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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP
ALEX SANDRO RICHTER WON MÜHLEN
SUSTENTABILIDADE DO SETOR SUCROENERGÉTICO EM MATO
GROSSO DO SUL: GESTÃO DAS EMPRESAS E PERCEPÇÃO DA
SOCIEDADE
CAMPO GRANDE – MS
2016
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ALEX SANDRO RICHTER WON MÜHLEN
SUSTENTABILIDADE DO SETOR SUCROENERGÉTICO EM MATO
GROSSO DO SUL: GESTÃO DAS EMPRESAS E PERCEPÇÃO DA
SOCIEDADE
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da
Universidade Anhanguera-Uniderp, como
parte dos requisitos para a obtenção do
título de Doutor em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional.
Orientação:
Prof. Dr. Celso Correia de Souza
CAMPO GRANDE – MS
2016
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera-Uniderp
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Candidato: Alex Sandro Richter Won Mühlen
Tese defendida e aprovada em 28 de julho de 2016 pela Banca Examinadora:
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Supremo Deus por iluminar meu caminho durante esse
importante período de minha vida.
À minha esposa Bruna e minhas filhas Isabelle, Caroline e Camilla pela
paciência, amor e compreensão que têm demonstrado, especialmente nos
últimos anos.
Ao meu orientador, professor Celso Correia de Souza, pela dedicação
incondicional à realização deste trabalho.
À Universidade Anhanguera-Uniderp por oferecer o programa de
doutorado em Meio Ambiente de Desenvolvimento Regional.
A todos os professores do programa de pós-graduação stricto sensu
que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a minha formação e
conclusão deste trabalho.
Agradecimento especial aos professores José Francisco dos Reis Neto
pelas preciosas orientações no decorrer de todas as fases do trabalho,
demonstrando sabedoria e humildade; e Rosemary Matias pelos ensinamentos
e prestatividade em todas as etapas.
Estendo meus agradecimentos aos funcionários da Universidade
Anhanguera-Uniderp, em especial à Alinne Freitas Signorelli que conduz a
secretaria do curso como ninguém.
Aos meus colegas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) pelo especial apoio durante esse período.
Agradeço também, às seguintes instituições, que muito contribuíram
para a conclusão deste trabalho: Associação dos Produtores de Bioenergia do
Mato Grosso do Sul (BIOSUL), Federação da Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso do Sul (FAMASUL) e Prefeitura Municipal de Maracaju.
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SUMÁRIO
1. Resumo Geral ............................................................................................... 7
2. General Summary ......................................................................................... 8
3. Introdução Geral ........................................................................................... 9
4. Revisão de Literatura ................................................................................. 12
4.1 O setor sucroenergético no Brasil ..................................................... 12
4.2 O Programa Nacional do Álcool - Proálcool ...................................... 14
4.3 Contextualizando Desenvolvimento Sustentável .............................. 20
4.4 Indicadores de sustentabilidade para a atividade sucroenergética 23
5. Referências Bibliográficas ........................................................................ 40
6. Artigos ......................................................................................................... 44
Artigo I ............................................................................................................. 44
Gestão da Sustentabilidade do Segmento Sucroenergético do Mato
Grosso do Sul: análise das ações socioeconômicas e ambientais das
empresas......................................................................................................... 44
Resumo ........................................................................................................... 44
Abstract ........................................................................................................... 45
Introdução ....................................................................................................... 46
Material e Métodos ......................................................................................... 47
Área geográfica de estudo ........................................................................ 47
População e Amostragem da Pesquisa ................................................... 50
Fonte e Coleta de Dados ........................................................................... 51
Tratamento dos dados ............................................................................... 55
Resultados e Discussão ................................................................................ 57
Caracterização da População ................................................................... 57
Gestão da Sustentabilidade: Grupo Socioeconômico ............................ 63
Gestão da Sustentabilidade: Grupo Ambiental ....................................... 73
Análise Fatorial Exploratória ..................................................................... 84
Conclusão ....................................................................................................... 89
Referências Bibliográficas ............................................................................ 89
Artigo II ............................................................................................................ 95
Percepção da Sociedade sobre as Ações Socioeconômicas e Ambientais
do Segmento Sucroenergético no Mato Grosso do Sul ............................. 95
6
Resumo ........................................................................................................... 95
Abstract ........................................................................................................... 95
Introdução ....................................................................................................... 96
Material e Métodos ......................................................................................... 97
Área geográfica de estudo ........................................................................ 97
População e Amostragem da Pesquisa ................................................... 98
Fonte e Coleta de Dados ........................................................................... 98
Tratamento dos dados ............................................................................. 102
Resultados e Discussão .............................................................................. 103
Caracterização da População ................................................................. 103
Gestão da Sustentabilidade: Grupo Socioeconômico .......................... 107
Gestão da Sustentabilidade: Grupo Ambiental ..................................... 111
Análise Fatorial Exploratória ................................................................... 116
Conclusão ..................................................................................................... 120
Referências Bibliográficas .......................................................................... 121
7. Conclusão Geral ....................................................................................... 126
APÊNDICE “A” – Formulário aplicado às Empresas
Sucroenergéticas...........................................................................................128
APÊNDICE “B” – Formulário aplicado aos Representantes da
Sociedade.......................................................................................................132
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1. Resumo Geral
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a sustentabilidade do setor
sucroenergético no Mato Grosso do Sul, desenvolvido na linha de pesquisa
Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Como
objetivos específicos, pretendeu-se avaliar as ações das empresas do setor
quanto à gestão da sustentabilidade e verificar a percepção da sociedade
quanto às ações de sustentabilidade promovidas pelas empresas. Para tanto,
foram realizadas duas pesquisas exploratórias descritivas, combinando
informações quantitativas e qualitativas, colhidas por meio de formulários
aplicados a uma amostra das usinas do Estado, localizadas na microrregião de
Dourados, as quais respondem por 75% do processamento de cana-de-açúcar
do Mato Grosso do Sul, bem como os representantes da sociedade
selecionadas por meio da metodologia de amostragem bola de neve. Os dados
foram processados e analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e
SPSS 22. Quanto às ações de gestão da sustentabilidade, os resultados
mostraram que as usinas amostradas desenvolvem ações de gestão de
sustentabilidade, dentro das dimensões socioeconômica e ambiental, em maior
ou menor grau, considerando indicadores de sustentabilidade reconhecidos e
utilizados internacionalmente para o setor. Quanto à percepção da sociedade,
no grupo socioeconômico, os indicadores mais percebidos foram: geração de
emprego e geração de renda. No grupo ambiental, o indicador mais percebido
foi a colheita mecanizada. A percepção da sociedade sobre a oferta de projetos
por parte das usinas é baixa. Conclui-se que, apesar das empresas afirmarem
desenvolver ações de gestão da sustentabilidade dentro das dimensões
socioeconômica e ambiental, a sociedade tem pouca percepção sobre tais
ações.
Palavras-chave: Indicadores de sustentabilidade, gestão da sustentabilidade,
percepção da sociedade.
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2. General Summary
This work aimed to evaluate the sustainability of the sugarcane industry in Mato
Grosso do Sul, being developed in the line Society research, Environment and
Sustainable Regional Development. As specific objectives, it aims to: evaluate
the actions of companies in the sector and the management of sustainability;
and check the perception of society and the sustainability of actions promoted
by companies. Therefore, there were two descriptive exploratory research
combining quantitative and qualitative information collected through forms
applied to a sample of companies, located in the micro region of Dourados,
which accounts for 75% of processing of sugarcane in Mato Grosso South, as
well as society representatives selected through the sampling snowball
methodology. Data were processed and analyzed using the Sphinx Lexica 5.0
and SPSS 22. As for sustainability management actions, the results showed
that the sampled companies develop sustainability management actions within
the social, economic and environmental dimensions, to a greater or lesser
degree considering sustainability indicators recognized and used internationally
for the sector. As for the perception of society, the socio-economic group, the
most perceived indicators were: job creation and income generation. In the
environmental group, the more perceived indicator was mechanized harvesting.
The perception of society on the supply of projects by the power plants is low.
We conclude that, although companies claiming develop management actions
of sustainability within the socio-economic and environmental dimensions,
society has little perception of such actions.
Keywords: Sustainability indicators, Sustainability management, Community
perception.
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3. Introdução Geral
O momento atual tem sido marcado pela retomada do desenvolvimento
baseado na sustentabilidade econômica, com a melhoria do bem-estar social e
preservação das condições ambientais. Nesse contexto, torna-se relevante a
discussão sobre temas afins que priorizem a resolução dos problemas
existentes, bem como se destinem a propor soluções viáveis e coerentes à
realidade local, priorizando a sustentabilidade.
A agroindústria constitui um componente importante para o
desenvolvimento sustentável da economia e, no Brasil, ela destaca-se entre os
países em desenvolvimento. No cenário mundial, alguns setores têm
apresentado maior dinamismo em função do aspecto estratégico de seus
produtos ou processos, tal como o setor energético a partir da oferta de fontes
de energia renovável. Entre os segmentos desse setor, o biocombustível
derivado da cana-de-açúcar tem recebido grande destaque, tendo em vista as
perspectivas de ampliação da demanda por produtos ecologicamente
sustentáveis e economicamente viáveis.
Com tecnologia comparável ou superior à maioria dos países
produtores, e, com polos instalados em diferentes regiões, o Brasil tem
potencial para ser exportador de energia renovável em curto prazo.
Segundo RODRIGUES e ORTIZ (2006), o Brasil possui capacidade para
liderar o mercado internacional de energia renovável, não só devido ao
intensivo e acelerado grau de desenvolvimento tecnológico e da
competitividade industrial existente, mas porque, no país, existe matéria-prima
em abundância para fabricar o biocombustível, além da cana-de-açúcar, a
presença de outras fontes como óleos vegetais e da madeira, derivados de
leite, gordura animal, entre outros.
O etanol, considerado um subproduto do açúcar, passou a desempenhar
um importante papel na economia brasileira e, diante do sucesso da iniciativa,
deixou de ser encarado apenas como resposta a uma crise temporária, como
ocorreu na década de 1970, mas sim uma solução permanente.
Segundo CRUZ (2010), a queima do bagaço de cana gera o calor que a
usina utiliza em seus processos produtivos. Com frequência o bagaço tem sido
matéria-prima para geração de eletricidade que é comercializada junto às
10
concessionárias de energia. A energia total gerada a partir da cana no Brasil
atingiu, em 2007, 15,9% da energia produzida no País; o número faz da cana a
segunda mais importante fonte de energia (CRUZ, 2010). Dados da ANEEL
(2013) mostram uma alteração no ranking de produção de energia, com as
hidroelétricas responsáveis por 64,37% da produção de energia elétrica,
seguidas do gás natural com 9% e o bagaço de cana (biomassa), produzindo
6,81% da matriz elétrica brasileira. Mesmo assim, a cana mantém uma posição
de destaque entre as fontes de energia brasileiras.
De acordo com RODRIGUES e ORTIZ (2006), a região Centro-Oeste
tem despontado nas últimas safras como nova área de expansão do cultivo da
cana-de-açúcar. O Leste do estado de Mato Grosso do Sul e o Oeste do
estado de Minas Gerais acompanham esta tendência de expansão de novas
áreas.
Dessa forma, observa-se uma pressão sobre o ecossistema de Cerrado,
representante do bioma predominante nessa região brasileira. Essa tendência
de expansão ocorre em virtude da disponibilidade de mão-de-obra e da
declividade das terras, que, por estarem em um planalto, são propícias à
mecanização do processo produtivo.
Assim sendo, Mato Grosso do Sul, juntamente com Goiás, Minas Gerais
e São Paulo, compõe a região que corresponde às áreas de maior
produtividade e de expansão da cana-de-açúcar. Por isso, o estudo dos
aspectos de sustentabilidade da produção no setor sucroenergético torna-se
relevante.
Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a
sustentabilidade do setor sucroenergético no Mato Grosso do Sul. Como
objetivos específicos, pretendeu-se:
Analisar as ações das empresas do setor quanto à gestão da
sustentabilidade;
Verificar a percepção da sociedade quanto às ações de
sustentabilidade promovidas pelas empresas.
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No capítulo seguinte será apresentada a Revisão de Literatura com a
sustentação teórica utilizada para seleção dos indicadores de sustentabilidade
utilizados neste estudo.
A seguir, conforme normas do Programa de Pós-Graduação em Meio
Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp,
serão apresentados dois artigos, um para cada objetivo específico deste
trabalho.
O primeiro artigo trata-se de uma pesquisa desenvolvida com as usinas
sucroenergéticas do Mato Grosso do Sul para identificar as ações destas
quanto à gestão da sustentabilidade.
O segundo artigo é uma pesquisa realizada com representantes da
sociedade, no Mato Grosso do Sul, para verificar a percepção da sociedade
quanto às ações de sustentabilidade promovidas pelas usinas.
Posteriormente, será apresentada uma Conclusão Geral para o
fechamento dos dois artigos.
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4. Revisão de Literatura
4.1 O setor sucroenergético no Brasil
O setor sucroenergético é um dos setores mais antigos e um dos mais
tradicionais no Brasil presentes na economia, pois, desde a colonização
brasileira, teve e tem grande importância no cenário econômico nacional.
SILVA (2008) afirma que os brasileiros conheciam e cultivavam a cana-
de-açúcar e seus derivados desde 1515, quando os colonizadores portugueses
a trouxeram para o país. Aqui, encontraram a terra e o clima ideais e, daí em
diante, foi sempre cultivada, gerando vários produtos de consumo e nas mais
variadas formas, sobretudo na produção de álcool. Dessa forma, passou a ser
objeto de pesquisas continuadas, buscando sua eficiência genética e maior
produtividade.
Até o início do século XVIII, esta atividade tinha absoluta preponderância
dentre todas as atividades econômicas desenvolvidas pela colônia. Diversos
fatores, contudo, alteraram esta situação, trazendo uma persistente decadência
neste setor produtivo desde então. A estagnação do setor açucareiro nacional
perduraria durante o século XIX quando, como fator agravante da crise, foi
viabilizada a produção de açúcar de beterraba pelos países europeus.
Durante grande parte do século XX, mesmo com a modernização da
agroindústria açucareira através da transformação dos antigos engenhos e
banguês em usinas de açúcar, o Brasil se manteria periférico em termos da
participação global no mercado internacional deste produto. Assim, a
capacidade de sobrevivência deste setor baseou-se no mercado interno, sendo
que as exportações eram feitas com o objetivo de escoar a produção
doméstica excedente.
Segundo NATALE NETTO (2007), posteriormente à crise de 1929 e a
Revolução de 1930, a intervenção do Estado na agroindústria canavieira foi
consolidada a partir do Decreto n° 22.789, de 1 de julho de 1933, tornando o
Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) como uma entidade autárquica, com
atribuições de planejamento e de intervenções na economia do setor. Sendo
assim, por causa da ameaça de ruína dessa economia devido à superprodução
e à queda do preço interno e das exportações, os representantes dos usineiros,
dos proprietários de engenhos e dos fornecedores de cana a procuraram o
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Estado em prol da intervenção. Consequentemente, essa intervenção foi
instaurada sob forte apelo dos produtores do setor.
Ainda, segundo NATALE NETTO (2007), o Decreto de criação do IAA
era claro sobre os principais pressupostos que culminaram na sua criação: a)
assegurar o equilíbrio do mercado interno entre as safras anuais de cana e o
consumo de açúcar, mediante a aplicação obrigatória de matéria-prima na
fabricação de álcool etílico; b) fomentar a fabricação de etanol anidro mediante
a instalação de destilarias centrais nos pontos mais aconselháveis, ou
auxiliando as cooperativas e sindicatos de usineiros que para tal fim se
organizassem, ou os usineiros individualmente, a instalar destilarias ou
melhorar suas instalações atuais.
Para SILVA (2008) o IAA adotou o regime de cotas que atribuía, a cada
usina, uma quantidade de cana a ser moída, a produção de açúcar e também
do álcool, para uso doméstico e para aguardente. Por ocasião da Segunda
Guerra Mundial, as usinas paulistas reivindicaram o aumento da produção para
que não ocorresse o desabastecimento dos estados do Sul, uma vez que o
transporte do produto das usinas nordestinas era feito por mar. Sendo assim, a
solicitação foi aceita, e, nos dez anos subsequentes, os paulistas multiplicaram
por quase seis vezes sua produção. No início da década de 1950, São Paulo
ultrapassou a produção do Nordeste, quebrando uma hegemonia de 400 anos.
Ainda, sob a concepção de SILVA (2008), a busca por novas variedades
de cana mais produtivas e mais resistentes às pragas e doenças foi iniciada em
1926, por ocasião da infestação dos canaviais pela praga do mosaico. Foi
também intensificada pelos centros de pesquisa e teve início o controle
biológico de pragas. Surgiram entidades como a Copersucar, o Instituto
Agronômico de Campinas (IAC) e o Programa Nacional de Melhoramento da
Cana-de-açúcar (Planalçucar), as quais responderam por esses avanços.
Neste contexto, seguiu-se um período de renovação concomitante com a
elevação dos preços do açúcar no mercado internacional, atingindo a marca
histórica de mais de U$ 1.000,00 a tonelada.
Devido ao bom preço estabelecido para o açúcar e os decorrentes
recursos obtidos, foi criado, pelo IAA, o Funproçucar, fundo que financiou a
14
modernização das indústrias e, assim, grande parte das usinas foram
modernizadas.
Dentro de uma concepção que previa uma forte presença do Estado na
economia e na sociedade, o Decreto Lei nº 3.855 de 21 de novembro de 1941
cria o Estatuto da Lavoura Canavieira, regulamentando as relações entre as
usinas e os fornecedores de cana-de-açúcar, e entre estes e os trabalhadores
canavieiros.
SILVA (2008) ainda explica que o açúcar permaneceu como um produto
bastante apreciado pelo mercado internacional durante a década de 1960 e
começo dos anos 1970. Entretanto, devido às características de commodity, é
prudente esperar que, após um dado período de altas de preços, estes venham
a cair mediante as ditas “instabilidades” do mercado. Tais “instabilidades” se
manifestariam de forma mais veemente em 1975, quando ocorreu uma forte
queda do preço do açúcar no mercado internacional. Esta queda, por outro
lado, também se associou à própria crise da economia mundial na segunda
metade dos anos 1970, quando ocorreu o primeiro choque do petróleo.
O Brasil imediatamente sofreu os efeitos deste novo contexto, pois a
balança comercial acusou um déficit elevado, basicamente devido ao alto nível
de dependência externa em relação ao petróleo, que, inevitavelmente, afetou,
de forma negativa, o mercado mundial de açúcar. Frente a esses problemas
macroeconômicos, o cenário era bastante complexo, configurado por reduzidas
reservas cambiais, exportações em declínio e falta de crédito internacional.
SILVA (2008) explica que a importação do petróleo e dos seus derivados
representavam, em 1973, respectivamente 9% e 11% do valor total das
importações brasileiras. Já em 1975, os índices aumentaram para,
respectivamente, 22% e 23%. Em 1975, o Brasil registrava 76,9% de
dependência externa em relação ao petróleo, sendo que o mesmo era
responsável por 42,8% da composição da matriz energética brasileira.
4.2 O Programa Nacional do Álcool (Proálcool)
O Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, foi criado em 14 de
novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593, com o objetivo de estimular a
produção do álcool, visando ao atendimento das necessidades do mercado
15
interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o
decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de
qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta
de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da
modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas
unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades
armazenadoras (SILVA, 2008).
De acordo com SILVA (2008), o programa foi fortemente subsidiado.
Para sustentá-lo, o governo liberou de 1975 a 1989, cerca de sete bilhões de
dólares. A cargo da Petrobras ficaram o transporte e a mistura do álcool à
gasolina, o armazenamento e a distribuição. Ao mesmo tempo, o Proálcool
estimulou as pesquisas tecnológicas para utilização do álcool como insumo
industrial, em substituição aos derivados de petróleo, como a nafta. Um acordo
entre usineiros e governo estipulou que a Petrobras deveria comprar toda a
produção.
Segundo NATALE NETTO (2007), a criação do Proálcool foi, sob todos
os títulos, a resposta brasileira à crise mundial do petróleo em 1973. Misturar
álcool anidro à gasolina, entretanto, não se configurava, de maneira alguma,
como uma nova e oportuna experiência nacional. Por muitos anos, o álcool foi
apenas encarado como simples regulador do mercado de açúcar. Entretanto,
com o novo programa posto em marcha, o qual determinava, através de lei,
que se misturasse álcool anidro à gasolina, o País deu um passo efetivo para
economizar valiosas divisas e redirecioná-las na recomposição das finanças.
No programa Brasileiro do Álcool, Proálcool, segundo SILVA (2008),
destacam-se cinco fases distintas, que serão tratadas nos subitens seguintes.
4.2.1 A primeira fase do Proálcool (1975 a 1979)
No início desse período, era fabricado apenas o álcool anidro, para ser
adicionado à gasolina, em proporções ainda não padronizadas. SILVA (2008)
afirma que, de acordo com cada região, adicionava-se 10%, 15%, até que se
estabilizou em 20%. Vale destacar que algumas frotas de empresas estatais,
testavam o álcool hidratado nos motores como único combustível.
16
SILVA (2008) explica que nesse período o petróleo já dava claros sinais
de elevação e a importação do produto correspondia a aproximadamente 50%
das exportações nacionais. Especialistas trabalhavam com intensidade para
chegar ao motor projetado para o álcool e não adaptado. Enquanto isso
desenvolvia-se um projeto de conversão de carros com motor à gasolina para
funcionar com o etanol. O auge das conversões, mais de 20.000 automóveis
por dia, trouxe de imediato um benefício extra e muito importante para o futuro,
ou seja, a disseminação da tecnologia do etanol, entre milhares de oficinas em
todo o país.
4.2.2 A segunda fase do Proálcool (1980 a 1986): uma campanha publicitária
bem-sucedida
Em 1979, ocasionado pela paralisação da produção Iraniana, o segundo
choque do petróleo (1979-80) fez que o preço do barril de petróleo triplicasse e
as compras do produto passassem a representar 46% da pauta de importações
brasileiras em 1980, com tendência de aumento progressivo do consumo.
Diante disso, SILVA (2008) explica que o governo resolve adotar medidas para
plena implementação do Proálcool. São criados organismos como o Conselho
Nacional do Álcool (CNAL) e a Comissão Executiva Nacional do Álcool
(CENAL) para agilizar o programa. A produção alcooleira atingiu um pico de
12,3 bilhões de litros em 1986-87, superando em 15% a meta inicial do governo
de 10,7 bilhões de l/ano para o fim do período.
A proporção de carros a álcool no total de automóveis para passageiros
e de uso misto produzidos no país aumentou de 0,46% em 1979 para 26,8%
em 1980, atingindo um teto de 76,1% em 1986. O Brasil lançou a segunda fase
do programa a partir da implantação de destilarias autônomas. Os
financiamentos chegavam a cobrir até 80% do investimento fixo para destilarias
e os primeiros veículos a álcool eram comercializados no mercado nacional.
4.2.3 A terceira fase do Proálcool (1986 a 1995): surgem problemas na
trajetória
A partir de 1986 o cenário internacional do mercado petrolífero é
alterado. Os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a
17
40 para um nível de US$ 12 a 20. Esse novo período, SILVA (2008) denomina
de “contrachoque do petróleo”, que colocou em xeque os programas de
substituição de hidrocarbonetos fósseis e de uso eficiente da energia em todo o
mundo. Na política energética brasileira, seus efeitos foram sentidos a partir de
1988, coincidindo com um período de escassez de recursos públicos para
subsidiar os programas de estímulo aos energéticos alternativos, resultando
num sensível decréscimo no volume de investimentos nos projetos de
produção interna de energia.
A oferta de álcool não pôde acompanhar o crescimento descompassado
da demanda com as vendas de carro a álcool atingindo níveis superiores a
95,8% das vendas totais de veículos para passageiros e de uso misto para o
mercado interno em 1985.
Os baixos preços pagos aos produtores de álcool a partir da abrupta
queda dos preços internacionais do petróleo impediram a elevação da
produção interna do produto. Por outro lado, a demanda pelo etanol, por parte
dos consumidores, continuou sendo estimulada por meio da manutenção de
preço relativamente atrativo ao da gasolina e da manutenção de menores
impostos nos veículos a álcool comparados aos à gasolina. Essa combinação
de desestímulo à produção de álcool e de estímulo à sua demanda, pelos
fatores de mercado e intervenção governamental assinalados, gerou a crise de
abastecimento da entressafra 1989-90. SILVA (2008) ressalta que, no período
anterior à crise de abastecimento, houve desestímulo tanto à produção de
álcool, conforme citado, quanto à produção e exportação de açúcar, que àquela
época tinham seus preços fixados pelo governo.
