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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS HEPATITE B E D NA ÁREA DO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO ALTO RIO SOLIMÕES ASPECTOS ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA E AO PROGRAMA DE ATENDIMENTO AOS PORTADORES JOSANA OLIVEIRA FIGUEIREDO MANAUS 2016

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

HEPATITE B E D NA ÁREA DO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO

ALTO RIO SOLIMÕES – ASPECTOS ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA E AO

PROGRAMA DE ATENDIMENTO AOS PORTADORES

JOSANA OLIVEIRA FIGUEIREDO

MANAUS

2016

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JOSANA OLIVEIRA FIGUEIREDO

HEPATITE B E D NA ÁREA DO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO

ALTO RIO SOLIMÕES – ASPECTOS ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA E AO

PROGRAMA DE ATENDIMENTO AOS PORTADORES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientador: Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga

MANAUS

2016

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Ficha Catalográfica

F475 Figueiredo, Josana Oliveira.

Hepatite B e D na área do Distrito Sanitário Especial Indígena do alto rio

Solimões – aspectos associados à prevalência e ao programa de atendimento

aos portadores ./Josana Oliveira Figueiredo. -- Manaus : Universidade do

Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical, 2016.

Xiii, 59f. : il.

Dissertação (Mestrado) apresentada ao Programa de Pós- Graduação em

Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas – UEA/FMT, 2016.

Orientador: Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga

1.HBV 2 HDV. 3. Hepatite B e D 4. Prevalência I. Título.

CDU: 616.36-002(811.3)(043)

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Maria Eliana N Silva, lotada na Escola Superior de

Ciências da Saúde - UEA

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FOLHA DE JULGAMENTO

HEPATITE B E D NA ÁREA DO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL

INDÍGENA DO ALTO RIO SOLIMÕES – ASPECTOS ASSOCIADOS À

PREVALÊNCIA E AO PROGRAMA DE ATENDIMENTO AOS

PORTADORES

JOSANA OLIVEIRA FIGUEIREDO

“Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em

Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-

Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em

convênio om a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.

Banca Julgadora:

__________________________________________

Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga

Presidente

__________________________________________

Prof.ª Dra. Flor Ernestina Martinez Espnosa

Membro

__________________________________________

Prof.ª Dra. Cintia Mara Costa de Oliveira

Membro

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a você,

João Victor Figueiredo Monteiro,

meu filho amado e companheiro de jornada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus presença constante em minha vida, força nas minhas batalhas e

razão das minhas vitórias.

Ao meu orientador Dr. Wornei Silva Miranda Braga, pelos ensinamentos, pela

paciência, dedicação, incentivo e amizade.

A Dra. Silvana de Lima e Silva pelo apoio e incentivo.

A Dra. Marcia Castilho por toda a ajuda e força nos momentos difíceis.

Ao meu filho João Victor Figueiredo Monteiro por entender as minhas

ausências.

A minha filha do coração Ozenir Nicacio Tavares, por ser o apoio do João

Victor nas minhas ausências, pela paciência e cuidado.

A Francisca Magda Xavier, pela amizade, carinho, ajuda e apoio nas

dificuldades.

Ao Allyson Guimarães pelas contribuições e amizade.

A Maria Luana Cristiny Silva por toda ajuda e companhia no Alto Solimões.

Ao Evandro Bispo, do DSEI do Alto Rio Solimões, pela disponibilidade em

ajudar sempre.

Ao corpo docente do PGMT / UEA pelos conhecimentos transmitidos ao longo

de cada módulo e as secretárias do programa, em especial a Sra. Maria da Conceição

Tufic, Altariza Monteiro e Sra. Socorro Almeida, pela gentileza e paciência.

Aos colegas do mestrado pelo companheirismo.

A Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e

Universidade do Estado do Amazonas (UEA) pela oportunidade.

Muito Obrigada!

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RESUMO

A infecção pelo HBV e HDV é um problema mundial de saúde pública que quando

associada a população indígena, que tem características sócio culturais que a deixa

vulnerável frente a esta exposição, possibilita o aumento da transmissão dentro de

suas comunidades, o que compromete não só o controle e a prevenção deste agravo,

mas também, a preservação destas comunidades. O objetivo deste estudo foi estimar

a prevalência e o efeito de medidas de intervenção frente a infecção pelos HBV e HDV

no Polo-Base Filadélfia, do DSEI do Alto Rio Solimões, na Amazônia Ocidental

brasileira a partir do inquérito com teste rápido realizado pelo referido DSEI no período

de outubro de 2012 a março de 2013. Foram compilados os dados de 2510 indivíduos

através das fichas de registro de teste rápido, fichas do SINAN, fichas do SI-CTA,

livros de registros e prontuários. A prevalência encontrada do HBsAg foi 1,2%, taxa

considerada baixa, com significante diferença estatística em relação ao gênero, idade

e etnia. Dentre os portadores crônicos do HBsAg a prevalência do Anti-HDV

encontrada foi 17,2%. Ficou demonstrado que os testes rápidos são uma excelente

ferramenta que possibilita a triagem de doentes, porém com limitações no que se

refere a definição da circulação do vírus ou no impacto do programa de vacinação,

como também, é necessário a formulação de estratégias para o atendimento dos

portadores do HBsAg da população estudada possibilitando assim, condições de

acompanhamento e tratamento destes, como também, a quebra da cadeia de

transmissão do HBV e HDV.

Palavras Chaves: HBV, HDV, Indígena, Prevalência, Amazônia, Teste Rápido.

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ABSTRACT

HBV and HDV infection are important global Health problem. When associated with

indigenous population, social and cultural characteristic may turns then vulnerable to

that exposure, increasing the possibility of an enlarged transmission compromising not

only the control and prevention, but also threats their preservation as autonomous

communities. The objective of this study was to evaluate the prevalence and the impact

of intervention measures against HBV and HDV infection in the Polo-Base

Philadelphia, DSEI Alto Solimões in the Brazilian Western Amazon, from a rapid test

survey performed from October 2012 to March 2013. We collected data from 2510

individuals from the rapid test registration forms, SINAN records, SI-CTA records,

records books and medical records. HBsAg prevalence was 1.2%, rate considered low,

with significant statistical difference in relation to gender, age and ethnicity. Among the

chronic HBsAg carriers, the Anti-HDV prevalence was 17.2%. It is evident that the

rapid tests are an excellent tool that allows the screening of patients, but with limitations

regarding the definition of virus circulation or the impact of the vaccination program.

New strategies are necessary for the follow-up and treatment of the carries identified

at the survey and control breaking down HBV and HDV transmission chain.

Keywords: HBV, HDV, Indigenous, Prevalence, Amazon, Rapid Testing.

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RESUMO LEIGO

As Hepatites B e D são doenças que acometem pessoas no mundo inteiro e quando

acontecem dentro das comunidades indígenas, o controle e a prevenção ficam

dificultados por condições especiais que dentro da cultura indígena favorecem a

transmissão e também comprometem a sobrevivência dessas pessoas. O objetivo

deste estudo foi estimar a quantidade de doentes entres esses índios e o resultado de

medidas de controles frente a estas duas doenças no Polo-Base Filadélfia do DSEI

do Alto Rio Solimões, tendo como base uma pesquisa com teste rápido realizado pelo

referido DSEI no período de outubro de 2012 a março de 2013. Foram levantados os

dados de 2510 indígenas através de fichas de rotina do serviço e dos prontuários.

Encontramos 1,2% da população infectada com o vírus da Hepatite B e 17,2% destes

com o vírus da Hepatite D, a presença dessas duas doenças esteve ligada ao sexo,

raça e etnia. Ficou claro que a utilização dos testes rápidos é ideal para a triagem dos

doentes, porém, isso não se aplica na definição da circulação do vírus ou na avaliação

do impacto do programa de vacinação, como também, é necessário repensar ações

para o atendimento dos portadores dessas doenças na população estudada,

possibilitando assim, condições de acompanhamento e tratamento destes.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Prevalência mundial da infecção pelo HBV .............................................. 05

Figura 2. Localização do Polo-Base Filadélfia .......................................................... 10

Figura 3. Pirâmide populacional da amostra estudada ............................................ 16

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição da população estudada por gênero, etnia e média de idade.

