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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO NA SERRA DO PERIPERI EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA NERÊIDA MARIA SANTOS MAFRA BENEDICTIS NATAL (RN) - 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO

URBANO NA SERRA DO PERIPERI EM VITÓRIA DA

CONQUISTA - BA

NERÊIDA MARIA SANTOS MAFRA BENEDICTIS

NATAL (RN) - 2007

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NERÊIDA MARIA SANTOS MAFRA BENEDICTIS

POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO NA

SERRA DO PERIPERI EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências

Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como

requisito para a obtenção do grau acadêmico de mestre em Ciências

Sociais, com a orientação da Profª.Drª. Maria do Livramento Miranda

Clementino

Natal (RN) - 2007

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NERÊIDA MARIA SANTOS MAFRA BENEDICTIS

POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO NA SERRA

DO PERIPERI EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do grau de mestre, tendo como componentes da Banca Examinadora

os seguintes membros:

___________________________________________________________________________

Profª. Drª Maria do Livramento Miranda Clementino – UFRN

Presidente

________________________________________________________________Profª. Drª Maria Cristina Rocha Barreto - UERN

Membro Titular

________________________________________________________________Profº. Márcio Moraes Valença - UFRN

Membro Titular

________________________________________________________________Profª. Dr. Rita de Cássia da Conceição Gomes - UFRN

Membro Suplente

Natal (RN) - 2007

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Dedico este trabalho a Deus, autor da vida que sempre me deu forças

mesmo quando pensei em parar. Senhor, Tu és o meu baluarte,

socorro bem presente, Aquele a quem eu chamo de Pai e a quem eu

tenho verdadeiramente amado.

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AGRADECIMENTOS________________________________________________________________

Agradecer sempre a Deus por tudo! E graças a Ele que nos cerca de pessoas

especiais que sempre estão ao nosso lado não importando o momento, aqueles a quem a

palavra de Deus nomeia de amigos, amigos mais chegados que um irmão, pessoas amorosas

que nos fazem olhar para as lutas e nos alegrar, agradeço de todo meu coração a você Dan

minha bênção de Deus, a Jú e Lai minhas filhas lindas, quantos momentos vividos, quantas

esperanças geradas, diversas vezes choramos juntos, sorrimos diante de um futuro que nos

apontava um sonho de Deus e inseriu em nossos corações a verdadeira motivação para não

parar........Amo vocês!

A Sila, minha irmã, e ao cunhado que mais amo na vida Erivan, como foi prazeroso

poder contar com vocês em cada momento, como o Senhor através desse mestrado nos uniu

mais, como era gostoso chegar a Cruzeta e olhar para vocês e não nos sentirmos sós, vocês

foram e são pessoas especiais para nós, amamos muito vocês...Obrigada por tudo.

A Myller meu sobrinho pelo carinho e compreensão muitas vezes dispensado a nós,

como o Senhor produziu! Escrever aqui é muito pouco diante de cada momento vivido com

você, te amo.

A Dek(irmão), Nana(cunhada) e Alice (sobrinha) obrigada por colaborarem com

esse sonho. Vocês passaram por muitas mudanças de vida para nos ajudar nessa caminhada.

Amo vocês!

A uma família que chamo de buscapé, que sempre viajamos juntos, sorrimos,

choramos, lutamos como é bom conviver com vocês, como a presença de vocês me alegra,

amo muito Geb (meu irmão), Keka (cunhada) e as minhas sobrinhas Kaká, Karen e Kellem

(tia Neneda).

A Jede (irmão querido),Reja (cunhadinha), meus sobrinhos João e Bruninho como é

maravilhoso estar com cada um de vocês, de conversar, sorrir, agradeço por cada momento

que estivemos ai, obrigada pelas caronas no aeroporto. Jamais me esquecerei de você, Jede,

nos levando pela madrugada, obrigada maninho amo muito vocês. As suas vidas são muito

importantes para mim.

A meu pai (Jonas) e Clarice (in memorian) que sempre me ensinaram que a maior

virtude de um ser humano é a persistência, a busca daquilo que acredita muito obrigada.

Painho amo muito você. A minha Mãe, como é doloroso escrever, queria poder expressar o

quanto essa mulher colaborou mesmo em tão pouco tempo com a minha vida, como a

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memória registrou a imagem de uma mulher sábia, carinhosa, bondosa, virtuosa uma mulher

que conseguiu vencer cada etapa de sua vida com coragem e dignidade.

Aos irmãos da Igreja que oraram por nós e nos deram muito carinho e serviço. A

Gilberto por estar sempre pronto para me servir para a pesquisa em campo, você é muito

especial. A Tânia vizinha amiga que também me auxiliou em campo, obrigada Senhor pela

vida de cada um.

Agradeço ao Laboratório de Cartografia, mais precisamente ao meu colega Edvaldo

Oliveira que sempre se colocou a disposição para me ajudar com a elaboração dos mapas. A

Íris pela sua presteza e ajuda.

Aos meus colegas do Departamento de Geografia da UESB, em especial a Área de

Ensino, obrigada por tudo!

A minha orientadora, Profª. Dr. Maria do Livramento, que não mediu esforços para

atender as minhas solicitações de ajuda, esclarecendo dúvidas e ajudando-me a vencer as

dificuldades surgidas, obrigada pela confiança em mim depositada.

Por fim, não tenho costume de agradecer a pessoas que aqui não se encontram mais.

Mas não poderia deixar de mencionar duas pessoas que fizeram parte da minha vida me

ajudando, amando, sempre pacientes, pessoas que me acolheram quando me sentia só, que me

deram colo, obrigada Dinha Nila e Tio Zula, como sinto falta de vocês.

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RESUMO________________________________________________________________

Esta dissertação tem como objeto de estudo a análise da política ambiental e o desenvolvimento urbano na Serra do Periperi. Tal análise partiu de preocupações concernentes a ocupação desordenada na Serra e aos problemas ambientais advindos dessa ocupação. Ao construir loteamentos e estradas, e realizar atividades mineradoras o homem alterou consideravelmente o equilíbrio natural da paisagem na Serra e ocasionou entre outras coisas, graves problemas ambientais, como a erosão das encostas da serra, desmatamentos, assoreamento e poluição do Rio Verruga. Assim em 1998 a Serra do Periperi foi decretada por parte do Poder Público Municipal como Área de Preservação Ambiental com uma Unidade de Conservação denominada Parque Municipal da Serra do Periperi essa política ambiental implementada na Serra visa coibir essa ocupação e proteger áreas que são de extrema importância ambiental para a cidade. Diante do exposto, visando refletir sobre a política ambiental na Serra do Periperi e as relações do processo de ocupação que o presente trabalho tem o objetivo de compreender como a expansão da malha urbana da cidade de Vitória da Conquista – BA e as atividades mineradoras influenciaram nos processos de degradação ambiental na Serra do Periperi.

.

Palavras-chave: Política ambiental, desenvolvimento urbano e degradação ambiental.

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ABSTRACT________________________________________________________________

This present dissertation has as its aim of study an analysis of the environmental policy and the urban development at the Periperi Hill. Such analysis arose due to concerns related to the disordered occupation in that Hill and also due to the environmental problems caused by this occupation. By opening roads and developing areas for housing and mineral extraction activities, man has altered considerably the landscape natural balance in that hill and caused among other difficulties, grave environmental problems, such as the erosin at the hill coast, deforestation, obstruction and pollution of the Verruga River. Therefore, in 1998 it was decreed by the Municipal Public Power that Periperi Hill became an Environmental Preservation Area with a Unit of Conservation known as Periperi Hill Municipal Park, an environmental policy implemented at the Hill that aims to hinder this occupation and to protect areas that are of great environmental importance to the city. It looking at what is now exposed and aiming to consider the Periperi Hill’s environmental policy and the relationship of the occupation process, that this present work has the objective of understanding how the expansion of the city’s urban network in Vitória da Conquista – BA and the mineral activities cause an influence in the process of environmental degradation at the Periperi Hill.

Words Key: Environment Policy, Urban development and environment degradation.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Área da Serra do Periperi ....................................................................................21

FIGURA 2 - Área de Domínio das Unid. Geomorfológicas do Mun. de Vit. da Conquista....22

FIGURA 3 - Mapa de localização de Vitória da Conquista na região......................................27

FIGURA 4 - Mapa de Circulação do município de Vitória da Conquista................................28

FIGURA 5 – Mapa da EvoluçãoUrbana deVitória da Conquista.............................................34

FIGURA 6 – Imagem de satélite da cidade de Vitória da Conquista com contorno do anel

viário da BR-116 (Rio-Bahia)...................................................................................................36

FIGURA 7 - Localização do Parque Municipal da Serra do Periperi.......................................68

FIGURA 8 – Mapa de Legislação Ambiental de Vitória da Conquista....................................76

FIGURA 9 - Área de Domínio das unidades geoambientais no setor urbano..........................81

FIGURA 10 - Interligação entre áreas a serem protegidas no setor urbano.............................82

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LISTA DE FOTOS

FOTO 01 - Rio Verruga no perímetro urbano, cruzamento com a Av. Bartolomeu de

Gusmão.....................................................................................................................................24

FOTO 02 – Rio Verruga no canal que cruza com o anel viário................................................24

FOTO 03 e 04 – Área degradada na parte Oeste da Serra do Periperi......................................26

FOTO 05 – Avenida da Integração (BR-116)...........................................................................35

FOTOS 06 e 07 – Vista do bairro Nova Cidade e margens do anel viário...............................37

FOTO 08 - Vista parcial do bairro Cruzeiro próximo à Área do Parque Municipal da Serra do

Periperi......................................................................................................................................45

FOTO 09 – Rua em expansão do bairro Nossa Senhora Aparecida.........................................45

FOTO 10 – Expansão do bairro Bruno Bacelar no PMSP........................................................46

FOTOS 11 e 12 – Área em expansão do bairro Bruno Bacelar no PMSP................................46

FOTO 13– Aspectos das ruas sem calçamento no bairro Bruno Bacelar.................................47

FOTOS 14, 15 e 16 – Mosaico: Delimitação do Parque Municipal da Serra do Periperi,

Estrada com lixo e entulho no PMSP, Casa construída dentro da área do PMSP....................47

FOTOS 17, 18, 19 e 20 – Mosaico das ruas da cidade após período de chuva no bairro

Recreio, inundação de Rua no Alto Maron, Centro e enxurradas com resíduos sólidos nas ruas

do bairro Santa Cecília..............................................................................................................50

FOTOS 21 e 22 – Exploração de areia na área do PMSP.........................................................52

FOTO 23 – Cratera de área degradada da Serra do Periperi do lado oeste...............................53

FOTO 24 – Área da Indústria de asfalto da Prefeitura Municipal de V. da Conquista........... 54

FOTO 25 – Área degradada pela retirada de material para construção da BR-116 e exploração

pela Indústria de Asfalto...........................................................................................................55

FOTO 26 - Jazida aberta para construção do anel viário da BR-116.......................................55

FOTOS 27 ,28 e 29 – Entulhos e lixos no PMSP no lado oeste da cidade...............................56

FOTOS 30 e 31 – lixos e entulhos na área do Poço Escuro......................................................56

FOTO 32 – Sede do Núcleo de Educação Ambiental na área do PMSP..................................71

FOTO 33 – Fotografia aérea do Poço Escuro e dos bairros Guarani e cruzeiro.......................72

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - Loteamentos deferidos ou legalizados em Vitória da Conquista de 1977 a

1996...........................................................................................................................................39

TABELA 02 – Quantidades de lotes deferidos pelo poder público para a área da Serra do

Periperi......................................................................................................................................44

TABELA 03 - Síntese dos problemas do sistema de drenagem urbana de Vitória da Conquista

em 1998.....................................................................................................................................51

TABELA 04 – Quadro Síntese: Prejuízos ambientais decorrentes da ocupação humana na

serra...........................................................................................................................................59

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 – Ombrotérmico de Vitória da Conquista -BA..................................................25

GRÁFICO 02 – População Urbana e Rural de Vitória da Conquista de 1940 a 2000.............30

GRÁFICO 03 - Quantidade de loteamentos e número de lotes aprovados pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista entre 1997 a 2006.............................................................42

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE FOTOS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................13

1ª PARTE: A SERRA E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE ...........................................21

1 – Serra do Periperi: caracterização e descrição geo-ambiental..............................................21

2 – Aspectos da Expansão Urbana de Vitória da Conquista.....................................................26

2.1 - A Importância das Rodovias na Expansão Urbana da Cidade..........................................29

2.2 – A Cidade e os Loteamentos.............................................................................................37

3 - Ocupação Humana na Serra do Periperi..............................................................................43

3.1 - Processos de Degradação Ambiental decorrentes da ocupação da Serra.........................48

2ª PARTE : POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO................60

4 – Políticas Ambientais no Brasil: notas introdutórias ………...........................................…60

5 – Política Ambiental de Vitória da Conquista e Criação do Parque Municipal da Serra do

Periperi......................................................................................................................................65

6 - Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista e o Planejamento Ambiental.....................77

7- CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................84

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................87

9- ANEXOS..............................................................................................................................93

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INTRODUÇÃO

Realizar este trabalho foi extremamente gratificante. As diversidades ambientais

desse ecossistema rico em fauna e flora é algo que ainda chama muito a atenção de qualquer

pesquisador e ambientalista, atenuando o desejo de preservação desse ambiente.

A minha preocupação em estudar o Parque Municipal da Serra do Periperi remonta

desde os tempos da graduação em Geografia, ano de 1996, quando pude vivenciar uma expe-

riência única numa noite chuvosa em que minha rua, a Jonas Hortélio no bairro Recreio, foi

totalmente coberta por uma enxurrada que parecia não mais ter fim. Mesmo cessando a chuva,

a água continuava a correr e inundar até mesmo garagens de prédios e casas. Nessa mesma

noite, um carro foi arrastado pela forte correnteza matando 05 (cinco) das 06 (seis) pessoas

que transportava. A partir daí, comecei a refletir sobre o que ocorria com a cidade e em espe-

cial na rua onde moro durante o período de chuvas, e, desde então, a Serra tem sido meu obje-

to de estudo.

Sabemos que, nas últimas décadas, a dinâmica da ordem mundial foi marcada pela

intensificação dos problemas sócio-ambientais globais, como a destruição da camada de ozô-

nio, o aquecimento global, a perda da biodiversidade, a desertificação, as pressões migratórias

e a degradação dos recursos naturais.

De acordo com Guimarães (2003: 83), o modelo de desenvolvimento vigente tem

sido massivamente questionado em virtude do agravamento dos problemas ambientais. É sa-

bido que esse modelo tem superado a todas as estruturas tradicionais, criando novas facetas

que envolvem “novas formas de produção em que a urbanização e a industrialização e o de-

senvolvimento tecnológico, dos sistemas de comunicação de massa e transportes são alguns

dos fenômenos característicos desse processo”. Ainda segundo o autor, esse modelo tem in-

tensificado através de uma sociedade consumista, “características inerentes de degradação

ambiental” e que tem primado pelos interesses econômicos (privados) frente aos bens coleti-

vos, entre eles o meio ambiente, consolidando-se numa visão antropocêntrica de mundo cau-

sadora de intenso impacto sócio-ambiental.

Nessa perspectiva, realizar estudo dessa temática é permear em um campo constituí-

do, nos últimos tempos, de expectativas desafiadoras e ao mesmo tempo estimulantes. Dentre

os desafios, destaca-se a crise ambiental desencadeada, principalmente, pela desigualdade so-

cial que dificulta ou mesmo impede a apropriação do espaço de forma equilibrada e sustentá-

vel. Somam-se a isto as políticas públicas que nem sempre consideram a questão ambiental

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como um Direito fundamental para a sociedade. Por isso repensar as políticas públicas sobre o

espaço é fundamental, porque elas fazem parte de um projeto político maior que a sustenta e

orienta.

O referido trabalho tem como objeto de estudo a Política Ambiental e o Desenvolvi-

mento Urbano na Serra do Periperi em Vitória da Conquista - BA e se enquadra na linha de

pesquisa Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional. Os estudos das características e di-

nâmica do espaço urbano são de extrema relevância no âmbito das diversas ciências, inclusive

das Ciências Sociais. Esse campo de estudo tem sido amplamente debatido em diversos con-

gressos e fóruns pelo mundo todo e, por isso, vem apresentando avanços teóricos e conceitu-

ais, nas diferentes áreas do saber proporcionando um maior aprofundamento dos conhecimen-

tos e oportunidades de análises das questões ambientais sob diferentes abordagens.

Estudar sobre a política ambiental e o desenvolvimento urbano de um determinado

espaço, é pensar na sua configuração, é um aprendizado do olhar a cidade onde se vive e per-

ceber a paisagem materializada, uma paisagem onde o verde cede lugar aos edifícios, ruas,

casas. De um lado, há bairros nobres ocupados por uma pequena parcela da população de alta

renda e, de outro, bairros populares onde a população de baixa renda vive e reside. Essas ci-

dades crescem e se estruturam conforme o poder do capital. Sobre isso, Carlos (2005:23) ex-

plica que: “O uso diferenciado da cidade demonstra que esse espaço se constrói e se reproduz

de forma desigual e contraditória. A desigualdade espacial é reflexo da desigualdade social”,

logo essa produção espacial revela uma sociedade dividida em classes.

Ao longo da história, o urbano tem tido uma avaliação diferenciada, ora como espaço

de desenvolvimento, ora como espaço do conflito. Por muito tempo se refletiu a cidade como

o lugar do moderno e do progresso, uma dicotomia com o mundo rural. As cidades constituí-

ram-se em principais pólos de poder, de tomada de decisões, de desenvolvimento e de organi-

zação dos espaços. Ainda que concentrassem também a maior gama de problemas locais, tais

como criminalidade, poluição, doenças e falta de moradias, elas passaram a ser locais de pla-

nejamento e, concomitantemente, fonte de fragmentação.

Com isso, o crescimento das cidades tornou-se acelerado e possibilitou, através de

uma dialética de interesses de classes sociais, aumentar seu território e caracterizar seu espaço

conforme os níveis de classes. Isso retrata uma deformidade na estrutura física e social devido

à expansão desordenada, que tem gerado uma restrição em relação aos serviços públicos por

parte da população mais carente, que na maioria das vezes habita em terrenos sem nenhuma

infra-estrutura. No que se refere ao meio ambiente, o quadro é caótico: favorece a destruição

da natureza e a ocupação indiscriminada do solo urbano sem, contudo, respeitar a Legislação

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Ambiental.

Para Carlos (2005: 45-47) a cidade compreendida como construção humana apresen-

ta-se sob a forma de ocupações e essas se dão a partir da necessidade de produzir, consumir,

habitar ou viver. A autora ainda diz que:

“O urbano produzido através das aspirações e necessidades de uma socie-dade de classes fez dele um campo de luta onde os interesses e as batalhas se resolvem pelo jogo político das forças sociais. O urbano aparece como obra histórica que se produz continuamente a partir das contradições ineren-tes à sociedade.” (p.71).

Esse processo é produzido através das relações sociais que se materializam no espaço

e que, de certa forma, têm transformado esse espaço em mercadoria, parcelado, e que é resul-

tado do desenvolvimento do capital. Nesse contexto, as contradições que se avolumam no es-

paço urbano são também em decorrência de uma política na qual o Estado é o seu maior pro-

vedor, pois tem se colocado, em certa medida, a favor dos interesses do capital e, com isso,

ele se produz e reproduz de forma segregada privilegiando uma pequena parcela da sociedade.

No Brasil, as transformações econômicas, principalmente nas últimas décadas, agra-

varam ainda mais os problemas urbanos, como a falta de saneamento básico, a proliferação de

habitações precárias, a ocupação de áreas inadequadas (morros e encostas), a poluição indus-

trial, as enchentes e a destruição de recursos naturais. Isso porque, segundo dados do IBGE, o

país chegou ao final do século XX como um país urbano e, já em 2000, a população urbana

ultrapassou 2/3 da população total, atingindo 138 milhões de pessoas, ou seja, mais de 80% da

população brasileira.

Nesse sentido, o desejo de analisar e apontar alternativas ao planejamento urbano

nasce da concordância com SOUZA ao avaliar que,

“A crescente magnitude dos problemas urbanos no Brasil, país semiperifé-rico onde cerca de 80% da população vivem em entidades geográficas con-sideradas urbanas (cidades e vilas), reclama uma presença cada vez mais a-tiva dos pesquisadores (pesquisa aplicada socialmente útil); por outro lado, o fracasso do planejamento convencional em proporcionar melhores condi-ções de vida, sob o ângulo da justiça social, não significa que o planejamen-to deva ser negligenciado, mas sim que alternativas estratégicas precisam ser apontadas. (SOUZA, 2002, p.15)”.

Essa situação demonstra que o Brasil apresentou um rápido processo de urbanização,

realizado em condições precárias, desprovido de uma política de planejamento e de investi-

mentos em infra-estrutura. Como as cidades não conseguiram absorver a mão-de-obra do

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grande contingente de pessoas que migrou das áreas rurais, a pobreza transferiu-se do campo

para as áreas urbanas.

Além do aumento da população, a maioria das cidades brasileiras vem passando por

um crescimento no seu perímetro urbano que tem se expandido sem planejamento. Com isso

os bairros se espalham e novos bairros surgem de modo desordenado. Como conseqüência

dessa situação, aumentam ainda mais, os problemas sociais, econômicos e agravam-se as

questões ambientais, pois com as invasões de terrenos surgem os loteamentos clandestinos, os

desmatamentos, a ocupação de áreas de preservação ou até mesmo de mananciais e de encos-

tas.

