprendendo um pouco mais e acho que o negativo assim seria o conflito mais o positivo a interação, você acaba conhecendo seu colega melhor, e tudo isso.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? Então explicando: se você tivesse na escola, como é que você começaria a desenvolver esse conteúdo com seus alunos? Primeiro você desenvolveria? E como você desenvolveria?

Entrevistado (S2):- Ah eu desenvolveria, acho que eu começaria pela, por exemplo, por uma festa junina, que aí já tá todo mundo, já conhece, aí eu iria passando ideias de outras danças, por exemplo, como dança hip-hop, dança de rua, essas coisas, vendo se os alunos iriam gostar e ir desenvolvendo a partir do gosto deles ou ...

Entrevistadora: - Partindo de uma motivação dos alunos?

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Entrevistado (S2):- Dos alunos.

Entrevistadora: - É, você se sente preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido? Na verdade é um pouquinho do que você respondeu agora. Você já disse que não se sente inseguro né, assim se sente mais preparado, e você começaria pela pelo, por exemplo, por um evento que é a festa junina, é isso?

Entrevistado (S2):- Isso. Por um evento, aí com o passar do tempo iria mostrando outras possíveis danças pra eles, pros alunos e eu ia vendo se eles iam gostando, se eles fossem gostando eu ia passando. Acho que não adianta, se o grupo não gosta, tem passar uma coisa que o grupo gosta né, que os alunos gostam.

Entrevistadora: - Mas assim, só pra eu entender, por exemplo, o grupo não gosta de dança, aí você não vai ministrar, não vai passar dança.

Entrevistado (S2):- Não.

Entrevistadora: - Não?

Entrevistado (S2):- Não, ia passar, ia mostrar pra eles perceberam que acho que um ou outro acaba gostando, acho que a maioria pelo menos sempre acaba gostando. Mas eu ia tentar introduzir de qualquer maneira.

Entrevistadora: - Tá. Eu tenho uma citação aqui, que eu vou dar um tempinho pra você ler e me dizer assim, o que é que você pensa a respeito dessa citação, tá bom? Pode dar uma lidinha enquanto eu dou um pause aqui. Então, lendo essa citação, o que é que você pode me dizer?

Entrevistado (S2):- Bom eu concordo com essa citação, e o que eu entendi é que com a dança você foge dos movimentos e daquele que a sociedade impõe pra você, ou seja, você se descobre, outros movimentos, outras ações, seu corpo, é a parte cultural também, você vivencia outras partes, e meio social, você acaba perdendo um pouco do preconceito com alguma dança ou outra, com, e também preconceito de si próprio acho, de você parar de se reprimir perante a dança, você acaba perdendo essa vergonha de dançar ou... é isso.

Entrevistadora: - Ok N, eu quero agradecer a tua contribuição na minha pesquisa, tá bom, e dizer que a gente encerra por aqui.

Entrevistado (S2):- Ok.

Entrevistadora: - Obrigada.

Entrevista com o aluno S3 do terceiro matutino.

Entrevistadora: - É R, no final desse semestre após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Queria que você falasse um pouquinho livre sobre isso, sente-se mais à vontade para trabalhar esse conteúdo ou sente-se mais limitado ou inseguro, como é que você se sente?

Entrevistado (S3):- Bom em relação a tudo que foi apresentado para mim durante o semestre sobre dança, eu me sinto mais, eu me sinto bem mais relaxado em relação à dança, em relação à esse material, é amplo, diversificado, uma coisa que dá pra você variar muitas vezes, dá pra gente introduzir muitas coisas diferentes além da dança é relacionada, gostei acho que foi uma coisa boa, interessante.

Entrevistadora: - Se você tivesse que traduzir dança pra você em 3 palavras, então o que é que você sente ou quando a gente pensa em dança, ou quando você pensa em dança, o que é que te vem à cabeça? Em 3 frases ou em 3 palavras pra você.

Entrevistado (S3):- Posso definir em uma: liberdade.

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Entrevistadora: - Tá e se eu te pedisse mais duas.

Entrevistado (S3):- Liberdade... mais duas? Leveza talvez é uma coisa muito boa que a dança te traz, mais uma pra... acho que uma coisa sua mesmo, uma expressão sua, é expressão, uma forma de você...

Entrevistadora: - Se expressar?

Entrevistado (S3):- Se expressar é liberdade, leveza e expressão.

Entrevistadora: - Legal. Após ter vivenciado na teoria e na prática a teoria de dança, o que mais se destacou pra você? Então queria que você trouxesse um fator positivo durante o semestre que você se recorda ou que você destaca e um fator de conflito, que foi conflitante pra você.

