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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
JÚLIO DE MESQUITA FILHO
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
UNESP
Anderson Aparecido Farias
AVALIAÇÃO DE REPELÊNCIA ELETRÔNICA PARA
FORMIGA Monomorium floricola Jerdon, 1851 (Hymenoptera,
Formicidae) E BARATAS Periplaneta americana Linneu, 1758
(Dictyoptera, Blatidae) E Blattella germanica (L.) (Dictyoptera,
Blattellidae).
RIO CLARO
2008
Monografia apresentada ao Instituto de
Biociências de Rio Claro – UNESP
como requisito para obtenção do título
de Especialista, do Curso de
Entomologia Urbana: Teoria e Prática.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
JÚLIO DE MESQUITA FILHO
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
UNESP
Anderson Aparecido Farias
AVALIAÇÃO DE REPELÊNCIA ELETRÔNICA PARA
FORMIGA Monomorium floricola Jerdon, 1851 (Hymenoptera,
Formicidae) E BARATAS Periplaneta americana Linneu, 1758
(Dictyoptera, Blatidae) E Blattella germanica (L.) (Dictyoptera,
Blattellidae).
Orientadora: Dra. Ana Eugênia de Carvalho Campos-Farinha
Co-orientador: PqC. Esp. Francisco José Zorzenon
RIO CLARO
2008
Monografia apresentada ao Instituto de
Biociências de Rio Claro – UNESP
como requisito para obtenção do título
de Especialista, do Curso de
Entomologia Urbana: Teoria e Prática.
3
A realização deste trabalho e a conquista deste título são frutos da criação que tive (meus
pais, Sr. Paulo e Sra. Sônia) e dos amigos que tenho.
ii
Ofereço
A Francisco Macedo Farias (in memorian) a quem tenho como exemplo de integridade
moral, honra e honestidade.
Aos meus filhos Camilla e Guilherme e a minha esposa Juliana.
iii
Agradecimentos
Aos Professores e Orientadores
“Se hoje posso enxergar mais longe, é porque estive sobre os ombros de Gigantes.”
Faço minhas as palavras de Isaac Newton, para dizer da incomensurável satisfação,
admiração e respeito que tenho aos Orientadores e Professores, que tanto nos honraram, ao
compartilhar vossas experiências e conhecimentos.
4
SUMÁRIO
Página
RESUMO................................................................................................................ 01
ABSTRACT............................................................................................................02
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 03
2. REVISÃO DA LITERATURA....................................................................... 08
2.1 Baratas ......................................................................................................... 08
2.1.1 Blattella germanica (Dictyoptera: Blattellidae)………………………….. 09
2.1.2 Periplaneta americana (Dictyoptera: Blattidae)…..................................... 10
2.2 Formiga ........................................................................................................ 10
2.2.1 Monomorium floricola (Hymenoptera: Formicidae).................................. 11
3. OBJETIVO..........................................................................................................12
4. MATERIAL E MÉTODOS...............................................................................13
4.1 Manutenção dos organismos em laboratório ..................................................13
4.1.1 Formiga ....................................................................................................... 13
4.1.2 Baratas ........................................................................................................ 15
4.2 Seleção dos repelentes eletrônicos ................................................................. 16
4.3 Teste de repelência para Blattella germanica ................................................ 18
4.4 Teste de repelência para Periplaneta americana ............................................20
4.5 Teste de repelência para Monomorium floricola ............................................ 22
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 24
6. CONCLUSÕES..................................................................................................33
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 34
5
RESUMO
Baratas e formigas são importantes agentes na transmissão de microrganismos
patogênicos e na contaminação ambiental. A elevada associação com ambientes
domiciliares e peridomiciliares, hospitalares e semi-industriais se faz necessário o emprego
de medidas de controle não convencionais, que se dão pela utilização de iscas e inseticidas
a base de piretróides ou organofosforados, que para algumas espécies já é observado
resistência. A preocupação das pessoas quanto ao uso de inseticidas em ambientes
domésticos é outro fator que reforça o emprego de medidas de controle alternativo, e que
sejam seguras e igualmente eficientes. Os repelentes eletrônicos, emissores de ultra-sons,
atendem estas necessidades, tendo em vista que seu funcionamento simula os sons
emitidos, geralmente, por predadores, em espectros de freqüência inaudíveis ao ouvido
humano, afugentando-os, e não utilizam substâncias químicas. Contudo, se faz necessário
avaliar a eficiência de repelência destes dispositivos. Para isso foram selecionadas duas
marcas de repelentes eletrônicos, Kawoa e Key West, testados para formiga Monomorium
floricola e baratas Blattella germanica e Periplaneta americana. Os testes foram
conduzidos no laboratório de entomologia do Instituto Biológico de São Paulo. Foram
empregados no teste 40 baratas da espécie B. germanica, das quais, 10 constituíram o grupo
controle. Da espécie P. americana foram empregados 16 indivíduos, dos quais, 6
constituíram o grupo controle. Para a formiga M. floricola, foram empregadas 5 colônias
contendo rainhas e crias, das quais, uma constituiu o grupo controle. Os insetos foram
expostos aos repelentes eletrônicos pelo período de 3 horas, cada espécie, sendo 1 hora de
exposição para cada aparelho e 1 hora de exposição simultânea aos dois aparelhos. Ao
término do experimento foi possível concluir que os repelentes eletrônicos testados,
emissores de ultra-sons, não são eficientes para repelir formigas e baratas das espécies
estudadas.
Palavras-chave: Formiga, Barata e Repelente eletrônico.
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ABSTRACT
The present study, avaluated the efficiency of repel of this devices. For that were to
selecteds two device mark of the electronic repellent, Kawoa and Key West, tested for ant
Monomorium floricola and cockroaches Blattella germanica and Periplaneta americana.
