universidade de brasÍlia faculdade de tecnologia departamento de...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
USO DO GPR (GROUND PENETRATING RADAR) COMO
FERRAMENTA NÃO DESTRUTIVA NA AVALIAÇÃO E
INSPEÇÃO DE ESTRUTURAS EM CONCRETO ARMADO
PEDRO LUIZ BERNARDES JÚNIOR
ORIENTADOR: MARCOS HONORATO DE OLIVEIRA
MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL EM ENGENHARIA
CIVIL
BRASÍLIA – DF
JUNHO/2016
ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
USO DO GPR (GROUND PENETRATING RADAR)
COMO FERRAMENTA NÃO DESTRUTIVA NA
AVALIAÇÃO E INSPEÇÃO DE ESTRUTURAS EM
CONCRETO ARMADO
PEDRO LUIZ BERNARDES JÚNIOR
MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
CIVIL E AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL.
APROVADA POR:
_________________________________________
MARCOS HONORATO DE OLIVEIRA, D.Sc. (ENC/FT/UnB)
(ORIENTADOR)
_________________________________________
FRANCISCO EVANGELISTA JUNIOR, PhD (ENC/FT/UnB)
(EXAMINADOR INTERNO)
_________________________________________
CARLOS HENRIQUE LINHARES FEIJÃO, M.Sc. (DETEC/DE/NOVACAP)
(EXAMINADOR EXTERNO)
DATA: BRASÍLIA/DF, junho de 2016.
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
JUNIOR, PEDRO LUIZ BERNARDES
Uso do GPR (Ground Penetrating Radar) como ferramenta não destrutiva na
avaliação e inspeção de estruturas em concreto armado. [Distrito Federal] 2016.
xii, - 68 p., 210 x 297 mm (ENC/FT/UnB, Bacharel, Engenharia Civil, 2016)
Monografia de Projeto Final - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
1. Ground Penetrating Radar 2. Avaliação e Inspeção
3. Concreto Armado
I. ENC/FT/UnB
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BERNARDES JUNIOR, P.L. (2016). Uso do GPR (Ground Penetrating Radar) como
ferramenta não destrutiva na avaliação e inspeção de estruturas em concreto
armado. Monografia de Projeto Final, Publicação, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 68 p.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Pedro Luiz Bernardes Júnior.
TÍTULO DO TRABALHO DE PROJETO FINAL: Uso do GPR (Ground Penetrating
Radar) como ferramenta não destrutiva na avaliação e inspeção de estruturas em
concreto armado.
GRAU / ANO: Bacharel em Engenharia Civil / 2016
É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta
monografia de Projeto Final e para emprestar ou vender tais cópias somente para
propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e
nenhuma parte desta monografia de Projeto Final pode ser reproduzida sem a autorização
por escrito do autor.
______________________________
Pedro Luiz Bernardes Júnior
QSF 02 CASA 404
Taguatinga Sul
72025-520 – Brasília/DF – Brasil
iv
RESUMO
Com o passar dos tempos e os constantes avanços em todos os campos da engenharia
civil, novas tecnologias estão surgindo visando maior eficiência e praticidade. O GPR
(Ground Penetrating Radar), uma tecnologia de radar já usada ha tempos para a exploração
e investigação em camadas profundas do solo, nos últimos anos vem sendo introduzido cada
vez mais na engenharia civil e, particularmente, na engenharia estrutural, graças ao
desenvolvimento de antenas de alta frequência que permitem investigações a menores
profundidades, mas com uma alta resolução de imagens. Assim, este tem se tornado um
poderoso auxílio na investigação sobre estruturas de concreto armado, devido à sua
capacidade de mostrar o que não é visível a olho nu.
Este trabalho visa estudar o GPR, seu funcionamento, suas aplicações e suas
limitações. Será, então, avaliado o seu potencial como um método não destrutivo na
investigação e avaliação de estruturas em concreto armado. Inicialmente serão apresentados
conceitos fundamentais sobre o funcionamento do radar, além de trabalhos já realizados no
exterior com escopos semelhantes para, então, ser proposta uma metodologia de trabalho, a
ser aplicada nos ensaios em laboratório e em um estudo de caso, que serão apresentados em
seguida.
Palavras chave: GPR, radar, investigação, avaliação, concreto armado.
v
ABSTRACT
With the constant advances in all fields of civil engineering, new technologies are
being in development to achieve more efficiency. The GPR (Ground Penetrating Radar), a
radar technology used for many years to explore and research into deep soil layers, in recent
years has been introduced in civil engineering and especially in structural engineering, after
the development of high frequency antennas, enabling investigations in smaller distances
and higher resolution images. Thus, it has become a powerful instrument in research on
reinforced concrete structures, due to its ability to show, with high precision, what is inside
the concrete structure.
This work aims to study the GPR, its operation principles, applications and
limitations. Then, the GPR will be evaluated by its potential as a non-destructive method to
evaluate reinforced concrete structures. Initially, will be explained fundamental concepts
about the operation of radar. Then, will be presented studies carried out in other countries
with similar scopes, to then be proposed a working methodology to be applied in the
laboratorial tests and in the study case, presented on the sequence.
Key words: GPR, radar, investigation, evaluation, reinforced concrete.
vi
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................... iv
RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA ......................................................................... v
SUMÁRIO ............................................................................................................................. vi
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... viii
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES ............................ xii
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
1.1. MOTIVAÇÃO E IMPORTÂNCIA ................................................................. 1
1.2. OBJETIVO ........................................................................................................ 2
1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................... 2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 4
2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ......................................................................... 4
2.2. CONCEITOS IMPORTANTES ...................................................................... 4
2.2.1. O GPR .................................................................................................. 4
2.2.2. PRINCÍPIOS DE ELETROMAGNETISMO ...................................... 5
2.2.3. PROPAGAÇÃO DO SINAL DO RADAR ......................................... 9
2.2.4. EQUIPAMENTO ............................................................................... 10
2.2.5. O RADARGRAMA ........................................................................... 11
2.2.6. O GEORADAR NA ENGENHARIA ESTRUTURAL ..................... 13
2.2.7. LIMITAÇÕES DO GPR .................................................................... 13
2.3. TRABALHOS REALIZADOS NO EXTERIOR ......................................... 15
2.3.1. BARRILE E PUCINOTTI (2005) ....................................................... 15
2.3.2. GRACIA, GARCÍA E ABAD (2008) ................................................. 20
2.3.3. CHANG, LIN E LIEN (2008) ............................................................. 24
2.3.4. BERBEN, MORDAK E ANIGACZ (2012) ...................................... 29
2.4. TRABALHOS REALIZADOS NO BRASIL ............................................... 34
2.4.1. MATOS (2009) ................................................................................... 34
3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 37
3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................... 37
3.2. RECONHECIMENTO E PREPARAÇÃO DA ESTRUTURA .................. 38
3.3. AQUISIÇÃO E REGISTRO DE DADOS .................................................... 39
vii
3.4. VISUALIZAÇÃO DOS DADOS ................................................................... 40
3.5. ELABORAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS .................................... 40
3.6. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................. 41
4. ELABORAÇÃO, TRATATAMENTO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS COM O
SOFTWARE PROFIS ........................................................................................................ 42
5. TESTES EM LABORATÓRIO ................................................................................... 47
5.1. PRIMEIRO TESTE - MEDIÇÃO PRELIMINAR EM LAJE
BUBBLEDECK ...................................................................................................... 47
5.2. SEGUNDO TESTE – PLACA ISOLADA .................................................... 51
5.3. TERCEIRO TESTE – LAJE COM CONECTORES DE
CISALHAMENTO ............................................................................................... 53
6. ESTUDO DE CASO: MUSEU DE ARTE DE BRASÍLIA ........................................ 58
6.1. HISTÓRICO E ESCOPO .............................................................................. 58
6.2. METODOLOGIA ........................................................................................... 59
6.3. ANÁLISE E RESULTADOS ......................................................................... 61
7. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 68
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Permissividade Relativa de Diferentes Materiais à frequência de 1 GHz
(MAIERHOFER, 2003) ............................................................................................................. 7
Tabela 2.2 Aplicações do radar na Engenharia Estrutural (GRANTHAM, 2003) ................. 12
Tabela 2.3 Resultados para os pilares (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) ............................. 17
Tabela 2.4 Resultados para as vigas (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) ............................... 18
Tabela 2.5 Resultados para as vigas baldrames (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) .............. 18
Tabela 2.6 Resultados – Comparação entre os diâmetros estimados pelo GPR e os diâmetros
reais. (CHANG, LIN E LIEN, 2008) ....................................................................................... 27
Tabela 2.7 Resultados – Comparação entre os diâmetros estimados pelo GPR e os diâmetros
reais ao se variar o cobrimento de concreto. (CHANG, LIN E LIEN, 2008) .......................... 27
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Comparação entre uma investigação destrutiva sobre uma parede em concreto
armado (esquerda) e uma investigação não destrutiva, com o auxílio do GPR (direita).
(fonte: http://www.rnpassociates.co.uk/surveying/) .................................................................. 5
Figura 2.2 Diagrama de Blocos de um sistema GPR (TAKAHASHI, 2012) ........................... 6
Figura 2.3 Reflexão e transmissão de uma onda eletromagnética incidente em uma interface
plana entre dois meios (TAKAHASHI, 2012) ........................................................................... 8
Figura 2.4 Variação do coeficiente de reflexão entre a interface de um meio com constante
dielétrica ε2 e o concreto (supondo a constante dielétrica do concreto igual a ε1 = 7) (Gehrig
et al., 2004) ................................................................................................................................ 9
Figura 2.5 Cone elíptico da penetração do GPR na estrutura, refletindo um objeto a uma
profundidade h (CONIERS e GOODMAN, 2007) .................................................................... 9
Figura 2.6 Exemplos de sistemas GPR desenvolvidos para o uso no concreto armado ......... 11
Figura 2.7 Exemplo de radargrama evidenciando seis objetos refletidos (TAKAHASHI,
2012) ........................................................................................................................................ 11
Figura 2.8 Fôrma da laje de teste contendo barras, descontinuidades e vazios (cima),
imagem bidimensional evidenciando as barras (esquerda) e vazio (direita) no interior da laje.
(PARKER, 2010) ..................................................................................................................... 12
Figura 2.9 Fases de uma análise com GPR. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) ................... 15
Figura 2.10 Documentação fotográfica histórica. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) .......... 16
Figura 2.11 Identificação dos elementos e problemas de degradação em zonas de forte
oxidação das armaduras. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) .................................................. 17
Figura 2.12 Análise final relativa aos Pilares 19 e 20. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) ... 18
ix
Figura 2.13 Análise final relativa à Viga 8 - 9. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) ............... 19
Figura 2.14 Análise final relativa à Viga Baldrame 1 - 2. (BARRILE E PUCINOTTI,
2005). ........................................................................................................................................ 20
Figura 2.15 a) Fotografia aérea do edifício. b) Detalhe da análise realizada com GPR. c)
Problemas relacionados ao fluxo de água e à umidade. d) Trincas na laje do piso.
(GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008) .................................................................................... 21
Figura 2.16 GPR utilizado no estudo. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008) ....................... 21
Figura 2.17 a) Planta com locação das leituras realizadas e perfis obtidos. b) Trincas
observadas no piso do edifício. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008) .................................. 22
Figura 2.18 Radargrama do Perfil P25 evidenciando as armaduras do piso. (GRACIA,
GARCÍA E ABAD, 2008) ....................................................................................................... 22
Figura 2.19 Os pontos negros indicam as zonas com anomalias e descontinuidades
reveladas pelo GPR. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008) ................................................... 23
Figura 2.20 Algumas descontinuidades verificadas. Os detalhes do lado direito foram
obtidos onde havia trincas visíveis da superfície, enquanto que os do lado esquerdo foram
obtidos onde não havia trincas aparentes. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008) .................. 23
Figura 2.21 Radargrama obtido com uma antena de 1500 MHz no perfil P34. (GRACIA,
GARCÍA E ABAD, 2008) ....................................................................................................... 24
Figura 2.22 Barras de diferentes diâmetros sob um cobrimento de concreto igual a 5,6 cm.