.................................................................................................................................. 16

Tabela 2. Prevalência do antígeno de superfície do vírus da Hepatite B e fatores de

risco avaliados, utilizando resultados do teste rápido, DSEI do Alto Rio Solimões,

2015. ......................................................................................................................... 17

Tabela 3. Prevalência do antígeno de superfície do vírus da Hepatite B e fatores de

risco associados, utilizando resultados da sorologia confirmada, DSEI do Alto Rio

Solimões, 2015... ....................................................................................................... 18

Tabela 4. Prevalência do Anti-HDV entre os portadores do HBsAg, DSEI do Alto Rio

Solimões, 2015. ......................................................................................................... 19

Tabela 5. Aspectos clínicos e demográficos dos pacientes avaliados. ..................... 20

Tabela 6. Prevalência do antígeno de superfície do vírus da Hepatite B, teste rápido

e sorologia, por aldeia, DSEI do Alto Rio Solimões, 2015 ......................................... 21

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Distribuição do número de testes rápidos positivos e prevalência do HBsAg

utilizando resultado de teste rápido e população geral por Polo-Base, DSEI do Alto Rio

Solimões, 2015. ......................................................................................................... 11

Quadro 2. Fontes de variáveis selecionadas para o estudo ..................................... 12

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA

AIS Agente Indígena de Saúde

Anti-HBc Total Anticorpo contra o antígeno do core

Anti-HBe Anticorpo contra o antígeno e

Anti-HBs Anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus da Hepatite B

Anti-HDV Anticorpo contra o vírus da Hepatite D

BT Bilirrubina Total

CASAI Casa de Apoio à Saúde do Índio

CDC Centers for Disease Control and Preventions

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

CONDISI Conselho Distrital de Saúde Indígena

CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

CTA Centro de Testagem e Aconselhamento

DSEI Distrito Sanitário Especial Indígena

DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

EB Exército Brasileiro

FA Fosfatase Alcalina

FMT-HVD Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado

FUNAI Fundação Nacional do Índio

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

GGT Gama-glutamil transferase

HBeAg Antígeno e do vírus da Hepatite B

HBsAg Antígeno de superfície do vírus da Hepatite B

HBV Vírus da Hepatite B

HBV-DNA Quantificação do Ácido Desoxirribonucléico do Vírus da

Hepatite B

HCV Vírus da Hepatite C

HDV-RNA Quantificação do Ácido Ribonucleico do Vírus da Hepatite Delta

HDV Vírus da Hepatite D

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

HV Hepatites Virais

LAFRON Laboratório de Fronteira

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MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

PCDT Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas

PNI Programa Nacional de Imunização

Plaq Plaquetas

SIASI Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena

SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SI-CTA Sistema de Informação dos Centros de Testagem e

Aconselhamento em Aids

SisLogLab Sistema de Controle Logístico de Insumos Laboratoriais

SUSAM Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TGO Transaminase Glutâmico Oxaloacética

TGP Transaminase Glutâmico Pirúvica

UBS Unidade Básica de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 9

2.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 9

2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................ 9 3 MÉTODOS ............................................................................................................. 10

3.1 Modelo de Estudo ............................................................................................... 10 3.2 Local do Estudo ................................................................................................... 10 3.3 População de Estudo .......................................................................................... 11

3.4 Procedimentos .................................................................................................... 11 3.4.1 Obtenção da Anuência da Comunidade Indígena ............................................ 11 3.4.2 Coleta de Dados ............................................................................................... 12

3.4.3 Classificação dos Indivíduos para análise ........................................................ 13 3.4.4 Analise dos Dados ........................................................................................... 13

3.5 Questões Éticas .................................................................................................. 14 4 RESULTADOS ....................................................................................................... 15

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 22

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 30

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 31

8 ANEXOS ................................................................................................................ 37

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1 INTRODUÇÃO

Na época da chegada dos europeus o território hoje conhecido como brasileiro

era povoado por aproximadamente 5 milhões de indivíduos nativos, que hoje recebem

a denominação de índios e que por fruto da colonização, passaram por processo de

escravidão, guerras, doenças epidêmicas, massacres e outros males que quase os

extinguiram, resultando em grandes modificações na sua cultura. Há

aproximadamente duas décadas os povos indígenas vêm passando por um fenômeno

chamado de etnogênese, em que, diante de determinadas circunstâncias históricas,

um povo, que havia deixado de assumir sua identidade étnica por razões também

históricas, consegue reassumi-la e reafirmá-la, recuperando aspectos relevantes de

sua cultura tradicional (1–4).

Segundo dados do censo demográfico de 2010, o Brasil tem aproximadamente

817 mil indígenas, o que corresponde a 0,4% da população do país distribuídos em

305 etnias (4). Este censo apontou a existência de população indígena nas cinco

regiões do país, onde a região norte concentra o maior número de

indivíduos, 305.873, o que representa aproximadamente 37,4% do total. O Amazonas

é o estado da região Norte com maior número de índios 168.007, cerca de 55% de

indivíduos do total da região (1–5).

Coube ao Serviço de Proteção ao Índio e Trabalhadores (SPI), criado em 1910,

vinculado ao Ministério da Agricultura, a primeira responsabilidade oficial de proteção

aos índios (3). Em 1967 foi criada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que em

equipes volantes realizavam atendimentos nas comunidades (2,3). A Constituição

Federal de 1989 e o Decreto Presidencial nº 23, de fevereiro de 1991, transfere para

o Ministério da Saúde as ações de saúde prestadas aos povos indígenas (2).

O Ministério da Saúde, através da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA)

implantou em 1999 um subsistema de saúde voltado para os povos indígenas, os

chamados Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), que estão vinculados ao

Sistema Único de Saúde (SUS), favorecendo assim a reformulação de planos e ações

voltadas para a promoção a saúde dos povos indígenas (6). Os DSEIs foram

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estrategicamente divididos de acordo com a ocupação geográfica das comunidades

indígenas (3).

Dentro do seu modelo assistencial está o Posto de Saúde, localizado na aldeia;

funciona como ponto estratégico e executa atividades de atenção à saúde voltadas

para a prevenção com a atuação do Agente Indígena de Saúde (AIS); o Polo–Base,

que atende a um número de aldeias e serve de referência para o AIS, seguindo a

estrutura das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) com atendimento do médico, do

enfermeiro, do odontólogo entre outros profissionais; a Casa de Apoio à Saúde do

Índio (CASAI), localizada no município sede da região, atende aos pacientes que

necessitam ser retirados de sua aldeia e encaminhados ao serviço de referência da

rede do SUS com a prestação de assistência à saúde e tem também a função de

alojamento (3).

Atualmente são 34 DSEIs distribuídos pelo país. No estado do Amazonas são

7 em 47 municípios (7). O DSEI do Alto Rio Solimões, tem dentro dos seus limites de

abrangência os municípios de Amaturá, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá,

Japurá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tonantins onde são encontradas as

etnias Tikuna, Kokama, Kaixana, Maku-Yuhup, Kambebe, Kanamari, e Whitoto conta

com uma população de aproximadamente 55.297 indígenas e tem apresentado um

fluxo significativo de notificações de casos suspeitos de hepatites. São atendidos por

12 Polos–Bases. Na região destacamos o Polo-Base Filadélfia, localizado no

município de Benjamin Constant, com acesso por via terrestre onde convivem as

etnias Tikuna e Kokama com uma população de 5.866 indígenas, segundo o Sistema

de Informação da Atenção à Saúde Indígena - SIASI 2013 (8).

A presença dos Tikunas na Amazônia é mencionada pela primeira vez nos

relatos do jesuíta Cristóbal de Acunã, datados de 1641 (9). Segundo a crença dos

próprios Tikunas, estes tiveram sua origem no igarapé Éware, situado nas nascentes

do igarapé São Jerônimo, que desemboca na margem esquerda do rio Solimões entre

Tabatinga e São Paulo de Olivença (9,10). Esta área ainda concentra um grande

número de aldeias Tikunas. Os jesuítas espanhóis, vindos do Peru e liderados pelo

padre Samuel Fritz, por volta do século XVII, firmaram aldeamentos missionários às

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margens do rio Solimões onde estabeleceram os primeiros contatos com os Tikunas

(11,12).