Entrevistado (S3):- Uma coisa muito boa que aconteceu nesse período todo foi a confraternização, a união da sala com o pessoal, sabe a gente se identificou bastante uns com os outros, eu por sorte consegui me identificar com todos, e o conflito? Ah acho que o maior conflito que eu tive em relação à dança foi o pouco tempo pra me aprofundar, pra conhecer mais, foi pequeno, o espaço de tempo foi pequeno, dava pra expandir mais, eu acho.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? Então, pensando Robson que você esteja numa escola e que você esteja de frente para o fato de desenvolver a dança na escola, por onde você começaria, como é que você vê isso, qual sua opinião sobre isso?

Entrevistado (S3):- Bom em primeiro lugar eu acho a dança é importantíssima, é importantíssimo você ter na grade curricular da escola porque é onde você pode colocar diversas, você olha mais ou menos assim, coloca diversos tipos de pessoas, com pensamentos diferentes, com atitudes diferentes, com sabe, é algumas tímidas, algumas já mais soltas e quando você pode tipo fazer uma junção e colocar todos, todos esses alunos, fazer essas crianças ou esses adolescentes num círculo só, no caso a dança, você coloca eles juntos e você tenta explorar o que cada um deles tem a oferecer em relação a isso, meu você pode se surpreender, às vezes você tem um cara que muitas vezes é um encrenqueiro e com a dança ele se torna uma pessoa totalmente gentil, uma pessoa totalmente cheia de expressão sabe, pessoa deliberada daquela ação que ele é acostumado a ter e passa a ser outra pessoa, entendeu. Ou na verdade ser o que ele realmente é, porque dança é isso, uma coisa que te torna mais você não o que os outros veem de você e uma forma boa pra você, que você perguntou pra...

Entrevistadora: - Como você conduziria o seu trabalho na escola? Por onde você começaria, como é que você conduziria esse trabalho na escola?

Entrevistado (S3):- Ah eu acho que eu colocaria isso como um, com grupos pequenos de, como dizer assim, sabe é pegaria um grupo pequeno de crianças ou de adolescentes e tentaria buscar o que cada um deles gosta sobre a música e trabalharia em cima disso, tipo tem uns que gostam mais de forró, outros gostam mais de rock, outros que gostam mais de sertanejo. Eu chamaria a atenção deles pra aquilo que eles gostam de ouvir, em cima disso eu procuraria fazer um trabalho onde todos aprendessem a gostar, não que fosse mudar a opinião, mas que todos aprendessem a conhecer todos os estilos e quem sabe não se identificariam mais uns com os outros né? Com as músicas que tem, com os estilos.

Entrevistadora: - Entendi.

Entrevistado (S3):- Acho que é isso.

Entrevistadora: - Eu vou te dar uma citação pra você ler, vou te dar um tempinho pra você pensar, o que é que você tem a dizer depois que você faz a leitura dessa citação. Tá bom? Robson, após a leitura, o que é que você pode me dizer dessa citação, você discorda do autor, você concorda? O que é que você coloca como relevante nessa citação?

Entrevistado (S3):- Bom eu concordo com o que ele diz nessa citação devido ao fato que acima de tudo dança é, eu acredito que seja uma forma de você sentir bem consigo mesmo, porque quando você tá dançando e você fecha os olhos, que você se deixa levar pela música, faz movimentos

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voltados pra música, você não tá preocupado se você tá dançando bem, se você está fazendo os passos certos, você simplesmente quer sentir a música, quer poder se libertar, quer poder ser esquecer qualquer tipo de coisa que esteja acontecendo naquele momento, mas você se sente mais livre, e isso traz benefícios, psicologicamente, como fisicamente, e eu acredito que dançar, como eu já tinha dito da última vez, é uma expressão da alma, assim como por eu gostar de luta, eu acredito que a luta também seja entendeu?

Entrevistadora: - Então quer dizer que assim, é assim que você pensa que a dança deve ser conduzida dentro da escola?

Entrevistado (S3):- Sim, como uma forma de você, vamos dizer assim num termo mais leigo, se livrar de tudo o que te incomoda e se libertar nem que seja por uma hora, 50 minutos, por 40 minutos, mas se dar o prazer de sentir algo que não seja ocupações nem problemas tá? Acho que é isso.

Entrevistadora: - Muito obrigada, quero agradecer à contribuição de vocês na minha pesquisa e agradeço muito. A gente finaliza por aqui. Tá bom?

Entrevistado (S3):- Tá bom.

Entrevista com S4 terceiro matutino.

Entrevistadora: - No final desse semestre após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Então eu queria que você falasse um pouquinho sobre isso, se você se sente mais à vontade pra trabalhar esse conteúdo ou se ainda se sente inseguro?

Entrevistado (S4):- Sinto mais à vontade, a insegurança deu uma quebrada já no gelo já, porque no início tava meio complicado.