(CHANG, LIN E LIEN, 2008) ................................................................................................ 25
Figura 2.23 Variação dos cobrimentos nas peças de concreto estudadas. (CHANG, LIN E
LIEN, 2008) ............................................................................................................................. 25
Figura 2.24 Geração de hipérboles no radargrama. (CHANG, LIN E LIEN, 2008) .............. 26
Figura 2.25 Efeito de Pr de uma barra no interior do concreto. (CHANG, LIN E LIEN,
2008) ........................................................................................................................................ 26
Figura 2.26 Radargrama após processamento digital de imagem e traçado da curva do
poder de reflexão. (CHANG, LIN E LIEN, 2008) .................................................................. 27
Figura 2.27 Procedimentos para determinação do diâmetro das barras. (CHANG, LIN E
LIEN, 2008) ............................................................................................................................. 28
Figura 2.28 Aquisição de dados em leitura de GPR sobre viga de viaduto. (BERBEN,
MORDAK E ANIGACZ, 2012) .............................................................................................. 29
Figura 2.29 Perfis de leituras transversais e longitudinais sobre viga de viaduto. Cotas em
mm. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012) ................................................................... 30
Figura 2.30 Radargrama L1 da Viga 1. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012) ........... 30
Figura 2.31 Radargrama T22 da Viga 1. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012) ......... 31
Figura 2.32 Esquema da vista superior e seção transversal Viga 1. (BERBEN, MORDAK E
ANIGACZ, 2012) .................................................................................................................... 31
Figura 2.33 Radargrama L3 da Viga 2. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012) ........... 32
Figura 2.34 Radargrama T20 da Viga 2. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012) ......... 32
Figura 2.35 Comparação entre a seção obtida via GPR (a) e a seção descrita em catálogo
(b). Dimensões em mm. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012) ................................... 33
x
Figura 2.36 Figura ilustrativa do modelo computacional com uma barra de aço em uma
placa de concreto. (MATOS, 2009) ......................................................................................... 34
Figura 2.37 Anomalia gerada pela barra de aço, em uma frequência de 400 MHz. (MATOS,
2009) ........................................................................................................................................ 34
Figura 2.38 Modelo de barras espaçadas horizontalmente de 0,1m. (MATOS, 2009) .......... 35
Figura 2.39 Resposta GPR para o modelo com barras paralelas. (MATOS, 2009) ................ 35
Figura 2.40 Perfil 400 MHz, para amostra de 40 ns. (MATOS, 2009) .................................. 36
Figura 3.1 Hilti PS 1000 X-Scan System – Modelo de GPR utilizado. (fonte:
www.masterbuilder.co.in) ........................................................................................................ 37
Figura 3.2 Fases de uma análise com GPR. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005) ................... 38
Figura 3.3 Sequência de passos propostos para análise com GPR ......................................... 38
Figura 3.4 Grelha referenciada anexada à estrutura ............................................................... 39
Figura 3.5 Aquisição de dados sobre grelha anexada à estrutura (fonte: Manual do Usuário
Hilti PS1000) ........................................................................................................................... 40
Figura 4.1 Interface do software Hilti PROFIS ...................................................................... 42
Figura 4.2 Imagens obtidas através dos filtros “Seletivo” (esquerda), “Mediana” (centro) e
“Passa-Altas” (direita), mantendo-se todos os outros parâmetros iguais ................................ 43
Figura 4.3 Comparação entre o imageamento obtido através da focagem rápida – migração
de Stolt (esquerda) e focagem avançada – migração de Kirchhoff (direita), mantendo-se
todos os outros parâmetros iguais ............................................................................................ 44
Figura 4.4 Uma mesma seção representada sob as diferentes formas de apresentação de
dados: Padrão (A), Focado (B), Ampliado (C), Filtrado (D) e Bruto (E). Esquema de cores
“Azul” ...................................................................................................................................... 45
Figura 5.1 Execução de teste sobre laje no LABEST/UnB .................................................... 47
Figura 5.2 Radargrama em X (esquerda) e em Y (direita) obtidos ......................................... 48
Figura 5.3 Imagens em 2D (esquerda) e em 3D (direita) obtidas na fase de elaboração de
dados ........................................................................................................................................ 48
Figura 5.4 Esquema ilustrativo da placa moldada .................................................................. 49
Figura 5.5 Fôrma da placa moldada no laboratório ................................................................ 50
Figura 5.6 Placa moldada no laboratório após desforma ........................................................ 50
Figura 5.7 Esquema ilustrativo das leituras tomadas sobre a placa ........................................ 51
Figura 5.8 Leitura 01 evidenciando a armadura superior vertical .......................................... 51
Figura 5.9 Leitura 05 evidenciando a armadura superior horizontal ...................................... 51
Figura 5.10 Leitura 02 evidenciando a armadura inferior vertical ......................................... 52
Figura 5.11 Leitura 07 evidenciando a armadura inferior horizontal ..................................... 52
Figura 5.12 Imagens obtidas pela interpretação automática dos radargramas pelo software
PROFIS .................................................................................................................................... 52
Figura 5.13 Laje com conectores “stud bolt” ......................................................................... 53
xi
Figura 5.14 Laje com conectores “stud bolt” submetidas ao ensaio ...................................... 54
Figura 5.15 Superfície de apoio de madeira ........................................................................... 54
Figura 5.16 Ordem da tomada de radargramas sobre as lajes ................................................ 55
Figura 5.17 Radargramas obtidos na horizontal ..................................................................... 55
Figura 5.18 Radargramas obtidos na vertical ......................................................................... 57
Figura 5.19 Imagens obtidas pela interpretação automática dos radargramas pelo software
PROFIS .................................................................................................................................... 57
Figura 6.1 Fachada do edifício do Museu de Arte de Brasília. (fonte: Correio Braziliense,
2014) ........................................................................................................................................ 58
Figura 6.2 Croqui de locação da região do Piso Superior submetida à análise ...................... 59
Figura 6.3 Região do Piso Superior submetida à análise, após limpeza ................................. 60
Figura 6.4 Ordem das leituras tomadas sobre a grelha de referência ..................................... 60
Figura 6.5 Leituras 02 (horizontal) e 10(vertical), evidenciando o contra piso de 30 mm de
espessura .................................................................................................................................. 61
Figura 6.6 Leituras tomadas na horizontal, evidenciando os pares de reflexões geradas a 70
mm de profundidade ................................................................................................................ 62
Figura 6.7 Imagem 2D da seção paralela ao plano da laje, a 70 mm de profundidade .......... 62
Figura 6.8 Leituras 02 (horizontal) e 09 (vertical), evidenciando as reflexões da armadura
passiva a 100 mm de profundidade .......................................................................................... 63
Figura 6.9 Leitura 05, evidenciando o fim das reflexões e face inferior da laje ..................... 63
Figura 6.10 Imagens obtidas pela interpretação automática dos radargramas pelo software
PROFIS .................................................................................................................................... 64
Figura 6.11 Abertura executada com martelete ...................................................................... 65
Figura 6.12 Esquema em planta e cortes da região da laje verificada, de acordo com dados
obtidos com o GPR .................................................................................................................. 65
xii
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
NBR – Norma Brasileira
UnB – Universidade de Brasília
LABEST/UnB – Laboratório de Estruturas da Universidade de Brasília
𝜀 – Permissividade Relativa do meio ou Constante Dielétrica
λ – Comprimento de onda
v – Velocidade de propagação da onda
c - Velocidade da luz no vácuo (3 x 108 m/s)
f – Frequência
ω – Frequência angular
μ – Permeabilidade Magnética
E – Módulo do campo elétrico
R – Coeficiente de Reflexão
T – Coeficiente de Transmissão
Z – Impedância
h – Altura do objeto refletido
r – Raio do cone de energia do radar
Δd – Resolução da Profundidade
Δx – Resolução horizontal
Pr – “Poder de reflexão”
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 MOTIVAÇÃO E IMPORTÂNCIA
Para que sejam cumpridas as funções para as quais uma estrutura em concreto foi
projetada e para que, possivelmente, seja estendida sua vida útil, uma manutenção eficaz e de
custo benefício adequado deve ser garantida. A inspeção rotineira compõe parte importante
neste processo de manutenção e tem como objetivos principais avaliar o estado de
conservação e integridade das estruturas em questão, analisar a viabilidade da mudança de
seus usos, capacitá-las para suportar cargas adicionais, verificar a conformidade da execução
de acordo com o projeto e identificar possíveis patologias.
A principal técnica na atividade da inspeção é o exame visual detalhado, mas nem
sempre ele é suficiente. Por este motivo, o exame visual é usualmente aplicado junto a outras
técnicas que permitem ao examinador obter um panorama completo do que se encontra no
interior da estrutura, qual o estado das armaduras, bem como monitorar falhas e danos
estruturais. Assim, as técnicas que podem ser associadas ao exame visual dividem-se em
ensaios destrutivos e não destrutivos.
Os ensaios invasivos ou realizados sobre testemunhos extraídos da estrutura
(destrutivos), como o ensaio de resistência à compressão, a avaliação da profundidade de
carbonatação e a determinação do teor de íons de cloreto, por vezes são indispensáveis e/ou
insubstituíveis para suas respectivas finalidades. Entretanto, para detecção de elementos
estruturais, localização das armaduras, determinação das suas bitolas e espessura do
cobrimento, bem como a detecção de objetos, tubos e bainhas de protensão no interior das
peças, já estão disponíveis no mercado equipamentos e tecnologias que permitem testes não
destrutivos com razoável precisão, evitando assim métodos invasivos e possíveis danos à
estrutura.
Dentre os testes não destrutivos, pode-se destacar a ultrassonografia que consegue,
através de vibrações sonoras com frequência superior a 20 KHz, detectar a presença de
materiais diferentes dentro do concreto, de vazios, de ninhos de concretagem, além de estimar
a profundidade de fissuras. Semelhante à ultrassonografia, a tomografia ultrassônica utiliza
ondas de cisalhamento e possibilita diagnósticos do concreto que podem ser utilizados para
melhorar o controle de qualidade do mesmo. Contudo, a detecção de falhas no concreto pela
tomografia requer um esforço significativo e experiência do usuário.
2
A termografia infravermelha (baseada na percepção da temperatura superficial pelo
mecanismo da transferência de calor), por sua vez, possibilita a detecção de grandes defeitos
ou descontinuidades, bem como da presença de instalações elétricas ou hidráulicas, além do
estudo da umidade nas estruturas. Já os pacômetros, através de ondas eletromagnéticas de
baixa frequência, permitem localizar barras de aço no interior do concreto e estimar sua
profundidade com relação ao aparelho, com elevada precisão. Alguns modelos podem
também estimar o diâmetro destas barras, de modo um pouco menos preciso.
O GPR (Ground Penetrating Radar), método originalmente usado para avaliações de
natureza geofísica, recentemente tem sido utilizado, sob frequências altas, em análises não
destrutivas no campo da construção civil. Se baseia na emissão de pequenos impulsos
eletromagnéticos, com duração de pulso da ordem de 1 ns (1 x 10-9
s) na estrutura a ser
investigada, bem como na análise da reflexão destes pulsos. Os principais testes nos quais o
GPR pode ser aplicado são a detecção de armaduras passivas ou ativas, detecção de vazios no
interior das peças, determinação da espessura de peças ou avaliação da profundidade de
elementos de concreto acessíveis apenas por um lado. É sobre o GPR que o presente estudo se
aprofundará.
1.2 OBJETIVO
O objetivo principal deste estudo é a verificação da eficácia do GPR como ferramenta
não destrutiva na identificação de armaduras, vazios e descontinuidades nas estruturas de
concreto armado.
