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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RECOMPOSIÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO
NOS CONTRATOS ADMINSITRATIVOS
Por: Frederico Augusto Kalache de Paiva
Orientador
Anselmo Souza
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS - GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RECOMPOSIÇÃO DO EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO
NOS CONTRATOS ADMINSITRATIVOS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Direito Público
e Tributário.
Por: Frederico Augusto Kalache de Paiva
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, professores e a
Direção do Projeto A vez do Mestre.
4
DEDICATÓRIA
“Dedico este Trabalho à minha família,
base de toda minha formação como
pessoa”.
5
RESUMO
O contrato administrativo para ser viável de consecução necessita ter o
devido equilíbrio econômico-financeiro, de acordo com as condições efetivas
da proposta da contratação.
Em algumas situações, em razão da previsibilidade do desequilíbrio, o
próprio contrato resolve formas e mecanismos a permitir a chamada
recomposição daquilo que foi originariamente pactuado, visando evitar perdas
ou ganhos exagerados para qualquer uma das partes (Administração Pública e
particular).
Em outras situações, e da impossibilidade de se prever todas as
conjunturas aptas a afetar a equação econômico-financeira do contrato, haverá
a necessidade de serem utilizados mecanismos que igualmente irão permitir o
reequilíbrio da referida equação, não obstante ele tenha resultado de fatores
imprevisíveis.
O direito ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato, apesar de
servir para ambas as partes contratantes, mostra-se vital para os contratados,
significando um tipo de reserva protetiva ao contratado, considerando a
superioridade da Administração, justificada no interesse público.
Goza de “status” constitucional tal direito, conforme previsão do inciso
XXI do artigo 37 da Carta Magna, ao se prever a necessidade de se manter as
condições da proposta.
Visando a mantença de tal equilíbrio nos contratos administrativos, é
que existem figuras jurídicas distintas, como a revisão, reajuste e
6
repactuação, que serão pormenorizadas no decorrer desta monografia,
objetivando um esclarecimento objetivo dos institutos jurídicos que garantem
esse equilíbrio econômico-financeiro ao longo da vigência dos contratos
administrativos.
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METODOLOGIA
A monografia foi desenvolvida através de pesquisa científica de coleta
de dados na doutrina especializada, legislação pertinente, além do
conhecimento cotidiano do autor que trabalha na administração pública
indireta. A pesquisa bibliográfica foi baseada em obras de autores renomados,
como: Marçal Justen Filho; José dos Santos Carvalho Filho; Joel de Menezes
Niebuhr; Jesse Torres Pereira Junior; Alexandre Santos de Aragão; Revistas
especializadas (Zênite; Forum), etc..
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09 -10.
CAPÍTULO I - Breves noções de Contrato Administrativo 11 – 16.
CAPÍTULO II - Equação econômico-financeira
do contrato administrativo 17 – 23.
CAPÍTULO III – Mecanismos Para Recomposição 24 – 41.
da Equação Econômico-financeira previstos
na Legislação Brasileira.
CONCLUSÃO 42.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43.
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INTRODUÇÃO
A Administração Pública possui como objetivo precípuo a satisfação do
interesse público, ou seja, a eterna busca dos interesses e valores de toda
uma sociedade, com vistas ao desenvolvimento do bem-estar da coletividade.
Para a satisfação desse interesse público, a Administração Pública vê-
se constante e crescentemente forçada a adquirir bens e receber serviços
junto a terceiros. Para tanto ela necessita celebrar contratos, cujo teor
pressupõe o acordo de vontades entre as partes contratantes a fim de criar
obrigações e estabelecer o conteúdo delas, alinhando interesses.
Como ocorre em todo o contrato, a manifestação da vontade entre as
partes contratantes é elemento essencial a sua celebração. Todavia, o contrato
administrativo possui aspectos peculiares que o individualizam no mundo
jurídico, uma vez que o interesse público, essência do contrato administrativo,
concede prerrogativas à Administração Pública, derrogando o regime de
igualdade típico dos contratos convencionais.
As referidas prerrogativas decorrem de Lei e estão enumeradas no
artigo 58 da Lei nº 8.666/93, como veremos mais adiante.
Muito embora a Administração Pública possua tais prerrogativas frente
ao contratado, o que acaba por redundar num natural desequilíbrio a seu favor
- expressado em cláusulas exorbitantes ou prerrogativas protetoras do
interesse público – o equilíbrio econômico-financeiro do contrato é intangível e
essencial para sua a sobrevivência, delineando espécie de reserva de proteção
ao contratado em face da superioridade da Administração.
Nessa reserva, que corresponde à equação econômico-financeira do
contrato, não vale a superioridade da Administração; vale, sim, o direito do
contratado ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
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Os mecanismos do equilíbrio econômico-financeiro do contrato
administrativo são a Revisão ou Reequilíbrio e o Reajuste, sendo este último
subdividido em Reajuste por índice financeiro e Repactuação, decorrente de
variação de preços de mercado. A partir destes conceitos básicos é que a
presente monografia pretenderá desenvolver de forma sintética e explicativa
este importante e polêmico tema que envolve os contratos administrativos.
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CAPÍTULO I
Breves noções de Contrato Administrativo
Antes de adentrar no tema central desta monografia – Recomposição
do equilíbrio econômico-financeiro nos contratos administrativos – é
fundamental delimitar as principais características que envolvem um contrato
administrativo para melhor compreensão deste trabalho.
Existem diversos conceitos de contrato administrativo na doutrina, que
acabam em destacar seus elementos principais. Dentre eles, elegemos
ressaltar o entendimento de JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO1, como
sendo: “O ajuste firmado entre a Administração Pública e um particular,
regulado basicamente pelo direito público, e tendo por objeto uma atividade
que, de alguma forma, traduza interesse público”.