Essa situação, guardando as devidas proporções não é diferente do que ocorre na ci-

dade de Vitória da Conquista, localizada na região sudoeste do Estado da Bahia, com uma po-

pulação (IBGE/2000), de 262.494, dos quais 225.545 vivem na zona urbana e 36.949 na zona

rural, descreve, através da sua configuração, um espaço segregado e modificado em decorrên-

cia das próprias relações sociais que se materializam nesse espaço e que deu origem a diver-

sos problemas sociais e ambientais.

Mesmo sendo uma cidade de porte médio, tem uma periferização similar aos grandes

centros urbanos e, por isso, constata-se uma especulação imobiliária intensa, principalmente

nas áreas mais planas. Em decorrência disso a população mais carente tem avançado para á-

reas que são em sua maioria consideradas de preservação ambiental e de risco sem nenhuma

infra-estrutura. É o caso da Serra do Periperi, que é área de preservação permanente, de acor-

do com a Lei nº. 4.771 / 65, com uma Unidade de Conservação criada desde a década de 1999

com a criação do Parque Municipal da Serra do Periperi (PMSP), e que sofre com o avanço de

invasões de residenciais em sua direção e explorações de materiais como cascalho, areia e le-

nha.

As preocupações básicas que orientaram na elaboração desta dissertação, encaminha-

ram -se para dois pontos fundamentais: um, de ordem científica, na perspectiva de alargar as

bases d informações e fontes para a cidade de Vitória da Conquista no que diz respeito às

questões ambientais. Outro, de ordem social, procurando encaminhar-se para determinadas

posturas frente às questões de conhecimento e concepção da ocupação da Serra do Periperi,

entendidas como processo social nas múltiplas manifestações de experiência e conflitos da

realidade humana.

Assim, tornou-se possível uma reflexão sobre a política ambiental implementada pe-

lo poder público municipal, e sua relação com o desenvolvimento urbano na Serra do Periperi

em Vitória da Conquista. A partir daí, buscou-se investigar em que medida a Legislação Ur-

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bana tem orientado e garantido a articulação entre o planejamento urbano e a gestão ambiental

na Serra.

A pesquisa sobre a política ambiental e sua relação com o desenvolvimento urbano e,

aqui, analisando o caso específico da Serra do Periperi em Vitória da Conquista – BA, dada a

sua complexidade, exigiu pensar o ambiente natural da Serra num espaço urbano socialmente

construído levando em conta os aspectos mais importantes que levaram a apropriação desse

espaço sócio-ambiental levando-se em consideração as ações que intensificaram a degradação

ao meio ambiente.

Três questões-problema orientaram o presente estudo:

A política ambiental implementada na Serra do Periperi parece não estar sendo

eficaz no sentido de controlar o desenvolvimento urbano na Serra;

O planejamento urbano da cidade não tem tido uma articulação com a política

de gestão ambiental;

A criação do parque ambiental não coibiu as atividades predatórias em sua

área de abrangência.

A partir das premissas acima, a nossa preocupação central foi a de analisar a política

ambiental da Serra do Periperi, a partir de 1999, ano em que foi criado o Parque Municipal da

Serra do Periperi, até 2007, por parte do poder público municipal, e verificar em que medida

essa política tem restringido a expansão territorial da cidade em direção à Serra, mais especi-

ficamente a área do Parque Municipal da Serra do Periperi.

Do ponto de vista metodológico, selecionamos como fontes operacionais da pesqui-

sa:

a) A legislação ambiental nos âmbitos federal, estadual e municipal, sendo esta últi-

ma exclusivamente a de Vitória da Conquista-BA;

b) O Plano Diretor de Vitória da Conquista, atualmente em vigor;

c) O Código Municipal do Meio Ambiente de Vitória da Conquista;

d) Outras normatizações do governo local relacionadas com o objeto em estudo.

E com a finalidade de sistematização da pesquisa, foram utilizadas as técnicas de

pesquisa abaixo relacionadas:

Revisão documental e bibliográfico - Foi realizada uma revisão bibliográfica

sobre o tema, procurando uma maior clareza teórico-conceitual que daria su-

porte às análises subseqüentes. Foram adotados procedimentos de fichamen-

tos e resumos com a finalidade de respaldar teoricamente os resultados obti-

dos no decorrer da pesquisa.

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Trabalho Empírico:

a) Levantamento de dados secundários: foram levantados dados no Instituto Brasilei-

ro de Geografia e Estatística (IBGE); foram realizadas pesquisas na Secretaria de Obras e Ur-

banismo do Município com o intuito de identificar os loteamentos que foram deferidos pela

Prefeitura a partir do ano de 1996 até 2006 e, por último, a Secretaria Municipal do Meio

Ambiente, para conhecimento da política ambiental da cidade.

b) Levantamento de dados primários: foram realizadas entrevistas com o Secretário

Municipal de Meio Ambiente, com Fiscais da Unidade de Conservação, com a gerente de

análise de projetos e com o Engenheiro Civil da Secretaria de Obras e Urbanismo.

c) Foram realizadas diversas pesquisas em campo na Serra do Periperi, principalmen-

te nas áreas mais degradadas e na Reserva do Poço Escuro com o objetivo de observar “in lo-

co” as áreas que foram ocupadas para construção de residências ou para a retirada de material

para a construção civil (areia, cascalho), para uma futura elaboração de um mapa temático

sobre a ocupação e o uso do solo na Serra.

Cartografia digital

O Mapa de Legislação Ambiental foi elaborado para caracterizar as áreas que estão

sendo monitoradas pela política ambiental no entorno da Serra do Periperi e na área do Parque

Municipal da Serra do Periperi.

Na elaboração do mapa de Legislação Ambiental de Vitória da Conquista, foi utili-

zada a planta urbana da cidade, na escala 1: 5000 do ano de 2007 georeferenciada. Foram di-

gitadas as coordenadas (em anexo) para delimitação da poligonal da área do Parque Municipal

da Serra do Periperi através do software Auto Cad Map. Logo após a delimitação, a área foi

exportada para o software Map Viewer 7.0 e foi inserida na planta urbana de Conquista. Tam-

bém a partir do Auto Cad Map, foram digitadas as coordenadas do Plano de Manejo do Par-

que Municipal da Serra do Periperi das áreas que estão sendo monitoradas pela Secretaria

Municipal do Meio Ambiente e das áreas que foram oficializadas como áreas de Preservação

Ambiental pelo Código Municipal do Meio Ambiente que estão abaixo descriminadas:

Área do Bosque de Eucalipto - Coordenadas geográficas: 0300721, UTM 8359000.

Cascalheira da Rio - Bahia – Coordenadas Geográficas: 0301915, UTM 8359445.

Cascalheira da Conquistinha – Coordenadas Geográficas: 0303475, UTM 8359049.

Borda do Poço Escuro Lado Oeste – Coordenadas Geográficas: 0302347, UTM

8359125.

Bebedouro da Onça nas coordenadas 0298697 e UTM 8360221.

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Zona de Uso Intensivo – O Poço Escuro nas coordenadas 0302480 e UTM

8358650 é uma zona utilizada para uso de recreação e educação ambiental, recebendo alunos

da rede particular, municipal e estadual de ensino, além de estudos científicos em parceria

com Universidades.

Zona de Recuperação – São áreas dentro do Parque, onde a vegetação encontra-se

em recuperação apesar de conflitos entre a gestão do Parque e as pessoas que retiram a

vegetação para utilizarem em fogões a lenha. Essas áreas estão tanto no lado leste como no

lado oeste do Parque, cujas coordenadas geográficas são: 0299500, 0298073, 0302368,

0298686, 0302565, 0306586 e 0300721 e UTM 8359704, 8359999, 8359280, 8359504,

8359714, 8357989, 8359000 respectivamente. Encontramos também, área de preservação do

Melocactus conoideus, espécie endêmica da Serra do Periperi, bem como de ocorrência

natural. Outra área é um bosque de eucalipto com várias espécies, cujo manejo vem sendo

executado no sentido da retirada de postes e mourões para utilização no Parque. Por fim,

temos algumas áreas denominadas de cascalheiras, onde ocorreram à retirada de pedras, areia

e cascalho, as quais estão sendo recuperadas com o plantio de espécies nativas da mata

estacional. Todas essas áreas reunidas têm 800 ha.

Zona de Uso Especial – Centro de Triagem de Animais Silvestres na coordenada

0302070 e UTM 8359160 e um Herbário na coordenada 0302128 e UTM 8358271.

Código Municipal do Meio Ambiente: Parque Municipal da Serra do Periperi, Reserva

Florestal do Poço Escuro, Parque Municipal Urbano da Lagoa das Bateias e Parque Municipal

Urbana da Lagoa do Jurema.

Com todas as informações digitadas foi criado um banco de dados sobre os aspectos

ambientais da cidade de Vitória da Conquista no software Map Viewer 7.0.

Documentação Fotográfica

Serviram para a descrição das áreas ocupadas na Serra do Periperi.

Por último, foi elaborada esta dissertação onde as análises foram apresentadas em

Capítulos que estão assim estruturados:

– Introdução, contendo a construção da hipótese, objetivos e procedimentos metodo-

lógicos que nortearam o desenvolvimento da pesquisa;

1ª parte: A Serra e a sua relação com a cidade:

1 – Serra do Periperi: caracterização e descrição geoambiental;

2 – Aspectos da Expansão Urbana de Vitória da Conquista;

3 – Ocupação Humana (e Urbana) da Serra do Periperi.

2ª parte: Política Ambiental e Desenvolvimento Urbano:

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4 – Políticas Ambientais no Brasil: notas introdutórias;

5 – Política Ambiental de Vitória da Conquista e criação do Parque Municipal da

Serra do Periperi;

6 – Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista e o planejamento ambiental.

7- Considerações Finais

8 – Bibliografia.

9- Anexos

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1ª PARTE: A SERRA E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE

1 – Serra do Periperi: Caracterização e Descrição Geoambiental.

A Serra do Periperi localizada na parte norte da cidade de Vitória da Conquista, na

zona urbana, no sentido Leste/Oeste, há aproximadamente 15 km (fig.01), é Área de Proteção

Ambiental (APA) criada pelo Decreto Municipal nº. 8.696/96 (Anexo), e ainda se enquadran-

do como área de preservação permanente, de acordo com a Lei Federal nº. 4.771 / 65 do Có-

digo Florestal Brasileiro, acima da cota 1.000 e, posteriormente, com o intuito de garantir uma

maior preservação do local, ampliou-se a área de 500ha para 1.000ha, através do Decreto Mu-

nicipal nº. 9.328/98, e, em 1999, com o Decreto nº. 9.480/99, foi criado o Parque Municipal

da Serra do Periperi (PMSP) em convênio com o IBAMA, expandindo a área de preservação

para 1.300ha (Anexo).

Figura 01: Área da Serra do PeriperiFonte: Tagged Image File Format (TIFF)

A APA Serra do Periperi tem uma parte de sua área ocupada por uma reserva flores-

tal (Poço Escuro) e por extensas áreas como: a cascalheira da indústria municipal de asfalto,

BR-116 e Anel Viário, o Cristo de Mario Cravo (área que antigamente era visitada, mas que

hoje se encontra deserta por falta de segurança), hotel, estações e torres de emissoras de tele-

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visão e rádio, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), o Núcleo de Educação

Ambiental do Parque, a Sede do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-

rais Renováveis (IBAMA), áreas residenciais e Minas a céu aberto.

A altimetria da Serra é pouco superior a 1000 m., considerada, assim, com uma ele-

vação residual que emerge da superfície dos Planaltos dos Geraizinhos, estando submetida

principalmente a clima semi-úmido. Faz parte do Planalto de Vitória da Conquista e este, por

sua vez, integra, junto com o Planalto de Maracás, os Planaltos dos Geraizinhos, caracterizado

por uma extensa área de topografia tabular constituída, por depósitos detríticos do Terciário e

do Quaternário. (RADAMBRASIL, 1981)

A unidade do Planalto dos Geraizinhos são superfícies elevadas constituindo planal-

tos em processo de pediplanação por coberturas detríticas tércio-quaternárias. Os vales são

colmatados de fundo chato, formando veredas (figura 02). Por isso, com o desmatamento, es-

ses solos, principalmente os de natureza arenosa, não se sustentam nas encostas e rampas com

maior declividade, ocorrendo processos erosivos como a formação de sulcos, voçorocas etc.

Figura 02: Área de Domínio das Unidades Geomorfológicas do Município de V.da Conquista.Fonte: PDU-VC/2004

As rochas que compõem esta unidade são representadas principalmente pelo quartzi-

to, tipo de rocha metamórfica, que é composta essencialmente de quartzo, que é explorada de

forma artesanal para atividades na construção civil. A ocorrência de quartzitos na área justifi-

ca o caráter residual elevado do relevo, em decorrência da maior resistência da rocha.

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Os solos que se desenvolvem na área são do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo, sen-

do solos minerais, não hidromórficos, profundos, com baixa fertilidade natural, com avançado

grau de intemperismo e boa porosidade, com seqüência de horizontes A, B e C e com pouca

diferenciação entre eles, variando do vermelho ao amarelo com tons intermediários.

A vegetação, embora muito alterada, é típica de áreas de transição classificada pelo

RADAMBRASIL (1981: 432) como área de ecotono, revestidas de Floresta Estacional. Com

o desmatamento, estabeleceu-se nessa região uma fisionomia secundária da floresta misturada

com espécies de Cerrado. E esse contato é mais visível na Serra do Periperi que possui uma

composição florísitica bastante heterogênea. O porte da vegetação atual é muito pequeno em

função dos desmatamentos sucessivos e da pequena capacidade de regeneração. As vegeta-

ções que compõem naturalmente essas áreas possuem alturas em torno de 4 metros e são

chamadas de Mata de Cipó ou Mata Seca. É uma vegetação alta, fechada, com muitas lianas

(cipós), epífitas (orquídeas) e musgos (barba de mono).

Vale ressaltar a importância da Mata de Cipó, já que esse tipo de vegetação é rema-

nescente da Mata Atlântica e, por isso, há uma proposta de ampliação do Corredor Central da

Mata Atlântica (entre a Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais), implementada pelo Projeto

Corredores Ecológicos do Ministério do Meio Ambiente, para abarcar a área do PMSP para

que áreas como essas que possuem remanescentes não fiquem isoladas e possa assim haver

uma maior conexão dos ambientes naturais, consentindo a circulação das espécies de flora e

fauna entre os remanescentes. É importante ressaltar que a Mata de Cipó é de formação parti-

cular e só existe no estado da Bahia.

Uma área com as características da Serra do Periperi, ou seja, residual quartizítica

com afloramentos rochosos e solos litólicos rasos, localizados entre rampas coluvionares e

áreas rebaixadas de cabeceiras de drenagem, como é o caso de Vitória da Conquista, auxilia

no surgimento de nascentes, como é o caso do Bebedouro da Onça, do Poço Escuro, do Pano-

rama, das lagoas das Bateias, Jurema e dos Campinhos. Tal condição favoreceu o surgimento

da cidade nessa área, pois esses mananciais é que abasteciam a população naquela época.

A Serra do Periperi é um divisor de águas entre as bacias do rio de Contas a norte e

oeste, e a bacia do rio Pardo a leste e a sul. O rio Verruga, que é tributário do rio Pardo, é o

principal rio da cidade, tendo suas nascentes dentro da APA do PMSP na reserva do Poço Es-

curo. O rio Verruga atravessa a cidade de Conquista, subterraneamente percorrendo cerca de

2.000 metros, até cruzar com a Avenida Bartolomeu de Gusmão e, depois daí, num canal a-

berto com 4.000 metros, até o anel viário (fotos 01 e 02).

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Foto 01: Rio Verruga no perímetro urbano, cruzamento com a AvenidaBartolomeu de GusmãoFonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2007.

Foto 02: Rio Verruga no canal que cruza com o anel viárioFonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2007.

O Rio Verruga, na área urbana, está assoreado, poluído com esgotos domésticos e e-

fluentes, com lixos domésticos, entulhos e de odor desagradável. O leito do Verruga na área

urbana está protegido pela legislação, porém, a realidade é outra.

Tanajura (1992:25), numa entrevista realizada com um geólogo da cidade mostra

que na serra há uma grande quantidade de água potável que se acumulou a milhões de anos

em toda a sua extensão de 15 km. O autor chama atenção pelo fato de que ainda há pessoas

que utilizam dessa água e que essas nascentes são tributárias de fontes que formam vários rios

que têm origem no Município de Barra do Choça e adjacências.

A precipitação total anual é baixa, pouco mais de 700 mm, e, em função do caráter

torrencial das chuvas, o seu poder erosivo é muito elevado e sua concentração em poucos me-

ses do ano (novembro a janeiro), (ver gráfico 01).

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Gráfico 01: Gráfico Ombrotérmico de Vitória da Conquista - Ba

Pode-se observar pelo gráfico que as chuvas são mal distribuídas e como têm caráter

torrencial, ao encontrar solos sem cobertura vegetal, podem produzir grandes volumes de es-

coamento superficial, principalmente em áreas de declividades acentuadas, a exemplo das á-

reas das vertentes e encostas da Serra do Periperi.

A Serra do Periperi é uma área de extrema importância para a cidade de Vitória da

Conquista, pois, nela, encontram-se áreas de grande relevância ambiental, não somente para a

cidade, como também para a região sudoeste.

Uma outra área importante na serra é o Poço Escuro, com 16ha, localizado na vertente

sul da serra. É um espaço em que se encontram remanescentes da Mata Atlântica, com grande

diversidade biológica, e uma das principais nascentes do Rio Verruga. O Poço Escuro é hoje o

local que recebe o maior número de pesquisadores e visitantes na cidade. O risco que essa á-

rea corre hoje é provocado pela urbanização circunvizinha desordenada, que tem cercado essa

área. O poço hoje é um divisor de dois bairros opostos, o Cruzeiro (que antes era Petrópolis) e

o Guarani. O primeiro é habitado, em parte, por uma classe média alta e, o outro, por uma po-

pulação carente e marginalizada.

A Serra ainda apresenta uma cobertura de material alterado, geralmente de 2 a 4 m

de espessura, amarela ou avermelhada e arenosa. Uma vez retirada a capa correspondente ao

material de cobertura, há uma tendência de afloramento da rocha. A erosão superficial pelo

escoamento difuso e concentrado elementar se faz notar através das ravinas e sulcos (fotos 03

e 04) que entalham a serra.

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Fotos 03 e 04: Área degradada na parte Oeste da Serra do PeriperiFonte: trabalho de campo, 2006. Foto: Nereida Mª S.Mafra Benedictis

É certo que a Serra do Periperi é hoje um espaço em conflito da cidade de Vitória da

Conquista: conflitos de moradores, de ambientalistas, do poder público, da população das á-

reas mais baixas da cidade que têm sofrido com a ocupação desordenada devido à quantidade

de água e sedimentos que descem pelas ruas da cidade de forma violenta durante o período de

chuvas e que acabam na maioria das vezes destruindo ruas, casas e, algumas vezes, provocan-

do até mortes. E para compreendermos a degradação que há na Serra é necessário primeira-

mente entendermos como se deu a sua ocupação, considerando a expansão urbana da cidade.

2 – Aspectos da Expansão Urbana de Vitória da Conquista

Vitória da Conquista, localizada na região Sudoeste do Estado da Bahia, conforme

fig. 03, dista a 509 km de Salvador, abriga uma área de 3.743 Km² e faz limite com os muni-

cípios de Anagé, Belo Campo, Encruzilhada, Planalto, Barra do Choça, Cândido Sales, Itam-

bé e Ribeirão do Largo (CEI,1994, p.799). A sua topologia está assentada sobre o domínio do

Planalto de Conquista, mais precisamente numa depressão na encosta da Serra do Periperi,

constituindo assim um relevo residual. Possui uma cobertura vegetal típica de uma área de

transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, o clima é semi-árido, podendo ocorrer em situa-

ções muito específicas um déficit hídrico.

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Até a década de 1950, o município teve como base econômica a pecuária extensiva

voltada para a produção de carne. Com a construção da BR-116 (Rio - Bahia) nos anos 60,

houve uma maior articulação com os principais centros do país e com outras regiões do esta-

do, expandindo consideravelmente o comércio e o transporte de cargas e de passageiros.

Na década de 1970, implantou-se a cafeicultura no município e, com ela, acontece-

ram muitas transformações aconteceram, sobretudo no que diz respeito à sua estrutura físico-

social. O café tornou-se um dos principais produtos do município, porém, com a queda do

produto no mercado internacional entre as décadas de 1980 a 1990 muitos produtores abando-

naram suas terras. Nesse período, mesmo com a queda do café, a cidade desenvolveu-se como

importante centro de serviços e comércio varejista, para toda a região sudoeste e norte de Mi-

nas Gerais.

Atualmente, o café ainda é um dos principais produtos agrícolas do município, em

produção e exportação segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais

da Bahia (SEI, 2004). Mesmo com a queda dos preços que obrigou a muitos produtores a a-

bandonarem suas plantações na década de 1980, têm 74% da produção, seguido da banana 9%

e do urucum com 8%.

Possui uma posição de entroncamento (fig.04), originada pela presença de importan-

tes rodovias, como a BR-116 (Rio/Bahia) que faz a interligação norte/sul do país, a BR-415

Figura 3: Mapa de localização de Vitória da Conquista na regiãoFonte: CEI, 1994

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(Ilhéus/Conquista) que permite o acesso ao litoral sul do estado e da BR-101 e a BA-262

(Conquista/Brumado) que faz a ligação Leste-Oeste do estado, situada a apenas 134 km da

Ferrovia Centro Atlântica (Brumado), permitindo uma integração com o transporte hidroviá-

rio do São Francisco/Rio Corrente e o ferroviário e rodoviário em direção ao porto de Ilhéus.