Entrevistadora: - Tá. O que te vem à mente quando você pensa em dança? Então assim se você tivesse que me falar em 3 palavras o que é que resume dança pra você?

Entrevistado (S4):- Coordenação, atitude e confiança.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Então o que eu quero saber é o seguinte, durante o semestre todo, o que foi mais conflitante pra você, o que você viu como negativo, o que foi mais difícil pra você enfrentar e o que te marcou no sentido positivo, que foi bom pra você. Você lembrando-se das nossas práticas de tudo o que a gente vivenciou de dança.

Entrevistado (S4):- No início a comunicação em grupo, isso seria um ponto negativo e decorrer do tempo o positivo que vamos dizer quase no final vieram se achando né, vieram mostrar mais interesse.

Entrevistadora: - Interesse?

Entrevistado (S4):- Interesse assim do grupo e até mesmo meu.

Entrevistadora: - Entendi. É, após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? O que é que você acha de trabalhar dança na escola?

Entrevistado (S4):- Pelo meu ponto de vista dança é importante mais pela, é trabalhar a parte cognitiva do aluno, a coordenação do aluno, a comunicação, o convívio com os colegas, até mesmo pra quebrar o gelo né, eu mesmo no começo, falava de dança pra mim era meio que pra mim já ficar com o pé atrás, hoje em dia não, levo isso tranquilo.

Entrevistadora: - Você se sente preparado pra introduzir o conteúdo de dança na escola? Então isso seria uma pergunta, e você estando na escola, pra você introduzir o conteúdo de dança, como é que você iniciaria, como é que você pensa em começar?

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Entrevistado (S4):- Sim, acredito que estou mais preparado. Dependendo da faixa etária, através da ludicidade, da brincadeira, através da brincadeira que eu creio que ia sair um bom trabalho.

Entrevistadora: - Entendi. Agora eu tenho aqui uma citação pra você ler e me dizer assim, se você concorda, se você não concorda o que é que você pensa?. Então eu vou dar uma desligada, você lê e aí a gente volta tá? JC você concorda com essa citação do autor, o que é que você pensa sobre isso?

Entrevistado (S4):- Sim concordo, que até mesmo assim, no ponto de vista aqui teria que trabalhar com o aluno a partir daquilo que ele traz, pra ele se sentir mais à vontade, não se sentir acanhado e não como uma regra, tem que fazer, tem que ser assim até o final, impor vamos dizer, por etapas né e trabalhando em cima disso, ele trazendo a cultura dele, trazendo as experiências dele, em cima disso deixaria ele mais à vontade e seria mais fácil pra trabalhar.

Entrevistadora: - Trabalhara dança?

Entrevistado (S4):- A dança.

Entrevistadora: - Tá então você compartilha da opinião do autor.

Entrevistado (S4):- Com certeza.

Entrevistadora: - C eu quero agradecer sua entrevista e contribuição no meu trabalho tá bom? Muito obrigada.

Entrevistado (S4):- De nada.

Entrevista com aluno S5 terceiro matutino.

Entrevistadora: - No final desse semestre, após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Queria que você falasse um pouquinho mais sobre isso, você se sente mais a vontade pra trabalhar com conteúdo de dança ou ainda se sente inseguro, incapaz, como você se sente?

Entrevistado (S5):- Hoje eu me sinto mais preparado, porque a dança ela é a continuidade do movimento humano, ela não se resume né, e você pode trabalhar várias outras coisas com a dança, habilidade motora, enfim, esse é, eu tô mais à vontade mesmo pra, e mais preparado pra trabalhar a dança na escola.

Entrevistadora: - O que vem à mente quando você pensa em dança? Paulo queria que você me falasse assim, em 3 palavras, quando você, quando te falam em dança, você sintetizasse ou me colocasse 3 palavras que, que resumisse dança pra você.

Entrevistado (S5):- Dança. Sociabilização, movimento humano e uma arte.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Então queria que você colocasse assim, durante o decorrer do semestre, quando a gente trabalhou o conteúdo de dança, o que mais foi conflitante pra você né, o que mais você sentiu dificuldade, o que não foi muito positivo e ao contrário, o que mais foi positivo, o que mais foi agregou sem sua formação, que foi interessante pra você?

Entrevistado (S5):- Bom é, ponto positivo foi justamente a interação, a sociabilização com as pessoas, é o conteúdo que foi passado e assim, é uma maneira que você consegue se superar né, se soltar entre as pessoas. O ponto negativo eu acho que é justamente, como que eu posso dizer, é...

Entrevistadora: - O que é que você gostaria de falar em relação a isso?

Entrevistado (S5):- Assim o modo de trabalhar, porque tem vários fatores que impedem às vezes a pessoa tem vergonha, nunca dançou, nunca, sabe às vezes não tem essa cultura da dança, então assim esse é um ponto negativo, você conseguir trabalhar com as pessoas, é nesse aspecto.

