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Título Nome do Autor Neste trabalho estudamos os processos colisionais envolvidos no aprisionamento misto de átomos de sódio e potássio. Tais processos geram perdas em armadilhas magneto-ópticas que limita o número e a densidade destas amostras aprisionadas. Para este estudo, empregamos um arranjo experimental inovador, utilizando como fonte de átomos, uma armadilha magneto-óptica 2D. Também diferente de trabalhos anteriores, este foi realizado em um regime de menor pressão e maior densidade de átomos aprisionados. Os resultados foram obtidos a partir da análise das curvas de carga para o carregamento individual de átomos de sódio e potássio, a fim de obter a taxa de perdas por colisão entre dois átomos idênticos. Para obter a taxa de perdas por colisão entre dois átomos distintos, foi feito o carregamento do potássio na presença da nuvem de sódio, bem com o caso contrário. Isto nos permitiu analisar como o potássio, num regime ainda não otimizado, reagiria às altas densidades do sódio. Mostramos como o aumento da densidade do sódio afeta a carga e estabilização da armadilha de potássio. É a primeira vez que esse tipo de MOT 2D é realizado para átomos de potássio. As medidas das taxas de perdas entre átomos aprisionados, nesse regime de alta densidade, para o sódio ainda não são encontradas na literatura, de forma que este trabalho abre a possibilidade para um estudo futuro mais aprofundando com relação à densidade. O fato do MOT de sódio alcançar alta densidade possibilitou um sistema mais robusto, onde as perdas diminuíram mesmo na presença de outra espécie. Este foi um comportamento completamente inverso ao que foi estudado no passado. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Antônio de Simone Zanon Coorientador: Dra. Kilvia Mayre Farias Joinville, 2016 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ESTUDO DAS TAXAS DE PERDAS EM UMA ARMADILHA MAGNETO-ÓPTICA: CASOS HOMONUCLEAR E HETERONUCLEAR ANO 2016 KELLI DE FÁTIMA ULBRICH|ESTUDO DAS TAXAS DE PERDAS EM UMA ARMADILHA MAGNETO-ÓPTICA: CASOS HOMONUCLEAR E HETERONUCLEAR UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM FÍSICA KELLI DE FÁTIMA ULBRICH JOINVILLE, 2016

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Neste trabalho estudamos os processos colisionais envolvidos no aprisionamento misto de átomos de sódio e potássio. Tais processos geram perdas em armadilhas magneto-ópticas que limita o número e a densidade destas amostras aprisionadas. Para este estudo, empregamos um arranjo experimental inovador, utilizando como fonte de átomos, uma armadilha magneto-óptica 2D. Também diferente de trabalhos anteriores, este foi realizado em um regime de menor pressão e maior densidade de átomos aprisionados. Os resultados foram obtidos a partir da análise das curvas de carga para o carregamento individual de átomos de sódio e potássio, a fim de obter a taxa de perdas por colisão entre dois átomos idênticos. Para obter a taxa de perdas por colisão entre dois átomos distintos, foi feito o carregamento do potássio na presença da nuvem de sódio, bem com o caso contrário. Isto nos permitiu analisar como o potássio, num regime ainda não otimizado, reagiria às altas densidades do sódio. Mostramos como o aumento da densidade do sódio afeta a carga e estabilização da armadilha de potássio. É a primeira vez que esse tipo de MOT 2D é realizado para átomos de potássio. As medidas das taxas de perdas entre átomos aprisionados, nesse regime de alta densidade, para o sódio ainda não são encontradas na literatura, de forma que este trabalho abre a possibilidade para um estudo futuro mais aprofundando com relação à densidade. O fato do MOT de sódio alcançar alta densidade possibilitou um sistema mais robusto, onde as perdas diminuíram mesmo na presença de outra espécie. Este foi um comportamento completamente inverso ao que foi estudado no passado.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Antônio de Simone Zanon

Coorientador: Dra. Kilvia Mayre Farias

Joinville, 2016

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ESTUDO DAS TAXAS DE PERDAS EM UMA ARMADILHA MAGNETO-ÓPTICA: CASOS HOMONUCLEAR E HETERONUCLEAR

ANO 2016

KELLI D

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM FÍSICA

KELLI DE FÁTIMA ULBRICH

JOINVILLE, 2016

KELLI DE FÁTIMA ULBRICH

ESTUDO DAS TAXAS DE PERDAS EM UMA

ARMADILHA MAGNETO-ÓPTICA:

CASOS HOMONUCLEAR E HETERONUCLEAR

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Física, da Universidade do Estado

de Santa Catarina, como requisito

parcial para obtenção do título de

Mestre em Física.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo

Antônio de Simone Zanon

Co-orientadora: Dra. Kilvia

Mayre Farias

JOINVILLE, SC

2016

U36e Ulbrich, Kelli de Fátima

Estudo das taxas de perdas em uma armadilha magneto-óptica : casos homonuclear e heteronuclear/ Kelli de Fátima Ulbrich. – 2016.

99 p. : il. ; 21 cm

Orientador: Ricardo Antônio de Simone Zanon

Coorientadora: Kilvia Mayre Farias

Bibliografia: 81-85 p. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado Santa Catarina, Centro de Ciências Tecnológicas,

Programa de Pós-Graduação em Física, Joinville, 2016.

1. Física atômica e nuclear. 2. Armadilha magneto-óptica. 3.Sódio. 4. Potássio.

I. Zanon, Ricardo Antônio de Simone. II. Farias, Kilvia Mayre. III. Universidade do Estado de Santa

Catarina. Programa de Pós-Graduação em Física. IV. Título.

CDD: 539.7 - 23. ed.

Aos meus pais Roseli e

José Adir, pelo amor

incondicional.

AGRADECIMENTOS

À Deus, pelo dom da vida e por me fazer mais forte nos

momentos difíceis.

Ao meu orientador Ricardo e a minha co-orientadora

Kilvia pela orientação, motivação, dedicação e amizade nestes

dois anos de mestrado.

Aos professores do Departamento de Física da UDESC

Joinville que foram fundamentais para minha formação.

Aos meus amigos do mestrado, em especial ao Paulo,

Liana, Jaison, Flávio, Rodrigo, Márcio, Wildon, Jônatas,

Nathan, Vinicius Antunes, Rafael, Alexandre, Eduardo, Monik

e Clésio, que me proporcionaram momentos de descontração.

À Susele, secretária do Programa de Pós-Graduação em

Física, pelos procedimentos administrativos e por ter se

tornado minha amiga, companheira nos momentos de diversão

e também um ombro amigo nos momentos de dificuldades.

Obrigada Suh!

À CAPES, pelo suporte financeiro.

“Para os crentes, Deus

está no princípio das

coisas. Para os cientistas,

no final de toda reflexão.”

Max Planck

RESUMO

Neste trabalho estudamos os processos colisionais envolvidos

no aprisionamento misto de átomos de sódio e potássio. Tais

processos geram perdas em armadilhas magneto-ópticas que

limita o número e a densidade destas amostras aprisionadas.

Para este estudo, empregamos um arranjo experimental

inovador, utilizando como fonte de átomos, uma armadilha

magneto-óptica 2D. Também diferente de trabalhos anteriores,

este foi realizado em um regime de menor pressão e maior

densidade de átomos aprisionados. Os resultados foram obtidos

a partir da análise das curvas de carga para o carregamento

individual de átomos de sódio e potássio, a fim de obter a taxa

de perdas por colisão entre dois átomos idênticos. Para obter a

taxa de perdas por colisão entre dois átomos distintos, foi feito

o carregamento do potássio na presença da nuvem de sódio,

bem com o caso contrário. Isto nos permitiu analisar como o

potássio, num regime ainda não otimizado, reagiria às altas

densidades do sódio. Mostramos como o aumento da densidade

do sódio afeta a carga e estabilização da armadilha de potássio.

É a primeira vez que esse tipo de MOT 2D é realizado para

átomos de potássio. As medidas das taxas de perdas entre

átomos aprisionados, nesse regime de alta densidade, para o

sódio ainda não são encontradas na literatura, de forma que

este trabalho abre a possibilidade para um estudo futuro mais

aprofundando com relação à densidade. O fato do MOT de

sódio alcançar alta densidade possibilitou um sistema mais

robusto, onde as perdas diminuíram mesmo na presença de

outra espécie. Este foi um comportamento completamente

inverso ao que foi estudado no passado.

Palavras-chaves: Armadilha Magneto-Óptica. Homonuclear.

Heteronuclear. Sódio. Potássio

ABSTRACT

Collisional processes related to sodium and potassium atoms

mixed trapping were studied, focusing the losses in magneto-

optical traps (MOT) that limit the density of samples. In this

study we used an innovative approach with a 2D MOT as atom

source and a vapor cell 3D MOT as analysis chamber. This is

the first time such approach is used for potassium atoms.

Moreover, the process is performed at a lower pressure, high

laser intensity and higher density of trapped atoms. The losses

rates for two identical atoms collisions were obtained by the

analysis of the loading curves, while the losses rates for

different atoms collisions came from the analysis of the loading

curves of sodium atoms in presence of a potassium cloud and

potassium atoms in presence of sodium clouds. This approach

allowed us to observe that the loading and stabilization of

trapped potassium samples is affected when the density of

sodium atoms is increased. This is the first time the losses rate

in high density regime for sodium is obtained that corresponds

to a more robust system, reducing the losses even in presence

of potassium atoms, opening a full range of possibilities of

work.

Key-words: Magneto-Optical Trap. Homonuclear.

Heteronuclear. Sodium. Potassuim.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 – Esquema do escape radiativo........................ 38

Figura 2.2 – Esquema da colisão com mudança de

estrutura fina......................................................................

39

Figura 3.1 – Esquema do sistema de vácuo....................... 42

Figura 3.2 – Diagrama dos níveis de energia para o sódio

na linha D2. As transições de resfriamento |F=2> →

|F’=3> e de rebombeio |F=1> → |F’=2> seguem

indicadas............................................................................

44

Figura 3.3 – Diagrama dos níveis de energia do potássio 39K .....................................................................................

47

Figura 3.4 – Armadilha magneto-óptica 2D utilizada para

o sódio, é possível observar a nuvem em formato de

“charuto”............................................................................

48

Figura 3.5 – A Figura a) mostra como os magnetos estão

dispostos na câmara e a Figura b) apresenta o perfil de

campo magnético gerado pelo conjunto de magnetos na

armadilha magneto-óptica 2D do sódio.............................

49

Figura 3.6 – Imagem do feixe de “Dark-SPOT” com

buraco no centro visto no papel (a) e ao longo do

caminho até o MOT de sódio (b).......................................

51

Figura 3.7 – MOT 3D de sódio (a) e potássio (b)

realizados simultaneamente...............................................

52

Figura 3.8 – Exemplo de curva de carga obtida a partir

dos dados do osciloscópio.................................................

54

Figura 3.9– Imagem do MOT de sódio obtida a partir do

LabVIEW..........................................................................

55

Figura 3.10 – Imagem do MOT de sódio após receber o

tratamento de imagem do Python......................................

56

Figura 4.1 Valores de β para o potássio ............................ 66

Figura 4.2 – Valores de para a nuvem de átomos de

sódio na configuração bright ............................................

68

Figura 4.3 – Comparação do valor de β com a literatura.

A linha em azul representa nosso regime de trabalho o

qual está em acordo com MARCASSA, 1993 .................

69

Figura 4.4 – Valores de β para a nuvem de sódio na

configuração dark em diferentes densidades ....................

70

Figura 4.5 – Valores de , perda de átomos de potássio

na presença da nuvem de sódio na configuração bright ...

72

Figura 4.6 – Valores de , perda de átomos de potássio

na presença da nuvem de sódio na configuração dark......

74

Figura 4.7 – Valores de , perda de sódio na presença da

nuvem de potássio.............................................................

75

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Característica da armadilha magneto óptica

2D......................................................................................

50

Tabela 3.2 – Características dos MOTs 3D de sódio e

potássio .............................................................................

53

Tabela 4.1 – Carga de átomos de potássio na presença da

nuvem de sódio na configuração bright.............................

60

Tabela 4.2 – Carga de sódio na configuração bright na

presença da nuvem de potássio .........................................

61

Tabela 4.3 – Carga de átomos de potássio na presença da

nuvem de sódio na configuração dark...............................

62

Tabela 4.4 – Carga de sódio na configuração dark na

presença da nuvem de potássio .........................................

64

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................. 15

2 DINÂMICA DE CARGA E PROCESSOS

COLISIONAIS EM ARMADILHAS MAGNETO-

ÓPTICAS ............................................................................... 25

2.1 DINÂMICA DE CARGA EM ARMADILHA

MAGNETO-ÓPTICA ......................................................... 25

2.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DA

EQUAÇÃO DE DINÂMICA DE CARGA......................... 33

2.3 MECANISMOS DE PERDAS ...................................... 34

2.3.1 Colisão entre dois átomos ambos no estado

fundamental .................................................................... 36

2.3.2 Colisão entre um átomo no estado fundamental e

outro no estado excitado ................................................ 37

3 APARATO EXPERIMENTAL ........................................ 41

3.1 SISTEMA DE VÁCUO ................................................. 41

3.2 SISTEMA DE LASER DO SÓDIO .............................. 44

3.3 SISTEMA DE LASER DO POTÁSSIO ....................... 46

3.4 MOTS 2D COMO FONTE DE ÁTOMOS ................... 47

3.5 OS MOTS 3D DE SÓDIO E POTÁSSIO ..................... 51

3.6 AQUISIÇÕES DE DADOS .......................................... 53

4 RESULTADOS ................................................................... 57

4.1 TAXAS DE PERDAS EM ARMADILHA MAGNETO-

ÓPTICA HOMONUCLEAR ............................................... 66

4.2 TAXAS DE PERDAS EM ARMADILHA MAGNETO-

ÓPTICA HETERONUCLEAR............................................ 71

5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS DE TRABALHO . 77

6 REFERÊNCIAS .................................................................. 81

APÊNDICES ........................................................................... 87

15

1 INTRODUÇÃO

Desde sua existência o homem procurou explicar e

compreender os fenômenos que ocorriam em sua volta.