Segundo Ferraz (2001, p.21), essa posição

“Influencia favoravelmente o desenvolvimento econômico da cidade, que assume importante papel de eixo de circulação do Estado da Bahia e tam-bém de ponto de articulação entre a região nordestina e o centro-sul brasi-leiro. Essa característica de entroncamento é fundamental no processo de construção dessa unidade urbana”.

Tal posição constitui Vitória da Conquista como a terceira maior cidade do estado,

referência regional na educação, na saúde e no comércio, que vem se consolidando como im-

portante pólo de serviços rodoviários e como centro de educação superior. Por isso, segundo a

reportagem de um jornal local “A Semana” (p. 03 de 12 a 17 de março de 2007), a cidade a-

tende a cerca de dois milhões de habitantes da região Sudoeste, do Norte de Minas Gerais e

parte do Sul da Bahia. Por isso, é depois de Salvador a cidade que mais se desenvolve na

construção civil no Estado da Bahia.

Fig. 04 – Mapa de Circulação do Município de V. da ConquistaFonte: Veiga (2001, p.29)

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2.1 - A Importância das Rodovias na Expansão Urbana da Cidade

A importância das rodovias para cidade é histórica, pois, quem as observa verifica

que o crescimento urbano se deu por meio delas. Elas foram durante anos e continuam sendo

um fator de grande relevância no crescimento urbano e comercial da cidade. Por exemplo a

construção na década de 1940 da BR-116, principal rodovia, que corta a cidade, dividindo-a

em duas zonas: a Oeste e a Leste.

O Jornal Conquista (ed.158 anos-1998:3) elucida o valor da construção da BR-116

para a cidade de Vitória da Conquista:

“A grande concentração urbana que Vitória da Conquista experimentou, na zona oeste da Cidade onde hoje se concentra a maioria da população urbana do Município de Conquista, distribuída em mais de vinte bairros, com o surgimento das primeiras moradias na década de 40, na margem esquerda da estrada Rio-Bahia, cuja construção alterou de forma decisiva o mapa do Município, sendo fator de desenvolvimento socioeconômico por ter trans-formado a cidade num entroncamento rodoviário.”

A BR-116, nos anos compreendidos entre 1944 a 1953, foi um grande vetor de cres-

cimento da expansão urbana, apesar de ter sido inaugurada apenas em 1963. Nesse período, a

malha urbana se estendeu ao longo das suas margens, absorvendo inclusive a BA – 262 (Vitó-

ria da Conquista - Brumado) e, depois, se prolongando a sudoeste BA -265 (Vitória da Con-

quista- Barra do Choça) já que são estradas que se interligam.

A BR-116 direcionou o crescimento urbano pelas suas margens, abrangendo também

a parte norte, na Serra do Periperi, suscitando uma expansão urbana desordenada para as en-

costas da Serra onde se situa uma área de reserva florestal (Poço Escuro) com nascentes, fau-

na e flora que são muito importantes para o meio ambiente da cidade.

A partir dessa linha de crescimento, a cidade passou então a ocupar os espaços vazi-

os, entre os anos de 1960 e 1965, que se formaram entre os eixos. O crescimento se deu em

direção ao Sul, principalmente pela população de baixa renda. Sobre isso, Tanajura

(1992:101) relata que,

“No período compreendido entre 1960 e 1965 foram preenchidos os espa-ços vazios que se formaram entre os eixos de crescimento. Destacam-se, como principais fatores de atração urbana, a construção do aeroporto, a im-plantação de novos loteamentos a Sudoeste e o saneamento de terrenos ala-gadiços a Sudeste.”

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A ocupação desses espaços vazios ocorreu, sobretudo, pela alta concentração popu-

lacional ao longo das rodovias e, também, porque havia uma penetração muito tímida pelas

transversais aos eixos de crescimento da malha urbana.

Um relato de um jornalista que visitou Vitória da Conquista em 1956, Leôncio Bas-

baum (BASBAUM apud TANAJURA,1992:74), descreve a condição social da população

que, talvez atraída pelo emprego gerado pela construção da estrada, assentou-se em Vitória da

Conquista:

“(...) Mendigos por toda a parte, nas esquinas, na Igreja, no mercado ou na feira, pelas estradas, à beira das calçadas (...). Não tem a picardia dos men-digos das cidades grandes, nem a sua agressividade. São mansos, humildes, como se pedissem desculpas por serem tão pobres.”

Segundo dados do censo demográfico do IBG de 1950, o município de Conquista ti-

nha uma população de 46.456 habitantes, dos quais 19.463 residiam na cidade: em 1960, de

80.113 habitantes a população urbana chegara a 48.712 habitantes. O gráfico 02 demonstra

um crescimento populacional significativo, sobretudo nessas décadas, ocasionado por um im-

pacto da transferência da população rural para a zona urbana.

GRÁFICO 02 – População Urbana e Rural de Vitória da Conquista de 1940 a 2000

Percebe-se pelo gráfico que a década de 1940 pode ser apresentada como referência

para o crescimento urbano nos anos posteriores. Medeiros (1977:9) diz que, com a abertura da

BR-116, Conquista integrou-se com outras regiões do estado e ao Sul do País; “a estrada I-

lhéus-Lapa cortando a seu meio caminho entre o litoral e o Sertão do São Francisco”, permi-

tindo um maior escoamento da produção. O autor também aponta a Segunda Guerra Mundial,

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

1940

1950

1960

1970

1980

1991

1996

2000

População RuralPopulação Urbana

Fonte: Censo Demográfico – IBGE – 1940 – 2000. Org. Nerêida Benedictis

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que gerou uma necessidade de produzir suprimentos, influenciando também o desenvolvimen-

to da região e do município. O comércio se desenvolve e, com isso, aumenta a quantidade de

migrantes que eram atraídos pelo desenvolvimento econômico da cidade e também aqueles

que eram expulsos de sua terra pela seca ou por proprietários rurais.

Na década seguinte aos anos 40, com um centro já bem adensado (exceção da grande

gleba hoje ocupada pela feira coberta, no lugar tradicionalmente conhecido como "Mamonei-

ra"), a cidade contaria com atração exercida pela rodovia Rio – Bahia (BR -116), fazendo ex-

pandir o arruamento em direção Oeste (BA- 262). A explicação da atração da referida rodovia

combina com o fato de ter surgido, em Vitória da Conquista, um mercado imobiliário de di-

mensões relativamente amplas, se for considerada a dimensão da cidade.

Tornou-se impossível a fixação de populações no centro, já ocupado, havendo possi-

bilidade da expansão em áreas relativamente baratas e planas. O fato é que o negócio imobili-

ário, para potencializar os lucros e tendo em vista o poder aquisitivo do mercado consumidor,

abriu loteamentos articulados com a cidade pela via de acesso às rodovias, ou mesmo nas

margens destas. O acesso solucionado ao centro pesa mais que a simples atração das rodovias

e, no caso, a ocupação se dá de forma massiva, através de loteamentos.

O crescimento para Oeste (predominante) não significa que a Leste não houvesse

crescimento urbano. A leste, a atração da rodovia de Conquista a Barra do Choça (BA-265) e

a crescente ocupação na proximidade do centro faz com que Bairros como o Alto Maron e o

Bonfim, por exemplo, se alonguem. Aos poucos, ocorre ocupação de transversais às mencio-

nadas rodovias.

Esse processo de urbanização se ampliou até as décadas de 1950 e 1960 e, com ela,

vieram outros loteamentos. Nessa mesma época, o urbanista Moacir Vieira (VIEIRA, 1957)

queixava-se dos loteamentos, que, segundo ele, tomavam uma estrada como base, não se le-

vando em consideração o escoamento da água, declividades, dentre outros processos. Num

outro artigo, o urbanista clama por um planejamento urbano dizendo que “Conquista progre-

diria 10 anos planejando o que talvez em 20 anos não consiga sem planejamento”.

Com a construção da BR-116 na década de 1960, o núcleo habitacional expandiu-se

para o lado oeste da cidade, acompanhando a Avenida Brumado, sentido rodovia BA-262. A

população residente nessa área era de baixo poder aquisitivo, formada de imigrantes rurais e

trabalhadores assalariados. As fazendas que ocupavam essa área foram transformadas em lo-

teamentos e, com a existência de conjuntos habitacionais populares, o crescimento populacio-

nal foi favorecido.

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Em 1971 com a implantação do café houve transformações fundamentais para o de-

senvolvimento urbano. A região passou a figurar como uma das maiores na plantação de café

do Estado. O café, conforme observa Tanajura (1992:99), “trouxe grande progresso à região,

principalmente para Vitória da Conquista”. Em decorrência disso, entre as décadas de 1970 a

1980, houve mudanças nas habitações com a melhoria do padrão de muitas residências e o

modo de vida de sua população.

Com o progresso econômico, a cidade tornou-se atrativa, aumentando ainda mais a

população urbana sem, contudo estar preparada, principalmente no que diz respeito às ques-

tões socioeconômicas, sobre isso Tanajura (1992:99) observa que,

“O desenvolvimento urbano de Vitória da Conquista, analisando em termos de mudanças na sua estrutura físico-social, se caracteriza por uma forte ex-tensão na superfície e na população, também pelo reforçamento de sua base econômica terciária e dos grupos sociais que a dominam, graças a introdu-ção da cultura cafeeira.”

Esse quadro demonstra o que ocorreu nesse auge da economia cafeeira. Os loteamen-

tos que eram em sua maioria populares passaram a ser também de classe média e alta. Medei-

ros (1978) diz que os loteamentos eram “seletivos” e de preços altos. Assim, muitos proble-

mas se desencadearam a partir dessa seleção, pois, com os lotes caros, a população mais ca-

rente passou a ocupar as áreas mais ao norte da cidade, como a Serra do Periperi, muitas vezes

através de invasões, por ser de custo mais baixo.

Em 1975, foi realizado um estudo com o intuito de avaliar a evolução urbana da ci-

dade até 1974 para posterior elaboração do Plano Diretor, aprovado pela Lei nº. 118/76, tendo

como principal objetivo o ordenamento do crescimento urbano. Sobre isso, o Relatório do se-

gundo Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista relata que:

“O primeiro Plano Diretor de Vitória da Conquista foi a meta principal do governo municipal na época. A idéia do Plano era fundada em quantidades (número de habitantes, de escolas, hospitais etc.), como também em algu-mas leituras diretas, tais como: condições das edificações públicas e priva-das, expansão urbana e seu impacto nas atividades econômicas. Trouxe en-tre suas diretrizes: a descentralização das atividades comerciais e de equi-pamentos, o direcionamento para a implantação de loteamentos em terrenos mais planos (facilitadores do escoamento das águas)”. (PDU, 2004: 69).

O Plano Diretor foi sancionado em 1976 e, para a sua elaboração, foi sintetizado o

estudo sobre o crescimento urbano da cidade em três fases de ocupação. Essas são de extrema

importância para a compreensão da atual configuração espacial da cidade. Conforme a Lei nº.

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118/76:

-Até 1944 existia uma malha central de tecido contínuo coincidentemente melhor servida pela infra-estrutura de serviços básicos, com expansão no sentido Sudeste.-Até 1955 a expansão se dá em direção à rodovia que já naquela época constituía um dos mais importantes fatores de atração urbana. A malha ur-bana se estende ao longo dessa rodovia envolvendo inclusive a ligação ro-doviária BA-262-Conquista- Brumado. Outro prolongamento se dirigiu para Sudeste graças à topografia e a rodovia BA-265-Conquista-Barra do Choça. A cidade passou a se expandir seguindo a direção das rodovias, identifica-das como vetores do crescimento urbano.-De 1955 até 1974 - observa-se um processo de expansão similar verificado no período anterior, manifestando-se inicialmente tímidas penetrações transversais dos eixos de crescimento da cidade. Em seguida foram preen-chidos os espaços vazios que se formavam entre os eixos de crescimento. Os fatores de atração foram a construção do aeroporto, a implantação de novos loteamentos a sudeste e o saneamento dos terrenos alagadiços a su-deste. Nesta direção surgiram loteamentos entre os quais o núcleo habita-cional da URBIS.

Mesmo possuindo um Plano Diretor Urbano/1976, a cidade continuava a crescer de-

sordenadamente. O crescimento dessa época não se dava mais como nos anos 40, mas pela

ilegalidade dos parcelamentos do solo urbano. Do ponto de vista de alguns estudiosos da his-

tória da cidade, isso ocorreu pela falta de vontade política dos prefeitos posteriores que não

executaram o Plano como deveria, apesar deste restringir apenas a questões físicas. Porém, a

cidade passou a ter um instrumento normativo, no sentido de constituir princípios de uso e

ocupação do solo na cidade, como também de implantar o conceito do planejamento urbano

no município.

Com a organização da economia cafeeira e seus reflexos no crescimento do comércio

e no setor de serviços da cidade geraram um aumento da malha urbana de 1972 a 1985. Como

era prática desde épocas anteriores esse período caracterizou-se pela proliferação de lotea-

mentos, já que, existia uma tendência de ocupação da Serra, principalmente pelos mais pobres

que não tinham condições de adquirir lotes para construir. A maioria desses loteamentos pos-

suia uma articulação muito estreita com as estradas, pois muitos loteamentos foram criados

perpendicularmente a elas, como meio de acesso a outros bairros já estabelecidos.

O parcelamento do solo urbano nessa época foi realizado de forma aleatória sem ob-

servar as diretrizes do Plano Diretor que indicavam como áreas prioritárias para ocupação as

do interior do Anel Rodoviário proposto. Essa ocupação intensificou os vazios que estão pre-

sentes até hoje na malha urbana, pois a construção de conjuntos populares pelo poder público

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em áreas mais baratas na periferia da cidade, abriu novas frentes de urbanização favorecendo

os vazios urbanos, já que a maioria desses lotes são privados.

Como se observa através do mapa, a expansão da cidade, a partir da década de 1940,

ocorre nas encostas da serra; em 1955, pelas margens da BR -116, da BA-262 e da BA-265;

em 1974, há um crescimento circundando a serra e as margens das rodovias, com uma exten-

são maior pela BR-116; em 1984, ocorre uma maior expansão em áreas periféricas, seguindo

a direção das vias; em 2003, a ocupação se dá no sentido de preencher os espaços vazios que

foram gerados na década de 80 e 90.

O Mapa (fig. 05) da evolução urbana da cidade, desde a época de 1940 até 2003, de-

monstra essa situação e a continuidade da ocupação das áreas do PMSP e, em muitos bairros,

o avanço desordenado em direção a essa área.

Como a urbanização de Vitória da Conquista se deu de forma radial, ou seja, ruas

que são abertas do centro em direção à periferia urbana seguindo os principais eixos viários

como a BR-116 (trecho urbano atual Avenida da Integração), a BA-262 (Avenida Brumado),

a BA – 265 (Barra do Choça), o comércio e a prestação de serviços geralmente estão ligados

ao tráfego de passagem. Tal situação tem criado dificuldades no acesso ao fluxo de tráfego,

Km

Fonte:Maplan- EMBASABase cartográfica- Desencop Ltda.Elaboração: Nereida Benedictis / Edvaldo Oliveira/ Iris Carvalho

0 2 4

Área do Parque Municipal da Serra do PeriperiATÉ 1944

ATÉ 1955

ATÉ 1974

ATÉ 1984

ATÉ 2003

Figura 05: Mapa da Evolução Urbana de Vitória da Conquista de 1944 a 2003

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impondo inclusive riscos à circulação de veículos e pedestres

Tal condição suscitou em Vitória da Conquista um caos no trânsito, em decorrência

da mistura do tráfego urbano e rodoviário. O exemplo é a BR-116 (atual Avenida da Integra-

ção) que corta a cidade (foto 05), e provoca entre outras coisas acidentes e congestionamentos

de trânsito das principais avenidas de acesso às zonas oeste e leste da cidade e destas ao cen-

tro.

Foto 05: BR-116 (Avenida da Integração) no ano de 2007Fonte: Laboratório de Cartografia.

Sobre isso, Medeiros (2004: 01) discorre que:

“O estabelecimento de conjuntos habitacionais, só articulados com a malha urbana inicialmente por estradas, agravou o problema. (...) A mistura de dois trânsitos aumentou vetores de crescimento e ficaram mais potentes e novas demandas incidiram sobre a administração pública, ampliando, inclu-sive, custos de serviços”.

Com intuito de resolver tal problema, o poder público municipal transferiu o trânsito

da BR-116 da malha urbana para um anel viário. Essa discussão surgiu desde a década de 70

quando foi elaborado o primeiro Plano Diretor da cidade. Assim, foi inaugurado, no ano de

2002, o Anel Viário (fig. 06) da BR-116 (Rio - Bahia) com a intenção de retirar o trânsito pe-

sado da BR-116 (trecho urbano). O anel viário cruza com as rodovias BR-116 – Salvador,

BA-265 – Barra do Choça, BA 263/Br-415 (acesso a Ilhéus), BA-262 – Brumado e nas estra-

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das municipais de acesso a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Distrito de

Batalha.

Assim como ocorreu com as demais estradas, o anel viário tem atraído novos lotea-

mentos e bairros clandestinos para as suas margens, pois a maior parte da área está dentro da

malha urbana da cidade. Por isso, Medeiros (1998:02) diz que o que foi construído não passa

de “mera travessia”. O autor prossegue dizendo que:

“É certo que o anel viário apresenta um avanço, pois reloca a estrada para uma área menos crítica. Mas já nasce com a marca da improvisação, anun-ciando futuros problemas. (...) não observou que o uso do solo urbano já é intenso nas imediações do entroncamento BR-116/ Estrada de Brumado.”

Em adição às colocações do autor, podemos observar em estudo de campo que, pró-

ximo às margens do anel viário, têm surgido moradias que vem avançando na direção do Par-

que Municipal da Serra do Periperi, já que o anel corta grande parte do PMSP. É o caso do

bairro Nova Cidade, que está a apenas 50 metros do anel (fotos 06 e 07). No bairro Bruno Ba-

celar, também foi observado a presença de estradas de chão, perpendiculares ao anel, como a

avenida principal que corta o bairro e que fica a menos de 1000 metros do bairro. Tal situação

facilita a construção de casas e o surgimento de novos bairros clandestinos rumo à Serra.

Figura 06: Imagem de satélite da cidade de Vitória da ConquistaFonte: Carta: SD-24-Y-A-VI-3-NE

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Fotos 06 e 07: Vista do bairro Nova Cidade e margens do anel viárioFonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nerêida Mª S. Mafra Benedictis

O Anel Rodoviário deveria ser, conforme o PDU (2004), uma fronteira da urbanização

na cidade. Porém, muitos bairros, como o São Pedro, Zabelê, Espírito Santo, e loteamentos no

caminho da Universidade, já se encontram do outro lado das margens do anel. Sendo assim,

no futuro bem próximo, poderá ser novamente um grande problema para a cidade. Esse anel

corta o PMSP e, como é de praxe na história da cidade, torna-se uma área atrativa para lotea-

mentos já que uma das justificativas do projeto (agosto de 1998) no seu Licenciamento atra-

vés do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) é que melhoraria o desenvolvimen-

to da cidade, pois teria uma integração intra e inter regional, e também uma melhor distribui-

ção de renda, além de valorizar as terras mais próximas e benfeitorias.

2.2 – A Cidade e os Loteamentos

Com o crescente aumento da população urbana, Vitória da Conquista iguala a pou-

cas cidades brasileiras, (MEDEIROS, 1978). A população urbana, em 1940, era de 8.644 ha-

bitantes e em 1970, de 85.959 habitantes. Esses números demonstram um aumento populacio-

nal, segundo o autor, proveniente de migrações de outras áreas e do campo para a cidade que,

em certa medida, favoreceu a ocupação do solo basicamente por loteamentos.

De acordo com Medeiros (1978: 08):

“Em Vitória da Conquista, no sentido técnico da palavra, o loteamento surge na primeira metade da década de 1950. A prática atendia à crescente deman-da motivada pelo crescimento populacional urbano. Como se sabe, a partir dessa década, a população urbana começa a dar verdadeiros saltos, (...) a po-

PMSP

Anel Viário

Bairro Nova Cidade

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pulação começa, portanto, a pressionar a terra e esta, atendendo ainda a ne-cessidade de o proprietário expandir seus negócios, fragmenta-se”.

Para o autor, a maioria dessa população era de baixo poder aquisitivo. Isso explica o

fato de surgir em Vitória da Conquista nessa década os “loteamentos populares”. Porém, tal

situação contribuiu também para o surgimento dos loteamentos destinados às classes média e

alta, e, com isso, a prática de parcelamento do solo urbano.

Fotografias antigas da cidade no Museu Regional de Vitória da Conquista mostram

um espaço, no qual surgiram bairros nobres, populares e operários, o que reflete a característi-

ca da sociedade.

A partir dessas observações, Medeiros (apud FERRAZ, 2001:38) descreve:

“A cidade modificou-se também para, dentro de seu espaço físico, separar suas classes sociais. Assim, o aglomerado urbano como que desenha fisica-mente sua realidade social. Está se fixando definitivamente a separação entre ruas e bairros ricos e ruas e bairros pobres e a cidade mostra sua verdadeira face de, encoberta pelo movimento do comércio e de seu setor de serviços, sua euforia econômica, suas corridas de jegue no Primeiro de Maio, centro urbano onde a justiça social é muito desejada porque é carente.”