De fato, se faz fundamental sobressair no contrato administrativo o seu
objetivo precípuo, qual seja: o interesse público. Isso porque, toda atividade
administrativa deve ser desenvolvida pelo Estado para benefício da
coletividade. Mesmo quando o fim imediato visa algum interesse estatal, a
finalidade perseguida de sua atuação deve ser voltada ao interesse público.
Insurgem do interesse público, cláusulas singulares no contrato
administrativo, que são conhecidas como “cláusulas exorbitantes”, expressão
esta consagrada pela doutrina e, devidamente tipificada no artigo 58 da Lei nº
8.666/93, quais sejam: A Administração pode modificar unilateralmente os
contratos administrativos; rescindi-los nos casos especificados do artigo 79 da
mesma lei; fiscalizar a execução; aplicar sanções administrativas pela
inexecução total ou parcial do ajuste; nos casos de serviços essenciais, ocupar
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provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto
do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa
de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do
contrato administrativo.
O interesse público é fundamento essencial não só norteador na
relação contratual com a administração pública, mas também na própria fase
que precede a formação do contrato, uma vez que a administração não pode,
em tese, contratar com o particular que lhe convier, sob pena de afronta ao
interesse público.
Toda contratação operada com a administração pública deve ser
precedida de Licitação Pública, admitida às exceções legais nos casos de
licitação dispensada, dispensável e inexigível, figuras jurídicas estas previstas
nos artigos 24, 17 e 25 da Lei nº 8.666/93, sendo certo que tais exceções ao
dever de licitar não devem, de igual forma, fugir de seu objetivo da busca do
interesse público.
Com efeito, cumpre ressaltar que a exceção do dever de licitar trata-se
de exceção à regra de licitação insculpida no artigo 37, inciso XXI da
Constituição da República, seja em razão de uma inviabilidade de competição
(inexigibilidade), seja em hipóteses em que a realização da licitação pública
imporia prejuízos a valores concernentes ao interesse público, conforme casos
de dispensa de licitação expressos na Lei nº 8666/93.
Assim, após o procedimento licitatório ou após os processos que de
dispensa ou inexigibilidade competentes, a administração pública irá, em regra,
formalizar a contratação junto ao particular, observados os ditames da Lei nº
8.666/93.
1 Carvalho Filho, José Santos – Manual de Direito Administrativo – 19ªed., página 162, editora Lumen Juris, 2008.
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Mais uma vez, em nome do interesse público e de sua
indisponibilidade, devem os contratos administrativos ser formalizados por
escrito, impondo-se uma série de protocolos para a proteção da coisa pública,
a fim de evitar distorções e deturpações.
Segundo JOEL DE MENEZES NIEBUHR2: “Explicando melhor,
particulares firmam contratos do jeito que quiserem, verbais ou escritos,
porquanto o que vale são as suas vontades. Agentes administrativos, que
gerenciam o interesse público, não gozam da liberdade de agir de acordo com
as suas vontades, e, pois, decidir livremente em firmar os contratos apenas
verbalmente ou por escrito. Para melhor curar do interesse público, os agentes
administrativos, em regra, devem firmar contratos escritos.
O artigo 55 da Lei nº 8.666/93 prescreve todas as cláusulas
necessárias que devem ser estabelecidas nos contratos administrativos:
Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:
I - o objeto e seus elementos característicos;
II - o regime de execução ou a forma de fornecimento;
III - o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento;
IV - os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de observação e de recebimento definitivo, conforme o caso;
V - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional programática e da categoria econômica;
VI - as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas;
2 De Menezes Niebuhr, Joel – Licitação Pública e Contrato Administrativo – 1ª edição – página 439 – editora Zênite, 2008.
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VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os valores das multas;
VIII - os casos de rescisão;
IX - o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão administrativa prevista no art. 77 desta Lei;
X - as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão, quando for o caso;
XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta do licitante vencedor;
XII - a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos omissos;
XIII - a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação.
1.1 – Instrumento de contrato e congêneres
Os contratos escritos podem ter variações quanto a sua formalização.
Para tanto se torna necessária a observância do disposto no artigo 62 da Lei nº
8.666/93, que estipula os casos de obrigação do instrumento contratual,
facultando em outros sua substituição por demais instrumentos hábeis,
vejamos:
Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos casos de
concorrência e de tomada de preços, bem como nas dispensas
e inexigibilidades cujos preços estejam compreendidos nos
limites destas duas modalidades de licitação, e facultativo nos
demais em que a Administração puder substituí-lo por outros
instrumentos hábeis, tais como carta-contrato, nota de empenho
de despesa, autorização de compra ou ordem de execução de
serviço.
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Enfim, o instrumento contratual, propriamente dito, será obrigatório
dependendo da modalidade de licitação ou do valor envolvido, nos casos de
dispensa e inexigibilidade, podendo ser substituídos por instrumentos
congêneres em situações que envolvam contratações de valores abaixo de R$
80.000,00 (oitenta mil reais), e em específico, em caso de contratações de
obras e serviços de engenharia, valores abaixo de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais).
Com efeito, após uma breve exposição sobre as características
básicas da formação do contrato administrativo e focalizado no tema desta
monografia, enfatizamos o fato de que em toda contratação existem valores
financeiros envolvidos. Esses valores equivalem à proposta do contratado e
estes são assumidos pela Administração como contraprestação devida à
execução do objeto do contrato.
Antes mesmo disso, por ocasião da licitação ou do processo de
dispensa e inexigibilidade, forma-se a equação econômico-financeira,
consistente na relação entre os custos previstos pelo licitante e o valor
proposto por ele.
