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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
COISA JULGADA
Por: José Carlos Vilardo de Carvalho
Orientador
Prof.º Jean Alves
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
COISA JULGADA
Apresentação de monografia à Universidade Cândido
Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso
de Pós- Graduação “ Lato Sensu “ em Direito Processual
Civil.
Por: José Carlos Vilardo de Carvalho
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus parentes e amigos que sempre me
incentivaram a alcançar meus objetivos. Aos
professores que me ajudaram na conclusão
deste trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico primeiramente a Deus que me
concedeu saúde e tranquilidade para perseguir
meus objetivos. E, também, aos meus pais, e
esposa e filhas por acreditarem no meu
trabalho.
5
RESUMO
No direito do Processual Civil questões de Coisa Julgada e Ação Anulatória,
tem sido vários pontos controvertidos, na doutrina e na jurisprudência, acerca tanto
do cabimento da ação rescisória ou da ação anulatória. Sempre é bom lembrar, que
a coisa julgada refere-se às decisões judiciais terminativas ( sentenças) que decidem
mérito, julgam os conflitos; assim a ação cabível para rescindir essas sentenças que,
em tese, seriam cobertas com o manto da coisa julgada, é a ação rescisória; por
outro lado, a ação anulatória rescinde não sentenças de mérito, mas sim decisões
terminativas meramente homologatórias, não se tratando, portanto, de rescindir a
coisa julgada, protegida constitucionalmente, mas atingindo a decisão de âmbito
apenas formal, que não faz coisa julgada, apenas homologa um ato que, uma vez
nulo, somente poderá ser rescindido via ação anulatória.
A coisa julgada será analisada, com ênfase aos seus efeitos, seus limites e
nos modos com que encontramos comumente, tudo apenas para melhor esclarecer
sua presença quando da rescindibilidade da decisão via ação anulatória ou ação
rescisória, de modo a melhor identificar as diferenças entres dois tipos de processos
e esclarecer o cabimento específico e cada caso.
Vários pontos controvertidos, na doutrina e na jurisprudência, acerca tanto do
cabimento da ação rescisória ou da ação anulatória, como até da aplicabilidade da
ação anulatória em casos de ocorrência de nulidades não inseridas no processo, os
atos jurídicos em geral, perfeitamente possível de serem rescindidos via ação
anulatória; com fundamentos literal do art. 486 do Diploma Processual Civil.
Começaremos com análise da coisa julgada, formal e material, seus limites,
objetivos e subjetivos, para, somente então, iniciarmos a análise da ação anulatória,
iniciando com sua conceituação, discorrendo acerda do seu cabimento, seu
procedimento, seus efeitos.
6
A coisa julgada refletida na sagrada idéia da imutabilidade do julgamento final
transitado em julgado, protegido constitucionalmente; a ação anulatória reletiva na
idéia da nulidade do ato a ensejar nova apreciação judicial de situações ilegalmente
concedidas judicialmente, com base também constitucional no amplo acesso ao
judiciário.
7
METODOLOGIA
O presente trabalho abordará o tema COISA JULGADA, e abordagem na
ação anulatória refletida na idéia da nulidade do ato a ensejar nova apreciação,
através de pesquisa a legislação Constitucional, leis Ordinárias, aos Princípios do
direito do Trabalho, as jurisprudências, convenções e Doutrina. Além disso, utiliza-se
o conhecimento já adquirido em formação acadêmica anterior.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I - DA COISA JULGADA E SEGURANÇA
JURIDICA 11
CAPÍTULO II – COISA JULGADA FORMAL E COISA
JULGADA MATERIAL 24
CAPÍTULO III - LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA
COISA JULGADA 31
CAPÍTULO IV - AÇÃO ANULATÓRIA-CONCEITO E
PROCEDIMENTO
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49
BIBLIOGRAFIA CITADA 51
9
ÍNDICE 53
FOLHA DE AVALIAÇÃO 56
INTRODUÇÃO
A Constituição da República, em seu artigo 5º, inciso XXXVI, tutela o instituto
da coisa julgada, que são decisões judiciais transitadas em julgado, das quais não
cabem mais recursos. Diz, assim, o art. 5º em seu inciso XXXVI: “a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. No entanto,
a própria lei, através do Código Civil, prevê atos jurídicos que apesar de revestidos
com o manto da coisa julgada, não são perfeitos, previstos na Lei Civil, nos artigos
138 a 184.
Tais atos, quando confeccionados processualmente e julgados por uma
sentença de mérito, apesar de cobertos ( em tese) pelo manto da coisa julgada,
podem ser anulados através da Ação Rescisória, insculpida no art. 485 do Código
de Processo Civil, que prevê a possibilidade de rescisão como: decisão dada por
prevaricação, cocussão ou corrupção do juiz; proferida por juiz impedido ou
absolutamente icompetente; resultado de dolo ou de colusão a fim de fraudar a
lei;ofender a coisa julgada; violar literal disposição de lei; fundar-se em prova falsa;
surgimento de documento novo; confissão, desistência ou transação inválidas;
existência de erro de fato resultante de atos ou documentos da causa.
Observamos que a coisa julgada não é aplicação a toda e qualquer sentença
10
judicial, apenas porque ela foi proferida pela justiça e transitou em julgado. Uma
sentença para ter a proteção judicial da coisa julgada, é necessário que ela não
esteja viciada nos termos da legislação, para então, tornar-se efetivamente coisa
julgada.
Ao lado da sentença de mérito, temos a sentença homologatória. Somente
homologam atos e questões processuais, nada julgando; mas mesmo assim poem
fim ao processo. Nesse caso quando ocorre uma nulidade, não se pode falar em
coisa julgada, pois nada foi objeto de julgamento, não houve decisão terminative da
lide, mas mera homologação.
Quando acontece essa forma de término da relação juridical, temos tão-
somente uma decisão homologatória de um ato processual.
Nesses casos, o artigo 486 do Código de Processo Civil prevê uma Ação
Anulatória, que pode ser ajuizada sob o rito ordinário e com intuito de rescindir o ato
jurídico, de acordo com a Lei Material. É fundamental que se indentifique
corretamente a diferença que há em sentenças de mérito e sentenças meramente
homologatórias, a fim de que se defina qual a ação cabível na tentativa de sanar a
nulidade ocorrida.
Dessa forma, a Lei protege tanto a coisa julgada( real, verdadeira, visando
a segurança do julgado), como o direito do lesado por alguma injustice, praticada por
quem seja detentor do poder de julgar; possibilitando, a este lesado, de ajuizar outra
ação tendo em vista o trânsito em julgado de uma decisão que seria ilegal.
Esse direito ocorrre através de dois procedimentos jurídicos: da Ação
Rescisória ( a qual visa a rescindir a sentença de mérito viciada de alguma forma,
nos termos do art. 485 do Diploma Processual; e da Ação Anulatória( que visa
rescindir atos que não dependam de sentença ou aqueles que essa sentença seja
meramente homologatória.
Serão apresentados pontos controvertidos, na doutrina e na
jurisprudência, quanto ao cabimento da ação rescisória ou da ação anulatória, como
até da aplicabilidade da ação anulatória em casos de ocorrência de nulidades não
inseridas no processo, os atos jurídicos em geral, serem possíveis de serem
rescindidos através ação anulatória; fundamentamos esse posicionamento com a
11
análise do art. 486 do diploma Processual.
CAPÍTULO I
DA COISA JULGADA E SEGURANÇA JURÍDICA
"Meu grande problema é ser amado cada vez mais, e é por isso que eu escrevo."
Primeiramente, trataremos o conceito de coisa julgada, inclusive na
Constituição da República e sua abordagem por juristas renomados.
Coisa julgada: Diz-se da sentença, que se tornando irretratável, por não
haver contra ela mais qualquer recurso, firmou-se o direito de um dos litigantes para
não admitir sobre a dissidência anterior qualquer outra oposição por parte do
vencido, ou de outrem que sub-rogue em suas pretensões¨.1
Como diz, em seu art. 5º inc. XXXVI ¨a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada¨. É um instituto decorrente de
decisões judiciais transitadas em julgado, para as quais não existem mais recursos.
Segundo Nelson Nery Júnior:¨ Depois de ultrapassada a fase recursal,
quer porque não se recorreu, quer porque o recurso não foi conhecido por
1 Vocabulário Enciclopédico de tecnologia Jurídica e Brocados Latinos, Rio de Janeiro-1996
12
intempestividade, quer porque foram esgotadaos todos meios recursais, a sentença
transita em julgado. Isto se dá a partir do momento em que a sentença não é mais
impugnável¨2.
Humberto Theodoro Júnior assim define coisa julgada: ¨Apresenta-se a
res iudicata, assim como qualidade da sentença, assumida em determinado
momento processual. Não é efeito da sentença mas a qualidade dela representada
pela imutabilidade do julgado e de seus efeitos¨3.
Vicente Greco Filho define coisa julgada:
¨A coisa julgada, portanto, é a imutabilidade dos efeitos da
sentença ou da própria sentença que decorre de estarem
esgotados os recursos eventualmente cabíveis¨4.
Nosso diploma processual civil define, a coisa julgada (nos artigos 467 a
475 do Código de Processo Civil ).
O festejado jurista Giuseppe Chiovenda define a coisa julgada:
“O bem da vida que o autor deduziu em juízo ( res in iudicium
deducta) com a afirmação de que uma vontade concreta da lei
o garante a seu favor ou nega ao réu, depois que o juizo
reconheceu ou desconheceu com a sentença de recebimento ou
de rejeição da demanda , converte-se em coisa julgada ( res
iudicata ). A res iudicata outra coisa não é para os romanos do
que a res in iudicium deducta depois que foi iudicata..
(CHIOVENDA, G. Insituições de direito processual civil. Campinas :
Bookseller,2002.p.446.)