Antes do contato com o europeu os Tikunas dominavam a técnica do curare,

usavam a zarabatana e não possuíam canoa, sua sustentabilidade era proveniente

da caça e da agricultura de tubérculos (12). São descritos como inteligentes,

trabalhadores, honestos, pacientes e hospitaleiros, porém, com predisposição a

súbitas explosões de raiva que levam até ao suicídio (9). Indivíduos que gostam de

viver separados, tendo a sua organização social baseada nos laços de sangue, onde

o pai mantém a autoridade sobre a filha mesmo após o casamento (9). A invasão de

suas terras, na região do rio Solimões, por seringueiros e madeireiros vindos do Ceará

que se firmaram na região através do controle do trabalho indígena, trouxeram

destruição de suas malocas e promoveram a imposição de suas mercadorias, em

especial a cachaça, resultando assim na quase extinção de sua etnia e cultura (13).

Os Tikunas do Amazonas são considerados a maior população indígena do

país e mantém a sua economia na atividade agrícola desenvolvida pelos homens e

no artesanato realizado pelas mulheres, sendo o processo de iniciação destas

atividades realizadas pelos adultos aos adolescentes (14). A maioria tem sua renda

complementada por benefícios sociais controlados pela FUNAI, que é responsável

pela emissão de certidão que possibilite o direito ao mesmo (14). Conservam o uso

da língua mãe, que é falada entre os Tikunas mesmo nas aldeias da zona urbana (15).

Segundo dados do SIASI de 2013, o DSEI do Alto Rio Solimões atende a uma

população de 45.963 Tikunas (8). O Polo-Base Filadélfia, região deste estudo, possui

uma população de 4.593 da etnia Tikunas (8).

Os Kokamas são conhecidos pelo explorador europeu e missionários religiosos

espanhóis e portugueses, na Amazônia Peruana, desde o século XVI (16). Registros

do ano de 1710 mostram que esses indígenas começaram a migrar da foz dos rios

Ucayali, Marañon e Huallaga no Peru para a região do Alto Rio Solimões, no

Amazonas (16).

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Como ocorreu com outras etnias, os Kokamas foram submetidos a colonização,

a exploração de seus recursos hídricos e florestais, a perda de suas terras e a

repreensão de sua língua nativa. Resultando na quase extinção da etnia e cultura

Kokama, que como modo de sobrevivência passou a assumir identidade de outras

culturas locais, principalmente entre os Tikunas (17–19). Essa aproximação serviu

para que através do fortalecimento político dos Tikunas, ocorrido nas décadas de 80

e 90, os Kokamas reivindicassem a sua identidade étnica coletiva (17) .

Os Kokamas tem lutado pela revitalização de seu povo e pela delimitação de

suas terras através de uma escola diferenciada com a valorização da língua materna.

Tem a sua sustentabilidade baseada na agricultura, no artesanato e nos benefícios

sociais (18,19). No Alto Rio Solimões há uma população de 8.118 Kokamas. No Polo-

Base Filadélfia, região deste estudo, existe uma população de 1.273 indivíduos deste

grupo, segundo dados do SIASI 2013 (8).

A extensão territorial, a diversidade étnica, diferentes línguas e costumes são

fatores que dificultam conhecer a epidemiologia e modo de transmissão das doenças

infecciosas entre populações vulneráveis como o povos indígenas brasileiros (6,20).

Porém, elevadas taxas de prevalência de infecção e doença pelo vírus da Hepatite B

(HBV) e vírus da Hepatite Delta (HDV) são descritas entre indígenas da Amazônia

brasileira, venezuelana, colombiana, peruana e do Equador, onde as peculiaridades

históricas, antropológicas e práticas culturais contribuem para esse especto alargado

(20–23).

De distribuição universal, as hepatites virais são doenças causadas por

diferentes agentes etiológicos, que têm como característica principal o hepatotropismo

(24). São conhecidos como agentes causadores das hepatites virais sete vírus

distintos denominados pelas letras do alfabeto: A, B, C, D, E, G e TT (25). Sendo que

em todo o mundo os vírus das hepatites B (HBV) e D (HDV) são importantes

causadores de formas graves de doença aguda ou crônica do fígado (26).

O HBV pertence à família Hepadnaviridae e é constituído por um genoma de

DNA de fita dupla parcial (27). É um problema global de saúde pública, onde se estima

que 1/3 da população mundial, aproximadamente 2 bilhões de pessoas possuam um

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perfil sorológico de infecção passada e 240 milhões sejam portadores crônicos.

Calcula-se perto de 700.000 mortes relacionadas ao HBV e 4,5 milhões de novas

infecções a cada ano (26).

A transmissão da Hepatite B ocorre por via sexual, vertical e parenteral,

podendo acontecer a transmissão percutânea entre os contatos intradomiciliares (28).

A probabilidade de cronicidade da doença está relacionada com a idade em que o

indivíduo é infectado (26). Na Amazônia os fatores de transmissão do HBV não

aparecem bem definidos, sendo a transmissão intrafamiliar na população jovem

importante nesta região (29).

São consideradas regiões altamente endêmicas o sudeste Asiático, a China, a

África subsaariana e a Bacia Amazônica (28).

Figura 1: Prevalência mundial da infecção pelo HBV. Fonte: CDC,2015 (30).

A distribuição do HBV na população humana, originalmente, obedecia a um

padrão associado ao genótipo e região geográfica, porém, esse padrão vem sofrendo

a influência das migrações e miscigenações dos povos (31,32). O genótipo F é tido

como originário das Américas sendo o mais geneticamente divergente dos 10

genótipos identificados (33,34).

A Amazônia brasileira, nas regiões dos rios Juruá, Purus e Solimões, é

conhecida por apresentar um dos mais altos índices de infecção pelo HBV em todo o

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mundo. Estudo realizado na população indígena dos Rios Curuçá e Itaquaí no Vale

do Javari encontrou a prevalência de HBV-DNA estimada em 51,1% nas comunidades

indígenas daquela região (35).

O vírus da Hepatite D (HDV) é apontado como o vírus hepatotrópico mais

patogênico, tendo domínio sobre outros agentes virais, como observado na coinfecção

com o HBV e o HCV (36). Tem em sua estrutura um RNA defeituoso que necessita

da presença do HBV para concluir seu ciclo replicativo (27). O HDV só pode ser

transmitido na presença do HBV, ocorrendo simultaneamente quando o indivíduo é

infectado com os dois vírus ao mesmo tempo ou por superinfecção quando o indivíduo

já é portador crônico do HBV e se infecta com HDV, sendo este 90% dos casos, razão

pela qual se recomenda a triagem para HDV de todos os portadores crônicos do HBV

(37). O índice de evolução para cronicidade na superinfecção é de aproximadamente

70%, enquanto que, na coinfecção é de 5% (38,39).

Estima-se que cerca de 15 milhões de pessoas estejam infectadas pelo HBV e

HDV, no mundo (40). O HDV está distribuído mundialmente de forma heterogênea,

tendo como área de elevada prevalência a Bacia do Mediterrâneo, Oriente Médio, Ásia

Central e do Norte, África Ocidental e Central, Bacia Amazônica e algumas Ilhas do

Pacífico, geralmente populações com elevada taxa de portadores crônicos do HBV

(41).Surtos de hepatite fulminante, denominada “Febre Negra de Lábrea”, relacionada

com a superinfecção pelo HDV tem sido relatados na Amazônia (42,43).

Em populações indígenas a transmissão do HBV e HDV ocorre de forma

precoce, entre crianças de cinco a doze anos e entre adultos jovens, o que caracteriza

transmissão horizontal e por contato sexual (21,23,44). Nas comunidades indígenas,

da região Amazônica é observado um padrão de distribuição heterogêneo, onde entre

as etnias de uma mesma região, há variação relevante na taxa de prevalência do HBV

e do HDV (20,45).

Três ações estabelecem marco na atenção aos indígenas portadores do HBV

e HDV no estado do Amazonas:

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1- A Realização do inquérito e do manejo dos indígenas portadores do HBV e

HDV do Vale do Javari. Aconteceu em 2006 com ação conjunta do Ministério da Saúde

(MS), Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), Exército Brasileiro (EB), Secretaria

Estadual de Saúde (SUSAM) e Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira

Dourado (FMT-HVD) realizando através dos marcadores sorológicos e virológicos, o

diagnóstico da infecção pelos HBV e HDV. E a partir desse inquérito, a cada seis

meses, com o apoio do DSEI Vale do Javari é realizado o manejo clínico dos

portadores crônicos, com a retirada desses pacientes das aldeias para alojamento na

CASAI do DSEI Javari em Tabatinga e atendimento especializado, avaliação clínica,

laboratorial, imagem diagnóstico e realização de biopsia hepática de acordo com o

que é preconizado no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Tratamento

da Hepatite Viral Crônica B e Coinfecção (46).

