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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
FACULDADE INTEGRADA AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ERRO: UMA ABORDAGEM DO PONTO DE VISTA DA
AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR E DOS
ALUNOS DO FUNDAMENTAL I
Relen Marques de Souza
Niterói, RJ
setembro, 2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
FACULDADE INTEGRADA AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ERRO: UMA ABORDAGEM DO PONTO DE VISTA DA
AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR E DOS
ALUNOS DO FUNDAMENTAL I
Monografia apresentada à AVM
Faculdade Integrada, como requisito
parcial para conclusão do curso de
especialização em Psicopedagogia.
Niterói, RJ
setembro, 2014
AGRADECIMENTOS
Agradeço... Principalmente Deus, a quem devo toda honra e todo Glória
somente a ele. Agradeço também, por ter me dado a oportunidade de viver, por
me oferecer a cada dia o folego da vida, por estar presente em todos os
momentos especiais e tristes me aparando em seus braços;
... Ao meu filho Pedro, que é um bem muito precioso, por entender a minha
ausência e ter paciência, e sempre me proporcionar a felicidade de ser mãe;
... Ao esposo Paulo Afonso, que tanto me apoiou e me incentivou durante todo
o caminho percorrido;
...Aos meus amados pais Sonia e Sebastião, pelos ensinamentos baseados em
experiências, pelo amor, dedicação e incentivo, e pela colaboração ao longo da
minha formação acadêmica;
... Em especial quero agradecer ao meu primo Fernando, do qual me orgulho e
que muito me ajudou dando-me força e estimulo para seguir a procura dos
meus ideais, e por toda sua atenção, carinho, dedicação e apoio;
... A minha prima Michele, que tanto me apoiou, juntas conseguimos conquistar
nossos objetivos, agradeço pelo seu companheirismo;
... A todos os meus amigos e colegas de trabalho pelo companheirismo,
solidariedade, e compreensão que de algum modo me ajudaram a construir
mais uma etapa da minha vida;
... Aos meus alunos que muito me ensinaram;
... A orientadora Solange, que me ajudou a cumprir as exigências da realização
desse curso;
... A todos do corpo docente pelos ensinamentos;
Muito obrigada! É o mínimo que posso dizer a todos, que contribuíram direta
e indiretamente para a realização de mais um sonho.
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa primeiramente a
Deus, que sempre me abençoo dando-me
saúde para vencer mais uma etapa da
minha. E a todos aqueles que tiveram ao
meu lado me incentivando e ajudando
nessa dura caminha.
5
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre o papel do erro no
processo de ensino-aprendizagem, investigando as diferentes formas de sua
utilização na avaliação escolar. A pesquisa, de natureza eminentemente
bibliográfica, lançou mão de autores dos campos da avaliação, da psicologia e
da psicopedagogia, dentre os quais Luckesi (2001), Hoffmann (1994), Esteban
(1999), Porto (2009) e Barbosa (2006), Beauclair (2004). Com o presente
estudo, pudemos compreender a notória e influente participação da avaliação
no processo de aprendizagem, influenciando o que denominamos de
“pedagogia do erro”. Na caminhada, compreendemos que a avaliação,
enquanto processo, não deve existir para excluir o sujeito, mas contribuir para
a sua formação, as diferenças e individualidades existentes. Compreendemos
também que o erro, enquanto fenômeno eminentemente raciona, e portanto
humano, está dirimente ligado à ideia de fracasso, quando deveria estar
voltado ao processo diagnóstico da aprendizagem. Quando na escola se
trabalha o erro numa abordagem dialógica, considerando-o como um elemento
de construção de saberes, professores e alunos conseguem caminhar na
perspectiva do diálogo e da compreensão mútua, construindo, de fato, ações
transformadoras para a escola e para suas vidas. Nesta dimensão, o erro
enquanto fenômeno pedagógico, deixará de ser um elemento de segregação
para se tornar um fenômeno potencializador de superação das dificuldades da
aprendizagem. Em uma viagem histórica pela avaliação, percebemos que a
função avaliativa classificatória segue padrões de determinação, onde o sujeito
avaliado se encontra, ou seja, que o conceito, a nota, enquanto instrumentos
de mensuração serão atribuídos a ele. Para a avaliação diagnóstica o erro tem
a função de indicar elementos que contribuem para o desenvolvimento da
aprendizagem como construção de saberes. No enfoque da psicopedagogia, o
erro tem sido um elemento sinalizador no processo ensino-aprendizagem e
suas variáveis, tanto para o educador como para educando. Assim, a
psicopedagogia vem se fundamentando em teorias que auxiliam educadores e
educandos a compreender o significado a causa e a peculiaridade de
aprendizagem de cada sujeito, no intuito de sanar as dificuldades. A marca
6
diferenciada da psicopedagogia é focar na aprendizagem seus objetivos,
diagnosticando e intervindo nas múltiplas áreas do conhecimento. No campo
psicopedagógico, os autores das dificuldades da aprendizagem não são
avaliados como fracassados, mas sim como sujeitos capazes de construir sua
própria história, atribuindo sentido à aprendizagem de forma significativa.
Concluindo, o trabalho expõe que a dinâmica psicopedagógica deve contribuir
com os processos de troca e interação com a comunidade educativa,
realizando orientações metodológicas para o processo de ensino-
aprendizagem. Neste sentido, o fazer pedagógico deve oferecer um “cardápio”
mais possível de possibilidades para que o erro deixe de ser vilão, para ser um
elemento de contribuição na construção de alunos mais confiantes e capazes
para uma sociedade em cujas escolhas são cada vez mais desafiadoras.
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METODOLOGIA
A presente pesquisa preconiza a ideia de que o erro deve ser
direcionado ao processo de aprendizagem como construção do saber. Muitos
consideram o erro como um fator da não aprendizagem. Tal fato significa que
quem erra deve ser castigado por cometer tal ato.
Na abordagem história da avaliação escolar, percebemos que alguns
educadores se utilizam de diferentes métodos, não só para punir, como
também para direcionar a aprendizagem, focando-a em conceitos ou notas.
Até os dias atuais, muitos professores carregam a ideia de quem erra
necessita de punição ou de julgamento, onde aplicam sua sentença,
determinado assim que quem não erra é quem aprendeu tudo lhe foi ensinado,
mas quem erra é fracassado por não atingir o patamar da aprendizagem. Na
caminhada que empreendemos, compreendemos que para Hoffmann (1994), o
professor deveria se comprometer mais com construção do erro do educando,
considerando o conhecimento produzido por ele. Nesse sentido, entendemos
que a pesquisa leva à reflexão sobre o papel que a psicopedagogia exerce no
processo ensino-aprendizagem, procurando delimitar a construção do erro
como fundamentador da aprendizagem. O caminho trilhado pela
psicopedagogia é construção de novos olhares para dar significado a
aprendizagem. O psicopedagogo tem o desfio de estar sempre pesquisando
para auxiliar educadores e educando no processo das dificuldades de
aprendizagem, refletindo sobre a construção do conhecimento. Nesta
caminhada, para entrar no debate acerca do lugar do erro no processo de
avaliação, procuramos realizar um levantamento bibliográfico com
profundidade de reflexão, onde pudéssemos compreender em autores como
Luckesi (2001), Esteban (1999), Hoffmann (1994), Porto (2009), Barbosa
(2006), Beauclair (2004), dentre outros, as realidades e possibilidades do erro
na avaliação escolar.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO I
AVALIAÇÃO ESCOLAR-APONTAMENTO HISTÓRICO 12
CAPÍTULO II
A CONCEPÇÃO SOCIAL SOBRE O ERRO E SUA
REPERCUSSÃO NA AVALIAÇÃO 29
CAPÍTULO III
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA
NO PROCESSO ENSINO-APRENSIZAGEM 48
CONCLUSÃO 68
REFERÊNCIAS 70
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INTRODUÇÃO
A concepção do erro no ambiente escolar é, por tradição, amplamente
relacionada a falhas e equívocos do aluno. Esse julgamento recai sobre ele na
medida em que o mesmo não atinge os resultados desejados pelo professor
e/ou pela escola, em conformidade com os padrões exigidos e considerados.
Desde as mais remotas épocas, a avaliação, enquanto método de
aferição, tem sido utilizada no ambiente escolar como um instrumento para
classificar e rotular o aluno. Nessa trajetória avaliação vem sendo aplicada de
maneira eminentemente classificatória, por meio de provas, exames, exercícios
e notas, buscando medir-se a quantidade e exatidão de informações que o
aluno consegue reproduzir. Sendo assim avaliação tradicional não avalia a
aprendizagem do aluno, mas sim, aplica exames pontuais, classificatório,
seletivo ou excludente.
Em contrapartida, os valores sociais contemporâneos têm
individualizado muito as pessoas, levando-as a cobrar resultados sempre
positivos, a qualquer custe. Isso as têm tornado cada vez mais egoístas,
transformando a sociedade num espaço de exclusão.
Ao lidar comportamentos díspares, muitas escolas têm avaliado seus
alunos estabelecendo regras rígidas de avaliação por resultados. Os próprios
sistemas de avaliação, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e a “Provinha Brasil”
vão nesta direção. Nesse sentido, concebido existencialmente como um
produto da falha humana, e a nosso ver equivocadamente, o erro, enquanto
fenômeno pedagógico e psicopedagógico, vem cada vez mais se tornando um
elemento socialmente inaceitável, levando sempre a uma cobrança social por
seres cada vez mais “perfeitos”.
Em interlocução com alguns teóricos do campo da avaliação escolar, e
utilizando instrumentos de análise qualitativos, a presente pesquisa busca
investigar como a “pedagogia do erro” pode ser utilizada como elemento
pedagógico no processo ensino-aprendizagem, e não mais para a condenação
dos alunos. Tal objeto parte da concepção de erro enquanto elemento
pedagógico, não como simples elemento de acusação desse aluno frente ao
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professor e ao conhecimento, imputando-lhe culpa, mas utilizando-o enquanto
possibilidade de construção do conhecimento.
O trabalho proposto está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo,
partindo das concepções de Esteban (2001) e Antunes (2008), buscamos
refletir como a avaliação vem sendo desenvolvida historicamente no Brasil.
No segundo capítulo procuramos abordar, em interlocução com Freitas
(2005), Hoffmann (2001) e Luckesi (2001), a concepção de erro no ambiente
escolar, e algumas práticas adotadas pelos educadores como objeto de
punição ou como processo de construção de aprendizagem. Percebemos que
na escola, a concepção do erro é geralmente relacionada a falhas e equívoco
de responsabilidade do aluno. No ambiente escolar o castigo tem sido a prática
usual que tradicionalmente serve como punição para o erro. A referida prática
ocorre porque se parte da ideia que o aluno erra na maioria das vezes porque
não sabe; e se não sabe é porque supostamente não prestou atenção na
explicação da professora. Desta forma se justifica a punição por meio da
reprovação escolar. E essa justificativa recai com muito peso sobre o aluno,
baseado no suposto desinteresse. Assim, esta forma de apreensão entende
que o castigo se constitui no meio mais usual para, literalmente, corrigir a
situação.
No terceiro e último capítulo, procuramos dialogar com as intervenções
psicopedagógicas no processo ensino-aprendizagem, em interlocução com
Porto (2009), Taille (1997) e Beauclair (2009), onde nos propomos a refletir
sobre a “pedagogia do erro” como uma proposta para a aprendizagem, uma
vez que, para a psicopedagogia, se deve considerar o sujeito como um ser
global, composto pelos aspectos orgânicos, cognitivo, afetivo, social e
pedagógico. Nesse sentido, para aprender é necessário que exista a relação
de condições dos fatores internos e externos. Há necessidade de estabelecer
uma mediação entre o educador e educando.
Como considerações finais, entendemos que o erro é um indicador de
como o aluno está pensando e como ele compreendeu o que foi ensinado.
Analisando com mais cuidado os erros dos alunos, podemos elaborar a
reformulação e prática docente de modo que elas fiquem perto da necessidade
dos alunos e assim entender a dificuldade que o mesmo apresenta.
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Por conseguinte, a concepção do erro não deve ser fonte de castigo,
mas sim, fonte de crescimento para o aluno e professor, uma vez que permite o
reconhecimento de sua origem dos procedimentos e do mecanismo que
produziram. Desde de que conscientemente elaborado, o erro torna possível a
oportunidade de revisão e avanço, permite fazer uma síntese mental,
interagindo o fazer do sentir, gerando o prazer e o criar na aprendizagem.
12
CAPÍTULO I
AVALIAÇÃO ESCOLAR-APONTAMENTOS
HISTÓRICOS
A avaliação se faz presente em todos os domínios da atividade humana.
Sempre que refletimos sobre a educação, logo fazemos uma relação com a
avaliação escolar, que por sua vez é historicamente ligada ao ato da aprovação
e reprovação do aluno. Para melhor entendimento do conceito de avalição
como ação pedagógica, este trabalho propõe a necessidade de uma síntese
histórica desse conceito.
A trajetória da avaliação vem desde seus primórdios até a sua
sistematização educacional e consolidação como campo sistemático do
conhecimento, onde surge também como elemento reorganizador na
sociedade, enfatizando a avaliação educacional em sua dimensão institucional.
Refletindo sobre as bases ou origem do modelo adotado no Brasil, Sobrinho
destaca que na antiguidade a
[...] tradição da avaliação escolar se dirigia a avaliar indivíduos, jugando especialmente a respeito da conformidade dos conhecimentos e atitudes que cada um se mostra capaz de demonstrar. Depois que foram incorporadas as avaliações de currículos e programas específicos. (SOBRINHO, 2003, p.148 e 149).
As primeiras concepções sobre a avaliação escolar parecem
relacionadas a exames. Na China, três mil anos antes de Cristo já se utilizavam
exames para selecionar homens para o exército. São bastante antigos os
rudimentos que apontam o uso da avaliação como medida.
Por meio do estudo de alguns registros da Grécia e da Roma antiga,
revelou-se o emprego de exames - orais na maior parte das vezes, pelos
professores da época. Em Atenas, Sócrates submetia seus alunos a um
exaustivo inquérito oral, que ficou conhecido como ironia (ou maiêutica), que
ainda é utilizado por muitos educadores em suas atividades através de
questionários orais. Em Esparta, os jovens eram submetidos a duras provas
através de jogos e competições atléticas.
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No Brasil, as concepções pedagógicas dominantes no contexto escolar
surgiram a partir dos séculos XVI e XVII, quando foi sistematizada a prática dos
exames escolares. Esses exames se encontram, ainda hoje, presentes e
dominantes na atual prática de avaliação do processo de ensino-aprendizagem
no contexto escola. Conforme afirma Luckesi (2003, p.27) “Os exames
escolares, que conhecemos e hoje ainda praticamos em nossas escolas foram
sistematizados no decorrer dos séculos XVI e XVII, junto com a exigência
moderna”.
No Brasil, os primeiros modelos de um sistema metodológico de
avaliação escolar foram trazidos pelos padres jesuítas para os colégios
católicos no século XVI. A avaliação no ensino jesuítico tinha, portanto, a
função de disciplinar alunos. A educação era diferenciada para a elite e para as
classes populares.
O método utilizado pelos jesuítas, chamado de Ratium Studiorum, além
de ser um conjunto de disciplinas afins, define regras de como deveriam ser
conduzidos os exames finais do educando. No dia das provas, os alunos
deviam trazer para a sala de aula todo o material do qual necessitariam. Após
concluir a prova, o aluno devia receber seu material, entregar a prova e sair
imediatamente e não poderia retomá-la, a não ser depois de corrida. Os alunos
eram obrigados a decorar as lições, tal como estava nos livros.
Para Aranha:
O ensino jesuítico possuía uma metodologia própria baseada em exercícios de fixação por meio de repetição, com objetivo de serem memorizados. Os melhores alunos auxiliavam os professores a tomar lições de cor dos outros, recolhendo exercícios e tomando nota dos erros dos outros e faltas diversas que eram chamadas de decuriões. As classes inferiores repetiam lições da semana todo sábado. Daí a expressão “sabatina” utilizada por muito tempo para indicar formas de avaliação. (ARANHA, 1989, p.51).
A pedagogia institucionalizada pelo bispo protestante John Amós
Comênio (Comenius) no século XVII insiste na atenção especial a que se deve
dar a educação, como centro de interesses da ação do professor. O autor de
“Didática Magna” também não obscurece o uso de provas e exames como
meio de estimular os alunos, que aprenderão com muita facilidade, sem fadiga
e com economia de tempo.
