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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE INOVAÇÕES NAS POLÍTICAS CULTURAIS O Programa de Cultura do Trabalhador e o Vale-Cultura Por: Josély Jasmim Calvo Orientador Profª. Ana Paula Ribeiro Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INOVAÇÕES NAS POLÍTICAS CULTURAIS

O Programa de Cultura do Trabalhador e o Vale-Cultura

Por: Josély Jasmim Calvo

Orientador

Profª. Ana Paula Ribeiro

Rio de Janeiro

2010

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INOVAÇÕES NAS POLÍTICAS CULTURAIS

O Programa de Cultura do Trabalhador e o Vale-Cultura

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Gestão Pública.

Por: Josély Jasmim Calvo

3

AGRADECIMENTOS

À minha família pelo apoio e por

acreditarem em mim; aos amigos que

compreenderam minha ausência e me

incentivaram para continuar.

4

DEDICATÓRIA

Dedico à minha mãe (in memorian), e aos

meus irmãos.

5

RESUMO

Este trabalho visa apresentar uma breve análise histórica das Políticas

Culturais no Brasil, sua evolução, os muitos órgãos e instituições criados pelo

governo para suprir as necessidades e anseios do cidadão brasileiro com relação

à cultura. Apresenta o Programa de Cultura do Trabalhador, e enfatiza a criação

do Vale-Cultura, projeto ainda em debate nos meios políticos, culturais e artísticos.

Traz discussões e análises positivas e negativas a respeito do projeto, nos

levando a pensar, opinar e participar.

6

METODOLOGIA

O processo de pesquisa começou pela leitura do livro Políticas Culturais -

Vol. I de Leonardo Brant. Em seguida, a leitura dos diversos artigos de Lia

Calabre, pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa, doutora em História

pela UFF. Como apoio foi utilizado o livro de Teixeira Coelho, Dicionário Crítico de

Política Cultural. A maior parte do trabalho foi elaborada através de pesquisas no

site do Ministério da Cultura e diversos outros sites com discussões e comentários

sobre o Vale-Cultura.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Análise Histórica das Políticas Culturais no Brasil 10

CAPÍTULO II - Os benefícios do Programa de Cultura do Trabalhador 15

CAPÍTULO III - Os Diversos Atores Envolvidos e as Discussões Geradas nos

Meios Culturais e Artísticos 21

CONCLUSÃO 29

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 30

ÍNDICE 32

FOLHA DE AVALIAÇÃO 33

8

INTRODUÇÃO

“Foi o mundo da cultura que primeiro aceitou o desafio de mudar. De criar

um outro Brasil. Sem pobreza e sem a arrogância dos ricos, sem miséria

definitivamente. É pela brecha da cultura que poderemos dar o salto do reencontro

do país com sua cara. Um Brasil totalmente simples, mas radicalmente humano. O

que importa é alimentar gente, educar gente, empregar gente. E descobrir e

reinventar gente é a grande obra da cultura” (Herbert de Souza - Manifesto lido em

comemoração ao Show da Paz, realizado pela UNE em fevereiro de 2003. In:

BRANT, 2003).

Uma das mais fortes armas do governo no que diz respeito às políticas

culturais, a Lei Rouanet, que foi criada para definir formas como o governo deve

incentivar a produção cultural no Brasil, tem em pauta atualmente as alterações

propostas pelo Ministério da Cultura, para ampliar a capacidade de fomento à

cultura e aumentar as formas do produtor acessar os recursos, e também com o

objetivo de expandir os investimentos em outras regiões, evitando a concentração

no eixo Rio - São Paulo, e espera-se, dar maior transparência aos processos.

No centro das reformas propostas, está o Programa de Cultura do

Trabalhador, que cria o Vale-Cultura, primeira política pública governamental

voltada para o consumo cultural, com uma estimativa de beneficiar 12 milhões de

trabalhadores.

Iniciativa que nos leva a um olhar diferente sobre as políticas culturais, uma

vez que não só faz evoluir a produção da cultura, como além de estimular o

consumo, beneficia uma parte da sociedade que vive excluída culturalmente por

falta de incentivos financeiros.

Este trabalho é um estudo que visa identificar o alcance o os limites do

Programa de Cultura de Trabalhador como alternativa de diminuir a desigualdade

sócio-cultural no Brasil, levando em consideração o histórico das políticas culturais

no Brasil, nossas diversidades econômicas, sociais e culturais, e os muitos

discursos e debates a respeito do tema.

9

Considerando a importância que uma política pública como essa terá em

nossa sociedade, pela abrangência e pelo número de pessoas que serão

beneficiadas, vale um estudo mais aprofundado do impacto, tanto para os

trabalhadores, como para os profissionais dos meios culturais.

Mesmo antes de ser aprovado, pois ainda está em votação na Câmara e no

Senado, o Projeto de Lei já gera muitos debates, e como toda política pública, há

os que acreditam no êxito e os que criticam veementemente a iniciativa.

O Vale-Cultura será a oportunidade de inclusão cultural para as classes

menos favorecidas, e bem direcionado, será um grande incentivo ao consumo da

cultura.

10

CAPÍTULO I

ANÁLISE HISTÓRICA DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO

BRASIL

1.1 A Cultura vista como Política Pública

A partir de alguns conceitos de cultura, definidos por pensadores de

políticas culturais, podemos chegar a um entendimento de cultura como política

pública.

“Se a cultura pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos,

hábitos, crenças e costumes de uma sociedade, falar de política cultural significa

falar da própria organização social, tamanha a complexidade do assunto” (BRANT,

2003, p. xiii).

