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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DIANATA JANETE ESPÍNDOLA A NECESSIDADE DO “COMUM ACORDO” PARA AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO COLETIVO COMO FATOR LIMITADOR DO PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO Florianópolis 2014

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

DIANATA JANETE ESPÍNDOLA

A NECESSIDADE DO “COMUM ACORDO” PARA AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO

COLETIVO COMO FATOR LIMITADOR DO PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA

DO TRABALHO

Florianópolis

2014

DIANATA JANETE ESPÍNDOLA

A NECESSIDADE DO “COMUM ACORDO” PARA AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO

COLETIVO COMO FATOR LIMITADOR DO PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA

DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Direito, da

Universidade do Sul de Santa Catarina, como

requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel.

Orientadora: Prof.ª Patrícia Santos e Costa, Ms.

Florianópolis

2014

RESUMO

A presente monografia dedica-se ao estudo da controvérsia instaurada pela Emenda

Constitucional nº 45 de 2004, que passou a exigir a concordância mútua entre as partes para o

ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica, bem como a limitação do Poder

Normativo após a nova redação do §2º do art. 114 da Constituição Federal. Tal Emenda

Constitucional, conhecida como Reforma do Judiciário, trouxe inúmeras alterações para a

Justiça do Trabalho. Dentre elas, a mais significativa e que gerou vários posicionamentos

doutrinários e jurisprudenciais está relacionada a nova exigência de comum acordo para

instaurar os dissídios coletivos econômicos. Dessa forma, o primeiro capítulo, introduziu o

tema, abordando o conceito, histórico e princípios do direito coletivo do trabalho. Tratou-se

ainda dos aspectos relacionados à Justiça do Trabalho e do Poder Normativo, com destaque às

mudanças advindas após a Emenda Constitucional n.º 45. Em sequência, buscou-se analisar

os conflitos coletivos de trabalho e as formas previstas no ordenamento jurídico para a sua

resolução, evidenciando-se o dissídio coletivo. Ademais, verificou-se que a expressão comum

acordo, prevista no § 2º do art. 114 da Constituição Federal, para parte da doutrina é um

pressuposto processual ou condição da ação, enquanto outros sustentam ser uma

inconstitucionalidade esta exigência, traduzindo-se como uma limitação ao exercício do Poder

Normativo da Justiça do Trabalho. Por fim, para elaboração do estudo, utilizou-se o método

dedutivo, com técnica de pesquisa bibliográfica por meio de consulta de livros, artigos

científicos e pesquisa documental, com base na legislação brasileira e jurisprudências.

Palavras-chave: Direito Coletivo do Trabalho. Poder Normativo. Dissídio Coletivo. Comum

Acordo.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 8

2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO...................................................................... 10

2.1 CONCEITO DO DIREITO COLETIVO ......................................................................... 10

2.2 BREVE HISTÓRICO ...................................................................................................... 11

2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO ......................................... 15

2.3.1 Princípios assecuratórios da existência do ser coletivo obreiro ................................ 16

2.3.1.1 Princípio da liberdade associativa e sindical .............................................................. 16

2.3.1.2 Princípio da autonomia sindical ................................................................................... 17

2.3.2 Princípios regentes das relações entre os seres coletivos trabalhistas .................... 18

2.3.2.1 Princípio da interveniência sindical na normatização coletiva ................................... 18

2.3.2.2 Princípio da equivalência dos contratantes coletivos ................................................. 19

2.3.2.3 Princípio da lealdade e transparência na negociação coletiva ...................................... 19

2.3.3 Princípios regentes das relações entre normas coletivas negociadas e normas

estatais ..................................................................................................................................... 20

2.3.3.1 Princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva ............................................ 20

2.3.3.2 Princípio da adequação setorial negociada ................................................................... 21

2.4 JUSTIÇA DO TRABALHO ............................................................................................ 21

2.4.1 Funções da Justiça do Trabalho ................................................................................... 22

2.4.2 Estrutura da Justiça do Trabalho ................................................................................ 23

2.5 PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO .............................................. 24

2.5.1 O Poder Normativo da Justiça do Trabalho antes da edição da Emenda

Constitucional nº 45 de 2004 .................................................................................................. 26

2.5.2 Alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004 no Poder

Normativo da Justiça do Trabalho ....................................................................................... 28

3 CONFLITOS TRABALHISTAS .................................................................................... 32

3.1 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO .................................................................................... 32

3.2 MECANISMOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS COLETIVOS TRABALHISTAS

34

3.2.1 Autotutela ....................................................................................................................... 35

3.2.1.1 Greve ............................................................................................................................ 36

3.2.1.2 Locaute ......................................................................................................................... 37

3.2.2 Autocomposição ............................................................................................................. 37

3.2.2.1 Negociação Coletiva ..................................................................................................... 38

3.2.2.1.1 Funções e Espécies .................................................................................................... 39

3.2.2.1.2 Legitimidade .............................................................................................................. 40

3.2.2.1.3 Conteúdo .................................................................................................................... 41

3.2.2.1.4 Procedimento ............................................................................................................. 42

3.2.3 Heterocomposição .......................................................................................................... 43

3.2.3.1 Arbitragem .................................................................................................................... 44

3.2.3.2 Jurisdição ...................................................................................................................... 45

3.2.3.3 Mediação ...................................................................................................................... 45

3.2.3.4 Conciliação ................................................................................................................... 46

3.3 DISSÍDIOS COLETIVOS ............................................................................................... 47

3.3.1 Conceito .......................................................................................................................... 47

3.3.2 Classificação ................................................................................................................... 48

3.3.3 Legitimidade .................................................................................................................. 49

3.3.4 Competência ................................................................................................................... 49

3.3.5 Pressupostos de Cabimento .......................................................................................... 50

3.3.6 Procedimento ................................................................................................................. 52

3.3.7 Cláusulas ........................................................................................................................ 53

3.3.8 Sentença Normativa ...................................................................................................... 54

3.3.9 Recursos .......................................................................................................................... 55

4 NECESSIDADE DO “ COMUM ACORDO” PARA AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO

COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA .................................................................... 56

4.1 A EXPRESSÃO “COMUM ACORDO” ........................................................................... 56

4.2 AFRONTA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL .................................................................... 60

4.3 PRESSUPOSTO PROCESSUAL X CONDIÇÃO DA AÇÃO ......................................... 70

4.4 LIMITAÇÃO DO PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO .................. 76

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 81

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 83

8

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a problemática da necessidade do

comum acordo para o ajuizamento dos dissídios coletivos de natureza econômica, bem como

a posição da doutrina e jurisprudência no que tange a limitação do Poder Normativo da Justiça

do Trabalho, frente à necessidade de mútuo consentimento das partes.

Em que pese a alteração legislativa ter ocorrido no ano de 2004, com o advento da

Emenda Constitucional n.º 45, o tema é atual e de suma importância. Devido à exigência

imposta pela nova redação do art. 114, §2º da Constituição Federal somado ao fraco

sindicalismo existente no Brasil, onde a maioria das categorias profissionais não tem força

para negociar em patamar de igualdade com a classe econômica, impor a concordância mútua

para ajuizar o dissídio coletivo afeta a possibilidade do conflito chegar ao Poder Judiciário

Trabalhista para a resolução do impasse.

Logo, as teses levantadas pela doutrina e jurisprudência divergem nos

fundamentos e conclusões, levando a diferentes posicionamentos sobre o tema.

Há quem defenda que condicionar o ajuizamento do dissídio coletivo à

concordância do suscitado afeta frontalmente o direito de acesso à Justiça, consagrado no art.

5º, XXXV, da Constituição Federal. Cumpre registrar que sobre esse aspecto, houve o

ajuizamento de cinco Ações Diretas de Inconstitucionalidade, todas ainda pendente de

julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.

Por outro lado, há quem sustente ser um pressuposto processual ou uma condição

da ação, podendo, entretanto, ser suprida expressa ou tacitamente pela concordância do

suscitado.

Assim, considerando o tema proposto, para melhor compreensão, o estudo

repartiu-se em cinco capítulos. O primeiro capítulo reporta-se a introdução do presente

trabalho. O segundo aborda aspectos relacionados ao Direito Coletivo do Trabalho, tais como

conceito, histórico, princípios, e características concernentes à função e estrutura da Justiça do

Trabalho. Ainda neste, foi dado enfoque ao Poder Normativo destacando-se as mudanças

ocorridas após o advento da Emenda Constitucional n.º 45 de 2004.

O terceiro capítulo, por sua vez, trata dos conflitos coletivos trabalhistas e os

métodos de resolução previstos no ordenamento jurídico brasileiro. Enfatizou-se a negociação

coletiva, seu conceito, funções e espécies, legitimidade, conteúdo, bem como os

procedimentos adotados. No mais, destacou-se, o dissídio coletivo, seu conceito,

9

classificação, legitimidade, competência, pressupostos de cabimento e procedimento que deve

ser observado, e ao final, as cláusulas, sentença normativa e recursos cabíveis.

O quarto capítulo, objeto principal da presente monografia, apresenta a

controvérsia existente na doutrina e jurisprudência acerca da necessidade do comum acordo

para ajuizamento dos dissídios coletivos de natureza econômica, abordando as opiniões dos

doutrinadores no que se refere a expressão e a divisão em tópicos a respeito das principais

teses levantadas sobre o tema.

Será demonstrado que a necessidade do comum acordo para parte da doutrina é

considerado um fator que limita o acesso das categorias fragilizadas ao Judiciário trabalhista,

tendo em vista a dificuldade de consentimento das partes em ajuizar o dissídio coletivo após o

procedimento de negociação coletiva e a discordância presente entre os envolvidos.

Por fim, para a elaboração deste estudo, o método utilizado foi o dedutivo, com

técnica de pesquisa bibliográfica através de consultas de livros, artigos científicos, que

abordam o tema em análise, e pesquisa documental, com base na legislação brasileira e

jurisprudências.

10

2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

No presente capítulo serão apresentados tópicos atinentes ao conceito, histórico e

princípios basilares do Direito Coletivo do Trabalho, bem como a estrutura e funções da

Justiça do Trabalho.

Por fim, serão demonstrados aspectos relativos à Emenda Constitucional n.º 45 de

2004 e o Poder Normativo, destacando-se as principais mudanças ocorridas no ordenamento

jurídico pátrio.

2.1 CONCEITO DO DIREITO COLETIVO

Direito coletivo do trabalho “é o segmento do Direito do Trabalho encarregado de

tratar da organização sindical, da negociação coletiva, dos contratos coletivos, da

representação dos trabalhadores e da greve”. (MARTINS, 2012, p. 724).

Para Martins Filho, o direito coletivo do trabalho estuda as relações coletivas de

trabalho, baseado nas negociações coletivas representadas por suas entidades sindicais,

gerando os instrumentos normativos, que acrescem ou flexibilizam os direitos já previstos em

lei. (MARTINS FILHO, 2009).

Também chamado de direito sindical, é assim conceituado por Nascimento:

Direito coletivo do trabalho, para muitos direito sindical, é o ramo do direito do

trabalho que disciplina as organizações sindicais, sua estrutura, suas relações

representando as categorias profissionais e econômicas, os conflitos coletivos, tudo

segundo um princípio pluralista de formação da ordem jurídica. (NASCIMENTO,

2009, p. 421).

No mesmo sentido, Delgado afirma que o direito coletivo do trabalho é um

conjunto de regras, princípios e regulamentações que se aplicam aos seres coletivos

trabalhistas, sendo de um lado os empregados representados pelos sindicatos dos

trabalhadores e de outro os empregadores, que atuam isolados ou por meio dos sindicatos

patronais. (DELGADO, 2013).

Ao diferenciar o direito individual e o direito coletivo do trabalho, Gomes e

Gottschalk, ensinam que as normas elaboradas pelo Estado reguladoras do direito individual

do trabalho são aplicativas e criam para os indivíduos direitos subjetivos. Já as normas

concernentes ao direito coletivo, são instrumentais, uma vez que fornecem ao grupo os

dispositivos adequados à autocomposição de seus interesses. Assim, na visão dos autores o

11

direito coletivo do trabalho propicia a organização dos grupos e as regras aplicáveis no âmbito

de suas relações. (GOMES; GOTTSCHALK, 2011).

O direito coletivo do trabalho ensina Martins, se opõe ao direito individual do

trabalho, já que este como regra geral, trata do contrato de trabalho, enquanto o direito

coletivo visa sobre as relações coletivas que serão aplicáveis aos contratos de trabalho.

(MARTINS, 2012).

A propósito, evidencia-se o entendimento do autor:

O Direito, de fato, é feito para a sociedade, num sentido genérico, porém o Direito

Coletivo do Trabalho, como parte do Direito do Trabalho, não vai tratar de regular

todas as situações da sociedade, mas apenas aquelas regras coletivas que serão

observadas em decorrência do contrato individual do trabalho e da organização

sindical, dai porque se trata de um segmento do Direito do Trabalho. (MARTINS,

2012, p. 723).

No tocante aos sujeitos das relações coletivas de trabalho, Nascimento afirma que

são relações jurídicas que têm como sujeitos os sindicatos de trabalhadores e os sindicatos de

empregadores ou grupos e como causa a defesa dos interesses coletivos dos membros desses

grupos. (NASCIMENTO, 2009).

2.2 BREVE HISTÓRICO

Sobre a história geral do Direito do Trabalho, Nascimento ensina que na

sociedade pré-industrial “predominou a escravidão, que fez do trabalhador simplesmente uma

coisa, sem possibilidade sequer de se equiparar a sujeito de direito. O escravo não tinha, pela

sua condição, direitos trabalhistas”. (NASCIMENTO, 2007, p. 43).

Ensina Barros que após a queda do Império Romano, as relações autônomas de

trabalho foram sendo substituídas por um regime heterônomo, cuja manifestação se deu no

segundo período da época medieval, com as corporações de ofício. (BARROS, 2013).

A respeito do funcionamento das corporações de ofício, Nascimento aponta em

sua análise:

Como entes econômicos e profissionais, reuniam empregadores (mestres),

trabalhadores (companheiros) e menores, os aprendizes, estes recebendo daqueles

ensinamentos metódicos de uma profissão. Uma corporação era o verdadeiro núcleo

de uma classe produtora, e, nesta, os mestres eram proprietários de uma oficina ou

de um negócio lucrativo, os companheiros eram os prestadores dos serviços, e os

aprendizes eram crianças ou adolescentes que procuravam treinamento para uma

profissão. (NASCIMENTO, 2005, p. 42).

12

Todavia, como bem destaca o autor, em razão das corporações manterem com os

trabalhadores uma relação autoritária, destinadas mais a realização dos interesses do que a

proteção dos trabalhadores acabou por levar a sua extinção. (NASCIMENTO, 2005).

A respeito do desaparecimento das corporações, Martins explica que acabou

levando ao surgimento dos sindicatos, pois, foram criadas primeiramente como forma de

reunião dos trabalhadores, com o objetivo de melhorar as condições de vida. Entretanto, a

forma de funcionamento em que os mestres determinavam tudo, cessando a união existente,

deu lugar ao descontentamento, surgindo assim, as reivindicações dos aprendizes e

companheiros. (MARTINS, 2012).

Nesse sentido, Barros afirma que diversos fatores contribuíram para o

enfraquecimento e desaparecimento das corporações. A propósito retira-se de sua obra:

Em 1776, promulgou-se o Edito de Turgot, extinguindo as corporações. Algumas

foram mantidas, dada a pressão exercida por certos mestres, mas com limitações.

Finalmente, a lei Chapelier, de 1791, extinguiu-as definitivamente, como se infere

de seu art. 7º que dispõe: “a partir de 1º de abril, todo homem é livre para dedicar-se

ao trabalho, profissão, arte ou ofício que achar conveniente, porém estará obrigado a

prover-se de uma licença, a pagar impostos de acordo com as tarifas de seguintes e a

conformar-se com os regulamentos da polícia que existam ou que se expeçam no

futuro”. (BARROS, 2013, p.49).

No tocante a Lei Le Chapellier, destacam-se as palavras de Martins:

Na França, a Lei Le Chapellier, de 17-7-1791, proibia que “os cidadãos de um

mesmo estado ou profissão tomassem decisões ou deliberações a respeito de seus

pretensos interesses comuns”. O Código de Napoleão, de 1810, também punia a

associação de trabalhadores. Em 1810, havia a Chambre Syndicates du Bâtiment de

La Saint Chapelle. Sindicato era a organização. Só se observa a liberdade de

associação dos trabalhadores a partir de 1884, quando foi reconhecida. (MARTINS,

2012, p. 725).

Dessa forma, o fim das corporações de ofício influenciou o surgimento dos

sindicatos, cujo berço, afirma Martins, foi a Inglaterra, onde formaram-se associações de

trabalhadores em 1720, com intuito de reivindicar melhores condições de trabalho e salários,

bem como a limitação da jornada de trabalho. (MARTINS, 2012).

Para Giglio e Corrêa o direito coletivo do trabalho surgiu somente após a eclosão

dos primeiros conflitos coletivos do trabalho, no início da revolução industrial, em que

trabalhadores, empresários, Estado e cientistas sociais passaram a tentar encontrar a maneira

ideal de solucionar os conflitos. (GIGLIO; CORRÊA, 2007).

A primeira fase de desenvolvimento das associações sindicais foi extremamente

difícil, pois, não era reconhecida sua validade pelas ordens jurídicas da época. Trata-se da fase

13

de proibição sindical, eventualmente acoplada com a própria criminalização da prática de atos

sindicais. (DELGADO, 2013).

No tocante a fase de proibição sindical, Barros aponta em sua análise:

A pretexto de que todas as associações implicavam perturbação às relações entre os

indivíduos e entre estes e o Estado, o liberalismo proibiu as uniões com espírito de

classe ou proteção mútua. Foram elas consideradas crime pelo Código Penal francês

de 1819 (Código de Napoleão). Tem-se, portanto, a fase proibição do Direito

Sindical, iniciada com a Lei Chapelier. Em seguida, há uma fase de tolerância,

quando esse delito é suprimido, seguindo-se a fase de reconhecimento do direito de

associação, admitido na Inglaterra, em 1824, e concretizado nas Trades Unions,

fundadas em 1833, por Robert Qwen, passando por várias vicissitudes. (BARROS,

2013, p. 961).

Todavia, adverte Barros, que mesmo diante da proibição, “o espírito de

solidariedade e a tomada de consciência coletiva permitiram que se realizasse, mesmo que

clandestinamente, reuniões passageiras visando a melhores condições de trabalho”.

(BARROS, 2013, p. 962).

Segundo Martins “o direito de associação, na Alemanha, foi admitido

expressamente pela Constituição de Weimar, de 1919, tendo sido a primeira constituição a

tratar da matéria trabalhista e do direito coletivo do trabalho”. (MARTINS, 2012, p. 725).

Porém, somente “após o término da Primeira Guerra Mundial, o direito de

sindicalização surgiu concretamente no art. 427, II, do Tratado de Versalhes, tanto para os

assalariados como para os patrões, desde que não contrariassem as leis”. (BARROS, 2013, p.

967).

No Brasil, ensina Nascimento que os primeiros sindicatos foram denominados de

ligas operárias com surgimento em 1800 e início de 1900, sob influência dos estrangeiros que

migraram para o Brasil.(NASCIMENTO, 2007).

O movimento sindical no Brasil foi mais lento do que na Europa, em razão da

predominância do trabalho servil agrícola que não era propício às associações de

trabalhadores. (BARROS, 2013).

Sobre a evolução do direito coletivo brasileiro, Barros aponta em sua análise:

A Constituição de 1824 (Constituição do Império) consagrou a liberdade de trabalho

e, no art. 179, XXV, aboliu as corporações de ofício, não fazendo nenhuma menção

aos institutos de Direito Coletivo. A Constituição Republicana de 1891 também não

faz alusão ao Direito Coletivo; apenas assegura, no art. 72, §8º, a liberdade de

associação, sem armas. (BARROS, 2013, p. 963).

14

No entendimento de Nascimento, a organização sindical não evoluiu muito desde

1934. Apenas modificou-se no curso da evolução das Constituições. (NASCIMENTO, 2009,

p. 1198).

Com efeito, a Constituição de 1934, alterou as diretrizes da organização sindical

brasileira, sendo a primeira a tratar em seu art. 120 que os sindicatos e associações

profissionais seriam reconhecidos de acordo com a lei. (BARROS, 2013).

Por sua vez, a Constituição de 1937, inspirando-se na Carta del Lavoro da Itália

(1927), expressou a concepção da política do Estado Novo e as restrições do movimento

sindical:

[...] expressou a concepção política do Estado Novo e as restrições ao movimento

sindical, segundo a ideia de organização da economia pelo Estado, com um

Conselho Nacional de Economia, o enquadramento de sindicatos em categorias

definidas pelo Estado, a proibição de mais de um sindicato dos trabalhadores na

mesma categoria e base territorial, e a proibição da greve, que foi considerada um

recurso anti-social e nocivo à economia. (NASCIMENTO, 2007, p. 50).

A Constituição de 1946, por sua vez, considerada democrática em virtude de ter

sido votada em Assembleia Nacional Constituinte e não imposta como a Lei Maior anterior,

estabelecia em seu art. 159 que era livre a associação profissional ou sindical, devendo ser

regulada por lei a forma de sua constituição, representação legal nas convenções coletivas de

trabalho e o exercício de funções delegadas pelo Poder Público. (MARTINS, 2012).

Ainda, Martins afirma:

A lei ordinária poderia tratar da unidade ou da pluralidade sindical, dependendo do

critério que o legislador viesse a adotar, tendo a CLT sido recepcionada pela

Constituição, com seu sistema de unicidade sindical. O sindicato continuava a

exercer a função delegada de poder público. Reconhecia-se o direito e greve, que

seria regulado em lei. Logo, não mais se considerava a greve como recurso

antissocial e nocivo ao trabalho, como ocorria na Constituição de 1937. (MARTINS,

2012, p. 737).

No tocante a Constituição de 1967, foi assegurado a liberdade de associação

profissional, à semelhança da Constituição de 1946:

Entre as funções delegadas, cujo exercício era regulado em lei, compreende-se a de

arrecadar contribuições para o custeio das atividades dos órgãos sindicais. O voto

nas eleições sindicais torna-se obrigatório, e o direito de greve é assegurado no art.

158, XXI, exceto nos serviços públicos e nas atividades essenciais definidas em lei

(art. 157, §72). (BARROS, 2013, p. 964).

Finalmente com o advento da Constituição de 1988, após vinte anos de ditadura

militar, foi consagrada a liberdade de associação profissional, não podendo o Estado exigir

15

autorização para a fundação dos sindicatos, apenas o registro sindical. (GOMES;

GOTTSCHALK, 2011).

A respeito da importância da Constituição de 1988 para o sindicalismo brasileiro

Delgado afirma que foi, sem sombra de dúvidas, o início da transição para a democratização

do sistema sindical no Brasil, já que afastou as regras marcantes de autoritarismo do antigo

modelo e preservou outras características significativas de sua matriz. (DELGADO, 2013, p.

1369).Assim, no entendimento do autor a Constituição de 1988:

[...] afastou a possibilidade jurídica de intervenção e interferências político-

administrativas do Estado, via Ministério do Trabalho e Emprego, no sindicalismo

(art. 8º, I, CF/88). Reforçou o papel dos sindicatos na defesa dos direitos e interesses

coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais e

administrativas (art. 8º, III, CF/88). Alargou os poderes da negociação coletiva

trabalhista, sempre sob o manto da participação sindical obreira (art. 8º VI; art. 7º

VI, XIII, XIV, e XXVI, CF/88). (DELGADO, 2013, p. 1369).

Por fim, a Constituição de 1988 trouxe a valorização do direito coletivo do

trabalho, com a “proibição interferência do Poder Público na organização sindical, embora

mantendo o sistema do sindicato único”, sendo um importante avanço para a abertura sindical

no Brasil. (NASCIMENTO, 2007, p. 50).