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A pedagogia tradicional, defendida pelo sacerdote francês João Batista
de La Salle, em 1720, em “Guia das Escolas Cristãs”, propõe o exame como
supervisão permanente. Outros modelos de pedagogia foram surgindo, tendo
características distintas. Destas, destacamos a pedagogia tradicional centrada
no intelecto, na transmissão de conteúdo e na pessoa do professor e a
pedagogia renovada ou escolanovista, centrada nos sentimentos, na
espontaneidade da produção do conhecimento e no educando com suas
diferenças individuais.
Segundo Garcia:
Para Comenius, se aluno não aprendesse, havia que repensar o método, ou seja, o exame era um precioso auxílio a uma prática docente mais adequada ao aluno. Já o outro, La Salle centra no aluno e no exame o que deveria ser o resultado da prática pedagógica, um complexo processo em que dois sujeitos interagem: um que ensina o outro que aprende. (GARCIA, 2000, p.32).
Essas práticas de avaliação, centradas na figura do professor e na
pedagogia dos exames, levavam e levam até hoje os alunos a se distanciarem
da convivência com a sociedade, no que se refere às práticas da vida
cotidianas.
Para Esteban:
As crianças chegam à escola, assim como professoras e professores, encharcados da vida e frequentemente não encontram na sala de aula espaço-tempo para o movimento no qual estão imersos, tendo que entrar todas numa sintonia única, que emudece a polifonia. (ESTEBAN, 2001, p.178).
O período imperial foi marcado por mudanças históricas, tanto na política
como no processo educativo. As formas avaliativas quase nunca eram
realizadas por não haver um processo avaliativo estabelecido. Nessa época
deu-se início à formação de professores para as escolas primárias.
O período republicano brasileiro trouxe consigo a avaliação escolar de
forma mais sistemática. Desse modo os educandos passaram a ser avaliados
constantemente com a realização de provas orais, escritas e práticas. Assim, a
avaliação se restringia a aprovação e reprovação do aluno.
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A Primeira República, que teve início em 1920, trouxe algumas
discussões sobre o formato do ensino tradicional, limitado à elite e pautado na
aprendizagem de forma mecânica. A partir de 1932, com o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, que tinha entre seus idealizadores Anísio
Teixeira, a luta por uma escola democrática que contemplasse toda população
foi, de fato, deflagrada.
Com o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, o período de 1930 a
1940, foi marcado pela renovação da didática tradicional desencadeando o
movimento de reorganização da escola e sua reconstrução social. Tal período
foi marcado pelo equilíbrio entre as influências da concepção humana
tradicional e humanista moderna, que também não acrescentou mudanças
significativas.
Ao longo da história da educação moderna e ao longo da prática
educativa, a avaliação realizada por meio de exames e provas foi se tornando
uma “entidade”, criada pelo ser humano para atender sua necessidade,
tornando-se independente dela e universalizando. Conforme destaca Garcia
(2001), a cultura avaliativa não se faz de uma hora para outra, pois. “[...] a
avaliação vai sendo construída como um processo que indaga os resultados
apresentados, os trajetos percorridos, recursos previstos [...]” Garcia (2001,
p.187). Há, portanto, uma engrenagem, uma rede de significados que tecem e
na qual ela também faz a sua tessitura, construindo novos significados,
enquanto é ação política/prática social.
Historicamente o Brasil trilhou o caminho da produção norte-americana,
com uma defasagem de mais de uma década. O veículo para essa transmissão
deveu-se de um lado, ao trânsito de professores brasileiros que fizeram cursos
nos Estados Unidos e aos acordos internacionais. A influência do pensamento
positivista impregnou o ambiente acadêmico brasileiro constituindo, assim, um
superego de professor que mal ou bem a utilizaram.
Com os estudos de Ralph Tyler, houve inovação na ideia de
mensuração, com a concepção de que o processo avaliativo consiste
basicamente em determinar em que medida os objetivos educacionais estão
sendo atingidos pelos programas instrucionais. Nessa geração, chamada de
descritiva, o avaliador preocupava-se em descrever padrões e critérios, embora
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ainda bastante técnico em sua atuação, influenciada fortemente pelo modelo
científico. Sobre tal fenômeno, Hoffmann afirma:
A teoria da avaliação educacional, no Brasil, sofreu uma grande influência dos estudos norte-americanos. A partir dos anos 60, principalmente, foi muito ampla a divulgação da proposta de Ralph Tyler conhecida como avaliação por objetivos. Essa proposta passou a ser referencial teórico nos cursos de formação de educadores, causando até hoje grande e duradoura repercussão nos meios educacionais. No enfoque avaliativo deste teórico, a avaliação é o processo destinado a verificar o grau em que mudanças comportamentais estão ocorrendo. A avaliação deve julgar o comportamento dos alunos, pois o que se pretende em educação é justamente modificar tais comportamentos. (HOFFMANN, 1994, p.40).
A trajetória da avaliação de aprendizagem de Tyler está integrada a seu
modelo para elaboração de currículo, que assume essencialmente um caráter
de controle do planejamento, analogamente ao que ocorre no processo de
produção industrial.
Ao longo da trajetória histórica, a avaliação tem sido utilizada muito mais
em função de interesses e finalidades econômicas (elemento reorganizador na
consolidação da produção capitalista), do que em razão de melhorias de
desempenhos humanos ou mudanças qualitativas de vida na sociedade
(elemento reorganizador na emancipação do povo).
O campo da Psicologia também trouxe contribuições significativas para o
processo de avaliação educacional dessa época. Essa contribuição pode ser
vista sobre dois ângulos. O primeiro diz respeito aos testes psicológicos, com
base nos estudos de Sperman, sob a Psicometria, e de Binet e Simon, que
criaram teste de inteligência para crianças e adultos. Neste sentido, Sobrinho
assevera:
A “Psicometria” dominou a avaliação desde o final do século o XIX e boa parte do XX. Até 1930, caracterizou-se, sobre tudo como uma tecnologia dos testes padronizados e objetivos com a finalidade de medir a inteligência e o desempenho (testing Period). No começo do século foram sistematizados os testes de inteligência e se tornaram conhecidas muitas mensurações psicofísicas, tais como as capacidades sensoriais, os tempos de reação ou de realização de tarefas. Avaliação e medida
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eram termos com noções intercambiais ou equivalentes. (SOBRINHO, 2003, p.38).
A exigência por reformulação das práticas avaliativas em todos os
níveis educacionais ocorridas neste período histórico, pertinentes a
desempenhos mais eficientes dos educadores no gerenciamento da
administração educacional, passou a ser imperativo, bem como o
delineamento de novas estruturas curriculares e de estratégias de ensino,
que associassem o processo socioeconômico a valores e conhecimentos
transmitidos por meio da educação, vista nesse momento como
instrumento imprescindível no direcionamento da reorganização econômica e
produtiva da sociedade.
1.1 A avaliação como processo de construção da aprendizagem nas séries iniciais do ensino fundamental no Brasil
Nos últimos anos a discussão dos problemas da educação básica no
Brasil tem sido marcada pela divulgação mais ampla de informações
produzidas pelo sistema de avaliação externa, que em longa escala, centra-se
e foca o rendimento do aluno e no despenho escolar. Mas, é importante refletir
sobre como a avaliação é vista e qual suas implicações no processo de ensino-
aprendizagem do educando e nas práticas dos professores.
As primeiras práticas de avaliação da aprendizagem na escola estão
diretamente relacionadas à avaliação de pessoas. Essa ideia de que avaliar o
processo de ensino e de aprendizagem não é uma atividade neutra, ou
destituída de intencionalidade, nos faz compreender que há um estatuto
político e epistemológico que dá suporte a esse processo de ensinar e de
aprender, que acontece na prática pedagógica na qual a avaliação se inscreve.
Para compreender algumas nuanças do processo avaliativo adotado no
país foi necessário mapear alguns fatos que demarcam a trajetória da
avaliação da aprendizagem historicamente para, em uma visão panorâmica,
apresentá-la como campo sistemático de conhecimento, e elemento
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reorganizador na sociedade, referenciando a sua dimensão institucional no
âmbito da educação básica.
1.1.1 A avaliação nos primórdios do século XX
O interesse pela avaliação sistêmica na organização do setor
educacional, já se manifestava nos anos 1930. Nesta época predominava uma
visão de aferição, que compreendia a avaliação da aprendizagem como
medida de verificação, com tecnologia dos testes e do uso de instrumentos de
escalas e técnicas quantitativas, com o objetivo de medir e classificar.
Nas primeiras décadas do século XX, ocorreram as mudanças operadas
pelo desenvolvimento da ciência e da técnica. A expansão da comunicação de
massa, dentre outras características, exigiu a reorganização da sociedade para
a adequação ao novo modelo socioeconômico que despontava. Nos processos
de mudança, a educação foi chamada a dar respostas às exigências sociais da
época. Nesse contexto, a avaliação foi usada como um instrumento desse
processo, sendo utilizada primeiramente para diagnosticar e sinalizar as
condições objetivas, e por conseguinte para sugerir as adequações
necessárias à consolidação da mudança. Portanto, era ela quem fornecia aos
encaminhamentos que se faziam necessários.
Na final dos anos 1980, foram iniciadas pelo Estado as experiências de
avaliação de larga escala, com vista a modernização do setor educacional.
Nesta fase a avaliação educacional passou ser vista de forma sistematizada,
com o objeto de discussões e debate dos educadores brasileiros. Foram
surgindo, na literatura brasileira especializada, textos escritos em uma
perspectiva cada vez mais crítica e de resistência de modelo “quantitativista”,
desvelando suas contradições e situando a avaliação numa perspectiva mais
qualitativa. Neste sentido, para Freitas:
Os motivos (declarados) para que o Estado buscasse “medir, avaliar e informar” foram diversos no percurso 1930-1988. Primeiro, essas práticas foram tidas como necessárias porque se prestariam a conferir e verificar resultados frente a objetivos da educação nacional, proporcionando a aplicação da ciência para “formar a consciência técnica” no âmbito escolar, posto que condição necessária à expansão e à melhoria da educação. A seguir, tais práticas propiciariam ao Estado central
19
“conhecer a realidade” e fazer “diagnósticos” com o que, em lugar de acentuar-se a regulação pela via legal, seriam fornecidas “indicações e sugestões” para a qualificação da expansão do atendimento, da administração escolar e do ensino. No momento seguinte, “medir, avaliar e informar” foram práticas consideradas importantes para a instrumentação da racionalização, da modernização e da tutela da ação educacional. Logo a seguir, os motivos para recorrer a essas práticas se reportaram às tarefas de reajustar a regulação estatal e de criar uma cultura de avaliação no País. (FREITAS, 2005, p.7).
Na década de 1990, com a crescente internacionalização do
capitalismo, a emergência da avaliação da aprendizagem, a avaliação “[...] se
configurou como dispositivo útil para instrumentar mediações entre o local e o
global” (Freitas, 2005, p.57). Diferentes experiências com relação à avaliação
do sistema educacional começaram, então, a ser realizadas, procurando
associar o rendimento escolar a fatores como região do país, classe social,
condições da escola, das famílias, dentre outros.
Nesse contexto, os modelos de avalição que foram surgindo fazia parte
de algumas reformas educacionais por iniciativa dos governos, com o objetivo
de monitorar a educação básica, obtendo informações sobre o nível de
conhecimento dos educandos e as condições da instituição, interferindo na
aferição dos resultados, e induzindo as instituições para a qualificação
pretendida pelo Estado avaliador.
Alguns fatores, como a expansão da escola, o empenho de agentes
estatais articulados com “especialistas” brasileiros e pesquisadores
estrangeiros, as ideias adotadas para enfrentar a crise econômica e o Estado
desenvolvimentista, estimularam o interesse estatal pelas atividades de avaliar
medir e informar.
Assim, a avaliação se firmava cada vez mais como elemento da
regulação e da administração gerencial e competitiva do Estado avaliador no
Brasil. Neste aspecto, conforme destaca Freitas:
O Estado-avaliador corresponde a uma importante estratégia, entre outras, da modernização conservadora da educação da sua gestão, da relação entre instância administrativas e da relação entre Estado, sociedade e educação. (FREITAS, 2005, p.193).
20
A presença do Estado avaliador na educação básica gerou, por sua vez,
um ambiente competitivo pelas as avaliações externas e pelo predomínio de
uma racionalidade instrumental e mercadológica que buscava supervisionar
indicadores e resultados acadêmicos quantificáveis e mensuráveis. Estes
estímulos provocaram algumas reações, como competições, ou seja, de
rankiamento entre as escolas nos movimentos da avaliação sistêmica da
educação básica.
Foi a partir do ano de 1990 que o Ministério da Educação, articulado
com as Secretariais Estaduais de Educação, implementou o Sistema de
Avaliação da educação Básica – SAEB, aplicando testes de desempenho dos
alunos, elaborados com base em matrizes curriculares validadas
nacionalmente. Esses testes passaram a medir tanto os conteúdos quanto as
habilidades, a levantar dados em nível nacional, sendo implementados para
diagnosticar em larga escala. Os testes são aplicados por agentes externos à
escola, com procedimentos unificados e com tempo controlado. Sua estrutura
mostra-se adequada para diagnosticar e monitorar a evolução da qualidade da
educação básica, mas não permiti medir a evolução individual de alunos ou
escola.
Após 1992, decidiu-se que aplicação das avaliações ficariam por conta
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,
(INEP).
Na sua segunda aplicação, no ano de 1993, o SAEB adotou técnicas
mais modernas, realizando levantamentos de dados sobre as características
socioeconômicas e culturas, sobre hábitos de estudos dos alunos e passou a
comparar os desempenhos dos alunos entre ano e séries. Também incluiu a
rede particular de ensino na amostra. Doravante as provas passaram a ser
realizadas a cada dois anos.
Segundo Freitas:
Percebe-se, nos objetivos do SAEB, que a atuação da pedagógica estatal se organizaria em torno dos eixos cultural, político-administrativo e técnico-operacional. O primeiro dele supõe uma “pedagogia cultural” o segundo uma “pedagogia estatística” e terceiro uma “pedagogia instrumentalista”. (FREITAS, 2005, p. 165).
21
Em 2005, paralelamente à avaliação do SAEB, foi realizada outra
avaliação, essa de natureza quase censitária, o que permitiria a divulgação dos
resultados por municípios e por escolas, individualmente, ampliando as
possibilidades de análise dos resultados da avaliação, e tendo como objetivo
auxiliar governantes na decisão e direcionamento de recursos técnicos e
financeiros. Nasceu, assim, a Prova Brasil, que utiliza os mesmos
procedimentos utilizados pelo SAEB, tendo como objetivo de avaliar as
habilidades de alunos em Língua Portuguesa (foco em leitura) e em
Matemática (foco na resolução de problemas), que permite a comparação, ao
longo do tempo, entre as escolas que oferecem o ensino fundamental.
No ano de 2007 ocorreu sua segunda edição, alterando o número
mínimo de series avaliadas, que passou de trinta para vinte. Tal modificação foi
feita para possibilitar que aproximadamente quatrocentos municípios, que não
participaram da primeira avaliação, pudessem ser incluídos. Já no ano de
2009, em sua terceira edição, o universo avaliado foi ampliado, passando a
incluir todas as escolas que tivessem, no mínimo, vinte alunos nas séries
avaliadas.
Os resultados obtidos da Prova Brasil de 2007 passaram a integrar o
Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), referências para
definição de metas a serem alcançadas gradualmente pelas redes públicas de
ensino até 2021. Esse indicador apresenta como objetivo a qualidade da
educação envolve que o aluno aprenda e passe de ano.
Os resultados da Prova Brasil passaram ser bastante divulgados, e
atualmente o IDEB é tido como o principal indicador adotado pelo Governo
Federal para delimitar metas educacionais por escolas e redes estaduais e
municipais. Conforme destaca Luckesi (2001, p. 265), “[...] IDED, ou os
resultados da avaliação do sistema nacional de ensino, nos apontam para focar
no despenho do sistema não só no despenho do educando. Esses dados
permitem tomar decisão para melhoria do todo”.