The tests were conducted in the entomology laboratory of the Biology Institute of São
Paulo. Were utilizeds in the test 40 cockroaches B. germanica, were 40 cockroaches of the
group control. The species P. americana were to utilizeds 40 cockroaches, were 40 insects
of the control group. The M. floricola were utilizeds 5 colony with workers, queen and
immatures, were 1 of the control group. The insects were exposed for the electronic repeller
by a period of the 3 hours, each species, were 1 hour of the exposition for each device and 1
hour of the concomitant exposition for the two devices. Was possible conclude that the
electronics repellents, sound emission, are ineffective in controlling domestic pest for ants
and cockroaches.
KEY WORDS: Ant, cockroach, electronic repell.
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1. INTRODUÇÃO
Dentre os animais, os insetos são os que conseguiram o maior sucesso evolutivo,
com enorme diversidade de formas, o maior número de espécies, e também, é o maior
grupo de animais que habitam a Terra. Sua notória capacidade adaptativa e reprodutiva
permitiu que habitassem todos os ambientes, exceto os mares, são os principais
invertebrados a viver em ambiente seco e os únicos a voar, podendo ser encontrados até
submersos no petróleo e sobrevivem às mais variadas condições climáticas. Essas
características devem-se à presença de carapaça quitinosa, à respiração aérea (traquéias) e à
presença de asas (STORER et al., 2000).
Segundo ROBINSOM, (1996), ao longo da historia da evolução humana, vários
insetos adaptaram-se de forma única aos hábitos e condições criados pelo homem. Estes
grupos de organismos, bem-sucedidos, transitaram de ambientes agrícolas e naturais para o
ambiente humano, utilizando seus recursos alimentares e abrigos, tolerando a temperatura e
condições de umidade que caracteriza este meio ambiente. Alguns desses animais
estabeleceram-se ao redor do perímetro de estruturas humanas, outros adaptaram-se a viver
no interior de residências em contato direto com pessoas ou animais. Contudo, toda praga é
usualmente considerada um organismo que causa algum nível de prejuízo para o homem
diretamente, ou para seus recursos alimentares ou bens materiais. As pragas não estão
limitadas a um único grupo taxonômico, abrangendo microrganismos, vegetais, vertebrados
e invertebrados.
Os insetos são responsáveis por danos econômicos incalculáveis ao homem e
também comprometem a sua saúde física e psicológica. Uma vez que atuam como vetores
biológicos ou mecânicos de agentes patogênicos e causam transtornos e incômodos,
podendo reduzir a produtividade humana (REY, 1991; MARCONDES, 2001;
FORATTINI, 2002).
Dentre os indivíduos da classe Insecta destacam-se dois grupos amplamente
disseminados no meio urbano: as baratas, Blattela germanica (L.) (Dictyoptera:
Blattellidae) e Periplaneta americana (Dictyoptera:Blattidae) e formiga, Monomorium
8
floricola (Hymenoptera:Formicidae). Segundo Maranhão, (1976); Salmeron, (2000);
Nakano, et al., (2002) as baratas das famílias Blattidae e Blattellidae, são exemplos
clássicos, podem causar danos consideráveis em roupas, livros, transtornos psicológicos,
fobias, alergias, etc., e por entrarem em contato com alimentos, podem, segundo
Figueiredo, (1998) e MARICONI, (1999), atuar como vetores mecânicos de diversos
agentes patogênicos, em especial, B. germanica, que pode se alimentar de secreções de
cadáveres, também relatado por COSTA-OLIVEIRA, (2003), ao mencionar baratas no
padrão de sucessão ecológica do processo de decomposição de cadáveres humanos, sendo
de extrema importância para a entomologia forense, quanto à estimativa de IPM (Intervalo
Pós-Morte).
Já as formigas são especialmente incomodas por suas mordidas e picadas, mas são
também um perigo potencial à saúde pública, quando ocorrem em hospitais, pelo fato de
terem a capacidade de transportar microrganismos patogênicos. Certas espécies podem
afetar negativamente o homem, infestando e nidificando nas estruturas de casas ou
apartamentos, atacando alimentos ou provocando danos às estruturas, por causa de suas
atividades na construção de ninhos (CAMPO-FARINHA et al., 1997; BUENO, et al., 1998
e CAMPOS-FARINHA, 2004).
Um exemplo de praga urbana, dentre as formigas, é a espécie M. floricola, cujas
colônias podem atingir médio ou grande porte, com muitas rainhas (poliginia) (CAMPOS-
FARINHA, et. al., 1997). E que, segundo estudos realizados por BUENO & CAMPOS-
FARINHA, 1998; PEÇANHA, 2000; ZARZUELA, 2002 e 2005; KATO, 2003 e BUENO
et al., 2007, formigas dessa espécie, devido aos hábitos de forrageamento, disseminam
agentes patogênicos, de forma mecânica, como bactérias e fungos, em hospitais, ambientes
residenciais, cozinhas semi-industriais, etc.
O típico efeito das pragas no ambiente humano, uma vez determinado, quer ocorram
sozinhos ou em grandes grupos, requer alguma ação em nível de controle (ROBINSON,
1996). Para efetuar o controle de pragas urbanas com segurança, o homem entendeu que é
necessário conhecer bem a biologia e o comportamento dos insetos, a fim de empregar
medidas racionais e seguras para o meio ambiente e para si próprio (LARA, 1992).
Pensando nisso, à várias décadas, é avaliado a eficiência de aparelhos repelentes
eletrônicos, emissores de ultra-som, no controle de insetos urbanos e agrícolas, visando
9
promover o abandono por completo ou, ao menos, a utilização comedida de inseticidas, e
por conseqüência, reduzir a contaminação do ambiente do homem e de seus animais
(BROWN et al., 1991).