2.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

Antes de adentrar nos princípios específicos do direito coletivo do trabalho,

importante destacar o conceito extraído da doutrina, o qual afirma que “princípios jurídicos

são valores que o Direito reconhece como ideias fundantes do ordenamento jurídico, dos

quais as regras jurídicas não devem afastar-se para que possam cumprir adequadamente os

seus fins”. (NASCIMENTO, 2007, p.111).

O direito coletivo do trabalho é dotado de uma específica principiologia:

A principiologia aplicável às relações coletivas de trabalho, como mandamento

básico, enfocará o princípio da liberdade sindical. Além dele, serão estudados os

princípios decorrentes do exercício da atividade sindical, inicialmente os princípios

aplicáveis às relações coletivas de trabalho e, em seguida, os princípios

relacionados aos instrumentos coletivos negociados. (MARTINEZ, 2013, p. 714,

grifo do autor).

Os princípios do Direito Coletivo do Trabalho, segundo ensina Delgado,

“constroem-se em torno da noção de ser coletivo e das prerrogativas e papéis assumidos por

tais sujeitos no contexto de suas relações recíprocas e em face dos interesses que

representam”. (DELGADO, 2013, p. 1340).

16

Por fim, cumpre esclarecer que os princípios condutores do direito coletivo do

trabalho apresentam diversas repartições adotadas pelos doutrinadores da área.

Contudo, a elaboração do presente trabalho será amparada pela divisão de

Maurício Godinho Delgado, cuja repartição versa sobre os princípios assecuratórios da

existência do ser coletivo obreiro, dos princípios regentes das relações entre os seres coletivos

trabalhistas e, por fim, os princípios norteadores das relações entre normas coletivas

negociadas e normas estatais, que serão brevemente tratados a seguir.

2.3.1 Princípios assecuratórios da existência do ser coletivo obreiro

A primeira divisão dos princípios do Direito Coletivo do Trabalho adotada por

Delgado, “visa assegurar a existência de condições objetivas e subjetivas para o surgimento e

afirmação da figura do ser coletivo”. (DELGADO, 2013, p. 1342).

Para tanto, abrangem, principalmente, os princípios da liberdade associativa e

sindical e autonomia sindical, que serão tratados a seguir.

2.3.1.1 Princípio da liberdade associativa e sindical

A liberdade sindical é um dos direitos básicos do trabalhador.

Nas palavras de Garcia “é o princípio que fundamenta toda a organi ação sindical

da atualidade, pautada pela democracia nas relações coletivas de trabalho”. (GARCIA, 2012,

p. 1218).

Segundo afirma Reis, a liberdade sindical é a espinha dorsal do Direito Coletivo

pautado por um Estado Social e Democrático de Direito, que veda a intervenção do Estado na

criação ou funcionamento do sindicato. (REIS, 2008).

Georges Spryropoulos citado por Barros afirma:

A liberdade sindical constitui o alicerce “sobre o qual se constrói o edifício das

relações coletivas de trabalho com características próprias”, ela se “sobrepõe ao

indivíduo isolado e implica restrições à liberdade individual, quando submete esse

homem isolado à deliberação do homem-massa que é a assembleia”. (BARROS,

2013. p 970).

Foi o primeiro e mais importante dos princípios constitucionais referentes ao

direito sindical, tendo sido previsto primeiramente na Convenção n. 87 da OIT, cujo objetivo

era a democratização do sindicalismo e sua relação com o Poder Público, tratando

17

especificadamente da liberdade sindical, bem como uma série de garantias sindicais. (HINZ,

2009).

A Convenção n. 87 da OIT, afirma Nascimento, deu projeção mundial a liberdade

sindical, considerando o número de ratificações que recebeu de praticamente todos os países.

Afirma o autor que a liberdade sindical foi fruto de luta do movimento sindical contra a

opressão do Estado, para ter reconhecimento e autonomia frente ao Poder Publico.

(NASCIMENTO, 2005).

Na definição de osé Cl udio Monteiro de Brito Filho (2007, p. 73), citado por

Garcia, a liberdade sindical é o direito de trabalhadores e empregadores de constituir as

organizações sindicais que considerarem convenientes, fixando suas regras de funcionamento.

(GARCIA, 2012).

Seguindo a mesma ordem de ideias Magano afirma que o princípio da liberdade

sindical consiste no direito dos trabalhadores e empregadores de não sofrerem interferências

do poder público, bem como de promover interesses próprios ou dos grupos a que pertencem.

(MAGANO, 2003).

Assim, conclui-se que a liberdade sindical caracteriza-se como o reconhecimento

pela ordem jurídica, “do direito de associação sindical, corol rio do direito de associação;

portanto, liberdade sindical, nessa perspectiva, é o princípio que autoriza o direito de

associação, aplicado ao âmbito trabalhista”. (NASCIMENTO, 2005, p. 144).

2.3.1.2 Princípio da autonomia sindical

A autonomia sindical é uma espécie da liberdade sindical, sendo consagrada na

Convenção n. 87 da OIT, que segundo Barros, pode ser conceituado como “[...] direito de o

sindicato elaborar seus estatutos e regulamentos administrativos, de eleger livremente seus

representantes, de organizar sua gestão e sua atividade e de formular seu programa de ação

(art. 3º)”. (BARROS, 2013, p. 977).

Nas palavras de Delgado referido princípio:

[...] sustenta a garantia de autogestão às organizações associativas e sindicais dos

trabalhadores, sem interferências empresariais ou do Estado. Trata ele, portanto, da

livre estruturação interna do sindicato, sua livre atuação externa, sua sustentação

econômico-financeira e sua desvinculação de controles administrativos estatais ou

em face do empregador. (DELGADO, 2013, p. 1348).

Assim, as dimensões da autonomia sindical demonstram que não somente

compete aos trabalhadores decidirem se vão ou não constituir sindicato, mas também a forma

18

como irão se associar. Ainda, compete-lhes elaborar os atos constitutivos do sindicato, e o

estabelecimento do número de dirigentes e critérios para associação dos representados.

(CUNHA, 2009, p.240).

2.3.2 Princípios regentes das relações entre os seres coletivos trabalhistas

A segunda divisão de que trata a doutrina de Delgado “reporta-se às próprias

relações entre os sujeitos coletivos e aos processos consubstanciadores dessas relações”.

(DELGADO, 2013, p. 1350, grifo do autor).

Abrange assim, os princípios da interveniência sindical na normatização coletiva,

da equivalência dos contratantes coletivos e, por fim, a lealdade e transparência nas

negociações coletivas.

2.3.2.1 Princípio da interveniência sindical na normatização coletiva

Este princípio, assumido pela Constituição de 1988 em seu art. 8º, III e VI, tem

por objetivo assegurar a equivalência dos sujeitos, de forma a evitar a negociação informal

entre trabalhadores e empregadores, sem força de institucionalização democrática do

sindicato. Assim, para ter validade o processo negocial coletivo, deve ocorrer a intervenção

do ser coletivo institucionalizado. No caso do Brasil é o sindicato. (DELGADO, 2013).

A conceituação adotada por Martinez afirma que o princípio da interveniência

sindical obrigatória baseia-se:

[...] no mandamento nuclear segundo o qual a participação da entidade sindical

obreira é indispensável à caracterização da existência de uma relação contratual de

natureza coletiva, não se podendo falar em negociação coletiva senão quando um

dos sujeitos contratantes for, necessariamente, uma entidade sindical de

trabalhadores. (MARTINEZ, 2013, p. 720).

Portanto, de acordo com Delgado qualquer ajuste realizado informalmente entre

empregador e empregado será mera cláusula contratual, não constituindo norma coletiva

negociada, submetendo-se dessa forma a todas as restrições trabalhistas no que concerne às

alterações contratuais, inclusive ao princípio da inalterabilidade contratual lesiva.

(DELGADO, 2013).

Seguindo a mesma ordem de ideias, Martinez explica:

[...] Se os trabalhadores não estiverem acompanhados por sua entidade sindical, não

se poderá falar na existência de negociação coletiva, mas no máximo em negociação

19

plúrima, sem o condão de produzir efeitos ultra partes ou de promover alterações

contratuais coletivas in pejus. (MARTINEZ, 2013, p. 721, grifo do autor).

Dessa forma, o referido princípio, conforme explana Delgado atua como

verdadeiro princípio de resistência trabalhista, pois não pode o ordenamento jurídico dar aos

particulares o poder de criação das normas jurídicas, sem a garantia de que os interesses

sociais estejam sendo resguardados. (DELGADO, 2013).

Conclui-se, segundo Delgado que a efetividade do referido princípio é de suma

importância, já que a presença e atuação dos sindicatos são consideradas na história do Direito

do Trabalho uma das garantias mais importantes alcançadas pelos trabalhadores em suas

relações com o poder empresarial. (DELGADO, 2013).

2.3.2.2 Princípio da equivalência dos contratantes coletivos

O princípio da equivalência dos contratantes coletivos “postula pelo

reconhecimento de um estatuto sócio jurídico semelhante a ambos os contratantes coletivos (o

obreiro e o empresarial)”. (DELGADO, 2013, p. 1352).

Com propriedade explica Martinez:

O princípio da equivalência contratual dos sujeitos coletivos baseia-se no

mandamento nuclear segundo o qual os contratantes, estando em plano de igualdade,

são dotados dos mesmos instrumentos de ação e resistência, passíveis de utilização

no momento de construção do acordo ou da convenção coletiva. (MARTINEZ,

2013, p. 721).

Assim, na concepção do autor diante da equivalência dos contratantes, os mesmos

estão imunes às cláusulas de adesão, estimulando assim, o diálogo para a construção de fontes

autônomas cada vez mais justas razão pela qual, não se pode falar em vulnerabilidade da

representação dos trabalhadores, tampouco em aplicação do princípio da proteção no âmbito

das relações coletivas. (MARTINEZ, 2013).

2.3.2.3 Princípio da lealdade e transparência na negociação coletiva

No referido princípio, Delgado ensina que há duas facetas: lealdade e

transparência, as quais são essenciais no desenvolvimento democrático e eficaz do processo

de negociação coletiva. (DELGADO, 2013).

No entendimento do autor, a lisura nas negociações coletivas deve atingir todas as

partes:

20

A lisura na conduta negocial atinge qualquer das duas partes coletivas envolvidas.

Não de pode aqui, regra geral, invocar o princípio tutelar (próprio ao Direito

Individual) para negar validade a certo dispositivo ou diploma anteriormente

celebrado na negociação coletiva – as partes são teoricamente equivalentes (ao

contrário do que ocorre no ramo justrabalhista individual). (DELGADO, 2013, p.

1355).

Para Bernardes citado por Barros, os princípios da negociação coletiva podem ser

sintetizados em princípio da boa-fé ou da lealdade cuja consequência é:

É o dever formal de negociar, consubstanciado na obrigatoriedade do exame de

propostas recíprocas e na formulação de contrapropostas convergentes devendo-se

sempre discutir as razões da rejeição de determinada cláusula e prestar as

informações necessárias à justificação de suas propostas. (BARROS, 2013, p. 989,

grifo do autor).

Dessa forma, conclui-se que, segundo o referido princípio, os sujeitos que

integram a relação jurídica coletiva devem agir, um em relação ao outro, com lealdade e

transparência, para que suas atitudes possam ser identificadas como sinceras e honestas

perante a sociedade. (MARTINEZ, 2013).

2.3.3 Princípios regentes das relações entre normas coletivas negociadas e normas

estatais

O terceiro e último grupo de princípios do Direito Coletivo do Trabalho

abordados pela doutrina de Delgado diz respeito as relações e aos efeitos das normas coletivas

frente a comunidade e universo jurídicos que atuam. Trata dos princípios que informam os

resultados da negociação coletiva, uma vez que fixam diretrizes no que se refere a sua

validade e extensão. (DELGADO, 2013).

Aborda assim, o princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva e o

princípio da adequação setorial negociada.

2.3.3.1 Princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva

O princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva assegura que os

processos negociais coletivos e seus respectivos instrumentos (contrato coletivo, acordo

coletivo e convenção coletiva de trabalho) têm poder de criar normas jurídicas. (DELGADO,

2013). Em decorrência desse princípio, explica:

[...] a regra coletiva negociada que instituir vantagem trabalhista efetivamente nova,

não tipificada ou regulada por regra heterônoma estatal, pode moldar e reger a

21

estrutura e os efeitos jurídicos da parcela instituída, ainda que restringindo suas

potenciais repercussões nos contratos de trabalho. (DELGADO, 2013, p. 1357).

O princípio da criatividade normativa “[...] baseia-se no mandamento nuclear

segundo o qual os instrumentos coletivos negociados constituem fonte de caráter normativo e

alcance ultra partes”. Para o autor “[...] a força normativa dos contratos coletivos de trabalho

é um produto da própria lei que lhes outorga os atributos da generalidade, da abstração e da

imperatividade por meio do art. 611 da CLT”. (MARTINEZ, 2013, p. 722, grifo do autor).

2.3.3.2 Princípio da adequação setorial negociada

O princípio da adequação setorial negociada trata dos limites e possibilidades da

negociação coletiva. Segundo o princípio, as normas juscoletivas poderão prevalecer sobre

aquelas de padrão geral, desde que respeitados certos critérios objetivos fixados.

(DELGADO, 2013).

No entendimento de Garcia “os referidos instrumentos coletivos podem

estabelecer direitos mais benéficos aos empregados, conforme o princípio da norma mais

favorável, adotado pelo art. 7º, caput, da Constituição Federal de 1988”. (GARCIA, 2012, p.

1208, grifo do autor).

Todavia, no que se refere possibilidade de estabelecer condições de trabalho de

forma prejudicial, Garcia aponta em sua análise, que as normas de proteção da dignidade e

vida do trabalhador, bem como as de ordem pública, condizentes à segurança e saúde no

trabalho, não poderão ser flexibilizadas in pejus, nem mesmo em decorrência de negociação

coletiva. (GARCIA, 2013, grifo do autor).

Conclui-se então, segundo o autor, que a negociação coletiva somente produzirá

fontes juridicamente válidas se estas apresentarem um padrão mais elevado do que aquele

produzido pela lei. Assim, explica que só prevalecerá a norma coletiva se oferecer vantagens

suplementares àquelas constantes da lei. (MARTINEZ, 2013).

2.4 JUSTIÇA DO TRABALHO

Apresentado o conceito, histórico e os princípios basilares do direito coletivo do

trabalho, faz-se necessário abordar os aspectos relativos à Justiça do Trabalho, sua função e

estrutura.

22

Inicialmente, nosso modelo de Justiça do Trabalho, “seguiu o sistema corporativo

italiano, integrado por um juiz togado e dois representantes classistas, um do empregador e

outro do empregado”. (MARTINS, 2012, p. 72).

Os órgãos atuais da Justiça do Trabalho no Brasil, “estruturados com base nas

experiências anteriores da justiça comum e nas origens próprias da ordem trabalhista, foram

constituídos com características peculiares [...]”. (NASCIMENTO, 2012, p. 175).

Na concepção do autor, a Justiça do Trabalho, não foge muito das estruturas

adotadas em todos os tribunais do Poder Judiciário, diferindo, contudo, em alguns aspectos,

com características próprias e inconfundíveis, particularmente quanto ao espírito que preside a

sua atuação. (NASCIMENTO, 2012).

2.4.1 Funções da Justiça do Trabalho

A Justiça do Trabalho “é uma justiça especial, com organização própria no Poder

Judiciário, competente para conhecer de questões trabalhistas [...]”. (NASCIMENTO, 2012,

p. 152).

Nos apontamentos de Martins, a mesma é incumbida de solucionar os conflitos

trabalhistas, tanto os individuais processados nas Varas do Trabalho, quanto os dissídios

coletivos processados nos Tribunais Regionais do Trabalho ou no Tribunal Superior do

Trabalho. (MARTINS, 2012).

Na visão de Leite, em função dos princípios da indeclinabilidade e do devido

processo legal, a jurisdição trabalhista a partir da Constituição Federal de 1988, passou a ser

constituída por três subsistemas:

a) O primeiro subsistema, por nós chamados de jurisdição trabalhista

individual, é destinado aos tradicionais “dissídios individuais” utili ados para a

solução das reclamações (rectius, ações) individuais ou plúrimas, oriundas das

relações de trabalho.

b) O segundo subsistema, que pode ser denominado de jurisdição trabalhista

normativa, é voltado para os dissídios coletivos de interesses, nos quais se busca,

por intermédio do poder normativo exercido originalmente pelos Tribunais do

Trabalho (CF, art. 114, §2º), a criação de normas trabalhistas aplicáveis às partes

figurantes do “dissídio coletivo” e seus representados.

c) O terceiro e último subsistema, por nós cognominado de jurisdição

trabalhista metaindividual, é vocacionado, basicamente, à tutela preventiva

reparatória dos direitos ou interesses metaindividuais, que são os interesses difusos,

os interesses coletivos stricto sensu e os interesses individuais homogêneos. (LEITE,

2012, p. 152, grifo do autor).

Assim, explanada a função que deve ser exercida pela Justiça do Trabalho, passa-

se a análise da sua estrutura no tópico a seguir.

23

2.4.2 Estrutura da Justiça do Trabalho

Historicamente, “a organização da Justiça do Trabalho no Brasil foi inspirada no

sistema dito ‘paritário’ da Itália, que mantinha um ramo especializado do Judiciário na

solução dos conflitos trabalhistas”. (LEITE, 2012, p. 135).

Apesar de a Itália ter abandonado o sistema paritário no período pós-guerra, o

Brasil manteve a mesma estrutura desde a Constituição de 1934, até a Emenda Constitucional

n. 24 de 1999, que acabou por extinguir a representação classista. (LEITE, 2012).

Atualmente, segundo o que dispõe a Constituição Federal de 1988 em seu artigo

111, os órgãos da Justiça do Trabalho, são: (a) o Tribunal Superior do Trabalho, (b) os

Tribunais Regionais do Trabalho e (c) os Juízes do Trabalho.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST), conforme previsto no art. 690 da CLT é a

instância superior da Justiça do Trabalho.

Explica Almeida:

O Tribunal Superior do Trabalho compõe-se de vinte e sete juízes, com a

denominação de Ministros, togados e vitalícios, que são escolhidos entre brasileiros,

de notável saber jurídico e reputação ilibada, com mais de trinta e cinco e menos de

sessenta e cinco anos de idade, e nomeados pelo Presidente da República, após a

aprovação da escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. (ALMEIDA, 2008,

p. 79).

No que se refere à competência do TST, cabe processar, conciliar e julgar, em

grau originário ou em fase de recurso, as demandas individuais e os dissídios coletivos que

excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais, conflitos de direito sindical, bem como

controvérsias que decorrem da relação de trabalho e litígios relativos a cumprimento de suas

decisões, de laudos arbitrais e de convenções e acordos coletivos. (SAAD; SAAD; BRANCO,

2008).

Por fim, destaca-se que o Tribunal funciona em sua composição plena ou divido

em Seções e Turmas. (GIGLIO; CORREA, 2007).

Os Tribunais Regionais do Trabalho, por sua vez, segundo disposto na

Constituição Federal em seu art. 115, “são órgãos de segundo grau de jurisdição compostos

por uí es do Trabalho de carreira, promovidos por antiguidade e merecimento”. (SCHIAVI,

2013, p. 173).

No que se refere à competência, aos Tribunais Regionais do Trabalho, compete

originariamente processar e julgar ações de sua competência, tais como os dissídios coletivos,

24

mandados de segurança e ações rescisórias, bem como em grau recursal julgar os recursos

provenientes das decisões oriundas das Varas do Trabalho. (LEITE, 2012).

Atualmente, existem no Brasil, 24 Tribunais Regionais do Trabalho, sendo um

em cada Estado, à exceção do Estado de São Paulo que possui dois Tribunais Regionais do

Trabalho.

Já as Varas do Trabalho, “são órgãos da primeira instância da ustiça do Trabalho.

A jurisdição da Vara do Trabalho é local, pois abrange, geralmente um ou alguns

municípios”. (LEITE, 2012, p. 141).

Destaque-se que “nas comarcas onde não forem instituídas as varas do trabalho, a

jurisdição trabalhista é exercida por juízes de Direito (art. 112, CF; arts. 658 e segs.,CLT)”.

(JORGE NETO; CAVALCANTE, 2013, p. 131).

Assim, “de acordo com o atual art. 112 da Constituição da República, cabe à lei

criar Varas do Trabalho, podendo, “nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição”, atribuí-

la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho”.

(GARCIA, 2013, p. 68).

Cada vara é composta por um Juiz do Trabalho titular e um substituto, ambos

nomeados pelo Presidente do TRT após aprovação em concurso público. (LEITE, 2012).

A diferenciação entre os juízes titulares e substitutos é definida da seguinte forma:

O Juiz do Trabalho substituto é o que não é titular, pois substitui ou auxilia o Juiz

Titular das Varas do Trabalho. Entretanto, enquanto estiver substituindo ou

auxiliando, tem as mesmas prerrogativas e deveres do Juiz Titular. O Juiz Titular

fica fixo em uma determinada Vara do Trabalho. (SCHIAVI, 2013, p. 172).

Quanto à competência das Varas do Trabalho, em linhas gerais, compete

processar e julgar nos termos do art. 114, I a IX da CF, as ações oriundas das relações de

trabalho e aquelas que não sejam da competência originária dos tribunais trabalhistas.

(LEITE, 2012).

2.5 PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

No Brasil a Justiça do Trabalho é competente para julgar dissídios coletivos de

interesse ou econômicos. (NASCIMENTO, 2012).

Para Martins Filho a matriz do Poder Normativo da Justiça do trabalho é o

“modelo corporativista italiano (“Carta del Lavoro” de Mussolini), que conferia

magistratura do trabalho poder de dirimir conflitos coletivos de trabalho, mediante fixação de

25

novas condições laborais (Lei italiana n.º 563/26, art. 13)”. (MARTINS FILHO, 2013, p. 362,

grifo do autor).

A Justiça do Trabalho, conforme explica Leite é o único ramo do Poder Judiciário

que possui competência para criar normas gerais e abstratas destinadas as categorias

profissionais ou econômicas. (LEITE, 2012).

No entendimento adotado por Schiavi, trata-se de uma competência anômala

conferida à Justiça do Trabalho:

Não se trata apenas de aplicar o direito preexistente, mas de criar, dentro de

determinados parâmetros, normas jurídicas. Por isso, se diz que o poder normativo

da Justiça do Trabalho atua no vazio da lei, ou seja: quando não há lei dispondo

sobre a questão. Em razão disso, a Justiça do Trabalho detém a competência

constitucional para criar normas por meio da chamada sentença normativa.

(SCHIAVI, 2013, p. 1185).

Segundo apontamentos de Giglio e Corrêa, foi atribuída a função de legislar para

os Tribunais do Trabalho, através da criação de normas para a resolução dos conflitos

trabalhistas em razão de estarem mais próximos dos conflitos coletivos eclodidos na

sociedade e ainda, por serem mais qualificados em razão da especialidade na referida matéria.

(GIGLIO; CORRÊA, 2007).

Assim, a competência normativa é o poder que a Justiça do Trabalho tem de

estabelecer regras e condições de trabalho. (MARTINS, 2012).

O poder normativo, na definição adotada por Hinz pode ser conceituado da

seguinte forma:

[...] o poder constitucionalmente conferido aos tribunais trabalhistas para,

executando uma atividade jurisdicional, dirimirem os conflitos laborais mediante o

estabelecimento de novas condições de trabalho, respeitadas as garantias mínimas já

previstas em lei. (HINZ, 2009, p. 141).