Quanto à produção de álcool nesse período, NATALE NETTO (2007)
explica que se manteve em níveis praticamente constantes, atingindo 11,8
bilhões de litros na safra 1985-86; 10,5 bilhões em 1986-87; 11,5 bilhões em
1987-88; 11,7 bilhões em 1988-89 e 11,9 bilhões em 1989-90. As produções
brasileiras de açúcar no período foram de 7,8 milhões de toneladas na safra
1985-86; 8,2 milhões em 1986-87; 7,9 milhões em 1987-88; 8,1 milhões em
1988-89 e 7,3 milhões de toneladas em 1989-90. As exportações de açúcar,
por sua vez, reduziram-se nesse período, passando de 1,9 milhões de
toneladas na safra 1985-86 para 1,1 milhão de toneladas na safra 1989-90.
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SILVA (2008) afirma que a crise de abastecimento de álcool no fim dos
anos 1980 afetou a credibilidade do Proálcool, e, juntamente com a redução de
estímulos ao seu uso, provocou, nos anos seguintes, um significativo
decréscimo da demanda e, consequentemente, das vendas de automóveis
movidos por esse combustível.
NATALE NETTO (2007) acrescenta outros motivos determinantes, os
quais também contribuíram para a redução da produção dos veículos a álcool.
O autor afirma que, no final da década de 1980 e início da década de 1990, o
cenário internacional dos preços do petróleo sofreu fortes alterações, tendo o
preço do barril diminuído sensivelmente. Tal realidade, a qual se manteve
praticamente como a tônica dos dez anos seguintes, somou-se à tendência
cada vez mais forte da indústria automobilística de optar pela fabricação de
modelos e motores padronizados mundialmente. No início da década de 1990,
houve também a liberação, no Brasil, das importações de veículos automotivos
e, ainda, a introdução da política de incentivos para o “carro popular” – de até
1.000 cilindradas – desenvolvido para ser movido à gasolina.
4.2.4 A quarta fase do Proálcool (1995 a 2000): redefinição e afirmação
Os mercados de álcool combustível, tanto anidro quanto hidratado,
encontram-se liberados em todas as suas fases de produção, distribuição e
revenda, sendo os seus preços determinados pelas condições de oferta e
procura. SILVA (2008) expõe que, de cerca de 1,1 milhão de toneladas de
açúcar exportadas pelo país em 1990, passou-se à exportação de até 10
milhões de toneladas por ano. Questionou-se como o Brasil, sem a presença
da gestão governamental no setor, encontraria mecanismos de regulação para
os seus produtos, ou seja, para açúcar para o mercado interno, açúcar para o
mercado externo, etanol para o mercado interno e etanol para o mercado
externo. Dadas as externalidades positivas do álcool e com o intuito de
direcionar políticas para o setor sucroenergético, foi criado, por meio do decreto
de 21 de agosto de 1997, o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool
(CIMA).
Segundo os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos
Automotores (ANFAVEA), citada por SILVA (2008), de 1998 a 2000 a produção
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de veículos a álcool manteve-se em níveis de cerca de 1%. A constituição da
chamada “frota verde”, ou seja, o estímulo e a determinação do uso do álcool
hidratado em determinadas classes de veículos leves, como os carros oficiais e
táxis, tem provocado um debate entre especialistas da área econômica,
contrários aos incentivos, e os especialistas da área ambiental, favoráveis aos
incentivos ao etanol. Em 28 de maio de 1998, a medida provisória nº 1.662
dispôs que o Poder Executivo elevará o percentual de adição de álcool etílico
anidro combustível à gasolina obrigatório em 22% em todo o território nacional
até o limite de 24%.
Para a implementação do Proálcool foi estabelecido, em um primeiro
instante, um processo de transferência de recursos arrecadados a partir de
parcelas dos preços da gasolina, diesel e lubrificantes para compensar os
custos de produção do álcool, de modo a viabilizá-lo como combustível. Assim,
foi estabelecida uma relação de paridade de preços entre o álcool e o açúcar
para o produtor e incentivos de financiamento para as fases agrícola e
industrial de produção do combustível. Com o advento do veículo a álcool
hidratado, a partir de 1979, adotaram-se políticas de preços relativos entre o
álcool hidratado combustível e a gasolina nos postos de revenda, de forma a
estimular o uso do combustível renovável.
4.2.5 A quinta fase do Proálcool (2000 aos dias atuais)
A partir do ano 2000 o Brasil vive uma nova expansão dos canaviais
com o objetivo de oferecer, em grande escala, o combustível alternativo. Ainda
de acordo com SILVA (2008), o plantio avança além das áreas tradicionais, do
interior paulista e do Nordeste, e espalha-se pelos cerrados. A nova escalada
não é um movimento comandado pelo governo, como a ocorrida no final da
década de 1970, quando o Brasil encontrou no álcool a solução para enfrentar
o aumento abrupto dos preços do petróleo que importava. A corrida para
ampliar unidades e construir novas usinas é movida por decisões da iniciativa
privada, convicta de que o álcool terá, a partir de agora, um papel cada vez
mais importante como combustível, no Brasil e no mundo.
A tecnologia dos motores flexfuel veio dar novo fôlego ao consumo
interno de álcool. O carro que pode ser movido à gasolina, álcool ou uma
20
mistura dos dois combustíveis foi introduzido no País em março de 2003 e
conquistou rapidamente o consumidor. Hoje, a opção já é oferecida para quase
todos os modelos das indústrias e os automóveis bicombustíveis
ultrapassaram, pela primeira vez, os movidos à gasolina na corrida do mercado
interno. Diante do nível elevado das cotações de petróleo no mercado
internacional, a expectativa da indústria é que essa participação se amplie
ainda mais. A relação atual de preços já faz com que o usuário dos modelos
bicombustíveis dê preferência ao álcool em alguns estados brasileiros.
Um dos fatos marcantes nessa fase do Proálcool foi a grande velocidade
de aceitação pelos consumidores dos carros bicombustíveis, ou flexfuel, que foi
muito mais rápida do que a indústria automobilística esperava. As vendas
desses veículos já superaram as dos automóveis movidos à gasolina. Hoje
praticamente todos os automóveis já saem de fábrica com motor bicombustível.
Considerando os fatores históricos elencados anteriormente e a
importância do etanol como fonte de energia renovável, somando-se a isto a
expansão de usinas, principalmente em áreas do cerrado, uma análise da
sustentabilidade da produção do etanol diante da implantação dessas novas
unidades produtoras torna-se necessária.
4.3 Contextualizando Desenvolvimento Sustentável
Os termos “desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade” têm sido
utilizados por diversos setores da indústria e do agronegócio, mas, nem
sempre, em atividades sustentáveis.
Analisando um pouco da história do conceito, vê-se que em meados da
década de 1960, com o surgimento das teorias da dependência, com o
crescimento econômico do pós-segunda guerra, fatores como persistência das
desigualdades sociais e regionais, crise de emprego, destruição progressiva do
meio ambiente, entre outros, levaram ao questionamento das distorções
estruturais e da própria concepção de desenvolvimento. Analogamente,
SACHS (2002) relata um novo paradigma de desenvolvimento foi proposto em
1972, denominado ecodesenvolvimento.
Em 1988 formalizou-se o termo “desenvolvimento sustentável”,
retomando os conceitos do ecodesenvolvimento, introduzindo a preocupação
21
com as gerações futuras e a dimensão ecológica, além de incorporar as
dimensões econômica, social, tecnológica, cultural e política. A Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização
das Nações Unidas (ONU) publicou no relatório Nosso Futuro Comum, em
1987, o conceito clássico de “Desenvolvimento Sustentável”: é aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.
Para VEIGA (2007), o “Desenvolvimento Sustentável” indica cada vez
mais a inserção dessa utopia em detrimento do sistema capitalista. KEINERT
(2007) afirma que, neste cenário, o fator consumo representa um importante
papel, pois ele define e é definido pelo fator produção. Neste sentido, pergunta-
se: quais seriam os perfis e percursos da sustentabilidade ambiental: o cenário
para uma sociedade sustentável; a política; o projeto e o papel que os vários
atores sociais (stakeholders) deveriam desempenhar na definição do que deve
ser produzido e, consequentemente, consumido? Em sua essencialidade, o
produto não é mais considerado como um bem de consumo, mas sim, do ponto
de vista do serviço que oferece.
SACHS (2002) ressalta que o desenvolvimento também depende da
cultura local, na medida em que ele implica na invenção de um projeto. Este
não pode se limitar unicamente aos aspectos sociais e sua base econômica,
ignorando as relações complexas entre o porvir das sociedades humanas e a
evolução da biosfera. Na realidade, observa-se uma coevolução entre dois
sistemas que se regem por escalas de tempo e escalas espaciais distintas.
Ainda segundo o autor, a sustentabilidade no tempo das civilizações humanas
vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência
ecológica e de fazer um bom uso da natureza.
O desenvolvimento sustentável apresenta-se como uma questão
imperativa para criar condições de sobrevivência para a espécie humana.
Embora o objetivo seja focado na preservação do ser humano, em condições
satisfatórias de vida, a interconexão dos sistemas exige uma regulação do
sistema humano na sua relação com o meio ambiente. As evidências deixam
claro que, para viabilizar a permanência da espécie humana no planeta,
garantindo qualidade de vida, é inviável manter a exploração acelerada e
22
continuada dos recursos naturais e seu consequente esgotamento (PAULISTA
et al., 2008).
KEINERT (2007) propõe o conceito de “desmaterialização” da demanda
social de bem-estar como base de um critério correto de desenvolvimento
sustentável. De acordo com o autor, trata-se de uma drástica redução do
número e da intensidade material (quantidade de recursos ambientais
necessários para gerar uma unidade de produto ou serviço) dos produtos e dos
serviços requeridos para atingir um bem-estar socialmente aceitável. E,
consequentemente, uma radical mudança em toda a lógica operacional do
sistema produtivo.
Conforme KEINERT (2007), importantes inovações já foram introduzidas
no mundo corporativo a partir da emergência do conceito de sustentabilidade,
as quais derivam da definição de desenvolvimento sustentável proposta pela
CMMAD. Dentro desse contexto, o estabelecimento de critérios e indicadores
de sustentabilidade é necessário para mensurar o quanto o seu processo
produtivo se aproxima do ideal da sustentabilidade. Para, especificamente, o
caso da produção do setor sucroenergético, procurou-se ressaltar as diferentes
iniciativas que estão sendo desenvolvidas em favor da sua produção
sustentável, lembrando que a sustentabilidade agrícola é diferente da industrial
e é determinada por toda a sua cadeia produtiva e pelo uso do seu produto.
Porém, vale destacar que a discussão sobre sustentabilidade é distinta e muito
mais subjetiva do que simplesmente o desenvolvimento de critérios e
indicadores.
A ideia de desenvolver indicadores para avaliar a sustentabilidade surgiu
na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente – Rio 92, conforme registrado
no capítulo 40 da Agenda 21 (SICHE et al., 2007).
Um dos desafios da construção do desenvolvimento sustentável é criar
instrumentos de mensuração capazes de prover informações que facilitem a
avaliação do grau de sustentabilidade das sociedades, monitorem as
tendências de seu desenvolvimento e auxiliem na definição de metas de
melhoria (ABREU e RODRIGUES, 2011).
VAN BELLEN (2004) afirma que existe uma série de ferramentas ou
sistemas que procuram avaliar o grau de sustentabilidade do desenvolvimento,
23
porém, não se conhecem adequadamente as características teóricas e práticas
destas ferramentas.
Diante disso, procurou-se realizar um estudo mais aprofundado sobre os
indicadores mais utilizados, especificamente para o setor sucroenergético e,
com esses indicadores, foram definidos os constructos para analisar a
sustentabilidade do setor sucroenergético.
4.4 Indicadores de sustentabilidade para a atividade sucroenergética
Para MACEDO et al. (2007), apesar do setor contribuir com o
fornecimento de uma fonte de energia limpa e renovável, fazendo frente às
ameaças do aquecimento global, ainda existem problemas a serem
dimensionados e solucionados pela agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil.
A interação das atividades do setor com o meio ambiente, social e
econômico é complexa. MACEDO et al. (2007) agrupam tópicos pela natureza
dos impactos gerados no setor. Desta forma, consideraram os impactos no uso
de recursos materiais (principalmente energia e materiais), os impactos no
meio ambiente (qualidade do ar, clima global, suprimento de água, ocupação
do solo e biodiversidade, preservação de solos, uso de defensivos e
fertilizantes), a sustentabilidade da base de produção agrícola, com a
resistência a pragas e doenças, o impacto nas ações comerciais, tratando de
competitividade e subsídios, e, finalmente, alguns impactos socioeconômicos,
com ênfase na geração de emprego e renda.
RODRIGUES e ORTIZ (2006) contribuem na discussão do impacto
social, lembrando-se da questão do “uso da terra” no sentido de que práticas
agrícolas monoculturais em grandes extensões de terra têm sido apontadas por
movimentos sociais e ambientalistas como geradoras de desigualdades no
campo, bem como um entrave à reprodução social de populações tradicionais.
A ausência de um ordenamento jurídico eficaz da estrutura fundiária brasileira,
capaz de regular e limitar os usos das propriedades, associado à
disponibilidade de mão-de-obra barata, tem contribuído para a expansão das
monoculturas.
Os autores afirmam que os impactos sobre a agricultura familiar e as
“mudanças no padrão de produção agrícola” têm sido verificados em regiões
24
do estado de São Paulo, as quais se especializaram na produção de cana-de-
açúcar.
Ainda discutindo os impactos sociais, RODRIGUES e ORTIZ (2006)
alertam para aspectos como “carga de trabalho”, “salários”, “saúde e segurança
no trabalho”, que devem ser avaliados dentro do tripé sustentabilidade.
Quanto aos impactos ambientais, RODRIGUES e ORTIZ (2006)
destacam as “mudanças no uso do solo”. Lembram que em 2003, no nordeste
paulista, a proporção de terras utilizadas para atividades agrosilvopastoris
permaneceu estável no período, de maneira que a expansão da cana-de-
açúcar se deu por meio da substituição de áreas antigamente ocupadas,
principalmente por culturas anuais que cederam neste período 5.964 km2 para
a cana-de-açúcar, por pastos que cederam 4.748 km2, e pela fruticultura que
cedeu 1.577 km2 de sua área para a cana-de-açúcar.
RODRIGUES e ORTIZ (2006) citam ainda que, em 2005, o governador
do Mato Grosso do Sul enviou à Assembleia Legislativa projeto propondo
mudança na Lei Estadual 328/82, para que fosse permitida a instalação de
usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai. Na época, o secretário de
Produção e Turismo do Estado justificou o projeto dizendo que as destilarias de
álcool seriam a única solução para o desenvolvimento econômico dos
municípios do entorno do Pantanal. O projeto teve forte resistência de
movimentos sociais e de organizações ambientais que se articularam na
campanha “Não às Usinas de Álcool no Pantanal”. A campanha, que foi
marcada pelo episódio trágico de autoimolação do ambientalista Francisco
Anselmo de Barros, foi vitoriosa e a Assembleia Legislativa do estado arquivou
o projeto.
Todos esses impactos são relevantes para se analisar a sustentabilidade
do setor sucroenergético no Mato Grosso do Sul.
Como base para a elaboração dos constructos que abordem a
sustentabilidade, especificamente para o setor sucroenergético, foi utilizado
também o Padrão BONSUCRO - BSI (Better Sugarcane Initiative), versão 4
(BSI, 2014).
A BSI é uma iniciativa global, sem fins lucrativos, dedicada a reduzir os
impactos ambientais e sociais na produção da cana-de-açúcar, com a missão
25
de garantir que os atuais e novos modos de produção possam ser
considerados ambientalmente sustentáveis.
Conforme consta em UNICA (2010) e BSI (2014), a BONSUCRO é uma
mesa-redonda internacional de adesão voluntária, que visa estabelecer um
padrão de certificação de práticas responsáveis no setor de cana-de-açúcar.
Participam da iniciativa:
Produtores do Brasil, América Central, Sudão, Índia e Austrália;
Grandes consumidores e intermediários dos produtos da cana-de-
açúcar, como Coca-Cola, Shell, ED&F, British Sugar e Cargill;
Representantes da sociedade civil, como Ethical Sugar,
Solidaridade WWF e;
Instituições internacionais como International Finance Corporation
(IFC), do Banco Mundial.
De acordo com a BSI (2014), a iniciativa reconhece que a vasta gama de
questões relacionadas com o cultivo de cana incidirá sobre algumas
importantes questões sociais e ambientais, como a produtividade do solo, uso
racional da água, gestão de efluentes, manutenção da biodiversidade e
condições de trabalho equitativas.
Segundo a BSI (2014), a BONSUCRO desenvolve critérios e indicadores
ambientais, sociais e econômicos, aplicáveis a todo o processo produtivo de
açúcar e etanol, organizados em torno de cinco princípios:
1. Cumprimento da lei;
2. Respeito aos direitos humanos e trabalhistas;
3.Gerenciamento da eficiência dos insumos, da produção e do
processamento para incremento da sustentabilidade;
4. Gerenciamento ativo da biodiversidade e serviços do ecossistema e;
5. Comprometimento com melhoramento contínuo nas áreas-chave do
negócio.
De acordo com a UNICA (2010), no Brasil o padrão BSI ou “Padrão de
Produção BONSUCRO” tem sido adotado e apoiado pela UNICA desde a sua
primeira versão, publicada para consulta pública em 2008, seguida por diversos
encontros com partes interessadas em quatro continentes. A reunião realizada
26
no Brasil contou com o apoio da UNICA e juntou mais 30 instituições entre
usinas, indústrias consumidoras, bancos e ONGs.
Quanto às dimensões da sustentabilidade a serem abordadas nesse
trabalho, LOVO (2012) apresenta as dimensões socioeconômica e ambiental
como foco das ações de gestão nas organizações.
A seguir serão apresentados os principais constructos a serem utilizados
na elaboração dessa pesquisa, dentro das dimensões Ambiental e
Socioeconômica.
4.4.1 Indicadores de sustentabilidade na dimensão ambiental
SILVA (2010) descreveu os fatores considerados críticos para a
sustentabilidade da cadeia produtiva do etanol de forma direta e efetiva. Na
dimensão ambiental destaca: biodiversidade, solos, disponibilidade dos
recursos hídricos, qualidade do ar local e clima global.
No aspecto poluição do ar, a queima da cana pode ser um indicador
de sustentabilidade.
Para ANDRADE e DINIZ (2007), dentre todos os impactos ambientais
gerados pela agroindústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, o mais
emblemático, o mais discutido e controvertido ao longo dos anos tem sido a
prática da queima da palha como método facilitador da colheita.
De acordo com GLIESSMAN (2000), a cana-de-açúcar é uma planta de
regiões tropicais e de fotossíntese C4, designada assim por causa da molécula
com 4 átomos de carbono presente no primeiro produto da fixação do carbono.
É uma planta com uma das maiores taxas de conversão de energia. Ainda de
acordo com o autor, a queima da cana no campo aumenta as emissões de
gases de efeito estufa e causa chuvas ácidas.
Ainda, segundo GLIESSMAN (2000), o fogo pode ser usado para
preparar uma cultura para a colheita. Um exemplo comum é a queima da cana-
de-açúcar poucos dias antes da colheita. Os cortadores afirmam que o fogo é
importante para remover as folhas, facilitando o processo de corte quando feito
à mão, tornando o acesso à cana mais fácil, e deslocando animais inoportunos,
como ratos e cobras. Mas a facilidade de colheita num sistema desses tem de
ser medida em relação a impactos ecológicos, como a perda de matéria
27
orgânica, a volatilização de certos nutrientes e sua lixiviação por chuvas fortes.
Para a cana-de-açúcar, em particular, outro impacto negativo possível do fogo
pode ser o de degradar a qualidade do açúcar extraído das canas aquecidas
demais.
Assim sendo, pode-se afirmar que quanto menor o uso da queima da
cana pelas usinas, mais ambientalmente sustentável é o seu processo
produtivo.
De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de
Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), o avanço da mecanização no
Estado é destaque nacional. Na safra 2013/2014, 94% das lavouras de cana do
Estado terão colheita mecanizada, contra 89% da safra 2012/2013. "A indústria
da cana já nasceu de forma correta em MS" (HOLLANDA, 2013). Ainda
segundo a BIOSUL (2013), Mato Grosso do Sul é o Estado do Brasil mais
avançado na eliminação da queimada. Segundo o presidente da BIOSUL, só
não é 100% mecanizada porque faltam máquinas, operadores, e ainda é
necessário um processo de capacitação dos empregados que atuam na
colheita manual para que possam trabalhar em outros setores.
Ainda no aspecto poluição do ar, o controle de emissões de gases do
efeito estufa (GEE) nas usinas também pode ser um indicador de
sustentabilidade da produção da cana.
De acordo com SOUZA (2013), as seguintes fontes de GEE devem ser
associadas ao manejo agrícola da cana-de-açúcar: Emissões de N2O do
manejo do solo associadas à aplicação de fertilizantes nitrogenados sintéticos,
compostos orgânicos (vinhaça e torta de filtro) e, resíduos da cana-de-açúcar
depositados na superfície do solo, Emissões de CH4 e N2O devido à queima da
palha na pré-colheita da cana-de-açúcar, Aplicação de calcário, Aplicação de
defensivos e Fontes móveis, representadas pelo consumo de óleo diesel
durante as operações agrícolas.
SILVA (2010) destaca ainda que, para que o etanol seja considerado um
combustível renovável, é essencial que a contribuição de combustíveis fósseis
usados na sua produção seja pequena, assim como as emissões de gases
precursores do efeito estufa não associadas diretamente ao uso de
combustíveis fósseis, em todo o seu ciclo de produção e utilização. No plantio,
28
colheita, transporte e processamento da cana são consumidos combustíveis
fósseis que geram emissões de GEE. O autor afirma que é necessário fazer
um balanço energético e de GEE para se avaliar quais os resultados líquidos
no ciclo completo de produção do álcool de cana-de-açúcar e seu uso como
combustível no setor de transporte. Afirma ainda que este balanço do ciclo de
vida do etanol tem sido realizado no Brasil.
Assim, interpretando dados da UNICA (2010), pode-se afirmar que as
empresas que possuem um inventário de suas emissões de GEE estão mais
preocupadas com a gestão da sustentabilidade, e tendem a ter práticas mais
sustentáveis.
Quanto à poluição das águas, um indicador importante é o tratamento
dos efluentes líquidos produzidos pelas atividades da agroindústria.
Segundo ANDRADE e DINIZ (2007), no Estado de São Paulo é prática
corrente incorporar grande parte dos efluentes líquidos gerados nas usinas à
vinhaça, para disposição no solo por meio da técnica que se convencionou
chamar de fertirrigação. Isso é feito com as águas geradas no processo de
fabricação do açúcar, as resultantes da lavagem de pisos e equipamentos e as
das purgas dos lavadores de gases (limpeza de espaços confinados), entre
outras.
SILVA (2010) afirma que o uso da vinhaça na prática da fertirrigação,
apesar de antiga e bem disseminada, não pode ser excessiva ou
indiscriminada, uma vez que seu potencial poluidor compromete o meio
ambiente, desde as características físicas e químicas do solo até as águas
subterrâneas a partir da sua percolação (infiltração no solo).
ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam conhecer apenas uma grande Usina,
localizada em Ariranha-SP, que promove a segregação de todas as águas
residuárias (aproximadamente 250 m³/h), tratando-as separadamente da
vinhaça por meio da técnica de lodos ativados, e retornando os efluentes
líquidos ao corpo de água adjacente, dentro dos padrões legais de emissão e
qualidade vigentes no Estado de São Paulo.
Indicadores de sustentabilidade importantes estão relacionados ao
consumo de água. Nas usinas de cana-de-açúcar é importante desenvolver
práticas mais sustentáveis nos aspectos do uso racional dos recursos
29
hídricos (águas superficiais e subterrâneas) e reuso da água nas atividades
empresariais.
De acordo com SILVA (2010), a eminente escassez de água e o
comprometimento de sua qualidade em algumas regiões do mundo chamam a
atenção para a importância do planejamento e gestão dos recursos hídricos.
Ainda, segundo o autor, é importante destacar o esforço que o setor
agroindustrial vem realizando para diminuir o consumo de água, procurando
otimizar seus processos, orientando esforços no sentido da reciclagem deste
bem.
No trabalho de ANDRADE e DINIZ (2007) é apresentado o balanço
hídrico de uma grande usina que conseguiu racionalizar, durante grande parte
da safra, o uso da água a um patamar de 0,85 m³/t de cana moída.
Os autores destacam que técnicas de reuso, retorno de condensáveis
(vapores transformados em líquidos), implementação de limpeza a seco da
cana, macromedição do consumo e desassoreamento das represas de
captação permitem que muitas usinas operem sem alterar a quantidade e a
qualidade dos corpos de água adjacentes. Advertem ainda que muitas usinas
ainda captam elevadas vazões e não operam com 100% de reuso das águas
de resfriamento. Nesta condição, a vazão de jusante dos corpos de água pode
ser afetada negativamente. Ademais, o lançamento de grandes vazões de
água a temperaturas em torno de 35ºC pode provocar a diminuição do teor de
oxigênio dissolvido no corpo receptor e causar comprometimento da vida
aquática.