Francesco Carnelutti, define a coisa julgada como:
“Coisa Julgada, então, significa a decisão de mérito que se
obtém por meio do processo de cognição ou, em outros termos,
a decisão sobre questões de fundo; as questões de fundo
julgadas não são apenas as expressamente resolvidas, como
2 Nery Junior Código de Processo Civil Comentado e legislação processual extravagante 3 ed. São Paulo Revista dos Tribunais, 1997, p.677 3 Theodoro Júnior, H. curso de direito de Processo Civil, 44 ed Rio de Janeiro Forense, 2006 vol I p.574 4 Greco Filho, V Direito Processual Civil Brasileiro. São Paulo Saraiva,1996 2 v. p.265
13
também aquelas cujas solução seja uma premissa necessária
para a solução das primeiras e que, portanto, resolvem-se
implicitamente ( a chamada decisão implícita). Já que as
questões de ordem não concernem à lide, sua solução não
constitui nunca coisa julgada.5
1.1 Coisa Julgada- Aspectos Históricos
Está inserida a coisa julgada em nossa Carta de 1988 no art. 5º, no Título
II (dos direitos e deveres individuais e garantias fundamentais), Capítulo I( dos
direitos e deveres individuais e coletivos), no inc. XXXVI. Ao analisarmos os
aspectos históricos dos direitos e garantias fundamentais ( e entre os quais a coisa
julgada), analisaremos primeiramente o constitucionalismo, que surgiu para
assegurar as garantias garantias básicas ao cidadão.
Nas mais antigas civilizações, foi observada a existência de
manifestações de uma idéia de controle das relações internacionais através de uma
Constituição. Celso A. Mello abordando acerca do Direito Constitucional
Internacional menciona: ¨Nas mais antigas civilizações, como na Suméria, parece já
existir manifestações de uma idéiade controle das relações internacionais, como no
caso em que o rei de Erech antes de partir para uma guerra contra Kish consultou as
assembléias de anciãos e dos guerreiros¨. 6
Ainda na Grécia Antiga encontramos a existência de um
constitucionalismo, presente no século V nas Cidades- Estado. Ao analisarmos a
própria Cidade- Estado para que possamos concluir ser constitucional a forma de
governo que se encontrava presente nesta civilização, onde o poder político era
distribuído entre todos os cidadãos ativos, havendo uma devoção pelo princípio do
Estado de direito de uma ordem. Celso Mello, ao mencionar o constitucionalismo
existente na Grécia antiga comenta:
ïmportante é mostrar que sempre houve um controle da vida 5 Carnelutti, F. Instituições do processo civil, São Paulo: Classic Book 2000 p.184. 6 Mello C.D.A Direito Constitucional internacional uma introdução Constituição 1988 ver 1994. 2 ed. Rio de Janeiro: renovar,2000.p.47
14
internacional do estado em maior ou menor grau. O
constitucionalismo, a vida internacional do estado são muito
mais antigas do que pretende a maioria dos autores. E mais
talvez o que nos falta seja o respeito que gregos tinham lei, que
a sociedade moderna à custa de tanto analisar acabou por
destruir¨.7
Já em Roma, indentifica-se um controle da política externa muito maior do
que na Grécia. O direito público tinha um programa mais acentudado; a idéia da
Constituição de Roma era apontada com tão importante para o mundo Antigo como
a Constituição Britânica no mundo moderno 8.
Portanto, no direito romano, existia a idéia de que a sentença era a
própria coisa julgada ou coisa julgada era o próprio objeto litigioso definitivamente
decidido. 9
Como vemos, com o desenvolvimento das ordenações jurídicas nacionais,
outras teorias acabaram sendo construídas e serão apresentadas; teorias acerca
dos efeitos da sentença e da coisa julgada formal, material, dos seus limites
objetivos e subjetivos.
1.2 As ações e as Sentenças
A correta compreensão do assunto que abrange a classificação das
ações representa a possibilidade da dedução de pedidos adequados e de outra
forma possibilite que o juiz prolate sua decisão nos exatos termos que lhe exige a
situação submetida á apreciação.
Portanto, para que se atinjam certas conclusões no assunto, necessário se
faz que, alguns institutos sejam revistos. Neste passo, será exposta a idéia da
relação jurídica de direito material, e relação jurídica de direito processual; ação de
direito material, direito subjetivo e pretensão, para depois, enfrentarmos o tema
sobre a classificação das ações.
No dia a dia ocorrem fatos que geram conseqüências jurídicas. Alguns 7 Mello, C.D.A.op. cit p.48 8 Mello,C.D.A. op.cit.p53 9 Greco Filho.op.cit. p.264
15
fatos são naturais, como a queda de raios, não há conseqüência jurídica, pois o
fenômeno da natureza acarretou um prejuízo. No entanto, quando ocorre um
acidente de automóvel, com prejuízos , nasce paras os sujeitos de direitos uma
relação jurídica, pois haverá o direito de ser reparado no dano sofrido e para o outro
o dever de indenizar.
Tal fato, cria um vínculo entre as partes, cria-se dessa forma, uma relação
jurídica, porque produz efeitos entre as partes.
Tudo ocorre no mundo dos fatos que adquirem relevência jurídica, existirá
quando da provocação da tutela jurisdicional para satisfação de determinado
interesse, quer exista relação material controvertida a dar suprote à pretensão
deduzida,quer inexista a relação a relação jurídica de direito material afirmada, já
que o direitode ação é além de público e subjetivo e abstrato, existirá ação de direito
processual, independente da existência de relação jurídica de direito material,
quando ocorre os pedidos de improcedência. Neste passo, a conclusão do juiz,
poderá ser no sentido de que o autor titular, apesar do pedido de improcedência.
Com isso, podemos afirmar que sem a provocação da juridição não há
relação processual; no entanto, poderá haver relação de ordem material na medida
em que está ocorre no mundo dos fatos com relevância jurídica. .
1.3 Segurança Jurídica
A ordem jurídica ficou indissociável da garantia da coisa julgada, a
corrente doutrinária tradicional ensinou que se tratava de um instituto de direito
natural, imposto pela essência mesma do direito e sem o qual este seria uma ilusão;
sem o direito natural, a incerteza reinaria nas relações sociais e o caos e a
desordem seriam o habitual nos fenômenos jurídicos.
Deve-se ressaltar que, embora a coisa julgada seja a decisão judicial que
transitou em julgado, as sentenças meramente homologatórias, apesar de porem fim
ao processo e mesmo que transitarem em julgado, não fazem coisa julgada, por
serem meramente homologatórias não decidirem o mérito da causa. A segurança jurídica deve ser tuteladas pelo Poder Judiciário, que permitir
que indefinidamente se renovem os recursos sendo necessários,um ponto final nos
litígios.
16
A Carta de 1988 assegura a proteção a esse tipo de decisão, garantindo
que não se podem reabrir processos cujas decisões finais já estão revestidas do
manto da coisa julgada. Trata-se da imutabilidade da decisão judicial. Há ainda a
coisa julgada formal e a coisa julgada material.
Segundo Vicente Greco Filho, a coisa julgada formal; é a sentença de
conteúdo processual, que julga o processo sem julgar o mérito, ocorrendo a
impossibilidade de alteração no mesmo processo, podendo, porém o autor, propor
nova ação10¨.
Ocorre a coisa julgada material, quando a sentença que põe fim definitivo
á lide, tornado-se imutável, sendo defeso o ajuizamento de nova ação.
A Carta protege a coisa julgada material porque o que se protege é a
prestação jurisdicional definitivamente outorgada. Enquanto a coisa julgada formal
só se beneficia da proteção indireta na medida que contém na coisa julgada
material.
A coisa julgada é, em certo sentido, um ato jurídico perfeito; assim já
estaria contemplada na proteção deste, o legislador consagrou um instituto de
enorme relevância na teoria da segurança jurídica.
Entretanto, a lei prevê regras para a rescisão mediante a mesma atividade
jurisdicional. Dizendo a lei não prejudicará a coisa julgada, quer-se tutelar esta
contra atuação direta do legislador,contra aquele direito da lei. A lei não pode
desfazer a coisa julgada, mas pode prever licitamente, como prevê no art. 485 do
Diploma do Processo Civil, sua rescindibilidade por meio da ação rescisória.
O Código Civil brasileiro, em seu artigo 145 e seguintes, prevê atos que,
embora reconhecidos jurisdicionalmente, podem ser anulados, como atos jurídicos
em geral, por meio da ação anulatória, prevista no art. 486 do Código de Processo
Civil.
Dessa forma quando há uma sentença de mérito que decide um litígio, o
único meio de se rescindir uma decisão de alguma forma viciada, através da ação
rescisória, prevista no ordenamento processual civil no artigo 485.
Já, quando ocorre em situação diversa, existindo uma decisão judicial
meramente homologatória, o instrumento jurídico adequado para rescindir o ato
trata-se de ação anulatória, prevista no art.486 do Código do Processo Civil.
10 Greco Filho, V op. Cit.265
17
1. 4 Coisa Julgada- Administrativa
O sistema de jurisdição una, é adotado no Brasil, baseado no princípio da
universalidade da jurisdição, previsto constitucionalmente no art. 5º , inc. XXXV, da
nossa Carta Magna.
Entretanto, alguns países, como a França, Alemanha e Itália adotam um
sistema jurídico chamado contencioso administrativo. Este sistema prevê e
regulamenta a chamada dualidade de jurisdição, ou seja, as lides que envolvam
questões administrativas são solucionadas por um tribunal próprio, específico, não
pertencente ao poder judiciário, mas vinculado ao próprio poder executivo.
No Brasil, não existe a coisa julgada administrativa, uma vez que adotamos
o sistema jurídico inglês, que prevê a unicidade de jurisdição.
Em que pese, que alguns órgãos administrativos e legislativos como os
Tribunais de Impostos e Taxas e os Tribunais de Contas, tem função julgadora,
entretanto, não se pode afirmar que se trata de coisa julgada aquela decorrente de
suas deciões terminativas não mais sujeitas a recursos, já que, não existe a
jurisdicionaridade de seus atos, não julgados por órgão judicante e as mesmas estão
sujeitas ao controle de sua legalidade, controle que é exercido pelo Poder
Judiciário, conforme o inciso XXXV da Carta Constitucional.
Dessa forma, seguramente podemos afirmar que, no Brasil, não existe a
coisa julgada administrativa, já que os atos administrativos estão sujeitos ao controle
judicial, embora, hajam decisões administrativas.
Já, quando ocorre em situação diversa, existindo uma decisão judicial
meramente homologatória, o instrumento jurídico adequado para rescindir o ato
trata-se de ação anulatória, prevista no art.486 do Código do Processo Civil.
1.5 Jurisdição, Direito e Coisa Julgada
Em nossas tradições processuais, nunca se compreendeu a jurisdição sem
a garantia da coisa julgada11. É a coisa julgada, portanto, que distingue a jurisdição
administração.