Inicialmente essa compreensão era obtida em termos dos

desejos de deuses e posteriormente foram procuradas

explicações científicas. Na Grécia antiga havia a preocupação

de explicar o Universo e os fenômenos da natureza. Foi nesta

época que surgiu a primeira concepção filosófica do átomo. No

século V a.C, Demócrito e Leucipo acreditavam que o

Universo seria formado por partículas sólidas minúsculas e

indivisíveis, que eles chamaram de átomo. A ideia de

Demócrito e Leucipo foi retomada por John Dalton em 1808,

propondo que o átomo seria semelhante a uma bola de bilhar,

isto é, maciço, esférico e indivisível. Por sua vez, Ernest

Rutherford, em 1911, defendeu que o átomo seria composto

por um núcleo positivo rodeado por elétrons girando em órbitas

circulares e, em 1913, Niels Bohr adicionou órbitas

quantizadas ao modelo de Rutherford. Continuando este

desenvolvimento, em 1916, Sommerfeld descreveu um modelo

atômico em que os elétrons possuíam órbitas quantizadas,

circulares e elípticas, em torno de um núcleo de cargas

positivas. Atualmente o modelo quântico-ondulatório (ou de

orbitais) de 1923 é que melhor descreve o átomo, no qual os

elétrons são considerados partícula/onda e posicionados em

orbitais (ATKINS, 2012).

Assim como o átomo, a concepção sobre a luz também

se modificou ao longo da história. No século I a.C. Lucrécio e

Epicuro, deram continuidade às ideias dos primeiros atomistas

propondo que a luz solar seria composta por pequenas

partículas ou corpúsculos. Já no inicio no século XVII Isaac

16

Newton e, um pouco mais tarde com Christian Huygens

postulavam conceitos diferentes sobre a natureza da luz.

Enquanto Newton acreditava que a luz tinha um

comportamento corpuscular, o que explicaria, por exemplo, as

formações de sombras nas imagens geradas por uma lente,

Huygens era partidário da ideia de que a luz possuía um caráter

ondulatório. Estas ideias foram mais tarde reforçadas pelas

equações de Maxwell. A hipótese de a luz ter um caráter

ondulatório, explicaria de maneira muito convincente os

fenômenos de interferência e difração. Em 1905, Albert

Einstein publicou cinco artigos bastante revolucionários na

época (KLEIN, 1987). Entre eles, um explicava a natureza da

luz em que sua energia consiste em um número finito e discreto

de quanta de energia. A partir de 1926, esses quanta passaram a

ser denominados de fótons. Fundamentada nos trabalhos de

quantização da radiação eletromagnética feitos por Planck,

Einstein e Bohr, somente com a vinda da mecânica quântica na

década de 20 é que passamos a entender a natureza da luz

como uma dualidade onda-partícula, ou seja, ora se comporta

como partícula ora se comporta como onda.

Estudar a interação da matéria com a luz em níveis

atômicos nos revela uma física nova, bem diferente daquela em

que estamos acostumados a trabalhar em escalas

macroscópicas. É sabido que a luz exerce uma pressão de

radiação quando esta interage com a matéria, pois como

Einstein propôs em 1917, a luz transporta momento e energia

por meio de seus fótons. A primeira evidência da interação

entre a luz e a matéria aconteceu em 1933, quando Frisch

observou que um feixe de átomos de sódio era defletido pela

luz proveniente de uma lâmpada também de sódio (FRISCH,

1933). Tendo sido possível defletir um feixe atômico, então é

provável que, aperfeiçoando a técnica, poder-se-ia desacelerar

o átomo e manipulá-lo utilizando a luz.

17

A partir de avanços tecnológicos, bem como o

surgimento do laser, em 1960, foi possível criar técnicas mais

sofisticadas para estudar a interação luz e matéria. Em 1975,

Hänsch e Shawlow em Standford, assim como Wineland e

Dehmelt na Universidade de Washington, propuseram de

forma independentemente o resfriamento de átomos neutros e

íons, respectivamente, utilizando feixes laser. O resfriamento

dos átomos acontecia devido à incidência de um par de feixes

laser contrapropagante ao seu movimento. Como o átomo

possui certa velocidade, o laser era sintonizado um pouco

abaixo da frequência de ressonância natural, devido ao efeito

Doppler[1]

. Mais tarde, em 1978, Ashkin propôs a armadilha

óptica, a qual utiliza um par de feixes laser contrapropagantes

para aprisionar os átomos (ASHKIN, 1978). Em 1979, uma

abordagem semiclássica foi feita por Cook, que desenvolveu

uma teoria para descrever a dinâmica de um átomo hipotético

de dois níveis em presença de radiação ressonante (COOK,

1979).

Em função de todos estes desenvolvimentos, em 1982,

foi possível aprisionar átomos neutros utilizando a primeira

armadilha magnética, a partir dos trabalhos desenvolvidos por

W. Phillips e H. Metcalf (1982), que se baseava na interação do

momento magnético do átomo com um gradiente de campo.

Outro experimento importante na área de resfriamento de

átomos foi desenvolvido por Chu et al. (1985), através do qual

conseguiram confinar átomos de sódio por um curto intervalo

de tempo, em um pequeno espaço, utilizando três pares de

feixes ortogonais contrapropagantes. Essa técnica ficou

conhecida como melaço óptico (optical molasses) que é capaz

1Assim como o som a luz também pode sofrer efeito Doppler, se

considerarmos um feixe que se propaga no sentido contrário ao movimento

do átomo, terá sua frequência deslocada para o azul, enquanto o feixe

propagado no mesmo sentido do átomo terá sua frequência deslocada para o

vermelho.

18

de confinar e resfriar átomos a temperaturas muito mais baixas

que as conseguidas até então. A partir dessas técnicas de

resfriamento era possível obter amostras muito frias, porém as

densidades eram baixas e os átomos não permaneciam por

muito tempo na nuvem.

A armadilha magneto-óptica (Magneto-Optical Trap,

MOT) foi proposta por Pritchard et al. (1986). Nela, o

aprisionamento era promovido por meio do uso de lasers e

campo magnético. Já a construção da primeira armadilha

magneto-óptica foi realizada por Raab et al. (1987). Nesse

experimento, o resfriamento e aprisionamento de átomos de

sódio eram conseguidos utilizando a pressão de radiação

proveniente de feixes lasers e de um campo magnético fraco.

Os átomos foram submetidos a forças de amortecimento de três

pares de feixes lasers contrapropagantes e ortogonais,

centrados em um campo magnético quadrupolar esférico fraco.

O campo é obtido a partir de um par de bobinas nas quais é

percorrida uma corrente elétrica em sentidos opostos, criando

um gradiente de campo, que é nulo na metade da distância

entre as bobinas. Raab et al. (1987) também otimizaram o

experimento introduzindo luz circularmente polarizada obtidas

por lâminas .

Avanços significativos foram conseguidos em 1990 por

Monroe e colaboradores (MONROE et al., 1990). Até então a

condição básica para a realização destes experimentos estava

na necessidade de um feixe atômico previamente desacelerado.

Este problema foi contornado quando do aprisionamento de

césio, feito em célula fechada contendo o metal, eliminado

assim a necessidade da pré-desaceleração. Isto simplificou o

aparato experimental tornado a técnica mais simples do ponto

de vista da infraestrutura necessária, despertando com isto um

grande interesse prático o abrindo a possibilidade para novas

aplicações.

19

Desde a construção da primeira armadilha magneto-

óptica de sódio (RAAB et al., 1987), muitas armadilhas foram

construídas para diversos alcalinos, tais como: rubídio

(WALKER et al., 1992), potássio (WILLIAMSON, 1995),

Césio (SESKO et al., 1989), Lítio (LIN et al., 1991) e frâncio

(SIMSARIAN et al., 1996), assim como alcalinos terrosos,

magnésio (SENGSTOK et al., 1993), cálcio e estrôncio

(KUROSU, 1990), e também para os estados metaestáveis dos

gases nobres, hélio (BARDOU et al., 1992), neônio

(SHIMIZU, 1989), argônio e criptônio (KATORI, 1990),

xenônio (WALHOUT et al., 1993) e európio (KIM et al.,

1997). Com a melhora desta técnica, foi possível alcançar

amostras mais densas e frias, da ordem de centenas de micro

kelvin (WEINER, 2003). Em 1990, no trabalho de Cohen-

Tannoudji e William Phillips era proposto um método de

resfriamento atômico capaz de explicar os resultados obtidos

até então (COHEN-TANNOUDJI; PHILLIPS, 1990). Esse

trabalho lhes rendeu o prêmio Nobel de Física de 1997, junto

com Steven Chu.

A partir do desenvolvimento da armadilha magneto-

óptica foi possível realizar diversos estudos com átomos frios

com o objetivo de conseguir amostras cada vez mais densas e

frias. Em 1992, Marcassa realizou a caracterização de uma

armadilha magneto-óptica de sódio em célula de vapor e

também estudou os limites de densidade (MARCASSA et al.,

1992). Em 2000, Bagnato mediu a velocidade de captura de

uma armadilha magneto-óptica como função da intensidade do

laser aprisionador (BAGNATO et al., 2000). A medição deste

tipo de parâmetro é de interesse na análise de colisões frias

exoérgicas, onde o conhecimento de tais valores é importante

para a interpretação dos resultados experimentais.

Com armadilhas cada vez mais eficientes, as amostras

de átomos obtidas eram bastante frias e muito densas

proporcionando o estudo de colisões entre os átomos e outros

20

efeitos de interação. A partir destes estudos foi possível obter

experimentalmente o condensado de Bose-Einstein, em 1995,

por E. A. Cornell e C. E. Wiemann que produziram um

condensado de 87

Rb cuja temperatura chegou em torno de 170

nK (CORNELL; WIEMAN, 1995). E no mesmo ano, o grupo

de W. Ketterle, no Massachusetts Institute of Technology

(MIT), conseguiu condensar átomos de sódio (DAVIS et al.,

1995). Por estes trabalhos, os pesquisadores foram agraciados

com o prêmio Nobel de Física em 2001. Muitas outras espécies

de átomos já foram condensadas, podemos citar algumas, entre

elas estão lítio (BRADLEY, 1997), potássio (GREINER, 2003)

e césio (WEBER et al., 2003).

A técnica do Zeeman slower2 foi utilizada por muitos

anos nos experimentos para obtenção de condensado, porém

necessita de um espaço muito grande para ser aplicado,

dificultando sua implementação. Uma nova técnica foi

proposta como fonte de átomos para a armadilha magneto-

óptica 3D, capaz de fornecer átomos já desacelerados e frios: a

armadilha magneto-óptica 2D (TIECKE, 2009).

Essa fonte de átomos combina performances de alto

fluxo com um compacto e simplificado aparato experimental.

O feixe atômico quente que sai do forno é desacelerado e

capturado no MOT 2D. Esse processo é realizado utilizando

gradiente de campo magnético e feixes lasers. O gradiente de

campo magnético é obtido a partir de magnetos3 permanentes

posicionados no lado externo da câmara. Para gerar o campo de

luz são utilizados dois pares de feixe laser contrapropagantes.

Um feixe é adicionado ao sistema para transferir os átomos do

2 A técnica do Zeeman slower é descrita por PHILLIPS, W. D.; METCALF,

H. J. Laser deceleration of an atomic beam. Phys. Rev. Lett., v. 48, n. 9, p.

596-599, 1982. 3 O gradiente de campo magnético pode ser obtido também por bobinas:

CATANI, J. et al. Intense slow beams of bosonic potassium isotopes, Phys.

Rev. A, v. 73, p. 033415, 2006.

21

MOT 2D para a câmara de ciência onde o MOT 3D é obtido e

no qual são realizados os estudos. O MOT 2D e o MOT 3D são

ligados por um canal de bombeamento diferencial, que permite

manter as diferenças de pressões entre as duas câmaras e é por

onde os átomos são transferidos. O princípio de funcionamento

da armadilha magneto-óptica será melhor descrito no capítulo

3.

Com o domínio da técnica de aprisionamento e

resfriamento para armadilhas de uma espécie atômica,

iniciaram-se os estudos para a obtenção de uma armadilha

magneto-óptica mista, na qual é possível aprisionar e resfriar

duas espécies atômicas no mesmo sistema. A primeira

armadilha magneto-óptica mista foi obtida pelo grupo de Física

Atômica do Instituto de Física de São Carlos. O primeiro

aprisionamento misto foi com átomos de sódio e potássio em

célula de vidro utilizando a técnica de Zeeman slower como

desacelerador dos átomos. A partir deste feito o grupo realizou

estudos sobre colisões frias no regime de baixa intensidade

luminosa (SANTOS et al., 1998) e também sobre colisões

heteronucleares no mesmo regime (SANTOS et al., 1999).

Em uma amostra de átomos mistos aprisionados

ocorrem fenômenos colisionais heteronucleares muito mais

interessantes em relação ao aprisionamento de apenas uma

espécie atômica, no qual estudamos colisões homonucleares.

Outros estudos já foram feitos a partir do aprisionamento

misto, tais como: sódio e rubídio (TELLES et al., 1999), sódio

e césio (SHAFFER, 1999), lítio e césio (SCHLÖDER, 1999),

rubídio e césio (TELLES et al., 2001) e também sódio e

potássio, sódio e rubídio, sódio e césio, potássio e rubídio,

rubídio e césio e lítio e césio (MANCINI et al., 2004).

Nosso interesse está em estudar os processos colisionais

no aprisionamento misto de sódio e potássio em uma

configuração de experimento diferente da descrita por

22

SANTOS et al., 1995. Em nosso trabalho, utilizamos como

fonte de átomos a armadilha magneto-óptica 2D que já fornece

os átomos desacelerados e pré-resfriados, em vez do Zeeman

slower que apenas desacelera os átomos. E, também, a célula

de vapor foi substituída pela câmara de ciência, onde o MOT

3D é obtido e onde realizamos os nossos estudos. Também nos

diferenciamos do trabalho feito por SANTOS et al., 1995, por

estarmos em um regime de menor pressão, alta intensidade dos

lasers e maior densidade de átomos aprisionados. O

experimento utilizado para a coleta dos dados para este

trabalho pertence ao grupo de Física Atômica do Instituto de

Física de São Carlos, com o qual possuímos colaboração. Este

experimento que está sendo construído, cujo objetivo é obter o

condensado de sódio e potássio no mesmo sistema, já se

encontra em uma fase bem avançada, no qual o aprisionamento

de átomos de sódio já está otimizado e o aprisionamento da

nuvem de potássio vem sendo aperfeiçoado. O estudo das taxas

de perdas tem como objetivo verificar as condições de como o

sistema se encontra no momento, a partir dos resultados

encontrados, procurar entender o que precisa ser feito para

otimizar o processo de aprisionamento de sódio e potássio na

mesma região.