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Entrevistadora: - Questão da experiência anterior; é isso?

Entrevistado (S5):- Isso. A cultura, a bagagem que a pessoa traz.

Entrevistadora: - Entendi. É, após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? O que é que você pensa sobre o desenvolvimento desse conteúdo na escola?

Entrevistado (S5):- Bom, um conteúdo que é pouco trabalhado né, muito pouco trabalho. Então hoje nós temos na escola o tradicional que vem a décadas, que é handball, voleibol, basquetebol, então assim a dança ela assim ela é uma base também, que você consegue atingir vários leques do ser humano.

Entrevistadora: - Como você se sente, ou você se sente preparado para introduzir ou trabalhar o conteúdo de dança na escola?

Entrevistado (S5):- Bom aí depende né, muito, aí vai depender do que a escola tem pra gente trabalhar. Esse é um conteúdo que eu ultimamente eu tenho passado na escola, fazendo um estágio e semana passada eu fui pra escola e o que é que aconteceu? Lá só tinha basquete, vôlei e aquilo. A dança em nenhum momento foi citada, inclusive conversando com a professora, nada de dança, só conteúdo prático, esporte, isso, aquilo, aquilo. Então assim a gente tem um déficit né de não existir a dança. Hoje teria que ter um planejamento, teria que ter uma estrutura né, então hoje eu saio com base, tô saindo com base, com essa base e pretendo trabalhar da melhor forma possível.

Entrevistadora: - Então aí, complementando essa pergunta, tenho outra que preciso saber que é o seguinte, você estando numa escola, conduzindo o trabalho de educação física, pra introduzir o conteúdo de dança, como é que você introduziria, como é que você iniciaria esse conteúdo com os seus alunos?

Entrevistado (S5):- Bom...

Entrevistadora: - Pensando no que a gente vivenciou, entendeu. Você vai ou você tem essa função de introduzir o conteúdo de dança pros seus alunos, como você iniciaria?

Entrevistado (S5):- Bom acho que aí entraria a ludicidade, que é uma forma de você desenvolver, trabalha com movimento do corpo mais natural da pessoa que é assim o movimento. Eu acho que a dança é o movimento natural do ser humano, assim, com ritmo ou sem você tá fazendo isso. Então eu a partir da ludicidade eu ia introduzir a dança.

Entrevistadora: - Tá. Eu tenho uma citação aqui agora que eu vou pedir par você ler e me dizer o que você acha sobre ela, então eu vou dar uma pausa, você vai dar uma lida e a gente volta tá? Pode falar Paulo, você concorda com a citação, você discorda né? Que argumento você constrói com essa citação?

Entrevistado (S5):- Bom eu concordo, concordo porque a dança tem tudo a ver com nós seres humanos né então a gente ficar a mercê só das atividades esportiva e desportiva fica uma situação meio monótona. Então a dança tem que ser trabalhada sim e a partir do movimento do ser humano. Esse é...

Entrevistadora: - Tá então o que ele diz aí, trazer pra escola a dança como uma atividade pedagógica você consegue visualizar isso?

Entrevistado (S5):- Sim.

Entrevistadora: - Tá, tá bom. É só isso, eu quero te agradecer pela entrevista, pela contribuição no meu trabalho. Obrigada.

Entrevistado (S5):- Adorei, eu gostaria de ser melhor, mas como é, você vai falar o que você pensa, não tem como, mas não me preparei nada. Então não sei se foi válido.

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Entrevista com aluno S6 terceiro semestral noturno.

Entrevistadora: - No final desse semestre após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Fale um pouquinho sobre isso. Se sente mais à vontade para trabalhar o conteúdo de dança ou você se sente mais limitado e inseguro?

Entrevistado (S6):- Ah me sinto mais à vontade, me sinto mais à vontade tenho mais segurança né com o que eu já tive de aprendizado então eu acho que eu me sinto mais à vontade para trabalhar com dança.

Entrevistadora: - O que é que vem à mente se você tivesse que me falar 3 palavras a que se refere a dança ou significa a dança pra você. Que 3 palavras você falaria?

Entrevistado (S6):- Liberdade, expressão e vivência.

Entrevistadora: - Tá. Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Então eu queria que você falasse algo de positivo que você lembra que te aconteceu ou de interessante que te marcou positivamente e algo que foi uma situação conflitante, uma situação de conflito que foi negativo pra você.