Outro indicador de sustentabilidade importante que afeta a poluição do
solo é a destinação adequada dos resíduos sólidos produzidos pelas
atividades da agroindústria. Nesse contexto, ANDRADE e DINIZ (2007)
afirmam que nas usinas mais antigas e localizadas distantes das áreas
urbanas, foi prática comum o uso de valas para aterro de resíduos sólidos
domiciliares, de escritório, entulhos de construção civil, podas de árvores,
restos de estopas, graxas e embalagens de óleos lubrificantes.
Os autores explicam que tais áreas também foram empregadas como
locais de retirada indiscriminada de solo e deposição temporária de material
30
orgânico (cinzas, fuligens, lodos gerados pela lavagem de cana, material de
limpeza dos tanques de vinhaça, etc.).
A destinação correta dos resíduos sólidos, segundo ANDRADE e DINIZ
(2007), cessa o processo de degradação ambiental e os locais afetados
passam a ser empregados para armazenamento temporário e compostagem
orgânica das cinzas, fuligens e torta de filtro.
BUENO e SALVADOR (2012) apresentam o exemplo de uma empresa
que estudaram. A empresa realiza coleta seletiva de resíduo. Estão instalados
conjuntos de lixeiras específicas e tambores de 200 litros foram adaptados para
a coleta. Os resíduos são destinados às empresas especializadas em
reciclagem. A usina gera por mês 1,6 t de papel, 109 t de ferro e outros
resíduos que são dispostos de forma ambientalmente correta.
Os autores afirmam que, para o sucesso do projeto ambiental da usina,
todos os colaboradores foram conscientizados sobre a importância da
preservação do meio ambiente a partir de treinamentos específicos, que juntos,
somaram cerca de 3.000 horas. A intenção era manter a consciência ambiental
nos colaboradores não apenas em ocasiões necessárias como a busca pela
certificação, mas torná-la um hábito diário, no exercício das atividades
desenvolvidas dentro e fora da empresa.
O uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) na área
agrícola das usinas é um importante indicador a ser analisado, pois pode
acarretar contaminação ambiental.
LIECHOSCKI e MAINIER (2003) explicam que os produtos
agroquímicos, também denominados agrotóxicos ou defensivos agrícolas,
podem ser definidos como produtos de natureza química ou bioquímica cujo
objetivo principal era exterminar as pragas ou doenças que atacam as culturas
agrícolas, podendo ser classificados em: pesticidas (combate aos insetos em
geral), fungicidas (produtos que atingem os fungos) e herbicidas (produtos que
matam ou impedem o crescimento de plantas invasoras ou daninhas).
Quanto à utilização de agrotóxico, ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam
que a cana-de-açúcar requer poucas aplicações em relação a outras culturas
de produção extensiva, em razão de sua robustez e adaptação às condições
edafoclimáticas em que são cultivadas no Brasil. Os herbicidas são o grupo
31
mais utilizado. O consumo de inseticidas é relativamente baixo, sendo quase
nulo o de fungicidas. Além disso, muitos produtores já utilizam controle
biológico em escala comercial. A produção orgânica também tem aumentado,
em virtude do crescimento do mercado de açúcar orgânico, tanto no Brasil
quanto no exterior.
O controle biológico, apesar de ter seu uso em escala comercial
intensificado recentemente, não é novo. SILVA (2008) explica que já em 1926,
na busca por novas variedades de cana mais produtivas e mais resistentes às
pragas e doenças, por ocasião da infestação dos canaviais pela praga do
mosaico, estudos foram intensificados pelos centros de pesquisa, principiando,
conforme já citado, o controle biológico de pragas.
Segundo LIECHOSCKI e MAINIER (2003), os relatórios governamentais
mostram que mais de 50% dos pesticidas são classificados como herbicidas,
os quais são bastante tóxicos e utilizados nas plantações de cana-de-açúcar,
soja, abacaxi, café, etc.
Conforme MACEDO et al. (2007), a preocupação com o impacto do uso
de defensivos agrícolas está presente em várias instâncias da Agenda 21, que
prevê ações específicas de controle.
No que se refere à biodiversidade, outros indicadores importantes estão
relacionados à manutenção e ampliação das matas nativas (reserva legal e
área de preservação permanente), ações de preservação da fauna e a
realização de monitoramento contínuo ou pontual do índice de biodiversidade
(biomonitoramento) dentro das áreas exploradas pelas empresas, são
apontadas pela UNICA (2010) como muito importantes.
De acordo com SILVA (2010), se a expansão da cana-de-açúcar seguir
as tendências atuais, ela ocorrerá em locais onde o setor agropecuário e,
principalmente o sucroalcooleiro, é bem consolidado, dificilmente ocorrerá
substituição de matas nativas por cana. No entanto, os deslocamentos de
culturas, como a pecuária e as lavouras, poderão ocorrer para outras regiões,
principalmente no Centro-oeste, aumentando, assim, o desmatamento. Muitas
usinas estão desenvolvendo ações de recomposição de suas áreas de
preservação permanentes (APP) e reservas legais, em cumprimento à lei do
32
Estado, por exigências de instituições financeiras ou de segmentos do
mercado.
Ainda segundo SILVA (2010), de um lado, algumas usinas e produtores
já se mobilizaram para a criação de viveiros de espécies florestais, de forma
autônoma ou em parcerias com órgãos públicos, e tem realizado o
repovoamento de suas APP’s. Mas, por outro lado, há usinas e produtores
“adeptos” da tese da “regeneração natural”, que consiste, na grande maioria
dos casos, no simples abandono da área para que esta se regenere
naturalmente, o que também é permitido segundo algumas interpretações da
Lei n. 4.771 de 1965 e da Lei n. 9.866 de 1997.
Reconhece-se que as APP’s têm inquestionável importância para a
conservação da biodiversidade, das características climáticas e dos recursos
edáficos, hídricos, florísticos e faunísticos. Diversas usinas estão em fase de
elaboração/implementação de projetos de recuperação das APP’s, dos cursos
d’água, das nascentes e dos rios, afirmam ANDRADE e DINIZ (2007).
De acordo com a UNICA (2010), uma das diretrizes do Protocolo
Agroambiental do Estado de São Paulo está relacionada à proteção das matas
ciliares nas áreas administradas pelas usinas. O levantamento topográfico das
áreas e seu georreferenciamento tornaram-se, então, prioritários para as
associadas à UNICA.
Segundo experiência da UNICA (2010), tais ações levam a um
incremento da diversidade de fauna e flora. “Até agora, mais de 10 milhões de
mudas de árvores nativas foram plantadas na recuperação de mais de 6 mil
hectares de matas, com investimentos que ultrapassam R$ 46 milhões”
(UNICA, 2010, p. 84).
Na experiência acima, foram envolvidos cerca de oito mil colaboradores
nas atividades de catação de sementes, tratos nos viveiros, plantio e cuidados
na manutenção dessas áreas reflorestadas.
A UNICA (2010) ainda afirma que o setor tem investido continuamente
na ampliação do monitoramento de bioindicadores nas áreas protegidas. Em
2007, eram quase 20 mil hectares monitorados, área que passou para 35 mil
hectares em 2009. Através desses monitoramentos é possível identificar se as
matas protegidas servirão de abrigo a mamíferos e aves. Até o momento, os
33
projetos de biodiversidade monitoram 12 espécies de mamíferos, cinco delas
ameaçadas de extinção e sete consideradas vulneráveis. Para as espécies
identificadas como vulneráveis, houve abundância de 31 exemplares avistados.
4.4.2 Indicadores de sustentabilidade na dimensão socioeconômica
Segundo MACEDO et al. (2007), considerando os impactos
socioeconômicos do setor sucroenergético, a maior importância vem da
geração de empregos e renda, capacitando a mão-de-obra, com flexibilidade
e usando tecnologias diversas para acomodar características locais.
Para SILVA (2010), fatores que podem ser considerados críticos para a
sustentabilidade da cadeia produtiva do etanol, na dimensão socioeconômica
são: geração de emprego e condições de trabalho.
De acordo com a BIOSUL (2013), dados da safra 2012/2013, no Mato
Grosso do Sul, mostram que o setor contribuiu com 30.500 empregos diretos
e 90.000 empregos indiretos. Quanto à remuneração recebida, o salário pago
aos trabalhadores do setor é o maior salário médio da agricultura, o terceiro
maior salário médio da indústria e a segunda maior massa salarial. Destaca
ainda que nesse período foram qualificadas 2.000 pessoas.
Dados da RAIS-MTE (2015) mostram que o setor no Mato Grosso do
Sul, em 31/12/2012, possuía 29.054 vínculos ativos de trabalhadores em
estabelecimentos cadastrados nas classes: Cultivo de Cana-de-Açúcar,
Fabricação de Açúcar Bruto, Fabricação de Açúcar Refinado e Fabricação de
Álcool, na Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE).
Corroborando com a BIOSUL (2013), dados da RAIS-MTE (2015)
comprovam que em 2013 os salários médios dos trabalhadores em
estabelecimentos cadastrados na classe Cultivo de Cana-de-Açúcar foram de
R$ 2.351,54, sendo o maior salário da agricultura que, como um todo, teve um
salário médio de R$ 1.263,01.
FREIRE (2010) concorda com MACEDO et al. (2007) ao destacar como
impactos socioeconômicos positivos a geração de emprego e geração
consequente de atividade econômica na base da pirâmide, bem como de
atividade econômica secundária causada pela produção agrícola e industrial da
cana-de-açúcar. Afirma também que, em geral, a atividade sucroenergética é
34
vista de forma positiva pelas comunidades e traz relativo progresso a essas
populações.
SILVA (2010) reforça as afirmações de FREIRE (2010) e complementam
que melhorias foram alcançadas nas condições de trabalho e da renda, como
pode ser vista na expansão do trabalho formal e outros direitos dos
trabalhadores, incluindo acesso a serviços de saúde e programas de
qualificação do trabalhador. SILVA (2010) também diz que quando comparado
com o grau de formalidade da economia brasileira, a agricultura da cana-de-
açúcar mostra um grau bem maior de formalização: com 72,9% em média
quando comparado aos 40% não formalizados.
Nesse sentido, para a sustentabilidade do empreendimento, torna-se
necessário analisar indicadores relacionados à geração de emprego e
geração de renda pelas empresas do setor e a percepção destes indicadores
pela sociedade.
Para SILVEIRA (2008), a empresa socialmente responsável não se
limita a respeitar os direitos dos trabalhadores consolidados na legislação
trabalhista e nos padrões da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
ainda que esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e
investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem
como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas
relações com os empregados. Segundo a autora, a empresa também deve
estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um
relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que
representam seus interesses.
Um ponto importante no que diz respeito à sustentabilidade
socioeconômica é identificar se, nas empresas, existem compromissos
explícitos que tratam do tema ética organizacional.
CRUZ e SOUZA (2012) afirmam que a responsabilidade social
empresarial implica em práticas de gestão que vão além de ações
socioambientais, configurando-se, inclusive, pelo contínuo diálogo e
engajamento de todos os stakeholders nas relações e decisões estratégicas
das empresas, suportado por comportamento ético e transparente que se
operacionaliza por meio de políticas de gestão.
35
Segundo CRUZ e SOUZA (2012), os argumentos éticos derivam dos
princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes, considerando que as
empresas e as pessoas que nelas trabalham deveriam se comportar de
maneira socialmente responsável (conduta moralmente correta), mesmo que
envolva despesas improdutivas para a empresa. Os autores defendem que a
formulação de políticas, diretrizes, procedimentos, regulamentos e códigos de
ética são exemplos do tratamento dado pelas empresas a essas questões de
ética organizacional.
Ainda, dentro dos indicadores socioeconômicos, tem-se na dimensão
relações de trabalho o critério acidente de trabalho.
De acordo com o padrão BSI (2014), assegurar um ambiente de trabalho
seguro e saudável em operações de trabalho é fundamental para uma
organização sustentável. Esse indicador procura identificar a frequência de
acidentes com afastamento.
Para a BSI (2014), um acidente com afastamento é definido como sendo
um incidente que envolve um empregado e que o impossibilita de continuar
com suas tarefas normais no próximo dia ou turno, devido à lesão recebida.
No aspecto relações trabalhistas, a UNICA (2010) apresenta uma série
de iniciativas sustentáveis que constam no “Compromisso Nacional para
Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar”, fruto de uma
experiência pioneira no Brasil de diálogo e negociação nacional tripartite entre
empresários, trabalhadores e governo federal. Trata-se de um conjunto de
cerca de trinta práticas trabalhistas que vão além do que determina a lei.
A UNICA (2010) explica que o ponto central do “Compromisso Nacional”
é a valorização das melhores práticas trabalhistas, através da criação de
instrumentos de mercado que as reconheçam como exemplos a serem
adotados por um número crescente de empresas.
Em relação ao contrato de trabalho, por exemplo, o Compromisso
Nacional prevê a contratação direta de trabalhadores nas atividades manuais
do plantio e corte da cana-de-açúcar, eliminando totalmente a utilização dos
intermediários, os chamados “gatos” (UNICA, 2010).
Segundo a UNICA (2010), o “compromisso” defende também outros
pontos: a eliminação de remuneração vinculada aos ganhos dos trabalhadores
36
para os serviços de transporte, administração e fiscalização, o aumento da
transparência na aferição e no pagamento do trabalho por produção, um amplo
conjunto de melhores práticas de gestão em saúde e segurança, como
ginástica laboral, pausas, reidratação e atendimento de emergência; o
transporte de trabalhadores, a divulgação e orientação das melhores práticas
junto aos fornecedores de cana, o atendimento a migrantes contratados em
outras localidades, o fortalecimento das organizações sindicais e das
negociações coletivas, bem como, a valorização das ações de
responsabilidade corporativa das empresas nas comunidades canavieiras.
Alguns exemplos dessas ações podem ser vistas no trabalho de
BRAGATO et al. (2008), onde afirmam que na organização do trabalho, usinas
mais modernas têm objetivado a elaboração de programas de envolvimento de
seus empregados por meio do trabalho de psicólogos, assistentes sociais,
programas assistenciais e políticas de treinamento, visando à elevação da
produtividade e à redução do absenteísmo.
Outro grupo de indicadores importante para a sustentabilidade
socioeconômica é aquele relacionado à responsabilidade social das
empresas sucroenergéticas.
Segundo BRAGATO et al. (2008), a discussão de responsabilidade
social é uma tentativa de restabelecer uma tradição milenar, quando os
negócios estavam intimamente relacionados com a comunidade.
GOES (2013) aponta Howard Bowen que, em 1957, foi o responsável
por caracterizar e transformar a discussão sobre a filantropia na doutrina da
responsabilidade social das empresas ao afirmar que as empresas não devem
somente ser responsáveis pelas externalidades que causam, mas devem servir
como um elemento motriz do desenvolvimento da própria sociedade.
GOES (2013) diz que, paralelamente ao conceito de responsabilidade
social, foi desenvolvido o conceito dos stakeholders da empresa. O autor
conceitua stakeholders como os demais agentes que possuem relações diretas
e indiretas com a empresa. Em um primeiro momento, estes agentes eram: os
clientes, os fornecedores, os acionistas, os funcionários e a comunidade.
MACEDO et al. (2007) afirmam que a evolução das unidades de negócio
do setor sucroenergético, como de resto nos vários setores da economia, está
37
levando as empresas a assumirem cada vez mais o que se convencionou
chamar “responsabilidade social” no contexto de seus negócios.
Segundo MACEDO et al. (2007), “responsabilidade social” é um termo
usado para descrever ações na área de negócios ligadas a valores éticos:
conformidade legal, respeito às pessoas, comunidades e meio ambiente.
Mais especificamente, é o entendimento dos negócios como uma parte
integrada da sociedade, contribuindo diretamente para o seu bem-estar,
preocupando-se com os impactos sociais das políticas e práticas dos negócios,
do negócio específico nos níveis abaixo e acima na cadeia de valores e com os
impactos das contribuições voluntárias dos negócios nas comunidades que
afetam.
No trabalho de BRAGATO et al. (2008) são apresentadas algumas
ações sociais de 55 usinas paulistas associadas à UNICA. O trabalho evidencia
o desenvolvimento de 359 projetos de ação social pelas usinas de açúcar e
álcool do Estado de São Paulo associadas à UNICA. Destaca que essas
iniciativas se concentram principalmente na área educacional (40%) e
ambiental (25%).
BRAGATO et al. (2008) ainda correlacionam as externalidades negativas
com exemplos de ações sociais realizadas pelas usinas, o que ajuda a
entender o foco das ações (Quadro 1).
A UNICA (2010) ainda cita algumas ações sociais, em seu Relatório de
Sustentabilidade, que podem servir de incentivo para usinas de todo o país.
Segundo a UNICA (2010), o Programa de Requalificação de
Trabalhadores da Cana-de-Açúcar (RenovAção) é o maior programa de
requalificação do agronegócio brasileiro. De acordo com a Instituição, trata-se
de um compromisso assumido pelo setor de antecipar-se ao marco legal e
reduzir os prazos para o fim das queimas controladas. Com a mecanização da
colheita, vem trazendo como consequência inevitável a redução no número de
trabalhadores que atuam no corte manual da cana.
38
Quadro 1. Externalidades negativas vs. ações sociais
Externalidades negativas Exemplos de ações sociais
Baixa qualificação dos funcionários - alfabetização para adultos;
- projeto de qualificação;
- educação para cidadania;
- projeto escrever é vida; e
- teles salas.
Degradação do solo e dos rios - projeto preservação dos rios e
nascentes;
- projeto adequação das áreas;
- projeto reflorestamento; e
- projeto preservação ambiental
Problemas de saúde - projeto saúde do trabalhador e
comunidade;
- projeto ginástica laboral.
Fonte: BRAGATO et al. (2008).
De acordo com avaliações da UNICA (2010), cada máquina substitui o
trabalho de oitenta homens e, assim, 70 mil trabalhadores no Estado de São
Paulo terão que migrar para outras atividades, num processo que também
impactará as comunidades próximas às lavouras, as quais, muitas vezes, têm
na atividade canavieira sua principal fonte de emprego e renda. A
requalificação desses trabalhadores desponta como uma alternativa para sua
reinserção em outros postos de trabalho.
Para finalizar, são elencadas algumas iniciativas de sustentabilidade,
também constantes em UNICA (2010), referentes à interação com as
comunidades, considerando um universo de 93 associadas:
61 usinas participam de Fóruns Locais;
41 usinas atuam em parceria com a comunidade na construção
de redes para a solução de problemas locais, oferecendo suporte
técnico, e/ou espaço físico, ou outros tipos de apoio;
39
83 usinas contribuem com melhorias na infraestrutura ou no
ambiente local que possam ser usufruídas pela comunidade
(habitações, estradas, pontes, escolas, hospitais, etc.);
89 usinas têm programa para empregar, na medida do possível, o
maior número de moradores do local em que está inserida,
dando-lhes formação com o objetivo de aumentar os níveis de
qualificação daquela comunidade em cooperação com sindicatos,
ONGs, representantes da comunidade ou autoridades públicas.
40
5. Referências Bibliográficas
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44
6. Artigos
Artigo I
Gestão da Sustentabilidade do Segmento Sucroenergético do Mato
Grosso do Sul: análise das ações socioeconômicas e ambientais das
empresas
Alex Sandro Richter Won Mühlen
Resumo
O presente trabalho foi desenvolvido na linha de pesquisa Sociedade,
Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Como objetivo, pretendeu-
se analisar a gestão da sustentabilidade nas empresas do segmento
sucroenergético do Mato Grosso do Sul. Para tanto, foi realizada uma pesquisa
exploratória descritiva, combinando informações quantitativas e qualitativas,
colhidas por meio de formulários aplicados a uma amostra das usinas do
Estado de Mato Grosso do Sul (MS), localizadas na microrregião de Dourados,
que responde por 75% do processamento de cana-de-açúcar de MS. Os dados
foram processados e analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0,
SPSS 22.0 e SmartPLS. Quanto às ações de gestão da sustentabilidade no
grupo socioeconômico, 55% dos indicadores se destacaram acima da média do
grupo: geração de emprego, geração de renda, ética organizacional, saúde e
segurança na empresa, saúde e segurança para fornecedores, reação dos
mercados às ações socioambientais. No grupo ambiental 80% dos indicadores
se destacaram acima da média do grupo: colheita mecanizada, destinação dos
resíduos sólidos, controle biológico, tratamento de efluentes, inventário de
emissões, preservação matas nativas, biomonitoramento e reuso da água. O
modelo foi considerado válido, obtendo-se uma correlação de 0,8 entre os
grupos de variáveis socioeconômico (GSE) e ambiental (GA), pelo método
PLS. Os resultados mostraram que as usinas da microrregião de Dourados
desenvolvem ações de gestão da sustentabilidade dentro das dimensões
socioeconômica (média de 6,32 na escala de 1 a 7) e ambiental (média de 6,46
45
na escala de 1 a 7), em maior ou menor grau, considerando indicadores de
sustentabilidade reconhecidos e utilizados internacionalmente para o setor.
Palavras-chave: Desenvolvimento regional sustentável, empresas
sucroenergéticas, microrregião de Dourados, reuso da água.
Abstract
This work was developed in the line of Society research, Environment and
Sustainable Regional Development. The objective was intended to analyze the
management of sustainability in the companies of sugarcane segment of Mato
Grosso do Sul. Therefore, a descriptive exploratory research combining
quantitative and qualitative information, collected through forms applied to a
sample of companies was held located in the micro region of Dourados, which
accounts for 75% of the processing of sugarcane in Mato Grosso do Sul. the
data were processed and analyzed using the software Sphinx Lexica 5.0, SPSS
22 and SmartPLS. As for sustainability management actions, the socio-
economic group 55% of the indicators stood above the group average: job
creation, income generation, organizational ethics, health and safety in the
workplace, health and safety for suppliers, the market reaction to environmental
actions. In the environmental group, 80% of the indicators stood above the
group average: mechanical harvesting, disposal of solid waste, biological
control, wastewater treatment, emissions inventory, preserve native forests,
biomonitoring and water reuse. The model was considered valid obtaining a
correlation between 0.8 socioeconomic groups of variables (GSE) and
environmental (GA) by the PLS method. The results showed that the companies
of Dourados micro region develop sustainability management actions within the
socioeconomic dimensions (average of 6.32 on a scale of 1 to 7) and
environmental (average of 6.46 on a scale of 1 to 7), a greater or lesser degree,
considering sustainability indicators recognized and used internationally for the
sector.
Keywords: Society, Environment, Sustainable regional development.
46
Introdução
No final do século XX ocorreram, no Brasil, muitas mudanças no
ambiente em que as empresas operam. Empresas que antes eram vistas
apenas como instituições econômicas têm presenciado o surgimento de novos
papéis, principalmente no âmbito das responsabilidades socioambientais e, por
pressão da própria sociedade e das autoridades, surgem cobranças por ações
cada vez mais sustentáveis e ecologicamente corretas (DONAIRE, 1999;
RODRIGUES e ORTIZ, 2006; SILVEIRA, 2008).
Dessa forma, torna-se relevante a discussão sobre temas afins que
priorizem a resolução dos problemas existentes, bem como se destine a propor
soluções viáveis e coerentes à realidade local, priorizando a sustentabilidade.
No cenário mundial, alguns setores têm apresentado maior dinamismo
em função do aspecto estratégico de seus produtos ou processos tal como, o
setor energético a partir da oferta de fontes de energia renovável. Entre os
segmentos desse setor, o biocombustível derivado da cana-de-açúcar tem
recebido grande destaque, tendo em vista as perspectivas de ampliação da
demanda por produtos ecologicamente sustentáveis e economicamente
viáveis.
O Brasil possui capacidade para liderar o mercado internacional de
energia renovável, não só devido ao intensivo e acelerado grau de
desenvolvimento tecnológico e da competitividade industrial, mas também,
porque no país existe um potencial de matéria-prima em abundância para
fabricar o biocombustível. Além da cana-de-açúcar, há a presença de outras
fontes de energia renováveis como óleos vegetais e de madeira, derivados de
leite, gordura animal, entre outros (RODRIGUES e ORTIZ, 2006).
Com frequência o bagaço da cana tem sido matéria-prima para geração
de eletricidade, comercializada junto às concessionárias de energia elétrica. A
energia total gerada a partir da cana no Brasil atingiu em 2007 15,9% da
energia produzida no país, de modo que, o número faz da cana-de-açúcar a
segunda mais importante fonte de energia do Brasil (CRUZ, 2010). Dados mais
recentes da ANEEL (2013) mostram uma pequena alteração no ranking de
47
produção de energia elétrica, com as hidroelétricas responsáveis por 64,37%
da produção, seguidas do gás natural com 9%, e do bagaço de cana
(biomassa), representando 6,81% da matriz elétrica brasileira. Mesmo com
esse baixo índice, a cana mantém uma posição de destaque entre as fontes de
energia brasileiras devido ao seu potencial de crescimento.
A região Centro-oeste tem despontado nas últimas safras como nova
área de expansão do cultivo da cana-de-açúcar. O Leste do estado de Mato
Grosso do Sul e o Oeste do estado de Minas Gerais acompanham esta
tendência de expansão de novas áreas de cultivo da cana (RODRIGUES e
ORTIZ, 2006).