11 Theodoro Junior, H.op. cit.p.163.
18
Todo ordenamento jurídico de maneira direta ou indireta se liga ao instituto
da coisa julgada12.
Já, quando ocorre em situação diversa, existindo uma decisão judicial
meramente homologatória, o instrumento jurídico adequado para rescindir o ato
trata-se de ação anulatória, prevista no art.486 do Código do Processo Civil.
como um quid novumem relação à lei, a coisa julgada tem o condão de após ela,
restarem excluídas todas as demais interpretações e aplicações possíveis que o juiz
poderia ter feito e não fez. ( Theodoro Júnior,H. Op. Cit.p.165).
1.6 Tutela Constitucional da Coisa Julgada
É - lhe inerente a imutabilidade, que não se pode ser infringida nem pelos
juízes nem pelo legislador, está elevada à condição de garantia com constitucional (
CF,art.5º, inc. XXXVI ).
O ordenamento jurídico é ávido de segurança e estabilidade. A coisa
julgadado pôr fim ao litígios, reveste-se da característica da insdiscutibilidade,
precisamente para concretizar o anseio de segurança presente na essência do
ordenamento jurídico 13.
A coisa julgada, ao lado do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, uma
vez inserida em nossas Carta no art. 5º no Título II ( dos direitos e garantias
fundamentais), Capítulo I ( dos direitos e deveres individuais e coletivos ), no inc.
XXXVI, tem tutela constitucional que se confunde com a dos direitos e garantias
fundamentais.
Com isso, em relação aos direitos e garantias fundamentais deve-se ter
uma idéia básica a respeito de onde nasceu a necessidade de se pleitearem direitos.
Lembra-nos o constitucionalista José Afonso da Silva que, em épocas remotas,
quando a sociedade dividiu-se entre proprietários e não proprietários e
paralelamente instalou-se a dominação de uns sobre outros e a conseqüente
subordinação de muitos, a opressão econômica inicial( em seguida expandida para
as searas social e política) nulificou, destruiu ou pelo menos abafou aquele
sentimento de comunhão democrática de interesses que vigia nas sociedades mais
primitivas, gentílicas, que tinham uma comunhão democrática de bens e interesses.
12 Dower N.G,B. Instituições de Direito Público e Privado , 6 ed.São Paulo Atlas 1985 p.64 13 Temer, M. Elementos de direito constitucional 22 ed. Ed. São Paulo: Malheiros,201. p. 173
19
14.
A partir daí, a história do homem passou a ser a história das lutas para
libertar-se dessas opressões, a começar pela escravidão sistemática, diretamente
relacionada com a aquisição de bens. Buscou-se, então, recuperar, em forma mais
elevada, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade das antigas gentes15.
Os textos legais, os escritos legislativos da Antiguidade, estabeleciam
apenas deveres e não direitos. Da mesma forma para os romanos, não haviam
propriamente direitos, ou pelo menos não direitos subjetivos( que é uma construção
teórica moderna e de cunho bem mais individualista) mas apenas, alguns direitos de
forma genérica( em que se defenia a coisa, e não a titularidade .do possuidor de
direitos, o que fica bem claro em relação à propriedade).
A partir das Revoluções Americana (1776) e Francesa ( 1789), no século
XVIII, portanto, consagrando o triunfo do individualismos sobre o absolutismo
divinizado dos reis, isto é, substitui-se na fundamentação do poder político, a
Soberania Divina dos Reis pela Soberania Popular 16.
Foi aí que se deu a passagem dos deveres aos direitos, deixando-se de
privilegiar os deveres, como ocorria até então, para valorizarem-se os direitos dos
indivíduos. Com isso, o indivíduo antecede o Estado e, portanto, funda, cria-se uma
Constituição escrita.
A Constituição Brasileira de 1988 em seu parágrafo 2º do seu art.5 º,
deixou uma porta aberta para entrada de novos direitos sem ser necessária uma
mudança em seus textos, nestes termos. ¨Os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte¨. Portanto, esta é a regra da própria Constituição que diz que os direitos
fundamentais petrificados em seu texto não são mumerus clausus, isto é, não são
fechados; não apresenta ela um rol completo, acabado, mas uma relação que
permite extensões .
Portanto, o instituto da coisa julgada pertence ao direito público e mais
precisamente ao direito constitucional. O juiz deve levar em conta, também ex officio,
a existência de uma sentença precedente passada em julgada. Pois, o que se busca
é a paz social, o equilíbrio e a segurança das relações jurídicas como um todo que
14 Silva,J.A.op cit. p.150. 15 Ávila, M.R.A.M. Garantias dos direitos fundamentais. Destaque 2001, p.97 16 Canotilho, J.J. Direito Constitucional 6 ed. Coimbra : Almedina .p.18
20
justficam o instituto, de ordem pública.
1.7 A autoridade da Coisa Julgada
A coisa julgada era o principal efeito da sentença em época passada.
Atualmente, a res judicata é encarada sob outro ângulo. Como ensina Liebman, não
se deve ver em tal figura jurídica um efeito, mas sim, uma qualidade especial do
julgado, que reforça sua eficácia através da imutabilidade conferida, legalmente, ao
conteúdo da sentença como ato processual e como ato jurídico para efeitos extra-
processuais17 ( coisa julgada material ).
Observa Chiovenda que a sentença traduz a lei aplicável ao caso
concreto, de sorte que¨na sentença se acha a lei, embora em sentido concreto.
Proferida a sentença, esta substitui a lei¨. Por sua vez, explica Liebman com inteira
propriedade que as qualidades que cercam os efeitos da sentença, configurando a
coisa julgada, revelam a inegável necessidade social, reconhecida pelo Estado, de
evitar a perpetuação dos litígios, em prol da segurança que os negócios jurídicos
reclamam da ordem jurídica.18.
Enfim, a própria lei que quer que haja um fim à controvérsia das partes. A
paz social o exige. Por isso também é a lei que confere a autoridade de coisa
julgada, reconhecendo à sentença, igualmente, a força de lei para as partes do
processo 19.
O legislador não tem nenhuma preocupação de valorar a sentença diante
dos fatos ou dos direitos. Mas, de não mais permitir que se volte a discutir acerca
das questões já soberanamente decididas pelo Poder Judiciário. Portanto, a
preocupação de segurança nas relações jurídicas e da paz social.
1.8 Coisa Julgada Total e Parcial
A imutabilidade da decisão somente naquela parte que foi objeto da
pretensaão em determinado processo, deixando outras questões naquele processo,
não cobertos pelo manto da imutabilidade da coisa julgada.
17 Liebman, E..T. apud Theodoro Júnior,H. op.cit.p.169. 18 Idem op. Cit. p.170. 19 Greco Filho, V. op.cit.p 264.
21
Há momentos, em determinados casos, em que o juiz tem que apreciar,
além do pedido principal, alguns pedidos acessórios, e também existe a
possibilidade de outras questões surgirem no decorrer do processo como
reconvenção, questões incidentais, existência ou não, de pressupostos processuais
e condições da ação; tudo isso, sem falr na possibilidade de que o juiz pode
conceder apenas parcialmente o pedido do autor 20.
Fazem coisa julgada, os objetos não impugnados, desde que não
dependentes, como no caso de os honorários advocatícios arbitrados em
determinada sentença, o item não impugnado pelo recurso interposto faz coisa
julgada; atingido pela sua imutabilidade.
Quando o julgador acolhe uma preliminar e não apresenta o julgamento do
mérito de uma ação, certamente esta sentença não fará coisa julgada material, não
imporá a imutabilidade da pretensão apresentada tendo em vista o fato de que ela
não apreciou o pedido apresentado. Nesse caso, o autor, deixará de ajuizar nova
demanda apenas, quanto esta pretensão.
Ora, quando a parte contrária, não impugna parte do pedido, via recurso,
esta parte do pedido não impugnado, terá sua imutabilidade garantida.
Dessa forma, pode ocorrer a presença da coisa julgada parcial nos
processos, desde que a pretensão tenha sido concedida apenas em parte pela
sentença e a outra parte, objeto de recurso cabível.
1.9 Direito Comparado
Encontra-se em outras Constituições, a coisa julgada em todo
ordenamento jurídico constitucional, de qualquer Estado, certos dispositivos
garantem flagrantemente a existência no ordenamento jurídico infraconstitucional; ou
seja, a presença da coisa julgada em várias Constituições, de vários Estados,
soberanos e organizados juridicamente, com base em uma Constituição escrita e
suas diferenças esemelhanças com a nossa Carta Magna.
Dessa forma, pode ocorrer a presença da coisa julgada parcial nos processos,
desde que a pretensão tenha sido concedida apenas em parte pela sentença e a
outra parte, objeto de recurso cabível.
Analisando a Constituição da República da Coréia, em seu Capítulo II(
20 Theodoro Junior, H.op. cit. p.575.
22
que prevê os direitos e deveres dos cidadãos), art. 13 ( I), in verbis:¨ Nenhum
cidadão será processado por ato que não constitua crime de acordo com a
legislação em vigor à época de sua realização, e nem será julgado duas vezes pelo
crime ¨21. É claro que, não pode sendo possível o julgamento por duas vezes pelo
mesmo crime, é garantida a soberania do primeiro julgado, garantida a prevalência
da coisa julgada.
A Constituição da República das Filipinas, em seu art. II ( declaração de
direitos ), seção 21, apresenta a coisa julgada; in verbis :¨ Ninguém correrá o perigo
de sofrer punição duas vezes pelo mesmo crime. Se uma ação Se uma ação for
punida por uma lei e um decreto, a condenação ou absolvição de acordo com
qualquer dos dois constituirá impedimento para que se inicie outro processo pela
mesma ação¨22.