Na concepção de Saraiva e Manfredini, o poder normativo consiste:

[...] na competência constitucionalmente assegurada aos tribunais laborais de

solucionar os conflitos coletivos de trabalho, estabelecendo, por meio da

denominada sentença normativa, normas gerais e abstratas de conduta, de

observância obrigatória para as categorias profissionais e econômicas abrangidas

pela decisão, repercutindo nas relações individuais de trabalho. (SARAIVA;

MANFREDINI, 2013, p. 827).

Seguindo a mesma ordem de ideias Almeida, afirma que o Poder Normativo é o

poder que a Constituição Federal atribui aos Tribunais do Trabalho para estabelecer normas e

condições de trabalho com o objetivo de superar o impasse resultante da falta de resolução do

conflito coletivo entre as partes. (ALMEIDA, 2008).

26

Entretanto, como bem destacado por Nascimento, o Poder Normativo, depois de

2004 está em franca discussão, em razão da promulgação da Emenda nº. 45 de 2004.

(NASCIMENTO, 2012).

Assim, para melhor compreensão o tema será objeto de estudo nos tópicos

seguintes.

2.5.1 O Poder Normativo da Justiça do Trabalho antes da edição da Emenda

Constitucional nº 45 de 2004

Para melhor compreensão do estudo, antes de analisar as mudanças que a referida

Emenda Constitucional acarretou para o Poder Normativo da Justiça do Trabalho, faz-se

necessário demonstrar como o mesmo estava introduzido no ordenamento jurídico brasileiro,

antes da promulgação da chamada Reforma do Judiciário.

A inspiração do Poder Normativo no Brasil, segundo afirma Ripper veio da Carta

del Lavoro, de Benedito Mussolini, que conferia à Magistratura o poder de solucionar os

conflitos coletivos de trabalho. (RIPPER, 2005).

A primeira forma de resolução dos conflitos no Brasil foi a conciliação e

arbitragem, realizada pelos Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem , com o fim

de dirimir as divergências entre capital e trabalho, por meio do Dec – Lei n. 1.637, de 1907.

(NASCIMENTO, 2012).

Em 1934, foi instituído pela Constituição (art. 122, parágrafo único) a criação dos

Tribunais do Trabalho, que segundo Nascimento “a ideia era atribuir-lhes competência para

solucionar esses conflitos tendo como instância recursal um tribunal nacional, sistema que

substituiu os órgãos de conciliação de arbitragem”. (NASCIMENTO, 2012, p. 906).

A Constituição transferiu para o legislador ordinário a organização e competência

desses tribunais:

O projeto regulamentador é de 1935, enviado pelo Ministro do Trabalho ao

Presidente da República com o nome de Anteprojeto de Organização da Justiça do

Trabalho, encaminhado à Câmara dos Deputados em 1936, distribuído à Comissão

de Constituição e Justiça, tendo como relator o jurista Waldemar Ferreira, que se

posicionou contrário ao poder normativo proposto para os tribunais por entender

incompatível com uma concepção clássica de jurisdição, no que foi contestado, em

debate pelos jornais, pelo jurista e sociólogo Oliveira Vianna [...] (NASCIMENTO,

2012, p. 907).

27

Todavia, o projeto foi prejudicado pelo regime político de 1937 que dissolveu o

Congresso Nacional, embora suas propostas interessavam ao Estado Novo e à Paz Social.

(NASCIMENTO, 2012).

Martins Filho citado por Ripper aponta que mesmo antes da introdução do Poder

Normativo da Justiça do Trabalho, os conflitos coletivos eram solucionados por meio das

comissões mistas de conciliação detentoras do poder de resolver o impasse por meio da

arbitragem facultativa. (RIPPER, 2005).

Ainda, em seu artigo, Ripper, explica que o Decreto-lei n. 1237 de 1939

regulamentado pelo Decreto n. 6.596 de 1940 criou as Juntas de Conciliação e Julgamento, os

Conselhos Regionais do Trabalho e o Conselho Superior do Trabalho. (RIPPER, 2005).

Para Nascimento os Conselhos Regionais do Trabalho e o Conselho Nacional do

Trabalho, eram dotados de força normativa e extensiva para as suas decisões, abrangendo

assim, toda a categoria profissional. (NASCIMENTO, 2012).

Sobre a criação da Justiça do Trabalho, Nascimento descreve:

Em 1941 foi criada a Justiça do Trabalho, ainda à margem do Poder Judiciário,

porém já com poder normativo nas decisões proferidas em conflitos coletivos

econômicos e jurídicos, incorporada ao Poder Judiciário pela Constituição Federal

de 1946, precedida, dias antes, do Decreto-Lei n. 9.797, sobre dissídios coletivos.

(NASCIMENTO, 2012, p. 907).

Um breve histórico das Constituições, na concepção do autor, auxilia na

compreensão:

A constituição Federal brasileira de 1946, art. 123, atribuiu competência à Justiça do

Trabalho para conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre

empregados e empregadores, dispondo também que “a lei especificar os casos em

que as decisões nos dissídios coletivos poderão estabelecer normas e condições de

trabalho”.

O mesmo critério foi mantido pela Constituição Federal de 1967, art. 134, § 1º, ao

declarar que “a lei especificar as hipóteses em que as decisões, nos dissídios

coletivos, poderão estabelecer normas e condições de trabalho”.

Foi repetido pela Emenda Constitucional de 1969 nos mesmos termos (art. 142, §1º).

(NASCIMENTO, 2012, p. 307).

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o art. 114, § 2º, o

dispositivo passou a declarar:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

[...]

§2º Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos

respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho

estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições convencionadas e legais

mínimas de proteção ao trabalho. (BRASIL, 1988).

28

Por fim, a Emenda Constitucional nº 45 de 2004, alterou o dispositivo

supracitado, mantendo “a exigência da tentativa prévia de negociação coletiva para solucionar

o conflito, como, também, a possibilidade de arbitragem, como já estabelecia a Constituição

Federal de 1988”. (NASCIMENTO, 2012, p. 310).

Todavia, os dissídios coletivos econômicos a partir de 2004, com a EC nº 45,

tornaram-se um sério problema jurídico em razão necessidade de o suscitado concordar com o

ajuizamento, bem como, com a supressão dos vocábulos que constavam na Constituição de

1988, tema que será tratado especificamente no tópico a seguir. (NASCIMENTO, 2012).

2.5.2 Alterações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004 no Poder

Normativo da Justiça do Trabalho

Após longa tramitação no Congresso nacional, foi aprovada a Emenda de

Reforma do Judiciário (EC n. 45, de 8 de dezembro de 2004). (SCHIAVI, 2013).

Explica Teixeira Filho:

Em 8 de dezembro de 2004, após mais de doze anos de discussão e de cerca de

catorze audiências públicas, as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado

Federal, nos termos do § 3º, do art. 60 da Constituição Federal, promulgaram a

Emenda Constitucional n. 45, que introduziu diversas alterações na estrutura do

Poder Judiciário. (TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 379).

A nova redação da Emenda Constitucional n. 45 para o § 2º do art. 114 da CF/88,

trouxe a tona duas novas polêmicas envolvendo o Poder Normativo da Justiça do Trabalho.

(GOMES; GOTTSCHALK 2011).

O artigo 114, §2º da CF/88, passou a adotar a seguinte redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

[...]

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é

facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as

disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas

anteriormente. (BRASIL, 1988).

As mudanças ocorridas no poder normativo após a Emenda Constitucional n. 45

de 2004, de acordo com Nascimento:

Os dissídios coletivos econômicos a partir de 2004 (EC n. 45) tornaram-se um sério

problema jurídico com a exigência legal da concordância do suscitado para a

admissibilidade do processo e com a supressão dos vocábulos que constavam na

29

Constituição de 1988 pela EC n. 45 e que são “criar normas e condições de

trabalho”. (NASCIMENTO, 2012, p. 305).

Com o novo texto constitucional, a expressão decidir o conflito substitui a redação

anterior, estabelecer normas e condições. Essa mudança levou a maioria dos estudiosos a

considerar extinta a competência normativa, entendimento adotado pelos doutrinadores

Gomes e Gottschalk:

[...] pela excelente razão de que só há exercício de poder normativo quando o juízo,

de modo anômalo, legisla, cria norma - exatamente o que lhe era deferido pela

redação alterada do dispositivo constitucional no dissídio de natureza econômica,

ou, mais adequadamente, de interesse. (GOMES; GOTTSCHALK, 2011, p. 718).

Seguindo essa ordem de ideias, afirmam os doutrinadores que “o que agora lhe

defere a alteração da EC nº 45/2004 é o poder ordinário de decidir a ação, pois o tribunal do

trabalho não poderá fazer mais do que, sopesando as pretensões, ficar com uma delas, no todo

ou em parte”. (GOMES; GOTTSCHALK, 2011, p. 718, grifo do autor).

Almeida aponta em sua análise:

Alguns doutrinadores sustentam que a Emenda Constitucional 45/2004, ao não

repetir a expressão “podendo a ustiça do Trabalho estabelecer normas e condições”,

extinguiu o poder normativo da Justiça do Trabalho, substituindo-o por simples

arbitragem oficial facultativa, argumentando que a exigência de concordância das

partes para a instauração do dissídio deixa claro que não trata, o ato de suscitá-lo, do

ajuizamento de uma ação, mas de pedido, de ambas as partes, da intervenção do

Estado, não como julgador, mas como árbitro (o que implicaria, inclusive,

impossibilidade de recurso contra a decisão proferida). (ALMEIDA, 2008, p. 673).

Conforme bem destacado por Hinz, citado por Schiavi, as gritantes diferenças

sociais, políticas e econômicas existentes em nosso país, não permite que Estado, no âmbito

do Judiciário Trabalhista, saia de cena quanto à resolução dos conflitos coletivos trabalhistas,

sob pena de prejudicar as categorias menos organizadas e reivindicativas. Não pode assim, em

razão dos vícios existentes no poder normativo, eliminá-lo, já que é o único meio de progresso

da maioria dos trabalhadores brasileiros. (SCHIAVI, 2013).

Ao dispor que a Justiça do Trabalho decidirá o conflito respeitando as disposições

mínimas legais de proteção ao trabalhador, e as convencionadas anteriormente, a

Constituição, na visão de Almeida:

[...] permite afirmar que, ao julgar o dissídio, o Tribunal estabelecerá normas e

condições de trabalho, exercendo, portanto, poder normativo. Somente na fixação de

normas e condições de trabalho é que poderá o Judiciário observar os limites

impostos à sua atuação de Constituição Federal. (ALMEIDA, 2008, p. 673).

30

Há entendimentos de que as mudanças ocorridas em razão da Emenda

Constitucional instituiu a arbitragem oficial no Brasil, extinguindo-se assim o Poder

Normativo da Justiça do Trabalho. No entendimento de Leite a sentença produzida nos

dissídios coletivos é recorrível, e, portanto, não se equipara a sentença arbitral que é

irrecorrível. Assim, no entendimento do autor, não parece que a EC n. 45/2004 tenha

eliminado o Poder Normativo. (LEITE, 2012).

H , todavia, quem discorde e entenda que “a EC nº 45/04, pelo menos restringiu o

poder normativo, desde quando subtraiu à Justiça do Trabalho a criação de normas e

condições, limitando-a a decidir entre as propostas de criação das partes”. (GOMES;

GOTTSCHALK, 2011, p. 718, grifo do autor).

Para Schiavi “em que pesem os ponder veis argumentos em sentido contr rio,

embora possa ser restringido, o poder normativo ainda se faz necessário, como o último

subterfugio de garantia do equilíbrio na solução justa do conflito coletivo”. (SCHIAVI, 2013,

p. 1188).

A outra discussão gerada pela Emenda Constitucional n.º 45, com a alteração do

mencionado § 2º, está na faculdade de ajuizamento de dissídio coletivo de comum acordo.

(GOMES; GOTTSCHALK, 2011).

Houve inegavelmente uma restrição na competência para criar normas, uma vez

que a referida Emenda trouxe o ajuizamento do dissídio coletivo à existência de comum

acordo das partes. (SCHIAVI, 2013, p. 1188).

A questão, segundo afirmações de Gomes e Gottschalk, “por sua óbvia

complexidade levará muitos anos a ser resolvida, certamente sem convencer a todos, a menos

que o próprio legislador resolva emendar sua emenda, apresentando sua ideia de modo mais

explícito”. (GOMES; GOTTSCHALK, 2011, p. 719).

Portanto, devido sua complexidade e divergências nos fundamentos e conclusões,

o tema é objeto do presente estudo e será abordado oportunamente, com objetivo de

demonstrar as teses levantadas tanto na doutrina quanto na jurisprudência, de forma a

responder o questionamento inicial da presente pesquisa, no que tange a limitação no Poder

Normativo da Justiça do Trabalho frente a necessidade de mútuo consentimento entre as

partes para ajuizar o dissídio coletivo.

31

32

3 CONFLITOS TRABALHISTAS

O presente capítulo terá por objeto discorrer acerca do conceito e classificação dos

conflitos trabalhistas, bem como os métodos previstos no ordenamento jurídico brasileiro para

a sua solução.

Inicialmente, serão analisados os conflitos coletivos de trabalho, destacando seu

conceito e classificação. Após, serão apresentados os métodos utilizados para a resolução dos

conflitos trabalhistas, divididos pela doutrina em autotutela, autocomposição e

heterocomposição.

Por fim, será abordado detalhadamente o dissídio coletivo, objeto principal do

presente estudo.

3.1 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO

Na visão de Schiavi, “não há consenso na doutrina sobre o que seja conflito, mas

este é inerente à condição humana, principalmente em razão da escassez de bens existentes na

sociedade e das inúmeras necessidades do ser humano”. (SCHIAVI, 2013, p.41).

Destaca Schiavi que, por ser o Direito do Trabalho marcado por grande

eletricidade social em razão de sofrer diretamente os impactos das mudanças sociais e

econômicas, é um local farto para o surgimento dos mais variados conflitos de interesses.

(SCHIAVI, 2013).

Entende Nascimento que os conflitos trabalhistas, “nascem em um conjunto de

circunstâncias fáticas, econômicas e outras, como a insatisfação com a própria condição

pessoal, social ou profissional”. (NASCIMENTO, 2009, p. 1307).

Como descrito por Delgado, os conflitos coletivos de trabalho são:

[...] aqueles que atingem comunidades específicas de trabalhadores e empregadores

ou tomadores de serviços, quer no âmbito restrito do estabelecimento ou empresa,

quer em âmbito mais largo, envolvendo a categoria ou, até mesmo, comunidade

obreira mais ampla. (DELGADO, 2013, p. 1330).

Partindo da conceituação acima, Delgado aponta que os conflitos coletivos são

distintos dos conflitos interindividuais, pois tendem a abranger aspectos que são específicos

entre as partes do contrato, sem, regra geral, alcançarem projeção na comunidade circundante,

empresarial e de trabalhadores. (DELGADO, 2013).

33

Em consonância com o exposto, Schiavi aponta que os conflitos trabalhistas

podem surgir tanto na esfera individual como na coletiva:

Na esfera individual, há o chamado conflito entre patrão e empregado,

individualmente considerados, ou entre prestador e tomador de serviços, tendo por

objeto o descumprimento de uma norma positivada, seja pela lei ou pelo contrato.

Já o conflito coletivo trabalhista, também denominado de conflito de grupo ou de

categorias, tem por objeto não somente o descumprimento de normas positivadas já

existentes, (conflito jurídico ou de natureza declaratória), mas também a criação de

novas normas de regulamentação da relação de trabalho (conflitos de natureza

econômica). (SCHIAVI, 2013, p. 42, grifo do autor).

Seguindo essa ordem de ideias, Martins ensina que os conflitos coletivos do

trabalho podem ser econômicos ou de interesse e jurídicos ou de direito:

Os conflitos econômicos são aqueles nos quais os trabalhadores reivindicam novas

condições de trabalho ou melhores salários. Já nos conflitos jurídicos tem-se por

objeto apenas a declaração da existência ou inexistência de relação jurídica

controvertida, como ocorre na decisão em dissidio coletivo em que se declara a

legalidade ou ilegalidade da greve. (MARTINS, 2012, p. 813).

Sobre os conflitos econômicos ou de interesse, Martinez aponta em sua análise,

que dizem respeito à divergência sobre condições que envolvem o ambiente em que é

realizado a prestação dos serviços e o contrato de trabalho, sendo suas repercussões geradoras

de vantagens materiais. Como exemplo claro de conflito econômico cita a pretensão de

reajustamento de salários e distribuição dos lucros e resultados da empresa. (MARTINEZ,

2013).

Quantos aos conflitos jurídicos ou de interpretação, são aqueles em que há

divergência sobre a interpretação de regras ou princípios já existentes. Aponta como exemplo

de conflito jurídico aquele que visa à caracterização do descumprimento de cláusulas

contratuais com o objetivo de autorizar o pagamento de multa avençada entre as partes.

(MARTINEZ, 2013).

Como descrito por Schiavi, surgirá a lide trabalhista quando houver uma

pretensão resistida do trabalhador ou do tomador de serviços, tendo por finalidade a violação

da ordem jurídica trabalhista.(SCHIAVI, 2013).

Logo, segundo Delgado, “o Direito Coletivo do Trabalho estrutura-se em torno

dos seres coletivos trabalhistas, atuando na resolução dos conflitos coletivos no âmbito das

relações laborais”. (DELGADO, 2013, p. 1329).

34

Exposto o conceito e classificação dos conflitos trabalhistas, faz-se necessário

analisar quais os instrumentos previstos no ordenamento jurídico brasileiro para a sua solução,

os quais serão tratados na sequência.

3.2 MECANISMOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS COLETIVOS TRABALHISTAS

Nas diversas fases da história, os conflitos coletivos de trabalho foram resolvidos

de maneiras diferenciadas e alteradas com o tempo. Primeiramente eram resolvidos por

duelos, combates, com a exposição física das pessoas. Após, passaram a ser solucionados pelo

processo, quando então, o direito aprimorou o estudo das técnicas de solução e criou o

conceito de jurisdição, hoje considerado inafastável do Estado Democrático de Direito.

(NASCIMENTO, 2005).

Do art. 114, §§ 1º, 2º e 3º da Constituição Federal, extrai-se que os conflitos

coletivos de trabalho, atualmente, podem ser resolvidos por meio de negociação coletiva,

arbitragem ou dissídio coletivo. (ALMEIDA, 2008).

Assim prevê a Constituição Federal:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

[...]

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é

facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as

disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas

anteriormente.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do

interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo,

competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. (BRASIL, 1988).

Afirma Delgado que os métodos de solução dos conflitos coletivos centralizam-se,

basicamente, em fórmulas de autocomposição e heterocomposição, em que eventualmente,

podem ser utilizadas técnicas de autotutela, como por exemplo, a greve. (DELGADO, 2013).

Na concepção de Nascimento “o primeiro consiste na solução direta entre os

litigantes pela imposição de um sobre o outro. O segundo, na solução também direta, mas não

pela imposição e sim pelo acordo. O terceiro, na solução por uma fonte suprapartes”.

(NASCIMENTO, 2012, p. 39).

A diferença entre os grupos está nos sujeitos que estão envolvidos e na sistemática

adotada pelo processo de solução do conflito. (DELGADO, 2013, p. 1474).

Partindo desse pressuposto o autor aponta em sua análise:

35

[...] nas duas primeiras modalidades (autotutela e autocomposição), apenas os

sujeitos originais em confronto é que tendem a se relacionar na busca da extinção do

conflito, o que da origem a uma sistemática de análise e solução da controvérsia

autogerida pelas próprias partes (na autotutela, na verdade, gerida por uma única

das partes).

Na última modalidade (heterocomposição), ao revés, verifica-se a intervenção de um

agente exterior aos sujeitos originais na dinâmica de solução do conflito, o que

acaba por transferir, em maior ou menor grau, para este agente exterior a direção

dessa própria dinâmica. (DELGADO, 2013, p. 1474, grifo do autor).

Em vista do exposto, para melhor compreensão acerca do estudo, nos tópicos

seguintes serão demonstrados os mecanismos e classificações previstas na legislação

brasileira para a resolução dos conflitos trabalhistas.

3.2.1 Autotutela

Do conceito extraído da doutrina de Schiavi, “a autotutela ou autodefesa é o meio

mais primitivo de resolução dos conflitos em que uma das partes, com utilização da força,

impõe sua vontade sobre a parte mais fraca”. (SCHIAVI, 2013, p. 44).

Ensina Nascimento que “na ordem trabalhista são manifestações de autotutela a

greve, o locaute, o exercício do poder disciplinar do empregador, a autotutela sindical, etc”.

(NASCIMENTO, 2012, p. 40).

Nesse contexto Schiavi, afirma:

Na esfera do conflito coletivo de trabalho, temos como exemplo de autotutela a

greve e o locaute, sendo este vedado no ordenamento jurídico brasileiro pelo art. 17

da Lei n. 7.783/89. Na esfera individual, temos o direito de resistência do empregado

às alterações contratuais lesivas (arts. 468 e 483 da CLT) e o poder disciplinar do

empregador. (SCHIAVI, 2013, p. 44).

Ocorre a autotutela quando o próprio sujeito, unilateralmente impõe seu interesse

à parte contrária e a própria comunidade que o cerca. (DELGADO, 2013).

Não há figura de um terceiro que conduz o litígio, mas somente a imposição da

decisão de uma das partes, regra geral, a mais forte em todos os aspectos (físico, econômico,

político ou social). (LEITE, 2012).

Ao abordar os mecanismos de solução dos conflitos trabalhistas, Martinez faz

uma importante ressalva sobre a autotutela, afirmando que a mesma não se trata de

modalidade de solução de conflito coletivo, mas de instrumento de pressão para o alcance das

reivindicações lançadas nos processos de autocomposição e heterocomposição.

(MARTINEZ, 2013, p. 775).

36

Corroborando as afirmações de Martinez, esse também é o ponto de vista de

Delgado:

Contudo, do ponto de vista prático, este terceiro grupo, (principalmente a greve, uma

vez que o locaute tende a ser vedado) atua mais comumente como instrumento para

pressionar o encontro de uma solução favorável para o conflito através de algumas

das duas fórmulas dominantes, e não como meio próprio de resolução desse conflito

coletivo. (DELGADO, 2013, p. 1330, grifo ao autor).

Em conformidade com os doutrinadores acima citados, Leite afirma que a greve

constitui um meio de autodefesa ou, assim como relatado por outros doutrinadores, um

instrumento de pressão econômica e política, conferido aos trabalhadores para possibilitar a

solução do conflito. (LEITE, 2012).

Dessa maneira, a greve por si só não tem o condão de solucionar o conflito

trabalhista, mas um intermédio para se chegar à autocomposição ou à heterocomposição.

(LEITE, 2012, p. 114).

3.2.1.1 Greve

O conceito jurídico de greve na visão de Nascimento, não apresenta dificuldades,

já que incontroverso sua configuração através da paralisação combinada do trabalho, com o

objetivo de postular uma pretensão frente ao empregador. (NASCIMENTO, 2005).

A Lei n. 7.783/89 traz em seu art. 2º o conceito de greve:

Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a

suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de

serviços a empregador. (BRASIL, 1989).

Hinz, afirma que foi principalmente em função da paralisação dos trabalhadores

na busca de melhores condições de trabalho e de vida que surgiu o direito do trabalho. Para o

autor a greve pode ser definida da seguinte forma:

Mais que um direito, a greve é o mecanismo máximo de autodefesa dos

trabalhadores em face daqueles que detêm os meios de produção. É por meio dela

que os trabalhadores afetarão o ponto mais sensível do empregador, sua produção,

suas atividades, de onde retira se faturamento, seu lucro. (HINZ, 2009, p. 125).

Nas palavras de Barros, a greve “não é simplesmente uma paralisação do trabalho,

mas uma cessação temporária do trabalho, com o objetivo de impor a vontade dos

trabalhadores ao empregador sobre determinados pontos”. (BARROS, 2013, p.1033).