2- O inquérito realizado pelo DSEI do Alto Rio Solimões. A partir da

implantação dos testes rápidos e como parte das ações de prevenção e controle do

programa das Hepatites Virais, o DSEI do Alto Rio Solimões realizou no período de

outubro de 2012 a março de 2013, nos 12 Polos - Bases de sua abrangência, um

inquérito com teste rápido para Hepatite B e C (47). O teste utilizado para triagem da

Hepatite B foi o teste rápido VIKIA® HBsAg, da BioMérieux SA, que é um teste

qualitativo baseado na associação de anticorpos monoclonais e policlonais

específicos do antígeno HBs. Utiliza o princípio da imunocromatografia lateral para a

pesquisa do antígeno HBs circulante e apresenta 98,92% de sensibilidade e 99,79%

de especificidade (48). Participaram desse inquérito 30.206 indígenas, com resultado

reagente para Hepatite B em 351 testes, sendo destes 116 do Polo-Base Filadélfia.

No inquérito, os teste rápidos foram realizados pelos enfermeiros nas aldeias e

registrados nas fichas do rastreamento. Dos indígenas que apresentaram resultado

de teste rápido reagente para HBsAg o DSEI realizou a notificação no SINAN e no SI-

CTA e coletou material para sorologia que foi enviado ao Laboratório de Fronteira –

LAFRON no município de Tabatinga de acordo com o Fluxograma do

Encaminhamento de Amostras para Sorologias das Hepatites Virais da Coordenação

Estadual de DST/AIDS/HV-AM. Foram realizados os seguintes marcadores

sorológicos para Hepatite B: antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (HBsAg),

anticorpo contra o antígeno core (Anti-HBc Total) e, anticorpo contra o antígeno de

superfície do vírus da Hepatite B (Anti-HBs) (49).

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3- Em 2014, o DSEI do Alto Rio Solimões estabeleceu com o DSEI Javari uma

parceria para a realização do manejo clínico dos indígenas portadores das Hepatites

Virais, onde estes dividem a responsabilidade pela logística do manejo e da

locomoção dos profissionais da FMT-HVD para Tabatinga e cada DSEI retira da aldeia

os seus pacientes e os abriga na CASAI de sua responsabilidade para o atendimento

pela equipe de acordo com o que preconiza o Protocolo Clínico e Diretrizes

Terapêuticas para o Tratamento da Hepatite Viral Crônica B e Coinfecção (46).

A infecção pelo HBV é um importante problema mundial de saúde pública e na

região amazônica, onde ocorre a coinfecção do HBV com o HDV, este problema toma

maiores proporções. A coinfecção destes patógenos, há tempos, está associada a

surtos de hepatites fulminantes acometendo famílias inteiras nesta região. Quando

estes agentes infecciosos acometem a população indígena, a colocam em

desvantagem frente aos outros segmentos da população, uma vez que as ações de

prevenção e controle das Hepatites B e D na saúde indígena e a dinâmica da infecção

nestes povos são pouco conhecidas. A extensão territorial em que estes povos estão

distribuídos, como também, a diversidade cultural são fatores que possivelmente

contribuem para o pouco conhecimento da infecção do HBV e do HDV na população

indígena.

Este estudo teve como objetivo estimar a prevalência da infecção do HBV e do

HDV na população indígena do Polo-Base Filadélfia e avaliar a efetividade das ações

de prevenção e controle das hepatites B e D na referida região, possibilitando assim,

conhecer o perfil epidemiológico desses agentes infecciosos e suas formas de

transmissão na população de estudo e a formulação de propostas de ações de

combate a infecção na região.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Estimar a prevalência e o efeito de medidas de intervenção frente a infecção

pelos HBV e HDV no Polo-Base Filadélfia, do DSEI do Alto Rio Solimões, na

Amazônia Ocidental brasileira.

2.2 Objetivos Específicos

Estimar a prevalência de portadores crônicos do HBV na população estudada;

Estimar a prevalência do HDV nos portadores crônicos do HBV;

Identificar possíveis fatores de risco associados a transmissão do HBV e HDV;

Avaliar os aspectos clínicos e laboratoriais dos portadores crônicos

identificados;

Avaliar a aplicabilidade do teste rápido para triagem da Hepatite B na

população estudada;

Investigar o segmento das ações no manejo dos portadores crônicos do Polo-

Base Filadélfia.

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3 MÉTODOS

3.1 Modelo de Estudo

Foi realizado um estudo observacional, descritivo de avaliação e compilação de

dados secundários, médicos, laboratoriais e de notificação compulsória, com o

objetivo de avaliar a prevalência, fatores associados e a caracterização clínica da

infecção pelos vírus das Hepatites B (HBV) e D (HDV) e as ações de manejo clínico

dos portadores identificados.

3.2 Local do Estudo

O estudo foi realizado no Polo-Base Filadélfia, localizado no DSEI do Alto Rio

Solimões no município de Benjamin Constant, na Amazônia Ocidental brasileira, que

de acordo com o SIASI 2013 tem uma população de 5.866 indígenas. O município de

Benjamin Constant limita-se com os municípios de Tabatinga, São Paulo de Olivença,

Ipixuna, Eirunepé, Jutaí, Atalaia do Norte e com o Peru; distante a 1.118 km de

Manaus e com uma população de 39.484 habitantes, sendo 9.833 (24,9%) indígenas.

Figura 2: Localização do Polo-Base Filadélfia. Fonte: adaptado de regionais SUSAM (50).

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3.3 População de Estudo

A população de estudo foi definida com base no resultado do inquérito com

teste rápido para Hepatite B, realizado pelo DSEI do Alto Rio Solimões em 30.206

indígenas no período de outubro de 2012 a março de 2013. O Polo-Base Filadélfia foi

escolhido por apresentar maior número de testes rápidos positivos, 33% dos testes, e

pela facilidade de acesso.

Quadro 1: Distribuição do número de testes rápidos positivos e prevalência do HBsAg

utilizando resultado de teste rápido e população geral por Polo-Base, DSEI do Alto Rio

Solimões, 2015.

Polo-Base Resultados

Reagentes %

Prevalência HBsAg

%

Belém do Solimões 50 14,25 0,49

Campo Alegre 30 8,55 0,51

Feijoal 7 1,99 0,12

Filadélfia 116 33,05 1,98

Nova Itália 24 6,84 0,64

São Paulo de Olivença 4 1,14 0,09

Tonantins 19 5,41 0,75

Umariaçu I 5 1,43 0,27

Umariaçu II 17 4,84 0,36

Vendaval 47 13,39 1,10

Vila Betânia 25 7,12 0,43

Vila Bitencourt 7 1,99 1,86

Total 351 100% 0,63

Fonte: Elaborado pela autora.

3.4 Procedimentos

3.4.1 Obtenção da Anuência da Comunidade Indígena

O projeto foi apresentado, no dia 03 de novembro de 2014, em uma reunião com

o coordenador distrital de saúde indígena e o responsável técnico do programa de

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DST/Aids e Hepatites Virais do DSEI do Alto Rio Solimões para o obtenção da

anuência. No mesmo dia, após aprovação da coordenação do DSEI do Alto Rio

Solimões o projeto foi apresentado ao CONDISI do Alto Rio Solimões, sendo aprovado

por esse conselho a sua realização.

3.4.2 Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada em uma viagem de 10 dias para a região do

Alto Solimões, nas cidades de Tabatinga e Benjamin Constant.

Em Benjamin Constant, sede do Polo-Base Filadélfia, foram revistas as fichas

de rastreamento utilizadas no inquérito com o teste rápido e os livros de registro de

vacinação. Na CASAI, em Tabatinga, foram analisados os prontuários médicos em

busca de informação como: número da notificação, resultado da sorologia, exames

laboratoriais e de imagem. As fichas do SI-CTA, que estavam em Tabatinga

guardadas pelo DSEI foram utilizadas para confirmar dados coletados de outras

fontes, bem como, para completar informações pendentes. No setor de vigilância

epidemiológica da Coordenação Estadual de DST/Aids e Hepatites Virais-AM foi

revista a ficha de notificação em busca de informações relacionadas a risco de

transmissão e dados sobre a conclusão final do caso.

