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Manuel Albano Angola alberga a partir de hoje e até domingo, a Bienal de Luanda – Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, uma plataforma criada para pro- mover a diversidade cultural e a unidade africana. A bienal, que é realizada em 2019 e 2021, é vista como uma oportunidade sublime para demonstrar que é pos- sível aproximar os africanos pela cultura de paz, e encon- trar pontos comuns nos tra- ços culturais, tanto os inter- nos quanto externos, assim como esbater os ódios e quais- quer outros estereótipos, que existem entre os povos, como defendeu a ministra da Cultura, Maria da Pieda- de de Jesus. A juventude, as mulheres e as crianças são os princi- pais focos dos Fóruns de Re- flexão da Bienal de Luanda, que é também encontro es- pecial entre os actores e par- ceiros de um movimento Pan-africano para a preven- ção da violência e dos con- flitos e para a consolidação da Paz. “Pretendemos, com isso, que a mensagem da bie- nal seja multiplicada em todos os países”, disse Maria da Piedade de Jesus. Ambientalista destaca co- operação regional A importância de se encon- trar políticas concretas e práticas para os incentivos a cooperação regional na busca de conhecimentos que possam resultar em soluções sociais e econo- micamente justas, viáveis e ambientalmente susten- táveis, é uma das propostas desta bienal, a ser apresen- tada pelo ambientalista Vla- dimir Russo. O especialista, que actual- mente exerce funções de di- rector técnico da empresa Holísticos e de director da ONG Fundação Kissama, disserta sobre “O papel do conhecimento no desenvol- vimento de África”. Para Vladimir Russo, a investigação científica e a for- mação de quadros devem fa- zer parte do desenvolvimento de uma África livre de con- flitos. “A apresentação vai incidir sobre estes aspectos e os desafios do país na gestão da região da bacia hidrográ- fica do Cubango”. Em declarações ao Jornal de Angola, o ambientalista espera que a bienal possa representar um marco his- tórico importante por dar aos jovens a oportunidade de apresentarem ideias vira- das para o desenvolvimento do continente. “Como jovem, pretendo apresentar contribuições sobre a importância do diá- logo e da partilha sustentável de recursos como ferramen- tas essenciais para uma ade- quada gestão dos recursos naturais”, disse. Para o ambientalista, Áfri- ca só pode aumentar a par- ticipação na produção cien- tífica mundial e enfrentar os desafios da globalização, com um maior investimento na formação de quadros, liga- dos a investigação científica. “Sem conhecimento, tecno- logia e motivação não será fácil enfrentar os desafios da globalização”. Vladimir Russo é Mestre em Educação Ambiental pela Universidade de Rhodes na África do Sul e possui forma- ção profissional e experiência na área de consultoria e edu- cação ambiental. Exposição colectiva “Luanda ididi ya ufolo” A Brigada de Jovens Artistas Plástico (BJAP) também asso- ciou-se a Bienal de Luanda e durante os cinco dias de acti- vidade vai apresentar várias propostas inovadoras no domí- nio da criação artística. De acordo com o coorde- nador da BJAP, Adão Mussungo, está a ser montada uma mostra colectiva, com trabalhos de Serafim Serlom, Armando Scooth, Woulofe Júlio Pinto, Ladislau Cuseka Erick Tozi Kalengo e o próprio. Quem visitar o espaço da BJAP, garantiu, vai ser sur- preendido com uma pintura, no formato painel, de três metros, com o tema “Luanda ididi ya ufolo”, como parte do conceito da Cultura da Paz. Para os jovens criadores, assegurou, a bienal representa um momento ímpar e de visi- bilidade na carreira artística. Os custos para organizar o encontro da Paz A Unesco e os outros parceiros de Angola, na organização da bienal, disponibilizaram, ini- cialmente, 500 mil dólares para aliviar a “pressão finan- ceira” do