“Cultura é o modo pelo qual os homens criam símbolos, valores, práticas,

comportamentos e sentidos” (BRANT, 2003, p. 15).

“A cultura pode ser entendida, para efeito de aplicação das políticas

públicas, como um conjunto de características espirituais, materiais, intelectuais e

afetivas distintas, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social” (Definição

da UNESCO. In: BRANT, 2003).

Partindo desses conceitos, podemos entender porque se espera que o

Estado, além de incentivador das políticas públicas voltadas para a cultura, seja

também regulador e fiscalizador, para que os incentivos e os projetos aprovados

sejam realmente aqueles que vão ao encontro do interesse público e cumpram

seu papel de desenvolvedor cultural e social.

11

Conforme garantido na Constituição Federal de 1988, o Estado deve ter

recursos financeiros para fomentar e implantar políticas públicas que garantam o

acesso aos bens culturais, à criação, à informação, fazendo da cultura um meio de

inclusão social.

Segundo Durand (2001), responder o que seria possível e desejável que o

Estado faça na área cultural, nos dias atuais, encontra duas dificuldades: a

primeira é que o Estado teria que definir uma linha de operação, devido à nossa

diversidade, passando pela cultura erudita, a indústria da cultura e pelas culturas

populares, ficando a dúvida sobre o que deveria ser desenvolvido, fomentado ou

apenas regulado; a segunda é a tendência atual de se utilizar a cultura como

auxílio na solução de outros problemas da sociedade, desde criação de empregos

a recuperação de infratores, entre outras (Yúdice, 1997).

1.2 - Políticas Culturais no Brasil

Precisamos voltar no tempo para começarmos a moldar um pensamento

sobre políticas culturais no Brasil; mais precisamente, temos que nos remeter à

era do rádio.

Segundo artigo de Lia Calabre (2003), em 1923, a primeira emissora de

rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada por Roquette Pinto e

Henrique Morize, tinha finalidades estritamente culturais e educativas, conforme

os moldes das emissoras européias, e surgiam discussões intensas sobre o papel

social desse meio de comunicação em massa.

Discutia-se principalmente se os conteúdos transmitidos deveriam ser de

caráter educativo, informativo, ou apenas para diversão.

No Brasil, o rádio se tornou popular após a Segunda Guerra Mundial.

No governo de Getúlio Vargas, o sistema radiofônico mereceu atenção de

diferentes Ministérios, provocando disputas entre eles, e diversas medidas foram

tomadas para permitir a atuação do Estado sobre o setor.

O fato de ser um veículo com capacidade de chegar aos ouvidos de tantas

12

pessoas em tantos locais simultaneamente, fazia do rádio um aliado estratégico

para a formação de uma unidade cultural, e fez com que o governo aprovasse um

decreto que determinava que a programação tivesse fins educativos, científicos,

artísticos e de benefício público.

Entre os anos de 1939 e 1945 era o Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP) que supervisionava as atividades culturais no Brasil. Era um

órgão de controle e censura do Estado Novo.

Desde os primeiros tempos no poder, Getúlio Vargas demonstrava uma

preocupação especial com as atividades culturais, principalmente as ligadas às

classes populares ou ao grande público. Um exemplo disso foi a oficialização dos

desfiles de escolas de samba, onde o governo apoiava, mas também controlava

as manifestações carnavalescas populares.

Ao longo da década de 1930, o governo Vargas foi se envolvendo mais

profundamente com as questões culturais e aprimorando os órgãos para controlá-

las.

Lia Calabre, em seu artigo “Políticas e Conselhos de Culturas no Brasil:

1967-1970” nos relata que entre as décadas de 1960 e 1970 no Brasil, as

questões da cultura adquiriram um maior significado dento da área de

planejamento público, sendo ligadas inclusive, à problemática do

desenvolvimento. Na segunda metade do ano de 1966 foi formada uma comissão

para elaborar estudos visando à reformulação da política cultural do país,

presidida por Josué Montello, primeiro presidente do Conselho Federal de Cultura,

que foi criado em novembro de 1966, tendo como princípio norteador de suas

ações a institucionalização da área da cultura no campo da administração pública.

A primeira das competências do Conselho Federal de Cultura era “formular

a política cultural nacional, no limite das suas atribuições”. Dentre outras

atribuições estava a de articular-se com órgãos estaduais e federais da área da

cultura e da educação, e a de criar e manter um cadastro das instituições culturais,

dos artistas e dos professores que atuavam nas áreas das artes. Para essas

instituições, o mais importante era o previsto no Artigo 2º, alínea “e” do Decreto-

13

Lei nº 74: “Conceder auxílios às instituições culturais oficiais e particulares de

utilidade pública, tendo em vista a conservação e guarda do seu patrimônio

artístico e biográfico, e a execução de projetos específicos para a difusão da

cultura científica, literária e artística”.

Em um outro artigo intitulado “Intelectuais e Política Cultural: o Conselho

Federal de Cultura” Lia Calabre nos relata que uma outra importante competência

do CFC, era elaborar o Plano Nacional de Cultura, com os recursos oriundos do

Fundo Nacional de Educação (Fundo Nacional de Ensino Primário, de Ensino

Médio e Ensino Superior) ou de outras fontes orçamentárias, ou não, postas ao

seu alcance, mas que esse procedimento foi desaconselhado pela Procuradoria

Federal e o governo precisou pensar outras formas de obter os recursos

financeiros necessários.