A motivação para estudar os processos colisionais

heteronucleares entre átomos neutros é compreender os fatores

responsáveis que limitam o número de átomos e densidade nas

amostras aprisionadas. Este estudo é necessário, pois, a partir

dele podemos compreender melhor as interações entre duas

espécies de átomos neutros aprisionados em uma mesma

armadilha magneto-óptica. Uma vez que podem ocorrer vários

tipos de colisões entre dois átomos armadilhados, que

dependem principalmente do estado atômico do par durante a

colisão, podemos assim entender melhor o tipo de interação

entre ambos. Alguns estudos já foram feitos nesta área que

trazem informações sobre os principais mecanismos de perdas

23

e sobre as interações atômicas de curto e longo alcance

(SANTOS et al., 1999). Entretanto, vários parâmetros da

armadilha magneto-óptica nos estudos feitos anteriormente

diferem do trabalho aqui apresentado. No nosso caso dispomos

de densidades maiores para a nuvem de átomos de sódio e a

configuração do experimento difere dos trabalhos realizados no

passado. Este estudo é de suma importância para entender a

dinâmica da armadilha, e assim conseguir amostras mais

densas para obter futuramente o condensado de sódio e

potássio simultaneamente no mesmo sistema.

Neste trabalho estudamos os processos colisionais entre

dois átomos idênticos e dois átomos distintos, que geram

perdas na armadilha. O objetivo é compreender os fatores que

limitam o número e a densidade da amostra aprisionada,

importante para a finalidade do experimento, pois o propósito é

a obtenção do condensado de sódio e potássio no mesmo

sistema. Para investigar os processos de perda em uma

armadilha magneto-óptica heteronuclear decidimos monitorar a

carga na nuvem do potássio na presença e na ausência do

sódio, bem como a carga de átomos de sódio na presença e

ausência da nuvem de potássio.

Em uma amostra de átomos frios aprisionados numa

armadilha magneto-óptica podem ocorrer dois tipos de perdas:

perdas de um corpo e perdas de dois corpos. As perdas de um

corpo são devido às colisões entre os átomos aprisionados e o

gás de fundo e é independente da densidade da amostra. Um

bom vácuo diminui este tipo de perda. Já a perda por dois

corpos, acontece pois dois átomos aprisionados podem colidir

entre si, e esta taxa depende da densidade da amostra. Para

encontrar os valores das taxas de perdas de um e dois corpos

utilizamos uma equação que relaciona o número total de

átomos aprisionados como função do tempo. Fazendo o ajuste

desta equação nos dados experimentais, obtemos as taxas de

perda. Quando a nuvem de átomos se encontra muito densa e

24

fria (próximo do condensado) também ocorrem perdas de três

corpos. A perda de três corpos é a processo de formação de

molécula, em que é necessário um átomo adicional para levar

embora a energia de ligação liberada. Um único átomo é

aquecido e eventualmente escapa de armadilha.

O capítulo 2 traz a introdução teórica na qual é descrita

o modelo teórico que descreve o comportamento do número de

átomos aprisionados em função do tempo. A partir deste

modelo são obtidas as taxas de perdas por colisões. Também

são abordados os mecanismos de perdas, tais podem ser

classificados a partir do nível de excitação dos átomos

envolvidos no processo de colisão.

No capítulo 3 é apresentado o aparato experimental

utilizado para a obtenção dos dados referentes às colisões

homonucleares e heteronucleares. Neste capítulo são descritos

o sistema de vácuo, a configuração das armadilhas magneto-

ópticas, os sistemas de laser para o sódio e para o potássio e os

mecanismos de aquisição de dados.

Os capítulos 4 e 5 são referentes aos resultados e a

conclusão. No capítulo de resultados é abordada a forma de

obtenção dos dados, bem como as medidas realizadas. Neste

capítulo também é discutido quais são os mecanismos de

perdas para cada resultado encontrado. Finalmente, no último

capítulo é apresentada a conclusão deste trabalho e algumas

perspectivas para futuros trabalhos de dissertação nesta área.

25

2 DINÂMICA DE CARGA E PROCESSOS

COLISIONAIS EM ARMADILHAS MAGNETO-

ÓPTICAS

Neste capítulo apresentaremos o modelo teórico, que

descreve o comportamento do número de átomos aprisionados

em função do tempo. A partir deste modelo conseguimos obter

as taxas de perdas devido a colisões entre os átomos. Em nosso

sistema podem ocorrem colisões entre os átomos aprisionados

e o gás de fundo, também chamado de perdas de um corpo, e,

também, colisões entre dois átomos aprisionados. As perdas

que ocorrem por colisão entre dois átomos aprisionados podem

ser do tipo: escape radiativo, mudança de estrutura fina e

mudança de estrutura hiperfina.

2.1 DINÂMICA DE CARGA EM ARMADILHA

MAGNETO-ÓPTICA

Apresentaremos nesta seção um raciocínio teórico que

permite determinar os coeficientes de taxa de perdas que

ocorrem em armadilhas magneto-ópticas, a partir dos

resultados obtidos experimentalmente. Mostraremos duas

equações diferentes relatadas na literatura que são capazes de

descrever a evolução do número de átomos que são

aprisionados pela armadilha em função do tempo. Ambas serão

utilizadas para ajustar a curva teórica com os dados

experimentais (Capítulo 4).

Apesar de existirem modelos teóricos bastante

elaborados, como por exemplo, o modelo Gallagher-Pritchard

(GALLAGHER-PRITCHARD, 1989), para explicar os

mecanismos responsáveis pelas taxas de perdas nas armadilhas

magneto-ópticas, o processo de medida e determinação

experimental é uma tarefa relativamente simples. Pois são

26

baseadas em equações de taxas fenomenológicas, cujas

soluções mostram a evolução temporal do número de átomos

aprisionados, quando são carregados e descarregados.

A partir do carregamento de átomos na armadilha

magneto-óptica, observamos a evolução do número de átomos

capturados desde o início de operação até que atinja o estado

estacionário, que varia entre 5 e 10 segundos. Em seguida, é

preciso decidir com relação a quais parâmetros estamos

interessados em estudar, pois, o que observamos quando as

duas nuvens de átomos são carregadas no mesmo sistema é a

variação do número total de átomos capturados ao final do

processo de carga na armadilha.

A primeira forma de descrever o processo de carga em

uma armadilha magneto óptica heteronuclar foi relatada por

SANTOS et al. em 1995. Para investigar os processos de

perdas em uma armadilha magneto-óptica mista, é monitorada

a carga de nuvem A na presença e na ausência de outra nuvem

B. A equação que determina o número de átomos do elemento

A aprisionados em função do tempo na presença da nuvem B

(SANTOS et al.,1995), é dada por:

2.1

onde é a taxa de carregamento da armadilha a partir dos

átomos mais lentos em uma distribuição de velocidade de

Maxwell-Boltzmann. Este termo depende de parâmetros da

armadilha, tais como, pressão de vapor do átomo alcalino,

diâmetro dos feixes de aprisionamento bem como da

intersecção formada por eles, e principalmente da intensidade e

dissintonia (detuning) do laser e do gradiente de campo

magnético. O termo é a taxa de perda devido a colisões entre

os átomos armadilhados e o gás de fundo, não depende da

densidade da amostra e depende basicamente da pressão parcial

27

da câmara de ciência. O termo refere-se ao número total de

átomos armadilhados do elemento A e, são as

densidades das amostras de átomos frios armadilhados dos

elementos A e B, respectivamente. Os termos e

correspondem às taxas de perdas da armadilha devido às

colisões entre os átomos frios aprisionados. O primeiro termo é

atribuído às perdas por colisões entre átomos armadilhados do

elemento A e, o segundo, refere-se às perdas por colisões entre

um átomo do elemento A e outro do elemento B. O nosso

interesse é medir os termos e da equação 2.1 a partir dos

dados experimentais obtidos na armadilha magneto-óptica nos

casos homonuclar e heteronuclear.

Para encontrar a solução da equação 2.1 nós

consideramos que o processo de carregamento acontece com

densidade constante, ou seja, o número de átomos aprisionados

aumenta juntamente com o volume da nuvem. Assim podemos

escrever a solução da equação 2.1 como:

{ [ ]} 2.2

onde é o número de átomos do elemento A correspondente

a solução no estado estacionário, ou seja, quando o número de

átomos aprisionados é igual ao número de átomos perdidos da

nuvem fria. Para o caso homonuclear, onde é carregada apenas

a nuvem atômica de uma espécie, a equação difere em apenas

um termo da equação 2.1. O último termo da equação 2.1 é

nulo, , pois não há colisão entre dois átomos distintos.

Temos como solução, para o caso de carregamento

homonuclear, da equação 2.1:

{ [ ]} 2.3

Esta equação descreve o número de átomos do elemento

A aprisionados em função do tempo. A forma como

28

determinamos os valores dos parâmetros contidos nas equações

2.2 e 2.3 serão apresentadas na sequência.

A segunda maneira de descrever o comportamento da

curva de carga foi relatada por TELLES em 2002. A equação

de taxa fenomenológica que descreve a evolução do número de

átomos capturados pela armadilha em função do tempo, para o

caso heteronuclear, pode ser escrita sob a seguinte forma

(TELLES, 2002):

∫ ∫

2.4

Onde o primeiro termo L é a taxa de captura, e está

relacionada com a intensidade e o diâmetro dos feixes laser,

assim como, o gradiente de campo magnético e a pressão do

vapor atômico no interior da câmara. O segundo termo, é

referente às taxas de perdas por colisões dos átomos

armadilhados com o gás de fundo. O termo é a taxa de perda

por colisão entre dois átomos idênticos, já o termo é a taxa

de perda por colisão entre dois átomos distintos. Estas taxas

estão relacionadas aos processos de perdas de átomos da

armadilha devido às colisões binárias: escape radiativo,

mudança de estrutura fina e mudança de estrutura hiperfina. Os

termos, e , são as densidades de átomos aprisionados na

armadilha, para os elementos A e B, respectivamente.

Para resolver a equação 2.4, escolhemos por

conveniência o sistema de coordenadas esféricas, pois

consideramos que a nuvem seja esfericamente simétrica.

Quando a armadilha atinge o regime estacionário, após alguns

segundos do início de operação, consideramos que os átomos

estejam ocupando um volume constante de captura, em uma

29

distribuição espacial gaussiana (segundo observações

experimentais). Supondo que os átomos A e B estejam

distribuídos em suas respectivas amostras, num determinado

instante de tempo t→∞, temos que:

2.5

Podemos escrever o último termo da equação 2.4 como:

∫ ⁄ ⁄

√[

]

2.6

Onde e são os números totais de átomos, e

, é a cintura gaussiana da distribuição atômica, dos

elementos A e B respectivamente.

De maneira análoga para o segundo termo da equação

2.4, temos que:

∫ ⁄

2.7

O primeiro termo da equação 2.4 é:

30

∫ ∫ ⁄

√(

)

2.8

Substituindo os resultados das equações 2.6, 2.7 e 2.8

na equação 2.4, podemos reescrevê-la da seguinte forma:

2.9

onde √[

((

))]

e

√ .

Agora, vamos estudar a equação 2.9 nos limites de

e Mas, primeiramente vamos analisar o que

acontece fisicamente. Durante o início do carregamento, a taxa

de captura domina, pois neste momento ainda não existem

átomos aprisionados. Neste estágio observamos que o número

de átomos armadilhados aumenta linearmente com o tempo,

pois o número de átomos armadilhamos é dominante sobre o

número de átomos perdidos. Depois deste estágio, o número de

átomos aprisionados aumenta, com isso os termos das taxas de

perdas devido a colisões passam a se tornar importantes.

Portanto, após um determinado tempo de operação, a armadilha

atinge um equilíbrio dinâmico, neste estágio o número de

átomos capturados é igual ao número de átomos que escapam.

Para este caso temos que:

2.10

Cuja solução para o número total de átomos que podem

ser capturados pela armadilha nesta condição é:

31

2.11

Para simplificar os próximos passos, vamos denominar

que √ . Deste modo determinamos duas

condições de contorno para e , que podem ser

utilizadas para determinar a solução da equação 2.9. Vamos

utilizar a condição de , por conveniência, e em seguida

fazemos o uso da equação característica em conjunto com as

funções de Green e procurando pelas soluções reais, obtemos:

[

(

)]

2.12

Para verificar se a solução obtida está correta, vamos

analisar o que ocorre quando . Neste caso o argumento

da reduz-se a (

). Tornando evidente que:

* (

)+

2.13

Observamos que . Entretanto, se

, sabemos que , assim, ⁄ , que é igual ao resultado obtido pela

equação 2.11.

Podemos reescrever a equação 2.12 usando a seguinte

relação matemática [ ] :

(

)

* (

) (

)+

(

)

2.14

32

Substituindo a igualdade 2.14 na equação 2.12, teremos

que:

[

(

)]

2.15

Uma solução analítica aproximada e bastante eficiente

obtida a partir do desacoplamento da equação 2.9 pelo uso de

NB= constante. É utilizada para realizar ajustes teóricos não

lineares a partir dos dados experimentais. Descrevendo

razoavelmente a dinâmica de captura que ocorre nas

armadilhas magneto-ópticas.