A Constituição do Estados Unidos da América, na Emenda V, também
garante, entre, entre outros direitos do cidadão, o direito à coisa julgda; in verbis:
Emenda V: Ninguém será detido para responder por crime
capital ou outro crime infamante, salvo por denúncia ou
acusação perante um Grande Júri, exceto em se tratando de
casos em que, em tempo de guerra ou perigo público, ocorram
nas forças de terra ou mar, ou na milícia, durante serviço ativo;
ninguém poderá pelo mesmo crime ser duas vezes ameaçado
em sua vida ou saúde; nem ser obrigado em qualquer processo
criminal a servir de testemunha contra si mesmo; nem ser
privado da vida, liberdade, ou bens, sem processo legal; nem a
propriedade privada poderá ser expropriada para uso público,
sem justa indenização.23
Apesar de tratar-se de Emenda, não de artigo inserido no próprio corpo do
texto constitucional dos Estados Unidos, também temos a presença da coisa julgada
nesta Carta, como também, outros Institutos de proteção aos direitos do cidadão e,
21 Direitos humanos: declarações de direitos e garantias. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas,1990. p. 72.). 22 Miranda,J. Constituições de diversos países. Op. Cit. P. 278. 23 Miranda, J. Constituições de diversos países. Lisboa:Imprensa Nacional Casa da Moeda,1986.II v. p. 312.
23
também não existe referência direta à expressão coisa julgada.
A Constituição de Portugal, em seu art. 29 ( ao tratar da aplicação da lei
criminal), item 5, prevê a coisa julgada; in verbis: Ninguém pode ser julgado mais do
que uma vez pela prática do mesmo crime¨. A Carta de Portugal, não oferece a
mesma acolhida que a nossa Constituição concedeu à coisa julgada, limitando-se a
prevê-la e a tutelá-la apenas na esfera criminal, como a maioria das Constituições
dos países.
Nosso texto constitucional em comparação com os demais, trata-se de um
dos melhores textos ao apresentar a coisa julgada, ao lado do direito adquirido e do
ato jurídico perfeito, intocável perante o legislador ao realizar o processo legislativo.
24
CAPÍTULO II
COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL
"Quem quiser alcançar um objetivo distante tem de dar muitos passos curtos."
Quando estiverem esgotados todos os recursos previstos na lei
processual, ou porque foram utilizados e decididos, ou porque decorreu o prazo de
sua interposição, ocorre à coisa julgada formal, que é a imutabilidade da decisão
dentro do mesmo processo por falta de meios de impugnação possíveis, recursos
ordinários ou extraordinários. 24
Como ato processual, a coisa julgada formal é condição prévia da coisa
julgada material, que é a mesma mutabilidade em relação ao conteúdo do
julgamento.
Coisa Julgada formal significa : ¨Coisa Julgada Forma: Diz-se da deciso
em cujo processo não mais pode ser impugnado seja precluiram os prazos
recursais, seja porque esgoram todos os recursos previstos na lê i25¨
Nesse passo, ocorre a impossibilidade de reformar a sentença por vias
recursais, ou porque a última instância proferiu a decisão, ou, porque transcorreu o
prazo para interpor o recurso, ou finalmente se desistiu do recurso ou ele renunciou.
Portanto, a coisa julgada formal, caracteriza-se como ato processual
decisório que se torna imutável, por não ser mais possível de reforma, por meios de
recursos, seja porque esgotados todos os previstos na lei processual, ou, porque já
estão preclusos os prazos para a sua interposição, seja porque a parte desistiu
do interposto26.
24 Greco Filho. V. Op. Cit. P. 265.
25 Vocabulário Enciclopédico de Tecnologia Jurídica e Brocardos Latinos. Op. Cit.
26 Ribeiro.P.B Ferreira, P.M.C.R. Curso de Direito Processual Civil
25
Moacyr Amaral Santos define a coisa julgada formal nos seguintes
termos: ¨A coisa julgada formal consiste no fenômeno da imutabilidade da sentença
pela preclusão dos prazos para recursos 27.
Concluímos, que resolvidos os recursos interpostos ou preclusos os
prazos para a interposição de qualquer impugnação contra a sentença, faz-se a
coisa julgada formal.
A sentença adquire uma qualidade : a imutabilidade como ato processual.
Que o mesmo juiz que prolatou a sentença não a pode mais modificar, visto que ela
adquiriu os contornos de ato processual imutável, definido.
Com isso, constituída a coisa julgada formal, o Juiz cumpre e acaba o
ofício jurisdicional, com aplicação da vontade da Lei ao caso concreto.
2.1 Estabilidade da decisão no processo
A coisa julgada formal representa a estabilidade que a decisão adquire
no processo em que foi proferida, quer tenha havido análise de mérito, quer não
tenha ocorrido tal investigação 28. Nesse passo, tanto as sentenças meramentes
terminativas, são aquelas que não enfrentam o mérito do art.267 do Código do
Processo Civil, como aquelas que julgam a demanda com enfrentamento do mérito
atingem o estado de coisa julgada formal.
Vale afirmar, a decisão torna-se imodificável, no processo em que foi
proferida, exatamente porque a parte deixou de recorrer ou se recorreu exerceu
totodos os recursos que podia, não restando como impugnar a decisão daquele
processo de forma eficaz, eis que preclusas as oportunidades, em face de
esgotamento dos meios disponíveis.
O instituto da coisa julgada emerge de um imperativo político: a própria
atividade jurisdicional não poderia seus precípuos objetivos se não chegasse um
momento para além do qual o litígio não pudesse prosseguir 29. ( Fabrício, A. F. A
27 Santos ,M.A Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 1989. 3v.,
p.43.
28 Marques, J.F. Instituições de direito processual civil São Paulo: Forense, 1989. v. V.p.41. 29 Fabrício, A. F. A coisa julgada nas ações de alimentos. RTJE- Doutrina.v.91, p.18. agosto
1991 ).
26
coisa julgada nas ações de alimentos. RTJE- Doutrina.v.91, p.18. agosto 1991 ).
É importante colocar-se um limite temporal absolutopara que não haja
uma discussão sem fim. Sem isso, a jurisdição não valeria para nada, já que
permaneceria indefinidamente a rediscutir-se o decidido, com repercussões
negativas sobre a estabilidade das relações jurídicas.
2.2 Coisa Julgada Formal como imutabilidade da decisão dentro do
mesmo processo
A preclusão máxima dá a sentença imutabilidade como ato processual a
coisa julgada formal com do encerramento da relação processual.
José Frederico Marques ensina: ¨Nisso consistem suas linhas gerais, o
fenômeno da coisa julgada. É ele a imutabilidade da entrega da prestação
jurisdiconal e seus efeitos, para que o imperativo jurídico contido na sentença tenha
a força de lei entre as partes. 30
A coisa julgada formal identifica-se com a irrecorribilidade e decorrente
impossibilidade de continuar-se a demandar sobre o mesmo objeto. Nesse passo, a
coisa julgada pode ser vista como preclusão.
.
2.3 Diferença entre Coisa Julgada Formal e Coisa Julgada Material
Os conceitos de coisa julgada material e coisa julgada formal se tocam de
tal modo que o segundo é pressuposto do primeiro 31.
A coisa julgada material exige a formal, posto que haja coisa julgada
formal de resoluções judiciais que não produzem coisa julgada material. O haver
coisa julgada formal é elemento necessário, porém não suficiente.
Há coisa julgada formal quando não mais se pode discutir, no processo, o
que nele se passou e se decidiu. Há coisa julgada material, quando não mais se
pode discutir, mesmo em outro processo, o que decidiu a sentença.
30 Marques, J.F.op. cit. P.345. 31 Neves, I. B. O processo civil na doutrina e na prática dos Tribunais- Doutrina e Jurisprudência. 8. Ed. Rio de Janeiro: PM do Brasil Publicações,1998.)
27
Dessa forma, a coisa formal é a imutabilidade da decisão dentro do
mesmo processo por falta de impugnação, recursos ordinários ou extraordinários; é
a preclusão, dá à sentença imutabilidade como ato processual de encerramento da
relação processual; é condição prévia da coisa julgada material, que é a mesma
imutabilidade em relação ao conteúdo do julgamento e aos seus efeitos.
Com isso, a coisa julgada material significa a imutabilidade da decisão
não apenas no processo em que foi proferida, mas em qualquer outro onde as
mesmas partes, com suporte na mesma causa de pedir, deduzem pedido idêntico.
Nesse caso, ocorre análise do mérito, porquanto somente a sentença definitivas são
aptas à produção de coisa julgada material.
A coisa julgada material inibe a propositura de nova demanda,
exatamente porque esta já foi definitivamente julgada, tornado a relação jurídica
material vinculada pela sentença estável perante a todos. Enquanto, a coisa julgada
formal não impede a propositura de nova demanda, pois, torna a decisão
imodificável apenas no processo em que esta foi proferida.
2.4 Conceito de Coisa Julgada Material
A coisa julgada material, que é a imutabilidade do dispositivo da
sentença e seus efeitos, torna-se impossível a rediscussão da lide, reputando-se
repelidas todas as alegações e defesas que a parte poderia opor ao acolhimento ou
rejeição do pedido. 32
Na coisa julgada material, concentra-se a autoridade da coisa julgada, ou
seja, o mais alto grau de imutabilidade a reforçar a eficácia da sentença que decidiu
sobre o mérito ou sobre a ação.
O comando que emerge da sentença de mérito transitada em julgado faz
lei entre as partes, isto é, obriga o réu vencido a cumprir o decisório , bem como dá
ao vencendor a faculdade de fazer valer o direito reconhecido na sentença.
Aqui estão as diferenças entre a coisa julgada formal e a material. A formal
traduz-se pela imutabilidade da sentença, como ato processual, dentro do processo.
O mesmo Juiz prolator não mais pode modificá-la. A sentença como ato processual,
adquire uma qualidade, que é a sua imutabilidade dentro do processo. Já a coisa
julgada material, por seu turno, caracteriza-se pela imutabilidade dos efeitos
32 Greco Filho, V. op. cit.p. 266
28
principais e secundários da sentença que transitou em julgado.
2.5 Justificações Ordem Política e Judicial da Coisa Julgada
Material
Os recursos manifestados julgados contra a sentença ou prelcusos os
prazos para a sua interposição, ocorre o momento que a sentença transita em
julgado, isto é, torna-se imutável como o ato processual, o que gera a imutabilidade
de seus efeitos. Co isto, a decisão, faz lei entre as partes, impedindo que aquele
litígio possa ser discutido por qualquer outro Juiz ou Tribunal.
Os fundamentos de ordem pública baseiam-se na necessidade de não se
eternizarem os litígios, bem como na possibilidade de fruição dos direitos e na
segurança do gozo dos bens da vida. 33
O Estado, avocou a si,a tarefa de solucionar os vários conflitos de
interesses que acontencem no meio social., proibindo a vindicta privada. Com
isso,criou uma infra- estrutura com condições constitucional. Estabeleceu na lei
Processual várias regras e princípios, como intrumento de solução das lides e atuar
a vontade da lei.