Como objetivos secundários, tem-se avaliar em especial o modelo Hilti® PS1000 X-
Scan, que opera a uma frequência de 2000 MHz, propondo ainda uma metodologia que
desenvolva uma rotina prática, racional e segura de uso deste aparelho, na determinação de
parâmetros e características de estruturas de concreto armado, principalmente a detecção e
mapeamento das armaduras.
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho está divido em seis capítulos. O primeiro capítulo apresenta a introdução
e os objetivos do estudo.
3
O capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica que dá embasamento a todo o estudo.
Aqui, serão apresentados os conceitos fundamentos para entendimento do GPR e os
princípios de funcionamento, além de expor brevemente alguns estudos realizados no exterior
e no Brasil sobre a aplicação do GPR em estruturas de concreto.
No capítulo 3 está apresentada a metodologia sobre a qual será baseada a obtenção,
tratamento e interpretação dos dados nos ensaios em laboratório e no estudo de caso.
No capítulo 4 é apresentada uma breve explicação sobre as funcionalidades e
possibilidades na análise e interpretação de dados com o uso do software PROFIS.
O capítulo 5 apresenta os ensaios realizados no Laboratório de Estruturas da
Universidade de Brasília, que serviram de teste para a metodologia desenvolvida, bem como
de treino na interpretação de radargramas, para que se realizasse então o estudo de caso.
O capítulo 6 traz o estudo de caso, que trata da caracterização com o GPR de uma laje
do tipo “caixão perdido” no edifício do Museu de Arte de Brasília.
O capítulo 7 apresenta as conclusões obtidas após os ensaios em laboratório e o estudo
no Museu de Arte de Brasília. Por fim, são apresentadas as referências.
4
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste capítulo serão apresentados os principais conceitos acerca do uso e
funcionamento do GPR, bem como resumos de trabalhos realizados no exterior com esta
tecnologia no campo da engenharia estrutural e construção civil.
2.2 CONCEITOS IMPORTANTES
2.2.1 O GPR
A tecnologia GPR – Ground Penetrating Radar ou Radar de Penetração em Solos –
representa uma das metodologias geofísicas mais jovens, tendo seus primórdios nos anos 30,
com objetivos científicos. Os sistemas comerciais só apareceram nos anos 70, quando estes
passaram a ser largamente utilizados nos campos da geofísica, geologia, geotecnia e
arqueologia. A inserção do GPR na construção civil e engenharia estrutural só foi possível
após o desenvolvimento de antenas capazes de operar a frequências muito altas (>500MHz).
Também chamado de Georadar, o GPR se baseia sobre os mesmos princípios dos
sistemas convencionais de radar, porém, com algumas diferenças substanciais. Quando usado
em estudos geotécnicos e geológicos, engenharia estrutural ou construção civil, o radar
trabalha a distâncias que variam de centímetros a algumas dezenas de metros (por meio da
propagação de ondas em meios sólidos), enquanto que os sistemas convencionais de radar
funcionam à distância de quilômetros (por meio da propagação de ondas no ar) (BARRILE e
PUCINOTTI, 2005).
Na última década os avanços tecnológicos permitiram uma maior acessibilidade a esta
tecnologia e permitiu que a mesma fosse utilizada em análises tridimensionais, com o
desenvolvimento em paralelo de novos softwares para a elaboração, restituição e análise dos
resultados obtidos nas medições de campo (ZANZI, 2008).
Segundo BARRILE e PUCINOTTI (2005), recentemente o GPR tem sido utilizado
para inspeções periódicas e manutenção em alvenaria e estruturas de concreto armado. Em
detalhes, esta tecnologia pode ser útil para:
Estimar a espessura de peças a partir de um dos lados;
5
Localizar armaduras passivas no interior das estruturas;
Estimar a espessura do cobrimento em peças de concreto;
Localizar grandes variações de umidade;
Localizar vazios e estimar suas dimensões;
Localizar fissuras.
Figura 2.1 – Comparação entre uma investigação destrutiva sobre uma parede em concreto armado
(esquerda) e uma investigação não destrutiva, com o auxílio do GPR (direita). (fonte:
http://www.rnpassociates.co.uk/surveying/)
O fato do uso do radar não requerer grandes preocupações quanto à segurança tem
feito com que estes sistemas sejam cada vez mais bem aceitos no mercado. No entanto,
existem restrições quanto à sua utilização em áreas sujeitas à interferência, como aeroportos e
zonas militares.
2.2.2 PRINCÍPIOS DE ELETROMAGNETISMO
O radar funciona a partir da emissão de pequenos pulsos eletromagnéticos com
duração da ordem de 1 x 10-9
segundos e da detecção da reflexão destes pulsos em não
homogeneidades do meio, como por exemplo a interface entre diferentes materiais, armaduras
metálicas no concreto ou o lado oposto da peça.
6
Antenas emissoras enviam os pulsos eletromagnéticos, que percorrem o interior da
estrutura. Nas regiões com diferentes propriedades eletromagnéticas, são geradas reflexões.
Assim, parte da energia emitida retorna à superfície e as reflexões são então capturadas por
antenas receptoras, que enviam os dados para o processamento e exibição no monitor,
enquanto outra parte é propagada através da descontinuidade (GRACIA, 2012). A velocidade
de propagação dos pulsos e a intensidade das reflexões são funções das propriedades
dielétricas dos materiais (MAIERHOFER, 2003).
Figura 2.2 – Diagrama de Blocos de um sistema GPR (TAKAHASHI, 2012).
Se a permissividade relativa do material for conhecida ou puder ser estimada, a
profundidade das reflexões e então sua posição pode ser determinada pelo tempo de
propagação. Assim, um perfil pode ser construído plotando-se a amplitude dos sinais
recebidos como função do tempo e posição (TAKAHASHI, 2012). Deve-se, no entanto, notar
que a permissividade pode ser influenciada por diversos fatores, como a temperatura do
material ou o teor de sais no mesmo.
A velocidade de propagação υ da onda eletromagnética depende da permissividade
complexa ε do meio (UNGER, 1996):
𝜀 = 𝜀′ − 𝜀" (2.1)
7
onde ε’ é a parte real e ε” é a parte imaginária da permissividade complexa.
Para materiais com baixa condutividade elétrica, como a maioria dos casos de
concreto seco, a parte imaginária ε” pode ser desprezada. Assim, a relação entre υ e ε pode ser
aproximada como:
𝜐 = 𝑐
√𝜀 (2.2)
sendo c a velocidade da luz no vácuo (3 x 108 m/s).
O comprimento de onda λ, definido como a distância da propagação da onda em um
período de oscilação, é obtido por:
𝜆 = 𝜐
𝑓=
2𝜋
𝜔√𝜀𝜇 (2.3)
onde f é a frequência, ω = 2πf é a frequência angular e μ é a permeabilidade magnética do
meio.
A tabela 2.1 apresenta valores de permissividade relativa para alguns materiais:
Tabela 2.1: Permissividade Relativa de Diferentes Materiais à frequência de 1 GHz. (MAIERHOFER, 2003)
MATERIAL PERMISSIVIDADE RELATIVA ε
Ar 1
Água 81
Concreto Seco 5-8
Concreto Úmido 8-16
Argila Seca 2-6
Argila Úmida 6-40
Asfalto 3-5
Como o GPR usualmente mede sinais eletromagnéticos refletidos em fronteiras com
mudanças de propriedades dielétricas, o cenário mais simples é uma fronteira plana entre dois
meios, como mostrado na figura 2.3.
Segundo TAKAHASHI (2012), as relações entre os módulos dos campos elétricos
incidente, refletido e transmitido são:
𝐸𝑖 = 𝐸𝑟 + 𝐸𝑡 (2.4)
𝐸𝑟 = 𝑅 . 𝐸𝑖 (2.5)
8
𝐸𝑡 = 𝑇 . 𝐸𝑖 (2.6)
onde R é o coeficiente de reflexão e T é o coeficiente de transmissão.
Figura 2.3 – Reflexão e transmissão de uma onda eletromagnética incidente em uma interface plana
entre dois meios. (TAKAHASHI, 2012).
No caso de incidência normal, como mostrado na figura 2.3, os coeficientes de
reflexão e transmissão são dados por:
𝑅 = 𝑍2−𝑍1
𝑍2+𝑍1 (2.7)
𝑇 = 1 − 𝑅 (2.8)
sendo Z1 e Z2 impedâncias intrínsecas ao primeiro e segundo meio, respectivamente, e
𝑍 = 𝜇
√𝜀 (2.9)
Segundo Daniels (2004), em um meio não condutor e com baixas perdas, o coeficiente
de reflexão pode ser simplificado por:
𝑅 ≅ √𝜀1−√𝜀2
√𝜀1+√𝜀2 (2.10).
9
Assim, quanto maior o contraste entre as constantes dielétricas dos meios, mais intensa
será a reflexão obtida na interface. A figura 2.4 mostra o coeficiente de reflexão de uma
interface Concreto – Camada 2 plotado em função da permissividade relativa ε2, considerando
para o concreto o valor da constante dielétrica ε1 = 7.
Figura 2.4 – Variação do coeficiente de reflexão entre a interface de um meio com constante dielétrica
ε2 e o concreto (supondo a constante dielétrica do concreto igual a ε1 = 7). (Gehrig et al., 2004).
2.2.3 PROPAGAÇÃO DO SINAL DO RADAR
As ondas eletromagnéticas produzidas por uma antena comercial padrão se propagam
no interior da estrutura em estudo seguindo a forma de cone elíptico (figura 2.5) que tem seu
vértice no centro da antena emissora.
Figura 2.5 – Cone elíptico da penetração do GPR na estrutura, refletindo um objeto a uma profundidade
h. (CONIERS e GOODMAN, 2007).
10
Segundo CONIERS e GOODMAN (2007), a equação 2.11 define a geometria do cone
elíptico em função da profundidade da reflexão e do comprimento de onda relativa à
frequência da antena utilizada:
𝑟 = 𝜆
4+
ℎ
√𝜀+1 (2.11)
Assim, quanto maior a permissividade relativa do meio, menor a velocidade de
propagação do sinal, bem como seu raio.
2.2.4 EQUIPAMENTO
Um equipamento genérico de GPR funciona com quatro partes principais: uma
unidade principal com um módulo de computador e elementos de armazenamento, uma
unidade de controle com monitor, um sistema de antenas emissoras e um sistema de antenas
receptoras (TAKAHASHI, 2012). No tipo mais comum, a unidade emissora gera pulsos
enquanto a unidade receptora registra os sinais retornados ao longo do tempo. Outro tipo de
aparelho registra os sinais retornados em conjunto com a frequência dada e, assim, o tempo da
resposta pode ser obtido através de uma transformada inversa de Fourier.
Normalmente os aparelhos apresentam uma configuração de antenas do tipo bow-tie,
são mantidos em contato com o concreto durante a inspeção e operam com valores de
frequência entre 1 MHz e 3 GHz, a depender da aplicação. Uma maior frequência resulta em
pulsos mais estreitos, tendo como consequência maior resolução. Por outro lado, reduções na
frequência resultam em menor resolução, com maior alcance.
Neste estudo será utilizado o sistema de GPR, especialmente desenvolvido para
estruturas de concreto, PS 1000 X-Scan System, fabricado e comercializado pela Hilti
Corporation, com antenas que operam a uma frequência aproximada de 2000 MHz.
11
Figura 2.6 – Exemplos de sistemas GPR desenvolvidos para o uso no concreto armado (PARKER, 2010
e www.cnplus.com.uk).
2.2.5 O RADARGRAMA
Quando o sinal da antena intercepta um alvo, uma reflexão é gerada e registrada.