No ano de 2007 foi criada a Avaliação de Alfabetização, denominada no
universo educativo de “Provinha Brasil”, em consonância com o objetivo do
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e do MEC. A Provinha Brasil é
um a avaliação diagnóstica desenvolvida pelo INEP/MEC, que visa o
22
desenvolvimento das habilidades relativa à alfabetização e ao letramento em
Língua Portuguesa e Matemática, desenvolvidas pelas crianças matriculadas
no segundo ano do Ensino Fundamental da rede pública.
Os testes elaborados pelo MEC/INEP são disponibilizados às redes e
escolas em duas etapas, uma no início e outra ao final de cada não letivo,
favorecendo a compreensão da processualidade da alfabetização. Porém,
segundo Esteban (2009, p.48), [...] “os testes são padronizados, com questões
objetivas, percursos e pontos de chegada rigidamente definidos, o que
pressupõe que não importa o ponto de partida, mas o de chegada”.
As redes estaduais de ensino básico vêm desenvolvendo propostas de
avaliação ao longo dos anos. Veremos a seguir a proposta do estado de São
Paulo e Pernambuco.
Em 1996 foi implementado em São Paulo o Sistema de Avaliação do
Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP), que estabeleceu
metas para escolas estaduais. Com o objetivo de traçar um perfil detalhado da
situação social, econômica, e cultural das famílias. A partir de 2008, o SARESP
foi incrementado e passou a nortear a grade curricular de São Paulo. As
medidas do sistema tinham como objetivo reduzir a defasagem dos alunos e
estabelecer metas para o projeto de cada escola, capacitar os recursos
humanos e reorientar a proposta pedagógica das escolas. Os resultados do
SARESP estavam sendo utilizado para indicar as atividades de capacitação
docente e análise do currículo unificado.
No intuito de fortalecer o sistema, foi criado em pelo Governo de São
Paulo Bônus Mérito, que é uma bonificação que as escolas estaduais recebem
se atingirem as metas. Seu cálculo é baseado no Índice de Desenvolvimento
da Educação do Estado de São Paulo (IDESP), o qual tem como critério o
resultado das provas do SARESP.
No estado de Pernambuco criou-se o Sistema de Avaliação
Educacional de Pernambuco (SAEPE). O SAEPE foi realizado pela primeira
vez em 2000. Em 2005 foi novamente realizado, no entanto, seus resultados
foram consolidados e divulgados em 2007. A partir de 2008, passou a ser
realizado anualmente, e os seus resultados passaram a compor o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica de Pernambuco (IDEPE). A proposta do
23
SAEPE era de procurar conhecer o que os alunos sabem e são capazes de
fazer, em diversos momentos de seu percurso escolar, visando à melhoria da
qualidade, da eficiência e da equidade da educação básica.
O SAEPE, juntamente com o IDEPE, define metas a serem
alcançadas para cada escola e bonificam com Bônus de Desempenho
Educacional (BDE) as escolas que cumprirem suas metas.
Segundo Bonamino e Sousa (2012) e Hoffmann (1994), caminhando
pela história da educação básica no Brasil e perpassando pela trajetória da
avaliação escolar, observamos que avaliação da aprendizagem passou por
quatro gerações. A primeira geração enfatizou a concepção de avaliação da
aprendizagem à ideia de medir, diagnosticar e classificar, estando associada à
aplicação de testes, à tecnologia de mensuração das capacidades humanas.
A segunda geração levantou dados sobre a avaliação da
aprendizagem e realizam suas divulgações, devolvendo os resultados para as
escolas. Esses resultados favoreceram a mobilização das equipes escolares
para a melhoria da educação.
As avaliações de terceira geração foram aquelas que referenciaram as
políticas, abordando o cumprimento de metas estabelecidas. Passaram, então,
a recompensar as escolas e profissionais em decorrência dos resultados de
escolas e alunos.
A avaliação da quarta geração ficou caracterizada pelo processo
interativo, negociado, que se fundamenta num referencial teórico construtivista
e num enfoque responsivo. Parte de preocupações, proposições ou
controvérsias em relação ao objeto da avaliação. É construtivista, uma vez que
supera o modelo científico e tecnicista, predominante até então, abrangendo
também os aspectos humanos, políticos, sociais, culturais e éticos, envolvidos
no processo.
Ao longo dessas gerações, a avaliação da aprendizagem vem sendo
praticada com independência do processo de ensino-aprendizagem e também
da relação professor-aluno. As práticas avaliativas adotadas em nosso país
não são significativas para o aluno. Conforme afirma Luckesi (2001, p. 41), “As
provas e exames são realizados conforme o interesse do professor ou do
sistema de ensino”.
24
Diante da diversidade e multiplicidade de modelos e abordagens
avaliativas que os estudos e práticas têm produzido, é importante perceber, na
trajetória da avaliação, assim como nas várias concepções da aprendizagem,
ao longo da história humana e da educação, que as contínuas e progressivas
mudanças na sociedade impõem outros desafios, como impulsionadores para
novas concepções, que contribuam efetivamente para a melhoria da qualidade
do ensino e da aprendizagem. Tornam-se necessárias novas conceituações e
posicionamentos, uma vez que os paradigmas que ainda predominam não
permitem lidar satisfatoriamente com os problemas e desafios atuais.
1.2 Mecanismo de avaliação na escola: conceitos e realidades
A pesquisa histórica da avaliação escolar no Brasil vem evidenciando
descortinando a existência de múltiplas dimensões da avaliação da
aprendizagem no cenário educativo brasileiro, que se constituem a partir de
diferentes concepções de aprendizagem.
Conforme assevera Luckesi (2001), no enfoque da avaliação, destacam-
se quatro concepções pedagógicas e suas respectivas relações com os
significados de avaliação: i) a concepção de avaliação representada pelos
exames; ii) a concepção de avaliação como instrumento para classificação e
regulação do desempenho do educando, ambas dentro da Pedagogia
Tradicional (classificatória); iii) a concepção que se utiliza da avaliação como
medida a qual prevaleceu durante a Pedagogia Tecnicista (diagnóstica); e iv)
a concepção qualitativa da avaliação, a qual surgiu como reação aos modelos
e práticas avaliativas utilizados nas concepções tecnicista e quantitativa, com
base na pedagogias críticas (emancipatória). Essas concepções estão sendo
conduzidas no cotidiano da sala de aula. Conforme desta Esteban:
[...] a ambivalência da avaliação, cuidadosamente omitida pelas teorias e práticas que buscam a atribuição exata, precisa, neutra, verdadeiras, de valores — quantitativos ou qualitativos — que possam informar, de modo claro e coerente, sobre ensino/aprendizagem e o seu resultado”. (ESTEBAN, 2001, p.186).
25
A avaliação sempre se fez presente nos meios escolares e, ao longo da
história, tem sido usada de diferentes formas, com distintas funções, objetivos,
metodologias. A ideia de que avaliar o processo de ensino e de aprendizagem
não é uma atividade neutra ou destituída de intencionalidade nos faz
compreender que há um estatuto político e epistemológico, que dá suporte a
esse processo de ensinar e de aprender que acontece na prática pedagógica
na qual a avaliação se inscreve.
As palavras de Luckesi (2011), ilustram que avaliação escolar está
articulada tanto no geral como no caso específico da aprendizagem. Em suas
múltiplas maneiras ela pode contribuir para a qualidade do ensino e da
aprendizagem. Segundo Esteban (2011, p.45) “[...] a avaliação da
aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que articula com um
projeto pedagógica e com o seu consequente projeto de ensino”.
Enquanto elemento integrante da prática pedagógica, a avaliação da
aprendizagem deve ser considerada como um meio, e não como um fim em si
mesma. Como um meio, ela dever ser um instrumento útil para verificar se o
processo de ensino-aprendizagem está ocorrendo de acordo com os objetivos
definidos e as práticas pedagógicas que estão sendo desenvolvidas.
As decisões a respeito da avaliação da aprendizagem não são isoladas
ou imparciais. Elas se vinculam as concepções sobre educação, sobre escola,
sobre aprendizagem, ou seja, as diferentes concepções pedagógicas mais
amplas há uma visão de educação. Sendo assim, a forma como concebemos e
realizamos a avaliação irá refletir uma visão conservadora ou transformadora
de educação e de sociedade.
Ao analisarmos o sistema de avaliação, com o objetivo de compreender
as práticas avaliativas a partir da concepção de sociedade, de educação, de
escola e de aluno, somos levados à discussão e à reflexão que apontam as
possibilidades de um afastamento essencial, nos permitindo olhar de longe e
focalizar criticamente as práticas que vêm sendo desenvolvidas, fortalecer as
que são significativas e produtivas e reorientar aquelas que ajudam realmente
o aluno a aprender e o professor a ensinar, pois
[...] avaliação só faz sentido se favorecer a aprendizagem. To-davia, não se realiza aprendizagem qualitativa, sem avaliar.
26
Quando se combate o tom classificatório, [...] pretende-se, no fundo, superar abusos da avaliação, no que estamos todos de acordo, mas não se poderia retirar daí que avaliação, de si, não é fenômeno classificatório. Será mister distinguir acuradamente entre abusos da classificação, de teor repressivo, humilhante e punitivo, e efeitos classificatórios implicados em qualquer pro-cesso avaliativo, também quando dito qualitativo (LUCKESI, 2001, p.23).
Hoje em dia, alguns educadores modificaram sua percepção sobre o que
é avaliar, pois passaram a perceber a ampliação do conhecimento do aluno no
cotidiano e não apenas um momento único, além de perceber as
peculiaridades de cada educando. Porém, a avaliação ainda se configura como
a obtenção de um resultado objetivo, por meio de notas e conceitos.
Para que os novos paradigmas em educação que são veiculados como
uma nova proposta pedagógica nas instituições de ensino se tornem realidade,
fica clara a necessidade do comprometimento de todos aqueles que estão
ligados ao processo de ensino-aprendizagem, a fim de garantir a formação do
aluno, de modo a contribuir para a sua transformação como ser humano,
respeitando suas diferenças e individualidades e tornando-o capaz de resolver
conflitos do seu dia-a-dia. A escola segundo Luckesi (2001), deve estar atenta
para desenvolvimento do educando, na área cognitiva, afetiva, psicomotora e
no modo de viver. Neste sentido, para Antunes:
O processo de avaliação da aprendizagem consiste essencialmente em determinar se os objetivos educacionais estão sendo realmente alcançados pelo programa do currículo e do ensino. No entanto, como os objetivos educacionais são essencialmente mudanças em seres humanos — em outras palavras, como os objetivos visados consistem em produzir certas modificações desejáveis nos padrões de comportamento do estudante — a avaliação é processo mediante o qual determina-se o grau em que mudanças do comportamento estão realmente ocorrendo. (ANTUNES, 2008, p.9).
A avaliação educacional é feita através de situações de aprendizagem,
buscando a aquisição de novos conhecimentos, atitudes e habilidades. A
avaliação emancipatória tem como compromisso fazer com que as pessoas
envolvidas em uma ação realizem e executem a sua própria história e
escolham as suas ações de maneira libertadora. Esta avaliação não tem como
objetivo classificar ou selecionar, mas apenas fundamenta-se nos processos de
27
aprendizagem. Segundo Esteban (2001, p.187) “[...] a avaliação vai sendo
construída como um processo que indaga os resultados apresentados, os
trajetos percorridos, os percursos previstos, as relações estabelecidas entre
pessoas, saberes, informações, fatos, contextos [...]” em seus aspectos
cognitivos, e em aprendizagens significativas e funcionais que se aplicam em
diversos contextos, e se atualizam para que o educando continue a aprender.
Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida, espaço relevante no
conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao processo de ensino-
aprendizagem. Avaliar, neste contexto, não se resume à mecânica do conceito
formal e estatístico; não é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão
de avanço ou retenção em determinadas disciplinas, mas refletir sobre a
aprendizagem do aluno e de sua resposta ao contexto da avaliação, ou seja,
entender como ele se sentiu ao ser avaliado.
A avaliação, tal como concebida e vivenciada na maioria das escolas
brasileiras, tem se constituído no principal mecanismo de sustentação da lógica
de organização do trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso,
ocupando mesmo o papel central nas relações que estabelecem entre si os
profissionais da educação, alunos e pais.
Segundo Hoffmann (1994), o mito da avaliação é decorrente de sua
caminhada histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam como
forma de controle e de autoritarismo por diversas gerações. Acreditar em um
processo avaliativo mais eficaz é o mesmo que cumprir sua função didático-
pedagógica de auxiliar e melhorar o ensino-aprendizagem.
No decorrer da longa história sobre a avaliação, vimos e percebemos
que até hoje se arrasta a “corrente” da educação tradicional, que tem sentido
servir-se de exames como instrumentos classificatório, ou seja, avaliar é
confundido com medir. Entretanto, na sala de aula a avaliação é um recurso
para diagnosticar, acompanhar e reorientar a aprendizagem, e não se deve
utilizar exames para proceder à classificação de alunos.
A ideia de avaliação, como medida do desenvolvimento do aluno,
segundo fundamentada em Hoffmann, (1994, p.53) está muito presente no
imaginário de professores. “[...] avaliação à concepção de MEDIDA (grifo do
autor) denuncia uma consciência ingênua do educador no tratamento desse
28
fenômeno, pois ele não se aprofunda nas causa e consequências de tais
fatos[...]”
Segundo a autora:
[...] as práticas rotineiras da avaliação, a superficialidade teórica no tratamento dessas questões e as críticas de subjetividade possível e inerente ao próprio processo, provocaram, na maioria das escolas, o retorno ao uso das notas no sistema de classificação do estudante (HOFFMANN, 1994, p.52).
A credibilidade que se dá às medidas inseridas no processo e nos
padrões estabelecidos pelos educadores, com vistas à atribuição de valores às
atividades dos alunos, desemboca em uma tese equivocada: de que todos os
efeitos, ganhos ou prejuízos do aluno durante o processo são produto de uma
operação e são expressos de forma neutralizada e, por isso isentam o
professor da responsabilidade no momento da avaliação. Medir significa
determinar qual é o valor de um objeto a partir de um instrumento determinado
para este fim.
Ao estudar as concepções da avaliação e a sua história no Brasil até os
dias atuais, compreendemos que a avaliação realizada como exame, que tem
sido alvo de críticas por teóricos, é ainda praticada majoritariamente pelos
educadores e em grande parte dos estabelecimentos de ensino.
Analisar a prática avaliativa utilizada no interior da escola requer também
a definição dos objetivos que atendam as reais necessidades dos educandos e
de todos os profissionais da escola. Neste sentido, acreditamos que a proposta
de estudo teórico e a realização de atividades práticas poderão auxiliar a todos.
Assim a escola, os profissionais, os pais e os alunos têm desafios
permanentes a enfrentar, ou seja, se contrapor à forma atual de organização
social, que separa educadores e educados, cuja organização requer uma
transformação coletiva e emancipatória, à qual não se efetivará sem a
contribuição da educação no seu sentido mais amplo.
29
CAPÍTULO II
CONCEPÇÃO SOCIAL SOBRE O ERRO
REPERCUSSÃO NA AVALIAÇÃO
Concebendo o erro como um fenômeno pertencente à esfera do juízo,
ou seja, das atitudes avaliativas, na escola essa concepção passa pelo crivo na
avaliação escolar. Na escola contemporânea, o erro ainda vem sendo
relacionado a falhas e equívocos de responsabilidade do aluno, sendo pouco
questionada a competência do professor e postura do próprio sistema
educacional. Certamente, grande parte dos educadores já vivenciou ao menos
uma situação em que o ato de errar recai sobre o educando como julgamento
pelo professor, em conformidade com padrões exigidos e considerados ideais.
Na educação, o erro é determinado a partir de padrões estabelecidos
por critérios avaliativos. Como afirma Luckesi (2001, p.195), “A ideia de erro só
emerge no contexto da existência de um padrão considerado correto.” Esses
padrões determinam o sucesso e o insucesso dos educandos.
Quando um determinado professor propõe uma atividade em sala de
aula de cunho avaliativo, está caraterizado que a atividade proposta segue os
padrões estabelecidos por ele. Esses padrões de avaliação, tidos como
corretos pelo professor, poderão atribuir ao educando valor positivo ou
negativo, ou, seja, poderão caracterizar acerto ou erro pelo julgamento daquele
professor. Ao corrigir uma atividade o professor pode determinar, ou seja,
avaliar os erros e os acertos dos alunos. Desta forma, o aluno que acertou tudo
poderá ser avaliado como aquele que obteve sucesso na aprendizagem; no
entanto, aquele que errou algumas questões, ou todo o exercício ou prova, na
maioria das vezes será avaliado como aquele não aprendeu, sendo julgado
como preguiçoso, desatento ou com déficit de atenção.