Estado angolano. Até ao momento, os par- ceiros têm estado a financiar os custos da bienal. No final, explicou a coordenadora na- cional, Alexandra Aparício, vai ser feito um relatório dos custos definitivos. Alexandra Aparício adian- tou ainda que todas as con- dições foram criadas para que os cenários estejam prepa- rados para os visitantes. A orga- nização, acrescentou, vai tra- balhar também com o Co- mando Geral e o Provincial da Polícia Nacional, para garantir a ordem e tranquilidade. Projecção de zonas de lazer para crianças Embora essa edição não tenha contemplado espaços temá- ticos específicos de debates para crianças, a organização criou uma programação inte- ractiva, lúdica e bastante re- creativa dedicada a esta ca- mada, dirigida especialmente ao ensino primário. O especialista, que actualmente exerce funções de director técnico da empresa Holísticos e de director da ONG Fundação Kissama, disserta sobre “O papel do conhecimento no desenvolvimento de África” UNIDADE AFRICANA CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO A coordenadora nacional informou que apenas a se- gunda edição da bienal vai contemplar espaços de deba- tes para as crianças expres- sarem, de forma organizada, qualquer ideia. Autocarros de acesso aos espaços A organização vai disponi- bilizar transportes especí- ficos, para facilitar que os visitantes possam ter acesso às zonas programadas das actividades, em especial as culturais, a serem realizadas no Museu de História Militar. Os autocarros vão ficar em pontos estratégicos, devida- mente identificados. O objec- tivo inicial é permitir um maior acesso do público, com realce para os estudantes. Os demais autocarros vão ser usados durante as excursões pelos monumentos nacionais. Locais de actividade e eventuais mudanças A Fortaleza de São Miguel foi escolhida devido o valor his- tórico e cultural do espaço, como explicou Alexandra Aparício. “É um local carre- gado de simbolismo histórico. Por isso, realizar a bienal neste espaço, que é parte do passado histórico do país é uma forma de mostrar o espírito de uma cultura de paz. A organização prevê ain- da alargar os espaços de ex- posição para os Largos do Pelorinho e Bailezão, tidos como as melhores alterna- tivas para os demais expo- sitores, apresentarem pe- quenas performances. Porém os interessados de- vem fazer uma prévia ins- crição. A ideia é tornar a bienal o mais inclusiva possível e uma plataforma de visibili- dade para os jovens. “Alguns espaços da Baixa de Luanda vão ser maximizado, para criar uma maior interacção entre os países convidados e as comunidades”, explicou Alexandra Aparício. A aposta no crescimento do turismo cultural Mostrar as potencialidades do país, principalmente de Luanda, e não apenas as mani- festações culturais, é um dos motes da bienal. Por isso várias visitas guiadas, fundamen- talmente aos locais históri- cos da baixa de Luanda, estão agendadas para os convida- dos. “Está a ser preparado um roteiro turístico especial, que inclui alguns locais e sítios da capital, com realce para os museus, alguns patrimó- nios edificados e os princi- pais pontos turísticos”, des- tacou a coordenadora nacio- nal do projecto. Tudo, continuou, está a ser feito para a bienal “ser uma festa de partilha de ideias pro- dutivas”. A organização pre- tende instalar uma rede de difusão “webcast” nos dias de debates, de forma a facilitar o acesso à informação, através das novas tecnologias. As organizações religiosas estão a preparar um culto ecu- ménico, para este sábado, de manhã, nos Coqueiros, para pedir bênção na organização positiva da bienal. “As insti- tuições religiosas querem asso- ciar-se ao programa com a re- alização também de alguns debates sobre a cultura de paz”. Uma bienal para construir e preservar a Paz 4 DESTAQUE Quarta-feira 18 de Setembro de 2019