Nessa fase, a lavoura cafeeira, no seu auge, gerou excedentes capazes de permitir a

edificação de mansões modernas em maior quantidade e favorecer a concentração da terra. Os

investimentos, a partir das modificações introduzidas na agricultura, refletiram-se sobre o co-

mércio e o mercado imobiliário. A população urbana cresceu de 48.712 habitantes, da década

anterior, para 85.959 habitantes, tendo um percentual de 67,5%, exercendo assim uma pressão

sobre o valor da terra, originando, ao mesmo tempo, terrenos nobres e terrenos menos valori-

zados.

Segundo Ferraz (2001:36), em meados da década de 70, o setor agrícola foi dinami-

zado e motivou ainda mais o processo de urbanização da região. Com isso, ocorreram “trans-

formações nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais, e a cidade continua crescen-

do e modificando a sua configuração territorial”. Essa evolução é seguida “por um intenso

crescimento populacional, advindo da migração rural e da atração exercida por Vitória da

Conquista, principalmente, em relação às cidades da região”.

Esse quadro revela Vitória da Conquista como uma cidade influente na região sudo-

este da Bahia. Para se ter uma idéia, em 1991, a população local era de 225.091 habitantes.

Isso significa um aumento na população de quase 60 mil habitantes em relação à década ante-

rior. Quando, apenas nove municípios baianos possuíam mais de 100.000 habitantes, esse da-

do demonstra as transformações geradas pelo rápido crescimento populacional.

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Ferraz (2001) realizando um estudo sobre os loteamentos criados na cidade de Vitó-

ria da Conquista nos períodos de 1977 a 1996, diz que o papel dos agentes imobiliários foi de

grande importância na configuração espacial da cidade e que juntamente com o poder público

municipal definiu as áreas que deveriam ser ocupadas pela população. Na realidade, eram os

interesses dos loteadores, que, segundo a autora, iam determinando os “bairros ricos” e os

“bairros pobres”, a partir da definição dos valores, tamanhos e infra-estrutura dos lotes.

A quantidade de loteamentos, ainda segundo Ferraz, foi em média, de 8,6 por ano.

Entre 1977 a 1996 foram 3.723,1 lotes abertos/ ano, como pode ser visto na tabela 01:

Tabela 01 – Loteamentos deferidos ou legalizadosem Vitória da Conquista de 1977 a 1996

Ano Quantidade

de loteamentos

Número

de lotes

1977 11 2.429

1978 05 357

1979 07 11.715

1980 11 1.354

1981 17 8.877

1982 09 8.699

1983 12 8.661

1984 04 1.912

1985 11 4.745

1986 12 2.292

1987 06 2.627

1988 11 2.959

1989 09 2.376

1990 05 258

1991 03 369

1992 10 2.355

1993 02 78

1994 01 463

1995 13 5.965

1996 13 5.971

TOTAL 172 74.462

Fonte: FERRAZ (2001:44)

O crescimento da cidade de Vitória da Conquista se dá pelo parcelamento do solo

urbano. Dados da tabela acima demonstram um crescimento caracterizado pela abertura de

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loteamentos. Ferraz (2001: 45) diz que esses loteamentos foram realizados por particulares e

aprovados pelo poder público municipal, mas que a maioria deles foram demarcados sem in-

fra-estrutura.

Como havia o interesse por parte do poder público municipal no crescimento da ci-

dade, os próprios loteadores nortearam esse crescimento. Os lotes com preço acessível e me-

nores e que não tinham infra-estrutura foram destinados à população com baixo poder aquisi-

tivo. Muitos desses terrenos estão localizados em áreas acidentadas, como é o caso da Serra

do Periperi. Já nos loteamentos destinados a uma população de classe média e alta, ainda que

em alguns deles também não houvesse infra-estrutura, os lotes eram maiores, de preços mais

altos e em, sua maioria, em áreas planas.

Desse modo, observa-se que no processo de luta pela ocupação do solo urbano, os

grupos abastados da cidade foram e continuam a ser os maiores beneficiados, apropriando-se

das áreas mais privilegiadas. Por outro lado, os grupos pobres tenderam a ocupar as áreas que

não apresentavam condições mínimas de infra-estrutura adequada. Para Medeiros (1978:09)

(...), “Afinal, beneficia-se o loteador em detrimento de toda a comunidade. Desrespeita-se a lei em

favor da especulação imobiliária. Espezinha-se o adquirente que, com difíceis economias familiares,

conseguiu comprar um lote”.

Convém observar que mesmo com a criação em âmbito municipal do Plano Diretor

Urbano de Vitória da Conquista de 1976, que visava redefinir a divisão das terras urbanas, e,

no âmbito federal, a Lei 6.766/79, que estabelecia a competência do poder público e munici-

pal no que diz respeito ao ato de aprovação de qualquer parcelamento do solo urbano, vários

loteamentos na cidade continuaram a ser deferidos sem a observância dos quesitos legais. Isso

significa que uma grande parte dos loteamentos irregulares foram abertos à revelia das autori-

dades competentes e, muitos deles, foram localizados na área da Serra do Periperi. Sobre essa

questão, Medeiros (1985:12) destaca:

“A década de 1975 a 1985 foi contraditória quanto à ação do poder público no disciplinamento urbano: ao lado da preocupação inicial por parte do po-der público em disciplinar o crescimento (Plano Diretor Urbano), houve a omissão no planejamento efetivo do crescimento. Ao lado da aprovação de loteamentos sem a observância de requisitos legais, omitiu-se quanto ao parcelamento clandestino do solo urbano. Não viabilizou o poder público destinação urbana para a Serra circundante, que está sendo ocupada desor-denadamente. (...) Afinal, o incremento demográfico encontrou espaço de sobra para assentar-se: o grande número de lotes urbanos disponíveis (em-bora a maioria sem infra-estrutura) e os novos conjuntos (sem falar no as-sentamento de grupo de baixo nível de renda na serra)”.

Em seu estudo, Ferraz (2001) relata, através de entrevistas com ex-prefeitos da cida-

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de, que existia mesmo após a elaboração do Plano Diretor de 1976 uma dificuldade muito

grande por parte dessas autoridades em cumprirem com a legislação em vigor, porque os lote-

adores eram vistos como “incentivadores” do crescimento da cidade. Com isso, tudo era faci-

litado pelo poder público municipal, que legalizava o loteamento e quando possível executava

as obras necessárias. Foi tão grave o que foi feito que um dos prefeitos chegou a dizer que se

cumprisse a legislação poderia inibir o crescimento da cidade.

Um outro aspecto importante para a proliferação de loteamentos em Vitória da Con-

quista foi a preocupação com as invasões baseadas na atuação dos movimentos populares. A

aprovação de tais loteamentos era para o poder público de fundamental importância já que

atendia às reivindicações dessa demanda e também como forma de garantir a conquista de

eleições, apesar de ser de certa forma onerosa para a prefeitura, pois a aprovação não exigia

obras de infra-estrutura. Isso, de acordo com Ferraz (2001:159), facilitou

“A prática dos agentes imobiliários de não incorporar ao empreendimento obras de infra-estrutura, na maior parte das vezes porque não se vêem obri-gados pelo poder público a realizá-las, remete a cidade a uma situação de precariedade”.

A segregação no espaço urbano de Vitória da Conquista foi produzida pelos interes-

ses do capital e por uma cultura de que o crescimento sempre fora mais importante do que a

condição de vida da população, especificamente a de baixa renda.

Observa-se que a configuração espacial de Vitória da Conquista se deu a partir de

disputas que se constituíram na cidade abrangendo indivíduos diferentes com interesses e ne-

cessidades divergentes.

Assim como a maioria das cidades brasileiras, Vitória da Conquista vem ao longo

dos anos experimentando problemas no direito à moradia. As políticas públicas não têm sido

suficientes para atender a demanda e, nem sempre, se preocupam com o meio ambiente urba-

no. Observa-se que muitas destas políticas concebem o direito à moradia apenas como o direi-

to a uma porção de terreno, ou seja, ao lote que, segundo Ferraz (2001:38), foi um dos princi-

pais aspectos que originou a modificação da configuração territorial da cidade, da prática de

parcelamento do solo urbano.

No entanto, no período de 1997 a 2006, tem decaído o número de loteamentos apro-

vados pela prefeitura, como mostra o gráfico 03:

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Fonte: Séc. Municipal de Obras e Urbanismo de Vitória da Conquista – BA, 2006.

Nota-se que, em 1997, o número de loteamentos deferidos foi superior às décadas an-

teriores. De acordo com o Coordenador de Urbanismo da Secretaria de Transporte, Trânsito e

Infra-estrutura Urbana (SIMTRANS), Sr. Cláudio Nascimento, nesse período, por questões

eleitorais, o poder público autorizou diversos loteamentos, sem, contudo, observar as exigên-

cias da Lei Federal no 6.766, de 19 de dezembro de 1979 que dispõe sobre Parcelamento do

Solo Urbano.

O gráfico traz também uma nova informação no que diz respeito aos licenciamentos

aprovados pelo poder público municipal após o ano de 1997: a quantidade de loteamentos di-

minuiu consideravelmente em relação às épocas anteriores. Isso se deve ainda, segundo o co-

ordenador, pelas mudanças ocorridas na política em 1998, quando assumiu o poder local outro

grupo político, que passou a exigir o cumprimento da Lei Federal, uma vez que o Município

ainda não tinha a aprovação da nova lei municipal de parcelamento e uso do solo urbano. A

gerente de análise de projetos, a Sra. Nelma Moraes, da mesma secretaria, informou que a

concessão de licença para loteamentos urbanos foi suspensa temporariamente, desde 03 de

novembro de 2003, através do Decreto nº. 11.374/2003 que instituiu que:

“Art. 1º - Ficam suspensas as concessões de licenças para loteamentos urba-nos em geral, até a aprovação do novo Plano Diretor do Município, e suas leis específicas, exceto para aqueles que integrarem programas de interesse social, a critério do Município.”

Assim, como o novo código para licenciamento encontra-se em aprovação pela Câ-

mara Municipal, somente terá algum loteamento deferido, quando estes forem de interesse

Gráfico 03: Quantidade de loteamentos e número de lotes aprovados pelaPrefeitura Municipal de Vitória da Conquista - Ba entre 1997 a 2006

25

1

4 5

1 23

5

02

0

5

10

15

20

25

30

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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social, por isso é que aparecem, no gráfico 02, alguns loteamentos aprovados a partir do ano

de 2003. Entretanto, de acordo com a fala da gerente, não significa dizer que não houve aber-

tura de loteamentos na cidade, principalmente os clandestinos que são de particulares e que

resolvem lotear seu terreno sem nenhuma infra-estrutura.

Essa situação gerou em Vitória da Conquista uma praxe, e, diante disso, a cidade se

desenvolveu desordenadamente inclusive para áreas de preservação ambiental, como foi ob-

servado no mapa sobre a evolução urbana, como é o caso da Serra do Periperi que vem ao

longo dos anos sendo ocupada.

Assim, com uma periferização semelhante aos grandes centros urbanos, constata-se

uma especulação imobiliária intensa nas áreas mais planas, havendo em contrapartida um a-

vanço da ocupação das áreas periféricas pelas populações mais carentes, principalmente em

direção à Serra do Periperi que, não possuindo estrutura adequada, sofre graves conseqüências

ambientais, particularmente a erosão das suas encostas.

3 - Ocupação Humana na Serra do Periperi

A cidade de Vitória da Conquista começou a se desenvolver nas encostas da Serra do

Periperi, na vertente sul, no início do vale do Rio Verruga, afluente do Rio Pardo. A Serra

vem sendo ocupada há mais de 60 anos, desde a construção da BR-116, para moradia, através

de invasões, loteamentos clandestinos e pela exploração de seus recursos naturais utilizados

na construção civil, como areia, cascalho, saibro (tipo de areia grossa de rio), pedra e também

madeira.

Com a urbanização desordenada, as áreas não loteadas regularmente foram ocupadas

na Serra do Periperi, a norte e a noroeste do centro histórico da cidade. Como foi visto no ca-

pítulo anterior, a construção da BR-116 e, mais recentemente, em 2004, a do Anel Viário,

também colaboraram para a ocupação das suas margens por habitações em direção à serra

como também para a exploração de jazidas.

Com o desenvolvimento urbano nas margens da BR-116, a malha urbana acabou por

envolver as rodovias BA-262 e BA-265. Foi uma expansão, como diz Tanajura (1992,) “em

braços”, seguindo “a direção das rodovias” que, para o autor, são “facilmente identificáveis

como vetores de crescimento urbano” de Conquista. Por mais que a serra significasse um obs-

táculo natural para as construções devido à sua declividade, a população pobre que não deti-

nha lotes continuou a construir suas casas na serra.

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Tanajura (1992:25) relata que desde a fundação do Arraial da Conquista a serra já era

local de atração não somente pelos conquistadores brancos, mas também pelos índios, que

buscavam os mananciais.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Obras, as ocupações na Serra do Periperi

ocorreram de forma mais intensa a partir da década de 1980, com a aprovação pelo poder pú-

blico municipal de loteamentos, como o Bruno Bacelar, que atualmente é o bairro que mais

avança na área do Parque Municipal da Serra do Periperi. Os dados demonstram o número de

lotes no contorno da serra na década de 80 que aumentou expressivamente, inclusive com al-

vará de licença concedido pelo poder público municipal, conforme tabela 02.

Loteamentos Nº de Lo-

tes

Data de Deferimento

Menerval Custódio 366 04 / 84

Pombal 247 06 / 84

Miro Cairo I 673 08 / 85

Miro Cairo II 156 11 / 86

Bruno Bacelar I 605 05 / 88

Idalina Veloso 932 05 / 88

Nenzinha Santos I 1.173 08 / 88

Nenzinha Santos II 477 04 / 89

São Pedro 1.057 09 / 89

Padre Palmeira 42 12 / 89

Bruno Bacelar II 840 12 / 89

Janser 29 10 / 89

Panorama 266 não consta

Total de lotes existentes na área 6.866 FONTE: Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, 1989

Tabela 02 - Quantidade de lotes deferidos pelo poderpúblico municipal para a área da Serra do Periperi

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Vale ressaltar que vários bairros se formaram na serra, cortando de um lado a outro,

áreas que teriam de ser preservadas (fotos 08 e 09). A maioria desses bairros foram formados

através de invasões, que depois foram oficializados. Alguns desses bairros são: Bruno Bace-

lar, Nossa Senhora Aparecida, Vilas Serranas, Panorama, entre outros. Nestes locais encon-

tramos predominando residências pertencentes à população de baixa renda onde os problemas

provenientes da agressão à serra são mais sentidos.

Foto 08: Vista parcial do bairro Cruzeiro próximo a área do PMSP Fonte: Trabalho de campo 2007 – Foto: Nereida Mª S. Mafra Benedictis

Foto 09: Rua em expansão do bairro Nossa Senhora Aparecida Fonte: Trabalho de campo 2007 – Foto: Nereida Mª S. Mafra Benedictis

A expansão urbana em direção à serra é uma prática que ainda observamos em Con-

quista. Mesmo com a criação de uma APA, percebe-se que a população mais carente continua

BR- 116

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invadindo e construindo suas casas. Porém, a cerca que delimita o PMSP no bairro Pedrinhas

não aparece em outros bairros do lado Leste da cidade e nem do lado oeste, a exemplo do

Bairro Nossa Senhora Aparecida, na foto 08. Nesse bairro, os moradores parecem não tomar

conhecimento dos problemas ambientais, e que estão construindo suas casas em uma área de

preservação e que quanto mais se avança com as casas mais ruas perpendiculares são abertas

na serra e aumenta ainda mais a degradação.

Um outro bairro que apresenta uma grave preocupação é o Bruno Bacelar. Em traba-

lho de campo, verificamos que o bairro vem se expandindo sem nenhum ordenamento na área

do PMSP (fotos 10,11 e 12). Lá não há uma delimitação da área do parque. O bairro tem se

desenvolvido sem infra-estrutura, com muita pobreza, esgoto a céu aberto, ruas sem calça-

mento e muitas delas com erosões em forma de ravinas (foto 13), a única rua pavimentada é a

rua por onde transita o transporte público.

Foto 10: Expansão do Bairro Bruno Bacelar no PMSP.Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida MªS.M.Benedictis

Fotos 11 e 12: Área de expansão do Bruno Bacelar no PMSP .Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida MªS.M.Benedictis

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Foto 13: Aspecto das ruas sem calçamento no Bruno BacelarFonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida Mª S.M.Benedictis

Verificamos também que, em alguns lugares, nos bairros Cruzeiro e Pedrinhas, em

todo o percurso realizado na área cercada (foto14), há estacas sem arames, estradas que dão

acesso ao PMSP (foto 15), espaços próximos à cerca dentro do parque com retiradas de mate-

rial (areia) que provavelmente pode ter sido usado na construção de casas, áreas com lixos

domésticos e entulhos, e uma casa construída dentro do parque (foto 16).

Fotos 14, 15 e 16: Delimitação do PMSP, estrada com lixo e entulho dentro do PMSP e casa construída dentro da área do PMSP. Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida MªS. M.Benedictis

Outros bairros que também aparecem em expansão na Serra é o Panorama e Nova

Cidade. São bairros que continuam a se expandir sem infra-estrutura, marginalizados e conhe-

cidos pela sociedade local como inseguros. No Panorama, a visão é inquietante. Verificamos

que muitas áreas da serra continuam sendo invadidas, a falta de ordenamento tem provocado,

entre outras coisas, o escoamento das águas durante a época de chuvas que saem desses bair-

ros e que avançam sobre os bairros residenciais localizados nas partes mais baixas da cidade,

como Santa Cecília e Recreio que tem muitas vezes seus canais de drenagem entupidos pela

quantidade de entulhos que são transportados pelas águas das chuvas que vêm da serra. Ob-

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servamos que há por parte do poder público muitos projetos para esses bairros, porém de alto

custo.

3.1 - Processos de Degradação Ambiental Decorrentes da Ocupação da Serra

As terras profundamente erodidas em conseqüência da ação do homem ocupam su-

perfícies espantosas. Bennet (apud DORST, 1973) calculou que durante os 150 anos, aproxi-

madamente, na história dos Estados Unidos, nada mais nada menos que 114 milhões de hecta-

res de terras cultiváveis foram arruinadas ou severamente empobrecidas. A erosão acelerada

eliminou uma parte considerável dos horizontes superficiais que constituem a terra arável,

uma superfície de 313 milhões de hectares adicionais.

A erosão acelerada é mais perceptível ainda nas regiões intertropicais, onde, ao con-

trário do que se pensa geralmente, os solos são menos férteis e infinitamente mais frágeis do

que nas regiões temperadas. O agente de destruição dos solos mais poderoso é, no entanto,

constituído pelas chuvas violentas que provocam a ruptura dos agregados e a dispersão de ci-

mento. A erosão pluvial reveste formas diversas. Ao analisar a ação dos processos erosivos

sobre as encostas, principalmente os movimentos de massa, comandados pela ação pluvial,

constata-se que as atividades do homem têm contribuído para intensificá-las cada vez mais.

Sobre a ocupação de encostas, Guerra (2003: 191) diz que: “Com exceção dos fun-

dos de vales e topo de chapadas, quase todas as terras emersas são constituídas por encostas”.

Isso significa dizer que uma grande parte das áreas ocupadas pelo homem é de encostas. Em

decorrência dessa ocupação ocorrem diversas conseqüências ambientais como a denudação do

terreno que ocasiona processos erosivos e até mesmo a alteração do relevo.

Os estudos sobre as encostas, tanto das que já foram transformadas como das que a-

inda não sofreram com a ação humana, têm nos últimos anos ganhado espaço. Para Guerra

(2003: 192-193), as encostas podem variar de um lugar para outro na forma, extensão e decli-

vidade. Tais variações se devem a diferenças geológicas, pedológicas, geomorfológicas e cli-

máticas. Por isso, a sua má ocupação pode provocar entre outros o assoreamento de rios, la-

gos, reservatórios, os movimentos de massa, a desertificação de áreas provocadas pelo desma-

tamento que do ponto de vista do autor pode ser uma das conseqüências que tem maior difi-

culdade de reversão.

Por se constituírem como forma de relevo principal, ou seja, presente em qualquer

lugar na superfície terrestre, as encostas podem afetar diretamente as atividades humanas. O

exemplo disso é a construção de estradas, plantações, exploração de minérios, desenvolvi-

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mento urbano etc. Assim, para analisar qualquer ocupação e encostas, deve-se realizar primei-

ramente um estudo sobre a sua formação, a natureza do terreno para então observar os impac-

tos ambientais que as transformações antrópicas podem causar.

Segundo Guerra (2003), as características das encostas quanto à forma, comprimento

e declividade podem variar no mesmo local. Seu estudo é de suma importância para que não

ocorram práticas inadequadas no uso e manejo do solo, pois poderão ocasionar sérios impac-

tos, em termos da ação antropogênica, no sentido de acelerar os processos erosivos, ao mesmo

tempo em que o uso adequado das encostas, segundo o autor pode retardar ou até mesmo im-

pedir que esses processos aconteçam.

As atividades antrópicas inadequadas têm contribuído para acentuar ainda mais a a-

ção do esgotamento concentrado, devido às alterações na cobertura vegetal. Com isso, as de-

clividades acentuadas contribuem para acelerar a ação mecânica das chuvas, a qual é exercida

sobre as encostas e as paredes de voçorocas.

Segundo MORAES (1985), as condições da área e a ação dos processos naturais e

antrópicos mostraram ser significante a erosão das encostas sobre a superfície onde está situa-

da a Cidade Satélite do Gama, no Distrito Federal, afirmando que a estabilidade das encostas

está seriamente comprometida, em decorrência do uso inadequado do solo.