A capacidade auditiva dos insetos é muito mais completa que a do homem, podendo
detectar sons de algumas dezenas a mais de 90. 000 ciclos por segundo, possuindo assim, a
capacidade de detectar até ultra-sons, que apresentam diferentes faixas, sendo assim
denominado, quando ultrapassa a freqüência de 20.000 Hz ou 20 kHz (LARA, 1992;
NAKANO et al. 2002). Os insetos conseguem produzir e perceber uma ampla variedade de
sons, que são usados intensamente na comunicação, geralmente com o sexo oposto ou meio
de defesa, de tal sorte a uma série de espécies apresentarem inclusive órgãos destinados à
produção de sons específicos (BORROR et al., 1992; LARA, 1992; NIELSEN, 1999).
Segundo FARRI et al., 1998 e NIELSEN, 1999, os órgãos auditivos dos insetos
variam muito em termos estruturais e podem estar localizados em varias partes do corpo.
Aparentemente, os órgãos auditivos não são sensíveis aos tons da maneira como o ouvido
humano o é, ao contrário, as informações são transmitidas principalmente como alterações
na intensidade, duração e padrão de som. As informações significativas parecem ser
transmitidas no padrão de pulsos, não na qualidade de tons ou timbres, sendo relativamente
fixo e altamente específico para as espécies.
O ultra-som pode ser empregado no controle de insetos como mosquitos, baratas,
pulgas, formigas, grilos, mariposas, etc., por meio de freqüências diversas, atuando como
atraente ou repelente, afetando por tanto o comportamento dos insetos, mas não sendo
diretamente fatal a eles. Esses ultra-sons podem ter a mesma freqüência que simulam o som
emitido pelas fêmeas ou de predadores respectivamente, afugentando-os (FARRIS et al.,
1998 e NAKANO et al., 2002).
Utilizando-se de sistemas denominado câmara teste ou câmara de vôo, que segundo
SINGLETON, 1977, possuem o mesmo princípio dos olfatômetros, e que consistem em um
ambiente fechado, no qual indivíduos são induzidos a responder a um determinado estímulo
que pode ser químico como um inseticida ou um dispositivo emissor de ultra-sons.
Diversos estudos relataram que, em testes de laboratório ou de campo, os repelentes
eletrônicos empregados, se mostraram ineficientes para a repelência de mosquitos fêmeas
10
(KLOWDEN & LEA, 1978; LEWIS et al., 1982; FOSTER & LUTES, 1985; CABRINI &
ANDRADE, 2003).
Em estudo realizado no Kansas State University, foi avaliado um repelente aleatório
que emitia ultra-som num raio de freqüência de 20-100 kHz, para B. germanica (L.)
(Blattodea: Blattellidae) e mosquitos Anopheles (Diptera: Culicidae). O aparelho falhou
para todos os indivíduos, em diferentes espectros de freqüência, constatando previsões de
que o aparelho emissor de ultra-som não seria uma ferramenta promissora, para repelência
de mosquitos e baratas (AHMAD et. al., 2007).
BROWN et al., 1991, realizou estudos de repelência eletrônica com pulgas adultas
(Ctenocephalides felis) e carrapatos (Rhipicephalus simus). Utilizando coleiras para cães e
gatos, com dispositivos emissores de ultra-sons, a uma freqüência de 35 kHz, após 8 testes,
com um total de 30 indivíduos, em cada, não foi observado qualquer tipo de
comportamento adverso que pudesse indicar algum sinal de repelência dos insetos, que
segundo rótulo do produto, a frequência repeliria as pulgas e carrapatos em um raio de 1,2
metros. Em estudo semelhante, HINKLE et al., 1990, avaliou a interferência de repelentes
eletrônicos, presentes em coleiras para gatos, quanto à produção de ovos, desenvolvimento
de larvas e longevidade dos adultos de pulgas (Siphonaptera: Pulicidae) expostos ao ultra-
som. Não foi constatado diferenças relevantes, que pudessem interferir no desenvolvimento
dos indivíduos avaliados.
HUANG et al., 2001, realizaram estudos com repelentes eletrônicos de três marcas
comerciais, em campo e em condições de laboratório, com três espécies de formigas,
Camponotus fetintatus, Camponotus pennsylvanicus e Fomica pallidifulva. As colônias
eram liberadas dentro de um recipiente denominado arena, constituído por dois ambientes e
interligados por um ducto e com dois repelentes eletrônicos, cujo as freqüências variavam
de 26 kHz a 42 kHz, sendo um em cada ambiente, posicionados nos topos das suas
extremidades. Nenhum comportamento de incômodo ou de fuga, para um dos ambientes,
foi observado quando os repelentes eram acionados, mesmo simultaneamente. Constatando,
que os aparelhos não eram repelentes para as formigas sob tais condições.
Em estudos conduzidos por KOEHLER et al., 1986, nove aparelhos comerciais
emissores de ultra-som, repelentes de insetos, foram avaliados para caracterização acústicas
e eficiência contra barata alemã (B. germanica) e pulga do rato oriental (Xenopsylla
11
cheopis). Todos os aparelhos testados produziam ultra-som, mas a qualidade dos sons
diferiam para cada aparelho. O teste de campo demonstrou que a eficiência para baratas não
era significativa e as pulgas foram capazes de fazer oviposição, desenvolvimento larval e
pupação, contrariando afirmações do fabricante. Em outra situação, machos de B.
germanica foram expostos a duas freqüências de som e cinco de ultra-som por vários dias
em uma caixa. Resultados apontaram que não foi significante a diferença observada na
distribuição de baratas na caixa, depois de expostas às freqüências de sons testados
(BALLARD, J. B., 1983). Contudo, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a
eficiência de duas marcas comerciais de repelentes eletrônicos, emissores de ultra-som,
assim como, o raio de ação e o comportamento de baratas e formiga ao dispositivo.