Continuando seu relato, em janeiro de 1973, a pedido do Ministro Jarbas

Passarinho foi elaborado um documento denominado Diretrizes para uma política

nacional de cultura, que era dividido em duas partes: a primeira com as

considerações preliminares, os fundamentos legais e os conceitos fundamentais; a

segunda continha uma apresentação do que seria a “Política Nacional de Cultura”,

com definição, objetivos, normas de ação e previsão de recursos financeiros.

O documento define a política como o “conjunto de diretrizes que orientam

e condicionam a ação governamental”; considera a cultura como o somatório das

criações do homem, e afirma que a “justiça social reclama que os seus benefícios

sejam acessíveis ao cidadão comum, e este adequadamente educado para

usufruí-los”.

Segundo Lia Calabre, “o que inicialmente parece ser uma visão

democrática e ampla de cultura, onde estariam incluídos o conjunto de saberes e

fazeres, logo é desconstruída pela observação de que para usufruir dessa cultura

o homem comum tem que estar educadamente educado, ou seja, ele deve ter o

seu gosto cultural apurado pelo saber escolarizado”. No parágrafo final da primeira

parte, essa visão é reforçada com a afirmativa de que:

No contexto da política nacional que visa a edificar uma sociedade

aberta e progressista, a difusão da cultura tornando-a acessível a

14

todos, e a educação, preparando cada um para usufruí-la, formam o

binário de forças que promoverão a valorização do homem brasileiro.

Como relatado por Lia Calabre nesses, e em muitos outros artigos sobre

políticas culturais no Brasil, podemos constatar que nosso histórico de Políticas

Culturais tem tradições, nem todas de cunho positivo, mas mesmo as negativas,

nos levaram ao desenvolvimento cultural que identificamos hoje.

Passamos pelo autoritarismo, que foi marcado pela opressão, repressão e

censura, e que também teve um lado positivo com formulações e legislações, e a

criação de instituições, algumas mais atuantes como o Instituto Nacional de

Cinema Educativo (INCE, 1936), o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (SPHAN, 1937) atual IPHAN, o Conselho Nacional de Cultura (CNC,

1938) e muitas outras.

O período democrático foi marcado por poucas intervenções: o Ministério

de Educação e Cultura (MEC), em 1953, a Expansão das universidades públicas

federais, a Campanha de Defensa do Folclore, o Instituto Superior de Estudos

Brasileiros (ISEB / MEC) e os Centros Populares de Cultura (CPC) da União

Nacional dos Estudantes.

O que mais deixa marcas em nosso histórico de políticas culturais é na

verdade, a instabilidade. A começar pelo Ministério da Cultura que foi criado em

1985, transformado em secretaria em 1990, e recriado em 1992. Teve sua

estrutura reorganizada em 1999, com ampliação de seus recursos, e uma nova

reestruturação foi aprovada em 2003.

Brant (2003) diz que, entendida como ciência de organização das estruturas

culturais, a política cultural pode ser definida, segundo Teixeira Coelho em seu

Dicionário Crítico de Política Cultural, como “um programa de intervenções

realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades privadas ou grupos

comunitários, com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população

e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas”.

15

CAPÍTULO II

OS BENEFÍCIOS DO PROGRAMA DE CULTURA DO

TRABALHADOR

2.1 - O Programa de Cultura do Trabalhador e o Vale-Cultura

O Projeto de Lei 5798/2009, que implementa o Vale-Cultura, nasceu de

estudos realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),

apontando dados que comprovam a exclusão cultural no Brasil: apenas 14% dos

brasileiros vão ao cinema regularmente, 96% não freqüentam museus, 93%

nunca foram a uma exposição de arte, 78% nunca assistiram a um espetáculo de

dança, e mais de 75% dos municípios não têm centros culturais, museus, teatros,

cinemas ou espaços culturais multiuso.

O Vale-Cultura será um cartão magnético, nos moldes do vale-alimentação,

no valor de R$ 50,00 mensais, fornecido ao trabalhador para ser utilizado no

consumo de bens culturais.

Será fornecido inicialmente aos trabalhadores que ganham até 5 salários

mínimos, com desconto de no máximo, 10% do valor. Os trabalhadores que

ganham mais de 5 salários mínimos terão direito ao benefício, desde que já tenha

sido atendido o total de trabalhadores que ganham abaixo desse valor, e o

desconto poderá variar de 20% a 90%.

O Projeto de Lei que cria o Vale-Cultura, após receber duas emendas no

Senado Federal retornou a Câmara dos Deputados em dezembro de 2009, e

continua gerando muitas polêmicas, pois em algumas Audiências Públicas e nos

canais de comunicação com o Ministério da Cultura, é permitido à sociedade, além

de tirar dúvidas, emitir opinião e propor alterações.

Há um grande movimento em torno do tema, tanto nos setores

governamentais, como nos setores culturais e artísticos.

16

Muitos concordam que o objetivo do governo não é apenas proporcionar,

mas garantir que todos os brasileiros possam ter acesso aos bens culturais.

Por ser um programa com abrangência nacional, talvez leve a questões

mais difíceis de serem tratadas, do que simplesmente incentivar as empresas a

optarem pelo Programa, amparadas pela Lei de Incentivos.

Como bem colocado por Renato Alves em sua coluna do Perspectiva

Política, um dos grandes méritos do Vale-Cultura é facilitar ao trabalhador o

acesso à cultura, e o outro é fazer com que as empresas privadas tomem

consciência de sua responsabilidade cultural.