Assim, todas as reflexões obtidas em cada direção de leitura, são plotadas em gráficos
chamados de radargrama. No eixo das abscissas é marcada a posição na direção da leitura
efetuada, enquanto que no eixo das ordenadas são plotados os valores de profundidade das
reflexões, do tempo percorrido pelo sinal até atingir o objeto refletido ou ambos.
Figura 2.7 – Exemplo de radargrama evidenciando seis objetos refletidos. (TAKAHASHI, 2012).
Ao se realizar leituras nas duas direções de um plano, é possível cruzar as informações
de ambos os radargramas e obter a posição exata no espaço de um objeto interno à estrutura.
Os sistemas mais recentes, a partir deste cruzamento de leituras em direções ortogonais, são
capazes de gerar imagens bidimensionais ou tridimensionais. Na figura 2.8 estão explicitados
os resultados, em forma de imagens, de leituras realizadas sobre uma laje concretada com
12
barras e condutos metálicos e não metálicos (1, 2 e 3), apresentando descontinuidade (4) e
sobreposição (5), além de uma esfera simulando um vazio (6).
Figura 2.8 – Fôrma da laje de teste contendo barras, descontinuidades e vazios (cima), imagem bidimensional
evidenciando as barras (esquerda) e vazio (direita) no interior da laje. (PARKER, 2010).
As imagens geradas pelos sistemas, a depender dos filtros aplicados e parâmetros
adotados durante a análise, podem não reproduzir com exatidão o interior da estrutura
analisada. Portanto, as mesmas não eliminam a necessidade da verificação atenta dos
radargramas obtidos.
Segundo PARKER (2010), devido às dificuldades em se analisar corretamente e/ou
satisfatoriamente um radargrama, principalmente quando se tem poucas informações sobre a
estrutura analisada, a experiência do operador do GPR e dos profissionais que efetuarão a
análise e o processamento de dados pode afetar a qualidade dos resultados obtidos.
13
2.2.6 O GEORADAR NA ENGENHARIA ESTRUTURAL
O uso do Georadar é possível para variadas aplicações. Na engenharia civil, pode ser
aplicado, por exemplo, em inspeções rodoviárias, inspeções em pontes, avaliações ambientais,
perícias de natureza forense e investigações militares. A variedade de equipamentos
disponíveis contribui para esta flexibilidade de uso, já que existem modelos pequenos que
podem ser segurados na mão, unidades maiores que podem ser arrastadas por veículos ou
mesmo unidades que podem ser acopladas a aeronaves ou satélites (PARKER, 2010).
De maneira mais específica, na engenharia estrutural, segundo BARRILE e
PUCINOTTI (2005), a localização das barras da armadura no concreto é uma das aplicações
mais difundidas do GPR, embora também sejam muitas as outras possibilidades. Como a
quantidade de barras, seus diâmetros e espaçamentos no concreto armado, bem como a
presença de vazios e descontinuidades são de fundamental importância na capacidade
estrutural de um elemento, as análises com GPR podem se tornar extremamente úteis em
determinadas situações deste campo da engenharia.
As principais aplicações estruturais estão listadas, por ordem de confiabilidade dos
resultados, na tabela 2.2:
Tabela 2.2: Aplicações do radar na Engenharia Estrutural (GRANTHAM, 2003)
ACURÁCIA NAS MEDIÇÕES
Maior Menor
Determinar as principais características da construção
Determinar a espessura do elemento de concreto
Localizar armaduras passivas e ativas ou ductos no interior do concreto
Localizar pontos de umidade
Localizar vazios ou trincas internas
Estimar diâmetros de barras internas
Estimar dimensões de vazios
Localizar corrosão nas armaduras
2.2.7 LIMITAÇÕES DO GPR
Como em qualquer tecnologia, existem limitações no uso do GPR. Segundo
MAIERHOFER (2012), os limites e imprecisões das detecções em investigações superficiais
com o GPR são principalmente definidos pela profundidade de penetração, pela resolução da
profundidade e pela resolução horizontal (resolução na direção do movimento da antena).
14
A profundidade de penetração é determinada pelo amortecimento das ondas
eletromagnéticas, influenciado por três processos:
Absorção do material
Perdas devido ao ângulo efetivo da antena
Perdas devido a dispersões e reflexões das ondas
Consequentemente, a profundidade de penetração é função da umidade, do teor de
sais, número de reflexões e dispersões, e principalmente, da frequência das ondas. Por
exemplo, com uma antena de 500 MHz consegue-se obter uma profundidade de penetração
média de 1 a 2 metros em concreto seco. Este valor diminui, ao se aumentar a frequência das
ondas.
A resolução da profundidade Δd depende da duração dos pulsos emitidos (e, portanto,
da frequência da antena). Antenas com maiores frequências produzem melhores resoluções de
profundidade.
A resolução horizontal Δx – separação entre dois centros de reflexões adjacentes – é
determinada pelo fenômeno da difração observado durante a reflexão e depende ainda da
dispersão das ondas eletromagnéticas no material e de suas frequências, bem como da
profundidade do objeto refletido.
Segundo PARKER (2010), materiais úmidos absorvem mais do sinal emitido pelo
GPR, o que faz com que uma quantidade menor de energia seja refletida de volta à antena,
então a intensidade do sinal refletido seja menor, o que resulta em perda de resolução. Já
objetos metálicos refletem completamente o sinal do radar, fazendo com que alvos atrás ou
dentro do objeto metálico passem despercebidos na leitura, devido a este efeito de “escudo”.
Estruturas densamente armadas, com espaçamento entre as barras igual ou inferior a 5 cm,
impossibilitam a análise por meio do GPR.
15
2.3 TRABALHOS REALIZADOS NO EXTERIOR
2.3.1 BARRILE E PUCINOTTI (2005)
BARRILE e PUCINOTTI utilizaram o GPR para estimar a posição das barras
longitudinais e estribos de vigas e pilares da estrutura de um edifício antigo, construído nos
anos 60 na cidade de Reggio Calabria, sul da Itália, com o objetivo de compor uma
caracterização da vulnerabilidade sísmica do mesmo. Uma série de testes destrutivos e não
destrutivos foram efetuados sobre as estruturas analisadas, mas somente os resultados da
análise com o GPR foram apresentados no trabalho.
Segundo os autores, em 2003 a Federação das Indústrias de Materiais de Construção
Civil do Japão propôs dois anteprojetos de metodologias (Método para localização de barras
em concreto armado por radar e Método para localização e estimativa dos diâmetros das
barras em concreto armado por indução eletromagnética) para o uso do GPR sobre concreto
armado, nas quais os autores basearam sua metodologia. No trabalho publicado, foi
apresentada a metodologia operativa, além dos resultados obtidos.
A análise via GPR foi conduzida através de quatro fases (figura 2.9):
Aquisição de dados por meio de leituras com o aparelho in situ;
Visualização;
Elaboração dos dados;
Interpretação.
Figura 2.9 – Fases de uma análise com GPR. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
16
Assim, entre a aquisição e a elaboração dos dados, foi conduzida uma fase de
visualização dos dados brutos em uma, duas e três dimensões, para avaliar a qualidade da
leitura e eliminar possíveis componentes que a estejam afetando negativamente.
A fase de elaboração dos dados, executada em computador, incluiu a utilização de
filtros, normalização das reflexões, subtração de seus valores médios e aplicação de ganhos ao
sinal refletido, para que os resultados obtenham o nível de resolução desejado à interpretação,
última fase da análise.
As investigações de BARRILE e PUCINOTTI tiveram início na análise de
documentação histórica (fotografias) da época da construção do edifício que, juntamente com
dados históricos, foram úteis para obter um panorama inicial da estrutura e das armaduras das
lajes, de 20 centímetros de altura, bem como de algumas vigas e pilares.
Figura 2.10 – Documentação fotográfica histórica. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
Os elementos estruturais não apresentavam instabilidades alarmantes, mas sinais de
degradação eram evidentes em zonas de forte oxidação, conforme mostrado na Figura 2.11.
Na mesma figura é possível ver, evidenciadas em preto, as vigas investigadas.
17
Figura 2.11 – Identificação dos elementos e problemas de degradação em zonas de forte oxidação das armaduras.
(BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
A investigação foi efetuada com um sistema de GPR IDS RIS/S, com uma antena de
alta resolução (1600 MHz), escaneando transversalmente e longitudinalmente os elementos
fixando um sistema de referência em cada elemento. A fase de elaboração de dados foi
realizada através filtros oportunamente construídos com algoritmos em ambiente Matlab.
Através dos procedimentos anteriormente citados, foi possível obter informações
detalhadas sobre o posicionamento e número de barras longitudinais e estribos nos elementos
estruturais considerados.
O concreto pode ser considerado um meio isotrópico em estruturas de concreto
armado e as ondas do radar refletem na interface entre o aço e o concreto, devido à grande
diferença entre os dois meios. Assim, segundo os autores, a tecnologia utilizada permitiu:
Caracterizar o número e posição de barras metálicas longitudinais no interior
dos elementos estruturais;
Obter o número e posição de possíveis vazios;
Obter o espaçamento entre estribos;
Verificar a possibilidade de falhas devido a uma má execução da estrutura.
18
A resolução da distância entre centros de duas barras distinguíveis foi de 80 mm, a
acurácia da locação das barras no plano foi de 10 mm enquanto o erro na medição dos
diâmetros das barras (através de pacômetro associado ao radar) foi de ±1.0mm. Os resultados
obtidos para os pilares, vigas do primeiro andar e vigas baldrames estão apresentados nas
tabelas 2.3 a 2.5, bem como nas figuras 2.12 a 2.14.
Tabela 2.3: Resultados para os pilares (BARRILE E PUCINOTTI, 2005)
Pilar Dimensões (m) Comprimento
(m)
Nº de
Estribos
Diâmetro
dos
Estribos
(mm)
Nº de barras
longitudinais
Diâmetro
das barras
longitudinais
(mm)
Cobrimento
(mm)
1,2,5,7,19,20,21 0,6 X 0,3 3,2 11 8 6 16 40
3,4,6 0,5 X 0,3 3,2 10 8 4 16 40
10,11,14,15,16,17 0,5 X 0,3 3,2 10 8 4 16 40
13,22 0,6 X 0,3 3,2 11 8 6 16 40
8,9,12 0,6 X 0,3 3,2 11 8 6 16 40
Figura 2.12 – Análise final relativa aos Pilares 19 e 20. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
19
Tabela 2.4: Resultados para as vigas (BARRILE E PUCINOTTI, 2005)
Viga Dimensões (m) Vão (m) Nº de
Estribos
Diâmetro
dos
Estribos
(mm)
Nº de barras
longitudinais
Diâmetro
das barras
longitudinais
(mm)
Cobrimento
(mm)
1 - 2 0,3 X 0,4 4,45 15 8 4 16 30
8 - 9 0,3 X 0,4 4,45 15 8 4 16 30
19 - 20 0,3 X 0,4 4,45 15 8 4 16 30
2 - 9 0,3 X 0,4 4,30 14 8 4 16 30
15 - 20 0,3 X 0,4 4,90 16 8 4 16 30
Figura 2.13 – Análise final relativa à Viga 8 - 9. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
Tabela 2.5: Resultados para as vigas baldrames (BARRILE E PUCINOTTI, 2005)
Viga Dimensões (m) Vão (m) Nº de
Estribos
Diâmetro
dos
Estribos
(mm)
Nº de barras
longitudinais
Diâmetro
das barras
longitudinais
(mm)
Cobrimento
(mm)
1 - 2 0,4 X 0,9 4,45 15 8 >4 18 50
2 - 3 0,4 X 0,9 3,45 11 8 >4 18 50
19 - 20 0,4 X 0,9 4,45 15 8 >4 18 50
20 - 21 0,4 X 0,9 5,35 17 8 >4 18 50
7 - 13 0,4 X 0,9 5,40 18 8 >4 18 50
20
Figura 2.14 – Análise final relativa à Viga Baldrame 1 - 2. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
Os testes confirmam que o radar pode ser útil em aplicações na construção civil, em
especial na determinação da morfologia interna, na avaliação da homogeneidade e na
localização das armaduras em estruturas de concreto armado e a metodologia adotada, bem
como as técnicas e filtros utilizados na elaboração dos dados brutos, se mostraram eficientes.