12
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 BARATAS
As baratas pertencem a Ordem Dictyoptera e caracterizam-se pelo corpo ovalar e
deprimido dorso-ventralmente, de tamanho bastante variado, desde alguns milímetros até
vários centímetros. No geral apresentam coloração parda ou negra, embora existam
espécies de cor alaranjada, amarelada ou mesmo esverdeada. As baratas possuem cabeça
curta, olhos geralmente grandes, reniformes ou emarginados no ponto de inserção da
antena, ocelos representados por duas pequenas manchas de cor amarelada, situados na
base das antenas, que podem ser setáceas ou filiformes, e inseridas entre os olhos e com
aparelho bucal do tipo mastigador. O tórax é normalmente elíptico, de ângulos posteriores
arredondados em quase todas as espécies, as pernas são ambulatórias e se movem
rapidamente. São dotadas de dois pares de asas, sendo as posteriores bem desenvolvidas,
possuindo a área anal lobiforme, e o par anterior, tégminas. O abdome é geralmente
alargado no meio e deprimido, constituído de 10 segmentos, variando segundo a espécie e
sexo. Ocorrem em ambos os sexos, inseridos no 10o térgito, os cercos; nos machos nota-se
ainda um par de estilos inseridos no 9o esternito ou placa subgenital. Também no abdome,
situado entre o 5o e 6o térgito abdominais, estão presentes as glândulas repugnatórias,
cutâneas, responsáveis pelo cheiro característico das baratas. Quanto a reprodução, é
normalmente sexuada e seus ovos são dispostos e arrumados na câmara genital, dentro de
uma cápsula de conformação peculiar, chamada ooteca, estas desenvolvem-se por
paurometabolia, mediante simples transformação ou mudas. Podem ser silvestres ou
domésticas, peridomiciliares ou domiciliares (LARA, 1992; ROBINSON, 1996; STORER,
2000; MARICONI, 1999; JUSTI JUNIOR, J., 2002 e NAKANO et. al. 2002).
Segundo registros fósseis da Era Paleozóica do sistema Siluriano, de um exemplar
de barata, a Paleoblatta douvillei, estas teriam surgido a pelo menos, 350 milhões de anos,
na África, sendo introduzidas na Ásia, Europa e mais tarde no Novo Mundo, por meio das
Grandes Navegações, período em que já eram consideradas pragas de navios. Das quase
4.000 espécies distintas, apenas 1% são pragas urbanas (FIGUEIREDO, 1998; SERRA-
13
FREIRE, 1999). Atualmente, as baratas são insetos, comprovadamente, responsáveis pela
veiculação de inúmeros agentes patogênicos como enteroviroses, salmoneloses, shigeloses,
em tese, o vibrião do cólera e processos alérgicos, decorrentes de suas fezes e
exoesqueleto, resistência comprovada de B. germanica e entomofobia, decorrente de um
condicionamento social, verbalizadas por psicólogos e psiquiatras de renome, além dos
prejuízos financeiros, ocasionados por danos a bens materiais (FIGUEIREDO, 1998 e
2000; SALMERON, 2000).
2.1.1 Blattella germanica (Dictyoptera:Blattellidae)
É uma barata pequena e considerada mais prolífera que a de esgoto (P. americana),
por ter ciclo evolutivo mais rápido, com 4 a 8 ootecas durante a vida, cujo a média são de 6
meses, e tem geralmente de 30 a 40 ovos com período de encubação em torno de 14 dias. A
ooteca ganha o exterior, mas permanece presa por uma extremidade à parte final de seu
abdome, sendo solta quando o desenvolvimento embrionário está quase concluído. Há
cerca de 6 a 7 estágios ninfais. Tem nas cozinhas o ambiente predileto, embora possam ser
encontradas em restaurantes, hotéis, navios, etc. Alimenta-se de secreções de cadáveres e
pode adquirir germes nocivos ao homem e animais domésticos. Os adultos podem viver até
1 mês sem alimento e sem água por duas semanas (MARICONI, 1999; FIGUEIREDO,
2000; NARDOTO et al., 2002; OLIVEIRA-COSTA, 2003).
A barata alemã é problema em varias regiões do mundo, em alguns centros urbanos
brasileiros, já é sério problema a vários anos, que segundo FIGUEIREDO, 2000 e
SALMERON, 2000, a espécie apresenta resistência comprovada aos inseticidas
empregados em seu controle, apesar das rigorosas medidas de sanitização e dos
procedimentos de manejo.
14
2.1.2 Periplaneta americana (Dictyoptera:Blattidae)
A espécie P. americana é uma barata grande, que mede de 30 a 40 mm e possui
coloração castanha escura avermelhada. As fêmeas atingem longevidade em torno de 400
dias e produzem cerca de 12 ootecas com média de 16 ovos cada. A barata carrega a ooteca
por apenas um dia, até que decida depositá-la em um local seguro. O período de encubação
dos ovos está na dependência da temperatura e umidade (ZORZENON et al., 2006).