Um grande desafio é educar o povo brasileiro para o consumo da cultura,

considerando que não bastaria estimular, mas orientar, respeitando o direito de

escolha do trabalhador como consumidor. E o mais importante, fomentar a cultura

regional, proporcionando o fornecimento de bons produtos culturais.

O Vale-Cultura vai permitir ao trabalhador escolher entre comprar ingressos

para teatro, cinema ou museu, ou comprar livros, CDs e DVDs, ou qualquer outro

produto cultural.

Não serão apenas os trabalhadores que ganharão com o Vale-Cultura. Com

essa iniciativa do governo, haverá um aumento no consumo da arte, o que será

um grande incentivo para artistas e produtores culturais.

Enquanto o Projeto de Lei tramitava na Câmara dos Deputados, diversas

audiências públicas foram realizadas para apresentar, debater e tirar dúvidas

sobre seu funcionamento.

André Dibb, do Diário de Pernambuco, publicou artigo comentando a

primeira Audiência Pública, que aconteceu no Recife, na sede do Sindicato dos

Bancários em Boa Vista, com representantes do Ministério da Cultura, Roberto

Nascimento, da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura e Silvana Meireles,

da Secretaria de Articulação Institucional. O encontro, com cerca de 80 pessoas,

foi promovido pelo deputado federal Paulo Rubem Santiago (PDT), um dos

relatores do projeto.

As dúvidas giraram em torno de quem terá direito ao Vale-Cultura, quais

17

produtos e serviços estarão disponíveis aos usuários e de que forma o sistema

funcionará.

De acordo com o Secretário Roberto Nascimento, o Vale-Cultura funcionará

através da renúncia fiscal. “A empresa pode descontar até 1% do imposto de

renda. Mais do que isso, será por conta dela. Isso gera um benefício para a

própria empresa, pois capacita a mão de obra com senso crítico. O resultado é

uma empresa mais competitiva”.

O Vale-Cultura custará R$ 2,5 bilhões aos cofres públicos. “Não se trata de

doação. Se houver adesão total, teremos R$ 7,2 bilhões injetados na economia da

cultura. Isso aumenta a arrecadação, gera empregos. É um investimento que

dinamiza o mercado cultural”, diz Nascimento.

Outra questão que gerou polêmica no encontro foi o que poderá ser

comprado com o Vale-Cultura. Enquanto o projeto estava aberto para emendas,

foi proposta a inclusão de eventos esportivos na cesta de produtos disponíveis,

levando-se em consideração que esporte, moda e gastronomia também são vistos

como eventos culturais. O deputado Paulo Rubem considerou que essa

possibilidade pode ser perigosa, e acrescentou: “Vivemos sob a influência de uma

indústria onde produtos são ditados por programas dominicais na TV. Precisamos

incentivar a circulação de produtos que não tem tanta entrada nesse esquema”. A

secretária Silvana Meirelles, por sua vez, defendeu o livre arbítrio e comentou que

“Não dá para dirigir o consumo. Mas é possível criar ambientes para ampliar esse

cardápio, multiplicando o número de bibliotecas, renovando acervos,

transformando equipamentos culturais em local de encontro e fruição cultural.

Esse é um processo lento, que dá oportunidade a cada um construir seu

repertório”.

É uma questão que deve ser muito bem pensada, respeitando-se as

considerações, tanto do Deputado Paulo Rubem, quanto da Secretária Silvana

Meirelles, não podemos esquecer que mesmo sendo o esporte de suma

importância para a formação do cidadão, a inclusão de eventos esportivos pode

18

fazer com que o trabalhador utilize muito mais o vale-cultura para assistir jogos de

futebol do que para assistir um filme ou uma peça teatral; o que acabaria por não

contribuir muito para o enriquecimento intelectual do povo brasileiro, que é um dos

objetivos do projeto.

A segunda Audiência Pública aconteceu em São Luís, na Associação

Comercial do Maranhão. Conforme artigo de Grazielle Machado, da Ascom/MinC,

lá se reuniram parlamentares, empresários, artistas, produtores culturais e

capoeiristas para tirar dúvidas e apresentar sugestões ao Projeto de Lei, onde a

principal discussão levantada foi a necessidade de incluir todos os trabalhadores,

inclusive servidores públicos, como beneficiários da iniciativa.

O promotor do evento, deputado federal Flávio Dino (PCdoB/MA), relator do

Projeto de Lei na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara

dos Deputados, afirmou que todas as sugestões seriam avaliadas junto às demais

comissões da Casa, comentando que essas Audiências Públicas iriam ajudar para

que o texto final do Vale-Cultura fosse o mais democrático possível.

O chefe de gabinete Oswaldo Gomes dos Reis Junior, que representou o

ministro da Cultura, Juca Ferreira, durante o debate, citou os dados que, segundo

ele, comprovam a exclusão cultural no Brasil: “Pesquisas revelam que a Cultura

ocupa o 6º lugar no ranking de preocupações dos brasileiros em termos de

gastos”. Explicou, também, que esse dado demonstra que a maioria dos

brasileiros não tem condições de consumir bens culturais, por isso é importante

que o Governo democratize o acesso, e resumiu que “O Vale-Cultura vai estimular

o consumo de livros, CDs, DVDs, além de aumentar a participação da população

em eventos culturais, como o teatro e a dança, por exemplo, fortalecendo a

economia da cultura e gerando emprego e renda para toda a população”.