2.3.2 GRACIA, GARCÍA E ABAD (2008)
GRACIA, GARCÍA E ABAD apresentam neste trabalho o estudo de um piso em
concreto armado de um grande edifício em Valencia, Espanha. Vários sinais indicavam
danificações sérias no piso estrutural, que aparentava ter umidade anormal e várias trincas
(Figura 2.15).
Um dano erroneamente diagnosticado pode levar a um reparo ineficaz. Assim, uma
investigação via GPR foi executada para que fosse determinado o estado do interior do piso
de concreto para que então se pudesse propor uma solução que trouxesse de volta a
estanqueidade ao piso, tendo como objetivos principais: detectar diferenças no piso estrutural,
localizar vazios e trincas não visíveis da superfície, determinar a importância de danos
observados a partir da superfície (em termos de profundidade), identificar seções com alto
teor de umidade e identificar possíveis causas para o alagamento observado.
21
Figura 2.15 – a) Fotografia aérea do edifício. b) Detalhe da análise realizada com GPR. c) Problemas
relacionados ao fluxo de água e à umidade. d) Trincas na laje do piso. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008).
Os autores utilizaram em seu estudo o sistema comercial de GPR GSSI SIR-3000
(Figura 2.16) para obter 40 perfis unidirecionais (leituras), mostrados na Figura 2.17 (a),
juntamente com as trincas observadas na superfície da placa (b), mapeadas em uma inspeção
visual.
Figura 2.16 – GPR utilizado no estudo. a) Unidade central. b) Antena com frequência central de 1500 MHz
acoplada ao GPR. c) As setas indicam a presença de água no pavimento. d) As setas indicam a presença de
eflorescências no piso. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008).
22
Figura 2.17 – a) Planta com locação das leituras realizadas e perfis obtidos. b) Trincas observadas no piso do
edifício. (GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008).
A partir da análise e interpretação dos dados, foi possível concluir que o piso de
concreto armado tem 15 centímetros de espessura e sua armadura está localizada na parte
inferior (Figura 2.18). Anomalias e descontinuidades nas ondas refletidas foram observadas
em 50 pontos espalhados pelos vários perfis, mostrados na Figura 2.19, estando alguns
detalhados na Figura 2.20.
Figura 2.18 – Radargrama do Perfil P25 evidenciando as armaduras do piso. (GRACIA, GARCÍA E ABAD,
2008).
23
Figura 2.19 – Os pontos negros indicam as zonas com anomalias e descontinuidades reveladas pelo GPR.
(GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008).
Figura 2.20 – Algumas descontinuidades verificadas. Os detalhes do lado direito foram obtidos onde havia
trincas visíveis da superfície, enquanto que os do lado esquerdo foram obtidos onde não havia trincas aparentes.
(GRACIA, GARCÍA E ABAD, 2008).
A Figura 2.21 mostra o radargrama obtido nos primeiros 4 metros do perfil P34, onde
é possível ver, além das reflexões causadas pelas armaduras (barras espaçadas em 20 cm),
descontinuidades nas reflexões indicando trincas que foram posteriormente confirmadas
através de alguns poucos testes invasivos. Em alguns radargramas foi possível identificar
variações na espessura da placa, possivelmente causadas por uma preparação não adequada da
base.
24
Figura 2.21 – Radargrama obtido com uma antena de 1500 MHz no perfil P34. (GRACIA, GARCÍA E ABAD,
2008).
Utilizando uma antena com frequência central de 400 MHz, os autores conseguiram,
ainda, identificar zonas de umidade elevada no concreto, através da observação do
decaimento abrupto da amplitude das ondas refletidas nessas zonas. A inspeção identificou
ainda a presença de um antigo poço sob o edifício que, além de ser uma das causas prováveis
do alto teor de água no piso, pode ter sido responsável pelas trincas ao seu redor, devido à
descompressão dos materiais.
Através dos dados obtidos foi possível analisar o quão afetado estava o piso
internamente e propor, finalmente, a demolição da placa danificada e a construção de um
novo piso, com especial atenção à impermeabilização. Os objetivos do estudo foram,
portando, atingidos.
2.3.3 CHANG, LIN E LIEN (2008)
Neste trabalho, CHANG, LIN E LIEN se propuseram a desenvolver um algoritmo
para modelar fisicamente os sinais percebidos a partir das reflexões das ondas de radar
refletidas nas armaduras metálicas e então estimar o diâmetro das barras. Várias peças de
concreto foram moldadas em laboratório e vários testes foram conduzidos para demonstrar a
influência da variação dos diâmetros das barras nas respostas do GPR.
No interior de uma peça de concreto (Figura 2.22) foram colocadas duas barras de
diferentes diâmetros à mesma profundidade (5,6 cm). A primeira barra (#6) tinha 20 mm de
diâmetro, enquanto a segunda (#10) tinha 32 mm de diâmetro. Outras peças foram
produzidas, variando-se a profundidade das barras, para avaliar o limite no qual o radar
(modelo MALA GPR System) conseguiria informações sobre o diâmetro destas barras. Essas
outras peças tiveram a profundidade das armaduras variadas entre 4 e 10 cm (Figura 2.23).
25
Figura 2.22 – Barras de diferentes diâmetros sob um cobrimento de concreto igual a 5,6 cm. (CHANG, LIN E
LIEN, 2008).
Figura 2.23 – Variação dos cobrimentos nas peças de concreto estudadas. (CHANG, LIN E LIEN, 2008).
O radar detecta a barra de diferentes ângulos, mas registra os dados considerando
sempre que ela está localizada imediatamente abaixo dele, o que produz um formato
característico de hipérbole, como ilustrado na figura 2.24. Imagens típicas de radar costuma
apresentar, ainda, sobreposição de hipérboles, o que dificulta a identificação dos sinais
refletidos pelas diferentes barras.
26
Figura 2.24 – Geração de hipérboles no radargrama. (CHANG, LIN E LIEN, 2008).
Para medir reflexões significantes, a partir do coeficiente de reflexão definido na
Equação 2.10, pode ser empregado o coeficiente do “poder de reflexão”, igual a:
𝑃𝑟 = 𝑅2. 2.12
Assim, “Pr” foi calculado para cada radargrama, levando em conta as variações nos
coeficientes de reflexão desde o sinal inicial de reflexão até o sinal final de reflexão dentro da
zona de energia do radar, durante o movimento da antena. O modelo esquemático é mostrado
na Figura 2.25.
Figura 2.25 – Efeito de Pr de uma barra no interior do concreto. (CHANG, LIN E LIEN, 2008).
27
Segundo os autores, a partir de r (obtido da Equação 2.11), os diâmetros das barras
podem ser calculados pela seguinte equação:
ø = 𝑆𝑐𝑜𝑟
𝜋=
𝐿−𝑟
𝜋 . 2.13
As respostas das ondas refletidas foram processadas usando uma técnica de
processamento digital de imagens, ilustrada na Figura 2.26. Assim, a partir da imagem gerada,
um código numérico é gerado para aquela imagem. O problema chave é converter os sinais
analógicos em sinais digitais, que podem ser representados por valores numéricos. A variação
destes valores numéricos corresponde à amplitude das reflexões. Assim, foi possível gerar as
curvas de “Pr”, obter o valor de L e consequentemente o valor do diâmetro.
Figura 2.26 – Radargrama após processamento digital de imagem e traçado da curva do poder de reflexão.
(CHANG, LIN E LIEN, 2008).
Conforme observado na figura 2.24, as variações entre as reflexões das diferentes
barras foram mínimas e muito difíceis de serem individualizadas. Por outro lado, o
processamento digital da imagem pode fornecer informações adicionais. Todo o
28
procedimento adotado por CHANG, LIN e LIEN está resumido na Figura 2.27 e os resultados
estão nas tabelas 2.6 e 2.7.
Figura 2.27 – Procedimentos para determinação do diâmetro das barras. (CHANG, LIN E LIEN, 2008).
Tabela 2.6: Resultados – Comparação entre os diâmetros estimados pelo GPR e os diâmetros reais.
(CHANG, LIN E LIEN, 2008)
Diâmetro Real
(cm) r (cm) L (cm)
Diâmetro Estimado
(cm)
Erro
(%)
2,0 9,77 16,49 1,86 7,0
3,2 10,01 19,45 3,1 3,2
Tabela 2.7: Resultados – Comparação entre os diâmetros estimados pelo GPR e os diâmetros reais ao se
variar o cobrimento de concreto. (CHANG, LIN E LIEN, 2008)
Cobrimento
de Concreto
(cm)
diâmetro real
(cm) r (cm) L (cm)
Diâmetro
Estimado (cm) Erro (%)
#6 #10 #6 #10 #6 #10 #6 #10 #6 #10
4 2,0 3,2 8,6 8,3 15,0 18,5 1,944 3,158 2,8 1,3
6 2,0 3,2 10,7 10,1 17,1 20,5 1,948 3,084 2,6 3,6
8 2,0 3,2 13,0 12,0 19,6 21,6 1,920 3,046 4,0 4,8
10 2,0 3,2 14,9 13,9 21,6 23,5 1,866 3,060 6,7 4,4
29
2.3.4 BERBEN, MORDAK E ANIGACZ (2012)
BERBEN, MORDAK E ANIGACZ utilizaram o GPR (modelo IDS The Aladdin GPR
System, que opera a uma frequência de 2000 MHz) para identificar parâmetros de vigas
simplesmente apoiadas de um viaduto de três vãos localizado na Polônia. Cada um dos vãos,
com comprimento de 11,25 metros e largura de 13 metros, consistia em 25 vigas principais
com geometria e parâmetros de resistência desconhecidos. Investigações nas vigas existentes
se fizeram necessárias para permitir reparos responsáveis por aumentar a capacidade do
viaduto. Para minimizar a influência de outros elementos sobre as leituras do radar, as
camadas de asfalto e de nivelamento de concreto foram removidas, expondo a superfície da
viga a ser analisada, que estava seca e não sofreu influências de condições atmosféricas.
Figura 2.28 – Aquisição de dados em leitura de GPR sobre viga de viaduto. (BERBEN, MORDAK E
ANIGACZ, 2012).
Duas vigas foram escolhidas para serem testadas e, após expor suas superfícies, foi
descoberto que suas larguras eram em torno de 0,45 m, enquanto o comprimento era em torno
de 11,5 m. Decidiu-se então escanear uma faixa de 0,5 x 12 metros, devido à dificuldade de
identificar o início e fim de cada viga com exatidão. Onze perfis longitudinais (L1-L11) com
comprimento de 12 metros foram gerados e cobriram totalmente a viga de número 1.
Adicionalmente, duas seções de comprimento de 1 metro foram escolhidas, nas quais foram
realizados 42 escaneamentos transversais (T12 – T53). Estes escaneamentos estão ilustrados
na Figura 2.29.
30
Figura 2.29 – Perfis de leituras transversais e longitudinais sobre viga de viaduto. Cotas em mm.
(BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
Os escaneamentos longitudinais (L) foram feitos para encontrar a posição dos estribos,
enquanto que os escaneamentos transversais (T) identificaram as armaduras longitudinais
principais. Os dados brutos foram processados e elaborados, através de filtros e ganhos de
sinal, com o auxílio do software GRED 3D.