Segundo JOEL DE MENEZES NIEBUHR3, “Dizer que os contratantes
gozam do direito ao equilíbrio econômico financeiro do contrato equivale a
dizer que a equação econômico-financeira deve ser mantida durante toda a
execução do contrato ou, noutros termos, que a relação de proporção, formada
à época da licitação, entre os custos prospectados pelo licitante e o valor
proposto por ele deve ser mantido durante toda a execução do contrato”.
Uma vez delineadas as premissas básicas que envolvem o contrato
administrativo, passaremos no próximo capítulo a trabalhar especificamente
3 De Menezes Niebuhr, Joel – Licitação Pública e Contrato Administrativo – 1ª edição – página 533 – editora Zênite, 2008.
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sobre os mecanismos existentes para preservar sua equação econômico-
financeira.
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CAPÍTULO II
Equação Econômico-Financeiro do Contrato
Administrativo
A equação econômico-financeira do contrato administrativo é a relação
de equivalência entre o encargo definido pela Administração Pública (objeto
do contrato) e o preço (valor da proposta) ofertado pelo licitante. Ela se forma
com a apresentação da proposta na licitação.
Podemos fazer algumas observações sobre encargo e preço para
melhor delinearmos os elementos que compõe o equilíbrio do contrato.
O encargo é o conjunto de obrigações decorrentes direta e
indiretamente do cumprimento do objeto e demais condições necessárias para
atendimento dos termos do contrato e que impõe ônus financeiro/custo para o
contratado, enfim, é o custo da empresa para executar o contrato.
O preço é o valor pecuniário exigido pelo contratado para contratar
com a Administração Pública. Deve ser suficiente para proporcionar a perfeita
execução do objeto, bem como viabilizar o cumprimento do encargo com
obtenção de lucro, compreendidas todas as obrigações impostas pela
formação desse vínculo.
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O preço não pode ser inferior ao custo de execução ou superior aos
parâmetros comuns de mercado praticados para o objeto, sob pena de
caracterizar valor inexequível ou preço excessivo.
2.2. Fundamento da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do
contrato.
A manutenção do equilíbrio da equação econômico-financeira durante
todo o contrato tem fundamento na própria Constituição da República,
conforme podemos destacar do artigo 37, XXI.
Art. 37. (...)
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação,
as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento
das obrigações;
Podemos auferir do texto constitucional que a equação econômico-
financeira formada na oportunidade da apresentação da proposta,
consubstanciada na relação de proporção entre os custos prospectados pelo
licitante e o valor proposto por ele, deve manter-se intacto durante a execução
do contrato.
O equilíbrio econômico-financeiro do contrato não se trata de direito
exclusivo do contratante, pois a Administração Pública, como parte, também é
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detentora deste direito, em que pese o fato dos contratados invocá-lo com
muito mais frequência, considerando, por exemplo, que os insumos utilizados
por eles e seus custos em geral são frequentemente majorados, conferindo-
lhes, em tese, o direito à majoração da contraprestação devida pela
Administração, embora o oposto também possa ocorrer.
O desequilíbrio da equação econômico-financeira do contrato pode ter
como causa: a modificação unilateral do contrato pela Administração; o
fato do Príncipe; o fato da Administração; os fatos imprevistos e
imprevisíveis. As três primeiras causas são identificadas como áleas
administrativas, sendo a última como álea econômica. MARIA SYLVIA
ZANELLA DI PIETRO denomina que ambas as áleas podem ser classificadas
como áleas extraordinárias4.
A alteração unilateral do contrato, prevista nos artigos 58, I e 65, I da
Lei nº 8.666/93, consiste na atuação formal e direta pela Administração nas
cláusulas regulamentares do contrato, e que, normalmente, resulta na ruptura
do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Tal modificação implica na
necessidade de revisão das condições de execução do contrato, a fim de
restabelecer a equação inicialmente formada.
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contratado
(.....)
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
I - unilateralmente pela Administração:
4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo, 2003.p.264.
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a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos;
b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei
O fato da Administração ocorre quando a conduta da Administração
torna impossível para o particular executar o contrato, acarretando rompimento
da equação econômico-financeira. A Lei nº 8.666/93 disciplinou a hipótese nos
incisos XV e XVI do artigo 78 e inciso VI do § 1º do artigo 57.
Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
XV - o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos
pela Administração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento,
ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de
calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra,
assegurado ao contratado o direito de optar pela suspensão do
cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a
situação;
XVI - a não liberação, por parte da Administração, de área,
local ou objeto para execução de obra, serviço ou fornecimento,
nos prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais
especificadas no projeto;
(...)
Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará
adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto
quanto aos relativos:
(...)
21
§ 1o Os prazos de início de etapas de execução, de
conclusão e de entrega admitem prorrogação, mantidas as
demais cláusulas do contrato e assegurada a manutenção de
seu equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum
dos seguintes motivos, devidamente autuados em processo:
(...)
VI – Omissão ou atraso de providências a cargo da
Administração, inclusive quanto aos pagamentos previstos de
que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na
execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais
aplicáveis aos responsáveis.
Já o fato do príncipe traduz-se em determinação do Estado dada de
forma geral e imprevisível que venha onerar de forma excessiva o contrato. Por
exemplo, se ocorrer aumento de impostos, que venha a onerar
excessivamente o contrato, está-se diante de fato do príncipe, estando todas
as pessoas sujeitas a ele, e não somente o contratado.
Quanto aos fatos imprevistos ou imprevisíveis, o emprego dos
mesmos redundará quando há circunstâncias externas imprevistas e
imprevisíveis que, estranhas à vontade das partes, incidirem no rompimento da
equação econômico-financeira do contrato, disciplinado na Lei nº 8.666/93 na
alínea “d” do inciso II do artigo 65:
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser
alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:
(...)