A partir dessas audiências, podemos acreditar que se trata de um Projeto

de Lei que tem grandes possibilidades de dar certo, onde todos os agentes

envolvidos participam com opiniões e sugestões, e que há um real interesse para

que seja um diferencial para a cultura do nosso povo.

19

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, em julho de 2009, o

Ministro da Cultura, Juca Ferreira, define bem o que representa o Vale-Cultura

para o governo e para o povo brasileiro:

“O vale-Cultura surge como a ferramenta mais extraordinária desse elo

fundamental entre educação e cultura. Conjugam-se os valores do saber com os

sabores do prazer. Entretenimento e arte com o processo cultural e a consciência

crítica.

A criatividade do artista brasileiro é inesgotável, mas nossa rica diversidade

cultural e o consumo da produção cultural do país esbarram na exclusão

sociocultural. Apenas 13% dos brasileiros vão ao cinema uma vez por ano; 92%

nunca visitaram um museu; só 17% compram livros; 78% nunca assistiram a um

espetáculo de dança; mais de 75% dos municípios não têm centros culturais,

museus, teatros, cinemas ou espaço cultural multiuso. Como mudar esses

números senão com uma política cultural que tenha no acesso uma meta

fundamental?” (Ferreira, 2009).

Para aqueles que desacreditam numa política cultural desse porte,

podemos citar um exemplo que, mesmo em pequena escala, prova que o povo

brasileiro está disposto a aderir a projetos que incentivem e proporcionem inclusão

cultural, como o caso do Passaporte Artístico, criado em Tatuí, região de

Sorocaba/SP, pelo Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”.

Para permitir o acesso da população de baixa renda a seus espetáculos, o projeto

consistia na distribuição de cem ingressos gratuitos por espetáculo, até o final da

temporada de 2009, tendo como critério para escolha a condição sócio-econômica

daqueles que se inscreveram no empreendimento. Foi elaborado um cadastro

com o mesmo recorte dos programas sociais de complementação de renda, como

o Bolsa-Família.

O projeto do Passaporte Artístico surgiu em um momento em que o meio

cultural já estava numa grande movimentação marcada pela proposta de reforma

da Lei Rouanet e pelo Projeto de Lei que cria o Vale-Cultura.

É nisso que se vê a possibilidade de iniciativas que viabilizam a realização

20

de projetos culturais e o acesso da população à cultura, bastando encontrar

maneiras de melhor direcionar os investimentos, visando não só o mercado, mas o

consumo cultural, direcionado ao povo.

O Vale-Cultura, mesmo que ainda tenha muitas falhas apontadas, e que

ainda poderão ser corrigidas, é uma iniciativa positiva, que faz com os produtores

culturais se comprometam a oferecer produtos de boa qualidade, para todo tipo de

público.

21

CAPÍTULO III

OS DIVERSOS ATORES ENVOLVIDOS E AS

DISCUSSÕES GERADAS NOS MEIOS CULTURAIS E

ARTÍSTICOS

3.1 Os Diversos Atores Envolvidos

O Vale-Cultura envolve Governo, empresas, trabalhadores, agentes

culturais e profissionais do meio artístico.

Vários artigos são publicados diariamente no site do Ministério da Cultura

descrevendo encontros e discussões a respeito do tema.

O Ministro Juca Ferreira se reuniu com cineastas para conversarem sobre o

setor cinematográfico do país.

Discutiram principalmente a valorização do produtor, a desoneração de

impostos, a construção de salas de cinemas, o incentivo e a fabricação e exibição

de filmes brasileiros.

O Ministro afirmou aos cineastas sua esperança no Vale-Cultura para

estimular todas as atividades econômicas que geram empregos e impostos,

beneficiando muito o cinema. Afirmou também que as preocupações dos

cineastas encontrariam apoio depois da aprovação do Projeto de Lei do Vale-

Cultura.

O cineasta Luiz Carlos Barreto disse que o Vale-Cultura vai ser uma

verdadeira evolução cultural no país e que é a favor da obrigatoriedade da

exibição de trailers de filmes nacionais no início de qualquer sessão

cinematográfica. Acrescentou ainda que “isso precisa voltar a ser debatido, pela

valorização do cinema e dos produtores brasileiros”.

22

O Vale-Cultura agradou também a boa parte dos produtores culturais

catarinenses. A grande preocupação deles é quanto à fiscalização. O presidente

da Federação Catarinense de Teatro (Fecate), Leone Silva, acredita que a

iniciativa poderá amenizar o problema de acesso à cultura pelos mais pobres.

Ele diz que com o Vale, o público, pelo menos, terá a possibilidade de

assistir a um show ou a uma peça de teatro, desde que bem administrado para

que funcione corretamente. E ainda acrescenta que a nova lei leva o recurso para

o público e não para o produtor. É o público que terá a opção de escolha, e os

produtores culturais terão que mobilizar as pessoas para que assistam ao

espetáculo.

A produtora de espetáculos Antoninha Santiago, considera bem-vinda

qualquer medida que amplie o acesso da população à produção cultural brasileira.

Ela diz que o Vale é uma forma de incorporar a Cultura ao cotidiano dos

brasileiros que não teriam acesso à agenda de espetáculos. E acrescenta:

“Cultura assim como saúde, alimentação e educação, fazem parte da evolução do

ser humano, da construção da cidadania”.

Já o editor da Letras Contemporâneas, Fábio Brügemann, é mais reservado

e cauteloso quanto à nova lei, considerando a proposta legal, mas com dúvidas

quanto a se vai funcionar.