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Manuel Albano

Angola albergaa partir de hojee até domingo, a Bienal deLuanda – Fórum Pan-Africanopara a Cultura de Paz, umaplataforma criada para pro-mover a diversidade culturale a unidade africana.A bienal, que é realizada

em 2019 e 2021, é vista comouma oportunidade sublimepara demonstrar que é pos-sível aproximar os africanospela cultura de paz, e encon-trar pontos comuns nos tra-ços culturais, tanto os inter-nos quanto externos, assimcomo esbater os ódios e quais-quer outros estereótipos,que existem entre os povos,como defendeu a ministrada Cultura, Maria da Pieda-de de Jesus.A juventude, as mulheres

e as crianças são os princi-pais focos dos Fóruns de Re-flexão da Bienal de Luanda,que é também encontro es-pecial entre os actores e par-ceiros de um movimentoPan-africano para a preven-ção da violência e dos con-flitos e para a consolidaçãoda Paz. “Pretendemos, comisso, que a mensagem da bie-nal seja multiplicada em todosos países”, disse Maria daPiedade de Jesus.

Ambientalista destaca co-operação regionalA importância de se encon-trar políticas concretas epráticaspara os incentivos acooperação regional nabusca de conhecimentosque possam resultar emsoluções sociais e econo-micamente justas, viáveise ambientalmente susten-táveis, é uma das propostasdesta bienal, a ser apresen-tada pelo ambientalista Vla-dimir Russo.O especialista, que actual-

mente exerce funções de di-rector técnico da empresaHolísticos e de director daONG Fundação Kissama,disserta sobre “O papel doconhecimento no desenvol-vimento de África”.Para Vladimir Russo, a

investigação científica e a for-mação de quadros devem fa-zer parte do desenvolvimentode uma África livre de con-flitos. “A apresentação vaiincidir sobre estes aspectose os desafios do país na gestãoda região da bacia hidrográ-fica do Cubango”.Em declarações ao Jornal

de Angola, o ambientalistaespera que a bienal possarepresentar um marco his-tórico importante por daraos jovens a oportunidadede apresentarem ideias vira-

das para o desenvolvimentodo continente. “Como jovem, pretendo

apresentar contribuiçõessobre a importância do diá-logo e da partilha sustentávelde recursos como ferramen-tas essenciais para uma ade-quada gestão dos recursosnaturais”, disse. Para o ambientalista, Áfri-

ca só pode aumentar a par-ticipação na produção cien-tífica mundial e enfrentar osdesafios da globalização, comum maior investimento naformação de quadros, liga-dos a investigação científica.“Sem conhecimento, tecno-logia e motivação não seráfácil enfrentar os desafios daglobalização”. Vladimir Russo é Mestre

em Educação Ambiental pelaUniversidade de Rhodes naÁfrica do Sul e possui forma-ção profissional e experiênciana área de consultoria e edu-

cação ambiental.

Exposição colectiva “Luandaididi ya ufolo”A Brigada de Jovens ArtistasPlástico (BJAP) também asso-ciou-se a Bienal de Luanda edurante os cinco dias de acti-vidade vai apresentar váriaspropostas inovadoras no domí-nio da criação artística. De acordo com o coorde-

nador da BJAP, Adão Mussungo,está a ser montada uma mostracolectiva, com trabalhos deSerafim Serlom, ArmandoScooth, Woulofe Júlio Pinto,Ladislau Cuseka Erick ToziKalengo e o próprio.Quem visitar o espaço da

BJAP, garantiu, vai ser sur-preendido com uma pintura,no formato painel, de trêsmetros, com o tema “Luandaididi ya ufolo”, como partedo conceito da Cultura da Paz. Para os jovens criadores,

assegurou, a bienal representa

um momento ímpar e de visi-bilidade na carreira artística.

Os custos para organizar oencontro da PazA Unesco e os outros parceirosde Angola, na organização dabienal, disponibilizaram, ini-cialmente, 500 mil dólarespara aliviar a “pressão finan-ceira” do Estado angolano. Até ao momento, os par-

ceiros têm estado a financiaros custos da bienal. No final,explicou a coordenadora na-cional, Alexandra Aparício,vai ser feito um relatório doscustos definitivos. Alexandra Aparício adian-

tou ainda que todas as con-dições foram criadas para queos cenários estejam prepa-rados para os visitantes. A orga-nização, acrescentou, vai tra-balhar também com o Co-mando Geral e o Provincial daPolícia Nacional, para garantira ordem e tranquilidade.