II – por acordo das partes:
(...)
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram
inicialmente entre os encargos do contratado e a retribuição da
administração para a justa remuneração da obra, serviço ou
fornecimento, objetivando a manutenção do equilíbrio
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econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de
sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de
consequências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da
execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior, caso
fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica
extraordinária e extracontratual.
Nessas circunstâncias é autorizada a alteração contratual, com
fundamento da Teoria da Imprevisão, toda vez que fique demonstrada a
ocorrência imprevisível da onerosidade excessiva dos encargos do contratado.
Nesse sentido, podemos nos reportar a farta jurisprudência do Tribunal de
Contas da União, espelhadas, por exemplo, nos acórdãos 1.596/2006 –
Plenário e no recentíssimo 25/2010 – Plenário.
Afirma Carvalho Filho5 que a Teoria da Imprevisão possui duas
vertentes: se o contratante prejudicado não puder cumprir as obrigações
contratuais de nenhuma forma, dá-se a rescisão contratual sem culpa; se o
cumprimento for possível, mas acarretar ônus para a parte, esta tem o direito à
revisão do preço para restaurar o equilíbrio rompido.
Verificamos, assim, que uma vez constatado o desequilíbrio
econômico-financeiro do contrato é imperial haver um reestabelecimento da
equação econômico-financeira, face ao direito subjetivo a que possui as
partes.
Trata-se, em verdade, de emprego da teoria da imprevisão decorrente
da cláusula rebus sic stantibus, cuja aplicação constitui exceção ao princípio da
força obrigatória do contrato.
Logo, toda vez que as circunstâncias iniciais sofrerem alterações, de
forma a prejudicar uma das partes envolvida no contrato, será necessário um
23
ajuste no contrato à nova situação, configurando a possibilidade de emprego
da rebus sic stantibus.
5 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual do direito administrativo 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. P. 186.
24
CAPÍTULO III
Mecanismos Para Recomposição da Equação
Econômico-financeira previstos na Legislação
Brasileira.
A Recomposição econômico-financeira dos contratos administrativos
deve ser efetuada, obedecendo aos critérios estabelecidos na legislação, de
modo a identificar corretamente as hipóteses do desequilíbrio e os dispositivos
legais aplicáveis para prover o reestabelecimento da equação.
O sistema ilustrado abaixo dá a exata noção deste mecanismo,
individualizando de forma objetiva os mecanismos de recomposição.
A Revisão ou Reequilíbrio trata-se hipótese de recomposição da
equação econômica financeira do contrato administrativo em face de eventos
MECANISMOS DE RECOMPOSIÇÃO
Revisão/Reequilíbrio Reajuste Lato Sensu
Reajuste Índice por Financeiro
Repactuação Variação de preços de mercado
25
imprevisíveis ou, se previsíveis, de consequências incalculáveis, conforme
previsão legal contida no artigo 65, II, d da Lei nº 8.666/93.
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser
alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes
casos:
II - por acordo das partes:
(...)
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram
inicialmente entre os encargos do contratado e a
retribuição da administração para a justa remuneração da
obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção
do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na
hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou
previsíveis porém de consequências incalculáveis,
retardadores ou impeditivos da execução do ajustado,
ou, ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato
do príncipe, configurando álea econômica
extraordinária e extracontratual. (grifou-se).
A referida modalidade tem por base a conhecida Teoria da Imprevisão,
reconhecida no Direito Privado e no Direito Público, e consubstanciada no
artigo 478 e 479 do Código Civil Brasileiro.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou
diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para
a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários
e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
27
importadas a serem pagas pelo contratado ao seu fornecedor, no exterior, em
moeda estrangeira. Um mês após iniciada a sua execução, o dólar sofre
expressiva valorização em face do Real.
Curial, ainda, destacar que uma das alterações mais comuns de quebra
da equação econômico-financeira é a alteração da carga tributária incidente
diretamente sobre a execução da prestação do objeto do contrato. A questão
mostra-se tão relevante que os parágrafos 5º e 6º do artigo 65 da Lei nº
8.666/93 preveem explicitamente que a variação da carga tributária configura-
se como causa apta a gerar efeitos jurídicos sobre o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato.
Segundo, MARÇAL JUSTEN FILHO7, haverá quebra da equação
econômico-financeira quando o tributo (instituído ou majorado) recair sobre
atividade desenvolvida pelo particular ou por terceiro, necessária à execução
do objeto da contratação. Mais precisamente, cabe investigar se a incidência
tributária configura-se como um “custo” para o particular executar sua
prestação. A resposta positiva a esse exame impõe o reconhecimento da
quebra do equilíbrio econômico-financeiro. Diversa é a situação quando a
incidência recai sobre a riqueza já apropriada pelo particular, incidindo
economicamente sobre os resultados extraídos da exploração.
Assim, a elevação do ICMS produz desequilíbrio sobre contratos que
imponham ao particular, como requisito de execução de sua prestação, a
necessidade de participar de operações relativas à circulação de mercadorias.
O mesmo se diga quando se eleva o IPVA se a execução da prestação
envolver necessariamente a utilização de veículos automotores. Mas a
instituição de imposto sobre a renda apresenta outro contorno, eis que a
incidência se dá sobre os resultados obtidos pelo particular na exploração de
um empreendimento.
6 Direito Administrativo 18ª Ed. Pág. 235, Ed. Atlas, 2010.
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A formalização da concessão da revisão deve ser feita através de termo
aditivo ao contrato. Quanto ao prazo para sua concessão pode ser adotado
como referência o máximo de 60 (sessenta) dias, contados a partir da
solicitação e da entrega dos comprovantes de variação dos custos.