Quadro 2: Fontes de variáveis selecionadas para o estudo.

Variável Fonte

Idade Ficha de rastreamento da Hepatite B

Sexo Ficha de rastreamento da Hepatite B

Estado civil Prontuário, ficha do SINAN e ficha SI-CTA

Gestante Ficha de rastreamento da Hepatite B

Teste rápido HBsAg reagente Ficha de rastreamento da Hepatite B

Teste rápido HBsAg não reagente Ficha de rastreamento da Hepatite B

1ª dose vacina contra Hepatite B Livro de registro de vacinação

2ª dose vacina contra Hepatite B Livro de registro de vacinação

3ª dose vacina contra Hepatite B Livro de registro de vacinação

Número de consultas de acompanhamento

Prontuário

HBsAg / Anti-HBc Total / Anti-HBs / Anti-HBe / HBeAg

Prontuário

Anti-HDV Prontuário

HBV-RNA / HDV-RNA Prontuário

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Biopsia hepática Prontuário

Plaq/ GGT/ BT/ FA/TGO / TGP Prontuário

USG / Endoscopia Prontuário

Provável fonte de transmissão SINAN

Contatos SINAN

Classificação de encerramento no SINAN

SINAN

Fonte: Elaborado pela autora.

3.4.3 Classificação dos Indivíduos para análise

Os indivíduos foram classificados de acordo com as seguintes definições

clínicas e de vigilância epidemiológica:

Infecção pelo HBV – presença do marcador sorológico HBsAg reagente

confirmado pelo teste sorológico.

Portador crônico do HBV – indivíduo HBsAg reativo, confirmado pelo teste

sorológico por mais de 6 meses.

Portador HBV coinfectado com HDV – indivíduo com marcador sorológico

HBsAg reativo e com anti-HDV detectável.

Cirrose hepática – presença de fibrose no fígado, diagnosticado através de

biopsia hepática, ultrassonografia ou endoscopia digestiva alta

Paciente acompanhado – o paciente que foi notificado no SINAN, realizou uma

consulta, exames laboratoriais de bioquímica, sorológicos e de carga viral a

cada seis meses e uma ultrassonografia e uma endoscopia anual.

Paciente notificado no SINAN – o paciente que tiver ficha de notificação no

SINAN

3.4.4 Analise dos Dados

Os dados foram armazenados em um banco de dados, em planilha do Microsoft

Excel e os nomes encontrados em duplicidade foram retirados.

As variáveis numéricas foram expressas por média ± desvio padrão ou mediana

(intervalo) se ausência de distribuição normal. Variáveis categóricas foram expressas

por valor absoluto (n) e frequência relativa (%). Análise estatística entre grupos

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independentes foi realizada pelo teste Qui-quadrado ou exato de Fisher para variáveis

categóricas e teste "t" de student, Mann-Whitney ou ANOVA para variáveis numéricas.

Para análise estatística foi utilizado software EPINFO (CDC, versão 7.2.0.1), o nível

de significância estatística foi considerado se valor de p ≤ 0.05 (α=5%) em testes

bilaterais.

3.5 Questões Éticas

O projeto deste estudo foi apresentado ao DSEI do Alto Rio Solimões, que

declarou seu apoio e o encaminhou ao Conselho Distrital de Saúde Indígena

(CONDISI). Foi apresentado ao CONDISI do Alto Solimões, em Tabatinga, em

novembro de 2014, tendo recebido parecer favorável para sua execução. Seguindo o

que determina a resolução nº 304 de 09 de agosto de 2000, no item III, sub item 2

onde a pesquisa envolvendo a pessoa do índio ou a sua comunidade deve respeitar

suas tradições e costumes, como também, a resolução nº 466, de 12 de dezembro

de 2012, no artigo IV, inciso IV.6, item “e”, no que se refere as comunidades onde a

tradição cultural reconhece a autoridade de suas lideranças sobre o indivíduo e em

respeito à cultura indígena que tem como peculiaridade a representação do indivíduo

pela comunidade, foi solicitado dispensa do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido –TCLE uma vez que o projeto tem a anuência do Conselho Distrital de

Saúde Indígena – CONDISI do Alto Rio Solimões (anexo), representante das

comunidades participantes da pesquisa. Este estudo faz parte do projeto “Prevalência

da infecção pelos vírus das Hepatites B e D no Polo-Base de Filadélfia na área do

Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Solimões no Amazonas”, sendo

submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da FMT-HVD e

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), com nº 45843715.7.0000.0005.

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4 RESULTADOS

O estudo incluiu 2.510 indígenas de um total de 5.866, representando 42,8%

da população do Polo-Base Filadélfia. Desses, 2.232 (88,9%) eram da etnia Tikuna e

278 (11,1%) da etnia Kokama, 1.131 (45,1%) do sexo masculino e 1.379 (54,9%) do

sexo feminino, com uma média de idade de 25,2 anos (Tabela 1). A figura 3 mostra a

distribuição da população estudada por gênero e grupo de idade.

A prevalência do HBsAg encontrada na população pelo teste rápido foi 4,6%

(116/2510), (IC 95% 3,8-5,5), (Tabela 2). Dos 116 testes rápidos com resultado

reagente foi realizado teste confirmatório em 91 (78,5%), resultando em uma

prevalência final de 1,2% (IC 95% 0,81-1,67), (29/2510), (Tabela 3).

A prevalência do HBsAg, tanto no teste rápido como no confirmatório,

apresentou diferença estatisticamente significante em relação ao gênero, idade e

etnia. Não encontramos associação em relação a outros fatores como contato

domiciliar com pacientes portadores de hepatite e tratamento dentário, (Tabela 2 e 3).

A prevalência do Anti-HDV Total encontrada na população HBsAg reagente foi

17,2% (5/29), (IC 95% 3,5-30,9). Sendo 80% da etnia Kokama (4/5), todos estes da

aldeia Guanabara 2 e 20% da etnia Tikuna (1/5), da aldeia Porto Espiritual, (Tabela

4). A prevalência do Anti-Delta Total variou com o sexo, a etnia e a idade, (Tabela 4).

Foram avaliados 19 indivíduos portadores crônicos do HBV no manejo clínico

em parceria com o Programa de DST, Aids e Hepatites Virais-AM e DSEI Javari. A

tabela 5 mostra os principais aspectos clínicos e demográficos dos pacientes

avaliados. Dos 29 que apresentaram HBsAg reagente, 19 (65,5%) participaram do

manejo, destes, 17 (58,6%) realizaram carga viral do HBV, 3 (10,3%) ultrassonografia,

1 (3,4%) biópsia hepática e nenhum endoscopia.

Observamos discrepância entre os resultados da prevalência de positivos para

o HBsAg no teste rápido e na confirmação sorológica em cinco aldeias estudadas

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onde a taxa de portadores caiu, por exemplo, de pouco mais de 11,4% para 1.7%,

enquanto as outras mantiveram o mesmo padrão de endemicidade, (tabela 6).

Em relação a imunização, observou-se que dos 2510 indivíduos que

participaram do inquérito com teste rápido, 68,9% foram imunizados com 3 doses de

vacina contra a Hepatite B. Dos 1737 indivíduos que receberam a 1ª dose, apenas 7

(0,4%) não completaram o esquema de 3 doses.

Dos 116 indivíduos que apresentaram teste rápido reagente, 91 (78,4%)

realizaram sorologia para confirmação de diagnóstico. Apenas 26 (28,6%) foram

notificados de forma correta no SINAN.

Tabela 1: Distribuição da população estudada por gênero, etnia e média de idade.

Tikuna Kokama

Sexo N % �̅� md (min-max) N %

�̅�

md (min-max) p

Masc 999 44,8 25 22 (2-97) 132 47,5 27 20 (6-71)

0,48 Fem 1233 55,2 24 22 (3-79) 146 52,5 25 22 (3-79)

Masc, masculino; Fem, feminino; N, total da amostra; %, percentual; �̅�, média; md, mediana; min, mínima; max, máxima; p significância estatística.