Para a Viga 1, todos os radargramas longitudinais (Figura 2.30) identificaram a
presença dos estribos, espaçados em média em 17 cm, com um cobrimento de concreto de 5,5
cm. Uma camada a 12 centímetros de profundidade se destacou, elucidando a parte superior
de uma abertura interna da viga. Outra camada, a 40 centímetros de profundidade identificou
o final desta abertura. Todos os radargramas também identificaram o fundo da viga, a uma
profundidade de 56 centímetros. Algumas anomalias foram identificadas, como reflexões
oriundas de objetos não identificados. Os radargramas transversais (T) (Figura 2.31)
confirmaram a posição da abertura central interna da viga e elucidaram as armaduras
longitudinais principais. Assim, foi possível chegar à configuração apresentada na Figura
2.32.
Figura 2.30 – Radargrama L1 da Viga 1. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
31
Figura 2.31 – Radargrama T22 da Viga 1. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
Figura 2.32 – Esquema da vista superior e seção transversal Viga 1. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
Os resultados obtidos para a Viga 2 confirmam os resultados obtidos para a Viga 1. A
distância média entre estribos foi identificada, a partir dos radargramas, como sendo de 18
cm. Foi possível ver claramente a abertura interna e a armadura longitudinal inferior. Devido
ao provável alto número de barras longitudinais, houve sobreposição de sinais e o número de
barras longitudinais inferiores não pode ser determinado. Os radargramas da Viga 2 são
apresentados nas figuras a seguir.
32
Figura 2.33 – Radargrama L3 da Viga 2. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
Figura 2.34 – Radargrama T20 da Viga 2. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
Após a análise com o GPR, os autores concluíram que as vigas usadas na construção
do viaduto eram do tipo “Gromnik”. A Figura 2.35 mostra uma comparação entre as seções
supostas com a análise via GPR e o catálogo de vigas Gromnik típicas. Como havia
diferenças no número de barras superiores, uma pequena porção do concreto foi retirada
invasivamente para confirmar este número. Foram encontradas duas barras, conforme previsto
pelo radar e diferentemente do que especificava o projeto. Este fato confirma a necessidade da
aplicação do método GPR na detecção de armaduras, especialmente no caso de vigas antigas
em concreto armado, visto que podem ocorrer diferenças entre o projeto e a realidade e que
33
estas diferenças devem ser levadas em consideração nos novos cálculos, em caso de obras de
reparo ou reforço estrutural.
Figura 2.35 – Comparação entre a seção obtida via GPR (a) e a seção descrita em catálogo (b). Dimensões em
mm. (BERBEN, MORDAK E ANIGACZ, 2012).
Devido à complicada geometria da seção transversal (que influencia na reflexão das
ondas eletromagnéticas) e da densidade da armadura inferior, o número de barras na camada
inferior da viga não foi possível de ser identificado.
Para os autores, levando em conta as vantagens e desvantagens dos métodos não
destrutivos, o GPR, ainda que com suas limitações, é o método mais adequado para a
determinação da seção transversal em vigas de pontes.
34
2.4 TRABALHOS REALIZADOS NO BRASIL
Devido à introdução tardia do GPR como ferramenta auxiliar na inspeção de estruturas
de concreto armado no Brasil, o volume de material publicado sobre este tema no Brasil ou
em língua portuguesa é pequeno. Neste trabalho, dar-se-á destaque ao trabalho de MATOS
(2009).
2.4.1 MATOS (2009)
Neste trabalho, MATOS utilizou o GPR com uma antena 400 MHz para descobrir até
que ponto esta antena pode dar informações sobre uma estrutura de engenharia civil. Foram
feitas medidas com o GPR com antena de 400 MHz, para verificar que grau de resposta
poderia ser obtido e compará-lo com modelos previamente feitos e analizados em
computador.
Figura 2.36 – figura ilustrativa do modelo computacional com uma barra de aço em uma placa de concreto.
(MATOS, 2009).
Figura 2.37 – Anomalia gerada pela barra de aço, em uma frequência de 400 MHz. (MATOS, 2009).
35
Segundo MATOS, o topo da hipérbole coincide com o topo da barra de aço, porém
esta é a única informação que se obtém da barra, pois a abertura do sinal não dá as verdadeiras
dimensões da barra, só indicam sua presença e sua profundidade teórica. O autor também
realizou outros modelos, que dão conta de diferentes configurações de barras no interior do
concreto, como no caso de barras paralelas espaçadas horizontalmente (Figura 2.38).
Figura 2.38 – Modelo de barras espaçadas horizontalmente de 0,1m. (MATOS, 2009).
Figura 2.39 – Resposta GPR para o modelo com barras paralelas. (MATOS, 2009).
36
Após realizar vários modelos com barras, fissuras e vazios em concreto, MATOS
prosseguiu com um levantamento de perfis GPR em uma sala do Arquivo Central da
Universidade Federal do Pará. Na Figura 2.40 é possível ver um dos perfis obtidos pelo autor.
Este perfil, com 8 metros de comprimento, evidencia a presença de barras de aço no
pavimento e uma viga. Nos pontos de 1,2 e 5,0 metros, é possível observar respostas
características para regiões de encontro de lajes pré-moldadas.
Figura 2.40 – Perfil 400 MHz, para amostra de 40 ns. (MATOS, 2009).
MATOS, em seu trabalho, conclui que a antena de 400 MHz consegue identificar
barras de aço e zonas de vazio, mas também que é muito limitada para delimitar as dimensões
destes alvos. Mostra também que a antena em questão apresenta muita dificuldade em mostrar
fissuras na estrutura de concreto, principalmente porque estas apresentam dimensões muito
pequenas e difícil identificação.
37
3. METODOLOGIA
3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
De modo geral, não existem padrões de procedimentos para testes com o GPR, de
modo que cada estrutura deve ser analisada individualmente, a depender do modelo de radar
utilizado. Os procedimentos apresentados seguem a sequência descrita por BARRILE e
PUCINOTTI (2005), devidamente adaptada ao modelo Hilti PS 1000 X-Scan para aquisição
de dados e ao software Hilti PROFIS para elaboração e análise dos dados, utilizados em
situações comuns. O uso em estruturas pouco convencionais pode requerer outras técnicas de
aquisição e elaboração de dados. Todas as recomendações do Manual do Usuário devem ser
seguidas à risca.
Figura 3.1 – Hilti PS 1000 X-Scan System – Modelo de GPR utilizado. (fonte: www.masterbuilder.co.in).
Segundo BARRILE e PUCINOTTI (2005), uma análise via GPR deve ser conduzida,
seguindo os passos expostos na Figura 3.2:
38
Figura 3.2 – Fases de uma análise com GPR. (BARRILE E PUCINOTTI, 2005).
Assim, propõe-se a sequência descrita na Figura 3.3 e detalhada nos tópicos seguintes:
Figura 3.3 – Sequência de passos propostos para análise com GPR.
3.2 RECONHECIMENTO E PREPARAÇÃO DA ESTRUTURA
Nesta fase deve-se ter em mente quais são os objetivos da análise e se atentar às
particularidades da estrutura, aos fatores que possam dificultar a inspeção e em quais faces da
39
estrutura e em quais direções serão realizados os testes, a depender dos objetivos. As faces
sobre as quais se realizarão os registros devem estar limpas, planas e desobstruídas.
Fixa-então uma grelha de referência (Figura 3.4) a partir de um ponto fixo marcado na
estrutura, para que haja uma perfeita correspondência entre os resultados e a estrutura. Caso a
peça analisada seja muito ampla, várias grelhas adjacentes podem ser fixadas, desde que o
início uma grelha coincida com o final da grelha precedente.
Antes da utilização de aparelhos de radar, deve-se certificar que na proximidade do
local de medição não se encontram sistemas radioelétricos sensíveis, como radares de voo ou
radiotelescópios.
Figura 3.4 – Grelha referenciada anexada à estrutura (fonte: http://www.rnpassociates.co.uk/surveying/).
3.3 AQUISIÇÃO E REGISTRO DE DADOS
Particularmente para o aparelho em questão, com a finalidade de localizar e mapear
armaduras e outros objetos no interior do concreto serão realizadas medições no modo
“ImageScan”. Caso não se tenha nenhuma informação sobre o interior da estrutura, pode-se
efetuar uma detecção rápida no modo “QuickScan” para avaliar a orientação dos objetos
internos e, então, proceder com o “ImageScan” nas direções corretas.
A medição deve ser efetuada deslocando-se o scanner (radar) sobre a grelha fixada
(Figura 3.5). Todos os trajetos marcados na grelha devem ser feitos, sendo os verticais
efetuados após os horizontais. Quando várias grelhas forem utilizadas, elas devem ser
medidas individualmente. Quando se deseja medir o diâmetro das barras da armadura,
40
recomenda-se o uso do pacômetro FerroScan PS 200, presente no kit do PS 1000 X-Scan
System.
Figura 3.5 – Aquisição de dados sobre grelha anexada à estrutura (fonte: Manual do Usuário Hilti PS1000).
3.4 VISUALIZAÇÃO DOS DADOS
Depois da exploração do último trajeto, o resultado preliminar é imediatamente
exibido no monitor acoplado do Scanner e a satisfatoriedade da medição poderá ser analisada.
Através das teclas “Contrast”, “Param” e “Visualization”, pode-se alterar os parâmetros de
visualização. Os registros, no sistema PS 1000 chamados de “Projetos”, também podem ser
visualizados, com mais possibilidades de visualização, no monitor externo PS 100.
3.5 ELABORAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS
A elaboração e o tratamento dos dados serão realizados em computador através do
software PROFIS. Esta fase será exposta em detalhes no próximo capítulo.
41
3.6 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Após se obter um tratamento satisfatório dos dados, deve-se prosseguir com a análise e
interpretação dos resultados obtidos na fase anterior. As imagens bidimensionais e
tridimensionais geradas pelo software devem servir apenas como guia, mas a análise
cuidadosa dos radargramas é indispensável para uma correta interpretação, já que reflexões
presentes nos radargramas podem não ser “compreendidas” pelo algoritmo que os converte
em imagens.
42
4. ELABORAÇÃO, TRATATAMENTO E INTERPRETAÇÃO DOS
DADOS COM O SOFTWARE PROFIS
A visualização dos radargramas, bem como a maneira como estes são interpretados
pelo computador (na geração das imagens em 2D e 3D) é feita no software PROFIS, através
dos ajustes em parâmetros do material, de filtros e de visualização. A seguir, uma síntese das
funcionalidades do software é apresentada.
A tela do software é dividida em sete menus principais: 2D/3D, Parâmetros,
Visualização, Configuração, Extras, Perfurar e Notas.
Figura 4.1 – Interface do software Hilti PROFIS
Em 2D/3D, é possível transitar entre a visualização da imagem em duas ou três
dimensões, a partir dos filtros e parâmetros definidos nos outros menus. A imagem gerada é,
na verdade, uma interpretação automática dos radargramas brutos obtidos a partir da
configuração à qual o software é submetido. Como o aparelho de GPR aqui utilizado é
comercialmente vendido como um “scanner” de armaduras, as configurações e filtros visam
sempre a melhor definição das armaduras nas imagens finais. Assim, para investigações que
tenham outro foco além de analisar as armaduras, deve-se recorrer diretamente à interpretação
dos radargramas brutos.
As principais ferramentas encontram-se no menu de Parâmetros e são elas:
Escala de Profundidade;
43
Preparação dos Dados;
Nível.
A profundidade dos objetos é determinada pelo aparelho através do tempo de
propagação das ondas de radar, conforme as equações 2.11 e 2.3, sendo este tempo afetado
pela permissividade (ou constante dielétrica) do meio. Assim, em “Escala de profundidade”,
no campo “Betão”, é possível informar o valor da constante dielétrica “ε”, dentro das faixas
informadas na tabela 2.1. Se este valor não for corretamente ajustado, a profundidade dos
objetos é indicada com erro no caso de um pequeno desvio do valor real da constante. No
caso de um desvio significativo do valor real da constante, os objetos não são completamente
representados ou são representados objetos errados.