Projecção de zonas de lazerpara criançasEmbora essa edição não tenhacontemplado espaços temá-ticos específicos de debatespara crianças, a organizaçãocriou uma programação inte-ractiva, lúdica e bastante re-creativa dedicada a esta ca-mada, dirigida especialmenteao ensino primário.

O especialista,que actualmente exerce funções

de director técnico da empresa Holísticose de director da ONG Fundação Kissama,disserta sobre “O papel do conhecimento

no desenvolvimento de África”

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A coordenadora nacionalinformou que apenas a se-gunda edição da bienal vaicontemplar espaços de deba-tes para as crianças expres-sarem, de forma organizada,qualquer ideia.

Autocarros de acesso aos espaçosA organização vai disponi-bilizar transportes especí-ficos, para facilitar que osvisitantes possam ter acessoàs zonas programadas dasactividades, em especial asculturais, a serem realizadasno Museu de História Militar. Os autocarros vão ficar em

pontos estratégicos, devida-mente identificados. O objec-tivo inicial é permitir um maioracesso do público, com realcepara os estudantes. Os demaisautocarros vão ser usadosdurante as excursões pelosmonumentos nacionais.

Locais de actividade e eventuais mudançasA Fortaleza de São Miguel foiescolhida devido o valor his-tórico e cultural do espaço,como explicou AlexandraAparício. “É um local carre-gado de simbolismo histórico.Por isso, realizar a bienal nesteespaço, que é parte do passadohistórico do país é uma formade mostrar o espírito de umacultura de paz.A organização prevê ain-

da alargar os espaços de ex-posição para os Largos doPelorinho e Bailezão, tidoscomo as melhores alterna-tivas para os demais expo-sitores, apresentarem pe-quenas performances. Porém os interessados de-

vem fazer uma prévia ins-crição. A ideia é tornar a bienalo mais inclusiva possível euma plataforma de visibili-dade para os jovens. “Algunsespaços da Baixa de Luandavão ser maximizado, paracriar uma maior interacçãoentre os países convidadose as comunidades”, explicouAlexandra Aparício.

A aposta no crescimento do turismo culturalMostrar as potencialidadesdo país, principalmente deLuanda, e não apenas as mani-festações culturais, é um dosmotes da bienal. Por isso váriasvisitas guiadas, fundamen-talmente aos locais históri-cos da baixa de Luanda, estãoagendadas para os convida-dos. “Está a ser preparado umroteiro turístico especial, queinclui alguns locais e sítiosda capital, com realce paraos museus, alguns patrimó-nios edificados e os princi-pais pontos turísticos”, des-tacou a coordenadora nacio-nal do projecto.Tudo, continuou, está a ser

feito para a bienal “ser umafesta de partilha de ideias pro-dutivas”. A organização pre-tende instalar uma rede dedifusão “webcast” nos dias dedebates, de forma a facilitar oacesso à informação, atravésdas novas tecnologias.As organizações religiosas

estão a preparar um culto ecu-ménico, para este sábado, demanhã, nos Coqueiros, parapedir bênção na organizaçãopositiva da bienal. “As insti-tuições religiosas querem asso-ciar-se ao programa com a re-alização também de algunsdebates sobre a cultura de paz”.

Uma bienal para construir e preservar a Paz

4 DESTAQUE Quarta-feira18 de Setembro de 2019

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Quarta-feira18 de Setembro de 2019 5DESTAQUE

Audrey Azoulay*

Nesta quarta-feira, 18 deSetembro, tem início a pri-meira edição da Bienal deLuanda. Durante cinco dias,chefes de Estado e de governo,investigadores, cientistas,representantes da sociedadecivil, líderes empresariais,ONG e artistas unirão esforçospara fortalecer a cultura dapaz no continente africano.

A organização deste pri-meiro Fórum Pan-Africanopara a Cultura da Paz reflectea vivacidade e a intensidadeda cooperação entre a UniãoAfricana e a UNESCO. De facto,as nossas duas organizaçõesestão unidas pelos mesmosobjectivos e pelos mesmosvalores: a vontade de estabe-lecer a paz através da com-preensão e da solidariedademútuas entre os povos de África.