O estado de Mato Grosso do Sul, juntamente com Goiás, Minas Gerais e
São Paulo compõem a região que corresponde às áreas de maior
produtividade e de expansão da cana-de-açúcar (CANASAT/INPE, 2013). Daí,
a importância de se analisar as práticas adotadas pelas empresas do setor
sucroenergéticas na busca da sustentabilidade.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo evidenciar a
gestão da sustentabilidade nas empresas do segmento sucroenergético do
estado de Mato Grosso do Sul. Como objetivos específicos, pretendeu-se:
descrever o perfil das empresas sucroenergéticas de MS, e avaliar as ações
socioeconômica e ambiental dessas empresas.
Material e Métodos
Área geográfica de estudo
O presente trabalho foi desenvolvido no estado de Mato Grosso do Sul
que, de acordo com a BIOSUL (2013), possui vinte e duas usinas
sucroenergéticas em operação.
De acordo com a CANASAT/INPE (2013), a cana-de-açúcar está
presente em 39 municípios de Mato Grosso do Sul, com 755.294 hectares de
área cultivada na safra 2013/2014. Quase metade da área cultivada (49%)
desses municípios está concentrada na microrregião de Dourados (Tabela 1).
48
Tabela 1. Área cultivada de cana-de-açúcar na microrregião de Dourados, MS -
Ano safra 2013/2014
Código IBGE Município Microrregião Área Cultivada
(ha)
5007208 Rio Brilhante Dourados 96.491
5006002 Nova Alvorada do Sul Dourados 84.601
5003702 Dourados Dourados 44.796
5005400 Maracaju Dourados 42.149
5006606 Ponta Porã Dourados 39.883
5002407 Caarapó Dourados 24.420
5005152 Juti Dourados 14.779
5005251 Laguna Carapã Dourados 11.942
5004502 Itaporã Dourados 7.866
5008404 Vicentina Dourados 4.071
5003801 Fátima do Sul Dourados 960
5003504 Douradina Dourados 157
Total 372.115
Fonte: Adaptado de CANASAT/INPE (2013).
A microrregião de Dourados é composta por 15 municípios: Amambai,
Antônio João, Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Dourados, Fátima do Sul,
Itaporã, Juti, Laguna Carapã, Maracaju, Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio
Brilhante e Vicentina. A Figura 1 apresenta, em destaque, a microrregião de
Dourados.
49
Figura 1. Mapa do estado de Mato Grosso do Sul, com destaque para a
microrregião de Dourados. Fonte: Adaptado de ABREU (2014).
Na figura 2 pode-se observar a expansão da cultura da cana-de-açúcar
entre os anos de 2003 e 2012. Percebe-se a concentração das lavouras na
microrregião Dourados, região esta caracterizada por área planas, de solos
férteis e agricultáveis.
50
Figura 2. Mapa de cultivo cana-de-açúcar na região Centro-sul de Mato
Grosso do Sul nos anos de 2003 (A) e 2012 (B). Município de Campo
Grande em destaque. Fonte: CANASAT/INPE (2013).
População e amostragem da pesquisa
De acordo com a BIOSUL (2013), há 22 empresas sucroenergéticas em
operação no estado de Mato Grosso do Sul. Destaca-se a microrregião de
Dourados como sendo o local que, além de concentrar quase metade da área
cultivada de cana (49%), concentra também o maior número de usinas (11),
seguida da microrregião Iguatemi (4), Nova Andradina (3) e Cassilândia (2). As
demais microrregiões possuem apenas uma usina cada.
Também foi a microrregião de Dourados que mais expandiu o cultivo da
cana no Estado (Figura 2). Diante do exposto, foi escolhida a microrregião de
51
Dourados como amostra para o presente estudo, considerando a relevância da
mesma nos aspectos área cultivada, expansão da cultura da cana,
concentração das lavouras, participação na produção de cana no Estado e
concentração de empresas sucroenergéticas. A amostra inicial foi composta
com pelo menos três indivíduos de cada uma das empresas envolvidas,
representados pelos seus gerentes ou dirigentes ligados à área de
sustentabilidade (responsabilidade socioambiental, responsabilidade social ou
desenvolvimento sustentável), das onze usinas instaladas na microrregião de
Dourados (Tabela 2).
Tabela 2. Relação das empresas sucroenergéticas instaladas na microrregião
de Dourados no Mato Grosso do Sul, em 2013
Empresa Município Microrregião
Raízen Caarapó Caarapó Dourados
Bunge – Monteverde Dourados Dourados
São Fernando Açúcar e Álcool Dourados Dourados
Fátima do Sul Agro-energética Fátima do Sul Dourados
Biosev– Maracaju Maracaju Dourados
Tonon Bioenergia Maracaju Dourados
Odebrecht Agroindustrial-Santa Luzia I Nova Alvorada do Sul Dourados
Biosev - Passa Tempo Rio Brilhante Dourados
Biosev - Rio Brilhante Rio Brilhante Dourados
Odebrecht Agroindustrial - Eldorado Rio Brilhante Dourados
Energética Vicentina Vicentina Dourados
Fonte: Elaborado com dados da BIOSUL (2013).
Fonte e coleta de dados
A coleta de dados para a pesquisa envolveu duas etapas de trabalho.
Primeira etapa:
52
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema com a finalidade
de conhecer melhor o setor sucroenergético no Brasil, com destaque para Mato
Grosso do Sul, e os elementos teóricos relacionados à sustentabilidade.
Nesta etapa foram analisadas diversas fontes de dados, como artigos
acadêmicos, relatórios de pesquisas, websites das empresas, notícias de
jornal, informações governamentais, relatórios de sustentabilidade das
empresas, entre outras. Tais informações consistiram de base para elaboração
de um formulário estruturado a ser utilizado na etapa seguinte da pesquisa,
bem como para a discussão dos resultados (Quadro 2).
Segunda etapa:
Para atender o objetivo de avaliar as ações das empresas do setor
quanto à gestão da sustentabilidade, foi aplicado um formulário estruturado
(Apêndice A) aos gestores das usinas instaladas na microrregião de Dourados
(Tabela 2).
Da amostra inicial, de onze empresas, foram visitadas efetivamente dez
delas e um total de 63 indivíduos foram entrevistados, obtendo-se uma taxa de
retorno de 90,9%.
Instrumento de coleta de dados:
O formulário aplicado (Apêndice A) era composto de questões
predominantemente fechadas.
Nas medições das variáveis das dimensões socioeconômica e ambiental
empregou-se a escala de Likert de 7 pontos, variando de 1 = discordo
totalmente até 7 = concordo totalmente.
Questões abertas também foram utilizadas de forma limitada para
complementar as questões fechadas. As declarações dos entrevistados foram
anotadas pelo pesquisador.
Os dados provenientes das questões abertas foram categorizados e
analisados segundo a sua natureza, através do método de análise de conteúdo
(CAMARA, 2013).
53
Foi notificado e assegurado a todos os respondentes a confidencialidade
e o sigilo das suas respostas, e que os dados seriam agregados e processados
como um todo, utilizando-os em trabalhos científicos.
No quadro 2 são apresentadas as variáveis constituintes do formulário,
as suas dimensões, bem como, as fontes que deram sustentação teórica.
Quadro 2. Variáveis, dimensões e referência bibliográfica de sustentação
teórica dos constructos do formulário.
Variável Dimensão Fonte
Geração de empregos
Geração de renda
Socioeconômica:
Econômica
MACEDO et al. (2007);
SILVA (2010); FREIRE
(2010); BIOSUL (2013)
Ética organizacional
Acidente de trabalho
Contratos de trabalho
Qualificação profissional
Assistência a migrantes
Melhores práticas de
gestão em saúde e
segurança
Respeito às organizações
sindicais
Socioeconômica:
Condições de
trabalho
CRUZ e SOUZA (2012)
SILVEIRA (2008)
BSI (2014)
UNICA (2010)
RODRIGUES e ORTIZ
(2006)
Empregabilidade de
moradores
Participação em entidades
Projetos na comunidade
Socioeconômica:
Responsabilidade
social
BRAGATO et al. (2008)
GOES (2013); MACEDO et
al. (2007)
UNICA (2010)
Continua...
54
Continuação....
Variável Dimensão Fonte
Queima de cana-de-
açúcar
Inventário de emissões de
GEE
Ambiental:
qualidade do ar
MACEDO et al. (2007);
SILVA (2010); ANDRADE e
DINIZ (2007); GLIESSMAN
(2000); SOUZA (2013)
Tratamento dos efluentes
líquidos
Uso dos recursos hídricos
Ambiental:
Poluição da água
ANDRADE e DINIZ (2007)
SILVA (2010)
MACEDO et al. (2007)
Destinação dos resíduos
sólidos
Uso de agroquímicos
Controle biológico
Ambiental:
Poluição do solo
BUENO e SALVADOR
(2012); MACEDO et al.
(2007); ANDRADE e DINIZ
(2007); LIECHOSCKI e
MAINIER (2003)
Preservação das matas
nativas
Preservação da fauna
Biomonitoramento
Ambiental:
biodiversidade
BSI (2014)
SILVA (2010)
ANDRADE e DINIZ (2007)
UNICA (2010)
Para a aplicação dos formulários, primeiramente foi contatada a
Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), à
qual todas as empresas sucroenergéticas do Estado são associadas. Com
apoio da BIOSUL foram contatadas pessoalmente as usinas convidando-as a
fazerem parte da pesquisa, explicando a natureza da mesma, sua importância
e a necessidade de obter respostas, tentando despertar o interesse do
recebedor para o tema.
As entrevistas e a aplicação dos formulários foram conduzidas
pessoalmente pelo pesquisador mediante agendamento prévio com os
entrevistados.
Para aprimorar o formulário elaborado, o mesmo foi submetido a um
conjunto de professores do mestrado e doutorado da Universidade Anhanguera
- Uniderp para suas críticas e sugestões quanto à redação e escalas. O
55
formulário foi submetido ao Comitê de Ética para Seres Humanos, para análise
e deferimento antes de sua aplicação (aprovado conforme parecer nº 990.953
de 08/12/2014).
Antes da aplicação do formulário foi feito um pré-teste aplicando o
instrumento a dois representantes das usinas, no município de Maracaju-MS,
com a finalidade de avaliar fatores críticos como clareza, abrangência e
aceitabilidade do instrumento. Como não houve discrepâncias significativas no
instrumento, tais entrevistas foram incorporadas ao trabalho.
Tratamento dos dados
Após a aplicação do formulário a campo, os dados foram processados e
analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 22. Foram
realizadas análises estatísticas descritivas para descrever o perfil das
empresas sucroenergéticas e avaliar as ações na gestão socioeconômica e
ambiental.
A confiabilidade do instrumento foi feita por meio do coeficiente alfa de
Cronbach e a caracterização da população de estudo, por análise descritiva
(médias, desvios padrão, valores mínimos, valores máximos e proporções).
Valores de alfa iguais ou maiores que 0,700 são consistentes e aceitáveis
neste estudo (HAIR et al., 2009).
Também, foi realizada a Análise Fatorial Exploratória (AFE) com o
objetivo de identificar quantos e quais fatores latentes podem ser extraídos do
conjunto das variáveis por meio das associações entre elas. Os ajustes na
análise fatorial foram feitos com base no quadro 3.
56
Quadro 3. Valores de Referência na Comprovação do Ajuste do Modelo, pela
Análise Fatorial Exploratória
Propósito Valores de Referência
Ajuste dos constructos
latentes e seus respectivos
itens.
Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) > 0,50
Esfericidade de Bartlett, p < 0,05
Alfa de Cronbach, α > 0,70
Medida de adequação da amostra (MSA) > 0,50
Comunalidade > 0,50
Variância explicada (ve) > 0,50
Fonte: Adaptado de HAIR et al. (2009).
Na figura 3 é apresentado um modelo de correlação entre ações de
sustentabilidade socioeconômica e ambiental.
Figura 3. Modelo de correlação entre ações de sustentabilidade
socioeconômica e ambiental.
Fonte: o autor
Para a avaliação e validação do modelo utilizou-se a modelagem de
equações estruturais por meio do método PLS (Partial Least Squares)
incorporado no programa estatístico SmartPLS.
Segundo MORAES et al. (2011), a técnica PLS é capaz de calcular as
correlações entre os indicadores e as variáveis latentes e estimar a sua
significância por meio do procedimento de reamostragens (bootstrapping).
57
Resultados e Discussão
Caracterização da População
Segundo a classificação de BRAGATO et al. (2008), 38,1% das
empresas sucroenergéticas do estudo são usinas de grande porte, com
capacidade de moagem de cana acima 3,5 milhões de toneladas/ano. Em
seguida tem-se usinas de médio porte (30,2%) com capacidade de moagem
entre 2 e 3,5 milhões de toneladas/ano, e usinas de pequeno porte (31,7%)
com capacidade de moagem de até 2 milhões de toneladas/ano.
De acordo com as informações levantadas na pesquisa, as usinas estão
trabalhando com 94% de sua capacidade instalada de moagem (Tabela 3).
Considerando a capacidade de moagem e a capacidade instalada
utilizada, as usinas processam cerca de 75% da cana do Mato Grosso do Sul
que, segundo a BIOSUL (2013), para a safra 2013/2014 era de cerca de 41,5
milhões de toneladas.
Tabela 3. Capacidade de moagem e área plantada de cana pelas usinas,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Usina Capacidade de Moagem
(toneladas)
Área Plantada
(hectares)
Empresa A 1.700.000 26.000
Empresa B 3.200.000 42.000
Empresa C 5.000.000 40.000
Empresa D 1.400.000 20.000
Empresa E 1.300.000 15.500
Empresa F 6.000.000 54.500
Empresa G 6.000.000 50.000
Empresa H 2.500.000 33.000
Empresa I 4.500.000 60.000
Empresa J 2.000.000 36.000
Total 33.600.000 377.000
Fonte: Dados da pesquisa.
58
Quanto ao “mix de produtos” das empresas, evidenciou-se que todas
produzem etanol, 90% produzem bioeletricidade e 70% produzem açúcar.
NEVES (2014) explica que a diversificação tem sido encarada pelas
agroindústrias como uma forma de neutralizar riscos específicos associados a
determinados mercados.
A maioria das empresas (90,5%) faz contratos com fornecedores de
cana. O fornecedor de cana é um produtor rural, que pode ser independente ou
integrado, que planta a cana-de-açúcar de maneira exclusiva (especializado)
ou como estratégia de diversificação do seu negócio (juntamente com
produção de grãos), e que fornece (vende) cana às usinas.
NEVES (2014) afirma que, no Brasil, cerca de dois terços da cana é
produzida ou gerenciada pelas próprias usinas e, o resto, por fornecedores. O
autor afirma que esse cenário deve mudar com a entrada de empresas vindas
do setor de petróleo, tradings e outros, no setor sucroenergético, empresas
estas que terão menos incentivo para gerir as áreas agrícolas.
Os dados de NEVES (2014) divergem um pouco da realidade estudada,
uma vez que a participação da cana produzida pelos fornecedores no Mato
Grosso do Sul ainda é pequena, pois para 41% das empresas o fornecimento
de cana por fornecedores representa menos de 10% do total processado pelas
mesmas (Tabela 4).
59
Tabela 4. Representatividade dos contratos com fornecedores de cana no total
de cana processada pelas usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do
Sul, 2015
Fornecedores de cana autônomos % de usinas
Não possui fornecedores de cana 28,6
Menos de 10 41,3
De 10 a 20 9,5
De 20 a 30 -
De 30 a 40 -
De 40 a 50 11,1
De 50 a 60 -
60 e mais 9,5
Total 100
Obs: A questão é de resposta aberta numérica. As observações são
reagrupadas em 7 categorias de igual amplitude. Mínimo = 1, Máximo = 100.
Soma = 1056. Média = 23,47% e Desvio-padrão = 32,94%.
Das empresas pesquisadas apenas uma relatou que tem 100% de seu
fornecimento de cana garantido por terceiros. Cerca de oitentas por cento das
empresas possuem unidades em outros estados do Brasil. A concentração de
outras unidades das usinas ocorre majoritariamente na região Sudeste (38,1%)
e Centro-Oeste (33,3%). Já 19% das empresas possuem unidades também na
região Nordeste (Tabela 5).
60
Tabela 5. Presença de unidades das usinas, microrregião de Dourados, Mato
Grosso do Sul, 2015, em outras regiões do Brasil
Regiões Frequência %
Não possui filial 12 9,0
Sudeste 51 38,3
Nordeste 26 19,6
Sul - -
Centro-Oeste 44 33,1
Norte - -
Total 133 100,0
OBS: A tabela foi construída sobre 133 observações. Os percentuais foram
calculados em relação ao número de citações.
Quanto à experiência das empresas no setor sucroenergético, verificou-
se que 50% dos grupos atuam há mais de 10 anos, 40% entre 6 e 10 anos e
10% há menos de 6 anos. Em Mato Grosso do Sul 60% das plantas industriais
sucroenergéticas possuem menos de 8 anos de funcionamento, constituindo
áreas que as empresas denominam de greenfields ou áreas de expansão
(usinas novas). Destacam-se algumas plantas mais antigas, com mais de 25
anos, nos municípios de Rio Brilhante e Maracaju que foram adquiridas por
novos grupos.
Ao serem questionadas se as empresas estariam passando por
dificuldades diante do atual cenário econômico, todas foram unânimes em
responder positivamente, dizendo que a crise do setor é a maior já enfrentada.
As afirmações dos dirigentes das usinas são suportadas por MEGIDO
(2015), ao expor que o setor de cana-de-açúcar, hoje, está na pior condição
dentre todas as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro. O setor deve,
simplesmente, 110% da própria safra. Ou seja, deve mais do que arrecada em
um ano. Diante de tal cenário, quase todas as usinas tiveram seus
investimentos para expansão de negócios suspensos ou preteridos.
Entre as principais causas da crise elencadas pelas empresas, em uma
relação de múltipla resposta, com questão aberta, aparecem três causas
61
principais: política do governo para o setor (64,5%), problemas climáticos
(21,5%) e reflexos da crise econômica mundial (12,9%) (Tabela 6).
Tabela 6. Principais causas da crise econômica do setor segundo as usinas,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Fatores Frequência %
Política do Governo 60 64,5
Clima 20 21,5
Crise Econômica Mundial 12 12,9
Outros 1 1,1
Total 93 100,0
OBS: A tabela foi construída sobre 63 observações. Os percentuais foram
calculados em relação ao número de citações.
Para MEGIDO (2015) a dificuldade do segmento está no aspecto
econômico, com a dimensão da dívida, e com a margem do etanol, em função
dos preços da gasolina. Adicionando a isso uma oferta mundial maior de
açúcar, sendo o Brasil o maior produtor, ocorre um problema de desequilíbrio.
Dentro do fator “política do governo para o setor”, em menor escala
aparecem declarações como: mudança de foco de incentivo do etanol para o
pré-sal, desincentivo à produção de energias limpas, política para matriz
energética desfavorável ao etanol, falta de políticas claras, preço teto dos
leilões de energia não favorece a bioeletricidade e o problema do controle de
preços da gasolina e do etanol pela Petrobrás (manutenção de preços artificiais
inviabilizaram economicamente várias usinas).
De acordo com SCARAMUZZO (2014), a crise do setor começou a se
agravar a partir de 2009, o que gerou uma onda de consolidação, com forte
entrada de grupos estrangeiros, como exemplos, a francesa Louis Dreyfus,
dona da Biosev e a indiana Shree Runuka. Segundo a autora, as causas
passaram da má gestão por parte de algumas empresas ao não reajuste dos
preços da gasolina por parte do governo, o que tirou a competitividade do
62
etanol, afetando grande parte das usinas. Em 2014, a queda dos preços do
açúcar também piorou a situação das empresas.
Quanto aos “problemas climáticos”, destacam em Mato Grosso do Sul as
geadas que castigaram os canaviais no inverno de 2013, fazendo com que as
lavouras retornassem ao estágio inicial. Nas unidades no estado de São Paulo,
onde estão instaladas outras unidades pertencentes aos mesmos grupos que
operam no MS, foi a seca que prejudicou as lavouras, resultando na
paralização das usinas meses antes do final da safra por falta de cana para
processar.
BATISTA (2013) explica que, no caso sul-mato-grossense, as
baixíssimas temperaturas afetaram a chamada "Grande Dourados", onde
operam grupos como Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus
Commodities, Odebrecht Agroindustrial (antiga ETH Bioenergia), Raízen
Energia (Cosan / Shell) e o Grupo Tonon.
BATISTA (2013) ainda afirma que cerca de 100 mil hectares de cana
foram submetidos à onda de frio, o equivalente a 15% da área de corte de Mato
Grosso do Sul, fazendo com que as usinas deixassem de moer 4 milhões de
toneladas de cana e tivesse uma perda de açúcar na cana, o chamado ATR
(Açúcar Total Recuperável), equivalente a mais 3,5 milhões de toneladas de
cana.
O impacto da seca na cana pode ser verificado em SCARAMUZZO
(2014) que apresenta um levantamento da ÚNICA, mostrando que a colheita
no Centro-Sul, na safra 2014/15, deve ser 40 milhões de toneladas menor que
o previsto inicialmente por causa da seca, sobretudo nos estados de São Paulo
e Minas Gerais.
Ao citarem os “reflexos da crise econômica mundial”, em menor escala,
aparecem declarações como: falta de crédito para o setor e da
descapitalização das usinas (o crédito diminuiu e o mercado dificultou as
operações de financiamento para o setor).
A FIESP (2013) dá sustentação às afirmações dos dirigentes das usinas
em seu estudo “Outlook Fiesp 2023”, explanando que após a crise financeira
global de 2008, os investimentos no setor cessaram e a expansão dos
canaviais foi comprometida, em especial, pela redução abrupta do crédito, que
63
era abundante até então. Como resultado, grande parte das empresas
encontrava-se altamente endividada, cenário que foi potencializado pelo
aumento da oferta mundial de açúcar.
Ainda, de acordo com a FIESP (2013), a situação financeira
desfavorável da maioria das empresas estava longe de ser equacionada. O
setor passou a experimentar um forte movimento de fusões e aquisições, ao
mesmo tempo em que parte da capacidade de moagem passou para empresas
multinacionais, fatores que modificaram de forma importante o seu perfil.
Gestão da sustentabilidade: Grupo socioeconômico
A tabela 7 apresenta resultados de declarações dos dirigentes das
usinas, na qual se verifica o grau de concordância relacionado às ações de
sustentabilidade socioeconômica, com foco nas relações trabalhistas e na
responsabilidade social dentro das empresas.
Tabela 7. Resultados das variáveis de gestão da sustentabilidade do grupo
socioeconômico das usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul,
2015
Variável Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
Q11 - Geração de empregos 5 7 6,90 0,346
Q12 - Geração de renda 5 7 6,90 0,346
Q13 - Ética organizacional 5 7 6,73 0,515
Q14 - Acidente de trabalho(*) 1 4 2,27 0,865
Q15 - Qualificação profissional 4 7 6,14 0,820
Q16 - Saúde e segurança Empresa 5 7 6,78 0,522
Q17 - Saúde e segurança Fornecedores 5 7 6,54 0,737
Q18 - Empregabilidade de moradores 3 7 6,11 0,918
Q19 - Participação em entidades 2 7 4,97 1,191
Q20 - Valorização de ações RS(**) 3 7 6,02 1,008
Q21 - Reação mercados ações RS(**) 4 7 6,65 0,699
64
OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1 (Discordo
totalmente) a 7 (Concordo totalmente). (*). Os parâmetros para esta variável
são estabelecidos sob uma notação de 1 (Pouco) a 7 (Muito). (**) RS =
Responsabilidade Social.
O conjunto de variáveis de sustentabilidade socioeconômica apresentou
alfa de Cronbach igual a 0,731. Esse resultado demonstra a consistência do
instrumento, significando que houve concordância entre o instrumento e a
população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.
Na afirmação “contribuímos para a geração de empregos na região”,
92,1% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,9 na escala
para esta variável (com desvio padrão de 0,346).
Segundo MACEDO et al. (2007), considerando os impactos
socioeconômicos do setor sucroenergético, o de maior importância vem da
geração de empregos e renda, capacitando a mão-de-obra.
FREIRE (2010) concorda com MACEDO et al. (2007) ao destacar como
impactos socioeconômicos positivos a geração de emprego e geração
consequente de atividade econômica na base da pirâmide, bem como de
atividade econômica secundária causada pela produção agrícola e industrial da
cana-de-açúcar. Afirma também que, em geral, a atividade sucroenergética é
vista de forma positiva pelas comunidades e traz relativo progresso a essas
populações.
SILVA (2010) reforça as afirmações de FREIRE (2010) e complementa
que melhorias foram alcançadas nas condições de trabalho e da renda, como
pode ser vista na expansão do trabalho formal e outros direitos dos
trabalhadores, incluindo acesso a serviços de saúde e programas de
qualificação do trabalhador.