O parâmetro "Desvio do foco" permite deslocar virtualmente a superfície, para obter
uma focagem aperfeiçoada dos dados.
No que se refere à “Preparação dos Dados”, é possível escolher o tipo de filtro, onde
porções são eliminadas dos dados de radar para que objetos em primeiro plano possam ser
representados de forma nítida. Deste modo, serão ocultadas reflexões da superfície, de
camadas ou de uma eventual parede traseira, por exemplo. São propostas três opções de
seleção, sendo elas: “Mediana”, “Seletivo” e “Passa Altas”. Em “Método”, pode-se optar
entre duas possibilidades consoantes à posição do objeto: “Padrão” ou “Avançado”, onde
objetos profundos são particularmente realçados, ao mesmo tempo em que aumenta a
visibilidade de interferências.
Figura 4.2 – Imagens obtidas através dos filtros “Seletivo” (esquerda), “Mediana” (centro) e “Passa-Altas”
(direita), mantendo-se todos os outros parâmetros iguais.
O movimento da antena e o fato dela não perceber apenas o que está diretamente
abaixo dela, como também os objetos à esquerda e à direita da mesma, gera as hipérboles
44
típicas que aparecem nos radargramas brutos, onde o vértice de uma hipérbole de dispersão
representa a posição do objeto. Estas hipérboles são focadas sinteticamente através de um
algoritmo, possibilitando o imageamento das reflexões. Deste modo, obtém-se uma
visualização mais realista e melhorada dos objetos refletidos no interior do concreto. Em
“Tipos de Focagem”, estão disponíveis dois algoritmos: trata-se, no caso do tipo de focagem
"Rápida", da migração Stolt e no caso do tipo de focagem "Avançado", da migração de
Kirchhoff.
A escolha do método mais adequado para realizar a migração é de extrema
importância para que se possa encontrar um resultado que seja satisfatório não só pela
qualidade do dado, mas também pela otimização do tempo computacional (SILVA, 2008).
Segundo SILVA (2008), a migração Kirchhoff está baseada na solução integral da equação da
onda. Tal solução permite encontrar o valor do campo de onda em qualquer ponto em
profundidade a partir do campo de onda registrado na superfície, ambos no domínio espaço-
tempo. A partir daí, outras etapas são aplicadas para gerar a seção migrada. No método de
migração de Stolt (STOLT, 1978), o primeiro passo é a mudança, via transformada de
Fourier, do domínio “espaço-tempo” para o novo domínio de trabalho, “freqüência-número de
onda”. Essa mudança de domínio torna mais simples a relação matemática entre a freqüência
ω e as componentes do número de onda. Move-se então a amplitude e a fase do campo de
onda de cada componente para seu correspondente. Então, é aplicada a transformada de
Fourier inversa para retornar ao domínio “espaço-tempo” e posteriormente gerar a imagem
migrada. Este método possui a limitação de não aceitar significativas variações laterais de
velocidade.
Figura 4.3 – Comparação entre o imageamento obtido através da focagem rápida – migração de Stolt (esquerda)
e focagem avançada – migração de Kirchhoff (direita), mantendo-se todos os outros parâmetros iguais.
45
Em “Dados”, seleciona-se os dados que se deseja visualizar na seção. Pode-se escolher
entre "Padrão" (os dados são representados como intensidades de reflexão focadas), "Focado"
(todos os dados que tenham origem em um objeto são reunidos em um ponto), "Ampliado"
(onde é compensada a atenuação das ondas pela penetração no concreto), "Filtrado" (os
radargramas brutos são representados segundo um filtro que subtrai as componentes contínuas
do sinal) e "Bruto", onde são apresentados os radargramas brutos.
Figura 4.4 – Uma mesma seção representada sob as diferentes formas de apresentação de dados: Padrão (A),
Focado (B), Ampliado (C), Filtrado (D) e Bruto (E). Esquema de cores “Azul”.
Pode acontecer que a peça de concreto a ser estudada esteja coberta por uma camada
com características muito diferentes do concreto, como por exemplo, uma tábua utilizada
como apoio durante a medição. Esta camada tem de ser considerada, de modo a se conseguir
uma focagem correta dos dados. Este procedimento é efetuado no campo “Nível”.
No menu “Visualização”, estão presentes dois campos: “Visualização” e
“Retículo/Secção”. No campo “Visualização” é possível alterar o esquema de cores utilizado.
Por não ser possível alterar a escala de cores dentro de um mesmo esquema escolhido, sugere-
se a opção “cinza”, quando se estuda diretamente sobre os radargramas, para que sejam
evitadas possíveis confusões. A opção “suavizar objetos” pode ser convenientemente ativada
para melhor definição dos objetos nas imagens obtidas, principalmente no caso
tridimensional.
46
No campo “Retículo/Secção”, pode-se transitar livremente sobre a imagem, tendo a
grelha como referência. É possível, ainda, definir a espessura da faixa representada na
imagem. Esta seção é importante pois é através dela que se pode determinar a posição no
espaço exata de um objeto representado.
O menu “Configuração” permite escolher o que será mostrado ou ocultado na imagem,
isolar dados de apenas uma direção e ajustar cores da área de trabalho. O menu “Extras”
permite a exportação das imagens e a geração de pequenos relatórios com os parâmetros e
dados da leitura. Em “Perfurar”, pode-se fixar posição de objetos de interesse e em “Notas”
pode-se adicionar notas a leituras ou a objetos previamente fixados.
47
5. TESTES EM LABORATÓRIO
Diante do exposto nos capítulos anteriores, prosseguiu-se com ensaios em laboratório,
sob condições controladas, para testar a metodologia proposta e verificar a necessidade de
ajustes na mesma.
5.1 PRIMEIRO TESTE - MEDIÇÃO PRELIMINAR EM LAJE BUBBLEDECK
Inicialmente, foi realizado no Laboratório de Estruturas da Universidade de Brasília
(LABEST-UnB) um ensaio simples com o GPR (Figura 5.1), para conhecer o aparelho a ser
utilizado, entender na prática suas limitações e ter condições de propor uma metodologia a ser
seguida durante os estudos seguintes. A peça estudada foi uma laje conhecida, com armaduras
inferiores e superiores, feita segundo a tecnologia BubbleDeck®.
Figura 5.1 – Execução de teste sobre laje no LABEST/UnB
Como parâmetros utilizados durante a fase de elaboração de dados, foram adotados:
Permissividade Relativa do Concreto “ε” = 7,5;
Desvio do Foco = 0;
Tipo de Filtro: Passa Altas;
Método: Avançado;
Tipo de Focagem: Avançado;
Dados: Bruto;
Somatório Z: Média.
Os radargramas obtidos estão na figura 5.2.
48
Figura 5.2 – Radargrama em X (esquerda) e em Y (direita) obtidos em laje no LABEST/UnB
As barras da armadura superior foram nitidamente registradas pelo radar.
Provavelmente devido ao efeito de “escudo” (citado no item 2.2.7) causado pelas barras
superiores, a armadura inferior foi percebida fracamente. Perturbações entre as barras foram
percebidas no radargrama do eixo Y (circuladas na Figura 5.2) e podem indicar a presença de
vazios (característica das lajes do tipo BubbleDeck®), mas a baixa resolução destas
perturbações e a ausência das mesmas no radargrama em X não permitem fazer estas
afirmações com segurança. Analisando a escala dos radargramas, pode-se afirmar que o
cobrimento é de aproximadamente 25 mm. Os diâmetros das barras não foram estimados.
Foram então geradas as imagens em 2D e em 3D, apresentadas na Figura 5.3:
Figura 5.3 – Imagens em 2D (esquerda) e em 3D (direita) obtidas na fase de elaboração de dados.
49
5.2 SEGUNDO TESTE – PLACA ISOLADA
Para que se realizasse um teste sob condições totalmente controladas, uma pequena
placa de concreto foi moldada no Laboratório de Estruturas da Universidade de Brasília
(LABEST-UnB) para ser posteriormente submetida ao GPR. Utilizou-se, então, na placa com
dimensões de 92 x 77 cm e espessura de 12 cm, uma malha de armadura superior e outra
inferior, ambas com barras de aço de 8 mm de diâmetro espaçadas em 15 cm nas duas
direções e cobrimento de 2 cm (Figuras 5.4, 5.5 e 5.6).
Figura 5.4 – Esquema ilustrativo da placa moldada. Unidades em “cm”.
50
Figura 5.5 – Fôrma da placa moldada no laboratório.
Figura 5.6 – Placa moldada no laboratório após desforma.
Utilizando o GPR, com o auxílio de uma grelha de 60 x 60 cm, procedeu-se com a
leitura, seguindo a ordem esquematizada na Figura 5.7. Foram tomadas, portanto, quatro
leituras na horizontal e quatro na vertical. Utilizando os dados de maneira bruta, sem aplicar
qualquer tipo de desvio de foco, obteve-se radargramas relativos a estas leituras, em ambas as
direções. O valor configurado para a constante dielétrica foi ε=7,0.
51
Figura 5.7 – Esquema ilustrativo das leituras tomadas sobre a placa. Cotas em “cm”.
Nos perfis obtidos, as reflexões causadas pela malha superior de aço ficaram
satisfatoriamente visíveis a, em média, 1,5 cm de profundidade (Figuras 5.8 e 5.9).
Figura 5.8 – Leitura 01 evidenciando a armadura superior vertical. Cotas em “cm”.
Figura 5.9 – Leitura 05 evidenciando a armadura superior horizontal. Cotas em “cm”.
52
Já no caso das armaduras inferiores, as barras verticais ficaram consideravelmente
mais visíveis do que as horizontais. O cobrimento inferior, acusado pelos radargramas, foi de
3,0 cm. As reflexões contínuas que caracterizam mudança completa de meio – neste caso a
face inferior da placa – foram registradas a uma profundidade de 12,6 cm.
Figura 5.10 – Leitura 02 evidenciando a armadura inferior vertical. Cotas em “cm”.
Figura 5.11 – Leitura 07 evidenciando a armadura inferior horizontal. Cotas em “cm”.
Em computador, utilizando-se o filtro “mediana”, método “avançado” e tipo de
focagem “rápida”, foi possível obter uma imagem satisfatoriamente nítida.
Figura 5.12 – Imagens obtidas pela interpretação automática dos radargramas pelo software PROFIS.
53
5.3 TERCEIRO TESTE – LAJE COM CONECTORES DE CISALHAMENTO
No terceiro ensaio, foi utilizada uma laje oriunda de outra pesquisa do Laboratório de
Estruturas da Universidade de Brasília (identificada como S19-3). Composta por duas placas
de concreto armado, ligadas a um perfil metálico intermediário por meio de conectores de
cisalhamento do tipo stud bolt, esta laje está esquematizada na Figura 5.12. Neste ensaio, o
objetivo principal era localizar e caracterizar corretamente as armaduras passivas e o conector,
além de avaliar se o GPR conseguia, através de suas reflexões, revelar a presença do perfil
metálico por baixo da placa superior de concreto.
Figura 5.13 – Laje com conectores “stud bolt”. Unidades em “cm”. (Fonte: LABEST/UnB, 2016).
54
Figura 5.14 – Laje com conectores “stud bolt” submetidas ao ensaio.
Devido às pequenas dimensões em planta da laje, não seria possível utilizar apenas o
aparelho GPR com a grelha de referência. Utilizou-se, então, uma chapa de madeira para
aumentar a superfície sobre a qual o radar seria deslocado (Figura 5.14). Na fase de análise, os
10 mm relativos à espessura desta superfície de apoio de madeira foram descontados para que
não ocorressem incoerências.
Figura 5.15 – Superfície de apoio de madeira.
55
Figura 5.16 – Ordem da tomada de radargramas sobre as lajes.
Após seguir com o GPR a ordem indicada na Figura 5.15, foram obtidos os
radargramas apresentados nas Figuras 5.16 e 5.17, considerando-se ε = 7,0.