Na prática avaliativa, a correção é a intervenção mais preocupante para
grande parte os educadores, uma vez que certos professores são convictos de
que seu papel é simplesmente o de corrigir. A tradição escolar vê a correção
feita pelo professor separada dos alunos como o aspecto mais importante.
30
Compete-lhe marcar no papel, no trabalho, o que o aluno errou. Para Hoffmann
(1994, p.76) “[...] corrige-se para dar notas e, as reprimendas de vermelho, as
apreciações e orientações genérica aos estudantes”. Outra visão de correção
é a informativa, que afirma que a correção deve ser um elemento utilizado para
informar o aluno de seu erro, sendo realizada dentro da situação de
aprendizagem.
Na correção dos erros, o professor deve dialogar com o aluno, ainda que
brevemente, para que juntos busquem coordenar seus pontos de vista,
trocando ideias. No entanto, é preciso tomar cuidado com a forma de corrigir,
pois nossas ações podem provocar nos alunos uma forma de reação e causar
aspectos negativos na aprendizagem. Para que isso não aconteça Luckesi
(2001, p.201), nos alerta que “[...] o ato de avaliar aprendizagem, por si é um
ato um ato amoroso”. “[...] o ato de avaliar é, constitutivamente, amoroso”.
A prática seletiva, onde o professor avalia para promover a
aprendizagem visando à promoção intelectual do aluno ainda é adotada por
muitos professores. Para Hoffmann (2001), é necessário discutir sobre novas
sobre novas finalidades da avaliação que irá nortear as metodologias.
Segundo Hoffmann:
A excessiva preocupação de educadores e leigos com definição de critérios, registro finais, apresentação dos resultados, e outras questões de caráter burocrático da avalição revele que os rumos que preguem precisam ser debatidos e esclarecidos, para que todos venham agir conscientes do reflexo de suas ações. (HOFFMANN, 2001, p.24).
Os erros produzidos pelos alunos podem ser usados como ferramenta
do processo de ensino-aprendizagem, mas geralmente isso não acontece, pois
muitos professores classificam as respostas dos seus alunos a partir de um
padrão avaliativo predeterminado.
As atitudes, os hábitos, e comportamentos dos alunos também
determinam a quantidade de erros e acertos que eles irão obter. O erro precisa
deixar de ser uma prática pedagógica que exclui os alunos das salas de aulas
e os deixam amedrontados para seguirem adiante. A avaliação escolar
31
determina padrões de conhecimento, de habilidades ou soluções a serem
aprendidas. Quando tal fenômeno não ocorre, o erro se manifesta na conduta
do padrão preestabelecido.
Segundo Esteban:
Nesta perspectiva, estende-se que o erro é resultado do desconhecimento, revelador do não-saber do (a) aluno (a), portanto uma resposta com valor negativo. O erro deve ser substituído pelo acerto, que é associado ao saber, e se revela quando resposta do (a) aluno(a) coincide com conhecimento vinculado a escola, este sim, “verdadeiro”, (grifo do autor) valorizado e aceito, portanto positivamente classificado. (ESTEBAN, 2000, p.15)
O saber e o não saber devem caminhar juntos, pois se apresentam no
cotidiano de qualquer indivíduo. As “luzes’ não podem ser apagas, pois
conhecimentos se constroem entre alunos e professores. As vozes da sala de
aula não podem ser silenciadas. Ao contrário, precisam desenvolver um
diálogo para gerarem múltiplos saberes.
Todo ser humano tem o direito de aprender e de evoluir com os erros,
pois é errando que se aprende. O erro faz parte do processo ensino-
aprendizagem, pois quando se erra geralmente se reflete mais sobre o
problema e sobre as ações usadas para resolvê-lo. Luckesi (2001, p.198),
afirma que “Reconhecendo a origem e a constituição de um erro, podemos
superá-lo, com benefícios significativos para o crescimento”.
O ser humano tem uma capacidade muito grande de se adequar às
situações vividas. Quando estas se caracterizam pelo prazer, a busca de
crescimento torna-se maior. Porém, quando há frustrações é recair, deixar de
produzir.
O medo de errar poderá se agigantar, vindo a inibir aprendizagens, às
vezes, numa proporção tal, que os impedirá de expressarem seus
conhecimentos em prol da reprodução, fruto de intenso esforço em memorizar
o que foi ensinado, mesmo que não se tenha aprendido. Para Luckesi (2001),
esses medos causam nos educandos fobias e ansiedades, e não servem para
mais nada, a não ser para garantir uma submissão internalizada. Segundo
32
Luckesi (2001, p.192) “O medo tolhe a vida e a liberdade, criando a
dependência e a incapacidade para ir sempre em frente”.
De um modo geral errar, traz ao indivíduo sensações de desconforto,
angústia e medo. Nem todos que erram reagem do mesmo modo. Algumas
pessoas se calam de vergonha, outras se entristecem. Portanto, os
sentimentos são os mais variados, pois errar em nossa sociedade não se torna
uma atitude agradável. No entanto, algumas pessoas reagem para além dos
sentimentos e usam seus erros para promover ações futuras. Entretanto,
outras não conseguem reagir e se prostram diante deles, e sem conseguir
avançar.
Nesse sentido, podemos observar que o erro pode gerar sucesso ou um
insucesso na vida da pessoa. Sobre tal aspecto, Luckesi destaca que um erro
poderá se transformar em:
[...] um sucesso ou um insucesso como resultado da atividade. Caso resultado nos conduza à satisfação de uma necessidade — um produto, conhecimento novo — tivemos sucesso no nosso esforço; caso não tenhamos obtido a satisfação de nossas necessidades, chegamos a um insucesso. (LUCKESI, 2001, p.196).
Segundo Souza et. al (2011, p. 7), “Temer o erro é temer o lugar a ser
ocupado na sala de aula, na escola, em casa, na sociedade, dentre outros
muitos lugares possíveis”. Ainda na concepção de Souza et al (2011), os
alunos que são diferentes, os que têm dificuldades e aqueles que não se
encaixam no sistema de avaliação geralmente não são valorizados no
ambiente escolar. Mecanismos diversos foram, e são utilizados pela escola
para promover ações distintivas.
Em linhas gerais o erro deve ser apontado de maneira bem equilibrada.
Basta saber se o professor corrige porque é seu papel de corrigir o erro. É
preciso que, de maneira atenta, o professor informe ao educando sobre como e
onde errou, dando a ele instrumentos que o ajudem a superar dificuldades.
Para Esteban:
33
O erro é considerado um importante elemento na tentativa de compreender a complexidade dos processos e de produzir a prática que incorporem os processos em sua complexidade. O erro dá pista os conhecimentos, práticas, processos, valores, presentes na relação pedagógica, embora frequentemente invisíveis. (ESTEBAN, 2001, p.190).
O sistema de avaliação brasileiro no Ensino Fundamental tem muitas
vezes priorizado os conceitos avaliativos, seguindo determinado padrão,
conceituando seus alunos, atribuindo notas numéricas ou conceito expresso
por uma letra e qualificando os seus resultados como máximo ou ótimos.
Segundo Antunes:
A avaliação brasileira sempre primou por valores máximos (grifo do autor) e o que agora se propõe é a construção de um sistema que possa privilegiar valores ótimos. Avaliar por critérios máximos, em síntese, é como colocar a corda em uma determinada altura e solicitar que todos saltem, ignorando a existência de expressivas diferenças sociais. (ANTUNES, 2008, p.30).
Apesar de a escola estar se organizando para favorecer a progressão
das aprendizagens, ainda está nas mãos do professor conceber e administrar
situações-problemas ajustadas ao nível e às possibilidades dos alunos diante
da diversidade e da pluralidade de aprendizes existente nas salas de aula
atuais. Nesse sentido, destaca:
A competência do professor é, pois, dupla: investe na concepção e, portanto, na antecipação, no ajuste das situações-problema ao nível e às possibilidades dos alunos; manifesta-se também ao vivo, em tempo real, para guiar uma improvisação didática e ações de regulação. (PERRENOUD apud CASTILHO, 2009, p.23).
Avaliar o erro do educando é uma tarefa complexa, pois qualquer atitude
grosseira poderá provocar transtornos ao processo de aprendizagem. Acredita-
se que o educador precisa ter cautela ao avaliar o erro do aluno, para de fato
servir de instrumento norteador de aprendizagem qualitativa. Para Luckesi
(2011), a avaliação da aprendizagem, para cumprir o seu papel, deve assumir
a função de subsidiar a construção da aprendizagem bem-sucedida.
34
O ato de avaliar também exige a entrega, entrega à construção da experiência satisfatória do educando. A entrega ao desejo de que o educando cresça e se desenvolva possibilita ao educador o envolvimento com o processo do educando, estando sempre atento a suas necessidades. (LUCKESI, 2011, p. 184).
A prática reflexiva do professor exige dele a análise constante das
relações pedagógicas que estabelece com os alunos, e o cuidado com as
pequenas violências cometidas no exercício de ensinar. Segundo Esteban,
(2000, p. 23), o ato de reflexão contribui “Para conhecer e transformar o
processo pedagógico, procura meios de es aproximar do contexto no qual a
escola se insere e dialogar com esse entorno [...]”
Assim, o educador precisa de conhecimento de abordagens didáticas,
para atrair e envolver os alunos no projeto de aprendizagem com muita
consciência, sabendo o que faz. Um projeto de conhecimento deve suscitar
uma paixão desinteressada pelo saber que só um educador apaixonado pelo
conhecimento é capaz de estabelecer, com cumplicidade e solidariedade com
seus alunos, e usando competência na arte de comunicar-se, seduzir,
encorajar, mobilizar e promover aprendizagens.
Portanto, é ação coletiva entre educadores e educandos que vai
determinar novos horizontes para a construção e reconstrução da
aprendizagem, essa prática centra-se no espaço do conhecimento. A
aprendizagem não é linear; pode perpassar por diferentes caminhos e por
tentativas de erro, criando hipótese, recuo e avanços. Desta forma, o educando
poderá apresentar um novo despenho a partir dos erros trabalhados. Como
assevera Esteban:
O erro passa e representar um indício, entre muitos outros, do processo de construção de conhecimentos. O erro aporta aspectos significativos para o processo de investigação ao sinalizar que a criança está seguindo trajetos diferentes (originais, criativos, novos, impossíveis) dos propostos e esperados pelo professor. (ESTEBAN, 2000, p.23).
35
O erro não deve ser negado. Ele deve ser valorizado e compreendido
como revelador de uma fase, pequena, ínfima, de um processo muito longo, no
decorrer do qual a aprendizagem vai sendo edificada.
O educador deve perceber no erro uma maneira de diagnosticar o que o
estudante aprendeu, para, posteriormente, ao tomar o diagnóstico como
elemento indicador, traçar um caminho traduzido na replanificação de suas
ações e intervenções, pela proposição de novas situações de ensino e
aprendizagem que permitam a reformulação de hipóteses, a partilha de
conhecimentos e, em consequência, a superação das dificuldades.
2.1 O erro como objeto de punição na escola
Uma das práticas que vem se perpetuando nas escolas é o erro como
fonte de condenação e castigo. Como observamos no capítulo anterior, a culpa
pelo erro parte da ideia que o aluno erra na maioria das vezes porque não
sabe, e não sabe porque não prestou atenção na explicação do professor. É
deste pensamento que provém a justificativa da punição.
A prática do castigo acontece de maneira comum no ambiente escolar.
Está diretamente ligada a dificuldade que o aluno apresenta por, não conseguir
absorver informações e nem aprender um dado conteúdo. Tais condutas são
condenadas pela escola, pois quem não aprende merece ser punido pelos os
seus erros. O castigo é aplicado pela escola de uma forma “justa”; quem não
sabe deve pagar pelos seus erros.
Tanto no passado quanto no presente, castigar apresenta um valor
social dentro das escolas, seguindo padrões avaliativos estabelecidos por
professores ou pelo sistema escolar. A ideia da prática do castigo é decorrente
do pensamento de que o aluno tem que assumir uma postura; então, é
castigado para que aprenda e adquira uma postura que aos olhos da
sociedade seria a ideal “correta”. Para Luckesi:
36
A ideia e a prática do castigo decorrem da concepção de que as condutas de um sujeito — aqui, no caso, o aluno — que correspondem a um determinado padrão preestabelecido, merecem ser castigadas, a fim de que ele “pague” por seu erro e “aprenda” (grifo do autor) a assumir a conduta que seria correta. (LUCKESI, 2001, p.193).
No passado, as práticas escolares utilizavam o castigo físico para punir
seus alunos. Como nos afirma Luckesi (2001, p.190), “[...] era comum um
professor utilizar-se da régua escolar para bater num aluno que não
respondesse com adequação às suas perguntas sobre uma lição qualquer”.
Também existiam professores que se utilizavam da palmatória,
instrumento de castigo bem comum que servia para bater na palma da mão
dos alunos. Deste costume provém o ditado, bem arraigado no senso comum,
de que “se deve dar a mão à palmatória”. Sobre tal aspecto, Luckesi (2001, p.
190) afirma que “A quantidade palmadas dependia do juízo do professor sobre
a possível gravidade do erro”. Existiam também outras práticas punitivas, tais
como colocar o aluno de joelhos sobre grãos de milho ou de feijão, ou ainda de
mandava-o para frente da classe, voltado para a parede e com os braços
abertos. Uma outra forma condutora de castigo, entre o físico e o moral, era
deixar o aluno em pé, durante a aula, enquanto os colegas permaneciam
sentados. Este tipo de castigo (se ainda não existe), era comum até alguns
anos. Segundo Luckesi (2011, p. 190) “Neste caso, era castigado fisicamente,
pela posição, e moralmente, pelo fato de tornar-se visível a todos os colegas a
sua fragilidade. Era a exposição pública do erro”. Sobre tal prática, ainda afirma
Luckesi:
Hoje essas formas de castigar são raras; porém, o castigo não desapareceu da escola. Ele se manifesta de outras maneiras, que não atingem diretamente o corpo físico do aluno, mas sua personalidade, sendo, no sentido em que Bourdieu fala em seu livro A reprodução, uma “violência simbólica” (grifo do autor). (LUCKESI, 2001, p.190).
Segundo Luckesi (2001), ainda existem outras formas de castigo que
não os físicos, que violentam de maneira igual ou pior aqueles que lhes são
sujeitos. Se referindo a Bourdieu, Luckesi (2001), destaca que a violência
simbólica está inserida em diferentes contextos sociais. Muitas vezes a escola
37
tem contribuído para manter a desigualdade social, transmitindo aos seus
alunos uma uniformidade no ensino e cobrando conceitos, padrões e regras da
classe dominante. O espaço escolar acaba se tornado “máquina de ensinar”, e
quem não segue seus padrões de qualidade quase sempre é castigado ou
punido por não se estar apto, e não é questionado pelos seus erros. Luckesi
nos ensina que
[...] um aluno manifesta uma conduta não aprendida e, por isso, segundo senso comum, é culpado; como tal deve ser castigado de alguma forma, a fim de que adquira e direcione seus atos na perspectiva da conduta considerada adequada. [...] o erro é sempre fonte de condenação e castigo, porque decorre de uma culpa e esta, segundo os padrões correntes de entendimento, deve ser repara. Esta é uma compreensão e uma forma de agir que configuram no nosso cotidiano de ser. (LUCKESI, 2001, p.193).
No interior da sala de aula não existe a possibilidade de contemplar o
erro no processo de ensino-aprendizagem. Na maioria das vezes o que se
observa é que ao ocorrer o erro, ele se torna objeto de punição e de
condenação.
A concepção do erro na avaliação classificatória aparece como algo a
ser excluído, banido, e castigado por grande parte dos professores. Dessa
forma, o erro pode gerar sentimento de tristeza, solidão e vergonha aos alunos,
por não conseguirem atingir o objetivo proposto pelo professor, ou por,
produzirem como os padrões exigidos pela escola. Com isso esses
sentimentos, geralmente, causam na pessoa uma culpa. Segundo Luckesi
(2001, p. 194), a concepção culposa atravessa o indivíduo onde “A culpa
impede a vida livre, a ousadia e o prazer, fatores que, multiplicados ao nível
social, significam a impossibilidade de controle no processo da vida em
sociedade [...]”