No entanto, o Juiz pode cometer erros e enganos, não conseguindo
visualizar da verdade dos fatos, que surge da prova, errando na aplicação do direito
objetivo aos fatos da causa. Para curar tais males, o Estado estabeleu o princípio do
duplo grau de jurisdição, razão do qual a parte perdedora pode manifestar recursos
à Superiror Instância, buscando a reforma da decisão do primeiro grau.
Diante do vencedor da batalha judiciária pode, em determinado momento,
fruir dos direitos que tem e que forma reconhecidos na sentença.
Ocorre quando a lei diz que se forma a coisa julgada material. Se não fora
assim, e os litígios tornar-se-iam eternos, sem solução, e o cidadão jamais poderia
usar, gozer, fruir e dispor de seus bens e direitos.
Com relação aos fundamentos de ordem jurídica da coisa julgada
material, a respeito da sua autoridade, espalham-se em várias teorias criadadas
pelos jurisperitos de Direito Processual Civil 34. ( Ribeiro, P.B. Ferreira, P.M.C.R.
Curso de Direito Processual Civil Inisintese, cit, p. 49.) . 33 Santos, M.A. Op. cit. P.49 34 Ribeiro, P.B. Ferreira, P.M.C.R. Curso de Direito Processual Civil Inisintese, cit, p. 49
29
2.5.1 Teoria da presunção da verdade
Esta teoria tem por origem o texot o jurisconsulto romano Ulpiano,
segundo o qual res judicata pro veritate habetur ( a coisa julgada tem-se por
verdade ) 35.
Tal doutrina parte da premissa de que a finalidade, o objetivo, a meta do
processo é o encontro da verdade ( Escolática ). O Juiz, ao apreciar os fatos da
causa, deve cjegar à verdade e sobre os fatos verdadeiros aplicar o direito. As
vezes, porém, o Juiz pode errar na apreciação dos fatos, seja porque não os soube
apreciar, seja porque os meios probatórios não forma suficientes para buscar a
verdade.
Foi tal doutrina adotada por Pothier e integrou-se no Código de
Napoleão. O nosso Regulamento 737, de 1850, consagrou-a, comparando a coisa
julgada às presunções legais absolutas em seu art. 185; in verbis¨ São presunções
legais absolutas os fatos ou atos que a lei expressamente estabelece como verdade
ainda que haja prova em contrário, como coisa julgada.
2.5.2 Teoria de Chiovenda
A teoria de Chiovenda sustenta que a autoridade do julgado provém da
vontade do Estado, que se contém na lei 36. (Ribeiro P.B. Ferreira, P.M.R.op.cit). De
acordo com esta teoria, o Juiz, portanto, enquanto razoa, não representa o Estado,;
representa-o enquanto lhe afirma a vontade. A sentença é unicamente a afirmação
ou a negação de uma vontade do Estado qua garanta a algém um bem da vida no
caso concreto;e só a isto se pode estender a autoridade do julgado; com a sentença
só se consegue a certeza da existência de tal vontade e, poi, a incontestabilidade do
bem reconhecido ou negado.
Porém, é relativa esta incontestabilidade, ou seja, uma sentença, mesmo
transitada em julgado, não é absoluta, inatingível e inatacável, podendo, uma vez
contendo vícios que a maculem, ser rescindida, anulada através da ação rescisória e
da ação anulatória. 35 Santos, M.A. Op. Cit. P.50.
36 Ribeiro P.B. Ferreira, P.M.R.op.cit.
30
2.5.3 Teoria de Liebman
O grande mérito da doutrina de Liebman é o de enxergar na coisa
julgada não um efeito da sentença, como sustentado na doutrina tradicional, mas
sim uma qualidade dos efeitos da sentença, qual seja, a sua imutabilidade. 37.
O mestre italiano ensina qua, enquanto sujeita a recurso, a sentença
ainda não produz sua eficácia natural, mesmo porque ela pode estar errada ou ser
injusta.. Todavia, manifestado e julgado o recurso ou preclusos os prazos para a sua
interposição, verifica-se a coisa julgada formal, que é a imutabilidadeda sentença
como ato processual.
37 Liebman, E.T. Apud Ribeiro P.B. Ferreira ,P.M.C.R.Op. cit. ).
31
CAPÍTULO III
LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA COISA JULGADA
"A beleza da vida está justamente nas incertezas que o tempo nos reserva."
Dispõe a art. 468 do Código de Processo Civil que “ a sentença que julgar
total ou parcialmente a lide tem força de lei nos limites da lide e das questões
decididas¨.
O que faz coisa julgada material é o dispositivo da sentença, a sua
conclusão. Pode-se afirmar que a coisa julgada se restringe à parte dispositiva da
sentença; a essa expressão, todavia, deve dar-se um sentido substancial e não
formalista, de modo que abranja não somente a parte final da sentença, mas
também qualquer outro ponto em que tenha o juiz eventualmente provido sobre os
pedidos das partes.
O Código de Processo Civil, em seu art. 460, cuida da netureza ou da
extensão da sentença. Não pode o juiz proferir sentença da natureza diversa da
pedida, nem condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que
lhe foi demandado38.
As sentenças são; como já vimos, declaratórias, constitutivas,
condenatórias, mandamentais executivas. Se for pedida uma sentença constitutiva,
o juiz não pode proferir decisão meramente condenatória; se pediu execução, não
pode o juiz conceder condenação.
A sentença de natureza diversa da que foi pedida é, de certa forma, uma
38 ( Neves, I. Op. Cit. ).
32
sentença citra petita. A preposição latina citra significa aquém, sem ir até, sem
atingir. Por isso, a sentença citra petita não se confunde com a que acolheu apenas
parcialmente o pedido. Indica a decisão que não soluciona a lide, porque resolveu
apenas parte do pedido ou resolveu de modo defeituoso por erro de apreciação.
Da mesma forma, não pode o Juiz condenar o réu em quantidade superior
ao que foi pedido. Está-se aí, diante de sentença ultra petita porque julga além do
pedido fora do que pediu o autor.
São, todos esses, casos de nulidade, porque é defeso ao juiz proferir
sentença com essas distorções.
A sentença extra petita é nula, porque decide causa diferente
da que foi posta em juízo ( ex. a sentença “ de natureza diversa
da pedida” ou que condena em objeto diverso”do que fora
demandado ), o tribunal deve anulá-la. ( RT 502/169; JTA
37144, 48/67; RP 6/326)
Não ocorre o mesmo com a sentença ultra petita, isto é, que decide além
do pedido( ex; a que condena o réu em quantidade superior à pleiteada pelo autor).
Ao invés de ser anulada pelo tribunal, deverá ser reduzida aos limites do pedido (
RTJ 89/533, 112/373; RJTJESP 49/129; RP 4/406). Não constitui decisão ultra petita
a que concede correção monetária ou a que condenaao pagamento de juros legias(
art. 293), das despesas e honorários de advogado ( art. 20), ou das das prestações
vincendas ( art. 290), mesmo que nenhum desses pedidos tenha sido feito na inicial.
Portanto, não há vício da sentença “ quando a decisão proferida
corresponde a um múnus em relação a ambas as pretensões em conflito¨. TJ
86/367), nem se julgada procedente em parte o pedido, porque, “ no pedido mais
abrangente se inclui o de menor abrangência”. ( STF- 2ª T. RE 100.8946- Rel
Ministro Moreira Alves- j. em 0411.1983, não conheceram, v.u.; DJU 10.02.1984,
p.1019, 2ª col.em. ).
3.1 A Sentença e a Autoridade de Coisa Julgada
Quando se está a tratar dos limites objetivos da coisa julgada se está a
33
identificar o quê, na sentença, efetivamente adquire autoridade de coisa julgada.(
Porto S.G. op. cit). È necessário esclarecer que, em nivel de limites objetivos, se
faça a divisão em demandas individuais e coletivas.
Nas demandas individuais, é clara a orientação doutrinária no sentido de
que, por regra, somente as partes são atingidas pela autoridade de coisa julgada e
por exceção, os terceiros juridicamente interessados incluem-se : o sucessor (causa
mortis ), o cessionário e o subtitúido processualmente39.
Sucessor é o herdeiro. Cessionário é aquele que recebeu por cessão o
direito posto em causa; e substituído processualmente é aquele cujo direito foi posto
em causa por terceiro. Nesse caso, desta última hipótese ocorre quando o MP
propõe ação de alimentos. Nesta o direito posto em causa não é doMP, e sim, do
credor de alimentos.
Portanto, o parquet, em nome próprio, postula direito alheio, já que
aparece como parte apenas em sentido formal, sujeitando-se, assim à autoridade da
coisa julgada aquele a quem este representou em juízo.
No nível coletivo, no momento em que se constatou a absoluta
impropriedade da construção para a solução de problemas, foram adotadas
soluções legislativas diversas: a) a lei da ação popular ( Lei 4717/65, art. 18 ) ao
outorgar eficácia de coisa julgada oponível erga omnes à sentença, exceto se
julgada a demanda improcedente por falta de provas; b) a lei da ação civil pública (
Lei 7347/85, art.16)e c) o Código do Consumidor ( art. 103) quando também outorga
eficácia erga omnes e ultra partes à coisa julgada.
Destas soluções legislativas, esta última é a mais atual e, atenta à
realidade de seu tempo, criou um sistema próprio e diferenciado para a disciplina do
instituto da coisa julgada, levando em conta exatamente posto em causa. Assim se o
direito for individual heterogêneo aplica-se a teoria clássica ( art. 103, caput ); se o
direito for difuso, outorga eficácia erga omnes à coisa julgada( art 103, I ); se o
direito for coletivo, reconhece eficácia ultra partes à coisa julgada( art.103,II); e se o
direito for individual homogêneo terá a coisa julgada apenas eficácia erga omnes
positiva, vale dizer, será aproveitável por que não integrou a lide tão somente nos
casos de procedência( art.103,III).
Com o novo Código de Proteção e Defesa do Consumidor, nasceram
legitimações processuais que inexistiam e soluções que afrontam teorias seculares, 39 Porto, S.G. Op. cit. )
34
como a versão dada ao instituto da coisa julgada.