Entrevistado (S6):- De interessante que eu achei assim foi a né vivência com o grupo também, entendeu, uma vivência boa, que nem todos sabiam dançar assim né e não tinham experiência com dança. E também há um conflito né, como o pessoal não sabe dançar também, sempre um quer dar uma opinião a mais, outros já não querem. Mas o pessoal tem que saber ouvir e foi legal porque no final todo mundo, tudo deu certo, e no final deu certo, fizemos a dança e ficou espetacular.

Entrevistadora: - Então o conflito que você tá querendo me dizer assim, foi com relação à situação do grupo?

Entrevistado (S6):- Isso.

Entrevistadora: - O relacionamento do grupo? É isso?

Entrevistado (S6):- Isso.

Entrevistadora: - Mas aí depois...

Entrevistado (S6):- Depois...

Entrevistadora: - Foi tranquilo?

Entrevistado (S6):- Tranquilo.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual a sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar?

Entrevistado (S6):- Ah o desenvolvimento tá sendo o máximo assim né, por tá podendo expandir né...

Entrevistadora: - O que é que você acha de trabalhar a dança na escola?

Entrevistado (S6):- Eu acho maravilhoso, é um modo é novo, é um modo das pessoas também poder se expressar dentro da escola porque muitas escolas não gostam né. Quando colocam a dança por causa há um preconceito às vezes já da escola entendeu, eles evitam isso né pra não ficar mal a escola antes de acontecer o preconceito eles já cortam e inserir a dança na escola acho que vai melhorar bastante, acho que vai ser uma coisa muito boa.

Entrevistadora: - Como você se sente preparado para introduzir este conteúdo de dança na escola? Então assim, como você começaria esse trabalho dentro da escola?

Entrevistado (S6):- Ah eu começaria com a apresentação da dança, apresentando como é que surgiu, como é que deve ser feito, respeitando os limites de cada pessoa ali, conversando com os alunos, ver

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o que eles mais gostam, deixam de gostar, e assim a gente vai encaixando certinho até a hora que acontece.

Entrevistadora: - Seria um ponto de partida?

Entrevistado (S6):- Ponto de partida.

Entrevistadora: - Então agora é assim, eu tenho uma citação aqui que eu vou dar um tempinho pra você ler essa citação e depois você me dizer se você concorda, se você discorda, se você partilha das mesmas ideias, o que é que você acha tá? Pode falar R, o que você entendeu, o que fica pra você dessa citação?

Entrevistado (S6):- è eu concordo com ela, porque a dança tem que ser uma de expressão, tem que ser livre, a criatividade da dança, porque ficar uma coisa meio padronizada fica chato, fica sempre a mesma coisa, então com a liberdade de criação fica mais fácil das pessoas se é, terem a liberdade de criar. Então fica bem mais fácil as pessoas irem se soltando, a pessoa fica feliz com você, com ela mesma, então fica bem mais fácil. De se aprender e deixar as pessoas aprenderem.

Entrevistadora: - E você pensa que é possível desenvolver isso na escola?

Entrevistado (S6):- É possível sim, com certeza.

Entrevistadora: - Então tá, quero agradecer sua contribuição na pesquisa e agradecer sua entrevista também.

Entrevistado (S6):- Obrigado você.

Entrevistadora: - Obrigada viu.

Entrevista com a aluna S7 do terceiro semestre noturno.

Entrevistadora: - M, no final desse semestre, após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Queria que você falasse um pouco sobre isso. Se sente mais à vontade pra trabalhar o conteúdo ou se sente mais limita e insegura?

Entrevistada (S7):- Eu me sinto mais à vontade né, eu gostei muito da disciplina e ainda mais com o trabalho prático, eu me surpreendi em como eu consegui me desenvolver, como eu acabei gostando da dança, não imaginava que eu fosse gostar tanto, e gostei de toda história, de todos os tipos de dança. Então eu acho que eu me sinto agora me sinto mais capacitada, não totalmente, mas mais do que antes.

Entrevistadora: - Se você tivesse, se eu te pedisse pra definir em 3 palavras o que a dança significa pra você, o que você, em 3 palavras, o que você pode, o que a dança representa pra você? Quer dizer, que palavras seriam essas?

Entrevistada (S7):- Acho que liberdade, sentimento e expressão.

Entrevistadora: - Tá. Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Então eu queria que você colocasse uma situação de conflito, uma situação negativa que você vivenciou e um fato marcante, uma descoberta, uma situação positiva que você vivenciou.

Entrevistada (S7):- Que tenha acontecido comigo ou com...

Entrevistadora: - Durante o semestre na aplicação do conteúdo. Pode ser com o grupo, com a sala, junto com você. Mas agora assim, com você, relacionado a você entendeu?