“A verdadeira luta continua,é a luta pela paz”, anunciouFelix Houphouet-Boigny. AUnião Africana definiu comometa, num período de doisanos, fazer do continente afri-cano um continente de paz,de Túnis a Joanesburgo. Cer-tamente, muitos esforçosainda precisam de ser feitoshoje. No entanto, a paz registaprogressos em África; em mui-tos territórios, deixou de seruma hipótese, um horizontedistante, para se tornar umarealidade, um activo que deve-mos preservar e proteger.

E que cidade anfitriã me-lhor do que Luanda para de-monstrar que a paz é semprepossível? A assinatura, em 21de Agosto, em Luanda, de um

acordo de entendimento entreo Ruanda e o Uganda, obtidograças à mediação eficaz deAngola e da República Demo-crática do Congo, é um sinalde esperança. No futuro, seráainda possível assistir a outrosprogressos.

Três dias antes do Dia Inter-nacional da Paz, e trinta anosapós a Declaração de Yamous-soukro, que define pela pri-meira vez o conceito de “culturada paz”, chegou a hora de lideraresta luta pela paz com maisambição e fervor. Este é o objec-tivo da Bienal de Luanda.

A Bienal tem por ambiçãotornar a cultura da paz numverdadeiro instrumento aoserviço dos governos e doscidadãos. Através de fórunsde discussão dedicados, aber-tos especialmente a mulherese jovens, mas também atravésda organização de um Festival

de Culturas para celebrar ariqueza e diversidade culturalde África, a Bienal pretendetornar-se num grande pontode encontro para a consoli-dação da paz. Este será, semdúvida, “o espírito de Lu-anda”: um espírito de con-córdia e de fraternidade, uniãoe solidariedade.

Naturalmente, a UNESCOassociou-se, desde o início, aesta Bienal. A nossa organi-zação, nascida das cinzas daguerra, tem por mandato esta-belecer a cultura da paz. Asua acção é sustentada poruma convicção, uma certeza:a paz verdadeira, duradoura,sincera, não será apenas alcan-çada graças a diplomatas,mas também a artistas, pro-fessores e cientistas, porqueas guerras começam «no espí-rito dos homens», conformeescrito no Acto Constitutivoda UNESCO. Nos últimos anos,em estreita colaboração coma União Africana, a UNESCOfortaleceu particularmentea sua acção no continente,no âmbito da «África Priori-tária»: todos os dias, a UNESCOconsolida a formação de pro-fessores, promove o progressocientífico no domínio da ges-tão sustentável dos recursosnaturais e apoia o sector cul-tural como instrumento deamizade e solidariedade entreos povos.

«A paz pode ser cara, masvale mais do que o seu preço».Durante os próximos cinco dias,a sabedoria deste provérbioqueniano inundará Luanda.

* Directora da UNESCO

“Luanda é a melhor anfitriã da Cultura da Paz”

Luanda, capital africana de Cultura de PazTudo começouna cidade costa-marfinense de Yamoussoukro,em 1989, aquando do CongressoInternacional sobre “A Paz naMente dos Homens” organizadopela UNESCO. Nascia, assim,o conceito de “Cultura da Paz”no continente africano.

A ideia de criar uma bienalda cultura da paz em África ins-pirou-se na Carta do Renasci-mento Cultural Africano, quedefende que a cultura é a ma-neira mais segura para a África

aumentar a sua participaçãono mundo, na produção cien-tífica global e enfrentar os desa-fios da globalização.

Em Março de 2013, realizou-se em Luanda o Fórum Pan-Africano “Fontes e Recursospara uma Cultura de Paz”, resul-tante de uma cooperação entrea UNESCO, União Africana e oGoverno de Angola.

Desse encontro emergiu oPlano de Acção para uma Culturade Paz, da qual a Bienal de

Luanda surge em consonância.A dois anos do prazo final dainiciativa da UA para o silenciardas armas até 2020, o continenteestá longe de alcançar este desi-derato, sendo ele palco de mui-tos conflitos.