Entretanto, alguns parâmetros usados na equação de

ajuste para o carregamento das duas espécies são obtidos a

partir do ajuste da curva de carga do carregamento individual

do sódio e do potássio. Neste caso, a equação 2.4 não apresenta

o último termo referente às interações entre as duas espécies

distintas. Sendo assim, a equação de taxa fenomenológica que

descreve a evolução do número de átomos capturados pela

armadilha em função do tempo, para o caso homonuclear, é

escrita como:

∫ ∫

2.16

Como já resolvemos estas duas integrais anteriormente,

sabemos que podemos reescrever a equação 2.16 da seguinte

forma:

2.17

33

Que para o caso homonuclear as constantes são:

e

√ . Da mesma maneira, temos como solução da

equação 2.17:

[

(

)]

2.18

A equação 2.18 descreve teoricamente a curva de carga

quando uma espécie atômica é aprisionada. A partir desta

equação encontramos o valor de , que nos fornece a taxa de

perda por colisão entre dois átomos idênticos aprisionados.

Este valor é utilizado na equação de ajuste do carregamento

heteronuclear.

2.2 DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS DA

EQUAÇÃO DE DINÂMICA DE CARGA

Agora, vamos apresentar uma forma de determinar os

parâmetros , , , a partir das curvas de carga. O valor de

é determinado independentemente, pois não depende da

densidade da amostra. Ele foi obtido a partir do tempo de vida

dos átomos armadilhados. Quando o carregamento atinge o

estado estacionário, desligamos o campo magnético e os feixes

lasers, e observamos a curva de decaimento do número de

átomos no tempo. A partir do ajuste exponencial desta curva

encontramos o tempo de vida da armadilha,e determinamos o

valor da taxa de perda devido a colisão com o gás de fundo

como sendo, ⁄ No nosso caso o tempo de vida da

armadilha é de cerca de quarenta segundos, , que

nos fornece . O valor de também pode ser

obtido a partir do livre caminho médio para as partículas

devido à distribuição de Boltzmann como descrito por

MARANGONI, 2013.

34

O valor da taxa de carga de átomos aprisionados na

armadilha é obtido a partir do início da curva de carga, onde o

comportamento é linear. Nesta situação temos que a taxa de

captura é dominante frente às perdas, pois a densidade da

nuvem ainda é baixa. No início do carregamento da armadilha

temos que:

2.19

A partir da curva de carga realizamos um ajuste linear

nos primeiros segundos, assim obtemos o valor da taxa de

carga. Para as equações de ajuste também são necessários

outros valores tais como: densidade, cintura gaussiana da

distribuição atômica e número total de átomos, estes valores

são fornecidos por um programa chamado PHYTON (descrito

no Capítulo 3), que a partir da imagem da nuvem aprisionada

fornece os valores.

Conhecendo os valores da taxa de carga, perda com o

gás de fundo, densidade e cintura gaussiana (respectivamente

, , ), fazemos o ajuste das equações teóricas para o caso

homonuclear (equações 2.3 e 2.18). Obtemos assim o valor de

, que é a perda por colisão entre dois átomos idênticos.

Finalmente, introduzimos o valor de nas equações teóricas

para o caso heteronuclear (equações 2.2 e 2.15), e a partir do

ajuste dos pontos experimentais nos fornece o valor de , que

são as perdas por colisões entre dois átomos distintos.

2.3 MECANISMOS DE PERDAS

Em uma amostra de átomos frios aprisionados numa

armadilha magneto-óptica podem ocorrer dois tipos de perdas

por colisão: perdas de um corpo e perdas de dois corpos. As

perdas de um corpo são devido às colisões entre os átomos

35

aprisionados e o gás de fundo e é independente da densidade da

amostra, um bom vácuo diminui este tipo de perda. A taxa de

perdas por dois corpos acontecem, pois dois átomos

aprisionados podem colidir entre si e esta taxa depende da

densidade da amostra. A luz do laser, usado para o

aprisionamento, pode induzir colisões inelásticas exoérgicas

entre os átomos. Neste tipo de colisão a energia interna

atômica, energia armazenada nos graus de liberdade interno

como, por exemplo, nos spin nucleares e eletrônicos, é

convertida em energia cinética. A energia resultante desses

processos é suficiente para que os átomos adquiram energia e

escapem da armadilha (WEINER, 2003).

As perdas por dois corpos ocorrem a partir de colisões

entre dois átomos que podem ser do tipo: escape radiativo

(Radiative Escape - RE), mudança de estrutura fina (Fine

Structure Change - FSC) ou por mudança de estrutura

hiperfina (Hyperfine-Changing Collisions -HCC).

As colisões em baixa temperatura distinguem-se em

vários pontos das colisões em altas temperaturas. Como

estamos em regimes de baixa temperatura, as baixas energias

do sistema implica em colisões exclusivamente quânticas. As

colisões passam a ser sensíveis as interações de longo alcance,

devido as baixas energias, o sistema fica sensível mesmo para

interações fracas. E também, como o tempo de colisão é longo

os processos de absorção e emissão podem afetar a dinâmica de

colisão na armadilha. As colisões classificam-se de acordo com

os estados dos átomos envolvidos.

36

2.3.1 Colisão entre dois átomos ambos no estado

fundamental

As colisões podem ocorrem com dois átomos, onde

ambos se encontram no estado fundamental, neste caso as

colisões apresentam a maior semelhança com as colisões em

altas temperaturas. Podemos dizer que neste caso, a colisão é

convencional, no sentido de que o movimento dos átomos

envolvidos é regido por forças conservativas. No caso de

átomos no estado fundamental o potencial é de curto alcance, a

energia de interação varia com R-6

(WEINER, 2003). Interação

entre dois átomos no estado fundamental se tornam importantes

no regime de baixa intensidade, onde não estão envolvidas

altas intensidades de luz, de modo que não haja participação

dos átomos no estado excitado. Neste tipo de colisão os

processos de colisão com mudança de estrutura hiperfina

mostram-se dominantes. Como o potencial confinante da

armadilha é raso, qualquer ganho em energia cinética se torna

suficiente para que o par escape da armadilha.

Para compreender o processo de colisão com dois

átomos no estado fundamental, vamos considerar dois átomos,

A e B, e que ambos possuem a mesma estrutura hiperfina no

estado fundamental, com momento angular total F=1 e F=2.

Portanto, temos três potencias de interação distintos, o primeiro

onde os dois átomos se encontram em F=2, no segundo os dois

átomos estão em F=1, e o terceiro quando um deles se encontra

em F=1 e o outro em F=2. Quando os átomos se encontram em

pequenas separações internucleares os potenciais se cruzam.

Considerando dois átomos no estado fundamental colidindo

nesse potencial, poderá ocorrer uma possível transferência de

população para um nível hiperfino mais baixo. Essa diferença

de energia é convertida em energia cinética. O momento

angular total de cada átomo não pode mais ser tratado

separadamente, neste caso há um acoplamento entre eles. Neste

caso a uma probabilidade de que o par transite de um potencial

37

para o outro. Quando a transição corresponde à passagem de

um dos átomos do nível F=2 para F=1, ocorre um ganho em

energia cinética.

Esse tipo de perda ocorre em armadilhas rasas, ou seja,

o regime de operação dos lasers é em baixa intensidade, sendo

assim qualquer ganho de energia cinética pode ser suficiente

para o par escapar da armadilha.

2.3.2 Colisão entre um átomo no estado fundamental e

outro no estado excitado

O processo de colisão com escape radiativo (ver Figura

2.1) acontece com dois átomos, estando um no estado

fundamental e outro no estado excitado. O processo de colisão

é iniciado com os dois átomos no estado fundamental (S1/2+

S1/2). Em seguida, um deles absorve um fóton, neste caso o par

esta em um estado excitado (S1/2+ P3/2). Devido ao potencial

ser atrativo os átomos são acelerados um contra o outro. Eles

irão se aproximar adquirindo energia cinética e, em uma

determinada distância, ocorre à emissão espontânea de um

fóton para o vermelho. Assim o átomo excitado volta pra o

estado fundamental. A diferença de energia é igualmente

distribuída como energia cinética entre os dois átomos. Se a

diferença de energia for maior que a profundidade da

armadilha o par escapa, caso contrário permanece confinado.

38

Figura 2.1 – Esquema do escape radiativo

Fonte: produção da própria autora, adaptado de PICCARDO. S. A.

Degenerate Quantum Gases:Towards Bose-Einstein Condensation of

Sodium, Diploma thesis in physics, Stockton, Califórnia, USA, 2008.

No processo de perda por escape radiativo, ocorre a

emissão de um fóton menos energético em relação ao que foi

absorvido no início, constitui o processo de conversão de

energia interna para a energia cinética que por sua vez produz

um aquecimento na amostra e acaba sendo o mecanismo de

perda dominante nas colisões ocorrendo na presença de luz

(VIGUÉ, 1986).

A mudança de estrutura fina, Figura 2.2, ocorre quando

há colisão entre dois átomos (um no estado fundamental e

outro no estado excitado), o par se aproxima até curto alcance,

seguindo o potencial atrativo, e no retorno passarão em uma

região de cruzamento de potenciais. Ao passar pelo cruzamento

dos dois potenciais o par mudará de potencial, essa diferença

de energia é convertida em energia cinética. Se a energia

cinética adquirida for suficiente o par pode escapar da

armadilha. Neste processo não há emissão espontânea de fóton

pelo átomo excitado.

39

Figura 2.2 – Esquema da colisão com mudança de estrutura fina

Fonte: produção da própria autora, adaptado de PICCARDO. S. A.

Degenerate Quantum Gases:Towards Bose-Einstein Condensation of

Sodium, Diploma thesis in physics, Stockton, Califórnia, USA, 2008.

Os processos de colisão por escape radiativo e por

mudança de estrutura fina acontecem quando o regime da

armadilha é profundo, ou seja, o regime de intensidade dos

lasers é alto. Nesse caso, as armadilhas são robustas, e as

colisões com um átomo no estado fundamental e outro no

estado excitado são os responsáveis pelas perdas.

40

41

3 APARATO EXPERIMENTAL

Neste capítulo será descrito o aparato experimental

utilizado para a obtenção dos dados. O experimento é

composto por duas mesas ópticas, a “mesa dos lasers”, onde

estão localizados os lasers utilizados para gerar a luz referente

às transições dos átomos de sódio e potássio, e a “mesa do

experimento”, na qual se encontram o sistema de vácuo, ou

seja, as armadilhas magneto-ópticas. A luz chega até o sistema

de vácuo a partir de fibras ópticas mantenedoras de

polarização. A seguir serão descritos o sistema de vácuo, as

armadilhas magneto-ópticas, o sistema laser e como é feita a

aquisição dos dados.

3.1 SISTEMA DE VÁCUO

Para estender o tempo de vida de uma amostra atômica

aprisionada é indispensável suprimir a pressão do vapor de

fundo. Também é desejado um grande número de átomos frios

na amostra aprisionada. Conseguir estes duas condições

simultaneamente em uma mesma câmara de vácuo é difícil.

Para resolver este problema o sistema de vácuo é dividido em

duas câmaras de regiões: alto vácuo ~10-9

Torr (High Vacum -

HV) e outra de ultra alto vácuo ~10-11

Torr (Ultra-High

Vacuum - UHV). As duas câmaras são ligadas por um canal

estreito que assegura o bombeamento diferencial (mantém as

diferentes pressões entre as câmaras). O canal de bombeamento

diferencial possui um diâmetro de 2 mm e comprimento de

23 mm, e liga a câmara do MOT 3D às outras duas câmaras de

MOT 2D, sódio e potássio, Figura 3.1. O bombeamento

diferencial fornece uma diferença de pressão 103 vezes menor,

ou seja, quando temos uma pressão de 10−9

Torr durante a

operação do sistema, esperamos ter uma pressão de três ordens

42

de grandeza menor na câmara de ciência, ou seja, na ordem de

10−12

Torr. A câmara de ciência é projetada para capturar os

átomos frios e estudá-los em condições de UHV. Enquanto que

as câmaras laterais 2D são utilizadas como fonte de átomos, de

sódio e potássio, com uma fase de pré-resfriamento, as quais

operam em regime de HV.

Figura 3.1 – Esquema do sistema de vácuo

Fonte: Laboratório IFSC/USP.

A câmara do MOT 3D é confeccionada de aço

inoxidável 316L, que é um tipo de aço pouco magnético, que

evita a produção de campos magnéticos indesejados que podem

afetar os átomos aprisionados. Possui forma cilíndrica com seis

janelas nas laterais e duas janelas nas faces superior e inferior,

fechadas com vidro óptico. É por meio destas janelas que os

feixes laser têm acesso ao centro da armadilha e também é

conectado o sistema de vácuo. Em uma das janelas é fixado um

fotodetector, que capta a fluorescência emitida pelos átomos

aprisionados e, em outra é colocado uma câmera CCD (Charge

Coupled Device) para “visualizar” os átomos a partir da

43

fluorescência emitida. A câmara é ligada a uma bomba

iônica[4]

, que ioniza a atmosfera próxima a sua saída e atrai as

partículas para seu interior impedindo que retornem ao sistema,

atingindo uma pressão na ordem de 10-11

Torr. Finalmente,

liga-se a bomba de sublimação de titânio onde se aplica uma

alta corrente em barras de titânio, gerando o aquecimento e

consequentemente a sublimação (passagem do estado sólido

para o gasoso) das moléculas de titânio em uma superfície. As

moléculas de titânio sublimadas se fixam nas paredes internas

do sistema de vácuo aderindo partículas que eventualmente

venham a colidir com elas.

No exterior da câmara de ciência, encontram-se na

vertical as bobinas que geram o gradiente de campo magnético.

O gradiente de campo magnético, indispensável para o

aprisionamento, é obtido por um par de bobinas na

configuração Anti-Helmholtz. Em cada bobina circula uma

corrente de cerca de 5 A e são refrigeradas a água. Dessa

maneira conseguimos um gradiente de campo de

aproximadamente B = 15 G/cm.

A câmara dos MOTs 2D é feita de aço inoxidável 316L,

que é um tipo de aço pouco magnético. Cada uma possui

quatro janelas de 2.75” que são usadas para o acesso dos feixes

laser de aprisionamento, existem outras quatro janelas menores

de 1.33”, onde duas são utilizadas para o feixe de

desaceleração. As outras duas são utilizadas como entrada do

forno, onde temos o feixe atômico quente e a outra usamos

para o feixe push, o qual transfere os átomos do MOT 2D para

o MOT 3D.