Segundo lições de Martins, a greve é uma suspensão coletiva, pois a suspensão do

trabalho por apenas um dos trabalhadores não constitui greve e poderá dar ensejo a dispensa

37

por justa causa. Trata-se, portanto, de um direito coletivo, sendo que somente o grupo é o

titular do direito. (MARTINS, 2012).

3.2.1.2 Locaute

O locaute, proibido no Brasil, é uma paralisação das atividades econômicas vinda

por parte do empregador, cujo objetivo é frustrar a negociação coletiva ou dificultar o

atendimento das reivindicações dos trabalhadores. (LEITE, 2012, p. 115).

A Lei n. 7.783/1989, em seu art. 17, assim dispõe sobre o locaute:

Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com

o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos

respectivos empregados (lockout). (BRASIL, 1989).

No entendimento de Delgado, o locaute é o fechamento provisório, por parte do

empregador, da empresa, estabelecimento ou ainda, algum de seus setores, com o fim de

acarretar pressão nas reivindicações dos trabalhadores. (DELGADO, 2013).

Ronald Amorim e Sousa citado por Martinez ensina:

O locaute consiste na supressão do trabalho, por ato exclusivo da entidade patronal,

com o objetivo de frustrar uma greve, quando esta se prenuncie ou instale, ou como

retaliação à greve encerrada, sempre com objetivo de exercer pressão aos

trabalhadores para preservar ou melhorar o nível de comprometimento na execução

das regras de convenção coletiva de trabalho. (MARTINEZ, 2013, p. 822).

De acordo com os ensinamentos de Delgado, a paralisação que ocorre no locaute é

temporária, com o objetivo de produzir pressão sobre os empregados, visando enfraquecer ou

frustrar as suas reivindicações ou até mesmo a negociação coletiva. (DELGADO, 2013).

3.2.2 Autocomposição

A autocomposição é a forma de resolução dos conflitos diretamente entre os

sujeitos envolvidos, sem emprego de violência, mediante o acordo de vontades.

(NASCMIMENTO, 2012).

Ocorre, “quando as partes coletivas contrapostas ajustam suas divergências de

modo autônomo, diretamente, por força e atuação próprias, celebrando documento

pacificatório, que é o diploma coletivo negociado”. (DELGADO, 2013, p. 1330).

38

Explica Schiavi, que na autocomposição, a solução do conflito é feita pelas

próprias partes sem a intervenção de um terceiro que irá assisti-los ou orientar a solução do

conflito. (SCHIAVI, 2013).

Nos conflitos coletivos, a autocomposição se desenvolve por meio da negociação

coletiva, cujo procedimento visa discutir os problemas entre os sujeitos representados ou não

pelos sindicatos, com objetivo de aprovar normas, condições de trabalho ou obrigações

assumidas. (NASCIMENTO, 2012).

Segundo Schiavi “na esfera do Direito Coletivo do Trabalho, temos como

instrumentos típicos de autocomposição os acordos e convenções coletivas, que são produto

de um instituto maior que é a negociação coletiva”. (SCHIAVI, 2013, p. 45).

3.2.2.1 Negociação Coletiva

A negociação coletiva é um dos mais importantes recursos de resolução de

conflitos na sociedade atual. É o método mais destacado dos conflitos coletivos de natureza

coletiva. (DELGADO, 2013).

A definição de negociação adotada por Martinez é conceituada da seguinte forma:

A negociação é, então, uma ação, um procedimento por meio do qual dois ou mais

sujeitos de interesses em conflito ou seus representantes, mediante uma série de

contemporizações, cedem naquilo que lhes seja possível ou conveniente para o

alcance dos resultados pretendidos (ou para a consecução de parte desses

resultados), substituindo a ação arbitral de terceiro ou a jurisdição estatal.

(MARTINEZ, 2013, p. 775, grifo do autor).

Portanto, quando essa atividade é desenvolvida no seguimento do direito coletivo

do trabalho, estamos diante do que se qualifica de negociação coletiva. (MARTINEZ, 2013).

No mesmo sentido, Martins aduz que “a negociação coletiva é uma forma de

ajuste de interesses entre as partes, que acertam os diferentes entendimentos existentes,

visando encontrar uma solução capaz de compor suas posições”. (MARTINS, 2012, p. 831).

Neste viés, a negociação coletiva envolve um processo com o fim de ajustar a

convenção ou o acordo coletivo de trabalho, qualificado pelo resultado, uma vez que as partes

conciliam seus interesses de modo a deliberar sobre o conflito. (MARTINS, 2012).

Segadas Vianna citado por Cunha, discorre que “não padece de dúvida que a

negociação coletiva é o meio mais eficaz para a solução dos conflitos coletivos e, através dela

é que se encontram fórmulas para que seja mantida a pa social”.(CUNHA, 2009, p. 249).

Explica Giglio e Corrêa, que a “Organi ação Internacional do Trabalho,

recomenda, preconiza, favorece e incentiva a negociação coletiva como a forma mais

39

satisfatória, apesar de conviver com a mediação e arbitragem, como formas alternativas.”

(GLGLIO; CORRÊA, 2007, p. 409).

Conforme ensina Martins, o resultado do procedimento da negociação coletiva

será a convenção ou o acordo coletivo. Caso a negociação reste infrutífera, não haverá a

produção da norma coletiva. (MARTINS, 2012).

3.2.2.1.1 Funções e Espécies

Nos apontamentos de Garcia, “a negociação coletiva desempenha diversas

funções de grande importância para a harmonia das relações de trabalho e para o

desenvolvimento social”. (GARCIA, 2012, p. 1300).

As funções jurídicas podem ser de natureza normativa, ao criar regras jurídicas

que regulam as relações individuais de trabalho, obrigacionais, pois firmam obrigações aos

sujeitos que aderem a norma coletiva negociada, e compositiva, pois estipulam regras para a

resolução de possíveis conflitos. (GARCIA, 2012).

Ainda o autor, destaca a função política da negociação coletiva ao alavancar o

diálogo na sociedade, e, sua função econômica, que está relacionado a distribuição de

riquezas, ao inovar e estabelecer condições de trabalho a serem aplicadas no âmbito das

relações individuais. Por fim, destaca a função social com o alcance da harmonia no ambiente

de trabalho de forma a conceder o progresso e a justiça social. (GARCIA, 2012).

Na visão de Martinez, a negociação coletiva tem a função de “aproximar os

litigantes com o objetivo de encerrar o conflito criado entre eles, e, evidentemente, a partir do

consenso, estipular condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas

representações, às relações individuais de trabalho”. (MARTINEZ, 2013).

O ordenamento jurídico brasileiro prevê dois instrumentos coletivos, nos termos

do art. 611 da CLT:

Art. 611 - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo

qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e

profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas

representações, às relações individuais de trabalho.

§ 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar

Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria

econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa

ou das acordantes respectivas relações de trabalho. (BRASIL, 1943).

Segundo Martine a convenção coletiva de trabalho é o “negócio jurídico de

caráter normativo por meio do qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias

40

econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das

respectivas representações, s relações individuais de trabalho”. (MARTINEZ, 2013, p. 778).

Aponta Cunha que a convenção coletiva de trabalho pode ser conceituada da

seguinte forma:

[...] negócio jurídico bilateral, através do qual os sindicatos, representativos das

categorias profissional e econômicas estabelecem normas e condições de trabalho a

serem aplicadas no âmbito das categorias envolvidas e que passarão a integrar o

conteúdo dos contratos individuais de trabalho. (CUNHA, 2009, p.251).

A convenção coletiva resulta de negociações entabuladas entre entidades sindicais

dos empregados ou dos empregadores, envolvendo assim, o âmbito da categoria, seja

profissional ou econômica. (DELGADO, 2013).

Trata-se de verdadeira fonte formal do Direito do Trabalho, uma vez que

estabelece normas gerais e abstratas, com objetivo de serem aplicadas no âmbito das relações

individuais, abrangidos pelos sindicatos das respectivas categorias. (GARCIA, 2012).

No tocante ao acordo coletivo de trabalho, Delgado afirma que por meio do

próprio texto da Consolidação, define-se como o pacto com caráter normativo quando o

sindicato representativo da categoria profissional e uma ou mais empresas da categoria

econômica definem condições de trabalho que serão aplicadas às relações individuais.

(DELGADO, 2013).

Destaca o autor, que os acordos coletivos constroem-se por empresa ou empresas

em âmbito mais limitado do que as convenções, sendo os seus efeitos somente aplicáveis aos

trabalhadores e empresas envolvidas. (DELGADO, 2013).

Assim como a convenção coletiva de trabalho, Garcia afirma que o acordo

coletivo também é fonte formal do Direito do Trabalho, uma vez que também estabelece

normas gerais e abstratas a serem aplicadas no âmbito das relações individuais mantidas com

a empresa e a respectiva categoria profissional. (GARCIA, 2012).

3.2.2.1.2 Legitimidade

A legitimidade para negociar é originalmente do sindicato. Apenas em caráter

residual e supletivo, a federação ou confederação poderá assumir essa qualidade, conforme

previsão do §2º do art. 611 da CLT. (MARTINEZ, 2013).

Assim, dispõe o referido artigo:

41

Art. 611 - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo

qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e

profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas

representações, às relações individuais de trabalho.

[...]

§ 2º As Federações e, na falta desta, as Confederações representativas de categorias

econômicas ou profissionais poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para

reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em Sindicatos, no

âmbito de suas representações. (BRASIL, 1943).

A Constituição Federal, em seu art. 8º, VI, assim dispõe sobre a participação dos

sindicatos na negociação coletiva:

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

[...]

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de

trabalho; (BRASIL, 1988).

Na lição de Delgado, extrai-se que, no acordo coletivo de trabalho, não é

necessária a presença do sindicato no polo empresarial de contratação, embora seja

imprescindível que a pactuação obreira se firme através do respectivo sindicato. (DELGADO,

2013).

Ensina o autor que hoje já é pacífico o entendimento de que a Constituição de

1988, ao considerar obrigatória a presença do sindicato na negociação coletiva, não se referiu

ao sindicato da categoria econômica, mas tão somente da entidade sindical representante dos

trabalhadores em virtude de que o empregador, já é um ser coletivo, enquanto que os

empregados adquirem essa qualidade somente com sua atuação sindical. (DELGADO, 2013).

3.2.2.1.3 Conteúdo

Os instrumentos negociais contém, basicamente, regras jurídicas e cláusulas

contratuais. (DELGADO, 2013).

Nascimento classifica as cláusulas estipuladas nos convênios coletivos em

obrigacionais ou normativas. (NASCIMENTO, 2005).

De acordo com o autor, as cláusulas obrigacionais criam deveres entre os sujeitos,

sendo dirigidas aos sindicatos e empresas, enquanto as cl usulas normativas “que são as mais

expressivas, são dirigidas aos empregados e empresas e aos seus respectivos contratos

individuais sobre os quais se projetarão”. (NASCIMENTO, 2005, p. 343).

Leciona o autor, que as regras jurídicas [...] “consubstanciam a ra ão de ser da

negociação coletiva, enquanto mecanismo criador de fontes normativas autônomas do Direito

do Trabalho”. Tendem a compor a maior parte dos instrumentos coletivos trabalhistas. São

42

preceitos que estipulam adicionais maiores do que os já existentes, como adicional noturno,

horas extras, e conferem reajustes salariais ou fixação de pisos normativos da categoria.

(DELGADO, 2013, p. 1420).

Quanto às cláusulas obrigacionais, destaca Nascimento, são as normas para a

conciliação das divergências surgidas entre as partes, exigíveis entre si e que resultam em

cláusulas de liberdade sindical, frequência livre de dirigentes sindicais, multa por

descumprimento da convenção ou acordo, entre outras. (NASCIMENTO, 2005).

3.2.2.1.4 Procedimento

De acordo com o exposto por Nascimento, “os sindicatos e as empresas, inclusive

as que não tenham representação sindical, quando provocados, não podem recusar-se à

negociação coletiva”. (NASCIMENTO, 2005, p. 394).

Ensina o autor, que se verificada a recusa, o interessado deve dar ciência do

ocorrido à Delegacia Regional do Trabalho, que convidará as partes para a chamada mesa-

redonda, para fins de tentativa de conciliação por meio de sua mediação. (NASCIMENTO,

2005).

O rito negocial trabalhista, “inicia-se com a convocação assemblar específica, a

ser feita conforme os estatutos sindicais”. (LEITE, 2012, p. 1421).

O quórum de comparecimento e votação na Assembléia em caso de convenção

coletiva será de 2/3 dos associados, em primeira convocação, e em segunda 1/3. Já quanto aos

acordos coletivos, serão 2/3 dos interessados, em primeira convocação e em segunda 1/3. Para

os sindicatos com mais de 5 mil associados, o quórum será de 1/8 em segunda convocação.

(LEITE, 2012).

Após as tratativas de negociação, o instrumento negociado pelas partes deverá,

nos termos do que dispõe a CLT em art. 613, parágrafo único, ser depositado pelas partes, em

oito dias na Delegacia Regional do Trabalho, que entrará em vigor três dias após a data da

entrega. (NASCIMENTO, 2005).

Deverá, conforme ensina Leite, entrar em vigor três dias após o respectivo

depósito administrativo, conforme preceitua o art. 614, §1º da CLT. (LEITE, 2012).

Sua duração, nos termos do que dispõe o art. 614, §3º não poderá ser superior a

dois anos, embora a pr tica juslaborativa, conforme analisa Leite, “tem demonstrado que as

partes tendem, normalmente, a restringir essa duração a apenas um ano”.(LEITE, 2012, p.

1423).

43

3.2.3 Heterocomposição

A heterocomposição analisa Delgado, “ocorre quando as partes coletivas

contrapostas, não conseguindo ajustar, autonomamente, suas divergências, entregam a um

terceiro o encargo da resolução do conflito”. (DELGADO, 2013, p. 1331).

A solução do conflito, como descreve Nascimento, é feita por uma fonte

suprapartes que decide a controvérsia com força obrigatória entre os litigantes.

(NASCIMENTO, 2012).

Nas palavras de Schiavi “a heterocomposição exteriori a-se pelo ingresso de um

agente externo e desinteressado ao litígio que irá solucioná-lo e sua decisão será imposta às

partes de forma coercitiva”. (SCHIAVI, 2013, p. 45).

Portanto, as fórmulas heterônomas, são caracterizadas pela intervenção de um

terceiro imparcial que se insere no litigio para decidir o conflito em lugar dos litigantes.

(MARTINEZ, 2013).

Ensina Martine que “em meios a esses processos de solução por via heterônoma,

surgem os conceitos de arbitragem e de jurisdição”. (MARTINEZ, 2013, p. 795, grifo do

autor).

Na concepção de Leite, a arbitragem e a jurisdição são as principais formas de

heterocomposição dos conflitos trabalhistas. Há quem acrescente a mediação e a conciliação.

(LEITE, 2012).

Do ponto de vista de Delgado, há controvérsias sobre o enquadramento de todas

essas quatro figuras jurídicas como métodos heterocompositivos. Conforme aponta em sua

análise, alguns autores consideram que a conciliação e a mediação são meios

autocompositivos, sendo apenas a jurisdição e a arbitragem métodos heterocompositivos.

(DELGADO, 2013).

Em que pese às divergências quanto à classificação das formas heterônomas, para

a elaboração do presente estudo será adotada a divisão da doutrina de Delgado, onde a

conciliação e mediação são classificadas como métodos heterocompositivos de resolução dos

conflitos trabalhistas.

44

3.2.3.1 Arbitragem

A arbitragem ocorre quando a solução do conflito trabalhista é entregue a um

terceiro, denominado árbitro, regra geral, escolhido pelas próprias partes, com o objetivo de

ver solucionado o conflito. (DELGADO, 2013).

No mesmo sentido é a definição adotada por Martinez:

Arbitragem é uma fórmula de solução de conflitos por via heterônoma por meio da

qual um terceiro imparcial insere-se no conflito, por iniciativa dos litigantes e com

arrimo em convenção por eles empreendida, não apenas para estimular-lhes a

concórdia, mas também, e especialmente, para, sem a intervenção estatal, dirimir

seus litígios embasados em patrimoniais disponíveis. (MARTINEZ, 2013, p. 795).

O ordenamento jurídico brasileiro, explica Leite, contém uma lei genérica

dispondo sobre o procedimento de arbitragem (Lei n. 9.307/1996), aplicável subsidiariamente

ao direito material e processual trabalhista. Em seu art. 1º, prevê que a arbitragem somente

poderá resolver conflitos envolvendo direitos patrimoniais disponíveis, sendo assim,

inviabilizada sua aplicação nos conflitos trabalhistas individuais. (LEITE, 2012).

Já no que se refere a solução do conflito coletivo, a sentença arbitral não terá a

mesma força executiva prevista no Código de Processo Civil, uma vez que sua exigibilidade,

perante a Justiça trabalhista, tem a mesma natureza jurídica dos instrumentos normativos,

quais sejam, convenção coletiva, acordo coletivo e sentença normativa, sendo, portanto,

executada por meio de ação de cumprimento, conforme previsão contida no art. 872 da CLT.

(LEITE, 2012).

Nascimento faz uma importante observação com relação à classificação da

arbitragem como forma autônoma ou heterônoma de composição dos conflitos coletivos.

Aduz que se examinada sob o prisma da existência suprapartes, é forma heterônoma, mas se

analisada do ponto de vista da facultatividade, será considerada forma autônoma, já que

depende da vontade das partes. (NASCIMENTO, 2012).

Ensina Delgado, que a própria Constituição Federal traz a arbitragem facultativa

como método de resolução do conflito trabalhista, ao dispor em seu art. 114 que, frustrada a

negociação coletiva, as partes poderão escolher o caminho da arbitragem. Sendo assim, no

direito coletivo do trabalho, a arbitragem é de caráter facultativo, sendo submetido a escolha

dos sujeitos coletivos trabalhistas. (DELGADO, 2013).

Entretanto, no Brasil, a arbitragem não faz parte dos costumes nas relações de

trabalho, já que a forma tradicional é a jurisdição, considerando o elevado número de

processos judicias submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho. (NASCIMENTO, 2012).

45

3.2.3.2 Jurisdição

Na concepção de Delgado “o mais importante método heterocompositivo de

solução de conflitos interindividuais e sociais existente na sociedade ocidental, é sem dúvida,

a jurisdição”. (DELGADO, 2013, p. 1478, grifo do autor).

Trata-se de uma fórmula de resolução dos conflitos por meio do qual o Estado-

juiz no exercício do poder-dever de declarar o direito, soluciona a disputa entre as partes.

(MARTINEZ, 2013).

A respeito, Martinez aponta em sua análise:

Quando se fala em conflito coletivo trabalhista e em insucesso da negociação

coletiva ou da arbitragem para a solução do litígio, exsurge a figura do dissídio

coletivo, mencionado na CLT como o último recurso para acomodar a

conflituosidade entre o capital e o trabalho. (MARTINEZ, 2013, p. 797).

Trata a jurisdição de revelar o Direito sobre determinada situação trazida a sua

análise pelos litigantes, com o objetivo de ver solucionado juridicamente o conflito.

(DELGADO, 2013).

No tocante a jurisdição trabalhista, Nascimento explica que a mesma está fundada

na Constituição Federal ao prever entre os poderes integrantes da República, o Poder

Judiciário, em seu art. 92 e seguintes, inclusive os tribunais e juízes do trabalho (art. 111), e

assegurar a inafastabilidade do direito ao exercício da jurisdição previsto em seu art. 5º,

XXXV. Portanto, a jurisdição trabalhista, exercida pela Justiça do Trabalho, se trata de um

ramo especial do Poder Judiciário com a atribuição constitucional de decidir as ações oriundas

da relação de trabalho por meio dos juízes especialistas em direito do trabalho.

(NASCIMENTO, 2012).

Assim, os juízes e tribunais, no exercício da jurisdição, são os agentes

especializados para o seu exercício, que se faz por meio de formal próprio, denominado

processo judicial. (DELGADO, 2013).

3.2.3.3 Mediação

A mediação, “é a conduta, pela qual, um terceiro aproxima as partes conflituosas,

auxiliando e, até mesmo, instigando sua composição, que há de ser decidia, porém, pelas

próprias partes”, (DELGADO, 2013, p. 1480).

46

O mediador difere do árbitro, pois, não assume nenhum poder decisório entre as

partes, uma vez que são elas detentoras de autonomia para a resolução final do litígio. Não

tem o condão de isoladamente, solucionar o litígio, mas apenas contribuir para que ocorra o

diálogo entre os envolvidos a fim de fornecer os subsídios necessários para a resolução

pacífica da controvérsia. (DELGADO, 2013).

Sobre o procedimento adotado, Nascimento explica que a mediação é informal e

inicia-se através de uma notificação em que as partes pedem a atuação dos mediadores. Após

procede-se à reunião com as partes, que pode ser em conjunto ou separadamente, no intuito de

chegarem a um entendimento. (NASCIMENTO, 2012).

Ao dispor sobre a mediação, Nascimento faz uma importante ressalva no que se

refere a classificação da mediação como forma autônoma ou heterônoma de resolução dos

conflitos trabalhistas:

A mediação é vista também como um componente da negociação; por esse motivo

que para alguns não é um mecanismo heterocompositivo, mas autocompositivos, já

que o mediador nada decide e apenas interfere para aproximar as vontades

divergentes dos litigantes. (NASCIMENTO, 2012, p. 49).

No entendimento adotado por Schiavi tanto a mediação como a conciliação são

modalidades de autocomposição, já que tanto o mediador como o conciliador não possuem

poderes para decidir o conflito, nem impor a decisão às partes. (SCHIAVI, 2013, p. 47).

3.2.3.4 Conciliação

A conciliação “é o método de solução de conflitos em que as partes agem na

composição, mas dirigidas por um terceiro, destituído do poder decisório final, que se mantém

com os próprios sujeitos originais da relação jurídica conflituosa”. (DELGADO, 2013, p.

1479).

A conciliação judicial trabalhista é, portanto, “ato judicial, através do qual as

partes litigantes, sob interveniência da autoridade jurisdicional, ajustam a solução

transacionada sobre matéria objeto de processo judicial.” (DELGADO, 2013, p. 1479).

De acordo com o que explica Leite, a conciliação poderá ser judicial, quando

decorrente de acordo celebrado em juízo, como ocorre nos dissídios individuais (CLT, art.

831, parágrafo único); ou extrajudicial quando for firmada perante a comissão de conciliação

prévia (CLT, arts. 625-D e 625-F). (LEITE, 2012).

47

Para Schiavi, sem sombra de dúvidas, a conciliação é a melhor forma de resolver

o conflito trabalhista, já que é uma solução advinda das próprias partes, que estão ciente da

real dimensão do conflito. (SCHIAVI, 2013).

3.3 DISSÍDIOS COLETIVOS

3.3.1 Conceito

O dissídio coletivo, conforme previsto na Consolidação das Leis do Trabalho, “é uma

ação de rito especial, proposta perante a Justiça do Trabalho, tendo por objetivo solucionar o

conflito coletivo de trabalho.” (SCHIAVI, 2013, p. 2013).

No entendimento de Leite, o dissídio coletivo é conceituado da seguinte forma:

“[...] é uma espécie de ação coletiva conferida a determinados entes coletivos, geralmente

os sindicatos, para a defesa de interesses cujos titulares materiais não são pessoas

individualmente consideradas, mas sim grupos ou categorias econômicas, profissionais ou

diferenciadas, visando à criação ou interpretação de normas que irão incidir no âmbito

dessas mesmas categorias”. (LEITE, 2012, p. 1212).

Nas palavras de Zimmermann Neto “é o conflito entre empregados e

empregadores quanto às condições da relação de emprego entre eles, o qual se apresenta na

forma de reivindicações coletivas de uma categoria profissional perante ustiça do Trabalho,

depois de terem fracassado as negociações entre as partes”. (ZIMMERMANN NETO, 2009,

p. 49).