Entrevistada (S7):- Eu acho que sempre em relação à dança todo mundo tem aquela vergonha né, falta de coordenação, então acho que eu tive um pouco de dificuldade nisso, às vezes até me limitava

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a fazer algumas coisas né. Eu na verdade eu podia, mas com medo eu me limitava a fazer algumas coisas, então eu encontrei um pouco desses impasses. Mas ao mesmo tempo eu acabei descobrindo que eu posso muito mais do que poderia. Então digamos eu libertei mais meu corpo nas apresentações, abri mais minha mente para esse universo da dança. Então ao mesmo tempo que eu senti um pouco de dificuldade com essa coisa de expressão do corpo, eu consegui me libertar muito em outras partes.

Entrevistadora: - Após ter vivenciando na teoria e na prática o conteúdo, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? Então, é o que é que você pensa do desenvolvimento da dança dentro da escola?

Entrevistada (S7):- Eu acho que infelizmente não é aplicado, mas acho seria uma das principais, um dos principais conteúdos a ser aplicado, porque os alunos tem muito essa coisa de vergonha, de preconceito com o próprio corpo e com o outro, então acho que a dança tira muito isso né. Então essa coisa de desinibir o aluno, desenvolver esse lado nele, de menos preconceito com ele mesmo, com o outro, de poder se expressar melhor através do corpo, ou palavras mesmo, eu acho que a dança ajuda muito nisso.

Entrevistadora: - É relacionado a essa pergunta, para você conduzir o conteúdo dentro da escola, você estando dentro da escola, como você conduziria? Então assim eu queria que você falasse alguma coisa de como você pensa em ou pensaria em introduzir esse conteúdo com os seus alunos na escola? Por onde você começa? Mais ou menos por aí a pergunta.

Entrevistada (S7):- Acho que como sempre né, vendo é como a dança faz parte da vida deles né, então qual a cultura que eles tem, qual a cultura que eles tem sobre a dança, e a partir da visão e da cultura que eles tem, tentar trazer um pouco isso, se eles tem aquela cultura do funk, ou do samba de raiz, tentar puxar um pouco desse lado, mostrar coisas que talvez eles não saibam, conhece a cultura mais não sabe a história, e tentar desenvolver isso com eles, mostrar pros outros alunos da cultura que cada um tem sobre a dança e mostrar que também além da cultura que eles conhecem, tem outras. Então os fazerem conhecerem as danças e desenvolverem.

Entrevistadora: - Olha, eu vou pedir pra você ler uma citação que eu tenho aqui e depois eu queria que você fizesse alguns comentários sobre essa citação, o que você pensa, se você concorda, se você não concorda, vou dar uma pausa aqui tá? Então vamos lá, lendo essa citação, o que é que você me diz né, sobre ela.

Entrevistada (S7):- É, eu concordo com ela, a dança tem que desenvolver todos esses aspectos, elas desenvolvem todos esses aspectos e acho que com o dia-a-dia, correria ou os modelos que a gente tem, a gente acaba privando o corpo e limitando um pouco nossos movimentos. Então a dança vem pra poder libertar mais isso, além de desenvolver todo aspecto afetivo, também tem isso né, libertar um pouco dessa rotina que a gente tem né, mostrar pros alunos além disso. Acho que é isso.

Entrevistadora: - M quero te agradecer, por você ter contribuído na minha pesquisa tá, e a gente finaliza por aqui. Obrigada viu?

Entrevistada (S7):- Obrigada você.

Entrevista com a aluna S8 do terceiro noturno.

Entrevistadora: - No final desse semestre, após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Queria que você falasse um pouquinho sobre isso. Se sente mais à vontade para trabalhar o conteúdo ou mais insegura?

Entrevistada (S8):- Ah eu me sinto mais à vontade, metodologia que foi empregada, à matéria, deu pra acrescentar mais os meus conhecimentos e segurança de trabalhar o conteúdo na escola.

Entrevistadora: - Se você tivesse que definir pra mim dança em 3 palavras, quais seriam elas? Quando você se lembra de todas as suas vivências, o que significa dança pra você em 3 palavras?

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Entrevistada (S8):- Expressão, movimento, sentimento.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Queria que você falasse uma situação marcante que foi positiva e uma situação de conflito, negativa durante as suas vivências nesse semestre. Nos trabalhos que você fez... Pode falar Cintia, um fator positivo e um fator conflitante que foi negativo.

Entrevistada (S8):- Ah o que foi conflitante foi o trabalho em grupo, no começo foi difícil acertar a cultura, os passos, a música com o meu grupo né, a vestimenta, os meninos não concordavam e tudo mais.

Entrevistadora: - E o positivo?

Entrevistada (S8):- Positivo foi a oportunidade de vivenciar outras culturas, conhecer essas danças né, esses diferentes tipos de dança.

Entrevistadora: - Ok. Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? Então desenvolver a dança na escola, o que você pensa sobre isso?