ABREU (1986) afirma que a expansão mais rápida da urbanização e da especulação

imobiliária sobre os terrenos Pré-Cambrianos dos rebordos da bacia sedimentar trouxeram

consigo o problema da erosão agressiva, particularmente linear, com o surgimento de um pro-

cesso de ravinamento generalizado que envolve a grande maioria dos loteamentos e atinge de

maneira mais rápida e dramática a população mais humilde, cujas construções de seu habitat

são mais frágeis.

Através dessa expansão, as transformações ambientais ocorrem de forma significati-

va, principalmente pelos vários tipos de erosão. Dentro deste contexto, são notórios os graves

problemas que acontecem nos centros urbanos, como, por exemplo, os freqüentes movimen-

tos de massa que ocorrem nas encostas da cidade do Rio de Janeiro e em algumas áreas na

cidade de Salvador.

Esses problemas ocorrem com mais freqüência na Serra do Periperi na cidade de Vi-

tória da Conquista em função da inclinação do relevo. As áreas mais acidentadas da Serra so-

frem com a falta da cobertura vegetal. Analisando uma imagem de satélite do ano de 2007, do

Google Earth Maps, identificamos que em todo o Município de Vitória da Conquista a área

que tem uma maior quantidade de solo exposto é a Serra do Periperi. Por isso, as chuvas caem

com maior violência nestes locais e o escoamento das águas causa, entre outras coisas, a for-

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mação de sulcos, ravinas e voçorocas, intensificando o escoamento superficial, na forma de

enxurradas, para o centro da cidade de Vitória da Conquista (fotos17 e 18), pois, com a ero-

são, grande parte de solo é carregada pelas chuvas para as partes mais baixas da cidade, obs-

truindo os canais de drenagem de águas pluviais, ocasionando assim, o alagamento das ruas e

abertura de crateras. (fotos 19 e 20).

Fotos 17, 18, 19 e 20: Mosaico das ruas da cidade após um período de chuva no bairro Recreio, inundação de rua no Alto Maron,Centro e enxurrada com resíduos sólidos nas ruas do bairro Santa Cecília.

Fonte: trabalho de Campo, 2006. Foto: Nereida Mª S. M. Benedictis

O escoamento superficial vindo da Serra durante o período de chuvas traz sedimen-

tos para as ruas de diversos bairros e para o centro da cidade, ocasionando transtornos ao trân-

sito e a circulação de pedestres, além de deixar as ruas cheias de pedras, lixos e areia. Isso o-

correu no dia 30/05/2007. Choveu na cidade por pouco tempo e foi o suficiente para parar o

trânsito, ter ruas esburacadas e uma grande quantidade de água provenientes diretamente da

serra, um lugar cheio de valas que transportam as águas das chuvas e tudo o que puder carre-

gar.

Há galerias com problemas de erosão nas ferragens e na cidade têm aumentado con-

sideravelmente as construções, porém a drenagem não. Na opinião de um entrevistado, que é

Engenheiro da Secretaria de Obras e Urbanismo em Vitória da Conquista, em 05 anos, caso

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não haja investimento, os canais de drenagem não irão suportar a quantidade de águas pluviais

em épocas de chuvas, o que poderá ocasionar inundações no centro e nas partes mais baixas

da cidade.

Em 1998, foi elaborado o Plano de Saneamento Ambiental (PSA), num convênio en-

tre a Universidade Federal da Bahia e a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. Através

dos estudos realizados, foram identificados diversos problemas no que se refere ao sistema de

drenagem urbana da cidade, que foram classificados quanto à sua natureza: climatológica,

ambiental, estrutural e institucional. O quadro abaixo apresenta um resumo da identificação

desses problemas.

Tabela O3 - Síntese dos Problemas do Sistema de Drenagem Urbana de Vitória da Conquis-ta, em 1998

Natureza dos

ProblemasDescrição

ClimatológicaVitória da Conquista não possui uma equação intensidade x duração x freqüência ade-quada, que possa ser utilizada no dimensionamento das estruturas de drenagem, influ-enciando na confiabilidade da operação do sistema dimensionado e/ou no seu custo relativo.

Ambiental

Falta de planejamento da expansão urbana, despreocupando-se com o arranjo do tra-çado urbano – como a implantação de longas avenidas, que no período de chuvas in-tensas se transformam em verdadeiros cursos de água; implantação de vias preferenci-ais em regiões de altos declives, aumentando a velocidade de escoamento; ocupações de áreas de drenagem natural das águas de chuva.Falta de uma política adequada quanto ao uso do solo – como a exploração de jazidas na Serra do Periperi, causando erosão e promovendo a produção de sedimentos e seu transporte para as partes mais baixas da cidade; ocupação pela população de baixa renda das áreas marginais, sem qualquer infra-estrutura, aumentando os índices de insalubridade da população.Quantidade insuficiente de dispositivos de drenagem nas vias principais, onde, no período de chuvas intensas, ocorre a formação de faixas molhadas de grande largura adjacentes às sarjetas, causando desconforto aos usuários.Devido à inexistência de sistema de esgotamento sanitário, os dispositivos de drena-gem recebem efluentes de diversas origens – como residências e garagens, etc. Outro fator crítico é a ineficiência do sistema de limpeza pública, com o lixo depositado nos canais em áreas em que a coleta é insatisfatória.

EstruturaisA falta de dispositivos de microdrenagem em alguns locais da cidade promove o esco-amento desordenado, sobrecarrega as caixas ligadas às estruturas de macrodrenagem e aumenta a velocidade de escoamento. Outro problema detectado foi a ausência e/ou ineficiência dos dispositivos de manutenção, como as caixas de coleta.

Institucional

Falta de um órgão que seja responsável exclusivamente pelo sistema de drenagem urbana, sendo as tarefas de fiscalização das obras executadas pela Secretaria de Obras e Urbanismo e as tarefas de manutenção e conservação executadas pela Secretaria de Serviços Públicos. A EMURC tem a atribuição de implantar obras. Ainda existe a deficiência de mão de obra especializada.

Fonte: Plano de Saneamento Ambiental, 1998.

Como podemos observar, a causa dos problemas ambientais está relacionada à falta

de planejamento urbanístico da cidade, que tem construído avenidas que servem como verda-

deiros escoadores de águas pluviais de forma perpendicular a uma área de maior declive, co-

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mo a serra. Está também associada à ocupação de áreas inapropriadas tanto para a moradia

como para a prática de atividades mineradoras que geraram processos erosivos de forma in-

tensa.

Um outro ponto que tem sido pauta nas discussões das questões ambientais do muni-

cípio é a extração de minérios e/ ou vegetais na serra que, por mais de 60 anos, vem degra-

dando o ambiente da serra causando prejuízos ambientais no meio urbano. É interessante ob-

servar que uma das justificativas da política ambiental é precisamente conter esse avanço de-

sordenado das invasões nos bairros na área do parque. Porém, a realidade tem sido outra no

decorrer dos 08 anos de implementação dessa política.

Na serra, existem áreas que estão degradadas e que demandaria muitos anos para se-

rem recuperadas. É o caso de áreas que são e foram exploradas para a retirada de cascalho,

areia e pedra, as chamadas cascalheiras (fotos 21 e 22), que por muitos anos representou fonte

de sustento para muitas famílias que moram no entorno da serra e também para empresários

que retiram toneladas de minérios da serra.

Foto 21 e 22: Exploração de areia na área do PMSPFonte: Plano de Manejo do PMSP – SEMA, 2006

Tal situação colaborou ainda mais para atenuar os processos erosivos. As maiores

cascalheiras datam do final da década de 1940 com a construção da BR-116. Com a constru-

ção da estrada, muitas minas foram abertas sem nenhum planejamento. Como a BR-116 é um

vetor de crescimento para a malha urbana da cidade, isso também criou oportunidades para

explorações minerais na serra sem nenhum controle por parte do poder público.

Para Medeiros (1998:03)

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“De toda a utilização/depredação da serra surgiu a serra-problema: é que, de-vastada de maior parte de sua vegetação, ferida pela exploração de areias e pedras, ocupada por casas – a serra do Periperi passou a represen-tar/apresentar problemas”.

Esses problemas também são causados pela exploração desordenada de materiais na

serra. Na década de 1990, estimava-se que eram retiradas diariamente cerca de sessenta ca-

çambas de areia e pedra (Jornal Diário do Sudoeste - 19/10/97), hoje sendo este número me-

nor devido à fiscalização, feita pela SEMMA, que está ocorrendo na área.

Essa extensão do uso desordenado dos recursos na Serra do Periperi provocou inevi-

tavelmente a extinção de grande parte da vegetação original e acelerou ainda mais os proces-

sos erosivos em vários pontos, formando crateras (Foto 23).

Foto 23: Cratera de área degradada da Serra do Periperi no lado OesteFonte: Trabalho de campo, 2006. Foto Nereida MªS. M. Benedictis

Esses problemas são sentidos pela população que mora nas partes mais baixas da ci-

dade que, durante o período de chuva, convive com ruas alagadas, com sedimentos, sujeiras,

animais mortos, doenças, ruas esburacadas etc.

A partir da década de 1980, a população excedente, ou seja, as pessoas que não eram

introduzidas em nenhuma atividade econômica da época (agricultura, comércio e pecuária)

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não tendo para onde ir e nem como trabalhar passam a construir casas e a buscar como princi-

pal fonte de subsistência a extração mineral da serra. Uma importante característica que deve

ser aqui explicitada é que também trabalhavam nas áreas de mineração mulheres e crianças.

Esse trabalho era feito de forma manual e entregue para serem comercializados por atravessa-

dores.

Outro agravante foi o que ocorreu na década de 1990. Apesar de ter sido de grande

importância para a serra, por ter se tornado área de proteção ambiental, foi também um mo-

mento em que se instalou na serra uma fábrica de asfalto da Prefeitura que retirou toneladas

de cascalhos da serra (fotos 24 e 25). Atualmente, segundo o Coordenador de Urbanismo da

SIMTRANS, todo material utilizado pela indústria para utilização na fabricação do asfalto

não é mais retirado da serra. Vem de outras cascalheiras no Município.

Foto 24: Área da indústria de asfalto da Pref. Municipal de Vitó-ria da Conquista – BA.Fonte: Trabalho de Campo, 2006. Fotos: Nereida Mª S. M. Benedictis

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Foto 25: Área degradada próximo a indústria de asfalto da Prefeitura Muni- cipal de Viória da Conquista – BA.

Fonte: Trabalho de Campo, 2006. Fotos: Nereida Mª S. M. Benedictis

Essa retirada de material na serra ocasionou uma perda dos horizontes do solo A, B e

C em algumas áreas, como mostra a figura acima. Com isso, o solo perdeu a sua estabilidade

e ocasionou um processo erosivo que tem prejudicado a cidade durante o período de chuvas.

Um outro fator que aumentou ainda mais a degradação foi à construção do anel viá-

rio da BR-116, que dividiu a área do PMSP e, com isso, facilitou a abertura de novas áreas de

exploração mineral (foto 26). A jazida aberta às margens do anel viário é maior que um está-

dio de futebol e hoje serve para treinamento da Polícia Militar, segundo moradores do Bairro

Pedrinhas.

Foto 26: Jazida aberta para construção do anel viário da BR-116Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida Mª S.M.Benedictis

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Há ainda, na área do PMSP, uma quantidade enorme de entulhos de construções e li-

xos que são lançados por caçambas e por carroceiros (fotos 27,28 e 29).

Fotos 27,28 e 29: Entulhos e lixos no PMSP do lado Oeste da cidade.Fonte: Trabalho de Campo, 2007. Fotos: Nereida Mª S.Mafra Benedictis

Uma outra área que também vem sofrendo com processos de erosão e lixos é a Re-

serva do Poço Escuro. Na área próxima à cerca da Reserva no bairro Cruzeiro, há uma vala

que se expande em função do escoamento superficial e que traz entulhos e lixos que estão por

comprimir a cerca do Poço (fotos 30 e 31).

Fotos 30 e 31: Lixos e entulhos na área do Poço EscuroFonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida Mª S. M.Benedictis

A retirada de material da Serra ocorre em direção ao topo. Em trabalho de campo,

com a ajuda de um funcionário da SEMMA, visitamos uma área que foi embargada pela

mesma Secretaria e pela Promotoria Pública do Município no ano de 2004. A área encontra-se

bastante degradada pela retirada de areia. Porém, ao andar pela área da jazida, verificamos

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que mais embaixo havia caçambas que estavam retirando material. Devido a essa exploração

nas jazidas muitas áreas que foram embargadas apresentam-se bastante degradadas.

A ocupação desordenada da Serra do Periperi evidência a alteração do meio-

ambiente no local que vem gerando sérios problemas para o Município e para a cidade de Vi-

tória da Conquista. A intervenção do homem na Serra modificou a paisagem do local e con-

tribuiu para acelerar ainda mais os processos erosivos. Além da ocupação direta, ações como

o desmatamento ou construção de estradas causaram desequilíbrios e aceleraram a erosão su-

perficial para o centro da cidade.

Para Christofoletti (1983), em decorrência do ritmo acelerado da ocupação de terras,

ganham espaços os problemas ligados com desmatamentos, erosão do solo, enchentes, etc.,

pois continuamente há crescentes prejuízos materiais e vítimas em maior quantidade. E assim,

tanto o comprimento quanto o grau de declive têm influência sobre esse processo erosivo, isso

porque afetam diretamente a enxurrada da água da chuva, em particular, a sua velocidade. Po-

rém, segundo o autor, dos dois fatores o grau de declive tem a maior influência.

Guerra e Cunha (2003) dizem que a declividade de uma encosta pode ser medida em

graus ou em percentagem. Segundo Small e Clark ( apud GUERRA e CUNHA, 2003: 196-

197), as medidas tendem a ser realizadas a depender da habilitação de cada profissional, os

engenheiros e geólogos fazem pela percentagem, enquanto que os geomorfólogos, em graus.

Guerra e Cunha (2003:197) descrevem que “uma vez estabelecido o escoamento su-

perficial numa encosta, a declividade passa a ter um peso significante, mas o escoamento não

vai se estabelecer como uma função direta da declividade”.

O escoamento superficial é um notável agente de transporte ou remoção de solo de-

sagregado inicialmente pela erosão provocada pelo impacto direto das gotas da chuva. Porém,

dependendo do grau e do comprimento do declive, a enxurrada pode adquirir velocidade e

volume tais, que ela também é capaz de, por si só, causar uma elevada desagregação de solo,

por ação de cisalhamento, ao escoar livremente sobre as superfícies descobertas do solo, espe-

cialmente quando ela ocorre na forma concentrada sobre os sulcos do terreno inclinado.

No Brasil, ainda não foram estabelecidos os tipos de relação existentes entre com-

primento e grau de declive e perdas de solo por erosão hídrica. No entanto, como a tendência

dessas relações básicas é universal, podem-se adotar, a princípio, os mesmos tipos e coefici-

entes de proporcionalidade já estabelecidos nos Estados Unidos. Esses estudos indicam que as

perdas de solo por unidade de áreas variam aproximadamente com a potência 0,5 a 0,6 do

comprimento do declive e a potência 1,5 a 2,0 do grau do declive. Isso significa que, quando o

comprimento do declive é duplicado, as perdas de solo por unidade de área são aumentadas

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em torno de uma e meia vez, e, quando o grau de declive é duplicado, as perdas de solo por

unidade de área são aumentadas em duas e meia a quatro vezes. Considerando um declive

médio de 300 m de comprimento e 6% de inclinação, tem-se baseado nas relações básicas de

comprimento e grau de declive com perdas de solo, um valor aproximadamente igual a 2,0.

Isso significa que as perdas de solo de um terreno com 300 m de comprimento e 6% de incli-

nação serão duas vezes mais elevadas do que as de um declive como o da parcela padrão (22

m de comprimento e 9% de declividade).

Na Serra do Periperi, encontramos as classes de declividade A, B, C. Onde perce-

bemos uma maior declividade nas encostas da serra que possui a classe de declividade de

maior abrangência C ( 8-16% ). Por essa classe ter uma maior declividade, as chuvas que ca-

em nesta área, tem efeito torrencial acarretando uma elevada remoção de materiais, intensifi-

cando ainda mais os processos erosivos. A classe A ( 0-3% ) abrange do aeroporto até a Ave-

nida Bartolomeu de Gusmão, onde, verifica-se uma topografia predominantemente aplainada.

A classe B (3-8% ) inclui a Avenida Brumado, o topo e o pé da serra, onde têm-se uma área

de topografia suavemente ondulada.

Ao longo do tempo, através da apropriação e ocupação da Serra do Periperi, deu-se

início à transformação de sua paisagem natural, intensificando cada vez mais os impactos am-

bientais.

Muito antes que vales fluviais e ravinas sejam erodidos em uma encosta, o intempe-

rismo já se localizou ao longo de regiões, às vezes fracamente perceptível, sendo a água o

principal agente de transformação das rochas.

A formação de ravinas ou erosão em ravinas é sem dúvida, a mais rápida e espetacu-

lar forma desse fenômeno, sobretudo nas regiões submetidas a chuvas violentas. A erosão po-

de igualmente manifestar-se por movimentos de massa, através do transporte coletivo do solo.

Segundo Tricart (1977: 33)

“O escoamento torrencial provocado pela erosão pluvial e o desaparecimen-to da intercepção pela vegetação fazem com que a água deixe de ser um re-curso, capaz de alimentar as plantas, os animais e os homens, por meio das fontes e poços, entre os períodos de chuvas, para se tornar destrutiva, cau-sando danos pelas inundações, a devastação de terras, colheitas, obras pú-blicas, prédios e até vidas humanas.”

Em Vitória da Conquista a depredação da Serra do Periperi tem gerado uma serie de

impactos negativos com a ocupação desordenada de suas encostas, conforme tabela 04.

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Tabela 04 - Quadro Síntese: Prejuízos Ambientais Decorrentes da Ocupação Humana na Serra

Prejuízos Impacto

Ao meio físico Falta da cobertura vegetal ocasionado pelos desmata-

mentos que suprimiram parte da vegetação original e

consequentemente é a causa dos processos erosivos na

Serra; redução das nascentes, antes havia cerca de 40

nascentes atualmente existem apenas 11, segundo fis-

cais da SEMMA; assoreamento e poluição do Rio Ver-

ruga e de nascentes; exposição do solo degradado e

perda de horizontes; retirada de material como areia,

cascalho o que resulta num solo empobrecido e em

muitos locais sem possibilidade de restauração;

Ao Poder Público Gasto com a “operação tapa-buraco” em ruas esbura-

cadas devido às enxurradas; limpeza das ruas devido

ao carreamento de detritos sólidos para as áreas mais

baixas da cidade; ruas cheias de entulhos, pedras, arei-

as, animais mortos; destruição de casas que de acordo

com a Secretaria de Obras tem gerado um gasto para o

poder público. Constantemente a PMVC em conjunto

com a SEMMA precisa retirar da área do PMSP entu-

lhos de construção e lixos que são lançados por ca-

çambeiros e carroceiros; construção de valas para dire-

cionar as águas das chuvas.

À população da cidade A população sofre no período de chuvas em que as

ruas são alagadas e assim impedem a passagem de um

lado da rua para o outro; ruas sujas devido ao material

transportado pela água da chuva ocasionando doenças;

muito moradores já tiveram suas casas destruídas pelas

águas das chuvas; mortes de crianças nas valetas dos

canais de drenagem;

Ao analisar a ação dos processos erosivos na serra, constata-se que as atividades do

homem têm contribuído para intensificá-los cada vez mais. E assim tem gerado transforma-

ções na superfície do terreno e com isso tem causado prejuízos ao meio físico, ao Poder Pú-

blico e a população da cidade como vimos no quadro acima.

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2ª PARTE:

POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO

4 – Políticas Ambientais no Brasil: Notas Introdutórias

Durante o século XX, principalmente nas duas últimas décadas, a problemática am-

biental vem sendo amplamente discutida e saiu de uma posição de irrelevância para uma posi-

ção de problema mundial e que tem movimentado não apenas a sociedade civil, mas também

os governos de vários paises. Isto ocorreu, sobretudo pela inserção da temática ambiental na

esfera das políticas públicas governamentais, e a inserção do processo de institucionalização

da questão ambiental. Assim, os governos exercem grande influência nas soluções pragmáti-

cas, que devem ser politicamente viáveis para um mundo globalizado.

Tamanha preocupação e discussão, com os problemas ambientais, em fóruns inter-

nacionais, tanto da sociedade civil como de governos, não resultou num concenso em torno de

soluções. Ao contrário, à medida que se alarga e se aprofunda o debate, os conflitos tornaram-

se mais intensos e as soluções mais difíceis.

No Brasil, o século XX foi muito importante para a elaboração e implementação de

políticas públicas. A preocupação com o meio ambiente levou o país a debater sobre a degra-

dação ambiental, uma vez que poderiam ocorrer conseqüências irreversíveis. Isso não signifi-

ca dizer que, em outras épocas, não tivesse havido nenhuma discussão, porém, é nesse mo-

mento que efervesce no país a preocupação em elaborar políticas públicas com caráter ambi-

ental.

Para Acselrad (2001: 75), a política ambiental no Brasil torna-se explicita no mo-

mento em que o governo, em 1973, cria a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA). O

autor diz que tal criação é reflexo das políticas adotadas em muitos países em decorrência dos

debates da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente

Humano, realizada em Estocolmo em 1972.