Outra profissional do meio, a produtora executiva da Camerata Florianópolis

Maria Elita Pereira, também vê a lei como interessante, mas considera que a sua

aplicação deverá ser bem fiscalizada.

Gilberto Dimenstein, na coluna “Cotidiano” do jornal Folha de S.Paulo, faz

algumas críticas ao fato do Vale-Cultura ter mais foco na diversão do que na

educação. Ele considera um desperdício de dinheiro, e fala da aliança poderosa

que o governo montou com artistas, lideranças empresariais e sindicais.

Comparando os R$ 7 bilhões que serão gastos com o Vale com os R$ 11 bilhões

gastos com o Bolsa Família, ele coloca que o dinheiro seria mais bem aplicado

num programa que estimulasse a vivência cultural de alunos de escolas públicas,

onde pais e professores estariam envolvidos.

23

Quando o Presidente Lula fez o lançamento do Vale-Cultura em São Paulo,

foi montado um grande espetáculo, e a cerimônia reuniu artistas de diversas

etnias e regiões do Brasil. Apresentaram-se Chico César, Roberta Sá, Tetê

Espíndola, Vitor Ramil e Pinduca acompanhados e sozinhos, além de um coral

indígena, dançarinos e um grupo folclórico do Espírito Santo. Teve também a

participação do cineasta Eryk Rocha (filho de Gláuber), filmando ao vivo as

apresentações no palco. No encerramento, todos cantaram juntos a música

“Comida”, dos Titãs – os versos “a gente não quer só comida, a gente quer

comida, diversão e arte” têm sido usados à exaustão para ilustrar como a cultura é

um “bem fundamental na cesta básica do brasileiro”, como diz Juca Ferreira.

O ministro fez questão de reconhecer os pioneiros do projeto – o diplomata

Sérgio Paulo Rouanet e o ex-ministro Gilberto Gil –, que primeiro pensaram nas

vantagens da novidade. “Investir no consumo doméstico da família significa que

serão gestados novos agentes culturais, novos artistas, criadores e poetas. Em

pouco tempo, veremos que o espaço doméstico, até então conectado quase que

exclusivamente à televisão, passará a ter também em seu interior outros

atrativos.”

O Presidente Lula se referiu ao Vale-Cultura como uma “briga antiga”,

afirmando que o projeto é o primeiro passo para que “o povo brasileiro tenha

acesso à cultura”. No entanto, defendeu outras iniciativas como salas de cinema e

de teatro nas periferias como opção de entretenimento para que o impacto seja

mais efetivo, alegando que devido à falta de transporte e de segurança, o cidadão

acaba por preferir sentar na frente da televisão.

Na opinião do presidente Lula, a solução seria a busca por uma política que

inclua definitivamente os habitantes das áreas mais pobres e afastadas, onde está

a maioria da população, através de uma combinação dos poderes das prefeituras,

governo federal e estadual.

Nascido das estatísticas do IBGE em 2006, o Vale-Cultura chega à Câmara

dos Deputados em caráter de “urgência urgentíssima”, para que seja votado e

aprovado em tempo recorde.

24

Com diz o presidente Lula: “É um trabalho que não é só do governo, mas

dos artistas, da sociedade como um todo, para que as coisas possam acontecer.”

3.2 As Discussões Geradas nos Meios Culturais e Artísticos

O que mais preocupa e gera inúmeras polêmicas com relação ao Vale-

Cultura é o fato de ser considerado um projeto eleitoreiro.

Mesmo sendo uma iniciativa cujo principal objetivo é democratizar o

acesso aos bens culturais promovendo a inclusão cultural, e impulsionando a

economia da cultura, por diversas vezes o ministro Juca Ferreira e outros

parlamentares se viram obrigados a responder às acusações a esse respeito,

ainda mais considerando o fato de o projeto tramitar em regime de urgência

constitucional.

Há que se considerar que a todo momento o Ministério da Cultura convida

a população para contribuir na formulação e fiscalização das políticas públicas.

Para muitos críticos existe também o receio de que o Vale-Cultura venha a

se transformar em “moeda”, como tantos outros vales já utilizados pelos

trabalhadores, mesmo sendo disponibilizado em forma de cartão magnético, para

garantir o uso apenas para as finalidades aprovadas pelo Congresso Nacional.

No meio artístico surgem também várias discussões e debates. A opinião

da classe artística nem sempre é unânime com relação ao Vale-Cultura. Em artigo

de Bruno Pacheco, do Jornal de Teatro, podemos ver algumas divergências de

opiniões, como as apresentadas a seguir:

André Moretti - Produtor de Espetáculos: “Creio que toda forma de

incentivo a cultura é válida. Ao analisar a lei proposta, porém identifico que esta

pouco contribuirá para a valorização da cultura do indivíduo. O valor oferecido de

R$50 é bastante baixo. Seria melhor o governo reforçar com essa verba os

programas federais já existentes, ou aplicar nos demais estados programas que já

deram certo em outras localidades, como o “Domingo é Dia de Teatro a R$ 1,00”,

25

desenvolvido pela prefeitura carioca, ou a “Virada Cultural”, da prefeitura

paulistana. A recente “Festa do Teatro”, contando com a adesão e boa vontade de

produtores e artistas, distribuiu mais de 32 mil ingressos para 118 espetáculos”.