Entrevistada (S8):- Ah é um fator positivo porque pra dança você usa, é como é que fala, capacidades ou habilidades motoras muito fáceis né, aí dá pra desenvolver melhor, igual forró, dois passos pra lá e dois passos pra cá, fácil a criança aprende.

Entrevistadora: - Você se sente preparada para introduzir o trabalho do conteúdo de dança, como é que você começaria a introduzir esse conteúdo na escola?

Entrevistada (S8):- Ah primeiro faria aquela sondagem né, o que é que você conhece? O que é que você conhece de dança? Qual foi sua cultura? Na sua casa tem um forró, tem um pagode, tem... Aí eu trabalharia em cima do conhecimento da criança.

Entrevistadora: - Sobre a citação abaixo, o que você tem a dizer? Então eu gostaria, vou pausar um pouco, eu gostaria que você lesse essa citação e me dissesse o que você pensa sobre ela, se você concorda, se você discorda, o que é que você pensa. Diga Cintia, o que é que você pensa sobre essa citação?

Entrevistada (S8):- Eu concordo com a citação da autora e do autor né, porque ele permite que a criança vivencie a dança como conteúdo escolar livremente, não é um exercício padronizado, não tem um padrão, igual balé, ah vai fazer assim, só desse jeito, não é. Permite né a liberdade de expressão, entre outros aspectos e os motores.

Entrevistadora: - Ok, obrigada Cintia pela sua colaboração e a gente encerra a sua entrevista por aqui, tá bom? Obrigada.

Entrevista com a aluna S9 do terceiro semestre noturno.

Entrevistadora: - G, no final desse semestre após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Queria que você falasse um pouquinho sobre isso.

Entrevistada (S9):- Sinto-me muito bem, é uma área que eu vejo que é o meu foco mesmo, de atuar lá na frente formada já. Pretendo fazer a minha pós em dança também e era o que eu esperava, muito gratificante.

Entrevistadora: - Quando você fala em dança, quando a gente fala em dança o que é que te vêm à mente, eu gostaria que você conseguisse em 3 palavras sintetizar o que é dança pra você.

Entrevistada (S9):- Espiritualidade, harmonia e sentimento.

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Entrevistadora: - Tá. Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Queria que você falasse sobre um fato marcante do terceiro semestre durante a disciplina, durante o conteúdo, e o que mais foi conflitante, porque vocês tiveram trabalho em grupo tal, então pensando no desenvolver do semestre, o que mais marcou e que mais foi conflitante pra você?

Entrevistada (S9):- Bem, o que mais marcou foi a nossa apresentação de dança de rua né, que era realmente o que eu queria abordar, né o tema dança urbana e o mais conflitante foi tentar elaborar o trabalho teórico, porque todo mundo trabalhava, ninguém tinha tempo, aí foi difícil da gente se reunir pra, não você faz essa parte, você faz essa outra parte, acho que só nesse ponto foi um pouco conflito.

Entrevistadora: - Com relação ao tema que você pegou, a desenvolver a coreografia, você não sentiu dificuldade?

Entrevistada (S9):- Nenhuma.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre desenvolvimento da dança na educação física escolar? Desenvolver dança na escola, o que é que você pensa sobre isso? Após tudo o que a gente trabalhou, como é que você pensa né, o que é que você pensa sobre desenvolver esse conteúdo na escola?

Entrevistada (S9):- Nossa tem que ter, vou, eu quero fazer um estágio agora e as professoras falam assim, dá o alongamento, e a gente quer ir lá e mostrar o que a gente aprende né, acho super importante dança na escola e é o que eu quero fazer quando eu for professora.

Entrevistadora: - Você se sente preparada para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola?

Entrevistada (S9):- Sim.Estou preparada.

Entrevistadora: - Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola?

Entrevistada (S9):- É, eles devem ser bem sintetizados né, com, sendo conversado com os professores, e também ter uma base teórica e uma e uma base prática né, fazer com que os alunos demonstrem os vários conhecimentos deles e não ser sempre jogo, jogo, jogo e assim abranger os conhecimentos.

Entrevistadora: - Vou te entregar uma citação para você ler e eu queria saber depois a sua opinião, oque é que você pensa ao ler essa citação, o que é que te vem à cabeça? Tá, que é essa daqui.

Entrevistada (S9):- Bem o ensino nas escolas é super importante porque ele vai atingir todos os sentidos da pessoa né, ela vai se soltar mais, ela vai é se interagir com o movimento e ver que aquilo não é tão um bicho de sete cabeças, vamos dizer assim, Então isso move o corpo, ele é super importante porque ele tá vinculado com todos os nossos sentimentos.

Entrevistadora: - Ok, quero agradecer sua entrevista tá bom? De ter contribuído para a minha pesquisa, obrigada viu?

Entrevistada (S9):- De nada.