Para Acselrad, a SEMA nasceu em um período ditatorial do país e, por isso, tornou-

se um órgão burocrático e sem nenhuma articulação com a sociedade. Somente em 1981, com

a Lei nº. 6.938, a secretaria se fortaleceu, constituindo o Sistema Nacional de Meio Ambiente

(SISNAMA), composto por órgãos e entidades ambientais da União, dos estados e municí-

pios. Dessa forma, estabelece-se de maneira mais sistemática a organização do Estado brasi-

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leiro, em relação a questão ambiental, mediante o estabelecimento de competências legais pa-

ra o poder executivo nas três esferas de governo.

Em 1984, cria-se o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), já previsto

pela lei de 1981. O CONAMA foi importante no sentido de ser um articulador da política am-

biental explícita com as políticas de meio ambiente implícitas nas demais políticas do gover-

no, e opera de forma deliberativa com a participação assegurada da sociedade civil. Isso levou

o poder executivo a partilhar com a sociedade o processo decisório referente à gestão ambien-

tal.

Em 1989, criou-se o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA), que executaria a política de meio ambiente. Em 1990, o IBAMA foi

subordinado à nova Secretaria de Meio Ambiente da Presidência da República e, dois anos

mais tarde, ao Ministério do Meio Ambiente.

Acselrad (2001: 79) diz que:

“Embora tomando corpo dentro do aparelho de Estado, os órgãos ambientais foram se caracterizando por acentuada descontinuidade administrativa, fu-sões e desintegrações organizacionais, subordinações seqüenciadas a um va-riado número de instâncias ministeriais e a um maior número de respectivos responsáveis políticos.”

Tal situação, segundo Acselrad, contribuiu para que a política ambiental brasileira

fosse operacionalizada sob a ótica de três modalidades: regiões dotadas de vocações naturais,

com o intuito de inserção no mercado nacional e global; as áreas ricas em recursos genéticos,

consideradas natureza a ser preservada ou a ser explorada de forma sustentável e, por último,

as áreas residuais economicamente deprimidas e submetidas a processos erosivos e degradan-

tes, desprovidas de interesses estratégicos para o capital, logo, desprovidas de qualquer proje-

to governamental capaz de articulação à dinâmica de desenvolvimento do restante do país.

Cunha e Coelho (2003: 46-50) dizem que pode ser identificado três importantes

momentos na história das políticas ambientais no Brasil: de 1930 a 1971, pela construção de

uma base de regulação dos usos dos recursos naturais; um segundo período, de 1972 a 1987,

em que a interferência do Estado chega ao cume, ao mesmo tempo em que aumenta a percep-

ção de uma crise ecológica global, e um terceiro período, de 1988 aos dias atuais, marcado

pelos processos de democratização e descentralização decisórias e pela rápida propagação de

conhecimento do desenvolvimento sustentável.

No período compreendido entre 1930 a 1971, os autores apontam para o fato de que

o Brasil era um país marcado por uma transição das elites rurais para uma elite industrial e

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urbanizada, principalmente na região Sudeste. Há um fortalecimento do Estado que centraliza

as discussões. Inicia-se um tempo caracterizado por políticas regulatórias que dizem respeito à

laboração de legislação específica para estabelecer ou regulamentar normas de uso e acesso ao

ambiente natural e a seus recursos, bem como a criação de aparatos institucionais que validam

o cumprimento da lei, destinadas à proteção do meio ambiente e de seus recursos naturais.

Influenciado pela política de preservação dos parques nacionais norte-americanos, o

país cria através do Decreto nº. 23.793/1934 os parques nacionais e de áreas florestais prote-

gidas nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste. Uma área que os autores apontam como de grande

interesse por parte do Estado, nesse período, foi a Mata Atlântica. Para isso, foram criadas as

unidades de conservação com o intuito de preservar as manchas restantes desse bioma.

No segundo momento (1972 a 1987), influenciado principalmente pela Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972, que, segundo

Feldmann (2005:143), foi o:

“marco da tomada de consciência da dimensão planetária dos problemas ambientais, cuja manifestação já se tornava evidente naqueles anos, ainda que restrita a círculos acadêmicos e entidades não-governamentais, e com foco mais conservacionista do que sócio-ambiental”.

Nessa ocasião, no Brasil, como em outros países “em desenvolvimento”, existia um

procedimento de condicionar os direitos de cidadania ao regime militar, por isso, cresciam

vários movimentos sociais dentre eles os que questionavam a sociedade industrial e sua explo-

ração do meio ambiente. Isso serviu para que tanto o Estado como os organismos não-

governamentais interferissem na proteção ao meio ambiente através das políticas do tipo es-

truturadoras.

O governo brasileiro sofreu fortes críticas nacionais e internacionais porque as polí-

ticas ambientais se contradiziam com as políticas de integração nacional. Com isso, os cha-

mados Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) entre 1975 a 1985 foram pressionados a

realizarem estudos de impactos ambientais nas atividades desenvolvidas, como construção de

barragens, estradas, projeto de exploração de minérios. Assim, em 1986, surgem os Estudos

de Impacto Ambiental (EIA) e os Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA).

No terceiro momento, na trajetória das políticas ambientais no Brasil (1988 até os

dias atuais), segundo Cunha e Coelho (2003: 52), ocorreram mudanças significativas em torno

das políticas ambientais no país. Após a divulgação do Relatório Brundtland, em 1987, sobre

a avaliação dos resultados da Conferência de Estocolmo (1972), inseriu-se com repercussão o

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conceito de desenvolvimento sustentável, uma conexão da dimensão econômica, social e am-

biental como marco ético do respeito às futuras gerações.

Após a divulgação do relatório, no Brasil, houve, segundo os autores, uma “grande

repercussão”. As preocupações com o aquecimento global, o buraco na camada de ozônio, a

emissão elevada de dióxido de carbono na atmosfera e, principalmente, desmatamento na

Amazônia, isso tudo, de acordo com Cunha e Coelho (2003: 53), fez com que:

“O envolvimento da sociedade local nas questões ambientais passou a ser estimulado. Noções de divisão de responsabilidades e de complementarida-de entre as competências federais, estaduais e municipais ganham impor-tância, acompanhadas de discussões sobre o papel dos diversos atores soci-ais na reformulação das políticas públicas e no reordenamento das deman-das setoriais e regionais”.

Uma dessas mudanças no âmbito federal foi a promulgação, em 1988, da Constitui-

ção Federal que foi a primeira a especificar melhor as questões ambientais no país. No Artigo

225, considera o meio ambiente um “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualida-

de de vida”. Assegura assim a todo o cidadão brasileiro o usufruto desse direito e impõe ao

poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo.

A Constituição possui um capítulo específico sobre o meio ambiente e, nele, declara

a Mata Atlântica, a Floresta Amazônica e o Pantanal como patrimônio nacional. Também,

entre outros pontos, institui multas, a obrigação na recuperação de ambientes degradados e a

compensação para a união, estados e municípios pela exploração dos recursos naturais sejam

eles hídricos, minerais ou petrolíferos.

Outro fato importante foi a intensificação na criação de unidades de conservação que

são espaços legalmente estabelecidos pelo poder público federal, estadual ou municipal, que

apresentam características naturais relevantes, aos quais se aplicam garantias apropriadas de

proteção. E a depender do objetivo para o qual foram criadas, as unidades de conservação

(UC’s) podem ser de proteção integral ou de uso sustentável.

Para se ter uma idéia da tamanha intensificação na criação das UC’s somente no pe-

ríodo compreendido entre 1988 a 2001, 119 unidades foram criadas. Dessas, 57 situam-se na

região Norte. Isso demonstra a pressão, tanto nacional como internacional, por que passava o

país já que a região com maior índice de preocupação tanto nacional como mundial era a A-

mazônia. Foram criados também nesse período o Sistema de Vigilância da Amazônia (SI-

VAM) e o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM).

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O país buscou com todas essas mudanças amenizar as pressões tanto nacionais como

internacionais em relação às questões ambientais. Como resposta às críticas pela forma como

lidava com a degradação ambiental e pelas divulgações realizadas pelo Instituto de Pesquisas

Espaciais (INPE), na época, sobre o desmatamento da Floresta Amazônica, tornou-se o prin-

cipal protagonista da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, na cidade do

Rio de janeiro em 1992.

A Conferência (Rio-92), do ponto de vista prático, produziu alguns resultados im-

portantes. Um deles foi a assinatura, pela maioria dos países que estavam presentes, da Con-

venção-Quadro das nações Unidas sobre Diversidade Biológica e da Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas Globais. A partir daí, criaram-se dois limites nor-

mativos globais para enfrentar dois dos maiores problemas da Humanidade: o empobrecimen-

to da vida no planeta pela extinção das espécies e a degradação de ecossistemas e as denomi-

nadas Mudanças Climáticas Globais, em função do fenômeno chamado “Aquecimento Glo-

bal”. Outros documentos assinados e de maior relevância foram a Declaração do Rio, que ti-

nha a pretensão de tornar-se uma espécie de constituição planetária, e a Agenda 21, documen-

to contendo as iniciativas e ações a serem postas em prática em poucos anos, tendo como ob-

jetivo a transformação do desenvolvimento até então vigente para o desenvolvimento susten-

tável.

Porém, muitas ações demonstraram ser insuficientes, principalmente quando se ob-

serva os resultados da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizada em

Joanesburgo em 2002, que deveria ter como objetivo principal fortalecer o compromisso de

todas as partes com os acordos aprovados anteriormente, sobretudo a Agenda 21, assinada na

Rio-92, bem como identificar as novas prioridades que surgiram desde 1992. Porém, os resul-

tados, já esperados, refletiram o cenário econômico e político internacional. Os Estados Uni-

dos e outros países ricos adotaram uma atitude desigual da que tiveram em outros momentos

importantes em matéria ambiental, como o Protocolo de Kyoto e a Convenção sobre Diversi-

dade Biológica.

Vale ressaltar que a Rio-92 foi importante no sentido de que houve um reconheci-

mento da gravidade dos problemas ambientais. No Brasil, após o evento, foi criado o Ministé-

rio do Meio Ambiente, contudo, Ferreira (2003:16) aponta que “em nada contribuiu para au-

mentar a importância da questão no governo”. Na verdade, a idéia era externar uma imagem

de responsabilidade com o meio ambiente.

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Para a autora, nos dois mandatos de governo de Fernando Henrique Cardoso, nada

mudou em relação à política ambiental, pois esta não era compreendida como uma política

social, estando desvinculada das demais políticas públicas e econômicas.

Sobre a política ambiental no governo FHC, Acselrad (2001: 86) aponta que: “Ana-

logamente, poderíamos dizer que, para a estratégia política dos dois governos de Fernando

Henrique Cardoso, a sustentabilidade do meio ambiente dependeu fortemente da sustentabili-

dade dos bancos”. Isso significa dizer que para o autor com a redução da esfera pública e da

competência de se fazer política, quem conduz o meio ambiente é o mercado através da ex-

ploração das florestas, pela intensificação de exportações de produtos naturais etc.

Já no primeiro mandato do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ferreira

(2003:16) diz que a questão ambiental foi abordada sob a ótica do “conservacionismo”, ou

seja, gerenciam-se os recursos naturais para prover o benefício máximo por um período de

tempo estável, criando uma contradição com o atual discurso de “modernização da sociedade

brasileira veiculado, ou seja, onde necessariamente a questão do desenvolvimento socioeco-

nômico está vinculada aos problemas de degradação ambiental”.

A autora prossegue dizendo que houve um declínio na política ambiental federal, pe-

lo menos em termos políticos, no que resultou por parte dos municípios em vários estados

brasileiros na busca de modelos de sustentabilidade. Ferreira cita o exemplo de várias cidades

do Estado de São Paulo onde foram implementadas políticas municipais ambientais. Com e-

feito, a busca por um desenvolvimento sustentável fez com que alguns municípios brasileiros

delineassem políticas ambientais, apresentando um desenvolvimento urbano mais sistêmico e

com uma política local mais realista, com políticas ambientais em nível local.

5 – Política Ambiental de Vitória da Conquista e Criação do Parque Municipal da Serra

do Periperi

Desde a fundação da cidade de Vitória da Conquista, existem relatos sobre a sua pai-

sagem e evolução urbana. O Príncipe Maximiliano ( apud TANAJURA, 1992:61), em visita à

cidade no ano de 1816, assim descreve: “cercada de colinas suavemente inclinadas, cobertas

de matas, formando um retângulo alongado.” O Poeta Camilo de Jesus Lima (apud TANA-

JURA, 1992:24) diz que “A terra, ou é toda uma luxúria de vegetações gigantescas, todo um

hausto de vida, palpitante e sensual (...)”. O Coronel Durval Vieira de Aguiar (apud TANA-

JURA, 1992:61) descreve a evolução da cidade através da Serra do Periperi: “A Vila está edi-

ficada em terrenos acidentados ao pé da serra denominada Periperi. (...) A praça é quadrilonga

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e de ladeira”. Poderíamos aqui escrever vários relatos sobre a cidade e através deles conhecer

melhor um pouco da sua história, entretanto há um fato que nos chama atenção e que prova-

velmente teria provocado uma maior atenção aos escritores: a condição do desenvolvimento

espacial da cidade desde a sua fundação que tem, nos dias de hoje, gerado muitas discussões

acerca dos problemas ambientais ocorridos na Serra do Periperi.

Analisando a história da cidade, observamos que havia uma necessidade de ordena-

ção já no ano de 1840, através de um anúncio de localização de becos, ruas e travessas. Mes-

mo com essa preocupação incipiente não houve uma política voltada ao planejamento, isso se

verifica pelo fato da cidade se desenvolver nas encostas da serra.

Em 1957, o urbanista Moacir Vieira (apud TANAJURA, 1992:75), analisando o de-

senvolvimento urbano da cidade, narrou a seguinte questão:

“De modo geral os loteamentos tomam uma estrada existente como base (ou mesmo um lado), daí tirando perpendiculares de 100 a 100 metros; nou-tro sentido a mesma coisa, fazendo então o conhecidíssimo e invariável tra-çado em xadrez. Não se considera escoamento d’água, rampas, declives, ventos dominantes, arborização, tráfego e tantos outros elementos.”

A realidade descrita pelo urbanista levantou então uma preocupação em relação ao

desenvolvimento urbano, de como a cidade crescia e para onde ia. Essa situação tem refletido

até os dias atuais, pois, com a especulação imobiliária que sempre ocorreu em Conquista, a

população mais carente constrói suas casas em terrenos mais baratos ou até mesmo em luga-

res onde possam invadir. E a maioria desses terrenos estão localizados em áreas que deveriam

ser protegidas e, em caso particular, na Serra do Periperi.

O Plano Diretor Urbano aprovado em 1976, na administração do Prefeito Jadiel Ma-

tos, não foi suficiente para ordenar o crescimento. Com isso, a cidade continuou a se desen-

volver, segundo Tanajura (1992:102), através da “ilegalidade dos parcelamentos do solo ur-

bano, muitos chamados de invasões”.

Segundo Medeiros (1998), desde a década de 1940 havia projetos para implementar

políticas de conservação na área da Serra do Periperi, porém ficaram apenas no papel e muitos

deles não chegaram a ser executados.

Em 1996, a Serra do Periperi teve parte da sua área tombada através do Decreto

nº.8.696/96 (em anexo), como área de preservação ambiental, numa extensão de 500 hectares.

O Art. 2º do Decreto descreve que o objetivo do tombamento foi de impedir a retirada de arei-

a, cascalho e pedras, como também a construção de edificações de qualquer natureza e a utili-

zação da área que não seja de interesse público.

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No Decreto, há ainda quatro considerações relevantes. A primeira apresenta a impor-

tância de preservar a serra por se tratar também de uma área que contém resquícios da Mata

Atlântica e que a sua vegetação preservada conteria a erosão danosa à fauna e à flora. A se-

gunda mostra a necessidade de preservar o Poço Escuro que é uma reserva de mata nativa. A

terceira sobre a ocupação da serra que tem causado transtornos a própria cidade como inunda-

ções, enxurradas. A quarta retrata a atenção que o Poder Público deve ter para a constituição

da vegetação na serra para evitar a “ação danosa” que vinha ocorrendo, no que diz respeito à

retirada de areia, pedras e cascalho.

O respaldo para considerar a serra como uma área de preservação ambiental se deu

através da Lei Federal nº. 4.771/65, Art. 02, itens c, d e e do Código Florestal Brasileiro que

declara como área de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação situ-

adas:

“c) Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cin-qüenta) metros de largura;d) No topo de morros, montes, montanhas e serras;e) Nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive”.

Ainda, segundo o Decreto, no Art. 3º da mesma Lei, itens a, e, f e h, são considera-

das como áreas de preservação permanente, quando forem declaradas pelo Poder Público as

florestas e outros tipos de vegetação designados a:

“a) A atenuar a erosão das terras; e) A proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou históri-co; f) A asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; h) A assegurar condições de bem-estar público.”

As medidas de reconhecimento da Serra como patrimônio ambiental da cidade se dá

justamente no momento em que há uma percepção por parte das autoridades competentes de

que a área ao longo dos anos vinha sendo degradada. Entretanto, tais medidas não foram sufi-

cientes para evitar a continuidade da degradação ambiental, considerando que 500 hectares

eram insuficientes para garantir a recuperação e preservação dos seus recursos naturais. So-

bre isso, Medeiros (1998:04) diz que: “A política pública centrada na consciência superficial e

incompleta foi contraditória”, pois o próprio poder público retirava da serra através de uma

fábrica de asfalto areia e cascalho para suas obras.

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Em 1997, a partir de várias discussões e problemas ambientais ocorridos na serra,

elabora-se então uma política de gestão ambiental para o município e a partir daí algumas ini-

ciativas foram tomadas, como a elaboração e implementação do Plano Municipal de Sanea-

mento Ambiental, a criação do Núcleo de Educação Ambiental (1998) e a criação do Parque

Municipal da Serra do Periperi (fig.07) pelo Decreto Municipal nº. 9.480/99 (em anexo).

Figura 07: Localização do PMSP Fonte: Laboratório de Cartografia –UESB - 2007

Em 02 de julho de 1998, foi assinado um convênio entre o Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Prefeitura Municipal de

Vitória da Conquista (PMVC) com vistas à ampliação da Área de Proteção Ambiental, ampli-

ada de 500 ha. para 1000 ha., e a criação do Parque Municipal da Serra do Periperi (PMSP).

Os recursos necessários para a execução do objeto do Convênio ficaram na quantia de R$

402.500,00 (quatrocentos e dois mil e quinhentos reais). Desse total, R$ 350.000,00 (trezentos

e cinqüenta mil reais) seria liberado pelo IBAMA e R$ 52.500,00 (cinqüenta e dois mil e qui-

nhentos reais) pela PMVC. Como estava previsto no convênio, esse era o montante para o e-

xercício de 1998 que seria aplicado em obras e instalações, equipamentos e materiais perma-

nentes, gasto com pessoal, diárias, material de consumo, serviços de consultoria e outros.

Km

Fonte:Maplan- EMBASABase cartográfica- Desencop Ltda.Elaboração: Nereida Benedictis / Edvaldo Oliveira/ Iris Carvalho

0 2 4

Vitória da ConquistaLocalização do PMSP

PMSP

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As justificativas para a ampliação da APA e criação do PMSP se deram a partir dos

seguintes pontos:

“a) Organização do uso do solo da cidade, tendo em vista que a área é con-siderada imprópria para a ocupação urbana;b) Preservação das áreas verdes do topo da serra minimizando o carreamen-to de mat. arenoso e cascalho para as partes mais baixas da cidade;c) Formação de um cinturão verde, um corredor biológico na parte mais alta da cidade;d) Implementar recuperação e reabilitação de áreas degradadas nas vertentes da serra;e) Preservação dos remanescentes de mata de cipó (principalmente o Poço Escuro) na zona urbana e nascentes existentes na serra”.

Assim, ainda no ano de 1998, outro Decreto, o de nº. 9.328/98, ampliou a área de

preservação ambiental da Serra de 500 hectares para 1000 hectares, desta vez proibindo as

atividades de mineração e retirada de vegetação. Em 16 de junho de 1999, foi criado, pelo

Decreto nº. 9.480/99, tendo como base, como no decreto anterior, o Código Florestal Brasilei-

ro, Lei nº. 4.771/65 e os mesmos artigos já mencionados, o Parque Municipal da Serra do Pe-

riperi (PMSP), alterando novamente os limites de conservação da área de 1000 hectares para

1.300 hectares subordinado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMA) e declarado

como Unidade de Conservação do tipo Unidade de Proteção Integral do estado da Bahia cujo

objetivo é de preservar a natureza, admitindo-se apenas o uso indireto dos seus recursos naturais.