Edwin Luisi – Ator: “Acho que o governo se meter na iniciativa privada é

complicado. A lei da meia-entrada é um exemplo. A produção que não tem

subvenção ou patrocínio fica com a arrecadação comprometida, pela metade. A

gente acaba sendo punido pela lei, pois o aluguel do teatro não é pela metade, os

profissionais não cobram a metade e assim por diante. Leis populistas ajudam

uma camada, mas prejudicam outra. O tiro sai pela culatra. Acho que ao invés de

se dar um Vale-Cultura deveria se investir em educação para a população adquirir

gosto pela arte, pela cultura. Isso é o básico”.

Eduardo Cabús - Ator, cantor, diretor e proprietário de teatro: “Leis foram

criadas diretamente relacionadas com a arte dos espetáculos e algumas delas

inclusive transportadas para outras áreas, inclusive os esportes, por exemplo: lei

da meia-entrada nos teatros. Com esta lei, o valor dos ingressos teve considerável

acréscimo com objetivo de ser chegar a um valor médio. O Estado, no caso,

passou a fazer mesuras com o chapéu alheio. Informo que a lei do Vale-Cultura

não está bem explicitada, sendo necessário fazer algumas indagações. É

lamentável que o Estado tenha deixado de apoiar as campanhas de popularização

do teatro (Vá ao Teatro, também conhecida como campanha da Kombi). A citada

campanha durante os anos que funcionou chegou a levar mais de 300 mil pessoas

em 40 dias aos Teatros do Rio de Janeiro. O mesmo ocorreu nas demais cidades

onde a campanha foi realizada. Exemplo de boa gestão cultural temos, basta

manter os mecanismos de acesso à cultura que já foram testados e comprovada a

sua eficiência e benefícios”.

Marcelo Bueno Franco - Diretor do Teatro Positivo: “Acho bem vindo esse

projeto que, segundo o Minc (Ministério da Cultura), pode injetar até 600 milhões

de reais por mês em cultura no nosso país, incrementando mais cultura às

26

pessoas de baixa renda. Espero que muitas empresas do nosso país participem

deste projeto”.

Stepan Nercessian - Ator e político: “O projeto tem o meu apoio. Acredito

que toda a iniciativa que tem como objetivo fomentar e ampliar o acesso da

população à cultura é bem-vinda. O formato já deu certo em outras áreas, como

transporte e alimentação, e irá facilitar e estimular o consumo de bens e serviços

culturais”.

Em artigo publicado no jornal O Globo:

Eduardo Barata, presidente da Associação de Produtores de Teatro do

Rio (APTR): “Talvez seja a iniciativa mais importante do governo Lula para a

cultura. É quase como um novo fomento. Talvez seja a possibilidade de se libertar

dos patrocínios e viver da bilheteria”.

Mariza Leão, que produziu filmes como “Meu nome não é Johnny”: ”É

espetacular. Se a ponta da produção recebe incentivos, a do consumo deve

merecê-los também”.

Gilberto Gil - Ex-ministro da Cultura: “O papel do subsídio à produção é

importante, mas também devemos subsidiar o consumo, o que o vale-cultura vai

fazer”.

Marco Nanini – Ator e produtor: “O vale-cultura é muitíssimo importante

porque vai dar a um público carente a possibilidade de ele selecionar o que quer

ver e fazer. Dá livre-arbítrio para ele escolher. Isso é mais democrático e

possibilitará a formação de platéia”.

Helder Maldonado, em seu artigo publicado no Copo Americano, aumenta

a lista dos que acreditam no risco do Vale-cultura se transformar em “moeda”.

Considera o Projeto de Lei discutível, e que seu valor está aquém do necessário,

considerando-se os preços dos ingressos para teatro e cinema.

27

Ele considera tão desanimador, que se o trabalhador preferir comprar CD

ou DVD com o Vale, a sobra daria apenas para ir ao cinema, e ainda teria que

completar o valor do ingresso do próprio bolso.

Maldonado questiona se não seria mais simples cortar impostos dos CDs

e DVDs, ou mesmo pressionar os donos das salas de cinema a cobrar mais barato

pelos ingressos.

Sua crítica chega ao extremo de antever que o trabalhador, insatisfeito

com o valor do Vale, acabará sendo levado a trocá-lo por cachaça ou comida, pois

por sua análise, o que se oferece de filmes e músicas atualmente não pode ser

considerado cultura, apenas lazer.

Ainda assim, há os que lançam um olhar positivo sobre o Projeto, como

Ricardo Peres em seus comentários no Sorrentino, blog de Projetos para o Brasil:

"O Vale Cultura promove a universalização do acesso e fruição dos bens e

serviços culturais; estimula a visitação a estabelecimentos e serviços culturais e

artísticos e incentiva o acesso a eventos e espetáculos culturais e artísticos,

fortalecendo a demanda agregada da economia da cultura. Os benefícios da nova

política são evidentes na promoção da inclusão social, da cidadania e reflete

valores e objetivos democraticamente discutidos pela sociedade brasileira, bem

como o amadurecimento das políticas públicas e dos agentes da cultura

brasileira".

Peres tem uma visão atualizada, que fortalece o benefício do projeto para

o cidadão brasileiro: "O Vale Cultura representa um divisor de águas da política

cultural do país porque promove a estruturação de todo um aparelho cultural para

atender um novo mercado cultural bilionário. Ou seja, essa política permite que as

novas audiências sejam sistematicamente edificadas na comunidade onde o

cidadão habita, a partir de estruturas geradoras de cultura in loco. Isso significa

um avanço qualitativo com relação aos outros subsídios culturais porque coloca o

poder de decisão nas mãos do cidadão trabalhador: ele escolhe aonde ir ao teatro

28

ou qual livro comprar, forçando o mercado cultural a se ajustar para acomodar as

escolhas do cidadão trabalhador. Essa novidade inverte a lógica burguesa e

democratiza as tendências culturais da sociedade".