Figura 3: Pirâmide populacional da amostra estudada.

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Tabela 2: Prevalência do antígeno de superfície do vírus da Hepatite B e fatores de risco avaliados, utilizando resultados do teste rápido, DSEI do Alto Rio Solimões, 2015.

Variável N N+ (%) IC 95% RP IC 95%* p

Total da amostra 2510 116 (4,6) 3,8 - 5,5 - - -

Sexo Fem 1379 50 (3,6) 2,7 - 4,6 1 - - Masc 1131 66 (5,8) 4,5 - 7,2 1,6 1,1 - 2,3 < 0,001

Etnia Kokama 278 42 (15,1) 10,9 - 19,3 1 - -

Tikuna 2232 74 (3,3) 2,6 - 4,0 0,2 0,2 - 0,3 < 0,001

Grupo de Idade

1 4 0 - - - - 2 512 12 (2,3) 1,0 - 3,6 1 - -

3 1258 50 (3,9) 2,9 - 5,4 1,7 1,4 - 2,0 - 4 632 41 (6,5) 4,6 - 8,4 2,8 1,9 - 4,0 - 5 104 13 (12,5) 6,6 - 18,9 5,3 2,9 - 9,9 < 0,001

Grupo de Idade*

1 1722 61 (3,5) 2,6 - 4,4 1 2 788 55 (6,9) 5,1 - 8,7 1,9 1,4 - 2,8 < 0.001

N, número total de indivíduos; N+, número de indivíduos com resultado de teste rápido reagente; IC 95%, intervalo de confiança da prevalência; RP, razão de prevalência; IC 95%* intervalo de confiança da razão de prevalência; p, significância estatística; Grupo de Idade 1, ≤ 5; 2, 6-14; 3, 15-30; 4, 31-49; 5, ≥50; Grupo de Idade* 1, ≤ 29; 2, ≥ 30.

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Tabela 3: Prevalência do antígeno de superfície do vírus da Hepatite B e fatores de risco associados, utilizando resultados da sorologia confirmada, DSEI do Alto Rio Solimões, 2015.

N, número total de indivíduos; N+, número de indivíduos HBsAg reagente; IC 95%, intervalo de confiança da prevalência; RP, razão de prevalência; IC 95%*, intervalo de confiança da razão de prevalência; p, significância estatística; RP*, razão de prevalência ajustada por sexo, idade e etnia; IC 95%**, intervalo de confiança da razão de prevalência ajustada por sexo, idade e etnia; Fem, feminino; Masc, masculino; Grupo de Idade 1, ≤ 29; 2, ≥ 30 ; N, não; S, sim.

Variável N N+ (%) IC 95% RP IC 95%* P RP IC 95%** P

Total amostra

2510 29 (1,2) 0,8 - 1,7 - - - - - -

Sexo

Fem 1379 9 (0,7) 0,26 - 1,14 1 - - - - - Masc

1131 20 (1,8) 1,03 - 2,57 2,7 1,2 - 5,9 0,01 2,7 1,2 - 5,9 <0,001

Etnia

Kokama 278 7 (2,5) 0,77 - 3,27 1 - - - - - Tikuna

2232 22 (0,9) 0,51 - 1,29 0,4 0,2 - 0,9 0,03 0,39 0,2 - 0,9 0,05

Grupo de Idade

1 1722 5 (0,3) 0,04 - 0,5 1 - - - - - 2

788 24 (3,0) 1,9 - 4,3 10,5 4,9 - 23,0 <0,001 11,11 3,8 - 33,3 0,001

Contato com Portador

N 37 11 (29,7) 14,9 - 45,4 1 - - - - - S

14 1 (21,4) -0,1 - 42,9 0,7 0,2 - 2,2 0,73 - - -

Contato Sexual

N 42 12 (28,6) 15 - 42,2 1 - - - - - S

9 3 (33,3) 12,5 -64,1 1,2 0,4 - 3,3 0,78 - - -

Trat. Dentário

N 68 21 (31,0) 20,2 - 41,8 1 - - - - - S 5 1 (20,0) -15,1 - 55,1 0,6 0,1 - 3,9 0,99 - - -

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Tabela 4: Prevalência do Anti-HDV entre os portadores do HBsAg, DSEI do Alto Rio Solimões, 2015.

Fem, feminino; Masc, masculino; N, total da amostra; N+, número de indivíduos Anti-HDV reagente; %, percentual; IC 95%, intervalo de confiança; Grupo de Idade 1, ≤5; 2,6-14; 3,15-30; 4,31-49 e 5, ≥50.

Variável N N+ (%) IC 95% p

Total amostra 29 5 (17,2) 3,5 - 30,9 -

Sexo Fem 9 3 (33,3) 2,5 - 64,1 - Masc 20 2 (10) - 3,1 - 23,1 0,01

Etnia Kokama 7 4 (57,1) 20,4 - 93,8 - Tikuna

22 1 (4,5) - 4,1 - 13,2 0,002

Grupo Idade 1 0 0 - - 2 0 0 - - 3 5 0 - - 4 17 3 (17,6) - 0,5 - 35,7 - 5 7 2 (42,9) 6,3 - 79,5 0,001

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Tabela 5: Aspectos clínicos e demográficos dos pacientes avaliados.

N, total da amostra; %, percentual; �̅�, média; min, mínima; max, máxima; md, mediana; DP, desvio padão; TGO, transaminase glutâmico oxaloacética (homens 0-38, mulheres 0-36); TGP, transaminase glutâmico pirúvica (homens 0-44, mulheres 0-40); Plaq, plaquetas (adulto 150.000 a 350.000); GGT, gama-glutamil transferase (homens 11-61, mulheres 5-36); BT, bilirrubina total (0,01 a 1,30); FA, fosfatase alcalina (homens 40-129, mulheres 35-104); HBV-DNA, ácido ribonucleico do vírus da Hepatite B.

Variável N (%) �̅� (min-max) md DP

Total 19 42 (18 - 69) 43 -

Sexo Masc 14 (73,7) - - - -

Fem 5 (26,3) - - - -

Etnia Tikuna 15 (78,9) - - - -

Kokama 4 (21,1) - - - -

Enzimas Hepáticas

19

TGO (U/L) - 30,8 (2 - 81) 33 17,4 TGP (U/L) - 15,8 (10 - 44) 14 7,4

Plaq(10³x mm³)

- 183 (85 - 262) 170 47,3

GGT (U/L) - 29,7 (16 - 92) 25 16,3

BT (mg/dl) - 0,7 (0,2 - 1,01) 0,7 0,2

FA (U/L) - 104,2 (62 - 177) 112 29,1

HBV-DNA (log10 copias/ml)

17 2,6 (1,9 - 4,2) 2,6 0,6

Biopsia 1 A1F1 - - -

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Tabela 6: Prevalência do antígeno de superfície do vírus da Hepatite B, teste rápido e sorologia, por aldeia, DSEI do Alto Rio Solimões, 2015.

TR+, número de testes rápidos reagentes; %, percentagem; HBsAg+, número de casos confirmados com sorologia.

Aldeia Etnia TR+ (%) HBsAg+ (%)

Boa Vista Tikuna 2 (2,0) 1 (1,0) Bom Caminho Tikuna 2 (0,3) 1 (0,1) Filadélfia Tikuna 14 (1,2) 10 (0,9) Guanabara 2 Kokama 41 (11,4) 6 (1,7) Guanabara 3 Tikuna 12 (3,4) 2 (0,6) Nova Terra Tikuna 10 (10,0) 0 (-) Nova Vida Tikuna 7 (6,2) 0 (-) Porto Cordeirinho Tikuna 6 (0,6) 4 (0,4) Porto Espiritual Tikuna 20 (5,6) 3 (0,8) Santa Rita Kokama 1 (0,9) 1 (0,9) São João de Venesa Tikuna 1 (0,7) 1 (0,7)

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5 DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo permitiram conhecer o impacto da infecção pelo

vírus da Hepatite B e Delta em população vulnerável na Amazônia Ocidental

brasileira a partir de uma avaliação de dados secundários, bem como, avaliar a

utilização de método de pesquisa soro-epidemiológica de fácil aplicabilidade em

regiões de difícil acesso.