Importante frisar que, ao contrário da figura do reajuste (que será
adiante melhor explicada) a revisão não é condicionada nenhum intervalo de
tempo mínimo, ou seja, o contrato pode ser revisto a qualquer tempo, desde
que verificada e comprovada à ocorrência dos seus pressupostos.
Outro ponto de destaque cinge-se quanto à necessidade de haver
solicitação formal do contratado quanto à revisão e a possibilidade da
administração concedê-la de ofício. Frisamos que a doutrina diverge em
relação a tal aspecto. Podemos citar que Jorge Ulisses Jacoby Fernandes
entende ser indispensável o pleito do contratado, ao passo que o professor
Diógenes Gasaparini, José Cretela Júnior e Joel de Menezes Niebuhr,
possuem a compreensão, ora compartilhada, de que a Administração pode dar
cumprimento ao processo de revisão independente do pleito de quaisquer dos
contratantes.
Com efeito, podemos identificar situação clássica de revisão do
contrato, onde fica insofismável sua necessidade, quando nos deparamos com
um aumento ou diminuição quantitativa do objeto do contrato nos termos do
§1º e §2º do artigo 65 da Lei nº 8.666/93, como, por exemplo, quando a
Administração resolve acrescer em 25% o valor inicial atualizado de um
contrato, o que gerará, por consequência, a necessidade de rever os valores a
serem pagos ao contratado.
Passamos a expor argumento da corrente majoritária supra-aludida:
“A preocupação com a preservação da equação econômico-financeira
não deve ser apenas formal, mas efetiva. Importa, por parte da Administração
30
Pública, na prática obrigatória de atos e medidas que restaurem a isonomia da
relação encargo-remuneração e, desde logo, façam desaparecer a
desigualdade que a Constituição Federal forcejou por impedir. Trata-se,
portanto, de dever-poder da Administração Pública contratante. Por ser assim,
a prática desses atos é medida administrativa que independe de qualquer
pedido do co-contratante onerado com o desequilíbrio econômico-financeiro do
contrato. Ainda que de passagem, diga-se que não cabe à Administração
Pública contratante, para furtar-se a obrigação de promover essa
recomposição, alegar que a busca da restauração da economia contratual há
de ser em juízo. Também entende desse modo José Cretella Júnior ao ensinar
que: “A Administração tem o poder-dever de tomar providências imediatas
para, por aditamento, restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro inicial do
contrato, sempre, que ocorrer alteração, que aumente os encargos do
interessado licitante” ou, com todo o respeito, acrescentamos, em razão de
agravos decorrentes do seu impedimento.”8
O Reajuste Lato Sensu, trata-se de recomposição do preço em função
da variação dos custos de produção provocada especialmente pelo fator
inflacionário, sendo implementado em função de índices financeiros setoriais
ou específicos ou por meio de negociação entre as partes, objetivando a
recomposição dos valores de acordo com os novos processos de mercado.
Podemos subdividi-lo em duas espécies: O Reajuste por índice
financeiro e a Repactuação.
O Reajuste dos valores do contrato administrativo em função de
estipulação de índices financeiros é o instrumento por meio do qual a
Administração antecipa-se à variação de preço que ela previamente sabe que
irá ocorrer, estipulando, no próprio edital de licitação e no contrato, critério para
8 GASPARINI, Diógenes. Zênite. Reajuste, revisão e repactuação. Revista Zênite de Licitações e Contratos-ILC, Curitiba: Zênite, nº 123, p.416, mai.2004, seção Doutrina/Parecer/Comentários.
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fazer frente a ela. Geralmente são aplicados índices financeiros setoriais ou
específicos, tais como IPC, IPCA, etc..
O artigo 40, XI da Lei nº 8.666/93 traz esta hipótese de mecanismo de
recomposição, que deve ser disciplinado no próprio edital de licitação pública:
Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em
série anual, o nome da repartição interessada e de seu setor, a
modalidade, o regime de execução e o tipo da licitação, a
menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e hora para
recebimento da documentação e proposta, bem como para início
da abertura dos envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o
seguinte:
(...)
XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do
custo de produção, admitida a adoção de índices específicos ou
setoriais, desde a data prevista para apresentação da proposta,
ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do
adimplemento de cada parcela;
Faz-se fundamental comentarmos que o referido dispositivo foi feito à
época da edição da Lei nº 8.666/93, quando havia uma inflação desenfreada,
que pedia medidas jurídicas para tentar neutralizar seus efeitos devassos
sobre os preços do contrato.
Contudo, diante da estabilidade monetária conquistada pelo “Plano
Real”, considerando disposição legal prevista no artigo 2º, §1º da Lei nº
10.192/2001, passou a ser proibitiva a previsão de concessão de reajustes em
prazo inferior a 01 (um) ano:
Art. 2o É admitida estipulação de correção monetária ou de reajuste
por índices de preços gerais, setoriais ou que reflitam a variação dos
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custos de produção ou dos insumos utilizados nos contratos de prazo
de duração igual ou superior a um ano.
§ 1o É nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou
correção monetária de periodicidade inferior a um ano.
Assim, por força da referida periodicidade mínima, grande parte dos
contratos administrativos, de prazos inferiores a doze meses, não sofrem
reajustamento e, tampouco, preveem cláusulas nesse sentido. Não há,
portanto, nestes casos qualquer afronta ao artigo 40, XI da Lei nº 8.666/93.
A questão de maior polêmica se dá quando na contratação em prazo
superior a 12 meses esteja ausente previsão de reajuste no edital e no
contrato, o que vem a gerar questionamentos sobre o direito do contratado ao
reajuste.
O Mestre Diógenes Gasparini, seguindo entendimento de grande parte
da doutrina especializada, entende que em tais situações é indevido o reajuste,
conforme podemos destacar do trecho abaixo:
“Embora não seja pacífico, tem-se entendido que o reajustamento só é
possível se previsto no edital ou no processo de contratação direta, pois se
assim não for, enteder-se-á o contrato administrativo como irreajustável e que
o contratado embutiu no preço a inflação do período, até porque poderia ter
reclamado contra a omissão editalícia do índice de reajustamento inflacionário.
Se não o fez, é justo entender que encontrou outro modo de se preservar
contra a inflação”.9
Por outro lado, há outra corrente que entende que a Administração não
pode deixar de observar a norma obrigatória do inciso XI, do artigo 40, e que a
falta de previsão de reajustamento em contratos com prazo de execução maior
9 Gasparini, Diógenes. Reajuste, revisão e repactuação. Revista Zênite de Licitações e Contratos – ILC, nº 123, p. 416, maio de 2004, seção Doutrina/Parecer/Comentários.
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que 12 meses é ilegal e não pode ferir o direito do contratado ao equilíbrio
econômico-financeiro do contrato, de modo que ante sua ausência, deveria
haver alteração do contrato visando suprir tal ilegalidade.
O autor desta monografia compartilha do entendimento no Mestre
Diógenes Gasparini, acrescentando a colocação de que as disposições do
contrato vinculam as partes aos seus estritos termos (pacta sunt servanda),
não sendo admitidas alterações sem amparo legal.
Destarte, conforme prevê o art. 66 da Lei nº 8.666/93, “o contrato
deverá ser executado fielmente pelas partes, de acordo com as cláusulas
avençadas e as normas desta Lei, respondendo cada uma pelas
consequências de sua inexecução total ou parcial”.
A partir dos termos legais, pode-se concluir que, em regra, há a
necessidade de todos os contratos com prazo de vigência igual ou superior a
um ano, fazerem previsão de cláusula dispondo acerca dos critérios de
reajuste de preços que serão aplicados.
Todavia, ainda que essa seja a regra, é importante reconhecer que o
reajuste representa um direito de natureza patrimonial do particular
contratado. De acordo com essa natureza, trata-se, portanto, de um direito
disponível, ao qual o particular pode renunciar.
Nesse compasso, a falta de impugnação aos termos de edital que
pretenda a celebração de contrato com prazo de vigência superior a um ano,
sem previsão de cláusula de reajuste, pode ser tomada como renúncia ao
direito de reajustamento dos preços. A apresentação de proposta na licitação,
sem oposição aos termos do instrumento convocatório, confirma a
concordância do particular com as condições que serão praticadas no futuro
ajuste. A combinação dos artigos 41 e 55, inc. XI, da Lei nº 8.666/93 amparam
essa conclusão.
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Sobre a inaplicabilidade do reajuste diante da ausência de cláusula
contratual expressa nesse sentido, posicionou-se o Superior Tribunal de
Justiça:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – CONTRATO
ADMINISTRATIVO – REAJUSTE DE PREÇOS – AUSÊNCIA DE
AUTORIZAÇÃO CONTRATUAL – DESCABIMENTO.
1. O reajuste do contrato administrativo é conduta autorizada por
lei e convencionada entre as partes contratantes que tem por escopo
manter o equilíbrio financeiro do contrato.
2. Ausente previsão contratual, resta inviabilizado o pretendido
reajustamento do contrato administrativo.
3. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não
provido. (STJ, RE nº 730.568/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em
06.09.2007.)
Em outra oportunidade, ao avaliar situação da mesma espécie, o
Superior Tribunal de Justiça reconheceu que:
Não é a concordância das partes que legitima as majorações de
preço, mas sim, o contrato que há de autorizá-las, quando prevista no
edital, na conformidade da legislação, competente. (...). Desta forma,
sendo o edital a lei interna do contrato, não há como se admitir cláusula
contratual por ele não prevista. (STJ, AgRg no REsp nº 877.150/SP, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 03.04.2008.)
Portanto, com base nessas razões, não havendo disposição contratual
a respeito dos critérios de reajuste, parece possível concluir pela aceitação do
licitante em renunciar a esse direito, o que gera a impossibilidade de os preços
contratados serem reajustados ao longo da execução do ajuste.
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Com relação à Repactuação, podemos defini-la como o instrumento
cabível para manter o equilíbrio econômico-financeiro nos contratos
administrativos que tenham por objeto a prestação de serviços de trato
continuado, firmado entre a Administração Pública Federal e terceiros,
decorrentes do fenômeno mercadológico conhecido como “terceirização de
serviços”.
A legislação atinente a essa espécie de reajuste está regulada no
Decreto Federal nº 2.271/97, bem como na Instrução Normativa nº 02/2008 do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Em termos gerais, podemos dizer que a repactuação regula o
ajustamento do valor de terceirização de serviços de acordo com a variação
efetiva do custo de produção, observando os valores salariais praticados ao
tempo da data-base10 da categoria dos profissionais postos à disposição da
Administração Pública pelos contratados.
Ponto crucial a ser observado na repactuação é a periodicidade que a
mesma pode der concedida. Para esclarecer essa questão, deve-se observar
concomitantemente o disposto no artigo 5º do Decreto nº 2.271/97 e o artigo
37, 38 e 39 da IN º 02/08. Vejamos:
Dec. 2.271/97 (...)
Art. 5º Os contratos de que trata este Decreto, que tenham por objeto a
prestação de serviços executados de forma contínua poderão, desde
que previsto no edital, admitir repactuação visando à adequação aos
novos preços de mercado, observados o interregno mínimo de um ano
e a demonstração analítica da variação dos componentes dos custos
do contrato, devidamente justificada.
IN nº 02/08 (...)
10 No Brasil, data-base é o período do ano em que patrões e empregados se reúnem para repactuar os termos dos seus contratos coletivos de trabalho.
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Art. 37. A repactuação de preços, como espécie de reajuste contratual,
deverá ser utilizada nas contratações de serviços continuados com
dedicação exclusiva de mão de obra, desde que seja observado o
interregno mínimo de um ano das datas dos orçamentos aos quais a
proposta se referir, conforme estabelece o art. 5º do Decreto nº 2.271,
de 1997. ((Nova redação pela Instrução Normativa MP nº 3, de
15/11/2009).
Art. 38. O interregno mínimo de 1 (um) ano para a primeira repactuação
será contado a partir:
I - da data limite para apresentação das propostas constante do
instrumento convocatório, em relação aos custos com a execução do
serviço decorrentes do mercado, tais como o custo dos materiais e
equipamentos necessários à execução do serviço; ou (Nova redação
pela Instrução Normativa MP nº 3, de 15/11/2009).
II - da data do acordo, convenção ou dissídio coletivo de trabalho ou
equivalente, vigente à época da apresentação da proposta, quando a
variação dos custos for decorrente da mão de obra e estiver vinculada
às datas-base destes instrumentos. (Nova redação pela Instrução
Normativa MP nº 3, de 15/11/2009).
Art. 39. Nas repactuações subseqüentes à primeira, a anualidade será
contada a partir da data do fato gerador que deu ensejo à última
repactuação. (Nova redação pela Instrução Normativa MP nº 3, de
15/11/2009).
Assim, ponderando os dispositivos acima transcritos, vale imaginarmos
situações hipotéticas para melhor compreendemos, na prática, a aplicabilidade
da repactuação e seus efeitos:
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Consideramos, por exemplo, que um contrato de prestação de serviços
de natureza contínua foi assinado em 01/03/2008 entre um ente da
administração pública e uma empresa, tendo os valores sido balizados numa
Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) firmada em 01/06/2007; A nova data
base da categoria em 01/06/2008 reajusta os salários da categoria através de
CCT depositada e registrada na DRT11; O pedido de repactuação é feito em
01/12/2008; O termo aditivo de contrato, reajustando o valor do contrato em
função da repactuação é assinado em 01/02/2009.
No exemplo acima, temos que o pedido de repactuação feito em
01/12/2008 é perfeitamente cabível, pois observa o interregno mínimo de 01
ano da data da CCT à época a que a proposta se referiu (ou seja, 01/06/2007,
pois o contrato foi assinado em 01/03/2008, tendo por base CCT de
01/06/2007 que balizou os valores da proposta). Destarte, a repactuação é
devida com efeitos retroativos desde 01/06/2008 (data base da categoria),
época da aplicação dos novos valores da CCT.
Dessa forma, a aplicação da repactuação do referido contrato
reestabeleceria o equilíbrio econômico-financeiro ao citado contrato.
Curial observar que é entendimento atual que o pedido de repactuação
do contratado deverá ser realizado no máximo até a celebração do aditivo de
prazo imediatamente posterior ao fato gerador da repactuação, ou seja, se for
firmado novo aditamento do contrato, prorrogando o prazo de execução, sem
que seja feita qualquer ressalva da repactuação – considerando, logicamente,
ser esta já possível – fica precluso o direito do contratado de pleiteá-la
posteriormente.
Com efeito, trazemos a baila destaques do Acórdão nº 1.827/08 –
Plenário do TCU (Tribunal de Contas da União), servindo de paradigma do
entendimento referente aos efeitos da repactuação:
11 Delegacia Regional do Trabalho.
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Nos contratos de serviços contínuos, cada prorrogação caracteriza um novo
contrato. Uma vez assinado o termo aditivo, o contrato original não mais pode
ser repactuado. (item 58 do Voto).
Com a celebração da prorrogação sem ressalvas quanto à repactuação, opera-
se a preclusão lógica desse direito. A preclusão lógica verifica-se quando se
pretende praticar ato incompatível com outro anteriormente praticado. Ou seja,
depois de celebrada a prorrogação do contrato e mantido o seu valor vigente,
sem qualquer ressalva, revela-se incompatível pretender a repactuação
(alteração) dos preços, haja vista o valor ser fator decisivo para a decisão em
torno da prorrogação (item 61 do Voto).
Se fossem admitidos os efeitos retroativos da repactuação depois de
formalizada a prorrogação, o juízo acerca da conveniência e da oportunidade
de prorrogar o contrato estaria comprometido (item 62 do Voto).
Se as negociações para a celebração do acordo ou da convenção de trabalho,
ou a solução do dissídio coletivo prolongarem-se para além da data-base e,
nesse intervalo, a Administração convocar o contratado para a prorrogação,
deverá ser prevista cláusula para resguardar o direito à repactuação, a ser
exercido tão logo se disponha do documento coletivo devidamente
homologado. (item 69 do Voto).
Outro tópico que é digno de comentário, quanto a repactuação, está
relacionado na identificação do marco inicial de repactuação no caso da
contratação direta baseada no inciso XI do artigo do artigo 24 da Lei nº
8.666/93.
Art. 24. É dispensável a licitação:
XI - na contratação de remanescente de obra,
serviço ou fornecimento, em conseqüência de rescisão
contratual, desde que atendida a ordem de classificação
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da licitação anterior e aceitas as mesmas condições
oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao
preço, devidamente corrigido
A hipótese de dispensa prevista no art. 24, inc. XI, da Lei nº 8.666/93,
objetiva evitar o desperdício de tempo e recursos, na medida em que permite o
aproveitamento da licitação que foi realizada e que resultou em um contrato
rescindido. Para que seja possível realizar a contratação direta com base
nesse dispositivo, faz-se necessária a observância dos seguintes requisitos:
a) deve o contrato originariamente firmado ter sido rescindido;
b) deve ser observada a ordem de classificação das propostas da licitação anterior;
c) devem ser aceitas, pelo licitante remanescente convocado, as mesmas condições oferecidas pelo particular detentor da melhor proposta e inicialmente contratado, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido.