Na afirmação “contribuímos para a geração de renda na região”,
também, 92,1% concordaram totalmente (7) ou concordaram (6), o que gerou
uma média de 6,9 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,346).
OLIVEIRA (2014) mostra o reflexo negativo da retração do setor no
município de Sertãozinho (SP), famoso nacionalmente pela presença do setor
sucroenergético (usinas, indústria de bens de capital para o setor, etc.). O
65
município está abalado pela pior crise da história do setor e se esforça para
sair dessa situação.
O autor explica que a cidade, que há dez anos figurava na lista dos 100
maiores PIB do país e ocupava a quarta colocação no ranking nacional em
qualidade de emprego, renda, saúde e educação, segundo o índice FIRJAN de
desenvolvimento municipal, hoje amarga um dos piores resultados na geração
de empregos do Estado e já sente as consequências do fechamento de
indústrias: nos últimos dois anos, o município deixou de arrecadar cerca de R$
30 milhões em tributos.
Outro exemplo, agora positivo, é citado por NEVES (2014) que faz uma
comparação do crescimento de alguns indicadores nos municípios de Caarapó
(MS) e Quirinópolis (GO), antes e depois da implantação de usinas. Segundo
ele, são exemplos do Brasil que dão certo, do país que interioriza o
desenvolvimento, que gera emprego, inserção e oportunidades.
NEVES (2014) aponta que em Quirinópolis, existiam antes de duas
usinas chegarem em 2005, 1.000 empresas. Seis anos após, eram 3.300
empresas, ou seja, empreendedorismo puro. Existiam 5 mil empregos formais,
hoje são mais de 11 mil, com o salário médio saltando de R$ 700 para R$
1.500. A arrecadação de ISS multiplicou por 10 neste período e a de ICMS
pulou de R$ 8 milhões para 25 milhões.
Em Caarapó existiam, antes de uma usina chegar em 2006, 606
empresas. Seis anos após a instalação da usina eram 1.486 empresas, ou
seja, crescimento de 145%. A população estimada era de 22.723 habitantes.
Em 2006, em seis anos aumentou 17%, chegando a 26.532 habitantes. A frota
de veículos aumentou 140%, saltando de 3.947 para 9.482 veículos. A
arrecadação de ISS aumentou 631%, saindo de um patamar de R$ 328 mil
para R$ 2,4 milhões. O ICMS pulou de R$ 7,3 milhões para R$ 15,5 milhões,
aumento de 111% e a receita do município aumentou 164%, de R$ 21 milhões
em 2006 foi para R$ 55,6 milhões em 2012. NEVES (2014) afirma que basta
visitar estes municípios e conhecer o que ele chama de “Brasil chinês”.
SHIKIDA et al. (2008) cita o caso do município de Cidade Gaúcha-PR,
ressaltando a contribuição da Usina Usaciga. Como resultado, 1.739 pessoas
compõem o setor básico do município, enquanto 1.176 pessoas fazem parte do
66
setor não-básico. A Usina Usaciga é responsável por 39,7% do emprego
básico de Cidade Gaúcha, cuja dinâmica do crescimento populacional se
modificou a partir da década de 1980, período de início das atividades da
Usaciga. Concomitante, houve evolução favorável, no que concerne ao Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH), neste município.
Na afirmação “existem compromissos explícitos da empresa que tratam
do tema ética organizacional”, 76,2% concordaram totalmente (7), o que gerou
uma média de 6,73 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,515).
HUMBERG (2008) explica que ética organizacional pode ser definida como um
conjunto de formas de proceder das empresas em relação aos seus públicos
(stakeholders).
Para SILVEIRA (2008), a empresa socialmente responsável não se
limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação
trabalhista e nos padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho),
ainda que esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e
investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem
como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas
relações com os empregados. Segundo a autora, a empresa também deve
estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento
ético e responsável com as minorias e instituições que representam seus
interesses.
Um ponto importante no que diz respeito à sustentabilidade
socioeconômica é identificar se, nas empresas, existem compromissos
explícitos que tratam do tema ética organizacional.
CRUZ e SOUZA (2012) afirmam que a responsabilidade social
empresarial implica em práticas de gestão que vão além de ações
socioambientais, configurando-se, inclusive, pelo contínuo diálogo e
engajamento de todos os stakeholders nas relações e decisões estratégicas
das empresas, suportado por comportamento ético e transparente que se
operacionaliza por meio de políticas de gestão.
Segundo CRUZ e SOUZA (2012), os argumentos éticos derivam dos
princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes, considerando que as
empresas e as pessoas que nelas trabalham deveriam se comportar de
67
maneira socialmente responsável (conduta moralmente correta), mesmo que
envolva despesas improdutivas para a empresa. Os autores defendem que a
formulação de políticas, diretrizes, procedimentos, regulamentos e códigos de
ética são exemplos do tratamento dado pelas empresas a essas questões de
ética organizacional.
Nesse sentido, todos os indivíduos pesquisados afirmaram que as
empresas sucroenergéticas têm essas diretrizes, procedimentos, regulamentos
e códigos de ética bem definidos e que esse conjunto de normas encontra-se
institucionalizado nas organizações, além de ser repassado periodicamente a
todos os funcionários da empresa bem como a seus fornecedores e
terceirizados, num esforço de garantir amplo conhecimento do seu público de
tais normas.
Nas empresas de grande porte ficou evidente, pelas declarações, que
elas possuem um comitê de ética responsável por receber denúncias e dirimir
questões relacionadas ao tema, envolvendo todas as partes interessadas da
organização.
Na afirmação “ocorre acidente de trabalho com afastamento”, procurou-
se evidenciar a percepção dos entrevistados sobre o tema, deixando-se de
analisar a intensidade e a frequência com que ocorrem esses eventos. Para
tanto utilizou-se uma escala de 1 a 7 onde 1 significa “pouco” e 7 “muito”. A
maioria (65,1%) afirmou que tais eventos são pouco frequentes (1 e 2). Tais
escolhas geraram uma média de 2,27 na escala para esta variável (com desvio
padrão de 0,865).
De acordo com o padrão BSI (2014), assegurar um ambiente de trabalho
seguro e saudável em operações de trabalho é fundamental para uma
organização sustentável. Esse indicador procura identificar a frequência de
acidentes com afastamento. Quanto mais próximo de 1, na escala, mais
sustentáveis são as ações de segurança no trabalho na empresa.
Para a BSI (2014), um acidente com afastamento é definido como sendo
um incidente que envolve um empregado e que o impossibilita de continuar
com suas tarefas normais no próximo dia ou turno, devido à lesão recebida. O
desvio padrão é maior nesta variável (0,961) do que nas anteriores. Tal fato
poderia ser explicado, uma vez que as empresas realizam as mensurações de
68
acidentes em diferentes áreas (agrícola, indústria, etc.) e, conforme a área de
atuação do indivíduo, sua resposta pode variar um pouco em relação aos
demais.
Ficou evidente nas entrevistas que todas as empresas possuem
programas para prevenção de acidentes de trabalho, com siglas diferentes,
mas com objetivos semelhantes: prevenir e eliminar as possibilidades de novas
ocorrências. Para tanto, treinamentos são realizados periodicamente com todos
os funcionários da empresa bem como com seus fornecedores, terceirizados e
até mesmo visitantes.
Observou-se nas visitações às empresas que a maioria possuía
números altos de “dias sem acidentes”, divulgados pelas suas respectivas
Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA). Como exemplo, pode-
se citar uma das empresas visitadas que já estava há 948 dias sem acidentes.
Na afirmação “oferecemos programas de requalificação profissional
como alternativa para a reinserção de funcionários em outros postos de
trabalho”, 46% concordaram (6), o que gerou uma média de 6,14 na escala
para esta variável (com desvio padrão de 0,820).
Na afirmação “utilizamos melhores práticas de gestão em saúde e
segurança no trabalho”, 82,5% concordaram totalmente (7), o que gerou uma
média de 6,78 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,522).
Na afirmação “divulgamos e orientamos aos nossos fornecedores de
cana e terceirizados sobre as melhores práticas de gestão em saúde e
segurança no trabalho”, 68,3% concordaram totalmente (7), o que gerou uma
média de 6,54 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,737).
Observou-se que uma minoria (14,3%) concordou parcialmente (5) com
a afirmação. Justificou tal afirmação porque, apesar da empresa utilizar as
melhores práticas junto aos seus colaboradores, a divulgação de tais práticas
de gestão em saúde e segurança junto aos terceirizados poderia ser
melhorada.
Na afirmação “possuímos uma política de empregabilidade de
moradores da comunidade onde o empreendimento está instalado (capacitação
e treinamento)”, 39,7% concordam totalmente (7). As respostas geraram uma
média de 6,11 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,918).
69
No geral, os entrevistados concordaram (média 6,11) que as empresas
possuíam uma política de empregabilidade de moradores da comunidade bem
como realizam capacitação e treinamento destes.
Normalmente, as empresas têm a prática de contratar moradores da
região para os mais diversos cargos e funções nas usinas e, para tanto,
adotam critérios relacionados à logística, oferta, demanda, qualificação, etc. da
mão de obra local. O desvio padrão de 0,918 poderia ser explicado uma vez
que tal “política de empregabilidade de moradores” não é formal e explícita nas
empresas, mas ocorre de fato.
Quando afirmado: “a empresa participa em entidades de classe e de
desenvolvimento regional nas comunidades onde está instalada”, a maioria
(36,5%) foi neutra (4). As respostas geraram uma média de 4,97 na escala
para esta variável (com desvio padrão de 1,191).
No geral, os entrevistados concordaram parcialmente (média 4,97) que
as empresas participavam de entidades de classe e de desenvolvimento
regional nas comunidades. Essa variável, da tabela 7, foi a que teve o maior
desvio padrão (1,191). O desvio padrão poderia ser explicado uma vez que a
participação das empresas em entidades da comunidade existe, mas é pontual
e eventual. Segundo os entrevistados, essa relação poderia melhorar bastante
com uma aproximação de representantes da empresa em fóruns municipais,
órgãos de desenvolvimento, representantes políticos, etc.
GOES (2013) explica que as empresas não devem somente ser
responsáveis pelas externalidades que causam, mas também devem servir
como um elemento motriz do desenvolvimento da própria sociedade. Daí, a
importância da participação efetiva destas empresas nas comunidades locais.
Na afirmação “valorizamos e divulgamos as ações de responsabilidade
corporativa da empresa nas comunidades canavieiras”, 38,1% concordaram
totalmente (7), o que gerou uma média de 6,02 na escala para esta variável
(com desvio padrão de 1,008). O desvio padrão de 1,008 poderia ser explicado
uma vez que mais de 10% afirmaram que discordavam parcialmente (3) ou
foram neutros (4).
Tal divergência ocorre porque, apesar da maioria das empresas realizar
um bom trabalho de divulgação de suas ações de responsabilidade social ou
70
corporativa em suas publicações internas e em relatórios oficiais. Na percepção
dos entrevistados, a comunicação de tais ações nas comunidades onde estão
instaladas ainda é pequena e poderia ser ampliada, utilizando-se diversos
canais de comunicação.
Quando afirmado: “os mercados reagirão mais positivamente às ações
socioambientais promovidas pela empresa”, 74,6% concordaram totalmente
(7), o que gerou uma média de 6,65 na escala para esta variável (com desvio
padrão de 0,699).
BOTELHO (2006) afirma que, nos países em desenvolvimento, os
mercados do México, Chile, Argentina e Filipinas, por exemplo, reagem de
forma positiva às notícias de bom desempenho ambiental e que empresas
perdem valor com notícias de danos ambientais.
Um dirigente de uma das usinas declarou que as ações socioambientais
são avaliadas periodicamente por auditorias externas com foco na captação de
recursos financeiros internacionais, por exemplo, do Banco Holandês.
A diferenciação das variáveis do grupo socioeconômico quanto ao nível
de sustentabilidade foi feita através da determinação da média do grupo. As
variáveis com médias acima da média do grupo de variáveis foram
consideradas mais sustentáveis. Da mesma forma, as variáveis com médias
abaixo da média do grupo de variáveis foram consideradas menos
sustentáveis.
Para se calcular a média do grupo socioeconômico foi realizado um
procedimento no software SPSS para inverter a escala da variável Q14
(acidente de trabalho) que passou a ser chamada de Q14r (reversa) com a
finalidade de padronizar as escalas. A média do grupo foi de 6,32 e o desvio
padrão = 0,363.
Na figura 4 podem ser observadas as seis variáveis do grupo
socioeconômico que se destacaram: geração de emprego, geração de renda,
ética organizacional, saúde e segurança (empresa e fornecedores), reação dos
mercados às ações socioambientais, podendo estas práticas ser consideradas
mais sustentáveis na gestão das usinas.
71
Legenda: Q11 - Geração de empregos, Q12 - Geração de renda, Q13 - Ética
organizacional, Q14r - Acidente de trabalho, Q15 - Qualificação profissional, Q16 -
Saúde e segurança EMP, Q17 - Saúde e segurança FOR, Q18 - Empregabilidade de
moradores, Q19 - Participação em entidades, Q20 - Valorizamos de ações resp., Q21 -
Reação mercados ações resp.
Figura 4. Médias das variáveis do grupo socioeconômico das usinas,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015.
Na figura 4, observa-se que cinco variáveis ficaram abaixo da média do
grupo: acidente de trabalho, qualificação profissional, empregabilidade de
moradores, participação em entidades, valorização de ações corporativas,
podendo estas práticas serem consideradas menos sustentáveis na gestão das
usinas, exigindo atenção das mesmas a essas questões.
Na tabela 8 são mostradas as principais áreas de atuação dos projetos
desenvolvidos pelas empresas nos municípios onde estão instaladas.
72
Tabela 8. Áreas de atuação dos projetos desenvolvidos pelas usinas,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Variável Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
Q22b - Educação Ambiental 4 7 6,65 0,652
Q22e - Educação 1 7 5,75 1,900
Q22d - Saúde e Higiene 1 7 3,46 2,235
Q22c - Esporte e Lazer 1 7 2,87 1,670
Q22a - Cultura 1 7 2,83 2,204
OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala. Os parâmetros
são estabelecidos sob uma notação de 1 (Discordo totalmente) a 7 (Concordo
totalmente).
Nota-se que os projetos mais executados pelas usinas nos municípios
são os de educação ambiental, pois 73% afirmaram que concordaram
totalmente (7) com a afirmação “Oferecemos projetos de educação ambiental
no município onde o empreendimento está instalado”, obtendo-se uma média
de 6,65 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,652).
Em segundo lugar, aparecem os projetos de educação, citados por
55,6%, concordando totalmente (7) com a afirmação “Oferecemos projetos de
educação no município onde o empreendimento está instalado”, obtendo-se
uma média de 5,75 na escala para esta variável (com desvio padrão de 1,900).
Parte do desvio padrão (1,900) pode ser explicado, uma vez que 7,9%
discordaram totalmente da afirmação.
Essa atitude dos dirigentes das usinas é semelhante às dos dirigentes
das usinas paulistas. No trabalho de BRAGATO et al. (2008) são apresentadas
algumas ações sociais de 55 usinas paulistas associadas à União da Indústria
de Cana-de-Açúcar (UNICA). O trabalho evidencia o desenvolvimento de 359
projetos de ação social pelas usinas de açúcar e álcool do Estado de São
Paulo associadas à UNICA. Destaca que essas iniciativas se concentram
principalmente na área educacional (40%) e ambiental (25%), as duas áreas
73
que também concentraram as ações das empresas pesquisadas no Mato
Grosso do Sul.
Em seguida, aparecem os projetos de saúde e higiene, assinalados por
12,7% que concordaram totalmente (7) com a afirmação “oferecemos projetos
de saúde e higiene no município onde o empreendimento está instalado”,
obtendo-se uma média de 3,46 na escala para esta variável (com desvio
padrão de 2,235).
Nos projetos de esporte e lazer, apenas 4,8% afirmaram que
concordaram totalmente (7) com a afirmação “oferecemos projetos de esporte
e lazer no município onde o empreendimento está instalado”, obtendo-se uma
média de 2,87 na escala para esta variável (com desvio padrão de 1,670).
A categoria de projetos menos citada pelos dirigentes das empresas foi
cultura, que obteve uma média de 2,83 na escala para esta variável (com
desvio padrão de 2,204) na afirmação “oferecemos projetos de cultura no
município onde o empreendimento está instalado”.
Gestão da sustentabilidade: Grupo ambiental
A tabela 9 apresenta resultados de declarações nas quais se verifica o
grau de concordância dos dirigentes das usinas relacionado às ações de
sustentabilidade ambiental, com foco no meio ambiente: ar, água, solo,
biodiversidade.
74
Tabela 9. Variáveis de gestão da sustentabilidade do grupo ambiental das
usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Variável Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
Q23 - Queima de cana 1 1 1,00 0,000
Q24 - Inventário de emissões 3 7 6,86 0,564
Q25 - Tratamento de efluentes 6 7 6,89 0,317
Q27 - Uso racional dos recursos hídricos 3 7 6,43 0,911
Q28 - Reuso da água 4 7 6,48 0,759
Q26 - Destinação dos resíduos sólidos 6 7 6,95 0,215
Q29 - Uso de agroquímicos (*) 2 7 4,17 0,853
Q30 - Controle biológico 6 7 6,95 0,215
Q31 - Preservação matas nativas 5 7 6,60 0,555
Q32 – Biomonitoramento 4 7 6,65 0,786
OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala. Os parâmetros
são estabelecidos sob uma notação de 1 (Discordo totalmente) a 7 (Concordo
totalmente). (*) Os parâmetros para esta variável são estabelecidos sob uma
notação de 1 (Pouco) a 7 (Muito).
O conjunto de variáveis de sustentabilidade ambiental apresentou alfa
de Cronbach igual a 0,710. Esse resultado demonstra a consistência do
instrumento, significando que houve concordância entre o instrumento e a
população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.
Na afirmação “utilizamos a queima de cana-de-açúcar nas atividades da
empresa”, todas as empresas discordaram totalmente da afirmação (1), ou
seja, não utilizam mais a queima em seu processo de colheita ou nunca
utilizaram, no caso de plantas/usinas novas. Todo o processo de colheita é
mecanizado.
Esse é um indicador ambiental muito positivo, pois, segundo ANDRADE
e DINIZ (2007), dentre todos os impactos ambientais gerados pela
agroindústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, o mais emblemático, o mais
75
discutido e controvertido, ao longo dos anos, tem sido a prática da queima da
palha como método facilitador da colheita.
De acordo com GLIESSMAN (2000), a cana-de-açúcar é uma planta de
regiões tropicais e de fotossíntese C4, com uma das maiores taxas de
conversão de energia. Ainda, de acordo com o autor, a queima da cana no
campo aumenta as emissões de gases de efeito estufa e causa chuva ácida.
Segundo GLIESSMAN (2000), o fogo pode ser usado para preparar uma
cultura para a colheita. Um exemplo comum é a queima da cana-de-açúcar
poucos dias antes da colheita. Os cortadores afirmaram que o fogo é
importante para remover as folhas, facilitando o processo de corte quando feito
à mão, tornando o acesso às canas mais fácil, e deslocando animais
inoportunos, como ratos e cobras. Mas a facilidade de colheita num sistema
desses tem de ser medida em relação a impactos ecológicos, como a perda de
matéria orgânica, a volatilização de certos nutrientes e sua lixiviação por
chuvas fortes. Para a cana-de-açúcar, em particular, outro impacto negativo
possível do fogo pode ser degradar a qualidade do açúcar extraído das canas
aquecidas demais.
De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de
Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), o avanço da mecanização no
Estado é destaque nacional. Na safra 2013/2014, 94% das lavouras de cana do
Estado terão colheita mecanizada, contra 89% da safra 2012/2013. "A indústria
da cana já nasceu de forma correta em MS" (HOLLANDA, 2013). Ainda
segundo a BIOSUL (2013), Mato Grosso do Sul é o Estado do Brasil mais
avançado na eliminação da queimada. Segundo o presidente, só não é 100%
mecanizada porque faltam máquinas, operadores e ainda é necessário um
processo de capacitação dos empregados que atuam na colheita manual para
que possam trabalhar em outros setores.
Na afirmação “possuímos um inventário de Emissões de Gases do Efeito
Estufa (GEE) da empresa, gerados principalmente pela indústria”, 90,5%
concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,83 na escala para
esta variável (com desvio padrão de 0,564).
De acordo com SOUZA (2013), as seguintes fontes de GEE devem ser
associadas ao manejo agrícola da cana-de-açúcar: a) Emissões de N2O do
76
manejo do solo associadas à aplicação de fertilizantes nitrogenados sintéticos,
compostos orgânicos (vinhaça e torta de filtro) e resíduos da cana-de-açúcar
depositados na superfície do solo; b) Emissões de CH4 e N2O devido à queima
da palha na pré-colheita da cana-de-açúcar; c) Aplicação de calcário; d)
Aplicação de defensivos; e) Fontes móveis, representadas pelo consumo de
óleo diesel durante as operações agrícolas.
SILVA (2010) destaca ainda que, para que o etanol seja considerado um
combustível renovável, é essencial que a contribuição de combustíveis fósseis
usados na sua produção seja pequena, assim como as emissões de gases
precursores do efeito estufa não associadas diretamente ao uso de
combustíveis fósseis, em todo o seu ciclo de produção e utilização. No plantio,
colheita, transporte e processamento da cana são consumidos combustíveis
fósseis que geram emissões de GEE. O autor afirma que é necessário fazer
um balanço energético e de GEE para se avaliar quais os resultados líquidos
no ciclo completo de produção do álcool de cana-de-açúcar e seu uso como
combustível no setor de transporte. Afirma ainda que este balanço do ciclo de
vida do etanol tem sido realizado no Brasil.
Assim, interpretando dados da UNICA (2010), pode-se afirmar que as
empresas que possuem um inventário de suas emissões de GEE estão mais
preocupadas com a gestão da sustentabilidade, e tendem a ter práticas mais
sustentáveis.
UDOP (2015) ressalta ainda a importância da cultura, uma vez que a
biomassa da cana-de-açúcar possui grande potencial para sequestrar carbono
da atmosfera. A instituição afirma que pesquisas brasileiras, aceitas pela
comunidade internacional, demonstraram que a ação do cultivo de cana-de-
açúcar chega a absorver quase um quinto da emissão total de carbono
resultante da queima de combustíveis fósseis do Brasil: uma redução de 39
milhões de toneladas de CO2 por ano.
As empresas pesquisadas declararam possuir relatórios de emissões
atmosféricas, gerados por monitoramento periódico, obedecendo a critérios do
Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL).
O monitoramento atmosférico que mede a qualidade do ar é realizado na
indústria, na agrovila (no caso de empresas que a possuem) e num ponto da
77
cidade mais próxima do empreendimento, com a finalidade de comparar as
leituras.
Segundo as empresas, os parâmetros indicadores de qualidade das
emissões atmosféricas estão de acordo com o que estabelece a resolução
CONAMA n° 382/2006.
Na afirmação “tratamos os efluentes líquidos produzidos pelas atividades
da empresa”, 88,9% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de
6,89 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,317).
Segundo ANDRADE e DINIZ (2007), no Estado de São Paulo, é prática
corrente incorporar grande parte dos efluentes líquidos, gerados nas usinas, à
vinhaça, para disposição no solo por meio da técnica que se convencionou
chamar de fertirrigação. Isso é feito com as águas geradas no processo de
fabricação do açúcar, as resultantes da lavagem de pisos e equipamentos, e as
das purgas dos lavadores de gases, etc.
Para SILVA (2010), o uso da vinhaça na prática da fertirrigação, apesar
de antiga e bem disseminada, não pode ser excessiva ou indiscriminada, uma
vez que seu potencial poluidor compromete o meio ambiente, desde as
características físicas e químicas do solo até as águas subterrâneas a partir da
sua percolação.
ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam que conhecem apenas uma grande
usina, localizada em Ariranha, que promove a segregação de todas as águas
residuárias (aproximadamente 250 m³/h), trata-as separadamente da vinhaça
por meio da técnica de lodos ativados, e retorna os efluentes líquidos ao corpo
de água adjacente, dentro dos padrões legais de emissão e qualidade vigentes
no Estado de São Paulo (Artigos 12 e 18, do Decreto Estadual 8.478/76).
As empresas declararam realizar o tratamento dos esgotos antes de
devolver os efluentes ao meio ambiente e informaram reutilizar águas residuais
em outras operações da empresa como na lavagem dos postos de
combustíveis, irrigação dos jardins, etc. (o que pode ser observado nos
indicadores subsequentes).
Quanto ao uso da vinhaça, as unidades mais novas declararam já
possuir o sistema de fertirrigação pressurizado, ou seja, encanado, prática esta
considerada ambientalmente mais adequada.
78
Indicadores de sustentabilidade importantes estão relacionados ao
consumo de água. Nas usinas de cana-de-açúcar, é importante desenvolver
práticas mais sustentáveis nos aspectos do uso racional dos recursos hídricos
(águas superficiais e subterrâneas) e no reuso da água nas atividades
empresariais.
Na afirmação “o uso dos recursos hídricos na agroindústria é racional”,
61,9% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,43 na escala
para esta variável (com desvio padrão de 0,911).