O estudo foi realizado a partir de um inquérito prévio em população

sexualmente ativa, coordenado pelo DSEI do Alto Rio Solimões, que incluiu cerca de

metade da população do Polo-Base Filadélfia, revelando características de população

jovem, com base de pirâmide populacional larga e ápice estreito, indicativa de elevada

taxa de natalidade, mortalidade infantil e óbitos em idades precoces, que

possivelmente refletem as características da população geral.

A prevalência do HBsAg encontrada no inquérito com o teste rápido foi 4,6%,

porém, quando realizado a confirmação sorológica essa taxa cai para 1,2%, variação

observada significativamente elevada em apenas cinco aldeias. Considerando a

elevada sensibilidade e especificidade do teste utilizado, informada pelo fabricante,

de mais de 90% (48), e que em todas as outras aldeias a variação foi mínima ou

ausente, este fato possivelmente nos revela um problema localizado, provavelmente

associado aos procedimentos operacionais padrões inerentes aos testes realizados

nestas aldeias, o que veio a superestimar essas taxas.

A Amazônia Ocidental há tempos é conhecida como região de elevada

prevalência de infecção pelo vírus da Hepatite B e D em populações indígenas,

demonstrado em estudos realizados no território brasileiro (20,35), Peru (51),

Colômbia (44), Venezuela (52) e Equador (53).

Na região do Alto Solimões estudos apontam um padrão de endemicidade de

moderado a elevado das taxas de prevalência de infecção pelo HBV, variando de

cerca de 2% de portadores do HBsAg em crianças indígenas de até 12 anos na região

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da Amazônia colombiana (44), 2,11% de HBsAg positivo em grávidas indígenas na

região Amazônica peruana (51), e 51,1% de portadores do HBV-DNA na região da

reserva indígena do Vale do Javari na Amazônia Ocidental brasileira, sendo 16,3%

desses, mulheres gravidas (35), o que corresponde a situação de gravidade pois são

índices elevados em população de risco especifica, como gravidas e crianças

menores de 12 anos que deveriam estar adequadamente vacinadas e acompanhadas

em serviço de pré-natal.

A taxa de 1,2% de prevalência do HBsAg encontrada neste estudo, pode ser

considerada baixa, de acordo com a classificação da OMS (26), o que demonstra a

natureza heterogênea da distribuição do HBV na região, padrão semelhante a

descritos em outras regiões do estado (29,31,54). A diferença do resultado encontrado

em outros estudos, pode ser explicada possivelmente por múltiplos fatores.

Nosso estudo apesar de ser focado em população sexualmente ativa abrangeu

cerca de 50% da população do Polo-Base, incluiu indivíduos menores de 5 anos, bem

como, indivíduos da terceira idade, enquanto que os outros estudos foram

direcionados a parcelas especificas da população, como, crianças e mulheres

grávidas e seus parceiros (44,51). Aproximadamente 21% da população avaliada, em

nosso estudo tinha até 14 anos de idade, apesar do estudo ser direcionado a

população sexualmente ativa, o que provavelmente possibilitou a investigação entre

indivíduos mais jovens e deu a esse estudo características que possibilitaram realizar

inferências para a população geral.

Não foi encontrado associação entre os fatores de risco levantados, como

contato domiciliar com portador, contato sexual com portador e tratamento dentário.

Entretanto, a prevalência do HBsAg parece estar fortemente associada ao gênero

masculino, a idade igual ou maior de 30 anos e com a etnia Kokama. Esse fato revela

que possivelmente o principal mecanismo de transmissão nesta população seja a via

sexual e/ou outros fatores associados ao comportamento, como por exemplo

promiscuidade, alcoolismo e tatuagens não tradicionais (55). No que diz respeito a

etnia, o tamanho pequeno da amostra pode ter influenciado este resultado, uma vez

que quando esta taxa é ajustada por idade e gênero a força da associação cai

significativamente.

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A prevalência do Anti-Delta Total, nos portadores do HBsAg, de 17,2%

demonstra a importante presença deste vírus entre os HBsAg reativos, fato

comumente relatado em comunidades do interior do Amazonas, inclusive em

populações indígenas (54). A presença do HDV esteve associada ao gênero feminino,

etnia Kokama e idade acima dos 30 anos. O fato dos Kokamas terem apresentado

uma taxa bem superior em relação aos Tikunas pode estar ligado a fatores culturais e

históricos (17,18) que levaram esse grupo a ter contato com outros indivíduos,

indígenas ou não, de áreas de elevada endemicidade do HDV.

O vírus da Hepatite Delta é um agente defectivo que necessita da presença do

antígeno de superfície do HBV, que lhe serve de envelope (37). Epidemiologicamente

este fato se traduz pela necessidade de buscar a presença do HDV em todos os

portadores do HBsAg, que são quem mantêm a infecção pelo HDV ativa (37). A

distribuição do HDV por gênero e grupo de idade e a presença marcante em apenas

duas aldeias sugere uma distribuição com padrão heterogêneo, como demonstrado

em outra região do estado (31,54), sendo a via sexual provavelmente um dos

principais mecanismos de transmissão.

Os dados de vacinação mostram população com 3 doses completas abaixo do

recomendado, de menos de 70% (56) ,o que se repete na população de até 14 anos.

Desafortunadamente os testes rápidos ainda nos dizem pouco sobre o impacto de

programas de vacinação, e em populações como a estudada, de baixa endemicidade,

onde a transmissão do HBV provavelmente se dê em idades adultas, é importante

manter a população em maior risco protegida mesmo que 95% das infecções agudas

cursem assintomáticas e sejam resolvidas naturalmente em idades acima dos 14 anos

(57).

O perfil clinico dos pacientes avaliados desenha um quadro que corresponde

àquele de portadores assintomáticos, HBeAg não reativos, carga viral < 2.000UI/mL,

infecção relativamente antiga, aminotransferases normais sem sinais de doença

instalada e sem indicação de uso de terapia antiviral (46).

Na história natural da infecção pelo HBV cerca de 30% dos indivíduos

portadores crônicos evoluem para formas graves de doença hepática terminal, tanto

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por descompensação da doença de base com complicações do grau de fibrose ou

hepatocarcinoma, em aproximadamente 30 anos (57,58).

O fato de nenhum dos pacientes incluídos apresentar evidencias clinicas de

cirrose ou fibrose avançada, mesmo com relatos de elevado índice de alcoolismo

entre os indígenas da região (59), confirma a ideia de que nesta população a dinâmica

de transmissão do HBV não se dê tão próximo do domicilio nem tão alargada como

no vale do rio Purus (54) e do Javari (35) e que ocorra principalmente por volta dos 25

anos de idade.

Entre nativos da Groenlândia também é descrita situação semelhante, em que

as elevadas taxas de prevalência de infecção pelo HBV e HDV não correspondem a

ocorrência também elevada de pacientes com hepatopatias crônicas de natureza viral

(60).

A utilização de testes diagnósticos de fácil aplicabilidade e resultado rápido no

rastreamento de doenças infecciosas têm demonstrado desempenho satisfatório e

importante impacto em ações de saúde púbica no diagnóstico em massa de

enfermidades como sífilis e infecção pelo HIV em grupos populacionais, inclusive em

nossa região (61).

O fundamento do emprego dos testes rápidos na prática médica está na

possibilidade de tomadas de decisões imediatas de intervenções, tanto a nível

individual promovendo um desfecho favorável ao paciente, quanto em decisões que

possam estabelecer políticas de saúde pública frente a um agravo. O foco principal

na avaliação de sua eficácia não seria a tecnologia empregada que pode variar de

metodologias muito simples a técnicas sofisticadas de biologia molecular, e sim, nos

programas de saúde pública que empregam esta ferramenta e compulsoriamente

devem considerar questões relativas tanto ao instrumento quanto aos seus usuários

e lugares onde os testes podem ser realizados (62).

Nosso estudo é revelador no sentido de que permite visualizar as vantagens e

desvantagens da utilização desta ferramenta em inquéritos soro-epidemiológicos,

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situação que difere originalmente e operacionalmente de programas de rastreamento

de doenças em grupos populacionais específicos.