Entrevista com aluno S10 do terceiro semestre noturno.

Entrevistadora: - M, no final desse semestre, após desenvolver o conteúdo de dança, como se sente? Fale livremente sobre isso.

Entrevistado (S10):- Ah eu me sinto um pouco mais solto né, na desenvoltura assim, ritmo, porque eu tinha medo de dança agora não tenho tanto mais medo né. Simplificou um pouquinho mais a dança pra mim, era complicado e simplificou.

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Entrevistadora: - Na verdade assim, sente-se mais a vontade pra trabalhar esse conteúdo ou sente-se mais inseguro, mais limitado?

Entrevistado (S10):- Bem mais seguro viu. Não é mais só cultural só, cultural não, sazonal né.

Entrevistadora: - Entendi. O que vem à mente, por exemplo, se você tivesse que definir dança ou falar pra mim o que significa dança pra você em 3 palavras? Quais seriam elas?

Entrevistado (S10):- Movimento corporal e ritmo.

Entrevistadora: - 3.

Entrevistado (S10):- Ah tá, movimento corporal, ritmo e alegria.

Entrevistadora: - Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, o que mais se destacou pra você? Então queria que você colocasse durante o semestre o que foi, o que te marcou positivamente e o que mais foi situação de conflito?

Entrevistado (S10):- Ah no caso o trabalho em grupo né, a troca de ideia e às vezes...

Entrevistadora: - Isso foi o positivo (falaram juntos).

Entrevistado (S10):- Isso, a troca de ideia com os companheiros e a parte negativa é que alguns não aceitam a opinião de outros né, aquela briga, cada um quer impor sua opinião. Então no caso um pouco negativo isso aí.

Entrevistadora: - Isso no trabalho que vocês fizeram em grupo né?

Entrevistado (S10):- Isso, em grupo.

Entrevistadora: - Com relação ao estilo de dança que ficou seu grupo?

Entrevistado (S10):- Isso.

Entrevistadora: - É isso?

Entrevistado (S10):- Dança moderna.

Entrevistadora: - Tá. Após ter vivenciado na teoria e na prática o conteúdo de dança, qual sua opinião sobre o desenvolvimento da dança na educação física escolar? Então o que é que você pensa da dança na escola? De desenvolver a dança na escola?

Entrevistado (S10):- Bom eu acho que ela é importante, porque acaba sendo a base né, básica pra tudo né. Então tudo que a criança vai fazer como, lançar uma bola, chutar, correr, driblar né, é uma coisa rítmica. Então a dança ajuda nesse ponto.

Entrevistadora: - Você se sente preparado para introduzir e trabalhar o conteúdo de dança na escola? Né você diz que se sente até um pouquinho mais seguro, você respondeu. Como você considera que esse trabalho deve ser conduzido na escola? Então assim você é professor de uma escola, não importa se é privada ou pública, e você vai iniciar o conteúdo de dança com seus alunos, você vai trabalhar com eles. Como é que você conduziria esse conteúdo?

Entrevistado (S10):- Bom inicialmente pra não assustar os alunos né ia começar com o que eles gostam que é a música né, batida de música. Aí na sequencia da batida de música que eles pegarem o ritmo, aí passaria um pouquinho da história da dança inicialmente, aí ia começar com a parte da dança que eles escolhessem...

Entrevistadora: - Ritmo, estilo...

Entrevistado (S10):- Isso, eles iam escolher o que eles queriam fazer.

Entrevistadora: - Entendi. Hã, eu vou te dar uma citação pra você ler, vou dar um tempo aqui e você vai me dizer se você concorda, se você não concorda, se você partilha da mesma opinião que o

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autor, você vai me dizer alguma coisa sobre essa citação. Tá bom? Márcio, após a leitura dessa citação, o que é que você me diz?

Entrevistado (S10):- Eu concordo com o autor né, porque realmente na escola as coisas são muito assim, é fixo, sempre bola, chuta sempre igual, lança bola sempre igual, as crianças correm sempre igual. No caso das artes marciais é aquele negócio duro, travado, sem ritmo. No caso aqui eu concordo que tem que ter um pouco mais solto, cada um tem que por um pouco de si, no que aprende né, não é só o que tá pronto, tem que ensinar a criança, estimular a criança a coisas novas.

Entrevistadora: - E você acredita que a dança traz isso?

Entrevistado (S10):- Traz, traz. Eu tenho um filho de 3 anos lá, o menino é bem, bem criativo.

Entrevistadora: - Solto.

Entrevistado (S10):- Bem solto.

Entrevistadora: - Então tá, quero agradecer a sua entrevista e sua contribuição na minha pesquisa, tá bom?

Entrevistado (S10):- Ok.

Entrevistadora: - Obrigada viu.

Entrevistado (S10):- De nada.