Assim, flagrante o acerto da conduta adotada pelo legislador, o qual com
isso, implicitamente reconheceu a necessidade mudança no ordenamento
processual existente para a integral solução dos conflitos não- individuais.
3.2 Posição Doutrinária Controvertida
No que tange aos tange aos limites objetivos da coisa julgada, a doutrina
não caminha em posição convergente, especialemente no Brasil, onde Liebman
difundiu a idéia de que a autoridade da coisa julgada não é um efeito da sentença,
mas uma qualidade que aos efeitos se junta para torná-los imutáveis. 40.
Diz Barbosa Moreira, após impugnar parcialmente a idéia de Liebman,
que aquilo que, em verdade, adquire o selo da imutabilidade é o conteúdo( o
conteúdo é formado pela soma das eficácias) da sentença, adquirindo, portanto,
autoridade de coisa julgada a nova situação jurídica popsterior à sentença.Não
bastasse o ocorrido entre os autores nominados, surge o combativo Ovidio da Silva;
que diz ; a) tanto Liebman quanto Barbosa Moreira tem razão ao entenderem a
autoridade da coisa julgada como uma qualidade da sentença; b) contudo,
aplaudindo Barbosa Moreira, admite ter Liebman se equivocado ao sustentar que os
efeitos adquirem o selo da imutabilidade, pois, são estes modificáveis, embora haja
sentença; e, finalmente, c) sustenta não ter razão Barbosa Moreira ao argumentar
que é todo conteúdo da sentença que adquire tal condição, na medid em que é este
o único insuscetível de ser modificado. Entende outrossim, que o elemento
declaratório é representado pela concreção da norma 41.
Podemos observar, portanto que Liebman projeta a autoridade da coisa
julgada para fora da sentença (imutabilidade dos efeitos ) e Barbosa Moreira e
Ovídio entendem que isto é algo interno a esta ( imutabilidade do conteúdo ou
imutabilidade do elemento declaratório, em essência, não diferem ), sendo esse o
40 Neves, I.B.Op. cit.
41Silva O. A.B. Op.cit. p.133-170.).
35
traço diferenciador de uma e outra orientação.
Nesse passo, se o direito em causa é disponível, parece irrebatível a idéia
de que os efeitos produzidos pela sentença serão modificáveis, pois, as partes
podem transacionar em torno deles e nesse particular assistirá razãoa Barbosa
Moreira ao sustentar a modificabilidade destes.
Entretanto, se o direito posto em causa for indisponível, nem mesmo
outro negócio jurídico será capaz de modificar os efeitos da sentença na medida que
as partes não poderão negociar em torno destes, daí assistir razão, em qualquer
hipótese, a Liebman.
Como também, se a causa tiver natureza cível ou criminal, por serem
postulados diferentes, os resultados em nível de coisa julgada serão igualmente
diferentes.
3.3 Elementos Constitutivos da Sentença e da Coisa Julgada
A Sentença é constituída de três elementos ou requsitos: o relatório, a
motivação e a parte dispositiva ( CPC, art. 458).
No relatório deverão estar presentes os nomes das partes, o resumo do
pedido e da contestação e o registro das principais ocorrência havidas durante todo
o desenvolvimento do processo ( CPF, art. 458, inc. I).
Na motivação, o Juiz analisa as questões de fato e de direito resolvendo-
as, apontando e justificando os fatos e fundamentos de direito que o levam a acolher
ou rejeitar o pedido do autor (CPC, art. 458, II).
Finalmente, na parte “ dispositiva, também chamado” dispositivo “ ou
decisum, o Juiz emite um comando em que fazendo atuar a vontade da lei, resolve a
lide, dando a cada um o que é seu( CPC, 458,III).
Grandes doutrinadores, como Amaral Santos, Frederico Marques,
Pontes de Miranda, Pontes de Miranda, Lopes e outros perfilham a tese de que só o
dispositivo da sentença transitada em julgado e adquire a conotação de
imutabilidade, isto é, faz lei entre as partes e impede o mesmo Juiz prolator da
sentença e outros Juízes e Tribunais possam novamente apreciar e resolver aquela
36
lide e as questões decididas. 42
O nosso Código, adotou, tal doutrina. Nesse, passo, dispõe o art. 468 do
CPC que “a sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos
limites da lide e das questões decididas”.
Como é no decisum ( parte dispositiva) que o Juiz decide a lide e as
questões que lhe foram submetidas, só esta parte da sentença é que adquire a
autoridade de coisa julgada.
Porém, muitas vezes, na própria motivação, o Juiz decide sobre os
pedidos. Caso, ocorra, esta parte da sentença também torna-se de imutabilidade.
Com efeito, ensina o mestre Liebman:
É exato dizer que a coisa julgada se restringe à parte dispositiva
da sentença; a essa expressão, todavia, deve dar-se um sentido
substancial e não formalista, de modo que abranja não só a fase
final da sentença, como também qualquer outro ponto em que
tenha o juiz eventualmente provido sobre os pedidos das partes.
(“Eficácia e Autoridade da Sentença “).
Nosso diploma Processual, para por fim a qualquer controvérsia a
respeito do limites objetivos da res judicata, dispõe expressamente:
Art. 469. Não fazem coisa julgada:
I- os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance
da parte dispositiva da sentença;
II- a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da
sentença;
III- a apreciação de questão prejudicial, decidida incidentemente
no processo.
Dessa forma, não produzem a coisa julgada os motivos, a fundamentação
da sentença, mesmo que indispensáveis para determinar-se o alcance da parte
dispositiva, bem como a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da
sentença.
42 Ribeiro, P.B; Ferreira,P.M.C.R. op. Cit.
37
Quanto as questões prejudiciais, cumpre distinguir. “Dispõe o diploma
Processual o art. 470:” Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão
prejudicial, se a parte o requerer ( arts. 5º e 325 ), o juiz for competente em razão da
matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide”.
O que é questão prejudicial? Numa definição , podemos assegurar que
questão prejudicial é o tema controvertido que é pressuposto lógico da decisão de
mérito da lide 43.
Da mencionada ação declaratória incidente tratam os artigos. 5º e 325 do
Estatuto Processual, que tem o seguinte teor:
Art. 5º se, no curso do proceso, se tornar litigiosa relação
jurídica de cuja existência depender o julgamento da lide,
qualquer das partes poderá requerer que o Juiz a declare por
sentença.
Art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento
do pedido, o autor poderá requerer, no prazo de dez(10 dez
dias, que sobre ele o Juiz profira sentença incidente, se da
declaração da existência ou da inexistência do direito depender,
no todo em em parte, o julgamento da lide(art 5º).
Como se observa da redação do art.470 em estudo, três são os requisitos para que
as partes possam propor a mencionada ação declaratória incicente ou obtenham
uma decisão acerca de uma questão incidente:
I- que haja manifestação expressa das partes, no sentido de que
o Juiz decida, na sentença, sobre a questão prejudicial:
II- que o Juiz, seja competente; em razão da matéria, para a
resolução de dita questão; e, finalmente,
III- que a questão prejudicial controvertida constitua pressuposto
necessário ao julgamento da lide principal.
43 Ribeiro P.B.;Ferreira, P.M>C.R.Op.cit.
38
Sobre o tema em estudo, proverbiais são os ensinamentos de Moacyr
Amaral Dos Santos: O princípio é que não faz coisa julgada a apreciação de questão
prejudicial, seja esta ou aquela solução feita incidentalmente no processo. Ou, com
as palavras da lei. De tal modo, se a resolução da questão prejudicial,se dá apenas
como preparação lógica do julgamento da lide, não fará coisa julgada, mas apenas
terá a que a prejudicial seja resolvida com força de sentença declaratória incidente a
decisão, que a declarar, acolhendo-a ou rejeitando-a, terá eficácia de coisa julgada
44.
3.4 Natureza e extensão da sentença
Segundo a regra do art. 460, não pode o juiz proferir sentença de
natureza diversa da pedida, nem condenar o réu em quantidade superior ou em
objeto diverso do que foi demandado.
Quando se está a tratar dos limites subjetivos, a tentativa é de identificar
exatamente que é atingido pela autoridade da coisa julgada, e ao referir os limites
objetivos, se está a identificar o quê, na sentença, efetivamente adquire autoridade
de coisa julgada. ( Porto, S.G. Op. cit).
Assim, limite subjetivo da coisa julgada é a hipótese de que trata o art.
472. De regra, a sentença só faz coisa julgada entre os que foram partes no
processo. Nas ações de estado, de pessoa, como diz a lei, se houverem sido citados
no processo, em litisconsórcio necessário, topdos os interessados, a sentença
produz também coisa julgada.
Pode ser definido, o limite subjetivo da coisa julgada, como:Limites
Subjetivos da Coisa Julgada: Em direito processual penal diz-se da validade da
sentença unicamente entre as partes qua atuaram no processo. Em direito direito
processual civil, somente a parte vencida, seus herdeiros e sucessores universais ou
singulares é que sofrem os efeitos da coisa julgada”.
Wach, segundo informa Liebman, tentou resolver todas as dificuldades
que envolvem a fixação dos limites subjetivos da coisa julgada ( não apenas nas
ações de esta) com um princípio unitário que tem todo o aspecto de um ovo de
39
Colombo : “ quando tenha sido uma sentença prolatada entre os legitimados
contraditores” sustentou Walch-“ a coisa julgada entre as partes, opera, enquanto
tal, em relação a todos 44”.
Assim, quanto às ações de estado, persiste a idéia da oponibilidade da
coisa julgada que nela se forme com a presença dos legítimos contraditores
.
3.5 Jurisdição e Competência da Coisa Julgada
Ao constatarmos que os limites subjetivos da coisa julgada são aqueles
que se definem pela indicação das pessoas físicas ou jurídicas atingidas pela
sentença 45 devemos delimitar a competência da jurisdição, e consequentemente,
a competência da sentença uma vez prolatada, gerando coisa julgada.
Competência é a especialização da jurisdição, tem bases funcionais 46
Competência interna significa na divisão de funções jurisdicionais no âmbito no
território nacional. Competência externa em face de Estados soberanos e Nações.
Passamos, a definir a competência:
Competência, s.f. Diz do poder legal que a pessoa, em razão de
sua função, ou cargo, tem para a prática dos atos inerentes a
este ou àquela. Em técnica de organização judiciária, diz-se do
grau de jurisdição ou poder conferido ao juiz ou tribunal, para
conhecer e julgar certo feito, submetido à as deliberação, dentro
de determinada circunscrição judiciária 47”.