O sentimento de culpa gerado pelos erros poderá causar danos ao
longo da vida, pois muitos alunos carregam essa culpa por não conseguirem
reter informações, e consequentemente não avançando em seus
conhecimentos. Castigo e humilhações com atitudes grosseiras são instituídos
para aqueles que não cumprirem o papel social estabelecido. Para Luckesi
38
(2001, p.194) a culpa produz retenção de sentimentos e pode gerar uma
limitação da vida “[...] um controle social internalizado, e cada um fica se
estivesse engessado, impossibilitado de expandir seus sentimentos e
necessidades vitais”.
Castigos e punições afetam o desenvolvimento do indivíduo, na medida
em que estes sentimentos podem se estender em diferentes situações pela
vida a fora, fazendo vítimas, envolvendo não só a punição, mas também a
vontade de castigar os outros a partir destes sentimentos. Esses fatores
gerarão a culpa no indivíduo para além dos muros da escola. O mais grave,
entretanto, é que nem sempre quem oprime se dá contas de que está
oprimindo.
Assim, a prática escolar, quando levada a cabo na dimensão do erro,
poderá desenvolver e reforçar no educando o sentimento de culpa, que segue
pela a vida a fora, pois além de ser castigado por outros, as vezes sofre com a
autopunição. E mais: quem é castigado também tenderá a reproduzir tal ação
vindo a castigar também. Noutra ótica, quando lembrado da culpa, o educando
sofrerá com os castigos estabelecidos, por outros, e também pela autopunição
por supostos erros que atribui a si mesmo.
Para Luckesi:
Nem sempre a escola é responsável por todo processo culposo que cada um de nós carrega, mas reforça (e muito) esse processo. [...] O clima de culpa, castigo e medo, que tem sido um dos elementos da configuração da prática docente, é um dos fatores que impendem a escola e sala de aula de serem um ambiente de alegria, satisfação, e de vida feliz. (LUCKESI, 2001, p.192).
O sentimento de incapacidade, configurado pelo erro, denota que
aqueles que o cometeram não se enquadram nos moldes preestabelecidos, da
correção, pois errar é algo muito ruim que causa medo, devendo o erro ser
punido com castigo. A ideia de castigo e punição, como forma de correção no
ambiente escolar, em nada contribui para o desenvolvimento do aluno no
processo de construção do saber, impedindo avanços e superações em termos
de aprendizagem. Tal com concepção precisa ser superada e relegada ao
39
passado, pois o erro tem de deixar de ser uma prática pedagógica que exclui
os alunos das salas de aula, e os deixam amedrontados e traumatizados para
encararem a vida.
Segundo Luckesi:
A visão culposa do erro, na prática escolar, tem conduzido ao uso permanente do castigo como forma de correção e direção da aprendizagem, tomando a avalição como suporte da decisão. Todavia, na visão sadia do erro possibilita sua utilização. (LUCKESI, 2001, p.189).
Os métodos e instrumentos de ameaças usados pela a escola para a
correção do erro são dos mais variados. Apesar de em grande medida não
tolerar mais o castigo físico, o professor adota outros métodos. Por exemplo,
poderá deixar seus alunos sem recreio, colocando-os para fora da sala de aula
com a finalidade de “pensar”, ou de “refletir” sobre os erros cometidos. Outra
maneira comum de punir é enviar os alunos à direção da escola, causando
medo.
É necessário deixar pra trás a prática pedagógica que utiliza o erro do
aluno para puni-lo, humilhá-lo, e castiga-lo. Também se faz necessário
abandonar métodos que incentivam a marginalização, criam ódio, excitam à
violência e causam sentimentos de inferioridade, na maioria das vezes
excluindo-o não somente da escola, mas da própria sociedade e podendo
marcá-los para sempre.
O erro, em sua perspectiva punitiva suscita, entre aqueles que o
cometem e que são por ele responsabilizados, o desejo de se tornarem
invisíveis, retirando a alegria, a satisfação e a possibilidade de realização no
ambiente escolar. Por conseguinte, estudar e aprender passam a ser um
martírio, quando deveriam se configurar em desejo progressivamente
crescente. Errar tem um peso muito grande; por isso, culpar-se pelos nossos
erros poderá trazer momentos de frustração e desprazer em realizar diferentes
atividades, seja, na sala de aula, ou em qualquer outro lugar.
40
Ao contrário disso o erro deveria ser fonte enriquecimento para o
crescimento coletivo e individual na sala de aula. Como nos afirma Luckesi
(2001, p.194), “[...] o erro poderia ser visto como fonte de virtude, ou seja, de
crescimento”. É fundamental deixar para trás a utilização do erro para punir e
humilhar, para marginalizar e excluir, que apenas despertam raiva e frustração.
Urge a necessidade de que escolas e educadores venham a considerar
que o erro é ponto de passagem para possíveis avanços na aprendizagem, e
não considerá-lo como um determinante de exclusão, como desencadeador de
punições, repreensões e penalidades. Sob a perspectiva excludente, de uma
avaliação classificatória, o erro deixa de ser um acontecimento natural no
processo de construção do conhecimento. Nesse sentido, o erro deixa de
oferecer bases para a composição de valiosos indicadores pedagógicos.
Segundo Luckesi:
[...] o erro, conscientemente elaborado, que possibilitou a oportunidade de revisão e avanço. Todavia, se nossa conduta fosse a de castigar, não teríamos a oportunidade de reorientar, e o aluno não teria chance de crescer. Ao contrário, teria um juízo no seu crescimento, e nós perderíamos a oportunidade de sermos educadores. (LUCKESI, 2001, p.198)
Resgatar as concepções e significações do erro no contexto escolar por
meio da reflexão nos parece urgente, afim de oportunizarmos, em processos
interventores, o resgate das condições de construção de diferentes
possibilidades de interpretação da realidade, sem que estas tenham que
atender ao julgamento externo em detrimento do erro de quem atua diante do
objeto de conhecimento. Os professores podem escolher como atuar diante do
erro de seus alunos.
Podemos considerar o erro como indicador da estrutura cognitiva do
aluno, e a partir disto planejar uma intervenção ativa, a fim de que o erro se
torne observável e indique os caminhos para a mediação da construção do
sujeito cognoscente.
41
Geralmente o erro é diretamente associado ao fracasso, à incapacidade
de aprender e a sentimentos de rejeição. Nessa dimensão é comum se
condenar quem fracassa. Dessa forma, o fracasso está diretamente ligado ao
erro, pois quem fracassa é considerado como um desqualificado, sendo
culpado pelos seus fracassos. Então para muitos, o erro é um sinal de
fracasso, e quem erra é visto como quem não sabe ou não são capazes de
fazer.
Outro modo poderá tomar o erro como indicador do fracasso do aluno,
fechando assim os olhos para aquilo que está em processo de construção,
rotulando, segregando e cupabilizando o aluno pela não aprendizagem. Qual
seria, então, a melhor escolha? Cremos que o professor deve estar se
reavaliando, refletindo sobre o seu processo de avaliar castigar e punir o seu
aluno. Hoffmann nos propõe um desfio:
A postura do professor frente às alternativas de solução construídas pelo aluno deveria estar necessariamente comprometida como tal concepção do erro “Construtivo” (grifo do autor). O que significa considerar que o conhecimento produzido pelo educando, num dado momento de sua experiência de vida, é conhecimento em processo de superação. (HOFFMANN, 1994, p.67).
Partindo deste princípio elencado por Hoffmann (1994), a intervenção
do professor deve se dar de um modo desafiador, fazendo questionamentos a
respeito das hipóteses apresentadas, ou trazendo novas situações para que os
alunos possam confrontar suas respostas anteriores com as atuais, no sentido
de desestabilizar as suas certezas. Essa seria a postura correta de um
educador que, ao romper com a relação autoritária entre professor e aluno,
busca construir ruma relação dialógica, de horizontalidade, na prática
pedagógica.
2.2 As práticas pedagógicas que classificam o aluno
42
Como já relatamos nos capítulos anteriores as práticas de avalição
escolar estão sendo conduzida há muito tempo parar classificar o aluno,
utilizam-se de instrumentos para selecionar, e os professores vem
apresentando autoritarismo na sala de aula, privilegiando a competição e
julgamento. Interferindo assim, na aprendizagem e na ação pedagógica.
As práticas avaliativas seguem padrões sociais estabelecidos pelo
modelo conservador, autoritário, e disciplinador pois este caráter pertence à
essência dessa perspectiva de sociedade, que exige controle e enquadramento
dos indivíduos. Para Luckesi:
A prática da avaliação escolar, dentro do modelo liberal conservador, terá de, obrigatoriamente, ser autoritária, pois esse caráter pertence à essência dessa perspectiva de sociedade, que exige controle e enquadramento dos indivíduos nos parâmetros previamente estabelecidos de equilíbrio social, seja pela utilização de coações explícitas seja pelos meios subreptícios das diversas modalidades de propaganda ideológica. A avaliação educacional será, assim, um instrumento disciplinador não só das condutas cognitiva como também das sócias, no contexto escolar. (LUCKESI, 2001, p. 79-80)
Na maioria das vezes, o sistema educacional, tem se apoiado na
avaliação classificatória com a pretensão de verificar aprendizagem ou
competências através de medidas, de quantificações. Professores não definem
o conceito medida, mas se aprimoram dele para atribuírem graus numéricos na
vida escolar do aluno. Verifiquemos o que Hoffmann, classifica como medida:
A palavra MEDIDA, (grifo do autor) principalmente, recebe várias definições e assume uma ampla e difusa conotação. Pelo seu significado próprio, medimos, extensão, quantidade, volume, e outros atributos dos objetos e fenômenos. [...] nem todos os fenômenos podem ser medidos, por não haver instrumentos para tanto, ou por não admitirem tal precisão numérica. (HOFFMANN, 1994, p. 47)
Esse tipo de avaliação exerce sobre o aluno um julgamento feito pelo
professor que da sentença, através do processo avaliativo. Coleta dados sobre
o fazer do aluno, impõe seus objetivos, estabelece um juízo de valor sobre o
que observa (comportamento e aprendizagem), e conceitua-os como bom ou
43
ótimo aquele que aprendeu todo conteúdo aplicado, e ruim aquele que não
consegui atingir as metas prevista por ele. O professor quando avalia
estabelece metas para “jugar” o seu aluno, tem como objetivo analisar a
qualidade da aprendizagem e quantidades de erros e acertos para determinar
ou medir aquilo que o aluno atingiu. Para Luckesi (2001, p. 80) “A avalição
pode ser caracterizada como uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto
ser avaliado [...]”
A avaliação classificatória produz diferentes atividades para avaliar seus
alunos, tais como provas, exames, testes, exercícios, questionários, trabalhos,
entre outras. Com a intenção de atribuir valores ao aluno naquilo que foi
realizado. A escola aplica instrumentos avaliativos aos alunos, eles por, sua
vez, produzem, o professor corrige, e avalia o desempenho e trabalho
realizado. Essas avaliações podem provocar tensões nos educandos, pois
revelam a qualificação e a desqualificação quando as notas são apresentadas
pelos dos boletins, ou, outros métodos utilizados pela escola.
Não são só os padrões de aprendizagem que a escola determina que
sejam prefeitos, mas também um bom comportamento é exigido por ela, os
alunos devem respeitar condutas sociais. Na hora de disciplinar os alunos,
muitos professores exercem sua autoridade para ameaçá-los, sendo uma
prática comum no meio escolar para manter uma “ordem social” dentro da sala
de aula ou, dentro da escola. Práticas essas que podem ser usadas como
instrumento de ameaça, impondo medo no aluno e impedindo o seu
crescimento. Como nos assegura Luckesi:
Uma atitude de “indisciplina”, na sala de aula, por vezes, é imediatamente castigada com um teste relâmpago, que poderá reproduzir as possiblidades de aprovação de um aluno; ou, às vezes, os alunos são, advertidos, previamente, que “se vierem a ferir a ordem social da escola” (grifo do autor) poderão sofrer consequências nos resultados da avalição, a partir de teste mais difíceis e outras coisas mais. (LUCKESI, 2001, p. 88)
Os castigos infringidos aos educandos, quando erram em decorrência
da aprendizagem, são os desdobramentos das situações avaliativas exercidas
sob a responsabilidade classificatória. Punir ou recompensar são ações
44
decorrentes da divisão entre erro e acerto, atitudes que são constantes na
avaliação classificatória, levada a termo no intuito de controlar os estudantes,
dividindo-os em grupo e subgrupo, diferenciando-os, comparando-os,
hierarquizando-os e, ainda, tentando, homogeneizá-los em conformidade com
um padrão considerado adequado. A prática escolar que: impõe ritmo de
aprendizagem, seleciona conteúdos estabelecidos por um sistema, que
controla resultados, padroniza tarefas avaliativas certamente define, quem
pode participar quem não pode participar do seu núcleo.
Hoffmann (2001), nos mostra que alunos que estão fora do padrão são
considerados pela avaliação classificatória, como aqueles que precisam ser
disciplinados, encaminhados às aulas de reforço, pois, não aprende na sala de
aula, e perturbam os alunos que realmente querem aprender e precisam de
ambientes tranquilos para que aprendizagem flua.
Condutas de alunos, fora do padrão (condutas adequadas sinônimo de aprendizagem; condutas inadequadas sinônimo de dificuldades), são também situações inusitadas para os professores. Assim, criam-se fórmulas padronizadas para isso, aliadas ao poder disciplinador de um processo classificatório. (HOFFMANN, 2001, p. 64)
Este tipo de avaliação pressupõe que as pessoas aprendam do mesmo
modo, nos mesmos momentos e tenta evidenciar competências isoladas. A
escola quer controlar o tempo de aprendizagem e determinar sempre o que se
vai aprender, desconsiderando assim, os múltiplos aspectos a diversidade dos
alunos. Parar que sejam inclusos no do caminho da aprendizagem, é
necessário educadores e educandos caminhem juntos, seguindo os mesmos
rumos, se conhecendo, dialogando, e refletindo sobre experiências educativas
que ambos estão compartilhando. A avaliação educacional deve levar em conta
os trajetos do avaliador e do avaliado, estreitando essa relação em busca de
novos rumos para ajustar os passos. Segundo Hoffmann (2001, p. 57) trajetos
esses “[...] que se desencontram, por vezes, e se cruzam por outras, mas
seguem em frente, na mesma direção”. O professor precisa ampliar seu olhar,
perceber o seu aluno e valorizar o seu conhecimento. Deve se preocupar com
prática educacional, cada passo de sua ação deverá contribuir para o processo
45
de aprendizagem de seu aluno. Neste contexto a avalição não poderá ser
mecânica.
Muitos professores estão mergulhados nas próprias ideias, e não
conseguem perceber os seus alunos, ou, não ouvem eles querem dizer. Com
isso, muitos educandos vivem no anonimato dentro das suas salas de aula, e
não são percebidos pelos seus professores, acabam passando anos pela
escola sem darem conta da existência dele. A história da avaliação educacional
vem sendo construída por um forte reprodutivismo, suas práticas se repetem
há anos. Professores parecem encasáveis na hora de seguir os padrões de
mensuração, e o sistema escolar de avalição define em seus arquivos quem
está aprovado ou reprovado. Na função classificatória, o aluno é avaliado e
classificado, passando por modelos avaliativos e pelo julgamento de valor.
Como nos assegura Luckesi:
A atual prática da avaliação escolar estipulou como função do ato de avaliar a classificação e não o diagnóstico, como deveria ser constitutivamente. Ou seja, o julgamento de valor, que teria a função de possibilitar uma nova tomada de decisão sobre o objeto avaliado, passa a ter a função estática de classificar um objeto ou um ser humano histórico num padrão definitivamente determinado. Do ponto de vista da aprendizagem escolar, poderá ser definitivamente classificado como inferior, médio, ou superior (grifo do autor). Classificações essas que são registradas e podem ser transformadas em números e, por isso, adquirem a possiblidade de serem somadas e divididas em médias. (LUCKESI, 2001, p. 82)
Se recorrermos a nossa memória, certamente nos lembraremos de
muitas experiências de fracasso, inclusive aquelas vividas no seio da escola, e
que para muitos são as que deixaram marcas um tanto mais profundo. O
fracasso escolar está diretamente ligado ao sistema de avaliação, que cobra
das escolas resultados de despenho dos educandos, qualificação dos
professores, e no final são comparados a qualidade das instituições de ensino
e da aprendizagem dos alunos. Dependo dos resultados obtidos a escola
ganha investimento do governo, se forem satisfatórios a ação se torna um
sucesso, mas se forem resultados insatisfatória é denominado como fracasso
46
dando a entender que tudo está perdido. Esteban (2009, p. 129) nos traz um
breve relato de como o sistema de aviação enquadra um grupo de estudantes.