O teste empregado VIKIA® HBsAg, da BioMérieux SA é distribuído pelo

Ministério da Saúde (MS) para uso em Centros de Testagem e Aconselhamento

(CTA´s), como também, fora do ambiente laboratorial e o fabricante declara

sensibilidade e especificidade de mais de 90% (48). A decisão de empregá-lo em

forma de inquérito epidemiológico possibilitou definir padrão epidemiológico de

importante problema de saúde pública nos três países da região e até então

desconhecido entre os Tikunas e Kokamas do lado brasileiro da fronteira.

Nossos dados sugerem situação em que, em determinadas aldeias os

procedimentos operacionais padrões inerentes ao teste talvez não tenham sido

executados de maneira adequada superestimando as taxas de prevalência.

Entendemos que em programas que envolvam trabalho de campo de grande

magnitude como o realizado pelo DSEI do Alto Rio Solimões deve ser investido tempo

e recursos em treinamento de pessoal e supervisão. Ocorrência semelhante é descrita

em validação de teste rápido de sífilis e HIV na região (61).

Historicamente inquéritos populacionais desenhados para delinear padrão

epidemiológico da infecção pelo HBV têm trabalhado dois parâmetros básicos: estimar

a proporção de indivíduos em risco de doença, os portadores do HBsAg, e a proporção

de indivíduos com perfil de infecção passada resolvida que define o espectro de

circulação do vírus (54).

Fica evidente em nosso estudo que a ferramenta dos testes rápidos seja

excelente em definir a questão dos possíveis doentes, embora esforços gigantescos

em aplicação do teste em população geral não poderão jamais definir com perfeição

o padrão de circulação do vírus ou o impacto do programa de vacinação.

A avaliação da resposta do DSEI frente as respostas do inquérito talvez tenha

sido o objetivo mais difícil de cumprir. Acreditamos que a avalição do impacto de

medidas de intervenção além de utilizar como instrumento fluxogramas de atividades

estabelecidos por órgãos reguladores devam também considerar aspectos relativos a

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infraestrutura, custos operacionais e parcerias estabelecidas, por exemplo. Inclusive

existe o consenso de que esses aspectos devam constar no planejamento de

programas de testagem rápida (62). Ficou claro com nossos resultados que a

estratégia de resgate para o atendimento dos portadores identificados ficou

prejudicada em todas as fases pós teste rápido inclusive na condução burocrática dos

casos.

A epidemiologia do HBV está em transformação depois da introdução da

vacinação nos programas nacionais de imunizações no mundo inteiro. São relatadas

reduções significativas nas taxas de portadores crônicos do HBV, inclusive diminuição

na ocorrência de cirrose hepática e câncer de fígado (63–65), embora em algumas

regiões de elevada prevalências como na Amazônia brasileira este fenômeno não

tenha sido tão marcante (31,54). Acreditamos que podemos avaliar novas abordagens

de pesquisa epidemiológica, principalmente em populações vulneráveis em regiões

de difícil acesso e elevada endemicidade, que justifique programas de testagem

rápida na comunidade em geral.

Embora os testes rápidos para o HBV ainda não consigam quantificar número

de indivíduos com perfil de infecção resolvida naturalmente, nem imunidade passiva,

nossos resultados sugerem que, observados os devidos procedimentos operacionais

padrões do teste, consiste em instrumento extraordinário na definição do padrão de

infecção presente pelo HBV, podendo ser utilizado inclusive em pesquisa com

população geral, ainda que coletas posteriores sejam necessárias para confirmação

e definição do perfil clinico e sorológico. Acreditamos que inquéritos, pincipalmente

em regiões de difícil acesso e com populações vulneráveis, com coletas de amostras

por punção venosas, que envolvam infraestrutura complexa para processamento e

armazenamento sejam cada vez mais raros.

Limitações quanto ao desenho do estudo devem ser apontadas. Apesar dos

dados serem tratados como em um estudo transversal, isto só foi possível pela

magnitude do inquérito que incluiu um quantitativo expressivo e grupos de idade

representativos da população alvo. Com relação à fonte de informações o desenho se

assemelha a um estudo ecológico. Entretanto, como as fichas do inquérito não fazem

parte da burocracia do serviço de informação do DSEI do Alto Rio Solimões e deve

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ter sido pensada como futura fonte de informações, permitiu que a fase de coleta de

dados simulasse preenchimento do instrumento de pesquisa em um estudo de

prevalência onde exposição e doença são investigados no mesmo momento (66).

O inquérito que originou este estudo talvez seja, até o momento, o maior

programa de testagem rápida para Hepatite B realizado em comunidades indígenas.

No entanto, nosso estudo não avalia mais que 10% dessa pupolação. Não teria

sentido realizar um trabalho dessa magnitude se não se tivesse a oportunidade de

avaliar a representatividade dos resultados em relação aos outros polos bases do

DSEI do Alto Rio Solimões.

Considerando que no Polo-Base Filadélfia ficou concentrado a maioria dos

casos detectados (33,5%) e que as taxas de prevalências calculadas com os

resultados dos testes rápidos dos outros Polos-Base do DSEI variaram de (0,09% a

1,86%), índices que figuram dentro do intervalo de confiança da prevalência final

desse estudo, acreditamos que nossos resultados possam espelhar a realidade de

outros Polos-Base.

Este estudo cumpre seu papel nas três frentes de trabalho traçadas nos

objetivos específicos que foram de quantificar e caracterizar a presença do HBV no

Polo-Base Filadélfia no DSEI do Alto Rio Solimões, condição até então desconhecida,

embora seja uma região de fronteira e esteja cercada por grupos populacionais

indígenas ou não com presença marcante do HBV e HDV, bem como descrever a

eficácia do emprego dos testes rápidos de forma ampliada ao nível da comunidade e

avaliar as medidas traçadas no enfrentamento da situação detectada.

A presença do HBV e HDV nos grupos estudados não deve ser interpretada

como situação conveniente e de baixo risco e prioridade, visto que estes agentes

ainda são responsáveis por elevados índices de morbidade e mortalidade em grupos

do Vale do Javari (35) e presença significativa entre gravidas e crianças indígenas da

Amazônia colombiana e peruana (44,51) bem como pela baixa cobertura vacinal

detectada de menos de 70%. Acreditamos que diferenças entre as prevalências do

HBV e HDV frente a outros grupos étnicos têm sido mantidas por questões culturais

e/ou históricas (67).

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A epidemiologia da infecção pelo HBV atualmente é um fenômeno em

transformação tanto pelo impacto das campanhas e programas de vacinação em todo

o mundo, quanto da migração e miscigenação dos povos (67). Este estudo aponta

possíveis mudanças no paradigma dos estudos de base populacional nas fases de

pesquisa de campo e coleta de material biológico que investiguem a presença do HBV

em amostragem probabilística ou de conveniência.

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6 CONCLUSÃO

1- A prevalência do HBsAg foi de 1,2%, caracterizada como de baixa

endemicidade.

2- A prevalência do HDV de 17,2% pode ser considerada importante embora a

presença do vírus esteja restrita a duas aldeias.

3- A presença do HBV e HDV esteve fortemente associada a fatores como

gênero, idade e grupo étnico.

4- Os pacientes avaliados podem ser classificados como portadores

assintomáticos sem sinais clínicos de doenças instaladas.

5- A aplicação do teste rápido se mostrou efetiva na detecção de portadores em

estudo com população geral.

6- As ações de Prevenção e Controle as Hepatites B e D realizadas pelo DSEI do

Alto Rio Solimões foram insuficientes, não atingiram a todos os portadores e

necessitam ser reformuladas.

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8 ANEXOS

Anexo 1

Equipe do estudo

NOME FORMAÇÃO INSTITUIÇÃO ATIVIDADE

Josana Oliveira Figueiredo Enfermeira UEA/FMT-HVD Mestranda

Wornei Silva Miranda Braga Médico UEA/FMT-HVD Orientador

Evandro Wosniak Bispo Enfermeiro

DSEI Alto Rio Solimões

Colaborador

Cintia Mara Costa de Oliveira Bióloga FMT-HVD Colaborador

Márcia da Costa Castilho Bióloga FMT-HVD Colaborador

Maria Luana Cristiny Rodrigues Silva

Médica Veterinária

FMT-HVD Colaborador

João Bosco de Lima Gimaque Farmacêutico-Bioquímico

FMT-HVD Colaborador

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Anexo 2

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Anexo 3

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Anexo 4

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Anexo 5

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Anexo 6

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Anexo 7

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