4A bomba iônica gera uma diferença de potencial que ioniza as partículas, e que

por sua vez são atraídas por um imã permanente e se fixam em uma “grade”

próxima ao imã.

44

3.2 SISTEMA DE LASER DO SÓDIO

A estrutura de nível do 23Na consiste nas linhas D1 e D2

em 589,756 nm e 589,158 nm respectivamente, tendo

aproximadamente as mesmas larguras de linhas de 2π x

10 MHz. A transição utilizada para o aprisionamento, em geral

para os alcalinos, corresponde á linha D25 (ver Figura 3.2), pois

envolvem os estados de maior projeção de momento angular,

necessários para a armadilha magneto-óptica. Para o

aprisionamento estamos interessados nos níveis 3S1/2 e 3P3/2.

Para aprisionar os átomos de sódio utilizamos dois

lasers independentes: o TA-SHG pro 589 nm da Toptica, que é

capaz de gerar até 2,5 W, é utilizado para produzir a luz de

resfriamento referente à transição |F=2> → |F’=3> da linha D2

do sódio. O outro laser utilizado é o laser de corante Coherent

899 bombeado por um laser Coherent Verdi V10. Ele é capaz

de gerar cerca de 1 W, e é utilizado para produzir a luz de

rebombeio, referente à transição |F=1> → |F’=2>.

Figura 3.2 – Diagrama dos níveis de energia para o sódio, 23Na, na linha

D2. As transições de resfriamento |F=2> → |F’=3> e de

rebombeio |F=1> → |F’=2> seguem indicadas.

Fonte: produção da própria autora.

5 O aprisionamento de átomos também pode ser realizado na linha D1 como

no caso descrito para o sódio em MARCASSA et al. 1996.

45

O laser de aprisionamento é ajustado numa frequência

que permite a transição de 3S1/2 |F=2> para 3P3/2 |F’=3> e o

rebombeio é realizado na transição 3S1/2 |F=1> para 3P3/2

|F’=2>. Esta frequência é sintonizada utilizando um sistema de

absorção saturada como referência atômica, que consiste de

uma célula contendo vapor de sódio a uma temperatura de

aproximadamente 100 oC. Para o processo de aprisionamento o

laser é colocado na frequência de transição 3S1/2 |F=2> →3P3/2

|F’=3> e para gerar a frequência do laser de rebombeio usamos

um modulador acústico-óptico de 1.7 GHz (mesma separação

entre os estados hiperfinos do nível fundamental), responsável

por manter os átomos sujeitos ao laser de aprisionamento.

No estado 3P3/2 |F’=3>, os átomos decaem para o estado

fundamental 3S1/2 |F=2>, estando sujeitos novamente ao laser

de aprisionamento. No entanto, durante o processo de excitar

os átomos do estado fundamental 3S1/2 para o estado excitado

3P3/2, pode ocorrer a transição fora de ressonância 3S1/2 |F=2>

→ 3P3/2 |F’=2>. Nesse estado excitado, os átomos podem

decair para o estado 3S1/2 |F=2>, onde participam novamente

do processo de aprisionamento, ou então, podem decair para o

estado 3S1/2 |F=1>, que é uma transição indesejada, sendo

assim após ciclos de excitação, o estado 3S1/2 |F=1>, é

populado e os átomos não interagem mais com o laser de

aprisionamento.

Para solucionar esse problema outro laser é introduzido

no sistema. Tal laser é denominado de rebombeio e é

sintonizado com frequência que permite a transição 3S1/2 |F=1>

→ 3P3/2 |F’=2>. Estando novamente no estado excitado, o

átomo pode decair para o estado 3S1/2 |F=2> e estar sujeito ao

laser de aprisionamento outra vez.

Posteriormente, os feixes de aprisionamento e

rebombeio são combinados espacialmente, por meio de um

cubo polarizador, chegando juntos na câmara principal para

46

fazer o aprisionamento.

3.3 SISTEMA DE LASER DO POTÁSSIO

No experimento são aprisionados átomos de 39K, pois é

o isótopo com maior abundância. Do mesmo modo que para o

sódio, também é utilizada a transição correspondente a linha D2

para o aprisionamento de 39K, ou seja, nos níveis 4S1/2 e 4P3/2

(ver Figura 3.3). Devido à existência das estruturas hiperfinas,

o laser de aprisionamento é ajustado numa frequência que

permite a transição de 4S1/2 |F=2> para 4P3/2 |F’=3>. Porém, a

separação dos níveis hiperfinos do estado excitado do potássio

é muito pequena. Em consequência é preciso utilizar potências

semelhantes para os lasers de resfriamento e rebombeio.

Para realizar o aprisionamento do potássio são

utilizados dois lasers da Toptica TA-pro 767 nm. Um deles é

responsável pela geração da luz de resfriamento na transição

|F=2> → |F’=3>, e o outro, é utilizado para gerar a luz

referente a transição de rebombeio que é realizada de |F=1> →

|F’=2>. A frequência de emissão de cada laser é sintonizada

utilizando um sistema de absorção saturada como referência

atômica, que consiste de uma célula contendo vapor de

potássio aquecida a uma temperatura de aproximadamente 30 oC. Para o sistema laser do potássio utiliza-se um modulador

acústico-óptico de 200 MHz em dupla passagem para a luz de

resfriamento e um modulador acústico-óptico de 200 MHz em

passagem simples para a luz de rebombeio.

47

Figura 3.3 – Diagrama dos níveis de energia do potássio

39K

Fonte: produção da própria autora

3.4 MOTS 2D COMO FONTE DE ÁTOMOS

Em nosso experimento utilizamos a armadilha magneto-

óptica bidimensional6 como fonte de átomos para sódio e

potássio (ver Figura 3.4), sendo que é a primeira confeccionada

para átomos de potássio. Para aquecer o forno, no qual se

encontra uma ampola com cerca de 5 g do metal alcalino,

utilizamos uma fita condutora de corrente que possui uma

cerâmica capaz de alcançar altas temperaturas, aquecendo por

contato térmico e dissipação de potência. Ao aquecer o forno

até uma determinada temperatura (TNa=220 oC e TK=20

oC)

obtemos um feixe atômico quente propagando na direção

vertical na região do MOT 2D.

Os átomos evaporados saem do forno com uma

velocidade maior que a velocidade de captura. Para o caso do

sódio, os átomos saem do forno com muita energia cinética.

6 A primeira armadilha magneto-óptica bidimensional foi construída para

átomos de lítio (TIECKE, 2009) e a segunda para átomos de sódio foi

confeccionada por LAMPORESI et al. 2013, a qual foi utilizada como

modelo para o Grupo de Óptica do IFSC.

48

Para reduzir essa velocidade introduzimos um feixe laser

contrapropagante dessintonizado para o vermelho combinado

com um campo magnético que cresce na direção do eixo z.

Devido a troca de momento entre os fótons e os átomos do

feixe, os átomos são desacelerados e os que possuem

velocidade menor que a velocidade de captura são capturados

pela armadilha magneto-óptica 2D. A captura dos átomos é

feita utilizando a força de radiação de dois pares ortogonais de

feixes laser contrapropagantes, retrorefletidos e com

circularização oposta, e de gradiente de campo magnético.

Figura 3.4 – Armadilha magneto-óptica 2D utilizada para o sódio, é

possível observar a nuvem em formato de “charuto”

Fonte: produção da própria autora

O gradiente de campo magnético é produzido por

quatro pilhas de barras de neodímio NdFeB (fabricante K&J

Magnetics Inc. modelo BX082) magnético que geram um

campo permanente necessário para o aprisionamento dos

átomos (ver Figura 3.5), e também, é usado para retardar os

átomos quentes provenientes do forno. Estes ímãs são

relativamente pequeno, (25 × 10 × 3) mm3, favorecendo o

desenvolvimento de fontes atômicas compactas. Verificou-se

49

que o arranjo ideal da posição dos magnetos é alcançada

quando colocamos quatro pilhas iguais nos cantos de um

retângulo vertical hipotético centrada no eixo de MOT 2D.

Para obter um campo com configuração quadrupolar, os

dipolos superiores estão alinhados perpendicularmente ao

plano e os dipolos inferiores na direção oposta.

Figura 3.5 – A Figura a) mostra como os magnetos estão dispostos na

câmara e a Figura b) apresenta o perfil de campo magnético

gerado pelo conjunto de magnetos na armadilha magneto-

óptica 2D do sódio

Fonte: a) Laboratório IFSC/USP, b) PEDROZO-PEÑAFIEL (2016).

Para transferir os átomos aprisionados e já resfriados do

MOT 2D para a câmara de ciência utilizamos um feixe laser

adicional, denominado de “push”, alinhado ao longo do MOT

2D que empurra os átomos através de um canal de

bombeamento diferencial. O feixe de push é colimado com um

diâmetro de aproximadamente 4 mm. Obtemos desta maneira,

um feixe atômico colimado e desacelerado que é capturado e

resfriado na armadilha magneto-óptica 3D. Algumas

características da armadilha magneto-óptica 2D para o sódio e

para o potássio são apresentadas na Tabela 3.1.

50

Tabela 3.1 – Característica da armadilha magneto óptica 2D

CARACTERÍSTICAS DO MOT 2D

Sódio Potássio

Temperatura do

forno

220 oC 20

oC

Quantidade de

magnetos em cada

pilha

9 unidades 4 unidades

Gradiente de campo

magnético

49 G/cm 29 G/cm

Detuning do push 23,3 MHz 20,0 MHz

Potência do push 600 µW 0,13 mW

Detuning do laser

Aprisionamento

-31,0 MHz -275,2 MHz

Detuning do laser

Rebombeio

-30,8 MHz -462,0 MHz

Potência total 180 mW 300 mW

Intensidade 23,7 mW/cm2

58,9 mW/cm2

Fonte: produção da própria autora

51

3.5 OS MOTS 3D DE SÓDIO E POTÁSSIO

Com o push alinhado os átomos de sódio são

transferidos do MOT 2D para o MOT 3D, eles estão sujeitos a

três pares de feixes retrorefletidos com frequência de

resfriamento, que se cruzam no centro da câmara de ciência.

Eles também interagem com um feixe com frequência de

rebombeio o qual possui um buraco no centro (ver Figura 3.6),

para conseguir isso, normalmente é feita uma sombra no centro

do feixe de rebombeio, sobreposto a um dos braços do MOT,

essa técnica é conhecida como DARK-SPOT MOT

(KETTERLE, 1993). Dessa maneira, os átomos que estão

localizados no centro do MOT, não são rebombeados para o

estado |F=2>, deixando de interagir com o feixe de

resfriamento uma vez decaídos para o |F=1>. A utilização desta

técnica permite aumentar a densidade da nuvem de átomos,

pois reduz o efeito de duplo espalhamento de fótons. O

gradiente de campo magnético utilizado é de B3D,Na = 17,5

G/cm.

Figura 3.6 – Imagem do feixe de “DARK-SPOT” com buraco no centro

visto no papel (a) e ao longo do caminho até o MOT de sódio

(b).

Fonte: Laboratório IFSC/USP

52

Os parâmetros do MOT 2D de potássio são então

otimizados maximizando a carga do MOT 3D e,

consequentemente, o fluxo de átomos chegando à câmara

principal. Os átomos de potássio estão sujeitos aos feixes laser

de resfriamento e rebombeio que se cruzam no centro da

câmara principal. O gradiente de campo magnético utilizado é

de B3D,K = 22 G/cm.

Para realizar os dois MOTs simultaneamente (ver

Figura 3.7), os feixes lasers do sódio e potássio possuem o

mesmo acesso óptico na câmara principal. O alinhamento dos

feixes do MOT 3D é feito utilizando espelhos dicróicos que

refletem luz de comprimento de onda de 767 nm e transmitem

luz de comprimento de onda de 589 nm.

Figura 3.7 – MOT 3D de sódio (a) e potássio (b) realizados

simultaneamente.

Fonte: Laboratório IFSC/USP

Na Tabela 3.2 são apresentadas algumas características

do MOT 3D para o sódio e para o potássio. Nela são

apresentados os valores de campo magnético e também os

valores de potência e detuning dos lasers utilizados.

53

Tabela 3.2 – Características dos MOTs 3D de sódio e potássio

CARACTERÍSTICAS DO MOT 3D

SÓDIO POTÁSSIO

Gradiente de

campo magnético

17,5 G/cm 22,0 G/cm

Detuning do laser

Resfriamento

-401,6 MHz -117,4 MHz

Detuning do laser

Rebombeio

-10,5 MHz 457,1 MHz

Potência total 100 mW 320 mW

Intensidade 15,9 mW/cm2 50,9 mW/cm

2

Fonte: produção da própria autora

3.6 AQUISIÇÕES DE DADOS

Para calcular o número de átomos aprisionados

utilizamos a fluorescência que eles emitem quando estão

aprisionados. O sistema utilizado para fazer esta medida consta

basicamente de duas lentes convergentes formando um

telescópio, e um fotodetector posicionado no lado de fora da

câmara. A fluorescência emitida pelos átomos é captada pelo

fotodetector que faz uma medida de tensão diretamente

proporcional à potência dessa fluorescência. Vemos o sinal de

tensão com a ajuda de um osciloscópio. Com um software do

programa conseguimos retirar os dados obtidos pelo

osciloscópio e exportar a curva de pontos em formato (:csv);

podendo fazer os gráficos em vários programas. Assim

conseguimos obter os gráficos de tempo de carga e descarga da

54

armadilha (ver Figura 3.8) e analisar a dinâmica do número de

átomos.

Figura 3.8 – Exemplo de curva de carga obtida a partir dos dados do

osciloscópio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

0,00E+000

1,00E+008

2,00E+008

3,00E+008

4,00E+008

5,00E+008

6,00E+008

núm

ero

39K

tempo (s)

número 39K

Fonte: produção da própria autora

Também fazemos o uso do programa LabVIEW.

O LabVIEW (Laboratory Virtual Instrument Engineering

Workbench) é uma linguagem de programação gráfica

originária da National Instruments. Os principais campos de

aplicação do LabVIEW são a realização de medições e

a automação. A programação é feita de acordo com o modelo

de fluxo de dados, o que oferece a esta linguagem vantagens

para a aquisição de dados e para a sua manipulação. Neste

caso, o LabVIEW (ver Figura 3.9) é utilizado para processar as

imagens que são visualizadas no Python (ver Figura 3.10). A

partir desta visualização podemos conferir o número de átomos

aprisionados, a temperatura, o tamanho da nuvem a densidade,

entre outros.