“Na análise das competências e habilidades na leitura de textos, dos
estudantes de 4ª série, aferidas através do SAEB, são estabelecidos quatro
níveis: muito crítico, crítico, intermediário e adequado [...]”
Os estudantes são avaliados em relação a um conjunto de competências e a partir de seus desempenhos são inseridos em um dos níveis cujas características são predefinidas, produzindo narrativas que ressaltam fragmentos descontextualizados que se articulam e permitem a enunciação legítima sobre o outro. (ESTEBAN, 2009, p.129)
O sistema de exames invadiu as escolas, os alunos têm que se
submeter a eles. A execução dos, testes, provas, exames é uma atividade de
ação que se estabelece como instrumento de controle. E o que se espera são
sempre os melhores resultados, não acontecendo há indagação sobre o seu
fortalecimento. Na perspectiva dessa avalição excludente, alunos são
desvalorizados e silenciados, não existindo assim, a valorização da sua cultura
e do processo de construção da aprendizagem. O que se fortalece é hierarquia
com a sua seleção, classificação, e exclusão. As práticas pedagógicas
predominantes seguem rumos da quantificação, mas cabe ao professor criar
novos horizontes, montar novas estruturas e apresentar diferentes
possibilidades de aprendizagem ao educando. Sabemos que são muitos os
desafios, como nos apresenta Esteban:
Muitos são os desafios colocados para a escola quando a ela acedem os “condenados da terra” (grifo do autor), em uma expressão de Fanon e de Freire. Não sei se sabemos exatamente quais desafios são. Ou se o que se propõe como desafios são efetivamente os que temos que enfrentar. Ou ainda, quais são os desafios existentes, fundamentais, aos quais não conseguimos reconhecer por estarem imersos no silêncio ou na obscuridade, para onde foram enviados no processo de colonização ainda não superado. A avaliação baseada no diálogo pode ser um dos elementos para uma melhor compreensão dos percursos a trilhar. (ESTEBAN, 2009, p. 133)
Essas práticas classificatórias se polarizam no poder do sistema
educacional brasileiro, expondo seus alunos a práticas de exames e
47
conceituando-os para obter resultados bons/runs, ou a produção do
fracasso/sucesso com intuito de exclui-los ou inclui-lo dentro da sociedade.
Existe a possibilidade de romper com as estruturas excludentes já consolidada,
tecendo novos laços entre o ensino e aprendizagem, criando espaços para
estimular os contatos, sinalizando formas mais solidarias de compreensão e de
construção da realidade escolar e social.
48
CAPÍTULO III
INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENSIZAGEM
A instituição educacional é um espaço que proporciona a construção do
conhecimento não só para o aluno, mas também parar todos aqueles fazem
parte da relação de interação no processo de ensino-aprendizagem.
Enquanto um campo do conhecimento relativamente novo, a
psicopedagogia tem unido satisfatoriamente os saberes da psicologia com os
da pedagogia na busca por atender a uma demanda de alunos com
dificuldades no processo de aprendizagem1. As ferramentas da psicopedagogia
1 Os primeiros estudos no campo da psicopedagogia surgiram no Brasil no século XIX, para atender a demanda dos problemas de aprendizagem. As crianças com dificuldades de aprendizagem eram, até então, atendidas somente por médicos e psicólogos. Os primeiros estudos basearam-se em modelos oriundo de outros países, e foi gradativamente caminhado para a construção do seu próprio modelo. O caminho trilhado iniciou-se com pesquisa “reflexão sobre os problemas de aprendizagem”, por psicólogos que estudavam o desenvolvimento da criança. No início aplicavam testes padronizado de inteligência muitos diagnósticos feitos nessa base isentava a escola da responsabilidade do problema. Tanto nos Estados Unidos como no Brasil foi se ampliando o interesse pelo estudo da psicologia aplicada a educação. Surgiram, então, no Brasil, no século XX, os primeiros laboratórios de psicologia que eram estudados os assuntos ligados à educação. Em 1930, Helena Antipoff veio ao Brasil para trabalhar com os educadores na formação de dirigentes educacionais e fundou a Sociedade Pestalozzi do Brasil, que passou a atender as crianças com deficiência mental. Já em 1960, se retornou o modelo médico para explicar os problemas na escolarização. Começou, então, a ser questionada a postura do profissional da educação e a postura do psicólogo, que também atuava como clínico na escola. Iniciou-se uma discussão sobre a atuação do psicólogo no desenvolvimento da aprendizagem. Em 1980, surgiram os primeiros cursos de psicopedagogia. Em princípio foram adotados modelos teóricos provenientes da Argentina. Segundo Mota (2004, p. 14) “Este modelo se baseia num modelo tridimecional dos problemas de aprendizagem, visto sob o prisma da psicanálise [...]”. Nos anos 1990 aconteceram uma mudança da psicopedagogia na maneira de pensar nos os problemas da aprendizagem. Uma visão preventiva em relação aos problemas de aprendizagem foi, então, concebida. Atualmente o campo das dificuldades na aprendizagem abrange uma atuação geral nas áreas da psicologia, pedagogia e psicopedagogia, mas cada profissional tem a sua forma a especifica de lidar com tais dificuldades. Os psicólogos, por exemplo, atuam na área clínica, diagnosticando e intervindo nos casos de crianças que apresentam problemas de aprendizado estabelecido. A sua função dentro do trabalho escolar é participar da equipe escolar e auxiliar todos os profissionais atuantes no desenvolvimento de atividades educacionais para minimizar os problemas lidados ao fracasso escolar. A pedagogia identifica os problemas de aprendizagem no processo de atuação dos alunos dentro da escola. O campo de atuação dos psicopedagogos é, por sua vez, analisar e identificar os problemas de aprendizagem e intervir na busca da estrutura do pensamento e suas formas de se relacionar com o conhecimento e com o meio, assim intervindo com recursos que possibilitem e conduzam a entendimento do que realizam, até serem capazes de modificar o que for necessário.
49
também têm instrumentalizado os profissionais que atuam nas instituições
escolares no resgate da sua identidade com o saber e, portanto, como a
possibilidade de aprender.
O campo da educação tem muito a buscar na situação da não-
aprendizagem na escola, para sua consequente superação. Com isso, a ação
psicopedagógica se concentra na prevenção do fracasso e nas dificuldades
escolares, não só do educando como também dos educadores e de outros
envolvidos neste processo de articulação entre a aprendizagem e a não
aprendizagem, que é tão temida no contexto escolar. Nesse sentido, Porto
(2009), destaca algumas necessidades de atuação psicopedagógica, ao
afirmar a necessidade de uma intervenção psicopedagógica que possibilite
investimentos
[...]na melhoria das relações de aprendizagem e na construção da autonomia não só dos alunos, mas, principalmente, dos educadores. A construção da autonomia do professor, da postura crítica em relação à sua ação pedagógica e o desenvolvimento da autoria de pensamento pode acontecer pela intervenção psicopedagógica na escola (PORTO, 2009, p. 116).
O panorama do ensino-aprendizagem que ainda se estabelece dentro
das instituições escolares é a transmissão de conteúdo repassado pelo
professor por meio dos livros didáticos. Para que haja a memorização, essa
sistematização conta com exercícios repetitivos, maior tempo para o professor
falar e os alunos ouvirem, e silêncio total dos alunos para manutenção da
disciplina em sala de aula. Para Barbosa (2006), ensinar e aprender são muito
mais do que realizar os exercícios, ou saber para fazer provas, do que
preencher cadernos. Segundo o autor, tais fenômenos se constituem em “[...]
colocar nova combinação na vida, (...) transformar o que já existe, (...) poder
pensar e agir de outra forma, (...) poder completar ideias”. (Barbosa, 2006, p.
21).
Atualmente, o papel da escola não é somente conduzir o conhecimento,
e sim articulá-lo com o que o aluno recebe fora da escola. A sistematização
que a escola deve desenvolver precisa ser ativa, relacionando as informações
que o aluno traz, às necessidades sociais, às relações humanas e ao
50
conhecimento através da sua história. O processo aprendizagem vai além da
aprendizagem escolar, vem se constituindo de experiências que esse aluno
guarda ao longo da vida. Portanto, aprender se constitui em um processo
coletivo que envolve paralelamente a inteligência, por meio cognitivo, que
busca generalizar, classificar e organizar, identificando semelhanças individuais
e buscando subjetividades e diferenças.
Segundo Porto:
A aprendizagem não se faz diretamente, mas sim pela ação, isto é, a pessoa transforma e reproduz as informações a que tem acesso, em função dos seus recursos próprios. A aprendizagem tem, assim, uma função integradora, estando diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da vida, sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais. (PORTO, 2009, p.150).
Os problemas de aprendizagem são constantes dentro da sala de aula.
Destarte, é necessária uma leitura psicopedagógica para identificar o
significado da aprendizagem para cada aluno. Contudo, não cabe à escola
tratar as disfunções do aluno, mas favorecer o desenvolvimento e a produção
do conhecimento, tanto interno como externo, criando um ambiente sadio e
prazeroso para realização de novas descobertas. Barbosa (2006, p. 25) afirma
que “A motivação é interna, porém, a sua ativação pode ser feita tanto a partir
de movimentos internos, quanto externos”. O aluno pode gostar da escola,
mas o professor precisa desenvolver competências para que isso aconteça.
Uma dessas competências é saber administrar situações de aprendizagem,
tanto do aluno quanto dele mesmo. Ensinar e aprender exige, cada um, esforço
e mobilização de ambos, professor e aluno. Conforme destaca Porto:
Cabe ao professor tornar o processo de aprendizagem incentivador, em si mesmo, levando as crianças a direcionar toda a sua energia e a sua motivação no enfrentamento dos desafios intelectuais proposto pela escola, para o desempenho do trabalho de construção do conhecimento. O prazer não vira só aprendizagem em si mas também do sentimento de competência pessoal, da segurança de hábil para solucionar problemas. (PORTO, 2009, p.47).
51
Para que haja mudança na prática educacional é necessário que toda a
equipe escolar esteja disposta a dialogar e refletir sobre as novas formas de se
trabalhar a construção e produção de conhecimento. O ingresso da
psicopedagogia como campo ligado à educação e da psicologia para lidar com
essas novas discussões e reflexões é essencial para que a escola possa
contribuir com desenvolvimento do seu alunado, pois as intervenções
psicopedagógicas investem na melhoria das relações de aprendizagem e na
construção da autonomia do aluno, e também do professor.
O psicopedagogo, juntamente com a equipe escolar, deve mediar a
construção do conhecimento pelo aluno no ambiente escolar e fora dele. Deve
ter como finalidade precípua o ato de aprender do aluno, com autonomia de
pensamento, descoberta da originalidade, da diferença, proporcionando, a
partir de então, a criação de espaços para o desenvolvimento da criatividade.
Aprender é lançar-se ao desconhecido e desejar conhecê-lo, experimentá-lo e
relacioná-lo aos conhecimentos já existentes, transformando-os em
instrumentos capazes de agir sobre a realidade. É permitir ao aluno caminhar
sobre o passado e o presente experimentando e aproveitando sua própria
história, sem medo de enriquecê-la. Para Fernández:
Necessitamos um modo diferente de anlisar a relação entre o futuro e o passado para entender o que acontece em todo processo de aprendizagem. Aprender é construir espaço de autoria e, simultaneamente, é um modo de ressituar-se diante do passado. A construção autobiográfica jamais está terminada. Os capítulos que se criam definitivamente acabados podem prestar-se a modificações. Se isso não fosse possível, nenhum trabalho terapêutico seria possível, que três de diferentes formas supõem a ressignificação da história. (FERNÁNDEZ, apud AZEVEDO, 2004, p.73).
Quando as ações pedagógicas estão desorganizadas podem resultar
uma desarmonia e causar no aluno problemas na aprendizagem. Enquanto
campo do conhecimento, a psicopedagogia contribui para que essas ações
estejam em harmonia, trazendo para o educador a possibilidade da prevenção
das dificuldades de aprendizagem, a partir do momento em que viabiliza a
construção de uma ação voltadas para reais necessidades dos alunos.
52
É fundamental para o psicopedagogo trabalhar nas instituições
escolares as diferenças entre os indivíduos, entendendo como se agrupam e o
tipo de relação que estabelecem entre eles.
Para a psicopedagogia, conhecer o outro se torna uma necessidade
saber como ele pensa, como se comporta diante das situações e como
expressa sentimentos, ou seja, conhecer a sua especificidade é importante,
pois auxilia a intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem. Porto
(2009, p. 118) nos assegura que “A investigação diagnóstica em relação à
modalidade de aprendizagem de cada aluno permite ao educador a
organização de um planejamento de ensino adequado”.
Ao ser realizada uma análise psicopedagógica no aluno, o profissional
do campo deverá considerar sues aspectos cognitivos, orgânicos, afetivos, e
sociais, que permitam uma identificação de como esse aluno aprende, suas
dificuldades e fraturas.
Também se faz necessário e importante redimensionar as ações
pedagógicas e refletir sobre as dificuldades que o aluno traz consigo,
considerando as experiências de aprendizagem anteriores à escola, ou mesmo
aquelas já geradas pela escola. Isso possibilita ao educador auxiliá-lo para a
sua superação e colaborar para o desenvolvimento da autonomia e da
aprendizagem do aluno. Porto (2009), relata que o psicopedagogo deve mediar
e intervir entre o sujeito e a sua história traumática no que lhe causou
dificuldade de aprender.
De acordo com Porto o psicopedagogo deve:
[...] tomar ciência do problema de aprendizagem e interpretá-lo para a devida intervenção. Com essa atitude, o psicopedagogo auxiliará o sujeito a reelaborar sua história de vida, reconstruindo fatos que estavam fragmentados, e a retomar o percurso normal de sua aprendizagem. [...] o trabalho preventivo pretende “evitar” os problemas de aprendizagem, utilizando-se da investigação da instituição escolar, de seus processos didáticos e metodológicos etc. [...] analisa a dinâmica institucional com todos os profissionais nela inseridos, detectando os possíveis problemas e intervindo para que a instituição se reestruture. (PORTO, 2009, p.149-150).
O papel da aprendizagem é fundamental para a construção do
conhecimento e para a evolução das habilidades. Os problemas de
53
aprendizagem podem estar relacionados a falhas nas inter-relações com a
totalidade dos elementos que fazem parte do sujeito. Esse sujeito possui várias
dimensões que são interdependentes umas das outras, e ao interagir com o
meio que é diversificado, do qual faz parte, se desenvolve e aprende. Estamos
falando do sujeito que é capaz de aprender em seu meio de referência, nas
interações que entalece com meio social, nas relações afetivas com família,
assim esses elementos se tornam motivadores para a aprendizagem.
Cada sujeito apresenta um desejo e uma forma de aprender, que deve
ser respeitado no seu o tempo e no espaço, que é utilizado para que ocorra a
aprendizagem. Para Fernández (2001), a epistemologia genética pode
contribuir para o processo de formação da aprendizagem do sujeito. Segundo a
pesquisadora, o campo da educação conta também “[...] com a epistemologia
genética, que na fala de um sujeito de conhecimento, sujeito epistêmico que
constrói suas estruturas cognitivas. Esse sujeito ativo, através da assimilação e
da acomodação, tende a adaptar-se ao meio”2.
Na relação que se estabelece entre professor-aluno a aprendizagem
acontece de maneira formal, onde o objetivo é a troca do conhecimento. No
entanto, a psicopedagoga argentina Alicia Fernández, nos traz uma nova
expressão ensinante e aprendente, que atribui como valor de conceitos o ponto
de vista pelo qual a relação do ensino-aprendizagem estaria pautada em
valores subjetivos. Para Fernández (2001, p.54) “[...] a psicopedagogia
necessita definir seu próprio sujeito; eu defino como sujeito próprio da
psicopedagogia o ensinante-apredente, ou seja, o sujeito da autoria de
pensamento”.