Para Sou a, “nos dissídios coletivos estão sendo postulados interesses abstratos de

um grupo social ou categoria, com objetivo de serem criadas novas condições de trabalho pelo

Tribunal, as quais serão aplicadas pessoas indeterminadas que pertençam ou venham a

pertencer as categorias envolvidas”. (SOUZA, 2010, p. 134).

Na conceituação de Martins Filho que o dissídio coletivo é “ação para tutela de

interesses gerais e abstratos da categoria, visando geralmente à criação de condições novas de

trabalho e remuneração, mais benéficas do que as previstas em lei. A sentença normativa nele

prolatada põe termo ao conflito coletivo de trabalho”. (MARTINS FILHO, 2012 p. 361).

Corroborando as afirmativas acima, Saraiva e Manfredini conceituam o dissídio

coletivo como uma ação com a finalidade de dirimir o conflito coletivo através do

pronunciamento do Poder Judiciário Trabalhista, para fixar normas e condições de trabalho,

ou interpretação de normas já existente entre determinadas categorias. (SARAIVA;

MANFREDINI, 2013).

48

3.3.2 Classificação

Considerando que o dissídio coletivo é um desentendimento entre os sujeitos da

relação coletiva, Martinez afirma que é razoável classificá-los de acordo com sua natureza.

Assim, podem ser natureza econômica (originários ou de revisão) ou de natureza jurídica, que

inclui a declaração sobre a paralisação dos trabalhadores em razão da greve. (MARTINEZ,

2013).

Os dissídios coletivos de natureza econômica ou de interesse são aqueles em que

são pleiteadas novas condições econômicas ou sociais aplicadas no âmbito individual das

relações de trabalho, representando a maioria dos dissídios ajuizados. Envolvem regra geral,

discussões acerca do reajuste salarial da categoria. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

Os dissídios coletivos de natureza econômica ou de interesse são classificados em

originários ou de revisão.

Quanto aos dissídios coletivos originários, são aqueles em que não há em vigor

normas e condições de trabalho decretado em sentença normativa, tendo por objeto a criação

de condições de trabalho, em conformidade com o previsto no art. 867 da CLT. (MARTINS,

2012).

Por sua vez, os dissídios coletivos de revisão, destinam-se a reavaliar normas e

condições coletivas de trabalho já estabelecidas em sentença normativa que tenham se tornado

injustas ou ineficazes em razão da modificação das circunstâncias à época que as ditaram, em

face ao conteúdo dos arts. 873 a 875 da CLT. (ALMEIDA, 2008).

No que diz respeito aos dissídios de natureza jurídica ou de interpretação, são

aqueles em que prevalecem as discussões acerca da aplicação ou interpretação de normas

preexistentes, ou seja, aquelas previstas em sentença normativa, instrumentos de negociação

coletiva, acordos e convenções coletivas. (MARTINEZ, 2013).

Por fim, existem ainda os dissídios de declaração, em que será analisada a

paralisação de trabalho decorrente da greve dos trabalhadores, e os de extensão, cujo objetivo

é estender as condições de trabalho a outras pessoas, conforme previsto no art. 868 a 871 da

CLT. (MARTINS, 2012).

Por fim, para melhor entendimento acerca do presente trabalho, nos tópicos

seguintes serão analisados os requisitos do dissídio de natureza econômica.

49

3.3.3 Legitimidade

As partes no processo de dissídio coletivo, denominadas de suscitante e

suscitado, em regra são as categorias profissionais e econômicas interessadas na fixação das

condições de trabalho. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

O art. 856 da Consolidação das Leis do Trabalho dispõe:

Art. 856 - A instância será instaurada mediante representação escrita ao Presidente

do Tribunal. Poderá ser também instaurada por iniciativa do presidente, ou, ainda, a

requerimento da Procuradoria da Justiça do Trabalho, sempre que ocorrer suspensão

do trabalho. (BRASIL, 1943).

Assim, de modo geral, segundo ensina Martins, pode-se dizer que a legitimidade

ativa para instaurar dissídio coletivo é do sindicato. (MARTINS, 2012).

No tocante a legitimidade dos Presidentes dos Tribunais do Trabalho para

iniciativa de instaurar a instância, na visão de Leite, a norma não foi recepcionada pelo art.

114, §2º da Constituição Federal, já que faculta somente às partes de comum acordo a

legitimação para o ajuizamento do dissídio coletivo. (LEITE, 2012).

Em relação à legitimidade do Ministério Público do Trabalho para suscitar

dissídio coletivo de greve em caso de paralisação do trabalho pelos empregados, afirma

Saraiva e Manfredini que a CF/1988, art. 114, § 3º, a Lei 7.783/1989, art. 8º, e a LC 75/1993,

art. 83, VIII, legitimam o órgão Ministerial a instaurar instância neste caso, quando a defesa

da ordem jurídica ou o interesse público assim o exigir, devendo no entendimento dos

doutrinadores somente propor instancia de greve, caso ocorra greve em atividades essenciais

com possibilidade de lesão ao interesse público. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

Quando não houver sindicato representativo da categoria econômica ou

profissional, poderá o dissídio ser instaurado por iniciativa das federações correspondentes, e,

na falta delas, pelas confederações respectivas, no âmbito de sua representação, conforme

previsão no art. 857, parágrafo único, da CLT. (ALMEIDA, 2008).

3.3.4 Competência

O critério adotado para a competência em dissídios coletivos é a extensão do

território do tribunal. (MARTINS, 2012).

Assim, para processar e julgar os dissídios coletivos, a competência é dos

Tribunais Regionais do Trabalho ou do Tribunal Superior do Trabalho, de acordo com a área

50

que abarcar o conflito e da representação das categorias envolvidas. Caso ultrapasse a base

territorial de competência de mais de um TRT, a competência será do TST. (LEITE, 2012).

Nos tribunais, conforme ensina Saraiva e Manfredini, a competência será exercida

pelas seções especializadas em dissídios coletivos, ou pelo Tribunal Pleno caso não existam

seções específicas para julgar dissídio coletivo. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

3.3.5 Pressupostos de Cabimento

A lei processual civil brasileira estabelece como uma das causas de extinção do

processo sem resolução de mérito a ausência de pressupostos de constituição e de

desenvolvimento válido e regular do processo, nos termos do que dispõe o art. 267, IV do

Código de Processo Civil. Assim, em que pese a CLT ser omissa o dissídio coletivo segundo

entendimento de Leite, também deve cumprir determinados pressupostos processuais.

(LEITE, 2012).

Neste viés os pressupostos processuais em sede de dissídio coletivo podem ser

divididos em subjetivos e objetivos.

Como pressuposto subjetivo, analisa Martins Filho que a competência para

apreciação dos dissídios coletivos é dos Tribunais Regionais quando for no âmbito local ou

regional e ainda, do Tribunal Superior do Trabalho, quando se tratar de âmbito suprarregional

ou nacional. (MARTINS FILHO, 2013).

A capacidade processual, no dissídio coletivo, conforme analisa Leite, não é da

categoria diretamente, mas do sindicato que a representa, conforme a CF, arts. 8º, III e 114,

§2º e CLT, art. 857. (LEITE, 2012).

Quanto aos pressupostos objetivos, explica Martins Filho que a inexistência de

litispendência como pressuposto subjetivo para ajuizamento do dissídio coletivo também atua

como fato impeditivo do ingresso da ação nos termos do que preceitua o art. 267, V do CPC,

não podendo o sindicato ajuizar novo dissídio enquanto houver outro pendente de julgamento.

(MARTINS FILHO, 2013).

A negociação coletiva prévia, também destacado por Martins Filho, é um

pressuposto processual objetivo, uma vez que o ajuizamento do dissídio deve ser antecedido

de negociação entre as partes litigantes.

No mesmo sentido ensina Saraiva e Manfredini:

O dissídio coletivo somente poderá ser suscitado uma vez esgotada ou frustrada,

total ou parcialmente, a negociação coletiva implementada pelos entes interessados,

51

ou mesmo intermediada pelo órgão competente do Ministério Público do Trabalho,

mediante a reali ação das denominadas “mesas de negociação”. (SARAIVA;

MANFREDINI, 2013, p. 831).

A inexistência de norma coletiva em vigor também é destacada por Leite e

Martins Filho como pressuposto objetivo, já que as convenções, acordos coletivos e a

sentença normativa têm vigência temporária, podendo o dissídio coletivo ser instaurado após

um ano de vigência da sentença normativa, acordo ou convenção coletiva.

Ademais, o dissídio coletivo deverá ser ajuizado dentro dos 60 dias antecedentes a

data base da categoria, conforme art. 616, §3º da CLT, sob pena de perda.

A respeito destaca-se a explicação de Leite:

[...] se ultrapassados os prazos previstos nas alíneas a e b do art. 867 da CLT, “a

categoria ficará exposta ao vazio normativo temporário, na medida em que a

sentença normativa prolatada não poderá retroagir à data-base da categoria (CLT,

art. 867, parágrafo único, b) mas entrará em vigor apenas a partir de sua publicação

(CLT, art. 867, parágrafo único, a). Para estimular a continuidade da negociação

coletiva e, ao mesmo tempo, preservar a data-base da categoria, caso seja finalmente

frustrada a negociação, criou o TST a figura do protesto judicial (IN n. 4/93, item

II), proposto pelo sindicato, de forma a postergar por mais de 30 dias o ajuizamento

do dissídio, sem perda da data-base. (LEITE, 2012, p. 1216, grifo do autor).

Os requisitos da petição inicial, também considerados como pressuposto

processual objetivo, na lição de Martins Filho, deve ser firmada por ambas as partes e vir

acompanhada dos documentos abaixo:

- edital de convocação da assembleia geral da categoria;

- ata da referida assembléia (juntamente com a pauta reivindicatória, para

verificação da autorização específica para ajuizamento do dissídio coletivo e da

postulação das cláusulas em concreto);

- lista de presença dos empregados assembleia (o quórum para deliberação é o do

art. 859 da CLT e não o do art. 612 consolidado, bastando para a instauração do

dissídio a aprovação por 2/3 dos presentes em segunda convocação, com qualquer

número de presentes);

- certidão da DRT de fracasso da negociação coletiva;

- norma coletiva anterior (quando o dissídio é revisional);

- procuração ao advogado que a subscreve. (MARTINS FILHO, 2013, p. 364).

Ainda, ensina Nascimento, que “as partes deverão apresentar fundamentadamente,

suas propostas finais, que serão objeto de conciliação ou deliberação do tribunal, na sentença

normativa”. (NASCIMENTO, 2012, p. 924).

Por fim, o terceiro pressuposto processual exposto por Leite, diz respeito ao

comum acordo entre as partes para ajuizamento do dissídio coletivo que, em razão de ser o

objeto principal da presente pesquisa, será melhor analisado no capítulo seguinte.

52

3.3.6 Procedimento

O dissídio coletivo tem seu procedimento especial regulado nos arts. 856 a 875 da

CLT, admitindo, nos casos de omissão a aplicação subsidiária do direito processual comum,

conforme previsão expressa no art. 769 da CLT. (LEITE, 2012).

A instauração ocorre mediante representação escrita dirigida ao Presidente do

Tribunal. Possuem legitimidade os sujeitos coletivos, incluídas as entidades sindicais, as

empresas ou as associações patronais. (MARTINEZ, 2012).

Nos termos do que prevê o art. 858 da CLT a petição inicial terá tantas vias

quanto forem os suscitados. Deverão ser designados e qualificados os suscitantes e a natureza

do estabelecimento ou serviço, conforme prevê ao art. 858, a, da CLT. (MARTINS, 2012).

Segundo Martins, a petição inicial do dissídio coletivo deverá indicar as

pretensões coletivas aprovadas em assembléia da categoria profissional, necessitando indicar

quais foram a causas que impossibilitaram a composição das partes. Ainda, se faz necessário a

apresentação em forma de cláusula de cada pedido, devidamente fundamentados e

justificados. (MARTINS, 2012).

A representação dos sindicatos para ajuizamento do dissídio coletivo fica nos

termos do art. 859 da CLT, subordinada à aprovação de assembléia, da qual, participem os

associados com interesse na solução do dissídio, sendo em primeira convocação por maioria

de 2/3 (dois terços) dos mesmos, ou em segunda convocação, por 2/3 dos presentes.

(SCHIAVI, 2013).

Assim, lecionam Saraiva e Manfredini:

[...] será necessário que a petição inicial venha acompanhada de cópia autêntica da

ata de assembleia geral que autorizou o sindicato a propor a ação coletiva,

juntamente da listagem de comparecimento à referida assembleia, para que o

Tribunal possa verificar o quórum previsto no art. 859 consolidado. (SARAIVA;

MANFREDINI, 2013, p. 838).

Estando a representação na devida forma, ensina Almeida que com supedâneo no

art. 860 da CLT, que o Presidente ou juiz competente designará audiência de conciliação no

prazo de dez dias, determinando ainda, a citação dos dissentes. (ALMEIDA, 2008).

A conciliação, conforme Schiavi, é tentada em uma única audiência, designada

exclusivamente para tal fim, destacando-se que o Presidente do Tribunal não fica adstrito às

propostas das partes, podendo apresentar a solução que, do seu ponto de vista seja pertinente

para a resolução do conflito trabalhista. (LEITE, 2013).

53

Havendo conciliação, será encaminhado, ao relator para homologação pelo

colegiado. (NASCIMENTO, 2012).

Adverte Martins, que o Tribunal, ao homologar o acordo, irá examinar seu

conteúdo, não podendo homologar cláusulas contrárias à Constituição, à lei ou aos

precedentes normativos em dissídios coletivos da SDC do TST. Ainda, adverte que da

homologação não caberá recurso pelas partes. (MARTINS, 2012).

Não havendo acordo, ou não comparecendo as partes a audiência, o Presidente do

Tribunal submeterá o processo a julgamento, após realizadas as diligências que entender

necessárias e ouvida a Procuradoria, nos termos do art. 864 da CLT. (SCHIAVI, 2013).

No que tange a contestação, reconvenção, revelia, confissão e intervenção de

terceiros no dissídio coletivo, destaca-se a análise de Saraiva e Manfredini que, com

propriedade elucidam o tema:

No dissídio coletivo não há que se falar em contestação, reconvenção, revelia,

confissão ou intervenção de terceiros, uma vez que na instância não há pedido, mas

sim propostas de criação de novas normas, estando em debate o interesse abstrato de

toda uma categoria profissional ou econômica, pelo que a decisão a ser proferida

transcende à iniciativa das partes. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013, p. 839).

Finalmente, produzidas as provas reputadas necessárias, o Tribunal proferirá

sentença normativa, da qual serão intimadas as partes. (ALMEIDA, 2008).

3.3.7 Cláusulas

Saraiva e Manfredini, elencam quatro tipos de cláusulas ou condições constantes

no dissídio coletivo, que poderão ser fixadas mediante a sentença normativa. São elas

econômicas, sociais, sindicais e obrigacionais. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

Quanto às cláusulas econômicas, afirma Martins que estão ligadas a reajustes

salariais, aumentos reais, de produtividade e ainda piso salarial. As cláusulas sociais, dizem

respeito à garantia de emprego, condições de trabalho menos gravosas para a saúde dos

trabalhadores, sendo, assim vantagens indiretas. (MARTINS, 2012).

As cláusulas sindicais, por sua vez, tratam da relação entre os sindicatos e entre

empresas e o sindicato, instituindo cláusulas de representantes sindicais, descontos

assistenciais, confederativo, etc. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

Por fim, as cláusulas obrigacionais estabelecem multas à parte que não cumprir as

normas coletivas que foram impostas por ocasião da sentença normativa. (SARAIVA;

MANFREDINI, 2013).

54

3.3.8 Sentença Normativa

A sentença normativa é “a decisão proferida pelos tribunais (Tribunal Regional do

Trabalho ou Tribunal Superior do Trabalho) ao julgarem o dissídio coletivo”. (SARAIVA;

MANFREDINI, 2013).

A decisão proferida nos dissídios coletivos, em razão de não ter carga de

condenação, não comporta execução. Portanto, não cumprida espontaneamente, não dará

ensejo à execução do julgado, mas sim propositura da ação de cumprimento. (LEITE, 2012).

Os efeitos da sentença serão estendidos a todas as organizações sindicais que

participaram do dissídio coletivo. Não serão beneficiados com a decisão apenas os associados

do sindicato, mas também os não associados, mais precisamente: a categoria toda, em razão

do efeitos erga omnes da sentença normativa. (MARTINS, 2012, grifo nosso).

O termo inicial de vigência da sentença normativa, conforme explica Saraiva e

Manfredini, deverá respeitar o contido no art. 867, parágrafo único da CLT:

Art. 867 - Da decisão do Tribunal serão notificadas as partes, ou seus representantes,

em registrado postal, com franquia, fazendo-se, outrossim, a sua publicação no

jornal oficial, para ciência dos demais interessados.

Parágrafo único - A sentença normativa vigorará

a) a partir da data de sua publicação, quando ajuizado o dissídio após o prazo do art.

616, § 3º, ou, quando não existir acordo, convenção ou sentença normativa em

vigor, da data do ajuizamento;

b) a partir do dia imediato ao termo final de vigência do acordo, convenção ou

sentença normativa, quando ajuizado o dissídio no prazo do art. 616, § 3º.

(BRASIL, 1943).

A sentença normativa vigora por prazo determinado, não podendo ser superior a

quatro anos, conforme previsto no parágrafo único do art. 868 da CLT, haja vista as condições

econômicas estarem em constante mudança, necessitando com frequência de atualização e

modificação. (MARTINS, 2012).

A respeito destaca-se o Precedente Normativo n. 120 do TST:

Nº 120 SENTENÇA NORMATIVA. DURAÇÃO. POSSIBILIDADE E LIMITES

(positivo) - (Res. 176/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011)

A sentença normativa vigora, desde seu termo inicial até que sentença normativa,

convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho superveniente

produza sua revogação, expressa ou tácita, respeitado, porém, o prazo máximo legal

de quatro anos de vigência. (BRASIL, 2011).

Todavia, conforme demonstram Saraiva e Manfredini, os tribunais, em regra,

objetivando a negociação coletiva entre os sindicatos, têm fixado o prazo de vigência em um

55

ano, almejando assim, que na data-base do ano seguinte os sindicatos participem de novas

tratativas de negociação. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

3.3.9 Recursos

Preceitua Schiavi, que da decisão proferida em dissídio coletivo de competência

dos Tribunais Regionais do Trabalho, caberá nos termos do art. 895, II, da CLT recurso

ordinário, no prazo de oito dias para o Tribunal Superior do Trabalho, com efeito apenas

devolutivo. (SCHIAVI, 2013).

Entretanto, caso o dissídio coletivo seja de competência do Tribunal Superior do

Trabalho, o recurso cabível será o de embargos infringentes para o próprio TST, no prazo de

oito dias, com objetivo de modificar as decisões não unânimes, conforme previsão contida no

art. 894, I, a, da CLT. (SCHIAVI, 2013).

Caberá, embargos de declaração e eventual recurso extraordinário, caso a decisão

atacada esteja em consonância com precedente jurisprudencial do Tribunal Superior do

Trabalho ou súmula de sua jurisprudência predominante. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

Quanto as peculiaridades recursais, advertem os autores os recursos são dotados

somente de efeito devolutivo. Todavia, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho poderá

conceder efeito suspensivo a eventual recurso interposto contra a sentença normativa

proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho. (SARAIVA; MANFREDINI, 2013).

Assim, demonstradas as técnicas de solução dos conflitos trabalhistas, e o

funcionamento do dissídio coletivo, no capítulo seguinte será analisado especificamente o

objeto principal do presente estudo, que versa sobre a controvérsia da necessidade de comum

acordo para ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica.

56

4 NECESSIDADE DO “ COMUM ACORDO” PARA AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO

COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA

O requisito do comum acordo para ajuizamento do dissídio coletivo, exigência

imposta com o advento da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, resultou para os juristas e

doutrinadores opiniões contraditórias. Alguns consideraram um avanço na resolução dos

conflitos trabalhistas, e outros, um retrocesso aos direitos sociais.

Assim, o presente capítulo tem por objeto a análise do tema central deste trabalho,

destacando-se a posição da doutrina e da jurisprudência no que tange a inovação trazida pela

Emenda Constitucional nº 45 demonstrando-se ao final, se a necessidade do requisito de

comum acordo pode ser considerado um fator limitador do Poder Normativo da Justiça do

Trabalho.

4.1 A EXPRESSÃO “COMUM ACORDO”

Na concepção de Nascimento, “ao dispor que o dissídio coletivo econômico deve

ser movido pelas partes ‘de comum acordo’, a EC n. 45 criou um problema processual que

merece uma atenção maior”. (NASCIMENTO, 2012, p. 929).

O art. 114, § 2º da Constituição Federal, passou a adotar a seguinte redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

[...]

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é

facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as

disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas

anteriormente. (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Na visão de Garcia, o ajuizamento de comum acordo pelas partes no dissídio

coletivo de natureza econômica foi a maior inovação decorrente da Emenda Constitucional.

(GARCIA, 2013).

Num primeiro momento, entende Schiavi, causa estranheza a redação do § 2º do

art. 114, pois o dissídio pressupõe lide, ou seja, um conflito de interesses qualificado por uma

pretensão resistida. Assim, como pode haver comum acordo para ajuizar dissídio coletivo, se

este pressupõe conflito entre as partes? (SCHIAVI, 2013).

No entendimento de Tonial, a concordância das partes é um requisito de difícil

obtenção, pois se estas não conseguiram realizar um acordo ao longo do processo de

57

negociação, provavelmente não entrarão em consenso para ajuizar o dissídio coletivo.

(TONIAL, 2009).

Para Teixeira Filho, “ao dispor que as partes poderão ajuizar dissídio coletivo de

natureza econômica ‘de comum acordo’, o texto constitucional nos coloca diante de, quando

menos, três situações algo surrealistas e de uma inconstitucionalidade”. (TEIXEIRA FILHO,

2009, p. 2982).

A respeito, explica o autor, que a expressão “comum acordo” traduz pleonasmo

vicioso1, pois “não se conhece acordo (comunhão de vontades) que não seja ‘comum’ [...]”.

Sustenta ainda, que o dissídio coletivo se trata de um conflito de interesses estabelecido entre

as categorias econômicas e profissionais, “por isso, o dissídio sempre antecede ao ingresso em

juízo, sendo equivocado supor que surja em juí o”. Finaliza o autor que o aspecto mais

surrealista que a norma constitucional trouxe, reside no fato de condicionar o dissidio coletivo

ao acordo entre as partes, tendo em vista ser presumível que na prática isso dificilmente

ocorrerá. (TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 2982).

Na concepção de Martins, o comum acordo também é uma expressão pleonástica2,

pois, se firmado há o ajuste comum entre as partes. Caso contrário, não haveria, já que não

existe acordo de apenas uma pessoa. (MARTINS, 2012).

Nascimento afirma que para ser fiel ao histórico da questão do comum acordo,

pode concluir-se que essa exigência surgiu para hipótese de decisão e solução arbitral perante

os Tribunais do Trabalho:

Nesse caso, o entendimento seria harmônico com a previsão constitucional da

arbitragem prevista no art. 114 da Constituição Federal uma vez que a arbitragem

facultativa pressupõe o mútuo consentimento das partes. Teria todo o sentido a

arbitragem por proposta comum das partes. Mas não tem nenhum sentido o processo

judicial do dissídio coletivo, como tal, ajuizável somente quando as duas partes

desejarem o processo, figura inexistente no direito processual contencioso.

(NASCIMENTO, 2012, p. 938).