55

A medida que a nuvem se torna mais densa a

fluorescência deixa de ser um boa técnica para avaliar a nuvem

atômica, pois ocorre a saturação da imagem, então é utilizada a

imagem de absorção. A técnica de imagem de absorção (ver

Figura 3.9) é utilizada para obter, dentre outras coisas, o

número de átomos. Essas imagens são feitas normalmente após

um “tempo de voo”, tTOF (do inglês, time of flight), no qual a

nuvem de átomos é liberada do MOT e é deixada expandir

livremente apenas sob a ação da gravidade. O “tempo de voo”

tem como objetivo evitar efeitos de saturação na imagem

devido às altas densidades das nuvens aprisionadas. A imagem

de absorção consiste em iluminar os átomos com um feixe de

laser ressonante com uma das transições atômicas e observar a

“sombra” causada pela nuvem atômica devido à absorção.

Após a nuvem atômica, um sistema de lentes focaliza a

imagem da “sombra” em uma câmera do tipo CCD. A partir da

sombra refletida, a qual possui um perfil gaussiano, obtemos

informações sobre a nuvem aprisionada, tal como, o número de

átomos (HARUTINIAN, 2011).

Figura 3.9– Imagem do MOT de sódio obtida a partir do LabVIEW

Fonte: Laboratório IFSC/USP

56

Figura 3.10 – Imagem do MOT de sódio após receber o tratamento de

imagem do Python

Fonte: Laboratório IFSC/USP

57

4 RESULTADOS

Os resultados que serão apresentados neste capítulo

foram realizados em dois regimes diferentes do experimento

para os átomos de sódio: bright e dark. Quando trabalhamos na

configuração bright a nuvem de sódio é composta por átomos

que estão nos estados F=1 e F=2 do estado fundamental, pois

estão sujeitos aos lasers de aprisionamento e rebombeio. É o

tipo de configuração utilizada em muitos experimentos no

passado, tal como o estudo da dependência das taxas de perdas

com a intensidade em uma armadilha magneto-óptica de sódio,

MARCASSA, 1993. E também no trabalho descrito por

SANTOS, 1995, o qual apresenta o carregamento de átomos de

sódio na presença e ausência de átomos de potássio. Ainda que

a nuvem de átomos de sódio não seja muito densa neste

regime, realizamos uma parte das medidas nesta configuração

para tentar comparar nossos resultados com os que foram

encontrados no passado.

O outro regime é o dark, proposto por KETTERLE em

1993. Esta configuração é obtida a partir da introdução de um

dark spot no feixe de rebombeio, assim os átomos de sódio que

estão numa pequena região no centro da nuvem fria não

recebem luz para realizar a transição de rebombeio de F=1 para

F’=2, consequentemente estes átomos se encontram no estado

fundamental F=1. Utilizando esta técnica obtemos uma nuvem

de sódio muito mais densa que no caso do bright. Por isso é

amplamente utilizada nos experimentos de condensado de

sódio atualmente.

Para realizar as medidas decidimos manter a nuvem de

potássio invariável para todas as medidas realizadas, pois

observamos que ela é menor e menos densa que a nuvem de

sódio. Consequentemente, variamos a densidade da nuvem de

sódio. Para modificar a densidade da nuvem de sódio,

decidimos alterar a potência do feixe laser que aprisiona os

58

átomos na armadilha magneto-óptica 2D. Este procedimento

foi adotado, pois é a maneira mais simples de fazer sem que

mudanças importantes fossem realizadas no experimento.

Alterando esta potência mudamos a quantidade de átomos que

chegam à câmara de ciência, local onde obtemos a nuvem que

será estudada.

Os resultados apresentados neste capítulo foram obtidos

a partir de duas medidas com densidades diferentes da nuvem

de sódio na configuração bright e cinco medidas de densidades

diferentes da nuvem de sódio para a configuração dark. Apenas

duas medidas foram realizadas na configuração bright, pois

como a densidade da nuvem é menor, conseguir mais variações

de densidade se torna complicado.

Analisamos as curvas de carga para o caso homonuclear

com o objetivo de encontrar a taxa de perda por colisão entre

dois átomos idênticos. Analisamos o carregamento do potássio

na presença da nuvem de sódio bem com o carregamento de

sódio na presença da nuvem de potássio, ambos para as

configurações bright e dark do sódio, a fim de obter o valor das

taxas de perdas por colisão entre dois átomos distintos.

Quatro tabelas que ilustram sob quais condições de

nuvem atômica de sódio e potássio as medidas foram feitas

(ver Tabela 4.1, Tabela 4.2, Tabela 4.3 e Tabela 4.4). Na

primeira coluna das tabelas é descrita as condições das

medidas. A segunda coluna mostra uma imagem feita da

primeira nuvem carregada até o estado estacionário no sistema,

por exemplo, o carregamento de sódio (ver coluna 2 da Tabela

4.1). A terceira coluna apresenta uma imagem da segunda

nuvem no estado estacionário quando carregada na presença da

primeira, por exemplo, o carregamento do potássio na presença

da nuvem de sódio (ver coluna 3 da Tabela 4.1). Na quarta

coluna é mostrada a imagem da primeira nuvem após o

carregamento da segunda, por exemplo, imagem da nuvem do

59

sódio após o carregamento da nuvem de potássio atingir o

estado estacionário (ver coluna 4 da Tabela 4.1). A última

coluna das tabelas mostra as curvas de carga a partir da

fluorescência obtida das nuvens, a curva vermelha representa o

sódio e a preta o potássio. A partir delas podemos verificar o

comportamento, por exemplo, do carregamento do potássio na

presença do sódio (ver coluna 5 da Tabela 4.1).

Esta sequência de quatro tabelas já mostra um pouco de

como as perdas variam quando carregamos uma nuvem na

presença de outra. A partir das curvas de carga de apenas um

elemento obtemos os valores das taxas de perdas por colisão

entre dois átomos idênticos. Utilizando a curva de carga de um

elemento carregado na presença de outro obtemos as taxas de

perdas por colisão entre dois átomos distintos. Notamos na

Tabela 4.4 que quanto mais densa é a nuvem de sódio maior é a

perda de átomos de potássio quando realizamos o carregamento

do sódio na presença da nuvem de potássio.

60

Tabela 4.1 – Carga de átomos de potássio na presença da nuvem de sódio na

configuração bright

Fonte: produção da própria autora

Ver

mel

ho

: S

ódio

. P

reto

: P

otá

ssio

. F

eix

e Z

eem

an

: u

tili

zad

o par

a d

esac

eler

ar o

s át

om

os

pro

ven

ien

tes

do

fo

rno

aum

enta

nd

o a

efi

cáci

a d

o a

rmad

ilh

amen

to.

Fei

xe

men

or:

o d

iâm

etro

do f

eix

e fo

i re

du

zido

uti

liza

ndo u

ma í

ris.

61

Tabela 4.2 – Carga de sódio na configuração bright na presença da nuvem de

potássio

Fonte: produção da própria autora

Ver

mel

ho

: S

ód

io.

Pre

to:

Po

táss

io.

Fei

xe

Zee

ma

n:

uti

liza

do

par

a d

esac

eler

ar o

s át

om

os

pro

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tes

do

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rno

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o a

efi

cáci

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amen

to.

Fei

xe

men

or:

o d

iâm

etro

do f

eix

e fo

i re

du

zido

uti

liza

ndo u

ma

íris

.

62

Tabela 4.3 – Carga de átomos de potássio na presença da nuvem de sódio na

configuração dark

Ver

mel

ho

: S

ód

io.

Pre

to:

Po

táss

io.

Fei

xe

Zee

man

: uti

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do

par

a d

esac

eler

ar

os

áto

mo

s pro

ven

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tes

do

forn

o

aum

enta

nd

o a

efi

cáci

a d

o a

rmad

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amen

to.

Fei

xe

men

or:

o d

iâm

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do f

eix

e fo

i re

du

zido

uti

liza

ndo u

ma í

ris.

63

Continuação da Tabela 4.3

Fonte: produção da própria autora

64

Tabela 4.4 – Carga de sódio na configuração dark na presença da nuvem de

potássio

Ver

mel

ho

: S

ód

io.

Pre

to:

Po

táss

io.

Fei

xe

Zee

ma

n:

uti

liza

do

par

a d

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s át

om

os

pro

ven

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fo

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nd

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o a

rmad

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amen

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Fei

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or:

o d

iâm

etro

do f

eix

e fo

i re

du

zido

uti

liza

ndo u

ma í

ris.

65

Continuação da Tabela 4.4

Fonte: produção da própria autora

66

4.1 TAXAS DE PERDAS EM ARMADILHA MAGNETO-

ÓPTICA HOMONUCLEAR

Nesta seção, apresentaremos as medidas referentes ao

caso homonuclear tanto para o sódio como para o potássio. A

partir de cinco curvas de carga de átomos potássio foi

encontrado o valor de β, (ver Figura 4.1) referente a perdas por

colisão entre dois átomos de potássio. Neste gráfico estão

apresentados os valores de β obtidos a partir do ajuste teórico

de duas equações diferentes, a equação 2.3 (“exponencial”) e a

equação 2.18 (“tangente hiperbólica”).

Figura 4.1 – Valores de β para o potássio

6,40E+010 6,80E+010 7,20E+010

3,50E-012

4,00E-012

4,50E-012

5,00E-012

5,50E-012

6,00E-012

6,50E-012

ajuste exp.

ajuste tanh.

(

cm

3s

-1)

Densidade 39

K (cm-3)

Fonte: produção da própria autora

Estas duas formas de ajustes foram utilizadas para

corroborar que os valores estão de acordo quando utilizamos

dois métodos diferentes. Porém, estamos interessados em

analisar quais são os mecanismos de perdas para o potássio.

67

Apesar de tentar manter constante a densidade do potássio em

todas as medidas, observamos a partir da Figura 4.1 que

durante o processo houve uma pequena flutuação na densidade.

Fazendo uma média dos valores encontrados para as perdas

entre dois átomos de potássio, obtemos que

cm

3s

-1. Este resultado está em acordo com o trabalho de

SANTOS 1996, na região de intensidade, densidade

(n= 3,0 1,5 1010 cm-3) e número (N=5 108 átomos), com

que trabalhamos em torno de 50 mW/cm2. Sendo assim, as

perdas dominantes que ocorrem em um MOT de potássio são

por colisão com mudança de estrutura fina, as perdas por

escape radiativo são desprezíveis. Neste caso, desconsideramos

perdas por colisão com mudança de estrutura hiperfinas, pois

estamos em um regime de alta intensidade dos lasers e perdas

deste tipo não ocorrem.

Para a curva de carga de sódio na configuração bright

foram realizadas duas medidas com densidades diferentes. Para

alterar a densidade da nuvem de sódio no MOT 3D decidimos

alterar a potência do laser aprisionador do MOT 2D, com esse

método alteramos a quantidade de átomos que chegam até a

câmara principal. Uma medida foi realizada com PMOT2DNa=190

mW mantendo o feixe “Zeeman” ligado neste caso

conseguimos a nuvem mais densa (tabela 4.1 e 4.2). Para

realizar a outra medida com densidade menor mantivemos as

mesmas características da primeira medida, e apenas

diminuímos o tamanho do feixe (tabela 4.1 e 4.2). Fazendo isso

menos luz de aprisionamento chega aos átomos e

consequentemente menos átomos são aprisionados diminuindo

a densidade da nuvem. Para cada densidade diferente foram

realizadas quatro medidas de carga em sequência. Na Figura

4.2 mostramos o comportamento da taxa de perda para o sódio

com relação às duas densidades distintas.

68

Figura 4.2 – Valores de para a nuvem de átomos de sódio na configuração

bright

2,00E+010 2,40E+010 2,80E+010

0,00E+000

5,00E-011

1,00E-010

1,50E-010

2,00E-010

2,50E-010

MARCASSA 1993

Densidade de 23

Na (cm-3)

(

cm

3s

-1)

Fonte: produção da própria autora

Este resultado está em acordo com o trabalho de

MARCASSA 1993 (ver Figura 4.3), de acordo com os

parâmetros de intensidade, número e densidade atômica, o qual

obtém β=2 10-11

cm3s

-1 para uma densidade da nuvem de

sódio, na configuração bright, de cm-3

. A partir

deste trabalho, consideramos que as perdas dominantes em um

MOT de sódio na configuração bright são devido a colisões

com escape radiativo. Colisões com mudança de estrutura fina

neste tipo de sistema se tornam desprezíveis. Já as colisões

com mudança de estrutura hiperfina podem ser desprezadas,

pois o regime é de alta intensidade dos lasers, neste caso temos

poucos átomos no estado fundamental para realizar este tipo de

colisão.

69

Figura 4.3 – Comparação do valor de β com a literatura. A linha em azul

representa nosso regime de trabalho o qual está em acordo com

MARCASSA, 1993.

Fonte: MARCASSA, L. G. et al. Collisional loss rate in a magneto-optical

trap for sodium atoms: Light-intensity dependence, Phys. Rev. A, v.

47, p. 4563-4566, 1993.

A segunda medida para perdas entre dois átomos de

sódio foi realizada na configuração dark, na qual obtemos uma

nuvem muito densa de átomos. Neste caso, conseguimos

realizar mais facilmente medidas com densidade variadas.

Foram feitas um conjunto de cinco medidas com densidades

diferentes da nuvem de sódio. Para variar a densidade da

nuvem alteramos a potência do laser aprisionador da armadilha

magneto-óptica 2D, assim podemos reduzir ou aumentar

facilmente o número de átomos que chegam na câmara de

ciência. Iniciamos as medidas com a potência que foi otimizada

para conseguir o melhor número, PMOT2DNa=190 mW. Neste

caso, como a nuvem é muito densa, a imagem que

visualizamos no Python é saturada. Para fazer as outras

medidas com densidades menores resolvemos desligar/barrar o

feixe Zeeman (que tem o objetivo de desacelerar os átomos que

saem do forno) e diminuir a potência de, PMOT2DNa=190 mW,

para PMOT2DNa=120 mW e para PMOT2DNa= 50 mW. Outro

mecanismo também foi adotado para diminuir ainda mais a

70

densidade, a potência foi ajustada para PMOT2DNa= 50 mW e em

seguida diminuímos o tamanho do feixe do laser de

aprisionamento do MOT 2D fazendo com que menos átomos

sejam aprisionados.