Neste contexto, em 2015, aAssembleia da UA solicitou àComissão da UA que “tomassetodas as medidas apropriadaspara a organização do FórumPan-Africano para a Cultura daPaz em África, Bienal de Luanda”.

A Bienal de Luandaé um pro-jecto que nasce da conver-gência de políticas e progra-mas estratégicos entre trêsparceiros principais: o Governode Angola, a UNESCO e a UniãoAfricana.

Em Maio de 2018, duranteo encontro com a Directora-Geral da UNESCO, AudreyAzoulay, e à margem da visita

oficial do Presidente da Repú-blica de Angola, João Lou-renço, a França, foi reiteradaa vontade de Angola acolhera “Bienal de Luanda - FórumPan-Africano por uma Culturade Paz em África”.

O acordo sobre a realizaçãoda bienal foi rubricadoem Paris, no dia

18 de Dezembro de 2018, pelaentão Ministra da Cultura deAngola, Carolina Cerqueira,e o director geral adjuntoda UNESCO, FirminMatoko.

Convidados de todo o continente e diásporaA bienal traz a Angola convi-dados de 12 países africanose dois da diáspora que vãopartilhar experiências de resi-liência e resolução pacífica deconflitos. Os fóruns da Juven-tude e dos jovens estão pro-jectados para acolher até 800pessoas, o total de convidadosprevistos. A estes irão juntar-se mais de mil participantesque podem inscrever-se nosite da Bienal de Luanda, entrenacionais e estrangeiros.

Está igualmente prevista aparticipação de representantesdas 18 províncias do país, comdelegações que vão animar oFestival de Culturas, a maioractividade de inte-gração cultural, a serorganizada no âmbitoda Bienal de Luanda.

A comissão orga-nizadora vai promoverum cartaz cultural,composto por artistasnacionais e estran-

geiros, que vão demonstrar adiversidade de expressões cul-turais do continente e não só.

Painel de Alto Nível para Chefe de EstadoOito Chefes de Estado e deGoverno, em representaçãodas quatro regiões africanasforam convidados para a ceri-mónia de abertura da Bienalde Luanda.

Os países convidados sãoo Egipto (actual Presidenteda União Africana), Mali (Cam-peão da União Africana para

a Cultura), Etiópia (a únicamulher Presidente), Namíbia(Presidente cessante da SADC),Cabo Verde (Presidente emExercício da CPLP), Tanzânia(Presidente em exercício daSADC), República do Congo(Presidente da ConferênciaInternacional da Região dosGrandes Lagos) e da República

Democrática do Congo. Durante a cerimónia inau-

gural da bienal, no Centro deConvenções de Talatona, estáprevisto um painel de AltoNível em que Chefes de Estadoe de Governo vão discutir epartilhar sobre as suas expe-riências em matéria de reso-lução de conflitos.

O formato ideal para a organizaçãoA bienal é realizadaem dife-rentes espaços da cidade capi-tal, nomeadamente o Centrode Convenções de Talatona,o Museu Nacional de HistóriaMilitar, ex-Fortaleza de S. Miguel.

Entre as principais activi-dades destacam-se os Fórunsde Ideias e da Juventude, paradisseminar as boas práticas

e soluções, assim como incen-tivar a prevenção de crises,resolução e mitigação de con-flitos e o “Festival de Culturas”,onde os países africanos e adiáspora podem mostrar adiversidade cultural e resi-liência aos conflitos e violência.

A Aliança de Parceiros ePatrocinadores para a Cultura

de Paz visando a mobilizaçãode recursos e para apoiar edesenvolver projectos e ini-ciativas bem como a partilhade experiências e boas prá-ticas. Finalmente, o Fórumda Mulher é a actividade quevai enfatizar o papel dasmulheres na educação e pro-moção da paz social.

Três dias antes doDia Internacionalda Paz, e trintaanos após a

Declaração deYamoussoukro,que define pelaprimeira vez oconceito de

«cultura da paz»,chegou a hora deliderar esta lutapela paz commais ambição efervor. Este é oobjectivo da

Bienal de Luanda

“Um projecto que nasce da convergência política”

Audrey Azoulay Directora d

a U

NESCO

DR