Fernández (2001), aponta um novo olhar sobre o processo de ensino-
aprendizagem, onde o sujeito estabelece na relação entre o conhecer e o
saber. Como nos assegura Fernández (2001, p. 55) “Aprender é ir do saber a
apropriar-se de uma informação dada a partir da construção de conhecimentos;
processo no qual intervêm inteligência e o desejo”. O tempo e o espaço do
aprender acontece para além dos muros da escola, sendo percebidos em sua
totalidade e na complexidade da vida de cada um de nós.
2 Grifo do autor.
54
Realizando uma leitura psicopedagógica dos alunos e professores nas
posições ensinantes e aprendentes, observamos que a aprendizagem se
estabelece na dinâmica das relações e do convívio uns com os outros. Assim
ampliam-se as relações existentes nas ações humanas de ensinar e aprender
atuantes no processo de aquisição de conhecimento, pois existe uma
flexibilidade nessa atuação ora o sujeito é o ensinante, ora é o aprendente.
Segundo a concepção de Fernández, a articulação do sujeito
aprendente e o sujeito desejante é capaz de construir
[...] um corpo sempre em inserção com o outro (Conhecimento-Cultura...) e com outros (pais, professores, meios de comunicação). O conceito de sujeito aprendente constrói-se a partir de sua relação com o conceito de sujeito ensinante, (grifo do autor) já são duas posições subjetivas, presentes em uma mesma pessoa, em um mesmo momento. [...] o aprender acontece a partir de uma simultaneidade. Até poderia se dizer que, para realizar ume boa aprendizagem, é necessário conectar-se mais com posicionamento ensinante do que com o aprendente. E, sem dúvida, ensina-se a partir do posicionamento de aprendente. (FERNÁNDEZ, 2001, p.55).
No sentido que temos refletido, a psicopedagogia tem como objeto
conhecer o saber, e não o conteúdo ensinado ou o conteúdo aprendido. Tal
objeto incide também sobre as posições que o ensinante e aprendente se
encontram, e a inserção da problemática numa só interação entre esses dois
objetos.
Portanto, para a psicopedagogia, a relação ensinar-aprender deve
proporcionar no ensinante e no aprendente, no educador e no educando uma
sensação de prazer. O espaço escolar nem sempre consegue provocar essa
sensação de satisfação em aprender e conhecer. As intervenções
psicopedagógicas podem auxiliar as instituições escolares analisando o aluno
em sua totalidade, identificando os tipos de vínculo que podem favorecer as
aprendizagens específicas, contribuindo, assim, para atuação e intervenção
dos professores para que essa aprendizagem se torne mais eficaz e prazerosa.
3.1 Um olhar psicopedagógico no processo de aprendizagem
55
Para a psicopedagogia, o processo de aprender provoca modificação no
sujeito, que ao aprender algo deixa de ser o que era. O momento de
aprendizagem é feito por motivações internas, que aparecem de forma sutil,
por algumas vezes não sendo percebido, sendo substituído por uma sensação
de prazer. Por isso, cada momento de aprendizagem deve se tornar um
instrumento instigante para que o sujeito cresça e se desenvolva em ações
construtivas.
São essas ações construtivas que o psicopedagogo deve utilizar para
ampliar o seu olhar, trilhando caminhos para abertura de espaços não só
objetivos mas, também subjetivos, onde a construção da autoria e da
autonomia de pensamento seja uma realidade concreta.
A psicopedagogia centra seus estudos no processo de aprendizagem
humana, analisando seus padrões evolutivos normais e suas patologias, bem
como a influência do meio familiar, escolar e social. O que se observa, é que a
psicopedagogia tem se constituído em um espaço plural e multidisciplinar,
estudando e pesquisando todo o universo do conhecimento humano. Para
construir uma estrutura que possa dar suporte a complexidade da
aprendizagem, a psicopedagogia tem investido subsídios teóricos para
fundamentar e sustentar as práticas educativas, dando significado ao
conhecimento.
Segundo Porto:
[...] a psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda – o problema da aprendizagem, colocado em território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evoluiu em virtude da existência de recursos [...] Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve se ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem. Portanto, vemos que a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações da aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. (PORTO, 2009, p.87-88).
O sujeito é dotado de múltiplos saberes, dente os quais a contribuição
do meio social do qual participa. A aprendizagem faz parte desse processo
ativo da construção do conhecimento. Para uma nova compreensão das
56
nossas práticas e condutas para valorizar e estimular a autonomia e autoria do
pensamento, o caminho a ser trilhado segue numa visão psicopedagógico que
vai à busca da liberdade humana. Dessa forma cada sujeito é capaz de criar,
inventar e inovar sua própria história, articulado com sua realidade. Neste
aspecto, o processo de aprendizagem se engloba em uma mudança de ritmo
das coisas, da ordem e da desordem, da certeza e incerteza, e essa realidade
está em constante movimento.
O ser humano não permanece o mesmo por muito tempo: necessita
dinamizar seu processo de conhecimento para acompanhar as mudanças
aceleradas que ocorrem no mundo e na própria vida, pois estas mudanças
acontecem em seu interior e fora dele. Surge então, muitas formas de
aprender, e cada um constrói a sua. Muitas e diversificadas são essas
aprendizagens, e a psicopedagogia precisar estar construindo junto com os
educadores novas formas de instigá-las. Parar Barbosa (2006, p. 15) “A
aprendizagem decorre de ação do aprendiz sobre o mundo e dos elementos
deste mundo que agem sobre ele, caracterizando uma ação dialética [...]”.
Neste sentido, para Beauclair:
Perceber o aprendizado como processo, no nosso tempo presente, requer a superação de um grande desfio: saber situar-se num contexto com excesso de informações e permanente produção. Na sociedade globalizada, onde podemos perceber a centralização na aplicação do uso da informação, aprender constantemente é ação imperativa. (BEAUCLAIR, 2004, p.57):
Aprender decorre da interação que se estabelece com os objetos de
aprendizagem, que envolve os aspetos biológicos, emocionais, afetivos,
espirituais, culturais e sociais. O ato de aprender também ocorre nas inter-
relações num processo de troca, onde o indivíduo compartilha o que sabe com
o outro, e vice-versa.
Sabemos que a dinâmica da relação entre educando e educador precisa
ser trabalhada constantemente, para que a aprendizagem possa circular em
todos os contextos da sociedade, e assim contribuir para que o indivíduo possa
ser atuante. Neste sentido, a construção do olhar atento da psicopedagogia se
volta para a compreender a trajetória evolutiva do conhecimento humano.
Como nos assegura Neto:
57
O aprendizado necessita de testemunhos, de modelos. Não se aprende pela simples experiência, mas numa relação de confiança, de crédito, de amizade, com aquele que cativou a disponibilidade do aprendiz. Práticas psicopedagógicas podem ajudar educadores que trabalham em programas sociais, contribuir para despertar dos sonhos e ilusões, ajudar o sujeito a aprender a conviver com frustrações e fracasso, e até superá-los construindo projetos de vida. A relação entre o ensinante e aprendente não deve ser coisificação e sim de emancipação, a única capaz de romper com o círculo vicioso do desconhecimento. O sujeito busca resistir, romper com a ditadura das circunstâncias, comunica-se, fala, protagoniza, apropria-se das coisas externas, encontram sentido e as transforma. (NETO, 2004, p.37-38).
Para conhecermos o sujeito, temos que realizar ações que possibilitem a
relação do objeto com esse sujeito, e contribuam para a identificação das
habilidades no campo do conhecimento. É fundamental para o psicopedagogo
gerar situações que articulem aprendizagem, pois nos dias atuais muitos sãos
os desafios para enfrentar a globalidade do conhecimento humano.
No espaço da globalidade germinam-se as ideias e a criatividade, e a
forma de entender essas ideias é tendo a visão do sujeito como ser integral,
avaliando outras maneiras de tentar compreender a realidade que o cerca.
Segundo Beauclair (2004), existem outras possibilidades visando uma
interação do todo com as partes e das partes com um todo. Nesse sentido,
para que este fenômeno ocorra, Beauclair (2004, p. 30) assevera que “[...]
existe uma rede complexa de múltiplas conexões, geradoras de outras redes,
onde indivíduos, propostas e métodos, técnicas e conteúdos são discutidos
numa perspectiva holística, integral”.
As escolas não dão conta da diversidade e da formação cultural
humana, e acabam aprisionando o conhecimento do aluno, tentando dar conta
somente do conhecimento científico. Novos olhares, novos horizontes seguem
para um conjunto de ideias que buscam uma nova prática pedagógica, que não
estão previstas dentro currículo. Assim, a psicopedagogia busca romper com
aprendizado proposto por muitas escolas, que seguem à risca o padrão
curricular, onde o aluno só pode aprender o que determinado no conteúdo, e é
aí que acontece a fragmentação da aprendizagem.
58
Podemos perceber nesse contexto que cada coisa se estabelece
obedecendo a uma ordem, e cada disciplina segue com seu conteúdo sem
fazer uma interlocução entre os conhecimentos já adquiridos pelo aluno em
outras disciplinas, ou presentes em seu cotidiano. A forma de cuidar das
coisas de modo separado gera uma fragmentação afeta e isola a todos.
Beauclair nos leva a refletir sobre as consequências da fragmentação quando
afirma:
A fragmentação nos levou ao desperdício de ideias, pessoas, materiais que nos remete a ter um mundo onde reina o individualismo, o centralismo e ausência de uma visão do todo compreendido como diversidade, pluralidade, e diferenças. A fragmentação consolidou a lógica determinista do já estabelecido pela tradição, gerando um mundo fechado, com certezas comprovadas e analisadas. (BEAUCLAIR, 2004, p.29).
Doutra forma, percebemos que descobertas devem gerar alegria, pois é
descobrindo e redescobrindo que nos tornamos eternos aprendizes. Encontrar
a real aprendizagem significa descobrir o prazer. Quando o sujeito aprende só
por aprender, acaba não construindo o desejo pelo conhecimento, mas quando
a aprendizagem passa pelo processo de estimulação, vivencia,
experimentação do mundo interno e externo, ocorrendo, então, a vontade de
interagir com o objeto do conhecimento.
A escola deve caminhar junto com o seu aluno, procurando despertar
nele o desejo de aprender. Ensinar e aprender fazem parte da necessidade
humana. Esse encontro não é somente do professor com o aluno, mas de duas
realidades que convivem dentro do mesmo espaço, construindo uma relação
dialógica.
Freire (2006), fala sobre a educação como prática da liberdade, onde
todos constroem juntos a cultura do conhecimento mediado pelo mundo.
Segundo o Freire:
[...] o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” (grifo do autor) já não valem. Em
59
que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo as liberdades e não contar elas. [...] homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. (FREIRE, 2006, p.76).
Sabemos que temos um longo caminho a trilhar em busca de uma visão
libertadora e democrática, num movimento de inter-relação, exercendo a
tolerância ao que é diferente de nós, e respeitando a individualidade e essência
de cada um. O grande desafio nos dias de hoje é manter essa relação, pois
vivemos no mundo globalizado, onde a cada dia as pessoas se afastam umas
das outras e passam a viver em seu próprio mundo. É a partir daí que
psicopedagogia deve atuar, elaborando projetos em parceria com a escola para
construir uma nova trajetória. Para que isso aconteça, é necessário
redimensionar nossas práticas e nosso cotidiano, criando projetos que sejam
comuns a todos, estabelecendo movimentos de ajuda mútua, investigando
vínculo de cooperação e colaboração para ganhar mais habilidades na
administração de conflitos e de dificuldades, sabendo lidar com as opiniões,
argumentações e pensamentos divergentes.
Beauclair (2004, p. 92) afirma que as práticas psicopedagógicas devem
embasar-se em uma perspectiva, “[...] desafiadora, que deve integrar os quatro
pilares aqui referidos: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
juntos, aprender a ser”.
Os olhares da psicopedagogia precisam se focar na ação da
aprendizagem amorosa, para que o ensinante e o aprendente construam uma
relação de afeto e de amor em nossa sociedade como um todo, concedendo
novos significados para aprendizagem humana e contribuindo para uma
sociedade mais humanizada.
Conviver e se relacionar com os outros não é uma tarefa fácil, mas é
necessário para existência humana nutrir-se de amor. É nos humanizando que
conseguimos ter a visão do outro, pois se olharmos só para nós mesmos, não
iremos descobrir o quanto é importante e valoroso aprender por meio das inter-
relações. Porto (2009, p. 52) nos assegura que “Os possíveis resultados e
horizonte dessa ação são realmente motivadores, mas o que nos moverá para
se conseguir tal educação é o sentimento de amor ao próximo”. Segundo
Celano apud Beauclair, todos somos
60
[...] iguais no nível das nossas essências. A cor, o cheiro, do corpo, a raça, acamada social a que pertencemos, somos aspectos exteriores que encobrem e disfarçam essa mesma essência, cujo destino é se ressurgir e brilhar. Em nosso olhar, em nosso sentir, em nosso agir. Se não tomamos consciência disso, não mudamos nossa postura no mundo e nem o conteúdo a qualidade de nossos sentimentos e expressões. Não contribuímos pra o mudar social. Vivemos construindo fronteiras – reforço do ego, do Ter, do poder, mas o tempo agora de passagem. Passagem para a fase do ser o do sentir. Abertura para um novo poder – o poder de afeto e da compreensão às necessidades alheias, do respeito, da dignidade, da autolibertação. (CELANO apud BEAUCLAIR, 2004, p.106).
Compreendemos, portanto, que a psicopedagogia, juntamente com toda
equipe escolar, precisam e devem cooperar para que a educação se torne um
instrumento de humanização do ser humano. Na realidade, tal fator ainda é um
dos maiores desafios para os psicopedagogos.
O trabalho do psicopedagogo deve contribuir na construção da matriz da
aprendizagem, englobando professor, psicopedagogo, aluno e sociedade, para
que todos participem do processo, e compreendam a importância da ajuda
construtiva, concebendo significado real à aprendizagem e auxiliando em suas
dificuldades. Afinal, segundo nos legou Freire (2006, p.79), ninguém aprende
sozinho. Todo ser humano aprende em comunhão com o próximo, pois “[...] os
homens se educam em comunhão mediatizados pelo mundo”. E essa é uma
realidade que jamais poderá ser questionada quando se busca o bem comum e
o progresso de todos os homens.
3.2 A “Pedagogia do erro” como proposta para a construção da aprendizagem
Falar do erro não é uma tarefa fácil. A ideia que muitos ainda têm é vê-lo
como forma de condenação. Por esta concepção quem erra merece castigo,
como vimos em capítulo anterior. Assim, o erro parece estar desconectado do
processo de aprendizagem e atribui-se ao fracasso. Desta forma a
problemática do erro demostra estar entrelaçada ao fracasso escolar como se
61
fosse causa e consequência. Neste sentido, errar é sempre percebido por
todos como fracasso. Esta infelizmente é a interpretação que muitos fazem,
relacionando o erro à não aprendizagem.
Pode-se analisar o erro de diversas formas. Um professor, por exemplo,
analisa a resposta dada na prova conforme a sua interpretação, quando o
aluno erra não avalia que aquela resposta pode ser trabalhada, interpretando
friamente que a questão está errada. Entretanto, outros professores observam
o erro como um pequeno deslize sem muita importância. Contudo, poucos são
os que se importam em transformar os erros em possibilidades concretas de
aprendizagem. Neste sentido, conforme salienta Carvalho:
Há erros de diferentes tipos, que podem nos sugerir diferentes interpretações possíveis. Por outro lado, para que haja aprendizagem concorre com uma enorme variedade de fatores. Alguns desses fatores são nossos velhos conhecidos, mas há outros cuja complexidade mal vislumbramos. Mas, ainda assim, ignorando os múltiplos fatores que intervêm na aprendizagem, temos feito diagnósticos pretensamente precisos e taxativos que invariavelmente ligam a existência do erro ao fracasso do aluno, como se fosse um caminho simples, invariável e de mão única – o que seguramente não é o caso. (CARVALHO, 1997, p.12-13).