Devido ao MOT de potássio ser menor que o MOT de

sódio foi decidido fixar o potássio e variar a densidade do

sódio. Foram feitas curvas de carga do sódio na configuração

dark para cinco casos de densidades distintas. Em cada uma

delas, a partir das equações de ajustes teórico, equação 2.3 e

equação 2.18, foi encontrado o valor da taxa de perdas por

colisão entre dois átomos de sódio (ver Figura 4.4). Não foi

realizado o ajuste teórico a partir da equação 2.18 para o caso

de maior densidade do sódio, pois esta equação não é válida

para altas densidades.

Figura 4.4 – Valores de β para a nuvem de sódio na configuração dark em

diferentes densidades

1E+08 1E+09 1E+10 1E+11 1E+12 1E+13

1E-13

1E-12

1E-11

1E-10

1E-9

ajuste exp.

ajuste tanh.

(

cm

3s

-1)

Densidade 23

Na (cm-3)

Fonte: produção da própria autora

71

Notamos um comportamento interessante para as perdas

de átomos quando variamos a densidade do sódio. Neste caso,

quanto mais densa a nuvem de sódio menos perdas por colisão

entre dois átomos de sódio ocorre. Isso pode ser explicado, pois

apesar das perdas tenderem a aumentar com a densidade no

caso bright como visto anteriormente, elas se tornam

irrelevantes devido à alta densidade da nuvem de sódio no caso

dark. Como a grande maioria dos átomos de sódio se

encontram no estado fundamental as perdas dominantes devem

ocorrem a partir da colisão de dois átomos ambos no estado

fundamental. As perdas por colisão entre um átomo de sódio

no estado excitado e outro no estado fundamental devem ser

mínimas, devido a pouca existência de átomos no estado

excitado.

4.2 TAXAS DE PERDAS EM ARMADILHA MAGNETO-

ÓPTICA HETERONUCLEAR

Após obter o carregamento do potássio e do sódio

separadamente, vamos analisar o que ocorre quando

carregamos um na presença do outro. Esta medida foi realizada

carregando incialmente o sódio na configuração bright, quando

atingido o estado estacionário inicia-se o processo de carga do

potássio, esperamos que também atinja o estado estacionário

para então desligar o campo magnético e os feixes lasers.

Dessa maneira utilizamos a curva de carga do potássio na

presença do sódio para realizar o ajuste teórico e encontrar a

taxa de perda por colisão entre um átomo de sódio e outro de

potássio (ver Figura 4.5). Para cada uma das duas medidas em

densidades distintas obtivemos quatro curvas de carga, que

foram feitas em sequência.

72

Figura 4.5 – Valores de , perda de átomos de potássio na presença da

nuvem de sódio na configuração bright.

2,10E+010 2,20E+010 2,30E+010 2,40E+010 2,50E+010

5,00E-014

1,00E-013

1,50E-013

2,00E-013

2,50E-013

3,00E-013

'' (

cm

3s

-1)

Densidade 23

Na (cm-3)

nK ~ 6,80E+10 cm-3

Fonte: produção da própria autora

Percebemos que quanto maior é a densidade do sódio

mais átomos de potássio são perdidos. Sendo assim, quanto

mais densa for a nuvem de sódio, mais facilmente é para os

átomos de potássio interagirem com os átomos de sódio e

aumentar as perdas. De acordo com Santos (1997) as perdas

que dominam neste tipo de sistema são devido a colisões, entre

um átomo no estado fundamental e outro no estado excitado,

com mudança de estrutura fina, pois o regime é de alta

intensidade dos lasers.

Como era esperado, o valor absoluto de β’ é bem menor

que o valor de β medido anteriormente para o potássio. Não foi

possível analisar as perdas de átomos de sódio na configuração

bright quando carregado na presença de potássio. Ao tentar

ajustar a curva teórica na experimental não obtemos um bom

ajuste. Isso pode ter acontecido porque a curva de carga do

sódio na presença do potássio possui um sinal de fluorescência

muito ruim. Neste processo de carga deve ocorrer a perda de

muitos átomos de sódio, fazendo com que o número final seja

pequeno. Assim, como o sinal de fluorescência é baixo não

73

temos uma boa resolução da curva de carga, pois ela apresenta

muitos ruídos, se tornando complicada de ser ajustada.

Também realizamos o carregamento de átomos de

potássio na presença da nuvem de sódio na configuração dark.

Neste caso, a nuvem de potássio foi mantida inalterada

enquanto que a densidade da nuvem de sódio era alterada em

cada uma das medidas. Inicialmente, em cada uma das cinco

medidas a nuvem de sódio era carregada, quando atingido o

estado estacionário iniciávamos o carregamento da nuvem de

potássio. Para cada curva de carga de potássio na presença da

nuvem de sódio na configuração dark foi feito o ajuste teórico

a partir da equação 2.2 (ver Figura 4.6). Apesar de possuir

todas as informações necessárias para fazer o ajuste utilizando

a equação 2.15 não foi possível obter o ajuste teórico nos

pontos experimentais a partir desta equação.

Um comportamento muito interessante é notado neste

caso; quando aumentamos a densidade do sódio até cerca de

cm

-3 notamos que as perdas por colisão

entre um átomo de sódio e outro de potássio aumentam. Neste

caso as densidades de ambas as nuvens estão na ordem de

~1010

cm-3

. A partir de densidades maiores para a nuvem de

sódio percebemos um grande aumento das perdas de potássio,

inclusive superando o valor para o caso homonuclear do

mesmo. Neste caso, as colisões devem ocorrer entre um átomo

no estado excitado e outro no estado fundamental. Devido à

configuração dark, a maioria dos átomos de sódio se encontra

no estado fundamental. Já os átomos de potássio, como estão

sujeitos à alta intensidade dos lasers a maioria deve se

encontrar no estado excitado. Isso mostra a necessidade de

melhorar a densidade do MOT de potássio e gerenciar esse

problema manipulando a nuvem de sódio no processo de

transição para as próximas etapas. Isso pode implicar no

relaxamento do potencial ou algo equivalente.

74

Figura 4.6 – Valores de , perda de átomos de potássio na presença da

nuvem de sódio na configuração dark

1E8 1E9 1E10 1E11 1E12 1E13

1E-13

1E-12

1E-11

'

' (c

m3s

-1)

Densidade de 23

Na (cm-3)

3 14,42 12K E cm s

Fonte: produção da própria autora

Em seguida, realizamos o carregamento da nuvem de

sódio na configuração dark na presença da nuvem de potássio.

Inicialmente carregamos o potássio até atingir o estado

estacionário, que mantivemos inalterado em cada medida, e em

seguida iniciamos o carregamento do sódio para diferentes

densidades na configuração dark. A partir das curvas

experimentais de carga da nuvem de sódio na presença da

nuvem de potássio, foi feito o ajuste teórico da equação 2.2 da

qual obtivemos o valor de (ver Figura 4.7). Neste caso

também não foi possível obter o ajuste a partir da equação

2.15.

75

Verificamos que enquanto a densidade da nuvem de

sódio é menor que 1010

cm-3

, ou seja, menor que a densidade da

nuvem de potássio, as perdas aumentam. Porém quando a

nuvem de sódio é mais densa que a nuvem de potássio as

perdas de átomos por colisão com átomos de potássio se

tornam menores.

Figura 4.7 – Valores de , perda de sódio na configuração dark na

presença da nuvem de potássio

1E+08 1E+09 1E+10 1E+11 1E+12 1E+13

1E-13

1E-12

1E-11

' (

cm

3s

-1)

Densidade de 23

Na (cm-3)

'

Fonte: produção da própria autora.

Observamos na Figura 4.6 que quando a densidade do

sódio é muito grande, na ordem de 1012

cm-3

as perdas entre

um átomo de sódio e outro de potássio aumentam. Como o

esperado, o valor absoluto de β’ é bem menor que o valor de β

medido anteriormente para o sódio. No entanto, variam muito

menos em valor absoluto. Assim como no caso anterior, as

colisões devem ocorrer entre um átomo no estado excitado e

outro no estado fundamental. Os átomos de sódio no estado

fundamental devido ao dark spot, e os átomos de potássio, no

estado excitado devido à alta intensidade dos lasers. Mais uma

76

vez o fato do MOT de sódio alcançar alta densidade possibilita

um sistema mais robusto, onde as perdas diminuem mesmo na

presença de outra espécie. Evidentemente, com o aumento da

densidade do MOT do potássio isso deve mudar e isso deverá

ser explorado em seguida.

77

5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS DE TRABALHO

O entendimento sobre os processos colisionais que

ocorrem em uma armadilha magneto-óptica heteronuclear é de

suma importância para a escolha dos parâmetros para as etapas

que levam à obtenção e estudos de amostras distintas de

condensados bosônicos coexistindo em uma mesma região.

A partir desta premissa decidimos realizar o estudo das

taxas de perdas em uma armadilha magneto-óptica para os

casos homonuclear e heteronuclear envolvendo átomos de

sódio e potássio.

Este estudo foi realizado em duas configurações

distintas do experimento; bright e dark MOTs. No regime

bright a nuvem de sódio é composta por átomos que estão nos

estados F=1 e F=2 do estado fundamental, pois estão sujeitos

aos lasers de aprisionamento e rebombeio. Nesta configuração

a nuvem de átomos de sódio não é muito densa, uma parte das

medidas foi realizada nesta configuração para tentar comparar

nossos resultados com os que foram encontrados no passado.

A outra configuração do experimento é o regime dark,

proposto por KETTERLE em 1993, consiste na introdução de

um dark spot no feixe de rebombeio, deste modo os átomos

que se encontram no centro da nuvem fria só recebem luz do

feixe de aprisionamento, minimizando de forma importante o

espalhamento secundário. Estes átomos se encontram no estado

fundamental F=1. Utilizando esta técnica obtemos uma nuvem

muito mais densa que no caso do bright. Por isso é amplamente

utilizada nos experimentos de condensado de sódio atualmente.

Para realizar as medidas, a nuvem de potássio foi

mantida invariável para ambos os casos, bright e dark, pois ela

é menor e menos densa que a nuvem de sódio. Portanto,

variamos a densidade da nuvem de sódio, por ser um dos

78

parâmetros otimizados usualmente para transferência para

armadilha magnética.

A densidade da nuvem de sódio foi variada alterando a

potência do feixe laser que aprisiona os átomos na armadilha

magneto-óptica 2D. Desta maneira mudamos a quantidade de

átomos que chegam à câmara de ciência, local onde obtemos a

nuvem que será estudada.

Os resultados foram obtidos a partir de duas medidas

com densidades diferentes da nuvem de sódio na configuração

bright e cinco medidas de densidades diferentes da nuvem de

sódio para a configuração dark. Apenas duas medidas foram

realizadas na configuração bright, devido á baixa densidade da

nuvem. Foram feitas curvas de carga para o carregamento

individual de átomos de sódio e potássio, a fim de obter a taxa

de perdas por colisão entre dois átomos idênticos.

Também analisamos o carregamento do potássio na

presença da nuvem de sódio bem com o carregamento de sódio

na presença da nuvem de potássio, ambos para as

configurações bright e dark, para obter a taxa de perdas por

colisão entre dois átomos distintos.

Infelizmente para altas densidades atômicas não há na

literatura um estudo para comparação. De qualquer forma,

nosso estudo homonuclear nos deu respaldo para confiar em

nossa técnica e aplicar ao caso heteronuclear.

Como um de nossos focos nesse estudo foi observar

como o potássio, num regime ainda não otimizado, reagiria às

altas densidades do sódio, percebemos como o aumento da

densidade do sódio afeta a carga e consolidação da armadilha

de potássio. É a primeira vez que esse tipo de MOT 2D (com

Zeeman) é realizado para átomos de potássio. Essa medidas são

muito uteis para a otimização desse sistema e para obtenção do

condensado misto em seguida.

79

Medidas de β e β’ nesse regime de densidade para o

caso da armadilha magneto-óptica de sódio não são

encontradas na literatura. Um estudo mais aprofundando com

relação à densidade pode ser feito e ajudaria a explicar as

medidas realizadas nesse trabalho.

Observamos o comportamento esperado para o potássio

por estar no regime de densidade explorado até o momento,

mas para o sódio nesse regime de altas intensidades

observamos um comportamento diferente. O fato do MOT de

sódio alcançar alta densidade possibilita um sistema mais

robusto, onde as perdas diminuem mesmo na presença de outra

espécie. Um comportamento completamente inverso ao que foi

estudado no passado.

Acreditamos que com o aumento da densidade do MOT

do potássio isso deve mudar e isso deverá ser explorado em

seguida. A ideia é manipular as nuvens de forma a, mesmo

com densidades ligeiramente diferentes inicialmente, seja

possível levar as nuvens às próximas etapas para obtenção do

condensado misto e outros estudos, manipulando a densidade

atômica. Outro fator importante que será explorado será com

relação às temperaturas das amostras antes da transferência

para as próximas etapas do experimento.

Dessa forma, ressaltamos o papel da densidade atômica

como agente importantíssimo em estudos de colisões ultrafrias

e reiteramos a necessidade de estudos teóricos que possam

explicar nossos resultados e motivar novos estudos nessa área.

80

81

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86

87

APÊNDICES

APÊNDICE A – Os átomos de sódio e potássio

A.1 Átomo de sódio

O sódio (Na) é um elemento que ocupa a coluna 1A da

tabela periódica. Trata-se de um metal alcalino cujas principais

características são: sólido na temperatura ambiente; possui

coloração branca, ligeiramente prateada; é muito reativo; oxida

facilmente com o ar e reage violentamente com a água quando

puro. Além disto, é encontrado na natureza com certa

abundância, apresentando treze isótopos conhecidos, sendo que

o único estável é o 23Na. Apresenta seu ponto de fusão em

370,95 K, uma estrutura cristalina na forma CCC, com a

seguinte configuração eletrônica: 1s2 2s

2 2p

6 3s

1.