As armaduras na parte superior da laje foram percebidas e refletidas com boa
definição (A e B), sob um cobrimento médio de 2,5 cm. A face inferior da placa é visível
através de uma reflexão constante a uma profundidade que varia de 15 a 17 cm (C), a
depender do radargrama. As armaduras inferiores só foram visíveis em poucos pontos das
leituras verticais (D). Os conectores stud bolt geraram pequenas reflexões nos perfis 2, 3, 6 e
7 (E). Nos perfis de 5 a 8, tomados na vertical, reflexões praticamente no mesmo nível da face
inferior da laje podem indicar a mesa superior do perfil metálico (F). Algumas reflexões no
interior da peça não puderam ser identificadas. Estas podem ser produtos de espaçadores
metálicos ou fissuras de grande dimensão que estão presentes em diversos pontos da laje.
Para melhor visualização, no software PROFIS, foram aplicados os seguintes
parâmetros sobre as imagens obtidas: filtro “mediana”, método “avançado” e tipo de focagem
“rápida”. Esta configuração gerou as imagens apresentadas na Figura 5.19.
56
Figura 5.17 – Radargramas obtidos na horizontal. Cotas em cm.
57
Figura 5.18 – Radargramas obtidos na vertical. Cotas em cm.
Figura 5.19 – Imagens obtidas pela interpretação automática dos radargramas pelo software PROFIS.
58
6. ESTUDO DE CASO: MUSEU DE ARTE DE BRASÍLIA
6.1 HISTÓRICO E ESCOPO
Situado no Setor de Hotéis e Turismo Norte, o edifício construído na década de 1960
abrigou, a partir de março de 1985, o Museu de Arte de Brasília. A edificação ocupa uma área
construída de 4800 m² e foi construída no período pioneiro da capital, seguindo os padrões da
arquitetura moderna, apresentando grande volumetria e predominância de vãos livres.
Abrigou, inicialmente, o Clube das Forças Armadas e, posteriormente, o Casarão do Samba.
Figura 6.1 – Fachada do edifício do Museu de Arte de Brasília. (fonte: Correio Braziliense, 2014).
Em 2007, após considerar que o edifício não garantia a conservação e segurança de
seu acervo, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios determinou sua interdição.
Após três tentativas de reforma, um novo projeto foi proposto pela Novacap.
Dentre o previsto no novo projeto, estava a inclusão de elevadores, que tornava
necessária a execução de aberturas nas lajes. Como os documentos do projeto original não
foram encontrados fez-se necessária uma investigação com o GPR para que se caracterizasse
a laje que sofreria esta intervenção, procurando-se, assim, obter o maior número possível de
informações sobre a mesma. Devido ao grande vão, suspeitava-se, inclusive, da presença de
cordoalhas de protensão, o que poderia inviabilizar as intervenções necessárias.
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6.2 METODOLOGIA
Nas figuras 6.2 e 6.3 é possível visualizar a região do piso superior na qual foi feita a
verificação. Utilizando o GPR, com auxílio de uma grelha de referência de 120 x 120
centímetros, foi possível realizar oito leituras em cada uma das duas direções (Figura 6.4) e
obter os respectivos radargramas. Estes perfis foram posteriormente submetidos ao tratamento
e análise no software PROFIS.
Figura 6.2 – Croqui de locação da região do Piso Superior submetida à análise.
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Figura 6.3 – Região do Piso Superior submetida à análise, após limpeza.
Figura 6.4 – Ordem das leituras tomadas sobre a grelha de referência.
61
6.3 ANÁLISE E RESULTADOS
Adotando-se como valor padrão para a constante dielétrica ε = 7,0 e sem impor
nenhum desvio de foco aos dados obtidos, foi possível visualizar com clareza as reflexões
registradas. Algumas destas reflexões chamaram atenção de modo particular:
a) 30 mm abaixo da superfície foi possível perceber uma reflexão contínua (Figura 6.5),
em todas as leituras e ambas as direções, devido a uma contínua diferença na
constante dielétrica, que seria justificada por uma mudança de meio. De imediato,
então, concluiu-se se tratar da espessura do contra piso sobre a laje de concreto.
Figura 6.5 – Leituras 02 (horizontal) e 10(vertical), evidenciando o contra piso de 30 mm de espessura.
b) Em todos os perfis tomados na direção horizontal (Figura 6.6), a 70 mm de
profundidade, obtiveram-se dois pares de reflexões significativas. Estas, que foram as
maiores reflexões registradas em toda a verificação, significavam objetos lineares
dispostos na vertical (direção perpendicular ao movimento do aparelho). Com o
auxílio da superposição da grelha de referência à imagem bidimensional obtida com os
perfis evidenciaram-se as distâncias mostradas na Figura 6.7. Constatou-se que estes
objetos lineares dispostos em pares poderiam, então, ser cordoalhas de protensão ou
armaduras passivas de grande diâmetro.
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Figura 6.6 – Leituras tomadas na horizontal, evidenciando os pares de reflexões geradas a 70 mm de
profundidade.
Figura 6.7 – Imagem 2D da seção paralela ao plano da laje, a 70 mm de profundidade. Cotas em mm.
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c) Nas duas direções, a 100 mm de profundidade, encontrou-se reflexões bem definidas,
com intervalos regulares. Pelas características das reflexões, concluiu-se que se tratava
de malha de armadura passiva com 213 mm, em média, de espaçamento na horizontal
(armadura vertical) e 110 mm de espaçamento na vertical (armadura horizontal),
conforme apresentado na Figura 6.8. É possível notar, também, diferenças
significativas nos espaçamentos entre as barras em ambas as direções, além de
desníveis entre as mesmas.
Figura 6.8 – Leituras 02 (horizontal) e 09 (vertical), evidenciando as reflexões da armadura passiva a 100 mm de
profundidade.
d) Em todos os perfis obtidos, as reflexões cessaram a uma profundidade média de 170
mm, o que indicaria o fim da seção de concreto. Através de inspeção visual, foi
possível perceber que a laje verificada era do tipo “caixão perdido”. Assim, portanto,
pôde-se concluir que o valor de 170 mm representava apenas a espessura da mesa
superior acrescida ao contra piso.
Figura 6.9 – Leitura 05, evidenciando o fim das reflexões e face inferior da laje.
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Com as configurações de filtro “Passa Altas”, método “avançado”, tipo de focagem
“avançado” e somatório Z “máximo”, no software PROFIS, chegou-se às representações
mostradas na Figura 6.10.
Figura 6.10 – Imagens obtidas pela interpretação automática dos radargramas pelo software PROFIS.
Para que se os dados obtidos com o auxílio do GPR fossem validados, optou-se por
efetuar uma abertura com martelete em uma pequena região, dentro da área “escaneada”.
Inicialmente, o contra piso foi quebrado e, conforme apontado previamente pelos
radargramas, apresentava em média 30 mm de espessura. Ao se atingir uma profundidade de
70 mm, três barras de aço, sem ranhuras, com diâmetro estimado 20 mm foram expostas.
Assim, apesar de a profundidade ter sido corretamente estimada, apenas duas das três
barras foram refletidas e evidenciadas com clareza nos radargramas. Este fato pode ter sido
motivado pela proximidade e pelo diâmetro das barras, que criou um efeito de superposição
destas reflexões, ocultando uma delas. Pôde-se concluir que estas barras eram armaduras
longitudinais das nervuras (dispostas em apenas uma direção), descartando-se a hipótese de
protensão. Um pouco mais abaixo, também na profundidade apontada pelos perfis obtidos nas
leituras, encontrou-se a malha de armadura disposta nas duas direções.
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Figura 6.11 – Abertura executada com martelete.
Na região da escada, conseguiu-se medir a espessura total da laje e a espessura da
mesa inferior, chegando-se aos valores de 550 mm e 100 mm, respectivamente. Assim,
através do cruzamento de dados obtidos com o GPR e de medições e observações in loco, foi
possível se obter uma seção aproximada para a laje (Figura 6.12), com informações relativas
às nervuras internas e às armaduras e espessura da mesa superior, que passaram ser
conhecidas graças à inspeção local com o aparelho de GPR.
Figura 6.12 – Esquema em planta e cortes da região da laje verificada, de acordo com dados obtidos com o GPR.
Cotas em mm.
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7. CONCLUSÕES
O estudo bibliográfico mostrou, além dos princípios físicos que regem o
funcionamento do Radar de Penetração em Solos, a maneira como este foi adaptado à
aplicação sobre estruturas de concreto armado e quais poderiam ser as maiores dificuldades e
limitações no uso da ferramenta ao utilizá-lo em laboratório ou no campo.
Ao realizar os testes em laboratório, de imediato, foi possível perceber que as
dimensões do modelo utilizado podem atrapalhar a tomada de perfis em peças pequenas,
requerendo assim a utilização de superfícies de apoio, como a utilizada no terceiro teste.
Deve-se observar, no entanto, que a movimentação desta superfície durante o ensaio tornaria
perdidas as referências da grelha, comprometendo seriamente a interpretação dos dados.
Para camadas de armadura próximas à superfície sobre a qual se desloca o aparelho, as
reflexões obtidas nos radargramas foram bem definidas, em todos os casos. O mesmo, no
entanto, não se pode dizer para as camadas mais profundas, que se apresentaram pouco ou
nada visíveis.
Como as peças analisadas em laboratório eram, em certo modo, conhecidas, o trabalho
de interpretação de algumas reflexões no radargrama foi facilitado. Estas reflexões em uma
situação de campo, no entanto, poderiam ser difíceis de serem interpretadas sem informações
prévias, como no caso dos conectores stud bolt do terceiro teste.
No estudo de caso, que teve como objetivo obter informações sobre uma laje do
Museu de Arte Brasília, o GPR se mostrou eficiente na localização no plano e em
profundidade das armaduras, tanto da mesa quanto da nervura, além de revelar com boa
precisão as espessuras das camadas de argamassa de contra piso e de concreto. Isto pode ser
de extrema importância tanto em situações como a do MAB, quando se precisa colher
informações na ausência de projeto, como em situações onde é necessário avaliar a
concordância entre projeto e estrutura executada.
Sabe-se que em qualquer situação onde existam valores para a constante dielétrica
diferentes daquela do concreto seco, surgirá algum tipo de reflexão nos radargramas, o que
inclui fissuras, objetos ou nichos de umidade. Assim, a correta interpretação das reflexões nos
radargramas é de fundamental importância para que sejam atingidos os objetivos da
investigação proposta, pois, dentre um conjunto de reflexões, é preciso diferenciar quais
devem ser levadas em consideração e como isto deve ser feito. Portanto, a experiência de
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quem executa as leituras e as interpretações dos radargramas pode ser determinante no
sucesso de uma análise com o GPR.
É importante ressaltar que, apesar de apontar satisfatoriamente espaçamentos entre
barras e espessuras de camadas, a utilização do GPR com atenas de 2000 MHz na
caracterização de estruturas de concreto armado se mostrou eficiente sob a ótica qualitativa,
visto que os valores lidos nos radargramas devem ser tomados como aproximados e a
interpretação dos perfis obtidos depende da experiência de quem a realiza, além de que
dificilmente se consegue determinar com exatidão diâmetros de barras, dimensões de fissuras
internas ou outros valores que necessitem de precisão milimétrica.
Neste estudo, somente estruturas sob a forma de placa foram objetos de análise, sendo
que a aplicação em elementos lineares como vigas e pilares podem apresentar outros tipos de
dificuldades e limitações, não contempladas neste trabalho.
Sabe-se que o custo de aquisição de aparelhos de GPR voltados à aplicação em
estruturas de concreto, por se tratar de uma tecnologia recente, é alto. Este fato somado à
baixa produtividade na obtenção de dados de grandes áreas e ao custo para formar operadores
experientes torna o custo benefício da ferramenta, pelo menos por enquanto, baixo.
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