Na afirmação “Nos processos industriais fazemos o reuso da água”,
60,3% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,48 na escala
para esta variável (com desvio padrão de 0,759).
De acordo com SILVA (2010) a eminente escassez de água e o
comprometimento de sua qualidade em algumas regiões do mundo chamam a
atenção para a importância do planejamento e gestão dos recursos hídricos.
Ainda segundo o autor, é importante destacar o esforço que o setor
agroindustrial vem realizando para diminuir o consumo consultivo de água,
procurando otimizar seus processos, orientando esforços no sentido da
reciclagem deste bem.
No trabalho de ANDRADE e DINIZ (2007), eles apresentam o balanço
hídrico de uma grande usina, que conseguiu racionalizar, durante grande parte
da safra, o uso da água a um patamar de 0,85 m³/tonelada de cana moída. Os
autores destacam que técnicas de reuso, retorno de condensáveis,
implementação de limpeza a seco da cana, macromedição do consumo e
desassoreamento das represas de captação permitem que muitas usinas
operem sem alterar a quantidade e a qualidade dos corpos de água
adjacentes.
Advertem também que muitas usinas ainda captam elevadas vazões e
não operam com 100% de reuso das águas de resfriamento. Nesta condição, a
vazão de jusante dos corpos de água pode ser afetada negativamente.
Ademais, o lançamento de grandes vazões de água a temperaturas em torno
de 35ºC pode provocar a diminuição do teor de oxigênio dissolvido no corpo
receptor e causar comprometimento da vida aquática.
79
Uma das empresas entrevistadas em MS afirmou que em média, as
usinas de cana brasileiras utilizam cerca de 1,3 m³ de água/tonelada de cana
moída. Após o emprego de diversos métodos de racionalização, o uso da água
nessa empresa está em torno de 0,6 a 0,7 m³/tonelada de cana moída. Um
resultado muito positivo.
Outro indicador de sustentabilidade importante que acarreta a poluição
do solo é a destinação adequada dos resíduos sólidos produzidos pelas
atividades da agroindústria.
Na afirmação “destinamos adequadamente os resíduos sólidos
produzidos pelas atividades da empresa”, 95,2% concordaram totalmente (7), o
que gerou uma média de 6,95 na escala para esta variável (com desvio padrão
de 0,215).
ANDRADE e DINIZ (2007) explicam que, nas usinas mais antigas e
localizadas distantes das áreas urbanas, foi prática comum o uso de valas para
aterro de resíduos sólidos domiciliares, de escritório, entulhos de construção
civil, podas de árvores, restos de estopas, graxas e embalagens de óleos
lubrificantes. Os autores explicam que tais áreas também foram empregadas
como locais de retirada indiscriminada de solo, deposição temporária de
material orgânico (cinzas, fuligens, lodos gerados pela lavagem de cana,
material de limpeza dos tanques de vinhaça, etc.).
A destinação correta dos resíduos sólidos, segundo ANDRADE e DINIZ
(2007), cessa o processo de degradação ambiental e os locais afetados
passam a ser empregados para armazenamento temporário e compostagem
orgânica das cinzas, fuligens e torta de filtro.
BUENO e SALVADOR (2012) apresentam o exemplo de uma empresa
que estudaram e que realiza coleta seletiva de resíduo. Estão instalados
conjuntos de lixeiras específicas e tambores de 200 litros foram adaptados para
a coleta. Os resíduos são destinados a empresas especializadas em
reciclagem. A Usina gera por mês 1,6 toneladas de papel, 109 toneladas de
ferro e outros resíduos que são dispostos de forma ambientalmente correta.
Os autores afirmam que, para o sucesso do projeto ambiental, todos os
colaboradores foram conscientizados sobre a importância da preservação do
meio ambiente, a partir de treinamentos específicos que juntos somaram cerca
80
de 3.000 horas. A intenção é manter a consciência ambiental nos
colaboradores não apenas em ocasiões necessárias como a busca pela
certificação, mas torná-la um hábito diário, no exercício das atividades
desenvolvidas dentro e fora da empresa.
Como se pode observar nas respostas dos dirigentes das empresas
pesquisadas, todas declararam destinar adequadamente seus resíduos sólidos.
Notou-se, em praticamente todas as usinas, a presença de lixeiras específicas
para coleta seletiva (papel, plástico, vidro e metal). Os dirigentes das usinas
explicaram que possuem contratos com empresas terceirizadas, especializadas
no serviço de coleta de seus resíduos sólidos. Tais empresas são responsáveis
pela coleta e destinação adequada dos materiais coletados, de acordo com o
tipo de material (centros de reciclagem, centrais de recepção embalagens,
aterro sanitário, etc.) e, periodicamente, fornecem à usina os comprovantes da
destinação.
O uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) na área
agrícola das usinas é um importante indicador a ser analisado, pois pode
acarretar contaminação ambiental.
LIECHOSCKI e MAINIER (2003) explicam que os produtos
agroquímicos, também denominados agrotóxicos ou defensivos agrícolas,
podem ser definidos como produtos de natureza química ou bioquímica cujo
objetivo principal é exterminar as pragas ou doenças que atacam as culturas
agrícolas, podendo ser classificados em pesticidas (combate aos insetos em
geral), fungicidas (produtos que atingem os fungos) e herbicidas (produtos que
matam ou impedem o crescimento de plantas invasoras ou daninhas).
Na afirmação “fazemos uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e
herbicidas) na área agrícola da empresa”, procurou-se evidenciar a intensidade
com que são utilizados os produtos. Para tanto, utilizou-se uma escala de 1 a 7
onde 1 significa “pouco” e 7 “muito”. A maioria (47,6%) acredita que o uso de
agroquímicos é intermediário (4). A média foi de 4,17 na escala para esta
variável (com desvio padrão de 0,853).
Quanto à utilização de agrotóxico, ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam
que a cana-de-açúcar requer poucas aplicações em relação a outras culturas
de produção extensiva, em razão de sua robustez e adaptação às condições
81
edafoclimáticas em que são cultivadas no Brasil. Os herbicidas são o grupo
mais utilizado. O consumo de inseticidas é relativamente baixo, sendo quase
nulo o de fungicidas. Além disso, muitos produtores já utilizam controle
biológico em escala comercial. A produção orgânica também tem aumentado,
em virtude do crescimento do mercado de açúcar orgânico, tanto no Brasil
quanto no exterior.
Segundo LIECHOSCKI e MAINIER (2003), os relatórios governamentais
mostram que mais de 50% dos pesticidas, classificados como herbicidas, são
bastante tóxicos e utilizados nas plantações de cana-de-açúcar, soja, abacaxi,
café, etc.
Conforme MACEDO et al. (2007), a preocupação com o impacto do uso
de defensivos agrícolas está presente em várias instâncias da Agenda 21, que
prevê ações específicas de controle.
Na afirmação “utilizamos controle biológico de pragas na área agrícola
da empresa”, 95,2% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de
6,95 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,215).
A UNICA (2010) já afirmava que uma parte significativa das pragas e
doenças que ameaçam a cana-de-açúcar é combatida por meio do controle
biológico e de programas avançados de melhoria genética que ajudam a
identificar as variedades resistentes às doenças.
No que se refere à biodiversidade, outros indicadores importantes estão
relacionados à manutenção e ampliação das matas nativas (reserva legal e
área de preservação permanente), ações de preservação da fauna e a
realização de monitoramento contínuo ou pontual do índice de biodiversidade
(biomonitoramento) dentro das áreas exploradas pelas empresas são
apontadas pela UNICA (2010) como muito importantes.
Na afirmação “Mantemos e procuramos ampliar as matas nativas
(reserva legal e área de preservação permanente), dentro das áreas
exploradas pela empresa”, 63,5% concordaram totalmente (7), o que gerou
uma média de 6,6 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,555).
De acordo com SILVA (2010), se a expansão da cana-de-açúcar seguir
as tendências atuais, ela ocorrerá em locais onde o setor agropecuário e,
principalmente o sucroalcooleiro, é bem consolidado, dificilmente ocorrerá
82
substituição de matas nativas por cana. No entanto, os deslocamentos de
culturas, como a pecuária e as lavouras, poderão ocorrer para outras regiões,
principalmente no Centro-oeste, aumentando, assim, o desmatamento. Muitas
usinas estão desenvolvendo ações de recomposição de suas áreas de
preservação permanentes (APP) e reservas legais (RL), em cumprimento à lei
do Estado, por exigências de instituições financeiras ou de segmentos do
mercado.
Ainda segundo SILVA (2010), de um lado, algumas usinas e produtores
já se mobilizaram para a criação de viveiros de espécies florestais, de forma
autônoma ou em parcerias com órgãos públicos, e tem realizado o
repovoamento de suas APP’s. Mas, do outro lado, há usinas e produtores
“adeptos” da tese da “regeneração natural”, que consiste, na grande maioria
dos casos, no simples abandono da área para que esta se regenere
naturalmente, o que também é permitido segundo algumas interpretações da
Lei n. 4.771 de 1965 e da Lei n. 9.866 de 1997.
Reconhece-se que as APP’s têm inquestionável importância para a
conservação da biodiversidade, das características climáticas e dos recursos
edáficos, hídricos, florísticos e faunísticos. Diversas usinas estão em fase de
elaboração/implementação de projetos de recuperação das APP’s, dos cursos
d’água, das nascentes e dos rios, afirmam ANDRADE e DINIZ (2007).
De acordo com a UNICA (2010), uma das diretrizes do Protocolo
Agroambiental do Estado de São Paulo está relacionada à proteção das matas
ciliares nas áreas administradas pelas usinas. O levantamento topográfico das
áreas e seu georreferenciamento tornaram-se, então, prioritários para as
associadas à UNICA.
Segundo experiência da UNICA (2010), tais ações levam a um
incremento da diversidade de fauna e flora. “Até agora, mais de 10 milhões de
mudas de árvores nativas foram plantadas na recuperação de mais de 6 mil
hectares de matas, com investimentos que ultrapassam R$ 46 milhões”. Nessa
experiência foram envolvidos cerca de oito mil colaboradores nas atividades de
catação de sementes, tratos nos viveiros, plantio e cuidados na manutenção
dessas áreas reflorestadas.
83
A UNICA (2010) ainda afirma que o setor tem investido continuamente
na ampliação do monitoramento de bioindicadores nas áreas protegidas. Em
2007, eram quase 20 mil hectares monitorados, área que passou para 35 mil
hectares em 2009. Através desses monitoramentos, é possível identificar se as
matas protegidas servirão de abrigo a mamíferos e aves. Até o momento, os
projetos de biodiversidade monitoram 12 espécies de mamíferos, cinco delas
ameaçadas de extinção e sete consideradas vulneráveis. Para as espécies
identificadas como vulneráveis, houve abundância de 31 exemplares avistados.
Na afirmação “realizamos o monitoramento contínuo ou pontual do
índice de biodiversidade (biomonitoramento) dentro das áreas exploradas pela
empresa”, 79,4% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,65
na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,786).
As empresas informaram que possuem um programa de
automonitoramento, que realizam periodicamente o biomonitoramento, de duas
a três vezes por ano, por meio de empresas especializadas que coletam
amostras e realizam medições em pontos específicos das usinas (matas, lagos,
rios, etc.). Informaram ainda que o biomonitoramento é uma exigência do
IMASUL e que os relatórios dessas empresas especializadas são
encaminhados anualmente ao órgão ambiental estadual.
A diferenciação das variáveis do grupo ambiental quanto ao nível de
sustentabilidade foi através da determinação da média do grupo. As variáveis
com médias acima da média do grupo foram consideradas mais sustentáveis.
Da mesma forma, as variáveis com médias abaixo da média do grupo foram
consideradas menos sustentáveis.
Para se calcular a média do grupo ambiental foi realizado um
procedimento no software SPSS para inverter a escala das variáveis Q23
(queima de cana) que passou a ser chamada de Q23r (reversa = “colheita
mecanizada”) e Q29 (uso de agroquímicos) que passou a ser chamada de
Q29r (reversa), com a finalidade de padronizar as escalas. A média do grupo
foi de 6,46 e o desvio padrão = 0,280.
Na figura 5, podem ser observadas as oito variáveis do grupo ambiental
que se destacaram: queima de cana (nesse caso “colheita mecanizada”),
inventário de emissões, tratamento de efluentes, reuso da água, destinação
84
dos resíduos sólidos, controle biológico, preservação matas nativas e
biomonitoramento, podendo estas práticas ser consideradas mais sustentáveis
na gestão das usinas.
Legenda: Q23r - Colheita Mecanizada, Q24 - Inventário de Emissões, Q25 -
Tratamento de efluentes, Q27 - Uso racional dos recursos hídricos, Q28 - Reuso da
água, Q26 - Destinação dos resíduos sólidos, Q29r - Uso de agroquímicos (reversa),
Q30 - Controle biológico, Q31 - Preservação matas nativas, Q32 - Biomonitoramento.
Figura 5. Média do grupo ambiental das usinas, microrregião de Dourados,
Mato Grosso do Sul, 2015.
Duas variáveis ficaram abaixo da média do grupo: uso racional dos
recursos hídricos e uso de agroquímicos, podendo estas práticas ser
consideradas menos sustentáveis na gestão das usinas, exigindo atenção das
mesmas a essas questões.
Análise Fatorial Exploratória
Para a consecução das inferências necessárias ao estudo, após a
análise descritiva dos dados, procurou-se mediante a técnica de Análise
Fatorial, verificar e resumir as informações contidas nas variáveis analisadas,
para um melhor entendimento dos dados encontrados pelo software estatístico
SPSS, versão 22.
85
Para HAIR et al. (2009), a Análise Fatorial é uma técnica de
interdependência particularmente adequada para examinar as relações entre
variáveis e a criação de escalas múltiplas. Segundo os autores a "busca por
estrutura" com a análise fatorial pode revelar interrelações substanciais entre
variáveis e fornece uma base objetiva para o desenvolvimento do modelo
conceitual e uma melhor parcimônia entre as variáveis em uma análise
multivariada.
A Análise Fatorial, como já relatado, possui como pressuposto a
necessidade de correlação entre as variáveis. Assim, o primeiro passo consiste
em verificar a existência de valores significativos que justifiquem a utilização da
técnica. Tal constatação pode ocorrer por meio da aplicação do teste de
esfericidade de Bartlett, que é complementado com o teste de Kaiser-Meyer-
Olkin (KMO). Os valores de KMO iguais ou inferiores a 0,50 denotam que a
utilização da Análise Fatorial é inadequada e, por conseguinte, valores
superiores a 0,50 denotam a adequada utilização dessa técnica.
A análise fatorial é feita a partir das variáveis abordadas no presente
estudo, as quais envolvem dois grupos: Socioeconômico e Ambiental. Os
resultados dos testes de KMO e Bartlett para o grupo socioeconômico podem
ser visualizados na tabela 10.
Tabela 10. Teste de KMO e Bartlett para o grupo socioeconômico das usinas,
Microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,688
Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 131,172
df 28
Sig. 0,000
Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas foi
realizada a extração dos fatores da matriz de correlação, no intuito de
encontrar o conjunto de fatores que levassem a uma combinação linear das
variáveis da matriz de correlação. Na tabela 11 apresenta-se a matriz de
86
componente rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam
o modelo, com suas respectivas cargas fatoriais.
Do grupo socioeconômico foram retiradas as variáveis Q11, Q18 e Q20,
com comunalidades < 0,50.
Tabela 11. Matriz de Componente Rotativaa para o grupo socioeconômico das
usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Componente
1 2 3
Organiza
-ção
Desenvol-
vimento
Local
Comunida-
de
Q12 - Geração de renda 0,883
Q13 - Ética organizacional 0,795
Q14 - Acidente de trabalho 0,797
Q15 - Qualificação profissional 0,753
Q16 - Saúde e segurança EMP 0,741
Q17 - Saúde e segurança FOR 0,635
Q19 - Participação em entidades 0,789
Q21 - Reação mercados ações resp. 0,673
% da variância acumulada 25,701 50,547 67,087
Método de Extração: Análise de Componente Principal.
Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.
a. Rotação convergida em 5 iterações.
Esses três fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 67% das
variâncias das medidas originais. Os resultados dos testes de KMO e Bartlett
para o grupo ambiental podem ser visualizados na tabela 12.
87
Tabela 12. Teste de KMO e Bartlett para o grupo ambiental das usinas,
Microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,622
Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 244,639
df 28
Sig. 0,000
Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas, foi
realizada a extração dos fatores da matriz de correlação no intuito de encontrar
o conjunto de fatores que levassem uma combinação linear das variáveis da
matriz de correlação. Na tabela 13, apresenta-se a matriz de componente
rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam o modelo,
com suas respectivas cargas fatoriais.
Do grupo ambiental foram retiradas as variáveis com comunalidades <
0,50 (Q23 e Q29).
88
Tabela 13. Matriz de Componente rotativaa para o grupo ambiental das usinas,
Microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015
Componente
1 2 3
Tratamento
dos
resíduos
Recursos
hídricos
Biodiversi-
dade
Q24 - Inventário de emissões 0,868
Q25 - Tratamento de efluentes 0,882
Q26 - Destinação dos resíduos
sólidos
0,651
Q27 - Uso racional dos recursos
hídricos
0,901
Q28 - Reuso da água 0,901
Q30 - Controle biológico 0,631
Q31 - Preservação matas nativas 0,820
Q32 - Biomonitoramento 0,853
% da variância acumulada 30,649 57,599 76,994
Método de Extração: Análise de Componente Principal.
Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.
a. Rotação convergida em 5 iterações.
Esses três fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 77% das
variâncias das medidas originais.
Para a avaliação e validação do modelo utilizou-se a modelagem de
equações estruturais por meio do método PLS (Partial Least Squares)
incorporado no programa estatístico SmartPLS. Segundo MORAES et al.
(2011), a técnica PLS é capaz de calcular as correlações entre os indicadores e
as variáveis latentes e estimar a sua significância por meio do procedimento de
re-amostragens (bootstrapping)
89
O modelo utilizado foi validado uma vez que, com o uso do método PLS,
obteve-se uma correlação de 0,80 entre os grupos de variáveis
socioeconômico (GSE) e ambiental (GA).
Conclusão
O perfil das empresas sucroenergéticas do estudo mostra que elas são
um grupo heterogêneo, composto por usinas de grande, médio e pequeno
portes. Possuem uma capacidade de moagem de 33,6 milhões de toneladas e
utilizam, em média, 94% de sua capacidade instalada. Juntas produzem e
processam cerca de 75% da cana do Mato Grosso do Sul. Todas as usinas
produzem etanol, 90% produzem bioeletricidade e 70% açúcar.
Quanto à gestão da sustentabilidade no grupo socioeconômico, 55% dos
indicadores se destacaram acima da média do grupo: geração de emprego,
geração de renda, ética organizacional, saúde e segurança na empresa, saúde
e segurança para fornecedores, reação dos mercados às ações
socioambientais. No grupo ambiental 80% dos indicadores se destacaram
acima da média do grupo: colheita mecanizada, destinação dos resíduos
sólidos, controle biológico, tratamento de efluentes, inventário de emissões,
preservação matas nativas, biomonitoramento e reuso da água.
Com relação aos projetos desenvolvidos pelas empresas junto nos
municípios, identificou-se uma maior concentração de oferta nas áreas de
educação ambiental. Em menor número aparecem projetos nas áreas de saúde
e higiene, esporte e lazer e cultura.
Conclui-se que as usinas da microrregião de Dourados desenvolvem
ações de gestão da sustentabilidade dentro das dimensões socioeconômica
(média de 6,32 na escala de 1 a 7) e ambiental (média de 6,46 na escala de 1
a 7), em maior ou menor grau, considerando indicadores de sustentabilidade
reconhecidos e utilizados internacionalmente para o setor.
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95
Artigo II
Percepção da Sociedade sobre as Ações Socioeconômicas e Ambientais
do Segmento Sucroenergético em Mato Grosso do Sul
Alex Sandro Richter Won Mühlen
Resumo
Este trabalho foi desenvolvido na linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e
Desenvolvimento Regional Sustentável. Teve como objetivo verificar a
percepção da sociedade quanto às ações de sustentabilidade promovidas
pelas empresas do segmento sucroenergético do Mato Grosso do Sul. Para
tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória descritiva, combinando
informações quantitativas e qualitativas colhidas por meio de formulários
aplicados a um grupo composto por representantes da sociedade nos
principais municípios em que as empresas sucroenergéticas estão instaladas,
utilizando-se a metodologia de amostragem Snowball Sampling ou
“Amostragem em Bola de Neve”. Os dados foram processados e analisados
utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 22. Os resultados
demonstram que a sociedade tem pouca percepção sobre as ações de gestão
da sustentabilidade promovidas pelas usinas da região, dentro das dimensões
socioeconômica (média de 3,99 na escala de 1 a 7) e ambiental (média de 3,77
na escala de 1 a 7). Infere-se que, se as empresas sucroenergéticas
desenvolvem ações de sustentabilidade, estas são pouco percebidas pela
sociedade.
Palavras-chave: Amostragem bola de neve, Desenvolvimento regional
sustentável, Microrregião de Dourados, Segmento sucroenergético.
Abstract
This work was developed in the line of Society research, Environment and
Sustainable Regional Development. Aimed to verify the perception of society
and the sustainability of actions promoted by companies in the sugar and
ethanol segment of Mato Grosso do Sul. Therefore, a descriptive exploratory
96
survey was conducted by combining quantitative and qualitative information
collected through forms applied to a group of society representatives in cities
where sucroenergéticas companies are located, using the methodology
Snowball Sampling. Data were processed and analyzed using the software
Sphinx Lexica 5.0 and SPSS 22. The results demonstrate that the society has
little insight into the sustainability management actions promoted by the
companies of the region, within the socioeconomic dimensions (average of 3.99
on the scale 1 to 7) and environmental (average 3.77 on a scale of 1 to 7). It is
inferred that if sucroenergéticas companies develop sustainability actions, these
are hardly perceived by society.
Keywords: Society, Environment, Sustainable regional development.
Introdução
A preocupação da sociedade com o desenvolvimento sustentável vem
ganhando cada vez mais visibilidade em países com diferentes níveis de
desenvolvimento. De acordo com CAVALCANTI (2006), não basta à empresa
apenas conseguir lucros; é preciso que ela seja social e ambientalmente
responsável. Nesse contexto, sistemas de qualidade, de responsabilidade
social e de gestão ambiental estão sendo crescentemente implantados nas
unidades sucroalcooleiras de todo o Brasil (PIACENTE, 2005).
Essa consciência social e ambiental decorre do aumento da fiscalização
para aplicação de leis trabalhistas, da pressão das instituições, dos estudiosos
e da população sobre os impactos negativos da produção sem sustentabilidade
socioeconômica e ambiental.
Para MACEDO et al. (2007), apesar do setor contribuir com o
fornecimento de uma fonte de energia limpa e renovável, fazendo frente às
ameaças do aquecimento global, ainda existem problemas a serem
dimensionados e solucionados pela agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil.
De acordo com RODRIGUES e ORTIZ (2006), a região Centro-oeste
tem despontado nas últimas safras como nova área de expansão do cultivo. O
Leste do estado de Mato Grosso do Sul e o Oeste do estado de Minas Gerais,
acompanham esta tendência de expansão de novas áreas.
97
Dessa forma, observa-se uma pressão sobre o ecossistema do cerrado,
que representa o bioma predominante nessa região brasileira. Essa tendência
de expansão ocorre em virtude da disponibilidade de mão-de-obra e da
declividade das terras, que, por estarem em um planalto, são propicias à
mecanização do processo produtivo.
Houve forte expansão da cultura da cana-de-açúcar entre os anos de
2003 e 2012 no Mato Grosso do Sul com a concentração das lavouras na
microrregião Dourados (CANASAT/INPE, 2013), por se tratar de uma região
com áreas planas, solos férteis e agricultáveis, favorecendo a atividade.
A cana-de-açúcar está presente em 39 municípios do MS, com 755.294
hectares de área cultivada na safra 2013/2014. Destes municípios, quase
metade da área cultivada (49%) está concentrada na microrregião de Dourados
(CANASAT/INPE, 2013).
Um componente importante na nova fase de dinamização do setor
sucroenergético é a crescente compreensão de que os avanços na produção,
com sustentabilidade socioeconômica e ambiental, ajudam a elevar a
competitividade do etanol (SANTOS et al, 2016).
Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo verificar a
percepção da sociedade quanto às ações socioeconômicas e ambientais
promovidas pelas empresas sucroenergéticas do Mato Grosso do Sul.
Material e Métodos
Área geográfica de estudo
O trabalho foi desenvolvido no estado de Mato Grosso do Sul (MS), na
microrregião de Dourados, que é composta por 15 municípios: Amambai,
Antônio João, Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Dourados, Fátima do Sul,
Itaporã, Juti, Laguna Carapã, Maracaju, Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio
Brilhante e Vicentina.