A competência pode ser: in ratione materiae –em razão do assunto (
objeto de litégio ) ; in ratione personae- em razão da qualidade da pessoa; in ratione
loci- em razão do lugar; in ratione valoreis- razão do valor da causa; razão da
função do juiz tendo em vista a matéria do litígio ( Carnelutti ); objetiva em razão da
44 Liebman,E.T. apud Neves,I.B. op. cit. 45 Leal R.P. Teoria Geral do Processo- Primeiros Estudos- Unsíntese-Porto Alegre 46 Leal R.P.Op.cit . 47 ( Dicionário da Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados, op.cit.
40
matéria ( para Chiovenda , Betti, Goldschmidt, Rosenberg ); territorial em razão do
lugar; funcional pela função do juiz; foro limite jurisdional da unidade judiciária (
Comarca, Seção, Vara, ). Fórum: piso físico, sede central, edifício da unidade
judiciária da 1ª instância48. ( Leal, R.P. op. cit. ).
Quanto à competência indicada pelo domicílio, melhor esclarecer que
domicílio voluntário é o legalmente escolhido pela parte para exercer atividades
permanentes ou morar, domicílio legal é o indicado pela lei. Domicílio incerto é
aquele onde o réu for encontrado. Quando for desconhecido o domicílio do réu a
competência fixa-se pelo domicílio do autor. O foro do ausente é seu último
domicílio. Podemos citar ainda, o foro especial em razão da situação da coisa ou
ocorrência dos fatos e o for privilegiado assim denominado em lei( como exemplo
foro da falência.
3.6 Sentenças Sujeitam ao Duplo Grau de Jurisdição e a Coisa
Julgada
Algumas sentenças, para adquirir a autoridade de coisa julgada carecem
de uma circunstância especial, qual seja, a revisão obrigatória dos órgãos de 2ª
instância.Enquanto não ocorre tal providência, mesmo que as partes não
manifestem os recursos legais, a sentença não transita em julgado.
O Juiz de 1º grau, tem o dever,determinar a remessa dosautos à Superior
Instância, nos próprios autos. No entanto, se o Juiz não determinar o envio dos
autos, poderão os órgãos de 2ª instãncia, através de seu Presidente, avocar os
processos, para que as sentenças proferidas sejam submetidas ao crivo do duplo
grau de jurisdição.
Dessa forma, enquanto tal circunstância não ocorrer o reexame da
sentença pelos órgãos colegiados, mesmo que se tenha esgotado o prazo para os
recursos ordinários, a sentença não transita em julgado, vale dizer, ela não adquire a
autoridade de coisa julgada.
Nas ações de estado, de pessoa, se houverem sido citados no processo,
48 Leal, R.P. op. cit.
41
em liticonsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz também coisa
julgada.
Trata-se do chamado reenvio necessário; em tais hipóteses, estão em
jogo interesses de ordem pública ( o patrimônio das Fazendas Públicas e o
recebimento de dívidas ativas destas), que exigem em reexame das questões
decididas, pelos órgãos de 2º grau, para que a decisão final fique protegida de
eventuais erros que possam ser cometidos pelos Juízes singulares.
Com isso,concluímos, que nas ações de estado, é notável o fato de a
sentença produzir efeitos que vão atingir aqueles que não foram parte na causa.
Tudo resulta do conceito e da natureza do status,em função do que se sustentou um
príncípio oposto quanto à eficácia da coisa julgada: esta seria oponível erga omnes.
CAPÍTULO IV
AÇÃO ANULATÓRIA- CONCEITO E PROCEDIMENTO
"A vida só pode ser compreendida olhando-
se para trás; mas só pode ser vivida
olhando-se para a frente"
Nesse passo, apesar de tudo o que fora mencionado acerca da coisa
julgada, existe a ação rescisória que visa a anulação da sentença que, de alguma
forma devidamente prevista no art. 485 e seus incisos, enquanto encontra-se viciada
e passiva de anulação via ação rescisória.
No entanto, em alguns casos, a sentença não faz coisa julgada, não é de
mérito, mas sim, meramente homologatória. Neste caso, uma vez viciada, passiva
de anulabilidade via ação anulatória, não de ação rescisória somente aplicável em
casos de sentença de mérito, que julga a lide, decide o mérito da causa.
Ação anulatória significa: Ação Anulatória de Ato Judicial. Diz-se daquela
para rescindir atos judiciais que não dependem de sentença, ou em que esta for
42
meramente homologatória 49 ( CPC, art. 486 ).
Para se definir a ação anulatória podemos também definir a ação de
anulação: “Ação de Anulação. Em direito civil e direito processual civil, diz-se em
geral, da que tem por fim o desfazimento de um ato ou de um negócio jurídico
viciado por erro, dolo, simulação ou fraude 50 ( CC,arts. 86,92,98,102 106 e 107;
atuais arts. 138 e seguintes do CC) .
Neste caso, trata-se também ação anulatória ser ajuizada com base no
art. 486 do Diploma Processual, independentemente de haver sentença ou não,
declarando a existência da relação jurídica.
Com isso, ação rescisória visa desconstituir a coisa julgada, declarar a
nulidade de uma sentença mesmo tendo ela transitado em julgado, ao passo que a
ação anulatória não atinge a coisa julgada; pode ser ajuizada para rescindir atos
jurídicos processualizados ou não, reconhecido ou não por uma sentença.
.
4.1 Art 486 Do Diploma do Processo Civil
O art. 486 do Estatuto do Processo Civil prevê uma ação anulatória nos
seguintes moldes:
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou
em que esta for meramente homologatória, podem ser
rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei
civil.
Dois tipos de atos anuláveis devem ser distinguidos contra os quais pode
ser ajuizada ação anulatória: os atos judiciais que não dependem de sentença ou
em que esta for meramente homologatória; e, os atos jurídicos em geral.
Atos Judiciais, stricto sensu,são aqueles praticados em juízo por
autoridade judiciária, ou perante ela ou por ordem 51. ( Neves, I.B. O processo civil
49 Vocabulário Enciclopédico de Tecnologia Jurídica e Brocardos Latinos, op. Cit.
50 Vocabulário Enciclopédico de Tecnologia Jurídica e Brocardos Latinos op.cit.
51 Neves, I.B. O processo civil na doutrina e na prática dos Tribunais- Doutrina e Jurisprudência. 8. Ed. Rio de Janeiro
43
na doutrina e na prática dos Tribunais- Doutrina e Jurisprudência. 8. Ed. Rio de
Janeiro). Podem ser definidos: Ato Judicial- diz-se daquele praticado em juízo por
autoridade judiciária, ou perante ele ou por sua ordem. Ato judicial sem Força de
Sentença- diz-se do ato puramente administrativo do poder Judiciário. Diz-se,
também, do ato de jurisdição graciosa, que produz coisa julgada; dop ato sem
caráter jurisdicional,¨ ( Vocabulário Enciclopédico de Tecnologia Jurídica e
Brocardos Latinos, op. cit.).
Os atos judiciais distinguem-se do ato processual, realizado no processo
pelo juiz, pelas partes ou por terceiros interessados. (Neves, I. B.op.cit). Atos
processuais podem ser assim definidos: “Ato Processual – Diz-se daquele produzido
no processo pelo juiz, pelas partes ou por terceiros interessados”. ( Vocabulário
Enciclopédico de Tecnologia Jurídica de Brocardos Latinos, op. cit.)
Os atos processuais, quando praticados pelas partes, consistem em
declarações unilaterais ou bilaterais de vontade e produzem imediatamente a
constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais ( art. 158); ato
quando praticado pelo Juiz, consiste em sentenças, decisões interlocutórias e
despachos ( art. 162 ). A ato judicial e ato processual são atos que se produzem em
juízo.
A lei processual distingui o ato jurídico e a sua processualização, ou ato
jurídico e a sua processualização,e não só o ato de direito material, que está dentro
dele.
A lei é clara: Os atos judiciais que não dependem de sentença, ou em
que esta for meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos
jurídico sem geral, nos termos da lei cvil”.
A interpretação de José Carlos Barbosa Moreira também é muito clara:
No tocante aos atos que “não dependem de sentença¨´; é obvio
que jamais caberia cogitar de ação rescisória, no sentido do art.
485; poderia, entretanto, supor-se que a circunstância de
estarem insertos no processo excluísse a possibilidade de
serem anulados por ação própria. A art. 486 vem afastar essa
suposição. Quanto aos atos que constituam objeto de “ mera
sentença homologatória “. Na dicção do Código a importância do
dispositivo consiste em deixar claro que, apesar do invólucro
44
sentencial que os cobre, podem ser diretamente impugnados,
sem necessidade de rescindir-se, usada a palavra, aqui no
sentido próprio, a decisão homologatória. A ação dirige-se ao
conteúdo ( ato homologado ) como que atravessando, sem
precisar desfazê-lo antes, o continente ( a sentença de
homologação ).
Maria Helena Diniz define o ato jurídico em sentido amplo como sendo o
ato lícito que abrange o ato jurídico em sentido estrito e o negócio jurídico 52.
Os Atos jurídicos em geral, conforme preceitua o art. 486 do Código de
Processo Civil, são portanto, todo e qualquer ato de vontade praticado, que possa
gerar efeitos no mundo jurídico, extrapressual ou processualmente, reconhecido ou
não por uma sentença judicial, ato este que, sendo nulo e assim declarado, torna-se
ineficaz, e. até, inexistente, dependendo da nulidade ou anulabilidade declarada.
4.2 A desconstituição do Ato Judicial
A ação anulatória visa portanto, desconstituir atos judiciais, tanto os
praticados pelas partes em juízo, dependente ou não de sentença homologatória,
como os demais atos jurídicos em geral. Constitui-se em uma das formas de
impugnação de ato judical e, via de conseqüência, da sentença homologatória de
ato judicial, quando o ato depender de homologação por sentença.
Porém, embora a ação anulatória seja distinta da ação rescisória, é certo
que ela se assemelha, por se tratar de uma das formas de impugnação da sentença,
indiretamente, não obstante a finalidade da ação anulatória seja atacar o próprio ato
hjomologado por sentença. Foi inserida na capítulo da ação rescisória porque o fim
prático destinado à ação anulatória é o mesmo da ação rescisória, ou seja, impugnar
a sentença mesmo que por meio da desconstituição do ato judicial.