Essas baratas se utilizam das pernas para locomoção, raramente as asas, que todavia,
são vôos curtos. Por serem de hábito peridomiciliar, vivem próximas as residências,
depósitos de lixo, despensas, bares, navios, freqüentam latrinas, fossas, esgotos, cadáveres
de animais, etc., onde pode adquirir agentes causadores de doenças do homem e de animais
domésticos. Segundo SERRA-FREIRE, (1999) e FIGUEIREDO, (2000), são responsáveis
pelo aumento de registros de casos de alergias entre humanos e animais domésticos
provocados por alergenos provenientes das fezes, urina, saliva e exoesqueleto. SERRA-
FREIRE, 1999 e MARICONI, 1999, relatam que as atividades humanas, são responsáveis
por mudanças etológicas de P. americana, por conta de obras públicas e particulares, o
aumento do comércio alternativo de alimentos (venda de comida rápida sem infra-estrutura
higiênico-sanitário) promovendo aumento dos comedouros e da oferta de comida para as
baratas e a pouca preocupação da população com higiene e limpeza das vias públicas.
2.2 FORMIGAS
As formigas pertencem ao Filo Arthropoda, Classe Insecta, Ordem Hymenoptera e
Família Formicidae. Em função de seus hábitos de vida são consideradas altamente sociais
(eussociais), por apresentarem, pelo menos, duas gerações de indivíduos em determinado
momento do desenvolvimento da colônia, cuidado cooperativo com a prole e divisão de
trabalho entre indivíduos reprodutores e fêmeas estéreis (BUENO et al., 2007).
Uma colônia de formiga pode conter desde algumas dezenas até milhões de
indivíduos e é formada por indivíduos adultos e em desenvolvimento ou crias, constituídas
15
de ovos, larvas e pupas. Os adultos, com raras exceções, são fêmeas e estão divididos em
pelo menos duas castas: as fêmeas férteis ou rainhas e as fêmeas estéreis que realizam as
tarefas da colônia, e não apresentam asas (CAMPOS-FARINHA et al.,1997; BUENO et al.,
1998; BUENO et. al., 2007).
As formigas ocorrem em todos os ambientes, exceto nos pólos. Atualmente, são
conhecidas entre 15.000 e 18.000 espécies, das quais cerca de 2.000 ocorrem no Brasil. As
espécies de formigas que vivem ou invadem as construções humanas, ou mais
genericamente, ocupam o mesmo espaço que o homem, tanto no interior como no exterior
das edificações são denominadas pragas. Do total existente, apenas 1% das espécies podem
ser consideradas pragas. Destas menos de 50 espécies estão adaptadas ao ambiente humano,
onde se adaptaram a nidificar em suas edificações, infestando casas e apartamentos,
atacando alimentos ou provocando danos às estruturas, alteram a aparência de gramados,
alimentam-se de sementes germinadas ou não, podem espalhar doenças às plantas, ao
desfolharem-nas, podem remover a proteção de cabos telefônicos e fios elétricos, além de
nidificar dentro de aparelhos eletrônicos, etc. Quando introduzidas, podem causar grande
impacto na fauna local, realizam associação com insetos sugadores de plantas, veiculam de
forma mecânica, agentes patogênicos em residências, restaurantes, cozinhas semi-
industriais e ambientes hospitalares (ROBINSON, 1996; CAMPOS-FARINHA et al., 1997;
BUENO et al., 1998 e 1999; KATO et al., 2002; ZARZUELA, et al., 2002; BUENO et al.,
2007).
2.2.1. Monomorium floricola (Hymenoptera:Formicidae)
A espécie M. floricola pertence à subfamília Myrmicine, tendo sua origem reportada
à Ásia, sendo considerada uma das principais espécies exóticas nas cidades brasileiras
(BUENO & CAMPOS-FARINHA, 1999). As formigas M. floricola são eussociais,
possuem um par de antenas com 12 segmentos cada, sendo os três últimos maiores que os
demais segmentos, o corpo não possui espinhos ou tubérculos e tem 2 segmentos na
cintura, as operarias são monomórficas e de coloração marrom escura com tegumento liso e
brilhante, medindo aproximadamente 2 mm de comprimento. O hábito alimentar é onívoro,
16
embora tenha preferência por alimentos calóricos (BUENO & CAMPOS-FARINHA, 1998;
KATO, 2003).
Assim como outras formigas de caráter urbano, M. floricola, apresenta
características que favorecem o aumento e a dispersão das populações, que, segundo
PASSERA, (1994); BUENO & CAMPOS-FARINHA, (1998); KATO, (2003) e BUENO,
(2007), seriam os seguintes: Migração, quando perturbadas ou quando da alta densidade
populacional; Associação com o homem, devido principalmente à disponibilidade de locais
para a construção de ninhos; Populações unicoloniais, redução da agressividade
intraespecífica; Alta densidade interespecíficas; Poliginia, várias rainhas férteis em um
único ninho; Reprodução, ausência de vôo nupcial e por fragmentação (sociotomia);
Tamanho e forma, as operarias são muito pequenas e monomórficas; Longevidade das
rainhas, diferentemente de espécies monogínicas , as rainhas de espécies poligínicas tem
vida extremamente curta, entre vinte semanas a um ano, sendo compensado pela grande
capacidade de produzir novas rainhas; Operárias estéreis, nunca desenvolvem ovários.
M. floricola é uma das espécies mais encontradas nidificando no interior das
estruturas. Aproveitando-se de falhas na construção, como fendas em azulejos, para a
instalação de suas colônias (BUENO, 2007). Estudos realizados em hospitais mostraram
que esta espécie é bastante freqüente e sua presença é um risco potencial à saúde pública,
devido ao fato de serem capazes de transportar microrganismos patogênicos (BUENO et al.
1994; KATO, 2003). Em estudos de avaliação do potencial de formigas como vetores,
ZARZUELA, (2002), constatou que, M. floricola é capaz de veicular, mecanicamente,
fungos e bactérias patogênicos, em ambientes residenciais e cozinhas semi-industriais
(ZORZENON et al., 2006).