29

CONCLUSÃO

Apesar da nossa tendência a criticar e rejeitar qualquer iniciativa do

governo, principalmente as que representam mais despesas para os cofres

públicos, podemos reconhecer a importância e a utilidade dessa nova política

cultural.

A Lei de Incentivo à Cultura ao longo de sua existência apresentou algumas

distorções, provocou insatisfações e críticas, mas considerando as alterações

propostas atualmente, acredito que podemos dar um voto de confiança ao

governo.

O Vale-Cultura poderá vir a ser um marco nas nossas políticas culturais,

pela abrangência, pela mudança educacional que trará ao povo brasileiro. Haverá

de certa forma uma transformação no pensar em cultura, em arte. Não será mais

algo inatingível. E por mais que algumas críticas ao projeto levem a pensar que o

povo brasileiro não está preparado para receber estímulo à cultura, que o Vale-

Cultura não será bem utilizado, vale lembrar que temos programas mais

modestos, que já provaram que o incentivo leva à educação cultural, como o

teatro a R$1,00 que leva muita gente das classes menos privilegiadas para as filas

nas primeiras horas do dia. É só dar oportunidade, que o povo corresponderá.

Até aqui, o governo estava fomentando a produção cultural. Os recursos

eram solicitados pela classe artística e pelos produtores. Havia muita oferta de

cultura. Agora, o governo lança uma política pública que vai permitir o aumento da

procura pela cultura.

30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 ALVES, Renato. Coluna do dia: Vale-Cultura – Direito e necessidade do

cidadão. Perspectiva Política. 29 jul. 2009. Disponível em:

http://blogs.cultura.gov.br/valecultura. Acesso em: 02 out. 2009.

2 BRANT, Leonardo (Org.). Políticas Culturais Vol. I. 1. ed. Barueri, SP:

Manole, 2003. 142 p.

3 BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil: promulgada

em 5 de outubro de 1988. Art. 215.

4 DURAND, José Carlos. Cultura como objeto de política pública. São Paulo

em Perspectiva. Vol. 15, n. 2. São Paulo, abr/jun. 2001. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em: 02 out. 2009.

5 FERREIRA, Juca – Ministro da Cultura. Acesso cultural e promoção da

igualdade - Tendências e Debates. Folha de S. Paulo, São Paulo, 23 jul.

2009. Opinião. Disponível em: http://www.cultura.gov.br. Acesso em: 01

out.2009.

6 MAMBERTI, Sérgio. Por uma Cultura Democrática. In: BRANT, Leonardo

(Org.). Políticas Culturais Vol. I. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2003. p.15.

7 MINISTÉRIO DA CULTURA. Disponível em: http://www.cultura.gov.br.

Acesso em: 28 set. 2009.

8 TOMAZZONI, Marco. Cercado de artistas, Lula lança Vale Cultura em São

Paulo em busca de "revolução". Disponível em:

http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2009/07/23.

9 DIMENSTEIN, Gilberto. Funk também é Cultura. Cotidiano. Folha de

S.Paulo. 02 de agosto de 2009. Disponível em:

http://blogs.cultura.gov.br/valecultura/author/marcelus.

10 CALABRE, Lia. Políticas públicas culturais de 1924 a 1945: o rádio em

destaque. Estudos Históricos, Mídia, n. 31, 2003/1. Disponível em:

http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/a-j.

31

Políticas e Conselhos de Cultura no Brasil: 1967-1970. Disponível em:

http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/a-j.

Intelectuais e Política Cultural: O Conselho Federal de Cultura. Atas do

Colóquio Intelectuais, Cultura e Política no Mundo Ibero-Americano.

Disponível em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/a-j.

11 PACHECO, Bruno. Classe Artística diverge sobre o Vale-Cultura.

Disponível em: http://www.jornaldeteatro.com.br/materias/politicacultural.

12 VENTURA, Mauro. RIBEIRO, Érica. Artistas elogiam aprovação do Vale-

Cultura. Disponível em: http://mais.cultura.gov.br/2009/10/19.

13 PERES, Ricardo. Vale-Cultura: um divisor de águas na política cultural do

Brasil. Disponível em:

http://www.vermelho.org.br/blogs/wsorrentino/2009/10/21.

14 MALDONADO, Helder. Vale Cultura é vale-lazer, vale-marmita e vale-

cachaça. Disponível em: http://copoamericano.wordpress.com/2009/09/18.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

ANÁLISE HISTÓRICA DAS POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL 10

1.1 - A Cultura vista como Política Pública 10

1.2 – Políticas Culturais no Brasil 11

CAPÍTULO II

OS BENEFÍCIOS DO PROGRAMA DE CULTURA DO TRABALHADOR 15

2.1 – O Programa de Cultura do Trabalhador e o Vale-Cultura 15

CAPÍTULO III

OS DIVERSOS ATORES ENVOLVIDOS E AS DISCUSSÕES

GERADAS NOS MEIOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS 21

3.1 – Os diversos atores envolvidos 21

3.2 – As discussões geradas nos meios culturais e artísticos 24

CONCLUSÃO 29

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 30

ÍNDICE 32

33

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: