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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM GESTÃO FUNCIONAL X GESTÃO DE PROCESSOS Por: JORGE MENEZES DA COSTA Orientador Prof. MARCELO SALDANHA Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

GESTÃO FUNCIONAL X GESTÃO DE PROCESSOS

Por: JORGE MENEZES DA COSTA

Orientador

Prof. MARCELO SALDANHA

Rio de Janeiro

2011

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

GESTÃO FUNCIONAL X GESTÃO DE PROCESSOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Pública.

Por: JORGE MENEZES DA COSTA

3

AGRADECIMENTOS

... À Secretaria de Estado de

Planejamento e Gestão – SEPLAG,

pela oportunidade e à minha querida

esposa Gilda, pelo apoio durante o

curso.

4

DEDICATÓRIA

.....dedico esse trabalho aos meus filhos

Alexander, Alessandra e Aline para

mostrar que sempre é tempo de saber...

5

RESUMO

O presente trabalho objetiva trazer à pauta informações e comparações

entre Gestão Funcional e Gestão de Processos, expondo os pontos positivos e

negativos de cada modelo de gestão.

Antes porém abordando um relato sobre as funções empresariais,

fazendo um mergulho em Gestão de Processos sob o aspecto de origem e

evolução histórica, para chegar à comparação entre Gestão Funcional e

Gestão de Processos.

Apresenta as peculiaridades da Gestão Funcional comentando a forma

como é usualmente empregada nas organizações, mas apresentando a

Gestão de Processos como alternativa de mudança, descrevendo o que são

processos, conceituando gestão de processos funcional, por processos, e o

que se entende por Gestão de Processos.

Finalmente abordando a criação de um Escritório de Processos,

considerado como um centro de excelência, sendo o guardião de normas,

métodos, padrões e do conhecimento da gerência de processos de negócio

(BPM).

Ao ler o trabalho apresentado, os leitores terão acesso a um material

que certamente os proverão de conhecimentos que possibilitarão optar pela

mudança de Gestão funcional para Gestão de Processos.

6

METODOLOGIA

A adoção do tema tratado nessa monografia decorre do interesse, e

como consequência, da necessidade de entender Gestão de Processos e

descobrir o que ela tem de novidade em seu escopo.

Essa necessidade fez com que se iniciasse um processo de consultas

na internet, em livros e publicações diversas, levantando informações e

experiências reportadas.

O evento de produzir essa monografia, foi o marco para colocar o que

pude assimilar de toda consulta realizada ao longo do tempo leitura sobre

Gestão de Processos.

Como literatura de auxílio nesse estudo posso citar:

• A aplicação da Gestão de Processos em uma organização

tipicamente funcional – XXVIII ENEGEP – 2008

• Gestão de Processos – Pensar, Agir e Aprender – Editora

Bookman – 2009

• Gestão por processos – Uma abordagem da moderna

administração – José Osvaldo de Sordi – Editora Saraiva

• Iniciar a Gestão por Processos – Universidade Estadual de

Campinas – DGA Diretoria Geral da Administração - Planes

2005-2009

• Os 3 papéis estratégicos de um escritório de processos – ELO

Group – publicado na internet

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Arquitetura de negócio segundo

Abordagem administrativa adotada 9

CAPÍTULO II - Gestão de processos – Origem e

Evolução histórica 12

CAPÍTULO III – Discernindo Gestão funcional de Gestão de processos 27 CAPÍTULO IV – Escritório de Processos 42 CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 46

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

8

INTRODUÇÃO

Uma característica muito comum encontrada nas organizações é a

estrutura adotada segundo o conceito de “silos funcionais”, onde se gerenciam

e se executam atividades específicas e especializadas. Esse modelo originou-

se no início do século XIX, com os estudos de Frederick Taylor, que

introduziram os conceitos de eficiência, especialização e medição do processo.

Desses estudos surgiram atitudes administrativas de medir

desempenho das atividades, definir perfil e habilidades para cada função, o

que acarretou a especialização profissional nas atividades. A especialização

concentrou o do mínio da técnica em alguns profissionais, resultando em áreas

ou departamentos nas empresas, que por sua vez também eram

especializadas na execução de determinadas funcionalidades do negócio.

A busca pela excelência desse silos funcionais resolvia problemas

localizados, sem atingir as questões estruturais da organização. O

desempenho das diversas funções com excelência não era suficiente para

garantir a satisfação do cliente final, pois muitos problemas residiam na

comunicação e interação entre as diversas áreas funcionais, tais como

“lacunas organizacionais” ou “áreas nebulosas”, não compreendidas e mau

gerenciadas pelas organizações.

A busca de soluções eficazes leva as empresas a reverem suas

estruturas organizacionais sob o ponto de vista do cliente, o foco administrativo

foi alterado do fluxo de trabalho de áreas funcionais para processos de

negócios da organização.

A transformação a partir de processos hoje é usada rotineiramente por

empresas em todo o mundo. Empresas de vários portes registram avanços

significativos em custo, qualidade, velocidade, rentabilidade e demais áreas

vitais ao focar, medir e reformular processos internos e de interação com os

clientes.

9

CAPÍTULO I

ARQUITETURA DE NEGÓCIO SEGUNDO ABORDAGEM

ADMINISTRATIVA ADOTADA

O conceito de função empresarial é bastante antigo na

administração de empresas. Suas origens são da década de 1920, quando

Frederick Taylor estudou a complexidade dos processos a partir da análise

sistemática dos procedimentos de trabalho, introduzindo os conceitos de

eficiência, especialização e medição do processo. Desse estudos derivaram as

atitudes administrativas de medir o desempenho do processo e definir perfis e

habilidades requeridas aos executores, ou seja, a especialização de atividades

e profissionais.

A especialização dos profissionais da organização em torno de

algumas competências, ou melhor, nas suas funções de trabalho, colaborou

para a consolidação de áreas funcionais nas quais os especialistas

permaneciam lotados. Grande parte das empresas continua organizada e

administrada segundo visão das funções empresariais, operando com “silos

funcionais”. Para termos visibilidade das funções desempenhadas pela

empresa, basta fazer uma análise no seu organograma. A maioria das áreas

ou “caixinhas organizacionais” representa um núcleo forte de atividades e de

profissionais especializados em torno de um objeto ou entidade. Entre os

exemplos típicos de áreas funcionais das empresas estão a produção, os

recursos humanos, as finanças, a gestão de materiais, a engenharia de

produto e as vendas.

Já tivemos a aplicação contínua de novas teorias e práticas

administrativas, como a reengenharia, equipes multifuncionais de trabalho,

benchmarking, indicadores de desempenho, entre outras. Esse movimento

importou vários conceitos, técnicas e ferramentas de outras ciências,

principalmente da engenharia, mais especificamente das práticas de

gerenciamento operacional oriundas da engenharia de produção. Foi uma

10

resposta das organizações às novas demandas do negócio, impostas pelo

movimento de globalização e forte competitividade entre as organizações. Um

dos grandes resultantes desse movimento foi a introdução do conceito de

processos de negócios como forma de estruturar e gerenciar as empresas. Os

processos de negócios são fluxos de atividades, de diferentes áreas

funcionais, ou mesmo de diferentes empresas, que geram algo de valor para

seus clientes.

As empresas que estruturaram sua gestão e operação por meio de

processos de negócios passaram a ser rotuladas como empresas “orientadas

a processos”, enquanto as tradicionais, apenas gerenciando e operando por

meio de áreas funcionais, passaram a ser denominadas como “baseadas em

funções”. As organizações tradicionais de grande porte “orientadas a

processo”, não deixam de ter suas áreas funcionais, embora objetivos,

produtos e serviços, métricas, fluxo de atividades e demais aspectos gerenciais

sejam definidos e analisados dentro da visão de processos de negócios.

Apenas algumas poucas empresas conseguiram alterar completamente seu

estilo de gerenciamento por meio de processos de negócios. A maioria das

corporações opera a partir de uma estrutura “função processo”, na qual

prevalece a estrutura de “silos funcionais”, que dão apoio à operação dos

diversos processos de negócios (HAMMER,Michel. How process enterprises

really work, 1999).

Douglas Lambert desenvolveu estudos sobre a redução de

interferências e barreiras da estrutura funcional na operação dos processos de

negócios. Na figura a seguir pode-se notar a visão do autor sobre a

participação operacional e estratégica das diversas áreas funcionais nos

processos de negócios de uma empresa manufatureira que trabalha com uma

grande rede de fornecedores e com ampla comunidade de clientes.

11

Típico silo funcionalProcessos de negócios

Marketing

Pesquisa e

desenv

Logística

Produção

Com

pras

Finanças

Gerenciamento do relacionamento com os clientes

Gerenciamento de serviços a cliente

Gerenciamento da demanda

Acato de ordens de clientes

Gerenciamento do fluxo

produtivo

Gerenciamento do relacionamento com fornecedores

Desenvolvimento & comercialização de produtos

Gerenciamento das devoluções

Gerenc. de conta

Definir requerim.

Definir requerim.

Estratégia produção

Estratégia insumos

Lucrativ. cliente

Administ.de conta

Serviço técnico

Especific. Desemp.

Coord. execução

Avaliação prioridade

Custo de servir

Planejam. demanda

Requerim. processo

Previsão Planejam. Capacida.

Fontes Análise da negociação

Ofertas especiais

Requerim. ambiente

Planejam. da rede

Direcion. da planta

Seleção forneced.

Custo de distrib.

Específic. empacota

Estabilid processo

Critério de priorização

Planejam.produção

Fornecim. integrado

Custo da manufatura

Registro de pedidos

Especific. materiais

Fluxo das moviment.

Planejam. integrado

Gerenc. Forneced.

Custo dos materiais

Plano de negócio

Projeto do produto

Requerim. Moviment.

Especific. processo

Especific. materiais

Custo da P&D

Ciclo de vida prod.

Projeto do produto

Logística reversa

Remanufatur Especific. materiais

Custo & lucrativ.

Fonte: Lambert et. al. (2001)

12

CAPÍTULO II

GESTÃO DE PROCESSOS

ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Os quadros conceituais que estão na origem da gestão de processos e

fazem parte das tradições da engenharia de produção são a administração

científica, o Sistema Toyota de Produção, o Controle da Qualidade Total, a

Reengenharia e a Teoria das Restrições. Isso não significa que a sociologia, a

ciência da computação, a economia, a psicologia, a administração de

empresas e as ciências, por exemplo, deixem de ser consideradas como áreas

do conhecimento que influenciam ou são necessárias à gestão de processos.

Em vez de fragmentar, a idéia é de reforçar a relação de dependência

dos conceitos de estratégia, cultura organizacional, tecnologia de informação,

projeto organizacional, indicadores de desempenho, gestão do conhecimento e

gestão de competências como elementos conceituais intrinsecamente

relacionados à gestão de processos.

II.1 – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PARADIGMAS EM GESTÃO

DE PROCESSOS.

A evolução e a migração paradigmática da melhoria de operações para

a melhoria de processos encontram-se retratada na literatura. A ênfase será

para a evolução da melhoria de processos em direção à gestão de processos.

Alguns pressupostos do Paradigma da Melhoria nas Operações foram

rompidos na Toyota. Dentre eles, se destacam a separação entre o

planejamento e a execução do trabalho e, principalmente, a lógica de um

homem/ um posto/ uma tarefa. A quebra desses pressupostos e a

incorporação de elementos como uma visão orientada para o cliente e o

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mercado, com foco no processo como um todo, a preocupação com a

integração informática e a revisão dos perfis de competências deslocou o

paradigma para a melhoria de processos.

Esse paradigma tem origem na Toyota, mas outras teorias, princípios e

técnicas surgiram para corroborar sua eficácia e ampliar suas fronteiras nos

anos 80 e 90. Os quadros conceituais do Sistema Toyota de Produção, da

Teoria das Restrições, da Reengenharia de Processos e da Lógicas de Gestão

da Qualidade influenciaram e consolidaram a gestão de processos na

engenharia de produção.

Os processos, em síntese, devem ser encarados de forma ampla, e

sempre se constituem no fluxo do objeto no tempo e no espaço (ANTUNES,

Os paradigmas na engenharia de produção – COPPE/UFRJ-2006). Essa

percepção amplia o paradigma para além da melhoria dos processos, já que

permite a associação do entendimento de processos como forma de

coordenação do trabalho. Os ciclos de melhorias de processos e a recorrência

da coordenação ao longo do tempo também permitem associar a gestão de

processos ao aprendizado organizacional. Essas associações fazem com que

a gestão do processo integre-se no dia-a-dia da organização, não sendo

apenas parte da tarefa de melhoria de processos fora do “tempo” de trabalho.

O Sistema Toyota de Produção já envolvia os operadores na tarefa de

melhorar o trabalho, mas com a maior disponibilidade de tecnologias de

informação para suportar a gestão do processo, a melhoria do projeto do

processo, a coordenação do trabalho no dia-a-dia e a capacidade de aprender

sobre os processos estão tecnologicamente reforçadas, e cada vez mais,

fazendo parte do cotidiano das organizações (HARMON- 2003, SMITH-2003,

SHEER- 1994).

II.1.1 – A ÓTICA DA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A relação entre a engenharia de produção e os processos tem uma

contribuição central para este texto. Ela reforça a existência de quadros

14

conceituais que sustentaram a atuação gerencial segundo um modelo ou

paradigma.

Segundo Zilbovícius (ANTUNES – 2006), a engenharia de produção

tem como função “a contínua elaboração de soluções para o problema básico

da combinação dos fatores de produção”. Assim, a gestão de processos é,

como um subconjunto da engenharia de produção, um meio de elaboração de

soluções para melhorar a combinação de fatores de produção particularizada

no olhar do processo de produção com enfoque no objeto que flui, seja

coordenando ou reprojetando o conjunto das ações.

II.1.2 – A TRAJETÓRIA HISTÓRICA E PARADIGMÁTICA DOS

PROCESSOS

O primeiro paradigma é o da administração científica, no qual o foco

dos esforços se concentrava na melhoria das operações de produção. O

segundo paradigma tem origem diversa, nos modelos do Sistema Toyota de

Produção (STP) e, paralelamente, na Teoria das Restrições. Na sequência do

STP, emergem os Sistemas da Qualidade como desdobramentos diretos e a

Reengenharia em contraposição, todos com foco sobre a melhoria dos

processos.

Para que os gerentes e responsáveis pela execução do trabalho

incorporem em suas organizações as práticas que efetivamente as desloquem

para o paradigma da gestão de processos, são necessários dois saltos

evolutivos no modo de gerir as operações. O primeiro trata de mudar o foco

dos esforços de melhoria para os processos em detrimento das unidades

organizacionais funcionais. Essa mudança depende, em grande parte, da

incorporação de técnicas e ferramentas para atuar sobre o projeto dos

processos, e não só do projeto das operações. O segundo salto avança do

projeto de melhoria para a de gestão de processos. A questão seria associar

os processos não só às melhorias, mas à coordenação do trabalho ao

cotidiano e ao aprendizado da organização. Essa segunda mudança requer um

deslocamento do modelo mental de gestores, de modo a privilegiar os

15

resultados globais dos processos em detrimento dos locais funcionais sob sua

responsabilidade. A incorporação de ferramentas e a sistematização de tarefas

para gerir os processos são fundamentais para essa mudança.

A primeira migração da melhoria de operações para melhoria de

processos pode ser entendida no sentido proposto por Shigeo Shingo, que

segue a idéia de que a divisão de trabalho proporcionou uma radical

separação entre os processos e as operações, dado que, antes da divisão do

trabalho, uma pessoa era responsável pelo processo global da produção. Essa

mudança na divisão do trabalho resultou em melhorias radicais no

desempenho dos sistema de produção no que tange a produtividade horária.

Por outro lado, ela promoveu um incremento na complexidade da gestão , uma

vez que, primeiro, a divisão cria, obrigatoriamente, a necessidade de coordenar

e, segundo, porque as operações puderam expandir seus volumes

radicalmente, tornando-se maiores e mais complexas.

Passou-se então, a considerar, que o processo era uma grande

unidade de análise composta de uma grande número de operações

relativamente independentes, um somatório simples de operações. Isso levou

à falsa suposição de que melhorar as operações conduziria, necessariamente,

à melhoria global do processo e, em consequência, do sistema produtivo. A

partir dessa falsa suposição, os engenheiros industriais norte-americanos do

início do século passado voltaram sua atenção à análise e à solução de

problemas das operações, ou seja, à racionalização do trabalho das pessoas e

à melhoria das máquinas. Apesar das limitações desse modelo, vale dizer, que

ele foi essencial para o desenvolvimento industrial e consequentemente,

econômico dos EUA.

Por razões econômicas, técnicas e culturais, esse paradigma por uma

série de fatores que, em síntese, induziram ao estabelecimento quase

hegemônico da lógica funcional de atuação, apoiada nas melhorias locais

como suposta forma de contribuir para a melhoria do sistema produtivo como

um todo, hoje reconhecidamente ma hipótese falsa. O paradigma da melhoria

das operações começa a ruir com uma série de alterações ocorridas nas

16

normas de concorrência do mercado e, também , pelo desenvolvimento e

ascensão do Sistema Toyota de Produção.

Além de migrar claramente o foco de atenção dos esforços de melhoria

para o processo como um todo, o STP contribuiu de forma inovadora para

demonstrar que é possível operar, com alto nível de flexibilidade, sistemas

produtivos fortemente baseados em produção de grande escala. Ou seja, o

modo STP de produzir diferencia-se do Fordista pela capacidade de produzir

competitivamente uma série restrita de produtos diferenciados e variados.

No caso específico da gestão de processos, a demora na migração do

paradigma funcional para o processual tem explicações associadas à

reengenharia. Os conceitos básicos do novo paradigma foram difundidos em

larga escala no âmbito da reengenharia, que não trouxe em si técnicas para

melhoria de processos. Nela havia a sugestão de mudanças radicais, que

deveriam ser adotadas independentemente dos processos vigentes. Levadas

pela divulgação de resultados extraordinários, muitas organizações adotaram a

reengenharia como caminho para a melhoria de desempenho. Entretanto,

muitas dessas iniciativas foram frustradas e, em certos casos, trouxeram

problemas graves em quem adotou a reengenharia de forma voluntarista e

pouco fundamentada. Por associação, isso fez com que se criasse uma

resistência ao discurso de processos de um modo geral e, assim, com que

houvesse um recuo no uso de tecnologias voltadas a processos como lógica

ou paradigma gerencial. O desafio posto para a gestão de processos é,

justamente, criar bases sustentáveis à consolidação desse novo paradigma e

promover sua disseminação apesar do preconceito derivado da reengenharia.

No período pós-Segunda Grande Guerra, enquanto a industria

japonesa era recriada sobre novas bases, a indústria ocidental, particularmente

a norte-americana, que foi a maior vencedora do conflito, entrava em ciclo de

reforço do paradigma funcional, buscando sistematicamente as melhorias

operacionais locais. Entretanto, nas décadas de 70 e 80, o modelo japonês de

produção de automóveis apresentou, resultados contundentes, e o paradigma

de melhoria das operações entrou em crise. O reforço da trajetória anterior de

utilização pura e simples de automação para melhoria nas operações sem uma

17

ótica voltada para o processo não conseguiu resultados satisfatórios e o STP

parecia ser insuperável, era a vitória do novo sobre o velho paradigma.

Nesse mesmo período, uma visão alternativa de integração da

manufatura suportada por forte automação e informatização e com foco nos

processos de negócio estava sendo desenvolvida por pesquisadores na

Alemanha. Em 1976, SHEER apresentou o desenho de uma nova metodologia

de desenvolvimento de sistemas integrados chamada ARIS. Tal metodologia

permitia que a organização fosse entendida mais sistematicamente a partir da

modelagem de diversos elementos e perspectivas que influenciam seus

negócios. Tornou-se possível explicitar, de modo estruturado, como diversos

fatores de produção se integravam para criar valor para o cliente final. Logo,

essa nova metodologia era orientada aos processos e aderente ao novo

paradigma. Muitos grupos de pesquisa que estudam processos tiveram suas

origens ligadas à Manufatura Integrada por Computador (CIM). Dentre eles se

destacam Costa e Caulliraux, Vernadat e Scheer.

No final da década de 90 e no início desta década, houve uma

consolidação da convergência entre as diversas políticas voltadas ao novo

paradigma processual, como as de melhoria radical de processos da

reengenharia, de melhoria incremental da Qualidade Total, de redução de

perdas da produção enxuta e da manufatura integrada por computador, por

exemplo. Essa convergência dotou as tecnologias processuais de instrumentos

e técnicas mais sofisticados e, por conseguinte, ampliou a capacidade de

geração de resultados econômicos financeiros das mesmas.

A entrada no paradigma da melhoria de processos suportada por esse

novo conjunto de tecnologias permitiu às organizações, enfim, gerar resultados

extraordinários, tanto diretamente quanto a partir de desdobramentos

derivados de um viés processual, tais como:

• Adoção de sistemas integrados de gestão tipo ERP

• Definição de indicadores de desempenho globais

• Definição de estruturas organizacionais baseadas em processos

• Gestão de competências baseada em processos

• Criação de modelos de referência para melhoria de processos

18

• Ampliação das práticas de benchmarking

• Ampliação da colaboração entre empresas

• Outros desdobramentos

O paradigma da melhoria dos processos está em vigor atualmente, em

grande parte pelo fato de que se instaurou na economia um ciclo de

implantação de tecnologia da informação que requer investimentos

sistemáticos e significativos para, essencialmente, melhorar o fluxo de

informações ao longo dos processos. Contudo, dois grandes problemas

parecem dificultar o alcance pleno desse objetivo. O primeiro está relacionado

ao próprio modelo mental vigente dos gestores que escolhem as soluções de

TI a serem adotadas, já que, estabelecidos no paradigma funcional, reforçam a

coordenação do trabalho orientada às funções e, como consequência, induzem

à conformação de sistemas de informação com lógica estritamente funcional.

O segundo problema

Está relacionado ao descolamento entre o desenvolvimento de novas

soluções de TI e as necessidades concretas dos processos de cada

organização. Atualmente, os fabricantes dessas soluções, submetidos a uma

concorrência acirrada, findam por empurrar seus produtos para as

organizações de modo, as vezes, mais veloz do que elas são capazes de

projetar novos processos, provocando o descolamento mencionado.

A combinação desses problemas promoveu o desenvolvimento de

soluções componentizadas de sistemas e processos, uma vez que permitiram

a adoção de incrementos menores de investimentos em TI que poderiam ser

combinados de várias formas para se adaptar, com o tempo, às reais

necessidades percebidas dos processos da empresa.

Em suma, o paradigma da melhoria de processos parece estar se

estabelecendo nas organizações produtivas. O amadurecimento das

tecnologias que a suportam tem sido um vetor fundamental para o seu sucesso

em comparação ao seu antecessor. Por outro lado, essas tecnologias, em

particular a TI, parecem apontar para novas fronteiras gerenciais, em que os

processos não mais seriam o foco principal dos esforços de melhoria e gestão,

19

mas o conhecimento e a inovação, respectivamente, a fonte e o resultado que

hoje parecem ser as maiores apostas em termos de diferenciação competitiva

no mundo.

II.2 – QUADROS CONCEITUAIS PARA GESTÃO DE PROCESSOS

Como mencionado anteriormente, os quadros conceituais baseados

em processos difundidos na engenharia de produção encontram na

administração científica, no Sistema Toyota de Produção, nos Sistemas de

Controle de Qualidade Total, na Reengenharia de processos e na Teoria da

Restrições suas principais fontes. O primeiro está no paradigma da melhoria

de operações. Os seguintes representam parte da relação da engenharia de

produção com a gestão de processos e contribuíram diretamente para o

estabelecimento do paradigma da melhoria de processos.

II.2.1 – A administração científica

Os objetivos de uma dada organização, em geral, passam pela reunião

de várias pessoas no sentido de processar várias atividades complexas e,

consequentemente, através da reunião dessas atividades, gerar um

determinado resultado. Os benefícios da divisão do trabalho foram retratados

por Adam Smith em 1776 em seu livro A riqueza das nações. Ao analisar os

modos de produção vigentes no fabrico de alfinetes, ele observou que, ao

dividir o processo de trabalho em etapas específicas e designá-las a

trabalhadores especializados, a organização obtinha ganhos significativos de

produtividade. Tais ganhos estariam associados basicamente a três razões:

1) ao aumento sistemático da destreza dos trabalhadores devido à

repetição da tarefa na qual se especializaram;

20

2) à eliminação dos tempos sem produção dedicados à troca de

ferramentas e preparação do posto de trabalho devido às mudanças de

tarefas;

3) à criação de ferramentas e equipamentos que facilitam a execução das

tarefas individualmente.

Por outro lado, um efeito teoricamente desvantajoso da divisão de trabalho é a

necessidade de coordenação, já que aumenta a complexidade da operação

como um todo e, nesse sentido, gera trabalho e novos custos. Essa relação de

causalidade é simples de ser percebida, basta dizer que o processo de

trabalho, sob a responsabilidade de uma só pessoa, é autocoordenado. A

partir do momento em que o mesmo é dividido entre duas ou mais pessoas. Há

no mínimo, a necessidade de que elas entrem em um acordo sobre como suas

partes complementares serão integradas para produzir um resultado comum

(produto final) e, durante a execução, fazer com que essa integração se

materialize.

A teoria e a prática organizacional durante a era industrial foi norteada,

basicamente, pela administração científica. Taylor trabalhou com foco na

melhoria da produção, através da aplicação de métodos científicos

experimentais na manufatura. Esses experimentos baseavam-se na

observação do trabalho, na análise dos métodos de produção e na proposição

de padrões mais eficientes de se produzir. Foram propostos quatro princípios

gerenciais:

• Os gerentes deveriam desenvolver uma ciência para cada

elemento do trabalho, a fim de analisar a corrente divisão do

trabalho no maior nível de detalhamento possível.

• Os gerentes deveriam selecionar o trabalhador certo para a

atividade certa.

• A abordagem científica deveria deixar de ser teoria e virar

prática, através de acordo cordial entre gerentes e

trabalhadores.

21

• Responsabilidade e execução foram separadas de tal forma que

os gerentes assumem a responsabilidade e os trabalhadores

executam o trabalho, livre de responsabilidade.

Além disso, Taylor propôs alguns complementos aos princípios gerais

para colocá-los em prática:

• Deveriam ser executadas análises detalhadas do trabalho para

se obter uma rotina específica para cada trabalhador.

• Deveriam ser determinadas cientificamente as velocidades

ideais para a execução do trabalho (tempo padrão de

operação).

• Deveria haver um homem para cada tarefa.

• O trabalho baseado em princípios científicos deveria ser

remunerado de 20% a 60% a mais que o trabalho tradicional.

Seus objetivos, notoriamente, estavam ligados ao estudo sistemático

do trabalho. A idéia básica era aumentar o volume de produção, e

reduzir o número de trabalhadores necessários, eliminar tempos de

esperas/não produtivos e padronizar a produção. Dessa forma, ele

buscava o aumento do desempenho da indústria, pela redução do

custo e o aumento da produtividade local.

II.2.2 – O Sistema Toyota de Produção – STP

Shingo propôs um sistema de produção no qual um dos elementos

principais consiste na priorização das melhorias baseadas em uma rede de

processos e operações. Sua proposta carrega consigo a noção de que há

perdas significativas para a organização que são ligadas menos a uma

operação individual do que ao processo como um todo. O autor classifica

essas perdas nos seguintes tipos:

22

• Perdas por processamento: decorrentes do projeto do produto

e/ou processos de produção. Elas podem ser debeladas

utilizando-se técnicas de engenharia de valor.

• Perdas por transporte: assumem que transporte não agrega

valor. Portanto, ele deve, sempre que possível, ser eliminado.

• Perdas por estoque: excesso de inventário tanto de produto

acabado e matéria prima quanto de material em processamento.

A sincronização da produção tende a reduzir essas perdas.

• Perdas por movimentação: relacionadas aos movimentos

desnecessários dos operadores. Podem ser combatidas através

da adoção de estudos de movimentos e tempos.

• Perdas por superprodução: são as mais danosas, uma vez que

tendem a esconder outras perdas. Estão relacionadas à

produção em excesso ou além do necessário (superprodução

por quantidade) e à antecipação, que contribui para a geração

de estoques (superprodução por antecipação).

• Perdas por espera: Nesses casos, para evitar esperas, por

exemplo, podem ser utilizados sistemas a prova de falhas.

Sobre esse tipo de perda, deve-se ter cautela para não se

adotar o paradigma da eficiência, no qual se deve fazer o

máximo uso de recursos (máquinas e operários). Segundo a

Teoria das Restrições, esse paradigma só é útil observado o

gargalo de um sistema produtivo.

• Perdas por defeito: relativas à fabricação de produtos fora das

características ou especificações/padrões. Podem também

gerar efeito cascata nas outras perdas.

O entendimento do conceito de perdas fortalece a idéia de que o processo

deve ser analisado antes de buscar uma melhoria pontual em uma operação

específica. Por exemplo, uma perda por espera pressupõe uma ordenação de

operações que compõe um processo, uma perda por transporte idem. Essa

noção de “perdas” é uma perspectiva da literatura oriental fundamental ao

23

conceito de processos, segundo o qual as perdas são atividades que geram

apenas custo, ou seja, retiram e não adicionam qualquer valor ao produto.

II.2.3 – O Controle de Qualidade Total – TQC

A Qualidade Total sempre se preocupou com processos, mas não

necessariamente com processos transfuncionais. Para ela, um processo é uma

sequência de atividades realizadas sobre um objeto de interesse qualquer,

interno ou externo. A não preocupação com a transfuncionalidade levou ao

surgimento de uma visão de processos intrafuncionais. Isso fica evidente, por

exemplo, no uso do conceito de cliente interno. Recentemente, os adeptos de

tais quadros conceituais, por razões tanto metodológicas quanto

mercadológicas, passaram a enfatizar a existência de processos

interfuncionais, de ciclos amplos de PDCAs, entre outros.

A noção de cliente interno deriva de uma má compreensão do conceito

de processo. Cliente, em senso estrito, é quem compra e utiliza os produtos

gerados pelos processos e, tendo liberdade de escolha, participa do

julgamento de valor sobre o que a empresa oferece e decide se comprará

novamente, ou não,, o produto. Assim, para que esse juízo seja legítimo, o

cliente interno gera confusões e seu uso é inadequado, como afirma Lorino:

Além de o verdadeiro cliente participar do julgamento de valor, ele,

ainda, faz parte do júri coletivo que sanciona a utilidade da organização. O

cliente interno não faz parte desse júri. Não existem relações cliente-

fornecedor internamente à organização. Há apenas cooperação interna, bi ou

multilateral, no interior de um mesmo processo, para maximizar a criação de

valor e a satisfação do cliente. Enquanto a integração pelos processos parte da

visão global (objetivos estratégicos e os produtos essenciais da organização)

para construir cooperações internas contínuas, o estabelecimento de contratos

24

cliente-fornecedor favorece a construção de territórios locais independentes,

protegidos por barreiras contratuais, destilando, assim, antiprocesso.

De todo modo, o TQC tem um papel histórico na lógica da evolução da

Teoria de Processos. As técnicas de melhorias baseadas em processos foram

amplamente difundidas através de práticas como o Controle Estatístico de

Processo, a certificação nas normas ISSO 9000, a competição por prêmios de

“melhor qualidade” (no caso do Brasil, através do Prêmio Nacional da

Qualidade) entre outros.

II.2.4 – A Reengenharia de Processos de Negócios – BPR

Outro quadro conceitual fundamental que está na origem da

abordagem moderna de processos é o da Reengenharia. Frente aos quadros

que foram até aqui tratados, é conveniente ressaltar algumas diferenças. A

primeira delas seria a desvinculação estrita com os processos de produção em

si; a unidade de análise passa a ser qualquer processo de negócio, seja de

produção, seja administrativo ou outro qualquer. A segunda seria a importância

que a tecnologia da informação assume, passando a ser tratada como

habilitadora dos ganhos extraordinários dos novos processos. Para a

Reengenharia em particular, os Sistemas Integrados de Gestão (ERP) são

tidos como condição básica à eficiência dos processos de negócio.

A Reengenharia se atribui a ampla difusão da lógica de se entender e

melhorar negócios através de mudanças nos processos e de reprojetos

organizacionais e também como um instrumento estratégico para a

manutenção de vantagem competitiva. A Reengenharia pode ser pensada

como uma iniciativa de redefinir as tarefas do negócio que haviam se tornadas

especializadas e hierarquizadas, em processos enxutos e integrados. Um

processo de negócio deve conter apenas as atividades essenciais que

tomadas conjuntamente, criam valor para os consumidores.

25

A Reengenharia deveria ser uma ruptura radical e não podia ser feita

em pequenas etapas (Hammer). A organização deveria partir de uma “folha em

branco”, romper com o passado e reprojetar o futuro da organização em

direção ao que se desejasse. Departamentos deveriam ser reestruturados em

equipes de processos e hierarquias multiníveis deveriam ser substituídas por

organizações com poucos níveis hierárquicos, e a TI deveria exercer um papel

central. As vantagens para as organizações seriam:

• Os empregados tomam suas próprias decisões;

• Redução de custos;

• Poucas esperas nos fluxos de processos;

• Reação mais rápida às mudanças de requisitos;

• Redução dos custos de coordenação;

• Diminuição da necessidade de monitoração e controle, visto

que não há mais necessidade de verificação dos fluxos e regras

dos processos.

A abordagem proposta por Hammer & Champy, além de ser de cima

para baixo, está baseada na identificação das razões para agir,

fundamentadas na análise do ambiente do negócio, e da visão que deve

explicitar as metas a serem perseguidas. Dessa forma, a Reengenharia está

baseada na reestruturação dramática e radical dos processos, com apoio da

alta gerência, da aplicação ampla da tecnologia da informação e da

preparação dos recursos humanos para a transformação. Essa afirmativa foi

tão radical que, em 1997, Hammer reviu alguns conceitos e reduziu a

dramaticidade e radicalidade de suas propostas.

Os benefícios da Reengenharia podem ser amplos se ela for bem

implantada, mas eles não são facilmente atingidos (Hunt). A seguir algumas

causas para o insucesso de uma ação de Reengenharia:

• Falha em focar nas necessidades estratégicas do negócio;

• Alta gerência confunde ou abdica de suas responsabilidades;

• Aceitação de soluções fracamente fundamentadas;

26

• Falha em reconhecer a natureza única da Reengenharia de

processos de negócio;

• A Reengenharia não foi orientada por tecnologia;

• Falta de experiência antes de se iniciar os esforços de

Reengenharia;

• Acreditar que Reengenharia é uma solução imediata;

• Acreditar que a medição de desempenho é desnecessária;

• Esquecer a gestão de mudança;

• Falhar em manter o curso.

Tendo sido uma abordagem integralmente orientada aos processos de

negócio, há na literatura atual uma série de confusões entre a Reengenharia e

a gestão de processos de negócio (BPM).

II.2.5 – A Teoria das Restrições - TOC

A Teoria das Restrições utiliza o conceito de processos associado à

identificação de restrições, sendo essas entendidas como atividades e

recursos que limitam o desempenho do sistema produtivo (Goldratt, Dettmer).

Nesse sentido, a restrição é um conceito análogo ao de “gargalo”, muito

conhecido no mundo da produção. O que a TOC (Theory of Constraints)

propõe, primeiramente, é ampliar o conceito de gargalo, usualmente associado

ao recurso de produção com menor capacidade. A mudança conceitual

desloca o entendimento para qualquer recurso-atividade que implique no não

atendimento da demanda. Assim o gargalo não precisa mais estar na

produção, sua posição típica. Por exemplo, caso o processo de produção

esteja gerando produto suficiente para atender a demanda, o gargalo poderia

estar nos processos de marketing e vendas, ou nos de distribuição.

Além disso, a Teoria das Restrições parte da premissa que em todo

sistema existe uma restrição, um ponto de menor taxa de fluxo. Com a sua

identificação, seria possível atuar sobre ela visando a aumentar sua taxa de

27

saída e, consequentemente, promover um ganho para todo o processo

produtivo. Entretanto, para se identificar a restrição, é necessário que se tenha

uma visão articulada de todo o processo, uma visão sistêmica. Essa visão é

constituída a partir de uma rede que representa recursos, produtos, tempos,

etc. Originalmente, a Teoria das Restrições tinha seu maior campo de

aplicações no sequenciamento de chão de fábrica, ou seja, na função

“produção” . Seus adeptos já perceberam, porém, que há potencial para outras

funções, e tentam transpor suas idéias básicas.

Das aplicações originais, derivou-se um método geral de gestão

baseado na TOC que possui cinco passos básicos:

• Identificar a restrição;

• Explorar a restrição;

• Subordinar aos outros recursos às decisões acima;

• Elevar a capacidade da restrição;

• Retornar ao primeiro passo.

28

CAPÍTULO III

DISCERNINDO GESTÃO FUNCIONAL DE

GESTÃO DE PROCESSOS

III.1 - A Gestão Funcional e as Empresas Verticais Historicamente, o esforço sistemático das organizações na procura das

melhores práticas de negócios teve sua origem em 1911 quando Frederick

Winslow Taylor publicou sua obra, Principles of Scientific Management, quase

ao mesmo tempo em que Henry Ford revolucionava os processos de

manufatura, inaugurando a sua linha de produção contínua.

Taylor argumentava que a simplificação, os estudos de tempos e a

experimentação sistemática eram as ferramentas indicadas para se encontrar

o melhor caminho para executar uma tarefa, monitorá-la e avaliar os seus

resultados. “A publicação de Taylor, tornada um best-seller internacional, fez

com que muitos historiadores o apontassem como o pai da Pesquisa

Operacional, um ramo da Engenharia que procura a eficiência e a consistência

nos processos de trabalho.“ (HARMON, 2003, p. 20)

A evolução dos mercados de consumo e o implemento das tecnologias de

produção provocaram o crescimento acirrado das organizações industriais,

após a Segunda Grande Guerra, constituindo gigantescos conglomerados,

estruturados verticalmente e suportados por amplas divisões funcionais, que

operavam independentemente uma das outras. A verticalização, seguindo os

29

princípios da Administração Científica, provocou a proliferação das estruturas

organizacionais, onde a especialização dividiu o trabalho em funções, criando

dutos verticais de gestão, que culminaram com o distanciamento das

empresas dos seus objetivos de negócios. Gigantes multinacionais, como os

conglomerados automobilísticos dos Estados Unidos, as grandes indústrias de

alimentos européias e a indústria petrolífera, constituem exemplos

conseqüentes desse processo, onde estruturas organizacionais pesadas

eram conduzidas por um número muito elevado de níveis hierárquicos,

prevalecendo a especialização e o trabalho individual, com foco intenso na

busca da eficiência funcional e a perda da visão principal do negócio. A

principal característica, observada nessas organizações, é a quebra das vias

de comunicação entre departamentos com a criação de barreiras funcionais

que isolam áreas multidisciplinares que atuam nos mesmos processos. A

proliferação de níveis hierárquicos de gestão, por seu lado, estimula a criação

de barreiras hierárquicas, onde supervisores só falam com supervisores,

gerentes com gerentes e diretores com seus pares.

O principal empecilho desse modelo de organização é a visão

orientada a funções e o foco centrado na sua própria realidade (GONÇALVES,

2001). Dentro desse contexto, a estrutura organizacional pode se tornar uma

das principais fontes de responsabilidade pela baixa produtividade e pelos

problemas de qualidade da empresa como um todo.

III.2 - Características Diferenciatórias entre a Organização

Horizontal e a Vertical

Ao contrário das empresas convencionais, “projetadas em função de uma

visão voltada para a sua própria realidade interna, sendo centradas em si

mesmas” (GONÇALVES, 2000b, p. 10), as empresas organizadas e

gerenciadas por meio de processos de negócios priorizam o cliente final,

através da valorização do trabalho em equipe, da cooperação e da

responsabilidade individual. Para alcançar essa proposição, a gestão por

processos atua principalmente na redução de interferências e de perdas

30

decorrentes de interfaces entre organizações, áreas funcionais e entre níveis

hierárquicos (BALZAROVA et al., 2004).

Ostroff (1999, p. 10-1, tradução nossa) apresenta um elenco de 12

princípios fundamentais que caracterizam a organização horizontal, como

segue:

\ Está organizada em torno de processos-chave multifuncionais (cross-

functional core processes), ao invés de tarefas ou funções;

\ Opera através de donos de processos (process owners) ou gerentes

dotados de responsabilidade integral sobre os processos-chave;

\ Faz com que times, não indivíduos, representem o alicerce da estrutura

organizacional e da sua performance;

\ Reduz níveis hierárquicos pela eliminação de trabalhos que não agregam

valor e pela transferência de responsabilidades gerenciais aos operadores de

processos, os quais têm completa autonomia de decisão sobre suas atividades

dentro dos processos como um todo;

\ Opera de forma integrada com clientes e fornecedores;

\ Fortalece as políticas de recursos humanos, disponibilizando ferramentas de

apoio, desenvolvendo habilidades e motivações, além de incentivar o processo

de transferência de autoridade aos operadores de processos para que as

decisões essenciais ao desempenho do grupo sejam tomadas ao nível

operacional;

\ Utiliza a tecnologia de informação (TI) como ferramenta auxiliar para chegar

aos objetivos de desempenho e promover a entrega da proposição de valor

(value proposition) ao cliente final;

\ Incentiva o desenvolvimento de múltiplas competências de forma que os

operadores de processos possam trabalhar produtivamente ao longo de áreas

multifuncionais;

\ Promove a multifuncionalidade, ou seja, a habilidade de pensar

criativamente e responder com flexibilidade aos novos desafios impostos pela

organização;

\ Redesenha as funções de departamentos ou áreas de forma a trabalhar em

parceria com os grupos de processos;

31

\ Desenvolve métricas para avaliação de objetivos de desempenho no fim dos

processos (end-of-process performance objectives), as quais são direcionadas

pela proposição de valor ao cliente final, no sentido de medir a satisfação dos

clientes, dos empregados e avaliar a contribuição financeira do processo como

um todo;

\ Promove a construção de uma cultura corporativa transparente, de

cooperação e colaboração, com foco contínuo no desenvolvimento de

desempenho e fortalecimento dos valores dos colaboradores, promovendo a

responsabilidade e o bem estar na organização.

A análise de abordagens administrativas não decorre exclusivamente

da necessidade de ajustes do modelo organizacional vigente em atendimento

às melhores práticas de negócios em exercício. Maximiano (1997, p.18) afirma

que “embora o processo administrativo seja importante em qualquer contexto

de utilização de recursos, a razão principal para estudá-lo é seu reflexo sobre o

desempenho das organizações”. Segundo esse mesmo autor, como quase

todas as nossas necessidades são supridas por algum tipo de organização, o

contexto onde vivemos se constitui assim numa sociedade organizacional em

contraste com as sociedades comunitárias do passado. Dessa forma,

conceitos como administração científica, produção em massa, qualidade total,

a escola japonesa, a escola humanista, o enfoque sistêmico, a administração

estratégica, ética e responsabilidade social, administração participativa e

reengenharia de processos, constituem exemplos tentativos de entendimento e

compreensão dos componentes que regem a administração de uma

organização.

A percepção dos processos de negócios e os primeiros estudos por

parte da academia da ciência da administração são anteriores aos trabalhos de

Hammer (1993) e Davenport (1994).

Em 1976, Kast e Rosenzweig já os discutiam no contexto das organizações

complexas da época:

A estrutura hierárquica não está relacionada só com níveis,

fundamentando-se principalmente na necessidade de um englobamento mais

32

amplo, ou de um conjunto de subsistemas que componha um sistema mais

amplo, para a coordenação das atividades e dos processos. Além da

hierarquia estrutural, nas organizações complexas também se desenvolve

certa hierarquia de processos. (KAST e ROSENZWEIG, 1976, p. 137).

Informações obtidas de outros autores (DAVENPORT, 1994, 2000,

2004; DE SORDI, 2005; GONÇALVES, 2001; HAMMER, 1999), permitiram-nos

contrapor essa lista com os princípios fundamentais da organização vertical,

classificando-as por tópicos, segundo as doze características apresentadas:

1) alocação de pessoas;

2) autonomia operacional;

3) avaliação de desempenho;

4) cadeia de comando;

5) capacitação dos indivíduos;

6) escala de valores da organização;

7) estrutura organizacional;

8) medidas de desempenho;

9) natureza do trabalho;

10) organização do trabalho;

11) relacionamento externo;

12) utilização da tecnologia.

As subseções a seguir descrevem e analisam as diferenças entre as

duas abordagens de gestão, a funcional e a por processos de negócios,

segundo cada uma das doze características referenciadas.

III.2.1 – Alocação de Pessoas

Representa a disposição do conjunto operacional humano que executa

as tarefas dentro da organização. Na organização funcional, as pessoas são

distribuídas por departamentos funcionais que se responsabilizam pelas

33

tarefas daquele setor; na organização gerida por processos, as pessoas fazem

parte de uma equipe responsável pelas tarefas de um processo multifuncional.

Em outras palavras, na organização funcional, os profissionais são agrupados

entre seus semelhantes ou pares, em equipes com papéis muito bem

delimitados, onde todos possuem um mesmo conjunto de atividades a serem

realizadas; na abordagem administrativa da gestão por processos, as equipes

de trabalhos são formadas por profissionais de diferentes perfis e habilidades,

onde cada um desempenha um papel e atividade diferente, porém

complementar.

O desenvolvimento dos profissionais nas organizações orientadas a

processos cabe primordialmente ao próprio profissional, recebendo suporte de

centros de excelência funcional, voltados à capacitação contínua das

habilidades essenciais aos processos da organização. Desta forma, nas

organizações orientadas a processos, os profissionais se vinculam a um ou

mais processos de negócio, como profissional executor ou coordenador, e,

eventualmente, a centros de desenvolvimento de competências (HAMMER,

1997; DAVENPORT, 1994).

III.2.2 - Autonomia Operacional

Aponta o grau de autonomia e controle que cada colaborador possui

sobre as tarefas sob sua responsabilidade. Na organização funcional, todas as

tarefas são executadas sob rígida supervisão hierárquica, enquanto na

organização gerida por processos grande esforço é feito no sentido de

fortalecer a individualidade, legando-lhe autoridade para tomar decisões

essenciais ao cumprimento das mesmas.

A associação dos conceitos de Weber sobre “burocracia monocrática”

com os princípios da Administração Científica de Taylor, determinaram a forma

de gestão dos negócios até meados do século XX, onde a gestão do tipo

comando-controle era a palavra chave. Mintzberg chamou a isso de

“burocracia mecânica”, ou seja, um modelo de organização e gestão capazes

34

de atingir os mais altos índices de produtividade nas organizações

(MINTZBERG apud OSTROFF, 1999, p. 74).

A evolução da tecnologia de comunicação, o advento da Internet e o fenômeno

da globalização dos negócios, ocorrida no limiar do século XX, provocaram a

reconfiguração das transações comerciais no mundo, em função

principalmente da aceleração dos processos.

Empresas estruturadas verticalmente e geridas funcionalmente, onde os

colaboradores necessitam da autorização dos níveis hierárquicos de

supervisão para a condução dos processos, passaram a operar com extrema

dificuldade, tendo em vista a aceleração dos tempos de respostas para as

exigências de mercado, exigindo modelos mais flexíveis e descentralizados de

gestão. A gestão por processos de negócios, por deslocar a gestão funcional –

verticalizada - para uma administração direcionada ao cliente final e gerida por

processos, cria princípios de autonomia gerencial nos executores dos

processos, o que os torna mais produtivos, mais qualificados e com menores

custos operacionais. Essa nova visão de gestão desloca o poder de decisão,

dos tradicionais níveis hierárquicos (superiores) de supervisão e controle, para

os próprios executores dos processos de negócios. Na abordagem

administrativa da gestão por processos, os operadores de processo e os

“donos de processos” tornam-se responsáveis pela integral manutenção da

produtividade e qualidade do processo como um todo.

III.2.3 - Avaliação de Desempenho

Descreve os critérios de valorização e promoção do trabalho dos indivíduos.

Na organização funcional, as pessoas são avaliadas pelo seu desempenho

funcional individual, enquanto que, na organização gerida por processos, o que

conta é o resultado final do processo. Um dos aspectos críticos para o sucesso

da abordagem administrativa da gestão por processos é a avaliação das

pessoas envolvidas, conforme salientou Davenport:

As questões mais difíceis, enfrentadas por equipes organizadas para executar

processos ou subprocessos a longo prazo, giram em torno da relação entre os

35

membros da equipe e a estrutura funcional da organização. Supondo-se que a

estrutura funcional continua a existir, como existiu em todas as organizações

que estudamos, um desses problemas é a questão de como, e por quem, os

membros da equipe devem ser avaliados (DAVENPORT, 1994, p.116).

Davenport também apontou alternativas para resolver a questão:

Uma solução óbvia para o problema da ênfase é criar uma organização

baseada em processos, quer seja isolada ou que trabalhe em conjunto com o

órgão funcional, e dar aos representantes do processo um papel igual ao dos

gerentes funcionais na avaliação e recompensa dos membros da equipe

(DAVENPORT, 1994, p.117).

III.2.4 - Cadeia de Comando

Identifica a cadeia de comando que supervisiona o trabalho operacional.

Na organização funcional, todo o trabalho está estruturado

funcionalmente sob a forte supervisão de níveis hierárquicos superpostos, que

comandam tanto a execução do trabalho quanto o desenvolvimento dos

profissionais envolvidos. Na organização gerida por processos, apenas o

processo de negócio é gerenciado pelos donos de processos, que direcionam

suas atenções exclusivamente à constante agregação de valor ao produto ou

serviço entregue. O gestor de processo ou “dono do processo” não é o chefe

dos profissionais que atuam em seu processo, ele não pode mandar, tem que

negociar e exercer influência. Desta forma, a cadeia de comando na empresa

orientada a processos não se baseia em comando e controle, mas em

negociação e colaboração (HAMMER e STANTON, 1999). A figura típica do

“chefe” desaparece na organização gerida por processos:

Um “chefe” é uma criatura de pirâmide: uma única pessoa que está acima de

você, lhe dizendo o que fazer e como fazê-lo. Em um ambiente orientado para

processos, esse papel desaparece. Mais precisamente, fica disperso entre

muitas pessoas, nenhuma das quais pode ser chamada precisamente de chefe

(HAMMER, 1997, p.111).

36

III.2.5 - Capacitação dos Indivíduos Descreve o elenco de competências e o direcionamento da visão dos objetivos

do trabalho operacional.

Enquanto na organização funcional, as pessoas são treinadas para se

ajustar à função que desempenham, na organização gerida por processos o

“empowerment” é dirigido para as múltiplas competências de forma que a visão

transdisciplinar se estabeleça ao longo de todo o processo.

Malone (2004, p. 153) comenta que, nas palestras sobre novos

modelos de organização, sempre inicia pela pergunta: “Qual a porcentagem da

inteligência e criatividade das pessoas você imagina que a sua organização

realmente faz uso?”. As respostas colhidas por ele ficam normalmente em

torno de 30 a 40%. Poucas pessoas declaram que a sua organização utiliza

mais de 90% e muitas que o nível de utilização fica abaixo de 10%. Embora

imaginários esses números sugerem muito daquilo que todos nós vivenciamos:

as organizações não se apropriam devidamente do verdadeiro potencial das

pessoas.

A gestão por processos, por outro lado, permite que a transparência do

trabalho ao longo do processo, independente das cadeias funcionais da

organização, traga um novo entendimento aos operadores, exigindo um

“empowerment” que reflita a transfuncionalidade que o processo representa.

Colaboradores flexíveis e dotados de múltiplas competências são os que

melhor se adaptam a esta nova visão de gestão (OSTROFF, 1999). Peter

Drucker enfatiza que:

Por mais de cem anos, todos os países desenvolvidos estavam se movendo

firmemente na direção de uma sociedade de empregados de organizações.

Agora esta tendência está se revertendo. Os países desenvolvidos, com os

Estados Unidos na liderança, estão se movendo depressa na direção de uma

sociedade reticular (DRUCKER, 2002, p. 31). Essa mudança, segundo sua

afirmação, significa a reconceituação dos processos de relacionamentos entre

empresas e empregados: a lealdade deixa de existir para entrar a conquista da

confiança em seu lugar; a força de trabalho constitui um produto a ser

37

comercializado; os profissionais passam a gerir, eles próprios, as suas

carreiras; o que eu quero para mim deixa de fazer sentido para dar lugar ao

quê eles querem, quais são seus objetivos. Isso significa relacionamento de

marketing e, em marketing, começa-se com o cliente e não com o próprio

produto (DRUCKER, 2002, p. 36).

III.2.6 - Escala de Valores da Organização

Refere-se aos valores cultuados pela organização no sentido de

direcionar a movimentação comportamental dos empregados.

Na organização funcional, grande incentivo é dado ao trabalho

funcional, direcionado aos resultados do departamento, proliferando entre as

áreas funcionais os sentimentos de desconfiança, insegurança no trabalho e

atritos. As organizações geridas por processos privilegiam a abertura da

comunicação, a transparência no trabalho, o sentido de colaboração e

cobrança mútua ao longo de todo o processo, o que facilita o desenvolvimento

do trabalho participativo entre os executantes.

Observando-se a organização como uma extensão do ambiente sócio-

econômico onde opera, pode-se constatar que a sua administração sofre forte

influência não só das forças internas como das normas e comportamentos

sócio-culturais da sociedade mais ampla (KAST e ROSENZWEIG, 1976, p.

27). Esses autores argumentam que a “teoria do papel” faz com que as

pessoas procurem comportar-se dentro das expectativas do grupo social mais

amplo, interiorizando os valores e as normas que, implícita ou explicitamente, o

grupo lhes prescreve.

A abordagem administrativa da gestão por processos requer e incorpora outros

valores à cultura das organizações. O amplo conjunto de entidades envolvidas

e comprometidas com o processo de negócio, abrangendo clientes,

fornecedores, parceiros e colaboradores da organização, cria uma expectativa

de responsabilidade comum quanto aos comportamentos de transparência da

38

informação, cooperação mútua, confiança e demais valores importantes para o

trabalho em redes colaborativas.

III.2.7 - Estrutura Organizacional

O modelo organizacional sobre o qual a empresa está estruturada.

Na organização funcional, a empresa está estruturada hierarquicamente, onde

cada departamento trabalha isoladamente com os fins voltados para os seus

próprios objetivos, enquanto a organização gerida por processos trabalha com

hierarquia reduzida, onde os níveis que não agregam valor aos resultados são

eliminados, em benefício de uma visão voltada à proposição de valor na

entrega final do produto de cada processo.

Ostroff (1999, p. 74) comenta que o organograma de uma empresa é uma

representação visual da sua estrutura, bastante útil para demonstrar os

departamentos funcionais, os níveis hierárquicos de comando e a alocação de

pessoas. Entretanto, pouco transmite a respeito dos processos de negócios

que sustentam a organização como um todo e que perpassam diversos

departamentos funcionais da organização. A abordagem da gestão por

processos, por priorizar o processo em si, provoca várias alterações na

estrutura organizacional, tais como:

Deslocamento de grande parte do processo decisório que, antes, estava em

mãos de superiores hierárquicos, para os “donos de processos” e operadores;

eliminação das barreiras de comunicações hierárquicas e funcionais da

organização; enxugamento dos níveis hierárquicos de decisão; reconfiguração

das habilidades necessárias para o trabalho orientado a processos;

Fortalecimento de parcerias externas e terceirização de atividades não

fundamentais para a organização, entre as mais importantes. Segundo Drucker

(2002, p. XVIII), “A maior parte das grandes empresas cortou em 50 por cento

o número de camadas hierárquicas, até mesmo no Japão. A Toyota desceu de

mais de 20 para 11. A GM veio de vinte e oito para cerca de dezenove. [...] As

organizações irão se tornar cada vez mais planas”.

39

III.2.8 - Medidas de Desempenho

Caracterizam as formas de avaliação do trabalho.

Enquanto na organização funcional o trabalho é avaliado com foco no

desempenho de trabalhos fragmentados das áreas funcionais, na empresa

gerida por processos, valoriza-se o desempenho de cada processo de forma a

manter uma linha de agregação constante de valor às suas propostas de

entrega. Objetivos comuns e visíveis a todos os envolvidos com o processo

proporcionam uma motivação maior destes e, consequentemente, melhores

resultados são alcançados conforme destacou Hammer:

Em uma organização orientada para tarefas, “desempenho satisfatório” era

tudo o que se poderia esperar dos funcionários e, na verdade, isso era tudo

que a empresa necessitava. Processos fragmentados homogeneizavam o

trabalho individual de tal forma que o desempenho pessoal excelente

inevitavelmente passava despercebido.

O resultado final era apenas tão bom quanto o pior elo da cadeia que o havia

gerado. Nesse contexto, fazer um grande esforço provavelmente seria um

desperdício. Portanto por que se preocupar? Era muito mais importante evitar

os erros do que alcançar a excelência. Isso não ocorre nas organizações

orientadas por processos. Os indivíduos que têm um excelente desempenho

nos processos podem gerar um resultado de alto desempenho (HAMMER,

1997, p. 140).

Para certificar-se da apuração das corretas medidas de desempenho,

ou seja, daquelas que realmente façam sentido do ponto de vista do processo

de negócio como um todo, Burlton sugere concentrar-se a partir da coletividade

de clientes do processo no sentido amplo da palavra (seus stakeholders):

Relacione os processos com as suas razões de existência, inicie pela análise

dos requerimentos e fatores críticos de sucesso do ponto de vista dos

stakeholders do processo. Em seguida, examine os componentes da

arquitetura do processo, buscando identificar seu nível de importância ou de

contribuição potencial para geração de oportunidades para melhoria do

desempenho do processo. Lembre-se que alguns stakeholders podem ter

40

importância maior do que outros, mas também seja cuidadoso em assegurar

um correto balanceamento das perspectivas (BURLTON, 2001, p. 281,

tradução nossa).

III.2.9 - Natureza do Trabalho

Atinente às características das tarefas que requerem competências

específicas para execução.

Na organização funcional, prevalecem os conceitos da “Administração

Científica” de Taylor, da “Teoria Clássica” de Fayol, da “Burocracia” de Weber,

onde o máximo de trabalho deve ser executado no menor espaço de tempo,

sendo as atividades fortemente estruturadas e especializadas com seus

respectivos grupos de trabalhos (TORRES, 2002). A natureza do trabalho,

desempenhado pelos profissionais nas organizações funcionais, é repetitiva e

com escopo bastante restrito em termos do que se faz. Nas organizações

geridas por processos, a natureza do trabalho é bastante diversificada, um

profissional pode desempenhar diversas atividades ao longo do processo de

negócio, tanto de natureza operacional quanto de coordenação. Como

salientou Hammer (1997), as pessoas que atuam em organizações orientadas

a processos deixam de ser empregados e passam a ser profissionais, deixam

de ter emprego e passam a administrar carreiras:

Autonomia e responsabilidade são partes integrantes dos trabalhos orientados

para processos. Os trabalhadores que apenas trabalham e os gerentes que

apenas gerenciam condenam as empresas a organizações disfuncionais

repletas de gerentes que não executam o trabalho real e de trabalhadores que

não têm responsabilidades ou conhecimentos suficientes para fazer o trabalho

da forma certa (HAMMER, 1997, p.38).

III.2.10 - Organização do Trabalho Identifica a forma como o trabalho operacional está organizado dentro da

estrutura da empresa.

41

Na organização funcional, cada área funcional está estruturada por

departamentos que funcionam isoladamente dos demais; na organização

gerida por processos, o trabalho é organizado por processos multifuncionais.

Na organização funcional há equipes de trabalho especializadas em um grupo

específico de atividades correspondentes à abrangência de uma área

funcional, enquanto na organização gerida por processos o trabalho está

organizado por processos de negócios, de forma a prover sinergia e interação

entre os profissionais de diferentes habilidades e competências necessários

aos extensos processos de negócios.

Corroborando com a descrição da forma de organizar o trabalho nas

organizações que adotam a abordagem da gestão por processos,

transcrevemos um trecho de um texto de Peter Drucker:

Os departamentos tradicionais atuarão como guardiões de normas e padrões,

como centros de treinamento e de distribuição de especialistas; não serão os

pontos de realização do trabalho. Este será desenvolvido por meio de equipes

concentradas em tarefas. Tais mudanças já se encontram em andamento no

que costumava ser o mais bem delineado de todos os departamentos – o de

pesquisa. Nos laboratórios farmacêuticos, nas empresas de telecomunicações

e na indústria de papel, a seqüência tradicional de pesquisa, desenvolvimento,

fabricação e marketing está sendo substituída pela sincronia: especialistas de

todas essas funções trabalham juntos como equipe, do início da pesquisa até o

lançamento do produto no mercado (DRUCKER, 2006, p. 13).

III.2.11 - Relacionamento Externo Com o mercado de consumo e os fornecedores e clientes.

Externamente, a organização funcional objetiva a competição através da

pressão constante sobre clientes e fornecedores, enquanto que a organização

gerida por processos privilegia o processo colaborativo através de parcerias de

negócios onde todos tenham a sua sustentabilidade assegurada.

42

Uma das maiores conseqüências do fenômeno da globalização foi consolidar o

respeito à cultura local e ao meio ambiente como a forma mais correta de

operacionalização dos negócios no mundo. Essa visão maior abriu o caminho

das alianças de negócios que permitem que organizações do mundo inteiro

tomem conhecimento e atuem em conjunto no mercado internacional. Drucker

reforça essa idéia quando argumenta que:

[...] Entretanto, cada vez mais as alianças estão se tornando a forma

dominante de integração econômica na economia mundial. [...] Como nos

comércios estrutural e institucional, as empresas fazem pouca distinção entre

parceiros domésticos e estrangeiros em suas alianças. Uma aliança cria um

relacionamento de sistemas, no qual não importa se um parceiro fala japonês,

outro fala inglês e o terceiro alemão ou finlandês. E embora as alianças gerem

cada vez mais comércio e investimentos, elas não se baseiam em nenhum dos

dois. Elas associam conhecimentos (DRUCKER, 2002, p. 100, grifo nosso).

III.2.12 - Utilização da Tecnologia

Trata do emprego dos recursos de tecnologia da informação (TI) no

apoio à execução e gerenciamento de processos.

Na organização funcional, as ferramentas de TI são representadas por

sistemas de informação legados, limitados pela visão de áreas funcionais para

as quais eles foram desenvolvidos. Na organização gerida por processos, os

processos de negócios exigem cada vez mais interatividade entre diferentes

áreas internas e externas à empresa.

Os negócios atuais, no contexto de cadeias de valores, tornam-se mais

interativos e colaborativos, envolvendo uma variedade de parceiros para

entrega de produtos e serviços. Conectividade entre empresas (B2B),

integração entre aplicações de empresas (EAI) e processos de negócios

colaborativos, estão se tornando mais críticos à eficiente gestão e operação

das empresas (ZHANG et al, p.149).

Dessa forma, nas organizações orientadas a processos, há uma forte

demanda por recursos tecnológicos específicos para integração entre sistemas

43

de informação (Enterprise Application Integration / EAI) de forma a permitir a

intercomunicação entre os diversos sistemas de informação das áreas

funcionais (legados) conforme a dinâmica da ordem requerida pelos processos

de negócios.

O gerenciamento ou “orquestração” dos processos de negócios

também passa a ser realizada por uma camada de software específica,

denominada Business Process Management System (BPMS). Esta camada é

constantemente informada pela camada EAI, sobre o status de operação de

cada instância do processo de negócio, independente de instituição e

plataforma computacional na qual esteja ocorrendo o processamento. Com os

dados das instâncias em processamento ao longo do processo, o sistema

BPMS é capaz de prover ao gestor do processo de negócio uma atualização

contínua dos indicadores de desempenho, informando gargalos e caminho

crítico, ocorrências de exceções, entre outras informações importantes à

gestão de processos de negócios. Assim, temos que, na arquitetura de TI das

empresas que praticam a abordagem administrativa da gestão por processos,

há dois componentes diferenciadores: o EAI e o BPMS.

44

CAPÍTULO IV

ESCRITÓRIO DE PROCESSOS

Diversos gestores parecem cada vez mais se perguntar como podem

manter o valor extraído com as ações de BPM, e a maioria ainda se pergunta:

“mapeei meus processos, e agora?”. Talvez o maior desafio das iniciativas

de processos seja a constância internalizada e atualizada. Tal atitude leva à

maximização do retorno sobre cada investimento na gestão de processos.

Para atingir esse objetivo algumas organizações começam a dotar soluções

para tornar a gestão de processos uma prática perene e sistemática. Uma

solução emergente é a criação de unidades denominadas Escritório de

Processos ou Centros de Excelência em BPM.

IV.1 - O papel do Escritório de Processos

Um Escritório de Processos é um mecanismo organizacional que

legitima a gestão de processos, fortalecendo-a como amarração de uma lógica

inovadora de pensar a operação da empresa. Esta unidade se configura como

um mecanismo de coordenação cuja responsabilidade está centrada em três

grandes atribuições, que são:

• A definição e manutenção de padrões, metodologias e

ferramentas para a gestão de processos e a garantia de sua

adoção ao longo da organização.

45

• A guarda de todo o conhecimento sobre processos na

organização, e a disseminação e capacitação nas melhores

práticas.

• A execução direta ou o auxílio à execução, descentralizada, das

iniciativas de BPM na organização.

Um escritório de processos é vital para conferir à gestão de processos um

olhar sistêmico, inovador e efetivo. Através da introdução dessa unidade, uma

organização consegue dar perenidade às suas ações de processos,

estimulando e verificando sua utilização como instrumento contínuo de

melhoria.

É importante ressaltar que o escritório de processos não surge para retirar

autonomia das áreas de negócio. Estas continuam sendo gestoras dos

processos. O escritório se configura como um mecanismo de coordenação que

promove a sinergia e o alinhamento entre as diversas iniciativas de BPM

dentro da organização.

Portanto, pode-se entender o escritório de processos como um centro

de excelência que presta serviços para toda a organização, promovendo a

governança e a inovação baseada em processos.

46

CONCLUSÃO

Na gestão por processos, há alterações na estrutura organizacional e

em outros elementos integrantes do projeto organizacional para que sejam

priorizados os processos como um eixo gerencial de maior importância que o

eixo funcional. Há mudanças maiores que somente ter uma organização que

enfatiza processos em oposição a hierarquia e que coloca uma ênfase especial

sobre os resultados e clientes.

O funcionamento adequado de uma organização implica na existência

de um modelo de gestão que oriente a organização por processos. Nesse

modelo, as seguintes características devem estar presentes:

• As pessoas trabalham no processo e não mais nas áreas

funcionais da empresa que deixam de existir ou perdem muito sua

importância;

• As pessoas e as equipes que promovem melhorias para clientes

são reconhecidas pela organização como um todo;

• Os objetivos são definidos visando o cliente;

• Há uma integração para trás e para frente na cadeia ou rede de

suprimentos, associada à integração externa, e há uma integração

interna entre as atividades que compõem os processos;

• As recompensas e os bônus estão baseados na capacidade de

atingir melhoria nos processos;

• As pessoas vêem o negócio como uma série de processos

interdependentes;

• Os papéis de gestão de processos passam a estar formalmente

enfatizados nas descrições de cargos;

47

• Os empregados e recursos são agrupados para produzir um

trabalho completo;

• A informação segue diretamente para onde é necessária, sem o

filtro da hierarquia.

Gerir processos significa aplicar os diferentes conceitos e teorias,

voltado para melhor organizar os processos da organização, sejam elas com

ou sem fim lucrativos.

48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

• A aplicação da Gestão de Processos em uma organização

tipicamente funcional – XXVIII ENEGEP – 2008

• Gestão de Processos – Pensar, Agir e Aprender – Editora

Bookman – 2009

• Gestão por processos – Uma abordagem da moderna

administração – José Osvaldo de Sordi – Editora Saraiva

• Iniciar a Gestão por Processos – Universidade Estadual de

Campinas – DGA Diretoria Geral da Administração - Planes

2005-2009

• Os 3 papéis estratégicos de um escritório de processos – ELO

Group – publicado na internet

49

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I:

ARQUITETURA DE NEGÓCIO SEGUNDO ABORDAGEM

ADMINISTRATIVA ADOTADA 9

CAPÍTULO II: GESTÃO DE PROCESSOS – ORIGEM E EVOLUÇÃO

HISTÓRICA

II.1 – A evolução histórica dos paradigmas em gestão de

Processos 12

II.1.1 – A ótica da engenharia de produção 13

II.1.2 – A trajetória histórica e paradigmática dos processos 14

II.2 – Quadros conceituais para gestão de processos 19

II.2.1 – A administração científica 19

II.2.2 – O sistema Toyota de produção – STP 21

II.2.3 – O controle de qualidade total 22

II.2.4 – A reengenharia de processos de negócios- BPR 24

II.2.5 – A teoria das restrições – TOC 26

CAPITULO III:

DIFERINDO GESTÃO FUNCIONAL DE GESTÃO DE

PROCESSOS

III.1 – A gestão funcional e as empresas verticais 27

III.2 – Características funcionais e as empresas verticais 28

III.2.1 – Alocação de pessoas 31

III.2.2 – Autonomia Operacional 32

50

III.2.3 - Avaliação de desempenho 33

III.2.4 – Cadeia de comando 34

III.2.5 – Capacitação dos indivíduos 35

III.2.6 – Escala de valores da organização 36

III.2.7 – Estrutura organizacional 37

III.2.8 – Medidas de desempenho 38

III.2.9 – Natureza do trabalho 39

III.2.10 – Organização do trabalho 39

III.2.11 – Relacionamento externo 40

III.2.12 – Utilização da tecnologia 41

CAPITULO IV:

ESCRITÓRIO DE PROCESSOS 42

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46

ÍNDICE 47

FOLHA DE AVALIAÇÃO 49

51

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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