Quando a contratação de remanescente tiver por objeto a prestação de
serviços de natureza contínua perante a Administração Pública Federal, o
particular contratado terá direito à repactuação do valor contratual, depois de
um ano da data da apresentação da proposta ou do orçamento a que ela se
referir. A repactuação objetiva a adequação do valor do contrato aos novos
preços de mercado para a atividade contratada, observados o interregno
mínimo de um ano e a demonstrarão analítica da variação dos componentes
dos custos do contrato feita mediante planilhas de custos e formação de
preços, devidamente justificada.
O fato de o contrato ter sido celebrado com base no art. 24, inc. XI, da Lei
nº 8.666/93, não altera essa regra. Por isso, também o particular contratado
para a execução do remanescente terá direito à repactuação após decorrido o
lapso de um ano contado da data da apresentação da proposta na licitação
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anterior ou do orçamento a que esta se referir. A data do orçamento a que a
proposta se referir é aquela da convenção, do acordo ou do dissídio coletivo
que serviu de parâmetro para elaboração da proposta apresentada no certame
(conforme prevê o disposto no item 7.2 da IN nº 18/97 do MARE).
Portanto, na hipótese de contratação direta com base no art. 24, inc. XI,
da Lei nº 8.666/93, o marco inicial a ser considerado para fins de repactuação
será o mesmo do primeiro contrato. Inclusive, se já decorrido o lapso de um
ano da data da apresentação da proposta ofertada pelo particular na licitação
anterior ou, ainda, um ano da data do orçamento que serviu de parâmetro para
sua oferta (convenção, acordo ou dissídio coletivo da categoria envolvida), fará
ele jus à celebração do contrato com o valor já repactuado.
Aplicação do Decreto nº 2.271/97 e da IN 02/2008 do MPOG na
Administração Público Indireta.
Em que pese o Decreto nº 2.271/97 revelar em seu artigo 1º que sua
aplicação fica limitada à Administração Pública Federal direta, às autarquias e
às fundações federais, sugerindo, em princípio, que somente tais órgãos
estariam sujeitos à figura da repactuação, não há óbice que as mesmas regras
de repactuação sejam seguidas também pela administração pública indireta.
Com efeito, a própria Resolução nº 10/96, do Conselho de Coordenação
e Controle das Empresas estatais, reproduzem as diretrizes do referido decreto
ao prescrever nos artigo 1º e 3º:
Art. 1º - Vedar a inclusão, nos contratos de prestação de serviços, de
cláusulas de indexação a qualquer titulo.
(...)
Art. 3º Estabelecer que, nos casos de contratos com vigência superior a
um ano ou quando haja cláusula de prorrogação, a repactuação de
preços deverá ter, como parâmetros básicos, a qualidade e os preços
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vigentes no mercado para prestação desses serviços e, quando couber,
as orientações expedidas pelo Ministério da Administração e Reforma
do Estado.
A formalização da adoção da sistemática sobre as regras atinentes a
repactuação pelas entidades da Administração Pública indireta, pode ser feita
através de ato normativo próprio reconhecendo e prescrevendo a aplicação
dos referidos diplomas (Dec. 2.271/97 e IN 02/2008 do MPOG).
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CONCLUSÃO Em suma, foi verificada neste trabalho monográfico a necessidade de
haver equilíbrio econômico-financeiro nos contratos administrativos,
possibilitando sua execução de forma eficiente e salutar, não só a execução do
contrato propriamente dito, como também ao atendimento do interesse público.
A negativa de revisão de preços, quando a mesma é cabível, caracteriza
em enriquecimento sem causa, artigo 884 do Código Civil brasileiro, pondo em
risco a viabilidade da execução do contrato e o atendimento do interesse
público nele colimado.
Afinal de contas, num contrato administrativo, Administração Pública e
particular figuram como partes de uma mesma relação jurídica, e não
reestabelecer a equação financeira, quando esta é rompida por motivos
alheios à vontade do contratado, corresponderia fato odioso, consubstanciado
em enriquecimento sem causa da Administração e pobreza do particular, o que
não é admitido pelo Direito.
Assim, sempre que rompido esse equilíbrio financeiro, sem que haja
qualquer conduta típica de inexecução contratual do particular, deve o contrato
administrativo ser revisto, observando-se, com propriedade, os institutos de
recomposição do equilíbrio econômico-financeiro identificados nesta
monografia, tendo sempre como norte a legalidade, moralidade e o interesse
público.
43
Bibliografia: Niebuhr, Joel de Menezes – Licitação Pública e Contrato Administrativo – 1ª
edição, Curitiba, Zênite Editora, 2008;
Furtado, Lucas Rocha – Curso de licitações e contratos administrativos – 2ª
edição, Belo Horizonte, Fórum, 2009;
Carvalho Filho, José dos Santos – Manual de Direito Administrativo – 19ª
edição, Lumen Juris, 2008;
Souto, Marcos Jurema Villela – Direito Administrativo Contratual – 1ª edição,
Lumen Juris, 2004;
Di Pietro, Maria Sylvia Zanella – Direito Administrativo – 10ª edição, Atlas,
2010;
Justen Filho, Marçal – Comentários à lei de Licitações e Contratos
Administrativos – 13ª edição, Dialética, 2009.
Legislação consultada: Constiuição Federal de 1998; Código Civil; Lei nº
8.666/93.