Algumas propostas pedagogias avaliativas interpretam o erro do aluno
determinando o seu grau de inteligência. No entanto, em outras o erro é
considerado como construção da aprendizagem. Muitas escolas ainda têm
relacionado o erro dos alunos da mesma forma que a sociedade os trata, ou
seja, quem erra merece ser punido ou banido. Tais escolas não trabalham o
erro em uma dimensão pedagógica, mas seus alunos são vistos socialmente
como sujeitos excluídos, por não conseguirem atingir as metas previstas pela
escola e pela sociedade.
Na contemporaneidade, a questão do erro enquanto fenômeno de
construção dos saberes tem sido amplamente discutida. Pensar nesta
dimensão requer que se proponha uma nova pedagogia, para que o erro seja
identificado pelo educador de forma construtiva, ou seja, trabalhando o
desenvolvimento do aprendiz, planejando ações que contribuam para o
processo de aprendizagem.
62
Trabalhar nesta perspectiva requer se pensar na concepção do erro
com outra estrutura pedagógica, apresentada, inclusive, pela teoria piagetiana
da inteligência humana, que contribui para reorganizar o erro na perspectiva
aprendizagem. Segundo Taille (1997), para Piaget o conhecimento como
construção da aprendizagem denomina-se construtivismo. Enquanto teoria
pedagógica, segundo Taille (1997, p. 32), o “[...] construtivismo refere-se a um
conjunto de teorias que afirmam a evolução da inteligência é fruto da interação
do sujeito com seu meio, interação na qual, por um meio de trabalho de ação
e reflexão [...]”3.
O construtivismo propõe a construção do conhecimento embasando
suas ideias no conhecimento como interpretação, no conhecimento como
construção, no conhecimento e a socialização, conhecimento e motivação.
Quando relata o conhecimento como interpretação, conceitua-o como
assimilação: conhecer é dar significado. Também trabalha a ideia de interação,
onde o sujeito é capaz de interagir com o meio e criar diferentes formas de
assimilação.
Sendo assim, é de grande importância para o construtivismo a interação
do aluno com a cultura, com a sociedade, com escola e com os professores, ou
seja, com todo o meio que ele está inserido. Para Piaget apud Taille:
Toda o esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que ele assimila, isto é, de modificar-se em função de suas particularidades4, mas sem perder sua continuidade nem seus poderes anteriores de assimilação. (PIAGET apud TAILLE, 1997, p.33).
Segundo Piaget apud Taille (1997), também afirma que o sujeito tem
capacidade de se transformar e se desenvolver para dar conta das
singularidades do meio. Ao falar do processo de assimilação e acomodação,
Piaget relata o sujeito que organiza o conhecimento já adquirido, e elabora
estratégias para assimilar ou explorar construindo, assim, novos esquemas
enriquecendo a capacidade assimilação. E quando fala do processo de
equilibração, afirma que existe um desequilíbrio, criando conflitos entre a 3 Grifo do autor.
4 Grifo nosso.
63
assimilação e a acomodação, sugerindo a equilibração para dar conta desses
conflitos cognitivos. Segundo Piaget apud Taille:
É claro que numa perspectiva de equilibração, uma das fontes de progressos no desenvolvimento deve ser procurada nos desequilíbrios como tais, que obriga um sujeito a superar seu estado atual e a procurar o que quer que seja em direções novas. (PIAGET apud TAILLE, 1997, p.34).
Os processos evolutivos da inteligência para o autor é
consequência dos conhecimentos adquiridos por situações problematizadas,
que fazem do erro uma construção de aprendizagem. Fica claro, portanto, a
importância que é conferida à “pedagogia do erro” na aprendizagem e no
desenvolvimento. Desta forma, o erro ganha função, não de acusar o sujeito e
excluí-lo, mas de construir com os erros uma base para o próprio
desenvolvimento da inteligência. Mediante a essa teoria, temos que nos
importar com os erros dos nossos alunos e refletirmos sobre nossas práticas
avaliativas e pedagógicas, para darmos um novo sentido pedagógico aos
nossos erros e dos nossos alunos.
Taille (1997), nos assegura que temos que redimensionar nossas
práticas pedagógicas para enriquecermos o conhecimento do aluno através da
construção do erro como processo de aprendizagem. Em uma definição geral,
podemos dizer que o erro possibilita o sujeito a modificar seus esquemas,
enriquecendo-os. Nesta perspectiva o erro também pode ser fonte de tomada
de consciência. Segundo Taille:
“[...] redimensionamento pedagógico do lugar do erro nos processos de aprendizagem e desenvolvimento: de vilão absoluto, pode tronar-se valioso aliado da pedagogia. [...] o erro somente terá valor como fonte de enriquecimento se ele for observável pelo aluno. Não é somente o aluno ficar sabendo que errou! Ele deve ter acesso à qualidade de seu erro (grifos do autor). [...] ponderação pedagógica impõe-se: o fato de um erro tornar-se observável não depende apenas da organização da tarefa, mas também do nível de desenvolvimento do sujeito. (TAILLE, 1997, p.36-37)
Muitos caminhos já foram percorridos até aqui, para percebermos o erro
com outros olhos, numa visão mais dinâmica da pedagogia e com a
contribuição das intervenções psicopedagógicas no desenvolvimento da
aprendizagem.
64
Ninguém está livre de cometer enganos, ou seja, ficar isento de errar. O
erro avaliativo busca informações de resultados para classificá-los como
acertos e/ou determiná-los como erro por si só. Isso significa para a pedagogia
tradicional colocar o aluno em um patamar, ou seja, quem obtém acertos é
considerado como um bom ou excelente aluno dependendo da quantidade de
acertos, mas quem erra é considerado, tanto pela escola quanto pela
sociedade, um fracassado.
Para compreendermos a qualidade do erro dos nossos alunos
precisamos estar dispostos a entender e a diagnosticar suas respostas, para
que o erro seja trabalhado em forma de experiências, e que ele mesmo
perceba que errou, ou seja, ter no erro um elemento observável. É necessário,
portanto, que a “pedagogia do erro” crie diferentes estratégias para que o aluno
construa suas hipóteses.
De acordo com Taille são necessárias
[...] propostas de “pedagogia ativa” para que os alunos realizem vários experimentos, em vez de se limitarem ao ouvir edificantes discursos magistrais. Ao realizarem experimentos variados, os alunos podem, justamente, testar as hipóteses que têm, submetê-las aos fatos e, então verificarem por si só, se são boas ou erradas. Evidentemente, tornar o erro um observável nem sempre é fácil e pede muito criatividade pedagógica por parte dos professores. (TAILLE, 1997, p.37).
Cabe escola dar conta dos conflitos que surgem no processo de
aprendizagem, pois o erro decorre desses conflitos. É preciso que seu erro
seja, então, relatado a ele com a finalidade de que uma resposta certa seja
buscada, para que não seja simplesmente uma resposta repetida
corretamente, mas que a possibilidade de uma nova chance torne possível
também a consciência do erro e a consequente busca do acerto a partir dessa
consciência. Neste caso, se o aluno não souber que errou não poderá alcançar
o sucesso.
Numa relação de cooperação o erro não deve somente ser apontado,
mas suas causas devem ser também identificadas. Se assim ocorrer, a sua
qualidade será percebida. Nessa relação não será preciso ser fazer de conta
que não se sabe, mas será preciso submeter-se aprovação dos outros e aceitar
as respostas corretas, que serão autônomas. Entretanto, isso não será uma
65
decorrência do prestígio de quem detém o acerto. Para tanto, um dos trabalhos
pedagógicos que o professor pode promover é dialogar o erro com seu aluno,
uma situação de cooperação. Nessa dimensão, Taille (1997, p. 41) afirma que
[...] para que haja cooperação e discussão é preciso que os alunos queiram ser cooperativos e discutir. [...] a antiga maiêutica: não diz claramente que houve o erro, mas colocam-se argumentos que permitam o aluno tomar consciência de possíveis problemas de argumentação. Outra é claramente apontar o erro e demostra a razão de ser. Outra ainda, que situa entre as duas primeiras, é apontar a ocorrência de erro, mas, em vez de apresentar uma demonstração, colocar para o aluno argumentos que façam tomar consciência dos problemas de raciocínio5. (TAILLE, 1997, p.41).
Uma das fontes do erro pode estar na definição de conceitos ou
ausência deles. Quando se fala em conceito, para defini-los temos que pensar
e assimilar a presença de fatores já existentes, relacionando-os ou construindo-
os com diálogos, que podem ser trabalhados na individualidade e com todo
grupo.
A formulação de conceitos exigidos por muitas escolas tem tido a função
de executar somente aquilo que exigido dentre do conteúdo. Nesse sentido, o
aluno não tem a oportunidade de formular hipótese, ficando assim limitado a
conhecer os conteúdos apresentados pelos livros didáticos ou as informações
selecionadas pelo professor. Dessa maneira, a escola acaba lapidando o seu
aluno e trabalhando com as formas básicas de formular conceitos. Como
afirma Pinto (1997, p. 66) “Se aceitarmos a caráter básico do procedimento
definidor, sobre o qual repousa a função explicativa, teremos encontrado aqui
uma fonte fundamental do erro”.
Muitos têm muitas coisas a dizer, pois em seu cotidiano vivenciam
diferentes experiências que podem e devem contribuir e acrescentar na
formulação de conceitos que escola tanto cobra de seu aluno. Mas a forma que
se cobra é decorar conteúdos, onde o aluno não precisa pensar ou discutir o
assunto, apenas deve ser colocado de forma certa na prova ou em qualquer
outra atividade avaliativa.
5 Grifo do autor.
66
É necessário criar espaços para que aconteçam as discussões, onde
aluno tenha o direito de falar, de formular seus conceitos, ou até reformulá-los,
se necessário, com a intervenção do professor, que nesse momento tem a
oportunidade de trabalhar o erro com qualidade através do diálogo.
Segundo Pinto:
A “ausência de conservação” das quantidades em função das diferentes configurações perceptivas, dos conteúdos, segundo a sequência de discurso, ou dos critérios classificatórios, ao sabor das séries, estão por trás dos erros lógicos da mesma natureza. Seria possível admitir que a identidade ou estabilidade conceitual está no pensamento discursivo assim como a reversibilidade está para o pensamento operatório. Parece haver aqui a importante fonte de erros e, por conseguinte, uma direção fecunda para o esforço didático. (PINTO, 1997, p.67).
Passamos por diversas experiências emocionais durante a nossa vida
estudantil. Podemos perceber que essas emoções podem trazer efeitos
positivos ou negativos para o resto da vida escolar e até social. Convivemos
com todos os tipos de sentimentos como o amor, o ódio, todas as emoções,
raiva, medo, alegria entre outros, que podem ser classificados no nível mais
abrangente como afetividade.
O termo afetividade pode causar no sujeito reações que influenciam no
fator cognitivo. Para Pinto (1997), o sujeito precisa de condições emocionais
favoráveis para aprender. Relata que é necessário se criar vínculos afetivos
entre o objeto e o aluno, para facilitar aprendizagem. Segundo Pinto (1997, p.
68) afirma que “O vínculo afetivo, sentimental, entre o sujeito que investiga e o
abjeto investigado sabiamente dinamizam, facilitam e fortalecem o
desencadeamento da reação cognitiva”.
Ao falarmos nos vínculos afetivos, pesamos logo em sentimentos que
podem causar diferentes reações, sejam elas boas ou ruins. Quando as
emoções causam no sujeito prazer e alegria, atribuímos a fatores positivos.
Entretanto, quando causam raiva ou ódio, atribuímos a fatores negativos. Neste
sentido, tanto um como o outro podem estar presentes na relação entre
professor e aluno, e é na sala de aula essas reações se tornam fracas ou
fortes. Portanto, concebemos que o erro está interligado as emoções e as
67
relações afetivas que se estabelece entre professor aluno. Sobre tal dimensão,
Pinto (1997, p. 69) assevera que:
Geneticamente, foi a comunicação emocional a primeira a surgir; é ela, portanto, que garante a inserção no plano do convívio humano que é também o plano cultural e cognitivo. Em outras palavras: a emoção obscurece a razão (e a percepção do exterior) e induz ao erro. (PINTO, 1997, p.69).
Observamos diversos fatores que podem favorecer o aluno a cometer
erros, mas também tivemos a grande oportunidade de refletirmos sobre as
nossas práticas pedagógicas mediante a eles. Tanto para o professor quanto
para o aluno, o erro causa desconforto, de modo que alguns ainda não
conseguem trabalhar o erro, e sim somente condenar quem erra.
Perceber que todos podem errar e aprender com os seus próprios erros
é um fazer pedagógico que aos poucos vem sendo construído na escola.
Portanto, o processo de construção da aprendizagem por meio do erro deve
ser caraterizado por todos como fonte de enriquecimento pedagógico. A
“pedagogia do erro” busca, desta forma, aprimorar suas teorias para fazer do
erro uma fonte de estudos para o professor, sendo que para o aluno
certamente se constituirá numa inesgotável fonte de conhecimento e de
aprendizagem.
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CONCLUSÃO
O erro faz parte da vida de qualquer ser humano. Na escola ou fora dela,
todos tem o direito errar. Todavia, o erro cometido nas tarefas escolares vem
gerando consequências altamente indesejáveis para aqueles que o cometem,
passando assim por diferentes constrangimentos dentro da escola e na
sociedade. Quem erra pode ser punido, e às vezes publicamente exposto,
tendo revelada a sua capacidade de aprendizagem e seu potencial de
desenvolvimento. No entanto, para aqueles que erram a escola mantém em
seu protocolo a exclusão. Por muitas vezes, os alunos são privados do direito
de desfrutar de bens culturais e matérias produzidas pela humanidade.
A ideia de avaliar ocorre ao longo do tempo, e vem a cada período
dinamizando seus processos, mas exerce a função mecanizada da avalição.
Neste sentido, a avalição segue sua trajetória na concepção de padronização
da educação, medindo o conhecimento de cada um e estabelecendo padrões
hierárquicos, ignorando as diferenças sociais existentes.
Percebemos que ao longo dessa história, a avaliação do erro foi sempre
vista por muitos, como um processo classificatório. Cabe ao erro legitimar a
reprovações, reduzir as notas justificar a exclusão e determinar a qualidade da
aprendizagem. Portanto, uma nova proposta vem se consolidando, para que o
erro avaliativo venha ser percebido por todos, como processo de construção de
ensino e aprendizagem.
A “pedagogia do erro” vem sendo trilhando novos caminhos na proposta
diagnóstica, que possibilita ao professor buscar maiores informações sobre o
seu aluno, assim mantendo uma maior proximidade de sua realidade para
desenvolver suas habilidades e ampliar seus conhecimentos. A avaliação
diagnóstica tem no erro um elemento indicador fundamental para
compreensão, por professores e alunos, das dificuldades que se interpõem à
aprendizagem, bem como das suas razões.
Ao se utilizar da “pedagogia do erro”, a psicopedagogia está construindo
novos olhares para fundamentar as práticas pedagógicas dando significado a
aprendizagem. Para a psicopedagoga a escola deve proporcionar ao aluno
uma aprendizagem prazerosa, estimulante, e criativa. Deve identificar o erro do
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seu aluno e trabalhá-lo não como fonte de exclusão, mas de inclusão. Quando
assim ocorre o aluno passa a construir objeto de conhecimento e direcionar
para superações e avanços.
Cabe então aos educadores e educandos darem sentido ao erro,
construindo juntos uma aprendizagem por meio do diálogo, criando na escola
um ambiente de produção de conhecimento significativo. A escola deve criar
espaços que proporcionem a liberdade de expressão, criação e superação,
para que ocorram as reais mudanças e o fazer pedagógico se torne algo
diferenciado.
70
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73
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
AVALIAÇÃO ESCOLAR-APONTAMENTOS HISTÓRICOS 12
1.1 – A avaliação como processo de construção da
aprendizagem nas séries inicias do ensino
fundamental no Brasil 17
1.2 – Mecanismo de avaliação na escola:
concepção e realidade 24
CAPÍTULO II
A CONCEPÇÃO SOCIAL SOBRE O ERRO E SUA
REPERCUSSÃO AVALIAÇÃO 29
2.1 – O erro como objeto de punição na escola 35
2.2 – As práticas pedagógicas que classificam o aluno 41
CAPÍTULO III
INTERVENÇÕES DA PSICOPEDAGÓGICA
NO PROCESSO DE ENSINO-APRENSIZAGEM 48
3.1 – Um olhar psicopedagógico no
processo de aprendizagem 54