Sobre a questão histórica, afirma Martins:

A interpretação histórica pode ajudar no entendimento do que vem a ser comum

acordo. Ela mostra que na Câmara dos Deputados o debate foi no sentido de reduzir

drasticamente o exercício do poder normativo da Justiça do Trabalho, daí a

utilização da expressão comum acordo. O objetivo era forçar as partes a negociar. A

Justiça do Trabalho funcionaria como espécie de juízo arbitral. (MARTINS, 2012, p.

707, grifo do autor).

1 O pleonasmo vicioso de linguagem é a repetição supérflua da palavra ou da ideia contida nela, são vícios de

linguagem. 2 Refere-se à forma de linguagem que expressa repetição ou redundância.

58

Corroborando o exposto por Martins, Barros aponta em sua análise a transcrição

das discussões suscitadas no curso da votação da Emenda Constitucional pelo Deputado

Ricardo Bersoini, do Partido dos Trabalhadores:

Quero sustentar que uma das teses mais caras do Partido dos Trabalhadores é a luta

contra o poder normativo da Justiça do Trabalho. Acreditamos que a negociação

coletiva se constrói pela vontade das partes. Ou seja, se não tivermos no processo de

negociação a garantia da exaustão dos argumentos, da busca do conflito e da sua

negociação, vai acontecer o que vemos em muitos movimentos hoje, particularmente

em São Paulo, como o recente caso dos metroviários em que a empresa recorre ao

poder normativo antes de esgotada a capacidade de negociação. Portanto, na nossa

avaliação, manter o comum acordo é uma forma de garantir que haja exaustão do

processo de negociação coletiva. (BARROS, 2013, p. 1009).

Ainda, a autora destaca o pronunciamento do Deputado Mendes Ribeiro do

PMDB:

[...] O que se quer é que a Justiça do Trabalho fique com a participação, com o poder

normativo quando as partes se julgarem incapazes de encaminhar o diálogo. É um

avanço. Agora, se retirarmos o de comum acordo, teremos exatamente o poder

normativo da Justiça do Trabalho, contra o qual tantas e tantas lideranças se

manifestaram. (BARROS, 2013, p. 1009).

Assim, na visão de Barros, a leitura dos trechos acima mencionados não deixa

dúvidas quanto a intenção do legislador em restringir o Poder Normativo. Sendo assim,

entende a autora que o ajuizamento do dissídio coletivo depende da comunhão dos interesses

das partes e, uma vez ausente esse pressuposto, a possibilidade de negociação ficará aberta

podendo a categoria profissional utilizar-se da greve como meio de alcançar algum tipo de

ajuste. (BARROS, 2013).

Quanto à dificuldade de consenso sobre a questão do comum acordo, Nascimento

explica:

As teses defendidas tanto na jurisprudência como na doutrina divergem nas

conclusões e nos fundamentos, nestes desde a impossibilidade de supressão de

direito consagrado em cláusula pétrea de constituinte original – o direito de ação -, a

inafastabilidade da jurisdição porque está assegurada no plano constitucional, a

explicitude da lei, que não ofereceria margens para interpretação contrária à

exigência do impulso bilateral para o ajuizamento do dissídio coletivo, a

possibilidade do suprimento judicial da falta do consentimento nos casos de abuso

de direito e a extinção do poder normativo da Justiça do Trabalho, fundamentos que,

como se vê, levam a posicionamentos diferentes sobre tão complexa questão.

(NASCIMENTO, 2012, p. 930).

Analisa Teixeira Filho que a expressão comum acordo é um aspecto surrealista da

norma constitucional, já que é razoável presumir que na prática, dificilmente as partes

entrarão em acordo, dificultando assim a submissão dos dissídios coletivos de natureza

econômica à apreciação dos Tribunais do Trabalho. (TEIXEIRA FILHO, 2009).

59

Ademais, segundo o autor, se as partes em sede de celebração de acordo ou

convenções coletivas não entraram em consenso, dificilmente se avençarão para fins de

ajuizar o dissídio coletivo. Portanto, no entendimento do autor que essa não foi a melhor

forma de estimular às partes à negociação ou resolução consensual do conflito coletivo

trabalhista. (TEIXEIRA FILHO, 2009).

Na visão de Ripper, o requisito do mútuo consentimento não representa uma

forma de incentivo à negociação coletiva:

Muitos entenderam tratar-se de uma medida incentivadora à negociação coletiva. De

certa forma é um contra sensu, pois as partes, quando esgotadas todas as fases das

negociações coletivas, dificilmente vão se compor para atribuir a demanda ao

Judiciário. Entendemos tratar-se, na verdade, de uma medida que mais incentiva à

greve do que impulsiona a negociação coletiva, muito embora essa relação seja

inevitável, uma vez que a greve é instrumento dos empregados na negociação

coletiva. (RIPPER, 2005, p. 3).

Para Antônio Álvares da Silva, citado por Almeida, a exigência do comum acordo

para ajuizar o dissídio coletivo é o lado altamente positivo da reforma. Isto porque,

considerando que não era a vontade do legislador a extinção do Poder Normativo, pelo menos

foi utilizado do bom senso para limitá-lo. (ALMEIDA, 2008).

Assim, com a necessidade do comum acordo nenhum sindicato poderá ajuizar

unilateralmente o dissídio e submeter a outra parte a sentença normativa. Portanto, segundo o

autor, o legislador agiu corretamente, pois, em se tratando de conflitos coletivos trabalhistas

deve ser mínima a intervenção do Estado, já que o desejo é a resolução do conflito por meio

da autocomposição. (ALMEIDA, 2008).

Cabe destacar ainda as palavras de Nascimento, ao afirmar que a exigência do

mútuo consentimento pode trazer outra consequência indesejada: o incentivo à litigiosidade

contida, vez que estará sendo afetado o próprio direito de propor o dissídio coletivo, caso se

conclua pela propositura com a autorização do suscitado. (NASCIMENTO, 2012).

No que se refere a litigiosidade contida, Nascimento destaca o entendimento de

Cândido Rangel Dinamarco e Kazuo Watanabe:

Como demonstram Cândido Rangel Dinamarco e Kazuo Watanabe, a litigiosidade

contida é perigoso fator de infelicidade pessoal e desagregação social, e, por isso,

constitui missão e dever do Estado a eliminação desses estados de insatisfação. O

escopo de pacificar as pessoas mediante a eliminação de conflitos com justiça é, em

última análise, a razão mais profunda pela qual o processo existe e se legitima na

sociedade (Cândido Dinamarco). (NASCIMENTO, 2012, p. 934).

A pleonástica expressão comum acordo, contida no §2º do art. 114 da CF, traz

divergência doutrinária sobre o seu enquadramento jurídico-processual. Para alguns é

60

pressuposto processual, enquanto outros sustentam ser uma condição da ação. Por fim, ainda

existe a corrente que sustenta haver inconstitucionalidade na exigência imposta pela EC n.

45/2004. (LEITE, 2012).

Dessa forma, diante das variadas interpretações levantadas a respeito da expressão

comum acordo, nos tópicos seguintes serão analisadas os argumentos utilizados pela doutrina

e jurisprudência acerca do seu enquadramento.

4.2 AFRONTA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A defesa de inconstitucionalidade da expressão, conforme analisa Silva, se apoia

primordialmente na ofensa aos princípios da inafastabilidade da jurisdição ou do livre acesso

ao Judiciário, consagrados no art. 5º, inciso XXXV da Constituição Federal, que assim

dispõe: (SILVA, 2010).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

[...]

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a

direito; (BRASIL, 1988).

Na visão de Gomes e Gottschalk, o entendimento predominante é de que o

comum acordo fere princípios constitucionais de processo, entre eles o de acesso ao

Judiciário, que deve ser submetido à absurda condição de autorização do réu. O entendimento

minoritário na visão dos autores, é que o comum acordo não fere garantias constitucionais,

justificando-se de que não há pretensão a satisfazer, mas, somente criar direitos. (GOMES;

GOTTSCHALK, 2012).

Nascimento, em seu artigo sobre a questão do dissídio coletivo “de comum

acordo” afirma:

[...] não é exorbitante a tese de inconstitucionalidade do afastamento da jurisdição

pela EC 45 porque não apenas criou uma condição para a ação ou um pressuposto

processual, mas, indo mais além, inverteu o direito de ação. A transferência do poder

de agir do autor para o réu – que se verifica se o autor depende do consentimento do

réu para acioná-lo – não é nem condição da ação nem pressuposto processual. É

supressão do direito de ação do autor e submissão do seu direito à opção do réu. É

invalidante, portanto, do livre direito de ação. É o mesmo que negar o direito de

ação. Movimentar a jurisdição para a proteção de um direito considerado lesado é o

princípio maior. (NASCIMENTO, 2014, p. 17 e18).

Conforme analisa Schiavi, alguns intérpretes consideram ser inconstitucional a

exigência do mútuo consentimento para ajuizar o dissídio coletivo de natureza econômica, vez

61

que a expressão comum acordo fere um direito maior, que é o do acesso à Justiça do

Trabalho, estabelecido no art. 5º, XXXV, da CF. Trata-se assim, “de uma emenda

constitucional inconstitucional”. (SCHIAVI, 2013, p. 1192).

Para Tonial, a discussão tocante à inconstitucionalidade sempre foi uma constante

junto aos parlamentares, desde a tramitação do projeto que deu origem à Emenda

Constitucional, a exemplo da manifestação do parlamentar Sérgio Miranda que assim

defendeu: (TONIAL, 2009).

[...] reitero que a expressão “de comum acordo”, constante do § 2º do art. 114 da

Constituição Federal, trata de situação em que uma parte se recusa à negociação

coletiva e à arbitragem. Recorrer à Justiça só será possível, segundo o texto da

Relatora, se houver comum acordo. Ora, Sr. Presidente, trata-se de profunda

contradição. Na nossa opinião, isso fere o inc. XXXV do art. 5º, que impõe que

nenhuma lesão ou ameaça de lesão pode ser excluída da apreciação do Poder

Judiciário. Além de ser inconstitucional, reflete a incompreensão de que todos os

conflitos trabalhistas podem ser resolvidos no âmbito da sociedade civil, sem

recorrer ao Estado, que, neste caso, dará garantia ao mais fraco. [...] Há um direito

mínimo preservado no texto da Relatora: o “de comum acordo” evita um solução

jurídica da parte que se sente prejudicada e beneficia aquele que quer manter o

impasse a todo custo. Nesse sentido, o PCdoB vota pela retirada da expressão.

(TONIAL, 209, p. 221 e 222).

Segundo Teixeira Filho, ao condicionar o ajuizamento do dissídio coletivo de

natureza econômica à existência de mútuo consentimento entre as partes, a Emenda

Constitucional n. 45, impediu que o ajuizamento se desse de modo unilateral, inibindo assim,

o exercício do direito constitucional de ação, assegurado no inciso XXXV do art. 5º da Carta

Maior, violando, portanto, a própria Constituição. (TEIXEIRA FILHO, 2009).

Explica o autor:

Com efeito, condicionar o exercício do direito de ação (“dissídio coletivo” de

natureza econômica) à concordância da parte contrária significa, não apenas, atentar

contra a lógica e o bom senso; apresentar ao universo jurídico algo inusitado e

teratológico3, como, acima de tudo, desferir profundo golpe em um dos mais

importantes direitos fundamentais que a Constituição atribui aos indivíduos e às

coletividades, qual seja, o de invocar a prestação da tutela jurisdicional do Estado,

com o escopo de promover a defesa de direitos e interesses ligados a bens ou a fatos

da vida, lesados ou na iminência de sofrer lesão. (TEIXEIRA FILHO, 2009, p.

2985).

Nas palavras de Arouca, citado por Tonial, na hipótese de o adversário recusar a

arbitragem privada e também a jurisdicional, o conflito se mantém e os interesses dos

trabalhadores, de melhoria das condições sociais e de trabalho serão lesados, já que sem a

3 Decisão deformada, absurda, mal concebida.

62

permissão de acesso ao Judiciário para defendê-los, conforme assegura a Constituição Federal

em seu art. 5º, XXXV. (TONIAL, 2009).

Na visão de Nascimento a modificação introduzida contraria o princípio

fundamental do direito de ação. Explica o autor:

Se a natureza jurídica do dissídio coletivo é a de processo, condicioná-lo à

autorização do réu, para que o processo possa ser movido seria o mesmo que

transferir o direito de ação do autor para o réu, portanto uma hipótese absurda e que

contraria o princípio constitucional do direito de ação e a inafastabilidade da

jurisdição, na medida em que é obvio que ninguém autorizará outrem a processá-lo,

porque, como contestante no processo, seria total a incompatibilidade entre o seu

consentimento para que fosse demandado e a contestação que teria de fazer ao pleito

para cuja propositura deu a sua aquiescência. (NASCIMENTO, 2012, p. 933 e 934).

Nessa mesma linha, Martins assevera que “nada impede que uma das partes

ingresse com o dissídio coletivo de natureza econômica, pois não se pode privar o direito de

ação da parte (art. 5º, XXXV da Lei Maior)”. (MARTINS, 2012, p. 708).

Com efeito, analisa o autor:

A lesão ou ameaça a direitos pode ser decorrente do não pagamento de salários ou

da não observância de condições de trabalho estabelecidos anteriormente. Há,

portanto, uma pretensão resistida, que deve ser resolvida pela Justiça do Trabalho. A

Constituição tem também de ser interpretada de forma a tornar harmônicos seus

preceitos, de acordo com a unidade da Constituição, dando ao dispositivo

constitucional sua máxima eficácia. (MARTINS, 2012, p. 708).

Ademais, Almeida discorre que a constitucionalidade da exigência do comum

acordo é discutível, por cinco razões:

Primeiro, porque o art. 114, §2º, da Constituição Federal deve ser interpretado em

sintonia com o disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, o qual impede

que seja excluída da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a

direito, assegurando, com isso, o direito de ação, com caráter de direito fundamental.

Segundo, porque o art. 60, §4º, IV, da Constituição Federal dispõe que não será

objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias

fundamentais e o art. 5º, XXXV, da Carta Magna contém verdadeira cláusula

pétrea, que não poderia ser desrespeitada pela Emenda Constitucional n. 45/2004.

Terceiro, porque a exigência de comum acordo para a instauração do dissídio fere o

art. 8º, III, da Constituição Federal, na medida em que impede o sindicato de realizar

em juízo a defesa do interesse da categoria profissional que representa e de alcançar

melhorias nas condições de trabalho.

Quarto, porque fere o razoável atribuir a um dos titulares dos interesses contrapostos

o poder de decidir sobre o acesso do outro ao Poder Judiciário.

Quinto, porque o acesso ao Judiciário já é limitado pela exigência de prévia

negociação coletiva, não se justificando mais uma restrição a ele. (ALMEIDA, 2008,

p. 676 e 677, grifo do autor).

Destaca Teixeira Filho, que a Emenda afronta a Carta Magna em virtude do seu

art. 5º, XXXV, ser produto de um poder constituinte originário, enquanto a EC nº 45/2004 é

63

proveniente de um constituinte derivado. Assim, na visão do autor um poder constituinte

derivado pode, mediante Emenda alterar disposições da Constituição oriunda de um poder

constituinte originário, com exceção no que diz respeito a determinada matérias, destacando

entre elas os direitos e garantias constitucionais. (TEIXEIRA FILHO, 2009).

Detalhadamente explica o autor acerca de sua conclusão pela

inconstitucionalidade da EC nº 45/2004, pois não há qualquer dúvida sobre o fato de o direito

de ação integrar o elenco dos direitos e garantias fundamentais, previsto na Constituição de

1988:

a) o inciso XXXV do art. 5º da Constituição em vigor, que assegura o exercício do

direito de ação, está compreendido no Título II, versando sobre direitos e garantias

fundamentais;

b) o §2º do art. 114 da Constituição foi inserido pela Emenda Constitucional n.

45/2004, que é produto de um Poder Constituinte derivado;

c) as alterações constitucionais provenientes do Poder derivado não podem

modificar as normas da Constituição (derivante de Poder originário), atinentes aos

direitos e garantias fundamentais, a conclusão lógica, inequívoca e irreversível é de

que o § 2º do art. 114, introduzido pela EC n. 45/2004, é inconstitucional.

(TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 2984 e 2985, grifo do autor).

Corroborando a tese apresentada, destaca-se o posicionamento do Tribunal

Regional do Trabalho da 12ª Região, ao analisar dissídio coletivo suscitado pelo Sindicato dos

Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada de Estradas, Pavimentação, Montagem,

Obras de Terraplanagem em Geral, Obras Públicas, Privadas e afins de Chapecó e Região –

SINTIPAV, que adotou o seguinte entendimento:

DISSÍDIO COLETIVO. PRÉVIO ACORDO PARA INSTAURAÇÃO. § 2º DO

ART. 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INTERPRETAÇÃO

TELEOLÓGICA.4 O disposto no § 2º do art. 114 da Constituição Federal deve ser

interpretado à luz dos princípios constitucionais da autodeterminação,

inafastabilidade do Poder Judiciário, razoabilidade e liberdade individual,

estampados no art. 5º, inci. II, XXXV, e IV do § 4º do art. 60. Entendimento

diverso significa impedir a parte interessada de ver solucionado de forma

efetiva e verdadeira o conflito intersubjetivo de interesses, privando-a do seu

direito público subjetivo de ação, cláusula pétrea da Constituição da República.

Assim, aceitar como inevitável para a propositura do dissídio coletivo o mútuo

consenso das categorias econômica e profissional significaria, na prática, extirpar da

esfera jurídica o instituto em exame, mormente porque não se exigiu qualquer

justificativa para o não aceite da sua protocolização perante essa Justiça

Especializada. (BRASIL, 2014b, grifo nosso).

Ao decidir a controvérsia no processo acima mencionado, utilizou-se a

fundamentação exarada pela Advocacia Geral da União na ADIn nº 3423, que assim dispõe:

4 A interpretação teleológica é um método de interpretação legal que tem por critério a finalidade da norma. De

acordo com esse método, ao se interpretar um dispositivo legal deve-se levar em conta as exigências econômicas

e sociais que ele buscou atender e conformá-lo aos princípios da justiça e do bem comum.

64

Ora, não seria plausível e nem razoável ao legislador constitucional simplesmente

desconstituir o acesso à jurisdição ou minar a chance de os sindicatos, à vista de

controvérsia com os empregadores, obterem a emanação de sentenças normativas da

Justiça do Trabalho. Por isso não se crê que tenha sido essa a intenção da reforma.

Entendemos que a inserção dessa necessidade de “comum acordo” no art. 114, § 2º,

da Constituição, objetivou meramente impedir a propositura precipitada de dissídios

coletivos e reforçar o estímulo à negociação no âmbito das relações de trabalho. A

redução numérica de lides judiciais vale lembrar, foi a principal Meta da reforma do

Poder udici rio. Quando o art. 114, § 2º, fala em “comum acordo” para ajuizamento

do dissídio coletivo, quis significar aquela situação em que ambas as partes

enxergam a interferência judicial como a única forma restante de resolver o conflito.

[...]

Enfim, essa expressão “comum acordo”, ao que nos parece, quer di er um “comum

acordo na inevitabilidade da busca judicial”, e não um “consentimento para que a

outra parte busque a via judicial”. (BRASIL, 2014c).

Com propriedade Tonial afirma que a situação é grave, pois a impossibilidade de

acesso ao Poder Judiciário, impede que se preste uma tutela ao conflito em questão, porquanto

“amparado ideologicamente pelo medo de efetivação de direitos sociais, e cientes da crise

estrutural em que se encontra a atividade sindical, tolher o acesso a esse instrumento (dissídio

coletivo) é negar a sociedade acesso a direitos fundamentais”. (TONIAL, 2009, p. 228).

Por fim, a tese de que a expressão comum acordo está eivada de

inconstitucionalidade fundamentou o ajuizamento de várias Ações Diretas de

Inconstitucionalidade. Até o presente momento, tramitam no Supremo Tribunal Federal cinco

ADIs contrárias à exigência do comum acordo, a saber: ADI n° 3392/20055, ADI n°

3423/20056, ADI n° 3431/2005

7, ADI n° 3432/2005

8e ADI n° 3520/2005

9, todas pendentes

de julgamento. (SILVA, 2010).

Por outro lado, existem correntes que se posicionam de maneiras diversas,

seguindo o entendimento de que não existe qualquer inconstitucionalidade no requisito de

comum acordo para o ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica.

Neste viés, defendendo a tese de constitucionalidade, Giglio e Corrêa afirmam que

nenhuma ofensa foi perpetrada pela exigência do comum acordo:

Parece-nos, contudo, que nenhuma ofensa foi perpetrada pela exigência de

assentimento mútuo para o ajuizamento do dissídio coletivo, uma vez que o art. 5º,

5 Proposta pela Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL.

6 Interposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade – CONTRATUH,

Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio – CNTC, Confederação Nacional dos Trabalhadores na

Indústria – CNTI, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Terrestres – CNTTT,

Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins – CNTA, Confederação

Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos CNTM, Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de

Crédito – CONTEC. 7 Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino – CONTEE.

8 Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Educação e Cultura – CNTEEC.

9 Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – CONFENEN.

65

XXXV, proíbe a exclusão da apreciação do Poder udici rio apenas da “lesão ou

ameaça a direito”. E, muito embora os direitos coletivos também constituam direito,

no dissídio coletivo não são alegados nem reivindicados “direitos” lesados ou

ameaçados, mas invocados interesses e discutidas propostas de criação de normas.

Vedar a atividade legiferante da Corte Judicial, em certas circunstâncias, não é o

mesmo que impedir a discussão judicial de direitos lesados,e, portanto, inexiste

qualquer inconstitucionalidade. (GIGLIO; CORRÊA, 2007, p. 417, grifo do autor).

O entendimento de Ripper não destoa. Veja-se:

[...] rechaça-se qualquer arguição que o comum acordo violaria o princípio da

inafastabilidade do controle jurisdicional, disposto no art. 5º, XXXV, da

Constituição Federal que estabelece: "a lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito". Isto porque, a impossibilidade é direcionada à

"lei" e não à Constituição, por meio do poder constituinte originário ou derivado.

(RIPPER, 2005, p. 1).

Referente à afronta a Constituição, Raimundo Simão de Melo aponta em sua

análise:

Entendo que não. O princípio da inafastabilidade jurisdicional aplica-se, como

estabelece explicitamente o referido dispositivo, às ofensas ou ameaças a direitos.

Não é o caso do dissídio coletivo econômico, por meio do qual o que se discute são

meros interesses das categorias, especialmente das categorias profissionais,

consubstanciados em reivindicações econômicas e sociais, que visam à melhoria das

condições de trabalho dos respectivos membros. Não há falar, pois, em ofensa a

direito. (MELO, 2007, p. 88).

Como sustenta Edson Braz da Silva citado por Melo, o exercício do poder

normativo não se presta a julgar lesão ou ameaça a direito, mas sim, criar normas e condições

de trabalho com o intuito de satisfazer interesses econômicos e sociais da categoria

profissional. Explica o autor:

Logo, é ilação autorizada pela interpretação sistemática da Carta Magna a

inexistência de divergência entre os preceitos dos seus arts 114, § 2º, e 5º, inciso

XXXV. Ao conferir poder normativo à Justiça do Trabalho, o constituinte atribuiu-

lhe, de forma excepcional à tradicional divisão republicana de poderes, pequena

competência legislativa concorrente e não excludente do Poder Legislativo. Assim,

quando a Justiça do Trabalho exerce o poder normativo, ela se afasta da atividade

típica de Poder Judiciário e cria, mediante sentença normativa, normas e condições

de trabalho como se fosse o próprio Poder Legislativo. Porquanto, a sentença

normativa é formalmente uma sentença e materialmente uma lei. (MELO, 2007, p.

89).