3. OBJETIVOS:
O presente trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência de duas marcas
comerciais de repelentes eletrônicos, emissores de ultra-som, assim como, raio de ação e o
comportamento de baratas e formiga aos dispositivos.
17
4. MATERIAIS e MÉTODOS
4.1 MANUTENÇÃO DOS ORGANISMOS EM LABORATÓRIO
4.1.1 FORMIGA
Cinco colônias de M. floricola foram deslocadas da criação do insetário do Instituto
Biológico de São Paulo para o laboratório de entomologia, em placas de petri (5 cm de
diâmetro e 1 cm de profundidade) contendo tampas pintadas com tinta plástica preta para
diminuir a intensidade de luz, abertas lateralmente para a entrada e saída das formigas e
fundos parcialmente preenchidos com gesso, moldados de maneira a formar uma cavidade
na região central. Foram dispostas individualmente e, uma a uma, em uma bandeja plástica
de 30x26x8 cm, revestida lateralmente por uma camada de Teflon-30 (Dupont) para evitar
possíveis fugas das formigas. Das cinco colônias, uma foi utilizada como grupo controle, e
todas as colônias apresentavam operárias, rainhas e crias (ovos, larvas e pupas). As colônias
foram mantidas em salas climatizadas com temperatura entre 25o e 28o C e alimentadas
com larvas de Tenebrio molitor (Coleoptera: Tenebrionidae) e água em algodão umedecido.
18
FIGURA 1: Colônia de formigas da espécie Monomorium floricola.
FIGURA 2: Larvas de Tenebrio molitor.
19
4.1.2 BARATAS
Foram empregadas quarenta baratas adultas da espécie B. germanica (população
“Tiradentes”) sendo 20 machos e 20 fêmeas sem ootecas e quarenta baratas adultas da
espécie P. americana, sendo 20 machos e 20 fêmeas. As baratas foram coletadas da criação
do Instituto Biológico de São Paulo e conduzidas ao Laboratório de Entomologia Geral,
onde foram aclimatadas em caixa plástica, cada espécie, de 555x403x181mm (26,0L),
revestida lateralmente por uma camada de vaselina sólida, para evitar a fuga, e um fundo de
embalagem para ovos, como abrigo. A alimentação foi baseada em ração para gatos,
triturada em um liquidificador e fornecida em copinhos descartáveis de café e água em
algodão umedecido. As condições ambientais foram dadas pelo uso de um aparelho de ar
condicionado, mantendo a temperatura ideal para a criação em torno de 27o C ± 2o C.
FIGURA 3: Barata da espécie Blattella germanica.
20
FIGURA 4: Baratas da espécie Periplaneta americana.
4.2. SELEÇÃO DOS REPELENTES ELETRÔNICOS
Os repelentes eletrônicos empregados no experimento, foram selecionados por sua
comercialização em diversas redes de lojas de material para construção e por serem
vendidos nesses estabelecimentos, à preços acessíveis.
Para baratas foram utilizados os repelentes das marcas Kawoa BK-01 e Key West
(DNI-6951) que apresentam a freqüência de 30 kHz e raio de ação em torno de 3 metros ou
27 e 30m² e possuem funcionamento em rede bivolt (127/220v). Para formigas foram
utilizados repelentes eletrônicos, também, das marcas Kawoa FK-01 e Key West (DNI-
6952) que apresentam a freqüência de 39 kHz e raio de ação de 3 metros ou 27 e 30m², e
possuem funcionamento bivolt (127/220v). Também foi utilizada uma extensão de 3 metros
de comprimento para o funcionamento dos repelentes.
21
FIGURA 5: Repelentes eletrônicos KAWOA para baratas e formigas.
FIGURA 6: Repelentes eletrônicos KEY WEST para baratas e formigas.
4.3. TESTE DE REPELÊNCIA PARA Blattella germanica
Vinte machos e vinte fêmeas sem ootecas, de Blattella germanica, foram colocados
em uma caixa plástica de 555x403x181mm, quarenta baratas, sendo vinte machos e vinte
22
fêmeas sem ootecas, constituíram o grupo controle, os quais receberam o mesmo
tratamento quanto à abrigo, água e alimento, exceto pela exposição ao repelente eletrônico.
Após terem sido conduzidas ao laboratório de entomologia, ficaram aclimatadas por uma
hora, tendo início em seqüência, à exposição de uma hora para cada aparelho. Ao término
desta primeira etapa, permaneceram por mais uma hora sob exposição aos dois dispositivos,
simultaneamente. Os repelentes foram situados no canto superior da caixa plástica a menos
de 30 centímetros das baratas e, posteriormente, com distâncias de 1, 2 e 3 metros de
comprimento.
FIGURA 7: Teste de repelência para Blattella germanica com repelente
Key West (DNI-6951).
23
FIGURA 8: Teste de repelência para Blattella germanica com repelente
Kawoa BK-01.
FIGURA 9: Teste de repelência para Blattella germanica com repelentes
(Key West DNI-6951 e Kawoa BK-01) acionados simultaneamente.
24
4.4. TESTE DE REPELÊNCIA PARA Periplaneta americana
Vinte machos e vinte fêmeas sem ootecas, de P. americana, foram colocados em
uma caixa plástica de 555x403x181mm, com as bordas internas previamente revestidas
com vaselina sólida para inibir possíveis fugas. Quarenta baratas, sendo vinte machos e
vinte fêmeas sem ootecas, constituíram o grupo controle, que receberam o mesmo
tratamento, exceto pela exposição aos repelentes eletrônicos. Após terem sido conduzidas
ao laboratório de entomologia, ficaram aclimatadas pelo período de uma hora, tendo início
em seguida, a exposição de uma hora para cada repelente e, ao termino desta primeira
etapa, mais uma hora de exposição aos dois dispositivos acionados simultaneamente. Os
aparelhos foram situados no canto superior da caixa, a menos de 30 centímetros das baratas
e, posteriormente, com distâncias de 1, 2 e 3 metros de comprimento.