A criação do PMSP pelo Decreto 9.480/99 levou em consideração alguns pontos ex-

tremamente importantes para a implantação de uma gestão ambiental na área, tais como:

-“a Serra do Periperi é o principal marco geográfico e histórico da cidade;- a área da Serra do Periperi é protegida pelo Código Florestal, Lei nº. 4.771/65, Art. 3º itens a, e, f e h, em virtude de ser topo de serra;- a Serra do Periperi guarda as nascentes do Rio Verruga e os minadouros do Panorama, Nossa Senhora Aparecida e do Bebedouro da Onça, e que é importante a preservação dos recursos hídricos, visto que o município inte-gra a região do semi-árido baiano;- é importante preservar a Serra do Periperi por conter a Reserva Florestal do Poço Escuro, de alta biodiversidade, e por possuir vegetação nativa re-manescente, que garante o equilíbrio microclimático e paisagístico urbano, além de se constituir em um refúgio para a fauna silvestre regional, amea-çada de extinção;- a Serra do Periperi face às suas características físicas e biológicas, abri-gando fauna e flora endêmicas, consiste em rica fonte para estudos e pes-quisas científicas, cujo conhecimento e aplicação asseguram a conservação dos recursos naturais de forma sustentada;- que o uso e a ocupação inadequados da Serra do Periperi têm causado pre-juízos ambientais e urbanos, tornando necessário planejar o uso do solo na cidade, preservando áreas verdes, recuperando áreas degradadas por ativi-dades extrativas minerais e vegetais e corrigindo os processos erosivos, a-

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través de revegetação e outros mecanismos sustentados.” (DECRETO Nº. 9.480/99)

O objetivo de criação do PMSP de acordo com o decreto é de:

“preservar a vegetação nativa, a fauna, as nascentes e a conformação topo-gráfica do topo e encostas da Serra do Periperi, proteger os remanescentes de mata do Poço Escuro, recuperar as áreas degradadas, controlar os proces-sos erosivos e ordenar o uso e a ocupação do solo urbano, sendo proibidas quaisquer atividades extrativas – minerais e/ou vegetais -, construções e modificações do meio ambiente a qualquer título, ressalvadas aquela desti-nadas às atividades científicas, educativas e/ou de lazer, devidamente auto-rizadas pela autoridade competente.” (DECRETO MUNICIPAL Nº. 9.480/99)

Após a criação do Parque, ficou estabelecido pelo mesmo decreto que o Poder Exe-

cutivo teria a responsabilidade de elaborar, num prazo de 150 dias, um Plano de Manejo dessa

Unidade de Conservação, que é um projeto que tem como objetivo o zoneamento da área pro-

pondo seu desenvolvimento físico e, com isso, constituir diretrizes básicas para o manejo da

Unidade. O Plano foi elaborado por uma equipe da PMVC e propõe parcerias com órgãos

estaduais e federais além de ONG’s e da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

(OSCIP’s) e foi baseado nas análises das limitações e potencialidades da área. Para tanto, fo-

ram elaboradas as seguintes propostas:

01.“Dotar a unidade de diretrizes atualizadas para o gerenciamento e manejo, possibilitando, assim, atingir os objetivos pelos quais foi criada;02.Fortalecer a proteção da Unidade de Conservação e ampliar o conhecimen-to sobre a mesma, principalmente no que diz respeito a: caracterização e co-nhecimento sobre a biodiversidade local, definição de critérios para subsidiar o processo de desapropriação de terras e regularização fundiária, levantamen-to de áreas degradadas e prioritárias para recuperação e o zoneamento ecoló-gico-econômico;03.Possibilitar a participação da população residente na área de entorno do PMSP, como forma de integrar os objetivos da Unidade de Conservação com os interesses locais;04.Criação com Comitê de Gestão do Parque da Serra do Periperi;05.Elaboração do Plano de regulamentação Fundiária do PMSP.”( PLANO DE MANEJO DA SERRA DO PERIPERI, 2004:16)

Na proposta do ponto 03, que traz a possibilidade da participação da população da

área do entorno do PMSP, não parece ter sido concretizada. O que observamos nos bairros do

entorno do parque é a falta de ciência dos problemas ambientais. Foi perguntado a uma mora-

dora do bairro Pedrinhas se ela tinha conhecimento sobre a política ambiental e os problemas

ambientais decorrentes da degradação da serra. Ela respondeu que a área deveria ser utilizada

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para construção de mais casas e que ela não percebia o processo degradacional porque todo

material retirado da serra era para construção de casas. Com isso, os bairros têm se expandido

pela área do parque. Materiais, como areia e lenha, ainda são retirados por parte desses mora-

dores, que consideram a serra como mais um local para sobrevivência e moradia.

Com a implantação do PMSP várias obras foram realizadas como: a sede administra-

tiva que antes se localizava na área do Parque e atualmente funciona o módulo de educação

ambiental (foto 32) e núcleo de apoio à pesquisa; canal de drenagem; guarita, cercas (obser-

vadas em trabalho de campo apenas do lado Leste da cidade numa parte do bairro Pedrinhas),

aquisição de veículos e equipamentos importantes no desenvolvimento do monitoramento,

fiscalização e educação ambiental.

Foto 32.: Núcleo de Educação Ambiental do PMSPFonte: Trabalho de Campo, 2006.

O plano de manejo traz os programas do PMSP:

Reserva do Poço Escuro – a reserva possui vigilância, manutenção e limpeza

da área do Poço; acolhimento de visitantes; reposição florestal com plantio de espécies nativas

nas clareiras abertas por queda/morte de árvores; recomposição de trechos de cerca danifica-

da; desobstrução do leito do Rio Verruga na área da mata; limpeza das caixas de passagem do

canal de drenagem da Rua Henriqueta Prates e da nascente do Guarani.

Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS): abrigo e reabilitação de

animais recolhidos em todo o estado Bahia; re-introdução no habitat natural ou destinação a

zoológicos e criadores habilitados pelo IBAMA; levantamento de áreas propícias para soltura.

Em visita ao CETAS, observamos uma quantidade muito grande de aves e macacos. Há dois

veterinários realizando esse trabalho juntamente com alguns funcionários de limpeza e vigi-

lância. A sede do CETAS também não tem segurança. É um espaço fechado ao público, já

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que, de acordo com a veterinária Rosana Ladeia, é uma área que tem muitos animais que fo-

ram apreendidos pelo IBAMA.

Módulo de Educação Ambiental: Acompanhamento de visitantes pelo Parque

da Serra e Poço Escuro; palestras e reuniões em escolas; palestras na sede da Secretaria.

Herbário Sertão da Ressaca: coleção do material botânico herborizado, pro-

duzida pelo Levantamento Florístico do Parque da Serra do Periperi, o Herbário abriga o Vi-

veiro Experimental, onde são realizados os testes de germinação e a produção de mudas de

essências nativas para uso no reflorestamento de áreas degradadas.

Horto Florestal: Concentra a produção e distribuição de mudas arbóreas e os

serviços de arborização, poda de manutenção e erradicação de árvores com problemas fitossa-

nitários e/ou de segurança.

Fiscalização: Além dos trabalhos de rotina desenvolvidos no Parque Muni-

cipal da Serra, referentes à conservação e monitoramento da fauna e flora, destacam-se os tra-

balhos relacionados à coibição de invasões e ocupações na Serra, tanto para fins de extração

mineral quanto para moradia.

O Poço Escuro (foto 33) tem sido um lugar onde a população, principalmente alunos

de escolas, tem visitado e conhecido a importância dessa reserva florestal para a cidade. No

entanto, em visita ao Poço, pudemos observar o descaso com a reserva principalmente no que

diz respeito aos funcionários e aos visitantes que por ali passam. Na área da reserva, não há

banheiros e nem local adequado para que os funcionários possam trabalhar com dignidade.

Foto 33: Poço Escuro e os bairros Guarani e CruzeiroFonte: Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Foto: Edna Nolasco, 1992.

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Por se tratar de uma área que divide dois bairros na serra, o Guarani e o Cruzeiro (par-

te do bairro de classe média alta e outra por favelados), o Poço sofre com a falta de segurança,

pois, por localizar-se próximo a bairros que têm uma história de criminalidade, a visitação

torna-se perigosa. Não há guarita de policiamento, os equipamentos da pesquisa eram escon-

didos, pois o guia nos disse que mesmo dentro da mata poderíamos deparar com usuários de

droga e assaltantes.

A fiscalização também se tornou uma questão de discussão dentro dos programas

implementados pela SEMMA. Pela realidade apresentada, a quantidade de fiscais não tem

sido suficientes. Em visita à Secretaria, verificamos que atualmente os funcionários da parte

administrativa também tem funcionado como fiscais. No Poço Escuro tem apenas um fiscal,

então como não há fiscais suficientes para uma área de 1.300ha, então o planejamento de fis-

calização encontra-se inoperante e não há como inibir as invasões e ocupações, tanto de extra-

ção mineral quanto para moradia, e tão pouco monitorar e conservar, como foi proposto, a

fauna e a flora do ambiente.

Um outro instrumento importante foi aprovado em 05 de junho de 2007 pela Câmara

de Vereadores, através da Lei nº. 410 foi o Código Municipal do Meio Ambiente, que consti-

tui os alicerces normativos para a Política Municipal do Meio Ambiente e cria o Sistema Mu-

nicipal do Meio Ambiente (SIMMA), que será articulado ao Sistema Municipal de Gestão

Participativa, instituído pelo Plano Diretor Urbano (PDU). O SIMMA executará juntamente

com o Conselho Municipal do Meio Ambiente, com a Secretaria Municipal do Meio Ambien-

te e com os Órgãos Setoriais da Administração Municipal, a administração da qualidade am-

biental, da proteção, do controle, do desenvolvimento e do uso adequado dos recursos naturais

do Município de Vitória da Conquista.

O Código determina o funcionamento do sistema municipal de meio ambiente e

constitui as diretrizes das políticas do setor. A nova lei aborda desde o funcionamento do

Fundo Municipal do Meio Ambiente até o processo de licenciamento ambiental. Foram dois

anos para a sua elaboração e discussão. Uma das características presentes na nova lei é a par-

ticipação da população, através do Conselho Municipal do Meio Ambiente que deverá pro-

mover discussões entre órgãos públicos, empresários, políticos e organizações da sociedade

civil na busca de soluções para o uso dos recursos naturais e para a recuperação e preservação

do meio ambiente. É necessário pensar agora como tal participação se dará e como o poder

público irá incentivar a população, principalmente aquelas localizadas em áreas de proteção.

Segundo o Secretário Municipal do Meio Ambiente,

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“depois de dois anos de discussão Conquista tem uma lei que oferece ins-trumentos para o fortalecimento da política ambiental do município, o Có-digo criado trará uma definição clara do Sistema Municipal do Meio Ambi-ente, com características como controle social; participação popular na de-finição das políticas ambientais do município e adequação dos princípios e objetivos da Política Ambiental Local aos novos preceitos jurídicos e às ci-ências do Meio Ambiente”. Um outro aspecto importante é o da criação das câmaras técnicas que atuarão no assessoramento ao Conselho Municipal na vistoria e elaboração de pareceres sobre as questões levadas ao COMMAM (Conselho Municipal do Meio Ambiente), bem como para fins de licencia-mento ambiental”

O Código foi elaborado a partir das diretrizes expostas pelo Plano Diretor Urbano de

Vitória da Conquista - 2004, pelo Código de Uso e Ocupação de Solos e o Código de Postu-

ras. O artigo 2º do Código imputa ao Poder Público Municipal a responsabilidade de proteger,

defender, preservar e recuperar o meio ambiente e o Artigo 3º diz que o Município tem com-

petência legislativa, na forma prevista na Constituição Federal e na legislação infraconstitu-

cional, em relação ao meio ambiente, à gestão ambiental, à criação de espaços protegidos, ao

licenciamento e à imposição de penalidades a infrações ambientais de interesse local, obser-

vadas as competências da União e do Estado.

Uma das observações que consta no Artigo 4º, do Código em relação à Política Am-

biental do Município para conseguir seus objetivos no inciso V, é a “proteção aos ecossiste-

mas do Município e seus componentes representativos, mediante planejamento, zoneamento e

controle das atividades potencial ou efetivamente degradadoras”. Em relação ao controle de

atividades, como já foi colocado anteriormente, no PMSP, há dificuldades em relação à fisca-

lização. Então como controlar? Espera-se que após a sua aprovação o Código não fique ape-

nas como uma Lei presente e sem praticidade, mas que consiga não somente atingir ao PMSP,

mas também, em cada área em que o código reconhece como prioridade ambiental no Muni-

cípio.

Quanto aos objetivos no Art. 7º, a política ambiental estabelece critérios e padrões e

normas para uso e manejo dos recursos naturais, podendo criar parques, reservas ecológicas e

também meios para responsabilizar ao poder público ou privado a recuperação ou indenização

dos prejuízos causados ao meio ambiente.

Um ponto relevante do Código é o estimulo à participação da população nas deci-

sões nos processos de preservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. Essa questão é

de suma importância no que diz respeito à toda política adotada no Município. No caso em

particular, na implantação do PMSP, tem sido necessário um maior trabalho com a população,

principalmente a que mora nos bairros que ficam no entorno do parque. Uma vez que se tra-

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tam de bairros caracterizados como de alto índice de marginalidade, inseguros, então como

trabalhar com essa população a consciência do ambiente em que moram, considerando que é

uma população que convive dia-a-dia com a injustiça social?

O Art. 23 apresenta as Unidades de Conservação do Município como o Parque Mu-

nicipal da Serra do Peri-Peri, a Reserva do Poço Escuro, a área com 115.644 m2, declarada de

preservação de espécie endêmica dedicada à Melocactus conoideus, pelo Decreto

10.999/2002, os Parques Municipal Urbano da Lagoa das Bateias e o Parque Municipal Urba-

no da Lagoa do Jurema, que foram instituídos oficialmente com a aprovação do Código, con-

forme figura 08 (pág. 76) do Mapa de Legislação Ambiental da cidade.

O parágrafo primeiro desse mesmo Artigo diz que nos parques municipais só deve-

rão ser “desenvolvidas atividades de pesquisas científicas e de educação e interpretação ambi-

ental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico respeitados os demais

critérios e restrições estabelecidos pela legislação do Sistema Nacional de Unidades de Con-

servação”. Porém, o parágrafo segundo faz uma ressalva dizendo que quaisquer outras ativi-

dades poderão ser aceitas através de um parecer ambiental.

O Art. 24 dispõe sobre as Unidades de Conservação, como é o caso do PMSP que te-

rá um Conselho Consultivo representado por organizações da sociedade civil (desde que tenha

um conhecimento da área), por órgão público, proprietários de terras e também por moradores

residentes na área desde que seja designado pelo Prefeito, para auxiliar na administração das

UC’s.

Também no artigo 25, as UC’s criadas pelo Município deverão ter um Plano de Ma-

nejo, elaborado no prazo de 05 anos a partir da sua data de criação e com a participação da

população local, aprovado pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMMAM) com

vistas ao regime de proteção, ao zoneamento, condições de uso do solo, nesse caso com audi-

ência pública para que a comunidade seja ouvida.

Sobre o Licenciamento ambiental, o Art. 34 retrata que os empreendimentos com a-

tividades consideradas de risco ao meio ambiente só serão aceitas desde que seja realizado um

Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, e a abertura

de novas áreas somente serão aceitas mediante o prévio licenciamento. Esse processo somente

se dará a partir de uma consulta à Secretaria Municipal de Transporte, Trânsito, Infra-

Estrutura Urbana, quanto ao uso do solo, e à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, quanto

a avaliação do Projeto e ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIPA/RIMA), de acordo

com o que está previsto no Código e no Código de Ordenamento do Uso e da Ocupação do

Solo e de Obras e Edificações, e demais legislação relacionada.

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Quanto a Prevenção de áreas erodidas ou aquelas que estão mais susceptíveis a ero-

são o Art. 110 dispõe sobre a necessidade do Plano de Recuperação da Área Degradada

(PRAD) para a execução de qualquer obra nessas áreas. Dando continuação, o Art. 113 diz

que: “O sistema viário, nos parcelamentos em áreas de encosta, deverá ser ajustado à confor-

mação natural dos terrenos, de forma a se reduzir ao máximo o movimento de terra e a se as-

segurar a proteção adequada às áreas vulneráveis”.

Quanto às atividades de mineração, já instaladas no Município, segundo o Art. 142,

estão obrigadas a apresentar o PRAD, para novas atividades requeridas no ato do licencia-

mento ambiental, que deverá ser executado simultaneamente com a exploração. As atividades

já existentes ficam dispensadas da apresentação do Plano de que trata este artigo, desde que

tenham Plano aprovado pelo órgão ambiental competente do Estado. É importante destacar

aqui que, de acordo com esse Artigo no parágrafo cinco, nas áreas de mineração que estão

abandonadas ou que foram desativadas no PMSP, a recuperação é de responsabilidade do

próprio minerador.

6 - Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista e o Planejamento Ambiental

A Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001, denominada de Estatuto da Cidade, regu-

lamentada pelos artigos 182 e 183 da Constituição Federal, normatiza e institui diretrizes ge-

rais da política Urbana, estabelecendo normas de ordem pública e interesse social que regu-

lam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos

cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental, tendo como objetivo a ordenação do desenvol-

vimento das funções da cidade e da propriedade urbana através do direito da cidade sustentá-

vel, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, à infra-estrutura-urbana, aos serviços

públicos e outros.

O Capítulo 2º do artigo 4º dessa lei traz os instrumentos da política urbana como os

planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento eco-

nômico e social, o planejamento das regiões metropolitanas, as aglomerações urbanas e mi-

crorregiões e o planejamento municipal. Dentre os instrumentos do planejamento municipal,

estão relacionados o Plano Diretor, a disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do so-

lo e o zoneamento ambiental.

O capítulo 3º, sobre o Plano Diretor Urbano, diz que este deve ser um instrumento

básico da política de desenvolvimento e expansão urbana e deverá assegurar o atendimento

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das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvi-

mento das atividades econômicas.

Sendo assim, o Plano Diretor é um conjunto de leis municipais que estabelece prin-

cípios e diretrizes ao desenvolvimento econômico e proteção ambiental dos municípios regu-

lamentando o uso e a ocupação do seu território, em especial o urbano. É um plano obrigató-

rio para cidades com mais de 20 mil habitantes e a lei que o instituiu deverá ser revista, pelo

menos, a cada dez anos.

O Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista (PDU-VC), aprovado pela Lei

1385/06, foi elaborado a partir de discussões realizadas pelo Grupo de Elaboração e Acompa-

nhamento do Plano Diretor Urbano (GEAP) criado pelo Decreto municipal nº. 11.278/03. O

trabalho foi organizado na forma de subgrupos e constituído por representantes de institui-

ções, movimentos sociais, e funcionários da administração municipal, que discutiram sobre os

diversos problemas do Município. Tais discussões favoreceram o surgimento de propostas,

com perspectiva de um desenvolvimento sustentável, sustentado na qualidade de vida de sua

população, através de ordenamento territorial de atividades, a preservação ambiental e o forta-

lecimento da identidade cultural regional.

Assim, o PDU-VC procura, entre outras coisas, a aplicação das potencialidades de

desenvolvimento, com a criação de trabalho e renda, através da contribuição do desempenho

da cidade como pólo regional de comércio e serviços exercido no centro sul baiano e norte de

Minas Gerais. Define também uma organização físico-territorial para a cidade, considerando

as características do espaço urbano, caracterizado pela presença da Serra do Periperi, do Cór-

rego Verruga, das Lagoas da Jurema e das Bateias e pela fragilidade ambiental do bairro de

Campinhos. Ainda propõe o apoio à Política Habitacional de Interesse Social, já praticada

desde 1991 e reformulada em 2003, como um dos subsídios fundamentais ao ordenamento do

crescimento da cidade. O intuito é nortear o planejamento do progresso da cidade nos próxi-

mos 20 anos, considerando o perímetro de urbanização representado pelo Anel Rodoviário da

BR-116, inaugurado em dezembro de 2002, e a expansão da ocupação no restante do limite

urbano da cidade.

O relatório do PDU-VC apresenta-se em dois volumes. O primeiro aborda os aspec-

tos concernentes à mobilização da sociedade local para a laboração do PDU na negociação de

sugestões para o desenvolvimento urbano. Retrata os Cenários setoriais, estabelecidos a partir

da conexão dos resultados das consultas em reuniões zonais e setoriais do Orçamento Partici-

pativo Municipal/OP, na cidade, vilas e povoados, com os resultados dos seminários do GE-

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AP e as entrevistas qualificadas ou levantamentos realizados pela empresa consultora contra-

tada.

O segundo volume aponta para os princípios e objetivos básicos do PDU-VC e cria

estratégias de desenvolvimento econômico e social aplicada, fundamentada no apoio ao papel

regional da cidade, articulada a estratégias espaciais. Traz os Projetos Estratégicos, que são

relevantes para a dinamização da vida social e econômica local. Apresenta ainda as indicações

atinentes à estrutura administrativa e gestão do PDU, o funcionamento dos Conselhos e a con-

cepção de um Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano.

Os eixos de planejamento estratégicos apresentados pela Prefeitura Municipal no

Relatório Final 2003/2004 são: a melhoria da infra-estrutura urbana e rural do município; as

ações prioritárias relativas à malha viária, abastecimento, saneamento, lazer, paisagismo, ges-

tão e acesso a recursos hídricos na zona rural; a promoção do desenvolvimento econômico

sustentável, consolidando o município como pólo regional; as ações prioritárias relativas à

consolidação do sistema de saúde de média e alta complexidade; a atração de investimentos,

atividades promotoras de emprego e renda; melhoria da qualidade de vida com ênfase na in-

clusão social, na redução das desigualdades e na ampliação da cidadania.

Em relação às questões ambientais, o PDU-VC tem como princípios a promoção do

desenvolvimento socioeconômico em bases sustentáveis, contemplando a equidade social e a

melhoria da qualidade de vida da população, bem como a valorização dos recursos naturais e

culturais, a participação da população nos processos de decisão, planejamento e gestão, com-

preensão do PDU como parte de um processo de planejamento municipal permanente e contí-

nuo, de caráter técnico e político, baseado na participação, negociação e cooperação, combi-

nar dotação de infra-estrutura com preservação ambiental, implantando Parques Urbanos,

promovendo a universalização do saneamento básico, recuperando áreas degradadas e implan-

tando projetos de drenagem urbana na sede e de destinação final de resíduos sólidos no muni-

cípio, combater e evitar as distorções e abusos no desfrute econômico da propriedade urbana e

o uso especulativo da terra como reserva de valor, de modo a assegurar o cumprimento da

função social da propriedade.