Afirmando a tese de constitucionalidade da expressão, Schiavi atesta que o § 2º do

art. 114 da CF não atrita com o princípio da inafastabilidade da jurisdição, uma vez que é

dirigido à lesão de direito já existente positivado no ordenamento jurídico. Assim, o dissídio

coletivo tem natureza dispositiva ou constitutiva visando à criação de normas aplicáveis no

âmbito da categoria e não de aplicação do direito vigente a uma lesão de direito. (SCHIAVI,

2013).

66

Além disso, explica o autor, que se trata de competência atribuída a Justiça do

Trabalho, por exceção, com o objetivo de criar normas jurídicas no âmbito da categoria

profissional e econômica no chamado vazio da lei, bem como solucionar o conflito coletivo

de natureza econômica, quando fracassadas as tentativas de negociação. (SCHIAVI, 2013).

No entendimento de Garcia, tendo em vista as peculiaridades envolvendo o

dissídio coletivo, conclui-se pela constitucionalidade da exigência do comum acordo:

[...] nos conflitos coletivos de nature a econ mica, o que se observa é a pretensão de

fixação de novas condições de trabalho, a serem criadas para aplicação a todos os

integrantes da categoria, ou aos empregados da(s) empresa(s) envolvida(s). Em

outras palavras, nos conflitos coletivos de trabalho não se visualiza simples lesão ou

ameaça a direito propriamente, mas contraposição de interesses sobre a constituição

de normas e condições a serem aplicadas, normalmente com efeitos futuros, nas

relações de trabalho. Tanto é assim que a chamada sentença normativa é verdadeira

fonte formal do Direito do Trabalho, ao estabelecer, de forma genérica e abstrata,

disposições sobre condições de trabalho. (GARCIA, 2013, p. 838).

No mesmo sentido, destaca-se o Enunciado n.º 35, da 1ª Jornada de Direito

Material e Processual do Trabalho realizada em 23.11.2007, no Tribunal Superior do

Trabalho:

35. DISSÍDIO COLETIVO. COMUM ACORDO. CONSTITUCIONALIDADE

AUSÊNCIA DE VULNERABILIDADE AO ART. 114, § 2º, DA CRFB. Dadas as

características das quais se reveste a negociação coletiva, não fere o princípio do

acesso à Justiça o pré-requisito do comum acordo (§ 2º, do art. 114, da CRFB)

previsto como necessário para a instauração da instância em dissídio coletivo, tendo

em vista que a exigência visa a fomentar o desenvolvimento da atividade sindical,

possibilitando que os entes sindicais ou a empresa decidam sobre a melhor forma de

solução dos conflitos. (BRASIL, 2007a).

Sustenta Enoque Ribeiro dos Santos, citado por Schiavi, que é descabida a tese de

inconstitucionalidade da expressão “comum acordo”:

[...] pelo fato de que, no exercício do poder normativo, os tribunais do trabalho não

aplicam o direito preexistente ao caso concreto, em típica atividade jurisdicional,

mas pelo contr rio, agora “podem decidir o conflito” e estabelecer novas condições

de trabalho e de remuneração para a categoria, respeitando-se os novos limites

impostos pelo §2º do art. 114 da CF/1988, quais sejam: as disposições mínimas e as

convencionadas anteriores, no exercício de função legislativa atípica. (SCHIAVI,

2013, p. 1225).

Para Romita, citado por Jorge Neto e Cavalcante, não existe inconstitucionalidade

a ser reconhecida, porque a regra constitucional do art. 5º, XXXV, é inaplicável a hipótese, já

que o dissídio coletivo não tem por objeto a reparação de lesão ou ameaça a direito. (JORGE

NETO; CAVALCANTE, 2013).

Leite compartilha da mesma ideia defendendo que o inciso XXXV do art. 5º da

CF não se mostra violado pelo novo §2º do art. 114 da CF, já que a garantia de acesso ao

67

Judiciário ocorre nas hipóteses de lesão ou ameaça a direitos individuais, coletivos e difusos.

Explica o autor:

Ora, o dissídio coletivo de natureza econômica não tem por objeto proteger direito

subjetivo preexistente, lesado ou ameaçado de lesão. Ao revés, por meio dele o que

se pretende é criar direito novo, de natureza abstrata, por meio do poder normativo

especialmente atribuído à Justiça do Trabalho, destinado à categoria profissional

representada pela entidade sindical suscitante. Daí a natureza constitutiva desse tipo

especial de ação coletiva, pois cria novos direitos entre os representantes das

categorias econômica e profissional. (LEITE, 2012, p. 1225, grifo do autor).

Na concepção de Pereira, a EC nº 45 de 2004 ao trazer a exigência do comum

acordo no § 2º do art. 114 da Constituição Federal de 1988, não resulta em

inconstitucionalidade por ofensa ao inciso XXXV do art. 5º da CF. (PEREIRA, 2011).

Segundo o autor o inciso traz o princípio da inafastabilidade da jurisdição, em que

a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça de lesão a um

direito. Assim, não há inconstitucionalidade tendo em vista que o dissídio coletivo não tem

por objeto um direito preexistente, mas a criação de direitos e condições novas de trabalho

que serão observadas pelas categorias. (PEREIRA, 2011).

A posição do Procurador-Geral da República (ADIN’s 3.432) sobre a

constitucionalidade da referida expressão segue a mesma linha:

O poder normativo da Justiça do Trabalho, por não ser atividade substancialmente

jurisdicional, não está abrangido pelo âmbito normativo do art. 5º, XXXV, da

Constituição da República. Assim sendo, sua restrição pode ser levada a efeito por

meio de reforma constitucional, sem que seja violada a cláusula pétrea que

estabelece o princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário. (NASCIMENTO,

2012, p. 929).

Corroborando a tese da constitucionalidade do comum acordo, destaca-se o

entendimento do Tribunal Superior do Trabalho ao analisar a controvérsia no Recurso

Ordinário interposto pelo Sindicato da Indústria da Construção Pesada e afins do Estado de

Santa Catarina – SICEPOT/SC nos autos do processo nº TST-RO-10200-57.2013.5.12.0000,

publicado em 12.09.2014:

[...] Esclareço que, conforme entendimento pacífico nesta Corte Superior, não há

conflito entre a exigência de “comum acordo”, como requisito para instauração

do dissídio coletivo, e o disposto no art. 5.º, XXXV, da Constituição Federal, já

que esse dispositivo garante o direito à manifestação jurisdicional acerca de

possíveis afrontas a direitos previstos em normas jurídicas preexistentes, enquanto

que no dissídio coletivo a atuação estatal se traduz pela criação das normas jurídicas

que visam à pacificação do conflito, em pleno exercício do poder normativo

conferido constitucionalmente à Justiça do Trabalho. (BRASIL, 2014a, grifo nosso).

68

Ao proferir a decisão no processo mencionado, os Ministros da Seção

Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho citam o referido

entendimento:

DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA E REVISIONAL.

EXIGÊNCIA DE COMUM ACORDO. MANIFESTAÇÃO CONTRÁRIA EM

DEFESA. 1. O art. 114, § 2o, da Constituição Federal, com a redação dada pela EC

nº 45/2004, dispõe que, recusada a negociação coletiva ou a arbitragem, faculta-se às

partes, de comum acordo, o ajuizamento de dissídio coletivo de natureza econômica.

2. Tal dispositivo não padece de inconstitucionalidade frente ao art. 5º, inciso

XXXV, da Constituição Federal, pois referido dispositivo, ao impedir que se

vede o acesso ao Poder Judiciário, diz respeito às lesões a direitos subjetivos

decorrentes de normas jurídicas preexistentes, situação muito diversa do

dissídio coletivo, em que a pretensão dirige-se à criação de normas jurídicas. De

todo modo, a Constituição Federal não consagra um direito irrestrito e

incondicionado de mero acesso ao Poder Judiciário, podendo a lei prever requisitos,

condições e pressupostos para tanto, tal como se dá, por exemplo, com o

exaurimento da negociação coletiva prévia no dissídio coletivo (CLT, art. 616, § 4º).

3. Se em defesa há manifestação expressa de discordância no ajuizamento de

dissídio coletivo, impõe-se a extinção do processo, sem resolução de mérito (CPC,

art. 267, inciso IV). 4. Recurso ordinário interposto pela Empresa Suscitada a que se

dá provimento. (BRASIL, 2007b, grifo nosso).

Rebatendo os argumentos das teses de constitucionalidade do comum acordo,

Nascimento ensina não ser sustentável a afirmação de que no dissídio coletivo não há direitos,

mas, apenas interesses:

Dizer que no dissídio coletivo econômico não há um direito, mas um interesse e, por

tal razão, nenhum direito teria sido violado é deslocar a discussão do seu núcleo.

Não se discute o direito material pretendido. O que se verifica é se foi afetado o

direito processual. É que a premissa é equivocada. Há um direito violado, sim: o

direito de ação.(NASCIMENTO, 2012, p. 934).

No mesmo sentido, Teixeira Filho rebate a tese da constitucionalidade da

expressão comum acordo:

Outros, visando a afastar o argumento de inconstitucionalidade do § 2º do art. 114

da Constituição, na parte que alude ao “mútuo acordo”, sustentam que a atividade

dos Tribunais do Trabalho no exercício do Poder Normativo não é jurisdicional, mas

legislativa, porquanto criadora de direitos. [...] Entretanto, essa atividade é,

tecnicamente, jurisdicional. Ocorre que, embora a tradição jurídica ensine que o

vocábulo jurisdição (iuris + dictio) traduza o ato pelo qual o juiz diga com quem está

o direito (preexistente, portanto), na verdade, a jurisdição, como no caso da

normativa, compreende, também, a criação ou a manutenção de normas destinadas a

reger, materialmente, as relações entre as categorias em conflito. Ou seja, o acórdão

normativo, proferidos nos chamados dissídios coletivos econômicos, possui natureza

constitutiva, sendo declaratória, nos dissídios ditos jurídicos. A particularidade de o

acórdão normativo não produzir coisa julgada material, mas, apenas, formal, não

pode ser invocada como argumento para negar-lhe o caráter jurisdicional.

(TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 2987, grifo do autor).

69

No mesmo vértice do entendimento explanado por Nascimento, Teixeira Filho

afirma que o fato de o dissídio coletivo econômico ser de natureza constitutiva não pode ser

considerado um pretexto para excluir da apreciação do Poder Judiciário uma lesão ou ameaça

de lesão a direito, pois a instituição de novas condições de trabalho é um direito assegurado à

categoria dos trabalhadores e empregadores. Portanto, não se pode ignorar o fato de o

insucesso da negociação coletiva caracterizar conflito de interesses, cuja solução deverá ser

realizada pela Justiça do Trabalho, por meio do poder normativo. (TEIXEIRA FILHO, 2009,

p. 2987).

Na visão de Garcia, com a necessidade de consenso entre as partes para ajuizar o

dissídio coletivo de natureza econômica, houve a aproximação do instituto chamado

arbitragem oficial ou pública. Explica o autor que na arbitragem as partes, de comum acordo,

escolhem referida via para a solução do conflito, designando árbitros e aceitando se

submeterem à decisão destes. (GARCIA, 2013).

Para o autor, embora essa posição não seja unânime, o §2º do art. 114 não

transformou o dissídio coletivo em arbitragem propriamente, já que é mencionada, de forma

específica, na parte inicial do dispositivo e no § 1º do mesmo art. 114. Além disso, não se

verifica total identidade entre os critérios que fundamentam a decisão arbitral (Lei

9.307/1996, art. 2º) e o dissídio coletivo de natureza econômica, pois este permanece ligado

no poder normativo, que tem limites próprios. (GARCIA, 2013).

Neste viés, sustenta Teixeira Filho que alguns doutrinadores procurando contornar

a inconstitucionalidade da expressão, entendem que ela revela a existência de uma arbitragem

judicial voluntária.

Discordamos dessa opinião. Primeiramente, porque nos parece, data vênia, forçada e

sem utilidade prática. Forçada, porque, em princípio, a arbitragem não é judicial,

sendo, ao contrário, realizada por organismo privado; sem utilidade prática, porque,

dependente de uma convergência de vontades das partes (“comum acordo”), essa

suposta arbitragem dificilmente seria instituída, fazendo com que o conflito de

interesses ficasse sem solução. Segundamente, porque o §1º do art. 114 da

Constituição já prevê a possibilidade da instituição de arbitragem; sendo assim, não

faria sentido o constituinte vir a cogitar, mais uma vez, de arbitragem, no § 2º do

mesmo dispositivo constitucional. (TEIXEIRA FILHO, 2009, p. 2986).

Assim, por todo o exposto, verifica-se que a questão de (in) constitucionalidade da

expressão comum acordo, expressa no §2º do art. 114 da Constituição Federal ainda não está

pacificada na doutrina e jurisprudência.

70

Acredita-se que somente haverá o entendimento uníssono a respeito do tema

quando houver o efetivo julgamento pelo Supremo Tribunal Federal relativamente as Ações

Diretas Inconstitucionalidade n.º 3392, 3423, 3431, 3432 e 3520.

Sendo assim, vencida a abordagem do aspecto da constitucionalidade, passa-se a

análise, na sequência, da divergência: pressuposto processual x condição da ação.

4.3 PRESSUPOSTO PROCESSUAL X CONDIÇÃO DA AÇÃO

A doutrina e jurisprudência trazem ainda outro questionamento: o enquadramento

do comum acordo como pressuposto processual ou condição da ação.

Na concepção de Iara Alves Cordeiro Pacheco, citado por Tonial, existem

divergências doutrinárias a respeito da expressão comum acordo. Para uns se trata de

pressuposto processual, de forma que o não preenchimento implica de imediato a extinção do

processo, enquanto há quem sustente ser uma condição da ação, e, assim, uma vez citada a

parte contrária e em caso de concordância com a submissão do litígio ao Poder Judiciário,

estaria solucionado o impasse, tendo o processo seu curso normal. (TONIAL, 2009).

Logo, para melhor esclarecimento, antes de demonstrar os argumentos utilizados

pela doutrina e jurisprudência sobre o enquadramento jurídico-processual da expressão

comum acordo, faz-se necessário distinguir os dois institutos (pressuposto processual e

condição da ação).

O Código de Processo Civil prevê em seu art. 267 as causas de extinção do

processo sem resolução do mérito nos casos de falta dos pressupostos processuais ou

condições da ação:

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

[...]

IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de

desenvolvimento válido e regular do processo;

[...]

VI - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade

jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; (BRASIL, 1973).

Relativamente aos pressupostos, ensina Martins Filho que deverão ser observados

os seguintes:

a) Subjetivos:

- referentes ao juiz, supõe a competência do órgão julgador, que, no caso dos

dissídios coletivos, sob o prisma hier rquico, é dos TRTs para os conflitos de âmbito

local ou regional, e do TST para os dissídios de âmbito suprarregional ou nacional;

71

- referentes s partes — legitimação “ad processum”— os sindicatos atuam como

substitutos processuais da categoria.

b) Objetivos

- ajui amento de comum acordo — com a promulgação da EC no 45/04, o Poder

Normativo da ustiça do Trabalho somente pode ser exercido no caso de ambas as

partes postularem a intervenção da ustiça Laboral para a composição do conflito, j

que infrutíferas as negociações levadas a cabo.

- inexistência de litispendência — a litispendência como fato impeditivo do

ajuizamento da ação (CPC, art. 267, V) também se aplica ao processo coletivo, não

podendo o sindicato ajuizar novo dissídio enquanto pende de julgamento o anterior.

- negociação coletiva prévia — o ajuizamento de dissídio coletivo deve ser

precedido de tentativa de negociação coletiva entre as partes.

- inexistência de norma coletiva em vigor — o dissídio coletivo só pode ser ajuizado

após um ano de vigência da sentença normativa ou do acordo ou convenção coletiva

(CLT, art. 873).

- prazo de ajuizamento — dentro dos 60 dias que antecedem a data-base da categoria

(CLT, art. 616, § 3o), sob pena de perda daquela (CLT, art. 867, parágrafo único, a).

[...] (MARTINS FILHO, 2013, p. 364 a 367, grifo do autor).

Explica Theodoro Junior para que se obtenha a solução do conflito, o autor deverá

atender a determinadas condições da ação, sob pena de ter recusado seu pedido de apreciação

pelo juiz. (THEODORO JUNIOR, 2013).

Quanto às condições da ação, Martins Filho aponta em sua análise:

a) Possibilidade jurídica do pedido — supõe a possibilidade de criação de norma

coletiva para a categoria pela via do dissídio coletivo.

b) Legitimação ad causam — sendo o dissídio coletivo uma ação da categoria,

necessita o sindicato de sua autorização, por meio de assembleia geral

convocada especificamente para esse fim.

c) Interesse processual — supõe a alteração das condições fáticas da prestação de

serviços e do contexto econômico, gerando a necessidade de criação de novas

normas coletivas (CLT, art. 873). (MARTINS FILHO, 2013, p. 362 - 364, grifo

do autor).

Ensina Theodoro Junior que as condições da ação não se confundem com os

pressupostos processuais, “pois estes dizem respeito apenas à validade da relação processual,

enquanto as condições da ação se relacionam com a possibilidade ou não de obter-se, dentro

de um processo v lido, a sentença de mérito”. (THEODORO JUNIOR, 2013, p. 347).

Assim, para se obter uma composição do litigio a parte deverá constituir uma

relação processual válida, bem como satisfazer as condições jurídicas para que o juiz se

manifeste sobre seu pedido”. (THEODORO JUNIOR, 2013, p. 347).

Conforme Wambier é necessária a existência dessas condições para a prestação da

tutela jurisdicional requerida. Caso não preenchidas, ficará impedido o caminho para a

prestação da tutela, com a consequente decretação de carência da ação. (WAMBIER, 2011, p.

167).

Há entendimentos, segundo aponta Schiavi, no sentido de que o comum acordo

deve ser prévio, necessitando estar presente no ingresso do dissídio, sob pena de nulidade,

72

uma vez que se trata de requisitos de existência e regularidade de desenvolvimento da relação

jurídica processual. (SCHIAVI, 2013).

Do ponto de vista de Schiavi, contudo, a expressão comum acordo é uma

condição da ação já que a sua ausência implica falta de interesse processual na modalidade

necessidade, nos termos dos arts. 3º e 267, VI, do CPC:

A nosso ver, o comum acordo não é um pressuposto processual, e sim uma condição

da ação, ou, melhor dizendo, um óbice à apreciação da pretensão coletiva trazida em

juízo. Por isso não se trata de um requisito de validade da relação jurídica

processual, mas uma condição prévia para a apreciação da pretensão. Cumpre

destacar que o “comum acordo” se assemelha ao compromisso arbitral e, pelo art.

301, §4º, do CPC, o Juiz não pode conhecê-lo de ofício. (SCHIAVI, 2013, p. 1196).

Ainda, do seu ponto de vista o comum acordo não precisa ser prévio ao

ajuizamento do dissídio coletivo, podendo essa condição da ação ser preenchida durante o

curso do processo, de forma tácita ou pela não oposição do suscitado. (SCHIAVI, 2013).

Seguindo a mesma ordem de ideias, Pereira afirma que a exigência constitucional

do comum acordo não precisa ser prévia, podendo ser obtida em momento posterior ao

ajuizamento, no curso do processo do dissídio coletivo. (PEREIRA, 2011).

Assim, afirma o autor que se trata de uma condição da ação, traduzida pelo

interesse processual, no viés da necessidade, ou seja, sem o mútuo consentimento não haverá

a necessidade de provocação do Judiciário Trabalhista para a resolução do conflito trabalhista.

Dessa forma, a sua ausência acarretará a extinção do processo sem resolução de mérito, nos

termos do que dispõe o art. 267, inciso VI, do CPC. (PEREIRA, 2011).

Sobre a controvérsia Garcia aponta em sua análise:

Como a disposição constitucional exige o “comum acordo”, defende-se o

entendimento de que se trata de condição da ação, peculiar e especial no dissídio

coletivo de natureza econ mica. possível sustentar que essa necessidade de

consenso pode ser expressa ou tácita, podendo-se verificar tanto previamente como

também no curso do processo. Além disso, defende-se que a referida exigência pode

ser suprida pelo tribunal, em casos de abuso de direito, m -fé ou pr tica de ato

antissindical por uma das partes. Além disso, a exigência de comum acordo para o

ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica não significa a exclusão de

sua apreciação pelo Poder Judiciário, mas mera condição da ação especifica, para

viabilizar a análise do mérito. (GARCIA, 2013, p. 837).

Para Leite, a exigência do comum acordo também é uma condição da ação, pois a

sua ausência implica falta de interesse processual na modalidade necessidade. Portanto, sem o

mútuo consentimento das partes, não há necessidade de intervenção do Estado-juiz para

prestar o serviço jurisdicional. (LEITE, 2012).

73

No entendimento do autor, o comum acordo não significa que as partes deverão

assinar em conjunto a petição inicial. É suficiente que uma delas comprove a concordância da

outra, quando do ajuizamento, podendo ser tácita ou expressa. (LEITE, 2012).

No primeiro caso, basta um documento assinado por ambas as partes envolvidas

concordando com o ajuizamento da demanda. Por outro lado, será tácita quando houver prova

de que uma das partes chamou a outra para, em determinado prazo, apresentar ou não a sua

aquiescência com o ingresso da demanda, sendo que o silêncio será interpretado como

concordância tácita. (LEITE, 2012).

Seguindo a mesma linha, o TST decidiu recentemente no julgado abaixo que

mútuo consentimento não significa petição conjunta das partes, podendo ser obtido antes ou

após a propositura do dissídio coletivo, de forma tácita ou expressa:

DISSÍDIO COLETIVO. RECURSO ORDINÁRIO. FALTA DO MÚTUO

ACORDO. ARTIGO 114, § 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. Com a edição

da Emenda Constitucional n.º 45/2004, estabeleceu-se novo requisito para o

ajuizamento de dissídio coletivo de natureza econômica, qual seja, que haja comum

acordo entre as partes. Trata-se de requisito constitucional para instauração do

dissídio coletivo e diz respeito à admissibilidade do processo. A expressão "comum

acordo", de que trata o mencionado dispositivo constitucional, não significa,

necessariamente, petição conjunta das partes, expressando concordância com o

ajuizamento da ação coletiva, mas a não oposição da parte, antes ou após a sua

propositura, que se pode caracterizar de modo expresso ou tácito, conforme a

sua explícita manifestação ou o seu silêncio. No caso dos autos, houve a recusa

expressa do recorrente quanto à instauração do dissídio coletivo, a qual foi feita em

momento oportuno, ao teor do art. 301, X, do CPC, o que resulta na extinção do

processo, sem resolução de mérito, ante a falta de pressuposto de constituição e

de desenvolvimento válido e regular. Recurso ordinário provido. (BRASIL,

2014d, grifo nosso).

Ainda, Leite afirma que a concordância tácita poderá ser extraída do

comportamento do suscitado na audiência de conciliação ou ao contestar a ação de dissídio

coletivo. Explica o autor que por ocasião da audiência de conciliação se o réu apresentar

contraproposta ou na contestação se manifestar sobre o mérito, mas silenciar sobre a

inexistência de comum acordo para a propositura do dissídio coletivo, seu silêncio será

interpretado como concordância tácita. (LEITE, 2012).

Corroborando o exposto por Leite, o Tribunal Regional do Trabalho da 12ª

Região, já decidiu que o comum acordo é uma condição da ação:

DISSÍDIO COLETIVO - COMUM ACORDO - INEXISTÊNCIA - CARÊNCIA

DE AÇÃO - EXTINÇÃO DO PROCESSO - A Emenda Constitucional nº 45/2004,

no âmbito de interesse do Dissídio Coletivo, alterou o parágrafo 2º do art. 114 da

Carta Magna , passando a dispor que no caso de recusa das partes à negociação

coletiva ou à arbitragem, é facultado a elas, de comum acordo,

74

ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica. Nesse passo, o acertamento

passou a ser requisito essencial à propositura de tal espécie de ação. Não

oferecendo resposta o suscitado, ou inserindo na sua defesa preliminar

realçando a ausência de acordo com o suscitante, evidencia-se a inviabilidade

do exame do mérito da questão controvertida, por ausência de condição da

ação, hipótese capaz de atrair o teor do art. 267, inciso VI, do CPC, para fins de

extinguir o processo, sem resolução do mérito. (BRASIL, 2012a, grifo nosso).