Podemos afirmar, seguindo magistério de Pontes de Miranda, que o art. 486
52 Diniz, M.H. Código Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 92).
45
do CPC, referente à ação anulatória, cuida de “regra jurídica que obriga à precisão
de vários conceitos 53.
Segundo Barbosa Moreira, a ação anulatória é a que “visa à anulação dos
atos praticados no processo, no processo, aos quais ou não precisa seguir-se
decisão alguma ou se segue decisão homologatória, que lhes imprime eficácia
sentencial”.... a sentença pode existir e ser nula, se julgou ultra petita. Em regra,
após o trânsito em julgado, a nulidade converte-se em rescindibilidade 54.
Dessa forma, cabe ação anulatória não somente a legislação civil mas
também todo o direito material como por exemplo o direito comercial.
4.3 Nulidades Materiais como Supedâneo para ajuizamento da
Ação Anulatória
O cabimento da ação anulatória se define não como problema de direito
processual, mas concernente ao direito material. A lei material será aquela a definir
quando são anuláveis mediante ação anulatória do art. 486 do Código de Processo
Civil os atos que não dependem de sentença ou chancelados por sentença
meramente homologatória.
Afirma ainda, o art. 486 do CPC que os atos serão anuláveis como os atos
jurídicos em geral, motivo este que nos faz crê cabível a ação anulatória como ação
declaratória de nulidade de um ato viciado nos termos do direito material,
independentemente de este ato ser ou não processualizado, ou seja, ser ou não
praticado dentro de um determinado processo.
É necessário, para o ajuizamento da ação anulatória, saber qual a
natureza do ato judicial e se este está eivado de vício de nulidade nos termos do
direito material.
Para se definir o cabimento da ação anulatória em determinada
hipótese temos que realizar um exame do ‘ato judicial” , dependente ou não
53 Miranda, F.C.P. Comentários ao Código de Processo Civil Brasileiro, Rio de Janeiro,
Forense 1975 . t.VI,p.343.
54 Moreira, J.C.B. op. cit. P.138.
46
homologação, a fim de que se possa concluir seja passível de ser anulado em face
de algumas das regras do direito material.
O fundamento da ação anulatória de ato judicial, homologado ou não,
consubstancia-se em relação às regras relativas às nulidades dos atos tanto
processuais como jurídicos em geral, pois diz respeito às nulidades atinentes ao
direito material e também ao direito processual, sendo diferente do que ocorre por
exemplo, com a ação rescisória, que tem como fundamento para seu cabimento as
hipóteses do art. 485 do Estatuto Processual, que retratam nulidades de ordem
processual ( rescisão da sentença de mérito transitada em julgado ); cabimento
muito mais restrito, portanto do que ação anulatória.
Tem uma grave imprecisão terminológioca do , em exame que se refere-
se à expressão “ lei civil “ do art. 486 do CPC. Não apenas a lei civil, mas todo o
direito material deve ser passivo da anulabilidade do ato via ação anulatória, desde
que evidentemente, presentes as nulidades materiais que possam atuar no
ajuizamento dessa ação.
Não devemos interpretar restritivamente a expressão “ lei civil”, pois os
motivos de anulabilidade são os previsots em quaisquer normas de direito material
de todos os ramos, não apenas especificamente relativas ao direito civil.
Assim, a ação anulatória será cabível para declarar e desconstituir tanto
o ato praticado em juízo pelas partes, eiovado de vicio de nulidade ( absoluta ou
relativa ), por não se ter observado regras dispostas no direito material, comoo ato
jurídico em geral.
47
CONCLUSÃO
A coisa julgada e a ação anulatória são instrumentos tanto processuais
como constitucionais, uma vez que a Constituição, em princípio, erigiu a coisa julga
ao status de dogma constitucional, o instituto jurídico concebido para conferir
imutabilidade às decisões judiciais é a coisa julgada, princípio germinado no direito
romano, anterior mesmo à Lei das Doze Tábuas, a coisa julgada, diante da sua
posição política, sempre ocupou lugar de destaque dentre os institutos jurídicos,
sendo ela revela um atributo de jurisdição, protegido constitucionalmente, portanto;
mas essa mesma Constituição, em contrapartida não concede poderes ilimitados à
coisa julgada, pois faculta ao cidadão a amplo acesso ao judiciário e, tanto a lei
processual como a lei material, preveem casos em que, apesar de existir uma
sentença transitada em julgado, a mesma, viciada de alguma forma, pode ser
passiva de uma ação que a inutilize.
Dessa forma a tabela da verdade fundada na lógica, se a norma contém
vício formal, ela é inválida para todos, e não apenas para uma das partes da relação
48
por ela tutelada, pois a anomalia desta natureza contamina a norma em sua
inteireza, não sendo válida e invocação de seus efeitos.
O direito de uma pessoa, em respeito à liberdade, que é um direito
fundamental, via de regra, representa uma faculdade, de modo que cabe ao seu
titular, e só a ele, reclamar para que o comando normativo saia do campo da
bstração jurídica e, efetivamente, seja concretizado, daí por que, em se tratando de
direito disponível, nada obstante reconhecido por sentença transita em julgado, pode
o titular deixar de exercê-lo, renunciando à execução.
Diante disso, que todo o nosso ordenamento jurídico protege o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada, visando dar segurança às decisões do judiciário,
não deve ser permitido que essa mesma proteção sirva de instrumento para que o
julgador transforme atos ilegais em legais, por estarem coberto ( em tese ) com o
manto da chamada coisa julgada. Somente se terá ato jurídico perfeito se esse ato
for realmente praticado dentro de todos os restritos preceitos legais, despido de
qualquer vício que o macule, que o inutiliza. Tndo, o ato, sido pratica dentro de todos
os preceitos de legalidade, tratar-se-á, somente então, uma vez apreciaod e objeto
de decisão judicial de ato jurídico perfeito coberto com o manto imaculado da coisa
julgada.
Os instrumentos que combatem as sentenças que , apesar de transitadas
em julgado, são viciadas de alguma forma, visando rescindi-las, são previstos tanto
na legislação formal como na material e, neste trabalho, foi exposta uma
sistematização de cada assunto.
Conforme foi visto, a coisa julgada, analisada primeiramente, é um
instrumento jurídico que assegura a imutabilidade das decisões processuais,
transitadas em julgada, garantido a estabilidade social e jurídica.
Entretanto, esta mesma estabilidade jurídica deve ser garantida com
instrumentos que assegurem a possibilidade de se rever certas decisões que,
apesar de protegidas pelo dogma processual e constitucional da coisa julgada,
podem apresentear nulidades incompatíveis com o sistema jurídico, com a realidade
jur´dica em que está inserida.
Com isso, referidas decisões não podem ser inatacáveis, jamais podem
ser tornar imutáveis, uma vez contendo ilegalidades, vícios que as maculem.
Nesse passo, como foi demonstrado, os instrumentos processuais aptos
a desconstituir essa sentenças devem existir, também visando a estabilidade das
49
relações jurídicas na sociedade, pois, não se pode conceder poderes ilimitados, ao
julgador, permitindo-lhe, uma vez prolatada sua decisão, tornar legítimo o ilegal,
situação flagrantemente inadmissível juridicamente.
Quando é evidente a ilegalidade, até mesmo o mandado de segurança
pode ser ajuizado, uma vez presentes os requisitos legais da ofensa a direito líquido
e certo por parte de autoridade.
Ocorre controvérsias acerca do cabimento da ação anulatória frente à
ação rescisória, onde a diferenciação específica da coisa julgada tem papel
fundamental, por exemplo, tratando-se de sentença de mérito, a rescindibilidade do
julgado se dá através da ação rescisória, e tratando- se de sentença meramente
homologatória a resdindibilidade sopmente será possível através da ação anulatória.
Observa-se que o exercício da atividade jurisdicional tem como
finalidade restabelecer a ordem jurídica, quebrada diante do conflito surgido entre os
litigantes, fazendo-se necessário que a decisão dela prolatada se apresente com
foros de decisão final, afim de por fim ao litígio e, assim, restaurar a estabilidade
normativa.
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52
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17 - NEVES, I.B. O processo civil na doutrina e na prática dos Tribunais- Doutrina e Jurisprudência. 8. Ed. Rio de Janeiro. 18 -DINIZ, M.H. Código Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 92).
19- MIRANDA, F.C.P. Comentários ao Código de Processo Civil Brasileiro, Rio de
53
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
54
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I - DA COISA JULGADA E SEGURANÇA JURIDICA
1.1. Coisa Julgada- aspectos históricos 13
1.2 As ações e as sentenças 14
1.3 Segurança Jurídica 15 1.4 Coisa Julgada Administrativa 16
1.5 Jurisdição, Direito e coisa Julgada 17
1.6 Tutela Constitucional da Coisa Julgada 18
1.7 A autoridade da Coisa Julgada 18
1.8 Coisa Julgada Total e Parcial 20
CAPÍTULO II – COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL
2.1 Estabilidade da decisão no processo 25
2.2 Coisa julgada formal como imutabilidade da decisão
dentro do mesmo processo 26
2.3 Diferença entre coisa julgada formal e coisa julgada material 26
2 4 Conceito de coisa julgada material 27
2 5 Justificações de Ordem Política e Judicial da Coisa
Julgada Material 27
2.5.1 Teoria da Presunção da verdade 28
2.6.2 Teoria de Chiovenda 29
2.6.3 Teoria de Liebman 29
55
CAPÍTULO III - LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA COISA
JULGADA
3.1 A sentença e a autoridade de coisa julgada 32
3 2 Posição Doutrinária controvertida 34
3.3 Elementos constitutivos da Sentença e coisa julgada 35
3.4 Natureza e extensão da sentença 38
3 5 Jurisdição e competência da coisa julgada 38
3. 6 Sentenças sujeitas ao duplo grau de jurisdição e a coisa julgada 40
CAPÍTULO IV - AÇÃO ANULATÓRIA-CONCEITO E PROCEDIMENTO
4 1 Art. 486 do diploma do Processo Civil 42
4.2 A desconstituição do Ato Judicial 44
4.4 Nulidades Materiais como supedâneo para ajuizamento da Ação
Anulatória 45
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49
BIBLIOGRAFIA CITADA 51
ÍNDICE 53
56
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
57
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
58