Em entrevista concedida pelo Secretário Municipal do Meio Ambiente, perguntamos

por que o PDU-VC não trazia uma maior discussão acerca dos problemas ambientais sofridos

na cidade e nem apresentava uma proposta efetiva quanto a uma política ambiental. Ele nos

informou que a empresa responsável pela elaboração do PDU-VC orientou para que fosse e-

laborado o Código Municipal do Meio Ambiente para uma melhor atuação dos órgãos compe-

tentes e um direcionamento da política ambiental do município.

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Com a aprovação do Código, Vitória da Conquista tem uma legislação exclusiva pa-

ra conduzir as questões alusivas à preservação, conservação e defesa do patrimônio ambiental

do município. Não há como negar a importância de uma Legislação Ambiental para uma ci-

dade e o Código Ambiental de Conquista veio para fundamentar a política que está em vigor.

Porém, o que está no Código é o que ocorre na prática hoje em Vitória da Conquista. O fato

de criar várias Unidades de Conservação não garante a preservação de um determinado local.

Observamos que o intuito é preservar apenas as áreas verdes, isolar, mas não proporcionar

áreas de lazer à população. Não há uma identificação da mesma com essas áreas.

A Reserva do Poço Escuro é um exemplo dessa situação. Muitos alunos de escolas

públicas e particulares têm visitado o Poço, todavia não há uma freqüência da população da

cidade. É interessante quando levamos um grupo de estudantes e eles ainda ficam perplexos

com a exuberância da Reserva e chegam a comentar de que não imaginavam que Conquista

tivesse um local assim. Isso quer dizer que a política ainda requer muitas observações quanto

ao trabalho nas escolas, com a sociedade civil, quanto ao conhecimento por parte da socieda-

de da política aplicada.

Outra área denominada pelo Código como Unidade de Conservação é o Parque Ur-

bano da Lagoa das Bateias, onde foram realizadas algumas obras físicas com o intuito de pre-

servar e de tornar o local como área de lazer para a população com vias de ciclismo de pedes-

tre, toda iluminada. No entanto o que se observa é que o Parque não tem muitos visitantes

como se esperava. I se deve ao fato de não haver segurança no local que é considerado como

inseguro pela população. Mesmo com a instituição da área como de preservação ainda há es-

gotos que são lançados na lagoa. Parece que o isolamento apenas tem servido para coibir a

construção de casas e a abertura de loteamentos.

É certo que o crescimento urbano da cidade de Vitória da Conquista configurou-se

através da especulação imobiliária e sustentou-se pela irresponsabilidade do Poder Público

Municipal em sua atuação nas áreas de licenciamento e de fiscalização. O interesse coletivo

vem sendo encoberto pelos interesses das empresas do ramo imobiliário, com a cumplicidade

do Poder Público que não respeitam o ambiente da cidade, gerando o caos em que hoje vive-

mos.

Quanto ao item “cenário e proposições relativas à questão ambiental”, o PDU-VC

chama atenção para a degradação ambiental da Serra do Periperi e da poluição do Rio Verru-

ga, fazendo uma análise sobre o espaço e das restrições físico-ambientais da zona urbana de

Conquista e do seu entorno, incluindo os aspectos que se referem à geologia, morfologia, to-

pografia e declividade dos terrenos, solos e vegetação. Assim, foi feita uma divisão de quatro

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unidades de características e capacidades naturais distintas: o Parque da Serra do Periperi,

vertentes íngremes da Serra do Periperi, rampas coluvionares e áreas de brejo e fundo de va-

les, que são unidades geoambientais (figura 09).

Figura 09 – Área de Domínio das Unidades Geoambientais no Setor Urbano Fonte: PDU-VC/2004

1º - As vertentes da Serra do Periperi são áreas próximas à área do PMSP, em sua

maioria com cotas abaixo de 1.000 metros, formando rampas de declividade elevada, entre

5% e 20%, onde estão situados bairros como Nossa Senhora Aparecida, Cruzeiro e Zabelê,

áreas que estão sujeitas a problemas relacionados à drenagem urbana, conservação da pavi-

mentação, coleta de lixo, abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem de águas

da chuva.

2º - A unidade das rampas coluvionares, ou seja, solo das encostas formado por de-

tritos provenientes de áreas mais altas, é composta de espaços mais planos que se alongam em

direção ao sul, contrapondo-se a Serra do Periperi, com grau de declividade variando entre 0 e

5 %. De acordo com o PDU são áreas mais propícias para a ocupação e expansão urbana, por

se tratar de terrenos areno-argilosos, suavemente densos, com características geotécnicas ade-

quadas para equipamentos urbanos.

3º - Nas áreas rebaixadas de Brejo e localizadas em cotas vinte metros mais baixa

em relação ao relevo próximo, possui vegetação original de tabua, uma espécie de erva que

Zabelê

N. Senhora Aparecida

Cruzeiro

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vive em águas paradas e rasas de folhas ensiformes (forma de espadas), pontudas e resistentes

que servem para tecer esteiras e cestos, e podem dar celulose para papel. Essas áreas corres-

pondem a cabeceiras de drenagem, como as lagoas das Bateias e Jurema e das áreas rebaixa-

das no bairro de Campinhos. Já as áreas de Fundo de vale correspondem aos vales e drenagem

do rio Verruga, que nasce no Poço Escuro e se desenvolve na direção sudeste, e do riacho

Santa Rita, que nasce no bairro de Campinhos e se desenvolve na direção sul. Estas áreas de

acordo com o PDU são consideradas de ocupação limitada e devem ter planos de ocupação

determinados.

A partir desses dados o PDU-VC propõe que as áreas de vale do rio Verruga, e as

áreas rebaixadas das lagoas da Jurema e Bateias, incluindo o espaço do aeroporto, localizado

próximo ao bairro Patagônia, e do bairro Campinhos, formem um corredor que corta transver-

salmente a cidade, como uma unidade de conservação integrando áreas, espaços vazios, de

lazer e de preservação, conforme figura 10.

Observa-se que o PDU-VC define áreas a serem ocupadas e cria Unidades de Con-

servação com o intuito de coibir a ocupação dessas áreas e ordenar o crescimento para outras.

É importante que se formulem princípios e diretrizes para que, na tomada de decisão, o obje-

Figura 10: Interligação entre áreas a serem protegidas no setor urbanoFonte: PDU-VC/2004

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tivo seja o de promover de forma coordenada o uso, a proteção, a conservação e o monitora-

mento dos recursos naturais e sócio-econômicos com vistas ao desenvolvimento sustentável.

O PDU-VC não pode ser um instrumento puramente técnico, no qual a função seria

apenas de estabelecer padrões satisfatórios de qualidade, mas deve reconhecer conflitos no

espaço geográfico, as desigualdades das condições de renda e sua influência sobre a ocupação

do solo urbano. A questão não é apenas criar instrumentos de preservação ambiental para que

a ocupação seja apenas paralisada, pois, dessa forma como já é prática em Vitória da Conquis-

ta, tal situação tem causado ocupações ilegais. No entanto o que deve ser garantido é uma o-

cupação que seja sustentável e simultaneamente acessível para todos.

Pelos estudos realizados, a maioria dos Planos Diretores são pautados sempre nos

mesmos aspectos, nos padrões que se consideram ideais, com áreas verdes, sistemas de trans-

portes, áreas de preservação ambiental. O diagnóstico é repetidor, o que há é uma distância do

que é real e do que se considera por adequado. Por isso, os investimentos são mais para “cor-

reções”, e com isso programam-se parques e praças, áreas verdes, e ampliam-se serviços pú-

blicos. A lista de problemas é colossal e como a maioria das cidades brasileiras é carente em

quase tudo, então o quadro revelam-se prioridades ou vetores de ações preferenciais.

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7- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na construção do processo de investigação, foram analisados alguns aspectos da e-

volução urbana da cidade considerando-se as ações do poder público municipal, o papel dos

loteamentos, das rodovias e da própria população no processo de configuração do espaço ur-

bano, em especial, na serra.

Percebemos que há uma relação entre a construção das principais rodovias, como a

BR-116, a BA-262 e a BR-415, com o crescimento econômico e urbano da cidade. Elas con-

tinuam a exercer um papel de grande relevância nesse sentido. Ficou claro que o Anel viário

da BR-116 também tem exercido uma atração para a expansão dos bairros, sobretudo os mais

carentes, como é o caso do bairro Nova Cidade que está apenas a 50 metros da estrada.

Através das observações realizadas, consideramos que há uma segregação do espaço

urbano de Vitória da Conquista. Tal situação é fruto das relações sociais existentes que produz

e reproduz o espaço conforme o poder do capital. Carlos (2005:82- 83) diz que “o espaço traz

a marca da sociedade que o produz” e que “O espaço urbano se reproduz, reproduzindo-se a

segregação, fruto do privilégio conferido a uma parcela da sociedade brasileira”.

Assim verificamos que o papel do poder público municipal foi fundamental no pro-

cesso de reprodução do sistema capitalista, pois não respeitou o Plano Diretor aprovado na

década de 1976, dando continuidade a uma política de elitização do espaço urbano de Vitória

da Conquista. Essa situação suscitou uma tradição, e, diante disso, a cidade se desenvolveu

desordenadamente, pois com a especulação imobiliária nas áreas mais planas, a população

mais carente ocupou e ocupa as áreas periféricas sem nenhuma infra-estrutura, inclusive de

preservação ambiental, como é o caso da Serra do Periperi.

Em relação à ocupação da serra, verificamos que não se deu apenas para a moradia,

mas também para a abertura de jazidas que serviram para a construção das estradas, de casas,

ruas etc. Essa ocupação ocasionou muitos problemas, pois, com a falta da cobertura vegetal,

intensificou os processos erosivos e, com isso, as áreas mais baixas da cidade sofrem com a

quantidade de água e sedimentos que descem pelas ruas da cidade de forma violenta durante o

período de chuvas, trazendo prejuízos tanto para o poder público como para a população.

Com os problemas ocasionados pela falta de ordenamento do solo urbano e pelo

descaso das autoridades competentes, a maioria dos problemas ambientais sofridos na atuali-

dade em Vitória da Conquista é em decorrência da má utilização dos recursos naturais e das

ocupações indevidas da serra que acabaram por comprometer o seu ambiente natural e, hoje,

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mesmo com uma política e com algumas áreas já em processo de restauração, e com diversas

discussões realizadas sobre a sua importância, a área continua a ser degradada e ocupada, pela

falta de uma fiscalização mais eficaz.

Em Vitória da Conquista, a natureza e seus elementos estão ocultos pelo processo da

urbanização. É muito comum ouvir moradores falarem sobre a Serra, o Poço Escuro, o rio

Verruga, porém, quando conseguem conceber a realidade de cada ambiente, ficam perplexos

com a transformação de cada um. A partir daí, a serra torna-se mais um pedaço de terra a ser

apropriado, lugar onde se pode depositar o entulho, lixos, retirar lenhas, pedras, cascalhos,

areias.

A serra descreve uma história de benefícios, conflitos e degradação. Assim, foi ne-

cessário conhecer, em primeiro lugar, como se deu a evolução urbana da cidade, pois, através

desse estudo, foi possível identificar os diversos problemas ambientais gerados pelo desorde-

namento urbano em direção a serra e pela constante retirada de material que também possibi-

litou a construção das edificações da cidade e de suas principais vias.

É certo que a política ambiental de Vitória da Conquista, mais precisamente a im-

plementada na Serra do Periperi, não tem sido suficiente no sentido de garantir a preservação

da área, pois não concebe o próprio ser humano como parte desse meio. Apenas há o intuito

de preservar áreas verdes, impedindo a expansão urbana. Essa política perde as suas caracte-

rísticas mais amplas, pois não considera os diversos aspectos do desenvolvimento humano,

assim torna-se mais uma política de adequação em que as relações de poder perpetuam uma

única visão sob as formas de utilização dos recursos naturais.

Em relação ao novo Código Ambiental/2007 e ao Plano Diretor/2006 da cidade, ain-

da é muito cedo para fazer comentários sobre a eficácia de suas propostas, haja visto o tempo

de aprovação. Porém, uma questão deve ser colocada, a de que tanto o Código como o PDU

não devem apenas ser um instrumento meramente técnico, mas eficiente, e de acordo com a

realidade socioeconômica da população. Não deve apenas prever as direções da expansão ur-

bana, mas tornar suas propostas mais objetivas e convincentes.

Outra questão relevante no Código é a participação da população na gestão ambien-

tal. Todavia, como motivar essa população a participar das decisões sem que haja primeira-

mente um trabalho que não apenas informe, mas que haja formação? Como educar é uma

questão fundamental nessa política, logo, a educação ambiental deve inserir o cidadão na so-

ciedade, numa sociedade mais justa. Como então trabalhar o desenvolvimento sustentável na

simples condição de preservar recursos, oferecer uma qualidade de vida saudável para as ge-

rações presentes e futuras, se as gerações presentes não estão sendo consideradas em suas ne-

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cessidades mínimas e muito menos ouvidas?

Essa não é uma pesquisa concluída. É necessário dar continuidade, dados novos vi-

rão, e, seria de grande utilidade à apresentação dos dados obtidos para os órgãos responsáveis,

que já demonstraram interesse em ter em mãos a cópia da dissertação para que possa ajudar

na execução dos projetos em relação à preservação na Serra do Periperi.

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8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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93

ANEXOS

ANEXO A – DECRETO Nº. 8.695/96 - DECLARA PRESERVADA A SERRA DO PERI-

PERI.

ANEXO B - DECRETO Nº. 9.328/98 - AMPLIA ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIEN-

TAL NA SERRA DO PERI-PERI.

ANEXO C - DECRETO Nº. 9.480/99 - CRIA O PARQUE MUNICIPAL DA SERRA DO

PERIPERI, COM OS LIMITES QUE ESPECIFICA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

ANEXO D – DECRETO N. 11.374/ 2003 – SUSPENDE TEMPORARIAMENTE CON-

CESSÃO DE LICENÇA PARA LOTEAMENTOS URBANOS.

ANEXO E - POLIGONAL DO PARQUE MUNICIPAL DA SERRA DO PERIPERI

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ANEXO A – DECRETO Nº. 8.695/96

DECRETO Nº 8.695/96

DECLARA PRESERVADA A SERRA DO

PERIPERI.

O PREFEITO MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA, Estado da Bahia, no uso das suas atribuições legais, e

CONSIDERANDO que a Serra do Periperi além de conter resquícios da Mata Atlânti-ca, localiza-se acima de 1.000m (mil metros) do nível do mar e a sua vegetação preservada impedirá com as chuvas torrenciais, que haja erosão danosa a fauna e flora;

CONSIDERANDO que nesta serra está situado o Poço Escuro, cuja reserva da mata nativa interessa ao meio ambiente;

CONSIDERANDO que a ocupação dessa Serra tem causado transtorno à própria ci-dade;

CONSIDERANDO o estado atual da Serra merece atenção do Poder Público para constituição da sua vegetação e impedir a ação danosa de quantos dela retiram areia, pedras e cascalho com prejuízos para a coletividade;

CONSIDERANDO recomendação do Conselho de Cultura para que a mesma seja preser-vada e mais o que se contem no § do Art. 216 da Constituição Federal Vigente e disposto na Lei Municipal nº 707/93.

DECRETA:

Art. 1º - Fica considerada como de preservação ambiental toda área da Serra do Peri-peri com extensão de aproximadamente 500 há.

Art. 2º - O tombamento, ora decretado terá como objetivo as imposições gerais em torno de toda a área da Serra do Periperi, de forma a impedir, principalmente a exploração com retirada de areia, cascalho e pedras, implantação de edificações de qualquer tipo e a utili-zação da área que não se enquadre no sentido do interesse público.

PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA

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Art. 3º - O tombamento de que cuida este Decreto deverá ser Inscrito em Livro próprio e a cargo da Coordenação de Cultura, conforme o disposto no Art. 18 da Lei nº 707/93.

Art. 4º - A Coordenação de Cultura deverá:

I – promover a fiscalização da área tombada;

II – Inscrever o tombamento no Cartório de Registro de Imóveis Hipotecas desta Co-marca.

Art. 5º - Este Decreto entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as dispo-sições em contrário.

Gabinete do Prefeito Municipal de Vitória da Conquista, em 30 de maio de 1996.

José Fernandes Pedral Sampaio

Prefeito

PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA

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ANEXO B - DECRETO Nº 9.328/98

AMPLIA ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBI-ENTAL NA SERRA DO PERI-PERI.

O PREFEITO MUNICPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA, Estado da Bahia, usando das atribuições que lhe confere o art. 74, inciso VI, da Lei Orgânica do Muni-cípio e,

CONSIDERANDO o disposto no artigo 225, incisos I, III e VII da Constitui-ção Federal;

CONSIDERANDO a necessidade de preservação da vegetação nativa, das nascentes e minadouros e a necessidade de recuperação das áreas degradadas existentes na Serra do Peri-Peri;

CONSIDERANDO que o processo de ocupação urbana desordenada na Serra do Periperi deve ser contido, por consistir em uso inadequado, provocando efeitos nocivos à cidade como a redução de áreas verdes, o carreamento de materiais sólidos durante chuvas, dos canais de drenagem e o alagamento das vias urbanas,

DECRETA:

Art. 1º - Fica ampliada de 500 para 1000 hectares, acima da cota 1000, a Área de Proteção Ambiental na Serra do Periperi.

Art. 2º - Em decorrência desta preservação, ficam proibidas as atividades de mineração com a retirada de areia, cascalho e pedras e de extração de quaisquer espécies ve-getais, bem como uso e a ocupação para fins contrários ao interesse público.

Art. 3º - Deve a Coordenação de Cultura efetuar o registro da preservação, no Livro de Tombo do Patrimônio Público Municipal e no cartório de Registro de Imóveis com-petente.

Art. 4º - Deve a Coordenação de Meio Ambiente promover a fiscalização da área preservada.

Art. 5º - Este Decreto entrará em vigor na data da sua publicação, ficando re-vogadas as disposições em contrário.

Gabinete do Prefeito Municipal de Vitória da Conquista, em 23 de setembro de 1998.

Guilherme MenezesPrefeito

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ANEXO C - DECRETO Nº 9.480/99

DECRETO Nº 9.480/99

Cria o Parque Municipal da Serra do Periperi, com os limites que especifica e dá outras providências.

O PREFEITO MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA, Estado da Bahia, u-sando das atribuições que lhe confere o art. 74, inciso VI, da Lei Orgânica do Município, e art. 6º, da Lei Municipal 707/93 e,

CONSIDERANDO que a Serra do Periperi é o principal marco geográfico e histórico da cidade;

CONSIDERANDO que a área da Serra do Periperi é protegida pelo Código Florestal nº 4.771, Art. 3º, itens a, e, f e h, em virtude de ser topo de serra;

CONSIDERANDO que a Serra do Periperi guarda as nascentes do Rio Verruga e os minadouros do Panorama, Nossa Senhora Aparecida e do Bebedouro da Onça, e que é impor-tante a preservação dos recursos hídricos, visto que o município integra a região do semi-árido baiano;

CONSIDERANDO que é importante preservar a Serra do Periperi por conter a Reser-va Florestal do Poço Escuro, de alta biodiversidade, e por possuir vegetação nativa remanes-cente, que garante o equilíbrio microclimático e paisagístico urbano, além de se constituir em um refúgio para a fauna silvestre regional, ameaçada de extinção;

CONSIDERANDO que a Serra do Periperi face as suas características físicas e bioló-gicas, abrigando fauna e flora endêmicas, consiste em rica fonte para estudos e pesquisas ci-entíficas, cujo conhecimento e aplicação asseguram a conservação dos recursos naturais de forma sustentada;

CONSIDERANDO, ainda que o uso e ocupação inadequada da Serra do Periperi tem causado prejuízos ambientais e urbanos, tornando necessário planejar o uso do solo da cidade, preservando áreas verdes, recuperando áreas degradadas por atividades extrativas minerais e vegetais e corrigindo os processos erosivos, através de revegetação e outros mecanismos sus-tentados.

PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA

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DECRETA:

Art. 1º - Fica criado na cidade de Vitória da Conquista o Parque Municipal da Serra do Periperi, com área estimada de 1.300 hectares, subordinado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, compreendido dentro do perímetro descrito no Anexo I, que integra o presente de-creto.

Art. 2º - O Parque Municipal da Serra do Periperi tem por finalidade precípua preser-var a vegetação nativa, a fauna, e as nascentes e a conformação topográfica do topo e encosta da Serra do Periperi, proteger os remanescentes de Mata do Poço Escuro e recuperar as áreas degradadas, controlar os processos erosivos e ordenar o uso e a ocupação do solo urbano, sen-do proibidas quaisquer atividades extrativas – minerais e/ou vegetais – construções e modifi-cações do meio ambiente a qualquer título, ressalvados aquelas destinadas às atividades cien-tíficas, educativas e/ou de lazer, devidamente autorizada pela autoridade competente.

Art. 3º - Fica o Executivo Municipal incumbido de, no prazo de máximo de 150 (cento e cinqüenta) dias, elaborar o Plano de Manejo dessa Unidade de Conservação.

Art. 4º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas as disposições em contrário.

Gabinete do Prefeito Municipal de Vitória da Conquista, em 16 de junho de 1999.

Guilherme Menezes de AndradePrefeito

PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA

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ANEXO D – DECRETO N. 11.374/ 2003

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ANEXO E - POLIGONAL DO PARQUE MUNICIPAL DA SERRA DO PERIPERI

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