A falta de comum acordo para ajuizamento do dissídio coletivo de natureza

econômica, para Melo, é indispensável à propositura da ação (CPC, art. 283). Significa mais

um pressuposto processual, o qual, não atendido, leva ao indeferimento da petição inicial.

Porém, “a decisão que extinguir o feito não resolverá a lide, tampouco entrará na análise das

condições da ação”. (MELO, 2007, p. 91).

Discorrendo acerca da controvérsia, para orge Neto e Cavalcante, “a exigência de

iniciativa conjunta não impede o acesso ao Poder Judiciário. Observado o pressuposto

processual do ‘comum acordo’, o tribunal julgar o dissídio coletivo”. (JORGE NETO;

CAVALCANTE, 2013, p.1345).

A respeito da celeuma, destacam-se as jurisprudências abaixo, que confirmam o

entendimento do Tribunal Superior do Trabalho, no sentido do comum acordo tratar-se de

mais um pressuposto processual:

RECURSO ORDINÁRIO EM DISSÍDIO COLETIVO. AUSÊNCIA DE COMUM

ACORDO, PRESSUPOSTO ESPECÍFICO PARA AJUIZAMENTO DO

DISSÍDIO. A regra, ante o que dispõe o art. 114, § 2º, da Constituição Federal, é a

exigência de comum acordo para instauração do dissídio coletivo. Havendo, como

no caso, clara evidência de que a parte contrária se opôs à instauração da

instância, força é manter a extinção do processo, sem julgamento do mérito, nos

termos do art. 267, IV, do CPC, por ausência do requisito do comum acordo.

Recurso a que se nega provimento. (BRASIL, 2012b, grifo nosso).

Ademais, é o entendimento do Tribunal Regional da 12ª Região, que

reiteradamente julgou no sentido do comum acordo tratar-se de um pressuposto processual:

DISSÍDIO COLETIVO –NECESSIDADE DE COMUM ACORDO PARA

INSTAURAÇÃO - Na forma do § 2º do art. 114 da Constituição da República , com

a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, constitui pressuposto para

o desenvolvimento válido do dissídio coletivo de natureza econômica

o comum acordo entre as categorias profissional e econômica envolvidas.

(BRASIL, 2013a, grifo nosso).

DISSÍDIO COLETIVO - COMUM ACORDO – A expressão “de comum acordo”

registrada no § 2º do art. 114 da Constituição República não se trata de um

pressuposto processual para a constituição e desenvolvimento válido e regular

do processo, havendo necessidade de oposição expressa e fundamentada ao

ajuizamento do dissídio coletivo. (BRASIL, 2014e, grifo nosso).

75

DISSÍDIO COLETIVO - FALTA DE COMUM ACORDO - Em que pesem as

posições contrárias em defesa do princípio da inafastabilidade da jurisdição ( art. 5º,

inciso XXXV, da CRFB ), não se pode desconsiderar que a Emenda nº 45/2004

impôs a observância de comum acordo para o ajuizamento de dissídio coletivo. Por

conseguinte, o não-cumprimento dessa exigência impõe a extinção do processo

sem julgamento do mérito por ausência de pressuposto válido e regular do

feito. (BRASIL, 2012c, grifo nosso).

DISSÍDIO COLETIVO - AUSÊNCIA DE COMUM ACORDO - EFEITOS -

Não havendo comum acordo entre as partes para o ajuizamento do dissídio coletivo,

não deve ele prosseguir, consoante expressa previsão no art. 114, § 2º, da Carta

Magna , devendo ser extinto o feito, sem resolução do mérito, nos termos do art.

267, IV, do CPC . (BRASIL, 2012d, grifo nosso).

Por seu turno, o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, argumenta que a

falta do comum acordo revela ausência de condição da ação:

DISSÍDIO COLETIVO - AUSÊNCIA DE COMUM ACORDO - INTELIGÊNCIA

DO ARTIGO 114, § 2º., DACONSTITUIÇÃO DE 1988 – A exigência

de comum acordo para o ajuizamento de dissídio coletivo tem efeito limitador do

poder normativo da Justiça do Trabalho e fortalecedor da negociação entre as

categorias econômica e profissional. Há que se valorizar e priorizar o diálogo entre

trabalhadores e empresários, como meio eficaz na superação de divergências. Afinal,

a melhor decisão é aquela que nasce do consenso. A decisão judicial de natureza

normativa, ao estabelecer direitos e obrigações, pode eventualmente não conformar

os interesses conflitantes, segundo a ótica dos envolvidos, por não ser possível

abarcar toda realidade econômica e social vivenciada pelas partes. Na espécie, o não

preenchimento do requisito essencial inserido no § 2º. do art. 114 da Carta

Magna levou fatalmente à extinção do processo sem resolução de mérito, nos

termos do art. 267, VI do CPC. (BRASIL, 2009a, grifo nosso).

DISSÍDIO COLETIVO - AUSÊNCIA DECOMUM ACORDO - EXTINÇÃO DO

PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO - Após a Emenda Constitucional

45/04, apenas de comum acordo o dissídio coletivo poderá ser ajuizado ( art.

114, § 2º, CF ), que pode ser, à evidência, expresso ou tácito. Vale, em havendo

discordância expressa pela Suscitada em contestação, a extinção do processo,

sem resolução do mérito, é medida imposta, dada a inobservância do requisito

previsto no art. 114, § 2º, da Constituição Federal. Preliminar acolhida.

(BRASIL, 2009b, grifo nosso).

Noutro sentido, o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, em recente

decisão, trouxe uma argumentação diferenciada no que diz respeito a questão do comum

acordo, pois, considera que a recusa de negociação impede os trabalhadores de ajuizar o

dissídio coletivo:

AUSÊNCIA DE 'COMUM ACORDO' PARA O AJUIZAMENTO

DO DISSÍDIO COLETIVO - É entendimento desta Seção de Dissídios

Coletivos de que a categoria ao se recusar a negociar o faz indevidamente,

devendo se considerar a sua recusa abusiva, pois tem o intuito claro de tentar

evitar exclusivamente o ajuizamento da demanda e impossibilitar qualquer

chance que a categoria de trabalhadores possa ter de buscar suas conquistas

tanto econômicas quanto sociais. DISSÍDIO COLETIVO - EXTINÇÃO DO

PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO - ILEGITIMIDADE ATIVA AD

CAUSAM - Existência de irregularidade no ajuizamento da ação coletiva cuja ata de

76

assembleia não registra oquorum de aprovação tanto das cláusulas quanto da

concessão de poderes para propositura de dissídio coletivo. Impossível avaliar se

restou cumprido o quorum previsto no estatuto social da entidade suscitante.

Ausência de poderes para propor a demanda. (BRASIL, 2014f, grifo do autor).

A interpretação que emerge do §2º do art. 114 da Constituição Federal, segundo a

Seção Especializada do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, é no mesmo sentido,

devendo a discordância ser fundamentada, não justificando a recusa como uma mera vontade

do suscitado, já que controvérsia existente interfere no interesse coletivo. Veja-se:

COMUM ACORDO PARA O AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO COLETIVO -

AUSÊNCIA DE RECUSA SUFICIENTEMENTE MOTIVADA PELA

SUSCITADA - A exegese da norma constitucional quanto ao alcance da expressão

"de comum acordo" expresso no texto constitucional revela uma faculdade disposta

para as partes conjuntamente recorrerem ao Judiciário. A interpretação que emerge

do dispositivo é que a discordância deve ser fundamentada e que traduza

razões consistentes, já que a repercussão da controvérsia vai interferir no

interesse coletivo de ambas as categorias envolvidas, o qual está acima do

interesse individual de quem manifesta essa oposição, porquanto o interesse da

categoria ou da fração dela é que será potencialmente afetado com o malogro

da negociação coletiva e o não atendimento das reivindicações estampadas

no dissídio coletivo. Essa manifestação de discordância não tem a natureza de

direito potestativo e deve vir calcada em fundamentos suficientes para afastar a

presunção de que ela possa estar revestida de uma mera vontade, um artifício,

uma manobra ou outro meio qualquer de lograr proveito (seja pessoal,

empresarial ou de categoria), apenas com o propósito de afastar do Poder

Judiciário a apreciação de um conflito coletivo existente e manifesto na recusa

do suscitado em participar da negociação coletiva. (BRASIL, 2013b, grifo

nosso).

Por todo o exposto, verificou-se claramente que ainda não há consenso na

doutrina e jurisprudência quanto ao enquadramento jurídico-processual da exigência do

comum acordo, conforme os diferentes posicionamentos apontados.

Dessa forma, apresentado as principais correntes acerca da análise da exigência do

comum acordo sob a égide da nova redação da Constituição Federal de 1988, no próximo

tópico será abordado a opinião dos autores quanto a limitação do Poder Normativo da Justiça

do Trabalho frente a necessidade do mútuo consentimento para ajuizamento dos dissídios

coletivos econômicos.

4.4 LIMITAÇÃO DO PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A problemática instaurada pela Emenda Constitucional n.º 45, ao exigir o comum

acordo para a o ajuizamento do dissídio coletivo de natureza econômica, têm gerado grande

repercussão e diferentes posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais em diversos

aspectos, conforme abordado nos tópicos anteriores.

77

Logo, com o intuito de responder o questionamento inicial da presente pesquisa,

este tópico terá por objeto a análise da limitação do Poder Normativo, decorrente da

necessidade de concordância mútua entre as partes para o ajuizamento dos dissídios coletivos

de natureza econômica.

Inicialmente, no entendimento de Teixeira Filho, a imposição do comum acordo o

reduziu de modo expressivo o ajuizamento dos dissídios coletivos, pois na prática,

dificilmente ocorrerá a convergência de vontades, sendo raros os casos em que a demanda de

natureza econômica será submetida à apreciação dos Tribunais do Trabalho. (TEIXEIRA

FILHO, 2009).

Na visão de Garcia, “o referido requisito não deixa de ser uma restrição

possibilidade de ajui amento do dissídio coletivo econ mico, pois a sua instauração e

julgamento, quanto ao mérito, apenas podem ocorrer quando as partes envolvidas

concordarem em levar o conflito ustiça do Trabalho”. (GARCIA, 2013, p. 836 - 837).

No mesmo sentido, é o entendimento de Barroso:

[...] não houve a extinção do Poder Normativo. Contudo, está inexoravelmente

prejudicado, uma ve que dificilmente haver a “incomum” concordância do

“comum acordo” entre as partes para a proposição de uma demanda judicial, haja

vista a própria natureza do conflito. Ademais, como não foi possível a

autocomposição na discussão da matéria, impossível, parece que, por uma questão

de razoabilidade, que aconteça a autocomposição para o procedimento que irá

justamente decidir o conflito que está relacionado a matéria. (BARROSO; NILO,

2011, p. 01).

Quanto interferência estatal, “a fim de que não se tenha dúvida, essa restou

quase que aniquilada, eis que, dificilmente, as partes conflitantes (sindicatos dos empregados

e sindicato dos empregadores), após insistentes tratativas malsucedidas de acordo,

concordarão em colocar apreciação do Poder udici rio o litígio”. (TONIAL, 2009, p. 154).

Sobre o assunto Franco Filho, citado por Barroso e Nilo, aduz que houve uma

lamentável restrição ao Poder Normativo da Justiça do Trabalho:

[...] o que temos, a rigor, é, [...] uma lamentável restrição ao poder normativo da

Justiça do Trabalho. Sabemos, e isso não é segredo para ninguém de bom senso, que

muita gente quer acabar com esse poder excepcional do Judiciário Trabalhista.

Poder atípico é verdade, mas que, por fatores diversos, que vão desde o

enfraquecimento do sindicalismo brasileiro até a demora na elaboração de leis que

disciplinem as relações de trabalho, ainda é indispensável para a tranquilidade

social. (BARROSO; NILO, 2011, p. 01).

A realidade, conforme ensina Tonial, é que, “exigindo-se o ‘mútuo

consentimento’ como condição de possibilidade para ajui amento do dissídio coletivo estar-

78

se-á criando impeditivos ao acesso à justiça das classes menos favorecidas e oprimidas pelo

capital”. (TONIAL, 2009, p. 238).

Oportuna, ainda a observação de Saraiva e Manfredini, ao afirmarem que “talve

os maiores prejudicados sejam os pequenos sindicatos obreiros, principalmente do meio rural,

os quais em função da sua fragilidade sequer terão a greve como aliada em busca de

mecanismos de pressão para a conquista de novas e melhores condições de trabalho.”

(SARAIVA; MANFREDINI, 2013, p. 828).

Sustenta Melo que não se pode fazer uma interpretação meramente gramatical do

novo dispositivo legal. Para o autor deve-se levar em consideração o sindicalismo fraco

existente no Brasil:

[...] deve ser analisado dentro do contexto geral do sistema jurídico e, em especial,

levando-se em conta o perfil do modelo sindical existente no Brasil, o qual ainda é

de sindicatos fracos, desorganizados e sem poder negocial para enfrentar as classes

econômicas. Neste ponto, é importante lembrar que mesmo os sindicatos mais

fortes, organizados nos grandes centros urbanos, estão encontrando sérias

dificuldades para negociar melhores condições de trabalho. Isso se dá em razão do

desmonte do Direito do Trabalho, gravado pelo processo de globalização

econômica, que obriga os países emergentes a eliminarem conquistas sociais

trabalhistas e a evitarem novos pleitos dos trabalhadores. (MELO, 2007, p. 87).

Portanto, frustrada a negociação coletiva e impossibilitado o ajuizamento do

dissídio coletivo pela falta de comum acordo, só restará aos sindicatos de trabalhadores, a

greve, que não é do interesse social e econômico do País. Assim, na visão do autor, dar

validade à exigência do ajuizamento bilateral do dissidio coletivo pode funcionar como um

incentivo ao grevismo. (NASCIMENTO, 2012).

Cumpre registrar, da visão de Pereira, citado por Barroso e Nilo:

[...] considerar a obrigatoriedade da aquiescência do suscitado também resultará em

uma fragilização das categorias profissionais, que, sob a dependência da vontade da

classe empresarial para promoverem a ação, e estando diante da negativa da

prestação jurisdicional, deverão optar pelo movimento grevista, única via possível

para conquista de suas reivindicações, o que não é do interesse social e econômico

do país. No entanto, na hipótese de o sindicato obreiro ser fraco (a grande maioria o

é), não haverá negociação coletiva, nem greve e nem dissídio coletivo. Ou seja:

crítica será a situação dos trabalhadores. (BARROSO; NILO, 2011, p. 03).

Na concepção de Teixeira Filho, uma das formas de se evitar a redução do Poder

Normativo, seria mediante a construção do entendimento de que o comum acordo, não

necessitaria ser prévio e nem expresso. (TEIXEIRA FILHO, 2009).

Dessa forma, caso a categoria econômica não alegue preliminarmente a falta do

requisito do comum acordo, esse silêncio deverá ser interpretado uma anuência tácita e

79

posterior ao ajuizamento dessa ação constitutiva. Entretanto, na hipótese de inexistência desse

requisito, o Tribunal poderá pronunciar, de ofício, a inconstitucionalidade da norma que o

exige. (TEIXEIRA FILHO, 2009).

Tonial, ao abordar o entendimento do magistrado Júlio Bernardo do Carmo aponta

em sua análise acerca do suprimento judicial da necessidade do comum acordo:

[...] se o sindicato possuir capacidade de mobilização e for forte o suficiente, poderá

bancar o movimento grevista e tentar impor ao sindicato patronal a tratativa de

negociação. E, conforme suas reflexões, se o sindicato for fraco, deveria, ao ajuizar

o dissídio coletivo, suscitar de forma incidental o suprimento judicial do “mútuo

consentimento”. O fundamento para tal pedido estaria no teor do art. 46110

do

Código de Processo Civil, eis que, baseando-se em uma condição puramente

potestativa11

, e assim inconcebível no ordenamento jurídico nacional. (TONIAL,

2009, p. 236).

Sobre o assunto, Schiavi afirma se houver discordância do suscitado, o Tribunal

ficará impossibilitado de apreciar o dissídio coletivo, uma vez que não há previsão no

ordenamento jurídico para a solução deste impasse:

O ordenamento jurídico trabalhista não prevê mecanismos de solução deste impasse.

O conflito prolongado pode gerar litigiosidade contida e desembocar em greve sem

precedentes.

Não obstante, pensamos que, nesta hipótese, caberá, também, o suprimento de

outorga judicial para instauração do dissídio coletivo de natureza econômica. O

Judiciário, analisando o caso concreto, a razoabilidade, justiça e equidade, pode

deferir o suprimento de outorga, nos termos do art. 461, do CPC, e admitir o dissídio

de natureza econômica, mesmo não havendo o comum acordo. (SCHIAVI, 2013,

p.1207).

Analisando de maneira diferenciada a limitação Poder Normativo da Justiça do

Trabalho nos dissídios coletivos de natureza econômica, Pereira faz uma importante

observação, no sentido de que essa limitação eventualmente possa trazer algumas vantagens,

tais como:

o desenvolvimento da negociação coletiva, priorizando a autocomposição,

que é a forma mais privilegiada de solução dos conflitos;

o fortalecimento dos sindicatos, principalmente no que concerne à

representatividade negocial das categorias profissionais e econômicas

envolvidas;

a celeridade do Poder Judiciário Trabalhista, com a diminuição de processos

coletivos;

a participação dos trabalhadores na gestão da empresa, à luz do inciso

XI do art. 7º da CF/88; e

10

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a

tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o

resultado prático equivalente ao do adimplemento. 11

Condição que depende da vontade de uma das partes para se concretizar.

80

representação direta dos empregados com os empregadores, no contexto

do art. 11 da CF/88. (PEREIRA, 2011, p. 696, grifo do autor).

Por seu turno, Melo discorre que o mútuo consentimento para a instauração do

dissídio coletivo, embora incentive a negociação coletiva, deveria ser implementado com o

fortalecimento dos sindicatos, priorizando a negociação coletiva. (MELO, 2007).

Nesta senda, analisa Silva, que “tal medida visa, simplesmente, a restringir a

possibilidade de ajuizamento o do dissídio coletivo econômico, de modo a incentivar o

desenvolvimento da negociação coletiva, com o desfecho da controvérsia pelos próprios

atores sociais nela envolvidos”. (SILVA, 2010, p. 07).

Afora isso, Barroso e Nilo esclarecem que os sindicatos profissionais no Brasil em

regra não possuem autonomia e representatividade que propicie negociar em pé de igualdade

com o setor econômico. (BARROSO; NILO, 2011).

Logo, sob sua ótica, limitar ou impedir na prática a definição do conflito pelo

Judiciário trabalhista, caracteriza uma afronta não somente ao direito de ação e a liberdade

sindical, mas vai além, pois impede que a finalidade do Direito do Trabalho, qual seja, a

efetiva melhoria da condição social do trabalhador seja efetivamente alcançada. (BARROSO;

NILO, 2011).

Portanto, em que pese às modificações introduzidas pela Emenda Constitucional

n. 45 ter priorizado a negociação coletiva, ignorar a realidade sindical brasileira, caracterizada

por sindicatos fragilizados em relação à categoria empresarial, seria desproteger o pólo mais

frágil, já que estes não terão poderes reivindicatórios a ponto de pressionar a categoria

econômica através da greve, e obter a concordância em resolver o conflito perante o Judiciário

Trabalhista. (SILVA, 2010).

81

5 CONCLUSÃO

A presente monografia dedicou-se ao estudo da controvérsia instaurada pela

Emenda Constitucional nº 45 de 2004 que passou a exigir a concordância mútua entre as

partes para o ajuizamento dos dissídios coletivos de natureza econômica.

O interesse pelo tema abordado se deu em razão de que embora a alteração

constitucional tenha ocorrido em 2004, ainda existe divergência tanto em sede doutrinária

quanto jurisprudencial, acerca da interpretação da necessidade do mútuo consentimento.

Verificou-se que tanto a doutrina como a jurisprudência não chegaram a um

consenso sobre a necessidade do mútuo consentimento para ajuizar os dissídios coletivos de

natureza econômica.

Alguns entendem que submeter a concordância do réu para ajuizar o dissídio

coletivo, fere o princípio da inafastabilidade da jurisdição ou do livre acesso ao Judiciário,

consagrado no art. 5º, XXXV da Constituição Federal.

De maneira diversa, encontra-se corrente que se posiciona seguindo o

entendimento de que não existe qualquer inconstitucionalidade no requisito de comum

acordo, pois, o exercício do Poder Normativo não tem o condão de julgar lesão ou ameaça a

direito, mas sim, criar normas e condições de trabalho a fim de atender os interesses

econômicos e sociais da categoria.

O Tribunal Superior do Trabalho, em recente decisão prolatada no mês de

setembro do corrente ano, demonstrou que para a Corte Superior Trabalhista, a inexistência de

comum acordo entre os litigantes implica na ausência de pressuposto de constituição e de

desenvolvimento válido e regular, devendo, portanto, o processo ser extinto sem resolução de

mérito ante a falta de pressuposto processual.

Ainda, sobre o enquadramento jurídico-processual do comum acordo, há os que

sustentam se tratar de uma condição da ação, traduzida pelo interesse processual, não

necessitando ser prévio, podendo ser preenchido durante o curso do processo de forma tácita,

quando não houver oposição do suscitado ou expressamente pela sua concordância.

Assim, em virtude da grande controvérsia instaurada e dos inúmeros julgados,

acredita-se que os entendimentos apenas serão pacificados, quando houver pronunciamento

do Supremo Tribunal Federal acerca da (in) constitucionalidade da referida expressão, objeto

de cinco Ações Diretas de Inconstitucionalidade, que até o presente momento se encontram

pendentes de julgamento.

82

Dessa forma, ao se fazer uma análise dos argumentos apresentados, conclui-se que

condicionar o ajuizamento dos dissídios coletivos econômicos à comprovação da existência

de comum acordo entre as partes litigantes, acaba por limitar o exercício do Poder Normativo

da Justiça do Trabalho, permanecendo o conflito entre as categorias envolvidas.

Em que pese parte da doutrina afirmar que o objetivo principal pretendido pela

alteração constitucional tenha sido o fortalecimento da negociação coletiva entre as

categorias, deve-se levar em consideração a realidade sindical existente no Brasil, já que a

maioria dos sindicatos profissionais não tem força para reivindicar de forma igualitária e por

meio da greve, no intuito de obter a anuência para ingressar com o dissídio coletivo.

Partindo dessa premissa, após a análise das argumentações levantadas pela

doutrina e jurisprudência, resta evidente que a recusa da parte em ajuizar o dissídio coletivo

deve ser fundamentada, não devendo tal negativa ocorrer por mera vontade de uma das partes.

Com efeito, na hipótese de recusa sem quaisquer justificativas ou comprovada

má-fé, para que o trabalhador não seja prejudicado frente a categoria econômica e sua recusa

injustificada em ajuizar o dissídio coletivo, a solução que parece mais adequada ao contexto

do sistema sindical no Brasil, é o suprimento judicial pelo Tribunal, de modo a garantir a

finalidade do Direito do Trabalho, qual seja, a prevalência dos interesses dos trabalhadores de

condições dignas de salário, trabalho e vida.

Enfim, este trabalho monográfico não visa esgotar o assunto, ao contrário,

pretende chamar atenção para a relevante controvérsia da necessidade imposta às categorias

no ajuizamento dos dissídios coletivos econômicos, uma vez que restringe o acesso destas na

obtenção da resolução do conflito através do Poder Normativo da Justiça do Trabalho.

83

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127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e

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