Sua estrutura de níveis consiste nas linhas D1 e D2 em

589,756 nm e 589,158 nm respectivamente, tendo

aproximadamente as mesmas larguras de linhas de

10 MHz.

A.2 Átomo de potássio

O potássio (K) é um elemento que ocupa a coluna 1A

da tabela periódica. Trata-se de um metal alcalino que possui

coloração branca prateada, é abundante na natureza,

encontrado principalmente nas águas salgadas; oxida-se

rapidamente com o oxigênio do ar e é muito reativo

especialmente com a água. São conhecidos vinte isótopos de

potássio, três deles são naturais: 39K,

40K e

41K e são

encontrados na natureza com a abundância de 93,3%, 0,01% e

6,7% respectivamente. Apresenta seu ponto de fusão em

336,53 K, uma estrutura cristalina na forma CCC, com a

seguinte configuração eletrônica: 1s2 2s

2 2p

6 3s

1.

Utilizamos a transição correspondente a linha D2 para o

aprisionamento, ou seja, nos níveis 4S1/2 e 4P3/2.

88

APÊNDICE B – Princípio de Funcionamento de uma

Armadilha Magneto-Óptica

Apresentamos o princípio de funcionamento de uma

armadilha magneto-óptica, no qual se utiliza a força de

radiação dos feixes laser e um gradiente de campo magnético

para aprisionar os átomos alcalinos. Em todas as situações

apresentadas estamos considerando um átomo hipotético de

dois níveis de energia.

A armadilha magneto-óptica utiliza a pressão de

radiação, um gradiente de campo magnético e polarização

adequada dos feixes laser para resfriar e aprisionar os átomos.

Primeiramente, vamos considerar um átomo hipotético de dois

níveis na presença de dois feixes contrapropagantes que

possuem uma determinada frequência ω, como mostra a Figura

1.

Figura 1 – Feixes laser contrapropagantes com frequência ω sintonizados

abaixo da frequência da transição atômica ωo

Fonte: CAMPESTRINI, 2013

Para que o átomo absorva um fóton dos feixes laser

contrapropagantes, a frequência dos feixes deve ser sintonizada

um pouco abaixo da frequência natural de ressonância da

transição atômica ωo essa diferença de frequência

denominaremos de dissintonia, ou detuning, é identificada por

89

δ (δ = ω - ωo). Como estamos considerando um átomo em

movimento é necessário considerar o efeito Doppler. Se o

átomo move-se no mesmo sentido de propagação do feixe, este

sofre um deslocamento para o vermelho e, portanto não estará

ressonante com a frequência da transição atômica. Entretanto,

quando o movimento do átomo é no sentido contrário a

propagação do feixe laser, neste caso, terá sua frequência

deslocada para o azul, tornando-se mais ressonante com o

laser. A absorção de um fóton do laser pelo átomo acontece

através do feixe contrapropagante ao movimento do átomo,

ocasionando uma transferência de momento dado por ℏκ, contrário a sua velocidade de modo a reduzi-la. Ao absorver o

fóton o átomo sofre um recuo na mesma direção e sentido da

propagação do feixe laser, após certo tempo emite o fóton em

uma direção aleatória, esse processo pode ocorrer inúmeras

vezes produzindo um movimento aleatório do átomo que pode

escapar da ação dos feixes (WEINER, 2003).

Para conseguir aprisionar e resfriar os átomos

precisamos de três pares de feixes laser contrapropagantes e

um gradiente de campo magnético. Os feixes laser

contrapropagantes apenas desaceleram e resfriam a amostra de

átomos, mas não são capazes de aprisionar. Essa configuração

é chamada de melaço óptico, na qual os átomos com menor

velocidade se encontram na interseção dos feixes laser

contrapropagantes. O resfriamento acontece quando o átomo

absorve um fóton, e devido a transferência de momento perde

energia cinética neste processo. Em 1987, Raab e

colaboradores utilizaram o melaço óptico juntamente com um

gradiente de campo magnético não homogêneo. O gradiente de

campo magnético é produzido por um par de bobinas, nas quais

passam correntes elétricas de mesmo valor, mas em sentidos

opostos, esta configuração é chamada de anti-Helmholtz, ver a

Figura 2. O campo magnético não é isotrópico no espaço, ele é

90

nulo na metade da distância entre o par de bobinas e cresce

linearmente em todas as direções a partir do centro.

Figura 2 – Linhas de campo geradas pelo par de bobinas na configuração

anti-Helmholtz

Fonte: FRITSCH, 2010

O campo magnético é utilizado para abrir a

degenerescência do nível excitado do átomo através do efeito

Zeeman, como mostra a Figura 3. Para compreender o

deslocamento nos níveis de energia consideramos um átomo

hipotético de dois níveis, o estado fundamental com momento

angular F=0 e número quântico mF= 0 e o estado excitado com

F=1 e número quântico mF = -1,0,1. Portanto, como se observa

o estado fundamental não sofre degenerescência enquanto que

o estado excitado apresenta níveis degenerados de energia. Na

origem do campo magnético, onde B=0, não há

degenerescência dos níveis de energia, porém fora dele os

níveis de energia tendem a se separar proporcionalmente com a

intensidade do campo magnético. O espaçamento entre os

91

níveis de energia do estado excitado é de ∆E=gμBB, onde g é o

fator de giromagnético de Landé, μB é o magnéton de Bohr e B

é o campo magnético na direção do eixo z.

Figura 3 – Efeito do campo magnético sobre os estados atômicos

Fonte: CAMPESTRINI, 2013

Em uma determinada posição em x>0, os níveis de

energias degenerados do estado excitado cresce de mF = -1 a

mF = +1. Numa posição x < 0, a energia dos níveis cresce de

mF = +1 a mF = -1. Sendo assim, o feixe que se propaga no

sentido positivo das posições possui polarização circular σ+ e o

feixe que se propaga no sentido negativo das posições possui

polarização circular σ-. Considerando que o átomo se move no

sentido de x>0, devido ao efeito Doppler ele estará mais

ressonante com o feixe de polarização σ– e consequentemente

absorverá mais fótons desse feixe. Pelo princípio da

conservação do momento angular, os feixes permitem

transições com ∆m = 1, segundo regras de seleção, este feixe

só permite a transição de F = 0 (mF = 0) para F = 1(mF = -1); e

o átomo é empurrado para a origem. Porém, quando o átomo se

92

desloca em x<0 ele absorve mais fótons do feixe com

polarização σ+, que permite apenas a transição F = 0 (mF = 0)

para F = 1(mF = +1), e como no caso anterior é empurrado para

a origem. Portanto, esta configuração resulta em uma força

restauradora que tenta manter o átomo na origem, x=0, região

em que o campo magnético é nulo. A Figura 4 mostra o mesmo

raciocínio para o caso tridimensional, o esquema apresenta os

feixes laser e as bobinas da armadilha desta maneira é possível

resfriar e aprisionar os átomos no espaço.

Figura 4 – Esquema tridimensional de um MOT com os três pares de lasers

e suas polarizações e as bobinas anti-Helmholtz

Fonte: CAMPESTRINI, 2013

O átomo quando aprisionado na armadilha está sujeito a

pressão de radiação que a luz exerce, a força sob o átomo foi

deduzida por R. Cook, no ano de 1979. Cook (1979) realizou

uma abordagem semiclássica ao utilizar o teorema de

Ehrenfest, e demonstrou que a pressão de radiação exercida por

um laser sobre um átomo hipotético de dois níveis, em uma

93

aproximação de regime estacionário na qual os átomos se

movem muito lentamente no interior da armadilha, pode ser

escrita como:

[ℏ ℏ( ) ]

* ( ) +

1

onde ℏ é constante de Planck, é a largura de linha da

transição, é a frequência de Rabi, é a fase do campo

elétrico e é a diferença entre a frequência do laser e a

frequência de transição atômica. Esta força está associada a

outras duas: a primeira é a força espontânea que é proporcional

ao gradiente da fase, e esta relacionada ao processo de

desaceleração do átomo devido à transferência de momento dos

fótons do laser para o átomo. A segunda, é a força de dipolo

proporcional ao gradiente da intensidade do campo elétrico,

que está relacionada à interação do dipolo atômico com o

gradiente do campo elétrico, que neste caso aparece como um

gradiente da frequência de Rabi, pois ℏ ⁄ . Em

algumas situações um dos termos presentes na força de

radiação pode ser desprezível em relação ao outro.

Primeiramente vamos analisar o caso em que a contribuição da

força de dipolo é nula, ou seja, o termo relacionado ao

gradiente de campo elétrico se torna desprezível. Este é o caso

quando estamos considerando átomos no centro de um feixe

laser, cujo perfil de intensidade pode ser descrito como uma

função Gaussiana. Neste caso podemos escrever

e sendo assim, (COOK, 1979), e como a

intensidade do feixe é praticamente constante no centro, a força

de dipolo é desprezível e a força espontânea torna-se

responsável no processo de resfriamento e armadilhamento no

MOT. Como a frequência de Rabi é uma constante,

consequentemente . Então, a força de radiação pode ser

escrita como:

94

𝑒𝑠𝑝

ℏ k

* ( ) +

2

onde é o vetor de onda do feixe laser e a velocidade de propagação do átomo. Quando temos um feixe altamente

focalizado o perfil de intensidade do laser muda

significativamente em uma pequena região, neste caso a força

de dipolo se torna importante. Este caso é equivalente para uma

onda estacionária, sendo assim podemos escrever que (COOK, 1979) na equação 1. Portanto, a força espontânea

passa a ser nula enquanto que a força de dipolo pode ser escrita

como:

𝑝

[ ]

3

No entanto, a força predominante em nossa armadilha é a

força espontânea, pois os feixes laser utilizados possuem um

perfil Gaussiano e eles não são focalizados, sendo assim

desprezamos totalmente a força de dipolo. Quando

consideramos o campo magnético, temos a variação espacial da

ressonância atômica causada pelo campo. Essa variação foi

descrita por Fritsch, tal que 𝐵 𝐵 , onde 𝐵 é a variação da frequência de ressonância atômica em função do campo magnético aplicado e 𝐵 é a variação espacial do campo magnético (FRITSCH, 2010). Como o

átomo interage com dois feixes laser contrapropagantes em

cada direção do espaço sendo um com polarização circular σ- e

outro com polarização circular σ+, a força total média sobre o

átomo devido aos dois lasers em cada direção pode ser escrita

como: . Em que representa a força causada

pelo feixe que se propaga no sentido positivo da direção

considerada, enquanto é a causada pelo feixe que se propaga no sentido negativo. Portanto, podemos escrever a

força total como sendo:

95

ℏ k [

(

)

(

)

]

4

Podemos reescrever a equação 4 como:

ℏ k (

)

[ (

)

] [ (

)

]

5

Considerando uma região de baixa velocidade esta força

pode ser escrita, adotando a direção x, na forma:

𝑚

ℏ 𝑥

( 𝑥 𝑥

)

6

Esta expressão pode ser reescrita como uma força do tipo

oscilador harmônico amortecido com a forma:

𝛼 𝑥 7

Com

𝛼

ℏ 𝑥

(

)

8

e

ℏ 𝑥

9

96

onde α é a constante de amortecimento e é a constante de mola. Alguns trabalhos concentraram-se em calcular os

coeficientes de amortecimento e de mola de uma armadilha,

por exemplo, Krüger (2013) e Araujo (1995) calcularam os

coeficientes de uma armadilha magnéto-óptica, constituída de

átomos na forma de vapor de sódio e de rubídio,

respectivamente.

Quando o feixe laser é sintonizado abaixo da frequência

natural do átomo < a força de amortecimento resfria os átomos. A partir de e da dimensão de nuvem de átomos podemos fazer uma estimativa da profundidade do poço de

potencial. A profundidade do poço é proporcional à intensidade

de luz que chega na amostra de átomos aprisionados. No

regime de baixa intensidade do laser, isto é, quando a

intensidade do laser aprisionador for menor que a intensidade

de saturação, o poço é raso e só átomos com velocidades

extremamente baixas ficam confinados. Quando a intensidade

do laser aprisionador é muito maior que a intensidade de

saturação, o regime é de altas intensidades o poço é profundo e

confina um número grande de átomos.

Os átomos aprisionados neste tipo de armadilha atingem

temperaturas típicas de alguns micro Kelvin, isso acontece,

pois a força de amortecimento, sendo esta do tipo viscosa,

diminui a energia cinética do átomo e, por consequência, a

temperatura do mesmo, resfriando-o. Um fator que limita a

temperatura no MOT é o efeito da emissão espontânea, que não

foi considerado por Cook (1979) na obtenção da força de

radiação sobre o átomo, que gera uma força produzindo

aquecimento na amostra de átomos aprisionados.

As equações descritas acima são referentes á armadilha

magneto-óptica tridimensional, porém em nosso sistema

experimental há mais uma armadilha magneto-óptica com

configuração bidimensional. Essa armadilha bidimensional é

utilizada como fonte de átomos para a armadilha

tridimensional. O princípio de funcionamento é basicamente o

97

mesmo, utiliza dois feixes laser contrapropagantes dispostos

nos eixos x e y, o gradiente de campo magnético é obtido por

meio de magnetos permanentes. Os pares de feixes laser

contrapropagantes também possuem polarização circular σ- e

σ+ as quais dão origem a duas forças dissipativas:

𝜎+

ћ

10

e

𝜎−

ћ

11

onde s é intensidade de saturação da transição 𝐼 𝐼𝑜⁄ . O par de forças atua tanto na direção x como na direção y

aprisionando os átomos. Devido ao gradiente de campo

magnético o detuning das transições e dependem da

posição. Se considerarmos um átomo em uma posição x<0 nós

temos que > e para a posição x>0 temos que < .

Os pares de feixes laser contrapropagantes criam uma força

que tende a empurrar os átomos na posição onde o campo

magnético é nulo. Devido a configuração do sistema ser

bidimensional os átomos aprisionados possuem forma

semelhante a de um charuto.