FIGURA 10: Teste de repelência para Periplaneta americana com repelente Kawoa BK-01.
25
FIGURA 11: Teste de repelência para P. americana com repelente
Key West (DNI- 6951).
FIGURA 12: Teste de repelência para P. americana com repelentes (Key West DNI-6951 e Kawoa
BK-01) acionados simultaneamente.
26
4.5. TESTE DE REPELÊNCIA PARA Monomorium floricola
As colônias de M. floricola foram retiradas do insetário do Instituto Biológico de
São Paulo, em placas de petri, e conduzidas ao laboratório de entomologia, onde foram
expostas individualmente aos repelentes eletrônicos, em bandeja plástica de 30x26x8 cm,
contendo água em algodão umedecido e larvas de T. molitor, para observação de
comportamento de forrageamento. As formigas foram expostas por uma hora para cada
aparelho, seguida de mais uma hora, aos dois aparelhos acionados simultaneamente, que
foram posicionados no canto superior da bandeja e ligados a tomada de luz por uma
extensão de 3 metros de comprimento.
FIGURA 13: Teste de repelência para Monomorium floricola com repelente
Key West (DNI-6952).
27
FIGURA 14: Teste de repelência para M. floricola com repelente Kawoa FK-01.
FIGURA 15: Teste de repelência para M. floricola com repelentes
(Key West DNI-6952 e Kawoa FK-01) acionados simultaneamente.
28
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As formigas M. floricola, assim como as baratas, realizaram o comportamento de
forrageamento, na bandeja de confinamento, mesmo quando os repelentes eletrônicos eram
acionados simultaneamente. Evidenciando, que tais aparelhos não foram repelentes para as
formigas.
Em estudo semelhante realizado por HUANG et al., (2001), são relatadas formigas
de 3 espécies (Camponotus fetintatus, Camponotus pennsylvanicus e Formica pallidifulva)
expostas à espectros de freqüências entre 26 kHz e 42 kHz, em cujo os dispositivos
empregados se mostraram ineficientes como repelentes para as formigas, naquelas
condições. O mesmo resultado negativo pôde ser verificado, quanto ao raio de ação, cujas
informações do rótulo (3 metros), não se aplicaram.
TABELA 1. Teste de repelência para M. floricola. A (repelente Kawoa), B (repelente Key West) e
A e B (repelentes acionados simultaneamente).
Comportamentos
Tempo de avaliação
20 min. 40 min. 60 min.
A B A e B A B A e B A B A e B
Fuga - - - - - - - - -
Agressividade - - - - - - - - -
Incômodos - - - - - - - - -
Forrageamento - - - - - - - - -
29
TABELA 2. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelente eletrônico: A (Kawoa).
TABELA 3. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelente eletrônico: B (Key West).
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / A Ag / A I / A Fr / A
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / B Ag / B I / B Fr / B
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
30
TABELA 4. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelentes eletrônicos: A (Kawoa) e B (Key West).
O comportamento das baratas P. americana expostas aos ultra-sons era idêntico aos
do grupo controle. Não foi observado comportamento de fuga, de incômodo ou de
agressividade entre os indivíduos. Também não houve diferença, no comportamento,
quando os aparelhos eram ligados ou desligados, simultaneamente. Algumas baratas saíram
do abrigo em direção as fontes de água e alimento, denotando que, os aparelhos não foram
repelentes para baratas nessas condições metodológicas.
TABELA 5. Teste de repelência para P. americana. A (repelente Kawoa), B (repelente Key West)
e A e B (repelentes acionados simultaneamente).
Comportamentos
Tempo de avaliação
20 min. 40 min. 60 min.
A B A e B A B A e B A B A e B
Fuga - - - - - - - - -
Agressividade - - - - - - - - -
Incômodos - - - - - - - - -
Forrageamento - - - - - - - - -
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / A e B Ag / A e B I / A e B Fr / A e B
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
31
TABELA 6. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
incômodo) e Fr (forrageamento); Repelente eletrônico: A (Kawoa).
TABELA 7. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelente eletrônico: B (Key West).
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / A Ag / A I / A Fr / A
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / B Ag / B I / B Fr / B
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
32
TABELA 8. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelentes eletrônicos: A (Kawoa) e B (Key West).
O comportamento das baratas B. germanica expostas aos ultra-sons não diferiu do
comportamento das baratas do grupo controle. Não sendo, portanto, observado
comportamento de fuga, de incômodo ou de agressividade entre os indivíduos confinados.
O mesmo comportamento de indiferença pôde ser observado quando os repelentes eram
acionados simultaneamente, denotando que os aparelhos empregados no teste, não foram
repelentes para baratas nessas condições metodológicas. Inclusive, em fêmeas dessa
espécie, foi observado o surgimento de ooteca durante o experimento, como relatado por
KOEHLER et al., 1986 e por HINKLE et al., 1990, a oviposição, desenvolvimento larval e
pupação de pulgas submetidas aos dispositivos de ultra-som, sendo importante ressaltar, a
ausência de ooteca, como critério, para a condução do experimento.
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / A e B Ag / A e B I / A e B Fr / A e B
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
33
TABELA 9. Teste de repelência para B. germanica. A (repelente Kawoa), B (repelente Key West)
e A e B (repelentes acionados simultaneamente).
Comportamentos
Tempo de avaliação
20 min. 40 min. 60 min.