A microrregião de Dourados, além de concentrar quase metade da área
cultivada de cana (49%), concentra também o maior número de usinas (11),
seguida da microrregião Iguatemi (4), Nova Andradina (3) e Cassilândia (2). As
demais microrregiões possuem apenas uma usina cada, totalizando 22 usinas
em operação no MS (BIOSUL, 2013).
98
População e Amostragem da Pesquisa
Foi escolhida a microrregião de Dourados como amostra para o presente
estudo, considerando a relevância da mesma nos aspectos área cultivada,
expansão da cultura da cana, concentração das lavouras, participação na
produção de cana no Estado e concentração de empresas sucroenergéticas.
A amostra foi composta por atores da sociedade dos municípios em que
as empresas sucroenergéticas estão instaladas, como por exemplo:
representantes das Prefeituras, Câmaras de Vereadores; Sindicatos Rurais;
Sindicatos dos Trabalhadores, entre outros. Os atores aqui denominados
“representantes da sociedade” foram selecionados em seus respectivos
municípios utilizando-se a metodologia de amostragem conhecida como
Snowball Sampling ou “Amostragem em Bola de Neve”, descrita a seguir.
Fonte e Coleta de Dados
A coleta de dados para a pesquisa envolveu duas etapas de trabalho.
Primeira etapa:
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema com a finalidade
de conhecer melhor o setor sucroenergético no Brasil, com destaque para Mato
Grosso do Sul, e os elementos teóricos relacionados à sustentabilidade.
Portanto, quanto aos objetivos esta pesquisa pode ser classificada como
descritiva exploratória e quanto à natureza ela pode ser qualificada como
quanti-qualitativa.
Nas etapas iniciais, foram analisadas diversas fontes de dados, como
artigos acadêmicos, relatórios de pesquisas, websites das empresas, notícias
de jornal, informações governamentais, relatórios de sustentabilidade das
empresas, entre outras. Tais informações consistiram de base para elaboração
de um formulário estruturado, a ser utilizado na etapa seguinte da pesquisa,
bem como para a discussão dos resultados. No quadro 4, são apresentadas
as variáveis constituintes do formulário, as suas dimensões, bem como, as
fontes que deram sustentação teórica.
99
Quadro 4. Variáveis, dimensões e referência bibliográfica de sustentação
teórica dos constructos do formulário.
Variável Dimensão Fonte
Geração de empregos
Geração de renda
Socioeconômica:
Econômica
MACEDO et al. (2007);
SILVA (2010); FREIRE
(2010); BIOSUL (2013)
Ética organizacional
Acidente de trabalho
Contratos de trabalho
Qualificação profissional
Assistência a migrantes
Melhores práticas de
gestão em saúde e
segurança
Respeito às organizações
sindicais
Socioeconômica:
Condições de
trabalho
CRUZ e SOUZA (2012)
SILVEIRA (2008)
BSI (2014)
UNICA (2010)
RODRIGUES e ORTIZ
(2006)
Empregabilidade de
moradores
Participação em entidades
Projetos na comunidade
Socioeconômica:
Responsabilidade
social
BRAGATO et al. (2008)
GOES (2013); MACEDO et
al. (2007)
UNICA (2010)
Queima de cana-de-
açúcar
Inventário de emissões de
GEE
Ambiental:
qualidade do ar
MACEDO et al. (2007);
SILVA (2010); ANDRADE e
DINIZ (2007); GLIESSMAN
(2000); SOUZA (2013)
Tratamento dos efluentes
líquidos
Uso dos recursos hídricos
Ambiental:
Poluição da água
ANDRADE e DINIZ (2007)
SILVA (2010)
MACEDO et al. (2007)
Destinação dos resíduos
sólidos
Uso de agroquímicos
Controle biológico
Ambiental:
Poluição do solo
BUENO e SALVADOR
(2012); MACEDO et al.
(2007); ANDRADE e DINIZ
(2007); LIECHOSCKI e
MAINIER (2003)
100
Continuação....
Variável Dimensão Fonte
Preservação das matas
nativas
Preservação da fauna
Biomonitoramento
Ambiental:
biodiversidade
BSI (2014)
SILVA (2010)
ANDRADE e DINIZ (2007)
UNICA (2010)
Segunda etapa:
Para atender o objetivo de verificar a percepção da sociedade quanto às
ações de sustentabilidade promovidas pelas empresas sucroenergéticas, foi
aplicado um formulário estruturado (Apêndice “B”) a um grupo composto por
atores da comunidade aqui denominados “representantes da sociedade”,
selecionados em seus respectivos municípios, utilizando-se a metodologia de
amostragem Snowball Sampling ou “Amostragem em Bola de Neve”, por serem
considerados neste trabalho verdadeiros atores sociais, reconhecidos por seus
pares em decorrência de seu papel de lideranças nos municípios estudados.
De acordo com DEWES (2013), a amostragem em bola de neve é um
método que não se utiliza de um sistema de referências, mas sim de uma rede
de amizades dos membros existentes na amostra. Este tipo de método
baseado na indicação de um ou mais outros indivíduos é também conhecido
como método de “cadeia de referências” ou ainda “cadeia de informantes”.
Para BALDIN e MUNHOZ (2011), essa técnica é uma forma de amostra
não probabilística utilizada em pesquisas sociais onde os participantes iniciais
de um estudo indicam novos participantes que, por sua vez indicam novos
participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo
proposto (o “ponto de saturação”).
ALBUQUERQUE (2009) explica que esse procedimento é repetido
algumas vezes, até que o tamanho pré-definido da amostra seja alcançado ou
até que a população fique saturada (ou seja, se esgotem os membros
acessíveis da mesma). Portanto, a snowball “Bola de Neve” é uma técnica de
amostragem que utiliza cadeias de referência, uma espécie de rede.
101
De acordo com BALDIN e MUNHOZ (2011), os primeiros participantes
contatados na aplicação da pesquisa são as “sementes”, que devem ter
conhecimento da sua localidade, do fato acontecido ou das pessoas que vivem
na comunidade. Esse mesmo indivíduo (a “semente”) indicará outra(s)
pessoa(s) de seu relacionamento (ou de seu conhecimento) para que também
participe(m) da amostra, esses são os “filhos” ou “frutos” das “sementes”. Para
que se tenha uma amostra considerável, deve-se selecionar um número inicial
de pessoas (de “sementes”), que, preferencialmente, devem exercer certa
liderança no espaço a ser estudado, conhecer muitos membros da localidade e
que esses sejam de diversificados ramos de formação e atuação.
Nessa pesquisa, iniciou-se a aplicação do questionário no município de
Maracaju, utilizando-se como sementes: o prefeito municipal, os secretários
municipais indicados pelo mesmo, seguido do presidente da Câmara de
Vereadores, presidente do Sindicato Rural, presidente da Associação
Comercial, presidente do Sindicato dos Trabalhadores, empresários locais,
diretores de escolas, entre outros.
Ao final, a amostra dos representantes da sociedade foi composta por
158 pessoas dos municípios de Maracaju, Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante,
Fátima do Sul e Caarapó, pertencentes a 30 profissões ou ocupações.
Instrumento de coleta de dados:
O formulário aplicado (Apêndice B) é composto de questões
predominantemente fechadas. Nas medições das variáveis das dimensões
socioeconômica e ambiental empregou-se uma escala de Likert de 7 pontos,
variando de 1 = discordo totalmente até 7 = concordo totalmente.
Questões abertas também foram utilizadas de forma limitada para
complementar as questões fechadas. As declarações dos entrevistados foram
anotadas pelo pesquisador. Os dados provenientes das questões abertas
foram categorizados e analisados segundo a sua natureza, através do método
de análise de conteúdo (CAMARA, 2013).
Foi notificado e assegurado a todos os respondentes a confidencialidade
e o sigilo das suas respostas, e que os dados seriam agregados e processados
como um todo, utilizando-os em trabalho científico.
102
Para aprimorar o formulário elaborado, o mesmo foi submetido a um
conjunto de professores do mestrado e doutorado da Universidade
Anhanguera-Uniderp para suas críticas e sugestões quanto à redação e
escalas.
O formulário foi submetido ao Comitê de Ética para Seres Humanos para
análise e deferimento antes de sua aplicação (aprovado conforme parecer nº
990.953 de 08/12/2014).
Antes da aplicação do formulário foi feito um pré-teste aplicando o
instrumento a cinco representantes da sociedade no município de Maracaju-
MS, com a finalidade de avaliar fatores críticos como clareza, abrangência e
aceitabilidade do instrumento. Como não houve discrepâncias significativas no
instrumento, as entrevistas foram incorporadas ao trabalho.
Para a aplicação dos formulários primeiramente foram contatados atores
dos municípios envolvidos, convidando-os a fazerem parte da pesquisa,
explicando a natureza da mesma, sua importância e a necessidade de obter
respostas, tentando despertar o interesse do recebedor para o tema.
Inicialmente, as entrevistas foram conduzidas pessoalmente pelo
pesquisador para a aplicação dos formulários, mediante agendamento prévio
com os entrevistados.
Posteriormente, os formulários foram disponibilizados aos demais atores
por meio eletrônico, utilizando-se a ferramenta Google Form, de forma a
simplificar o processo de indicação de novos respondentes proposto pela
metodologia de amostragem bola de neve.
Tratamento dos dados
Após a aplicação do formulário a campo, os dados foram processados e
analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 22. Foram
realizadas análises estatísticas descritivas para descrever o perfil dos
representantes da sociedade e verificar sua percepção sobre as ações
socioeconômicas e ambientais das empresas.
A confiabilidade do instrumento foi feita por meio do coeficiente alfa de
Cronbach e a caracterização da população de estudo, por análise descritiva
(médias, desvios padrão, valores mínimos, valores máximos e proporções).
103
Valores de alfa iguais ou maiores que 0,700 são consistentes e aceitáveis
neste estudo (HAIR et al., 2009).
Também, foi realizada a Análise Fatorial Exploratória (AFE) com o
objetivo de identificar quantos e quais fatores latentes podem ser extraídos do
conjunto das variáveis por meio das associações entre elas. Os ajustes na
análise fatorial foram feitos com base no quadro 5.
Quadro 5. Valores de referência na comprovação do ajuste do modelo, pela
Análise Fatorial Exploratória.
Propósito Valores de Referência
Ajuste dos constructos
latentes e seus respectivos
itens.
Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) > 0,50
Esfericidade de Bartlett, p < 0,05
Alfa de Cronbach, α > 0,70
Medida de adequação da amostra (MSA) > 0,50
Comunalidade > 0,50
Variância explicada (ve) > 0,50
Fonte: Adaptado de HAIR et al. (2009).
Resultados e Discussão
Caracterização da População
A amostra dos representantes da sociedade foi composta por 158
pessoas, conforme metodologia bola de neve, de diversas profissões ou
ocupações (Tabela 14) distribuídas nos municípios de Maracaju, Dourados,
Ponta Porã, Rio Brilhante, Fátima do Sul e Caarapó, todas da microrregião de
Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul.
Tabela 14. Profissão ou ocupação dos representantes da sociedade,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.
Profissão ou Ocupação Frequência %
Administrador 15 9,50
Advogado 3 1,90
Agricultor 5 3,20
104
Continuação....
Profissão ou Ocupação Frequência %
Arquiteto 2 1,30
Assistente Administrativo 8 5,10
Biólogo 1 0,60
Comerciante 8 5,10
Comerciário 4 2,50
Contador 4 2,50
Dentista 1 0,60
Economista 2 1,30
Empresário 6 3,80
Engenheiro 2 1,30
Engenheiro Agrônomo 6 3,80
Fisioterapeuta 1 0,60
Gerente 9 5,70
Geólogo 1 0,60
Industriário 10 6,30
Jornalista 2 1,30
Motorista 1 0,60
Médico 1 0,60
Médico Veterinário 2 1,30
Nutricionista 1 0,60
Pedagogo 4 2,50
Policial civil 1 0,60
Professor 36 22,80
Psicólogo 1 0,60
Servidor Público 17 10,80
Técnico em Agropecuária 1 0,60
Vendedor 3 1,90
Total 158 100,00
105
Os entrevistados estão entre 25 e 44 anos (67%), com alto grau de
escolaridade e, quando questionados sobre as atividades desenvolvidas pelas
usinas de cana-de-açúcar na região, declararam possuir um conhecimento
intermediário (Média=3,58; Mediana=4) (Tabelas 15 e 16).
Tabela 15. Faixa etária dos representantes da sociedade, microrregião de
Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.
Idade Frequência %
até 24 anos 6 3,80
de 25 a 34 anos 53 33,50
de 35 a 44 anos 53 33,50
de 45 a 54 anos 36 22,80
55 anos ou mais 10 6,30
Total 158 100,00
Infere-se que o alto nível de escolaridade (Tabela 16) sustenta a
qualidade das respostas dos demais itens da pesquisa.
Tabela 16. Grau de escolaridade dos representantes da sociedade,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.
Escolaridade Frequência %
Fundamental e Médio 16 10,1
Superior 64 40,5
Pós-Graduado 78 49,4
Total 158 100,00
Ao serem questionados sobre o grau de conhecimento que os
representantes da sociedade possuíam sobre as atividades das usinas na
região, percebe-se que a maioria das respostas (43,1%) situa-se entre 4 e 5,
em uma escala de 1 a 7 (Tabela 17), denotando um conhecimento
intermediário.
106
Tabela 17. Grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas
usinas de cana-de-açúcar, representantes da sociedade, microrregião de
Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.
Conhecimento sobre usinas Frequência %
1 26 16,50
2 24 15,20
3 21 13,30
4 32 20,30
5 36 22,80
6 13 8,20
7 6 3,80
Total 158 100,00
OBS: Média = 3,58; Desvio-padrão = 1,72; Mediana = 4; Moda = 5. A questão é
de resposta única sobre uma escala. Os parâmetros são estabelecidos sob
uma notação de 1 (Pouco conhecimento) a 7 (Muito conhecimento).
Verificou-se não existir dependências significativas nas relações entre
escolaridade e grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas
usinas de cana-de-açúcar (Tabela 18)
Tabela 18. Cruzamento de escolaridade com grau de conhecimento usinas,
representantes da sociedade, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul,
2016.
Escolaridade Grau de conhecimento usinas TOTAL
1 2 3 4 5 6 7
Fundamental
e Médio
25,00 25,00 18,80 6,30 25,00 0,00 0,00 100,00
Superior 15,40 15,40 9,00 23,10 23,10 7,70 6,40 100,00
Pós-Graduado 15,60 12,50 17,20 20,30 21,90 10,90 1,60 100,00
Total 16,50 15,20 13,30 20,30 22,80 8,20 3,80 100,00
OBS: A dependência não é significativa. = 10,98, gl = 12, 1-p = 46,92%.
107
Pressupõe-se que a escolaridade não influi no grau de conhecimento
grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas usinas, pois
tanto os de baixa escolaridade como alta escolaridade tem percepção igual.
Gestão da Sustentabilidade: Segmento Socioeconômico
A Tabela 19 apresenta resultados de declarações dos representantes da
sociedade, na qual se verifica o grau de concordância relacionado às ações de
sustentabilidade socioeconômica, com foco na geração de emprego e renda,
nas relações trabalhistas e responsabilidade social, promovidas pelas usinas
instaladas na região estudada.
O conjunto de variáveis de sustentabilidade socioeconômica apresentou
alfa de Cronbach igual a 0,875. Esse resultado demonstra a consistência do
instrumento, significa que houve concordância entre o instrumento e a
população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.
Tabela 19. Variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do grupo
socioeconômico, dos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados,
Mato Grosso do Sul, 2016
Variável Min Máx Média Desvio
Padrão
Q1 - Geração de empregos 1 7 5,27 1,679
Q2 - Geração de renda 1 7 4,82 1,606
Q3 - Acidentes de trabalho (*) 1 7 3,11 1,471
Q4 - Qualificação profissional 1 7 3,59 1,628
Q5 - Saúde e segurança na empresa 1 7 3,84 1,741
Q6 - Saúde e segurança para fornecedores 1 7 3,80 1,658
Q7 - Empregabilidade de moradores 1 7 3,61 1,643
Q8 - Participação em entidades 1 7 3,12 1,598
Q9 - Valorização de ações de resp. social 1 7 3,04 1,612
OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1
(Discordo totalmente) a 7 (Concordo totalmente). (*) Os parâmetros para esta
variável são estabelecidos sob uma notação de 1 (Baixa) a 7 (Alta).
108
Ao observar as médias e desvios-padrão das variáveis, verificam-se
desvios padrão altos, com coeficientes de variação entre 32% e 53%, podendo-
se concluir que a percepção da sociedade sobre o tema não é homogênea.
Para evidenciar o nível de sustentabilidade das usinas, percebido pela
sociedade, foi calculada a média do grupo de indicadores socioeconômicos. As
variáveis com médias acima da média do grupo foram consideradas mais
sustentáveis, de acordo com a percepção da sociedade. Da mesma forma, as
variáveis com médias abaixo da média do grupo foram consideradas menos
sustentáveis.
Para se calcular a média do grupo socioeconômico, foi realizado um
procedimento no software SPSS para inverter a escala da variável Q3
(acidente de trabalho) que passou a ser chamada de Q3r (reversa) com a
finalidade de padronizar as escalas. A média do grupo foi de 3,9965 e o desvio
padrão = 1,134.
Na figura 6 podem ser observadas as três variáveis do grupo
socioeconômico que se destacaram: geração de emprego, geração de renda e
acidente de trabalho, podendo estas práticas ser consideradas mais
sustentáveis na gestão das usinas de acordo com a percepção da sociedade.
Seis variáveis ficaram abaixo da média do grupo: qualificação
profissional, saúde e segurança (empresa e fornecedores), empregabilidade de
moradores, participação em entidades, valorização de ações corporativas,
podendo estas práticas ser consideradas menos sustentáveis na gestão das
usinas, conforme a percepção da sociedade, exigindo atenção das mesmas a
essas questões.
109
Legenda: Q1 - Geração de empregos, Q2 - Geração de renda, Q3r - Acidente de
trabalho, Q4 - Qualificação profissional, Q5 - Saúde e segurança EMPRESA, Q6 -
Saúde e segurança FORNECEDORES, Q7 - Empregabilidade de moradores, Q8 -
Participação em entidades, Q9 – Valorização de ações resp. social.
Figura 6. Média das variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do
grupo socioeconômico, representantes da sociedade, microrregião de
Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.
Os indicadores de sustentabilidade positivos no grupo socioeconômico,
percebidos pela sociedade foram os indicadores de geração de emprego,
geração de renda e acidente de trabalho. MACEDO et al. (2007) afirmam que
entre indicadores socioeconômicos do setor sucroenergético a maior
importância vem da geração de empregos e renda, capacitando a mão-de-
obra, com flexibilidade para, usando tecnologias diversas, acomodar
características locais.
FREIRE (2010) destaca como impactos socioeconômicos positivos a
geração de emprego e geração consequente de atividade econômica na base
da pirâmide, bem como de atividade econômica secundária causada pela
produção agrícola e industrial da cana-de-açúcar. Afirma também que, em
110
geral, a atividade sucroenergética é vista de forma positiva pela sociedade e
traz relativo progresso a essas populações.
NEVES (2014) explicita em seu trabalho dois casos de geração de
renda, fazendo uma comparação do crescimento de alguns indicadores nos
municípios de Caarapó (MS) e Quirinópolis (GO), antes e depois da
implantação de usinas. Segundo ele, são exemplos do Brasil que dá certo, do
país que interioriza o desenvolvimento, que gera emprego, inserção e
oportunidades. Afirma que basta visitar os municípios acima para se conhecer
o que ele chama de “Brasil chinês”.
SHIKIDA et al. (2008) cita um caso semelhante de crescimento de
indicadores no município de Cidade Gaúcha-PR, ressaltando a contribuição da
Usina Usaciga. Afirma que, concomitante com o crescimento econômico, houve
evolução favorável, no que concerne ao Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), neste município.
Quanto ao indicador “acidente de trabalho”, de acordo com o padrão BSI
(2014), assegurar um ambiente de trabalho seguro e saudável em operações
de trabalho é fundamental para uma organização sustentável. Esse indicador
procurou identificar a percepção sobre a frequência de acidentes com
afastamento.
Ficou evidente, pelas respostas, que a sociedade percebe um cuidado e
preocupação das usinas com o quesito segurança do trabalhador, sendo essa
variável avaliada positivamente pela sociedade.
Na tabela 20 apresenta-se a percepção da sociedade sobre a oferta de
projetos desenvolvidos pelas empresas onde estão instaladas, conforme áreas
de atuação dos projetos.
111
Tabela 20. Percepção da sociedade sobre oferta de projetos pelas usinas,
microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016
Variável Min Máx Média Desvio
Padrão
Q10b - Projetos de educação ambiental 1 7 2,58 1,656
Q10e - Projetos de educação 1 7 2,53 1,646
Q10d - Projetos de saúde e higiene 1 7 2,30 1,444
Q10c - Projetos de esporte e lazer 1 7 2,30 1,452
Q10a - Projetos culturais 1 7 2,27 1,431
OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1 (Discordo
totalmente) a 7 (Concordo totalmente). Média do grupo projetos = 2,3962 e
desvio-padrão = 1,42256.
Verifica-se que a percepção da sociedade sobre a oferta de projetos por
parte das usinas instaladas na região é baixa para praticamente todas as
modalidades (média do grupo projetos = 2,3962). Ou seja, a sociedade não
percebe ações das empresas sucroenergéticas nestas áreas. Analisando a
frequência das respostas, tem-se que mais de 60% das pessoas responderam
que discordam ou discordam totalmente que projetos são ofertados.
Gestão da Sustentabilidade: Segmento Ambiental
A tabela 21 apresenta resultados das declarações dos representantes da
sociedade onde se verifica o grau de concordância destes relacionado às
ações de sustentabilidade ambiental, promovidas pelas usinas, com foco no
meio ambiente: ar, água, solo, biodiversidade.
O conjunto de variáveis de sustentabilidade ambiental apresentou alfa
de Cronbach igual a 0,888. Esse resultado demonstra a consistência do
instrumento. Significa que houve concordância entre o instrumento e a
população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.
112
Tabela 21. Variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do grupo
ambiental, representantes da sociedade, microrregião de Dourados, Mato
Grosso do Sul, 2016.
Variável N Min Máx Média Desvio
Padrão
Q11 - Queima de cana 158 1 7 2,52 1,718
Q12 - Inventário de emissões 158 1 7 3,42 1,778
Q13 - Tratamento de efluentes 158 1 7 3,85 1,782
Q14 - Destinação dos resíduos sólidos 158 1 7 4,11 1,754
Q15 - Uso racional dos recursos hídricos 158 1 7 3,91 1,654
Q16 - Reuso da água 158 1 7 4,06 1,652
Q17 - Uso de agroquímicos (*) 158 1 7 4,73 1,557
Q18 - Controle biológico 158 1 7 3,84 1,844
Q19 - Preservação matas nativas 158 1 7 3,47 1,993
Q20 - Preservação fauna 158 1 7 3,04 1,771
Q21 – Biomonitoramento 158 1 7 3,11 1,639
OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1 (Discordo
totalmente) a 7 (Concordo totalmente). (*) Os parâmetros para esta variável
são estabelecidos sob uma notação de 1 (Baixa) a 7 (Alta).
Para evidenciar o nível de sustentabilidade das usinas, percebido pela
sociedade, foi calculada a média do grupo de indicadores ambientais. As
variáveis com médias acima da média do grupo foram consideradas mais
sustentáveis, de acordo com a percepção da sociedade. Da mesma forma, as
variáveis com médias abaixo da média do grupo foram consideradas menos
sustentáveis.
Para se calcular a média do grupo ambiental foi realizado um
procedimento no software SPSS para inverter a escala das variáveis Q11
(queima de cana) e Q17 (uso de agroquímicos) que passaram a ser chamadas
de Q11r (reversa = “colheita mecanizada”) e Q17r (reversa) com a finalidade de
padronizar as escalas. A média do grupo foi de 3,7768 e o desvio padrão =
1,237.
113
Na figura 7 podem ser observadas as seis variáveis do grupo ambiental
que se destacaram: colheita mecanizada, tratamento de efluentes, destinação
de resíduos sólidos, uso racional dos recursos hídricos, reuso da água e
controle biológico, podendo estas práticas serem consideradas mais
sustentáveis na gestão das usinas de acordo com a percepção da sociedade.
Cinco variáveis ficaram abaixo da média do grupo: inventário de
emissões, uso agroquímicos, controle biológico, preservação matas nativas,
preservação fauna e biomonitoramento, podendo estas práticas serem
consideradas menos sustentáveis na gestão das usinas, conforme a percepção
da sociedade, exigindo atenção das mesmas a essas questões.
Legenda: Q11r - Colheita mecanizada, Q12 - Inventário de emissões, Q13 -
Tratamento de efluentes, Q14 - Destinação dos resíduos sólidos, Q15 - Uso
racional dos recursos hídricos, Q16 - Reuso da água, Q17r - Uso agroquímicos,
Q18 - Controle biológico, Q19 - Preservação matas nativas, Q20 - Preservação
fauna, Q21 - Biomonitoramento.