A B A e B A B A e B A B A e B
Fuga - - - - - - - - -
Agressividade - - - - - - - - -
Incômodos - - - - - - - - -
Forrageamento - - - - - - - - -
TABELA 10. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelente eletrônico: A (Kawoa).
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / A Ag / A I / A Fr / A
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
34
TABELA 11. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelente eletrônico: B (Key West).
TABELA 12. Avaliação do raio de ação. Comportamentos: F (fuga), Ag (agressividade), I
(incômodo) e Fr (forrageamento); Repelentes eletrônicos: A (Kawoa) e B (Key West).
Quanto aos repelentes eletrônicos Kawoa e Key West para baratas, com espectro de
freqüência, de 30 kHz não são repelentes, ou a real freqüência emitida pelos aparelhos não
condizem com informações dos rótulos. Porém, não foi possível aferir esses dados, por não
dispor de equipamento capaz de medir o espectro de freqüência emitida pelos aparelhos.
O alcance mencionado no rótulo dos aparelhos (3metros) não conferem com os
resultados dos testes, já que as baratas foram expostas aos repelentes eletrônicos, a menos
de 30 cm de distância e não houve repelência dos indivíduos.
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / B Ag / B I / B Fr / B
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
Comprimento
Comportamentos / Repelentes eletrônicos
F / A e B Ag / A e B I / A e B Fr / A e B
30 cm - - - -
1 m - - - -
2m - - - -
3m - - - -
35
A condução dos testes de repelência ocorreram de forma bastante simples e
objetiva, visando assim, reproduzir em condições, as mais próximas possíveis da realidade
do ambiente doméstico, no que diz respeito à reverberação dos ultra-sons emitidos pelos
aparelhos, que segundo fabricantes não pedem ser obstruídos por móveis ou objetos de
qualquer natureza, a fim de preservar a qualidade de seu funcionamento. Todavia, o interior
de ambientes domésticos, são constituídos por móveis e objetos variados, pondo assim, em
questionamento, a eficiência de repelência e raio de ação dos dispositivos, ainda que
houvessem sido repelentes para formigas e baratas.
Ao longo das últimas décadas, foram realizados centenas de estudos, para avaliar a
eficiência de repelentes eletrônicos, emissores de ultra-sons, sobre os mais diversos grupos
de pragas urbanas: artrópodes, aves e mamíferos. Contudo, os resultados relataram que tais
dispositivos são pouco promissores ou literalmente ineficientes como repelentes, o que é
lamentável, tendo em vista, que seriam uma ótima alternativa para o ambiente doméstico,
em se pensando na ação tóxica e residual dos métodos convencionais.
No Brasil, estes dispositivos são comercializados livremente em lojas de redes de
material para construção, sem qualquer restrição, possivelmente por não haver restrições de
utilização à saúde, ou por não haver legislação que padronize e fiscalize a qualidade e a
eficiência desses produtos.
Cogitou-se a possibilidade de realizar entrevistas aos vendedores dos principais
estabelecimentos que comercializam materiais para construção, porém, em entrevistas
preliminares, quando questionados da qualidade e eficiência dos repelentes eletrônicos para
insetos, estas eram sempre positivas e, segundo os vendedores, não havia reclamação ou
insatisfação dos clientes. Contudo, notou-se um profundo desconhecimento sobre biologia
e comportamento de insetos somados ao interesse do funcionário em concretizar a venda do
produto, tornando os dados inconsistentes e por conseqüência, no abandono desta
metodologia.
É possível imaginar que o leigo (consumidor) possa confundir a eficiência dos
repelentes com fatores biológicos e comportamentais dos insetos, por ele desconhecidos, no
momento de dar seu parecer, quanto ao seu funcionamento. A sazonalidade de insetos fica
mais evidente quando consideramos o comportamento de formigas nas estações mais frias
36
do ano, em que quase não são observadas, o mesmo se diz da disponibilidade de alimentos,
que por sua vez, pode interferir de modo a reduzir populações de baratas.
Outro fator relevante é a forma genérica e milagrosa com que os repelentes
eletrônicos são vendidos. Como exemplo é possível citar os repelentes das marcas Kawoa e
Key West, repelentes para baratas e formigas. Para qual ou quais espécies os dispositivos
seriam repelentes!? Os rótulos dos produtos não registram essas informações. No entanto,
sabe-se que em meio a um universo de 18 mil espécies de formigas e cerca de 4 mil de
baratas, para as espécies M. floricola, P. americana e B. germanica estes aparelhos não
são repelentes.
37
6. CONCLUSÕES
Os repelentes eletrônicos, emissores de ultra-sons, Kawoa BK-01 e Key West (DNI
– 6951), não são repelentes para baratas das espécies P. americana e B. germanica, tendo
em vista o espectro de freqüência e metodologia empregados.
Os repelentes Kawoa FK – 01 e Key West (DNI – 6952), em testes conduzidos em
laboratório, se mostraram ineficientes para a repelência de formigas da espécie M. floricola.
A avaliação do raio de ação, devido a ausência de repelência, não se aplicaram para
os insetos expostos ao teste.
A tecnologia de ultra-som empregado para o controle de insetos é, sem dúvida, uma
alternativa relevante aos métodos convencionais de controle, porém, há a necessidade de
estudos aprofundados e precisos na determinação do espectro de frequência, que possa de
fato, interferir no comportamento dos insetos, a fim de repeli-los, assim como, seu raio de
ação.
Não é coerente afirmar que os dispositivos são repelentes para baratas e formigas,
de maneira genérica, pois não foi observado repelência para as espécies empregadas na
avaliação. Contudo, se faz necessário novos estudos para determinar qual ou quais espécies
podem ser repelidas pelos repelentes eletrônicos testados.
38
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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