Figura 7. Média das variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do
grupo ambiental, dos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados,
Mato Grosso do Sul, 2016.
114
O indicador de sustentabilidade, no grupo ambiental, percebido de forma
mais positiva, pela sociedade foi a colheita mecanizada e não utilização da
queimada para a colheita da cana.
Esse é um indicador ambiental muito positivo, pois, segundo ANDRADE
e DINIZ (2007), dentre todos os impactos ambientais gerados pela
agroindústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, o mais emblemático, o mais
discutido e controvertido, ao longo dos anos, tem sido a prática da queima da
palha como método facilitador da colheita.
A queima da cana no campo aumenta as emissões de gases de efeito
estufa e causa chuva ácida (GLIESSMAN, 2000).
De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de
Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), o avanço da mecanização no
Estado é destaque nacional. Na safra 2013/2014, 94% das lavouras de cana do
Estado terão colheita mecanizada, contra 89% da safra 2012/2013. "A indústria
da cana já nasceu de forma correta em MS" (HOLLANDA, 2013). Ainda
segundo a BIOSUL (2013), Mato Grosso do Sul é o Estado do Brasil mais
avançado na eliminação da queimada. Segundo o presidente, só não é 100%
mecanizada porque faltam máquinas, operadores e ainda é necessário um
processo de capacitação dos empregados que atuam na colheita manual para
poderem trabalhar em outros setores.
Outros indicadores ambientais também foram percebidos pela sociedade
de forma superficial, obtendo médias em torno de 4 (numa escala de 1 a 7),
indicando que a sociedade nem concorda nem discorda que as usinas
desenvolvem ações nesse sentido. São eles: tratamento de efluentes,
destinação de resíduos sólidos, uso racional dos recursos hídricos, reuso da
água e controle biológico.
Quanto ao indicador “tratamento de efluentes”, ANDRADE e DINIZ
(2007) afirmam que no Estado de São Paulo, é prática corrente incorporar
grande parte dos efluentes líquidos, gerados nas usinas, à vinhaça, para
disposição no solo por meio da técnica que se convencionou chamar de
fertirrigação. Isso é feito com as águas geradas no processo de fabricação do
açúcar, as resultantes da lavagem de pisos e equipamentos, e as das purgas
dos lavadores de gases, etc.
115
O uso da vinhaça na prática da fertirrigação, apesar de antiga e bem
disseminada, não pode ser excessiva ou indiscriminada, uma vez que seu
potencial poluidor compromete o meio ambiente, desde as características
físicas e químicas do solo até as águas subterrâneas a partir da sua percolação
(SILVA, 2010).
ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam conhecer apenas uma grande usina,
localizada em Ariranha-SP, que promove a segregação de todas as águas
residuárias (aproximadamente 250 m³/h), trata-as separadamente da vinhaça
por meio da técnica de lodos ativados, e retorna os efluentes líquidos ao corpo
de água adjacente, dentro dos padrões legais de emissão e qualidade vigentes
no Estado de São Paulo.
Outro indicador de sustentabilidade importante que acarreta a poluição
do solo é a destinação adequada dos resíduos sólidos produzidos pelas
atividades da agroindústria.
ANDRADE e DINIZ (2007) explicam que nas usinas mais antigas e
localizadas distantes das áreas urbanas, foi prática comum o uso de valas para
aterro de resíduos sólidos domiciliares, de escritório, entulhos de construção
civil, podas de árvores, restos de estopas, graxas e embalagens de óleos
lubrificantes.
A destinação correta dos resíduos sólidos, segundo ANDRADE e DINIZ
(2007) cessa o processo de degradação ambiental e os locais afetados passam
a ser empregados para armazenamento temporário e compostagem orgânica
das cinzas, fuligens e torta de filtro.
Atualmente, as usinas contratam empresas terceirizadas, especializadas
no serviço de coleta e destinação de seus resíduos sólidos (BUENO e
SALVADOR, 2012).
Indicadores de sustentabilidade importantes estão relacionados ao
consumo de água. Nas usinas de cana-de-açúcar é importante desenvolver
práticas mais sustentáveis, nos aspectos do uso racional dos recursos hídricos
(águas superficiais e subterrâneas), e do reuso da água nas atividades
empresariais.
116
De acordo com SILVA (2010), a eminente escassez de água e o
comprometimento de sua qualidade em algumas regiões do mundo chamam a
atenção para a importância do planejamento e gestão dos recursos hídricos.
Ainda segundo o autor, é importante destacar o esforço que o setor
agroindustrial vem realizando para diminuir o consumo consultivo de água,
procurando otimizar seus processos, orientando esforços no sentido da
reciclagem deste bem.
Um último indicador percebido pela sociedade foi o “controle biológico”.
Conforme MACEDO et al. (2007), a preocupação com o impacto do uso de
defensivos agrícolas está presente em várias instâncias da Agenda 21, que
prevê ações específicas de controle. Assim, quanto menor o uso de
agroquímicos pelas empresas, mais sustentável ambientalmente será o seu
sistema de produção.
A UNICA (2010) já afirmava que uma parte significativa das pragas e
doenças que ameaçam a cana-de-açúcar é combatida por meio do controle
biológico e de programas avançados de melhoria genética que ajudam a
identificar as variedades resistentes às doenças.
ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam que a cana-de-açúcar requer poucas
aplicações em relação a outras culturas de produção extensiva, em razão de
sua robustez e adaptação às condições edafoclimáticas em que são cultivadas
no Brasil. Os herbicidas são o grupo mais utilizado. O consumo de inseticidas é
relativamente baixo, devido ao uso do controle biológico (inimigos naturais),
sendo quase nulo o de fungicidas. A produção orgânica também tem
aumentado, em virtude do crescimento do mercado de açúcar orgânico, tanto
no Brasil quanto no exterior.
Análise Fatorial Exploratória
Para a consecução das inferências necessárias ao estudo, após a
análise descritiva dos dados, procurou-se mediante a técnica de Análise
Fatorial, verificar e resumir as informações contidas nas variáveis analisadas,
para um melhor entendimento dos dados encontrados pelo software estatístico
SPSS, versão 22.
117
Para HAIR et al. (2009), a Análise Fatorial é uma técnica de
interdependência particularmente adequada para examinar as relações entre
variáveis e a criação de escalas múltiplas. Segundo os autores a "busca por
estrutura" com a análise fatorial pode revelar inter-relações substanciais entre
variáveis e fornece uma base objetiva para o desenvolvimento do modelo
conceitual e uma melhor parcimônia entre as variáveis em uma análise
multivariada.
A Análise Fatorial, como já relatado, possui como pressuposto a
necessidade de correlação entre as variáveis. Assim, o primeiro passo consiste
em verificar a existência de valores significativos que justifiquem a utilização da
técnica, tal constatação pode ocorrer por meio da aplicação do teste de
esfericidade de Bartlett, que é complementado com o teste de Kaiser-Meyer-
Olkin (KMO). Os valores de KMO iguais ou inferiores a 0,50 denotam que a
utilização da Análise Fatorial é inadequada e, por conseguinte, valores
superiores a 0,50 denotam a adequada utilização dessa técnica.
A análise fatorial é feita a partir das variáveis abordadas no presente
estudo, as quais envolvem dois grupos: Socioeconômico e Ambiental.
Os resultados dos testes de KMO e Bartlett para o grupo
socioeconômico podem ser visualizados na tabela 22.
Tabela 22. Teste de KMO e Bartlett para o grupo socioeconômico das usinas,
percebido pelos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados, Mato
Grosso do Sul, 2016.
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,847
Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 846,196
df 28
Sig. 0,000
Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas, foi
realizada a extração dos fatores da matriz de correlação, no intuito de
encontrar o conjunto de fatores que levassem a uma combinação linear das
variáveis da matriz de correlação. Na Tabela 23, apresenta-se a matriz de
118
componente rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam
o modelo, com suas respectivas cargas fatoriais.
Do grupo socioeconômico foi retirada uma variável com comunalidades
< 0,50 (Q3r).
Tabela 23. Matriz de Componente Rotativaa para o grupo socioeconômico das
usinas, percebido pos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados,
Mato Grosso do Sul, 2016
Componente
1 2
Organização Desenvol-
vimento
Local
Q1 - Geração de empregos 0,911
Q2 - Geração de renda 0,881
Q4 - Qualificação profissional 0,727
Q5 - Saúde e segurança EMPRESA 0,741
Q6 - Saúde e segurança FORNECEDORES 0,802
Q7 - Empregabilidade de moradores 0,773
Q8 - Participação em entidades 0,861
Q9 - Valorização de ações de resp. social 0,825
Método de Extração: Análise de Componente Principal.
Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.
a. Rotação convergida em 3 iterações.
Esses dois fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 74% das
variâncias das medidas originais. Os resultados dos testes de KMO e Bartlett
para o grupo ambiental podem ser visualizados na tabela 24.
119
Tabela 24. Teste de KMO e Bartlett para o grupo ambiental das usinas,
percebido pelos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados, Mato
Grosso do Sul, 2016.
Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,912
Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 1249,589
df 45
Sig. 0,000
Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas, foi
realizada a extração dos fatores da matriz de correlação, no intuito de
encontrar o conjunto de fatores que levassem uma combinação linear das
variáveis da matriz de correlação. Na tabela 25, apresenta-se a matriz de
componente rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam
o modelo, com suas respectivas cargas fatoriais.
Do grupo ambiental foi retirada uma variável com comunalidades < 0,50
(Q17r).
120
Tabela 25. Matriz de Componente Rotativaa para o grupo ambiental das
usinas, percebido pelos representantes da sociedade, Microrregião de
Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.
Componente
1 2
Preservação Produção
Q11r - Colheita mecanizada 0,860
Q12 - Inventário de emissões 0,782
Q13 - Tratamento de efluentes 0,852
Q14 - Destinação dos resíduos sólidos 0,843
Q15 - Uso racional dos recursos hídricos 0,813
Q16 - Reuso da água 0,731
Q18 - Controle biológico 0,785
Q19 - Preservação matas nativas 0,890
Q20 - Preservação fauna 0,883
Q21 - Biomonitoramento 0,826
Método de Extração: Análise de Componente Principal.
Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.
a. Rotação convergida em 3 iterações.
Esses dois fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 73% das
variâncias das medidas originais.
Conclusão
O perfil dos representantes da sociedade é formado por pessoas entre
25 e 44 anos de idade, com alto grau de escolaridade, pertencentes a
diferentes profissões ou ocupações, distribuídas nos municípios de Maracaju,
Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante, Fátima do Sul e Caarapó (microrregião de
Dourados-MS). Estas afirmaram possuir um conhecimento mediano sobre as
atividades desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar na região.
121
Quanto à percepção da sociedade sobre a gestão da sustentabilidade
das usinas, no segmento socioeconômico, os indicadores menos percebidos
foram: qualificação profissional, saúde e segurança na empresa e
fornecedores, empregabilidade de moradores, participação em entidades e
valorização de ações de responsabilidade social. Indicadores mais percebidos
foram: geração de emprego, geração de renda. No segmento ambiental, os
indicadores menos percebidos foram: inventário de emissões, uso
agroquímicos, preservação matas nativas e fauna, biomonitoramento. O
indicador mais percebido foi a colheita mecanizada.
A percepção da sociedade sobre a oferta de projetos por parte das
usinas instaladas na região é baixa para praticamente todas as modalidades de
projetos. Conclui-se que a sociedade tem pouca percepção sobre as ações de
gestão da sustentabilidade promovidas pelas usinas, dentro das dimensões
socioeconômica e ambiental. Infere-se que, se as empresas sucroenergéticas
desenvolvem ações de sustentabilidade, estas não são percebidas pela
sociedade.
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126
7. Conclusão Geral
As empresas sucroenergéticas do estudo são um grupo heterogêneo,
composto por usinas de grande, médio e pequeno portes. Possuem uma
capacidade de moagem de 33,6 milhões de toneladas e utilizam, em média,
94% de sua capacidade instalada. Juntas produzem e processam cerca de
75% da cana de Mato Grosso do Sul. Todas as usinas produzem etanol, 90%
produzem bioeletricidade e 70% açúcar.
Quanto à gestão da sustentabilidade no grupo socioeconômico, 55% dos
indicadores se destacaram acima da média do grupo: geração de emprego,
geração de renda, ética organizacional, saúde e segurança na empresa, saúde
e segurança para fornecedores, reação dos mercados às ações
socioambientais. No grupo ambiental 80% dos indicadores se destacaram
acima da média do grupo: colheita mecanizada, destinação dos resíduos
sólidos, controle biológico, tratamento de efluentes, inventário de emissões,
preservação matas nativas, biomonitoramento e reuso da água.
Com relação aos projetos desenvolvidos pelas empresas nos
municípios, identificou-se uma maior concentração de oferta nas áreas de
educação ambiental. Em menor número aparecem projetos nas áreas de saúde
e higiene, esporte e lazer e cultura.
As usinas da microrregião de Dourados afirmaram desenvolver ações de
gestão da sustentabilidade, dentro das dimensões socioeconômica e
ambiental, em maior ou menor grau, considerando indicadores de
sustentabilidade reconhecidos e utilizados internacionalmente para o setor. Na
pesquisa desenvolvida com a sociedade, identificou-se uma situação diferente,
quanto à percepção das ações citadas acima pelas empresas.
O perfil dos representantes da sociedade é formado por pessoas entre
25 e 44 anos de idade, com alto grau de escolaridade, pertencentes a
diferentes profissões ou ocupações, distribuídas nos municípios de Maracaju,
Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante, Fátima do Sul e Caarapó (microrregião de
Dourados-MS). Estas afirmaram possuir um conhecimento mediano sobre as
atividades desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar na região.
Quanto à percepção da sociedade sobre a gestão da sustentabilidade
das usinas, no grupo socioeconômico, os indicadores menos percebidos foram:
127
qualificação profissional, saúde e segurança na empresa e fornecedores,
empregabilidade de moradores, participação em entidades e valorização de
ações de responsabilidade social. Indicadores mais percebidos foram: geração
de emprego, geração de renda. No grupo ambiental, os indicadores menos
percebidos foram: inventário de emissões, uso agroquímicos, preservação
matas nativas e fauna, biomonitoramento. O indicador mais percebido foi a
colheita mecanizada.
A percepção da sociedade sobre a oferta de projetos por parte das
usinas instaladas na região é baixa para praticamente todas as modalidades de
projetos.
Conclui-se que, apesar das empresas afirmarem desenvolver ações de
gestão da sustentabilidade dentro das dimensões socioeconômica e ambiental,
a sociedade tem pouca percepção sobre tais. Logo, infere-se que, se as
empresas sucroenergéticas desenvolvem ações de sustentabilidade, estas não
são percebidas pela sociedade.
128
APÊNDICE “A” – Formulário aplicado às Empresas Sucroenergéticas
UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE
E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Este formulário é parte de um trabalho do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente
e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera/Uniderp, intitulado “Sustentabilidade do
Setor Sucroenergético em Mato Grosso do Sul”.
Sua colaboração é muito importante, pois ajudará a entender a percepção das empresas e
colaboradores do setor quanto à gestão da sustentabilidade e suas ações. Ressaltamos que o
respondente e a empresa não serão identificados em nenhuma das questões, garantindo o seu
total anonimato.
Muito Obrigado!
Alex Sandro Richter Won Mühlen
(67) 9973-1312 – [email protected]
I. DADOS DE CONTROLE DO FORMULÁRIO
Essas informações não serão divulgadas na pesquisa, sendo utilizadas apenas pelo pesquisador para
controle da aplicação dos formulários.
a) Número de controle: (será preenchido posteriormente)
b) Nome da empresa: ____________________________________________________________
c) Município: ___________________________
d) Nome do Respondente: _______________________________________________________
e) Telefone:_________________ f) e-mail:_______________________________________
g) Idade:____ anos h) Tempo de empresa: ____ anos
i) Cargo/Função: ______________________________________________
j) Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior ( ) Pós-Graduado
129
II. DIMENSÃO SOCIOECONÔMICA E GESTÃO
Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância relacionado às ações de
sustentabilidade socioeconômica, com foco na produção, gestão, nas relações trabalhistas e na
responsabilidade social.
1) Quais os produtos gerados pela empresa?
( ) Etanol ( ) Açúcar ( ) Bioeletricidade ( ) Outro(s). Qual(is)? _________________
2) Qual é a capacidade instalada de moagem total da usina? _________ ton.
3) Qual é a % da capacidade de moagem utilizada atualmente? _____%.
4) Qual é a área total plantada da usina?________________hectares
5) A empresa faz contratos de compra de cana com plantadores de cana? ( ) Sim ( ) Não
6) Caso faça contrato, qual a representatividade destes no total produzido? ______% (estimado)
7) A empresa possui unidades em outras regiões do Brasil?
( ) Sim ( ) Não
7a) Caso positivo, em qual(is)? ( )Sudeste ( )Nordeste ( )Sul ( )Centro-Oeste ( )Norte
8) Há quanto tempo o grupo atua no setor sucroenergético? ____anos. E essa planta? ___anos.
9) Você acha que a empresa está passando por dificuldades diante do atual cenário econômico brasileiro
e mundial?
( ) Sim ( ) Não
10) A empresa atribuiria a quais fatores as dificuldades enfrentadas pelo setor no momento?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
Assinale com um (x), na escala de 1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião
11) Contribuímos para a geração de empregos na
região
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
12) Contribuímos para a geração de renda na
região
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
13) Existem compromissos explícitos da empresa
que tratam do tema ética organizacional (conjunto
de formas de proceder em relação ao seu público)
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
14) Ocorre acidente de trabalho com afastamento Pouco 1 2 3 4 5 6 7 Muito
15) Oferecemos programas de requalificação
profissional como alternativa para a reinserção de
funcionários em outros postos de trabalho
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
16) Utilizamos melhores práticas de gestão em
saúde e segurança, como ginástica laboral,
pausas, reidratação e atendimento de emergência
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
130
17) Divulgamos e orientamos aos nossos
fornecedores de cana e terceirizados sobre as
melhores práticas de gestão em saúde e
segurança
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
18) Possuímos uma política de empregabilidade
de moradores da comunidade onde o
empreendimento está instalado (capacitação e
treinamento)
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
19) A empresa participa em entidades de classe e
de desenvolvimento regional nas comunidades
onde está instalada
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
20) Valorizamos e divulgamos as ações de
responsabilidade corporativa da empresa nas
comunidades canavieiras
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
21) Os mercados reagirão mais positivamente às
ações socioambientais promovidas pela empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
22) Oferecemos os seguintes projetos no município onde o empreendimento está instalado:
Projetos culturais Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente
Projetos de educação ambiental Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente
Projetos de esporte e lazer Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente
Projetos de saúde e higiene Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente
Projetos de educação Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente
III. DIMENSÃO AMBIENTAL
Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância relacionado às ações de
sustentabilidade ambiental com foco nas mudanças climáticas, meio ambiente: ar, água, solo,
biodiversidade e certificações.
Assinale com um (x), na escala de 1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião
23) Utilizamos a queima de cana-de-açúcar
nas atividades da empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
24) Possuímos um inventário de Emissões de
Gases do Efeito Estufa (GEE) da empresa,
gerados principalmente pela indústria
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
25) Tratamos os efluentes líquidos produzidos
pelas atividades da empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
131
26) Destinamos adequadamente os resíduos
sólidos produzidos pelas atividades da
empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
27) O uso dos recursos hídricos na
agroindústria é racional
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
28) Nos processos industriais fazemos o
reuso da água
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
29) Fazemos uso de agroquímicos
(inseticidas, fungicidas e herbicidas) na área
agrícola da empresa
Pouco 1 2 3 4 5 6 7 Muito
30) Utilizamos controle biológico de pragas na
área agrícola da empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
31) Mantemos e procuramos ampliar as matas
nativas (reserva legal e área de preservação
permanente), dentro das áreas exploradas
pela empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
32) Realizamos o monitoramento contínuo ou
pontual do índice de biodiversidade
(biomonitoramento) dentro das áreas
exploradas pela empresa
Discordo
totalmente
1 2 3 4 5 6 7 Concordo
totalmente
132
APÊNDICE “B” – Formulário aplicado aos Representantes da Sociedade
Disponibilizado em:
https://docs.google.com/forms/d/1Irq32dQkKpfDHxikR2UihuAFjSyjww_XPzwksVmytSA/formResponse
Pesquisa sobre as Ações de Sustentabilidade do Setor Sucroenergético no Mato Grosso do Sul
Este questionário faz parte de uma pesquisa intitulada “Sustentabilidade do Setor Sucroenergético em
Mato Grosso do Sul: gestão das empresas e percepção da sociedade”.
Sua colaboração é muito importante, pois ajudará a verificar a percepção da sociedade quanto às ações
de sustentabilidade promovidas pelas empresas. Não existe resposta certa ou errada, pretendemos
apenas mensurar a sua percepção sobre o assunto. Ressaltamos que o respondente não será identificado
em nenhuma das questões, garantindo o seu total anonimato.
Muito Obrigado!
Alex Sandro Richter Won Mühlen
(67) 3931-1000 – [email protected]
*Obrigatório
I. DADOS DE CONTROLE DO QUESTIONÁRIO
Essas informações não serão divulgadas na pesquisa, sendo utilizadas apenas pelo pesquisador para
controle da aplicação dos questionários
a) Nome do Respondente
b) Município *
c) Telefone
d) Idade *
o até 24 anos
o de 25 a 34 anos
o de 35 a 44 anos
133
o de 45 a 54 anos
o 55 anos ou mais
e) Profissão *
f) Escolaridade *
o Fundamental
o Médio
o Superior
o Pós-Graduado
g) Qual o seu grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar
em sua região? *
1 2 3 4 5 6 7
Pouco Conhecimento Muito Conhecimento
II. DIMENSÃO SOCIOECONÔMICA
Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância/conhecimento relacionado às ações
de sustentabilidade socioeconômica, com foco na geração de emprego e renda, relações trabalhistas e
responsabilidade social, promovidas pelas usinas sucroenergéticas da sua região. Escolha numa escala de
1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião. As usinas sucroenergéticas instaladas na minha
região:
1) Têm contribuído para a geração de empregos na região *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
2) Têm contribuído para a geração de renda na região (atraindo novos empreendimentos) *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
134
3) Pelo que conheço, a frequência com que ocorrem acidentes de trabalho com afastamento é: *
1 2 3 4 5 6 7
Baixa Alta
4) Oferecem programas de qualificação profissional como alternativa para a reinserção de funcionários em
outros postos de trabalho *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
5) Utilizam melhores práticas de gestão em saúde e segurança do trabalho, como ginástica laboral,
pausas, reidratação e atendimento de emergência *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
6) Divulgam e orientam os fornecedores de cana e terceirizados sobre as melhores práticas de gestão em
saúde e segurança *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
7) Possuem política para empregar prioritariamente moradores da minha comunidade, oferecendo
capacitação e treinamento *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
8) Participam em entidades de classe e de desenvolvimento regional na minha comunidade (conselhos,
comitês, etc.) *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
135
9) Valorizam e divulgam as ações de responsabilidade corporativa promovidas pelas usinas na minha
comunidade *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
10a) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS CULTURAIS na minha comunidade *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
10b) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL na minha
comunidade *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
10c) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE ESPORTE E LAZER na minha comunidade *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
10d) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE SAÚDE E HIGIENE na minha comunidade *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
10e) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE EDUCAÇÃO na minha comunidade *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
III. DIMENSÃO AMBIENTAL
Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância/conhecimento relacionado às ações
de sustentabilidade ambiental, promovidas pelas usinas sucroenergéticas da sua região. Escolha numa
escala de 1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião. As usinas sucroenergéticas instaladas na
minha região:
136
11) Ainda utilizam, com regularidade, a queima de cana-de-açúcar para colheita *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
12) Realizam o controle da qualidade do ar (inventário de emissões geradas pela indústria) *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
13) Tratam os efluentes líquidos produzidos pelas atividades da empresa *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
14) Destinam adequadamente os resíduos sólidos (lixo) produzidos pelas atividades da empresa *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
15) Fazem uso os recursos hídricos (água) na agroindústria de forma racional (econômica) *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
16) Nos processos industriais fazem o reuso da água *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
17) Pelo que conheço, a frequência com que fazem uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e
herbicidas) na área agrícola da empresa é: *
1 2 3 4 5 6 7
Baixa Alta
137
18) Utilizam controle biológico (inimigos naturais) de pragas na área agrícola da empresa *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
19) Mantêm e procuram ampliar as matas nativas (reserva legal e área de preservação permanente),
dentro das áreas exploradas pela empresa *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
20) Mantêm e procuram ampliar a fauna, dentro das áreas exploradas pela empresa *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
21) Realizam o monitoramento contínuo ou pontual do índice de biodiversidade (biomonitoramento) dentro
das áreas exploradas pela empresa *
1 2 3 4 5 6 7
Discordo totalmente Concordo totalmente
Espaço para suas observações sobre o tema (opcional)
Você poderia indicar um contato seu que tenha conhecimento sobre o assunto para contribuir respondendo
este questionário?
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Empresa/Instituição
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